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AS CONTRIBUIÇÕES DO SOFTWARE ATLAS TI PARA A ANÁLISE DE RELATOS DE EXPERIÊNCIA ESCRITOS QUEIROZ, Tania Lucia de Araujo – UFPE [email protected] CAVALCANTE, Patrícia Smith – UFPE [email protected] Eixo Temático: Comunicação e tecnologia Agência Financiadora: Bolsista CAPES Resumo Este artigo objetiva apresentar como foi desenvolvido o percurso metodológico da dissertação em nível de mestrado, do Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática e Tecnológica – UFPE, cujo objetivo foi conhecer como professores que participaram do Curso Mídias na Educação fizeram uso das mídias em sala de aula. Focamos especialmente na organização e análise dos dados utilizando o software Atlas TI. Em conformidade com a abordagem qualitativa, optamos pela Análise de Conteúdo (BARDIN, 2010) usada para descrever e interpretar o conteúdo dos relatos de experiência escritos encontrados nos projetos de ensino dos egressos do Curso de Mídias na Educação, na Paraíba. Como categorias de análise dos dados utilizamos os elementos estruturantes da Teoria da Atividade propostas por Leontiev (1978): necessidades, motivos, ações e operações. Essas categorias a priori correspondem aos códigos usados na codificação dos dados. A análise permitiu demonstrar a partir da descrição das etapas da Análise de Conteúdo com o uso do Atlas Ti e da exemplificação de duas teias o processo de codificação, o estabelecimento de relações entre os elementos analisados. Observamos que o uso do software Atlas TI foi de fácil manuseio e bastante adequado às etapas metodológicas da análise de conteúdo. Por outro lado, permitiu a inserção de nossas categorias de análise a priori, advindas da Teoria da Atividade sem problemas. Assim, concluímos que o software Atlas TI correspondeu às expectativas de um bom instrumento de análise de dados, favorecendo os cruzamentos dos dados e permitindo uma análise mais profunda dos mesmos. Em relação aos resultados da nossa pesquisa foi possível perceber até o momento a predominância das ações de discussão, sondagem, interpretação em relação ao conteúdo abordado e em relação ao uso das mídias a exibição de vídeos, leitura de textos de diferentes gêneros textuais, entre outras. Palavras-chave: Atlas TI. Análise do Conteúdo. Teoria da Atividade.

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AS CONTRIBUIÇÕES DO SOFTWARE ATLAS TI PARA A ANÁLISE

DE RELATOS DE EXPERIÊNCIA ESCRITOS

QUEIROZ, Tania Lucia de Araujo – UFPE

[email protected]

CAVALCANTE, Patrícia Smith – UFPE [email protected]

Eixo Temático: Comunicação e tecnologia

Agência Financiadora: Bolsista CAPES Resumo Este artigo objetiva apresentar como foi desenvolvido o percurso metodológico da dissertação em nível de mestrado, do Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática e Tecnológica – UFPE, cujo objetivo foi conhecer como professores que participaram do Curso Mídias na Educação fizeram uso das mídias em sala de aula. Focamos especialmente na organização e análise dos dados utilizando o software Atlas TI. Em conformidade com a abordagem qualitativa, optamos pela Análise de Conteúdo (BARDIN, 2010) usada para descrever e interpretar o conteúdo dos relatos de experiência escritos encontrados nos projetos de ensino dos egressos do Curso de Mídias na Educação, na Paraíba. Como categorias de análise dos dados utilizamos os elementos estruturantes da Teoria da Atividade propostas por Leontiev (1978): necessidades, motivos, ações e operações. Essas categorias a priori correspondem aos códigos usados na codificação dos dados. A análise permitiu demonstrar a partir da descrição das etapas da Análise de Conteúdo com o uso do Atlas Ti e da exemplificação de duas teias o processo de codificação, o estabelecimento de relações entre os elementos analisados. Observamos que o uso do software Atlas TI foi de fácil manuseio e bastante adequado às etapas metodológicas da análise de conteúdo. Por outro lado, permitiu a inserção de nossas categorias de análise a priori, advindas da Teoria da Atividade sem problemas. Assim, concluímos que o software Atlas TI correspondeu às expectativas de um bom instrumento de análise de dados, favorecendo os cruzamentos dos dados e permitindo uma análise mais profunda dos mesmos. Em relação aos resultados da nossa pesquisa foi possível perceber até o momento a predominância das ações de discussão, sondagem, interpretação em relação ao conteúdo abordado e em relação ao uso das mídias a exibição de vídeos, leitura de textos de diferentes gêneros textuais, entre outras. Palavras-chave: Atlas TI. Análise do Conteúdo. Teoria da Atividade.

