arapi, fauzi; diaz, henrique; lima, mariana. parceiros apaixonados

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  • 7/29/2019 ARAPI, Fauzi; DIAZ, Henrique; LIMA, Mariana. Parceiros Apaixonados

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    Parceiros apaixonadosE ntrevista com Mariana Lima,Enrique Diaz e Fauzi Arapi

    ala Preta: Eu queria que cada um de vocs Enrique: 2001.falasse de como a relao que vocs tm Mariana: Por alguma razo que no seicom a Clarice Linspector, com a literatura qual, eu me reuni com quatro amigos no Rioda Clarice. de Janeiro para ler textos de Clarice em voz alta,

    Mariana: A minha histria com a Clarice impulsionada pela leitura que eu fiz de um li-comea com 13 anos, com um livro que eu ga- vro do Fauzi Arap chamado Mare Nostrun, quenhei da minha madrinha, uma madrinha mui- foi outro livro que tambm mexeu profunda-to querida, muito especial, muito clariceana, mente comigo, no captulo dedicado Claricechamada Ana Helena. Ela me deu O livro dos Lispector. E, impulsionada por esse captulo, aprazeresescreveumadedicatria izendo ue gentecomeoua ler essesivros, eu e quatros tinha conseguido ler o livro aos 30 anos, mas amigos, e essa seo de leitura noturna termi-estava me dando aos 13, se eu tivesse a coragem nou com a leitura da Paixo segundo GH, quepara ir em frente... E eu tive essa coragem e fui durou quatro noites...em frente, e foi a minha iniciao literria. Eu Enrique: No era para montar nada, eraj tinha lido outras coisas, claro, histrias e tal, por puro...mas com a Clarice eu entrei num buraco liter- Mariana: A eu lembrei que, no livro dele,rio que acho que no sa mais, tanto em relao o Fauzi tinha dito que tinha feito um espetcu-aos textos dela quanto literatura. E a partir da 10 em 1970...eu comecei a escrever imitando a Clarice na es- Fauzi: 1965!cola, comecei a querer ser aquela Loire, a fazer Mariana: 1965, que era uma compilaoanlise... A personagem tem uma relao com de textos, inclusive da Paixo segundo GH... Ao seu psicanalista. Acho que s fui pegar um pea se chamava Perto do corao selvagem. E li-outro livro dela uns quatro anos depois, a Hora guei para ele para perguntar sobre esse texto, ada Estrela. E vim lendo Clarice, vim estudando gente j se conhecia, j tinha se encontrado, jClarice, mas nunca sonhei ou imaginei levar tinha afinidade...Clarice para o palco, nunca tive esse desejo, at Mariana: E o Fauzi falou: '~! esse textoque no ano retrasado... eu acho que t meio velho, datado...no faa

    Mariana Lima atriz e pesquisadora,Enrique Diaz ator e encenadorda Cia. do Atores e FausiArap ator e dramaturgo. Entrevista concedida Slvia Fernandese Luiz Fernando Ramos em 13 de ulho de2003.

