apostila de educação física

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Universidade Federal do Piauí Centro de Educação Aberta e a Distância CONTEÚDO E METODOLOGIA DE EDUCAÇÃO FÍSICA Sandra Tereza Souza Soares Marina Tereza Soares Carvalho

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Page 1: Apostila de Educação Física

Universidade Federal do PiauíCentro de Educação Aberta e a Distância

CONTEÚDO E METODOLOGIA

DE EDUCAÇÃO FÍSICA

Sandra Tereza Souza SoaresMarina Tereza Soares Carvalho

Page 2: Apostila de Educação Física
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Ministério da Educação - MECUniversidade Aberta do Brasil - UABUniversidade Federal do Piauí - UFPIUniversidade Aberta do Piauí - UAPI

Centro de Educação Aberta e a Distância - CEAD

Sandra Tereza Souza SoaresMarina Tereza Soares Carvalho

Conteúdo e Metodologia de Educação Física

Page 4: Apostila de Educação Física

Cleidinalva Maria Barbosa OliveiraElis Rejane Silva OliveiraSamuel Falcão SilvaFrancinaldo da Silva SoaresLigia Carvalho FigueiredoAurenice Pinheiro Tavares

PRESIDENTE DA REPÚBLICAMINISTÉRIO DA EDUCAÇÃOGOVERNADOR DO ESTADO

REITOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍSECRETÁRIO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA DO MEC

PRESIDENTE DA CAPESCOORDENADORIA GERAL DA UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL

DIRETOR DO CENTRO DE EDUCAÇÃO ABERTA A DISTÂNCIA DA UFPI

Luiz Inácio Lula da SilvaFernando HaddadWilson Nunes MartinsLuiz de Sousa Santos JúniorCarlos Eduardo BielshowskyJorge Almeida GuimarãesCelso CostaGildásio Guedes Fernandes

CONSELHO EDITORIAL DA EDUFPI Prof. Dr. Ricardo Alaggio Ribeiro ( Presidente )Des. Tomaz Gomes CampeloProf. Dr. José Renato de Araújo SousaProfª. Drª. Teresinha de Jesus Mesquita QueirozProfª. Francisca Maria Soares MendesProfª. Iracildes Maria de Moura Fé LimaProf. Dr. João Renór Ferreira de Carvalho

COORDENAÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICOTÉCNICA EM ASSUNTOS EDUCACIONAIS

PROJETO GRÁFICODIAGRAMAÇÃO

REVISÃOREVISOR GRÁFICO

A responsabilidade pelo conteúdo e imagens desta obra é dos autores. O conteúdo desta obra foi licenciado temporária e gratuitamente para utilização no âmbito do Sistema Universidade Aberta do Brasil, através da UFPI. O leitor se compromete a utilizar o conteúdo desta obra para aprendizado pessoal, sendo que a

reprodução e distribuição ficarão limitadas ao âmbito interno dos cursos. A citação desta obra em trabalhos acadêmicos e/ou profissionais poderá ser feita com indicação da fonte. A cópia deste obra sem autorização expressa ou com intuito de lucro constitui crime contra a propriedade intelectual, com sansões previstas no

Código Penal.

S729c Soares, Sandra Tereza Souza; Carvalho, Marina Tereza Soares Conteúdo e Metodologia da Educação Física/Sandra Ter eza Souza Soares, Marina Tereza Soares Carvalho Teresina: EDUFPI/UAPI, 2010

110 p.

1 - Educação Física Escolar- Metodologia 2 - Educação Física - ensino fundamental 3 - Recreação e jogos - educa-ção infantilI. Título

C.D.D. - 372.86

Page 5: Apostila de Educação Física

Esta unidade, Conteúdo e Metodologia da Educação Física, destina-se aos acadêmicos do curso de Pedagogia que participam do programa de Educação a Distância da Universidade Aberta do Piauí – UAPI. Objetiva contribuir para a melhoria da qualidade de ensino, através da formação do professor que utilizará os conhecimentos teóricos e práticos da Educação Física, auxiliando na tarefa de ensinar na educação infantil e nas séries iniciais do Ensino Fundamental de forma significativa.

O exemplar se compõe de três unidades que discorrem sobre Educação Física e seu objeto de estudo, Educação Física e a cultura corporal e Recreação e jogos na Educação Infantil e nas séries iniciais do Ensino Fundamental.

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Page 7: Apostila de Educação Física

UNIDADE 1

EDUCAÇÃO FÍSICA E SEU OBJETO DE ESTUDO

Educação Física EscolarO contexto da Educação Física EscolarExercício Propostos

45

09

79

11 21 44

UNIDADE 2

EDUCAÇÃO FÍSICA E CULTURA CORPORAL

JogoOs Conteúdos de Educação Física no Ensino FundamentalExercício Propostos

53 63 77

UNIDADE 3

RECREAÇÃO E JOGOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL E NAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Recreação e Jogos na Educação InfantilA Criança e o MovimentoAspectos LegaisExercício Propostos

81 96 99 103

Page 8: Apostila de Educação Física
Page 9: Apostila de Educação Física

UNIDADE 1

Educação Física e seu Objeto de Estudo

OBJETIVOS:

• Conhecer a Educação Física Escolar e seu objeto de estudo;• Analisar o contexto histórico da Educação Física; • Definir a importância, conceituação e objetivos da Educação Física Escolar;• Entender os aspectos legais que regem a Educação Física;• Compreender as abordagens didático-metodológicas da Educação Física.

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10 UNIDADE 01

Page 11: Apostila de Educação Física

11Conteúdo e Metodologia de Educação Física

EDUCAÇÃO FÍSICA ESEU OBJETO DE ESTUDO

Educação física escolar

Considerações Gerais

O início da prática da atividade física aconteceu nos primórdios da humanidade, quando o homem ainda não tinha desenvolvido meios para deixar registrados os acontecimentos e fatos que marcariam toda a sua trajetória dentro do histórico da raça humana. Sabe-se que algumas evoluções do homem aconteceram em momentos em que a comunicação era deficitária.

A prática da atividade física foi uma dessas evoluções experimentadas pelo homem ainda como uma forma de sobrevivência, como atirar lanças em animais, atravessar rios em momentos de mudança de moradia e no preparo de áreas agrícolas. Além disso, ainda existiam as danças primitivas de caráter de adoração, rituais fúnebres e invocação dos deuses.

Com o decorrer dos séculos a humanidade evoluiu e sistematizou vários movimentos praticados na vida diária dos povos, transformando-os em exercícios físicos com objetivos específicos, tais como melhora no condicionamento físico, formação de exércitos, busca do equilíbrio entre corpo e mente e etc.

Os gregos, ao criarem os primeiros jogos olímpicos, mudaram o caráter da prática das atividades físicas. Foi nesse momento da história da humanidade que a atividade física passou a ser observada como um método de treinamento para disputas esportivas.

Em diferentes regiões do mundo sabe-se que existiam outras formas de atividades físicas com objetivos diversos, e essa diferença de atividades e objetivos está ligada à cultura de cada povo. A história do

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12 UNIDADE 01

Homem mostra que a prática de exercícios físicos está ligada intimamente à cultura de determinada região, ela se insere no contexto de uma comunidade através de laços existentes entre cultura e população. Com isso, observam-se formas distintas de práticas de atividades físicas que se desenvolvem de acordo com a necessidade cultural das comunidades (sobrevivência, guerra, competição, lazer). Podemos afirmar que o conceito de atividade física é cultural.

Nos dias atuais, a educação física na escola também está associada ao conceito de cultura, pois a forma como ela é desenvolvida, a maneira como ela é praticada e seus objetivos estão ligadas às necessidades dos alunos a quem são direcionadas.

Atualmente, o homem, para desenvolver as atividades em diferentes áreas de atuação da sua vida cotidiana, precisa estar equilibrado psicológica e fisicamente, e a educação física escolar se faz importante para que seja atingido esse equilíbrio desde a infância. A educação física no meio educacional trabalha dimensões amplas de conhecimentos, além de desenvolver no aluno as habilidades físicas e cognitivas, também ajuda a desenvolver valores e atitudes que serão assimilados e levados para a sua vida social junto à comunidade. Dessa maneira, legitima-se a educação física dentro da escola para que seja dado um suporte à plena formação do aluno.

Importância Para que as instituições de ensino possam zelar pela qualidade

de suas aulas, num primeiro momento necessitam realmente acreditar que a educação física escolar deve ter o mesmo grau de importância das demais disciplinas que compõem o ensino. Devem compreender a real contribuição da educação física para a formação dos jovens.

A educação física, pelas suas possibilidades de desenvolver a dimensão psicomotora das pessoas, principalmente nas crianças e adolescentes, conjuntamente com os domínios cognitivos e sociais, deve ser disciplina obrigatória nas escolas primárias e secundárias, devendo fazer parte do currículo da escola.

Todos nós sabemos da importância de fazer uma atividade física e de se manter ativo. Mas isto deve ser trabalhado já na infância, aliando a educação física à educação moral e intelectual, formando o indivíduo como um todo.

Dessa forma, percebe-se que a escola, e neste caso específico

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13Conteúdo e Metodologia de Educação Física

a educação física, tem um papel fundamental no aprendizado e consequentemente, no desenvolvimento dos indivíduos, desde que estabeleça situações desafiadoras para seus alunos.

O trabalho de educação física dentro da escola é muito importante na medida em que possibilita aos alunos uma ampliação da visão sobre cultura corporal de movimento, e, assim, viabiliza a autonomia para o desenvolvimento de uma prática pessoal.

Através do respeito às leis biológicas de individualidade, do crescimento, do desenvolvimento e da maturação humana, a educação física vai desenvolver em seus alunos o respeito pela sua corporeidade e das outras pessoas, percebendo e compreendendo assim o papel real da atividade física realizada desde a infância na escola como meio de promoção e manutenção da saúde.

A educação física contribui como elemento fundamental na formação de cidadãos críticos, participativos e com responsabilidade social. A educação física é muito importante no momento atual por promover a autonomia dos grupos e, no jogo, valorizar o universo da cultura lúdica. A cooperação, a inclusão social, a participação de todos, a criatividade e a diversidade cultural, aprendizagem e lazer, prazer e qualidade de vida são temas que são discutidos dentro das abordagens da educação física.

As atividades rítmicas, esportivas e recreativas são consideradas como meios eficazes para promover a socialização dos alunos que a educação física tanto apregoa.

Sendo a educação física uma área de estudo onde seu eixo curricular tem como princípio norteador a referência básica veiculada aos fundamentos sociológicos, filosóficos, antropológicos, psicológicos e biológicos (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p.27), Gonçalves (1997) nos fala da importância existente no fato de o professor proporcionar aos alunos movimentos portadores de um sentido para os mesmos, uma vez que os movimentos mecânicos realizados só contribuem para a inibição da criação e da participação dos alunos em aula, por consequência, os tornam indivíduos que deixam de interpretar o mundo por si próprios e passam a interpretá-los pela visão dos outros.

O Plano Nacional de Educação Física e Desportos-PNED, para o período de 1976 a 1979, faz as seguintes observações:

A atividade física é hoje considerada como um meio educativo privilegiado, porque abrange o ser na sua totalidade. O caráter de unidade da educação, por meio

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14 UNIDADE 01

das atividades físicas, é reconhecido universalmente. Ela objetiva o equilíbrio e a saúde do corpo, a aptidão física para a ação e o desenvolvimento dos valores morais. Sob a denominação comum de Educação Física e desportiva o consenso mundial reúne todas as atividades físicas dosadas e programadas, que, embora pareçam idênticas na sua base, têm finalidades e meios diferenciados e específicos. O meio específico da Educação Física é a atividade física sistemática, concebida para exercitar, treinar e aperfeiçoar. De acordo com a intenção principal que anima a atividade física, ela se desdobra em exercícios educativos propriamente ditos, os jogos e os desportos. Face à informalidade de que se reveste sua prática, os jogos e os desportos têm um poder maior de mobilização que os exercícios educativos, sendo recomendável, portanto, para melhor eficácia da Educação Física, a integração das formas (BRASIL, 1976, p. 59).

Conceituação

O que é EDUCAÇÃO FÍSICA?

A educação física é uma atividade dinâmica que contribui na formação ampla dos sujeitos, em seu aspecto social, bem como no desenvolvimento de seu lado individual, através de oportunidades lúdicas que proporcionam equilíbrio entre corpo, mente e espaço. Desenvolve as habilidades motoras de qualquer sujeito, além de manter elementos terapêuticos, sejam eles emocionais ou físicos.

O trabalho pedagógico desenvolvido na Educação Física deve estar voltado para a construção da cidadania dos sujeitos, formando elementos críticos e participativos no meio social em que estão inseridos. Seu objetivo principal deve ser que o aluno “adquira a qualificação sócio-histórico-cultural necessária para promover o desenvolvimento de uma racionalidade crítica, autônoma e participativa”.

O caráter competitivo das atividades esportivas nem sempre está presente. Para crianças de até 08 anos de idade as práticas devem estar voltadas para o aspecto lúdico e de recreação, deixando as disputas para crianças maiores, jovens e adultos.

A educação física pode se dividir em várias classes: a escolar, a social, a terapêutica, a esportiva, a recreativa, dentre outras. O profissional também atua orientando sobre cuidados com a saúde, alimentação,

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15Conteúdo e Metodologia de Educação Física

problemas advindos do sedentarismo, obesidade etc.Sabe-se da importância do profissional de educação física para

a manutenção da qualidade de vida do ser humano, da sociedade em que se encontra inserido. Esse profissional exerce suas atividades atuando de forma individual (personal trainner) ou coletiva, em clubes, escolas, hotéis e spas, academias, condomínios, empresas, clínicas de recuperação, prefeituras e escolas, etc.

Veja a definição dada por alguns autores renomados

Viabilizar (à aluna / ao aluno) a aprendizagem referente a conhecimentos específicos sobre o movimento humano que permita, individual e intencionalmente, (1) a utilização de potencialidades para movimentar-se, genérica ou especificamente, de forma habilidosa e, em correspondência, (2) a capacitação para, em relação ao meio em que vive, agir (interagir, adaptar-se, transformar-se ...), na busca de benefícios para a qualidade de vida (OLIVEIRA,2006).

Na escola, a Educação Física seleciona e problematiza temas da cultura corporal de movimento, tendo em vista sua intencionalidade pedagógica (que decorre da escolha por determinados valores), aqui delimitada pela intenção de propiciar aos alunos a apropriação crítica da cultura corporal de movimento, associando organicamente o saber movimentar-se, o sentir movimentar-se e o saber sobre esse movimentar-se (BETTI, 2005).

