uso agricola solos brasileiro s

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Uso Agrícola dos Solos Brasileiros Celso Vainer Manzatto Elias de Freitas Junior José Roberto Rodrigues Peres

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Page 1: Uso Agricola Solos Brasileiro s

Uso Agrícola dos SolosBrasileiros

Celso Vainer ManzattoElias de Freitas Junior

José Roberto Rodrigues Peres

Page 2: Uso Agricola Solos Brasileiro s

Uso Agrícola dos SolosBrasileiros

Page 3: Uso Agricola Solos Brasileiro s

República Federativa do BrasilFernando Henrique Cardoso

Presidente

Ministério da Agricultura e do AbastecimentoMarcus Vinicius Pratini de Moraes

Ministro

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)

Conselho de Administração

Márcio Forte de AlmeidaPresidente

Alberto Duque PortugalVice-Presidente

Dietrich Gerhard QuastAlexandre Khalil Pires

Sérgio FaustoUrbano Campos Ribeiral

Membros

Diretoria-Executiva da Embrapa

Alberto Duque PortugalPresidente

Bonifácio Hideyuki NakasuJosé Roberto Rodrigues PeresDante Daniel Giacomelli Scolari

Diretores executivos

Embrapa Solos

Doracy Pessoa RamosChefe Geral

Celso Vainer ManzattoChefe-Adjunto de Pesquisa & Desenvolvimento

Paulo Augusto da EiraChefe-Adjunto de Apoio Técnico/Administração

Page 4: Uso Agricola Solos Brasileiro s

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária EmbrapaEmbrapa Solos

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

Editores Técnicos

Celso Vainer ManzattoElias de Freitas Junior

José Roberto Rodrigues Peres

Rio de Janeiro, RJ2002

Uso Agrícola dos SolosBrasileiros

Page 5: Uso Agricola Solos Brasileiro s

Exemplares desta publicação podem ser adquiridos na:

Embrapa SolosRua Jardim Botânico, 1.02422460-000 Rio de Janeiro, RJTel: (21) 2274-4999Fax: (21) 2274-5291E-mail: [email protected]: http://www.cnps.embrapa.br

Projeto gráfico e arte-final

Ingrafoto Reproduções em Fotolito Ltda

Capa

Paulo Maurício de Souza Magalhães

Tratamento editorial

Ingrafoto Reproduções em Fotolito Ltda

Revisão de Português

André Luiz da Silva Lopes

Revisão final

Claudia Regina Delaia

1a edição1a impressão (2002): tiragem 250 exemplares

Embrapa SolosCatalogação-na-publicação (CIP)

Manzatto, Celso Vainer

Uso agrícola dos solos brasileiros / Celso Vainer Manzatto; Elias de FreitasJunior; José Roberto Rodrigues Peres (ed.). – Rio de Janeiro: Embrapa Solos,2002.

174 p.

ISBN 85-85864-10-9

1. Solo brasileiro. 2. Uso agrícola – Solo brasileiro I. Freitas Junior, Elias de.II. Peres, José Roberto Rodrigues. III. Embrapa Solos (Rio de Janeiro).

CDD (21.ed.) 631.4

Copyright © 2002. Embrapa

Page 6: Uso Agricola Solos Brasileiro s

• Associação de Plantio Direto no Cerrado - APDC

• Instituto Agronômico de Campinas - IAC

• Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR

• Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA

• Universidade Federal de Lavras – UFLA

• Universidade Federal de Viçosa - UFV

• Embrapa Agropecuária Oeste

• Embrapa Amazônia Oriental

• Embrapa Clima Temperado

• Embrapa Florestas

• Embrapa Meio Ambiente

• Embrapa Sede/SEA – Secretária de Administração Estratégica

• Embrapa Semi-árido

• Embrapa Solos

• Embrapa Trigo

Instituições Parceiras

Page 7: Uso Agricola Solos Brasileiro s

Alberto Carlos de Campos BernardiEngenheiro Agrônomo, D.Sc. em Solos e Nutri-ção de Plantas, Pesquisador da Embrapa Solos,e-mail: [email protected]. Rua JardimBotânico, nº 1024, Rio de Janeiro, RJ, CEP:22460-000.

Antonio Ramalho FilhoEngenheiro Agrônomo, PhD em Estudo de So-los, Pesquisador da Embrapa Solos, e-mail:[email protected]. Rua Jardim Botâni-co, nº 1024, Rio de Janeiro, RJ, CEP: 22460-000.

Carlos Alberto FloresEngenheiro Agrônomo, M.Sc. Manejo do Solo,Pesquisador da Embrapa Clima Temperado, e-mail: [email protected]. Br 392, Km 78,Pelotas, RS, CEP: 96001-970.

Carlos Alberto SilvaEngenheiro Agrônomo, D.Sc. em Ciência do Solo,Professor da Universidade Federal de Lavras, e-mail: [email protected]. DCS/UFLA, Cx. Postal: 37,Lavras, MG, CEP: 37200-000.

Celso de Castro FilhoEngenheiro Agrônomo, PhD em Conservação deSolo, Pesquisador em Manejo e Conservação doSolo do Instituto Agronômico do Paraná – IAPAR,e-mail: [email protected]. Rod. Celso Garcia Cid,km 375, Londrina, PR, CEP: 86001-970.

Celso Vainer ManzattoEngenheiro Agrônomo, D.Sc. em Produção Ve-getal, Pesquisador da Embrapa Solos, e-mail:[email protected]. Rua Jardim Botâni-co, nº 1024, Rio de Janeiro, RJ, CEP: 22460-000.

Autores

Clayton CampanholaEngenheiro Agrônomo, PhD em Entomologia,Pesquisador da Embrapa Meio Ambiente,e-mail: [email protected]. Rod. Cam-pinas-Mogi Mirim, km 127,5, Bairro TanquinhoVelho, Jaguariúna, SP, CEP: 13820-000.

Elizabeth Presott FerrazBacharel em Estatística, Consultora Inter-na da Presidência do INCRA, e-mail:[email protected]. Ed. Palácio do Desen-volvimento, 18 andar, sala 1811 – SBN, Brasília,DF. CEP: 70o57-900.

Enio Fraga da SilvaEngenheiro Agrônomo, D.Sc. em Solos e Nutriçãode Plantas, Pesquisador da Embrapa Solos, e-mail:[email protected]. Rua Jardim Botânico, nº1024, Rio de Janeiro, RJ, CEP: 22460-000.

Fernando Falco PruskiEngenheiro Agrícola, Doutor em EngenhariaAgrícola – Recursos Hídricos e Ambientais, Pro-fessor Titular da Universidade Federal de Viçosa– UFV, Pesquisador Bolsista do CNPq do De-partamento de Engenharia Agrícola, e-mail:[email protected]. Av. P. H. Rolfs, s/nº, Viçosa, MG,CEP: 36571-000.

Fernando Luis Garagorry CassalesEconomista, PhD em Economia Agrícola,Pesquisador da Embrapa/SEA, e-mail:[email protected]. Parque Estação Bio-lógica – PqEB, Final Av. W/3 Norte, Cx. Postal:040315, Brasília, DF, CEP: 70770-901.

Page 8: Uso Agricola Solos Brasileiro s

Flávio Hugo Barreto Batista da SilvaEngenheiro Agrônomo, M.Sc. em EngenhariaAgrícola, Pesquisador da Embrapa Solos – UEPRecife, e-mail: [email protected]. RuaAntônio Falcão, 402 - Boa Viagem, Recife, PE,CEP: 51020-240.

Heloísa F. FilizolaPedóloga, D.Sc. em Ciências da Terra, Pesqui-sadora da Embrapa Meio Ambiente, e-mail:[email protected], Rodovia SP-340,Km 127,5, Tanquinho Velho, Jaguariúna, SP, CEP:13820-000.

Humberto Gonçalves dos SantosEngenheiro Agrônomo, D.Sc. em Ciência do Solo,Pesquisador da Embrapa Solos, e-mail:[email protected]. Rua Jardim Botâni-co, nº 1024, Rio de Janeiro, RJ, CEP: 22460-000.

Iêdo Bezerra SáEngenheiro Florestal, D.Sc. em Geoprocessa-mento/Sensoriamento Remoto, Pesquisador daEmbrapa Semi-Árido, [email protected], BR 428. km 152, Cai-xa Postal 23, Petrolina, PE, CEP 56.300-970.

Isabella Clerici De MariaEngenheira Agrônoma, Doutora em Agronomia- Solos e Nutrição de Plantas, Pesquisadora Ci-entífica em Manejo e Conservação do Solo doInstituto Agronômico, e-mail: [email protected],Caixa Postal 28, Campinas, SP, CEP: 13001-970.

John Nicolas LandersEngenheiro Agrônomo, Consultor e SecretárioExecutivo da Associação de Plantio Direto noCerrado – APDC, e-mail:[email protected]. SMDB, Conjunto 9,Lote 5, Brasília, DF. CEP: 71600-000.

José Eloir DenardinEngenheiro Agrônomo, Doutor em Solos e Nu-trição de Plantas, Pesquisador e Chefe Adjuntode Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Tri-go, e-mail: [email protected]. RodoviaBR 285, km 174, Caixa Postal 451, Passo Fun-do, RS, CEP 99001-970.

José Flávio DyniaEngenheiro Agrônomo, PhD Solos e Nutrição dePlantas, Pesquisador da Embrapa Meio Ambi-ente, e-mail: [email protected]. Rodo-via SP 340, km 127,5, Caixa Postal 69, Jaguari-úna, SP, CEP 13800-000.

José Maria Gusman FerrazBiólogo, D. Sc. em Ecologia, Pesquisadorda Embrapa Meio Ambiente, e-mail:[email protected]. Rodovia SP 340, Km127,5, Jaguariúna, SP, CEP: 13820.000.

Ladislau Araújo SkorupaEngenheiro Florestal, D.Sc. em Botânica, Pes-quisador da Embrapa Meio Ambiente, e-mail:[email protected]. Rod. Campinas/Mogi Mirim, km 127,5, Jaguariúna, SP, CEP:13820-000.

Luciano José de Oliveira AcciolyEngenheiro Agrônomo, D.Sc. em Sistema Geo-gráfico de Informação, Pesquisador da Embra-pa Solos, e-mail: [email protected] Antônio Falcão, 402 - Boa Viagem, Recife,PE, CEP: 51020-240.

Luís Carlos HernaniEngenheiro Agrônomo, Doutor em Agronomia –Solos e Nutrição de Plantas, Pesquisador daEmbrapa Agropecuária Oeste, e-mail:[email protected]. Rodovia BR 163, Km253,6, Caixa Postal 61, Dourados, MS, CEP:79804-970

Magda Aparecida de LimaEcóloga, Dra. em Geociências, Pesquisadorada Embrapa Meio Ambiente, e-mail:[email protected]. Rodovia SP-340,Km 127,5, Bairro Tanquinho Velho, Jaguariúna,SP, CEP: 13820-000.

Manoel Dornelas de SouzaEngenheiro Agrônomo, Doutor em Física deSolos, Pesquisador da Embrapa Meio Ambien-te, e-mail: [email protected]. CaixaPostal 69, Jaguariúna SP, CEP 13820-000.

Marco Antonio Ferreira GomesGeólogo, D.Sc. em Solos e Nutrição de Plantas,Pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, e-mail:[email protected]. Rod. SP 340, Km127,5, Cx. Postal 69, Jaguariúna, SP, CEP:13.820-000.

Maria Conceição Peres Young PessoaMatemática, D.Sc. em Automação, Pesquisado-ra da Embrapa Meio Ambiente, e-mail:[email protected]. Rodovia SP 340, Km127,5, Tanquinho Velho, Jaguariúna, SP, CEP:13820-000.

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Maria de Lourdes Mendonça Santos BrefinEngenheira Agrônoma, PhD em Ciência do Soloe Geomática, Pesquisadora da Embrapa Solos,e-mail: [email protected]. RuaJardim Botânico, nº 1024, Rio de Janeiro, RJ,CEP: 22460-000.

Mário Luiz Diamante AglioGeógrafo, M.Sc. em Cartografia Automatizada,Técnico Nível Superior da Embrapa Solos, e-mail:[email protected]. Rua Jardim Botânico,nº 1024, Rio de Janeiro, RJ, CEP: 22460-000.

Maurício Rizzato CoelhoEngenheiro Agrônomo, M.Sc. em Solos e Nutri-ção de Plantas, Pesquisador da Embrapa Solos,e-mail: [email protected]. Rua JardimBotânico, nº 1024, Rio de Janeiro, RJ, CEP:22460-000.

Paulo Choji KitamuraEngenheiro Agrônomo, Doutor em Economia,Pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, e-mail:[email protected]. Rod. SP 340 km127,5 km, Jaguariúna, SP, CEP 13 820-000.

Paulo de Tarso LoguercioEconomista, M.Sc. em Antropologia, Sociologiae Política, Assessor Parlamentar do INCRA, e-mail: [email protected]. Ed. Palácio do De-senvolvimento, 18 andar, sala 2105 – SBN, Bra-sília, DF. CEP: 70o57-900

Pedro Luiz de FreitasEngenheiro Agrônomo, PhD em Ciência do Solo,Pesquisador da Embrapa Solos, Colaborador Téc-nico e Diretor da Associação de Plantio Direto noCerrado, e-mail: [email protected]. RuaJardim Botânico, nº 1024, Rio de Janeiro, RJ, CEP:22460-000.

Pedro Luiz Oliveira de Almeida MachadoEngenheiro Agrônomo, Ph.D. em Solos e Nutri-ção de Plantas, Pesquisador da Embrapa Solos,e-mail: [email protected]. Rua JardimBotânico, nº 1024, Rio de Janeiro, RJ, CEP:22460-000.

Rainoldo Alberto KochhannEngenheiro Agrônomo, Doutor em Solos e Nu-trição de Plantas, Pesquisador da Embrapa Tri-go, e-mail: [email protected]. RodoviaBR 285, km 174, Caixa Postal 451, Passo Fun-do, RS, CEP 99001-970.

Ronaldo Pereira de Oliveira Engenheiro Eletrônico e Analista de Sistemas,Mestrado em Sistemas de Geoinformação,Pesquisador da Embrapa Solos, e-mail:[email protected]. Rua Jardim Botânico,nº 1024, Rio de Janeiro, RJ, CEP: 22460-000.

Sérgio AhrensEngenheiro Florestal, Doutor em Ciências Flo-restais, Pesquisador da Embrapa Florestas, e-mail: [email protected]. Estrada da Ri-beira, Km 111, Cx. Postal: 319, Colombo, PR.CEP: 83411-000.

Silvia Elizabeth de Castro Sampaio CardimBacharel em Administração, Gerente Estratégi-ca do INCRA, e-mail: [email protected], Ed.Palácio do Desenvolvimento, 18 andar, sala 2105– SBN, Brasília, DF. CEP: 70o57-900

Tatiana Deane de Abreu SáEngenheira Agrônoma, D.Sc. em Fisiologia Ve-getal, Pesquisadora da Embrapa Amazônia Ori-ental, e-mail: [email protected]. Trav. Dr.Enéas Pinheiro, s/nº, Marco, Belém, PA, CEP:66095-100.

Thomaz Correia e Castro da CostaEngenheiro Agrônomo, D.S. em Ciência Flores-tal, Pesquisador da Embrapa Solos, e-mail:[email protected]. Rua Jardim Botânico,nº 1024, Rio de Janeiro, RJ, CEP: 22460-000.

Valéria Sucena HammesEngenheira Agrônoma, D.Sc. em PlanejamentoAmbiental, Pesquisadora da Embrapa MeioAmbiente, e-mail: [email protected]. SP-340, km 127,5 - Tanquinho Velho, Ja-guariuna, SP, CEP: 13820-000.

Wagner BettiolEngenheiro Agrônomo, D.Sc. em Fitopatologia,Pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, e-mail:[email protected]. Caixa Postal 69,Jaguariúna, SP, CEP: 13820-000.

Page 10: Uso Agricola Solos Brasileiro s

Apresentação

Este livro relata a evolução da agropecuária brasileira ao longo das últimas três décadas, comfoco principal no uso das terras. São relatos de vários pesquisadores das áreas de ciência do solo,da sociologia e da economia, fundamentais para o entendimento de como e onde as terras foramocupadas e os resultados dessa ocupação, do ponto de vista econômico, social e ambiental. Retrataclaramente o desperdício dos recursos naturais ocorridos pelo mau uso das terras, levando a repen-sar esta ocupação como forma de se evitar os erros do passado. O que se pretende com estedocumento não é mudar a historia, mas chamar a atenção para o papel fundamental dos solos e deseu uso adequado para a sustentabilidade da agropecuária que constitui hoje a base deste formidá-vel complexo agroindustrial gerador de divisas, com o qual pode contar o Brasil de hoje. Como bemdiz Roberto Rodrigues na apresentação do livro “Agribusiness Brasileiro — A História” — editadopela ABAG, a agricultura hoje se faz com muita pesquisa, muito trabalho e com uso intensivo dastecnologias modernas. Por isto ela é responsável pelo superávit brasileiro, mas requer atenção redo-brada quanto aos seus efeitos sobre os recursos naturais pelo uso inapropriado das terras, pelamecanização intensiva, uso abusivo de fertilizantes e defensivos.

Ao final dos diagnósticos realizados, pode-se concluir através de cenários que são evidenteshoje, e que requerem medidas urgentes dos tomadores de decisão para manutenção ou aumento doatual status da agropecuária brasileira. O primeiro deles mostra que embora nestas três décadas oincremento do conhecimento e desenvolvimento tecnológico tenha sido relevante, aumentando con-sideravelmente a produtividade da maioria das culturas, não foi suficiente para evitar o crescimentoda área agrícola, que cresceu em mais de 28%, e onde exerce atualmente grande pressão paranovas ocupações. O segundo cenário aponta para a necessidade de um grande esforço político derecuperação e reintegração ao processo produtivo das chamadas terras velhas, que foram degrada-das pelo mau e indevido uso. Chama-se este esforço de político, pois conhecimentos e tecnologiasão já disponíveis para esta recuperação. O terceiro cenário aponta para a necessidade do apoiopermanente à pesquisa de geração de conhecimentos e a transferência de tecnologias junto a gran-de maioria dos pequenos e médios produtores, que não utilizando as tecnologias disponíveis deixamde contribuir para o necessário aumento da produtividade. O quarto cenário está relacionado aomelhor planejamento de uso das terras brasileiras, que necessita estar baseado nos Zoneamentosagrícola e ecológico-econômico, que conjugam as informações relativas à potencialidade das terras,com as necessidades de controle dos riscos de produção e ambientais, tornando-se ferramentasessenciais aos processos de crédito e seguro agrícola.

José Roberto Rodrigues PeresDiretor-Executivo, Embrapa

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Sumário

Introdução, XXI

Capitulo 1 O Recurso Natural Solo, 1

Capítulo 2 O Potencial de Uso e o Uso Atual das Terras, 13

Capítulo 3 O Domínio do Uso do Solo, 23

Capítulo 4 Aspectos Gerais da Dinâmica de Uso da Terra, 31

Capítulo 5 A Erosão e Seu Impacto, 47

Capítulo 6 Fertilidade do Solo e Demanda por Nutrientes no Brasil, 61

Capítulo 7 Contaminação dos Solos em Áreas Agrícolas, 79

Capítulo 8 Utilização de Resíduos Urbanos e Industriais, 87

Capítulo 9 Outras Formas de Degradação do Solo, 93

Capítulo 10 Valores e Conscientização da Sociedade, 105

Capítulo 11 Legislação e Programas Nacionais, 121

Capítulo 12 Compromissos Internacionais: Convenção sobre Diversidade Biológica, 135

Capítulo 13 Compromissos Internacionais: Convenções-Quadro das Nações Unidas sobreMudança do Clima (UNFCCC) e sobre o Combate à Desertificação (UNCCD), 145

Capítulo 14 Uma resposta conservacionista – O impacto do Sistema Plantio Direto, 151

Capítulo 15 Cenários sobre a adoção de práticas conservacionistas baseadas no plantio diretoe seus reflexos na produção agrícola e na expansão do uso da terra, 163

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CAPITULO 1Tabela 1 Extensão e distribuição dos solos

no Brasil, 1Tabela 2 Extensão e distribuição percentual

das classes de suscetibilidadenatural dos solos à erosão, 10

CAPÍTULO 2Tabela 1 Aptidão das terras do Brasil por

região e por nível de manejo paraos diferentes tipos de usosindicados, 14

Tabela 2 Uso Atual das Terras do Brasil, 16Tabela 3 Variáveis e Indicadores de Uso da

Terra, 18Tabela 4 Intensidade de uso agrosilvipatoril

das terras municipais por Regiõesno Brasil, 19

Tabela 5 Indicadores da Irrigação noBrasil, 20

CAPÍTULO 3Tabela 1 Brasil – Estabelecimentos, área,

valor bruto da produção (VBP) efinanciamento total (FT), 25

Tabela 2 Agricultores familiares –Estabelecimentos, área, VBP efinanciamento total segundo asregiões, 26

Tabela 3 Variação do número de imóveis e daárea, segundo o Brasil e grandesregiões (92/98), 27

Tabela 4 Brasil – Estabelecimentos, área,valor bruto da produção (VBP) efinanciamento total (FT), 28

Tabela 5 Agricultores familiares –Estabelecimentos, área, VBP efinanciamento total segundo asregiões, 29

Lista de Tabelas

CAPÍTULO 4Tabela 1 Variação percentual nas áreas

totais utilizadas, de 1970 para1995, para o país e porregião, 31

Tabela 2 Estruturas de uso da terra(em %), nos anos de 1970 e1995, para o país e porregião, 32

Tabela 3 Distribuição do número demicrorregiões, por quartil, eíndice de concentração deTheil, 34

Tabela 4 Tabela de contingência para apresença de microrregiões emdois anos, 35

Tabela 5 Freqüência da presença demicrorregiões nos anos de 1976 e1998, por grupo de contribuição, emedidas de persistência edistância, 36

Tabela 6 Contribuição percentual da partepersistente, no nível de 75%, em1976 e 1998, com respeito aovolume total em cada ano, 37

Tabela 7 Freqüência da presença demicrorregiões nos anos de 1976 e1998, por faixa de contribuição,medidas de persistência edistância, 37

Tabela 8 Microregiões de rendimentos maisaltos da soja e do algodãoherbáceo, em 1976 e 1998, 39

CAPÍTULO 5Tabela 1 Estimativa de perda anual de solo

e de água por erosão hídrica noBrasil em função do tipo deocupação de solo, 55

Page 13: Uso Agricola Solos Brasileiro s

Tabela 2 Estimativa de perda anual denutrientes e matéria orgânica(t ha-1 ano-1) por erosão hídricaem sistema convencional demanejo do solo no Brasil emfunção do tipo de ocupação desolo e total, 55

Tabela 3 Estimativa(1) do custo adicionalem fertilizantes em função daperda anual de nutrientes (N, P, K,Ca, Mg e S) e adubação orgânicapor erosão hídrica no Brasil deacordo com o tipo ocupação desolo e total, 56

Tabela 4 Estimativa dos custos anuaisexternos à propriedade devidos àerosão dos solos no Brasil, 56

Tabela 5 Resumo da estimativa devaloração dos impactos anuais daerosão dos solos no Brasil, 58

CAPÍTULO 6Tabela 1 Extensão geográfica das maiores

limitações na América Tropical, 63Tabela 2 Área cultivada, proporção da área

que recebe fertilizantes e oconsumo total de fertilizantesdos principais paísesconsumidores, 64

Tabela 3 Área plantada das principaisculturas no Brasil, porcentagemdaárea fertilizada, taxa deaplicação e utilização total denutrientes, dados referentes a1996, 64

Tabela 4 Consumo aparente de fertilizantes,nutrientes e matérias primas noBrasil no período de 1991 a2000, 65

Tabela 5 Produção e consumo aparente decalcário no Brasil no período de1991 a 2000, 66

Tabela 6 Consumo aparente de calcárionos principais Estados(1.000 t), 66

Tabela 7 Produtividade atual e ótima eextração de nutrientes dasprincipais culturas no Brasil, 67

Tabela 8 Balanço de macronutrientesprimários na agriculturabrasileira, 69

Tabela 9 Áreas que podem ser salvas dodesflorestamento por váriasopções de manejo, estimada paraYurimaguas no Peru, 75

CAPÍTULO 7Tabela 1 Teores de metais naturalmente

presentes nos solos no Estado deS. Paulo, 83

Tabela 2 Teores de alguns metais pesadosem corretivos e fertilizantes, 84

Tabela 3 Teores de metais pesados emsolos agrícolas, 84

Tabela 4 Valores de alerta para metaispesados em solo, 84

CAPÍTULO 8Tabela 1 Teores de micronutrientes em

alguns resíduos orgânicos e nolodo de esgoto, 89

Tabela 2 Macronutrientes contidos emalguns resíduos orgânicos, 89

Tabela 3 Composição do lixo sólido urbanono Brasil, 90

CAPÍTULO 9Tabela 1 Área em processo de

desertificação nos estados doNordeste, 94

Tabela 2 Escala desertificação erespectivas áreas na RegiãoNordeste do Brasil, 95

Tabela 3 Uso atual em percentagem porunidade de solos da área pilotocom 75.000 há do Núcleo deDesertificação do Seridó – RN, 96

Tabela 4 Biomassa da Caatinga porUnidade de solo da área Pilotode Desertificação do Seridó –RN, 97

Tabela 5 Extensão e percentagem deocorrência de Areais por ÁreaMunicipal da região sudestedo Estado do Rio Grande doSul, 97

Tabela 6 Classificação dos solos quanto asalinidade, 99

Tabela 7 Dados referentes às áreassalinizadas do Piauí, 100

Tabela 8 Áreas salinizadas nos perímetrosirrigados do Ceará, 100

Tabela 9 Áreas salinizadas no perímetroirrigados do Rio Grande doNorte, 100

Tabela 10 Áreas salinizadas no perímetrosirrigados da Paraíba, 100

Tabela 11 Áreas salinizadas no perímetrosirrigados de Pernambuco, 100

Tabela 12 Áreas salinizadas no perímetrosirrigados da Bahia, 100

Page 14: Uso Agricola Solos Brasileiro s

Tabela 13 Áreas de solos (em km2) afetadospor salinização nos estados doNordeste, 100

Tabela 14 Danos Físicos do Uso do Fogo naAmazônia, 102

Tabela 15 Danos Econômicos do Uso doFogo na Amazônia, 102

CAPÍTULO 14Tabela 1 Evolução da área cultivada em

Sistema Plantio Direto no Brasil,em mil hectares, em algunsEstados e região do Cerrado(1996-2000), segundo FederaçãoBrasileira de Plantio Direto naPalha, 153

Tabela 2 Redução de fertilizantes ecorretivos devido a menores perdaspor erosão nos 14,3 milhões dehectares cultivados sob SistemaPlantio Direto no Brasil, 157

Tabela 3 Resumo dos benefícios internos àpropriedade rural para os 14,3milhões de hectares em Sistemade Plantio Direto, 158

Tabela 4 Benefícios externos á propriedaderural devidos à adoção de SistemaPlantio Direto no Brasil, 158

Tabela 5 Outros impactos positivos, fora dapropriedade rural, devidos àadoção de Sistema PlantioDireto, em área 14,3 milhões dehectares, 159

Tabela 6 Benefícios devidos ao SistemaPlantio Direto, considerando aárea cultivada de 14,3 milhões dehectares no Brasil, 159

CAPÍTULO 15Tabela 1 Cenários de área desmatada na

Amazônia para fins agropecuários,166

Tabela 2 Produção, área colhida eprodutividade das culturasselecionadas na safra 1999/2000,167.

Tabela 3 Aumento da produtividade físicaem áreas não irrigadasconsiderando apenas a adoção desistemas conservacionistasbaseados no plantio direto (safra +safrinha ou safra de inverno), 168

Tabela 4 Incrementos de área comlavouras anuais e pastagensrecuperadas, 172

Page 15: Uso Agricola Solos Brasileiro s

CAPITULO 1Figura 1 Mapa de solos do Brasil, 3Figura 2 Mapa interpretativo da

suscetibilidade natural dos solos àerosão hídrica, 10

CAPÍTULO 2Figura 1 Uso Atual das Terras por Região

do Brasil, 16Figura 2 Evolução da área ocupada pela

agropecuária no Brasil no períodode 1970 a 1998, 18

Figura 3 Índice relativo da intensidade deuso das terras dos municípios poratividades Agrosilvipastoris, 19

Figura 4 Evolução das áreas irrigadas noBrasil, 20

CAPÍTULO 3Figura 1 Comportamento do índice de Gini

em 1992 e 1998, Segundo o Brasile Grandes Regiões, 24

Figura 2 Comportamento dos índices deconcentração fundiária no Brasil -1972/1998, 26

Figura 3 Comportamento dos índices deconcentração fundiária no Brasil -1972/1998, 27

Figura 4 Participação relativa das grandesregiões no número total deimóveis cadastrados no Brasil em1992, 27

Figura 5 Participação relativa das grandesregiões no número total de áreacadastrada no Brasil em 1992, 27

Figura 6 Participação relativa das grandesregiões no número total de áreacadastrada no Brasil em 1998, 27

Figura 7 Área média dos estabelecimentosfamiliares em hectares, 29

Lista de Figuras

Figura 8 Área média dos estabelecimentospatronais em hectares, 29

CAPÍTULO 4Figura 1 Variações do uso da terra no Brasil

no período 1970 a 1985, 32Figura 2 Taxas de crescimento anuais de

produção de grãos (arroz, feijão,milho, soja e trigo), 40

Figura 3 Indicadores de desempenhorelativo das lavouras (arroz, batatainglesa, cebola, feijão, mandioca,milho, trigo, algodão em caroço,amendoim e soja), 41

Figura 4 Evolução da área colhida eprodução agrícola de grãos –arroz, feijão, milho, soja e trigo, 42

Figura 5 Uso atual, aptidão agrícola ebalanço da disponibilidade dasterras aptas para pastagemplantada por região do Brasil, 43

Figura 6 Evolução da produção de carnesno Brasil, 44

CAPÍTULO 5Figura 1 Degradação, perda de

produtividade e conseqüênciaseconômicas, sociais e ambientaisresultantes do preparo do solo naagricultura tradicional, 50

Figura 2 Áreas vulneráveis à erosãoresultantes do cruzamento entre apressão de uso das terras e asusceptibilidade natural dos solosà erosão, 53

Figura 3 Fator erosividade da chuva (R) nabacia do rio Paraná, com aintensidade aumentando do azulpara o verde e deste para overmelho, 54

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CAPÍTULO 6Figura 1 Economia de uso de área agrícola

no Brasil no período de 1970-1998, em função do acréscimo daprodutividade média dasculturas, 62

Figura 2 Consumo de fertilizante N, P2O5 eK2O no Brasil no período de 1975a 1999, 65

Figura 3 Extração de macronutrientesprimários N, P e K (A),secundários Ca, Mg e S (B) emicronutrientes B, Cu, Fe, Mn e Zn(C), 68

Figura 4 Projeção de extração dosmacronutrientes N, P e K paraprodutividades ótimas, 69

CAPÍTULO 7Figura 1 Consumo de defensivos

agrícolas, 79Figura 2 Consumo de agrotóxicos por

estado, 80

CAPÍTULO 8Figura 1 Composição do esgoto

doméstico, 88

CAPÍTULO 9Figura 1 Mapa da Desertificação no

Brasil, 95

Figura 2 Área de ocorrência de areais noSudoeste do Estado do RioGrande do Sul, Brasil, 97

Figura 3 Localização esquemática dossolos com problemas desalinidade no Brasil, 99

Capítulo 14Figura 1 Evolução da área cultiva em

Sistema Plantio Direto no Brasil(1972-2000), 153

Figura 2 Evolução da área cultiva emSistema Plantio Direto no RioGrande do Sul, no período de1976 a 2000, 154

Capítulo 15Figura 1 Estrutura da sociedade civil no

setor rural voltada à adoção doSistema Plantio Direto comosistema conservacionista nocontinente americano, 164

Figura 2 Evolução e projeção da relaçãoentre a área agrícola total e apopulação brasileira, 166

Figura 3 Variação da Taxa Anual deCrescimento da Área de Adoçãodo SPD no Brasil, 168

Figura 4 Evolução da área de adoção deSPD, considerando três cenáriosquanto a taxa de adoçãoanual, 169

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A idéia da realização de um livro abordando o Uso Agrícola dos Solos Brasileiros nasceu apóso convite formalizado pelo IBAMA — Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renová-veis, para que a Embrapa coordenasse a elaboração do Capítulo de Solos do “Geo Brasil 2002 —Perspectivas do Meio Ambiente no Brasil”. O esforço de elaborar um relatório sobre a qualidade domeio ambiente brasileiro, informando à sociedade, sua real situação, principais problemas e avan-ços, resultou numa série de contribuições de pesquisadores da Embrapa e de outras instituições,aproveitados em sua versão expandida, na construção dos capítulos desta obra.

Como resultado, esta obra apresenta quinze capítulos ordenados e elaborados utilizando-seadaptações da metodologia utilizada pelo Programa das Nações Unidas para Meio Ambiente para aelaboração das séries GEO (Global Environment Outlook), como decorrência do viés agrícola ado-tado. Possue ainda uma abordagem generalista, decorrência em parte, das orientações do GeoBrasil 2002 e, de outra, das dimensões continentais do País e seus múltiplos condicionantes denatureza local e regional.

Os capítulos iniciais tratam do estado atual dos solos brasileiros, compreendendo sua consti-tuição, tipos, distribuição geográfica, potencial de uso e uso agrícola atual. Os capítulos que seseguem tratam das atividades e processos de origem antrópica, que agem sobre o recurso soloproduzindo mudanças no seu domínio e uso atual, como resultado das dinâmicas e transformaçõesverificadas na agropecuária ao longo das três últimas décadas.

Nos capítulos cinco a nove são abordados os principais impactos decorrentes do uso dossolos pela agropecuária e, nos seguintes, as ações adotadas para mitigar ou prevenir impactosambientais negativos ou mesmo conservar o recurso solo, que incluem a conscientização da socie-dade, as leis nacionais e suas regulamentações, programas, convenções, acordos internacionais erespostas conservacionistas ao uso das terras. No último capítulo apresentam-se alguns cenáriossobre este uso conservacionista e seus reflexos sobre a produção, produtividade e expansão doespaço agrícola.

Cada capítulo contou com a contribuição de vários autores-colaboradores, cujos créditos téc-nicos encontram-se listados em conjunto no início do livro, e posteriormente, individualizados porcapítulos.

Ressalta-se por fim, a importância que os diferentes aspectos do uso dos solos possuemsobre o planejamento, ordenamento e desenvolvimento agrícola sustentável do País. A forte compe-titividade no setor, decorrência da globalização e da abertura de mercados, vem determinando umacrescente necessidade de se agregar valor aos produtos da agropecuária. Progressivamente estespassam a ser avaliados ainda, não apenas pelo seu valor intrínseco, mas também como resultantede mecanismos limpos e sustentáveis de produção. Ou seja, atualmente os mercados demandamcada vez mais produtos socialmente justos e ambientalmente corretos, com amplos reflexos naforma de uso e apropriação dos solos brasileiros.

Introdução

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Introdução

O solo é uma coleção de corpos naturais, constituídospor partes sólidas, líquidas e gasosas, tridimensionais,dinâmicos, formados por materiais minerais e orgâni-cos, contendo matéria viva e ocupando a maior por-ção do manto superficial das extensões continentaisdo planeta (Embrapa, 1999).

O território brasileiro se caracteriza por umagrande diversidade de tipos de solos, correspondendo,diretamente, à intensidade de interação das diferentesformas e tipos de relevo, clima, material de origem,vegetação e organismos associados, os quais, por suavez, condicionam diferentes processos formadores dossolos. A esta diversidade, deve-se a natureza de nossopaís, suas potencialidades e limitações de uso e, emgrande parte, às diferenças regionais no que se refere àsdiversas formas de ocupação, uso e desenvolvimentodo território.

Assim, um quadro sintético das paisagens brasi-leiras, por região, mostra o Norte do país como umterritório de planícies e baixos planaltos, de clima equa-torial, calor permanente e alto teor de umidade atmos-férica, com predominância de solos profundos, alta-mente intemperizados, ácidos, de baixa fertilidade na-tural, e comumente saturados por alumínio tóxico paraa maioria das plantas, o que diminui significativamen-te o potencial produtivo de suas terras, quando nãoadequadamente manejadas.

Na região Nordeste, observam-se tipos climáti-cos que variam do quente e úmido ao quente e seco(semi-árido), passando por uma faixa de transição semi-úmida. Nela, ocorre, em grande parte, solos de médiaa alta fertilidade natural, em geral pouco profundosem decorrência de seu baixo grau de intemperismo. Odéficit hídrico e, em menor proporção, a ocorrência

de salinidade e/ou sodicidade em alguns solos nordes-tinos são os principais fatores condicionantes à pro-dução agrícola nesta região do país.

A região Centro-Oeste, vasta superfície aplaina-da pelos processos erosivos naturais, é caracterizadapelo Planalto Central Brasileiro. A predominância deum clima tropical quente com veranicos acentuados écaracterística da região, destacando-se grandes exten-sões de solos profundos, bem drenados, de baixa ferti-lidade natural que são facilmente corrigidos pela adu-bação e calagem, porém com características físicas fa-voráveis, além das condições topográficas que permi-tem intensa mecanização agrícola das lavouras.

A região Sudeste se caracteriza por planaltos eáreas serranas com vários pontos de altitudes superio-res a 2.000 metros, clima tropical com verões quentesnas baixadas e mais amenos nas áreas altimontanas;predominância de solos bem desenvolvidos, geralmentede baixa fertilidade natural.

Na região Sul, os solos originados de rochasbásicas e de sedimentos diversos se encontram distri-buídos em uma paisagem com relevo diversificado,onde predomina o clima subtropical, com estações bemdefinidas e solos predominantemente férteis com ele-vado potencial agrosilvipastoril.

Como exposto, as diferenciações regionais sãoresultantes da considerável variabilidade de seus solos,condições climáticas e geomorfológicas, refletindo di-retamente no potencial agrícola das terras, na diversi-ficação das paisagens e aspectos vinculados ao tipopredominante de uso do solo, com reflexos no desen-volvimento diferenciado das regiões do país. A ocor-rência, a diversidade e a distribuição geográfica dasprincipais classes de solos do Brasil são genericamenteabordadas neste capítulo, salientando alguns dos atri-butos agronômicos e taxonômicos mais relevantes e

Maurício Rizzato CoelhoHumberto Gonçalves dos Santos

Enio Fraga da SilvaMario Luiz Diamante Aglio

1O RecursoNatural Solo

Capítulo

1

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O Recurso Natural Solo2

pertinentes aos diferentes tipos de solo que dominamas paisagens das regiões brasileiras.

Tipos, Características e Distribuiçãodos Solos

A diversidade dos ecossistemas do território brasileiro éextremamente grande e os solos, que são parte integran-te desse complexo de recursos naturais, também variamsignificativamente. Com base no Mapa de Solos do Brasil(Embrapa, 1981) e no atual Sistema Brasileiro de Classi-ficação de Solos (Embrapa, 1999), pode-se distinguir 13grandes classes de solos mapeáveis e representativas daspaisagens brasileiras (Figura 1 e Tabela 1).

As grandes classes de solos subdividem-se emdiferentes tipos, conforme as características própriasde cada solo, separando-os em unidades mais homogê-neas. As definições, conceitos e critérios taxonômicosutilizados na classificação e diferenciação dos mais vari-ados tipos de solos brasileiros estão detalhados no Siste-ma Brasileiro de Classificação de Solos (Embrapa, 1999).Neste capítulo, as classes de solos são descritas e concei-tuadas sucintamente, generalizando-se as mais expressi-vas propriedades e características dos solos brasileiros,sua distribuição geográfica e aspectos agronômicos.

Latossolos: são solos resultantes de enérgicas trans-formações no material originário ou oriundos desedimentos pré-intemperizados onde predominam,na fração argila, minerais nos últimos estádios deintemperismo (caulinitas e óxidos de ferro e alumí-nio), sendo a fração areia dominada por mineraisaltamente resistentes ao intemperismo. São de tex-tura variável, de média a muito argilosa, geralmen-te muito profundos, porosos, macios e permeáveis,

apresentando pequena diferença no teor de argilaem profundidade e, comumente, são de baixa ferti-lidade natural. Em geral, a macroestrutura é fracaou moderada, no entanto, o típico horizonte latos-sólico apresenta forte microestruturação (pseudoa-reia), característica comum nos Latossolos Verme-lhos Férricos, solos de elevado teor de óxidos deferro. São típicos das regiões equatoriais e tropi-cais, distribuídos, sobretudo, em amplas e antigassuperfícies de erosão, pedimentos e terraços fluvi-ais antigos, normalmente em relevo suavemente on-dulado e plano. Os Latossolos são os solos maisrepresentativos do Brasil, ocupando 38,7% da áreatotal do país e distribuem-se em praticamente todoterritório nacional (Tabela 1). Existem variados ti-pos de Latossolos, que se diferenciam, dentre vári-os outros atributos, pela sua cor, fertilidade natu-ral, teor de óxidos de ferro e textura.

Argissolos: os Argissolos formam uma classe bastan-te heterogênea que, em geral, tem em comum umaumento substancial no teor de argila em profun-didade. São bem estruturados, apresentam profun-didade variável e cores predominantemente aver-melhadas ou amareladas, textura variando de are-nosa a argilosa nos horizontes superficiais e demédia a muito argilosa nos subsuperficiais; sua fer-tilidade é variada e a mineralogia, predominante-mente caulinítica. Os argissolos ocupam aproxima-damente 20,0% da superfície do país; em termos deextensão geográfica só perdem para os Latossolos(Tabela 1) e, semelhante a estes, distribuem-se empraticamente todas as regiões brasileiras, desde oRio Grande do Sul até o Amapá e do Acre até Per-nambuco. Habitualmente, ocupam terrenos de re-levos mais dissecados quando comparados aos la-tossolos.

Brasil Relativa por Regiões

Tipos de Solos Absoluta Relativa Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul(km2) ao total (%) (%)

Alissolos 371.874,48 4,36 8,67 0,00 0,00 0,00 6,34Argissolos 1.713.853,49 19,98 24,40 17,20 13,77 20,68 14,77Cambissolos 232.139,19 2,73 1,06 2,09 1,59 8,64 9,28Chernossolos 42.363,93 0,53 0,00 1,05 0,27 0,21 3,94Espodossolos 133.204,88 1,58 3,12 0,39 0,26 0,37 0,00Gleissolos 311445,26 3,66 6,41 0,78 2,85 0,5 0,4Latossolos 3.317.590,34 38,73 33,86 31,01 52,81 56,30 24,96Luvissolos 225.594,90 2,65 2,75 7,60 0,00 0,00 0,00Neossolos 1.246.898,89 14,57 8,49 27,55 16,36 9,38 23,23Nitossolos 119.731,33 1,41 0,28 0,05 1,22 2,56 11,48Planossolos 155.152,13 1,84 0,16 6,61 1,73 0,16 3,00Plintossolos 508.539,37 5,95 7,60 4,68 8,78 0,00 0,00Vertissolos 169.015,27 2,01 3,20 0,99 0,36 1,20 2,60Água 160.532,30 1,88 3,20 0,36 0,31 1,20 2,60

Total 8.547.403,50 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

Tabela 1. Extensão e distribuição dos solos no Brasil

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O Recurso Natural Solo 3

Figura 1. Mapa de Solos do Brasil. Adaptado de EMBRAPA (1981) por Embrapa Solos.

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O Recurso Natural Solo4

Alissolos: compreendem solos de baixa fertilidade na-tural e elevados teores de alumínio extraível (Al3+);em alguns solos desta classe ocorre um significativoaumento do conteúdo de argila em profundidade;em outros este aumento é menos pronunciado. Emgeral, são bem estruturados e distribuem-se na re-gião subtropical do Brasil, especialmente nos Esta-dos do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul,mas as maiores extensões deles é na Amazônia Oci-dental, sob condições tropicais e equatoriais, predo-minantemente.

Cambissolos: devido à heterogeneidade do materialde origem, das formas de relevo e condições climá-ticas em que são formados, as características destessolos variam muito de um local para outro. Noentanto, uma característica comum é o incipienteestádio de evolução do horizonte subsuperficial,apresentando, em geral, fragmentos de rochas per-meando a massa do solo e/ou minerais primáriosfacilmente alteráveis (reserva de nutrientes), alémde pequeno ou nulo incremento de argila entre oshorizontes superficiais e subsuperficiais. Ocorremem praticamente todo o território brasileiro. Sãoparticularmente importantes na parte oriental dosplanaltos do Rio Grande do Sul, Santa Catarina eParaná, onde os Cambissolos existentes têm altoteor de matéria orgânica e elevados conteúdos dealumínio extraível. Outras ocorrências significati-vas são aquelas relacionadas com a Serra do Mar,estendendo-se desde o nordeste do Rio Grande doSul até o Espírito Santo, serra da Mantiqueira eregiões interioranas de Minas Gerais (Oliveira etal., 1992). Cambissolos de elevada fertilidade natu-ral são comuns na região nordestina e no Estadodo Acre.

Chernossolos: compreendem solos que apresentamatividade da fração argila bastante elevada no hori-zonte subsuperficial, sendo o superficial do tipo Achernozêmico (espesso, escuro, bem estruturado,rico em matéria orgânica e com alta saturação porbases). São normalmente escuros, pouco coloridos,moderadamente ácidos a fortemente alcalinos, por-tanto, de elevada fertilidade natural e com presen-ça de minerais de esmectita e/ou vermiculita nafração argila. Distribuem-se predominantemente emduas grandes áreas situadas ao sul (Rio Grande doSul) e leste do Brasil (Bahia).

Espodossolos: são predominantemente arenosos, comacúmulo de matéria orgânica e compostos de alu-mínio em profundidade, podendo ou não contercompostos de ferro. São muito pobres e muito áci-dos, sendo peculiares os teores de alumínio extraí-vel relativamente elevados em relação aos outrosíons básicos presentes no solo. Distribuem-se es-parsamente nas baixadas litorâneas ao longo da

costa leste do país, especialmente na Bahia, em Ser-gipe, Alagoas e Rio de Janeiro, nas baixadas areno-sas do Rio Grande do Sul e em áreas interioranasda Amazônia Ocidental, onde são expressivos.

Gleissolos: ocupam, geralmente, as partes depressio-nais da paisagem e, como tal, estão permanente ouperiodicamente encharcados, salvo se artificialmentedrenados. Comumente, desenvolvem-se em sedimen-tos recentes nas proximidades dos cursos d’água eem materiais colúvio-aluviais sujeitos a condiçõesde hidromorfismo, como as várzeas e baixadas. As-sim, situam-se indiscriminadamente em todas asáreas úmidas do território brasileiro, onde o lençolfreático fica elevado durante a maior parte do ano.Como ocorrências expressivas, no entanto, podem-se citar aquelas relacionadas às várzeas da planícieamazônica, em Goiás e Tocantins ao longo do RioAraguaia, em São Paulo e Rio de Janeiro às mar-gens do rio Paraíba, no Rio Grande do Sul às mar-gens das lagoas dos Patos, Mirim e Mangueira (Oli-veira et al., 1991).

Luvissolos: compreendem solos com elevada fertili-dade natural, dotados de argilas com alta capacida-de de retenção de íons trocáveis (argila de atividadealta) e saturação por bases também alta (elevadacapacidade de retenção de nutrientes) nos horizon-tes subsuperficiais, imediatamente abaixo de hori-zontes do tipo A fraco ou moderado (baixos teoresde matéria orgânica, pouco espessos e baixa a médiacapacidade de retenção de nutrientes). Áreas expres-sivas são encontradas no nordeste brasileiro, onde sedistribuem principalmente na zona semi-árida.

Neossolos: pouco evoluídos, apresentam pequenaexpressão dos processos responsáveis pela sua for-mação, que não conduziram, portanto, a modifica-ções expressivas do material originário. Diferenci-am-se em grande parte pelo seu material de origeme paisagem, como depósitos sedimentares (planíci-es fluviais, sedimentos arenosos marinhos ou não)e regiões de relevo acidentado. Existem quatro gran-des tipos de Neossolos, que apresentam, generica-mente, as seguintes características: Neossolos Li-tólicos – solos rasos, com espessura inferior a 50cm,possuindo, em geral, uma estreita camada de mate-rial terroso sobre a rocha; Neossolos Regolíticos– solos mais profundos com espessura superior a50cm e presença de minerais alteráveis ou fragmen-tos de rocha; Neossolos Quartzarênicos – solosmais profundos, com espessura superior a 50cm,de textura essencialmente arenosa por todo o soloe, praticamente, ausência de minerais primários al-teráveis (sem reserva de nutrientes); Neossolos Flú-vicos – solos provenientes de sedimentos aluviais.Normalmente, possuem um horizonte escurecidoà superfície sobre camadas estratificadas. Os Neos-

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O Recurso Natural Solo 5

solos Litólicos, em geral, estão associados a muitosafloramentos de rocha. No mapa de solos estãoapresentados como forma alongada, refletindo ascristas e partes mais instáveis da paisagem (Resen-de, et al., 1988). Não há distribuição regionalizada,ocorrendo por todo o território brasileiro. Os Ne-ossolos Regolíticos também são comuns no Brasilcomo um todo. No entanto, extensas áreas ocor-rem na região semi-árida nordestina. As maioresocorrências de Neossolos Quartzarênicos estão nosEstados de São Paulo, Mato Grosso do Sul, MatoGrosso, oeste e norte da Bahia, sul do Pará, sul enorte do Maranhão, no Piauí e Pernambuco, emrelevo predominantemente plano. Os NeossolosFlúvicos raramente ocupam apreciáveis áreas con-tínuas, pois são restritos às margens dos cursosd’água, lagoas e planícies costeiras onde, geralmen-te, ocupam as pequenas porções das várzeas (Oli-veira et al., 1992).

Nitossolos: são solos de textura argilosa ou mais finaque apresentam pouco ou nenhum incremento deargila em profundidade. São normalmente profun-dos, bem drenados, estruturados e de coloraçãovariando de vermelho a brunada. Em geral, sãomoderadamente ácidos, com saturação por basesde baixa a alta, argila de atividade baixa e as vezescontendo elevados conteúdos de alumínio extraí-vel. As maiores áreas contíguas estão nos Estadossulinos. No entanto, no Estado de São Paulo, ex-tensas áreas são encontradas nos planaltos basálti-cos que se estendem até o Rio Grande do Sul.

Planossolos: são mal drenados, com horizonte su-perficial de textura mais leve, em geral arenosa,que contrasta abruptamente com o horizonte sub-superficial imediatamente subjacente, adensado eextremamente endurecido quando seco, geralmentede acentuada concentração de argila, bem estrutu-rado e de permeabilidade muito lenta, apresen-tando visíveis sinais de hidromorfismo. Esses so-los ocorrem predominantemente em áreas de rele-vo plano ou suave ondulado, muito utilizados comarroz irrigado no Rio Grande do Sul e com pasta-gem na região nordeste do país (Resende, et al.,1988).

Plintossolos: apresentam uma diversificação morfo-lógica e analítica muito grande, no entanto, a ca-racterística mais importante desses solos é a pre-sença de manchas ou mosqueados avermelhados(plintita), geralmente compondo um emaranhadode cores bem contrastante com a matriz do solo,podendo ou não conter nódulos ou concreções (pe-troplintita), os quais são constituídos por uma mis-tura de argila, pobre em carbono orgânico e ricaem ferro, ou ferro e alumínio, com quartzo e ou-tros materiais. Freqüentemente são ácidos e com

baixa reserva de nutrientes. Encontram-se em rele-vo plano e suave ondulado, em áreas deprimidas,planícies aluvionais e terços inferiores de encosta,situações que impliquem no escoamento lento daágua do solo. As maiores extensões se encontramna região Amazônica (alto Amazonas do territóriobrasileiro), Amapá, Ilha de Marajó, baixada Mara-nhense, norte do Piauí, sudeste de Tocantins e nor-deste de Goiás, Pantanal Mato-Grossense e baixa-das da região da Ilha do Bananal (Oliveira et al.,1992). Plintossolos com predominância de nódu-los ou concreções (Plintossolos Pétricos) são comunsnas rupturas de chapadas em todo o Planalto Cen-tral Brasileiro e em muitas rupturas de declive naAmazônia (Resende, et al., 1988).

Vertissolos: são solos de coloração acinzentada oupreta, sem diferença significativa no teor de argilaentre a parte superficial e a subsuperficial do solo.No entanto, a característica mais importante é apronunciada mudança de volume com a variaçãodo teor de umidade devido ao elevado teor de argi-las expansivas (argila de atividade alta), tendo comofeição morfológica característica e facilmente iden-tificável, a presença de fendas de retração largas eprofundas que se abrem desde a superfície do solonos períodos secos. São de elevada fertilidade quí-mica, mas apresentam problemas de natureza físi-ca. Ocorrem, predominantemente, na zona seca doNordeste, no Pantanal Mato-grossense, na Campa-nha Rio Grandense e no Recôncavo Baiano (Oli-veira et al., 1992).

Ocorrência e aspectos gerais dos solos porgrandes regiões.

As diferentes regiões do território brasileiro apresen-tam peculiaridades ambientais e culturais que refletema ocorrência, a distribuição, a aptidão agrícola de suasterras, o uso e manejo diferenciados de seus solos. As-pectos dessa natureza adquirem, em termos gerais, oseguinte quadro sintético das paisagens brasileiras porregião.

Região Norte

A região Norte abrange 3.878 mil km2, ocupando apro-ximadamente a metade do território brasileiro. Solosprofundos, bem drenados, muito intemperizados e debaixa fertilidade natural, como os Latossolos, são osmais representativos, estendendo-se por 34% da região.Os Latossolos Amarelos ocorrem na depressão doMédio-Baixo Rio Amazonas (Figura 1); são originadosde sedimentos psamíticos, pelíticos e rudáceos e ocu-pam uma área de 582,5 mil km2, correspondendo a15% da região Norte. No entorno dos Latossolos

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O Recurso Natural Solo6

Amarelos predominam os Latossolos Vermelho-Ama-relos, que se distribuem de maneira esparsa na paisa-gem e ocupam 726,3 mil km2, correspondendo a 18,7%de toda a região Norte.

Outra classe de solos de grande representativi-dade é a dos Argissolos, que se distribuem por 26,6%da região, normalmente em relevos ondulados. Entre osArgissolos, a classe de maior ocorrência é o ArgissoloVermelho-Amarelo, distribuídos em aproximadamente22% da região, sendo a classe de maior ocorrência indi-vidual do norte do Brasil. Nas áreas declivosas, sob rele-vos ondulados a montanhosos, ocorrem os NeossolosLitólicos, ocupando 165 mil km2 (4,2% da região).

Os Alissolos se distribuem na depressão do So-limões e são originados de sedimentos pleistocênicospsamíticos. Ocupam 347,5 mil km2, o que correspon-de a 9% da região. Nesses mesmos ambientes são co-muns os Plintossolos, ocupando 269 mil km2 ou apro-ximadamente 7% da região. Já nas planícies fluviais ouflúvio-lacustre há a predominância de Gleissolos que sedistribuem por 254 mil km2, cerca de 6,5% da região.

As principais limitações, comuns na maioria dossolos da Amazônia, são a acidez elevada, a saturaçãoalta por alumínio e a disponibilidade baixa de nutri-entes. Estima-se que 90% de suas terras apresentamdeficiência em fósforo, 75% toxicidade por alumínio,50% baixa reserva de potássio, além do fato de que50% da região estar sujeita a déficits hídricos elevados(Rodrigues, 1996). Entretanto, existem tecnologias quepossibilitam contornar satisfatoriamente esses proble-mas, mas que refletem, necessariamente, no aumentodos custos com insumos. As limitações de ordem físi-ca para exploração agrícola intensiva das terras do nortedo país são pouco representativas. Apenas 10% da áreaapresenta declividade superior a 20%. Entretanto, aelevada precipitação em algumas sub-regiões, acima de2.000mm anuais, conjugada com solos de textura argi-losa e drenagem deficiente, como Latossolos Amarelose Plintossolos, dificulta ou mesmo inviabiliza o usoagrícola sustentável.

A ampliação da fronteira agrícola na regiãoAmazônica, apesar da grande oferta de terras com po-tencial para suportar atividades agrícolas, deverá seracompanhada de um incremento da difusão de tecno-logias que permitam alcançar uma maior produtivida-de com sustentabilidade, contribuindo para o desen-volvimento socioeconômico e a preservação dos recur-sos naturais da região.

Região Nordeste

A região Nordeste é tradicionalmente dividida em trêszonas: Litorânea, Agreste e Sertão, as quais, totaliza-das, ocupam 1.582 mil km2. Estas duas últimas se ca-racterizam pelo clima semi-árido, abrangendo, aproxi-

madamente, 70% da área daquela região, bem como63% da população nordestina. Uma característica pe-culiar do Nordeste brasileiro é a grande variabilidadede seus solos e condições ambientais, com diferentesvocações e potenciais para fins de produção. Conside-rando apenas duas grandes faixas – a úmida (Litorâ-nea) e a semi-árida – seria possível caracterizar aproxi-madamente os solos de cada uma delas de acordo comSouza (1979). A primeira faixa revela solos bem dife-renciados. Compreende grande parte do Maranhão,amplas áreas do Piauí e a faixa costeira que vai do RioGrande do Norte até o sul da Bahia, incluindo os Ta-buleiros Costeiros. Sobre ela repousa a economia agrí-cola do litoral úmido – a cana-de-açúcar, o cacau, asfrutas, o arroz, etc. – em substituição às matas desapa-recidas. Os solos aí são de profundidade variada, dota-dos de boa precipitação anual, e tiveram sua fertilidadereduzida graças ao uso agrícola contínuo e à grandepluviosidade, favorecendo a lixiviação e a erosão. Nes-tas condições, dominam os Latossolos que ocorrem emrelevos plano e suave ondulado e ocupam 488 mil km2,correspondendo a 31% da área total do Nordeste.

A Segunda, zona semi-árida (Agreste e Sertão),com índices de pluviosidade mais baixos, abrange vá-rias áreas do interior do Nordeste. Em geral, os solosaí são mais rasos, dotados de boa fertilidade natural,tendo em vista a retenção de elementos minerais. Suaextensão compreende a maior parte do polígono dassecas. Ocupando as áreas mais movimentadas, apare-cem tanto os Argissolos com baixa reserva de nutrien-tes, distribuídos por 290 mil km2 (18,4%), como osLuvissolos; esses, de elevada fertilidade natural, ocu-pam 107 mil km2. Nestas condições ocorrem, também,os Neossolos, solos jovens que se diferenciam em Litó-licos, Quartzarênicos, e Regolíticos, ocupando 28,5%da região nordeste (451 mil km2). Em relevo plano esuave ondulado, destacam-se os Planossolos e Plintos-solos, solos mal drenados, freqüentemente utilizadoscom pastagens.

Os solos do Nordeste se diversificam segundoos variados fatores de formação que lhes deram ori-gem. Há solos ricos, pobres e degradados pela erosão epelo fogo. O uso irracional pela agricultura itinerantetem sido a causa mais importante de sua devastação.Isto tudo leva a afirmar que o Nordeste possui amplasáreas de solos plenamente satisfatórios e diversifica-dos que, uma vez explorados, permitiriam alimentaruma grande população, desenvolvendo condições paraque esta tenha renda mais alta e melhor nível de vida,diferente da realidade atual nesta região.

Centro-Oeste

A fisiografia e o clima quente e subúmido, a vegetaçãopredominante de cerrados e de matas ao longo dos

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O Recurso Natural Solo 7

cursos d’água ocupando chapadas e chapadões, dão aoCentro-Oeste uma fisionomia típica, estendendo-se poruma área total de 1.879.455km2. A pecuária constituiu aatividade tradicional mais importante durante décadasna região, provavelmente devido ao seu isolamento atéa transferência da capital do país do Rio de Janeiro parao Planalto Central Brasileiro, nos idos de 1960.

A ocupação do novo espaço, abertura de áreaspara agropecuária, pesquisas direcionadas, melhor co-nhecimento do ambiente físico com o aumento deinvestimentos na região, construção de rodovias e agrande mobilização de empresas agrícolas do Sul e doSudeste do país contribuíram para mostrar outra reali-dade. Dentre as mudanças mais significativas ocorri-das, destaca-se a expansão da agricultura nas áreas decerrados, em sua maior parte constituídas de grandesextensões de Latossolos de texturas variando de médiaa muito argilosa, em relevos altamente favoráveis àmecanização, de excelentes propriedades físicas e defertilidade facilmente corrigida pela adubação e cala-gem. Com este potencial agrícola indiscutível, abriu-seuma nova fronteira para a produção de soja, milho,trigo, arroz, feijão, café, algodão e outras culturas cli-maticamente adaptadas, superando a importância dapecuária na região.

De acordo com o Delineamento Macroagroeco-lógico do Brasil (Embrapa, 1992), o Centro-Oeste apre-senta 31% de suas terras indicadas para preservaçãopermanente, 3% para extrativismo e 66% para lavou-ras de ciclo curto e longo. Portanto, o potencial parapecuária é considerado nulo segundo os critérios dozoneamento agroecológico. Não obstante, considerá-veis áreas são ocupadas com pastagens plantadas e na-turais, revelando uma distorção de uso da terra, prin-cipalmente pelo avanço de pastagens sobre áreas indi-cadas para preservação. Se não são essas áreas de pre-servação invadidas, aquelas com vocações mais inten-sivas, atualmente se encontram em estado de subutili-zação com pastagens de má qualidade.

Os Latossolos dominam nas paisagens do Cen-tro-Oeste. Distribuem-se em aproximadamente 35% daregião, ocupando áreas aplainadas, geralmente sob ve-getação de cerrado, de textura variando de média amuito argilosa, fertilidade baixa a média e elevadopotencial agrícola (Carvalho Filho et al., 1991). Devi-do à sua média suscetibilidade à erosão, atualmentetem-se implantado sistemas de manejo adotando ocultivo mínimo e o plantio direto; técnicas amplamentedifundidas e incentivadas por associações de produto-res regionais (Freitas, 2001).

Outros solos comuns são os Argissolos, geralmen-te ocupando relevos mais dissecados, de fertilidade na-tural média a alta e, semelhante aos latossolos, apresen-tam considerável potencial agrícola. Distribuem-se emaproximadamente 20% da região Centro-Oeste.

Os Neossolos Quartzarênicos têm expressivaocorrência na região. São amplamente distribuídos nasregiões Norte, Oeste, Centro e Sudeste do estado deMato Grosso, Centro e Norte do Mato Grosso do Sule Nordeste de Goiás, englobando aproximadamente15% da superfície do Centro-Oeste brasileiro. Apre-sentam severas limitações ao uso agrícola, seja pela tex-tura muito arenosa, fertilidade muito baixa, ou aindadevido ao alumínio em níveis de toxicidade, baixa ca-pacidade de retenção de água ou elevada suscetibilida-de à erosão. O desenvolvimento de processo erosivonestes solos é rápido e tem início imediatamente apósa intervenção antrópica.

Os Cambissolos, Neossolos Litólicos e Plin-tossolos Pétricos, são solos pouco intemperizados,rasos ou pouco profundos, cascalhentos, concrecio-nários, geralmente pedregosos, ocorrendo em relevosdesde planos até fortemente ondulados, ocupam emtorno de 17% da região Centro-Oeste. São de poten-cial agrícola praticamente nulo, com limitações defertilidade, profundidade efetiva, impedimento aoemprego da mecanização e altamente susceptíveis àerosão, constituindo, em geral, as áreas onde se ob-servam os altos índices de degradação quando culti-vadas.

Outras áreas de características peculiares com-preendem as planícies fluviais inundáveis, como oPantanal Mato-Grossense e a Ilha de Bananal, ondepredominam tipos de solos como Planossolos, Plin-tossolos, Gleissolos, Neossolos Flúvicos, NeossolosQuartzarênicos Hidromórficos e Vertissolos. Estas áre-as requerem manejo especial e culturas adaptadas àscondições de hidromorfismo, em função do regimehídrico e da drenagem deficiente. Em caso de utilizá-las com sistemas produtivos, permanece o risco daproximidade do lençol freático e dos numerosos cur-sos d’água quando da aplicação de defensivos agríco-las e adubação, constituindo uma ameaça a contami-nação de mananciais, com reflexos diretos ao meioambiente. Áreas com estas características representamcerca de 10% da região Centro-Oeste e são indicadaspara preservação, constituindo ambientes ecológicosfrágeis.

Região Sul

Com uma extensão geográfica de 577.723km2 é a me-nor das regiões brasileiras, com alta densidade popula-cional, clima subtropical e cobertura vegetal nativa deflorestas e campos, atualmente desaparecidos quase porcompleto para dar lugar à exploração agropecuária eflorestal mais desenvolvida do país.

A região mantém grande atividade comercialcom os países do Mercosul e com outras regiões doBrasil, destacando-se, no setor agropecuário, como gran-

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O Recurso Natural Solo8

de produtora de milho, soja, trigo, arroz, além de des-tacar-se na indústria madeireira, celulose, manufatura-dos e a já conhecida indústria vinícola. Em grandespropriedades desenvolve-se a pecuária extensiva, ativi-dade tradicional, onde se encontra um grande reba-nho bovino, além de suíno e ovino, constituindo pra-ticamente a metade do rebanho nacional.

Constituída de três estados, Paraná, Santa Cata-rina e Rio Grande do Sul, é uma região típica de pla-naltos e serras com terras férteis originadas, em grandeparte, do derrame basáltico que se estende por toda aBacia Sedimentar do Paraná. Na região predominamos Latossolos Vermelho-Amarelos, Vermelhos e Bru-nos, profundos, de excelentes propriedades físicas e defertilidade facilmente corrigível pela adubação e cala-gem (Fasolo, 1991). São muito susceptíveis à erosão eas áreas cultivadas seguem recomendações técnicas decontenção da erosão, onde começam a surgir cultivossegundo o método do plantio direto e estudos paraaumento da eficiência da aplicação de corretivos e adu-bos através de técnicas de agricultura de precisão. Ou-tros solos, como os Nitossolos, Argissolos, Cambisso-los e Chernossolos, de média a alta fertilidade naturalsão comuns na região Sul e respondem por grandeparte da produção de grãos.

As planícies representam grandes extensões nosul do país, predominantemente no Rio Grande doSul. A maior parte se encontra destituída de sua co-bertura vegetal original, devido à utilização pelo ho-mem com sistemas produtivos, principalmente, pe-cuária e orizicultura. Em virtude destas explorações,tais planícies foram submetidas a sistemas intensivosde drenagens, a ponto de não se legitimar as condi-ções hídricas originais da grande maioria dos solos.Esta consideração é fortemente ratificada em situa-ções onde se observam plantios de soja, o qual neces-sita rebaixamento definitivo do lençol freático. Soloscomo Gleissolos, Neossolos Flúvicos, Cambissolos(derivados de sedimentos fluviais), Planossolos, Plin-tossolos e Organossolos são os mais representativosdesses ambientes, muito importantes na economiada região.

O uso intensivo do recurso solo é uma caracte-rística desta região que, aliado à mecanização agrícola,é responsável pelos altos índices de erosão hídrica,observados principalmente nos Estados do Rio Gran-de do Sul e Paraná. Em Santa Catarina, as serras domi-nam extensas áreas de relevo forte ondulado a monta-nhoso, fator restritivo à utilização dos solos com cul-turas anuais. Não obstante, técnicas de manejo adap-tadas a relevos acidentados têm sido implementadascom bons resultados, tais como o preparo mínimo dosolo, plantio na palha, não remoção de restos cultu-rais e o cultivo em faixas e em curvas de nível, reduzin-do significativamente as perdas por erosão.

Região Sudeste

Os latossolos abrangem aproximadamente 56% da re-gião Sudeste e somados aos Argissolos, perfazem cercade 78% desta importante região do país (Tabela 1), deelevado desenvolvimento social, técnico e cultural eresponsável por setores estratégicos da cadeia produti-va brasileira. Parte desses ambientes, de solos profun-dos, muito porosos, bem drenados e situados em rele-vos de relativa planura de superfície, característicasinerentes aos Latossolos, dominam nas zonas de recar-ga dos aqüíferos, contribuindo efetivamente para a suacapacidade de armazenamento de água; esta dependediretamente da facilidade de infiltração da água dachuva, daí a relevância dos Latossolos na manutençãoe recarga dos aqüíferos (Freitas, 2001).

Em termos gerais, há uma estreita relação entreos grandes domínios geológicos da região Sudeste e osprincipais tipos e uso dos solos, conforme exposto aseguir.

Nos domínios de rochas pré-cambrianas doembasamento cristalino, constituídos por complexosgnáissicos-graníticos-migmatíticos, região denominadapor Ab’Saber (1970) de Mares de Morros, há uma pre-dominância de Argissolos, Latossolos e Cambissolos.São solos, em sua maioria, de baixa fertilidade natural,e acidentados, no entanto, é a área de maior densidaderural do país, originalmente coberta por floresta tropi-cal (Rezende & Resende, 1996). Na região Sudeste, osMares de Morros envolvem predominantemente o Lestedo Estado de São Paulo, o Sul e o Leste de MinasGerais, o Estado do Rio de Janeiro e a maior parte doEspírito Santo (Ab’Saber, 1996). Essas áreas foram in-tensivamente ocupadas com lavoura cafeeira a partirda segunda metade do século XIX. Os nutrientes damata original sustentavam a lavoura por algum tem-po, no entanto, com o manejo inadequado dos cafe-zais e enfraquecimento das terras, essas eram transfor-madas em pastagens (Rezende & Resende, 1996). Atu-almente, o parque cafeeiro dessas regiões montanho-sas permanece significativo, representando aproxima-damente 35% da cafeicultura nacional (Guimarães,1996), embora sejam as pastagens plantadas mais ex-tensivas, as quais, em geral, estão mal manejadas, combaixa capacidade suporte e degradadas.

A Bacia Sedimentar do Paraná é outra ocorrên-cia geológica expressiva no Sudeste brasileiro, ocupan-do cerca de 40% Estado de São Paulo, predominante-mente na sua porção Centro-Oeste, bem como o Oes-te de Minas Gerais (região do Triângulo). Nesses ambi-entes predominam os arenitos cretácicos do GrupoBauru, em sua maioria com cimentos ou nódulos car-bonáticos (IPT, 1981). Uma estreita relação solo-rele-vo-uso atual pode ser genericamente verificada na re-gião: latossolos de textura média e baixa fertilidadenatural ocorrem nos topos em relevos aplainados, pre-

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dominantemente cultivados com café, pastagens emenos freqüentes a culturas anuais, reflorestamento efruticultura. Em seqüência, na parte intermediária dasencostas, tem-se Argissolos de textura arenosa/médiaque se caracterizam por um manto arenoso superfici-al, geralmente transitando abruptamente para um ho-rizonte inferior de textura média, as vezes argilosa, ede melhor fertilidade em relação aos latossolos. Essessolos predominam em relevos acidentados e são alta-mente susceptíveis aos processos erosivos lineares, sen-do comuns o desenvolvimento de ravinas e voçorocascom pouco tempo de uso (Salomão, 1994). A vegeta-ção primitiva praticamente não existe na região, compredominância de pastagens extensivas e degradadasnos locais de ocorrência dos Argissolos. Juntos, Latos-solos e Argissolos, perfazem aproximadamente 70%dos solos da região Sudeste, sob domínio dos arenitosdo Grupo Bauru.

Os derrames basálticos mesozóicos da BaciaSedimentar do Paraná constituem outro grande domí-nio litológico do Sudeste. Restrito basicamente ao Es-tado de São Paulo, predominantemente na provínciageomorfológica denominada por Almeida (1964) deDepressão Periférica, é composto na sua maioria porLatossolos Vermelhos, Nitossolos e Argissolos Verme-lhos; solos com elevado teor de óxidos de ferro e defertilidade variada, predominando os de relativa po-breza em nutrientes. Esses domínios, principalmenteem relevos planos ocupados com os Latossolos, sãointensamente cultivados com cana-de-açúcar, que de-salojou importantes áreas outrora ocupadas com café(Oliveira & Menk, 1984), embora esta cultura aindapermaneça em grandes extensões, predominantemen-te no leste paulista. Além dessas atividades, tais solossão aproveitados com citrus, culturas anuais, princi-palmente milho, algodão, soja, sorgo, com pastagense, em menor extensão, reflorestamento. Os LatossolosVermelhos, argilosos, muito porosos e com elevadosconteúdos de ferro (Fe

2O

3 ≥ 180g/kg) provenientes do

intemperismo das rochas básicas da Bacia Sedimentardo Paraná, ocupam aproximadamente 14% do Estadode São Paulo (Oliveira & Menk, 1984).

Finalmente, os domínios representados por se-qüências metamórficas (pré-cambriano), englobam gru-pos e formações geológicas diversas e distribuem-sepredominantemente por todo o Centro-Oeste do Esta-do de Minas Gerais. Genericamente, recobrem o em-basamento cristalino e caracterizam-se por ocorrênci-as de gnáisses variados, xistos, filitos, quartzitos, már-mores, ardósias e rochas carbonáticas, bem como for-mações ferríferas localizadas, onde as explorações mi-nerais são expressivas. A diversidade de solos nessa re-gião reflete a diversidade litológica, no entanto, exten-sas áreas de Cambissolos e Latossolos com elevadosteores de alumínio extraível, solos de baixa fertilidade

natural, são expressivos nos domínios do Grupo Bam-buí, ocorrência geológica significativa no Estado mi-neiro. Esses locais são predominantemente destinadosà pastagens extensivas, à culturas anuais (milho e fei-jão) e à fruticultura (bananicultura).

A suscetibilidade natural dos solos aosprocessos erosivos

A suscetibilidade natural dos solos à erosão é umafunção da interação entre as condições de clima, mo-delado do terreno e tipo de solo, sendo um processonatural que pode ser intensificado pela ação antrópi-ca. Da análise empírica da interação destes fatores,juntamente com a avaliação de estimativas experimen-tais de perdas de solo, foi possível estabelecer e classi-ficar os solos em cinco classes de suscetibilidade na-tural à erosão das terras do país. As classes de susceti-bilidade muito baixa e baixa englobam tanto os solosde baixadas, hidromórficos ou não, como aqueles deplanalto, muito porosos, profundos e bem drenados,todos localizados em relevo de relativa planura dasuperfície.

Em condições mais favoráveis ao desenvolvimen-to de processos erosivos, destacam-se solos comumen-te arenosos ou com elevada mudança de textura emprofundidade, bem como aqueles rasos, localizados,em geral, em relevos dissecados, configurando classesde suscetibilidade à erosão média, alta ou muito alta,dependendo, como relatado anteriormente, da intera-ção entre os diversos fatores responsáveis pela susceti-bilidade dos mesmos à erosão (Figura 2 e Tabela 2).

Com base nestas interpretações, as terras brasi-leiras podem situam-se, em sua maior porção, nas clas-ses de baixa a alta suscetibilidade à erosão (84% dasterras), porém com composições regionais distintas,como resultado das peculiaridades em relação aos va-riados ambientes edafoclimáticos e ao grau de susceti-bilidade natural dos solos (Tabela 2 e Figura 2).

A região Norte se caracteriza pelos baixos níveisde suscetibilidade nas várzeas do rio Amazonas e seusafluentes, bem como nos baixos platôs, onde se desen-volvem solos argilosos ou muito argilosos, muito pro-fundos, geralmente em relevo plano. Esses ambientes,sob domínio de Gleissolos, Neossolos Flúvicos, Latos-solos Amarelos e Latossolos Vermelho-Amarelos, re-presentam aproximadamente 46% dessa região do Bra-sil (Tabela 2). As terras com o maior potencial de ero-são, distribuídas em aproximadamente 36% da região,ocorrem em relevos mais dissecados sob domínio deArgissolos, Luvissolos e Cambissolos.

No Nordeste do Brasil, 33% das terras apresen-tam suscetibilidade muito baixa e baixa, 34% média e33% tem classes de suscetibilidade alta e muito alta (Ta-

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O Recurso Natural Solo10

Figura 2. Mapa interpretativo da suscetibilidade natural dos solos à erosão hídrica.

Tabela 2. Extensão e distribuição percentual das classes de suscetibilidade natural dos solos à erosão.

M.BaixaBaixaMédiaAltaM.Alta

km2

306.5331.427.765647.286

1.141.371198.114

%

83917315

km2

38.389461.989517.856349.041155.860

%

330342310

km2

82.518732.576319.543229.260256.177

%

545201416

km2

7.493423.368125.002189.422168.970

%

146142118

km2

5.690154.863151.25782.124

164.859

%

128271529

km2

440.6233.200.5611.760.9441.991.218943.980

%

539212411

N NE CO SE S BRASIL

RegiõesClasses de

Erosão

bela 2). Solos como os Neossolos Quartzarênicos, Litó-licos e Regolíticos são os com maior potencial de ero-são devido à presença de conteúdos significativos deareia, associado, em alguns casos, a relevos dissecados.Embora as chuvas no semi-árido nordestino sejam debaixa duração e freqüência, sua elevada intensidade emalguns locais favorece o escoamento superficial, desa-gregação e transporte dos solos, mesmo em relevos maisaplainados. Solos como os Luvissolos, em geral commaiores conteúdos de argila e em relevos bastante disse-

cados, representam as terras com elevada suscetibilidadeà erosão. Já áreas expressivas de Latossolos, representan-do cerca de 30% da região, são aquelas representativasdas terras com baixa suscetibilidade à erosão. A ocor-rência de horizontes superficiais arenosos, bem como oaumento do teor de argila em profundidade torna osArgissolos e Planossolos medianamente suscetíveis à ero-são nas condições climáticas características da região.

A região Centro-Oeste apresenta cerca de 70% deseus solos com suscetibilidade à erosão variando de muito

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baixa a média, em decorrência da dominância de rele-vos aplainados do Planalto Central Brasileiro, associa-dos a solos profundos e bem drenados, como os Latos-solos. O restante das terras (30%) corresponde, em ge-ral, aos solos com elevados teores de areia, como osNeossolos Quartzarênicos e alguns Latossolos de textu-ra média, os quais apresentam fraca estruturação e sãofacilmente desagregados e carregados pelas águas da chu-va, mesmo em relevo relativamente plano. Ressalta-se aocorrência, nessa região, de severos processos erosivoslineares (ravinas e voçorocas) nas terras situadas em al-gumas cabeceiras de drenagem, resultando da conjuga-ção de solos de fraca estruturação e relevo movimenta-do, como ocorre, por exemplo, nos chapadões da divisados Estados de Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Ge-ras e Mato Grosso, onde se originam diversos rios queformam as bacias do Prata e do Amazonas. A Tabela 2mostra a região Sudeste com predominância de soloscom baixa suscetibilidade aos processos erosivos (46%).Semelhante à região Centro-Oeste, a ocorrência expres-siva de Latossolos em relevos aplainados, com elevadosconteúdos de argila e porosos, condicionam a baixa sus-cetibilidade à erosão. As terras muito erodíveis corres-pondem a 40% da região e estão associadas a relevosdissecados e aos solos com elevados conteúdos de areiaou significativa diferença textural em profundidade,como ocorre, por exemplo, nos domínios dos arenitosdo Grupo Bauru, predominantemente na região Oestedo Estado de São Paulo e nos relevos acidentados aolongo da Serra do Mar.

Para a região Sul, observa-se a predominânciade solos com alta e muito alta suscetibilidade à erosão(Tabela 2), condicionados pela presença significativade solos rasos, como os Cambissolos e Neossolos Litó-licos, ou mesmo mais profundos, como os Argissolos,todos localizados em relevos acidentados das serras eplanaltos sulinos. Os solos com suscetibilidade muitobaixa e baixa perfazem 29% da região, geralmente as-sociados aos planaltos e planícies sedimentares de rele-vos aplainados, onde ocorrem Latossolos e Planosso-los respectivamente. Na classe de suscetibilidade mé-dia, destacam-se os Alissolos, Nitossolos e Chernosso-los, em geral em relevo movimentado.

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Celso Vainer ManzattoAntonio Ramalho Filho

Thomaz Corrêa e Castro da CostaMaria de Lourdes Mendonça Santos

Maurício Rizzato CoelhoEnio Fraga da Silva

Ronaldo Pereira de Oliveira

2Potencial de Uso e UsoAtual das Terras

Capítulo

13

O uso adequado da terra é o primeiro passo no sentidoda preservação do recurso natural solos e da agriculturasustentável. Para isso, deve-se empregar cada parcela deterra de acordo com a sua aptidão, capacidade de sus-tentação e produtividade econômica (não foram consi-deradas outras potencialidades das terras e restriçõesambientais, como cobertura vegetal, biodiversidade,questões indígenas, refúgios ecológicos, patrimôniosarqueológicos...) de tal forma que os recursos naturaissejam colocados à disposição do homem para o seumelhor uso e benefício, ao mesmo tempo em que sãopreservados para gerações futuras (Lepsch et al., 1991).

No Brasil, a grande extensão territorial, diversi-dade ambiental e socioeconômica determinam os pa-drões de uso das terras, caracterizando-se regionalmentepor diferentes formas de pressão ao uso. A exemplodisso, tem-se o Estado de São Paulo que, apesar dogrande desenvolvimento socioeconômico, técnico ecultural, estava convivendo com uma perda anual deaproximadamente 130 milhões de toneladas de soloagrícola (Bertoni & Lombardi Neto, 1985), enquantona região Amazônica, o conhecimento técnico-cientí-fico a respeito de seus ecossistemas ainda é muito limi-tado, o que pode levar ao uso indiscriminado de seusrecursos (Rodrigues et al., 1990).

Destaca-se dessa forma, a preocupação e a ne-cessidade de um ordenamento/reordenamento territo-rial, cuja ferramenta básica é o Zoneamento Ecológi-co-Econômico (ZEE), o qual não pode prescindir deum diagnóstico ambiental prévio. No caso brasileiro,este discernimento faz parte da Constituição (Brasil,1988), como pode ser observado no seu artigo 21, inci-so IX, onde é delegada à União a competência de ela-borar e executar planos nacionais e regionais de orde-nação do território e de desenvolvimento econômicoe social (Comissão..., 1991).

Este capítulo apresenta o resultado de um diag-nóstico generalizado do potencial e uso das terras noBrasil, através da análise da aptidão agrícola e uso atu-al das terras bem como da intensidade de uso.

Aptidão Agrícola das Terras

A avaliação da aptidão de terras é condição para odesenvolvimento de uma agricultura em bases susten-táveis. Esta avaliação, assim como o conhecimento dadisponibilidade de terras, é obtida através da interpre-tação de levantamentos de recursos naturais, com ên-fase para o recurso solo, que juntamente com dadosde clima e o nível tecnológico define o potencial des-sas terras para diversos tipos de utilização. O exercíciobaseado na comparação da disponibilidade de terras,que é função da oferta ambiental, com a demanda porterras aptas determina o planejamento de uso de umadeterminada região.

O conhecimento do potencial das terras do paíspara diferentes tipos de utilização é função da avalia-ção da aptidão dessas terras, as quais são classificadasconforme as suas limitações. A aptidão das terras de-pende de algumas condições que influenciam a suacapacidade de produção, entre elas, os fatores de limi-tação do solo, basicamente, fertilidade, disponibilida-de de água, excesso de água, susceptibilidade à erosão eimpedimentos à mecanização bem como o nível tec-nológico adotado, denominado níveis de manejo A, Be C, (Ramalho Filho & Beek, 1997). Os níveis de ma-nejo são assim definidos:

• primitivo (A) - práticas agrícolas que refletem umbaixo nível técnico-cultural. Praticamente não háaplicação de capital para manejo, melhoramento econservação das condições das terras e das lavouras.

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Potencial de Uso e Uso Atual das Terras14

As práticas agrícolas dependem do trabalho braçal,podendo ser utilizada alguma tração animal comimplementos agrícolas simples;

• intermediário (B) - práticas agrícolas que refletem umnível tecnológico médio. Modesta aplicação de capi-tal e de resultados de pesquisa para manejo, melhora-mento e conservação das condições das terras e daslavouras. Práticas agrícolas que incluem calagem eadubação com NPK, tratamentos fitossanitários sim-ples, mecanização com base na tração animal ou mo-torizada para desbravamento e preparo do solo;

• avançado (C) - Práticas agrícolas que refletem altonível tecnológico, aplicação intensiva de capital ede resultados de pesquisa para manejo, melhoramen-to e conservação das condições das terras e das la-vouras. Motomecanização presente nas diversas fa-ses da operação agrícola.

A Tabela 1 apresenta a aptidão agrícola das terrasdo Brasil, por região, evidenciando os diferentes níveis

tecnológicos de manejo, classe de aptidão e tipos de usosindicados. Da análise da Tabela 3, elaborada com base emRamalho Filho & Pereira (1999), verifica-se que há umagrande predominância de terras aptas para lavouras quan-do comparadas às demais atividades. Considerando-se osdiferentes níveis tecnológicos, o país dispõe de aproxima-damente 65% do seu território (5.552.673km2) de terrasaptas ao uso agropecuário. Este dado revela o alto poten-cial agrícola do território brasileiro quando consideradaa adoção de diferentes níveis de manejo, para diagnosti-car o comportamento das terras em três níveis operacio-nais diferentes. Vale informar, no entanto, que terras ap-tas para lavouras o são também para os demais tipos deutilização menos intensivos como pastagem e silvicultu-ra que inclui o reflorestamento.

Ao se analisar a atividade lavoura no conjuntode todas as regiões do Brasil, observa-se que os níveisde manejo, ou seja, os graus de intensidade de uso detecnologia no manejo do solo, foram preponderantesna definição do maior ou menor potencial de terras

Tabela 1. Aptidão das terras do Brasil por região e por nível de manejo para os diferentes tipos de usos indicados.

1 Terras com aptidão exclusiva para pastagem plantada; não aptas para lavouras.2 Terras com aptidão exclusiva para silvicultura; não aptas para lavouras e pastagem plantada.3 Terras com ocorrência exclusiva de pastagem natural.Fonte: Ramalho Filho (1985); Ramalho Filho & Pereira (1997).

