artigo encontro de ciencias da religião 2

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 SESSÃO: CONSIDERAÇÕES ETIMOLÓGICAS E HISTÓRICAS DAS RELIGIÕES. ENTRE PERSPECTIVAS E CENTRO: GENEALOGIAS INDIVIDUALIZANTES NO PROTESTANTISMO Edson Antunes Quaresma Júnior Ao longo da hi st ór ia, os indi duos pe rce bem as nuances do coti di ano orientados por algo comum, algo que interconecta e, mesmo enquanto atores isolados os tor nam pró ximos. Gid den s, (2005) afi rma que este sist ema de int er-r elaç ões pod e ser chamado de sociedade. Dent ro desse sis tem a, uma série de si gnificados podem ser observados, constituindo sentidos. Segundo Rodrigues, (2006), a sociedade é um sistema estruturado cuj os componentes se rel acio nam segu ind o det ermina da lóg ica, que é int roje tada nos indiv íduo s e projetada pelas suas mentes no mundo , traduzindo os valores de acordo com aquelas pr emissas. Po rta nt o, o si ste ma de sig ni fi cad os é repr ese nt ado e concebido individualmente. At é ce rt o po nt o, mesmo o qu e o ho me m de ve ser, inte lect ua lmente, moralmente e fisicamente recebe influências de valores atribuídos por um sistema de inter- rela ções que pode ser ver ifi cado em vár ios nív eis de apr oxi maç ão, como rela ções de indivíduo com outro, ou com a família, comunidade, instituições sociais, religião, estado nação ou mesmo indivíduo e mundo. O que se descortina na contemporaneidade, porém, é a ausência de um sentido comu m entr e indi vi duo e sist ema, levando não só à de sco ne o, como em alg uns moment os, à comple ta dif eren ciaç ão ent re os int eresses par tic ula r e o col eti vo (com  prejuízos para este, que o primeiro é levado a perceber suas prioridades como  preponderantes). Talvez, o cerne deste sistema de valores possa ser nomeado por individualismo. Enquanto conceito de individualismo, Dukheim,(1999) aponta a evidenciação do individuo em detrimento da sociedade, denotando a ausência de vínculos daquele em  Professor das Faculdades Santo Agostinho de Montes Claros. Mestrando em Educação, Cultura e Organizações Sociais pela UEMG/FUNEDI.

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  • SESSO: CONSIDERAES ETIMOLGICAS E HISTRICAS DAS RELIGIES.

    ENTRE PERSPECTIVAS E CENTRO: GENEALOGIAS INDIVIDUALIZANTES NO PROTESTANTISMO

    Edson Antunes Quaresma Jnior

    Ao longo da histria, os indivduos percebem as nuances do cotidiano

    orientados por algo comum, algo que interconecta e, mesmo enquanto atores isolados os

    tornam prximos. Giddens, (2005) afirma que este sistema de inter-relaes pode ser

    chamado de sociedade.

    Dentro desse sistema, uma srie de significados podem ser observados,

    constituindo sentidos. Segundo Rodrigues, (2006), a sociedade um sistema estruturado

    cujos componentes se relacionam seguindo determinada lgica, que introjetada nos

    indivduos e projetada pelas suas mentes no mundo, traduzindo os valores de acordo com

    aquelas premissas. Portanto, o sistema de significados representado e concebido

    individualmente.

    At certo ponto, mesmo o que o homem deve ser, intelectualmente,

    moralmente e fisicamente recebe influncias de valores atribudos por um sistema de inter-

    relaes que pode ser verificado em vrios nveis de aproximao, como relaes de

    indivduo com outro, ou com a famlia, comunidade, instituies sociais, religio, estado

    nao ou mesmo indivduo e mundo.

    O que se descortina na contemporaneidade, porm, a ausncia de um sentido

    comum entre individuo e sistema, levando no s desconexo, como em alguns

    momentos, completa diferenciao entre os interesses particular e o coletivo (com

    prejuzos para este, j que o primeiro levado a perceber suas prioridades como

    preponderantes). Talvez, o cerne deste sistema de valores possa ser nomeado por

    individualismo.