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    isso no, faa Paixo SegundoGH, que um palmenteporque eu percebique elesprojetarammonlogo que eu tenho guardado. E o Fauzi em mim uma coisa mais objetiva assim: "o Tleu trechosem voz alta daquilo, foi outra expe- vai ficar um ano parado, ento vamos resolverrincia bastante ntensa, eu fiquei muito apai- uma coisae vamos fazer". Ah! com o T umxonada por aquela eitura, achei aquilo muito ano para ensaiare resolver o que vai fazer, co-carregadode coisas,ainda mais atravsda fala migo tudo corridinho? A fiquei puto... A ado Fauzi, da palavra dele... Ento a eu tinha gente teve umas reunies de reflexo sobre olido grande parte da literatura da Clarice, mas convite, e a coisaparou por a. Mas eu sinto queno inha lido tudo. Quando comeou a hist- aquele pretexto do teatro da Vertigem acabouria, eu dei uma mergulhadageralem tudo quan- redundando no GH. E no livro a que a Maria-to era biografia escrita e nos textos que eu no na se referiu tem um captulo sobre a Clarice,tinha lido ainda, estava alando a Ma no Es- onde eu quaseque esgotoo assunto,porque eucuro...Agua Viva eu no tinha conseguido di- conto as minhas experincias om ela... Eu eragerir, eu fiz uma leitura muito porca, porque eu ator, formado em engenharia, mas no domi-lia e no agentava.Ento a eu me dediquei a nava as palavras.Ento no sabiame expressar.fazeruma leitura de Agua Viva, que eu acho um Ento eu tambm projetava uma maior sabe-livro bem difcil de engolir e a ver vdeose tal... doria no Boal, no Z Celso, em quem fosse,Enrique: Eu no tenho muito a dizer...Eu menosem mim. Porqueeu me consideravamaistambm comeceipelo Corao elvagem, o sei ou menos gnorante, um estudantede engenha-quantos anos eu tinha, de repente uns 17, por ria meio bobo e tal. E eu tive umas experinciasa, e tambm foi bem marcante.Mas eu lembro com LSD... E quando eu encontrei a PaixoSe-que sempre oi um projeto que a Mariana tava gundo GH, encontrei isso, essaexperincia...trazendo, assim. Eu acho que eu naturalmente Anos mais tarde, quando eu fiquei amigo dano pensaria: O que que eu quero fazerda vida Clarice, um dia ela me conta que tomava LSDagora?Ah! vou fazer Clarice..." No acho que com o mesmo mdico que eu, e que no sentiuesse eria um movimento natural... nada. Mas na minha opinio essaexperinciaSalaPreta: E a sua relaocom a Clarice, que est na Paixo SegundoGH. Por exemplo,Fauzi? eu sei que a Ma no Escuro la reescreveu masMariana: Em 1900 ns nos encontramos... quarenta vezes,e a Paixo ela ditou para umaFauzi: Na primeira encarnao...Na S- amiga, ela escreveude primeira, no retocouria... na Mesopotmia... uma linha. Eu j tinha uma fantasia de que euEnrique: Na Lbia... havia projetado num livro a minha experinciaFauzi: Mas vou comear por um outro lisrgica, de perceber um outro plano de exis-lado. O pessoaldo Teatro da Vertigem, que a tncia, uma religiosidade sem uma igreja for-Mariana fazia parte, eles me procuraram por- mal... E no caso, quando ela me contou essaque o T ia tirar um ano de frias... E elesme experincia,como que a coisase echou. Eu meprocurarampara azeralgum projeto. E a a gen- identificava tanto com o livro, eu achavao livrote teve uma ou duas euniesno Arena, eu acho to visceralporque eu achava ue ela eradaqueleque foram bastante teis para o grupo, foram jeito. E na vida real ela procurava escamotearlegais para mim tambm... Mas eu fui surpre- escapardo compromisso de ter escrito aquilo.endido, depois de uma ou duas reunies,com a No primeiro encontro da gente,eu fui e i o tex-notcia de que a Mariana no estaria no grupo to da minha adaptao...Quando eu acabeidecom o qual eu trabalharia, ela que tinha sido a ler, ela falou: "olha, ficou to simples do jeitoporta-voz do convite. Eu me senti traidssimo, que voc fez! Possopublicar?" Eu falei: "mas eu fiquei bravo com a Mariana, falei: "Mariana, todo seu, claro que pode publicar!" Ela, comovoc me leva para o grupo e taL." Mas princi- pessoa, la tinha um pouco de medo da loucu-

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    ra. Ento ela preferia no assumir essemergu- tinha na LegioEstrangeira, ma obsesso ela,lho mais fundo como autenticamente dela: ela Clarice, de matar baratas...A Glauce Rocha ezpreferia o libi da literatura. Na poca eu no o espetculo, JosWilker, a Dirce Migliaccio...percebique eu mesmoprocurei o texto dela Ento,eu brincavacom isso,dava um respirocomo libi. Na poca eu batizei como espet- para o pblico, para no mergulhar na densida-culo sobre iteratura, porque eu no queria mais de do GH... O espetculo oi dirigido por mim,falar de LSD, porque eu tinha apanhadomuito a trilha era do IsaacKarabitchevisck,que mora-do meio-ambiente, sendoatribudo de loucura, va num mesmo hotel que eu, um hotelzinhode outras coisas.Ento inclusive isso era abso- meio pensoque tinha em Ipanema, onde mo-lutamente anlogo, mas na poca eu no me rava o Guilherme Arajo, eu e ele...dava conta, porque eu projetava uma fora, um Mariana: NossaSenhora!cacifeque eu no tinha. Eu estavame socorren- Fauzi: Porque era um lugar timo, tinhado dela e no percebia que tambm ela tinha almoo, caf da manh, janta, tudo... E vriasesse emor. E, por isso, no livro ela tinha um outras pessoas e teatro chegarama morar l.cuidado extremo para falar dessas oisas.E nes- Era um hotelzinho pobre, sem ar condiciona-sa adaptao mais enxuta que eu fiz e que a do, quando era vero a gente quasemorria, masMariana e o Enrique encenaram,eu tirei, sem era bom de viver. E eu encontravao IsaacKara-nenhuma pena de cortar, os inmeros pedidos bitchevisck toda hora, ele ainda no era essede desculpas ue ela faz ao pblico de estardi- maestroconsagrado.E eu acho que foi o Carloszendo aquelascoisas.E essepedido de descul- Creber que falou: "convida o Isaacpara fazer apas- e isso ela no se dava conta - isso sobre- trilh'. E ele fez a trilha, ficou muito bonita...carregaa gente, e faz um pouco a gente perder O espetculo oi legal, mas no era a mesmao fio da meada.Ela fala assim:"Desculpa eu te adaptao.O Otto Lara Resendeadorou o es-dar isso, desculpa,eu sei que difcil, mas vem petculo, ele viu, era amigo da Clarice, adorou.comigo. Mas desculpa..." E algum me deu um texto dele, no publica-SalaPreta: Eu queria que voc falasse m do, em que ele deda uma coisa na mosca,quepouco sobrea experinciade ter conhecido essa na poca ningum lembrou de falar. Ele faloumontagemdo Enrique e da Mariana e sea adap- assim: "o Fauzi no teve coragemde fazer s atao que voc fez naquelapocaera diferente. Paixo segundoG.H." E eu tinha uma espcieFauzi: Na poca eu no tive coragem de de culpa de no ter feito s a Paixo.Eu no fiz,fazer uma adaptao da PaixoSegundoGH. falei assim: ~! vou tentar enfeitar um pouqui-E a Clarice at se ressentia,porque a PaixoSe- nho para no ficar to pesado..."gundo GH foi publicada simultaneamentecom SalaPreta: Conta aquelahistria do em-um livro chamado Legio Estrangeira,que era presrioda poca,do comentrio que ele fez...enorme, tinha vrios contos e inclusive crni- Fauzi: , tinha um empresriomuito fa-cas.E tinha uma segundaparte que ela batizou moso da poca, o tipo de empresrioque hojede "Fundo de Gavet', algunsdilogosdelacom em dia no tem mais, chamado Oscar Orstein.os filhos, os filhos conversando entre eles... Ele montava s Descalos o Parque, todas asE tinha um deles, encantador, que um dos peasdo Neil Simon, l no teatro do Copaca-filhos falando assim: "o mundo parece chato, bana Palace.E no dia da estriada peano Riomaseu sei que no . Sabeporque parece hato? de Janeiro, para espanto dele e de toda classePorque sempreque eu olho, o cu t em cima, teatral, os dois maiores ornais do Rio, que eununca t aqui". Ento era uma coisa deliciosa acho que eram, na poca,o Correioda Manh ede imaginar um ator fazendo aquilo. Eu apro- o Globo,os dois deram a primeira pgina do se-veitei no espetculovrios fragmentos dos fi- gundo caderno nteira para a pea, duas pgi-lhos, aproveitei uma crnica sobre baratasque nas nteiras, coisaque elesno davam nem para