Nível de manejo CNível de manejo ANível de manejo A

Classe de aptidão por nível de manejo (km2)Tipo deUtilização Região

Boa Regular Restrita Boa Regular Restrita Boa Regular Restrita

N 25.850 204.982 2.046.873 106.878 1.751.585 427.377 30.032 1.731.001 326.120

Ne 13.394 145.079 435.307 15.555 421.060 321.150 7.482 436.452 267.025

Lavouras Se 22.715 118.648 147.506 102.929 130.785 330.767 78.230 266.287 45.966

CO 2.508 68.048 358.065 10.708 385.902 579.222 107.426 636.919 231.460

S 46.191 96.824 142.717 64.975 171.474 162.399 38.388 233.857 48.078

Total 110.658 633.581 3.130.468 301.045 2.860.806 1.820.915 261.558 3.304.516 918.649

N - - - - 234.113 4.935 - - -

Ne - - - 4.908 91.636 27.967 - - -

Pastagem Se - - - 2.957 40.215 96.807 - - -

plantada 1 CO - - - - 339.309 22.119 - - -

S - - - 34.125 16.836 10.210 - - -

Total - - - 41.990 722.109 162.038 - - -

N - - - - - 3.816 - - -

Ne - - - 1.939 33.908 71.854 - - -

Silvicultura 2 Se - - - - 58.619 9.415 - - -

CO - - - - 139.418 71.006 - - -

S - - - 3.127 7.322 11.238 - - -

Total - - - 5.066 239.267 167.329 - - -

N - - 9.469 - - - - - -

Ne 287 141.564 290.781 - - - - - -

Pastagem Se - 945 77.084 - - - - - -

natural 3 CO - - 209.181 - - - - - -

S 19.789 10.359 3.102 - - - - - -

Total 20.076 152.868 589.617 - - - - - -

Page 31: Uso Agricola Solos Brasileiro s

Potencial de Uso e Uso Atual das Terras 15

aptas para este fim. É evidente que, para o nível demanejo A (primitivo), há um predomínio de terrascom sérias limitações (classe Restrita) em todas as regi-ões do país, significando que a utilização de tecnologi-as rudimentares limitam grandemente o cultivo de la-vouras por agricultores (Tabela 1). No nível de manejoB (pouco desenvolvido), verifica-se um certo equilí-brio entre as terras com limitações moderadas e fortes(classes de aptidão Regular e Restrita) na maioria dasregiões brasileiras, enquanto no nível de manejo C(desenvolvido; altamente tecnificado) ocorre um fortepredomínio de terras com moderadas restrições, con-siderando-se o atual nível de tecnificação. Torna-se in-teressante destacar que as terras naturalmente mais fér-teis e propícias à agricultura quando usadas com ma-nejo com baixo nivel de uso de insumos são mais evi-denciadas nos níveis de manejo A e B. Mesmo assim,essas terras têm uma performance melhor para lavou-ras também no nível de manejo C, predominantemen-te nas regiões Sudeste e Sul. Os níveis de manejo A, Be C e as classes de aptidão de terras são definidos deacordo com Ramalho Filho & Beek (1997).

Aproximadamente 10% do território nacional,ou cerca de 926.137km2 (Tabela 1) são terras indicadaspara uso com pastagem plantada. A região sul destaca-se positivamente, apresentando elevado potencial paraessa atividade. Cerca de 56% de suas terras apresentamaptidão Boa para pastagens plantadas, seguidas de 28%com aptidão Regular e apenas 17% com restrições se-veras para esse tipo de uso. As demais regiões se apre-sentaram constituídas de terras com classe de aptidãoRegular e Restrita para pastagem plantada.

Com relação à silvicultura, destaca-se também aregião Sul, onde cerca de 48% de suas terras apresen-tam aptidão variando de classe Boa a Regular (14% e34%, respectivamente), sendo o restante (52%) da clas-se Restrita. A região Nordeste, não obstante à alta per-centagem de suas terras com aptidão Restrita (67%),apresenta o correspondente a 31% com aptidão Regu-lar, e apenas 2% com aptidão Boa para utilização comsilvicultura.

Quanto à avaliação das terras para pastagemnatural, a região Sul ficou novamente evidenciadapositivamente, pois 60% de suas terras ocupadas comessa atividade apresentam aptidão Boa. A seguir, des-taca-se a região Nordeste, cujas terras apresentam, do-minantemente, aptidão Regular (33%) e Restrita(67%). As demais regiões apresentam suas terras comclasse de aptidão quase que exclusivamente Restritapara pastagem natural. Tratam-se de solos rasos oupedregosos predominantemente ocupados com cam-po cerrado. .Conforme ficou mencionado acima, ter-ras aptas apenas para silvicultura não são aptas parapastagem plantada, da mesma forma que terras aptaspara pastagem são aptas para silvicultura mas não

são aptas para lavouras por ser esta uma atividadeagrícola mais intensiva.

A partir da contextualização e visão sinópticasobre a avaliação da aptidão agrícola das terras brasi-leiras, observa-se que o país possui um imenso poten-cial agrícola, pois dispõe de 5,55 milhões de quilôme-tros quadrados (555 milhões de hectares) de terras ap-tas para lavouras, onde, salvo restrições de ordem am-biental ou de legislaçao, 2,79 milhões encontram-se naregião Norte. No mesmo contexto, possui também,expressiva extensão (964.334km2) de terras desmatadase de baixo potencial para lavouras aptas para pasta-gem plantada e para silvicultura.

Uso Atual das Terras

As mudanças no uso e cobertura do solo, quando con-sideradas globalmente, são tão importantes que che-gam a afetar significativamente aspectos chave do fun-cionamento do sistema terrestre global. O impactodessas mudanças, conforme está citado por Lambin etal (2001), pode se dar sobre a diversidade biótica (Salaet al., 2000), contribuir para as mudanças climáticaslocais e regionais (Chase et al.,1999), bem como para amudança climática global (Houghton et al., 1999), alémde contribuir diretamente para a degradação dos solos(Tolba et al., 1992), entre outros.

A necessidade de compreensão das causas demudanças no uso da terra tem sido enfatizada (Com-mittee on Global Change,Research, 1999). Lambin etal., (2001) defendem que as causas das alterações nouso e cobertura da terra são dominadas pelas políticasde desenvolvimento e ambientais. Eles concluíram queestas não se devem unicamente ao crescimento popu-lacional nem à pobreza, mas principalmente, deve-se àresposta da população às oportunidades econômicasmediadas por fatores institucionais. Assim, oportuni-dades e limitações para novos usos da terra são criadaspor mercado e políticas locais e nacionais, porem aforça global é a principal determinante das alteraçõesde uso da terra, que são potencializadas ou atenuadaspor fatores locais.

Estudos da FAO mostram que as atividades agrí-colas e pecuárias são as principais causas das mudan-ças no uso da terra nos trópicos (FAO, 1996). No Bra-sil, a atividade agropecuária causou 91% do desmata-mento com ênfase nos anos 80, sendo 51% devido aouso agrícola com culturas anuais e perenes e 40% pelapecuária (Amelung & Diehl, 1992). Essa taxa no en-tanto, decresceu nos anos 90, devido à suspensão dossubsídios para a expansão da atividade de pecuária.

Durante a década de 90, o Brasil foi um dospoucos países do mundo a aumentar sua área agrícola,estimada ao final da década em cerca de 250 milhõesde hectares, e ocupa atualmente 27,6% de seu territó-

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Potencial de Uso e Uso Atual das Terras16

rio com atividades agrosilvipastoris (Tabela 2 e Figura1). As áreas destinadas às unidades de conservação jádemarcadas representam atualmente cerca de 55 mi-lhões de hectares, estimando-se que brevemente alcan-ce 10% do território nacional com os processos de

demarcação em curso. Embora seja um quantitativoexpressivo, considera-se que este montante ainda sejainsuficiente diante da necessidade de preservar os di-versos biomas do país para, entre outros fins, protegera sua diversidade biológica.

I. Terras com Utilização Econômica Milhões de hectares

Lavouras Temporárias(1) 38,5Lavouras Temporárias em Descanso 4,0

Culturas Permanentes 7,5Pastagens Plantadas 99,7Pastagens Naturais 78,0Florestas Artificiais 5,4

Terras Irrigadas 3,0SUB TOTAL 236,1

II. Terras com Outros Usos

Reservas Indígenas(2) (homologadas, reservadas ou emprocesso de identificação fora da Floresta Amazônica) 101,9

Centros Urbanos, Lagos, Estradas e Rios(3) 30,0Terras Devolutas(4) 6,1

Terras Produtivas não Aproveitadas, 16,3Outros Usos ou Indefinidos 99,3

SUB TOTAL 618,6TOTAL 854,7

Tabela 2. Uso Atual das Terras do Brasil(*)

FONTES: IBGE – Censo Agropecuário, 1996.(*) Tabela adaptada do livro “Os Caminhos da Agricultura Brasileira”, Espírito Santo, Benedito Rosa (2001).(1) CONAB – Estimativa da Safra 2000/01.(2) IBAMA.(3) Estimativa – Embrapa.(4) INCRA – Resumo de Atividades do INCRA, 1985-94.

Figura 1. Uso Atual das Terras por Região do Brasil.

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Potencial de Uso e Uso Atual das Terras 17

A análise da estrutura produtiva do país revelaque a principal ocupação do solo é a pecuária, com21% do território brasileiro ocupado com pastagensnaturais e plantadas, ou seja, mais que o triplo dasterras destinadas à produção de lavouras permanentese temporárias. Em termos regionais, observa-se que ouso com pastagens naturais ainda permanece bastantedisseminado, apesar das diferenças regionais em ter-mos climáticos, valor da terra, padrões culturais e di-mensões territoriais das regiões (Figura 1). De umaforma geral pode-se inferir que este tipo de atividade éresultado da utilização de terras marginais, com limi-tações climáticas e/ou pedológicas, como é o caso dacaatinga e do cerrado, e ainda de áreas degradadas e/ou abandonadas. Possuem como características comunsuma baixa taxa de desfrute dos rebanhos e um baixoemprego de tecnologias de produção, exceto na Re-gião Sul, onde ocorrem pastagens naturais com boacapacidade de suporte e rebanhos de melhor índicezootécnico.

Com relação às pastagens plantadas a RegiãoCentro Oeste destaca-se sobre as as demais, com seus46 milhões de hectares ou quase a metade das pasta-gens plantadas do Brasil, seguida pela Região Sudestecom cerca de 20 milhões de hectares.

A área atualmente ocupada com lavouras é rela-tivamente pequena se comparada com a área potencialque o país dispõe para este uso, considerando apenasos aspectos do solo, especialmente no Centro-Oeste,bem como com a área relativa utilizada por outrospaíses do continente. O incremento verificado ao lon-go da década passada, de 45,6 milhões de hectares para53,2 milhões em 1998, foi decorrente em grande parteda incorporação de áreas de pastagens, especialmentenos estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul eTocantins (IBGE, Censo Agropecuário, 1996). A asso-ciação desta expansão com o ganho de produtividaderesultou em um aumento de 37% na produção de grãos,atingindo cerca de 100 milhões de toneladas na safra2001/2002. Entre os grãos, a soja foi a que mais seexpandiu em termos de área e produção, graças à pes-quisa agrícola que desenvolveu e introduziu novas va-riedades de soja adequadas às condições dos solos decerrados, principalmente nos Estados de Goiás, MatoGrosso do Sul e Mato Grosso. Entretanto, a produçãode grãos no país, pode ser ainda considerada comopouco diversificada, concentrando-se basicamente naprodução de soja e milho, que somadas atingem cercade 70% da área plantada.

O crescimento das exportações agrícolas brasi-leiras, que coloca o Brasil como segundo maior expor-tador de soja, com 31,6 milhões de ton/ano, e queresultou principalmente do uso da fronteira agrícolano Cerrado, concentra 45,3% da produção nacional.Em 1975, 13% das propriedades rurais do Mato Gros-

so tinham entre 100 e 1000 ha. Em 1995, este percen-tual subiu para 30%. Este avanço, se por um lado be-neficiou o país economicamente, gerando excedentesna balança comercial, por outro provocou impactossociais e ambientais, como concentração de terras erenda, desmatamento e perda da biodiversidade nobioma cerrado, que já perdeu características primáriasem quase 80% de sua extensão, conforme a publicação“Expansão Agrícola e Perda da Biodiversidade no Cer-rado: origens históricas e o papel do comércio interna-cional”, lançada pela WWF-Brasil (WWF, 2000).

Uma comparação entre ao potencial de terras esua disponibilidade com a área atualmente ocupadascom os diversos tipos de uso revela a adequação deuso das terras do país. Os conflitos entre potencial euso atual se traduzem em sobreutilização e subutiliza-ção das terras.

Com base nos dados da Figura 2, é possível tirarconclusões sobre a adequação de uso das terras no paísse comparados com os dados sobre aptidão das terras.

Pressão do Uso das Terras

A intensidade de uso das terras por atividades agrosil-vipastoris foi medida com dados do Censo Agropecu-ário de 1996 e da Base de Informações Municipais(BIM) (IBGE, 1996). Destes dados, foram selecionadasvariáveis com relação de causa para uma possível de-gradação do recurso natural “solo”. As variáveis seleci-onadas representam três categorias de uso da Terra:Agricultura, Pecuária e Silvicultura, que foram trans-formadas em indicadores de pressão por categoria,como pressão agrária (DENSUSO), e de fronteira agrí-cola ou supressão do recurso florestal (DENSEXVE)apresentados na Tabelas 3. Estes indicadores, após nor-malização, foram agrupados em um índice final de in-tensidade de ocupação (PRUSOEXV) dos territóriosmunicipais (Figura 3), distribuído por região (Tabela 4).

Verifica-se na Figura 4, que a atividade agrope-cuária é mais intensiva nas regiões Sul, Sudeste e Cen-tro-Oeste respectivamente. A região Nordeste, emborabastante antropizada, apresenta uma intensidade de usointermediária, face às limitações climáticas que ofere-ce às atividades agropecuárias, e a região Norte, apre-senta, de forma geral, municípios com áreas de baixaintensidade de uso agropecuário, ou mesmo ausente.Considerando o valor ambiental da Floresta Amazô-nica, a maior floresta tropical remanescente do mun-do, sua utilização com grandes sistemas agropecuáriosintensivos não deve ser considerada como uma alter-nativa ao uso sustentável dos recursos naturais, a exem-plo dos sistemas agroflorestais (Frankie ; Lunz & Ama-ral(1997); Lunz & Franke (1997, 1998);

Na Tabela 4, a Região Sul apresenta o maiorpercentual de área com alta intensidade de uso (41%).

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Potencial de Uso e Uso Atual das Terras18

Figura 2. Evolução da área ocupada pela agropecuária no Brasil no período de 1970 a 1998.

0

25

50

75

100

125

150

175

200

225

250

275

300

1970 1974 1978 1982 1986 1990 1994 1998

Anos

Milh

ões

dehe

ctar

es

Culturas Permanentes PastagensÁrea Agrícola Culturas Permanentes e AnuaisCulturas Anuais

Fonte: Base de dados da FAO (FAO Stat)

Nome Expressão Significado

AgriculturaDENSLAVO =AreaLavoura (ha)/AreaMunic (ha)

PecuáriaDENSPAST =AreaPastagem (ha)/AreaMunic (ha)

SilviculturaCAVEM3 =CAVETON*1.000*3,33*0,001175 Carvão vegetal em m3 de madeira consumidaLENHM3 Extração de lenha em m3

MADEM3 Extração de madeira em m3

DENSEXVE =(CAVEM3+LENHM3+MADEM3) Indicador de fronteira agrícola e/AreaMunic (ha) vulnerabilidade ambiental

DENSUSO =DENSLAVO+DENSPAST Indicador de pressão agráriaPRUSOEXV =DENSUSO+DENSEXVE Índice final de pressão

agrosilvipastoril sobre as terras

Tabela 3. Variáveis e Indicadores de Uso da Terra.

Com raízes na colonização por imigrantes europeus, aatividade agrária na região sul é diferenciada das de-mais regiões do país, exceto parte da Região Sudeste. ARegião Sul é formada, dominantemente, por peque-nos módulos rurais e agricultura tecnificada, organi-zada, usualmente, em cooperativas. O tradicionalismoagrícola não evitou problemas como a perda de pro-dutividade provocada pelo deplessão e erosão do solona região. Quanto á região Norte, há uma baixa inten-sidade de uso das terras em 95% de seu território, com

o Estado do Amazonas praticamente sem antropiza-ção. Nesta região as áreas de maior intensidade de usocompreendem o leste Estado do Pará, Tocantins, nortedo Mato Grosso e Rondônia, que demarcam a área defronteira agrícola conhecida como PROARCO, ou arcodo desmatamento. As formas de uso da terra nestafaixa começaram com a exploração madeireira, forma-ção de pastagens posteriormente abandonadas, e atu-almente sendo intensamente procurada para produ-ção de grãos.

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Potencial de Uso e Uso Atual das Terras 19

Figura 3. Índice relativo da intensidade de uso das terras dos municípios por atividade Agrosilvipastoril.

Tabela 04. Intensidade de uso agrosilvipastoril das terras municipais por região no Brasil.

Classe depressão

BaixaMédiaAlta

km2

368261214867935722

%

9541

km2

1214470233031104275

%

78157

km2

761442500558359367

%

473122

km2

291792360400271244

%

323929

km2

136168200116240472

%

243541

Superfície

SSECONENIntensidade

Região

perda de biodiversidade, com 1.358 espécies ameaça-das de extinção. Certamente por ser detentor da maiorextensão de floresta tropical do planeta. De qualquerforma, acumula anualmente, somente na Amazônia,uma taxa de desflorestamento em torno de 14.000km2.Na Rio+10. Uma iniciativa para conservação das flo-restas tropicais resultou na criação, pelo Governo Bra-sileiro, do programa Áreas Protegidas da Amazônia(ARPA), tendo como principais parceiros o WWF-Bra-sil, o GEF (Global Environmental Facility) e o BancoMundial. A meta é proteger 500 mil km2 da Amazôniaaté 2012, correspondendo a 12% deste bioma.

Com relação à irrigação, a exemplo do que ocor-re com o uso da terra para lavouras, o país dispõe deum excelente potencial de solos aptos à irrigação, esti-

Atualmente o Programa Avança Brasil vem in-centivando os “corredores de exportação” como umaalternativa para baratear custos com transporte e paraconferir maior competitividade à soja brasileira, que poderesultar em novos impactos, principalmente na regiãoNorte. Uma alternativa para o uso racional da terra nestaregião é o aproveitamento de experiências nativas deprodução sustentável dos recursos naturais, apoiadasorganizações não governamentais e pelo próprio gover-no, como é o caso dos sistemas agroflorestais.

Segundo o relatório Planeta Vivo 1999 do WWF(http://www.wwf.org.br) - uma análise da “saúde” am-biental do planeta com base em estudos realizados em151 países, o Brasil é o segundo país com maior des-matamento em área total e o sexto no ranking em

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Potencial de Uso e Uso Atual das Terras20

mados em 29,5 milhões de hectares (Tabela 5), porémo uso da agricultura irrigada ainda é modesto, totali-zando em 1998 uma área de 2,87 milhões de hectares,ou seja, apenas 6,19% das áreas destinadas a produção,muito abaixo dos padrões mundiais e das oportunida-des que o País oferece.

Na Figura 4, observa-se que a irrigação experi-mentou uma grande expansão até 1990 e posterior-mente uma estagnação do crescimento que persiste atéos dias atuais. O crescimento exponencial da irriga-ção, principalmente na década de 80, foi decorrentedo Programa Nacional de Aproveitamento Racionalde Várzeas Irrigáveis (PROVÁRZEAS), instituído atra-vés do Decreto nº 86.146 em 23.06.81, e do Programade Financiamento e Equipamento de Irrigação (PRO-FIR), no mesmo ano. Ambos os programas possibilita-

ram a utilização de mais de um milhão de hectares desolos de várzeas drenados e/ou sistematizados, benefi-ciando cerca de 40 mil produtores e criando mais de150 mil empregos diretos no período de sua vigência(1981-1988).

Considera-se atualmente, à exceção da irrigação,que as frentes de ocupação do território são mais sen-síveis a oportunidade do capital do que aos incentivosgovernamentais, sendo seu maior regulador a legisla-ção, suportada pelos órgãos de fiscalização territoriaise ambientais.

As tentativas de implantação de grandes proje-tos de expansão da fronteira agrícola, não têm apre-sentado no Brasil, os resultados esperados pela socie-dade, pois foram geralmente determinadas por forçaseconômicas e políticas, sem levar em conta informa-ções técnicas, culturais, de economia local, e de conhe-cimento dos ecossistemas. Faltou interação com a so-ciedade para a construção de um modelo que atendes-se ao desenvolvimento local. Uma alternativa de ocu-pação da terra que continue a gerar saldos positivos nabalança comercial pela atividade agrária, que preserveos recursos ambientais remanescentes, e que permitauma distribuição de renda mais justa, ainda é motivode discussão em várias esferas da sociedade. Algunsmecanismos do governo como o ZEE - ZoneamentoEcológico Econômico, a Legislação Ambiental, consi-derada uma das melhores do mundo, programas deincentivo a agricultura familiar, como o PRONAF, eprincipalmente a ação pioneira de segmentos da soci-edade, representada pelas ONG´s, tem o propósito deapresentar soluções para essas questões.

Solos aptos Área irrigada Parcela do ProporçãoRegião à irrigação consumida total agrícola consumida

1.000ha 1.000ha % %

Norte 11.900 87 4,02 55,1Nordeste 1.104 493 5,77 65,8Sudeste 4.429 891 8,29 65,5Sul 4.407 1.195 7,36 62,2Centro-Oeste 7.724 202 2,34 30,8

Total 29.564 2.868 6,19 62,3

Tabela 5. Indicadores da Irrigação no Brasil (Cristofidis, 1999)

Referências Bibliográficas

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0

500

1000

1500

2000

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3000

1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000

Anos

Áre

aem

mil

hec

tare

s

Figura 4. Evolução das áreas irrigadas no Brasil.

Fonte: Lima et al, 1999.

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Potencial de Uso e Uso Atual das Terras 21

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Elizabeth Presott FerrazSilvia Elizabeth de Castro Sampaio Cardim

Paulo de Tarso Loguercio Vieira

3O Domínio doUso do Solo

Capítulo

23

O Perfil da Estrutura Fundiária

A estrutura fundiária brasileira pode ser analisada sobduas óticas distintas: a primeira tem por foco a distri-buição do espaço fundiário entre seus detentores - pro-prietários e posseiros. A segunda permite identificarcomo este espaço é ocupado e explorado pelos produ-tores rurais. Desta forma têm-se: imóvel rural (unida-de de propriedade) e estabelecimento agropecuário (uni-dade de produção).

Para as análises relativas à distribuição do espa-ço fundiário entre os detentores, são utilizados os da-dos cadastrais levantados pelo Instituto Nacional deColonização e Reforma Agrária – INCRA. Na segun-da hipótese, empregam-se os dados extraídos dos Cen-sos Agropecuários da Fundação do Instituto Brasilei-ro de Geografia e Estatística – IBGE.

Ainda que pese o fato de que os esquemas con-ceituais das mencionadas fontes sejam distintos, uni-dades de propriedade – imóvel rural - e unidades deprodução – estabelecimento agropecuário - ambas evi-denciam um acentuado grau de concentração da terrano Brasil.

Assim, temos que, conforme as estatísticas cadas-trais do INCRA, em 1998, os imóveis rurais com áreasuperior a 1.000,0ha, representando 1,4% do universocadastrado, detinham 49% da área total. Já em termosde estabelecimentos agropecuários, 0,9% deles, com áreasuperior a 1.000ha, ocupavam 43,7% da área total re-censeada em 1996. Do outro extremo, 31,1% dos imó-veis rurais com menos de 10,0ha, ocupavam apenas 1,4%da área total. De forma mais dramática, 52,9% dos esta-belecimentos agropecuários com área inferior a 10,0ha,abrangiam, tão somente, 2,7% da área total.

Quando considerada a grandeza do territóriobrasileiro, 415,0 milhões de hectares pelo cadastro do

INCRA em 1998, e 353,6 milhões de hectares de acor-do com o último Censo Agropecuário do IBGE, evi-dencia-se em que magnitude se dá este forte grau deconcentração da terra no país. Um bom exemplo estáno fato de que a área média dos imóveis rurais com maisde 1.000,0ha é 33 vezes maior que a média nacional, en-quanto que para os estabelecimentos rurais, do mesmoextrato, ela representa 43 vezes a média nacional.

Evidente é a diferença de abrangência – mais de60 milhões de hectares - entre as fontes de levantamen-to sobre a ocupação do espaço rural no Brasil. O Cen-so Agropecuário do IBGE é restritivo ao limitar-se àsunidades efetivamente exploradas, enquanto que osdados do Cadastro do INCRA se ampliam na missãode monitorar o domínio sobre as terras, na condiçãode Órgão Fundiário Nacional responsável pelo Geren-ciamento da Estrutura Fundiária Brasileira.

Aspectos Históricos e Geográficos

Em conseqüência, tanto de seu passado de ocupaçãocolonial quanto da sua forma de ocupação mais recen-te, o Brasil não apresenta uma satisfatória distribuiçãoda propriedade da terra, ainda que sucessivos gover-nos não tenham poupado esforços no sentido de re-verter este quadro. Atualmente, as ações de reformaagrária tomaram grande vulto, tanto em função dapressão exercida por segmentos da sociedade civil or-ganizada, como pelas das diretrizes e metas estabeleci-das de política agrária e concretizadas notadamentepelos três últimos governos.

Outro ponto a ser destacado refere-se ao fato deque a concentração da propriedade da terra seja eleva-da em todo país quando vista sob a ótica da simplesanálise dos indicadores nacionais. Tais indicadores ten-

Page 39: Uso Agricola Solos Brasileiro s

O Domínio do Uso do Solo24

dem a obscurecer ou mesmo distorcer as diferençasregionais da contração da propriedade da terra, tantoem seus aspectos históricos, sistemas de ocupação edimensão das áreas.

As diferenças regionais foram sendo definidas,como mencionado na introdução, ao longo de toda ahistória de ocupação do país. Na região Norte, observa-seuma grande concentração fundiária, em níveis mais ele-vados do que a média Brasil, em razão de movimentosdemográficos-econômicos mais recentes que se depara-ram com uma região ocupada por grandes extensões ter-ritoriais, calcadas no extrativismo vegetal, aforadas a pou-cas e tradicionais famílias. A este fato, acrescentem-se asrestrições ambientais, aliadas à alta densidade florestal,que dificultam o acesso, a monitoração e o controle, eque abriram espaço à ocupação desordenada e irregulardas terras, aí detectada com grande intensidade.

A região Nordeste também conta com elevadosníveis de concentração fundiária, fato que pode emparte ser atribuído à destinação das sesmarias ocupa-das na forma de monoculturas. Como exemplo, pode-se citar a monocultura da cana-de-açúcar e a expansãodo latifúndio pecuário especialmente no interior dealguns estados.

Já a região Sudeste, de ocupação mais antigajuntamente com o Nordeste, apresenta níveis de con-centração da propriedade da terra relativamente bai-xos, o que reflete uma estrutura fundiária mais equili-brada tendo em vista o percentual de área ocupadapela média propriedade, o maior dentre as cinco regi-ões. Parte desse cenário constitui reflexos da coloniza-ção estrangeira em áreas de clima propício, parte de-corre da influência da instalação, por longo período,da sede do governo brasileiro.

Relativamente a região Sul, cabe destacar que,do ponto de vista fundiário, constitui-se na mais ocu-

pada do país, ainda que tenha sido colonizado quasedois séculos após o Nordeste e o Sudeste. A coloniza-ção estrangeira, particularmente na segunda metadedo século XIX, fez com que esta região apresentasseaspectos bastante diferenciados daqueles observados norestante do Brasil. Originou-se desta forma uma diver-sificada agricultura de subsistência com base na pe-quena propriedade. A grande propriedade pecuária,primeira atividade econômica desta região, permaneceaté hoje na região da campanha, porção meridionaldo Estado do Rio Grande do Sul.

A região Centro-Oeste, juntamente com a re-gião Norte, apresenta os maiores graus de concentra-ção da propriedade da terra no país. Sua ocupação,mais recente dentre todas as grandes regiões brasilei-ras, foi incentivada pelo Governo Federal através degrandes projetos de colonização interna, tanto de cu-nho particular como governamental, com a finalidadede assegurar a soberania nacional. Entretanto a mine-ração e expansão da agropecuária das regiões Sul eSudeste marcaram, de forma desordenada e aventurei-ra, a ocupação do espaço fundiário, com altos índicesde concentração e irregularidades na posse e domíniodas terras. Com maior intensidade, o Estado do MatoGrosso apresenta o mais elevado índice de superposi-ção de áreas sob domínio particular.

Os cenários acima descritos podem ser melhorvisualizados através do índice de Gini, conforme daFigura 1, tradicionalmente utilizado pelo INCRA paraquantificar a concentração fundiária. Nesta tabela ob-serva-se a variação do índice entre 1992 e 1998. Especi-al atenção deve ser dada a Região Norte, única a apre-sentar valores superiores aos índices nacionais nos doisanos considerados.

Sob o aspecto temporal, observa-se uma grandeestabilidade na estrutura fundiária brasileira. No perí-

0,00

0,10

0,20

0,30

0,40

0,50

0,60

0,70

0,80

0,90

Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

Unidades Geográficas

Índ

ice

de

Gin

i

19921998

Figura 1. Comportamento do índice de Gini em 1992 e 1998, Segundo o Brasil e Grandes RegiõesFonte: Estatísticas Cadastrais - INCRA.

Page 40: Uso Agricola Solos Brasileiro s

O Domínio do Uso do Solo 25

odo 1972/1998, fato este corroborado pela área médiados imóveis que, de acordo com Hoffmann (1998),“diminuiu apenas 3%, passando de 109,3ha em 1972para 106,0ha em 1992. A área mediana apresenta mu-dança insignificante, caindo de 18,7 para 18,5ha. Oíndice de Gini permanece um pouco acima de 0,83 e aporcentagem da área total ocupada pelos 10% maioresestabelecimentos permanece entre 77% e 78%“.

Ainda segundo Hoffmann (1998), uma das ra-zões para esta estabilidade da estrutura fundiária deve-se à extensão territorial do país, que faz com que inter-venções governamentais localizadas tenham pouco efei-to no total.

Simulações realizadas no ano de 2000, para avali-ar o impacto das ações programadas pelas políticas dedesenvolvimento agrário, especialmente às decorren-tes do Assentamento de Trabalhadores Rurais – cercade 4,2 mil projetos considerados - geraram uma expec-tativa razoável, se efetivamente implementadas, acarre-tarão em redução do índice de Gini nacional, aproxi-mando-se a 0,802.

Perfil da Estrutura e da Evolução da ÁreaCadastrada – Brasil e Grandes Regiões

Os dados da estrutura fundiária brasileira, de acordocom as estatísticas cadastrais para o ano de 1998, reve-lam que, em termos absolutos, a região Norte apresen-tava um total de 225.520 imóveis rurais, abrangendo93.014.000,0ha de área cadastrada. A região Nordestecontava com 1.007.819 imóveis cadastrados, ocupan-do 79.725.000,0ha de área cadastrada. Na região Su-deste, verificava-se um total de 945.961 imóveis ruraise uma área cadastrada de 66.361.000,0 ha. Por sua vez,a região Sul detinha 1.132.762 imóveis rurais e umaárea cadastrada de 43.739.000,0ha. Finalmente, tem-sea Região Centro-Oeste com 275.905 imóveis rurais,estendendo-se por uma área de 132.732.000,0ha.

Verifica-se que o maior número de imóveis con-centra-se na Região Sul, representando 35,53% do to-

tal do Brasil, seguido pelas regiões Nordeste e Sudesteque, no ano de 1998, tiveram praticamente a mesmarepresentatividade em termos de imóveis rurais cadas-trados, 28% e 26% respectivamente. Nas regiões Nortee Centro-Oeste estes percentuais caem acentuadamen-te, situando-se em 6,28% na Região Norte e em 7,69%na Região Centro-Oeste (Tabela 1).

No tocante a representatividade da área, consta-tou-se que no ano de 1998, em relação ao total doBrasil, a região que mais contribuía era a Centro-Oes-te, com 31,94% do total, seguida pela região Nortecom 22,38% do total e pela região Nordeste com19,18%. As regiões Sudeste e Sul aparecem com per-centuais mais modestos 15,97% e 10,52% respectiva-mente.

Considerando o período 1992/1998, pode-semensurar a dinâmica dos movimentos ocorridos nocadastro neste intervalo. Para o Brasil, observou-se umacréscimo de 22,7% no número de imóveis rurais e de34,0% na área.

Sob a ótica das grandes regiões, observou-se que,no tocante ao número de imóveis o maior crescimen-to ocorreu na região Norte com 71,9%, enquanto aárea foi acrescida em 55,8%. Em seguida, tem-se a re-gião Centro-Oeste onde o número de imóveis aumen-tou em 33,5% e a área em 40,1%. Na região Nordeste onúmero de imóveis variou em 29,1% e a área cadastra-da em 31,8%. Neste ponto cumpre destacar que as ta-xas de variação do quantitativo de imóveis nas regiõesNorte e Nordeste superaram a média do Brasil, sendoque na região Norte o crescimento na área cadastradatambém supera com grande diferença esta média.

Quanto ao crescimento no total de imóveis ru-rais nas regiões Sudeste e Sul, observam-se variaçõesmenos expressivas, especialmente na região Sul, ondeo aumento foi de apenas 9,0%. Na Região Sudeste estavariação alcança 23,5%. No que diz respeito à área ca-dastrada, também se verifica um acréscimos modestode 9,9% na região Sul 9,9%. No Sudeste esta variaçãochega aos 20%.

Unidade Número de Imóveis ÁreaTotal (1.000,0 ha) Evolução do Evolução daGeográfica n.º Imóveis Área (ha)

1992 1998 1992 1998 1992/98 (%) 1992/98 (%)

Brasil 2.924.204 3.587.967 310.031,0 415.571,0 22,7 34,0

Norte 131.174 225.520 59.684,0 93.014,0 71,9 55,8

Nordeste 780.804 1.007.819 60.488,0 79.725,0 29,1 31,8

Sudeste 766.268 945.961 55.292,0 66.361,0 23,5 20,0

Sul 1.039.234 1.132.762 39.805,0 43.739,0 9,0 9,9

Centro-Oeste 206.724 275.905 94.762,0 132.732,0 33,5 40,1

Fonte: Estatísticas Cadastrais – INCRA

Tabela 1. Demonstrativo do Número e da Área dos Imóveis Rurais – Brasil e grandes regiões.

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O Domínio do Uso do Solo26

A Tabela 2 busca demonstrar a mencionada esta-bilidade no período 1972/1998, utilizando para tanto,além do índice de Gini, o índice de Theil, que tambémconstitui uma medida de concentração. (Figuras 2 e 3)

Inicialmente, verificar-se-á o peso relativo dasgrandes regiões, estabelecendo-se como fator de pon-deração a participação de cada uma, em termos per-centuais, no número de imóveis e áreas incorporadasao processo de reforma agrária.

Com base nestes critérios, observa-se que a re-gião Centro-Oeste ocupa o primeiro lugar com 35,9%das novas áreas incorporadas, seguida pelas regiõesNorte, Nordeste, Sudeste e Sul, com 31,6%; 18,2%;10,5% e 3,7%, respectivamente.

Relativamente ao número de novos imóveis,observam-se algumas inversões importantes. Verifica-se assim, que a região Nordeste foi responsável pelomaior acréscimo no número de imóveis no período1992/1998, com um total de 227.015 imóveis rurais,seguida pelas regiões Sudeste, Norte, Sul e Centro-Oes-te com 179.693; 94.346; 93.528 e 69.181 novos imóveisrespectivamente.

Os quantitativos anteriormente apresentadospermitem mensurar a importância relativa das gran-des regiões na dinâmica do cadastro de imóveis rurais.

Visando exemplificar o efeito das incorporaçõesde novas áreas em distintas regiões do país, pode-seanalisar duas situações extremas, o Norte e o Sul doBrasil. Na região Sul o número de imóveis rurais noperíodo analisado sofreu um acréscimo de 93.328 imó-veis rurais. A variação na área incluída por sua vez foide 3.934.000,0ha. Em contrapartida na região Norte,no mesmo período, o quantitativo de imóveis ruraisfoi acrescido em 94.346 novas unidades agrícolas, in-corporando uma área de 33.330.000,0ha.

No exemplo acima, observou-se que nas duasunidades geográficas consideradas, enquanto a varia-ção no número de imóveis foi praticamente a mesma,a diferença na variação das áreas incorporadas foi su-perior a dez vezes.

Outra variável que também merece destaque,agora em termos absolutos, é a área média dos novosimóveis rurais expressa em hectares. Aqui, da mesmaforma, tem-se a região Centro-Oeste com as maioresáreas por novo imóvel, 548,0ha, seguida pela regiãoNorte com 353,0ha, região Nordeste com 84,0ha, re-gião Sudeste com 61,0ha e região Sul com 42,0ha. Es-tes valores permitem, em uma primeira análise, suporque a incorporação de novas áreas se dá através dasgrandes e médias propriedades, em particular nas regi-ões Centro-Oeste e Norte, responsáveis por 67,5% dasáreas incorporadas.

As constatações acima permitem concluir queos pesos relativos das regiões brasileiras para o proces-so de reforma agrária são distintos em função da su-perfície territorial que ocupam, e que, indicadores na-cionais quando genericamente estudados, tendem aobscurecer ou mesmo distorcer os impactos dos movi-mentos nos quantitativos de imóveis e de área, levan-

Ano Índice de Gini Índice de Theil

1972 0,837 0,906

1978 0,854 0,933

1992 0,833 0,917

1998 0,843 0,918

Fonte: Estatísticas Cadastrais do INCRA – Convênio INCRA/UNICAMP

Tabela 2. Estabilidade dos índices de Gini e Theil noperíodo 1972/1998.

0,820,830,830,840,840,850,850,860,86

1972 1978 1992 1998

Ano

Índi

cede

Gin

i

Figura 2. Comportamento dos Índices de Concentração Fun-diária no Brasil - 1972/1998.Fonte: Convênio INCRA/UNICAMP.

0,89

0,90

0,91

0,92

0,93

0,94

1972 1978 1992 1998

Ano

Índi

cede

Thei

l

Figura 3. Comportamento dos Índices de Concentração Fun-diária no Brasil - 1972/1998.Fonte: Convênio INCRA/UNICAMP.

Impactos das Incorporações de Novas ÁreasSobre a Estrutura Fundiária

A análise das alterações ocorridas no número de imó-veis rurais com informações consistentes de área, noperíodo 1992/1998, relativamente às grandes regiõespermite que sejam detectadas a forma e a importânciadas incorporações de novas áreas sobre a concentraçãoda propriedade da terra, tanto nas mencionadas uni-dades geográficas individualmente consideradas, comono território nacional em sua totalidade.

Page 42: Uso Agricola Solos Brasileiro s

O Domínio do Uso do Solo 27

22%

19%

16%11%

32%NorteNordesteSudesteSulCentro-Oeste

tados através do Cadastro de Imóveis Rurais, sobre aconcentração da propriedade da terra.

Na tabela 3, encontram-se os valores que embasa-ram as análises anteriormente efetuadas e que tornarampossível aferir a importância relativa de cada grande re-gião para o processo de reforma agrária (Figura 4 a 6).

Deve-se finalmente ressaltar que a importânciarelativa das grandes regiões aqui discutida abrange umperíodo de apenas seis anos. Entretanto, pode-se su-por que esta representatividade não tenha sido muitodistinta em períodos anteriores, ainda que em quanti-tativos de imóveis e de áreas diferentes.

Unidade Geográfica ∆ n.º de Imóv. ∆ % n.º de Imóv. ∆ Área ∆ % Área Área média(1.000,0 ha) novos imóveis (ha)

Brasil 663.763 100,0 105.540,0 100,0 159,0

Região Norte 94.346 14,2 33.330,0 31,6 353,3

Região Nordeste 227.015 34,2 19.237,0 18,2 84,7

Região Sudeste 179.693 27,1 11.069,0 10,5 61,6

Região Sul 93.528 14,1 3.934,0 3,7 42,1

Região Centro-Oeste 69.181 10,4 37.970,0 36,0 548,9

Fonte: Convênio INCRA/UNICAMP

Tabela 3. Variação do número de imóveis e da área, segundo o Brasil e grandes regiões (92/98).

Figura 6. Participaçãorelativa das grandes

regiões no total de áreacadastrada no Brasil em

1998.Fonte: Estatísticas

Cadastrais – INCRA.

4%

27%

26%

36%

7%

NorteNordesteSudesteSulCentro-Oeste

Figura 4. Participaçãorelativa das grandes

regiões no número totalde imóveis cadastrados

no Brasil em 1992.Fonte: Estatísticas

Cadastrais – INCRA.

19%

20%

18%

NorteNordesteSudesteSulCentro-Oeste

Figura 5. Participaçãorelativa das grandes

regiões no total de áreacadastrada no Brasil em

1992.Fonte: Estatísticas

Cadastrais – INCRA.

19%

20%

18%13%

30%

Page 43: Uso Agricola Solos Brasileiro s

O Domínio do Uso do Solo28

Estabelecimentos, Área e Valor Bruto daProdução

A análise sobre a estrutura de domínio da terra foiextraída de Guanzirole & Cardim (2000), com avalia-ções realizadas pelos autores sobre suas relações sobrea conservação do solo.

No Brasil, existem 4.859.864 estabelecimentosrurais (Tabela 4), ocupando uma área de 353,6 milhõesde hectares. No ano agrícola 95/96, o Valor Bruto daProdução (VBP) Agropecuária foi de R$47,8 bilhões e ofinanciamento total (FT) de R$3,7 bilhões. Do total dosestabelecimentos, 4.139.369 são familiares, ocupandouma área de 107,8 milhões de hectares, sendo responsá-veis por R$18,1 bilhões do VBP total e contaram comR$937 milhões de financiamento rural. Os agricultorespatronais são representados por 554.501 estabelecimen-tos, ocupando 240 milhões de hectares. O restante éformado por aqueles estabelecimentos que não pude-ram ser enquadrados, por não possuírem informaçõesválidas sobre a direção dos trabalhos.

A análise regional (Tabela 5) demonstra a im-portância da agricultura familiar nas regiões Norte eSul, nas quais mais de 50% do VBP é produzido nosestabelecimentos familiares. Na região Norte, os agri-cultores familiares representam 85,4% dos estabeleci-mentos, ocupam 37,5% da área e produzem 58,3% doVBP da região, recebendo 38,6% dos financiamentos.Nesta, registra-se que é mais expressivo o nível tecno-lógico dos agricultores pouco desenvolvido (nível demanejo A – primitivo) é mais expressivo, sendo aindacomum o registro da agricultura itinerante, com o usode queimadas.

A região Sul é a mais forte em termos de agri-cultura familiar, representada por 90,5% de todos osestabelecimentos da região, ocupando 43,8% da área eproduzindo 57,1% do VBP regional. Nesta região, osagricultores familiares ficam com 43,3% dos financia-mentos aplicados na região. Destaca-se que é tambémnesta região, onde se observam agricultores familiaresmais tecnificados, que adotam sistemas conservacio-

nistas de produção, como o Sistema de Plantio Direto.O Centro-Oeste apresenta o menor percentual

de agricultores familiares entre as regiões brasileiras,representando 66,8% dos estabelecimentos da região eocupando apenas 12,6% da área regional. Nesta região,verifica-se uma intensificação do uso da terra, com forteespecialização para a produção de grãos e fibras emplantios com fins industriais, bem como a pecuáriaextensiva. Os principais impactos sobre os são possí-veis contaminações pelo uso de defensivos agrícolas ea sobre-utilização de terras de menor potencial agríco-la, especialmente com pastagens.

A região Nordeste é a que apresenta o maiornúmero de agricultores familiares (88,3%), os quaisocupam 43,5% da área regional, produzem 43% detodo o VBP da região e respondem por apenas 26,8%do valor dos financiamentos agrícolas da região. Nes-ta, historicamente a conjugação de fortes limitaçõesclimáticas conjugadas com a insuficiência de área paraprodução tem resultado na sobre exploração dos so-los, perda de cobertura vegetal e em casos mais sérios adesertificação.

Os agricultores familiares da região Sudeste apre-sentam uma grande desproporção entre o percentual definanciamento recebido e a área dos estabelecimentos.Esses agricultores possuem 29,2% da área e somente re-cebem 12,6% do crédito rural aplicado na região.

Área Média dos Estabelecimentos

A área média dos estabelecimentos familiares no Bra-sil é de 26ha, enquanto que a patronal é de 433ha,apresentando também uma grande variação entre asregiões, relacionando-se ao processo histórico de ocu-pação da terra. Assim nas regiões onde os agricultorespatronais apresentam as maiores áreas médias, o mes-mo acontece entre os familiares. Enquanto a área mé-dia entre os familiares do Nordeste é de 16,6ha, noCentro-Oeste é de 84,5ha. (Figuras 7 e 8).

Entre os patronais com uma média de 433ha parao Brasil, na Região Centro-Oeste, a média chega a

CATEGORIAS Estab. % Estab. Área Tot. % Área VBP % VBP FT % FTTotal s/ total (mil ha) s/ total (mil R$) s/ total (mil R$) s/ total

FAMILIAR 4.139.369 85,2 107.768 30,5 18.117.725 37,9 937.828 25,3

PATRONAL 554.501 11,4 240.042 67,9 29.139.850 61,0 2.735.276 73,8

Inst. Pia/Relig. 7.143 0,2 263 0,1 72.327 0,1 2.716 0,1

Entid. pública 158.719 3,2 5.530 1,5 465.608 1,0 31.280 0,8

Não identificado 132 0,0 8 0,0 959 0,0 12 0,0

TOTAL 4.859.864 100,0 353.611 100,0 47.796.469 100,0 3.707.112 100,0Fonte: Guanziroli & Cardim, 2000. Elaboração: Projeto de Cooperação Técnica INCRA/FAO.

Tabela 4. Brasil – Estabelecimentos, área, valor bruto da produção (VBP) e financiamento total (FT)

Page 44: Uso Agricola Solos Brasileiro s

O Domínio do Uso do Solo 29

REGIÃO Estab. % Estab. Área % Área VBP % VBP FT % FTTotal s/ total Total (ha) s/ total (mil R$) s/ total (mil R$) s/ total

Nordeste 2.055.157 88,3 34.043.218 43,5 3.026.897 43,0 133.973 26,8

Centro-Oeste 162.062 66,8 13.691.311 12,6 1.122.696 16,3 94.058 12,7

Norte 380.895 85,4 21.860.960 37,5 1.352.656 58,3 50.123 38,6

Sudeste 633.620 75,3 18.744.730 29,2 4.039.483 24,4 143.812 12,6

Sul 907.635 90,5 19.428.230 43,8 8.575.993 57,1 515.862 43,3

BRASIL 4.139.369 85,2 107.768.450 30,5 18.117.725 37,9 937.828 25,3

Fonte: Guanziroli & Cardim, 2000. Elaboração: Projeto de Cooperação Técnica INCRA/FAO.

Tabela 5. Agricultores familiares – Estabelecimentos, área, VBP e financiamento total segundo as regiões.

1.324ha, encontrando-se na Região Sudeste a menor áreaentre a dos patronais, com 223ha por estabelecimento.

Políticas e Ações de Reforma Agrária

O Governo tem estabelecido políticas e medidas emdiversas vertentes com o objetivo de promover modi-ficações no perfil do cenário fundiário nacional e aconseqüente desconcentração fundiária. Para tantoforam implementados programas que abrangem desdeo combate à irregularidade na ocupação das terras, es-pecialmente nos estados das regiões Norte e Centro-Oeste, até a implementação de ações que visem a con-servação dos recursos naturais nos projetos de assenta-mento do INCRA, aliadas uma maior interação comos programas ambientais do país.

Desta forma, o governo brasileiro, ainda no se-gundo semestre de 1999, promoveu medidas até entãoinéditas. Foram cancelados, no INCRA, os registroscadastrais dos imóveis rurais de área igual ou superiora 10.000,0 hectares, até que fosse comprovada, entreoutras exigências, a regularidade do domínio.

Em 2001, a medida anterior foi revista e esten-dida de modo a abranger os imóveis rurais situadosno estrato de área de 5.000,0 a 9.999,9 hectares, emregiões de interesse da Reforma Agrária, notificandoocupantes de aproximadamente 3,0 milhões de hecta-res, sempre com o escopo de inibir a apropriação ile-gal de terras.

Esta diretriz de governo culminou com a pro-mulgação da Lei no 10.267, de 28 de agosto de 2001,que instituiu a troca de informações entre o INCRA eos serviços de registro de imóveis, além de criar o Ca-dastro Nacional de Informações Rurais – CNIR. Suaregulamentação tornará possível o cruzamento de in-formações sobre imóveis rurais, oriundas dos diversosórgãos governamentais que detém informações sobreo meio rural, tais como: INCRA, Secretaria da ReceitaFederal – SRF, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente– IBAMA, Fundação Nacional do Índio – FUNAI,Secretaria de Patrimônio da União – SPU, dentre ou-tros órgãos nacionais e estaduais produtores de infor-mações do meio rural.

No que diz respeito à questão ambiental, salien-te-se o fato de que o INCRA, ciente da necessidade documprimento da função social do imóvel rural que, entreoutros prevê a conservação dos recursos naturais, tempromovido ações juntamente com o IBAMA. Comoexemplo, cita-se a recente destinação de áreas para cria-ção de unidades de conservação. Tais áreas perfazemuma superfície de 20.436.599,0ha, cumprindo assim ameta estabelecida pelo Ministério do DesenvolvimentoAgrário, em destinar áreas para a preservação ambien-tal. Outros aspectos dizem respeito às ações preventivascontra incêndios nos projetos de assentamentos em es-tados e municípios considerados críticos, bem como aredução do número de hectares desapropriados paraassentamentos rurais na Amazônia Legal.

269

1.324

1.008

223 283433

NE CO N SE S BR

Em

ha

Figura 7. Área média dos estabelecimentos familiares em hec-tares.

17

84

57

3021 26

NE CO N SE S BR

Em

ha

Figura 8. Área média dos estabelecimentos patronais em hec-tares.

Page 45: Uso Agricola Solos Brasileiro s

O Domínio do Uso do Solo30

Outra importante vertente das políticas e medi-das implementadas na área rural se refere ao Banco daTerra, alternativa para aquisição de imóveis rurais paranovas famílias de agricultores, mediante projetos apro-vados em conselhos locais ou regionais de desenvolvi-mento agrário sustentável e ao Programa de Fortaleci-mento da Agricultura Familiar – PRONAF, que esta-belece linhas de crédito aos pequenos agricultores fa-miliares.

Referências Bibliográficas

HOFFMANN, R. A Estrutura fundiária no Brasil de acordocom o cadastro do INCRA: 1967 a 1998, Convênio INCRA/UNICAMP, setembro, 1998.HOFFMANN, R. Estatísticas para economistas. São Paulo: Bi-blioteca Pioneiras de Ciências Sociais, 1980.INCRA. INSTITUTO DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA.Análise da estrutura fundiária brasileira. Brasília, DF, outubro 1998.INCRA. INSTITUTO DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁ-RIA. Atlas fundiário Brasileiro. Brasília, DF, agosto 1996.

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Fernando Luis Garagorry CassalesCelso Vainer Manzatto

4Aspectos Gerais daDinâmica de Uso da Terra

Capítulo

31

Introdução

Neste Capítulo procurou-se ilustrar, em linhas gerais,os aspectos principais relacionados a evolução e a dinâ-mica da ocupação, produção e produtividade da agro-pecuária brasileira no período compreendido entre 1975e 2001. Para tanto utilizou-se dados censitários do IBGE,bem como de outras fontes de dados e informações,sem a preocupação de compatibilização entre as mes-mas, no que se refere as áreas, volumes e índices infor-mados nas diversas fontes. Ressalta-se que dentro doobjetivo proposto, também não se apresenta uma análi-se exaustiva sobre produtos, produtividades e regiões,mas apenas os principais aspectos relacionados ao uso eapropriação dos espaços pelo setor agropecuário.

A dinâmica das principais formas de uso

A Tabela 1 indica a variação percentual na área totalutilizada por grandes grupos de uso da terra por ativi-dades agrosilvipastoris. Como as áreas em BRASIL sãosomas das respectivas áreas regionais, resulta que o va-lor da variação para o país é a média de razões corres-pondente às variações nas diferentes regiões, ou seja, é

uma média ponderada das variações nas cinco regiões,onde as ponderações estão dadas pelas respectivas áre-as em 1970. Os valores nas regiões se distribuem aoredor da média de 28%, e indicam grandes diferençasentre as variações regionais. As maiores variações nasáreas utilizadas, cobertas pelos censos, aconteceram nasregiões Norte (85%) e Centro-Oeste (62%); no Nordes-te houve um acréscimo de 17%, no Sul quase não hou-ve variação, e nota-se um retrocesso no Sudeste (-5%).

Desagregando-se os dados em seis principaisformas de uso, ou seja LAVPER – lavouras permanen-tes, LAVTMP – lavouras temporárias (onde se incluemas áreas de lavouras temporárias em descanso) PAS-NAT – pastagens naturais; PASPLA – pastagens planta-das, MATNAT – matas e florestas naturais e MATPLA– matas e florestas plantadas e relativizando-as pelototal da área por elas ocupada, obtendo-se um vetor deseis componentes não negativos, que somam um (ou100, quando os componentes são expressos em per-centagem). Ou seja, foram obtidos vetores que descre-vem a estrutura de uso, entre as seis classes. Se bemque há algumas flutuações, na mesma entidade geo-gráfica, ao longo dos cinco anos, tanto nas estruturasquanto em algumas estatísticas derivadas, pode-se cap-

Entidade Geográfica Área 1970 (1000ha) Área 1995 (1000ha) Variação 70-95 (%)

Brasil 251.770 322.089 28Norte 28.793 53.206 85Nordeste 56.546 66.295 17Sudeste 62.929 59.660 -5Sul 40.666 41.405 2Centro-Oeste 62.837 101.522 62

Fonte: dados do IBGE na base Agrotec, SEA/Embrapa.

Tabela 1. Variação percentual nas áreas totais utilizadas, de 1970 para 1995, para o país e por região.

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Aspectos Gerais da Dinâmica de Uso da Terra32

tar os aspectos essenciais da evolução do uso do espa-ço nacional entre 1970 e 1995.

A mudança na estrutura do uso da terra, para ototal do país, aparece ilustrada na Figura 1. A partirdos valores na Tabela 2, em termos resumidos e essen-cialmente qualitativos, podem ser obtidas as seguintesconclusões e que descrevem as tendências produtivasdas regiões brasileiras:

1. A principal mudança reside na diminuição da per-centagem das áreas com pastagens nativas, conjunta-mente com o crescimento da percentagem das áreascom pastagens cultivadas, o qual aconteceu em todasas regiões e, logicamente, no país (tendo em vista quea estrutura para o país, em cada ano, está definidapor componentes que são médias de razão dos res-pectivos componentes regionais, para o mesmo ano);

2. Em geral, as percentagens totais de áreas com lavou-ras (temporárias e permanentes) mostram pequenasvariações, no entanto, podem ser feitas algumasconsiderações entre os dois tipos de lavouras. Nopaís, ou seja, na média das regiões, houve um de-créscimo da fração correspondente a lavouras per-manentes, junto com um acréscimo da fração delavouras temporárias, o mesmo tendo acontecidono Nordeste e no Sul. Na Região Norte houve umincremento na percentagem de área com lavouraspermanentes e uma pequena diminuição em lavou-ras temporárias. Já no Sudeste e no Centro-Oeste osdois componentes aumentaram, mas com a diferen-ça de que no Sudeste o aumento mais importanteocorreu com as lavouras permanentes, sendo muitoleve para as lavouras temporárias, enquanto que noCentro-Oeste ocorreu o contrário;

3. Com respeito às percentagens das áreas com matase florestas, na média houve aumento tanto no com-

ponente para matas naturais quanto no de matasplantadas. Em nível regional, isso também aconte-ceu no Nordeste, no Sudeste e no Centro-Oeste, comdiferentes graus de variação. Já no Norte e no Sulhouve uma diminuição dos componentes relacio-nados com matas nativas e um aumento nos de matasplantadas.

Entidade Geográfica ANO LavPer LavTmp PasNat PasPla MatNat MatPla

Brasil 1970 3,17 12,62 49,41 11,81 22,33 0,661995 2,34 13,21 24,23 30,94 27,60 1,68

Norte 1970 0,52 4,63 33,33 4,43 56,91 0,181995 1,37 4,39 18,09 27,75 47,93 0,48

Nordeste 1970 7,03 14,44 39,13 10,17 29,05 0,181995 4,00 17,78 30,13 18,25 29,25 0,59

Sudeste 1970 3,45 13,46 54,20 16,90 10,57 1,421995 5,48 14,07 29,04 34,28 12,94 4,20

Sul 1970 3,83 27,55 44,20 8,94 14,05 1,421995 1,56 31,02 33,04 16,95 12,83 4,60

Centro-Oeste 1970 0,20 4,13 64,12 13,42 17,57 0,051995 0,23 7,10 17,18 44,64 30,51 0,34

Fonte: dados do IBGE na base Agrotec, SEA/Embrapa, 2002.

Tabela 2. Estruturas de uso da terra (em %), nos anos de 1970 e 1995, para o país e por região.

LAVPER

LAVTMP

PASNAT

PASPLA

MATNAT

MATPLA

19701995

Figura 1. Variações do uso da terra no Brasil no período 1970a 1985.

Foi utilizado um conceito de distância entre duasestruturas, para avaliar as mudanças ocorridas. Comesse instrumento, as principais conclusões são:

• tanto no país quanto em cada região, as variaçõesque ocorreram em termos de pastagens são muitosuperiores às que aconteceram nas lavouras ou nasmatas e florestas, situando-se entre 65 e 85% da va-riação total;

• na média (ou seja, para todo o país), a contribuiçãopara a variação nas estruturas é da ordem de 12%,em matas e florestas, e de cerca de 3%, em lavouras;nas regiões, a contribuição para a variação de estru-

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Aspectos Gerais da Dinâmica de Uso da Terra 33

tura, das lavouras ou das matas e florestas mostradois tipos de comportamento. Nas regiões Norte,Sudeste e Centro-Oeste são maiores as contribui-ções das matas

• e florestas do que as das lavouras (sendo cerca deduas vezes maiores no Sudeste, quatro vezes no Cen-tro-Oeste e nove vezes no Norte); nas regiões Nor-deste e Sul são maiores as contribuições das lavou-ras do que as das matas e florestas (sendo cerca dedez vezes maiores no Nordeste e, apenas, 30% maio-res no Sul).

Em termos agregados, a distância pode ser utili-zada como um indicador de dinâmica no uso da terra.Assim, considerando as distâncias calculadas, a regiãode maior dinâmismo é o Centro-Oeste, sendo seguidapelo Sudeste, o Norte, o Sul e o Nordeste respectiva-mente.

Os aspectos espaciais da dinâmicaagropecuária

Apresenta-se a seguir o resultado de algumas técnicaselementares para estudar certos aspectos espaciais dadinâmica da agricultura. Em termos muito simplifica-dos, a problemática geral abordada pode ser colocadana seguinte forma: a) entende-se que “a agricultura estámudando”; e b) considera-se útil conhecer “onde” estãoocorrendo as mudanças. Logicamente, colocado nessestermos tão amplos, o assunto foge ao escopo de umaabordagem ilustrativa como a proposta por este livro.De fato, as mudanças podem ocorrer em domínios muitodiferentes, tais como no número de produtores e estabe-lecimentos agrícolas, no emprego de mão-de-obra, nouso de terras, insumos e no de serviços e tecnologias. Oobjetivo principal desta abordagem relaciona-se a detec-tação e avaliação das mudanças espaciais que tenhamocorrido na agricultura, num período recente.

A abordagem foi realizada a partir de dados nonível municipal, relativos à produção agrícola e pecu-ária, considerando os seguintes produtos: algodão her-báceo (que será designado, simplesmente, como algo-dão), café, mandioca, soja e bovinos. Os dados sãooriundos do IBGE (nas séries “Produção AgrícolaMunicipal” e “Produção Pecuária Municipal”), e en-contram-se organizados na base Agrotec, da SEA/Em-brapa. No processo de organização dos dados, foramadotadas algumas medidas para obter séries mais lon-gas, tais como “levar para trás” os estados de MatoGrosso do Sul e Tocantins. Assim contou-se com da-dos anuais, entre 1975 e 1999, o que possibilita a exe-cução de um estudo muito mais detalhado como oque aqui apresentado. De fato, por simplicidade, ado-tou-se o enfoque geral de comparar o ano inicial com

o ano final, entendendo isso nos seguintes termos: a)como regra usual com esse tipo de dados, preferiu-seconsiderar médias móveis de três anos, para captar oessencial dos valores envolvidos, e neutralizar o ruídointroduzido por valores extremos e eventuais; b) por-tanto, foram utilizadas as médias dos triênios 1975-1977 (designado como ano 1976) e 1997-1999 (designa-do como ano 1998), de modo que o ano inicial é 1976e o ano final é 1998, abrangendo um período de 23anos. Previamente ao cálculo das médias trienais, osdados municipais foram consolidados nas respectivasmicrorregiões geográficas (558 no total do país), o quepermite neutralizar, em grande parte, as alterações de-vidas à freqüente emancipação de novos municípios.

Em resumo, as microrregiões geográficas foramconsideradas como sendo as unidades geográficas detrabalho. Assim, selecionou-se alguns produtos da agro-pecuária como forma de ilustração da dinâmica espa-cial do setor, ou seja, algodão, café, mandioca e soja,utilizando-se dados de área colhida e quantidade pro-duzida e pecuária, utilizando-se dados do efetivo bovi-no. As referências aos anos de 1976 e de 1998 corres-pondem às médias dos triênios 1975-1977 e 1997-1999,respectivamente.

Mudanças no volume da produção agrícola e doefetivo de animais

Os dados de quantidade produzida, no caso das cultu-ras vegetais, e de efetivo do rebanho, no caso dos bovi-nos, serão aqui designados como sendo dados de quan-tidade ou de volume, indistintamente. Eles foram or-denados, dentro de cada item e de cada um dos doisanos escolhidos, em forma decrescente na quantidade,seja para determinar quartis ou para outras aplicações.Salvo casos com empates, que são muito raros nasmicrorregiões com maior volume, isto facilita identifi-car as “primeiras” microrregiões que perfazem umadeterminada quantidade absoluta (e.g., cinco milhõesde toneladas) ou relativa (e.g., 25% do volume total);por exemplo, para formar o quartil superior (ou quar-to quartil) foi utilizado o conjunto de microrregiõesque, ao acumular seus volumes (previamente ordena-dos em forma decrescente, como foi indicado), pri-meiro alcançam ou superam os 25% do volume total.Quando se considera os quartis, convém lembrar que,por construção, o conjunto das microrregiões que es-tão em qualquer um deles contribui com, aproxima-damente, 25% do volume total, devido ao caráter dis-creto das distribuições. As que estão no primeiro quar-til podem contribuir com um pouco menos de 25%, eas que estão nos outros quartis podem contribuir comum pouco mais de 25%; nos comentários apresenta-dos neste trabalho, por simplicidade, vai se supor quecada quartil corresponde a 25% do volume total.

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Aspectos Gerais da Dinâmica de Uso da Terra34

Variações na concentração

A Tabela 3 indica, por produto e ano, o número demicrorregiões em cada quartil, bem como o númerototal de microrregiões onde existem dados e o índicede concentração de Theil, baseado no conceito de en-tropia de uma distribuição (Theil, 1967). Esse índice,ou algumas de suas variantes tem sido utilizado pordiversos autores para estudar a concentração espacial(ver, por exemplo, Sporleder, 1974; Hubbell e Welsh,1998; Meudt, 1999). O índice de Theil toma valoresentre zero (no caso de uma distribuição uniforme) eum (no caso de uma distribuição totalmente concen-trada em uma classe, ou seja, no caso, em um quartil).

Para os efeitos deste trabalho, basta observar asfreqüências que aparecem nos quartis, e o respectivonúmero total, para se ter uma idéia da concentração.Nesse sentido, pode observar-se:

Em todos os casos, mais da metade das micror-regiões, onde aparecem os produtos, estão no primei-ro quartil, e números bem menores formam os outrosquartis (por exemplo, no ano de 1976, para a soja,apenas 13 microrregiões, nos dois quartis superiores,entre as 215 registradas, eram responsáveis por 50% daprodução; no ano de 1998, apenas 17 microrregiõesnesses mesmos quartis, entre 315 registradas, produzi-am 50% do café).

Salvo no caso do algodão, o número total demicrorregiões registradas para cada produto aumentoude 1976 para 1998, e o mesmo se observa no primeiroquartil; comparando os três quartis superiores, para oscinco produtos, entre 1976 e 1998, vê-se que, dos quinzecasos presentes, há um decréscimo em 11 casos, umnúmero se mantém, e apenas três aumentaram.

É claro que esse tipo de comparação seria prati-camente inviável se houvesse um grande número deprodutos, com dados para vários anos. Portanto, re-

corre-se a algum índice de concentração, para se teruma avaliação mais agregada. Nesse sentido, o índicede Theil mostra uma diminuição na concentração es-pacial da soja, e um aumento para os outros quatroprodutos (por exemplo, no caso do algodão, o índiceaumenta em 14%, com respeito ao ano base de 1976).Usando o índice de concentração, em combinação comas freqüências da Tabela 3, pode-se ter uma idéia maisprecisa sobre a dinâmica da situação. Por exemplo, nocaso da soja, o decréscimo de 5% no índice de Theil,junto com um acréscimo de 18% no número total demicrorregiões e aumentos nas freqüências dos três pri-meiros quartis, pode ser interpretado como indicaçãode uma cultura dinâmica, que vai penetrando em no-vas áreas, mesmo que elas, inicialmente, não contribu-am muito para a produção total (somando os doisprimeiros quartis, há um aumento de 17% no númerode microrregiões). De todo modo, em termos gerais,particularmente no estudo de variações espaciais, estetipo de análise deve ser tomado com certo cuidado,porque o índice de Theil (e outros indicadores simila-res) pode detectar mudanças na concentração, mas nãoindicam onde elas aconteceram.

Variações por percentis do volume total

Considerou-se para cada item e para cada ano, as mi-crorregiões que perfazem 25%, 50% e 75% do volumetotal, além das que aparecem no total do volume. Ouseja, no primeiro grupo, estão aquelas que formam oquartil superior da distribuição do volume; no segun-do grupo, aquelas que formam o conjunto do terceirocom o quarto quartil; no terceiro grupo, aquelas queformam o segundo, o terceiro ou o quarto quartil; e,finalmente, no quarto grupo, todas as microrregiõesque aparecem nos dados.

Produto AnoQ1 Q2 Q3 Q4 Total Theil

Algodão 1976 260 24 11 6 301 0,6201998 248 17 6 4 275 0,704

Café 1976 254 24 14 7 299 0,5871998 273 25 11 6 315 0,627

Mandioca 1976 394 78 40 23 535 0,3981998 430 71 29 14 544 0,494

Soja 1976 186 16 8 5 215 0,6191998 214 23 11 5 253 0,586

Bovinos 1976 365 101 49 24 539 0,3261998 392 98 45 23 558 0,359

Fonte: dados do IBGE na base Agrotec, SEA/Embrapa.

Quartil

Tabela 3. Distribuição do número de microrregiões por quartil e índice de concentração de Theil.

Indicador

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Aspectos Gerais da Dinâmica de Uso da Terra 35

Fixado um nível, por exemplo de 25%, podemacontecer as situações com respeito a todas as micror-regiões, que aparecem com algum volume, em algumdos dois anos considerados, o que corresponde a umatabela de contingência de 2×2. A interpretação é a se-guinte: 1) um número a de microrregiões aparecem,dentro do nível escolhido, nos dois anos; 2) um núme-ro b aparecem nesse nível no ano 1976, mas não em1998; 3) um número c aparecem em 1998, mas não em1976; e 4) um número d não aparecem nesse nível emnenhum dos dois anos (lógicamente, se o nível fossede 100%, o valor de d seria zero).

Conforme o enfoque adotado, como já dito,usou-se a técnica do ordenamento decrescente, de modoque faz sentido falar das primeiras microrregiões quecontribuem para determinado nível. Logicamente, emgeral, poder-se-ia substituir alguma delas por um con-junto de outras microrregiões, que ficaram fora, e queacumulassem, aproximadamente, o mesmo volume.Porém salvo em algum caso raro de empate na quanti-dade, a microrregião inicial seria substituída por maisde uma daquelas outras. Ou seja, o ordenamento de-crescente garante que o nível escolhido é alcançadopelo menor número possível de microrregiões. É claroque, nesta abordagem, cada microrregião é considera-da como uma unidade análoga a qualquer outra, enão intervém nenhuma consideração com respeito, porexemplo, às áreas das microrregiões. Ou seja, em prin-cípio, uma microrregião poderia ser substituída poroutras que acumulem um volume similar, e com áreatotal menor que a da primeira, o que no entanto, cor-responde a um enfoque muito diferente ao aqui adota-do. Ou seja, cada microrregião é tomada como umaunidade que assinala, aproximadamente, a localizaçãode uma área onde foi registrado certo volume. Qual-quer refinamento exige a utilização de técnicas umpouco mais elaboradas.

Voltando à tabela de contingência, cabe ressal-tar que têm sido sugeridas diversas medidas de concor-dância e de afastamento. Uma boa discussão desse temaaparece no livro de Anderberg (1973), particularmentenos Caps. 4 e 5. Dentro do contexto da abordagemgenérica adotada, um enfoque consiste em desprezaras microrregiões que não aparecem em nenhum dosdois anos, para determinado nível, e ficar somente com

Sim Não

Sim a b a+b

Não c d c+d

a+c b+d n=a+b+c+d

Tabela 4. Tabela de contingência para a presença de microrregiões em dois anos

Total

Total

Ano 1998Referência Inicial Condição

Ano 1976

os números a, b e c, da Tabela 02. Com eles é possíveldefinir as seguintes medidas:

a) persistência (ou concordância): p = a /(a + b + c);

b) distância: d = (b + c)/(a + b + c).

Aqui se usou o termo “persistência” para enfati-zar o seu relacionamento com o período de tempoconsiderado. Em geral, essa medida é designada comoconcordância “matching”. A medida de persistênciaproposta é conhecida como coeficiente de Jaccard.Note-se que p + d = 1. No caso em discussão, um valorde p próximo de 1 e, portanto, um valor de d próximode zero, significa que, entre os dois anos considerados,permaneceram quase todas as microrregiões, dentro donível escolhido, havendo poucas que desapareceramou que entraram e, logicamente, o oposto tem que terocorrido se p for próximo de zero. Ou seja, se p forpequeno, houve muita variação espacial, em termos demicrorregiões, do ano inicial para o ano final do perí-odo estudado, a qual é medida por d.

Na Tabela 05 aparecem as freqüências corres-pondentes a a, b e c, por grupo de contribuição aovolume total, das primeiras microrregiões que perfa-zem a percentagem indicada desse volume. Tambémaparece o índice de persistência e seu complemento àunidade, ou seja, a distância entre os conjuntos demicrorregiões registradas em cada ano. Inicialmente,convém considerar as somas (a + b) e (a + c), da Tabela5, que dão o número de microrregiões que formaramcada grupo nos anos de 1976 e 1998, respectivamente.Para limitar-se a uns poucos exemplos do tipo de con-clusões que podem ser extraídas dessas somas, os se-guintes comentários tomam como referência o grupode 50%, ou seja, o grupo formado, em cada ano, pelasprimeiras microrregiões que acumularam 50% do vo-lume desse ano, como a que se segue:

1) para o algodão, 17 microrregiões foram suficientesem 1976 e 10 em 1998;

2) para o café, bastaram 21 microrregiões em 1976 e17 em 1998;

3) no caso da mandioca, foram suficientes 63 micror-regiões em 1976 e 43 em 1998;

4) para a soja, 13 microrregiões foram suficientes em1976 e 16 em 1998;

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Aspectos Gerais da Dinâmica de Uso da Terra36

5) para os bovinos, 50% do rebanho nacional estavaem 73 microrregiões no ano de 1976, e em 68 noano de 1998.

No grupo de 100%, as mesmas somas dão onúmero total de microrregiões registradas em 1976 e1998. Cada um desses números pode ser comparadocom seu correspondente no grupo de 75%, para ver oenorme salto que existe entre esses dois níveis. Por exem-plo, no ano de 1976, para o algodão, existem registrosem 301 microrregiões, mas apenas 41 perfizeram 75%da produção total. Essa situação se repete para todosos produtos já estudados, além dos cinco utilizadosneste trabalho. Em termos simplificados, um número“pequeno” de microrregiões é suficiente para acumu-lar 75% do volume total, e há um número “grande”que contribui muito pouco para esse total.

As colunas complementares de persistência edistância podem ser utilizadas para avaliar o desloca-mento que ocorreu entre 1976 e 1998. No nível de75%, menos da metade das microrregiões envolvidassão persistentes (ou seja, aparecem em 1976 e 1998),no caso das quatro culturas vegetais, e 55% são persis-tentes para os bovinos. Em termos práticos, elas assi-nalam um “hard core” que tem contribuído em parteimportante para o volume nacional (é claro que istopode ser melhor avaliado mediante a utilização dos

dados de alguns anos intermediários, dentro do perío-do considerado). A Tabela 3 ilustra a importância queteve a parte persistente, no nível de 75% e nos doisanos considerados, como percentagem da soma dascontribuições das microrregiões integrantes, com res-peito ao volume total de cada ano.

Segundo os valores na Tabela 6, tem-se que acontribuição das microrregiões persistentes aumentouno caso do algodão, café e mandioca, diminuiu paraos bovinos e caiu notavelmente para a soja. Em todosos casos, a parte persistente teve uma contribuiçãoimportante, mas mostra comportamentos diferentespara os produtos considerados, o que sugere a necessi-dade de um estudo mais detalhado para explicar asvariações observadas.

A distância indica a percentagem de microrre-giões que foram registradas em 1976 ou 1998, mas nãonos dois anos (algumas “saíram” e outras “entraram”);serve, justamente, como uma medida da mobilidadeou dinâmica da situação, em cada nível escolhido. Porexemplo, no mesmo nível de 75%, para o café, tem-seque 15 microrregiões foram persistentes ( p = 0,21, ou21%), enquanto que 57 (d = 0,79, ou 79%) mudaram,isto é, 30 de 1976 saíram, e 27 novas entraram em1998. Nesse nível, para o algodão, tem-se que d = 0,74;ou seja, houve uma mudança, de 1976 para 1998, queenvolveu 74% das primeiras microrregiões que partici-

Produto Grupo (%) a b c Persistência (p) Distância (d)

Algodão 25 0 6 4 0.00 1.0050 2 15 8 0.08 0.9275 14 27 13 0.26 0.74100 228 73 47 0.66 0.34

Café 25 2 5 4 0.18 0.8250 5 16 12 0.15 0.8575 15 30 27 0.21 0.79100 249 50 66 0.68 0.32

Mandioca 25 2 21 12 0.06 0.9450 19 44 24 0.22 0.7875 79 62 35 0.45 0.55100 523 12 21 0.94 0.06

Soja 25 1 4 4 0.11 0.8950 8 5 8 0.38 0.6275 20 9 19 0.42 0.58100 181 34 72 0.63 0.37

Bovinos 25 12 12 11 0.34 0.6650 46 27 22 0.48 0.5275 121 53 45 0.55 0.45100 539 0 19 0.97 0.03

Fonte: dados do IBGE, na base Agrotec, SEA/Embrapa, 2002.

Tabela 5. Freqüência da presença de microrregiões nos anos de 1976 e 1998, por grupo de contribuição emedidas de persistência e distância.

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Aspectos Gerais da Dinâmica de Uso da Terra 37

param na acumulação de 75% da quantidade produzi-da, em um desses dois anos.

Assim, em cada nível escolhido, um valor altopara a distância indica um deslocamento importanteacontecido durante o período considerado. Por exem-plo, ainda no nível de 75% do volume total, o café(com d = 0,79) e o algodão (com d = 0,74) mostram osmais altos deslocamentos entre os cinco produtos; paraos outros três produtos os deslocamentos são menoresmas, mesmo assim, muito importantes, estando entre45% nos bovinos e 58% na soja.

Variações por faixas de volume

Os comentários anteriores concentraram-se nas mu-danças havidas em termos relativos, com respeito aosvolumes totais em cada ano. No entanto, houve mu-danças importantes nas quantidades totais. Por exem-plo, a quantidade produzida de soja foi da ordem de

11 milhões de toneladas em 1976 (como média 1975/1977) e de quase 30 milhões em 1998 (média 1997/1999). Portanto, há outro tipo de análise a ser realiza-da, voltada para o valor absoluto da produção, quepode apresenta-se ainda com uma maior facilidade deinterpretação.

Utilizando novamente o ordenamento das mi-crorregiões em forma decrescente da quantidade, emcada ano, pode-se estudar, por exemplo, quantas e quaismicrorregiões foram as primeiras a perfazer 5 ou 10milhões de toneladas de soja, ou qualquer outro volu-me considerado razoável para determinado produto.A Tabela 7 apresenta alguns exemplos, do tipo quepode ser utilizado para operacionalizar outro concei-to de fronteira de produção, agora em termos absolu-tos. Pode-se falar, por exemplo, da fronteira dos dezmilhões de toneladas de soja. Nesse sentido, tem-seuma situação similar à que aparece nos mapas clima-tológicos de temperatura. Logicamente, na Tabela 7 oconceito de “faixa” refere-se a um volume que vai dezero até o valor indicado em cada caso.

Como pode-se observar na Tabela 7, na faixade cinco milhões de toneladas, os conjuntos das mi-crorregiões que primeiro perfazem esse volume, paracada um dos anos considerados, têm interseção va-zia, o que se expressa numa persistência igual a zero enuma distância igual a 1. Já na faixa de dez milhõesde toneladas aparece alguma interseção no Mato Gros-so do Sul, mas continua o retrocesso das microrregiõesdo sul do país, e aparecem novas áreas no Mato Gros-so e na Bahia (microrregião de Barreiras). Conside-rando as somas a + b e a + c, na Tabela 7, que dão o

Período de Referência

1976 1998

Algodão 30,93 31,28Café 22,05 37,96Mandioca 48,97 55,56Soja 63,06 33,77Bovinos 63,29 57,89

Fonte: dados do IBGE, na base Agrotec, SEA/Embrapa, 2002.

Tabela 6. Contribuição percentual da parte persistente, nonível de 75%, em 1976 e 1998, com respeito ao volume

total em cada ano.

Produto

PRODUTO FAIXA a b c Persistência (p) Distância (d)

Algodão 400.000 t 1 8 5 0,07 0,93800.000 t 9 19 11 0,23 0,77

1.200.000 t 120 8 155 0,42 0,58

Café 500.000 t 2 6 2 0,20 0,801.000.000 t 3 18 6 0,11 0,891.500.000 t 10 36 6 0,19 0,81

Mandioca 5.000.000 t 1 15 13 0,03 0,9710.000.000 t 4 29 29 0,19 0,8115.000.000 t 55 27 57 0,40 0,60

Soja 5.000.000 t 0 11 3 0,00 1,0010.000.000 t 2 46 6 0,04 0,9615.000.000 t 14 201 3 0,06 0,94

Bovinos (cabeças) 10.000.000 1 6 3 0,10 0,9020.000.000 4 12 5 0,19 0,8130.000.000 8 21 7 0,22 0,78

Fonte: dados do IBGE, na base Agrotec, SEA/Embrapa, 2002.

Tabela 7. Freqüência da presença de microrregiões nos anos de 1976 e 1998, por faixa de contribuição,medidas de persistência e distância.

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Aspectos Gerais da Dinâmica de Uso da Terra38

número de microrregiões que formaram cada faixanos anos 1976 e 1998, respectivamente, tem-se que,para produzir os primeiros dez milhões de toneladasde soja, participaram 48 microrregiões em 1976 eapenas oito em 1998. Ao se analisar as microregiõesna faixa de 15 milhões de toneladas de soja (que émuito mais que o total da produção de 1976, da or-dem de 11 milhões de toneladas) verifica-se que 215microrregiões estavam envolvidas em 1976 (e, de fato,não alcançavam a reunir o volume escolhido), ape-nas 17 microrregiões foram suficientes em 1998. Lo-gicamente, as novas microrregiões, situadas princi-palmente nas Regiões Centro-Oeste e Norte, em ge-ral têm maior área que as do Sul do país. Até esteponto, os valores das áreas colhidas não foram utili-zados; mas, mesmo assim, a simples servem para su-gerir que deve ter havido algum aumento no rendi-mento. Ainda com respeito aos números para a soja,na Tabela 7, observam-se muito baixos valores para oíndice de persistência (e, portanto, altos valores paraas distâncias); ou seja, as situações para 1976 e 1998são muito diferentes.

Uma análise similar pode ser realizada para osoutros produtos, porém o caso do algodão, chama atenção. É claro que os valores na coluna a, não podemdiminuir ao se passar de uma faixa para outra maior,porque todas as microrregiões que entraram na pri-meira têm que entrar, a fortiori, na segunda. Em mui-tos outros casos, para determinado produto, as freqüên-cias nas colunas b e c também aumentam de acordocom as faixas, na medida em que são incluídas novasmicrorregiões; mas, isto pode não ocorrer, e os valorespara o algodão ilustram essa situação. A produção to-tal para 1976 foi ligeiramente superior a 1,2 milhõesde toneladas, e a de 1998 foi um pouco menor queesse volume. Fixando a atenção na faixa de 1,2 mi-lhões de toneladas, tem-se que ela reúne todas as 275microrregiões registradas em 1998. Em 1976 foramregistradas 301 microrregiões; de modo que a diferen-ça com respeito às 128 (= 120 + 8, na Tabela 7) que,nesse ano, reuniram 1,2 milhões de toneladas, indicaque houve 173 microrregiões (ou seja, mais da metade)que reuniram uma quantidade produzida praticamen-te irrelevante. No entanto, o mais interessante resultade observar que, em 1998, as 275 microrregiões regis-tradas não chegaram a alcançar o volume reunido por128 microrregiões em 1976. De todos modos, existem155 microrregiões “novas” em 1998; isto é, se bem quemuitas delas podem coincidir com algumas das 173que tiveram uma produção muito baixa em 1976, ofato sugere uma reorientação espacial na cultura doalgodão, o que é confirmado por outros indicadoresdisponíveis na literatura, e principalmente pela expan-são recente desta cultura no Mato Grosso e Mato Gros-so do Sul.

Mudanças no rendimento de produtos agrícolas

Nesta seção serão apresentados alguns resultados quese relacionam com as mudanças nos rendimentos maisaltos, tomando como exemplos o algodão e a soja.Seguindo o enfoque adotado anteriormente, os rendi-mentos correspondem ao quociente entre as médiasda quantidade produzida e da área colhida, nos triêni-os 1975-1977 e 1997-1999, e referidos como correspon-dendo a 1976 e 1998, respectivamente. Logicamente,podem ser calculados os índices de persistência e dis-tância, entre determinados grupos (e.g., os grupos dosdez rendimentos mais altos, ou os grupos dos rendi-mentos maiores que um certo número, etc, de umadas culturas, para 1976 e 1998).

Novamente, os rendimentos foram ordenados emforma decrescente, para cada produto e cada ano. Porbrevidade, a Tabela 8 apresenta apenas os cinco rendi-mentos mais altos, em cada ano, e as microrregiões ondeforam registrados, para os dois produtos escolhidos. Osmapas no Anexo C mostram a evolução dos gruposcom os dez, 20 e 30 rendimentos mais altos.

Da análise conjunta da Tabela 7, mapas locacio-nais e listagem impressa dos resultados para as primei-ras posições, depreende-se o seguinte:

1) para o algodão, nenhuma das cinco microrregiõescom mais alto rendimento em 1976 aparece entreas cinco melhores em 1998; para a soja, apenas uma(Foz do Iguaçu) persistiu de 1976 para 1998;

2) do exame da listagem com os dez primeiros luga-res, confirmado pelos mapas respectivos, resulta que,para o algodão, só uma microrregião demonstroupersistência nesse grupo (Franca, que passou do oi-tavo lugar, em 1976, com rendimento de 1.772 kg/ha, para o segundo lugar, em 1998, com 3.655 kg/ha, como consta na Tabela 5); para a soja, da com-paração dos grupos das dez melhores, apenas Fozdo Iguaçu mostra persistência;

Em ambas culturas observa-se o deslocamentopara o norte, se comparado com as microrregiões queocupavam as primeiras posições em 1976; consideran-do as dez primeiras posições no rendimento, tem-se oseguinte: a) para o algodão, em 1976 havia três micror-regiões no Paraná e sete em São Paulo, enquanto queem 1998 aparecem duas em São Paulo, duas em MinasGerais e seis no Mato Grosso; b) para a soja, em 1976havia uma microrregião no Rio Grande do Sul, seteno Paraná e duas em São Paulo, enquanto que em1998 aparecem quatro no Paraná, uma em Minas Ge-rais, quatro no Mato Grosso e uma no Maranhão. Emambas culturas registram-se aumentos notáveis no ren-dimento; comparando só a primeira posição em 1976com a primeira em 1998, sem preocupar-se com o fatode que correspondem a diferentes microrregiões, tem-

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Aspectos Gerais da Dinâmica de Uso da Terra 39

se um acréscimo de 84% no algodão e de 19% na soja;se bem que um estudo adequado da evolução do ren-dimento requer a utilização de outras técnicas, e nãodeve limitar-se à comparação de dois valores (ver, porexemplo, Alves et al., 1999), o fato é que, para as dife-rentes culturas, podem ser localizados certos pólos dealta produtividade que, eventualmente, poderiam atu-ar como indutores de inovação tecnológica nas suasproximidades.

