apostila direito comercial e societário 2010

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Universidade de Mogi das Cruzes Direito Comercial e Societário Prof. Alenilton da Silva Cardoso DIREITO EMPRESARIAL, COMERCIAL E SOCIETÁRIO INTRODUÇÃO Direito comercial é o ramo do direito que tem por objeto regular as relações jurídicas que surgem do exercício do comércio. Como a execução de tal atividade há muito deixou de se restringir aos atos do comércio, envolvendo qualquer atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços, atualmente, a expressão Direito Empresarial mostra-se mais adequada para designar a matéria em estudo, porque é mais abrangente do que as simples operações de compra e venda ou troca de mercadorias ou serviços. Hoje, a atividade empresarial envolve, além da compra e venda ou troca mencionadas, o comércio marítimo, as atividades de industria e transformação, as operações de câmbio, corretagem, comissão e custódia de valores e documentos, a locação de bens, o transporte, os contratos de seguro e fretamento, enfim, qualquer forma de produção e circulação de bens e serviços, excetuando-se apenas a atividade de quem exerce profissão intelectual, científica, literária ou artística, ainda que com a ajuda de auxiliares ou colaboradores. Será empresário, todavia, o profissional intelectual, cientista, literário ou artista, que exercitar tais atividades de maneira organizada e voltada ao lucro, pois a intenção da lei é de beneficiar apenas aqueles que não se utilizam do seu conhecimento para fins econômicos. As fontes de estudo do Direito Comercial são o Código Civil de 2002, a Constituição de 1988, os dispositivos ainda vigentes do Código Comercial de 1850, a legislação comercial extravagante, as doutrinas e a jurisprudência.

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Universidade de Mogi das CruzesDireito Comercial e Societário

Prof. Alenilton da Silva Cardoso

DIREITO EMPRESARIAL, COMERCIAL E SOCIETÁRIO

INTRODUÇÃO

Direito comercial é o ramo do direito que tem por objeto regular as relações jurídicas que surgem do exercício do comércio. Como a execução de tal atividade há muito deixou de se restringir aos atos do comércio, envolvendo qualquer atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços, atualmente, a expressão Direito Empresarial mostra-se mais adequada para designar a matéria em estudo, porque é mais abrangente do que as simples operações de compra e venda ou troca de mercadorias ou serviços.

Hoje, a atividade empresarial envolve, além da compra e venda ou troca mencionadas, o comércio marítimo, as atividades de industria e transformação, as operações de câmbio, corretagem, comissão e custódia de valores e documentos, a locação de bens, o transporte, os contratos de seguro e fretamento, enfim, qualquer forma de produção e circulação de bens e serviços, excetuando-se apenas a atividade de quem exerce profissão intelectual, científica, literária ou artística, ainda que com a ajuda de auxiliares ou colaboradores.

Será empresário, todavia, o profissional intelectual, cientista, literário ou artista, que exercitar tais atividades de maneira organizada e voltada ao lucro, pois a intenção da lei é de beneficiar apenas aqueles que não se utilizam do seu conhecimento para fins econômicos.

As fontes de estudo do Direito Comercial são o Código Civil de 2002, a Constituição de 1988, os dispositivos ainda vigentes do Código Comercial de 1850, a legislação comercial extravagante, as doutrinas e a jurisprudência.

I – O REGIME JURÍDICO DA LIVRE INICIATIVA

Conforme determinação da Constituição de 1988, a intervenção do Estado no domínio econômico da iniciativa privada só é possível em hipóteses excepcionais, como por exemplo, for necessária à segurança nacional ou se estiver presente relevante interesse coletivo, isto porque sem um regime econômico de livre iniciativa, de livre competição, não há direito comercial e, logo, o regime jurídico da livre iniciativa privada procura garantir a livre competição, através de repressão ao abuso do poder econômico e à concorrência desleal (Leis nº. 8.884/94 e 8.137/90).

A caracterização de infração à ordem econômica dá ensejo à repressão de natureza administrativa, para a qual é competente o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Justiça.

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Prof. Alenilton da Silva CardosoAlém de atribuições de ordem repressiva, o CADE também atua na

esfera preventiva, validando os contratos entre particulares que possam limitar ou reduzir a concorrência.

O art. 1º, incisos III e IV, da CF/88, estabelece a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa como princípios que devem ser observados para o exercício de qualquer atividade no país, fixando o art. 170, também da CF/88, que a ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: (i) soberania nacional; (ii) propriedade privada; (iii) função social da propriedade; (iv) livre concorrência; (v) defesa do consumidor; (vi) defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação; (vii) redução das desigualdades regionais e sociais; (ix) busca do pleno emprego; e (ix) tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte.

O parágrafo único do art. 170, assegura ainda que todos tem direito ao livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei, como, por exemplo, a produção de energia nuclear.

II – A ATIVIDADE EMPRESARIAL

Como já foi dito, é empresarial a atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços, de modo que será empresário aquele que exercer profissionalmente esta atividade.

O empresário pode ser pessoa física (empresário individual) ou jurídica (sociedade empresária). Em ambos os casos, é preciso que a atividade seja exercida com habitualidade (atividade tomada como profissão), organização (direcionada para um fim específico, coordenando os meios necessários para a produção) e objetivo econômico (fim lucrativo), sendo que a condição para a pessoa considerar-se empresária é a plena capacidade civil, obtida aos 18 anos de idade ou, ainda, a partir dos 16 anos, desde que emancipados pelos pais.

Os absolutamente incapazes (menores de dezesseis anos; enfermos ou deficientes mentais sem necessário discernimento para os atos ad vida civil; e aqueles que mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade) e os relativamente incapazes (maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; ébrios habituais; viciados em tóxicos; deficientes mentais com discernimento reduzido; excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; e pródigos) não podem exercer, por si mesmos, a atividade empresarial. Para tanto, a lei exige representante ou assistente legal.

Também não podem ser empresários individuais, porém, podem ser sócios ou acionistas de uma sociedade empresarial: a) militares da ativa das Forças Armadas e das Polícias Militares; b) funcionários públicos civis da União, Estados, Distrito Federal e Municípios; c) magistrados (juizes) e membros do Ministério Público (promotores de justiça); d) médicos para exercício simultâneo da medicina e farmácia,

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Prof. Alenilton da Silva Cardosodrogaria ou laboratório; e) estrangeiros não residentes no país; f) corretores e leiloeiros; g) falidos, enquanto não reabilitados.

As principais obrigações dos empresários são:

(i) registrar-se na Junta Comercial;

(ii) manter escrituração contábil regular e;

(iii) levantar demonstrações contábeis periódicas para apurar os resultados positivos ou negativos da empresa.

Todas essas obrigações tem por finalidade manter a sociedade e o Estado bem informados a respeito da saúde financeira da empresa, resguardando o princípio da segurança jurídica nos negócios envolvendo a mesma.

2.1. Registro da Empresa

O registro da empresa, que representa para fins jurídicos o seu nascimento legal, encontra-se regulado pela Lei nº. 8.934/94, que institui o Sistema Nacional de Registro de Empresas Mercantis, composto pelo Departamento Nacional de Registro do Comércio (DNRC) e pela Juntas Comerciais.

O DNRC integra o Ministério do Desenvolvimento, Industria e Comércio Exterior, cuja finalidade consiste em supervisionar, orientar, normatizar, coordenar e fixar diretrizes básicas para a prática de atos registrários a cargo da Junta Comercial.

Já a Junta Comercial, é o órgão oficial encarregado da execução e administração dos serviços de registro, que envolve:

a) atos de matrícula e cancelamento : que compreende leiloeiros, tradutores públicos, interpretes comerciais e administradores de armazéns;

b) atos de arquivamento: que se refere à constituição, alteração, dissolução e extinção das sociedades empresárias e das empresas individuais;

c) atos de autenticação: relacionados aos livros de escrituração;

Cumpre observar, que o empresário que não observa as obrigações registrarias em estudo, é considerado pela lei como irregular, sujeitando-se às sanções penais, administrativas, trabalhistas e tributárias, além de não ter direito de pedir a própria falência, nem dos seus devedores, nem ingressar com pedido de recuperação judicial, muito embora seus credores possam pedir sua falência. Não bastasse isso, o sócio desse tipo de empresa fica obrigado pessoal e ilimitadamente pelas dívidas empresariais.

2.2. Estabelecimento Empresarial

É o conjunto de bens corpóreos (palpáveis, concretamente existentes, como por exemplo: móveis, mercadorias, utensílios, imóveis, veículos) e

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Prof. Alenilton da Silva Cardosoincorpóreos (não palpáveis, mas existentes devido ao seu valor econômico, como por exemplo: nome empresarial, marcas, patentes, sinais, segredo industrial, técnicas específicas, expressões de propaganda, fundo de comércio ou aviamento) utilizados pelo empresário para o exercício da sua atividade.

As expressões sucursal, filial e agência não possuem distinção jurídica e, embora sejam mencionadas de forma diversificada, referem-se a uma só realidade: o estabelecimento subrodinado a um principal, constituindo, afinal, ramificações de uma estrutura administrativa.

Na verdade, o estabelecimento comercial constitui uma disposição racional de bens, decorrendo o seu valor econômico não da soma dos bens que o compõe, mas da organização que representa um valor agregado.

Ponto comercial:

A noção de estabelecimento, aliás, é mais abrangente até do que a noção de ponto comercial, pois este nada mais é do que o local onde se encontra fisicamente estabelecido o empresário. Por tal motivo, a Lei nº. 8.245/91 (Lei do Inquilinato) confere proteção especial ao empresário locatário, dando-lhe o direito de renovar compulsoriamente a locação desde que tenha, mediante contrato escrito, locado o imóvel há mais de 5 anos, exercendo a mesma atividade comercial nos 3 últimos anos, cabendo-lhe notificar o locador nesse sentido até 6 meses antes do final do contrato; conquanto a intenção da ordem jurídica e privilegiar quem faz o imóvel cumprir sua função social, ainda que a contragosto do proprietário do imóvel.

Isso decorre do princípio da função social da propriedade, trazido para a nossa realidade pela Constituição Brasileira de 1988, que tem como fundamentos, dentre outros mais, zelar pela dignidade da pessoa humana e valorizar a livre iniciativa privada, atribuindo uma ordem finalista ao exercício do direito de empresa que é assegurar a todos uma existência digna, conforme os ditames da justiça social.

