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AS DONAS DA
HISTÓRIA Capítulo 20.
Novela de Renan Fernandes.
Escrita por Renan Fernandes.
Personagens deste capítulo:
Cláudia Antônio Renée André Lucas
Fabiano
Nader Taís
Neusa Leandrinho
Malu Sérvia
Irineu Sônia
Eriberto Letícia
Constantinopla
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 20
CENA 1. CLÍNICA ARCÁDIA. CORREDORES. INT. NOITE.
Continuação imediata da última cena do capítulo anterior.
Clima tenso. Lucas é levado de maca por Antônio e os enfermeiros. Cláudia,
Renée e André ficam no corredor, preocupados.
CLÁUDIA — (nervosa) Eu sempre disse pro Lucas que moto é
um perigo. Mas ele nunca quis me ouvir!
RENÉE — (emocionada) Eu também sempre tive muito
medo! E agora ele está nas mãos do Antônio. Como
que o destino pode ser tão traiçoeiro?
ANDRÉ — Gente, por favor! Nessa hora não dá pra ficar
dando importância pras desavenças do passado!
Por mais que o Antônio tenha feito vocês sofrerem
tanto, é ele que vai ajudar o próprio filho a sair
dessa! Vamos confiar!
Cláudia enxuga as suas lágrimas e volta a abraçar o seu amigo. Renée, por
sua vez, acaricia as costas daquela e depois se direciona até a frente da
porta da sala de emergência.
RENÉE — (faz sinal de reza) Deus não pode me deixar na
mão nesse instante!
Logo, CAM volta a focar em Cláudia e André. Eles se desvencilham por um
momento.
CLÁUDIA — (lembrando-se) O Fabiano... Eu preciso avisar
ele!
ANDRÉ — É verdade! Liga pra ele mesmo! Vamos esquecer
aquela discussão que vocês tiveram na minha casa!
O Lucas precisa do apoio dos amigos!
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 20
CLÁUDIA — (desanimada) Sim...
Por fim, ela pega o seu celular, afasta-se até o canto, e observa Renée
rezando em direção à sala onde está Lucas.
Corta imediatamente para...
CENA 2. CASA DE FABIANO. QUARTO DE TAÍS. INT. NOITE.
Fabiano ainda se mostra chocado ao descobrir que Taís se envolveu com
Lucas.
FABIANO — E agora, Taís? Vai tentar bancar a santinha pra
cima de mim? Uma ex-prostituta nojenta que se
deixou levar por vários magnatas no estrangeiro?
TAÍS — (nervosa) Por favor, Fabiano! (aproxima-se)
Não faça isso comigo! Não me trate como se eu
fosse uma mulher vulgar! Não misture as estações.
O que eu senti pelo Lucas foi uma fuga da minha
vida complicada, uma maneira de eu encontrar
forças depois de ter sofrido nos EUA e levado um
fora do Codinome aqui em Curitiba!
FABIANO — (revoltado) Não arrume justificativa! Você é
safada, sim! Admita isso!
Logo, Neusa bate a porta lá fora. Está preocupada com a discussão.
NEUSA — Gente, abram aqui! Eu e o Leandrinho estamos
ouvindo os gritos! O que está acontecendo?
Fabiano abre a porta e encara a sua mãe.
FABIANO — Não ta acontecendo mais nada! Eu e a Taís não
temos absolutamente nada mais pra conversar!
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 20
(vira em direção a esta) Acabou o nosso laço!
Acabou a nossa amizade! (p/Neusa) Você me dá
licença? Não vou ficar pro jantar!
Música triste. Fabiano passa a cozinha, anda pelo corredor, e o seu celular
começa a tocar na sala. Ele vê o nome de Cláudia no visor e pensa se atende
ou não. Neusa, por sua vez, surge detrás dele.
NEUSA — Mas o que é isso, meu filho? Por que você ta
tratando a sua irmã desse jeito?
Fabiano, de costas para ela, nem dá ouvidos. Decide atender a ligação.
FABIANO — (T) Alô!
Taís e Leandrinho surgem atrás de Neusa e todos observam Fabiano. De
repente, CAM se aproxima do rosto deste, que demonstra uma reação de
espanto.
FABIANO — (T) (chocado) Acidente? Não... Não pode ser
verdade! Que loucura é essa?