Embora trabalhando com poucos produtos ,procurou-se fundamentalmente apresentar algumasmudanças representativas da dinâmica espacial da agri-cultura, identificando-se mudanças substanciais emtermos de: a) concentração da produção; b) contribui-ção percentual no total de cada ano; c) contribuiçãopor faixas de volume; e d) rendimento. Em termosgerais, cabe ainda destacar que algumas microrregiõesmostram bom desempenho em mais de um tipo deexploração agrícola, tanto em volume quanto em ren-dimento. Portanto, cabe avaliar a possibilidade da exis-tência de alguma forma de sinergismo, como já foiobservada entre o milho e a soja por Alves et al., (1999).

A dinâmica das TransformaçõesAgropecuárias

Ao longo das décadas analisadas, constata-se que a agri-cultura cumpriu com eficiência seu papel na econo-

mia brasileira, ou seja, a de prover de alimentos, ener-gia, fibras e outros para a população, gerando divisasvia exportação de excedentes e capital para a industri-alização do país.

Grandes investimentos em infraestrutura torna-ram possível um sistema de transporte multimodal cadavez mais eficiente e barato, com efeitos catalíticos tan-to na expansão como no aumento da produção agro-pecuária. Exportações de áreas com pouco acesso sãoagora possíveis a preços competitivos, como no Corre-dor Norte, o caminho fluvial que conecta o Rio Ma-deira ao Rio Amazonas através do Porto de Itacoatirae o Corredor Centro Norte conectando o Estado doMato Grosso ao Porto de Ponta da Madeira (São Luís,MA) no nordeste do país, permitindo ainda incorpo-ração de novas áreas produtivas dos Estados de Tocan-tins, Piauí e Maranhão. Nestes, como exemplo daspossibilidades de transformações associadas às poten-cialidades das terras e vantagens comparativas, no anoagrícola de 1998 já cultivaram uma área da ordem de210 mil hectares de soja, apresentando um potencialsuperior a 3 milhões de hectares, área equivalente ácultivada no Estado do Rio Grande do Sul.

Nas décadas de 70 e 80 o forte apoio financeiroe tecnológico promovido pelo governo através de pro-gramas e incentivos fiscais, como a criação da Embra-pa e do Sistema de Nacional de Pesquisa Agrícola,marcaram o inicio de um forte processo de apoio amodernização da agricultura brasileira, com uso mais

Produto Ano Rendimento (kg/ha) UF Microregiões

1976 2.165 SP Barretos1976 2.039 SP São Joaquim da Barra

Algodão 1976 2.034 SP Jaboticabal1976 1.933 PR Pitanga1976 1.927 SP Limeira

1998 3.976 MG Passos1998 3.655 SP Franca

Algodão 1998 3.581 MT Alto Araguáia1998 3.152 SP Itapetinga1998 3.152 MT Primavera do Leste

1976 2.524 PR Porecatu1976 2.458 SP São José dos Campos

Soja 1976 2.436 PR Toledo1976 2.406 PR Foz do Iguaçu1976 2.385 PR Ivaiporã

1998 3.000 MG Ponte Nova1998 2.888 PR Foz do Iguaçu

Soja 1998 2.879 MT Primavera do Leste1998 2.844 MT Alto Araguáia1998 2.837 MT Rondonópolis

Fonte: dados do IBGE, na base Agrotec, SEA/Embrapa, 2002.

Tabela 8. Microregiões de rendimentos mais altos da soja e do algodão herbáceo, em 1976 e 1998.

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Aspectos Gerais da Dinâmica de Uso da Terra40

intensivo de capital e de tecnologias de produção. Osefeitos mais evidentes destas políticas começaram a semanifestar desde o início da década de 80, quando ocrescimento da agricultura brasileira passou a ser de-terminado mais pelos ganhos crescentes de produtivi-dade do que pela expansão da área cultivada (Gasques& Villa Verde, 1990).

Exemplificando, ao se analisar a taxa de cresci-mento anual da produção de grãos (arroz, feijão, mi-lho, soja e trigo), que representaram na última década72% da área plantada com lavouras temporárias e 62%da produção agrícola brasileira, verifica-se no período1975-2001, uma evolução da área plantada de 34%(28,36 para 38,11 milhões de hectares), enquanto aprodução e a produtividade obtiveram ganhos da or-dem de 148% (de 38,1 para 97,3 milhões de toneladas)e 84% respectivamente. Esta evolução, inverteu pro-gressivamente a forma de resposta às demandas porprodutos agrícolas. Na década de 60 esta era atendidaexclusivamente pela expansão da área agrícola, pois ataxa média de rendimento era ligeiramente negativa e,ultimamente, quase que totalmente pelos ganhos deprodutividade (Figura 2). Assim no período de 1991-95, a produção total de grãos cresceu 4,92%, graças aoganho de produtividade que foi de 4,6%. A expansãoda área de produção respondeu por apenas 0,32% damédia de crescimento anual.

Por outro lado, Gasques & Conceição (1997)calcularam os índices de produtividade total da agri-cultura, produtividade da terra e do trabalho, atravésdo índice de Tornqvist para o período 1976/1994.Concluíram que a agricultura brasileira apresentoucrescimento na produtividade, embora esse crescimen-to tenha se dado a taxas decrescentes no último ano.Destaca-se que a redução da taxa de crescimento daprodutividade total da agricultura é uma questão pre-ocupante, pois os ganhos de produtividade ainda sãoconsiderados atualmente, condição essencial para a

garantia da competitividade do setor. Por outro lado,a tendência de crescimento a taxas decrescentes nãoseria uma situação preocupante se a agricultura brasi-leira já tivesse atingido um patamar bastante elevadode produtividade. Entretanto, esse fato ainda não ocor-reu, como mostram os estudos e prospecções da Em-brapa, que apontam para a existência de expressivosganhos potenciais de produtividade, e ainda um am-plo espaço para a adoção de tecnologias convencio-nais, que não completaram seu ciclo para todos oscultivos e regiões do País.

Outro indicador importante desta transforma-ção tecnológica é a renda bruta das lavouras, ou seja, ovalor monetário da produção obtida ao nível de pro-dutor. Utilizando-se os produtos: arroz, batata inglesa,cebola, feijão, mandioca, milho, trigo, algodão em ca-roço, amendoim e soja, representativos de cerca de 80%da área cultivada e mais de 75% do volume de produ-ção do País, França (2001) constatou que a renda bru-ta, ao longo das duas últimas décadas, teve um decrés-cimo da ordem de 40% (Figura 3). A tendência de que-da verificada ao longo do período acentuou-se a partirde 1989, em parte como decorrência da abertura co-mercial brasileira. Nos anos 90, manteve-se constan-te com índices próximos a 60%, revelando que todo oesforço de ganhos de produtividade foi, em ultimaanálise, utilizados para compensar a queda de preçosrelativos pagos ao produtor.

Com relação ao comportamento da área colhi-da, verifica-se que após um período de expansão nosanos 80, a taxa de crescimento da área colhida reduziu-se na década de 90, sendo que ao seu final foi inferiorao início dos anos 80 (Figura 3). Contrastando com aárea colhida, a quantidade total produzida cresceu deforma sistemática, como conseqüência do aumentosignificativo do rendimento físico agregado durante operíodo. Esses ganhos de produtividade são, por umlado, devido à mudança na composição da área de

Figura 2. Taxas de crescimento anuais de produção de grãos (arroz, feijão, milho, soja e trigo).

-1

0

1

2

3

4

5

Cre

scim

en

toM

éd

ioA

nu

al

em

%

1961-70 1971-80 1981-90 1991-95

Período Fonte: Contini, 1996

Produção TotalÁreaRendimento

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Aspectos Gerais da Dinâmica de Uso da Terra 41

produção das culturas selecionadas e, por outro, devi-dos a modernização tecnológica e à retirada de produ-ção das terras marginais que foram cultivadas no finalda década de 80. Considera-se também que a aberturada economia e as mudanças das políticas de preçosmínimos, crédito rural e zoneamento agrícola resulta-ram numa reorganização do espaço produtivo, maisconsistente com as vantagens comparativas regionais.Estes fatos, podem também explicar em parte, situa-ções conjunturais em relação a produtividade, comoas observadas por Gasques & Conceição (1997) e ou-tros, na década de 90.

Adicionalmente, as perdas e frustações de safrasem culturas temporárias em regime de sequeiro eramexpressivas, sendo que nas culturas de verão (arroz,feijão, milho, soja, algodão, mandioca e outras planta-das na época das chuvas, de setembro em diante), asperdas por seca alcançavam até 60% e por chuvas fortes,32%. Nas culturas de inverno (trigo, cevada e outrasplantadas na região sul do Brasil, a partir de abril), asperdas por seca eram de 30%, por chuvas fortes à épocada colheita 32% e por geada 30%. Neste quadro, podia-se constatar que a agricultura brasileira era uma ativi-dade de alto risco e até mesmo deficitária.1

A introdução do Zoneamento Agrícola em 1996,um elemento novo e cientificamente elaborado, vemmodernizando os instrumentos de política agrícola ea própria produção no País. Tornou-se também uminstrumento indireto de reordenamento do espaçoagrícola, ao priorizar terras com melhor oferta ambi-ental, diminuindo a pressão de uso em regiões de me-

nor potencial produtivo, oferecendo desta forma, umaresposta ao processo histórico de ocupação dos solossem a observância das limitações e potencialidades dasterras. Sua possível integração com políticas ambien-tais que tratam do processo de ocupação e ordenamentodo território nacional, poderá se constituir num ins-trumento operacional e dinâmico da conservação dosrecursos naturais.

Embora a produção de grãos no País tenha cres-cido mais rapidamente do que a área colhida ao longodos últimos 25 anos (Figura 4), a dinâmica regionalmostrou-se diversa, tanto na configuração do seu espa-ço produtivo, como já abordado nos itens anteriores,quanto na evolução da produção e produtividade ob-tidas ao longo do período. Assim Helfand & Rezende(2000) analisando a evolução da área colhida de grãospara o mesmo período, constataram uma diminuiçãono Sul e no Sudeste na década de 90, enquanto a pro-dução aumentou na primeira região e se manteve rela-tivamente constante na segunda. Já no Centro-Oeste, aprodução de grãos tem crescido mais rapidamente doque nas demais regiões, enquanto a área colhida na dé-cada de 90 manteve-se no mesmo patamar da décadaanterior. Em contraste com as outras regiões, a caracte-rística predominante da produção de grãos no Nordes-te tem sido o alto grau de instabilidade. Os autores res-saltam ainda, que deve-se encontrar um meio para solu-cionar o problema causado pelas secas periódicas, quepermita que os rendimentos físicos da região cresçam, oque entretanto ainda permanece como um desafio fun-damental para a política econômica. Destaca-se a im-portância e as ramificações que estes aspectos represen-tam para o desenvolvimento econômico do Nordesteassim como para a questão da pobreza rural e a pres-são que esta resulta sobre os seus recursos naturais.

1Para obter maiores detalhes, consulte a pagina do ZoneamentoAgrícola na Home Page do Ministério da Agricultura, Pecuária edo Abastecimento. <http://www.agricultura.gov.br>

Figura 3. Indicadores de desempenho relativo das lavouras (arroz, batata inglesa, cebola, feijão, mandioca, milho, trigo, algodãoem caroço, amendoim e soja).

40

60

80

100

120

140

160

180

1979 1982 1985 1988 1991 1994 1997 2000 Fonte: França, 2001

Índ

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tivo

(%)

Área Produção Renda Bruta

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Aspectos Gerais da Dinâmica de Uso da Terra42

De fato a relativa estabilidade da área plantadaobservada não significa, necessariamente, que esta sejacomposta das mesmas áreas físicas utilizadas ao longodo período, como já anteriormente exposto, mesmoconsiderando as regiões com maior nível de especiali-zação, como a produção de arroz que somente temcrescido na região Sul (e mais recentemente no Cen-tro-Oeste), e as produções de algodão e soja que apre-sentam um crescimento mais concentrado na regiãoCentro-Oeste. Helfand & Resende (2000) destacam queos rendimentos físicos da produção de grãos têm cres-cido mais rapidamente, ou pelo menos às mesmas ta-xas, no Centro-Oeste quando comparado com as de-mais regiões do Centro-Sul — o que reflete um níveltecnológico mais elevado, bem como a maior mecani-zação das lavouras nessa região. Por outro lado, estecrescimento e a maior produção de grãos no Centro-Oeste também pode ter contribuído indiretamente, paraaumentar a pobreza no meio rural, na medida em quecriou um problema de competitividade para a peque-na agricultura em outras regiões do Brasil.

Outros trabalhos demonstram ainda, que o cres-cimento dos diversos setores da agricultura tambémnão é uniforme, tendo sido constatado que os produ-tos exportáveis crescem a taxas maiores do que os pro-dutos de mercado interno (Homem de Mello, 1988).Uma possível explicação para essa diferenciação docrescimento seria que os produtos exportáveis tenhamincorporado de forma mais intensa, a disponibilidadede tecnológica ao longo do tempo (Graziano da Silva1995).

Ressalta-se novamente que a disponibilidadetecnológica sob condição de sequeiro ainda não é com-pleta para todos os agricultores, condições ambientaise Regiões. Por exemplo o Nordeste, a região com a

menor oferta ambiental, ainda não dispõe de um siste-ma produtivo de sequeiro capaz de enfrentar a seca.Por outro lado, sob tecnologia irrigada é favorecidapela luminosidade, temperatura e baixa precipitação,podendo ser extremamente competitiva, desde que sepromova o desenvolvimento tecnológico específicopara as condições ambientais locais, buscando-se ní-veis de produtividades economicamente mais elevadosque os atuais, principalmente para o milho, arroz, fei-jão e algodão.

Porém a irrigação no Brasil, que passou por umperíodo de forte expansão até o ano de 1990 (Capítulo2), apresenta atualmente um crescimento lento, embo-ra ofereça uma série de vantagens comparativas ao pro-cesso de uso e ocupação das terras. Exemplificando,apenas 6,19% dos 38,3 milhões de hectares atualmentecultivados no país são irrigados, sendo que no mundo17% dos 1,5 bilhão de hectares utilizam a irrigação.Entretanto, a produtividade da irrigação agrícola fazcom que estes 17,7% respondam por 40% dos alimen-tos produzidos, sendo esta proporção ainda maior noBrasil, ou seja, 35% da produção agrícola é oriundados 2,87 milhões de hectares irrigados. Assim, pela suaextensão atual, e de forma geral, pelos baixos impactoscausados aos solos brasileiros ao longo tempo, a irri-gação não se configura como uma forma de pressãosobre os solos, e sim uma alternativa para diminuir apressão pela ocupação e uso agrícola das terras, viaaumento de renda econômica, produção e produtivi-dade agrícola. Para tal, é necessário estabelecer umanova política de crédito para o setor, que equacione amaior necessidade de investimentos nesta tecnologia,o acesso ao crédito e os elevados custos financeirosatuais permitindo ainda, a participação dos pequenosprodutores, um problema que passa por exigências de

Figura 4. Evolução da área colhida e produção agrícola de grãos – arroz, feijão, milho, soja e trigo.

56,2

97,3

69,6

53,838,1

69,1

38,11

28,36

0,0

20,0

40,0

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100,0

120,0

1974 1978 1982 1986 1990 1994 1998 2002

Produção (milhões t) Área (milhões ha)Fonte: Embrapa, Conab,2001

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Aspectos Gerais da Dinâmica de Uso da Terra 43

garantias, soluções de passivos e outros fora do domí-nio dos agricultores. Este é um outro desafio para apolítica econômica do País.

Quanto à exploração pecuária, atividade demaior expressão em termos de ocupação de área noPaís, o rebanho bovino nacional é atualmente o se-gundo maior do mundo, estimado em 157 milhões decabeças (32 milhões de leite e 125 milhões de corte),distribuídos em 1,6 milhões de estabelecimentos pecu-ários. Para tanto, as variações com o uso da terra compastagens, especialmente com pastagem plantada, fo-ram extremamente superiores as demais formas de uso,revelando seu dinamismo espacial e sua importânciarelativa na expansão da fronteira agrícola do País.

Uma análise comparativa utilizando-se dadosagregados indica que a área de pastagens plantadas so-mente não supera o volume de terras com aptidão paraeste fim na Região Norte (Figura 5). Embora esta com-paração não signifique necessariamente que a atividadeesteja utilizando terras com menor aptidão ou mesmoinaptas, serve como indicador indireto de pressão sobreo uso da terra. Assim nas Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, a tendência de ocupação por lavouras de áreasanteriormente com pastagens naturais, plantadas degra-das ou não, face à sua menor rentabilidade comparati-va, tem determinado um deslocamento do setor paraterras com menor potencial de uso, com maiores riscosde sobre utilização e degradação do recurso solo, comoefetivamente se observa pela presença de pastagens de-gradadas e processos erosivos nestas regiões. No Nor-deste, face a fragilidade do Bioma Caatinga, este indica-dor é ainda mais preocupante, face ao risco adicionalde desertificação, gerada pela pressão que a atividadeexerce sobre a biomassa vegetal.

Na Região Norte, estudos como os de Reis &Margulis (1991) e Reis & Guzman (1993) sobre osmodelos que identificam as causas da expansão dodesmatamento na Amazônia, demonstram econome-tricamente que até os anos 1990 estas foram, princi-

palmente, associadas aos investimentos em estradas ea concessão de crédito para formação de pastagem eexploração da pecuária. Assim a possibilidade de aces-so à floresta oferecido pelas rodovias e as políticas se-toriais de créditos, incentivaram a demanda pela pro-priedade da terra na região, resultando no médio elongo prazos, a elevação do preço da terra em funçãodo crescimento da infraestrutura regional, permitindoganhos patrimoniais futuros, e gerando uma pressãoespeculativa adicional por terras.

Também neste sentido, Ferraz (2001) utilizan-do-se de um modelo econométrico para explicar, sepa-radamente, a demanda por terras para cultivo agrícolae pecuária na Amazônia, confirma que, a demandapor novas terras que incentivam o desmatamento so-fre influência de fatores econômicos, como o preçodos produtos agrícolas, das terras e do nível de créditorural. Constatou ainda que a rede de estradas pavi-mentadas e não-pavimentadas foi um dos principaisdeterminantes para a expansão do desmatamento. Osalário rural teve efeito explicativo na demanda porterra agrícola, mas não apresentou influência sobre ademanda por pastagens. Em suma, o processo de des-matamento na Amazônia resulta do avanço da fron-teira agropecuária na busca de novas terras, respon-dendo de forma esperada aos incentivos de preço, tec-nologias disponíveis e as economias externas da infra-estrutura instalada na região.

Margulis (2001) propõe que o fator chave paraexplicar grande parte dos desmatamentos na Amazô-nia é a lucratividade da pecuária, e ao contrário dousualmente aceito, argumenta que do ponto de vistaprivado fazem todo sentido pois decorrem fundamen-talmente de atividades produtivas, e não das especula-tivas. Os agentes que se apropriam destes ganhos sãoos madeireiros e os agentes intermediários que trans-formam a floresta nativa em pastagens (pequenos agen-tes com os menores custos de oportunidade), e princi-palmente os pecuaristas e fazendeiros que “vêm de-

Figura 5. Uso atual, aptidão agrícola e balanço da disponibilidade das terras aptas para pastagem plantada por região do Brasil.

-100.000

0

100.000

200.000

300.000

400.000

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Norte Nordeste Sudeste Centro-Oeste

Sul

Região Fonte: Embrapa Solos, 2002

Aptidão das Terras

Uso das Terras

Disponibilidade de Terras

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Aspectos Gerais da Dinâmica de Uso da Terra44

pois”. Também ao contrário do usualmente aceito, ar-gumenta que: i) os madeireiros não são os principaisatores do processo; ii) a especulação fundiária não éum fator de importância primordial; iii) a soja e ou-tros grãos estão longe e não ameaçam: a agriculturapode vir atrás da pecuária, mas por enquanto só é sig-nificativa no Mato Grosso, e de concreto e consolida-do, pouco existe nos demais estados; iv) os incentivose créditos subsidiados do governo só puderam expli-car uma parcela muito pequena dos desmatamentosno passado: hoje em dia, praticamente não têm rele-vância; v) por terem históricos de ocupação, origemde colonização, e tipos empresariais distintos, as polí-ticas de controle têm que incorporar estas condiçõesespecíficas locais.

Por outro lado, uma análise expedita sobre arentabilidade média do setor pecuário (Embrapa, 2001– projeções não oficiais) utilizando-se dados agregadosrevela que os pecuaristas possuem hoje em média 75cabeças, que considerando uma margem líquida de 15%na atividade, resulta numa remuneração mensal de R$100,00 para a sobrevivência deste médio pecuarista.Esta simulação ilustra especialmente as dificuldadesdos pequenos produtores e a pressão que estes exercemsobre as terras de menor aptidão agrícola, como as quese verifica por exemplo nas regiões montanhosas doSudeste e no semi-árido nordestino, e a necessidade deprogramas e políticas setoriais para a diversificação/ordenamento da agropecuária, recuperação das pasta-gens, solos e mesmo o reflorestamento de biomas maisameaçados.

De fato o problema das pastagens no Brasil épreocupante, face principalmente a forma de apropri-ação e extensão de terras atualmente utilizadas. Embo-ra alternativas tecnológicas existam e estejam disponí-veis, a baixa rentabilidade do setor geralmente deter-mina, especialmente entre os pequenos e médios pecu-aristas, um baixo uso de tecnologias de manejo dossolos e pastagens. De forma geral, o produtor ao im-plantar áreas de pastagens plantadas, quando muito,consegue fazer a correção do solo, geralmente através

da utilização de culturas de ciclo curto (milho, arrozetc.), porém não consegue ter o nível financeiro reque-rido para manejá-las adequadamente, ocasionando ge-ralmente o sobre pastejo. Nesta situação e em algumasregiões do país, ainda se observa o uso de queimadascomo forma de “manejo e recuperação” de pastagensno período seco, geralmente com drásticos efeitos sub-seqüentes sobre a conservação dos solos, das proprie-dades rurais, da saúde pública e dos demais recursosnaturais.

Porém o desenvolvimento e uso de novas tec-nologias, a exemplo da agricultura também vêm re-centemente se configurando como uma alternativa paraenfrentar os problemas de rentabilidade do setor pecu-ário, bem como para atender as demandas de consu-mo. A Figura 6 apresenta a evolução da produção decarnes no Brasil, que no caso dos bovinos, parte daprodução foi oriunda da expansão pecuária através doaumento das áreas com pastagens, porém como indi-cadores indiretos sobre as taxas de expansão do uso daterra apresentam ultimamente sinais de estabilização,parte também é oriunda da modernização e ganhosprodutividade do setor.

Como exemplos desta modernização cita-se osprogramas oficiais e privados de melhoria genética doplantel nacional, que incluem programas de melhora-mento genético, inseminação artificial e transferênci-as de embriões, integração lavoura-pecuária, confina-mento e semi-confinamento e o recente programa ofi-cial de rastreabilidade de animais. Como resultado ataxa de abate ou desfrute do rebanho nacional que erade 16% em 1990, terminou a década com 23%, taxaesta superior a média mundial que é de 20%. Estesindicadores, associados às novas ferramentas da bio-tecnologia para o melhoramento genético, indicam quea pecuária nacional pode manter a tendência de tecni-ficação, respondendo as demandas de consumo viaganhos crescentes de produtividade, diminuindo con-seqüentemente, o processo de incorporação de novasáreas com pastagens, principalmente na Amazônia, hojeuma das principais formas de ocupação de suas terras.

Figura 6. Evolução da produção de carnes no Brasil.

2446

705 10002357

59213411

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64105811

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1966 1970 1974 1978 1982 1986 1990 1994 1998 2002

Fonte: Embrapa 2001. ANUALPEC 1999, 2000

Mil

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Frangos Bovinos Suínos

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Aspectos Gerais da Dinâmica de Uso da Terra 45

Suínos e especialmente aves tiveram ganhos deprodução e produtividade excepcionais a partir da dé-cada de 90. Cita-se como exemplo, o modelo de pe-quenos agricultores integrados no Sul, adotado tam-bém em outras regiões do país, que contribuíu paraum período de excelente crescimento na produção ena produtividade de suínos e aves. Embora nos últi-mos anos este modelo tradicional de sinais de esgota-mento, face aos custos de logística e gerenciamento deum grande numero de agricultores integrados, Hel-fand & Resende (1998) mostram, porém de forma nãoconclusiva, as possibilidades de se captar economiasde escala na produção e abate de animais, e de reduzircustos de transação através de uma reorganização dasinstituições de integração. De qualquer forma, estemodelo ainda se configura atualmente, como alterna-tiva com maior ou menor nível de integração, para osistema de produção de pequenos a grandes pecuaris-tas e agricultores de várias regiões brasileiras.

Portanto, atualmente o segmento mais tecnifi-cado da agropecuária brasileira é o resultado das pro-fundas transformações que ocorreram, especialmente,nas duas últimas décadas. O processo de moderniza-ção e tecnificação da agropecuária provocou profun-das alterações no sistema de produção, apropriação deespaços produtivos e no seu relacionamento com ossetores industriais, situados antes e depois da porteira,sedimentando o conceito de “agronegócio” ou com-plexo agroindustrial. Esse conceito que ganhou expres-são principalmente nos países desenvolvidos, forneceà agricultura uma nova dimensão, projetando diversasatividades para fora da propriedade rural, criando umsistema que a tem como centro motor, gerando umamultiplicidade de novos negócios e que agregam valorao produto agrícola (Barriga, 1997). Exemplos destanova agricultura não faltam no país e mesmos em áre-as de ocupação agrícolas recentes, em Estados comoMato Grosso, Maranhão, Piauí e outros, cabendo aogoverno através de políticas setoriais, planejamentos,ordenamentos e reordenamentos de uso das terras, uti-lizar-se deste novo modelo como forma de preserva-ção do patrimônio solo e dos demais recursos natu-rais, em benefício das gerações futuras.

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Luís Carlos HernaniPedro Luiz de FreitasFernando Falco Pruski

Isabella Clerici De MariaCelso de Castro FilhoJohn Nicolas Landers

5A Erosão e seuImpacto

Capítulo

47

Processos de Degradação das Terras

Terra, conforme FAO, citado por Lepsch et al. (1991),é um segmento da superfície do globo terrestre defini-do no espaço e reconhecido em função de característi-cas e propriedades compreendidas pelos atributos dabiosfera, atmosfera, solo, substrato geológico, hidrolo-gia e resultado das atividades humanas futuras e atu-ais. A redução da qualidade do solo pode ser devido acausas naturais ou induzidas pelo homem. A degrada-ção da terra pode ser entendida como o resultado dequalquer ação que a faça menos utilizável em benefí-cio dos seres humanos (Wasson, 1987). A qualidade dosolo é definida por valores relativos à sua capacidadede cumprir uma função específica e, pode ser determi-nada para diferentes escalas: campo, propriedade agrí-cola, ecossistema, região (Gregorich & Carter, 1997).Pode-se, assim, entender a degradação do solo comosendo a perda da sua capacidade em desempenhar umafunção e o grau da degradação como um indicadorchave da sustentabilidade dos ecossistemas.

Os tipos de degradação dos solos podem ser: 1.Erosão hídrica: perda de horizontes superficiais; de-formação do terreno; movimentos de massa; deposi-ção. 2. Erosão eólica: perda de horizontes superficiais;deformação do terreno; movimentos de massa; depo-sição. 3. Química: perda de nutrientes e/ou matériaorgânica; desbalanço de nutrientes; salinização; acidi-ficação; poluição. 4. Física: compactação; selamento,encrostamento; inundação; aeração deficiente, excessoou falta de água. 5. Biológica: redução da biomassa,redução da biodiversidade.

No contexto da produção agropecuária, a de-gradação das terras está relacionada às ações que con-tribuem para o decréscimo da sustentabilidade da pro-dução agrícola no tempo, através da diminuição da

qualidade do solo e de seus atributos físicos, químicose biológicos. Esse conceito é aplicável para qualquerárea na qual princípios básicos de conservação do solonão foram obedecidos quando por ocasião do estabe-lecimento da atividade agrícola após desmatamentoou outro uso (Castro Filho et al., 2001). A degradaçãoda terra diz respeito também à perda de qualidade e dadisponibilidade da água especialmente para consumohumano e, ainda, refere-se ao mesmo tempo à perdadefinitiva de biodiversidade devido a processos utili-zados no manejo inicial ou antropização do solo.

A principal causa da degradação do solo emambientes tropicais e subtropicais úmidos é a erosãohídrica e as atividades que contribuem para o aumen-to das perdas de solo. A erosão hídrica é um processonatural que acontece em escala de tempo geológica. Asatividades humanas tendem a acelerar esse processo aponto de tornar visíveis os seus efeitos. Naturalmente,sob condições climáticas adversas, como seca ou ex-cesso de chuvas, os resultados são dramáticos e cha-mam a atenção. Mesmo ocorrendo em magnitudemenores, a degradação das terras é ignorada até queeventos catastróficos ocorram, a exemplo das inunda-ções que seguiram o longo tempo de estiagem que re-sultou na crise energética no ano 2001, causando ele-vados prejuízos à sociedade brasileira. Uma área deterras degradadas faz com que as populações sejamforçadas a tentar produzir em terras marginais, nãoaptas para lavouras ou pastagens, ou avancem em dire-ção a terras mais frágeis (Amazônia e Pantanal, porexemplo), multiplicando desesperadoramente a degra-dação (Castro Filho et al., 2001; Freitas et al., 2001).

A atividade humana sem conhecimento dos re-cursos naturais – solo, água e biodiversidade, a falta deplanejamento em diferentes escalas, o uso de sistemasnão adequados de manejo, o desmatamento incorreto,

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A Erosão e seu Impacto48

a exploração do solo acima de sua capacidade (super-pastoreio, agricultura extensiva), além do crescimentourbano e industrial desordenados, dão origem a umaseqüência de ações que influem sobre as propriedadese a natureza do solo, tornando-o mais susceptível àsforças naturais de degradação (Freitas, 2002; CastroFilho et al., 2001).

Os processos de degradação estão associados afatores edáficos, climáticos e antrópicos. Embora al-guns autores separem a degradação do solo em física,química e biológica, os processos associados a cadaum desses aspectos apresentam interações e influenci-am-se mutuamente sendo que a alteração de um delesafeta a qualidade do solo e de todo o sistema. A inten-sidade e a taxa de desenvolvimento desses processossão muito ampliadas pelo uso e manejo inadequadosda terra (uso intensivo de grades de discos no preparodo solo, por exemplo), que expondo o solo aos fatoresintempéricos induzem a destruição gradativa de seusatributos físicos, químicos e biológicos. A perda dacamada superficial do solo é a principal forma de ex-pressão da degradação das terras no Brasil, sendo aerosão hídrica a sua causa maior.

No processo de degradação ambiental, Blum(1998) considerou haver envolvimento de três tiposde energia: a) gravitacional – a que controla grandeparte do movimento dos sólidos, líquidos e gases e édeterminante para os fenômenos da erosão e sedi-mentação; b) conservada – presente no material deorigem e provenientes das forças internas da Terra(pressão e temperatura); e c) solar – captada e trans-formada pelos vegetais e cedidas ao solo. Esse autorpropôs então que a degradação de um ecossistemaseja relacionada à perda de sua energia armazenada.Com base nessa proposição, Kobiyama et al. (1993),conceituaram a degradação como os processos e fe-nômenos do meio ambiente, naturais ou antrópicos,que prejudicam as atividades de um ou mais de seusorganismos. Kobiyama et al. (2001), associaram adegradação de um dado ambiente à sua entropia (S)[definida como dS = dQ/dT , onde Q é o calor e T éa temperatura] ou à desarmonia dos processos envol-vidos, relacionando-a à entropia existente em umambiente equilibrado. Nesse sentido, quanto maior aentropia, maior é a degradação de uma área. O au-mento da entropia pode ser lento, como no caso doprocesso natural da formação do solo ou da paisa-gem; ou então rápido, como o que se dá em funçãoda adição de energia no sistema (agrícola, urbano eindustrial) através da interferência humana.

De fato, a intervenção humana no ecossistemanatural (remoção da cobertura vegetal, por exemplo)tem sido causa de degradação que remonta aos temposdo descobrimento do Brasil. Na Amazônia, os proces-sos de degradação estão muito ligados ao desconheci-

mento do ecossistema e de como manejá-lo para queproduza com sustentabilidade; a conservação da maté-ria orgânica é fundamental no processo de recupera-ção, assim como o uso de espécies nativas e plantasfixadoras de nitrogênio. Na região do Semi–Árido, ascausas de degradação em condições naturais estão rela-cionadas ao elevado escoamento superficial, condiçõesclimáticas adversas (altas temperaturas, evaporação ele-vada, chuvas erosivas e período seco prolongado), pre-sença de horizontes genéticos endurecidos, mudançatextural abrupta (permeabilidade) e presença de saissolúveis; o processo é acelerado pela ação antrópicainadequada. A recuperação se baseia em técnicas deirrigação, drenagem, correção, gessagem, uso de plan-tas tolerantes, mas é um processo muito lento. Nocaso da região de mares de morros (no Estado de Mi-nas Gerais, por exemplo), a topografia foi um aspectofacilitador do processo de degradação, iniciado pelaremoção da cobertura vegetal nativa; o manejo inade-quado sob o ponto de vista de culturas e preparo desolo, contribuiu para a aceleração do depauperamen-to. Os processos de recuperação são quase sempre len-tos, destacando-se a importância do conhecimento dossolos como premissa básica para o adequado manejo erecuperação.

Essa questão, no entanto, preocupa a todos ospovos da Terra. Haja vista o estudo desenvolvido peloISRIC/UNEP, do qual participou a Embrapa Solos,que mostrou que 15% das terras deste Planeta já fo-ram severamente degradadas por atividades humanas.Entre as formas mais comuns de degradação, destaca-ram-se a perda da camada superficial (70%), a defor-mação do terreno (13%), a perda de nutrientes (6.9%)e a salinização (3.9%). Menores intensidades de de-gradação foram atribuídas à compactação, poluição,erosão eólica, inundação, acidificação e subsidência(ISRIC/UNEP, 1991). Segundo a FAO, a perda dacamada superficial é o maior desafio para a sustenta-bilidade da agricultura, entre outras razões porque asua recuperação exige um longo período de tempo. Acausa maior da perda e deterioração da camada su-perficial do solo é a erosão hídrica, que por sua vezcausa um decréscimo na produtividade dos solos, umavez que afeta a camada mais favorável ao crescimen-to das plantas cultivadas, rica em nutrientes, em de-trimento de subsolos não férteis. A baixa produtivi-dade resultante, somente pode ser compensada atra-vés da adição de nutrientes, elevando os custos deprodução (FAO, 1983). Uma vez que o custo de insu-mos deixa de ser economicamente viável, a terra éconvertida para usos menos intensivos ou de menorinversão de recursos ou tecnologia, como, por exem-plo, a conversão de lavouras para pastagens extensi-vas e o abandono de áreas que podem ficar sujeitas aprocessos que incrementam a degradação.

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A Erosão e seu Impacto 49

5.2. A Erosão

A erosão é um processo natural e ocorre mesmo emecossistemas em equilíbrio. A intervenção humana elevaa taxa de incidência desse processo gerando a “erosãoacelerada”. Esta constitui um fenômeno de grandeimportância em razão da rapidez de seu desencadea-mento e por acarretar grandes prejuízos não só para aexploração agropecuária, mas também para diversasoutras atividades econômicas e ao meio ambiente. Amagnitude da erosão acelerada se relaciona às caracte-rísticas do solo, às condições climáticas e ao uso emanejo dos recursos naturais.

O modelo agrícola predominante no país (base-ado em uso de energia fóssil, de agroquímicos, namecanização intensiva e que tem como principal pre-ocupação a produtividade, em sua dimensão econômi-ca) induz ao manejo inadequado do solo e promove aintensificação de processos erosivos pela exposição dosolo ao sol e à chuva, com destruição de seus agrega-dos, formação de camadas compactadas, decréscimode permeabilidade e infiltração e, em conseqüência,aumento da erosão.

A evolução dessa questão pode ser exemplifica-da com o que aconteceu no Estado do Paraná, nosanos 70. O rápido crescimento da agricultura trouxetambém o aumento da erosão. Para controlar o pro-blema programas estaduais passaram, então, a incen-tivar a construção de terraços, geralmente comunitá-rios. No entanto, o problema principal de degrada-ção das terras naquele momento era a compactaçãodo solo causada pelo uso intensivo, por dezenas deanos, de grades aradoras. Embora o tamanho dos ter-raços tenha aumentado, chegando a barreiras gigan-tes chamadas “murunduns” bastante eficazes em bar-rar o escorrimento de água sobre a superfície do terre-no, não se resolveu definitivamente o problema, por-que os terraços não têm efeito sobre a compactação dosolo. Apenas quando os produtores se voltaram paratécnicas que visavam eliminar a compactação, o pro-cesso de erosão diminuiu, permitindo a melhoria daprodução e a obtenção de maiores lucros (Castro Fi-lho et al., 2001).

Desde essa época, especialmente nas regiões Su-deste e Sul do Brasil, ações regionalizadas de manejointegrado em bacias hidrográficas vem sendo gradati-vamente implantadas com sucesso. Ressaltando-se quetais ações foram bem sucedidas somente quando severificou o envolvimento efetivo de poder público,setor produtivo e, enfim, da sociedade em geral. Ouso de sistemas conservacionistas baseados em Plan-tio Direto, nos anos noventa, expandiu-se numa es-cala territorial mais ampla trazendo grandes mudan-ças no controle dos processos erosivos e na sustenta-bilidade da atividade agrícola, permitindo antever

perspectivas menos pessimistas ao desenvolvimentodo agronegócio brasileiro em sua dimensão ambi-ental.

Tipos de Erosão

A erosão pode ser causada pela água (hídrica), vento(eólica) ou pela combinação desses agentes. No Brasila erosão hídrica é a mais importante.

As principais formas de expressão da erosãohídrica nas áreas agrícolas são a laminar, em sulcos eem voçorocas (Bertoni & Lombardi Neto, 1990). Alaminar se caracteriza pela remoção de camadas del-gadas do solo em toda uma área. Na erosão em sul-cos, a enxurrada concentrada atinge volume e veloci-dade suficientes para formar canais de diferentes di-mensões. A associação de grande volume de enxurra-da e situações específicas de terreno, relativas tanto àpedologia e quanto à litologia, promovem o desloca-mento de grandes massas de solo e a formação decavidades de grande extensão e profundidade deno-minadas voçorocas. Existem outras formas de erosão,como solapamentos, deslocamentos ou escorregamen-tos de massas, que são mais características de áreasdeclivosas e/ou solos arenosos em condições particu-lares.

Os processos associados à erosão hídrica

A erosão hídrica é caracterizada por processos que sedão em três fases: desagregação, transporte e deposi-ção. A precipitação que atinge a superfície do solo ini-cialmente provoca o umidecimento dos agregados, re-duzindo suas forças coesivas. Com a continuidadeda chuva e o impacto das gotas, os agregados são de-sintegrados em partículas menores. A quantidade deagregados desintegrados cresce com o aumento da ener-gia cinética da precipitação, que é função da intensida-de, da velocidade e do tamanho das gotas da chuva. Otransporte propriamente dito do solo somente come-ça a partir do momento em que a intensidade da pre-cipitação excede a taxa de infiltração. Esta por sua vez,tende a decrescer com o tempo, tanto pelo umedeci-mento do solo como pelo efeito decorrente do sela-mento superficial. Uma vez estabelecido o escoamen-to, a enxurrada se move morro abaixo, podendo con-centrar-se em pequenas depressões, mas sempre ganha-rá velocidade à medida que o volume da suspensão e adeclividade do terreno aumentarem. Com isto a suacapacidade de gerar atrito e desagregação se amplia àmedida que a enxurrada se movimenta. A deposiçãoocorre quando a carga de sedimentos é maior do que acapacidade de transporte da enxurrada. (Nuernberg,1998; Pruski, 2000).

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A Erosão e seu Impacto50

O manejo do solo e a erosão

A administração incorreta está entre os principais fa-tores determinantes de erosão e degradação do solo.Entre as práticas inadequadas, cita-se o desmatamentoindiscriminado, o sobreuso da terra além da aptidãorecomendada, a ausência de planejamento e práticasconservacionistas e, enfim, o preparo de solo inade-quado.

O preparo intensivo do solo com grades de dis-cos tem sido uma das principais causas da degradaçãodas terras nos ambientes subtropicais e tropicais brasi-leiros. Seus efeitos são sentidos, principalmente, pelaredução rápida dos teores de matéria orgânica e as suasconseqüências sobre a perda de capacidade produtivado solo. A Figura 1 apresenta uma visão global dosefeitos do preparo do solo, notando-se que este é umdos principais fatores desencadeadores da erosão e estaé o ponto central de todo o processo que gera a perda

de qualidade ambiental. Com a contínua inadimplên-cia e empobrecimento da população rural, verifica-seêxodo rural, crescimento de favelas e dos conflitossociais, induzindo á insustentabilidade do modelo deagrícola.

Efeitos socioeconômicos e ambientaisdecorrentes da erosão no mundo

Pimental et al., citado por Pruski (2000), estimaramque mais de um terço da camada superficial de áreasagrícolas cultivadas nos Estados Unidos foi perdidonos últimos 200 anos. O Departamento de Agricultu-ra dos Estados Unidos (USDA) estima que as perdasde solo pelas erosões eólica e hídrica sejam, em média,de aproximadamente 14t ha-1 ano-1, considerando tole-ráveis taxas entre 9 e 11t ha-1 ano-1 (USDA, 1994). Lal(1994) salienta que as perdas de solo e nutrientes, asso-

Figura 1. Degradação, perda de produtividade e conseqüências econômicas, sociais e ambientais resultantes do preparo do solona agricultura tradicional (Adaptado de Derpsch, 1997).

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A Erosão e seu Impacto 51

ciadas a outros prejuízos decorrentes do assoreamentode rios, lagos e represas acarretam, somente nos Esta-dos Unidos, prejuízos anuais estimados em US$6 bi-lhões. Outras estimativas, como a realizada pelo Co-mitê sobre Necessidades e Oportunidades de Conser-vação (COMMITEE ON CONSERVATION NEEDSAND OPPORTUNITIES, 1986), são ainda mais pessi-mistas, pois este considera que os danos causados pelaerosão do solo nos Estados Unidos são da ordem deUS$ 10 bilhões ao ano.

Williams et al. (1999) salientaram que a maioriadas terras agrícolas mundiais apresentava taxas de ero-são ainda mais altas que aquelas observadas nas condi-ções norte-americanas. Lal (1994) estimou que as áreasafetadas por erosão acelerada pela influência humanachegam a 12% na América do Norte, 18% na Américado Sul, 19% na Oceania, 26% na Europa, 27% na Áfri-ca e 31% na Ásia.

Impactos das mudanças climáticas globais nasperdas de solo e de água

Embora o panorama evidenciado na atualidade já ca-racterize a situação mundial como bastante preocu-pante e algumas medidas expressivas, como a inserçãoe expansão da área cultivada em plantio direto, este-jam sendo tomadas no sentido de reduzir as perdaspor erosão, diversas projeções indicam agravamentoda situação em conseqüência das mudanças climáti-cas esperadas para o próximo século (Williams et al.,1996 e Williams, 2000). Esses incrementos nas taxasde ocorrência da erosão são esperados em virtude deuma série de fatores, incluindo, por exemplo, varia-ções na produção de biomassa, na taxa de decomposi-ção de resíduos, na atividade microbiana, na evapo-transpiração e no selamento superficial do solo (Willi-ams et al., 1996).

Estima-se que o efeito das mudanças climáticasglobais no Meio Oeste dos Estados Unidos promovaum acréscimo de 39% nas perdas de solo por volta doano 2050, mesmo que os produtores rurais façam osnecessários ajustes na adubação do solo a fim de man-ter a produção de biomassa e a produtividade constan-tes (Williams, 2000). Isso implica que o sistema con-vencional de manejo do solo embora possa vir a in-corporar novas e avançadas tecnologias, como cultiva-res adaptadas a maiores temperaturas, não permitirá adiminuição ou mesmo a estabilização das perdas desolo nos agrossistemas.

Pruski & Nearing (2001) realizaram um estudodas variações potenciais no escoamento superficial enas perdas de solo, considerando as mudanças climáti-cas esperadas durante o século XXI utilizando o Had-CM3, que constitui a terceira geração dos Modelos

Climáticos Globais produzida pelo Hadley Center, daInglaterra. Nesse caso, o escoamento superficial e asperdas de solo foram analisados utilizando o WaterErosion Prediction Project (WEPP) para milho e trigoem oito localidades dos Estados Unidos e para os ti-pos de solos mais freqüentemente encontrados nessaslocalidades. As variações estimadas para o período es-tudado (de 1990 a 2099), em relação àquelas estimadaspara 1990, foram de –24,3 a 41,0% para o escoamentosuperficial e de –13,9 a 101,9% para as perdas de solo.As variações foram, normalmente, maiores para per-das de solo do que para escoamento superficial e, mai-ores para ambos do que para precipitação. Embora oaumento estimado nos níveis de CO

2 para o século

XXI poderá contribuir para o aumento na produtivi-dade das culturas e, consequentemente, para a produ-ção de biomassa, por outro lado, o grande aumentoesperado na temperatura deverá ter um efeito maisexpressivo e tendendo a promover um decréscimo naprodutividade, aumentando o escoamento superficiale as perdas de solo. Em Cookeville, onde o aumentoesperado na precipitação foi significativo e superior a90% (condição também esperada em 23,0% das célu-las do HadCM3 localizadas nos Estados Unidos), oaumento no escoamento superficial teve significânciamaior que 93,5% e as perdas de solo foi maior que99,5%. Para todas as outras condições em que foramevidenciados aumentos na precipitação (em 57,2% dascélulas do HadCM3 localizadas nos Estados Unidos éesperado o aumento na precipitação) as perdas de solotambém aumentaram. Mesmo em diversas condiçõesem que decréscimos na precipitação são esperados,observou-se aumento nas perdas de solo em conseqü-ência do expressivo efeito que os acréscimos esperadosna temperatura tiveram no decréscimo da produçãode biomassa. Este decréscimo na produtividade sugerea necessidade de desenvolvimento de novas varieda-des, com melhor resposta aos aumentos de temperatu-ra esperados. A tendência, entretanto, é de que estasnovas variedades tenham área foliar e produção de bi-omassa menores, o que aumentará ainda mais as per-das de solo.

A situação atual da erosão do solo no Brasil

A erosão hídrica constitui o principal problema relati-vo aos recursos naturais no Paraná, e apesar dos esfor-ços já realizados para controlá-la, ainda alcança pro-porções alarmantes. Resultados de pesquisas indicamhaver uma perda de 15 a 20t ha-1 ano-1 de solo em áreasintensivamente mecanizadas (Paraná, 1994). Kronen,citado por Parchen & Bragagnolo (1991), salienta queuma perda média de solo equivalente a 20t ha-1 ano-1

representa, no Paraná, uma perda anual de nutrientes

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A Erosão e seu Impacto52

no valor de US$ 250 milhões. Derpsch et al (1991)afirmaram que, em 1982, cerca de 12,5 milhões de to-neladas de sedimentos foram depositados no reserva-tório de Itaipu. Destes, cerca de 4,8 milhões de tonela-das são originários do Estado do Paraná. O valor totaldos nutrientes mais importantes (nitrogênio, fósforo,potássio, cálcio, magnésio) existentes neste volume desolo foi considerado equivalente a US$ 419 milhõespor ano. A análise do teor de sedimentos, assim comode fósforo e nitrogênio na água no reservatório de Itai-pu, caracterizou que as concentrações mais altas sãoencontradas durante o período de preparo do solo eplantio.

Pesquisas realizadas no Rio Grande do Sul mos-tram que, em termos médios, ocorre uma perda demais de 40t ha-1 ano-1 de terra em seis milhões de hec-tares de áreas cultivadas (Schmidt, 1989).

Na agricultura paulista, a erosão é também con-siderada um grave problema que vem comprometen-do os recursos naturais e pondo em risco a rentabili-dade das atividades agrícolas (Bertolini & LombardiNeto, 1993). A perda anual devida à erosão é de apro-ximadamente 194 milhões de toneladas de terras fér-teis; destas 48,5 milhões de toneladas chegam aos ma-nanciais em forma de sedimentos transportados, cau-sando assoreamento e poluição. Estima-se, para esteEstado, que as perdas de solo decorrentes da erosãocorrespondam a 10kg para cada kg de soja produzidoe a 12kg para 1kg de algodão produzido; sendo quegrande parte da área cultivada já perdeu de 10 a 15cmde solo fértil (Bertolini et al., 1993). Utilizando dadosde perdas de solo destes autores e as perdas de nutrien-tes arrastados por erosão obtidos por Castro et al.(1986), Castro (1991) estimou que em todo o territó-rio paulista são perdidos anualmente cerca de 650.000tde corretivos e 850.000t de fertilizantes NPK. Estima-se também, que 80% da área cultivada neste Estadoesteja sofrendo processo erosivo acima do tolerável.

Marques, citado por Bertoni & Lombardi Neto(1990), em 1949, enfatizava que o Brasil perdia, porerosão laminar, cerca de 500 milhões de toneladas deterra anualmente. Atualmente, em razão do uso inten-so do solo e da ampliação da fronteira agrícola, asperdas de solo superam este valor e em diversos esta-dos brasileiros a situação é muito grave. Citada porBahia et al. (1992), a Federação das Associações dosEngenheiros Agrônomos do Brasil, no início da déca-da de 90, relatava que no Brasil eram perdidas, emmédia, anualmente, 600 milhões de toneladas de soloagrícola devido à erosão e em conseqüência do mauuso do solo. A estas perdas de solo, associaram-se per-das de nutrientes da ordem de 1,5 bilhão de dólares.Estimativas feitas mais recentemente por profissionaisligados à conservação de solos projetaram prejuízosainda maiores, da ordem de US$ 4 bilhões por ano.

Além das partículas de solo em suspensão, oescoamento superficial transporta nutrientes, matériaorgânica, sementes e defensivos agrícolas que, além decausarem prejuízos à produção agropecuária, causama poluição dos recursos hídricos. Assim, as perdas porerosão tendem a elevar os custos de produção, au-mentando a necessidade do uso de corretivos e ferti-lizantes e reduzindo o rendimento operacional dasmáquinas agrícolas. A erosão causa também proble-mas à qualidade e disponibilidade de água, decorren-tes da poluição e do assoreamento dos mananciais,favorecendo a ocorrência de enchentes no períodochuvoso e aumentando a escassez de água no períodode estiagem, elevando os custos de construção de bar-ragens e de dragagem dos cursos e reservatórios d’água,reduzindo o potencial de geração de energia elétrica ecausando prejuízos para o crescimento de espécies aquá-ticas.

No Brasil tem sido observada com grande fre-qüência a ocorrência de chuvas capazes de provocarsérios prejuízos como quedas de barreiras nas estradas,deslizamentos de encostas nos morros, assoreamentode rios e enchentes, causando mortes e deixando vári-as famílias desabrigadas. O manejo adequado do soloe da água, buscando reduzir o escoamento superficialpor meio do aumento da sua infiltração no solo, econseqüente reabastecimento do lençol freático, repre-senta uma prática fundamental para melhorar o apro-veitamento das chuvas, minimizando os picos de va-zão e reduzindo o déficit de água nos períodos de esti-agem. O escoamento superficial constitui o principalmeio de contaminação dos mananciais de água de su-perfície, devido ao arraste de sedimentos e produtosquímicos. O transporte de produtos químicos peloescoamento superficial pode ter efeito direto e imedia-to na deterioração da qualidade da água, ao passo queo transporte de material sólido pode ter um impacto alongo prazo sobre os recursos hídricos (Oliveira, 1999).

Áreas Vulneráveis à Erosão no Brasil

Em razão da ampliação da fronteira agrícola e do usointensivo do solo, as perdas por erosão tenderam a seampliar nas últimas décadas e, atualmente, em algu-mas regiões do país a situação já atingiu avançado está-gio de degradação de difícil e custosa recuperação.

O resultado do cruzamento, através do SPRING-INPE, de informações relativas à pressão de uso dasterras e a susceptibilidade à erosão dos solos está naFigura 2. Nesta figura, nota-se uma escala de vulnera-bilidade ou criticidade onde as área mais críticas sãoas que associam grande pressão de uso a solos com altasuscetibilidade à erosão. Na região Norte, 98% das ter-ras apresentam baixo grau de vulnerabilidade à erosãohídrica devido principalmente à pequena pressão de

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uso. Na região Nordeste por causa das condições cli-máticas as áreas com baixa vulnerabilidade ocupamcerca de 82% do território dessa região. Embora apre-sente baixo nível de vulnerabilidade em 78% do totalda sua área ocupada, a região Centro-Oeste apresentaáreas extremamente críticas relacionadas às bordas doPantanal e às nascentes de rios importantes para asbacias do rio Amazonas e do Paraguai. A região Sulapresenta 40% de suas terras com elevado grau de vul-nerabilidade indicando que solos de maior susceptibi-lidade à erosão estão sendo fortemente pressionadosem seu uso. Em contrapartida, nessa região, desde osanos 80, cresce o uso de sistemas conservacionistas demanejo do solo baseados no Plantio Direto (mais de70% da área cultivada com culturas anuais) e progra-mas de manejo integrado em bacias hidrográficas,mudando essa criticidade para a perspectiva de usointensivo como agricultura sustentável.

Em escala regional, fatores da Equação Univer-sal de Perdas de Solo (USLE) podem ser usados indivi-dualmente para auxiliar a identificar áreas de riscos àdegradação das terras e para encontrar possíveis for-mas de solucionar tais problemas (Castro Filho et al.,2001). Na Figura 3, tem-se um exemplo utilizando ofator erosividade “R”, que indica a capacidade das chu-vas em provocar erosão na bacia do rio Paraná. Nota-se que à medida que se distancia do rio Paranapane-

ma, tanto em direção ao norte da região avaliada quantoem direção ao sul, a erosividade das chuvas aumentagradativamente, identificando-se regiões de maior vul-nerabilidade na região Centro-Sul do Estado de Goiáse no Sudoeste do Estado do Paraná. Por outro lado, afaixa que envolve aquele rio na direção leste-oeste apre-senta os menores índices de erosividade de chuvas.

Em muitos casos, verifica-se que regiões de altavulnerabilidade à erosão, agravada pelo uso intensivode solos com alta suscetibilidade à erosão, nem sempresão áreas de alta erosividade de chuva.

Impactos relativos à erosão hídricano Brasil

Os danos ambientais causados pelo processo da ero-são do solo, segundo Marques (1998), podem ser enfo-cados sob duas formas: os internos (no âmbito da pro-priedade rural) e os externos à área de produção agrí-cola ou local de origem. Os custos referentes aos im-pactos externos são em geral maiores que os internos(normalmente envolvendo apenas a quantificação dasperdas de nutrientes pela enxurrada). Entretanto, avaloração econômica dos danos causados pela erosãoé bastante complicada, especialmente no Brasil, devi-do às dificuldades em definir e quantificar as formas ea extensão dos efeitos e impactos dos processos erosi-

Figura 2. Áreas vulneráveis à erosão resultantes do cruzamento entre a pressão de uso das terras e a susceptibilidade natural dossolos à erosão.

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A Erosão e seu Impacto54

vos. Marques (1998) estimou o valor econômico dosdanos ambientais baseando-se no conceito de valor deuso e nos métodos de mensuração do custo de reposi-ção e produção sacrificada ou redução na produtivida-de. No entanto, esse autor ressalta a possibilidade deter subestimado os impactos totais valorados para abacia do rio Sapucaí, na divisa entre Minas Gerais eSão Paulo, onde desenvolveu seu trabalho, visto quenão considerou vários componentes como os valoresde opção, de existência e outros.

Embora as estimativas do custo da erosão sebaseiem quase sempre na perda de nutrientes, a cama-da superficial, onde ocorre o crescimento das raízesfavorecido pela disponibilização de nutrientes e con-dições favoráveis de troca de gases e de água, tem umalto valor que deve ser estimado. Quando, por outrolado, efeitos indiretos como a retirada e deposição dossedimentos em cursos d’água e reservatórios são consi-derados, o custo global torna-se astronômico, princi-palmente quando se avalia as perdas, a longo prazo, dacapacidade produtiva e do custo de insumos, comocombustível e adubos. Nesse caso, definitivamente,nenhuma erosão do solo é economicamente viável ouao menos tolerável (Castro Filho et al., 2001).

Para estimar as perdas por erosão nas áreas comexploração agropecuária no Brasil, considerou-se, aqui,a área total ocupada com lavouras (anuais e perenes) epastagens (naturais e plantadas) do censo de 1995/1996(IBGE, 1996) e, admitiu-se como perda anual médiade solo o valor de 15,0t ha-1 para lavouras (valor base-ado em sugestão de Bragagnolo & Pan, 2000 e, em DeMaria, 1999) e de 0,4t ha-1 para pastagens (valor basea-do em citação de Bertoni & Lombardi Neto, 1990). Asperdas médias de solo para lavouras estão bem próxi-mas do valor médio obtido com base em dados cita-dos por De Maria (1999), quando destes se excluíramos dados extremos. A média adotada para as pastagens

é justificada muito mais por uma quase ausência deinformações sobre quantificação de perdas de solo porerosão em pastagens plantadas e pela inexistência des-ses valores para pastagens naturais.

Dessa forma, estimou-se em 822,7 milhões de tas perdas totais anuais de solo em áreas de lavouras epastagens no Brasil, sendo que 751,6 milhões são de-vido às áreas ocupadas com lavouras e que 71,1 mi-lhões de t provém de terrenos cobertos com pasta-gens (Tabela 1).

Desse total, 247 milhões de t de sedimentos porano (ou 30% do total. Admite-se este percentual, maso montante que chega aos mananciais depende deoutros fatores que podem ocorrer numa microbacia,como o tamanho da área, o tipo de solo predominan-te, o sistema de manejo adotado etc; portanto este per-centual pode ser considerado conservador) podem ser,finalmente, depositados em estradas, rios, represas etc,e gerariam efeitos fora das propriedades, acarretandoprejuízos socioeconômicos e ambientais certamente deelevada magnitude.

Utilizando dados de perdas de solo determina-dos para diferentes culturas e em condições experi-mentais de solo e clima do Estado de São Paulo, eextrapolando tais valores pelas respectivas áreas culti-vadas no Brasil, Vergara Filho (1994) estimou as per-das anuais médias de solo em 1,054 bilhões de t, índi-ce superior, portanto, aos relatados aqui.

Estabelecendo-se com base em De Maria (1999),que as perdas de água sejam de 2.519m3 ha-1 ano-1 paraas áreas de lavouras, valor obtido quando se extrapolaos valores máximos citados por esse autor; admitindo-se que a perda média relativa às pastagens seja um dé-cimo desse valor e extrapolando-se esses montantesmédios para a área ocupada total (IBGE, 1996), obte-ve-se perdas anuais de água de 126,2 bilhões de m3 emáreas de lavouras e de 44,8 bilhões de m3 em áreas depastagens, num total de 171 bilhões de m3.

Considera-se que cerca de 30% desse montantenão será retido nos terraços e nas áreas de captação dasbacias e, portanto, não se infiltrará no solo e nem re-comporá lençóis freáticos. Essa água embora possaatingir os mananciais e, sendo armazenada, venhaeventualmente a gerar energia, promoverá assoreamen-tos e poluição desses corpos d’água e incrementos nocusto do tratamento para consumo humano. Destaforma, por não suprir adequadamente os lençóis freá-ticos, as fontes e os rios vão minguando gradativa-mente, sendo esse um dos fatores que poderiam deter-minar impactos como a crise energética brasileira ocor-rida em 2001.

Com o escoamento superficial, ocorre o trans-porte de nutrientes e matéria orgânica em suspensão,junto às partículas de solo ou de fertilizantes aindanão dissolvidos, ou em solução, que, além de causa-

Figura 3. Fator erosividade da chuva (R) na bacia do rio Para-ná, com a intensidade aumentando do azul para o verde edeste para o vermelho. (Castro Filho et al., 2001).

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rem prejuízos à produção agropecuária, causam a po-luição dos recursos hídricos. Com base em Hernani etal. (1999) e nos dados acima descritos, estimou-se aperda anual de cálcio em 2,5 milhões de t, de magné-sio em 186 mil t, de fósforo em 142 mil t, de potássioem 1,45 milhões de t e de matéria orgânica em 26milhões de t (Tabela 2.). Admitindo-se perdas médiasanuais por erosão hídrica em lavouras de 863 e 86 milt, respectivamente para nitrogênio e enxofre (valoressugeridos em Malavolta, 1992) e que tais perdas nasáreas de pastagens sejam 50% menores, estimou-se em2,4 milhões e 239 mil t por ano as perdas totais denitrogênio e enxofre, respectivamente.

Estimativa dos custos internos à propriedade ruraldevido à erosão

Para valorar os custos internos às propriedades agríco-las, estimaram-se os custos relativos aos fertilizantescarreados pela erosão tanto em áreas de lavouras como

em pastagens, a partir dos resultados da Tabela 2. Aestes foram acrescidos os valores de perda de produti-vidade e aumento de custos de produção para as cul-turas de soja, milho e trigo, verificados em sistematradicional de manejo do solo (monocultura e prepa-ro de solo com várias operações ao ano com gradesde discos) em relação ao manejo da propriedade emplantio direto. Estes valores foram com base em pro-dutividade média, extrapolados para a área total esti-mada cultivada em sistema tradicional com essas cul-turas. Dados relativos à produção animal não foramconsiderados.

Verifica-se dessa forma que a erosão gera perdasanuais correspondentes a 15,2 milhões de t de calcáriodolomítico (23% de CaO) valorados em R$563 mi-lhões; 879 mil t de superfosfato triplo que valem R$483milhões e 3 milhões de t de cloreto de potássio valora-dos em R$1,7 bilhões. A reposição das perdas de nitro-gênio e enxofre, geram um custo de cerca de R$3 bi-lhões, sendo 4,9 milhões de t de uréia a R$2,58 bilhões

Perda de Solo Perda de Água

Média Total Média(4) Total

(t ha-1ano-1) (ano-1) (m3ha-1 ano-1) (106m3 ano-1)

Lavouras 50.104.483 15,0(1) 751.567.248 2.519 126.213

Pastagens 177.700.471 0,4(2) 71.080.189 252 44.781

Total 227.804.955 - 822.647.436 - 170.994(1)Bragagnolo & Pan, 2000 (2)Bertoni & Lombardi Neto, 1990. (3) IBGE, 1996. (4)De Maria (1999)

Tabela 1. Estimativa de perda anual de solo e de água por erosão hídrica no Brasil em função do tipo de ocupação de solo.

ÁreaOcupada(3) (ha)

Tipo deOcupação

Perda de nutrientes e de matéria orgânica

Tipo de Ocupação N(1) P(2) K(2) Ca(2) Mg(2) S(1) MO(2)

Perda Média Anual (t ha-1)

Lavoura Solo 0,01726 0,000382 0,001794 0,015294 0,001147 0,00172 0,476471

Água — 0,001782 0,020200 0,024477 0,001806 — —-

Pastagem Solo 0,00863 0,0000102 0,0000478 0,000408 0,0000306 0,00086 0,012706

Água — 0,000178 0,002021 0,002449 0,000181 — —-

Perda Total Anual (t)

Solo 863 000 19 157,6 89 893,34 766 303,9 57 472,79 86 000 23873 313

Lavoura Água — 89 301,79 1012 087 1226 411 90 492,48 — —-

Total 863 000 108 459,4 1101 980 1992 715 147 965,3 86 000 23873 313

Solo 1533 555 1 811,848 8 501,748 72 473,92 5 435,544 152 822,4 2257 841

Pastagem Água —- 31 684,33 359 089,1 435 131,5 32 106,79 — —-

Total 1533 555 33 496,18 367 590,8 507 605,4 37 542,33 152 822,4 2257 841

Total 2396 555 141 955,6 1469 571 2500 320 185 507,6 238 822,4 26131 154(1) As perdas se referem ao total (solo+água) para lavouras, adaptado de Malavolta (1992); admitiu- se as perdas em pastagem como sendo 50% das relatadas para a lavoura.(2) Estimativas baseadas em Hernani et al. (1999), Bragagnolo & Pan (2000), De Maria (1999) e, Bertoni & Lombardi Neto (1990).

Tabela 2. Estimativa de perda anual de nutrientes e matéria orgânica (t ha-1 ano-1) por erosão hídrica em sistemaconvencional de manejo do solo no Brasil em função do tipo de ocupação de solo e total.

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A Erosão e seu Impacto56

e cerca de 1 bilhão t de sulfato de amônio custandoR$430 milhões (Tabela 3). Portanto para reposição dosmacronutrientes perdidos, gera-se um custo de R$5,73bilhões por ano. Soma-se a esses valores cerca de R$871milhões relativos ao adubo orgânico (cama de frango)necessário à reposição da matéria orgânica ao solo.Neste caso, fez-se abstração da quantidade que se per-de (cerca de 50%) no processo de decomposição domaterial orgânico adicionado ao solo ao fazer essa re-posição, da mesma forma que não se considerou asconcentrações variáveis de nutrientes presentes nesteadubo e no fertilizante superfosfato triplo. Estima-seque a erosão hídrica gere às propriedades, em média,prejuízo relativo às perdas de fertilizante, calcário eadubo orgânico, da ordem de R$ 6,6 bilhões por ano.Para efeito deste trabalho, considerou-se a relaçãoUS$1,0 = R$2,5; portanto, os custos relativos aos ferti-lizantes carreados pela erosão no âmbito das proprie-dades agrícolas, excetuando-se os valores necessários àsua aplicação, são cerca de US$2,64 bilhões.

Considerando, com base em Hernani et al. (1997)e em outros autores, que o sistema tradicional de mane-jo de solo proporciona rendimentos médios em tornode 17% menores do que sistemas mais conservacionis-tas como o plantio direto, tanto em soja, quanto emmilho ou trigo. Estimando a produtividade média em2.400, 5.400 e 1.480 kg/ha, respectivamente para a soja,o milho e o trigo, e que a área cultivada dessas culturasno sistema tradicional de manejo seja de cerca de 30%do total, de 70% e de 10%, respectivamente, e, multipli-cando as diferenças devidas aos rendimentos menorespor ha pela área cultivada correspondente e o resultadoobtido pelo preço dos produtos na região de Dourados(soja: US$9,0/sc de soja; US$3,3/sc de milho; US$8,2/scde trigo; em fevereiro de 2002), pode-se estimar os efei-tos da erosão sobre a queda da produtividade dessasculturas em cerca de 1,6 milhões de reais ou cerca de638,6 mil dólares (US$1,0= R$2,5).

Considerando que, comparativamente ao plan-tio direto, o sistema tradicional gera custos mais eleva-dos de 6,9% em soja, 10% em milho e 5% em trigo(Melo Filho e Lemes, 2000 a, b, c) e extrapolando os

valores relativos a esses percentuais para as áreas esti-madas em que o sistema tradicional é usado nessasculturas, tem-se um montante de R$728 milhões(US$291,2 mil) por ano relativos a custos mais eleva-dos. Há que ressaltar que esses autores determinaramcustos junto a agricultores e que não consideraramhaver diferenças entre os dois sistemas de manejo com-parados, tanto para produtividade quanto para a ne-cessidade de adubação.

Neste sentido, somando os custos relativos àreposição de corretivos e fertilizantes (calculados paralavouras e para pastagens) aos valores referentes à me-nor produtividade e aos maiores custos de produção(calculados apenas para as lavouras anuais de soja,milho e trigo), tem-se que a erosão geraria um custototal anual no âmbito da propriedade rural de R$ 7,33bilhões, correspondentes a US$2,93 bilhões.

A depreciação da terra que seria gerada pela ero-são não foi aqui estimada. Isto porque ao se estimar oscustos de fertilizantes necessários à reposição anualdos nutrientes e matéria orgânica perdidos por erosão,admitiu-se que haveria a recuperação da fertilidade dosolo e, portanto, que a depreciação seria minimizada.Ressalta-se que outras perdas devidas à erosão na pro-priedade ainda podem se dar, mas estas não puderamser valoradas.

Estimativa dos custos externos à propriedade ruraldevido à erosão

No Brasil, onde predomina o clima tropical justamen-te no período de implantação das culturas de verão, éfreqüente a ocorrência de chuvas com alto potencialerosivo. Estas precipitações causam deslizamentos deencostas, enchentes, desabrigando centenas de famíliase causando mortes. A deposição de sedimentos diminuia capacidade armazenadora dos reservatórios, causa as-soreamento de mananciais, aumenta custos com o tra-tamento de água potável e gera danos à ictiofauna.

Para estimar os custos externos à propriedaderural devido aos processos erosivos, tomou-se dadosobtidos por diferentes autores.

Tipo de Calcário Superfosfato Cloreto de Sulfato de AduboOcupação dolomítico (2) Uréia triplo potássio amônio orgânico (3)

103 t 106 R$ 103 t 106 R$ 103 t 106 R$ 103 t 106 R$ 103 t 106 R$ 103 t 106 R$

Lavouras 12.123 449 1.784 928 672 369 2.289 1.260 391 155 26.526 796

Pastagens 3.088 114 3.170 1.648 207 114 763 419 695 275 2.509 75

Total 15.211 563 4.954 2.576 879 483 3.052 1.679 1.086 430 29.035 871(1)Estimativa baseada em Hernani et al. (1999) e preços médios correntes de 2001 em Dourados, MS.(2)Calcário Dolomítico, com 23% de CaO.(3) Adubo orgânico: Cama de frango, com 90% de MO.

Tabela 3. Estimativa(1) do custo adicional em fertilizantes em função da perda anual de nutrientes (N, P, K, Ca, Mg e S) eadubação orgânica por erosão hídrica no Brasil de acordo com o tipo ocupação de solo e total.

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A Erosão e seu Impacto 57

O incremento do custo do tratamento de águapara consumo humano, devido à turbidez gerada pelaerosão, foram estimados pelo Banco Mundial para oEstado do Paraná, como sendo de R$10,67/10.000m3

de água tratada. A mesma estimativa foi feita para oEstado de Santa Catarina por Bassi (1999), indicandoum desperdício de 46% no custo de tratamento deágua, o que representa um custo adicional de R$ 6,37/10.000 m3. Nessa oportunidade, tomaram-se por baseos dados de Bassi (1999), considerando que 60% dapopulação brasileira é servida com água tratada, ou102 milhões de pessoas, com um consumo médio diá-rio de 40 l. Além disso, admitiu-se que desse total depessoas cerca de 58% (aproximadamente 59 milhõesde habitantes) vivem em áreas com mananciais super-ficiais não adequadamente protegidos mediante siste-mas conservacionistas de manejo do solo. Neste senti-do, estima-se que o consumo médio diário dessa po-pulação seja cerca de 2,4 bilhões de m3 ou 861 bilhõesde m3/ano, totalizando R$124,3 milhões (US$49,7milhões) de custo adicional por ano (Tabela 4).

O custo de reposição de reservatórios em faceda perda anual da sua capacidade de armazenamentofoi estimada com base em Carvalho et al. (2000) quereporta uma perda anual de 0,5% da capacidade brasi-leira de armazenamento de água, ou 2 x 109m3. Essareposição, segundo esses autores, representa um custode R$ 1,75 bilhões ou R$0,875/m3. Considerando aperda de solo calculada (822 milhões de t), com umadensidade de 1,1t m-3, tem-se um volume de 747 mi-lhões de m3 e, considerando ainda que 30% destemontante chegaria aos mananciais, ou seja, 224,1 mi-lhões de m3, tem-se que a erosão estaria gerando umcusto de reposição de reservatórios de cerca de R$196milhões por ano (Tabela 4). Portanto, o efeito da ero-são estaria gerando um custo adicional de reposiçãode reservatórios de água relativamente pequeno se com-parado ao total relatado por Carvalho et al. (2000).

O custo de manutenção de estradas pela ausên-cia de medidas de conservação (terraceamento, plane-jamento e locação de estradas, sistemas conservacio-nistas de manejo do solo, etc.) foi baseado nas deter-minações de Bragagnolo et al. (1997). Estes autoresestimaram que na ausência de adequado manejo con-servacionista no âmbito de uma bacia hidrográfica, háum incremento de 50% no custo anual de manuten-ção das estradas, estimado em R$2.375,00/km/ano(US$950,00/km/ano). Considerando a existência de1,27 milhões de km de estradas de terra (fonte: DNER,citado por Landers et al., 2001), estima-se um gasto deR$1.508 milhões. Dessas estradas, 22% estão em áreascom culturas anuais, portanto, implicando em umcusto adicional de R$332 milhões por parte dos gover-nos municipais e estaduais (Tabela 4). Ressalta-se as-sim a grande influência de estradas rurais e de áreas

periurbanas - principalmente loteamentos ou ocupa-ções de populações de baixa renda, no impacto provo-cado pela erosão devido terem sido mau executadas ouestarem com inadequada conservação (Bertolini &Lombardi Neto, 1993).

Um dos custos indiretos das perdas de água porerosão se refere à redução na recarga de aqüíferos, im-portante para a manutenção de reservatórios (Freitaset al., 2001). Estima-se, conforme Tabela 1, que do to-tal da água que as áreas de lavouras e pastagens (171bilhões de m3) perdem por erosão em todo o Brasilanualmente, cerca de 30% não se infiltra no solo, ouseja, 51,3 bilhões de m3. Landers et al. (2001) adotaramum custo de R$0,025 por m3 da água da chuva quenão recarrega os aqüíferos. Com base nesse valor veri-fica-se, portanto, que a redução na recarga de aquíferosgera um custo adicional de R$1,28 bilhões por ano(Tabela 4).

O consumo de combustíveis fósseis para os tra-balhos de preparo do solo e cultivo mecânico, típicosdos sistemas tradicionais de manejo do solo, é tam-bém relevante. O gasto desnecessário de combustíveisapresentado por sistemas tradicionais de manejo desolo, quando comparado a sistemas conservacionistas,tem sido mostrado por vários autores. Custos adicio-nais de 66% foram indicadas por Derpsch et al. (1991)para o Estado do Paraná. Nos cerrados, Gentil et al.(1993) indicaram aumentos relativos de 64 e 74% res-pectivamente para propriedades de 500 e 2.000ha.Dados reportados por Landers et al. (2001) indicamum desperdício de 31,0 l ha-1 ano-1 de óleo diesel paraas áreas de lavoura (considerando 1 cultura anual/ano,ou 38 milhões de ha). Isto implica em um consumoadicional de 1,18 109 l de óleo diesel, com um valor deR$1,3 bilhões (R$1,10/l óleo diesel). Nesse calculo, nãose considerou o desperdício que este montante geraem termos de importação de petróleo e nos efeitos nabalança de pagamentos do país.

Por outro lado, o consumo desnecessário decombustível fóssil significa produção desnecessária degases de efeito estufa. Cálculos baseados em Landers etal. (2001), utilizando a gravidade especifica do óleodiesel (0,84t m-3) e um conteúdo de carbono com baseem peso de 16%, estimou-se uma emissão de 158.600tC(0,99 106t óleo), com valor estimado de R$ 1,19 mi-lhões (valor unitário de R$7,50 ou US$3,00/tC).

Nas áreas irrigadas por aspersão, presente namaioria das áreas sob culturas anuais e culturas pere-nes como o café, a falta de cobertura do solo aumentaperdas de água por evaporação e por erosão. Stone &Moreira (1998) estimaram, para a cultura de feijão,uma perda por evaporação de 40% da água aplicada, oque implica em menor disponibilidade de água paraoutros usos (valor de oportunidade do uso de água) eo maior consumo de energia elétrica. Considerando

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uma lâmina média anual de 800mm em uma ou duasculturas/ano, aplicada em 1,1 milhões de ha irrigadosem todo o país, tem-se um consumo de 8,8 bilhões dem3, implicando em um desperdício de 3,5 bilhões dem3. Admitindo-se que em 2001, 50% da área da áreatotal irrigada foi conduzida em sistema convencionalde manejo de solo, então o desperdício é de 1,75 bi-lhões de m3 por ano. Considerando o custo de bombe-amento de R$0,03/m3, ou, de R$115,50/ha irrigado,tem-se que esse desperdício implica, para os irrigantes,gasto adicional de R$52,5 milhões por ano (Tabela 4).A necessidade de maior volume de água representa umamenor disponibilidade para outros usos, incluindo adisponibilidade de água para irrigação de 218 mil ha.Da mesma forma que, a utilização de maior quantida-de de energia elétrica implica em menor disponibili-dade para outros fins ou maior demanda por energia.

Somando os valores acima, tem-se que os custosexternos à propriedade devidos aos processos erosivossomam anualmente cerca de 1,3 bilhões de dólares(Tabela 4). Os resultados assim obtidos estão provavel-mente bastante subestimados visto que há uma exten-sa relação de efeitos externos deletérios provocados pelaerosão que aqui não foram considerados.

Considerando os custos internos e os externosà propriedade agrícola, estima-se que a erosão promo-veria R$10,6 bilhões ou US$ 4,2 bilhões de prejuízospor ano ao país (Tabela 5). Diversos autores relatamque os custos externos são em geral superiores aos cus-tos internos. Marques (1998), por exemplo, em seu es-tudo realizado na bacia do rio Sapucaí relata que oscustos externos foram em torno de duas vezes superio-res aos custos internos. Neste caso, entretanto, os cus-tos dentro da propriedade foram cerca de duas vezessuperiores aos custos externos. Isto pode ter ocorridodevido ao fato de a maioria dos autores não considera-rem a necessidade da reposição de matéria orgânica aosolo e que o sistema tradicional gera produtividademenor e custo de produção maior que sistemas maisconservacionistas. Além disso, neste caso, no cálculodos custos externos, uma série de fatores não foi valo-

rada. Cita-se como exemplo, as perdas de outros insu-mos, pois além das partículas de solo em suspensão, oescoamento superficial transporta sementes e defensi-vos agrícolas que, além de causarem prejuízos à produ-ção agropecuária, causam poluição dos recursos hídri-cos. Essa poluição pode gerar problemas sanitários eaumentos nos custos sociais de saúde.

Embora seja uma estimativa muito preliminar,incompleta e conservadora, os valores aqui indicadossão alarmantes. Apenas para se ter um parâmetro com-parativo, os custos potenciais que a erosão esta geran-do são equivalentes a 2,65 bilhões de cestas básicas porano (R$40,00/cesta básica). Nesse sentido, é inaceitá-vel que um país que não tem recursos nem para ascoisas mais fundamentais ao ser humano, possa convi-ver com esse custo ambiental que pode induzir umempobrecimento irreversível da qualidade de vida detodos os seus cidadãos e comprometer a segurançanacional.

Perspectivas para o controle da erosão

Os valores aqui delineados embora sejam resultadosde uma estimativa preliminar, são alarmantes e exces-sivos e ilustram a grandeza de um problema que em-bora tenha se agravado nas últimas três décadas, é tãoantigo quanto o próprio país. E não é possível que noBrasil se continue a negligenciar os recursos naturaiscomo tem sido feito.

A saída é incrementar a adoção de sistemas con-servacionistas que permitam minimizar a erosão hí-

Impactos Total (106 R$) (106 US$)

Tratamento de água para consumo humano 124,3 49,7Reposição de reservatórios 196,0 78,4Manutenção de estradas 332,0 132,8Recarga de aqüíferos 1280,0 512,0Consumo de combustíveis 1300,0 520,0Gases de efeito estufa 1,2 0,5Energia elétrica em áreas irrigadas 52,5 21,0

Total 3286,0 1314,4

(US$1,0 = R$2,5)

Tabela 4. Estimativa dos custos anuais externos à propriedade devidos à erosão dos solos no Brasil.

Impactos Total (106 R$) (106 US$)

Internos à propriedade 2,93 7,33

Externos à propriedade 1,31 3,29

Total 4,24 10,59

(US$1,0 = R$2,5)

Tabela 5. Resumo da estimativa de valoração dos impactosanuais da erosão dos solos no Brasil.

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drica (como de resto todas as demais formas de degra-dação) e suas conseqüências e que, a longo prazo, me-lhorem o solo, a água e todo o ambiente.

Nos últimos anos a legislação ambiental temsido ampliada e melhorada e, nas últimas décadas, pro-gramas de manejo integrado do solo em microbaciashidrográficas têm tido sucesso em alguns Estados. Hajavista os programas desenvolvidos no Paraná e em San-ta Catarina que, tendo sempre a participação e o com-prometimento de todos os setores da sociedade diretaou indiretamente envolvidos, resultaram em substan-ciais melhorias para a qualidade de todo o ambientenas unidades geográficas onde foram implantados.Com participação efetiva de toda a sociedade, a filoso-fia desses programas poderá ser extrapolada com su-cesso para outras regiões.

Além disso, a adoção do Sistema Plantio Direto(discutido em capítulo subseqüente), um sistema demanejo de solo altamente conservacionista, tem cres-cido vertiginosamente durante a década de 90, atin-gindo cerca de 15 milhões de ha em todo o Brasil. Essesistema tem auxiliado ou promovido diretamente,melhorias no solo, na água e na qualidade de vida dosprodutores rurais, gerando ainda reflexos positivos nasociedade como um todo. Há que se promover o seucrescimento em todo o país aliado a um processo con-tínuo de pesquisa visando o seu desenvolvimento es-pecialmente no Cerrado.

Associando-se uma adequada aplicação do mo-derno conjunto de leis brasileiras relativas ao meioambiente, ao fortalecimento de programas de educa-ção ambiental, ao fomento à adoção de técnicas deconservação de solo e água e ao comprometimento deprodutores rurais e técnicos no desenvolvimento deprogramas conservacionistas, pode-se gradativamentereverter esse quadro de 500 anos de degradação do solono Brasil.

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A Erosão e seu Impacto60

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Alberto Carlos de Campos BernardiPedro Luiz O. de A. Machado

Carlos Alberto Silva

6Fertilidade do Solo e Demandapor Nutrientes no Brasil

Capítulo

61

Introdução

A grande maioria dos solos do Brasil é ácida e pobreem nutrientes para o crescimento das principais cultu-ras. Assim, a fertilidade natural dos solos é baixa e nãohá reservas de nutrientes suficientes para sustentar pro-dutividades ótimas destas culturas. A agricultura mo-derna preconiza a aplicação de insumos, como fertili-zantes e corretivos, para eliminar as limitações quími-cas dos solos e atender às exigências nutricionais dasculturas.

Embora o Brasil venha atingindo recordes deprodutividade de grãos, muitas culturas, principal-mente aquelas que se constituem em produtos da ces-ta básica (milho, feijão, trigo, arroz e mandioca) ain-da apresentam produtividades médias muito abaixodo chamado ponto de máximo rendimento econô-mico. Há disponibilidade de tecnologia gerada pelapesquisa agronômica brasileira, mas, como expostopor Lopes e Guilherme (2001), deve-se investir emações que permitam elevar as médias da produtivida-de das principais culturas. Baixa produtividade dasculturas é o caminho mais curto para a abertura denovas áreas por meio do desmatamento. Será possí-vel constatar neste capítulo que, no Brasil, há umahistórica falta de adubação do solo.

O fornecimento de nutrientes para as princi-pais plantas cultivadas no Brasil é efetuado princi-palmente pela adubação mineral e orgânica. Ambossão importantes para o sucesso do empreendimentoagrícola ou florestal. Até à década de 1950, a produ-ção da agricultura brasileira dependia praticamenteda fertilidade natural dos solos, que, na sua maioriaé baixa pela alta acidez e presença de teores tóxicosde alumínio para as principais culturas. As práticas

modernas de adubação, introduzidas há mais de umséculo e baseadas no conceito químico de nutriçãode plantas, contribuíram significativamente para oaumento na produção agrícola, resultando na melhorqualidade de alimentos, florestas e forrageiras. Amelhoria da fertilidade dos solos resultando em ní-veis mais estáveis de produtividade das lavouras, as-sim como numa melhor resistência (induzida pelamelhor nutrição vegetal) contra pragas e doençaspodem ser considerados como benefícios paralelosda prática da adubação balanceada. A adubação com-binada com o uso de variedades mais produtivas con-tribui para o aumento da produtividade e para osretornos econômicos aos agricultores, independente-mente do tamanho da propriedade rural. O aumentona produtividade média das culturas no período de1970-1998, resultou numa economia de cerca de 60milhões de hectares (Figura 1).

Deste modo, o objetivo deste estudo foi o deelaborar um diagnóstico do balanço de nutrientesna agricultura brasileira atual e apresentar alternati-vas ecologicamente viáveis de fornecimento de nu-trientes.

Nutrientes exigidos pelas culturas

As plantas contêm praticamente todos os elementosquímicos (92), mas necessita apenas 16 para o cresci-mento adequado. Treze são elementos nutritivos mi-nerais essenciais comumente denominados de nutri-entes. Eles são fornecidos pelo solo e pelo adubo mi-neral ou orgânico. Há alguns nutrientes como sódio,silício e cobalto que têm efeito benéfico para algumasculturas, mas não são essenciais (Box 1).

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Fertilidade do Solo e Demanda por Nutrientes no Brasil62

Figura 1. Economia de uso de área agrícola no Brasil no período de 1970-1998, em função do acréscimo da produtividade médiadas culturas (Lopes e Guilherme, 2001)

Box 1. Nutrientes essenciais e benéficos para as plantas

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Fertilidade do Solo e Demanda por Nutrientes no Brasil 63

Solos do Brasil e suas limitações

Conforme exposto no Capítulo 1, o território brasilei-ro é caracterizado por uma grande diversidade de ti-pos de solos condicionados pelas diferentes formas etipos de relevo, clima, material de origem, vegetação eorganismos associados. Existe uma grande predomi-nância de Latossolos e Argissolos, os quais ocupamrespectivamente 39 e 20% do território nacional.

As principais limitações físicas e químicas aodesenvolvimento da agropecuária na América Tropical,sua extensão e porcentagem de ocorrência foram apre-sentadas por Sanchez e Salinas (1981), e estão ilustradasna Tabela 1. Devido às dimensões continentais, estaslimitações apresentadas, principalmente as relacionadasaos solos ácidos, são representativas dos solos do Brasil.Além dos problemas já citados, destacam-se ainda asbaixas disponibilidades dos macronutrientes primários(N, P e K), secundários (Ca, Mg e S), e de micronutrien-tes (Zn e Cu). Existem também grandes extensões desolos ácidos com baixa CTC e alto poder de fixação defósforo, assim como elevada acidez trocável (Al3+). Comrelação às limitações físicas há, para o Brasil, problemascom o alto risco de erosão (ver Cap. 5).