A Educação Física enquanto componente curricular da Educação Básica deve assumir então uma outra tarefa: introduzir e integrar o aluno na cultura corporal de movimento, formando o cidadão que vai produzi-la, reproduzi-la e transformá-la, instrumentalizando-o para usufruir do jogo, do esporte, das atividades rítmicas e dança, das ginásticas e práticas de aptidão física, em benefício da qualidade da vida. (BETTI, ZULIANI, 2002)

Objetivo

As aulas de Educação Física, talvez, sejam as únicas que acompanham os alunos desde a Educação Infantil até o Ensino Médio. Embora seu caráter obrigatório, (Parágrafo 7º da LDB 5692/71) tenha deixado de ser enunciado, este componente curricular, pela sua importância, deve fazer parte do projeto da escola, como reza a atual

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Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, citação esta reforçada pelo PCNs: assim explicitada

"Artigo 26: Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura e da clientela (p. 18).

Assim entendendo, a mesma Lei e os PCNs explicitam no tocante às aulas de Educação Física.

"A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular da educação básica , ajustando-se às faixas etárias e às condições da população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos" ( Par. 3º: 19).

Os objetivos da Educação Infantil e o componente Educação Física segundo os PCNs (a visão dos pedagogos)

No que se refere aos objetivos gerais da Educação Infantil, pode-se observar que as aulas de Educação Física, dentro do Projeto Pedagógico Escolar, podem favorecer a construção da autoimagem positiva, descobrir progressivamente o seu próprio corpo, brincar expressando emoções, sentimentos e pensamentos, desejos e necessidades, utilizando dentre as diferentes linguagens (plástica, musical, corporal, oral e escrita), a linguagem corporal. Além disso, a implementação dos conteúdos específicos: ginástica, dança, luta, jogo e esporte, quando adequados ao nível de crescimento e de desenvolvimento das crianças, facilita o conhecimento das diferentes manifestações culturais, ampliando a visão dos alunos no tocante à pluralidade cultural.

Recomenda-se que o professor especialista em Educação Física desenvolva com ênfase os objetivos voltados para a especificidade da área, qual seja, o domínio motor. Isto porque se advoga que seja o professor quem melhor domina os conteúdos da Motricidade Humana.

Dentre os objetivos gerais para o ensino dos alunos com idade entre 7- 14 anos, os PCNs recomendam que o aluno deva conhecer e desenvolver o conhecimento ajustado conforme o próprio corpo nos diferentes domínios a fim de também desenvolver a autoconfiança e

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17Conteúdo e Metodologia de Educação Física

todas as suas capacidades intelectuais, afetivas e sociais. Adotar hábitos saudáveis para si e para a coletividade, utilizar as diferentes formas de linguagem, dentre elas a corporal, compreender a cidadania atuando de forma crítica responsável e construtiva.

Os PCNs observam os conteúdos de Educação Física para o Ensino Fundamental como expressão de produções culturais, conhecimentos historicamente acumulados e socialmente transmitidos. Segundo os PCNs, a Educação Física é vista como uma cultura corporal (PCN, EF. s/d.p. 10). Quanto aos objetivos do componente em tela, em uma visão construtivista-interacionista, para este nível de escolarização, a Proposta Curricular para o ensino da Educação Física recomenda que se propicie, com especial atenção, atividades que visem "ao regaste da cultura e do jogo popular perpassando pelos fundamentos esportivos até o esporte" (SE/CENP.1991: 5), sem desprezar o ritmo e a atividade com o material alternativo.

As aulas de Educação Física, ao contrário do que ocorria em épocas passadas, devem inserir-se no projeto escolar, contextualizar-se, ir ao encontro das expectativas dos alunos e prever a inclusão dos alunos portadores de necessidades especiais.

Ao final do processo ensino aprendizagem, espera-se que o estudante de forma ampla:a) desenvolva a capacidade de pensar, criar, classificar;b) estabeleça noções de lateralidade, espaço e tempo;c) execute movimentos corporais, compreendendo e utilizando-os adequadamente;d) amplie o seu conhecimento acerca dos conteúdos da Educação Física: jogo, ginástica,luta, dança e o esporte;e) desenvolva valores, atitudes de cooperação e de solidariedade;f) descubra e vivencie capacidades físicas e habilidades motoras;g) desenvolva e pratique o seu próprio programa de atividade física de forma consciente. Aspectos Legais

• 1851 LEI Nº 630, de 17 de setembro. Inclui a ginástica no currículo das escolas primárias.

• 1855 REGULAMENTO DA lNSTRUÇÃO PRIMÁRIA E SECUNDÁRIA NO MUNICÍPIO DA CORTE, expedido em 1855. Estende a exigência dos exercícios ginásticos ao Colégio Pedro II.

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18 UNIDADE 01

• 1858 DECRETO Nº 2. 116, de 11 de março. Inclui esgrima e natação nos Cursos de Infantaria e Cavalaria da Escola Militar. No mesmo ano, a esgrima, a ginástica e a natação tornam-se obrigatórias na Escola da Marinha.

• 1862 DECRETO Nº 2.882, de 01 de fevereiro. “Reforma Sousa Ramos”. Mantém a ginástica no Colégio Pedro II e acrescenta dança no seu currículo.

• 1866 DECRETO Nº 3.705, de 22 de setembro. Determina a prática da ginástica, natação e esgrima nos Cursos Preparatórios à Escola Militar.

• 1871 DECRETO Nº 4.720, de 22 de abril. Baixa o Regulamento da Escola da Marinha, conservando a obrigatoriedade da prática da esgrima, da ginástica e da natação em seus cursos.

• 1876 DECRETO Nº 6.370, de 30 de setembro. Introduz exercícios graduados de ginástica e princípios gerais de Educação Física nos cursos das duas Escolas Normais criadas no Município da Corte.

• 1880 DECRETO Nº 7.684, de 06 de março. Regulamenta o ensino normal do Município da Corte, conservando, na 5ª. série, os princípios gerais da Educação Física, e os exercícios ginásticos, nas demais séries.

• 1882 PROJETO Nº 224, de l882. Reforma do Ensino Primário e de várias Instituições Complementares da Instrução Pública. Seu relator, Rui Barbosa, resumiu o pensamento nele contido nos seguintes itens:

1. Instituição de uma seção especial de ginástica em cada escola normal.

2. Extensão obrigatória a ambos os sexos, na formação do professorado e nas escolas primárias de todos os graus, tendo em vista, em relação à mulher, a harmonia das formas femininas e as exigências da maternidade futura.

3. Inserção da ginástica nos programas escolares como matéria de estudo, em horas distintas das do recreio, e depois das aulas.

4. Equiparação, em categoria e autoridade, dos professores de ginástica aos de todas as outras disciplinas.

• 1890 RELATÓRIO DO INSPETOR-GERAL (Ramiz Galvão). Revela que a ginástica figura nos currículos das escolas primárias de 1º. e 2º. graus, no Ginásio Nacional e na Escola Normal do Município da Corte.

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19Conteúdo e Metodologia de Educação Física

• 1892 REGULAMENTO DE 1892. Autoriza o diretor e o vice-diretor do Ginásio Nacional a desenvolver, nos seus alunos, o gosto pelos exercícios ginásticos livres, além de outros.

• 1901 DECRETO Nº 3.914, de 26 de janeiro. Aprova o Regulamento do Ginásio Nacional, exigindo a prática da ginástica “com intuito higiênico”.

• 1905 PROJETO DE LEI, de 21 de setembro. Apresentado pelo Deputado Jorge de Morais, é do seguinte teor: “O Congresso Nacional resolve: Art. 1º. Ficam criadas duas escolas de Educação Física, sendo uma militar e outra civil”.

• 1911 DECRETO Nº 8660, de 05 de abril. Baixa novo regulamento para o Colégio Pedro II, estabelecendo que as "aulas de ginástica terão por fim robustecer o organismo, devendo os mestres adestrar os alunos nos exercícios que constituem a Educação Física”.

• 1916 DECRET0 Nº 1.058, de 29 de janeiro. “Regulamento do Serviço de Inspeção Médica Escola do Distrito Federal”. Confere ao ”médico a competência de dirigir a Educação Física dos alunos proporcionada as necessidades e a capacidade de cada idade e sexo”.

• 1921 DECRETO Nº 784, de 27 de abril. Aprova o “Regulamento de Instrução Física Militar destinado a todas as armas”.

• 1928 DECRETO Nº 3.281, de 23 de janeiro, do Prefeito Antônio Prado Júnior. Reforma o ensino municipal, dando destaque especial a Educação Física. O art. 452 desse decreto criava “uma Escola Profissional de Educação Física destinada a preparar e selecionar professores de Educação Física para os estabelecimentos de ensino do Distrito Federal”.

• 1929 CURSO PROVISÓRIO DE EDUCAÇÃO FÍSICA, calcado no Centro Militar de Educação Física, entra em funcionamento, por onde se diplomaram 22 professores civis, a ele encaminhados pelo então Diretor da Instrução Pública do Distrito Federal, Prof. Fernando de Azevedo.

• 1930 PORTARIA DE 11 DE JANEIRO, do Ministro da Guerra. Organiza o Centro Militar de Educação Física. Embora destinado esse Centro a formar instrutores e monitores, para o ensino da Educação Física no Exército, o art. 95 dessa portaria dispunha: “O Centro receberá, também, para os seus cursos, oficiais e sargentos das forças auxiliares, professores federais, estaduais ou municipais e civis”.

Page 20: Apostila de Educação Física

20 UNIDADE 01

• 1931 DECRETO Nº 19.890, de 18 de abril. “Art. 9. Durante o ano letivo haverá, ainda, nos estabelecimentos de ensino secundário, exercícios de Educação Física para todas as classes”.

• 1932 DECRETO Nº 21.241, de 4 de abril. Mantém a exigência da Educação Física nos estabelecimentos de ensino secundário e reconhece a necessidade da criação da função de inspetor especializado nessa prática educativa.

• 1937 Lei Nº 378, de 13 de janeiro. Reorganiza o Ministério da Educação. Pelo art. 1º, cria a Divisão de Educação Física, por onde, segundo o art. 12, passaria a correr a administração da Educação Física.

• 1939 DECRETO Nº 1.056, de 19 de janeiro. Institui a Comissão Nacional de Desportos.

• PORTARIA Nº 688, de 24 de dezembro do Departamento Nacional de Educação. Regulamenta a realização dos exames vestibulares das Escolas de Educação Física.

• 1945 DECRETO Nº 17.592, de 16 de janeiro. Reconhece os Cursos Superior e Normal da Escola de Educação Física e Desportos do Estado do Paraná.

• LEI Nº 745, de 27 de junho. Dispõe sobre o registro de professores de Educação Física, médicos assistentes de Educação Física e Técnicos Desportivos, não habilitados na forma da lei.

• 1950 LEI Nº 1.153, de 4 de julho. Estende as regalias de licenciado aos diplomados, até o ano de 1942, pelo Curso Normal da Escola Nacional de Educação Física e Desportos e por escolas congêneres reconhecidas.

• 1953 DECRETO Nº 32.158, de 29 de janeiro. Autoriza o funcionamento dos Cursos Superior, Medicina Especializada, Técnica Desportiva, Massagem Especializada e Educação Física Infantil da Escola de Educação Física das Faculdades Católicas de Minas Gerais.

• 1958 PORTARIA Nº 1, de 5 de janeiro, da Divisão de Educação Física. Institui Curso de Recreação no Centro de Educação de Base da Campanha de Educação Rural, em Cruz das Almas, no Estado da Bahia.

• 1958 PORTARIA Nº 98, de 17 de novembro, da Divisão de Educação Física. Acrescenta Ginástica Feminina Moderna às aulas a que se refere o art. 1º da Portaria Nº 82, de 25-12-57, em relação aos cursos a serem realizados na capital do Estado do

Page 21: Apostila de Educação Física

21Conteúdo e Metodologia de Educação Física

Amazonas e no Território Federal do Amapá.• 1960 DECRETO Nº 49.131, de 20 de outubro. Cria a Comissão

de Preparação Pré-Olímpica, para os Jogos Olímpicos de Tóquio.• 1961 LEI Nº 4.024, de 20 de dezembro. Fixa a obrigatoriedade da

prática da Educação Física nos cursos primários e médios, até a idade de 18 anos.

• 1963 PORTARIA Nº 4, de 4 de abril, do Conselho Federal de Educação. Estabelece normas para autorização e reconhecimento de escolas superiores.

• 1965 PORTARIA MINISTERIAL Nº 159, publicada no D. O. de 23 de junho. Fixa a duração dos cursos superiores em horas aula.

• 1966 DECRETO Nº 58. 130, de 31 de março. Regulamenta o art. 22 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

• 1969 DECRETO-LEI Nº 705, de 25 de julho. Altera a redação do artigo 22 da Lei Nº 4.024, de 20-12-61, estendendo a obrigatoriedade da pratica da Educação Física a todos os níveis e ramos de ensino.

• 1998 LEI Nº 9.696, DE 1º DE SETEMBRO. Dispõe sobre a regulamentação da Profissão de Educação Física e cria os respectivos Conselho Federal e Conselhos Regionais de Educação Física.

O contexto da educação física escolar

Um breve histórico da educação física escolar no Brasil ao longo do século XX

No âmbito da escola, os exercícios físicos na forma cultural de jogos, ginástica, dança, equitação surgem na Europa no final do século XVIII e início do século XIX (Coletivo de autores, 1992, p.50).

Oficialmente, a Educação Física foi incluída nas escolas do Brasil ainda no século XIX, com a reforma Couto Ferraz, em 1851, embora a inclusão de exercícios físicos, na Europa, remonte ao século XVIII, com Guths Muths, J.J. Rosseau, Pestalozzi e outros.

Os objetivos e as propostas educacionais da Educação Física foram se modificando ao longo deste último século, mas estas tendências, de algum modo, ainda hoje influenciam a formação do profissional e as práticas pedagógicas dos professores de Educação Física.

Três anos após a aprovação da reforma do primário e do

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22 UNIDADE 01

secundário, em 1854, a ginástica passou a ser uma disciplina obrigatória no primário e a dança no secundário. Em reforma realizada, a seguir, por Rui Barbosa, em 1882, houve uma recomendação para que a ginástica fosse obrigatória para as mulheres e que fosse oferecida para as Escolas Normais. Todavia, a implantação de fato destas leis ocorreu apenas em parte, no Rio de Janeiro (capital da República) e nas escolas militares. E apenas a partir da década de 1920 que vários estados da federação começam a realizar suas reformas educacionais e incluem a Educação Física, com o nome mais frequente de ginástica (BETTI, 1991).

A partir da década de 30, a concepção dominante na Educação Física é calcada na perspectiva higienista. Nela, a preocupação central é com a formação de hábitos de higiene e saúde como: tomar banho, escovar os dentes, lavar as mãos, valorizando o desenvolvimento do físico e da moral, a partir do exercício.

A fase higienista da educação física enfatizava um corpo forte e saudável e a disciplinarização do físico e do intelecto. Visava multiplicar os indivíduos brancos e nacionalistas.

