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CEZAR ROBERTO BITENCOURT CÓDIGO PENAL 2002 - _ ;H O 1C ; JC, TrOCi -. c"- Editora Saraiva

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Page 1: Bitencourt - CP Comentado

CEZAR ROBERTO BITENCOURT

CÓDIGO PENAL

2002

- _ ;H O

1C ; JC , TrOCi -.

c"- Editora Saraiva

Page 2: Bitencourt - CP Comentado

DOAÇÂO/JIPCIENCIAS JURIDICAS Registro N°679. 467 atra:20/051201 2

Aula BITENCOURT, CEZAil ROBERTO

filula000100 PENAL 0CMENTIDO

Pleça40.110

Doada:DIVERSOS ISBN 85-02-03352-2

Dados internacionais de Celaiegação na Publicaçãe (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Bilencourt, Cezar Roberto Código penal cementado / Gozar Roberto Bitencourt. — São Paula :

Saraiva, 2002.

1. Direito penal - Legislação I. Titulo.

01-5167 CDU-343(91)(094.46)

indicas para catálogo sislernalico:

1. Brasil : Código penal comentado 303(81)(094.46) 2. Código penal : Comenlanos : Brasil 343(81(094.46)

6932

G* Editan

Saraiva Avenida Marques de Sãe Vicente, 1697 — CEP 01139-904 — Barra Funda — São Paulo - SP

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s. Ao saudoso Ministro

FRANCISCO DE ASSIS TOLEDO, P • . oito invulgar, ma- . gistrado exemplar e condutor da renovação do Direito Penal brasileiro, na segunda metade do século XX.

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CÓDIGO PENAL

DECRETO-LEI N. 2.848, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940*

O Pau/denteS RepúblIc4 usando de atribulçio que lhe com ler e a int 180 da Constitulplo, decreta seguinte Lei:

— V. art. 22, I, da CF.

PARTE GERAL

Título I DA APLICAÇÃO DA LEI PENAL

Antenbridade da lei

Art. 1° Não há crime sem lei anterior que o def ina. Não há pena sem prévia cominação legal.

- V. art. 52, XXXIX e XL, da CF.

— V. arts. 22 e 32 do CPP. — V. art. 1 2 do Dec.-lei n.3.914/41 (Lei de Eitiodução ao Código Penal) e LCP. — V. art. 61 da Lei n. 9099/95 (Juizados Especiais).

I — DOUTRINA ..

• I. Considerações introdutórias .,

.. . ,

As idéias de igualdade e de liberdade, apanágios do Iluminismo, deram ao Direito Penal um caráter formal menos cruel do que aquele que predominou du-rante o Estado Absolutista, impondo limites à intervenção estatal nas liberdades

Publicado no Diário Oficial da União de 31 de dezembro de 1940: retificado em 3 & janeiro de 1941.

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Art.1 2 Código Penal Código Penal Art1ii

individuais. Muitos desses princípios limitadores passaram a integrar os Códigos Penais dos países demucrâticos e, afinal, receberam assento constitucional, corno garantia máxima de respeito aos direitos fundamentais do cidadão.

2. Principio da legalidade ou da reserva legal

O princípio da legalidade ou da reserva legal constitui efetiva limitação ao poder punitivo estatal. Feuerbach, no início do século XIX, consagrou o princípio da reserva legal por meio da fórmula latina nullum crineen, trulla poena sine lege. O

principio da reserva legal é um imperativo que não admite desvios nem exceções e representa uma conquista da consciência jurídica que obedece a exigências de jus-tiça; somente os regimes totalitários u têm negado.

2.1. Competência legislativa: corolário da reserm legal

Pelo principio da legalidade, a elaboração de normas incriminadoras é fun-ção exclusiva da lei, isto é, nenhum fato pode ser considerado crime e nenhuma pena criminal pode ser aplicada sem que antes da ocorrência desse fato exista uma lei definindo-n como crime e cominando-lhe a sanção correspondente. A lei deve definir com precisão e de foima cristalina a conduta proibida.

2.2. "Nulluni crinien, nulla poena sine lege"

Seguindo a orientação moderna, a Constituição brasileira de 1988, ao prote-ger os direitos e garantias fundamentais, em seu art. 5, XXXIX, determina que "não haverá crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal".

3. Principio da irretroatividade da lei penal

Há uma regra dominante em termos de conflito de leis penais no tempo. É a da irretroatividade da lei penal, sem a qual não haveria nem segurança nem liber-dade na sociedade, em flagrante desrespeito ao principio da legalidade e da anterio-ridade da lei, consagrado no arl. P da CP e no art.5ê, XXXIX, da CF.

33. Origem do princípio da irretroatividade

A irretroatividade, como princípio geral do Direito Penal moderno, embora de origem mais antiga, é coirseqtiência das idéias consagradas pelo Iluntinismo, insculpida na Declaração Francesa dos Direilos do Homem e do Cidadão de 1789. Embora conceitualmente distinto, o princípio da irretroatividade ficou desde então incluído no principio da legalidade, constante também da Declaração Universal dos Direitos do Homem, de 1948.

3.2. Retroatividade da lei mais benigna . Contudo, o princípio da irraroatividode vige somente em relação â lei mais

severa. Admite-se, no direito intertemporal, a aplicação retroativa da lei mais favo-róvel (art. 5 2, XL, da CF). Assim, pode-se resumir a questão no seguinte princípio: o da retroatividade da lei penal mais benigna. A lei nova que for mais favorável ao réu sempre retmage.

4. Principio da intervenção mínima

O princípio da intervenção mínima, também conhecido como ultima ratia, orienta e limita o poder incriminadurdn Estado, preconizando que a criminalização de uma conduta só se legitima se constituir meio necessário para a proteção de determinado bem jurídica Se outras formas de sanção nu outros meios de controle

social revelarem-se suficientes para a tutela desse bein, a sua criminalização é ina-dequada e não recomendável. Separar) restabelecimenty da ordem jurídica viola-da forem suficientes medidas civis ou administrativas, são estas que devem ser

empregadas e não as penais. Por isso, o Direito Penal deve ser a ultima safio, isto é,

deve atuar somente quando os demais ramos do Direito revelarem-se incapazes de dar a tutela devida a bens relevantes na vida do indivíduo e da própria sociedade.

4.1. Fundamento política da "ultima rano" A razão deste principio — afirma Claus Roxin — "radica em que o castigo

penal coloca em perigo a existência social do afetado, se a situa â margem da sociedade e, com isso, produz também um dano social". Por isso, antes de recorrer ao Direito Penal deve-se esgotar todos os meios extrapenais de controle social.

4.2. Deturpação do função do Direito Renal Apesar de o princípio da intervenção mínima ter sido consagrado pelo

Iluministno, a partir da Revolução Francesa, "a verdade é que, a pmir da segunda década do século XIX, as normas penais incriminadoras cresceram desmedida-mente, a pnnm de alarmar os penal istas dos mais diferentes parâmetros culturais".

4.3. Criminaligação e penalização: políticas populistas Os legisladores contemporâneos — tanto de primeiro como de terceiro mun-

do— têm abusado da criminalizaçau e da penalização, em franca contradição com

o princípio em exame, levando ao descrédito não apenas o Direito Penal, mas a sanção criminal, que acaba perdendo sua força intimidativa diante da "inflação

legislativa" reinante nos ordenamentos positivas.

5. Principio da fragmentariedade

Resumindo, "catáter fragmentário" do Direito Penal significa que o Direito

Penal não deve sancionar todas as condutas lesivas dos bens jurídicos, 0125 tão-

somente aquelas condutas mais graves e mais perigosas pralicadas conta bens

mais relevantes.

51. Seletividade em razão da importância do bem jurídico

O Direito Penal limita-se a castigar as ações mais graves praticadas contr;os

bens jurídicos mais importantes, decorrendo dai o seu curdter fragmentária, uma

vez que se ocupa somente de uma parte dos bens jurídicos protegidos pela ordem jurídica. "Faz-se uma tutela seletiva do bem jurídico, limitada àquela tipologia agressiva que se revela dotada de indisculivel relevância quanto à gravidade e In-

tensidade da ofensa" (Luiz R. Prado).

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Art. 1° Código Penal

Código Penal Art 12

5.2. Aspectos da fragmentariedade do Direito Penal

19 defende o bem jurídico somente contra ataques de especial gravidade, exigindo determinadas intenções e tendências, excluindo a punibilidade da prática imprudente de alguns casos; 29 tipifica somente parle das condutas que outros ramos do Direito consideram antijuridicas; 35 deixa, em principio, sem punir ações meramente imorais, como a homossexualidade ou a mentira.

6. Princípio de culpabilidade

Segundo Midioz Conde, a culpabilidade "não é uma categoria abstrata ou ahistóriea, à margem ou contrária às finalidades preventivas do Direito Penal, mas a culminação de todo um processo de elaboração conceitua!, destinado a explicar por que, e para que. em um determinado momento histórico, recorre-se a um meio defensivo da sociedade tão grave como a pena, e em que medida se deve fazer uso (lesse meio".

6./. Culpabilidade como fundamento da pena

Refere-se, nesta acepção, ao fato de ser possível ou não a aplicação de uma pena an autor de uni fato típico e antijuridico, isto é, proibido pela lei penal. Para isso, exige-se a presença de uma série de requisitos—capacidade de culpabilidade, consciência da ilicitude e exigibilidade da conduta —, que constituem os elementos positivos específicos do conceito dogmático de culpabilidade. A ausência de qual-quer desses elementos C suficiente para impedir a aplicação de uma sanção penal.

6.2. Calpubilidade como elemento da determinação ou medição da pena

Nesta acepção a culpabilidade funciona oão corno fundamento da peno, oias como limite desta, impedindo que a pena seja imposta aquém ou além da medida prevista pela própria idéia de culpabilidade, aliada, é claro, a outros critérios, como importância do bem jurídico, fins preventivos etc.

6.3. Culpabilidade como conceito contrário à responsabilidade objetiva

Nesta acepçâo, o principio de culpabilidade impede a atribuição da responsa-bilidade objetiva. Ninguém responderá por um resultado absolutamente imprevisível se não houver obrado, pelo menos, com dolo ou culpa. Nullum c amen, nulla poenu sitie culpa.

6.4. Conseqüencias do principio de culpabilidade

Pelo principio em exame, não há pena sem culpabilidade, decorrendo dai três conseqüências materiais: a) não há responsabilidade objetiva pelo simples resub tudo: b) a responsabilidade penal é pelo fato e não pela muar; c) a culpabilidade é u medida da pena.

7. Princípio de humanidade

A proscdção de penas cruéis e infamantes, a proibição de tortura e naus-trato nos interrogatórios policiais e a obrigação imposta ao Estado de dotar sua infra-estrutura carcerária de meios e recursos que impeçam a degradação e a dessa-

cialização dos condenados são corolários do principio de humanidade. Este principio

determina "a ioconstitucionalidade de qualquer pena ou conseqüência do delito que crie uma deficiência física (morte, amputação, castração ou esterilização, in-tervenção neurológica etc.), como também qualquer conseqüência jurídica inapagáPel do delito" (Zaffaroni).

7.1. Função do Direito Penal: Justiça distributiva

Cornudo, não se pode olvidar que o Direito Penal não é necessariamente

assistencial e visa primeiramente â Justiça distributiva, responsabilizando o delin-

quente pela violação da ordem jurídica. Dentro dessas fronteiras, impostas pela natureza de sua missão, todas as relações humanas reguladas pelo Direito Penal devem ser presididas pelo principio de humanidade.

7.2. Proscrição da pena de morte e da prisão perpetua

O princípio de humanidade do Direito Penal é o maior entrave para a adoção da pena capital e da prisão perpétua. Este princípio sustenta que o poder puniõxo estatal não pode aplicar sanções que atinjam a dignidade da pessoa liamba ou que lesionem a constituição físico-psíquica dos condenados.

