ciencias sociales y religión/ciências sociais e religião/asociación de cientistas sociales de la...

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Publicación de la Asociación de Cientistas Sociales de la Religión del Mercosur Publicação da Associação de Cientistas Sociais da Religião do Mercosul Porto Alegre, año 4, número 4, outubro de 2002 ISSN 1518-4463 CIENCIAS SOCIALES Y RELIGIÓN CIÊNCIAS SOCIAIS E RELIGIÃO Año 4 Número 4 Outubro de 2002

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Teses de Religião.

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  • Publicacin de la Asociacin de Cientistas Sociales de la Religin del Mer cosurPublicao da Associao de Cientistas Sociais da Religio do Mercosul

    Porto Alegre, ao 4, nmero 4, outubro de 2002

    ISSN 1518-4463

    CIENCIAS SOCIALES Y RELIGINCINCIAS SOCIAIS E RELIGIO

    Ao 4Nmero 4Outubro de 2002

  • Asociacin de Cientistas Sociales de la Religin del Mercosur

    Presidente: Cristin Parker ChileVicepresidente: Maria das Dores Campos Machado BrasilSecretario Ejecutivo: Carlos Alberto Steil

    Consejo DirectivoJuan Esquivel ArgentinaPablo Wright ArgentinaCeclia Mariz BrasilPierre Sanchis BrasilRicardo Salas Astrain ChileRenzo Pi Hugarte Uruguay

    Consejo EditorialAlejandro Frigerio (Universidad Catlica Argentina/CONICET, Argentina)Antnio Flvio Pierucci (Universidade de So Paulo, Brasil)Ari Pedro Oro (Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil)Carlos Alberto Steil (Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil)Cristin Parker (Universidad de Santiago, Chile)Enzo Pace (Universit di Padova, Italia)Fortunao Mallimaci (Universidad de Buenos Aires, Argentina)Mara Julia Carozzi (Universidad Catlica Argentina/CONICET, Argentina)Maria das Dores Campos Machado (Universidade Federal do Rio de Janeiro)Otvio Velho (Universidade Federal do Rio de Janeiro)Pablo Semn (Universidad Nacional de San Martin, Argentina)Pierre Sanchis (Universidade Federal de Minas Gerais)Renzo Pi Ugarte (Universidad de la Repblica, Uruguay)Ricardo Salas Astrain (Universidad Academia de Humanismo Cristiano, Chile)

    Comit Editoria EjecutivoAri Pedro Oro BrasilCarlos Alberto Steil BrasilEloisa Martn Argentina

    Universidade Federal do Rio Grande do SulInstutito de Filosofia e Cincias HumanasPrograma de Ps-Graduao em Antropologia SocialNcleo de Estudos da Religio/NERAv. Bento Gonalves, 9500 91509-900 Porto Alegre RSFone (55-51) 3316-6866 Fax: (55-51) 3316-6638Email: [email protected]

    TapaEloisa Martn ArgentinaRafael Devos Brasil

    CatlogoBiblioteca Setorial de Cincias Sociais e Humanidades/UFRGS

    BibliotecriaMaria Lizete Gomes Mendes CRB 10/950

    Editorao - Grfica UFRGSJunia Machado Saedt

  • Nmero dedicado a las

    CIENCIAS SOCIALES Y RELIGINCINCIAS SOCIAIS E RELIGIO

    CRISTIN PARKER

    XI JORNADAS SOBRE ALTERNATIVASRELIGIOSAS EN LATINOAMRICA

    Organizador invitado

  • Ciencias Sociales y Religin/Cincias Sociais e Religio/Asociacin de Cientistas Sociales de la Religin del Mercosur. Ao4, n. 4 (2002). Porto Alegre: 2000ISSN 1518-4463

    Revista anual Adquisicin: suscripcin y compra

  • Apresentao

    Conferencia inaugural do Presidente de la Asociacin deCientistas Sociales de la Religin en el MERCOSUR

    Cristin Parker Gumucio

    Crisis de lo religioso y crisis de lo secular en la Europa delTercer Milenio

    Enzo Pace

    Aparies da Virgem e o Fim do MilnioCeclia Loreto Mariz

    Los sacerdotes del movimiento de Renovacin Carismtica enel Espritu Santo. Brujos, magos o hechiceros profesionales?

    Luis A. Vrguez Pasos

    Desencantamento do mundo e declnio dos compromissosreligiosos. A transformao religiosa antes da ps-

    modernidadePaulo Barrera Rivera

    El Evangelismo Wich de uno y otro lado del lmite tnicoMiguel A. Garca

    Gnero, religio e poltica: as evanglicas nas disputaseleitorais da cidade do Rio de Janeiro

    Maria das Dores Campos Machado e Fabiana Melo de Figueiredo

    Os Evanglicos brasileiros e a colonizao da InternetAirton Luiz Jungblut

    El escenario Posguerra Fria, el Medio Oriente y lareemergencia de fundamentalismos islmicos

    Isaac Caro

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    SUMRIO

  • 7Ciencias Sociales y Religin/Cincias Sociais e Religio, Porto Alegre, ano 4, n. 4, p.07-10, out 2002

    APRESENTAO

    O presente nmero de Ciencias Sociales y Religin/CinciasSociais e Religio rene uma seleo de trabalhos apresentados naXI Jornadas sobre Alternativas Religiosas na Amrica Latina, realiza-da entre os dias 3 e 5 de outubro de 2001, na cidade de Santiagodo Chile, que teve como tema: A crise do religioso ou a religioem crise. Como nas Jornadas anteriores, pesquisadores e cientistassociais da religio de diferentes pases da Amrica Latina e daEuropa se fizeram presentes para apresentar os resultados de suasinvestigaes e debater as questes que perpassam os estudosdeste tema. Os acontecimentos de 11 de setembro nos EstadosUnidos ainda estavam muito vivos, chamando a ateno de todospara a atualidade e importncia da religio na sociedade contem-pornea.

    As palavras de Cristin Parker, presidente da Associao deCientistas Sociais da Religio do Mercosul e coordenador dessaJornadas, pronunciadas na abertura do evento, abrem a seqnciados artigos, indicando os temas que foram objeto de discusso:crise do religioso e crise do secular no contexto da sociedadeglobal; religio, tica e poltica; os fenmenos carismticos epentecostais; as igrejas frente ao pluralismo, esoterismo emilenarismo contemporneos; religies populares, religies tnicase indgenas; o corpo e a sensibilidade como desafio ao estudo doreligioso; as novas expresses religiosas e a sociedade tecnolgicae da informao; os fundamentalismos e, enfim, as novas exignci-as tericas e metodolgicas no estudo destes fenmenos.

    O primeiro artigo, de Enzo Pace, Crisis de lo religioso ycrisis de lo secular en la Europa del Tercer Milenio foi originaria-mente apresentado como uma das conferncias do congresso. Nes-te texto o autor, socilogo e professor da Universidade de Pdua,na Itlia, e atual vice-presidente da Sociedade Internacional deSociologia da Religio (SISR) aborda as transformaes que vmocorrendo na Europa depois da queda do muro de Berlim,enfocando a relao entre religio e poltica, com especial nfasenas questes tnicas e religiosas que emergem no contra fluxo deum projeto supranacional.

  • 8Ciencias Sociales y Religin/Cincias Sociais e Religio, Porto Alegre, ano 4, n. 4, p.07-10, out 2002

    Ceclia Mariz, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro,Brasil, apresenta uma discusso sobre o papel que as aparies daVirgem Maria no catolicismo do sculo XX vem desempenhandona conformao de um movimento de abrangncia internacional. Aautora mostra ainda que os conflitos em relao rejeio ouaceitao desses relatos de aparies refletem tenses mais amplasno campo catlico. A partir dessas tenses, se questiona sobre opoder da mdia no campo religioso e o controle da Igreja Catlicasobre a divulgao desses eventos, destacando as tendncias inter-nas divergentes e de crticas instituio e quais os seus mtodosde apropriao desses relatos.

    Ainda no campo catlico, Luis Vrguez, do Mxico, procuratraar em seu artigo as semelhandas entre os rituais dos sacerdotescatlicos da Renovao Carismtica Catlica e aqueles identificadoscomo prprios dos agentes religiosos situados no campo da magia.Para tanto, apia-se nas abordagens sobre a magia realizadas pelosclssicos das cincias sociais: Durkheim, Marcel Mauss e MaxWeber, assim como em aportes de Mircea Eliade, James Frazer,Claude Lvi-Strauss, Bronislaw Malinowski e Rudolf Otto.

    Buscando compreender as grandes linhas da transformaoda religio na modernidade, Paulo Barrera, da UniversidadeMetodista de So Paulo, Brasil, destaca o duplo movimento que seobserva tanto na direo de uma crescente secularizao quanto docrescimento em termos quantitativos da religio. Partindo desteaparente paradoxo, defende a hiptese de que o crescimento reli-gioso apenas representa confirmao da radical transformao dolugar da religio na modernidade, de modo que neste processo oprprio estatuto social do sagrado se modifica.

    A relao entre religio e etnia abordada no artigo deMiguel Garcia, da Argentina, Universidade de Buenos Aires, desta-cando o processo pelo qual os aborgenes wichi, da provncia doChaco, assumiram, na dcada de 1980, uma religio de carterpentecostal, que quatro dcadas antes havia sido abraada pelostoba. Esta adoo, por sua vez, acabou acarretando uma mudanasignificativa na identidade dos wichi, que passaram a rejeitar aspec-tos importantes de sua prpria cultura. Por outro lado, o autorchama a ateno para o fato que esta adoo do pentecostalismo

  • 9Ciencias Sociales y Religin/Cincias Sociais e Religio, Porto Alegre, ano 4, n. 4, p.07-10, out 2002

    pelos wichi lhes propiciou os elementos necessrios para que elespudessem lidar com as mudanas que estavam ocorrendo no cen-rio poltico-religioso da regio neste momento.

    Religio, poltica e gnero o tema do artigo de Maria dasDores Machado e Fabiana Melo de Figueiredo, da UniversidadeFederal do Rio de Janeiro, Brasil. As autoras fazem uma anlise daparticipao das mulheres evanglicas nas eleies de 2000 nacidade do Rio de Janeiro. A partir dos dados levantados nestepleito, sugerem que no existem diferenas significativas entre osevanglicos e a sociedade inclusive no que se refere a participaodas mulheres no debate e nas disputas polticas.

    Airton Jungblut, da Pontifcia Universidade Catlica de PortoAlegre, Brasil, debate em seu artigo a questo dos evanglicos, masagora, situando-os na Web e destacando as particularidades dessegrupo religioso na utilizao da Internet, enquanto um recurso quelhes possibilita negociar e expressar suas marcas identitrias. Seuartigo permite, portanto, uma melhor compreenso do impacto dofenmeno ciberntico tanto no campo religioso brasileiro em geral,como, mais especificamente, no interior do campo evanglico.

