apostila eletroquímica
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Eletroquímica
A eletroquímica estuda as reações nas quais ocorrem transferência de elétrons (reações
de óxido-redução) e o seu aproveitamento prático para converter energia química em
energia elétrica e vice-versa.
Transferência de elétrons: oxidação e redução
O termo oxidação nasceu do fenômeno químico “reagir com o oxigênio”. É
comum dizer que o ferro sofreu corrosão (oxidou-se), istoé, que o ferro combinou-se
com o oxigênio. Analisando a reação abaixo:
Fe + O2 → Fe2O2,
Podemos afirmar que o ferro metálico combinou-se com o oxigênio, formando
o seu respectivo óxido. O que significa dizer que o ferro sofreu oxidação. Na realidade,
a equação acima é possível, pois o ferro perde elétrons, enquanto que o oxigênio recebe
os elétrons perdidos pelo ferro. Então, podemos afirmar que: O ferro oxidou-se e o
oxigênio reduziu-se. Como regra geral, temos:
Oxidar – quer dizer perder elétrons.
Reduzir – quer dizer ganhar elétrons.
Cuidado: a presença de oxigênio não é condição para que haja uma reação de
óxido-redução. Para existir reações de óxido-redução, não é necessária a presença
de oxigênio. A oxidação é a doação de elétrons acompanhada de um aumento do Nox,
enquanto que redução é o recebimento de elétrons acompanhado de uma diminuição do
Nox.
Por exemplo a reação entre o íon cobre e zinco metálico:
O que ocorre na prática: o zinco desloca o íon cobre, o zinco metálico passa para o meio
aquoso sofrendo oxidação enquanto que o íon cobre sofre redução passando a cobre
metálico que se deposita sobre a barra de zinco.
Comparando a reatividade dos elementos como no experimento acima no qual podemos
contatar que o zinco é mais reativo (sofre oxidação) que o cobre é possível construirmos
uma fila de reatividade.
Ordem de reatividade dos metais
Na, Mg, Al, Zn, Fe, Pb, H2, Cu, Ag, Pt, Au
Metais não nobres Metais nobres
Diminui a reatividade e a capacidade de perder e-
Número de Oxidação – Nox
Nos compostos contendo Hidrgênio, o átomo desse elemento tem geralmente Nox = +1.
A única excessão ocorre nos hidretos metálicos.
O número de oxidação do oxigênio é -2. Porém se esse elemento estiver ligado ao flúor,
poderão acontecer os seguintes casos: em OF2, o oxigênio terá o Nox = +2 e em O2F2, o
oxigênio terá Nox = +1. Na água oxigenada, H2O2 o Nox é igual a -1.
Os metais alcalinos (família 1A) e a prata tem sempre Nox = +1
Os metais alcalinos terrosos (família IIA) e o zinco tem sempre Nox = +2
Os halogênios (família 7A) em compostos binários apresentam sempre Nox = -1.
Inicio Final
Agente oxidante: É a espécie química que contém o elemento que sofre redução.
Agente redutor: É a espécie química que contém o elemento que sofre oxidação.
Semi-reações
As semi-reações são um meio conveniente de separar reações de oxidação e de redução.
As semi-reações para
Sn2+
(aq) + 2Fe3+
(aq) Sn4+
(aq) + 2Fe3+
(aq)
são:
Sn2+
(aq) Sn4+
(aq) + 2 e-
2 Fe3+
(aq) + 2e- 2Fe2+
(aq)
• Oxidação: os elétrons são produtos.
• Redução: os elétrons são reagentes.
Balanceamento das Equações
Balancear uma equação química é igualar o número total de átomos de cada elemento ,
no primeiro e no segundo membros da equação.
4 Al + 3 O2 2Al2O3
No caso particular das equações de oxirredução, há, porém, um outro critério,
igualmente importante:
Tornar o número de elétrons cedidos pelo redutor igual ao número de elétrons recebidos
pelo oxidante (afinal os elétrons podem ser criados nem destruídos).
