artigo luis f r borges

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Tensões entre o material e o digital a serviço da configuração de revistas e sites e rock 1 Luís Fernando Rabello Borges 2 Resumo: Com base no conceito de materialidades da comunicação, minha proposta neste artigo é abordar como revistas e sites de rock são configurados através das tensões entre os elementos materiais e digitais que os constituem. Também serão abordados, para fins complementares, os conceitos de estudos de som e arqueologia das mídias. A partir daí, serão feitos esforços de associação entre esses três conceitos e a minha proposição inicial de pesquisa de doutorado, que em linhas gerais consiste em analisar de que forma revistas e sites brasileiros de rock lidam, em termos discursivos ou estruturais, com a reconfiguração da indústria do entretenimento musical vivenciada nos anos 2000. A ideia é ao menos tentar vislumbrar algumas “pistas de articulação”. Palavras-chave: materialidades, digital, rock, revistas, sites. Introdução Minha proposta de tese é analisar de que forma revistas e sites brasileiros de rock lidam, seja em termos discursivos ou estruturais, com a reconfiguração da indústria do entretenimento musical vivenciada nos anos 2000. Esse mercado da música é constituído pela indústria fonográfica e também por revistas, sites e outros produtos de mídia especializada (a exemplo de blogs, encartes de jornais, programas de TV e de rádio), bem como emissoras de rádio, circuito de shows (casas noturnas) e produtos não exatamente sonoros, como camisetas, pulseiras, canecas e 1 Artigo produzido para a disciplina Tecnologias e Culturas Midiáticas, ministrada pela professora Adriana Amaral. 2 Doutorando em Ciências da Comunicação na UNISINOS – Universidade do Vale do Rio dos Sinos, professor do curso de Jornalismo da UFSM – Universidade Federal de Santa Maria, campus de Frederico Westphalen.

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Tenses entre o material e o digital a servio da configurao de revistas e sites e rock1Lus Fernando Rabello Borges2Resumo: Com base no conceito de materialidades da comunicao, minha proposta neste artigo abordarcomorevistasesitesderocksoconfiguradosatravsdastensesentreoselementosmateriaisedigitaisqueosconstituem !ambmseroabordados, parafinscomplementares, osconceitos deestudos desomearqueologiadas m"dias #partir da", serofeitos esforos deassociao entre esses tr$s conceitos e a minha proposio inicial de pesquisa de doutorado, que emlinhas gerais consiste em analisar de que forma revistas e sites brasileiros de rock lidam, em termosdiscursivos ou estruturais, com a reconfigurao da ind%stria do entretenimento musical vivenciadanos anos 2&&& # ideia ao menos tentar vislumbrar algumas 'pistas de articulao(Palavras-chave: materialidades, digital, rock, revistas, sitesIntroduo)inha proposta de tese analisar de que forma revistas e sites brasileiros de rock lidam, se*aem termos discursivos ou estruturais, com a reconfigurao da ind%stria do entretenimento musicalvivenciadanosanos2&&& +ssemercadodam%sicaconstitu"dopelaind%striafonogr,ficaetambm por revistas, sites e outros produtos de m"dia especiali-ada .a e/emplo de blogs, encartesde *ornais, programas de !0 e de r,dio1, bem como emissoras de r,dio, circuito de sho2s .casasnoturnas1 e produtos no e/atamente sonoros, como camisetas, pulseiras, canecas e outrosapetrechos 3este artigo, no irei alm da proposio um tanto ampla de problema de pesquisa e/postana primeira frase do par,grafo acima 4 intencional +stou terminando o meu primeiro semestre dodoutorado, e aindameencontro emfase de levantamentodepossibilidades,fa-endouma tarefae/plorat5ria *unto aos ob*etos emp"ricos pass"veis de serem analisados, pinando te/tos em revistase sites e inclusive descobrindooutros sites +stouformulandoperguntas, desdobramentos daproblemati-aoinicial .e ampla1, e vislumbrandopossibilidades de usode livros, autores econte%dos, se*am eles te5ricos ou metodol5gicos +nfim, estou me dando o direito de, ao menos porenquanto, no definir umrecorte mais espec"fico 6m,/imo que posso fa-er apresentarpossibilidades de recorte + farei )as no neste artigo7or conta dessa minha condio de doutorando iniciante, tambm no empreenderei nestaslinhasumaespciedepr8an,liseapartirdealgumoualgunsfragmentosdealgumoualgunsob*etosemp"ricos, oquepoderiaserbastante%til nosentidodefornecer pistasparaopr5priorefinamento do recorte da pesquisa, mas penso que ainda preciso mergulhar mais nas p,ginas das1#rtigo produ-ido para a disciplina !ecnologias e Culturas )idi,ticas, ministrada pela professora #driana #maral29outorando em Ci$ncias da Comunicao na :3;io dos +CB!, 2&1&, pG2 apud #, 2&1G, p2D1+ntretanto, esses estudos no defendem a erradicao completa da hermen$utica )uito pelocontr,rio '3a verdade, para Cumbrecht, a priori, na maioria dos casos no h, oposio entre omaterial e o hermen$utico = e a opo por um dos dois pontos de vista *ustamente uma das cr"ticasdo autor aos estudos focados no sentido(, e ainda assim 'no so raras as afirmaes de que asan,lisescalcadasnasmaterialidadesfa-em*ustamenteoquecriticam: polari-ararelaoentrehermen$utico e material .