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0 AS DONAS DA HISTÓRIA Capítulo 35. Novela de Renan Fernandes. Escrita por Renan Fernandes.

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AS DONAS DA

HISTÓRIA Capítulo 35.

Novela de Renan Fernandes.

Escrita por Renan Fernandes.

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 35

CENA 1. MANSÃO DE SÔNIA. QUARTO. INT. NOITE.

Continuação imediata da última cena do capítulo anterior.

Ao som de uma música de suspense, Jake começa a disparar fotos de Sônia

e Eriberto deitados. Depois, ele manipula a minicâmera infiltrada no

gabinete, e começa a filmá-los. CLOSE na expressão apreensiva de Jake, o

qual está com medo daqueles acordarem e flagrarem toda a situação.

Corta para...

CENA 2. MANSÃO DE SÔNIA. RUA. EXT. NOITE.

No carro, Antônio e Constantinopla conversam sobre a armação.

CONSTANTINOPLA — Mesmo que a gente consiga ter provas

concretas sobre a relação da Sônia com o

Eriberto, você não acha que será muito forçado

mostrar fotos íntimas do casal pro juiz, a fim de

alegar adultério?

ANTÔNIO — Eu não to entendendo essa sua crise de amnésia,

mãe! Ou você por acaso se esqueceu do que a gente

combinou há alguns dias? Você mesmo sugeriu que

a gente alterasse a data das fotografias,

insinuando que os dois já eram amantes a mais ou

menos um ano em meio! Ou seja, muito antes da

nossa separação!

CONSTANTINOPLA — Não é nesse ponto que eu quero chegar, meu

querido! É claro que eu não esqueci de todos os

detalhes...

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 35

... A questão é que eu voltei a refletir sobre essa

situação, e comecei a pensar nas falhas que podem

fazer toda a armação ser descoberta!

ANTÔNIO — Você poderia especificar essas tais falhas?

CONSTANTINOPLA — Claro que sim!

Constantinopla acomoda-se melhor no banco de acompanhante, olha para os

cantos e coloca o dedo indicador da mão direita em cima do lábio, num gesto

pensativo.

CONSTANTINOPLA — (encara-o) Antônio, veja bem... O destino nos

favoreceu com o fato da Sônia e o Eriberto

realmente terem engatado um romance. No

entanto, com as provas que a gente arrumou, os

dois podem descobrir a minicâmera infiltrada no

gabinete do computador do quarto, bem como a

entrada minha e do Jake pelos fundos da mansão!

Aí, tudo isso junto com a quase descoberta da

Sônia não só fará ela deduzir que você armou uma

cilada, como também ter certeza absoluta!

ANTÔNIO — Quanto a isso, você pode ficar despreocupada!

Depois de o Jake filmar o vídeo caseiro, ele vai

tirar a minicâmera do PC do quarto dela e trancar

a entrada dos fundos. Devolvendo a chave que só

eu tenho acesso, o que a Sônia vai poder alegar?

Você acha mesmo que ela vai ter argumentos

fortes pra se defender diante de imagens tão

escandalosas?...

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 35

... É ótimo que você tenha percepção e pense em

todos os detalhes. Mas vamos parar com essa

história de procurar pêlo em ovo, tudo certo?

Inclusive, eu vou agora mandar uma mensagem pro

celular do Jake, e pedir pra ele fazer tudo isso

que a gente comentou. Assim, nenhum furo ou

desatenção vai estragar os nossos planos!

Corta imediatamente para...

CENA 3. MANSÃO DE SÔNIA. QUARTO. INT. NOITE.

Após tirar as fotos e filmar o vídeo pela minicâmera, Jake começa a guardar

o tripé, e, após isso, verifica uma mensagem de texto do seu celular. Lendo a

mensagem, Jake observa rapidamente Sônia e Eriberto, que continuam num

sono profundo. Uma música de suspense começa a tocar no instante em que

ele deixa de olhar para os dois e olha ao redor do quarto, meio desnorteado

e confuso. Subentende-se que Jake se arrependeu de ter ido tão longe.

Porém, ele segue o que Antônio sugeriu, tira a minicâmera infiltrada no

gabinete, e sai do quarto com cuidado.

CENA 4. MANSÃO DE SÔNIA. SALA. INT. NOITE.

Primeiro, CAM foca, de longe, Jake descendo lentamente as escadas da

mansão. À medida que ele se aproxima do 1º andar, CAM se aproxima dele.

Já próximo ao sofá da sala, Jake apressadamente observa a mesinha na qual

Sônia e Eriberto provaram queijos e vinhos. E se aproxima do local a fim de

limpar a sujeira. Entretanto, ele ouve o barulho de uma porta do 2º andar

trincando, e, exasperadamente, Jake corre em direção aos fundos.

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CENA 5. MANSÃO DE SÔNIA. CORREDOR. INT. NOITE.

Num clima de suspense, CAM subjetiva mostra alguém abrindo a porta de

um quarto. A câmera está embaçada a fim de deixar claro que a pessoa

acabou de acordar. Logo, as mãos dessa pessoa são focalizadas encostando-

se nas paredes para não perder o equilíbrio. E, finalmente, CAM revela se

tratar de Sônia.

CENA 6. MANSÃO DE SÔNIA. QUINTAL. EXT. NOITE.

Nesse instante, CAM mostra Jake acabando de trancar a porta dos fundos

e correndo pelo fundo do quintal da mansão em direção à saída.

CENA 7. MANSÃO DE SÔNIA. SALA. INT. NOITE.

Atenção edição: alternar esta cena com a anterior.

Agora, uma sequência de fatos marca o instante no qual Sônia acorda e Jake

se direciona para a saída.

1. Sônia apoia-se no corrimão da escada para não cair, e começa a

enxergar melhor aos poucos.

2. Jake é visto, do PV de Antônio e Constantinopla, saindo pelo portão

dos fundos, atravessando a rua e correndo até o carro.

3. Sônia, já no 1º andar, tenta se equilibrar no sofá, ao mesmo tempo em

que observa cada canto da mansão. Após isso, ela se equilibra e foca

no seu jantar com Eriberto.