USO DE FERTILIZANTES

Uso mundial

O consumo de fertilizantes no mundo tem sido siste-maticamente avaliado por 3 organizações: IFA – Inter-

national Fertillizer Industry Association, IFDC – In-ternational Development Center e FAO – Food andAgriculture Organization of the United Nations. Olevantamento mais recente (FAO, 1999), mostra que asculturas do trigo, arroz e milho consomem 50% dototal de fertilizantes no mundo. Somados os consu-mos com pastagens, hortaliças, algodão, soja e cana-de-açúcar este valor fica próximo de 80%.

Os principais consumidores mundiais de ferti-lizantes estão na Tabela 2. Observa-se que o Brasil ocu-pa a 5ª posição. Além destes países destacam-se aindaPaquistão, Inglaterra, Espanha, Itália, México, Turquia,Japão, Rússia, Polônia, Tailândia, por apresentarem con-sumo acima de 1 milhão de toneladas de fertilizantespor ano. Estes resultados mostram que a maior partedo consumo de fertilizantes está em países situados noSul e Leste da Ásia, América do Norte, e Europa oci-dental.

Considerando a relação de consumo de N: P2O5:K2O, observa-se que no Brasil ela é de 1:1,43:1,60. Já naChina é de 8,4:3,2:1, EUA, 2,7:1:1,2; Índia, 8,5:2,5:1; eFrança, 2,4:1:1,4. Tem-se no Brasil um dos menores con-sumos proporcionais de fertilizantes nitrogenados, sen-do um indicativo das baixas produtividades observadasno país. Esta relação de consumo é histórica, e segundoYamada e Lopes (1999) é, em média, 1: 1,43: 1,55.

Uso de adubos no Brasil

Como exposto anteriormente, os solos brasileiros são emgeral ácidos, pobres em fósforo, cálcio, magnésio e com

Limitações do solo América tropical Solos ácidos

1.000.000 ha % total 1.000.000 ha % total

Deficiência N 1332 89 969 93Deficiência P 1217 82 1002 96Deficiência K 799 54 799 77Deficiência Ca 732 49 732 70Deficiência Mg 731 49 739 70Deficiência S 756 51 745 71Deficiência Cu 310 21 310 30Deficiência Zn 741 50 645 62Alta fixação P 788 53 672 64CTC efetiva baixa 620 41 577 55Toxidez Al 756 51 756 72Baixa disponibilidade de água 626 42 583 56Alto risco erosão 543 36 304 29Encharcamento 306 20 123 12Compactação 169 11 169 16Laterização 126 8 81 8Estresse hídrico (> 3 meses) 634 42 299 29

Fonte: Adaptado de Sanchez e Salinas (1981).

Tabela 1. Extensão geográfica das maiores limitações na América tropical.

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Fertilidade do Solo e Demanda por Nutrientes no Brasil64

teores altos de alumínio. No entanto, aplica-se muitomenos fertilizante e corretivo que o recomendado. Ob-serva-se que apenas nas culturas da soja e cana-de-açúcarhá uma utilização mais abrangente de fertilizantes, sendoque as taxas médias de adubação estão na faixa de 95 e97%, respectivamente. As demais as taxas de fertilizaçãonão ultrapassam os 88% da área total (Tabela 03).

Os dados apresentados pela FAO (1999) mos-traram que as culturas que mais utilizaram fertilizan-tes são soja (24%), milho (23%), cana-de-açúcar (21%),seguidas pelo café, arroz, feijão, trigo, laranja, batata ealgodão. Essas 10 culturas consomem aproximadamen-te 94% dos fertilizantes do País (Tabelas 2 e 3). Osdados mostrados por Yamada e Lopes (1999) corrobo-ram estas constatações.

Embora responsável por 75% do consumo to-tal de fertilizantes (N, P2O5 e K2O) na América Latina,

o Brasil ainda não ultrapassou o consumo de 5,0 mi-lhões de toneladas anuais (período 1970 a 1989), sen-do que entre 1989 e 1999 o consumo aumentou ape-nas 800 mil toneladas, atingindo 5,8 milhões de tone-ladas. O consumo de fertilizante nitrogenado, entre1970 e 1989, foi de 0,5 a 0,9 milhão de tonelada porano e entre 1989 e 1999 houve um aumento para cercade 1,5 milhão tonelada por ano (Figura 2). As quedasno consumo se relacionam a problemas de crédito,frustração de safras e baixos preços dos produtos agrí-colas, enquanto os aumentos envolvem geralmenterelação de troca favorável entre fertilizantes e produ-tos agrícolas associados a safras satisfatórias quanto àprodutividade.

A Tabela 4 mostra o consumo aparente de ferti-lizantes e matérias primas no Brasil no período de1991 a 2000. A principal fonte de fertilizante nitroge-

% área fertilizada Taxa de aplicação Consumo

Área Cultivada N P2O5 K2O N P2O5 K2O N P2O5 K2O Total

País (1.000 ha) (%) (kg ha-1) (1.000 Mt)

China(b) 157.132 98,0 80,2 49,4 108,9 57,6 43,3 18.816 7.255 2.248 28.319EUA(d) 112.775 90,6 66,4 62,5 128,4 85,1 110,6 11.185 4.145 4.871 20.200Índia(c) 173.739 83,0 83,0 83,0 108,6 31,4 8,4 9.823 2.898 1.156 13.876França(d) 26.562 - - - 87,9 46,0 80,7 2.525 1.052 1.488 5.065Brasil(d) 44.402 83,7 83,7 83,7 43,0 67,6 64,8 1.197 1.708 1.941 4.847Alemanha(d) 15.993 - - - 98,2 37,6 67,3 1.758 415 646 2.819Indonésia(a) 16.406 60,0 50,0 27,5 70,0 23,8 52,5 1.558 540 219 2.317Canada(a) 32.841 77,0 77,0 77,0 60,0 36,5 32,5 1.426 637 317 2.379

Ano dos dados levantados: (a)1993; (b) 1994; (c) 1995; e (d) 1996.Fonte: FAO (1999).

Tabela 2. Área cultivada, proporção da área que recebe fertilizantes e o consumo total de fertilizantesdos principais países consumidores.

Culturas Área % Área Taxa de aplicação Consumo

Cultivada Fertilizada N P2O5 K2O N P2O5 K2O Total

1.000 ha kg ha-1 1.000 Mt

Milho 13.888 76 35 36 36 369,4 380,0 380,0 1.129,4Soja 11.376 97 5 51 51 55,2 562,8 562,8 1.180,8Feijão 4.939 68 11 21 12 36,9 70,5 40,3 147,7Cana-de-açúcar 4.902 95 70 56 95 326,0 260,8 442,4 1.029,2Arroz 3.605 76 30 46 27 82,2 126,0 74,0 282,2Café 2.021 84 97 24 97 164,7 40,7 164,7 370,1Trigo 1.837 83 8 41 41 12,2 62,5 62,5 137,2Laranja 971 85 55 28 55 45,4 23,1 45,4 113,9Algodão 682 85 26 49 49 15,1 28,4 28,4 71,9Batata 181 88 93 324 185 14,8 51,6 29,5 95,9

Total 44.402 - - - - 1.121,9 1.606,5 1.829,9 4.558,2

Fonte: FAO (1999).

Tabela 3. Área plantada das principais culturas no Brasil, porcentagem da área fertilizada, taxa de aplicaçãoe utilização total de nutrientes, dados referentes a 1996.

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Fertilidade do Solo e Demanda por Nutrientes no Brasil 65

Figura 2. Consumo de fertilizante N, P2O5 e K2O no Brasil no período de 1975 a 1999.Fonte: FAO (1999).

1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Fertilizantes (1000 t)

Sulfato de amônio 921 843 960 918 1.077 1.239 1.347 1.195 1.365 1.864Uréia 868 942 1.298 1.278 1.284 1.407 1.672 1.570 2.155 2.250Nitrato de amônio 199 213 216 270 327 374 423 396 346 711Superfosfato simples 2.145 2.267 2.812 2.954 2.707 2.949 3.529 3.701 3.650 4.297Superfosfato triplo 776 755 701 844 653 774 945 844 760 937Fosfato mono-amônio (MAP) 553 583 975 1.060 1.058 1.210 1.496 1.519 1.616 2.045Fosfato di-amônio (DAP) 123 110 128 157 91 76 80 63 35 175Fosfato parcialmente acidulado 93 119 131 144 171 89 49 37 - 8Cloreto de potássio 2.071 2.175 2.851 2.802 2.369 3.384 3.955 3.619 3.733 4.784Outros 824 914 895 787 658 866 887 608 423 474

Total 8.573 8.921 10.967 11.214 10.395 12.368 14.383 13.552 14.083 17.545

Matérias primas (1000 t)

Amônia 940 938 821 1.016 1.011 1.000 1.147 876 1.099 989Ácido fosfórico 649 520 659 619 630 646 640 647 627 817Ácido sulfúrico 2.452 2.066 2.221 2.631 2.776 2.397 3.026 3.161 3.070 3.543Enxofre 1.021 843 887 1.133 1.167 1.172 1.229 1.208 1.349 1.335

Total 5.062 4.367 4.588 5.399 5.584 5.215 6.042 5.892 6.145 6.684

Fontes: IBGE; SECEX/MDIC; ANDA; SIACESP

Tabela 4. Consumo aparente de fertilizantes, nutrientes e matérias primas no Brasil no período de 1991 a 2000.

nado utilizada é a uréia, apesar dos grandes problemasde perdas por volatilização quando aplicado em su-perfície ou sobre a palha, como no sistema plantiodireto. Já o fertilizante fosfatado mais utilizado é su-perfosfato simples, sendo uma excelente fonte, alémde fósforo, também de cálcio e enxofre. E a maiorparte do fertilizante potássico é comercializada como

cloreto de potássio. Destaca-se ainda o consumo defosfato monoamônio (MAP) e sulfato de amônio.

A partir da década de noventa, houve grandesinvestimentos na indústria de fertilizantes, que modi-ficou uma situação em que a maior parte das matériasprimas para fabricação de fertilizantes era importada.As produções nacionais das principais matérias pri-

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Fertilidade do Solo e Demanda por Nutrientes no Brasil66

mas estão na Tabela 4. A situação em 1996, de acordocom Yamada e Lopes (1999), era de que cerca de 47%da oferta de fertilizantes era suprida pela indústria na-cional, e o restante suprido pela importação.

Para os micronutrientes não existem dados es-tatísticos disponíveis, como existem para os macronu-trientes. Segundo Yamada e Lopes (1999), a estimativado consumo total de produtos como fonte de micro-nutrientes foi de 150 mil toneladas por ano, com asconcentrações médias de: 4 a 8% de boro, 2 a 6% decobre, 8 a 15% de manganês e, 12 a 15% de zinco. Emtermos de quantidades seriam: 9 mil t de boro, 6 mil tde cobre, 17 mil toneladas de manganês e, 20 mil tone-ladas de zinco.

Em função da acidez excessiva dos solos, deve-riam ser aplicadas cerca de 75 milhões de toneladasanuais de calcário. Atualmente, são aplicadas cerca de20 milhões de toneladas de calcário por ano (Tabela5). Embora a capacidade instalada para mineração eprocessamento seja atualmente de 50 milhões de tone-ladas anuais, a quantidade aplicada permaneceu prati-camente constante nos últimos anos (Yamada e Lopes,1999). Portanto, a cada ano, cerca de 60 milhões detoneladas de calcário deixam de ser aplicadas, resultan-do em menor eficiência dos fertilizantes, menor produ-tividade das lavouras, menor renda para os agricultores,maior perda da capacidade produtiva dos solos e, con-seqüentemente, pressão sobre os recursos naturais. NaTabela 6 estão apresentados os Estados com os maio-res consumos de corretivos, os quais têm as maioresáreas agrícolas e a agricultura é mais tecnificada.

Provavelmente nas regiões onde não se estejautilizando calcário, ou que este uso esteja abaixo do

recomendado, deve estar havendo uma menor eficiên-cia na ação dos fertilizantes. Isso ocorre, pois existeuma interação positiva da calagem com eficiência daadubação. Por exemplo, para uma melhor eficiênciada adubação fosfatada, é imprescindível que antes sefaça correção do solo. O efeito da calagem na melho-ria da eficiência de utilização de P pelas culturas estáassociado à precipitação de alumínio e ferro liberandofosfato para ser absorvido pelas plantas (Pavan e Oli-veira, 1997).

EXTRAÇÃO DE NUTRIENTES

Principais culturas

A produtividade média e os teores de macro e micro-nutrientes na parte colhida das principais culturas bra-sileiras (algodão, arroz, batata, cacau, cana-de-açúcar,café, laranja, eucalipto, feijão, mandioca, manga, me-lão, milho, soja, tomate e trigo) estão na Tabela 7. Apartir destes dados, calculou-se as quantidades extraí-das através da multiplicação da concentração de nutri-entes na parte colhida pela respectiva produção brasi-leira. A partir do estabelecimento de produtividadesótimas, foi feita uma simulação das quantidades a ex-tração de nutrientes para estas produtividades.

A Figura 3 mostra uma avaliação da quantidadede macronutrientes primários extraídos em 1999 pelasprincipais culturas brasileiras. Observa-se que o nitro-gênio foi o nutriente mais extraído com 3.519 mil to-neladas, seguido do potássio com 1.553 mil toneladas,equivalentes a 1.842 mil toneladas de K2O, e do fósfo-ro com 437 mil toneladas, equivalentes a 999,8 mil

1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

1.000 t

Produção 10.525 15.624 19.390 20.457 12.245 14.763 17.432 16.285 15.768 19.305

Consumo aparente 10.525 15.408 19.659 20.435 12.262 15.617 17.059 16.136 15.304 19.812

Fontes ANDA/ABRACAL

Tabela 5. Produção e consumo aparente calcário no Brasil no período de 1991 a 2000.

Estado 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

1.000 t

São Paulo 2.000 3.430 3.611 4.567 3.362 3.437 3.724 3.597 3.205 3.323

Mato Grosso 1.000 1.426 2.228 2.284 774 1.343 1.254 1.914 1.351 3.100

Minas Gerais 1.700 1.800 2.300 2.341 1.770 1.870 1.958 1.877 2.177 2.987

Goiás 800 1.762 1.940 2.330 1.180 2.350 1.644 1.591 1.990 2.550

Paraná 2.000 2.073 2.812 3.481 1.852 2.422 2.907 2.532 2.166 2.285

Rio Grande do Sul 1.175 2.818 3.696 3.122 1.392 1.799 2.319 2.103 1.871 2.004

Fontes ANDA/ABRACAL

Tabela 6. Consumo aparente de calcário nos principais Estados (1.000t).

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Fertilidade do Solo e Demanda por Nutrientes no Brasil 67

toneladas de P2O5. A relação N:P2O5:K2O foi de3,52:1,00:1,84. Quanto aos macronutrientes secundá-rios, as extrações de cálcio, magnésio e enxofre foramrespectivamente, 320, 275 e 304 mil toneladas. Dosmicronutrientes, o ferro foi o mais extraído pelas plan-tas em 1999 (15.875t), seguido pelo manganês (7.437t),zinco (5.295t), boro (2.778t), cobre (1.794t) e molibdê-nio (142t).

Em termos regionais, no Sul, em 1999, as cul-turas proporcionaram as maiores quantidades de ex-tração de nutrientes primários: 1297 mil toneladasde N, 377 mil toneladas de P2O5 e 552 mil toneladasde K2O, as quais respectivamente representaram 37,38 e 30% do total do país. A segunda maior extraçãofoi a da Região Sudeste com 792 mil toneladas de N;238 mil toneladas de P2O5 e, 612 mil toneladas deK2O, que representaram respectivamente 23, 24 e 33%do total. Em seguida as extrações da região Centro-Oeste (25, 23 e 20% do total de N, de P2O5 e K2O),Nordeste (8, 9 e 10% do total de N, de P2O5 e K2O) e,Norte (2, 3 e 3% do total de N, de P2O5 e K2O). Noentanto, há uma inversão das quantidades extraídasdos macronutrientes secundários (Ca, Mg e S) e dosmicronutrientes (B, Cu, Fe, Mn e Zn), na qual a or-dem decrescente de extração por região é: Sudeste,Sul, Centro-Oeste, Nordeste e Norte (Figura 3). Aextração de molibdênio não foi apresentada na Figu-ra por ser de ordem muito inferior aos demais valo-res. Porém a ordem de extração de molibdênio porregião é: Sul, Centro-Oeste, Sudeste, Nordeste e Nor-

te, com respectivamente 40, 28, 18, 6 e 1% do totalde 142 toneladas extraídas.

Pela estimativa da extração de nutrientes paraprodutividades ótimas das principais plantas cultiva-das no Brasil, listadas na Tabela 07, constata-se que osvalores comparados aos anteriores (Figura 3A) pratica-mente dobram, subindo para 6.810 mil toneladas deN, de 2.095 mil toneladas de P2O5 e 3.568 mil tonela-das de K2O (Figura 4).

Situação das pastagens

Dos quase 178 milhões de hectares sob pastagem, cer-ca de 100 milhões são de pastagens plantadas ou cercade 13% da área total do País. As principais forrageirasutilizadas são: braquiária (Brachiaria decumbens, B.humidicola e B. brizantha), colonião (Panicum maxi-mum), andropogom (Andropogon gayanus), jaraguá(Hyparrhenia rufa) e pangola (Digitaria decumbens).

Na Região Amazônica, a maior parte das pasta-gens é estabelecida sem nenhuma adubação, estando aprodutividade normalmente dependente dos resíduosdas cinzas das queimadas. Nas outras regiões, geralmen-te a introdução ocorre após cultivo pioneiro de umacultura anual, normalmente arroz ou outro cereal. Nes-te caso, a produtividade fica condicionada ao efeito re-sidual do adubo químico aplicado para o cereal. Alémdos problemas na implantação, outros também são ob-servados no estabelecimento e condução destas pasta-

Culturas Produtividade Macronutrientes Micronutrientes

Atual Ótima N P K Ca Mg S B Cu Fe Mn Zn Mo

t ou m3 kg por t g por t mg por t

Algodão 2,13 3,0 23,0 4,0 16,0 8,4 3,7 7,7 33,0 10,0 243,0 14,6 12,3 150Arroz 3,09 4,5 12,0 3,0 3,0 1,0 1,0 0,7 4,4 6,3 60,9 25,2 40,9 160Batata 16,35 35,0 3,0 0,3 4,0 0,2 0,2 0,2 2,0 2,0 20,0 20,0 4,0 1.000Cacau 0,30 1,5 32,0 6,0 48,0 1,0 2,0 1,0 12,0 16,0 80,0 28,0 47,0 40Café 1,48 3,6 18,0 1,2 27,0 3,4 1,4 1,5 25,0 16,5 105,0 25,0 39,3 6Cana 68,51 120,0 1,2 0,2 1,1 0,1 0,2 0,2 2,0 1,8 25,0 12,0 5,0 20Citros 12,14 50,0 2,2 0,2 1,8 0,5 0,1 0,1 2,2 1,2 6,6 2,8 0,9 8Eucalipto 47,30 1,1 0,1 0,7 1,6 0,4 0,5 3,7 2,3 10,0 20,0 1,1 29Feijão 0,69 3,0 35,0 3,5 14,7 3,1 2,6 3,7 70,0 10,0 17,0 30,0 1.000Mandioca 13,20 30,0 3,0 0,3 3,0 0,6 0,3 0,1 1,8 0,8 24,0 1,6 4,6 -Manga 27,28 50,0 1,3 0,2 1,6 - - 0,2 0,9 1,3 3,6 3,5 1,4 4,40Melão 12,95 30,0 2,0 0,5 2,4 - - - 8,8 22,0 45,2 28,3 10,9 -Milho 2,62 8,0 20,0 4,0 5,5 0,1 1,8 1,7 1,5 8,0 40,0 8,0 40,0 1.000Soja 2,37 3,5 60,6 5,2 18,7 1,9 2,2 3,2 30,0 15,0 100,0 20,0 42,5 3.000Tomate 50,15 70,0 1,8 1,0 2,1 0,1 0,2 0,3 5,0 10,0 25,0 24,0 25,0 12Trigo 1,95 3,0 22,5 4,5 13,5 1,0 3,0 1,3 133,0 0,0 40,0 30,0 0,1 -

Fontes: Barbosa Filho (1987); Burton (1989), Castelane et al. (1991); Haag et al. (1991a), Haag et al. (1991b), IBGE (1996), Malavolta (1986); Malavolta e Violante Neto(1989); Malavolta et al. (1997); Oliveira e Thung (1988); Nakagawa (1991); Raij et al. (1997); Yamada e Lopes (1999).

Tabela 7. Produtividade atual e ótima e extração de nutrientes das principais culturas no Brasil.

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Fertilidade do Solo e Demanda por Nutrientes no Brasil68

Figura 3. Extração de macronutrientes primários N, P e K (A), secundários Ca, Mg e S (B) e micronutrientes B, Cu, Fe, Mn e Zn (C).

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Fertilidade do Solo e Demanda por Nutrientes no Brasil 69

gens, como o uso de solos exauridos por outras culturasou pela erosão, a ausência da adubação (principalmentede fósforo e nitrogênio) e o sobrepastejo. Este modelo deexploração extrativista é uma das principais causas dadegradação das pastagens e dos solos no Brasil. Nessascondições, as exigências das plantas forrageiras não sãoatendidas, a não ser após o curto período em que as cin-zas das queimadas ou a decomposição da matéria orgâ-nica, favorecida pelo preparo recente do solo, colocamem disponibilidade alguns nutrientes (Maraschin, 2000).

A remoção de nutrientes pelas forrageiras variade 200 a 300kg de N, 30 a 60kg de P e 200 a 500kg deK por hectare. Já a remoção devida aos animais é mui-to baixa, pois numa pastagem de braquiária de altaprodução com 2 a 4 cabeças por hectare, com ganhode peso diário de 1kg por ha, a exportação anual é decerca de 9kg de N, 5kg de P2O5 e 0,84kg de K2O porhectare (Monteiro e Werner, 1994).

No Brasil, a adubação da pastagem nativa ou plan-tada é insignificante gerando índices zootécnicos pífi-os. Entretanto, os efeitos benéficos da adubação sãoobservados já no primeiro ano após a aplicação, en-quanto a reposição das perdas pode melhorar em muitoa eficiência da adubação, uma vez que a reciclagem émuito alta em pastagens produtivas e de qualidade.

Balanço de nutrientes

Os balanços para macronutrientes primários (N, P eK), representados pela diferença entre as entradas(input) e saídas (output) encontram-se na Tabela 8. Ob-serva-se inicialmente que há um balanço negativo ape-

nas para o nutriente nitrogênio, sendo que para osdemais a situação está praticamente equilibrada.

Refazendo o cálculo e descontando-se as 1.873mil toneladas de nitrogênio extraídas pela cultura dasoja, que no Brasil é cultivada sem fornecimento destenutriente, ainda assim ter-se-ia um balanço negativo comum déficit 449 mil toneladas. Outro aspecto a se consi-derar seria a eficiência de utilização dos fertilizantes,que segundo dados da literatura são de 60% para o ni-trogênio, 30% para o fósforo e de 70% para o potássio.Assim obter-se-ia uma nova realidade, mais voltada àsituação prática do campo, com déficit de: 2.801 miltoneladas de nitrogênio (928 mil toneladas, descontan-do-se o nitrogênio da fixação biológica da soja); 488 miltoneladas de P2O5 e, 483 mil toneladas de K2O.

Figura 4. Projeção de extração dos macronutrientes N, P e K para produtividades ótimas.

N P2O5 K2O Total

1.000 toneladas

Entradas 1.197 1.708 1.941 4.847

Saídas 3.519 1.000 1.842 6.361

Balanço -2.322 + 708 + 99 - 1.514

Tabela 8. Balanço de macronutrientes primários naagricultura brasileira.

Adubações Balanceadas e Meio Ambiente

A prática da adubação é um dos principais fatores paraa obtenção de produtividades ótimas e qualidade ade-quada dos produtos agrícolas. A questão reside na pos-sibilidade de obter-se altas produtividades com o mí-nimo de impacto no meio ambiente.

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Fertilidade do Solo e Demanda por Nutrientes no Brasil70

Resultados experimentais têm mostrado que a res-posta está no fornecimento balanceado de nutrientes pelaadubação como ponto chave para a redução do impactoambiental dos adubos. Dentre as ferramentas à disposi-ção a análise de solo talvez seja a mais facilmente acessí-vel. Esta técnica permite avaliar a disponibilidade de nu-trientes às culturas, e é atualmente a principal práticautilizada para a recomendação das doses de corretivos eadubos. Outro fator são as boas práticas de manejo visan-do o uso eficiente de adubos, as quais incluem a forma deaplicação do adubo e época adequada de fornecimento.

Como já foi mostrado, uso de adubos minerais(fertilizantes químicos) e orgânicos (adubação verdede inverno e verão e estercos) no país é ainda baixa,por isso ainda não causam problemas ao ambiente (con-taminação de águas subterrâneas, por exemplo) comoos registrados em países como Holanda e Alemanha.Os itens a seguir servem para destacar como o manejointegrado de nutrientes deve nortear a estratégia deadubação das culturas na busca do aumento da produ-tividade como da proteção ao meio ambiente para asgerações futuras (Gruhn et al., 2000).

Fatores que interferem na eficiência do uso denutrientes

Inicialmente a fertilidade do solo atendia às necessida-des de produção na agricultura. Os esforços e conheci-

mentos eram basicamente dirigidos para os fatores queinfluenciam a disponibilidade dos elementos essenci-ais no solo, métodos de análise de solo e tecidos vege-tais para avaliação dos teores destes elementos, as inte-rações entre os nutrientes e o solo, ciclagem de nutri-entes, métodos de aplicação de fertilizantes, e o desen-volvimento de técnicas de manejo de solo para otimi-zação e o uso eficiente de nutrientes. Várias técnicastêm surgido nas últimas décadas com potencial paraalterarem significativamente o manejo da fertilidadedo solo (Sims, 2000). Entendimentos mais profundossobre os processos de difusão e fluxo de massa dosnutrientes na rizosfera foram obtidos nas décadas de70 e 80 (Barber, 1984). No entanto, atualmente se sabeque cada planta tem uma influência diferenciada noambiente radicular, indicando a necessidade de novosestudos sobre as interações do sistema solo-planta. Adisponibilidade de nutrientes para as plantas é contro-lada por um complexo conjunto de fatores ligados àscaracterísticas dos vegetais e às condições do solo. Es-tes fatores foram listados por Baligar et al. (1990) e sãoapresentados no Box 2.

Práticas visando o uso eficiente

Na busca pela otimização da utilização de insumos énecessário que inicialmente se alcance o aperfeiçoa-mento da eficiência na utilização desses insumos. Por

Fatores da Planta

Efeitos ambientais FisiológicosIntensidade e qualidade da luz Estado nutricional

Temperatura e umidade Idade e taxa de crescimentoEfeitos do pH do solo Relação raiz/parte aérea

Geometria da raiz e pêlos radiculares Taxa de absorção de águaNúmero e comprimento Taxa de efluxo de nutriente

Taxa de crescimento Taxa de transporte de nutrienteRaio da raiz Distribuição do nutriente na plantaRizosfera Eficiência de utilização

Solubilidade do nutriente Baixa necessidade funcional do nutrienteExudados

Associação microbiana

Fatores do Solo

Solução do solo Difusão e Fluxo de massaEquilíbrios iônicos Umidade do solo

Solubilidade, precipitação TortuosidadeÍons competitivos Propriedades iônicas

Íons orgânicos Concentrações iônicaspH Outros fatores

Umidade e temperatura Propriedades físico-químicas do solo

Fonte: Baligar et al. (1990).

Box 2. Mecanismos e processos que contribuem para o uso eficiente de nutriente nas plantas.

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Fertilidade do Solo e Demanda por Nutrientes no Brasil 71

isso, a seguir são apresentados sucintamente, aspectosque devem ser considerados para a otimização do usodestes insumos.

Uso de genótipos mais eficientes

O emprego de cultivares eficientes na absorção e utili-zação de nutrientes é uma importante estratégia para aredução de custo da produção agrícola, por permitirmenor uso de fertilizantes e corretivos na agricultura.A literatura indica que existe grande diferença entre oscultivares quanto à capacidade de absorção e utiliza-ção de nutrientes. Essas diferenças entre cultivares po-dem ser relacionadas ao processo fisiológico da plantaou às mudanças favoráveis para a cultivar na rizosfera(Fageria, 1992).

Calagem e gessagem

As raízes das plantas não se desenvolvem adequada-mente em solos muito ácidos, contendo excesso dealumínio trocável ou teores muito baixos de cálcio. Aorigem da acidez pode ser decorrente da rocha de ori-gem, remoção das bases (Ca, Mg, K), decomposição damatéria orgânica e absorção de nutrientes pelas plan-tas. A prática agrícola pode aumentar a acidificaçãoatravés da aplicação de fertilizantes, especialmente osnitrogenados na forma amoniacal (sulfato de amônio).A calagem possibilita a correção da acidez nos solos,porém para que os resultados sejam adequados, aspec-tos como a qualidade do calcário, dose, época e modode aplicação desse insumo devem ser considerados.Outros efeitos benéficos são o aumento da disponibi-lidade dos nutrientes (principalmente fósforo e moli-bdênio), aumento do volume de solo explorado pelasraízes, aumento da capacidade de troca de cátions, di-minuição da fixação do fósforo, diminuição dos teo-res excessivos de alumínio tóxico e de manganês, favo-recimento da fixação simbiótica do nitrogênio, e me-lhoria das propriedades físicas e biológicas do solo.

Os efeitos da calagem podem ficar restritos àcamada arável ou superficial do solo e, o a camadaimediatamente abaixo permanecendo ácido impossi-bilita o desenvolvimento do sistema radicular e limitaa absorção de água e nutrientes, principalmente emperíodos curtos de seca (veranicos). Existem vários re-sultados mostrando que a correção da acidez das ca-madas profundas favorece a produção das culturas, eessa correção pode ocorrer com a prática da gessagem(Raij, 1988).

Fertilizantes nitrogenados

Nos principais adubos nitrogenados comercializadosno Brasil, o nitrogênio está presente nas formas amídi-

ca, nítrica e amoniacal, sendo todas solúveis em água.Quando aplicadas no solo, em curto período de tem-po, a maior parte do N amídico ou amoniacal sofreoxidação e passa para a forma nítrica. Esta é a formapredominantemente absorvida pelas plantas, no en-tanto, pouco retida no complexo de troca do solo esujeita a perdas por lixiviação. A eficiência da aduba-ção nitrogenada é aumentada por meio de diversaspráticas como: emprego de formas com disponibilida-de controlada, parcelamento das doses recomendadas,localização adequada em relação às plantas e semen-tes, e calagem. Outra fonte de perda de N é através davolatilização de amônia e pode ocorrer em solos compH acima de 7 quando os adubos contendo o N amo-niacal aplicados na superfície. A uréia, aplicada emsuperfície está sujeita a perdas por volatilização, mes-mo em solos ácidos. Estas perdas são potencializadasse a uréia for aplicada na superfície de solos úmidos,ou sobre resíduos de plantas, como no caso do plantiodireto. Em solos de várzea, que permanecem inunda-dos, não se deve utilizar adubos com N na forma nítri-ca, pois as condições redutoras do solo provocam rá-pida desnitrificação e formação de N2 e N2O (FAO,1998; Isherwood 1998; Johnston, 2000).

Fertilizantes fosfatados

O fósforo é o nutriente que mais limita a produtivida-de na maioria dos solos tropicais. Com a prática dasadubações os teores no solo tendem a se elevar, devidoao efeito residual. Considerando-se que os fosfatos sãorecursos naturais não renováveis, é imperioso utilizá-los de forma eficiente. Para que as culturas utilizem ofósforo aplicado é necessário que ocorra uma reaçãoentre o fosfato e o solo, por isso a disponibilidadedeste nutriente depende do equilíbrio e dinâmica nosolo. A fração argila dos solos da região tropical é cons-tituída predominantemente por caulinita e óxidos deFe e Al, ou seja, minerais de carga variável, e que pos-suem um alto poder de fixação do fosfato. Como con-seqüência, a maior parte do fósforo aplicada em solosargilosos é adsorvida de forma não-trocável, com pou-cas chances de retornar à solução do solo e de ser apro-veitada pelas plantas. Desse modo, uma opção paramelhorar a recuperação do fosfato aplicado via fertili-zante é diminuir, antes de sua aplicação, a capacidadedo solo em fixar o íon-fosfato. Os fatores que afetam adisponibilidade deste nutriente no solo são as quanti-dades adicionadas, o tempo e o volume de contato dofertilizante com o solo, o tipo e a quantidade de mine-rais presentes no solo, e o pH do solo. Por isso, aobservação e controle destes fatores podem, efetiva-mente, reduzir a adsorção do fosfato aplicado. Assim,as práticas essenciais no manejo da adubação fosfata-da e na economia deste nutriente são: análise de solo e

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Fertilidade do Solo e Demanda por Nutrientes no Brasil72

recomendação de doses adequadas, melhoria do volu-me de solo explorado pelas raízes através da calagem,redução do contato do fosfato com o solo através douso de adubos na forma granulada, e a incorporaçãolocalizada nos sulco ou covas de plantio (FAO, 1998;Isherwood 1998; Novais e Smyth, 1999; Johnston,2000).

Fertilizantes potássicos

A adubação potássica nos solos tropicais é de grandeimportância, em função da grande extração pela mai-oria das culturas, associada às baixas reservas do nutri-ente nestes solos muito intemperizados. Portanto, asua restituição às plantas deve ser feita através da adu-bação potássica. O suprimento de potássio às plantasvaria em função da forma em que se encontra no solo,da sua quantidade e do seu grau de disponibilidadenas diferentes formas, além dos fatores que interferemno deslocamento do nutriente na solução do solo atéas raízes. O manejo da adubação, com relação às dosese modos de aplicação (sulcos, a lanço e parcelada) deveser considerado, devido ao alto potencial de perdaspor lixiviação que alguns solos podem apresentar. Aaplicação de plantio normalmente é recomendada paraser realizada no sulco, porém também possa ser feita alanço, antes do plantio, sendo que em solos com baixafertilidade, aplicação no sulco pode ser mais viáveleconomicamente. No entanto, a aplicação de altas dosesde potássio no sulco de plantio deve ser evitada devi-do ao efeito salino pelo aumento do potencial osmóti-co e, em alguns casos, para diminuir as perdas porlixiviação, principalmente nos solos arenosos, combaixa capacidade de troca. Por isso, as doses elevadasdevem ser reduzidas no plantio e o restante da aplica-ção pode ser feita em cobertura e a lanço, no períodode maior exigência da cultura. Outro aspecto que deveser considerado é o de que a adubação tardia em co-bertura a lanço em solos argilosos pode não ser efici-ente (FAO, 1998; Isherwood 1998; Johnston, 2000).

Fertilizantes com micronutrientes

Os micronutrientes desempenham papéis importan-tes no metabolismo vegetal, seja como constituintesde compostos ou como reguladores do funcionamen-to de sistemas enzimáticos. O suprimento adequadodestes elementos é importante, para se evitarem dimi-nuição da produção agrícola. No entanto, tem se ob-servado no Brasil, um aumento da deficiência de mi-cronutrientes. Isso tem ocorrido devido ao aumentode produtividade das culturas, à incorporação de solosde baixa fertilidade ao processo produtivo, ao uso cres-cente de calcário e adubos fosfatados, à incorporaçãoinadequada de corretivos, e ao cultivo de variedades

com alto potencial de produção e alta demanda pormicronutrientes. As quantidades destes nutrientes re-queridos pelas plantas são muito pequenas, quandocomparadas aos macronutrientes. As aplicações emexcesso podem ser mais prejudiciais às plantas que aprópria deficiência. Existem ainda grandes diferençasde comportamento de espécies vegetais, e até mesmode variedades das mesmas espécies, com relação às exi-gências de micronutrientes. As formas de fornecimen-to dos micronutrientes podem ser através da aplicaçãono solo (no sulco ou covas, ou na superfície em cultu-ras perenes), da adubação foliar, da fertirrigação oudas sementes. Nas aplicações localizadas as formas so-lúveis em água são mais prontamente disponíveis, jáas fontes insolúveis devem ser utilizadas em área total(Lopes, 1999).

Alternativas aos fertilizantes minerais

Visando a redução ou substituição dos fertilizantescomerciais utilizados, existem diversos sistemas alter-nativos, os quais utilizam novas técnicas e conceitosde manejo de solo e da fertilidade. Estas incluem ouso de espécies leguminosas como adubo verde, rota-ção de culturas, uso de adubos orgânicos, e o uso deresíduos urbanos, industriais e agrícolas. Algumas des-tas alternativas são destacadas a seguir.

Adubação orgânica

O principal efeito que se deseja com a adubação orgâ-nica é a melhoria das propriedades físicas e biológicasdo solo. Com sua utilização, observa-se melhoria naporosidade, retenção de umidade e menor temperatu-ra do solo (com cobertura morta na superfície ou ‘mul-ch’). Estes produtos podem também ser utilizados comofontes de nutrientes, levando-se em conta que possu-em-nos em teores mais baixos e desbalanceados, neces-sitando, muitas vezes, de complementação com fertili-zantes minerais. Alguns nutrientes, presentes nos adu-bos orgânicos, principalmente nitrogênio e fósforo,sofrem um processo de disponibilização mais lenta queos adubos minerais, no entanto este efeito é mais pro-longado. De modo geral, pode-se considerar que no 1ºano de aplicação 50% do N, 70% do P2O5 e 100% doK2O serão disponibilizados. Um aspecto importanteque deve ser observado é o processo de cura (fermenta-ção), o qual é essencial para a utilização de estercos ecompostos. O objetivo é a obtenção de um produtohomogêneo, estruturado, sem os odores desagradáveiscaracterísticos, isento de sementes viáveis de plantasdaninhas, pragas e patógenos causadores de doenças.Além disso, este processo auxilia na obtenção de pro-dutos com uma relação C/N ideal, boa mineralização

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Fertilidade do Solo e Demanda por Nutrientes no Brasil 73

dos compostos orgânicos, e conseqüente liberação dosnutrientes através da mineralização (Ribeiro et al.,1999).

Comparações diretas entre adubo orgânico emineral não são convenientes e geram mais polêmicaque esclarecimento, pois os adubos orgânicos têm efei-to de amplo espectro nas propriedades do solo, ouseja, efeitos físicos e biológicos, além do químico, semconsiderar a diversidade de fontes e composições,modo, época e quantidade de aplicação e os efeitosespecíficos da matéria orgânica no solo. O maior inte-resse atual talvez esteja em estudos do uso associadodestas duas fontes de nutrientes (Sanchez, 1997).

Um aspecto muito importante na adubaçãoorgânica é a escolha do adubo. O melhor adubo orgâ-nico é aquele que atenda às necessidades do solo e daplanta cultivada. Este deve ser obtido em quantidadescompatíveis com a área cultivada e a um custo compa-tível com a capacidade do agricultor e também com obenefício que ele irá trazer a longo prazo. É sempreimportante consultar um agrônomo para auxiliar naescolha do adubo orgânico, pois é preciso saber dasexigências da cultura, analisar o solo, analisar o aduboorgânico existente na região, verificar sua origem (adu-bos oriundos de resíduos industriais podem contermetais pesados em excesso como zinco e cádmio, quepodem causar problemas à saúde pública) e verificarse ele atende às necessidades.

Fixação biológica do N2 e associações comfungos micorrízicos

A substituição da parte de N mineral aplicado comoadubo, pela fixação biológica do N2 é uma opção paraque se possa reduzir os custos de produção, através daredução da utilização deste insumo. A fixação biológi-ca do N2 é o processo pelo qual os organismos vivosconseguem aproveitar o N do ar, incorporando-o àbiosfera. Em termos de importância agrícola, o princi-pal sistema de fixação biológica do N2 é a simbioserizóbio-leguminosa. Na cultura da soja tem-se verifica-do os maiores sucessos e avanços na utilização destasimbiose, sendo que atualmente a principal fonte des-se nutriente é a fixação biológica do N2. Esse processosupre totalmente as necessidades de N da planta, sen-do inclusive desnecessárias as pequenas doses utiliza-das nos plantios (Vargas e Suhet, 1982; Hungria et al.,1997). Entretanto, é necessário que a soja esteja bemnodulada e, para isso, as condições de solo mais apro-priadas ao processo devem ser observadas, assim comoa adequada inoculação das sementes (nos primeirosanos de cultivo).

A associação simbiótica de fungos micorrízicoscom raízes de certas plantas é um fenômeno muitoconhecido, no qual as hifas desses fungos se constitu-

em em uma extensão do sistema radicular das plantas.Isso resulta em maior superfície para absorção de nu-trientes, principalmente aqueles que se movimentamno solo por difusão, por exemplo, P e Zn. A grandemaioria das plantas que nodulam e fixam nitrogênioatmosférico, formam associações micorrízicas. Isto éde grande importância ecológica e agronômica, pois anodulação e a fixação biológica de nitrogênio (FBN)dependem de um adequado balanço nutricional naplanta hospedeira, especialmente do fósforo. Uma vezque plantas micorrizadas absorvem maiores quantida-des de P do solo, a micorrização pode beneficiar oprocesso de FBN, e as plantas nodulada e micorriza-das estarão melhor adaptadas para enfrentar as situa-ções de deficiências nutricionais existentes nos solostropicais (Lopes e Siqueira, 1981).

A natureza dos efeitos do P na simbiose legumi-nosa-rizóbio-MVA não é bem entendida, mas evidênci-as indicam que o efeito benéfico das MVA sobre FBNé conseqüente ao melhor estado nutricional da plantamicorrizada (Bethlenfalvay e Yoder, 1981), pois a ativi-dade da nitrogenase é dependente de ATP e fonte redu-tora, que são processos que possuem elevado requeri-mento de P.

Adubos verdes

Além de contribuir com a matéria orgânica do solo, asleguminosas utilizadas como adubos verdes poderiamainda auxiliar no controle da erosão e propiciar recicla-gem às camadas superficiais do solo de alguns nutrien-tes que são perdidos por lixiviação. Além da reciclagemestas espécies poderiam funcionar como fontes de nu-trientes pouco disponíveis no solo como P e Mo. Háainda evidências de que a mucuna e a Crotalaria junceapodem não apenas controlar os nematóides como tam-bém algumas plantas daninhas (Alvarenga et al., 1995).A grande vantagem da adubação é a possibilidade de serconduzido em grandes áreas a um custo muito maisbaixo que a adubação orgânica convencional.

Uso de resíduos

O uso de resíduos orgânicos de diferentes origens deveser incentivado pelo fato de que, quando isso não acon-tece, aumentam as chances do meio ambiente ser pre-judicado. Isso ocorre, por exemplo com o lodo de es-goto que é uma fonte de matéria orgânica e nutrientes,principalmente fósforo. Na maioria dos casos, o desti-no que se dá ao lodo no Brasil não é o agrícola, sendocomum o descarte desse insumo em rios e córregos,que se tornam altamente poluídos e desprovidos depeixes e outros organismos.

A aplicação de compostos de lixo urbano emsolos cultivados proporciona aumentos na fito dispo-

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Fertilidade do Solo e Demanda por Nutrientes no Brasil74

nibilidade de P, K, Ca e Mg, elevação do pH, da CTCe redução da acidez potencial do solo. Entretanto, écomum encontrar na composição de compostos delixo metais pesados, cujas concentrações variam con-forme as regiões onde são gerados. Dessa forma, a uti-lização agronômica desses resíduos, por anos sucessi-vos, traz preocupações quanto ao acúmulo desses ele-mentos no solo e à possibilidade de sua absorção pelasplantas cultivadas. Os metais pesados, em solos trata-dos com compostos orgânicos de lodo de esgoto e lixourbano, são mantidos em formas que não estão pron-tamente disponíveis às plantas, demonstrando que acapacidade de adsorção específica dos metais proveni-entes dos resíduos irá persistir pelo tempo que esseselementos persistirem no solo (Hoitnk e Keener, 1993).

Uso de rochas trituradas

Ultimamente vem crescendo o interesse pelo uso derochas trituradas ou moídas como adubos fertilizantespara as culturas. A justificativa reside na combinaçãoentre fatores químicos dos solos tropicais e econômi-cos. No Brasil, há uma vasta fonte de rochas ricas empotássio, fósforo, magnésio e cálcio que poderia reduzira excessiva dependência nas fontes convencionais deadubos. Segundo algumas análises, os teores de fosfato(1.215 a 3.038mg kg-1), cálcio e magnésio (40 a 73mg kg-

1) e potássio (158 a 308mg kg-1) são adequados paraserem utilizados como adubos de liberação lenta. Comoexemplo destas rochas, pode-se citar as rochas ígneascomo o basalto, andesito, fonolito, anortosito e sienito,assim como as rochas metamórficas ou sedimentarescomo a marga e o serpentinito. Entretanto, há a necessi-dade de mais pesquisas para avaliar o desempenho dasrochas moídas, misturadas ou não com adubos mine-rais convencionais e adubos orgânicos, na agriculturatropical em solos ácidos (Leonardos, et al., 2000).

Novas tecnologias para o manejo integrado denutrientes

Nas últimas décadas três tecnologias têm se destacadocomo sendo propostas de alteração no manejo do solo,e que podem alterar significativamente o uso de ferti-lizantes. Estas técnicas são o preparo conservacionista(incluindo o plantio direto), os sistemas agroflorestais,e as técnicas de agricultura de precisão.

O preparo conservacionista ou plantio diretorepresenta a mais significativa alteração no manejo desolos da história moderna da agricultura. Esta técnicapermite que se obtenha a produção agrícola com ummínimo risco de erosão. Foi inicialmente introduzidana América do Norte, e atualmente está sendo larga-mente utilizada, na América do Sul (especialmente no

Brasil), Austrália e em menores extensões na Europa(Bradford and Peterson, 2000). Aproximadamente 37%das terras agricultáveis nos Estados Unidos estão sen-do manejadas com sistemas conservacionistas, que in-cluem o plantio direto e o cultivo mínimo (Lal et al.,1999). O sistema de plantio direto está tomando im-pulso em várias regiões do Brasil, como já foi apresen-tado anteriormente, ocupando cerca de 25% das terrascom culturas anuais. Neste sistema, as característicasfísicas, químicas e biológicas do solo são afetadas dife-rencialmente em relação ao plantio convencional, taiscomo retenção de umidade, oscilação térmica, distri-buição do fósforo e matéria orgânica, teor de nitrogê-nio e distribuição de alguns organismos do solo (Mu-zzilli, 1983; Wiethölter, 2000; Machado e Silva, 2001).Há ainda evidências indicando que esta prática podeconduzir à economia da utilização de nutrientes, poisem solo sob plantio direto o maior acúmulo de maté-ria orgânica nos primeiros 10cm de solo, em relaçãoao solo sob aração ou gradagens freqüentes, permiteque haja menor fixação de fósforo nos minerais dosolo pois frações orgânicas como os ácidos húmicospodem bloquear os sítios de adsorção no mineral. Emsistemas de plantio direto, a inclusão da rotação deculturas com leguminosas resulta em economia no usode adubo mineral nitrogenado na cultura subseqüen-te. Atualmente abrange uma área de mais de 14 mi-lhões de hectares no Brasil (Saturnino e Landers, 2001),que representa aproximadamente 30% da área planta-da com lavouras temporárias. Foi estabelecido inicial-mente na região Sul do país, e na década de 90, verifi-cou-se um incremento de mais de 1,2 milhões de ha naregião do Cerrado.

A utilização dos sistemas agroflorestais tiverammaior destaque a partir da década de 1980. Propõem acombinação de árvores de crescimento rápido com sis-temas agrícolas, que incluem também a utilização depastagem para alimentação animal (Mergen, 1986). Estesistema proporciona uma maior biodiversidade associa-da com a produção agrícola, além disso proporcionaum aumento no seqüestro de carbono (Schroeder, 1993).

As técnicas de agricultura de precisão, ou demanejo de sítios específicos, têm sido utilizadas comsucesso em alguns locais, como uma alternativa eco-nomicamente viável para a otimização do uso de nu-trientes. Esta técnica se baseia na amostragem intensadas áreas de cultivo e uso de técnicas de geoestatísticae de modelagem. Como propõem a quantificação, pro-cessamento e diagnósticos de vários fatores quer inter-ferem na produção agrícola, representa atualmente umdas alternativas de manejo mais científicas e avançada.A agricultura de precisão pode ser considerada comoo início de uma revolução no manejo de recursos na-turais baseada na tecnologia de informação. Mas estatécnica também pode ser vista como uma evolução,

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Fertilidade do Solo e Demanda por Nutrientes no Brasil 75

uma vez que o manejo mais preciso dos solos e dasculturas é possível através do uso de informações maisprecisas e novas tecnologias. Com o uso destas técni-cas a agricultura alcançou um novo patamar, no qualas etapas do processo produtivo são integradas e todoo processo controlado através de tecnologias de aqui-sição e processamento de informações (Heuvel,1996;Bouma et al., 1999; Sims, 2000).

Efeitos benéficos das adubações balanceadas

Aumento da eficiência do uso do solo, nutrien-tes e água

Culturas nutridas de forma balanceada podem produ-zir mais com a mesma quantidade de água disponível.Estas plantas serão mais saudáveis e vigorosas, commaior produção de biomassa e, conseqüentemente, comuma melhor cobertura da superfície solo, levando àredução das perdas de solo e de nutriente por lixivia-ção e escoamento superficial. O processo foi esquema-tizado por Resek (1996) da seguinte maneira: melhorcondição química > CTC > maior produção de bio-massa vegetal > população microbiana > maior decom-posição > cargas e subprodutos cimentantes > agrega-ção do solo > maior armazenamento > de água > dis-ponibilidade de nutrientes para as plantas.

Preservação ambiental

O uso adequado de nutrientes através das adubaçõesbalanceadas pode aumentar significativamente o po-tencial de seqüestro de carbono, uma vez que culturasmais produtivas tendem a aumentar os níveis de car-bono orgânico dos solos e seqüestro do CO2 atmosfé-rico (Stewart, 2002).

O uso de adubações balanceadas também podereduzir o potencial de desflorestamento e preservaçãoambiental. De acordo com Lopes e Guilherme (1991,2001), mostraram que com a utilização adequada defertilizantes e corretivos é possível verticalizar a pro-dução agrícola por área (produtividade), evitando des-sa forma que haja a necessidade de incorporação denovas áreas para aumentar o volume de produção. Estaredução da área necessária para agricultura, propicia-ria mais áreas para lazer e preservação ambiental. Umexemplo desta troca é apresentado na Tabela 13, adap-tada de Sanchez et al. (1990) que avaliaram diversasopções de manejo para Yurimaguas no Peru. Para cadahectare adaptado às tecnologias de manejo do solo vi-sando uma agricultura sustentável, 5 a 10 hectares porano de florestas tropicais são salvas do cultivo conven-cional, em função da alta produtividade que pode seralcançada pelas tecnologias alternativas.

1 ha em opção de ha salvos domanejo sustentável desflorestamento

anualmente

Arroz irrigado 11,0Pastagens de leguminosas 10,5

e gramíneasCulturas com alto uso 8,8

de insumosCulturas com baixo uso 4,6

de insumos

Fonte: Sanchez et al. (1990).

Tabela 9. Áreas que podem ser salvas dodesflorestamento por várias opções de manejo, estimada

para Yurimaguas no Peru.

Diminuição do efeito estufa

Em 1997, na cidade de Quioto, Japão, muitos paísesassinaram um acordo de redução de emissão de gasesde efeito estufa (GEE – ex. dióxido de carbono, meta-no e óxido nitroso). Embora o Brasil não tenha quereduzir suas emissões como os países industrializados(ex. EUA, Japão, França e Alemanha), hoje em dia, aagricultura moderna sustentável deve considerar a pro-teção da atmosfera, além das águas superficiais e sub-terrâneas. Neste início de século, a tendência de aque-cimento da Terra tem sido cada vez mais evidente: osúltimos anos foram os mais quentes jamais registradosanteriormente e, segundo estimativas, haverá aumentona incidência de temporais intercalados por anos deseca prolongada. Em modelos de simulação da agri-cultura mundial, os impactos da mudança climáticana produção agropecuária no Brasil estão entre os maisseveros de todas as regiões. Os teores de dióxido decarbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O)na atmosfera vêm aumentando de forma consistente.Ao contrário do vapor d’água, que é o gás mais eficazna manutenção do aquecimento global, pequenas alte-rações na concentração de CO2, CH4 e N2O podemcausar impacto significativo na mudança climática. Acontribuição da agricultura para o aumento na emis-são de gases de efeito estufa se dá através da decompo-sição da matéria orgânica do solo (emissão de CO2),de ruminantes e arroz de terras baixas (emissão de CH4)e durante o processo de nitrificação e denitrificaçãono solo (emissão de N2O). Entretanto, o papel dossolos agrícolas em atuarem como redutores na emis-são de GEE tem sido comprovado também, particu-larmente para sistemas de plantio direto. Este sistemapromove o aumento da cobertura da superfície do solopela palha residual de uma planta resultando na prote-ção do solo contra a erosão e, assim, acumulando pau-latinamente carbono no solo. O sistema passa a atuarmais como dreno, que como emissor de carbono paraa atmosfera.

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Fertilidade do Solo e Demanda por Nutrientes no Brasil76

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Heloisa F. FilizolaMaria Conceição P. Y. Pessoa

Marco Antônio Ferreira Gomes Manoel Dornelas de Souza

7Contaminação dos Solos emÁreas Agrícolas

Capítulo

79

Introdução

A agricultura requer grande quantidade de insumos,como fertilizantes, agrotóxicos e reguladores de cres-cimento. Uma porcentagem dos agroquímicos aplica-dos nas culturas é incorporada ao solo, seja na aplica-ção, por não atingir o alvo (Chaim et al 1999a & 1999b),seja através da infiltração, dissolvidos na solução dosolo, ou ainda perdida para a atmosfera por volatiliza-ção. Os principais agentes poluentes dos solos e águasão os agrotóxicos, os metais pesados e o nitrogênio.O solo tem uma função “filtro” que é muito impor-tante na retenção e degradação destes poluentes. A efi-cácia deste mecanismo está ligada à quantidade dematéria orgânica e à biota dos solo, ao tipo e quanti-dade de argila presentes no solo e às suas característi-cas físicas e químicas.

Um solo pode ser considerado “limpo” quandoa concentração de um elemento ou substância de inte-resse ambiental é menor ou igual ao valor de ocorrên-cia natural. Esta concentração é denominada comovalor de referência de qualidade e estes números nãoestão fixados como padrões em legislação.

Para a CETESB (2001), uma área será considera-da contaminada se, entre outras situações, as concen-trações de elementos ou substâncias de interesse ambi-ental estiverem acima de um dado limite denominadovalor de intervenção, indicando a existência de umrisco potencial de efeito deletério sobre a saúde huma-na, havendo necessidade de uma ação imediata na área,a qual inclui uma investigação detalhada e a adoçãode medidas emergenciais, visando a minimização dasvias de exposição como a restrição do acesso de pessoasà área.

Agrotóxicos

O Brasil não é um dos grande consumidores de agro-tóxicos do mundo, como mostra a Figura 1, mas o usodestes produtos está concentrado em áreas onde a agri-cultura é mais moderna e intensiva, como pode servisto na Figura 2, podendo em estados como São Pau-lo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e MinasGerais, consumir tanto quanto os maiores consumi-dores mundiais.

Dos 269 pesticidas utilizados no Brasil (base dedados da Agrofit do Ministério da Agricultura, Pecuá-ria e Abastecimento), dos quais foram calculados o ín-dice de GUS, 61 são potencialmente lixiviantes, 52 sãoindefinidos, ou seja, dependendo das características dosolo podem ser lixiviados ou ficar retidos. Noventa ecinco são classificados como não lixiviantes, seja por

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Países

Consumo de defensivos agrícolas

Figura 1. Consumo de defensivos agrícolas.Fonte dos dados: Sindag1

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Contaminação dos Solos em Áreas Agrícolas80

terem uma meia vida muito curta o que implica emdegradação rápida, seja pelo valor do coeficiente de par-tição (K

oc) que depende do teor de carbono orgânico

que pode ficar adsorvido nas camadas superficiais dosolo. Para os restantes não houve possibilidade de cálcu-lo dada a inexistência na literatura do K

oc, da meia-vida,

ou ainda de ambos. Estes dados foram conseguidos apartir do BDP Software elaborado por Paraíba et al.,2002. Outro trabalho, elaborado por Pessoa et al. (2001)também utilizou o índice de GUS e o método de GOSS(que avalia o potencial de contaminação do produtoassociado a sedimento e dissolvido em água) para 190princípios ativos presentes em 246 produtos comerciaisem uso no país. Dos princípios ativos avaliados, 14 apre-sentaram potencial de contaminação de águas subterrâ-neas por lixiviação, 28 possuem alto potencial de conta-minação de água associado a sedimento e 57 apresenta-ram alto potencial de contaminação de água dissolvi-dos em água. Somente 28 princípios ativos não pude-ram ser avaliados por falta de informações.

O uso de agrotóxicos deve ser feito de maneiraa minimizar seus efeitos nocivos sobre o meio ambi-ente. Para isto é necessário o conhecimento do soloonde o mesmo será aplicado, incluindo a dinâmica daágua na área e as características e o comportamento decada princípio ativo. De maneira geral, houve nos úl-timos trinta anos um avanço no conhecimento sobrea atuação e a forma como a maior parte dos agrotóxi-cos interage com o meio.

Para entender o comportamento dos agrotóxi-cos no solo ou na água, e utilizá-los da maneira maiscorreta possível, é necessário considerar suas proprieda-des físico-químicas de uma forma particular, ou seja,cada composto irá interagir com o solo de acordo comsuas características. Assim, o impacto dos agrotóxicosno ambiente é resultado da interação entre a molécula(regida por suas propriedades físico-químicas) e as pro-

priedades fisíco-quimicas e biológicas do meio onde eleé introduzido. Os principais processos envolvidos nastransformações de agrotóxicos no solo são a degrada-ção microbiológica e química. O destino dos agrotóxi-cos no ambiente é determinado por fatores bióticos eabióticos. Entre os vários fatores, pode-se destacar:

Degradação Microbiológica

Os agrotóxicos são degradados no ambiente pela açãode microrganismos e de enzimas por eles produzidas,no processo chamado de biodegradação. O solo é ha-bitado por um número muito grande de microrganis-mos, bactérias, protozoários, algas, fungos e tambémpor organismos macroscópicos como anelídeos e ar-trópodes, formando uma comunidade complexa.

Os compostos orgânicos que sofrem reações debiodegradação são geralmente classificados em três gru-pos: compostos que sofrem degradação imediata, semsofrerem prévia alteração; compostos que requerem umafase de adaptação antes que uma decomposição ocorrae compostos orgânicos recalcitrantes, os quais podempersistir no ambiente sem modificações por vários anos,como é o caso dos hidrocarbonetos clorados.

A biodegradação é afetada pelo tipo de solo,pH, umidade e temperatura. O efeito do tipo de solona persistência de um pesticida não pode ser facilmen-te definido, solos com altos teores de matéria orgânicatendem a ter grande atividade microbiana mas ao mes-mo tempo tendem a adsorver fortemente o pesticida emantê-lo no solo.

Solubilidade dos Agrotóxicos em Água

A solubilidade em água de um agrotóxico é a quanti-dade máxima do produto que se dissolve em água sobuma determinada temperatura e pH. Esta característi-

Figura 2. Consumo de agrotóxicos por estado.Fonte dos dados: Sindag2

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Contaminação dos Solos em Áreas Agrícolas 81

ca determina a mobilidade e o destino do produto noambiente. A solubilidade dos agrotóxicos em água édada em função da temperatura, pH, força iônica ematéria orgânica do solo. A maioria dos compostosorgânicos torna-se mais solúvel com o aumento da tem-peratura. Com o aumento da concentração dos íonshidrogênio, pH, os agrotóxicos ácidos aumentam suasolubilidade, enquanto os agrotóxicos básicos podematuar de modo contrário. A presença de matéria orgâ-nica dissolvida, como ácidos fúlvicos e húmicos, podeaumentar a solubilidade de vários agrotóxicos, poisestes sofrem partição na matéria orgânica. Moléculasaltamente solúveis geralmente apresentam coeficien-tes de adsorção baixos e fatores de bioconcentraçãotambém relativamente baixos. Tendem a ser mais rapi-damente biodegradáveis no solo e na água.

Alguns agrotóxicos são hidrofílicos (>2% desolubilidade em água) enquanto outros são hidrofóbi-cos (solubilidade em água de 1ppb). Podemos relacio-nar a solubilidade com a mobilidade de agrotóxicosno solo. Deve-se sempre considerar a solubilidade emágua em conjunto com outras propriedades do pestici-da e do ambiente.

Volatização

A volatilização é o processo pelo qual um compostopassa à fase de vapor e nesta forma para a atmosfera, apressão de vapor é um índice deste fenômeno. É umimportante mecanismo de perda de produtos.

Quando um produto é incorporado ao solo, aperda por volatilização envolve a dessorção, movimentona superfície do solo e volatilização para a atmosfera.A influência da adsorção na pressão de vapor, depen-de da natureza e da concentração do produto, da umi-dade e das propriedades do solo, como conteúdo dematéria orgânica e de argila. A incorporação de agro-tóxicos no solo diminui a concentração deste na su-perfície de evaporação, diminuindo a volatilização.Ocorre uma volatilização mais rápida em solos úmi-dos do que em solos secos, devido ao aumento da pres-são de vapor, resultado do deslocamento do pesticidada superfície do solo pela água.

Meia Vida de um Produto

A meia vida de um produto é o tempo necessário paraque metade da concentração do princípio ativo desa-pareça e é determinada em condições normais de utili-zação do produto. Para compostos orgânicos, a meiavida pode ser calculada para diferentes tipos de rea-ções como volatilização, fotólise, potencial de lixivia-ção e degradação. Os valores de meia vida, são impor-tantes para o entendimento do potencial de impactono ambiente, causado pelo agrotóxico. Por exemplo,

se um produto altamente tóxico tem meia vida alta, apermanência deste no solo será longa e o impacto des-te no ambiente poderá ser desastroso.

Adsorção - Dessorção

Alguns agrotóxicos são predominantemente adsorvidosna argila, enquanto outros se ligam à matéria orgânica.Vários fatores influenciam a adsorção de agrotóxicosno solo: o tipo e a concentração dos solutos na soluçãodo solo, o tipo e a quantidade de minerais de argila, aquantidade de matéria orgânica no solo, o pH, tempe-ratura e o composto específico envolvido. Além destes,o tipo de cátion que está saturando a argila (Fe, Ca ouH), a capacidade de troca de cátions (CTC) e a superfí-cie específica também são importantes. A maioria dosprincipais processos de adsorção ocorrem na superfíciedas argilas e materiais húmicos, os quais tem grandesuperfície específica por unidade de área. A adsorção nafração orgânica do solo é maior que nas argilas, princi-palmente os compostos hidrofóbicos.

Os ácidos húmicos podem retardar a minerali-zação de alguns compostos, com o aumento da adsor-ção. A adsorção pode reduzir a velocidade e a extensãoda degradação, mas não impede que esta ocorra, mo-léculas adsorvidas podem ser utilizadas como fontesde carbono, energia, nitrogênio, pela microbiota dosolo e os compostos serem transformados lentamente.

Matéria Orgânica

A matéria orgânica presente no solo é importante, comojá dito, na adsorção de agrotóxicos no solo. A adiçãode materiais orgânicos aumenta a atividade microbia-na e conseqüentemente acelera a degradação de mui-tos agrotóxicos, além disso, a fração orgânica do solotem o principal papel no comportamento dos agrotó-xicos no ambiente. Apesar da CTC da matéria orgâni-ca do solo ser relativamente alta na faixa de pH quepredomina nos solos, ela é pH dependente, e devido aisto, a matéria orgânica possui tanto sítios hidrofílicoscomo sítios hidrofóbicos. A competição com a águareduz o papel dos sítios hidrofílicos.

Umidade do Solo

No solo, a atividade da água e a sua disponibilidadedependem das interações entre o seu conteúdo, a tem-peratura e a natureza do ambiente coloidal. A distribui-ção do tamanho dos poros, a estabilidade do agregado ea composição mineralógica influenciam a retenção daágua contra a perda gravitacional e a captação pelosmicrorganismos e raízes de plantas. O baixo conteúdode umidade afeta a degradação dos agrotóxicos atravésda redução da biomassa microbiana e de sua atividade epor reduzir o agrotóxico na solução do solo.

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Áreas onde os solos estão sujeitos a períodosalternados de alagamento e seca, com atividades demicrorganismos anaeróbios e aeróbios, com ciclos deredução e oxidação permitem um ambiente favorávelpara a dissipação de um maior número de agrotóxicosquando comparados a um sistema único.

Potencial de Oxi-Redução

O estado redox de um solo é um importante parâme-tro ambiental no destino dos agrotóxicos. O potencialredox determina a relação entre a atividade dos com-postos oxidados e reduzidos no equilíbrio. Altas ener-gias de ativação podem inibir algumas reações de oxi-redução, mesmo que o potencial redox do sistema in-dique que estas reações possam ocorrer. Na maioriados casos, há necessidade de um catalisador para que areação redox ocorra e, provavelmente as reações sãocatalisadas por microrganismos. Os valores típicos deEh em solos bem aerados estão entre 0,8 a 0,4 V, emsolos moderadamente reduzidos entre 0,4 e 0,1V, solosreduzidos em torno de -0,1V. Os solos altamente redu-zidos tem Eh entre -0,1 e -0,3V e ocorrem em solosinundados.

pH do Solo

A medida do pH é um critério importante como indi-cativo das reações microbianas nos solos, alguns agro-tóxicos, principalmente os organofosforados e carba-matos, são afetados pelo pH do solo, enquanto a per-sistência dos agrotóxicos organoclorados raras vezes éafetada por este parâmetro. Diminuindo o pH do solo,pode aumentar a adsorção devido a grande adsorçãodo conjugado ácido-base. Além dos efeitos diretos namolécula orgânica, o pH pode ter influência indiretana persistência devido ao seu efeito na atividade mi-crobiana e nos processos de adsorção/dessorção.

Temperatura do Solo

A temperatura é uma variável microambiental impor-tante devido ao seu efeito termodinâmico direto nometabolismo celular e na maioria das propriedadesfísicas e químicas do ambiente, incluindo potencialredox e o movimento de difusão dos líquidos e gasesdentro do solo. No solo, afeta processos que contribu-em para a dissipação dos agrotóxicos, como a ativida-de microbiana, a volatilização e os processos de trans-portes. Dentro da faixa de temperatura normalmenteencontrada nos solos agricultáveis, a velocidade dedegradação geralmente aumenta com a temperatura eumidade. As altas temperaturas existentes nos trópi-cos podem favorecer a perda do agrotóxico por meioda volatilização e do aumento da atividade microbiana.

Degradação Química

As transformações químicas que ocorrem no solo sãomediadas pela água, que é o meio de reação, o reagen-te, ou ambos. Devido à sua composição, o solo repre-senta um meio efetivo para a condução de reaçõesquímicas, pois contém oxigênio, água, superfícies ad-sorventes reativas e também os agrotóxicos. Além dis-so, as enzimas extra celulares estão amplamente distri-buídas e estabilizadas no solo e têm um papel impor-tante na degradação de muitos agrotóxicos, represen-tando um ponto de transição entre a degradação quí-mica e a microbiológica intracelular.

A hidrólise é um processo importante na trans-formação dos agrotóxicos. Para a maioria dos com-postos, pode ser a rota dominante de transformaçãono solo onde é freqüente a hidrólise de determinadosgrupos funcionais antes do início da degradação mi-crobiana. No solo, as reações hidrolíticas podem serbiologicamente mediadas ou podem ocorrer via pro-cessos abióticos. As reações hidrolíticas não biológicasno solo são aceleradas devido às reações de catálise e asargilas são responsáveis pela catálise e degradação demuitos agrotóxicos.

A velocidade e os produtos da hidrólise dos or-ganofosforados são influenciados por fatores comoadsorção, temperatura, pH e a força iônica do sistema.Aparentemente os fatores mais importantes são o pHe a adsorção. Os organofosforados sofrem comumen-te hidrólise alcalina, o que resulta na detoxificaçãodestes agrotóxicos. Além disso a susceptibilidade des-tes compostos a hidrólise alcalina está relacionada asua atividade biológica.

Degradação Fotoquímica

A fotólise é primariamente um fenômeno de superfí-cie e não ocorre se o produto for incorporado ao solo.A superfície do solo recebe uma grande quantidade depoluentes que são provenientes de diversas fontes e aaplicação de agrotóxicos resulta numa aplicação diretasobre a superfície do solo, onde ficam sujeitos a trans-formações fotoquímicas, alem das químicas e microbi-ológicas. Nos primeiros 0,5cm da camada do solo, oambiente químico é diferente do solo como um todo,fases sólida, líquida e gasosa estão muito próximas dainterface solo/atmosfera e sujeitas a irradiação solar,onde podem ocorrer reações fotoquímicas. Devem serconsiderados os efeitos da radiação solar na interfacesolo-atmosfera, incluindo modificações na temperatu-ra, umidade do solo, no conteúdo orgânico e na ativi-dade microbiana, e destes na estabilidade dos quími-cos aplicados na superfície do solo.

As reações fotoquímicas resultam da absorçãode fótons de energia radiante pelas moléculas. Estasreações ocorrem mesmo na ausência de catalisadores,

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Contaminação dos Solos em Áreas Agrícolas 83

em temperaturas mais baixas do que as freqüentemen-te requeridas. São induzidas por radiações solares in-tensas, têm um papel importantíssimo na determina-ção da natureza e destino final de moléculas químicasno ambiente.

Metais pesados

A presença de metais pesados, definidos como os ele-mentos químicos com densidade maior que 5g cm3,em fertilizantes e corretivos tem sido objeto de muitosestudos devido ao fato destes elementos permanece-rem no solo por um tempo indefinido, e dessa formacausar perigo à saúde humana ou animal ao entraremna cadeia alimentar. Em geral os metais pesados en-contrados nos fertilizantes e corretivos são: Cádmio(Cd), Cromo (Cr), Cobre (Cu), Níquel (Ni), Chumbo(Pb), Ferro (Fe), Cobalto (Co), Manganês (Mn), Moli-bdênio (Mo), Mercúrio (Hg), Estanho (Sn) e Zinco(Zn). Entre estes, deve-se ressaltar que alguns são es-senciais às plantas (Cu, Fe, Mn, Mo, Ni e Zn), às bac-térias fixadoras de nitrogênio (Co) e aos animais (Co,Cr, Cu, Fe, Mn, Mo e Zn).

A quantidade de metais pesados no solo seminterferência antropogênica depende do teor destes narocha de origem e do grau de intemperização que essematerial sofreu (Tabela 1).

Apesar da possibilidade de mobilização dosmetais no perfil dos solos, normalmente os maioresteores são encontrados nos horizontes superficiais, nosquais também ocorre maior acúmulo de matéria orgâ-

nica. Solos submetidos a cultivos intensivos, por lon-gos períodos de tempo, tendem a apresentar níveis maiselevados de metais pesados, especialmente em regiõesde agricultura baseada em técnicas modernas e semrestrições econômicas, já que as formulações NPK e asdiversas formas de fosfatos são importante fornecedo-res de metais pesados (Tabela 2).

Os metais no solo podem estar na forma solú-vel, trocável, fixada pelos minerais do solo, precipita-da com outros componentes, na biomassa e comple-xada com a matéria orgânica. Embora a solubilidadedos metais pesados dependa da forma como em que seencontra no solo, o pH do solo é uma das característi-cas do solo que mais afeta a solubilidade destes. Amedida que o pH aumenta, a solubilidade do Cd, Cu,Hg, Ni e Zn diminui.

Os metais pesados que se acumulam no solopodem inviabilizar a utilização deste para agricultura,pois podem ser absorvidos pelas plantas, matando-asou entrarem na cadeia alimentar animal e humana. Apresença de metais pesados no solo pode afetar a comu-nidade microbiana dos solos e com isto afetar a funcio-nabilidade do agrossistema, induzindo problemas dedoenças e pragas de plantas. Podem também alterar aciclagem dos nutrientes e afetar o ciclo de elementoscomo o carbono e o nitrogênio, de importância funda-mental para o crescimento vegetal (Tabela 3).

A distribuição e a adsorção dos metais pesadosno solo depende de sua solubilidade e da formação decomplexos solúveis com a matéria orgânica. De ma-neira geral, o Co segue o modelo de distribuição damatéria orgânica e dos minerais de argila. O Cu per-

Tabela 1. Teores de metais naturalmente presentes nos solos no Estado de S. Paulo. Solos: Latossolos Vermelhos, LatossolosVermelho-Amarelos, Nitossolos Vermelhos, Argissolos Vermelhos, Argissolos Vermelho-Amarelos, Gleissolos, Neossolos

Quartzarênicos, Neossolos Flúvicos, Neossolos Litólicos, Organossolos Háplicos, Cambissolos e Espodossolos.

Metal Concentração (mg kg-1 de solo) No de amostras

Mínimo Máximo

Antimônio <25 <25 54Arsênio <0,20 17,60 84Bário 5 223 84Cádmio <0,50 <0,50 54Chumbo <5 23,5 84Cobalto <7,5 65 54Cobre 3 393 84Cromo 2,2 172,5 81Ferro 500 198.500 84Manganês 5 2.330 84Mercúrio <0,02 0,08 84Molibdênio <25 <25 54Níquel 1,55 73,5 84Prata <0,5 15,4 53Vanádio <85 818 54Selênio <0,20 0,56 54Zinco 1,5 200 84

Fonte: Casarini et al. (2001)

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manece por longo período de tempo no solo, uma vezque é fortemente fixado pela matéria orgânica, pelosóxidos de Fe, Al e Mn e pelos minerais de argila, sendoum dos menos móveis entre os metais pesados. O Cdtambém é relativamente imóvel no perfil do solo, as-sim como o Pb que tende a se acumular nas camadassuperficiais. O Fe forma complexos e quelatos com amatéria orgânica, os quais são responsáveis pela migra-ção do elemento em profundidade. Já a distribuiçãodo Cr tem mostrado resultados discrepantes, pois, emalguns casos, sua distribuição é uniforme ao longo doperfil e em outros tem sido observado acúmulo emsuperfície ou em profundidade.

Existem duas teorias sobre os eventos que po-dem ocorrer quando se procede à adição de metais pesa-dos em solos. A primeira é conhecida como teoria doplatô; a segunda como teoria da bomba relógio (Changet al., 1997). A primeira considera que a capacidade deadsorção de um metal é constante enquanto o metalpersistir no solo. Durante esta permanência prevalecemformas do elemento que se caracterizam por não seremtotalmente disponíveis às plantas. A teoria da bombarelógio também considera que a capacidade de adsor-ção de um determinado metal no solo tende a aumen-tar com a adição do mesmo, entretanto, estes incremen-tos na capacidade de adsorção, tenderiam a regredir aosníveis iniciais, seja com a adição de matéria orgânica,

seja com a interrupção das aplicações. Nestas condições,os níveis de metais, em forma disponíveis nos solos,seriam aumentados, colocando em risco o ambiente,podendo inclusive entrar na cadeia alimentar.

Como os metais pesados apresentam maior mo-bilidade em condições ácidas, aumentando a toxidezpara as plantas, a acidez dos solos tropicais intemperiza-dos poderia induzir a um maior potencial de contami-nação. Apesar de existirem vários estudos no Brasil so-bre a toxidez de metais pesados para as plantas, há pou-cos estudos sobre os processos que interferem em suadisponibilidade para as plantas, sua permanência no solo,suas condições de maior ou menor solubilidade e parao estabelecimento de medidas atenuantes.

A CETESB elaborou o “Relatório de estabeleci-mento de valores orientadores para Solos e Águas Sub-terrâneas no Estado de São Paulo”, publicando umalista de valores orientadores para proteção da qualida-de de solos e das águas subterrâneas (Tabela 4).

Nitrato no solo

O nitrogênio (N) é um dos elementos mais abundan-tes na natureza, constituindo cerca de 78% dos gasesda atmosfera. Sua deficiência no solo reduz marcada-mente a produção agrícola em quantidade e qualida-de. O grande reservatório de N é a atmosfera e os doisprincipais processos de transferência de N para o solosão a adubação e a fixação biológica. Devido ao pro-cesso chamado de desnitrificação, uma grande partedo N fixado volta a atmosfera, fazendo com que amesma se torne um depósito praticamente inesgotávelde N.

No Brasil, as formas químicas mais usadas paraadubação nitrogenada são a amoniacal, a nítrica, aamídica (uréia) e a protéica. Na forma amoniacal, ofertilizante perde eficiência em condições alcalinas, coma liberação de amônia por volatilização. Na reação com

Tabela 2. Teores de alguns metais pesados emcorretivos e fertilizantes

Metal Quantidade Quantidademínima (µg g-1) mínima (µg g-1)

Cádmio 2,4 51,9Chumbo 17,9 2817Níquel 8 3300

Fonte: Amaral Sobrinho et al. (1992).

Tabela 3. Teores de metais pesados em solos agrícolas

Metal Faixa de Valor maisvariação freqüente

mg kg-1 de solo

Antimônio 2-10 -Arsênio 0,1-40 6Boro 2-100 10Cádmio 0,01-0,7 0,1Cobre 2-100 20Cobalto 1-40 15Chumbo 2-200 30Cromo 5-1.000 100Ferro 10.000-200.000 40.000Manganês 100-3.000 800Mercúrio 0,01-0,3 0,03Molibdênio <1- 5 1Níquel 5-500 50Zinco 10-300 80

Adaptado de Lake (1987)

Tabela 4. Valores de alerta para metais pesados em solo

Metal Valores de alerta (mg kg-1 de solo)

Antimônio 2,0Arsênio 15Bário 150Cádmio 3Chumbo 100Cobalto 25Cobre 60Cromo 75Mercúrio 0,5Molibdênio 30Níquel 30Prata 2Selênio 5Zinco 300

Fonte: Casarini et al. (2001)

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o solo, forma-se amônio, que pode ser fixado ao solo,imobilizado pelos microrganismos ou nitrificado porbactérias ou ainda absorvido pelas plantas. No proces-so de nitrificação, além da acidificação do solo, o âni-on nitrato pode ser absorvida em grandes quantidadespelas plantas, contaminando-as, ou ser lixiviado, po-dendo, neste caso, contaminar a água subterrânea.

Os fertilizantes na forma nítrica têm poder al-calinizante, são pouco retidos pelo solo, havendo pre-dominância do processo de lixiviação de nitrato. Naforma amídica, há também perdas de N por lixiviação,principalmente se o solo for alcalino. Na adubaçãoorgânica, o nitrogênio se torna disponível às plantassomente após sua mineralização, através de processosdependentes de microrganismos, permitindo que ocorraa liberação lenta do nitrogênio. No entanto a utiliza-ção de matéria orgânica em excesso e por longos pe-ríodos pode causar o acúmulo de nitrato seja no solo,seja na planta.

Outra preocupação com a poluição do ambien-te são a suinocultura e a avicultura, a exemplo da re-gião Sul, que detém 47,1% (16,5 milhões de suínos) dorebanho nacional e responde por mais de 80 % (1,2milhões de toneladas de carne) da produção nacional.As perdas de nutrientes através das fezes e urina, em-bora possam representar uma oportunidade para avalorização da adubação orgânica e redução da deman-da por insumos externos, também representa umaameaça ao ambiente e à saúde humana e animal. Infe-lizmente, a estratégia de armazenagem e distribuiçãode dejetos, comumente utilizadas pelos criadores, nãotem sido totalmente correta, pois revela um distancia-mento da realidade e não atende às exigências.

No Brasil, estudos têm mostrado que os solostropicais altamente intemperizados e que apresentamcargas positivas na sua fração coloidal são capazes dereter o nitrato (Singh & Kanehiro, 1969; Kinjo & Pratt,1971). Como conseqüência desta capacidade de reten-ção, a movimentação do nitrato, ao longo do perfil dosolo pode ser restringida ou retardada (van Raij andCamargo, 1974; Wong et al., 1990, Dynia, 2000).

Considerações Finais

Os poucos estudos relativos à contaminação dos solosem áreas agrícolas no Brasil, reportam-se a avaliaçõesda CETESB realizada para o Estado de São Paulo. Es-ses têm mostrado que os solos avaliados não estão con-taminados pelos agrotóxicos analisados, principalmentedevido à degradação rápida de alguns compostos e àlixiviação ao longo do perfil de solos para aqueles commeia vida longa e K

oc baixo. Apesar de não existirem

dados suficientes para uma síntese sobre a contamina-ção dos solos por agrotóxico para o Brasil e os poucos

resultados existentes serem pontuais, estes não indica-ram, até o presente momento, níveis acima dos reco-mendados pela CETESB e pelas agências de controleambientais européias e norte-americanas.

Quanto aos metais pesados e ao nitrogênio, osdados existentes mostram que, apesar da retenção des-tes pelos solos, as ocorrências de contaminação sãolocalizadas e pontuais.

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Manoel Dornelas de SouzaJosé Flávio Dynia

Wagner Bettiol

8Utilização de ResíduosUrbanos e Industriais

Capítulo

87

Toda e qualquer atividade humana leva à produção deresíduos (lixo urbano e industrial, esgotos etc.) cujadisposição inadequada tem causado contaminaçãoambiental. A crescente percepção do problema pelasociedade tem demandado, do poder público, medi-das que visam a melhoria das condições ambientaiscomprometidas por esses resíduos. Como conseqüên-cia, já se verifica em diversos municípios, principal-mente do Estado de São Paulo, a implantação de esta-ções de tratamento de esgotos e de coleta seletiva delixo. Em alguns estados, há a preocupação com a ela-boração de legislação e normas específicas, visando otratamento adequado e a disposição segura dos resídu-os no ambiente. Entre os resíduos gerados, os que maiscausam preocupação são o lodo de esgoto (tambémdenominado de biossólido) e o lixo urbano, tanto pelogrande volume produzido, como pelos contaminantesque eles podem carrear para o solo, a água e o ar.

Esgotos urbanos que são um dos principaispoluidores dos mananciais hídricos, também podemcausar a contaminação de solos, quando despejadosdiretamente ou via extravasamento de rios e canais deesgotamento. Solos de várzeas, nestas condições, po-dem também ser descaracterizados e/ou contamina-dos por agentes biológicos. Essa situação é ocorre emgrandes centros urbanos, onde se relata ainda o uso deirrigação, especialmente na produção de olerícolas, comáguas superficiais contaminadas por esgotos de natu-reza diversa.

Outra fonte de contaminação, também restritaao entorno dos centros urbanos é o lixo urbano. Emtermos de poluição, apenas os aterros sanitários ofere-cem certa segurança, pois utilizam critérios de enge-nharia e normas operacionais bastante rígidas. Nosdemais tipos de disposição (lixões e aterros controla-dos), além da perda da camada superficial, não há

impermeabilização do solo, o que implica em risco decontaminação do subsolo e das águas subterrâneas porprodutos orgânicos resultantes da decomposição damatéria orgânica contida no lixo.

Com relação à contaminação do solo por resí-duos industriais, existem apenas registros localizados,relacionados geralmente ao entorno de centros urba-nos, como a contaminação de pó-de-broca (RJ), resí-duos radioativos (GO), etc. Relatos sobre impactos dechuva ácida oriunda de emissões industriais e queimade combustíveis fósseis são mais freqüentes sobre asaúde da população e na produção agrícola, sendo oseu efeito na descaracterização do solo ainda poucoestudado.

Lodo de esgoto ou biossólido

Os recursos hídricos, que até a geração passada eramconsiderados fartos, tornaram-se limitantes e compro-metidos, em virtude da alta poluição em algumas regi-ões, necessitando, portanto, de rápida recuperação.Nessas condições, há que se tratar os esgotos urbanosque são os principais poluidores dos mananciais hí-dricos.

O tratamento dos esgotos, que contribui parareduzir a poluição dos rios e melhorar a saúde da po-pulação, resulta na produção de um lodo rico emmatéria orgânica e nutrientes, denominado lodo deesgoto ou biossólido, havendo necessidade de umaadequada disposição final desse resíduo.

A disposição final adequada do lodo é uma eta-pa problemática no processo operacional de uma esta-ção de tratamento de esgoto, pois seu planejamentotem sido negligenciado e apresenta um custo que podealcançar até 50% do orçamento operacional de umsistema de tratamento.

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Utilização de Resíduos Urbanos e Industriais88

As alternativas mais usuais para o aproveita-mento ou disposição final do lodo de esgoto ou bi-ossólido são: disposição em aterro sanitário (aterroexclusivo e co-disposição com resíduos sólidos urba-nos); reuso industrial (produção de agregado leve,fabricação de tijolos e cerâmica e produção de cimen-to); incineração (incineração exclusiva e co-incinera-ção com resíduos sólidos urbanos); conversão em óleocombustível; disposição oceânica; recuperação de so-los (recuperação de áreas degradadas e de mineração)e uso agrícola e florestal (aplicação direta no solo,compostagem, fertilizante e solo sintético). Entre asdiversas alternativas existentes para a disposição fi-nal do lodo de esgoto, aquela para fins agrícola eflorestal se apresenta como uma das mais convenien-tes, pois, como o lodo é rico em matéria orgânica eem macro e micronutrientes para as plantas, é ampla-mente recomendada a sua aplicação como condicio-nador de solo e ou fertilizante. Entretanto, o lodo deesgoto apresenta em sua composição diversos polu-entes como metais pesados e organismos patogêni-cos ao homem, dois atributos que devem ser ponde-rados com muito cuidado.

Caracterísiticas do Lodo de Esgoto ouBiossólido

A composição do esgoto varia em função do local deorigem, ou seja, se de uma área tipicamente residencialou tipicamente industrial, da época do ano e de ou-tros fatores. A Figura 1 apresenta a composição básicade esgoto doméstico, o qual deve ser tratado nas esta-ções de tratamento.