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    asgrandesestrelas.E o Orstein comentou com to impactante, foi aquele choque, que eu ato Carlos Creber, que era o produtor do espet- falei da coisa do kamicase.A gente tinha feitoculo: "Quanto que vocspagaram?Quanto uma viagem para Nova York, estudou um pou-que vocspagaram pra sair essamatria enor- co l e tal, e a gente estavanum estadode liber-me?"At se entregandoum pouco... dade um pouco maior do que a gente tem noSala Preta: O que voc a falar, Mariana? dia-a-dia, de fazeros trabalhose sobreviver.En-Mariana: No, s de uma menoque ele to, era uma possibilidade de a gente criar umfaz no livro, que eu acho superinteressante, ue dilogo entre as nossas rprias experincias,a a primeira vez que se acendea luz da platia... minha histria na Companhia dos Atores, e aPeloque eu me lembro, era na hora que a Glau- dela com o Teatro da Vertigem e tambm asce alava: " agora, ", e o Fauzi acendiaa luz outras histrias, das companhiasque ela traba-da platia. lhou antes,Maria Piacentinni e tal. A criavaumFauzi: O espetculo inha trs partescom campo de dilogo com a gente,e unto com esseintervalo, na poca se usavaespetculode trs texto, que era quaseque ameaadorassim, naatosenormes.E a segundaparte terminava com belezadele, no sublime dela. A gente meio quea Glauce azendoessemonlogo,"era assim,era criou um campo onde valeria a pena, onde aj", e ela fazia ssoacendendoa luz e encarava gente era forado a experimentaraquilo, e real-pblico, e levantavaa platia. E na poca, sso mente a sensao ra... era mpossveldar certo,eu conto no livro tambm, o Abujamra falava a princpio. Mas no era na direodo bom seg-assim: eu vou correndo pra So Paulo acender mento que a gente se ocomoveu.A gentese10-a luz antesque voc..." comoveu na direo da experincia,conferindoMariana: Antes que voc faa sso. uma caracterstica ntima ao trabalho, que foiFauzi: Porque na pocano se usava sso. muito interessante, orque a gente comeou i-Enrique: ! E eu ia fazer relao com o teralmente em casa,eu e a Mariana. E depoisespetculo qui. Acho que, at nconscientemen- passoupara uma salade ensaio,eu e a Mariana.te, no final do espetculoaqui, junto com Mari A chegou um assistente.Os criadoresde cen-Pedroso,a gente cunhou uma terminologia: ao rio, de figurinos e tal chegaramdois, trs mesesinvs de terminar o espetculocom black-out depois. O contrato com o patrocinador, maisacabacom white-in. Ento o espetculoacaba tarde ainda. Tudo foi ganhando forma de umacom um branco entrando, entrando, entrando, produo profissional, no sentido mais comer-at a platia acabarno branco, e a platia t cial, bem mais tarde. Ento a gente foi criandodentro da ao...E, pensando nessa elao, realmente um lugar onde as pessoas hegavamcomo se osseuma outra maneira de fazer sso. e viam que existia alguma coisaali... Tanto queSala Preta: Partindo da, Enrique, eu ti- a Carolina labor, que fez o vdeo, ligou para anha imaginado que voc pudesse alar um pou- gente alando: "olha, eu gosto muito desseivroco do quanto essamontagem inicial tinha, de e eu queria passara para ver um trabalho dealguma maneira, estadopresentequando vocs ator um pouco mais detalhado". Eu falei: "olha,comearam...E ambm de quais teriam sido os se quiser vir, vai vir para trabalhar. Vir para fi-novos parmetros para pensar essaencenao. car vendo ensaio,qual a graa?"E ela chegouEu percebi que teve uma importncia muito l e viu que a gente estava o imbudo daquelegrande aquele rabalho que vocs izeram para negcio,que ela oi trazendo,ela rouxe a Cons-o SESC, que acho que foi o ponto de partida. pirao, trouxe editor, produtor, fotgrafo...Enrique: Realmente, a gente partiu de Afinal das contas, aquilo atraiu outro raio deuma tentativa de assimilaro que a adaptao o gente que colaborou muito. Enfim, a a genteFauzi estavapropondo e foi bem interessante. passoupor um perodo de estudar a adaptaoEssa rimeira leitura que a gente ez em casa oi do Fauzi, antesde come~r a ensaiar, otejando

