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  • Revista Seqncia, no 52, p. 201-216, jul. 2006 201

    Direito educao: acesso, permanncia e desligamento de alunos do

    ensino superior

    Horcio Wanderlei Rodrigues*

    Sumrio: Introduo; 1. Acesso educao, reingresso e transferncia entre cursos; 2.Transferncia coercitiva de servidores pblicos; 3. Aproveitamento de estudos; 4. Desligamentode alunos por decurso de prazo; Consideraes finais.

    * Mestre e Doutor em Direito pela UFSC, instituio da qual professor titular, lecionando naGraduao e na Ps-graduao. tambm professor convidado para cursos de Ps-graduao emdiversas IES brasileiras. Escreveu os livros Ensino Jurdico: saber e poder, Ensino Jurdico eDireito Alternativo, Acesso Justia no Direito Processual Brasileiro, Novo Currculo Mnimodos Cursos Jurdicos, Ensino do Direito no Brasil: diretrizes curriculares e avaliao das condiese ensino (este ltimo em conjunto com Eliane Botelho Junqueira) e Pensando o Ensino do Direitono Sculo XXI: diretrizes curriculares, projeto pedaggico e outras questes pertinentes; organizouas coletneas Lies Alternativas de Direito Processual, Soluo de Controvrsias no Mercosul,O Direito no terceiro milnio e Ensino Jurdico para Que(m)?. Publicou tambm dezenas de artigosem coletneas e revistas especializadas. Integrou, de 1996 a 1998, a Comisso do Exame Nacional deCursos (provo) para a rea de Direito. consultor ad hoc do CNPq e avaliador do INEP/MEC.

    Resumo: O objeto do artigo a anlise do Direitode acesso educao superior e seusdesdobramentos relativamente permanncia, transferncia, ao aproveitamento de estudos e aodesligamento do estudante inserido no sistema. Aanlise realizada fundamentalmente no mbitonormativo, partindo dos princpios constitucionaisaplicveis para estudar as regras especficasexistentes no campo do Direito Educacional. Aconcluso central no sentido de que as normaseducacionais, de forma geral, devem serinterpretadas no sentido de garantir o acesso; umavez assegurado esse acesso, deve ser garantida apermanncia do aluno no sistema, e mesmo suareintegrao, at que possa concluir o curso.

    Palavras-chave: Educao; Ensino superior;Acesso educao; Transferncia. Aproveitamentode estudos; Jubilamento.

    Abstract: The object of the article is the analysis ofthe Right of access to the superior education and itsunfoldings relatively to the permanence, to thetransference, to the exploitation of studies and thedisconnection of the inserted student in the system.The analysis is carried through basically in thenormative scope leaving of the applicable principlesconstitutional to study the existing specific rules inthe field of the Educational Right. The centralconclusion is in the direction of that the educationalnorms, of general form, they must be interpreted inthe direction to guarantee the access; an assuredtime this access, the permanence of the pupil in thesystem must be guaranteed, same e its reintegration,until it can conclude the course.

    Keywords: Superior education; Access to theeducation; Transference. Exploitation of studies.

  • Revista Seqncia, no 52, p. 201-216, jul. 2006202

    Introduo

    O objeto deste artigo a anlise do Direito de acesso educao superior eseus desdobramentos relativamente permanncia, transferncia, aoaproveitamento de estudos e ao desligamento do estudante inserido no sistema.

    Com ele se objetiva elucidar essas questes, recorrentes na discussoadministrativa no mbito do ensino superior e para as quais nem sempre soapresentadas as solues mais adequadas.

    Nesse sentido, o contedo a ser trabalhado nas prximas pginas destina-se utilizao por dirigentes de Instituies de Ensino Superior (IES) e, em especial,pelos coordenadores de cursos.

    A anlise realizada tem por base fundamentalmente o mbito normativo, partindodos princpios constitucionais aplicveis para estudar as regras especficas existentesno campo do Direito Educacional.

    O artigo est dividido em quatro sees, alm da introduo e da concluso. Aprimeira trata do direito de acesso ao ensino superior, em sentido amplo, incluindo oingresso inicial, as diversas formas de reingresso e as transferncias; a segundatrata especificamente da questo das transferncias ex officio dos servidos pblicos;a terceira do aproveitamento de estudos nas situaes de transferncias e reingressos;e a ltima da possibilidade de desligamento de estudantes por jubilamento.

    1 Acesso educao, reingresso e transfernciaentre cursos

    O acesso inicial educao superior, segundo a Constituio Federal (CF),deve ocorrer considerando a capacidade individual:

    Art. 208. O dever do Estado com a educao ser efetivado mediante a garantia de: [...]V - acesso aos nveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criao artstica,segundo a capacidade de cada um; [...]