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Introdução: o contexto da pesquisa

O Curso Mídias na Educação (doravante CME) é um programa oferecido pelo

Ministério da Educação, através da Secretaria de Educação a Distância – SEED, destinado aos

profissionais da educação e tem como objetivo, segundo os documentos oficiais que

regulamentam o programa, colaborar para o desenvolvimento de uma prática pedagógica

crítica e reflexiva, com vistas à utilização integrada, cooperativa e autoral das diferentes

mídias (TV, informática, rádio e impressos). Este curso tem como objetivo contribuir com a

formação de professores da Educação Básica, para que sejam capazes de produzir e estimular

a produção dos alunos nas diferentes mídias, de forma articulada à proposta pedagógica e à

uma concepção interacionista de aprendizagem.

A análise dos relatos de experiência escritos apresentados neste artigo corresponde à

atividade final do ciclo intermediário do CME, ou seja, o projeto de ensino desenvolvido em

sala de aula com os alunos. A proposta do projeto visava integrar as mídias aos conteúdos a

serem ensinados aos alunos, atendendo a proposta do curso. Foram analisados quatro projetos

de quatro docentes egressos do referido curso.

Mediante o exposto buscamos responder a seguinte questão de pesquisa: como os

professores egressos do Curso Mídias na Educação usam as mídias em sala de aula? Esse uso

representa que as mídias foram integradas à sua prática pedagógica?

Percurso Metodológico da Pesquisa

Tendo em vista a natureza do problema de pesquisa, apresentado anteriormente,

optamos pela abordagem qualitativa que consiste na obtenção de dados em contato direto com

a situação estudada e na análise descritiva dos mesmos (LÜDKE e ANDRÉ, 1986).

A abordagem qualitativa exige a utilização de uma metodologia sistemática, por isso

empregamos a técnica da Análise de Conteúdo (BARDIN, 2010) para descrever e interpretar

o conteúdo dos instrumentos usados para a coleta dos dados: relatos de experiência escritos

relacionados aos projetos de ensino. A análise qualitativa requer do pesquisador experiência

ao olhar para os dados, na perspectiva de não descartar nada dos documentos, pois tudo pode

ser importante.

A escolha de uma teoria para realizar a análise e proceder à codificação dos dados é

tão importante quanto à escolha da metodologia de análise. Nesse sentido, escolhemos o

software Atlas Ti para análise dos dados, devido à possibilidade de uso em diferentes tipos de

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pesquisa e emprego de estratégias de análise sistemáticas e complexas. Conforme os dados, os

objetivos e as estratégias de pesquisa, este software apresenta flexibilidade para geração de

dados. Acreditarmos nas vantagens do software quanto ao alcance na geração e estruturação

dos dados qualitativos; a análise e apresentação dos resultados, possibilitando a construção de

redes semânticas; a exportação de documentos em diferentes formatos (XML, HTML, RTF,

SSPS) em relação a outros, por exemplo, N-VIVO, Alceste, destinados a pesquisas

quantitativas, será muito importante na análise de nossos dados.

O software Atlas Ti permite a descoberta de fenômenos complexos, os quais,

possivelmente, não seriam detectáveis na simples leitura do texto, principalmente, em relação

à técnica tradicional de tratamento dos dados manualmente, com a utilização de lápis, tesoura

e cola, porque é possível integrar as unidades hermenêuticas (projetos primários) entre si.

Vale destacar, que nenhum software realiza todo o procedimento de análise

independente do pesquisador. É necessário, portanto, que este conheça as potencialidades do

software para adequá-lo à teoria de base utilizada para análise.

O nosso estudo privilegiou o contexto, os processos e a subjetividade em que estão

envolvidos os sujeitos: professores(as) de escolas da rede pública de ensino municipal e

estadual, da educação básica no estado da Paraíba, egressos do Curso Mídias na Educação.

Nos tópicos seguintes passaremos a relacionar a Teoria da Atividade à Análise de

Conteúdo e à aplicabilidade do software Atlas Ti, porém iniciaremos com a descrição do

software.