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    com o livro. Foi bem interessanteambm, por- Enrique: Era puxado.Mas a, o que a gen-que era um emaranhado to abstrato aquilo te fez?A gente cotejou o livro inteiro com atudo, especialmenteuma coisa bem curiosa: o adaptao nteira. Ento era bem interessante,comeodo livro e da adaptao em algo de tri- porque primeiro a gente ocalizavano livro: "Ah!ller, porque tem o enigma, tem o vou contar, cenaum, comeano livro aqui e a cenaum aca-vou criar o que aconteceu, em um caminho na ba no livro aqui". Por outro lado, em algumasdireo do quarto, a tem aquelesdesenhosna certas, le tirou pedaosde lugaresmais loucos,parede, udo aquilo tem uma dinmica muito e nem to blocke tal. A eu anotava : "essa ra-de encadeamento,de que mistrio esse.De- se da pgina 96, essa raseda pgina 92", parapois que ela encaraa barata,vocacaba para a genteentender nclusivequando ele muda.sempre... Voc no conseguea priori ter uma No sei at que ponto intencionalmente, paranoo de que etapa essa entro de alguma coi- mudar o sentido, mas eventualmenteo sentidosa.Antes voc em: "aqui ela t falando que no era mudado em funo da frase,porque era as-sei o que, aqui ela t indo, agoraela t... Olha o sociado quaseeiseinsteinianamente, e manei-quarto, olha o branco do quarto, o desenho,a ra que voc criava outro raciocnio. E como osbarat'. Mas na hora que ela bate na barata de raciocnioseram bastanteabstratos, inha horasverdade... que a gente precisava er o que o Fauzi queria,Fauzi: Na hora que o cido bate... e o que ela supostamen.te uis tambm, e tudoEnrique: Que o cido bate, exatamente, isso no livro bem complexo. Essa oi s umana hora que o cido bate... Ento a g~nte, nas parte da pesquisa,de entender alguma figuras,leituras subseqentes, gente ia, olha que ou- algumas magens,algunsdesenvolvimentos uecura, que loucura que isso, que loucura, que no texto, literariamente ou dramaturgicamen-loucura, na hora que chegava a barata,a gente te, no estavampresentes, que a gente endoj comeava se olhar assimmeio... pelo amor sem er uma compreensoeatral daquilo talvezde Deus... fizessem alta. Por exemplo, todo o raciocnioMariana: A j comeava levantar,pega- da ancestralidadeda barata, da antigidade dava uma pizza, outro fumava maconha, outro... barata, tudo aquilo era muito bonito no livro,Enrique: Como que a gente vai fazer... muito interessante.A gente pensou que talvezMariana: O Fauzi ajudou, fez, comps, aquilo fossenecessrio,mas no era. O medovamos dizer, a via crucisem captulos, isso me dela, a relao muito legal, que tem no livro,ajudavamuito. do medo dela de criana ao ver a barata com aEnrique: , toda a adaptao. idia da ancestralidade a raada barataque estMariana: Dividiu em dez, a adaptao l antesdo movimento das geleirase tal. Ela ti-tem dez captulos, comeandocom a procura e nha uma imagem muito forte, que a gente che-terminando com a dcima paixo... gou a usar numa vivncia, que era levantar oFauzi: Que procurava um porteiro... colcho e estar entupido de percevejos, udoMariana: Era um portal, era um portal de muito preto da quantidade de percevejos,queentrada ara adamomento.Entoa gente em- era uma imagemde infnciadela no sei sepre quechegava o cinco,erao momentodo... delaou do personagem, masqueela elaciona-Enrique: Do desespero. va infncia. Enfim, a gente cotejou todo livroMariana: Comeava searrastarno cho... e ficou com um mapa e isso foi o principio deEnrique: Velasacesas... uma certa compreenso e cadacenadentro dal\1ariana:Velasacesas, ma coisaque nin- trajetria, pra ento pensara dinmica do espe-gum agentava, inha"gente que ia embora (ri- tculo, a significaodo espetculo.E foi real-sos). Falavam:"vocsso oucos, vocsvo fa- mente um desemaranhar, specialmente a par-zer sso?" te mais abstratado texto. (cont. na pg. 81)

