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In: Reunião da Rede de Popularização da Ciência e Tecnologia da América Latina e Caribe, Congresso Latino-Americano, VI, Rio de Janeiro, 12/17-06-1999, Anais, 10 páginas (CD-ROM). Ciência e Sociedade; a Divulgação Científica por meio de Ciclos de Debates Alexandre de Gusmão Pedrini UERJ/Instituto de Biologia/Departamento de Biologia Vegetal (DBV). Rua São Francisco Xavier, nº 524, PHLC, Sala 224, CEP 20550-013, RJ , Brasil; [email protected] RESUMO A Divulgação Científica tem sido praticada, em geral, indiretamente pela mídia e por parte dos cientistas pela veiculação de informação por revistas gerenciadas pela própria comunidade científica. Este trabalho relata uma experiência de contato direto entre cientistas e cidadãos leigos. Atendendo provocação emenada de membros de associações de moradores da Baixada de Jacarepaguá de que a informação científica e sua aplicabilidade são desconhecidas foi promovido um evento. Denominou-se “II Ciclo de Conferências e Debates sobre a Baixada de Jacarepaguá : Ecologia, Manejo e Política Ambiental”. À exemplo do I Ciclo foi organizado em parceria com associações de moradores locais, órgãos públicos e a iniciativa privada. Foi realizado de 16-20 de setembro de 1991, das 18-22:00 h, no Marina Barra Clube. Participaram 34 cientistas, apresentando 20 resumos de suas atividades, referentes às 21 conferências, representando os principais atores públicos atuantes na área : a) universidades (UERJ, UFRJ e USU); b) órgãos ambientais estaduais ( FEEMA, SERLA) c) órgãos municipais (Fundação Parques e Jardins, RIO-ZOO e Superintendência de Meio Ambiente da Prefeitura); d) Câmara Municipal. Dos que participaram, se inscreveram, 73 cidadãos. A maioria absoluta era da Baixada de Jacarepaguá (61%). A > era de profissionais de nível superior (51%), essencialmente professores. Foram publicados anais, contendo o relato do evento e os resumos das conferências em linguagem decodificada. E assim a UERJ, pelo DBAV, cumpriu o contrato social da ciência. ¹ Doutorando em Ciência da Informação (IBICT/UFRJ, [email protected]); USU; CNEN. Unitermos : Ciência, Divulgação Científica, Participação Comunitária, Jacarepaguá, lagunas. RESUMÉ Science et société : la diffusion de la science par des debats. La diffsion de la science est faite. en générale, indirectement par les medias et par les chercheurs grâce aux revues scientifiques. Ce travail décrit de rapport entre les scientifiques et les citoyans. À partir d’une demande d’éclaircissement sur l’aplication de

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Page 1: Artigo divulgação científica algas por ciclo de debates 1999

In: Reunião da Rede de Popularização da Ciência e Tecnologia da América Latina e Caribe, Congresso Latino-Americano, VI, Rio de Janeiro, 12/17-06-1999, Anais, 10 páginas (CD-ROM).

Ciência e Sociedade; a Divulgação Científica por meio de

Ciclos de Debates

Alexandre de Gusmão Pedrini

UERJ/Instituto de Biologia/Departamento de Biologia Vegetal (DBV).

Rua São Francisco Xavier, nº 524, PHLC, Sala 224, CEP 20550-013, RJ , Brasil; [email protected]

RESUMO A Divulgação Científica tem sido praticada, em geral, indiretamente pela mídia e por parte dos cientistas pela veiculação de informação por revistas gerenciadas pela própria comunidade científica. Este trabalho relata uma experiência de contato direto entre cientistas e cidadãos leigos. Atendendo provocação emenada de membros de associações de moradores da Baixada de Jacarepaguá de que a informação científica e sua aplicabilidade são desconhecidas foi promovido um evento. Denominou-se “II Ciclo de Conferências e Debates sobre a Baixada de Jacarepaguá : Ecologia, Manejo e Política Ambiental”. À exemplo do I Ciclo foi organizado em parceria com associações de moradores locais, órgãos públicos e a iniciativa privada. Foi realizado de 16-20 de setembro de 1991, das 18-22:00 h, no Marina Barra Clube. Participaram 34 cientistas, apresentando 20 resumos de suas atividades, referentes às 21 conferências, representando os principais atores públicos atuantes na área : a) universidades (UERJ, UFRJ e USU); b) órgãos ambientais estaduais ( FEEMA, SERLA) c) órgãos municipais (Fundação Parques e Jardins, RIO-ZOO e Superintendência de Meio Ambiente da Prefeitura); d) Câmara Municipal. Dos que participaram, se inscreveram, 73 cidadãos. A maioria absoluta era da Baixada de Jacarepaguá (61%). A > era de profissionais de nível superior (51%), essencialmente professores. Foram publicados anais, contendo o relato do evento e os resumos das conferências em linguagem decodificada. E assim a UERJ, pelo DBAV, cumpriu o contrato social da ciência. ¹ Doutorando em Ciência da Informação (IBICT/UFRJ, [email protected]); USU; CNEN. Unitermos : Ciência, Divulgação Científica, Participação Comunitária, Jacarepaguá, lagunas.

