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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI LUIS CARLOS BARBOSA BORGES A NOVA CLASSE MÉDIA BRASILEIRA E O TURISMO: UMA ABORDAGEM ECONÔMICA São Paulo 2013

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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

LUIS CARLOS BARBOSA BORGES

A NOVA CLASSE MÉDIA BRASILEIRA E O TURISMO:

UMA ABORDAGEM ECONÔMICA

São Paulo 2013

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LUIS CARLOS BARBOSA BORGES

A NOVA CLASSE MÉDIA BRASILEIRA E O TURISMO:

UMA ABORDAGEM ECONÔMICA

Dissertação de Mestrado apresentado à Banca Examinadora, como exigência final para a obtenção do título de Mestre do Programa de Mestrado em Hospitalidade, área de concentração em Hospitalidade da Universidade Anhembi Morumbi, sob a orientação do Prof. Dr. Ricardo de Gil Torres.

São Paulo 2013

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LUIS CARLOS BARBOSA BORGES

A NOVA CLASSE MÉDIA BRASILEIRA E O TURISMO:

UMA ABORDAGEM ECONÔMICA

Dissertação de Mestrado apresentado à Banca Examinadora, como exigência final para a obtenção do título de Mestre do Programa de Mestrado em Hospitalidade da Universidade Anhembi Morumbi, sob a orientação do Prof. Dr. Ricardo de Gil Torres.

Aprovado em

_________________________________________

Prof. Dr. Ricardo de Gil Torres

_________________________________________

Profa. Débora Cordeiro Braga

_________________________________________

Profa. Elizabeth Kyoko Wada

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Dedicatória A minha mãe June pelo seu amor, dedicação e por sempre ter acreditado em mim. Saudades eternas.

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Agradecimento Ao meu orientador Prof. Dr. Ricardo de Gil Torres, por seu apoio, dedicação e especial atenção nas revisões e sugestões, fatores fundamentais para a conclusão desse trabalho. A todos os Prof. do mestrado, que de alguma forma contribuíram para minha formação acadêmica. Aos colegas, tanto da universidade, como do mestrado, pelo apoio e incentivo. E em especial a minha esposa, Alexandra pela sua paciência, confiança, admiração e incentivo

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RESUMO Este trabalho buscou principalmente analisar o comportamento da chamada nova classe média em relação ao Turismo. Como subsídio a esse objetivo, buscou-se identificar a dimensão renda da estratificação social, estabelecer a dimensão consumo dessa estratificação e analisar os padrões de consumo de produtos turísticos. A revisão da literatura e a pesquisa documental permitiram constatar que o conceito de renda per capita é o mais utilizado para identificar essa camada social, seguida do Critério Brasil, baseado no consumo. Observou-se que, na busca de prestígio e status, o Turismo apresenta-se como fator classificatório tanto econômico quanto simbólico. A metodologia utilizada será, a pesquisa descritiva. A revisão da literatura permitiu concluir que o mercado doméstico brasileiro é um dos dez maiores do mundo e sua força é essencial para a competitividade da indústria. Os últimos anos testemunharam um forte crescimento do mercado doméstico com redução das desigualdades sociais e regionais e transformações profundas no perfil do consumidor brasileiro. A tendência positiva do consumo de produtos turísticos está presente em vários documentos oficiais e a expectativa é de crescimento significativo, com a proximidade de realização de megaeventos esportivos. Constatou-se a previsão de que o setor de Turismo continuará crescendo acima da média da economia. Palavras-chave: Nova classe média brasileira. Renda e consumo. Turismo. Impacto econômico do Turismo.

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ABSTRACT This study aimed primarily at evaluating the Brazilian new middle class in relation to tourism. As support this goal, we sought to identify the income dimension of social stratification, to establish the scale consumption of this stratification and analyze the consumption patterns of tourist products. The literature review and desk research showed evidence that the concept of per capita income is the most used to identify this social layer, then the Criterion Brazil, based on consumption. It was observed that, in the pursuit of prestige and status, tourism presents itself as qualifying both economic and symbolic factor. The literature review concluded that the Brazilian market is one of the ten largest in the world and its strength is essential for the competitiveness of industry. Recent years have witnessed a strong growth of the domestic market with reducing social and regional inequalities and profound transformations in the Brazilian consumer profile. The positive trend in the consumption of tourism products is present in several official documents and the expectation is significant growth with the proximity of conducting mega sporting events. It was verified the prediction that the tourism sector will continue to grow above the average of the economy. Keywords : Brazilian new middle class. Income and consumption. Tourism. Tourism Economic Impact.

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LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Pirâmide populacional com base econômica.......................................................25 Figura 2 – Classes sociais e renda..........................................................................................26 Figura 3 – Nova configuração da pirâmide social brasileira.................................................27 Figura 4 – Fatores que definem a classe média.....................................................................34 Figura 5 – Renda disponível por classe de consumo.............................................................37 Figura 6 – Operações de crédito com recursos livres e direcionados....................................40 Figura 7 – Venda de veículos no Brasil.................................................................................42 Figura 8 – Principais países receptores de turismo internacional..........................................72 Figura 9 – Principais meios de transporte no turismo............................................................90 Figura 10 – Variação per capita média por décimos de renda no Brasil.................................93 Figura 11 – Índice de Gini.......................................................................................................94 Figura 12 – Desembarque de passageiros domésticos.............................................................94 Figura 13 – Entradas de estrangeiros no Brasil.......................................................................96 Figura 14 – Saídas de brasileiros para o exterior.....................................................................96 Figura 15 – Principais destinos de brasileiros no exterior.......................................................97 Figura 16 – Déficit na balança de serviços..............................................................................97

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LISTA DE TABELAS TABELA 1 – Estratificação com base econômica...................................................................35 TABELA 2 – Relações dos bens de consumo..........................................................................36 TABELA 3 – Critério Brasil: Faixas de cortes por bens de consumo.....................................36 TABELA 4 – Bens duráveis existentes em domicílios............................................................41 TABELA 5 – Maiores exportadores de turismo......................................................................95 TABELA 6 – Crescimento econômico médio dos Bric’s entre 2002 – 2011..........................98

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................12

1 CLASSE MÉDIA BRASILEIRA.................................................................................................17

1.1 Classe social – conceito e estratificação.......................................................................................17

1.2 Em busca de uma definição de classe média................................................................................18

1.3 Panorama da classe média no Brasil.............................................................................................20

1.4 Critérios econômicos de estratificação.......................................................................................23

1.5 Dimensão renda da classificação da classe média........................................................................24

1.5.1 Vozes discordantes....................................................................................................................27

1.6 Dimensão consumo da nova classe média brasileira...................................................................29

1.6.1 Consumo e cultura do consumo: conceito e evolução...............................................................29

1.7 Consumo da nova classe média brasileira em números................................................................33

1.7.1 Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB) ou Critério Brasil...................................34

1.7.2 Pesquisa Cetelem/IPSOS...........................................................................................................37

1.7.3 Pesquisa da Federação do Comércio (FECOMERCIO, 2012)..................................................38

1.7.4 Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF, IBGE, 2009)..........................................................38

1.8 Acesso a crédito............................................................................................................................39

2 VISÃO SISTÊMICA DO TURISMO..........................................................................................43

2.1 Considerações sobre o fenômeno Turismo...................................................................................43

2.2 Conceitos de Turismo...................................................................................................................45

2.3 Percurso do Turismo ao longo do tempo.....................................................................................47

2.3.1 Do Grand Tour ao turismo globalizado.....................................................................................49

2.4 Turismo Moderno.........................................................................................................................55

2.4.1 Montanhismo.............................................................................................................................56

2.4.2 As Principais Empresas de Turismo..........................................................................................57

2.4.3 Transporte..................................................................................................................................59

2.4.4 Fluxo Turístico...........................................................................................................................60

2.5 Bens e serviços turísticos..............................................................................................................61

2.6 Perfil dos turistas........................................................................................................................62

2.7 Sistemática das atividades turísticas...........................................................................................64

2.8 Conta Satélite do Turismo: Abordagem econômica dos produtos e serviços.............................67

2.8.1 Demanda turística......................................................................................................................67

2.8.2 Oferta turística...........................................................................................................................68

2.9 Panorâmica internacional da atividade econômica do turismo.....................................................69

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3 IMPACTO ECONÕMICO DA NOVA CLASSE MÉDIA NO TURIS MO

BRASILEIRO...................................................................................................................................................75

3.1 Desenvolvimento do Turismo no Brasil .....................................................................................75

3.1.1 Fatores determinantes do crescimento do Turismo no Brasil....................................................77

3.2 A nova Classe Média e o Turismo: síntese de consumo, renda e padrões de

comportamento...................................................................................................................................79

3.3 Turismo da nova classe média brasileira em números.................................................................81

3.3.1 Caracterização e Dimensionamento do Turismo Doméstico no Brasil.....................................83 3.3.2 Pesquisa Turismo no Brasil 2011-2014.....................................................................................84

3.3.3 Pesquisa Anual de Conjuntura Econômica do Turismo (PACET)..........................................86

3.3.4 Sondagem do Consumidor – Intenção de Viagem. . . . . . . . . . . . . .. . . . . .. . . . . . . . . .. . . . . .89

3.4 Perspectivas e tendências..............................................................................................................90

CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................................................99

REFERÊNCIAS................................................................................................................................102

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INTRODUÇÃO

A estrutura social brasileira passou por modificações significativas que podem ser

associadas à recente trajetória de ascensão social. Trigo e Mazaro (2012) explicam esse fato

pela adoção de um novo modelo desenvolvimento econômico o qual apresenta mecanismos

para ampliar a distribuição de renda e as oportunidades no mercado de trabalho. Dessa

maneira, favorecendo a inclusão de milhões de brasileiros na sociedade de consumo.

Como resultado, o Brasil reúne hoje um conjunto de indicadores econômicos e sociais

positivos e apresenta condições favoráveis à aceleração do crescimento. O Brasil reduziu sua

dependência do financiamento externo e encontra-se menos vulnerável a crises internacionais

do que no passado recente. Nos últimos anos, ampliou substancialmente sua participação no

comércio internacional e acumulou superávits recordes na balança comercial (TRIGO,

MAZARO, 2012).

Nesse contexto, ao longo da última década, a classe média cresceu de forma bastante

acentuada. Esse crescimento não se limitou a acompanhar o crescimento populacional do país

e passou de 38% em 2002 para 53% da população do país em 2012.

A classe média brasileira tem 37 milhões de pessoas a mais do que tinha há uma

década. Desse total, 8 milhões são resultado do crescimento natural da população brasileira e

29 milhões se devem à entrada de pessoas na classe média. Em outras palavras, quase 80% do

crescimento no tamanho da classe média foi em razão do aumento na sua participação relativa

no total da população (de 38% para 53%), de acordo com a Secretaria de Assuntos

Estratégicos (BRASIL, 2012).

A expansão da classe média resultou de um processo de crescimento combinado com

redução na desigualdade. Por causa dessa combinação, a redução da classe baixa foi muito

mais intensa que a expansão da classe alta. Caso o processo de crescimento não tivesse sido

acompanhado pela redução na desigualdade, a classe média certamente teria crescido muito

menos.

Assim, pode-se considerar que o alargamento da classe média brasileira é muito mais

um resultado da queda na desigualdade do que propriamente do crescimento econômico

(BRASIL, 2012).

Outro fator importante foi o crédito. O sistema bancário sólido e mais investimentos

em novas agências pelo País auxiliaram a inserção das famílias brasileiras neste segmento,

com abertura de novas contas e aquisição do cartão de crédito, que hoje pode ser considerado

um bem popular.

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Diante de um novo quadro as famílias puderam, com o aumento do seu rendimento,

proporcionar tanto um aumento quantitativo quanto qualitativo em suas despesas.

Uma das formas de dimensionar o movimento de ascensão social ocorre por meio da

identificação dos indivíduos cujo rendimento mensal cresceu em termos reais acima da renda

per capita nacional.

Informa o Instituto de Pesquisas Econômicas (IPEA) que, entre 2001 e 2008, a renda

per capita nacional cresceu 19,8% em termos reais, período em que 19,5 milhões de

brasileiros registraram elevação real em seu rendimento individual superior à evolução da

renda per capita nacional. Ou seja, 11,7% do total dos brasileiros tiveram aumentados seus

rendimentos acima da renda per capita real do País.

Do total da população com desempenho superior à renda média do conjunto dos

brasileiros, destacam 13,5 milhões (69,2%) que ingressaram no estrato de renda intermediária,

enquanto 6 milhões (39,8%) passaram para o estrato de renda superior.

Na ascensão do primeiro para o segundo estrato de renda, ressaltam-se as regiões

Sudeste (36,3%) e Nordeste (34,1%), uma vez que responderam por quase 71% do

movimento nacional da mudança na estrutura social na base da pirâmide brasileira. Enquanto

a região Sudeste registrou a inclusão de 4,9 milhões de indivíduos no segundo estrato de

renda, o Nordeste incluiu 4,6 milhões, seguido de 1,5 milhão da região Sul (11,1%), 1,4

milhão da região Norte (10,4%) e 1,1 milhão do Centro-Oeste (8,1%).

A imprensa repercute esses dados. É comum encontrar informações positivas, até

mesmo otimistas, sobre a expansão da chamada nova classe média brasileira. Os trechos

apresentados no Quadro 1, extraídos da mídia eletrônica, evidenciam essa afirmação:

Quadro 1 – Nova Classe Média na Mídia

Manchetes Veículo

A classe C vai ao paraíso Revista VEJA Edição 2150 / 03/02/2010

Nova classe média impulsiona turismo

doméstico

UOL FOLHA, 21/03/2012

Turismo no Brasil é impulsionado pela nova

classe média brasileira

FOLHA UOL, 2/04/2012

Nova classe média viaja para o exterior e vira

alvo das agências de viagens

JORNAL O CORREIO/BA, 29.11.2012

Fonte: Elaborado pelo autor

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Mesmo os analistas mais recentes, diante de alterações na economia nacional, revelam

confiança:

A recente desaceleração da economia brasileira [...] pode frear o processo de redução da pobreza e expansão da chamada "nova classe média" ou "classe C" nesses países, mas não deve significar uma reversão das conquistas da classe na última década (BBC BRASIL, 31 de julho, 2013).

Como se nota, há uma ênfase no aspecto econômico da estratificação social, embora

esse não deva ser o único fator a ela associado.

Na esteira da economia, deve-se considerar outro fator de estratificação na forma de

medidas de consumo: maior renda, maior consumo, na ciranda de oferta e demanda da

economia. Note-se, no entanto, que não devem ser esquecidos fatores culturais e simbólicos

que embasam a estratificação social.

Esse cenário motiva e situa a questão da pesquisa: A nova classe média brasileira

percebe e consome o Turismo?

Assumem-se como hipóteses de pesquisa que: a) a nova classe média procura copiar o

padrão de consumo e destinos que ela atribui às “classes altas”; e b) o consumo de produtos

turísticos pela nova classe média apresenta um crescimento expressivo e superior ao

crescimento da economia do país como um todo.

Busca-se, como objetivo principal, analisar o comportamento da chamada nova classe

média em relação ao Turismo. Para dar suporte a esse objetivo principal, foram estabelecidos

objetivos secundários, a saber: a) identificar a dimensão renda da estratificação social; b)

estabelecer a dimensão consumo dessa estratificação; e c) analisar os padrões de consumo de

produtos turísticos.

Segundo Marconi e Lakatos (2005. p. 157), a pesquisa “é um procedimento formal,

com método de pensamento reflexivo, que requer um trabalho científico e se constitui no

caminho para reconhecer a realidade ou para descobrir verdades parciais”.

A pesquisa seguiu uma abordagem qualitativa dado constituir-se em um levantamento

bibliográfico e documental, sem a preocupação do tratamento estatístico dos dados coletados.

A classificação tipológica da pesquisa foi feita com base na taxonomia de Gil (2002).

Quanto aos fins, a pesquisa foi classificada como exploratória e descritiva. O objetivo da

pesquisa exploratória é familiarizar o pesquisador com o problema estudado (GIL, 2002)

Quanto aos meios, a pesquisa classifica-se como bibliográfica e documental. A

pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído

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principalmente de livros e artigos científicos, dissertações e teses, em meio impresso ou

eletrônico, que trouxessem maior clareza ao tema (GIL, 2002).

Utilizou-se igualmente pesquisa documental que se distingue da bibliográfica pela

natureza das fontes, valendo-se de materiais que não receberam ainda um tratamento

analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetos da pesquisa (GIL,

2002).

Nesse aspecto, tomou-se como base o material elaborado pelo Ministério do Turismo,

subsidiado por entidades como a Fundação Getúlio Vargas, o Instituto de Geografia e

Estatística, a Fundação Instituto de Pesquisa Econômica e o Instituto de Pesquisa Econômica

Aplicada.

Paralelamente, buscou-se material elaborado por entidades de pesquisa, entre elas a

CETELEM BGN/IPSOS IPSOS e a Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa (ABEP),

além de entidades de classe como a Associação Brasileira das Operadoras de Turismo

(BRAZTOA) e a Associação Brasileira das Empresas Marítimas (ABREMAR/FGV).

A partir do levantamento bibliográfico e do documental, a pesquisa estrutura-se em

cinco partes. A primeira delas corresponde a esta Introdução, seguida de três capítulos.

O Capítulo 1 apresenta inicialmente os conceitos referentes a classe social. Em

seguida, busca uma definição de classe média e apresenta uma panorâmica desse segmento no

Brasil. Finalmente, aborda as dimensões renda e consumo da chamada nova classe média

brasileira. Como referencial teórico, foram utilizados os trabalhos de Featherstone (1995),

Marx (1987), Goldthorpe (2000), Eder (2001), Bourdieu (2001), Gil (2002), Barbosa (2003),

McCracken (2003), Weber (2004), Pochmann (2006), Lipovetsky (2007), Neri (2008),

Bauman (2008), Quadros (2008), Guerra (2010), Ricci (2011), Yaccoub (2011), Pitol (2012),

Andrade (2012), Yaccoub (2011). Souza (2013), Tible (2013) e Pomar (2013).

O Capítulo 2 aborda as diversas interpretações do Turismo, apontando os aspectos

sociais, culturais e simbólicos presentes em sua cronologia e na amplitude de conceitos da

atividade turística. Em seguida, apresenta o Sistema de Hospitalidade, com ênfase no perfil

dos turistas. Segue-se a estrutura do Turismo, traçando seus princípios e práticas, enfatizando,

dentro de uma visão sistêmica, seus aspectos econômicos.

Como referencial teórico, foram utilizados os trabalhos de Trigo (2003, 2005, 2009,

2012); Panosso Netto (2003, 2009); Cooper et al (2001); Tribe (2003); Organização Mundial

do Turismo (2001); Beni (2003); Barreto (2008); Boullón (1990); Camargo (2001); Cheibub

(2012); Eder (2001); Gabrielli (2006); Gombrich (1990);Guerra (2010);McCracken (2003);

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Moesch (2000); (2003); Talavera e Pinto (2008); Yaccoub (2011); Yasoshima e Oliveira

(2002); Denker et al. (2004); Lashley e Conrad (2004); Pinho (2009) dentre outros.

Por último, o Capítulo 3 abordará o turismo brasileiro sob o ponto de vista da nova

classe média e seu impacto econômico. Inicia com o desenvolvimento do turismo no Brasil,

identificando os fatores socioculturais e econômicos que o determinaram. Em seguida,

procura analisar o papel da nova classe média como propulsora do mercado turístico

brasileiro. Finaliza com as perspectivas e tendências desses segmentos.

A base teórica foi extraída de Trigo (2003,2005, 2009, 2013), Panosso Netto (2009),

Solha (2002), Barreto (2008), Cheibub (2012), Camargo (2002), Arancibia (2012 Yaccoub

(2011) e Talavera e Pinto (2008).

A pesquisa documental referente ao capítulo 3 tem como base os documentos a seguir:

Pesquisa de Turismo Doméstico 2010, Pesquisa Turismo no Brasil 2011-2014, Pesquisa

Anual de Conjuntura Econômica do Turismo (PACET) 2012-2013, Sondagem do

Consumidor – Intenção de Viagem 2013, todos do Ministério do Turismo, além do relatório

da Associação Brasileira de Empresas Marítimas (ABREMAR/FGV, 2012) e dados da

Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (BRAZTOA).

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1 CLASSE MÉDIA BRASILEIRA

Este capítulo apresenta inicialmente os conceitos referentes a classe social. Em

seguida, busca uma definição de classe média e apresenta uma visão panorâmica desse

segmento no Brasil. Finalmente, aborda a dimensão renda da chamada “nova classe média

brasileira”.

1.1 Classe social – conceito e estratificação

Karsaklian (2000) define classes sociais como divisões relativamente homogêneas de

uma sociedade, nas quais indivíduos ou famílias partilham valores semelhantes, interesses e

comportamento, baseados em sua posição socioeconômica, de modo a serem categorizados.

Bresser-Pereira (2006) relaciona classe social à necessidade de identificação e

descrição de um estrato social específico em termos de poder, prestígio e renda e considera

mais apropriados os termos estrato social ou camada social.

Eder (2001) assevera que a noção de classe tradicional é usada para realizar duas

diferentes intenções normativas. A primeira consiste em identificar aqueles que são

explorados como uma classe, sentido em que classe se tornou quase sinônimo de exploração.

Assim, a segunda intenção normativa consistiu na identificação dos exploradores, das pessoas

em posição estruturalmente vantajosa ou que possuem poder pessoal direto sobre outras, tal

como a classe capitalista, como a corporificação dos estruturalmente favorecidos.

Tais intenções normativas correspondem aos dois conceitos polares de classe social

explicitados por Lamounier e Souza (2010). Por um lado, o conceito derivado da tradição

marxista refere-se a um grupo estruturalmente bem delimitado, consciente de si e dotado de

estilos de vida, padrões de comportamento e projetos de sociedade diferenciados em relação

às demais classes.

Por outro lado, a tradição weberiana apresenta características objetivamente

mensuráveis, entre elas a educação, a renda e a ocupação, entendidas como atributos

individuais, deixando em suspenso a questão da ‘consciência de classe’.

Lamounier e Souza (2010, p.13) acrescentam:

Se o agrupamento em estudo tem uma percepção diferenciada de seus interesses e uma identificação de si mesma como classe, ou, ao contrário, se trata de um agregado desprovido de tais características, são pontos que só a

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pesquisa empírica pode determinar e, em consequência, não definem classe.

.

É fato que definir classe social, ou determinar uma pessoa dentro de um grupo social,

é tarefa complexa, uma vez que se encontram inconsistências devidas à subjetividade do

critério de autoidentificação de classe e, como tal, sujeito à ação de múltiplos fatores.

O fenômeno de classe social no sentido marxista dificilmente se configura no mundo

atual, caracterizado, principalmente, pelas sociedades de massa. A contraposição dessas duas

visões sugere que o mais comum é a sobreposição de camadas ou estratos identificáveis

apenas em termos estatísticos, ainda de acordo com Eder (2001), para quem esse modelo de

classe foi generalizado num modelo de poder.

Dessa maneira, as classes são relacionadas umas às outras em termos de poder ou falta

de poder:

Os sem poder são aqueles sem nenhum controle das condições materiais de sua existência; são simplesmente os pobres. Por outro lado, existem classes de pessoas com poder econômico, social ou mesmo culturais; a chamada “nova classe” é a corporificação dessa dominação política e cultural (EDER, 2001, p.1).

As duas motivações normativas para identificar classes não incluíram

sistematicamente a classe média, cujas fórmulas depreciativas tais como “classes pequeno -

burguesas”, “aristocracia do trabalho” ou “pequenos proprietários não consubstanciavam uma

vertente teórica.

1.2 Em busca de uma definição de classe média

Historicamente, Eder (2001) situa o termo classe média no contexto de uma relação de

classe definida pela classe trabalhadora e pela classe capitalista. Sua posição intermediária

explica a reação específica e os movimentos de grupos sociais que não se tornaram uma

classe.

Para o autor, “é a exclusão das classes médias de uma relação de classe, sua existência

como não-classe, que mostra ter poder explicativo em relação à ação coletiva”; o radicalismo

de classe média pode ser explicado por sua tendência a evitar ser identificada com as classes

baixas e seu fracasso em tornar-se uma classe dominante (EDER, 2001, p. 9).

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A estrutura de classe tradicional excluía a classe média sistematicamente e a via como

grupo fronteiriço. Os novos movimentos sociais podem ser vistos como o mecanismo que cria

uma nova estrutura de classe nas sociedades modernas, dando a essas classes médias um papel

central na reestruturação das relações de classe nessas sociedades.

No século XIX, a classe média não era muito numerosa, mas cumpria papéis-chave na

estrutura social, no sentido de que aqueles que a ela pertenciam controlavam o fluxo da

comunicação cotidiana na sociedade. Comerciantes e artesãos ofereciam cenários sociais onde

as pessoas se encontravam e trocavam idéias. Professores e funcionários, cuja função

socializante é constitutiva de seu papel profissional, tinham contato cotidiano com as pessoas

(EDER, 2001)

Eder (2001) esclarece que estruturalmente a classe média foi definida por sua

localização no setor de serviços. Esse setor cresceu desde então, passando a incluir os artesãos

e os comerciantes não-proletarizados, os grupos emergentes de colarinhos-brancos do começo

do século XX, e finalmente grupos profissionais nas atividades de serviço social que

cresceram em número nas quatro últimas décadas.

O desenvolvimento da classe média associada à cultura mostra um perfil indefinido.

Esses grupos foram definidos em discussões recentes como partilhando o habitus do

“pequeno-burguês”. Esse rótulo originalmente se referia mais à cultura de pequenos

proprietários (em oposição aos grandes proprietários, aos capitalistas e às classes proprietárias

de terra tradicionais) do que à sua exata posição de classe.

O autor esclarece que a expressão, inicialmente restrita a pequenos proprietários

(artesãos e comerciantes), estendeu-se a outros grupos não ligados à produção, e

posteriormente a grupos de classe média em geral. Entre as guerras mundiais esses grupos

tinham sido descritos como uma classe baseada no consumo conspícuo (grifo nosso) (EDER,

2001).