4 Al + 3 O2 2Al2O3
Zero Zero +3 -2
Veja que a contabilidade do número total de elétrons cedidos pelo redutor e recebidos
pelo oxidante está respeitada:
• Se 1 átomo de Al perde 3 elétrons, então 2 . 2 = 4 átomos de Al perderão 4 . 3 = 12
elétrons.
• Se 1 átomo de O ganha 2 elétrons, então 3 . 2 = 6 átomos ganharão 6 . 2 = 12 elétrons.
Portanto, agora, para acertarmos os coeficientes nos prenderemos as seguintes regras
descritas em etapas:
Há seis átomos de oxigênio, no 1º e no 2º membros
Há quatro átomos de alumínio no 1º e 2º membros
I) Determinamos o Nox dos átomos de todos os elementos participantes da
reação, nos reagentes e nos produtos.
HI + H2SO4 H2S + H2O + I2
+1 -1 +1 +6 -2 +1 -2 +1 -2 0
II) Verificamos que espécies sofrem variação de Nox.
III) Determinamos à variação total (∆) da oxidação e da redução; obtemos esse valor
multiplicando a variação do Nox pela atomicidade do elemento.
Determinação do ∆:
Oxidação: Variação = 1 ( -1 para 0) ∆ = 1 .1 = 1
Atomicidade = 1 (HI)
Redução: Variação = 8 (+6 para -2) ∆ = 8 . 1 = 8
Atomicidade = 1 (H2SO4)
Igualamos o número de elétrons cedidos e recebidos colocando o Δ da oxidação como
coeficiente da espécie que sofreu redução, e o Δ da redução como coeficiente da espécie
que sofreu oxidação.
Então:
8 HI + 1 H2SO4 H2S + H2O + I2
IV) Encontramos os demais coeficientes por tentativa:
Oxidação do Iodo (Nox aumenta)
Redução do Enxofre (Nox Diminui)
CÉLULAS ELETROQUÍMICAS
Um sistema eletroquímico é formado quando pelo menos 2 eletrodos (metais
ou condutores de elétrons) estão em contato com uma solução eletrolítica ou um outro
meio que permita a condução iônica.
Neste arranjo mínimo é possível que ocorra uma reação global de oxirredução
espontânea entre as espécies em solução e os eletrodos, sendo então o sistema
classificado como célula galvânica ou pilha, ou pode-se forçar a ocorrência de uma
reação de oxi-redução não-espontânea através da imposição de um potencial elétrico,
de uma fonte externa, sobre os eletrodos, neste caso o sistema é chamado de célula
eletrolítica.
As pilhas e baterias que usamos no dia a dia são exemplos de células
galvânicas, enquanto vários produtos como a soda cáustica, hipoclorito de sódio (água
sanitária), alumínio, e outros, são produzidos através de eletrólise, empregando células
eletrolíticas. Em ambos os tipos de células eletroquímicas, galvânica ou eletrolítica, o
eletrodo em que acontece a reação de oxidação é denominado de anodo (entrega
elétrons ao circuito externo), enquanto o eletrodo em que acontece a redução é
denominado de catodo (recebe elétrons do circuito externo).
As polaridades do anodo e catodo são, entretanto, diferentes para uma e outra
célula. Nas células galvânicas o catodo é positivo e anodo é negativo, já nas células
eletrolíticas ocorre o inverso, o catodo é negativo e anodo é positivo. A Figura abaixo
ilustra os conceitos de células galvânicas e eletrolíticas, bem como mostra a polaridade
dos eletrodos.
Figura 1: Célula Galvânica e Célula Eletrolítica
Pilhas ou Células Galvânicas
Uma pilha é uma reação de óxido-redução espontânea que ocorre em um
sistema apropriado para aproveitarmos o fluxo de elétrons. A primeira pilha foi
construída por Alessandro Volta em 1800. Como físico, Volta tentava provar que só
existia um tipo de eletricidade, aquela estudada pelos físicos. Variando os metais
usados, rapidamente se convenceu de que seu raciocínio fazia sentido. Ele empilhou
alternadamente discos de zinco e de cobre, separando-os por pedaços de tecido
embebidos em solução de ácido sulfúrico. Ele verificou que, se dois metais diferentes
forem postos em contacto um com o outro, um dos metais fica ligeiramente negativo e o
outro ligeiramente positivo, estabelecendo entre eles uma diferença de potencial ou seja,
uma tensão elétrica. A pilha de Volta produzia energia elétrica sempre que um fio
condutor era ligado aos discos de zinco e de cobre, colocados na extremidade da pilha.