    Por fim, Isaac Caro, da Universidade Alberto Hurtado, doChile, apresenta em seu artigo a questo do fundamentalismoreligioso, dando um especial acento aos casos do islam e dojudaismo. Ultrapassando, no entanto, as fronteiras do religioso,procura mostrar que geralmente esto em jogo mltiplos atores,estatais e no estatais, conformando o cenrio das disputas e aesde carter fundamentalista na sociedade contempornea. Finalmen-te, examina o impacto do fundamentalismo islmico em algunspases da Amrica Latina.

    Outros trabalhos foram apresentados na XI Jornadas em San-tiago do Chile, muitos com grande densidade analtica e relevnciasocial. No entanto, dentro dos critrios de representao temtica enacional, esperamos que a seleo realizada pelos organizadoresdo evento e que, como editores, aqui publicamos, no apenaspreencha as expectativas do leitor, mas tambm possa contribuirpara o avano da pesquisa sobre esta temtica na Amrica Latina.De modo que possamos responder quilo que julgamos ser nossatarefa como pesquisadores da religio na Amrica Latina: contri-buir na conformao de um lugar de encontro, tolerncia e mtuo

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    Ciencias Sociales y Religin/Cincias Sociais e Religio, Porto Alegre, ano 4, n. 4, p.07-10, out 2002

    respeito entre os homens e as mulheres que anelam uma vidamelhor para si e para as geraes futuras neste planeta que seapresenta incerto, pequeno e convulsionado (Parker). E que osaportes que trazemos aqui ajudem a nossa sociedade a compreen-der-se melhor diante do espelho do transcendente e do misterioso,onde a imagem de si mesma se reflete na complexidade dos fios edos laos que tramam sua existncia e seu devir.

    Comit Editorial ExecutivoAri Pedro Oro

    Carlos Alberto SteilElosa Martn

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    Ciencias Sociales y Religin/Cincias Sociais e Religio, Porto Alegre, ano 4, n. 4, p.11-13, out 2002

    CONFERENCIA INAUGURAL

    CONFERENCIA INAUGURAL

    Cristin Parker GumucioPresidente de la Asociacin de Cientistas Sociales de la Religin en el

    MERCOSUR Chile

    Qu duda cabe que la religin es una estructura significativade sentido y una forma de dominio simblico que el hombre tienede su mundo?

    Pero la religin es tambin una forma de poder. Y no slopoder simblico o cultural sino que tambin poder ideolgico y enocasiones se vuelve poder poltico y hasta militar.

    Aunque, por otra parte, la complejidad de lo religioso y de lomgico es adems, no lo olvidemos, una forma de contrapoder.

    Con todo, se equivoca el enfoque reduccionista que piensaque la religin es per se integrismo o mesianismo, fundamen-talismo o milenarismo. La religin es lo que los actores sociales, apartir de intereses, circunstancias y coyunturas concretas,construyen como estructura de sentido y como prctica ritual ysacrificial. De aqu que sea necesario un anlisis sociolgico, hist-rico y antropolgico para comprender las diversas manifestaciones,significados y funcionalidades de lo religioso en el mundo actual.

    Estamos en una Universidad con una larga y destacadatrayectoria en el mbito de la Ingeniera. Durante muchos aos laEscuela de Artes y Oficios y la Universidad Tcnica del Estado,predecesoras de esta Universidad de Santiago, formaron ingenieros.Hoy esta Universidad cuenta con la Facultad de Ingeniera msgrande del pas.

    Nadie duda de la relevancia de la ingeniera y de la cienciade los materiales cuando se trata de construir una gran estructurade acero. Pero quedamos atnitos y anonadados cuando unpuado de fanticos con sus aviones suicidas reducen a polvo yceniza estas imponentes estructuras de vidrio y acero inspirados,supuestamente, en principios religiosos.

    Y es que, quizs, todava somos prisioneros de los esquemasde interpretacin que nos legara la modernidad decimonnica. Deaquel fantasma positivista que nos sopla al odo: las estructuras de

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    Ciencias Sociales y Religin/Cincias Sociais e Religio, Porto Alegre, ano 4, n. 4, p.11-13, out 2002

    CRISTIN PARKER GUMUCIO

    acero son materiales y en cambio la religin es pura ilusin paradomesticar a la gente sencilla.

    Pero he aqu que el mito ilusorio es tan poderoso como paraderribar una aparentemente indestructible torre de acero.

    Y es que, a pesar de que por su naturaleza, dimensiones ycomplejidad son muy distintas, las estructuras significativas delsentido son tan objetivas como las estructuras de acero. Ambasson, en ltima instancia, construcciones sociales que sematerializan, de manera diversa, en consecuencias e impactosempricamente observables.

    No olvidemos tampoco que la solidaridad y las labores derescate, en la mayora de los casos inspiradas en valores religiosos,siguen hoy moviendo montaas (y literalmente montaas de es-combros).

    Es esta objetividad del complejo espectro que va desde lareligin a la magia y de la magia a la religin la que nos garantizaque puede y debe ser analizado cientficamente. De aqu larelevancia de estos estudios. Por ello este tipo de Jornadas deanlisis cientfico de los fenmenos religiosos que nos permitencomprender mejor una de las dimensiones claves de este complejococktail ideolgico, cultural y simblico que conforma a lasociedad que se inicia en este siglo XXI.

    Algunos piensan que se trata de encuentros entre telogos opastores, que se hablar de catequesis, de misin o deevangelizacin. Nada de ello.

    No son encuentros confesionales. Es este un espacio deintercambio interdisciplinario entre cientficos, acadmicos de lasociologa, la antropologa y la historia.

    Los temas que abordaremos son, entre otros: crisis de loreligioso y crisis de lo secular en el contexto de la sociedad global;religin, tica y poltica; los fenmenos carismticos ypentecostales; las Iglesias frente al desafo del pluralismo,esoterismos y milenarismos contemporneos; religiones populares,religiones tnicas e indgenas; el cuerpo y la sensibilidad comodesafo al estudio de lo religioso; las nuevas expresiones religiosasy la sociedad tecnolgica y de la informacin; losfundamentalismos y, en fin, las nuevas exigencias tericas ymetodolgicas en el estudio de estos fenmenos.

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    Ciencias Sociales y Religin/Cincias Sociais e Religio, Porto Alegre, ano 4, n. 4, p.11-13, out 2002

    CONFERENCIA INAUGURAL

    Todos estos temas se enmarcan en una bsqueda decomprensin de lo religioso en un contexto de crisis, de cambios yde nuevos desafos que plantea la globalizacin. Por ello, nuestrosenfoques privilegian, por cierto, nuestra realidad latinoamericana,pero sin perder de vista el mundo global.

    Todas ellas temticas indispensables para comprender nues-tro mundo. Un mundo que est emergiendo con nuevos desafos,con nuevos rostros, con nuevos anhelos y problemas.

    Un mundo ms diverso y plural siempre necesitado de dilo-go como el que estamos iniciando aqu. En definitiva, un mundoque reclama de la academia un enfoque desapasionado, objetivohasta donde sea posible, que contribuye a conformar un espaciode encuentro, tolerancia y mutuo respeto entre los hombres ymujeres que anhelan una vida mejor para las generaciones futu-ras en este planeta que se nos hace incierto, pequeo y convul-sionado.

    Deseo que estas Jornadas, tal como han sido las Jornadasanteriores, en Buenos Aires, Rio de Janeiro, So Paulo, Montevideo,Porto Alegre, sean de mutuo provecho y un paso adelante en lainvestigacin y el dilogo acadmico para que as contribuyamos,desde nuestro modesto aporte, a que nuestra sociedad puedacomprenderse mejor a s misma en uno de sus ms importantes yprofundos espejos: la mirada que busca tener hacia las dimen-siones trascendentes y misteriosas de la existencia.

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    Ciencias Sociales y Religin/Cincias Sociais e Religio, Porto Alegre, ano 4, n. 4, p.15-33, out 2002

    CRISIS DE LO RELIGIOSO...

    CRISIS DE LO RELIGIOSO Y CRISIS DE LOSECULAR EN LA EUROPA DEL TERCER

    MILENIO

    Enzo PaceUniversidad de Padova Italia

    Resumen. Este artculo aborda las transformaciones que vienenocurriendo en Europa despus de la cada del muro de Berln, a partir dela relacin entre religin y poltica. Discute la situacin de los pases delEste, particularmente Polonia, y la de los que integran la ComunidadEuropea, donde la presencia de los migrantes no cristianos desafa laconstruccin de una democracia pluralista. Asimismo, muestra cmocuestiones tnicas y religiosas emergen a contrapelo de un proyectosupranacional. La diversidad de fes (cristiana, islmica, hind, etc.)apunta no slo a la transferencia de la luchas histricas por la ortodoxiacristiana hacia las disputas interreligiosas, sino tambin a la crisis delproyecto racional y secular que Europa procura realizar a travs de lasuperacin de las identidades locales de carcter tnico y religioso.

    Abstract. This article considers the transformations which occurred inEurope after the fall of the Berlin wall, focussing on the relationshipbetween religion and politics. It discusses the situation of the Easterncountries, especially the case of Poland, as well as the countries whichparticipate in the European Community where the presence of non-Christian immigrants challenges the construction of a pluralisticdemocracy. The article further demonstrates how ethnic and religiousquestions emerge in the countercurrent of a supranational project. Thediversity of faiths (Christian, Islamic, Hindu, etc.) points not only to ashift in historical battles from Christian orthodoxy to inter-religious dispu-tes, but also to the crisis of a rational and secular project that Europe hassought to consolidate through the transcendence of local identities ofethnic and religious character.

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    ENZO PACE

    A ms de diez aos de la cada del muro de Berln culesson los principales cambios acaecidos en Europa, del Atlntico alos Urales? Han aparecido nuevas naciones y, al mismo tiempo,avanza el proceso de constitucin de nuevas entidades polticastransnacionales. Junto a las religiones histricas, de matriz cristiana,que han influenciado tradicionalmente la vida de enterasgeneraciones, se afirman nuevas fes para la frontera europea: comoel islam (que ya cuenta con ms de 20 millones de adeptos), elhinduismo, el budismo, la religin sikh, el animismo y los cultosafro-americanos. Todas fes que llegan tradas a hombros por losnuevos emigrantes que arriban a las sociedades europeas. Estasltimas estn en plena transicin demogrfica y en busca denuevos trabajadores, en las fbricas y en el cuidado de las personamayores, en los servicios y en los hospitales. Ms an: laampliacin de los lmites de las democracias, sobre todo en lospases poscomunistas de Europa central, no ha contribuido almenos hasta ahora a evitar el resurgir de los conflictos tnicos, lareaparicin de modernas formas de racismo y el triunfo de la lgicadel inters sobre la de la solidaridad social. En conclusin: lasclases dirigentes y las grandes instituciones polticas y religiosas,que han contribuido a acelerar el proceso de crisis que ha llevadoa la disgregacin de la Unin Sovitica, no se han demostradohasta ahora capaces, despus de la cada del muro de Berln, dedar concrecin a las esperanzas de cambio que muchos seesperaban de aquel acontecimiento histrico. Es como si la polticay la religin, en un primer momento, hubieran puesto en escenauna pice siguiendo un guin, que de repente descubren que nopueden representar hasta el fondo.