4. Jake entra no banco de trás do veículo e gestualmente deixa claro

que concluiu o plano.

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5. Por fim, Sônia se aproxima da comida, que está quase inteira, e nos

vinhos tintos que ela e Eriberto tomaram. Ainda drogue, Sônia

desmaia em cima do sofá.

6. Antônio acelera o veículo, e CAM se afasta da rua, se direcionando a

janela da sala, penetrando nela e explorando o local onde Sônia está

desacordada. CAM mostra uma prova deixada por Constantinopla: uma

pílula do sonífero.

CENA 8. MANSÃO DE SÉRVIA. QUARTO. INT. NOITE.

A discussão começou lá embaixo. A porta do quarto de Sérvia é focalizada

sendo aberta pela própria. Malu a segue e ambas se trancam lá dentro.

MALU — (falando ao andar) Não adianta tentar me

enrolar com esse seu gênero blasé e frívolo, minha

cara!

SÉRVIA — (senta-se na cama) Ninguém aqui ta fazendo

gênero, Malu! Eu apenas estou cansada, com um

pouco de indisposição. Você tem que entender! A

sua avó não é nenhuma garotinha ativa! Eu preciso

recuperar as minhas energias!

MALU — O que é isso, afinal? Recuperar energias?

Energias perdidas como? Fazendo muito esforço

físico que não deve ser, né? Só se for por muito

esforço mental. (insinuante) Afinal de contas,

deve ser mesmo difícil e trabalhoso ruminar

tantas desculpas originais pra tentar me fazer de

trouxa, não é mesmo?

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 35

Música de suspense. CLOSE em Sérvia, que lentamente vira o rosto para o

canto no qual está o seu espelho, e, de lá, nota Malu de pé, com os braços

cruzados, ansiosa por uma explicação.

SÉRVIA — (encara-a) O Irineu por acaso fez alguma

insinuação?

MALU — Insinuação?

SÉRVIA — Sim! Ele falou mal de mim pra você? Te botou

contra mim?

MALU — Que juízo mais deturpado você ta fazendo do

Irineu, hein? Por que ele faria isso? (senta-se ao

lado) Por ter descoberto algum podre seu? Afinal,

com certeza você fez algo que o deixou bastante

revoltado!

SÉRVIA — (tenta virar o jogo) Mas meu Deus! Você me

responde com outra pergunta! É claro que o Irineu

não descobriu nenhum podre meu! O que que há,

Malu? Você não acha que o fato de ele estar

estranho é justamente por ter se enjoado de mim?

Por estar com a pretensão de me trocar por

alguma garotinha novata que destila sacanagem?

MALU — Aí você já começou a baixar o nível da nossa

conversa! (irritada) Ah, quer saber de uma coisa?

Cansei desse assunto já! Realmente, você é uma

craque nessa categoria de se desvencilhar das

minhas perguntas! (levanta-se) Por hoje você pode

ficar tranquila! A pressão psicológica acabou! ...

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 35

... Mas pode ter certeza de que eu vou insistir até

saber o que existe por trás da minha querida

vovozinha! (vai até a porta) E olha que eu sou

persistente, viu? Eu sei esperar!

No impulso, Malu fecha a porta do quarto com força. CAM rapidamente se

aproxima de Sérvia, a qual se joga na cama, olha para cima e fica pensativa.

CAM faz CLOSE nos seus olhos parados e focados na direção do teto.

CENA 9. AGÊNCIA VITAL. SALA DE JÚLIA. INT. NOITE.

Cláudia se mostra surpresa com a audácia de Júlia. Pois esta propôs que

aquela fechasse um conchavo com ela a fim de tirar Malu da campanha

publicitária de perfumaria, e, consequentemente, da agência.

CLÁUDIA — (rindo) Deixa eu ver se entendi... (anda p/os

lados) Você, Júlia, chegando ao ponto de propor

uma união comigo? Só pra prejudicar a Malu?

Cláudia, de costas para Júlia, cruza os braços. Esta, por sua vez, levanta-se

da cadeira e se aproxima à medida que confabula.

JÚLIA — Você não queria que eu fosse direto ao ponto?

Então, foi o que eu fiz! Não preciso nem

pormenorizar o que qualquer um com um mínimo de

faro já constatou: que você é muito mais talentosa

do que a Malu, e não precisa dela pra nada!

CLÁUDIA — (vira-se p/ela) É claro que não você não precisa

detalhar mais! Porque você, Júlia, tem uma

qualidade inquestionável: é bastante clara nos seus

propósitos...

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 35

... Só que a sua clareza é tanta que qualquer pessoa

leiga pensaria bem antes de se envolver com você.

Se tornar sócia ou amiga de uma pessoa vil feito

você, só alguém tão mal-caráter ou tão sem opção

teria coragem!

Clima tenso. Júlia fica revoltada com o sarcasmo de Cláudia.

JÚLIA — Isso quer dizer que você não vai fechar um

conchavo comigo?

CLÁUDIA — Isso quer dizer que eu não vou me deixar

manipular pelas suas ideias baixas e se tornar um

instrumento pra você atingir a Malu! Antigamente

eu juro pra você que chegava a sentir pena. Pena

pelo seu jeito frustrado, inseguro e possessivo.

Além disso, eu acredito que aquelas suas ironias,

as suas doses diárias de veneno tinham um pé pra

loucura! Mas agora, com essa sua proposta nojenta,

eu cheguei à conclusão de que você não é

descompensada, não. Que você é maquiavélica

mesmo!

JÚLIA — (revoltada) Eu já deveria ter percebido como

você é tão desprezível quanto aquela lá! Fui idiota

em achar o contrário! (volta para a cadeira) Ah,

Cláudia... Se você soubesse o que ta perdendo por

conta dessa sua demonstração de amiga de

infância...

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 35

CLÁUDIA — Eu só to sendo coerente com os meus

propósitos. Diferente de você, que, com esse seu

arsenal de defeitos, se perde nos próprios

argumentos e acaba sempre saindo na

desvantagem!

