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As imagens do negro no livro didático de história MARTINS, Eduardo; SILVA, H. F.P. da Revista Pitágoras ISSN 2178-8243, Nova Andradina/MS, v. 1, n. 1 ago/dez 2011 1 AS IMAGENS DO NEGRO NO LIVRO DIDÁTICO DE HISTÓRIA SILVA, H. F. P. da (G/finan) MARTINS, Eduardo (D/FINAN) Resumo Para dar suporte científico a esta pesquisa examina-se um total de seis livros didáticos a fim de problematizar a maneira como este material, quase que único para o professor de história, principalmente da rede pública estadual, aborda a questão do povo negro enquanto indivíduos na história do Brasil. No livro didático percebe-se nitidamente que a humanidade e a cidadania são representadas apenas pelo homem branco e de classe alta. Considerando que o livro didático é um material amplamente utilizado pelos professores de História, sobretudo na rede pública estadual, este material constitui, não obstante, uma das únicas fontes de leitura para alunos e professores. Introdução Nesta pesquisa averiguou-se a latente omissão das experiências de vida do povo negro enquanto categoria social formadora da nação brasileira, este aparece sempre na dualidade escravidão/mão de obra livre. É bem nítido o escamoteamento dessa parcela da população, bem como a simplificação ou a redução da sua contribuição cultural. Nota-se que a presença do negro nos livros didáticos é retratada de maneira caricatural. Ao veicular o negro de maneira estereotipada, o livro didático contribui pra difundir uma representação negativa desse povo em contraposição à imagem do branco, sempre salutar. Percebe-se, nas entrelinhas dos discursos, a ideologia do branqueamento que marcou a história da elite brasileira. Outro apontamento diz respeito ao pouco destaque dado à participação do povo negro na construção da nação brasileira, senão, enquanto escravo. VOCÊ SABE POR QUE O LIVRO DIDÁTICO DE HISTÓRIA NÃO FAZ MENÇÃO À HISTÓRIA DA ÁFRICA? E POR QUE A HISTÓRIA EUROPÉIA É TÃO DETALHADAMENTE ESMIUÇADA NESTE MATERIAL? O elemento básico para Introdução à História Africana não está na história africana e sim na desconstrução e eliminação de alguns elementos básicos das ideologias racistas brasileiras. O cotidiano brasileiro é povoado de símbolos de negros selvagens e escravos amarrados, que processam e administram o escravismo mental e realizam a tarefa de feitores invisíveis a chicotear a menor rebeldia, o imaginar diferente. DESCONSTRUÇÃO DE MITOS:

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Page 1: AS IMAGENS DO NEGRO NO LIVRO DIDÁTICO DE HISTÓRIAuniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20170602124819.pdfVOCÊ SABE POR QUE O LIVRO DIDÁTICO DE HISTÓRIA NÃO FAZ MENÇÃO À

As imagens do negro no livro didático de história – MARTINS, Eduardo; SILVA, H. F.P. da

Revista Pitágoras – ISSN 2178-8243, Nova Andradina/MS, v. 1, n. 1 ago/dez 2011

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AS IMAGENS DO NEGRO NO LIVRO DIDÁTICO DE HISTÓRIA

SILVA, H. F. P. da (G/finan)

MARTINS, Eduardo (D/FINAN)

Resumo

Para dar suporte científico a esta pesquisa examina-se um total de seis livros didáticos a fim de problematizar a maneira como este material, quase que único para o professor de história, principalmente da rede pública estadual, aborda a questão do povo negro enquanto indivíduos na história do Brasil. No livro didático percebe-se nitidamente que a humanidade e a cidadania são representadas apenas pelo homem branco e de classe alta. Considerando que o livro didático é um material amplamente utilizado pelos professores de História, sobretudo na rede pública estadual, este material constitui, não obstante, uma das únicas fontes de leitura para alunos e professores.

Introdução

Nesta pesquisa averiguou-se a latente omissão das experiências de vida do povo negro

enquanto categoria social formadora da nação brasileira, este aparece sempre na dualidade

escravidão/mão de obra livre. É bem nítido o escamoteamento dessa parcela da população, bem

como a simplificação ou a redução da sua contribuição cultural. Nota-se que a presença do negro

nos livros didáticos é retratada de maneira caricatural.

