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ARTIGO PDE 2010: Contação de Histórias – A arte que forma leitores

Autor: Marli Maria Schons1 Orientadora: Dra. Josiele Kaminski Corso Ozelame.2

Resumo

Levando em consideração que um dos principais objetivos da escola é despertar o gosto pela leitura, que é uma forma de lazer, que liberta que impulsiona as possibilidades de conhecimento e prazer transformando o ser humano perante o mundo em que vive, contar e ouvir histórias para o leitor deve ser algo de elevado significado, acrescentando e reformulando experiências e idéias já existentes. Leitura e contação de histórias são indissociáveis e levam à reflexão, ao imaginário de cada um. O projeto desenvolvido teve como objetivo proporcionar encontros com a literatura, oportunizando aos alunos da 8ª série (nono ano) da Escola Estadual Tancredo Neves, do município de Missal/PR, momentos agradáveis em que leiam, ouçam e contem histórias como forma de socialização do próprio conhecimento, formando novos leitores.

Palavras chave: Literatura, leitor, leitura, contos, contação de histórias.

Abstract

Considering that one of the main objectives of the school is to awaken a taste for reading, which is a form of leisure, which liberates, which pushes the possibilities of transforming the knowledge and enjoyment of human beings to the world you live in, telling and hearing stories, the reader, should be something highly significant, adding new and revising existing experiences and ideas. Reading and storytelling are inseparable and lead to reflection, to the imagination of each one. The project developed aimed at providing encounters with literature, providing opportunities for

1Professora da Escola Estadual Tancredo Neves, formada em Letras e pós-graduada em Supervisão Escolar.

2 Professora Doutora do curso de Letras e Coordenadora da Área de Pesquisa e Pós-graduação do Centro de

Educação e Letras – UNIOESTE, Foz do Iguaçu-PR.

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students in eighth grade (ninth year) of the State School Tancredo Neves, the City of Missal - PR, nice moments where they read, hear and tell stories as a way socialization of knowledge itself, forming new readers.

Keywords : Literature, reader, reading, stories, storytelling.

Introdução

Este artigo relata o resultado de uma prática pedagógica com a leitura e a

contação de histórias, contemplando a implementação da Proposta de Intervenção

Pedagógica na Escola – A Unidade Didática: “Contação de Histórias; A arte que

Forma Leitores”.

A leitura é indispensável para a formação do indivíduo, trazendo com isso

grandes possibilidades para alcançar novos horizontes de crescimento pessoal e

profissional.

O gosto pela leitura também se aprende vendo o adulto ler. Vale relembrar

que, até bem pouco tempo atrás, não se fazia leitura em silêncio, somente em voz

alta nos salões e saraus. Segundo Márcia Abreu (2009), leitura em voz alta é uma

prática comum para os leitores do século XIX, ler muito significava problemas para a

saúde e, principalmente, para a moral das mulheres e moças. Hoje, fazer com que

os alunos gostem de ler e adquiram o gosto constante pela leitura é um dos

principais objetivos da escola. Para que isso aconteça, deve-se recorrer a estímulos

para despertar o gosto da leitura, e fazer isso através da contação de histórias por

meio do conto é uma alternativa.

A leitura, a partir do estímulo, é tão importante na formação de um indivíduo

que deve ser orientada a se tornar uma atividade cotidiana do jovem, até que ele

próprio a faça sem que seja obrigado, sendo uma fonte de mero prazer. Nesse

sentido, Ana Maria Machado observa que:

O melhor estímulo para a leitura é a curiosidade. Ela é despertada quando alguém nos fala com entusiasmo de um livro que está lendo ou leu, ou

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quando sabemos da existência de uma obra cujo autor já admiramos ou que, de alguma forma, relacionamos a outra leitura [...]. Adultos que não lêem não dão exemplo de leitura nem despertam a curiosidade sobre livros (MACHADO, 1999, p. 99).