O consumo conspícuo segundo Thorstein Veblen tem a criação de um padrão de vida

pecuniário em que os gastos “conspicuamente supérfluos” são vistos como algo indispensável

mais que as atividades básicas.

Nesse cenário difuso da tentativa de definição da classe média, Scalon e Salata (2012)

contrapõem os teóricos americanos Wright (1993) e Goldthorpe (2000). Wright constrói sua

definição sobre três pilares: meios de produção, habilidades e organização, cada um

funcionando como um dos eixos de delimitação das classes. Dessa maneira, uma mesma

classe poderia estar em posições distintas nos diferentes eixos:

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As classes médias se caracterizariam, justamente, por estarem em posições contraditórias em relação aos diferentes ativos. Não seriam proprietárias dos meios de produção (com exceção dos pequenos empregadores), mas possuiriam habilidades e/ou estariam em posição privilegiada no que se refere à organização. Para Wright, fariam parte das classes médias os pequenos empregadores, gerentes, supervisores e trabalhadores manuais qualificados (WRIGHT apud SCALON e SALATA, 2012, p 390).

Por sua vez, mais próximo do arcabouço weberiano, Goldthorpe (2000) utiliza o termo

serviceclass para se referir à classe média:

A serviceclass se distinguiria da classe trabalhadora por possuir uma regulação de emprego construída sobre outras bases. Devido à especificidade de seus ativos humanos e também devido às enormes dificuldades de se monitorar e controlar o seu tipo de trabalho, seu emprego e remuneração seriam mais estáveis e menos diretamente relacionados à produção. Além disso, contariam com benefícios adicionais - melhores salários, oportunidades de carreira, etc. - que não estariam presentes no caso do labourcontract (Goldthorpe, 2000 apud SCALON e SALATA, 2012, p. 391).

Scalon e Salata (2012) apontam os aspectos que distinguem os dois teóricos

americanos: a) enquanto Goldthorpe confere um caráter unitário à serviceclass, Wright não

enxerga uma única, mas sim várias classes médias; b) enquanto a classificação de Wright está

diretamente ligada ao caráter do trabalho exercido pelos diferentes grupos no processo

produtivo, a classificação de Goldthorpe se baseia no contrato de trabalho e na situação de

mercado das diferentes classes.

Eder (2011) questiona se o conceito de uma nova classe média pode ser visto em

continuidade ou em descontinuidade com as velhas classes médias, vista como uma classe

social que se tinha tornado um ator histórico, cuja consciência produzia efeitos inovadores na

sociedade moderna. Em vista disso, entende-se o renascimento do interesse nas classes

médias, dando suporte à suposição de que a classe baixa e seu embutimento no conflito de

classe industrial já não representam um modelo para um entendimento da classe média

emergente.

1.3 Classe média no Brasil

Historicamente, desde a Revolução Industrial no século 18, a classe média tem sido o

motor de mudanças estruturais e colaborado massivamente para definir o rumo da economia

mundial.

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No Brasil, Barbosa (2003) informa que, até meados do século XIX, contava-se com

uma estrutura social pouco diversificada, herdada de seu passado colonial como economia

escravista agroexportadora. Naquela época, podiam ser encontrados, nas cidades brasileiras,

pequenos grupos de profissionais liberais, militares, empregados públicos e trabalhadores do

comércio que, juntos, somavam apenas um pouco mais de 700 mil pessoas ou

aproximadamente 7% da população em idade ativa total.

Com o desenvolvimento obtido, a partir de então, as classes médias começaram a se

desenvolver, formando estratos socialmente significativos nas principais cidades brasileiras

do início do século XX. A partir de 1930, quando ocorreu o processo de substituição de

importações, a base econômica das classes médias pode se expandir substancialmente.

Entre 1930 e 1980, o Brasil sofreu intenso processo de urbanização, expansão

econômica e industrialização. Durante esse período, a classe média brasileira se expandiu

vigorosamente em virtude da diversificação da estrutura social, com a criação de ocupações

intermediárias e crescimento da burocracia e dos serviços oferecidos pelo Estado, ainda de

acordo com Barbosa (2003).

Concomitantemente, o perfil da classe média brasileira foi mudando, ao longo desse

período, diminuindo a participação de pequenos proprietários e aumentando o percentual de

assalariados. Relata a Federação do Comércio de São Paulo (FECOMERCIO, 2012) que, no

Brasil, durante as décadas de 80 e, parcialmente, a de 90, falava-se muito do achatamento da

classe média, termo usado por analistas para descrever os variados problemas enfrentados

pelo país no período.

Por outro lado, a partir da implementação do Real como moeda, a abertura econômica

nacional e a estabilidade na maior parte dos últimos anos fizeram surgir uma classe média

mais pujante e que colaborou para que o Brasil fosse o último a entrar e o primeiro a sair da

crise mundial de 2009 (FECOMERCIO, 2012).

Scalon e Salata (2012) informam que, a partir da década de 1980 até o ano 2000, no

entanto, com o arrefecimento da economia e as mudanças estruturais no mercado de trabalho,

podem ser identificadas alterações na classe média. Uma dessas alterações consiste na

substituição de parte dos tradicionais empregados intermediários no interior das grandes

empresas por serviços terceirizados e a crescente concorrência externa que levou ao

enxugamento do quadro de funcionários ou a perdas salariais.

Acrescente-se que também se buscou diminuir o peso do Estado através de

privatizações e redução do aparelho burocrático. Pochmann (2006) aponta, como resultados, o

crescimento significativo da participação dos pequenos proprietários, com o respectivo

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decréscimo dos assalariados, a diminuição do setor industrial e o aumento do setor de serviços

e comércio no seio da classe média.

Quadros (2008) aponta elementos favoráveis a esse cenário, entre eles a acentuada

formalização dos contratos de trabalho, que potencializaram os efeitos da recuperação do

salário mínimo; o outro é a maturação, aprimoramento e ampliação dos programas focalizados

de transferência de renda, com significativo impacto entre os mais pobres, não diretamente

beneficiados pelos ganhos do piso legal. Esta conjunção de fatores se expressa numa

significativa melhora da estrutura social. Entretanto, também se evidenciará que o movimento

mais expressivo de ascensão teve como limite o estrato social que acabou sendo denominado

de “classe C”.

Segundo a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE, BRASIL, 2010), a expansão da

classe média resultou de um processo de crescimento combinado com redução na

desigualdade. Por causa dessa combinação, a redução da classe baixa foi muito mais intensa

que a expansão da classe alta. Caso o processo de crescimento não tivesse sido acompanhado

pela redução na desigualdade, a classe média certamente teria crescido muito menos.

De fato, caso o país não tivesse reduzido seu grau de desigualdade, teriam deixado a

classe baixa (e entrado na classe média) apenas 9% da população (em vez dos 21% que

efetivamente ascenderam) enquanto teriam ascendido à classe alta (saído da classe média) 5%

da população (em vez dos 6% que efetivamente ascenderam). Consequentemente, o

crescimento no tamanho da classe média teria sido inferior à metade do que efetivamente

ocorreu. Teria sido de quatro, em vez de 15 pontos percentuais. Isso quer dizer que o

alargamento da classe média brasileira é muito mais um resultado da queda na desigualdade

do que propriamente do crescimento econômico.

No que se refere à participação da classe média no trabalho formal, enquanto 58% da

população brasileira em idade ativa têm ocupação, na classe média esta proporção já alcança

61%. De forma similar, enquanto, do total da população ocupada no país, 54% têm um

emprego no setor formal, na classe média este grau de formalização é mais elevado, já

alcançando 56% (BRASIL, 2010).

Como resultado, a porcentagem de trabalhadores, em particular de trabalhadores

formais, que pertencem à classe média é bem superior à proporção da classe média na

população em idade ativa no Brasil. De fato, estima-se que, em 2012, 57% dos trabalhadores

(56 milhões) e 58% dos trabalhadores formais (31 milhões) pertençam à classe média, ao

passo que a participação da classe média no total da população em idade ativa se limita a 54%

(BRASIL, 2010).

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23

1.4 Critérios econômicos de estratificação

No Brasil, vários critérios são utilizados para tentar estratificar a divisão social. O

conceito de renda per capita é o mais utilizado por institutos de pesquisa, pois, seguindo esse

critério, a soma da renda de um domicílio, dividido por seus integrantes, aproxima-se da

realidade no sentido de valor monetário, ou poder de compra, embora não levem em

consideração as despesas, reduzindo consideravelmente os valores de renda.

Sobre a renda per capita, Neri (2008, p.11) opina:

O conceito mais adequado para auferir o nível de pobreza seria a renda domiciliar per capita dos indivíduos, que corresponde à soma da renda de todas as pessoas dos domicílios dividida pelo número total de moradores. Similarmente, quando queremos quantificar a extensão da chamada classe média para, por exemplo, avaliar o poder de compra de bens familiares tais como a casa própria, o conceito adequado é a renda total auferida por todos os membros do domicílio.

A Secretaria de Assuntos Estratégicos (BRASIL, 2010), “conforme avaliação da

Comissão Ministerial para Definição da Nova Classe Média divide a sociedade brasileira em

três grandes grupos (classes baixa, média e alta) em termos da renda familiar per capita” e

considera esse fator de estratificação “providencial para que se possam descrever as profundas

transformações sociais por que tem passado a sociedade brasileira.”

A partir de uma análise detalhada dos possíveis critérios para definir os limites desses

grupos, isto é, onde cada um começa e termina, a comissão entendeu ser a melhor opção

utilizar uma divisão que gerasse grupos homogêneos com relação à vulnerabilidade à pobreza

(BRASIL, 2010).

Segundo esse critério, foram considerados pertencentes à classe baixa todos aqueles

com alta probabilidade de permanecer ou passar a ser pobres no futuro próximo; verificou-se

empiricamente que estes são os que vivem em famílias com renda per capita inferior a R$291

por mês.

Foram considerados pertencentes à classe média todos aqueles com baixa

probabilidade de passarem a ser pobres no futuro próximo; verificou-se empiricamente que

estes são os que vivem em famílias com renda per capita entre R$291 e R$1.019 por mês. Por

fim, foram considerados pertencentes à classe alta todos aqueles com probabilidade irrisória

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de passarem a ser pobres no futuro próximo; seriam aqueles em famílias com nível de renda

per capita acima de R$1.019 por mês (BRASIL, 2010).

Já o Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB) ou Critério Brasil,

desenvolvido pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP), é um instrumento

de segmentação econômica que utiliza o levantamento de características domiciliares

(presença e quantidade de alguns itens domiciliares de conforto e grau escolaridade do chefe

de família) para diferenciar a população. O critério atribui pontos em função de cada

característica domiciliar e realiza a soma destes pontos. É feita, então, uma correspondência

entre faixas de pontuação do critério e estratos de classificação econômica levando em conta,

portanto, a análise do potencial de consumo da população. Tal critério será detalhado

posteriormente.

1.5 Dimensão renda da classificação da classe média

Neri (2010, p.4) prioriza a renda como critério de classificação: “Nossa estratégia é

através do instrumental da literatura de bem estar social sintetizar um amplo espectro de

informações pnadianas para uma mesma dimensão. Projetar o conjunto de informações na

dimensão renda” (grifo nosso).

As citadas informações “pnadianas” referem-se aos dados coletados na Pesquisa

Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia

e Estatística (IBGE), com base nos quais dividem-se as categorias de classe social de acordo

com a renda familiar mensal. Segundo essa classificação, a população é dividida em cinco

classes: “A”, “B”, “C”, “D” e “E”; sendo a classe “A” o grupo que engloba as famílias com

maior renda e a classe “E”, aquelas com menor renda, de acordo com a Figura 1, a seguir:

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Figura 1 Pirâmide populacional com base econômica Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados do CETELEM (2012).

Pitol (2012) esclarece que as classes “A” e “B” são as mais abastadas do Brasil,

constituindo o topo da pirâmide socioeconômica do país, apresentando grande crescimento

percentual nas duas últimas décadas. Em comparação com o início dos anos 90, hoje

representam mais que o dobro da participação no total da população. A classe “A” é composta

por famílias com renda mensal superior a R$ 6.745, enquanto a classe “B” é formada por

pessoas com renda familiar entre R$ 5.174 e R$ 6.745.

As famílias com renda mensal entre R$1.200 e R$ 5.174 compõem a classe “C”,

segundo a classificação abordada. Essa é a camada socioeconômica que concentra a maior

parte das famílias brasileiras, com 55% das famílias brasileiras em 2011. Trata-se da classe

social que vem apresentando grande ascensão na pirâmide socioeconômica brasileira,

impactando a economia como um todo.

A classe “D”, que compreende as famílias com renda mensal entre R$ 751 e R$ 1.200,

e a classe “E”, que engloba as pessoas pertencentes a famílias com renda familiar mensal

inferior a R$751, representavam a maioria da população brasileira em 1992. No entanto, essa

base da pirâmide socioeconômica brasileira viu grande parte de suas famílias ascenderem

economicamente, perdendo sua participação no total da população brasileira (PITOL, 2012).

Por sua vez, Yaccoub (2011) considera que, de acordo com as informações do PNAD

(2008), a "nova classe média", ou "nova classe C", está compreendida abaixo da A e B e

acima da D e E.

8,8

22,8 22,5

45,6

101,8 105,4

92,9

65,4 63,6

0

20

40

60

80

100

120

1993 2010 2011

Milh

ões

de p

esso

as

Ano

Classe DE Classe C Classe A

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A chamada "nova classe média" brasileira – a classe C – refere-se a 53% da

população, o equivalente a quase 98 milhões de pessoas. Essa evolução é ilustrada na

Figura 2, a seguir:

F Figura 2 - Classes sociais e renda Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados do CETELEM (2012).

Neri (2008, p. 5) acredita que a classe C "é a imagem mais próxima da sociedade

brasileira" e toma como base a recuperação do mercado de trabalho formal de carteira

assinada, identificada na Pesquisa Mensal de Emprego – PME/IBGE e no Cadastro Geral de

Emprego e Desemprego do Ministério do Trabalho e Emprego – Caged/MTE.

Este seria o fator mais representativo do "ressurgimento de uma nova classe média

brasileira" (Neri, 2008, p. 41) e da diminuição da desigualdade social.

Scalon e Salata (2012, p. 8) esclarecem:

Entre 2002 e 2009, a participação da "Classe C" - que vem sendo chamada de nova classe média -, no recorte estudado, passou de 45,4% para 54,2%. A "Classe A & B" correspondia a 13% do recorte, em 2002, passando para 17%, em 2009. A "Classe D", que, em 2002, respondia por 15,5% do recorte, em 2009 cai para 12,2%. Por fim a "Classe E" apresentou uma substantiva diminuição, indo de 26,1%, em 2002, para 16,5%, em 2009.

Os autores percebem uma melhora na distribuição de renda, com os grupos de menor

renda diminuindo sua participação e os grupos de renda média e alta intensificando sua

15 18 15 15 16 21 22

3436 46 45 49

53 54

51 46 39 40 3525 24

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Per

cent

agem

Ano

Classe AB Classe C Classe DE

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presença e destacam a queda da participação da "Classe E" e o subsequente aumento da

"Classe C" (SCALON; SALATA, 2012). Essas variações podem ser observadas no figura 2.

Diante desse cenário, difunde-se a ideia de que o Brasil teria se tornado um país de

classe média, o que teria consequências em relação às demandas da população, seu estilo de

vida, visões de mundo, aspirações, orientações políticas, entre outros.

Para ilustrar a participação da classe média na sociedade brasileira, a Figura 3, a seguir

é significativa, dando forma losangular à pirâmide social do país:

Figura 3 - Nova configuração da pirâmide social brasileira. Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados do CETELEM (2012).

Importa ressaltar, no entanto, outras possibilidades de mensurar a classe média,

especialmente aquelas que fazem parte da tradição sociológica, baseadas nas informações

sócio-ocupacionais e que poderiam ajudar a interpretar os recentes movimentos das classes

médias no interior da estrutura social brasileira.

Essas diversas dimensões possibilitam levar a conclusões diferenciadas. Assim,

quando definida através da renda, como a "Classe C" (NERI, 2008), apresenta crescimento

substantivo nos últimos anos. Por outro lado, quando definida por meio de critérios outros tais

como tipo de ocupação e posição no mercado de trabalho, é a sua manutenção que se destaca,

com pequenas mudanças em sua composição.

1.5.1 Vozes discordantes

Para Souza, J. (2013, p. 2), “esse conceito de classe média, que tudo abrange, serve

apenas para encobrir conflitos e injustiças sociais de todo tipo. Para essa versão dominante:

‘classe média’ é apenas um amontoado de ‘indivíduos’ que competem em igualdade de

condições pelos recursos sociais escassos”.

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Essa é a interpretação da ascensão econômica da chamada “nova classe média”

brasileira. Na avaliação de Souza, (2013, p. 2):

O discurso sobre a ‘nova classe média’ é problemático posto que é irremediavelmente ‘economicista’”. Considerar apenas a ascensão econômica a partir do aumento salarial, enfatiza, resulta “encobrir conflitos sociais e justificar com recursos pseudocientíficos o mundo injusto como ele é. Temos a tendência de achar que o mero crescimento econômico por si só trará todas as mudanças de que o país precisa. Que isto não é verdade já foi mostrado de modo claro como luz do sol. O Brasil cresceu mais que qualquer outra sociedade entre 1930 e 1980 e manteve teimosamente seus excluídos sociais.

Yaccoub (2011) corrobora esse posicionamento, ao afirmar que o uso da terminologia

"nova classe média" por formadores de opinião, economistas e pesquisadores é uma

banalização do termo "classe", ligando-o diretamente ao nível de renda e consumo. Sabe-se

que o que classifica estratos ou camadas sociais é muito mais do que a posse e poder de

consumo ou acesso a crédito.

Tible (2013, p.8) comenta a posição crítica de Souza, extraída de “uma investigação

teórica e empírica com trabalhadores de telemarketing na feira de Caruaru, no mercado de Ver

o- Peso da cidade de Belém e rurais”:

Ao pensar em termos de uma nova classe média, existe uma intenção de encobrir as relações de classe. Para o autor, os indivíduos são produzidos de forma diferenciada por uma cultura de classe específica. Assim se inviabilizam os fatores não econômicos que originam e reproduzem a desigualdade social sob a forma de transferência de valores e de reprodução de privilégios, abrindo ou reduzindo possibilidade de mobilidade social (tradução nossa).

Pochmann (2006) reconheceu a mudança em curso e a mobilidade social no Brasil

contemporâneo, mas defendeu que a classe média não deve ser entendida simplesmente pelo

ingresso, a classe média é um modelo de consumo, de estudo, de futuro. E destaca que a

agenda de políticas nas quais o estado deve atuar difere quando se fala de classe média ou de

classe trabalhadora. A classe media não está necessariamente preocupada por políticas

universais.

Lamounier e Souza (2010) esperam que os novos incluídos se transformem em uma

classe media clássica, ou seja, conservadora, atribuindo seus méritos ao triunfo do mercado

cultural, em forma de conhecimentos, qualidades e disposições valorizados pela reprodução

do Estado no mercado, no marco de privilégios de classe. Esta nova classe surge explorada,

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trabalhando longas jornadas, conciliando trabalho e estudo e contando em geral com a ajuda

de um capital familiar e de valores de trabalho duro e contínuo.

Ricci (2011) enfatiza que importa compreender que grande parte dessa nova Classe C

emergente é oriunda de famílias tradicionalmente pobres, que não possuem a mesma lógica,

representação e imaginário dos tradicionais “formadores de opinião”. Tais famílias leriam

pouco, desconfiariam dos jornais e revistas e seriam muito pragmáticas, ou seja, pouco

ideologizadas.

Yaccoub (2011, p. 7) é outra voz discordante ao comentar as informações “pnadianas”

sobre a chamada nova classe C, categoria “atribuída a certos setores sociais pautados com

base unicamente na renda e poder de compra, uma abstração estatística para definir estratos

sociais, independentemente do tipo de uso que fazem do seu capital, ou dos valores

simbólicos envolvidos nessas escolhas”. Nessa concepção, a nova classe C aufere em média a

renda média da sociedade, é a classe média no sentido estatístico.

A autora acrescenta:

Definir "classes" é muito mais que definir renda, pois devemos tratar de status social sempre de forma relacional; para definirmos ou classificarmos as identidades de grupos ou estratos sociais, precisamos muito mais do que renda ou tipo (ou intensidade) de consumo. Como considerar pertencente à classe média um taifeiro aposentado entrevistado pela Folha de S. Paulo se, apesar de ganhar mensalmente R$ 3.400,00, ele sustenta cinco pessoas? Sua família não tem lazer, ele diz nunca terem ido a um cinema, moram em rua sem calçamento que, até bem pouco tempo atrás, sequer possuía rede de esgoto (YACCOUB, 2011, p. 11).

1.6 Dimensão consumo da nova classe média brasileira

O segundo critério mais utilizado para conceituar classe média baseia-se na análise do

potencial de consumo. Trata-se do no Critério Brasil que utiliza a expressão Classe C para

designar a classe média em função do poder de compra e consumo de determinados itens.

Nesse contexto, importa definir consumo e sociedade de consumo para, então, abordar

a chamada nova classe média brasileira nesse patamar socioeconômico.

1.6.1 Consumo e cultura do consumo: conceito e evolução

Bauman (2008, p. 38) define consumo como “uma condição, e um aspecto,

permanente e irremovível, sem limites temporais ou históricos; um elemento inseparável da

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sobrevivência biológica que nós humanos compartilhamos com todos os outros organismos

vivos”.

Guerra (2010) considera que a concepção de ações de consumo como portadoras de

significados e de identificação do lugar que ocupam na formação das sociabilidades reflete as

transformações sociais ocorridas nos modos de produção e reprodução das sociedades no

contexto do capitalismo.

A autora traça um histórico da evolução do consumo a partir de Marx cuja ótica do

consumo subentende “certa submissão do consumo ao processo produtivo [...], ignorando

aspectos importantes desse processo, tais como a escolha e o significado diferenciador do

consumo no mundo social” (GUERRA, 2010, p.21).

Weber (2004) faz uma leitura diferenciada do consumo como elemento constitutivo do

mundo econômico ao lhe conferir um significado na formação de uma nova ordem social da

Europa do século XIX. Nessa perspectiva, consumidores não mais se comportariam como

autômatos, reagindo a elementos subjetivos de caráter social e os padrões de consumo

associam-se a “grupos de status”. Dessa maneira, o ideal é pertencer a uma elite, um estrato

social mais prestigiado, a tradicional classe média, que possui uma forma de se representar,

consumir e ser.

Para Guerra (2010), pertencer a essa elite pode ser um ideal muito distante, por isso

são criadas formas de aproximação. Dessa maneira, o consumo de determinados bens para os

grupos mais abastados se torna um instrumento para atingir esse ideal. Por outro lado, o

caráter distintivo e identitário do consumo leva, por meio da imitação da classe mais abastada:

[...] à maneira de se distinguir frente a grupos menos prósperos, o que levaria indefinidamente à diferenciação da demanda entre classes sociais mais ou menos favorecidas: a aristocracia – ou a alta burguesia – demandando produtos distintivos que a tempos cada vez menores se generalizavam e, gerando um consumo massificado, indicavam a necessidade de criação de novos produtos que distinguissem as classes sociais (GUERRA, 2010, p.24).

Sobre a cultura de consumo, Featherstone (1995, p. 31) aponta alguns aspectos

fundamentais. O primeiro deles, de caráter econômico, “tem como premissa a expansão da

produção capitalista de mercadorias, que deu origem a uma vasta acumulação de cultura

material na forma de bens e locais de compra e consumo.

O segundo aspecto, de natureza sociológica, considera que “a relação entre a

satisfação proporcionada pelos bens e seu acesso socialmente estruturado é um jogo de soma

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31

zero, no qual a satisfação e o status dependem da exibição e da conservação das diferenças em

condições de inflação” (FEATHERSTONE, 1995, p.31).

O terceiro aspecto, de cunho emocional, considera a “questão dos prazeres emocionais

do consumo, os sonhos e desejos celebrados no imaginário cultural consumista e em locais

específicos de consumo que produzem diversos tipos de excitação física e prazeres estéticos”

(FEATHERSTONE, 1995, p.31).

Lipovetsky (2007) entende que a obtenção da felicidade está condicionada ao conforto

e ao bem-estar sensitivo, no entanto a busca dessas sensações teve diferentes manifestações ao

longo do tempo.

A primeira dessas manifestações se refere a noções iniciais de conforto, ocorridas no

século XVIII, enquanto a segunda manifestação da busca de conforto de bem estar sensitivo

foi marcada pela mecanização e democratização, elevando essa noção a uma "condição de

valor de massa e modo de vida generalizado" (LIPOVETSKY, 2007, p. 218).

A terceira manifestação do conforto, para Lipovetsky (2007), baseia-se na "qualidade

de vida como fronteira do conforto". Assim, o "conforto mínimo" não basta, mas o novo

modelo dominante deve promover "dispositivos que proporcionem prazeres sensitivos e

emocionais”.

Yaccoub (2011, p. 223) comenta o posicionamento do autor ao afirmar que, nessa

perspectiva, caminha-se, portanto, para um sentido de "personalização e a emocionalização do

conforto" e acrescenta:

[...] o espaço estético, composto por objetos diferenciados, proporciona prazer a partir de uma forma de consumo essencialmente hedonista. O conforto moderno oferece ao corpo emoções, prazeres estéticos (visuais) e sensitivos [...] eleva-se então a uma categoria de conforto ao quadrado, o conforto no conforto, que já não se define exclusivamente por critérios objetivos de economia de tempo e de esforço, mas por qualidades percebidas, hedonistas, estéticas e sensitivas.

Já Bourdieu (2001) busca sistematizar seus conceitos de campo e habitus na

identificação do mercado como um fato social, indicando como os conflitos sociais definem

os agentes, instituem as trocas econômicas e conformam a produção social do mercado – que

se cria na concretude das relações sociais que se estabelecem cotidianamente.