Música de suspense. CLOSE na mão boba de Fabiano, que deixa o celular
cair no chão. Logo, CAM volta a focar na sua expressão. Ele está paralisado.
Neusa se aproxima.
NEUSA — Algum problema, meu filho?
Lentamente, Fabiano dá um giro de 180º e olha para sua mãe, Leandrinho e
Taís.
FABIANO — (emocionado) O Lucas... Bateu a moto num
caminhão... Ta internado em estado grave na
clínica Arcádia...
TAÍS — (desesperada) O Lucas?
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 20
FABIANO — (decidido) Eu preciso ir até lá! Eu não posso
abandonar ele, apesar de tudo o que ele me fez!
NEUSA — Fabiano, espera!
LEANDRINHO — Volta aqui, primo!
Sem dar ouvidos, Fabiano corre até a porta e fecha-a com toda a sua força.
CENA 3. CLÍNICA ARCÁDIA. CORREDORES. INT. NOITE.
Antônio sai da sala de emergência e se depara com Renée. Cláudia e André,
que estão afastados, se aproximam dela.
RENÉE — Fala, Antônio! Como ta o Lucas?
ANTÔNIO — Infelizmente o caso dele é muito grave. Nós
conseguimos controlar a hemorragia interna, mas
ele sofreu uma ruptura no baço. Um especialista
está vindo logo pra fazer uma cirurgia às pressas/
RENÉE — Mas meu Deus... E cadê esse médico? (segura a
mão dele) Por favor, Antônio! Seja pai pelo menos
uma vez nessa vida! Salve o nosso filho!
Cláudia e André a abraçam.
CLÁUDIA — Calma, Renée! (encara Antônio com raiva) E só
de pensar que...
ANTÔNIO — (nervoso) Pensar o quê, Cláudia?
Logo, Cláudia se desvencilha de Renée e André, ficando frente a frente a
Antônio.
CLÁUDIA — Pensar que tudo isso ta acontecendo por sua
causa!
ANDRÉ — Cláudia, vamos deixar as birras de lado/
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 20
CLÁUDIA — (decidida) Ele precisa ouvir, André! Ele, que se
acha o rei da cocada branca, o dono do mundo...
Ele, que rejeitou o filho. Que falou coisas
horríveis pro coitado e o fez sair descontrolado
por essas ruas/
ANTÔNIO — (emocionado) Só que eu não tenho culpa do
Lucas ser negligente e andar de moto feito um
desesperado!
CLÁUDIA — É claro que não tem! A sua culpa é muito mais
grave do que isso! A sua culpa, Antônio, é ser esse
sujeito egoísta, mesquinho, que é capaz de pisar na
própria família pra conseguir tudo o que quer!
ANTÔNIO — O que você ta querendo insinuar com isso? Você
acha que eu to feliz do meu filho estar aqui
internado, em estado grave?
CLÁUDIA — Eu não sei de mais nada! De um ser humano
baixo que nem você eu espero qualquer coisa!
Por fim, o especialista do caso de Lucas aparece e Antônio o avista.
ANTÔNIO — (indo até ele) Por gentileza! Vamos rápido!
Ambos se direcionam até a sala de emergência. O médico entra, mas antes
Antônio faz questão de olhar para Cláudia, Renée e André.
ANTÔNIO — Eu ainda vou provar que não sou esse poço de
maldade que vocês rotulam. Eu vou salvar o meu
filho! Eu vou conseguir!
Assim sendo, ele entra na sala de emergência e os outros três personagens
se encaram, pensativos.
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 20
CENA 4. CLÍNICA ARCÁDIA. CENTRO CIRÚRGICO. INT. NOITE.
Clima tenso. Minutos depois, é dada largada à cirurgia. Lucas, estirado sobre
uma maca, encontra-se sedado, com aparelho nas suas vias respiratórias.
Antônio e o especialista dão uma olhada no medidor de pressão arterial
digital. Lucas está com a pressão muito baixa. Logo, eles fazem uma
anestesia geral. A esplenectomia (remoção do baço) começa.
Som de suspense no final da cena.
CENA 5. MANSÃO DE SÉRVIA. MESA DE JANTAR. INT. NOITE.
Malu, Sérvia e Irineu provam uma galinha ao molho pardo. A segunda está no
centro da mesa, e observa o semblante preocupado da primeira.
SÉRVIA — Algum problema, minha neta?
MALU — (toma um vinho) Nenhum! Por que estaria?