Pais e educadores precisam ter a preocupação em conscientizar a leitura

como algo de valor positivo e não como castigo, pois ela é o principal contato que

insere o indivíduo ao mundo do conhecimento para o progresso na sociedade e o

faz viajar por um mundo maravilhoso, onde a fantasia e a imaginação estão

constantemente presentes.

Não podemos nos referir à leitura como algo mecânico, sem ter a

preocupação em buscar significados. Dentro do ambiente escolar, o professor deve

fazer a mediação entre o conhecimento e o educando, criando situações para

realizar sua própria leitura.

Surge, portanto, a importância em proporcionar aos estudantes a leitura e a

literatura, permitindo a criação e recriação de diversas possibilidades que o texto

literário oferece, promovendo de maneira lúdica o encontro da criança com o mundo

encantado das palavras. Dessa forma,

A sala de aula é um espaço privilegiado para o desenvolvimento do gosto pela leitura, assim como um campo importante para o intercâmbio da cultura literária, não podendo ser ignorada, muito menos desmentida sua utilidade (ZILBERMAN, 2003. p. 16).

Por isso, o educador deve adotar uma postura criativa, que estimule o

desenvolvimento integral da criança. A literatura é um fenômeno contínuo de

criatividade, aprendizagem e prazer, que ajuda na formação de um ser pensante,

autônomo, sensível e crítico, deliciando-se com histórias e textos diversos,

contribuindo na formação de um mundo imaginário e de conhecimento.

Como a escola é um dos principais meios de mediação da leitura, através dos

contos, podemos ter a construção crítica, afetiva e significativa para o ser humano,

formando um leitor ativo e consciente. Diante dessa questão, o projeto volta-se para

a formação do leitor através da contação de histórias na modalidade do conto.

A construção da leitura é iniciada nos anos iniciais do Ensino Fundamental,

porém seria importante que fosse incentivada além da escola, ou seja, em casa,

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partilhando a responsabilidade entre professores e famílias. Portanto, ler é

imprescindível para estabelecer laços com a literatura, onde as crianças consigam a

autonomia do conhecimento para lerem sozinhas, perdendo o medo de ler em sala.

O mundo da leitura está presente desde que nascemos, são muitas as situações

que nos colocam em contato com as palavras, dando significado à sociedade em

que vivemos. Regina Zilberman, afirma que: “a escola tem uma finalidade

sintetizadora, transformando a realidade viva nas distintas disciplinas ou áreas do

conhecimento” (2003 p. 25). Por isso, a importância de ler, mesmo antes de ir à

escola.

Contar histórias é uma arte que todos devem ter acesso, e é uma ferramenta

poderosa em favor da formação do leitor. Ouvir histórias na infância faz com que

construamos pequenos acervos que, fazendo parte da nossa vivência, vão contribuir

para a formação do leitor. A criança tendo contato com a leitura, junto com a família,

aprende a ter curiosidade de ler.

Escutar histórias é um dos primeiros passos para aprender a ser um leitor que

realmente tenha o gosto pela leitura. Por esse motivo, é preciso valorizar mais as

particularidades do gosto do aluno e levar em conta a importância de ler pelo

simples prazer.

O universo imaginário de nós, seres humanos, é muito amplo, é adquirido

com o passar dos tempos através de leituras despertando o interesse a oralidade, a

produção escrita, a reescrita, a releitura, satisfazendo-nos pela curiosidade. A

contação de histórias desenvolve na criança, a capacidade expressiva, criativa,

interpretativa, além do treino da memória, concentração, percepção visual, auditiva,

lúdica e principalmente a oralidade.

Segundo Betty Coelho (1989), em Contar histórias uma arte sem idade, é

preciso preparar o que se vai apresentar aos estudantes, tornando a história

prazerosa. Não é possível apresentar para a criança uma história sem antes estudá-

la, conhecer seu conteúdo, elaborar um roteiro e planejar os recursos que serão

utilizados para não correr o risco de improvisar. Contar histórias é uma das formas

mais antigas e modernas de comunicação.