O sociólogo reafirma, assim, a historicidade das práticas econômicas, que se

constituem socialmente, e desenvolve a problemática da distinção dos grupos sociais através

do consumo de bens, que representa a constante disputa pela obtenção de reconhecimento e

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32

legitimidade para poderem manter ou alterar suas posições hierárquicas no contexto social em

que vivem. De acordo com essa reconstrução, a formação da sociedade de consumo

desenvolveu-se ao longo de vários séculos, passando por momentos diversos e consolidando-

se como característica estrutural da vida social a partir do século XIX.

McCracken (2003, p. 22) destaca os diversos aspectos que contribuem para esclarecer

a transformação cultural que se deu na revolução do consumo moderno, dentre os quais:

[...] novas categorias de bens; novos tempos, lugares e padrões de compra; novas técnicas de marketing; novas idéias sobre posse e materialismo, alterações nos grupos de referência, nos estilos de vida, na mobilidade de classe, nos padrões de difusão, no simbolismo dos produtos e nos padrões de tomada de decisão.

Para o autor, no século XIX o consumo engendrava uma constante mudança social

que, por sua vez, “engendrava constantes reformas naquele. A relação dialética entre essas

duas forças originou um mecanismo que ajudou a conduzir a “grande transformação” através

dos séculos XIX e XX. (MCCRACKEN, 2003, p. 49).

Guerra (2010, p. 34) enfatiza “o significado cultural, simbólico e comunicativo

investido nos objetos no contexto do consumo: são esses significados sociais, embutidos nos

diversos bens, que nos possibilitam afirmar o consumo como um fato social, como uma

questão coletiva e cultural”.

O segundo momento desse ciclo histórico das economias de consumo vai se

estabelecer por volta de 1950, identificando-se com a chamada “sociedade da abundância” e

com a “sociedade do consumo de massa”: um momento de grande crescimento econômico,

elevação da produtividade do trabalho, expansão da regulação fordista da economia, elevação

dos salários e do poder de compra de camadas sociais cada vez mais vastas, difusão dos

sistemas de crédito. Nessa nova sociedade que se afirma, o progresso e a felicidade são cada

vez mais associados à melhoria das condições de vida e à aquisição de objetos de consumo.

Inaugura-se uma “sociedade do desejo”, na qual se substitui “a coerção pela sedução, o dever

pelo hedonismo, a poupança pelo dispêndio, a solenidade pelo humor, o recalque pela

liberação, as promessas do futuro pelo presente” (LIPOVETSKY, 2007, p. 35).

Guerra (2010, p. 38) comenta que “além do hedonismo e do trânsito hierárquico social

facilitado [...], os bens de consumo passam a funcionar menos por seu valor de uso que por

seu campo simbólico: eles exibem condições, sendo classificados por meio das categorias de

status que representam.”

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33

1.7 Consumo da nova classe média brasileira

Andrade (2012) assevera que o mercado doméstico brasileiro é um dos dez maiores do

mundo e sua força é essencial para a competitividade da indústria. Os últimos anos

testemunharam um forte crescimento do mercado doméstico com redução das desigualdades

sociais e regionais e transformações profundas no perfil do consumidor brasileiro.

Nesse cenário, Franco (2012), comparando o Brasil aos grupos de países mais

desenvolvidos e ricos, avalia que:

Se compararmos a classe média com um país, pela sua capacidade de consumo, ela estaria no G-20. Se conseguirmos manter políticas que efetivamente garantam a consolidação desse imenso número de brasileiros e possibilite a permanência de sua ascensão, daqui a 10 anos, pela capacidade de consumo, a classe média estará entre os países do G8. Esse é um ativo fundamental para o futuro do país.

Para a Secretaria de Assuntos Estratégicos (BRASIL, 2012), nos últimos 10 anos,

35 milhões de pessoas entraram na classe média – que passou de 38% da população, em 2002,

para 53%, em 2012, somando hoje mais de 100 milhões de brasileiros. Nesse período, o país

desenvolveu e implementou um conjunto de programas sociais reconhecidamente eficazes

para reduzir a pobreza e promover a inclusão produtiva.

Entre 2003 e 2010, foram criados 14 milhões de empregos formais e o salário médio

do trabalhador expandiu-se aproximadamente 20%. Como consequência, mais de 30 milhões

de pessoas ingressaram na classe média.

A expansão desse grupo está promovendo uma revolução no padrão de consumo

brasileiro e conhecer o perfil e os anseios dessa parte da população é essencial para a

definição das políticas públicas e das estratégias das empresas industriais.

Pitol (2012) defende que as transformações sociais e econômicas contribuíram para o

surgimento de uma nova massa consumidora, o que deve resultar na elevação de importância

da classe “C” no universo de potencial de consumo.

Ainda de acordo com a Secretaria de Assuntos Estratégicos (BRASIL, 2012, p. 17),

dados os níveis já intermediários de renda e elevada representatividade na população, a classe

média também tem participação expressiva tanto na renda das famílias quanto no seu

consumo. A despeito do ainda elevado grau de concentração de renda do país, a classe média

responde por 36% da renda e 38% do consumo das famílias:

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34

No contexto mundial, o Brasil representa hoje o 8º mercado consumidor, logo após a Itália; na medida em que a classe média responde por 38% do consumo das famílias brasileiras, se ela fosse um país, representaria o 18º mercado consumidor mundial, logo abaixo da Argentina e da Turquia e acima da Holanda.

Ricci (2011) considera que a emergência da nova classe média brasileira representa o

maior fenômeno sociológico do Brasil, concordando explicitamente com o fato do estudo da

Fundação Getúlio Vargas a partir de duas perspectivas na classificação das classes.

Pomar (2013, p.6) explica que “uma perspectiva consiste na análise das atitudes e

expectativas das pessoas, baseada em George Katona, psicólogo behaviorista, para quem o

combustível seria o anseio de subir na vida, e o lubrificante seria o ambiente de trabalho e de

negócios”.

A segunda perspectiva na definição das classes baseia-se em seu potencial de

consumo. O critério utilizado no Brasil para verificar tal potencial tem sido o acesso e número

de bens duráveis (TV, rádio, lava roupa, geladeira e freezer, vídeo cassete ou DVD),

banheiros, empregada doméstica e nível de instrução do chefe de família, de acordo com

Pomar (2013).

A Figura 4, a seguir, demonstra os fatores que definem a classe média brasileira:

Figura 4 - Fatores que definem a Classe Média (Dados em %) Fonte: Lamounier e Souza (2010)

1.7.1 Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB)

O Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB) ou Critério Brasil,

desenvolvido pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP) desde 1997, é um

instrumento de segmentação econômica que utiliza o levantamento de características

3831 30 27 25 24 23 22

54 5663

58 55 56 5447

712

614 18 19 21

30

010203040506070

Casaprópria

Educaçãouniversitária

Padrão devida estável

Profissão deprestígio

Acesso alazer e

diversão

Renda alta Acesso aboas escolas

Negóciopróprio

Essencial Muito importante Pouco ou nada importante

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35

domiciliares (presença e quantidade de alguns itens domiciliares de conforto e grau

escolaridade do chefe de família) para diferenciar a população.

O critério atribui pontos em função de cada característica domiciliar e realiza a soma

destes pontos. É feita, então, uma correspondência entre faixas de pontuação do critério e

estratos de classificação econômica definidos por A1, A2, B1, B2, C1, C2, D, E. A Tabela 1,

a seguir, correlaciona essa estratificação à renda bruta familiar mensal:

Tabela 1 Estratificação com base econômica

CLASSE RENDA MÉDIA BRUTA FAMILIAR MENSAL EM R$

A 9263 B1 5241 B2 2654 C1 1685 C2 1147 DE 776

Fonte: Elaborada pelo autor, a partir de dados da ABEP (2008)

Ressalte-se que a estratificação apontada distingue duas subclasses da Classe C (1,2)

alteração resultante de uma reavaliação do Critério Brasil realizada em 2008 com o objetivo

de atender a uma demanda recorrente do mercado, por se tratar do maior segmento entre os

cinco utilizados (ABEP, 2008).

Nova atualização do Critério Brasil foi elaborada em 2013, incorporando variáveis

determinantes de consumo tais como educação, ocupação, condições de moradia, acesso a

serviços públicos, ativos financeiros e não financeiros e posse de bens. No que se refere

especificamente ao item posse de bens foram incorporados novos itens (ABEP, 2013).

Os itens integrantes da classificação econômica elaborada pela ABEP são

apresentados na Tabela 2, a seguir:

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36

Tabela 2 Relação dos bens de consumo

QUANTIDADE POSSE DE ITENS 0 1 2 3 4 ou + Microcomputador

0 3 6 8 11

Lava louça 0

3 6 6 6

Banheiro 0

3 7 10 14

Automóveis

0 3 5 8 11

Empregados domésticos

0 3 7 10 13

Lava roupa

0 3 6 6 6

DVD

0 1 3 4 6

Geladeira

0 2 3 5 5

Freezer

0 2 4 6 6

Microondas

0 2 4 4 4

Motocicleta

0 1 3 3 3

Secadora de roupa

0 2 2 2 2

Fonte: Elaborada pelo autor, a partir de dados da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP, 2013)

A partir da soma dos pontos, comparada com faixas de corte, determina-se o estrato

social da família como na Tabela 3, a seguir:

Tabela 3 - Critério Brasil: faixas de corte por bens de consumo ESTRATO

NÚMERO DE PONTOS

ESTRATO 1

43-100

ESTRATO 2

37 - 42

ESTRATO 3

26-36

ESTRATO 4

19-25

ESTRATO 5 15-18

ESTRATO 6

11-14

ESTRATO 7

0-10

Fonte: Elaborada pelo autor, com base em dados da ABEP (2013-2014)

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Ressalte-se que o Critério Brasil modificou a terminologia até então adotada para a

segmentação social em sua versão mais atualizada (ABEP, 2013-2014).

1.7.2 Pesquisa Cetelem/IPSOS

Outro estudo sobre o consumo da classe média brasileira foi realizado pela Cetelem

BGN (CETELEM/IPSOS, 2012), gerando o relatório O Observador 2012 – Conheça o Perfil

dos Consumidores Brasileiros –, segundo o qual, no ano de 2011, a renda total dos brasileiros

aumentou e tal movimentação foi gerada pela elevação da renda da Classe “C”, que

apresentou um aumento de renda disponível histórico de R$ 243 em 2010 para R$ 363 em

2011, atingindo um patamar de elevação de 50 por cento nessa variável. Dessa maneira, a

elevação na renda disponível significa capital excedente que pode ser poupado ou direcionado

a novo consumo.

A ascensão de parte da população a uma nova categoria melhora a economia do país

ao possibilitar a ampliação do consumo e do acesso ao crédito. Foram pesquisadas 1,5 mil

pessoas com mais de 16 anos de idade em 70 cidades de nove regiões metropolitanas,

representando 74% da população do País, no período de 24 a 31 de dezembro do ano passado

(IPSOS, 2011).

A renda média declarada pelos pesquisados foi R$ 809, valor 48,44% maior que o

registrado na primeira pesquisa, feita em 2005 (R$ 545). O item renda disponível, que aponta

o rendimento total da família excluído os gastos, aumentou 45,22% em relação a 2009,

somando R$ 200,64 no ano passado. Esses dados são apresentados na Figura 5.

Figura 5 - Renda disponível por classe de consumo (2005-2010) Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados da CETELEM/IPSOS (2011)

632

122

-17

518

191

2

506

14722

834

212

69

680

204

61

991

243

104

-200

0

200

400

600

800

1000

1200

Classe AB Classe C Classe DE

R$

2005 2006 2007 2008 2009 2010

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1.7.3 Pesquisa da Federação do Comércio (FECOMERCIO, 2012)

Esse cenário de expansão do consumo pela chamada nova classe média brasileira

levou a Federação do Comércio (FECOMERCIO/SP, 2012, p. 4) a elaborar estudo com a

finalidade de:

Abordar o comportamento recente do consumo das famílias e, ao mesmo tempo, aprofundar-se na causa primária que vem, ao longo dos últimos anos, dando sustentação ao ciclo de crescimento da demanda familiar, que reside nas fortes mudanças da estrutura socioeconômica observadas nas últimas décadas.

Especificamente, o estudo objetivou:

[...] identificar o potencial e os riscos do varejo e do setor empresarial privado em geral, face às mudanças macroeconômicas projetadas e, também, mapear de maneira clara a evolução da renda, a mobilidade social e as tendências de varejo e, ainda, revelar o novo consumidor do século XXI a partir de dados [...] do IBGE, o crescimento entre 2,5% e 3% da produtividade média até 2020 fará o PIB brasileiro crescer mais de 40% em termos reais (FECOMERCIO, 2012, p.5).

1.7.4 Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF, IBGE, 2009)

Os dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF, IBGE, 2009) revelam que,

com a melhora significativa no número de empregados no Brasil, as pessoas passaram a

diminuir o tempo em casa e, com isso, alimentam-se mais fora de seus domicílios: “Para se ter

uma ideia, o gasto médio com alimentação fora do domicílio em 2003 era de R$ 114,59 por

mês e passou para R$ 145,59 em 2009, aumento de 26,6%” (IBGE, 2009).

Tais dados apontam que as famílias brasileiras gastaram 4,2% a mais na média mensal

com carne de boi de primeira e reduziram em 11,8% o dispêndio com frango, fato que ilustra

que as famílias estão se alimentando mais e com melhor qualidade.

O movimento de melhoria no consumo é igualmente demonstrado na relação entre

óleo de soja e azeite de oliva. O primeiro teve seu consumo médio mensal reduzido em 45,5%

entre 2003 e 2009, enquanto o segundo teve elevação de 13,8% na comparação com o mesmo

período.

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39

Além da melhoria no consumo da alimentação foi melhorada, as famílias também

gastaram mais em bens de alto valor como aparelho celular, eletrodoméstico e até mesmo

automóvel.

O gasto médio mensal com telefone celular elevou-se em 63,6% entre 2003 e 2009,

saindo de R$ 17,68 mensais por família para R$ 28,93. Quando se observa a classe média, por

exemplo, o aumento é ainda maior, de 70% (IBGE, 2009).

Para o segmento de eletrodoméstico, a alta geral foi menor do que com os gastos com

telefonia móvel, devido ao valor agregado mais elevado. Na média nacional houve aumento

de 15,5% na comparação dos seis anos. Próximo a essa variação está o ocorrido na compra de

automóveis. O incremento no gasto médio mensal foi de 21,6%( IBGE, 2009).

Isso se deve não só ao avanço da tecnologia e à valorização do real como à maior

facilidade no acesso ao crédito e aumento no poder de compra da população, o que

possibilitou tornar bens considerados de elite em bens populares.

1.8 Acesso a crédito

Acesso ao crédito e às compras financiadas são operações cujas percepções e práticas

variam fortemente entre os diferentes grupos sociais do país. De acordo com a pesquisa

elaborada pela IPSOS/2011e apresentada no relatório O Observador - Conheça o Perfil dos

Consumidores Brasileiros (2011), para compras financiadas, apenas 26% dos brasileiros

afirmaram comparar diferentes taxas de juros na hora de comprar. Essa característica está

presente entre os brasileiros das classes AB. Enquanto 35% deles afirmaram comparar

diferentes taxas de juros, essa proporção cai para 27% e 17% quando são analisadas as classes

C e DE, respectivamente.

Na hora de fazer um financiamento, a taxa de juros é a grande preocupação das classes

AB, já o valor das parcelas destaca-se, proporcionalmente, como uma preocupação maior

entre as pessoas das classes C e DE.

Nesse contexto, a FECOMERCIO (2012, p. 21) considera que:

As condições socioeconômicas estão melhores, o que proporciona um bem estar para a população com a confiança de que hoje há facilidade na compra de um bem de alto valor agregado, com as mais diversas formas de pagamento e, o melhor, tendo uma perspectiva profissional e financeira positiva. Isso faz com que as pessoas contraiam crédito de médio e longo prazo com a confiança de que poderão quitar o financiamento.

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40

A magnitude dos dados econômicos que fundamentam a melhoria das condições

sociais brasileiras é ilustrada pelo aumento de 212% do volume de crédito total para as

pessoas físicas e jurídicas, com recursos livres, em termos reais, o que significa uma média de

crescimento real de 12% ao ano. Em 2009, o volume de crédito já havia ultrapassado

R$ 1 trilhão, ou seja, praticamente o total do potencial de consumo da classe média brasileira,

como ilustra a Figura 6, a seguir:

Figura 6 - Operações de crédito com recursos livres e direcionados Fonte: Ministério da Fazenda (2010)

Alves (2011) explica que os dados da Figura 6 mostram o crédito total disponibilizado

pelo sistema financeiro nacional (em bilhões de reais) e a sua equivalência em percentagem

do PIB. O total do crédito (direcionado e livre) passou de R$ 357 bilhões, em 2002

(representando 25% do PIB), para 1,5 trilhão, em 2010 (44%do PIB).

O autor destaca “que o “crédito consignado” – que permite aos bancos descontar

empréstimos em parcelas mensais retiradas diretamente da folha de pagamentos do

assalariado ou do aposentado – criado em 2004, colocou em circulação dezenas de bilhões de

reais, usados para aumentar o consumo popular” (ALVES, 2011, p. 1).

A FECOMERCIO/SP (2012, p. 25) assevera que:

[...] produtos antes desejados, mas distantes da realidade, passam agora a integrar o dia a dia dessas pessoas. Bens duráveis, tais como eletroeletrônicos, eletrodomésticos e veículos, são alguns dos produtos que foram adquiridos por estes novos consumidores, principalmente via crédito. Da mesma forma, alguns gastos com serviços também passaram a existir, tais como acesso a internet, TV por assinatura, telefone celular, saúde e cuidados pessoais e educação.

0

200

400

600

800

1000

1200

2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002

Bilhões de Reais

Crédito Livre

Crédito Direcionado

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41

No campo dos bens de consumo, a evolução se dará na forma de aquisições de grande

valor agregado, principalmente nos equipamentos para o lar, automóveis e acessórios

pessoais. Do lado dos serviços, a tecnologia está imprimindo um ritmo acelerado de mudanças

que praticamente exige um novo formato de conexão entre todos os consumidores.

Com a renda do trabalhador crescendo, alguns itens que antes não eram consumidos

pelos trabalhadores, passam a ser uma opção; então produtos como educação, saúde, lazer e

eletrodomésticos, ganham importante espaço em seus gastos diários, ao mesmo tempo em que

alguns outros itens, tendem a se estabilizar, primeiramente por serem produtos com

características inelásticas, como transporte, vestuário e alimentação (FECOMERCIO, 2001).

Entre os ativos, há uma crescente demanda nos últimos anos, como nos mostra a

Tabela 4, a seguir:

Tabela 4 - Bens duráveis existentes em domicílios

Ano Fogão Geladeira Lavad./ roupa TV

2001 97,61% 85,09% 33,62% 89,03%

2002 97,73% 86,61% 33,86% 89,92%

2003 97,58% 87,26% 34,29% 90,00%

2004 97,49% 87,31% 34,29% 90,26%

2005 97,51% 87,86% 35,57% 91,32%

2006 97,67% 89,09% 37,26% 92,98%

2007 98,09% 90,69% 39,19% 94,41%

2008 98,23% 92,06% 41,52% 95,13%

2009 98,40% 93,41% 44,33% 95,67%

Fonte: Elaborada pelo autor, com base em dados do IBGE (2009)

Um dos ingredientes do sonho de consumo dessa nova classe média é o automóvel.

Conforme o Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN, 2010), em todo o Brasil,

entre 2001 e 2009, as vendas de carros novos dobraram, como demonstra a Figura 7, a seguir:

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42

Figura 7 - Venda de veículos no Brasil Fonte: DENATRAN (2010)

A pesquisa CETELEM/IPSOS (2012) indica que a maioria dos entrevistados, 53%, se

mostrou otimista e declarou a intenção de consumir mais em 2013 do que consumiu no ano

anterior. Para 52% das pessoas ouvidas, haveria crédito suficiente para bancar as compras e

39% projetavam a expectativa de novo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), que é a

soma de todas as riquezas geradas no País.

O nível de contentamento do brasileiro foi o mais alto entre os 13 países onde a

mesma pesquisa é feita. Os brasileiros também estão utilizando cada vez mais a internet para

pesquisar produtos que deseja comprar, mesmo que a aquisição seja feita posteriormente em

uma loja física. E, 26% disseram ter cautela para escolher quem oferece as melhores taxas de

juros em compras financiadas (IPSOS, 2011).

Comparado a 2009, cresceu a proporção de brasileiros que querem comprar móveis, de

34% para 40%. Na segunda posição do rol de desejos de consumo aparecem os

eletrodomésticos (crescimento de 34% para 38% no período), seguido por viagens e lazer (de

28% para 32%).

Ricci (2011) considera que a classe C se encontra em um momento de transição. Na

medida em que a nova classe C passe a adquirir outros bens, comece a viajar mais, também os

padrões podem mudar e, dessa forma, as culturas e seus valores. É nesse sentido que se situa o

capítulo dois deste relatório de pesquisa, a seguir, que trata do Turismo sob uma abordagem

sistêmica.

0

1.000.000

2.000.000

3.000.000

4.000.000

5.000.000

6.000.000

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009

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43

2 VISÃO SISTÊMICA DO TURISMO

Este capítulo aborda as diversas interpretações do Turismo, apontando os aspectos

sociais, culturais e simbólicos presentes em sua cronologia e na amplitude de conceitos da

atividade turística. Em seguida, apresenta o Sistema de Hospitalidade, com ênfase no perfil

dos turistas. Segue-se a estrutura do Turismo, traçando seus princípios e práticas, enfatizando,

dentro de uma visão sistêmica, seus aspectos econômicos.

2.1 Considerações sobre o fenômeno Turismo

Beni (2003) identifica três tendências para o Turismo: a econômica, a técnica e a

holística. As definições econômicas só reconhecem as implicações econômicas ou

empresariais do Turismo e incluem: a) a propensão a viajar é um ato humano; b) a recreação é

uma atividade desenvolvida por indivíduos, isolada ou grupalmente: c) os deslocamentos são

atos que compreendem gastos e receitas: d) o consumo de bens e serviços turísticos pode

enquadrar-se em mais de uma atividade econômica; e e) a geração de riqueza por meio de um

processo produtivo é clara e tipicamente uma atividade econômica. As definições técnicas que

desde a década de 1930, as organizações governamentais e empresas de turismo vinham

tentando definir o tamanho e as características dos mercados turísticos. Para fazer isso,

precisavam de uma definição de turista. Em 1963, as Nações Unidas patrocinaram uma

Conferência sobre Viagens Internacionais e turismo, realizada em Roma, que recomendou

definições de “visitantes” e “turista” para fins de estatísticas internacionais, e concluiu: “Para

propósitos estatísticos, o termo ‘visitante’ descreve a pessoa que visita um país que não seja o

de sua residência, por qualquer motivo, e que nele não venha a exercer ocupação

remunerada”.

Esta definição inclui:

Turista – visitante temporário que permanece pelo menos vinte e quatro horas no país

visitado.

Excursionista – visitante temporário que permanece menos de vinte e quatro horas no

país visitado (incluindo viajantes de cruzeiros marítimos).

Definições holísticas, estas procuram abranger a essência total do assunto. Os

professores suíços Hunziker e Krapf, em 1942, definiram turismo como: A soma dos

fenômenos e das relações resultantes da viagem e da permanência de não - residentes, na

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medida em que não leva à residência permanente e não está relacionada a nenhuma atividade

remuneratória.

Beni (2003, p. 35) considera que ocorre:

[...] uma agregação de valores aos diferenciais turísticos naturais e culturais, e não uma transformação tangível e concreta na matéria-prima original. O produto turístico final para a venda e pós-venda é de natureza compósita e agregada. O processo de agregação de valores inicia-se na aquisição dos atrativos turísticos, continua nos meios de transporte, hospedagem, alimentação, serviços de recreação e entretenimento, e termina na fruição do roteiro.

O autor distingue três linhas de análise teórica da atividade turística. A primeira se

coloca na perspectiva da produção e envolve uma pluralidade de empresas que atuam no

setor. A segunda refere-se à distribuição do produto ao consumidor, enquanto a terceira

consiste em identificar e estabelecer as condicionantes do viajante, a estrutura de gastos e a

estratificação econômica do consumidor (BENI, 2003).

Para melhor compreensão das três linhas de análise teórica da atividade turística, Beni

(2003, p. 38) esclarece:

[...] pode-se dizer que a primeira linha procura saber quais são os segmentos produtivos e as empresas que devem ser considerados essencialmente como “turísticos”, e que integram o setor Turismo na economia; a segunda procura definir as relações do Turismo com o resto da atividade econômica, para o que se serve das definições dele provenientes da primeira linha de análise teórica, que considera a atividade a partir do lado da oferta, e a última dessas linhas, que o faz a partir da demanda é a principal causa da grande variedade de conceitos, todos eles válidos enquanto se circunscreverem aos campos em que é estudado.

Tribe (2003) apresenta três interpretações de Turismo. A primeira delas refere-se ao

fenômeno social praticado pelos turistas; a segunda dá conta do estudo do fenômeno,

enquanto a terceira refere-se aos programas de ensino e capacitação para trabalhar atendendo

os turistas.

O Turismo como fenômeno apresenta aspectos econômicos, administrativos,

psicológicos, sociológicos, culturais, assim como dimensões relacionadas: turistas, negócios,

comunidade local, ambiente local, governo local, país emissor (Tribe 2003).

Cooper et al (2001) analisam a atividade turística a partir de três grandes dimensões:

a) ambiental; b) sociocultural e c) econômica, apontando efeitos positivos e negativos

decorrentes da atividade turística.

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A dimensão ambiental apresenta como efeitos positivos: a) incentivo à preservação e à

recuperação de áreas naturais (um dos principais atrativos turísticos); b) arrecadação

financeira direta (ingressos em unidade de conservação e doações para preservação); c)

aperfeiçoamento do planejamento e do gerenciamento ambiental; d) disseminação da

conscientização ambiental e f) geração de empregos alternativos (COOPER et al., 2001).