O Atlas Ti

O uso do software Atlas Ti é indicado para análise longitudinal em que se usam

instrumentos diversos e complementares, e tem como principal objetivo ajudar o pesquisador

a organizar, registrar e possibilitar o acompanhamento dos registros efetuados, contribuindo

para a confiabilidade do estudo.

Com o software Atlas Ti é possível na analisar e gerenciar distintos tipos de

documentos ou instrumentos de coleta de dados, tais como: respostas às questões abertas de

questionários, relatórios de observação, cartas, enfim todos os textos expressos na modalidade

escrita, além de áudio (transcrição de entrevistas não-estruturada, músicas, reuniões, palestras

e outros) imagens (fotos, desenhos, pinturas, e outros) e vídeos (gravações de reportagens

televisivas, de aulas, de filmes, e outros).

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Esse software é ideal para trabalhar grandes quantidades de dados textuais,

organizados em diferentes arquivos (Word, rich text, pdf). Além disso, o Atlas Ti permite,

ainda, codificar e analisar outros tipos de formatos como imagem, vídeo, áudio exibidos ou

não em sites desde que em HTML

O software permite algumas vantagens em relação a técnicas antigas empregadas na

empregadas na análise de conteúdo. É possível realizar anotações e comentários, elaboração

de relatórios, de memorandos, edição, disposição de dados em tabelas e matrizes, entre outros.

Os principais elementos interligados ao software Atlas Ti e que estão dentro de um

projeto, denominado unidade hermenêutica, são: os documentos primários (P-Docs), as

citações (Quotes), os códigos (Codes) e as notas (Memos). Esses elementos dão origem às

teias (ferramentas de análise que podem ser utilizadas para ilustrar as relações que foram

analisadas pelo pesquisador), conforme pode ser observada na figura 3 em relação ao código

“ação do professor”.

Teoria da Atividade e a relação com o Atlas TI

A opção pela Teoria da Atividade como aporte teórico-metodológico se justifica pela

pertinência ao objeto de estudo investigado, assim como é uma teoria que tem sido estudada

por muitos pesquisadores adquirindo um caráter multidisciplinar nos diferentes campos do

conhecimento.

Para Leontiev (1978, p. 68) atividade é definida como “[...] aqueles processos que,

realizando as relações do homem com o mundo, satisfazem uma necessidade especial

correspondente a ele. [...] coincidindo sempre com o objetivo que estimula o sujeito a

executar essa atividade, isto é, o motivo.” O conceito de atividade, segundo Leontiev (1978,

p. 82) está necessariamente unido ao conceito de motivo. Esse autor defende que a atividade

surge a partir de necessidades, as quais impulsionam motivos orientados para um objeto.

De acordo com a Teoria da Atividade, sendo a atividade humana global, e

desdobrando-se em distintos tipos concretos de atividade, a diferenciação é dada pelo seu

conteúdo objetal. Cada tipo de atividade possui um conteúdo perfeitamente definido de

necessidades, motivos, ações e operações, elementos estruturantes da atividade. Nesse caso,

“o que distingue uma atividade de outra é o objeto da atividade [...] que confere à mesma

determinada direção” (LEONTIEV, 1978, p.83). No caso do exemplo, ora apresentado, o

objeto da atividade é o ensino caracterizado pelos projetos de ensino. Sendo o objeto da

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atividade o ensino por meio do uso de mídias, esta compreende duas etapas importantes: de

orientação (correspondendo às necessidades, aos motivos, ao objeto e às tarefas) e a de

execução (constituída pelas ações e suas operações). Assim, com base no pensamento de

Leontiev (1978, p. 83) “a atividade do sujeito é direcionada para a concretização do objeto ou

motivo, que surge em função de uma necessidade [...]”. Nessa perspectiva, a atividade não é

qualquer ação. Exige ações específicas que permite distinguir a atividade principal da

atividade geral.

É preciso destacar, também, que ao conceito de atividade estão associadas às ações e

as operações. A ação é um “processo cujo motivo não coincide com seu objetivo, mas reside

na atividade da qual ele faz parte”, Leontiev diz que as ações são conectadas às necessidades e

motivos. Enquanto que as operações consistem no modo de execução de uma ação, uma

mesma ação pode ser realizada por diferentes operações. As ações não garantem a satisfação

de uma necessidade, mas compõem e estruturam a atividade e, dessa forma, adquirem sentido.