SÉRVIA — Por nada! Só te achei meio estranha. Você tava
tão animada quando chegou comentando sobre o
vestido de noiva, o casamento com o Antônio/
MALU — Isso é verdade! (indireta) Quando eu sinto
confiança em algum projeto de vida, em algumas
pessoas, eu consigo sorrir sem culpa!
Irineu percebe que há algo de errado.
IRINEU — (muda de assunto) Malu... Falando em projetos
de vida, você e a Cláudia têm que se preparar,
porque o Gene entrou em contato comigo, e disse
que teve uma ideia pra badalar a campanha sua e
da Cláudia no dia que ela for promovida no meu
shopping.
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 20
MALU — (curiosa) Nossa... E que ideia seria essa?
IRINEU — Um marketing societal! Como vocês duas vão
lançar a campanha do shopping, sendo garotas-
propaganda dela. Seria interessante ambas
mostrarem um lado mais voltado às questões
sociais. O shopping mesmo patrocina campanhas
pra saúde da mulher, como a prevenção ao câncer
de mama, os direitos dela/
MALU — Ta aí! É uma proposta instigante! Valorizar ainda
mais a mulher! Atingir o público-alvo! É Irineu, eu
gostei muito dessa possibilidade. Por mim, ta tudo
encaminhado. Só precisamos avisar a Cláudia.
IRINEU — Exatamente!
MALU — (levanta-se) Mas agora vocês me dão licença!
Eu to muito cansada. Vou pro meu quarto.
Malu sobe as escadas e deixa Sérvia intrigada. Ela encara Irineu.
SÉRVIA — Você só espera um minuto, Irineu? Quero ter
uma conversinha com a Malu.
IRINEU — Tudo bem! Pode ir tranquila!
Corta imediatamente para...
CENA 6. QUARTO DE MALU. INT. NOITE.
Iluminação fraca no local, só com o abajur do criado-mudo ligado. Malu está
estirada na cama, dando uma olhada na foto de Letícia. Sérvia, por sua vez,
é focalizada batendo a porta e depois a empurrando.
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 20
SÉRVIA — (aproxima-se) Pode falar a verdade, minha
neta! Você ta muito estranha, cheia de indiretas/
MALU — (revida) E cheia de dúvidas também!
Ela levanta-se da cama e fica frente a frente à Sérvia.
MALU — (mostra a foto) Ta vendo isso? Achei caída ao
lado do seu closet! E fiquei intrigada com a
intimidade da tal Letícia, dizendo que essa foto é
uma lembrança sutil para a madrinha querida dela!
Afinal de contas, quem é essa mulher, Sérvia? Por
que você nunca me falou dela?
CLOSE na expressão assustada de Sérvia e no olhar decidido de Malu.
CENA 7. BAR 14 BIS. EXT. NOITE.
Sônia e Eriberto chegam com o carro dele no local e estacionam na frente
do veículo dela. Eles se encaram pela última vez.
SÔNIA — Gostei muito dessa noite! Consegui ficar mais
relaxada, mais calma!
ERIBERTO — E eu fico muito feliz por isso! Agora, eu podia te
dar uma carona até a sua casa, mas você ta com o
carro aqui/
SÔNIA — Pois é! Mas não faltarão oportunidades!
Ao som de Fast Car-Tracy Chapman, ambos se olham, sorridentes, mas
procuram disfarçar a atração.
SÔNIA — Eu tava até me esquecendo... O cartão do seu
primo advogado!
ERIBERTO — Ah, sim... O Afonso! Deixa eu pegar pra você!
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 20
Ele abre a porta-volume do carro e acha o cartão, entregando para a mesma.
SÔNIA — Eu vou entrar em contato com ele, mas eu queria
muito que você fosse junto. Quero que você nos
apresente, pra eu me sentir à vontade pra relatar
o meu processo de separação com o Antônio!
ERIBERTO — Claro que sim! É só me chamar! Eu repito o que
eu disse numa outra vez: eu nunca vou te deixar na
mão!
SÔNIA — Que bom!
Logo, antes de sair, ela decide dar um beijo no rosto de Eriberto, que fica
mexido.
SÔNIA — Então a gente se vê!
ERIBERTO — Com certeza!
Tempo no sorriso deles. Por fim, Sônia desce do carro, direciona-se ao seu e
faz uma manobra para sair do estacionamento. Eriberto, por sua vez,
observa o veículo dela indo embora.