A dimensão econômica tem os seguintes efeitos positivos: a) efeito multiplicador (de

renda, emprego e de arrecadação governamental); b) contribuição para superávits no balanço

de pagamentos; c) estímulo a investimentos internos e externos; d) geração de empregos

(diretos e indiretos); e) redistribuição regional de renda; f) aumento da arrecadação (direta e

indireta) governamental (impostos, taxas, entre outros) e g) recuperação de locais com

economias decadentes (COOPER et al., 2001).

A dimensão sociocultural, tem como efeitos positivos: a) preservação das tradições e

de sua autenticidade; b) preservação e recuperação do patrimônio histórico, cultural e

religioso; c) melhoria das condições de vida em função dos investimentos em infraestrutura

básica e serviços; d) limpeza pública, saúde, segurança, comunicação; e) eliminação das

diferenças culturais por meio do intercâmbio cultural; f) disseminação da paz entre os povos e

g) possibilidade de despertar um sentimento de unidade nacional por meio do Turismo

doméstico (COOPER et al., 2001).

2.2 Conceitos de Turismo

Diante da complexidade do fenômeno Turismo e suas múltiplas dimensões e

interpretações, elaboraram-se, ao longo do tempo, definições as mais diversas.

Moesch (2000) conceitua Turismo como:

Combinação complexa de inter-relacionamentos entre a produção e serviços, em cuja composição integra-se uma prática social com base cultural, com base histórica, a um meio ambiente diverso, cartografia natural, relações sociais de hospitalidade e trocas de informações culturais. O somatório desta dinâmica sócio-cultural gera um fenômeno, recheado de objetividade/subjetividade, consumido por milhões de pessoas, como síntese: o produto turístico.

Cooper et al. (2001, p. 40) definem Turismo como:

[...] uma ampla gama de indivíduos, empresas, organizações e lugares, que se combinam de alguma forma para proporcionar uma experiência de

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viagem. O turismo é uma atividade multidimensional e multifacetada, que tem contato com muitas vidas e atividades econômicas diferentes.

Panosso Netto (2009) opina que não se pode considerar qualquer conceito de Turismo

como errôneo ou inadequado. A conceituação do Turismo não pode se limitar a uma simples

definição, pois que este fenômeno ocorre em distintos campos de estudo, em que é explicado

conforme diferentes correntes de pensamento, e verificado em contextos vários da realidade

social. O Quadro 2, a seguir, sintetiza a conceituação de Turismo ao longo do tempo:

Quadro 2 Definições de Turismo

Schullern (1911) “conceito que compreende todos os processos, especialmente os econômicos, que se manifestam na chegada, na permanência e na saída do turista de um determinado município, país ou estado”.

Glücksmann (1929) “uma ocupação de espaço por pessoas que afluem a determinada localidade, onde não possuem residência fixa”.

Schwink (1930) “ conjunto de viagens cujo objetivo é o prazer, motivos comerciais ou profissionais, e durante os quais a ausência da residência habitual é temporária”

Bormann ( 1930) “ tráfego de viajantes de luxo que visitam lugares fora de residência fixa e procuram apenas a satisfação de uma necessidade de luxo”

Liga das Nações (1937) “ viagem durante 24 horas ou mais por qualquer país que não aquele da sua residência habitual”

Hunziker e Krapf (1945) “soma de fenómenos e relações que surgem das viagens e da permanência de não residentes, desde que não estejam ligados a uma actividade remunerada”

ONU (1945) “viagem superior a 24 horas e até 1 ano , por qualquer país que não aquele da sua residência habitual”

Burkart e Medlik (1981) “os deslocamentos curtos e temporais das pessoas para destinos fora do lugar de residência e de trabalho e as atividades empreendidas durante a estada nesses destinos”.

Mathienson e Wall (1982)

“o movimento provisório das pessoas, por períodos inferiores a um ano, para destinos fora do lugar de residência e de trabalho, as atividades empreendidas durante a estada e as facilidades que são criadas para satisfazer as necessidades dos turistas”.

Organização Mundial de Turismo / Nações Unidas

(1994)

“as actividades que as pessoas realizam durante as suas viagens e permanência em lugares distintos do seu entorno habitual, por um período consecutivo de tempo inferior a um ano, com fins de lazer, negócios e outros”

Fonte: Elaborado pelo autor com base em dados da OMT (2001), Cooper et al. (2001) e Beni (2003).

A Organização Mundial do Turismo (OMT, 2001, p. 38) considera a definição dada

pelo Órgão em 1994 “uma definição ampla e flexível que concretiza as características mais

importantes do Turismo”.

Tais características incluem, de acordo com a OMT (2001): a) introdução dos

possíveis elementos motivadores de viagem: lazer, negócios ou outros; b) nota temporária do

período por um ano, período realmente amplo, máximo se comparado com o tempo normal de

duração dos vistos de viagem para Turismo dados pelos governos – três meses- ou com a

periodicidade prevista por algumas legislações para delimitar o que se considera habitual –

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seis meses; c) delimitação da atividade desenvolvida antes e durante o período de estada; e d)

localização da atividade turística como a atividade realizada fora do seu entorno habitual.

A OMT (2001) aponta os elementos comuns às diversas definições de Turismo: a)

existência de um movimento físico dos turistas, que, por definição, são os que se deslocam

fora de seu lugar de residência; b) temporalidade da estada no destino; e c) atividade turística

compreendida tanto como a viagem até o destino como as atividades realizadas durante a

estada.

Paralelamente ao conceito de Turismo, impõe-se o de Turista. A esse respeito, Beni

(2003, p.35) informa que “a primeira dessas definições [...], adotada pela Comissão de

Estatística da Liga das Nações, em 1937, referia-se ao turista internacional como “a pessoa

que visita um país que não seja o de sua residência por um período de, pelo menos, vinte e

quatro horas”. Tal definição tornou-se a base de todas as definições posteriores.

2.3 Percurso do Turismo ao longo do tempo

O homem sempre se deslocou no espaço por razões diversas, como guerras, religião,

saúde, conquistas territoriais, interesses materiais entre outras. Não houve, entretanto, um

processo contínuo, sem rupturas e formas fundamentalmente diversas de satisfazer essas

necessidades. Mudanças de sensibilidade, sociabilidades distintas, infraestrutura de serviços e

transportes se articulam de maneira diversa daquelas do passado das sociedades pré-

industriais (CAMARGO, 2001).

Na Antiguidade, o crescimento das cidades gregas ao longo da costa facilitou o

desenvolvimento do transporte marítimo e, por consequência, a realização de viagens. O

lazer, entretanto, não foi o que motivou o povo da Grécia a viajar. Yasoshima e Oliveira

(2002) esclarecem que o modo austero da vida helênica impedia o ócio e o divertimento. Suas

viagens foram motivadas por peregrinações a Olímpia, de quatro em quatro anos, para os

jogos dedicados a Zeus, a partir de 776 a.C.

Yasoshima e Oliveira (2002, p.20) comentam que os romanos, ao contrário dos

gregos, privilegiavam “todas as formas de prazer, que a existência podia comportar, aí

também enquadrados os prazeres das viagens”.

Como um vasto império controlado por uma autoridade central, Roma propiciava aos

viajantes uma eficiente distribuição de trabalho, uma eficiente rede de transportes e

comunicação criados pelos romanos e pela fé em um modo de vida superior:

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A viagem de lazer antiga implicava a variedade e a diversidade dos momentos. Os passeios, as leituras e as conversações se alternavam com a pesca e os banhos sulfurosos [...] certos romanos, pertencentes à elite, viajavam por prazer para a Grécia e o Egito e utilizavam os guias de viagens conhecidos como periegeses, precursores dos guias turísticos atuais. Nesses guias eles encontravam informações sobre as cidades que iriam visitar, seus monumentos, atrativos, modos de vida e costumes de seus habitantes (YASOSHIMA,OLIVEIRA, 2002, p. 25).

Com a queda do Império Romano em 476 d.C., houve um retrocesso no

desenvolvimento das viagens. Segundo Yasoshima e Oliveira (2002, p. 32), as poucas viagens

realizadas naquele período estavam associadas a feiras e peregrinações. Para isso, a Igreja

“abraçou um grande desafio de construções, particularmente na França, onde novas igrejas e

catedrais foram erguidas e se tornaram grandes atrativos”.

Os autores relatam peregrinações a Jerusalém, realizadas no século II e III d.C., para

visitar a Igreja do Santo Sepulcro, construída em 326 d.C. pelo Imperador Constantino, o

Grande (YASOSHIMA, OLIVEIRA, 2002).

O hábito de viagens sazonais desenvolve-se mais amplamente a partir do

Renascimento, período em que, segundo Boullón (1990), as práticas culturais e artísticas

impulsionaram o deslocamento geográfico realizado com objetivos de entretenimento e de

formação cultural específica.

A era renascentista coincidiu com a expansão marítima europeia, com intenção

comercial, incentivando desde cedo artistas e escritores a precipitarem-se para além do mar, a

fim de satisfazerem o desejo da população de conhecer as paisagens e os habitantes das terras

recém-descobertas (GOMBRICH, 1999).

O século XVI testemunhou as viagens realizadas pelos jovens da elite acompanhados

de seus mestres exclusivos. Com a expansão comercial, o século XVI assiste a criação do

primeiro hotel do mundo, o Wekalet-AL-Ghury, no Cairo, Egito, para atender mercadores

(BADARÓ 2003).

No século XVII, os transportes terrestres alcançam consideráveis melhoras, inventou-

se a belina, um meio de transporte com duas poltronas e mais veloz, e a diligência com

serviços regulares de Frankfurt a Paris e de Londres a Oxford. Há também registros da

construção do primeiro pedágio, em Hertfordshire, Inglaterra, 1663, como estratégia para a

manutenção e conservação das estradas que em alguns países era feita pelos donos da terra

por onde elas passavam (SALGUEIRO, 2002).

Tais iniciativas relacionadas ao Turismo constituíram um prelúdio para um novo tipo

de viajante e de viagem representados pela retomada do Grand Tour em maior escala.

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2.3.1 Do Grand Tour ao turismo globalizado

De acordo com Salgueiro (2002, p.2), um novo tipo de viajante surge no século XVIII

em conexão com as transformações econômicas e culturais na Europa do Iluminismo:

Trata-se aqui não do viajante de expedições de guerras e conquistas, não do missionário ou do peregrino nem do estudioso ou cientista natural, ou do diplomata em missão oficial, mas sim do grand tourist, o viajante amante da cultura dos antigos e de seus monumentos, com um gosto exacerbado por ruínas, dispondo acima de tudo de recursos e tempo nas primeiras viagens registradas pela historiografia da prática social de viajar por puro prazer e por amor à cultura.

A viagem por prazer, não como um ato isolado por um ou outro viajante mais

excêntrico e curioso, mas sim como um fenômeno social, configurando fluxos com origens e,

sobretudo, destinos específicos, começou a assumir seus contornos já ao final do século 17,

tornando-se mais e mais frequente.

Viagens sempre atraem mais viagens e a ampla convicção de que um grande número

de pessoas estava viajando contribuía para ampliar a percepção da importância social do

Grand Tour, despertando o interesse de novos turistas (SALGUEIRO, 2002).

Ao final do século 17, o turismo era essencialmente praticado por filhos da aristocracia

e da chamada gentry (pequena nobreza). Segundo Yasoshima e Oliveira (2002), somente no

século 18 um tour continental veio de fato tornar-se parte essencial da educação de todo

inglês de posse por todo o século, sendo interrompido apenas durante a Guerra dos Sete Anos

(1756-1763), cujo término marcou a retomada dos Grand Tours em escala ainda maior. A

ideia de prazer no período observado envolvia ganhar novos horizontes físicos e culturais, ao

menos entre os mais afortunados (YASOSHIMA e OLIVEIRA, 2002).

Salgueiro (2002, p. 292) informa que o verdadeiro Grand Tour envolvia

essencialmente, além de uma viagem a Paris, um circuito pelas principais cidades italianas —

Roma, Veneza, Florença e Nápoles —, nessa ordem de importância. Roma era o ponto alto, o

apogeu do Grand Tour, com o qual o viajante podia dar-se por realizado. Caso o viajante não

conseguisse chegar a Roma, havia uma diminuição de seu status social.

Não eram poucas as dificuldades enfrentadas. Às vezes faltavam hospedarias, restando

a alternativa da hospedagem familiar. Nessas circunstâncias, contatos com pessoas do lugar

tornavam-se parte da viagem, com acertos e negociações tendo de ser feitos a todo o momento

para atender às necessidades mais básicas do turista, como mostra o trecho a seguir:

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Por mar, havia o risco de tempestades, piratas e o inconveniente de ventos contrários que implicavam atrasos na partida de até mais de um dia. Somavam-se a tudo isso as más acomodações disponíveis nas embarcações, desestimulando a viagem marítima de tal modo que a maioria dos viajantes acabava preferindo viajar por terra, cruzando os Alpes. A rota mais comum de Lion para Turin era passando pelo Monte Cenis, uma passagem totalmente inviável para o tráfego de veículos de roda, sendo por isso necessário desmontar a carruagem e transportar toda a tralha, inclusive a bagagem, no lombo de mulas, enquanto o viajante era mais provável de ser carregado por robustos carregadores montanheses em cadeiras de viagem do tipo de liteiras. (BLACK, 1985, apud SALGUEIRO, 2002, p. 293).

Os sacrifícios da viagem eram recompensados pela possibilidade de ampliar o

conhecimento sobre a história e a arte dos antigos. O objetivo do Grand Tour pressupunha a

elaboração de um diário de viagem, e a ilustração dos monumentos observados. A escrita do

diário e a ilustração faziam parte de um ritual metodológico cujo ponto alto era a sua

publicação, ao retorno do viajante, o que ampliava o conhecimento e despertava o interesse

dos leitores para novos projetos de viagem e novos conhecimentos (SALGUEIRO, 2002).

Os fluxos de turismo pela Europa continental no século XVIII em direção à península

itálica e, mais particularmente, visando à cidade de Roma, se serviram, no início, da rede de

comunicações existente para o transporte de correspondência e mercadorias, com o uso de

embarcações e carros postais, postos de correios para troca de animais e estradas existentes

para esses serviços (SALGUEIRO, 2002).

Guias turísticos, também, eram ainda informalmente contratados pelo viajante,

individualmente em cada lugar. Com o passar do tempo, o turismo aristocrático do Grand

Tour foi gradativamente gerando uma infraestrutura turística voltada a seu público. Pouco a

pouco as atividades de transporte, hospedagem e de guia foram se estruturando em serviços

especializados, até se tornarem campos de atuação profissional.

Beni (2003) relata que, em meados do século XVIII, as transformações provocadas

pela Revolução Industrial começaram a contribuir para o estabelecimento do turismo tal como

é conhecido na atualidade. O século XIX foi marcado por profundas mudanças econômicas e

sociais, com os trabalhadores migrando das áreas rurais de agricultura básica para as áreas

urbanas, onde se localizavam as fábricas. A nova tecnologia da máquina a vapor, a princípio

implantada nas fábricas de forma estacionária, foi aplicada aos navios e ao trem.

Beni (2003) aponta as principais vertentes do Turismo moderno: termalismo,

cassinismo, paisagismo e montanhismo. O movimento mais conhecido no século XIX foi,

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sem dúvida, o termalismo, cujo fluxo de pessoas aos balneários produziu a conversão destes

lugares para o prazer e o descanso.

Rejowski et al (2002. p. 45) ressaltam que o ressurgimento do termalismo antecede o

século XVII, mas que foi:

a partir da metade dele que a forma de usufruí-lo sofre modificações, aliando-se saúde com entretenimento (teatros, bibliotecas, jogos, etc.). Tais atividades surgiram para preencher o tempo ocioso dos usuários, uma vez que se dedicavam ao tratamento por períodos de 15 a 25 minutos diários.

Enquanto na Antiguidade os frequentadores das termas incluíam ricos, pobres e até

mesmo os animais, no turismo moderno alguns nobres, passaram a explorar comercialmente

suas fontes, fornecendo também alojamento, alimentação e diversão a seus frequentadores que

passaram a ser Reis, Rainhas, Chefes de Estado, Cardeais e a alta nobreza.

Beni (2003) relata que o surgimento das chamadas viagens “românticas” constitui o

marco turístico do século em questão, momento em que os Alpes Suíços que antes eram

descritos como “horríveis”, ganham status de “belo” e a Suíça se torna a maior atração da

Europa, especialmente a partir da prática do esqui.

Enquanto isso, o jogo começava a fazer a fortuna de Monte Carlo: em 1872, Mônaco

recebia 10 mil visitantes; as receitas brutas semanais elevaram-se a mais de dois milhões de

francos; havia 443 apartamentos “móveis” (de temporada), 35 hotéis e 116 vilas (BENI,

2003).

Também era comum desfrutar das “residências campestres”, buscando os

compromissos sociais e momentos de uma vida bucólica, constituindo um movimento

denominado paisagismo.

Como já visto, a “classe turística” por excelência até meados do século XIX, era a

aristocracia. Na segunda metade do século, a burguesia em ascensão também procurou imitar

esse modelo, construindo e adquirindo casa de campo. Ainda nesse período, San Sebastian,

sobre a costa basca, na Espanha, Biarritz, na França, Cascais e Estoril, em Portugal,

começaram a receber, no verão, a corte, o governo e a nobreza da Europa, provocando o

nascimento dos primeiros balneários litorâneos (BENI, 2003).

No final do século XVIII e início do século XIX, a sociedade, a economia e a política

vivem um período de grandes transformações com a Revolução Industrial. Badaró (2003)

explica que a invenção da máquina a vapor de motivou o êxodo rural, o consequente inchaço

das cidades e o avanço do capitalismo industrial.

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Nesse contexto, ocorreu o aumento da produção e do consumo, bem como a

necessidade de escoamento da produção, acarretando uma melhor conservação das estradas e

o aumento da circulação de pessoas.

Barreto (2008) assevera que o desenvolvimento do turismo no século XIX deve-se a

fatores tais como o estabelecimento de polícia regular, a salubridade e esgotos em várias

cidades européias pelo tratamento das águas, e o aumento no índice de alfabetização do povo

que possibilitou maior acesso às informações e estimulou o desejo de viajar.

Diferentemente do Grand Tour, viagens realizadas por jovens aristocratas com o

objetivo de educação e formação particularizada, o turismo apresenta prontamente uma

estrutura de consumo, hospedagem e restauração ao redor da experiência (CASTRO, 2001).

Com a consolidação de posições cada vez mais influentes social e politicamente, por

parte dessa classe de comerciantes, tanto a infraestrutura quanto os meios de transporte foram

desenvolvidos no intuito de facilitar as viagens comerciais, cuja mecânica permitiu a

ampliação da atividade turística e sua periodicidade.

Segundo Cheibub (2012), com a Revolução Industrial, o modo de viver e o perfil das

cidades modificaram-se completamente. A luz elétrica prolongou o dia; as relações de

trabalho reestruturaram-se, gerando dinheiro e tempo livres para uma crescente classe média

urbana; os deslocamentos tornaram-se mais rápidos; sistemas de comunicação que atingiam

um público crescente e em tempo cada vez mais imediato acabaram por tornar gradativamente

o mundo menor.

O século XX foi palco de duas grandes guerras mundiais, consequência de disputas de

ordem econômica. Entre as duas guerras, de acordo com Barreto (2008), as férias

remuneradas tornaram-se uma realidade para grande parte da população europeia, permitindo

que outras classes sociais menos favorecidas economicamente também começassem a viajar.

A viagem de férias passou a ser aspiração de todas as classes sociais, facilitada pela

implantação do sistema de crediário.

Gabrielli (2006) informa que, na década de 1950, verifica-se um crescimento

considerável dos investimentos de grupos empresariais diversos, atraídos pela abertura de

investimentos na área turística. Essa intervenção acarreta um modelo de produção

padronizador do capitalismo, aplicado ao turismo, culminando com a criação de produtos

turísticos e de pacotes turísticos como símbolo da padronização da oferta nessa atividade.

Acresça-se a esse fator a influência do desenvolvimento tecnológico, facilitador do

incremento nos meios comunicacionais, de transportes e de informações, essenciais para o

desenvolvimento do turismo no mundo todo.

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A proliferação das rodovias e a massificação do automóvel e do avião de passageiros

foram determinantes ao diminuírem as distâncias, facilitando o acesso das pessoas aos mais

variados espaços de lazer e intensificando o fluxo turístico mundial (CHEIBUB, 2012).

Salqueiro (2002, p. 310) ressalta a essencial diferença no plano da relação

lazer/trabalho entre o Grand Tour e o turismo de massa dos dias atuais:

Uma característica essencial dos Grand Tours era o fato de que as viagens não se davam em conexão com o trabalho. Na verdade, o grand tourist era rico, um privilegiado cujas viagens não eram custeadas pelas economias do seu trabalho. Isso, contudo, é bem diferente do que veio a ocorrer com o turista moderno aquele do chamado turismo de massa que se expandiu na Europa ao longo do século 19 até os dias de hoje, com muitos "pacotes" para todos os orçamentos.

A racionalização do tempo na sociedade capitalista moderna criou uma separação

entre lazer e trabalho que o grand tourist desconhecia, até porque não trabalhava, mas que o

indivíduo moderno vive como um dado quase "natural" do seu mundo. (SALQUEIRO 2002)

Na contemporaneidade, Trigo e Mazaro (2012, p. 490) consideram que “a análise das

crises cíclicas das últimas décadas, aliadas à exigência de inovação e competitividade,

marcam nossos tempos e sociedades”. Para os autores, “na esteira desses movimentos

estratégicos emergem áreas como a moda, gastronomia, beleza, esportes, turismo, artes e

entretenimento, fortemente marcadas por duas características: diversidade e prazer”.

Esses campos se articulam em complexas formações combinadas e interconectadas.:

“Não há mais clusters específicos, por exemplo, de turismo, hospitalidade ou entretenimento,

mas sistemas complexos que envolvem várias áreas” (TRIGO, MAZARO, 2012, p. 490).

Como se pode inferir do percurso do turismo ao longo do tempo, o desenvolvimento

desse fenômeno não pode ser dissociado do desenvolvimento da sociedade, na qual está

inserido. Sendo assim, percebe-se a influência direta de conquistas e mudanças sociais e

econômicas no desenrolar dessa atividade.

Yaccoub (2011) defende a concepção do consumo como fenômeno de ordem

sociocultural, econômica e simbólica, que implica interação, fruição, troca, distinção entre

bens e indivíduos e/ou grupos. Dessa maneira, o ideal é pertencer a uma elite, a um estrato

social mais prestigiado, a tradicional classe média, que possui uma forma de se representar,

consumir, ser, entre outras. Como integrar esse grupo pode representar um ideal muito

distante, são criadas formas de aproximação; dessa maneira, o consumo de determinados bens

corriqueiros para os grupos mais abastados se tornam pontes para esse ideal.

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Uma vez que a saturação foi alcançada em necessidades básicas e de bens duráveis, o

crescimento da economia tem mais dinheiro sobrando para gastar em primeiro lugar, de lazer

e turismo e serviços, bens e serviços em segundo lugar, com base no conhecimento.

Na visão de Menezes et al. (2010, p. 3), “o turismo é algo que confere status nas

sociedades modernas”, referindo-se à intenção do turista de se apropriar de símbolos de

distinção por meio do consumo dos objetos e espaços turísticos.

Nesse contexto, Eder (2001, p. 46) considera que:

Hoje, as classes médias estão obcecadas com o engrandecimento pessoal, a autonomia e a competição. Essa é a base cultural sobre a qual foram construídos os novos movimentos sociais, e da qual eles extraíram suas fontes motivacionais e ideacionais. A cultura da boa vida é mais que uma ideia filosófica: é a expressão de um estilo de vida específico de classe.

Infere-se que o indivíduo compra com a finalidade de pertencer e fazer parte de um

estilo de vida ideal, assim, os bens eleitos mais prestigiosos são os mais caros, que recebem

mais notoriedade, sucesso, valores agregados, status, entre outros.

Guerra (2010, p. 38) explica que, nesse cenário, “os bens de consumo passam a

funcionar menos por seu valor de uso que por seu campo simbólico: eles exibem condições,

sendo classificados por meio das categorias de status que representam”.

Talavera e Pinto (2008, p. 18) defendem que:

Em termos gerais, o turismo [...] apresenta-se como um subsistema particular dentro de um sistema de esquemas classificatórios mais amplos, simultaneamente econômico e simbólico. E como toda mercadoria inscrita na sociedade de consumo, segmenta-se em função de representações de prestígio e status replicando uma escala dos custos da viagem, isto é, quanto mais cara a viagem mais prestigiosa deve parecer.

Para os autores, o elemento-chave que representa a hierarquia de status no turismo é a

imagem dos destinos, já que lida diretamente com algo tão fugidio como a produção e

reprodução de imagens cujo objetivo final seria a fruição de experiências turísticas

(TALAVERA e PINTO, 2008).

Nesse sentido, Cheibub (2012) destaca a conjuntura cultural das manifestações de

lazer, em especial do turismo. Do ponto de vista cultural, o turismo colaborou de maneira

efetiva para a consolidação das demandas da modernidade permanentemente em movimento e

frente a um extenuante ritmo urbano cotidiano, na qual o lazer passou a ser visto como uma

necessidade do indivíduo.

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2.4 Turismo Moderno

No início do século XIX o turismo moderno começa a se consolidar, pois começa a se

organizar e a se tornar um negócio, entre os principais fatores decorrentes a esta

transformação estão os fatores econômicos, sociais e novas tecnologias, que trouxeram novos

tipos de viagens e viajantes que consequentemente trousse uma diversificação das empresas

turísticas e uma melhor organização do segmento (REJOWSKI, 2002).

No século XIX, tivemos transformações profundas na economia, com os trabalhadores

saindo das áreas rurais e se dirigindo as áreas industriais localizadas nas grandes cidades.