Usando esta experiência como base, concebeu uma pilha, a que deu o nome de pilha
voltaica.
Figura 1: Pilha de Volta
Mas já em 1836 o químico inglês John Daniell construiu uma pilha diferente da
de Volta, eram dois eletrodos interligados, cada eletrodo é um sistema constituído por
uma barra metálica imersa em uma solução aquosa de um sal formada pelos cátions do
mesmo metal.
Construindo a pilha
É preciso interligar os eletrodos, externamente um fio condutor conecta as
barras metálicas, enquanto que a ponte salina faz a ligação entre as soluções.
O eletrodo de zinco é o pólo – (negativo) chamado de ânodo, eletrodo que sofre a
oxidação.
O eletrodo de cobre é o pólo + (positivo) chamado de cátodo, eletrodo que sofre
redução.
Os elétrons sempre fluem pelo circuito externo de quem oxida para quem reduz, ou do
ânodo para o cátodo.
Reações que ocorrem na pilha quando ligada:
Ânodo : Zn(s) Zn(aq) + 2e-
Cátodo: Cu(aq) + 2e- Cu(s)
______________________________________________________
Global : Zn(s)+ Cu(aq) Zn(aq) + Cu(s)
Quando a pila começa a funcionar os elétrons começam a migrar.
O eletrodo de zinco que sofre oxidação tem a sua massa diminuída enquanto que o
eletrodo de cobre que sofre redução tem sua massa aumentada.
Na ponte salina os íons fluem para equilibrar os eletrodos, no eletrodo de zinco
o sistema está com muitas cargas positiva então os ânions migram para lá, enquanto que
o eletrodo de cobre está com muitas cargas negativas, portanto, os cátions da ponte
migram para lá.
Por que isso ocorre?
Para entendermos, vejamos as reações que ocorrem em cada eletrodo
separadamente.
No eletrodo de Zinco ocorre a seguinte reação em equilíbrio:
Zn(s) ↔ Zn2+
(aq) + 2 e-
Isso significa que o zinco metálico (da placa) sofre oxidação, isto é, doa dois
elétrons para o cátion zinco (da solução) e se transforma em Zn2+
. O inverso também
ocorre, o cátion zinco presente na solução recebe os dois elétrons doados pelo zinco e se
transforma em zinco metálico. Ocorre, portanto, um processo de oxidação e redução
ininterrupto.
O mesmo se aplica ao eletrodo de cobre, que terá a reação global em equilíbrio
dinâmico:
Cu( s) ↔ Cu2+
(aq) + 2 e-
Daniell percebeu que se ligasse esses dois eletrodos, o mais reativo doaria seus
elétrons para o cátion menos reativo em vez de fazer isto com os cátions da sua própria
solução. Neste caso, o zinco é o mais reativo e sofre oxidação, doando os elétrons para o
cobre, por isso a diminuição da sua massa. O eletrodo que sofre oxidação é o polo
negativo, chamado de ânodo. O eletrodo de cobre é o que sofre a redução, o cátion
cobre recebe os dois elétrons do zinco, e é denominado cátodo (polo positivo).
Assim temos a equação global dessa pilha, que é obtida pela soma das duas semi-
reações.
Ânodo: Zn(s) ↔ Zn2+
(aq) + 2 e-
Cátodo: Cu2+
(aq) + 2 e-
↔
Cu( s)
__________________________________
Zn(s) + Cu2+
(aq) ↔ Zn2+
(aq) + Cu( s)
Sua representação ou notação química é feita obedecendo a seguinte regra:
Assim, para a pilha de Daniell, temos:
Zn / Zn
2+// Cu
2+ / Cu
Para você prever quem irá oxidar ou reduzir na pilha, quando você for montar uma, é o
potencial de redução.