Ao veicular o negro de maneira estereotipada, o livro didático contribui pra difundir uma

representação negativa desse povo em contraposição à imagem do branco, sempre salutar.

Percebe-se, nas entrelinhas dos discursos, a ideologia do branqueamento que marcou a história

da elite brasileira.

Outro apontamento diz respeito ao pouco destaque dado à participação do povo negro na

construção da nação brasileira, senão, enquanto escravo.

VOCÊ SABE POR QUE O LIVRO DIDÁTICO DE HISTÓRIA NÃO FAZ MENÇÃO À

HISTÓRIA DA ÁFRICA?

E POR QUE A HISTÓRIA EUROPÉIA É TÃO DETALHADAMENTE ESMIUÇADA NESTE

MATERIAL?

O elemento básico para Introdução à História Africana não está na história africana e sim

na desconstrução e eliminação de alguns elementos básicos das ideologias racistas brasileiras.

O cotidiano brasileiro é povoado de símbolos de negros selvagens e escravos

amarrados, que processam e administram o escravismo mental e realizam a tarefa de feitores

invisíveis a chicotear a menor rebeldia, o imaginar diferente.

DESCONSTRUÇÃO DE MITOS:

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1) A África não é uma selva tropical;

2) A África não é mais distante que os outros continentes;

3) As populações Africanas não são isoladas e perdidas na selva;

4) O europeu não chegou um dia na África trazendo civilização;

5) A África tem história e também tinha escrita.

Uma falácia comum, que soa como verdade absoluta, é a afirmação de que os próprios

negros se discriminam e têm vergonha de sua cor.

Realizou-se uma pesquisa em seis livros didáticos procurando problematizar a maneira

como este material, quase que único, para o professor de história, principalmente da rede pública

estadual, aborda a questão do povo negro enquanto agentes na história do Brasil.

ANÁLISE DE IMAGENS DOS LIVROS DIDÁTICOS DE HISTÓRIA

EXTRAÍDO DE: VESENTINI, J William. Aprendendo sempre. História 5º ano. São Paulo: Ática, 2008.

Observe atentamente a humilhação a que o negro é submetido ao ser torturado em público. Note

que existe no canto superior direito da tela um policial, representando o Estado brasileiro, apenas

observando a cena em que um capataz executa atos violentos contra outra pessoa. O fato do

despimento do negro que está sendo vítima da violência de um homem branco faz parte do

processo violento, não físico, mas neste caso também moral. O capataz, branco, procura ferir o

homem negro em todas as suas instancias, física e moralmente. Tal ato, ainda é praticado em

público para servir como coibimento para outros negros que a toda hora se rebelavam contra tal

sistema desumano. Outro mecanismo é a tentativa de se jogar um negro contra o outro ao obrigá-

lo a fazer parte do mecanismo de tortura. A função do negro que segura a corda é muito mais

simbólica do que física, uma vez que a vítima encontra-se amarrada e sob vigilância de policial.

IMAGEN EXTRAÍDA DE: CÁCERES, FLORIVAL. História do Brasil. 1. ed. São Paulo: Moderna, 1993.

NOTE AQUI A

FIGURA DE

UM POLICIAL

(ESTADO)

VIGIANDO O

NEGRO QUE É

TORTURADO

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Esta imagem é referente a um mercado de negros. Temos homens brancos e homens negros. Os

brancos estão bem vestidos, calçando botas, camisas de manga longa, dois dos três homens

brancos usam também chapéus. Um deles examina o rosto de um indivíduo negro, enquanto

outro, bem próximo, parece fazer a oferta daquilo que ele considerava ser sua mercadoria.

Acompanhando a cena, outro homem branco apenas observa absorto o que se passa entre o

vendedor e o comprador. Existe no ambiente, um galpão, apenas uma mesa e uma cadeira, que

servem de mobília para o vendedor. Aos negros é reservado o chão, aliás, a imagem inferior, à

direita, mostra um negro sentado, em uma posição como que se estivesse levantando, sua

aparência é de um homem extremamente magro, a imagem mostra que devia estar debilitado.

