aptidão agricola em solos da amazônia

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  • 8/4/2019 Aptido Agricola em Solos da Amaznia

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    ELAINE ALMEIDA DELARMELINDA

    RIO BRANCO

    2011

    APLICAO DE SISTEMAS DE AVALIAO DA APTIDO AGRCOLA

    EM SOLOS DO ESTADO DO ACRE

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    ELAINE ALMEIDA DELARMELINDA

    APLICAO DE SISTEMAS DE AVALIAO DA APTIDOAGRCOLA EM SOLOS DO ESTADO DO ACRE

    Dissertao apresentada ao Curso dePs-graduao em Agronomia, rea deConcentrao em Produo Vegetal, daUniversidade Federal do Acre, comoparte das exigncias para a obteno dottulo de Mestre em Agronomia.

    Orientador: Dr. Paulo Guilherme S. Wadt

    Co-orientadora: Ph.D. Lcia H.C. dos Anjos

    RIO BRANCO

    2011

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    Antnio

    Elizabeth

    Simone

    Rafael

    Kau

    Dedico

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    AGRADECIMENTOS

    Universidade Federal do Acre por me proporcionar a chance de cursar o

    Mestrado em Agronomia;

    CAPES e ao CNPq pela concesso de bolsa de ps-graduao;

    Ao meu orientador Dr. Paulo Guilherme Salvador Wadt por todas as

    oportunidades oferecidas para o meu amadurecimento cientfico, muito obrigada!

    minha co-orientadora prof. Ph.D. Lcia Helena Cunha dos Anjos pelos

    ensinamentos que muito contriburam para a minha contnua busca pelo

    conhecimento;Ao professor Dr. Sebastio de Arajo Neto pelo auxlio nos momentos

    burocrticos;

    Aos meus queridos amigos, companheiros e amados: Antnio Jussi, Francieli

    Aparecida, Leonardo, Jairo, Valdemar e Fabrcio pelos bons momentos;

    Aos colegas da turma de mestrado 2009: Alex, Ana Paula, Carine, Charlys,

    Cleyton, Divino, Janice in memorium, Jocirene, Marlia, Oder e Pedro, muito

    obrigada pelos momentos de diverso e pela troca de conhecimentos;

    Aos funcionrios da Embrapa Acre: Pedro, Lucilio, Jssica, Dayanne e

    Fabrcio, muito obrigada pelo auxlio nas viagens de campo e nas anlises

    laboratoriais;

    Ao professor Dr. Marcos Pereira Gervasio pela hospitalidade e auxlio quando

    necessrio em minha misso de estudos na UFRRJ;

    Aos alunos do Laboratrio de Gnese do Solo da UFRRJ: Arcngelo, Deivid,

    Edilene, Sidney, Paula, Anderson, Fernando, Adierson, Shirley, Wanderson e

    Guilherme pelo auxlio na realizao das anlises de solo e pela permanentesimpatia;

    Aos amigos do alojamento da Embrapa Agrobiologia: Dayana, Trcia, Jakson,

    Dione, Flvia, merson, Abimael, Sandra, Michele, lder, Hugo, William e Rafael

    pela hospitalidade e pelos bons momentos juntos;

    professora Dr. Sandra Tereza Teixeira pela oportunidade de realizar o

    estgio de docncia sob sua orientao e pela amizade;

    Aos professores do mestrado: Dr. Jorge Kusdra e Dr. Regina pelosensinamentos;

    A todos outros que contriburam para a realizao deste trabalho, obrigada.

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    Se no sabes, aprende; se j sabes, ensina.Confcio

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    RESUMO

    O uso de metodologias de avaliao da aptido das terras essencial para a

    realizao de planejamentos agrcolas. No entanto a partir das metodologias

    usualmente utilizadas, a avaliao fica comprometida em funo de vrios fatores:

    escala de trabalho, grau de qualificao do avaliador e ausncia de dados

    pedolgicos necessrios. O uso de softwares nesses trabalhos tem mostrado

    resultados promissores, com a utilizao de indicadores parametrizados adaptados

    regio estudada alm desses permitirem a interface com ambientes de sistemas

    de informao geogrfica. O objetivo do trabalho foi avaliar o uso de um software deavaliao do potencial agrcola das terras e do Sistema de Avaliao da Aptido

    Agrcola das Terras (SAAAT) na avaliao de solos do estado do Acre. As

    interpretaes da aptido agrcola dos solos foram feitas por seis especialistas,

    avaliando os indicadores de aptido agrcola, aplicando cinco graus dos fatores de

    limitao: deficincia de fertilidade, deficincia de gua, deficincia de oxignio,

    susceptibilidade eroso e impedimentos mecanizao. Foi observado que

    indicadores como o estoque de nutrientes, tipo de argila, classe textural e relevolocal consistiram nos mais relevantes para as avaliaes realizadas e que o uso do

    SAAAT no identificou as potencialidades para o uso agrcola dos solos avaliados.

    Por outro lado, o software mostrou-se promissor para as avaliaes realizadas,

    propiciando ainda uma anlise mais detalhada dos fatores de limitao de uso da

    terra, refletindo maiores variaes nos graus de limitao, no entanto necessita de

    algumas correes em sua metodologia.

    Palavras-chave: Uso da terra. Planejamento Agrcola. Amaznia.

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    ABSTRACT

    The use of methodologies for land suitability is essential to implementation of

    agricultural plans. However from the commonly used methods, assessment is

    impaired due to several factors: the scale of work, qualifications of the evaluator and

    the absence of pedological data. Software in these studies has shown promising

    results, using parametric indicators adapted to permit the study area beyond those

    environments to interface with geographic information systems. The objective was to

    evaluate a software of potential agricultural land and Sistema de Avaliao da

    Aptido das Terras (SAAAT) in soils in the state of Acre. Interpretations of theagricultural suitability of soils were made by six experts, evaluating indicators of land

    suitability, using five degrees of limiting factors: fertility deficiency, water deficiency,

    oxygen deficiency, susceptibility to erosion and impediments to mechanization. It was

    noted that indicators like the stock of nutrients, type of clay, texture class and local

    relief consisted the most relevant factors to the evaluations and the use of SAAAT

    not identified the potential for agricultural land use. Moreover, the software may be

    promising to assessments carried out, providing even more detailed analysis of thefactors limiting land use, reflecting greater variations in the degree of limitation, but

    requires some corrections in its methodology.

    Key-words: Land use. Agricultural planning. Amazon.

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    LISTA DE QUADROS

    QUADRO 1 - Correlao entre o Sistema Brasileiro de Classificao deSolos antigo e o sistema atual ................................................... 29

    QUADRO 2 - Comparativo das classificaes da aptido agrcola das terrasrealizadas pelo sistema convencional e pelo sistema especialista 38

    QUADRO 3 - Caracterizao morfolgica dos perfis de solos avaliados naIX RCC no Acre ......................................................................... 56

    QUADRO 4 - Indicadores utilizados para avaliao da aptido agrcola dossolos da IX RCC no Acre ................................................................... 61

    QUADRO 5 - Graus de limitao e grupos e subgrupos de aptido agrcolaatribudo pelos avaliadores ....................................................... 62

    QUADRO 6 - Grupos e subgrupos de aptido determinados pelo grupo deespecialista para os solos avaliados ......................................... 80

    QUADRO 7 - Graus de limitao determinados pelos especialistas paradeficincia de fertilidade (DF), deficincia de gua (DA),deficincia de oxignio (DO), susceptibilidade eroso (SE) eimpedimentos mecanizao (IM) ............................................. 81

    QUADRO 8 - Aptido agrcola determinada pelo sistema de avaliao das

    terras (SAT) para os dez perfis de solo estudados ................... 82QUADRO 9 - Representao dos graus de limitao gerados pelo sistema

    de avaliao das terras (SAT) para os perfis avaliados ............ 85

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    LISTA DE TABELAS

    TABELA 1 - Atributos fsicos e qumicos dos perfis de solo doassentamento Favo de Mel em Sena Madureira-AC ................ 30

    TABELA 2 - Propriedades do solo estimadas pelo SAAAT-NP a partir deequaes de pedotransferncia para a classificao dos grausde limitao ................................................................................ 32

    TABELA 3 - Caractersticas fsicas dos perfis de solos avaliados na IX RCCno Acre ....................................................................................... 57

    TABELA 4 - Caractersticas qumicas dos perfis de solos avaliados na IX RCCno Acre ................................................................................................ 59

    TABELA 5 - Matriz de confundimento representando em colunas os perfis

    avaliados e nas linhas os perfis preditos de acordo com areclassificao realizada pelas funes discriminantes ............ 65TABELA 6 - Caractersticas qumicas e fsicas dos dez solos avaliados ....... 84

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    SUMRIO

    1 INTRODUO ........................................................................................ 11

    2 REVISO DE LITERATURA .................................................................. 14

    2.1 SISTEMA DE CLASSIFICAO DA CAPACIDADE DE USO ............... 15

    2.2 SISTEMA DE AVALIAO DA APTIDO AGRCOLA DAS TERRAS .. 16

    2.3 NOVAS PROPOSIES PARA AVALIAO DA APTIDO

    AGRCOLA DAS TERRAS ..................................................................... 19

    2.4 APTIDO AGRCOLA DAS TERRAS DO ESTADO DO ACRE ............ 21

    3 CAPTULO I-USO DE SOFTWARE NA AVALIAO DA APTIDOAGRCOLA DAS TERRAS: PROJETO DE ASSENTAMENTO FAVO

    DE MEL, SENAMADUREIRA - AC ........................................................ 23

    3.1 INTRODUO......................................................................................... 26

    3.2 MATERIAL E M TODOS ....................................................................... 27

    3.3 RESULTADOS E DISCUSSO .............................................................. 37

    3.4 CONCLUSES ....................................................................................... 45

    REFERNCIAS .............................................................................................. 464 CAPTULO II - AVALIAO DA APTIDO AGRCOLA DE SOLOS

    DO ESTADO ACRE POR DIFERENTES ESPECIALISTAS ................. 50

    4.1 INTRODUO ........................................................................................ 53

    4.2 MATERIAL E MTODOS ....................................................................... 54

    4.3 RESULTADOS E DISCUSSO .............................................................. 62

    4.4 CONCLUSES ....................................................................................... 69

    REFERNCIAS .............................................................................................. 705 CAP TULO III- APLICAO DE DIFERENTES METODOLOGIAS DE

    AVALIAO DO POTENCIAL AGRCOLA DAS TERRAS EM

    SOLOS DO ESTADO DO ACRE ........................................................... 74

    5.1 INTRODU O ........................................................................................ 77

    5.2 MATERIAL E MTODOS ....................................................................... 78

    5.3 RESULTADOS E DISCUSSO .............................................................. 80

    5.4 CONCLUSES ....................................................................................... 91

    REFERNCIAS .............................................................................................. 92

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    6 CONCLUSES GERAIS......................................................................... 95

    REFERNCIAS .............................................................................................. 96

    APNDICE ...................................................................................................... 101

    ANEXO ........................................................................................................... 107

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    1 INTRODUO

    O uso racional dos recursos naturais se constitui em um dos atuais desafios da

    sociedade contempornea, em decorrncia dos impactos causados aos mesmos

    pelas atividades antrpicas. Assim as atividades agropecurias podem contribuir em

    diversas modificaes nocivas s caractersticas morfolgicas, fsicas e qumicas

    dos solos .