RESUMÉ

Science et société : la diffusion de la science par des debats.

La diffsion de la science est faite. en générale, indirectement par les medias et par les chercheurs grâce aux revues scientifiques. Ce travail décrit de rapport entre les scientifiques et les citoyans. À partir d’une demande d’éclaircissement sur l’aplication de

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la science par les membres des associations d’habitants de “Baixada de Jacarepagua”,il a été organisé le “IIéme Cycle de Conférences et Debats sur la “Baixada de Jacarepaguá : Écologie, Gestion et Politique de lénvironnement”. Tout comme le I er Cycle, il y a été réalisé par des associations d’habitants, par des institutions publiques et privées. Il a eu lieu du 16 au 20 septembre 1991, de 18 à 22 h, au “Marina Barra Clube”(quartier de Barra da Tijuca, Rio de Janeiro). 34 chercheurs ont participé à 21 conferénces, comme representants des universités, des institutions environnementales de l’état et municipales et du Conseil Municipal. Il y a eu 73 personnes inscrites, dont la majorité de “Baicada de Jacarepaguá”(61%). Parmi eux 51% des professionels de nivaeau superieur, surtout des professeurs. Un resumé des conferénces a été publié en langage simplifiée. Ainsi, l’Université de l’État de Rio de Janeiro par le Département de Biologie Animal e Végétal a accompli le contrar social de la science.

Mots-clefs : Science, Vulgarization Scientifique, Botanique, Algues Marines, Rio de

Janeiro

I. Introdução

O discurso científico contemporâneo, certamente emanado do metafórico contrato

social da ciência, estabelecido no alvorescer do fim da II Guerra Mundial promete a

solução dos problemas e a produção de bens, produtos e serviços para a sociedade,

segundo GUSTON & KENINSTON (1994), mediante a produção de informação. A

Ciência da Informação vem tratatando desta questão. O pesquisador ao produzir dados

que alterem o aparelho cognitivo humano, segundo BELKIN & ROBERTSON (1976)

geram informação. Escoando esta informação prioritariamente por artigos de periódicos

científicos internacionais o cientista julga cumprido seu papel, desinteressado em saber

se ela é passível de se transformar em conhecimento e daí gerar bem estar à

sociedade. Para tal, a informação teria que, segundo BARRETO (1994) alterar o

mapeamento cognitivo de uma pessoa após disseminada e modificar a realidade

selecionada como alvo de sua intenção. E na medida em que a informação é produzida

em tempo linear e sua assimilação em tempo circular, segundo BARRETO (1994)

haverá sempre um excesso de estoque informacional de alto custo social.

Assim, como se não bastassem a produção de informação desvinculada de demandas

sociais e o permanente excesso de informação não aproveitada não há incentivo pela

geração de mecanismos de transferência da informação técnico-científica disponível. A

despeito da ausência de políticas públicas em Ciência e Tecnologia, no Brasil,

abrangendo a explicitação de mecanismos de difusão do conhecimento científico

adequados às demandas sociais, pesquisadores partem para este desafio. Adota-se

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neste trabalho os conceitos de BUENO (1985) em que : difusão é todo o processo ou

recurso usado para veicular informação. Divulgação Científica (DC) a difusão de

informação à público não especialista, pressupondo uma decodificação da linguagem

científica para a audiência pretendida.