Potencial de eletrodo
O potencial de eletrodo é, na verdade, o resultado de uma diferença de
potencial entre as fases que o constituem, isto é,
A origem deste potencial pode ser explicada através de considerações de
natureza cinética.
Tipos de eletrodos
Todo eletrodo contém um estado oxidado e reduzido de uma espécie química e
geralmente são classificados como:
1ª Espécie:
- Metal em contato com solução contendo íon do metal: M(s)|MZ+(aq)
Exemplos:
Ag|Ag+ Ag
+ + e´ Ag(s)
Cu|Cu2+
Cu2+
+ 2e´ Cu(s)
- Eletrodos de gás: Pt|X2(g)|X+
(aq) ou Pt|X2(g)|X-(aq)
Exemplos:
Pt|H2|H+ 2 H
+ + 2e´ H2
Pt|Cl2|Cl- Cl2 + 2e´ 2Cl
-
2ª Espécie:
- Metal em contato com sal pouco solúvel do metal e imerso em solução contendo ânion
do sal: M(s)|MX(s)|X-(aq).
Ag|AgCl|Cl- AgCl + e´ Ag + Cl
-
Hg|Hg2Cl2|Cl- Hg2Cl2 + 2e´ Hg2
2+ + 2Cl
- (eletrodo de calomelano)
Hg|Hg2SO4|SO4 2-
Hg2SO4 + 2e´ Hg22+
+ SO42-
c) 3ª Espécie:
- Metal inerte (Pt, Au) em contato com uma solução contendo os estados reduzido e
oxidado de uma espécie química: Pt|MZ+
(aq) |M(z+n)+
(aq).
Pt|Fe3+
,Fe2+
Fe3+
+ e´ Fe2+
Pt|Fe(CN)64+
, Fe(CN)63+
Fe(CN)64+
+ e´ Fe(CN)63+
Potencial padrão de redução
O potencial redox é a espontaneidade, ou a tendência de uma espécie química
adquirir elétrons e, desse modo, ser reduzido. O valor é medido em volts (V) ou
milivolts (mV). Cada espécie possui um potencial redox intrínseco, quanto mais
positivo for esse valor maior a tendência da espécie para adquirir elétrons e ser
reduzida.
Para se obter potenciais de eletrodos se atribui um valor arbitrário a um deles,
que se toma como referência. Os demais são medidos verificando-se a diferença de
potencial que adquirem quando ligados ao eletrodo de referência. O sinal depende do
sentido em que ocorre a reação do eletrodo.
Tabela de potencias-padrão de redução (em volts)
Li Li+ + e- Eº = -3,04 V K K+ + e- Eº = -2,92 V
Ba Ba+ + e- Eº = -2,90 V H2 2 H+ + 2e- E°= 0,00 V
Na Na+ + 1 e- E°= + 2,71 V
Zn Zn2+ + 2 e- E°= + 0 ,76 V
Cu Cu2+ + 2e- E°= + 0,34 V
Os potenciais padrão de redução, E°red são medidos em relação ao eletrodo
padrão de hidrogênio (EPH).
Os potenciais de eletrodo-padrão, na escala de hidrogênio, são geralmente
listados em tabelas, nas quais se encontram valores dos potenciais de redução, tendo-se
valores negativos e positivos em relação ao εEPH=0, conforme é mostrado na tabela 2.
É importante comentar que o uso do EPH como eletrodo de referência é
bastante inconveniente na prática cotidiana em laboratório, por isso, são usados
comumente eletrodos de referência secundários, mais fácies de serem preparados e de se
trabalhar nos experimentos eletroquímicos. Estes eletrodos são geralmente de espécie,
como o de Ag|AgCl|Cl- e o de Hg|Hg2Cl2|Cl
-, que é conhecido também como eletrodo
de calomelano.