CENA 8. PENSIONATO NO REBOUÇAS. INT. NOITE.
Constantinopla abre a porta e encontra Nader assistindo futebol na
televisão.
NADER — E aí, demorou, hein? Foi procurar pelo em ovo?
CONSTANTINOPLA — Nada disso! Fui procurar a minha revanche!
NADER — Não to entendendo!
CONSTANTINOPLA — Cheguei à conclusão de que essa vida errada e a
sua companhia só são atraso de vida!
NADER — Ih, ta atacada hoje, hein?
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 20
CONSTANTINOPLA — Muito pelo contrário! To calmíssima! To
obstinada a viver novos ares. Por isso, pode
comemorar: eu vou embora daqui e vou voltar a
morar com o meu filho!
NADER — Então você chantageou ele?
CONSTANTINOPLA — Virei cúmplice! Agora eu vou ter a vida de rainha
que eu sempre mereci, enquanto você vai ficar aí,
nessa vida perigosa e correndo o risco de ser
passado pra trás pelo Olívio!
Música de suspense. Nader não gosta da provocação e se levanta, indo em
direção a ela.
NADER — É isso o que nós vamos ver! Um dia nós dois
vamos nos encontrar novamente, e nem vai
demorar muito pra isso! Quero só ver quem é que
vai estar melhor, se eu, que to lutando pra me dar
bem, ou você, que se acomodou nessa situação
ridícula de mãe prestativa!
CONSTANTINOPLA — (sorri) Então ta bom! Eu sei que vou ganhar essa
aposta!
Por fim, Constantinopla pega os seus pertences e vai embora. Nader, por sua
vez, fica pensativo, mas volta a acompanhar o jogo.
NADER — (p/si) Tentando fugir do seu passado errado,
né, Constantinopla?! (observa a porta) Sinto
muito em dizer que você ta condenada a pagar os
seus pecados! E se não for eu, outra pessoa vai
acabar com a sua moral! Pode apostar!
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 20
Corta imediatamente para...
CENA 9. CASA DE FABIANO. SALA. INT. NOITE.
Ao som de All Together Now-The Farm, Taís chora desolada no sofá. Neusa
e Leandrinho, por sua vez, surgem com a comida do jantar.
NEUSA — Filha! Vai dar tudo certo! O Lucas vai ficar bem!
Você vai se entender com o Fabiano!
TAÍS — Mas eu fiz uma coisa horrível com o meu irmão!
(olha pra sua mãe) O Leandrinho sabe muito bem
do que eu to falando!
LEANDRINHO — É, eu sei!
NEUSA — Mas o que foi, gente? Não escondem mais as
coisas de mim!
TAÍS — (enxuga as lágrimas) Mãe... (pega as mãos
dela) Eu e o Fabiano nos apaixonamos pela mesma
pessoa/
NEUSA — (estarrecida) O quê? Pelo Lucas? Mas então o
meu filho é... Gay?
Som de suspense. Taís e Leandrinho se encaram, preocupados. Já Neusa,
olha para o chão, evidentemente nervosa.
CENA 10. CLÍNICA ARCÁDIA. CORREDORES. INT. NOITE.
Música de suspense. Fabiano é focalizado chegando correndo até o local.
Cláudia, André e Renée, que estão sentados nas cadeiras, notam a vinda
dele.
CLÁUDIA — Fabiano!
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 20
FABIANO — (aproxima-se) Gente, cadê o Lucas?
ANDRÉ — Ta passando por uma cirurgia de remoção de
baço! Fica tranquilo meu amigo! Ele vai sair dessa!
FABIANO — (encara Cláudia) Cláudia... Eu queria te pedir
desculpas...
CLÁUDIA — (chorando) Não, não tem perdão o que eu fiz! Eu
traí a sua confiança/
FABIANO — Não traiu! Você foi até muito mais leal do que
outras pessoas! A minha irmã... A Taís... Ela me
contou que teve uma aventura com o Lucas, mas
isso foi antes de ele se envolver com você!
CLÁUDIA — (surpresa) Meu Deus... Eu imagino a sua reação
nesse instante!
FABIANO — Eu to decepcionado! Mas agora o que importa é
a saúde do nosso amigo, não é?
ANDRÉ — (aproxima-se) É isso mesmo! Que bom que você
é uma pessoa esclarecida, meu amigo!