A criança necessita que o professor utilize-se de voz harmônica, linguagem

correta e simples. É através desta leitura que a criança descobre novas palavras,

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novos interesses, e se utiliza da imaginação e do lúdico. O professor poderá fazer

uso de alguns recursos para apresentação da história, como: figuras, a simples

narrativa, a narrativa com auxílio do livro, de flanelógrafo, sucata, com fantoches, de

desenhos e a narrativa com interferência do narrador e dos ouvintes.

Ainda, segundo a autora, para contar podemos escolher qualquer história,

desde que seja bem preparada para ser contada. Nem todo livro vem pronto para

ser contado e, por mais simples que seja a linguagem escrita, ainda é preciso

adaptá-la para que seja facilitada a sua compreensão. Vale-se muito a faixa etária,

do estado emocional da criança para qual a história será apresentada.

Com a vida agitada das pessoas, as famílias não dispõem de tempo suficiente

para resgatar o hábito de ler e nem de contar histórias, deixando essa tarefa quase

que, total na responsabilidade, da escola. Nesse sentido, a contação de histórias

deve ser resgatada no meio em que a criança vive, principalmente, no ambiente

escolar, utilizando-se da imaginação, da criação e da reflexão. Portanto, nos

questionamos: a contação de histórias poderá ser tratada como incentivo à leitura e

à literatura na formação do leitor? O que fazer para que surjam novos leitores?

Assim, através desta Unidade Didática buscou-se, apresentar a modalidade

do conto, estimular a leitura por meio da arte de contar histórias, despertar o

contador que existe em cada um, desenvolvendo a capacidade expressiva e criativa.

Também oportunizar a socialização das idéias dos alunos sobre os textos, organizar

a sequência da fala dos alunos, utilizando-se de expressões faciais, corporais,

gestuais e orais, tendo como base os princípios norteadores de ler e contar histórias

para despertá-lo do prazer pela leitura e literatura.

Diante das concepções metodológicas, desenvolveram-se atividades de:

dinâmicas de entrosamento, técnicas de contar histórias, leitura individual e em

grupo, seleção de contos, dramatizações, contar as estórias para os alunos do

contra turno das séries iniciais, produção de depoimentos sobre a experiência,

pesquisa na internet, livros diversos, TV pendrive, aplicação das oficinas com os

alunos (com o tema “A contação de histórias como estímulo para o

ensino/aprendizagem da leitura”).

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Desenvolvimento

Como forma de motivar a leitura e a contação de histórias, os alunos da

oitava série atual, nono ano, da Escola Estadual Tancredo Neves, tiveram a

oportunidade de ouvir, ler e contar histórias, durante os meses de agosto a

novembro de 2011, por meio desse projeto desenvolvido em contra turno.

Num primeiro momento, foi feita a sensibilização dos alunos a respeito da

importância da contação de histórias para a formação do leitor, bem como levá-los a

entender como a leitura é importante na vida de cada ser humano. Em seguida, foi

organizada a sala de aula visando um ambiente que proporcionasse aos alunos um

espírito de sossego e paz para que pudesse ouvir a história contada pela professora,

momento esse de grande valia, quando ao final os alunos falaram: “conta outra”.

Após esse momento de apresentação, foram passados alguns questionamentos

referentes aos contos para serem respondidos, entre eles: o que é conto; que tipo de

contos já leram; quais contos conhecem; quais são os diferentes tipos de contos;

quem produz textos desse gênero; quais os locais de circulação dos contos e a qual

público se destina.

Dos vinte e três alunos que participaram do projeto, todos definiram que conto

é uma narrativa curta e de fácil compreensão. Entre os contos mais lidos, os que

conhecem e os diferentes tipos mencionaram: infantil, juvenil, terror, suspense,

aventuras, humor, romance, guerra e ficção. Para os alunos, quem produz esse tipo

de leitura são os contadores de histórias curtas, e esse tipo de leitura é encontrado

nas bibliotecas, internet, bancas de revista e livrarias, destinando-se a todos os tipos

de público.