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    SalaPreta: Perfeito, encaixou super bem, Mariana: , que era sobre processocola-porque agora a Mariana pode falar um pouco borativo. E a Anne faz o ator de alguma manei-do ponto de vista daquele primeiro trabalho ra danar,no sentido de que, como ele tem quesolo, e de como que foi inserir aquilo nesse se apropriar de questes de tempo e espao,processo. muitas vezessem texto, acabase aproximandoMariana: Na verdade,o Enrique foi con- de alguns termos da dana, quer dizer, de criarvidadopara dirigir um solo de dana...E a gen- dana,criar coreografia.E a gente acabase dis-te alou: "vamos azeruma coisa untos, masno tanciando disso, por fazer um teatro s vezesvamos azer qualquer coisa.Vamos aproveitar o mais centrado em cenas ealistasou naturalistasensejo,a inspirao clariceana, para trabalhar e tal. Ento, com essaherana, a gente entrouem cima de alguma coisa... na salade ensaio azendouma pesquisade mo-Enrique: Um estudo... vimento, que mexia com um negcio bem abs-Mariana: , fazer um estudo. E a a gente trato, que era o indisvel, como falar do no fa-comeou com uma pesquisa de movimento, lvel, do entre, do neutro.porqueera dana, e eu no sou bailarina e nem Enrique: Entre o um e o dois.o Enrique coregrafo. Ento a gente aceitou Mariana: Entre o um e o dois. A genteesse esafio. sso aconteceu depois de um tJ;,a- entrou com essa ergunta...balhocom a Anne Bogart. Eu e o Enrique fize- Enrique: Tinha uma coisa muito forte,mosum ms ntensivo em SaratogaSprings,que que era uma frase,que eu no sei se do GH ou onde a companhia fica sediadadurante o ve- seno do GH, sei que da Clarice, que era...ro.De segundaa sexta-feiraa gente azia cinco Mariana: Talvezos dois...horas,seishoras de aula... Enrique: Era mais um grafismo do queEnrique: Seis horas, seis horas inteiras, uma escrita. E isso porque eu estavaem Portomaiscomposio... de Galinhas fazendoespetculo risos), fazendoMariana: Entre Suzuki, composio tal... espetculo e circo, e eu estava ozinho na praiaEnrique: Na Universidade... e eu tive, eu comecei a fazer uns desenhos omMariana: Depois eu voltei para o Brasil e o p na areia... E eu tive um olhar em relaoo Enrique ficou l e fez mais... quilo que era a buscada expresso...Poderiaa-Enrique: Fiz outro curso gual... zer com que o corpo da Mariana fosse discur-Mariana: Acompanhou as aulas dela na so real no espao,em relaoa como GH tentaColumbia University, e a gente ficou bastante criar o que aconteceu.E eu fiz uma relaonainfluenciado pelo trabalho dela... pocaentre isso e o fato de escrever, ue para aEnrique: At hoje. Clarice seria existir. Na verdadeno tem tantoMariana: Na verdade,o T j tinha usa- o ato de escrever ara produzir o que vai ser es-do um pouco de wiewpointsna criao do Apo- crito... Quer dizer, estar escrevendo estar ra-calipse quando a gente estava ndo para Nova tando isso como uma respiraoe no tantoYork, eu falei: "Ah! T, o que voc acha que a com o objetivo de ter um produto. Nesse enti-genteprocura l, o que voc acha egal?"O En- do, a gente pegou a primeira cena do Fauzirique tinha demonstrado nteresse,mas o T como tema, aquelaprimeira cena que :"comotambm j tinha me falado da Anne Bogart, que eu falo de alguma coisa que to abstra-ento ealmente inha muito a ver com os uni- ta, e que tudo, na verdade?"A a gente esque-versos ue a gente estava rabalhando. ceu o resto da histria, a gente no falou sobreEnrique: Tem at uma curiosidade que a barata, no falou sobre a experinciado GH,a seguinte:a viagem da Mariana para era par- mas alou por essadia. E como era um solo dete da BolsaVitae... dana, ento conectava,quer dizer, a situao

    bsicaera uma situao eatral, mas o corpo da~ -.~ c"-~:-

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    cI\Mariana ao tentar falar alguma coisa natural- t citando, ela comeava a platia sentada en-mente produziria hierglifos no espao.Ento trava em cena como se fosse impar uma coisi-tinha um pouco essa onexo,quer dizer, a ex- nha no cho...perincia do signo... Ela estexistindo e comu- Mariana: Limpar uma sujeira.