JÚLIA — Em desvantagem vai sair você caso tenha a

audácia de contar pra alguém sobre essa nossa

conversa! Se por acaso o Gene, ou então o

Guilherme ficarem a par do que eu te propus,

Cláudia, pode ter certeza de que eu não vou medir

esforços em arrasar com a sua carreirinha

meteórica e medíocre!

CLÁUDIA — (não se atemoriza) Viu só como você é, Júlia?

Incoerente, autoritária, invejosa, desprovida de

amor próprio! (apoia os braços sobre mesa) Eu,

sem dúvida, sou uma pessoa muito paciente e com

muito bom-senso por, apesar de tudo isso, não ter

tomado a iniciativa de esfolar essa sua cara safada

e ordinária. Porque, mesmo que você mantenha

essa pose, essa autoridade, e vindo com essas

ameaças, eu é que posso ferrar com a sua vidinha!

Mas eu prefiro não me rebaixar. Não é por aí que

se resolvem questões tão primárias e habituais.

Afinal de contas, o ser humano tem a tendência de

seguir a tal linha de raciocínio...

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 35

... Olho por olho, dente por dente! (direciona-se

até a porta) Pra mim essa conversa não sai daqui!

Nem a Malu precisa saber, ou melhor, se decair

tanto e dar importância pra uma inimigazinha tão

precária igual você!

Cláudia olha atentamente para Júlia, que vira o rosto e demonstra

perturbação. Depois, aquela fecha a porta sutilmente, e esta, revoltada,

começa a quebrar toda a sala. CLOSE na sua expressão frustrada.

CENA 10. CASA DE FABIANO. SALA. INT. NOITE.

Clima tenso. Neusa começa a pegar as suas malas do chão, direciona-se à

porta grande da frente e passa ao lado de Fabiano. Este acompanha os

passos dela, e, antes que ela saia, ele intervém.

FABIANO — Pára com isso, mãe! Você ta se precipitando

demais com essa decisão!

NEUSA — (vira-se p/ele) Precipitação? Não acho! Pra

mim essa é uma das decisões mais bem pensadas

de toda minha vida! Agora, não fique você tentando

associar essa minha atitude com um caprichozinho

particular. De uma mulher frustrada,

preconceituosa, solitária e tantos atributos mais.

Sandra, Leandrinho e André sentam-se no sofá, ficando em 2º plano na cena.

Pode-se notar que eles apenas se entreolham e comentam algo entre si. Já

Fabiano, fica em evidência na cena, na frente deles e encarando a sua mãe

com clemência.

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 35

FABIANO — (arrependido) Dona Neusa... Eu não falo essas

coisas, eu não te ofendo tanto por pura grosseria

ou egoísmo! (aproxima-se) O meu objetivo sempre

foi fazer com que você passasse a entender

melhor a personalidade de cada um dos seus filhos.

Eu e a Taís somos completamente diferentes, isso

é fato. Mas o que nos torna um pouco parecidos é

justamente o fato de não termos a capacidade de

relevar essa sua mania de nos julgar, nos insultar!

NEUSA — (emocionada) A questão é que vocês, nessa

história toda, sempre se enquadraram como as

vítimas. Enquanto eu sempre fui considerada a

algoz, a vilã. Nunca entenderam os meus motivos,

os meus problemas, frustrações. (reflexiva) Sabe,

Fabiano... Desde quando o seu pai morreu de

câncer, no final de 2009. Justo meses depois da

Taís ter ido aos EUA, eu comecei a me sentir

vazia, incompreendida. Acabei assumindo todos os

problemas da família, entubei muitas barras

sozinha. Como, por exemplo, prestação da casa,

dívidas deixadas pelo seu pai, que nunca foi uma

pessoa muito precavida mesmo. Além de tudo isso,

eu tive que suportar a perda dele, tentar

preencher a minha vida sem o amor dele, a

dedicação dele...

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 35

... Porque, apesar de todos os defeitos, o Vicente

era muito amoroso, você tem que admitir.

(controla o choro) Mas eu não to relembrando

essas coisas pra justificar a minha saída de agora.

Eu simplesmente to expondo a minha vida pra você

entender que eu também sou humana, que eu tenho

o direito de errar, de criticar, de não aceitar

certas situações. Afinal, a minha função aqui nunca

foi ser um carrasco na sua vida e na da Taís. A

minha função aqui sempre foi ser a responsável

pela vida, pelo encaminhamento dos dois. Função

essa que pelo visto eu fracassei, tendo em vista

que você continua aí, perdido, sem saber o que

quer da vida, e a Taís continua lá, impulsiva,

aprontando... (olha p/a porta) Portanto, é isso,

Fabiano! Eu vou dar um tempo pra minha vida, e de

quebra proporcionar a vocês a minha ausência, que,

com certeza, já era um desejo tanto seu quanto da

Taís!

Tocado com as palavras de sua mãe, Fabiano até tenta fazer um gesto para

ela não ir. No entanto, Neusa decididamente vira as costas e sai com as

malas.

FABIANO — (p/todos) Eu vou atrás dela!

LEANDRINHO — (aproxima-se) Fabiano, como ela mesma disse, é

só um tempo!

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 35

FABIANO — (nervoso) Mas ela vai embora como? Vai pegar

um ônibus nessas horas, carregando aquelas

muambas?

SANDRA — (fica ao lado de Leandrinho) Ela já tinha

pedido um táxi pra levá-la até a rodoviária. Já

deve ta chegando.

ANDRÉ — (aproxima-se de Fabiano) Fica tranquilo, meu

amigo! Respeite o momento dela! Isso é pra você

começar a enxergar esse seu conflito com a dona

Neusa de uma forma menos unilateral. Ou seja, não

enxergando apenas as brigas de vocês como uma

provocação dela!

FABIANO — (emocionado) Ela nem se despediu de mim

direito!

Impulsivo, Fabiano sai da casa, e André, Leandrinho e Sandra ficam por lá,

sem saber como se posicionar.

Corta imediatamente para...

CENA 11. RUA DA CASA DE FABIANO. INT. NOITE.