Exceção de retomada:

Em defesa à ação de renovação compulsória de locação ajuizada pelo locatário comerciante, o locador, de acordo com o art. 52 da Lei nº. 8.245/91, pode argumentar que precisa retomar o imóvel: (a) para a realização de obra por determinação do poder público, desde que esta importe em mudança radical da coisa; (b) para a realização de obras para modificação que aumente o valor do negócio ou da propriedade; (c) para a utilização do imóvel para uso próprio, sendo vedado ao locador usar o bem para o mesmo ramo do locatário; (d) porque a proposta do locatário mostra-se insuficiente ao valor locatício real; e (e) porque recebeu proposta melhor de terceiro, permitida a contraproposta ao locatário.

Trespasse de estabelecimento:

A doutrina consagrou a expressão trespasse para indicar a cessão ou alienação do estabelecimento empresarial. Com efeito, o artigo 1.146 do Código Civil de 2002 permite que o estabelecimento seja alienado (vendido), respondendo o adquirente (comprador) pelo pagamento dos débitos anteriores à transferência, desde que regularmente contabilizados, continuando o devedor primitivo solidariamente obrigado pelo prazo de um ano, além de ficar proibido, salvo autorização expressa do adquirente, de fazer concorrência a este nos cinco anos subseqüentes à transferência.

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Prof. Alenilton da Silva CardosoDistintamente do que ocorre na alienação de coisas comuns, o

trespasse de estabelecimento empresarial é cercado de certas exigências legais, dando validade e segurança aos contraentes, a saber: (a) o trespasse deve ser averbado à margem da inscrição do empresário no órgão de registro da empresa e publicado na imprensa oficial; (b) o trespasse somente será eficaz na ausência de dívidas, devendo os credores ser notificados a consentir, em até 30 dias, de modo expresso ou tácito com a alienação; (c) e, como visto, há solidariedade entre os contraentes pelos débitos contabilizados anteriores à transferência, no prazo de 1 ano.

Obs: o art. 448 da CLT consagra a imunidade dos contratos de trabalho em face da mudança na propriedade ou estrutura jurídica da empresa.

Obs²: o art. 133 do Código Tributário Nacional prevê a responsabilidade integral do adquirente do estabelecimento, caso o alienante cesse a exploração do comércio, indústria ou atividade; e subsidiária com o alienante, caso este prossiga na exploração ou inicie dentro de 6 (seis) meses, a contar da data da alienação, nova atividade no mesmo ou em outro ramo de comércio, indústria ou profissão.

2.3. Nome Empresarial

Dividido entre firma ou razão social, que caracteriza o nome da empresa propriamente dito, devendo aparecer em todas as suas relações comerciais; e denominação fantasia, que dá titulo público ao estabelecimento empresarial, fazendo ficar conhecido perante os consumidores; o nome empresarial é a identificação do sujeito para o exercício da empresa, e por isso mesmo não pode ser objeto de alienação, nem se confunde com a marca, porque esta representa apenas um sinal de identificação.

Exemplo de firma ou razão social:

Empresário individual – nome do empresário + gênero de atividade (optativo) + designação do tipo de empresa (ex: João da Silva Comércio de Produtos de Limpeza-ME, ou, simplesmente, João da Silva-ME);

Sociedade empresarial – o nome de um ou mais sócios, completo ou abreviado, acrescido do ramo de atividade e tipo societário adotado (ex: Silva & Pereira Comércio de Bebidas LTDA), ou ainda, de qualquer nome permitido adotado acrescido do ramo de atividade e tipo societário (ex: SP Comércio de Bebidas LTDA).

Exemplos de denominações ou nomes fantasia:

Extra; Americanas; Pernambucanas, Casas Bahia; Boticário etc.

Observações:

(i) O nome de empresário deve distinguir-se de qualquer outro já inscrito no mesmo registro. Se o empresário tiver nome idêntico ao de outros já inscritos, deverá acrescentar designação que o distinga.

(ii) o empresário individual não pode adotar nome fantasia;

(iii) a sociedade limitada deve ter acrescida à sua denominação a palavra limitada por escrito ou abreviada;

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Prof. Alenilton da Silva Cardoso(iv) A sociedade cooperativa funciona sob denominação

integrada pelo vocábulo "cooperativa";

(v) A sociedade anônima opera sob denominação designativa do objeto social, integrada pelas expressões "sociedade anônima" ou "companhia", por extenso ou abreviadamente;

(vi) A sociedade em comandita por ações pode, em lugar de firma, adotar denominação designativa do objeto social, aditada da expressão "comandita por ações";

(vii) A sociedade em conta de participação não pode ter firma ou denominação.

(viii) A inscrição do nome empresarial será cancelada, a requerimento de qualquer interessado, quando cessar o exercício da atividade para que foi adotado, ou quando ultimar-se a liquidação da sociedade que o inscreveu.

De toda forma, o nome empresarial possui uma proteção especial, na medida em que a sua utilização não autorizada por terceiros caracteriza concorrência desleal.

III - PROPRIEDADE INDUSTRIAL

O direito industrial, regulado pela Lei n°. 9.279/96, assegura aos empresários os direitos e obrigações relativos à propriedade industrial, em conformidade com a Constituição Federal de 1988 (art. 5º, XXIX).

O órgão encarregado de proteger os direitos do empresário é o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), que é uma autarquia federal sediada no Rio de Janeiro, sendo os bens de propriedade industrial protegíveis a patente e o registro.

• Patente:

É o documento que assegura ao autor o direito de propriedade industrial sobre uma invenção ou modelo de utilidade, ligando-se à idéia de coisas novas e passíveis de industrialização.

Invenção – é a criação de coisa nova, não compreendida no estado da técnica, suscetível de aplicação industrial (ex: um novo remédio, um novo sabor de bebida, um novo tempero, uma nova máquina para debulhar milho, um novo lubrificante automotivo, um novo aparelho capaz de economizar combustível etc).

Prazo de validade: 20 anos a partir do depósito, não podendo ser menor que 10 anos;

Modelo de utilidade – consiste em qualquer modificação de forma ou disposição de objeto de uso prático já existente, ou parte deste, melhorando sua funcionalidade no uso ou na fabricação (ex: uma

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Prof. Alenilton da Silva Cardosonova forma de cadeira, um novo tipo de teclado, um novo modelo de churrasqueira, uma nova chave de ignição para veículo etc).

Prazo de validade: 15 anos a partir do depósito, não podendo ser menor que 7 anos;

Os Requisitos para a concessão da patente são: (i) a novidade, porque o produto ou serviço novo ou melhorado deve ser desconhecido de todos; (ii) a atividade inventiva, conquanto o produto ou serviço novo ou melhorado devem ser criados a partir da técnica humana, não sendo óbvia ou evidente; (iii) a industriabilidade, uma vez que a produção do produto ou serviços novo ou melhorado deve ser passível de fabricação/prestação em escala; e (iv) a licitude, pois só é patenteável aquilo que não seja proibido por lei.

• Registro:

É o documento que assegura ao autor o direito de propriedade industrial sobre uma marca ou um desenho industrial, que não se ligam, necessariamente, à idéia de coisas novas, mas capazes de dar uma nova feição à produtos pré-existentes, não relacionados à utilização; ou, ainda, de fazer com que um produto seja identificado por algo externo e visível.

Desenho industrial – é a forma plástica ornamental de um objeto, ou seja, o conjunto de traços, linhas e cores que possa ser aplicado a um produto, proporcionando resultado visual novo e original à sua configuração externa e que possa servir de tipo de fabricação industrial (ex: desenho para um novo modelo de veículo).

Os requisitos para sua concessão são a novidade, haja vista que não está compreendido no estado da técnica; a originalidade, pois deve resultar uma configuração visual distinta em relação a outros objetos, e licitude.

Marca – é um sinal distintivo, visualmente perceptível, de um produto ou serviço, que serve para distinguir e identificar produtos e serviços de outros idênticos, semelhantes ou afins. Abrange a marca propriamente dita, de produto ou serviço1; a marca de certificação2; a marca coletiva3; a marca verbal ou nominativa4; a marca emblemática ou figurativa5; enfim, qualquer forma notória que destaca um produto.

Os requisitos para sua concessão são a novidade relativa, porque a lei não exige novidade absoluta, mas apenas que se

1 Que o distingue de outro produto ou serviço idêntico, semelhante ou afim, de origem diversa. (ex: Danone, Unilever, Nestlê, Brahma, Coca Cola etc. 2 Que atesta a conformidade de um produto ou serviço com determinadas normas ou especificidade técnicas (exs: INMETRO, ISO 9.000, ISSO 14.000, ABNT etc.), notadamente quanto à qualidade, natureza, material utilizado e metodologia empregada.3 Que identifica produtos ou serviços provindos de membros de determinada entidade.4 Constituída somente de nomes, palavras, denominações ou expressões (ex: Philips, CCE, LG, Globo e você, tudo a ver). 5 Firmada a partir de emblemas, símbolos, figuras ou expressões (ex: M do Macdonalds, símbolos da Ford, GM, etc)

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Prof. Alenilton da Silva Cardosoapresente nova dentro da classe em que o requerente deseja registrá-la; a não coincidência com marca notória; e a licitude;

Prazo de validade: 10 anos a partir do registro, prorrogáveis por períodos iguais e sucessíveis, sem limitação.

Cessão de uso e licenças

Os direitos de propriedade transferem-se por atos entre vivos (negócios) ou por sucessão (no caso de morte ou extinção do titular). Em qualquer caso, a transferência deve ser averbada no INPI para que produza efeitos legais em relação a terceiros, devendo ser aperfeiçoada em documento público ou particular ou, ainda, se a transferência ocorrer em virtude de morte ou ausência do titular, mediante decisão judicial.

Distintamente do que ocorre na cessão, o contrato de licença não transfere a propriedade di direito imaterial, mas tão somente o direito de usá-lo e explorá-lo, com ou sem exclusividade.

Contrato de Franquia

Regulado pela Lei nº. 8.955/94, é o contrato pelo qual uma das partes (franqueador) cede a outra (franqueado) o direito de uso se marca ou patente, associado ao direito de distribuição exclusiva ou semi-exclusiva de produtos e serviços e, eventualmente, ao direito de uso de tecnologia de implantação e administração de negócio ou sistema operacional desenvolvidos ou detidos pelo franqueador, mediante remuneração.