O lodo de esgoto apresenta uma composiçãomuito variável, pois depende da origem e do processo

de tratamento do esgoto. Um lodo de esgoto típicoapresenta em torno de 40% de matéria orgânica, 4%de nitrogênio, 2% de fósforo e os demais macro e mi-cronutrientes. Nas Tabelas 1 e 2, pode-se observar avariação da composição do lodo de esgoto em compa-ração com outros resíduos orgânicos.

Benefícios do Uso Agrícola do Lodo de Esgoto

A utilização do lodo de esgoto em solos agrícolas temcomo principais benefícios, a incorporação dos ma-cronutrientes nitrogênio e fósforo, e dos micronutri-entes zinco, cobre, ferro, manganês e molibdênio.Como os lodos são pobres em potássio, cerca de 0,1%,há necessidade de se adicionar esse elemento ao solo.Pode-se dizer que, normalmente, o lodo de esgoto for-nece ao solo os nutrientes para as culturas. No entan-to, é preciso conhecimento da sua composição, parase calcular as quantidades adequadas a serem incorpo-radas, sem correr o risco de toxicidade às plantas e emcertas situações aos animais e ao homem e tambémnão poluir o ambiente (CETESB, 1999).

Quanto à melhoria das condições físicas do solo,o lodo de esgoto, de maneira semelhante à matériaorgânica, aumenta a retenção de umidade em solosarenosos e melhora a permeabilidade e infiltração nossolos argilosos e por determinado tempo mantém umaboa estrutura e estabilidade dos agregados na superfí-cie. Por outro lado, a capacidade de troca de cátionsdo solo, o teor em sais solúveis e de matéria orgânicapode ser aumentado, o que é extremamente benéficopara a maioria de nossos solos agrícolas que geralmen-te são pouco férteis e têm baixa capacidade de troca decátions.

Embora em quantidade ainda insuficiente, vári-as pesquisas conduzidas no país mostram que o lodo éum produto com perspectivas muito favoráveis ao usono solo para produção de plantas. Para a cultura domilho no cerrado brasileiro, Silva et al. (2000) demons-traram que o lodo de esgoto, gerado pela CAESB emBrasília (DF), apresenta potencial para substituição dosfertilizantes minerais. Melo & Marques (2000) apre-sentam informações sobre o fornecimento de nutrien-tes pelo lodo de esgoto para as seguintes culturas: cana-de-açúcar, milho, sorgo e azevém. Entretanto, existeminformações do aproveitamento do lodo de esgoto paraarroz, aveia, trigo, pastagens, feijão, soja, girassol, cafée pêssego entre outras culturas (Bettiol & Camargo,2000). Também em espécies florestais o lodo vem sen-do utilizado com sucesso. Gonçalves et al. (2000) apre-sentam informações sobre o potencial do uso do lodode esgoto, gerado na ETE de Barueri, SP, para o culti-vo de Eucalyptus.

Figura 1. Composição do esgoto doméstico (Melo & Marques,2000).

ÁGUAS RESIDUÁRIAS

99,99% 0,01%

70% 30%

ÁGUA SÓLIDOS

ORGÂNICO INORGÂNICO

AREIASAIS

METAIS

PROTEÍNASCARBOIDRATOS

LIPÍDEOS

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Utilização de Resíduos Urbanos e Industriais 89

Riscos de Contaminação dos Solos Pelo Uso deLodo de Esgoto

A par do seu potencial como fertilizante, o lodo deesgoto pode conter elementos indesejáveis, tais comometais pesados e organismos patogênicos. Estes últi-mos podem ser eliminados por tratamentos específi-cos relativamente simples, enquanto que os metaispesados são de difícil remoção. Por outro lado, essesmetais, uma vez adicionados ao solo, aí permanecempor tempo indefinido, e por essa razão aplicações se-guidas de lodo podem resultar em acúmulo dos mes-mos, até níveis prejudiciais à fauna e flora do solo e àsplantas, com a possibilidade de entrarem na cadeiaalimentar e prejudicarem a saúde do homem e dosanimais. Deve-se ressaltar que diversos outros materi-ais utilizados como fertilizantes e corretivos, tantoorgânicos, (estercos de animais domésticos), como inor-gânicos (calcários e rochas fosfatadas) também podemconter metais pesados em proporções consideráveis,seu uso continuado oferecendo riscos comparáveis aosdo lodo de esgoto.

Outro risco inerente ao uso do lodo, refere-se àpossibilidade de contaminação de lençóis freáticos ecursos de água com nitrato (NO

3

-), resultante da mine-ralização do nitrogênio orgânico do lodo. Embora sejauma das formas de nitrogênio aproveitada pelas plan-tas, quando em excesso no solo esse ânion tende alixiviar, podendo, ao longo do tempo, atingir o lençolfreático. Mattiazzo e Andrade (2000), analisando os

resultados de diversos estudos com lodos de esgotoem nossas condições edafo-climáticas, apontam queos dados obtidos evidenciam o potencial poluente dolodo de esgoto em termos da contaminação das águascom nitrato, e ressaltam a importância da adequadadefinição das doses e da freqüência de aplicação dessematerial em função do seu teor de nitrogênio.

As rígidas normas de aplicação de lodo de esgo-to adotadas no estado de São Paulo consideram tantoa possibilidade de contaminação do solo com metaispesados e patógenos quanto a contaminação de águassubterrâneas com nitrato, limitando a quantidade apli-cada e a freqüência das aplicações na mesma área con-forme as características do lodo e do solo (CETESB,1999).

Lixo Urbano

Entre todas as conseqüências do explosivo aumentoda população brasileira verificada nas últimas déca-das, a geração de quantidades crescentes de resíduossólidos é uma das mais preocupantes do ponto de vis-ta ambiental. A quantidade de tais resíduos pratica-mente dobrou nos últimos 20 anos, e além desse au-mento quantitativo também aumentou a diversidadedos componentes dos resíduos. Enquanto antigamen-te o lixo produzido pelo homem era constituído basi-camente de restos orgânicos, hoje carrega elementos esubstâncias danosas ao meio ambiente.

Tabela 2. Macronutrientes contidos em alguns resíduos orgânicos(Melo & Marques, 2000)

RESÍDUO N P K Ca Mg S

mg kg-1 base seca

Esterco de curral 17,3 2,0 8,5 5,5 3,9 0,2Cama de poedeira 23,8 23,0 19,1 7,7 ndComposto de lixo 12,3 2,8 8,0 25,1 3,4 ndVinhaça (g L-1) 0,31 0,11 3,6 0,79 0,27 0,92Cama frango de corte 27,7 16,7 25,7 23,7 6,0 ndTorta de filtro 7,0 5,0 3,0 35,0 2,0 1,0Torta de mamona 16,5 8,1 12,0 6,8 6,1 ndEsterco de suino 20,2 nd 12,6 nd Nd ndLodo de esgoto 79,1 10,6 0,63 22,1 2,1 nd

Tabela 1. Teores de micronutrientes em alguns resíduos orgânicos e no lodo de esgoto (Melo & Marques, 2000)

B Cu Fe Mn Mo ZnRESÍDUO

mg kg-1 base seca

Esterco bovino Nd 160 7336 552 16 128Cama de poedeira Nd Nd Nd 240 Nd 210Composto de lixo 1,0 229 23325 304 22 340Torta de mamona Nd 33 2876 77 Nd 156Cama de frango Nd Nd Nd 360 Nd 280Lodo de esgoto 118 98 42224 242 9,2 1868

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Utilização de Resíduos Urbanos e Industriais90

O lixo urbano, atualmente apresenta os seguin-tes componentes: (a) materiais orgânicos (especialmenterestos alimentares), (b) materiais inertes recicláveis(materiais recuperáveis para processamento, como la-tas de alumínio e de aço, vidros, papéis, garrafas eembalagens de plástico em geral, embalagens de agro-tóxicos, etc.) e, c) rejeitos inservíveis (materiais inapro-veitáveis das residências, construção civil e fábricas).Existem, ainda, alguns tipos de resíduos tanto urbanoquanto industriais, que apresentam características pe-culiares e devem ser considerados à parte: trata-se demateriais e substâncias perigosas, como lixo de hospi-tal, rejeitos nucleares, amianto, metais pesados, pilhase baterias, embalagens contaminadas, etc.

A Tabela 3. mostra uma estimativa da composi-ção média do lixo urbano produzido no Brasil

Do lixo produzido, cerca de 13% é depositadoem aterros controlados, 10% em aterros sanitários, 0,9%é submetido a compostagem e 0,1% é incinerado. Orestante (76%) é depositado a céu aberto, nos chama-dos “lixões”, implicando em grave desconforto socialcausado pelo chorume, mau cheiro, e infestação deinsetos e animais vetores de doenças, alem de proble-mas sociais e de saúde pública devido ao grande nú-mero de pessoas que vivem dentro dos lixões.

Em termos de poluição ambiental apenas osaterros sanitários oferecem certa segurança, devido aofato de sua instalação e funcionamento se basearemem critérios de engenharia e normas operacionaisbastante rígidas. Ao contrário dos aterros sanitários,nos demais tipos de disposição (lixões e aterros con-trolados), não há impermeabilização do solo, o queimplica em risco de contaminação das águas subterrâ-neas pelo chorume gerado a partir da decomposiçãoda matéria orgânica contida no lixo.

A reciclagem dos materiais aproveitáveis do lixo,uma atividade que além de gerar lucro e economizarenergia poderia amenizar o problema, ainda esbarraem obstáculos culturais e estruturais. A falta de cons-cientização da população e até dos agentes diretamen-te envolvidos, e a lentidão dos licenciamentos ambi-entais (por falta de um protocolo para projetos demínimos impactos), geram resistência ao sistema e atra-sam a sua implantação. Inclusive, não se fomenta acriação de pólos de reciclagem, onde, certamente, os

custos seriam diminuídos pela escala, e haveria a pos-sibilidade de adoção de tecnologias modernas de recu-peração e beneficiamento do material reciclável. A eco-nomia possível pela reciclagem do lixo no ano de 1996no Brasil pode ser estimada em R$ 5,8 bilhões. Destetotal foi obtida economia de R$ 1,2 bilhão, tendo sidoperdidos, pela não reciclagem, R$ 4,6 bilhões.

O aproveitamento da parte orgânica do lixo parafazer compostagem para fins agrícolas se constitui emoutra alternativa de uso desse resíduo. A técnica dacompostagem foi desenvolvida com a finalidade de seobter mais rapidamente e em melhores condições aestabilização da matéria orgânica. Na natureza, essaestabilização ou humificação dos restos orgânicos nosolo se dá em prazo indeterminado, ocorrendo de acor-do com as condições em que ela se encontra. No pro-cesso de compostagem os restos são amontoados, pre-ferencialmente revolvidos e se decompõem em menortempo, produzindo um melhor adubo orgânico.

Como resultado da compostagem, são geradosdois importantes componentes: os sais minerais, quecontém nutrientes para as raízes das plantas, e o hú-mus, considerado condicionador e melhorador daspropriedades físicas, físico-químicas e biológicas dosolo.

Considerações Finais

Além do estimulo à reciclagem dos resíduos, há pre-mente necessidade de reduzir a sua produção. Entre-tanto, tanto para a reciclagem quanto para a reduçãoda produção de resíduos existe a necessidade de ampli-ar a educação ambiental e cobrar das entidades públi-cas e privadas que se responsabilizem pelo resíduo ge-rado. Outro aspecto importante é intensificar a fiscali-zação quanto a disposição de resíduos, sem a qual apoluição ambiental será ampliada.

No tocante ao lodo de esgoto, quando suas ca-racterísticas estiverem dentro das normas estabelecidas,pode ser aplicado na agricultura com a finalidade dereciclagem de nutrientes e de matéria orgânica. A suadisposição agrícola transforma o problema dos esgo-tos em uma alternativa de fertilização do solo. Entre-tanto, há necessidade de se monitorar os solos em rela-ção ao nitrato, metais pesados e patógenos.

Referências Literárias

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Tabela 3. Composição do lixo sólido urbano no Brasil(Fonte: AENDA, 2001).

Lixo Quantidade Participação (T/ano) (%)

Material Orgânico 23.725.000 50Rejeitos inservíveis 18.031.000 38Material Reciclável 5.694.000 12Total 47.450.000 100

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Utilização de Resíduos Urbanos e Industriais 91

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Carlos Alberto FloresCelso Vainer Manzatto

Iedo Bezerra SáLuciano José de Oliveira Accioly

Tatiana Deane de Abreu SáFlávio Hugo Barreto Batista da Silva

Thomaz Correia e Castro da Silva

9Outras Formas deDegradação do Solo

Capítulo

93

Desertificação

A Convenção das Nações Unidas para o Combate àDesertificação (United Nations, 2001) conceituou adesertificação como o “processo de degradação das ter-ras das regiões áridas, semi-áridas e sub-úmidas secas,resultante de diferentes fatores, entre eles as variaçõesclimáticas e as atividades humanas”. Estão ligados aessa conceituação, as degradações do solo, da fauna,da flora e dos recursos hídricos.

Considerando que as regiões de clima árido esemi-árido constituem os ambientes mais suceptíveis àdegradação, no Brasil os processos de desertificaçãoafetam principalmente a região Nordeste. Apesar dis-so, outras áreas, como as areias de Alegrete (localizadasno sudoeste do Estado do Rio Grande do Sul) têmsido mencionadas como áreas sob processo de deserti-ficação. No entanto, do ponto de vista da dimensãoda área impactada e das conseqüências sociais envolvi-das a desertificação é, nitidamente, um problema dosemi-árido brasileiro, sendo o caso de Alegrete consi-derado como um processo de arenização.

No Brasil, os relatos sobre desertificação se in-tensificaram a partir das décadas de 70 e 80 (Rodri-gues, 1997). Durante a década de 90, a desertificaçãopassou de tema regional para ganhar relevência nacio-nal por força da Agenda 21 (que trata do assunto nocapítulo 12 – Manejo de Ecossistemas Frágeis: A lutacontra a desertificação e a seca) e da Convenção dasNações Unidas para o Combate da Desertificação(UNCCD) da qual o Brasil é signatário desde de 1994.

A desertificação é um processo complexo cujaavaliação envolve variáveis de natureza física, biológi-ca e socioeconômica. Neste contexto, o solo é uma dasvariáveis complexas do meio físico que apresenta pro-priedades que podem ser utilizadas como indicadores

do processo da desertificação (e.g., profundidade efeti-va, teor de matéria orgânica, salinidade, etc). Destaforma, a multidisciplinariedade e a integração de da-dos provenientes de inúmeras variáveis é um processoquase obrigatório nos estudos de desertificação e, comotal, é possível a abordagem do tema, não apenas neste,mas também em outros capítulos deste documento.

Dada a característica multidisciplinar da deser-tificação os trabalhos sobre o tema, normalmente, uti-lizam um conjunto de indicadores da mais variadanatureza. As diferenças no número e tipo de indicado-res, e também nos critérios de classificação das áreaspotencialmente susceptíveis à desertificação, têm leva-do à produção de mapas que, como era de ser esperar,diferem na área e/ou no grau de ocorrência da deserti-ficação. Desta forma, quando se considera as classesno intervalo entre muito grave e moderada, a desertifi-cação no Nordeste do Brasil pode atingir uma áreaque varia entre 182.000 e 665.500km2, segundo Sá etal. (1994) e Ferreira et al. (1994), respectivamente.

Para se restringir ao tema deste livro, a desertifi-cação passa a ser tratada com ênfase na degradaçãodos solos e suas relações com o uso e a cobertura vege-tal. O uso e o manejo inadequado dos solos são apon-tados como as principais causas de origem antrópicarelacionadas com a desertificação. No Nordeste doBrasil, várias formas de uso podem acarretar em dife-rentes processos que resultam em desertificação. Oextrativismo tanto vegetal (principalmente voltado paraobtenção de lenha para fins energéticos) quanto mine-ral, assim como o sobrepastoreio das pastagens nativasou cultivadas e o uso agrícola por culturas que ex-põem os solos aos agentes da erosão são as principaiscausas dos processos de desertificação que atingem asáreas não sujeitas à irrigação. Quando a atividade é aagricultura irrigada, a salinização dos solos é o princi-

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Outras Formas de Degradação do Solo94

pal agente do processo de desertificação. A salinizaçãodos solos, no entanto, será tratada em outro item des-se capítulo.

Um levantamento da literatura produzida noBrasil sobre o tema até meados da década de 90 (Ro-drigues, 1997) evidenciou que entre os indicadores uti-lizados para avaliar a desertificação, a erosão dos solosé o que tem sido utilizada com maior freqüência.

Um dos trabalhos pioneiros de identificação deáreas em processo avançado de desertificação foi reali-zado por Vasconcelos Sobrinho (1983). Com base nainterpretação visual de imagens do satélite Landsat de1976 e 1978, esse autor mapeou, na escala de 1:500.000,oito núcleos de desertificação na região Semi-Árida dePernambuco, ressaltando a destruição dos solos dosemi-árido nordestino como o mais grave dos efeitosda desertificação.

Na escala regional, o primeiro trabalho de clas-sificação do Semi-Árido em termos de susceptibilida-de à desertificação, que considerou primordialmenteindicadores associados aos solos foi realizado pelaEmbrapa através do Centro de Pesquisa Agropecuáriado Trópico Semi-Árido (Embrapa Semi-Árido; Richéet al., 1994). Embora este trabalho tenha consideradoa classificação de susceptibilidade à desertificação, ape-nas para as áreas do semi-árido com precipitação infe-rior a 500mm, ele representa um grande avanço nosaspectos físicos da desertificação não apenas por usarclasses de solos, relevo e susceptibilidade à erosão, mastambém, por utilizar a espacialização quanto à suscep-tibilidade à desertificação segundo as unidades geoam-bientais incluídas no Zoneamento Agroecológico doNordeste (ZANE) (Silva et al., 1993; Embrapa Solos,1995). Pelo fato deste trabalho não incluir as demaisáreas da região Nordeste com precipitação superior a500mm, mas ainda contempladas dentro do conceitode desertificação, é bem provável, que o mesmo tenha

subestimado o valor real da área susceptível à desertifi-cação. Neste trabalho, Riché et al. (1994) apresenta-ram os estados da Paraíba e do Ceará como os maisafetados pelos processos de desertificação. À época, estesestados possuíam, respectivamente, 37 e 29% das suasterras em processo de desertificação severo (Tabela 01).

As classes de risco à desertificação na região Nor-deste foram também determinadas por Riché et al.(1994) para indicadores associados às características dossolos (classe do solo e sensibilidade à erosão) uso etempo de ocupação, relevo e precipitação média anu-al. Por esses indicadores, verifica-se que cerca de 16%do Semi-Árido nordestino apresenta processo de de-sertificação entre severo e acentuado (Tabela 02).

Na elaboração do seu mapa Riché et al. (1994),consideraram os Luvissolos e Neossolos Líticos comoos mais suscetíveis aos processos de desertificação, sen-do a localização geográfica das áreas com problemasde desertificação apresentada, em forma esquemática,na Figura 1.

Analisando os dados do Zoneamento Agroeco-lógico do Nordeste, elaborado pela (Embrapa Solos,2001), concluiu-se que aproximadamente 1/3 da regiãosemi-árida, ou cerca de 353.870km2 é constituída porterras com muito baixa a baixa oferta ambiental (solosrasos, pedregosos e/ou salinos em clima árido), queestão atualmente sendo utilizados com pecuária emregime extensivo, agricultura de subsistência e algo-dão, em manchas de solos de menor limitação. A con-jugação desta exploração, com domínio de pequenas emédias propriedades e a ocorrência comum de valoresde densidade da ordem de 15-20hab/km2, exercem umaforte pressão antrópica sobre os solos e vegetação, su-gerindo portanto que as terras sob risco de desertifica-ção devem ser superiores às estimadas anteriormente.De fato, algumas dessas áreas já se encontram em pro-cesso avançado de desertificação, sendo recentemente

Fonte: Zoneamento das áreas em processo de degradação ambiental no Trópico Semi-Árido do Brasil, Embrapa, 1995.

Tabela 1. Área em processo de desertificação nos estados do Nordeste (ha, %).

Sergipe

271.20012,29

-

-

-

271.20012,29

Rio Grandedo Norte

896.20016,92

141.1002,66

265.8005,01

602.10011,35

1.905.20035,94

Piauí

588.7002,34

54.0000,21

792.3003,17

61.1000,24

1.496.1005,96

Pernam-buco

2.629.80016,58

721.1007,34

154.4001,57

-

2.505.30025,49

Paraíba

2.106.10037,36

692.50012,28

298.5005,29

429.3008,62

3.526.40063,55

Ceará

4.253.00028,98

885.6006,03

509.9003,47

2.060.00014,03

7.708.50052,51

Bahia

2.031.3003,63

667.3001,19

163.2000,29

-

2.861.8005,11

Alagoas

90.4003,26

-

-

-

90.4003,26

Solos

Luvissolos

Neossolos

Argissolos eNeossolos

Planossolos

Níveis deDegradação

Severo

Acentuado

Moderado

Baixo

Total

Page 107: Uso Agricola Solos Brasileiro s

Outras Formas de Degradação do Solo 95

Tabela 2. Escala de desertificação e respectivas áreas na Região Nordeste do Brasil.

NE(%)

7,15

1,90

1,89

1,89

12,25

TSA(%)

12,80

3,40

3,40

2,35

21,95

Área maisseca do TSA

(%)

18,42

10,23

10,21

7,07

65,93

Tempo deocupação

Longo (algodão)

Recente cultivo desubsistência

Longo cultivocomercial

Médio pastagem ecultivo desubsistência

Sensibilidadeà erosão

Forte

Muito forte

Moderado

Moderado

Relevo

Suave onduladoOndulado

Ondulado, ForteOndulado eMontanhoso

Ondulado e ForteOndulado

Plano e SuaveOndulado

Tipos eassociações desolos

Luvissolos

Neossolos Líticos

Argissolos eNeossolosCambicos

Planossolos

Níveis dedegradaçãoambiental

Severo

Acentuado

Moderado

Baixo

20.364.900haTOTAL

Figura 1. Mapa da Desertificação no Brasil (Adaptado de Riché et al.,1994)1

1O mapa evidencia, também, a delimitação da região Nordeste incluindo a parte semi-árida do Estado de Minas Gerais e os principaiscursos d’água da região.

Page 108: Uso Agricola Solos Brasileiro s

Outras Formas de Degradação do Solo96

selecionados quatro núcleos, nos municípios de Gilbués(PI), Irauçuba (CE), Seridó (RN/PB) e Cabrobó (PE),onde os efeitos estão concentrados em pequena e deli-mitada parte do território (cerca de 15.000km2) porémcom danos de profunda gravidade.

O diagnóstico básico Plano Nacional de Com-bate à Desertificação em elaboração pelo MMA queconta, inclusive com mapas de susceptibilidade à de-sertificação, indica perdas da ordem de US$ 300 mi-lhões/ano devido aos processos de desertificação noBrasil. O diagnóstico indicou uma área total de1.548.672km2 com algum processo de degradação, sen-do que 98.595km2 se encontram na forma muito gra-ve. Estimam-se custos da ordem de US$ 2 bilhões aserem gastos em 20 anos somente para a recuperaçãodas áreas mais gravemente afetadas.

Estudos recentes realizados por Accioly et al.(2001) no núcleo de desertificação do Seridó relacionoua classe de uso e a biomassa da caatinga com a classe desolo (Tabelas 3 e 4). As lavouras e as pastagens naturaiscom gramíneas ocuparam cerca de 38 % das áreas dePlanossolos e Neossolos Regolíticos e menos de 20 %das áreas de Luvissolos e Neossolos Lítícos.

Esses resultados mostraram que o enfoque sobreas causas dos processos de desertificação que estão liga-das a fatores físicos e biológicos e a conseqüente seleçãode indicadores devem considerar as relações entre classede solo e o uso atual, dando ênfase, também, a produti-vidade das culturas e das pastagens quando se tratar de

Neossolos Regolíticos e Planossolos e, a produtividadede biomassa da caatinga, quando forem consideradosos solos Neossolos Liticos e os Luvissolos.

A produtividade de biomassa da caatinga, noentanto, apresentou diferenças consideráveis quandoanalisada para as principais classes de solo que ocor-rem no núcleo de desertificação do Seridó (Tabela 4).Embora as áreas ocupadas com caatinga sejam seme-lhantes para os Luvissolos e para os Neossolos Líticos(Tabela 3), cerca de 50 % da produtividade da biomas-sa de caatinga nos Neossolos Líticos esteve acima de10 Mg/ha, enquanto nos Luvissolos o percentual nes-sa faixa foi de apenas 4% (Tabela 4). Como conseqüên-cia, os Luvissolos, em geral, apresentam menor cober-tura vegetal e, portanto, estão muito mais sujeitos aosefeitos danosos dos processos de desertificação do queos Neossolos Líticos do núcleo de desertificação doSeridó. A principal razão para uma maior coberturavegetal nos Neossolos Líticos dessa área está na difi-culdade de acesso inerente a este tipo de solo (declivi-dades acentuadas em relevo movimentado) para a ex-ploração de lenha. Por se situarem na paisagem numaposição de relativamente fácil acesso, a exploração dacaatinga para lenha é facilitada nas áreas de ocorrênciados demais tipos de solo.

Esses resultados mostraram que o enfoque so-bre as causas dos processos de desertificação que estãoligadas a fatores físicos e biológicos e a conseqüenteseleção de indicadores deve considerar as relações entre

Classe de Solo

Luvissolos Planossolos Neossolos Regolíticos Neossolos Líticos

Caatinga 69 55 53 74

Lavouras 12 21 20 2

Pastagens 9 17 17 5

Outras Classes 1 10 7 10 191Estão contidos em outras classes, píxels não classificados e píxels classificados em uma das seguintes classes: área urbana, açudes e solo exposto (esta últimaapenas para o caso de Neossolos Líticos).

Tabela 3. Uso atual em percentagem por unidade de solos da área piloto com 75.000ha doNúcleo de Desertificação do Seridó, RN.

Uso Atual (%)

Classe de Solo

Luvissolos Planossolos Neossolos Regolíticos Neossolos Líticos

0.1 a 5.0 21.5 11.0 7.5 2.5

5.0 a 10.0 43.5 38.0 43.0 14.5

10.0 a 15.0 4.0 5.5 3.0 25.0

15.0 a 20.0 0.2 0.3 0.1 30.5

Maior que 20.0 0.0 0.0 0.0 2.01Biomassa do estrato arbóreo/arbustivo para plantas com diâmetro à altura do peito (DAP) maior ou igual a 1cm.

Tabela 4. Biomaasa da Caatinga por unidade de solo da área Piloto de Desertificação do Seridó, RN.

Biomassa 1 (Mg/ha)

Page 109: Uso Agricola Solos Brasileiro s

Outras Formas de Degradação do Solo 97

classe de solo e o uso atual, dando ênfase, também, aprodutividade das culturas e das pastagens quando setratar de Neossolos Regolíticos e Planossolos e a produ-tividade de biomassa da caatinga quando forem consi-derados os solos Neossolos Liticos e os Luvissolos.

Arenização

Arenização é aqui entendida como o processo de retra-balhamento de depósitos arenosos pouco ou não con-solidados, que acarreta dificuldades para a fixação dacobertura vegetal, devido à intensa mobilidade dos se-dimentos pela ação das águas e dos ventos. É a degra-dação, relacionada ao clima úmido, em que a diminui-ção do potencial biológico não resulta em condiçõesde tipo deserto. O Rio Grande do Sul, que possui pre-cipitação média de 1.400mm, apresenta algumas áreasem fase de arenização.

A região de ocorrência dos areais está localizadano sudoeste do Rio Grande do Sul, a partir do meridi-ano de 54° em direção oeste até a fronteira com a Ar-gentina e a República Oriental do Uruguai. A degra-dação do solo nesta área apresenta-se sob a forma deareais. Estes ocupam uma larga faixa, onde se locali-zam os municípios de Alegrete, Cacequi, Itaqui, Ma-çambará, Manoel Viana, Quaraí, Rosário do Sul, SãoFrancisco de Assis e Unistalda (Tabela 5).

A área de ocorrência dos areais (Figura 2) temcomo substrato o arenito da Formação Botucatu. So-bre esta formação Mesozóica, assentam-se depósitosarenosos não consolidados, originários de deposiçãohídrica e eólica durante o Pleistoceno e o Holoceno.São nestes depósitos que se originam os areais. A for-mação dos areais, interpretada a partir de estudos geo-morfológicos, associada à dinâmica hídrica e eólica,indica que os areais resultam, inicialmente, de proces-sos hídricos. Estes, relacionados com uma topografia

favorável, permitem, numa primeira fase, a formaçãode ravinas e voçorocas. Na continuidade do processo,desenvolve-se por erosão lateral e regressiva, conseqüen-temente, alargando suas bordas.

Para o conjunto da região, de acordo com omapeamento feito com imagens de satélite, os areaisrepresentam algo em torna de 3,67km2 (3.663,00ha). Aesse total são acrescidos 1.600ha de áreas denominadasfocos de arenização. As áreas degradadas, do ponto devista da arenização, representam 0,26% da área totalda região Sudoeste.

Por outro lado, à jusante destas ravinas e voço-rocas, em decorrência dos processos de transporte desedimentos pela água durante episódios de chuvas tor-renciais, formam-se depósitos arenosos em forma deleque. Com o tempo, esses leques agrupam-se e, em

Município Área do município (km2) Área de areais (km2) % areais por Município

Alegrete 7.891,92 13,21 0,1675Cacequi 2.353,52 0,14 0,0061Itaqui 3.291,99 0,18 0,0056Maçambará 1.668,83 4,62 0,2773Manuel Viana 1.677,75 5,48 0,3270Quaraí 3.255,60 2,99 0,0920Rosário do Sul 4.404,61 1,12 0,0255São Borja 3.525,65 2,77 0,0435S. Fsco. De Assis 2.171,14 5,88 0,2712Unistalda 641,47 0,24 0,0380

TOTAL 30.872,48 3,67 0,0119

Tabela 5. Extensão e percentagem de ocorrência de Areais por área Municipal naRegião Sudeste do Estado do Rio Grande do Sul.

Figura 2. Área de ocorrência de areais no Sudoeste do Estadodo Rio Grande do Sul, Brasil.

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Outras Formas de Degradação do Solo98

conjunto, originam um areal. O vento que atua sobreessas areias, em todas as direções, permite a ampliaçãodesse processo. Os areais ocorrem sobre unidades lito-lógicas frágeis (depósitos arenosos) em áreas com bai-xas altitudes e declividades. São comuns nas médiascolinas e nas rampas de contato com escarpas de mor-ros testemunhos. Sobre outro aspecto, a formação deravinas e de voçorocas, processos associados à origemdos areais, podem também ser resultados do pisoteiodo gado e da maquinaria pesada na atividade agrícola,originando sulcos e desencadeando condições de esco-amento concentrado.

Salinização

O termo salinidade ou caráter salino do solo refere-se à presença de sais mais solúveis em água fria que osulfato de cálcio (gesso), em quantidade que interfereno desenvolvimento da maioria dos vegetais, que seexpressa em uma condutividade do solo em algumaépoca do ano entre 4 e 7dS/m (acima deste valor,considera-se como sálico – adaptado de EmbrapaSolos, 1999). Esta característica pode-se ser natural,como resultado dos fatores de formação e dos pro-cessos de gênese dos solos, como por exemplo, ossolos salinos que se observam ao longo da costa bra-sileira e aluviões e várzeas do Nordeste, ou oriundada ação antrópica, como resultado das práticas dedrenagem e irrigação de solos localizados em condi-ções ambientais que propiciem o acumulo de sais nosolo (climas áridos e semi-áridos e/ou drenagem dosolo deficiente).

Em termos agrícolas, a salinidade se refere àexistência de níveis de sais no solo que possam preju-dicar de maneira economicamente significativa, o ren-dimento das plantas cultivadas. A tolerância ou sen-sibilidade das plantas à presença de sais no solo éuma característica genética própria de cada tipo deplanta, que determina que umas tolerem concentra-ções elevadas como a cevada e o algodão, enquantooutras, como o feijão e a cenoura, sejam bastante sen-síveis, mesmo a baixos teores. Esta característica dasculturas e vegetais de forma geral, esta associada àlimitação que a salinidade impõe ao desenvolvimen-to do sistema radicular das plantas, restringindo seucrescimento e absorção de água, face ao elevado po-tencial osmótico do meio (seca fisiológica) e ao des-balanceamento geral entre os nutrientes assimiladospelas plantas, especialmente quando o sódio está pre-sente.

Assim o processo de salinização do solo podeocorrer, de uma maneira geral, em solos situados emregiões de baixas precipitações pluviais, alto déficithídrico e que tenham deficiências naturais de drena-

gem interna. No Brasil, levando-se em consideraçãotão somente as precipitações pluviais e a distribuiçãodestas ao longo do ano, pode-se separar regiões em:Semi-áridas - com período de seca igual ou superior a6 meses por ano e precipitações médias anuais meno-res que 800mm; nesta classe situa-se 50% da área doNordeste brasileiro. Semi úmidas - período de 4 a 5meses por ano. Úmidas - período de 1 a 3 meses porano. Muito úmida - sem seca. Quanto menor o valordas precipitações médias anuais de uma região e maiora evapotranspiração potencial, maior é a possibilidadede salinização de seus solos quando irrigados, poiscomo resultado do maior déficit hídrico, menor é apossibilidade da lixiviação dos sais para horizontes maisprofundos do solo.

Nestas condições, a prática da agricultura irri-gada é considerada como uma das principais causas dasalinização dos solos. Assim, ao se irrigar e cultivar osolo, os sais presentes na água de irrigação e adubospodem se acumular nos horizontes superficiais, espe-cialmente naqueles com drenagem interna deficienteou nula, podendo se tornar salinos caso não sejamdrenados artificialmente ou mesmo desérticos nos ca-sos mais graves. O acúmulo progressivo de sais no solo,ao exceder a capacidade natural das argilas em adsor-ver sais (CTC – Capacidade de Troca Catiônica), pro-movem a dispersão destas argilas, um processo eletro-químico que leva a perda progressiva da drenagemnatural dos solos, que retroalimenta o processo de sa-linização.

Esta é uma situação que, em maior ou menorgrau, vem atualmente ocorrendo nas regiões semi-ári-das do Nordeste brasileiro, o que resultou numa re-cente parceria entre a Codevasf - Companhia de De-senvolvimento do Vale do Rio São Francisco e Parna-íba e a Embrapa Solos, visando o desenvolvimento doSistema Brasileiro de Classificação de Terras para Irri-gação, como forma de estabelecer parâmetros para airrigação e drenagem mais apropriadas para os solosbrasileiros.

Estima-se que no Brasil, os solos com problemasde salinidade sejam da ordem de 2% do território naci-onal (Embrapa Solos – Mapa de Solos do Brasil), sendosua localização geográfica esquematicamente apresenta-da na Figura 3. A correção e/ou recuperação destas ter-ras é tecnicamente possível através de práticas como adrenagem subterrânea, uso de condicionadores quími-cos (p.e. gesso) e aplicação de elevada quantidade deágua para a retirada do excesso de sais do perfil do solo.Porém os altos custos financeiros associados e a dispo-nibilidade de terras para uso agrícola no País, pratica-mente inviabilizam a recuperação destas terras.

Para o diagnostico e monitoramento da salini-zação, os solos são classificados quanto à salinidadeem função da Condutividade Elétrica do extrato da

Page 111: Uso Agricola Solos Brasileiro s

Outras Formas de Degradação do Solo 99

saturação (CE), da percentagem de sódio trocável (PST)e do pH (Tabela 6).

As Tabelas de 7 a 13, apresentadas a seguir, des-crevem as áreas atingidas por processos de salinizaçãonos diversos Estados da região Nordeste, evidencian-do os principais perímetros que praticam a agricultu-ra irrigada. Na Tabela 8, ao final, tem-se um quadroresumo da situação da salinização natural dos solosem cada um dos Estados da região Nordeste, nos dife-rentes tipos de solos.

Com relação à bacia do rio São Francisco emsua porção semi-árida, localizada nas regiões do Mé-

dio, Sub-Médio e parte do Baixo, apresenta risco desalinização, em graus variando de muito alto a médio.No Alto, o risco de salinização vai de nulo a baixo, emrazão dos solos serem mais profundos, bem drenadose a precipitação pluviométrica ser mais elevada.

A prevenção da degradação do solo, de modogeral, está relacionada com: práticas conservacionis-tas, menor movimentação possível do solo nas condi-ções adequadas de umidade, de uso de equipamentosagrícolas leves, de sistemas de irrigação apropriado ànatureza do solo, de doses e de freqüências de irriga-ção, águas de baixo teor salino, pousio, uso de plantas

Solo CE (mmhos/cm) PST (%) pH

Normal < 4 < 13 < 8,5Salino > 4 < 13 < 8,5Sódico < 4 > 13 >= 8,5Salino/Sódio > 4 > 13 < 8,5

Fonte: Oliveira (1997).

Tabela 6. Classificação dos solos quanto a salinidade.

Figura 3. Localização esquemática dos solos com problemas de salinidade no Brasil.Fonte: Embrapa Solos - http://www.cnps.embrapa.br/pesquisa/temas/temas.html.

O mapa evidencia, também, a delimitação da região Nordeste incluindo a parte semi-árida do Estado de Minas Gerais e os principaiscursos d’água da região.

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Outras Formas de Degradação do Solo100

Fonte: Relatório do DNOCS, 1999.

Tabela 7. Dados referentes às áreas salinizadas do Piauí.

Local

Perímetro irrigado de Lagoasdo Piauí

Perímetro irrigado doCaldeirão

Perímetro irrigado Fidalgo

Total

Município

Luzilândia

Piripiri

Simplício Mendes

Latitude

Entre 3o 37‘ e3o 26‘S

Entre 4o 14‘e4o 17‘S

7o 51‘S

Longitude

Entre 42o 37‘e42o 10‘W

Entre 41o 47‘e42o 9‘W

41o 54‘W

Salinizada

45

61

25

131

Com tendênciaà salinização

15

67

-

82

Tabela 8. Áreas salinizadas nos perímetros irrigados doCeará (2A DR/CE).

Local Área salinizada % da área (ha) total

Morada Nova 274 7,6

Quixadinha 3 2,7

Ico/Lima Campos 122 4,5

Curu-Paraipaba — —

Curu-recuperação 66 6,2

Várzea de boi 30 9,2

Forquilha 20 9,2

Ayres de Souza 32 5,2

Jaguaruana 15 7,5

Ema 2 4,8

Fonte: DNOCS (1991). Situação de 30/04/1991.

Tabela 9. Áreas salinizadas nos perímetrosirrigados do Rio Grande do Norte

Local Área salinizada % da área (ha) total

Cruzeta 9 6,5Itans-Sabugi 25 5,1Pau dos ferros (2) 27 4,6

Fonte: DNOCS (1991). Situação de 30/04/1991

Tabela 10. Áreas salinizadas nos perímetrosirrigados da Paraíba

Local Área salinizada % da área (ha) total

Sumé 82 30,1Eng. Arcoverde 22 7,8São Gonçalo 523 22,0

Fonte: DNOCS (1991). Situação de 30/04/1991

TABELA 11. Áreas salinizadas nos perímetros irrigados dePernambuco

Local Área salinizada % da área (ha) total

Boa Vista 2 2,3Custódia 22 8,4Moxotó 328 8,2Cahoeira II 19 7,9

Fonte: DNOCS (1991). Situação de 30/04/1991

Tabela 12. Áreas salinizadas nos perímetrosirrigados da Bahia

Local Área salinizada % da área (ha) total

Vaza Barris 309 29,4Jacurici 30 23,1Brumado — —

Fonte: DNOCS (1991). Situação de 30/04/1991

Tabela 13. Áreas de solos (em km2) afetados por salinização nos estados do Nordeste.

Estados

SolosCE RN PB PE AL SE BA Total

Planossolo Nátrico 12.708 3.690 944 5.165 3.370 2.098 30.516 58.491Planossolo Nátrico Sálicos 8.436 4.064 2.769 2.654 393 1.013 5.161 24.490Planossolo Háplico Sálico 450 837 - - - - - 1.287Planossolo Hidromórfico Sálico 18 - - - - - - 18Outros 1.645 - - - - - - 1.645

Total 23.257 8.951 3.713 7.819 3.763 3.111 35.677 85.931

% 27 10 4,3 9,1 4,4 3,6 41,5 100

Fonte: Adaptado de Pereira (1983)

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Outras Formas de Degradação do Solo 101

de cobertura, como leguminosas, e rotação de cultu-ras. Do ponto de vista de alternativas químicas pararecuperação de solos degradados por salinização, assi-nala-se o uso do gesso, assim como o enxofre elemen-tar, ambos têm-se mostrado bons corretivos para re-moção de sais. Contudo, as práticas mais comuns derecuperação estão além das condições financeiras damaioria dos agricultores. Por isso, plantas halófitas,tolerantes a sais em excesso na solução do solo, comodo gênero Atriplex - representam uma alternativa po-tencial para o aumento da produção agrícola e paramelhoramento do solo, além da possibilidade de utili-zação como forragem de alta qualidade pelo seu altovalor protéico e produção de lenha e carvão.

Descaracterização de Áreas Úmidas

As áreas úmidas no Brasil somam cerca de 44,7 mi-lhões de ha e ocupam cerca de 5% do território. Tam-bém conhecidos como solos de várzeas, são constituí-dos principalmente pelas classes dos Organossolos,Gleissolos, Planossolos e Neossolos.

Esses solos, quando drenados e/ou cultivados,estão sujeitos a mudanças significativas em seus atri-butos, especialmente os sulfatados e os mais ricos emmatéria orgânica. O uso intensivo e inadequado (comdrenagem excessiva, por exemplo) ocasiona alteraçõesquantitativas e qualitativas expressivas na sua matériaorgânica, decorrentes do processo de oxidação, comefeito significativo nas propriedades físicas, químicase morfológicas, além da produtividade agrícola.

Embora não se disponha de dados oficiais, esti-ma-se que a descaracterização desses solos seja expres-siva em todas as regiões do País, como decorrênciaprincipalmente da drenagem para diversos fins, e emmenor proporção da sedimentação resultante de pro-cessos erosivos das terras altas. Um exemplo deste últi-mo processo é o que atualmente se observa na planíciedo Pantanal Mato-Grossense, onde a erosão das terrasaltas está provocando um processo de sedimentaçãoadicional nas terras baixas do Pantanal.

Obras de macro-drenagem e retificação de riospara fins de saneamento, como as realizadas nas déca-das 60 e 70, especialmente na Zona Litorânea do País,descaracterizaram, por exemplo, os solos originalmen-te classificados como Organossolos e Gleissolos emEstados como o do Rio de Janeiro e Espírito Santo.Estas obras causaram ainda aumento da salinidade ouacidificação extrema de solos Sulfatados Ácidos emdiversos Estados, com impactos ainda hoje negativospara os recursos hídricos e a ictiofauna.

Da mesma forma, o PROVÁRZEAS - ProgramaNacional de Aproveitamento Racional de Várzeas Irri-gáveis, que possibilitou a drenagem, sistematização e

aproveitamento agrícola de aproximadamente um mi-lhão de hectares na década de 80, também contribuipara a descaracterização de solos de áreas úmidas, aopossibilitar, através da drenagem agrícola, maior oxi-dação da matéria orgânica presente originalmente nossolos, bem como ao alterar seu regime hídrico. Ressal-ta-se que a maior ou menor degradação destes solos,foi e ainda é dependente da forma de uso, sendo omenor impacto observado quando os solos foram uti-lizados para a produção de arroz inundado (rizicultu-ra) e maior quando foram utilizados para cultura querequerem maior oxigenação dos solos.

Queimadas

As queimadas ocorrem em todo território nacional,em cultivo itinerante praticado por indígenas e poragricultores familiares, ou em sistemas de produçãoaltamente intensificados, como a cana de açúcar e oalgodão, gerando impactos ambientais em escala locale regional. Elas são utilizadas em limpeza de áreas,preparação de colheita, renovação de pastagens, quei-ma de resíduos, para eliminar pragas e doenças, comotécnica de caça etc. Existem muitos tipos de queima-das, movidas por interesses distintos, em sistemas deprodução e geografias diferentes. O fogo afeta direta-mente as características físico-químicas (perda por vo-latilização de N e S) e biológicas dos solos, deteriora aqualidade do ar, reduz a biodiversidade e prejudica asaúde humana e acelera indiretamente os processoserosivos, ao diminuir a cobertura vegetal do solo, noinício do período chuvoso.

Ao sair de controle, atinge o patrimônio públi-co e privado (florestas, cercas, linhas de transmissão ede telefonia, construções etc.). As queimadas tambémalteram a química da atmosfera e influem negativa-mente nas mudanças globais. O impacto desta práticatem sido particularmente criticado e dimensionado naAmazônia, onde atinge proporções dramáticas (Diazet al. 2002).

Em termos de redução do potencial produtivodas terras, estudos realizados na Amazônia Oriental,em vegetações secundárias de 7 e 40 anos em pousio(capoeiras), apontam que as perdas que ocorrem emáreas preparadas pela queima (incluindo as por volati-lização, lixiviação e transporte de partículas) variaramentre 94-98% de C, 93-98% de N, 30-47% de P, 30-48%de Na, 42-50% de K, 13-35% de Ca, 21-43% de Mg e66-76% de S (Mackensen et al. 1996; Hölscher 1997).Para evitar a continuidade deste quadro e planejar ce-nários mais sustentáveis, em especial, à agricultura fa-miliar da Amazônia, várias iniciativas de produtores eda pesquisa vêm convergindo para técnicas de preparode área sem queima, substituindo o uso do fogo pelo

Page 114: Uso Agricola Solos Brasileiro s

Outras Formas de Degradação do Solo102

corte e trituração da vegetação secundária (Denich etal. 2001).

Mesmo sem incluir mensurações de todas asperdas, inclusive as de origem biológica e a perda dopotencial produtivo das terras, estimativas realizadaspelo IPEA e IPAM, em Motta et alii (2001), ilustramde uma forma bastante objetiva dos efeitos negativosdas queimadas. As Tabelas 14 e 15 resumem as estima-tivas dos danos para os anos de 1996 e 1998, conside-rados, por questões climáticas, como de intensidaderegular e intensa de queimadas, respectivamente.

Mudança do Fluxo de Gases Associados aoEfeito Estufa

Os gases associados ao efeito estufa que vêm sendomais avaliados em associação a mudanças no uso dosolo são o metano (CH

4), óxido nitroso (N

2O), dióxi-

do de carbono (CO2) e óxido nítrico (NO).

A despeito da idéia de que os solos de florestastropicais são em geral considerados sumidouros natu-rais para o metano, e que a derrubada desta vegetaçãosignifica a eliminação deste sumidouro e a criação deuma fonte de semelhante magnitude (Fearnside, 2001),estudos em andamento na Amazônia vêm demonstran-do que o manejo florestal e a conversão de florestasprimárias em outros sistemas de uso da terra podemlevar a situações diversas quanto à variação estacionalno fluxo de metano através do solo.

Em explorações florestais seletivas, como os re-latados por M. Keller (informação pessoal) em Santa-rém, observa-se na estação chuvosa, valores expressiva-mente elevados de fluxo de metano nos parques deestocagem (atingindo 800mg de CH

4m-2dia-1), seguidos

de valores de 30mg de CH4 m-2dia-1 nas estradas abertas

por skids, contrastando com valores inferiores a 5mgde CH

4m-2dia-1 em solos de clareiras ou sob florestas

primárias não manejadas, sendo entretanto, as dife-renças menos marcantes no período seco. Já os valoresobtidos em pastagens abandonadas na Amazônia Ori-ental, evidenciam que essas atuam como sumidourosde metano, consumindo cerca de 50% mais que flores-tas primárias (Verchot et al. 2000).

Em sistemas agroflorestais simultâneos na Ama-zônia Central, Rondon et al. (2001) evidenciam quena estação seca predomina a oxidação do metano at-mosférico, e à medida que avança a estação chuvosa, osolo vai perdendo a sua capacidade de atuar como su-midouro deste gás, tornando-se uma fonte dele. Nes-tas mesmas condições, sistemas silvipastoris e pasta-gens adubadas são em geral, baixos sumidouros e fon-tes elevadas de emissão de metano. Já em sistemas agro-florestais seqüenciais na Amazônia Oriental, observa-se que o solo, sob vegetação secundária, atua comosumidouro de metano, quando previamente submeti-do a diferentes tratamentos de melhoria de capoeiravia plantio de leguminosas arbóreas e a um período decultivo (Oliveira 2001).

Nos cerrados, tem sido evidenciada a tendênciade fluxos negativos de metano, ou seja, oxidação demetano pelo solo, em áreas de pastagem, cultivo emrotação soja/milho e vegetação nativa, sob diferentescondições de umidade do solo (Cardoso et al. 1995).Esta tendência pode, contudo, ser alterada em áreas de-gradadas, onde a porosidade do solo é significativamen-te modificada. Comparando-se dados preliminares ob-tidos em situações de floresta em clima temperado aos

Tabela 14. Danos Físicos do Uso do Fogo na Amazônia

Tipo de dano 1996 1998

PropriedadePastagem (km2) 6.510 19.408Floresta primária (km2) 7.250 21.614Dano à benfeitoria (km) 19.768 58.931CarbonoFloresta primária (t/C) 88.162.999 265.510.230SaúdeMorbidade (internações) 4.319 12.875

Fonte: Adaptado de Motta et alii (2002).

Tabela 15. Danos Econômicos do Uso doFogo na Amazônia

Tipo de dano Dano monetário % do PIB (1998 US$ 106 ) da região

Propriedade1996 216 0.411998 594 1.04Carbono1

1996 309 0.591998 929 1.62Saúde2

1996 3 0.011998 10 0.02Total 1996 528 1.01Total 1998 1.533 2.67

1Perda líquida de Carbono da Floresta Nativa, estimada como estique de carbo-no e valorada ao preço mínimo de US$ 3/tC dos modelos que simulam osmercados de carbono do Protocolo de Kyoto.2Estimativa baseada na correlação entre área queimada e incidência de doen-ças respiratórias na região e valoradas pelos custos de internações hospitalaresanuais decorrentes e verificados na região nos anos de 1996 e 1998 de cerca deUS$ 3 milhões a US$ 10 milhões.Fonte: Adaptado de Motta et alii (2002).

As estimativas dos danos físicos, apresentadasnas Tabela 6, mostram que nestes anos foram perdidosem média, respectivamente, 6.500 a 19.000km2 de áreasde pastagem, além de 20 mil a 60 mil km de cercas. Oscustos de recuperação destes danos representam um pre-juízo aos fazendeiros locais de cerca de US$ 216 mi-lhões em 1996 e US$ 594 milhões em 1998, que equi-valem a 0,4% e 1% do PIB da Amazônia.

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Outras Formas de Degradação do Solo 103

valores obtidos na região dos cerrados, Lauren et al. (1996)obtiveram taxas de oxidação de metano significativa-mente maiores em savanas brasileiras, chegando a acu-mular 5 vezes mais metano oxidado do que na florestatemperada. Dada a magnitude do efeito oxidativo indi-cado por esses dados, maior atenção deve ser dada aouso dos solos sob cerrado e sob outros tipos de savanano contexto das estimativas globais.

Os resultados obtidos por Luizão et al. (1989)indicam que a mudança no uso do solo de floresta tro-pical para pastagem, na Amazônia Ocidental, triplicoua emissão de N

2O, levantando a hipótese de que a con-

versão de áreas de florestas em pastagens nos trópicospode ser responsável, pelo menos em parte, pelo au-mento de N

2O na atmosfera. Os poucos estudos abor-

dando fluxo de óxido nitroso em sistemas agroflorestaisna Amazônia indicam que os solos destes são menoressumidouros do que os sistemas agrícolas de alto e debaixo uso de insumos, e que nas condições da Amazô-nia Peruana, valores ainda menores foram encontradosem vegetações secundárias em pousio (Verchot et al., noprelo). Na Amazônia Oriental, verifica-se em sistemasagroflorestais seqüenciais, que na fase de vegetação se-cundária crescendo em áreas previamente submetidas adiferentes tratamentos de melhoria da capoeira e a umperíodo de cultivo, o solo atua predominantementecomo fonte de N

2O (Oliveira, 2001).

Em condições de cerrados, os fluxos de óxidonitroso em áreas convertidas têm indicado emissõesmuito baixas, chegando a ser quase nula em algunsperíodos (Cardoso et al., 1995; Saminez, 1999; Pintoet al., 2000; Davidson et al. 2001), o que leva a inferirque os solos sob cerrado não se constituem em impor-tantes fontes de óxido nitroso. Uma exceção a estatendência ocorre em sistemas agrícolas submetidos àfertilização, onde emissões variando de 1,02 a 1,6kg deN.ha -1.ano-1 medidas por Saminez, (1999).

O efeito de mudanças no uso da terra parece sermenos evidente em relação ao óxido nítrico. Valoresde 20 a 45% em relação aos encontrados em florestaprimária foram relatados em pastagens e florestas se-cundárias em Paragominas, PA, enquanto em Rondô-nia, as emissões de NO por pastagem e floresta foramsimilares durante a época chuvosa, mas cerca de dezvezes mais baixas em pastagens, durante a época seca(Davidson et al. 2001). Nos sistemas agroflorestais se-qüenciais estudados por Oliveira (2001) na AmazôniaOriental, os padrões de fluxo de NO são semelhantesaos encontrados com relação ao óxido nitroso, ou seja,ocorre uma predominância de comportamento comofonte de NO. Para as condições dos cerrados de Brasí-lia, áreas de pastagem com cerca de 20 anos, a emissãode NO atingiu valores quase abaixo dos limites de de-tecção, exibindo apenas pulsos esporádicos (Davidsonet al. 2001).

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Valéria Sucena HammesJosé Maria Gusman Ferraz

10Valores e Conscientizaçãoda Sociedade

Capítulo

105

A proposta de Agenda 21 pela ECO 92 mobilizou opoder público na busca da incorporação de conceitosque promovessem a mudança de atitudes com vistas aodesenvolvimento sustentável. No entanto, a ausência demetodologia de capacitação de agentes multiplicadorese a compreensão sobre os aspectos operacionais queenvolvem o conceito de desenvolvimento sustentáveldificultaram a mobilização da sociedade para uma atu-ação mais participativa, segundo a conscientização dosvalores associados aos princípios do processo de educa-ção ambiental (integrativo, participativo, permanente,transformador, interdisciplinar, contextualizador), aoconceito de desenvolvimento sustentável de agir local-mente visando o bem global, de forma ambiental, soci-al e economicamente correta, para atribuir maior lon-gevidade às ações. Em relação ao solo, observa-se a ne-cessidade de reconhecer como as diversas formas de usoe ocupação dos espaços geográficos interferem nas suasfunções fundamentais de contribuição a qualidade am-biental do planeta Terra: função biológica, alimen-tar, de filtro e material. O estudo mais apurado demons-tra que a atividade agropecuária é fundamental paragarantir a função alimentar do solo e, em contraparti-da, apresenta-se também como aquela que intervém nosolo de forma difusa, ou seja de forma mais abrangenteem todo o país, ocasionando transformações que agra-vam os problemas sociais de pobreza e de ordem fundi-ária nas regiões da Amazônia e Nordeste e nas áreas deexpansão do agronegócio no Sudeste (Mata Atlântica) eCerrado. Todas essas ocorrências resultam da induçãode mercado ou disponibilidade tecnológica e não pelaconscientização sobre as alternativas de melhoria daqualidade de vida. Daí redundam em cenários de con-flitos e sistemas não sustentáveis.

A dificuldade de incorporação de novos con-ceitos pela comunidade agrícola está na própria difi-

culdade do setor em se organizar, devido à diversidadetipológica (grandes, médios, pequenos), regional e ca-rente de recursos financeiros para participar dos pro-cessos de discussão. Além de uma ampla discussãomultiinstitucional e multidisciplinar para estabelecera transversalidade da questão ambiental como fator deintegração das políticas públicas sobre o uso adequa-do do solo pelos diversos setores da sociedade, cabe aopoder público promover a aproximação ao setor agrí-cola, considerada uma premissa de sustentabilidade,de tal forma que estimule a organização dos agrupa-mentos para que possam ser identificados e represen-tados nos processos participativos de tomada de deci-sões sobre os destinos da terra e também para buscarmecanismos de fixação do pequeno agricultor no cam-po como estratégia de equilíbrio socioambiental.

Valores e Processos de Conscientização

Nos anos 60, surgem as manifestações sobre a finitudedos recursos naturais pelo crescente consumismo, cul-minando na década de 70, com o alerta dos ambienta-listas e segmentos da comunidade científica sobre osprováveis impactos do modelo econômico dominantesobre o meio ambiente. Neste período, meio ambienteera as coisas da natureza tais como as plantas, os ani-mais, a água, o ar e o solo – uma visão naturalista, emque o ser humano não faz parte ou não integra o meioambiente.

Em 1972, a Educação Ambiental é apontadacomo estratégia de superação da crise na PrimeiraConferência do Meio Ambiente, quando se inicia umahistória ao movimento já existente em defesa de umprocesso educativo de fortalecimento da cidadania. NaI Conferência Intergovernamental de Educação Ambi-ental de Tbilisi, em 1977, são apontados os objetivos e

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Valores e Concientização da Sociedade106

princípios norteadores da Educação Ambiental, quesob uma nova dimensão, passa a ser um projeto coleti-vo de transformação e melhoria ambiental. Os paísesparticipantes da Conferência de Moscou em 1987 secomprometem a incluir a Educação Ambiental naspolíticas educacionais. A Constituição Federal Brasi-leira de 1988 prevê e em 1991, o Ministério da Educa-ção procede a adequação curricular às exigências soci-ais. No entanto, predomina ainda uma visão utilitaris-ta, onde a proteção ambiental tinha o propósito degarantir o sustento do ser humano, como se fosse umser superior aos demais seres vivos.

Com a consagração do termo desenvolvimentosustentável na Rio 92, é reconhecida a relevância daeducação ambiental para sua exeqüibilidade. Surge umnovo paradigma, em relação à proteção da natureza,que passa a ser um fator de garantia ao desenvolvimen-to, assim como o desenvolvimento deve garantir o cui-dado dos recursos e processos da natureza, além de cui-dar do bem estar de todos os seres humanos. Para tal, oTratado de Educação Ambiental para Sociedades Sus-tentáveis e Responsabilidade Global (1992) ressalta anecessidade da formação de sociedades sustentáveis porum “...processo de aprendizagem permanente, baseadono respeito a todas as formas de vida. Tal educação afir-ma novos valores e ações que contribuem para a trans-formação humana e social e para a preservação ecológi-ca.” A concepção de sociedade sustentável requer por-tanto, a preparação de educadores ambientais, que pre-parem as comunidades para discutir e encontrar solu-ções, como perspectiva de desenvolvimento sustentável.

No entanto, a ausência de metodologia para oprocesso de conscientização ambiental e a pouca clare-za operacional do conceito de desenvolvimento sus-tentável, que segundo Silva (1996) é “garantir as neces-sidades das gerações atuais sem comprometimento àsgerações futuras”, dificultou o imediato estabelecimen-to de políticas, desenvolvimento de tecnologia adequa-da e a incorporação de novos conceitos nos modeloscomportamentais.

A Agenda 21 Global, principal documento daConferência das Nações Unidas sobre Meio Ambientee Desenvolvimento (CNUMAD), em 1992, no Rio deJaneiro, conhecida como ECO-92, foi aprovada por180 países. Nela se estabelecem prazos, prioridades eas responsabilidades de governos e da sociedade paracom o desenvolvimento sustentável. Incorpora deci-sões de Tbilisi no capítulo 36 e prioriza as ações depromoção do ensino, conscientização política das co-munidades urbanas e rurais e incentivo ao treinamen-to em relação à questão ambiental, capacitando agen-tes multiplicadores sobre as questões ambientais queenvolvem concomitantemente desenvolvimento e con-servação ambiental. Desta forma, a educação ambien-tal, segundo a Carta da Terra, é o instrumento de “apoio

às sociedades locais e promove a participação signifi-cativa de todos os indivíduos e organizações na toma-da de decisões”.

O desafio de romper com um modelo de socie-dade e buscar um novo paradigma sem perder o sentidoético é o primeiro obstáculo a ser vencido. A princípio,os processos de conscientização se basearam em inter-pretações múltiplas de que a deterioração ambiental estáassociada ao crescimento populacional, pobreza, masprincipalmente, está associada ao padrão de consumo.Apesar de desconhecido seus limites, a estimativa dacapacidade de suporte passa a ser uma restrição ao usodos sistemas, de modo que possibilite sua auto-renova-ção ou absorção de perdas. Alguns admitem ainda quea capacidade de suporte dos ecossistemas pode ser au-mentada pela tecnologia, apesar de acarretar a reduçãoda biodiversidade ou dos serviços ecológicos. Enfim,prevalece as iniciativas de conscientização, que se fun-damentam principalmente, na primeira menção de “sus-tentabilidade“ por Carlowitz, em 1713, e que se referiaao uso restrito do solo, para garantir rentabilidade está-vel a longo prazo, sem integrá-lo aos demais aspectos(qualidade e disponibilidade de água, questões fundiári-as, etc). Sob a acomodação do mercado às novas deman-das e a pouca disponibilidade de metodologia, os diver-sos setores da sociedade (público, privado e sociedadecivil) apresentam iniciativas de projetos e tecnologias,como o crescimento do agronegócio fundamentado nacadeia produtiva.

Na busca do equilíbrio ecológico associado àjustiça social e à valorização da dignidade humana,observou-se em todo o país, contribuições isoladas paraa formação de uma sociedade sustentável pelos seusdiversos setores, direcionadas principalmente a proje-tos escolares e a pequenas comunidades rurais, segun-do os princípios apontados na Agenda 21 de:

Ø Integração - a visão integrada de todos os aspectosnaturais e sociais nas dimensões política, econômi-ca e cultural;

Ø Ação local pelo bem global - as diversas dimen-sões (escalas) da relação com o ambiente próximo,do pessoal ao global;

Ø Processo contínuo e permanente - o processoeducativo sobre as questões ambientais deve estarcontido em todas as fases de formação do ensinoformal e informal;

Ø Tema transversal – a abordagem interdisciplinar(intersetorial) auxilia a percepção de uma perspec-tiva sistêmica;

Ø Processo coletivo e participativo - a comunida-de deve ser envolvida como agente ativo e passivo,de modo que possam ter a oportunidade de tomardecisões e de avaliar as conseqüências; e

Ø Senso crítico – a compreensão das causas, dos efei-tos e das alternativas de ação da comunidade.

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Valores e Concientização da Sociedade 107

Apesar de louvável, a sociedade civil organizada(ONGs), juntamente com o apoio da iniciativa priva-da (empresa cidadã), fortaleceram o Terceiro Setor etornaram viáveis um número ainda insuficiente deprojetos socioambientais em todo o país. O poderpúblico promove inúmeros programas, fundos e pro-jetos para incentivar a introspecção desses novos valo-res por toda a sociedade, mas o conflito conceitual e aeficácia metodológica dificultam o estabelecimento datransversalidade da questão ambiental à legislação vi-gente, que se estabelece pouco a pouco.

1. Quais os valores que estão associados à questão deconservação de solos?

A vida humana é extremamente dependente da qualida-de e disponibilidade de solo. O artigo 72 do Decreto nº28.687, de 1982 estabelece que o solo é um recurso natu-ral básico, constituindo um componente fundamentaldos ecossistemas e dos ciclos naturais, um reservatóriode água, um suporte essencial do sistema agrícola e umespaço para as atividades humanas e para os resíduosproduzidos. Apesar do solo ser um recurso renovável,sua formação requer milhares de anos. Portanto, a qua-lidade de vida humana depende também da preservaçãodo solo, segundo suas principais funções (biológica, ali-mentar, de filtro, de fonte de material e de ocupação)que são vitais para o homem (Filizola , 2002):

Ø função biológica: o solo abriga numerosas espéci-es vegetais e animais, e nele ocorrem ainda, diver-sos ciclos biogeoquímicos1.

Ø função alimentar: o solo contém pequenas quan-tidades de elementos minerais (ferro, cálcio, mag-nésio, etc.) e de matéria orgânica, além de água e ar,necessários à vida das plantas e dos animais. A saú-de e sobrevivência da espécie humana depende daprodução de alimentos vegetais ou animais queingeriram estes elementos vindos do solo.

Ø função de filtro: o solo é um meio poroso, quefiltra a água proveniente da chuva até a água subsu-perficial2 e subterrânea3, carreando produtos solú-veis4 e interagindo por processos físicos, químicose biológicos. Cada tipo de solo possui uma capaci-dade seletiva de reter os agentes danosos ao ho-mem utilizados na agricultura. Assim, os produtospodem ser levados para a água subterrânea e paraos rios, poluindo-os.

Ø função material: o solo é ao mesmo tempo fontede material e suporte para as construções humanas

(por exemplo, estradas). O espaço é o atributo dosolo utilizado para planejamento dos processos deocupação (com diferentes taxas de impermeabiliza-ção) e delimitação de áreas para desenvolvimento econservação ambiental. Além disto muitos metais,como o alumínio, o ferro, dentre outros, são retira-dos do solo. Mas a mineração mais comum é paraobter materiais de construção de casas e prédios:argila para tijolos e telhas, areia e pedra britada paramassas e concreto.

Diante das atribuições do solo na qualidade devida, observa-se que a atividade agrícola é essencial nãosó como produtora de alimentos, mas de matéria-pri-ma para a indústria.

Quais atitudes/atividades econômicas estãoassociadas a esses valores?

Além da atividade agrícola para produção primária dematerial de origem vegetal ou animal ser a principalresponsável pelo avanço do processo erosivo, poden-do levar a estágios irreversíveis de desertificação comoocorreu na região de Itaqui e em vários outros municí-pios do Rio Grande do Sul, é importante lembrar asinúmeras outras atividades econômicas que viabilizamo processo de enriquecimento e desenvolvimento e paraos quais, se dirige a atenção especial de estimular tec-nologia chamada “limpa”. Pois a complexidade ambi-ental reside na análise do contexto socioambiental dacombinação de todas essas atividades, onde o extrati-vismo mineral explora as riquezas do solo e subsolo,mas para isso ainda altera completamente a funçãosocial da paisagem de origem. O extrativismo vegetalmuito relacionado à “vida e cultura da floresta” temsido objeto de melhoria do processo de manejo flores-tal, como estratégia de conservação ambiental e desen-volvimento local. A indústria, que atua na transforma-ção da matéria-prima agrícola e extrativista, tem inves-tido na certificação de processos conservacionistas,principalmente, na reciclagem de materiais e reuso etratamento da água e resíduos. A “indústria do turis-mo” tende para o fortalecimento do “ecoturismo” edo “turismo no espaço rural”, para atender à demandade lazer e recreação de 82% da população que se esta-beleceu nas cidades. Esse processo crescente da urbani-zação alterou o padrão de consumo, no sentido demaior produção de resíduos. Em contrapartida, esti-mula o processo de regulamentação da destinação dosresíduos sólidos. A melhoria dos sistemas de produ-ção agrícola (plantio direto e agroecológicos) contri-buem para reduzir a liberação de carbono (para a at-mosfera devido ao aquecimento da superfície da Terraprovocado pela exposição à radiação solar) e erosãocom a exposição do solo nu na agricultura. A queima-da, uma prática comum na agricultura, reduz a biodi-

1 Seqüência de transformações e de trocas bioquímicas que ocor-rem no solo ou na rocha.2 Encontra-se pouco abaixo da superfície do solo.3 Encontra-se debaixo da terra.4 Pode ser dissolvido

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versidade do solo e sua capacidade de bioprocessamen-to. Torna os sais mais livres a perdas por percolação eevaporação. Reduz a fertilidade do solo e os nutrien-tes para fixação nos alimentos de origem animal ouvegetal. A destruição das partículas coloidais compro-mete a capacidade de carga de interação físico-químicae de retenção de água no solo, e, portanto, reduz suacapacidade seletiva de reter partículas. As alteraçõesdas propriedades físicas, químicas e biológicas menci-onadas provocam o esgotamento do solo e redução doseu potencial de produção agrícola. A campanha go-vernamental para controlar o uso do fogo na agricul-tura reduziu até o ano 2000, em 18,6% as queimadasno Brasil.

A queimada também é um importante fator dedeterioração da função biológica do solo. Além dedestruir animais e plantas, aumentar a poluição do ar,ameaçar as redes de eletricidade e aumentar os aciden-tes nas estradas. A contaminação dos solos conta comprocessos de remediação biológica, para acelerar a de-gradação dos contaminantes e recuperar a biota dosolo. A Petrobrás utilizou destes métodos para recupe-rar os solos atingidos por vazamentos de petróleo.Também existem métodos eficazes de reabilitação dasáreas degradadas para diferentes tipos e classes de mi-neração, que tentam compatibilizar a atividade comos anseios da população de manter um ambiente con-trolado. Apesar dessas áreas serem potenciais para ou-tros usos, como reflorestamento comercial, cultivo deplantas, pastagem, urbanização, área de recreação, se-gundo Williams (2002), o uso futuro do local maisescolhido é a revegetação com árvores e arbustos deespécies nativas, com o intuito de minimizar o com-prometimento da sustentabilidade de ecossistemas ebiodiversidade do solo, também alterado no processode extrativismo vegetal e animal. As instituições depesquisa se empenham em aperfeiçoar sistemas demanejo agroflorestal para mitigar esses problemas etambém melhorar a qualidade de vida dos povos quevivem na (e da) floresta.

É um fato que a função alimentar do solo temsido reduzida pela expansão urbana sobre os espaçosagrícolas e aumento da pressão sobre as florestas paraexpansão da fronteira agrícola. Os programas de gestãode microbacias hidrográficas têm minimizado a deteri-oração do solo por manejo agrícola inadequado e ozoneamento agrícola tem melhorado as oportunidadesde crédito pela promoção da seguridade da produçãoagrícola. Por apresentarem menores riscos e melhorescondições de trabalho, as atividades não agrícolas nazona rural estimulam os filhos de pequenos agriculto-res a se dedicarem a outras atividades, como construçãocivil, turismo e serviços, numa taxa crescente de 2,5%ao ano (1992/97), segundo dados da Pesquisa Nacionalpor Amostra de Domicílios (PNAD) de 1997, realizada

anualmente pelo IBGE, e que competem e reduzem aárea de produção alimentar. Em busca de água de boaqualidade e quantidade, as indústrias também estimu-lam a especulação imobiliária na zona rural, valorizan-do o valor da terra nua e tornando mais vantajoso oagricultor vender suas terras a produzir.

Já a função filtro tem sido alterada pela im-permeabilização do solo das áreas urbanas muitas ve-zes ocasionadas por outra atividade, o turismo ou in-dústrias, impedindo a recarga dos aqüíferos subterrâ-neos e o processamento biogeoquímico de ciclagemde nutrientes. Poucos municípios estabelecem uma taxade área não impermeabilizada em torno de 15%. Asáreas de adensamento populacional acumulam inade-quadamente os resíduos gerando focos de contamina-ção dos lençóis freáticos. Entre outras coisas, o projetoda Política de Resíduos Sólidos estimula a criação deempresa exclusivamente recicladora com a isenção deimpostos. Esta medida, além de reduzir o volume dematerial reciclável nos lixões, também vai estimular adesaceleração do processo de esgotamento das reservasde extração mineral dos metais existentes, o que reduzas oportunidades das gerações futuras e a capacidadede filtragem do solo. O extrativismo vegetal e animaltambém compromete a sustentabilidade de ecossiste-mas e as reservas de espécies nobres, reduzindo suacapacidade de infiltração e recarga dos mananciais, aexemplo dos pampas gaúchos, onde o uso intensivodo solo além de deteriorar a capacidade produtiva dosolo, contribuiu para a sua desertificação (seca os aqü-íferos superficiais e subterrâneos).

Como se pode observar, é o planejamento ina-dequado da função material do solo e o consumis-mo crescente, que comprometem direta ou indireta-mente todos as outras funções. Neste sentido o proje-to Zoneamento Ecológico Econômico do ProgramaAvança Brasil promove a sinergia multiinstitutcionale multidisciplinar necessária à construção de instru-mento de planejamento socioeconômico e orientadorda política ambiental5.

3. Quais os indicadores/região associados a essasatitudes/atividades?

De acordo com o documento Agenda 21 Brasileira, de1998 para formulação e implementação de PolíticasPúblicas Compatíveis com os Princípios do Desenvol-vimento Sustentável, solicitado pelo Programa dasNações Unidas, a grandeza geográfica do país comdiferentes dinâmicas de ocupação agrícola, caracteri-zam quatro macro-conjuntos de agroecossistemas:

5 http://www.ambientebrasil.com.br/agenda/index.php3?action=ler&id=3307

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Mata Atlântica, Florestas e Campos Meri-dionais – corresponde à uma vasta área de ocupaçãoantiga, caracterizada por sistemas agrários com eleva-da modernização e sofisticação. O agronegócio (agri-business) é preponderante em praticamente todo ocomplexo regional Sul-Sudeste. Observa-se a expansãoda soja em substituição do café no Norte do Paraná,produtos básicos como o feijão e o arroz e as pasta-gens naturais em todo o Sul, com fortíssima depen-dência de insumos químicos, mecânicos e genéticos deorigem industrial, bem como pelo destino igualmenteindustrial de boa parte da produção. Apesar do méritoda questão, a motivação é uma indução de mercadopor estímulo financeiro e/ou disponibilidade tecnoló-gica, mas não resulta de um processo de conscientiza-ção que vise o desenvolvimento sustentável.

Um bom exemplo é o aumento de pesticidascomercializados, que dobrou a partir de 1997 atingin-do 2,18 bilhões de dólares comercializados (FNP, 1998).Culturas menos expressivas em área plantada tambémempregam doses altíssimas de agrotóxicos por hectare,como o fumo, batata, tomate, uva, morango e outrasespécies frutícolas e hortícolas (Guivant, 1994). Osherbicidas lideram 55,7% as vendas em 1997, com umfaturamento de 1,2 bilhões. Segundo o relatório Agen-da 21 Brasileira, “o que chama a atenção nestas infor-mações é que, embora haja certa unanimidade na cons-tatação de que já é possível reduzir drasticamente oumesmo eliminar o uso de agrotóxicos sem prejudicar aprodutividade das lavouras, o consumo não cessa deaumentar”. Na área de grãos, a elevação do uso se ex-plica em parte pela própria generalização do plantiodireto, importante método de combate à erosão, mascuja forma dominante torna hoje os agricultores cadavez mais dependentes da aplicação de herbicidas. Con-tudo, é notável que, mesmo diante da disponibilidadede técnicas alternativas ao uso de inseticidas já adota-das nas áreas de fruticultura e de fumo, o faturamentode agrotóxicos nestes produtos tenha se ampliado, pas-sando de US$ 23 a US$ 37 milhões no fumo e de US$37,1 a US$ 49,3 milhões na fruticultura. Não se podedesprezar as eficientes estratégias de marketing dasempresas do setor, veiculadas pelos meios de comuni-cação ou por vendedores bem treinados, que superama capacidade do poder público e das ONGs de orien-tar adequadamente os agricultores. Um bom exemplo,da ineficência dessa comunicação com o agricultor é omanejo inadequado do solo e o uso de terras inaptaspara certas atividades agrícolas serem ainda apontadoscomo os principais fatores que provocam a erosão. NoOeste Catarinense, 43% da superfície dos estabeleci-mentos é inapta para lavouras anuais e outros 26%sofrem fortes restrições (Testa et al, 1996). Apesar dasdivergências, há quem afirme que, no Brasil, a cadatonelada de grão produzida por método convencional

de preparo do solo, dez toneladas de terra são carrega-das pelas águas das chuvas, da irrigação e pelo vento(Spavoreck e Valques Filho, 1994). O Instituto Agro-nômico de Campinas estima que cada hectare cultiva-do no país perde, em média, 25 toneladas de solo porano, corresponde a um centímetro da camada superfi-cial do solo O material erodido é carregado para cor-pos d’água superficiais e subterrâneos, provocando oassoreamento de rios, de várzeas e de represas. Isso di-minui a disponibilidade de água para os agroecossiste-mas e para o consumo humano. Em vários estados afalta d’água potável já é um problema grave. Nas re-presas, o assoreamento reduz em 30 a 40% a “vidaútil” das usinas hidrelétricas, afetando a produção deenergia (Costa e Matos, 1997) e a eutrofização dos cur-sos d’ água impedindo a sobrevivência de peixes e crus-táceos. Um outro fator de preocupação é a destinaçãode embalagens de agrotóxicos que, apesar das provi-dências, ainda são encontradas jogadas nas proximida-des dos córregos, contaminando suas águas.

A pecuária de corte e de leite continua ocupan-do as maiores extensões territoriais nos agroecossiste-mas das duas regiões. Com 841 mil estabelecimentosrurais conhecidos em 1995/6 no Sudeste, 541 mil de-dicavam-se a pecuária de corte ou de leite, e as pasta-gens, naturais ou plantadas ocupavam 37,7 milhões dehectares dos 73,2 milhões de hectares pertencentes aosestabelecimentos agrícolas da região. Em Minas Ge-rais, por exemplo, chega a 62% a área de pastagensnaturais ou plantadas (IBGE, 1998). Com a adoção detecnologias modernas, a avicultura ampliou a produ-ção nacional em aproximadamente 70% (FNP, 1998).Além dos preços mais atraentes, o aumento do consu-mo está relacionado ao crescente interesse por alimen-tos “mais saudáveis”, com menores teores de gorduraanimal. Nesse caso, a carne das aves leva vantagemsobre a carne bovina e, principalmente, sobre a suína,cuja produção caiu cerca de 20% na última década,entendendo-se tal fato, principalmente como umaquestão de hábito de consumo e não de mercado.

Em suma, nas regiões Sul e do Sudeste o proces-so de produção passou pela adoção em larga escala daspráticas tecnológicas da Revolução Verde até a inser-ção no agronegócio com uso ainda intensivo de insu-mos químicos e que figuram também entre os maiores“consumidores” de recursos naturais dos ecossistemasdas duas regiões e, em certos casos, promovem estra-gos ambientais de proporções igualmente grandiosas.

Semi-árido (Caatinga) – corresponde a umaregião de ocupação antiga, porém caracterizada porsistemas agrários com baixo nível de tecnificação e doisterços dos pobres rurais do Brasil. É acima de tudoum problema social sob um ecossistema frágil, comoa Depressão Sertaneja, a Chapada Diamantina ou oPlanalto da Borborema. Segundo Sonia Rocha, pes-

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quisadora do IPEA (1998), essa é uma sociedade essen-cialmente agrícola, “onde 22% dos chefes de famíliaspobres residentes em áreas urbanas também tem ocu-pação agrícola”, Qualquer solução deste grave proble-ma social deve considerar a melhoria do sistema agrí-cola familiar, integrando aumento da produtividadeagrícola com o gerenciamento dos recursos hídricos,este um problema ecológico. Afinal, o que mais distin-gue o Nordeste dos demais complexos regionais brasi-leiros é sua vulnerabilidade climática e pluvial. Con-forme a peculiaridade ambiental das zonas litorânea,agreste e semi-árida, surgem focos ou polos de desen-volvimento petroquímico, têxtil, agroindustrial, deagricultura de grãos, turísticos e tecnopolos, mas “aresistência à mudança permanece sendo a marca prin-cipal do ambiente socioeconômico, onde a moderni-zação é restrita, seletiva, e ajuda a manter um padrãodominantemente tradicional” (Araújo,1997). Nestasáreas, concentram-se os bolsões de pobreza rural comforte correlação com a fragilidade ecológica (Galvão &Vasconcelos 1998).

As estratégias de sobrevivência apoiadas em co-nhecimentos empíricos semelhantes às usadas em ou-tras áreas da África e da Índia, mostram-se ineficien-tes, pois colocam a seca e não o meio socioambien-tal, no centro de sua estratégia econômica e de vida,para minimizar o risco de fracasso na produção dosmeios de subsistência e limitar as perdas (Barbosa &Maltchik,1998). Neste sentido, os desmatamentos eimplantação de projetos de irrigação desencadearamproblemas de salinização do solo e aumento do riscode desertificação. Além disso, ao lado dos 94.000 em-pregos gerados, mais de 110 mil pessoas que foramatingidas pelas barragens estão desempregadas (CUT/Contag,1998).

Para o aproveitamento mais racional de 40 mi-lhões de hectares não irrigáveis, a Embrapa concentraa linha estratégica de pesquisa na melhoria da capaci-dade de convivência com a seca. A dessalinização deáguas de poços subterrâneos é uma dessas medidas paraaumentar a oferta de água, com manejo de rejeitospara extração de sais para fins industriais, criação depeixes, irrigação de forrageiras tolerantes a sais, etc.Nessa direção, a Embrapa já desenvolveu vários méto-dos de captação de água de chuva usando tração ani-mal ou motora, além de gerar técnicas de conservaçãode água para consumo humano. Portugal & Contini(1998) destacam a ovinocaprinocultura como um dossistemas mais eficientes na reestruturação econômicadas unidades familiares de produção agrícola. O ma-nejo da vegetação nativa quadruplica a produtividadedo sistema tradicional ao utiliza-la como forragemnativa no período chuvoso. As perspectivas da cadeiaprodutiva se encerram na agroindústria da carne, pelee do leite. A agroindustrialização também se apresenta

com oportunidade desenvolvimentista para a agricul-tura familiar, com o estabelecimento de minifábricasde processamento de castanha de caju e de pedúnculo,secadores de frutas, peixes e grãos movidos a energiasolar, elétrica ou a gás, além do aprimoramento dastradicionais casas de farinhas. Mas segundo Portugal& Contini (1998), a agricultura familiar deverá priori-zar inovações que respeitem o nível educacional, a ins-tituição familiar na cultura local, o limitado acesso ainsumos e serviços e, principalmente, os recursos dis-poníveis no estabelecimento. Ou seja, a priorização dageração de tecnologias “de processo” sobre as “de pro-duto”. Inovações que permitam o uso racional dos re-cursos naturais e capacitem os agroecossistemas a man-ter a sustentabilidade, com maior inserção do agricul-tor no mercado pós-porteira, com estratégias de valo-rização dos produtos, onde o agricultor e o extensio-nistas sejam parceiros ativos no desenvolvimento detodas as etapas do processo (EMBRAPA, 1998 apudPortugal & Contini, 1998). O terceiro setor tem con-tribuído para a construção deste ambiente estratégicoe aprimoramento de processos, com iniciativas da so-ciedade civil de ações de desenvolvimento local “não-convencionais”.

Enfim, os valores e crenças associados ao mane-jo do solo trabalhados nos processos de conscientiza-ção para o enfrentamento dos problemas sociais asso-ciados à seca passam pela necessidade de um planeja-mento participativo (unidade familiar) do processo deprodução alimentar, com técnicas alternativas de cap-tação de água, manejo da vegetação nativa e inserçãoorganizada no mercado pós-porteira, como estratégiade mitigação da desertificação e pobreza generalizada.

Domínio dos Cerrados – corresponde a umaregião de ocupação mais recente (“de fronteira”), naqual se expandem sistemas agrários altamente moder-nizados. A simplificação do ambiente natural, neces-sária a produção de grãos em larga escala, não conside-ra a contribuição fundamental dos solos do Cerradospara o equilíbrio biogeoquímico planetário, assimcomo a opinião pública brasileira e internacional elhe atribuem um valor secundário. Contribui com odobro que a Amazônia, cerca de 2t C ha-1 ano-1, noprocesso de seqüestro de carbono. Nos Cerrados seconcentram um terço da biodiversidade nacional e 5%da flora e fauna mundial. Considerando a distribui-ção pontual de espécies, sua destruição provocaria aeliminação das mesmas (Castro, 1997) e alteraria a es-tabilidade do regime hídrico dos mananciais, que ori-ginam seis das oito maiores bacias hidrográficas brasi-leiras. São um eixo de dispersão de sementes, pólen efauna (Pires, 1996). Mas por ser uma “floresta de cabe-ça para baixo” (WWF, 1995) não recebem os recursosdados a qualificação de patrimônio nacional. A maiorriqueza dos Cerrados está nos solos (protegidos por

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aquela vegetação e fauna) que interage intensamentecom o clima caracterizado por período de chuvas su-cedido por seca prolongada (Assad e Lopes Assad, 1999).Essa interação exige que o processo adaptativo das plan-tas seja capaz de captar água a dez metros de profundi-dade, determinando uma intensa vida vegetal e animalno solo responsável por processos biogeoquímicos.Apesar de serem apontadas pela Embrapa Cerradoscomo potenciais a agricultura (culturas perenes) e pe-cuária com a correção de calcário e adubos, se observaque os solos do Maranhão e Piauí apresentam limita-ções físicas (compactação superficial) após desmata-mento para lavouras e pastagens. Não existem muitasinformações sobre aptidão dos solos dos Cerrados.(Reatto el al, 1997). Especialistas afirmam que é possí-vel aumentar a resiliência e minimizar efeitos como oempobrecimento da diversidade genética pelo uso emlarga escala de fertilizantes químicos, agrotóxicos e ir-rigação, com a adoção de técnicas elementares de ma-nejo e rotação de cultura, visando o combate à erosão.Os 3 milhões de hectares com plantio direto tem con-tribuído para recuperar pastagens degradadas, aumen-tar a oferta de grãos, sem a abertura e degradação denovas áreas. Mas as plantas cultivadas supõem a dispo-nibilidade de água nas camadas superficiais do solo epossuem uma alta taxa de evapotranspiração concor-rendo com os estoques reguladores de recursos hídri-cos armazenados na malha de veredas e covoais (Assade Lopes Assad, 1999). Por outro lado, o cálcio carreadono período chuvoso às profundidades do solo aumen-ta sua deficiência nas camadas superficiais (WWF, 1995).A retirada da vegetação para a produção de lenha tam-bém contribui para reduzir a capacidade de retençãode água e recarga dos mananciais. Segundo Ailton Bar-celos (1996, apud Shiki, 1997), o manejo inadequadodas pastagens cultivadas resulta na degradação de 80%delas, que além da destruição dos recursos naturais,com sinais de desertificação e avançado processo erosi-vo, tem a produtividade de carne reduzida a aproxima-damente 2 arrobas/ha/ano, enquanto que numa pas-tagem em bom estado pode-se atingir 16 arrobas/ha/ano (Kichel, et al., 1997). Em Uberlândia, Baccaro(1994, apud Shiki, 1977) encontrou 173 voçorocas ati-vas e 13 estabilizadas.

