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APRESENTAÇÃO A presente edição da Revista de Educação da APEOESP contém subsídios para os professores da rede pública estadual, associados do nosso sindicato, que se inscreverão nos próximos concursos públicos promovidos pela Secretaria de Estado da Educação e que participarão das provas instituídas pelo governo. Organizada pela Secretaria de Formação, esta publicação contém as resenhas dos livros que compõem a bibliografia dos concursos, realizadas por profissionais altamente qualificados, de forma a contribuir paraque os professores possam obter o melhor desempenho nas provas. Ao mesmo tempo, não podemos deixar de registrar nossa posição contrária às avaliações excludentes que vem sendo promovidas pela Secretaria Estadual da Educação que, além de tudo, desrespeita os professore sao divulgar extensa bibliografia a poucos dias da prova, inclusive contendo vários títulos esgotados. Esperamos, no entanto, que todos os professores possam extrair desta edição da Revista de Educação o máximo proveito, obtendo alto rendimentonas provas dos concursos e avaliações. Nossa luta por mais concursos prossegue, com a periodicidade necessária diante de uma drástica redução no número de professores temporários, agregando mais qualidade ao ensino e profissionalizando, cada vez mais, o magistério estadual. A periodicidade dos concursos a cada quatro anos com ritmo mais acelerado nos próximos dois anos foiuma conquista nossa e vamos exigir que seja efetivada. A diretoria Bibliografia para História 1. BITENCOURT, Circe Maria F. (org.). O saber histórico na sala de aula. 2. ed. São

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  • APRESENTAO

    A presente edio da Revista de Educao da APEOESP contm subsdios para os professores da rede pblica estadual, associados do nosso sindicato, que se inscrevero nos prximos concursos pblicos promovidos pela Secretaria de Estado da Educao e que participaro das provas institudas pelo governo. Organizada pela Secretaria de Formao, esta publicao contm as resenhas dos livros que compem a bibliografia dos concursos, realizadas por profissionais altamente qualificados, de forma a contribuir paraque os professores possam obter o melhor desempenho nas provas. Ao mesmo tempo, no podemos deixar de registrar nossa posio contrria s avaliaes excludentes que vem sendo promovidas pela Secretaria Estadual da Educao que, alm de tudo, desrespeita os professore sao divulgar extensa bibliografia a poucos dias da prova, inclusive contendo vrios ttulos esgotados. Esperamos, no entanto, que todos os professores possam extrair desta edio da Revista de Educao o mximo proveito, obtendo alto rendimentonas provas dos concursos e avaliaes. Nossa luta por mais concursos prossegue, com a periodicidade necessria diante de uma drstica reduo no nmero de professores temporrios, agregando mais qualidade ao ensino e profissionalizando, cada vez mais, o magistrio estadual. A periodicidade dos concursos a cada quatro anos com ritmo mais acelerado nos prximos dois anos foiuma conquista nossa e vamos exigir que seja efetivada. A diretoria

    Bibliografia para Histria 1. BITENCOURT, Circe Maria F. (org.). O saber histrico na sala de aula. 2. ed. So

  • Paulo: Contexto, 1998.

    2. BITENCOURT, Circe Maria F. Ensino de Histria fundamentos e mtodos. So

    Paulo: Cortez, 2005.

    3. BLOCH, Marc. Apologia da Histria ou ofcio do historiador. Rio de Janeiro:

    Jorge Zahar, 2002.

    4. BURKE, Peter. O que Histria Cultural? Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.

    5. FAUSTO, Boris. Histria do Brasil. 13. ed. So Paulo: EDUSP, 2008.

    6. FERRO, Marc. A manipulao da histria no ensino e nos meios de comunicao.

    A histria dos dominados em todo o mundo. So Paulo: IBRASA, 1983.

    7. FONSECA, Selva G. Caminhos da Histria Ensinada. Campinas: Papirus, 2009.

    8. FONSECA, Selva G. Didtica e Prtica de Ensino de Histria. Campinas: Papirus,

    2005.

    9. FUNARI, Pedro Paulo; SILVA, Glaydson Jos da. Teoria da Histria. So Paulo:

    Brasiliense, 2008.

    10. HERNANDEZ, Leila Leite. frica na sala de aula: visita histria

    contempornea. 2. ed. So Paulo: Selo Negro, 2008.

    11. HEYWOOD, Linda M. (Org.). Dispora negra no Brasil. So Paulo: Contexto,

    2008.

    12. KARNAL, Leandro (org.). Histria na sala de aula: conceitos, prticas e

    propostas. So Paulo: Contexto, 2003.

    13. LE GOFF, Jacques. Histria e Memria. Campinas: UNICAMP, 2003. cap.

    Memria, Documento/monumento, Histria, Passado/presente.

    14. PINSKY, Carla Bassanezi (Org.). Novos temas nas aulas de histria. So Paulo:

    Contexto, 2009.

    15. SOUZA, Marina de Melo. frica e o Brasil Africano. 2 ed. So Paulo: tica,

    2007.

    1. BITENCOURT, Circe Maria F. (org.). O saber histrico na sala de aula. 2. ed. So

  • Paulo: Contexto, 1998.

    l - PROPOSTAS CURRICULARES

    Capitalismo e cidadania nas atuais propostas curriculares de Histria

    Circe Bittencourt

    A volta da Histria como disciplina autnoma, no final do perodo militar, exigia

    repensar contedos e novas formas de relaes pedaggicas. Grupos sociais oriundos

    das classes trabalhadoras de idades e experincias diversas, diferentes culturas,

    devido ao processo migratrio, passaram a ocupar os bancos escolares, colocando

    em xeque o conhecimento tradicionalmente produzido e transmitido. Em uma

    sociedade consumista, responsvel por ritmos de mudanas acelerados, onde tudo

    rapidamente se transforma em passado, os alunos vivem um presentesmo intenso

    sem perceber os liames com o passado.

    Existem clivagens e conflitos inerentes entre o currculo pr-ativo, normativo e escrito

    pelo poder educacional institudo e o currculo como prtica na sala de aula ou

    currculo interativo. Uma disciplina mantm-se no currculo devido sua articulao

    com os objetivos da sociedade. As transformaes ocorrem quando os objetivos

    mudam. Histria manteve-se devido ao seu papel de disciplina formadora da

    identidade nacional. Nas propostas atuais, a questo da identidade tem sido

    considerada, tendo, contudo, que enfrentar a relao nacional/ mundializao dentro

    dos propsitos neoliberais. A inovao que ocorre a nfase n papel do ensino de

    Histria para a compreenso do sentir-se sujeito histrico e sua contribuio para a

    formao de um cidado crtico.

    A cidadania, com questes relacionadas utilizao de diferentes temporalidades e diferentes sujeitos, aparece nas propostas, sendo que o capitalismo tem se transformado em objeto de estudo do ensino de Histria. O conceito de cidado normalmente limitado cidadania poltica, sendo a cidadania social pouco caracterizada. A ampliao do conceito de cidadania, com a introduo da cidadania social, confere outra dimenso aos objetivos de Histria. Os desafios enfrentados na elaborao das propostas residem em articular a produo historiogrfica que relaciona o social e o cultural com o econmico e redimensiona o poltico.

    Currculos de Histria e Polticas Pblicas:

    os programas de Histria do Brasil

    na Escola Secundria

    Katia Abud

  • Os currculos e programas constituem o instrumento mais poderoso de interveno do

    Estado no ensino, interferindo na formao da clientela escolar para o exerccio da

    cidadania no sentido que interessa aos grupos dominantes. Nesse sentido, os

    currculos no podero ser analisados independentemente dos rgos que os

    produziram.

    Como disciplina escolar, a Histria efetivou-se com a criao do Colgio Pedro II, em

    1837, sendo seu ensino pautado por um mtodo cientfico e uma concepo de

    evoluo caractersticos do final do sculo XIX.

    As mudanas educacionais promovidas por Francisco Campos, aps a revoluo de

    30, acentuaram a centralizao com os primeiros programas para as escolas

    secundrias. Desde o incio do sculo XX, teve nfase a questo da formao da

    nacionalidade e da identidade brasileira.

    Nacionalismo e pensamento autoritrio caminhavam juntos, e a concepo de

    realidade e de sociedade que se originava do nacionalismo e do antiliberalismo, levava

    responsabilizao do Estado pela formao da nacionalidade e pela direo do

    povo, que deveria ser guiado pelas elites. Nessa perspectiva, a Histria seria um

    elemento poderoso na construo do Estado Nacional, em que o sentimento de

    identidade permitisse o ocultamento da diviso social. Trs pilares aliceravam a

    unidade nacional brasileira: unidade tnica, unidade administrativa e territorial e

    unidade cultural. Os eixos dos programas eram: a formao do "povo brasileiro", a

    organizao do poder poltico e a ocupao do territrio brasileiro, enfatizando os

    heris que constituram a nao. A Lei de Diretrizes e Bases da Educao Brasileira

    (4.024/61), produto de uma "americanizao" do currculo, iniciou claramente um

    processo de tecnizao da formao escolar.

    Na dcada de 60, Histria e Geografia foram substitudas por Estudos Sociais e os

    programas foram reduzidos a uma lista factual, numa perspectiva da Histria Poltica.

    Nos anos 80, com a redemocratizao do pas, a Histria reocupou o seu espao de

    disciplina autnoma.

    Histria, Poltica e Ensino

    Maria de Lourdes Mnaco Janotti

    A destruio do passado, ou melhor, dos mecanismos sociais que vinculam nossa

    experincia pessoal das geraes passadas, um dos fenmenos mais

    caractersticos e lgubres do final do sculo XX. Quase todos os jovens de hoje

    crescem numa espcie de presente contnuo, sem qualquer relao orgnica com o

    passado pblico da poca em que vivem.

    Hobsbawn alerta para a possibilidade de uma inimaginvel alienao coletiva de

    resultados imprevisveis. A desqualificao do passado, como experincia poltico-

    social, foi absorvida at por grupos influentes de intelectuais, instaurando-se o domnio

    do presentesmo, como se nisso no houvesse o perigo de interpretaes ideolgicas

  • ou construes explicativas descontnuas. Temas recentes da Histria Imediata so

    prestigiados. O presente passou a explicar-se a partir de si mesmo.

    Na Nova Histria francesa, em menor escala, os historiadores neomarxistas ingleses e

    a poltica editorial, com uns poucos autores obrigatrios tanto na produo acadmica

    quanto em sala de aula, vm influenciando a formao dos professores. A

    historiografia francesa est retornando poltica, devido s crticas, especialmente

    inglesas, Nova Histria. O repdio Histria Poltica tradicional deveu-se

    concentrao no estudo do Estado-nao, dos comportamentos individuais, dos

    eventos circunstanciais e das situaes conjunturais efmeras. Sem renegar a Histria

    Nova, nem as aspiraes coletivas do marxismo, os historiadores acreditam estar

    realizando uma revoluo na antiga concepo de Histria Poltica, revitalizando a

    anlise do contedo e trazendo-o para o estudo global da sociedade, saindo do foco

    circunscrito ao da classe poltica.