Renée estranha a forma como Fabiano se refere a Lucas, mas antes observa
a chegada de Antônio. Todos o notam, ansiosos.
RENÉE — E então, Antônio? Fala a verdade? A cirurgia,
como foi?
ANTÔNIO — (triste) Nós conseguimos remover o baço, mas...
Ele perdeu muito sangue... Ta muito fraco... Precisa
de uma transfusão urgente! Só que o tipo
sanguíneo dele é raro... B negativo.
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 20
A gente precisa ter esperanças... Porque o Lucas
ta correndo risco de vida.
Música triste. Renée não controla a emoção e abraça Cláudia. Esta encara
Antônio por um momento, mas depois presta atenção nos seus amigos.
FABIANO — (p/Antônio) A gente pode ver ele?
ANTÔNIO — Ele já foi mandado pra um quarto! Ta sedado
por conta da anestesia geral! Podem ver sim!
CENA 11. CLÍNICA ARCÁDIA. QUARTO. INT. NOITE.
Segundos depois, ao som de Patience-Guns N`Roses, André, Cláudia, Fabiano
e Renée entram no quarto de Lucas. Ele está dormindo, cheio de aparelhos
em volta do corpo. Renée não controla a emoção e acaricia o rosto dele.
Cláudia, Fabiano e André observam, de longe. Já Antônio, é focalizado atrás
da fresta da porta, olhando para todos e encarando seu filho com os olhos
tristes.
ANTÔNIO — (sussurra) Força, meu filho! A gente ainda tem
tanta coisa pra fazer! Eu preciso ser o seu pai pelo
menos uma vez nessa vida!
PRIMEIRO BREAK.
Tema de abertura: UNDER PRESSURE-QUEEN.
CENA 12. CLÍNICA ARCÁDIA. QUARTO. INT. NOITE.
Continuação imediata da última cena do bloco anterior.
Antônio decide fechar a porta sem ser notado. CAM continua focando em
Renée acariciando Lucas e em André, Cláudia e Fabiano observando.
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 20
Corta imediatamente para...
CENA 13. CLÍNICA ARCÁDIA. SALA DE ANTÔNIO. INT. NOITE.
Segundos depois, Antônio abre a sua sala, tranca-a e senta-se na sua
cadeira. Logo, CAM foca nele abrindo uma gaveta da escrivaninha, de onde
tira uma foto de Lucas pequeno. CLOSE no gesto de carinho que ele faz no
retrato do filho. De repente, flashes do passado invadem a sua mente. Mais
precisamente no instante que Renée o flagrou com Letícia no seu apart.
CENA 14. FLASHBACK. 1990. APART DE ANTÔNIO. INT. DIA.
Antônio abriu o seu apart e Letícia surgiu logo mais. Ela já foi diretamente à
sacada, onde tinha uma vista panorâmica dos prédios de Curitiba.
LETÍCIA — (vibrante) Que maravilha! (vira p/ele) Foi essa
a vida que eu sempre sonhei! Esse conforto, essa
segurança... (corre até ele) Você já pensou no meu
pedido?
ANTÔNIO — (encabulado) De eu separar da minha mulher e
viajar com você pro mundo?
LETÍCIA — Sim! E isso seria vantajoso pra nós dois. Porque
eu também sairia daquela vida de garota de
programa do bordel da Sérvia!
ANTÔNIO — A gente tem que ir com calma, Letícia! Eu tenho
a minha pós-graduação pra terminar aqui, mas
quando esse momento chegar, eu vou fazer
mestrado no Canadá. E aí a gente viaja juntos!
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 20
LETÍCIA — (impaciente) Você não ta me enrolando, né?
Poxa vida... Eu sei que você tem uma família aqui no
Brasil, uma mulher e um filho de 4 anos... Mas a
nossa paixão é muito maior do que essas
obrigações! (insinuante) Você seria o salvador da
minha pátria!
ANTÔNIO — (confuso) Fala a verdade! Você ta fugindo de
alguém? Essa sua pressa de ir embora comigo deve
ter um outro motivo, bem específico!
LETÍCIA — (desvencilha-se) Mas que conversa mais
esquisita! (senta-se no sofá) É claro que eu não to
fugindo de ninguém! Só to querendo ficar livre com
você, sem nenhuma pessoa atrapalhar a nossa
felicidade!