As principais obrigações do franqueador são: (a) fornecer ao interessado franqueado a “circular de oferta de franquia”, contendo as principais informações sobre seu negócio e essenciais à celebração do contrato de franquia empresarial; (b) descrição detalhada da franquia, do negócio e das atividades que serão desempenhadas pelo franqueado; (c) indicação de que é efetivamente oferecido ao franqueado pelo franqueador, no que se refere a supervisão de rede, serviços de orientação e treinamento do franqueado e de seus funcionários, auxílio na análise e escolha de ponto, layout e padrões arquitetônicos nas instalações do franqueado.

Já do franqueado, as principais obrigações são: (a) pagamento da taxa de adesão; (b) pagamento de uma porcentagem do faturamento; (c) venda de produtos exclusivos indicados pelo franqueador; (d) venda de produtos conforme tabela de preços fornecida pelo franqueador.

Licença compulsória (quebra de patente)

Aplicável somente nos casos de invenção e modelo de utilidade, porque fogem do interesse meramente comercial, atingindo toda a sociedade que tem interesse pela fabricação em escala de determinado produto ou serviço, a licença compulsória significa a possibilidade do Estado quebrar de patente e tirar a exclusividade de produção dos proprietários que incorram numa das seguintes situações:

(a) exercício abusivo de direitos de patente ou prática de abuso de poder econômico por meio dela;

(b) inércia do titular em fabricar ou fabricar insuficientemente produtos ou serviços, contrariando o interesse público e social;

(c) comercialização que não satisfaz a necessidade do mercado;

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Prof. Alenilton da Silva Cardoso(d) situação de dependência de uma patente a outra, e o objeto da

patente dependente constituir substancial progresso técnico em relação à anterior, não tendo o titular realizado acordo com o detentor da patente dependente para a exploração da patente anterior;

(e) emergência nacional ou interesse público, declarados em ato do Poder Executivo Federal.

Tudo isso porque, repise-se, o empresário possui uma função social a cumprir, e caso seu exercício de empresa não atenda aos anseios da sociedade, pode se sujeitar a medida enérgicas no sentido de obrigar a fazê-lo.

IV - DIREITO SOCIETÁRIO

Podemos conceituar sociedade como contrato em que pessoas reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados. Seus elementos caracterizadores são: (i) o contrato registrado na Junta Comercial (sociedades personificadas) ou não registrado (sociedades em comum e em conta de participação - arts. 986 e 996 do CCB/02); (ii) as pessoas; (iii) a contribuição com bens e/ou serviços e partilha dos resultados; e (iv) a definição do objeto social, que distingue as sociedades empresárias das não empresárias.

Sociedade comercial ou empresarial é a pessoa jurídica de direito privado não estatal, que tem por objeto social a exploração de atividade comercial ou a forma de sociedade por ações. Ela não se confunde com a as pessoas que a compõem, tendo personalidade jurídica própria e distinta dos seus sócios.

A sociedade comercial ou empresarial é sujeito de direito personalizado, podendo, por isso, praticar todo e qualquer ato jurídico em relação ao qual inexista proibição expressa.

A personalização das sociedades em estudo, assim, geram três conseqüências bastante precisas, a saber: (a) titularidade negocial: porquanto a sociedade é pessoa jurídica existente por si só, capaz de direitos e obrigações; (b) titularidade processual: uma vez que a pessoa jurídica pode tanto ser Autora quanto Ré num processo judicial; e (c) responsabilidade patrimonial: haja vista que a pessoa jurídica tem patrimônio próprio, o qual responderá pelas dívidas empresariais, e não o patrimônio dos sócios.

Tocante à extinção, a sociedade se dissolverá quando ocorrer: (i) o vencimento do prazo de duração, salvo se, vencido este e sem oposição de sócio, não entrar a sociedade em liquidação, caso em que se prorrogará por tempo indeterminado; (ii) o consenso unânime dos sócios; (iii) a deliberação dos sócios, por maioria absoluta, na sociedade de prazo indeterminado; (iv) a falta de pluralidade de sócios, não reconstituída no prazo de cento e oitenta dias; (v) a extinção, na forma da lei, de autorização para funcionar (art. 1.033 do CCB/02).

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Prof. Alenilton da Silva Cardoso4.1. Contrato social

Contrato significa ajuste de vontades. Esse ajuste poder ser formal ou por escrito, e informal ou verbal.

No que diz respeito às sociedades, o contrato social dever prever as normas disciplinadoras da vida social, de forma que qualquer assunto que diga respeito aos sócios e à sociedade, pode – e deve – ser objeto de avença entre os membros da pessoa jurídica empresária.

É claro que nem tudo poderá ser previsto e exaustivamente regrado. Todavia, desde que não contemple solução ilegal, repudiada pelo direito, o contrato social poderá dispor sobre qualquer tema de interesse para os sócios.

As cláusulas essenciais do contrato social são:

(a) tipo societário; (b) objeto social; (c) capital social;

(d) responsabilidade dos sócios; (e) qualificação dos sócios;

(f) nomeação do administrador; (g) nome empresarial;

(h) sede e foro judicial; (i) prazo de duração6;

(j) visto de advogado.

Existem também as cláusulas acidentais, que não são indispensáveis, mas visam melhor disciplinar a vida da sociedade. Sua ausência não importa em irregularidade da empresa, cabendo citar como exemplos a cláusula de compromisso arbitral, sobre o direito de reembolso a sócio, que fixa prazo para pagamento de sócio dissidente7, sobre efeitos após a morte de sócio etc.

Direitos dos sócios (principais): (i) participação nos lucros sócias; (ii) deliberar sobre os atos relacionados à administração da sociedade; (iii) fiscalizar a administração; (iv) retirar-se da sociedade.

4.2. Sociedades Simples e Sociedades Empresárias

O Código Civil de 2002, diferentemente do Código Civil de 1916, que dividia as sociedades entre civis e comerciais, passou a proceder tal divisão a partir das noções de sociedade simples e empresariais.

A diferença básica entre uma e outra, é que enquanto as sociedades simples não se dirigem necessariamente aos atos do comércio, qualificando-se como o típico acordo de vontades para a consecução de um fim comum; as sociedades empresariais são constituídas exatamente para tal finalidade, qualificando-se como um acordo de vontades para a consecução do lucro econômico.

Será sempre simples, a sociedade que não for empresarial, e por isso é o modelo mais adequado para a formação de sociedades civis de prestação de serviços intelectuais, científicos, literários ou artísticos.

6 Determinado ou indeterminado7 Sócio dissidente é aquele que pretende se retirar da sociedade. Existe, também, o sócio remisso, que é aquele que não cumpre com sua obrigação de contribuir para a formação do capital social.

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Prof. Alenilton da Silva CardosoSociedade entre cônjuges:

Com o novo Código Civil, a sociedade entre marido e mulher é possível desde que o regime matrimonial entre ambos seja o da comunhão parcial ou da participação final nos aquestos. Os casados sob o regime da comunhão universal ou da separação obrigatória, não podem constituir sociedade nem ser sócios diferentes de uma mesma empresa, porque enquanto no caso do regime de comunhão universal de bens não existe pluralidade de patrimônio, no caso do regime de separação obrigatória o destacamento dos bens é imposto pela lei, que veda sua junção.

Sob o novo Código (art. 978), o empresário casado pode, qualquer que seja o regime de bens, sem necessidade de obter outorga conjugal, alienar ou gravar de ônus real imóveis que pertençam ao patrimônio da empresa.

4.3. Sociedades não personificadas (sociedade em comum / e sociedade em conta de participação)

Embora o novo Código Civil estabeleça que a personalidade jurídica da sociedade comece com o registro de seus atos constitutivos na Junta Comercial, o mesmo diploma possui dispositivos que regem o que denomina de sociedade não personificada, abrangendo a sociedade em comum e a sociedade por conta de participação. 

Portanto, considera-se sociedade não personificada aquela cujo ato constitutivo ainda não foi registrado no órgão competente, ou seja, aquela que não possui personalidade jurídica, excetuando-se desta possibilidade as sociedades anônimas e as sociedades em comandita por ações que, obrigatoriamente, devem estar regulares para funcionarem (CCB art. 982).

Sociedade em comum:

A sociedade em comum é uma sociedade de fato, considerada pela lei como irregular, cuja responsabilidade dos sócios é solidária e ilimitada.

Seus atos constitutivos não são registrados. Os bens e dívidas sociais constituem patrimônio especial, do qual os sócios são titulares em comum.

Nas relações entre si ou com terceiros, os sócios somente podem provar a existência da sociedade em comum por escrito. Os terceiros, todavia, podem provar a existência de tal sociedade por qualquer forma. 

Sociedade em conta da participação:

Sociedade em conta de participação é aquela formada por dois tipos de sócios: ostensivo (que exerce a atividade constitutiva do objeto social da empresa, em seu nome individual e sob sua própria e exclusiva responsabilidade, respondendo perante terceiros) e participante (que apenas investe capital, obrigando-se tão somente perante o sócio ostensivo).

É um outro tipo de sociedade não personificada, formada para realizar negócios certos ou temporários, de curta duração. Está dispensada do arquivamento de seus atos constitutivos no registro competente, extinguindo-se após a concretização dos negócios que a motivaram.

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Prof. Alenilton da Silva CardosoO contrato social produz efeitos somente entre os sócios, e a

eventual inscrição de seu instrumento em qualquer registro não confere personalidade jurídica à sociedade (artigos 991 a 996). 

4.4. Sociedades personificadas

Considera-se sociedade personificada aquela que possui personalidade jurídica, obtida mediante registro de seus atos constitutivos no órgão competente. Elas se subdividem, como já vislumbramos, em sociedade empresária e sociedade simples.

As espécies de sociedade empresária são: (a) sociedade em nome coletivo; (b) sociedade em comandita simples; (c) sociedade limitada; (d) sociedade anônima ou companhia; (e) sociedade em comandita por ações.

Sociedade em nome coletivo

Exceto pelo fato de poder exercer atividade empresária, este tipo de sociedade é praticamente idêntico ao da sociedade simples. Nela, somente podem participar pessoas físicas, respondendo todos os sócios, solidária e ilimitadamente, pelas obrigações sociais.

Sociedade em comandita simples

Neste tipo de sociedade, existem sócios de duas categorias: (a) os comanditados, pessoas físicas, responsáveis solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais; e (b) os comanditários, obrigados somente pelo valor de sua quota.

Sem prejuízo da faculdade de participar das deliberações da sociedade e de fiscalizar suas operações, não pode o comanditário praticar nenhum ato de gestão nem ter o nome da firma social, sob pena de ficar sujeito às responsabilidade de sócio comanditado.  

Sociedade limitada

Na sociedade limitada, a responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela integralização do capital social.