    Essa constatao entrecruza-se, necessariamente, Histria Poltica, Histria do

    Tempo Presente (refere-se principalmente ao sc. XX) Histria Imediata (refere-se a

    acontecimentos que acabam de ocorrer). O presentesmo da Histria Imediata, devido

    ao julgamento rpido, pode ter consequncias na formao de jovens, podendo induzi-

    los a interpretar a aparncia pelo substancial.

    A formao do professor de Histria e o cotidiano da sala de aula

    Maria Auxiliadora Schmidt

    A formao dos professores de Histria e o cotidiano da sala de aula so pauta de

    encontros, congressos e seminrios h uma dcada. Em geral, essa formao comea

    e termina no curso de graduao. Depois de formado, muitas vezes o professor no

    dispe de tempo e nem dinheiro para investir na sua formao profissional.

    No seu cotidiano, espera-se que ele seja o promotor da unio entre a competncia

    acadmica (domnio dos saberes) e a competncia pedaggica (domnio da

    transmisso do saber), aliando competncia, convices e experincias de vida. No

    que se refere ao fazer histrico e ao fazer pedaggico, um desafio destaca-se: realizar

    a transposio didtica dos contedos e do procedimento histrico. A transposio

    didtica do fazer histrico pressupe, entre outros procedimentos, que a compreenso

    e a explicao histrica sejam trabalhadas. Destacam-se a problematizao, o ensino

    e a construo de conceitos, anlise causal, contexto temporal e o privilgio da

    explorao do documento histrico. Mais que as determinaes causais, importante

    levar o educando compreenso das mudanas e permanncias, das continuidades e

    descontinuidades, exigindo do professor uma grande ateno aos diferentes ritmos

    dos diferentes elementos que compem um processo histrico. O passado no pode

    ser resgatado tal qual ele aconteceu; ele s pode ser reconstrudo em funo das

    questes colocadas no presente. Para reconstruir o passado, o historiador manipula

    as caractersticas essenciais do tempo: a sucesso, a durao, a simultaneidade, a

    partir de periodizao e de recortes temporais.

  • Outro elemento considerado imprescindvel ao procedimento histrico em sala de aula,

    , sem dvida, o trabalho com as fontes ou documentos, que pode introduzir o aluno

    no mtodo histrico.

    II - LINGUAGEM E ENSINO

    Livros didticos entre textos e imagens

    Circe Bittencourt

    O texto procura refletir sobre o conjunto de imagens mais comuns no cotidiano

    escolar: as ilustraes do livro didtico.

    Objeto de avaliaes contraditrias, o livro didtico continua sendo o material de

    referrencia para professores e alunos. uma mercadoria com mltiplas facetas,

    mas tambm um depositrio de contedos escolares, um instrumento pedaggico e

    um veculo portador de valores, de ideologia, de cultura. Vrias pesquisas demonstram

    como textos e ilustraes transmitem esteretipos e valores dos grupos dominantes.

    Na vida escolar, o livro didtico pode ser o instrumento de reprodues ideolgicas e

    do saber oficial de setores do poder e do Estado. Mas sua leitura na sala de aula

    determinada pelo professor, podendo ser transformado em um recurso eficiente e

    adequado s necessidades de um ensino autnomo. Os franceses destacam-se na

    pesquisa de ilustraes dos livros didticos. No Brasil existem trabalhos que analisam

    como determinados segmentos sociais tm sido representados, especialmente os

    indgenas e os negros.

    Por concretizar a noo altamente abstrata do tempo histrico, a imagem como

    recurso pedaggico tem sido destacada h mais de um sculo. Observando o

    percurso das ilustraes, aparecem algumas peculiaridades: a reproduo de obras

    francesas nos livros de Histria Geral ou Universal, o carter mercadolgico e as

    questes tcnicas de fabricao. Hoje, a ao do autor limitada, pois, nas editoras,

    existem especialistas para desenvolver essa parte da produo do livro. Para Histria

    do Brasil, as ilustraes mais comuns so dos desenhistas ou fotgrafos de quadros

    histricos do final do sculo XIX. Dois quadros tm sido os mais reproduzidos, desde o

    incio do sculo: o 7 de setembro de 1822, de Pedro Amrico, e a Primeira Missa no

    Brasil, de Vtor Meirelles de Lima. A Histria poltica predominou com personagens:

    Tom de Souza, Pedro lvares Cabral, D. Pedro l e D. Pedro II; dos presidentes, a

    figura mais destacada Getlio Vargas e, em alguns manuais mais recentes, surgem

    charges de jornais ou revistas da poca ou criadas por cartunistas.

    A recorrncia das representaes indgenas fomentou uma srie de questionamentos.

    Ao longo do tempo foram representados, muitas vezes, como selvagens e

    responsveis pela miscigenao, preguia e averso ao trabalho produtivo. Essa

    apresentao das imagens nos livros didticos de Histria, embora de maneira

  • sucinta, pretende provocar algumas questes, procurando situar o professor como

    leitor crtico da obra didtica.

    Histria e dialogismo

    Antnio Terra

    Com exemplos tirados da histria da pintura, a autora pretende salientar a ideia de que

    uma obra (texto, oralidade, gravura, msica, pintura, fotografia, cinema, arquitetura)

    sintetiza uma srie de dilogos travados entre seu autor (um sujeito especfico) e sua

    prpria poca, e sujeitos produtores de outras obras e outras culturas anteriores a ele

    e num tempo futuro que vai alm do que ele - criador - poderia imaginar.

    Simultaneamente, as obras referendadas explicitamente ou no em outras obras

    (numa proximidade temtica ou de forma), dialogando com outros sujeitos de muitos

    tempos, ganham um novo sentido a cada novo contexto expresso e criado por outros

    autores e por outros leitores. a partir desses dilogos mltiplos internos s obras,

    que interferem na construo de enunciados, de sentidos, que elas constrem e

    comunicam, de compreenses mais diversas que delas podem ser apreendidas, que a

    autora usa para falar sobre a proposta para abordagem na Histria, com base na obra

    de Mikhail Bakhtin. Os estudos de Bakhtin referem-se lingustica, filosofia e literatura.

    A autora transfere as reflexes de Bakhtin sobre o texto (contida em seus escritos so-

    bre O problema do texto, da coletnea Esttica da criao verbal, para as possveis

    consideraes da obra.

    Para Bakhtin, quando estudamos o homem, buscamos e encontramos o signo em

    todas as partes e devemos tentar encontrar sua significao. O homem fala atravs de

    sua obra, e as Cincias Humanas no devem permitir que ele permanea mudo, mas

    que se manifeste enquanto sujeito que fala, que expressa e constri sentidos,

    enunciados e significaes.

    Toda obra tem um autor, isto , um sujeito que fala, escreve ou desenha. Para

    perceber a presena do autor, todavia, preciso distanciar primeiramente a coisa

    representada (realidade) dos meios de representao (a obra - expressa em signos -,

    palavras, formas, cores, etc.). No reconhecimento de que a obra no se confunde com

    a realidade que se sente a presena do autor. Quando se expressa, o autor faz de si

    um objeto para outro e para si mesmo, dando realidade sua conscincia.

    Compreender implica a presena de duas conscincias: a conscincia do autor e a

    conscincia de quem toma conhecimento da presena do autor na obra. Esse ato de

    compreender dialgico, na medida que ultrapassa uma lgica previsvel, causal ou

    factual, isto , a compreenso sempre diferente para leitores diferentes em contextos

    diferentes.

    Compreender uma obra implica, segundo Bakhtin, compreender uma diversidade de

    formas e aspectos, como, por exemplo, compreender a linguagem dos signos,

    compreender a obra numa linguagem conhecida e j compreendida (estilos de lngua,

    estilos de textos, estilos de pintura, estilos de msica etc.) e compreender o

    enunciado. No trabalho do professor de Histria, comum encontrar-se, como fonte

  • de pesquisa ou de informao sobre um determinado contexto histrico, uma gravura,

    uma pintura ou um texto. Podemos dizer que todos esses documentos so obras

    humanas, no sendo possvel, segundo Bakhtin, l-los ou compreend-los como

    simples objetos ou coisas que exemplifiquem contextos. Existem sujeitos que falam e

    que constrem sentidos especficos para a realidade retratada, atravs de estilos

    comuns s suas pocas, de formas, de contornos e de materialidades que so,

    simultaneamente, originais. A autora apresenta ainda uma obra de Frans Post para

    exemplificar, mostrando, entre outras coisas, comum acordo com a historiadora Ana

    Maria de Moraes Beiluzzo: "O colorido da pintura holandesa esteve presente nos qua-

    dros que compem a etapa brasileira de Frans Post, assim como a lembrana da

    paisagem brasileira acompanhou o pintor em sua volta para a Europa". De acordo com

    a autora, dentro da perspectiva do ensino de Histria, as reflexes de Bakhtin orientam

    para outro tipo de possibilidade de estudo na utilizao dos documentos como recurso

    didtico.

    Por que visitar museus

    Adriana Mortara Almeida e Camilo de Mello Vasconcellos

    Os autores discutem as potencialidades educativas dos museus para o ensino de

    Histria, atravs de uma cultura material. Para que ocorra um processo educativo,

    necessrio compreender as mensagens propostas pela exposio, que foram

    dispostas de maneira a constituir um discurso. So muitas as atividades realizadas em

    um museu, desde a incluso ou excluso de objetos, at os recortes feitos segundo a

    temtica proposta.

    As exposies vm sendo repensadas no mbito de uma estrutura de comunicao

    atravs de propostas museolgicas definidas, que utilizem uma linguagem de fcil

    acesso aos visitantes. A ao educativa em um museu no deve estar centrada

    apenas nas exposies, mas estas so os suportes essenciais que permitem e

    aproximam a relao com pblico.

    O contato com esses documentos materiais, a partir do suporte comunicativo das

    exposies, permite-nos inserir questes relativas constituio de uma memria e da

    preservao de um passado. Muitos museus brasileiros contam com departamento de

    educao ou ao cultural. Considerada como um meio de comunicao, a ex-

    posio tem o potencial de transmitir mensagens aos visitantes, dependendo da

    clareza dos cdigos utilizados. O educador do museu poder aumentar a capacidade

    de compreenso dos visitantes, adaptando e esclarecendo os cdigos da exposio

    de acordo com o interesse e o perfil do pblico. As aes culturais desenvolvidas nos

    Museu de Arqueologia e Etnologia da USP (MAE) e no Museu Paulista (MP) so

    exemplo aos quais o professor de Histria pode recorrer.