No início do século passado, surgem os métodos ginásticos em função da necessidade de sistematizar a ginástica escolar. Inicia-se, então, a fase militarista da educação física que vai de 1930 até 1945. Os principais precursores deste método foram o sueco RH. Ling, o francês Amoros e o alemão Spiess. Estes autores apresentaram propostas que procuravam valorizar a imagem da ginástica na escola e, assim, acabaram por fornecer elementos para o aprimoramento físico dos indivíduos. A educação física era vista como um poderoso auxiliar no fortalecimento do Estado e possante meio para o aprimoramento da raça.

Nesta fase o professor assumia o papel de instrutor e o aluno, de recruta; ao aluno cabia disciplina, obediência e subordinação. A educação física era praticada, também, para a formação de homens e mulheres sadios e fortes que gerassem filhos saudáveis para estes defenderem e construírem a Pátria.

Os métodos ginásticos procuravam capacitar os indivíduos no sentido de contribuir com a indústria nascente e com a prosperidade da nação. No modelo militarista, os objetivos da Educação Física na escola eram vinculados à formação de uma geração capaz de suportar o combate, a luta, para atuar na guerra, por isso era importante selecionar os indivíduos "perfeitos" fisicamente, excluir os incapacitados, contribuindo para uma maximização da força e do poderio da população (COLETIVO De AUTORES, 1992).

Page 23: Apostila de Educação Física

23Conteúdo e Metodologia de Educação Física

Ambas as concepções higienista e militarista da Educação Física, consideravam a Educação Física como disciplina essencialmente prática, não necessitando, portanto, de uma fundamentação teórica que lhe desse suporte. Por isso, não havia distinção evidente entre a Educação Física e a instrução física militar (DARIDO, 2003).

Após as grandes guerras, que coincidem com o fim do Estado novo, o modelo americano denominado Escola Nova entra no Brasil e fixa raízes. Com a elaboração da constituição de 1946 é gerado um debate por parte de diversos educadores sobre os rumos da educação e também da educação física, a inspiração é liberal-democrática face à influência dos educadores da Escola Nova. Inicia-se a fase da pedagogização (1946-1964), quando a educação física passa a ser vista como uma prática meramente educativa.

O discurso predominante na Educação Física constitui: "A Educação Física é um meio da Educação". O discurso desta fase vai advogar em prol da educação do movimento como única forma capaz de promover a chamada educação integral. É neste contexto que, num concurso promovido pelo Departamento de Educação Física (DEF), vence a proposta que propõe o conceito biossócio-filosófico da Educação Física em substituição ao conceito anátomo-fisiológico que vigorava até então (DARIDO, 2003). Mas a prática da educação física nas escolas praticamente não foi alterada, permanecendo os exercícios militares.

Ghiraldelli Jr. (1988) nos lembra que, apesar da mudança da concepção pedagogicista, a prática de uma Educação Física comprometida com uma organização didática ainda sobre parâmetros militaristas não foi extinta. Contudo, a proposta escola-novista explicita formas de pensamento que, aos poucos, alteram a prática da Educação Física e a postura do professor.

Este movimento passa a entrar em declínio a partir da instalação da ditadura militar no nosso país quando se observou, no Brasil, a ascensão do esporte, iniciando-se a fase competitiva da Educação Física em 1964.

Segundo Darido (2003), nessa época, os governos militares que assumiram o poder em março de 1964 passam a investir pesado no esporte na tentativa de fazer da Educação Física um sustentáculo ideológico, na medida em que ela participaria na promoção do país através do êxito em competições de alto nível. Foi neste período que a ideia central girava em torno do Brasil-Potência, para o qual era fundamental eliminar as críticas internas e deixar transparecer um clima de prosperidade e desenvolvimento.

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Castellani Filho (1993) afirma que nesse período houve uma tentativa do Estado de reprimir os movimentos estudantis no sentido de desviar as atenções dos estudantes das questões de ordem sócio-políticas, contribuindo, assim, para a construção do modelo de corpo apolítico.

Nessa fase, a Educação Física tem um caráter altamente tecnicista, visando a utilização dos mais aptos em detrimento dos menos capacitados. A frase mais conhecida dessa época é "Esporte é saúde". De acordo com Coletivo de Autores (1992), esporte é, para essa fase, o objetivo e o conteúdo da Educação Física escolar além de estabelecer uma nova relação passando de professor-instrutor para professor-treinador.

É nessa fase da história que o rendimento, a seleção dos mais habilidosos está mais presente no contexto da Educação Física escolar. O papel do professor é bastante centralizador e a prática uma repetição mecânica dos movimentos esportivos.

Em crítica a esse momento por que passou a Educação Física na escola, a Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas de São Paulo (CENP, 1990) considera que, em relação à metodologia, além dos procedimentos diretivos, as tarefas eram apresentadas de forma acabada, privilegiando a execução de movimentos automatizados, e os alunos deviam executá-las ao mesmo tempo, ao mesmo ritmo, desprezando os conhecimentos que a criança já construiu, desencorajando-os de suas ações corporais espontâneas, anulando, com isso, a sua criatividade, seu pensamento enquanto manifestação de movimento.

Nesse período há um aumento no número de pesquisas e de publicações relacionadas à fisiologia do exercício, à biomecânica e à teoria do treinamento devido à busca da melhoria do rendimento do aluno-atleta.

A partir dos anos 80, o modelo esportivista é muito criticado pelos meios acadêmicos, os efeitos desse modelo começaram a ser sentidos e contestados: o Brasil não se tornou uma nação olímpica e a competição esportiva da elite não aumentou significativamente o número de praticantes de atividades físicas. Iniciou-se então uma profunda crise de identidade nos pressupostos e no próprio discurso da Educação Física, que originou uma mudança expressiva nas políticas educacionais: a Educação Física escolar, que estava voltada principalmente para a escolaridade de quinta a oitava séries do primeiro grau, passou a dar prioridade ao segmento de primeira a quarta séries e também à pré-escola. O objetivo passou

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a ser o desenvolvimento psicomotor do aluno, propondo-se retirar da escola a função de promover os esportes de alto rendimento. Essa fase é conhecida como fase popular da Educação Física.

Nesse momento, a Educação Física passa por um período de valorização dos conhecimentos produzidos pela ciência. A discussão do objeto de estudo da Educação Física, a abertura de programas de mestrado na área, a volta de inúmeros profissionais titulados nos principais centros de pesquisa do mundo, a confirmação da vocação da Educação Física para ser ciência da motricidade humana, adicionados a um novo panorama político-social resultante da abertura, contribuem para que seja rompida, ao menos no nível do discurso, a valorização excessiva do desempenho como objetivo único na escola (DARIDO, 2003).

Castellani Filho (1993) nos diz que as mudanças ocorridas na Educação Física foram resultado de dois motivos distintos, porém não excludentes. O primeiro deles diz respeito ao modelo educacional que, no que tange à formação de homens com consciência do tempo em que vivem, deixava muito a desejar, precisando, portanto, ser modificado para sincronizar-se aos novos tempos.

O segundo motivo está relacionado com a questão da produtividade. Assistíamos, naqueles anos, ao avançar de um processo de automação da mão de obra, até então apoiada na força de trabalho humana, que fez por secundarizar a importância da construção do modelo de corpo produtivo.

Abordagens didático-metodológicas

Em oposição à vertente mais tecnicista, esportivista e biologista surgem novos movimentos na Educação Física escolar a partir do final da década de 70, inspirados no novo momento histórico social por que passou o país, a Educação de uma maneira geral e a Educação Física especificamente.

Atualmente, coexistem na área da Educação Física várias concepções, todas elas tendo em comum a tentativa de romper com o modelo mecanicista, fruto de uma etapa recente da Educação Física. Num primeiro, serão apresentadas as abordagens psicomotora, desenvolvimentista, Construtivista, Crítico-Superadora e Sistêmica, pois estas nos foram apresentadas primeiramente.

Num segundo momento, discutimos as abordagens Psicomotricidade, Crítico-Emancipatória, Cultural, aquela apoiada

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nos Jogos Cooperativos, no modelo de Saúde Renovada e também aquela relacionada aos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), que entendemos tenham também papel relevante na construção do pensamento pedagógico nacional. Abordagem psicomotora

A psicomotricidade é o primeiro movimento mais articulado que aparece a partir do final da década de 70 em contraposição aos modelos anteriores. Nele, o envolvimento da Educação Física é com o desenvolvimento da criança, com o ato de aprender, com os processos cognitivos, afetivos e psicomotores, ou seja, buscando garantir a formação integral do aluno. A Educação Física é, assim, apenas um meio para ensinar Matemática, Língua Portuguesa, sociabilização... Para este modelo, a Educação Física não tem um conteúdo próprio, mas é um conjunto de meios para a reabilitação, readaptação e integração, substituindo o conteúdo que até então era predominantemente esportivo, o qual valorizava a aquisição do esquema motor, lateralidade, consciência corporal e coordenação viso-motora.

Este discurso penetrou no contexto escolar, tendo sido aceito pelos diferentes segmentos que o compõem, como diretores, coordenadores e professores. O discurso e a prática da Educação Física sob a influência da psicomotricidade conduzem à necessidade de o professor de Educação Física sentir-se um professor com responsabilidades escolares e pedagógicas. Buscam desatrelar sua atuação na escola dos pressupostos da instituição desportiva, valorizando o processo de aprendizagem e não mais a execução de um gesto técnico isolado.

A principal vantagem desta abordagem é que ela possibilitou uma maior integração com a proposta pedagógica ampla e integrada da Educação Física nos primeiros anos de educação formal. Porém, representou o abandono do que era específico da Educação Física, como se o conhecimento do esporte, da dança, da ginástica e dos jogos fosse, em si, inadequado para os alunos.

Abordagem construtivista

É preciso lembrar que, no âmbito da Educação Física, a psicomotricidade influenciou a perspectiva construtivista-interacionista na questão da busca da formação integral, com a inclusão das dimensões

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afetivas e cognitivas ao movimento humano. Na discussão do objeto da Educação Física escolar, ambas trazem uma proposta de ensino para a área que abrange principalmente crianças na faixa etária até os 10-11 anos.

Na perspectiva construtivista, a intenção é a construção do conhecimento a partir da interação do sujeito com o mundo, e para cada criança a construção desse conhecimento exige elaboração, ou seja, uma ação sobre o mundo. Nesta concepção, a aquisição do conhecimento é um processo construído pelo indivíduo durante toda a sua vida, não estando pronto ao nascer nem sendo adquirido passivamente de acordo com as pressões do meio. Conhecer é sempre uma ação que implica esquemas de assimilação e acomodação num processo de constante reorganização.

A principal vantagem desta abordagem é a de que ela possibilita uma maior integração com uma proposta pedagógica ampla de interatividade com outras disciplinas e integrada da Educação Física nos primeiros anos de educação formal. Porém, desconsidera a questão da Educação Física como disciplina específica.

A preocupação com a aprendizagem de conhecimentos, especialmente aqueles lógico-matemáticos, prepara um caminho para Educação Física como um meio para atingir o desenvolvimento cognitivo. Neste sentido, o movimento poderia ser um instrumento para facilitar a aprendizagem de conteúdos diretamente ligados ao aspecto cognitivo, como a aprendizagem da leitura, da escrita e da matemática, etc.

A meta da construção do conhecimento é evidente quando alguns autores propõem como objetivo da Educação Física respeitar o universo cultural dos alunos, explorar a gama múltipla de possibilidades educativas de sua atividade lúdica e, gradativamente, propor tarefas cada vez mais complexas e desafiadoras com vista à construção do conhecimento.

O que não fica esclarecido na discussão desta questão é qual conhecimento se deseja construir através da prática da Educação Física escolar. Se for o mesmo buscado pelas outras disciplinas, tornaria a área um instrumento de auxílio ou de apoio para a aprendizagem de outros conteúdos.

Essa abordagem levanta a questão que o papel da interdisciplinaridade é importante dentro da Educação Física escolar, mas se deve ter sempre em mente que a interdisciplinaridade só será positiva para a Educação Física na escola quando estiver claro para o professor quais são as finalidades da Educação Física, de modo a

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guardar a preocupação de introduzir o aluno às questões relacionadas à cultura corporal e guardando as suas características específicas.

A proposta teve o mérito de levantar a questão da importância de se considerar o conhecimento que a criança já possui na Educação Física escolar, incluindo os conhecimentos prévios dos alunos no processo de ensino e aprendizagem. Essa perspectiva também procurou alertar os professores sobre a importância da participação ativa dos alunos na solução de problemas.

Na proposta construtivista, o jogo, enquanto conteúdo/estratégia, tem papel privilegiado. É considerado o principal modo de ensinar, é um instrumento pedagógico, um meio de ensino, pois enquanto joga ou brinca a criança aprende. Sendo que este aprender deve ocorrer num ambiente lúdico e prazeroso para a criança. As propostas de avaliação caminham no sentido do uso da avaliação não-punitiva, vinculada ao processo, e com ênfase no processo de autoavaliação.

Abordagem desenvolvimentista

Para Tani et alii (1988) a proposta explicitada por eles é uma abordagem dentre várias possíveis, e está dirigida especificamente para crianças de quatro a quatorze anos e busca nos processos de aprendizagem e desenvolvimento uma fundamentação para a Educação Física escolar. A abordagem desenvolvimentista é dirigida especificamente para a faixa etária até 14 anos e busca nos processos de aprendizagem e desenvolvimento uma fundamentação para a Educação Física escolar. É uma tentativa de caracterizar a progressão normal do crescimento físico, do desenvolvimento motor e da aprendizagem motora em relação à faixa etária e, em função dessas características, sugerir aspectos ou elementos relevantes à estruturação de um programa para a Educação Física na escola.

A abordagem defende a ideia de que o movimento é o principal meio e fim da Educação Física, propugnando a especificidade do seu objeto. Sua função não é desenvolver capacidades que auxiliem a alfabetização e o pensamento lógico-matemático, embora tal possa ocorrer como um subproduto da prática motora. Em suma, uma aula de Educação Física deve privilegiar a aprendizagem do movimento, conquanto possam estar ocorrendo outras aprendizagens, de ordem afetivo-social e cognitiva, em decorrência da prática das habilidades motoras.

Grande parte do modelo conceitual desta abordagem relaciona-se

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com o conceito de habilidade motora, pois é por meio dela que os seres humanos se adaptam aos problemas do cotidiano. Como as habilidades mudam ao longo da vida do indivíduo, desde a concepção até a morte, constituíram-se numa área de conhecimento da Educação Física - o desenvolvimento motor. Ao mesmo tempo, estruturou-se também outra área em torno da questão de como os seres humanos aprendem as habilidades motoras - a aprendizagem motora.

Para a abordagem desenvolvimentista, a Educação Física deve proporcionar ao aluno condições para que seu comportamento motor seja desenvolvido pela interação entre o aumento da diversificação e a complexidade dos movimentos. Habilidade motora é um dos conceitos mais importantes dentro desta abordagem, assim, o principal objetivo da Educação Física é oferecer experiências de movimento adequadas ao seu nível de crescimento e desenvolvimento, a fim de que a aprendizagem das habilidades motoras seja alcançada. A criança deve aprender a se movimentar para adaptar-se às demandas e às exigências do cotidiano, ou seja, corresponder aos desafios motores.