    Tomemos, por ejemplo, lo que ha pasado en Polonia antes ydespus de la cada del muro. La religin ha hecho imaginar elcambio. No lo ha producido directamente. Existan causas sociales,econmicas, polticas y geopolticas muy profundas y extendidas.La religin simplemente ha inoculado, en los corazones y en lasmentes de millones de personas, el germen de la rebelin posible aun sistema social que se haba vuelto opresivo y al borde de lapenuria de masa. La religin se ha encargado de poner en escenala espera y la esperanza del cambio. La Iglesia Catlica y su lder,

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    Ciencias Sociales y Religin/Cincias Sociais e Religio, Porto Alegre, ano 4, n. 4, p.15-33, out 2002

    CRISIS DE LO RELIGIOSO...

    por contingencias histricas, de origen polaco ha imaginado quela salida del cambio poda ser una sociedad democrtica s, perofuertemente impregnada de valores catlicos; una sociedadteologal, como dijo durante una de sus visitas a Polonia el PapaJuan Pablo II, ante una muchedumbre inmensa reunida en laesplanada delante del estadio de Varsovia. Las nuevas lites polti-cas, formadas en la escuela del movimiento popular Solidarnosc,no han conseguido construir una sociedad teologal. Se han dividi-do pronto y el peso de las de orientacin catlica ha disminuidogradualmente, eleccin tras eleccin. Polonia es hoy un pas dondecuenta mediamente ms la lgica de mercado que la tica de lahermandad cristiana. Y el rol de la Iglesia se ha redimensionadomucho. Y sin embargo el caso de Polonia nos ensea muchascosas. Una en particular: el milagro en poltica.

    Todo cambio radical en la sociedad, gracias a la accinpoltica, puede verse como milagro, segn la intuicin genial deHanna Arendt (1991). Hay algo religioso en la accin poltica, quejustamente Arendt define como facultad de dar inicio, como elincipit de un nuevo orden. Que muchos han imaginado y esperanque, finalmente, se convierta en realidad bajo los ojos incrdulosde los que lo esperaban s, pero no crean que pudiera realizarse.En los meses anteriores al colapso del sistema sovitico, de hecho,poda suceder a menudo que uno se encontrara con personas ycolegas hngaros, polacos o checos y registrara por su parte unsentimiento ambivalente: esperaban vivamente el cambio, peroeran incrdulos de que esto pudiera suceder. Por lo dems, habanvisto tantas, que el pesimismo de la razn prevaleca sobre eloptimismo de la voluntad. No se lo crean. Por eso es justo hablarde milagro cuando el acontecimiento esperado al final se realiza. Elsocilogo alemn Ulrich Beck (2000:98) lo ha notado con agudezacuando ha escrito que:

    La implosin del poder comunista trae a la memoriacolectiva esta conciencia de la fuerza milagrosa del actuarpoltico. La expresin locura, con la que, en todas partes, seha comentado la danza sobre los restos del muro de Berln,es particularmente elocuente. Locura significa ruptura de lanormalidad y miedo de esta ruptura. A travs de esta frmu-la mgica la capacidad innovativa del actuar humano secelebra y se exorciza a un tiempo

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    Ciencias Sociales y Religin/Cincias Sociais e Religio, Porto Alegre, ano 4, n. 4, p.15-33, out 2002

    ENZO PACE

    El caso polaco ha mostrado, por un momento, en larespiracin cortsima de la historia, cmo era posible creer juntosen el cambio. Creer en sentido religioso y en sentido poltico. Laparadoja polaca estaba toda aqu. No poda resistir largo tiempo ala prueba de la vuelta al estado de normalidad, despus de la cadadel rgimen comunista de tipo sovitico. La excepcionalidad dePolonia en Europa, desde este punto de vista, ha constituido laanticipacin de todas las tensiones entre religin y polticaactualmente presentes en el Viejo Continente. Del mismo modo harepresentado brillantemente en el escenario europeo la pice de lacrisis especular de lo religioso y de lo poltico. El nuevo ordensocial, imaginado y por el cual los polacos se han echado a la callemasivamente para afirmarlo, ha necesitado la legitimacin de lareligin: ha nacido en las parroquias catlicas, aun antes que en elsindicato obrero; se ha hecho reconocer, usando smbolos clara-mente religiosos; ha tenido sus mrtires (como el joven sacerdotePopeliusko, asesinado por la polica secreta) y sus hroes (el lderobrero de los astilleros de Danzig, galardonado luego con el Nobelde la paz y convertido en Presidente de la Repblica, Lech Walesa)que nunca han escondido su identidad catlica. La nueva poltica,en el estado naciente, se ha dejado legitimar por la religin.

    Terminado el momento revolucionario, la poltica ha retoma-do su curso ordinario, humano demasiado humano, parafrasean-do a Nietsche, renunciando de buena gana a la religin comomedio para tener unida y gobernar la sociedad. Por otra parte, lapoltica no poda evitar interponer cierta distancia entre ella y lareligin, sin comprometer la suerte de la joven democraciapluralista y fiel, en campo econmico, a la lgica de mercado. Lareligin ha terminado por retirarse de la escena social y poltica,recortndose una funcin sub-sistmica, propia de todas las demo-cracias europeas (ya sean viejas o nuevas): como maestra de letica pblica y, al mismo tiempo, como lobby organizada endefensa de valores simblicos propios y de intereses materiales. Elcaso polaco, adems, ha mostrado lo ilusorio que es para lareligin (y para las grandes religiones viejas y nuevas presentes enEuropa) poder imaginar que restauran una sociedad fundada inte-gralmente sobre la tica de la hermandad cristiana (o islmica obudista, si existen): las sociedades modernas parecen funcionar

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    Ciencias Sociales y Religin/Cincias Sociais e Religio, Porto Alegre, ano 4, n. 4, p.15-33, out 2002

    CRISIS DE LO RELIGIOSO...

    ms bien en base al principio de la individualizacin y delbricolage moral. Poltica y religin, por tanto, se ven afligidas poruna crisis en muchos aspectos complementaria.

    Cules son, de hecho, los temas emergentes en la agendasocial europea?: el conflicto entre las memorias, la cuestin de laidentidad y el invento de una forma de Estado ms all del Estadonacional moderno (que los europeos han exportado, por lasbuenas o por las malas, a muchas partes del mundo, antes ydespus de la eventura colonial). Las memorias evocan smbolosprofundos, extrados de las minas de lo sagrado. Pero cmo sepuede hablar de ello sin transformar los smbolos sagrados de lamemoria colectiva en armas impropias del conflicto cultural, en elsentimiento de hostilidad hacia el extranjero (que nos invade) o,peor an, en la envoltura ideolgica de la guerra abierta entregrupos tnicos, que reivindican su recproca, inconciliablediversidad? La identidad supone, a su vez, un sentir comn, unaidentificacin en valores culturales ampliamente compartidos; perocules son hoy estos valores, en sociedades culturalmente menoshomogneas que en el pasado, habitadas por personas de lengua,nacionalidad, religin y costumbres muy distintas entre ellas?Cmo contestamos a la pregunta quin somos?, si percibimostener que convivir con personas que consideramos huspedes(en latn hospes tiene el significado de extranjero) y que pensamosque nunca podrn integrarse en las reglas del juego que noshemos dado?

    Los nuevos huspedes, presentes hoy en las sociedadesmulticolores europeas, se sienten a menudo franceses, ingleses,alemanes o italianos por casualidad y a su manera: susentimiento nacional o no existe o es muy dbil. Entonces cmoseguir creyendo unido lo que en la sociedad est separado? Lapoltica debe gobernar la mediacin entre las culturas, ciertamenteno puede inventar una super-identidad en la cual puedanreconocerse, del mismo modo, los franceses, los ingleses, losalemanes, los espaoles y los italianos de raza y el pakistan, elsenegals, el marroqu, el tunecino, el cingals, el sikh, elnigeriano, el egipcio, el libans, el kurdo, el ucraniano, el moldavo,el rumano, el venezolano, el filipino y dems. Europa, desde estepunto de vista, tiene una historia distinta respecto a los Estados

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    Ciencias Sociales y Religin/Cincias Sociais e Religio, Porto Alegre, ano 4, n. 4, p.15-33, out 2002

    ENZO PACE

    Unidos, formados gracias a las oleadas de emigrantes de todo elmundo. Europa no est acostumbrada a pensar en s misma comouna sociedad multitnica, aunque fuese solo porque las otrasetnias han tratado en la historia de dominarla y de tenerla fueradel saln bueno de casa.

    En conclusin, qu hay ms all del Estado nacin moder-no? El proceso de unificacin europea est, de hecho, bloqueado yencallado precisamente sobre este tema: cmo inventarinstituciones polticas que hagan menos fuertes las soberanasnacionales y las identidades nacionales de cada Estado miembro dela unin. En la obra abierta sobre los restos berlineses de laarqueologa poltica, la nueva formacin poltica transnacionaleuropea aparece, hoy, tras los entusiasmos y los optimismos deayer, en dficit de legitimacin, no slo poltica, sino tambin tica.De ah la agitacin y el activismo creciente de las iglesias cristianaspara acreditarse como depositarias celosas de la memoria sagradacolectiva, defensores de la identidad nacional y hostiles a cualquierhiptesis de una formacin poltica super-estatal, que se adecuedefinitivamente a la lgica de la globalizacin. De ah, en definitiva,el activismo de los movimientos minoritarios musulmanes paraacreditarse como la vanguardia histrica de una nueva inminenterevolucin espiritual de la sociedad europea que se ha vuelto,segn su punto de vista, decadente y materialista.

    Religin y poltica, pues, se ven afectadas por una crisis enmuchos aspectos complementaria. Los problemas de una sontambin los problemas de la otra. Un espejo de nuestros tiemposinciertos.