Para melhor compreensão, conhecimento e entendimento do nosso objetivo

que era a leitura, foram passados aos alunos definições sobre alguns tipos de

contos de fada, encantamento, maravilhosos, enigma ou mistérios, jocosos, de

animais, sabedoria, acumulativos, e de origem, essas definições pela maioria eram

desconhecidas.

Embora a leitura e a contação de histórias, para muitos, é um pouco

assustador, pois nem sempre a pessoa tem o dom e a facilidade de se expressar

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perante os outros, para facilitar essa atividade, foram selecionados alguns contos:

“O Homem Que Queria Eliminar a Memória,” de Inácio de Loyola Brandão;

“Sarnento, Pulguento, Magrinho, Uma Graça,” de Adriana Falcão; “Para Contar

Estrelas,” de André de Martini e “Casa de Vô” de Beatriz Vichessi. Esses contos

foram selecionados pela professora para serem lidos, estudados e preparados para

apresentação individual ou em grupo.

Todas as narrativas selecionadas foram apresentadas em grupo na forma de

contação, também através da interdisciplinaridade, pois os alunos pediram auxílio

aos professores de Artes para ornamentação da sala, organizando este espaço com

materiais diferenciados, como: colchonetes, velas, estrelas, almofadas, máscaras e

outros mais. Ao finalizar essa etapa, foi observada a apresentação de cada aluno,

cuidando os critérios de entonação, qualidade da voz, respiração, gestos, pausas,

postura.

Para a atividade seguinte que consistiu na pesquisa, foi agendada a sala de

informática com antecedência, sobre passos fundamentais para contar uma história

e formas de apresentação, os passos pesquisados foram: local, posição,

apresentação da história, horário e motivação; as partes de uma história: introdução,

enredo, clímax e conclusão. Após a pesquisa, percebeu-se que o contador precisa

estar consciente e preparado para ser um bom transmissor dos fatos, pois escolher

uma história para ser lida e depois contada, em primeiro lugar, é preciso viajar na

imaginação, captar a mensagem, identificar os elementos que existem nela para

depois estudá-la. Para se ter um bom andamento no momento de contar histórias,

alguns critérios e técnicas são fundamentais em um bom contador, as quais foram

trabalhadas em forma de oficinas com os alunos. Os critérios propostos aos alunos

foram:

1º) Escolher um conto que goste e deseja contar, porque isso é fundamental

para familializar-se com o texto escolhido. Lê-lo muitas vezes, não é necessário

decorar, mas compreender o que será falado e ter domínio, observando a sequência

dos fatos para saber transmiti-los. Ser natural, para que o ouvinte tenha vontade de

ouvir novamente. A história deve despertar interesse nos ouvintes, já que sem

emoção não há sucesso na apresentação;

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2º) Escolher a voz. Esta é importante para narrar os diferentes personagens

da história. Olhar para todos os lados é um vínculo fundamental entre narrador e

ouvinte, o olhar diz muita coisa. Acreditar e estar confiante no que vai fazer, pois

passa credibilidade. Não usar muitos gestos, pois o uso abusivo tira a atenção.

Evitar teatralizar, o importante no teatro é a visão e do contador a audição.

Dando destaque a essa pratica e para ter maior participação dos alunos, foi

necessário agendar uma aula na biblioteca para pesquisar e escolher contos de

ficção, terror, mistério, humor e outros.

As leituras dos contos foram realizadas nos mais diversos momentos na

escola e também em casa. Após a seleção foi o momento dos alunos terem

orientação do professor para prepararem, estudarem, observarem os detalhes, como

as partes que compõem a história (introdução, enredo, clímax e conclusão),

atentando para falar com clareza, olhar para todos os presentes, viver a história.

Sabe-se que nem toda história vem pronta num livro para ser contada, é preciso

adaptá-la para facilitar a sua compreensão. Isso foi feito para que os ouvintes

compreendessem a história escolhida para ser apresentada. É preciso apresentar

com naturalidade, ter segurança de si mesmo, deixar as palavras fluírem,

estabelecer sintonia com o auditório. Para Cléo Busatto, “Numa narração, quanto

mais perto o público do narrador, mais pessoal e particularizada fica a narração” (

2007 p. 34).