Segundos depois, ao som de Wish You Were Here-The Bee Gees, CAM foca

em Neusa entrando no táxi, não olhando para os lados, e no veículo

acelerando. Após isso, CAM mostra Fabiano abrindo o portão, direcionando-

se à calçada, e notando o carro indo embora. zwerCLOSE na sua expressão

confusa e desnorteada. Depois, ele pega o seu celular, e tenta ligar para

Taís.

Corta imediatamente para...

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CENA 12. GUARATUBA. APART. INT. NOITE.

Taís percebe seu celular tocar, vê o nome de Fabiano no visor, porém não

atende. Pois está numa conversa séria com Codinome, que se sentiu

pressionado quando ela perguntou sobre os maloqueiros que o secaram, há

alguns minutos, na praia do Cristo.

CODINOME — (inquieto) Taís... Não fica tentando fazer

dedução errada a meu respeito.

TAÍS — Como assim? (guarda o celular na bolsa da

calça) A minha pergunta não teve o objetivo que

você ta pensando, Codinome. Eu não quero te

criticar por nada. Só quero que você cumpra o seu

papel nessa relação que a gente ta começando a

construir agora. Ou seja... (aproxima-se) Eu quero

que você exponha a sua vida, sem medo de

represálias.

CODINOME — (coloca as mãos no rosto dela) Meu amor... É

incrível como você é uma gata decidida, esperta, e,

principalmente, com uma sensibilidade que

consegue captar cada detalhe, qualquer coisa fora

do lugar. (tira as mãos/anda p/os lados) Eu sei

que eu to tentando te enrolar, mas é que o meu

envolvimento com gente mais barra-pesada

realmente é um fato consumado. (encara-a)

Aqueles caras que me secaram na praia são de uma

gangue aí,

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que se envolve em rachas nas estradinhas do

litoral. O meu parceiro que mora aqui, ele é um dos

líderes do bando!

TAÍS — E você se enquadra em qual categoria no meio

dessa gente? Você participa dos rachas? Gerencia

os “pegas”?

CODINOME — No começo, eu me divertia! Agora to num lado

mais comercial! Quer dizer, eu ainda piro com a

rapaziada, mas também participo de todo o

esquema. É complicado eu expor tudo o que eu

faço, mesmo você sendo de total confiança, e

entendendo que nesse mundo marginalizado não

existe lugar pra regras politicamente corretas!

TAÍS — Tudo bem, Codinome! Você não precisa entrar

em detalhes. Eu já entendi que você ta numa

jogada bastante perigosa! (sem jeito) Eu sei que

você tem os seus motivos. Deve ser uma barra ter

que sustentar a sua mãe, lá em Curitiba, que ficou

em depressão depois da prisão do seu pai!

Codinome abaixa a cabeça, triste e pensativo.

TAÍS — Mas a única coisa que eu te peço é pra você

tomar cuidado! Apesar de saber que você é um

cara inteligente... (abraça ele) Eu tenho medo

desses seus amiguinhos aí, um dia, num momento

de desespero por serem pegos, te prejudiquem e

façam você arcar com todos os erros deles!

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 35

CODINOME — (fecha os olhos/atraído) A sua preocupação me deixa ainda

mais apaixonado, sabia?

TAÍS — (rindo/desvencilha-se) Eu to falando sério, seu

maluco! Você realmente é uma peça, né, Codinome!

Com os braços enlaçados no ombro dele, ambos começam a sorrir e se

beijam calorosamente. A partir disso, começa tocar a música All Together

Now-The Farm – já na parte do refrão.

CODINOME — (para de beijar) Vamos mudar de assunto um

pouco! Pra quê só focar em problemas, hein? Será

que a gente não pode ter um tempo pra respirar?

TAÍS — (observa as taças de champanhe) E o pior de

tudo é que a gente se esqueceu de brindar esse

momento com as nossas biritas!

CODINOME — (debocha) Birita é muito anos 80, você não

acha?

TAÍS — (pega sua taça) O que eu acho é que a gente

tem muita coisa pra viver junto. Muita alegria,

muita luta, quem sabe um pouco de sofrimento.

(ergue a taça) Mas simplesmente, meu amor, nós

dois temos que viver intensamente!

CODINOME — (sorri) Exatamente!

Ambos brindam e bebem, encarando-se posteriormente.

CENA 13. GUARATUBA. APART. QUARTO. INT. NOITE.

A música da cena anterior cessa por aqui. Num momento de silêncio, Taís e

Codinome são focalizados, de perto, estirados na cama.

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Ele, em cima dela, encara-a com paixão, e a luz azul do abajur faz o clima do

casal mesclar romance com desejo. Logo, a música Build-The Housemartins

começa a tocar, e ambos beijam-se calorosamente. Depois, ele se

desvencilha dela e nota-a respirando ofegantemente. Eles sorriem e se

envolvem com mais afinco.

CENA 14. CURITIBA. APART DE JAKE. SALA. INT. NOITE.

O clima romântico da cena anterior dá lugar a um momento que mistura

frenesi com suspense. Rapidamente, CAM mostra Jake abrindo a porta do

seu apart, e sendo seguido por Antônio e Constantinopla. Esta fecha a porta

e segue os dois até o quarto daquele.

Corta imediatamente para...

CENA 15. APART DE JAKE. QUARTO. INT. NOITE.

Segundos depois, CAM abre mostrando Jake sentado numa cadeira e

mexendo em um computador. Antônio é visto ao seu lado, de pé e com os

braços esticados na mesinha do PC. Já Constantinopla é focalizada

empurrando a porta do quartinho e se direcionando a eles.

CONSTANTINOPLA — E então, Antônio? O primeiro passo do plano, de

fotografar e filmar o casalzinho num momento

íntimo, já foi concluído. O segundo passo é alterar

a data das fotografias?

ANTÔNIO — (pacientemente) Também! Porque, além disso, o

Jake vai criar um profile fake da Sônia no

facebook e, de lá, adicionar todas as fotos dela

com o Eriberto!

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 35

CONSTANTINOPLA — Você realmente ta jogando pesado, hein? Vai

expor a vida da sua mulherzinha ao ridículo, e sem

medo de transgredir princípios e condutas!