    nicando e na tentativa de comunicar ela est Enrique: Ento as pessoas o sabiam sesendo, e no que ela est sendo ela passaa ser aquilo era parte, porque ela ficava limpando,um signo. Tinha um pouco desseogo, assim. limpando, limpando. Depois ia pras pessoasMariana: , e a, por causadisso, dos si- percebendoalguma coisada personalidadedes-nais, dos cdigos, da linguagem de surdo e saspessoas, omo se as pessoas creditassem amudo, sei l, desdecdigo de trnsito e de ho- prpria personalidade.E ela a comeandoa ex-ras mprovisando sobre essa aligrafia, nessa s- pulsar essas essoas,alava "vai saindo, vai sain-crita que seria sica, muito tambm influencia- do". Ento ia comeara estabelecer m clima, eda por duas coisasque mexeram muito com a ela comeava debochar dela e tal, e ia entran-gente: uma uma montagem da Anne Bogart, do numa loucura, uma loucura, para no final,que um solo, chamadaBob, que deveriavir ao fazendosignos sicos, alar "eu estou procuran-Brasil, porque uma coisa nesquecvel... do, tentando entender, tentando dar a al-Enrique: E do The Who tambm tinha... gum...". A gente ez uma pequenaadaptaoMariana: E do The Who. Ela pegou dois usou algumas rasespra falar que aquilo tudoatores da companhia dela e montou dois mo- tem a ver com "o que qu eu fao com essa ul-nlogos, um sobre Bob Wilson e outro sobre a so que no tem forma, que no tem palavra,Virgnia Wolf. E esse obre Bob Wilson mui- que no tem..." E no final ela acabacom umato calcado numa caligrafia corporal que o ator exploso,uma loucura e tal. Tinha uma cena,afaz, que impressionante, que um negcio gente quaseusou na pea, que ela vai se costu-inesquecvel. cho que tem 50 minutos e a gen- rando, se costurando,secosturando e vai crian-te viu sem uz, sem cenrio, sem nada, porque do um caminho fsico, uma partitura fsica daela mostrou para a gente l em Saratoga.E eu costura,vai criando e vai voltando para o lugarfiquei boquiaberta com a capacidade o ator de e senta,acabasentandono espao azio.condensar em si toda a figura de uma pessoa Mariana: Dez minutinhos assim...sem ser discursivo ou... Enrique: Bem interessante.Enrique: Psicolgico. Mariana: Rapidinho.Mariana: Psicolgico, aristotlico, sabe, Enrique: Foi um princpio antes da lite-no tinha nada assim.Era s corpo e movimen- ratura... A gente comeoua pensarna coisasemto e signos produzidos com uma velocidade a literatura, para depois conseguirchegar.louqussima... Sala Preta: E a, chegandono espetculoEnrique: Voc urava que era um dos me- finalmente, juntando com a idia dessa rans-lhores espetculos o Bob Wilson, mas no era mutao, dessa enaque vai emergir, vai apare-do Bob Wilson. Era como se osseo supra-sumo cer, meio milagrar. Eu tive essadia no dia quedo Bob Wilson, masno foi feito pelo Bob Wil- eu assisti. Porque realmente essacoisa quesonoEra impressionante,era mpressionante. acontece, ue revelaa Clarice teatralmente,nes-Mariana: O solo comeavacom o ritual samedida da ao eatral, mais do que a prpriade expulso,de querer dizer coisas,e lembrava Clarice se revelou na literatura. Eu queria queum pouco essas... vocs alassem m pouco sobre essa assagem.Enrique: A gente podia at decupar,por- Fauzi: Eu assistium primeiro ensaio, euque o solo tem uma trajetria muito interessan- estavano Rio, mas era bem perto da estria,te. A gente ez num teatro de arena no SESC uma duas ou trs semanas ntes. Uma das pri-Copacabana.Nessecomecinho que a Mariana meiras coisasque o Enrique me disse quando

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    Parceiros apaixonados

    eu cheguei oi sobre essaprimeira cena onde a Fauzi: E eu falei: "claro, na cena inicialMariana recebeas pessoas, ue ele estava nde- ela em como interlocutoresaspessoas o pbli-cisoseestavam altando coisasou se tinha coi- co e ela no pode estarenlouquecida,porquesasdemais. E eu fiquei muito impressionado a vale tudo, e a invlida o que vem depois".com o primeiro ensaio,que era muito bonito, a Enrique: A vinda do Fauzi nessemomen-Marianacom um mergulho interior estupendo. to trouxe uma nova articulao que no haviaMas talvez a influncia do solo... Eu at sugeri antes,ou seja, a gente tinha o tempo presente,que o comeo ossemais despojado... tinha o tempo da lembrana ou da criao daEnrique: Mais simples. lembrana,mas a gente no tinha o que tem noFauzi:S quando fossepara o quarto que livro, que ela falar com o leitor, diretamente.ela enlouquecesse... Ento, em termos de espetculo,a gente estavaEnrique: , tambm interessante. nessemergulho, mas a gente no estava oltan-Fauzi: , a interiorizaro da Mariana era do para falar: "olha, venham comigo que euenorme,mas o que ela falava era quase naud- pedi uma coisaque eu no sei como tratar".veloA gente no ouvia o que ela falava,mas era Fauzi: E isso cria uma refer~nciade inti-hipnotizante, voc no tirava o olho dela, voc midade que importante para o espetculo.queria ouvir tudo o que ela falava. Porque no Enrique: E mais, a Clarice tem essapro-erasimulado, era de verdade. Mas ela fazia to fundidade, ela toca num certo tipo de religiosi-paradentro - depois ela me explicou que que- dade,uma religiosidade em greja, como o Fau-ria fazer como se fosseessabusca do interior. zi falou. Mas ela irnica, ela atual, ela falaEu falei: "Mariana, mas as pessoasem que ou- como a linguagem fala, ela no fica tentandovir". Ento eu gostei muito do ensaioque eu vi, entrar num cnone,ela debocha,ela quebra, elamas alei que ia ficar para super niciados, por- raciocina e sem abandonaresseugar profundo.que as pessoasam ter que advinhar o texto... E a o Fauzi trouxe na verdade essaoutra aba,Porquea parte corporal... que a gente estar fazendo esse rabalho aqui,Mariana: Isso ainda estno espetculo. mas ter esseoutro aqui. Tanto que na entradaFauzi:Ainda est, verdade, verdade... do quarto grande, a gente passoua criar tam-A parte corporal era muito mais explcita, toda bm um tentativa de continuar com o pblico,parte de construo do espetculo era muito para a barra pesada,que mais tarde. Ela t fa-mais ntida nesse virtuosismo fsico, talvez lando uma coisadifcil mas ela t com o pbli-homogneo... co, ela fala como algum falaria, como amigoEnrique: Do solo, enfim... falaria: "gente, eu estou muito louco, t umaFauzi: E na cena nicial, que uma cena loucura..." Mas eu no falo que eu vou me ma-linda, porque ela falava: "estou procurando, es- tar com um canto gregoriano atrs. Eu falo:tou procurando..." Mas ela vinha, era indo isso, "t difcil, t difcil..." Por exemplo, eu j vim