Por isso, contar histórias traz no contador um instinto gratificante que faz com

que quanto mais se conta uma história, mais se quer contar. Isso aconteceu com

alguns alunos que, além de contar em sala de aula para os colegas, também foram

à escola no contra turno para contar para os alunos da Educação Infantil, adaptando

o texto para as crianças.

Todo o processo de apresentação do projeto superou as expectativas, pois

houve intensa participação dos alunos. O momento de apresentação dos contos por

eles selecionados foi de grande importância, porque os alunos leram os mais

diversos tipos de contos até escolherem um para a apresentação. Em média, cada

aluno leu quinze contos, além de lerem outros livros durante esse tempo. Percebe-

se o gradativo aumento da leitura nesse curto espaço de tempo. Dentre os contos

mais lidos pelos alunos estão: “Uma estrada junto ao rio”, “Lobo Barnabé”, “Reizinho

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mandão” (GRÁFICO 1). E os autores mais lidos foram: Ana Maria Machado, Ruth

Rocha, Marina Colasanti (GRÁFICO 2).

Contos mais lidos

0

2

4

6

8

10

12

14

LoboBarnabé

O verdebrilho no

poço

O bisavô e adentadura

O reizinhomandão

Uma estradajunto ao rio

Onde tembruxas tem

fada

Tampinha Os meninosverdes

Uma idéiatoda azul

Gráfico 1 – Contos mais lidos.

Fonte: Desenvolvido para a pesquisa, 2012.

Autores mais lidos

0

5

10

15

20

25

30

35

Eva Fumari MarinaColasanti

Ana MariaMachado

Ruth Rocha SylviaOrthof

Machadode Assis

MoacyrScliar

AngelaLago

LuisFernandoVeríssimo

CoraCarolina

PauloGarcia

Gráfico 2 – Autores mais lidos. Fonte: Desenvolvido para a pesquisa, 2012.

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As demais atividades aconteceram durante o período de aula, os alunos

vinham com antecedência na escola preparavam o ambiente para as apresentações.

Cada aluno fez sua apresentação individual, ornamentando a sala de aula conforme

a escolha do conto de cada um. Todas as atividades foram fotografadas para

registro.

Todas as atividades foram seguidas pela Produção da Unidade Didático-

Pedagógica, que é um material composto e ordenado por atividades centrado em

uma única unidade de um mesmo tema a ser desenvolvido com alunos. Essa

produção foi feita no decorrer do curso desenvolvendo todas as atividades a serem

aplicadas e que serviu para ser trabalhado com os alunos na aplicação do projeto.

Considerações do GTR

O GTR (Grupo de Trabalho em Rede) faz parte do PDE (Programa de

Desenvolvimento Educacional) realizado por intervenção virtual entre professor PDE

e professores da rede pública.

O professor PDE foi o professor Tutor do curso no GTR, conforme sua

disciplina ou área, sendo o programa disponibilizado no ambiente e-escola,

plataforma moodle, cada professor foi responsável em organizar as atividades,

baseando-se em orientações pedagógicas preestabelecidas pelo PDE e em seu

plano de trabalho. O e-escola é o Ambiente Virtual de aprendizagem da SEED com

os seguintes recursos: Fórum e Diário. No Fórum, foram realizadas discussões,

troca de experiências e notícias já no Diário, foram registradas as atividades

solicitadas pelo professor Tutor. O GTR contou com professores da rede pública do

Paraná do Ensino Fundamental e Médio3.

O GTR contou com seis módulos, o primeiro foi o contato de socialização

entre professor Tutor e os professores da rede. Todos formados em Letras e com

3 Informações disponíveis no site <http://www.e-escola.pr.gov.br>.

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uma grande experiência na área. Esses trabalhos eram todos online e ocorreram no

mês de outubro e novembro de 2011.