8. Principio da adequação social Segundo Welzel, o Direito Penal tipifica somente condutas que tenham certa

releváncia social; caso contrário, não poderiam ser crimes. Deduz-se, conseqüen-temente, que há condutas que por sua "adequação social" não podem set conside-radas criminosas e, por isso, não se revestem de tipicidade.

83. Fonçãa seleavu do tipo penal

O tipo penal implica uma seleção de comportamentos e, ao mesmo tempo.

unia valoraçãa (o típico já é penalmente relevante). Contudo, também é verdade, certos comportamentos em si mesmos típicos carecem de relevância por serem correntes no meio social, pois muitas vezes há um desenmpasso entre as normas penais incriminadoras e o socialmente permitido ou tolerado. Por isso, segundo Stratenwerth, "é incompatível criminalizar unia conduta só porque se opõe à con-cepção da maioria ou ao padrão médio de comportamento".

8.2. Tipicidade: desvelo, da ação e desvalor do resultado

A tipicidade de um comportamento proibido é enriquecida pelo desvelo, da ação e pelo desvelar do resultado, lesando efetivamente o bem juridicamente pro-tegido, constituindo o que se chama de tipi cidade material. Donde se conclui que o comportamento que se amolda a determinada descrição típica formal, porém, materialmente irrelevante, adequando-se ao socialmente penniddri ou tolerado, não

realiza materialmente a descrição típica.

Conseqüências da "adequação social": imprecisão inicial

Discute-se se afastaria a tipicidade ou simplesmente eliminaria a andjuridici-dade de determinadas condutas típicas. O próprio Welzel, seu mais destacado de-fensor, vacilou sobre seus efeitos, admitindo-a, inicialmente, como =Indente da

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Art.1 2 Código Penai

Código Penal Art. 1°

tipicidade. depois como causa de justificação O, finalmente, outra vez, como 9.v-indente da tipicidade. Por último, conforme anota Jescheek, Welzel acabou acei-tando o principio da "adequação social" somente como princípio geral de inter-pretação, entendimento até hoje seguido por respeitáveis penalistas.

8.4. Nono entendimento: principio geral de interpretação

Como "principio geral de interpretação' não só da norma mas também da própria conduta cordextualizada; é possível chegar a resultados fascinantes; por exempin, no caso do famigerado "jugo do bicho", pode-se afastar sua aplicação em relação ao "apontador", por polifica criminal, mantendo-se a norma plenamente válida para punir o "banqueiro", cuja ação e resultados dcsvaliosos merecem a censura jurídica.

9. Principin de insignificância

A tipicidade penal exige ofensa de alguma gravidade aos bens jurídicos pro-tegidos, pois nem sempre qualquer ofensa a esses bens ou interesses é suficiente para configurar o injusto tipicb. Segundo este princípio, é imperativa uma efetiva proporcionalidade mure a gravidade da conduta que se pretende punir e a drasticidade da intervençãosegtatal. Amiúde, condutas que se amoldam a determi-nado tipo penal, sob o ponto de viãia formal, não apresentam nenhuma relevância material. Nessas circunstâncias, pode-se afastar liminarmente a tipicidade penal, porque ein verdade o bem jurídico nau chegou a ser lesado.

9.1. Principia da insignificância: giou de intensidade da ofensa

Assim, a irrelevância ou insignificância de determinada conduta deve ser aferida não apenas em relação à importância do bem juridicameme atingido, mas especialmente em relação ao grau de sua intensidade, isto é, pela extensão da lesão produzida.

9.2. Conseqüência da insignificância: afasta a tipieidade

Concluindo, a insignificância da ofensa afasta a tipicidade. Mas essa insignifi-cância só pode ser valorada por meio da consideração global da ordem jurídica. Como afirma Zaffaroni, "a insignificância só pode surgir à luz da função geral que dá sentido à ordem normativa e, conseqüentemente, a norma em panicular, e que nos indica que esses pressupostos estão excluídos de seu âmbito de proibição, o que resulta impossível dc se estabelecer à simples luz de sua consideração isolada".

II — JURISPRUDÊNCIA SELECIONADA

"O Direito Penal moderno é Direito Penal da culpa. Não se prescinde do elemento subjetivo: Intoleráveis a responsabilidade objetiva e a responsabilidade pelo fato de outrem. Conduta é fenômeno ocorrente no plano da experiência. fato. Fato não se presume. Exislc, ou não existe. O Direito Penal da culpa é incon-ciliável com presunções de fato. Não se pode punir alguém por crime não cometi-dez?' (ST1, RE 46424-21R0, Rel. Luiz Vicente Cemicchiaro, DJU, 8-8-1998),

"Inadmissível a aplicação de atenuante se fixada a pena mínima, porquanto, por força do principio da legalidade da pena, tanto as circunstâncias que atenuam quanto as que agravam não podem ultrapassar os limites punitivos do tipo" (TAMG-Ervalia, AC 134191-3, Rel, Herculano Rodrigues, v, u., j. 22-9-1999).

"O princípio da legalidade, viga mestra do Direito Penal, impõe precisos balizamentos em matéria de aplicação de pena, não admitindo interpretações analógicas ou ampliativas. Se não existe nos fundamentos da sentença nem no seu dispositivo qualquer menção ou referência à presença de crime continuado, não é admissivel a aplicação da majorante prevista no art. 71, do Código Penal" (ST1, RHC 950056731-8/MG, Rel. Vicente Leal, j. 12-2-1996).

"O princípio da insignificância é preciosa aquisição técnica, em sede de apli-cação da lei penal, e concretiza a garantia da reserva legal. Absolvição decretada cum fundamento em razões de política criminal, matéria alheia ao principio da insignificância. No processo moderno a efetividade é valor relevante. Absolvição mantida. Extinção da punibilidade, pela morte, relativamente a co-apelado" (TARGS, AC 297024101, Rel. Tupinamba Pinto de Azevedo, j. 30-10-1997).

"O Esiado, posto se ponha no comando da ordem jurídica e social, não é ou não pode ser titular de poderes absolutos. Age e reage, somente, se os poderes de agir ou reagir estão nas leis, e as expressas, previstos autorizativamente. Só o indi-víduo pode fazer ou não fazer algo, se, cm alguma norma jurídica, não estiver prevista proibição" (STF, HC, Rel, Firmino Paz, DJU, 16-10-1981, p. 10310).

"No sistema constitucional vigente, 'só a lei em sentido estrito pode criar crimes e penas criminais na esfera do Direho Penal comum' (TER, ED, Rel. Assis Toledo, RTFR,149:277).

"O tipo, que é sempre de garantia, a partir do principio da reserva legal, não pode ser distendido, ao gnsto do intétprere, para cobrir hipóteses nele não conti-das" (TACriniSP, Rec., Rel, Régio Barbosa, R7', 669:330).

"Em Direito Penal, o principio da reserva legal exige que os textos legais sejam interpretados sem aplicações nu equiparações por analogias, salvo quando in bonam partem. Ainda vige o aforismo poenalia suar restringenda, ou seja, inter-

pretam-se estritamente as disposições cominaduras de pena" (TACrimSP, AC, Rel. Adauto Suannes, R7', 594:355).

'O 'princípio da legalidade' não admite o direito consuetudinário, não po-dendo, pois, os costumes revogarem a lei penal, a qual somente por outra lei pode-rá ser revogada" (TAMG, AC, Rel. Costa Rios, RJTAMG, 2/:414).

"O principio da exigência de anterioridade da lei em relação ao crime e à pena não se estende às normas de processo e de execução, em relação às quais vigora a regra na anterioridade da lei frente ao ato processual, não 'ao fato crimino-so" (ST1, He, Rel. Assis Toledo, DJU, 8-11-1993, p. 23569).

"Invocar tipo penal, já existentee em plehã 'vigência na Lei Federal, adicio-nando-o como norma extrapenal no direito efitadual ou municipal, não ofende a Constituição Federal, art. 22,!" (STJ, HC, GJU, 11-11-1991, p. 16128).

"A legalidade de exploração de loterias pelo Estado não induz a legalidade do

jogo de azar, vedado pela legislação em vigor. Enquanto não houver revogação ex-

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Art. 1 2 Código Penal

Código Penal Arte. 22 e 39

pressa, formal. peto legislador federal ojogo do bicho continuará a ser contravenção penal e por isso a lei tua que ser aplicada" (ST1, RE, Rd EdsonVidigal,RT, 705:287).

Lei de Economia Popular e Medida Provisória 153. Abolia° Criminis. Inocorrência. "O inciso IV do art. 2 2 da Lei 1521/51 não foi revogado pela Medi-da Provisória 153/90. Matéria relacionada com a punibilidade de uma conduta não pode ser objeto de regramento por pane do Poder Executivo (CF. art. 5, XXXIX). Ao contrário, submete-se an devido processo legislativo" (SM, HC.1.068, Rel. Costa Lima, 03(1, 27.5-1991, p. 6972).

Habeas corpus. Militar, Deserção especial: apresentação ou captura após a decêndio previsto no art. 190, § 2g, do CM. Ação penal: trancomenio: falta de justa causo: inexistência de previsão legal que Unifique a situação ale°. Princi-pio da reserva legal. "Ofende o principio da reserva legai — 'não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal' (art. 5 2, XXXIX, da CF) — a construção jurisprudencial castrense baseada na aplicação subsidiária da norma contida no ã 2° do an. 190 do CPM, concluindo que 'não obstante o dispo-sitivo repressivo referido não expressar reprimenda para os desertores quesetomem em lapso de tempo superior a dez dias, deve-se considerar que 'para chegar ao somatório superior ao decendio, o militar faltoso teve que ultrapassar os dez dias de ausência previsto no tipo penal ineursionadol. Para o militar que se ausente durante mais de dez dias não há sanção penal prevista, mas sim a disciplinar descri-ta ao respectivo Regulamento, não sendo admissivel interpretação extensiva ou analógica para configuração do delito e aplicação da pena. IMbeas corpus deferi-do para determinar o trancamento da ação penar' (STF, 2 1 T.. HC 73257-7, Rel. Mauricio Corrêa, j. 252-1996, DJU, 3-51996).

"A responsabilidade penal é pessoal, não podendo ser estendida a pessoa estranha à transação, por mera suspeita de cumplicidade" (TRF — 2° Região, Rel. Cid° Enfia], j. 15-4-1996, RI', 732:736).

Reóponsulalidade penal —"O principio da personalidade impede que infra- • çao penai cometida por uma pessoa seja. em suas conseqüências, suportada por (nitrem" (UDE, AC, Rel. Luiz Vicente Cemicchiaro, DJU, I 7-3-1980, p. L394).

Receptação dolosa privilegiada — Principio da insignificância — Inncorrência —"O recebimento de folhas de talonários de cheque, sabidos furtas dos, caracteriza o ilícito. Quantidade dos bens subtraídos e tentativa de utilização de um deles na obtenção da vantagem ilícita não permite considerar-se a sua insig-nificância. Reconhecimento do privilégio do an. 180, § 3 2, do Código Penal. Apelo parcialmente provido e declaração de extinção da punibilidade pela prescrição da pretensão punitiva do Estado" (TARS, AC, Rel. Marco Antônio Ribeiro de Olivei-ra, j. 21-8-1996).

"O principio da insignificância é proposto com o auxiliar interpretativo do aplicador da lei penal na verificação da tipicidade do material da condutae independe de expressa permissão legal, visto que diz respeito com a economia do delito. Os romanos já o conheciam. Daí a fórmula 'de miniina non curat Pruelor'. fibem de ver, portanto, que sua utilização não está em absoluto vinculada ao movimento do deno-minado 'direito alternativo'. Esta egrégia Câmara Criminal, em mais de uma °porte-nidade,M se valeu deste princípio para fazer cessar acusações penais infundadas (Re-vista Julgados —69/101)" (TAREIS, AC 292183894, Rel. VIadimir Giacomuzzi).

