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1 ENCONTRO INTERNACIONAL PARTICIPAÇÃO, DEMOCRACIA E POLÍTICAS PÚBLICAS: APROXIMANDO AGENDAS E AGENTES 23 a 25 de abril de 2013, UNESP, Araraquara (SP)

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ENCONTRO INTERNACIONAL PARTICIPAÇÃO, DEMOCRACIA E POLÍTICAS PÚBLICAS: APROXIMANDO

AGENDAS E AGENTES 23 a 25 de abril de 2013, UNESP, Araraquara (SP)

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PARTICIPAÇÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS VOLTADAS PARA A JUVENTUDE: O MODELO DE “JOVEM” DIFUNDIDO PELAS

CONFERÊNCIAS DE JUVENTUDE1

Paulo S. C. Neves2 Marcelo Ferreri3

No Brasil contemporâneo, a ação estatal tem sido marcada por duas tendências

hegemônicas e complementares, quais sejam: o uso da participação social como critério de

legitimidade das políticas públicas e o reconhecimento das identidades de certos grupos

sociais considerados como minorias, conferindo-lhes visibilidade pública.

Se a primeira dessas tendências tem favorecido a criação e a difusão de mecanismos

institucionais que favorecem a participação da população na elaboração e no

acompanhamento das políticas públicas (o que nem sempre acontece, é verdade), a segunda

tem consolidado (quando não criado) a visibilidade social de certos grupos que aparecem

como sujeitos de direitos a partir da redemocratização do país nos anos 1980.

Nesse texto, buscaremos explorar as intersecções entre estas duas tendências através

da análise das “conferências sobre juventude” no estado de Sergipe nos anos de 2009 e

2011. Com efeito, essas conferências fazem parte de um amplo arsenal participativo que o

Estado brasileiro, em suas diversas instâncias, tem posto em funcionamento especialmente

após os anos 1990 (orçamento participativo, conselhos de políticas públicas, audiências

públicas sobre questões socialmente relevantes, conferências sobre políticas públicas,

policiamento comunitário, etc.) com vistas a tornar o Estado mais poroso às demandas da

sociedade civil, embora em geral essas demandas sejam sobretudo aquelas dos grupos

organizados da sociedade civil. Além disso, essas conferências são o palco de embates pela

ressemantização do conceito hegemônico sobre juventude, o qual influencia não apenas o

1 Este texto é fruto de várias pesquisas que os autores tem realizado, individualmente ou em conjunto, sobre a temática da participação social, no caso do primeiro, e das políticas voltadas para jovens no caso do segundo. 2 Prof. do Departamento e do Núcleo de Pós-graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal de Sergipe. 3 Prof. do Departamento de Psicologia e do Núcleo de Pós-graduação em Psicologia Social da Universidade Federal de Sergipe.

3

alcance e as características das políticas de juventude, como também o modo como os

“jovens” compreendem-se a si mesmos.

Desse modo, nessa proposta de trabalho, analisaremos os discursos oficiais

predominantes na Política Nacional da Juventude (PNJ), com enfoque nas conferências de

juventude, buscando apreender a formulação do conceito de “jovem” mobilizado,

caracterizado nas formas do protagonismo e do empreendedorismo juvenil. Entendemos

esse percurso como favorável a uma apreciação da participação social tal como ela se

processa na democracia brasileira.

Para isso, faremos, em um primeiro momento, uma breve discussão sobre

democracia participativa e participação social no Brasil e, em particular, em Sergipe, para,

em um segundo momento, observar a relação entre juventude e participação social, e

traçarmos algumas das características das conferências da juventude e as questões que ela, a

nosso ver, mobiliza.

Participação social e conflitos na ordem democrática

Durante o processo de liberalização da vida política do país, a partir do final da

década de 1970, criou-se a expectativa de que com o retorno à democracia, os graves

problemas de desigualdade e exclusão sociais seriam paulatinamente resolvidos.

Imaginava-se que isso se daria graças, sobretudo, à organização das classes populares em

movimentos sociais, os quais, pela participação na vida pública, levariam o Estado a dar

prioridade ao combate às desigualdades e injustiças sociais.

Com efeito, de um certo modo, o processo de redemocratização no Brasil nas

últimas décadas do século XX se realizou na base de uma crescente organização da

sociedade civil. Os movimentos sociais e as amplas mobilizações populares neste período

deram visibilidade a atores sociais que, por conta da repressão dos militares, tinham pouca

expressão política anteriormente. A intensa atividade do movimento sindical e dos

movimentos de bairros, a organização de um movimento popular no campo e as demandas

dos movimentos de cunho identitários (movimentos negro, feminista, indigenista, etc.) são

uma demonstração clara da força das demandas democratizantes neste período (Sader,

1988).

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Tudo isso vai desembocar nas conquistas sociais incorporadas à Constituição de 1988,

a qual será por isso cognominada por alguns de “constituição cidadã”. Essa denominação

era mais que uma frase de efeito ou um jogo de palavras vazias, tão comuns na política

brasileira; ela expressava, na verdade, a expectativa de setores da sociedade em relação a

algumas leis aprovadas que visavam ampliar os espaços de participação dos cidadãos nas

tomadas de decisões estatais. Os conselhos comunitários criados então foram os

mecanismos institucionais vistos como os mais promissores nesta direção. Os Conselhos

Gestores de Políticas Públicas, os Conselhos Tutelares da Infância e da Adolescência, os

Conselhos Comunitários de Segurança Pública, os Conselhos de Defesa dos Direitos dos

Cidadãos, etc. são exemplos das expectativas criadas por esta lógica.

Pretendia-se com isso criar espaços públicos4 que propiciassem o desenvolvimento da

cidadania (compreendida como participação política e como usufruto de direitos) da

população brasileira como um todo, mudando assim a cultura política tradicional, associada

ao clientelismo, personalismo, corrupção, etc.

Contudo, os anos 90 do século XX viriam mostrar as dificuldades para se alcançar

estes objetivos. Não somente porque muitos dos Conselhos previstos não foram

implementados (quer seja por falta de mobilização da sociedade civil, quer seja por

resistências de setores do aparato estatal), mas também porque muitos dos que entraram em

funcionamento foram esvaziados por forças políticas tradicionais. Talvez seja essa a

explicação para a redinamização nos últimos anos do expediente das conferências de

políticas públicas por órgãos governamentais.