O movimento da sociedade civil ainda é insipi-ente para conter a expansão desordenada da fronteiraagrícola e proteger a integridade dos ecossistemas na-turais (apenas 7% inexplorado).

Diante do acima exposto, é claro o conflito en-tre o desenvolvimento agrícola e a necessidade de con-servação ambiental. Pois a sensibilidade do ecossiste-ma e os grandes impactos (de ordem global) tornamurgente a adoção de práticas conservacionistas do solo,sob todos os seus aspectos funcionais. A ausência decritérios ao necessário estímulo ao setor agrícola, se

aproxima do extrativismo e reflete a urgência da in-trospecção de valores e conceitos conservacionistas apolítica pública que oriente o planejamento da ocupa-ção na região. Pois o esgotamento dos recursos ameaçaa continuidade da agropecuária.

Domínio das florestas amazônicas – caracte-riza-se por uma ocupação mais heterogênea que mes-cla áreas de exploração extrativista e sistemas agráriosmais recentes (“de fronteiras”) com pouca tecnificaçãoe de baixíssima densidade demográfica. A atividadebásica de subsistência dessa sociedade é a pesca. A fron-teira agropecuária se expandiu principalmente nas zo-nas ao sul, sudeste e sudoeste da região, notadamentenos estados do Acre, norte do Mato Grosso, Pará eRondônia, onde também se concentra grande parte dapopulação.

A ausência de uma política agrícola conservaci-onista estimula o estabelecimento de pequenos produ-tores e posseiros para a extração de madeira, abando-nando as áreas desmatadas. A questão não é o abando-no, pois as pequenas áreas regeneram-se rapidamente.É uma questão da sustentabilidade, ou seja, a melhoriada qualidade de vida do ser humano pela melhoria domanejo florestal. Estima-se que em Mato Grosso, oíndice de desmatamento é a maior pressão sobre a flo-resta, em torno de 1,21ha/habitante rural, resultandoem 55 milhões de hectares (equivale a área da Françaou dos estados do Rio Grande do Sul, Paraná e SantaCatarina juntos) de área derrubada nas últimas trêsdécadas.

Um outro fator de preocupação é a ausência deum planejamento integrado dos projetos de setores degeração de energia, pavimentação e implantação de sis-temas hidroviários às necessidades de conservação des-te bioma. A Hidrovia do Marajó, por exemplo, pro-põe a união das cabeceiras dos rios Anajás e Afuá, e daHidrovia do rio Capim, sem considerar as alteraçõesecossistêmicas.

Põem em risco o conjunto Amazônia, que é amaior reserva de diversidade biológica no mundo, con-tendo um quinto da água doce disponível e um terçodas florestas latifoliadas. A manutenção dessa biodi-versidade tem efeitos importantes para a região e paratodo o planeta: localmente, fornece o estoque de ma-terial genético necessário a constante experimentaçãoe adaptação dos sistemas de manejo florestal e agroflo-restal, sem os quais estes não seriam sustentáveis a lon-go prazo; no plano global, os compostos químicos e omaterial genético provenientes desse ecossistema repre-sentam fonte crucial para o desenvolvimento biotec-nológico de alimentos e remédios.

A novidade nos últimos anos da década de 1990foi a entrada da soja, que vem avançando em direçãoas áreas desmatadas de floresta constituídas predomi-nantemente por pastagens degradadas. Atualmente, essa

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atividade vem sendo viabilizada pela execução de polí-ticas que constam no Plano Brasil em Ação, onde osprojetos viários para escoamento de produção alavan-cam o aumento de 74% da produção (IBGE). A gera-ção de empregos é baixa, a demanda de insumos exter-nos é alta e, ao que se sabe, em Rondônia o desempe-nho agronômico desta cultura não está sendo satisfa-tório, conforme análise da Embrapa local. As conse-qüências sociais desse processo são a desarticulação dasoutras atividades produtivas, o deslocamento de capi-tais locais e o aumento da concentração da renda. Outrapreocupação advém do processo de concentração daterra, haja vista que algumas empresas estão incorpo-rando lotes de mil hectares, de vários pequenos agri-cultores, promovendo uma reconcentração fundiáriavoltada para o plantio da soja (CUT/Contag, 1998).Cabe salientar, as introduções de novas atividades comoa fibra de curauá na região de Santarém e da pimentalonga no nordeste paraense e no estado do Acre, navila de Extrema, com grandes perspectivas no merca-do internacional. De maneira geral, a agricultura pra-ticada na Amazônia tem evoluído mais pelo aumentoda área plantada com cultivo diversificado de espéciesperenes, devido ao processo de ocupação e avanço dafronteira agrícola, sem incrementos de produtividade,pelo elevado custo dos insumos agrícolas, e baixa ca-pacidade de gestão dos produtores (Santana et al., 1997).A queima contínua dos nutrientes minerais e da maté-ria orgânica do solo ocasionam ainda, até 96% de per-da do Nitrogênio contido na biomassa (EMBRAPA,1997). Já o extrativismo ainda é uma atividade forteno perfil agroecológico da Amazônia. O setor madei-reiro se destaca gerando divisas da ordem de US$ 447milhões. A área de extração madeireira gira em tornode 1 milhão de hectares de floresta densa, mas apenasuma fração mínima é manejada adequadamente. Ob-serva-se que apesar das evidentes restrições ambientais,a abertura de novas estradas, intensificou o processode extração madeireira nas áreas de várzeas. A melho-ria do manejo agroflorestal em relação ao palmito, frutodo açaí e castanha-do-brasil tem melhorado a qualida-de de vida de algumas comunidades da floresta. Oaumento da pecuária representa 20% do rebanho bo-vino nacional. É praticada de forma itinerante em sis-temas mistos de produção, com baixo padrão tecnoló-gico, como complemento alimentar e poupança (CUT/Contag, 1998).

Enfim, a sustentabilidade da agricultura famili-ar na Amazônia é afetada, principalmente, pela estru-tura fundiária e pelos aspectos relacionados com a in-tegração ao mercado, à tecnologia, ao conhecimentoprodutivo, às políticas de crédito e ao mercado de tra-balho, que está longe de ser fonte geradora de renda etrabalho compatível com suas necessidades sociais ecom a reposição das condições naturais da produção.

Esses problemas, contudo, devem ser vistos em suadiversidade, pois ensejam políticas diferenciadas, comvistas a minorar seus efeitos. É necessário planejar umacombinação de instrumentos voltados à produção agrí-cola, à preservação ambiental e às condições econômi-co-sociais para cada grupo de produtores (Kitamura,1994). Além disso, a diversidade ecológica de tipos deagentes sociais e situações socioeconômicas da regiãoapontam para uma pluralidade de “soluções” aos pro-blemas apontados.

Os sistemas agroflorestais (SAF) se apresentamcomo uma alternativa de produção para as proprieda-des familiares na região amazônica, principalmenteno que se refere à diversificação de produtos e à gera-ção de fonte de renda adicional para esses agriculto-res. Os sistemas agroflorestais são também indicadospara recuperação de áreas degradadas, por permitiremcontrole de erosão, melhorias do solo e manutençãode sua umidade. Mas a sua viabilidade na região Ama-zônica depende, em grande parte, da diversificação daprodução como estratégia de comercialização, da ca-pacitação dos produtores à agricultura sustentável, deparcerias com empresas visando à entrada dos produ-tos no mercado em condições de competitividade, e,por fim, de constante acompanhamento de resulta-dos de pesquisas. Enfim, a estratégia mais importantepara o produtor tradicional manter a sustentabilida-de do seu sistema produtivo é garantir a estabilidadedos níveis de biodiversidade dos ecossistemas por elemanejado, maior poder de barganha da Amazônia.Para isso, é fundamental o uso controlado do fogo, ocontrole e manejo dos recursos genéticos que supor-tam a estabilidade produtiva a longo prazo, às formasde produção locais, incluindo organização social evalores culturais. Neste sentido, representantes dossetores extrativista, pesca artesanal, madeireiro, alémde agropecuaristas, Movimento dos Sem Terra, ONGe parlamentares dos estados da Amazônia legal, reuni-ram-se com o Ministro do Ministério do Meio Ambi-ente para apoiar a implantação de um modelo de de-senvolvimento sustentável na região, com base nasnovas normas para desmatamento. Essas normas li-mitam para a pequena produção (até 100ha e extrati-vistas) um desmatamento de no máximo 3ha/ano/família ou 5ha/ano em áreas coletivas. Para os médi-os e grandes produtores com áreas acima de 100ha,será necessária a autorização do IBAMA, conformemedida provisória nº1736 de 13/01/1999. A pesquisaagronômica contribuiu com o Projeto SHIFT-Capoei-ra (Studies of Human Impact on Forests and Flood-plains in the Tropics), desenvolvido pela EMBRAPA/GTZ, apontou caminhos alternativos ao sistema tra-dicional: preparo da terra sem queima e enriqueci-mento da capoeira. A substituição da prática da quei-ma pela trituração da vegetação por ocasião do prepa-

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ro da área evita que os nutrientes acumulados sejamperdidos pelo uso do fogo. Neste sentido foi desen-volvido pelo Instituto de Agroengenharia da Univer-sidade de Göttingen uma máquina trituradora de ca-poeira (TRITUCAP), atualmente em fase de testes eadaptação em estabelecimentos de produtores na re-gião Bragantina, no município de Igarapé-Açu.

Um exemplo de sustentabilidade ambiental deatividades produtivas na Amazônia são as reservas ex-trativistas criadas a partir de 1990, onde se instituiuum modelo de unidade legal de conservação e utiliza-ção da floresta. Atualmente, existem 11 reservas e as-sentamentos extrativistas, afetando 30.000 pessoas equase 4 milhões de hectares. A organização das comu-nidades extrativistas se fortaleceu, convertendo-se namais importante interlocutora com o mercado, comas instituições públicas e privadas. Estas reservas ava-liam suas atividades, buscam novos modelos de sus-tentabilidade e de organização empresarial, visando averticalização da produção de látex (como o courovegetal, exportado para Europa e a extração do óleoda castanha-do-brasil) e novas formas de associações(como a Associação dos Extrativistas da Amazônia –ATEA, composta por brasileiros, bolivianos e perua-nos), com vistas ao mercado internacional. No Acrese desenvolve o conceito de neo-extrativismo, que com-preende a exploração agrícola e pecuária adaptadas àspeculiaridades naturais e culturais da região, tendocomo principais oportunidades de produção: os siste-mas agroflorestais, a pequena pecuária leiteira, a pisci-cultura, a criação de pequenos animais e a reestrutu-ração e modernização do extrativismo tradicional. Aexemplo da castanha-do-brasil, em uma experiênciano Estado do Acre, que está recebendo o selo amazô-nico, como uma estratégia de marketing para produ-tos da região. O óleo da castanha, em outra experiên-cia interessante no Estado do Amapá, está servindode insumo para a fabricação de creme e loção hidra-tantes. Um aspecto importante é a organização social,a capacitação para a intermediação das relações co-merciais e a articulação dos grupos com as agênciasde fomento. Esse é um bom exemplo, de como a edu-cação tem se apresentado com fator decisivo ao forta-lecimento da agricultura familiar na Amazônia, as-sim como em outros agroecossistemas, mas principal-mente, como tem sido instrumento orientador dascomunidades para buscar melhores condições de vida.

4. Como são os processos de conscientizaçãoassociados a esses efeitos?

Segundo o relato das condições de uso e ocupação dosolo, com ênfase na atividade agrícola, observa-se queo Brasil ainda é um país agrícola. Porém, a sustentabi-lidade desta atividade, ou seja, o potencial agrícola está

ameaçado pela deterioração dos recursos básicos, quesão o solo, as águas e material genético.

Apesar das diferenças peculiares de cada região,da fundamentação do agronegócio ser o amplo en-volvimento da sociedade na cadeia produtiva comomelhoria da eficiência do setor agrícola e da sua con-tribuição significativa à balança comercial do Brasil,o agronegócio tem sido um fator preponderante aoagravamento de problemas sociais e ambientais relaci-onadas ao uso do solo nas regiões da Mata Atlântica eCerrado. Utiliza-se de algumas práticas conservacio-nistas de solo (curvas de nível e terraceamento). Umaminoria recupera nascentes, matas de galeria e respei-tam a reserva legal. Mas ainda não incorporou siste-mas de produção agroecológicos mais diversificados,com um mercado mais acessível a todo tipo de agri-cultor e cultura local. O alto custo de produção eprodutividade não possibilitam a concorrência porpequenos agricultores. A agricultura familiar não dis-põe de condições para aquisição de tecnologia e insu-mos adequados, nem tampouco estímulo creditíciopara incrementar sua lavoura. No entanto, é reconhe-cido seu valor como para a exeqüibilidade do desen-volvimento sustentável. Os processos de conscientiza-ção das comunidades rurais que se fundamentam naorganização social são ainda insipientes. O que pre-domina é a indução do mercado e da política agrícolado país, que não se apresentam como sustentáveis. Oagravante é que os recursos naturais da Mata Atlânti-ca, reconhecida na Constituição Federal de 1988 comopatrimônio nacional, assim como os recursos natu-rais do Cerrado, em especial o solo, estão sendo dila-pidados pelas práticas inadequadas da agropecuáriapraticada nessas regiões, colocando em risco, inclusi-ve a continuidade da atividade. Não se pode afirmarque seja uma atividade inviável, mas exige a adoçãode práticas conservacionistas mais amplas, que preve-jam a mitigação de problemas sociais e que não sebaseiem praticamente em dados como “127 milhõesde hectares de terras aráveis nos Cerrados aptos à fron-teira de expansão agrícola; política governamental detransportes voltada à formação de corredores inter-modais que viabilizam a exportação dos sistemas na-turais simplificados voltados à produção de commo-dities; e a pressão de grandes empresas ligadas à pro-dução de grãos”.

A Amazônia e a Caatinga também apresentamproblemas similares preponderantes, apesar das ques-tões ambientais relacionadas ao meio físico sejam exa-tamente inversas. Ambas apresentam problemas soci-ais, com forte apelo cultural a ser preservado. Nova-mente a agricultura familiar é a estratégia de melhoriadas relações sociais e de relação com a terra e seusrecursos, seja para gerenciamento das reservas genéti-

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cas da Amazônia, seja para gerenciamento da seca econtrole da desertificação no Nordeste.

Como as políticas públicas estão setorizadas enão abordam os problemas ambientais de forma maisabrangente, sob todos os aspectos físicos, sociais, polí-ticos, econômicos e culturais, da mesma forma ocor-rem os processos de conscientização. Além de algunsprojetos realizados por ONGs, de maneira geral osprojetos governamentais são temáticos e restritos apequenos grupos comunitários.

5. Qual o objetivo desses processos?

A Educação Ambiental é o instrumento de gestãoambiental que tem por objetivo a formação de umasociedade sustentável. Conforme Deperon (2002), “oprocesso de conscientização da sociedade deve buscara mudança de atitudes, valores e ações na forma de serelacionar com a vida e com a natureza. Envolve umarelação intrínseca com o planeta e o sentimento de sefazer parte de sua história”. É uma questão de consci-ência comum e solidariedade humana, onde cabe ques-tionar os caminhos a se trilhar para se restabelecer umasociedade humana a partir de uma cultura ética e sus-tentável. Os caminhos são diversos, mas é a educaçãoque nos aponta o caminho para assumir consciente-mente os princípios fundamentais para o despertar daconsciência ecológica. Nesse sentido a educação, prin-cipalmente a escola formal e a família podem exercerpapéis essenciais na luta ética e cidadã pela melhoriade vida no nosso planeta. A superação dos problemasambientais exige uma percepção global da naturezaem seus aspectos físicos, econômicos, políticos, histó-ricos e o sentimento de identidade com a espécie hu-mana e todas outras espécies terrenas. O estudo parci-al da natureza é importante, gera aprofundamento, masse não houver esta interação global e sensibilidade àvida, a crise ambiental não se resolve.

No entanto, o exercício de cidadania se baseia,entre outras coisas, no respeito aos direitos e deveresdo cidadão, ditados por políticas públicas que preci-sam ser revistas, para não serem conflitantes com aproposta governamental de promover o desenvolvi-mento sustentável. Para isso, é preciso preparar for-malmente nossos representantes (vereadores, deputa-dos estaduais, deputados federais, prefeitos, governa-dores e até o presidente da república, assim como seusassessores) à praxis da “sustentabilidade”. Por outrolado, a formação de uma sociedade sustentável deixade ser utópica, à medida que se estabelece uma estraté-gia coerente com os anseios da comunidade. De acor-do com Hammes et al (2001), é inegável que as mu-danças no padrão de consumo da sociedade e o exer-cício da cidadania sejam importantes para assegurar

sustentabilidade nos sistemas de produção. Mas é nosetor privado que encontramos os tomadores de deci-sões (empresários) dos sistemas de produção agrícola,industrial, extração mineral, comércio e serviços, quetornam exeqüível o processo de desenvolvimento sus-tentável, em conformidade com as políticas governa-mentais. É notória a participação direta ou indiretado setor privado em assuntos relacionados à disponi-bilidade de energia e água de boa qualidade. A certifi-cação ISO 14.000 tem sido um estímulo a mudançade sistema de produção e padrão de consumo, mas ofortalecimento do Terceiro Setor (TS) pela participa-ção social do Setor Privado, tem contribuído paracapitalizar Programas e Projetos relacionados à me-lhoria ambiental. As organizações sem fins lucrativossão criadas e mantidas pela ênfase na participaçãovoluntária, na incorporação do conceito de cidadaniae de suas múltiplas manifestações na sociedade civil.Difere da filantropia, pelos aspectos: desenvolvimen-to; demanda induzida; execução de projetos e progra-mas centrados no receptor; e no investimento social.Neste sentido, a ética, que se refere à conduta coeren-te da empresa com as premissas de uma sociedadesustentável, norteia sua missão e é compatível com aatuação ambiental de suas fontes financiadoras. As“Empresas Cidadãs” como são conhecidas, são em-presas com consciência social, que prestam serviçosnão só a seus funcionários, mas à comunidade comoum todo, nas mais diversas áreas: educação, cultura,pesquisa. E de maneira geral, investem preferencial-mente em crianças e adolescentes. É preciso ainda,investir na sensibilização do empresariado para pro-mover essa integração, não só com crianças e adoles-cente, mas no estímulo a mudança dos padrões deconsumo e adoção de tecnologias.

6. Qual a condição de sustentabilidade dessesprocessos?

A eficácia do processo de introspecção de valores paradeterminar a mudança de atitude e o padrão de consu-mo em relação ao meio ambiente, aspecto qualitativo,varia da sensibilização, conscientização e ação solidária.Ou seja, uns apenas tomam ciência da existência de umdeterminado problema, outros alteram alguns hábitosem relação a determinados problemas ou diante da per-cepção da relevância da participação de todos para amelhoria da qualidade de vida, passam também a atuarno processo de divulgação e mobilização social. Já aeficiência do processo está associada ao aspecto quanti-tativo, pois depende da capacidade de mobilização dosparceiros envolvidos. Por isso, o processo de formaçãode uma sociedade sustentável deve considerar dois as-pectos importantes, a metodologia e a parceria integra-da dos setores público, privado e sociedade civil.

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Programas de desenvolvimento ou conscienti-zação fundamentados na divulgação e acesso a insu-mos e técnicas (moda), no estímulo creditício e de pre-ço (mercado), não são processos sustentáveis. A sus-tentabilidade dos processos está na introspecção devalores relacionados à melhoria da qualidade de vida ebaseados num processo conceitual e interativo socio-construtivista, que não se alteram, mas se fortalecemcom o passar do tempo.

7. Diante deste contexto, quais processos/atitudesdeverão ser enfrentados para garantir a suasustentabilidade?

A revisão participativa dos processos existentes podeapontar medidas de um processo transitório, que re-quer tempo, dedicação, objetividade e comprometimen-to do poder público para integrar as demandas e for-mular políticas que regulamentem um amplo proces-so de conscientização da sociedade de um futuro sus-tentável.

O processo de formação de uma sociedade sus-tentável deve refletir sobre sua relação de comporta-mento e consumo com as questões do solo. Para po-der participar do planejamento do uso e a ocupaçãoapropriada dos espaços, seja para o desenvolvimento,seja para a conservação. As áreas de desenvolvimentorural e expansão urbana devem priorizar as reservas desolos férteis para a produção alimentar. As áreas deconservação devem delimitar as áreas de recarga dosaqüíferos para resguardar os mananciais de água sub-terrâneas e garantir a reserva de água para as geraçõesfuturas. Todas as formas de uso e ocupação devem re-duzir as áreas de impermeabilização do solo e adotarpráticas conservacionistas de proteção das característi-cas físicas, químicas e biológicas. Ou seja, consideran-do os preceitos de capacitar a população a construirum cenário que compatibilize o desenvolvimento e aconservação da natureza, é preciso refletir sobre os efei-tos ocasionados pelas intervenções do homem sobre osolo e iniciar o seu uso planejado, de tal forma queestimule o desenvolvimento sustentável.

Considerar que 82% da população brasileiraconcentra-se nas cidades, sem planejamento dos espa-ços rurais do entorno, nem a proteção de mananciais,com o aumento do risco ambiental pelas áreas periur-banas e das zonas rurais próximas. Uns utilizam o solocomo receptor dos dejetos urbanos. A zona rural sofrea pressão da especulação imobiliária, em detrimentodo uso agrícola do solo para produção de alimentos ematéria-prima, que, sob a regência de uma políticaagrícola voltada à eficiência econômica de gerar rique-za, encontra dificuldades de associar as demandas demercado à incorporação de práticas conservacionistae questões sociais. São geradas assim, distorções do tipo,

“o agricultor é um criminoso ambiental”. Neste senti-do, surge uma tendência à incorporação de práticasmais conservacionistas, como o plantio direto, que nãorefletem a consciência ambiental, mas a busca induzi-da por uma solução alternativa.

Em todas as regiões, formam-se em torno doscentros urbanos, cinturões de pobreza, que refletem aausência de planejamento da expansão urbana e polí-tica habitacional, assim como uma pressão sobre osprodutores agrícolas do entorno, pelos baixos preços ealto custo de produção, que se rendem à especulaçãoimobiliária.

Nas regiões essencialmente agrícolas, onde pre-domina os latifúndios com monoculturas para expor-tação, ainda se observa conflitos de ordem social asso-ciados a relações de trabalho, posse da terra e sanea-mento básico e o sistema de produção convencionalcom intenso uso de pesticidas e sem muita preocupa-ção com as práticas conservacionistas, característicosde processo de expansão da fronteira agrícola, inclusi-ve fazendo pressão e colocando em risco relevantesáreas naturais.

Refletir ainda sobre a influência do solo na di-versidade peculiar das regiões, que está relacionadaprincipalmente a sua função vegetativa de produção eescoamento de alimentos e matéria-prima para o abas-tecimento e indústria. A expansão da fronteira agríco-la é o maior risco ambiental na região Norte, onde aprodução intensa é frágil devido à baixa fertilidade ecapacidade de retenção hídrica do solo, que apesar daalta pluviosidade, possui em contrapartida, uma altaevapotranspiração. Isso ocasiona um uso temporárioda terra seguido de abandono e regeneração natural,por parte dos pequenos agricultores. O trabalho dasONGs, universidades e instituições de pesquisa temincentivado a formação de grupos que buscam alter-nativas auto-sustentáveis para administrar sua produ-ção ou atividade extrativista, assim com valorizar há-bitos culturais. Também no Centro-Oeste, alguns tra-balhos de resgate da cultura indígena buscam integrá-la a sociedade moderna, como estratégia de proteção.A intervenção dos grandes projetos de rede viária, trans-missão de energia e transposição de água que cortam opaís, altera constantemente a relação de uso e ocupa-ção da terra nas cidades interioranas. Principalmenteno Nordeste, onde surge agropolos de agricultura irri-gada, assim com se ampliam áreas de desertificação econseqüente nível de pobreza. A miséria se expandetambém nos bolsões de pobreza urbana ocasionadapelo êxodo do pequeno produtor rural, que não en-contra incentivos suficientes ou acessíveis para a manu-tenção de sua família e busca nos centros urbanos umaalternativa, engrossando as taxas de desemprego e índi-ces de violência. Por outro lado, a um fluxo inverso deuma população não agrícola, em busca de um espaço

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com melhor qualidade de vida. Este fenômeno é in-tenso no Sudeste, onde a mecanização da colheita decana-de-açúcar promoveu um intenso inchaço das ci-dades e explosão da violência urbana. No Sul, os pro-blemas ambientais estão mais relacionados à questãoagrária, de disponibilidade de terra. As comunidadesde imigrantes remanescentes mantêm uma qualidadede vida equivalente ou melhor que os países de origem,pois os valores ambientais foram protegidos como es-tratégia de proteção da cultura centenária. Isto demons-tra como o processo de conscientização pode efetiva-mente melhorar a qualidade de vida da sociedade.

Revendo todas essas questões, a própria socie-dade poderá apresentar soluções mais adequadas à rea-lidade local, conforme indica a Agenda 21, sem preci-sar importar soluções, mas até exportá-las. O Brasilpode não ter uma tecnologia tão avançada, mas possuium povo avançado na convivência pacífica, no bomhumor, características muito mais difíceis de seremconquistadas. A inexistência de uma política integra-da pautada no meio ambiente mantém o potencial doBrasil, de toda a natureza, numa incógnita. Mas certa-mente, não é desconhecido pelos países que dominama tecnologia espacial e utilizam o sensoriamento re-moto de alta precisão para explorar os recursos da Ter-ra. Urge, tomar conhecimento de tal potencial e pre-parar a sociedade, respeitando suas peculiaridades cul-turais.

Políticas públicas, O instrumento de açãogovernamental I – Cenário atual (situação epressão)

Mundo

Ao assumir a coordenação do artigo 36 da Agenda 21,referente à Educação Ambiental, na ECO 92, a UNES-CO lança em 1994 uma iniciativa internacional de“educação para o futuro sustentável”, que consolidoua necessidade pela comunidade, sobre o estilo susten-tável de vida alicerçado pela ética, cultura e eqüidade,como imperativos morais à mobilização dos diversossetores, como motor da transformação e formação desociedades sustentáveis.

Os acordos internacionais tendem a respeitar oprocesso globalizado de incorporação de hábitos epráticas conservacionistas, como uma estratégia dedesenvolvimento sustentável. Neste sentido, a mobili-zação conjunta das nações para defender os interessescomuns tem sido o mote para inúmeros acordos decooperação, mais recentemente com a Alemanha, paraatuar na proteção da Mata Atlântica. Assim como der-rubar barreiras protencionistas a produtos agropecuá-rios brasileiros na OMC.

Brasil

O Brasil possui políticas internas, leis e tecnologiabastante boas em relação ao meio ambiente, mas a so-ciedade como um todo não está preparada para utili-zá-las. Um entrave é o conflito entre as políticas públi-cas setoriais, que não incorporam o meio ambiente,com o caráter de transversalidade que possui no pro-cesso de transformação socioambiental.

Nenhuma das políticas que regulamentam asatividades econômicas é tão eficaz na deterioraçãoambiental como a política agrícola e de transportes.Associadas, a rede viária acelera o processo de expan-são agrícola transformando amplamente grandes árease destruindo, em alguns casos, irreversivelmente partedos recursos naturais. Acelera também o processo deconcentração populacional nas cidades, que de manei-ra geral, não administram adequadamente sua relaçãode uso e ocupação da zona rural entorno.

Mas a Constituição Federal de 1988 prevê a Edu-cação Ambiental, que influiu na adequação curricularàs exigências sociais em 1991, feita pelo Ministério daEducação. O Programa Nacional de Educação Ambien-tal criado em 1994 foi um dispositivo de apoio políti-co, reforçado em 1999, quando a Política Nacional deEducação Ambiental foi instituída pela Presidência daRepública, através da Lei nº 9.795, estabelecendo demaneira abrangente as linhas de atuação formal e nãoformal. O lançamento dos Parâmetros CurricularesNacionais do Meio Ambiente em 2001 materializa oestímulo governamental ao Ensino Fundamental. Di-ante da inexistência de uma proposta para capacitaçãode pessoal, após cinco anos de pesquisa a Embrapa MeioAmbiente desenvolveu uma estrutura metodológica (Em-brapa Meio Ambiente, 2001), que forma agentes multi-plicadores em educadores ambientais que podem orien-tar a sociedade a conhecer, analisar e agir segundo suarealidade ambiental local, considerando os aspectos agrí-colas, normalmente desconsiderados da análise ambi-ental. Caracteriza-se pelo envolvimento (integrativo) eparticipação (participativo) da coletividade na constru-ção de uma visão crítica (permanente), propiciandomudanças de atitudes e de postura (pró-ativa transfor-madora), sobre os múltiplos aspectos (globalizadora –socioambiental e transversal – interdisciplinar e interse-torial) que resultam na qualidade de vida do planeta apartir da realidade local (contextualizadora). A ausênciade metodologia dificulta ainda hoje, a introspecção dosprincípios da educação ambiental na abordagem dasquestões ambientais, principalmente nos projetos esco-lares e comunidades rurais.

O solo é um recurso pouco vislumbrado nosprojetos. A partir da Constituição Brasileira de 1988, amineração tem por obrigação recuperar as áreas degra-dadas por ela. Assim, se observa a criação de empresas

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cidadãs do setor atuando no processo de conscientiza-ção, como o CEPA, Centro de Estudos e PesquisasAmbientais da ALCOA, em Poços de Caldas. Esse éum bom exemplo para mostrar como a política públi-ca, juntamente com o setor privado, pode colaborarpara viabilizar o processo de formação de uma socie-dade sustentável.

A educação ambiental é um reconhecido ins-trumento de planejamento ambiental. A necessidadede planejamento esbarra na eterna realização de diag-nósticos, com múltiplas metodologias e objetivos, paraconhecimento da situação e pressão existente. A maisampla iniciativa do Brasil neste sentido é o Zonea-mento Ecológico-Econômico do Programa AvançaBrasil, que ditará o planejamento socioeconômico eorientará a política ambiental. É preocupante o poderdo resultado deste estudo, seja pela escala, seja pelométodo utilizado para traduzir os anseios da socieda-de. A ausência do processo participativo neste proces-so pode inviabilizar a preparação do mercado paradisponibilizar recursos tecnológicos a sua implemen-tação e atender à interface entre a macrozona e a co-munidade local, como aponta a Agenda 21.

II – Cenário Desejado

De 1992 para 2002, o processo de conscientização evo-luiu da urgente preparação das gerações futuras de en-frentar o desafio do desenvolvimento sustentável, paraa um processo de transformação sociopolítica, que nãose resume a alguns segmentos, mas que começa a envol-ver toda a sociedade. De modo que a ação local para obem global, ainda passa por um processo de introspec-ção de em práticas conservacionistas às atividades eco-nômicas, alteração dos padrões de consumo e atitudesem relação ao uso adequado do espaço geográfico e adestinação de resíduos. A comunidade humana percebeque é parte da natureza e depende dela para sobreviver,e para isso deve proceder o desenvolvimento em conso-nância com a capacidade de suporte dos recursos natu-rais e conseqüentemente adequar seu padrão de consu-mo. De acordo com Gliessman S.R.(2002), sustentabili-dade é um teste de tempo. A despeito dos desafios, já seconsidera fundamental a formação de uma socieda-de sustentável, sem a qual todo o processo se tornareversível a primeira crise, ao invés da busca cooperadade adequação a dinâmica da vida.

Mas para projetar o futuro sustentável é preciso“sonhar” como seria um país que respeite a diversidadesocioambiental peculiar de cada comunidade. Deve serregido por uma política pública integrada pelo viés datransversalidade da questão ambiental e que respeite oslimites da dignidade humana, que ultrajada só engros-sam as estatísticas da violência. Um setor privado queadote sistemas de produção e serviço que respeite a ca-

pacidade de suporte do meio físico, reduza o uso deprodutos naturais, em especial os não renováveis, comoo gás natural, aumente o uso de material reciclado, tratea água e seus resíduos para reutilização. É um fato, quea incorporação de critérios ambientais na produção tec-nológica tem aumentado a competitividade das empre-sas brasileiras no cenário mundial. Os benefícios oriun-dos da melhoria da imagem e do ambiente de trabalhose acumulam, à medida que a sociedade vai se conscien-tizando e dando preferência a produtos desse tipo deempresa. E uma sociedade civil participativa dos pro-cessos de decisão do planejamento de uso e ocupaçãodo solo e ciente de suas necessidades para garantir odesenvolvimento sustentável. Apesar de existirem vári-os mecanismos e instâncias de articulação entre gover-no, setor privado e sociedade civil (comitês de bacias,conselhos municipais, Agenda 21 local e regional, den-tre outros), ainda é ineficaz (não democrática) a formade consulta a sociedade, necessitando o estimular técni-cas e práticas que promovam a participação de todo oindivíduo, como ZOPP e Metaplan. As organizaçõescivis (de produtores, consumidores, etc) são o mecanis-mo representativo de participação da sociedade nas ins-tâncias consultivas do governo, mas ainda não partici-pam efetivamente do processo de decisão (instâncias de-liberativas). De maneira geral, o planejamento ambien-tal para o desenvolvimento sustentável envolve duasações prioritárias: reflorestamento de nativas e destina-ção adequada dos resíduos (3Rs). Sem depreciar o valorda produção de eucalipto para reduzir inclusive a pres-são de corte sobre as nativas, mas também sem confun-dir mata, com sua porção diversificada de nativas combosque de eucalipto.

É muito comum este tipo de confusão, mas aprodução de eucalipto é uma atividade agrícola deno-minada silvicultura. Como a atividade agrícola se apre-senta como estratégica à manutenção da paisagem eproteção dos recursos naturais, é importante salientaras diretrizes orientadoras das ações que visem o desen-volvimento sustentável propostas pelo Grupo de Tra-balho em Agricultura Sustentável preparatório à IVReunião Conjunta do Fórum Nacional de Agricultu-ra (1998), para a preparação da Agenda 21 brasileira, oapresentou as seguintes:

Ø fortalecimento de mecanismos e instâncias de arti-culação entre governo e sociedade civil;

Ø fortalecimento da agricultura familiar frente aosdesafios da sustentabilidade agrícola;

Ø incentivo ao planejamento ambiental (bacia hidro-gráfica) e ao manejo sustentável dos sistemas pro-dutivos; e

Ø incentivo à geração e à difusão de informações e deconhecimentos que garantam a sustentabilidade daagricultura.

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Cabe acrescentar, a questão da criação de meca-nismos mercadológicos de formação e fortalecimentode um mercado justo, que se aproxime do agricultorfamiliar e transforme-o numa instituição forte e estra-tégica do mercado interno brasileiro frente às flutua-ções da globalização, e que pela própria natureza cul-tural não possui similar/concorrência no exterior. Nestesentido, a biodiversidade agrícola é a maior riqueza debarganha comercial no mercado externo. Sob este as-pecto, independente dos efeitos ambientais e para asaúde, o pior dos efeitos dos transgênicos é a deterio-ração da biodiversidade genética dos produtos agríco-las brasileiros.

Sob essa nova perspectiva conceitual, a ênfasedada à agricultura familiar, não deprecia o mérito dosgrandes produtores de grãos, responsáveis pela exce-lente presença brasileira no mercado mundial. Mascomo toda questão evolutiva, a melhoria de processorequer a adoção de práticas coerentes com a propostade desenvolvimento sustentável e incorporação denovas frentes de trabalho e produtos. São práticas sim-ples e amplamente conhecidas, como a diversificaçãodos sistemas produtivos, por consorciações e rotações,agroflorestação, resgate de variedades genéticas adapta-das às condições edafoclimáticas resistentes a condi-ções adversas locais, alternativas de proteção do solo,com o plantio direto, adubação verde, biofertilizantes,adubação orgânica, fixação biológica de nitrogênio,alternativas de uso a agrotóxicos como o controle bio-lógico e manejo integrado de pragas, controle da po-luição de dejetos de suínos (com uso de cama de serra-gem), vinhoto e queima de cana, redução dos desmata-mentos e queimada, certificação florestal e organiza-ção social. Este último é um convite ao processo desensibilização e aproximação do grupo às discussõessobre o planejamento integrado, pois detém as melho-res condições de impulsionar o Brasil, a uma posiçãoestratégica de commodities ambiental.

Da mesma forma ocorreu com o setor privadoindustrial e de mineração, que devido ao caráter deverticalização do setor agilizou a incorporação dessaspráticas que se apresentam mais avançadas com a cer-tificação ambiental dos processos, inclusive participan-do do Terceiro Setor como empresas cidadã.

III - Diante do contexto atual e das perspectivasfuturas, segundo as pressões exercidas, quais são asindicações para atingir o objetivo?

O exercício da cidadania se reflete no processode destinação dos recursos e, por isso, a EducaçãoAmbiental é um instrumento de gestão ambiental. Aparticipação dos atores sociais se apresenta mais oumenos eficiente em interferir no processo de planeja-mento contínuo e dinâmico do uso do espaço, con-

forme a clareza e coerência entre as políticas públicassetoriais, que entre outras coisas, precisa determinarcompetências e responsabilidades institucionais deinteração com a sociedade civil.

As estratégias são viáveis se induzirem os agen-tes sociais mais dinâmicos a uma articulação em âmbi-to local da qual resultem sinergias. Caso contrário, pormelhor que possam parecer, essas estratégias não alte-rarão o status quo. Não haverá perspectiva sustentávelpara a agropecuária sem uma dinamização endógenaque caminhe nessa direção. Seria uma perigosa ilusãoacreditar que a superação dos obstáculos à sustentabi-lidade pudesse vir de fora (Política pública elaboradasob trabalho técnico ou pesquisa de opinião interpre-tada por uma empresa especializada), por melhor quefossem as políticas decorrentes das estratégias propos-tas pela Agenda 21 Brasileira. Não menos absurdo se-ria imaginar que tal superação pudesse resultar de al-gum tipo de ação isolada, desta ou daquela organiza-ção pública ou privada. Enquanto não surgirem ino-vações de âmbito local, de nada valerão longas listasde objetivos, linhas de ação, propostas de política, for-mas de gestão, etc. As experiências mais avançadas in-dicam claramente que tais inovações costumam serimpulsionadas pela elaboração de diagnósticos micro/mesorregionais por organizações de pesquisa, de ex-tensão e de educação popular capazes de mobilizar earticular cooperativas, associações, enfim, os agentessociais mais dinâmicos de cada localidade.

Ficou claro que os valores e processos de consci-entização associados à exeqüibilidade do desenvolvimen-to sustentável, passam pelo processo educativo de todaa sociedade sobre o uso racional do solo por todas asatividades antrópicas, segundo suas funções fundamen-tais de proporcionar alimento (função alimentar), dematerial para construção e processos industriais e su-porte para planejamento adequado do espaço de áreaspara desenvolvimento e para conservação natural (fun-ção material), contribuição ao equilíbrio biogeoquí-mico do planeta, melhorando a qualidade do ar, solo eágua (função biológica) e juntamente com a coberturavegetal adequada atuar na proteção dos mananciais, tantopelos aspectos qualitativos como pela garantia de recar-ga dos aqüíferos subterrâneos, principais reservatóriosde água potável (função filtro). O presente trabalhocorrobora com a proposta do Workshop de EducaçãoAmbiental realizado na Embrapa Meio Ambiente (2002),que o processo amplo, contínuo e permanente de edu-cação ambiental é fundamental para a de formação deuma sociedade sustentável. A dependência da sobrevi-vência do ser humano da produção agrícola a tornaessencial, assim como o solo que dá suporte a esta ativi-dade e por isso apresenta-se como premissa de desen-volvimento sustentável. Cabendo-lhe um tratamentodiferenciado, como estratégia de combate à fome no

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mundo. Por uma questão de eficácia e eficiência, oprocesso de conscientização deve contar ainda comalgumas providências também fundamentais, como atransversalidade da questão ambiental como mote/fator de integração das políticas públicas e da pes-quisa tecnológica; obrigatoriedade do planejamen-to do uso e ocupação dos espaços geográficos (lo-cal), a ser submetido para avaliação das entidadesambientalistas regionais.

Ao se considerar a atividade agrícola como es-sencial à sobrevivência humana, sua importânciacomo instrumento de redução do adensamento po-pulacional, valoração econômica da paisagem e suaamplitude, como a atividade que mais intervém nosolo, recomenda-se a criação de amplos mecanismosde fixação do pequeno agricultor no campo. Ofortalecimento da agricultura familiar se apresentacomo uma estratégia que minimiza questões sociaisassociadas a terras e a desagregação da unidade fami-liar, importante fator educativo e cultural. Uma su-gestão do pesquisador Aldemir Chaim é o desenvol-vimento de tecnologia de baixo custo, que minimizeo desgaste e esforço do indivíduo na atividade agrí-cola, que aumente sua produtividade, mas não dis-pense ou substitua sua presença ou de seus familiarespor máquinas e uso de insumos caros e/ou tóxicos asaúde (desenvolvimento de sistemas agroecológicos)e o estímulo ao estabelecimento de um mercado jus-to, permitindo um mínimo de retorno financeiro,para que a agricultura possa deixar de ser uma dasjustificativas para o êxodo rural. Assim como obser-vado em países como Finlândia, Suécia, Dinamarca,Suíça e Espanha, criam-se instrumentos econômicospara estimular a adoção do manejo sustentável, ofe-

recendo-se apoio financeiro (prêmios) à conversãobiológica dos sistemas produtivos convencionais, afim de reduzir os riscos no período de transição eredução de impostos para o produtor que usa produ-tos biológicos ou controle integrado.

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Ladislau Araújo SkorupaJosé Maria Gusman Ferraz

Sérgio Ahrens

11Legislação e Programas Nacionais

Capítulo

121

Como resultado do amadurecimento das discussõesocorridas ao longo das últimas décadas, tem crescido,cada vez mais, o consenso da necessidade da compati-bilização das questões ambientais com as de ordemeconômica, social e cultural – incluindo a pobreza e aexclusão social, como forma de se atingir um desen-volvimento sustentável. Por sua vez, ocupam menosespaços os posicionamentos extremados ou segmenta-dos, como os que reduzem os problemas globais à de-terioração do ambiente físico e dos seus componentesbiológicos, ou daqueles que colocam a questão dosganhos econômicos em primeiro plano.

Este processo de conciliação entre o desenvolvi-mento econômico e o meio ambiente tem se processa-do de forma lenta e de forma bastante diferenciadaentre os setores produtivos, consumidores, sociedadecivil organizada, e entre as diversas instâncias governa-mentais, nacionais e internacionais.

Sem dúvida, as discussões sobre o tema toma-ram grandes dimensões com a realização de grandesfóruns internacionais realizados sob os auspícios daOrganização das Nações Unidas (ONU) - incluindo-seaqui as reuniões preparatórias que as antecederam. Entreeles estão a Conferência das Nações Unidas sobre oMeio Ambiente Humano – ou Conferência de Esto-colmo, 1972, e a Conferência das Nações Unidas so-bre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD)no Rio de Janeiro, em 1992, ou Eco-92.

De forma inquestionável, a construção de umprocesso de conciliação se refletiu na elaboração daAgenda 21 global 1, um plano de ação para se alcançaro desenvolvimento sustentável, abordando de formaintegrada e sistêmica as dimensões econômica, social,

ambiental e político-institucional. No âmbito nacio-nal, a construção da Agenda 21 Brasileira busca defi-nir uma estratégia de desenvolvimento sustentável parao País, a partir de um processo de articulação e parce-ria entre o governo e a sociedade.

Dentro do contexto de desenvolvimento susten-tável, e em particular da sustentabilidade agrícola, a ges-tão adequada do recurso “solo” é uma questão impera-tiva, tendo em vista o grande número de impactos nega-tivos decorrentes de seu uso inadequado sobre os de-mais recursos ambientais. Entre as conseqüências dano-sas do mau uso do solo estão os processos de degrada-ção relacionados à erosão, desertificação, acidificação esalinização. Na área agrícola, o uso inadequado do solo,além de reduzir a sua capacidade produtiva, tambémproduz impactos negativos em outros recursos naturais,como no caso dos recursos hídricos, com a contamina-ção e o assoreamento dos ambientes aquáticos.

Atividades não-agrícolas também têm promovi-do impactos negativos no recurso solo, como os advin-dos das atividades de mineração, obras de infra-estrutura,expansões de áreas urbanas e industriais, entre outras.

Ações governamentais voltadas à conservação euso do solo são identificadas, em sua maioria, no bojoda política ambiental do País, onde, cada vez mais, osconceitos de desenvolvimento sustentável se consolidam.

Abaixo é apresentada a legislação mais relevan-te relacionada ao uso do solo no Brasil, bem como osprincipais Programas Nacionais que tratam, direta ouindiretamente, do uso sustentável dos recursos natu-rais, e que trazem em seu interior relações com o uso ea ocupação do solo brasileiro.

Legislação Sobre o Uso do Solo

De forma genérica, toda a legislação brasileira é inter-vencionista, limitando ou restringindo os poderes ine-

1Um dos documentos oficiais da CNUMAD, ao lado da Declara-ção do Rio de Janeiro sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimen-to; da Convenção sobre Mudanças Climáticas; da Declaração dePrincípios sobre Florestas e da Convenção sobre a Biodiversidade.

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rentes aos direitos de propriedade, em particular sobrea propriedade imóvel rural ou agrária. O arcabouçolegal que diz respeito, direta ou indiretamente, à prote-ção, ao uso e à ocupação dos solos é vasto e encontra-se disperso em diversos diplomas legais. No entanto,tendo em vista os propósitos deste levantamento, so-mente a legislação federal mais relevante e pertinente éobjetivamente documentada, como segue:

• Constituição Federal de 1988: em seu Art. 225 in-forma-se que “todos têm direito ao meio ambienteecologicamente equilibrado, bem de uso comumdo povo e essencial à sadia qualidade de vida, im-pondo-se ao poder público e à coletividade o deverde defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futu-ras gerações”. De outro lado, no Art. 5°, impõe-seque a propriedade cumpra a sua “função social”,explicitando-se no Art. 186 que a função social dapropriedade rural implica, dentre outros requisi-tos, “o seu aproveitamento racional e adequado” ea “utilização adequada dos recursos naturais dispo-níveis e preservação do meio ambiente.”

• Lei no 6.938, de 31/08/1981. Institui a PolíticaNacional de Meio Ambiente. Em seu Art. 3°,V, de-fine recursos ambientais nos seguintes termos: “aatmosfera, as águas interiores, superficiais e subter-râneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o sub-solo e os elementos da biosfera.”

• Decreto no 99.274, de 06/06/1990, e que regula-menta a Lei n° 6.938/81: esta lei estabelece multas,em seu Art. 35, proporcionalmente à degradaçãoambiental causada, nas seguintes infrações: “II – cau-sar a poluição do solo que torne uma área, urbanaou rural, imprópria para a ocupação humana”.

• Lei no 4.771, de 15/09/1965 (Código Florestal Bra-sileiro): relevante observar que o Art. 1° do CódigoFlorestal informa que “as florestas e demais formasde vegetação, reconhecidas de utilidade às terras querevestem, são bens de interesse comum a todos oshabitantes do país ...”. Por esse motivo o CódigoFlorestal incorpora o instituto jurídico “Florestas edemais formas de vegetação (natural) de preserva-ção permanente”, e que têm como propósito prote-ger os solos (contra a erosão) e as águas (contra oassoreamento).

A Medida Provisória no 1.956-50, de 28/05/2000,reeditada, com o mesmo conteúdo normativo, até aMP no 2.166-67, de 24/08/2001, e que se encontra vi-gente, instituiu a figura jurídica das “Áreas de preser-vação permanente”, bem como incorporou ao CódigoFlorestal uma definição legal para “Reserva Legal”,indicando a necessidade da recomposição da vegeta-ção natural original, nas duas hipóteses, quando aque-la não mais existir, mesmo que apenas parcialmente.Em ambos os casos, encontra-se subjacente também a

proteção dos solos. Ainda com relação às Áreas de Pre-servação Permanente, as resoluções 302 e 303 do CO-NAMA, de 20/03/2002, dispõem sobre os parâmetros,definições e limites dessas áreas.

• Lei no 8.171, de 17/01/1991 (Lei de Política Agríco-la): em dois capítulos explicita normas referentes àAssistência Técnica e Extensão Rural (Capítulo V)e Proteção ao Meio Ambiente e Conservação dosRecursos Naturais (Capítulo VI). Em seu Art 19determina que o Poder Público deverá: I – integrarem nível de governo Federal, os Estados, o DistritoFederal, os Territórios, os Municípios e as comuni-dades na preservação do meio ambiente e conserva-ção dos recursos naturais; II - disciplinar e fiscali-zar o uso racional do solo, da água, da fauna e daflora.”; III – realizar zoneamentos agroecológicosque permitam estabelecer critérios para o discipli-namento e o ordenamento da ocupação espacialpelas diversas atividades produtivas ...”

No Art. 20, a Lei 8.171/91 informa que “As baciashidrográficas constituem-se em unidades básicas deplanejamento do uso, da conservação e da recupera-ção de recursos naturais”. Em seu Art. 30 a mesma leiinforma que o Ministério da Agricultura Pecuária eAbastecimento (em 1991 Ministério da Agricultura eda Reforma Agrária), integrado com os Estados, oDistrito Federal, os Territórios e os Municípios, man-terá um sistema de informação agrícola ampla paradivulgação de : V – cadastro, cartografia e solo daspropriedades rurais (redação dada pela Lei no 9.272, de03/05/1996)

• Lei no 10.228, de 29/05/2001, acrescenta dispositi-vo à Lei de Política Agrícola estabelecendo proce-dimentos relativos à identificação, ao cadastramen-to e à recuperação de áreas desertificadas ou emprocesso de desertificação em todo o território na-cional.

• Lei no 9.433, de 08/01/1997 (Lei que institui a Polí-tica Nacional de Recursos Hídricos): estabelece quea bacia hidrográfica é a unidade territorial para im-plementação da Política Nacional de Recursos Hí-dricos e atuação do Sistema Nacional de Gerencia-mento dos Recursos Hídricos. Dentre as diretrizesGerais de Ação (Capítulo III) o Art. 3° informa queconstituem diretrizes gerais de ação: III – a integra-ção da gestão de recursos hídricos com a gestãoambiental; e V – a articulação da gestão de recursoshídricos com a do uso do solo. Quanto aos “ins-trumentos”, o Art. 7° estabelece que os Planos deRecursos Hídricos incluirão no seu conteúdo mí-nimo: “II – análise de alternativas de crescimentodemográfico, de evolução das atividades produti-vas e de modificações dos padrões de ocupação dosolo .”

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• Decreto no 4.074, de 08/01/2002, que regulamenta aLei 7.802, de 11/07/1989, e que dispõe sobre produ-ção, pesquisa, transporte, utilização, controle e fiscali-zação de agrotóxicos: informa sobre definições, com-petências, registro de produtos, pesquisa, comerciali-zação, receituário, controle, inspeção, fiscalização, san-ções e infrações pertinentes à matéria. Quanto às com-petências, o Decreto 4.074/02 informa em seu Art. 2°Cabe aos Ministérios da Agricultura, Pecuária e Abas-tecimento, Saúde e do Meio Ambiente, no âmbito desuas respectivas competências: V – estabelecer meto-dologias oficiais de amostragem e de análise para de-terminação de resíduos de agrotóxicos e afins em pro-dutos de origem vegetal, animal, na água e no solo”.

• Lei no 7.876, de 13/11/1989: institui o “Dia Nacio-nal de Conservação do Solo” a ser comemorado,em todo o País, no dia 15 de abril de cada ano.

• Lei no 9.985, de 18/07/2000. Institui o SistemaNacional de Unidades de Conservação, SNUC:prevê uso condicionado do solo, para atividadesprodutivas, no que denomina área de “entorno”(10km) das Unidades de Conservação.

• Registre-se também, a existência e vigência de Por-tarias, Resoluções (v.g. do CONAMA) InstruçõesNormativas, editadas por diferentes órgãos daUnião, estados e municípios, e que direta ou indi-retamente normatizam diferentes atividades perti-nentes ao uso e ocupação dos solos em diferentespartes do território nacional.

Por oportuno, cabe também mencionar:

• Decreto no 3.991, de 30/10/2001, que dispõe sobreo Programa Nacional de Agricultura Familiar, PRO-NAF, e que determina em seu Art. 4° como um dosseus princípios basilares “a defesa do meio ambien-te e preservação da natureza” com base nos princí-pios da sustentabilidade.

• Decreto no 3.992, de 30/10/2001, que institui o Con-selho Nacional de Desenvolvimento Rural Susten-tável, CNDRS, e que tem por finalidade elaborar epropor o Plano Nacional de Desenvolvimento Sus-tentável – PNDRS, com base nos objetivos e nasmetas dos programas que promovem o acesso à ter-ra, o fortalecimento da agricultura familiar e a di-versificação das economias rurais, cabendo-lhe co-ordenar, articular e propor a adequação das políti-cas públicas federais às necessidades de desenvolvi-mento rural sustentável.

Mandato Institucional nas Diferentes EsferasPolíticas

A Lei 6.938/81 (Lei que institui a Política Nacional deMeio Ambiente) estabelece em seu Art. 6° que “os órgãose entidades da União, dos estados e do Distrito federal,

bem como as funções instituídas pelo Poder Público, res-ponsável pela melhoria da qualidade ambiental, consti-tuirão o Sistema Nacional de Meio Ambiente”, SISNA-MA, e que este será estruturado da seguinte forma:

a) Órgão Superior: o Conselho Nacional do MeioAmbiente, CONAMA, com a função de assistir oPresidente da República na formulação de diretri-zes da Política Nacional do Meio Ambiente. A com-petência do CONAMA objetiva criar normas espe-cíficas sobre a conservação da qualidade ambien-tal, o que inclui, dentre outras funções, a edição deresoluções que disciplinam o uso e a conservaçãoda cobertura vegetal o que inclui as florestas e, por-tanto, também os solos.

b) Órgão Central: Secretaria Especial do Meio Ambi-ente, SEMA, subordinada ao Ministério do Interi-or, à qual cabe promover, disciplinar e avaliar aimplementação da Política Nacional de Meio Am-biente. Esta Secretaria foi extinta com a Lei no 7.735,de 22/02/1989, que criou o Instituto Brasileiro doMeio Ambiente e dos Recursos Naturais Renová-veis, IBAMA, autarquia para a qual foram transfe-ridos competência e atribuições daquela (bem comoda SUDHEVEA, IBDF e SUDEPE).

c) Órgãos Setoriais: órgãos da administração públicafederal, direta ou indireta, bem como as fundaçõesinstituídas pelo Poder Público, e cujas atividadesestejam total ou parcialmente associadas às de pre-servação da qualidade ambiental ou de disciplina-mento do uso de recursos ambientais; dentre estesinclui-se o IBGE, o IBAMA e as Superintendênciasde Desenvolvimento Regional como SUDAM,SUDENE e SUDESUL.

d) Órgãos Seccionais: órgãos ou entidades estaduaisresponsáveis pela execução dos programas e proje-tos e pelo controle e fiscalização das atividades sus-cetíveis de degradarem a qualidade ambiental, como,por exemplo, as Secretarias Estaduais de MeioAmbiente e as empresas públicas de controle dapoluição (v.g. CETESB).

e) Órgãos locais: os órgãos ou entidades municipaisresponsáveis pelo controle e fiscalização, em suasrespectivas áreas de jurisdição: Secretarias Munici-pais de Meio Ambiente e os Conselhos Municipaisde Meio Ambiente.

PROGRAMAS NACIONAIS

Programa do Protocolo Verde

O Programa do Protocolo Verde é uma das iniciativasdo governo brasileiro mais emblemáticas em termosde políticas públicas para o desenvolvimento sustentá-vel. Trata-se de um documento contendo diretrizes,

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estratégias e mecanismos operacionais para a incorpo-ração da variável ambiental no processo de gestão econcessão de crédito oficial e benefícios fiscais às ati-vidades produtivas.

As linhas de atuação do referido Protocolo fo-ram elaboradas por um Grupo de Trabalho instituídopor decreto presidencial em maio de 1995, com repre-sentantes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente edos Recursos Naturais Renováveis, Ministério do MeioAmbiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Le-gal; Ministério da Fazenda; Ministério do Planejamen-to e Orçamento; Ministério da Agricultura, do Abaste-cimento e da Reforma Agrária; Comissão Econômicapara a América Latina e Caribe; Banco Central do Bra-sil; Banco Nacional do Desenvolvimento Econômicoe Social; Banco do Nordeste do Brasil; Banco da Ama-zônia; Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal.

O Protocolo foi assinado, em novembro de 1995,pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, pelosministros no Meio Ambiente, dos Recursos Hídricose da Amazônia Legal; da Agricultura, do Abastecimen-to e da Reforma Agrária; da Fazenda; e do Planeja-mento e Orçamento; pelo presidente do Instituto Bra-sileiro do Meio Ambiente e dos Recursos NaturaisRenováveis; e pelos presidentes do Banco Central, doBanco Nacional do Desenvolvimento Econômico eSocial, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Fede-ral, do Banco do Nordeste do Brasil e do Banco daAmazônia.

A assinatura da Carta de Princípios para o De-senvolvimento Sustentável - Anexo I do Protocolo -marcou o início da concretização das propostas que,entre os seus princípios gerais, estabelece que o setorbancário deve privilegiar de forma crescente o financi-amento de projetos que não sejam agressivos ao meioambiente ou que apresentem características de susten-tabilidade, e que a gestão ambiental requer a adoçãode práticas que antecipem e previnam degradações domeio ambiente. Propõe, dessa forma, a alocação derecursos públicos em projetos auto-sustentáveis doponto de vista socioambiental, evitando o seu uso emprojetos que promovam prejuízos ambientais.

A Casa Civil da Presidência da República presi-de o grupo de trabalho encarregado de implementaras recomendações do Protocolo. Participam do grupoo Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídri-cos e da Amazônia Legal; Ministério da Agricultura edo Abastecimento; Ministério do Planejamento; Mi-nistério da Fazenda; Instituto Brasileiro do Meio Am-biente e dos Recursos Naturais Renováveis; BancoCentral; Banco Nacional do Desenvolvimento Econô-mico e Social; Banco do Brasil; Banco do NordesteBrasileiro S/A; Banco da Amazônia; e pela FINEP, apartir de setembro de 1997.

Programa Nacional de Florestas - PNF

O Programa Nacional de Florestas (PNF) foi concebidodiante da necessidade de imprimir ou de ordenar açõesem curso no Setor Florestal Brasileiro, e de compatibili-zar a política florestal com as demais políticas públicasdo governo, de forma a disciplinar a exploração e apreservação das florestas do País, tendo como paradig-ma o desenvolvimento sustentado, tal como preconiza-do na Agenda 21 (Decreto n. 3.420, de 20/04/2000).

O PNF foi elaborado sob a coordenação doMinistério do Meio Ambiente, tendo como base umaconsulta pública envolvendo mais de 600 instituiçõesdo setor florestal, organizações ambientalistas, o meioacadêmico, produtores e empresários florestais e pro-fissionais liberais, assim como dos Ministérios da Agri-cultura e Abastecimento, Ciência e Tecnologia, Inte-gração Social, Planejamento, Orçamento e Gestão.

O Programa possui como objetivos estimular ouso sustentável de florestas nativas e plantadas; fomen-tar as atividades de reflorestamento, notadamente empequenas propriedades rurais; recuperar florestas depreservação permanente, de reserva legal e áreas altera-das; apoiar as iniciativas econômicas e sociais das po-pulações que vivem em florestas; reprimir desmatamen-tos ilegais e a extração predatória de produtos e sub-produtos florestais, conter queimadas acidentais e pre-venir incêndios florestais; promover o uso sustentáveldas florestas de produção, sejam nacionais, estaduais,distrital ou municipais; apoiar o desenvolvimento dasindústrias de base florestal; ampliar os mercados inter-no e externo de produtos e subprodutos florestais; va-lorizar os aspectos ambientais, sociais e econômicosdos serviços e dos benefícios proporcionados pelas flo-restas públicas e privadas; estimular a proteção da bio-diversidade e dos ecossistemas florestais.

As ações do Programa estão organizadas segun-do linhas temáticas, levando em consideração as con-sultas públicas realizadas, e os projetos ou atividadesprevistas no Plano Plurianual do Governo Federal –PPA 2000-2003. Os objetivos de cada linha e suas me-tas são as seguintes:

Expansão da base florestal plantada - ampli-ar a base florestal plantada, buscando integrar ao pro-cesso produtivo as pequenas e médias propriedadesrurais. Meta: implantação de 630 mil hectares/ano deflorestas.

Expansão e consolidação do manejo de flo-restas nativas em área públicas: ampliar e consoli-dar a base de florestas manejadas em áreas públicas eaprimorar o sistema de gestão das unidades de usosustentável. Metas: ampliar em 50 milhões de hectaresas florestas nacionais, estaduais e municipais na Ama-zônia Legal, até 2010. Desse total adicional, no míni-mo 10 milhões de hectares deverão ser efetivados até oano 2003.

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Manejo de florestas nativas em áreas priva-das: ampliar a adoção dos sistemas de manejo susten-tável em áreas de florestas nativas, inclusive as destina-das a compor a reserva legal das propriedades rurais,nos termos da Medida Provisória nº 1.956-53, que alte-rou dispositivos do Código Florestal de 1965. Metas:incorporar ao regime de produção sustentável a áreade 20 milhões de hectares em propriedades privadasque possuam cobertura vegetal nativa na Amazônia e560 mil hectares no Nordeste, até o ano 2010.

Monitoramento e controle: manter a integri-dade das florestas, reduzindo os desmatamentos ile-gais, as queimadas acidentais e os incêndios florestais.Metas: ampliar o monitoramento do uso dos recursosflorestais para todo o território nacional (Mata Atlân-tica, Cerrados e Caatinga), estabelecendo planos de açãode prevenção, controle e combate de desmatamentosilegais, queimadas acidentais e incêndios florestais porbioma; reduzir as queimadas, os incêndios florestais ea extração predatória de produtos madeireiros e nãomadeireiros; revisar os instrumentos normativos queconcedem a autorização de desmatamento; apoiar osprocessos de descentralização das atividades de moni-toramento, controle e fiscalização.

Populações tradicionais e indígenas: apoiare promover a incorporação das populações tradicio-nais e indígenas ao processo produtivo, assegurandosua subsistência e sustentabilidade nas áreas com po-tencial para a produção florestal racional e múltipla.Metas: ampliar a implementação de programas, proje-tos e atividades, envolvendo os governos federal, esta-duais e municipais, ONGs e outros segmentos dos se-tores produtivos e social, que valorizem o conhecimen-to das populações tradicionais e indígenas.

Educação, ciência e tecnologia florestais: buscara melhoria da produtividade florestal, reduzindo des-perdícios e agregando valor aos produtos florestais;ampliar e atualizar as atividades de ensino florestaltecnológico e superior. Metas: aumentar em 50% aprodutividade de pequenas e médias propriedades ru-rais com plantações florestais, até 2010, com a conse-qüente redução dos custos de recuperação e restaura-ção de áreas de preservação permanente, de reservaslegais e áreas degradadas.

Serviços ambientais das florestas: valorizar eco-nomicamente os serviços ambientais prestados pelasflorestas, especialmente a fixação de carbono e a con-servação de mananciais. Metas: restaurar 100 mil hec-tares/ano de florestas de preservação permanente emáreas prioritárias de bacias hidrográficas.

Fortalecimento institucional e extensão flores-tal: aprimorar as instituições, descentralizando as atri-buições e atividades, garantindo maior flexibilidadeao processo de gestão, inclusive alocando recursosmateriais e financeiros e facilitando a assistência técni-

ca e os serviços de extensão florestal. Metas: realizarestudos para identificação de alternativas de fortaleci-mento institucional, no contexto de uma atividadeeconômica complexa e de natureza diversa, que requermudanças estruturais e regras estáveis para assegurarsua credibilidade.

Modernização das indústrias de base florestal:propiciar condições para melhorias tecnológicas coma finalidade de manter e aumentar a competitividade,e reduzir os desperdícios; elevar a agregação de valorda indústria de base florestal, promovendo a capacita-ção e especialização da mão-de-obra; induzir o uso al-ternativo para as madeiras originárias de plantaçõesflorestais e estimular o beneficiamento de espéciesmenos conhecidas no mercado. Metas: melhorar a efi-ciência, no processamento de madeira em tora, pelasserrarias e laminadoras na Amazônia Legal, dos atuais35%-40% para 50%-60%, até o ano 2003.

Mercado e comércio de produtos florestais:ampliar e aumentar a participação do setor florestalnos mercados interno e externo, agregando valor aosprodutos e subprodutos florestais brasileiros, em espe-cial aqueles oriundos de áreas de manejo sustentável ereflorestamentos. Metas: aumentar a participação doBrasil no mercado mundial de madeiras tropicais de4% para 10%, até 2010; incrementar as exportações demadeira de origem sustentável de menos de 5% para,no mínimo, 30%, até 2010; estimular o aumento daparticipação de produtos e subprodutos florestais commaior valor agregado (beneficiados e movelaria), napauta de exportações brasileiras para 30%, até 2010.Manter a posição de liderança do setor de papel e celu-lose nos mercados interno e externo.

Programa ZoneamentoEcológico-Econômico - ZEE

As primeiras iniciativas visando o ordenamento terri-torial do País para uma maior adequação de seu usoocorreram na década de 1980. No entanto, apenas em1990 (Decreto no 99.193/90) o ordenamento do territó-rio recebeu a denominação “Zoneamento Ecológico-Econômico”, onde a prioridade era a Amazônia Legal.

Atualmente, o Programa Zoneamento Ecológi-co-Econômico - ZEE é concebido como um instru-mento de informações técnicas capaz de orientar oureorientar o planejamento, a ocupação, e a gestão ter-ritorial do País, conciliando o desenvolvimento eco-nômico com a utilização racional dos recursos ambi-entais, ou seja, de forma sustentável. Para isso devepossuir instrumentação metodológica capaz de reco-nhecer e diferençar padrões particulares do territóriosegundo a relevância de características naturais e soci-oeconômicas. Visa, dessa forma, contribuir para o pla-nejamento de políticas públicas.

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Apesar das iniciativas de vários Estados brasilei-ros em elaborarem os seus próprios ZEE, várias ques-tões ainda se apresentam como obstáculos, e, portan-to, se apresentam como temas de discussão, como asrelacionadas a aspectos metodológicos relativo aos cri-térios que compatibilizem os aspectos sociais, econô-micos e ambientais de forma a atender aos interessesdos vários setores da sociedade envolvidos, compatibi-lização de escalas de trabalho, entre outros.

No cenário político atual é considerado umaferramenta importante na execução de diversas açõesgovernamentais, como, por exemplo, o Plano Pluria-nual 2000-2003 (PPA), a Política Nacional Integradapara a Amazônia Legal e a reforma do Código Flores-tal Brasileiro.

Em dezembro de 2001, por meio de decretopresidencial, foi instituído um Grupo de TrabalhoPermanente denominado de Consórcio ZEE-Brasil comos objetivos de executar trabalhos de zoneamento eco-lógico-econômico a cargo do governo federal; elabo-rar a linha metodológica do zoneamento ecológico-econômico do país em plano nacional; orientar a ela-boração do termo de referência do zoneamento ecoló-gico-econômico em nível nacional; coordenar o inter-câmbio técnico e metodológico junto aos Estados, comvistas à elaboração e acompanhamento dos seus res-pectivos zoneamentos ecológico-econômico; e prestarassessoria técnica aos Estados da Federação. O Grupode Trabalho é constituído por representantes do Mi-nistério do Meio Ambiente; - Ministério da IntegraçãoNacional; Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuá-ria - EMBRAPA; Companhia de Pesquisa de RecursosMinerais - CPRM; Fundação Instituto Brasileiro deGeografia e Estatística - IBGE; VI - Fundação Institutode Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA; Instituto Bra-sileiro do Meio Ambiente e dos Recursos NaturaisRenováveis - IBAMA; - Agência Nacional de Águas -ANA; e Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais -INPE.

A harmonização das linhas metodológicas paraa realização do ZEE em nível nacional tem sido atual-mente um dos maiores desafios do Programa.

Programa Nacional de Racionalização do usode Agrotóxicos - PNRUA

Trata-se de um Programa que está sendo construídono âmbito do Programa do Protocolo Verde, coorde-nado pela Casa Civil da Presidência da República, en-tendendo a relevância da questão do uso de agrotóxi-cos no País. O Grupo de Trabalho do PNRUA foiconstituído, numa fase preliminar, por técnicos dosMinistérios do Meio Ambiente, da Agricultura, daSaúde, do Banco do Brasil, do Instituto Brasileiro doMeio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis –

IBAMA, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecu-pária – EMBRAPA, e da coordenação do ProtocoloVerde.

O Programa, como disposto em sua propostapreliminar, apresenta como objetivos promover a re-dução do uso de agrotóxicos, de modo a minimizar osefeitos negativos decorrentes do emprego desses pro-dutos sobre o meio ambiente e a saúde pública; contri-buir para o abatimento do passivo ambiental acumu-lado no país; atender aos requisitos do desenvolvimentosustentável; garantir, ou incrementar, os níveis de pro-dução e produtividade agrícola em todas as fases desua implantação, dentro do atendimento das deman-das sociais dominantes; propiciar aos setores de pro-dução e comercialização de defensivos e fertilizantesinstrumentos econômicos e de mercado que garantama sustentabilidade econômica desses atores nas fasesde implantação do PNRUA.

A referida proposta ainda deverá ser amplamen-te discutida por todos os atores envolvidos para a in-trodução dos ajustes necessários antes de sua promul-gação pelo governo brasileiro.

Programa Piloto para Proteção das FlorestasTropicais do Brasil - PPG-7.

O Programa, instituído pelo Decreto no 563, de 05/06/1992, e modificado pelo Decreto no 2.119 de 13/01/1997, objetiva a implantação de um modelo dedesenvolvimento sustentável em florestas tropicais bra-sileiras, buscando a viabilização do desenvolvimentoeconômico com a proteção do meio ambiente nas flo-restas tropicais. Busca encorajar as iniciativas locaiscom o fim de harmonizar objetivos ambientais com amelhoria do padrão de vida das populações locais; sal-vaguardar a biodiversidade e proteger parques, reservase áreas indígenas; fortalecer agências ambientais e fe-derais; desenvolver e disseminar o conhecimento cien-tífico e tecnologias, aplicados ao uso sustentável derecursos naturais; e melhorar a vigilância e o monito-ramento ambientais.

Desde a implantação do Programa Piloto, o seucontexto vem sofrendo alterações, tanto em nível dogoverno brasileiro quanto dos países doadores. Suaimplementação tem mostrado a necessidade permanen-te de correção de rumos e reformulações.

A execução do Programa compete ao governobrasileiro, por intermédio do Ministério do MeioAmbiente (Coordenador do Programa), do Ministérioda Justiça e do Ministério da Ciência e Tecnologia,dos governos estaduais, municipais e sociedade civilorganizada, com apoio técnico e financeiro da comu-nidade internacional - Banco Mundial, ComunidadeEuropéia e países membros do Grupo dos Sete.

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O Programa está organizado em quatro subpro-gramas, consistindo de 27 projetos. Subprogramas:— Política de Recursos Naturais (zoneamento ecoló-

gico-econômico, monitoramento e vigilância am-biental, controle e fiscalização ambiental, educa-ção ambiental);

— Manejo de Recursos Naturais e Unidades de Con-servação (parques e reservas, reservas extrativistas eflorestas nacionais, manejo de recursos naturais, re-cuperação de áreas degradadas);

— Ciência e Tecnologia (pesquisa dirigida, centros deciência); e

— Projetos Demonstrativos que visam difundir mo-delos de desenvolvimento sustentável.

Os projetos se encontram em diferentes fases deexecução. Cerca de US$ 200 milhões já foram efetiva-mente contratados (incluindo a cooperação técnica).O Brasil já alocou cerca de US$ 30 milhões em contra-partida. Para os projetos em negociação ou preparaçãoestão sendo alocados ou indicados outros US$ 100milhões, aproximadamente, totalizando um orçamen-to previsto em cerca de US$ 300 milhões para todo oPrograma Piloto, até o final da execução da primeirafase.

A maior parte das atividades desenvolvidas naprimeira fase do Programa Piloto estiveram focadosna Amazônia. A área de domínio da Mata Atlântica,por outro lado, foi contemplada no âmbito dos Proje-tos Demonstrativos, devendo receber, a partir dessafase do Programa, uma maior atenção, particularmen-te pela implantação do Corredor Ecológico da MataAtlântica, e da implementação de subprograma especí-fico Mata Atlântica.

O governo brasileiro considera, ainda, que oPrograma Piloto não desenvolveu, na sua primeira fase,relações de parcerias suficientemente consistentes comoutras áreas de governo que têm influência efetiva nosprocessos de ocupação e desenvolvimento da Amazô-nia. Assim, ele não dispõe de projetos que atuem nainterface da proteção das florestas com as políticasagrícola, de reforma agrária e de desenvolvimento regi-onal. Na sua continuidade, estas interfaces devem serpotencializadas.

Para dar início às discussões para a definição deuma grade temática para uma segunda fase do PPG-7,as seguintes prioridades são destacadas:

— Gestão pública e social de áreas protegidas;— Gestão ambiental municipal;— Zoneamento e planejamento ambiental regional;— Controle do desmatamento e aplicação da legisla-

ção florestal;— Manejo florestal e consórcios agroflorestais;— Assentamentos rurais sustentáveis;— Negócios sustentáveis;

— Produção de conhecimento científico e desenvolvi-mento de tecnologias apropriadas ao desenvolvi-mento sustentável;

— Recuperação de áreas degradadas.— Programa Nacional do Meio Ambiente – PNMA

Programa formulado pelo governo brasileiro, noperíodo de 1987-1989, com o apoio do Programa dasNações Unidas para o Meio Ambiente – PNUD, e fi-nanciado pelo Banco Mundial, o Kreditanstalt fürWiederaufbau – KfW, do governo alemão, e contrapar-tida do Tesouro Nacional, foi concebido com a tarefade fortalecer as instituições e a estrutura legal e nor-mativa da área ambiental do País; proteger áreas ambi-entalmente importantes do ponto de vista da políticaambiental; e aumentar a proteção de ecossistemas sobrisco iminente de degradação. Em sua primeira etapa,o Programa apresentava os seguintes objetivos:

1. Fortalecimento da capacidade operativa do Estadobrasileiro - particularmente do Ministério do MeioAmbiente, dos Recursos Hídricos e da AmazôniaLegal - MMA, do Instituto Brasileiro do MeioAmbiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBA-MA e dos Órgãos Estaduais de Meio Ambiente,visando assegurar-lhes a disponibilidade de recur-sos institucionais, humanos, tecnológicos e de in-formação necessários à condução das políticas demeio ambiente, no âmbito de suas competências;

2. Implantação e manutenção de um Sistema Nacio-nal de Unidades de Conservação;

3. Desenvolvimento de instrumentos de gerenciamen-to e ações de proteção a ecossistemas especiais, de-clarados como “patrimônio nacional” pela Consti-tuição Federal (Pantanal, Mata Atlântica, Zona Cos-teira) sujeitos a riscos iminentes de degradação;

4. Implementação de projetos demonstrativos de de-senvolvimento sustentável, com base nos princípi-os de (I) fomento à gestão ambiental descentraliza-da; (II) incorporação das administrações locais e dasociedade civil à gestão ambiental; (III) indução demecanismos de mercado à gestão do meio ambien-te e ao uso sustentável dos recursos naturais.

Os principais resultados alcançados pelo PNMAno período 1991-1996 são apresentados abaixo:• Componente Fortalecimento Institucional• Criação de uma rede de documentação e informa-

ção ambiental, de alcance nacional;• Treinamento de técnicos e administradores do Sis-

tema Nacional do Meio Ambiente, com ênfase nasáreas de planejamento e gerência;

• Montagem de uma rede de sensoriamento remotopotencializando os órgãos ambientais para a fisca-lização do uso, no planejamento e gestão dos re-cursos naturais;

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Legislação e Programas Nacionais128

Componente Unidades de Conservação

— Recuperação de 31 unidades (18 parques nacionais,5 reservas biológicas, 5 estações ecológicas, 3 áreas deproteção ambiental), que em sua maior parte se en-contravam parcialmente desprotegidas, sem planosde manejo e fechadas ao uso público ou às entidadesde pesquisa, por falta das condições mínimas de fun-cionamento. No total, essas unidades, distribuídasem todas as regiões do País, cobrem uma área de 56mil quilômetros quadrados, aproximadamente umterço da área de todas as Unidades de Conservaçãoadministradas pelo IBAMA. Apoiado pelo Progra-ma Nacional do Meio Ambiente, o IBAMA vemdesenvolvendo experimentos promissores de co-ges-tão de áreas protegidas, em parceria com organiza-ções governamentais, e adquirindo credibilidade paraestabelecer novos acordos desse tipo.

Componente Proteção de Ecossistemas

Investimentos estratégicos na Mata Atlântica, Panta-nal e Zona Costeira.Mata Atlântica – ações centradas nos Estados com osremanescentes mais significativos (Espírito Santo, Riode Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina):

i) Estruturação de 16 Unidades de Conservação, entreparques, estações ecológicas e reservas biológicas,abrangendo uma área de 451.845 hectares e agoraabertas ao uso públicos e às instituições de pesquisa;

ii) Em todos os estados, entre o Espírito Santo e SantaCatarina, foram reestruturados ou fortalecidos ossistemas de fiscalização, entre órgãos estaduais demeio ambiente e batalhões de polícia florestal, queestão agora instrumentalizados para atuar sobre umaárea de 43.000 quilômetros ou 45% da área total daMata Atlântica em todo o País;

iii) Apoio a Programas de Educação Ambiental (trei-namento de 190.000 pessoas em 28 municípios doEspírito Santo), sistemas de monitoramento flores-tal por satélite e mapeamento da Reserva da Biosfe-ra da Mata Atlântica;

Pantanal

i) Zoneamento Ecológico-Econômico do Pantanal eda sua bacia contribuinte (361.666km2);

ii) Preparação de um Plano de Conservação da Baciado Alto Paraguai;

iii) Criação de um Comitê de Gerenciamento Integra-do da Bacia do Alto Paraguai;

iv) Fortalecimento institucional dos órgãos estaduaisde meio ambiente dos Estados de Mato Grosso eMato Grosso do Sul e reestruturação e equipamen-to dos sistemas de fiscalização, inclusive de suasunidades de Polícia Florestal;

Zona Costeira

i) Zoneamento ambiental, na escala 1:1.000.000, detoda a zona costeira do País, do Amapá ao RioGrande do Sul (7.367km de extensão e área de389.000km2).

ii) Zoneamento, na escala de 1:100.000, no conjuntode 8 Estados (Maranhão, Rio Grande do Norte,Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo,Santa Catarina e Rio Grande do Sul) de uma áreacorrespondente a 40% do litoral brasileiro;

iii) Equipamento dos órgãos ambientais e de planeja-mento desses estados com sistemas de geoprocessa-mento e capacidade para monitoramento de suazona costeira por informação de satélite e forma-ção de uma massa crítica de especialistas para ope-ração desses sistemas.

A partir de 1994, o Programa Nacional do MeioAmbiente, em articulação com os governos estaduais,pôs em operação um conjunto de iniciativas (os Proje-tos de Execução Descentralizada-PED), executadas porprefeituras municipais, isoladas ou em consórcio, con-tando com a participação de organizações comunitári-as e não-governamentais. Esses projetos visam simulta-neamente: aumento da produção, distributividade,sustentabilidade ecológica e participação comunitária.Até 1996, foram obtidos os seguintes resultados:

i) Implantação de 90 projetos nas áreas de aquicultu-ra, recuperação de matas ciliares, sistemas agroflo-restais, turismo ecológico, recuperação e uso sus-tentável de recursos naturais em geral, benefician-do cerca de 19.000 famílias;

ii) Envolvimento direto de 541 entidades na execuçãodos projetos (92 prefeituras municipais executorase 185 co-executoras, 112 órgãos dos governos esta-duais, 7 órgãos da administração direta federal e145 organizações comunitárias e não-governamen-tais).

Além de testar e divulgar modelos de desenvol-vimento sustentável, de gerar resultados econômicosimediatamente apropriáveis pelas pessoas e comunida-des, a execução desses projetos levaram à capacitaçãodas entidades executoras em matéria de administra-ção, planejamento, manejo de recursos oriundos deagências multilaterais de financiamento. Em muitaslocalidades, os procedimentos administrativos desen-volvidos para a gestão desses projetos estão sendo in-corporados aos procedimentos administrativos corren-tes das prefeituras municipais.

Programa Nacional do Meio Ambiente II - PNMA II

Tomando por base as demandas ambientais identifica-das por meio de consultas aos governos estaduais eorganizações não-governamentais, o governo brasilei-

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ro formulou o PNMA II, o qual está estruturado em 3componentes:

• Desenvolvimento InstitucionalSub-componentes:

— Licenciamento Ambiental— Monitoramento da Qualidade da Água— Gerenciamento Costeiro

— Gestão Integrada de Ativos Ambientais— Coordenação e Articulação

O PNMA II foi configurado para ser desenvolvido emtrês fases sucessivas de implementação, em um perío-do de 10 anos. Está em execução a Fase I do Programa,iniciada com a assinatura de contrato de financiamen-to junto ao Banco Mundial, em junho de 2000, e pre-vista para ser implementada dentro de três anos. Estafase está voltada, basicamente, à elaboração de proje-tos e a realização de diagnósticos. Para essa fase osrecursos são da ordem de US$ 30 milhões.

As fases II e III serão negociadas posteriormente(com a assinatura de novos contratos), tendo em vistaos resultados obtidos no desempenho da Fase I. O fi-nanciamento total do Programa é de US$ 300 milhões.

Educação Ambiental

A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Am-biente Humano de Estocolmo, 1972, já se referia àimportância da educação ambiental, de caráter inter-disciplinar, como uma forma de preparar o cidadãopara viver em harmonia com o meio ambiente (Reso-lução 96). Posição de destaque também recebeu o temana CNUMAD, 1992, permeando todos os capítulosda Agenda 21, e em especial em seu Capítulo 36- Pro-moção do Ensino, da Conscientização Pública e doTreinamento. Os princípios fundamentais do Capítu-lo são as recomendações da Conferência Intergoverna-mental sobre Educação Ambiental, ou Conferência deTbilisi, ocorrida em 1977, organizada pelo UNESCOe pelo PNUMA, de onde resultou uma Declaração dePrincípios e 41 recomendações, tratando dos objeti-vos, estratégias e funções da educação ambiental. OCapítulo de 36 da Agenda traz as seguintes Áreas deProgramas:

(A) Reorientação do ensino no sentido do desenvolvi-mento sustentável

Coloca o ensino formal quanto o informal são indis-pensáveis para modificar a atitude das pessoas, fazen-do-as compreender o sentido e a importância do de-senvolvimento sustentável, ou seja, conferindo consci-ência ambiental, ética, valores, técnicas e comporta-mentos em consonância com as exigências com umnovo padrão de desenvolvimento.

(B) Aumento da consciência pública

Essa Área de Programa está voltada para a sensibiliza-ção dos diferentes públicos quanto aos problemas as-sociados ao desenvolvimento e meio ambiente, ao au-mento do senso de responsabilidade em relação ao meioambiente, e incentivo à participação das soluções dosproblemas.

(C) Promoção do treinamento

É uma Área dirigida para profissionais, entendendoque o treinamento é um instrumento importante parapreencher lacunas de conhecimento e habilidades, deforma a facilitar a transição para um desenvolvimentosustentável.

Várias foram as iniciativas do governo brasilei-ro voltadas para a implementação das idéias preconi-zadas na Agenda 21. Entre elas podem ser destacadas:— 1993: Instalação, em caráter permanente, (Portaria

do Ministério da Educação e Cultura 773/93) doGrupo de Trabalho para Educação Ambiental comobjetivo de coordenar, apoiar, acompanhar, avaliare orientar as ações, metas e estratégias para a imple-mentação da Educação Ambiental nos sistemas deensino em todos os níveis e modalidades - concreti-zando as recomendações aprovadas na RIO –92;

— 1994: Elaboração de proposta do Programa Nacio-nal de Educação Ambiental – PRONEA, com oobjetivo de capacitar o ensino formal e não-for-mal, supletivo e profissionalizante;

— 1995: Criação de uma Câmara Técnica temporáriade Educação Ambiental no âmbito do ConselhoNacional de Meio Ambiente (CONAMA);

— 1997: Elaboração dos Parâmetros Curriculares Na-cionais - PCNs com o tema “Convívio Social, Éticae Meio Ambiente”, onde a dimensão ambiental éinserida como um tema transversal nos currículosdo Ensino Fundamental;

No ano de 1999, as ações culminaram com apromulgação da Lei no 9.795 de 27 de abril de 1999,instituindo a Política Nacional de Educação Ambi-ental.

O tratamento dado pelo governo brasileiro aotema Educação Ambiental, com status de Política Na-cional, de reveste de grande significado e importância,refletindo o amadurecimento das discussões ocorridasem vários setores da sociedade ao longo dos últimosanos. Em sua essência, a Política Nacional de Educa-ção Ambiental entende que educação ambiental é umcomponente essencial e permanente da educação naci-onal, devendo estar presente, de forma articulada, emtodos os níveis e modalidades do processo educativo,em caráter formal e não-formal.