ANTÔNIO — Então vamos pro meu quarto! Vamos aproveitar
esse momento só nosso! Eu to morrendo de
vontade de te amar!
LETÍCIA — (indo até ele) É claro que eu vou!
Nisso, eles foram se beijando em direção ao corredor, prensando-se na
parede e ficando cada mais vez mais loucos de desejo. Mas quando entraram
no quarto, se chocaram com a presença de Renée.
Música de suspense. CLOSES alternados entre os três.
RENÉE — (revoltada) Então você vai viajar pro Canadá
com essa vadia, Antônio? (levanta-se da cama)
Que coragem, hein? Trocar eu e o seu filho por
uma prostituta!
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 20
LETÍCIA — (nervosa) Eu exijo respeito!
RENÉE — (grita) Cala a boca, sua piranha!
Renée meteu um forte tapa no rosto de Letícia, que caiu no chão com toda a
força.
LETÍCIA — (chorando) Ai... Sua louca!
ANTÔNIO — Renée, acalme-se!
Ele tentou tocar nela, que retribuiu com vários tapas no braço do mesmo.
RENÉE — Porco, imundo! Não toca em mim! (encara
Letícia) Mas também não ouse em tocar nessa
vaca! Porque antes disso, eu vou furar essa
desgraçada!
ANTÔNIO — O que você vai fazer, Renée?!
Impulsiva, esta quebrou uma garrafa de champanhe e mirou no rosto de
Letícia, que ainda se encontrava estirada no chão.
RENÉE — (descontrolada) Vocês não iam comemorar nas
minhas costas com essa garrafa de champanhe?
Pois então eu faço questão de fazer vocês
entrarem em pânico por causa dela!
LETÍCIA — (gritando) Não faça isso! Você vai
desconfigurar o meu rosto!
RENÉE — Eu vou te matar, sua vadia!
De repente, antes que Renée cortasse o rosto de Letícia, Antônio a pegou
pelas costas e a carregou até a sala. Letícia, por sua vez, levantou-se e os
seguiu até lá.
RENÉE — Me solta! Senão eu te furo também!
ANTÔNIO — Chega, Renée! Vamos discutir em casa, não aqui!
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 20
Logo, ele jogou Renée até a saída e trancou a porta. Letícia correu para
abraçá-lo, enquanto aquela bateu a porta incessantemente, até desistir.
Corta imediatamente para...
CENA 15. PRESENTE. CLÍNICA ARCÁDIA. SALA DE ANTÔNIO. INT.
NOITE.
Emocionado, Antônio guarda a foto de Lucas no lugar onde estava e coloca
as mãos sobre a cabeça.
ANTÔNIO — (p/si) O passado volta e meia faz questão de me
atormentar! Quantos erros cometidos, meu Deus...
CLOSE na sua expressão abatida.
CENA 16. MANSÃO DE SÉRVIA. QUARTO DE MALU. INT. NOITE.
Clima tenso. Malu aguarda uma resposta de Sérvia.
MALU — Vamos lá! Me diga quem é essa Letícia!
SÉRVIA — (pega a foto/mente) Como ta escrito aqui, eu
sou a madrinha dela!
MALU — (desconfiada) Madrinha? E por qual motivo você
nunca me apresentou a ela?
SÉRVIA — Ela morreu há muito tempo! Algumas semanas
depois da data desse retrato! A coitada sofreu um
trágico acidente de carro. Foi uma situação
terrível!
MALU — Nossa, coitada! É que esse rosto dela me
pareceu familiar. Mas como eu não lembro quase
nada da minha infância, já que a sua filha, a minha
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 20
mãe, também sofreu um acidente junto comigo, eu
fiquei com a memória comprometida!
SÉRVIA — (inventa) Exatamente! A minha filha, tadinha!
Mas quanto essa tal Letícia, você nem chegou a
conhecê-la antes do seu acidente!
MALU — Engraçado é que essa mulher morreu próxima da
época da minha mãe.
Som de suspense. Sérvia fica encabulada, com medo de Malu descobrir que
é filha de Letícia.
SÉRVIA — Coincidências do destino! Agora, eu vou
terminar o meu jantar e me despedir do Irineu.
MALU — Tudo bem!
Logo, Sérvia guarda a foto no bolso da calça e Malu estranha. Sozinha no
quarto, ela pensa na mulher do retrato.
MALU — (p/si) Letícia... (intrigada) Será mesmo que eu
nunca conheci essa mulher?