    Dentre as alteraes possveis, a degradao agrcola dos solos constitui um

    problema a ser superado. Esta degradao ocorre em decorrncia da adoo de

    prticas de manejo inadequadas ou pelo uso do solo com cultivos no apropriadoscom relao o seu potencial de uso, como por exemplo, cultivo de espcies de ciclo

    anual em reas de declividade acentuada.

    A tcnica disponvel para a minimizao da degradao dos solos pelo uso

    inadequado consiste na classificao das terras quanto a sua capacidade de uso ou

    aptido agrcola considerando as limitaes peculiares da regio estudada. No Brasil

    as principais metodologias de classificao das terras de acordo com a sua aptido

    ou potencial agrcola so as de Ramalho Filho e Beek (1995) e de Lepsch (1991).A avaliao da aptido objetiva orientar o uso mais adequado das terras pela

    identificao de suas limitaes e o modo que tais limitaes restringem a

    aptido/capacidade de uso, resultando no diagnstico sobre a melhor forma de

    utiliz-la, inclusive com indicao de prticas agrcolas recomendadas para o seu

    melhoramento.

    A adequao da forma de utilizao das terras a sua aptido agrcola consiste

    em um fator preponderante para a sustentabilidade dos sistemas agrcolas,silviculturais, agroflorestais ou extrativistas, medida que favorece a otimizao da

    produo e previne os processos de degradao das terras. Por este motivo o

    conhecimento da aptido agrcola das terras consiste em uma etapa indispensvel

    ao planejamento agrcola nas diversas escalas dos processos de deciso:

    macrorregional, regional, microrregional ou local.

    Na Amaznia embora frao importante de seu territrio esteja protegida pela

    manuteno da cobertura florestal natural, parcela importante dos solos utilizados na

    produo agropecuria pode estar em processo de degradao e muitas vezes em

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    estgios avanados devido ao uso e manejo inadequado alm da ausncia da adoo

    de prticas conservacionistas.

    O uso da terra em desacordo com sua aptido agrcola uma questo complexa

    que envolve polticas agrrias e de crdito rural, acesso assistncia tcnica alm do

    prprio conhecimento tecnolgico, entre outros fatores, como inexistncia de

    ferramentas de aptido agrcola aplicveis em escala de estabelecimento agrcola.

    Os mtodos de avaliao da aptido agrcola foram desenvolvidos para

    aplicao em pequena escala em conjuntura com estudos de levantamento de solos

    e adequados para estudos de macro zoneamentos agrcolas. No entanto em

    regies sujeitas a variao de solos em curtas distncias, a classificao da aptido

    agrcola apresentada nestes zoneamentos no contempla o nvel de detalhenecessrio a adequao do uso da terra em escala de estabelecimento rural.

    A informatizao dos produtos e processos relacionados avaliao da aptido

    agrcola das terras tambm tem sido um dos desafios atuais. Enquanto a

    informatizao pode contribuir para proporcionar um acesso universal e amplo ao

    conhecimento e gesto do uso da terra, muitos deles so dependentes de estudos

    de levantamento de solos, exigindo um nvel de conhecimento maior em Pedologia.

    Para que se proporcione acesso amplo e universal a este conhecimento ossoftwares necessitam permitir que as avaliaes sejam feitas por profissionais que

    ordinariamente, no estariam aptos para uma avaliao empregando os mtodos

    correntes.

    Objetivo geral:

    O objetivo do trabalho foi avaliar o uso de um software de avaliao do

    potencial agrcola das terras e do Sistema de Avaliao da Aptido Agrcola das

    Terras (SAAAT) na avaliao de solos do estado do Acre.

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    Objetivos especficos:

    1. Comparar a metodologia do Sistema de Avaliao da Aptido Agrcola das

    Terras com a avaliao realizada por um software, testando seu desempenho na

    interpretao do potencial de uso da terra de um projeto de assentamento agrcola

    em Sena Madureira, estado do Acre;

    2. Identificar para solos desenvolvidos sobre sedimentos da Formao Solimes

    no estado do Acre, como diferentes especialistas avaliam e interpretam os

    indicadores do SAAAT na definio das diferentes classes de aptido;

    3. Avaliar se a utilizao de um sistema parametrizado e totalmente informatizadobaseado na interpretao de propriedades do solo sem a necessidade de utilizar

    dados de levantamentos pedolgicos pode proporcionar avaliaes da aptido

    agrcola coerentes com aquela obtida por um grupo controle, constitudo por seis

    especialistas.

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    2REVISO DE LITERATURA

    A sustentabilidade do uso da terra depende de trs fatores: as caractersticas

    do solo, as condies ambientais e o sistema de produo agrcola; tais fatores so

    interdependentes a ponto de que mudanas em um fator ocasionam alteraes em

    todo o sistema (TTH et al., 2007), alm disso fatores relacionados a populao do

    local avaliado so imprescindveis para um planejamento racional do uso da terra.

    Assim a avaliao das terras dependente de dados sobre os recursos naturais,

    tcnicos e socioeconmicos da regio em estudo (RAMALHO FILHO;

    PEREIRA,1999).

    Pode-se inferir que a viso que se deve ter da avaliao das terras muitomais ampla do que apenas a avaliao de propriedades do solo, j que esta

    avaliao est diretamente relacionada com mudanas na vida da populao,

    devendo-se ressaltar a importncia do conhecimento das caractersticas regionais, a

    facilidade de acesso s tecnologias e a demanda de profissionais qualificados para

    assistncia tcnica no local avaliado, tendo Piroli (2002) ressaltado que o

    conhecimento das caractersticas do ambiente so cruciais para o uso prolongado

    dos seus recursos.Weldegiorgis (2000) enfatiza que os fatores culturais das comunidades dos

    locais avaliados devem ser considerados em planejamentos voltados para a

    introduo de novas prticas agrcolas, prevenindo que sejam compatveis com a

    cultura local como meio de garantir-lhes a sustentabilidade.

    No que tange s metodologias de avaliao da aptido das terras, essas

    constituem ferramentas para o suporte de tomada de deciso como ressaltado por

    Ramalho Filho e Pereira (1999) e Sant-Riveira et al. (2008) representando overdadeiro potencial de uso da terra (LIU et al., 2006).

    Dentre os mtodos de avaliao, a aptido agrcola consiste de uma

    classificao tcnica e interpretativa com o objetivo especfico de aplicao prtica e

    que envolve a anlise de fatores que influenciam o uso da terra como climticos,

    edficos e fisiogrficos (HASHIM et al., 2002; RESENDE et al., 2007).

    Os sistemas de avaliao interpretativos so fundamentados na identificao

    das limitaes que os solos podem apresentar, de acordo com anlises quantitativas

    e qualitativas das propriedades desses, resultando em diferentes classes de

    potencial de uso com o propsito de fornecer um prognstico da capacidade de uso

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    da terra em consonncia com o conhecimento acumulado na rea de cincia do solo

    como destacam Bacic et al. (2003).

    A maioria dos sistemas de avaliao da aptido das terras foram desenvolvidos

    nas dcadas de 1960-1970, sendo o sistema americano Land Capability

    Classification (KLINGEBIEL; MONTGOMERY, 1961) e o Sistema FAO de

    Avaliao das Terras(FAO,1976) os mais utilizados e a partir dos quais derivaram

    outras proposies. No Brasil os mtodos frequentemente utilizados so: o Sistema

    de Avaliao da Aptido Agrcola das Terras (SAAAT) proposto por Ramalho Filho e

    Beek (1995) derivado do sistema FAO e o Sistema de Classificao da Capacidade

    de Uso (SCCU) adaptado por Lepsch (1991) do Land Capability Classification

    Americano.

    2.1 Sistema de Classificao da Capacidade de Uso (SCCU)

    O sistema proposto por Lepsch (1991) analisa a presena de impedimentos

    mecanizao, a produtividade dos solos, e riscos de inundao. No entanto, foidesenvolvido prioritariamente para planejamentos de prticas de conservao do

    solo exigidas em terras consideradas arveis.

    A metodologia caracterizada pela identificao de grupos de capacidade uso

    que agrupam os tipos de manejo das terras em:

    a) Grupo A: terras utilizveis com culturas anuais, perenes, pastagens e, ou,

    reflorestamento e vida silvestre;

    b) Grupo B: terras passveis de utilizao apenas com pastagens e, ou,reflorestamento e, ou, vida silvestre e espcies para proteo do solo;

    c) Grupo C: reas de preservao permanente, recreao ou destinadas ao

    armazenamento de gua.

    Cada grupo engloba classes de capacidade de uso identificadas por

    algarismos romanos de I a VIII, de acordo com o grau de necessidade e intensidade

    dos mtodos de conservao do solo e subgrupos em funo do tipo de limitao.

    Rodrigues et al. (2001) para verificar a adequao de uso da terra usaram o

    sistema de classificao da capacidade de uso (SCCU) na avaliao, identificando

    restries de ordem fsica e topogrfica ao uso do solo, mostrando que essa

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    metodologia indica reas com maior suscetibilidade eroso alm de restries ao

    uso de mecanizao agrcola.

    Muitas vezes o SCCU utilizado em conjunto ao SAAAT, como mostrado no

    trabalho de Mendona et al. (2006) que utilizaram para a determinao de classes

    de capacidade de uso, associando a indicadores da metodologia ao SAAAT para

    avaliao de uma microbacia, os autores ressaltam que a metodologia adaptada

    conferiu resultados satisfatrios na determinao das potencialidades e limitaes

    de uso das terras.

    Para Soares et al. (2008) o uso do SCCU em consonncia ao SAAAT para o

    planejamento de uso da terra no obteve diferenas significativas quando

    comparadas as metodologias em seu trabalho, devido a rea avaliada apresentardeclividade acentuada, tornando prticas de melhoramento propostas no SAAAT

    inviveis, no entanto os mesmos autores destacam que as diferenas entre nveis de

    manejo da metodologia podem tornar as avaliaes diferenciadas. Nesse trabalho

    provavelmente limitaes referentes declividade foram mais relevantes nas

    avaliaes, no sendo demonstrados fatores de ordem qumica que pudessem

    limitar o uso da terra.