Mormente os pesquisadores brasileiros se utilizam de periódicos de divulgação

científica como a revista Ciência Hoje para um público desconhecido, supostamente

capaz de apropriar o saber veiculado (cf. PEDRINI, DE PAULA & CASSANO, 1999). Mas

desconhece-se ações dirigidas a um público alvo específico, respeitando modelos

próprios de circulação de informação. BARRETO (1991) estudou a cidade do Rio de

Janeiro quanto à circulação de informação nos seus limites espaciais. Afirmou que: a)

toda a cidade é formada por um conjunto de núcleos diferenciados social, econômica e

culturalmente, onde a informação é aceita se observadas seus condicionantes

específicos, segundo seus hábitos e costumes coletivos e respeitando um ritual de

vizinhança típico a cada uma e b) a geração e a transferência de informação, quando

baseada em critérios de racionalidade técnica, competitividade e produtividades

quantitativas não modificam pelo desenvolvimento, as realidades onde atuam. Estas duas

asserções nos permitem inferir que a apropriação da informação, terá que ser transferida

para apropriação por parte do povo leigo, segundo especificidades contextuais.

Portanto, uma postura pós-moderna de circulação de informação (cf. LYOTARD, 1992)

deve ser empreendida, buscando eficácia de difusão e divulgação do saber. Pela

divulgação científica ela também deveria respeitar contextos setorizados em oposição às

metanarrativas massificantes.

Por outro lado, a Baixada de Jacarepaguá, vem, tendo sua qualidade ambiental

deteriorada desde meados deste século, segundo se constata ao ler as crônicas de

MAGALHÃES CORREA (1934). Por saber que ela ainda porta componentes ecológicos

fundamentais para o equilíbrio ambiental de tôda a cidade do Rio de Janeiro, cientistas

ambientais dedicam-se até hoje à estudar a área, tentando mostrar sua importância

ecológica e cultural, desde a década de quarenta (LAMEGO, 1945). Dezenas de

entidades públicas federais, estaduais e municipais desenvolvem atividades na área em

paralelo com entidades de pesquisa e universidades. No entanto, no começo da década

de oitenta a informação sobre a área continuava dispersa e nem a própria comunidade

científica especialista nos ecossistemas da área conhecia o que outros colegas faziam

na Baixada. Tampouco os moradores sabiam o que os cientistas faziam e como fazer

para se apropriarem da informação disponível.

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No início da década de noventa, os problemas sócio-ambientais se avolumaram com a

especulação imobiliária e o problema da disposição final dos resíduos, tanto industriais

como domésticos. Os pesquisadores ampliaram suas pesquisas na área, tentanto barrar

pelos seus resultados científicos a perturbação ambiental alarmante da área. No entanto,

a interação da ciência com a sociedade era frágil, como bem atestam GUSTON &

KENINSTON (1994) para os EUA. Questionando para que serviam as pesquisas

científicas a comunidade representada pela Associação dos Moradores e Amigos da Ilha

da Jigóia e Co-Irmãs, atuante na Lagoa da Tijuca, Rio de Janeiro, procurou a

universidade, buscando uma forma de se apropriar das informações para benefício dos

cidadãos de baixa renda locais.

Em 1991, então, foi realizado o II Ciclo de Conferências e Debates (CCD) sobre a

Baixada de Jacarépaguá. Este trabalho tem, portanto, como objetivos, relatar a

metodologia e os resultados das experiências de divulgação científica, tendo por base a

interação comunitária construída com cidadãos da Baixada de Jacarépaguá.

II. Metodologia

Sempre interagindo com moradores, face ao seu compromisso social da ciência com a

sociedade, o autor vem estudando a flora das lagunas de água salobra do litoral

fluminense desde a década de oitenta. (PEDRINI & SILVEIRA, 1985; PEDRINI, MOURÃO

& FIGUEIREDO-GUERRA, 1986). Esta interação comunitária sempre foi frequente. Vale

resgatar do anonimato, como exemplo, a ministração, em 1976, de um curso dirigido ao

público leigo sobre os ecossistemas da Baixada de Jacarepaguá com a ajuda do

incansável pioneiro ambientalista Marcelo Ipanema (este jornalista já havia ganho disputa

judicial para freiar o aterro criminoso da Lagoa de Itaipú, Niterói, RJ). À convite de jovens

dirigentes da extinta Associação Ecológica da Barra da Tijuca (AEBT) e ministrado à noite

num colégio do bairro com excursões aos domingos o curso -pioneiro no estilo-, forjou

dentre seus alunos uma concepção de ambiente construído obrigatoriamente

harmonizado com o natural. A maioria destes jovens formou posteriormente a Associação

dos Moradores e Amigos da Barra da Tijuca (AMABARRA) pioneira no movimento

ambientalista da Baixada de Jacarepaguá. Assim, o laço entre universidade e sociedade

tem sido mantido ao longo dos anos, tendo pesquisadores como o autor procurado

atender sempre os anseios de esclarecimentos dos moradores dos entornos de suas

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área de trabalho, tanto pelos meios informais (conversas, visitas, etc) como formais