ANTÔNIO — (encara-a) Só dessa forma, atirando pra todos

os lados, é que eu posso garantir que ninguém

refutará as provas falsas contra a Sônia!

Logo, ele e sua mãe observam Jake criando o perfil falso, adicionando as

fotos e alterando a data das fotografias, insinuando que elas foram feitas

em julho de 2012. CLOSE na data alterada.

Som de suspense no final da cena.

CENA 16. RUA DO APART DE JAKE. EXT. NOITE.

Minutos depois, Antônio, Constantinopla e Jake estão na rua do local. O

carro daquele pode ser visto do outro lado. CAM foca neles na beirada da

calçada, com carros passando no tráfego intenso.

JAKE — A minha função terminou aqui! Sem querer

bancar o moralista, eu devo admitir que vocês

foram até as últimas consequências.

ANTÔNIO — Foi necessário! (encara-o) Agora, eu quero que

você me empreste a sua câmera fotográfica! Eu

ainda tenho uma última coisa pra fazer!

JAKE — Olha só, eu espero que você cuide bem dela!

Isso aqui é o meu ganha-pão, e é um das marcas

mais caras e mais sofisticadas. Tive que

economizar meses do meu salário de peão pra

consegui-la.

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 35

ANTÔNIO — Não precisa chorar, também! Eu não sou nenhum

irresponsável! (estica a mão direita) Vamos, me

dê!

Relutando Jake entrega a câmera a Antônio. Esse gesto é visto do PV de um

carro que se aproxima deles e passa ao lado, seguindo o rumo pela rua. O

veículo é de Irineu, o qual fica intrigado ao ver Antônio e Constantinopla de

conversa com Jake, mas continua o seu caminho habitual.

CENA 17. APART DE ANTÔNIO. QUARTO. INT. NOITE.

Minutos depois, Constantinopla e seu filho estão no quarto dele. Ele

manuseia as fotos, ao mesmo tempo em que mexe no seu notebook.

CONSTANTINOPLA — O que você vai fazer agora?

ANTÔNIO — Eu descobri a senha do e-mail da Sônia! Agora,

eu vou mandar uma mensagem com as imagens dela

com o Eriberto pra todos os contatos! Finalmente,

minha mãe, a gente cumpriu tudo o que prometeu.

E o melhor: sem falhas ou incoerências!

Antônio acessa a conta dela, coloca um cabo USB para passar as fotos, e,

por fim, adiciona-as ao e-mail dela, passando para todos os contatos.

CENA 18. APART DE IRINEU. SALA. INT. NOITE.

Irineu mexe no seu tablet e recebe uma mensagem suspeita de Sônia. Ele

acessa o conteúdo e fica chocado com o que vê.

CENA 19. MANSÃO DE SÔNIA. SALA. INT. DIA.

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 35

No dia seguinte, Sônia já está recuperada. Eriberto desce com dor de

cabeça. Logo, a campainha toca. É Irineu, que entra nervoso na sala.

IRINEU — Então é verdade! Vocês dois, amantes!

CLOSES alternados entre os três personagens.

PRIMEIRO BREAK.

Tema de abertura: UNDER PRESSURE-QUEEN.

CENA 20. MANSÃO DE SÔNIA. SALA. INT. DIA.

Continuação imediata da última cena do bloco anterior.

Clima tenso. Sônia vira o rosto e mira em Eriberto se aproximando dela.

Depois, volta a encarar Irineu, o qual está inquieto e constrangido.

IRINEU — Como que pode uma coisa dessas? Não que eu

queira me meter nessa sujeita toda, mas vocês

chegaram a um ponto vergonhoso nessa relação

extraconjugal. Pra quê expor a vida íntima de

vocês na Internet, numa terra de ninguém? Vocês

perderam o pudor e a vergonha, é isso?

Música de suspense. Sônia e Eriberto ficam confusos com tantas afirmações

acusatórias. Assim, ambas ficam próximos um do outro, voltam a se encarar

e revidam Irineu.

ERIBERTO — Escuta aqui! Tudo isso que você ta falando agora

não faz o menor sentido! (aproxima-se dele) O

que você ta querendo com tudo isso, hein? Quer

explicar direito o que ta acontecendo?

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 35

IRINEU — E eu preciso explicar alguma coisa? Todas as

imagens que a Sônia me mandou do e-mail dela

valem mais do que qualquer argumentação

falaciosa!

SÔNIA — (confusa) Fotos? Mas que fotos são essas?

IRINEU — Como que fotos? As fotos íntimas de vocês! E

o pior de tudo é que no facebook seu, Sônia, tem,

além das fotografias, vídeos íntimos seus com esse

sujeito aí!

SÔNIA — (senta-se/confusa) Espera, Irineu! Você não ta

entendendo quantas situações estranhas estão

acontecendo comigo e com o Eriberto! (encara-o)

Eu acabei de acordar, deitada aqui, no meio de um

jantar que nós dois fizemos ontem à noite. Só que

eu não me lembro de nada do que aconteceu que

me fez dormir por aqui, enquanto o Eriberto ficou

lá em cima, no quarto dele!

ERIBERTO — A gente só lembra que, antes de apagarmos,

algum vândalo jogou uma pedra na janela do quarto

da Sônia. E nisso, ela correu lá em cima pra ver o

estrago, no mesmo instante em que eu fui lá fora

ver se achava o autor dessa pilantragem!

IRINEU — Sim! E o que isso tem a ver com as fotos íntimas

de vocês, publicadas na Internet?

SÔNIA — Irineu, vamos em partes! Me mostra essas

fotos, essa mensagem enviada pelo meu e-mail!

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 35

(levanta-se) Vamos tentar esclarecer toda essa

história de uma maneira civilizada e descente!

Porque essas suas ofensas, essas suas acusações,

só vão gerar brigas, confusões e muitas conclusões

erradas!

IRINEU — (controla-se) Tudo bem! Vamos até o seu

computador. Eu vou mostrar a você o que eu

recebi!

SÔNIA — Tudo bem!

Nisso, os três sobem as escadas da sala e CAM acompanha os passos deles.