    Nanni et al. (2005) utilizaram o SCCU para elaborao de zoneamento scio-econmico no noroeste do estado Paran e adaptaram anlise de deciso

    automatizada para determinao da aptido associada a um sistema de informao

    geogrfica, evidenciando que atualmente h uma crescente utilizao dessas

    metodologias associadas a sistemas informatizados para representao espacial.

    2.2 Sistema de Avaliao da Aptido Agrcola das Terras (SAAAT)

    Esta metodologia teve sua primeira verso proposta por Bennema et al. (1965)

    para a interpretao de levantamentos de solos, com o intuito de tornar acessvel

    uma interpretao prtica das caractersticas dos solos para avaliaes do potencial

    de uso agrcola. O SAAAT foi atualizado posteriormente, tendo sua ltima verso

    publicada por Ramalho Filho e Beek (1995)

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    Segundo Resende et al. (2007) o SAAAT considera um modelo de solo ideal,

    sem deficincia de fertilidade, gua ou oxignio alm da ausncia de suscetibilidade

    eroso e impedimentos ao uso de mecanizao.

    Nessa metodologia so considerados trs diferentes nveis de manejo das

    terras de acordo com a disponibilidade de recursos para a produo agrcola, sendo

    estes:

    a) Manejo primitivo (Nvel A): o produtor no utiliza nenhum tipo de recurso

    que seja adquirido fora da propriedade, utilizando somente o esforo braal ou

    trao animal para o cultivo, sem a utilizao de adubao ou correo do solo;

    b) Manejo intermedirio (Nvel B): h um investimento para a produo,

    utilizando-se adubaes com macronutrientes, tcnicas simples de conservao dosolo, sementes melhoradas e preparo do solo com arao e gradagem;

    c) Manejo avanado (Nvel C): h um grande investimento na produo, com

    utilizao de tcnicas mais sofisticadas de conservao do solo, utilizao de

    sementes de tima qualidade, adubaes com macro e micronutrientes e

    mecanizao em diversas etapas do processo de produo.

    Considera seis grupos de aptido, que constituem os distintos sistemas de

    cultivo ou uso:a) Grupo 1, 2 e 3: lavouras anuais e perenes;

    b) Grupo 4: pastagem plantada;

    c) Grupo 5: silvicultura e, ou, pastagem natural;

    d) Grupo 6: reas que devem ser destinadas a preservao da flora e fauna.

    A avaliao da aptido agrcola feita a partir da anlise de fatores limitantes,

    quais sejam: deficincia de fertilidade, deficincia de gua, deficincia de oxignio

    ou excesso de gua, suscetibilidade eroso e impedimentos mecanizao;sendo atribudos a eles graus de limitao (nulo, ligeiro, moderado, forte ou muito

    forte, com graus intermedirios), e ainda em funo da possibilidade de

    melhoramento para todos os fatores limitantes.

    Alm disso a metodologia propes viabilidade de melhoramento na

    determinao dos graus de limitao, de acordo com o nvel de manejo empregado.

    A partir da identificao dos graus de limitao possvel determinar o

    subgrupo ou classe de aptido (boa, regular, restrita ou inapta) para cada nvel de

    manejo (A, B ou C), e o grupo (de 1 a 6) determinado pelo melhor nvel de manejo

    e tipo de uso em que se enquadra o solo.

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    O SAAAT usualmente utilizado em trabalhos de zoneamento ecolgico

    econmico seja para avaliao do uso da terra tanto para culturas especficas, como

    realizado por CARVALHO et al. (2008) que realizaram o zoneamento para cana-de-

    acar e eucalipto no estado de Minas Gerais, como para todos os tipos de cultivo

    considerados na metodologia, observado no zoneamento realizado por Naime et al.

    (2002) para o Distrito Federal e entorno.

    Alguns trabalhos utilizam a metodologia do SAAAT adaptando-a ao ambiente

    estudado como proposto por Gomes et al. (2005) que avaliaram a aptido de terras

    em sua maioria de terreno ondulado para reflorestamento no estado do Rio de

    Janeiro, excluram indicadores que no seriam relevantes na avaliao alm de

    constatarem que fatores como deficincia de oxignio e deficincia de gua, esseltimo atribudo vegetao, por no apresentarem variaes no ambiente estudado

    no indiferentes nas avaliaes.

    A associao do SAAAT aos sistemas de informao geogrfica freqente

    nos trabalhos, como realizado por Chaves et al. (2010) na avaliao das

    potencialidades de uso da terra unicamente para o nvel de manejo B no Distrito

    Federal. J Pedron et al. (2006) utilizaram a metodologia para determinao de

    mapas de conflito do uso da terra no estado do Rio Grande do Sul, bem comoidentificao de reas de preservao permanente, evidenciando o uso da

    metodologia para identificar adequabilidade do uso da terra.

    Silva et al (2010) utilizou o SAAAT associado a um sistema de informao

    geogrfica no estado de Santa Catarina gerando mapas que sobrepostos

    possibilitaram a identificao de reas: com uso satisfatrio adequado,

    sobreutilizadas, subutilizadas e reas de conflito ambiental. Os autores ressaltam

    que o uso do sistema de informao geogrfica contribui na reduo de tempo detrabalho e subjetividade nas avaliaes. Esses trabalhos tem demonstrado a

    possibilidade de uso do SAAAT a ferramentas informatizadas para anlises de uso

    da terra.

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    19

    2.3 Novas proposies para avaliao da aptido agrcola das terras

    Vrios estudos tem sido realizados para o aperfeioamento destas

    metodologias de avaliao da aptido agrcola, visando a insero de novas

    ferramentas e abordagens advindas dos avanos cientficos em consonncia com

    tecnologias de produo agrcola atuais.

    Schneider et al. (2007) propuseram mtodo de avaliao da aptido agrcola

    em nvel de propriedades rurais ou de microbacias hidrogrficas, fundamentado em

    bases cartogrficas e na elaborao de quadros-guia, de acordo com os graus de

    limitao peculiares a uma dada regio. Pereira (2002) inseriu novos atributosdiagnsticos no Sistema de Avaliao da Aptido Agrcola visando utiliz-la em

    estudos de qualidade agroambiental na regio do estado de So Paulo.

    Para De La Rosa (2005) o processo de anlise da aptido agrcola

    geralmente complexo e subjetivo, devido falta de informaes quantitativas sobre o

    comportamento das terras diante de um dado uso. Ainda segundo o autor, com o

    advento de tecnologias na rea de informtica foi possvel a anlise do potencial de

    uso da terra por vrios modelos, desde os empricos bsicos com abordagensqualitativas simples at os mais sofisticados baseados em sistemas de inteligncia

    artificial.

    O Automated Land Evaluation System (ALES) (ROSSITER, 1994) um

    exemplo, muito utilizado em vrios pases, consiste de um programa informatizado

    com ferramentas que possibilitam a seleo dos indicadores e sistemas de cultivos a

    serem avaliados, tendo sido fundamentado na metodologia do Sistema FAO de

    Avaliao da Aptido das Terras da FAO (1976).Salah et al. (2001) construram um modelo de avaliao da aptido para

    tamareira (Phoenix dactylifera) utilizando o ALES para identificao das melhores

    reas para cultivos irrigados, bem como os fatores limitantes para a sua produo. E

    tambm Chagas et al. (2006) que desenvolveram um sistema especialista para

    Avaliao das Terras do Oeste de Santa Catarina (ATOSC) para reas cultivadas

    com gros.

    Os programas especialistas propem diferentes mtodos para avaliar a

    potencialidade de uso das terras, eliminando o carter subjetivo do avaliador com o

    uso de parmetros quatificveis, alm da atribuio de peso s variveis de acordo

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    20

    com sua relevncia no ambiente estudado como realizado nos trabalhos de Quan

    et al. (2007) e Reshmidevi et al. (2009).

    Um exemplo o programa SIAT (Sistema de Avaliao de Terras) proposto por

    Garcia e Espindola (2001) que possui ferramentas que possibilitam o uso de rvores

    de deciso para construo de um sistema de avaliao da aptido para uma

    determinada cultura, derivado do sistema MicroLEIS, desenvolvido para avaliao

    em regies mediterrneas, e adaptado para condies tropiciais pelos autores.

    Ainda os autores realizaram atualizaes (GARCIA et al., 2005) para o seu uso

    associado aos sistemas de informao geogrficas (SIGs).

    A avaliao das potencialidades das terras para planejamento territorial

    associada aos SIGs tem sido abordado em vrios trabalhos, visando a obteno demapas de aptido bem como mapas de conflitos de uso da terra (CHAVES et al.,

    2010; BARROS et al., 2004; SILVA et al., 2010).

    O Sistema Brasileiro de Classificao de Terras para Irrigao (AMARAL,

    2005), adaptado para as condies da regio Nordeste do Brasil, a partir do Land

    classification techniques and Standards (ESTADOS UNIDOS, 1982), utiliza um

    sistema especialista estruturado por regras de deciso, projetado para avaliar a

    aptido de acordo com atributos do solo e a cultura ou o sistema de irrigao ouainda de forma generalizada considerando todos os tipos de culturas e os sistemas

    de irrigao.

    O Sistema de Avaliao das Terras para Readequao Ambiental (SATRA)

    um software que utiliza uma metodologia de planejamento ambiental para a

    Amaznia (WADT, 2004), e possui uma ferramenta de avaliao da aptido agrcola

    das terras em nvel de propriedades rurais (SAT) fundamentada em regras de

    deciso booleanas.O SAT tem como base o sistema de Ramalho Filho e Beek (1995), com

    adaptaes para os solos e usos da regio da Amaznia, e fundamentado em regras

    de deciso para avaliar graus de limitao quanto deficincia de fertilidade,

    deficincia de gua, deficincia de oxignio, suscetibilidade eroso e

    impedimentos mecanizao (NBREGA, 2009). Neste modelo, os atributos

    edficos de obteno mais difcil em laboratrio, como a erodibilidade do solo e

    capacidade de campo, necessrios na anlise so quantificados por equaes de

    pedotransferncia.

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    Souza (2009) utilizou o SAT para identificar o melhor tipo de uso da terra em

    pequenas propriedades no estado do Acre e Rondnia, identificando que as classes

    de relevo e as condies edficas so muito variveis em pequenas distncias no

    ambiente estudado, concluindo que o uso do software possibilitou uma melhor

    avaliao em nvel de grande escala.

    Para Couto (2010) o uso do SAT na avaliao da potencialidade das terras do

    Projeto de Reflorestamento Econmico Consorciado e Adensado (RECA) em

    Rondnia, possibilitou a identificao de algumas inconsistncias nos resultados das

    avaliaes para diferentes classes de solo estudados, principalmente na avaliao

    do fator deficincia de fertilidade. Segundo este mesmo autor, alguns atributos dos

    solos (V%, m e valor T) levaram a determinao de graus de limitao mais fortes doque seria obtido quando se analisa o teor dos nutrientes isoladamente.