    La forma poltica prevalente en Europa hoy es la democraciapluralista. Una forma que se ha impuesto ya sea en todos aquellospases europeos que haban conocido en un solo caso hasta unapoca reciente, como el de Espaa regmenes dictatoriales (Italia,Alemania, Espaa, precisamente), ya sea, en tiempos ms cercanos,en los nuevos Estados surgidos de la disolucin del imperio sovi-tico (Michel, 1990) y de la disgregacin de la ConfederacinYugoslava. Bajo el manto de la democracia crece, a ritmosdesiguales por los distintos tiempos de la historia que cada Estadoha empleado para metabolizar las reglas del pluralismo democrti-co, un tipo de sociedad dominado en modo extendido por la

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    individualizacin de las formas de vida. Como recuerda Beck(1994), con esta frmula aludimos a dos procesos:

    a) la desaparicin de mundos relacionales organizados segnmodelos y roles sociales predefinidos (por el Estado, por la familia,por el trabajo, por la pertenencia a una clase o a un ghetto) pormedio de los cuales el individuo poda identificarse y sentirserelativamente tranquilizado en su destino y en su proyecto de xitosocial;

    b) el afirmarse de una presin de la sociedad sobre elindividuo, que es invitado a instalarse por su cuenta, a arriesgarseen primera persona, a ampliar el campo de su accin libremente,porque ni el Estado ni la comunidad social pueden ya garantizarlelo que le aseguraban los sistemas de welfare tradicionales (pensin,salud, garantas en caso de desempleo, seguridad mnima delpuesto de trabajo, etctera). Es la Risikogesellschaft de la que hablaBeck (1986) y que, de otra forma, describe con la misma eficaciaZygmunt Bauman (1993):

    hoy da todo parece conjurar contra los proyectos de vida,los vnculos duraderos, las alianzas eternas, las identidadesinmutables. Ya no puedo contar, a largo plazo, con el puestode trabajo, con la profesin, y ni siquiera con mis capacida-des: puedo apostar a que mi puesto de trabajo ser absorbidopor la racionalizacin En el futuro, no se podr nisiquiera basar en la vida de pareja o en la familia; en lapoca de lo que Anthony Giddens llama confluent love seest juntos lo suficiente para que uno de los dos partners estsatisfecho, el vnculo se concibe desde el principio en laptica del ya se ver.

    No se trata tanto de anomia. En realidad la vida del individuomoderno parece gozar de mayores grados de libertad respecto alpasado, cuando los sistemas de welfare funcionaban slidamente.En realidad, sera errneo pensar que se han debilitado losprocedimientos de control y de regulacin social. Mejor dicho laregulacin social se ha llenado de micro-controles, cada vez msgeneralizados en la vida cotidiana: somos sujetos, en el sentido deque estamos sujetos, a la regla de tener siempre que dar prueba denosotros mismos, sin distraernos y perder tiempo.

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    La individualizacin de las formas de vida tiene efectos sobreel porvenir de la democracia. Esta ltima corre el riesgo de sererosionada en los delicados mecanismos de legitimacin, que estnen la base de los modernos regmenes pluralistas. La democraciasupone ciudadanos libres que pueden, en autonoma, crecer,trabajar, participar en la vida poltica y proyectar un futuro mejorpara las generaciones venideras. Supone tambin un sentimientode pertenencia comn, la adhesin a valores ticos mnimamentecompartidos, reglas de base que nadie pone en discusin, porquetodos son conscientes de que, en caso contrario, la propiaconvivencia democrtica entrara en crisis. En sociedades en lascuales el proceso de individualizacin se afirma, se hace cada vezms difcil imaginar unido lo que en realidad est dominado, encambio, por el principio segn el cual cada uno para s y Diospara nadie. Los mecanismos de legitimacin de los poderes en lossistemas democrticos de alta individualizacin entran por lo tantoen crisis. Al menos en Europa.

    En el Viejo Continente, en efecto, el invento del Estadoabsoluto moderno, que alcanza su cima histrica en el siglo XVII,se apoyaba en la idea de que la comunidad poltica se fundabasobre un principio trascendente que organizaba la estructurada delpoder, subordinaba la religin a la celebracin de la soberana delmonarca, articulaba toda la sociedad por gremios que, gradualmen-te desde lo alto hacia lo bajo de la pirmide social, reflejabanmayor o menor cercana a la fuente misma de la autoridad. Lareligin o el universo sagrado, en este caso, serva de fundamentode una doble legitimidad: la interna de cada Estado y la externa enperspectiva geopoltica. Qu era la Monarqua espaola? Un esta-do absoluto unificado en nombre del mito de la unidad catlica(que no acababa de tolerar a hebreos y a musulmanes) alrededorde una dinasta familiar de la antigua Castilla y, al mismo tiempo,un imperio global que, siempre en nombre de una superioridadtrascendente del Cristianismo sobre las otras civilizaciones huma-nas, poda legitimarse como el Imperio del Bien triunfante (a pesarde las infamias cometidas en el Nuevo Mundo). El principio deunidad trascendente cambia con el final de los regmenes delAncien Rgime, cuando el sentimiento comn que tiene unidos a

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    los nuevos ciudadanos ya no es la obediencia al soberano absolu-to, legitimado por el Altsimo, sino el sentido de pertenencia a laNacin. Es la nacin la que reemplaza a Dios y a lo absoluto delsoberano. La soberana popular es el nuevo mito que alimenta lacreencia colectiva en la legalidad de las instituciones democrticasnacionales.

    La fase histrica que Europa atreviesa actualmente est carac-terizada por la crisis de las nacionalidades. Paradjicamente y pormotivos opuestos, bien ilustrados, por un lado, por el proceso deunificacin europea que no conoce lmites geogrficos, s es ciertoque desde Rumania a Hungra, desde Chipre a Moldavia las solici-tudes de ampliacin de Europa a estos nuevos estadosposcomunistas se hacen cada vez ms apremiantes y, por otrolado, por la aparicin de conflictos tnicos. Estos ltimoscomprueban la tendencia a la formacin de micro-poderesregionales, sobre la base de la idea que cada poder, as constituido,puede reflejar mejor y ms efectivamente la pureza (a menudo msimaginada que real) de un determinado grupo humano. La ideaneo-romntica de los orgenes tnicos de las naciones modernasretoma vigor, pero los tiempos de la historia han cambiado:encerrarse en tantas pequeas patrias para proteger la propia, pre-tendida o imaginada, pureza tnica en un mundo globalizadoresulta ahora imposible. Las fronteras que cada etnia tratafatigosamente de trazar son fcilmente atravesadas por lasmercancas o en nombre de la injerencia humanitaria o por lacirculacin imparable de las personas y de las redes decomunicacin que, por supuesto, no conocen aduanas o controlesdel Estado.

    El verdadero problema que tiene ante s Europa es lademolicin, desde el interior, del principio de identificacin nacio-nal, tal como ha sido definido por la forma poltica adoptada por elEstado moderno. La causa prxima de esta crisis es la presencia demujeres y hombres de nacionalidades distintas, de procedenciageogrfica y cultural extra-europea. Un fenmeno querido por lamayor parte de los gobiernos europeos, inmediatamente despusde la segunda guerra mundial, para satisfacer la necesidad de manode obra y para seguir manteniendo slidas las relaciones con las

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    respectivas ex-colonias. Llegados como peonaje de bajo coste, losinmigrantes han terminado por echar races y el fenmeno de lainmigracin transitoria se ha transformado en inmigracin depoblamiento: un verdadero, gradual y profundo cambio de laestructura demogrfica, social, cultural y religiosa. Alemania por ssola cuenta hoy casi con un 10% de no-alemanes. En 1995 elParlamento ingls proclam solemnemente que la sociedadbritnica es multi-cultural, multi-religiosa y multi-linge. Francia, afinales de los aos ochenta, finalmente tom conciencia, tras unlargo perodo de conflictos culturales speros, de la presencia deciudadanos franceses (de la segunda y tercera generacin deinmigrantes) de fe y cultura musulmana (unos 4 millones).Espaa, junto con Italia, una de las ltimas naciones de Europaque se ha visto interesada por el fenmeno de la inmigracin,ha suscrito un acuerdo con las comunidades musulmanasespaolas para reconocer la importancia del islam en su historiay, en consecuencia, la necesidad de ofrecer todas las garantasinstitucionales para que los musulmanes puedan ejercerlibremente su religin y organizar los lugares de culto. En Blgi-ca, en 1999, 64.000 ciudadanos de fe musulmana (sobre un total de350.000 presencias) han votado a sus propios representantes,constituyendo el organismo central del culto musulmn, nicointerlocutor autorizado en las relaciones con el gobierno y lasinstituciones polticas: los votantes han sido seleccionados, sin em-bargo, no solo en base a la pertenencia al islam, sino tambin (y demanera ms destacada) en funcin de la distinta procedencia naci-onal de los inmigrantes y de sus descendientes (segn si eran deorigen turco, marroqu o de otras reas).

    Entonces, la cuestin crucial que plantean no slo losmusulmanes de Europa, sino otros individuos de cultura distinta, sepuede sintetizar del siguiente modo:

    a) si a cada comunidad tnica y religiosa se le reconoce elderecho a organizarse segn las propias particulares concepcionesde la vida social (desde el matrimonio hasta la condicin de lamujer, desde los ritos de pasaje hasta las fiestas religiosas, desde laconcepcin diferente del uso del tiempo o de la enfermedad y assucesivamente), el efecto inesperado del reconocimiento delderecho a la diferencia es la creacin de tantos micro-sistemasintegrados como son los grupos etno-culturales presentes en unmismo territorio.

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    b) cada comunidad seguira entonces una regla social, buenasolo para ella, haciendo vano el principio de la existencia de unaregla justa para todos (Habermas, 2000);

    c) la pretensin del Estado moderno de garantizar la reglaigual para todos se pondra en duda, porque el reconocimiento acada comunidad etno-religiosa de poder funcionar con los propiosordenamientos internos pondra en discusin radicalmente lacapacidad tradicional del Estado de representar polticamente launidad de la Nacin, incluso en presencia de la pluralidad de laselecciones ideolgicas distintas que los ciudadanos, a travs de lospartidos, pueden efectuar luchando con las mismas armas paraimponerlas.