@;C:+;>+96, 2&1K, p2D1#ssim como chegou a acontecer com os estudos de )cHuhan, o conceito de materialidadesda comunicao pode dar a impresso de incentivar um certo 'determinismo tecnol5gico( )as apr5pria atuaodas formas materiais nos conte%dos simb5licos demonstra, por si s5, queastecnologias no so estanques, e sim atreladas a sociedades e culturas, a pocas e locais 6 car,terhist5rico e sub*etivo das materialidades da comunicao evocado por +rick @elinto paradiferenciar o conceito do de cibercultura, este simfortemente associado ao determinismotecnol5gico, quando di- que, 'se a ret5rica da early cyberculture foi caracteri-ada pelos sonhos dedesmateriali-ao e virtuali-ao, muitas leituras mais recentes preferem destacar a importOncia docorpo, do toque e das sensaes emnossa interao comas novas m"dias( .2&11, pI1 #sub*etividade tambm destacada por #driana #maral, que evoca #ntoine Bennion ao di-er que,'para o autor, o gosto no pode ser desvinculado das materialidades e suportes pelos quais elescirculam e aos modos pelos quais esses ob*etos nos afetam( .2&1K, pG17ara contemplar a interao entre tecnologia e corpo remete, os estudos das materialidadesda comunicao tomam emprestado = de Bumberto )aturana e @rancisco 0arela = o conceito deacoplagem, que di- respeito *ustamente a interao entre dois sistemas 7or e/emplo, algum queest, navegando em um site de rock e acessando m%sicas indicadas em algum te/to veiculado nessemesmo site 9e acordo com@elinto, 'essa interao engendra umritmoque peculiar Pcoordenao entre os dois sistemas( .2&&1, p111#o abordar aspectos hist5ricos do desenvolvimento das tecnologias .m,quinas1 e da relaodossu*eitos.corpos1comelas, oconceitodematerialidadesdacomunicaovai*ustamentenacontramo do conceito de 'novo(, mostrando que dispositivos atuais tra-em consigo caracter"sticasde artefatos anteriores = o que vale tambm para as formas como o homem manipula os mesmos+m mais um contraponto com a cibercultura,@elinto lembra que, 'como *, se apontou diversasve-es, toda m"dia foi QnovaQ em certo momento de sua hist5ria( .2&11, p1&1+nquanto produtos midi,ticos que t$m como suporte a internet, sites de rock tra-em te/tosque abordam discos ou m%sicas que podem ser acessados de imediato em outros sites, cu*os linkspara os ,udios .acompanhados de v"deo ou no1 seguidamente so inclu"dos nos pr5prios te/tos dossites de rock, dispensando o usu,rio de abrir outras abas em seu navegador !odos esses sites, se*amelesvoltadosPveiculaodeconte%do*ornal"sticosobrerock.not"cias, reportagens, resenhaseentrevistas1 ou destinados a do2nload eRou streaming de ,udio eRou v"deo, so produtos digitais quese materializam em um mesmo suporte f"sico .hard2are1, o computador, se*a ele um 7C, notebook,tablet ou smartphone+ssa l5gica, de certa forma e at certoponto, pode ser aplicada tambmPs revistasimpressas #pesar de no pertencerem ao suporte fsicodo computador e ao suporte miditicodainternet, as revistas podem se beneficiar de ambos Luando o leitor de uma revista tem a seu ladoumcomputador,elepodeprocurar,emsitesdedo2nloadeRoustreamingde,udioeRouv"deo,m%sicas ou discos referidos nas p,ginas da mesma #lgo impens,vel h, cerca de 2& anos atr,s, emque determinados discos mencionados emuma revista s5 poderiamser obtidos atravs daimportao, que demorava semanas ou mesmo meses, sem falar nos gastos 6 mesmo valia para aobteno de outras fontes de informao a respeito, a e/emplo de revistas importadas +,evidentemente, leitura e audio eram reali-ados em suportes distintos .respectivamente, revistas eaparelhos de som1, e portanto se davam de forma bem menos integrada e articuladaCabe observar, tambm, que as condies materiais de uso da internet, no que di- respeitoespecificamente ao consumo de m%sica, apresentam uma diferena fundamental com relao aosdois meios decomunicaodemassaqueaprecederam, or,dioeateleviso @a-endousoobrigat5rio de um suporte f"sico de um computador ou assemelhado, que apresenta tela pequena esom limitado, seguidamente contando com o complemento material do fone de ouvido de forma asuprir essa limitaosonora,ainternet privilegia umaapreciao indiidualde v"deos e,udiosmusicais 9iferentemente de r,dio e televiso, que apresentam respectivamente pot$ncia de som etela grande, e possibilitando portanto a efetivao de uma apreciao coletia = e, arriscaria di-er,mais propriamente 'massiva( #t poss"vel na internet uma apreciao coletiva, na medida em queo usu,rio .internauta1 pode comentar, curtir, compartilhar ou simplesmente divulgar, mas a" o quetemos uma apreciao coletia no presencialCuriosamente, o r,dio e a televiso eram mais propriamente 'coletivos( em seus respectivosprim5rdios, quando possu"am menos qualidade e pot$ncia de ,udio e menos resoluo e amplitudede imagem,edequebraeramgrandese pesados,no sendoe/atamenteport,teis +ssafalta deportabilidadedosaparelhos,somadasobretudoaofatodequeaindanohaviambarateadoesepopulari-ado, fa-iamcomque, emdeterminadasocasies, pessoasdeumquarteirointeirosedirigissem P resid$ncia de quem possu"a o %nico aparelho dispon"vel na localidade #ssim comoaconteceu comr,dio e televiso, computadores foramse tornando menos espaosos e maiseficientes Com a diferena de que, atravs de dispositivos como B9s e/ternos e pendrives ou dapr5pria internet, passou a ser poss"vel o arma-enamento em suporte digital de produtos midi,ticosanteriormente arma-enados apenas em suportes f"sicos como livros, H7s, C9s, 909s e fitas 0B