Au
men
to d
o
po
der
red
uto
r
Figura 2: Potencias de redução do eletrodo padrão na escala de hidrogênio, 25ºC. (ATKINS,1999).
Cálculo da f.e.m
A célula galvânica apresenta uma diferença de potencial elétrico (E) ou força
eletromotriz (fem) gerada pelas reações químicas que tendem a se realizar
espontaneamente nas superfícies de contato entre as fases.
O fluxo de elétrons do anodo para o catodo é espontâneo.
Os elétrons fluem do anodo para o catodo porque o catodo tem uma energia
potencial elétrica mais baixa do que o anodo.
A diferença potencial: é a diferença no potencial elétrico. É medida em volts.
Um volt é a diferença potencial necessária para conceder um joule de energia
para uma carga de um coulomb:
A força eletro motiva (f.e.m.) é a força necessária para empurrar os elétrons
através do circuito externo.
Potencial de célula: Ecel é a f.e.m. de uma célula. Para soluções 1 mol/L a 25 °C
(condições padrão), a fem padrão (potencial padrão da célula) é denominada
E°cel.
Os potenciais padrão de redução, E°red são medidos em relação ao eletrodo
padrão de hidrogênio (EPH).
O EPH é um catodo. O gás H2 é borbulhado em torno do eletrodo da platina
que está mergulhado numa solução que contém íons H+. O hidrogênio fica detido na
superfície da platina. Utilizando uma solução nas condições padrão (1 mol/L de H+,
pressão do H2 a 1 atm e a 25°C), temos o eletrodo-padrão de hidrogênio.
2H+(aq, 1 mol/L) + 2e- H2(g, 1 atm) Eº = 0
Figura 3: Esquema de um eletrodo padrão de Hidrogênio
A f.e.m. de uma célula pode ser calculada a partir dos potenciais padrão de redução:
A fem de uma célula galvânica é uma propriedade intensiva e o seu valor fica
determinado pelas variáveis intensivas de estado do sistema: temperatura, pressão e
variáveis de composição. A fem não depende, portanto, da forma nem das dimensões da
célula.
As células galvânicas podem ser reversíveis ou irreversíveis. Nas células
reversíveis, a inversão do sentido da corrente provoca a exata inversão da reação
química, ficando excluídos todos os processos estacionários irreversíveis como difusão,
condução térmica, etc.
É evidente que, devido à segunda lei da termodinâmica, nenhuma célula
galvânica real pode apresentar um comportamento totalmente reversível, já que todos os
processos naturais são irreversíveis.
Tipos de células
A fem de uma célula tem origem sempre nos processos eletroquímicos que
ocorrem na superfície de separação entre as fases. O resultado global pode ser uma
transformação química da célula ou apenas uma variação de atividade (ou concentração)
de certos componentes que se transferem indiretamente de fases em que sua
concentração é maior para outras em que sua concentração é menor. Por esta razão, as
células galvânicas são classificadas em dois grandes grupos: células químicas e células
de concentração.
Além disso, as células de ambos os grupos se subdividem em células com
junção líquida e células sem junção líquida, conforme existir ou não contato entre
soluções eletrolíticas na célula.
Classificação das células
Nas Figuras 3 e 4 têm-se exemplos de células químicas sem e com junção
líquida, respectivamente. Já nas Figuras 8.8 e 8.9 são mostrados exemplos de células de
concentração com e sem junção líquida, respectivamente.
Figura 4: Células químicas sem junção líquida. Neste caso os eletrodos, quimicamente diferentes, compartilham a mesma
solução eletrolítica.
Figura 5: Célula química com junção líquida. Neste caso os eletrodos estão imersos em soluções eletrolíticas diferentes,
unidas por uma ponte salina.
Agentes oxidantes e redutores
Quanto mais positivo o E°red mais forte é o agente oxidante à esquerda.
Quanto mais negativo o E°red , mais forte é o agente redutor à direita.
Uma espécie na parte esquerda superior da tabela de potenciais padrões de
redução oxidará espontaneamente uma espécie que está na parte direita inferior da
tabela.