A partir dessa perspectiva passou a ser extremamente difundida a questão da adequação dos conteúdos ao longo das faixas etárias. A exemplo do domínio cognitivo, foi proposta uma taxionomia para o desenvolvimento motor, ou seja, uma classificação hierárquica dos movimentos dos seres humanos.

Os conteúdos devem obedecer a uma sequência fundamentada no modelo de taxionomia do desenvolvimento motor, proposta por Gallahue (2005) e ampliada por Manoel (1994), na seguinte ordem: fase dos movimentos fetais, fase dos movimentos espontâneos e reflexos, fase de movimentos rudimentares, fase dos movimentos fundamentais, fase de combinação de movimentos fundamentais e movimentos culturalmente determinados. Tais conteúdos devem ser desenvolvidos segundo uma ordem de habilidades, do mais simples, que são as habilidades básicas, para as mais complexas, as habilidades específicas.

Embora não tenha sido especificamente considerado o item avaliação, no decorrer do trabalho é apresentada uma descrição detalhada das principais habilidades motoras, seus diferentes níveis, até a aquisição de um padrão de movimento com qualidade. É sugerido que os professores observem sistematicamente o comportamento dos seus alunos, no sentido de verificar em que fase ele se encontra, localizar os erros e oferecer informações relevantes para que os erros de desempenho sejam superados.

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Abordagem Crítico-superadora

Com apoio nas discussões que vinham ocorrendo nas áreas educacionais e na tentativa de romper com o modelo hegemônico do esporte praticado nas aulas de Educação Física, a partir da década de 80 são elaborados os primeiros pressupostos teóricos num referencial crítico, com fundamento no materialismo histórico e dialético.

Essa abordagem passou a questionar o caráter alienante da Educação Física na escola, propondo um modelo de superação das contradições e injustiças sociais. Assim, uma Educação Física crítica estaria atrelada às transformações sociais, econômicas e políticas, tendo em vista a superação das desigualdades sociais.

Esta abordagem levanta questões de poder, interesse e contestação. Acredita que qualquer consideração sobre a pedagogia mais apropriada deve versar não somente sobre como se ensinam e como se aprendem esses conhecimentos, mas também sobre as suas implicações valorativas e ideológicas, valorizando a questão da contextualização dos fatos e do resgate histórico. Busca possibilitar a compreensão, por parte do aluno, de que a produção cultural da humanidade expressa uma determinada fase e que houve mudanças ao longo do tempo. Essa reflexão pedagógica é compreendida como sendo um projeto político-pedagógico. Político porque encaminha propostas de intervenção em determinada direção, e pedagógico porque propõe uma reflexão sobre a ação dos homens na realidade, explicitando suas determinações.

Até o momento, pouco tem sido feito em termos de implementação dessas ideias na prática da Educação Física, embora haja um esforço neste sentido.

Ghiraldelli Jr. (1990, apud RESENDE, 1994), afirma que é a importante influência da abordagem crítico-superadora na Educação Física, mas critica a falta de propostas pedagógicas na área.

Quanto à seleção de conteúdos para as aulas de Educação Física, sugere que se considere a sua relevância social, sua contemporaneidade e sua adequação às características sociocognitivas dos alunos. Em relação à organização do currículo, ressalta que é preciso fazer o aluno confrontar os conhecimentos do senso comum com o conhecimento científico, para ampliar o seu acervo.

Além disso, sugere que os conteúdos selecionados para as aulas de Educação Física devem propiciar uma melhor leitura da realidade pelos alunos e possibilitar, assim, sua inserção transformadora nessa

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realidade. A Educação Física é entendida como uma área que trata de um

tipo de conhecimento, denominado cultura corporal de movimento, que tem como temas o jogo, a ginástica, o esporte, a dança, a capoeira e outras temáticas que apresentarem relações com os principais problemas dessa cultura corporal de movimento e o contexto histórico-social dos alunos.

No contexto escolar, a avaliação em Educação Física é duramente criticada porque vem estimulando uma prática discriminatória aos interesses da classe trabalhadora.

Em resumo, a introdução das abordagens psicomotora, construtivista, desenvolvimentista e crítico-superadora no espaço do debate da Educação Física proporcionou uma ampliação da visão da área, tanto no que diz respeito à natureza de seus conteúdos quanto no que refere aos seus pressupostos pedagógicos de ensino e aprendizagem. Reavaliaram-se e enfatizaram-se as dimensões psicológicas, sociais, cognitivas, afetivas e políticas, concebendo o aluno como ser humano integral. Além disso, foram englobados objetivos educacionais mais amplos, não apenas voltados para a formação de físico que pudesse sustentar a atividade intelectual, e conteúdos mais diversificados, não só restritos a exercícios ginásticos e esportes.

Abordagem Sistêmica

Uma quinta concepção de Educação Física escolar vem sendo ainda elaborada. Em trabalhos realizados notam-se as influências de estudos nas áreas da Sociologia, da Filosofia e, em menor grau, da Psicologia.

Betti (1991) considera a teoria de sistemas, defendida em grande medida por Bertalanffy e Koestler (apud BETTI, 1991), como um instrumento conceitual e um modo de pensar a questão do currículo de Educação Física. Como na teoria de sistemas proposta por Bertalanffy, o autor trabalha com os conceitos de hierarquia, tendências auto-afirmativas e autointegrativas.

O autor entende a Educação Física como um sistema hierárquico aberto, uma vez que os níveis superiores, como as Secretarias de Educação, exercem algum controle sobre os sistemas inferiores, como a direção da escola, o corpo docente e outros. É um sistema hierárquico aberto porque sofre influências da sociedade como um todo e ao mesmo

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tempo a influencia.Para a abordagem sistêmica existe a preocupação de garantir a

especificidade, na medida em que considera o binômio corpo/movimento como meio e fim da Educação Física escolar. O alcance da especificidade se dá através da finalidade da Educação Física na escola, que é, segundo Betti (1992), "integrar e introduzir o aluno de 1° e 2° graus no mundo da cultura física, formando o cidadão que vai usufruir, partilhar, produzir, reproduzir e transformar as formas culturais da atividade física (o jogo, o esporte, a dança, a ginástica...)" (p.285).

O autor ressalta que a função da Educação Física na escola não está restrita ao ensino de habilidades motoras, embora sua aprendizagem também deva ser entendida como um dos objetivos, e não o único, a serem perseguidos pela Educação Física Escolar.

Para isto não basta aprender habilidades motoras e desenvolver capacidades físicas que, evidentemente, são necessárias em níveis satisfatórios para que o indivíduo possa usufruir dos padrões e valores que a cultura corporal/movimento oferece após séculos de civilização.

Os conteúdos oferecidos na escola para integrar e introduzir o aluno na cultura corporal/ movimento não diferem das demais abordagens: o jogo, o esporte, a dança e a ginástica. Diferem, todavia, da abordagem crítico-superadora, segundo a qual o essencial é o aluno conhecer a cultura corporal.

Alguns princípios derivados desta abordagem foram apresentados por Betti (1991). O mais importante é denominado princípio da não-exclusão, segundo o qual nenhuma atividade pode excluir qualquer aluno das aulas da Educação Física. Este princípio tenta garantir o acesso de todos os alunos às atividades da Educação Física.

O princípio da diversidade propõe que a Educação Física na escola proporcione atividades diferenciadas e não privilegie apenas um tipo, por exemplo, futebol ou basquete. Além disso, pretende que a Educação Física escolar não trabalhe apenas com um tipo de conteúdo esportivo. Garantir a diversidade como um princípio é proporcionar vivências nas atividades esportivas, atividades rítmicas e expressivas vinculadas à dança e atividades da ginástica. A importância da aprendizagem de conteúdos diversos está vinculada ao uso do tempo livre de lazer, oportunizando o alcance da cidadania.

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Abordagem Crítico-emancipatória

Apoiados nas discussões que vinham ocorrendo nas áreas educacionais e na tentativa de romper com o modelo hegemônico do esporte/aptidão física praticado nas aulas de Educação Física, são elaboradas estas estruturas autoritárias onde o ensino caminha no sentido de uma emancipação, possibilitada pelo uso da linguagem. Nasce aí a abordagem crítico-emancipatória.

A linguagem tem papel importante no agir comunicativo e funciona como uma forma de expressão de entendimentos do mundo social, para que todos possam participar em todas as instâncias de decisão, na formulação de interesses e preferências e agir de acordo com as situações e condições do grupo em que está inserido e do trabalho no esforço de conhecer, desenvolver e apropriar-se de cultura.

Do ponto de vista das orientações didáticas, o papel do professor na concepção crítico-emancipatória confronta, num primeiro momento, o aluno com a realidade do ensino, o que foi denominado de transcendência de limites. Concretamente a forma de ensinar pela transcendência de limites pressupõe três fases. Na primeira os alunos descobrem, pela própria experiência manipulativa, as formas e meios para uma participação bem-sucedida em atividades de movimentos e jogos. Em segundo, devem também manifestar, pela linguagem ou representação cênica, o que experimentaram e o que aprenderam numa forma de exposição, e por fim, os alunos devem aprender a perguntar e questionar sobre suas aprendizagens e descobertas, com a finalidade de entender o significado cultural da aprendizagem.

Abordagem Cultural

A abordagem cultural foi sugerida em crítica à perspectiva biológica que ainda domina a Educação Física na escola. Esta visão naturaliza e universaliza o corpo humano, entendendo-o como um conjunto de ossos, músculos e articulações. Assim, todos os corpos são iguais por possuírem os mesmos componentes, e as aulas de Educação Física devem ser as mesmas para todos os alunos, em qualquer época e lugar.

Daólio (1993) buscou, nas suas propostas, basear-se numa perspectiva antropológica, um contraponto possível à ênfase biológica, e denominou de enfoque cultural, cuja principal vantagem não é a exclusão da dimensão biológica, mas a sua discussão vinculada ao surgimento

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da cultura ao longo da evolução dos primatas até culminar com o aparecimento do Homo sapiens.

O autor procurou ampliar o conceito de técnicas corporais à prática da Educação Física, tendo concluído que se todo movimento corporal é considerado um gesto técnico, não é possível atribuir valores para esta técnica, a não ser dentro de um contexto específico. Assim, não devem existir técnicas melhores ou piores. Enfatizando o papel da cultura, o autor lembra que toda técnica é cultural, porque é fruto de uma aprendizagem específica de uma determinada sociedade, num determinado momento histórico.

Todavia, continua Daólio (1993), a Educação Física vem se pautando, ao longo de sua história, por valorizar os modelos pré-estabelecidos provenientes do esporte de rendimento, negligenciando, e muito, as diferenças técnicas dos alunos, que não deixam de ser culturais. Daólio (1993) entende que o professor de Educação Física está inserido num contexto cultural repleto de representações sobre o mundo, o corpo e a escola. Daí que a prática transformadora só será possível a partir da compreensão do universo de significados do professor de Educação Física. O autor sugere ainda que o ponto de partida da Educação Física é o repertório corporal que cada aluno possui quando chega à escola, uma vez que toda técnica corporal é uma técnica cultural, e não existe técnica melhor ou mais correta.

De acordo com o autor, o princípio da alteridade, emprestado da antropologia, pode ser um instrumento útil para pensar a prática da Educação Física na escola, pois considera a humanidade plural e procura entender os homens a partir de suas diferenças, de tal modo que os hábitos e as práticas de determinados grupos não sejam vistos como certos ou errados, melhores ou piores. Assim, a diferença não deve ser pensada como inferioridade, pois "o que caracteriza a espécie humana é justamente sua capacidade de se expressar diferentemente" (DAÓLIO. 1993, p.100).

Abordagem dos Jogos Cooperativos

Esta nova perspectiva para a Educação Física na escola está pautada sobre a valorização da cooperação em detrimento da competição. Brotto (1995), principal divulgador destas ideias no país, afirma que é a estrutura social que determina se os membros de determinadas sociedades irão competir ou cooperar entre si. O autor entende que há

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um condicionamento, um treinamento na escola, família, mídia, para fazer acreditar que as pessoas não têm escolhas e têm que aceitar a competição como opção natural.

O autor sugere o uso dos jogos cooperativos como uma força transformadora, oferecendo como alternativa os jogos cooperativos, que são divertidos para todos e todos têm um sentimento de vitória, criando alto nível de aceitação mútua, enquanto os jogos competitivos são divertidos apenas para alguns, a maioria tem sentimentos de derrota e é excluída por falta de habilidades.

Brown (1994), autor do livro Jogos coperativos: teoria e prática, traduzido para o português, afirma que o ponto de partida desta perspectiva é o jogo, sua mensagem, suas possibilidades de ser uma prazerosa oportunidade de comunicação e um espaço importante para viver alternativas novas, uma contribuição para a construção de uma nova sociedade baseada na solidariedade e na justiça. Entende o autor que os jogos não são algo novo para entreter os garotos, mas uma proposta coerente com valores pedagógicos que deseja transmitir, espaços de criação simbólica do povo, espaços onde, a partir da cooperação, dão-se os sentidos à prática que realizamos.

Embora tal proposta seja bastante interessante na busca de valores mais humanitários e seja possível, viável em termos de implementação na prática e concreta para os professores de Educação Física, considerando a importância do jogo, a abordagem não parece ter-se aprofundado, como deveria, nas análises sociológicas e filosóficas subjacentes à construção de um modelo educacional voltado para a cooperação, além de não considerar os efeitos do sistema capitalista sobre a competição/cooperação na sociedade contemporânea. É possível que estas análises estejam em curso, uma vez que suas publicações são bastante recentes.

Abordagem da Saúde Renovada

A produção do conhecimento na área biológica em Educação Física é, sem dúvida, uma das pioneiras. Já na década de 70 são instalados os primeiros laboratórios de avaliação física, fisiologia do exercício e outros. Parece que os estudos conduzidos por estes laboratórios não tinham intenções explícitas de produzir conhecimento na área escolar, embora, em alguns momentos, isto pudesse ocorrer. Pesquisas realizadas procurando analisar os efeitos da atividade física sobre os níveis de força, resistência, flexibilidade e outras capacidades físicas, utilizavam como

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sujeitos atletas, jovens, adultos, idosos e também escolares, embora o foco não estivesse centrado na proposição e na análise do ambiente escolar e na Educação Física neste contexto.