    Enquanto conceito de individualismo, Dukheim,(1999) aponta a evidenciao

    do individuo em detrimento da sociedade, denotando a ausncia de vnculos daquele em

    Professor das Faculdades Santo Agostinho de Montes Claros. Mestrando em Educao, Cultura e Organizaes Sociais pela UEMG/FUNEDI.

  • relao esta atravs da demonstrao de uma personalidade individual diferenciada da

    coletiva.

    Outro autor que tentou definir esta caracterstica foi Tocqueville, (2000), que

    delimita: o individualismo um sentimento refletido e tranqilo, que dispe cada cidado

    a se isolar da massa de seus semelhantes (...) (Tocqueville, 2000, p. 19). Ou ainda

    Dumont (1985), que afirma: Designa-se por individualista (...), uma ideologia que

    valoriza o indivduo, (...) e negligencia ou subordina a totalidade social (Dumont, 1985, p.

    279).

    Poderia parecer evidente diante das afirmativas, que o individualismo seria um

    sentimento, alguma forma de contraposio do individuo em relao sociedade. No

    entanto, o conceito tratado por Dumont (1985) no define o individualismo desta maneira.

    Este autor percebe que, antes de haver uma contraposio, ou alguma forma de

    negligncia, existe uma ideologia, uma formatao social.

    A viso de alguns autores acredita no individualismo no como uma simplria

    contraposio entre individuo e sociedade. Observam, como Velho, (1999) que o contexto

    individualizador aquele em que se focaliza o ser biolgico como unidade em torno do

    qual se desenvolve um sistema de referencias e no um valor em detrimento do outro.

    O individualismo seria uma elevao da pessoa unidade de valorao

    principal, a partir da qual as referncias so feitas. O individualismo consiste na elevao

    dos indivduos ao centro a partir para onde as relaes apontam, e teria como um dos

    efeitos, a contraposio.

    Mas antes de alguma generalizao a respeito da idia de um individualismo

    sempre existente, importante notar que existem contrapontos: existem vestgios de

    algumas culturas que colocavam maior nfase em necessidades em comum, como as

    sociedades caadoras e coletoras. Portanto, uma questo relevante a ser discuta sobre o

    individualismo seria qual formatao do sistema de valores permitiu, deu origem, ou

    laicizou a sua emerso.

    Segundo Dumont (1985), est em Calvino e na reforma protestante a partir do

    sculo XVIII a culminncia de uma srie de fatores que faziam os homens se realizarem

    fora do mundo enquanto indivduo, levando o ser humano, partir de ento, a unificar os

    campos de viso indivduo-fora-do-mundo e indivduo-no-mundo.

    Neste momento, seguir os preceitos religiosos na vida mundana

    individualmente uma forma de se encontrar em unio com o caminho divino para a glria

    eterna em Deus.

  • Para Weber (2001), um destes fatores era a prtica, ou ascetismo religioso,

    elemento importante para levar os indivduos mundanidade: o calvinismo exigia de seus

    crentes, no boas aes isoladas, mas uma vida com estas combinadas unificadamente. No

    metodismo, aquele que no realizasse as obras (inclusive o trabalho, atrelado idia de

    vocao) no seria um verdadeiro crente. E assim corroboram diversas seitas protestantes

    emergentes, como o luteranismo onde a busca individual pela profisso correta era um

    mandamento divino, at mesmo impositivo.

    Weber, (2001), percebe tambm que na seita dos quakers emerge a idia de

    conscincia individual, e a ao do individuo se torna to relevante, que, s a luz interior

    da revelao contnua poderia capacitar algum de fato at para as revelaes bblicas de

    Deus (Weber, 2001, p. 108). Este estado de perfeio era um degrau que o individuo tinha

    que buscar, com a sua prpria conscincia.

    Estas manifestaes exercem influncia enorme e, quando o individuo se

    conecta com a manifestao burguesa e com ideais de liberdade, encontra-se enquanto

    centro. Porm, agora multifacetado, entre as realidades terrenas e celestiais.