Isto é, o F2 oxidará o H2 ou o Li; o Ni2+
oxidará o Al(s).
Energia Livre de Gibbs e a Espontaneidade de reações redox
A Energia Livre de Gibbs, ∆G, (função termodinâmica) é um critério de
espontaneidade de uma reação química. Podemos relacionar a energia de Gibbs com
a constante de equilibrio da reação e o potencial da pilha galvânica.
Numa pilha galvânica a energia química é convertida em energia elétrica, tem-se a
seguinte relação:
∆G = Welet Welet = Trabalho elétrico
Por outro lado:
Welet = - n. F. Epilha
Onde:
n= numero de elétrons
F= constante de Faraday = 96 500C
Em uma reação espontânea, à temperatura e pressão constantes a variação na
energia livre (ΔG) é dada por:
∆Gº = - n. F. Eº
Onde:
• n = Número de elétrons transferidos na reação;
• E = fem;
F = Constante de Faraday: 1 F = 96485 C/mol = 96485 J/V.mol
Quanto maior o potencial de redução de um elemento, maior a tendência em
ganhar elétrons. Portanto, ele recebe elétrons de outro elemento de menor potencial de
redução. Para o potencial de oxidação, quanto maior o valor de E0, maior a tendência
em perder elétrons e, portanto, ceder elétrons para outro elemento de menor potencial
de oxidação.
Por exemplo:
Zn(s) + Cu(aq)2+
Zn(aq)2+
+ Cu(s)
Dados:
Cu2+
+ 2 e– Cu° E = + 0,34 V
Zn2+
+ 2 e– Zn° E = – 0,76 V
Para sabermos se a reação é espontânea ou não, devemos adotar a seguinte
conduta:
– verificar, no sentido indicado da reação, a espécie que sofre oxidação (perde e–) e
a espécie que sofre redução (ganha e–);
– se a espécie que sofre redução apresentar um Eºred maior que o da espécie que
sofre oxidação, a reação é espontânea; caso contrário, não.
O fato de o íon Cu2+
apresentar um Ered maior significa que ele possui
capacidade de atrair e– do Zn(s), e, sendo assim, a reação será espontânea.
Observação – Objetos metálicos podem ser protegidos da corrosão de vários
modos diferentes:
– aplicação de uma camada de tinta na superfície metálica;
– cobrir a superfície metálica com outro metal (eletrólise);
– colocar o metal a ser protegido em contato com outro metal que apresente
um potencial de oxidação maior. Neste caso, o metal de maior potencial de oxidação
sofre corrosão (oxidação), protegendo o metal de menor potencial de oxidação. Por
exemplo, Mg e Zn são utilizados para a proteção do Fe contra a ferrugem. Mg e Zn
são denominados metais de sacrifício.
Basicamente, um potencial positivo indica um processo espontâneo e um
potencial negativo indica um processo não-espontâneo.
Critério de Espontaneidade de uma reação
Efeito da Concentração na Fem da Pilha
A fem de uma célula não depende apenas da natureza dos componentes, mas
também das suas concentrações, ou melhor, das atividades dos componentes.
W. Nernst (1880) obteve uma relação quantitativa entre a fem e as atividades
dos componentes de uma célula.
Onde:
R= Contantes dos gases = 8,315 J/K.mol
F = Constante de Faraday = 96 500 C/mol
T = Temperatura em Kelvin
Q = Quociente da reação
Seja a reação:
aA + bB cC + dD
Quando E = 0, a reação atinge o equilíbrio e Q = Keq.
À temperatura de 25ºC (298K) e passando para a forma de logaritmos decimais
a equação de Nernst pode-se escrever de forma simplificada:
Curiosidade:
Diferentemente do que normalmente se pensa, o coração é controlado por
impulsos elétricos, e não apenas uma bomba mecânica.
Os impulsos elétricos que fazem com que o coração bata resulta da
eletroquímica e das propriedades das membranas semipermeáveis.
Nos músculos cardíacos, a diferença de concentração dos íons K+ gera uma
pilha de concentração.