    Relativamente ampliao desse acesso, o Plano Nacional de Educao (PNE)traou alguns objetivos e metas, que devero ser efetivados atravs de polticaspblicas especficas. Entre os listados no item 4.3 do PNE, pode-se destacar:

    1. Prover, at o final da dcada, a oferta de educao superior para, pelo menos,30% da faixa etria de 18 a 24 anos. [...]

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    3. Estabelecer uma poltica de expanso que diminua as desigualdades de ofertaexistentes entre as diferentes regies do Pas.4. Estabelecer um amplo sistema interativo de educao a distncia, utilizando-o,inclusive, para ampliar as possibilidades de atendimento nos cursos presenciais,regulares ou de educao continuada. [...]19. Criar polticas que facilitem s minorias, vtimas de discriminao, o acesso educao superior, atravs de programas de compensao de deficincias de suaformao escolar anterior, permitindo-lhes, desta forma, competir em igualdade decondies nos processos de seleo e admisso a esse nvel de ensino. [...]

    Ainda sobre o acesso educao superior de graduao, assim se manifestaa Lei de Diretrizes e Bases na Educao Nacional (LDB):

    Art. 44. A educao superior abranger os seguintes cursos e programas: [...]II - de graduao, abertos a candidatos que tenham concludo o ensino mdio ouequivalente e tenham sido classificados em processo seletivo; [...]

    Esse conjunto de disposies estabelece alguns princpios centrais relativamente questo do acesso:

    a) O acesso, segundo a CF, deve decorrer de mrito individual do candidato;b) O objetivo do Estado brasileiro, segundo o PNE, ampliar o acesso;c) O mecanismo, segundo a LDB, para selecionar, considerando o mrito,

    aqueles que ingressaro no sistema o processo seletivo;d) Considerando-se a caracterstica meritocrtica do acesso educao

    superior, o PNE estabelece a necessidade de criar para as minorias egrupos vtimas de discriminao, programas de compensao dedeficincias de sua formao escolar anterior1.

    O processo seletivo tradicional na histria da educao superior brasileira o vestibular, realizado atravs de provas de ingresso, com nmero definido de vagas.

    1 Em razo do disposto na Constituio Federal, no artigo 208, inciso V (acesso segundo a capacidadede cada um), no artigo 3o, inciso IV ( objetivo do Estado brasileiro: promover o bem de todos, sempreconceito de origem, raa, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminao) e no caputdo artigo 5o (exigncia de isonomia), discutvel a definio de cotas tendo por base o critrio racial;j o acesso considerando cotas fixadas com base em critrio scio-econmico pode, em tese, seradotado, considerando o disposto no artigo 3o, inciso III ( objetivo do Estado brasileiro: erradicar apobreza e a marginalizao e reduzir as desigualdades sociais e regionais), j que os princpiosconstitucionais no se excluem, devendo ser aplicados com base na ponderao de bens.

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    Entretanto, novas alternativas para ingresso vm sendo utilizadas de forma crescente.Entre elas pode-se destacar:

    a) Para o ingresso inicial na educao superior: nota do Exame Nacionaldo Ensino Mdio (ENEM) e anlise de histrico escolar. Nesses doiscasos h uma anlise necessria de mrito, comprovada por uminstrumento de avaliao, e o ingresso se d utilizando vaga inicial,tendo em vista que o aluno ingressar necessariamente no primeiroperodo do curso;

    b) Para o reingresso na educao superior: retorno de graduado e retornode aluno desligado por abandono. Nessas duas situaes considera-seque aquele que j iniciou ou concluiu um curso superior j obteve oingresso educao superior, no havendo necessidade de provarnovamente sua capacidade individual relativamente a outros candidatosque nunca ingressaram no sistema. Nesse sentido, o que se exige adefinio de um conjunto de critrios qualitativos para a classificaodos candidatos, visando estabelecer a ordem de preenchimento dasvagas existentes. E em se tratando de vagas, para esses ingressantes,que j obtiveram anteriormente acesso ao sistema, podem ser utilizadasas vagas sobrantes, ou seja, aquelas que o curso possui em razo dasdesistncias, transferncias e outras formas de desligamento2. Tambm,como esse aluno j obteve ingresso no sistema, o retorno pode se darem qualquer instituio que integre o sistema e no apenas naquela naqual realizou o processo seletivo de ingresso inicial;

    c) Para transferncia, dentro do sistema de educao superior:transferncia de instituio e transferncia de curso. Primeiramente necessrio destacar que, da mesma forma que no item anterior, aquiocorre reingresso de quem j obteve, em algum momento, a aceitaono sistema. Sobre a questo das transferncias, a LDB contm oseguinte dispositivo:

    Art. 49. As instituies de educao superior aceitaro a transferncia de alunosregulares, para cursos afins, na hiptese de existncia de vagas, e medianteprocesso seletivo.Pargrafo nico. As transferncias ex officio dar-se-o na forma da lei.

    2 Ex.: Se um curso possui 200 vagas autorizadas e 5 anos de durao, pode possuir 1000 alunosmatriculados; havendo 850, o curso possui 150 vagas disponveis. Essas vagas no podem, a princpio,ser utilizadas para processo seletivo de ingresso inicial, mas podem ser utilizadas para preench-lastodas as demais formas de reingresso e transferncias.