    Experincias e representaes sociais: reflexes sobre o uso e o consumo das imagens

  • Elias Thom Saliba

    Segundo o autor, nunca se devem subestimar a experincia pessoal e social das

    pessoas e dos grupos humanos, quaisquer que eles sejam. Vivemos cada vez mais

    num universo miditico, permeado pelas imagens, onde cada vez mais substitumos

    nossas experincias reais pelas representaes dessas experincias. Um bombardeio

    contnuo de imagens em velocidade afasta-nos cada vez mais do mundo real e tende

    a diminuir o espao temporal de nossas experincias. A globalizao atingiu a mdia,

    forjando, em ritmos rpidos e alucinantes, um renovado espao de circulao

    internacional de imagens e de informaes. Mas tambm est em curso um processo

    de maior especializao da produo cultural. Partindo dessas questes, o autor

    analisa a interferncia da TV, que, se por um lado aniquila o telespectador pela

    informao, por outro, no o transforma em um ingnuo zumbi. Em relao ao cinema

    ele coloca que certo que hoje se admite que a imagem no ilustra nem reproduz a

    realidade, mas a constri a partir de uma linguagem prpria, produzida num dado

    contexto histrico. Ao utilizar um filme em um processo de ensino, o esforo do

    professor deve ser o de mostrar que, da mesma forma que na Histria, o filme uma

    construo imaginativa que necessita ser pensada e trabalhada interminavelmente.

    Os historiadores deparam-se hoje com esse fenmenofenmeno histrico inusitado: a

    transformao do acontecimento em imagem. No mais a imagem alegrica que

    narra, mas a imagem analgica. A TV revela s claras que a informao que faz o

    acontecimento e no o contrrio. O acontecimento no um fato em si mesmo, mas

    um fato no momento em que conhecido. Tanto no ngulo da produo quanto no

    ngulo da difuso e da recepo, preciso um esforo analtico (e at pedaggico) no

    sentido de retirar a produo das imagens do terreno das evidncias, evitando trat-

    las, por exemplo, e sem mais mediaes, como documentos histricos. As imagens

    so estratgias para o conhecimento da realidade, mas no constituem sucedneos

    para nenhum suporte escrito. Sem comentrio, uma imagem no significa

    rigorosamente nada.

    Toda a ateno - de todo aquele que lida com imagens - deve voltar-se para o lado

    mais invisvel, frgil, no qual talvez se encontrem os possveis vestgios de um

    inconsciente visual de nossa poca.

    Memria e ensino de Histria Ricardo Ori

    Os ltimos anos vm sendo caracterizados por uma preocupao com a preservao

    da memria histrica e, por extenso, com o patrimnio cultural. Nos anos 70 e 80,

    assistimos emergncia dos movimentos sociais populares que colocaram na ordem

    do dia o interesse pelo "resgate" de sua memria, como instrumento de lutas e

    afirmao de sua identidade tnica e cultural. A temtica da memria do

  • patrimnio histrico recente no mbito da historiografia brasileira. Isso se explica em

    grande parte pelo fato de que os rgos e agncias de preservao histrica foram

    sistematicamente ocupados por profissionais da arquitetura, o que levou tambm ao

    privilgio do patrimnio edificado.

    Patrimnio histrico revisitado

    Quando se fala em patrimnio histrico, h a imediata associao com monumentos e

    edificaes antigas. Isso se deve em grande medida, primeira legislao patrimonial

    do pas, o Decreto-lei n 25/37, ainda em vigor, que, em seu art 1, explicita o conceito

    de patrimnio histrico e artstico. Constitui o patrimnio histrico e artstico nacional o

    conjunto de bens mveis e imveis no pas e cuja conservao seja de interesse

    pblico, quer por sua vinculao a fatos memorveis da Histria do Brasil, quer por

    seu excepcional valor arquitetnico ou etnogrfico, bibliogrfico ou artstico. Esse

    conceito norteou, a poltica de preservao no pas. Priorizou-se, assim, o patrimnio

    edificado e arquitetnico - a chamada "pedra e cal" - em detrimento de outros bens

    culturais. Essa poltica preservacionista levada a cabo pelo Servio do Patrimnio

    Histrico e Artstico Nacional (SPHAN), criado em 1937, deixou um saldo de bens

    imveis tombados referentes aos setores dominantes da sociedade. Preservaram-se

    as igrejas barrocas, os fortes militares, as casas-grandes e os sobrados coloniais.

    Esqueceram-se as senzalas, os quilombos, as vilas operrias e os cortios. Essa

    poltica objetivava passar aos habitantes do pas a ideia de uma memria unvoca e de

    um passado homogneo, sem conflitos e contradies sociais. Hoje, a expresso

    patrimnio histrico e artstico vem sendo substituda por patrimnio cultural, sendo

    constitudo de unidades designadas de bens culturais.

    Quem primeiro se preocupou com a problemtica de patrimnio cultural foi o professor

    francs Hugues de Varine-Boham. Segundo ele, o patrimnio cultural pode ser dividido

    em trs grandes categorias:

    a) os elementos pertencentes natureza e ao meio ambiente (rios, peixes, vales e

    montanhas, enfim os recursos naturais - o chamado habitat natural);

    b) o conhecimento, as tcnicas, o saber e o saber-fazer (compreende, pois, toda

    capacidade de sobrevivncia do homem em seu meio ambiente, incluindo os

    elementos no-tangveis do patrimnio cultural);

    c) os bens culturais propriamente ditos (engloba toda sorte de objetos, artefatos, obras

    e construes, obtidos a partir do prprio meio ambiente e do saber fazer).

    Por uma nova poltica de patrimnio histrico no Brasil: a construo de uma memria

    plural Com a ampliao do conceito de patrimnio cultural, abre-se perspectiva para a

    adoo de uma nova poltica de proteo. A Constituio tenta corrigir essa distoro

    da poltica de preservao. Em seu artigo 215, pargrafo 1 e 2, por exemplo, ela

    determina que o Estado deve proteger as manifestaes das culturas populares,

    indgenas e afro-brasileiras e de outros grupos participantes do processo civlizatrio

    nacional.

  • Patrimnio histrico, cidadania e identidade cultural: o direito memria

    A preservao do patrimnio histrico vista, hoje, prioritariamente, como uma

    questo de cidadania e, como tal, interessa a todos por se constituir direito

    fundamental do cidado e esteio para construo da identidade.

    A identidade cultural de um pas, estado, cidade ou comunidade se faz com memria

    individual e coletiva e, para isso, fundamental a questo da preservao das

    memrias atravs dos patrimnios histricos.

    Televiso como documento

    Marcos Napolitano

    No ensino, torna-se cada vez mais frequente o uso de novas linguagens, entre elas as

    imagens (paradas e/ou em movimento) produzidas pela sociedade. Todo cuidado

    pouco com a incorporao das novas linguagens, principalmente em uma poca de

    desvalorizao do contedo socialmente acumulado pelo conhecimento cientfico. Em

    se tratando de documento televisivo, alguns gneros acabam se impondo como os

    mais relevantes e instigantes: o telejornal; a teledramaturgia; telefilmes, sobretudo os

    seriados, sendo os mais fceis de se conseguir.

    Entre o cinema e a TV, uma diferena deve ser demarcada. Enquanto o cinema

    produz uma mercadoria cultural que dever ser explorada e difundida por vrios anos,

    a indstria televisiva - bem como a radiofnica - tem a tendncia de produzir

    programas que se consomem no instante da sua difuso. O interesse terico em torno

    da televiso data dos anos 50, sendo constituda de uma "nova oralidade" substituindo

    a "cultura do livro". Nessa cultura da "nova oralidade", os receptores passaram a

    integrar-se, j no momento da transmisso da mensagem, numa cadeia de discusso

    conjunta, trocando e reelaborando as informaes veiculadas pelos meios eletrnicos.

    A televiso foi objeto de estudo de vrios tericos,entre eles: Marshall McLuhan;

    Umberto Eco; Michel de Certeau; Dieter Prokop; Francesco Casetti e Roger Odin,

    Jesus Martn--Barbero. O autor sugere que, no trabalho, o professor consiga toda

    informao terica bsica, selecione o material a ser analisado e defina um

    planejamento geral de utilizao dentro de uma atividade didtico-pedaggica.

  • Histria e ensino: o tema do sistema de fbrica visto atravs de filmes Carlos Alberto Vesentini

    O autor comenta experincias realizadas com a utilizao de filmes em sala de aula.

    Pensou-se primeiramente no conjunto do curso a ser oferecido e em sua temtica,

    procurando-se listar filmes que se relacionassem com ela. O tema discutido foi,

    grosso modo, o do sistema da fbrica, implicando uma reaproximao de um tema

    bastante tradicional do ensino, o da Revoluo Industrial, mas pretendendo evitar a

    centralizao da discusso nos processos peculiares: a Inglaterra do final do sc. XVIII

    e da primeira metade do sc. XIX. Com a redefinio do tema transparecem duas ca-

    ractersticas na seleo dos filmes. De um lado, a utilizao de filmes antigos,

    clssicos, com questes claras e perspectivas bem postas (alm de oscilarem entre

    programa poltico, propaganda e percepo de autor). E, de outro lado, a utilizao de

    filmes recentes, ampliando a temporalidade. O trabalho no se configurou como a

    Histria do Cinema nem se fechou em consideraes sobre o filme como documento.

    H um outro aspecto a ser enfatizado: a realizao de uma desmontagem do filme.

    Sem esquecer as discusses especficas da poca, os filmes trabalhados foram:

    Fritz Lang: Metrpolis (1962);

    Ren Clair: A Ns a Liberdade (1931);

    Charles Chaplin: Tempos Modernos (1936);

    Elio Petri: A Classe Operria Vai ao Paraso.

    Uma srie de questes comuns entre eles foi trabalhada:

    1. O trabalho coletivo;

    2. A organizao espacial;

    3. Corpo e trabalho;

    4. Corpo e cotidiano;

    5. Cincia, tcnica, trabalho manual e trabalho intelectual;

    6. Alienao no processo de trabalho e proposta poltica.

    Resumo elaborado por Eliana Esteves Ribeiro

  • 2. BITENCOURT, Circe Maria F. Ensino de Histria fundamentos e mtodos. So

    Paulo: Cortez, 2005.

    Conhea a autora

    Circe Bittencourt licenciada e bacharel em Histria pela Faculdade de Filosofia,

    Letras e Cincias Humanas (FFLCH-USP). Fez mestrado e doutorado em Histria

    Social pela FFLCH-USP. Atualmente professora de ps-graduao na Faculdade de

    Educao da USP.

    O livro aborda aspectos de ensino e aprendizagem de Histria do ponto de vista dos problemas tericos que fundamentam o conhecimento escolar e dos problemas das prticas em sala de aula. A Histria, enquanto conhecimento escolar, possui uma histria que brevemente apresentada, a fim de proporcionar ao leitor reflexes sobre o atual momento da disciplina no processo de reformulaes curriculares. O livro preocupa-se em fornecer fundamentos sobre a seleo de contedos e mtodos para os futuros professores ou para os que j esto enfrentando o trabalho nas salas de aula.