As células marca-passo são aquelas que controlam a taxa de contração do
coração. Se essas células não funcionam direito, pode-se implantar cirurgicamente um
marca-passo artificial. Este é uma pequena bateria que gera os pulsos elétricos
necessários para disparar as contrações do coração.
Pilhas primárias e secundárias comerciais
a) Pilha seca ou pilha de Lê Clanche
A pilha seca, a mais comum das pilhas, tem o cátodo composto de grafite, que serve
como um suporte sólido para a reação de redução. Na pilha seca ácida, a reação de
redução ocorre numa pasta úmida de NH4Cl e MnO2:
2 NH4+ + 2 MnO2 + 2e´ → Mn2O3 + 2 NH3 + H2O
Um cilindro de zinco serve como ânodo: Zn(s) → Zn
2+ + 2e´
A fem desta pilha é de 1,5 volts.
b) Pilha recarregável de níquel-metal hidreto (NiMH)
Muito utilizada em câmeras digitais, este tipo de pilha veio como uma
alternativa às pilhas de Ni-Cd, pois o Cd é um elemento muito poluente. Apresenta fem
de 1,2 V.
c) Bateria íon-lítio
São células recarregáveis de última geração, que apresentam elevada densidade
de energia e uma vida útil relativamente longa, chegando a suportar cerca de 2000
ciclos de carga e descarga. São extensamente utilizadas em aparelhos celulares,
notebooks e outros equipamentos eletrônicos portáteis. A fem varia entre 3,4 e 3,7 V.
d) Células a combustível
As células a combustível (CaC) são conversores eletroquímicos de energia
semelhantes às pilhas ou baterias convencionais, porém diferem destas por serem
células abertas, ou seja, os reagentes podem ser continuamente alimentados e os
produtos de reação retirados.
Estas células utilizam como combustível o H2 ou pequenas moléculas
orgânicas, como o metanol e etanol, os quais são oxidados no anodo com a ajuda de
eletrocatalisadores nanopartículados. No catodo, ocorre a reação de redução do O2,
também com utilização de eletrocatalisadores apropriados.
Na figura 6, tem-se um desenho esquemático de uma célula a combustível que
utiliza solução de KOH como eletrólito. Este tipo de CaC é conhecida como célula a
combustível alcalina, ou AFC (Alkaline Fuel Cell), e foi utilizada nos programas
espaciais da NASA nas décadas de 60 e 70.
Figura 6: Representação Esquemática de uma célula à combustível
Atualmente, existem vários outros tipos de CaCs que diferem basicamente no
tipo de eletrólito utilizado. Uma das tecnologias mais promissoras é a que utiliza uma
membrana condutora de prótons como eletrólito.
As células a combustível de membrana polimérica, as PEMFC (Proton
Exchange Membrane Fuel Cell), têm várias vantagens que as tornam muito interessante
para aplicações portáteis e veiculares, podendo, no futuro, vir a substituir as atuais
baterias de íon-lítio e também os motores de combustão interna, atualmente utilizados
nos carros.
Na figura 7, tem-se um desenho esquemático de um conjunto eletrodos
membrana de uma PEMFC, onde é possível se observar os seus componentes
principais.
Figura 7: Componentes do conjunto eletrodos-membrana de uma PEMFC.
CÉLULAS ELETROLÍTICAS
A eletrólise é baseada na utilização de energia elétrica provinda de uma fonte
externa para permitir que uma reação não- espontânea ocorra.
As reações geradas pela energia externa são chamadas reações de eletrólise e
ocorrem em células eletrolíticas.
Em 1833, M. Faraday estabeleceu a relação entre a quantidade de eletricidade
transportada durante a eletrólise e as massas dos produtos formados nos eletrodos.
O resultado foi expresso em duas leis conhecidas como leis de Faraday.
1. A massa de um produto formado na eletrólise é proporcional à
quantidade de eletricidade transportada. Portanto:
m= k. i. t
na qual o produto it, corrente x tempo, é a carga elétrica, q, utilizada durante a reação e
k é uma constante de proporcionalidade que depende da natureza do produto formado.