De todo modo, o debate sobre a democracia no século XX fornece um caminho

privilegiado para tratar da relação entre as conferências de políticas públicas, a participação

social e o próprio regime democrático: o problema do procedimentalismo e sua

reformulação pelo questionamento da experiência política na convivência entre diferentes

grupos. Esta via de discussão é interessante por indagar acerca do lugar do método no

campo da política, problema central do procedimentalismo. Desse modo, se pode perguntar,

por exemplo, em que medida realizar conferências significa efetivar uma democracia

participativa.

4 Para uma discussão sobre a noção de espaço público, ver Habermas (1984 e 1990); Arendt (1983) e Sennet (1998).

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Nos debates sobre a teoria democrática do início do século passado, responder à

legitimidade desse regime através da proposição de arquiteturas procedimentais parecia

oferecer solução para sérias críticas dirigidas ao ideal de sociedade democrática do

Ocidente. Na visão de Avritzer & Santos (2003), dois pontos de vista marcavam o cerne da

crítica ao modelo democrático ocidental daquele período: o liberal-democrata e o da

concepção marxista. Sobre o primeiro, a crítica se manifestava, na verdade, como

posicionamento contrário ao papel da mobilização social e da ação coletiva na democracia,

surgindo assim a defesa do modelo elitista-representativo que terminou supervalorizado nos

países europeus no período do pós-guerras. Já o ponto de vista marxista sustentava que o

núcleo da soberania deveria repousar na autodeterminação das relações no mundo do

trabalho, concebendo a idéia de cidadãos como indivíduos-produtores. Assim a democracia

deixaria de funcionar como regime a serviço das classes dominantes, severa crítica que o

pensamento de Marx fez emergir contra o ideário democrático desde o século XIX.

O confronto entre essas concepções abriu margem para que o problema da relação

entre procedimento e forma saltasse para o primeiro plano do debate. Conceber a

democracia como forma e não substância, conforme Avritzer & Santos (2003), respondia

diretamente à visão marxista, pois se tratava de mostrar que ela não correspondia a um

conjunto de valores apenas e a um único modo de organização política, no caso em questão

o liberal burguês. Segundo os autores, Hans Kelsen (1881-1973) foi quem formulou

claramente essa crítica pela perspectiva procedimentalista. Na visão de Kelsen a legalidade

deveria assegurar a legitimidade dos diversos valores encontrados na organização social.

Isso faria com que não somente a moral fosse relativa, não mais constituída de valores de

uma só classe, mas que fosse também legitimada por métodos ordenadores do sistema

democrático. Os procedimentos, portanto, deveriam garantir que cada convicção

encontrasse sua forma de exprimir-se, abrindo- se à livre concorrência, ao discurso e à

réplica na assembléia, sendo isso o que caracterizaria a democracia (AVRITZER &

SANTOS, 2003:44).

Esse procedimentalismo, contudo, não afastava o risco da elitização do modelo

democrático. Ao contrário, o debate dos métodos servia para mostrar a impossibilidade de

um governo pelo povo. Por um lado, a inquietação com as regras do arranjo institucional

escamoteava a sustentação da idéia de ignorância das massas, ponto de vista que aparecia,

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segundo Avritzer & Santos (2003), no pensamento de Joseph Schumpeter (1883-1950); por

outro, reforçava a concepção do governo representativo já que os procedimentos deveriam

cooperar para a formação de maiorias. Nesse segundo ponto de vista, por sua vez, se

destaca a valorização do voto igualitário e a ausência de distinções de classe social,

religião, etnia, preocupações que marcavam o pensamento de Norberto Bobbio (1909-

2004), por exemplo.

A participação social não aparecia nesse momento do debate, a valorização dos

métodos tendia a consolidar o modelo democrático representativo pela formação de

maiorias, levando ao centro das preocupações o processo eleitoral e o modo de

funcionamento dos partidos políticos. O procedimentalismo consistia, portanto, na primazia

das regras de tomada de decisão sobre a valorização da ação coletiva na democracia,

preocupação de método que, nessa concepção, seria suficiente para sustentar a forma de

constituição dos governos. Essas regras passaram, pouco a pouco, a serem identificadas às

regras do processo eleitoral na segunda metade do século XX. A democracia representativa

aparecia como modelo de distribuição da opinião dos grupos sociais, distribuição na qual

prevaleceria a opinião dos grupos organizados em maiorias partidárias.

Como se sabe, essa visão do procedimentalismo reduzia a teoria democrática à

eleição das elites sem apresentar justificativas para isso, e não justificava também a

exclusão da participação no arranjo político (AVRITZER & SANTOS, 2003:46). Essa

visão se manifesta ainda na obra de Robert Dahl (1997), o qual concebia a democracia

como uma poliarquia.

Contudo, a centralidade no processo eleitoral levava a outros problemas que o

procedimentalismo não respondia: o do processo eleitoral como legítima autorização dos

eleitos pelos cidadãos e o da representação das diferenças na composição de maiorias. No

primeiro problema, o descarte das práticas participativas em favor da representação

partidária; no segundo, o problema das minorias que se viam excluídas do processo político

pelo próprio sistema democrático. Ora foram justamente esse dois aspectos que

contribuíram para alterações sensíveis em alguns arranjos democráticos postos em curso

nas últimas décadas do século XX.

As minorias e a busca de manifestação de suas exigências foram fundamentais para

que ocorressem modificações no âmbito do pensamento democrático. O aparecimento de

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novas exigências coletivas, que via de regra tomavam a forma de pautas de direitos

humanos, pressupunham uma nova sensibilidade social que estaria ligada a exigências

diferenciadas. Essas reivindicações das minorias, na visão de Lefort (1983), não esperariam

por uma solução global dos conflitos, ou seja, pela tomada do Estado como no ideal

revolucionário, mas pretendiam a afirmação de um “poder social”, que valorizaria direitos

e que combinaria, ao redor do poder instituído, uma variedade de novos elementos

articuladores de reivindicações dispersas.

É importante, então, perceber do que seriam capazes essas reivindicações sociais

dispersas. Elas conseguiam, na visão de Lefort, concessões notáveis a partir do momento

em que forçava o Estado a dar atenção mais detalhada à vida social dos grupos humanos,

multiplicando os sentidos da democracia e dos valores de dignidade. Assim, a capacidade

política dos direitos humanos residiria em sua disposição para exercer pressão sobre o

Estado em favor de suas exigências na vida social (LEFORT, 1983:60-69). Para o autor, o

outro nome da política dos direitos humanos foi, então, a política democrática.

O que se encontra em questão é a capacidade da democracia em produzir algum tipo

de aperfeiçoamento da convivência humana, tendo em vista a possibilidade (ou não) de

abertura de espaço para tratamento das exigências das minorias. Conforme apontam

Avritzer & Santos, o problema das minorias não abolia o procedimentalismo, mas o

articulava ao da forma de vida no modelo democrático. A democracia passa a ser o que os

autores designam como “gramática de organização da sociedade e da relação entre Estado e

sociedade” (AVRITZER & SANTOS, 2003:50-51). A democracia estrutura, assim, o

próprio sentido da experiência política, codificando-a com seus respectivos mecanismos.

