as donas da histビria 42d · música de suspense. guilherme fica revoltado com as acusações de...
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AS DONAS DA
HISTÓRIA Capítulo 42.
Novela de Renan Fernandes.
Escrita por Renan Fernandes.
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 42
CENA 1. AGÊNCIA VITAL. CORREDORES. INT. DIA.
Continuação imediata da última cena do capítulo anterior.
Música de suspense. Guilherme fica revoltado com as acusações de Malu.
Enquanto isso, Gene e Júlia ficam em 2º plano, apenas observando a
discussão, ao mesmo tempo em que, de vez em quando, pessoas trafegam
entre eles sem interromperem os seus percursos.
GUILHERME — Você está de parabéns, Malu! Quase me fez se
sentir o grande carrasco dessa história!
(insinuante) Deve ter sido com essa sua
capacidade inigualável de sedução que as pessoas
do ramo publicitário se deixaram envolver, não é
mesmo?
Som de suspense. Malu fica ainda mais nervosa, porém se controla e
mantém-se equiparado ao cinismo de Guilherme!
MALU — (aproxima-se) O que você ta querendo insinuar
agora? Que além de traidora, x-9, e tantas outras
adjetivações depreciativas, eu sou uma
oportunista, é isso?
GUILHERME — Talento pra prostituição você sempre
demonstrou ter! Mas não no sentido de ser uma
rameira sem perspectiva, a mercê do seu cafetão,
não! Você sempre teve vocação pra ser uma
ordinariazinha de luxo, gabaritada, com pós-
graduação e cursinho de MBA!
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 42
MALU — Eu nunca precisei dar em cima de ninguém pra
subir na minha! Como a Cláudia deve ta fazendo
agora com você, né?
GUILHERME — Quem me dera a Cláudia fosse mais soltinha!
Mas não, ela é uma puritana, ainda romântica! E é
isso o que eu admiro nela. Esse jeito desinibido,
essa naturalidade! Minha cara, mesmo que você
consiga me convencer de que não teve
absolutamente nada a ver com a venda da minha
ideia publicitária pra empresa concorrente, eu não
posso deixar de ressaltar a sua falta de brilho!
Comparada à Cláudia, você não passa de uma
amadora!
CLOSE na expressão humilhada de Malu.
GUILHERME — Ela já provou ter muito mais carisma e
personalidade do que você! Justamente sendo o
contraponto desse seu gênero “prostitutas
sofisticadas das novelas do Gilberto Braga”! Além
de tudo isso, eu não posso esquecer o fato de você
ter sido apadrinhada pelo Irineu! Ou seja, foi uma
oportunista, sim!
MALU — (controla o choro) Eu deveria te parabenizar
também, Guilherme! Por você ter conseguido
destruir os meus sonhos! Aliás, eu deveria
agradecer todos vocês, por terem me apunhalado
pelas costas
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 42
e ainda tendo a ousadia de me rotularem de Judas!
(olha para cada um deles) Agora eu to começando
a enxergar a vida como ela realmente é! Mesmo
inocente, eu vou sair dessa história sem nenhum
prestígio. Completamente desmoralizada! Talvez
eu até perca o meu tempo bancando aquelas
mocinhas justiceiras de novelas maniqueístas,
prove a minha inocência e estampe a verdade na
cara suja e sacana de todos vocês! Mas eu não me
contentaria com apenas isso! Porque eu sei que
pessoas como vocês não se importam com lições de
moral, com coisas tão comuns que agrada aos olhos
de pessoas que sempre clamam por justiça!
JÚLIA — Todo esse dramalhão é pra você tentar manter
acesa a última faísca dessa sua chama apagada,
minha querida? Acabou, Malu! A sua carreirinha
medíocre não passou de um fogo de palha! Você
não tem mais nada pra fazer aqui! Pode pegar tudo
o que te pertence! Ou melhor, vá embora assim
mesmo! Com esse porte de princesinha que talvez
convença algum trouxa romântico lá na rua! Porque
aqui a realidade é dura! Aqui a verdade sempre
prevalece! Sua amoral, sua corrupta!
GENE — (grita) Júlia, chega!
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 42
Júlia encara Gene, o qual se aproxima e fica ao lado dela. Depois, ele e Malu
se entreolham com bastante emoção. Porém, antes que Gene tente dizer
algo, Malu vai embora correndo.
JÚLIA — Não adianta você correr atrás, Gene! Nem a sua
paixão obsessiva vai trazer ela de volta!
Com ódio no olhar, Gene se controla e volta até a sua sala. Júlia sorri por
dentro e Guilherme fica sério e preocupado, encarando-a posteriormente.
CENA 2. RUA DA AGÊNCIA VITAL. EXT. TARDE.
Ao som de Never Tear Us Apart-INXS, ocorre uma cena de videoclipe, cuja
protagonista é Malu. Primeiramente, CAM mostra uma imagem ofuscada da
rua, com pessoas andando em todos os sentidos e atravessando uma rua
movimentada. O sol faz elas e o asfalto brilharem. Logo, CAM começa a
deixar a imagem mais nítida à medida que Malu surge no meio dessas
pessoas, andando de um modo lento e melancólico. Agora, CAM mostra Malu
andando de lado, passando no meio de transeuntes sem olhar para o rosto
deles e focando no seu veículo, o qual está no outro lado da rua. Logo, ela
entra no carro e, nesse instante, começa a chorar de raiva. No entanto, ela
para de chorar ao observar o sol iluminando o painel de seu carro. Aliás, o
clarão do sol cria um reflexo que faz a CAM fazer um jogo de imagens,
mostrando tanto Malu quanto os pedestres. Depois, CAM se afasta, e,
mostra, de longe, ela tomando uma atitude impulsiva. Acelerando o veículo
com tudo, quase atropelando pessoas e virando numa esquina qualquer. Corte
descontínuo. Agora, CAM fica plana com a rua e mostra o veículo surgindo
de longe, em sentido perpendicular. Atrás do veículo, vê-se a linda paisagem
de um sol prestes a se por.
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E, obviamente, um jogo de imagens deixa a ilusória sensação de que o carro
de Malu está sendo engolido pela grande bola de fogo. No fim do videoclipe,
CAM penetra no veículo e mostra Malu andando a toda velocidade, focada na
sua frente, e deixando lágrimas escorrendo os seus olhos. Um sofrimento
sentido de modo frio e calculista, uma vez que só os olhos reagem, enquanto
o rosto não esboça reação alguma.