    La tensin que se manifiesta se dice pronto: por unaparte, la tradicin poltica y jurdica propia de las democraciaspluralistas europeas favorece el reconocimientos de losderechos comunitarios, otorgados a los distintos grupos etno-culturales presentes en Europa actualmente, pero por otra,avanzando en esa direccin, la deriva podra ser la reproduccindel sistema de los millet (naciones) vigente bajo el imperiootomano (cada grupo tnico no musulmn ni otomano gozaba deuna relativa autonoma: tena sus tribunales; sus jefes religiososeran considerados representantes acreditados, con los cuales elsultn dialogaba, regulaba en base a los propios cdigos internoslos principales momentos de ciclo de la vida, desde losmatrimonios hasta la herencia, desde los ritos del sacrificio deanimales hasta el control sobre las costumbres alimenticias y devestuario). La paradoja es evidente, entonces. El principio del Esta-do nacional moderno, inventado en Europa, como salida necesariapara superar las guerras de religin y como utopa de reduccin aunidad de la pluralidad de lenguas, costumbres, identidades localespresentes en los respectivos territorios de los Estados nacionales,puede entrar en crisis por la aparicin de una figura ambivalentede ciudadano que no se reconoce plenamente en los valoresconstitutivos o en los mitos de fundacin de la nacin de la que esformalmente tal. El anglo-pakistan, que ha aprendido a hacernegocios en la economa de mercado abierta y competitiva, peroque, al mismo tiempo, da importancia a la conservacin deprcticas tradicionales, como la de los matrimonios concertados(biradari), mediante los cuales los cabeza de familia estrechan

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    alianzas de conveniencia econmica y mejoran en su caso laposicin social de sus hijos o de sus hijas, se siente ciudadanoingls por un aspecto (por lo que respecta al libre ejercicio de losderechos econmicos y sociales) y hombre de Pakistn por otro.Su ser ciudadano no coincide con el sentimiento de identidadnacional, con todo el bagaje de valores, reglas y principios socialesque tal sentimiento comporta, mediamente, para todos los que soningleses de generacin en generacin.

    La capacidad tradicional del Estado secular moderno deimponer la regla justa para todos, prescindiendo de las reglasbuenas que cada unidad constitutiva de la sociedad puede consi-derar, dentro de ciertos lmites, vlidas, es puesta en discusin porla estructura multicultural que las sociedades europeas van toman-do, con una aceleracin creciente de los tiempos histricos. Con laactual tasa de crecimiento demogrfico, dentro de veinte aos, porejemplo, Italia debera de tener el 10% de poblacin de origeninmigrado, de las procedencias ms distintas: ya hay actualmentems de 60 grupos tnicos (tomando en consideracin slo los msconsistentes).

    Los conflictos de valores, que derivan de las distintasconcepciones del mundo fundadas sobre diferentes fes religiosas,contribuyen a aumentar la complejidad social: el funcionamientode los sistemas sociales ser sometido a una fuerte presin. Sontantos los episodios que se han verificado en los ltimos diez aosen toda Europa y que dejan presagiar esta tendencia: desde elaffaire du foulard en Francia hasta la posible derogacin de laobligacin de llevar el casco para los sikh, que se ha impuesto a laatencin en Inglaterra, Alemania e Italia; desde la posibilidad paralos musulmanes de celebrar la fiesta del cordero entre las cuatroparedes domsticas, contraviniendo los reglamentos sanitarios delos Ayuntamientos, hasta la reorganizacin del horario de trabajoen las fbricas en funcin de las fiestas y de los tiempos de rezo delos inmigrantes de religin musulmana o hind; desde el acceso alos fondos pblicos para financiar escuelas confesionales, construirlugares de culto y pagar a los profesores de las nuevas religionesde los inmigrantes, que prestan servicio en las escuelas pblicas.

    La reduccin de complejidad obligar a los sistemas socialesa transformar la diferenciacin social externa en diferenciacininterna: lo que resulta hasta ahora, en muchos casos, es el intento

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    de obligar a las nuevas identidades tnicas, culturales, religiosas adejarse modelar por los procedimientos institucionales ya experi-mentados por los Estados europeos modernos en el campo de laregulacin de las relaciones entre iglesias y Estados. Pero, amenudo, considerar una religin de un grupo tnico como si sepudiera reconducir al modelo de la iglesia resulta imposible o, almenos, fuente de ulterior complejidad. Cmo es posible tratar, porejemplo, a una comunidad musulmana como si fuese una iglesia,cuando en el islam no existe nada equivalente a la iglesia (Pace,1999), como ya ha ocurrido en Blgica y como algn exponentepoltico quisiera hacer, anlogamente, en la laica Francia?

    Los Estados europeos se ven obligados a regular las relacio-nes con las nuevas religiones de los inmigrantes segn modelosdistintos, pero que, en sustancia, se inspiran en el principio de queel Estado es super partes entre las diferentes confesiones religosas,aunque reconociendo si acaso (con privilegios particularesestablecidos en base a acuerdos formales como sucede en elcaso de los Concordatos entre iglesias y Estados o de hecho) laexistencia de una religin mayoritaria que histricamente ha influ-enciado la cultura y la historia de una nacin. Estos modelosclsicos de regulacin, en realidad, daban por descontado que lasdistintas confesiones religiosas con las que un Estado establecauna relacin, representaban las componentes socio-culturales y reli-giosas de la conciencia nacional de un pueblo. Sin embargo, alldonde las nuevas fes no han formado parte de la memoriacolectiva, salvo alguna rara excepcin (como en el caso del islamque ha dejado seales de su presencia en mayor medida enEspaa y en menor medida en Italia), colocar en el mismo plano(jurdico y social) las religiones histricas y las religionesinmigradas significa que la esfera poltica, al menos en Europa, yano puede considerar las religiones histricas como uno de losfundamentos de la identidad colectiva nacional. Si stas han podi-do ser consideradas como reserva de smbolos colectivos, que nose podan no tener en cuenta en la construccin de los mitos defundacin de la unidad nacional por parte de las lites polticas, lasnuevas religiones son el espejo deformado de la identidad nacio-nal, de como sta ha sido plasmada por las grandes agencias deconsenso social (poder poltico e, indirectamente, las principalesiglesias o confesiones religiosas presentes en Europa).

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    Ingleses, daneses, suecos, belgas, alemanes, italianos,espaoles, franceses o griegos han representado, hasta hace pocotiempo, la propia identidad nacional, refirindose, entre otros sm-bolos colectivos tambin a las religiones, que prevalentemente hanmodelado respectivamente la historia de estos pueblos. Definirseanglicanos, luteranos, calvinistas, catlicos, ortodoxos a menudo (ycada vez ms) no significa hacer una profesin de fe, sino slo unadeclaracin de pertenencia socio-cultural a una historia comn deun pueblo. La paradoja que, puntualmente, las investigacionesempricas muestran es, en efecto, que a pesar de la decadencia dela prctica religiosa vasta, generalizada y profunda, seguimosrepresentndonos socialmente como si existiese un credo comn,un genrico cdigo simblico falto de efectivos contenidos delcreer religioso, sobre la base de artculos inciertos de fe (De Sandre,2001). Pero un anglo-pakistan o un franco-argelino o un talo-marroqu o un germano-turco de segunda o tercera generacin nose reconocen en el patrimonio de smbolos religiosos que formanparte de la conciencia nacional de los pueblos britnico, italiano oalemn. Lo que Bellah (1986) ya deca en los aos ochenta, apropsito de la crisis de los habits of the heart de la nacin ameri-cana, vale todava ms hoy para el Viejo Continente, donde laecuacin entre unidad de la Nacin y primaca del Estado unitariomoderno se ha impuesto con mayor fuerza que en el NuevoMundo.

    La nacin, como ha escrito Renan, ha tenido necesidad de fe,de un sentir comn y de liturgias seculares a travs de las cualesrenovar el sentido de pertenencia: el espritu nacional ha sido (y enparte sigue siendo) una forma de creencia colectiva que legitimabay legitima, cada vez menos en Europa, la autoridad del poderpoltico y del orden social constituido. Las religiones histricas, enel fondo, desempeaban, cuando ello les era consentido por lasclases dirigentes y a menudo de buen grado, la funcin dedoncellas teolgicas del mito de fundacin de la unidad de unaNacin. El ejemplo ms espectacular nos lo ha ofrecido, en elcorazn de Europa central, precisamente Polonia: en nombre de laidentificacin entre nacionalidad y catolicidad los polacos hancredo, en la fase revolucionaria contra el rgimen comunista ygracias a la legitimacin simblica e institucional de la Iglesia y desu papa, que la sociedad que estaban cambiando estaba

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    efectivamente unida en espritu y materia, porque comn era lavoluntad de liberarse de un rgimen que se haba vuelto opresivoy comn era el sentimiento de identidad nacional y religiosa (cat-lica). Una vez afirmado el nuevo rgimen democrtico, los polacosse han dividido libremente y han empezado a mirar con ciertasospecha la pretensin de la iglesia polaca de seguirdesempeando la funcin de gua espiritual suprema de la vidasocial y poltica (Michel, Frybes, 1990).

    Mermada de la facultad de dar inicio (de proyectar el cam-bio social) y de la capacidad de suscitar sentimientos depertenencia nacional, la poltica del Estado moderno en Europaresulta cada vez ms desencantada. Es necesario, a veces, queaparezcan sobre el escenario polcitico nuevos encantadores queestn en condiciones de prometer milagros nunca vistos y sobretodo, que sepan ser buenos telepredicadores del proprio evangeliopersonal, del milagro que ellos mismos representan, con su riquezay su irresistible xito social.

    Si nosotros asumimos la parbola europea del Estado nacio-nal moderno como un sntoma de un proceso de transformacinms vasto en curso en varios puntos del planeta, gracias a lamquina de la globalizacin, podemos afirmar que la crisis de losecular, del principio de ordenamiento de la sociedad entera y lareduccin a unidad de la complejidad social, etsi Deus non daretur,como si Dios no existiera resulta hoy en crisis. La construccin dela unidad de Europa no hace sino poner ms en evidencia estacrisis, al ser vivida por parte de algunos movimientos localistas(que inventan y vuelven a inventar identidades locales, tnicas,regionales y as sucesivamente) como una amenaza, justamente, ala identidad de este o aquel pueblo, de este o aquel grupo tnico).As como la presencia cada vez ms visible de personas de otracultura y religin, llegadas a travs de los flujos migratorios, hacecrecer sentimientos generalizados de hostilidad, miedo de perder lapropia identidad colectiva (Fondazione Nordest, 2000).

    A esta crisis de lo secular corresponde entonces la revanchade Dios, citando la expresin de Gilles Kepel (1991)?

    Tampoco las religiones, en realidad, parecen en condicionesde contrastar eficazmente el proceso de individualizacin de lasconciencias. Las ticas de la hermandad, que en distinta medidaconstituyen el legado social del mensaje espiritual de las grandes

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    religiones mundiales, resultan insuficientes para hacer frente aalgunos retos propios de las sociedades pluralistascontemporneas. El primer reto es la aumentada complejidad inter-na que cada sistema religioso tiene que afrontar: en el fondo, nohabiendo estado nunca unidas en su interior las grandes religionesmundiales, presentes en Europa, en contacto con un ambientesocial y econmico de tipo pluralstico deben constatarrealistamente que sus respectivas comunidades estn hoy muchoms diferenciadas por elecciones morales, culturales, polticas eincluso religiosas o espirituales.