Esta ressalva é fundamental para compreender o afastamento dos pesquisadores da área biológica das questões escolares. Duas parecem ter sido as razões principais. Primeiro, o status, verbas, financiamento e reconhecimento da sociedade que é notadamente superior no campo do rendimento esportivo. Assim, muitos pesquisadores acabaram por dirigir seus estudos na busca de alternativas para melhorar a performance, e paralelamente, com o aumento do número das academias de ginástica e a procura da atividade física pelo cidadão comum, uma atenção especial também foi dirigida aos aspectos relacionados à saúde e à qualidade de vida. Uma segunda razão para justificar o afastamento dos pesquisadores da área biológica das questões escolares pode ser atribuída ao próprio discurso dos trabalhos da área pedagógica, que a partir da década de 80 não entendiam e/ou não valorizavam a dimensão biológica nas suas propostas para a escola. Pelo contrário, teceram inúmeras críticas à visão homogeneizadora e acrítica da perspectiva biológica.

Em meados da década de 90 passa a haver um "clima" em torno da busca dos acordos e dos consensos, solicitado por alguns nomes da área (SOARES, 1996; DAÓLIO, 1995). Observa-se uma discussão mais acadêmica e menos pessoal, o que possibilitou um diálogo maior entre os profissionais, acabando por conduzir alguns dos seus membros a refletirem sobre a Educação Física na escola dentro de uma perspectiva biológica, na tentativa de superação dos modelos higiênicos e eugênicos, tão presentes na construção histórica da área.

Assim, Nahas (1997), Guedes & Guedes (1996), para citar alguns, passam a advogar em prol de uma Educação Física escolar dentro da matriz biológica, embora não tenham se afastado das temáticas da saúde e da qualidade de vida.

Guedes & Guedes (1996) ressaltam que uma das principais preocupações da comunidade científica nas áreas da Educação Física e da saúde pública é levantar alternativas que possam auxiliar na tentativa de reverter a elevada incidência de distúrbios orgânicos associados à falta de atividade física. Os autores, baseados em diferentes trabalhos americanos, entendem que as práticas de atividade física vivenciadas na infância e adolescência se caracterizam como importantes atributos no desenvolvimento de atitudes, habilidades e hábitos que podem auxiliar na adoção de um estilo de vida ativo fisicamente na idade adulta. E como

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proposta sugerem a redefinição do papel dos programas de Educação Física na escola, agora como meio de promoção da saúde, ou a indicação para um estilo de vida ativa proposta por Nahas (1997).

Esta proposta foi denominada de saúde renovada porque ela incorpora princípios e cuidados já consagrados em outras abordagens com enfoque mais sociocultural. Nahas (1997), por exemplo, sugere que o objetivo da Educação Física na escola de ensino médio é ensinar os conceitos básicos da relação entre atividade física, aptidão física e saúde. O autor observa que esta perspectiva procura atender a todos os alunos, principalmente os que mais necessitam, os sedentários, os de baixa aptidão física, os obesos e os portadores de deficiências.

Guedes & Guedes (1996), assim como Nahas (1997), ressaltam a importância das informações e conceitos relacionados à aptidão física e saúde. A adoção destas estratégias de ensino contempla não apenas os aspectos práticos, mas também a abordagem de conceitos e princípios teóricos que proporcionem subsídios aos escolares, no sentido de tomarem decisões quanto à adoção de hábitos saudáveis de atividade física ao longo de toda a vida.

Abordagem dos Parâmetros Curriculares Nacionais

O Ministério da Educação e do Desporto, através da Secretaria de Ensino Fundamental, inspirado no modelo educacional espanhol, mobilizou, a partir de 1994, um grupo de pesquisadores e professores no sentido de elaborar os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Em 1997, foram lançados os documentos referentes aos 1° e 2° ciclos (1ª a 4ª séries do Ensino Fundamental) e no ano de 1998 os relativos aos 3° e 4° ciclos (5a a 8a séries), incluindo um documento específico para a área da Educação Física (BRASIL, 1998). Em 1999, foram publicados os PCNs do Ensino Médio por uma equipe diferente daquela que compôs a do Ensino Fundamental, e a supervisão ficou sob a responsabilidade da Secretaria de Educação Média e Tecnológica, do Ministério da Educação e do Desporto (BRASIL, 1999).

Os elaboradores dos PCNs de 5a a 8a séries, publicados em 1998, foram os professores Marcelo Jabu e Caio Costa.

De acordo com o grupo que organizou os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), estes documentos têm como função primordial subsidiar a elaboração ou a versão curricular dos estados e municípios, dialogando com as propostas e experiências já existentes, incentivando

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a discussão pedagógica interna às escolas e a elaboração de projetos educativos, assim como servir de material de reflexão para a prática de professores.

Os PCNs são compostos pelos seguintes documentos: documento introdutório, temas transversais (Saúde, Meio Ambiente, Ética, Pluralidade Cultural, Orientação Sexual eTrabalho e Consumo) e documentos que abordam o tratamento a ser oferecido em cada um dos diferentes componentes curriculares.

O documento dos PCNs — área Educação Física para o terceiro e o quarto ciclos (5ª a 8a séries) — apresenta alguns avanços e possibilidades importantes para a disciplina, embora muitas destas ideias já estivessem presentes no trabalho de alguns autores brasileiros, em discussões acadêmicas, bem como no trabalho de alguns professores da rede escolar de ensino. Contudo, o texto publicado pelos PCNs auxiliou na organização desses conhecimentos, articulando-os nas suas várias dimensões.

De acordo com os PCNs, eleger a cidadania como eixo norteador significa entender que a Educação Física na escola é responsável pela formação de alunos que sejam capazes de: participar de atividades corporais, adotando atitudes de respeito mútuo, dignidade e solidariedade; conhecer, valorizar, respeitar e desfrutar da pluralidade de manifestações da cultura corporal; reconhecer-se como elemento integrante do ambiente, adotando hábitos saudáveis e relacionando-os com os efeitos sobre a própria saúde e de melhoria da saúde coletiva; conhecer a diversidade de padrões de saúde, beleza e desempenho que existem nos diferentes grupos sociais, compreendendo sua inserção dentro da cultura em que são produzidos, analisando criticamente os padrões divulgados pela mídia; reivindicar, organizar e interferir no espaço de forma autônoma, bem como reivindicar locais adequados para promover atividades corporais de lazer (BRASIL, 1998).

Na análise dos objetivos descritos para a Educação Física fica evidenciada a amplitude de abordagens abarcadas, pois incluem a dimensão da crítica (aos padrões de beleza, por exemplo), ao mesmo tempo em que referenciam a busca da compreensão dos benefícios da atividade física para a saúde. Uma leitura mais atenta mostra também uma perspectiva da compreensão dos processos de aprendizagem a partir da ótica do construtivismo. Embora a finalidade seja a integração do aluno na esfera da cultura corporal de movimento (PCNs, 1998), existe certo ecletismo nos meios considerados para alcançar essas finalidades.

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39Conteúdo e Metodologia de Educação Física

Três aspectos da proposta dos PCNs — área Educação Física — representam aspectos relevantes a serem buscados dentro de um projeto de melhoria da qualidade das aulas, quais sejam: princípio da inclusão, as dimensões dos conteúdos (atitudinais, conceituais e procedimentais) e os temas transversais.

Quanto à primeira consideração (princípio da inclusão), a proposta destaca uma Educação Física na escola dirigida a todos os alunos, sem discriminação. Ressalta também a importância da articulação entre aprender a fazer, a saber, por que está fazendo e como relacionar-se neste fazer, explicitando as dimensões dos conteúdos procedimental, conceitual e atitudinal, respectivamente.

Além disso, propõe um relacionamento das atividades da Educação Física com os grandes problemas da sociedade brasileira, sem, no entanto, perder de vista o seu papel de integrar o cidadão na esfera da cultura corporal, através do que denominam de temas transversais. Assim, a Educação e a Educação Física requerem que questões sociais emergentes sejam incluídas e problematizadas no cotidiano da escola buscando um tratamento didático que contemple sua complexidade e sua dinâmica, no sentido de contribuir com a aprendizagem, a reflexão e a formação do cidadão crítico.

Quadro atual

Na atualidade, as grandes tendências apontadas têm se desdobrado em novas propostas pedagógicas, em função do avanço da pesquisa e da reflexão teórica específica da área e da educação escolar de forma geral, e da sistematização decorrente da reflexão sobre a prática pedagógica concreta de escolas e professores, que, muitas vezes dentro de situações desfavoráveis, seguem inovando. Ao mesmo tempo, infelizmente, encontra-se ainda, em muitos contextos, a prática de propostas de ensino pautadas em concepções ultrapassadas, que não suprem as necessidades e as possibilidades da educação contemporânea.

Nesse contexto, instala-se um novo ordenamento legal na proposição da atual Lei de Diretrizes e Bases, que orienta para a integração da Educação Física na proposta pedagógica da escola. Ao delegar autonomia para a construção de uma proposta pedagógica integrada, a nova lei responsabiliza a própria escola e o professor pela adaptação da ação educativa escolar às diferentes realidades e demandas sociais.

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É importante ressaltar que essa autonomia deve pressupor a valorização do professor e da instituição escolar, criando condições concretas e objetivas para o exercício produtivo dessa responsabilidade, pois a possibilidade de construção deve gerar um avanço em direção ao exercício pleno da cidadania, garantindo a todos os alunos o acesso aos conhecimentos da cultura corporal de movimento. Por outro lado, interesses políticos e econômicos escusos podem, a partir de uma interpretação distorcida da lei, legitimar a descaracterização da Educação Física escolar, tornando-a mera área técnica ou recreativa, desprovida de função no processo educativo pleno.

É fundamental, portanto, que a escola, a comunidade de pais e alunos e principalmente o professor valorizem-se e sejam valorizados, assumindo a responsabilidade da integração desta área de conhecimento humano ao projeto pedagógico de cada escola, exigindo plenas condições para o exercício de seu trabalho, garantindo para o aluno a manutenção de número adequado de aulas e de condições efetivas para a aprendizagem.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais se propõem a contribuir nessa construção, fornecendo subsídios para a discussão e concretização da proposta curricular de cada escola.

Para entender melhor

O início da prática da atividade física aconteceu nos primórdios da humanidade, época em que o homem ainda não tinha desenvolvido meios para deixar registrados os acontecimentos e fatos que marcariam toda a sua trajetória dentro do histórico da raça humana. Sabe-se que algumas evoluções do homem aconteceram em momentos onde a comunicação era deficitária.

A prática da atividade física foi uma dessas evoluções experimentadas pelo homem ainda como uma forma de sobrevivência, como atirar lanças em animais, atravessar rios em momentos de mudança de moradia e no preparo de áreas agrícolas. Além disso, ainda existiam as danças primitivas de caráter de adoração, rituais fúnebres e invocação dos deuses.

Com o decorrer dos séculos, a humanidade evoluiu e sistematizou vários movimentos praticados na vida diária dos povos, transformando-os em exercícios físicos com objetivos específicos, tais como, melhora no condicionamento físico, formação de exércitos, busca do equilíbrio

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41Conteúdo e Metodologia de Educação Física

entre corpo e mente e etc.Todos nós sabemos da importância de fazer uma atividade física

e de se manter ativo. Mas isto deve ser trabalhado já na infância, aliando a educação física à educação moral e intelectual, formando o indivíduo como um todo.

A educação física, pelas suas possibilidades de desenvolver a dimensão psicomotora das pessoas, principalmente nas crianças e adolescentes, conjuntamente com os domínios cognitivos e sociais, deve ser disciplina obrigatória nas escolas primárias e secundárias, devendo fazer parte do currículo da escola.

A educação física é uma atividade dinâmica que contribui na formação ampla dos sujeitos, em seu aspecto social, bem como no desenvolvimento de seu lado individual, através de oportunidades lúdicas que proporcionam equilíbrio entre corpo, mente e espaço. Desenvolve as habilidades motoras de qualquer sujeito, além de manter elementos terapêuticos, sejam eles emocionais ou físicos.

O trabalho pedagógico desenvolvido na Educação Física deve estar voltado para a construção da cidadania dos sujeitos, formando elementos críticos e participativos no meio social em que estão inseridos. Seu objetivo principal deve ser de que o aluno “adquira a qualificação sócio-histórico-cultural necessária para promover o desenvolvimento de uma racionalidade crítica, autônoma e participativa”.

No que se refere aos objetivos gerais da Educação Infantil, pode-se observar que as aulas, dentro do Projeto Pedagógico Escolar, podem favorecer a construção da autoimagem positiva, descobrir progressivamente o seu próprio corpo, brincar expressando emoções, sentimentos e pensamentos, desejos e necessidades, utilizando dentre as diferentes linguagens (plástica, musical, corporal, oral e escrita), a linguagem corporal. Além disso, a implementação dos conteúdos específicos: ginástica, dança, luta, jogo e esporte, quando adequados ao nível de crescimento e de desenvolvimento das crianças, facilita o conhecimento das diferentes manifestações culturais, ampliando a visão dos alunos no tocante à pluralidade cultural.

Dentre os objetivos gerais para o ensino dos alunos com idade entre 7- 14 anos, os PCNs recomendam que o aluno deva conhecer e desenvolver o conhecimento ajustado conforme o próprio corpo, nos diferentes domínios a fim de também desenvolver a autoconfiança e todas as suas capacidades intelectuais, afetivas e sociais. Adotar hábitos saudáveis para si e para a coletividade, utilizar as diferentes formas de

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linguagem, dentre elas a corporal; compreender a cidadania atuando de forma crítica responsável e construtiva.

Falando um pouco da história da educação física, podemos relatar que três anos após a aprovação da reforma do primário e do secundário, em 1854, a ginástica passou a ser uma disciplina obrigatória no primário, e a dança no secundário. Em reforma realizada, a seguir, por Rui Barbosa, em 1882, houve uma recomendação para que a ginástica fosse obrigatória para as mulheres e que fosse oferecida para as Escolas Normais. Todavia, a implantação, destas leis ocorreu, de fato, apenas em parte, no Rio de Janeiro (capital da República) e nas escolas militares. É apenas a partir da década de 1920 que vários estados da federação começam a realizar suas reformas educacionais e incluem a Educação Física, com o nome mais frequente de ginástica.

A partir da década de 30, a concepção dominante na Educação Física é calcada na perspectiva higienista. Nela, a preocupação central é com a formação de hábitos de higiene e saúde como: tomar banho, escovar os dentes, lavar as mãos. Valorizando o desenvolvimento do físico e da moral, a partir do exercício.

Inicia-se, então, a fase militarista da educação física, que vai de 1930 até 1945. A educação física era vista como um poderoso auxiliar no fortalecimento do Estado e possante meio para o aprimoramento da raça.

Nesta fase, o professor assumia o papel de instrutor e o aluno, de recruta; ao aluno cabia disciplina, obediência e subordinação. A educação física era praticada, também, para a formação de homens e mulheres sadios e fortes que gerassem filhos saudáveis para estes defenderem e construírem a Pátria.

Após as grandes guerras, que coincidem com o fim do Estado novo, o modelo americano denominado Escola Nova entra no Brasil e fixa raízes. Inicia-se a fase da pedagogização (1946-1964), onde a educação física passou a ser vista como uma prática meramente educativa.