Na segunda atividade, a participação em um Fórum, dando início a etapa de

estudos orientados. O objetivo foi promover uma discussão sobre o Projeto de

Intervenção Pedagógica com a questão: Se a contação de histórias pode ser tratada

como incentivo à leitura e à literatura na formação do leitor? O que fazer para que

surjam novos leitores? Para os professores inscritos no GTR, a contação de histórias

é um grande incentivo à leitura e à formação do leitor, pois transmitem à criança

mais interesse, criatividade, sensibilidade. Mencionaram que o professor também é

o elo e precisa gostar de ler para que o aluno possa seguir o modelo do ato mágico

de contar histórias.

No primeiro diário, que é um feedback entre professor tutor e aluno, após a

leitura do projeto, o professor respondeu a questão: Você acha que o tema possui

uma certa relevância em sua escola? Como poderá auxiliar em sala de aula no

processo de ensino-aprendizagem?

As considerações foram relevantes, pois a maioria respondeu que o projeto

pode auxiliar no processo de interesse da leitura pelos alunos, que a contação de

histórias, na maioria das vezes, já vem de berço e que na escola deveria ser apenas

um complemento.

Num outro fórum, foi analisada a produção da Unidade-Didática Pedagógica,

que é a produção feita no decorrer dos estudos, com o seguinte questionamento: O

encaminhamento metodológico proposto no material está adequado à produção da

Unidade-Didática Pedagógica?

Com as respostas dos professores, percebeu-se que o material vem ao

encontro dos interesses para o uso em sala de aula e que, são ideias diferenciadas

para trabalhar com a leitura, literatura e a contação de histórias, tornando assim a

atividade prazerosa.

O diário sobre a Unidade-Didática Pedagógica foi uma reflexão crítica sobre

as propostas apresentadas, se são pertinentes às necessidades na prática do dia-a-

dia para formação de leitores com a contação de histórias.

Dentre as respostas, percebeu-se que a formação do leitor ocorre através de

estímulos dados desde a infância, aprendendo a amar ou odiar a leitura,

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dependendo de como isso é trabalhado com a criança. O material está adequado ao

tema e, o mais importante, é flexível a adaptações conforme a realidade da escola

ou da turma com a qual o professor irá trabalhar.

No fórum três, foram apresentados aos professores o que aconteceu na sala

de aula, e alguns resultados da aplicação do projeto: num primeiro momento, em

reunião pedagógica, foi feita a apresentação do projeto para professores, equipe

pedagógica e alunos da escola onde foi trabalhado o projeto. Apresentação da

modalidade literária do conto e as faixas etárias de interesse. Contação de histórias

pela professora, momento de grande expectativa por parte dos alunos. Pesquisa em

materiais diversos sobre contos, tipos de contos. Entrega dos contos já pré-

selecionados pela professora a serem apresentados pelos alunos. Apresentação dos

contos pelos alunos em forma de contação de histórias. Organização da sala de aula

com materiais como colchonetes, velas, apitos. Estudo sobre definição de alguns

tipos de contos e técnicas básicas de contar histórias. Identificação dos passos

fundamentais para apresentar uma história e as partes da mesma. Seleção e

entrega de alguns livros que possuem contos para a leitura e preparação dos alunos

para apresentação. Pesquisa na internet de diversos tipos de contos. Organização

do ambiente escolar para apresentação dos contos selecionados pelos alunos.

Percebeu-se intensa participação dos alunos e interesse pela leitura.

Entre os comentários dos professores notou-se que o leitor precisa de

estímulos, os quais precisam ser mantidos com frequência, pois o aluno necessita

de incentivo para manter a leitura um hábito prazeroso.

Ainda neste fórum, houve o momento em que cada professor pode escolher

uma prática sugerida na Unidade Didática ou sugerir outras ideias que contribuíssem

para a formação do leitor. Alguns professores escolheram alguma sugestão da

Unidade Didática, e outros sugeriram outros projetos que são desenvolvidos

conforme sua realidade escolar, todas as sugestões foram referentes a formação do

leitor.