Chama-nos a atenção para a imagem do homem negro em pé, à direita e no centro da imagem,

sua expressão facial é pouco humana, mais lembrando a de um símio; mandíbula larga e caixa

craniana pequena em proporção a dos homens brancos. Os homens negros que se encontram

agachados estão seminus e em posição de submissão total.

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IMAGEM EXTRAÍDA DE: SILVA, Francisco de Assis. História. São Paulo: Moderna, 1992.

Outro tipo de vexação à qual o aluno negro é exposto ao deparar com seus antepassados sendo

humilhados de forma bárbara. Nesta imagem específica o agressor é outro indivíduo negro, dessa

maneira puni-se dois negros ao mesmo tempo. Note-se que o agressor está acorrentado,

denotando que seria um animal selvagem pronto para fugir ou atacar alguém. Pergunta-se como

uma criança negra que vê essa imagem pode se sentir orgulhosa de si mesma ou do seu passado

histórico?

VESENTINI, J William. Aprendendo sempre. História 4º ano. São Paulo: Ática, 2008.

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Aqui temos uma imagem que é comum em todos os livros pesquisados e nas demais obras

consultadas. Trata-se da imagem de negros executando trabalho de corte da cana-de-açúcar.

Estão sob a vigilância de um feitor que, montado a cavalo, segura em sua mão um chicote como

forma de coerção aos trabalhadores, à frente da imagem um homem negro segura uma lança

para reforçar a tônica da violência exercida aos demais colegas. Qual a simbologia que essa

violência retratada transmite para a criança negra e para a criança branca?

IMAGEM EXTRAÍDA DE: PETTA, Nicolina Luiza de. História: uma abordagem: volume único 1. ed. São Paulo: Moderna, 2005.

Pintura clássica de Johann Moritz Rugendas. É reproduzida em boa parte dos livros didáticos de história. Retrata homens e mulheres negros trabalhando sob o atento olhar da nobreza branca que, num plano superior da pintura, os observa. Aparentemente ingênua, apesar de ser clássica, em nada contribui para a afirmação da criança ou do adolescente negro na sala de aula.

IMAGEM EXTRAÍDA DE: SILVA, Francisco de Assis. História. São Paulo: Moderna, 1992.

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Esta imagem retrata os negros sendo capturados, ainda lá na África, nota-se que a captura é

realizada pelos próprios africanos negros. Os dois homens, à frente da imagem, armados com

espingarda, conversam enquanto um grupo de homens, mulheres e crianças estão amarrados ou

presos por paus atados aos seus pescoços. Tal imagem contribui na justificativa racista de que

eram os próprios negros que se escravizavam lá na África. Porém, tal fato deve ser

problematizado à luz de que a escravidão é inerente às sociedades e aos impérios desde a

antiguidade, incluindo o Egito, que teria escravizado o povo hebreu. Também os gregos eram

escravistas, bem como os romanos, considerados os maiores escravistas da história antiga; tais

escravidões eram por dívida ou por espólio de guerra. Modernamente, devido a Bula papal

Romanus Pontifex emitida pelo Papa Nicolau V, no ano de 1455, a escravidão africana foi

legitimada. Tratava-se, por parte da Igreja Católica Apostólica Romana, de conceder ao Rei D.

Afonso de Portugal o direito de explorar mão-de-obra escrava na África.

A violência é tônica geral que marca as imagens reproduzidas nos livros didáticos de

história. Quando a imagem não retrata o negro sofrendo violência física, mostra-o de maneira

aviltante, vulgar, desengonçado, caricatural, seminu e, quase sempre, trabalhando duramente sob

a vigilância de um capataz armado.

A simbologia dessa violência exacerbada, reproduzida pelos livros didáticos nos dá a

dimensão do que a pesquisadora Hebe Mattos chamou de “onda negra, medo branco”. De acordo

com ela, o medo que os homens brancos tinham dos homens negros era muito intenso, e a

violência brutal e insistente era uma das formas que eles utilizavam para tentar intimidar os

homens negros que, naquele período, eram a maioria da população.

A primeira constatação que se faz desse excesso de violência, difundido pelo livro

didático, refere-se ao fato de o historiador querer denunciar que essa prática foi a tônica que

marcou o processo de exploração da mão-de-obra do homem negro por parte do homem branco.