    Parte 1

    Disciplina escolar

    O que disciplina escolar? No simples, existe sria polmica a respeito desse

    conceito, a qual pode parecer meramente acadmico e terico, mas est relacionado a

    questes mais complexas sobre a escola e o saber que ela produz e transmite, assim

    como sobre o papel e o poder do professor e dos vrios sujeitos externos vida

    escolar na constituio do conhecimento escolar.

    Transposio didtica

    Para determinados educadores, franceses e ingleses, as disciplinas escolares

    decorrem das cincias eruditas de referncia, dependentes da produo das

    universidades ou demais instituies acadmicas, e servem como instrumento de

    vulgarizao do conhecimento produzido por um grupo de cientistas.

  • No que se refere aos contedos e mtodos de ensino e aprendizagem, os partidrios

    da ideia de transposio didtica identificam uma separao entre eles, entendendo

    que os contedos escolares provm, direta e exclusivamente, da produo cientfica e

    os mtodos decorrem apenas de tcnicas pedaggicas, transformando-se em didtica.

    Disciplina escolar como entidade cientifica

    Para outros pesquisadores, especialmente o ingls Ivor Goodson e o francs Andr

    Chervel, a disciplina escolar no se constitui pela simples transposio didtica do

    saber erudito, mas antes, por intermdio de uma teia de outros conhecimentos,

    havendo diferenas mais complexas entre as duas formas de conhecimento, o

    cientfico e o escolar.

    Andr Chervel, o crtico mais contundente da concepo de transposio didtica,

    sustenta que a disciplina escolar deve ser estudada historicamente, contextualizando o

    papel exercido pela escola em cada momento histrico.

    Ao defender a disciplina escolar como entidade epistemolgica, relativamente

    autnoma, esse pesquisador considera as relaes de poder intrnsecas escola.

    preciso deslocar o acento das decises, das influncias e legitimaes exteriores

    escola, inserindo o conhecimento por ela produzido no interior de uma cultura escolar.

    As disciplinas escolares formam-se no interior dessa cultura, tendo objetivos prprios

    e, muitas vezes, irredutveis aos da cincia de referncia, termo que Chervel

    emprega em lugar de conhecimento cientfico.

    A concepo de Chervel sobre a disciplina escolar provm de sue estudos da Histria

    da Gramtica escolar da Frana. Pela pesquisa histrica do ensino da Gramtica em

    seu pas, concluiu que a criao das famosas regra gramaticais e toda srie de

    normas da lngua francesa decorreram de necessidades internas da escola, que

    precisava ensinar todos os franceses a escrever corretamente de acordo com

    determinados critrios a ser obedecidos por todo o meio escolar. A Gramtica, como

    estudo acadmico, s passou a existir posteriormente, absorvendo e integrando os

    princpios estabelecidos pela escola.

  • Constituintes das disciplinas escolares

    Foi importante estabelecer as finalidades de cada uma das disciplinas, explicitar os

    contedos selecionados para serem ensinveis e definir os mtodos que

    garantissem tanto a apreenso de tais contedos como a avaliao da aprendizagem.

    As finalidades de uma disciplina escolar, cujo estabelecimento essencial para

    garantir sua permanncia no currculo, caracterizam-se pela articulao entre os

    objetivos instrucionais mais especficos e os objetivos educacionais mais gerais.

    Compreendem-se, assim, alguns objetivos gerais ao qual a escola teve de atender em

    determinados momentos histricos, como a formao de uma classe mdia pelo

    ensino secundrio, a expanso da alfabetizao pelos diferentes setores sociais ou a

    formao de um esprito nacionalista e patritico. Tais objetivos esto, evidentemente,

    inseridos em cada uma das disciplinas e justificam a permanncia delas nos

    currculos. As finalidades das disciplinas escolares fazem parte de uma teia complexa

    na qual a escola desempenha o papel de fornecedora de contedos de instruo, que

    obedecem a objetivos educacionais definidos mais amplos. Dessa forma as finalidades

    de uma disciplina tendem sempre a mudanas, de modo que atendam diferentes

    pblicos escolares e respondam as suas necessidades sociais e culturais inseridas no

    conjunto da sociedade.

    Outro constituinte fundamental da disciplina escolar e o mais visvel o contedo

    explcito. Esse componente da disciplina corresponde a um corpus de conhecimento

    organizado segundo uma lgica interna que articula conceitos, informaes e tcnicas

    consideradas fundamentais. Os contedos explcitos articulam-se intrinsecamente a

    outro componente da disciplina escolar: mtodos de ensino e de aprendizagem. Tais

    contedos so necessariamente apresentados ao pblico por intermdio de diferentes

    mtodos, indo da aula expositiva at o uso dos livros didticos ou da informtica.

  • Disciplina escolar e produo do conhecimento

    Ivor Goodson, para quem o prprio termo disciplina possibilita identificar distines.

    O autor ingls entende a disciplina como uma forma de conhecimento oriunda e

    caracterstica da tradio acadmica e, para o caso das escolas primrias e

    secundrias, utiliza o termo matria escolar (school subjects). Entre ns comum, no

    cotidiano escolar, utilizar o termo matria, embora no se use, nos textos oficiais

    acadmicos, disciplina escolar no caso dos cursos superiores, o termo usual

    disciplina, a qual, por sua vez, composta de matrias especficas, correspondentes

    a divises internas das disciplinas acadmicas.

    Em seus estudos empricos sobre a gnese e a trajetria de determinadas matrias

    escolares, Goodson mais contundente ao tratar das relaes entre as disciplinas

    acadmicas e as matrias escolares.

    Ele demonstra que a interferncia do conhecimento acadmico no foi benfica para a

    constituio de determinados saberes escolares, no caso de Cincias, que

    inicialmente, no sculo XIX, era matria ensinada como cincia das coisas comuns

    (the science of de common things) e tinha como objetivo atender aos interesses dos

    alunos.

  • Disciplina escolar e conhecimento histrico

    O historiador francs Henri Moniot, ao debruar-se sobre a Histria enquanto disciplina

    escolar, pondera sobre suas especificidades, e conclui que seu ensino, no final do sc.

    XIX assegurou a existncia da Histria em grandes perodos Antiguidade, Idade

    Mdia, Moderna e Contempornea , criada para organizar os estudos histricos

    escolares, acabou por definir as divises da cadeira ou disciplinas histricas

    universitrias assim como especialidades dos historiadores em seus campos de

    pesquisa.

    A articulao entre as disciplinas escolares e as disciplinas acadmicas , portanto

    complexa, e no pode ser entendida como um processo mecnico e linear, pelo qual o

    que se produz, enquanto conhecimento histrico-acadmico seja necessariamente

    transmitido e incorporado pela escola. Os hiatos so evidentes, mas no se trata de

    buscar super-los, integrando automaticamente as novidades das temticas histricas

    s escolas. Os objetivos diversos impem selees diversas de contedos e mtodos.

    A formao de professores, por outro lado, vem dos cursos superiores, e nesse

    sentido, preciso entender a necessidade de dilogo constante entre as disciplinas

    escolares e acadmicas.

    Professores e disciplinas escolares

    Por intermdio da concepo de disciplina escolar, podemos identificar o papel do

    professor em sua elaborao e prtica efetiva. Cabe ento indagar sobre a ao e

    poder dele nesse processo, uma vez que h vrios sujeitos na constituio da

    disciplina escolar: desde o Estado e suas determinaes curriculares ate os

    intelectuais universitrios e tcnicos educacionais, passando pela comunidade escolar

    composta de diretores, inspetores e supervisores escolares e pelos pais de alunos

    que, muitas vezes, se rebelam contra determinados contedos e mtodos dos

    professores, forando-os a recuar em suas propostas inovadoras.

    O papel do professor na constituio das disciplinas merece destaque. Sua ao

    nessa direo tem sido muito analisada, sendo ele o sujeito principal dos estudos

    sobre currculo real, ou seja, o que efetivamente acontece nas escolas e se prtica na

    sala de aula. O professor quem transforma o saber a ser ensinado e em saber

    aprendido, ao fundamental no processo de produo do conhecimento. Contedos,

  • mtodos e avaliao constroem-se nesse cotidiano e nas relaes entre professores e

    alunos. Efetivamente, no ofcio do professor um saber especfico constitudo, e a

    ao docente no se identifica apenas com a de um tcnico ou de um reprodutor de

    um saber produzido externamente.

    2. Contedos e mtodos de ensino de Histria

    O contexto da produo da Historia escolar significativo para identificar as relaes

    entre diversos elementos constituintes da disciplina, ou seja, entre objetivos,

    contedos explcitos e mtodos. A anlise da disciplina em sua longa durao visa

    fornecer alguns indcios para a compreenso da permanncia de determinados

    contedos tradicionais e do mtodo da memorizao, responsvel por um slogan

    famoso da Histria escolar: uma matria decorativa por excelncia.

    Memorizao no processo de aprendizagem

    Um modelo de livro didtico muito utilizado em variadas escolas era o catecismo, e

    muitos textos de Histria destinados a criana seguiam o mesmo molde. A Histria,

    segundo o mtodo do catecismo, era representada por perguntas e respostas, e assim

    os alunos deviam repetir oralmente, ou por escrito, exatamente as respostas do livro.

    Como castigo, pela impreciso dos termos ou esquecimento de algumas palavras,

    recebia a famosa palmatria ou frula. O sistema de avaliao era associado a

    castigos fsicos.

    Uma obra interessante, a Metodologia da Histria na aula primria, escrita, em1917,

    pelo professor Jonathas Serrano da escola normal do Rio de Janeiro, indicava a

    possibilidade de mudanas no mtodo do ensino de Histria para os alunos a partir de

    sete anos. Sem deixar de exaltar o ensino da Histria ptria e o culto aos heris, o

    autor considerava que para tornar mais eficiente a Histria biogrfica, era preciso

    preparar melhor o professor. Este deveria escolher muito bem as narrativas que

    pudessem despertar interesse dos alunos e tambm atentar para a importncia do uso

    materiais, como mapas e gravuras.

  • Estudos Sociais e os Mtodos Ativos

    Os Estudos Sociais foram adotados em algumas escolas, denominadas experimentais

    ou vocacionais, no decorrer da dcada de 60 do sculo XX, e, depois da reforma

    educacional na fase da ditadura militar, pela lei 5.692 de agosto de 1971, na rea fio

    introduzida em todo o sistema de ensino o qual ento passou a se chamar de

    primeiro grau -, estendendo para as demais sries do antigo ginsio.