    2.4 Aptido Agrcola das Terras do Estado do Acre

    No estado do Acre de uma maneira geral observa-se solos de elevadafertilidade natural, estes so oriundos de argilitos siltcos e siltitos argilosos

    carbonatados que imprimem ao solo baixa permeabilidade e ms condies fsicas,

    causada pela presena de argilas 2:1. Verifica-se tambm solos de baixa fertilidade

    natural, estes ocorrem na regio leste do estado e so derivados prioritariamente de

    arenitos finos, entretanto apresentando boa permeabilidade e boas condies fsicas

    (BRASIL, 1976).

    Alguns solos apresentam elevados teores de alumnio e conforme mostradopor Gama e Kiehl (1999) esse elemento no confere fitotoxidade s plantas em

    razo do mesmo estar associado alta relao Ca/Al e tambm complexao com

    nions.

    Vrios trabalhos j foram realizados visando interpretar a potencialidade do uso

    das terras acreanas. Dentre esses trabalhos Amaral (2007) avaliando solos da rea

    do municpio de Rio Branco para aptido agroflorestal identificou restries ao uso

    da terra decorrentes da baixa fertilidade natural em 51% da rea avaliada,

    deficincia hdrica moderada decorrente do gradiente textural e da drenagem

    moderada. O autor destaca que o carter plntico, a alta erodibilidade e condies de

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    relevo restringem o uso da terra, sendo esses fatores mais expressivos no setor

    oeste da regio em detrimento do leste.

    Amaral (2003) destaca que as terras da bacia do rio Acre apresentam

    limitaes ao uso agrcola distintas das reas da bacia do rio Iaco, tendo a bacia do

    rio Acre predominncia de Latossolos, Plintossolos e Argissolos de baixa fertilidade

    natural, porm profundos, bem drenados e em relevo mais plano, apresentando

    maior potencial para o uso intensivo do solo. J para a bacia do rio Iaco, h

    predominncia de Vertissolos, Cambissolos, Luvissolos e Argissolos com elevada

    fertilidade natural, atribuda predominncia de argilas 2:1. Em contrapartida estes

    solos situam-se em relevo mais declivoso conjugado a solos de drenagem restrita,

    associados a elevados teores de silte nos horizontes subsuperficiais e superficias,limitando prticas de mecanizao.

    Nas reas com predominncia de argilas 2:1 h grande ocorrncia de

    fendilhamentos, tendo Arajo (2008) observado que a elevada propriedade de

    expanso dessas argilas a principal causa desse fenmeno no solo . Este mesmo

    autor destaca que a baixa profundidade do solum aliada atividade de argila, o

    carter abrptico e o relevo movimentado tornam esses solos mais suscetveis

    eroso, taxa reduzida de armazenamento de gua e/ou encharcamento acelerado.Em ambientes com predominncia de Argissolos na microbacia do Igarap

    Xiburema Bardales (2009) ressalta que essas reas necessitam de manejo

    adequado devido alta suscetibilidade desses solos eroso, identificando que

    metade da regio apresenta aptido para implantao de sistemas agroflorestais e

    21,5% para cultivos perenes, ou seja, sistemas de cultivo de uso menos intensivo do

    solo. Assim observa-se no estado do Acre regies com limitaes ao uso agrcola de

    ordem fsica e outras regies com restries de ordem qumica

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    3 CAPTULO I

    USO DE SOFTWARE NA AVALIAO DA APTIDO AGRCOLA DAS TERRAS:

    PROJETO DE ASSENTAMENTO FAVO DE MEL, SENA MADUREIRA-AC

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    RESUMO

    Sistemas de avaliao da aptido agrcola das terras so instrumentos importantesna elaborao de zoneamentos ecolgicos, planejamentos e readequao do uso da

    terra, apesar de exigirem grande volume de recursos, nem sempre so aplicveis

    em grande escala. Visando minimizar esse empecilho, uma das tendncias o

    desenvolvimento de softwares baseados em indicadores de fcil obteno e

    aplicvel a diversas escalas, tanto no nvel local como regional. Assim, o objetivo

    deste trabalho foi comparar a metodologia do Sistema de Avaliao da Aptido

    Agrcola das Terras com a avaliao realizada por um software, testando seudesempenho na interpretao do potencial de uso da terra de um projeto de

    assentamento agrcola em Sena Madureira, estado do Acre. Os indicadores

    requeridos pelo novo sistema foram obtidos de estudos de levantamento solos,

    sendo as classificaes obtidas por cada um dos sistemas comparadas quanto

    indicao da classe de aptido agrcola em cada ambiente avaliado. O sistema

    especialista, mesmo adotando critrios distintos principalmente quanto a definio

    de nvel tecnolgico e de sistemas de uso da terra, apresentou algumas

    semelhanas com o sistema convencional, propiciando ainda uma anlise mais

    detalhada dos fatores de limitao de uso da terra, refletindo maiores variaes nos

    graus de limitao mesmo para solos pertencentes mesma ordem e subordem.

    Palavras-chave: Potencial de uso da terra. Reordenamento ambiental. Amaznia.

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    ABSTRACT

    Land suitability framework are important tools in developing ecological zoning,

    planning and land use re-ordination, however requiring large amounts of resources,

    not always widely available in large scale. To minimize this limitation, has been

    developed software based on easily accessible indicators and applicable to large

    scales, in farm level. The objective of this study was to compare a conventional

    methodology of land suitability with a software evaluation, testing their performance

    for interpretation soil use capacity in one rural settlement in Sena Madureira,

    Acre. The indicators required by the new system were obtained from soil survey, andthe marks obtained by each system compared as an indication of the class of

    agricultural suitability in each environment evaluated. The expert system, even

    adopting different criteria for the definition of technological systems and land use,

    showed some similarities with the conventional system, offer detailed analysis of the

    limiting factors of land use, showing larger changes in degrees of limitation even for

    soils inside the same soil classes.

    Keywords: Potential land use. Environment re-ordination. Amazon.

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    3.1 INTRODUO

    A utilizao de sistemas de avaliao do potencial de uso da terra em

    zoneamentos agrcolas constitui importante instrumento no planejamento e

    ordenamento da terra visando o uso sustentvel. Dentre as metodologias utilizadas

    no Brasil destacam-se o Sistema de Avaliao da Aptido Agrcola das Terras

    (SAAAT) (RAMALHO FILHO; BEEK, 1995), utilizada na maior parte dos estados da

    federao e o Sistema de Capacidade de Uso da Terra - SCU (LEPSCH, 1991),

    adotada principalmente na sudeste do Brasil.

    O SAAAT tambm utilizado em conjunto com levantamentos pedolgicos, emnvel de mdia a pequena escala (1:50.000 ou menor). Mesmo quando utilizado em

    escalas pequenas com base em imagens de satlites, muitas vezes, os indicadores

    adotados so extremamente simplificados, como se observa nos trabalhos de

    Amaral et al. (2000) e de Wadt et al. (2004), podendo resultar em inconsistncias

    entre ambientes distintos. Ainda o uso da metodologia nvel de pequenas

    propriedades rurais torna-se inapropriado devido aos elevados custos envolvidos

    nesse processo, dada a necessidade de dados provenientes de levantamentopedolgico, que demandam equipe altamente especializada.

    O aprimoramento dos sistemas de avaliao do potencial agrcola das terras

    tem sido proposto por vrios autores, como por exemplo, Pereira e Lombardi Neto

    (2004) que estudando o potencial de uso das terras de uma quadrcula no estado de

    So Paulo, propuseram a parametrizao de vrios indicadores e ajustes nos

    atributos do SAAAT com o intuito de adequ-la a avaliaes em levantamentos

    semidetalhados.Chagas et al. (2006) adaptaram metodologia de avaliao das potencialidades

    dos solos para o cultivo de gros no Oeste de Santa Catarina; Schneider et al.

    (2007) por sua vez propuseram uma metodologia para utilizao de indicadores de

    fcil obteno, fundamentada em bases cartogrficas e quadro guias, para avaliar as

    potencialidades das terras em escala de propriedade rural ou de microbacia

    hidrogrfica. A mesma tendncia em se adotar indicadores baseados em

    propriedades dos solos tem sido observada na construo de mapas digitais de

    abrangncia mundial (GLOBAL SOIL MAP, 2010).

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    As modificaes sugeridas nas metodologias tendem pela incluso de novos

    indicadores e dos respectivos parmetros diagnsticos, visando diminuir a

    dependncia de levantamentos de solos e adequar os critrios de interpretao s

    caractersticas edficas e fisiogrficas das diversas regies brasileiras. Por outro

    lado, outros autores como Fernandes Filho (1996) e Giboshi (1999) procuraram

    desenvolver sistemas especialistas que possam interpretar os dados obtidos de

    levantamento de solos.

    Todos esses sistemas apresentam em comum, o fato de no serem

    preparados para ser,aplicados a uma condio especfica, como por exemplo, uma

    determinada bacia hidrogrfica (SCHNEIDER et al., 2007), um determinado nvel

    tecnolgico (PEREIRA; LOMBARDI NETO, 2004) ou uma dada regio geogrfica(CHAGAS et al., 2006), de forma que as regras propostas somente se aplicam para

    as condies previamente estabelecidas nestes estudos.

    Outro ponto comum nestas proposies est na ausncia de uma reviso do

    sistema original no qual se basearam normalmente o SAAAT, de modo que sua

    aplicao fica restrita condio para a qual foram propostos. Isto favoreceu o

    surgimento de uma nova proposta para o SAAAT, consistindo na incluso de novos

    tipos de uso da terra e modificao da conceituao de nvel tecnolgico (WADT etal., 2009) como tambm novo escopo para os graus de limitao quanto

    fertilidade do solo, deficincia de gua, deficincia de oxignio, susceptibilidade

    eroso e impedimentos mecanizao (NBREGA et al., 2008a, b; SOUZA et al.,

    2008; WADT et al., 2008a, b).

    Assim, o objetivo deste trabalho foi comparar a metodologia do Sistema de

    Avaliao da Aptido Agrcola das Terras com a avaliao realizada por um

    software, testando seu desempenho na interpretao do potencial de uso da terra deum projeto de assentamento agrcola em Sena Madureira, estado do Acre.

    3.2 MATERIAL E MTODOS

    Visando proceder a validao do software foram utilizados dados de estudo

    prvio de levantamento de reconhecimento dos solos do projeto de assentamento

    Favo de Mel em Sena Madureira, AC, publicado por Amaral e Arajo Neto (1998). A

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    rea de estudo est contida nas coordenadas geogrficas de 90946,7S e

    683420,9W; 91633,2S e 682955W; 91928S e 683805We 91225,5 S e

    683612,7 W. A regio apresenta clima tropical chuvoso (grupo A) segundo a

    classificao de Kppen, com temperaturas mdias anuais variando de 22 C e 26

    C e precipitao pluviomtrica mdia de 2000 mm (AMARAL; ARAJO NETO,

    1998).