Quanto às minorias, o que se torna central é o reconhecimento da pluralidade humana e

esse reconhecimento pressionaria, por sua vez, pela inovação institucional, cujo ato

contínuo seria a busca de um novo desenho democrático.

Tratar da relação entre Estado e sociedade, conforme alerta Santos (2010), sob bases

conceituais ultrapassadas significa um risco por concebê-la como um dualismo que não

encontraria mais correspondentes nas inovações do fim do século XX. Nesse sentido,

dentre as inovações fundamentais para a ruptura com modelos hegemônicos da democracia

ocidental se encontraria a participação social, reconfiguração fundamental dos termos da

relação Estado / Sociedade.

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A reconfiguração das relações na democracia que a participação social implica

supõe um reordenamento do próprio procedimentalismo. Este último deve passar, segundo

Avritzer & Santos, de método de formação dos governos para uma prática social cuja

origem repousa na pluralidade das formas de vida da organização social. Portanto,

conforme os autores, o procedimentalismo supõe uma “forma de exercício coletivo do

poder político” (2003:53), e se conecta com a participação social ao associar processo de

livre argumentação com a pluralidade e as diferentes experiências encontradas na vida em

sociedade.

As exigências das minorias, manifestadas pelos movimentos sociais das décadas

finais do século passado, foram fundamentais para estabelecer a relação entre participação

social e procedimentalismo. A ação desses movimentos, por exemplo, nos processos de

democratização da América do Sul, sedimentaram a participação social como um novo

modelo para a democracia. Isso conduziu a uma experimentação de procedimentos

inovadores na esfera do Estado que impingiu um patamar inédito de relação com a

sociedade, como no caso do controle social na nova diretriz constitucional brasileira.

O controle social, conforme aponta Souza (2004), seria uma inovação a ser

considerada desde que reformulasse o arranjo tradicional concebido como controle do

Estado pela sociedade, através de mecanismos de participação social pela eficácia da ação

dos movimentos sociais. A participação implementa uma ultrapassagem do processo

eleitoral e do modelo representativo como marcas do regime democrático, estabelecendo

uma nova “cultura política democrática” (SOUZA, 2004:192). A democracia participativa

pode redefinir a correlação de forças no interior do governo, criando uma outra cidadania

que se faria presente nas instâncias de decisão e elaboração de políticas.

Não é sem razão, portanto, que Gohn (2009) identifica na democracia participativa

o lugar ambíguo que hoje ocupam os movimentos sociais, pois estes se encontram entre os

papeis de exercer pressão contra o Estado, ao passo que exercitam um ativismo propositivo

próprio das regras institucionalizadas da participação social. É nessa direção que os

mecanismos de controle social, os conselhos de políticas públicas e as conferências,

apareceriam como métodos de participação que assegurariam a livre expressão das

necessidades plurais que esses movimentos enunciam desde o conjunto da sociedade.

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Entretanto, com todas as inovações procedimentais que a participação social possa

provocar, restam ainda os problemas da resistência ao novo modelo e da vulnerabilidade

das ações participativas. Sobre o primeiro, Souza (2004) chama a atenção para a pouca

credibilidade e autonomia dos mecanismos de controle social, especialmente os conselhos

de políticas sociais, para exercer suas funções deliberativas e fiscalizadoras. Segundo a

autora, são inúmeros obstáculos que se põem contra a consolidação desses conselhos, mas

cabe dar destaque ao problema de alguns setores da política que viram seu poder diminuído

e, por essa razão, não reconhecem esses mecanismos participativos como forças legítimas

do processo democrático, como o caso de algumas instâncias do Poder Executivo

(autoridades municipais, por exemplo).

Já em relação à vulnerabilidade, o que se impõe são dificuldades ocorridas mesmo

diante da consecução das ações participativas, situação diferente da anterior na qual a

participação encontra obstáculos para se efetivar. Avritzer & Santos (2003) elencam alguns

casos de processos participativos que, em meio à sua efetivação, não lograram em

mudanças mais contundentes no ambiente político. Nesse sentido, os autores destacam que

a participação social reivindica um aprofundamento da democracia, um reordenamento que

vem desde o ativismo social, pois: “mesmo em situações nas quais existe o aumento da

participação, esse aumento, para se tornar emancipatório, necessita se adequar à tentativa

de recriação das formas do político” (AVRITZER & SANTOS, 2003:63).

Esses questionamentos nos ajudam a entender algumas características das políticas

ditas participativas no Estado de Sergipe. Com efeito, algumas pesquisas recentes têm

mostrado as dificuldades de funcionamento das instituições participativas nesse Estado.

Quer seja com relação ao orçamento participativo (Santos, 2007), aos conselhos de políticas

públicas (Neves, 2012), ao policiamento comunitário (Neves, 2007; Passos, 2011), etc há

um certo consenso de que a participação ali tem tido um uso meramente instrumental, de

legitimação das políticas decididas em outras esferas não participativas. Algo que, como

veremos, tem repercussões também nas conferências de juventude.

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Conferências como mecanismo de participação

O papel das conferências no controle social consiste em produzir pautas que

ordenem as ações do poder público na atenção às demandas da sociedade. As conferências

são, na verdade, uma espécie de espaço público no qual os atores sociais expressam suas

necessidades e respectivamente formulam soluções para elas. As soluções, por sua vez, são

levadas ao Poder Executivo que as tomaria como base para suas ações. Esses eventos

convocam seus participantes para uma vivência coletiva de manifestação e decisão sobre o

manifestado, na medida em que, ao longo de sua execução, os conferencistas apresentam

argumentos e selecionam seus argumentos para o que será a pauta escolhida. Trata-se,

sobretudo, da definição de prioridades a partir de processos eletivos.

Como método de operacionalização, as conferências constituem câmaras de

votação, grupos de discussão, distribuição de funções (comissões, mesa-diretora,

coordenadores de grupo, relatores, etc.) e produzem uma série de documentos. Suas

câmaras de votação são organizadas segundo a definição dos votantes, chamados

delegados, dirigentes de sessão (a mesa-diretora), convidados e observadores, esses dois

últimos em geral participantes sem direito a voto, que tratam dos processos eletivos de

pautas e representações dos participantes.