Som de suspense no final da cena.
CENA 17. CASA DE FABIANO. SALA. INT. NOITE.
Neusa ainda está chocada ao descobrir que Fabiano está apaixonado por
Lucas.
NEUSA — (levanta-se) Mas é muita decepção pra uma
única mãe! Além de você, Taís, ter traído o seu
próprio irmão, eu descubro que ele é gay!
TAÍS — Ah, por favor, né? Não vamos dramatizar! No
fundo você sempre desconfiou da opção sexual do
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seu filho! O problema é que você prefere fingir
que é cega, surda e muda. Ou seja, você não
conhece nada dos seus dois filhos!
Transtornada, Neusa derruba o prato de comida, e Leandrinho a ampara.
LEANDRINHO — Cuidado, tia! Eu vou pegar uma vassoura e uma
pá pra limpar essa sujeira.
Ele sai pelo corredor dos fundos e Neusa volta a encarar Taís, que se
mantém sentada.
NEUSA — Eu acho que concordo com você! Eu não conheço
absolutamente nada da minha própria família.
Desde quando você foi embora pros EUA, e desde
quando o Fabiano passou a demonstrar essa
afetação. Mas meu Deus do céu! O
homossexualismo é doença! Eu posso ter filha
prostituta, mas filho viado, não!
TAÍS — Cala a boca! Eu não sou prostituta/
NEUSA — Mas já foi e agora parece que decidiu fazer uma
sessão nostalgia, né? Dormiu com o Lucas, um cara
que você mal conhecia!
TAÍS — Você é uma ignorante! Você se acha melhor do
que os outros! Só que no fundo eu tenho pena de
você! Porque eu sei que você é frustrada!
NEUSA — E a minha frustração faz você se sentir no
direito de aprontar por aí?
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 20
TAÍS — Eu só quero dizer que você só sabe criticar as
pessoas, e não enxerga o palmo da sua mão. A
sujeira que existia na sua relação com o meu pai!
NEUSA — Eu sempre fui limpa! Ele é que me traía quando
trabalhava de caminheiro e viajava por esse Brasil
afora/
TAÍS — Eu não to querendo chegar até aí! Eu to
querendo ir um pouco mais longe! Sabe, mãe...
Vocês nunca me esconderam que eu fui adotada, e
eu sempre tive tanta curiosidade de descobrir
quem eram os meus pais verdadeiros/
NEUSA — Não muda o foco da conversa! Nós estamos
falando sobre problemas familiares nossos, não de
pessoas que você sequer conheceu/
TAÍS — Mas eu quero saber a verdade! Você conheceu a
minha mãe biológica? Eu preciso saber!
NEUSA — Chega, Taís! Pare de me torturar! Eu to péssima
com tudo o que eu acabei de descobrir. Não quero
mais assunto por hoje. Eu vou dormir!
Nisso, Neusa corre em direção ao corredor dos fundos, no mesmo instante
que Leandrinho surge pra limpar a sujeira no chão.
TAÍS — Deixa que eu te ajudo, Leandrinho!
Logo, Taís varre a sujeira e Leandrinho pega com a pá. Só que aquela não
deixa de olhar para o local onde Neusa se direcionou. CLOSE na expressão
apreensiva de Taís.
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 20
CENA 18. MANSÃO DE ANTÔNIO. SALA. INT. NOITE.
Constantinopla chega carregando alguns pertences e Sônia é focalizada no
canto da sala, observando-a.
CONSTANTINOPLA — (fecha a porta) Oi Sônia!
SÔNIA — Tava viajando? Pousou na casa de alguém?
Você... Vindo com algumas bagagens... Eu to
estranhando.
Música de suspense. Constantinopla decide mentir.
CONSTANTINOPLA — É verdade! Eu passei um tempo na casa de uma
amiga, pra não me contagiar com esse momento tão
complicado entre você e o Antônio!
SÔNIA — Nem me fale mais dessa criatura. Aliás, pra
evitar a presença dele, eu vou me isolar no meu
quarto. Dá licença!
Sônia sobe as escadas e CAM se aproxima de Constantinopla, que demonstra
um semblante irônico.
CONSTANTINOPLA — (p/si) Você é carta fora da jogada mesmo,
Soninha... O Antônio já ta em outra... E numa bem
melhor!
Corta para...