    A principal unidade geolgica da rea a Formao Solimes, caracterizada

    pela presena de solos extremamente arenosos extremamente argilosos sob

    vegetao de Floresta Tropical variando de densa e aberta com palmeiras e/ou

    bambus (SILVEIRA et al., 2008).

    Foram utilizados os dados dos perfis de solos descritos no trabalhocomparando-se a interpretao realizada pelo software com aquela realizada no

    trabalho original, portanto as informaes comparadas foram aquelas restritas ao

    local de descrio do perfil do solo, no sendo utilizada a paisagem da unidade de

    mapeamento.

    As informaes utilizadas foram: a caracterizao do local de abertura dos

    perfis de solos, a descrio morfolgica e a caracterizao fsica e qumica dos

    horizontes. Exclusivamente para fins de atualizao da classificao dos solos, osperfis foram reclassificados quanto a Ordem e Subordem conforme o Sistema

    Brasileiro de Classificao de Solos (EMBRAPA, 2006) (Quadro 1).

    Outras informaes necessrias e no existentes na publicao original foram:

    a densidade de partculas, que foi considerada para todos os solos o valor de 2,6

    dag dm-3, em razo desse ser o valor mdio da densidade dos principais minerais

    (filossilicatos e tectossilicatos) que constituem um solo mineral mdio (AMARO

    FILHO et al., 2008); teor de fsforo remanescente, considerado ser de 10 mg dm

    -3

    para solos com teor de argila maior que 350 g kg-1, de 20 mg dm-3 para solos com

    teor de argila entre 150 e 350 g kg-1 e de 30 mg dm-3 para solos com teor de argila

    menor que 150 g kg-1 e a declividade do local de ocorrncia do perfil, que no caso

    foi considerada a mediana da classe de relevo local.

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    QUADRO 1 - Correlao entre o Sistema Brasileiro de Classificao de Solos antigoe o sistema atual

    Perfil Publicao original SiBCS(EMBRAPA, 2006) Legenda

    Perfil 1 Podzlico Vermelho-Amarelo Argissolo Amarelo PA/P1Perfil 4 Podzlico Vermelho-Amarelo Argissolo Amarelo PA/P4Extra 4 Podzlico Vermelho-Amarelo Argissolo Amarelo PA/EX4Perfil 2 Podzlico Vermelho-Escuro Argissolo Vermelho PV/P2Perfil 5 Podzlico Vermelho-Escuro Argissolo Vermelho PV/P2Extra 1 Plintossolo Eutrfico Plintossolo Hplico FX/EX1Extra 2 Plintossolo Hplico Plintossolo Hplico FX/EX2Perfil 3 Plintossolo lico Plintossolo Argilvico FT/P3Extra 3 Glei Pouco Hmico Gleissolo Hplico GX/EX3

    Fonte: Adaptado de Amaral e Arajo Neto (1998).

    Para todas as unidades de paisagem, representadas cada uma por um perfilpedolgico foi considerado no haver risco de salinidade ou sodicidade j que estas

    so caractersticas tambm consideradas na avaliao pelo software.

    As informaes sobre a profundidade de restrio drenagem foram

    associadas aos horizontes com presena de cores mosqueadas ou variegadas ou a

    indicativos de cores acinzentadas, independente da composio do material do

    respectivo horizonte. Embora esta interpretao possa conduzir a erros, na regio

    de estudo a presena desta colorao est implicitamente associada a limitaes de

    drenagem.

    A profundidade do solo foi considerada ser de at um metro quando os

    horizontes foram descritos at esta profundidade ou abaixo desta, desde que no

    tenha sido relatado nenhum impedimento fsico nas camadas superiores. Por serem

    solos desenvolvidos sobre material sedimentar, a rochosidade e a pedregosidade

    foram consideradas ausentes em todas as unidades de paisagem.

    Para os demais dados requeridos pelo software, anlises qumicas (clcio,

    magnsio e alumnio trocveis, potssio e sdio disponvel, acidez potencial e

    carbono orgnico) e fsicas (teor de argila, areia e silte) foram calculadas as mdias

    ponderadas desses atributos a partir dos valores informados para cada horizonte,

    nas profundidades de 0 a 25 cm, 25 a 60 cm e de 60 a 100 cm (Tabela 1).

    Para o clculo da mdia ponderada, somou-se o produto do valor de cada

    propriedade do solo pela espessura do respectivo horizonte, dividindo-se pela

    espessura de cada uma das camadas (25 cm para a camada de 0 a 25 cm; 35 cm

    para a camada de 25 a 60 cm e, 40 cm para a camada de 60 a 100 cm) conforme

    exemplo abaixo:

  • 8/4/2019 Aptido Agricola em Solos da Amaznia

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    Para identificar a mdia ponderada equivalente a camada de 0-25 cm, utilizou-

    se para perfil com horizonte A de 0-15 cm e AB de 15-30 cm:

    Mdia ponderada = [15 x CahorA + (25 15) x CahorAB] / 25

    Onde: Ca horA = representa o valor de Ca no horizonte A; CahorAB = representa o

    valor de Ca no horizonte AB; 25 = representa a espessura da camada para qual est

    se determinando a mdia ponderada.

    Foram tambm obtidos outros indicadores de propriedades do solo por meio de

    equaes de pedotransferncia, como a capacidade de armazenamento de gua no

    perfil do solo, erodibilidade do solo, porcentagem do volume de poros ocupado por

    ar e a mudana textural (Tabela 2).

    Os indicadores foram interpretados por meio de decises booleanas aplicadassobre os dados primrios (informados pelo usurio) ou dados secundrios

    (calculados pelo sistema) utilizando-se a verso 1.01 do software (SATRA, 2010).

    TABELA 1-Atributos fsicos e qumicos dos perfis de solo do assentamento Favo deMel em Sena Madureira-AC

    Perfil Prof. Argila Areia Silte CO Ca Mg K Na Al Al+Hcm g kg-1 cmolc kg

    -1

    PA/P1 0-25 250 525 225 9,1 0,39 0,34 0,09 0,01 4,14 5,5625-60 480 370 150 3,0 0,50 0,18 0,04 0,01 5,48 5,9360-100 410 390 200 2,0 0,15 0,28 0,06 0,01 4,58 5,74

    PA/P4 0-25 144 674 182 6,4 0,00 0,10 0,07 0,00 2,00 5,0425-60 211 583 20 2,4 0,00 0,12 0,03 0,01 2,02 4,01

    60-100 289 332 379 1,0 0,00 0,21 0,02 0,00 2,61 4,44PA/Ex4 0-25 100 706 194 6,2 0,22 0,28 0,15 0,03 1,10 3,58

    25-60 250 610 119 2,7 0,04 0,40 0,04 0,01 1,78 3,6560-100 130 410 110 1,9 0,00 0,40 0,03 0,01 3,25 4,25

    PV/P2 0-25 243 522 224 0,4 3,23 1,04 0,15 0,02 0,61 2,9325-60 459 349 150 2,2 0,67 1,57 0,07 0,01 3,37 2,46

    60-100 410 390 200 1,4 0,12 0,75 0,08 0,01 3,75 5,90PV/P5 0-25 218 498 284 9,7 3,60 3,26 0,03 0,03 3,54 7,36

    25-60 288 435 276 2,7 2,15 3,66 0,02 0,02 8,72 11,4160-100 318 394 288 2,2 1,98 3,90 0,02 0,02 10,64 11,73

    FT/P3 0-25 312 460 228 5,5 2,63 1,67 0,17 0,05 6,62 15,2425-60

    60-100703713

    10033

    197252

    1,80,9

    2,102,73

    9,079,35

    0,260,27

    0,100,14

    25,9230,00

    52,7660,00

    FX/Ex1 0-25 176 118 706 9,8 9,50 2,32 0,03 0,42 0,22 1,6925-60 434 230 336 4,1 5,78 4,68 0,03 0,33 5,32 13,43

    60-100 405 215 380 2,1 3,85 6,85 0,05 0,22 11,05 23,61FX/Ex2 0-25 350 182 468 13,5 13,12 4,28 0,39 0,03 2,54 6,56

    25-60 613 53 335 4,9 1,88 4,42 0,31 0,03 19,15 39,5060-100 580 20 400 3,0 0,50 3,50 0,28 0,06 26,00 52,45

    GX/Ex3 0-25 394 131 475 10,1 8,60 4,00 0,03 0,37 0,78 4,25

    25-60 570 135 295 3,9 4,65 4,68 0,03 0,22 5,95 15,3060-100 250 525 225 4,6 3,55 5,20 0,04 0,21 7,75 18,78Fonte: Adaptado de Amaral e Arajo Neto (1998).

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    31

    A capacidade de armazenamento de gua no perfil do solo, tambm

    denominada de gua disponvel (AD) foi estimada pela diferena entre a gua retida

    na capacidade de campo (CC) e a gua retida no ponto de murcha permanente

    (PMP) as quais foram calculadas pelas equaes de pedotransferncia adaptadas

    de Arruda et al. (1987) por Pereira e Lombardi Neto (2004) e de Benites et al. (2007)

    conforme se segue:

    Ds = [1,56 (1,0005 x argila) (0,01 x C) + (0,0075 x SB)

    CC ={ 3,07439 + [0,629239 x (100 - areia)] + [ 0,00343813 x (100 - areia)2]}

    PMP = [398,889 x (100 - areia)]/[1308,09 + (100 - areia)]

    AD = {[(CC - PMP)/ 10] x p x Ds}

    As estimativas da AD, CC e o PMP foram determinadas para cada camada desolo (0 a 25, 25 a 60 e 60 a 100 cm) e depois calculadas para o perfil como um

    todo, considerando-se um aproveitamento parcial da gua armazenada em funo

    da camada de solo:

    AD = [ADc1 + (0,78ADc2) + (0,50 x ADc3)]

    Onde: Ds = densidade do solo (g dm-3), CC = gua armazenada da capacidade

    de campo (%), PMP = gua armazenada no ponto de murcha permanente (%), AD =

    gua armazenada no solo entre a capacidade de campo e o ponto de murchapermanente (mm); argila = partculas de tamanho argila na frao na terra fina seca

    ao ar (TFSA) (dag kg-1); areia = partculas de tamanho areia na TFSA (dag kg -1); C =

    teor de carbono orgnico do solo (cmolc kg-1); SB = soma de bases trocveis do solo

    (cmolc kg-1); p = espessura da camada do solo (cm); e AD c1, AD c2 e ADc3

    correspondem a quantidade de gua disponvel armazenada nas camadas de 0 a 25

    cm, de 25 a 60 cm e de 60 a 100 cm de profundidade.