Os grupos de discussão, também chamados de grupos de trabalho ou grupos

temáticos, realizam uma discussão preliminar das pautas levadas à conferência. Produzem

uma primeira etapa de seleção de propostas produzidas e levam à plenária final o resultado

de suas decisões. São grupos coordenados e suas decisões registradas por relatoria. Os

impasses vividos nesse primeiro momento de seleção de propostas são levados, geralmente,

à plenária para que haja alguma arbitragem.

O conjunto de documentos que se produz nas conferências confere registro a todos

os passos em sua realização. Envolve desde resoluções de convocação, portarias de

nomeação de comissões, até material de orientação de discussões, relatórios com resultados

de discussões, atas de sessões, listas de presenças, despachos, textos para embasamento dos

debates, regimentos, leis e outros documentos que regulam a legalidade dos seus temas.

Como ocorrem em diferentes esferas do Estado, começando pelo nível local / municipal,

passando pela esfera estadual até chegar à instância nacional, a elaboração e mesmo a

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circulação desses documentos termina por ser uma parte constitutiva do evento pouco

visível ao público, ficando geralmente ao encargo dos órgãos governamentais ou dos

conselhos de política pública envolvidos.

Contudo, todo esse conjunto procedimental delineado até aqui consiste em um

esboço superficial sobre como se executam as conferências. É fundamental o conhecimento

empírico desse mecanismo para que se possam tecer considerações sobre a experiência de

participação democrática que esse arranjo supostamente produz.

O Brasil realiza conferências de políticas sociais desde antes da Constituição

Federal de 1988. Algumas delas marcam a história de conquistas políticas de alguns dos

setores de políticas públicas, como o caso da 8ª Conferência Nacional de Saúde, ocorrida

em 1986. Essa conferência foi mobilizada por movimentos sociais do setor como o da

reforma sanitária, que manifestava na época franca oposição ao regime militar. Foi um

evento aberto à participação da sociedade - fato inédito nas conferências de saúde e

desafiador naquela conjuntura repressiva - que decidiu pela criação de um sistema de saúde

pública que garantisse o acesso a toda a população (o serviço público de saúde era voltado

apenas aos trabalhadores), integrasse os serviços no campo da saúde, pretendendo alterar a

dispersão e fragmentação da prestação de serviços (unidades no campo da saúde, na

previdência, no setor privado), e que atendesse de forma integral às necessidades em saúde

do conjunto da sociedade. Não é raro na literatura da política de saúde encontrar alguma

celebração daquela conferência como marco político para os êxitos obtidos desde então.

Outra conferência que possui história no campo das políticas sociais é a dos direitos

da criança e do adolescente, cuja primeira foi realizada no ano de 1995. Essas conferências,

além de se reivindicarem como instrumento primordial de concentração de força política

para a implementação da legislação vigente, no caso o Estatuto da Criança e do

Adolescente – Lei Federal 8069 – promulgado em 1990, celebra o fato de contar com a

presença de presidentes da República em duas de suas edições (em 2007 e 2012), presenças

que contemplariam o valor político dispensado aos mecanismo participativos nos últimos

anos. Essas breves menções às conferências devem ser vistas, entretanto, como pequenos

indícios de problemas que perpassam sua execução, ao passo que apontam tanto para a

inclinação participativa que eles buscam imprimir no modelo democrático brasileiro,

quanto para a capacidade de produção de resultados que eles mobilizam.

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É nesse sentido que o problema do aprofundamento da experiência democrática

ganha forma no que tange às conferências. É necessário que se conheça não somente seus

mecanismos de funcionamento, bem como as concepções acerca dos atores e das demandas

deles que as conferências operacionalizam para dimensionar o que esse procedimento

produz enquanto experiência política, enquanto método para o controle social, enquanto

reconfiguração da relação entre Estado e sociedade.

Juventude e as conferências de juventude

O que tem a juventude a oferecer a sociedade moderna? Em pleno curso da Segunda

Guerra Mundial, Karl Mannheim analisou grandes problemas políticos postos por aquele

conflito, tomando a juventude como via de análise do quadro político europeu a partir da

questão assim formulada. Se o conflito era indicativo da necessidade de amplas

transformações políticas nos países em guerra, os jovens favoreciam a análise porque estão

em posição exterior ao centro de decisões políticas e econômicas nas sociedades humanas,

estão na iminência de entrar na ordem social mas ainda se situam perifericamente. Por esta

condição social, permitem observar as sociedades como estáticas ou dinâmicas, conforme sua

participação nos processos decisórios. Uma sociedade seria estática na medida em que

mantivesse os jovens apartados das decisões (MANNHEIM, 1980).

Embora saudado como pioneiro no tratamento sociológico da juventude, o feito de

Mannheim possui ampla envergadura cultural e política, a juventude tem para esse autor

feitio de via de análise do mundo em que vivemos, ela é ferramenta reflexiva que torna

possível pensar a sociedade em seus intrincados processos de organização política e

institucional. Desse modo, vemos como necessário tomar sua via de indagação para

questionar: o que tem a juventude a oferecer sobre a democracia participativa por meio das

suas conferências?

Dois aspectos vistos no debate sobre a participação social emergem como objeto para

uma reflexão a partir da juventude.O primeiro é aquele da participação social voltada para a

pluralidade dos modos de vida, processo que, como visto, provém de novas exigências que

chegam ao Estado democrático a partir da pressão dos grupos sociais forçando o poder

público a contemplar novas pautas políticas. O interesse aqui não é meramente ver os

movimentos de juventude como fonte de exigências específicas e novas para o Estado, mas

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ver como, a partir das pressões que surgem pela chamada “questão jovem” no modelo

participativo em curso, reagem poder público e o conjunto da sociedade civil articulado no

arranjo institucional das conferências, no que tange ao tratamento da vida juvenil e na

afirmação do ideário democrático. A inclinação para a participação social se torna objeto de

questionamento. Trata-se, sobretudo, de tomar as conferências de juventude para questionar

as capacidades de reinvenção do político, tal como preconizado por Avritzer e Santos

anteriormente.

O segundo aspecto, que poderia ser visto como concernente à exigência de reinvenção

política, diz respeito ao intento do controle social como controle do Estado pela sociedade.

No que tange às conferências de um modo geral, o exercício desse controle remete à

capacidade de suas decisões inspirar efetivamente as ações do Poder Executivo, dada a

natureza propositiva desses eventos (diferente da atribuição propriamente fiscal que possuem

os conselhos de política pública). Nesse ponto, as conferências de juventude são interpeladas

em sua capacidade de influir na resolutividade dos problemas por elas registrados.