CENA 19. CLÍNICA ARCÁDIA. CORREDORES. INT. NOITE.
No mesmo instante que Antônio sai de sua sala, Cláudia, Renée e André
surgem do quarto onde está Lucas. Todos se encaram, constrangidos.
ANTÔNIO — Renée, Cláudia... Eu queria mesmo falar com
vocês.
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 20
CLÁUDIA — Sobre o quê?
ANTÔNIO — Eu tava refletindo muito sobre tudo o que eu fiz
vocês passarem... Eu queria tanta pedir desculpas/
RENÉE — Você não vai me conquistar pela minha
fragilidade! Não distorça a situação, Antônio. Eu e
a Cláudia só estamos aqui por causa do Lucas. Mas
a nossa vontade mesmo é de ficar milhares de
quilômetros longe da sua presença!
ANTÔNIO — Será que vocês podiam deixar de ser tão
rancorosas?
CLÁUDIA — (aproxima-se) Infelizmente não dá pra forçar a
barra! Porque nem em 50 encarnações eu
conseguiria te perdoar e esquecer tudo o que você
fez eu e a minha mãe passar!
RENÉE — É isso mesmo, Cláudia! A mágoa é muito grande.
E sabe, Antônio... Se nem depois de 22 anos eu te
perdoei, não são em dois minutos que uma mágica
vai acontecer. (ignora-o) Cláudia, André... Vamos
sentar!
Som de suspense. Os três sentam nas cadeiras do corredor e Antônio fica
pensativo, decidindo voltar até a sua sala.
CENA 20. CLÍNICA ARCÁDIA. QUARTO DE LUCAS. INT. NOITE.
Fabiano está sentado na poltrona ao lado da maca, com a cabeça abaixada e
fazendo sinal de reza. Logo, Lucas começa a mover o dedo e Fabiano inclina
o rosto, percebendo a situação.
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 20
LUCAS — (balbucia/vira p/ele) Fábio... Fabiano...
FABIANO — (nervoso/levanta-se) Lucas... Não faça muito
esforço! Você ta se recuperando da cirurgia/
De repente, Lucas pega na mão dele, que fica mexido.
LUCAS — (respira com dificuldade) Eu preciso te falar...
Eu preciso... Te pedir desculpa por nunca ter te
amado como você me amou!
FABIANO — (emocionado) Não precisa disso, Lucas! Eu já te
desculpei há muito tempo! E agora é que eu vejo
que eu confundi os meus sentimentos... Tudo o que
eu senti por você não passou de um apreço de um
irmão... Um amigo pra toda a eternidade!
Começa a tocar a música instrumental de Patience-Guns N`Roses. Lucas
sorri levemente para ele.
LUCAS — Eu não sei se eu vou sair dessa, mas... Eu quero
dizer que a nossa amizade foi mais importante do
que qualquer coisa que possa ter existido! Não
importa... Não importa se eu me apaixonei por uma
mulher, e que nunca fui gay... O nosso sentimento
um com o outro sempre foi de cumplicidade, de
compreensão/
FABIANO — (chora bastante) Eu quero que você fique bem,
Lucas! Por favor, não fale mais nada! Eu to feliz, é
claro, de ouvir essas palavras de você... Mas eu
sinto que isso é uma despedida... Eu não quero te
perder!
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 20
LUCAS — Não, Fabiano... Você não vai perder o seu
amigo... Aconteça o que acontecer...
Em câmera lenta, Lucas começa a soltar a sua mão de Fabiano, que começa a
perceber que a pressão arterial dele está diminuindo. CLOSE no olhar
sereno de Lucas, que se fecha cada vez mais.
RENÉE — (abre a porta) Fabiano?
FABIANO — (p/ela) Dona Renée... Chame os médicos, o Lucas
ta morrendo!
RENÉE — (nervosa) Meu Deus, o meu filho, não!
Quando Renée sai, volta a ficar em câmera lenta. Fabiano olha para seu
amigo, que dá um último sorriso e solta definitivamente a sua mão da dele.
Logo, Cláudia, André, Renée e os paramédicos chegam ao local. Fabiano se
distancia e chora ao lado de seus dois amigos. Já Antônio, surge novamente
pela entrada, observa os paramédicos tentando reanimar o seu filho, mas
desistindo do procedimento. Todos ficam entristecidos com a morte de
Lucas.
FIM DO CAPÍTULO 20.