"Se a lesão corporal (pequena equimose) decorrente de acidente de trânsito é de absoluta insignificância, como resulta dos elementos dos autos — e outra prova não seria possível fazer-se tempo depois — há de impedir-se que se instaure ação penal, que a nada chegaria, inutilmente sobrecarregando-se as Varas Criminais, ge-ralmente tão oneradas" (STF, HC, Rel. Aldir Passarinho, DJU, 28-4-1989, p. 6295).

"Indiscutível a insignificância da lesão corporal conseqUente de acidente de trânsito atribuído à culpa da mãe da pequena vítima, cabe trancar-se a ação por falta de justa causa" (ST1, HC, Rel. José Dantas, DJU, 2-2-1994, p. 10016).

"Em sede de habeas corpus, via iniclônea exame aprofundado de provas, é inaplicável o principio da insignificância: segundo o qual o Direito Penal só deve aplicar-se onde seja necessária a proteção de bens jurídicos, para o trancarnento prematuro de ação penal iniciada. A insignificância deve ser aferida durante o de-senrolar da instrução criminal sob o manto do contraditório e ampla defesa. Na ação penal será I(Mto ao Juiz, ante a análise de todo o quadro probatório— interro-gatório da acusada, inquirição das testemunhas de acusação e de defesa e alega-ções finais das partes, sopesar a aplicabilidade do aludido princípio, não na via estreita do habeas cmpus"(STJ,HC, Rel. PedroAcioli, NU, 1810-1993, p. 21889).

Lei penal no tempo

Art. 2° Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória.

— V. art. 5°, XL, da CF.

— V. atts. 91,92 e 107,111 do CR

— V. art. r do CM'.

—V. art. 66, I, da Lei n. 7.210/84 (Lei de Execução Penal).

Parágrafo único. A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.

—V. art..58 XXXVI, LIII e LIV, da CF.

—V. Sumula 611 do STF.

Lei excepabnal ou lemporgria

Art. 3° A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de Sua duração Ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-Se ao fato praticado durante a sua vigência.

. . — V. art. 2 8 do CPP.

. . .

— DOUTRINA

1. Eficácia da lei penal no tempo

- Desde que uma lei entra em vigor, rege todos os atos abrangidos por sua des-tinação, até que cesse a sua vigência. Não alcança os fatos ocorridos antes ou depois dos dois limites extremos: não retroage nem tem ultra-atividade, como regra.

Page 8: Bitencourt - CP Comentado

Arta. 22 e 3? Código Penal 10 II Código Penal Arts.2t eP

2. Irretroatividade da lei penal

Há uma regra dominante em termos de conflito de leis penais no tempo. Ê a da irretroutividade da lei penal, sem o qual não haveria nem segurança nem liber-dade na sociedade, num flagrante desrespeito ao princípio da legalidade e da ante-rioridade da lei (arts. 1 2 do CP e?, XXXIX, da CF).

3. Retroatividade da lei mais benigna

O princípio da irretroatividade vige, entretanto, somente em relação à lei mais severa. Admite-se, no direito transitório, a aplicação retroativa da lei mais benigna. Somente o exame acurado de cada caso concreto poderá demonstrar a maior benignidade de uma lei.

3.1. "Abolitio criminis"

Ocorre abalitio criminis quando a lei nova deixa de considerar crime rato anteriormente tipificado como ilícito penal. A lei nova retira a característica de ilichude penal de uma conduta precedentemente incriminado (art. 2 2 do CP).

"Abalitio criminis": abrangência

A abolitia crio:Mis configuro urna situação de lei penal posterior mais benigna, que deve atingir, inclusive, fatos definitivamente julgados, mesmo em fase de execu-ção. A ó/Polido iiriminis faz desaparecer todos °serenos penais, permanecendooseivis.

3.2. "Nagano legis" incriminudora

Ao contrário da abolitia cráninis, considera crime fato anteriormente não incriminado. A novatio legis incriminadora é irretruativa e não pode ser aplicada a fatos praticados antes da sua vigência, segundo o velho almisma rutilam crimen sine praevia lege, hoje erigido em dogma constitucional (art. 5 2, XXXIX, da CF).

3.3. "Novatia legis is' pejas"

Lei posterior, que de qualquer modo agravara situação do sujeito, não retroagirá (art. 5 2, XL, da CF). Se houver um conflito entre duas leis, a antetion mais benigna, e a posterior, mais severa, aplicar-se-á a mais benigna: a anterior será ultra-ativa, por. sua benignidade, e a posterior será irretroativa, por sua severidade.

3.4. "Novatio legis in mellius"

Pode ocorrer que a lei nova, mesmo sem descriminalizar, dê tratamento mais favorável ao sujeito. Mesmo que a sentença condenatória se encontre em fase de execução, prevalece a lex mitior que, de qualquer modo, favorecer o agente, nos estritos termos do parágrafo único do art. 2° do CP O dispositivo citado deixa claro que a irretroatividade é incondicional.

4. Crimes permanentes e continuados

Nos crimes permanentes ou continuados aplicar-se-á a lei posterior em vigor, desde que ainda perduré a permanência ou a continuidade, mas resultam impuniveis a continuidade dos atos precedentes à entrada em vigor da lei.

5. Lei intermediária: dupla extra-atividade

De acordo com os princípios gerais do Direito Penal intertemporil, deve-se aplicar a lei mais favorável. Se a lei intermediária for a mais favorável deverá ser aplicada. Assim, a lei posterior, mais rigorosa, não pode ser aplicada pelo principio geral da irretroatividatle, como também não pode ser aplicada a lei da época do fato. mais rigorosa. Pur princípio excepcional, só poderá ser aplicada a lei interme-diária, que é a mais favorável. Nessa hipótese, a lei intermediária tem dupla extra-atividade: é, ao mesmo tempo, retroativa e ultra-ativa.

6. Conjugação de leis: aspectos mais favoráveis Admitimos essa possibilidade: se é permitido escolher o "todo" para garantir

tratamento mais favorável ao réu, nada impede que se possa selecionar parle de um todo e parte de outro, para atender a uma regra constitucional que deve estar acima de pruridos de lógica formal. Deve-se aplicar sempre os dispositivos mais benéficos.

7. Leis excepcionais e temporárias São leis que vigem por período predeterminado, pois nascem com a finalidade

de regular circunstâncias transitúrias especiais que, em situação normal, seriam des-necessárias. Leis tempardri as são :mudas cuja vigência vem previamente fixada pelo legislador, e são leis excepcianais as que vigem durante situações de emergência. '

Iipicidade: elemento temporal

As leis temporárias e excepcionais têm ultra-atividade. A circunstância de o fato ter sido praticado durante o prazo fixado pelo legislador (temporária) ou du-rante a situação de emergência (excepcional) constitui elemento temporal do pró-prio tatu típico,

8. Retroatividade e leis penais em branco Leis penais em branco são as de conteúdo incompleto, vago, lacunoso, que

necessitam ser complementadas por outras normas jurídicas, geralmente de natu-reza extrapenal.

8.1. Normas penais em bronco: disciplina tradicional

Aplicam-se as regras gerais que disciplinam a sucessão de leis no tempo: irretroatividade da lei mais severa e retroatividade da lei mais benigna. Contudo, quando a norma penal em branco tem por objetivo assegurar o efeito do elemento

temporal, aplica-se o critério da &int-atividade.

9. Retroatividade e lei processual

A lei processual não tem efeito retroativo. E bom frisar que oplincipio tempus regit actum aplica-se, sem exceção, tão-somente às normas que regen a realização dos atos processuais, isto é, às que se destinam a regular a formalização processual e a organização judiciária lato sensit.

9.1. Lei processual imprópria

Em qualquer caso em que uma lei dita processual, posterior à prática do cri-me, determine a diminuição de garantias onde direitos fundamentais ou implique

Page 9: Bitencourt - CP Comentado

Ads.22 e 32 Código Penal 12 Código Penal - Art 42

qualquer forma de restrição da Liberdade, não terá vigência o princípio remoas regi, aetum, aplicando-se, nessas hipóteses, a legislação vigente na época do cri-me. Isso pode ocorrer, v. g., em matéria de prescrição, prisão preventiva, prisão provisória etc.

II — JURISPRUDÊNCIA SELECIONADA

a)Art. 22 Súmula 611 do STF; "Transitada em julgado a sentença condenatória, com-

pete ao juizo das execuções de lei mais benigna".

"O art. 22, parágrafo único, dn Cl', enm a redação que lhe foi dada pela Lei 7.209/84, estabelece que 'a lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos antcrinres, ainda que decididos por sentença condenatória tran-sitada em julgado'. A retroatividade benéfica, após a Reforma Penal de 1984, dei-xou de sofrer qualquer limitação, abrangendo não só os crimes e as penas como. também, as medidas de segurança c a execução penal" (TACriniSP, RA, Rel, Gonzaga Franceschini, RI', 652:300).

"O an. 71 do CP, com a redação da Lei 7.209/84, admite a continuidade delitiva nos crimes que envolvem bens personalíssimos de vítimas diversas. Assim, já cstandn em vigor a nova lei à época do julgamento, admite-se sua aplicação retroativa, unificando as penas, por ser mais benéfica ao réu" (T3SP, RA, Rel. Dante Busana, RT, 626:272).

"Tendo sido aplicada medida de segurança detentiva contra o réu imputável, deverá esta ser cancelada, tendo cm vista o advento da Lei 7.209/84, que eliminou essa espécie de providência e, sendo lei mais benigna, deve aproveitar integral-mente ao réu" (STF, HC, Rel, Paulo Brossard, R7,647:371).

"Aplica-se o principio da retroatividade da lei mais benigna se, ao tempo do julgamento da apelação do réu, provida para a redução da pena, já entrara em vigor a Lei 7.209/84, cujo art. 110, § IQ, dispõe que a 'prescrição, depois da sentença condenátória com trânsito em julgado para a acusação, ou depois de improvido seu recurso, regula-se pela pena aplicada" (STF, HC, Rd. Décio Miranda, RT, 598:426).

"Se a lei nova se limitasse a agravar a pena, seria de admitir-se o deslocamen-to da competência, sem possibilidade de aplicação da pena agravada. Embora, quanta à pena, a nova lei seja mais benigna, a aplicação dela pioraria, em pontos outros, de direito material, a situação do réu (prescrição e sursis). Inadmissibilidade de serem combinadas regras da lei antiga com as da nova. de modo a formar-se uma terceira_ Prevalência da lei vigente ao tempo do crime" (STF, Cl, Rel. Luiz Gallotti, DJU, 25-9-1970. p. 4411). . .

"A norma processual penal se aplica ae imediato, sem prejuízo da validade dos atos realizados sob a vigência da lei anterior, inclusive se a lei posterior é mais favorável ao réu" (STF, IIC, Rel. Moreira Alves, DJU, 22-4-1983).

b)Art. 32 • . . •

"Réus denunciados pelo art. 243 da lei n. 8.069/90. Norma penal em branco. Ausência de preenchimento da norma pernil em branco por outras normas jurídicas

ou atos administrativos. Atipic idade da conduta. Decisão desclassificatória mantida" (T.IRS, AC 698597580, Rel. Carlos Roberto Lofego Canibal, j. 24-2-1999).

'Apreensgn de carne bovina transportada sem a emissão de nota fiscal. Com-portamento subsumido no art. 268 do CPB. Norma penal 'em branen', preenchida pela lei n. 6.437/77 e pelo dec.-lei n. 23.430/74. Tratandn-se de delito de perigo abstrato, desnecessária a sua configuração a efetiva introdução ou propagação de doença contagiosa ou a comprovação da impropriedade da mercadoria para consu-mo humano. Autnria e materialidade comprovadas" (MS, AC 696069335, Rel. Luiz Felipe Vasques de Magalhães, j. 4-9-1996).

"Norma penal em branco à qual se integram normas proibitivas de cnmercialização de produtos em tais condições, visando preservar a saúde pública dos riscos reais da ingestão do produto potencialmente insalubre, e impedindo a proliferação de doenças infeetn-contagiosas" (TIn, AC 695175299, Rel. Luiz Felipe Vasques de Magalhães, j. 28-2-1996).