Questionar esses aspectos através das conferências de juventude impõe o

conhecimento do arranjo político-institucional do qual elas são parte constitutiva. Esta

condição leva à abordagem da Política Nacional de Juventude (PNJ), política pública que

promove as conferências.

A PNJ se apresenta como um novo arranjo institucional destinado a atender as

necessidades da juventude, a partir da implementação de mecanismos assistenciais e

participativos. Em relação aos mecanismos assistenciais, esta política pública pretende

executar programas e projetos que gerem impactos decisivos nas busca de solucionar

problemas sociais da juventude. Quanto aos mecanismos participativos, estabelece formas de

inserção participativa para jovens em instâncias decisórias de políticas. Ela recorre ao

chamado protagonismo da juventude, um dos quesitos a receber investimento político

governamental e supranacional nas últimas décadas. Tal empreendimento pretende-se

inovador por dar ao jovem um lugar assegurado na formulação de políticas públicas.

Esta política pública é uma medida governamental iniciada por volta de 2004 que

pretende beneficiar os jovens com políticas de atenção às suas demandas específicas,

estabelecendo diretrizes para programas especiais. Essa política têm como base

governamental de ações a Secretaria Nacional de Juventude (SNJ), órgão ligado à Secretaria

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Geral da Presidência da República. A SNJ possui o papel de integrar programas e ações do

governo voltadas para os jovens, buscando se tornar referência da população jovem no

Governo Federal. A Secretaria é, sobretudo, o braço (do) executivo no que tange às decisões

tomadas nos diferentes foros políticos da PNJ.

O conjunto institucional da política para a juventude se completa com as instâncias de

participação política: os conselhos de juventude e as conferências de juventude. Os conselhos

de juventude têm como instância máxima o Conselho Nacional de Juventude, implantado em

2005, que tem como finalidade formular e propor diretrizes de ação governamental voltada

para a juventude, na forma de política pública, além de fomentar estudos e pesquisas sobre a

realidade socioeconômica juvenil. Possui participação do governo, de organizações e de

personalidades identificadas com a juventude e com ações políticas para a juventude. É

composto por 60 membros, sendo 20 do governo federal, oriundos de ministérios que

desenvolvem programas e ações voltadas para a juventude, e 40 da sociedade civil, oriundos

de entidades, movimentos sociais, redes de jovens e organizações não-governamentais que

trabalham com segmentos juvenis. O conselho de juventude tem como desafio se tornar

espaço de diálogo entre sociedade civil, governo e juventude, atuando como órgão consultivo

de assessoramento ao governo em medidas que produzam reconhecimento de direitos e

capacidades dos jovens, especialmente através de sua participação cidadã (PRESIDÊNCIA

DA REPÚBLICA, 2007). Conforme prevê a política, devem ser instalados conselhos nas

esferas estaduais e municipais; no momento deste texto, ainda não é realidade a instalação

dos conselhos nas esferas estaduais e municipais em grande parte do país.

As conferências de juventude compõem um sistema participativo e integrado de

reuniões propositivas de políticas. O sistema conferência tem a Conferência Nacional de

Políticas Públicas de Juventude como instância máxima que aponta as prioridades de ações e

programas a serem desenvolvidos pelo poder público em âmbito nacional. Essa conferência é

precedida por conferências estaduais, territoriais, municipais e reuniões livres, assegurando a

participação plural dos jovens em toda essas etapas. A Conferência Nacional deve ser

realizada de dois em dois anos, com o caráter de envolver o jovem interessado nas temáticas

em pauta para também travar um diálogo que gere alternativas para enfrentar os desafios da

vida juvenil.

Assim, como definição das conferências, a partir de sua etapa final, propõe-se:

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A Conferência Nacional de Políticas Públicas de Juventude é um espaço de diálogo entre o poder público e a sociedade sobre os desafios do segmento juvenil e quais alternativas devem ser tomadas pelos governos para respondê-los. Realizada de dois em dois anos, ela é um processo no qual jovens e interessados na temática de todo o Brasil se reúnem para discutir a situação das pessoas que compõem esta faixa etária e apontar quais são as prioridades de ações e programas a serem desenvolvidos pelo poder público (PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 2007).

Na esteira do procedimentalismo, é importante apontar a metodologia proposta para o

sistema das conferências da juventude, aspecto cujo cuidado parece ser imprescindível para a

efetividade da participação política do jovem. A metodologia das conferências pressupõe,

conforme suas diretrizes, um exercício de nivelamento de informações (propiciando

comunicação e interação necessárias às discussões), a utilização de técnicas de discussão

coletiva (proporcionando aproximação e envolvimento até dos iniciantes em processos

participativos) e consonância entre realidade de vida, cultura jovem e multiplicidade dos

movimentos juvenis. Para isso, a proposta metodológica visa gerar espaços de sensibilização

em âmbitos municipais, estaduais e nacional calcados em uma dimensão lúdica e garantir

comprometimento com a conferência. O produto final esperado é a identificação de

problemas (nessa metodologia, chamados “desafios”) e a formulação de possíveis e objetivas

soluções. Este é o desenho esperado para as plenárias de jovens.

Em torno das conferências, vários aspectos se põem em questão. Um aspecto

fundamental para sua consecução foi o incentivo à “democracia participativa” proveniente

de forças institucionais exteriores, melhor dizendo, a pressão de instâncias supranacionais

desde fins do século passado. A entrada da questão da juventude nas relações internacionais

se deu por meio do sistema das Nações Unidas e da cooperação internacional: o ano de

1985 foi declarado Ano Internacional da Juventude pela Organização das Nações Unidas

(ONU). O que fez com que os dez anos seguintes a essa medida fossem dedicados à

geração de um sistema de monitoramento da situação do jovem, cuja faixa etária se

encontraria entre 15 e 24 anos.

Em 1996, o sistema ONU lançou mão de um programa mundial para a juventude

que incentiva ações calcadas no empoderamento do jovem, assunto que passou a ocupar os

encontros mundiais sobre juventude, como os Fóruns Mundiais da Juventude ocorridos em

Viena 1996 e em Lisboa 1998 (IULIANELLI, 2003). No âmbito da cooperação

16

internacional entre nações, a repercussão do empoderamento juvenil tomou a forma de

empréstimos financeiros para empreendimentos educacionais que adquirissem sentido de

combate à pobreza. Os países ligados à Organização Ibero-americana de Juventude (OIJ),

órgão criado em 1992, viram-se envolvidos em ações políticas de atenção à juventude

baseadas nessa mesma linha de pensamento.