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    necessrio, nesse tema, considerar duas situaes distintas: aexistncia ou inexistncia de vaga para a concesso. No que diz respeito segunda (ausncia de vaga), ela apenas poder ser concedida paraservidos pblicos federais transferidos ex officio, na forma da Lei no9.536/973. Relativamente primeira, a LDB estabelece sua possibilidadepara alunos regulares, para cursos afins, havendo vaga e medianteprocesso seletivo. Saliente-se ainda que a transferncia pode ser interna(na mesma instituio, de um curso para outro), ou externa (de umainstituio para outra, para o mesmo curso ou para outro curso).No que diz respeito a alunos regulares, esto nessa situao os alunosmatriculados e aqueles com a matrcula trancada na forma do regimentode cada instituio. Quanto existncia de vaga, preciso que fiqueclaro que a norma no se refere vaga inicial, tendo em vista que oaluno j integrante do sistema de educao superior, mas sim svagas totais de cada curso, ou seja, o nmero de vagas anuaisautorizadas, multiplicado pelo nmero de anos de durao do respectivocurso. Nesse caso, como no do reingresso, a exigncia em termos deprocesso seletivo a definio de um conjunto de critrios qualitativospara a classificao dos candidatos, visando estabelecer a ordem depreenchimento das vagas existentes.A situao que primeira vista pode parecer mais complexa a relativaao requisito de que a transferncia ocorra para curso afim. Mas emrealidade no o ; pelo contrrio. necessrio primeiro que se entendaque a educao atividade de interesse pblico, motivo pelo qual ograu de interveno do Estado maior do que em outras atividades;em seguida, necessrio que se perceba que, no campo educacional, oobjetivo contemporneo do Estado brasileiro a ampliao do acesso,no sua restrio; a manuteno de quem est no sistema, no suaexcluso. Nesse sentido caminham todas as polticas pblicas atuaisno campo da educao. Dentro desse contexto, a norma contida naLDB deve ser lida no sentido de que, havendo vaga e afinidade, deve ainstituio receber a transferncia (ou seja, no pode neg-la), pois odireito de acesso um direito subjetivo pblico, apenas sendo permitido IES definir a forma de processo seletivo. Nesse sentido, a utilizaodo verbo aceitaro, no futuro do presente, tempo que no camponormativo indica um imperativo. No havendo afinidade, a instituiono obrigada a receber a transferncia (o direito subjetivo pblico do

    3 Sobre essa questo, ver a seo 3 deste artigo.

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    participante do sistema a transitar horizontalmente dentro dele existequando h a afinidade de curso), mas no existe tambm nenhumaproibio legal de faz-lo; ou seja, pode a instituio receber atransferncia (quer seja interna, quer seja externa) nessa situao, eapenas nela, h uma opo que decorre da vontade da instituio e node um direito pleno do requerente.Alm da interpretao anteriormente esposada, necessrio que setenha presente que, no mundo contemporneo, o acesso aoconhecimento pertinente exige uma interpretao que considere ocontexto, o global, o multidimensional e o complexo4. Nessa situao, extremamente difcil falar de ausncia de afinidade fundamentallembrar que para se falar em afinidade necessrio que se aceite aidia de ausncia de afinidade5.Destaque-se finalmente, neste tpico, a necessidade de publicidade doprocesso seletivo, tendo em vista que as vagas no mbito da educaosuperior so pblicas, mesmo que pertencentes a cursos de instituiesprivadas. Essa situao traz a exigncia de transparncia dos critriosadotados e de isonomia na disputa das vagas existentes.

    importante ressaltar, para concluir, que as normas educacionais, de formageral, devem ser interpretadas no sentido de garantir o acesso (ingresso inicial ereingresso) e, uma vez assegurado esse acesso, garantir a permanncia do aluno nosistema e mesmo sua reintegrao. Qualquer interpretao que contrarie esse grandeprincpio, que permeia todo o Direito Educacional brasileiro, no deve ser considerada.

    2 Transferncia coercitiva de servidores pblicos

    necessrio, para compreender adequadamente as diversas questes relativass possibilidades e limites do direito de transferncia coercitiva dos servidores pblico,considerar em primeiro lugar a existncia, no mbito da educao superior, deinstituies pertencentes a diferentes categorias administrativas. Nesse sentido, aLei no 9.394/1996 (LDB) estabelece:4 Conforme MORIN, Edgar. Os Sete Saberes Necessrios Educao do Futuro. So Paulo:Cortez; Braslia: Unesco; 2000.5 J no sculo XIX, uma das principais teorias jurdica brasileiras da poca, o EvolucionismoJurdico (na Escola do Recife), foi construda considerando as descobertas de Darwin, no campo daBiologia. No sculo XX, um dos maiores juristas brasileiros, Pontes de Miranda, estruturou seuFisicalismo Jurdico com base em uma anlise que relacionava o Direito e as Leis da Fsica.Contemporaneamente, a partir da Fsica Quntica e de uma viso Holstica, praticamente todosos conhecimentos podem ser relacionados.

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    Art. 19. As instituies de ensino dos diferentes nveis classificam-se nas seguintescategorias administrativas:I - pblicas, assim entendidas as criadas ou incorporadas, mantidas e administradaspelo Poder Pblico;II - privadas, assim entendidas as mantidas e administradas por pessoas fsicas oujurdicas de direito privado.