"A revogação ou alteração da tabela, ou liberação de preço posteriores à infringência da norma penal em branco, não descriminam o fato típico anterior"

(STF, RE, Rel. Cnrdeiro Guerra, RTJ, 74:590).

"Mesmo que revogada a lei, não gera abolai° eriminis, porque, ainda que tem-

porário, guarda eficácia, aplicando-se aos fatos praticados durante sua vigência, con-

forme o art. 32 do CP" (TACrimSP, HC. Rel. Ribeiro dos Santos, RT, 666116).

"Sem o tabelamento de preços, não se configura a transgressão penal previs-ta no art. r, VI, da Lei 1.521/51. O simples congelamento resulta em sanções administrativas, mas &ío no tipo previsto na lei, cuja ibedida é a tabela de preços"

(STF, liC, Rel. Carlos Madeira, JTACrimS 1', 91:433).

'Não se cuida, no caso, de aplicação analógica da norma do art. r, VI, da Lei 1.521/51, em que é fundada a denuncia. Não é, de outra pane, de considerar, pela válida equiparação normativa entre 'congelamento de preços' e 'tabelamento ofi-cial de preços','que a infração ao 'congelamento de preços' possa ter reflexo, ape-nas, no âmbito administrativo, com a imposição de sanções pecuniárias" (STF.

HC, Rel. Néri da Silveira, .17:4Crindr, 91:433. Nesse sentido: RT, 612:321).

"Tratando-se de norma penal em branco, não poderia a peça acusatória ter prescindido da indicação de lei, regulamento ou instrução não observada" (STF,

HC, Rel. Octavio Gallotti, RTJ, I22:119).

Tempo do crime

Art. 4 Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omis-são, ainda que outro seja o momento do resultado.

— V. arts. E3 e 111 e s. do CP.

I — DOUTRINA

1. Teoria da atividade Adota-se a teoria da atividade, uma vez que é nesse momento que o indiví-

duo exterioriza a sua vontade, violando o preceito proibitivo. Isso evita o absurdo

Page 10: Bitencourt - CP Comentado

Art. 5° Código Penal 14 Código Penal

Art. 5°

de uma conduta, praticada licitamente sob o império de uma lei, poder ser conside-rada crime, em razão de o resultado vir a produzir-se sob o império de outra.

2. Há algumas exceções à teoria da atividade

O Código adota, implicitamente, algumas exceções à teoria da atividade, como, por exemplo: o marco inicial da prescrição abstrata começa a partir do dia em que

n crime se consuma; nos crimes permanentes, do dia em que cessa a permanência; e, nos de bigamia, de falsificação e alteração de assentamento do registro civil, da

data em que o fato sc torna conhecido (art. 111).

11 — JURISPRUDÊNCIA SELECIONADA

Competência criminal — Conflito positivo de jurisdição entre juízes de comarcas diversas — Homicídio doloso — Competência para o processamento e julgamento do lugar onde o agente praticou os atos de execução e não o do lugar onde a vitima faleceu —"Tal entendimento guarda harmonia com a nova regra dp Parte Geral do Código Penal (Lei 7.209/84). segundo a qualconsidera-se pratica-do o crime no ~mento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado' (art 4 2)" (17SP, Cl, Rel. Martiniano de Azevedo, 12)TISP, 113:587):

"Aplicação da lei penal no tempo. Homicídio qualificado. retroatividade da lei n. 8.930/94. Progressão de regime prisional. Cometido homieídin qualificado anteriormente à entrada em vigência da lei n. 8.930/94, que deu nova redação ao artigo I da lei 8.072190 (estatuto dos cumes hediondos), enquadrando aquele deli-to entre os hediondos, e de proclamar-se a irreiroatividacie da mencionada lei de 1994 de conseqüências juridicrupenais mais gravnsas — para disciplinar situações delitivas ocorridas em data pretérita ao seu viger" (TIRS, Rel. Aristides Pedroso de Albuquerque Neto, j. 6-3-1999).

Territorialidade

Art, 59 Aplica-se a lei brasileira, sem prejuizo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional.

— V. arts. 42, 52, LI1 e § 2°, e 84. VIII, da CE

— V. arts. 1 2 e 70 do CPP.

§ 1 2 Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do territó-rio nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras : ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no.:espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.

— V. art. 20, VI, da CE

§ 22 É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achan•

do-se aquelas em pouso no território nacional ou em vôo no espaço aéreo correspondente, e estas em por10 ou mar territorial do Brasil.

— V. arts. 89 e 90 do CPP.

—V. art. n. 3.688/41 (Lei das Contravenções Penais).

— V. arts. 76 a 94 da Lei n. 6.815/80 (Estatuto do Estrangeiro).

I — DOUTRINA

1.Princípios dominantes A lei penal em decorrência do principio de soberania, vige em todo o territó-

rio de um Estado politicamente organizado. No entanto, pode ocorrer, em certos casos, para um combate eficaz â criminalidade, a necessidade de que os efeitos da lei penal ultrapassem os limites territoriais para regular fatos ocorridos além de sua

soberania, ou, então, a ocorrência de determinada infração penal pode afetar a

ordem jurídica de dois ou mais Estados soberanos. Surge, assim, a necessidade de limitar a eficácia espacial da lei penal, disciplinando qual lei deve ser aplicada em

tais hipóteses.

2. Principio da territorialidade

Por este principio, aplica-se a lei penal brasileira aos fatos puníveis pratica-dos no território nacional, independentemente da nacionalidade do agente, da viti-ma eu do bem jurídico lesado. É a principal forma de delimitação dn âmbito de vigência da lei penal. O CP brasileiro adota essa diretriz como regra gerai, ainda

que de forma atenuada ou temperada (art. 58, capta, do CP), uma vez que ressalva

a validade de convenções, tratados e regras internacionais,

2.1. Fundamento da principio da territorialidade

O fundamento deste principio é a soberania política do Estado, que, segundo

luarez Cirino dos Santos, aptesenta três caracteres: "a plenitude, como totalidade

de competências sobre questões da vida social; a autonomia, como rejeição de

influências externas nas decisões sobre essas questões; e a exclusiridade, corno

monopólio do poder nos limites de seu território".

3. Principio real, de defesa ou de proteção

, Este principio permite a extensão da jurisdição penal do Estado titular do

bem jurfdledlesado, para além dos seus limites territoriais, fundamentado nanado-

na/idade do Popjurídico lesado (an. 79, I, do CP), independentedreató do local em

que o crime foi firaticado ou da nacionalidade do agente infratbr.:Motegem-se,

assim, determinados bens jurídicos que o Estado considera fundamentais: .

4. Principio da nacionalidade ou da personalidade

Aplica-se a lei penal da nacionalidade da agente, pouco importando ó local -

em que o crime foi praticado. O Estado tem o direito de exigir que o seu nacional

Page 11: Bitencourt - CP Comentado

Art. 52 Código Penal 16 17 Código Penal Au t 51

no estrangeiro tenha detemiinado comportamento. Este principio pode apresentar-se sob duas formas: personalidade ativa — caso em que se considera somente a nacionalidade do autor do delito (art. 7 2 , 11, la do CP); personalidade passiva — nesta hipótese importa somente se a vítima do delito é nacional (arr. 7°, § 32, do CP). Visa impedir a impunidade de nacionais, portcrimes pralicados em outros países, que não sejam abrangidos pelo critério da territorialidade.

5. Princípio da universalidade ou cosmopolita As leis penais devem ser aplicadas a todos os homens, onde quer que se

encontrem. Este principio é característico da cooperação penal internacional, por-que permite a punição. por todos us Estados, de todus os crimes que forem °bico de tratados e de convenções internacionais. Aplica-se a lei nacional a todos os fatos puníveis, sem levar em conta o lugar do delito, a nacionalidade de seu autor ou do bem jurídico lesado (ex.: art. 78 II, a, do CP).

6. Princípio da representação ou da bandeira Trata-se de um princípio subsidiário, e, quando houver deficiência legislativa

ou desinteresse de quem deveria reprimir, aplica-se a lei do Estado em que está registrada a embarcação ou a aeronave ou cuja bandeira ostenta aos delitos pratica-dos em seu interior (art. 7°, II, c, do CP).

7. Princípios adotados pelo Código Penal brasileiro O Código Penal brasileiro adotou, como regra, °princ(io da territorialidade.

e, como exceção, os seguintes princípios: a) real ou de proteção (art. 7°, I e § 3 3); b) universal ou cosmopolita (art. 7°, II, a); c) nacionalidade ativa (art. 7°, II, b); d) nacionalidade passiva (art. 7°, § 39; e) representação (art. 7°, 11, c).

8. Conceito de território nacional O conceitn de território nacional, em sentido jurídico, deve ser entendido

como âmbito espacial sujeito ao poder soberano do Estado. "O território nacional — efetivo ou real — compreende: a superfície terrestre (solo e subsolo), as águas territoriais (fluviais, lacustres e marítimas) e o espaço aéreo correspondente. En-tende-se, ainda, como sendo território nacional — por extensão ou flutuante — as embarcações e as aeronaves, por força de uma ficção jurídica". Em sentido estrito, território abrange solo (e subsolo) contínuo e com limites reconhecidos, águas in-teriores, mar territorial (plataforma continental) e respectivo espaço aéreo.

&I. Delimitação do território nacional

Quando os limites são fixados por montanhas dois critérios podem ser utili-zados: o da linha das cumeadas e o do divisor de águas. Quando os limites frontei-riços entre dois países forem fixadns por um rio, no caso internacional, podem ocorrer as seguintes situações: a) quando o rio pertencer a um dos Estados, a fron-teira passará pela margem oposta; b) quando o rio pertencer aos dois Estados há duas soluções possíveis: I) a divisa pode ser uma linha mediana do leito do rio, determinada pela eqüidistância das margens; 2) a divisa acompanhará a linha de maior profundidade do rio, conhecida como talvegue.

8.2. Lago ou lagoa: mesmos critérios

Em principio, os mesmos critérios que acabamos de enunciar são aplicáveis quando os limites territoriais ocorrerem através de lago ou lagoa. Normalmente, o divisor é determinado por uma rinha imaginária eqüidistante das margens.

83. Rio indiviso

Nada impede que um rio limítrofe de dois Estados seja comum aos dois paí-

ses. Nesse caso, o rio será indiviso, cada Estado exercendo normalmente sua sobe-

rania sobre ele.

8.4. Mar territorial: 12 milhas

O mar territorial constitui-se da faixa ao longo da costa, incluindo o leito e o

subsolo. respectivos, que formam a plataforma continental. Os governos militares, ignorando os limites do alcance de seu arbítrio, estabeleceram os limites do mar

territorial brasileiro em 200 milhas, a partir da baixa-mar do litoral continental e insular (Decreto-lei n. 1.098(70). De modo geral os demais países nunca chegaram a admitirás. As 12 milhas acabaram sendo fixadas pela Lei n. 8.617, de 4 de janei-

ro de 1993.

8.5. Navios públicos ou privados

Os navios podem ser públicos ou privados. Navios públicos são os de guerra, os em serviços militares, em serviçns públicos (policia marítima, alfândega etc.), e aqueles que são colocados a serviço de Chefes de Estado ou representantes diplo-

máticos. Navios privados, por sua vez, são os mercantes, de turismo etc.

8.6. Tratamento dos navios públicos

Os navios públicos, independentemente de onde se encontrem, são considera-

dos território nacional. Prnsisso, qualquer crime cometido dentro de um desses navios deverá ser julgado pela Justiça brasileira (art. 5°, § 1 3, 1 1 parte). Pela mesma razão, os crimes praticados em navios públicos estrangeiros. em águas tenitoriais brasileiras, serão julgados de acordo com a lei da sua bandeira. No entanto, idarinheiro de navio público que descer em porto estrangeiroe lá cometer mime será processado de acordo com a lei local, e não segundo alei do Estado a que pertence seu navio.