    ela pegavauma garrafa, virava dentro de uma de um enterro de um ex-sogra,na verdade obolsae ficava despejandogua,sopa,sei ... da Dina Sfat, eu namorava a filha dela... E aEnrique: Fazendouma sopa... gente vinha s gargalhadasno carro, por queFauzi: Fazendouma sopadentro da bolsa motivo fosse,de nervoso...Porquea vida maisdela. Era lindo, era indo. complexa, tem mais matizes, e o Fauzi achoEnrique: No, o Fauzi inclusive se esfor- que trouxe essas ossibilidadesde "vamos falarou para a gente tirar essa ena, mas com o ar- de vida, no vamos ficar fazendo uma coisagumento clarssimode que se a gente comeaa escondido..."peadizendo que ela era uma maluca, ela podia Fauzi:Tinha alguns achadoscomo a bol-fazerqualquer coisa. sa que todo mundo adorou. Era linda a ima-gem, era inda, linda, e tambm era inda a ex-

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    sala preta

    presso orporal da Mariana, que continua ex- gravaocom 250.000 possibilidades,desdeacelente.Ela tinha um rigor fsico quando ela a- bolsa at uma cenacom leite, que eu me ogava ,ziao cavalo, quele avalo a bruxaria: eu rou- leite, as roupas odaspregadas a parede eu ;1bei um cavalode caadodo rei, eu me perdi, eu entrando em cada oupa, partituras fsicas,par-nunca mais..." Quando ela fazia aquilo era um tituras vocais, udo.nmero de bal. Ento eu at falei assim:"Est Enrique: O CCBB na pocaestava azio,ficando mais uma coisa corporal, em cima da ento a gente teve o corredor, a sala inha umaula da Clarice. Mas como a gente no ouviu o palco, at irar o palco demorou um pouco, mastexto, fica inspirado e entr'. Houve algum sa- a gente teve uma convivncia muito grande,crifcio do texto por um virtuosismo da ence- muito longa l, e isso nos possibilitou procedernao, de achadosapaixonantesem si, como o em funo do espao.da bolsa, e anlogos,outros que tinha l den- Mariana: E s pra terminar, o terceirotro, que eu no lembro de todos... Mas eu lem- milagre da liberdade de criao oi o milagre dabro de uma marca, quando a Mariana escorre- visita do autor, porque esse ia que o Fauziveio,gava pela parede, quando ela falava baixo, era ele mudou o rumo das coisasno bom sentido.fortssimo. Da primeira vez que eu vi era mais Porque eu at me lembro do Fauzi ter dito: oforte. Depois eu ganhei o texto e a gente per- mais difcil vocs fizeram, que foi se propordeu parte da belezada exploraocorporal da- ao mergulho e mergulhar.Agora vocsprecisamquele momento. Mas mesmo antes, como eu comunicar.conhecia o texto, eu ia adivinhando tudo. En- Mariana: Eu fiquei completamente ou-to para mim era uma experincia gualmente ca, a gente falou: a gente precisa azer algumaarrebatadora.Mas eu tive esse uidado de ver- coisa, porque a gente precisa sair dessasopa ebalizar isso, que talvez quem no conhecesse falar com as pessoas, s pessoas o chegar da-livro pudesse ofrer e tal. qui a um ms...