    Tambm necessrio considerar que essas diversas categorias de IESpertencem ou podem pertencer a diferentes sistemas de ensino, como estabelece aConstituio Federal:

    Art. 211. A Unio, os Estados, o Distrito Federal e os Municpios organizaro emregime de colaborao seus sistemas de ensino.

    O direito transferncia aparece na LDB, em seu artigo 49; e o pargrafo nicodesse artigo remete a regulamentao das transferncias ex officio para lei especial:

    Art. 49. As instituies de educao superior aceitaro a transferncia de alunosregulares, para cursos afins, na hiptese de existncia de vagas, e medianteprocesso seletivo.Pargrafo nico. As transferncias ex officio dar-se-o na forma da lei.

    Essa regulamentao aparece na Lei no 9.9536/1997, nos seguintes termos:

    Art. 1o A transferncia ex officio a que se refere o pargrafo nico do art. 49 da Leino 9394, de 20 de dezembro de 1996, ser efetivada, entre instituies vinculadas aqualquer sistema de ensino, em qualquer poca do ano e independente da existnciade vaga, quando se tratar de servidor pblico federal civil ou militar estudante, ouseu dependente estudante, se requerida em razo de comprovada remoo outransferncia de ofcio, que acarrete mudana de domiclio para o municpio ondese situe a instituio recebedora, ou para localidade mais prxima desta.Pargrafo nico. A regra do caput no se aplica quando o interessado natransferncia se deslocar para assumir cargo efetivo em razo de concurso pblico,cargo comissionado ou funo de confiana.

    E tambm est contemplado na Lei no 8.112/90:

    Art. 99. Ao servidor estudante que mudar de sede no interesse da administrao assegurada, na localidade da nova residncia ou na mais prxima, matrcula eminstituio de ensino congnere, em qualquer poca, independentemente de vaga.

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    Pargrafo nico. O disposto neste artigo estende-se ao cnjuge ou companheiro,aos filhos, ou enteados do servidor que vivam na sua companhia, bem como aosmenores sob sua guarda, com autorizao judicial.

    Nesse contexto especfico, necessrio considerar que o acesso ao ensinopblico gratuito somente pode ocorrer havendo o atendimento dos princpiosconstitucionais da igualdade de condies para o acesso e permanncia (CF, art.206, I) e de acesso segundo a capacidade da cada um (CF, art. 208, V). O acessoao ensino pblico gratuito, por parte de servidor pblico, civil ou militar, no podeferir esses princpios constitucionais, independentemente do que contenha a legislaoinfraconstitucional.

    A Lei no 9.536/97 regulamentou as transferncias coercitivas, garantindo aosservidores pblicos federais, civis e militares, que ela ser efetivada, entre instituiesvinculadas a qualquer sistema de ensino. Tendo em vista o que dispe a constituioFederal, em seu artigo 211, os diferentes sistemas de ensino existentes no pas soos organizados pela Unio, pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos Municpios.No garante esse dispositivo, portanto, transferncias de IES privadas para IESpblicas, denominadas pela LDB, em seu artigo 19, de categorias administrativas;nem poderia faz-lo, tendo em vista os princpios constitucionais antes referidos.

    A transferncia para cursos afins, a que se refere o caput do artigo 49 daLDB, no se aplica s transferncias coercitivas, tratadas em lei especfica. Issofica claro da leitura do texto, que se refere transferncia de alunos regulares,para cursos afins, na hiptese de existncia de vagas, e mediante processo seletivo.Esse dispositivo traz expressamente duas exigncias para a concesso datransferncia para curso afim, (a) a existncia de vaga, e (b) a realizao de processoseletivo, inaplicveis nas transferncias coercitivas. A concesso de transfernciapara curso afim, em situaes de transferncia coercitiva, somente poder serconcedida, por analogia, em situaes excepcionais, quando inexistir, na localidadede destino do servidor, o mesmo curso no qual estava matriculado na localidade deorigem, sob pena de quebra dos princpios constitucionais j mencionadosanteriormente e, visando, de outro lado, no prejudicar o servidor removido no interesseda administrao;

    Relativamente aos servidores pblicos civis o RJU (art. 99) determina que atransferncia coercitiva ocorra para matrcula em instituio de ensino congnere,ou seja, de IES pblica para IES pblica e de IES privada para IES privada, cumprindodessa forma os princpios constitucionais j listados.

    No que se refere aos servidores pblicos militares, utiliza-se a mesma regraaplicvel aos servidores pblicos civis, pois embora no abrangidos pelo RJU, odireito transferncia coercitiva prevista na Lei no 9.536/97 deve ser interpretado

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    luz dos princpios constitucionais j expostos, o que impede tratamento diferenciadopara essa categoria. Alm disso, na ausncia de norma especfica para os militares,o princpio estatudo no RJU, de que a transferncia coercitiva se dar entreinstituies congneres, constitui-se em norma de sobredireito, a ser aplicada atodos os servidores pblicos federais.