Após sumirem de cenário, CAM volta a caminhar ao redor do 1º andar e volta

a focalizar a pílula do sonífero, a qual está no chão, próxima do jantar da

noite anterior.

CENA 21. APART DE ANTÔNIO. SALA. INT. DIA.

Antônio toma o seu café tranquilamente. Constantinopla, que acabou de

acordar, surge do corredor, despreguiça-se e abre a persiana da janela da

sacada. De lá, ela observa a vista do local, ficando de costas a Antônio.

Depois de tomar um gole de café, ele vira o rosto, observando-a.

ANTÔNIO — A gente ficou tão focado naquela história da

Sônia que eu acabei me esquecendo da Taís. Você

tem que entrar em contato com essa menina e

avisar que a entrevista pro emprego dela foi

adiada. Porque hoje eu quero descansar, por isso,

vou deixar a clínica nas mãos de um dos

residentes!

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 35

CONSTANTINOPLA — (vira-se p/ele) Você tem toda a razão! Nós

precisamos mesmo se cuidar um pouco mais.

Egocentrismo sempre é bem-vindo!

Antônio ri por dentro e Constantinopla se aproxima lentamente da mesa de

café.

ANTÔNIO — (notando-a) O que aconteceu? Hoje você ta

muito calada. Nem parece aquela mulherzinha

persuasiva, dona de uma lábia invejável!

CONSTANTINOPLA — (pega uma torradinha) Tava maquinando umas

coisas aqui! (encara-o) Coisas relacionadas ao

depoimento falso da Taís! Agora é só uma questão

de dias pra Leda ser capturada. Por sorte, ela

nunca soube o meu nome verdadeiro. E, além disso,

tivemos pouco contato!

ANTÔNIO — Eu nunca entendi direito como funcionava esse

esquema com o Nader. Você, mesmo gerenciando,

mantinha a discrição?

CONSTANTINOPLA — Só as meninas traficadas é que me conheciam

direito. Mas cada uma se dispersou pra um canto

após a falência do bordel. Já a Leda, tinha mais

relação com o Nader. Era dona de um

estabelecimento que se situava num bairro

decadente de Nova Iorque. E, às vezes, ela e o

Nader negociavam trocas de prostitutas, a fim de

render mais lucro, e, sobretudo, despistar a

polícia!

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 35

ANTÔNIO — Eu não tenho moral nenhuma pra julgar. Mas

você, minha mãe, baixou o nível de um jeito que a

sua vida só não é mais medíocre por falta de

espaço!

CONSTANTINOPLA — Você não tem mesmo, meu querido. Ainda bem

que bom-senso sempre foi uma das suas virtudes.

(levanta-se) O que me resta é aguardar a prisão

da Leda. Só assim, definitivamente, eu vou ter paz

e sossego!

Som de suspense no final da cena.

CENA 22. MANSÃO DE SÔNIA. QUARTO. INT. DIA.

Ao som de uma música de suspense. CAM abre na tela do computador de

Sônia. Depois, mostra Irineu entrando num navegador e acessando a sua

caixa de e-mails. Ele mostra a mensagem que recebeu do e-mail daquela.

SÔNIA — Mas eu não costumo mandar mensagens desse

tipo. Só se alguém hackeou a minha senha!

ERIBERTO — Tudo isso é muito perigoso, Sônia! A gente

precisa tomar cuidado com qualquer tipo de

programa que a gente baixa ou, então, sites

suspeitos dos quais nós acessamos!

IRINEU — Eu sei que fui muito intolerante com vocês. E me

meti demais onde não sou chamado. Mas vejam

vocês mesmos se isso não é motivo pra chocar

qualquer pessoa!

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 35

Logo, ele abre a mensagem, baixa o anexo no qual estão fotos picantes de

Eriberto e Sônia, e, após isso, CAM se aproxima destes, os quais ficam

estarrecidos.

SÔNIA — Mas o que é isso? Essas fotos, aqui em casa, no

quarto!

ERIBERTO — E as datas das fotografias estão alteradas.

23/07/2012? A gente nem se conhecia nessa

época!

SÔNIA — (nervosa) Eriberto! Eu sabia que não era

neurose aquela nossa dedução a respeito do

Antônio!

IRINEU — (curioso) O que o Antônio tem a ver com essa

história?

SÔNIA — Muito mais do que a gente podia imaginar,

Irineu! O Antônio armou uma cilada nojenta contra

mim e o Eriberto! Com certeza, ele descobriu que

a gente começou a namorar recentemente, mas

isso depois de termos assinado um acordo de

separação. E agora, ta jogando pesado a fim de

querer toda essa mansão pra ele!

IRINEU — (levanta-se) Espera! Então você acha que essas

fotografias, essas mensagens, foram tudo frutos

de uma grande armação, é isso?

SÔNIA — (anda p/os lados) Irineu! Eu to tentando

refletir sobre tudo o que aconteceu de modo

calmo e minucioso!

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 35

Eu sei que você não tem nada com isso, mas agora

que você acabou se envolvendo, eu e o Eriberto

vamos explicar a você tudo o que vem acontecendo

ultimamente que nos fez concluir o envolvimento

do Antônio nessa armadilha!

IRINEU — Então pode começar. Eu sou todo ouvidos!

CLOSES alternados entre os três personagens.

CENA 23. GUARATUBA. PRAIA CAIEIRAS. EXT. DIA.

Dia ensolarado, iluminando o mar e os banhistas. De costas para a CAM, Taís

é focalizada sentada numa cadeira de praia. Somente de biquíni, ela observa

o mar e as praias próximas. Codinome surge logo mais, trajando apenas um

calção de mergulho.

CODINOME — (coloca uma cadeira ao lado/senta-se) Ta

pensativa, moleca! Apreciando a paisagem, matando

a saudade desse clima de maresia...

TAÍS — (sorri/vira-se p/ele) Na verdade, eu não to

pensando em nada. Só tentando me desconectar da

realidade um pouco! Acabei de receber uma

mensagem de celular, de uma mulher que descolou

um emprego pra mim numa clínica de cirurgia

plástica lá em Curitiba. A entrevista foi adiada pra

amanhã. É ótimo pra eu aproveitar essas horas com

você!