    Llamarse catlicos puede querer decir muchas y muy diver-sas cosas: se puede serlo de derechas o de izquierdas,obedeciendo los preceptos de la Iglesia en materia decontacepcin o pasando completamente de ellos, ir a misa fielmen-te los domingos pero no atribuir ya ningn significado a los sacra-mentos. Del mismo modo se puede ser euro-musulmn de tantasmaneras, es decir, de maneras todava ms diferenciadas que en lospases de fe y de cultura islmica: se puede creer y practicarcoherentemente; se puede estar inciertos y dudosos; se puedeimaginar que creer consiste en conservar el corazn puro, peroque no es necesario seguir literalmente los preceptos de la shariay as sucesivamente. Del mismo modo ser budistas (en Europa)significa en el fondo combinar con un bricolaje estilos de vidamodernos con prcticas que lejanamente se inspiran en una de lastantas escuelas de las que se compone la sabidura budista (Lenoir,1999; Wilson, Dobbelaere, 1991; Macioti, 1999).

    En otros trminos, aparte las minoras activas en recrearespacios de solidaridad socio-religiosa, visibles y que funcionancomo asylum protegidos frente a un mundo percibido como hostila los principios religiosos, la mayora de las personas en Europa noacta socialmente porque cree compartir una misma visin delmundo (la tica de la hermandad de tipo religioso o unasolidaridad de tipo socio-poltico); est dispuesto a lo ms a reducirlas religiones a recurso de identidad cultural, a imaginar que unadeterminada religin pueda constituir un cdigo simblico til paraidentificarse como grupo o nacin. Cuando esto sucede, lasinstituciones o las autoridades religiosas tratan de interpretar estanecesidad de identificacin mmina como una eleccin tica com-partida por la mayora y de transformarlo en un instrumento de

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    presin cultural y poltica para el reconocimiento de su punto devista en las decisiones polticas, consideradas importantes desde elpunto de vista moral (biotecnologa, reconocimiento de las parejasde hecho o de los derechos de las parejas de homosexuales,etctera). Haciendo as se ven obligados a afrontar una doblecoyuntura social: por un lado, erigirse en guardianes de laidentidad colectiva, por otro, poner en discusin las reglas propiasde regmenes polticos democrticos o pluralistas: si considero quetengo la verdad en el bolsillo y trato de imponerla con la fuerza delnmero (pensando que represento a la mayora) a travs de losinstrumentos de la lucha poltica, acabo por volverme parte en lacompeticin con otras partes sociales. O bien considero que laverdad tiene que ser impuesta en todo caso, a cualquier coste,sacrificando el proprio espritu de la democracia liberal. El rgimende la verdad es una tentacin totalmente moderna que aflige amovimientos religiosos grandes y pequeos presentes hoy en Euro-pa. Pero un rgimen de la verdad niega radicalmente el principiomoderno de la individualizacin del creer y, en consecuencia, elfuncionamiento mnimo de la vida democrtica.

    He aqu por qu las religones estn en crisis. Quisieranactuar como reintegradores de la salud social, como las grandesinstituciones sanitarias del mercado global, pero se dan cuenta deno poderlo hacer, bajo pena de la negacin del pluralismo propriode las democracias modernas: quisieran afirmar la existencia deuna verdad trascendente y absoluta, pero se ven obligadas a viviren un ambiente dominado por lo relativo, donde vale el principiosegn el cual un individuo cree hasta donde quiere creer y noacepta que le impongan desde lo alto la verdad.

    En la disolucin totalmente moderna del principio de validezabsoluta de la verdad religiosamente fundada se consuma la crisisde las religiones. Lo que vale para la esfera poltica vale tambinpara las religiones: stas ya no consiguen (o lo consiguen cada vezcon mayor dificultad en las sociedades europeas) hacer creer juntosa individuos con biografas, intereses y proyectos de vida muydistintos entre ellos. Las religiones histricas, encerradas en lasfortalezas de la identidad etno-nacional corren el riesgo, por lotanto, de convertirse en factores de conflictos (como ensea laexasperada pgina de los Balcanes), a medida que la linfa tica yespiritual se seca en la prctica de vida de enteras generacioneseuropeas. O bien, y esta es la apuesta que est ante los europeos

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    del maana, mermando el sentimiento de pertenencia nacional decada pueblo gracias a la crisis del Estado-nacin y a la afirmacinde una nueva realidad poltica supranacional o transnacional federacin de estados, confederacin o una tercera cosa por ahoravaga (Schmitter, 2000) las religiones se convertirn en guardianasde la memoria colectiva de este o de aquel pueblo en un espaciointercultural y pluralista, desde el punto de vista religioso, cada vezms abierto y dinmico.

    Si se verificara esta hiptesis, todo ello contribuira a debilitarulteriormente los lmites simblicos que cada religin histrica hatratado y trata de presidiar. Con la probable disminucin delconflicto dogmtico y, al contrario, con un aumento de lacompeticin entre religiones (entre confesiones distintas y en elinterior mismo de cada confesin religiosa). Una perspectiva tericaque, sin embargo, la escuela de la rational choice aplicada almundo religioso contemporneo (Stark, Brainbridge, 1987) ya hapuesto a prueba estudiando la sociedad americana. La Vieja Europase convertir, tambin ella, en un abigarrado y multicolor mercadode las fes? Las tendencias estn todas presentes y las condicionestambin.

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    APARIES DA VIRGEM E O FIM DO MILNIO

    APARIES DA VIRGEM E O FIM DOMILNIO

    Ceclia Loreto MarizUniversidade Estadual do Rio do Janeiro Brasil

    Resumo. Procura-se neste artigo discutir o papel desempenhado pelasaparies da Virgem no catolicismo do sculo XX. Alm de promover umreavivamento da f, essas aparies se destacam por seu discursoapocalptico com crticas sociedade moderna e por vezes prpriahierarquia da Igreja Catlica. Os conflitos em relao rejeio ou aceita-o desses relatos de aparies refletem tenses mais amplas no campocatlico. A partir dessas observaes, se questiona: 1) em que medida opoder da mdia contempornea e o enfraquecimento do controle dainstituio catlica sobre a divulgao desses relatos contribuiriam para oaumento dessas tenses e proliferao desses relatos; 2) como a IgrejaCatlica lida com as tendncias internas divergentes e de crticas institui-o e quais os seus mtodos de apropriao desses relatos.

    Abstract. This article aims to discuss the role performed by theapparitions of the Virgin in twentieth century Catholicism. Besidespromoting a revival of the faith, these apparitions offers an apocalypticaldiscourse that criticizes the modern society and even the Catholic Churchhierarchy. The conflicts about the rejection or acceptance of theseaccounts of apparitions reflect broader tensions within the catholic field.From these observations, this articles questions: 1) at which degree thepower of contemporary media and the weakening of the Catholic Churchcontrol on the divulgation of these accounts would contribute to theincreasing of such tensions as well to the proliferations of thesesaccounts?; 2) how does Catholic Church deal with the internal divergenttendencies and criticism to its institution and which are its methods ofappropriations of these accounts?

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    Os estudos scio-antropolgicos a respeito das apariesmarianas em geral discutem a maneira pela qual os diferentesgrupos dentro da Igreja Catlica criam redes sociais e elaboramdiscursos para se apropriar de determinados relatos de aparies.As distintas formas de apropriao de um relato de apario, ou asimples rejeio desse relato, como mostram diversos pesquisado-res (Bax, 1991; Almeida, 1994 entre outros), tm expressado, e porvezes at intensificado, tenses e conflitos dentro do campo catli-co. Esses conflitos refletem divergncias quanto a estilo de crena,prioridades institucionais e valores religiosos que demarcam umaluta pelo poder entre diferentes grupos catlicos dentro da institui-o.

    Alm de nos conduzir a uma anlise da tenso interna aocampo catlico, tanto no nvel local como internacional, a literaturascio-antropolgica sobre as aparies marianas do sculo XX pa-rece consensual em afirmar que: (1) as supostas aparies de Mariatm crescido no sculo XX sendo assim um fenmeno caractersti-co desse fim de milnio, e (2) as aparies mais aceitas edivulgadas trazem em sua maioria mensagens com um carterapocalptico prevendo guerras e catstrofes. Alm de no questio-narem essas afirmaes comuns na literatura religiosa sobre o tema,alguns autores (como Zimdars-Swartz, 1992) sugerem que essesdois fenmenos se explicam mutuamente. As aparies teriam con-tedo apocalptico por acontecerem no fim do milnio e aumenta-riam nesse perodo justamente por causa desse tipo de mensagem.

    O sculo XX tem sido desde seu incio marcado pelo con-fronto do catolicismo seja enquanto Igreja, religio ou culturacatlica e a modernidade. Os valores modernos trazidos tantopelo capitalismo como pelo comunismo se expandem alcanandoas diferentes classes sociais nos mais distantes confins do mundo.Essa experincia subjetiva de instabilidade gerada peloquestionamento da tradio e da f intensificada ao mximopelas guerras de propores nunca vistas que marcaram o ltimosculo desse milnio. Seria essa instabilidade suficiente para expli-car um aumento de aparies e seu carter apocalptico? O queexplicaria esse aumento?

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    Questionando se de fato tem ocorrido um aumento real dofenmeno ou apenas uma maior divulgao dos mesmos, me pro-ponho na primeira parte desse artigo a analisar a mudana daatitude da Igreja em relao aos mesmos, e tambm o papel damdia na apropriao e divulgao dos relatos de aparies dosculo XX. Na segunda parte do texto discuto o apelo das mensa-gens apocalpticas presentes em grande nmero dos relatos deaparies, e a relao desse tipo de mensagem com as tenses noprocesso de apropriao e legitimao dos mesmos. Sugiro que (1)esse apelo cresce quando h maiores tenses dentro da Igreja e (2)essas mensagens tendem a mobilizar os grupos que esto maisinsatisfeitos com o status quo. importante analisar no apenas opoder contestador das mensagens de carter apocalptico, mas tam-bm a forma pela qual a Igreja Catlica tem lidado com essacontestao.

    As aparies no sculo XX

    Meu interesse pelo tema das aparies surgiu quandopesquisando grupos orao carismtica em 1994/5 em Niteri medeparei com a ida de membros desse grupo a um local onde sedizia Nossa Senhora estava aparecendo. Essa apario ocorria nosdias 13 de cada ms e suas mensagens eram muito similares as deFtima. A partir dai comecei a notar que uma onda de apariesparecia estar ocorrendo no Brasil nessas ltimas dcadas. Em re-portagem sobre o tema a Revista poca de 21 de dezembro de1998 traz casos de vrias aparies brasileiras. Alm da foto dovidente de Angera na Bahia, caso estudado por Msia Lins Reesink(1999), e dos de Piedade dos Gerais, MG analisada por TniaAlmeida (1994), a revista traz fotos dos videntes de Jacar na Bahia,So Sebastio do Alto no Rio de Janeiro, e de um vidente emFortaleza no Cear.