No que tange às conferências, há o desejo de tocar a veia politizada da juventude

brasileira. Busca-se assim fazer emergir um novo ativismo jovem através do discurso da

participação nas decisões que lhes concernem no âmbito social, falar de seus problemas, estar

presente nos espaços de decisão e poder, etc. Nessa percepção, a função das políticas da

juventude seria, dentre outras, dar voz aos jovens (sobretudo das classes populares) para lutar

pela redução das desigualdades sociais.

Nesta perspectiva, um dos grandes dilemas que se coloca é o de pensar o jovem como

sujeito para uma nova condição. Isso significa reconhecimento da importância da juventude

na política como elemento fundamental para inovações no mundo em que vivemos, ao

mesmo tempo que se torna apenas uma nova lógica institucional, de caráter participativo,

para responsabilização do jovem por sua vulnerável condição? Ou temos aqui um espaço

para novas experiências políticas como as que se esperam pela participação social, que põem

em marcha uma leitura crítica do projeto democrático?

É inegável a força que o discurso politizado do jovem adquiriu ao longo da história (a

década de 1960 ainda continua como símbolo mais vigoroso dessa força) e esse discurso

possui interesse para as práticas de governo. Mas essa feição tem seu outro lado da moeda. A

juventude como figura de revolução e de esperança de mudanças é, paradoxalmente, uma das

faces do seu suposto caráter ativista, que, na medida em que tenciona a política instituída,

levanta outro tipo de suspeita outorgada ao grupo social: a de desviante.

Por sua condição paradoxal de esperança e desvio, a juventude se torna um

importante elemento analítico das práticas políticas e dos modos de governo. A juventude é

desafiante já no próprio ato de defini-la em seus termos, na medida em que falar em

juventude é movimentar-se em um campo ambíguo de conceituação. Para Diógenes (2009),

ela representa o segmento que mais se define por suas práticas, por suas formas diversas de

atuação e de experimentação do que mesmo por conceituações e referenciais fixos. A

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juventude é uma invenção moderna, sendo tecida em um terreno de constantes

transformações (DIÓGENES, 2009).

Nesse ponto, chamar a juventude para uma experiência participativa em política

social com a estrutura institucional altamente regrada, como no caso da PNJ, significa por em

curso no campo das políticas públicas um poderoso disparador analítico capaz de fazer

evidenciar conflitos (entre práticas instituídas politicamente e inovações provenientes da

experiência política juvenil) que se tecem no projeto democrático. Dos conflitos que

podemos apontar nessas linhas, ganham destaque aqueles que dizem respeito a duas

concepções tidas como inovadoras levadas a cabo pela PNJ e, portanto, pelas conferências: o

protagonismo e o empreendedorismo juvenil. Através dessas formulações da juventude,

vemos alguns dos conflitos que perpassam a democracia participativa.

Protagonismo e empreendedorismo juvenil pelos procedimentos das conferências

Atenta ao problema da concepção de juventude que põe em relevo pela participação

social, a Política Nacional de Juventude não só descreve como se mostra sensível a uma

realidade juvenil que se mostra plural e complexa:

Quando olhamos para a juventude, vemos um mosaico. Os jovens brasileiros são de diversas raças e classes sociais. Pensam e agem de maneiras variadas. E estão por todo o país: na cidade, no campo, nas florestas, nas beiras dos rios, nas aldeias e nos quilombos. É preciso considerar essa rica diversidade. Não se trata aqui, portanto, de estereótipos. Nos noticiários, os jovens (geralmente dos setores populares) aparecem como desordeiros e violentos. Nas propagandas, aparecem como personagens bonitos, saudáveis, alegres e despreocupados, que se oferecem como modelos de consumo e de um estilo de vida ao qual poucos têm acesso. Nem a juventude perigosa das sensacionalistas manchetes policiais, nem a juventude consumista e alienada dos anúncios de tevê: é sobre a juventude real, complexa, diversa e numerosa que estamos falando. (PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 2007b).

A partir desse entendimento sobre a juventude, nota-se um discurso consistente, ao

mesmo tempo em que pretensioso quanto ao desafio de ajustar política pública e cultura

jovem. Se existe um hiato instransponível historicamente constituído entre os fazeres do

poder público e dos jovens, a saída, ao que tudo indica, é forjar modelos de jovens que se

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encaixem nas investidas institucionais e, dessa forma, correspondam às expectativas tanto

no âmbito assistencial das políticas quanto no participativo. É nesse aspecto que o que a

PNJ diz sobre o protagonismo, e seu correlato no processo de reestruturação produtiva

mundo do trabalho, o empreendedorismo, são cruciais para a análise dos conflitos dos

jovens e o tratamento político deles. Cabe observar como se fazem presentes na curta

porém significativa histórias das conferências de juventude da PNJ.

Embora sua periodicidade preveja intervalos de dois anos, as duas conferências

realizadas ocorreram nos anos de 2008 e 2011. A primeira Conferência Nacional da

Juventude teve como temas: “Juventude: Democracia, Participação e Desenvolvimento

Nacional de Juventude” e “Desafios e Prioridades para as Políticas Públicas de Juventude”.

A conferência foi divida em diversos grupos temáticos tais como: cidade, cultura,

diversidade, drogas, família, liberdades democráticas, meio ambiente, mídia, política,

sexualidade, tempo livre, trabalho, e educação. Esse evento demandou uma preparação de

oito meses, segundo consta em seus relatórios oficiais. Nesse período foram realizados 840

conferências municipais e regionais em todos os estados brasileiros e Distrito Federal.

Também foram promovidas 690 conferências livres. A I Conferência Nacional ocorreu em

Brasília, entre 27 e 30 de abril de 2008, constatando um número estimado de 2.500

participantes.

Em Sergipe, os debates ocorridos na I Conferência Estadual de Juventude, a qual

definiu desafios e soluções a serem apresentadas na Conferência Nacional, deram-se de

acordo com as modalidades dos grupos temáticos propostos pela comissão organizadora

nacional. De acordo com o Relatório Final da conferência, no seu primeiro dia de realização

(28-03-2008) foram credenciados 536 participantes, entre delegados e ouvintes.

A etapa municipal em 2008 englobou uma série de eventos que se definiam em: Pré-

Conferência; Conferências ou Reuniões Livres; Municipal Eletiva e Municipal Preparatória.

As conferências/reuniões livres podiam ser organizadas por quem tivesse interesse –

organização estatal ou membros da sociedade civil. Segundo os documentos fornecidos pela

Secretaria do Estado do Trabalho, da Juventude e da Promoção da Igualdade Social, 13

(treze) municípios sergipanos participaram da realização de conferências e/ou reuniões livres.