    O direito transferncia coercitiva, com base na Lei no 9.536/97, apenasdos servidores pblicos federais (civis ou militares) estudantes (e seus dependentesestudantes) com comprovada remoo ou transferncia de ofcio, que acarretemudana de domiclio. discutvel a sua aplicao, por analogia, para os servidorespblicos estaduais ocorrendo, ela deve respeitar os princpios constitucionais jreferidos e o disposto no RJU, sob pena de atribuir-se maior direito ao servidorpblico estadual (a quem a lei somente se aplica por analogia) do que ao servidorpblico federal (para quem a lei foi expressamente editada).

    Em qualquer situao necessrio considerar que a prpria Lei no 9.536/97,no pargrafo nico do artigo 1o, estabelece que a transferncia coercitiva no seaplica quando o interessado na transferncia se deslocar para assumir cargo efetivoem razo de concurso pblico, cargo comissionado ou funo de confiana. Ouseja, h trs situaes expressamente previstas na lei, nas quais o servidor no terdireito transferncia coercitiva: (a) quando o deslocamento ocorrer para assumircargo efetivo em razo de concurso pblico; (b) quando o deslocamento ocorrerpara assumir cargo comissionado; e (c) quando o deslocamento ocorrer para assumirfuno de confiana;

    A interpretao sistemtica do conjunto normativo que trata das transfernciascoercitivas impe as seguintes concluses: (a) s possui o direito transferncia oservidor pblico (e seus dependentes), quando houver comprovada remoo outransferncia de ofcio, que acarrete mudana de domiclio (Lei no 9.536/97, art.1o), excludas as situaes de mudana de domiclio para assumir cargo efetivo emrazo de concurso pblico, cargo comissionado ou funo de confiana (Lei no9.536/97, art. 1o, pargrafo nico); (b) de forma expressa, somente possuem o direitodefinido na referida lei os servidores pblicos federais (civis e militares) e seusdependentes; (c) o direito transferncia coercitiva s existe entre instituies quepertenam mesma categoria administrativa, ou seja, de IES privada para IESprivada e de IES pblica para IES pblica, sendo possvel entre IES pertencentes adiferentes categorias administrativas apenas quando inexistir, na localidade de destino,em instituio congnere, o mesmo curso no qual o servidor ou seu dependenteestava matriculado na localidade de origem; (d) o direito transferncia coercitivapara curso afim no est previsto na legislao que trata das transferncias coercitivase possvel unicamente quando no houver na localidade de destino o mesmo cursono qual o seu titular estava matriculado na localidade de origem; (e) em qualquer

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    situao, independentemente da legislao infraconstitucional, o acesso ao ensinopblico gratuito somente pode ocorrer quando houver o atendimento dos princpiosconstitucionais da igualdade de condies para o acesso e permanncia (CF, art.206, I) e de acesso segundo a capacidade da cada um (CF, art. 208, V).

    3 Aproveitamento de estudos

    Todos aqueles que em algum momento ocuparam a Coordenao de um curso,j passaram pela experincia de ter de analisar histricos escolares de alunos transferidosou que j iniciaram um curso superior e no o concluram, ou mesmo de alunos que jpossuem um outro curso superior, para realizar o aproveitamento de estudos.

    No h na legislao federal nenhuma norma que trate especificamente dotema. Isso tem gerado um tratamento muito diferenciado pelas Instituies de EnsinoSuperior (IES), que vai do rigorismo extremado ao vale tudo.

    Nesse sentido, se busca aqui resumir as orientaes contidas no Parecer no224/84, do antigo Conselho Federal de Educao (CFE). Esse Parecer foi elaboradopara fixar critrios para transferncia de alunos e contm alguns elementos clarossobre o aproveitamento de estudos. Como o referido Parecer foi aprovado e o temano foi mais tratado posteriormente, quer pelo CFE, quer pelo Conselho Nacionalde Educao (CNE), pelo menos de forma expressa, seu contedo continua sendoa orientao oficial nessa matria.

    O Parecer CFE no 224/84 define que:

    [...] na transferncia o vnculo inicial a matrcula acrescida de novos elementos,inscrio e aprovao em sries e em disciplinas ou crditos obtidos, transferidocomo se saldo fosse para o estabelecimento de destino. (grifo do autor)Esse vnculo institucional, ampliado e enriquecido, desloca-se de um para outroestabelecimento de ensino, na transferncia, cabendo ao estabelecimento querecebe o aluno, ajust-lo nova situao, enquadrando-o no novo plano deestudos, fazendo, concomitantemente, o aproveitamento de todos os estudoscompatveis com os objetivos do curso. (grifo nosso).Nem sempre ser fcil a tarefa de ajustar a vinculao transferida e classific-la emrelao aos padres de ensino do estabelecimento de destino e, para tanto, valemenos a multiplicao das normas do que a aplicao do bom senso. (grifo nosso).

    Desse trecho do Parecer depreende-se a obrigatoriedade do aproveitamentoe a necessidade de que se tenha bom senso na sua realizao, evitando excessivosformalismos que possam prejudicar o aluno transferido.

    Tambm estabelece o Parecer CFE no 224/84 que:

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    O reconhecimento automtico de matria do currculo mnimo, estudada comaprovao na escola de origem, ser feito independentemente de adaptao.