    Estudos de Histria no secundrio

    O nvel secundrio no Brasil caracterizou-se como um curso oferecido pelo setor

    pblico no colgio Pedro II do Rio de Janeiro, capital do imprio e da repblica, em

    Liceu Provncia, em Ginsios Estaduais Republicanos e pelo setor privado. A rede

    particular de escolas, para esse nvel escolar, desempenhou e continua a

    desempenhar importante papel, levando-se em conta que o secundrio foi criado para

    atender formao dos setores de elite.

    A Histria, tanto nas escolas pblicas como confessionais do sc. XIX, integrava o

    currculo denominado de Humanismo Clssico, o qual se assentava no estudo das

    lnguas, como destaque para o Latim, e tinha os textos da literatura clssica da

    Antiguidade como modelo padro cultural. O currculo humanstico pressupunha uma

    formao desprovida de qualquer utilidade imediata, mas era por intermdio dele que

    se adquiriam marcas de presena a uma elite. Assim, o estudo do latim no visava

    simplesmente formar um conhecedor de uma lngua antiga, mas servia para que o

    jovem secundarista fizesse citaes e usasse expresses caractersticas de um grupo

    social diferenciado do Povo Iletrado.

  • A Histria e o currculo cientfico

    A Histria integrou-se, nesse currculo, sem maiores problemas. Seus objetivos

    continuaram ainda associados formao de uma elite, mas com tendncia mais

    pragmticas. E a disciplina passou a ter uma funo pedaggica mais definida em

    relao sua importncia na formao poltica dessa elite.

    A Histria das civilizaes e a Histria do Brasil destinavam-se a operar como

    formadoras da cidadania e da moral cvica. Um dos objetivos bsicos da Histria

    escolar era a formao do Cidado poltico, que, em nosso caso, era o possuidor do

    direito ao voto. A Histria do Brasil servia para possibilitar, s futuras geraes dos

    setores de elite, informaes acerca de como conduzir a nao ao seu progresso, ao

    seu destino de Grande Nao.

    3. Nas atuais propostas curriculares

    Renovaes curriculares

    Os currculos escolares tem sido objetivo de muitas anlises que situam seu

    significado poltico e social, e essa dimenso precisa ser entendida para

    determinarmos o direcionamento da educao escolar e o papel que cada disciplina

    tende a desempenhar na configurao de um conhecimento prprio da sociedade

    contempornea.

    No Brasil, as reformulaes curriculares iniciada no processo de democratizao, na

    dcada de 80 do sculo XX, pautaram-se pelo atendimento s camadas populares,

    como enfoques voltados para uma formao poltica que pressupunha o fortalecimento

    da participao de todos os setores sociais no processo democrtico. Juntamente com

    tais propsitos, foram introduzidos, nas diversas propostas que estavam sendo

    elaboradas, tambm os projetos vinculados aos das polticas liberais, voltada pra os

    interesse internacionais. Como parte da poltica federal, alinhado ao modelo liberal, o

    MEC comprometeu-se realizar total reformulao curricular, que abarcasse todos os

  • nveis de escolarizao do infantil ao superior, para atender aos novos pressupostos

    educacionais.

    Atualmente, a ideia de currculo concebida em todas as suas dimenses

    distinguindo-se o currculo formal (o pr-ativo ou normativo), criado pelo poder estatal

    o currculo real (ou interativo), correspondente ao que, efetivamente, realizado na

    sala de aula por professores e alunos, e o currculo oculto constitudo por aes que

    impem normas e comportamentos vividos nas escolas, mas sem registros oficiais,

    tais como discriminaes tnicas e sexuais, valorizao do individualismo, ausncia ou

    valorizao do trabalho coletivo, etc. Estudos recentes incluem, ainda, o currculo

    avaliado, que se materializa pelas aes dos professores e das instituies ao

    medirem o domnio dos contedos explcitos pelos alunos e incorpora valores no

    apenas instrucionais, mas tambm educacionais, como as habilidades tcnicas e

    prticas da cultura letrada.

    Quanto s concepes de currculo, os autores mais importantes so: Ivor Goodson,

    Michael Apple, Jimeno Sacristn, Antonio Flavio Moreira, Toms Tadeu da Silva e

    Thomas Popkewitz.

    Mtodos e novas tecnologias

    As mudanas culturais provocadas pelos meios audiovisuais e pelos computadores

    so inevitveis, pois geram sujeitos com novas habilidades e diferentes capacidade de

    entender o mundo. Para analisar essas mudanas, h a exigncia de novas

    interpretaes aos atuais meios de comunicao, que ultrapassem aquelas que os

    consideram degenerescncias ou involuo. Interpretaes permeadas de preconceito

    no possibilitam um entendimento das configuraes culturais emergentes e, portanto,

    dificultam todo dialogo como o nosso aluno. Por outro lado, e este o mais importante

    desafio para os professores, no se pode tambm ser ingnuo em relao a essa

    nova cultura.

    Portanto, os mtodos, nos processos de renovao curricular, relacionam-se a essa

    srie de problemas do mundo tecnolgico, com o entendimento de que tais

  • tecnologias no so inimigas, mas tambm no so produtos que podem ser

    utilizados sem uma crtica profunda do que transmitem, das formas individualistas de

    comunicao e de lazer que estabelecem, do fortalecimento do iderio que promove

    uma submisso irrestrita ao domnio da mquina, como instrumento educativo,. O uso

    de computadores, programas televisivos, filmes, jogos de vdeo game corresponde a

    uma realidade da vida moderna com a qual crianas e jovens tem total identificao, e

    tais suportes merecem ateno redobradas e mtodos rigorosos que formulem

    prticas de uso no alienado.

    Propostas curriculares para os diferentes nveis

    a) Histria para alunos de primeira quarta srie.

    As formulaes para o ensino de Histria a partir das sries ou ciclos iniciais do

    ensino fundamental sofrem variaes, mas visam a ultrapassar limitao de uma

    disciplina aprendida com base nos efeitos dos heris e dos grandes personagens,

    apresentados em atividades cvicas e com figuras atemporais.

    b) Histria para alunos de quinta oitava srie

    As propostas para as sries ou ciclos finais do ensino fundamental matem, como

    nas anteriores, a caracterizao disciplinar, ministrada por um professor

    especialista. Dessa forma, os fundamentos tericos e metodolgicos so

    apresentados de maneira que explicitem os pressupostos da Histria a ser

    ensinada.

    c) Histria para o Ensino Mdio

  • A Histria proposta para o ensino mdio pelos PCN mantm a organizao dos

    contedos por temas, mas sem elenc-los ou apresentar sugestes, como foi feito

    para os demais nveis. Tem como preocupao maior aprofundar os conceitos

    introduzidos a partir das sries iniciais e ampliar a capacidade do educando para o

    domnio de mtodos da pesquisa histrica escolar, reforando o trabalho

    pedaggico com propostas de leitura de bibliografia mais especfica sobre o tema

    de estudo, e com possibilidade de dominar o processo de produo de

    conhecimento histrico pelo uso mais intenso de fontes de diferentes naturezas.

    No inclui, entre seus objetivos, a formao de um historiador, mas visa dar

    condies de maior autonomia intelectual ante os diversos registros humanos,

    assim como aprofundar o conhecimento histrico da sociedade contempornea.

    Sobre os objetivos do ensino de Histria

    Um dos objetivos centrais do ensino de Histria, na atualidade, relaciona-se sua

    contribuio na constituio de identidades. A identidade nacional, nessa perspectiva

    uma das identidades a serem constitudas pela Histria escolar, mas, por outro lado,

    enfrenta ainda o desafio de ser entendida em suas relaes com o local e o mundial.

    Temas para o ensino de Histria

    A organizao de estudo de Histria por temas produz, assim, vrios problemas que

    precisam ser esclarecidos. Um deles o de distinguir entre Histria temtica, tal qual

    os historiadores a concebem na realizao de suas pesquisas, e Histria ensinada por

    eixos temticos. Essa distino fundamental tem sido pouco explicitada nas propostas

    curriculares, o que induz os vrios equvocos na prtica escolar.

    A seleo temtica proposta pelos PCN visa a ultrapassar os problemas e sugere,

    assim, a preocupao em discernir a Histria temtica, produzida pelos historiadores,

    da Histria por eixos temticos ou temas geradores, produzida pelos currculos

    escolares.

  • Os temas de ensino de Histria propostos pelos PCN so, por outro lado articulados

    aos temas transversais: meio ambiente, tica, pluralidade cultural, sade, educao

    sexual, trabalho e consumo. Essa proposta de temas interdisciplinares gera novos

    desafios para o ensino de Histria. Um deles articular os contedos tradicionais,

    como os de uma Histria poltica ou econmica, com contedos caractersticos de

    outras disciplinas, como o caso do meio ambiente ou questes de sade.

    Mtodos e contedos escolares, uma relao necessria.

    1) Contedos histricos

    Contedos escolares e tendncias historiogrficas

    a) Histria como narrativa: a Histria pode ser concebida como uma narrativa

    de fatos passados. Conhecer o passado dos homens , por principio, uma

    definio de Histria, e aos historiadores cabe recolher, por intermdio de uma

    variedade de documentos, os fatos mais importantes, orden-los

    cronologicamente e narr-los. A reconstituio do passado da nao por

    intermdio de grandes personagens serviu como fundamento para a Histria

    escolar, privilegiando-se estudos das aes polticas, militares e das guerras, e

    a forma natural de apresentar a histria da nao era por intermdio de uma

    narrativa.

    b) De uma Histria econmica Histria social: no decorrer XX, a produo

    historiogrfica passou a disputar espao com as novas cincias sociais que se

    constituam na busca de compreenso da sociedade, especialmente a sociologia,

    a antropologia e a economia. Como consequncia dessa disputa houve uma

    renovao na produo Historiogrfica com paradigmas que visam ultrapassar o

    Estoicismo. O historiador Seu Flamarem, ao sintetizar as tendncias desse

    percurso Historiogrfico, identifica duas filiaes bsicas entre os anos de 1950 e

    1968: escola dos Anlise e o dos Marxismo. O paradigma Marxista,

    desenvolvido paralelamente ao do grupo dos Anlise, tem como princpio o carter

    cientfico do conhecimento histrico, e o enfoque de sua anlise a estrutura e a

    dinmica das sociedades humanas. A anlise Marxista parte das estruturas

  • presentes com a finalidade de orientar a prxis social, e tais estruturas conduzem

    percepo de fatores formados no passado cujo conhecimento til para

    atuao na realidade hodierna. Existe assim uma vinculao epistemolgica

    dialtica entre presente e passado.

    c) Entra em cena a Histria cultural: a Histria cultural que atualmente procura

    vincular a micro Histria com a macro Histria e tem sido conhecida como nova

    Histria cultural, com propagao em escala mundial. Essa tendncia renovou a

    Histria das mentalidades, e, sobretudo, a velha Histria das ideias, inserindo-as

    em uma perspectiva sociocultural preocupada no apenas com o pensamento das

    elites, mas tambm com as ideias e confrontos de ideias de todos os grupos

    sociais.

    d) Histria do tempo ou presente como Histria: para os pesquisadores da rea

    de ensino de Histria, torna-se fundamental o domnio conceitual da Histria do

    tempo presente, a fim de que o ensino da disciplina possa cumprir uma de suas

    finalidades: libertar o aluno do tempo presente algo paradoxal primeira vista.