Estas cidades já contavam com a grande descoberta da época, a máquina a vapor, que

posteriormente, teve sua aplicação ampliada para os trens e os navios (TORRE, 2000).

A malha ferroviária se espalhou rapidamente por toda a Inglaterra e suas colónias

como os Estados Unidos, além de se espalhar por toda a Europa. Assim como os trens os

navios movidos a vapor possibilitaram a implantação de linhas regulares e nesse caso

transoceânicas (MONTANER MONTEJANO, 2001).

A primeira pessoa a realizar tal feito foi Robert Fulton, que em 1807 percorreu

420 quilómetros de Nova York até Albany. Sendo que o primeiro navio a vapor a cruzar o

oceano atlântico saindo dos Estados Unidos e indo para a cidade de Liverpool na Inglaterra

ocorreu em 1819, a curiosidade e que esse navio não levou nenhum passageiro pois ninguém

quis se aventurar a tal novidade (TORRE, 2000).

Com o passar dos anos, os hábitos dos viajantes, que na época eram, em sua

predominância aristocratas, começam a ser alterados. Como principal motivo para essa

mudança temos o aparecimento de uma nova classe em ascensão, assim como o surgimento

de novos destinos que antes da invenção do navio a vapor eram de difícil acesso

(REJOWSKI, 2002).

Como o aumento de pessoas aptas e dispostas a viajarem, surgem as primeiras

empresas a realizarem grandes eventos turísticos dando assim início a estruturação do setor,

oferecendo a seus clientes opções tais como: balneários, paisagismo ou montanhismo. O

movimento mais conhecido no século XIX foi, sem dúvida o termalismo, cujo fluxo de

pessoas aos balneários produziu a conversão destes em lugares para o prazer e o descanso

(REJOWSKI, 2002).

As termas assim como eram conhecidas desde a antiguidade eram frequentadas pela

população local onde, ricos, pobres e animais se banhavam, as termas tinham fama de poderes

de cura e não se existia nenhum tipo de infraestrutura para os banhos. As termas mais famosas

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da Europa eram: Vichy, na França; Mariendad, na República Tcheca; e Baden Baden, na

Alemanha. Estas termas eram frequentadas pelas classes sociais mais abastadas do século

XIX (KHATCHIKIAN, 2000).

No século XVIII, os balneários começam a sofre concorrência com o surgimento da

talassoterapia, que consistia em um tratamento terapêutico que utilizava os banhos de mar e

de sol, banhos de sol que até pouco tempo atrás não eram tolerados pelas classes sociais mais

abastadas. Com o surgimento dessa terapia os banhos tanto de mar como de sol passam a

serem vistos como algo saudável, receitados e acompanhados por médicos, o que antes era

algo degradante agora se tornava comum na sociedade (CORBAIN, 1984).

Com o advento da nova terapia a costa mediterrânea antes desprezada pela elite

europeia, por ser considerada quente demais começa a ser explorada, como um dos destinos

turísticos, assim a Riviera francesa que já contava com uma linha férrea e “descoberta” pelos

ingleses (BOYER, 1996).

Com o grande fluxo de pessoas frequentando estes novos pontos turísticos, o jogo

começa a fazer grande sucesso como novo tipo de negócio e cidades balneárias se tornariam

então grandes centros de jogos como ocorreu com a Riviera francesa, Mônaco e Monte Carlo

e, nas Américas, com Atlantic City, Mar del Plata e Vinã del Mar (KHATCHIKIN, 2000).

2.4.1 Montanhismo

Também era habitual se desfrutar de residências no campo, além do que doenças,

como a tuberculose, que assolavam a Europa, tinham como recomendação médica, para a

cura, a exposição ao ar puro, encontrado nas áreas montanhosas, o que levou muitos

sanatórios a serem construídos no campo. Além dos problemas relacionados à saúde, outros

motivos levaram as pessoas ao campo: o romantismo e o interesse pela natureza (REJOWSKI,

2002).

O século XIX vivenciou o início do movimento de viajantes de montanha nos alpes e logo se difundiu por toda a Europa Central e oriental. Em 1850, Murray escreveu os primeiros pré guias turísticos sobre a atração, e dizia que apenas “os de mente perturbada” realmente teriam vontade de escalá-los (KHATCHIKIAN, 2000).

O fascínio pela natureza e não somente pelas montanhas fez com que em 1872 tenha

sido criado o primeiro parque nacional do mundo, o parque de Yellowstone nos Estados

Unidos com 8.980 Km2 (REJOWSKI, 2002).

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2.4.2 As principais Empresas de Turismo

Com as rápidas mudanças ocorrendo no Século XIX, as agências de viagem surgem

como um novo e promissor ramo de atividade. Estas tinham como principal objetivo a

captação de novos clientes mostrando a eles que as viagens eram úteis e agradáveis. Um dos

pioneiros neste novo ramo de negócio foi o português Bernado de Abreu que criou a agência

Abreu na cidade do Porto, em 1840, sendo que nesta época havia uma grande emigração de

portugueses para o Brasil. Bernado tratava das passagens, vistos, passaportes e de toda a

documentação necessária para o embarque nos navios que seguiam para a América do Sul.

(REJOWSKI, 2002).

Em 1850 surge a American Express que, entre outros serviços, cria as ordens de

pagamento que, em 1882, se transformariam nos traveller checks ou cheques de viagem.

Mas ainda em 1840, aparece a pessoa que para muitos foi o pioneiro na área da

operação profissional do turismo moderno Thomas Cook:

Thomas Cook (1808 – 1892) foi marceneiro e um jovem pregador batista da cidade de Loughborough, na região inglesa de Midlands. Com 32 anos, vivia modestamente escrevendo e distribuindo publicações enaltecendo as virtudes da temperança (REJOWSKI, 2002).

Thomas Cook em 1841, teve a ideia de alugar um trem para levar os fieis de sua

congregação para um encontro na cidade de Leicester, sendo que nessa época mesmo as

viagens de percursos curtos eram consideradas caras para o poder de consumo dos

trabalhadores (MONTANER MONTEJANO, 2001).

Thomas Cook conseguiu convencer os proprietários da companhia de trens Midland

Couties Railway a oferecer tarifas a uma taxa menor, e em contra partida aumentaria em uma

forma substancial o número de passageiros. Desta forma Cook alugou o trem e levou 570

pessoas em uma viagem de 11 milhas de Leicester a Loughborough, ao custo de 1 xelim por

passageiro, sendo que incluso no preço da passagem ainda se tinha direito a um lanche de

presunto e chá. Além disso, Cook proporcionou a seus passageiros a possibilidade de jogar

críquete ou, se preferissem, dançar ao som da banda que estava presente no trem

(REJOWSKI, 2002).

A chegada de 570 pessoas à cidade de Loughborough foi considerada uma façanha e

comemorada com discursos e felicitações. Após o sucesso desta primeira viagem Cook

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realizou mais três, igualmente bem sucedidas, sempre com a mesma finalidade, levar seus

fieis a congressos religiosos. (Rejowski, 2002).

Com o sucesso das quatro viagens sempre com conotações religiosas, Cook organiza

mais uma só que desta vez sem fins religiosos, ou seja, aberto ao publico em geral esta

excursão seria para a praia na cidade de Liverpool e tinha como principal objetivo o lazer

(REJOWSKI, 2002).

Em 1851, Thomas Cook transforma-se em um excursion agent, criando a empresa

Cook & Son e começa a organizar viagens para o país de Gales e Escócia. O principal

objetivo de Cook um religioso fervoroso, era fazer com que o turismo afasta-se os

trabalhadores dos pub’s e viu nas viagens uma forma de atingir seus objetivos. Cook era um

visionário e tratava das suas viagens como um meio de abrir a mente das pessoas aumentando

seu conhecimento e quebrando barreiras de classes econômicas e de nacionalidades, pois

acreditava que tanto ricos como pobres tinham o direito de viajar (REJOWSKI, 2002).

A empresa de Cook começou a se expandir abrindo novas rotas tais como: Holanda,

Bélgica, França, Alemanha, Suíça, Áustria e Itália e mais tarde começou a oferecer pacotes

turístico para a Espanha, Índia, Austrália, Nova Zelândia e Estados Unidos. Cook introduz o

conceito dos pacotes turísticos, ou seja, o cooperativismo entre todos os componentes

envolvidos, agências de viagem, hotéis, transportes, restaurantes, atrações turísticas etc.

Dentre as principais realizações de Thomas Cook podemos citar as seguintes:

Ano Realizações 1845 Lançou o Handbook of the Trip, primeiro itinerário descritivo de viagem

preparado de forma professional para o uso de turistas, por ocasião da excursão de Leicester a Liverpool.

1846 Realizou o tour com a participação de guias de turismo, o primeiro com essas características, chegando a levar 350 pessoas à Escócia.

1850 Formalizou contrato com a Great Easter Railway para a venda mínima de bilhetes de trem por ano, que vendeu em um mês.

1851 Levou cerca de 165 mil pessoas à Primeira Exposição Mundial realizada em Londres, oferecendo transporte e alojamento.

1856 Realizou a primeira excursão ao continente (Grã-Bretanha). 1862 Introduziu o “individual Inclusive Tour” – IIT 1863 Realizou a primeira excursão à Suíça, popularizando esse país como destino

turístico de inverno. 1865 Realizou a primeira excursão para os Estados Unidos. 1867 Criou o primeiro cupom hotel (voucher), documento que permitia sua utilização

em hotéis para o pagamento dos serviços contratados em agência. 1869 Realizou o primeiro tour ao Oriente Médio 1872 - Realizou a primeira volta ao mundo com nove pessoas, que durou 222 dias.

- Inaugurou a primeira agência de viagens no continente americano, em Nova York.

1873 – 1874 Criou a circular note (antecessora do traveller check), que era aceita por bancos, hotéis, restaurantes e casas comerciais em várias partes do mundo.

1875 Realizou tours para a Escandinávia, incluindo a “Viagem para o sol da Meia-Noite” no cabo norte.

1878 Levou 75 mil pessoas para visitar a Exposição Mundial de Paris.

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1892 Morreu no momento em que sua agência era a mais importante do mundo, com 84 escritórios e 85 agências em vários países do mundo, empregando mais de 1.700 pessoas.

Fonte: FUSTER (1974); ACERENZA (1986); WITNEY (1991); KHATCHIKIAN (2000); LICKORISH; Jenkins (2000); MONTANER; MONTEJANO (2001).

2.4.3 Transporte

O ramo do turismo não poderia crescer se junto com essa atividade outros segmentos

também não se desenvolvessem rapidamente, um desses segmentos seria o de transporte, que

com a aceleração do desenvolvimento das ferrovias da extensão de suas linhas, assim como a

modernização dos equipamento, vieram a proporcionar maior conforto a seus passageiros com

um menor custo (MONTANER MONTEJANO, 2001)

Um dos grandes destaques na área das ferrovias foi George Mortiner Pullman que em

1867, criou diferentes tipos de vagões que entre eles podemos destacar, o vagão dormitório,

vagão para fumantes, vagão restaurante, entre outras comodidades, trazendo com isso maior

conforto para os usuários deste modal de transporte.

Em 1876 a empresa de George M. Pullman, cria uma grande linha de vagões

dormitórios, que deram origem aos trens europeus de luxo que entre eles podemos destacar o

Expresso do Oriente, que na época era considerada a linha mais luxuosa da Europa e oferecia

a seus passageiros vagões acarpetados, chuveiros com água quente e serviços de restaurantes

com padrões internacionais (MONTANER MONTEJANO, 2001).

Assim como o transporte ferroviário cresceu e se modernizou outro meio de transporte

muito importante para o desenvolvimento do turismo na época, também passava por um

processo de modernização, este modal era o marítimo, que tal como o transporte ferroviário

passou por um processo de modernização. A navegação a vapor ligando o velho mundo a

Europa ao novo mundo a América, começou a aumentar dado ao grande número de pessoas

que queriam migrar para a América. Essas rotas, especialmente as do Atlântico Norte,

geraram um tráfego notável, incrementado no final do século com as correntes de imigração

europeias para a América e com as visitas dos americanos à Europa (LICKORISK; JENKINS,

2.000).

Além da rota Europa, América começaram a se expandir outras rotas, ampliando assim

as opções tanto para os passageiros como para o transporte de mercadorias, que com a

abertura do canal de Suez contribuiu ainda mais para ligar o Oriente com o Ocidente. Com a

abertura do Japão no final de 1850, foi aberto um serviço regular pelo pacífico com viagens

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mensais de São Francisco a Yokohama e em 1869 foi completada a ferrovia transcontinental

nos Estados Unidos propiciando uma rota de viagem ao redor do mundo (REJOWSKI, 2002).

2.4.4 Fluxo Turístico (1900 a 1949)

Com a entrada do século XX a ascensão do turismo teve continuidade, caracterizando-

se:

• Pela implantação de uma sólida infraestrutura de resort acessíveis por ferrovias em

toda a Europa;

• Pela criação de varias atrações e de organizações representando os vários setores da

atividade e pela difusão de práticas de marketing apoiando o desenvolvimento do

setor;

• Pelo predomínio das viagens por ferrovia, apesar do surgimento do automóvel, do

ônibus, do avião e do dirigível;

• Pela intensificação do tráfego transatlântico com grandes e “rápidos” navios a vapor

entre continentes. (LICKORISH; JENKINS, 2000: 24; MONTANER MONTEJANO,

2001).

O turismo que vinha se expandindo no últimos anos, teve uma abrupta queda com a

I Guerra Mundial, em que muitos dos luxuosos hotéis foram usados para abrigar as tropas e

serviam como quarteis generais. Ao final da guerra e com a fabricação em série dos

automóveis e dirigíveis, o turismo volta a crescer trazendo significativas receitas e fazendo

com que os países comecem a reconhecer a importância do turismo (KHATCHIKIAN, 2000).

Em 1929 novamente o crescimento do turismo e abalado, desta vez não por uma

guerra mas pela depressão americana causada pela quebra da bolsa de valores de Nova York,

que teve sérias consequências não somente para o mercado americano mas para o mercado

mundial, atingindo toda a Europa e suas principais economias, como a Inglesa e a Alemã

(SOLHA, 2002).

Nos anos de 1933 a 1939, quando eclodiu a II Guerra Mundial, mais uma vez, tivemos

um novo crescimento no turismo que atingiu seu maior fluxo em 1937, segundo dados da

UIOOT – União Internacional de Organismos Oficiais de Turismo, os anos de 1933 a 1939

registraram aproximadamente 12 milhões de turistas nos principais países Europeus,

distribuídos entre Itália, Alemanha, Suíça, Áustria e França (MONTANER MONTEJANO,

2001).

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Assim como houve a modernização dos trens e navios, verificou-se que a partir do fim

da I Guerra Mundial o incremento do transporte aéreo que transformou aviões militares para

uso civil, ou seja, para transporte de passageiros, onde o primeiro voo comercial ocorreu entre

Paris e Londres, com 12 passageiros a bordo e a uma velocidade acima de 100 quilômetros

por hora (KHATCHIKIAN, 2000).

As companhias aéreas datam de 1920. A primeira companhia a operar voos comerciais

foi a KLM – Real Companhia Aérea de Aviação – na linha Londres a Amsterdam em 1920. A

partir desse momento, acelerou-se o desenvolvimento do transporte aéreo e a criação de

inúmeras companhias, provocando a necessidade do estabelecimento de normas unificadas

sobre as responsabilidades das transportadoras. Tais normas foram adotadas a partir da

Convenção de Varsóvia, realizada em 1929 (KHATCHIKIAN, 2000).

2.5 Sistema Turístico e Hospitalidade

Para se analisar a estrutura do Sistema Turístico, faz-se necessário, primeiramente,

estabelecer a noção de Hospitalidade.

Lashley (2004, p. 8) separa a hospitalidade em três partes: social, privada e comercial.

A hospitalidade social tem como principal característica o dever do anfitrião de receber a

todos, do vizinho a uma pessoa desconhecida, dando-lhes abrigo, proteção, lazer e alimentos

sendo sempre generoso com todos:

O dever de ser não só generoso em relação ao forasteiro, mas também protetor é um importante aspecto desse filão de hospitalidade [...] via-se essa conduta como um dever sagrado do anfitrião de proteger tanto a família imediata quanto os hóspedes.

Grinover (2006, p. 32) considera que “a hospitalidade supõe a acolhida; é uma das leis

superiores da humanidade, é uma lei universal”.

Para o autor, hospitalidade estabelece:

[...] uma relação especializada entre dois atores: aquele que recebe e aquele que é recebido; ela se refere à relação entre um, ou mais hóspedes, e uma instituição, uma organização social, isto é, uma organização integrada em um sistema que pode ser institucional, público ou privado, ou familiar (GRINOVER, 2006, p. 32).

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O “bem receber” se relaciona intimamente com a qualidade dos bens e serviços

oferecidos no Turismo. Isto equivale a dizer que a qualidade oferecida no destino turístico vai

influenciar diretamente no bom ou no mau atendimento ao turista. Beni (2001) considera que

a qualidade no Turismo refere-se ao serviço aliado ao produto e que o fator qualidade é o

único critério que se impõe de maneira natural para determinar o êxito ou o malogro desses.

A hospitalidade no domínio privado se refere à hospitalidade doméstica, do lar, que

vai além de dar alimentos, bebidas e abrigo a seus hóspedes, pressupondo-se a reciprocidade

em que o anfitrião em algum outro momento ira tornar-se hospede de que ele recebeu.

A motivação para esse acolhimento pode ser bem variada, como explica Lashley

(2004, p. 16): “Os motivos pertinentes podem incluir o desejo de companhia, o prazer de

acolher, o desejo de agradar a outras pessoas, a preocupação ou a compaixão em face das

necessidades alheias e o sentimento assumido do dever de ser hospitaleiro”.

A hospitalidade ocorre na maioria das sociedades, e, diferentemente da social e

privada, o anfitrião não espera a reciprocidade de seu hóspede, sendo esta uma questão

meramente comercial, de mercado.

Nesse sentido, Wada (2004, p.138) comenta:

Para uma atividade originária de relações de troca estabelecidas pelo comércio, resultando em remuneração concreta [...] seria ingênuo pensar que se manteria isenta de transformar-se em um negócio. Enquanto perdure a necessidade do ser humano de deslocar-se e estar fora de seu domicílio habitual, haverá a necessidade de meios de hospedagem.

A hospitalidade permeia as atividades relacionadas com o turismo. A partir dessa

constatação, segue-se a apresentação dos bens e serviços turísticos.

2.6 Bens e serviços turísticos

Beni (2003, p. 37) explica que “o elemento concreto do fenômeno traduz-se no

equipamento receptivo e no fornecimento os serviços para a satisfação das necessidades do

turista”

Produto pode ser definido como tudo que pode ser oferecido a um mercado para

satisfazer uma necessidade ou desejo dos consumidores. O produto deve ser visto como a

solução para o problema dos clientes, e esta solução pode vir por meio de bens físicos,

serviços, experiências, eventos, pessoas, organizações, informações ou ideias (KOTLER;

KELLER, 2006).

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Serviço é entendido como atividade econômica que cria valor e fornece benefícios

para clientes, em tempos e lugares específicos, como decorrência da realização de uma

mudança desejada pelo destinatário do serviço (LOVELOCK; WRIGHT, 2001).

O Ministério do Turismo entende por produto turístico: “o conjunto de atrativos,

equipamentos e serviços turísticos acrescidos de facilidades, localizados em um ou mais

municípios, ofertado de forma organizada por um determinado preço” (BRASIL, 2007, p. 17).

Por isso, não se pode pensar em produtos turísticos de uma forma individual, mas sim

como o conjunto de experiências relacionadas à viagem (de deslocamento, alimentação,

hospedagem e de outros fatores) vividas pelos turistas antes, durante e depois de sua

realização.

Assim, o produto não é apenas o que se oferece, mas a experiência que ele pode gerar

para o turista, e essas experiências serão diferentes para diferentes pessoas.

O produto turístico possui características específicas, De acordo com o Ministério do

Turismo (BRASIL, 2007), o produto turístico possui características específicas, a saber:

a) é intangível: por ser um bem de consumo abstrato e intangível, o turista vive a

experiência e a guarda na memória;

b) é estático: não é possível mudar a localização de uma atração turística;

c) é perecível: se a visitação, ou hospedagem não acontecer no período esperado, o

prejuízo não pode ser recuperado;

d) é limitado: a produção de serviços é limitada à determinada quantidade, em um

determinado tempo e espaço;

e) é sazonal: concentra-se em algumas épocas e locais específicos;

f) é sistêmico: todos os produtos e serviços de uma atração turística estão

interligados;

g) é variável em seu valor percebido: a avaliação feita pelo turista será de acordo com

a qualidade da experiência vivida pessoalmente; e

h) é simultâneo: o turista consome o produto ao mesmo tempo em que o serviço é

prestado.

Dessa forma, o produto para o turista passa a ser a experiência da viagem de forma

mais abrangente, considerando a qualidade da hospedagem, as experiências gastronômicas

vivenciadas, o transporte até a localidade, a locomoção interna, o atendimento recebido, os

presentes e lembranças comprados e tudo que seja relativo à sua permanência.

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Beni (2003) conceitua bem turístico como todos os elementos subjetivos e objetivos ao

dispor, dotados de apropriabilidade, passíveis de receber um valor econômico, ou seja, um

preço.

Os bens turísticos podem ser: a) materiais, tais como museus e galerias de arte; b)

imateriais, tais como clima e paisagem; c) imóveis como hotéis; d) móveis, como produtos

artesanais; e) duráveis, como produtos artesanais); f) perecíveis, como os produtos

gastronômicos; g) de consumo, para a satisfação da necessidade dos turistas, entre outros.

Já os serviços turísticos, destinados à satisfação das motivações, necessidades e

preferências do turismo, classificam-se em: a) receptivos; b) de alimentação; c): de transporte;

d) públicos; e e) de recreação e entretenimento na área receptora, de acordo com Beni (2003).

Os bens e serviços consumidos pelos visitantes incluem o alojamento, o transporte, a

alimentação e o entretenimento que, em um sentido amplo, constituem a base para a

elaboração dos dados no setor de turismo.

A diversidade de perfis e motivações dos visitantes para as suas viagens, as condições

naturais e econômicas do local visitado, dentre outras condicionantes da demanda turística Tal

conjunto heterogêneo de produtos consumidos (BENI, 2003) decorre da diversidade de perfis

dos turistas, como se observa a segui.

2.7 Perfil dos turistas

Para o Ministério do Turismo (BRASIL, 2007), a classificação utilizada para entender

o perfil dos turistas considera a existência de dois tipos básicos de turistas: aqueles com perfil

aventureiro (“alocêntricos”) e aqueles com perfil dependente (“psicocêntricos”), se forem

consideradas a forma como escolhem os destinos de suas viagens:

Os dependentes são mais conservadores em relação à escolha do destino, procurando localidades mais populares como destinos. Além disso, controlam mais os gastos, e preferem estar na companhia da família e de amigos. Já os aventureiros são curiosos e buscam sempre novos lugares para conhecer, tomam as decisões com maior facilidade e estão dispostos a gastar um pouco mais. Além disso, gostam de atividades variadas e não se incomodam em estar, ou em viajar, sozinhos.

Tal classificação foi elaborada por Plog (1974, 2001) para quem existem diversos

tipos de turistas, que são os formadores da demanda turística das destinações, e se dividem em

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cinco subtipos: psicocêntricos, semi-psicocêntricos, alocêntricos, semialocêntricos e

mesocêntricos.

O turista psicocêntrico não consegue sentir-se bem em uma destinação que não possua

grande familiaridade com seu âmbito de residência, prefere não viajar grandes distâncias para

não enfrentar barreiras comuns aos turistas como diferenças linguísticas, gastronômicas,

climáticas, culturais, étnicas, sociais, dentre outras. Um ambiente de cultura idêntica a sua é

extremamente valorizado pelo psicocêntrico, que dá grande valor a hábitos realizados em sua

própria residência, possui baixo nível de tolerância a estrangeiros que não são comumente

vistos em sua cidade de residência e trata a viagem como questão de status (PLOG, 2001).

O turista semipsicocêntrico possui menor grau de intolerância se comparado ao

psicocêntrico, possui algum caráter mais exploratório, porém ainda assim confere grande

valor ao habitat tipicamente familiar, como infraestrutura, hospedagem, gastronomia e

transportes da localidade visitada, formam um dos grandes perfis dos consumidores de

pacotes já formatados comercialmente (PLOG, 2001).

O turista alocêntrico possui características típicas de um explorador, já que prefere as

áreas não organizadas para o turismo, faz questão de não usar pacotes formatados

comercialmente. A sensação de liberdade em sua viagem é primordial, boa parte do atrativo

de suas viagens está no prazer de novas descobertas, com grande contato com o habitat local,

nas várias atividades realizadas de modo autônomo, sempre com a infraestrutura, a

hospedagem, a gastronomia e os transportes típicos de localidade visitada (PLOG, 2001).

Os turistas que se encaixam no perfil alocêntrico são aqueles de espírito aventureiro,

que buscam diferenças culturais, novas experiências, são amantes da natureza e pertencem a

grupo de renda mais alta, motivados a descobrir a destinação, interagir com o meio ambiente e

com a comunidade local, preferem lugares mais autênticos que ainda não foram descobertos

por uma grande massa de turistas e raramente voltam ao mesmo destino (PLOG, 2001).

A classificação de semialocêntrico refere-se ao turista que possui um lado explorador

mais brando, valoriza o grande número de atividades realizadas, ainda assim tem alguma

preferência sobre a infraestrutura mais próxima de sua habitual, assim como todas as

características que envolvem a destinação turística visitada, caracterizam-se também como um

dos grandes consumidores de pacotes formatados comercialmente, mas não é o típico turista

de massa (PLOG, 2001).