    Outro indicador utilizado foi a erodibilidade dos solos (Ke), calculada conformeequao de Williams (ZHANG, 2008):

    Ke = {0,2 + 0,3 x exp [-0,0256 x areia x (1 silte)/100]} x [(silte/(argila+silte))0,3} x {1-

    (0,25 x C/(C+exp(3,72-2,95 x C)))} x {1-((0,7 x N)/ (N + exp(-5,51+22,9 x N)))}

    Onde, Ke a estimativa da erodibilidade do solo (t.h.MJ-1mm); N = fator de

    ajuste determinado pela expresso (1 (Areia/100)); areia, silte e argila

    correspondem as porcentagem dessas fraes na TFSA e C = teor de carbono (dag

    kg-1). Esta equao foi adotada por depender exclusivamente de propriedades do

    solo obtidas facilmente em anlises laboratoriais de rotina.

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    O percentual de volume de poros ocupados pelo ar (A) foi determinado pelas

    expresses:

    Vt = (1-Ds/Dp)

    A = [(Vt CC) x 100) / Vt]

    Onde: A = volume de poros ocupados por ar (%); Vt = porosidade total do solo

    (%), CC = volume de gua armazenado no solo (%); Ds = densidade do solo (g dm-3)

    e Dp = densidade das partculas do solo (g dm-3).

    A mudana textural foi calculada pela razo entre o teor de argila da camada

    intermediria (25-60 cm) e a camada superior (0-25 cm) pela expresso:

    MT = argila_I / argila_s

    Onde: MT = mudana textural, argila_I e argila_s, respectivamente teor deargila da TFSA nas camadas de 25 a 60 cm e de 0 a 25 cm (dag kg-1).

    TABELA 2 -Propriedades do solo estimadas pelo SAAAT-NP a partir de equaesde pedotransferncia para a classificao dos graus de limitao

    Profundidade

    Perfil0-25 cm 25-60 cm 60-100 cm

    D Ke AD A1 AD A2 AD A3 ADg GT

    PA/P1 3 0,23 37,91 47,27 52,12 42,7 56,64 40,15 10,89 1,56PA/P4 5 0,22 36,53 55,65 55,26 57,84 58,28 35,12 108,78 1,40PA/Ex4 5 0,23 35,51 58,23 53,15 51,83 63,60 46,46 108,77 2,50PV/P2 3 0,22 38,30 46,68 49,23 40,56 58,72 40,48 106,06 1,88PV/P5 3 0,25 39,52 43,57 56,08 38,48 62,56 36,91 114,55 1,27FX/Ex1 3 0,41 24,52 26,85 44,10 33,88 49,97 31,09 83,91 2,58FX/Ex2 3 0,31 27,74 32,57 21,16 38,44 19,94 37,87 54,23 1,74FT/P3 3 0,24 38,77 42,25 27,64 37,34 23,33 36,9 72,00 1,27GX/Ex3 3 0,36 25,05 31,12 33,84 31,26 37,09 36,65 70,00 1,46D: declividade (%); Ker: coeficiente de erodibilidade (t.h.MJ -1mm-1); A: volume de poros ocupados por ar (%); AD: guadisponvel (mm); ADg: gua disponvel geral (mm); GT: gradiente textural .

    Na classificao da aptido das terras em funo dos nveis de manejo ounveis tecnolgicos, adotou-se nova conceituao: para o nvel tecnolgico A (NT-A)

    foi considerado o manejo da terra baseado na adoo de prticas em agroecologia,

    de conhecimento cientfico ou com experincia emprica que indique sua adequao

    em termos de sustentabilidade do uso da terra, associada a baixa dependncia de

    utilizao de insumos externos e o mximo de aproveitamento de recursos internos

    propriedade.

    Para o nvel tecnolgico B (NT-B) foi considerado a adoo de prticas de

    manejo voltadas para a maximizao do uso da terra, com uso de tcnicas

    agroecolgicas ou convencionais que permitam o uso intensivo dos recursos

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    edficos e utilizao de insumos modernos que possibilitem maximizar a

    produtividade; neste nvel de manejo a mecanizao quando presente ser de baixa

    intensidade de uso e restrita a prticas no voltadas ao manejo do solo.

    O nvel tecnolgico C (NT-C), por sua vez foi considerado a adoo de prticas

    de manejo que visam otimizar a lucratividade do uso da terra, com intensa utilizao

    de insumos dependentes de capital (fertilizantes, sementes melhoradas) e

    dependentes de escala mecanizao agrcola, por exemplo). O NT-C corresponde

    ao nvel de manejo preconizado pelo sistema de Capacidade de Uso da Terra; o NT-

    B corresponde a uma agricultura contempornea, baseada no uso intensivo de

    insumos, porm sem a aplicao da mecanizao para otimizar a lucratividade da

    terra e o NT-A corresponde a agricultura agroecolgica contempornea.Nesta nova conceituao, em qualquer um dos nveis tecnolgicos entende-se

    que h a utilizao de conhecimento emprico (assimilado por tradio, experincias

    causais, ingnuas ou no) e cientfico (assimilado por sistema de proposies

    rigorosamente demonstradas, por meio de pesquisa, anlise e sntese, de maneira

    que as afirmaes que no podem ser comprovadas so descartadas do mbito da

    cincia).

    Abandona-se, portanto, a conceituao anterior de que o NT-A seria umaagricultura primitiva (tcnica e culturalmente), o NT-C a agricultura avanada

    (tambm tcnica e culturalmente) e o NT-B, a agricultura de nvel intermedirio entre

    estes dois extremos, assumindo-se que os diferentes nveis tecnolgicos refletem

    vises e alternativas de uso da terra com base em princpios e conhecimento que

    possibilitam o uso sustentvel da paisagem, refletindo, todavia, diferenas quanto

    origem e intensidade de uso de insumos.

    Nesta nova conceituao a correo da acidez do solo com aplicao decalcrios por exemplo, uma tcnica associada ao NT-C, e eventualmente ao NT-B

    caso no exija mecanizao intensiva, de forma que nestes nveis tecnolgicos a

    acidez do solo no deve ser considerada como um fator de limitao de uso da terra.

    Esta conceituao implica em uma reviso dos fatores relacionados aos graus

    de limitao para o uso da terra (deficincia de fertilidade do solo, deficincia de

    gua, deficincia de oxignio, susceptibilidade eroso e impedimentos

    mecanizao).

    Nesta reviso, os cinco fatores de limitao foram classificados sempre em

    cinco nveis (nulo, ligeiro, moderado, forte e muito forte) associado agora a um

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    numeral indicativo ao processo funcional do solo afetado pela limitao identificada

    (por exemplo, salinidade, acidez do solo) e no mais como indicativo da viabilidade

    de correo da limitao, como ocorre no mtodo original de Ramalho Filho e Beek

    (1995).

    Para todos os fatores de limitao acima relacionados, o grau nulo e ligeiro

    refere-se ausncia de limitaes que no possam ser superadas facilmente dentro

    do respectivo nvel tecnolgico, por exemplo, baixo estoque de nutrientes no NT-C

    no consiste em limitao de mesmo grau comparativamente ao NT-A, j que no

    primeiro o uso de fertilizantes minerais faz parte da conceituao do prprio sistema,

    enquanto que no segundo caso a dependncia pela fertilidade natural muito maior,

    sendo a diferena entre o grau nulo e ligeiro apenas a reduo da produtividadeesperada para a terra quando as limitaes forem de grau ligeiro.

    Para o grau moderado a limitao j ser maior, exigindo maior investimento e

    reduo da intensidade de uso da terra para que o sistema de produo possa ser

    considerado vivel, por sua vez nos graus de limitao forte e muito forte, as

    limitaes ocorrem com intensidade que somente a reduo da intensidade de uso

    da terra com sistemas conservacionistas pode ser possvel. Nestes graus deve-se

    considerar que o uso da terra com sistemas de produo intensivos pode resultarem grave processo de degradao de sua capacidade produtiva.

    A conceituao detalhada dos diferentes graus de limitao adotados neste

    trabalho esto de acordo com critrios descritos detalhadamente para deficincia de

    fertilidade (NBREGA et al., 2008a), deficincia de gua (NBREGA et al., 2008b),

    deficincia de oxignio (SOUZA et al., 2008), susceptibilidade eroso (WADT et

    al., 2008a) e impedimentos mecanizao (WADT et al., 2008b).

    As excees foram na determinao da atividade de argila que h o descontoda capacidade de troca catinica do solo (CTC) o valor de 4,5 cmolc kg

    -1 para cada

    1% de matria orgnica do solo e o limite de declividade para reas planas foi

    alterado de menor que 3% para menor que 4%, e se a rea tiver em uma posio de

    vrzea a susceptibilidade eroso ser considerada nula independente do

    coeficiente de erodibilidade.

    Tambm foi feita a correo para as unidades calculadas pela equao de

    pedotransferncia para a determinao do coeficiente de erodibilidade, cujos

    intervalos foram corrigidos para a faixa de 0,0 a 0,4 t h MJ -1 mm-1.

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    Quanto ao uso da terra foram considerados os seguintes tipos principais de uso

    possveis:

    a) Culturas anuais: espcies agrcolas com um ciclo vegetativo de curta

    durao (at um ano e meio) e rpido crescimento, representando a condio de

    uso mais intensivo do solo. Neste sistema de uso da terra h necessidade de novas

    operaes de cultivo a cada ciclo produtivo, sendo exemplo tpico o cultivo de

    cereais e exemplos marginais, o cultivo de cana-de-acar e de culturas bianuais,

    como a mandioca. Adotou-se a notao A, B e C para este tipo de uso da terra,

    respectivamente para os NT-A, NT-B e NT-C;

    b) Culturas perenes: espcies agrcolas com mais de um ciclo vegetativo que

    fazem uso do solo com alta intensidade, porm com reduo na frequncia deoperaes de preparo do solo e de plantio e na intensidade de exposio da terra

    aos processos erosivos. So exemplos tpicos a cafeicultura e citricultura e exemplos

    marginais as capineiras. O componente arbreo quando presente no est

    associado a outras espcies cultivadas e possui ciclo de colheita de no mximo um

    ano e meio (espcies frutferas arbreas em geral). Adotou-se a notao D, E e F

    para este tipo de uso da terra, respectivamente para os NT-A, NT-B e NT-C;

    c) Sistemas agroflorestais: consrcio de culturas arbreas com outras espciesagrcolas. Representam o uso de solo de mdia intensidade porm, com maior

    plasticidade quanto a exigncias edficas. O ciclo de colheita ocorre com frequncia

    de no mximo um ano e meio, o aproveitamento da fertilidade do solo e da

    disponibilidade hdrica melhorado e h menor exposio aos processos erosivos,

    exceo do perodo de implantao do sistema. Para o uso de plantios anuais em

    mais de 50% da rea da gleba, o sistema deve ser considerado como mais intensivo

    (anuais ou perenes). Adotou-se a notao G, H e I para este tipo de uso da terra,respectivamente para os NT-A, NT-B e NT-C;

    d) Pastagens e silvipastoris: utilizao do solo com sistemas de mdia

    intensidade de uso, com manuteno da vegetao ou cobertura do solo de forma

    permanente (durante todo o ano), sendo cultivados com gramneas e leguminosas

    em sistema de produo com baixa exportao de nutrientes dedicados ao pastoreio

    direto. O componente arbreo quando presente, representa menos de 20% da rea

    de cobertura do solo. Adotou-se a notao J, K e L para este tipo de uso da terra,

    respectivamente para os NT-A, NT-B e NT-C;