Sociedade anônima ou companhia

É a sociedade regulada pela Lei nº. 6.404/76, cujo capital divide-se em ações, obrigando-se cada sócio ou acionista somente pelo preço de emissão das ações que subscrever ou adquirir.

Sociedade em comandita por ações

Tal como a sociedade em comandita simples, diferenciando-se apenas pelo fato do capital social ser dividido em ações e regular-se pela Lei nº. 6.404/76, na sociedade em comandita por ações existem acionistas de duas categorias: (a) comanditados, que tem qualidade para administrar a sociedade e, como diretor, respondem subsidiária e ilimitadamente pelas obrigações da sociedade; e (b) comanditários, obrigados somente pela integralização de suas ações.

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Prof. Alenilton da Silva Cardoso4.5. Quadro resumo

Sociedade Não Personificada Sociedade em Comum

  Sociedade em Conta de Participação

  Sociedade Simples

    Sociedade em Nome Coletivo

Sociedade Personificada   Sociedade em Comandita Simples

  Sociedade Sociedade Limitada

  Empresária Sociedade Anônima

    Sociedade em Comandita por Ações

 

4.6. Sociedades Limitadas

Constituída por um contrato social onde se estabelece a forma de operação e as normas da empresa e o capital social, a sociedade limitada tem seu capital social dividido em cotas de capital, indicando que a responsabilidade pelo pagamento das obrigações da empresa é limitada à participação dos sócios.

Suas principais características são a limitação da responsabilização dos sócios ao valor de suas cotas, havendo uma nítida separação entre o patrimônio da sociedade e o patrimônio pessoal dos sócios cujos deveres principais são a integralizalção do capital social, a lealdade e o sigilo.

Os sócios têm o direito de participar do resultado social, contribuir para a deliberações sociais, fiscalizar a administração e retirar-se da sociedade.

A administração compete aos sócios determinados no contrato, ou a todos se não houver essa determinação, sendo possível, também, que terceiros (não sócios) sejam nomeados para essa função.

Órgãos:

- Assembléia (Ordinária e Extraordinária)

- Admnistração

- Conselho Fiscal (facultativo nesse tipo de sociedade).

A cessão das quotas é possível, independentemente da anuência dos demais sócios se não houver vedação no contrato social.

Sócio minoritário pode ser excluído por sócio(s) majoritário(s), devendo, para tanto, estar configurada uma hipótese de justa causa, assegurando-se ampla defesa àquele que estiver sofrendo o procedimento de exclusão.

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Prof. Alenilton da Silva CardosoCausas de dissolução:

- Vencimento do prazo de duração para as sociedades constituidas com prazo determinado;

- Consenso unânime dos sócios no caso das sociedades constituídas com prazo determinado;

- Deliberação por maioria absoluta dos sócios nos casos de sociedades constituidas com prazo indeterminado;

- Pluralidade não reconstituida no prazo de 180 dias;

- Extinção da autorização para funcionar;

- Hipótese estabelecida no contrato social.

4.7. Sociedades anônimas ou companhias

Formada por um Estatuto aprovado após ser observado o procedimento previsto pela Lei nº. 6.404/76, a companhia ou sociedade anônima terá o capital dividido em ações, e a responsabilidade dos sócios ou acionistas será limitada ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas.

As principais características da sociedade em lume são:

a) Capital dividido em Ações: cada ação representa uma fração do capital social de uma S/A, sendo este capital limitada no preço da emissão;

b) Responsabilidade dos sócios limitada ao preço de emissão das Ações: a responsabilidade é integralizar as ações pagando o preço de emissão das ações;

c) É formada por no mínimo com 2 sócios, denominados acionistas;

d) A comercialidade lhe é inerente, qualquer que seja o seu objeto, mesmo civil, será ela sempre comercial;

e) Não possui nome e sim denominação, podendo a título de homenagem figurar o nome do fundador da companhia, ou ainda uma denominação fantasia acompanhada da expressão Sociedade Anônima (S.A.) ou Companhia (CIA);

f) As expressões S/A e Companhia são equivalentes, sinônimas, muito embora esta seja utilizada no início da denominação.

E spécies de S/A:

- De Capital aberto: criadas por estatuto aprovado pela CVM (Comissão de Valores de Mercados), é aquela cujas ações são admitidas à negociação em bolsa ou mercado de balcão8.

- De Capital fechado: criadas geralmente por estatuto lavrado por escritura pública, não se enquadram nos requisitos das sociedades abertas. O capital

8 Mercado de balcão é a atividade exercida fora das Bolsas, relativas aos valores mobiliários, realizadas com a participação de empresas ou de profissionais distribuindo aqueles valores. Ex.: corretoras, instituições financeiras como Bradesco, Itaú, etc.

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Prof. Alenilton da Silva Cardososocial representado pelas ações está normalmente dividido entre poucos acionistas (geralmente não passa de 20), e a pessoa física que quiser comprar essas ações, terá de convencer um dos atuais acionistas a vendê-las; A transferência da propriedade das ações não se opera em bolsas de valores, podendo ser feita mediante escrituração no livro criado para esse fim na companhia. Essas ações, ao contrário de uma empresa de capital aberto não são comercializadas em bolsas de valores ou no mercado de balcão. Uma empresa de capital fechado pode somente emitir e vender suas ações de modo particular - distribuição privada - vedada a veiculação de anúncios, prospectos e outros, para sua colocação pública.

Capital

É o montante financeiro de propriedade da Companhia, relativo a soma das contribuições dos sócios. Não se confunde com patrimônio social. A sua principal função é constituir o fundo inicial, com o qual se tornará viável o início da vida econômica da sociedade.

Quanto a natureza jurídica, trata-se de um conjunto de bens e valores representativos dos direitos creditórios dos acionistas. É propriedade Incorpórea, de direito patrimonial, sendo que na sua formação pode compreender qualquer espécie de bens, móveis ou imóveis, corpóreos ou incorpóreos, suscetíveis de avaliação em dinheiro.

Subscritor

É aquele que ingressa na sociedade adquirindo ações.

A Subscrição de Capitais é o ato pelo qual alguém se compromete a adquirir e a integralizar determinado número de ações da S/A ou da Ltda.

Capital social realizável e realizado

O capital social realizável é aquele representado pelos títulos de crédito que ainda não foram integralizados. Já o realizado são aqueles que já foram integralizados.

Capital social e capital autorizado

O capital social é o montante financeiro de propriedade da companhia. O capital autorizado é o limite estatutário para aumentar o capital social, sem reforma do estatuto, tratando-se, pois, de uma perspectiva para aumento do capital social no futuro.

Como ocorre o aumento do capital social?

Pode ocorrer através da valorização das ações; pela transformação das debêntures conversíveis em ações ou partes beneficiárias; quando houver excesso de subscritores; mediante a colocação de novas ações no mercado; valorizando o patrimônio da empresa.

Valores mobiliários

É o conjunto de títulos emitidos pelas S/A, compreendendo as ações, partes beneficiárias, debêntures, bônus de subscrição, entre outros. Tanto as sociedades abertas como as fechadas emitem valores mobiliários, e conforme sejam eles colocados no mercado, determina se a sociedade será de capital aberto ou fechado.

- Ações; título representativo do capital social da S/A

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Prof. Alenilton da Silva Cardoso- Debêntures - espécie de empréstimo que apenas a S/A e a sociedade

em comandita por ações tem a prerrogativa de criar ou emitir. Podem ser convertidas em ações.9

- Partes Beneficiárias - Não representam o capital social. São oferecidas graciosamente às pessoas que prestaram consideráveis serviços à S/A, tais como fundadores, empregados, acionistas e até mesmo clientes. Dão direito a uma parcela do lucro da empresa, que não pode superar a um décimo.

- Bônus de Subscrição - confere aos seus titulares o direito de subscrever ações do capital social da empresa emissora, em evento futuro e nas condições previamente definidas. Depende muito do sucesso da empreendimento.

Espécies de ação

Ordinárias ou comuns - são as que conferem os direitos comuns de sócio sem restrições ou privilégios, em que normalmente se divide o capital social, dando direito a voto nas assembléias gerais.

Preferenciais - São aquelas que dão aos seus titulares algum privilégio ou preferência, como a prioridade da distribuição dos dividendos10 no mínimo superior a 10% do que foi atribuído as ordinárias, fixação de dividendos mínimos ou cumulativos, prioridade de reembolso em caso de liquidação, com prêmio ou sem ele, etc. Mas é privada de alguns direitos tais como o voto.

De fruição ou de gozo - pouco utilizadas, são aquelas distribuídas aos acionistas cujas ações foram totalmente amortizadas. Os acionistas recebem de volta o aquilo que investiram na compra das ações, continuando a receber os dividendos da S/A. No caso de liquidação da sociedade, o acionista não terá nada a receber, posto já haver recebido o valor das mesmas em fase anterior.

Órgãos da Sociedade Anônima

Assembléia Geral – mais importante para a S.A., constitui o órgão para que os acionistas são chamados a deliberar sobre os atos mais importantes da empresa. A assembléia geral pode ser ordinária (que é aquela realizada, obrigatoriamente, nos 4 primeiros meses do exercício seguinte, para aprovação das contas relativas ao exercício social encerrado no dia 31 de dezembro do ano anterior); e extraordinária (que é aquela convocada a qualquer momento, para a apreciação de situações excepcionais e de relevante importância para a empresa). Para que a assembléia possa ser instalada (efetivamente realizada), é necessário quorum de ¼ do capital votante, ou de 2/3 para o caso de reforma do estatuto, sendo que para a aprovação o quorum é de maioria absoluta, exceto quando a lei determinar quorum qualificado (Lei 6.404/75 arts. 129 e 136).

Conselho de Administração – é um órgão deliberativo e obrigatório nas S.A. de capital aberto, composto, no mínimo, por três membros acionistas, eleitos pela assembléia geral com a finalidade de agilizar a tomada de decisões.

9 As diferenças básicas entre debêntures e ações é que enquanto estas ultimas representam uma fração do capital de uma sociedade; as primeiras não representam capital de um sociedade, sendo o seu titular um credor debenturista da empresa, que pode a qualquer tempo exigir a devolução com a devida correção do valor aplicado.10 Dividendo é a fração do lucro que é repartida entre os sócios ou acionistas, proporcionalmente ao valor da participação de cada um no capital social.