Os locais de realização das conferências foram diversos: instituições de ensino, sendo na

maioria dos casos escolas municipais de ensino fundamental; auditórios de órgãos públicos e

19

de entidades de parceria público/privada. Além disso, os tipos de entidades que coordenaram

as conferências foram: grêmios escolares, secretaria e diretorias de partidos políticos, ONGs

e associações (GOMES, 2011).

Já a segunda Conferência Nacional foi realizada em 2011 entre os dias 09 a 12 de

dezembro e contou com 1350 delegados eleitos e 2200 participantes. O seu tema foi

“Juventude, Desenvolvimento e Efetivação de Direitos. Conquistar direitos, desenvolver o

Brasil”. Teve como objetivo geral contribuir para a construção e fortalecimento da PNJ.

Sem desconsiderar a importância da Conferência de 2011 para a consolidação da

política para jovens e das conferências de juventude, as questões acerca do protagonismo e

do empreendedorismo juvenil a abordar aparecem, entretanto, na massa documental das

orientações para a realização das conferências de 2008, mais precisamente nos chamados

cadernos temáticos. O caderno temático é um documento que contém várias informações,

depoimentos e questões relativas a um tema proposto pela Política Nacional de Juventude

(PNJ) para o sistema das conferências de 2008. Ao todo, foram catorze cadernos com os

seguintes títulos: trabalho; sexualidade; tempo livre; participação (política); cidade e

territórios; cultura; diversidade; drogas; cidadania GLBTs; família; mídia e comunicação;

educação; meio ambiente e, liberdade e direitos democráticos. O caderno temático é,

portanto, um procedimento de apuro metodológico do fazer das conferências de jovens.

Em todos os cadernos há uma sessão intitulada “E eu com isso?”, e na maioria

dessa seção nos diferentes cadernos há sempre uma pergunta chamando o jovem a dar sua

opinião sobre o que o Estado pode fazer com relação ao o assunto tratado no respectivo

caderno. Eis algumas:

Como os governos devem tratar a questão das drogas? (Caderno

Temático Drogas)

Se você fosse um governante o que você faria para melhorar a

educação no Brasil? (Caderno Temático Educação)

Como você avalia o acesso dos jovens ao serviço público de saúde?

(Caderno Temático Sexualidade)

20

Como o poder público pode enfrentar todas as formas de

discriminação e promover a valorização doa diversidade? (Caderno

Temático Diversidade)

O que é que o poder público pode fazer para que as diversas

manifestações culturais estejam mais presentes na vida dos jovens,

tanto no acesso quanto no meio de produzi-la? (Caderno Temático

Cultura)

Essa consulta através do texto por parte do Estado pode ser entendida como uma

forma procedimental de pressão social sobre os jovens, sobre o que deve ser feito para

promover melhorias acerca de cada assunto específico. Porém, essa consulta pelo poder

público nos leva constatar o refinamento procedimental no que tange à sensibilização para

participar do processo, na medida em que ela manifesta uma espécie de ajustamento à

atitude juvenil de recusa às questões políticas. O Estado faz uso do distanciamento peculiar

do jovem em relação à política institucionalizada para justamente por essa via convocá-lo.

É um chamado ao protagonismo juvenil na medida que provoca o leitor em sua condição de

potencial participante, pela própria atitude do leitor, possível autor de propostas a ser

legitimada pelo processo das conferências. Por outro lado, a consulta leva a arguir até que

ponto essas sugestões feitas pelos jovens vão chegar de fato a ter alguma relevância nas

decisões que a eles dizem respeito?

Para Iulianelli (2003) o empoderamento dos jovens conforme o protagonismo

juvenil, confere cada vez mais poder aos atores como também os faz assumir o poder

dessas ações. Podemos, então, considerar com o autor que essas medidas de

empoderamento trazem consigo sérios riscos político-sociais, na medida que a juventude

passaria a ser responsabilizada pelas ações parceiras com o poder público; nos países

empobrecidos, por exemplo, passariam a responder pelo governo de sua própria pobreza.

Esse processo também se arrisca sobre a outra forma de empoderamento de jovens

que circula pelas conferências: o empreendedorismo jovem.

Segundo Iulianelli (2003), nos anos 1980, questões referentes aos jovens passaram a

ser encaradas em uma ótica diferenciada da perspectiva policial, discutindo

fundamentalmente a questão dos direitos e, sobretudo, o direito à educação. Conforme

21

mencionado anteriormente, a ação da cooperação internacional no fim do século passado se

empenhava no financiamento de ações no campo da educação, almejando tratar dos

problemas da juventude a partir do incremento na escolaridade, na preparação profissional.

Nos últimos anos, contudo, essa via de intervenção foi modificada pelo

investimento em inserção no mercado de trabalho concomitante à escolarização. Ao nosso

entendimento, a PNJ parece incorporar essa discussão sobre a educação interligada à

inserção no mercado de trabalho.

No Caderno Temático Trabalho o discurso da PNJ destina muita importância ao

empreendedorismo juvenil, relacionado às iniciativas de profissionalização e geração de

rendas: “se antes a preocupação era ‘colocar’ o jovem na escola, hoje ela persiste

acompanhada da dúvida: ‘o que o jovem vai fazer ao sair da escola?’” (PRESIDÊNCIA DA

REPÚBLICA, 2007b). No documento “Diretrizes e perspectivas”, se caracteriza o “ser

jovem” como:

[...] um estado de espírito, uma dádiva, um dom de um momento passageiro da vida que não deveria passar, por ser o mais interessante e vibrante; é ser empreendedor, expressar força, ter ânimo, se aventurar, ser espontâneo, ter uma boa apresentação física, ser viril, se divertir acima de tudo, priorizando o bem viver em detrimento das responsabilidades mesquinhas da vida. (PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 2007, grifo nosso).

No Documento Base da I Conferência Nacional de Juventude, lemos:

Nos dias de hoje, não se trata mais de estudar antes como forma de se preparar para conseguir um emprego depois. O banco da escola está ao lado da cadeira do escritório: é preciso criar condições para que os jovens possam se dedicar à sua formação educacional de modo integrado à sua inserção e permanência no mundo produtivo. (PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 2007b).

É importante ressaltarmos a ênfase dada a favor do empreendedorismo juvenil,

mesmo quando este se encontra agregado a outros dispositivos sociais, tais como melhores

condições de renda, moradia e assistência médica, conforme se vê na política nacional de

juventude – haja vista que o empreendedorismo parece ser a forma própria do

protagonismo juvenil ambicionado nesta política como saída para os conflitos da condição

jovem. Nesse sentido, o jovem empreendedor, que tem como pré-requisito ser

22

supostamente bem qualificado pelo currículo escolar, viril em suas iniciativas, se

encontraria nivelado ao jovem protagonista de decisões políticas nos espaços participativos

da PNJ.