(cursos, eventos, etc)

Em meados da década de oitenta moradores de Jacarepaguá, sabendo que cientistas

desenvolviam trabalhos na baixada e que ela estava com sua qualidade ambiental

deteriorada, procuraram o autor. Este idealizou e promoveu em parceria com a extinta

Associação de Biologia do Estado do Rio de Janeiro (ABERJ), a Sociedade Botânica do

Brasil-Secção Rio de Janeiro (SBB-RJ) e a ex-Coordenação Municipal do Meio Ambiente

da cidade do Rio de Janeiro o: I Ciclo de Conferências e Debates sobre as Lagunas da

Baixada de Jacarepaguá : Ecologia, Manejo e Política Ambiental. Realizado, à noite, de 4

a 15 de junho de 1984 na UERJ, reuniu representantes de associações de moradores,

entidades científicas, parlamentares municipais, estaduais e federais, órgãos públicos e

universidades. Deste encontro foram publicados seus anais com as conclusões dos

debates, sugerindo o que os diferentes atores envolvidos teriam como meta realizar para

reverter o quadro caótico de desrespeito sócio-ambiental (PEDRINI & CARNEIRO, 1984).

Face à avaliação do I Ciclo o II foi concebido (vide PEDRINI & CARNEIRO, 1991) para

ser no próprio contexto. Isto é, teria que ser realizado na Baixada de Jacarépaguá.

Destituído de verba própria o evento teria que ter seus custos compartilhados por

parceiros a serem identificados e sondados. Daí, foram contatadas várias entidades

atuantes na baixada. O presidente do Marina Barra Clube, agremiação situada numa ilha

do estuário da Lagoa da Tijuca, prontamente concordou em apoiar e sediar o evento e

também o veiculou dentre os seus cerca de 4 mil sócios. Seria fornecido microfone,

equipamento audiovisual, faixa de pano, cobertura fotográfica, estacionamento e o salão

de festas para as conferências. A professora Carmem Lucia de Oliveira Mendes da

UFRJ conseguiu a edição de prospectos, contendo as orientações para inscrição, os

objetivos e o programa do evento.

A UERJ através da sua ex-Sub-Reitoria de Assuntos Comunitários assumiu a

divulgação interna e externa do evento, sendo que um ex-aluno de oceanografia da UERJ

e também jornalista: José Henrique Alves, na ocasião repórter do Caderno Barra da

Tijuca do Jornal O Globo foi fundamental na difusão local do evento. Através, de

entrevistas junto aos profissionais atuantes na área e que iriam participar do evento

publicou cerca de 20 matérias sobre o ambiente da baixada e estimulou o debate na

comunidade local. O evento foi documentado totalmente por video, estando duas fitas

VHS disponíveis na UERJ.

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Provocados pela coordenação do evento, face à questão trazida por moradores de

baixa renda da Barra da Tijuca todos se dispuseram a participar do evento, apresentando

seus resumos e exposições orais com linguagem leiga. Como vários viriam da Ilha do

Fundão ou bairros longínquos a AMABARRA conseguiu que o Posto de Gasolina Barra

Limpa abastecesse os carros dos conferencistas. Assim, eles não teriam que pagar para

participarem. Com o fim de documentar os resultados a serem apresentados cada

pesquisador encaminhou um resumo de suas conferências para a publicação em Anais.

Este documento foi organizado pelos coordenadores (PEDRINI & CARNEIRO, 1991) e

digitado pela Fundação Jardim Zoológico do Rio de Janeiro, graças ao empenho do

biólogo Carlos Esberard. Sua impressão só foi possível graças ao empenho da

Subreitoria de Pós-Graduação e Pesquisa e a Gráfica da UERJ.

Tencionando-se que se intensificassem os contatos entre moradores e profissionais

foi solicitado que fossem acrescentados os telefones profissionais, e para quem quisesse

os pessoais. Assim, caso moradores necessitassem fazer contatos com os

pesquisadores sobre assunto de interesse mútuo o contato fosse mais direto. Os

resumos foram em língua nativa leiga, mas sem perder suas promessas de verdade.