8.7. Tratamento dos navios privados • Os navios privados têm outro tratamento: a) quando em alto-mar, seguem a

lei da bandeira que ostentam; b) quando estiverem em portos ou mares territoriais estrangeiros, seguem a lei do pais .edn que m encontrem (art. 5 2, § 1°, 21 pane).

9. Espaço aéreo • .

O espaço aéreo é definido por tres teorias: a) absoluta liberdade do ar — nenhum Estado domina-o ar, sendo permitido a qualquer Estado utilizar o espaço aéreo, sem restrições; b)soberania limitada ao alcance das baterias antiaéreas — representaria, concretamente, os limites do domínio do Estado; c) soberania sobre a coluna atmosférica — o país subjacente teria domínio total sobre seu espaço aéreo, limitado por linhas imaginárias perpendiculares, ineluindn o mar territorial.

Page 12: Bitencourt - CP Comentado

Art. 6° Código Penal

19 Código Penal Art 6°

9.1. Teoria adotada pelo CBA

O Código Brasileiro do Ar (Dec.-lei n. 32/66), com as modificações do De-creto n. 34/67, adota a teoria da snberania sobre a coluna atmnsférica.

9.2. Aeronaves públicas e privadas

As aeronaves, a exemplo dos navios, também podem ser pfiblicas e privadas.E a elas se aplicam os mesmos princípios examinados quanto aos navios (art. 5 2, §5 I° e 22).

II— JURISPRUDÊNCIA SELECIONADA

"Crime cometido a bordo de aeronave pousada. Competência. Concessão que se recomenda cm face da incompetência da justiça estadual, dado que, para efeito da competência absoluta da Justiça Federal (CF/I988, art. 109, IX), o estado de pouso da aeronave não afeta a circunstância do delito ter-se dado 'a bordo*" (STl. HC 6.083/SP (199700544443), Rel. José Dantas, j. 7-4-1998).

"Tráfico internacional de tóxico. Competência de vara federal, em face da prova, do lugar da consumaçãodo crime" (STF, HC 75.507/PA. Rel. Octavio Gallotti, j. 10-3-1998).

Lugar cio crime •

Art. 6`-' Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.

— V. arts. 22, 70 e 7 ] do CPP.

— V. art. 63 da Lei n. 9.099/95 (Juizados Especiais).

I — DOUTRINA

1. Dificuldadeipara apurar o lugar do crime Nem sempre ser fácil aparar o lugar do crime, tarefa importante para possi-

bilitar a adoção do principio da tenitorialidade, suas exceções, c definir, enfim, os demais princípios reguladores de competência e judsdição. Várias teorias procu-Tann definir o lugar do crime.

• 2. Teoria da ação ou da atividade • . . Lugar do delito é aquele em que se realizou a conduta típica. O defeito desta

teoria reside na exclusão da atuaçãn do Estado em que o bem jurídico tutelado foi atingido e, à evidência, onde o delito acabou produzindo os seus maiores efeitos nocivos.

3. Teoria do resultado ou do evento Lugar do crime é aquele em que ocorreu o evento ou &resultado, isto é, onde

o crime se constunou, pouco imponando a ação ou intenção do agente. A uniu a

esta teoria reside na exclusão da atuação do Estado onde a ação se realizou, que

tcm justificado interesse na repressão do fato.

4. Teoria da intenção Lugar do delito é aquele em que, segundo a intenção do agentê, devia ocorrer

o resultado. A insuficiência desta teoria manifesta-se nos crimes culposos e

pretenlolosos.

5. Teoria do efeito intermédio ou do efeito mais próximo Lugar do delito 'é aquele em que a energia movimentada pela atuação do

agente alcança a vítima ou o bem jurídico.

6. Teoria da ação a distancia ou da longa mão Lugar do delito é aquele em que se verificou o atn executivo.

7. Teoria limitada da ubiqüidade Lugar do delito tanto pilde ser o da ação como u du resultado.

8. Teoria pura da ubiqüidade, mista ou unitária Lugar do crime tanto pode ser o da ação comu o do resultadn, ou ainda o

lugar do bem jurídico atingido. Esta é a teoria adotada pela Direito brasileiro:

"Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou a omissão, no tudo ou em pane, bem corno onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado"

(art. 62 do CP)..

8/. Solução dos conflitos negativos

Cum a doutrina mima evita-se o inconveniente dos conflitos negativos de

jurisdição (o Estado em que ocorreu o resultado adula a teoria da ação e vice-

versa) e soluei una-se a questão do crime a distância, em que a ação e o resultado

realizam-se em lugares diversos.

8.2. Duplicidade de julgamentos

A eventual duplicidade de julgamento é superada pela regra constante do art.

.82 do Códigu Penal, que estabelece a compensação de penas, uma modalidade

especial de detração penal.

8.3. Lacuna: parle do resultado

A definiçãn do lugar do crime, contida no referido art. 6 2, deixa uma possível

lacuna, quando, por exemplo, se produzir no território brasileiro "pane" do resul-

tado, e a ação ou omissão tenha sido praticada fora do território nacional e o agente nem tenha pretendido que o resultado aqui se produzisse. Ocorre que o texto legal

refere-se a "parte" da ação ou omissão, mas nau faz o mesmo em relação ao resul-

tado, e 'parte" do resultado não pode confundir com todo este.

Page 13: Bitencourt - CP Comentado

3t91.IOTECA DE CIENCIAS JURIDICAS Art.72 Código Penal 20

II — JURISPRUDÊNCIA SELECIONADA

Fato ocorrido em lugar sobre a qual não há definição geográfica —"Quan-do não se sabe a que Estado pertence o lugar do fato, como no caso destes autos, determina-se a competência pelo domicílio ou residência do Réu" (STI, CC, Rel. Edson Vidigal, DJU, 9-11-1992, p. 20331).

Trafico de entorpecente — Lugar do crime — Princípio da territorialidade —Convenção única sabre Entorpecentes —"Não resultante dos autos que a ação ou o resultado do crime se tenham verificado, mêsmo em parte, no território do Estado requerente, mas no Brasil, este é o lugar do crime, cabendo-lhe, portanto, a jurisdição pelo princípio da territorialidade, não sendo caso de competência cumu-lativa ou concorrente" (STF, Extr a Rel. Rafael Mayer, RTJ, 118:426).

Extraterrllorialidade

• Art. 79 Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estran-Oiro:

• —V. ans. 1°, 70 e 88 do CPP.

— V. art. 18.1, da Lei n. 6.368/76 (entorpecentes).

I — os crimes:

a)contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;

— V. art. 52, XLIV. da CF. •

b)contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município, de empresa pública, sociedade de eco-nomia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público;

— V. art. 109,1V, da CE

Oncinha a administração pública, por quem está a seu serviço;

d) de gendcidio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil;

— V. :ui. 6,, da Lei n. 2.889/56 (crimb de genocídio).

—V. art. 1 2, parágrafo único, da Lei n. 8.072/90 (crimes hediondos).

- • II — os crimes: •

— V. art. r do Dec.-lei n. 3.688/41 (Leinas Contravenções Penais). . •

a)que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir:

— V. art. 109, V, da CE

b)praticados por brasileiro;

— V. art. 12 da CF.

Código Penal Art. 72

c)praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeiro e ai não sejam julgados.

— V. art. 261 do CP.

§ 1 2 Nos casos do inciso 1,0 agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro.

§ 29 Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições:

&entrar o agente no território nacional;

b)ser o fato punível também no pais em que foi praticado;

c)estar o crime incluido entre aqueles pelos quais a lei brasileira auto-riza a extradição;

—V. art. 77 da Lei n. 6.815/80 (Estatuto do Estrangeiro).

«)não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter ai cumpri-do a pena;

e)não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro mofivo, não estar extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável.

— V. ans. 107 a 120 do CR

§ 32 A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no pará-grafo anterior:

a) não foi pedida ou foi negada a extradição;

b)houve requisição do Ministro da Justiça.

— V, ans. 9 , § 22, e 116, II, do CE

1— DOUTRINA

1. Extraterritorialidade As situações de aplicação extraterritorial da lei penal brasileira estão previs-

Ms no art. 7 2 e constituem exceções ao princípio geral da territorialidade (art. 5 2 ). As hipóteses são as seguintes i a) extrata rritorialidade ncondicionada; extraterritorialidade condicionada.

• 1.1. Extraterritorialidade incandicionada

Aplica-se a lei brasileira sem qualquer condicionante (ar!. 7 21 I, do CP), na hipótese de crimes praticados fora do território nacional, ainda que o agente tenha

• sido julgado no estrangeiro (art. r, 1, do CP), com fundamento nos princípios de defesa (art. 7 8, I a, b e c, do CP) e da universalidade (art. 7 2, I, il, do CP). Os casos

!• • • . ' de extraterritorialidade incondicional referem-se a crimes: a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República; b) contra o patrimônio ou a fé pública da

• União, do Distrito Federal, de Estado, Território, Município, empresa pública,

Page 14: Bitencourt - CP Comentado

Art.72 Código Penal 22

23 Código Penal Ari 72

sociedade de economia mista, autarquia ou fundação instituída pelo Poder Públi-co; c)contra a Adminãtração Pública, por quem está useu serviço; d)de genocídio, quando o agente for brasileira an domiciliado no Brasil.

O irtjustificalvel e odiosa "bis in idem"

A circunstância de o fato ser lícito no país onde foi praticado ou se encontrar extinta a punibilidade será irrelevante. A excessiva preocupação do Direito brasi-leiro com a punição das infrações relacionadas no inciso Ido art. 7 ° levou à consa-gração de um injustificável e odioso bis in idem, nos termos do § I 2 do mesmo dispositivo, que dispõe: "Nos casos do inciso 1. o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no estrangeiro".

Provimento jurisdicional ignorada

Nenhum Estado Democratien de Direi to pode ignorar o provimento jurisdicional de outro Estado Democrático de Direito, devendo, no mínimo, com-pensar a sanção aplicada no estrangeiro, mesmo que de natureza diversa. Menos mal que o disposto no art. 82 corrige, de certa forma, essa anomalia, prevendo a compensação da pena cumprida no estrangeiro.

1.2. Ruiu condicionada

Aplica-se a lei brasileira quando satisfeitos cearia requisitos (art. 7 2,11 c §§ 22 e 32, do CP), com base nos princípios da universalidade (art. 7°, II, a, do CP). da personalidade (art. 7 2 , 11, h, do CP), da bandeira (art. 7°,11, e. dn CP) e da defesa (art. 7°, § 3 , do CP). As hipóteses de extraterrimrialidade condicionada referem-se a crimes: a)que, por tratado ou convenção, o Brasil obrigou-se a reprimir, b)prati-cados por brasileiros; e)praticados em aeronaves ou em embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, quando em território estrangeira, e ai não sejam julgador; tOpraticados por estrangeiros contra brasileiro foro do Brasil.

Cooperação penal internacional

A pnmeira hipótese de extraterritorialidade condicionada refere-se à coope-ração penal internacional, que deve existir entre os povos para prevenir e reprimir aquelas infrações penais que interessam a toda a comunidade internacional. Os trata-dos e convenções internacionais firmados pelo Brasil e homologados pelo Congres: so Nacional ganham status de legislação interna c são de aplicação obrigatória.

Crimes praticados por brasileiros no exterior

A segunda hipótese, de extraterrilorialidade condicianada, refere-se a cri-mes praticados por brasileiros no exterior. Como vimos, pelo princípio da nado-nulidade ou persannlidade o Estado tem o direito de exigir que b seu nacional, no estrangeiro, tenha comportamento de acordo com seu ordenamento jurídico. Pelo mesmo principio, aplica-se a lei brasileira, sendo indiferente que' o mime tenha sido praticado no estrangeiro. Por outro lado, em hipótese alguma o Brasil concede extradição de brasileiro nato. Assim, para evitar eventual impunidade, não se con-cedendo extradição, é absolutamente correto que se aplique a lei brasileira.