A atividade de ensino, enquanto atividade principal do professor, pressupõe a

necessidade de determinados conhecimentos, bem como a intencionalidade, manifestada nos

objetivos estabelecidos. Esses objetivos para serem atingidos dependem do desencadeamento

de ações e operações, realizadas por estudantes e professores mediadas por instrumentos

materiais e ideias e oferecem as condições para a realização de tais ações (SERRÃO, 2006).

Nessa perspectiva, ensinar compreende o desenvolvimento de atividades específicas

relacionadas ao ensino, uma vez que nem todas as atividades que o professor realiza em sala

de aula, podem ser consideradas como de ensino. Enfim, para ser considerada atividade de

ensino deve-se levar em consideração o seu objetivo ou propósito, ou seja, a intenção

implicada na situação analisada. Isto nos leva a dizer que, uma atividade de ensino somente

pode ser caracterizada pela referência à sua intenção.

Bordenave e Pereira (s/d) afirmam que a escolha adequada das atividades de ensino é

uma etapa importante de sua profissão. É nesta tarefa que se manifesta a verdadeira

contribuição de seu papel. Por isso, a escolha acertada de materiais e métodos, manifestada na

escolha das atividades de ensino, deve estar adequada aos objetivos educacionais, aos

conteúdos da matéria e aos alunos. Vários são os fatores que afetam a escolha das atividades

de ensino e aprendizagem, conforme apontam esses autores.

Esta breve explanação sobre os pressupostos da Teoria da Atividade tem o objetivo de

possibilitar o entendimento dos elementos que envolvem a atividade de ensino e sua relação

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com o contexto educacional. São esses elementos que nos subsidiarão na análise do uso de

mídias em sala de aula, na perspectiva de responder as nossas questões de pesquisa.

Para a discussão dos resultados, neste artigo, privilegiamos, apenas, as categorias:

motivo(s), ação/ações e operações do professor por estarem relacionadas ao que nos

propomos discutir neste momento.

Análise de conteúdo e a relação com a Teoria da Atividade o Atlas Ti

Segundo Bardin (2010) a análise de conteúdo consiste em técnicas de análise de

mensagens por meio de procedimentos sistemáticos, quer sejam quantitativos ou qualitativos,

e admitem inferência a respeito do conteúdo da mensagem.

Na Análise de Conteúdo diferentes unidades de registro podem ser empregadas como:

a palavra, o tema, o documento, etc.. Em nosso estudo, as unidades de registro selecionadas

foram os elementos estruturantes da atividade com base na Teoria da Atividade (LEONTIEV,

1978). Conforme, explica Bardin (op. cit) a análise temática consiste em encontrar ‘núcleos

de sentido’ que sejam significantes para a mensagem analisada.

Para análise dos dados do projeto de ensino seguimos as etapas da Análise de

Conteúdo: pré-análise; exploração do material; tratamento dos resultados, inferência e

interpretação (BARDIN, 2010), as quais associadas ao uso do software Atlas TI, consistiram

em: (leitura flutuante, preparação dos materiais, identificação codificação dos documentos,

criação das unidades hermenêuticas, associação dos documentos primários, descoberta das

passagens relevantes, construção dos códigos e memos, contagem de palavras, seleção de

segmentos do texto, etc.).

Preparando as informações (pré-análise e exploração do material)

A preparação do corpus para a pesquisa se deu na reunião e organização dos

instrumentos de coleta de dados, a saber: os questionários, os relatos de experiência escritos

referentes aos projetos de ensino; os relatos orais (gravação em áudio) e as entrevistas. Destes

documentos apresentaremos, apenas, a análise de quatro projetos de ensinos de professores de

escolas públicas, municipal e estadual, das séries finais do ensino fundamental do estado da

Paraíba.

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É imprescindível a leitura de todo o material reunido e análise das informações que

contemplam os objetivos da pesquisa, isto é, devem conter dados significativos e relevantes

aos objetivos da análise e abranger o campo que será investigado.

Nessa etapa foi realizada a inserção de todos os materiais originais em pastas

separadas e a nomeação deles, de acordo com a natureza de cada instrumento de coleta de

dados, os quais foram usados para composição das unidades hermenêuticas (arquivos que

contém todos os dados de pesquisa, provenientes dos arquivos de origem) no software Atlas

Ti. Esses documentos foram salvos em pastas no computador com extensão RTF (Rich Text

Format).