O discurso predominante na Educação Física passa a ser: "A Educação Física é um meio da Educação". O discurso desta fase vai advogar em prol da educação do movimento como única forma capaz de promover a chamada educação integral.

Este movimento passa a entrar em declínio a partir da instalação da ditadura militar no nosso país onde se observou, no Brasil, a ascensão do esporte, iniciando-se a fase competitiva da educação física em 1964. Nessa fase a educação física tem um caráter altamente tecnicista, visando à utilização dos mais aptos em detrimento dos menos capacitados. A

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frase mais conhecida dessa época é "Esporte é saúde".A partir dos anos 80, o modelo esportivista é muito criticado pelos

meios acadêmicos, os efeitos desse modelo começaram a ser sentidos e contestados: o Brasil não se tornou uma nação olímpica e a competição esportiva da elite não aumentou significativamente o número de praticantes de atividades físicas. Iniciou-se então uma profunda crise de identidade nos pressupostos e no próprio discurso da Educação Física, que originou uma mudança expressiva nas políticas educacionais: a Educação Física escolar, que estava voltada principalmente para a escolaridade de quinta a oitava séries do primeiro grau, passou a dar prioridade ao segmento de primeira a quarta séries e também à pré-escola. O objetivo passou a ser o desenvolvimento psicomotor do aluno, propondo-se retirar da escola a função de promover os esportes de alto rendimento. Essa fase é conhecida como fase popular da Educação Física.

Resumo das principais características das abordagens Psicomotora, Construtivista, Desenvolvimentista, Crítico-superadora e Sistêmica

Psicomotora Construtivista Desenvolvimentista Crítico-supera-dora

sistêmica

Finalidade Reeducação psicomotora

Construção do conhecimento

Adaptação Transformação social

Transformação social

Temática principal

Consciência corporal

Cultura popular, Jogo, Lúdico

Habilidade, Aprendizagem, Desenvolvimento Motor

Cultura Corporal, Visão Histórica

Cultura Corporal, Motivos, Atitudes, Comportamento

conteúdos lateralidade e coordenação/ Exercícios

Brincadeiras populares, jogo simbólico, jogo de regras

Habilidades básicas, habilidades específicas, jogo, esporte, dança

Conhecimento sobre o jogo, esporte, dança, ginástica

Vivência do jogo, esporte, dança, ginástica

Estratégias/metodologia

-

Resgatar o conhecimento do aluno, solucionar problemas

Equifínalidade, variabilidade, solução de problemas

Tematização Equifínalidade, Não-exclusão, diversidade

Avaliação

-

Não-punitiva, processo, autoavaliação

Habilidade, processo, observação sistemática

Considerar a classe social, observação sistemática

-

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44 UNIDADE 01

Resumo das principais características das abordagens Crítico-emancipatória, Cultural, Jogos cooperativos, Saúde renovada e PCNs.

Crítico- emanci-patória

Cultural Jogos coopera-tivos

Saúde renovada PCNs

Finalidade Reflexão crítica emancipatória dos alunos

Reconhecer o papel da cultura

Indivíduos cooperativos

Melhorar a saúde Introduzir o aluno na esfera da cultura corporal de movimento

Temática principal

Transcendência de limites/

Alteridade/ Incorporação de novos valores/

Estilo de vidaativo

Conhecimentos sobre corpo

Conteúdos Conhecimento, esportes

Técnicascorporais

Jogos cooperativos

Conhecimento,exercícios físicos

Conhecimento de esportes, lutas, jogos e brincadeiras e atividades rítmicas

1. O que você entende por abordagem construtivista em Educação Física? No que ela se distingue da abordagem psicomotora e desenvolvimentista?

2. Baseado no que foi lido da unidade, produza um texto relacionando conceituação, importância e objetivo da educação física.

3. Descreva de forma resumida a história da educação física.

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UNIDADE 2

Educação Física e Cultura Corporal

OBJETIVOS:

• Compreender a importância da cultura corporal para o desenvolvimento da cidadania;• Vivenciar as diferentes linguagens da cultura corporal como jogo, esporte, ginástica,

dança e luta no cotidiano escolar;• Utilizar os Parâmetros Curriculares Nacionais como sugestão de conteúdo, metodologia

e avaliação na educação física;• Planejar atividades sugeridas pelo conteúdo a ser desenvolvido nesta unidade.

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46 UNIDADE 02

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47Conteúdo e Metodologia de Educação Física

EDUCAÇÃO FÍSICA E CULTURA CORPORAL

A Educação Física é uma disciplina que trata, pedagogicamente, na escola, do conhecimento de uma área denominada de cultura corporal. Ela será configurada com temas das formas de atividades particularmente corporais (...) como jogo, esporte, ginástica, dança ou outras, que constituirão seu conteúdo. O estudo desse conhecimento visa apreender a expressão corporal como linguagem (COLETIVO DE AUTORES, 1999, p.62).

O conceito de cultura segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais é entendido como produto da sociedade, de coletividade a qual os indivíduos pertencem, antecedendo-os e transcedendo-os.

A cultura é o conjunto de códigos simbólicos reconhecíveis pelo grupo: neles, o indivíduo é formado desde o momento da sua concepção. Nesses mesmos códigos, durante a sua infância, aprende os valores do grupo; ainda por eles é, mais tarde, introduzido nas obrigações da vida adulta, da maneira como cada grupo social as concebe.

O homem se apropria da cultura corporal dispondo sua intencionalidade para o lúdico, o artístico, o agonístico, o estético ou outros, que são representações, ideias, conceitos produzidos pela consciência social e que chamamos de “significações objetivas”. Em face delas, ele desenvolve um “Sentido pessoal” que exprime sua subjetividade e relaciona as significações objetivas com a realidade da sua própria vida, do seu mundo e das suas motivações (COLETIVOS DE AUTORES, 1999, p.62).

Segundo Leontiev (1981), as significações não são eleitas pelo homem, elas penetram as relações com as pessoas que formam sua esfera de comunicações reais. Assim considerado pelo aluno um sentido próprio às atividades propostas pelo professor, tendo essas atividades uma significação dada socialmente, e nem sempre a expectativa coincide

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48 UNIDADE 02

com a do aluno.

Educação Física: Concepção e Importância Social

O trabalho na área da Educação Física tem seus fundamentos nas concepções de corpo e movimento. Ou, dito de outro modo, a natureza do trabalho desenvolvido nessa área tem íntima relação com a compreensão que se tem desses dois conceitos.

Por suas origens militares e médicas e por seu atrelamento quase servil aos mecanismos de manutenção do status quo vigente na história brasileira, tanto a prática como a reflexão teórica no campo da Educação Física restringiram os conceitos de corpo e movimento — fundamentos de seu trabalho — aos seus aspectos fisiológicos e técnicos.

Atualmente, a análise crítica e a busca de superação dessa concepção apontam a necessidade de que, além daqueles, se considere também as dimensões cultural, social, política e afetiva, presentes no corpo vivo, isto é, no corpo das pessoas, que interagem e se movimentam como sujeitos sociais e como cidadãos.

Buscando urna compreensão que melhor contemple a complexidade da questão, a proposta dos “Parâmetros Curriculares Nacionais" adotou a distinção entre organismo — um sistema estritamente fisiológico — e corpo — que se relaciona dentro de um contexto sociocultural — e aborda os conteúdos da Educação Física como expressão de produções culturais, como conhecimentos historicamente acumulados e socialmente transmitidos. Portanto, a presente proposta entende a Educação Física como uma cultura corporal.

A Educação Física como Cultura Corporal

O ser humano, desde suas origens, produziu cultura. Sua história é uma história de cultura, na medida em que tudo o que faz está inserido num contexto cultural, produzindo e reproduzindo cultura. O conceito de cultura é aqui entendido como produto da sociedade, da coletividade a qual os indivíduos pertencem, antecedendo-os e transcendendo-os.

“É preciso considerar que não se trata, aqui, do sentido mais usual do termo cultura, empregado para definir certo saber, ilustração, refinamento de maneiras”. No sentido antropológico do termo, afirma-se que todo e qualquer indivíduo nasce no contexto de uma cultura, não existe homem sem cultura, mesmo que não saiba ler, escrever e

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49Conteúdo e Metodologia de Educação Física

fazer contas. É como se pudesse dizer que o homem é biologicamente incompleto: não sobreviveria sozinho sem a participação das pessoas e do grupo que o gerou.

A fragilidade de recursos biológicos fez com que os seres humanos buscassem suprir as insuficiências com criações que tornassem os movimentos mais eficazes, seja por razões "militares", relativas ao domínio e uso de espaço, seja por razões econômicas, que dizem respeito às tecnologias de caça, pesca e agricultura, seja por razões religiosas, que tangem aos rituais e festas ou por razões apenas lúdicas. Derivaram daí inúmeros conhecimentos e representações que se transformaram ao longo do tempo, tendo ressignificadas as suas intencionalidades e formas de expressão, e constituem o que se pode chamar de cultura corporal.

Dentre as produções dessa cultura corporal, algumas foram incorporadas pela Educação Física em seus conteúdos: o jogo, o esporte, a dança, a ginástica e a luta. Estes têm em comum a representação corporal, com características lúdicas, de diversas culturas humanas; todos eles ressignificam a cultura corporal humana e o fazem utilizando uma atitude lúdica.

A Educação Física tem uma história de pelo menos um século e meio no mundo ocidental moderno; possui uma tradição e um saber-fazer e tem buscado a formulação de um recorte epistemológico próprio.

Assim, a área de Educação Física hoje contempla múltiplos conhecimentos produzidos e usufruídos pela sociedade a respeito do corpo e do movimento. Entre eles, se consideram fundamentais as atividades culturais de movimento com finalidades de lazer, expressão de sentimentos, afetos e emoções, e com possibilidades de promoção, recuperação e manutenção da saúde. Trata-se, então, de localizar em cada uma dessas manifestações (jogo, esporte, dança, ginástica e luta) seus benefícios fisiológicos e psicológicos e suas possibilidades de utilização como instrumentos de comunicação, expressão, lazer e cultura, e formular a partir daí as propostas para a Educação Física escolar.

A Educação Física escolar pode sistematizar situações de ensino e aprendizagem que garantam aos alunos o acesso a conhecimentos práticos e conceituais. Para isso é necessário mudar a ênfase na aptidão física e no rendimento padronizado que caracterizava a Educação Física, para uma concepção mais abrangente, que contemple todas as dimensões envolvidas em cada prática corporal.

É fundamental também que se faça uma clara distinção entre os objetivos da Educação Física escolar e os objetivos do esporte, da dança,

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da ginástica e da luta profissionais, pois, embora seja uma referência, o profissionalismo não pode ser a meta almejada pela escola. A Educação Física escolar deve dar oportunidades a todos os alunos para que desenvolvam suas potencialidades, de forma democrática e não seletiva, visando seu aprimoramento como seres humanos. Nesse sentido, cabe assinalar que os alunos portadores de deficiências físicas não podem ser privados das aulas de Educação Física.

Independentemente de qual seja o conteúdo escolhido, os processos de ensino e aprendizagem devem considerar as características dos alunos em todas as suas dimensões (cognitiva, corporal, afetiva, ética, estética, de relação interpessoal e inserção social). Sobre o jogo da amarelinha, o voleibol ou uma dança, o aluno deve aprender, para além das técnicas de execução, a discutir regras e estratégias, apreciá-los criticamente, analisá-los esteticamente, avaliá-los eticamente, ressignificá-los e recriá-los.

É tarefa da Educação Física escolar, portanto, garantir o acesso dos alunos às práticas da cultura corporal, contribuir para a construção de um estilo pessoal de exercê-las e oferecer instrumentos para que sejam capazes de apreciá-las criticamente.

Cultura Corporal e Cidadania

A concepção de cultura corporal amplia a contribuição da Educação Física escolar para o pleno exercício da cidadania, na medida em que, tomando seus conteúdos e as capacidades que se propõe a desenvolver como produtos socioculturais, afirma como direito de todos o acesso a eles. Além disso, adota uma perspectiva metodológica de ensino e aprendizagem que busca o desenvolvimento da autonomia, a cooperação, a participação social e a afirmação de valores e princípios democráticos. O trabalho de Educação Física abre espaço para que se aprofundem discussões importantes sobre aspectos éticos e sociais, alguns dos quais merecem destaque.

A Educação Física permite que se vivenciem diferentes práticas corporais advindas das mais diversas manifestações culturais e se enxergue o modo como essa variada combinação de influências está presente na vida cotidiana. As danças, esportes, lutas, jogos e ginásticas compõem um vasto patrimônio cultural que deve ser valorizado, conhecido e desfrutado. Além disso, esse conhecimento contribui para a adoção de uma postura não-preconceituosa e discriminatória diante das

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manifestações e expressões dos diferentes grupos étnicos e sociais e às pessoas que dele fazem parte.

A prática da Educação Física na escola poderá favorecer a autonomia dos alunos para monitorar as próprias atividades, regulando o esforço, traçando metas, conhecendo as potencialidades e limitações e sabendo distinguir situações de trabalho corporal que podem ser prejudiciais.

A possibilidade de vivência de situações de socialização e de desfrute de atividades lúdicas, sem caráter utilitário, é essencial para a saúde e contribuem para o bem-estar coletivo. Sabe-se, por exemplo, que a mortalidade por doenças cardiovasculares vem aumentando, e entre os principais fatores de risco estão a vida sedentária e o estresse.

O lazer e a disponibilidade de espaços para atividades lúdicas e esportivas são necessidades básicas e, por isso, direitos do cidadão. Os alunos podem compreender que os esportes e as demais atividades corporais não devem ser privilégios apenas dos esportistas ou das pessoas em condições de pagar por academias e clubes. Dar valor a essas atividades e reivindicar o acesso a elas para todos é um posicionamento que pode ser adotado a partir dos conhecimentos adquiridos nas aulas de Educação Física.

Os conhecimentos sobre o corpo, seu processo de crescimento e desenvolvimento, que são construídos concomitantemente com o desenvolvimento de práticas corporais, ao mesmo tempo que dão subsídios para o cultivo de bons hábitos de alimentação, higiene e atividade corporal e para o desenvolvimento das potencialidades corporais do indivíduo, permitem compreendê-los como direitos humanos fundamentais.

A formação de hábitos de autocuidado e de construção de relações interpessoais colabora para que a dimensão da sexualidade seja integrada de maneira prazerosa e segura.

No que tange à questão do gênero, as aulas mistas de Educação Física podem dar oportunidade para que meninos e meninas convivam, observem-se, descubram-se e possam aprender a ser tolerantes, a não discriminar e a compreender as diferenças, de forma a não reproduzir estereotipadamente relações sociais autoritárias.