Aeronaves e embarcações mercantes

O terceiro caso refere-se a crimes praticados em aeronaves e embarcações

brasileiras, mercantes ou privadas, quando no estrangeiro e aí não tenham sido jul-

gados (art. 7 2, c). Neste caso, na verdade, o agente está sujeito à soberania do Estado onde o crime foi praticado. No entanto, se referidn Estado não aplicar sua lei é

natund que o Brasil o laça, para evitar a impunidade. Essa orientação fundamenta-

se no princípio .du representação e aplica-se, subsidiariamente, somente quando

houver deficiência legislativa (lacuna) ou desinteresse de quem deveria reprimir.

Praticado por estrangeiro contra brasileiro

Aplicar-se-ó a lei brasileira, ainda, quando o crime praticado pur estrangeiro

contra brasileiro, fora do Brasil, reunir, além das condições já referidas, mais as

seguintes: a) não tiver sido pedida ou tiver sido negada a extradição; b)luniver

requisição du Ministro da Justiça (art. 72, à 32).

Condições para aplicaçãa da lel brasileira

São as seguintes: a) entrada do agente no território nacional; b) o fato ser

punível (amhém no país em que fui praticada; c)estaro crime incluído entre aque-les em que a lei brasileira autoriza o extradição; d)o agente não ter sido absolvido

no estrangeiro au não ter ai cumprido a pena; e)não ter sido perdoado no estran-geiro ou, por oram motivo, não estar extinta a panibilidnde, segundo a lei mais

favorável (mi 7 § 3Q).

2. Lei penal em relação às pessoas O princípio da territorialidade, como vimos, faz ressalvas aos tratados, con-

venções e regras de Direito internacional, dando origem as imunidades diplormiti-

cas. Há igualmente exceções decorrentes de normas de Direito público interno,

que originam as imunidades parlamentares. As imunidades — diplomáticas e par-lamentares — não estão vinculadas à pessoa autora de infrações penais, mas às

funções eventualmente por ela exercidas.

2.1. Imunidade diplomática • A imunidade diplomática impõe limitação ao principio temperado da

territorialidade (art. 5 2 do CP). Trata-se de "privilégilis outorgados aos representantes

diplomáticos estrangeiros, observando sempre o principio da mais estrita reciproci-dade". A Convenção de Viena, pronadgada no Brasil pelo Decreto n. 56435/65, estabelece para o diplomata-imunidade de jurisdição penal, ficando sujeito à jurisdi-

ção do Estado a que representa (art. 31). . . . , . . •

Natureza jurídica: causa pessoal de exclusão de pena

A natureza jurídica desse privilégio, no âmbito do Direito Penal, constitui - , . causa pessoal de exclusão depena. No entanto, essa imunidade pode ser renuncia-

da pelo Estado acreditante e não pelo agente diplomático, em razão da própria

natureza do instituto.

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- Art. r Código Penal 24 25 Código Penal Art. r

EXICIISãO da imunidade: tadas as agentes diplamáticos e fantiliares

A imunidade se estende a todos os agentes diplomáticos e funcionários das organizações internacionais (ONU, OEA etc.), quando cm serviço, incluindo os familiares. Estão excluídos desse privilégio os empregados paniculares dns agen-tes dipInmáticos.

Exclusão: agentes consulares

Os cônsules, agentes administrativos que representam interesses de pessoas físicas ou jurídicas estrangeiras, não têm imunidade diplomática; têm apenas imu-nidade de jurisdição administrativa e judiciária pelas atas realizadas na exercício das funções consulares. Nada impede, porém, que tratado bilateral estabeleça imu-nidade diplomática.

2.2. Imunidade parlamentar

Para que o Poder Legislativo possa exercer seu múnus público com liberdade e independência, a Constituiçãu assegura-lhe algumas .prerrogativas, dentre as quais se destacam as imunidades. A imunidade, por não ser um direito do parlamentar, mas do próprio Parlamento, é irrenunciável. A imunidade parlamentar é um privi-légio ou prerrogativa de Direito público interno e de cunho personalíssimo, decor-rente da função exercida.

VIII, da CF). Porém, os vereadores não têm imunidade processual nem gozam de

foro privilegiado.

3. Extradição Segundo o Congresso Internacional de Direito Comparado de Haia, 1932, a

extradição é "uma obrigação resultante da solidariedade internacional na luta con-

tra o crime".

3.1. Conceito de extradição

Extraditar significa entregar a outro país um indivíduo, que se encontra refu-giado, para fins de ser julgado ou cumprir a pena que lhe foi imposta. Em outros termos, extradição é "n ato pelo qual um Estado entrega um indivíduo acusado de fato delituoso ou já condenado como criminoso à justiça de outra Estado, compe-

tente pata julgá-lo e punido".

3.2. Espécies de extradição

A extradição pode ser: a)ativa: em relação ao Estado que a reclama; 10 pas-

sivo: em relação ao Estado que a concede; c) voluntária: quando há anuência do

extraditando; d) imposta: quando há oposição do extraditando; e) reagi adição: ocorre quando o Estado que obteve a extradição (requerente) torna-se requerido por um terceiro Estado, que solicita a entrega da pessoa extraditada.

Espécies de imunidades parlamenrares .

a) Imunidade material —assegura-se a imunidade material, que também é 3.3 Princípios da extradição

.

denominada imunidade absaluta (penal, civil, disciplinar e política) e refere-se à • I — Quanta aa delito:

invialubilidade do parlamentar (senador, deputado federal, estadual, vereador), no a)princípio da legalidade (art. 91, 1, da Lei n. 6.815/80 — EE): por este exercício do mandato, por suas opiniões, palavras e votos (arts. 53, copia, 27, § 1° , c 29, VIII, da CF). A inviolabilidade pela manifestação do pensamento é conside-

principio não haverá extradição se o crime imputado ao extraditando não estiver

especificado cm tratado ou convenção internacional; rada elementar nos regimes democráticos e inerente ao exercício do ri-Jandaia b) principio da especialidade: significa que o extraditado não poderá ser

b) Imunidade formal — também denominada imunidade relativa ou piores- julgado por fato diverso daquele que mntivou a extradição; sual, refere-se â prisão, ao processo, a prerrogativas de foro (uns. 53, á 4 2, e 102, I, b), isto é, refere-se ao processo e julgamento (fut. 53, §á P e 3°, da ÇF). O termo

. c)princípio da identidade da norma (art. 77, 11, do EE): o fato que origina o pedido de extradição deve consistir em crime também no país ao qual a extradição

inicial da imunidade, material e formal, ocorre com a diplomação do parlamentar (art. 53, á I°, da CF) e encena-se com o término do mandato.

foi solicitada.

II — Quanto à pena e at ação penal:

Imunidade do parlamentar estadual a)princípio da comutação (art. 91,111, da EE): como corolário do principio de

A imunidade material e formal foi estendida ao deputado estadual (art. 27, § humanidade, a extradição concedida pelo Brasil é condicionada à não-aplicação de

I °, da CF). Contudo, segundo entendimento do Supremo Tribunal Federal, as iniu 3 . . pena de morte ou pena corporal. Se o pais que a requerer tiver a cominação de tais

nidadcs e prerrogativas concedidas aos deputados estaduais limitam-'e as autori- penas, para o delito imputado, terá de comuta-las em pena privativa de liberdade;

dades judiciárias dos respectivos Estados-membros dispondo na Súmula 3 rt se- b)princípio da jurisdicianalidade (an. 77, VIII, do EE): pretende impedir

guinto "A imunidade concedida aDtputado Estadual é restrita â Justiça do Esta- que o extraditando seja julgado, no pais requerente, por,Tribunal ou Fino de exce-

do-membro". ção. Implicitamente procura garantir o principio do juiz natural;

c)princípio "nan bis in idem' (arts. 77, 111, e 91,11, do EE): ha dois aspectos Imunidade da vereadar a considerar: em primeira lugar, um conflito positivo de competência, que impede

Os vereadores também são invioláveis por suas opiniões, palavras e votos, mas somente no exercício do mandato e na circunscrição do Município (art. 29,

a concessão da extradição quando o Brasil for igualmente competente para julgar o caso; em segundo lugar, a necessidade de assumir a obrigação de comutar o tempo

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Art.7° Código Penal 26 27 Código Penal ArL r

4. Deportação e expulsão

A depor/ação e a expulsão são medidas administrativas de policia com a fina-lidade comum de obrigar o estrangeiro a deixai o território nacional. A primeira consiste na salda compulsória do estrangeiro para o país de sua naciunalidade ou procedência ou para outro que consinta em recebê-lo (art. 58 do EB). Verifica-se a deportação nos casos de entrada mi estada irregular de estrangeiro (art. 57 do EE). O deportado pode reingressar no território nacional sob certas condições (art. 64).

4.1. Causas que levam à expulsão . . Ocorre a expulsão quando o estrangeiro atentar, de qualquer forma, contra a

• segurança nacional, a ordem política ou social / a tranqüilidade ou moralidade pú- blica e a economia popular, ou cujo procedimento o tome nocivo à conveniência e - 1 aos interesses nacionais.

de prisão que foi imposta no Brasil, em decorrência do pedido de extradição (art. 91, 11, do FE);

d) princípio da reciprocidade (art. 76 do EE): a extradição institui-se basica-mente sobre o principio dareciprocidade, que convem a duis Estadus soberanos. espe-cialmente pordois aspectos: de um lado, porque o delito deveser punidona comunidade onde foi praticado, e, de outro lado, porque expulsa do território nacional um delin-qüente, naturalmente indesejável, que um Estado estrangeiro deseja julgar e punir.

3.4. Condições para a extradição

As condições para a concessão da extradição vêm enumeradas no arr. 77 (condições negativas) e no art. 78 (condições positivas) do Estatuto do Estrangeiro.

3.5. Limitações ei extradição

a) brasileiro nato — a principal limitação em relação à pessoa é a da não-extradição de nacionais: o brasileiro natn não pode ser extraditado em nenhuma hipótese, enquanto

h) brasileiro naturalizado — poderá ser extraditado pnr crime comum prati-cado antes da naturalização ou por envolvimento comprovado cm tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins (art. 59 L1, da CF e art. 77,1, do EE). O nacional não extraditado responde perante a Justiça brasileira (art. 7 °, II e * 29 do CP);

c) alguns crimes especiuis: ambigiiidade — em relação aos crimes religio-sus, de imprensa, fiscais e puramente militares, a lei brasileira não ê precisa. Na verdade, estabelece um regime facultativo, embora a doutrina e a jurisprudência dominantes se manifestem no sentido de não se conceder a extradição por tais infrações. O mesmo não ocorre com o crime polítien ou de opinião, em que a proibição constitucional é expressa (arts. 59 L11, da CF e 77, VII, do EE). Ver nosso Manual sobre crimes políticos.

4.2. Outros fundamentos para a expulsão . .

É passível, também, de expulsão o estrangeini que: "a) praticar fraude a fim de obter a sua entrada ou permanência no Brasil; b) havendo entrado no território

nacional com infração â lei, dele não se retirar no prazo que lhe for determinado para fazê-lo, não sendo aconselhável a depurtação; c) entregar-se à vadiagem ou à mendicância; ou d) desrespeitar proibiçãu especialmente prevista cm lei para es-trangeiro" (141. 65 do EE).

4.3. Natureza jurídica da expulsão -

A expulsão não é pena, uras medida preventiva de policia. Constitui medida

administrativa, adotada pelo Estado, com suporte no poder político e fundamenta-da no legítimo direito de defesa da soberania nacional. Cabe ao Presidente da Re-pública deliberar sobre a conveniência e a oportunidade da expulsão (art. 66 do EE). O art. 75 do Estatuto do Estrangeiro arrola as causas impeditivas da expulsão. O Decreto n. 98.961, de 15 de fevereiro de 1990, dispõe sobre a expulsão de es-trangeiro condenado por tráfico de entorpecentes e drogas afins.

11—JURISPRUDÊNCIA SELECIONADA

Súmula Ida STF: "É vedada a expulsão de estrangeiro casado com brasilei-

ra, ou que tenha filho brasileiro, dependente da ecnnomia paterna".