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Prof. Alenilton da Silva CardosoDiretoria - é um órgão deliberativo composto, no mínimo, por dois

membros, acionistas ou não, eleitos pelo Conselho de Administração ou pela Assembléia Geral, cuja finalidade, de modo geral, é representar legalmente a sociedade.

Conselho Fiscal – é composto por, no mínimo, três membros e, no máximo, cinco, acionistas ou não, cuja função é convocar, fiscalizar, denunciar e examinar os documentos da administração.

Demonstrações financeiras

Ao fim de cada exercício, resguardando os preceitos da transparência e da segurança jurídica, informando o mercado da saúde financeira da Sociedade Anônima, compete à diretoria elaborar: (a) o balanço patrimonial; (b) a demonstração dos resultados; (c) a demonstração dos lucros e prejuízos acumulados; e (d) a demonstração das origens e aplicações dos recursos.

Dissolução, liquidação do patrimônio e extinção da S.A.

A dissolução da S.A. poderá ocorrer: (a) de pleno direito (pela vontade dos acionistas); (b) por decisão judicial (diante de uma justa causa); (c) por decisão de autoridade administrativa competente (CVM, diante de uma justa causa).

Após a dissolução, a liquidação dos bens da Companhia pode ser extrajudicial (executada pelos próprios órgãos da S.A.) judicial (determinada por ordem de juiz).

Finalmente, a S.A. se extinguirá: (a) pelo encerramento da liquidação que segue à dissolução; (b) pela incorporação (absorção de uma empresa por outra); (c) pela fusão (junção de duas ou mais empresas dando origem a uma terceira); (d) pela cisão (criação de uma empresa a partir de outra preexistente); (e) após sentença declaratório do encerramento do processo de falência.

A ligação de capital entre sociedades

Existe a possibilidade de uma sociedade participar do patrimônio social de outra. Assim, considera-se participante a sociedade que detém até 10% do capital social de outra sociedade; coligada aquela que detiver mais de 10% de outra sociedade, sem controlá-la; e controlada aquela em que a maioria do seu capital social é controlado por outra sociedade.

4.8. Teoria do superamento (ou da desconsideração) da personalidade jurídica

Em regra a sociedade responde, para o cumprimento de suas obrigações, com seus bens presentes e futuros. É a chamada responsabilidade primária.

O patrimônio pessoal dos sócios, entretanto, fica sujeito à execução, secundariamente, nos termos do contrato social, de acordo com o que a lei dispuser para o tipo social escolhido.

Nas sociedades limitada e anônima, espécies mais difundidas no meio empresarial, uma vez integralizado o capital social, não há sequer responsabilidade secundária, respondendo unicamente o patrimônio social.

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Prof. Alenilton da Silva CardosoEm ambos os casos atende-se ao princípio da autonomia

patrimonial, porque a sociedade tem sua própria personalidade e patrimônio, devendo ela própria responder por suas obrigações.

A regra, entretanto, comporta exceção. Nesse sentido, o art. 50 do Código Civil prescreve que “em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica.”

Isso significa que em havendo da parte do sócio a intenção de se valer da sociedade para lesar terceiros, desviando a finalidade do negócio ou fazendo misturar seus bens com os da empresa, as dívidas sociais poderão ser suportadas por ele, desconsiderando-se a personalidade jurídica da sociedade.

4.9. Teoria ultra vires societatis

A teoria em questão refere-se operações estranhas ao objeto social da sociedade empresarial, ou seja, para os casos em que os sócios se valem da sociedade para praticar um negócio que não faz parte do seu objeto social (ex: sócios de um açougue utilizam-se de tal pessoal jurídica para comprar e vender bebidas), o que, em suma, implica a nulidade dos negócios realizados, exceto em relação a terceiros de boa-fé que, por também haverem sido enganados, tenham firmado relações comerciais com a empresa malversada.

V - FALÊNCIA E RECUPERAÇÃO DAS EMPRESAS

Não obstante o empresário individual e o sócio componente de uma sociedade empresarial possam ser diretamente responsáveis pelo insucesso da empreendimento, também é verdade que esse mesmo insucesso pode ocorrer por circunstâncias imperiosas e alheias à vontade daqueles, não ensejando a responsabilidade pessoal de ninguém.

Isso significa que em razão da personalidade jurídica própria da atividade empresarial, seja ela individual ou societária, é o patrimônio da própria sociedade empresarial que irá responder pelas dívidas empresariais, havendo na lei procedimentos específicos para o pagamento dessas mesmas dívidas, implicando ou não a extinção da atividade empresarial.

Estamos falando dos institutos da falência e da recuperação da empresa, que regulados pela Lei nº. 11.101/05, atende à função social inerente ao exercício da atividade empresarial, abrindo a possibilidade de reestruturação aos empreendimentos economicamente viáveis que passem por dificuldades momentâneas, mantendo os empregos e os pagamentos aos credores.

Um dos grandes méritos trazidos pela nova sistemática da Lei citada no parágrafo anterior, pois, é a prioridade dada à manutenção da empresa e dos

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Prof. Alenilton da Silva Cardososeus recursos produtivos. Ao acabar com a concordata e criar as figuras da recuperação judicial e extrajudicial, a nova lei aumentou a abrangência e a flexibilidade nos processos de recuperação de empresas, mediante o desenho de alternativas para o enfrentamento das dificuldades econômicas e financeiras da empresa devedora.

Estão sujeitos à recuperação e à falência (i) o empresário individual; e (ii) a sociedade empresária.

Não estão sujeitas a tais procedimentos, devido a relevância de suas atividades: (i) as sociedades de economia mista; (ii) as instituições financeiras públicas e privadas; (iii) as cooperativas de crédito; (iv) as empresas de consórcio; (v) as entidades de previdência complementar; (vi) as sociedades operadoras de plano de saúde; (vi) as sociedades seguradoras; (vi) as sociedades de capitalização.

5.1. Falência

Denomina-se falência o processo judicial que visa promover o afastamento do administrador da empresa devedora de suas atividades, preservando e otimizando a utilização dos bens da empresa. Tal processo funciona como uma cobrança coletiva movida pelos credores contra a empresa devedora, a partir da impontualidade desta, implicando, afinal, na apuração de bens do ativo para pagamento das dívidas do passivo, na medida do possível.

Durante o referido processo, e também no de recuperação judicial que mais adiante estudaremos, é nomeado pelo juiz um “administrador para os bens da empresa”, que de acordo com o art. 21 da Lei nº. 11.101/05, deve ser um profissional idôneo, preferencialmente advogado, contador, economista, administrador ou pessoa jurídica especializada, sendo suas principais obrigações, dentre outras mais, verificar a habilitação dos créditos, apurar o acervo patrimonial da empresa, e pagar aqueles mesmos créditos segundo a ordem de preferência legal (no caso da falência); e adotar todas as medidas necessárias para reerguer a empresa (no caso de recuperação judicial).

Para fiscalizar o administrador, a Lei nº. 11.101/05 permite que a Assembléia Geral de Credores 11 nomeie um Comitê de Credores formado por 3 membros, a saber: (i) 1 representante dos credores trabalhistas; (ii) 1 representante dos credores com garantias real e/ou especial; (iii) 1 representante dos credores quirografários (sem garantia real e/ou especial); cada membro com 2 suplentes.

Obs: O Administrador judicial terá direito a uma remuneração de até 5% calculada sobre o valor apurado com a venda do acervo patrimonial da empresa, ou dos créditos sujeitos à recuperação. Obs²: os membros do comitê de credores não tem direito a remuneração.

Elementos caracterizadores do estado de falência:

11 A Assembléia Geral de Credores é um órgão muito importante para os procedimentos em análise. Convocada pelo juiz com pelo menos 15 dias de antecedência, a ela compete, dentre outras coisas: (i) aprovar, rejeitar ou modificar o plano de recuperação apresentado pelo devedor; (ii) constituir ou escolher os membros do comitê de credores; (iii) aceitar ou não pedido de desistência solicitada pelo devedor; (iv) aprovar o nome do administrador judicial etc.

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Prof. Alenilton da Silva Cardoso• Impontualidade injustificada quanto ao pagamento dos créditos cujo valor seja superior a 40 salários mínimos;

• Execução frustrada.

Legitimados a requerer a falência em juízo:

• próprio devedor, desde que seja empresário regular (autofalência);

• qualquer credor com dívida regular;

• cônjuge sobrevivente no caso do empresário individual falecido;

• herdeiros do devedor;

• inventariante;

• sócio/acionista da sociedade.

Efeitos da declaração de falência:

• vencimento antecipado das obrigações do falido;

• atinge todos os bens da empresa falida;

• resolução dos contratos mais onerosos;

• lacração das instalações da empresa, se necessária.

Ordem de preferência dos créditos na falência 12 :

Ordem Classes Subclasses

1 Despesas de pagamento antecipado

• Trabalhistas de natureza estritamente salarial vencidos nos 3 meses anteriores à decretação da falência, até o limite de 5 salários mínimos por trabalhador (art. 151).• Despesas cujo pagamento antecipado seja indispensável à administração da falência (art. 150).

2 Créditos decorrentes de restituição (art. 149)

3 Créditos extraconcursais (art. 84).

• Remuneração do administrador judicial e seus auxiliares.• Trabalhistas ou acidentários relativos a serviços prestados após a decretação da falência.• Quantias fornecidas à massa pelos credores.• Despesas com arrecadação, administração e realização do ativo e distribuição do seu produto, bem como custas do processo de falência.• Custas judiciais relativas às ações e execuções que a massa falida tenha sido vencida.• Obrigações resultantes de atos jurídicos válidos praticados durante a recuperação judicial ou após a decretação da falência.• tributos relativos a fatos geradores ocorridos após a decretação da falência.

4 Créditos prioritários (art. 83, I). • Trabalhistas até 150 salários mínimos.

12 Fonte: Ricardo Negrão. Direito Empresarial – Estudo Unificado. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 273/274

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Prof. Alenilton da Silva Cardoso• Decorrentes de acidentes de trabalho.

5 Créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado (art. 83, II)

6 Créditos tributárias relativos a fatos geradores anteriores à decretação da falência, excetuadas multas tributárias (art. 83, III)

7 Créditos com garantia especial (art. 83, IV).

• previstos no art. 965 do Código Civil• definidos em outras leis• a cujo titular a lei confira o direito de retenção sobre a coisa dada em garantia.