Outra constatação que o livro didático revela é a de que a relação entre os brancos e os negros

era intensamente violenta.

Entretanto, o que não se pode aceitar é uma visão simplista e reducionista da experiência

e da participação do homem negro na formação da nação brasileira.

Outra constatação que se faz emergente é a de que, embora violenta essa relação, os

homens negros conseguiram impor sua cultura, religião, gastronomia, costumes, lendas,

brincadeiras, entre tantas outras formas de vida existentes lá na África. Hoje sabemos que tais

experiências sobreviveram, apesar da brutal violência cotidiana.

PROBLEMATIZAÇÃO DAS IMAGENS

O livro didático, de modo geral, omite ou escamoteia a riqueza do processo histórico e

cultural, bem como a participação do povo negro da vida social brasileira.

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Em relação ao grupo afro-descendente nada é mencionado em nenhum dos livros

pesquisados, levando-nos à conclusão de que este material em nada contribui para a auto-estima

da criança negra.

Aquilo que o sociólogo Darcy Ribeiro chamou de povo brasileiro e que seria composto

pela contribuição das três matrizes étnicas formadoras da nação brasileira não foi incorporado nos

livros didáticos de história, uma vez que o componente negro aparece somente como ator

coadjuvante, ou seja, como mão-de-obra escrava.

Efetivação da lei n. 10.639/03

No Documento Oficial Brasileiro para a III Conferência Mundial contra o Racismo –

Durbai/2001) é reconhecida a responsabilidade histórica do Estado brasileiro “pelo escravismo e

pela marginalização econômica e política dos descendentes de africanos”.

CONCLUSÃO

Problematizou-se, então, o fato de que os livros didáticos escolheram, quase que

exclusivamente, imagens negativas e depreciativas do homem negro que viveu no Brasil desde a

colonização, e que tais imagens ainda hoje, século XXI, contribuem negativamente para a

formação de crianças e adolescentes negros, os quais, vendo tais ilustrações, não conseguem se

identificar com seus antepassados, e ainda, em relação às crianças e adolescentes brancos, tais

imagens reforçam ou criam indivíduos racistas, que utilizam os desenhos depreciativos e

humilhantes dos livros didáticos para menosprezar e humilhar seus coleguinhas negros.

A exibição dessa violência nítida, constante e repetitiva ao ponto da exaustão, tem uma

função ideológica, que é a de mostrar para as crianças e adolescentes, educandos, o que o

homem branco é capaz de fazer com o homem negro para que esse se mantenha subserviente,

calado e, por fim, na condição de escravo.

Ainda em tempos hodiernos essas imagens cumprem a função originária de sempre

lembrar aos negros que foram exclusivamente escravos, trazidos (arrancados) da sua terra pelos

brancos para serem escravos. Nesse contexto, o livro didático não colabora para minimizar a

inclusão do negro na sociedade, pelo contrário, continua sempre a lembrá-lo de que existe um

lugar reservado para ele nos porões da sociedade, e que a violência é utilizada constantemente.

A inexistência de outro tipo de imagem que cumpra uma função de afirmação, de orgulho,

ou de pertencimento, é categoricamente inexistente nos livros didáticos de história que

analisamos e nos demais consultados.

No livro didático percebe-se, nitidamente, que a humanidade e a cidadania são

representadas pelo homem branco e de classe alta.

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Não se trata, nessa pesquisa, de um negacionismo histórico, mas sim da alteração do

ponto de vista negativo para o ponto de vista positivo acerca do povo negro.

Nesta pesquisa foi latente a omissão das experiências de vida do povo negro enquanto

categoria social formadora da nação brasileira, onde aparece sempre na dualidade trabalho

escravo versus trabalho livre.

Ao veicular o negro de maneira estereotipada, o livro didático contribui para difundir uma

representação negativa desse povo em contraposição à imagem do branco, sempre salutar.

Criticar o material didático é fácil, no entanto, alterá-lo é uma questão crucial que precisa

ser melhor trabalhada nos contatos com professores. Isto significa que é possível aproveitar-se de

um bom texto, como “o povo brasileiro” de Darcy Ribeiro, desde que o professor tenha uma visão

ampla sobre o processo de leitura e, principalmente, sobre a formação do leitor, que

necessariamente deve estar ligada às noções de cidadão e eleitor.