    J foi dito que o imaginrio catlico dos sculos XIX e XX foimarcado pelas aparies de Maria. Segundo Chiron (1995), o cres-cimento de relatos de aparies um fenmeno internacional erecente. Nesse sculo novas histrias de aparies so registradasno mundo inteiro. Isso tem gerado uma grande bibliografia religio-sa sobre o tema, sites na internet, devoes religiosas e tambm

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    diversas pesquisas scio-antropolgicas. Apresentando o que acre-dita ser uma lista completa dessas aparies, esse autor sublinhaque o sculo XX sem dvida aquele que mais conheceu apari-es marianas. Esse autor lembra ainda que as aparies, e/oupretensas aparies, desse sculo experimentaram como em ne-nhuma outra poca um processo de divulgao mais ampla e maisrpida (Chiron, 1995: 405). D como exemplo dessa ampla divulga-o, a rapidez pela qual as pretensas mensagens da Virgem emMedjugorje passam a ser conhecidas no mundo inteiro via telex.Quando Chiron escreveu seu livro ainda no havia a homepage dasaparies de Angera na Bahia inaugurada em 1996. Esse site nainternet com as mensagens da Virgem recebidas por Pedro Rgis sempre atualizado ilustrando a rapidez da divulgao de eventosdessa natureza.

    Tambm Sandra Zimdars-Swartz (1991:5) argumenta a favorde um maior nmero de aparies no sculo XX quando afirma:aparies pblicas nas quais um nmero de pessoas se renempara observar um vidente em xtase, parece ser, ao menos nocontexto da histria do Cristianismo, um fenmeno peculiar dosdois ltimos sculos. Esses dois autores acreditam que estariaocorrendo um surto de novas aparies de Nossa Senhora nomundo inteiro. Para eles, assim como para toda uma tendncia deestudiosos, o sculo XX teria sido o sculo de maior devoo Nossa Senhora. Essa devoo se explicava e teria se exprimidotambm por esses numerosos relatos de aparies. Alguns dessesrelatos, especificamente os de Lourdes e Ftima, se tornaram bemcentrais na vida da Igreja Catlica contempornea e foram respon-sveis pela criao de importantes locais de peregrinao.

    Mas antes de nos perguntarmos sobre o que explicaria oaumento de relato de aparies, devemos nos perguntar se haveriade fato uma maior ocorrncia de aparies ou apenas uma maiorvisibilidade destas pelos meios de comunicao. Seria um aumentode relatos de aparies ou de registros desses relatos? Vrios fatorespodem contribuir para que no passado muito desses relatos te-nham sido ignorados, no registrados e assim esquecidos. O anal-fabetismo de grande parte da populao e a represso da prpriainstituio religiosa so algumas causas que podem ter impedido oregistro desses relatos e assim os condenado ao esquecimento.

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    Alm da menor facilidade de registro de fatos passados, precisolevar em conta que a populao mundial aumentou em termosabsolutos: um aumento real deveria ser considerado em termosproporcionais. Fala-se de aumento sem especificar se absoluto ourelativo.

    A importncia dos meios de comunicao se revela quandoanalisamos a lista tida como completa de Padre Chiron. Se nosguiarmos por essa lista, pensaramos que no estaria ocorrendonenhuma apario no Brasil. Nem mesmo os relatos de apario deAngera- Bahia, que vem sendo registrado desde 1987 e j est emestudo pelo Vaticano (ver Reesink, 1999), aparece na lista. Aceitan-do a possibilidade de um aumento de fato, temos, contudo quereconhecer o papel da mdia e divulgao das aparies ai. Esseaumento pode ser tambm fruto dessa maior troca de informaese divulgao. A mdia assim alimenta o surgimento de novas apari-es. Chiron (1995), inclusive, discute o fenmeno por ele classifi-cadas como falsas aparies do tipo mimticas que ocorremquando pessoas, influenciadas com relatos de aparies, passam aelaborar novos relatos.

    A grande capacidade atual de registrar fatos e trocar informa-o poderia assim explicar, em parte, a inflao de aparies deMaria no sculo XX. A fora da mdia contempornea dando di-menso internacional a diferentes fenmenos no deve ser subesti-mada. Atualmente se pode compartilhar quase que instantanea-mente informaes e notcias. Se por um lado, a eficincia e amploalcance dos meios de comunicao, que intensificam a troca deinformao, podem gerar de fato novos relatos de aparies. Poroutro, podem tambm estar dando a impresso de maior nmerode relatos quando na verdade ocorreria simplesmente um maiorregistro e troca de informaes sobre esses. O fato de Chiron noincluir em seu livro os relatos de aparies no Brasil refora essahiptese.

    Nenhuma das aparies mencionadas na revista poca socitadas nessa lista supostamente completa. Alm do Brasil estardistante dos centros de decises da Igreja (a provvel fonte da listade Chiron), um pas relativamente menos coberto pela mdiainternacional do que os pases da Europa Ocidental e os EstadosUnidos. No Brasil acontecimentos no meio rural tm menos possi-bilidade de se tornarem manchetes nos meios de comunicao e

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    de serem levados a srio pela mdia urbana ou por autoridadesreligiosas ou seculares. No momento em que se expanda essa redede registro e comunicao dando voz s populaes de reasperifricas, os relatos no Brasil provavelmente tendero a aumentarainda mais.

    Outro elemento que deve ser levado em conta para a expli-cao desse surto de aparies tem a ver com mudanas na prpriaIgreja Catlica. No passado a Igreja reprimia bastante esses relatos.Por exemplo, temos um caso de relato de apario em Stio daGuarda, distrito de Cimbres em Pesqueira Pernambuco em 1936que por vrios anos foi conhecido apenas por grupos muito restri-tos que temiam sua divulgao mais ampla. A vidente, que setornou freira, guardou o segredo por muitos anos decidindo falarsobre o tema apenas na dcada de 80. Aparentemente comportou-se assim seguindo conselhos de seus superiores na Igreja. Emborahaja um registro desse relato em um livro publicado por um fradena Alemanha (na dcada de 40 ou 50), essa suposta apario nemaparece contabilizada na lista de Chiron nem na reportagem daRevista poca. Atualmente esse relato divulgado, entre outrosmeios, por um livreto de autor no identificado publicado emPernambuco em 1986. O autor do livreto afirma (p.6) O Brasil um pas do esquecimento, se este fato extraordinrio tivesse ocorri-do noutro pas catlico, talvez houvesse dado lugar a um Santuriosemelhante ao de Ftima ou Lourdes.

    Na medida que a Igreja perde parte de seu poder sobre apopulao devido secularizao e ao pluralismo religioso dasociedade, a mdia e outras instituies sociais no religiosas setornam mais fortes e os videntes ganham mais autonomia se tor-nando menos coagveis por autoridades religiosas a se calarem. Olongo silncio da vidente de Pesqueira pode ter se repetido emoutros casos do passado que por isso ficaram para sempre ignora-dos. Atualmente videntes, e os grupos que crescem ao seu redor,encontram outras redes de apoio fora da Igreja e podem expressarmais livremente suas experincias. Alm da diminuio do poderrepressor da Igreja, parece estar havendo uma diminuio do inte-resse da Igreja nessa mesma represso. A experincia de vises,

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    relatos de aparies, e outros fenmenos similares de contato dire-to com o sagrado, que no passado podiam ser muito combatidaspor seu carter ameaador ao poder institucional, podem estaragora sendo relativamente melhor recebidas. Talvez essas experin-cias passem agora a serem vistas como possveis aliadas da institui-o, ou de grupos dentro dessa instituio, que atualmente se vmais fortemente ameaada pelo discurso desencantado do mundosecular 1. Em determinados contextos histricos e polticos, umrelato de apario pode ameaar mais o poder secular do que opoder clerical. Segundo Bax (1991) em Medjugorje, quando doincio das aparies o ento Estado Iugoslavo, que confrontava aIgreja, se sentiu muito incomodado pelas possveis conseqnciassociais e polticas dos relatos dos videntes. Embora parte do clerocatlico mantivesse reserva com a apario, outra parte dava apoio.

    Tanto em Medjugorje, como em Ftima, podemos notar tam-bm o poder da mdia nessa luta pela apropriao e legitimaodesses relatos. J em 1917 em Ftima, um lugarejo de Portugal,havia jornalistas registrando o fato. Embora a Igreja tenha o mono-plio sobre a legitimidade das aparies no campo catlico, notem o monoplio do discurso sobre elas. Alm da concorrnciacom os diferentes discursos oficiosos das diferentes alas do campocatlico, o discurso oficial enfrenta no mundo contemporneo aconcorrncia da mdia.

    Tambm na homepage sobre aparies de Ftima e no livrode entrevistas com a vidente Lcia de Carlos Evaristo (1998: 30-31)h referncias presena de jornalistas no dia que o sol teriagirado. No livro de Evaristo argumenta-se que at os jornalistasincrus (cita o artigo de um conhecido anticlerical, Avelino deAlmeida, o redator chefe do jornal lisboeta O Sculo) confirmaramo fato sobrenatural da dana do sol que teria ocorrido em Ftima.A Igreja no pode ser mais dura e ctica que os incrus, e rejeitar averacidade do que aconteceu a concluso dos defensores daapario. Ai nesse caso, os jornalistas se tornam aliados dos defen-sores da apario. Por seu poder de amansar os inimigos daIgreja, essa apario pode ganhar crdito diante daquela instituioque por isso talvez tenha menos interesse em reprimir esses relatos.

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    As mensagens apocalpticas

    As aparies desse final de milnio tm fascinado fiis, amdia e os pesquisadores pelo carter apocalptico de muitas dasmensagens anunciadas pela Virgem Maria. Na maior parte dosrelatos de aparies, h previses de castigos e catstrofes quepodiam ser identificadas como caractersticas de um fim de era.Catstrofes, Besta Fera e Maria desempenham um papel muitoimportante nas previses para os fins dos tempos anunciadas des-de o incio do cristianismo. O Apocalipse de So Joo se refere auma mulher vestida de sol, com a lua debaixo dos ps, de cujoventre nasce o filho de Deus. Essa mulher vai despertar a ira doDrago de Sete Cabeas. Sendo a me do filho de Deus, essamulher seria Maria, que no imaginrio catlico ajudaria os homensno Juzo Final e no processo de salvao.

    A apario mais marcante nesse sentido tem sido a de Ftimaem Portugal em 1917. Ftima seria a apario por definio dosculo XX. Segundo os diferentes discursos de apropriao dosrelatos dessa apario, Nossa Senhora teria anunciado eventos cen-trais do sculo XX, por exemplo a Segunda Grande Guerra e aperseguio comunista Igreja Catlica. E ainda, pela interpretaorecente do Papa, teria previsto o atentado sua vida. Como vriasoutras aparies, a Virgem teria pedido oraes e penitncia paraassim evitar novos castigos Humanidade.