2. As massas de diferentes produtos formados na eletrólise pelo transporte
de uma determinada carga elétrica, guardam entre si a mesma proporção que as
respectivas massas equivalentes. Portanto,
m1 : m2 : m3 : ...... = Eq1 : Eq2 : Eq3 : ......
É bom lembrar que a massa equivalente de um elemento é a massa atômica dividida
pela respectiva valência. No caso de um mol do elemento, o equivalente-grama é a
massa molar dividida pela valência.
Para compreender melhor a segunda lei de Faraday, considere a montagem
apresentada na Figura ??. Existem três células eletrolíticas, ligadas em série, contendo
soluções de H2SO4, CuSO4 e FeCl3, e eletrodos de Pt.
Figura 8: Células eletrolíticas ligadas em série para verificação da segunda lei de Faraday
A mesma corrente percorre as três células e, num mesmo período de tempo, a
mesma quantidade de eletricidade passa por elas.
Nestas condições, as massas de H2(g), Cu(s) e Fe(s) produzidos no catodo das
células guardam entre si a seguinte proporção:
mH2 : mCu : mFe = 1,008 : 31,77 : 18,615
Tal proporção é a mesma dos equivalentes-grama dos produtos, ou seja,
1,008/1; 63,54/2 e 55,84/3, para H2(g), Cu(s) e Fe(s), respectivamente.
Da mesma forma, as massas de O2(g) e Cl2(g) liberadas no anodo das três
células guardam entre si a proporção:
mO2 : mO2 : mCl2 = 8,000 : 8,000 : 35,45
As leis de Faraday podem ser racionalizadas admitindo-se que as reações nos
eletrodos são realizadas entre as espécies químicas e os elétrons. Neste caso, o elétron
seria utilizado na estequiometria da reação, tal como ocorre com qualquer elemento ou
substância. Para exemplificar, a redução de Ag+ a Ag pode ser representada pela
equação:
Ag+ + e´ Ag
Então 1 mol de elétrons são necessários para reduzir 1 mol de Ag+. Caso fosse
a redução de Cu2+, então 2 mol de elétrons seriam necessários para produzir 1 mol de
Cu.
Fatores que afetam os produtos da eletrólise
As reações que se processam nos eletrodos durante a eletrólise dependem da
natureza das espécies químicas, da sua concentração, da natureza do eletrodo e da
temperatura.
Para que se inicie a eletrólise é necessário que se aplique aos eletrodos um
valor de potencial mínimo, chamado de potencial de descarga. Os íons com menor
potencial de descarga terão prioridade para reagir no eletrodo, até que sua concentração
atinja um valor tal que possibilite que outro íon possa se descarregar.
Em solução aquosa os íons dos metais alcalinos, alcalinos terrosos e Al3+
, têm
potenciais de descarga muito mais elevados do que do íon H3O+, logo estes íons não se
descarregam em meio aquoso, ocorrendo, sim, a redução de H3O+ produzindo H2(g).
Os ânions oxigenados como NO3-, SO4
2-, ClO4
- também não se descarregam no
anodo, ocorrendo então a descarga de OH- produzindo O2(g). Os íons Cl
- e I
- podem se
descarregar, desde que suas concentrações sejam suficientemente elevadas.
Assim, na eletrólise em meio aquoso de sais como Na2SO4, KNO3, KClO4 ou
de ácidos como H2SO4 e HNO3, ocorre na prática a eletrólise da H2O, produzindo-se
H2(g) no catodo e O2(g) no anodo. Já na eletrólise de soluções de NaCl ou HCl, ocorre
a produção de H2(g) no catodo, porém pode ocorrer a formação de Cl2(g) no anodo,
caso a concentração de Cl- seja alta. A natureza do eletrodo pode influenciar também no
produto formado. Assim, sobre eletrodos de Pt, no anodo e no catodo, a eletrólise do
CuSO4, em meio aquoso, produz Cu metálico no catodo e O2(g) no anodo. Já sobre
eletrodos de Cu, o produto obtido no anodo é o Cu2+
.