As atividades do GTR foram de grande importância, pois cada professor

participante deixou a sua mensagem, de que a contação de histórias ainda é um

processo que precisa ser incentivado e mantido nas escolas e, até mesmo, em casa.

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Avaliação do Projeto pelos Alunos

Para perceber se o aluno realmente leu, ouviu e entendeu, aplicou-se um

questionário. Na pergunta: “É possível formar novos leitores através da contação de

histórias”, todos responderam que sim, e que só se forma leitores com uma boa

leitura sobre “e a contação de histórias”, em especial, disseram que os contos são

um passo fundamental para formar leitores, por serem leituras curtas.

De todas as histórias trabalhadas, as escolhidas pelo professor ou as

escolhidas pelos alunos foram unanimente bem ensaiadas e muito bem

apresentadas.

Quanto à questão da leitura, foi questionado se depois da aplicação do

projeto eles leram mais, todos responderam que sim, pois além dos contos (em

média 15 cada aluno), ainda leram revistas, gibis, e o mais importante em relação ao

primeiro e segundo trimestre, o aumento da leitura de livros que era de 1 a 3, passou

a ser de 3 a 5.

Sobre os recursos didáticos utilizados durante a aplicação do projeto os

alunos gostaram mais dos momentos de pesquisa na internet, leitura individual, uso

da TV e apresentações dos contos.

O resultado do questionário foi favorável ao trabalho desenvolvido com os

alunos durante os meses de aplicação do projeto e percebeu-se a participação ativa

dos alunos.

Considerações Finais

Ouvir histórias sem falar em imaginação é praticamente impossível, sendo

que essa prática eleva o desenvolvimento pessoal, estimula a criança através da

fantasia a compreender o mundo e a dar vida a tudo que encontra.

Contar a história é diferente que ler, e essa diferença é marcante devido a

entonação e vocabulário utilizado. Enquanto o texto escrito apresenta maior

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sequência dos fatos e das palavras, a história contada traz uma modalidade oral

própria de quem conta.

A criança que ouve histórias e convive com livros, é estimulada para a

sensibilidade artística, para a criatividade, por meio do universo imaginário da

literatura. Para Maria Helena Zancan Frantz (2001), em O Ensino da Literatura nas

Séries Iniciais, a leitura é uma prática básica, mas muitas vezes não é um ato

agradável, portanto o aluno tem toda autoridade para escolher o livro que quer ler.

Nem sempre o professor precisa orientar a leitura que o aluno fará, mas sim muitas

vezes apresentar-lhes alternativas.

É válido também, ler por razões variadas como para: rir, refletir, relembrar,

chorar. Sabe-se que não existe um único caminho para se tornar um leitor literário,

para que isso aconteça é necessário proporcionar o acesso à leitura, às bibliotecas e

às livrarias. Infelizmente, no Brasil, isso não acontece com tanta facilidade, pois os

aspectos sociais impedem o acesso dos alunos aos livros. Nesse contexto, a escola

ainda é muitas vezes o primeiro e único espaço para formar leitores.

Lembrando que a prática do hábito da leitura deve ser diária, mas não

prolongado, a criança não tem muita paciência para ouvir por muito tempo, e isso,

pode se tornar exaustivo. Com o passar dos anos, é importante apresentar textos

mais complexos, buscar interpretações e tirar possíveis conclusões. Na escola, o

jovem precisa ouvir textos mais complexos pela leitura do professor, com objetivo de

ajudar na interpretação. O educador, como mediador, passa a ser o orientador,

valorizando a opinião de todos. Já a leitura individual faz com que o estudante tenha

uma relação direta/pessoal com os livros.

Para se ter o êxito na formação do leitor é importante que a prática de leitura

seja frequente e planejada, dando a ele a oportunidade de desenvolver sua

capacidade criadora, utilizando-se de contos e organizando atividades. O professor

pode tornar-se um grande promotor desta prática, levando em consideração que

esse gênero literário, permite o uso de fantasia e de imaginação, estabelecendo,

muitas vezes, relação como o nosso dia-a-dia. Esses aspectos são tão necessários

nas séries iniciais do Ensino Fundamental, quanto nas séries finais do Ensino Médio.