    Essa aparente contradio ocorre porque o domnio de uma Histria presente

    fornece contedos, mtodos de anlise do que est acontecendo e as

    ferramentas intelectuais que possibilitam aos alunos a compreenso dos fatos

    cotidianos desprovidos de mitos ou fatalismos desmobilizadores, alm de situar os

    acontecimentos em um tempo histrico mais amplo, em uma durao que contribui

    para a compreenso de uma situao imediata repleta de emoes.

    Presente como Histria, ou tambm Histria imediata, tambm comentada nas

    aulas de Histria quando acontecimentos mais trgicos so divulgados pela mdia,

    como uma espcie de exigncia por parte do aluno e pelo prprio compromisso do

    professor com a formao poltica deles. Entretanto, a Histria do tempo presente

    possui exigncias metodolgicas e conceituais, para que no se transforme em

    repeties de ensaio jornalstico pouco profundo nas anlises. Um ponto crucial

    situar essa histria dentro do conceito de contemporneo e situar sua

    periodizao. Com base no conceito de longa durao, pode se perceber que a

    histria do presente tem outras escalas de tempo e espao.

  • No que se refere ao tempo, a concepo de contemporneo est associada a uma

    temporalidade de mudanas aceleradas, e, no que se refere ao espao, trata-se

    pensar em uma Histria mundial.

    Histria Nacional ou Mundial

    a) Tendncias e perspectivas do ensino de Histria no Brasil

    Os contedos de Histria do Brasil so apresentados, na maior parte dessas obras

    escassamente. A diminuio dos contedos referentes ao Brasil explica-se, no pela

    sua insero em uma Histria integrada, mas pela opo terica que continua

    priorizando apenas as explicaes estruturais para as situaes nacionais ou

    regionais. a Histria do Brasil aparece como um apndice da Histria Global. E sua

    existncia deve ao desenvolvimento do capitalismo comercial,a partir da expanso

    martima europeia. A macro Histria, pela lgica, a chave para a compreenso de

    nossa condio de pas permanentemente perifrico do sistema econmico capitalista.

    A Histria do Brasil precisa necessariamente ser e estar integrada Histria Mundial

    para que seja entendida em suas articulaes como a Histria em escala mais ampla

    em sua participao nela. A Histria mundial no pode estar limitada ao conhecimento

    sobre a Histria do mundo, que na realidade a Histria da Europa. No se trata de

    negar a importncia e o legado da Europa para a nossa Histria; trata-se, antes, de

    no omitir outras Histrias de nossas heranas americanas e africanas.

    b) Histria regional e nacional

    A Histria regional passou a ser valorizada em virtude da possibilidade de

    fornecimento de explicaes na configurao, transformao e representao social

    do espao nacional, uma vez que a Historiografia nacional ressalta as semelhanas,

    enquanto a regional trata das diferenas e da multiplicidade. A Histria regional

    proporciona na dimenso do estudo do singular, um aprofundamento do conhecimento

    sobre a Histria nacional, ao estabelecer relaes entre as situaes Histricas

    diversas que constituem a nao.

  • c) Cotidiano e Histria local

    Os estudos da Histria do cotidiano conduziram historiadores franceses, brasileiros e

    argentinos, entre outros, elaborao de coletneas sobre a Histria da vida privada,

    tendo, entretanto, o cuidado de no situar os temas da vida cotidiana de forma isolada

    dos contextos histricos e dos temas tradicionais. Por exemplo, os autores da obra

    Historia da vida privada no Brasil advertem que a reconstituio de aspectos

    cotidianos, e da vida privada, se fez no processo histrico da formao brasileira.

    No se pretendeu a reconstituio de hbitos, gestos e amores como se estes nada

    tivessem que ver com a organizao mais ampla da sociedade, da economia, do

    estado.

    A Histria local, por outro lado, tem sido elaborada por historiadores de diferentes

    tipos. Polticos ou intelectuais de diversas provenincias tm se dedicado a escrever

    Histrias locais com objetivos distintos, e tais autores geralmente so criadores de

    memrias mais do que efetivamente de Histria. A memria sem duvida aspecto

    relevante na configurao de uma Histria local tanto para historiadores quanto para

    ensino.

    d) Histria local ou Historia do lugar

    A Histria do lugar como objetivo do estudo ganha, necessariamente, contornos

    temporais e espaciais. No se trata, portanto, ao se proporem contedos escolares da

    Histria local, de entend-los apenas na Histria do presente ou de determinado

    passado, mas de procurar identificar a dinmica do lugar, as transformaes do

    espao articular esse processo s relaes externas, a outros lugares.

    Aprendizagens em Histria

    O conhecimento histrico no se limita a apresentar o fato no tempo e no espao acompanhado de uma srie de documentos que comprovam sua existncia. preciso ligar o fato a temas e aos sujeitos que o produziam para busca uma explicao. E para explicar e interpretar os fatos, preciso uma anlise, que deve obedecer a determinados princpios.

  • Nesse procedimento, so utilizados conceitos que organizam os fatos, tornando-os inteligveis. (Bittencourt, Circe)

    A formao de conceitos: confronto entre Piaget e Vygotsky

    Para Piaget, a apreenso dos conceitos s ocorrer quando houver uma maturao

    interna e biolgica por parte do indivduo. Piaget no considera relevante a interao

    do indivduo em seu meio social, ou seja, para este autor no importa a histria de

    vida dos educandos.

    Segundo Bittencourt, em contraposio s ideias piagetianas, encontramos as ideias

    de Vygotsky que valoriza o conhecimento prvio do aluno, chamado de conhecimento

    espontneo, e busca relacion-lo ao conhecimento cientfico, reconhecendo assim a

    importncia da Escola na formao de conceitos, pois essa capacidade s se obtm

    atravs da aprendizagem organizada e sistematizada.

    Vygotsky, embora reconhea os estgios de desenvolvimento cognitivo, defende que a

    formao de conceitos depende muito do meio social e da vida cotidiana de cada

    criana. Portanto, para ele, a criana no aprende s na escola; preciso respeitar o

    conceito prvio que o aluno possui e buscar aproximar essa bagagem de senso

    comum ao conhecimento academicamente produzido de forma sistematizada.

    Reflexes sobre o conhecimento prvio dos alunos.

  • As novas interpretaes sobre a aprendizagem conceitual e a importncias das

    interferncias sociais e culturais nesse processo erigiram o aluno e seu conhecimento

    prvio como condio necessria para a construo de novos significados e

    esquemas. Como consequncia, a psicologia social passou a contribuir para reflexo a

    cerca das sequncias de aprendizagens, partindo do conhecimento prvio dos alunos.

    No que se refere ao conhecimento histrico, essa posio torna-se ainda mais

    relevante, levando em conta as experincias histricas vividas pelos alunos e as

    apresentaes da Histria apresentada pela mdia cinema e televiso em particular -

    por parte das crianas e dos jovens em seu cotidiano. A Histria escolar no pode

    ignorar os conceitos espontneos formados por intermdio de tais experincias.

    Conceitos fundamentais

    a) Histria e conceitos: no exerccio do seu oficio, os historiadores empregam

    conceitos especficos especialmente produzidos para a compreenso de

    determinado perodo histrico. Segundo alguns historiadores existem as

    noes histricas singulares, tais como renascimento, mercantilismo,

    descobrimento da Amrica, feudos medievais, cruzadas, repblica velha.

    Muitos dos conceitos criados pelos historiadores tornaram-se verdadeiras

    entidades a designar povos, grupos scias, sociedades, naes: povos

    brbaros, bandeirantes, colonato, donatrios das capitanias, patriciado

    romano, democracia ateniense, mercadores. Esse conceito tem sido

    consolidado pela comunidade de historiadores e so delimitados no tempo e no

    espao. A histria escolar utiliza essas noes e conceitos com bastante

    familiaridade, a ponto de acabarem por designar contedos programticos e

    constiturem captulos de livros didticos.

    b) Apreenso de conceitos histricos na escola: o conhecimento histrico

    escolar, comparado ao historiogrfico, informaes e acrescenta o autor

    francs Henri Moniote valores, especialmente os cvicos, que se relacionam

    formao da cidadania.

    As especificidades dos conceitos histricos, a ser apreendidos no processo de

    escolarizao, tm conotaes prprias de formao intelectual e valorativa, e a

    preciso conceitual torna-se fundamental para evitar deformaes ideolgicas. A

  • Histria possui um contedo escolar que necessita estar articulado, desde o incio

    da escolarizao, com os fundamentos tericos para evitar conotaes meramente

    morais e de sedimentao de dogmas. Para Moniote, o ensino da disciplina

    justia-se em todo o processo de escolarizao, se estiver aliado necessidade de

    domnio e preciso de conceitos. Dessa concepo, vem suas criticas teoria

    piagetiana dos estgios de desenvolvimento, a qual serviu para impedir o ensino

    da Histria para crianas e jovens de determinadas faixas etrias.

    Pilar Maetro, historiadora espanhola em seu texto Um nueva concepcion del

    apredizage de la Histria critica as interpretaes e as pesquisas baseadas nas

    concepes piagetianas, e afirma que a convico de impossibilidades de um

    conhecimento slido da Histria escolar teve consequncias considerveis,

    levando a disciplina a tornar-se um saber secundrio. Considera ainda que,

    embora tenha havido interferncia de outros fatores para a criao dessa viso,

    sobretudo o iderio de uma sociedade industrial e tecnocrtica, que proclama as

    virtudes do conhecimento cientfico e tcnico, certo que esta teoria concedeu

    respaldo cientfico a essa limitao distorcida do papel da Histria do currculo.

    Conceitos histricos fundamentais (noo de tempo e de espao)

    Uma reflexo inicial sobre as noes de tempo necessria para esclarecer as

    especificidades do tempo histrico. H o tempo vivido, o tempo de experincia

    individual: o tempo psicolgico os acontecimentos agradveis parecem passar

    rpidos e os desagradveis parecem durar mais tempo.

    O tempo vivido tambm o tempo biolgico que se manifesta nas etapas de vida

    da infncia, adolescncia, idade adulta e velhice. Na nossa sociedade, o tempo

    biolgico marcado por anos de vida geralmente comemorados nas festas de

    aniversario, evidenciado em idades bem limitadas, que possibilitam a entrada na

    escola, na vida adulta a maioridade -, o direito de votar, de dirigir automveis, o

    alistamento militar... Em culturas indgenas, as passagens do tempo biolgico,

    embora no sejam delimitadas por idades, tem marcas ritualsticas importantes,

  • realizadas por cerimnias que indicam as fases de crescimento e de novas

    responsabilidades perante a comunidade.