Por fim, essa imagem frívola dela é mesclada com o sol se pondo, numa
linguagem visual apurada que indica a nova fase da personagem. Uma fase
mais complexa, menos romântica e utópica.
CENA 3. APART DE JAKE. TÉRREO. INT. TARDE.
Clima tenso. Cláudia e Sônia se encontram desesperados. Pois Antônio está
prestes a flagrá-las. Nisso, ambas decidem voltar até o andar do apart de
Jake, ao mesmo tempo em que Antônio volta ao local e não observa nada de
inusitado. Apenas se direciona até o porteiro.
ANTÔNIO — E então, o Jake já recebeu alta do hospital?
PORTEIRO — Já sim! Inclusive, ele está recebendo visitas
nesse instante!
ANTÔNIO — (curioso) Visitas? Mas de quem?
PORTEIRO — De duas moças!
ANTÔNIO — Tudo bem! O meu assunto com ele é muito
particular! Vou esperar ele liberar essas tais
garotinhas!
PORTEIRO — Se for muito urgente, eu ligo pra ele e aviso que
o senhor está aqui! Você quer?
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ANTÔNIO — Tudo bem! É que eu realmente to com muita
pressa!
Nisso, o porteiro liga para Jake.
Corta imediatamente para...
CENA 4. APART DE JAKE. SALA. INT. TARDE.
Nesse instante, Jake fala com o porteiro pelo telefone. Cláudia e Sônia se
encontram novamente no local.
JAKE — (T) Tudo certo! Pode mandá-lo subir! As visitas
já estão saindo!
Nisso, ele desliga o telefone e elas ficam apreensivas.
SÔNIA — E agora, o que a gente faz?
JAKE — Saem pelos fundos, num acesso restrito aos
funcionários de limpeza! O Antônio não vai se
deparar com vocês! Podem ir embora tranquilas!
Corta imediatamente para...
CENA 5. APART DE JAKE. CORREDORES. INT. TARDE.
Agora, numa sequência ágil, Cláudia e Sônia são focalizadas saindo do apart
de Jake e se direcionando aos fundos. No mesmo instante, Antônio surge e
não nota ninguém no corredor.
CENA 6. APART DE JAKE. TÉRREO. INT. TARDE.
Segundos depois, elas surgem na parte restrita aos funcionários e
disfarçam no instante em que passam perto do porteiro. Ele estranha o fato
de elas terem surgido daquele local.
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 42
PORTEIRO — (p/si) Será que as dondoquinhas beberam água
sanitária das funcionárias de limpeza? É muita
loucura pra uma pessoa só!
CENA 7. APART DE JAKE. SALA. INT. TARDE.
Jake e Antônio já se encontram conversando.
JAKE — (finge naturalidade) Não quer sentar, Antônio?
A gente pode tomar um vinho rose, ou algo mais
apurado, do seu gosto!
ANTÔNIO — Nada disso, moleque! Eu vou ser bem breve e te
devolver a câmera fotográfica!
Nisso, ele finge que vai entregar a câmera, porém, quando Jake estira a mão
direita, Antônio se afasta num gesto de desconfiança.
ANTÔNIO — Antes disso, você vai me explicar o porquê de
não ter atendido as minhas ligações! E também
essa história esquisita de ter sofrido um acidente
de moto! Aparentemente, são questões bastante
triviais, que não gerariam muita desconfiança. Mas
eu confesso que sou bastante neurótico com
certas teorias de conspiração. Por isso, quero
saber da sua boca, o que ta acontecendo! Eu quero
que você seja muito sincero comigo! Ou melhor,
convincentemente sincero, visto que essa
qualidade é rara em qualquer ser humano.
Som de suspense no final da cena.
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 42
CENA 8. RUA PEDRO IVO. INT. TARDE.
No meio de um aglomerado de gente, o carro de Sônia surge numa rua
estreita e dobra a esquina na direção da rua da casa de Cláudia.
SÔNIA — Vou te deixar aqui! Agora eu preciso ir até um
chaveiro, não é?
CLÁUDIA — Claro, vá sim! Eu confesso que, apesar do
incidente do Antônio, eu adorei passar o dia com
você, o Eriberto e o Afonso!
SÔNIA — Principalmente com o Afonso, creio eu!
A partir daqui, começa a tocar o instrumental de You And Me-Alice Cooper.
Cláudia esboça um sorriso tímido, porém tendencioso. E mira o olhar em
outra direção para esconder o que está sentindo.
CLÁUDIA — Imagina! Eu to me sentindo ótima solteira!
Nesse momento, eu realmente não pretendo me
envolver!
SÔNIA — Só falei brincando! Forcei um pouco a
intimidade, confesso!
CLÁUDIA — Não, o que é isso! Você é uma pessoa
maravilhosa, sabe ser gentil e bastante agradável
com qualquer pessoa! Deve ser o talento de
escritora que te torna tão ampla e versátil!
SÔNIA — (rindo) É! Eu confesso que sou um pouco assim
mesmo! Preciso ser, né? Porque limitar o mundo de
acordo com os meus pontos de vista tão
superficiais me tornaria apenas uma mera
roteirista comercial, sem perspectiva e amplitude,
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 42
melhor dizendo! Enfim, já to refletindo muito
sobre as minhas complexidades, né?
CLÁUDIA — Eu to adorando o assunto! E quer saber? Eu
admiro a sua coragem em enfrentar a hipocrisia
que sempre reinou na sua vida! Agora você pode se
considerar uma mulher de verdade! Uma escritora
de verdade! Talentosa e extremamente sensível!
SÔNIA — (ri novamente) Antes de você descer, me conta
sobre o seu curso de moda!
CLÁUDIA — No momento, eu to com a matrícula trancada!
Foram muitos problemas, sabe? A morte do
namorado da minha mãe, do Lucas. Enfim, a minha
vida precisava de um tempo de mais sossego e
reflexão. E a minha criatividade, que sempre
acompanhou a minha personalidade, se manteve
estagnada, ou melhor, inerte nesse momento tão
complicado. Acho até que ela se perdeu no meio de
tantos problemas!
SÔNIA — Impressão sua! Logo você retoma o seu curso e
a criatividade vem no embalo de muitas coisas
positivas que ainda vão te acontecer! Agora que eu
te conheço melhor, digo, sem titubear, que você só
vai atrair coisa boa! Que o que não presta vai se
afastar da sua vida. Pode ter certeza!