PROPOSTA

Alteração imediata da maneira como o povo negro tem sua história transmitida pelo livro

didático.

SUGESTÕES METODOLÓGICAS

PROBLEMATIZAÇÃO DAS IMAGENS DEPRECIATIVAS DOS HOMENS E MULHES NEGRAS E

POSSIBILIDADE DE EXCLUSÃO DESTAS.

PROBLEMATIZAÇÃO DOS TEXTOS SIMPLISTAS ACERCA DA HISTÓRIA DA ÁFRICA E DO

REDUCIONISMO SOBRE O RAPTO DO POVO AFRICANO DE SUA TERRA;

INSERÇÃO DA PROBLEMATIZAÇÃO SOBRE A OPÇÃO DE ESCRAVIZAÇÃO DO POVO

NEGRO AFRICANO.

FONTES ALTERNATIVAS DE IMAGENS E TEXTOS QUE AFIRMEM A HISTÓRIA DO POVO

AFRICANO EM TODA A SUA DIMENSÃO POSITIVA E EM CONDIÇÕES DE IGUALDADE COM

A HISTÓRIA EUROPÉIA.

INSERÇÃO DA NOÇÃO DE POVO BRASILEIRO DESENVOLVIDA PELO SOCIÓLOGO DARCY

RIBEIRO, BEM COMO, TEXTOS DA SUA OBRA “O POVO BRASILEIRO”.

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ANEXO IV

OBRAS ANALISADAS:

VESENTINI, J William. Aprendendo sempre. História 5º ano. São Paulo: Ática, 2008.

VESENTINI, J William. Aprendendo sempre. História 5º ano. São Paulo: Ática, 2008.

CÁCERES, Florival. História do Brasil. 1. Ed. São Paulo: Moderna, 1993.

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MOTA, Myriam Brecho. História: das cavernas ao terceiro milênio. 1. São Paulo: Moderna, 1997.

SILVA, Francisco de Assis. História. São Paulo: Moderna, 1992.

PETTA, Nicolina Luiza de. História: uma abordagem: volume único 1. Ed. São Paulo: Moderna, 2005.

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CÁCERES, Florival. História do Brasil. 1. Ed. São Paulo: Moderna, 1993.

CASTELLS, Manuel. O Poder da Identidade. Rio De Janeiro: Paz e Terra, 1999

CUNHA JR, Henrique. África e Diáspora Africana - Mimeógrafado. Curso sobre cidadania e

relações raciais. ABREVIDA - Prefeitura de São Paulo - 1991. _________________. Africanidades Brasileiras e Afrodescendências. Mimeógrafo.

Teresina/Pi, 1996. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

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MOTA, Myriam Brecho. História: das cavernas ao terceiro milênio. 1.ed. São Paulo: Moderna, 1997. MUNANGA, Kabengele. Negritude: Usos e Sentidos, 2. ed. São Paulo: Ática, 1988.

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OLIVEIRA, R. Relações raciais: uma experiência de intervenção. 1992. Dissertação (Mestrado

em Supervisão e Currículo) Pontifícia Universidade Católica, São Paulo. PETTA, Nicolina Luiza de. História: uma abordagem: volume único 1. ed. São Paulo: Moderna,

2005. RODNEY, Walter. Como o Europeu Subdesenvolveu a África. Portugal-Lisboa: Editora Seara Nova., 1975. SCHWARCZ, Lilia Moritz; QUEIROZ, Renato da Silva (orgs.) Raça e Diversidade. São Paulo: Edusp/Estação Ciência, 1996. SILVA, Ana Célia da. A discriminação do negro no livro didático. Salvador: CEAO, CEDE, 1995. SILVA, Francisco de Assis. História. São Paulo: Moderna, 1992.

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http://www.culturabrasil.pro.br/racismo.htm acesso em 12/06/2005 às 19:28. VESENTINI, J William. Aprendendo sempre. História 5º ano. São Paulo: Ática, 2008.

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Recebido em: agosto de 2011

Aprovado em: outubro de 2011