    O tempo concebido varia de acordo com as culturas e gera relaes diferentes

    como o tempo vivido.

    Na sociedade capitalista, tempo dinheiro, no se pode perder tempo, e as

    pessoas so controladas pelo relgio. Para alguns grupos indgenas brasileiros, e

    mesmo de outros lugares essa concepo, gera algumas perplexidades. Uma

    delas receber dinheiro pelo tempo de trabalho, e no pelo produto realizado. Tal

    procedimento provoca, vezes, a incompreenso de muitos povos indgenas que

    trabalham como assalariados para os brancos e acolhem mal a ideia das oito

    horas de trabalho, os feriados de domingos, uma vez que o tempo cclico o mais

    significativo para eles, e indica outras formas de ordenar o trabalho ou mesmo o

    descanso, o lazer, a festas, associando-o ao tempo da chuva, da seca, de plantar

    e colher e dos respectivos rituais. A semana de sete dias no faz parte do tempo

    indgena, das aldeias, bem como os anos, os meses, as mudanas dos fusos

    horrios.

    Historiadores e o tempo histrico

    Tempo e espao constituem os materiais bsicos dos historiadores. De fato,

    qualquer escrita da Histria fundamenta-se em uma dimenso temporal e espacial.

    Um dos objetivos bsicos da Histria compreender o tempo vivido em outras

    pocas e converter o passado em nossos tempos. A Histria prope-se reconstituir

    o tempo, distante da experincia do presente e, assim, transform-lo em tempos

    familiares para ns.

    Tempo histrico e espao

    Os historiadores, alm de se preocuparem em situar a aes humanas no tempo,

    tm a tarefa de situ-las no espao. No se pode conceber um fazer humano

  • separado do lugar onde esse fazer ocorre. O ambiente natural ou urbano, as

    paisagens, o territrio, a trajetrias, os caminhos por terra e por mar so

    necessariamente parte do conhecimento histrico. Mudanas dos espaos

    realizadas pelos homens assim como as memrias de lugares tambm integram

    esse conhecimento.

    Tempo histrico e ensino

    Tempo/Espao e mudana social.

    Entre os conceitos histricos fundamentais destacam-se

    a) o tempo histrico

    b) o espao;

    Mas ressaltamos que a cronologia se faz necessria, porm as crianas devem entender que existem outras temporalidades, que o tempo percebido pelas diversas sociedades de maneira diferente, importante ainda ressaltar a diferena entre tempo cronolgico de tempo histrico que igual a tempo vivido. Em suma importante que os alunos conheam a cronologia os marcos, porm no de uma forma rgida.

    A Histria prope-se a reconstruir os tempos distantes da experincia do presente e

    assim transform-los em tempos familiares para ns.

    (...) Assim podemos considerar que a funo do professor possibilitar ao estudante

    a reflexo sobre o presente pelo estudo do passado.

    A prtica de ensino de Histria, com alunos de diversos nveis de escolarizao,

    demonstrou alguns dos obstculos enfrentados pelo professores para efetivar essa

    um dos objetivos bsicos da Histria compreender o tempo vivido de

    outras pocas e converter o passado em nossos tempos.

  • aprendizagem. O aspecto que estes destacaram, como a maior dificuldade dos alunos,

    relaciona-se localizao ou identificao dos acontecimentos no tempo; mais

    especificamente identificao dos sculos e do perodo antes do Cristo (a.C) e

    depois de Cristo (d.C). E s dataes decorrentes dessa diviso temporal.

    Verificou-se assim que o tempo histrico, ao qual os professores se referiam, limitava-

    se a se ao tempo cronolgico.

    Tempo era, portanto sinnimo de tempo histrico.

    No caso do ensino do tempo cronolgico para as sries iniciais, interessante vincul-

    los noo de gerao. Pais, avs, os vestgios do passado de pessoas ou familiares

    mais velhos mostram um momento diferente do atual, revelando uma Histria e as

    transformaes sociais possveis de serem percebidas nas relaes com o tempo

    vivido da criana.

    Procedimentos metodolgicos no ensino de Histria

    Mtodos tradicionais versus Mtodos inovadores

    Existe uma ligao entre o mtodo tradicional e uso de lousa, giz e livro didtico: o

    aluno, em decorrncia da utilizao desse material, recebe de maneira passiva uma

    carga de informaes que, por sua vez, passam a ser repetidas mecanicamente, de

    forma oral ou por escrito, com base naquilo que foi copiado no caderno ou respondido

    nos exerccios propostos pelos livros.

    As mudanas de mtodos e contedos precisam ser entendidas luz da concepo

    de tradio escolar, sendo necessrio perceber, por intermdio desse conceito, dois

    aspectos fundamentais.

    1. Cria-se a ideia de que em educao preciso sempre inventar a roda, embora

    baste verificar que muito do que se pensa ser novo j foi experimentado muitas

    outras vezes.

    2. Entender que muito do tradicional deve ser mantido, porque a prtica escolar j

    comprovou que muitos contedos e mtodos escolares tradicionais so

  • importantes para a formao dos alunos e no convm que sejam abolidos ou

    descartados em nome do novo.

    Reflexes sobre o mtodo dialtico em situao pedaggica

    O mtodo dialtico corresponde a um esforo para um progresso do conhecimento

    que surge no confronto de teses opostas: o pr e o contra, o sim e o no, a afirmao

    e a negao. O confronto das teses opostas possibilita a elaborao da crtica. Esse

    mtodo pretende chegar ao conhecimento de determinado objetivo ou fenmeno

    defrontado teses contrarias, divergentes. Tais teses, no entanto, no so apenas

    divergentes; so opostas e por vezes contraditrias, e necessria qualidade que se

    confrontam pelas contradies. Muito estudiosos, especialmente, os filsofos,

    destacando-se os alemes Friedrich Hegel (1770-1831) e Karl Marx (1818-1883),

    dedicaram-se explicitao do mtodo dialtico e de suas reflexes derivam muitos

    estudos sobre a questo.

    Um ponto inicial, ao se propor a introduo do mtodo dialtico no ensino, identificar

    o objeto de estudo para os alunos e situ-los como um problema (com prs e contras)

    a ser desvendado com a utilizao da anlise da decomposio de elementos, para

    posteriormente esse objeto voltar a ser entendido como um todo.

    Representaes sociais e princpios metodolgicos de pesquisa em sala de aula

    A representao social entendida como uma modalidade particular de conhecimento.

    O termo designa, ao mesmo tempo, o produto, o processo, os contedos de

    conhecimento e os mecanismos de constituio e de funcionamento do produto.

    Considerando a representao social na situao educacional, o fundamental

    identificar os conhecimentos adquiridos pela experincia de vida, pela mdia etc. Que

    estejam solidamente enraizados, porque so uma construo pela qual o jovem se

    apropria do real, tornando-o inteligvel. Mas a representao social ultrapassa essa

    atividade de conhecimento prtico e preenche igualmente uma funo de

    comunicao. Ela permite s pessoas se inseriram em um grupo e realizarem trocas,

    intervindo na definio individual e social, na forma pela qual o grupo se expressa. O

  • jovem (adverte Denise Jodelet, outra estudiosa das representaes sociais) possui

    domnio pertinente sobre numerosos objetos de estudo. Pertinente porque adaptado

    aos problemas que ele teve de conhecer ou resolver, e no pertinente do ponto de

    vista que a priori interessa ao professor, preocupado com o entendimento cientfico do

    objeto ou, pelo menos, da matria ensinada. Aquele conhecimento tem, alem do mais,

    um carter de autoridade, legitimidade, porque por meio dele que o indivduo

    estabelece comunicao com o grupo ao qual pertence.

    As representaes como instrumento de avaliao e diagnstico

    Ao possibilitar, por intermdio de debates e discusses orais, e de respostas a

    questionrios cuidadosamente preparados, a exposio das representaes sociais

    dos alunos sobre determinado objeto, criam-se condies para que eles identifiquem

    os diferentes tipos de conhecimento:

    o proveniente da vivncia, das formas de comunicao diria que organizam

    suas representaes sobre a realidade social (expressa notadamente pelas

    expresses eu penso, eu acho, na minha opinio...),

    e o conhecimento sobre essa mesma realidade proveniente do mtodo

    cientfico.

    Ademais, fazer emergirem as representaes sociais dos alunos sobre o objeto de

    estudo, no decorrer das aulas, permite, ao professor, meios de avaliar os prprios

    alunos e o curso em sua integralidade.

    Procedimento metodolgico em prticas interdisciplinares

    Meio ambiente e Histria

    A Histria ambiental foi se constituindo basicamente em torno de um objetivo comum:

    investigar como os homens, em diferentes sociedades, ao longo dos sculos, foram

    afetados pelo meio ambiente, e, de maneira recproca, como o ambiente foi afetado

    pelos homens. Os historiadores esclarecem que a Histria ambiental trata do papel e

    do lugar da natureza na vida do homem Worster (1991). Vrios temas passaram a

  • constitu-la e um levantamento parcial demonstra o crescimento da rea entre os

    historiadores brasileiros, embora sejam os norte americanos e europeus os lderes

    dessa produo.

    A Histria do meio ambiente no Brasil fortaleceu-se com a contribuio de um norte

    americano, o brasilianista Warren Dean, que em meados dos anos 80, se dedicou a

    analisar a relao entre a sociedade e o meio ambiente no Brasil.

    Interdisciplinaridade e prtica de ensino de Histria ambiental

    Alguns princpios fundamentais que devem permear e estruturar as disciplinas

    envolvidas em trabalho que se baseiam na concepo de conhecimento escolar

    integrado. Para a educao ambiental, um dos princpios articuladores o da natureza

    ser dinmica e no poder ser entendida como esttica, sendo necessrio perceb-la

    em seu movimento. Outro principio aparentemente obvio, mas pouco explicito, o que

    estabelece o homem como parte integrante da natureza.

    Estudo do meio como prtica interdisciplinar

    O estudo do meio uma prtica pedaggica que se caracteriza pela

    interdisciplinaridade. Em relatos de escolas anarquistas de So Paulo do inicio do

    sculo XX, j se nota a preocupao dos educadores da linha pedaggica de Ferrer

    de colocar o aluno em contato com o meio social ou em situao de observao direta

    dos fenmenos naturais, para lhe proporcionar um estudo mais interativo e envolvente.

    O educador francs Celestin Freinet foi um dos ardentes defensores do estudo da

    realidade prxima do aluno, sendo esta prtica uma das bases de seu mtodo.