É importante mencionar que, além de livro, a formação consiste através do

mundo visual e, também, por meio da utilização das mais diversas formas de arte.

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Embora tenhamos acesso fácil às produções literárias, vemos no cotidiano que isso

não muda muito a realidade escolar. Oportunizar o acesso à leitura na escola deve

ser constante, pois os estudantes necessitam de estímulo para o ensino-

aprendizagem da leitura.

Hoje a capacidade de ler e interpretar textos estão diretamente ligados à

qualidade de vida das pessoas, voltando-se em sua condição de cidadão. Ser leitor

é um processo contínuo e persistente.

Muitos jovens se formam e não entendem o real benefício da leitura e, muitas

vezes, acabam não lendo mais. Antes de analisar e refletir, é preciso compreender

o valor formal da literatura, é preciso gostar de ler, lendo, lendo e lendo! Nunca é

tarde para se aprender a gostar da literatura que por meio da leitura não deve ser

vista apenas como tarefa escolar, e sim como uma prática diária. Fazer leitura

silenciosa e falar sobre o que leu é uma maneira de manter e ampliar seus

conhecimentos, procurar respostas.

Para uma boa escolha de livros em meio a tantos existentes é preciso avaliar

esse material, pois isso é importante para o sucesso da leitura. O aluno tem direito

de ler pelo prazer de ler, sem ter em cada leitura uma cobrança.

A prática de contar histórias não é uma experiência nova, já vem acontecendo

a milhares de anos, e precisa ser preservada, pois para despertar o gosto de ler

histórias para depois contá-las, é necessário buscar mecanismos para incentivar o

prazer de ler, como por exemplo, para aprender e conhecer algo novo; ler para se

distrair, ler para ser um bom leitor.

A contação de histórias é um valioso recurso pedagógico para que o leitor,

por meio de uma leitura de contos, aprenda a ler, a pensar, a viajar em aventuras

que lhes proporcionem momentos de prazer. O estímulo à leitura pode-se obter a

partir do contato com histórias.

Poucas são as famílias que ainda conservam o bom hábito de contar histórias

para as crianças, deixando essa árdua tarefa para a televisão, o computador, ou a

escola.

As atividades desenvolvidas durante o programa, todas com enfoque à leitura

e à contação de histórias, permitiram criar nos estudantes um novo jeito de pensar,

de encarar uma obra literária, que deve ser considerada um novo jeito de conhecer o

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mundo e a nós mesmos, enquanto leitores. O estímulo à leitura pode-se dar a partir

do contato com histórias desde as mais diversas idades.

Os objetivos desse trabalho foram alcançados com êxito, pois as atividades

propostas aos alunos estimularam a criatividade, o interesse pela melhora da

capacidade oral e escrita, contribuindo para o desenvolvimento das crianças, dando-

lhes oportunidades, entusiasmo, prazer para o estímulo à leitura e à formação de

novos leitores.

Os resultados mostraram que é possível formar um leitor através da contação

de histórias, pois esse mecanismo é uma prática tão antiga, mas tão necessária na

vida do estudante.

Referências

BUSATTO, Cléo. Contar & encantar - Pequenos Segredos da Narrativa. Rio de Janeiro: Vozes, 2003.

BUSATTO, Cléo. A arte de contar histórias no século XXI: tradição e ciberespaço. 2. ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2007.

COELHO, Betty. Contar histórias uma arte sem idade. São Paulo: Ática, 1989.

COELHO, Nelly Novaes. Literatura Infantil. São Paulo: Moderna, 2000.

FRANTZ, Maria Helena Zancan. O Ensino da Literatura nas Séries Iniciais. 3ª Ed. Editora UNIJUI; 2001.

MACHADO, Ana Maria. Contracorrente. São Paulo: Ática, 1999.

ZILBERMAN, Regina. A literatura infantil na escola. 11ª Ed. São Paulo: Global, 2003.