A classificação de mesocêntrico refere-se ao turista que possui as características de

dois tipos extremos (alocêntrico e psicocêntrico). Valoriza as características de ambos, porém

em menor escala e possui o perfil que está no meio-termo entre os grupos de turistas, esse tipo

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possui o perfil que a maioria da população possui. A destinação possui muitas atrações

moldadas para esse tipo de turista e os residentes locais não estranham esse turista dentre eles

(PLOG, 2001).

A classificação dos turistas não deve, porém, restringir-se a esses tipos e subtipos, uma

vez que devem ser levadas em conta as tendências de consumo e mudanças nos padrões de

escolha ao longo do tempo. Assim, o turista poderá ter um perfil mais aventureiro na fase de

vida mais jovem e migrar para um perfil mais dependente em outra fase de sua vida.

Cooper et al. (2001) apresentam a classificação dos turistas em duas formas básicas,

relacionadas com a natureza de suas viagens. A primeira delas estabelece a distinção entre

turistas domésticos (diz respeito às viagens de residentes dentro de seu próprio país) e os

turistas internacionais (refere-se às viagens para fora de seu país de residência).

A segunda classificação baseia-se na categoria de "propósitos de visita", com base em

três categorias: a) lazer e recreação: férias, esportes, turismo cultural e visita a amigos e

parentes; b) outros propósitos turísticos: incluindo turismo de estudos e saúde; c) profissional

e de negócios: incluindo reuniões, conferências, dentre outros (COOPER et al., 2001).

Do ponto de vista da hospitalidade, Wada (2004, p.143) comenta que: “cada vez que

um consumidor manifestar sua preferência por locais onde se sinta em casa, possivelmente

estará optando pelo domínio da hospitalidade, podendo ser combinado sutilmente com

estratégias de profissionalização”.

Por outro lado, há aqueles turistas que “se fascinam por lugares onde tudo funcione e

exista absoluta consistência em produtos e serviços apreciam a combinação hospitalidade e

administração, enquanto outros preferem pessoas eficientes e rapidez no atendimento de suas

demandas” (WADA, 2004, p. 143).

Em qualquer caso, Panosso Netto (2007, p. 10) comenta que o sujeito do turismo é o

ser humano, abordado em toda a sua carga cultural, com sua história e sua experiência de

antes, durante e depois da viagem:

Passa ser sujeito desde o primeiro momento em que decide ser turista. Assim, mesmo ainda não sendo turista, já é sujeito do turismo, pois estará visitando os endereços da internet, lendo revistas especializadas, conversando com amigos sobre a viagem, buscando documentação [...] Desta forma, já estará formando parte do turismo e influenciando o fenômeno turístico (Tradução livre do autor).1

1 Pasa a ser sujeto desde el primer momento en que decide ser turista. Así, aún no siendo turista ya es sujeto del turismo pues estará visitando los sitios Web de destinos, leyendo revistas especializadas, conversando con

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67

2.8 Sistemática das atividades turísticas

A organização Mundial do Turismo (2001) considera que a natureza da atividade

turística é um conjunto complexo de interrelações de diferentes fatores que devem ser

considerados conjuntamente sob uma ótica sistemática, ou seja, um conjunto de elementos

interrelacionados que evoluem de forma dinâmica.

Beni (2003, p. 45) considera o Turismo como um sistema aberto, “que permite

visualizar três grandes conjuntos: o das relações ambientais, o da organização estrutural e o

das ações operacionais, equivalentes aos “subsistemas ecológico, econômico, social e cultural,

da superestrutura, da infra-estrutura, do mercado, da oferta, da demanda, de produção, de

distribuição e de consumo”.

Distinguem-se quatro elementos básicos no conceito de atividade turística, de acordo

com a OMT (2001):

a) demanda: formada por um conjunto de consumidores – ou possíveis consumidores

– de bens e serviços turísticos;

b) oferta: composta pelo conjunto de produtos, serviços e organizações envolvidas

ativamente na experiência turística;

c) espaço geográfico: base física na qual tem lugar a conjunção ou o encontro entre a

oferta e a demanda; e

d) operadores de mercado: empresas e organismos cuja principal função é facilitar a

interrelação entre a oferta e a demanda.

2.8.1 Demanda turística

Para a OMT (2001, p. 43) demanda turística “subentende um grupo heterogêneo de

pessoas; um agregado de personalidades e interesses com diferentes características

sociodemográficas, motivações e experiências. Por isso, são várias as classificações que

existem dentro da demanda turística

Beni (2003, p. 211) informa que “as pessoas que se deslocam temporariamente de sua

residência habitual, com propósito recreativo ou por outras necessidades e razões, demandam

a prestação de alguns serviços básicos”.

amigos sobre el viaje, buscando documentación, ahorrando, consultando al agente de viajes, etc. De esta forma, ya estará formando parte del turismo e influenciando el fenómeno turístico.

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68

O autor informa que, para serem transportados às destinações escolhidas, os turistas

demandam transportes com características específicas, que se traduz na procura de meios

adequados.

Para se alojarem convenientemente nos locais de destino e de estada, os turistas criam

a demanda de equipamentos receptivos, das mais diversas categorias em função de seu poder

aquisitivo.

Já para terem fácil acesso ao objetivo específico de seu deslocamento, seja um

estabelecimento termal, um museu, uma pista de esqui ou uma região nas montanhas,

demandam a organização de serviços de acesso eficientes para a realização da finalidade dos

turistas (BENI, 2003).

Finalmente, para serem providos dos bens e serviços necessários a seu estilo de vida,

sempre considerando seu nível de renda, produzem a demanda de bens de consumo.

Em síntese, Beni (2003, p. 211) considera a demanda em turismo “[...] uma compósita

de bens e serviços, e não demanda de simples elementos ou de serviços específicos

isoladamente considerados; em suma, são demandados bens e serviços que se complementam

entre si”.

A satisfação que o turista procura através do consumo de bens e serviços turísticos

passa pela aquisição de experiências muito diversificadas, encontradas no consumo de

diferentes componentes do produto em oferta (BENI, 2003).

2.8.2 Oferta turística

A OMT (2001, p. 27) considera que a explicação do turismo em toda sua extensão não

se limita à análise da demanda, estendendo-se à conceituação da oferta turística que se define

como: “o conjunto de produtos turísticos e serviços postos à disposição do usuário turístico

num determinado destino, para seu desfrute e consumo”.

Em um destino turístico, a oferta à disposição da demanda constitui algo mais que a

simples soma dos produtos turísticos que contém, representa um todo integrado por esses

produtos, os serviços precisamente turísticos e os não turísticos, a imagem geral do destino,

entre outros aspectos.

Assim, a OMT (2001, p. 27) se apoia no conceito de gastos turísticos para identificar

diferentes categorias de oferta turística conforme o local em que se realize o gasto. Dessa

forma, leva em consideração: “todo gasto de consumo efetuado por um visitante ou por conta

de um visitante, durante seu deslocamento e sua estada no lugar de destino”.

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69

Caso fossem classificados por partes, os principais conceitos de gasto turístico seriam

obtidos as seguintes combinações: alojamento, alimentação, transporte, lazer, cultura e

atividades esportivas, compras. Ressalte-se que todas essas atividades são realizadas

predominantemente no lugar de destino turístico, pois é aí que se assenta a oferta turística.

Os transportes supõem uma categoria mista, uma vez que, em função da aproximação

entre demanda e lugar de destino – onde se encontra a oferta turística –, realizam, também,

uma função de mediação. O viajante, no entanto, considera este produto como parte de seus

gastos turísticos, principalmente quando faz parte do pacote turístico.

Para o Ministério do Turismo (BRASIL, 2007), quando o transporte constitui uma das

principais partes do produto turístico – por exemplo, cruzeiros, circuitos combinados – ou

supõe uma atividade complementar no destino – por exemplo, carros alugados – , não resta

dúvida de que se trata de oferta turística.

2.9 Conta Satélite do Turismo: abordagem econômica dos produtos e serviços turísticos

A classificação de uma atividade econômica como característica do turismo faz-se a

partir da identificação, em sua produção principal, de produtos classificados como

característicos do turismo, isto é, aqueles que são bastante sensíveis ao consumo de visitantes.

Para garantir a compatibilidade (ou padronização) internacional das estatísticas de

turismo, a OMT desenvolveu a Classificação Internacional Uniforme das Atividades

Turísticas (CIUAT). Ademais, a OMT criou um instrumento estatístico para o setor chamado

de Conta Satélite de Turismo (CST) que contém dados detalhados para dimensionar o volume

e a importância econômica do turismo.

Frechtling (2009, p. 2) informa que:

A Conta Satélite de Turismo é o método de medição das contribuições diretas do consumo de turismo para a economia nacional. Trata-se da única pesquisa derivada do emprego de princípios e estrutura da do sistema de contas nacional para medir o impacto econômico direto do turismo. [...] Demonstra o tamanho e a distribuição das diferentes formas do consumo de turismo em um país e as contribuições para o PIB nacional, emprego e demais medidas macroeconômicas da economia nacional (tradução livre do autor)

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70

A Conta Satélite de Turismo (CST) baseia-se nas Atividades Características do

Turismo (ACTs) e é considerado um instrumento de normatização internacional de conceitos

e classificações (PINHO, 2009).

Com o intuito de sistematizar a coleta de dados no setor de turismo, a Organização

Mundial de Turismo criou uma classificação dos produtos turísticos, distribuídos em

categorias que refletem a importância do consumo turístico. Foram relacionadas três

diferentes categorias de produtos turísticos, de acordo com a seguinte normatização: a)

produtos característicos do turismo; b) produtos conexos ao turismo e c) produtos específicos

do turismo (PINHO, 2009).

Os produtos característicos do turismo ou Atividades Características do Turismo

(ACTs) são aqueles que deixariam de existir em quantidade significativa, ou para os quais o

nível de consumo seria sensivelmente diminuído em caso de ausência de turistas. Para esses

produtos, é possível obter informações estatísticas mais precisas (PINHO, 2009).

Os produtos conexos ao turismo são uma categoria residual que inclui os produtos que,

apesar de identificados como específicos do turismo em um dado país, não são assim

reconhecidos em nível mundial. Os serviços de transporte ferroviário urbano e suburbano de

passageiros constituem um exemplo de produto conexo ao turismo (PINHO, 2009).

Os produtos específicos do turismo são a totalidade dos produtos contidos nas

categorias anteriores, portanto, produtos característicos do turismo mais produtos conexos ao

turismo (IBGE, 2003).

A OMT (2001) identifica 189 códigos em sua lista de produtos específicos do turismo

e, em sua lista de produtos característicos do turismo, apenas 96 códigos. Estes últimos foram

agrupados em sete pontos:

a) serviços de alojamento, que incluem hotéis e outros serviços de alojamento,

serviços de segundas residências por conta própria ou gratuitas;

b) serviço de alimentação e bebidas;

c) serviços de transporte de passageiros que incluem serviços de transporte

interurbano ferroviário, transporte rodoviário, transporte marítimo, transporte

aéreo, auxiliares ao transporte de passageiros, aluguel de bens de transporte de

passageiros e serviços de reparação de bens e equipamentos de transporte de

passageiros;

d) serviços de agências de viagens, operadoras e guias de turismo: serviços de

agências de viagens, de operadoras de informação turística e de guias de turismo;

e) serviços culturais: representações artísticas, museus e outros serviços culturais;

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71

f) serviços recreativos e outros serviços de entretenimento: desportivos e outros

relacionados ao lazer; e

g) serviços turísticos diversos: financeiros e seguros, outros serviços de aluguel de

bens e outros serviços turísticos.

A OMT (2001) reconhece que as Atividades Características do Turismo (ou produtos

característicos do turismo) são aquelas que possibilitam a maior uniformidade possível na

mensuração e análise do turismo em nível internacional.

Na construção da CST são observados, prioritariamente, aqueles que possibilitariam a

maior uniformidade possível na mensuração e análise do turismo em nível internacional.

Assim sendo, a OMT recomenda, em sua Lista de Produtos Característicos do Turismo,

apenas 96 códigos de produtos relacionados à atividade turística.

A Conta Satélite de Turismo é um instrumento necessário à elaboração de modelos de

impacto econômico do turismo e de análise orientados para o mercado turístico. Contém

dados detalhados sobre o consumo dos turistas e sobre a forma como esse consumo é

satisfeito pela produção das empresas e pelas importações. Além disso, fornece informações

detalhadas sobre produção, emprego, formação de capital das Atividades Características de

Turismo e sua relação com as demais atividades econômicas do país (PINHO, 2009).

A Conta Satélite de Turismo possui um caráter dinâmico decorrente das possibilidades

de sua utilização: a) elaboração de modelos de impacto econômico do turismo; b) análises

orientadas para o mercado turístico; e c) avaliação do desempenho das atividades econômicas

orientadas ao turismo.

Os produtos característicos do turismo são um subconjunto da lista de produtos

específicos do turismo, e por isso não refletem exaustivamente todos os impactos diretos e

indiretos que a atividade turística exerce na economia como um todo (PINHO, 2009).

2.10 Panorâmica internacional da atividade econômica do turismo

Trigo e Mazaro (2012) informam que as sociedades pós-industriais colocam o turismo

em um contexto maior do lazer e entretenimento, que consume bilhões de dólares em

investimentos e produz bilhões de dólares de lucro.

Com o aquecimento da economia mundial nos últimos anos, verificou-se que o fluxo

internacional de turistas vem crescendo significativamente. No mundo, o turismo movimenta

em receitas cambiais algo em torno de US$ 919 bilhões, segundo a Organização Mundial do

Turismo (OMT, 2010).

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O fluxo internacional de turistas no mundo chegou a 935 milhões de viagens em 2010,

também segundo dados da OMT 2010. Entre 1999 e 2010, o fluxo internacional de turistas no

mundo registrou crescimento 49%. A expectativa, segundo a OMT 2010, é que tal número

alcance 1,6 bilhões em 2020.

Entre os principais países receptores de turistas no mundo, os mais visitados são a

França, Estados Unidos, Espanha, China, Itália, Reino Unido, Turquia, Alemanha, Malásia e

México. Esses países respondem por mais de 45% do fluxo total do receptivo internacional.

(OMT, 2011). A Figura 8, a seguir, ilustra esse dado.

Figura 8- Mundo: principais países receptores de turistas internacionais (%) Fonte: Organização Mundial do Turismo (OMT, 2011)

Os dados apresentados na Figura 8 revelam que grande parte dos países com maior

número de receptores de turistas são europeus, e o turismo intercontinental acaba por

responder por essa forte onda de turistas.

As expectativas mundiais para o turismo são bastante positivas para esta década,

agregando cada vez mais valor à economia das mais variadas nações e a expectativa para o

futuro é ainda mais positiva, alcançando 2,9% do PIB em 2021, ou seja, US$ 2,865 trilhões.

Diante disso, a taxa de crescimento deverá ser de 4,2% ao ano (FECOMERCIO/SP, 2011).

O turismo mundial nos últimos 17 anos teve um crescimento de 95%, saltou de 530

milhões de turistas em 1.995 para 1.035 bilhões em 2012 (OMT, 2012). Com um cenário tão

positivo para o turismo na próxima década, observa-se que existe uma grande oportunidade

para que as mais variadas regiões do mundo possam receber mais turistas e assim,

desenvolver as suas respectivas economias.

8,46,2 5,9 5,8 4,9

3,2 2,9 2,7 2,7 2,4 2,4 2,4 2,2 1,9 1,8 1,7 0,5

41,8

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

Per

cent

agem

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73

Dados da Pesquisa Anual de Conjuntura Econômica do Turismo elaborada pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e Ministério do Turismo (BRASIL, 2012)

revelam que, no que diz respeito às receitas inerentes ao turismo internacional em 2011

(dados preliminares), os mais elevados incrementos percentuais foram apurados nos Estados

Unidos (+12% em relação a 2010), Espanha (+9%) e Reino Unido (+7%).

Entre os dez países com maiores incrementos percentuais de dispêndios turísticos

destacam-se os mercados emissores emergentes - China (+38%), Brasil (+32%), Índia (+32%)

e Rússia (+21%).

Em termos de gastos em dólares realizados pelos turistas, a liderança ainda é da

Alemanha (US$ 78 bilhões) e dos EUA (US$ 76 bilhões) – em plena expansão, a China (US$

55 bilhões) ocupa a terceira posição, superando os gastos de turistas provenientes do Reino

Unido, França, Canadá, Japão e Itália.

A Organização Mundial do Turismo ressalta a prioridade que deve ser dada ao setor de

turismo nas políticas nacionais, devido à sua importância crescente como atividade geradora

de renda e de empregos diretos e indiretos, num momento de dificuldades econômicas

vivenciadas principalmente por países da Europa. (OMT, 2012)

Para a Organização Mundial do Turismo, as chegadas internacionais de turistas no

mundo atingiram a expressiva marca de 980 milhões, crescendo cerca de 4,4% em 2011.

Estatísticas da Organização revelam que, contrariamente ao verificado em anos mais recentes,

o ritmo de crescimento das chegadas internacionais nas economias desenvolvidas (+5,0%),

em 2011, superou o dos países emergentes (+3,8%). (OMT, 2012)

As Américas, com 156,2 milhões de chegadas em 2011, registraram incremento de

4,2% favorecido pelo aumento da América do Sul (+10,4%). A América Central (+3,7%) e o

Caribe (+3,6%) mantiveram as taxas de crescimento próximas às apuradas em 2010; na

América do Norte, o percentual de elevação foi de 2,9%, atingindo-se a marca de 101 milhões

de chegadas internacionais em 2011. (OMT, 2012)

Oliveira (2006) informa que somente após a Primeira Guerra Mundial os países se

deram conta do potencial do turismo para o desenvolvimento econômico, mas a plena

consciência disso data do fim da Segunda Guerra Mundial, quando se deu a proliferação da

pesquisa sobre a atividade turística. Tais pesquisas propiciaram o avanço da exploração

econômica racional do turismo:

A relação entre turismo e desenvolvimento econômico pode ser aferida nos seguintes dados do World Travel & TourismCouncil (WTTC): até 2015,

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espera-se o crescimento nominal de US$ 10,678.5 bilhões, revertidos a partir de US$ 6,201.5 bilhões. Quanto à empregabilidade, o turismo vem apresentando um crescimento médio de 3% ao ano, em nível mundial, devendo manter-se estável até 2015 (OLIVEIRA, 2006, p.25).

Batista (2003, p. 2) opina que a indústria do turismo “é capaz de oferecer um rápido

crescimento econômico em termos de nível de empregos, distribuição mais justa de riqueza,

melhoria da qualidade de vida e incremento de alguns setores industriais ligados à atividade

turística”.

Por essa razão, os países desenvolvidos têm investido somas expressivas no turismo, a

fim de possibilitar sua emergência como uma modalidade chave para o desenvolvimento

econômico. Na esteira desse processo, o Brasil procura organizar uma estrutura turística que

atenda à demanda da chamada nova classe média, tópico a ser desenvolvido no capítulo 3, a

seguir.

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3 IMPACTO DA NOVA CLASSE MÉDIA NO TURISMO BRASILEI RO

Este capítulo aborda o impacto econômico da nova classe média no turismo no Brasil.

Apresenta inicialmente o desenvolvimento do turismo no Brasil, identificando os fatores

socioculturais e econômicos que o determinaram. Mostra que o consumo do turismo

representa status e aproxima a nova classe média da classe alta. A metodologia utilizada foi a

análise dos dados coletados nas diversas fontes tais como: Empresa Brasileira de

Infraestrutura Aeroportuária (Ifraero); Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE);

Pesquisa nacional por amostra domiciliar (Pnad); Banco Central do Brasil (BCB); Ministério

do Turismo; Fundação Getúlio Vargas (FGV); Centro de Políticas Sociais (CPS); Instituto de

Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA); Associação Nacional dos Centros de Pós

Graduação em Economia (ANPEC); Fundo Monetário Internacional (FMI) e Organização

Mundial do Turismo (OMT), sendo que devido a indisponibilidade de dados sobre o Brasil

ouve a necessidade da compra de um banco de dados da OMT. Finaliza com a análise do

papel da nova classe média como propulsora do mercado turístico brasileiro.

3.1 Desenvolvimento do Turismo no Brasil

Trigo e Mazaro (2012, p. 496) consideram que “o turismo no Brasil é assunto da

história mais recente do país”. Atribuem o desenvolvimento do setor à transição para o regime

democrático, à abertura de mercado e à reestruturação socioeconômica, possibilitando que as

viagens e o lazer ganhassem status de política pública e incorporassem “os hábitos da

população nas opções de uso do tempo livre”.

Solha (2002) assevera que o desenvolvimento do turismo no Brasil não é um

fenômeno recente e está associado a mudanças econômicas, sociais e culturais.

O estudo do processo evolutivo do turismo brasileiro enfrenta barreiras, entre as quais

a autora ressalta: a) a inexistência de registros da memória histórica do turismo no país; b) a

falta de sistematização das informações do setor; c) a falta de estudos abrangentes do

fenômeno em âmbito nacional; d) a dispersão dos estudos no tempo e no espaço; e) as poucas

informações empresariais dispersas entre os vários órgãos, entidades e associações (SOLHA,

2002).

Mesmo diante das dificuldades apontadas, Solha (2002) considera que o

desenvolvimento do Turismo no Brasil apresenta algumas etapas, a saber:

a) primórdios – da Colônia ao Império (Séc.XVII e XIX) – dos ranchos que

atendiam os tropeiros, às viagens anuais dos senhores do café à Europa;

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b) primeiras manifestações (1900- 1949) que vão das estações de cura e dos cassinos

ao começo das viagens de automóvel;

c) expansão e organização do Turismo (1950-1969) que advêm da ampliação e

melhoria da infraestrutura turística e de transportes, da organização da atividade

por associações e da elaboração de políticas públicas;

d) do sonho à decepção (1970 -1989) trajetória que vai do intenso crescimento e das

perspectivas otimistas à estagnação e decadência; e

e) retomada (1990 - 2000) decorrente do crescimento do mercado interno e dos

grandes investimentos em vários e diferentes setores e da descoberta de novos

segmentos de mercado.

Desde o período de colonização, as viagens estiveram presentes no cotidiano nacional.

Internamente, as viagens aconteciam de maneira rústica, motivadas por interesses materiais,

como buscas por pedras preciosas e ouro. Na opinião de Solha (2002), tais viagens não

poderiam ser consideradas turísticas, dado seu desconforto e periculosidade.

A atividade propriamente turística, no entanto, só se inicia, de acordo com Barreto

(2008) no século XX, com a fundação da Sociedade Brasileira de Turismo, em 1924. Essa

sociedade tinha seu conselho de honra composto por todos os governadores e presidentes dos

Estados da Federação e, como presidente de honra, o chefe do governo federal.

Paralelamente, o transporte aéreo começava a ser implantado em território nacional,

sendo que em 1927 é fundada a Varig, seguida pela Panair e pela Vasp. Por volta de 1945, as

atividades aéreas se intensificam, tanto interna quanto internacionalmente. Com a

infraestrutura de transportes pouco desenvolvida até a década de 1940, as atividades turísticas

ficaram restritas a locais próximos aos centros emissores, de acordo com Barreto (2008).

A despeito desse aspecto, Solha (2002) relata expressivo crescimento do comércio e

utilização de veículos automotores para passeio, antes mesmo que o país tivesse estrutura

viária. Registra-se também a realização do primeiro cruzeiro marítimo na costa brasileira do

Rio de Janeiro ao Amazonas em 1932.

Na década de 1950, o Brasil ganha visibilidade internacional, com a Copa do Mundo

de 1958 no Rio de Janeiro. Paralelamente, cresce a indústria automobilística exigindo o

empenho do país em ampliar a malha rodoviária por todo o território nacional.

Naquela década, a Agaxtur empresa criada em 1953, começa a operar com navios da

frota da Companhia de Navegação Lloyd Brasileiro, cruzeiros pela costa brasileira, de Santos

a Buenos Aires, a Manaus, a Fortaleza, a Salvador, entre outros destinos.

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Surgem também, os cruzeiros fluviais no rio Paraguai, para pesca esportiva. As

companhias aéreas expandem suas linhas regulares, comprando aviões usados na Segunda

Guerra mundial. Em 1958 elas já atendiam cerca de 333 localidades, mas entram em declínio

devido à expansão da malha viária (SOLHA, 2002).

Em 2003, foi criado o Ministério do Turismo, com o objetivo de “desenvolver o

turismo como uma atividade econômica sustentável com papel relevante na geração de

empregos e divisas, proporcionando a inclusão social.” (BRASIL, 2006).

3.1.1 Fatores determinantes do crescimento do Turismo no Brasil

O desenvolvimento do turismo no Brasil se deve a fatores culturais, políticos e

econômicos.

Entre os fatores culturais, Pinho (2009, p. 72) aponta, ainda no período colonial, o

hábito dos ricos senhores de engenho nordestinos de “enviar seus filhos para estudar em

universidades europeias, principalmente, Coimbra. Estes, por sua vez, adquirem mais do que

conhecimentos científicos, modos culturais do então soberano Velho Mundo", que foram

reforçados pela vinda da corte portuguesa ao Brasil, em 1808.

A corte portuguesa trouxe para o Brasil hábitos de lazer e veraneio que foram

rapidamente absorvidos por toda a colônia. O hábito de banhar-se no mar foi trazido para o

Brasil e provocou grandes transformações na vida e no cotidiano das pessoas.

O banho de mar tornou-se uma tendência e uma necessidade, a princípio para se

protegerem das doenças causadas pelas péssimas condições sanitárias em que se encontravam

as primeiras aglomerações na colônia, e, mais tarde, uma modalidade de lazer e turismo

(PINHO, 2009.).

Os fatores econômicos e políticos englobam desde a popularização dos automóveis, a

ampliação da malha viária, o desenvolvimento da aviação civil, a disseminação de

informações pelos mais variados veículos de comunicação até a crescente urbanização, entre

outros, elementos que promoveram o interesse dos brasileiros pelas viagens.

Por sua vez, Cheibub (2012) considera que o desenvolvimento tecnológico,

especialmente a partir de meados do século XX, contribui significativamente na chamada

segunda revolução dos transportes. A proliferação das rodovias e a massificação do

automóvel e do avião de passageiros diminuem as distâncias e facilitando o acesso das

pessoas aos mais variados espaços de lazer.