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    a) Classe Boa: terras onde no haja limitao que cause diminuio do seu

    potencial de uso em relao a sua viabilidade agrcola e a viabilidade biolgica. Esta

    classe representada pela notao grafada em letras maisculas;

    b) Classe Regular: quando houver fatores de limitao que causem restrio ao

    uso da terra, diminuindo sua viabilidade agrcola, porm, sem comprometer a

    viabilidade biolgica. Esta classe representada pela notao grafada em letras

    minsculas;

    c) Classe Restrita: quando houver fatores de limitao que causem restrio ao

    uso da terra, diminuindo a viabilidade biolgica. Esta classe representada pela

    notao grafada em letras minsculas entre parnteses; e

    e) Classe Inapta: quando houver fatores de limitao que causem inviabilizaoeconmica da explorao agrcola pela elevada exigncia de insumos ou promova

    de forma irreversvel a degradao da capacidade produtiva da terra. Esta classe de

    aptido representada pela palavra 'inapta'.

    A classificao da aptido das terras, obtida pelo sistema informatizado e

    construdo com base nas conceituaes e critrios acima descritos, foi comparada

    com a classificao realizada no trabalho original, a qual foi feita conforme o Sistema

    de Avaliao da Aptido Agrcola das Terras - SAAAT (RAMALHO FILHO; BEEK,1995). Utilizou-se a mesma classificao do trabalho original, para evitar qualquer

    possibilidade de tendenciosidade na interpretao.

    3.3 RESULTADOS E DISCUSSO

    Na classificao da aptido agrcola das terras pelo sistema convencional -

    SAAAT, os trs perfis de Argissolos Amarelos (PA/P1, PA/P4 e PA/Ex4) foram

    classificados como de Aptido Restrita para Pastagens Naturais (Quadro 2).

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    QUADRO 2 -Comparativo das classificaes da aptido agrcola das terras realizadaspelo sistema convencional e pelo sistema especialista

    Classe de

    solo

    SAAAT 1 Consideraes SEAAAT 2 Consideraes

    PA/P1 5(n): restritapara pastagemnatural.

    Apesar do relevo serbastante limitante, estaclasse apresenta a altatoxidez de alumnio e obaixo contedo denutrientes como fatorpredominantementelimitante.

    JKC: boa parapastagens esilvipastoris nos NT-Ae NT-B, e boa paraculturas anuais no NT-C.

    Grau de limitao fortepara deficincia defertilidade (F3) e ligeiropara susceptibilidade eroso (L1).

    PA/P4 5(n): restritapara pastagemnatural.

    Idem acima. PKO: boa paraextrativismo no NT-A,boa para pastagens esilvipastoris no NT-B e

    boa para silvicultura noNT-C.

    Graus de limitaomuito forte paradeficincia de fertilidade(MF3), ligeiro para

    deficincia de oxignio(L) e moderado parasusceptibilidade eroso (M1).

    PA/Ex4 5(n): restritapara pastagemnatural.

    Idem acima. PKO: boa paraextrativismo no NT-A,boa para pastagens esilvipastoris no NT-B eboa para silvicultura noNT-C.

    Grau de limitao muitoforte para deficincia defertilidade (MF3) emoderado parasuscetibilidade eroso(M1).

    PV/P2 2(a)bc: restritapara lavoura no

    manejoprimitivo,regular paralavoura nossistemas demanejotransicional eavanado.

    Devido associao estaclasse apresenta

    drenagem imperfeita comofator limitante.

    DBC: boa para perenesno NT-A e boa para

    culturas anuais nos NT-B e NT-C.

    Grau de limitao ligeiropara deficincia de

    fertilidade (L),deficincia de gua (L)e para susceptibilidade eroso (L1).

    PV/P5 5sn: restritapara silviculturae, ou,pastagemnatural.

    Idem acima. JEC: boa parapastagens esilvipastoris no NT-A,boa para culturasperenes no NT-B e boa

    para culturas anuais noNT-C.

    Grau de limitaomoderado paradeficincia de fertilidade(M) e ligeiro parasusceptibilidade

    eroso (L1).

    FX/Ex1 2(a)bc: restritapara lavoura nomanejoprimitivo,regular paralavoura nossistemas demanejotransicional eavanado.

    Deficincia de oxignio,devido drenagemimperfeita.

    DBL: boa para culturasperenes no NT-A, boapara culturas anuais noNT-B e boa parapastagens esilvipastoris no NT-C.

    Grau de limitao ligeiropara deficincia defertilidade (L),deficincia de gua (L)e deficincia deoxignio (L),suscetibilidade eroso(L1) e paraimpedimentos mecanizao (L1).

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    Classe desolo

    SAAAT 1 Consideraes SEAAAT 2 Consideraes

    FX/Ex2 2(a)bc: restritapara lavoura

    no manejoprimitivo,regular paralavoura nossistemas demanejotransicional eavanado.

    Idem acima. DEL: boa para culturasperenes nos NT-A e NT-

    B e boa para pastagense silvipastoris no NT-C.

    Grau de limitao ligeiropara deficincia de

    fertilidade (L) edeficincia de oxignio(L), e forte paraimpedimentos mecanizao (F1).

    FT/P3 3(abc): restritapara lavourano sistema demanejoprimitivo,

    transicional eavanado.

    Idem acima. PQ: boa paraextrativismo nos nveisNT-A e NT-B.

    Grau de limitaomoderada parafertilidade (M3), ligeiropara deficincia degua (L) e

    suscetibilidade eroso(L1), muito forte paradeficincia de oxignio(MF) e forte paraimpedimento mecanizao (F1).

    GX/Ex3 2ab: regularpara lavouranos sistemasde manejoprimitivo etransicional.

    O fator limitante para estaclasse a deficincia deoxignio.

    DEL: boa paraculturas perenes nosNT-A e NT-B e boapara pastagens esilvipastoris no NT-C.

    Grau de limitao ligeiropara deficincia defertilidade (L) edeficincia de oxignio(L), e forte paraimpedimentos mecanizao (F1).

    (1)

    Sistema de Avaliao da Aptido Agrcola das Terras;

    (2)

    Sistema Especialista de Avaliao da Aptido Agrcola das Terras.

    Esta indicao do uso de pastagens naturais uma das principais

    inconsistncias do SAAAT, que quando aplicado em determinado bioma cuja

    vegetao natural no seja pastagens pode resultar em indicao ecologicamente

    inapropriada, alm disto do ponto de vista agrcola no faz sentido a indicao de

    um uso em funo de sua cobertura natural esta situao valeria inclusive para

    regies onde h ocorrncia de pastagens naturais. Por exemplo, a aptido para

    pastagens naturais indicada por Pedron et al. (2006) esteve sempre associada areas com aptido restrita a culturas anuais nos nveis tecnolgicos A ou B, sendo a

    indicao do uso de pastagens uma condio de uso da terra imposta pelas

    limitaes ao uso agrcola mais intenso, antes que uma situao inerente do tipo de

    cobertura vegetal do bioma avaliado.

    No trabalho original estes solos foram considerados com aptido restrita para

    pastagem natural devido apresentarem grau de limitao muito morte para

    deficincia de fertilidade, ou seja, foram solos mal providos de nutrientes e com

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    remotas possibilidades de serem utilizados com cultivos agrcolas (RAMALHO

    FILHO; BEEK, 1995).

    O sistema informatizado tambm indicou grau de limitao variando de forte a

    muito forte para deficincia de fertilidade, como tambm observado por Arajo et al.

    (2004) estudando a mesma ordem de solo no mesmo local desse trabalho. Contudo

    quando se considera o nvel tecnolgico C as limitaes existentes seriam passveis

    de correo, tornado possvel o uso mais intensivo do Argissolo Amarelo (perfil

    PA/P1).

    Destaca-se, entretanto que a adoo do nvel tecnolgico (A, B ou C) pode

    implicar em diferente interpretao da aptido agrcola das terras. A utilizao de

    mais de um nvel tecnolgico j vem sendo abandonada nos estudos de aptidoagrcola (FIORIO et al., 1999; GOMES et al., 2005) por ser o nvel primitivo,

    conforme conceituado por Ramalho Filho e Beek (1995) e inexistente em vrias

    regies do pas. Por outro lado na nova conceituao proposta o NT-A, entendido

    como uma agricultura de base agroecolgica, compatvel mesmo nas regies com

    agricultura mais desenvolvida e com exigncias para sua sustentabilidade distinta

    daquela do NT-B e, principalmente, do NT-C.

    O sistema informatizado indicou para o Argissolo Amarelo (PA/P1) aptido boapara culturas anuais no NT-C (Quadro 2). Analisando os indicadores obtidos para

    esse perfil, somente a deficincia de fertilidade foi limitante sendo este fator de

    pouca relevncia para o NT-C onde o uso de fertilizantes uma prerrogativa do

    sistema de uso da terra. Nos nveis tecnolgicos A e B, a indicao foi de aptido

    boa para pastagens e silvipastoris.

    Para os demais Argissolos foi indicada aptido boa para pastagens e

    silvipastoris no NT-B, boa para silvicultura no NT-C e boa para extrativismo no NT-A(Quadro 2) em funo da associao da limitao por deficincia de fertilidade e por

    suscetibilidade eroso.

    A indicao de aptido boa para pastagens distinta da indicao do uso para

    pastagens naturais. No caso presente a indicao de aptido boa para pastagens e

    silvipastoris decorre de limitaes de fertilidade do solo (NT-A) e susceptibilidade a

    eroso (NT-B), sem relao com a cobertura natural. Mesmo assim a regra proposta

    no sistema informatizado no est completamente satisfatria para os dois

    Argissolos Amarelos (PA/P4 e PA/Ex4) pois a classe de aptido no NT-C nestes dois

    perfis pode ter sido subestimada quanto a magnitude do grau de limitao quanto a

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    suscetibilidade eroso, uma vez que a declividade de 5% no limitante para

    cultivos de lavouras perenes neste nvel tecnolgico e o coeficiente de erodibilidade

    foram os menores entre os perfis avaliados (Figura 1).