Após reunirmos os documentos referentes à pesquisa nessas pastas, foi necessário

prepará-los para a análise, assim, identificamos as diferentes informações necessárias para dar

continuidade ao processo.

Ainda, nesta etapa iniciamos o processo de codificação dos materiais, ou seja, a

definição da nomenclatura usada para nomear os documentos identificando-os com letras e

números equivalentes as iniciais do documento e do sujeito investigado, por exemplo, (PDP19

– projeto didático, professor 19).

É aconselhável, também, organizar um arquivo no Excel para catalogação de todos os

documentos e a organização de pastas no computador para armazenamento desses

documentos. Esta codificação serve para identificar, de forma rápida cada elemento dos

materiais que receberão a análise.

Realizado de maneira primária, sem a utilização de software específico para análise de

conteúdo, o documento foi inserido no Word e com o auxílio de uma marca texto, foram

marcados nos textos, os aspectos relevantes sobre as categorias a priori definidas consideradas

a partir da Teoria da Atividade (Leontiev, 1978), que são os elementos estruturantes da

atividade humana, no caso particular da pesquisa, a atividade de ensino. Esses elementos são:

necessidades, motivos, ações e operações. A intenção era de facilitar o nosso olhar em relação

às categorias de análise definidas previamente.

Explorando os materiais

A etapa de exploração dos materiais corresponde a diferentes momentos da análise dos

dados. Nessa etapa acontece a transformação do conteúdo em unidades de registro, ou seja, a

unitarização (MORAES, 1999).

11782

Para submeter às informações em unidades foi necessário definir a unidade de análise

ou a unidade de registro. De acordo com Bardin (2010), a unidade de registro (UR), apesar de

dimensão variável, é na ordem semântica, o menor recorte que se extrai do texto, podendo ser

uma palavra-chave, um tema, objetos, personagens, etc. O resultado deste processo será

diferentes mensagens divididas em elementos menores, devidamente codificados.

O software Atlas TI, permite a utilização do recurso Contagem de Palavras, no qual se

pretende trabalhar com a análise a nível textual. Este recurso permite que o software tabule

todas as palavras contidas nos documentos, em ordem alfabética e com o número de

freqüência destas palavras, transpostas para uma planilha no Excel.

Este procedimento é necessário, pois o software Atlas TI trabalha com este protocolo

para gerar o código de análise. Com a criação do código e a inserção das palavras

relacionadas ao código, o Atlas TI fará a auto-codificação, isto é, todas as palavras

pertencentes ao código, serão selecionadas automaticamente no texto, que está inserido no

software. Logo, o software codifica automaticamente, sendo necessária uma etapa de

filtragem, pois nem tudo que foi codificado pela palavra isolada, se trata efetivamente do

contexto analisado.

A utilização da contagem de palavras para a análise dos relatos de experiências

escritos foi realizada considerando apenas as categorias motivos, ações e operações, visto que

nosso problema de pesquisa pretende conhecer como as mídias foram usadas em situações de

ensino. Nesse processo de codificação foram geradas 1646 palavras, as quais foram

transportadas para a planilha no Excel e classificadas as palavras em quatro grupos, que

correspondem aos códigos dos elementos estruturantes da atividade, já citados anteriormente,

e em destaque na figura 1.

Figura 1- Relação entre os elementos estruturantes da atividade

Na figura 1, podemos observar o esquema gerado que demonstra as relações

estabelecidas entre os elementos estruturantes da atividade de ensino (motivos, objetivos e

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ações), considerados para esta análise, e que estão representados no Atlas Ti como os código:

a) motivos, b) objetivo(s) e c) ação do professor.

O código motivos é referente a toda citação que indique os motivos que originaram as

ações realizadas pelos(as) professores(as).

O código ação refere-se a tudo que se relaciona com as ações planejadas e realizadas

pelo professor ou pelos alunos, para que os objetivos sejam atingidos. Em relação ao código

operação corresponde a toda citação que indique a(s) operação(ões) realizadas e relacionadas

às ações correspondentes.

Tratamento dos resultados, inferência e interpretação

Esta etapa consiste na categorização ou classificação das unidades em categorias. Para

isso é necessário tratar “os resultados brutos obtidos a fim de que sejam significativos e

válidos e possam proporcionar ao pesquisador propor inferências e adiantar interpretações a

propósito dos objetivos previstos [...]” (BARDIN, 2010, P. 101).