Tal posicionamento é corroborado pelo Ministério do Turismo (BRASIL, s.d., p. 28):

[...] “na década de 1960, o turismo torna-se uma realidade no Brasil. No âmbito doméstico, o

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desenvolvimento da indústria automobilística e da malha rodoviária leva a classe média a

viajar em automóveis pelo país. A rede de serviços para o turismo começa a se estruturar,

sobretudo na costa brasileira”.

Nos anos de 1970, a atividade turística cresce mundialmente e passa a ser considerada

no meio político uma atividade econômica capaz de resolver os vários problemas das

localidades mais estagnadas, ou seja, o turismo geraria dinamismo econômico, emprego e

renda, propiciando o desenvolvimento de muitas regiões. Nesse contexto, a hotelaria é

expandida, seguida de empresas aéreas e da malha rodoviária, com apoio das primeiras

políticas para o desenvolvimento da atividade turística.

Solha (2002) informa que, nas duas primeiras décadas do século XX, o padrão de

consumo do brasileiro foi influenciado pela rádio difusão, pela popularização da publicidade,

vinculada às atividades esportivas. Ainda assim, esse consumo, principalmente no que toca ao

turismo, estava restrito a uma pequena parcela da população.

Restrito à elite brasileira, somente no final da década de 1940 o turismo tornou-se

acessível às outras camadas sociais, a partir da Consolidação das Leis Trabalhistas, Decreto-

Lei nº 5452 de 1º de maio de 1943, em vigor a partir de 10 de novembro de 1943, em função

da regulamentação das relações individuais e coletivas de trabalho, dos salários, da jornada de

trabalho, do descanso remunerado, das férias, entre outros.

Trigo (2005, p. 19) esclarece que:

O crescimento do Turismo após a Segunda Guerra Mundial tem como causas a instituição geral de férias pagas aos trabalhadores, a elevação geral do nível de renda, a valorização da mentalidade do direito ao lazer e ao turismo, e a mudança dos hábitos de consumo nas sociedades que, aos poucos vão se transformando em pós-industriais, com o crescimento do setor terciário ou de serviço às pessoas conquistam o direito ao tempo livre.

Na visão de Camargo (2002), o turismo se torna um fenômeno no Brasil apenas em

meados dos anos 1930, com a instituição das férias anuais como direito de todos, através da

legislação trabalhista do Governo de Getúlio Vargas.

Para o autor, essa política:

[...] permite que o turismo se torne consciente de si próprio e progressivamente, enquanto se estrutura como prática comercial, devido a uma demanda mais consistente, incorpore como oferta de turismo cultural o diferencial que se codificava alegoricamente entre os estratos intelectuais como patrimônio histórico e artístico nacional (CAMARGO, 2002, p. 81).

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Alia-se, dessa maneira, o fator cultural ao fator político, gerando aumento do fluxo

turístico nacional.

No tópico a seguir, procura-se analisar o desenvolvimento do turismo associado ao

fenômeno da chamada da nova classe média brasileira.

3.2 A nova Classe Média e o Turismo: síntese de consumo, renda e padrões de

comportamento

Franco (2012) assevera que a transformação econômica e social motivada pela Classe

Média é um fato histórico para o País. Trata-se de uma transformação profunda e radical da

sociedade brasileira, abrangendo não somente o plano econômico como também o plano dos

valores, das atitudes, do desempenho, das expectativas e da relação com a política.

Para Bourdieu (2008), os bens consumidos e estilos de vida estão associados a

ocupações e estratos sociais específicos em um determinado contexto cultural e histórico.

Lamounier e Souza (2010) identificaram vários itens que constituem os anseios da classe

média brasileira, ilustrados no Gráfico 4, anteriormente visto. Importa ressaltar os percentuais

relativos a padrão de vida estável ( 63%0), renda alta (56%) e acesso a lazer e diversão,

considerado muito importante por 56% da classe média brasileira.

No que se refere a valores, Arancibia (2012, p. 81) considera que “o comportamento

da nova classe média parece ser distinto, tanto do comportamento da antiga classe média,

como do comportamento da população mais rica e do comportamento das famílias da faixa

social de onde surgiram”.

Corrobora essa opinião o Ministério do Turismo (BRASIL, 2011) ao afirmar que a

nova classe média apresenta padrões de consumo diferenciados. Como prova disso, a nova

classe média brasileira acessa de forma diferente as fontes de informação disponíveis tanto

sobre bens e serviços transacionados nos mercados, preço, qualidade e utilidade, como

também informações sobre os serviços públicos, dando uma fundamental importância às

opiniões de familiares e amigos (BRASIL, 2011).

No entanto, não só o comportamento da nova classe média pode diferir dos demais

grupos sociais e, em particular, da antiga classe média, mas também suas atitudes podem ser

diferenciadas. De importância fundamental para o desenho de políticas públicas adequadas às

necessidades e interesses da nova classe média é identificar suas atitudes frente ao trabalho,

aos serviços públicos de qualidade, à violência ou ao meio ambiente. Portanto, é necessário

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identificar em quais dimensões o comportamento da nova classe média difere dos demais

grupos, da antiga classe média (BRASIL, 2011).

Arancibia (2012) considera que o padrão de consumo da nova classe média pode

diferir do padrão de consumo da antiga classe média devido a diferenças nas restrições

socioeconômicas que enfrentam. Dessa maneira, haveria uma restrição orçamentária,

diferente talvez da antiga classe média.

Nessa linha de raciocínio, o Ministério do Turismo (BRASIL, 2011) reconhece que a

nova classe média poderá ter um padrão de consumo diferente, mesmo compartilhando os

mesmos valores e preferências que os grupos mais ricos e que a classe média tradicional.

Nesse caso, diferenças de comportamento não decorrem de diferenças em valores ou

preferências, mas simplesmente de níveis de renda e preços relativos diferenciados ou podem

diferir do observado na antiga classe média e outros segmentos mais ricos em decorrência de

efetivas diferenças em valores e preferências (BRASIL, 2011).

De fato, após a estabilização econômica, a nova classe média já tem casa montada,

comprou, parceladamente, muitos bens, adquiriu carros para toda família e hoje investe em

serviços e lazer. Não é raro encontrar pesquisas que revelam estratos populares viajando mais,

fazendo excursões e cruzeiros em navios sofisticados, através de compras de pacotes

turísticos, de acordo com Yaccoub (2011).

Seus integrantes vivenciaram um aumento de renda devido ao trabalho duro, no

entanto almejam pertencer à "classe média" a partir do consumo de produtos prestigiosos e

valorizados, mas não possuem habitus de classe média e se esforçam para adquirir os outros

capitais além do econômico para se identificarem cada vez mais com o grupo admirado e

imitado; assim, o processo de distinção social vai evoluindo conforme vão galgando

conquistas de consumo. Nesse contexto, o turismo apresenta-se como “um subsistema

particular dentro de um sistema de esquemas classificatórios mais amplos, simultaneamente

econômico e simbólico”, de acordo com Talavera e Pinto (2008, p. 18).

O turismo refletiria uma dimensão bastante relevante e talvez pudesse ser eleito o

‘produto’ da contemporaneidade por excelência, constituindo um fenômeno que “emerge

dentro do capitalismo num espaço-tempo definido, em função de fatores socioeconômicos

específicos”, de acordo com Talavera e Pinto (2008, p.18).

Além disso, “o turismo se pauta abstratamente em regras sociológicas e econômicas

universais, isto é, ele é regulado tanto por normas e costumes (para todos os sujeitos

envolvidos) quanto pelas leis de mercado (oferta, demanda e regulação)”.

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Nessa linha de raciocínio, a FECOMERCIO/SP (2012, p. 25) constata que, com um

patamar de renda mais elevado, a classe média brasileira passou a viajar mais e utilizando

meios de transporte como o avião e o navio. Os consumidores integrantes desse novo

segmento social “também passaram a adquirir pacotes de viagens nacionais e internacionais e

isso decorre do barateamento do custo das viagens e das oportunidades de parcelamento”.

Para o Ministério do Turismo (BRASIL, 2011), o ambiente econômico e o Turismo

também são impactados de forma significativa pelas melhorias sociais que vêm sendo

registradas nos últimos anos.

Segundo a fonte citada:

O aumento da renda média e do consumo das famílias e a emergência de uma nova classe média no Brasil constituem uma oportunidade ímpar de fortalecimento deste mercado e de reconhecimento do Turismo como importante fator de desenvolvimento econômico e social. No momento em que novos produtos entram, a cada dia, na pauta de consumo dos brasileiros, as viagens podem e devem ser incluídas neste rol, potencializando o consumo doméstico e aquecendo a economia (BRASIL, 2011, p.34).

No tópico a seguir, apresenta-se o crescimento do turismo da nova classe média

brasileira em números.

3.3 Turismo da nova classe média brasileira em números

Conseguir dados confiáveis e exatos sobre o setor de turismo no Brasil ainda é árdua

tarefa para pesquisadores, e as razões são múltiplas. Por se tratar de uma atividade

relativamente recente, há carência de referências conceituais que auxiliem na organização das

informações. Não se pode, muitas vezes, fazer uma evolução histórica de quantos turistas o

Brasil recebeu, por exemplo, entre 1930 e 1950, conforme Pinho (2009).

O autor justifica essa informação por tratar-se “de um setor não definido pelo lado da

produção, como os demais setores econômicos, mas sim pelo lado do consumo (da demanda),

ou seja, pelo resultado econômico do consumo dos visitantes”. Tal fato limita a obtenção dos

dados, tendo em vista que, no setor de turismo, muitos cálculos partem dos gastos dos turistas

(PINHO, 2009, p.225).

A diversidade de perfis e motivações dos visitantes para suas viagens, as condições

naturais e econômicas do local visitado, dentre outras condicionantes da demanda turística

constituem um conjunto significativamente heterogêneo de produtos consumidos.

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Nota-se, portanto, a dificuldade de medir o tamanho e a importância exata do setor de

turismo em uma economia. As metodologias da Organização Mundial de Turismo (OMT) são

as bases que os países utilizam para elaborar seus indicadores e seus estudos, inclusive o

Brasil.

Em vista desse cenário, criou-se o Plano Nacional de Turismo 2013-2016 (BRASIL,

2013, p.5) partindo do seguinte princípio:

O turismo também vem sendo impactado de forma significativa pelas melhorias sociais registradas nos últimos anos. Cerca de 60 milhões de brasileiros ascenderam de classe social entre os anos de 2005 e 2010, sendo que 45 milhões deixaram as classes D e E, 15 milhões migraram da classe C para as classes superiores. Com isso, nesse período, ocorreu um aumento acumulado de 62% na classe média (classe C), e a classe AB (grupo com renda domiciliar mais elevada, superior a R$ 4.807,00) aumentou 60%, totalizando 42,2 milhões em 2010. A classe C passou a ser dominante pelo percentual populacional, passando a constituir 53% da população.

A formulação do Plano Nacional de Turismo 2013-2016 consolida a Política Nacional

de Turismo e apresenta as orientações estratégicas para o desenvolvimento da atividade no

Brasil para os próximos anos.

O Plano define as contribuições do setor para o desenvolvimento econômico, social e a

erradicação da pobreza. Tem ainda como insumo básico o Documento Referencial - Turismo

no Brasil 2011/2014 e destaca, no âmbito da gestão, as diretrizes que devem nortear o

desenvolvimento do turismo brasileiro, como: a) a participação e diálogo com a sociedade; b)

a geração de oportunidades de emprego e empreendedorismo; o incentivo à inovação e ao

conhecimento; e c) a regionalização como abordagem territorial e institucional para o

planejamento.

A partir dessas diretrizes estratégicas, considerando o comportamento da atividade no

mercado nacional e internacional e os desafios impostos, são definidos objetivos a serem

alcançados: a) incentivar o brasileiro a viajar pelo país; b) incrementar a geração de divisas e

a chegada de turistas estrangeiros; c) melhorar a qualidade e aumentar a competitividade do

turismo brasileiro; e d) preparar o turismo brasileiro para os megaeventos (BRASIL, 2013).

A organização do Plano Nacional de Turismo segue uma estrutura lógica, que interliga

as diretrizes estratégicas, os objetivos e resultados esperados e a proposição e o

desenvolvimento de programas, projetos e ações. O plano agrega, ainda, um amplo conjunto

de informações e dados que norteiam as ações compartilhadas pelo Ministério do Turismo e a

cadeia produtiva do setor, em favor do turismo brasileiro (BRASIL, 2013).

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Neste tópico, serão considerados dados fornecidos pelo Ministério do Turismo

(BRASIL, 2009, 2010, 2011, 2012 e 2013), subsidiados pelo Instituto Brasileiro de Geografia

e Estatística (IBGE), pela FIPE (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) e Fundação

Getúlio Vargas (FGV).

3.3.1 Caracterização e Dimensionamento do Turismo Doméstico no Brasil – 2010/2011

O objeto deste documento sintetiza os aspectos relacionados ao seu desenvolvimento

metodológico e apresenta os principais resultados alcançados pela pesquisa.

A Pesquisa de Turismo Doméstico realizada pelo Ministério do Turismo e pela

Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) teve sua primeira edição em 1998,

cobrindo os 96 municípios que, à época, tinham mais de 200.000 habitantes, num total de

9.000 entrevistas domiciliares.

Em 2002 e 2006 foram realizadas a segunda e a terceira edição da pesquisa, ampliando

a cobertura geográfica e o tamanho da amostra. Em 2008 foi realizada sua quarta edição com

uma amostra probabilística de 137 municípios e um total de mais de 37 mil entrevistas.

As proporções de domicílios com viajantes, calculadas em nível dos domicílios da

população urbana brasileira, permitem inferir que, em cada 100 domicílios tem-se: a) em 44,0

deles, pelo menos 1 de seus residentes realizou, pelo menos, 1 viagem doméstica em 2011; b)

em 7,0 deles, pelo menos 1 de seus residentes realizou, viagens rotineiras em 2011; e c) em

4,3 deles, pelo menos 1 de seus residentes realizou, pelo menos, 1 viagem internacional em

2011.

A amostra da pesquisa seguiu parâmetros médios com base nas principais

características dos entrevistados em alguns de seus aspectos, sejam eles viajantes ou não: a)

chefes de famílias: 63,0%; b) gênero: masculino 39,1% e feminino 60,9%; c) idade média:

47,4 anos; e renda familiar média: R$ 2.394,63(Grifo nosso).

O número médio do total de viagens domésticas que se realiza por domicílio é

estimado em 2,6 viagens, realizadas por pelo menos um membro do domicílio, resultado

variável em função da renda e por motivo da viagem.

Em termos de Meios de Transporte, a maioria das viagens é realizada com modos que

oferecem melhores comodidades e confortos, indicando uma situação de boa qualidade das

viagens. Segundo a pesquisa, as alternativas Carro Próprio e Avião revelam expressivas

participações relativas, respectivamente, 44,1% e 17,0%, acumulando 61,1%. Destaca-se

ainda Ônibus de Linha, com 26,9%.

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Analisando os resultados da principal viagem doméstica, observa-se que além dos

destinos (por exemplo, em viagens mais distantes são maiores as proporções relativas do

modo Avião), os meios de transportes variam conforme o nível de renda de seu usuário. A

participação dos modos Carro Próprio e Avião crescem com a renda: Carro Próprio passa de

34,1% para 49,2% (diferença de 15,1 pontos percentuais); e Avião passa de 9,8% para 39,2%

(diferença de 29,4 pontos). Por outro lado, a participação relativa do modo Ônibus de Linha

involui com a renda: passa de 39,2% para 6,8% (diferença de 32,4 pontos percentuais).

Em termos de Meio de Hospedagem, mantém-se na primeira posição a alternativa

Casa de Amigos ou Parentes, com participação relativa de 62,8%. Uma indicação de

qualidade das viagens é dada pela expressiva participação de Hotéis, Pousadas e Resorts, que

juntos respondem por 25,0%.

Já a análise dos resultados por nível de renda da principal viagem doméstica revela

características bem distintas no modo de hospedagem utilizado. Nas classes mais baixas de

renda destaca-se a Casa de Amigos e Parentes, enquanto que os modos Hotéis, Pousadas ou

Resorts e Imóvel Próprio crescem com a renda.

No caso dos grupos Hotéis, Pousadas ou Resorts, a participação relativa evolui de

14,2% no estrato inferior de renda para 46,1% no último estrato de renda, resultando numa

diferença de 31,9 pontos percentuais. E, no caso do grupo Imóvel Próprio ou Alugado passa

de 6,4% para 10,7% entre os estratos de renda extremos. Por seu lado, o modo Casa de

Amigos ou Parentes responde por 74,1% das hospedagens da classe de menor renda, enquanto

que para a classe mais alta é de 40,3%%, diferença de 33,8 pontos percentuais.

O documento conclui que mais de 90% dos turistas não utilizaram agência para

organizar a principal viagem doméstica e ressalta que “a utilização de agência de viagem

aumenta conforme a renda do turista, passa de 3,6% na classe até 4 salários mínimos para

12,2% na classe de renda mais alta” (BRASIL, 2010).

3.3.2 Pesquisa Turismo no Brasil 2011-2014

A Pesquisa Turismo no Brasil 2011-2014 trouxe informações relativas às viagens

domésticas aferidas por meio de pesquisa amostral domiciliar realizada sob encomenda do

Ministério do Turismo.

As viagens domésticas referem-se às viagens realizadas pelos brasileiros no País,

individualmente ou em grupo, com pelo menos um pernoite no destino, excluindo-se as

viagens rotineiras, ou seja, deslocamentos realizados mais de dez vezes ao ano para um

mesmo destino.

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Nas viagens domésticas são utilizados diferentes tipos de meios de hospedagem

(hotéis, pousadas, resorts, campings, casas de parentes e amigos, etc.), de transportes (avião,

automóvel, ônibus, etc.) e por diferentes motivações (lazer, negócios, visita a parentes, etc.).

Segundo a pesquisa:

As viagens domésticas no Brasil vêm crescendo nos últimos anos. Os números apresentam uma expansão de 12,5% de 2005 a 2007, quando foram realizadas em torno de 156 milhões de viagens domésticas. Considerando a taxa de permanência média de 8,5 dias, conforme aferida pela pesquisa amostral domiciliar, foram gerados 1,33 bilhões de pernoites no ano de 2007, em todo o país. Ainda de acordo com a referida pesquisa, o gasto médio por dia realizado pelos turistas foi de R$58,60 em 2007, o que permite estimar um montante de R$ 9,14 bilhões mobilizados pelo mercado do Turismo doméstico no Brasil naquele ano (BRASIL, 2011).

A pesquisa revelou a predominância dos deslocamentos realizados no interior dos

próprios Estados em quase todas as Unidades da Federação, à exceção do Distrito Federal,

Espírito Santo, Goiás e Mato Grosso do Sul. Este percentual de fluxos intraestaduais varia de

29,8% em Tocantins a 87,4% no Rio Grande do Sul.

No que se refere aos fluxos interestaduais, São Paulo é o estado que mais recebe

turistas (27,2% do total de todo o País). Também é o maior emissor de turistas domésticos

para outros estados (30,4% do total de todo o País).

No que se refere aos destinos turísticos “sonhados” pelos entrevistados, a região

Nordeste se apresenta em primeiro lugar, com 54,2% das citações, contendo, portanto, os

destinos mais desejados pelos turistas brasileiros, em todas as regiões. Seguem-se as regiões

Sudeste (20,4%) e Sul (14,1%) como as mais “sonhadas”. Analisando-se por origem de

procedência, depois do Nordeste, a segunda região mais desejada é o Sudeste, para os

residentes de todas as demais regiões, particularmente para os do Nordeste (33,6%), Norte

(23,4%) e Sul (19,1% ) (BRASIL, 2011).

Além das viagens domésticas, é realizado no Brasil um grande número de viagens

rotineiras, assim definidas aquelas com uma frequência superior a 10 viagens por ano para um

mesmo destino. Em 2007, foram realizadas 146,2 milhões de viagens rotineiras em todo o

País. Somadas às viagens domésticas, este número chega a um total de 302,2 milhões de

viagens realizadas por brasileiros pelo País, em 2007.

A pesquisa ressalta a “inserção de novos consumidores advindos do aumento da

classe C” (BRASIL, 2011, p.85), a partir da qual o Ministério criou “uma campanha para a

promoção dos 65 destinos indutores, com linguagem publicitária unificada, e valorizando não

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apenas os momentos de lazer e a experiência que uma viagem proporciona, mas também o

aprendizado com relação à história, às riquezas naturais e à cultura” (Grifo nosso).

A ação ministerial para o mercado interno vem sendo focada na inclusão do Turismo

na pauta de consumo dos brasileiros, buscando aumentar o número de viagens dos novos

consumidores da classe C e estimulando o público A e B a viajar pelo Brasil.

O Ministério reconhece, no entanto, a necessidade de:

[...] evoluir para ações mais focadas na demanda e nos perfis diferenciados dos consumidores. Há uma grande lacuna de informações e dados relativos aos hábitos de consumo dos turistas brasileiros, o que limita a eficiência dos resultados das ações de promoção. Este foco reforça a necessidade de se avançar na produção e sistematização de informações e dados sobre a demanda turística, de modo a potencializar os resultados das ações de promoção (BRASIL, 2011, p. 85).

É necessário reconhecer a importância das ações dos diversos atores que atuam no

desenvolvimento do Turismo, voltados para a estruturação da oferta, mas também é vital para

o crescimento do setor que considere a demanda, com o objetivo de elaborar e especificar

novos investimentos, programas e ações.

De acordo com o documento, o desenvolvimento do mercado interno é fundamental

para dar sustentabilidade ao turismo no País, principalmente frente à perspectiva de expansão

do consumo nas diversas classes sociais. O turismo pode e deve ocupar um espaço cada vez

maior nesta pauta de consumo dos brasileiros.

3.3.3 Pesquisa Anual de Conjuntura Econômica do Turismo (PACET) 2012-2013

O Ministério do Turismo e a Fundação Getúlio Vargas apresentam a Pesquisa Anual

de Conjuntura Econômica do Turismo (PACET), em sua oitava edição, a qual reúne dados e

informações a respeito do desempenho em 2011 e os prognósticos para 2012 das 80 maiores

empresas do setor de turismo, as quais auferiram um faturamento total de R$ 50,9 bilhões no

ano em referência.

A PACET é uma sondagem baseada em entrevistas pessoais levadas a efeito com

dirigentes de cada um dos seguintes segmentos do setor turístico: agências de viagens,

locadoras de automóveis, meios de hospedagem, operadoras de turismo, organizadoras de

eventos, promotores de feiras, transporte aéreo, transporte rodoviário e turismo receptivo.

Em sua oitava edição, reúne dados e informações a respeito do desempenho em 2011 e

os prognósticos para 2012 das 80 maiores empresas do setor de turismo, as quais auferiram

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um faturamento total de R$ 50,9 bilhões no ano em referência. O documento ressalta que “em

2011, o número de desembarques nacionais de passageiros atingiu o número de 79.049.171,

correspondendo a uma variação de 15,8% em relação a 2010. A movimentação dos aeroportos

brasileiros em 2011 foi, igualmente, a maior já registrada desde o começo da série histórica,

em 2000”.

Os dois principais meios de transporte a serem utilizados são o avião e o automóvel. O

percentual médio de intenção de deslocamento por via aérea, que era de 44,4% em 2008,

elevou-se significativamente nos anos mais recentes, atingindo a média de 60,2%, em 2011.

Por outro lado, no que diz respeito à locomoção por automóvel, a média anual diminuiu

bastante de 2008 (36,1%) para 2011 (23,7%).

Quanto aos meios de hospedagem mais escolhidos, destacam-se os hotéis/pousadas e

as casas de parentes e/ou amigos, nessa ordem. No primeiro caso, o percentual aumentou de

50,4% (média de 2008) para 55,0% (média de 2011); no segundo, decresceu de 35,6% para

31,8% (comparadas as médias desses dois anos).

Por sua vez, em sua nona edição, a Pesquisa anual de Conjuntura Econômica do

Turismo (BRASIL, 2013, p. 7) reúne dados e informações a respeito do desempenho em 2012

e os prognósticos para 2013 das 80 maiores empresas do setor de turismo, as quais auferiram

um faturamento total de R$ 57,6 bilhões no ano em referência, contra R$ 50,9 bilhões do ano

anterior.

Trata-se, portanto, de mais um instrumento capaz de elevar o nível de compreensão

sobre o desempenho recente das empresas inclusas nas atividades características do turismo,

os fatores limitadores ou estimuladores da expansão dos negócios, os investimentos realizados

e os programados, assim como a perspectiva de evolução, em curto prazo, de cada um dos

segmentos elencados.

Essa edição da Pesquisa Anual de Conjuntura Econômica do Turismo reflete as

respostas coletadas no período de janeiro a março de 2013. Em 2012, as chegadas

internacionais tiveram uma evolução percentual significativa, por grandes regiões, a saber:

Europa, 535 milhões de chegadas internacionais (51% do total); Ásia e Pacífico, 233 milhões (23%); Américas, 162 milhões (16%); Oriente Médio, 53 milhões (5%); e África, 52 milhões (5%). Antevê-se que as variações (em números absolutos), de 2011 para 2012, tenham sido as seguintes: Europa, mais 17 milhões de chegadas internacionais; Ásia e Pacífico, mais 15 milhões; Américas, mais 6 milhões; África, mais 3 milhões; e Oriente Médio, menos 3 milhões( BRASIL, 2013, p. 20).

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No que concerne aos voos internacionais (que incluem estatísticas de brasileiros

retornando do exterior), dados também da Infraero mostram que somaram 9.236.947 os

desembarques estrangeiros no Brasil em 2012, o que corresponde a um crescimento de 2,4%

em relação a 2011 (9.018.507 desembarques). Esse total constitui, igualmente, recorde anual

dessa série histórica.