    Nesse sentido, importante deixar claro em primeiro lugar alguns conceitos,quais sejam os de contedo, matria e disciplina:

    a) Contedo: Um determinado conhecimento ou conjunto de conhecimentos regra geral uma rea ou subrea do conhecimento (ex.: Direito Civil); a categoria utilizada nas atuais diretrizes curriculares;

    b) Matria: Possui fundamentalmente o mesmo sentido da categoriacontedo e era utilizada nos currculos mnimos; a diferena que noscurrculos mnimos, as matrias listadas tinham de se constituir,expressamente, em uma ou mais disciplinas da grade curricular. Comos contedos listados nas novas diretrizes curriculares distinto: ocontedo tem que ser obrigatoriamente trabalhado, mas onde localiz-lo na grade (em disciplina especfica, dentro de uma disciplina quecontenha outros contedos, como tema transversal, como atividadecomplementar etc.) uma opo da IES, presente no Projeto Pedaggicodo Curso. Ou seja, as matrias tinham de constar formalmente da gradecurricular; os contedos tm de constar substancialmente;

    c) Disciplina: No perodo dos currculos mnimos, significava cada umadas divises de uma mesma matria (Ex.: Direito Civil I, Direito Civil IIetc.); contemporaneamente significa a organizao pedaggica de umou mais contedos, para fins de sua incluso na grade curricular de umdeterminado curso.

    A orientao contida no Parecer CFE no 224/84 significava que se um aluno, aoser transferido, tinha cursado integralmente uma matria na IES de origem, ela tinhade ser obrigatoriamente aproveitada pela IES recebedora, inclusive com a dispensa dequalquer forma de adaptao ou de suplementao da carga horria. O cumprimentointegral da matria a adicionava ao seu patrimnio acadmico de forma definitiva.

    Hoje, as diretrizes curriculares, que substituram os antigos currculos mnimos, nocontm mais uma lista de matrias, mas sim um conjunto de contedos mnimos. A regrade aproveitamento deve, entretanto, ser observada da mesma forma. A IES recebendo oaluno transferido, recebe com ele o seu patrimnio acadmico e precisa respeit-lo.

    Deve-se, entretanto, destacar o que consta de outro Parecer do CFE, de no912/79, citado pelo Parecer em anlise:

    Cabe distinguir, no entanto, que o cumprimento de carga horria adicional, emtermos globais, poder ser exigida para efeito de integralizao curricular, em funo

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    do mnimo obrigatrio para expedio de diploma e no para completar a cargahorria destinada a determinada disciplina.

    Isso significa que, embora o aproveitamento dos contedos e atividades mnimosintegralmente cumpridos no IES de origem deva ser realizado, independentemente dacarga horria cursada, pode a IES recebedora exigir que o aluno cumpra carga horriaadicional, em disciplinas optativas ou em outras atividades, para atingir a carga horriaglobal prevista para o curso especfico, exigida para a emisso do diploma.

    Resta o problema dos contedos no integralmente cumpridos, aqueles que sedesdobram em duas ou mais disciplinas (ou atividades) na grade curricular. Paraesses, deve ser utilizado o critrio de correspondncia de contedos entre as disciplinase atividades do curso da IES de origem e as disciplinas e atividades do curso da IESrecebedora.

    Ainda no que diz respeito s cargas horrias, necessrio lembrar que ascargas horrias que tiverem sobrado em determinadas disciplinas ou atividades(quando a carga horria na IES de origem era maior do que na IES recebedora)devem ser consideradas para fins de carga horria total do curso, pois integram opatrimnio acadmico do aluno. Nesse sentido, antes de determinar que ele tenhade cursar novas disciplinas optativas ou realizar outras atividades para complement-la, necessrio fazer a compensao entre as cargas horrias faltantes e as cargashorrias que sobraram. A complementao apenas poder ser exigida se, realizadaessa compensao, ainda existir um saldo devedor.

    As orientaes contidas no Parecer CFE no 224/84 esto destinadas aoaproveitamento de estudos de alunos transferidos. Recomenda-se, entretanto, quesejam utilizadas tambm para todas as situaes em que os contedos cursados oforam em curso da mesma rea do curso onde esto eles sendo aproveitados. Quantoao aproveitamento de contedos cursados em curso de uma rea para um curso deoutra rea, h a necessidade de uma anlise mais apurada dos contedos e enfoquestrabalhados; nessa situao, deve-se agir, conforme referido anteriormente,considerando a compatibilidade com os objetivos do curso e utilizando o bom senso.

    4 Desligamento de alunos por decurso de prazo

    O jubilamento, entendido como o desligamento ou afastamento de aluno deInstituio de Ensino Superior (IES) por ter ultrapassado o prazo mximo permitido paraa concluso do curso, foi introduzido no direito brasileiro atravs da Lei no 5.789/1972,que dava nova redao ao artigo 6o do Decreto-lei no 464/19696, nos seguintes termos:

    6 Esse Decreto-lei estabelecia normas complementares Lei no 5.540/1968.

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    Art. 1o O artigo 6o do Decreto-lei no 464, de 11 de fevereiro de 1969, passa a vigorarcom a seguinte redao:Art. 6o Na forma dos estatutos ou dos regimentos, ser recusada nova matrcula,nas instituies oficiais de ensino superior, ao aluno que no concluir o cursocompleto de graduao, incluindo o 1o ciclo, no prazo mximo fixado paraintegralizao do respectivo currculo. 1o O prazo mximo a que se refere este artigo ser estabelecido pelo ConselhoFederal de Educao quando for o caso de currculo mnimo, devendo constar dosestatutos ou regimentos na hiptese de 1o ciclo e de cursos criados na forma doartigo 18 da Lei no 5.540, de 28 de novembro de 1968. 2o No ser computado no prazo de integralizao de ciclo ou curso o perodocorrespondente a trancamento de matrcula feita na forma regimental.Art. 2o Esta lei entrar em vigor na data de sua publicao, revogadas as disposiesem contrrio.