Podemos dizer que implica em agrupar os dados de acordo com as semelhanças, e

analogias previamente estabelecidas, por meio de critérios determinados, com base no

problema, nos objetivos e elementos utilizados na análise de conteúdo.

Cada código construído recebeu um nome correspondente à idéia expressa no

segmento de texto que foi selecionado. Ao lado de cada código aparecem algumas

informações, como podemos observar dentro de cada caixa de texto na figura 2. Por exemplo,

o código “ação do professor” apresenta a seguinte informação {16,0}. O primeiro número em

destaque significa que o código está ligado a dezesseis citações e o segundo número (0) indica

que o código não está ligado a outro código.

12.1-AÇÕES DOPROFESSOR {16-0}

Figura 2 - Código ação do professor

À caixa central (Figura 2: código ação do professor) foram relacionadas todas as

citações dos projetos de ensino dos sujeitos investigados.

As citações que aparecem na figura 3 são representadas por um símbolo, seguido de

uma informação numérica, por exemplo [2: 25], localizada abaixo do símbolo. O 2 representa

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que a citação refere-se ao sujeito 2 e o 25 corresponde a citação desse sujeito, incluindo todos

os códigos gerados no documento analisado (unidade hermenêutica).

A análise das citações dessa rede permitiu-nos perceber que existem ações referentes:

a) ao professor (sintetizam as ações enfocadas pelos professores ao organizarem as situações

de ensino) e b) aos alunos (para o desenvolvimento das tarefas solicitadas pelos professores).

Entre as ações do professor, podemos, ainda, distinguir ações do professor para o uso das

mídias; relacionadas ao conteúdo e a orientação da tarefa realizada pelo professor.

Após identificarmos essa distinção, para cada uma dessas categorias, em relação ao

professor, foram gerados os seguintes códigos: a) ação do professor em relação ao conteúdo,

b) ação do professor para organização das tarefas e c) ação do professor para uso das mídias.

À medida que o pesquisador vai codificando o documento as citações ficam salvas e

podem ser usadas para a construção de uma árvore hierárquica demonstrando todas as

ocorrências dos códigos relacionados às citações, e podem ser gerados para formar a rede

representada nas figuras 3 e 4.

Na figura 3 estão representados os elementos estruturantes da atividade do Professor

P19, onde mostramos os códigos referentes ao motivo que gerou o projeto de ensino, e os

códigos o objetivo, as ações e as operações.

Esta família de códigos foi construída agrega dados previamente criados na

codificação e contribuem para compreensão de como os professores usam as mídias em sala

de aula. A partir do motivo que direcionou os objetivos de ensino e suas respectivas ações e

operações podemos perceber o percurso do professor e as ações e operações relacionadas ao

uso específico de cada mídia escolhida.

Podemos perceber na figura 3 que o objetivo estabelecido por P19 para realização do

projeto de ensino sobre os problemas ambientais “desenvolver nos alunos uma atitude de

consciência diante dos problemas ambientais” deve ser atingido por meio das ações e

operações realizadas. Nesse caso, as ações e operações do professor estão baseadas na

discussão, sondagem de conhecimento dos alunos sobre a temática, sendo complementada

pela exibição de vídeo do you tube sobre a temática, leitura e interpretação de música com o

uso de micro sistem. Essas ações e operações é que determinaram se houve integração das

mídias em salas ou se apenas elas estão inseridas no espaço da sala de aula.

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Figura 3 - Rede elaborada com os elementos estruturantes da atividade de ensino

O resultado desse processo de codificação está representado na figura 4, onde

podemos observar o código ação do professor e as citações a ele correspondentes.

A rede construída no Atlas Ti (figura 4) apresenta os códigos nas quatro caixas e a

cada caixa estão relacionadas às citações correspondentes.

Nessa figura 4, a rede construída representa a família do código “ação do professor” e

todas as citações marcadas nos relatos de experiência dos quatro sujeitos investigados estão

ligadas aos códigos pelas setas.

Essa teia permite que possamos visualizar todas as ações realizadas pelos sujeitos da

pesquisa e fazermos um paralelo entre elas, identificando quais as ações que prevalecem

quanto ao modo como as mídias foram usadas por eles.