    Mariana: Eu acho que o espetculo oi Fauzi: As pessoas o chegar, elas estopontuado por trs marcas pra mim bastante vindo, j estosaindo de casa...fortes. A primeira fase que eu chamaria da li- Mariana: E a gente t no meio de umaberdade otal de criao,que ns dois em sala sopa, e muito lindo e tudo, mas o Fauzi pro-de ensaio produzindo coisas,sem se preocupar vocou a gente nesse entido... At na pocaeucom o espetculoem si, sem se preocupar com falei: essa isita t atrasada, gente devia er tra-ordem, sem se preocupar com nada, jogando zido o Fauzi antescoisa ora, fazendoworkshop, fazendovivncia, Enrique: Mas o Fauzi,uma pessoa e umafazendo... geraoanterior, que poderia ser a pessoaqueSala Preta: E essaproduo de coisasera vai pedir mais afinco, profundidade, ele nos deufeita sobre aquele oteiro inicial da Clarice? uma alforria: teatro tem que ser comunicao.Mariana: Tinha a ver com o roteiro do mais simples s vezes do que achar umaFauzi. Ento a gente improvisava vrias coisas coisa...sobrea cenaum: eu trazia workshop, o Enrique Fauzi: Gente, s uma coisinha que eutrazia, o Fabinho trazia, a gente comeavaa ler queria falar, que uma informao objetiva: nooutras coisas, ivncias,eu comeceia decorar o Rio de Janeiro, o espetculooriginal era feitotexto em sala de ensaio falando, da cena dois para 25 pessoas,odo mundo na primeira fila,at a cena dez. Quando a gente terminou essa numa platia em "L". Ento, quando o pblicofase, a gente entrou na segundaetapa, que eu chegava, ra uma coisade estardentro do espe-chamo de o milagre da direo, que o Enri- tculo, todo mundo na primeira fila na cara daque dando uma ordem quela oucura, porque Mariana, participando de tudo, porque a luza gente tinha, sei l, vamos dizer 10 horas de quando entrava nclua o pblico e o pblico ia

    I. f

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    Parceiros paixonadosjunto para dentro do quarto, no tinha como meaa entrar na Sria, comeaa entrar na Lbiaseesconder.Aqui tem segunda ila, terceira Ila, e no neutro... demais, muita coisa assim...arquibancadinha.L no. A primeira sala, por As vezespara um sbadoa noite, assim...exemplo, no tinha arquibancadinha, eram ca- Fauzi: Um sbadoa noite...deirascomo se osseuma casa,aspessoas ntra- Mariana: Voc sai, da voc vai at o cor-vam, sentavam,a Mariana recebia, depois elas redor: ah!...uma pessoaencontrou uma barata!seguiam pelo corredor e assim por diante. A A vai entrando mais...cenado corredor tambm... Sala Preta:Enrique, e quando q\.levocMariana: Era bem menor. sentiu que tinha conseguido fazer a trans-Fauzi: Era, a viso era mais unvoca, por- posio...quea Mariana fazia no fundo do corredor e toda Enrique: No, no houve essemomentoplatia icava para c... muito no, no, no...Mariana: S para terminar a idia da pri- Sala Preta: No houve essemomento demeira cena, o Marquinhos Pedroso trouxe a uma inflexo?idia de esse niverso odo espalhado starorga- Enrique: No, no, porque o trabalho foinizado em um closet. At inconscientemente, intenso desdeo incio, ento muitas coisasnoacho,ele pegou um pouco da idia do Fauzi... incio, bem no iniciozinho mesmo, faziam aFauzi:De uma ordem nicial, uma ordem... gente icar muito seduzidopor aquilo... E o fatoMariana: Isso aqui muito organizado, de a gente ter conseguido er metas, ter umaao contrrio do caos... certa metodologia, qual a relao do trabalhoFauzi: Que maravilha, tudo dentro... fsico, qual a relaocom o texto, qual a relaoMariana: As coisinhasdivididas, os ivros com o estudo, qual a relaodos elementos e-separados, ara que essecaos estivesse entro ricos que vieram colaborar para a compreen-delae no fora, e para que a gente tambm no so disso. O fato de a gente ter chegado rsespantasse pblico. Porque o tipo de espet- meses ntesno espaoe a gente r conseguindoculo que d medo de voc espantar,assustara criar esse aminho, e o Fauzi chegarcom a coi-platia com a loucura. Do mesmo eito que a sa mais ou menos desenhada...Um parnte-Clarice se escondiaatrsda literatura dela, usa- sis tambm: quando o Fauzi viu, no tinha umva a literatura como libi, a gente precisava sar pingo de produo ainda, no tin,ha nem verbaessa rimeira cena como libi. liberada...Entoele viu no ossissmo.Sala Preta: E essasituao de um ambi- Fauzi: No era o espetculo ompleto.ente domstico, muito mais... Enrique: Na verdade,a estria uma coi-Mariana: intimo. sa bem enganadora.Mas eu tenho a impressoSala Preta: Mais ntimo, tem tudo a ver que foi na estriaque a gente teve algum tipocom o prprio livro, que essemomento ini- de comprovao,no sentido de as pessoasmui-cial que voc ainda estacompanhando... to virgens, que no tinham relaocom aquilo,Mariana: Voc ainda uma pessoaque ficarem muito entusiasmadas.Eu me lembroouve outra pessoa alar, voc no se distancia que a Marieta Severo,na estria, alou: "Nossa,tanto. E isso nos ajuda a encaminhar a platia Clarice no teatro antes disso e depois disso.para uma viagem que mais difcil... Eu acho Ela uma pessoamuito prxima, eu j traba-normal o pblico querer desistir para frente, lhei vrias vezescom ela, e realmente eu sentiporque ica denso demais,ainda mais uma pes- uma sinceridade com relao quilo que deusoaque no conheceClarice Lispector e tal, co- para confirmar a trajetria do espetculo.