Cláudia fica emocionada com os dizeres de Sônia e dá um sorriso largo. Por
fim, elas se despedem e dão um abraço de confraternização.
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 42
CENA 9. CLÍNICA ARCÁDIA. RECEPÇÃO. INT. TARDE.
Taís trabalha compulsivamente a fim de esconder a sua tristeza. Porém, os
seus colegas percebem a situação dela. Logo, Fabiano surge através da porta
giratória e se aproxima de sua irmã. Ela demora para percebê-lo. Quando o
olha, não consegue controlar o instinto, correndo para abraçá-lo.
A partir daqui, começa a tocar a música The End-The Doors. Fabiano,
confuso e envergonhado, percebe que os funcionários reparam a cena.
FABIANO — Gente! Eu vou levar a minha irmã até o
refeitório daqui! Alguém cuida do serviço dela por
enquanto?
RECEPCIONISTA — Pode deixar que eu garanto! A Taís ta
precisando de ajuda mesmo!
Nisso, ambos saem abraçados do local e os funcionários cochicham entre si.
CENA 10. CLÍNICA ARCÁDIA. REFEITÓRIO. INT. TARDE.
Já sentados numa mesa em localização central, Taís demonstra estar mais
calma. E comenta as suas preocupações para Fabiano.
FABIANO — Então você acha que a polícia capturou o
Codinome?
TAÍS — Pela maneira estúpida que ele desligou o celular
na minha cara, e tendo em vista o contexto no qual
ele tá inserido, eu não tenho dúvidas! Ah, Fabiano,
eu até tentei tirá-lo dessa vida desregrada, e dar
o meu exemplo de redenção, de dar a volta por
cima de uma maneira honesta!
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 42
Mas ele preferiu seguir a ganância, e se envolveu
num esquema de rachas com uns maloqueiros
vagabundos! É até redundância eu falar nesse
termo, né? Maloqueiros vagabundos! Mas isso é só
pra ressaltar o mundinho no qual o Codinome
preferiu se manter! À margem da sociedade,
contando com a própria sorte, que já era bastante
escassa!
Complacente, Fabiano apenas acaricia o rosto dela, que beija a sua mão.
CENA 11. FOZ DO IGUAÇU. ARREDORES. EXT. TARDE.
Na parte instrumental da música The End-The Doors, uma nova cena de
videoclipe acontece. Dessa vez, destacando a prisão de Codinome. Primeiro,
CAM fica em câmera lenta, mostrando a fuga fracassada dele em direção a
um mato escasso. Nesse local, facilmente a polícia o encontraria. Logo, CAM
abre e mostra tanto ele correndo desesperadamente em direção a lugar
algum, quanto os parceiros dele entrando no camburão da polícia federal.
Outros policiais, por sua vez, seguem Codinome, o qual percebe estar
encurralado ao chegar até o rio que entrecorta o arredor no qual ele está
inserido. Por fim, Codinome respira de modo ofegante, fica de costas para a
CAM e coloca as mãos para o alto, num gesto de rendição. Os policiais
rapidamente fazem o seu procedimento, revistando-o em todas as partes do
corpo e o algemando. Corte descontínuo. Codinome, nesse momento é
focalizado entrando no camburão e ficando ao lado dos colegas. CAM se
afasta à medida que o veículo no qual ele está acelera e é seguido por outras
viaturas.
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 42
CENA 12. CURITIBA. APART DE ANTÔNIO. SALA. INT. TARDE.
Chorando, Malu desabafa com Constantinopla sobre o que acabou de lhe
acontecer. Esta, no maior cinismo, oferece um copo de água.
CONSTANTINOPLA — Como aqui eu não tenho barbitúricos, ou então
uma daquelas tarjas mais potentes do que um
sossega leão pra te deixar descansar e esquecer
esses problemas, eu recorro à boa mescla de água
com sacarose! Toma, meu amor!
Malu toma a água e, após isso, enxuga as lágrimas.
MALU — Eu queria tanto falar com o Antônio e ele
desapareceu! Queria expor todos os meus
problemas, despejar a minha revolta, o meu ódio!
CONSTANTINOPLA — Mas pra mim você pode desabafar. Pode não,
deve! Eu te convoco a se abrir comigo!
MALU — A Cláudia me traiu! Aquela vagabunda!
CONSTANTINOPLA — Mas como?
MALU — Eu ainda não tenho provas! Mas eu sinto que ela
convenceu o Guilherme, o dono da perfumaria, a
armar uma situação e me fazer ser rescindida da
campanha publicitária e, também, da agência!
Som de suspense. CAM foca no semblante pensativo de Constantinopla.
CENA 13. APART DE ANTÔNIO. BANHEIRO. INT. DIA.
Agora, Constantinopla é focalizada conversando com Júlia no celular.
CONSTANTINOPLA — (T) Eu vou ser breve! O Guilherme ainda está aí,
né? (T)
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 42
Que ótimo! Então aproveita uma distração dele e
manda uma mensagem do aparelho dele pro celular
da Cláudia! É pra consumar o plano
definitivamente! Armar um flagrante!
CENA 14. AGÊNCIA VITAL. SALA DE GENE. INT. TARDE.
Ao som de uma música de ação, CAM foca em Júlia espiando a conversa
entre Gene e Guilherme. Estes estão visivelmente preocupados. Logo, ela
aproveita, pega um aparelho obsoleto e manda mensagem pro celular de
Guilherme. Ele recebe e acha se tratar de Cláudia.
GUILHERME — O que será que ela quer comigo?
Gene fica confuso e Júlia se afasta.
CENA 15. AGÊNCIA VITAL. CORREDORES. INT. TARDE.
Guilherme sai em disparada, e, nos fundos, CAM foca em Júlia, bastante
agitada. Agora, ela manda mensagem pro celular de Cláudia.
CENA 16. BRECHÓ LE FREAK. ATELIÊ. INT. TARDE.
Cláudia recebe a mensagem e estranha.
CLÁUDIA — Mensagem suspeita essa do Guilherme! O
celular nem é dele e quer se encontrar comigo na
praça do Japão!
JAQUELINE — Não vá, filha! Ou deixa que eu te acompanho,
visto que eu já to fechando o estabelecimento.
CLÁUDIA — Você faria isso por mim?
JAQUELINE — Mas claro!
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 42
CENA 17. APART DE ANTÔNIO. SALA. INT. TARDE.
Constantinopla faz uma proposta a Malu.