8 Créditos com privilégio geral (art. 83, V).

• previstos no art. 965 do Código Civil• decorrentes das obrigações contraídas pelo devedor durante a recuperação judicial com fornecedores de bens ou serviços na forma do art. 67 da Lei nº. 11.101/05.• definidos em outras leis

9 Créditos quirografários (art. 83, VI).

• os que não foram privilegiados pela Lei nº. 11.101/05• os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos bens vinculados ao seu pagamento• os saldos dos créditos derivados da legislação do trabalho que excedam a 150 salários mínimos• créditos trabalhistas cedidos a 3ºs (art. 83, VIII, § 4º)

10 Créditos subquirografários. Multas contratuais e penas pecuniárias por infração das leis penais ou administrativas, inclusive multas tributárias.

11 Créditos subrodinados Créditos subordinados por previsão legal ou contratual e os créditos dos sócios e dos administradores sem vinculo empregatício

12 Devolução ao falido ou rateio entre os sócios (art. 153).

5.2. Recuperação extrajudicial

Mas a nova Lei de Falência não regula apenas o processo de falimentar. Por ela, o envolvimento do Judiciário é precedido de uma tentativa de negociação informal entre devedor e credores (recuperação extrajudicial), por meio de uma proposta de recuperação apresentada pelo devedor a uma assembléia de credores, que deve preencher os requisitos do art. 161 da Lei nº. 11.101/05 e ser homologada pelo judiciário.

Pela recuperação extrajudicial, que é da iniciativa do devedor e não enceta a nomeação de administrador judicial e comitê de credores, o empresário busca se valer de meios para adequar a realidade da empresa à possibilidade de pagamentos, o inclui: (a) a indicação dos contratos e condições que pretende ver alterados; (b) descontos; (c) alongamento de dívidas; (d) dação de bens; (e) conversão da dívida em capital da empresa etc; não exigindo a lei, nesse plano, o tratamento paritário entre os credores.

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Prof. Alenilton da Silva CardosoNa verdade, equivale a uma forma de chamar os credores a

cooperar para a manutenção da empresa, evitando o processo de cobrança coletiva (falência) que pode implicar na extinção do empreendimento.

5.3. Recuperação judicial

A recuperação judicial, principal inovação, que ocorre, via de regra, após a recuperação extrajudicial não haver dado certo, visa sanear situação de crise econômico-financeira da empresa por meio de ação judicial, o que permite o controle do Poder Judiciário.

De acordo com o art. 47 da Lei nº. 11.101/05, a recuperação judicial que tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica.

Ela só é permitida aos empresários regulares há mais de 2 anos, que não sejam falidos ou já tenham se reabilitado e que não tenham obtido tal benefício há mais de 5 anos.

No caso de micro e pequenas empresas, a Lei nº. 11.101/05 instituiu um plano de recuperação judicial especial, que permite: (a) o parcelamento das dívidas em 36 parcelas iguais, mensais e sucessivas; (b) 180 dias para pagar a primeira parcela; (c) juros de 12% ao ano; e (d) acompanhamento judicial nas decisões.13

Obs: o devedor não poderá desistir do pedido de recuperação judicial após o deferimento de seu processo, salvo se obtiver aprovação da desistência na assembléia-geral de credores.

Obs²: o plano de recuperação judicial não se aplica aos créditos tributários, da legislação do trabalho, de acidentes de trabalho e a credores proprietários fiduciários de bens móveis ou imóveis, entre outros casos.

Obs³: durante o processo de recuperação judicial, o juiz decretará a falência, por deliberação da assembléia-geral de credores; pela não apresentação, pelo devedor, do plano de recuperação; quando houver sido rejeitado o plano de recuperação e por descumprimento de qualquer obrigação assumida no plano.

VI – TITULOS DE CRÉDITO

De forma reduzida, podemos definir titulo de crédito como o documento (título) representativo de uma dívida (crédito) entre pessoas. Nas palavras de Vivante, é o documento necessário ao exercício de um direito literal e autônomo nele mencionado, e por isso recebe regramento especial da legislação brasileira.

6.1. Características dos títulos de crédito:

13 O pedido de recuperação judicial com base nesse plano especial não implica na suspensão da prescrição das ações e execuções por créditos não abrangidos pelo plano.

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Prof. Alenilton da Silva Cardoso(i) a literalidade, pois somente será considerado o que nele estiver escrito;

(ii) a cartularidade, porque o título preciso de um documento em papel para ser apresentado; e

(iii) a autonomia, haja vista que representa um independência nas relações obrigacionais que se firmam no próprio título.

6.2. Figuras intervenientes (variáveis conforme o título):

• Sacador: quem dá ordem de pagamento relacionado ao título;

• Sacado: que é o destinatário da ordem; e

• Tomador: que é o beneficiário daquela mesma ordem.

6.3. Classificação dos títulos de crédito :

(a) Quanto ao modelo

- Livres: sem padrão definido para sua confecção, podendo ser emitidos de forma livre, observados os requisitos da lei (Ex: nota promissória e letra de câmbio).

- Vinculados: devem obedecer a um padrão legal específico, não sendo permitida a sua livre confecção (Ex: cheque e duplicata).

(b) Quanto à estrutura

- Promessa de pagamento: o título mediante o qual uma pessoa assume formalmente a promessa de pagar valor a terceiro (Ex: nota promissória).

- Ordem de pagamento: nesse título três pessoas estão envolvidas a partir de uma ordem emitida por quem tem direito de crédito em relação ao outrem, para ser pago a terceiro. (Ex: cheque e duplicata).

(c) Quanto à emissão

- Não causais: títulos independentes do negócio jurídico que o originaram (Ex: nota promissória e cheque)

- Causais: títulos cuja existência depende da validade do negócio jurídico que o originaram (Ex: duplicata).

(d) Quanto à circulação

- Ao portador: títulos em que o emitente não identifica o nome do beneficiário.

- Nominativos: títulos em que o emitente identifica o beneficiário, registrando-o em livro próprio (Ex: ações nominativas da S.A.).

- À ordem: títulos passíveis de endosso.

6.4. Conceitos importantes:

• Aceite: significa a aceitação, ou seja, a concordância do Sacado em pagar o crédito ordenado pelo Sacador no título.

• Endosso: é a forma pela qual o credor (beneficiário) de um título de crédito transfere os direitos sobre o mesmo para terceiro, ficando coobrigado para com

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Prof. Alenilton da Silva Cardosoeste ultimo, quando ao pagamento do título na data aprazada. Pode ser em branco (quando se lança a assinatura no título sem indicar o beneficiário) ou em preto (quando existe a indicação do nome do beneficiário), devendo abranger o valor total do título (obs: é nulo o endosso parcial).

• Cessão de crédito: o portador do título de crédito pode não permitir a sua circulação por endosso, inserindo, assim, cláusula “não a ordem”. Contudo, o título ainda poderá circular, utilizando-se o interessado do contrato civil de cessão de crédito, operando a transferência.

• Aval: Exclusivo do direito cambial e aplicável somente aos títulos de crédito, é ato pelo qual o avalista se compromete a garantir o pagamento do título de crédito em favor do avalizado. Diferente do endosso, pode abranger todo o valor do título (aval total), como apenas parte dele (aval parcial)

• Vencimento: é a consumação da data que autoriza a cobrança do título. Antes de tal data, o título não pode ser cobrado.

• Protesto: é o ato solene e formal pelo qual se comprova o descumprimento de uma obrigação. Seus efeitos são tornar público, via cartório de protesto de títulos e documentos, o não pagamento de um crédito pelo devedor; e coobrigar ao principal devedor, os endossatários e avalistas pelo pagamento daquele mesmo crédito.

• Ação cambial: é a ação judicial que deve se valer o credor de um título para proceder a cobrança executiva do mesmo.

• Prescrição: é a perda da validade executiva do título de crédito, pelo fato do seu credor não haver ajuizado a ação cambial no prazo legal. O prazo prescricional para a cobrança da Letra de Câmbio, da Nota Promissória e da Duplicata é de 3 (três) anos a contar do vencimento. Já do cheque, o prazo prescricional é de 6 (seis) meses contados a partir da expiração do prazo de apresentação, que é de 30 (trinta) dias quando o cheque for da mesma praça do beneficiário; e de 60 (sessenta) dias quando as praças forem diferentes.

6.5. Títulos de crédito mais comuns (definições):

Cheque:

É uma ordem de pagamento à vista, emitida contra um banco, mediante fundos disponíveis do emitente (titular de conta bancária), em poder do sacado (Banco), provenientes de depósito ou de contrato de abertura de crédito.

Previsto na Lei nº. 7.357/85 (Lei do Cheque), estabelece como figuras intervenientes da relação jurídica: o sacador ou emitente; o sacado ou Banco; e o tomador ou portador beneficiário.

Duplicata:

É um título de crédito causal, vinculado à emissão de uma fatura oriunda de contrato de compra e venda mercantil ou de prestação de serviços.

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Prof. Alenilton da Silva CardosoRegulada pela Lei nº. 5.474/68 (Lei das Duplicatas), é criação do

direito brasileiro representando uma ordem de pagamento que a liga as figuras do sacador ou vendedor, do sacado ou comprador; e do tomador ou vendedor.

A duplicata deverá ser enviada ao sacado para aceite, reconhecendo a exatidão das informações e da obrigação de pagar. De qualquer modo, o aceite é obrigatório, vinculando o devedor ainda que este não assine a letra, salvo se a mercadoria: (i) foi avariada; (ii) não foi enviada; (iii) foi enviada com divergência em relação ao contrato ajustado ou com diferenças nos preços e prazos ajustados, dentre outras especificações.

Letra de Cambio

Regulada pelo Decreto nº. 57.663/66 e pelo Decreto 2.044/08 (Lei Uniforme de Genebra), é uma ordem de pagamento à vista ou a prazo pela qual o sacador dirige-se ao sacado para que este pague determinada importância a uma terceira pessoa. As partes envolvidas por este título de crédito são: o sacador (aquele que dá a ordem para pagamento); o sacado (a quem a ordem é dirigida); e o tomador (que é o beneficiário da ordem).

Nota Promissória

É uma promessa direta de pagamento dada pelo devedor em favor do credor. Quando emitida, enseja relação jurídica entre o emitente ou sacador (aquele que se compromete a pagar) e o beneficiário ou tomador (aquele que tem o direito de receber).

VII – CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Lei nº. 8.078, de 11 de setembro de 1990

Dos Direitos do Consumidor

CAPÍTULO IDisposições Gerais

        Art. 1° O presente código estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social.

        Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.

        Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.

        Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.

        § 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.

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Prof. Alenilton da Silva Cardoso        § 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.