Os usos da participação nas Conferências da Juventude em Sergipe As conferências da Juventude em Sergipe foram momentos em que se vislumbraram

alguns dos diferentes papéis que a participação têm assumido no cenário da sociedade

brasileira atual. Como vimos, por trás do debate sobre a necessidade, ou não, da

participação na vida pública, encontram-se visões diferenciadas sobre a democracia e sobre

o papel da sociedade civil no controle da ação estatal. Ora, justamente por isso, nada mais

instigante do que perceber in lócus, através de um trabalho de campo quase etnográfico,

como esse debate se materializa nas práticas dos atores sociais.

Assim, a partir da experiência das duas últimas conferências da juventude que

acompanhamos em Sergipe, pode-se avançar a hipótese de que dentre os diversos usos da

participação pelos atores sociais, três ocupam lugar de destaque. Um primeiro seria o de

legitimação ritualística da ação do Estado e de grupos sociais envolvidos com a aplicação

de políticas públicas (conselheiros tutelares, representantes de ONG’s, etc). Com efeito, os

mecanismos participativos conferem uma aura de democracia tanto às instituições

governamentais quanto aos membros da sociedade civil envolvidos nesses dispositivos, o

que lhes carreiam uma certa legitimidade e visibilidade pública frente à sociedade.

Esse uso político da participação explica certamente porque no Brasil

contemporâneo a adoção de mecanismos participativos tornou-se uma “quase obrigação”.

Não apenas porque alguns deles são previstos na constituição federal, mas sobretudo

porque, como no caso das conferências, em que não há obrigatoriedade legal de sua

efetivação, a participação tornou-se uma importante fonte de legitimidade política e social.

Pouco importa aqui se a participação foi efetiva ou manipulada (alguns delegados das

conferências analisadas confessaram ter sido mobilizados por políticos à frente de

prefeituras sob a ameaça de perda do emprego em caso de não comparecimento), se ela

expressa uma mobilização na sociedade civil ou se é a expressão da capacidade das elites

de se apropriarem do discurso participativo, o que importa é o uso social desse discurso.

23

Uma segunda dimensão da participação foi a de enunciação de demandas sociais

por setores da sociedade civil e de estratégias de ação por parte dos representantes dos

órgãos governamentais. Não à toa, durante as conferências em foco, a estratégia do governo

federal foi a de explicitar nos textos base que estruturaram toda a discussão ao longo das

conferências, a visão de jovem que se pretende desenvolver nas políticas públicas voltadas

para esse grupo. Da mesma forma, alguns segmentos sociais vão buscar explicitar no

espaço público criado pelas conferências suas reivindicações específicas, como foi o caso

dos jovens ligados ao movimento LGBT, por exemplo.

Por fim, uma terceira faceta da participação que apareceu nessas conferências foi a

de mecanismo de avaliação e de elaboração de políticas públicas, o que levou diversos

atores, representando tanto instâncias governamentais quanto da sociedade civil, a

concentrar seus esforços na proposição de medidas específicas a serem adotadas pelas

várias instâncias estatais. Com toda a certeza, é essa dimensão aquela que, paradoxalmente,

dá legitimidade às práticas participativas e, ao mesmo tempo, mais difícil é a percepção da

sua efetividade prática.

A guisa de conclusão

Recém criada no âmbito das políticas sociais, a Conferência Nacional de Juventude

lançou uma contundente provocação à prática das conferências quando de sua apresentação

procedimental em 2008; dizia seu texto: “apesar da rica vivência proporcionada pela

participação política, que gera resultados na sociedade civil, as conferências ainda

materializam pouco as resoluções que aprovam” (PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA,

2007). Tal manifestação apontou para problemas que, aos olhos dos organizadores daquele

evento, parecia marcar as conferências: “que não sejam carta de intenções nem lista de

demandas” pouco factíveis politicamente (PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 2007). Vê-se

que a própria realização das conferências torna-se oportunidade de questionamento da

potencialidade da participação política.

Do que se pode perceber até o presente momento, nota-se uma clara vontade

governamental de mobilizar setores da juventude em torno da idéia do “jovem

empreendedor e ativo”, capaz de buscar por si mesmo os meios de sua existência e de

participar ativamente da vida da cidade. Até que ponto essa “política” tem rendido frutos

24

não é nossa intenção dizer nem temos como avaliar nesse momento. Contudo, algo que

aparece dos primeiros resultados sobre as diversas etapas das conferências de jovens no

estado de Sergipe é que, ao menos por enquanto, os produtos das conferências (suas

propostas) são submetidos a todas as vicissitudes da política para não permanecerem como

letra morta.

Não apenas porque as conferências são organizadas de modo a evitar o

aparecimento conflitos e a “não sair do controle” das diretrizes e eixos temáticos e

programáticos elaborados ao nível do Governo Federal, como também porque a

participação dos jovens nesses eventos dá-se de forma tutelada pelo controle de

procedimentos operado por grupos políticos que participaram da organização dos eventos.

Assim, por exemplo, durante a realização de uma das conferências estaduais de

juventude, a etapa final de eleição dos delegados que seriam enviados para a conferência

nacional foi suspensa sob a alegação “em off” de que haveria muita confusão, seria melhor

realizar posteriormente, sob a responsabilidade de um conselho estadual. Da mesma forma,

em uma das discussões de um dos grupos temáticos, a proposta de um jovem de que o

governo deveria ser responsável pela oferta de emprego para todos os jovens foi

rapidamente descartada pela mesa sob a alegação de ser essa proposta irrealizável.

Deste modo, o que parece estar ocorrendo nas conferências sobre juventude em

Sergipe é a dificuldade em por em execução o empoderamento de setores da juventude a

partir da própria participação. Ou seja, a própria participação fica sob suspeita nesse caso.

Essa mesma dificuldade tem sido também observada com relação a outras conferências de

políticas públicas que pudemos observar durante nosso trabalho de campo recente. O que

nos leva a repensar essas questões sob o prisma do dilema democrático com o qual

iniciamos nossa reflexão nesse texto.

Resta questionar em que medida as conferências respondem ao apelo mobilizado

pelas novas exigências que os grupos sociais dirigem ao Estado na democracia

participativa; se serão as conferências os instrumentos mesmos de uma reinvenção das

práticas políticas almejadas pela nova gramática democrática. Ou se, o que tememos, serão

as conferências o mero ajuste necessário, frente à pluralidade dos modos de existências dos

grupos minoritários, pretendido pelo elitismo, revigorado agora pela participação social na

democracia.

25

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