CONSTANTINOPLA — Que tal a gente espairecer lá na praça do
Japão? É um lugar bastante aconchegante, um
refúgio de problemas e conturbações urbanas!
MALU — Não to muito animada pra isso!
CONSTANTINOPLA — Sem depressão, por favor! Você é tão forte e
decidida!
MALU — Talvez aquela fortaleza que eu impunha era
apenas fachada! Porque, com toda a sinceridade, to
me sentindo uma fraca!
CONSTANTINOPLA — Fracas são as pessoas que aprontaram com você!
Por isso, não se deixe influenciar 100%! Guarda um
pouco da sua energia pra aplicá-la na hora certa!
Numa oportunidade conduzida por uma mão divina!
Som de suspense no final da cena.
CENA 18. PRAÇA DO JAPÃO. EXT. ANOITECER.
Uma hora depois, Cláudia surge com Jaqueline do sentido da avenida Sete
de Setembro, enquanto Guilherme aparece no sentido da República
Argentina. De longe, todos se encaram e se aproximam.
CLÁUDIA — Eu achei muito suspeita aquela sua mensagem!
GUILHERME — Que mensagem? Fui eu que recebi do seu
celular!
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 42
CLÁUDIA — Mas eu não te mandei nada! Aliás, até suspeitei
do número do aparelho que me mandou o texto! Eu
queria saber se alguém ta brincando com a gente?
De repente, CAM subjetiva se aproxima lentamente deles. Cláudia,
Jaqueline e Guilherme miram o olhar e se surpreendem. São Malu e
Constantinopla.
MALU — Como o mundo foi irônico comigo hoje, hein?
Espertamente eu soube associar vocês dois como
cúmplices, Cláudia e Guilherme! Ordinários!
CLÁUDIA — (aproxima-se) O que é isso, Malu? Por que você
ta me tratando desse jeito?
No ímpeto, Malu mete um forte tapa no rosto de Cláudia, fazendo-a cair
com tudo no chão.
JAQUELINE — (grita) Mas o que é isso?
CONSTANTINOPLA — Calma, Malu!
MALU — Isso é apenas o começo da sua derrocada,
Cláudia! Você pode até ter me traído, mas sou eu
que vou juntar forças pra te fazer se decair!
PRIMEIRO BREAK.
Tema de abertura: UNDER PRESSURE-QUEEN.
CENA 19. CURITIBA. PRAÇA DO JAPÃO. EXT. ANOITECER.
Continuação imediata da última cena do bloco anterior.
Clima tenso. Malu caiu na cilada orquestrada por Júlia e Constantinopla.
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 42
Agora, aquela acaba de flagrar Cláudia e Guilherme juntos, e deduz que
ambos armaram para tirá-la da campanha de perfumaria, e, além disso, da
agência Vital. Jaqueline e Constantinopla ficam em 2º plano na cena,
surpresas com a fúria de Malu, a qual acabou de estapear Cláudia.
CLÁUDIA — (levanta-se) Mas que ignorância é essa, hein,
Malu? Como assim, começo da minha derrocada?
(aproxima-se) Por acaso foi você que armou esse
encontrinho entre mim e o Guilherme?
MALU — Como é que é? Ah, sua dissimulada! Agora,
então, você ta querendo virar o jogo com essa sua
retórica? Não adianta tentar me confundir com
essa sua argumentação rasa, de quem pode até ter
talento pra mentir pra essas pessoas ingênuas que
você encontra por aí! Porque comigo, você não se
cria mais, sua ratazana!
CLÁUDIA — Que baixaria é essa? (encara Guilherme) O que
ta acontecendo, hein?
GUILHERME — Cláudia, eu não sei quem planejou esse encontro
entre a gente, e oportunamente trouxe a Malu pra
cá. Mas agora que todos nós estamos num mesmo
cenário, chegou a hora de você conhecer um lado
sombrio dessa sua “amiguinha”!
Cláudia volta a encarar Malu, que a fuzila com o olhar.
GUILHERME — Hoje de manhã, eu e o Gene ficamos chocados
com uma campanha publicitária de uma outra
agência que era uma cópia descarada da nossa
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 42
proposta da perfumaria. E pra te chocar ainda
mais, a estrela dessa campanha roubada era
justamente a Malu.
Som de suspense. Cláudia fica estarrecida, olha de relance para sua mãe,
mas volta a prestar atenção nos dizeres de Guilherme.
GUILHERME — E o pior foi justamente o fato de a Malu não
admitir que roubou a ideia pra agência
concorrente! Sendo que nós ligamos pra tal
empresa e eles confirmaram que, além de mostrar
a proposta nossa, a Malu ainda havia assinado um
contrato publicitário com eles. Ou seja, sempre
agindo nas nossas costas!
CLÁUDIA — Meu Deus! Mas vocês confirmaram tudo isso?
GUILHERME — Nós íamos confirmar a autenticidade do
contrato que ela assinou. Mas a agência não
retornou o nosso contato. O que me fez ter
certeza absoluta de que era clandestina!
MALU — Que teatrinho mais fajuto vocês tão fazendo,
hein?
GUILHERME — Ta vendo só, Cláudia! Olha só pra essa criatura
que está na sua frente! Confirme com os seus
próprios olhos a dissimulação, a baixeza dessa
mulher! Porque, além de traidora e megalomaníaca,
a Malu se mostrou uma excelente oportunista!
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 42
Não é à toa que agora está tentando me
responsabilizar, junto com você, de uma situação
que ela mesma planejou!
CLÁUDIA — (confusa) Espera, eu realmente ainda não to
conseguindo processar tanta informação. To
precisando raciocinar direito pra não perder a
minha cabeça e revidar esse tapa que eu acabei de
receber! (encara Malu) O que deu em você, Malu?
De fazer de tudo isso? E por qual motivo você
acredita no fato de eu ter criado uma cilada pra te
prejudicar, sendo cúmplice do Guilherme? Será
que você poderia me responder essas perguntas de
um modo mais convincente? Porque é muito fácil
trocar acusações, ofender os outros, não é? Quero
ver você provar que eu sou tão baixa assim!
MALU — Esse encontro entre você e o Guilherme já
prova muita coisa! Inclusive, o fato de você estar o
seduzindo há tempos e fazendo a cabeça dele
contra mim!
Som de suspense. Cláudia encara a sua mãe novamente, a qual se aproxima.
JAQUELINE — Até então, eu preferi ficar no meu canto,
apenas prestando atenção em cada lado dessa
discussão acalorada! (aproxima-se) Mas agora eu
já posso me posicionar! Malu!