    A Lei no 9.394/1996 (LDB), em seu artigo 92, revogou expressamente a Leino 5.540/1968 e tambm as demais leis e decretos-lei que a modificaram (entre osquais a Lei e o Decreto-lei anteriormente referidos) e quaisquer outras disposiesem contrrio7.

    Nesse sentido, no plano das normas gerais do Direito Educacional brasileiro,no h mais qualquer base legal para desligar estudantes, no mbito da educaosuperior, tendo por base o argumento de que ultrapassaram o prazo mximo para aconcluso dos cursos aos quais estariam vinculados. A legislao que trazia essaobrigatoriedade de desligamento foi revogada pela Lei de Diretrizes e Bases daEducao Nacional (LDB) de 1996.

    Some-se a essa revogao tambm outras inovaes trazidas na legislaoeducacional, entre as quais cabe destacar a substituio dos currculos mnimospelas diretrizes curriculares8. E as diretrizes curriculares definidas pela Cmara deEnsino Superior (CES) do Conselho Nacional de Educao (CFE) nos ltimos anos,para os diversos cursos superiores, no mais fazem referncia aos seus tempos dedurao, sejam os mnimos, sejam os mximos.

    Tambm necessrio destacar que o Parecer CNE/CES no 184/2006, naproposta de Resoluo que o integra, institui as cargas horrias mnimas para os7 A Lei no 9.394/1996 (LDB), em seu artigo 92, tambm revogou expressamente as Leis no 4.024/961,no 5.692/1971 e no 7.044/1982, bem como as demais leis e decretos-lei que as modificaram e quaisqueroutras disposies em contrrio.8 A Lei no 4.024/1961, com a redao dada pela Lei no 9.131/1995 ao seu artigo 9o, pargrafo 1o, alneac, estabelece ser competncia da Cmara de Ensino Superior (CES) do Conselho Nacional deEducao (CFE) deliberar sobre as diretrizes curriculares propostas pelo Ministrio da Educao edo Desporto, para os cursos de graduao.

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    cursos de graduao, bacharelados, na modalidade presencial; entretanto no fixaprazos, nem mnimos e nem mximos, para a durao desses mesmos cursos9.

    Sintetizando pode-se dizer, no plano jurdico, que o jubilamento no existe maisporque a Lei que o institua foi revogada e tambm porque as novas diretrizescurriculares sequer fixam tempo mximo para a durao de qualquer curso superior.

    No plano poltico importante destacar que a criao desse instituto ocorreudurante o regime militar e era um forte instrumento poltico de combate aos estudantesprofissionais, entendidos como os militantes que permaneciam matriculados em cursossuperiores por um longo perodo de tempo, com o objetivo de participar do movimentoestudantil e fazer poltica no mbito das IES, em especial as Universidades.

    Tambm nesse perodo a poltica oficial era, pelo menos em parte, de restrio criao de novos cursos e instituies; no havia uma poltica de expanso dosistema e do nmero de vagas ou qualquer incentivo ampliao do acesso educao superior. Dentro dessa realidade, a manuteno, por tempo indeterminado,de um mesmo estudante ocupando uma vaga na educao superior significava aimpossibilidade de outro candidato ocup-la.

    Contemporaneamente a poltica educacional est centrada em uma perspectivatotalmente diversa: a da ampliao do acesso10. Nesse sentido, o prprio texto daConstituio Federal:

    Art. 206. O ensino ser ministrado com base nos seguintes princpios:I - igualdade de condies para o acesso e permanncia na escola; [...]

    Em um contexto em que, em muitos dos cursos pblicos e em grande partedos cursos privados h sobra de vagas, no guarda qualquer sentido afastar da salade aula estudantes que, pelos mais diversos motivos, no podem concluir o cursodentro de um perodo determinado de tempo at porque no havendo essa fixaopor parte do CNE, a sua fixao pelas prprias IES pode ser absolutamente arbitrria,sem a adoo de qualquer parmetro homogneo entre elas.

    Deve-se considerar, ainda, a situao financeira de grande parte daqueles quecontemporaneamente tem acesso ao ensino superior, estudantes com renda de um a

    9 No artigo Tempo de durao do curso de Direito (Revista @prender, Marlia, no. 26, p.58-59,set./out. 2005) defendi a posio de que continua aplicvel o tempo de durao do Curso de Direitofixado na Portaria no 1.886/1994, tendo em vista que as novas diretrizes no tratam da matria;continuo mantendo essa interpretao, mas ela perde qualquer sentido no momento em que a minutade resoluo que segue em anexo ao Parecer CNE/CES no 184/2006 for editada.10 Ver RODRIGUES, Horcio Wanderlei. Acesso educao superior e transferncia entre cursos einstituies. Revista @prender, Marlia, no 31, p. 60-61, jul./ago. 2006, p. 66-67.