    Em seu estudo sobre as aparies no sculo XIX e XXSandra Zimdars-Swartz discute o desenvolvimento de uma ideolo-gia apocalptica sobre essas supostas visitas da Me de Jesus quecaracterizaria a verso popular do catolicismo romano em nveltranscultural e transnacional. De fato as mensagens anunciadas nasdiversas aparies (La Salette, Fatima, Garanbadal, San Damiano,Medjugorje) analisadas por essa autora, mas tambm em outras noreconhecidas e/ou pouco divulgadas2 sempre se referem a cats-trofes e castigos que viro. Nos diversos casos, a Me de Deus seteria feito visvel a seus filhos mortais por estar preocupada com osseus pecados e desvios da lei de Deus justamente quando ojulgamento se aproxima. Zimdars-Swartz destaca, ento, a impor-tncia dessa viso de mundo apocalptica nos relatos sobre apari-es, tanto naquelas aceitas pela Igreja, como em vrias aparies

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    no reconhecidas. Para essa autora, a diferena entre esses discur-sos (os das aparies reconhecidas e das no reconhecidas) seriaapenas quanto ao grau desse apocalipticismo. Os relatos que noso aceitos carregariam mais nas cores dando mais nfase aossinais dos ltimos tempos do que aqueles aceitos pela Igreja. Adiferena seria, ento, segundo Zimdars-Swartz, mais quantitativado que qualitativa.

    J Yves Chiron (1995), cujo livro aqui analisado pode servisto como uma das fontes de produo do discurso oficial catli-co, a presena de mensagem apocalptica seria um critrio para adefinio da falsidade de uma apario3. Diferentemente deZimdars-Swartz, esse autor v no discurso apocalptico uma marcaque distingue os relatos rejeitados daqueles aceitos pela Igreja,subestimando, deste modo, o aspecto apocalptico das mensagensde Ftima e outros relatos estimulados pela Igreja.

    Chiron ilustra o que vai chamar de aparies apocalpticascom dois relatos totalmente rejeitados pela Igreja: as aparies emNecedah, Wisconsin em 1949 e em Bayside em Nova York (de1970 at os dias atuais ambos nos EUA). O relato de apario deNecedah se d em um contexto de guerra fria intensoanticomunismo e medo de uma guerra nuclear quando umamaior divulgao da apario de Ftima nos Estados Unidos trouxeum despertar da devoo mariana nesse pas. Alm deapocalpticas as mensagens de Necedah eram explicitamenteanticomunistas. J em Bayside, onde os relatos se iniciaram em1970 mas continuam at hoje, a crise da Igreja que serve depano de fundo mensagem apocalptica que trazida (Chiron,1995: 299). Nas mensagens de Bayside, a Virgem afirmaria que omundo se perde pela prtica da pornografia, do aborto, da droga,da televiso, tambm a Igreja estaria infiel a Deus, por isso viria umcastigo. Esse antagonismo contra o Vaticano se expressa mais forte-mente quando em 1975 a vidente afirma que teria havido umcompl no Vaticano atravs do qual o verdadeiro Papa tinha sidosubstitudo por um ssia (Chiron, 1995: 300).

    Essas crticas ao mundo moderno e tambm hierarquia daIgreja no so exclusivas dos relatos de aparies j definidascomo falsas pelas autoridades catlicas. Nas mensagens de LaSalette h elementos que podem ser interpretados como advertn-cias e crticas ao clero (Zimdars-Swartz, 1992)4 . Em geral as apropri-

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    aes feitas do relato Ftima so bastante conservadoras eantimodernas. As questes feitas por Pe. Pacheco vidente Lciano livro de entrevistas organizado por Carlos Evaristo (1999: 65)ilustram um tipo de apropriao desse relato que identifica oVaticano II como o incio de uma poca de diviso interna queestaria prevista para os fins dos tempos. Tambm os comentrios equestes do prprio Evaristo revelam uma posio de confrontocom grupos dentro da Igreja que defendem uma viso de mundomenos encantada. Em certo momento se refere a padres que dizemque o inferno no existe (Evaristo, 1999: 68) levando a vidente aconfirmar que Nossa Senhora teria falado e mostrado o inferno. Emoutro se refere muita gente dentro da Igreja que se ope devoo do Sagrado Corao de Maria (Evaristo, 1999: 87), desper-tando um novo protesto da vidente que afirma a importncia dessadevoo.

    Os relatos de aparies brasileiras, tais como a de Angera(Reesink, 1999) de Piedade de Gerais5 (Almeida, 1994) , de Niterie de Pesqueira (s/a 1986), tambm trazem mensagens que criticamfrouxido dos costumes atuais e a barganha cognitiva com amodernidade. Tambm nas mensagens de Maria em todos essesrelatos, o diabo sempre citado como ativo no mundo de hojelevando as pessoas a questionar a Igreja e sua tradio. As apari-es so muitas vezes interpretadas como um aviso da Me deDeus para evitar o desvio da Igreja e dos costumes por ela defendi-dos6. Essa mensagem conservadora presente em diferentes relatosde aparies (ou melhor, em apropriaes desses relatos) expressaassim um dentre os vrios conflitos internos ao campo catlicocontemporneo: o conflito do tradicional versus o moderno.

    Por outro lado, um discurso conservador e antimoderno temuma afinidade eletiva com ameaas apocalpticas. Mensagens sobreo fim do mundo em geral tocam aqueles que sentem que o sistemade valores que d sentido s suas vidas esto perdendo aplausibilidade (ver Berger e Luckman, 1966). Com efeito, para essessujeitos, o mundo simblico no qual esto inseridos est de fatochegando ao final. Essas mensagens com previses sobre os finsdos tempos esto associadas assim ao interesse de preservao desistemas culturais e estruturas sociais em via de extino, mobili-zando grupos que sentem perder seus parmetros culturais e sevem excludos da nova ordem social dominante.

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    Como j foi comentado anteriormente, um relato de apario, em geral, cercado por diversas lutas de poder. Alm de expressara luta entre os grupos que perdem espao no mundo moderno eaqueles mais adaptados a esse mundo e Igreja que nele seestabelece, os relatos de apario, tal como os de outros fenme-nos sobrenaturais similares, inauguram uma tenso entre o poderdo vidente versus o do clero ou da instituio. Os videntes podemameaar a instituio. Dependendo de como seu discurso sejaapropriado, podem mesmo se tornarem um fora contrria capazde gerar rupturas e dissidncias srias. Ren Lauretin (1988) lembraque o vidente pode ter at mais poder do que o Papa. Se aapario for considerada real, se se acredita que foi a prpriaVirgem Maria quem escolheu aquele simples mortal como porta-voz de suas mensagens, forosamente esse escolhido ser conside-rado um ser especial. Enquanto portador da mensagem da Me deDeus, esse vidente pode se tornar mais poderoso do que qualquerfigura do clero ou da instituio religiosa. Da o cuidado por parteda Igreja com a avaliao e legitimao desse tipo de fenmenos.

    Entretanto, como fica claro pelo que j foi discutido atagora, esse conflito no se reduz dicotomia leigo versus clero. Aidia de que h uma separao clara entre consumidores emoposio aos produtores religiosos e, que essas duas categoriaspodem ser identificadas s de leigo e clero, facilmentequestionvel num estudo sobre as diferentes apropriaes do fen-meno das aparies. O prprio clero se divide e os leigos tambm.A apropriao dos relatos que no caso seria uma forma deproduo de um bem religioso ocorre num processo de trocaentre clero/leigos. Analisando a apropriao de aparies vemosque na produo de um novo bem religioso ocorre uma alianaentre setores do clero com setores de leigos. O aval final para umbem sagrado catlico vem do alto clero via o Papa. Desta forma amaior parte do clero, tal como os leigos, no desempenha papeldecisivo na deciso da legitimidade do produto religioso (no caso,relatos de aparies e suas mensagens).

    Exemplos desse tipo de conflito interno ao clero dado porBax (1991) em seu estudo sobre Medjugorje, e tambm porEvaristo (1999) no seu livro sobre Ftima. Carlos Evaristo (1999:77-8) menciona o caso do padre Gruner, um grande devoto apario

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    de Ftima, que por adotar sua prpria interpretao do fenmeno,ia contra as orientaes da Igreja. Esse padre foi proibido decelebrar missa na diocese de Leiria, onde fica o santurio deFtima7 .

    Para Bax (19991), em Medjugorje a luta se faz entre ospadres franciscanos e diocesanos. Segundo esse autor, as apariesde Medjugorje desempenham um papel muito importante naredefinio das linhas de foras entre esses dois grupos opostosdentro do clero catlico iugoslavo. Graas a essas aparies aordem franciscana recupera sua fora. Bax vincula a essa luta depoder o interesse dos franciscanos de usar toda sua rede interna-cional para divulgar mensagens da apario (Bax, 1991: 40). Empouco tempo essa apario ganha notoriedade, no apenas for suadivulgao pelos franciscanos, mas tambm pela mdia e pelomovimento carismtico catlico.

    Toda essa discusso sobre a apropriao dos relatos de apari-es mostram como esses tendem a mobilizar grupos devocionaisamplos. Alm de se organizarem em peregrinaes ao lugar ondeocorreu o fenmeno em busca de milagres e revelaes, essesgrupos so em geral marcados por uma nova converso religiosa.O novo fervor religioso, bem como a vivncia cotidiana com mila-gres (a possibilidade de acesso direto ao sagrado com profecias ecuras), e o tipo de discurso que abraam ao mesmo tempoapocalptico e conservador , aproximam esses grupos catlicosdos revivalistas protestantes. Ambos expressam tendncias crticasao establishment religioso e instituio.

    Para explicar porque os grupos de adeptos e peregrinos dasdiferentes aparies do sculo XX em geral no promoveram rup-turas radicais com a instituio, como as desencadeadas pelosrevivalistas protestantes, acredito ser importante analisar a formacomo a Igreja Catlica vem lidando com esses grupos e com osfenmenos que os mobilizaram.

    Alguns autores apontam para o estilo especificamente catli-co de lidar com o divergente quando consideram a fundao deordens e conventos catlicos como uma forma de domestificaodo impulso para o reavivamento espiritual e para oquestionamento do establishment religioso dentro do campo catli-co. Para esses autores as ordens seriam sectes ecclsifies (ver

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    Sguy apud Cohen, 1997: 136) No campo protestante esses mes-mos impulsos teriam conduzido ao revivals e ao aparecimento denovas seitas.

    Em seu trabalho Encoutering Mary, Sandra Zimdars-Swartz(1992) chama ateno para as diferenas entre (o que ela vaidenominar de) uma viso de mundo apocalptica catlica, co-mum nos relatos de aparies,