No âmbito da Educação Física, os conhecimentos construídos devem possibilitar a análise critica dos valores sociais, tais como os padrões de beleza e saúde, que se tornaram dominantes na sociedade, seu papel como instrumento de exclusão e discriminação social e a

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atuação dos meios de comunicação em produzi-los, transmiti-los e impô-los; uma discussão sobre a ética do esporte profissional, sobre a discriminação sexual e racial que existe nele, entre outras coisas, pode favorecer a consideração da estética do ponto de vista do bem-estar, as posturas não consumistas, não-preconceituosas, não-discriminatórias e a consciência dos valores coerentes com a ética democrática.

Nos jogos, ao interagirem com os adversários, os alunos podem desenvolver o respeito mútuo, buscando participar de forma leal e não violenta. Confrontar-se com o resultado de um jogo e com a presença de um árbitro permitem a vivência e o desenvolvimento da capacidade de julgamento de justiça (e de injustiça). Principalmente nos jogos, em que é fundamental que se trabalhe em equipe, a solidariedade pode ser exercida e valorizada. Em relação à postura diante do adversário podem-se desenvolver atitudes de solidariedade e dignidade, nos momentos em que, por exemplo, quem ganha é capaz de não provocar e não humilhar, e quem perde pode reconhecer a vitória dos outros sem se sentir humilhado.

Viver os papéis tanto de praticante quanto de espectador e tentar compreender, por exemplo, por que ocorrem brigas nos estádios que podem levar à morte de torcedores favorece a construção de uma atitude de repúdio à violência.

Em determinadas realidades, o consumo de álcool, fumo ou outras drogas já ocorre em idade muito precoce. A aquisição de hábitos saudáveis, a conscientização de sua importância, bem como a efetiva possibilidade de estar integrado socialmente (o que pode ocorrer mediante a participação em atividades lúdicas e esportivas), são fatores que podem ir contra o consumo de drogas. Quando o indivíduo preza sua saúde e está integrado a um grupo de referência com o qual compartilha atividades socioculturais e cujos valores não estimulam o consumo de drogas, terá mais recursos para evitar esse risco.

Vejamos agora:

O corpo

A corporeidade humana com sua infinidade de movimentos advem de um contexto histórico-cultural de movimentos, expressões e gestos, originando jogos, esportes, dança, ginástica, lutas e outras manifestações, que ajudam a Educação Física a propiciar ao educando o conhecimento

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53Conteúdo e Metodologia de Educação Física

do seu corpo, pois através dessas ações e expressões a criança exercita seu esquema corporal, elemento básico indispensável para a criança em sua tomada de consciência do próprio corpo, respeitando suas experiências anteriores, oferecendo condições de adquirir e criar novas formas de movimentos, assim o ser humano integra e harmoniza seu relacionamento: eu – o outro – os objetos – o mundo.

Jogo

O jogo é uma atividade livre, lúdica, com regras, de caráter competitivo, que possibilita vivências culturais de forma espontânea.

O jogo é uma atividade essencial na infância porque jogando e brincando a criança demonstra toda uma intenção, pois o jogo figura como instrumento avaliativo, ferramenta pedagógica, contribui com o desenvolvimento cognitivo, com a estruturação da personalidade e socialização e com o desenvolvimento psicomotor, além do caráter lúdico que revela toda sua força como conceito básico na Educação.

Para Piaget (1981) apud Aroeira (1996, p.09), o jogo representa a predominância da assimilação sobre acomodação. É uma transposição simbólica que sujeita as coisas à atividade da criança sem limitações. Assim como a imitação, o desenho e a linguagem contribuem para a construção da representação pela criança, constituindo atividades essencialmente nessa fase.

Vygotsky, por sua vez, destaca que no jogo a criança encena a realidade utilizando regras de comportamento socialmente constituídas. Nessa situação, os objetos perdem sua força determinadora sobre o comportamento da criança, ela passa a agir independentemente daquilo que vê. (...) (AROEIRA, 1996 p. 09).

O jogo não representa apenas experiências vividas, mas prepara o ser humano para o futuro, exercitando habilidades e estimulando o convívio social. Portanto, o jogo possui um grande valor educativo, como também é grande a importância de se trabalhar este conteúdo nas escolas, de forma comprometida com a formação física, intelectual, moral e social do aluno.

Assim, o jogo apresenta alguns importantes conteúdos que podem ser definidos como: jogos motores, jogos sensoriais e jogos intelectuais.Jogos Motores: Eles desenvolvem força, velocidade, destreza,

Na escola tradicional, os jogos são pouco utilizados como estratégias, causando uma divergência entre o lúdico e o pedagógico motivada pela acomodação dos professores e pelo desconhecimento da importância do jogo no desenvolvimento infantil. O jogo era tido como um elemento que dispersava a atenção da criança.

DICA

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habilidades diversas, coordenação motora; exemplos: correr, saltar, trepar, lançar, atacar e defender; e os de bola: rolada, batida, arremessada, chutada.

“SIGA OU PARE”

Material: Duas bandeiras, uma vermelha e uma verde.Desenvolvimento: Serão traçadas duas linhas paralelas no chão, distanciadas em 20 metros. O professor, com as duas bandeiras, ficará numa das linhas e as crianças na linha oposta.

Começa o jogo quando o professor elevar à bandeira verde que será o sinal de correr, ao ser levantada a bandeira vermelha as crianças deverão parar. E, assim, continuará o jogo com a mudança alternada das cores verde - sinal de “siga” – e vermelha – sinal de “pare”.

Será considerado vencedor o aluno que atingir primeiro a linha oposta.

“CAMPEÃO PELO TATO”

Jogos Sensoriais: atuam diretamente sobre os sentidos: visual, auditivo, tátil.Material: Vários objetos diferentes.Desenvolvimento: Escolhem-se algumas crianças que vão para o centro. O elemento destacado coloca a mão dentro de um saco cheio de objetos, pega um dos objetos e deixa o mesmo dentro do saco, em seguida demonstra para os colegas através de gestos qual objeto ele pegou, pela ordem, procuram dizer qual o nome do objeto demonstrado

Alunos da graduação em Educação Física da cidade de Barreirinhas – MA. Participando do jogo “Siga ou Pare”. Foto da autora

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55Conteúdo e Metodologia de Educação Física

nos gestos. Quem identificar o nome do objeto em menos tempo marca ponto.

O jogo prossegue com a substituição das crianças, até que todas participem ou enquanto a turma se mostrar interessada.

Jogos intelectuais: estimulam qualidades intelectuais: imaginação, memória, atenção, raciocínio.

“MEU PAI TEM UMA LOJA”

Desenvolvimento: Sentados em círculo. Um jogador escolhido dirá: “meu pai tem um armazém. Ele vende A...”. As outras crianças, conforme a ordem, procuram adivinhar a palavra sugerida: arroz, aveia, açúcar, etc. O que acertar poderá escolher outra letra ( - sagu, sabão, sal). Ganhará um ponto quem citar o artigo de armazém, cujo nome ninguém recorda, dentro de um tempo pré-estabelecido.Variante: O que acertar apresenta outra casa comercial: perfumaria, padaria, etc.

Aproveitando as letras dadas, para sua melhor fixação: “diga uma palavra que comece com a letra B...”; cada um dará um exemplo. Quem errar terá que fazer uma lista de objetos com a letra que errou.

Orientação para a Organização e Estruturação do Jogo

Para a seleção dos jogos, é importante pensar nos critérios que

Alunos da graduação em Educação Física de Barreirinhas – MA. Participando do jogo “Campeão pelo tato”. Foto da autora.

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56 UNIDADE 02

devem nortear a ação pedagógica do professor. Para o êxito de um trabalho sistemático deve-se observar:

Critérios para a escolha do bom jogo:

Dica:Inclua a sessão de jogos como atividade curricular, planejando-a de acordo com o estágio de desenvolvimento de seus alunos.

Possibilidades para que todos participem:

Os jogadores devem estar sempre se movimentando durante o jogo. Evite muito tempo de filas de espera, dê uma explicação inicial rápida e precisa do jogo, passando imediatamente à prática. Todos os alunos devem participar efetivamente das atividades, pois a inclusão é a melhor forma de lograr êxito.

Dica: Evite atividades que possibilitem constrangimento ou humilhação. Valorize o desempenho e as conquistas do educando.

Possibilidades de sucesso dos participantes

O jogo deve ser desafiador, motivando os jogadores à conquista de um bom resultado (vitória). Não espere que o grupo despreze o

Alunos do 5º ano de ensino fundamental de Teresina – PI, participando do jogo “Meu pai tem uma loja”. Foto da autora.

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57Conteúdo e Metodologia de Educação Física

jogo para passar para outra atividade, o prazer termina onde começa o desinteresse. Evite jogos muito fáceis ou muito difíceis.

Possibilidade de gerenciamento dos jogadores

Procure oferecer às crianças a oportunidade de gerenciamento do jogo. Observe as reações das crianças (habilidades, hábitos e atitudes), estimule a iniciativa dos alunos, estimule os tímidos, contenha os agressivos. Seja firme, imparcial e justo. Quando o professor interfere muito, alguma coisa não vai bem. Devem-se desafiar os alunos a resolverem situações com problemas referentes ao espaço, material, gestos e regras.

Dica:Cooperação e autonomia se aprendem na ação de cooperar e chegar a um acordo a fim de solucionar conflitos e desafios do jogo.

Favorece adaptações e novas aprendizagens

“É errando que se aprende”. A criança pode educar a sua motricidade no espaço do jogar. Cabe ao professor criar condições para que os participantes tenham tempo e espaço para experimentar e repetir as habilidades motoras envolvidas no jogo. Com o passar do tempo, as crianças devem sentir-se seguras para experimentar e correr o risco de errar. A boa jogada, aquela em que o jogador demonstra ter aprendido a jogar e faz gol ou marca o ponto com competência, muitas vezes nasce do erro e das muitas tentativas de acertar. Neste constante ir e vir, entre acertos e erros, o jogador atualiza seus esquemas de ação, faz as adaptações necessárias e aprende a jogar (ROSSETTO JÚNIOR. 2005, p. 24).

Mantém a imprevisibilidade

Nos jogos em grupo, o professor deve estar atento à formação das equipes para que haja equilíbrio. Só perder ou só ganhar não tem graça, pois aquele que só ganha não se sente desafiado e aquele que só perde tem a sua autoestima comprometida (...) (ROSSETTO JÚNIOR, 2005 p. 25).

Ajude cada criança a achar seu melhor jeito de jogar; no jogo o desafio de fazer gol ou marcar pontos é o mesmo para todas, mas os caminhos são diferentes, pois cada uma tem suas habilidades próprias.

DICA

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58 UNIDADE 02

Esporte

Consideram-se esportes as práticas em que são adotadas regras de caráter oficial e competitivo, organizadas em federações regionais, nacionais e internacionais que regulamentam a atuação amadora e profissional. Envolvem condições espaciais e de equipamentos sofisticados como campos, piscinas, bicicletas, pistas, ringues, ginásios e outros. A divulgação pela mídia favorece sua apreciação por um diverso contingente de grupos sociais e culturais.

Já Coletivos de Autores (1992, p.70) trata o esporte como prática social que institucionaliza temas lúdicos da cultura corporal, se projeta numa dimensão complexa de fenômeno que envolve códigos, sentidos e significados de sociedade que o cria e o pratica. Por isso, deve ser analisado nos seus variados aspectos, para determinar a forma em que deve ser abordado pedagogicamente no sentido de esporte “da” escola e não como o esporte “na” escola.

Dica:O esporte surgiu da atração do homem pelo jogo, e que o princípio lúdico se evidencia na sua prática (tanto para quem pratica como para quem assiste), como existe a possibilidade da livre escolha de forma diversificada dando oportunidade de um amplo conhecimento das suas diferente modalidades: Futebol, Voleibol, Atletismo, Handebol e outros.

Junto com as crianças, determine estratégias de escolha das equipes que mantenham a imprevisibilidade do jogo. Cuidados para não despertar preconceito; meninas e meninos podem e devem compartilhar do mesmo jogo.

DICA

Alunos do ensino fundamental de Teresina – PI, participando de uma aula de futsal. Foto da autora

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59Conteúdo e Metodologia de Educação Física

Alunos do ensino fundamental de Teresina – PI, participando de um jogo de futsal. Foto da autora.

Utilizando os jogos na educação

Cabe ao professor, conforme Rossetto Júnior (2005, p.25), mediar o processo de ensino e aprendizagem de jogos e esportes, que será mais consistente quanto maior for a possibilidade de interação das crianças e jovens com as regras, gestos, espaços, material, seus pares e o “mundo” ao seu redor. Uma intervenção qualificada pode ajudar os alunos a se aproximarem deste objeto de conhecimento que é o jogo.

Para ensinar e aprender a jogar e praticar esporte é preciso aprender a organizar o tempo e o espaço onde vivenciamos essa prática. O espaço do jogo corresponde às pessoas aos objetos, o tempo corresponde às ações. Para o jogo se tornar ação é necessário um espaço e um tempo para realizarmos essas ações e vencer todos os desafios do jogo. Conhecer o espaço e zelar pelo tempo possibilita adaptar as regras e suas características, bem como planejar a quantidade e a qualidade de experiências necessárias para que as crianças pratiquem e aprendam o jogo.

É necessário que o professor organize o material, crie e adapte, junto com os alunos, o material indispensável para o jogo, tornando-o mais interessante e prazeroso, e para evitar dispersão do grupo deve ter o material à mão.

O professor deve procurar Conhecer os alunos, seus interesses, suas necessidades e suas preferências, diagnosticar o que já sabem sobre o jogo a fim de melhor planejar as estratégias e os tipos de jogos que despertem maior interesse, e participar das atividades das crianças

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60 UNIDADE 02

demonstrando prazer.A Aprendizagem é mais significativa quando o aluno consegue

estabelecer relações com sentido entre o que já conhece e o novo conteúdo. Assim, a aprendizagem significativa tem a ver com a seleção de conteúdos com significado para as crianças, onde o novo pode estar desconectado do velho. É preciso criar um ambiente onde os conhecimentos possam ser reconstituídos e atualizados. Por meio da valorização da cultura corporal de cada unidade, os alunos devem ser convidados a participar da seleção dos jogos que serão estudados e aprendidos (ROSSETTO JÚNIOR, 2005, p. 26).

A flexibilidade das regras no espaço do jogo favorece discutir as regras e reconstruí-las com argumentos consistentes, é crucial para a construção da moralidade do jogo. O acordo quanto às regras é função do professor e dos alunos. Cabe ao professor, junto com as crianças, transformar o espaço do jogo num ambiente cooperativo, onde é tarefa de todos tomar decisões e resolver conflitos, pois a atitude cooperativa se aprende no próprio exercício da cooperação.