CAPÍTULO IIDa Política Nacional de Relações de Consumo

       Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios:

        I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo;

        II - ação governamental no sentido de proteger efetivamente o consumidor, especialmente pela garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho.

        III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores;

        IV - educação e informação de fornecedores e consumidores, quanto aos seus direitos e deveres, com vistas à melhoria do mercado de consumo;

        V - incentivo à criação pelos fornecedores de meios eficientes de controle de qualidade e segurança de produtos e serviços, assim como de mecanismos alternativos de solução de conflitos de consumo;

        VI - coibição e repressão eficientes de todos os abusos praticados no mercado de consumo, inclusive a concorrência desleal e utilização indevida de inventos e criações industriais das marcas e nomes comerciais e signos distintivos, que possam causar prejuízos aos consumidores;

        VII - racionalização e melhoria dos serviços públicos;

        VIII - estudo constante das modificações do mercado de consumo.       

CAPÍTULO IIIDos Direitos Básicos do Consumidor

        Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

        I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos;

        II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações;

        III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem;

        IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços;

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Prof. Alenilton da Silva Cardoso        V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas;

        VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos;

        VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados;

        VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova (Fornecedor é que tem que provar que seu produto/serviço era de qualidade, e não o consumidor tem a obrigação de provar o defeito);

CAPÍTULO IVDa Qualidade de Produtos e Serviços, da Prevenção e da Reparação dos Danos

SEÇÃO IDa Proteção à Saúde e Segurança

        Art. 8° Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis em decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores, em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas a seu respeito.

        Parágrafo único. Em se tratando de produto industrial, ao fabricante cabe prestar as informações a que se refere este artigo, através de impressos apropriados que devam acompanhar o produto.

        Art. 9° O fornecedor de produtos e serviços potencialmente nocivos ou perigosos à saúde ou segurança deverá informar, de maneira ostensiva e adequada, a respeito da sua nocividade ou periculosidade, sem prejuízo da adoção de outras medidas cabíveis em cada caso concreto.

        Art. 10. O fornecedor não poderá colocar no mercado de consumo produto ou serviço que sabe ou deveria saber apresentar alto grau de nocividade ou periculosidade à saúde ou segurança.

        § 1° O fornecedor de produtos e serviços que, posteriormente à sua introdução no mercado de consumo, tiver conhecimento da periculosidade que apresentem, deverá comunicar o fato imediatamente às autoridades competentes e aos consumidores, mediante anúncios publicitários.

        § 2° Os anúncios publicitários a que se refere o parágrafo anterior serão veiculados na imprensa, rádio e televisão, às expensas do fornecedor do produto ou serviço.

        § 3° Sempre que tiverem conhecimento de periculosidade de produtos ou serviços à saúde ou segurança dos consumidores, a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão informá-los a respeito.

SEÇÃO IIDa Responsabilidade pelo Fato do Produto e do Serviço

        Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.

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Prof. Alenilton da Silva Cardoso        § 1° O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:

        I - sua apresentação;

        II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam;

        III - a época em que foi colocado em circulação.

        § 2º O produto não é considerado defeituoso pelo fato de outro de melhor qualidade ter sido colocado no mercado.

        § 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado quando provar:

        I - que não colocou o produto no mercado;

        II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste;

        III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

        Art. 13. O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo anterior, quando (obs: esse artigo estabelece responsabilidade subsidiária do comerciante):

        I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados;

        II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou importador;

        III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis.

        Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado poderá exercer o direito de regresso contra os demais responsáveis, segundo sua participação na causação do evento danoso.

        Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

        § 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:

        I - o modo de seu fornecimento;

        II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;

        III - a época em que foi fornecido.

        § 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas.

        § 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:

        I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;

        II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

        § 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa.

        Art. 17. Para os efeitos desta lei, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento.

SEÇÃO IIIDa Responsabilidade por Vício (defeitos) do Produto e do Serviço

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Prof. Alenilton da Silva Cardoso        Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com a indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas.

        § 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:

        I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em perfeitas condições de uso;

        II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;

        III - o abatimento proporcional do preço.

        § 2° Poderão as partes convencionar a redução ou ampliação do prazo previsto no parágrafo anterior, não podendo ser inferior a sete nem superior a cento e oitenta dias. Nos contratos de adesão, a cláusula de prazo deverá ser convencionada em separado, por meio de manifestação expressa do consumidor.

        § 3° O consumidor poderá fazer uso imediato das alternativas do § 1° deste artigo sempre que, em razão da extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder comprometer a qualidade ou características do produto, diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto essencial.

        § 4° Tendo o consumidor optado pela alternativa do inciso I do § 1° deste artigo, e não sendo possível a substituição do bem, poderá haver substituição por outro de espécie, marca ou modelo diversos, mediante complementação ou restituição de eventual diferença de preço, sem prejuízo do disposto nos incisos II e III do § 1° deste artigo.

        § 5° No caso de fornecimento de produtos in natura, será responsável perante o consumidor o fornecedor imediato, exceto quando identificado claramente seu produtor.

        § 6° São impróprios ao uso e consumo:

        I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos;

        II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados, avariados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as normas regulamentares de fabricação, distribuição ou apresentação;

        III - os produtos que, por qualquer motivo, se revelem inadequados ao fim a que se destinam.

        Art. 19. Os fornecedores respondem solidariamente pelos vícios de quantidade do produto sempre que, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza, seu conteúdo líquido for inferior às indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou de mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:

        I - o abatimento proporcional do preço;

        II - complementação do peso ou medida;

        III - a substituição do produto por outro da mesma espécie, marca ou modelo, sem os aludidos vícios;

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Prof. Alenilton da Silva Cardoso        IV - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos.

        Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes da oferta ou mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:

        I - a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível;

        II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;

        III - o abatimento proporcional do preço.

        § 1° A reexecução dos serviços poderá ser confiada a terceiros devidamente capacitados, por conta e risco do fornecedor.

        § 2° São impróprios os serviços que se mostrem inadequados para os fins que razoavelmente deles se esperam, bem como aqueles que não atendam as normas regulamentares de prestabilidade.

        Art. 21. No fornecimento de serviços que tenham por objetivo a reparação de qualquer produto considerar-se-á implícita a obrigação do fornecedor de empregar componentes de reposição originais adequados e novos, ou que mantenham as especificações técnicas do fabricante, salvo, quanto a estes últimos, autorização em contrário do     consumidor.

        Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.

        Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste código.

        Art. 23. A ignorância do fornecedor sobre os vícios de qualidade por inadequação dos produtos e serviços não o exime de responsabilidade.

        Art. 24. A garantia legal de adequação do produto ou serviço independe de termo expresso, vedada a exoneração contratual do fornecedor.

        Art. 25. É vedada a estipulação contratual de cláusula que impossibilite, exonere ou atenue a obrigação de indenizar prevista nesta e nas seções anteriores.

        § 1° Havendo mais de um responsável pela causação do dano, todos responderão solidariamente pela reparação prevista nesta e nas seções anteriores.

        § 2° Sendo o dano causado por componente ou peça incorporada ao produto ou serviço, são responsáveis solidários seu fabricante, construtor ou importador e o que realizou a incorporação.

SEÇÃO IVDireito de Reclamação

        Art. 26. O direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em:

        I - trinta dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos não duráveis;

        II - noventa dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos duráveis.

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Prof. Alenilton da Silva Cardoso        § 1° Inicia-se a contagem do prazo a partir da entrega efetiva do produto ou do término da execução dos serviços.

        § 3° Tratando-se de vício oculto, o prazo decadencial inicia-se no momento em que ficar evidenciado o defeito.

        Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto (dano por fato do produto ou do serviço).

SEÇÃO VDa Desconsideração da Personalidade Jurídica

        Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração.

CAPÍTULO VDas Práticas Comerciais

SEÇÃO IIDa Oferta

        Art. 30. Toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qualquer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços oferecidos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar e integra o contrato que vier a ser celebrado.

         Art. 31. A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores.

        Parágrafo único.  As informações de que trata este artigo, nos produtos refrigerados oferecidos ao consumidor, serão gravadas de forma indelével.

        Art. 32. Os fabricantes e importadores deverão assegurar a oferta de componentes e peças de reposição enquanto não cessar a fabricação ou importação do produto.

        Parágrafo único. Cessadas a produção ou importação, a oferta deverá ser mantida por período razoável de tempo, na forma da lei.

        Art. 33. Em caso de oferta ou venda por telefone ou reembolso postal, deve constar o nome do fabricante e endereço na embalagem, publicidade e em todos os impressos utilizados na transação comercial.

        Parágrafo único.  É proibida a publicidade de bens e serviços por telefone, quando a chamada for onerosa ao consumidor que a origina.

        Art. 34. O fornecedor do produto ou serviço é solidariamente responsável pelos atos de seus prepostos ou representantes autônomos.

        Art. 35. Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento à oferta, apresentação ou publicidade, o consumidor poderá, alternativamente e à sua livre escolha:

        I - exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, apresentação ou publicidade;

        II - aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente;

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Prof. Alenilton da Silva Cardoso        III - rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia eventualmente antecipada, monetariamente atualizada, e a perdas e danos.

SEÇÃO IIIDa Publicidade

        Art. 36. A publicidade deve ser veiculada de tal forma que o consumidor, fácil e imediatamente, a identifique como tal.

        Parágrafo único. O fornecedor, na publicidade de seus produtos ou serviços, manterá, em seu poder, para informação dos legítimos interessados, os dados fáticos, técnicos e científicos que dão sustentação à mensagem.

        Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.

        § 1° É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços.

        § 2° É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança.

        § 3° Para os efeitos deste código, a publicidade é enganosa por omissão quando deixar de informar sobre dado essencial do produto ou serviço.

SEÇÃO IVDas Práticas Abusivas

        Art. 39. É proibido ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas:

        I - condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos;

        II - recusar atendimento às demandas dos consumidores, na exata medida de suas disponibilidades de estoque, e, ainda, de conformidade com os usos e costumes;

        III - enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia, qualquer produto, ou fornecer qualquer serviço;

        IV - prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços;

        V - exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva;

        VI - executar serviços sem a prévia elaboração de orçamento e autorização expressa do consumidor, ressalvadas as decorrentes de práticas anteriores entre as partes;

        VII - repassar informação depreciativa, referente a ato praticado pelo consumidor no exercício de seus direitos;

        VIII - colocar, no mercado de consumo, qualquer produto ou serviço em desacordo com as normas expedidas pelos órgãos oficiais competentes ou, se normas específicas não existirem, pela Associação Brasileira de Normas Técnicas ou outra entidade

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Prof. Alenilton da Silva Cardosocredenciada pelo Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Conmetro);

        IX - recusar a venda de bens ou a prestação de serviços, diretamente a quem se disponha a adquiri-los mediante pronto pagamento, ressalvados os casos de intermediação regulados em leis especiais;

        X - elevar sem justa causa o preço de produtos ou serviços.