Comunicado o evento pela imprensa jornalística a data foi transferida duas vezes,

visando adequar-se à disponibilidade da comunidade local. Colaboraram ainda o Instituto

de Radioproteção e Dosimetria da CNEN na pessoa do físico Laércio Vinhas, então seu

diretor e morador da região, Marly Cruz Veiga , então diretora do Instituto de Biologia da

UERJ, Leonardo Alves Carneiro e Teresa Pedrini, dentre várias outras pessoas não

nominadas aqui.

O evento foi realizado de 16 a 20 de setembro de 1991, das 18:00 às 22:00 horas, no

Marina Barra Clube, sendo que o autor pernoitou em um motel da Barra da Tijuca

durante todo o evento, também com preço subsidiado. Ao final, os certificados foram

concedidos pelo Centro de Estudos do Instituto de Biologia (CEBIO).

III. Resultados

O evento transcorreu sem nenhum problema, sendo seus resultados abaixo

discriminados.

1.O evento.

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O programa foi estruturado em cinco mesas-redondas, abordando o seguinte : a)

fauna e floras lagunares; b) a qualidade das águas; c) manejo, política e educação

ambientais. Foram convidados mediadores para conduzirem cada mesa que abrangia

de 3 a 5 conferências. Os temas das conferências foram : a) poluição por metais

pesados; b) taxonomia e cologia de algas bentônicas; c) o papel do perifiton; d)

zooplancton, peixes e zoobentos lagunares; e) mamíferos e aves da baixada; f)

indicadores de poluição fecal nas lagunas; g) uso de técnicas nucleares na avaliação da

poluição aquática; h) eutrofização e nutrientes nas águas lagunares; i) unidades de

conservação ambiental na baixada’; j) ações da Superintendência Estadual de Rios e

Lagoas (SERLA); k) atividades de ONG’s; e l) política e educação ambientais.

2. Os conferencistas

Participaram 34 autores nos 20 resumos referentes às 21 conferências, faltando

apenas a contribuição da Administradora Regional da Barra da Tijuca da ocasião.

Representaram os principais atores envolvidos na questão ambiental local como:

universidades (UERJ, UFRJ e USU), órgãos públicos federais (Comissão Nacional de

Energia Nuclear), estaduais (SERLA, FEEMA) e municipais (Parques e Jardins e

RIOZOO), Câmara Municipal e Superintendência de Meio Ambiente da cidade do Rio de

Janeiro.

3. Os Assistentes

Se inscreveram 73 pessoas, sendo ca. de 36% moradoras nas ilhas da Lagoa da

Tijuca, a maioria absoluta da Ilha da Gigóia. Cerca de 25% eram domiciliados no

continente, essencialmente Barra da Tijuca e Jacarépaguá e portanto a maioria absoluta

(61%) da Baixada de Jacarépaguá. Os restantes 39% eram de vários bairros da cidade e

até de municípios vizinhos como São João de Meriti, Duque de Caxias e Niterói. Cerca de

58% eram homens e 42% mulheres. Quanto à profissão a maioria absoluta era de

profissionais de nível superior (51%), seguidos de estudantes universitários (25%) e

profissionais de 1 e 2 graus (24%). Os profissionais de nível superior, a maioria era de

professores (32%), seguidos de biólogos (21%), empresários (14%), engenheiros (12%) ,

arquitetos (9%), advogados (2%), Economistas (2%) . Várias pessoas participaram, mas

não se escreveram.

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3. Desdobramentos

Cerca de um ano após PEDRINI, SILVA & PINTO (1992) procederam à uma avaliação

do impacto do evento. A maioria dos respondentes considerou eficiente a atividade,

tendo ela atingido seus objetivos. Baseados nesta avaliação propuseram a realização do

III Ciclo, pressupondo-o como atividade mobilizadora de partida para um amplo Programa

de Educação Ambiental (EA) Baixada de Jacarepaguá. Assim, seria associada uma ação

de DC (pontual) e outra de EA (permanente).

IV. Conclusões

De uma maneira geral este tipo de evento apesar da complexidade para sua

operacionalização pode surtir efeito. Parcerias múltiplas exigem um trabalho de

coordenação muito atento e desgastante, mas os resultados foram animadores. A UERJ

representada por seus professores foi capaz de interagir, conceber, realizar e documentar

um evento de divulgação científica dirigido para o público leigo. A competência de

identificação, aglutinação e gestão de variados atores envolvidos na questão ambiental

local é possível de ser construída e posta à disposição do público leigo para diálogo e

debate, mesmo sem capacitação prévia.