Dos 5,375 milhões de desembarques computados em 2003, vislumbra-se (numa

perspectiva otimista) que se possa alcançar (ou até superar) a marca dos 10 milhões em 2013,

correspondendo praticamente ao dobro, num período de 11 anos. E a expectativa é a de que,

com a proximidade de realização dos megaeventos esportivos, esses números crescerão

significativamente.

São apresentados, a seguir, os resultados do turismo no Brasil em 2012 e as

perspectivas para 2013, com base na análise dos segmentos pesquisados, cuja evolução está

associada ao crescimento da nova classe média, interesse específico deste trabalho.

A nona edição da PACET 2013 revela que “o faturamento das empresas do setor de

turismo como um todo, em 2012, cresceu para 94% do mercado consultado [...] Tal evolução

é considerada bastante satisfatória, ainda mais se levando em conta que 2011 constitui uma

base forte de comparação” (BRASIL, 2013, p. 30).

Os principais motivos que proporcionaram aquecimento dos negócios em 2012 no

segmento Agências de Viagens incluem: a) estabilidade econômica, propiciando ampliação do

número de viagens realizadas pelas empresas que já faziam parte do portfólio das agências e

por meio da captação de novos clientes; b) conjuntura atual positiva para o mercado

corporativo; c) expansão das agências on line, impulsionada pela entrada de novos usuários de

internet; d) aquisição de viagens a lazer por novas classes sociais; e) aumento do valor dos

produtos ofertados e melhoria da qualidade dos serviços; e f)aumento de viagens

internacionais e estabilidade de viagens nacionais ( Grifo nosso).

Quanto às Locadoras de Automóveis, o aumento do faturamento se deve, entre outros

fatores, a: a) ocorrência de uma mudança cultural, com o gradativo aumento tanto do aluguel

direto de veículos por parte dos brasileiros ao viajar; e c) ampliação do consumo de viagens

por novas classes sociais. (Grifo nosso).

Para o aumento do de faturamento das Operadoras de Turismo, concorreram: a)

fortalecimento da economia brasileira, relativa estabilidade do câmbio e aumento da renda

da população; b) ampliação da rede de distribuição, aumento das vendas de pacotes

internacionais e maior oferta de produtos, com foco em novas segmentações; e c) consumo

de viagens por novas classes sociais. (Grifo nosso).

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O setor de Transporte Aéreo teve significativa expansão do volume de operações, em

decorrência, entre outros fatores, da melhor distribuição de renda.

3.3.4 Sondagem do Consumidor – Intenção de Viagem

A Sondagem do Consumidor - Intenção de Viagem, elaborada pela FGV e o

Ministério do Turismo em 2013, retrata a expectativa das famílias brasileiras de consumir os

serviços relacionados ao turismo nos próximos seis meses. a qual abarca uma amostra de mais

de 2000 domicílios nas seguintes cidades brasileiras: Belo Horizonte, Brasília, Porto Alegre,

Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.

Houve 30,8 % de assinalações positivas de intenção de viagem em junho de 2013,

contra 28,9%, em 2012. Desses 30,8% de assinalação positiva, constam os seguintes dados

referentes a 2013: a) destinos turísticos nacionais, 71,8% (contra 67,8% em 2012); b) destinos

turísticos internacionais, 26,8% (contra 23,9% em 2012). Ressalte-se o percentual de 1,4% de

indecisos (contra 8,3% em 2012).

Quanto aos meios de hospedagem, dos 30,8% de assinalações positivas, constam os

seguintes dados referentes a 2013: a) hotéis e pousadas, 54,13% (contra 51,8% em 2012); b)

casas de parentes /amigos, 36, 2% (contra 38,6% em 2012); e c) outros, 9,5% (contra 9,6 em

2012).

No que se refere aos meios de transporte, constam os seguintes dados referentes a

2013: a) avião 59,7% contra 59,2% em 2012); b) automóvel 24,9% (contra 20,3% em 2012);

c) ônibus, 13,7 % (contra 9,2% em 2012) e d) outros, 1,7% (contra 11,3% em 2012).

A Figura 9, a seguir, ilustra os principais meios de transporte utilizados nas viagens de

lazer:

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90

Figura 9 Principais meios de transporte no turismo Fonte: Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT, 2010) Na Figura 9, o percentual de 2% inclui barco e navio, mas pesquisa recente da

Associação Brasileira de Empresas Marítimas (ABREMAR) e da FGV apontam uma

tendência de evolução na demanda desse meio de transporte, como se observa no tópico a

seguir.

3.4 Perspectivas e tendências

De acordo com Vidor (2011, p.20), o Setor de turismo continuará crescendo acima da

média da economia:

O turismo, e em particular, o segmento das operadoras, continuará se expandindo acima da média, o que é justificável pela melhora dos indicadores sociais e econômicos do país, que levam um maior número de pessoas a destinar parte do seu tempo e de sua renda ao lazer. As estatísticas de emprego mostram, mês a mês, um número crescente de postos de trabalho formais, com carteira assinada, e com elevação do nível médio de remuneração. Isso faz com que os brasileiros enxerguem seu futuro com mais tranquilidade e tenham condições de planejar viagens com relativa antecedência.

Os empresários de todos os segmentos são praticamente unânimes quanto à

perspectiva de significativa ampliação dos negócios em 2013 (saldo de 93% em comparação a

2012), acompanhando os prognósticos de retomada da economia brasileira, de acordo com a

Pacet (BRASIL, 2013).

No que se refere às Agências de Viagens, a tendência aponta para: a) retomada do

crescimento da economia brasileira; b) resultados favoráveis advindos de investimentos em

64%12%

12%

4%

3% 2%1%1%

1%

Ônibus

Automóvel Próprio

Automóvel amigo/parente

Van/Kombi

Avião

Trem

Barco/navio

Caminhão

Moto

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91

tecnologia; c) imagem política do Brasil no exterior; d) alta exposição do País na mídia

internacional aumentando o número de turistas estrangeiros; e) consumo maior de viagens

por outras classes sociais; f) maior produtividade; e g) majoração de tarifas hoteleiras e

passagens aéreas (e consequente elevação do faturamento das agências).

Quanto às Locadoras de Automóveis, as principais perspectivas relacionam-se a: a)

tendência de demanda crescente do mercado, com base na expansão do PIB e nos

investimentos realizados; b) majoração das tarifas e novas oportunidades de negócios na área

de terceirização; c) maior consumo de locação de veículos para lazer pela classe média;e

d) terceirização cada vez maior da frota de veículos por empresas e pelo Poder Público.

Ressalte-se que as perspectivas relativas aos Meios de Hospedagem incluem:

a) continuidade de aumento da demanda, da escassez da oferta e da decorrente elevação do

valor das diárias; b) crescimento do PIB e maiores investimentos estrangeiros no País,

estimulando o aumento de viagens a negócios; e c) incentivos do governo para construção de

novos hotéis e reforma ou ampliação dos já existentes, tendo em vista os megaeventos

esportivos.

Nesse sentido, convém ressaltar o tópico Intenção de Viagem constante da Sondagem

do Consumidor (BRASIL, 2013).

A intenção de viagem retrata a expectativa das famílias brasileiras de consumir os

serviços relacionados ao Turismo nos próximos 6 meses, sendo realizada com base numa

amostra de mais de 2000 domicílios nas cidades de Belo Horizonte, Brasília, Porto Alegre,

Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e Recife.

Ao longo de 2012, os percentuais de informação positiva de disposição de viajar (nos

próximos 6 meses) variaram do mínimo de 23,2% (fevereiro) ao máximo de 32,8%

(setembro). Por outro lado, a diferença entre respostas negativas e positivas foi mínima em

dezembro de 2012 (31,0%) e máxima em fevereiro (49,4%) (BRASIL, 2013, p. 26).

A ampliação dos negócios inclui os cruzeiros marítimos, até alguns anos atrás algo

impensável para a maioria das pessoas. Os cruzeiros eram considerados símbolos da classe

mais abastada. Essa realidade mudou, com o crescimento econômico e a ascensão da nova

classe média.

Ressalte-se que o turismo de cruzeiros é um segmento bem específico, que envolve

tanto questões relacionadas a transporte marítimo como a hospedagem, hospitalidade e

entretenimento.

De acordo com pesquisa elaborada pela Associação Brasileira de Empresas Marítimas

(ABREMARV/FGV, 2012), na última década, constatou-se considerável aumento do fluxo de

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92

cruzeiros marítimos na costa brasileira, com a ampliação da oferta de leitos nos navios e de

rotas por parte dos armadores.

Na temporada 2010/2011, foram contabilizados cerca de 800 mil cruzeiristas que

geraram impactos econômicos significativos para o País. Parte desse incremento se justifica

pelo controle da inflação, maior formalização do mercado de trabalho e aumento da renda da

população brasileira, registrando-se maior procura por viagens a lazer (ABREMAR/FGV,

2012).

No que diz respeito à demanda, foram observadas características dos cruzeiristas, tais

como perfil, gastos realizados, intenção de compras, hábitos de viagem, serviços utilizados,

intenção de retorno ao destino visitado, entre outras.

Na maioria das vezes, o que de fato influencia a decisão de compra de um cruzeiro

marítimo é a experiência de viajar em um transatlântico. No entanto, é possível verificar que o

conjunto desses fatores, somado aos destinos que compõem o roteiro, favorece para tornar

essa experiência única.

A pesquisa destaca números expressivos, a saber:

Dentre os fatores que mais influenciam a viagem de cruzeiro, estão a indicação de amigos e parentes e o preço. Pelas pesquisas, 62,7% dos cruzeiristas estavam em sua primeira viagem de navio e 37,3% já haviam feito um cruzeiro anteriormente. Como resultado, a grande maioria (86,8%) deseja realizar viagem de cruzeiro novamente. Os destinos mais procurados seriam: Litoral nordeste (29,2%), seguido de cruzeiro internacional (28%). Caribe e Buenos Aires também foram citados com 17% e 13,4%, respectivamente (ABREMAR /FGV, 2012).

Dos entrevistados, 89,1% afirmaram que retornariam ao destino de escala a lazer, o

que demonstra uma positiva experiência de viagem, enquanto 51,8% do total dos

respondentes afirmaram que a imagem do destino melhorou após a viagem.

Rio de Janeiro e Santos aparecem como os principais portos de embarque/

desembarque. A pesquisa aponta que 15,3% dos entrevistados aproveitaram para estender a

viagem e permanecer um período maior na cidade de embarque/desembarque, antes e/ou após

a viagem de cruzeiro.

Dos 15,3% que permaneceram por mais tempo no destino (de 2 a 3 dias adicionais ao

período da viagem de cruzeiro), 61,3% hospedaram-se em hotéis e 33,8% em casa de amigos

e parentes, reforçando as demais pesquisas citadas neste trabalho sobre meios de hospedagem

da nova classe média brasileira.

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93

No que diz respeito à origem dos passageiros, a grande maioria dos entrevistados

procede do estado de São Paulo (61,1%) seguida do estado do Rio de Janeiro (12%) e do

estado do Paraná (5,9%). O público é predominantemente feminino (55,8%), estado civil

casado (54,4%), na faixa etária entre 25 e 44 anos (48,6%). Possuem, ainda, em sua maioria,

ensino superior completo (58,1%). Destaca-se a faixa de renda mensal familiar dos

entrevistados: 14,7% têm acima de R$10 mil e 29%, entre R$ 5.000,00 e R$10.000,00 mil

reais.

O mercado é dinâmico sofrendo alterações o tempo todo, em função da oferta e da

demanda, a cada impacto em uma dessas funções a um novo processo de ajuste, no qual se

estabelece um novo preço de equilíbrio e o padrão de alocação de recursos também é alterado.

A Figura 10, a seguir, mostra que a desigualdade da renda no Brasil esta em declínio,

pois entre os anos de 2001 a 2009, a renda per capita da população dos 10% mais ricos do

país subiu 12,80% no período em quanto que no mesmo período a renda dos 10% mais pobres

subiu 69,08%.

Figura 10 Variação per capita da renda média por décimos de renda no Brasil (2009/2001) Fonte: CPS/FGV com base nos microdados da Pnad/IBGE (2010).

Um outro índice que nos demonstra que essa desigualdade vem caindo e o coeficiente

de Gini, que de acordo com o IPEA (2004), foi criado pelo matemático italiano Conrado Gini,

é um instrumento para medir o grau de concentração de renda em determinado grupo. Ele

aponta a diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos. Numericamente,

varia de zero a um. O valor zero a situação de igualdade, ou seja, todos têm a mesma renda. O

valor um está no extremo oposto, isto é, uma só pessoa detém toda a riqueza. Na prática, o

índice de Gini costuma comparar os 20% mais pobres com os 20% mais ricos.

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

40,00%

50,00%

60,00%

70,00%

80,00%

10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

+ ricos

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94

A figura 11, nos mostra a redução do índice de Gini no decorrer dos últimos anos

(1995 a 2012).

Figura 11 Índice de Gini (2005/2012) Fonte: IPEA (2012).

Diante desta nova perspectiva, as empresas de turismo, viram um novo nicho de

mercado e se adaptaram a essa nova demanda, disponibilizando pacotes promocionais e

crédito facilitado, com isso tivemos um constante aumento no número de passageiros nos

desembarques domésticos. A Figura 12, demonstra o número de desembarques domésticos no

Brasil que no período de 2005 a 2012, cresceu 108,67%.

Figura 12 Desembarque de passageiros domésticos Fonte: Infraero (2012).

0,48

0,5

0,52

0,54

0,56

0,58

0,6

0,621

99

5

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2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

De

sem

ba

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es

Do

stic

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Milhões de viagens

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95

A atividade do turismo e responsável por uma parcela na geração de divisas

internacionais, que dependendo do tamanho do país ou de suas condições econômicas, o

turismo pode representar mais da metade de toda a riqueza gerada. Mas independente do

tamanho da economia desse país as receitas com o turismo não podem ser menosprezadas,

como demonstra a tabela 5, onde o maior exportador de turismo e os Estados Unidos, que

também é a maior economia mundial. De acordo com dados da Organização Mundial do

Turismo (OMT) e do Fundo Monetário Internacional (FMI).

O turismo representa cerca de 5,4% do comércio internacional no mundo. O maior exportador de turismo, isto é, o país com maior volume de receita gerada pelo turismo receptivo são os Estados Unidos, cum uma receita de 93,9 bilhões de dólares em 2009. A França, apesar de ser o país que recebe o maior número de turistas internacionais, teve uma receita que representa apenas 53% da receita de turismo internacional norte-americana. A razão dessa discrepância é que o gasto médio dos turistas que vão aos Estados Unidos é consideravelmente superior ao gasto daqueles que vão à França. A receita turística do Brasil em 2009 foi de 5,3 bilhões de dólares, representando 2,9% do total de exportações de bens e serviços. (Organização Mundial do Turismo 2009) .

Tabela 5 Maiores exportadores de turismo

Receita do Turismo Exportações Totais 2 Participação do

País Internacional 1 (Bilhões de US$) Turismo nas (Bilhões de US$) Exportações (%) Estados Unidos 93,9 1.571 6,0 Espanha 53,2 347 15,3 França 49,4 617 8,0 Itália 40,2 510 7,9 China 39,7 1.333 3,0 Alemanha 34,7 1.377 2,5 Brasil 5,3 181 2,9 Mundo 852,0 15.839 5,4 Fonte: 1 OMT( 2009 ).; 2 FMI( 2009 ). (Dados relativos a 2009)

No Brasil desde 2005, não temos tido uma grande oscilações na entrada de

estrangeiros no território nacional, mas fizermos a comparação de 1995 a 2012, podemos

verificar um crescimento de 185%, como demonstrado na Figura 13.

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96

Figura 13 Entradas de estrangeiros no Brasil. Fonte OMT ( 2012 ).

Já as saídas de brasileiros para o exterior vêm numa crescente desde 2003, com a

exceção de 2009, ano de crise econômica mundial, que consequentemente afetou também o

segmento do turismo mundial, de 1995 a 2012, houve um crescimento de 193%, nas viagens

de brasileiros para fora do país como demonstra a Figura 14.

Figura 14 Saída de brasileiros para o exterior Fonte OMT 2012 ).

O principal destino dos brasileiros no exterior tem sido os Estados Unidos, seguidos

pela nossa vizinha à Argentina como demonstramos na Figura 15.

0

1.000

2.000

3.000

4.000

5.000

6.000

1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

-

1.000.000

2.000.000

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4.000.000

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6.000.000

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199519961997199819992000200120022003200420052006200720082009201020112012

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97

Figura 15 Principal destino dos brasileiros no exterior Fonte OMT ( 2012 ).

No Brasil a balança de serviços, no qual se incluem as receitas e despesas em viagens

internacionais tem sido negativas desde 1995, com as exceções de 2003 e 2004 guando se

fechou com um saldo positivo. Sendo que a partir de 2005 até 2012 houve um crescimento do

déficit em 2683,57% como demonstrados na Figura 16.

Figura 16 Déficit na balança de serviços Fonte Banco Central do Brasil (relatórios anuais de 1995 a 2012). Um dos principais indicadores econômicos de um país é o Produto Interno Bruto (PIB)

que segundo Sandroni (1996). Refere-se ao valor agregado de todos os bens e serviços finais

produzidos dentro do território econômico do país, independentemente da nacionalidade dos

proprietários das unidades produtoras desses bens e serviços. O Brasil nos últimos 10 anos

teve um crescimento anual médio do seu PIB abaixo dos Bric’s como demonstramos na tabela

6.

0

500.000

1.000.000

1.500.000

2.000.000

EstadosUnidos

Argentina Portugal Espanha Uruguai Chile Italia Alemanha Paraguai

2000 2005 2010 2012

-20.000

-15.000

-10.000

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199519961997199819992000200120022003200420052006200720082009201020112012

Via

gens

ao

Ext

erio

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Tabela 6 Crescimento econômico médio entre os anos 2002 - 2011

País Média do crescimento ano (%)

Brasil 3,24 Rússia 4,52 Índia 7,78 China 9,39 Mundo 2,6

Fonte: Bank of America Merrill Lynch (2012)

Apesar do crescimento do PIB brasileiro, no últimos 10 anos ser abaixo dos Bric’s, se

analisarmos as outras tabelas apresentadas podemos concluir que o brasileiro nunca antes em

sua história, pode viajar tanto como agora, sejam em voos domésticos ou até em voos

internacionais, como demonstrados nas figuras 12 e 13, a concentração da renda no país

também vem caindo, gradualmente figuras 10 e 11. O Brasil ainda tem muito a percorrer para

atingir o desenvolvimento, e termos uma sociedade mais justa e igualitária.

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99

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho partiu da observação sobre as modificações significativas por que

passou a estrutura social brasileira, associadas à recente trajetória de ascensão social da

chamada nova classe média brasileira.

Esse cenário motivou a pesquisa sobre como a nova classe média brasileira percebe e

consome o Turismo. Buscou-se, como objetivo principal, analisar o comportamento da

chamada nova classe média em relação ao Turismo. Para dar suporte a esse objetivo principal,

foram estabelecidos objetivos secundários, tais como identificar a dimensão renda da

estratificação social, estabelecer a dimensão consumo dessa estratificação e analisar os

padrões de consumo de produtos turísticos da nova classe média brasileira.

Admitiram-se como hipóteses de pesquisa que a nova classe média procura copiar o

padrão de consumo e destinos que ela atribui às “classes altas” e que o consumo de produtos

turísticos pela nova classe média apresenta um crescimento expressivo e superior ao

crescimento da economia do país como um todo.

Nesse contexto, o Turismo desponta como um elemento que congrega os diversos

ângulos observáveis da classificação social para dimensionar a chamada nova classe média

brasileira, com ênfase no aspecto econômico.

Metodologicamente foram utilizadas duas formas de pesquisa, a bibliográfica e a

documental. A pesquisa documental realizada permitiu constatar o crescimento de 19,8%%,

em termos reais, entre 2001 e 2008, da renda per capita nacional, período em que 19,5

milhões de brasileiros registraram elevação real em seu rendimento individual superior à

evolução da renda per capita nacional. Ou seja, 11,7% do total dos brasileiros tiveram

aumentados seus rendimentos acima da renda per capita real do País.

Entre 2003 e 2010, foram criados 14 milhões de empregos formais e o salário médio

do trabalhador expandiu-se aproximadamente 20%. Como consequência, mais de 30 milhões

de pessoas ingressaram na classe média.

Para a Secretaria de Assuntos Estratégicos (BRASIL, 2012), nos últimos 10 anos,

35 milhões de pessoas entraram na classe média – que passou de 38% da população, em 2002,

para 53%, em 2012, somando hoje mais de 100 milhões de brasileiros. Nesse período, o país

desenvolveu e implementou um conjunto de programas sociais reconhecidamente eficazes

para reduzir a pobreza e promover a inclusão produtiva.

Verificou-se uma ênfase no aspecto econômico da estratificação social, embora não

seja este o único fator a ela associado. Na esteira da economia, deve-se considerar outro fator

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de estratificação na forma de medidas de consumo: maior renda, maior consumo, na ciranda

de oferta e demanda da economia. Note-se, no entanto, que não devem ser esquecidos fatores

culturais e simbólicos que embasam a estratificação social.

Tanto o levantamento bibliográfico quanto o levantamento documental permitiram

identificar a dimensão renda da estratificação social. No Brasil, o conceito de renda per capita

é o mais utilizado por institutos de pesquisa. De acordo com esse critério, a soma da renda de

um domicílio, dividido por seus integrantes, aproxima-se da realidade no sentido de valor

monetário, ou poder de compra, embora não levem em consideração as despesas, reduzindo

consideravelmente os valores de renda.

Esse critério é defendido por Neri (2008) e pela Secretaria de Assuntos Estratégicos

(SAE). As famílias com renda mensal entre R$1.200 e R$ 5.174 compõem a classe “C”,

segundo a classificação abordada. Essa é a camada socioeconômica que concentra a maior

parte das famílias brasileiras, com 55% das famílias brasileiras em 2011. Trata-se da classe

social que vem apresentando grande ascensão na pirâmide socioeconômica brasileira,

impactando a economia como um todo.

Constatou-se igualmente a dimensão consumo da classificação da nova classe média

brasileira de acordo com o Critério de Classificação Econômica Brasil (CCEB) ou Critério

Brasil, desenvolvido pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP).

Por meio desse instrumento de segmentação econômica, identificam-se características

domiciliares, com ênfase no consumo de itens domiciliares de conforto para diferenciar a

população e se utiliza a expressão Classe C para designar a classe média em função do poder

de compra e consumo de determinados itens.

A revisão da literatura permitiu concluir que o mercado doméstico brasileiro é um dos

dez maiores do mundo e sua força é essencial para a competitividade da indústria. Os últimos

anos testemunharam um forte crescimento do mercado doméstico com redução das

desigualdades sociais e regionais e transformações profundas no perfil do consumidor

brasileiro (TRIGO, 2012; PITOL, 2012; SCALON, SALATA, 2012; YACCOUB, 2011).

Nesse cenário, Franco (2012), comparando o Brasil aos grupos de países mais

desenvolvidos e ricos, avalia que, se a classe média fosse um país, pela sua capacidade de

consumo, estaria no G-20. Consolidada a permanência de sua ascensão, daqui a 10 anos, pela

capacidade de consumo, a classe média estará entre os países do G8.

A tendência positiva do consumo de produtos turísticos está presente em vários

documentos oficiais. Dos 5,375 milhões de desembarques computados em 2003, vislumbra-se

(numa perspectiva otimista) que se possa alcançar (ou até superar) a marca dos 10 milhões em

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101

2013, correspondendo praticamente ao dobro, num período de 11 anos. E a expectativa é a de

que, com a proximidade de realização dos megaeventos esportivos, esses números crescerão

significativamente.

Houve 30,8 % de assinalações positivas de intenção de viagem em junho de 2013,

contra 28,9%, em 2012. Desses 30,8% de assinalação positiva, constam os seguintes dados

referentes a 2013: a) destinos turísticos nacionais, 71,8% (contra 67,8% em 2012); b) destinos

turísticos internacionais, 26,8% (contra 23,9% em 2012). Ressalte-se o percentual de 1,4% de

indecisos (contra 8,3% em 2012).

O setor de Turismo continuará crescendo acima da média da economia na visão da

BRAZTOA (2012). Para a Pesquisa Anual da Conjuntura Econômica do Turismo (BRASIL,

2013), os empresários de todos os segmentos são praticamente unânimes quanto à perspectiva

de significativa ampliação dos negócios em 2013 (saldo de 93% em comparação a 2012),

acompanhando os prognósticos de retomada da economia brasileira.

No que diz respeito ao impacto direito do turismo deverá representar 3,3% do PIB,

alcançando R$ 129,6 bilhões em 2011. A atração de visitantes provocada pela realização de

grandes eventos esportivos no país, tais como Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, bem como

a própria estabilização econômica do país favorecem um cenário para projetar a evolução do

turismo para a próxima década, ou seja, deverá crescer algo em torno de 4,8% por ano até

2021, alcançando 3,6% do PIB (R$ 206,9 bilhões), na visão da FECOMERCIO/SP (2012).

Para a BRAZTOA (2012) o turismo, e em particular, o segmento das operadoras,

continuará se expandindo acima da média, o que é justificável pela melhora dos indicadores

sociais e econômicos do país, que levam um maior número de pessoas a destinar parte do seu

tempo e de sua renda ao lazer. As estatísticas de emprego mostram, mês a mês, um número

crescente de postos de trabalho formais, com carteira assinada, e com elevação do nível médio

de remuneração. Isso se deve também à ascensão da classe C ansiosa por consumir e viajar.

Considera-se, a partir do exposto, que a pesquisa atingiu seus objetivos, mas, diante da

complexidade e amplitude do tema, evidentemente não o esgota. Sugere-se, assim, a

continuidade do estudo, seja pela elaboração de pesquisa em âmbito regional sobre o consumo

da classe média brasileira, seja pela realização de pesquisa de campo em segmentos

específicos da atividade turística nessa camada social seja pelo acompanhamento da economia

brasileira frente ao mercado global.

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