  • O estudo do meio orienta-se tambm para o atendimento da formao intelectual dos

    alunos. Um objetivo central dessa prtica o desenvolvimento da capacidade de

    observao do educando. A observao como procedimento de investigao em, um

    estudo do meio, destacada por Ligia Possi (1993): observao simples,

    observao participante e observao sistemtica.

    Materiais Didticos: concepo e uso.

    Materiais didticos para a Histria escolar

    Para Bittencourt, o livro didtico e as imagens so interferidos por fatores mercadolgicos, tcnicos e editoriais. A pesquisadora ressalta que devido s imagens dos livros didticos brasileiros serem reprodues feitas por desenhistas, ( reduz os gastos), no apresenta informaes para a uma integral anlise.Por conceber as imagens como elementos importantes para a aprendizagem dos alunos, a autora assinala que os professores devem estar em alerta para as falhas que podem ter esse material didtico e a suas implicaes no aprendizado dos alunos. Ressalta ainda que as imagens no devam ser ferramentas decorativas, mas sim propiciadoras da apreenso e entendimento dos alunos sobre os assuntos. Bittencourt afirma que o professor deve ensinar ao seu aluno, a ler a imagem como objeto e como sujeito

    Os suportes informativos correspondem a todo discurso produzido com a inteno de

    comunicar elementos do saber das disciplinas escolares. Nesse sentido temos toda a

    srie de publicaes de livros didticos e paradidticos, Atlas, dicionrios, apostilas,

    cadernos, alem das produes de vdeo, CDS e DVDS e material de computador. Os

    O estudo do meio um mtodo de investigao cujos

    procedimentos se devem ater a dois aspectos iniciais. O primeiro

    deles que esse mtodo um ponto de partida, no um fim em

    si mesmo. O segundo que sua aplicao resulta sempre de um

    projeto de estudo que integra ou parcial.

  • suportes informativos pertencem ao setor da indstria cultural e so produzidos

    especialmente para a escola, caracterizando por uma linguagem prpria, por um tipo

    de construo tcnica que obedece a critrios de idade, vocabulrios, extenso e

    formatao de acordo com princpios pedaggicos.

    Material didtico: instrumento de controle curricular

    Um aspecto fundamental a ser considerado em anlise sobre material didtico o

    papel de instrumento e de controle do ensino por parte dos diversos agentes do poder.

    Michel Apple, no artigo Controlando a forma do currculo, alerta para a relao entre

    produo e consumo de material didtico e desqualificao do professor. O

    despreparo do professor, resultante de cursos sem qualificao adequada, e as

    condies de trabalho na escola, muitas vezes, favorecem, segundo o autor, uma

    cultura mercantilizada que transforma cada vez mais a escola em um mercado

    lucrativo para a indstria cultural, com oferta de materiais que so verdadeiros pacotes

    educacionais.

    Livro didtico: um objeto cultural complexo

    A produo da literatura didtica tem sido objeto de preocupaes especiais de

    autoridades governamentais, e os livros escolares sempre foram avaliados segundo

    critrios especficos ao longo da Histria da educao. Os livros de Histria,

    particularmente, tm sido vigiados tanto por rgos nacionais como internacionais,

    sobretudo aps o fim da Segunda Guerra Mundial. A partir da segunda metade do

    sculo passado, divulgam-se estudos crticos sobre os contedos escolares, nos quais

  • eram visveis preconceitos, vises estereotipadas de grupos e populaes. Como se

    tratava da fase ps-guerra, procurava-se evitar, por intermdio de suportes

    educacionais, qualquer manifestao que favorecesse qualquer sentimento de

    hostilidade entre os povos. Nessa perspectiva, a Histria foi uma das disciplinas mais

    visadas pelas autoridades. Essa vigilncia visvel ainda na atualidade, como bem o

    demonstra a imprensa peridica.

    A familiaridade como o uso de livro didtico faz com que seja fcil identific-lo e

    estabelecer distines entre ele e os demais livros. Entretanto, trata-se de objeto

    cultural de difcil definio, por ser obra bastante complexa, caracterizada pela

    interferncia de vrios sujeitos em sua produo, circulao e consumo. Pode

    assumir funes diferentes, dependendo das condies, do lugar e do momento em

    que produzido e utilizado nas diferentes situaes escolares. um objeto de

    mltiplas facetas, e para sua elaborao existem muitas interferncias.

    Entre livros didticos pesquisados, os de Histria tem sido os mais visados. Em estudo

    recente sobre o predomnio de investigao da produo didtica nessa rea a partir

    da segunda metade do sculo passado na Alemanha e na Europa em geral, a

    historiadora Verena R Garcia destaca o papel poltico dos manuais escolares de

    Histria, considerando-os verdadeiras autobiografias dos Estados modernos. Tendo

    em vista o momento poltico do ps-guerra, perodo extremamente complexo para as

    relaes entre pases participantes da Segunda Guerra Mundial - explica a

    pesquisadora - houve a criao na Alemanha, de uma instituio encarregada de

    revisar os manuais escolares. O objetivo inicial era detectar erros e preconceitos no

    livro didticos por intermdio de estudos comparativos em escala internacional.

    Caracterizao dos livros de Histria

    Certas pesquisas sobre livros didticos permitem identificar algumas caracterstica

    dessa produo e mostram que ela esta em processo de mudana.

    Um dos mais importantes pesquisadores de livros didticos, o historiador francs Alain

    Choppin, tem afirmado que os manuais esto, na atualidade, convertendo-se de uma

  • ferramenta polifnica, com varias funes. As funes atuais do livro didtico so:

    avaliar a aquisio dos saberes e competncias; oferecer uma documentao

    completa provenientes de suportes diferentes; facilitar aos alunos a apropriao de

    certos mtodos que possam ser usados em outras situaes e em outros contextos.

    Do ponto de vista da forma, entre ns, os livros didticos tm sofrido muitas mudanas

    nos ltimos anos, e se adaptado ao referencial do Programa Nacional do Livro

    Didtico.

    Os livros so produzidos em forma de colees, que se destinam s diferentes sries

    do ensino fundamental e, obrigatoriamente, apresentam o livro do aluno e do

    professor.

    Sua importncia reside na explicitao e sistematizao de contedos histricos

    provenientes das propostas curriculares e da produo historiogrfica. Autores e

    editoras tm sempre, na elaborao dos livros, o desafio de criar esse vnculo.

    Contedos pedaggicos

    Os contedos tm outra caracterstica que precisa ser analisada: a articulao entre

    informao e aprendizagem. A anlise do discurso veiculado pelo livro didtico

    indissocivel dos contedos e tendncias historiogrficas de que portador.

    Entretanto, deve-se levantar algumas questes sobre essa qualificao impositiva do

    texto, ao se ater s relaes entre o contedo da disciplina e o contedo pedaggico.

    importante perceber a concepo de conhecimento expressa no livro; alm de sua

    capacidade de transmitir determinado acontecimento histrico, preciso identificar

    como esse conhecimento deve ser aprendido. O conjunto de atividades contidas em

    cada parte ou capitulo fornece as pistas para avaliar a qualidade do texto no que se

    refere s possibilidades de apreenso do contedo pelos estudantes. O conhecimento

    contido nos livros depende ainda da forma pela qual o professor o faz chegar ao aluno.

    Prticas de leitura de livros didticos

  • A utilizao do livro didtico pelos professores bastante diversa. Algumas das

    pesquisas sobre esse tema revelam que no existe modelo definido e homogneo nas

    prticas de leitura, conforme pressupunha muitas das anlises sobre a ideologia dos

    contedos escolares das obras didticas.

    o poder da ideologia reside em uma imposio sem mediaes e toda ideologia integralmente incorporada por alunos e professores. (?)

    Embora no se possa negar e omitir o papel dos valores e da ideologia nas obras

    didticas, as concluses de muitas das atuais pesquisas sobre as prticas de leitura

    desse material tem apontado para a importncia das representaes sociais na

    apreenso de seu contedo e mtodo. A recepo feita pelos os usurios variada,

    at porque o pblico escolar no construdo por um grupo social homogneo.

    Usos didticos de documentos

    Os documentos tambm so materiais mais atrativos e estimulantes para os alunos e

    esto associados aos mtodos ativos ou ao construtivismo, conforme algumas

    justificativas de algumas propostas curriculares.

    Mtodos de anlise de documentos

    O primeiro passo o professor saber como o documento utilizado na investigao

    do historiador, para, em seguida, poder apropriar-se do procedimento de anlise tendo

    em vista outras situaes de estudos histricos.

    A compreenso de um documento em toda sua complexidade deve tambm se pautar

    pela reflexo de outro historiador.

  • O uso de documentos nas aulas de Histria justifica-se pelas contribuies que pode

    oferecer para o desenvolvimento do pensamento histrico. Uma delas facilitar a

    compreenso do processo de produo do conhecimento histrico pelo entendimento

    de que os vestgios do passado se encontram em diferentes lugares, fazem parte da

    memria social e precisam ser preservados como patrimnio da sociedade.

    Documentos escritos: jornais e literatura

    Os documentos escritos so os mais comuns e os que, tradicionalmente, tm sido

    usados por historiadores e professores nas aulas de Histria. No raro, encontramos

    documentos, usados com fins pedaggicos, em muitos livros didticos, ou em

    coletneas, que selecionam textos escritos de diferente natureza, tais como textos

    legislativos, artigos de jornais e revistas de diferentes pocas, trechos literrios e, mais

    recentemente, poemas e letras de msicas.

    Literatura Como Um Documento Interdisciplinar

    Romances, poemas, contos so textos que contribuem, pela sua prpria natureza,

    para trabalhos interdisciplinares. O uso de textos literrios, por outras disciplinas, faz

    parte de uma longa tradio escolar, que remonta a poca em que dominava o

    perodo humanstico.

    Atualmente, a literatura integra os contedos das aulas de Lngua Portuguesa, mas

    tem sido utilizada por outras disciplinas, a ponto de existirem muitos exemplos de

    atividades integradas entre duas ou mais tendo por base textos literrios. Para o caso

    da Histria, o enlace como o ensino de literatura sempre desejvel. Muitas prticas

    de ensino optam pelo relato de lendas a alunos das sries iniciais do ensino

    fundamental como meio de introduzir conhecimentos histricos, alm de procurar

  • favorecer o gosto pela leitura por intermdio de uma literatura adequada a essa faixa

    etria.

    Documentos Escritos Cannicos

    Entre os documentos escritos, os produzidos pelo poder institucional so bastante

    usuais na pesquisa historiogrfica, notadamente naquela afinada com a tradio de

    uma Histria poltica que se preocupa com o poder institucional e privilegia o papel do

    Estado nas transformaes histricas. O ensino de Histria pautado por essa linha no

    se utilizou, no entanto, de documentos legislativos.

    Em livros didticos, no comum encontrar documentos provenientes do poder

    institucional para serem explorados do ponto de vista pedaggico. So