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 42
Será que, durante tanto tempo, eu e minha filha
nos enganamos com a sua persona carismática?
Porque, nesse instante, eu to decodificando uma
criatura ardilosa, fria e calculista. Tão calculista
que consegue encenar um dramalhão mexicano de
uma forma aparentemente impecável, mas que, com
uma percepção, a gente consegue perceber a
escassez de sentimentos, de repertório! Você,
Malu, ta provando ser uma pessoa vil e mesquinha!
Mas pode ter certeza de que eu minha filha não
vamos nos intimidar com essa sua arrogância e
essas suas acusações infundadas! Você é que está
na situação de ré, minha querida! Ainda não
admitiu que perdeu justamente por ser igual esses
tipinhos que não sabem aceitar uma derrota de
maneira digna! Portanto, minha cara, toma cuidado
com as suas palavras! Se você ainda tiver
dignidade, modere o tom e se afaste de gente!
Cuidado com esse seu poder autodestrutivo!
Porque, daqui a pouco, todos se afastam de você, e
aí a sua derrota vai ser muito mais penosa e
sofrível!
MALU — (controla o ódio) Que lindo, né? Agora a mãe
decidiu intervir a favor da filha ordinária! Escuta
aqui, Jaqueline! Você cala a sua boca antes de vir
me chamar de derrotada e mesquinha, ouviu bem?
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 42
E não tente jogar nas minhas costas uma
responsabilidade gerada por esse monstrinho que
você criou! (reflexiva) Mas como eu não consegui
enxergar tamanha pequenez? Ainda mais sabendo
que você, Cláudia. Já tinha provado ser uma
ordinária que até chegou a trair uma antiga amiga!
E o pior: ainda encontrei você justamente com a
Sônia, naquele dia, na clínica Arcádia! Traidora
ordinária! Manipuladora! Prepotente!
CLÁUDIA — Você já ta apelando e levando essa conversa pra
um outro canto! O foco é a gente resolver a
questão dos contratos publicitários!
GUILHERME — Tudo já foi resolvido, Cláudia! Eu e o Gene
decidimos rescindir o contrato da Malu! Isso
porque, a infração dela não tinha outra alternativa.
Estava na cláusula do contrato! O que essa mulher
está tentando fazer agora é simplesmente uma
jogada desesperadora, tentando convencer todo
mundo de que é a vítima dessa história! Por isso,
Cláudia, não se deixe abater! Você sempre foi
melhor do que ela! Sempre foi mais talentosa,
carismática! (encara Malu) Você vai continuar na
minha campanha, nós vamos criar uma nova
tendência, e vamos fazer ainda mais sucesso longe
dessa influência nefasta!
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 42
Por um instante, todos se encaram com silêncio. Jaqueline, Cláudia,
Guilherme, Malu, e Constantinopla. Esta, por sua vez, acaricia as costas da
penúltima.
CONSTANTINOPLA — Querida, por favor! Vamos sair daqui agora!
Você não acha que já escutou desaforo demais?
JAQUELINE — (provocativa) Outra ordinária fazendo um papel
fajuto de santinha, hein? Constantinopla...
Aproveita o seu momento de complacência e
caridade e leve essa criatura embora! Eu só não
revido o tapa que você deu na minha filha, Malu,
por justamente ser uma pessoa que tem certa
humanidade e empatia pelo ser humano. Mesmo
esse ser humano sendo tão vil e pequeno como
você!
Malu vira na direção de Constantinopla, acaricia os ombros dela com as suas
mãos, porém encara os outros personagens pela última vez.
MALU — Vocês todos ainda vão engolir esses desaforos
gratuitos! Não só porque eu vou provar a minha
inocência, mas também pelo fato de que eu ainda
vou desmoralizar cada um! E não interpretem essa
minha argumentação como uma vingancinha pessoal!
Porque agora que eu to tendo uma percepção mais
ampla da realidade, e vou dar a volta por cima!
Vocês vão sentir inveja do meu sucesso! Vão sentir
intimidados com a minha presença! Porque eu ainda
não me entreguei!
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 42
Vocês é que vão se rebaixar aos meus pés! Vocês é
que vão se humilhar diante de mim!
Logo, ela abraça Constantinopla de lado, sorri cinicamente e dá meia-volta.
Ambas saem de cena e são observados andando na direção da avenida Sete
de Setembro. Quando somem de cenário, CAM volta a focar em Cláudia,
Guilherme e Jaqueline.
CLÁUDIA — (controla a emoção) Eu não esperava uma
situação dessas! Eu não esperava!
GUILHERME — (acaricia o rosto dela) Cláudia, como eu já
disse, foque no seu sucesso! Esqueça a Malu,
definitivamente!
Ele encara Jaqueline por um momento, que retribui o olhar e, após isso, se
aproxima de sua filha. Por fim, Cláudia se desvencilha de Guilherme e abraça
a sua mãe. CAM abre no local e destaca-os no centro da praça, em volta de
uma paisagem exuberante.
CENA 20. APART DE JAKE. SALA. INT. ANOITECER.
Jake, ainda intimidado pelas perguntas de Antônio, procura manter a calma
e o cinismo. Ele se afasta por um instante e fica de costas para o outro.
JAKE — Mania de conspiração? (vira-se p/ele) O que
foi, Antônio? Você acha tão anormal assim um cara
sofrer um acidente de moto e quebrar o braço?
Além disso, é uma atitude suspeita não atender as
suas chamadas? (aproxima-se) Sinceramente, meu
camarada, a gente ta forçando muito a nossa
intimidade com questões tão triviais,
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 42
como você havia falado! Ou seja, você está
fazendo nós dois ficarmos constrangidos com
tamanha desconfiança desnecessária! O serviço
que eu te fiz não ficou bom? Você já não conseguiu
arranjar provas falsas contra a sua ex-mulher?
Com aquelas fotos que eu tirei, qualquer juiz se
convenceria da infidelidade dela! Portanto, vamos
cessar por aqui, e devolva a minha câmera, por
favor!
Ainda desconfiando, Antônio observa Jake novamente estirando o braço, no
mesmo instante em que segura a câmera dele bem forte. No entanto, ele
devolve a câmera, respira fundo e procura relaxar.
ANTÔNIO — Você não me leve a mal! É que ultimamente eu
ando cheio de problemas também! Enfim, como
você, disse, é melhor a gente não forçar a amizade
e não se aprofundar, não é?