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    trs salrios mnimos. Esses estudantes possuem, de um lado, o direito de acesso educao superior e, de outro, a impossibilidade de o exercerem em tempo integrale at mesmo de cursar, a cada ano ou semestre, todas as disciplinas de uma mesmafase ou perodo. Sua permanncia no sistema por um prazo longo deriva no da suasimples vontade ou da ausncia de condies intelectuais, mas sim de umaimpossibilidade material: precisam viver com o pouco que ganham, sendo o cursosuperior levado dentro das possibilidades de um oramento extremamente limitado.Deslig-los do sistema, por decurso de prazo, no possui qualquer sentido.

    Situao que talvez merea uma reflexo mais acurada diz respeito aojubilamento nas IES pblicas. Nelas se pode alegar que a manuteno de um estudantealm de um prazo razovel (j que a princpio no mais existe prazo legal) para aconcluso do curso significa gastar dinheiro pblico sem um retorno objetivo, bemcomo ocupar uma vaga que poderia estar sendo utilizada por outro estudante.

    Essa argumentao omite, em primeiro lugar, que a ocupao de vaga, adquiridamediante processo seletivo prprio, no reduz o nmero de vagas para os novosprocessos seletivos; e tambm, em segundo lugar, que o desperdcio do dinheiropblico ocorre exatamente quando se jubila o aluno, pois nessa situao o dinheiropblico j investido perdido, quando seria muito mais adequado, em termos de seuaproveitamento, permitir a concluso do curso por parte do estudante que muitasvezes j se encontra em sua fase final.

    Pode-se, com base no exposto, afirmar que:

    a) No h hoje, considerando-se a edio da LDB de 1996 e as novasdiretrizes curriculares, nenhuma base jurdica para o desligamento dequalquer aluno de curso superior tendo por argumento o fato de terultrapassado o tempo limite para a sua concluso; e

    b) No h hoje tambm qualquer motivao social ou poltica que justifiqueesse desligamento11.

    Ressalte-se, novamente, que as normas educacionais, de forma geral, devemser interpretadas no sentido de garantir o acesso (ingresso inicial e reingresso) e,uma vez assegurado esse acesso, garantir a permanncia do aluno no sistema, emesmo sua reintegrao, at que possa concluir o curso. Qualquer mecanismo dedesligamento de alunos de curso superior deve levar em considerao critriosqualitativos mrito12 e no critrios meramente quantitativos, como o tempo devinculao ao curso.

    11 J no havia no passado; a utilizao do jubilamento como instrumento poltico de combate militncia poltica no mbito das IES era poca profundamente antidemocrtica, como o era oprprio regime no qual foi institudo.

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    Consideraes finais

    Considerando o exposto neste artigo possvel afirmar:

    a) As normas educacionais, de forma geral, devem ser interpretadas nosentido de garantir o acesso (ingresso inicial e reingresso) e, uma vezassegurado esse acesso, garantir a permanncia do aluno no sistema,at que possa concluir o curso; quanto ao processo seletivo para ingressoe reingresso no sistema, deve ele utilizar critrios qualitativos;

    b) Relativamente s transferncias ex officio (dos servidores pblicoscivis e militares e seus dependentes), o direito ela existe mesmo entreas instituies pertencentes a diferentes sistemas de ensino (da Unio,dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios), mas no existepara a transferncia entre diferentes categorias administrativas (IESprivada para pblica); servidor pblico, estudante de IES privada, possuio direito transferncia coercitiva oponvel apenas perante IESenquadradas nessa categoria administrativa;

    c) O aproveitamento de estudos j realizados obrigatrio quando se tratarde alunos transferidos; o bom senso recomenda que tambm sejarealizado esse aproveitamento em situaes de reingresso de alunosno sistema, tendo em vista que os contedos e atividades j cumpridosintegram os seus respectivos patrimnios acadmicos;

    d) O jubilamento no mais existe porque a Lei que o institua foi revogadae tambm porque as novas diretrizes curriculares sequer fixam tempomximo para a durao de qualquer curso superior; qualquer mecanismode desligamento de alunos de curso superior deve levar em consideraocritrios qualitativos mrito e no critrios meramente quantitativos,como o tempo de vinculao ao curso.

    Resumindo: o princpio geral vigente o da garantia de acesso, transferncia,aproveitamento de estudos e permanncia; apenas em situaes de exceo ounaquelas em que houver outros princpios constitucionais a serem consideradospodero ser colocados limites sua integral aplicao.

    12 O acesso inicial educao superior, segundo a Constituio Federal (CF), deve ocorrer considerandoa capacidade individual: Art. 208. O dever do Estado com a educao ser efetivado mediante agarantia de: [...] V - acesso aos nveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criao artstica,segundo a capacidade de cada um; [...]. Esse mesmo critrio deve ser tambm aquele a ser adotadopara o desligamento.