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A Lei que institui a Política incube o PoderPúblico de definir políticas públicas que incorporema dimensão ambiental, promover a educação ambi-ental em todos os níveis de ensino e o engajamentoda sociedade na conservação, recuperação e melhoriado meio ambiente; aos órgãos integrantes do SistemaNacional de Meio Ambiente – SISNAMA -, de pro-mover ações de educação ambiental integradas aosprogramas de conservação, recuperação e melhoriado meio ambiente; às instituições educativas, de inte-grar a temática ambiental nos programas educacio-nais; aos meios de comunicação de disseminar a ques-tão ambiental; às empresas e entidades de classes einstituições públicas e privadas de promover progra-mas voltados à capacitação dos trabalhadores, visan-do o controle efetivo da qualidade ambiental noambiente de trabalho; e à sociedade, na formação deatitudes e valores pela sociedade.

Programa Amazônia Solidária

O Programa Amazônia Solidária foi criado em 1998com o objetivo de promover a ascensão econômica esocial dos extrativistas da Amazônia. Surge de propos-ta discutida no Senado Federal e comunidades locaisinteressadas, e tem como instrumentos o fornecimen-to de subvenções econômicas a produtores de borra-cha natural, e em particular aos seringueiros da Ama-zônia Legal, mediante mecanismos específicos de in-centivos ao uso da floresta e programas de promoçãosocial.

O Programa tem como meta atender aproxima-damente 63 mil seringueiros nos Estados do Acre,Amapá, Rondônia, Amazonas, Mato Grosso e Pará,devendo beneficiar cerca de 376 mil pessoas.

As linhas de atuação do Programa compreen-dem o incentivo ao uso múltiplo da floresta, o apoio àprodução e à comercialização da borracha nativa, asações de saúde e saneamento básico, o fortalecimentoda infra-estrutura local, e a melhoria das condições deabastecimento das famílias a serem atendidas. Além deviabilizar a melhoria do extrativismo, o ProgramaAmazônia Solidária contribui para manter as popula-ções na floresta, evitando o êxodo para a periferia daspobres cidades da região e a destruição dos ecossiste-mas regionais.

A coordenação das ações do Programa está acargo da secretaria executiva do Programa Comunida-de Solidária e da Casa Civil da Presidência da Repúbli-ca. Participam, também, os ministérios do Meio Am-biente, da Agricultura, da Saúde, da Marinha, do Pla-nejamento, da Aeronáutica, do Exército, da Fazenda eda Secretaria de Assuntos Estratégicos.

Programa Nacional de Fortalecimento daAgricultura Familiar – PRONAF

A discussão sobre a importância e o papel da agricul-tura familiar no desenvolvimento brasileiro vem ga-nhando força nos últimos anos, impulsionada pelodebate sobre desenvolvimento sustentável, geração deemprego e renda, segurança alimentar e desenvolvimen-to local. Neste caso, há que ser destacado a importân-cia da agricultura familiar no emprego de tecnologiasalternativas, geralmente de baixo impacto ambiental eadaptadas às realidades locais.

O reconhecimento da importância da agricul-tura familiar na economia agrícola nacional se refletiuna criação de um programa nacional voltado para apoi-ar esse segmento da agricultura, o PRONAF. O Pro-grama foi instituído em 28/06/96 pelo Decreto no 1946para prestar apoio financeiro às atividades agropecuá-rias exploradas mediante emprego direto da força detrabalho do produtor e de sua família, formação e ca-pacitação do agricultor familiar, apoio à infra-estrutu-ra nos municípios que tenham base na agricultura fa-miliar e assistência técnica e extensão rural.

O governo federal, desde então, destina recur-sos para a cobertura do diferencial entre o custo decaptação dos recursos aplicados pelo agente financei-ro na realização do financiamento, acrescido dos cus-tos administrativos e tributários, e os encargos cobra-dos do tomador final do crédito. Em 1999, o PRO-NAF foi transformado em PRONAF/Planta Brasil pelaMedida Provisória 1911-8 em 29/07/99.

Os beneficiários do Programa são pequenos agri-cultores de economia familiar, proprietários, meeiros,posseiros, parceiros ou arrendatários, que morem noimóvel ou em vilas próximas à gleba, usem mão-de-obra eventual e tenham até dois empregados perma-nentes. Pelo menos 80% da renda desses agricultoresdeve ser proveniente da atividade desenvolvida na pro-priedade. Além destes podem ser beneficiários os pes-cadores artesanais, extrativistas e aqüicultores (criado-res de rãs, mexilhões, peixes, etc.).

O Programa está sob a coordenação do Ministé-rio da Política Fundiária e do Desenvolvimento Agrá-rio e é financiado por fontes mistas, a saber: Fundo deAmparo ao Trabalhador – FAT, Fundos Constitucio-nais de Desenvolvimento (FNO, FNE e FCO), Orça-mento Geral da União e contrapartida dos municípios.

Até o final do ano 2000, o PRONAF havia libe-rado R$ 10,2 bilhões para pequenos produtores. So-mam-se a essa quantia R$ 983,5 milhões emprestadosaos assentados pelo extinto Programa de Crédito Es-pecial da Reforma Agrária (Procera).

No total, o PRONAF contabiliza 3.975.516 con-tratos com o sistema bancário, sendo 1,6 milhão nasafra 2000/2001.

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Programa Nacional de Combate àDesertificação - PNCD

O PNCD está sendo elaborado no âmbito do Ministé-rio do Meio Ambiente desde 1996, como um dos re-sultados da Convenção da Desertificação – ONU. Oprojeto de elaboração do PNCD é resultado de umacordo de cooperação técnica entre o Ministério doMeio Ambiente, o PNUD e a FGEB (Fundação GrupoEsquel Brasil), além de contar com o apoio técnico efinanceiro da FAO. A definição das ações estratégicasdo Programa está em discussão.

Programas de Combate aos Desmatamentos eincêndios florestais

Programa Prevenção e Combate a Desmatamentos,Queimadas e Incêndios Florestais - FLORESCER

Trata-se de um Programa Estratégico do Plano Pluria-nual do governo federal (PPA 2000-2003), que possuicomo objetivo manter a integridade das florestas, re-duzindo os desmatamentos ilegais, as queimadas semcontrole e os incêndios florestais.

Principais ações

— Fiscalização dos Recursos Florestais; prevenção dequeimadas e incêndios no Arco do Desmatamentona Amazônia (PROARCO); plano de ação de com-bate a incêndios, queimadas e desmatamentos; mo-nitoramento de queimadas e prevenção de incêndi-os florestais.

Principais resultados

— Elaboração de mapas diários de risco de incêndiosflorestais (Monitoramento – INPE/MCT); moni-toramento mensal de uma área de 5,9 milhões dekm² no arco do desmatamento na Amazônia; ofere-cimento de cursos de difusão de técnicas de queimacontrolada em assentamentos do Incra e áreas indí-genas, formação de brigadas de combate aos incên-dios florestais em unidades de conservação, e inves-tigação de origem e causas dos incêndios florestais;envio de equipamentos, pessoal e recursos finan-ceiros para as unidades de conservação federais paraprevenção e combate aos incêndios florestais.

Programa de Monitoramento, Prevenção e Controledas Queimadas na Agricultura

O Centro Nacional de Pesquisa de Monitora-mento por Satélite (CNPM), da Empresa Brasileira dePesquisa Agropecuária (EMBRAPA), vem desenvolven-do, sob a demanda e coordenação do Ministério da

Agricultura, do Programa de Monitoramento, Preven-ção e Controle das Queimadas na Agricultura.

Os trabalhos são desenvolvidos com base nosdados obtidos através do satélite NOAA/AVHRR, emcolaboração com o Instituto Nacional de PesquisasEspaciais (INPE), e cobre todo o território nacional. Adetecção de pontos de calor é realizada por programascomputadorizados, permitindo sua localização geográ-fica. As informações alimentam um Sistema de Infor-mações Geográficas (SIG), onde se encontram analisa-dos dados orbitais de queimadas desde 1991. Além doINPE, colaboram no projeto a ONG Ecoforça e aAgência de Notícia Estado. Atualmente, são elabora-dos mapas semanais geocodificados, os quais são dis-ponibilizados na Internet ao público interessado.

Programa Conservação de Solos na Agricultura

Programa desenvolvido no âmbito do Plano Plurianualdo governo brasileiro (PPA 2000-2003), tendo comoobjetivo trabalhar com pequenos produtores rurais,técnicos do setor agrícola e de órgãos públicos locais,para disseminar práticas de uso do solo e da água vol-tadas à conservação, e apoiar ações voltadas à recupe-ração de áreas agrícolas degradadas.

Entre os problemas identificados na conserva-ção do solo nacional, podem ser citados o uso inapro-priado de técnicas agrícolas gerando erosão, e o usoincorreto de insumos agrícolas ocasionando sua sali-nização e sua inadequação para o cultivo.

O trabalho ocorre em microbacias hidrográfi-cas, mediante convênios de cooperação técnica, envol-vendo as comunidades organizadas e instituições pú-blicas e privadas.

Principais ações

— Financiamento ao uso de corretivos de solo;— Correção, conservação e preservação de solos na

agricultura.

Principais resultados

— Implantação de cerca de 40 unidades demonstrati-vas para geração, validação e difusão de tecnologi-as de manejo e conservação de solo e água na agri-cultura e adaptadas às diferentes realidades socioe-conômicas;

— Implementados 8 projetos nas regiões Centro-Oestee Sul;

— Geração de 15 novas tecnologias em recuperaçãoda capacidade produtiva dos solos;

— Aplicação de R$165,1 milhões, atingido cerca de1,9 milhões de hectares, beneficiando aproximada-mente 14.200 produtores.

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Clayton Campanhola

12Compromissos Internacionais:Convenção Sobre Diversidade Biológica

Capítulo

135

Contextualização

A conservação e uso sustentável da diversidade bioló-gica ganharam expressão a partir do compromisso as-sumido por 168 países com a Convenção da Diversi-dade Biológica, sendo que o Brasil a ratificou em feve-reiro de 1994. A efetiva implementação desta Conven-ção ocorreu a partir de 1994, com a realização da 1a

Conferência das Partes.A temática da agricultura foi tratada pela pri-

meira vez na 3a Conferência das Partes da Convençãoda Diversidade Biológica, em setembro de 1996, tendosido o Brasil o principal proponente de uma propostaoficial sobre esse assunto (Campanhola et al., 1998).

Os objetivos específicos da diversidade biológi-ca na agricultura definidos nesta Conferência foram:

a) promover efeitos positivos e mitigar os impactosnegativos dos sistemas e práticas agrícolas na diver-sidade biológica em agroecossistemas e suas inter-faces com outros ecossistemas;

b) promover a conservação e o uso sustentável dosrecursos genéticos de valor potencial e real para osalimentos e agricultura;

c) promover a divisão eqüitativa e justa dos benefíci-os resultantes do uso de recursos genéticos.

Mas foi a partir da 5a Conferência, realizada emmaio de 2000, que foram definidos os quatro compo-nentes principais de um programa de trabalho em bi-odiversidade na agricultura. Esse programa visa pro-mover os objetivos da Convenção e também contri-buir para a implementação do Capítulo 14 da Agenda21 – Agricultura sustentável e desenvolvimento rural.

O primeiro componente do programa temcomo objetivo realizar uma análise da situação e ten-dências da biodiversidade na agricultura no mundo e

as suas causas, assim como uma análise do conheci-mento local para o seu manejo. O segundo compo-nente visa identificar práticas, tecnologias e políticasde manejo que promovam os impactos positivos emitiguem os impactos negativos da agricultura na bio-diversidade. O terceiro componente tem como obje-tivo fortalecer a capacitação dos agricultores, suas co-munidades e organizações, assim como outros repre-sentantes, incluindo agroempresas, para que possamgerenciar a biodiversidade na agricultura de modo aaumentar os benefícios oriundos do seu uso sustentá-vel e promover o aumento da consciência e da açãoresponsável. E o quarto componente do programa sepropõe a apoiar o delineamento de planos ou estraté-gias nacionais para a conservação e uso sustentável dabiodiversidade na agricultura e a promover a sua in-corporação e integração em planos e programas setori-ais e intersetoriais.

A proposta dos países que participam da Con-venção não é simplesmente defender a conservação dadiversidade biológica pela simples conservação, massim o seu uso econômico, como é o caso das ativida-des de produção agropecuária. É importante tambémmencionar que a diversidade biológica apresenta doisgrandes enfoques na agricultura. O primeiro enfoquetrata da sua importância para assegurar a produtivida-de agrícola e a qualidade ambiental, podendo-se citaros seguintes bens e serviços:

• estoque de organismos que permitem o controlebiológico natural;

• participação de organismos vivos na manutençãodos ciclos naturais da água, da energia, no nitrogê-nio e do carbono, entre outros;

• polinização, da qual dependem as culturas para aprodução;

• associações simbióticas;

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Compromissos Internacionais: Convenção Sobre a Diversidade Biológica136

• resistência genética, que pode advir de espécies sil-vestres; e

• novas espécies de importância econômica.

E o segundo enfoque refere-se aos efeitos que aspráticas agropecuárias podem causar na biodiversida-de, devendo-se identificar e recomendar as ações quesejam menos degradadoras e incentivar o desenvolvi-mento de práticas que conservem a diversidade bioló-gica (Campanhola et al., op. cit.).

Estado da Arte

A seguir, são apresentados os principais avanços emcada componente do programa de trabalho em biodi-versidade na agricultura. No primeiro componente,as realizações relevantes são:

Bancos de germoplasma vegetal e animal

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Em-brapa coordena a Rede Nacional de Conservação deRecursos Genéticos, que agrega atividades de coleta,intercâmbio, quarentena, caracterização, avaliação,documentação e, principalmente, de conservação eutilização de germoplasma. Há 27 bancos de germo-plasma ex situ no país, cabendo à Embrapa RecursosGenéticos e Biotecnologia a coleção de referência degermoplasma vegetal enquanto que as coleções ativase coleções de plantas perenes são mantidas por outrasentidades, inclusive outras unidades da própria Em-brapa.

Em levantamento realizado nessa Rede, consta-tou-se que no Brasil existem cerca de 200 mil acessosde germoplasma vegetal em conservação. Dos acessosconservados, cerca de 76% são de espécies exóticas e24% de espécies nativas (Brasil, 1998). Quanto ao ger-moplasma animal, há 12 bancos que reúnem amostrasde populações animais in vivo e in vitro, especialmen-te aquelas em perigo de extinção.

Coleções de culturas de microrganismos

A Embrapa coordena e mantém 10 bancos de germo-plasma de microrganismos de interesse agrícola, inclu-indo vírus, bactérias, fungos e protozoários, contandocom a parceria de seis instituições.

Por sua vez, a Fundação de Amparo à Pesquisado Estado de São Paulo – FAPESP possui o programaespecial Biota que financia projetos de pesquisa com oobjetivo de inventariar e caracterizar a biodiversidadedo Estado de São Paulo, definindo os mecanismos parasua conservação, seu potencial econômico e sua utili-zação sustentável. Particularmente, há um projeto queé coordenado pela Embrapa Meio Ambiente, em par-

ceria com a Escola Superior de Agricultura “Luiz deQueiroz”, que tem por objetivos: a) estudar a diversida-de de microrganismos endofíticos das culturas de soja,milho, café, mandioca (Estados de SP, AM, BA), citros,Brachiaria e Dicksonia (xaxim); b) avaliar a diversidademolecular de microrganismos endofíticos através deanálise direta do DNA, usando a técnica de PCR (Poly-merase Chain Reaction), RNA 16S e plasticidade genô-mica de fungos e actinomicetos através da eletroforesede campo pulsado; c) realizar estudos da diversidadequímica de microrganismos endofíticos através da ex-tração dos principais metabólitos secundários, do tipoantibiótico, dos diferentes microrganismos endofíticose d) avaliar o potencial de microrganismos no controlebiológico e implantar uma coleção de culturas de mi-crorganismos endofíticos. O projeto será concluído nofinal de 2003 e os resultados esperados são: novas dro-gas biativas, potencialização do controle biológico, ban-co de germoplasma microbianos e descobrimento denovas espécies microbianas.

Conservação e uso dos polinizadores naagricultura

A decisão tomada na 3a Conferência das Partes de es-tabelecer uma iniciativa internacional para a conserva-ção e uso sustentável de polinizadores baseou-se naproposta apresentada por representantes brasileiros. Ofundamento é que a melhor maneira de assegurar aconservação da diversidade biológica mundial é pro-mover e aumentar seu valor, que está associado ao usodireto dos recursos biológicos, ao uso indireto dos ser-viços dos ecossistemas ou aos valores intrínsecos comvalores culturais, sociais e religiosos.

Muitos esforços de conservação mais recentesenfatizam o valor intrínseco da biodiversidade, ape-lando para o convencimento emocional do públicopor meio de espécies de animais em extinção, taiscomo: mico-leão-dourado, urso-panda, arara-azul, etc.Não tem havido muitos esforços no sentido de sepreocupar com componentes da biodiversidade quesão críticos para a manutenção de serviços essenciaisdos ecossistemas, apesar da conscientização crescentesobre a importância econômica desses serviços. Umexemplo nesse sentido é a conservação de organis-mos polinizadores, pois se sabe que eles polinizammais de 75% das plantas alimentícias mundiais. Esseserviço é prestado por abelhas, borboletas, morcegose pássaros, entre outros.

O governo brasileiro organizou um workshopinternacional sobre polinizadores no período de 7 a 9de outubro de 1998, com o objetivo de apoiar a deci-são acima mencionada. Um dos resultados desseworkshop foi a aprovação da proposta de uma Políti-ca Nacional sobre Polinização a ser implantada pelos

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Países da Convenção, que é constituída de dez itens, asaber: 1) O futuro de nossas fazendas depende da poli-nização; 2) É preciso reconhecer os benefícios ofereci-dos pela diversidade de polinizadores; 3) As abelhasestão em declínio; 4) Todos os polinizadores requeremproteção contra as toxinas e degradação dos habitats;5) A fragmentação de habitats é a maior ameaça aospolinizadores; 6) Menos polinizadores significam me-nos plantas; 7) A necessidade de proteção às espéciesameaçadas não precisa ser incompatível com a segu-rança alimentar; 8) Tanto as plantas como os poliniza-dores precisam de habitats protegidos; 9) Polinizado-res migradores podem requerer proteção internacionale 10) A polinização é um serviço ecológico ameaçado.

Diversidade, conservação e uso de microrganis-mos de solo

A diversidade de microrganismos nos solos contribuitanto para o controle natural de agentes fitopatogêni-cos, como para a manutenção adequada dos ciclosnaturais de nutrientes.

Porém, a diversidade de microrganismos nossolos varia de um ecossistema para outro. Mesmo den-tro de um mesmo ecossistema, os agroecossistemas ten-dem a ter menor diversidade nos solos quando com-parados a situações não alteradas pelo homem. Con-tudo, é possível manter a biodiversidade nos solos pormeio da utilização de práticas de produção agropecuá-ria adequadas, como é o caso do plantio direto, darotação de culturas, da adubação verde, da coberturamorta, que contribuem para a manutenção de níveisadequados de matéria orgânica nos solos.

Há casos que mostram a importância dos mi-crorganismos na fixação biológica de nitrogênio at-mosférico e na absorção de nutrientes do solo, assimcomo há outros casos em que microrganismos exer-cem o controle biológico de agentes fitopatogênicos.

Estudos de bactérias fixadoras de N2, ou diazo-

tróficas, associadas às plantas têm mostrado a ocor-rência de uma grande variedade de microrganismosisolados a partir das mais diversas famílias do reinovegetal, além de amostras de solo e sistemas aquáticos(Box 1).

A Embrapa Agrobiologia tem-se destacado mundialmente pelas pesquisas desenvolvidas com bactériasdiazotróficas associadas a gramíneas, principalmente cereais, como o trigo, arroz, milho, sorgo; gramíneasforrageiras, como capim Braquiária (Brachiaria spp.), capim elefante (Pennisetum purpureum), e pelaspesquisas desenvolvidas com a cana-de-açúcar (Saccharum spp.), que foram lideradas pela pesquisadoraJoana Döbereiner (Reis et al., 2002).

Nessas pesquisas constatou-se a ocorrência de bactérias do gênero Azospirillum associadas às gramí-neas – milho, sorgo, arroz, trigo, cana-de-açúcar, cevada e forrageiras (Reis et al., 2002). A distribuiçãoecológica de Azospirillum é extremamente ampla e variada (Döbereiner e Pedrosa, 1987 apud Reis et al.,2002). Bactérias deste gênero têm sido encontradas em associação com plantas monocotiledôneas e dicoti-ledôneas, sendo por isso consideradas ubíquas (Bashan e Holguin, 1997 apud Reis et al., 2002). Outrabactéria, a espécie Herbaspirillum seropedica, tem sido isolada da maioria das gramíneas examinadas, taiscomo milho, sorgo, arroz, forrageiras e cana-de-açúcar cultivadas no Brasil. Também foi observada a pre-sença deste gênero em raízes de café, embora não se tenha detalhado a classificação de qual espécie (Reis etal., 1998 apud Reis et al., 2002).

Por sua vez, a bactéria Gluconacetobacter diazotrophicus foi isolada inicialmente de cana-de-açúcar(Cavalcante & Döbereiner, 1989 apud Reis et al., 2002) e, posteriormente, foi encontrada associada a outrasplantas ricas em açúcar e que se propagam vegetativamente, como a batata doce (Reis et al., 1994 apud Reiset al., 2002). A sua presença tem sido observada em raízes, caules e folhas de plantas de cana-de-açúcarcultivadas no Brasil, assim como em plantas cultivadas na Argentina, Uruguai, México, Cuba, EstadosUnidos e Austrália (Baldani et al., 1997a apud Reis et al., 2002). Entretanto, esta espécie não foi encontradaem cereais.

A espécie Burkholderia brasilensis, recentemente descrita (Baldani et al., 1997b apud Reis et al.,2002), tem sido isolada de diversas plantas, como por exemplo, arroz, mandioca, batata doce e cana-de-açúcar (Oliveira, 1992; Balota, 1994; Baldani, 1996; apud Reis et al., 2002). A mesma ainda não foi encon-trada em associação com outros cereais e sua presença em outras gramíneas forrageiras ainda não foiexplorada. Os resultados obtidos até o momento apontam o arroz como a planta que apresenta maiorocorrência desta bactéria, já que a mesma tem sido freqüentemente encontrada em números bastanteselevados nesta cultura (Campos et al., 1998 apud Reis et al., 2002).

Box 1: Bactérias fixadoras de N2 em gramíneas

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Compromissos Internacionais: Convenção Sobre a Diversidade Biológica138

O exemplo de uso prático mais expressivo dafixação biológica de N

2 por bactérias é aquele referen-

te aos gêneros Rhizobium, Bradyrhizobium e Azorhi-zobium, tornando o N disponível em forma assimilá-vel, principalmente, pelas plantas leguminosas. Essasassociações são simbióticas, mas nem todas as espéciesde bactérias fixadoras de N

2 o são.

No caso da cultura da soja, muitos estudos fo-ram conduzidos no país desde a sua introdução, tor-nando o processo de simbiose (associação entre as bac-térias nitrificadoras e as raízes das plantas) mais efici-ente. A economia trazida com o uso prático dessasbactérias por meio da inoculação de sementes de soja,devido à eliminação da necessidade de uso de fertili-zantes nitrogenados, tem sido bastante significativa.

A Embrapa Soja estimou que para uma área de11,35 milhões de ha (safra 93/94) houve economia defertilizantes de aproximadamente US$ 1 bilhão devi-do à fixação simbiótica do N

2 atmosférico (Siqueira et

al., 1994). Atualmente, em uma área de cerca de 14milhões de ha, a economia em fertilizantes seria deUS$ 1,23 bilhão por safra. Além dessa economia, deve-se considerar que a eliminação do uso de fertilizantesnitrogenados, altamente solúveis em água, reduz osriscos da lixiviação de N no solo e da contaminaçãodos aqüíferos, assim como a eutrofização de mananci-ais superficiais. E mais, a redução no consumo de fer-tilizantes nitrogenados reduz os gastos energéticos (de-rivados do petróleo) necessários para a sua produção.

Na Floresta Amazônica, as plantas leguminosasapresentam a maior diversidade de espécies e alto nú-mero de indivíduos, quando comparadas a outras es-pécies de plantas (Ducke, 1949 apud Siqueira et al.,1994). Como muitas dessas espécies são nodulíferas(Moreira et al., 1992 apud Siqueira et al., 1994), a con-tribuição das simbioses de leguminosas com rizóbiona Floresta Amazônica também deve ser significativa.

A importância das espécies arbóreas ou arbusti-vas, fixadoras de nitrogênio atmosférico, pode ser evi-denciada em sistemas florestais, agroflorestais, agrosil-vipastoris e em programas de recuperação de áreas de-gradadas (Franco et al., 1996, Buck et al., 1998, Dom-mergues et al.,1999; Huxley, 1999; apud Franco & Cam-pello, 2002).

As quantidades de N fixadas em espécies arbó-reas variam com as espécies e com os demais fatores,variando de zero a valores que podem ser extremamentealtos, como na Sesbania sp., que chegou a fixar 286kg/ha em 56 dias, podendo suprir assim, a necessidade deN de qualquer cultura (Sanginga et al., 1995, 1996;Dommergues et al., 1999; Franco & Balieiro, 2000; apudFranco & Campello, 2002). Além de fixar grandesquantidades de N e contribuir com um aporte elevadode biomassa ao solo, estas espécies podem contribuirpara a reciclagem de nutrientes de modo efetivo, uma

vez que a qualidade do material aportado é geralmen-te superior àquela oriunda de espécies não legumino-sas (Franco & Campello, op. cit.).

A diversidade de microrganismos no solo tam-bém pode se constituir em importante fator de con-trole biológico natural de patógenos de plantas culti-vadas. Entre os microrganismos com essa característi-ca, destacam-se os fungos do gênero Trichoderma, queproduzem enzimas extracelulares que degradam pare-des celulares de outros fungos (Melo, 1991).

Em outros casos, a ação de Trichoderma spp.dá-se pela produção de metabólitos extracelulares comatividade antimicrobiana. Um outro modo de ação doTrichoderma é o hiperparasitismo, ou seja, o parasitis-mo de um fungo por outro.

Observou-se antagonismo de Trichoderma spp.aos fitopatógenos Sclerotinia sclerotiorum, Rhizocto-nia solani, R. tuliparum, Sclerotium minor e S. rolfsii,que se alojam no solo. Como esses fungos produzemescleródios, constata-se que essa característica os tornamais vulneráveis ao ataque de hiperparasitos, como éo caso das espécies de Trichoderma. Para detalhes so-bre os mecanismos de ação e vantagens do uso do fun-go Trichoderma spp. no controle biológico de fitopa-tógenos, ver Melo (1991) e Melo & Faull (2000).

No que se refere aos microrganismos que au-mentam a absorção de nutrientes pelas plantas, desta-cam-se as micorrizas, que são associações simbióticasentre fungos e raízes de plantas. Os fungos micorrízi-cos geralmente não são específicos quanto ao hospe-deiro, mas a sua ocorrência diminui na medida emque há destruição da vegetação nativa.

Na associação simbiótica, o fungo se nutre naplanta e ao mesmo tempo absorve nutrientes que sãotransferidos para a planta hospedeira. Geralmente, plan-tas micorrizadas acumulam maiores quantidades demacro e micronutrientes, como também de outros ele-mentos, como Br, I, Cl, Na, Al, Si e metais pesados(Siqueira et al., 1994).

Talvez o efeito mais consistente e de interesseprático dessa associação seja o favorecimento da ab-sorção e utilização de fósforo no solo, que facilita ocrescimento vegetal na maioria dos solos brasileiros.Por isso, a micorrização representa um importantemecanismo de maximização do uso de fertilizantesfosfatados aplicados aos solos deficientes.

Os benefícios nutricionais das micorrizas resultamde interações dinâmicas e complexas entre as raízes e omicélio fúngico, moduladas pelas condições do ambien-te. Estas interações não são totalmente claras, mas resul-tam de alguns mecanismos básicos que melhoram anutrição das plantas, a saber: a) aumento da absorçãode vários nutrientes; b) sinergismo aumentando a fixaçãobiológica de N

2; c) alterações fisiológicas na raízes e d)

alterações rizosféricas (Saggin Júnior & Silva, 2002).

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Em resumo, considerando os benefícios que osmicrorganismos de solo representam para os agroecos-sistemas, deve-se adotar práticas de manejo da produ-ção agrícola que mantenham as condições para queesses microrganismos possam desempenhar as suas maisvariadas funções.

No segundo componente do programa de tra-balho proposto pelos Países da Convenção, está sendodada ênfase à identificação das melhores práticas demanejo para a conservação da diversidade na agricul-tura. Muitas atividades foram desenvolvidas nesse sen-tido, sendo que algumas delas já têm ampla utilizaçãoprática, como os exemplos apresentados a seguir.

Plantio direto

Este sistema de plantio se expandiu muito na últimadécada, tendo se iniciado na região Sul, disseminando-se em seguida para a região Centro-Oeste do país. De-talhes sobre esta prática são mostrados na Box 2. Háum site na Internet (http://www.embrapa.br/plantiodireto) que, além de divulgar a contribuição dos traba-lhos de pesquisa em todo o país e os pesquisadores etécnicos que atuam no tema, contém um banco dedados sobre as soluções e ações recomendadas por agri-cultores e técnicos, a partir de problemas levantados epriorizados pelos produtores.

Controle biológico

Como os agrotóxicos ainda são muito usados nos tra-tamentos fitossanitários – no Brasil representam atual-mente um mercado da ordem de US$ 2,5 bilhões aoano, e devido aos seus efeitos negativos no homem eno meio ambiente, foram adotadas várias iniciativaspara substituir essas substâncias. Uma delas é o con-trole biológico de pragas e doenças, cujos exemplosmais expressivos em termos de utilização prática sãoincluídos na Box 3.

Sistemas agroflorestais

Os sistemas agroflorestais consistem da combinaçãode espécies florestais e espécies agrícolas e possuemgrande potencial na Região Amazônica, por três ra-zões principais. A primeira razão é que eles podemampliar o período de produção agrícola em áreas jádesmatadas, reduzindo assim a necessidade de maisdesmatamento. A segunda, é que os sistemas agroflo-restais melhoram o padrão de vida, diminuindo anecessidade dos agricultores de ocupar grandes áreaspara a agricultura de subsistência. E a terceira razão éque os agricultores que plantam espécies florestais comoparte de seu sistema produtivo tornam-se mais sensíveisà importância de se conservar os recursos florestais.

Há muitas experiências de sistemas agroflores-tais que estão sendo conduzidas pelos próprios agri-cultores em toda a Região Amazônica, envolvendocentenas de diferentes combinações de espécies nati-vas e introduzidas. No entanto, esses sistemas aindarepresentam uma pequena parcela de toda a terra utili-zada para plantio na Região.

Exemplos de projetos que foram conduzidos naimplantação de sistemas agroflorestais são: Projeto deReflorestamento Consorciado e Adensado (RECA),Projeto BONAL, da Natural Rubber S.A. e Programade Pólo Florestal em Rio Branco, Acre. O Projeto RECAestá localizado entre Rio Branco – AC e Porto Velho –RO e atualmente conta com 150 produtores. Todosusam uma configuração padrão de pupunha, cupuaçue castanha-do-brasil, sendo o processamento e a co-mercialização dos produtos os principais problemasenfrentados. O outro projeto é o BONAL, que até 1996tinha estabelecido 900ha de pupunha, sendo 600haintercalado com seringueira e kudzu. Neste caso, háuma indústria processadora de borracha próxima quefacilita o processamento e a comercialização da borra-cha em grandes centros de consumo. E o terceiro Pro-jeto é uma excelente alternativa para promover a im-

O plantio direto consiste em não revolver o solo por meio de aração, gradeação ou escarificação, colocan-do as sementes em sulcos abertos na cobertura morta de resíduos de colheitas anteriores.

A palha na superfície do solo tem muitas funções, entre elas: estabilizar a temperatura do solo,favorecendo os processos biológicos e a vida do solo; agir como reciclador de nutrientes, assegurando altaatividade biológica; aumentar a biomassa do solo pelo aumento da matéria orgânica (Saturnino & Landers,1997). Além desses efeitos há melhoria na retenção de água, no teor de nutrientes e na estrutura do solo.

As condições mais adequadas de umidade e temperatura e a maior quantidade de matéria orgânicabeneficiam a flora e fauna do solo, o que significa maior ocorrência de organismos benéficos, tais como:minhocas, colêmbolas, insetos, ácaros, rizóbios, bactérias, micorrizas, etc.

A Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha estimou que, em 1998, a área com plantio diretono Brasil foi maior que 8 milhões de ha, esperando-se um grande crescimento de sua adoção na regiãocentro-sul do país.

Box 2: Plantio Direto

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plantação de sistemas agroflorestais, pois a Prefeitura,em 1993, permitiu o usufruto (sem doação) de lotes de5 ha localizados de 15 a 60km de Rio Branco paraassentamento de famílias sem-terra, que tinham o com-promisso de implantar sistemas agroflorestais com as-sistência técnica adequada. Atualmente há quatro pó-los agroflorestais implantados, onde vivem 150 famílias.Nesses pólos orientou-se o cultivo de mais de 30 espé-cies vegetais perenes e 28 culturas anuais (Smith et al.,1998).

Contudo, há ainda muito a ser feito para resol-ver os constrangimentos socioeconômicos e técnicos eaproveitar todo o potencial dos sistemas agroflorestais

na Amazônia, que muito podem contribuir para que adiversidade biológica seja mais bem conservada nessaregião.

Agricultura orgânica

Atualmente, há no país mais de 50 produtos agrícolasorgânicos certificados, “in natura” ou processados,podendo-se citar os seguintes: açaí, acerola, açúcar,aguardente, algodão, amaranto, arroz, aveia, aves e ovos,banana, banana passa, bovinos, cacau, café, caju, casta-nha de caju, chá, citrus, coco, ervas medicinais, féculade mandioca, feijão, gengibre, girassol, goiabada, gua-

Pragas AgrícolasCana-de-açúcar - Controle da broca, Diatraea saccharalis, com a vespa parasitóide Cotesia flavipes, empraticamente toda área de cultivo do país.Citros - Controle da mosca-das-frutas, Ceratitis capitata, com Diachasminorpha longicaudata; da cochoni-lha Orthesia praelonga com o fungo Colletotrichum gloesporioides; e da mosca-das-frutas, Anastrephafraterculus, com Diachasminorpha longicaudata e com o caracol rajado Oxystilla pulchela, com reduçãono uso de Temik® (aldicarb) de 70%.Soja - Controle da lagarta das folhas, Anticarsia gemmatalis, com Baculovirus anticarsia em mais de 1milhão de ha, representando uma economia de cerca de US$ 50 Mi por ano; e controle dos percevejosNezara viridula e Piezodorus guildinii com a vespinha parasita de ovos, Trissolcus basalis.Pastagens - Controle da cigarrinha das pastagens com aplicação do fungo Metarhizium anisopliae em25.000 ha por ano, recebendo uma única aplicação de 1 kg de uma formulação de esporos (Metabiol). Ocontrole químico normalmente envolve 5 aplicações ao ano.Seringueira - Controle da mosca-da-renda, Leptophensa hevea, com Hirsuta verticillioides e de ácaros comSporothrix insectorum, sendo que cada programa envolve cerca de 50.000 ha ao ano.Arroz - Controle de Diatraea saccharalis com o parasitóide empregado em cana-de-açúcar Cotesia flavipes.Controle do vetor de vírus Deois flavopicta com Metarhizium anisopliae.Algodão - Controle do curuquerê do algodoeiro, Alabama argilacea, com Trichogramma sp e Bacillusthuringiensis .

Doenças de plantasCitros - Controle da tristeza dos citros com vírus fraco da tristeza através da técnica de pré-imunização -Cultura de laranja Pera, em 100 milhões de plantas.Coqueiro - Controle da lixa do coqueiro com Acremonium e Hansfordia pulvinata. Uma aplicação dessesantagonistas custa cinco vezes menos que uma de fungicida. O produto é comercializado pelo IPA-PE epor pequenos laboratórios.Morango - Controle de Botrytis cinerea (agente do mofo cinzento) do morango com Gliocladium roseum- Aplicação semanal no período do florescimento, em estufas, no estado do Rio Grande do Sul.Seringueira - Controle do mal-das-folhas da seringueira (Microcyclus ulei) com Dycima pulvinata, associ-ado ao cultivo com vegetação nativa e plantações policlonais. Aplicação em área de aproximadamente50.000 ha.Macieira - Associação de Trichoderma e formaldeído para o controle de Phytophthora da macieira - Préviadesinfestação das covas com formaldeído e posterior incorporação de Trichoderma. O custo é de US$0,50/ saco de 24 g (utiliza-se um saco/cova).Fumo - Controle do damping-off de fumo com o fungo Trichoderma - Aplicação massal de Trichodermamultiplicado em grãos de trigo.

Box 3. Controle Biológico de Pragas e Doenças de Plantas

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raná em pó, hortaliças (várias), hortaliças processadas,laticínios (gado de leite), madeira, mamão, manga,maracujá, mel, milho, morango, óleo de babaçu, óleosessenciais, azeite de dendê, palmito de pupunha, pi-mentão, soja, suco de laranja, suínos, tecidos, tomate,trigo, urucum e uva-passa.

O valor da produção orgânica nacional, em 1999,foi de US$ 150 milhões, assumindo-se que em 2000ele tenha atingido US$ 195 - 200 milhões, segundo o“International Trade Center”, de Genebra – Suíça, e oInstituto Biodinâmico1,2.

O crescimento da produção da agricultura or-gânica no país foi de 50% em 2000 em relação ao anoanterior (op. cit., nota 4). Esse aumento é crescente,pois segundo a Associação de Agricultura Orgânica –ONG que atua na certificação de produtos orgânicos,o acréscimo no consumo desses produtos, no estadode SP, foi de 10% em 1997, 24% em 1998 e de 30% em1999.

Estima-se que a área ocupada com agriculturaorgânica em todo o país seja de apenas 100 mil ha,mas se considerar que em 1990 a área era de apenasmil hectares, o aumento da área na última década foide 9.900%. É importante registrar também que a evo-lução recente da área plantada tem sido muito rápida:os projetos acompanhados pelo Instituto Biodinâmi-co, que é o maior órgão de certificação do país, regis-traram em 2000 um aumento de cerca de 100% da áreaem relação a 1999, ou seja, a área aumentou de 30 milha em janeiro para 61 mil ha em agosto3.

Ainda no contexto do segundo componente,consta o compromisso de desenvolver métodos e téc-nicas que contenham um conjunto limitado de crité-rios ou indicadores de biodiversidade da agriculturaque facilitem o monitoramento e a avaliação de dife-rentes ambientes e sistemas de produção, assim comoos impactos das várias práticas. Esta atividade foi con-templada no sistema de avaliação de impacto ambien-tal da inovação tecnológica agropecuária - Ambitec-Agro que foi desenvolvido por demanda institucionalda Embrapa, e vai ser utilizado, em 2002, para avaliaro impacto ambiental de algumas tecnologias que jáforam adotadas pelos agricultores, sendo que cadaCentro de Pesquisa vai utilizar esse método para avali-ar três tecnologias.

O Sistema de Avaliação Ambitec-Agro é com-posto de um conjunto de planilhas eletrônicas (plata-

forma MS-Excelâ) construídas para permitir a consi-deração de quatro aspectos de contribuição de umadada inovação tecnológica para melhoria ambientalna produção agropecuária, quais sejam, Alcance, Efi-ciência, Conservação e Recuperação Ambiental (Ro-drigues et al., 2000). Cada um destes aspectos é com-posto por um conjunto de indicadores organizadosem matrizes de ponderação automatizadas, nas quaisos componentes dos indicadores são valorados comcoeficientes de alteração , conforme conhecimentopessoal do produtor que adota a tecnologia. No quediz respeito especificamente ao indicador de biodi-versidade, os componentes da matriz são: perda devegetação natural, perda de corredores de fauna e per-da de espécies ou variedades caboclas. Quanto à recu-peração ambiental, todos os componentes têm rela-ção com a biodiversidade, e referem-se à recuperaçãode: solos degradados, ecossistemas degradados, áreasde preservação permanente (topo de morros, encostasíngremes, margens de nascentes e mananciais) e reser-va legal (percentual da propriedade estabelecido peloCódigo Florestal que deve estar coberto com vegeta-ção natural).

A aplicação do sistema de avaliação de impactoambiental envolve uma entrevista/vistoria conduzidapelo usuário do sistema e aplicada ao produtor/res-ponsável pela propriedade rural. A entrevista deve di-rigir-se à obtenção do coeficiente de alteração do com-ponente, para cada um dos indicadores de impacto,conforme avaliação do produtor/responsável, especi-ficamente em conseqüência da aplicação da tecnolo-gia à atividade, na situação vigente na propriedade.

A inserção desses coeficientes de alteração docomponente diretamente nas matrizes e seqüencialmen-te nas planilhas de Eficiência Tecnológica, Conserva-ção Ambiental, e Recuperação Ambiental resultam naexpressão automática do coeficiente de impacto ambi-ental da tecnologia, relativizada por fatores de ponde-ração devido à escala da ocorrência da alteração e aopeso do componente na composição do indicador . Osresultados finais da avaliação de impacto são expres-sos graficamente na planilha AIA da Tecnologia, apósponderação automática dos coeficientes de alteraçãofornecidos pelo produtor/responsável pelos fatores deponderação dados.

No terceiro componente do programa de tra-balho, há vários avanços no que se refere à biodiversi-dade em geral, como é o caso do Programa Nacionalde Educação Ambiental – PRONEA, que foi aprovadopelo Presidente da República em 21.12.1994. No en-tanto, a biodiversidade na agricultura não é tratada demodo específico, o que impede a avaliação dos efeitosdo Programa nesse segmento.

O quarto componente do programa de traba-lho em biodiversidade na agricultura trata dos avan-

1Jornal “Gazeta Mercantil Latino-Americana”. Produtos orgâni-cos ganham mais espaço. 2-8/10/2000, p.5. Revista “Isto É”. Ali-mentos e produtos orgânicos, livres de agrotóxicos, garantem lu-gar na mesa do consumidor brasileiro. 24/11/2000.2Jornal “O Estado de São Paulo”. Mercado de orgânicos está emexpansão. 15/11/2000 (Supl. Agrícola), p.10-12.3Jornal “Folha de São Paulo”. Brasil prepara terreno para cresci-mento dos orgânicos (Caderno Agrofolha). 17/10/2000.

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ços na legislação dos países participantes da Conven-ção. São apresentadas a seguir as principais realizaçõesdo País nesse componente.

Credenciamento de entidades certificadorasde produtos orgânicos

A agricultura orgânica vem paulatinamente sen-sibilizando os governos a adotarem legislações especí-ficas para a certificação de produtos orgânicos.

A Instrução Normativa no 07, de 17/05/1999,do Ministro da Agricultura e do Abastecimento, esta-belece as normas para a produção, tipificação, proces-samento, envase, distribuição, identificação e certifica-ção da qualidade de produtos orgânicos de origemanimal ou vegetal. Esta Instrução dispõe também so-bre a estrutura de fiscalização e controle da qualidadeorgânica, que deverá ser seguida por instituições certi-ficadoras, que por sua vez deverão ser credenciadasnacionalmente pelo Órgão Colegiado Nacional, e nosestados pelos respectivos Órgãos Colegiados Estaduaise do Distrito Federal.

Além disso, está em trâmite no Congresso Na-cional o Projeto de Lei no 659-A, que objetiva ordenare promover a expansão do sistema orgânico de produ-ção agropecuária nacional, e para isso altera dispositi-vos da Lei no 7.802, de 11/06/1989. Em resumo, esseProjeto de Lei visa incorporar à Lei anterior os requisi-tos técnicos dos sistemas orgânicos de produção agro-pecuária.

Biossegurança

No Brasil, a importação de organismos exóticos de-pende de autorização prévia do Ministério da Agricul-tura e do Abastecimento (MAA) ou do Ministério doMeio Ambiente (MMA). Em alguns casos deve haverautorização de ambos. Depois da adesão à Convençãoda Diversidade Biológica, novos instrumentos legaisde biossegurança foram desenvolvidos, tais como: Por-taria no. 74, de 7 de março de 1994, do MAA, queatualizou normas do Decreto 24.114, estabelecendoprocedimentos de quarentena para intercâmbio de or-ganismos vivos destinados à pesquisa em controle bio-lógico de pragas, doenças, plantas daninhas e tambémos destinados a outros fins científicos; Portaria no 29,de 24 de março de 1994, do MMA, criaram-se regraspara importação de organismos silvestres e Portaria no

142, de 22 de dezembro de 1994, do Instituto Brasilei-ro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Reno-váveis (IBAMA), que proibiu a introdução, cultivo ecomercialização de bagres exóticos nas bacias dos riosAmazonas e Paraguai, para proteger a ictiofauna e adiversidade biológica locais.

Na Embrapa Meio Ambiente, foi construído oLaboratório de Quarentena “Costa Lima”, ao qual cabea quarentena e o controle de insetos e microrganismos

introduzidos no País para o controle biológico da agro-pecuária.

Por sua vez, o uso de técnicas de engenhariagenética, assim como a liberação no meio ambiente deorganismos geneticamente modificados (OGMs), es-tão regulamentados pela Lei no 8.974, de 5 de janeirode 1995. Essa Lei estabelece as normas de segurança emecanismos de fiscalização no uso de técnicas de en-genharia para construção, cultivo, manipulação, trans-porte, comercialização, consumo, liberação e descartede OGMs – entre outras razões, para proteger a diver-sidade biológica.

Registro de agentes biológicos de controle

Para fins de registro e avaliação ambiental de agentesmicrobianos vivos de ocorrência natural empregadosno controle de um outro organismo vivo consideradonocivo, o IBAMA publicou a Portaria Normativa no.131, de 03/11/1997. Esta Portaria estabelece os procedi-mentos a serem adotados, com a apresentação das se-guintes informações: dados do requerente e informa-ções gerais sobre o organismo a ser registrado, docu-mentos relativos à avaliação da eficiência do produtocomercial, documentos exigidos pelo Ministério da Saú-de para fins de avaliação e classificação toxicológica doproduto quanto ao aspecto de saúde humana, dados einformações referentes à avaliação ambiental do produ-to, modelo de rótulo e de bula e descrição da embala-gem quanto ao tipo, material e capacidade volumétrica.

Essa iniciativa representa grande avanço, umavez que não havia regulamentação específica para re-gistro de agentes microbianos de controle biológico.Aplicavam-se, esses casos, os mesmos critérios usadospara registro de agrotóxicos, que possuem característi-cas muito diferentes dos organismos vivos usados emcontrole biológico.

Proteção de cultivares

Uma outra contribuição para a diversidade de alimen-tos foi a aprovação da Lei no 9.456, em 28 de abril de1997, que trata da proteção de cultivares que sejam:claramente distintos de outros já existentes, homogê-neos e estáveis e cujas características se mantenham aolongo dos ciclos de multiplicação. Esse instrumentopermite que o detentor da propriedade da cultivar re-ceba royalties pela sua comercialização. Porém, o agri-cultor que utilizar a espécie poderá reservar sementesou mudas para uso próprio, tanto no consumo quan-to no plantio. Pesquisadores também poderão utilizá-la como fonte de variação em melhoramento genéticoou outros trabalhos científicos. A Lei permite aindaque pequenos produtores multipliquem cultivares paradoação ou troca, no âmbito de programas de apoio àagricultura familiar.

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Crimes ambientais

A Lei de Crimes Ambientais no 9.605, de 13 de feverei-ro de 1998, pune de forma severa as práticas lesivascontra a flora brasileira, tais como: destruir ou danifi-car a floresta nativa, exótica ou de preservação perma-nente; causar danos direto ou indireto às Unidades deConservação; provocar incêndio; fabricar, vender, trans-portar, ou soltar balões que possam provocar incên-dio na floresta ou demais formas de vegetação; extrairmaterial de florestas de preservação permanente; im-pedir a regeneração natural; receber ou adquirir ma-deira e outros produtos de origem vegetal sem licença;transformar madeira de lei em carvão, e utilizar moto-serra sem autorização.

Os órgãos gestores da política ambiental recebe-ram do legislador forte instrumental administrativopara conter os predadores da natureza, com a possibi-lidade de aplicação de diversas reprimendas adminis-trativas, entre elas: advertência, multa simples; multadiária; apreensão dos animais, produtos e subprodu-tos da fauna e flora, instrumentos, petrechos, equipa-mentos ou veículos de qualquer natureza utilizadosna infração; perda ou restrição de incentivos e benefí-cios fiscais; suspensão de venda e fabricação do produ-to; suspensão ou cancelamento de registro, licença ouautorização; perda ou suspensão da participação emlinhas de financiamento em estabelecimentos oficiaisde crédito; proibição de contratar com a Administra-ção Pública.

Perspectivas e Indicadores para Monitoramento

Há várias lacunas do conhecimento que dificultamuma abordagem adequada da diversidade biológica naagricultura. Uma das formas de sensibilizar os paísesparticipantes da Convenção da Diversidade Biológicapara que se avançasse nesse tema foi propor três temasiniciais que tivessem relação direta com a questão eco-nômica da agricultura, quais sejam: polinizadores,microrganismos de solo e controle biológico. O pri-meiro foi escolhido pela importância da polinizaçãona produção agrícola, o segundo, principalmente pelopapel das bactérias fixadoras de nitrogênio atmosféri-co e das micorrizas no aumento da absorção de nutri-entes pelas plantas, e o terceiro, pela diminuição dedespesas com agrotóxicos e pelo apelo social à utiliza-ção de tecnologias ambientalmente corretas de produ-ção agropecuária.

Entretanto, não se pode tratar a diversidade bi-ológica na agricultura de modo tão pontual, ou seja, oenfoque deve ser mais abrangente, tratando-se das in-terrelações e influências mútuas entre os organismosque compõem os diferentes compartimentos – água,solo, planta, atmosfera – de um agroecossistema. Só

assim vai ser possível avaliar a estabilidade ecológica ea resiliência dos sistemas de produção agropecuária, edimensionar o papel da biodiversidade nesses atribu-tos. Por exemplo, um tema que requer essa abordagemé a ciclagem de nutrientes, cujos processos têm partici-pação direta de agentes biológicos.

Outro desafio é como valorar, com parâmetrosfinanceiros, os diferentes serviços prestados pela diver-sidade biológica à agricultura. Além disso, há interfe-rências externas que precisam ser avaliadas, ou seja,como outras atividades antrópicas interferem nos or-ganismos essenciais à estrutura biológica e ao funcio-namento dos processos nos agroecossistemas?

Outro grande desafio é vencer as dificuldadesmetodológicas para a avaliação da diversidade biológi-ca ex ante e ex post em relação às novas atividadesprodutivas ou mesmo às tecnologias específicas em usonos sistemas de produção. É muito importante tam-bém que se estabeleçam critérios de licenciamentoambiental para atividades agropecuárias praticadas emáreas de alto risco para a diversidade biológica.

No que se refere à definição de indicadores paramonitoramento é importante considerar duas verten-tes: 1) os serviços ambientais prestados pela biodiversi-dade à agricultura e 2) os efeitos da agricultura na bio-diversidade.

Numa primeira etapa, pode-se realizar estudos-de-caso para testar e adequar os indicadores, para, emuma segunda etapa, ampliar o monitoramento paraáreas mais extensas. Cabe lembrar que para muitosdesses indicadores, pode-se utilizar dados secundários.

Como sugestão, a seguir são apresentados algunsindicadores para monitoramento da diversidade bio-lógica considerando a sua interface com a agricultura.Para facilitar o seu entendimento, optou-se por agre-gá-los em três grupos: o primeiro, com indicadores deestado da diversidade biológica, o segundo grupo comindicadores de pressão e impacto sobre a diversidadebiológica e o terceiro, com indicadores de respostasaos impactos causados sobre a diversidade biológica.

Indicadores de Estado da Diversidade Biológica

• Área total com solos degradados, por região;• Área total com ecossistemas degradados, por região;• Área total de preservação permanente (topo de

morros, redor de nascentes e margens de mananciais,encostas íngremes), por região;

• Área total de reserva legal, por região;• Diversidade de espécies: animais e plantas superio-

res, microrganismos e mesofauna do solo, etc., porecossitema, e por microrregião; e

• Germoplasma útil para a agricultura: número deespécies e plantas medicinais, aromáticas, fruteirasetc. disponibilizadas para produção comercial.

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Indicadores de Pressão e Impacto sobre adiversidade biológica

• Freqüência de uso de agrotóxicos, por cultura prin-cipal e por região;

• Quantidade consumida de agrotóxicos (ingredien-tes ativos e produtos comerciais) das classes toxico-lógicas I e II (de maior toxicidade), por cultura prin-cipal e por região;

• Área de agricultura e pecuária praticadas em áreasque tinham cobertura vegetal natural no ano ante-rior (expansão da fronteira agrícola), por ecossiste-ma e por região;

• Qualidade da água em microrregiões com despejode substâncias poluentes, considerando os seguintesparâmetros: demanda bioquímica de oxigênio, con-centração de metais pesados, nitratos, fosfatos, etc;

• Área com uso de queimada como prática agrícola,por ecossistema e por região;

• Número de espécies de animais e plantas ameaça-das de extinção; e

• Número de intoxicações agudas humanas, não-in-tencionais, causadas por agrotóxicos.

Indicadores de Resposta aos impactos causadossobre a diversidade biológica

• Uso de práticas ou sistemas conservacionistas deprodução: número de produtores, por prática, porcultura. Exemplos de práticas: agricultura orgâni-ca, manejo integrado e controle biológico de pra-gas e doenças de plantas, rotação de culturas, práti-cas de conservação do solo, adubação verde, etc;

• Área com recomposição de corredores de fauna,por ecossistema, por região; e

• Legislação: número de leis, decretos, portarias, nor-mas, etc. de interesse para a conservação da diversi-dade biológica na agricultura, no País, nos Estadose nos Municípios.

O principal problema a ser resolvido é a dificul-dade de registro e de sistematização de dados e infor-mações que possibilitem o uso adequado dos indica-dores para fins de monitoramento e de avaliação deimpacto ambiental na biodiversidade. Por fim, é im-portante ressaltar que todos os indicadores listadosacima devem ser monitorados ao longo do tempo, epara tanto devem ter sempre um marco referencial aoqual comparam-se os resultados subseqüentes.

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Magda Aparecida de LimaPaulo Choji Kitamura

Luciano José de Oliveira Accioly

13Compromissos Internacionais:

Convenções-quadro das Nações UnidasSobre Mudança do Clima (UNFCCC) e

Sobre Combate a Desertificação (UNCCD)

Capítulo

145

Entre os mais importantes compromissos internacio-nais assumidos pelo Brasil na área ambiental, ressal-tam-se aqueles ligados às Convenções-Quadro das Na-ções Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) esobre Combate à Desertificação (UNCCD). Os resul-tados e desdobramentos destes fora globais incidemdiretamente nas políticas agrícolas regionais, e devemser interpretados como um instrumento prático paraa conservação da qualidade ambiental aliada a indica-dores de produtividade sustentável do setor agropecu-ário e florestal. Implicam também nas ações de gestãoagrícola visando a adaptação do setor aos impactospotenciais de mudanças climáticas globais e regionais,bem como na prevenção à degradação das terras e re-cuperação de áreas degradadas devido ao processo dedesertificação.

Convenção-Quadro das Nações Unidas sobreMudança do Clima

Contextualização

Evidências de alterações climáticas globais começarama ser apresentadas a partir da década 80, despertandocada vez mais o interesse da comunidade científica etambém política. Iniciava-se assim a discussão sobre oefeito estufa, fenômeno provocado pelo aumento cres-cente de gases atmosféricos com o conseqüente efeitode absorção de uma fração maior de calor na superfí-cie terrestre. Entre esses gases, chamados gases de efei-to estufa, estão o dióxido de carbono (CO2), o metano(CH4), o óxido nitroso (N2O), o ozônio (O3), e vapord’água (H2O ). O aumento do CO2 na atmosfera temsido o mais discutido, devido ao volume de suas emis-sões representarem de 55 a 60% do total das emissõese ao tempo de sua permanência na atmosfera, de pelo

menos de 10 décadas. A concentração aumentada des-ses gases na atmosfera é atribuída às atividades huma-nas – agricultura, indústria, energia, urbanização, trans-portes, provocando um aquecimento global adicional.De acordo com estimativas globais (IPCC, 1996), só osetor agrícola (incluindo queima de biomassa, pecuá-ria, dejetos animais, cultivo de arroz inundado, solosagrícolas) seria responsável por 20% do potencial parao aquecimento global.

Em atenção a esse problema, o Programa dasNações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMAO) ea Organização Mundial de Meteorologia (OMM) esta-beleceram em 1988 o Painel Intergovernamental sobreMudança do Clima (IPCC), com o papel de apoiarcientificamente as negociações de um tratado mundi-al sobre o tema.

Após várias reuniões realizadas entre cerca de 150países, a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobreMudança do Clima é adotada em maio de 1992, naSede das Nações Unidas, e firmada em junho do mes-mo ano, durante a Conferência das Nações Unidas so-bre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada noRio de Janeiro, também conhecida como a “Cúpula daTerra”. A Convenção entrou em vigor em março de 1994,com o objetivo de “alcançar, em conformidade com asdisposições pertinentes desta Convenção, a estabiliza-ção das concentrações de gases de efeito estufa na at-mosfera num nível que impeça uma interferência an-trópica perigosa no sistema climático. Esse nível deveráser alcançado num prazo suficiente que permita aosecossistemas se adaptarem naturalmente à mudança doclima, que assegure que a produção de alimentos nãoseja ameaçada e que permita ao desenvolvimento eco-nômico prosseguir de maneira sustentável”.

Às Partes (países membros) cabe a proteção dosistema climático em benefício das gerações presentes

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Compromissos Internacionais: Convenções-quadro das Nações Unidas Sobre Clima e Desertificação146

e futuras da humanidade com base na equidade e emconformidade com suas responsabilidades comuns masdiferenciadas e respectivas capacidades. Isso implicaque países mais desenvolvidos tomem a iniciativa nocombate à mudança do clima e a seus efeitos.

Entre os compromissos das Partes da Conven-ção, como disposto no seu Artigo 4, destacam-se:

“Alínea a: Elaborar, atualizar periodicamente,publicar e por à disposição da Conferência das Partes,em conformidade com o Artigo 12, inventários nacio-nais de emissões antrópicas por fontes e das remoçõespor sumidouros de todos os gases de efeito estufa nãocontrolados pelo Protocolo de Montreal, empregandometodologias comparáveis a serem adotadas pela Con-ferência das Partes;

Alínea b: Formular, implementar, publicar eatualizar regularmente programas nacionais e, confor-me o caso, regionais, que incluam medidas para miti-gar a mudança do clima, enfrentando as emissões an-trópicas por fontes e remoções por sumidouros de to-dos os gases de efeito estufa não controlados pelo Pro-tocolo de Montreal, bem como medidas para permitiradaptação adequada à mudança do clima;

Alínea c: Promover e cooperar para o desenvol-vimento, aplicação e difusão, inclusive transferência,de tecnologias, práticas e processos que controlem, re-duzam ou previnam as emissões antrópicas de gases deefeito estufa não controlados pelo Protocolo de Mon-treal em todos os setores pertinentes, inclusive nos se-tores de energia, transportes, indústria, agricultura, sil-vicultura e tratamento de resíduos;

Alínea d: Promover a gestão sustentável, bemcomo promover e cooperar na conservação e fortaleci-mento, conforme o caso, de sumidouros e reservatóri-os de todos os gases de de efeito estufa não controla-dos pelo Protocolo de Montreal, incluindo a biomas-sa, as florestas e os oceanos como também outros ecos-sistemas terrestres, costeiros e marinhos.”

Além dessas obrigações, a Convenção inclui atri-buições às Partes de colaborar com esforços de consci-entização pública, transferência de conhecimento, emrelação à mudança do clima, inclusive estimulando aparticipação de organizações não governamentais nes-se processo. Os países devem assegurar o intercâmbiode informações científicas, tecnológicas, técnicas, soci-oeconômicas e jurídicas relativas ao sistema climáticoe à mudança do clima. Também são requeridos esfor-ços para a adaptação dos países e suas atividades eco-nômicas aos impactos da mudança do clima, bem comoplanos integrados para a gestão de zonas costeiras, re-cursos hídricos e agricultura, principalmente em áreaspotencialmente mais afetáveis, sujeitas à inundaçõesou secas.

A Conferência das Partes, como órgão supremoda Convenção, tem a responsabilidade de facilitar, ori-

entar, acompanhar e avaliar a implementação da Con-venção, examinando periodicamente as obrigações dasPartes.

Durante a terceira Conferência das Partes (COP-3), em Quioto, Japão, foi celebrado o Protocolo deQuioto, que inclui metas e prazos para a redução oulimitação das emissões futuras de CO2 e outros gasesresponsáveis pelo efeito estufa.

Este protocolo inclui 3 mecanismos de flexibi-lização a serem utilizados no cumprimento dos com-promissos da Convenção: 1- implementação conjun-ta, 2- comércio de emissões, e 3 – mecanismo de desen-volvimento limpo (MDL). Este último mecanismo foidesenvolvido a partir de uma proposta da delegaçãobrasileira que previa a constituição de um Fundo deDesenvolvimento Limpo. Esta idéia foi então trans-formada no MDL, um mecanismo que permite umpaís desenvolvido financiar projetos em países em de-senvolvimento, a ser contabilizado como meta de re-dução das emissões.

O Protocolo de Quioto, contendo 28 artigos,foi aberto para assinatura em Março de 1998, e entraráem vigor 90 dias após ter sido ratificado por pelo menos55 Partes da Convenção, incluindo países desenvolvi-dos somando pelo menos 55% do total das emissõesde CO2 geradas em 1990 (MCT, 2002).

A implementação da UNFCCC no Brasil

O Brasil tem se destacado por sua participação ativa epostura consistente nas Conferências das Partes, e tam-bém dentro do grupo a que pertence, o Grupo dos 77e China.

Quanto às ações do país para a implementaçãoda Convenção do Clima, sob a responsabilidade doMinistério da Ciência e Tecnologia, destacam-se as se-guintes ações realizadas e em implementação:

Elaboração da Comunicação Nacional

Conforme requerido no Artigo 12 da Convenção, foirealizado o inventário nacional das emissões de gases deefeito estufa, bem como a descrição geral das providên-cias tomadas ou previstas no país para implementar aConvenção. Cerca de 60 instituições participaram destaação, coordenando e contribuindo com os inventáriossetoriais de emissões de gases de efeito estufa provenien-tes de atividades ligadas à energia, aos transportes, à agri-cultura, ao tratamento de resíduos urbanos, à indústriae outros setores (cumprimento do item A do Artigo 4da Convenção). Entre os participantes incluem-se mi-nistérios (MME, MMA, MT, MDICT, etc.), instituiçõesfederais (Petrobrás, Eletrobrás, Embrapa, INPE, entreoutras), estaduais (Cetesb, Cemig, entre outras), associa-ções de classe (SNIEC, IBS, ANFAVEA, ABAL, ABE-GÁS, ABIQUIM, Bracelpa, entre outras), empresas e

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Compromissos Internacionais: Convenções-quadro das Nações Unidas Sobre Clima e Desertificação 147

cooperativas privadas (Copersucar, White Martins, en-tre outras), organizações não-governamentais (Funcate,Fundação José Bonifácio, entre outras), universidades ecentros de pesquisas (COPPE/UFRJ, USP, UFRS, UnB,entre outras) (MCT, 2002).

Instalação do Programa Executivo MudançasClimáticas

Este programa foi criado em fevereiro de 1994, após aratificação pelo Brasil da Convenção-Quadro das Na-ções Unidas sobre Mudança do Clima, com o objetivode apoiar o desenvolvimento de estudos relativos àemissão de gases de efeito estufa, e assim subsidiar adefinição da política de atuação em mudanças climáti-cas. O Programa vem sendo desenvolvido desde junhode 1996 com recursos do GEF - Global EnvironmentFacility e por um acordo bilateral com os EstadosUnidos, no âmbito do “U.S. Country Studies Program”.

Ações no Programa Avança Brasil (PPA)

Oito ações foram estabelecidas pelo Programa, sob acoordenação do Ministério da Ciência e Tecnologia –MCT, promovendo o desenvolvimento de estudos emdiversos setores:

Ação 1 - Desenvolvimento de estudos sobre a vulnera-bilidade e adaptação aos impactos das mu-danças climáticas;

Ação 2 - Desenvolvimento de modelos de prospecçãopara acompanhamento das mudanças climá-ticas;

Ação 3 - Desenvolvimento de Plano Nacional de Miti-gação de Mudanças Climáticas decorrentesdo Efeito Estufa;

Ação 4 - Elaboração do Inventário Nacional de Emis-sões Antrópicas de Gases de Efeito Estufa;

Ação 5 - Fomento ao desenvolvimento de tecnologias,práticas e processos para reduzir as emissõesde gases de efeito estufa;

Ação 6 - Implantação de Sistema de Monitoração deEmissões de Gases de Efeito Estufa;

Ação 7 - Manutenção do Sistema de Informações so-bre o Efeito Estufa;

Ação 8 - Operacionalização do Mecanismo de Desen-volvimento Limpo.

Abertura à participação de entidades governamentaise não governamentais em discussões sobre aMudança do Clima no Brasil:

Representantes de instituições governamentais, não go-vernamentais, especialistas, técnicos, estudantes, têm sidoencorajados a participar das discussões por ocasião dasConferências das Partes, acompanhando e debatendoas negociações a cargo da delegação brasileira.

Difusão de informações sobre a Mudança do Clima

O Ministério da Ciência e Tecnologia, e também aSecretaria do Meio Ambiente, do Governo do Estadode São Paulo, têm difundido publicações sobre a Con-venção-Quadro de Mudança do Clima, Protocolo deQuioto e outros temas relacionados. O MCT criouum site sobre o tema (http://www.mct.gov.br/clima),contendo o histórico de envolvimento do país naConvenção, os documentos gerados nas Conferênci-as, a posição do governo brasileiro, e ações em desen-volvimento e realizadas no país.

Vários projetos custeados pelo Programa Mu-danças Climáticas geraram publicações técnico-cientí-ficas sobre o tema, em diversos setores (energia, agri-cultura, tratamento de resíduos, etc.), bem como umasérie de eventos foram realizados sob seu patrocínio eem parceria com outras instituições.

Criação do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas

A criação deste Fórum, pelo Decreto no 3.515, de 20de junho de 2000, teve por objetivo “conscientizar emobilizar a sociedade para a discussão e tomada deposição sobre os problemas decorrentes da mudançado clima por gases de efeito estufa, bem como sobre oMecanismo de Desenvolvimento Limpo (CDM) defi-nido no Artigo 12 do Protocolo de Quioto à Conven-ção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança doClima, ratificada pelo Congresso Nacional por meiodo Decreto Legislativo no 1, de 3 de fevereiro de 1994”A este Fórum cabe estimular a criação de Fóruns (fora)Estaduais de Mudanças Climáticas, de forma a abran-ger as diferentes regiões do país.

Criação da Comissão Interministerial de MudançaGlobal do Clima

Aliado ao papel do MCT no cumprimento dos compro-missos brasileiros assumidos junto à Convenção sobreMudança do Clima, o governo federal estabeleceu, re-centemente, uma Comissão Interministerial de Mudan-ça Global do Clima, com sede em Brasília. Esta comis-são, criada em julho de 1999, tem por finalidade “arti-cular as ações de governo decorrentes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima eseus instrumentos subsidiários de que o Brasil seja par-te”, visando fornecer subsídios para políticas setoriais eposições do governo nas negociações da Convenção.

A Comissão é formada por representantes doMinistério das Relações Exteriores, da Agricultura,Pecuária e Abastecimento, dos Transportes, das Minase Energia, do Planejamento, Orçamento e Gestão, doMeio Ambiente, da Ciência e Tecnologia, do Desen-volvimento, Indústria e Comércio Exterior e da CasaCivil da Presidência da República. A Presidência desta

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Compromissos Internacionais: Convenções-quadro das Nações Unidas Sobre Clima e Desertificação148

Comissão está a cargo do Ministro da Ciência e Tecno-logia e a Vice-Presidência ao Ministro do Meio Ambi-ente.

A Agricultura e a Mudança do Clima

Acredita-se que pequenas mudanças do clima (menosde 2oC) poderão afetar relativamente pouco a produ-ção agrícola global, mas que com um maior aqueci-mento terrestre, ela será significativamente reduzida.Estima-se também que a produção agrícola e mudan-ças na produtividade variarão diferentemente em regi-ões do planeta, tal que em regiões tropicais e sub-tropi-cais, e principalmente na África e América Latina, pre-vê-se a redução na produção de algumas culturas, comconseqüente risco de maior escassez de alimento (Wat-son, 2000). E isso é preocupante em vista de uma mai-or demanda por alimentos por uma crescente popula-ção global.

Apesar da importância deste cenário, poucosestudos têm sido preparados para prever futuros im-pactos sobre a agricultura no Brasil e América do Sul,de forma a que se possa planejar ações estratégicas namitigação dos efeitos e adaptação da agropecuária aoimpacto da mudança do clima (Siqueira et al., 1994;Alves & Evenson, 1996).

Por outro lado, a agricultura também contri-bui com o efeito estufa, por meio da emissão de gasescomo metano, monóxido de carbono, dióxido de car-bono, óxido nitroso e óxidos de nitrogênio. Vinte porcento do incremento anual da forçante radiativa glo-bal é atribuído ao setor agrícola considerando-se oefeito dos gases metano, óxido nitroso e gás carbôni-co (IPCC, 1996), excluída a fração correspondente àsmudanças do uso da terra relacionadas à atividadesagrícolas (15%). O cultivo de arroz irrigado por inun-dação, a pecuária doméstica e seus dejetos, assim comoa queima de resíduos agrícolas promovem a liberaçãode metano (CH4) na atmosfera. Os solos agrícolas,pelo uso de fertilizantes nitrogenados, fixação bioló-gica de nitrogênio, adição de dejetos animais, incor-poração de resíduos culturais, entre outros fatores, sãoresponsáveis por significantes emissões de óxido ni-troso (N2O). A queima de resíduos agrícolas nos cam-pos liberam, além do metano (CH4), óxido nitroso(N2O), óxidos de nitrogênio (NOx) e monóxido decarbono (CO).

A Embrapa, entre outras instituições participan-tes da primeira Comunicação Nacional, contribuiu emgrande parte para a realização do inventário das emis-sões de gases provenientes do setor agropecuário (Em-brapa 1998, 1999a, b, c), com a colaboração de mais de60 instituições de pesquisa e outras entidades brasilei-ras. Os temas tratados pela Embrapa foram: metanoproveniente de pecuária ruminante, dejetos animais e

arroz irrigado por inundação, CH4, CO, N2O e NOxa partir da queima de resíduos agrícolas e N2O geradoem solos agrícolas, pelo processo de desnitrificação.Nesta oportunidade, verificou-se uma enorme carên-cia de estudos sobre a quantificação das emissões degases, bem como sobre a dinâmica do carbono em sis-temas agropastoris e florestais.

Em conclusão ao primeiro inventário das emis-sões de GEEs no setor agropecuário, a Embrapa MeioAmbiente e o Ministério da Ciência e Tecnologia orga-nizaram, em junho de 1999, um Workshop sobreMudanças Climáticas e a Agropecuária Brasileira, ondeforam apresentados os mais recentes estudos sobre otema no país (Mudanças Climáticas Globais e a Agro-pecuária Brasileira, 1999).

A Embrapa vem desenvolvendo, nos últimosanos, estudos sobre a dinâmica de carbono e fluxosde emissão de gases de efeito estufa gerados por siste-mas de produção agropecuária brasileiros. Entre asUnidades envolvidas, destacam-se a Embrapa Amazô-nia Oriental, Embrapa Meio Ambiente, EmbrapaAgrobiologia, Embrapa Cerrados, Embrapa PecuáriaSudeste, Embrapa Instrumentação Agropecuária, Em-brapa Solos, Embrapa Amazônia Ocidental, Embra-pa Acre, e outras Unidades. A maioria desses projetosenvolve a participação de instituições parceiras naci-onais e internacionais, reunindo esforços e compe-tências necessárias para a obtenção de uma linha debase no setor agropecuário. Numa tentativa de otimi-zar e reunir os esforços conduzidos por esses grupos,a rede de pesquisas Agrogases, ora em estruturação,tem entre seus objetivos fornecer subsídios científi-cos aos negociadores brasileiros junto à Convençãodo Clima, por meio de um maior conhecimento so-bre a dinâmica de C em solos e vegetação e sobre osfluxos de gases de efeito estufa em diferentes sistemasde produção agropecuária, florestal e agroflorestalbrasileiros.

Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre oCombate à Desertificação (UNCCD)1

Contextualização

Os processos de desertificação – entendido como per-da da capacidade produtiva das terras em regiões ári-das, semi-áridas e sub-úmidas causada por vários fato-res, entre essas as antrópicas e as variações climáticas –ameaçam a subsistência de mais de 900 milhões depessoas no mundo. Segundo dados do Programa dasNações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), esse

1Nesta seção são apresentados apenas os desdobramentos da Con-venção das Nações Unidas de Combate à Desertificação e os com-promissos assumidos pelo Brasil na qualidade de signatário dessa.O relato da desertificação no Brasil, encontra-se no Capítulo 9.

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Compromissos Internacionais: Convenções-quadro das Nações Unidas Sobre Clima e Desertificação 149

problema vem se agravando e afeta atualmente cercade da superfície terrestre. No Brasil, os processos dedesertificação ocorrem no Nordeste, atingindo o dia-a-dia de mais de 15 milhões de pessoas.

Apesar do primeiro Plano das Nações Unidasde Combate à Desertificação, ter sido apresentado ain-da em 1977, na Conferência das Nações Unidas sobreDesertificação, foi somente após a Conferência dasNações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvi-mento (Rio-92), que se decidiu elaborar e implemen-tar um instrumento internacional juridicamente obri-gatório para os países signatários.

E assim, conforme recomenda o capítulo 12 daAgenda 21 aprovada na Rio-92, um comitê intergover-namental elaborou, com a participação de mais de 100países, o texto da Convenção das Nações Unidas deCombate à Desertificação (UNCCD), aprovada emoutubro de 1994 em Paris, tendo entrado em vigor em1996, 90 dias após a 50a assinatura de adesão. O Brasilé signatário dessa Convenção desde 1994.

A UNCCD estabelece as bases para a cooperaçãointernacional no tema combate à desertificação, com-preendendo como seções; Preambular, de motivos, pres-supostos e princípios que balizam a implementação daconvenção e os compromissos dos países signatários(partes contratantes); Introdução, com as principaisdefinições, objetivos e os princípios que nortearão aexecução dos compromissos da Convenção; Disposi-ções Gerais, contendo as obrigações gerais, as obriga-ções dos países-partes afetados e dos países-partes desen-volvidos; Programa de Ação, Cooperação Científi-ca e Técnica e Medidas de Apoio, que discorre sobrea estratégia de abordagem, a necessidade de executarProgramas de Ação Nacional, participativos e multidis-ciplinares, a importância da cooperação científica e téc-nica, as medidas de apoio tais como de educação ambi-ental, fortalecimento de instituições locais e regionais eo compromissos de aporte de recursos financeiros pelospaíses-partes desenvolvidos e dos fundos multilaterais;Instituições, que descreve os órgãos e mecanismos daConvenção criados para facilitar a implementação doscompromissos e fortalecer a cooperação internacionalno tema; Procedimentos, de definição dos procedimen-tos na implementação da convenção; Dispositivos fi-nais, que definem as questões processuais da Conven-ção e; Anexos de aplicação Regional.

Um dos momentos fundamentais para avalia-ção de progressos e coordenação multilateral da im-plementação da UNCCD, inclusive de questões de fi-nanciamento das ações, é a Conferência das Partes(COP), órgão supremo da Convenção. Nessas ocasiõessão apresentadas também os relatórios nacionais decada Parte. Ao todo, foram realizadas até o momentocinco Conferências das Partes; a COP 1 em Roma,Itália, outubro/1997, a COP 2 em Dakar, Senegal, de-

zembro/1998, a COP 3 em Recife, Brasil, novembro/1999, a COP 4 em Bonn, Alemanha, dezembro/2000 ea COP 5 em Genebra, Suíça, novembro/2001.

A implementação da UNCCD no Brasil

Como desdobramento dos compromissos da Conven-ção das Nações Unidas de Combate à Desertificação(UNCCD) assumidos pelo Brasil, sob a liderança doMinistério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricose da Amazônia Legal (MMA), várias ações foram im-plementadas no âmbito do projeto BIRD já existente,BRA 93/036, entre essas:

a) a construção de um arcabouço jurídico, incluindoo Decreto Legislativo Federal 28/ 1997, que aprovao texto da UNCCD; a Resolução 238 do ConselhoNacional do Meio Ambiente – CONAMA, de de-zembro de 1997, que definiu as diretrizes da Políti-ca Nacional de Controle da Desertificação; o De-creto 2741/1998 que promulga a UNCCD e a apre-sentação de um projeto de Lei Complementar quedispõe sobre a criação do “Fundo Nacional deCombate à Desertificação e dá outras providências”;

b) o fortalecimento institucional – entendido como oaporte de recursos financeiros e de pessoal treina-do no tema – do próprio Ministério do Meio Am-biente e de outras instituições federais, setoriais eregionais para das operacionalidade e coordenar asações de combate a desertificação a partir da for-mulação (participativa) do Plano Nacional de Con-trole da Desertificação e do Programa Nacional deCombate à Desertificação; a busca de um atuaçãocoordenada e participativa das instituições federais,regionais, estaduais e municipais no combate à de-sertificação, a criação da Rede de Informação eDocumentação sobre Desertificação – REDESERT,e a criação do Grupo Consultivo do PNCD, com-posto por várias instituições da sociedade civil,como ONGs e entidades sindicais, com objetivosbásicos de facilitar a operacionalidade do Programa;

c) a realização de uma série de estudos básicos, emespecial diagnósticos ambientais das áreas susceptí-veis à desertificação e elaboração de manuais e pro-postas para monitoramento da desertificação e dodesenvolvimento sustentável do Semi-Árido, comfoco nas ações emergenciais;

d) a edição de materiais para a educação ambiental ecapacitação de equipes para atuar no tema, assina-tura de convênios e acordos de cooperação técnicae financeira, além de eventos e outras iniciativas deextensão nas principais regiões-problemas.

Todavia, sem dúvida, é a partir da finalizaçãodo Plano Nacional de Combate à Desertificação, emelaboração pelo MMA, que os compromissos brasilei-ros perante a UNCCD ficarão mais claramente deline-

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ados. Nesse sentido, o diagnóstico básico, inclusivecom mapas de susceptibilidade à desertificação, já ela-borado por aquele Ministério para a Secretaria daConvenção, indicam perdas da ordem de US$ 300milhões/ano devido aos processos de desertificação noBrasil. O diagnóstico indicou oito estados do Nordes-te Brasileiro (AL, BA, CE, PB, PE, PI, RN e SE) comuma área total de 1.548.672km2 com algum processode degradação, sendo que 98.595km2 localizados em 6estados, encontram-se em condição muito grave. Al-guns núcleos de desertificação, ou seja, áreas com evi-dentes sinais de degradação, foram identificados: Gil-bués-PI, Iraiçuba-CE, Seridó-RN e Cabrobó-PE.

Estima-se custos da ordem de US$ 2 bilhões a se-rem gastos em 20 anos somente para a recuperação dasáreas mais gravemente afetadas, prevendo-se para tanto,programas integrados de desenvolvimento sustentávelvisando renda e emprego, programas de reflorestamentoe conservação do solo e água, programas mitigadores dosefeitos das secas e programas de assistência técnica, sociale financeira das comunidades ali localizadas.

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Luís Carlos HernaniPedro Luiz de Freitas

José Eloir DenardinRainoldo Alberto Kochhann

Isabella Clerici De-MariaJohn Nicolas Landers

14Uma Resposta Conservacionista –

o Impacto do SistemaPlantio Direto

Capítulo

151

A Resposta da Sociedade aos Processos daDegradação das Terras

Diante do problema degradação dos recursos ambien-tais, especialmente das terras agrícolas que vem contri-buindo para a inadimplência de produtores rurais, êxo-do rural, inchamento e favelização urbana, tem-se ve-rificado no Brasil um princípio de reação da socieda-de na busca de formas mais adequadas de conduzir odesenvolvimento e as atividades econômicas, gerandoexpectativas de alcance de uma agricultura competiti-va e comprometida em prover eqüidade social, respei-to ao ambiente e segurança alimentar. Neste contexto,alguns programas de manejo conservacionistas de soloe de água têm sido conduzidos com sucesso. Em geral,esses programas têm considerado fundamentos bási-cos (aumento da capacidade de infiltração de água nosolo e da cobertura do solo e práticas comunitárias decontrole à erosão) que têm permitido o desenvolvi-mento do Sistema Plantio Direto no âmbito de baciashidrográficas, com grandes reflexos positivos na quali-dade do solo, da água e da vida dos envolvidos.

Exemplo dessas iniciativas é o Projeto Microba-cias, desenvolvido em parte com recursos do BIRD naMicrobacia do Lajeado São José (Chapecó, SC, Brasil),no período de 1991 a 1998, que possibilitou expressivosavanços no sistema de conservação dos recursos solo,água e socioambientais. Os resultados demonstraramrelevantes melhorias na qualidade da água, na reduçãoda degradação do solo, na evolução da produtividadedas culturas e, conseqüentemente, no aumento da ren-da das propriedades rurais. Bassi (1999), ao avaliar esseprojeto, verificou que a cobertura do solo (aumento de43% na área com adoção de culturas de cobertura) asso-ciada à mudança na forma de preparo do solo (incre-mento de 48% na área adoção de Sistema Plantio Dire-

to) garantiu maior infiltração de água da chuva; pro-porcionando redução de 69,5% na concentração de se-dimentos em mananciais de superfície e de 16,6% nasperdas totais de sedimentos. Isso implicou em reduçãode 13g de sulfato de alumínio por m3 de água para flo-culação dos sólidos em suspensão e, portanto, numaeconomia de 46% no custo mensal do tratamento deágua. Além disso, verificou-se incremento médio de 24%em produtividade de culturas e aumento de 29% nosingressos líquidos para o produtor rural.

Outro exemplo de manejo integrado do solo eda água tendo como unidade de trabalho a microbaciahidrográfica é o Programa Paraná Rural, desenvolvido apartir de 1987, mediante parceria entre Governo Esta-dual do Paraná, Governo Federal e Banco Mundial. Esseprograma assumiu a erosão hídrica como o grande pro-blema ambiental do setor agrícola e considerou comofundamental a organização dos produtores rurais paraa busca de alternativas e soluções comuns. SegundoBragagnolo et al., 1997, o Programa Paraná Rural atin-giu pleno sucesso sendo que alguns dos resultados obti-dos foram: aumento de 53% de propriedades com ado-ção de terraceamento, representando incremento de 60%na área conservada, queda de 70% nos sedimentos emsuspensão nos mananciais de superfície, redução no custode tratamento de água em 2,7 a 6,0 vezes que totalizouredução de US$43.600,50 por ano e promoveu aumen-to de 59% na renda bruta da mão-de-obra familiar.Durante o desenvolvimento desse projeto, a área adota-da de Sistema Plantio Direto cresceu 1.700.000ha/ano.

Muitos outros programas de gestão integrada esustentável em bacias hidrográficas se encontram empleno andamento em todo o país e poderiam ser cita-dos. Enfatiza-se aqui o fato de que técnicas conjugadase integradas de manejo de solo, embasadas no SistemaPlantio Direto, têm alcançado pleno êxito com gran-

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des melhorias socioeconômicas e ambientais, especial-mente, quando os diferentes setores da sociedade estãofortemente comprometidos com o processo de suaexecução. Além disso, conforme salientam Freitas etal. (2001), para a reversão da atual degradação dos re-cursos naturais, é preciso tornar mais eficiente o pro-cesso de difusão de tecnologia, ampliar os programasde educação ambiental e os planos de manejo integra-do em bacias hidrográficas.

O Sistema Plantio Direto no Brasil

O Sistema Plantio Direto é uma forma de manejo desolo, água e culturas altamente conservacionista cujoprocesso de adoção é inédito na história da agricultu-ra brasileira. Foi desenvolvido pela pesquisa pública,com a participação efetiva de produtores abnegados,os quais vêm liderando um profícuo processo de inte-gração e desenvolvimento tecnológico envolvendo,além de órgãos de pesquisa, indústrias de insumos emáquinas, assistência técnica oficial e privada e outrosserviços ligados à agricultura (Plataforma Plantio Di-reto, 2001; Landers et al., 2001a).

Introduzido no Brasil, visando principalmente ocontrole da erosão, o Sistema Plantio Direto vem sendosubmetido a intenso processo de evolução agronômica,sendo, hoje, reconhecido como exemplo para países tro-picais e subtropicais de todo o mundo. A adoção doSistema Plantio Direto significa o caminho mais adequa-do na busca da competitividade, da sustentabilidade eda eqüidade, com qualidade ambiental (Freitas, 2002).

A Evolução e a Expansão do SistemaPlantio Direto

Os esforços de introdução do Sistema Plantio Diretono Brasil tiveram início a partir do final dos anos 60,por iniciativa de órgãos públicos de pesquisa e fomen-to localizados nos Cerrados de São Paulo, no PlanaltoSul-Rio-Grandense e no noroeste do Paraná (Platafor-ma Plantio Direto, 2001; Freitas, 2002).

Apesar dos expressivos efeitos conservacionis-tas do Sistema Plantio Direto, dificuldades na condu-ção geraram, ao longo dos anos 70, frustrações quelevaram a freqüentes implementações e abandonos noprocesso de adoção. Nesse período, verificava-se:

i) baixa eficiência dos herbicidas disponíveis (de con-tato e de ação total) e desconhecimento da tecnolo-gia de aplicação desses e de outros insumos;

ii) limitações das semeadoras (excessivo revolvimentodo solo na linha de semeadura e inadequada distri-buição de adubo e semente);

iii) insuficiente cobertura morta (Kochhann & Denar-din, 2000).