CODINOME — (acaricia o rosto dela) Claro que sim!

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 35

Eu to feliz demais, gata, e bastante

despreocupado também! Por mais irônico que possa

parecer, ainda mais pela gente ser um tanto quanto

pecadores, você me transmite uma paz incrível.

Tão incrível que nem uma carola, com as suas

orações repetitivas e decoradas, conseguiria essa

façanha!

TAÍS — (olha ao redor/pega a mão dele) Realmente,

você é único, Codinome! Vai ver é por isso que eu

te amo. Por ser tão do contra e tão mundana como

você!

CODINOME — (beija a mão dela/observa o mar) Mas então...

Daqui a pouco eu vou ter que resolver um negócio

meio sério! Voltar pra realidade, minha gata!

TAÍS — (encara-o) Toma cuidado, hein! Mesmo tendo

uma visão superficial desse seu esquema dos

rachas, não preciso nem repetir o que já te disse

ontem à noite!

CODINOME — Pode sossegar. É só uma grana que eu tenho que

receber. Esse meu amigo, o dono do apart, ligou

agora pouco pro meu celular e disse que ta lá em

Caiobá. Nós marcamos de se encontrar na frente

do Ferry-Boat, no lado da cidade de Guaratuba

mesmo.

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Ele, junto com um parceiro de São Francisco do

Sul, o qual tem relação com os nossos esquemas

daqui, virão com a grana e, no embalo, já vamos

preparando umas novas corridas.

TAÍS — E essas caras são realmente de confiança? É

lógico que a minha pergunta é ingênua demais.

Imagina se alguém daria moral pra gente tão

maloqueira!

CODINOME — Procura não ter uma visão tão maniqueísta das

coisas, Taís. O tal carinha de Santa Catarina é só

um colega, nada de muita intimidade. Enquanto

esse dono do apart é meu parceiro mesmo. Agora,

nesse caso, minha gata, não existe amizade,

tampouco facilitações. Quando o negócio envolve

dinheiro, o que conta é a ginga, a capacidade de

saber se impor e de tirar vantagens. Todo mundo

sai lucrando nessa história. Sem falcatruas, sem

traições!

TAÍS — (preocupada) Eu vou dar um mergulho!

CODINOME — Tudo bem!

Som de suspense. Taís levanta-se da cadeirinha, corre em direção ao mar e

começa a mergulhar. Codinome, agora preocupado, tenta manter a calma e

sorri ao ficar observando-a na praia.

CENA 24. CURITIBA. MANSÃO DE SÔNIA. SALA. INT. DIA.

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 35

Sônia, sentada no canto direito do sofá, explica todas as suas deduções a

Irineu, o qual está numa poltrona, de braços cruzados. Eriberto, por sua

vez, pode ser notado em 2º plano, caminhando ao redor deles.

SÔNIA — E então, Irineu? Depois de eu relatar tudo o que

me aconteceu nesses últimos dias, desde aquele

fotógrafo tirando fotos minhas com o Eriberto na

frente da casa dele, até essas mensagens do e-

mail mostrando a nossa intimidade, faz ou não faz

sentido pra você que houve uma armação?

IRINEU — Sônia... Com certeza, da forma que você

explicou, tudo ta relacionado com um único

objetivo: te desmoralizar! Agora, o Antônio descer

o nível de uma forma tão desprezível...

Sinceramente, ainda ta difícil de digerir! Apesar

de que...

SÔNIA — De quê, Irineu?

IRINEU — (lembra-se de algo) Escuta... Como era a

fisionomia do tal fotógrafo que espiava você e o

Eriberto?

SÔNIA — (observa Eriberto andando sem parar) Bom...

Ele era um jovem alto, caucasiano, cabelos

escuros, olhos azuis!

IRINEU — Todas essas descrições batem com uma pessoa

que eu vi, ontem à noite, conversando com o

Antônio e a Constantinopla!

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Numa hora em que eu passava de carro, e na qual

eu acabei avistando esse sujeito entregando uma

câmera ao Antônio!

Música de suspense. CLOSE em Sônia, que encara Eriberto rapidamente, e

este para um pouco de andar para retornar o olhar.

SÔNIA — Viu só, Irineu? A gente ta começando a

esclarecer muita coisa. E, principalmente, a recriar

cada passo de uma cilada minuciosamente

premeditada! Você se lembra do horário no qual viu

os 3 juntos?

IRINEU — Foi por volta das 23 horas!

SÔNIA — 23 horas? Bom... A última lembrança minha foi

após um vândalo jogar pedra na janela daqui, por

volta das 21 horas e 35 minutos! Depois, eu e o

Eriberto apagamos!

IRINEU — Você acha que um deles entrou na mansão,

infiltrou uma câmera no seu quarto, sem vocês

perceberem nada?

SÔNIA — Faz todo o sentido. Afinal de contas, no

momento do ato de vandalismo, o Eriberto foi até

lá fora e eu subi. Nesse instante, alguém deve ter

entrado aqui!

IRINEU — Eu só não entendo como vocês dormiram e não

conseguiram ver mais nada depois disso!

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 35

CAM se afasta dele e de Sônia, focando em Eriberto avistando uma pílula do

remédio que Constantinopla despejou no vinho deles. Eriberto pega o

remédio e mostra a eles.

ERIBERTO — Eu acho que isso pode responder a sua pergunta,

Irineu!

Sônia pega a pílula, abre-a e vê que ela contém um pó branco.

SÔNIA — Vamos até uma farmácia! Se isso aqui for o que

eu to pensando... Nós finalmente matamos a

charada.

Som de suspense no final da cena.

CENA 25. CASA DE JAQUELINE. COZINHA. INT. DIA.

Ela e Cláudia tomam um café reforçado, juntamente de Fabiano e André,

que vieram visitá-las.

JAQUELINE — Adorei a vinda de vocês até aqui! O André mora

praticamente aqui do lado e raramente marca

presença!

ANDRÉ — (ri/senta-se na mesa) Nem liguem pra esse

meu lado antissocial! Depois dizem que os

curitibanos são misantropos. Sendo que, eu

capixaba, ajo dessa maneira tão antipática!