O uso da imprensa localizada anterior ao evento parece ter sido a responsável pela

participação do público, além de complementar a tarefa de divulgação.Conseguiu-se a

participação de moradores do local cujos assuntos estavam sendo discutidos e parte dos

domiciliados são de bairros longínquos, mostrando que o evento despertou interesse,

mesmo à noite, para pessoas de lugares distantes. A maioria dos participantes foram

de professores e profissionais de pesquisa como os biólogos, mostrando que a população

que acorreu ao evento foi composta de pessoas esclarecidas que poderiam reelaborar e

redistribuir as informações recebidas.

Concluindo, este tipo de evento é possível de ser concebido e operacionalizado sem

verbas específicas, desde que a coordenação seja competente em articular-se com vários

parceiros, estando intimamente motivada em cumprir o contrato social da ciência. A

divulgação científica pelo debate é enriquecedora, tanto para os cientistas como para a

comunidade atingida que pode dialogar frente à frente com profissionais especializados

no ambiente à qual esta população dependa e nela sobreviva.

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V. Referências Bibliográficas

BARRETO, A. A. A Informação e o Cotidiano; a informação e a comunicação em comunidades urbanas diferenciadas na cidade do Rio de Janeiro. UFRJ/ECO- IBICT- DEP, Rio de Janeiro, 1991, 87 p. BARRETO, A. A. A Questão da Informação. Perspectiva, São Paulo, v.8, n. 4, p. 3-8, 1994. BELKIN, N. J. & ROBERTSON, S. E. Information Science and the phenomenon of information. JASIS, v. 27, n. 4, p. 197-204, 1976. BUENO, W. da C. Jornalismo Científico : conceito e função. Ciência e Cultura, v. 37, n. 9, p.1420-1427, 1985. GUSTON, G. & KENINSTON, K. The Fragile Contract : Introduction. In : GUSTON, G. & KENINSTON, K. The Fragile Contract. Massachussets, MIT Press, p. 7-25, 1994. LAMEGO, A. R. Ciclo evolutivo das lagunas fluminenses. Boletim do Departamento Nacional da Produção Mineral , Rio de Janeiro, n. 118, p. 1-58, 1945. LYOTARD, J. F. Answering the question : what is postmodernism ? In : JENCKS, C. (Ed.) The Post-Modern Reader. London, Academy Editions, 1992, p. 138-157. MAGALHÃES CORREA. O Sertão Carioca. Rio de Janeiro, 1934, s. e. PEDRINI, A. de G. & CARNEIRO, L. A. : I Ciclo de Conferências e Debates sobre as Lagunas da Baixada de Jacarepaguá : Ecologia, Manejo e Política Ambiental. Rio de Janeiro, 4 a 15 de junho de 1984, Anais, 25 p. PEDRINI, A. de G. & CARNEIRO, L. A. : II Ciclo de Conferências e Debates sobre as Lagunas da Baixada de Jacarepaguá : Ecologia, Manejo e Política Ambiental. Rio de Janeiro, 16 a 20 de junho de 1991, Anais, 27 p. PEDRINI, A. de G., SILVA, J. F. & PINTO, L. C. C. Uma proposta de socialização do conhecimento científico. Trabalho final, disciplina Informação e Socialização do Conhecimento, Mestrado em Ciência da Informação, ECO/UFRJ-DEP/UFRJ, 1992, 85 p. PEDRINI, A. de G. & SILVEIRA, I. C. A. Composição Taxonômica e estimativa da biomassa das macroalgas epífitas em Ruppia maritima L. na Lagoa de Marapendi, Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Atas da Sociedade Botânica do Brasil-Secção Rio de Janeiro, v. 3, n.6, p. 45-60, 1985. PEDRINI, A. de G., DE PAULA, J. C. & CASSANO, V. Ciência e Sociedade; A Divulgação Científica por meio de Oficinas de Simulação. Reunião da Rede de Popularização da Ciência e Tecnologia da América Latina e Caribe, Congresso Latino- Americano, VI, Rio

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de Janeiro, 12/17-06-1999, Anais, 10 páginas (CD-ROM). PEDRINI, A. de G., MOURÃO, C. de D. & FIGUEIREDO-GUERRA, M. A. Benthic Algae of Tijuca’s Lagoon, Brazil : Seasonal and Spatial Aspects. XII International Seaweed Symposium, São Paulo, Abstracts, p. 1986.

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