JAKE — Claro!
Logo, Jake vira-se de costas para Antônio, direciona-se até uma gaveta
situada no canto da sala e guarda a sua câmera. O outro, por sua vez,
observa o recinto e começa a andar em volta do sofá.
ANTÔNIO — Mas eu confesso ter ficado intrigado com o fato
do porteiro me dizer que você, na dia do acidente,
tava fugindo de um cara! Afinal de contas, quem
era ele? Só me responda isso! Depois, eu te deixo
em paz e não me meto mais na sua vida.
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 42
Música de suspense. Ainda de costas para a CAM, Jake reage espantado
com a pergunta. Uma vez que a pessoa mencionada é Irineu, que ajudou
Sônia e Eriberto a descobrir a armação de Antônio.
JAKE — (vira-se p/ele) Bom... É uma história
complicada! É que eu tava devendo uma graninha aí,
sabe? Enfim, recém-chegado de um curso
especializado na Europa, por mais capacitado que
eu estivesse. Ainda não tinha condições
suficientes de me sustentar numa cidade com um
mercado de trabalho tão concorrido como aqui! E
aí eu acabei apelando pra um agiota! Ele me cobrou
um pouco antes do tempo previsto, nós brigamos, e
ele me ameaçou. Depois, aconteceu todo esse
incidente que você ficou sabendo: a perseguição de
moto, o acidente! Enfim, são águas passadas! Agora
eu já me livrei dele. Paguei a quantia devida, e to
com a consciência tranquila!
ANTÔNIO — Que bom! Eu espero que você aprenda agora a
não se meter com gente tão ralé! Essas pessoas
provincianas são muito traiçoeiras. Pode ser
incoerente eu te aconselhar dessa forma, visto que
eu não sou exemplo pra ninguém! Mas não custa
nada, de vez em quando, ajudar o próximo! Então
eu já to indo! Tudo certo entre a gente, né?
Serviço completo, tudo pago bonitinho! Quem sabe
futuramente eu não precise de você de novo!
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 42
JAKE — Só se for pra um serviço legal, Antônio! Eu já
me arrisquei demais nessa sua ideia engenhosa! Eu
preciso cuidar da minha carreira!
ANTÔNIO — Claro! Eu também espero nunca mais precisar
aderir a meios tão apelativos a fim de resolver as
minhas pendências! Eu não sou tão ruim como você
imagina! Aliás, como muitas pessoas imaginam!
JAKE — Eu espero que não seja mesmo! Sem querer
parecer hipócrita, mas a gente às vezes precisa
enxergar os nossos erros e tentar repará-los o
quanto antes. Porque depois, talvez nem um choro
sincero e despretensioso faria as pessoas
sentirem pena e perdoarem as nossas atitudes
sacanas!
Antônio reflete sobre a afirmação de Jake, porém mantém-se sério e
focado, indo embora. Por fim, CAM se aproxima de Jake, o qual respira
fundo e senta no sofá, aliviado por não ter sido desmascarado.
CENA 21. TRANSIÇÃO DE TEMPO. ANOITECER DO DIA.
CURITIBA. VISTA GERAL DA CIDADE. EXT. NOITE.
Ao som instrumental da música Under Pressure-Queen, é apresentada uma
sequência de imagens dos pontos de Curitiba. Entre os pontos, destacam-se:
Parque Barigui, Ópera de Arame, Jardim Botânico e viadutos diversos da
cidade. Logo, CAM explora ruas e alamedas, ressaltando veículos pegando
congestionamentos, pessoas andando em rimo frenético, bem como as luzes
fluorescentes dos postes e dos faróis de carros.
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 42
Corta, finalmente, para a rua da casa de Eriberto, por onde Sônia estaciona
o seu carro, desce e se direciona ao portão.
CENA 22. CASA DE ERIBERTO. SALA. INT. NOITE.
CAM começa fazendo um plano geral da residência. E mostra, num
enquadramento, Sônia abrindo a porta no canto esquerdo e Eriberto
surgindo no canto direito com um avental. Ambos se encaram sorridentes e
Sônia acha graça ao notá-lo arrumado para cozinhar.
SÔNIA — Aproveitando o momento vago pra fazer um
curso caseiro de culinária, meu amor?
ERIBERTO — Um jantarzinho que eu to preparando pra gente.
Com direito a crustáceos e frutos do mar no
cardápio!
SÔNIA — Crustáceos? Que ótimo, porque eu adoro
camarão!
ERIBERTO — Ainda bem! Porque eu nem me dei ao trabalho de
perguntar esse detalhe. A gente mal assumiu a
nossa história e eu pouco sei sobre os seus gostos
pessoais!
SÔNIA — (aproxima-se) Aos poucos a gente vai se
conhecendo, não é? (senta-se no sofá) Deixa que
o tempo certo enriqueça cada vez mais o nosso
repertório!
ERIBERTO — É claro! (senta-se ao lado) Mas então, ta tudo
bem contigo? Entrou em contato com o Jake?
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 42
SÔNIA — Entrei, sim! E quase fui flagrada pelo Antônio!
Se ele visse eu e a Cláudia juntas, no apart, com
certeza constataria que eu descobri toda a cilada
que ele planejou!
ERIBERTO — Por isso, eu disse pra você tomar cuidado! Aliás,
Sônia, esse seu envolvimento ta te fazendo
novamente se aproximar do seu ex-marido. Mesmo
que de uma forma indireta!
SÔNIA — Eriberto! Não precisa se sentir assim,
enciumado, por favor! Eu, inclusive, acabei de
trocar a fechadura dos fundos da mansão. Pra não
correr o risco de o Antônio entrar de penetra!
Enfim, todo cuidado com ele vale a pena!
ERIBERTO — (revoltado) Sabe o que valeria a pena? A gente
esquecer um pouco esses assuntos! Mas você é tão
ligada nos seus problemas particulares, que acaba
azedando todo o espaço onde você está, e, ainda
por cima, contagiando negativamente as suas
companhias!
SÔNIA — Desculpa, eu vou tentar mudar o foco do
assunto!
ERIBERTO — E eu vou voltar a preparar o meu jantar! Meu,
né? Justamente porque vai ser difícil a gente
associar esse meu momento de chef como algo
romântico, de um casal despreocupado! Dá licença!
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 42
Ao som de Fast Car-Tracy Chapman, Eriberto se levanta do sofá e volta
para a cozinha. Depois, CAM se aproxima lentamente de Sônia, a qual olha
para os cantos, coloca a mão direita sobre o rosto e demonstra
descontentamento.