11786

12.1-AÇÕESPROFESSOR {16-0}

[1:30][60]--------------------o professor discutiujuntamente com aturma questõesligadas àresponsabilidadesocial e à cidadania

[1:34][60]--------------------houve discussãodos principaispontos de cadatexto

[1:40][55]--------------------exibiu um vídeo doyou tube

[1:45][54]--------------------O professor fezuma retomada dasdiscussões sobre asquestõesambientais, tratandosobre oconsumismo e odesenvolvimentoindustrial, que temse tornadosgrandes vilões domeio ambiente.

[1:50][41]--------------------discutir com osalunos osconhecimentos delesacerca de questõesligadas ao meioambiente

[1:51][41]--------------------discutir sobre aimportância dapreservaçãoambiental e astransformaçõesocorridas no meioambiente.

[1:52][42]--------------------realizamos umasondagem com osalunos acerca dosconhecimentos dosmesmos sobrequestões ligadas aomeio ambiente

[2:15][67]--------------------Apresentação daproposta em sala deaula.

[2:16][71]--------------------Comparação dasopiniões dos alunossobre a situação dosafro-descendentesno passado e naatualidade

[2:25][88]--------------------Haverá umaapresentação e umaexposição com todosos trabalhosproduzidos na salade aula.

[2:30][44]--------------------Problematizarquestões relativasao preconceitoracial e aconsciência negra.

[4:18][44]--------------------os alunos foraminstigados aparticipar de umreconto oral sobreas histórias quemais gostaram.

[4:25][59]--------------------Os alunos foramestimulados aparticipar daconstrução de umtexto coletivo

[4:55][108]--------------------os alunos foramestimulados aproduzir oralmentea história,orientados pelasequência das cenas

[4:58][115]--------------------orientados aorganizar, em umacartolina, ashistórias que elesproduziram.

12.1.1-AÇÃO DOPROFESSOR -CONTEÚDO {7-0}

12.1.2- AÇÃO DOPROFESSOR -MÍDIAS {6-0}

12.1.3-AÇÃO DOPROFESSOR -ORIENTAÇÃO DAATIVIDADE {2-0}

Figura 4 - Rede elaborada para representação do código ação do professor

Como já foi dito, inicialmente, a pesquisa está em andamento e, por isso, não nos

detemos em apresentar, neste trabalho, as inferências e interpretação dos dados constatadas.

Algumas Considerações

A etapa da pesquisa denominada análise dos dados representa um dos passos mais

relevantes da pesquisa científica. Devendo, portanto, atender ao rigor do método científico e,

consequentemente, na escolha e uso correto dos recursos tecnológicos adequados para a

averiguação do fenômeno investigado.

Em nossa pesquisa, mesmo em andamento, acreditamos que a escolha pelo software

Atlas Ti está nos favorecendo em diferentes aspectos, um deles é perceptível: o tempo que

vamos ganhar devido ao conjunto de dados coletados. Além de sabermos que existe a

possibilidade de uma análise mais profunda e complexa com o software, considerando o

tempo que temos para concluir a dissertação.

11787

Vale ressaltar que o software Atlas Ti, como qualquer outro recurso tecnológico, tem

suas limitações e desvantagens para as quais o(a) pesquisador(a) deve estar preparado. Além

disso, deve ter consciência que se mal utilizado pode acarretar prejuízos à pesquisa.

Até o momento temos observado que o uso do software Atlas TI foi de fácil manuseio

e bastante adequado às etapas metodológicas da análise de conteúdo. Por outro lado, permitiu

a inserção de nossas categorias de análise a priori, advindas da Teoria da Atividade sem

problemas.

Esperamos, ainda, contribuir com a difusão do uso em pesquisas qualitativas que

empregam a análise de conteúdo.

REFERÊNCIAS

BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa. Portugal : Edições 70, 1977. BORDENAVE, J. D. e PEREIRA, A. M. Estratégias de Ensino-Aprendizagem. Petropólis, RJ: Editora Vozes, s/d. LEONTIEV, A.N. Actividad, consciência, personalidad. La Habana : Editorial Pueblo y Educación, 1978. LUDKE, Menga & ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em Educação: Abordagens Qualitativas. São Paulo, SP: EDU,1986. MORAES, R. Análise de Conteúdo. Revista Educação. Porto Alegre, v.22, n.37, p.7-32, 1999. SERRÃO, M. I. B. Aprender a Ensinar. Aprendizagem do ensino no curso de Pedagogia sob o enfoque histórico-cultural. São Paulo: Cortez Editora, 2006.