Na década de 80, foram desenvolvidos herbici-das sistêmicos e de pós-emergência específicos, e seme-adoras mais eficientes, especialmente quanto aos siste-mas de corte de palha e de abertura de sulco para colo-cação da semente e do adubo no solo. Amplia-se tam-bém, nesse período, o consenso da necessidade de di-versificação de espécies para cobertura do solo e mes-mo para produção comercial, via rotação de culturas.

Em decorrência, um consistente crescimento daadoção desse sistema foi observado no Brasil. Entre 1974e 1992, a área cultivada em Sistema Plantio Direto cres-ceu 132 vezes, passando de 0,01 para 1,32 milhões dehectares (Figura 1). A expansão dessa adoção foi aindamais intensa na década de 90, sendo que em 2000 estesistema já ocupava cerca de 14 milhões de hectares. Essaevolução representou incremento de aproximadamente11 milhões de hectares em nove anos. Exceção feita aoRio Grande do Sul, todos os demais Estados relaciona-dos na Tabela 1, apresentaram, no período 1996-2000,crescimento contínuo na adoção do Sistema PlantioDireto. Na região tropical, onde predomina a vegetaçãode cerrado brasileiro, verificou-se surpreendente incre-mento de mais de 1,2 milhões de hectares, em três anos.Nesta região, segundo estimativas da Associação de Plan-tio Direto no Cerrado, citada por Freitas (2002), a áreatotal de adoção chegou a mais de 5 milhões de hectaresno ano agrícola 2001/2002.

No Rio Grande do Sul, essa expressiva adoçãodo Sistema Plantio Direto ocorreu em período anteri-or, de 1992 a 1998, com taxa de adoção da ordem de561.464ha/ano, atingindo, em 1998, 3,817 milhões dehectares de lavoura sob este sistema, o que representou64% da área cultivada com culturas anuais desse Esta-do (Figura 2). No período de 1998 a 2000, área mane-jada sob Sistema Plantio Direto decresceu linearmentea taxa anual de 112.000 hectares. Uma das justificati-vas apontadas para essa reação negativa reside na per-cepção do produtor rural de que a queda de produtivi-dade de soja e a estabilidade da produtividade de mi-lho, observadas nas safras de 1994 a 1998, estejam rela-cionadas à compactação do solo, decorrente do usoininterrupto desse sistema. Entretanto, dados experi-mentais relativos a ensaios de longa duração, compa-rando preparo convencional, preparo reduzido e Siste-ma Plantio Direto, conduzidos pela Embrapa Trigo,em Passo Fundo (RS), demonstram que as causas devariação de produtividade entre safras não estão asso-ciadas ao tipo de manejo de solo. Assim, o abandonoou a interrupção temporária do Sistema Plantio Dire-to não encontra suporte em dados de pesquisa paraser praticado. A queda de área cultivada sob esse Siste-ma, nesse período, deve ser creditada à desaceleraçãodas ações de transferência de tecnologia que até entãovinham sendo realizadas de forma intensiva e sistemá-tica nesse Estado.

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Surge então o conceito do Sistema Plantio Dire-to (SPD) que envolve diversificação de espécies pormeio de rotação de culturas, mobilização do solo ex-clusivamente na cova ou na linha de semeadura e per-manente cobertura do solo. A palavra sistema se referenão apenas ao complexo de técnicas interrelacionadase necessárias ao seu desenvolvimento, mas também aofato de que a produtividade é resultante do trinômiosolo (armazenamento e difusão de nutrientes, de água,de ar e de calor e ambiente biológico), planta (compo-sição genética) e atmosfera (luz, calor, água, ar) e, nãode qualquer desses fatores individualmente. Além dis-so, o SPD amplia o horizonte da unidade de produçãorural inserindo-a, definitivamente, na socioeconomiaregional e no agronegócio como um todo, ou seja,engloba não apenas os macroprocessos associados àunidade de produção, mas também os dispostos antese após a porteira. No SPD, visa-se a diversificação dasatividades, a geração de produtos novos ou alternati-vos que devem ser absorvidos no mercado regional (oqual muitas vezes precisa ser implementado e, portan-to, envolver outros setores e atores econômicos da co-munidade), o desenvolvimento de atividades integra-

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Figura 1. Evolução da área cultiva em Sistema Plantio Direto no Brasil (1972-2000), segundo a Federação Brasileira de PlantioDireto na Palha (FBPDP).

A aceitação do Sistema Plantio Direto deve-se,principalmente, aos seus efeitos sobre o controle da ero-são hídrica. Mas deve-se também a outras importantesvantagens, como os impactos positivos promovidos naqualidade do solo, da água e na estabilidade econômica-financeira das unidades rurais. A tendência da taxa deadoção do Sistema Plantio Direto nos próximos anos éde crescimento, mas a magnitude desse incremento de-penderá em grande medida das políticas públicas deincentivo e de organização dos atores envolvidos, comênfase às ações cooperativas de pesquisa e de difusão detecnologia, onde se destaca o papel dos setores envolvi-dos com a assistência técnica e a extensão rural.

O conceito do Sistema Plantio Direto

De simples alternativa de preparo de solo, como eraconsiderado na década de 70, o Sistema Plantio Diretopassou a ser entendido, na década de 90, como umcomplexo ordenado de ações inter-relacionadas e de-pendentes entre si, que visam a sustentabilidade socio-econômica e ambiental do agronegócio (Kochhann &Denardin, 2000).

Tabela 1. Evolução da área cultivada em Sistema Plantio Direto no Brasil, em mil hectares, em alguns Estados e região doCerrado (1996-2000), segundo Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha (FBPDP).

EstadosANO Bioma Cerrado Total

RS PR MS SC SP Outros1996/97 2.331 3.441 375 250 - 250 2.200 8.8471997/98 3.817 3.861 525 302 45 300 2.475 11.3251998/99 3.665 4.384 853 623 348 200 3.300 13.3731999/00 3.593 4.515 887 863 601 200 3.465 14.334

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das, como agropastoris (lavoura-pecuária), agrosilvipas-toris etc., o que gera alternativas de lucro e uma novadinâmica do agronegócio local e regional.

Além disso, o SPD deve ser entendido comonovo paradigma agrícola, pois exige mudança comple-ta na forma de conduzir os diferentes sistemas integra-dos de produção e no enfoque da agropecuária, con-forme salientam Hernani & Salton (1998).

Um dos elementos mais importantes neste con-ceito é que o SPD é baseado na “cobertura permanen-te do solo”. Esta cobertura deve ser enfatizada sob doisaspectos:

i) cobertura vegetal viva, caracterizada pelo cultivoem diferentes épocas do ano (se possível durante oano todo) de culturas (comerciais, sempre que pos-sível) que visem promover não apenas um rápidodesenvolvimento de dossel dissipador de energiaerosiva, mas também a exploração de maior volu-me de solo, mediante plantas de sistema radicularabundante e agressivo, que ativem mecanismos dealteração estrutural do solo, e;

ii) cobertura morta ou resíduo vegetal de culturas re-sultante de organizada conjunção de espécies vege-tais comerciais e/ou, apenas na impossibilidade des-tas, de outras espécies que além das característicasacima descritas relativas ao sistema radicular pos-sam formar e manter, por mais tempo possível,adequada quantidade e qualidade de palha sobre asuperfície do solo. Para que isso ocorra é precisoconsiderar dois outros aspectos não menos impor-tantes: i) após a adoção do SPD, respeitando osseus princípios básicos, deve ser evitado qualquerprática de preparo do solo, sob pena de acelerar adecomposição da cobertura vegetal e destruir o novoambiente estrutural do solo (correções, cuja neces-

sidade for comprovada, deverão ser realizadas semquebrar a continuidade do processo de desenvolvi-mento desse ambiente); e ii) ter plena consciênciade que o SPD não é simplesmente cultivar as mes-mas espécies comerciais em sucessão à outras espé-cies que visam apenas produzir palha, ou seja, épreciso planejar a nova agricultura baseada na rota-ção de culturas e visualizar não apenas os efeitoseconômicos das atividades integradas, mas, sobre-tudo, a melhoria contínua da qualidade da propri-edade rural (solo e água) e do ambiente como umtodo.

Os cuidados na implantação

O sucesso dessa forma de agricultura conservacionistadepende, entretanto, de uma série de requisitos quedevem ser previstos antes de sua implantação, sendoque os mais importantes serão sucintamente aborda-dos. Além disso, durante a manutenção do sistema,são importantes atitudes radicalmente diferentes dasadotadas no sistema tradicional, pois o que se procuraé a construção de um sistema solo-planta de elevadaqualidade biológica, que requer mínima perturbação.

Na fase inicial de implantação recomenda-sepromover os seguintes passos: diagnóstico, divisão dapropriedade em glebas, correções das limitações dasglebas, adequação de máquinas, treinamento e atuali-zação da mão-de-obra envolvida e planejamento e im-plantação das culturas para cobertura de solo e ouadubação verde e rotação.

O diagnóstico é entendido como o levantamen-to prévio e análise da situação da propriedade rural edas condições do agronegócio regional. Na proprieda-de rural, recomenda-se analisar principalmente o esta-do do solo (físico, químico e biológico), da cobertura

Figura 2. Evolução da área cultiva em Sistema Plantio Direto no Rio Grande do Sul, no período de 1976 a 2000 (Emater/RS –adaptado).

2.000 2.500 3.000 3.500 4.000 ÁREA (1.000 ha)

Período AB : Y = - 9,2 x 10 6 Período BC : Y = - 7,8 x 10 7 Período CD : Y = - 1,1 x 10 9 Período DE : Y = 2,3 x 10 8

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vegetal (plantas daninhas, floresta de preservação per-manente, mata ciliar, quebra-ventos etc.), das técnicasde conservação de solo utilizadas, da infra-estruturaviária, e das máquinas e implementos. No âmbito regi-onal, sugere-se avaliar as possibilidades de transforma-ção e ou de colocação no mercado de produtos alter-nativos ou tradicionais (p.ex.: aveia, centeio, cevada,sorgo, girassol etc.), bem como predisposição à intera-ção cooperativa entre os diferentes atores do processode desenvolvimento do SPD.

Após o diagnóstico, deve-se estabelecer a divi-são da propriedade em glebas de forma a facilitar oprocesso de implantação do SPD. As glebas que apre-sentarem condições ideais deverão ser escolhidas parao desenvolvimento imediato do SPD. O número dasglebas selecionadas deve ser função do esquema derotação de culturas a ser adotado e o tamanho dessasglebas é variável e depende do tipo das atividades, dalocalização da propriedade rural, da capacidade de in-vestimento do produtor rural etc. As demais glebasnão selecionadas passarão a ser incorporadas ao siste-ma, de forma gradativa, após a devida adequação.

A sistematização da área se constitui no processode eliminação de sulcos, trilheiros e depressões na su-perfície do terreno que geram concentração de enxurra-da, aumento de erosão, limitação ao livre trânsito demáquinas, manchas de fertilidade e proliferação de plan-tas daninhas. Nesse âmbito, também é igualmente im-portante a readequação ou a implantação de práticasconservacionistas mecânicas e do sistema viário.

O manejo da fertilidade é procedido, após a sis-tematização da área e divisão da propriedade em áreashomogêneas, mediante readequação das condições fí-sica, química e biologia do solo de cada gleba. Essaetapa é importante na medida em que a mobilizaçãointensiva do solo com implementos de discos, o culti-vo de monocultura e a ausência anterior de práticasconservacionistas, especialmente as vegetativas, indu-zem à formação de camadas compactadas e perdas dematéria orgânica e de nutrientes de plantas por erosãohídrica e eólica. Tais aspectos devem ser adequadamentecorrigidos antes da implantação do SPD, porque pos-teriormente as correções químicas, quando eventual-mente necessárias, serão realizadas com aplicações so-bre a superfície do terreno, não se considerando, exce-to no caso de elementos mais móveis como o enxofre,potássio e magnésio, correções de horizontes subsu-perfíciais do solo.

No processo de implantação do SPD, um dosfatores mais importantes é a avaliação e a adequaçãoda estrutura de máquinas e implementos da proprie-dade. Adaptações em semeadoras são em muitos casossuficientes para a fase de implantação do SPD, masrecomenda-se que semeadoras e pulverizadores sejamdevidamente revisados, haja vista que falhas de aplica-

ção ficam claramente visíveis e detectáveis, podendocomprometer o processo de controle das plantas dani-nhas e influenciar negativamente a produtividade.

Dois aspectos são ainda fundamentais para aadequada implantação do SPD: a existência na regiãode assistência técnica pró-ativa, capacitada ou, no mí-nimo, predisposta para essa nova filosofia de trabalhoe a atualização do usuário, mediante treinamentos,especialmente dos operadores de máquinas, quanto àcalibração e cuidados com a semeadora e com a tecno-logia de aplicação de herbicidas.

O SPD caracteriza-se pelo desenvolvimento desistemas de produção voltados não apenas para a me-lhoria dos indicadores de sustentabilidade ambientais,mas também para os aspectos socioeconômicos. Osefeitos conservacionistas são, em grande medida, re-sultantes da ação da perfeita proteção do solo promo-vida por adequada cobertura morta do solo e pela açãode diferentes sistemas radiculares. Estes, em pleno de-senvolvimento, associados a um maior conteúdo dematéria orgânica reativada, influenciam a atividademicrobiana, a dinâmica de nutrientes e de água e aagregação do solo. Diferentes sucessões de culturasauxiliam a quebra de ciclo de pragas e de doenças e,culturas específicas podem promover efeitos benéfi-cos (condições de disponibilidade de nutrientes, dedinâmica de água e de ar) às espécies comerciais subse-qüentes, induzindo maior produtividade e menor cus-to de produção. Desta forma, a rotação de culturas,em face de seus efeitos conservacionistas e econômi-cos, é um requisito essencial à viabilização do SPD.No planejamento do sistema de rotação de culturas,recomenda-se adotar, na fase inicial, espécies de eleva-da relação C/N, visando formação de grande quanti-dade de palha de lenta decomposição. Para manter osresíduos o maior tempo possível sobre o solo, sugere-se evitar triturá-los em excesso. Além disso, eles devemser homogeneamente distribuídos, pois, no mínimo,80% da superfície do terreno deve permanecer coberta.

Ressalta-se todavia que, conforme se observouem Mato Grosso do Sul, apenas cerca de 13% das pro-priedades rurais que adotam o plantio direto desen-volvem o SPD conforme o preconizado (Melo Filhoet al., 2001). Embora se adote, em geral, a semeadurasem preparo do solo, é muito comum o uso da mono-cultura da soja no verão e o cultivo, na seqüência, decultura formadora de palhada como o milho tardioou de segunda safra (safrinha), o sorgo e o milhetoentre outras. Essa situação tem gerado problemas se-melhantes aos observados no sistema convencional demanejo de solo, quais sejam: adensamento de camadassuperficiais do solo; insuficiente cobertura do solo;incidência de pragas e/ou de doenças, algumas relacio-nadas ao solo e outras devido ao uso continuado, aolongo do tempo, de uma mesma espécie vegetal, seja

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comercial, seja para cobertura morta etc. Apesar dessanão conformidade em relação ao sistema proposto,dificuldades características à mudança de um paradig-ma, vários dos efeitos como o controle à erosão, amanutenção da umidade e a melhoria da fertilidadedo solo são observados e se refletem sobre o rendimen-to e a sustentabilidade da atividade agrícola.

Valoração dos benefícios do uso do SistemaPlantio Direto no Brasil

Os benefícios do Sistema Plantio Direto podem serobservados tanto no âmbito da propriedade rural (di-retos) como também fora dela. Os efeitos diretos doSistema Plantio Direto estão relacionados à reduçãodrástica das perdas por erosão hídrica e/ou eólica, aoincremento da produtividade, à diminuição dos cus-tos de produção, à estabilidade de produção, à melho-ria da qualidade do solo e da água, entre outros fato-res. Fora da propriedade, os impactos do Sistema Plan-tio Direto se fazem sentir sobre os aspectos ambien-tais, como na qualidade da água, na preservação deestradas, na diminuição de inundações e/ou assorea-mentos de mananciais de superfície, na estabilidadeeconômica regional, entre outros.

Benefícios Internos à Propriedade Rural

Redução das perdas por erosão

A maior parte dos dados comparativos entre o Siste-ma Plantio Direto e outros sistemas de preparo de solo,quanto aos efeitos em perdas de solo e de água porerosão hídrica são obtidos em parcelas experimentais.Segundo De Maria (1999), que promoveu um levanta-mento de trabalhos publicados na Revista Brasileirade Ciência do Solo, entre 1977 e 1997, a redução nasperdas de solo do Sistema Plantio Direto comparadaao preparo convencional é cerca de 75% e a de água éde 20%. Os valores obtidos pelos diferentes autoresvariam em função do solo, das culturas, do relevo, doclima e do tempo de avaliação.

Abstraindo-se dos valores organizados por DeMaria (1999) àqueles mais discrepantes, tem-se que amédia das perdas de solo para o preparo convencionalé de, aproximadamente, 14,9t/ha/ano enquanto quepara o Sistema Plantio Direto é cerca de 2,5t/ha/ano.Ressalta-se que as perdas médias de solo em parcelasexperimentais submetidas ao preparo convencional sãopraticamente a mesma sugerida por Bragagnolo & Pan(2000) para a média brasileira em áreas de lavouras,15,0t/ha/ano (ver capítulo 5). Portanto, admitindo-seque as perdas médias de solo por erosão para o prepa-ro convencional sejam de 15,0t/ha/ano, verifica-se queo emprego do Sistema Plantio Direto promove, em

termos comparativos, redução potencial média geralde 12,5t/ha/ano nas perdas de solo. Tomando-se porbase o trabalho de De Maria (1999), tem-se que, apósabstração semelhante à anterior, no Sistema PlantioDireto perde-se, em média, cerca de 1.940mm de água/ano em forma de enxurrada, enquanto que no preparoconvencional cerca de 2.519mm/ano, havendo portan-to uma diferença de 579mm/ano favorável ao SistemaPlantio Direto. Extrapolando-se os valores para a áreade adoção do Sistema Plantio Direto no país, que é daordem de 14,3 milhões de hectares, verifica-se que essesistema proporciona condições para que, anualmente,178,8 milhões de toneladas de solo deixem de ser ero-didos e 8,3 bilhões de m3 de água sejam mantidas nosolo, minimizando graves prejuízos relativos à erosãode estradas, à destruição de pontes, ao assoreamento/inundação/poluição de mananciais, ao atendimento apopulações ribeirinhas, ao potencial de produção deenergia elétrica etc.

Redução das perdas por erosão de nutrientes e dematéria orgânica

Para estimar as perdas globais de nutrientes, como cál-cio, magnésio, fósforo e potássio, e de matéria orgâni-ca, perdas médias para o preparo de solo (gradagenspesada + niveladora), obtidas em Latossolo Vermelhodistroférrico, 3% de declividade (Hernani et al., 1999),foram extrapoladas, por regra de três simples, para 15t/ha/ano (Bragagnolo & Pan, 2000). Da mesma forma,perdas médias obtidas para Sistema Plantio Direto(Hernani et al., 1999) foram relacionadas à perda mé-dia geral de 2,5t/ha/ano. Extrapolação semelhante foirealizada para as perdas de água para ambos os siste-mas. Para as perdas totais de nitrogênio e de enxofre,assumiu-se que, no Sistema Plantio Direto, as perdassão cerca de cinco vezes menores que as sugeridas porMalavolta (1992) para preparo convencional. Os valo-res médios obtidos foram extrapolados para a área to-tal cultivada sob Sistema Plantio Direto no país, ouseja, 14,3 milhões de hectares. Neste sentido, o Siste-ma Plantio Direto proporcionou redução nas perdastotais, em mil t/ano, de 206,9 em cálcio, 8,2 em mag-nésio, 13,2 em fósforo, 124 em potássio, 197,4 em ni-trogênio; 19,7 em enxofre e 5085,6 em matéria orgânica.

Redução no uso de corretivos e fertilizantes

Considerando os dados anteriores pode-se estimar quecom o Sistema Plantio Direto deixam de ser perdidospor erosão, por ano, o correspondente a cerca de 1,26milhões de toneladas de calcário dolomítico, cujo va-lor é cerca de R$46,6 milhões, cerca de 81,4 mil tone-ladas de superfosfato triplo custando R$44,8 milhões,cerca de 275,6 mil toneladas de cloreto de potássio,num total de R$141,7 milhões, cerca de 408 mil tone-

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Uma Resposta Conservacionista – o Impacto do Sistema Plantio Direto 157

ladas de uréia, perfazendo R$212,2 milhões, a cerca de89,4 mil toneladas de sulfato de amônia, a R$35,4milhões e a cerca de 5,6 milhões de toneladas de adu-bo orgânico (cama de frango), ao valor de R$169,5milhões (Tabela 2). Esses insumos são mantidos nosolo representando uma economia de cerca de R$650milhões por ano.

ano, calculado sobre o preço dos agroquímicos utiliza-dos e o da aplicação. Considerando a área total adota-da com Sistema Plantio Direto no Brasil, estima-se umaeconomia de R$143 milhões por ano (US$57,2 mi-lhões). O impacto do menor uso, que vai além do cus-to e da aplicação desses insumos, no entanto, não évalorado, mas deve ser considerado.

Aumento de produtividade

Levando-se em conta resultados de pesquisa de váriosautores (Hernani et al., 1997; Ruedell, 1995; Muzilli etal., 1994; Calegari et al., 1992), verifica-se que emborahaja variações devido aos diferentes sistemas de produ-ção utilizados nos diferentes trabalhos de pesquisa,pode-se estimar que a produtividade sob Sistema Plan-tio Direto em relação ao sistema de preparo convenci-onal é, em média, 17% superior, tanto para soja comopara milho e trigo. Com isso, para os valores de insu-mos e produtos de 2001, na região de Dourados (MS)e, considerando as áreas cultivadas em Sistema PlantioDireto de 10 milhões de hectares para soja, 4 milhõespara milho e 1,5 milhão para trigo em todo o país,tem-se um incremento correspondente à R$1.496 mi-lhões, R$490,7 milhões e R$125 mil, respectivamente,que perfazem um total de cerca de R$1,99 bilhões porano (US$795 milhões).

Ressalta-se também que em projetos de manejointegrado em microbacias hidrográficas do Rio Gran-de do Sul, Santa Catarina e Paraná, onde o SistemaPlantio Direto é uma das principais práticas adotadas,tem-se verificado, como no caso de Santa Catarina,ganhos acima de 24% de produtividade e ingressos lí-quidos ao produtor acima de 29% (Bassi, 1999).

Menores custos de produção

Estimativas de custos para o ano de 2000 indicarampercentuais menores em 6,9, 10,0 e 5,0%, respectiva-mente para cultivo de soja, milho e trigo, no SistemaPlantio Direto comparado ao preparo convencionalde solo (Melo Filho & Mendes, 2000 a, b, c). Em valo-res praticados na região de Dourados (MS), extrapola-dos para toda a área com adoção de Sistema PlantioDireto (10 milhões de hectares com soja, 4 milhões dehectares com milho e 1,5 milhões de hectares com tri-go), tem-se um incremento no lucro da ordem de R$370milhões em soja, R$288 milhões em milho e R$30milhões em trigo, totalizando um adicional de R$688milhões (US$275,2 milhões).

Economia de energia elétrica na irrigação poraspersão nas propriedades

Nas áreas irrigadas, devido à cobertura do solo pelapalha, o Sistema Plantio Direto proporciona redução

Tabela 2. Redução de fertilizantes e corretivos devido amenores perdas por erosão nos 14,3 milhões de hectares

cultivados sob Sistema Plantio Direto no Brasil

Adubos e Corretivos t Mil R$

Calcário dolomítico 1.258.420 46.562Superfosfato triplo 81.444 44.794Cloreto de potássio 257.579 141.668Uréia 408.105 212.215Sulfato de amônia 89.440 35.418Adubo Orgânico 5.650.681 169.520

(Cama de frango)Total — 650.178

Além disso, considerando que com o SistemaPlantio Direto observa-se uma redução de 50% no re-querimento de calcário a ser aplicado em manutenção(Landers et al., 2001b), ao custo de R$20/t (posto napropriedade), para a dose de calagem de manutençãode 0,6t/ha/ano e custo de aplicação (trator de 80 HP xem média 0,2 horas/ha a R$21/hora), a economia ge-rada é de 0,5 x [0,2 x 21 + (0,6 x 20)] = R$8,1/ha/ano(US$ 3,24/ha/ano). Extrapolando-se para área de 14,3milhões de hectares, tem-se uma economia de R$115,8milhões.

Por outro lado, comparadas ao preparo conven-cional, as doses de P

2O

5 no Sistema Plantio Direto

podem ser, de maneira geral, até 33% menores (Lan-ders et al., 2001b). Considerando uma aplicação mé-dia de 50kg/ha de P

2O

5, a economia comparativa é de

R$14,7/ha/ano. Extrapolando-se para a área adotadacom o Sistema Plantio Direto no Brasil, tem-se umaredução de R$210,2 milhões.

Agregando-se todos as estimativas para fertili-zantes, corretivos e adubação orgânica tem-se uma eco-nomia de R$976,2 milhões por ano, ou seja, conside-rando a relação dólar/real do início de 2002, aproxi-madamente de R$2,50 por US1,00, a economia esti-mada é de US$390,5 milhões.

Menor utilização de defensivos

Considera-se que o uso de Sistema Plantio Direto ten-dem a reduzir em 50% a quantidade de herbicidas e deinseticidas, resultando em economia de R$20,0/ha/ano(Landers et al., 2001b). O cenário é bastante alteradoquando se considera a adoção do manejo integrado depragas (insetos, doenças e plantas daninhas), incluin-do a adoção do controle biológico e de balanço nutri-cional. O impacto direto, nesse caso, é de R$10,0/ha/

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Uma Resposta Conservacionista – o Impacto do Sistema Plantio Direto158

na evaporação e na demanda de água (Marson Filho,1998). Essa economia é de 40% em lâmina de águaaplicada com cobertura total (no cultivo de feijão deporte ereto), por pivô (Stone & Moreira, 1998) e de23% no uso consultivo d’água, refletindo-se em redu-ção do custo de eletricidade de 38,4 a 47,3%. Toman-do por base uma lâmina mínima anual de 800mmpara suprimento de todas as culturas ao longo do ano,a um custo médio de energia para bombeamento deR$0,03/m3 e considerando que a área irrigada em Sis-tema Plantio Direto é cerca de 550 mil hectares (50%do total) e que a economia em volume de água é cercade 40%, totalizando uma redução de 1,76 bilhões dem3, ao custo de bombeamento de R$0,03/m3, tem-seque a economia proporcionada pelo sistema é estima-da em R$52,8 milhões (US$21,1 milhões).

Agregando-se os valores obtidos para os impac-tos benéficos do Sistema Plantio Direto dentro da pro-priedade, obtém-se um total de cerca de R$3,8 bilhõesou US$1,5 bilhões por ano (Tabela 3).

R$538 milhões por ano. Considerando que dessas es-tradas apenas cerca de 22% estejam em áreas de lavou-ras e, admitindo-se que desse total cerca de 60% estãorelacionadas à área total de adoção do Sistema PlantioDireto (aproximadamente 167 mil km), os custos to-tais de manutenção seriam diminuídos de cerca de R$71milhões por ano (Tabela 4).

Redução no custo do tratamento de água

O índice de turbidez médio anual dos 16 mananciaisutilizados para abastecimento urbano, monitorados noPrograma Paraná-Rural, foi reduzido em 49,3%, emconseqüência da drástica diminuição das perdas porerosão obtidas com as práticas conservacionistas im-plantadas (Bragagnolo et al., 1997). Citam-se reduçõesno custo do tratamento de água de 46%

(Bassi, 1999) e de US$0,577 por dez mil m3 (Car-roll,1997). A adoção de Sistema Plantio Direto, trata-mento de dejetos animais e reflorestamento em proje-to de gestão integrada de microbacias em Santa Catari-na resultaram, em sete anos, na redução da ocorrênciade até 68% das bactérias coliformes fecais na água aser tratada e para cada t/ha/ano a menos de solo ero-dido que atingiu os mananciais, com redução de sulfa-to de alumínio em 13g/m3 de água (Bassi, 1999). Esti-mando-se a população relativa à área de adoção doSistema Plantio Direto de cerca de 43 milhões (aproxi-madamente 42% do total de habitantes que recebemágua de origem superficial tratada), consumindo 40 l/dia/habitante, receberia cerca de 1,72 bilhões de m3/dia, com 627,8 bilhões de m3/ano de água tratada, as-sumindo os valores citados por Carroll (1997), tem-seuma economia anual de cerca de R$90,6 milhões ouUS$36,2 milhões mais barato (Tabela 4).

Tabela 3. Resumo dos benefícios internos à propriedaderural para os 14,3 milhões de hectares em

Sistema Plantio Direto.

Benefícios Milhões Milhõesde R$ de US$*

Menor uso de corretivos e 976,2 390,5fertilizantes

Menor uso de defensivos 143,0 57,2Aumento de produtividade 1987,8 795,1Menor custo de produção 688,0 275,2Economia de energia 52,8 21,1

com irrigaçãoTotal 3847,8 1539,1

*(US$1,0 = R$2,5)

Tabela 4. Benefícios externos á propriedade rural devidos àadoção de Sistema Plantio Direto no Brasil

Benefícios Milhões Milhõesde R$ de US$*

Manutenção de estradas 71,0 28,4Tratamento de água 90,6 36,2Reposição de reservatórios 35,7 14,3Dragagen de rios/portos 123,8 49,5Total 321,1 128,4

*(US$1,0 = R$2,5)

Benefícios externos à propriedade rural

O Sistema Plantio Direto gera benefícios econômicosindiretos, ou seja, além dos limites da propriedade ru-ral, como redução de gastos públicos com tratamentode água, recuperação de estradas vicinais, atendimentode população vitimada por enchentes etc., portanto, apartir do campo refletem-se em toda a sociedade.

Manutenção de estradas rurais

A manutenção de estradas municipais de terra no Es-tado do Paraná apresentou custos 50% menores com aadoção de medidas de conservação de solo no projetoParaná Rural, onde a prática mais impactante foi aadoção do Sistema Plantio Direto (Bragagnolo et al.,1997). Carroll (1997) estima uma economia deR$425,00/ano/km devido à adoção de sistemas con-servacionistas. Em 2000, segundo DNER, citado porLanders et al. (2001b), o país tinha 1.265.907km deestradas não pavimentadas, cuja manutenção era de

Impactos sobre a vida útil de reservatórios

Estima-se em 0,5% a perda anual da capacidade de arma-zenamento dos reservatórios ou 2,0 bilhões de m3/ano,significando um custo de US$700 milhões/ano para areposição (Carvalho et al., 2000). No Estado de São Paulo,há perdas anuais de US$64 a 74 milhões na geração deenergia em conseqüência da erosão (Marques, citado porLópez, 1997). A adoção de sistemas conservacionistas

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pode mitigar a erosão na área de contribuição dos reserva-tórios. Estima-se que o Sistema Plantio Direto comparadoao preparo convencional diminui perdas de solo em12,5t/ha/ano. Renfro (1975) estimou que, numa baciacom área média de captação de 10 mil km2, o materialerodido sofre uma retenção de 75 % (em canais de terra-ços, linhas de plantio, colúvios, etc.). Admitindo-se adensidade do material erodido em 1,1t/m3, tem-se perdasde 11,4m3/ha/ano. Extrapolando-se para a área de adoçãode Sistema Plantio Direto no país de 14,3 milhões dehectares, tem-se 163 milhões de m3/ano. Considerandoque apenas 25% deste material cheguem aos reservatórios,a adoção de sistemas conservacionistas mitiga a sedi-mentação em 40,8 milhões de m3/ano. Usando os dadosde Carvalho et al. (2000), ou seja, custo de US$700 mi-lhões/ano para 2 bilhões de m3, tem-se um custo anualde reposição de aproximadamente R$35,7 milhões/anoou US$14,3 milhões/ano (Tabela 4).

Dragagem de rios e portos

Landers (1996) estimou que 25% do volume erodidoresultam em sedimentação de rios, lagos e oceanos(148,2 milhões de m3). Considerando que apenas 10%(14,8 milhões de m3) do sedimento deve ser retirado,ao custo de US$3,90/m3, tem-se que essa dragagemcausada por sistemas convencionais de preparo de solo,custa cerca de US$57.7 milhões. O Sistema PlantioDireto pode reduzir esse volume de sedimentos em atésete vezes, assim os custos dessa dragagem seriam deUS$8,24 milhões com uma economia de R$123,8 mi-lhões ou US$49,5 milhões (Tabela 4).

Com base em Landers et al. (2001b), pode-se con-siderar ainda outros impactos do Sistema Plantio Dire-to fora da propriedade como o efeito no recarregamen-to de aqüíferos, créditos de carbono devido à economiaem óleo diesel, aos reflexos em custos sociais devidos aomenor uso de água de irrigação, ao seqüestro de carbo-no no solo e em resíduos culturais que permanecemsobre a superfície do terreno (Tabela 5), a valoração des-ses itens gera uma economia cerca de US$184,1 mi-lhões por ano. Agregando-se os valores relativos aos

impactos indiretos ou externos à propriedade devidoao uso do Sistema Plantio Direto (Tabela 4 e 5), tem-seum total de R$781,4 milhões ou US$312,5 milhões.

Resumo dos benefícios do Sistema PlantioDireto no Brasil

Além dos impactos já contabilizados, existe uma sériede outros efeitos do Sistema Plantio Direto sobre oambiente que seriam de valor substancial adicional, secomputados (Landers & Freitas, 2001). Entre estes, ci-tam-se: o balanço positivo sobre a biodiversidade ter-restre e aquática; a menor poluição química das águassuperficiais e da costa; a redução nas emissões de meta-no e óxido nitroso à atmosfera; maior preservação dosrecursos ambientais (biodiversidade, pesca e balançode oxigênio, valor cênico e extração sustentável); mai-ores tempos de concentração para enchentes e meno-res estragos; melhor qualidade do ar em função demenor níveis de poeira e fuligem; maior segurança dealimentos devido a produtividades maiores e mais es-táveis; maiores ingressos rurais, reduzindo a migraçãoàs cidades; melhor qualidade da vida rural; e, melhorbalança comercial – menos petróleo e fertilizantesimportados e maiores exportações.

Agregando-se os valores dos efeitos internos eexternos à propriedade, tem-se que o impacto promo-vido pelo Sistema Plantio Direto no Brasil para a áreade adoção de 14,3 milhões de hectares é cerca de R$4,6bilhões ou cerca de US$1,8 bilhões (Tabela 6).

Desafios do Sistema Plantio Direto

Apesar de uma série de efeitos e impactos benéficos ante-riormente levantados e discutidos e da certeza de que oSistema Plantio Direto é o mais conservacionista formade manejo do solo e da água para as condições tropicais,este tem ainda que suplantar alguns obstáculos.

O primeiro e maior de todos obstáculos é amudança de paradigma que, como tal, talvez leve de-zenas de anos para que se realizar. Esse novo paradig-ma exige transformações radicais em termos culturaise nos diferentes segmentos das cadeias dos diversosprodutos agropecuários e, enfim, abordagem global detodo o agroecossistema. Exige alterações não apenas na

Tabela 5. Outros impactos positivos, fora da propriedaderural, devidos à adoção de Sistema Plantio Direto, em área

14,3 milhões de hectares.

Categorias de Impacto Total(106xUS$)

Maior recarregamento de aqüíferos 114,4Créditos de carbono para economias 0,6

em óleo dieselEconomias em água de irrigação 6,6Seqüestro de carbono no solo 59,5Seqüestro de carbono em resíduos 3,0

de culturasTotal 184,1

Fonte: Landers et al. 2001b.

Tabela 6. Benefícios devidos ao Sistema Plantio Direto,considerando a área cultivada de 14,3 milhões de hectares

no Brasil

Benefícios Milhões Milhõesde R$ de US$*

Dentro da Propriedade 3847,8 1539,1Fora da Propriedade 781,4 312,5Total 4629,2 1851,6

*(US$1,00=R$2,50)

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estrutura e no método do processo produtivo das uni-dades rurais, com evolução dos processos administrati-vos e gerenciais, mas também na forma do desenvolvi-mento de novas técnicas que permitam a geração delucros com proteção e melhorias da qualidade do ambi-ente como um todo. Requer cuidados ao pensar e solu-cionar eventuais problemas sem promover descontinui-dade no desenvolvimento do sistema. Neste contexto,pode-se entender que a maior parte dos desafios decor-rem da resistência à essa mudança de paradigma que oSistema Plantio Direto exige. Entre esses desafios, cita-sea não adoção de: i) planejamento e condução de ade-quados sistemas de rotação de culturas; ii) espécies eco-nômicas que produzam adequada cobertura de solo; iii)espécies específicas para cobertura do solo; iv) adubosverdes; v) rigoroso controle sobre as atividades e açõesfísico-financeiras da propriedade; vi) implantação dosprocessos que compõem o sistema e anexação de novasáreas, de forma gradativa e contínua etc. Entretanto,verifica-se grandes lacunas de desenvolvimento científi-co no fornecimento de espécies econômicas ou não,para diferentes período do ano, no melhoramento deespécies econômicas com ciclos de desenvolvimento maiscurtos, na disponibilização de dados econômicos e fi-nanceiros de sistemas de produção integrados ou dapropriedade como um todo etc.

Nos próximos anos, espera-se que a taxa de cres-cimento da adoção do Sistema Plantio Direto, mesmoque na forma não ideal, se mantenha. Mas faz-se ne-cessário implementar políticas públicas de incentivo ede organização dos atores envolvidos, com ênfase emtreinamentos sistemáticos e no desenvolvimento depesquisa e de difusão de tecnologia, onde se destaca opapel da assistência técnica e da extensão rural.

Deve-se buscar instrumentos que fomentem odesenvolvimento do Sistema Plantio Direto e esperarrespostas, a médio prazo. Deve-se, enfim, entender queeste sistema é um grande macroprocesso que deve serdesenvolvido continuamente visando atingir a agricul-tura de mínimo uso de insumos e de mínimo impactoambiental. E, na medida que fortes programas de pes-quisa venham a minimizar essas e outras lacunas ain-da existentes, gerando alternativas, como por exem-plo, para o uso de herbicidas e outros insumos e, quehouver plena conscientização e conhecimento por partedos produtores e técnicos, o Sistema Plantio Diretopoderá se transformar na ferramenta fundamental aodesenvolvimento rural brasileiro neste século.

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Uma Resposta Conservacionista – o Impacto do Sistema Plantio Direto 161

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Pedro Luiz de FreitasCelso Vainer Manzatto

15Cenários Sobre a Adoção de Práticas

Conservacionistas Baseadas no PlantioDireto e Seus Reflexos na Produção

Agrícola e na Expansão do Uso da Terra

Capítulo

163

Referencial de Apoio

Embora inúmeros esforços no sentido de ordenar oprocesso de uso das terras, tais como os zoneamentosclimáticos, agroecológicos e ecológico-econômicos, te-nham sido realizados nas últimas décadas, por motivosdiversos, foram entretanto, insuficientes para apoiar umpaís que pretende ter uma agricultura moderna, competi-tiva, socialmente justa e ambientalmente sustentável. Paratanto, são necessários investimentos urgentes na geraçãode dados e de informações vitais para o apoio ao planeja-mento e à tomada de decisão abrangendo aspectos comoa conservação da biodiversidade, a ocupação e reorde-namento de suas áreas produtivas considerando as no-vas tecnologias, potencialidades, vantagens comparati-vas e impactos ambientais associados ao uso das terras.Isto requer um amplo processo de negociação com asociedade, face as transformações e exigências ambien-tais formalizadas na Rio 92 e os novos desafios que asmudanças climáticas globais impõem para as nações.

Apesar do imenso potencial de terras aptas paraa atividade agropecuária e a grande disponibilidade defronteiras agrícolas, algumas simulações aqui efetuadasmostram que o País pode ainda responder as demandasfuturas de alimentos, energia e fibras simplesmente como avanço das tecnologias convencionais, que ainda nãocompletaram totalmente seu ciclo em diversos cultivosagrícolas e regiões, caso se consolide a tendência atualde tecnificação e ganhos de produtividade na agricultu-ra e, conseqüente diminuição da pressão para a ocupa-ção de novas áreas. Isso sem considerar um novo movi-mento no campo da biotecnologia, que no caso do Bra-sil, além dos possíveis efeitos em termos de custos eadaptação de cultivos, poderá ainda permitir ganhosconsideráveis de rendimento, benefício este que se ima-gina não produzir efeitos semelhantes em países maisdesenvolvidos e com produtividades mais elevadas.

Por outro lado, Opschoor (2001) discute a va-lidade da curva ambiental de Kuznet, uma correla-ção quadrática entre renda e degradação ambiental,de forma que até um nível crítico de renda haveriauma correlação positiva e, após este nível, haveriauma inflexão na qual esta relação seria negativa e,portanto, sustentável. Embora os resultados não per-mitam generalizações e sua comprovação seja maisrobusta apenas em casos como os gases de efeito estu-fa, parece certo que os recursos naturais podem serutilizados de forma mais eficiente e justa como con-seqüência da elevação, da composição e da distribui-ção da renda no setor agrícola. Assim, mesmo consi-derando que ganhos de eficiência e eqüidade não ga-rantam, necessariamente, uma trajetória sustentávelde crescimento, pelo menos podem contribuir para amitigação dos principais problemas ambientais asso-ciados à exploração agrícola.

Mesmo considerando os valores, a evolução daconscientização ambiental, a tendência de preferênciados consumidores por alimentos mais “limpos e sau-dáveis” e as respostas da sociedade brasileira em ter-mos de legislação e compromissos ambientais, a lógicada maximização da renda ainda domina no setor agro-pecuário, onde os produtores rurais exercem suas ati-vidades procurando maximizar sua renda, dada a basetecnológica local disponível. Exemplificando, mesmoconsiderando os benefícios financeiros e a sustentabi-lidade da produção a médio e longo prazo, produtoresrurais, ao adotarem práticas e técnicas de conservaçãodo solo, de menor impacto ambiental ou ainda queimpliquem no reordenamento de suas atividades, po-rém que incorram em maiores custos de produção oude transferência de tecnologia, estariam em últimaanálise, reduzindo sua renda líquida e gerando benefí-cios e serviços ambientais que, em grande parte, estari-

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Cenários Sobre a Adoção de Práticas Conservacionistas...164

am sendo repassados para sociedade como um todo,como por exemplo, os estimados no Capítulo 13. Estasituação é, em parte, contraditória com a dinâmicaeconômica da agropecuária, onde os ganhos de produ-tividade têm sido utilizados para compensar perdas depreços relativos verificados ao longo do tempo e, parauma lógica tradicional de um país, que dispõe de umamplo espaço territorial e de fronteiras agrícolas aindapor ocupar. Na verdade, até recentemente, as políticaspúblicas apontavam também de forma contrária, fo-mentando através de subsídios, a expansão e ocupaçãode novas terras pela agropecuária, a despeito e de for-ma geral, do passivo ambiental deixado nas chamadas“terras velhas”.

Extensionistas e técnicos do setor agropecuárioconhecem bem as dificuldades para se convencer osagricultores a adotarem técnicas de conservação do solo,especialmente entre agricultores tradicionais ou de re-giões menos favorecidas e com maiores limitações desolo, clima e acesso à tecnologia. Como então explicaro recente sucesso da adoção de práticas conservacio-nistas baseadas no Sistema Plantio Direto (SPD), se oúnico incentivo governamental se baseia na diminui-ção do prêmio pago pelos agricultores ao seguro agrí-cola de culturas anuais? De fato, este movimento en-tusiástico da sociedade civil no setor rural, com seusagricultores obstinados, pioneiros, organizados emClubes de Amigos da Terra, associações, federações e,

em âmbito continental, em confederações (Figura 01),souberam trabalhar em parceria excepcional com apesquisa agrícola oficial e privada, os benefícios ambi-entais e econômicos da adoção do SPD, traduzidosem termos financeiros através dos ganhos de produti-vidade e renda, economia no uso de fertilizantes e in-vestimentos em máquinas agrícolas, em sistemas deprodução adequados aos pequenos, médios e grandesprodutores (Landers et al., 2001).

Atualmente, os esforços têm se concentradona identificação e quantificação dos benefícios e ser-viços ambientais do SPD, resultando recentementeno reconhecimento por instituições internacionais,como uma das principais contribuições da sociedadebrasileira à preservação do meio ambiente (Pretty &Koohafkan, 2002; Landers et al., 2002b; Landers etal., 2002c). Iniciativas para ressarcir os agricultoresde parte dos benefícios ambientais proporcionadospelo Sistema, como seqüestro de carbono e princi-palmente “produção de água” em propriedades ru-rais começam a ser articuladas, porém há pouca sen-sibilização junto às esferas governamentais sobre aimportância e dimensão ambiental desta iniciativa,mesmo considerando o impacto na produção de ali-mentos e fibras que o sistema pode proporcionar.

Por exemplo, com a ampliação da adoção doSPD e integração lavoura pecuária, poder-se-ia atin-gir uma produção de grãos da ordem de 140 milhões

Figura 1. Estrutura da sociedade civil no setor rural voltada à adoção do Sistema Plantio Direto como Sistema Conservacionistano continente americano (Landers et al., 2001)

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Cenários Sobre a Adoção de Práticas Conservacionistas... 165

de toneladas no ano de 2007, mantendo-se a área atu-almente cultivada, porém rapidamente convertida aosistema, via implementação de políticas públicas di-recionadas ao uso racional do recurso Solo (ex.: atra-vés do Programa de Conservação do Solo na Agricul-tura, do Ministério da Agricultura, Pecuária e do Abas-tecimento). Caso se promova ainda o sistema de inte-gração lavoura-pecuária com plantio direto, além deganhos de produção de grãos, seria possível recupe-rar pastagens degradadas, elevando sua produtivida-de de 4 arrobas/ha/ano para 15 arrobas/ha/ano. Con-siderando a atual capacidade de crescimento da ado-ção do Sistema Plantio Direto, investimentos em pes-quisa, transferência de tecnologias e incentivos atra-vés de programas governamentais, poderiam aindaampliar a renovação do estoque de capital na agrope-cuária, em um País que aumenta a possibilidade deadoção de tecnologias mais modernas, poupadorasde recurso naturais, com menores índices de polui-ção e mais eficientes no uso da energia.

Mesmo considerando que o planejamento e oordenamento territorial sejam os instrumentos maisadequados para equacionar os impactos decorrentesdo uso e domínio das terras no Brasil, e que ações dezoneamentos agrícolas e ecológicos-econômicos este-jam em curso, com maior ou menor grau de percep-ção pela sociedade, estes não foram considerados noscenários aqui construídos. Fixou-se apenas nas alter-nativas de adoção do SPD, posto que se trata de umprocesso real em curso, com influências tanto na con-servação quanto no uso do recurso natural Solo. Res-salta-se ainda, que as simulações possuem expressãoapenas como ordem de grandeza visto que, na ausên-cia de dados organizados de forma regionalizada e portipo de atividade, utilizaram-se apenas dados médiosque, evidentemente não refletem as diferenças regio-nais e as particularidades dos diversos sistemas produ-tivos.

Entretanto, entende-se que o SPD é uma solu-ção viável para a mitigação dos processos de degrada-ção dos solos tropicais e sub-tropicais predominantesno país, em especial a erosão hídrica, que impacta ne-gativamente os recursos hídricos através do assorea-mento, disponibilidade hídrica e contaminação quí-mica. Finalmente, destaca-se que estes cenários são atu-almente exeqüíveis, com menor ou maior taxa de ex-pansão, como conseqüência da competência do agri-cultor brasileiro e dos investimentos estratégicos empesquisa agropecuária efetuados, principalmente, apartir da década de 70, que permitiram ao Brasil deteratualmente, o maior acervo de conhecimentos cientí-ficos no campo da agricultura tropical, tendo ainda, apesquisa agropecuária mais moderna e abrangente dohemisfério sul.

O Cenário Baseado na Apropriação de NovasÁreas Para a Agricultura.

Uma análise do desenvolvimento econômico do Brasilrevela que este, historicamente, sempre esteve relaciona-do com a base de recursos naturais disponíveis interna-mente e, em ultíma análise, com as diversas potenciali-dades naturais do nosso território. Na agricultura, ci-clos como os da cana-de-açúcar e café são exemplos his-tóricos do uso das potencialidades das terras e do apoioque nosso território forneceu ao desenvolvimento nacio-nal. Assim, nos momentos de aceleração econômica, oterritório sempre forneceu a base de recursos necessáriosao processo de crescimento econômico, embora na maio-ria de vezes, com elevado passivo ambiental.

Portanto, ao se projetar o crescimento futuro daeconomia brasileira, é ainda inevitável se avaliar qualserá a contribuição dos recursos naturais ao patamar dedesenvolvimento pretendido. Esta forma de abordagemé típica de uma lógica dominante e tradicional de umpaís que ainda detêm fronteiras e recursos naturais aserem apropriados. Ou seja, embora em menor grau,ainda hoje permanece na população um sentimento derecursos naturais abundantes e quase inesgotáveis, o queevidentemente não ocorre em países que já ocuparamou ordenaram o seu espaço territorial.

Neste sentido, Guilhoto et alli (2002) simula-ram os efeitos ambientais que diferentes cenários decrescimento da economia brasileira teriam sobre umconjunto de variáveis ambientais, através da utilizaçãodos resultados de dois modelos: um macroeconômico,que forneceu os parâmetros básicos de crescimento daeconomia, e o modelo Mibra inter-regional de equilí-brio geral, utilizado para as projeções de crescimentodas regiões e dos seus setores. Adotaram um cenáriopessimista de crescimento nacional de 2,3% a.a. e umoutro otimista com taxa de crescimento de 4,4% a.a.,ambos para o período 2002-2012.

No caso da agricultura, Guilhotto et alli (2002)avaliaram o efeito que os cenários de desenvolvimentoteriam sobre o desmatamento na Amazônia, entendi-da aqui como nossa fronteira agrícola. Os autores con-sideraram que o desmatamento aumenta com o cresci-mento das atividades agropecuárias, através de umacorrelação entre o valor da produção agropecuária eárea para cultivo e pastagem, que estima as áreas adicio-nais utilizadas para os anos dos cenários. Conformemostra a Tabela 1, no cenário otimista de crescimentoestimaram para 2012 um desmatamento adicional de10,5 milhões de hectares. Para o cenário pessimista ede menor crescimento, estimaram que a área desmata-da seria também menor, no total de quase 6 milhões,ou seja, que o cenário otimista representaria uma área

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Cenários Sobre a Adoção de Práticas Conservacionistas...166

desmatada quase 80% superior ao estimado para o cená-rio pessimista. Ressaltaram entretanto que, mesmo nocenário otimista, o desmatamento para fins agropecu-ários não ultrapassaria mais que 2% da atual área daAmazônia Legal.

Utilizando-se destas estimativas, procurou-seavaliar qual seria o impacto que estes cenários teriamsobre o papel que a agricultura desempenharia na eco-nomia nacional enquanto fornecedora de alimentos,fibras, energia e geradora de excedentes ecômicos paraexportação. Para tanto, utilizou-se da relação entre aevolução da área agrícola total e a população do país.Esta relação pode ser utilizada ainda, como uma medi-da genérica para avaliação da segurança alimentar.Mesmo não considerando as importações e exporta-ções de produtos agropecuários, a relação representa aparcela de contribuição que o setor agropecuário deve-rá assumir no desenvolvimento econômico nacional,de uma atividade que representa 7,4% do PIB nacionale, quando analisada sobre a ótica de agronegócio pos-sui um superavit na balança comercial estimado em20 bilhões de dólares no ano de 2002.

A Figura 2 apresenta a evolução da relação en-tre o espaço agropecuário do país e sua população.Utilizou-se para tanto dados sobre a evolução do es-paço agrícola total do país, disponível na base dedados da FAO, e os dados e projeções de crescimento

populacional do IPEA. Considerou-se ainda os doiscenários de crescimento e de apropriação de terraspropostos por Guilhotto et alli (2002) e um terceirocenário, onde a expansão da atividade econômicapoderia ser absorvida simplesmente pelo manejo ra-cional dos solos brasileiros, sem acréscimo de áreacultivada, através de ganhos de produtividade via ex-pansão da base tecnógica baseada em técnicas conser-vacionistas, os agricultores das diversas regiões do País.

Independente do cenário projetado, a relaçãomostra uma tendência quase linear e declinante, que,projetando-se para o ano de 2012, mostra uma diferen-ça entre o cenário otimista e conservacionista de ape-nas 500m2 por habitante. Esta relação sinaliza, que casoo país continue dependendo da agropecuária nacionalcomo fornecedora de alimentos e geradora de exce-dentes econômicos para exportação, o setor deverá,necessariamente, continuar o ciclo de tecnificação,como forma de manter os ganhos de produtividadeverificados nas últimas décadas.

Ao se considerar o contingente de cerca de 50milhões de brasileiros enquadrados abaixo da linha depobreza, revela ainda o esforço adicional que o setor agro-pecuário deverá enfrentar, caso programas governamentaispromovam o aumento do poder aquisitivo e conseqüen-temente o padrão de consumo destas populações. Assim,caso não sejam implementados programas de ganhos de

Tabela 1. Cenários de área desmatada na Amazônia para fins agropecuários.

Cenário Área Total Desmatada Variação em relação ao Proporção da área totalaté o ano de 2012 (há) cenário de referência (%) da Amazônia Legal (%)

Otimista 10.588.294 25,1 2,0Pessimista 5.937.430 14,1 1,1

Fonte : Mota et. al., 2002

Fontes: Bases de dados da FAO e IPEAFigura 2. Evolução e projeção da relação entre a área agrícola total e a população brasileira.

1,1

1,22

1,34

1,46

1,58

1,7

1,82

1,94

1968 1976 1984 1992 2000 2008

Anos

Hec

tare

spo

rHab

itant

e

Cenário Otimista Cenário Pessimista Cenário Conservacionista

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Cenários Sobre a Adoção de Práticas Conservacionistas... 167

produtividade na agricultura, num cenário de maiorequidade social, os recursos naturais novamente serãorequisitados a fornecer a base de recursos necessáriospara apoiar um novo patamar de atividade econômi-ca, ou seja, uma área de desflorestamento, certamentesuperior à projetada por Guilhotto et alli (2002), rea-quecendo a expansão da fronteira agrícola no arco dodesfloramento.

Impactos da Adoção de SistemasConservacionistas Baseados no Plantio Diretona Produção de Grãos do País

Para a construção dos cenários propostos, foram esta-belecidas premissas básicas que consideram a possibi-lidade de evolução em todos os setores relacionados àagropecuária, com forte expansão da diversificação eda produção de culturas e do aumento de oferta dealimentos no mercado.

A adoção dos sistemas conservacionistas basea-dos no plantio direto pressupõe ainda, a crescente pro-fissionalização dos agricultores, permitindo projetar umcrescimento na demanda por serviços e informações,com a participação direta de produtores na tomada dedecisão e execução (extensão, assistência técnica e pes-quisa), o fortalecimento de entidades associativistas (clu-bes amigos da terra, associações, sindicatos, etc.), a ten-dência de utilização de tratores de média potência, odesenvolvimento de implementos mais eficientes e ofoco, pelos agricultores, na maior demanda da socieda-de brasileira por produtos ambientalmente corretos.

Da mesma forma, entende-se que o SPD consti-tui uma dos principais instrumentos para a incorpora-ção do conceito de gestão integrada e sustentável debacias hidrográficas, as quais passam a ser a unidademaior de planejamento no setor rural. Ações nesse sen-tido são relatadas nos capítulos sobre as respostas dasociedade, onde foram relatadas as melhorias socioeco-nômicas que se refletem na qualidade ambiental, em

especial nos recursos hídricos, e no aumento da eficiên-cia da atividade e na produtividade física (Bragagnoloet al., 1997). O reflexo dessas ações foi constatado porexemplo, na Microbacia Hidrográfica do Lajeado SãoJosé em Chapecó (SC) com a observação de um incre-mento de 24% na produtividade das principais cultu-ras, com um aumento de 29% nos ingressos líquidospara os produtores rurais (Bassi, 1999). Por sua vez, oaumento dos níveis de produtividade física das princi-pais culturas e de pastagens proporcionam claramenteuma diminuição da pressão sobre novas áreas, diminu-indo o desmatamento e promovendo a recuperação deáreas degradadas (Landers e Freitas, 2001).

Para se avaliar o impacto da adoção de práticasconservacionistas baseadas no plantio direto, conside-rou-se apenas os reflexos na produção por unidade deárea, no aumento da produtividade física e na possibili-dade de mais de uma cultura por ano. Não se considerou,portanto, os reflexos da adoção de qualquer outra tecno-logia ou sistema de produção associado, como por exem-plo, a introdução de novos materiais genéticos ou adu-bações equilibradas que possam resultar em ganhos adi-cionais de produção e produtividade. Para tal, foi conside-rado o ano agrícola 1999/2000, quando a produtividademédia das principais culturas de sequeiro (soja, milho,feijão, trigo, algodão, sorgo, aveia, cevada e amendoim)foi de 2,14t/ha (Tabela 2). Dos 33,4Mha (milhões dehectares) ocupados por essas culturas, 14,33Mha, ou42,8% foram consideradas sob sistema plantio direto.

No desenho dos cenários, considerou-se a ado-ção de sistemas conservacionistas no total das áreascom culturas, em um adicional de 19,1Mha, onde seestima um aumento de 17% na produtividade pelaadoção do SPD, como apresentado no capítulo anterior.Considerou-se também a possibilidade de produçãode grãos em uma segunda safra (safrinha na regiãotropical e safra de inverno na região sub-tropical), coma produção adicional de grãos como milho, aveia, ce-vada, feijão, sorgo e trigo, com um aumento de 30%

Tabela 2. Produção, área colhida e produtividade das culturas selecionadas na safra 1999/2000.

1999/2000Cultura considerada

Produção (em 1000 t) 1 Área (em 1000 ha)2 Produtividade (em kg/ha)

Soja 32.345 13.327 2.427Milho 31.641 12.679 2.496Feijão 3.098 4.409 703Trigo 2.403 1.329 1.808Algodão em caroço 1.187 806 1.473Sorgo 781 496 1.575Aveia 194 173 1.122Cevada 319 144 2.217Amendoim 172 105 1.634Total 72.140 33.468Produtividade Média 2.155

Fontse: 1. CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento. (www.conab.gov.br) 2. MAPA, 2002 - MAPA – Estatística Agrícola – www.agricultura.gov.br consulta em novembro de 2002.

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Cenários Sobre a Adoção de Práticas Conservacionistas...168

na produção por unidade de área, mesmo consideran-do produtividades reduzidas em 50% em relação àsculturas de verão e a perda (frustração) de 2 safras em5 anos. Desta forma, temos o aumento de produçãoanual por unidade de área de 53%, passando dos atu-ais 2,35 para 3,57t/ha (Tabela 15).

Considerando-se essa meta de produtividademédia na área adicional, ao se atingir 100% de adoçãodo SPD na área base de 33,4Mha, pode-se estimar umaprodução adicional de 21Mha (produção adicional de1,11t/ha em 19,1Mha), ou um incremento de 29,6%na produção agrícola, que considerando a produçãototal obtida na safra 1999/2000, significaria uma pro-dução total de 90 milhões de toneladas, ou ainda, 100milhões de toneladas, considerando-se a produçãoobtida apenas para estes grãos na safra 2000/2001.

Destaca-se por fim, que esta produção adicional éequivalente a uma área plantada, em sistema convencio-nal, de aproximadamente de 9,72 milhões de hectares,área está superior ao projetado por Guilhotto et alli (2002)para o cenário de desenvolvimento econômico pessimis-ta e quase suficênte para atender a demanda adicionalpor terras no cenário de desenvolvimento acelerado. Ouseja, apenas com o manejo racional do solo, é possíveleconomizar quase 10 milhões de hectares de florestas no

arco de desflorestamento da Amazônia, e ainda geraroutros benefícios e serviços ambientais nas “terras velhas”.

Cenários Sobre a Mitigação dos Processos deDegradação das Terras Devido à Adoção dosSistemas Conservacionistas Baseados no PlantioDireto.

Para a construção dos cenários sobre a mitigação dosprocessos de degradação das terras, foram consideradas:a área total ocupada com culturas anuais e permanentes,e o histórico de evolução da área de adoção do sistemaplantio direto, o qual incorpora práticas e tecnologiasconservacionistas exaustivamente discutidas nos capí-tulos anteriores e que se constituí um processo real emcurso em todo o país. O quadro de fundo dos cenáriosenvolve premissas básicas pré-estabelecidas com basenas conclusões do projeto Plataforma Plantio Direto(www.embrapa.br/plantiodireto) fruto de um signifi-cativo exercício de parceria liderado pela FEBRAPDPe Embrapa com apoio do MCT/CNPq/PADCT.

Os cenários consideram a área com as principaisculturas de sequeiro no ano agrícola 1999/2000 (Tabela2) em um total de 33,8Mha. A taxa histórica de adoçãodo Sistema Plantio Direto considera a evolução da área

Tabela 3. Aumento da produtividade física em áreas não irrigadas considerando apenas a adoção de sistemasconservacionistas baseados no plantio direto (safra+safrinha ou safra de inverno).

médiaFator Considerado Ano I Ano II Ano III Ano IV Ano V em 5 anos por ano

Produtividade atual (t/ha) 2,16 2,16 2,16 2,16 2,15 10,8 2,16Produtividade esperada pela adoção 2,53 2,53 2,53 2,53 2,53 12,52

de Sistemas ConservacionistasProdução adicional por ha (safrinha 0 1,26 1,26 1,26 0 3,78

ou safra de inverno)Produção total por unidade de área — — — — — 16,42 3,28

sob Plantio Diretos

0.95

6

0.75

4

-0.0

26

-0.0

27

1.39

8

0.58

3

0.13

4

0.11

8

0.46

2

0.31

6

0.15

0

0.13

0

0.11

5

0.10

3

0.12

5

0.11

1 0.35

0 0.50

0

0.48

1

0.26

7 0.44

7 0.60

9

0.28

0

0.18

0

0.07

2

0.11

7

3.06

3

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

1975

1977

1979

1981

1983

1985

1987

1989

1991

1993

1995

1997

1999

2001

Figura 2. Variação da Taxa Anual de Crescimento da Área de Adoção do SPD no Brasil.1V

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Cenários Sobre a Adoção de Práticas Conservacionistas... 169

indicada pela FEBRAPDP, apresentada no Capítulo13, é apresentada na Figura 3. A evolução da área indi-ca um crescimento médio anual de 33 % na década de90 (1990/2000), variando de 61% em 1995/1996 a 7,2%em 1999/2000. A adoção do SPD chega a 14,33Mha,ou 42,8% da área cultivada com lavouras.

Os dados permitem a construção de três cenáriosdistintos:

• considerando um quadro de atendimento pleno apremissas básicas pré-estabelecidas no sentido depromover a rápida e sustentável adoção do SPDcom taxas anuais entre 15 e 21% a.a.;

• considerando uma inércia na adoção, assumindo amenor taxa encontrada na ultima década, de 7%a.a.;

• finalmente, considerando a manutenção da percenta-gem de adoção do SPD em relação à área total, exigin-do um crescimento horizontal da produção, obtidaatravés da expansão da área cultivada em áreas atual-mente preservadas do país, em especial na Amazônia.Para esse cenário foi considerado um crescimentoanual da área colhida em sequeiro de 2,3% a.a.

A Figura 4 mostra a evolução da área onde hou-ve a adoção do Sistema Plantio Direto considerandoos três cenários propostos.

Cenário I — Incentivos maciços à adoção desistemas conservacionistas baseados no SPDpara culturas anuais e perenes, permitindo umataxa anual de 21%.

Premissas Básicas

• A sociedade e o governo compreendem a relevân-cia das questões de natureza ambiental associadasao sistema de produção e aceitam criar instrumen-

tos de incentivo, incluindo pesquisa, assistênciatécnica e extensão rural, financiamento diferencia-do para implementos (plantadeiras, pulverizadores,distribuidores de calcário e adubo, etc.), seguro ru-ral exclusivo para áreas de SPD, entre outros.

• O conhecimento técnico-científico existente é de-codificado e disponibilizado aos usuários.

• Instalação de unidades demonstrativas participati-vas em todas as regiões agrícolas do país.

• Incentivo ao reflorestamento de áreas reconhecidamen-te frágeis (mata ciliar, áreas declivosas, solos arenosos,solos muito argilosos, solos encharcados, áreas de sur-gências, etc.), identificados por um grande esforço demapeamento de áreas de alto risco de uso.

• Uso das terras segundo sua aptidão agrícola, nor-matizado pelos zoneamentos agroecológicos ou eco-lógicos-econômicos.

• A tecnologia mostra ser eficiente, quanto à redu-ção de custos, e menor impacto ambiental compa-rado com os atuais pacotes tecnológicos.

• Identificação e rastreabilidade de produtos agrope-cuários produzidos em áreas com SPD.

O cenário construído indica a plena evolução doagronegócio, com envolvimento de todos os setores en-volvidos, atendendo as necessidades de mercado e as exi-gências ambientais. O cenário permite um aumento sig-nificativo da taxa anual de adoção dos sistemas conserva-cionistas as quais podem chegar a 21%, em uma previsãobastante otimista e ao mesmo tempo realista, desde queatendidas as premissas propostas. Desta forma, manten-do-se a área com culturas atual (33,46Mha), projeta-se oatingimento da meta de 100% de adoção em um períodode 5 anos. Mesmo com a diminuição da taxa para 15%, oatingimento da meta se estende por apenas um ano agrí-cola (2005/2006), permitindo alcançar o incremento emprodução agrícola de 29,4% nesse período, suprindo des-

Figura 4. Evolução da área de adoção de SPD, considerando três cenários quanto a taxa de adoção anual.

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Cenários Sobre a Adoção de Práticas Conservacionistas...170

sa forma a demanda de alimentos e fibras sem a expansãohorizontal da área agricultável, em um cenário de cres-cimento acelerado.

Cenário II – O crescimento na adoção desistemas conservacionistas baseados no SPD paraculturas anuais acontece em taxas reduzidas, nosníveis próximos aos atuais, de 7 % ao ano.

Para esse cenário são consideradas as políticas atuais,que implicam na ausência de incentivos governamen-tais, restritos apenas ao trabalho de articulação tecno-lógica liderado por produtores rurais com apoio dosdiferentes setores do agronegócio.

Premissas Básicas

• O efeito demonstrativo e a troca de experiências sãoa força motora da adoção dos sistemas conservacio-nistas, acontecendo após o atendimento as questõesquanto à eficiência e eficácia das tecnologias ofereci-das, acelerado por ocorrências como secas, inunda-ções, fortes erosões, diminuição na oferta de águapotável e de energia elétrica de origem hídrica, etc.

• A assistência técnica particular é valorizada pela pro-fissionalização natural dos produtores rurais, pressio-nando a geração de tecnologias pela pesquisa.

• Validação, difusão e adaptação das tecnologias dis-poníveis acontecem pela iniciativa de órgãos parti-culares, incluindo associações de agricultores, fun-dações, etc, além de algumas ações de órgãos oficiaisde pesquisa e extensão, com abrangência limitada.

• Inexistência de financiamento diferenciado para im-plementos (plantadeiras, pulverizadores, distribui-dores de calcário e adubo, etc), ou de seguro ruralexclusivo para áreas de SPD.

• Áreas frágeis são utilizadas à exaustão, quando ocor-rem o abandono e a recuperação natural, depen-dendo do grau de degradação.

• A solução de questões ambientais, incluindo a re-cuperação de áreas degradadas e de proteção ambien-tal, irá exigir períodos longos, sendo resolvidas apósa estabilização dos sistemas conservacionistas.

• A adoção de sistemas conservacionistas ocorre emáreas em avançado estádio de degradação, com al-tos custos para os produtores e a sociedade em geral.

Neste cenário, pode-se esperar que a taxa de ado-ção permaneça abaixo da média daquelas obtidas naúltima década, próxima aquela observada no ano agrí-cola 1999/2000.

Estimando um crescimento à uma taxa de 7 %ao ano, tem-se uma projeção de 13 anos (2012/13) paraque se atinja os 33,4Mha de adoção do SPD (Figura 2).Nessa projeção, os custos diretos e indiretos devido àdegradação das terras, são decrescentes, mas se man-têm altos por vários anos.

Esse cenário coloca a existência de áreas ondeocorre o uso de sistemas convencionais de preparo emanejo do solo com monoculturas, fazendo com quehaja a necessidade de aumento da área com culturasanuais e pastagens para atender o aumento da deman-da de alimentos, com forte pressão de desmatamento.Desta forma, ao se considerar a necessidade de umcrescimento da área com culturas em 2,3%, mantendoa taxa de 7% ao ano para a adoção de sistemas conser-vacionistas, tem-se um aumento de 5 anos, projetandoo atingimento da meta para o ano agrícola 2017/2018,com uma área de 47,8Mha.

Cenário III – Manutenção da atual percentagemde adoção em relação á área com culturasanuais.

O quadro atual é mantido, com 43% de adoção desistemas conservacionistas baseados no SPD sobre aárea com culturas anuais e em pousio – 33,5Mha. Paramanutenção do crescimento da produção, considera-se um aumento de 2,3% a.a. na área com culturasanuais.

Premissas Básicas

• As questões sobre a eficiência e eficácia de sistemasconversacionistas na produção e na qualidade am-biental não são atendidas, devido a um forte desa-cordo de opiniões entre os técnicos e entre os pro-dutores rurais.

• A profissionalização do agricultor é dificultada pelafalta de assistência técnica competente e com expe-riência, incapacitada na transferência das informa-ções geradas pela pesquisa;

• Inexistência de financiamento diferenciado para im-plementos (plantadeiras, pulverizadores, distribui-dores de calcário e adubo, etc.), ou de seguro ruralexclusivo para áreas de PD.

• Áreas frágeis são utilizadas à exaustão, quando ocor-re o abandono e a recuperação natural, dependen-do do grau de degradação.

• As questões ambientais são deixadas em segundoplano, prevalecendo o lucro imediato a todo o custo.

• A adoção de sistemas conservacionistas ocorre emáreas em avançado estádio de degradação, com al-tos custos para os produtores e à sociedade em geral.

• A necessidade de crescimento da produção exigeum aumento da área para todas as culturas na taxade 2,3 % a.a.

Neste cenário, pode-se esperar um crescimentoda área agrícola do país, chegando, no final da década(2009/10) uma área com culturas anuais de sequeiroacima de 41Mha, com uma adoção de SPD em menosde 18Mha. Os custos diretos e indiretos da erosão para

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Cenários Sobre a Adoção de Práticas Conservacionistas... 171

a sociedade chegam a mais de US$ 2,2 bilhões anuais,considerando a existência, em 2010, de 23Mha comalto estádio de degradação.

Cenário Considerando a Recuperação dePastagens Degradadas por Meio da IntegraçãoLavoura e Pecuária (ILP–SPD), através doSistema Plantio Direto

Um outro cenário pode ser construído considerandoa recuperação de pastagens degradadas, que somam80Mha na região tropical brasileira, segundo Sano etal., 1999.

A integração lavoura-pecuária permite a recupe-ração de pastagens em avançado estádio de degrada-ção, aumentando a capacidade de suporte das pastagensrecuperadas e garantindo a demanda por produtos agrí-colas de culturas anuais e perenes. Permite também aincorporação de outros avanços tecnológicos disponí-veis tais como a melhoria genética do plantel e etc.

Adicionalmente, o cenário permite a mitigaçãototal e completa de qualquer ação de desmatamento(Landers & Freitas, 2001), ao se assumir que, segundoos autores, “a preservação e conservação dos recursosnaturais são uma co-responsabilidade de todos os seto-res da sociedade, passado, presente e futuro, na pro-porção em que os mesmos se beneficiam dos produtosda agricultura e da natureza”.

O principio tecnológico para a Integração en-tre as atividades agrícola e pecuária incorpora os re-centes avanços em relação ao manejo sustentável daspastagens e do gado (corte ou leite) e o manejo susten-tável e competitivo de culturas anuais e perenes. Aintegração permite ainda o aproveitamento dos bene-fícios da rotação de culturas anuais ou perenes com ocultivo de gramíneas, já plenamente comprovados pelapesquisa agropecuária brasileira e validados por agri-cultores em toda a região tropical (Lara-Cabezas & Frei-tas, 2001). Considere-se que a ILP-SPD, uma vez feitoo investimento inicial, que implica na recuperação deáreas degradadas, torna-se mais atrativa que a expan-são da produção via desmatamento de novas áreas, ab-sorvendo eventuais crescimentos de demanda.

A Integração Lavoura-Pecuária realizada, respei-tando os princípios do Sistema Plantio Direto (ausên-cia de revolvimento do solo, rotação de culturas e co-bertura permanente do solo), não é uma tecnologiaúnica e fechada. Vários sistemas diferentes já foramvalidados para culturas anuais (soja, milho, feijão, al-godão, arroz, etc) e perenes (café, citrus, florestais, etc.),variando de anual, como no Sistema Santa Fé (Embra-pa Arroz e Feijão) a quadrienal (4 anos com culturasanuais e 4 anos com pastagens) (Broch et al., 1997;Landers et al., 2002c).

Landers & Freitas (2001) indicam os benefícioseconômicos da ILP através do SPD, que são:• recuperação de áreas de pastagens degradadas, com

a possibilidade de, no mínimo, quadruplicar a ca-pacidade de suporte das pastagens, atingindo o su-porte potencial de 5U.A./ha (considerando-se a ca-pacidade de suporte média de pastagens degrada-das inferiores a 0,5U.A./ha)1.

• a recuperação de áreas com culturas em avançadoestádio de degradação (compactação, erosão, depau-peramento químico, baixos teores de matéria orgâ-nica, etc.).

Os benefícios indiretos da aplicação da tecno-logia são:

• reversão a espiral de pobreza dos sistemas extensi-vos de pecuária extrativista;

• compatibilização das necessidades de maior expor-tação de grãos e carne ao incentivo direto e indiretoà mitigação do desmatamento visando o aumentode produção através do aumento da área explorada;

• mitigação dos impactos ambientais negativos daatividade agrícola com a utilização de sistemas adap-tados de regiões temperadas (sistemas convencio-nais) associados a pratica extrativista da atividadepecuária;

• melhora da qualidade ambiental no âmbito das ba-cias hidrográficas, mais especificamente com relaçãoà qualidade e perenização dos recursos hídricos.

O cenário proposto por Landers & Freitas (2001)considera que toda a expansão de áreas com culturasanuais será acomodada pela Integração Lavoura-Pecu-ária através do Sistema Plantio Direto (ILP-SPD). Aexpansão de 2% ao ano da área com cultivos anuais deverão – algodão, amendoim, arroz, feijão, mamona,milho e soja (28Mha segundo CONAB 99/00) signifi-ca a inclusão de 560 mil ha/ano ao sistema produtivo.

O sistema de ILP considerado foi trienal (3 anoscom culturas anuais – soja / soja / milho – e 3 anoscom pastagens).

A elevação de produtividade das pastagens recupe-radas é de 11@/ha/ano (de 4 para 15@/ha/ano). Paraculturas anuais, os níveis de produtividades observadossão, em média, de 3,6t/ha de soja e de 7,8t/ha de milho2.

No primeiro ano, é considerada a incorporaçãode 280 mil ha (1% da área total). A partir do 2o ano,essa incorporação passa a ser de 2% da área acumula-da. No ano 4, ocorre o retorno das pastagens já recupe-radas, com as mesmas taxas de expansão.

A Tabela 4 apresenta a evolução das áreas deculturas e de pecuária no período de dez anos. No

1 U.A. - unidade animal2 @ - arrobas de carne bovina.

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Cenários Sobre a Adoção de Práticas Conservacionistas...172

final de período, a área total recuperada é de 5,8Mha,com as atividades de lavoura anual (3,7Mha) e compecuária (2,2Mha). A produção incremental no últi-mo ano é de 8,9Mt de soja (considerando uma produ-tividade de 60 sacas/ha) e de 9,4Mt de milho (produti-vidade de 130 sacas/ha), elevando a produção nacio-nal de grãos para 118,3Mt. No caso das pastagens, aprodução incremental no 10o ano é de 23M@ de carne.Vale lembrar que essas áreas, devido à rotação de ativi-dades e de culturas, são constantemente permutadas,implicando em uma diversificação de atividades napropriedade e na região (dentro e fora da porteira).

Landers & Freitas (2001) lembram que esse incre-mento em produção de grãos e de carne é possível coma utilização de tecnologias conhecidas e sem a incorpo-ração de áreas com vegetação nativa, mitigando com-pletamente o desmatamento e a incorporação deáreas de alta fragilidade do Bioma Cerrados (incluindoo Pantanal) e da Amazônia no processo produtivo.

Exercício semelhante pode ser feito para outrasculturas anuais (algodão, arroz, feijão, mamona, etc.),assim como para culturas perenes (café, citrus, cana-de-açúcar, florestas, etc.) e hortaliças (Saturnino & Frei-tas, 2001).

Com o significativo aumento da capacidade desuporte das pastagens recuperadas e a baixa elasticida-de verificada no mercado de carne (interno e exporta-ção), o cenário indica que uma área significativa deterras de aptidão agrícola restrita devido a sua fragili-dade ambiental será reservada para reflorestamentoscom espécies nativas protegendo mananciais hídricose mitigando os principais problemas ambientais (ero-são, sedimentação, inundações, secas, apagões, etc.)(Freitas, 2001; Freitas, 2002; Freitas et al., 2002).

Ainda nesse cenário, Landers & Freitas (2001) eLanders et al., 2002a propõem o ressarcimento de in-vestimentos na melhoria da produtividade de áreas depastagens e lavouras através do ILP_SPD na forma de“serviços ambientais”. Esse pagamento constituiriaum incentivo financeiro aos produtores, estratégicopara acelerar a adoção do ILP_SPD, reduzindo a pres-são pela abertura de novas áreas de vegetação nativa.

Segundo os autores, esses recursos destinar-se-ão à:

(i) financiamento de calagem e fosfatagem básica daterra, visando produzir culturas de grãos;

(ii) destoca, acerto de erosões, descompactação de tri-lhas de gado, cercas;

Ano 1 2 3 4 5 6 7 8 9 101 soja 280 566 577 588 600 612 624 637 650 6632 soja 280 566 577 588 600 612 624 637 6503 milho 280 566 577 588 600 612 624 6374 pasto 280 566 577 588 600 612 6245 pasto 280 566 577 588 600 6126 pasto 280 566 577 588 6007 soja 280 566 577 5888 soja 280 566 5779 milho 280 566

10 pasto 280

280 846 1423 1731 1766 1801 2117 2719 3334 3680

280 846 1143 1165 1189 1212 1517 2107 2429 2478

0 0 280 566 577 588 600 612 904 1203

28.00 28.28 28.85 29.42 29.73 29.77 29.80 30.12 30.72 31.33

0 0 0 280 846 1423 1731 1766 1801 2117

Produção incremental de grãos (milhões de ton)Soja (60 sc/ha) 1.0 3.0 4.1 4.2 4.3 4.4 5.5 7.6 8.7 8.9Milho (130 sc/ha) 0.0 0.0 2.2 4.4 4.5 4.6 4.7 4.8 7.1 9.4

Resultados incrementais da pecuária (mil arrobas):

0 0 0 3080 9302 15648 19041 19421 19810 23286

Área com culturasanuais (Mha)

Área de PastagensRecuperadas (mil ha)

Incremento Produção Carne

Ano

Incremento anual -lavouras (mil ha) cultura de soja

cultura de milho

1Baseado em Landers & Freitas, 1999).

Tabela 4. Incrementos de área com lavouras anuais e pastagens recuperadas1

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Cenários Sobre a Adoção de Práticas Conservacionistas... 173

(iii) injeção de capital de giro necessário para umsistema com uso mais intensivo de insumos;

(iv) melhoria da infra-estrutura de manejo das pas-tagens (cercas divisórias, aguada, cochos);

(vi) aquisição de semeadoras, pulverizadores, colhe-doras e meios de transporte para uso em culturas.

(vii) programa de difusão e capacitação de técnicos eagricultores em SPD-ILP; e

(viii) recursos suplementares para experimentação emPD, executada por CATs nas fazendas.

Associado a isto, temos o uso das tecnologiasgeradas pela pesquisa agropecuária brasileira e a possi-bilidade de pagamentos ao produtor rural como res-sarcimento pela “produção de água limpa para a soci-edade”, como previsto no Código Nacional de Uso daÁgua, em fase de implementação pela Agencia Nacio-nal de Águas.

Conclusões e Recomendações

Um país que pretende ter uma agricultura moderna,competitiva, socialmente justa e sustentável ao mesmotempo em que conserva e preserva seus recursos natu-rais – solo, água e biodiversidade, tem de investir nageração de dados e de informações vitais para o apoioao planejamento e à tomada de decisão, o que ficouevidente na elaboração deste livro.

Os sistemas tradicionais de uso e manejo dasterras, muitos deles adaptados de técnicas consagra-das em regiões temperadas, com condições locais bas-tante diversas daquelas encontradas no país, geraramum ciclo de pobreza alavancado pelos intensos pro-cessos de degradação das terras relatados nesse livro.Reverter esse ciclo de pobreza em um ciclo de prospe-ridade está relacionado com a maior eficiência de usodos recursos naturais com benefícios significativospara a sociedade como um todo, beneficiada pela mi-tigação dos principais problemas ambientais e a pro-dução de alimentos limpos e saudáveis e pela segu-rança de produção desses alimentos.

A adoção, por parte dos agricultores brasileiros,de práticas e técnicas que causem menor impacto am-biental e que impliquem no reordenamento de suasatividades, minimizando a degradação acelerada dosrecursos naturais é uma clara questão de escolha queestá nas mãos da própria sociedade: de um lado, optarpela atividade agropecuária nos moldes tradicionais,incorporando os custos ambientais relatados e acei-tando a onipresente degradação ambiental e seus re-sultados tais como poeira, fumaça, morte da fauna eda flora, nascentes e rios secos, dias muito quentes enoites muito frias, umidade do ar abaixo dos limitesde sobrevivência; de outro lado, generalizar os exem-

plos bem conhecidos encontrados nos bolsões de pros-peridade, onde a rentabilidade é garantida pelo usopleno do conhecimento tecnológico, do planejamen-to e do mínimo de degeneração do sistema planta –solo – clima, promovendo uma atividade agrícola emharmonia com a natureza, através do uso de preceitosbiológicos e agronômicos adaptados à nossa realidadeedafoambiental.

Os cenários construídos e os exemplos relata-dos neste livro exemplificam que a escolha reside, es-sencialmente na forma de desenvolvimento de nossaagricultura ao atender a pressão de demanda por ali-mentos e matérias primas. A opção pela expansão ho-rizontal, abrindo novas fronteiras e avançando com oprocesso de degradação sobre áreas altamente frágeis,entre elas a Amazônia e o Pantanal, fará perpetuar oprocesso instalado no país como fruto da revoluçãoverde, ignorando os avanços no conhecimento que per-mitem o uso racional dos recursos naturais. No mes-mo momento em que o país exporta tecnologias lim-pas para outras regiões tropicais e subtropicais, viabili-zando a sobrevivência de povos em todo o mundo, aspremissas de evolução de nossa agricultura continuama priorizar a degradação dos recursos naturais, comelevados custos diretos e indiretos para a sociedade.Ressalta-se novamente que a comunidade internacio-nal e certamente a brasileira reconhecem que “a pre-servação e conservação dos recursos naturais é co-res-ponsabilidade de todos os setores da sociedade em to-dos os tempos – passado, presente e futuro”.

A opção pela expansão vertical da produção éviabilizada pelos avanços tecnológicos dos últimosanos. Esses foram proporcionados pela força de umaverdadeira parceria em busca de soluções tecnológicasa qual tem dominado o agronegócio brasileiro e daqual a pesquisa agropecuária assume papel fundamen-tal. O atendimento a premissas como o incremento daprodução por unidade de área e de insumo, maximi-zando fatores de produção, otimizando o uso de insu-mos e de mão-de-obra e convivendo pacificamente coma natureza, requer, no entanto, que a sociedade assumaa necessidade em ressarcir os agricultores, gestoresambientais e responsáveis pelo uso e manejo sustentá-veis dos recursos naturais, pelos serviços ambientaisproporcionados, como proposto por Landers & Frei-tas (2001) e por Landers et al. (2002b), em especial pelaprodução de água limpa e em quantidade.

O atendimento ao aumento da pressão de de-manda, simplesmente por permitir que cerca de 50milhões de pessoas consideradas famintas tenham di-reito a três refeições dignas por dia, deve considerar oscenários e as claras opções do agronegócio, que sãomuitas, mas que têm como carro chefe à adoção desistemas conservacionistas baseados no Plantio Direto

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Cenários Sobre a Adoção de Práticas Conservacionistas...174

nas atividades agrícola e pecuária. Para isto, esse livrose propõe ser um alerta e, ao mesmo tempo, um alen-to, por deixar saber que existem alternativas compro-vadamente viáveis para a nossa agricultura.

Referências Bibliográficas

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ISB

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Com satisfação, a Embrapa apresenta à sociedade, em particular à comunidade que trata da questão

agropecuária no País, este livro dedicado ao Uso Agrícola dos Solos Brasileiros.

A elaboração deste trabalho é resultado do esforço integrado de especialistas de vários centros

temáticos da Embrapa, bem como de outras instituições de pesquisa e fomento, sob a coordenação da Embrapa

Solos.

É uma obra que trata do tema do uso agrícola do solo de forma abrangente, abordando o recurso solo

como o maior patrimônio, desde a sua constituição, tipos e distribuição geográfica, aptidão para diversos usos

atual e potencial, suas limitações e formas de degradação, contaminação e recuperação além aspectos relativos

a conscientização da sociedade, políticas públicas, legislação, programas, convenções e cenários sobre o uso

do solo.

Utilizando informações específicas, geradas dentro e fora do âmbito da Embrapa, foi possível produzir

este documento que retrata o conhecimento atual do potencial e do uso das terras brasileiras sendo um alerta

sobre os erros cometidos no passado, mas também um alento por deixar claro que existem alternativas

comprovadamente viáveis para o negócio agropecuário brasileiro.

Doracy Pessoa RamosChefe Geral, Embrapa Solos