CENA 23. CASA DE ERIBERTO. COZINHA. EXT. NOITE.
Atenção sonoplastia: a música da cena anterior continua aqui.
Minutos depois, o jantar já está pronto. Sônia e Eriberto encontram-se
sentados nas extremidades da mesinha e provam a comida feito por este.
Eles comem, tomam um vinho branco e se entreolham. Porém disfarçam e
mantêm-se carrancudos, bravos um com o outro.
CENA 24. FOZ DO IGUAÇU. DELEGACIA. INT. NOITE.
Música de ação. Num ritmo frenético, CAM foca na entrada da delegacia,
situada no canto direito da tela. Logo, surgem os dois amigos de Codinome,
conduzidos por dois policiais, bem como o próprio, sendo o destaque da cena
e com CAM acompanhando os passos dele, que também é levado por um
guardinha local, no entanto, numa outra sala. Por fim, já na entrada da sala,
um delegado abre a porta e se aproxima de Codinome.
DELEGADO — (ironiza) Você vai ser o nosso destaque dessa
noite! Veja que bela prioridade! Os seus amigos vão
ser abordados depois! Porque nós temos um
assunto muito importante! Principalmente, por já
saber que você é filho do grande Rodrigo Souza
Aguiar, mais conhecido como “Hollywood, o
transportador de cigarros”! Vamos entrar agora!
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 42
Receoso por ser associado ao seu pai, Codinome apenas dá uma olhada de
desespero para o policial que o mantém imobilizado e o delegado, o qual
retribui o gesto com um sorriso cínico. Nisso, os três personagens entram
na sala e fecham a porta.
CENA 25. CURITIBA. CASA DE FABIANO. QUARTO DE TAÍS. INT.
NOITE.
Deitada na sua cama, e um pouco mais tranquila, Taís conversa com Fabiano,
o qual está sentado na cabeceira da cama. O assunto inicial é Codinome.
TAÍS — Caso ele seja preso, com certeza a justiça vai
arrumar um jeito de associá-lo ao pai criminoso.
Mesmo ele não tendo relação com os crimes
praticados pelo outro!
FABIANO — Esse mundo é muito barra-pesada mesmo, né? É
por isso que eu sempre procurei me cuidar,
passando longe dessas más-companhias. No fundo,
eu tenho pena do Codinome. Porque na época em
que vocês namoravam, isso há quase 5 anos, eu via
o quanto ele era estudioso, esforçado. Uma pessoa
que todo mundo dizia ter um futuro brilhante!
TAÍS — É uma pena os rumos das nossas vidas terem
tomado rumos tão tortuosos, não é? Mas eu não
quero enxergar essa situação como um final
trágico! Porque a nossa história ainda não acabou!
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 42
E mesmo que tudo esteja conspirando contra, a
gente ainda vai se sobressair diante desses
problemas! Você vai ver!
Corta imediatamente para...
CENA 26. FOZ DO IGUAÇU. DELEGACIA. SALA. INT. NOITE.
Música de suspense. O delegado interroga Codinome de um modo bastante
tendencioso.
DELEGADO — Filho do grande contraventor de cigarros da
fronteira, envolvido num esquema de rachas, e no
mesmo cenário! É, moleque! Nós até tentamos
associar você como um herdeiro das falcatruas
deixadas pelo seu pai. Mas o nosso bom-senso não
é falho. E sabemos que ele está em regime
fechado, na penitenciária de Catanduvas. E que não
recebe a visita dos parentes há mais de 4 anos.
CODINOME — Se vocês estão tendo discernimento nesse
instante, também tenham com a minha situação
atual! Vocês estão me responsabilizando por um
esquema que é muito mais amplo e com um fluxo
muito grande de capital. Os magnatas que
envolveram a mim e aos meus amigos no transporte
de contrabando são verdadeiros pilantras
disfarçados. São os grandes peixes, melhor
dizendo.
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 42
Se livraram de serem pegos e nos atraíram nessa
armadilha como laranjas. Agora nós vamos ter que
arcar com toda a culpa, é isso?
DELEGADO — Garoto, se você está sendo tão claro e se
expondo de uma maneira quase suicida, eu me sinto
no direito de dizer que a sua vida e a dos seus
amigos estão correndo um sério risco! Portanto, é
melhor você ficar quietinho, contatar um advogado
e, numa alternativa de proteção, não incriminar
esses magnatas! Pra sua proteção, nós vamos te
deixar numa cela especial! Porque, nesse tempo em
que eu apurei o fato de você não estar associado
aos crimes do seu pai, eu consegui descobrir a
verdadeira rede de quadrilha disseminada na
fronteira e relacionada aos tais magnatas. Os
chefes, entendeu bem? Portanto, você vai ter que
arcar com alguma responsabilidade, sim! Mas ainda
pode se dar muito bem com uma delação premiada!
Mas não nesse momento! Nós vamos agir com calma
pra pegar todos esses bandidos poderosos num
único ato! E contar com a ajuda de uma hierarquia
superior da justiça! Você servirá como bode
expiatório. (fala com o policial) Pode levá-lo, numa
cela especial, longe dos amiguinhos! (encara
Codinome) E não se esqueça! Fique quieto! Pro seu
bem!
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 42
Nisso, Codinome obedece o delegado, levanta-se à força da cadeira e é
acompanhado pelo policial. Após saírem de cena, o delegado senta-se na sua
cadeira, coloca as mãos sobre a cabeça e fica pensativo.
DELEGADO — (p/si) Agora eu desmantelarei essa quadrilha de
safados! Com toda a certeza!
CENA 27. CASA DE FABIANO. QUARTO DE TAÍS. INT. NOITE.
Agora, ele e Taís comentam sobre a mãe deles.
TAÍS — Pelo visto a dona Neusa deve ta adorando esse
tour por Wenceslau Braz, hein?
FABIANO — Com certeza! Mal entra em contato com a gente!
(olha o relógio) To indo trabalhar, minha irmã!
Porque você não aproveita pra espairecer um pouco
e ir até o barzinho com alguém daqui? Convida o
Leandrinho e a Sandra! Eles vão adorar, eu tenho
certeza!
TAÍS — Até que a ideia é interessante! Eu vou me
animar, sim, Fabiano! (levanta-se da cama) Vou
tomar uma ducha rápida e me aprontar!