        XII - deixar de estipular prazo para o cumprimento de sua obrigação ou deixar a fixação de seu termo inicial a seu exclusivo critério.

        XIII - aplicar fórmula ou índice de reajuste diverso do legal ou contratualmente estabelecido.

        Parágrafo único. Os serviços prestados e os produtos remetidos ou entregues ao consumidor, na hipótese prevista no inciso III, equiparam-se às amostras grátis, inexistindo obrigação de pagamento.

        Art. 40. O fornecedor de serviço será obrigado a entregar ao consumidor orçamento prévio discriminando o valor da mão-de-obra, dos materiais e equipamentos a serem empregados, as condições de pagamento, bem como as datas de início e término dos serviços.

        § 1º Salvo estipulação em contrário, o valor orçado terá validade pelo prazo de dez dias, contado de seu recebimento pelo consumidor.

        § 2° Uma vez aprovado pelo consumidor, o orçamento obriga os contraentes e somente pode ser alterado mediante livre negociação das partes.

        § 3° O consumidor não responde por quaisquer ônus ou acréscimos decorrentes da contratação de serviços de terceiros não previstos no orçamento prévio.

        Art. 41. No caso de fornecimento de produtos ou de serviços sujeitos ao regime de controle ou de tabelamento de preços, os fornecedores deverão respeitar os limites oficiais sob pena de não o fazendo, responderem pela restituição da quantia recebida em excesso, monetariamente atualizada, podendo o consumidor exigir à sua escolha, o desfazimento do negócio, sem prejuízo de outras sanções cabíveis.

SEÇÃO VDa Cobrança de Dívidas

        Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto a ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça.

        Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável.

        Art. 42-A.  Em todos os documentos de cobrança de débitos apresentados ao consumidor, deverão constar o nome, o endereço e o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas – CPF ou no Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica – CNPJ do fornecedor do produto ou serviço correspondente.

SEÇÃO VIDos Bancos de Dados e Cadastros de Consumidores

        Art. 43. O consumidor, sem prejuízo do disposto no art. 86, terá acesso às informações existentes em cadastros, fichas, registros e dados pessoais e de consumo arquivados sobre ele, bem como sobre as suas respectivas fontes.

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Prof. Alenilton da Silva Cardoso        § 1° Os cadastros e dados de consumidores devem ser objetivos, claros, verdadeiros e em linguagem de fácil compreensão, não podendo conter informações negativas referentes a período superior a 5 (cinco) anos.

        § 2° A abertura de cadastro, ficha, registro e dados pessoais e de consumo deverá ser comunicada por escrito ao consumidor, no prazo de 10 dias.

        § 3° O consumidor, sempre que encontrar inexatidão nos seus dados e cadastros, poderá exigir sua imediata correção, devendo o arquivista, no prazo de cinco dias úteis, comunicar a alteração aos eventuais destinatários das informações incorretas.

        § 5° Consumada a prescrição relativa à cobrança de débitos do consumidor, não serão fornecidas, pelos respectivos Sistemas de Proteção ao Crédito, quaisquer informações que possam impedir ou dificultar novo acesso ao crédito junto aos fornecedores.

CAPÍTULO VIDa Proteção Contratual

        Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance.

        Art. 47. As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor.

        Art. 48. As declarações de vontade constantes de escritos particulares, recibos e pré-contratos relativos às relações de consumo vinculam o fornecedor, ensejando inclusive execução específica, nos termos do art. 84 e parágrafos.

        Art. 49. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a contratação de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio.

        Parágrafo único. Se o consumidor exercitar o direito de arrependimento previsto neste artigo, os valores eventualmente pagos, a qualquer título, durante o prazo de reflexão, serão devolvidos, de imediato, monetariamente atualizados.

        Art. 50. A garantia contratual é complementar à legal e será conferida mediante termo escrito.

        Parágrafo único. O termo de garantia ou equivalente deve ser padronizado e esclarecer, de maneira adequada em que consiste a mesma garantia, bem como a forma, o prazo e o lugar em que pode ser exercitada e os ônus a cargo do consumidor, devendo ser-lhe entregue, devidamente preenchido pelo fornecedor, no ato do fornecimento, acompanhado de manual de instrução, de instalação e uso do produto em linguagem didática, com ilustrações.

SEÇÃO IIDas Cláusulas Abusivas

        Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:

        I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos. Nas relações de consumo entre o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis;

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Prof. Alenilton da Silva Cardoso        II - subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos previstos neste código;

        III - transfiram responsabilidades a terceiros;

        IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade;

        VI - estabeleçam inversão do ônus da prova em prejuízo do consumidor;

        VII - determinem a utilização compulsória de arbitragem;

        VIII - imponham representante para concluir ou realizar outro negócio jurídico pelo consumidor;

        IX - deixem ao fornecedor a opção de concluir ou não o contrato, embora obrigando o consumidor;

        X - permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do preço de maneira unilateral;

        XI - autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente, sem que igual direito seja conferido ao consumidor;

        XII - obriguem o consumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua obrigação, sem que igual direito lhe seja conferido contra o fornecedor;

        XIII - autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o conteúdo ou a qualidade do contrato, após sua celebração;

        XIV - infrinjam ou possibilitem a violação de normas ambientais;

        XV - estejam em desacordo com o sistema de proteção ao consumidor;

        XVI - possibilitem a renúncia do direito de indenização por benfeitorias necessárias.

        § 1º Presume-se exagerada, entre outros casos, a vontade que:

        I - ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que pertence;

        II - restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à natureza do contrato, de tal modo a ameaçar seu objeto ou equilíbrio contratual;

        III - se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza e conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso.

        § 2° A nulidade de uma cláusula contratual abusiva não invalida o contrato, exceto quando de sua ausência, apesar dos esforços de integração, decorrer ônus excessivo a qualquer das partes.

        § 4° É facultado a qualquer consumidor ou entidade que o represente requerer ao Ministério Público que ajuíze a competente ação para ser declarada a nulidade de cláusula contratual que contrarie o disposto neste código ou de qualquer forma não assegure o justo equilíbrio entre direitos e obrigações das partes.

        Art. 52. No fornecimento de produtos ou serviços que envolva outorga de crédito ou concessão de financiamento ao consumidor, o fornecedor deverá, entre outros requisitos, informá-lo prévia e adequadamente sobre:

        I - preço do produto ou serviço em moeda corrente nacional;

        II - montante dos juros de mora e da taxa efetiva anual de juros;

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Universidade de Mogi das CruzesDireito Comercial e Societário

Prof. Alenilton da Silva Cardoso        III - acréscimos legalmente previstos;

        IV - número e periodicidade das prestações;

        V - soma total a pagar, com e sem financiamento.

        § 1° As multas de mora decorrentes do inadimplemento de obrigações no seu termo não poderão ser superiores a dois por cento do valor da prestação.

        § 2º É assegurado ao consumidor a liquidação antecipada do débito, total ou parcialmente, mediante redução proporcional dos juros e demais acréscimos.

        Art. 53. Nos contratos de compra e venda de móveis ou imóveis mediante pagamento em prestações, bem como nas alienações fiduciárias em garantia, consideram-se nulas de pleno direito as cláusulas que estabeleçam a perda total das prestações pagas em benefício do credor que, em razão do inadimplemento, pleitear a resolução do contrato e a retomada do produto alienado.

        § 2º Nos contratos do sistema de consórcio de produtos duráveis, a compensação ou a restituição das parcelas quitadas, na forma deste artigo, terá descontada, além da vantagem econômica auferida com a fruição, os prejuízos que o desistente ou inadimplente causar ao grupo.

        § 3° Os contratos de que trata o caput deste artigo serão expressos em moeda corrente nacional.

SEÇÃO IIIDos Contratos de Adesão

        Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo. 

        § 1° A inserção de cláusula no formulário não desfigura a natureza de adesão do contrato.

        § 2° Nos contratos de adesão admite-se cláusula resolutória, desde que a alternativa, cabendo a escolha ao consumidor, ressalvando-se o disposto no § 2° do artigo anterior.

        § 3o  Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos claros e com caracteres ostensivos e legíveis, cujo tamanho da fonte não será inferior ao corpo doze, de modo a facilitar sua compreensão pelo consumidor.

        § 4° As cláusulas que implicarem limitação de direito do consumidor deverão ser redigidas com destaque, permitindo sua imediata e fácil compreensão.

Penalidades aplicáveis ao fornecedor que violar as normas

do código de proteção e defesa do consumidor

        Art. 56. As infrações das normas de defesa do consumidor ficam sujeitas, conforme o caso, às seguintes sanções administrativas, sem prejuízo das de natureza civil, penal e das definidas em normas específicas:

        I - multa;

        II - apreensão do produto;

        III - inutilização do produto;

        IV - cassação do registro do produto junto ao órgão competente;

        V - proibição de fabricação do produto;

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Prof. Alenilton da Silva Cardoso        VI - suspensão de fornecimento de produtos ou serviço;

        VII - suspensão temporária de atividade;

        VIII - revogação de concessão ou permissão de uso;

        IX - cassação de licença do estabelecimento ou de atividade;

        X - interdição, total ou parcial, de estabelecimento, de obra ou de atividade;

        XI - intervenção administrativa;

        XII - imposição de contrapropaganda.

       Art. 57. As penas serão graduadas de acordo com a gravidade da infração, a vantagem auferida e a condição econômica do fornecedor.

Segundo os artigos 61 e seguintes do CDC, as infrações contra as relações de consumo também ensejam a prisão dos respectivos responsáveis.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COELHO, Fábio Ulhôa. Manual de Direito Comercial – Direito de Empresa. 18ª edição, São Paulo: Saraiva, 2007.

NEGRÃO, Ricardo. Direito Empresarial: Estudo Unificado. 5ª edição. São Paulo: Saraiva, 2007

REQUIÃO, Rubens. Curso de Direito Comercial. 27ª edição, São Paulo: Saraiva, 2008.

SILVA, Vander Brusso da. Resumo Jurídico de Direito Comercial. 5ª edição. São Paulo: Bafisa, 2006.