Súmula 3 do STF: "A impunidade cuncedida a deputados estaduais é restrita

à Justiça do Estado".

Súmula 4 do STF: "Não perde a imunidade parlamentar o congressista no-

meado Ministro de Estado".

Súmula 245 do STF: "A imunidade parlamentar não se estende ao co-réu

sem essa prerrogativa".

Súmula 421 do STF: -Não impede a extradição a circunstância de scr o

extraditando casado com brasileira ou ter filho brasileiro".

"Principio do exuatenitorialidade da lei brasileira. CP ruí. 79 Lei n. 4.595, de

1964, art. 38, § 7'; art. 34, 1, § 1 2, Sujeição à lei penal brasileira de delitos pratica-

dos no exterior, porque ocorrente a hipótese inscrita oo art. 69 2 1 parte, e tendo em

vista o que dispõe o art. 7', II, 1,V, ambos do Cd. Penal" (STF, 2'1, I1C 67913/

DE Rel, Carins Venoso, DJU, 22-3-1991).

s'Crime cometido a bordo de navio mercante. Aplicação da lei penal brasilei-ra. Código de Bustamante. Au crime cometido em águas territoriais do Brasil a bordo de navio mercante de outra nacionalidade se aplica a lei penal brasileira, afastada a incidência do art. 301 do Código de Bustamante, por importar a sua prática em perturbação de tranqüilidade do nosso País, tantu mais quando ns países de nacionalidade do autor e vitima e da bandeira do navio não são signatários da Convenção de Havana de 1928" (STJ, HC, Rel. Dias Trindade, RT, 665:353).

"Compete à Justiça Federal processar e julgar os mimes cometidos a bordo dc navios, incluidns os praticados contra a segurança do transporte marítimo" (ST1,

HC, Rel. Edson Vidigal, DJU, 9-1-1991, p. 18044).

"Conflito de competência. Falsificação e uso de documento falso. Lugar da infração. Havendo ns crimes de que se trata sido praticados em territáno nacional, embora tenha sido descoberto no estrangeiro, determina-se a competência pelo

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Art. 72 Código Penal 28 29 Código Penal Ari. 72

lugar da infração, a teor do art. 70 do CPP" (STJ, CC, Rel. Flaquer Scartezzini. DJU, 21-6-1993,p. (2338).

"O processo e julgamento de furto praticado por brasileiro em pais estrangei-ro compete a autoridade judiciária nacional ex vi do disposto nn art. 5 2,11, b, do CP (atual art. 7°, II, b)" (STF, a Rei Djaci Falcão, RI', 4 74:382),

"O Supremo Tribunal Federal tem acentuado que a prerrogativa constitucio-nal da imunidade parlamentar em sentido material protege o congressista em todas as suas manifestações que guardem relação com o exercício do mandato, ainda que produzidas fora do recinto da própria Casa Legislativa (RTJ 131/1039, RTJ 135/ 509, RT 6481318), ou, com maior razão, quando exteriorizadas nn âmbito do Con-gresso Nacinnal. O depnimento por membro do Congresso Nacional a umaComis-são Parlamentar de Inquérito está protegido pela cláusula da invinlabilidade que tutela o legislador no desempenhn do seu mandato, especialmente quandn a narra-ção dos fatos — ainda que vciculadora de supostas ofensas morais — guarda ínti-ma conexa cnm o exercício dn oficio legislativo e com a necessidade de esclare-cer os episódios objeto da investigaçan parlamentar" (STF, Ioq. 681-5, Rel. Celso de Mello, DJU, 22-4-1994, p. 8941).

Discurso proferida da tribuna da Cântara dos Deputados. Imunidade mate-rial. "Demi-lustrado que as expressões lidas como ofensivas foram proferidas pelo parlamemar, no exercício do mandato, a inviolabilidade conferida a Deputados e Senadores, 'pnr suas opiniões, palavras e votos (CE art. 53, caput), impede a instauração de persecroia criminis. Arquivamento da representaça" (STF, Ism. 579-7, Rel. Célio Boga, DJU, 14-8-1992, p. 12224).

"Imunidade pàrlamentar nos chamados 'delitos de opinião'. Imunidade ma-terial ampla, desinteressando o local onde se deu a manifestação. A imunidade cogitada na CF estende-se aos Deputados Estaduais" (MS, AR, Rel. Décio Antô-nio Erpen, R177145, 147:67).

"A locução crime comum compreende, na abrangência do seu sentidn conceituai os delitos de natureza eleitoral. O congressista que os pratique subme-te-se ope constitutinnes a jurisdição penal origioãria do Supremo Tribunal Federal" (str, Pet. 6739, Rel. Carlos Velloso, DJU, 17-9-1993, p. 1 89 27).

"Competência por prerrogativa de funçãn. Crime cometido por Deputado Federal quando no exercício do mandato. Persistência da jurisdição do Supremo Tribunal Federal, quandn esse houver cassado. Súmula 394" (STF, Inq. 507.0. Rel. Paulo Brossard, DJU. 17-12-1993, p. 28049).

Prefeito Municipal —Competência — "Salvo a hipótese da instituição do Ór-gão Especial previsto pelo art. 93. XI, da CF, nos Tribunais de Justiça, somente ao T Pleno compete o julgamento do Prefeito Municipal (art. 29, )/Il 1, de os arts. 96, 1, a, da CF e 561 do CPPC (ST) HC, Rel. Flaquer Scartezzini,WV, 31 1-1992, p. 19770).

"O julgamento do Prefeito por colegiado especializado, previsto pelo Regi-mento Interno dn Tribunal de Justiça, não atenta contra a CF, art. 29. VIII" (STJ, HC, Rei Eti3011 Vidigal, DJU, 31-5-1993, p. 10677).

"Vereador não é protegido por imunidade parlamentar: é aeobertadb apenas pela inviolabilidade parlamentar. São institutos que se completam mas que não se confundem" (STJ, IIC, Rel. Edson Vidigal, DJU. 15-3-1993, p. 3822).

"A Constituição Federal nãn assegurou ao Vereador a garantia da impunida-de parlamentar formal. Os membros do Poder Legislativo dos Municípios podem ser submetidos a processo penal, independentemente de prévia licença da Câmara deVereadores a que pertencem" (STF, IIC, Rel. Celso de Mello, DJU, 3-12-1993, p. 26357 — RE 707:394). g

"A inviolabilidade e a imunidade judiciária de que tratam os arts. 133 e 142, I, respectivamente, da Constituição Federal e do Código Penal, não elidem a res-ponsabilidade penal do advogado, por crime, em tese, praticadn no exercício da profissão" (STJ, HC, Rel. Carlos Thibau, DJU,11-5-1992, p. 6442).

"A garantia da inviolabilidade do advogado, por seus atos c manifestações no exercício prnfissional, tem limites legais. Pressupfte o exercício regular e legitimo da advocacia. A imunidade não alcança a nfensa ao próprio Juiz que dirige o pro-cesso" (STJ, 11C, Rel, Costa Lima, DJU, 8-11-1993, p. 23571).

"Observadas as condições previstas lia Lei 6.815, de 19.08.1980, bem como a inexistência de óbice legal à extradição, impõe-se-lhe o deferimento. Isto ocorre quando pesa contra o extraditando condenação judicial com resíduo de pena a ser cumprido considerando o tráfico de emorpecente, não se pndendo cogitar da pres-crição. O fato de encontrar-se em atividade económica no Brasil, possuindo ende-reço feno e sendo pai de filhos brasileiros natos não obstaculiza o deferimento do pedido" (STF, T. Pleno, Extradição 653-3, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 7-12.1995, DJU, 23-2-996— RT, 727:409).

"O exercício declernência soberana do Estado não se estende, em nossodireito positivo, ans processos de extradição. Eis que o objeto da indulgentia principis res-tringe-se, exclusivamente, ao plano ilns ilícitos penais sujeitos Ji competência judsdicinnal do Estado brasileiro, O Presidente da República — que constitui, oas situações referidas no art. 89 do Estatuto do Estrangeiro, o único árbitro da conveni-ência e oportunidade da entrega do extraditando ao Estado requerente — não pode ser constrangido a abster-se Mi exercício dessa prerrogativa institucional que se acha sujeita ao domínio específico de suas funções comn chefe de Estado" (STF, T. Pleno, HC72.3918.DE Rel. Celso deMelle, j. 8-3-1995, MU, 17-3-1995 — RT, 718:519).

"Não cnmpete à Justiça brasileira, no prncesso de extradição, decidir sobre o aceno ou desacerto da Justiça portuguesa, nu interprenção e aplicação de sua le-gislação. Ao se pronunciar sobre o pedido de extradição, não cabe ao STF exami-na o mérito da condenação ou emitir juízo a respeito de vidos que porventura tenham maculado o prncesso no estado requerente" (STF, T. Pleno, HC 72.391-8- DF, Rel. Celso de Mello, j. 8-3-1995, DJU, 17.3-1995 — RI', 718:519).

"Quanto ao fato de ter o extraditando filha portuguesa e filho brasileiro, em sua companhia, ambos menores de idade e seus dependentes, não é empecilho extradição. A objeção pode nhstar n decreto de expulsão, se ocorrer a circunstância referida na alínea b do Mando art. 75 da mesma lei. Mas não a extradição" (STF, T. Pleno, ExtT o. 565-1, Rel. Sydney Saoches, j. 26-10-1994, DJU, 16.12-1994 — Má 712:483).

superveniência do julgamento do pedido extradicional prejudica a aprecia-ção do remédio constitucional de habeas carpas, quando impetrado este com fun-damento na alegação de excesso de prazo referente à prisão do extraditando" (STF,

Page 18: Bitencourt - CP Comentado

Código Penal ArL 9° Art. 8° Código Penal 30

T. Pleno, 1-1C 71.172,34Q, Rel. Celso de Mello, j. 25-3-1994, DRI, 13 5 1994 R7', 711:415).

"O paciente, cidadão pediam), condenado pela Justiça brasileira, não goza do direito de permanecer em território nacional, com fundamento no art. 75,11, b. da Lei 6.815/80, se não demonstra que os seu; filhos aqui naseidns estão sob sua

guarda e dependência econômica. Na espécie, além da fragilidade da prova trazida

aos autos, conforta a convicção de que não se cncontram presentes os requisims legais da lei de estrangeiros, o fato de o requerente, como consta dos autos, M ter

sido antedormente expulso devido à cniulenação por crime de furto, evidenciando, sem prova idônea em sentido contrário, que, há muito, não existe o vinculo familiar

legalmente exigido. Habeas corres indeferido" (STF, T. Plena HC 71.919-8-SP, Rel. limar Gaivão, j. 23-11-1994, DJU, 24-2-1995 — RT, 715:552).

"Embora os fatos atribuídos ao extraditando tenham ocorrido no Brasil, sen-do a imputação a ele feita a de participar de associação mafiosa que ama na Itália, são aplicáveis ao extraditando as leis penais italianas. As condições para a con-

cessão da extradição foram preenchidas, não havendo qualquer dos óbices a que se refere o art. 77 da Lei 6.815/80 alterada pela Lei 6.964/81. Extradição deferida"

(STF, T. Pleno, Extr. n. 637-1, Rel. Moreira Alves. j. 15 , 3-1995, DJU. 19-5-1995 — RT, 718:498).

itit pessoa extraditada pelo Governo brasileiro nãn poderá ser processada, presa, ou punida pelo Estado estrangeiro a quem foi entregue, desde que o fato

delituoso, não obstante cometido antes do pedido de extradição, revela-se diverso daquele que motivou o deferimento da pnstulação extradicional originária, salvo

se o Brasil — apreciando pedido de extensão que lhe foi dirigido—., com este expressamente concordar. Intcligência do art. 91, I, do Estatuto do Esdangein),

que consagra n principio da especialidade ou do efeito limitativo da extradição"

(STg, T. Pleno, Extradição n. 571-5 - Confederação Helvética [Pedido de Exten-são), Rel. Celso de Mello, j. 7-6-1995. DJU, 30-6-1995 — RT, 720:544).