FABIANO — Tudo bem!
CENA 28. FOZ DO IGUAÇU. DELEGACIA. INT. NOITE.
Música de suspense. Nesse instante, Codinome é conduzido ao corredor dos
cárceres. De lado para a CAM, ele vai passando no meio de vários detentos,
os quais se penduram na grade e o encaram. Alguns destes estão mais
contidos, outros mais topetudos.
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 42
Logo, Codinome é conduzido para a última cela, que está vazia e é trancado
por lá. Depois, ele olha ao redor e nota que seus amigos estão na cela
situada exatamente na sua frente. CLOSES nesses personagens se
entreolhando.
CENA 29. CURITIBA. LARGO DA ORDEM. EXT. NOITE.
Ao som de Thunderstruck-AC-DC, é apresentada uma visão ampla do Largo.
Depois, CAM caminha pelo local e destaca jovens roqueiros conversando
entre eles na beirada do bar do alemão, fumando os seus cigarros e
observando o redor. Depois, são focalizados alguns universitários sentados
na mesa de um outro bar, jogando truco e bebendo bebidas diversas, até,
finalmente, CAM parar na fachada do bar onde Fabiano trabalha.
CENA 30. BAR FIREFOX. INT. NOITE.
Atenção sonoplastia: a música da cena anterior continua aqui.
No interior do recinto, CAM começa explorando o 2º andar, por onde estão
sentadas poucas pessoas. Depois, desce até o 1º andar e mostra os
balconistas e garçons parados num corredor exíguo. No meio deles, destaca-
se Fabiano, com uma bandeja contendo duas garrafas de cerveja na mão
esquerda. Ele passa ao lado de alguns colegas, sobe as escadas e entrega as
bebidas a Taís, Sandra e Leandrinho.
FABIANO — Vejam só que ironia! Eu, servindo a minha
própria família!
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 42
SANDRA — Não precisa de nenhuma formalidade, também,
meu querido! Afinal de contas, na época em que nós
almoçávamos no restaurante da Tia Dirce, lá em
Guaíra, ela também nos tratava com clientes VIPS!
TAÍS — Bons tempos aqueles, hein? Nossas vidas eram
muito mais despretensiosas e felizes!
LEANDRINHO — Mas ficar se lamentando do que já passou, ou do
que podia ter sido melhor, não adianta! O
importante é apenas lembrar dessas épocas com
saudosismo. Uma vez que o melhor é a gente
progredir, seguir em frente!
FABIANO — (coloca as bebidas na mesa) E eu concordo!
Agora, vocês não me levem a mal, mas eu ainda
tenho 5 mesas pra atender! Isso agora, né? Porque
depois a clientela notívaga ferve!
TAÍS — Claro, pode ir, Fabiano! A gente ta tranquilo
aqui, e adorando o serviço.
Eles se entreolham sorrindo, e Fabiano se direciona para o 1º andar. CAM
acompanha os passos dele. Logo, sendo visto de perfil, nota-se que ele ficou
constrangido ao ver uma pessoa se aproximando. Essa pessoa é justamente
Mateus, o balconista.
MATEUS — Você ta sendo muito elogiado por aqui, sabia?
Tem bastante agilidade no atendimento, nunca
confunde os pedidos. Além de tudo isso, o seu
carisma tem cativado! Continue assim que você vai
se dar muito bem!
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 42
FABIANO — (sem jeito) Obrigado, Mateus! Eu to só fazendo
a minha parte!
MATEUS — Não me agradeça, porque esse elogio não veio só
de mim! Não interprete tudo o que eu falo como
uma cantada barata! Eu tenho bom-senso! Já
percebi o seu medo de se envolver! Só uma coisa:
eu não vou desistir, Fabiano! Vou procurar ser mais
sutil, mas vou continuar lutando! Custe o que
custar!
Fabiano esboça um sorriso tímido, todavia mantém-se contido e temeroso.
Mateus, por sua vez, fica sério e volta ao seu serviço.
CENA 31. CASA DE ERIBERTO. FRENTE. EXT. NOITE.
Cláudia chega ao local e aperta a campainha. Sônia atende e se surpreende
com a presença dela, tal como Eriberto, que surge atrás.
SÔNIA — Oi, Cláudia! E aí, aconteceu alguma coisa? To te
achando tão ansiosa!
CLÁUDIA — Aconteceu, sim! Uma nova reviravolta! Ai, Sônia!
Foi tudo tão rápido e, ao mesmo tempo, chocante,
que eu preciso tomar fôlego pra te contar!
SÔNIA — Nossa, mas a gente acabou de conversar, minha
querida, e estávamos tão tranquilas! É algo
relacionado ao Jake, ao Antônio?
CLÁUDIA — É algo relacionado à Malu! Nós duas brigamos
feio hoje!
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 42
Eu vou te explicar tudo com riqueza de detalhes.
Mas já te garanto: ela acaba de se declarar uma
grande inimiga minha!
CENA 32. MANSÃO DE SÉRVIA. SALA. INT. NOITE.
Sérvia se encontra sentada no sofá da sala, pensativa. Logo, Malu surge
cabisbaixa, e aquela vira o rosto para notá-la.
SÉRVIA — (aproxima-se) Será que agora você ta mais
calma? Não trata mais a sua avó com frieza! Eu sei
que eu sou relapsa, fugaz! Mas, apesar disso, não
me ignore! Eu já sou tão solitária!
Elas se encaram por um momento. A pausa dramática dá um tom de emoção.
Nisso, Malu não se controla e corre para abraçar a sua avó, que fica
confusa, mas feliz pelo gesto.
CENA 33. APART DE ANTÔNIO. SALA. INT. NOITE.
Antônio vê pelo tablet a campanha falsa que expôs a imagem de Malu.
Constantinopla, ao seu lado, o nota apreensivo.
CONSTANTINOPLA — E aí, o que achou?
ANTÔNIO — Vocês pegaram pesado, hein?
CONSTANTINOPLA — Mas isso foi essencial pra não só tirá-la daquela
agência, como também torná-la inimiga declarada
da Cláudia. Tudo deu certo, e isso é o que importa.
ANTÔNIO — Mudando de assunto, eu quero saber da Taís,
aquela garota que se parece com a Letícia!
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AS DONAS DA HISTÓRIA CAPÍTULO 42
Quero muito que você me forneça mais detalhes
da vida dela. Porque aquela semelhança me deixou
muito intrigado.
FIM DO CAPÍTULO 42.