CLÁUDIA — Não exagera também, né, André? Se for

analisar, nós também paramos de ir te visitar! Mas

mudando de assunto... O Fabiano me parece meio

preocupado! O que aconteceu, gente?

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 35

FABIANO — Pois é, Cláudia... A minha mãe saiu de casa, foi

passar um tempo em Wenceslau Braz!

JAQUELINE — Mas por qual motivo?

FABIANO — Acho que ela decidiu refrescar a cabeça,

esquecer os problemas relacionados a mim e a

Taís. Principalmente, depois daquela notícia da

morte do Nader, o cara que explorou a Taís nos

EUA, sabe?

CLÁUDIA — Claro que sim!

ANDRÉ — Mas deixa a sua mãe espairecer, Fabiano!

Respeita a decisão dela!

JAQUELINE — Isso mesmo! Deixa ela viver a vida um pouco, de

modo que a sua mãe consiga tirar uma boa

experiência dessa nova fase.

Corta imediatamente para...

CENA 26. WENCESLAU BRAZ. RUA PRINCIPAL. EXT. DIA.

Ao som de Someone belonging to someone-The Bee Gees, CAM começa

mostrando a vista geral da rua principal dessa cidadezinha interiorana, a

qual é bastante aconchegante e ensolarada. Logo, CAM se aproxima de

Neusa, a qual está andando pelas calçadas locais e observando a cidade com

um ar nostálgico, visto que ela passou a infância ali. Depois, CAM acompanha

os passos dela até uma rua de pedra, na qual se localiza a casa de sua mãe.

Esta, que se chama Raquel, observa-a pela janela de sua casinha de madeira,

e Neusa, avistando-se, sorri e atravessa a rua em direção à casa.

Corta imediatamente para...

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 35

CENA 27. CURITIBA. CASA DE JAQUELINE. SALA. INT. DIA.

Minutos depois, Cláudia, Jaqueline, André e Fabiano estão sentados no sofá.

Aquela, nesse instante, comenta sobre a proposta que Júlia a fez na noite

anterior.

JAQUELINE — Mas que criatura ardilosa, hein? A que ponto ela

chegou somente com o intuito de prejudicar a

Malu...

CLÁUDIA — A Júlia simplesmente é uma pessoa que tem uma

noção quase nula de humanidade, de caráter,

características tão naturais de qualquer um de

nós.

ANDRÉ — Então, nesse caso, Cláudia, é melhor você tomar

cuidado. Porque, se ela é tão desprovida de

discernimento, ou seja, não tem a capacidade de

separar vida profissional com pessoal, com certeza

ela não teria dificuldade em atropelar as pessoas

que não cedem aos caprichos dela.

CLÁUDIA — Concordo com você!

FABIANO — Não sei se eu tenho o direito de criticar alguém

que eu mal conheço. Mas, em partes, o que deve

ter tornado essa Júlia tão, digamos, ordinária, foi

essa paixão louca que ela nutre pelo marido!

JAQUELINE — É exatamente isso, Fabiano. Mas Cláudia... Quem

realmente tem que tomar cuidado com essa

mulher, é a Malu.

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Porque ela, sim, é o alvo certeiro dessa mulher. E,

depois de tudo isso que você me contou. Sem

dúvida, a Júlia já começou a preparar um arsenal

de armações. Portanto, ela vai usar todas as

possibilidades vis até atingir a Malu! Pode ter

certeza!

CLOSE no olhar distante e pensativo de Cláudia.

CENA 28. RUA DA MANSÃO DE SÉRVIA. EXT. DIA.

De lado, CAM mostra Malu abrindo o portão e se preparando para a sua

corrida matinal no Parque Barigui. Ela está trajando um uniforme leve,

condizente com o clima quente. Logo, ao avistar Antônio se aproximando,

para de andar e observa-o admirada. Sorrindo, Antônio encara-a com paixão.

MALU — O que aconteceu, afinal de contas? Você, um

workaholic, matando trabalho?

ANTÔNIO — É que hoje eu decidi dedicar o meu tempo às

pessoas mais importantes da minha vida. E você,

com certeza, é uma delas. Ou melhor, a melhor

dessas pessoas!

Nisso, CAM faz CLOSE neles se aproximando ainda mais, e beijando-se com

vontade. Depois, CAM se afasta deles e foca em Sérvia, a qual faz barulho

ao fechar o portão. Malu e Antônio a notam.

MALU — Algum problema, dona Sérvia?

SÉRVIA — (decidida) No momento, nenhum. Quer dizer,

sem querer atrapalhar esse clima invejável de um

casal tão aparentemente perfeito,

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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 35

eu preciso conversar com você, Antônio! Pode ser

depois de você aproveitar bastante o seu namoro!

CENA 29. CENTRO. ALAMEDA MURICY. EXT. DIA.

Clima ágil e de muito suspense. CAM começa Irineu e Eriberto dentro do

veículo daquele. Ambos estão estacionados numa vaga da alameda. Depois,

observam Sônia se aproximando através do espelhinho do motorista. Ela

entra por um dos bancos dos fundos e controla o fôlego.

ERIBERTO — (vira o pescoço na direção dela) E aí, Sônia?

Foi até a farmácia e conseguiu apurar que tipo de

remédio é esse?

SÔNIA — Sim, Eriberto! Isso aqui é simplesmente um

sonífero potente, muito usado nessas baladinhas

vagabundas. Foi com isso que nós fomos dopados, e

que alguém aproveitou da situação pra nos filmar e

tirar fotos nossas.

ERIBERTO — Vamos pra polícia agora!

IRINEU — Fiquem calmos. Primeiro, nós vamos arranjar

provas! Agindo com cautela, sem dar a entender

que estamos desconfiados! Vou levar vocês até o

lugar no qual eu vi o tal fotógrafo com o Antônio.

CENA 30. RUA DO APART DE JAKE. EXT. DIA.

Já lá, Irineu, Eriberto e Sônia flagram Constantinopla entregando um

pacote em dinheiro a Jake. Estes não percebem que foram flagrados.

FIM DO CAPÍTULO 35.