Pena cumprida no estrangeiro

Art. 8 2 A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas.

—V. art. 42 do CP.

—V arts. 787 a 790 dn CPP.

I —DOUTRINA

Quando a pena aplicada no exterior fnr diversa, pelo mesmn cume, será ate-nuada a pena aplicável no Brasil; quando se tratarde pena idêntica, haverá deduçãn

da pena a cumprir, uma espécie de detração penal. Trata-se, na verdade, de um

reconhecimento do democrático e univcrsal princípio ne bis in idem.

Eficácia de sentença estrangeira

Art. 92 A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na espécie as mesmas conseqüências, pode ser homologada no Brasil para:

— V. art. 102, I, h, da CE

-- V. arts. 780 a 790 do Cl'!'.

I — obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a ou-tros eleitos civis;

— V. arts. 63 a 68 do CPP.

11 — sujeite-10 a medida de segurança.

— V. arts. 96 a 99 do CR

— V. Ws. 171 a 179 da Lei n. 7.210/84 (Lei de Execução Penal).

' Parágrafo único. A homologação depende: a/para os eleitos previstos no inciso I, de pedido da parte interessada;

P/para os outros efeitos, da existência de tratado de extradição com o pais de cuja autoridade judiciária emanou a sentença, ou, na falta de trata-do, de requisição do Ministro da Justiça.

I —DOUTRINA.

1. Limites dos efeitos de sentença estrangeira A execução de pena é ato de soberania; por isso, os efeitos de sentença es-

trangeira no Blasil são limitadíssimos: resumem-se a dois (pouco usuais, inclusi-

ve). Assim como não se aplicam aqui as leis estrangeiras, seus julgados tampouco

podem ser executados. •

2. Efeitos que dependem de homologação do STF Os efeitos que sentença penal estrangeira produz no País são: a) aplicação de

medida de segurança; b) ressarcimento. do dano ou restituição civil, necessitando

para tanto dahnmologação do Supremo Tribunal Fedeml (art. 102,1, h, da CF; arts.

787 a 790 do CPP). esses efeitos . aipda dependem da satisfação das condições

exigidas no pariágrafo

3. Efeitos que não dependem de homologação do STF

a) reconhecimento da reincidência (a44 . 63);

b) requisito para a extraterritorialtdade (art. 7, § 2°, de e, do CP). Para esses

efeitos, não é necessária a homologação, séndo suficiente a comprovação legal da

exisiência da condenação.

Page 19: Bitencourt - CP Comentado

Art. 10 Código Penal 32

33 Código Penni ArL 10

4. Competência para a homologação

atribuição do Supremo Tribunal Federal examinar sentença estrangeira e, se for o caso, homologá-la (art. 102, I, h, da CF e arts. 787 a 790 do CPP).

II - JURISPRUDÊNCIA SELECIONADA

Súmula 420 do STF: "Não se homologa sentença proferida no estrangeiro

sem prova do trânsito em julgado".

''Sentença penal estrangeira. Crime de apropriação indébita. Produto do cri-

me (dinheiro) depositado em estabelecimento bancário do Brasil. Pedido de homo-

logação do decisório para os efeitos civis formulado pela vitima do dano sofrido.

Harmonia da pretensão com os dispositivos da legislação brasileira (CP, na 9 11 , 1, e parágrafo único, alínea a, CEP, art. 790 e Regimento Interno, mis. 211 e 212)"

(STF, USE, Rel, Thompson Flores, DJU, 13-12-1976, p. 10711).

"Para se conceder a homologação de sentença estrangeira n5o é indispensá-

vel carta de sentença. Basta que a sentença se revista das formalidades externas

necessárias ít sua execução, contenha os elementos indispensáveis à compreensão

dos fatos em que se fundou, seja motivada e tenha conclusão. No tocante ao objeto

da condenação, não é preciso que seja determinado, sendo suficiente que seja

determinável" (STF, USE, Rel, Thompson Flores, DJU, 24-10-1975, p. 7759).

Contagem de prazo

Art. 10.0 dia do começo inclui-se no cômputo do prazo. Contam-se os

dias, os meses e os anos pelo calendário comum.

— V. art. 798, § PP, do CPP.

I — DOUTRINA

I. Prazos do Código Penal

O prazo processual desconsidera o dia inicial, começando no primeiro dia

Mil seguinte, e considera o termo final (arr. 798, § Ph do CPP). No prazo penal material, ao contrário, computa-se o primeiro dia e se exclui o último. Os prazos

penais não se interrompem nem se suspendem por férias, domingos ou feriados.

Essa disciplina prazal aplica-se a todos os prazos materiais: execução de penas, sursis, prescrição, livramento condicional, decadência etc. Assim, por exemplo, o

prazo de dez dias, iniciado no dia cinco, encerra-se no dia 14, às 24 horas.

2. Prazos previstos em dois códigos

Quando o mesmo prazo estiver previsto em dois códigos (CP e CPI', s. g.), aplica-se a contagem que for mais favorável ao acusado. Isso ocorre, por exemplo, na prescrição, decadência etc.

3. Contagem do prazo da perempção

A perempção é instituto de direito material, é causa de extinção da

punibifidade, assumindo caráter e natureza material. Não comungamos da opinião

dominante, segundo a qual deveria ser adotado o prazo processual.

4. Calendário comum: gregoriano Calendário comum é o gregoriano, de maneira que os meses e os anos têm

sempre seu número real de dias, com um ano bissexto a cada quatro anos. A conta-

gem do lapso temporal é feita a partir do termo inicial ao dia correspondente do

próximo mês, ou seja, de maneira direta ou corrida, sem levar em conta as horas

(frações do dia). Assim, o prazo de um ano, iniciando-se a qualquer hora do dia 15

de setembro, tem-lio:Irá ã 24 horas do dia 14 de setembro do ano seguinte. É irrelevante que o dia do início seja domingo ou feriado e que o ano seja ou não

bissexto. A hora do inicio tampouco é relevante, computando-se por inteiro o dia

do começo do prazo.

II - JURISPRUDÊNCIA SELECIONADA

a) Prazo penal, inclusda do dia inicial

"Em se tratando do tempo inicial dos prazos em geral, o art. 10 do CP deter-

mina a inclusão do dia do começo: de outro lado dispondo que os dias, meses e anos são contados pelo calendário comum, o prazo de um mês é contado de deter-

minado dia, â véspera do mesmo dia do mês subseqüente, e, o de um ano, é conta-

do de certo dia do mês, â véspera do dia idêntico daquele mês do ano seguinte"

(TACrimSP, AC, Rel. Ciro Campos, R7', 625:299).

"A diversidade de critério está em que o Código Penal visa precipuamente a

tutelar a liberdade do delinqüente eventualmente sujeito ao cumprimento de uma

pena maior em horas daquela a que foi condenado. Ao passo que a lei adjetiva

pretende assegurar a amplitude de defesa, da sociedade ou dos réus, também oca-

sionalmente comprometida por intimação nas últimas barus do dia" (TACrimSP,

Rec., Rel. Francis Davis, R7', 426:426).

6) Prazos: calendário gregoriano

Proza — "Os prazos penais, no Código Penal, obedecem ao calendário

gregoriano. Contam-se de zero c quatro horas" (ST1, lus, Ratais Vicente

Cernicchiaro, DiU, 29-8-1994, p. 22219).

Prazn— Cômputo —calendário gregoriano —" A legislação penal sufragou

o calendário para o cômputo do prazo. O período do dia começa â zero hora e se

completa às 24h. Assim, a pessoa nascida ao meio-dia complela o primeiro dia de

vida A meia-noite" (S13, RE, Rel. Vicente Cemicchiaro, DJU, 14-6-1993, p. 11792).

"Expirando o prazo decadencial num domingo, é autorizada por lei a sua •

dilação para o dia útil imediato" (STF, HC, Rel. Leitão de Abreu, RT, 517:398).

Page 20: Bitencourt - CP Comentado

Arts.11 012 Código Penal 34 35 Código Penal Art.13

Frações não computáveis da pena

Art. 11. Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade e nas restri-tivas de direitos, as frações de dia, e, na pena de multa, as frações de cruzeiro.

1— DOUTRINA

1. Alteração legislativa

O Decreto-lei n. 2284/86 instituiu o cruzado; a Lei o. 7.730/89 criou n cru-zado nnvo, mantendo o centavo; a Lei n. 8.024/90 voltou a adotar o cruzeiro, man-tendo novamente o centavo; a Lei n. 8.697/93 criou õ cruzeiro reul; finalmente, a Lei n. 8.880/94 instituiu o real, mantendo o centavo.

2. Frações das penas temporais

Não são computadas nas penas privativas de liberdade c nas restritivas de direitos as frações de dias, isto ê, as horas e minutos dessas penas; não podem ser desprezadas, porém, as frações de mês e ano. As frações de mês devem ser reduzi-das a Mas c as frações de ano a meses.

3. Frações das penas pecuniárias

Nas penas pecuniárias. não são computadas as frações da unidade da moeda nacional (moem o cruzeiro, hoje õ real, amanhã o que houver etc.). Adntamos esse raciocínio por extensão à prestação pecunitia e à perda de bens e iodares, cuja natureza também é pecuniária, a despeito da ficção legal.

II — JURISPRUDÊNCIA SELECIONADA

a) Desprezo de fração da moeda nacional

"O art. 11 do CP deve ser interpretado'como determinante de desprezo à fração.da unidade corrente de moeda" (TACrimS11 Rel.Abreu Machado, JTACriinSP, 97:298).

' Frução do dia multa.

"Não se computam na pena de multa as frações de dia-multa, aplicando-se à mesma, por analogia in banam porteai, o principio do art. 11 do CP, que matsda serem desprezadas'as frações de dia das penas pfivativas de liberdade" (TACrimSP, AC, Rel. Harõldo Luz, RT, 702:362).

"A pena pecuniária, pela novil sistemática, não enseja a aplicação de parcela . do dia-multa" (JTACriniSP, 88:342).

Legislação especial

Art. 12. As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incriminados " - por lei especial, se esta não dispuser de modo diverso.

— V. art. 1 2 do Dec.-lei n. 3.688/41 (Lei das Contravenções Penais).

— V art. 287 da Lei n. 4737/65 (Código Eleitoral).

I —DOUTRINA

1. Aplicação das regras gerais: abrangência

O sistema penal brasileiro é composto pelos Código Penal e de Processo Penal e pelas leis extravagantes. As regras gerais do Código Penal são aplicáveis à legislação especial, quando não houver disposição expressa em sentido contrário.

Assim, a regra é a aplicação; a exceção será a não-aplicação.

2. Regras gerais: Parte Geral e Parte Especial

O Código Penal também contém regras gerais inserias na Parte (3eral, como,

por exemplo, conceitn de funcionário público (art. 327).

II — JURISPRUDÊNCIA SELECIONADA

"Os ennceitos da Parte Geral regem tanto o Direito Penal não codificado vigente, corno us leis penais especiais que possam vir a ser elaboradas. É que tais preceitos prevalecem sempre. Agora ou ou futuro, se nenhum dispositivo de lei penal especial não as contraria. Assim, a simples condição de lei penal especial

não basta, por si só, para imobilizar as normas gerais dn Código Penal. Entendi-mento diverso levaria ao reconhecimento de que a legislação penal especial cons-tituiria um compartimento separado — o que é um absurdn lógicn e jurídico — sem nenhum canal de comonicaçan com o Direito Penal geral. A verdade ê qoe entre os dois deve haver sempre um continuo entrelaçamento" (T1SP, AC, Rel.

Márcio non, RI, 663:277). Em sentido semelhante, RT, 644:262.

Titulo II DO CRIME

Relação de causalidade

Art. 13.0 resullado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.

— V. arts. 69 a 71 do CP.

— V. art. 19 do CP. •

Superveniência de causa independente

§ 1 2 A superveniência de causa relativamente independente exclui a ' imputação quando, por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, en-

tretanto, imputam-se a quem 05 praticou.