    FIGURA 1 - Coeficiente de erodibilidade (Ke) da camada superficial, estimado porequao de pedotransferncia, para os nove perfis de solos avaliados:trs Argissolos Amarelos (PA/P4; PA/Ex4; PA/P1), dois ArgissolosVermelhos (PV/P2; PV/P5), Gleissolo Hplico (GX/Ex3) e PlintossolosHplicos (FX/Ex2; FX/Ex1) e Plintossolo Argilvico (FT/P3), em MJ mmha-1 h-1.

    Os dois sistemas tiveram respostas semelhantes com relao avaliao do

    grau de limitao quanto a suscetibilidade eroso, apesar do sistema

    informatizado considerar tambm a erodibilidade como um indicador de

    susceptibilidade eroso. A erodibilidade no tem sido considerada como um fator

    de avaliao do grau de susceptibilidade a eroso (CHAGAS et al., 2006; PEREIRA;

    LOMBARDI NETO, 2004) e para avaliaes de culturas agrcolas especficas, nem

    mesmo a susceptibilidade eroso tem sido considerada (ARAJO; ASSAD, 2001).

    Este indicador por ser derivado de uma equao de pedotransferncia pode diminuir

    o grau de preciso da deciso, porm acrescenta uma informao valiosa para a

    sustentabilidade do uso da terra.

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    Em um dos Argissolos Vermelhos (PV/P5) o SAAAT indicou aptido restrita

    para silvicultura e/ou pastagem natural atribudas ao relevo, toxicidade de alumnio e

    baixo estoque de nutrientes, enquanto o sistema informatizado indicou aptido de

    classe boa para pastagens e silvipastoris no NT-A, boa para culturas perenes no NT-

    B e boa para culturas anuais no NT-C, em decorrncia do perfil apresentar limitao

    moderada para deficincia de fertilidade. Alm disto altos teores de alumnio

    trocvel, associados a solos eutrficos ou com altos teores de bases trocveis em

    solos com presena de minerais 2:1 no so considerados indicadores adequados

    nestes ambientes (GAMA; KIEHL, 1999; WADT, 2002) e portanto, no podem ser

    considerados como limitao por deficincia de fertilidade.

    Poucos autores no adotam a deficincia de fertilidade como um critrio declassificao das terras. Rasheed e Venugopal (2009) avaliando a aptido de terras

    para cana-de-acar na ndia utilizaram apenas parmetros climticos e

    caractersticas fsicas do solo.

    A deficincia de fertilidade tem sido considerada na maioria dos trabalhos,

    embora adotando-se critrios distintos. Por exemplo, Chagas et al. (2006) utilizaram

    para avaliar a deficincia de fertilidade a CTC, a saturao por bases, a saturao por

    alumnio e a textura do solo. Gomes et al. (2005) utilizaram o critrio de solos decarter lico para fins de reflorestamento. Entretanto os autores utilizaram estes

    critrios de forma independentes com outras caractersticas do solo. Por exemplo, no

    distinguem o problema do carter lico ou da elevada saturao por alumnio em

    funo da mineralogia do solo, o que cria possibilidades de interpretaes

    equivocadas em ambientes singulares como os solos da formao Solimes

    (MARQUES et al., 2002).

    Para o segundo Argissolo Vermelho (PV/P2) sua aptido foi definida comorestrita para culturas no nvel NT-A e Regular para culturas nos NT-B e NT-C, dado

    que sua classificao morfolgica indicou a classe de drenagem mal drenada.

    O sistema informatizado no identificou problemas de drenagem neste solo,

    resultando em aptido boa para culturas perenes no NT-A e boa para culturas

    anuais nos NT-B e NT-C. Esta classificao foi resultante do grau de limitao ligeiro

    para suscetibilidade eroso em funo do coeficiente de erodibilidade ter se

    situado entre 0,1 a 0,3 MJ mm ha-1 h-1. A classe de drenagem mal drenado indicada

    no trabalho original no foi consistente com a ausncia de cores variegadas ou

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    mosqueadas e pela estimativa do volume de poros com ar no solo, associado ao

    relevo suave ondulado.

    Neste solo pelo sistema informatizado houve identificao de grau de limitao

    ligeiro para deficincia de gua, mesmo em regio com precipitaes anuais na

    ordem de 2000 mm anuais. Isto se explica pelo sistema informatizado considerar a

    estimativa da capacidade de armazenamento de gua solo como proposto por

    Pereira e Lombardi Neto (2004).

    A tendncia de se aprimorar os indicadores de disponibilidade hdrica tem sido

    constante na literatura, alguns autores utilizando dados histricos de precipitao

    para definir a disponibilidade hdrica (MARQUES; DANIEL, 2000) ou mesmo dados

    de balano climtico para culturas especficas (ARAJO; ASSAD, 2001). No caso daregio em estudo a ocorrncia de vegetao primria da tipologia Floresta Aberta

    com bambus tem sido associada a deficincia hdrica causada pela conjuno de

    solos pouco profundos, argilosos e com elevada atividade de argila (SILVEIRA et al.,

    2008).

    Para os Plintossolos o SAAAT indicou aptido variando de regular a restrita

    para lavouras, nos trs nveis tecnolgicos (Quadro 2). A drenagem foi considerada

    de grau imperfeita nos trs perfis analisados, o que se justifica pela formao dessessolos ser atribuda a expressiva plintizao implicando em condies de restrio

    percolao de gua e excesso de umidade (OLIVEIRA, 2008). Por outro lado, o

    software associou estes solos ao grau de limitao de ligeiro a muito forte quanto

    deficincia de oxignio, ligeiro a forte quanto a impedimentos mecanizao, ligeiro

    para susceptibilidade eroso e de ligeiro a moderado para deficincia de fertilidade

    do solo.

    Em dois perfis (FT/P3 e FX/Ex1) tambm foi encontrado grau de limitaoligeiro para deficincia de gua. Helsseln (1997) tambm avaliando a aptido de

    Plintossolos em um assentamento no estado do Rio Grande do Sul identificou

    restrio drenagem nessa ordem de solos, no entanto o mesmo autor utilizou uma

    metodologia adaptada a regio e baseada em levantamento detalhado dos solos da

    rea identificando a aptido a partir de quadro guia desenvolvidos de acordo com as

    peculiaridades da regio estudada.

    Este cenrio resultou em indicao de aptido boa para extrativismo no NT-A e

    NT-B para o FT/P3, cujo perfil apresentou grau de limitao forte no que tange a

    deficincia de oxignio e suscetibilidade eroso. Considerando que esse perfil

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    apresenta restrio a drenagem a partir dos 0,2 m de profundidade e sendo,

    portanto mal drenado, o software indicou grau de limitao muito forte, adequado as

    limitaes geralmente apresentadas por essa ordem de solo. No entanto a aptido

    no poderia ser classificada como boa para o extrativismo, j que apesar dessa

    atividade no resultar em intenso uso do solo e consistir da extrao de produtos

    oriundos de espcies nativas, a condio de rea muito mal drenada resulta em

    restries quanto trafegabilidade.

    Para o FX/Ex1 o sistema indicou aptido boa para culturas perenes no NT-A,

    boa para culturas anuais no NT-B, e boa para pastagens e silvipastoris no NT-C,

    apresentando apenas graus de limitao ligeiros. A deficincia de fertilidade de grau

    ligeiro esteve relacionada a alta atividade de argila somada ao eutrofismo e a altacapacidade de adsoro de fsforo que proporcionou a limitao, tornando a aptido

    regular para culturas anuais no NT-A, onde h baixo uso de insumos externos

    propriedade e para o NT-C a deficincia de oxignio limitou o uso da terra em razo

    do solo apresentar restrio drenagem a partir dos 0,6 m de profundidade.

    Para o FX/Ex2 o sistema identificou aptido boa para culturas perenes nos NT-

    A e NT-B e boa para pastagens e silvipastoris no NT-C. Ocorreu a indicao de grau

    de limitao forte para impedimentos mecanizao (Quadro 2) em decorrncia darestrio drenagem a partir dos 0,2 m de profundidade.

    O Gleissolo (GX/Ex3) quando avaliado pelo SAAAT apresentou aptido regular

    para lavouras nos sistemas de manejo primitivo e intermedirio, e sem aptido para

    o sistema de manejo avanado, tendo sido identificado como limitao a deficincia

    de oxignio. No sofware foi considerado como tendo aptido boa para culturas

    perenes no NT-A e NT-B e boa para pastagens no NT-C. O sistema informatizado

    identificou como grau de limitao ligeiro para fertilidade e deficincia de oxignio egrau forte para impedimentos mecanizao. Claramente falhou ao no identificar a

    maior restrio deficincia de oxignio (por serem estes solos sujeitos a alagao

    peridica).

    Para o GX/Ex3 o sistema indicou limitao forte para impedimentos

    mecanizao em decorrncia deste solo apresentar profundidade de restrio

    drenagem a partir dos 0,2 m implicando na necessidade de reviso das regras

    adotadas pelo sistema informatizado para avaliar de forma adequada solos desta

    ordem.

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    Streck (1992) avaliando Gleissolos em uma microbacia do estado do Rio

    Grande do Sul props uma metodologia tambm fundamentada em levantamentos

    de solos e inseriu parmetros de perdas de solo para os tipos de uso e as prticas

    conservacionistas recomendadas.

    Embora os dois sistemas testados no sejam completamente comparveis, por

    adotarem critrios distintos principalmente quanto definio de nvel tecnolgico e

    de sistemas de uso da terra, foi possvel constatar algumas semelhanas entre as

    interpretaes para o potencial de uso da terra obtido por cada um destes sistemas.

    Em geral, o software resultou em uma anlise mais detalhada refletindo

    maiores variaes nos graus de limitao mesmo para solos pertencentes mesma

    ordem e subordem. Por outro lado, o sistema informatizado mostrou-se incoerenteprincipalmente para a anlise do Gleissolo, sugerindo a necessidade de

    aprimoramento das regras de deciso. A constatao de grau forte para

    impedimentos mecanizao devido profundidade de restrio drenagem

    tambm pode estar sendo estimada de forma imprecisa.

    3.4 CONCLUSES

    A utilizao de um software baseado em indicadores de paisagem de fcil

    constatao como a declividade e a presena de rochosidade ou pedregosidade e

    nas propriedades fsicas e qumicas de solos determinadas diretamente ou por meio

    de equaes de pedotransferncia alcanou resultados at mesmo mais coerentes

    que o sistema convencional.O sistema especialista falhou na determinao do grau de deficincia de

    oxignio para solos com severas restries drenagem como no Gleissolo.

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