A quebra de automatismo: frequentemente, no espaço do jogo e do esporte, o fim está na busca do automatismo, da perfeição dos gestos e das habilidades, melhorando assim o desempenho dos jogadores. (...) Sempre é possível aprender mais sobre o jogo e o esporte. (...) O ensino de jogos e esportes não deve apontar para aquilo que o aluno já conhece ou faz, nem para os comportamentos que já domina, mas sim para o que não conhece, não realiza ou não domina suficientemente. (...) As crianças devem ser constantemente exigidas em busca do novo conhecimento (...) (ROSSETTO JÚNIOR, 2005, p. 27-28).

Uma intervenção qualificada, por parte do professor, para o ensino de jogos parte do princípio de que uma ajuda ajustada procura sempre analisar quais as competências que os alunos já possuem e quais aquelas que estão prestes a serem constituídas, com a ajuda de terceiros. É na ação de jogar que a criança se instrumentaliza e adquire competência para “jogar bem”. Ao professor, cabe solicitar, à criança analisar, revisar, diferenciar, transferir e enriquecer seus esquemas de jogar cada vez melhor. O segredo está em lançar desafios nem muito fáceis, nem muito difíceis, mas de possível resolução, mesmo que, para isso, seja preciso a ajuda dos colegas e/ou professor (ROSSETTO JÚNIOR. 2005. p. 28).

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61Conteúdo e Metodologia de Educação Física

Dança

A dança é uma atividade que utiliza o movimento através do corpo, sendo considerada uma forma de expressão, comunicação e criação, enfatizando a religiosidade, os costumes, o trabalho, os hábitos, a guerra e outros.

O ser humano está constantemente se movimentando e todo movimento é rítmico e o ritmo é um elemento essencial no movimento humano, na natureza e no universo.

A educação rítmica através da dança se utiliza do movimento com música, constitui-se em conteúdo importante da Educação Física, sua contribuição é significativa no desenvolvimento global do educando, estimulando a livre expressão e criação, proporcionando momento de alegria e de interação social.

Faz parte do conteúdo da dança: dança clássica, contemporânea, jazz, danças regionais (folclóricas) populares e outras.

As atividades rítmicas e expressivas como componentes do bloco de conteúdo incluem as manifestações da cultura corporal como as lengalengas, que se caracterizam através da intenção de expressão e comunicação mediante gestos e a presença de estímulos sonoros complementam o bloco de conteúdo “dança”.

Lutas

Conceituada como combate corpo a corpo, sem armas, entre dois atletas que, observando certas regras, procuram derrubar um ao outro.

As lutas são disputas em que o (s) oponente(s) deve(m) ser subjugado(s), mediante técnicas e estratégias de desequilíbrio, contusão, imobilização ou exclusão de um determinado espaço na combinação de ações de ataque e defesa. Caracterizam-se por uma regulamentação específica, a fim de punir atitudes de violência e de deslealdade (PCN’S 1997, p. 49). Podem ser citados como exemplo de lutas desde as brincadeiras de cabo-de-guerra e braço-de-ferro até as práticas mais complexas da capoeira, do judô e do caratê.

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62 UNIDADE 02

Alunos da graduação em Educação Física de Barreirinhas – MA, participando da luta (brincadeira), “Cabo-de-Guerra Humano”. Foto da autora.

Ginástica

A ginástica, conceituada como a “arte de exercitar o corpo”, focaliza atividades como corridas, saltos, lançamentos e lutas, bem como relaxamento, manutenção ou recuperação da saúde, de forma recreativa, competitiva e de convívio social.

A ginástica envolve ou não a utilização de materiais e aparelhos, podendo ocorrer em espaços fechados, ao ar livre e na água (...) são um conteúdo que tem uma relação privilegiada com “Conhecimento sobre o corpo” (...). Atualmente existem várias técnicas de ginástica que trabalham o corpo de modo diferente das ginásticas tradicionais (PCN’S 1997, p.49).

Assim, a presença da ginástica no programa (currículo) se faz legítima na medida em que permite ao aluno a interpretação subjetiva das atividades ginásticas, através de um espaço amplo de liberdade para vivenciar as próprias ações corporais. No sentido da compreensão das relações sociais, a ginástica promove a prática das ações em grupo onde, nas exercitações como “balançar juntos” ou “saltar com os companheiros” concretiza-se a “coeducação” entendida como forma particular de elaborar/praticar formas de ação comuns para os dois sexos (...) (COLETIVOS DE AUTORES. 1992 p. 77/78).

Os fundamentos da ginástica são compostos por: saltar, equilibrar, rolar/girar, trepar e balançar/embalar. Devem estar presentes em todos os ciclos de escolaridade.

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63Conteúdo e Metodologia de Educação Física

Pesquise em museus, livros ou revistas de arte pinturas do corpo humano de diferentes épocas, compare-as e analise a afirmação: “as diferentes expressões corporais – ginástica, dança, esporte, escultura, pintura – traduzem uma determinada concepção de homem e de sociedade”.

Os conteúdos de educação física no ensino fundamental

Critérios de seleção e organização dos conteúdos

Com a preocupação de garantir a coerência com a concepção exposta e de efetivar os objetivos, foram eleitos os seguintes critérios para a seleção dos conteúdos propostos.

• Relevância socialForam selecionadas práticas da cultura corporal que têm

presença marcante na sociedade brasileira, cuja aprendizagem favorece a ampliação das capacidades de interação sociocultural, o usufruto das possibilidades de lazer, a promoção e a manutenção da saúde pessoal e coletiva.

Considerou-se também de fundamental importância que os conteúdos da área contemplem as demandas sociais apresentadas pelos Temas Transversais.

• Características dos alunosA definição dos conteúdos buscou guardar uma amplitude

que possibilite a consideração das diferenças entre regiões, cidades e localidades brasileiras e suas respectivas populações. Além disso, tomou-se também como referencial a necessidade de considerar o crescimento e as possibilidades de aprendizagem dos alunos nesta etapa da escolaridade.

• Características da própria áreaOs conteúdos são um recorte possível da enorme gama

de conhecimentos que vêm sendo produzidos sobre a cultura corporal e estão incorporados pela Educação Física.

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64 UNIDADE 02

O que lecionar para o aluno do Ensino Fundamental

Segundo propõem os PCN, os alunos devem desenvolver as seguintes habilidades ao longo das oito primeiras séries:

• Participar de atividades corporais: Ou seja, os alunos devem manter relações equilibradas e construtivas com os colegas, respeitando as características físicas e o desempenho de cada um.

• Manter uma atitude de respeito e repudiar a violência: Situações lúdicas e esportivas devem desenvolver a solidariedade.

• Aprender com a pluralidade: Conhecer diferentes manifestações de cultura corporal é uma forma de integrar pessoas e grupos sociais.

• Ser capaz de reconhecer-se como integrante do ambiente: Os alunos devem adotar hábitos saudáveis de higiene, alimentação e atividades corporais, percebendo seus efeitos sobre as próprias condições de saúde e sobre a melhoria da saúde de todos.

• Praticar atividades de forma equilibrada: A regularidade e a perseverança, regulando e dosando o esforço de acordo com as possibilidades de cada um, permitem o aperfeiçoamento das competências corporais.

• Reconhecer as condições de trabalho que comprometem o desenvolvimento: Os estudantes devem identificar as atividades que põem em risco seu desenvolvimento físico, não aceitando para si, nem para os outros, condições de vida indignas.

• Desenvolver espírito crítico em relação à imposição de padrões de saúde, beleza e estética: A sociedade divulga esses padrões, mas as crianças devem conhecer sua diversidade, compreender como estão inseridas na cultura que produz esses modelos, evitando o consumismo e o preconceito.

• Reconhecer o lazer como um direito do cidadão: Os alunos devem ter autonomia para interferir no espaço e reivindicar locais adequados para as atividades corporais de lazer.

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65Conteúdo e Metodologia de Educação Física

As melhores atividades para as quatro séries iniciais

Quando chegam à escola, as crianças trazem algum conhecimento sobre o corpo e o movimento. Se puderam conviver e brincar com amigos e irmãos ou explorar diversos espaços, elas já conhecem muitos jogos e brincadeiras. Mas, mesmo com pouca experiência desse tipo, elas podem viver, na escola, novas situações de desafios corporais. Veja o que se espera do aluno e algumas sugestões para facilitar seu trabalho:

No primeiro ciclo• Conhecer seus limites e possibilidades para estabelecer

as próprias metas.• Compreender, valorizar e saber usufruir as diferentes

manifestações culturais.• Organizar jogos, brincadeiras e outras atividades

lúdicas.

No segundo ciclo• Nas atividades corporais, respeitar o desempenho do

colega, sem discriminações de nenhuma natureza. • Manter o respeito mútuo, a dignidade e a solidariedade

em situações lúdicas e esportivas, resolvendo conflitos de forma pacífica.

• Saber que organizar jogos e brincadeiras é um modo de usufruir o tempo disponível.

• Conhecer seus limites e possibilidades para controlar atividades corporais com autonomia, entendendo que esta é uma maneira de manter a saúde.

DicaDivida a quadra em partes. Em cada uma, trabalhe diferentes

atividades com grupos de alunos que tenham habilidades parecidas. Será mais fácil para eles perceber suas dificuldades e superar os desafios.

• Analisar os padrões de estética, beleza e saúde como parte da cultura que os produz e criticar o consumismo.

Dica Debata com os estudantes como os meios de comunicação

apresentam os padrões de estética e peça que relacionem os tipos físicos

Todas as crianças aprendem com a família, com amigos ou pela televisão, jogos ou brincadeiras que envolvem movimentos. Durante as aulas de Educação Física, crie oportunidades para que elas possam compartilhar essas experiências com os colegas.

DICA

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66 UNIDADE 02

exibidos nas propagandas que objetivam o consumo de produtos.• entender as diferentes manifestações da cultura corporal sem

discriminação nem preconceito, valorizando e participando delas.

Dica Mostre um vídeo ou leve seus alunos para assistir a uma

apresentação de dança, de capoeira ou a um jogo de futebol. Eles poderão observar a beleza dos movimentos e avaliar as técnicas empregadas. É importante que percebam as várias opções de atividades corporais e a diversidade de manifestações.

Aprendendo esportes, jogos, ginástica e lutas

Essas práticas são semelhantes entre si nos primeiros anos de escola, mas algumas diferenças devem ser estabelecidas para que o trabalho do professor seja mais abrangente. Os esportes apresentam caráter competitivo e envolvem o uso de equipamentos (campos, piscinas, bicicletas). Os jogos podem ser mais cooperativos e recreativos (como os de tabuleiro ou os de rua). As lutas simples (cabo-de-guerra, braço-de-ferro) e as mais complexas (capoeira, judô) têm regulamentação para as ações que combinam ataque e defesa. As ginásticas podem usar várias técnicas para aumentar a percepção do corpo.

Como conhecer melhor o corpo

Quando têm aulas de Educação Física, as crianças percebem que seu corpo se altera durante e depois dos exercícios. A discussão dessas mudanças ajuda a conhecer o corpo. Nos esportes, jogos, lutas e danças, elas aprendem novas habilidades motoras e ampliam seus conhecimentos sobre diferentes posturas e atitudes corporais. A observação desses hábitos pode ser feita nos projetos de História, Geografia e Pluralidade Cultural. Por exemplo, por que os orientais se sentam no chão de costas eretas e muitas pessoas do interior se sentam de cócoras?

Ritmo e Expressão

As danças e as brincadeiras cantadas são formas divertidas de

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67Conteúdo e Metodologia de Educação Física

conhecer o movimento e as técnicas para executá-lo. Nas aulas de Educação Física, essas atividades podem ser enfocadas de modo a complementar os conteúdos sugeridos no documento da área de Artes, que traz mais subsídios ao professor. A grande diversidade cultural do país oferece muitas possibilidades de aprendizado por meio da dança. Os alunos poderão, por exemplo, escolher as manifestações mais conhecidas no local onde a escola se situa, além de realizar pesquisas sobre as danças e as brincadeiras de outras regiões.

Alunos da graduação em Educação Física de Barreirinhas – MA, participando de atividades rítmicas expressivas. (brinquedo cantado) “Rock Pop”. Foto da autora

“Rock Pop”

As crianças em círculo cantam e fazem gestos relacionados com a música.

Eu boto a mão direita dentro, Eu boto a mão direita fora,E eu sacudo ela agora,Eu danço o rock pop, Assim é bem melhor, hey!

Eu boto a mão esquerda dentro, Eu boto a mão esquerda fora,E eu sacudo ela agora,Eu danço o rock pop,

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68 UNIDADE 02

Assim é bem melhor, hey!

Eu boto o pé direito dentro,Eu boto o pé direito fora,E eu sacudo ele agora,Eu danço o rock pop,Assim é bem melhor, hey!Eu boto o pé esquerdo dentro,Eu boto o pé esquerdo fora,E eu sacudo ele agora,Eu danço o rock pop,Assim é bem melhor, hey!

Eu boto a cabeça pra dentro,Eu boto a cabeça pra fora,E eu sacudo ela agora,Eu danço rock pop, Assim é bem melhor, hey!

Eu boto o bumbum pra dentro, Eu boto o bumbum pra fora,E eu sacudo ele agora,Eu danço o rock pop,Assim é bem melhor, hey!

Eu boto o corpo pra dentro,Eu boto o corpo pra fora,E eu sacudo ele agora,Eu danço o rock pop,Assim é bem melhor, hey!

Brinquedos cantados

O brinquedo cantado é a forma mais simples de recrear a criança. Por meio das “rodas ou rondas cantadas” ela enriquece seu vocabulário, aprende a expressar-se, desinibir-se, favorecendo também a (coeducação), a formação de grupos “mistos, visto que a criança nesta idade tem interesses semelhantes (MACHADO, 1986 p.30).

Brinquedos cantados dão às crianças estímulos sociais, igualando-

Esse brinquedo cantado pode ser trabalhado tanto para ensinar a criança o esquema corporal, como para noções de esquerda e direita (lateralidade)

DICA

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69Conteúdo e Metodologia de Educação Física

as aos companheiros, socializando-as, desembaraçando-as.O instinto de brincar é uma das grandes forças da natureza,

levando a infância ao desenvolvimento físico, ao crescimento mental, a adaptação social.

Os “brinquedos cantados” não passam de um tipo elementar de jogo e melhor se aplicam às crianças de pouca idade, sobre as quais o ritmo das canções e da música exerce notável influência, facilitando-lhes muitos movimentos que seriam penosos e difíceis se, por acaso, não fossem auxiliados pela música. Contribuem para desenvolver na criança qualidades sociais, facilitar a criatividade e formação da personalidade, além de desenvolver o espírito de iniciativas e desembaraço quando as crianças devem apresentar papéis de destacados no brinquedo. (MACHADO, 1986 p.30).

Inicialmente, se inibem com frequência, mas logo se acostumam e são os primeiros a solicitar essas atividades sociais porque são muito apreciadas pelas crianças, especialmente as meninas. Quase sempre este tipo de brincadeiras tem motivos regionais que contribuem para que a criança assimile com mais facilidade as tradições e costumes, proporcionando o enriquecimento de seu vocabulário.

Alunos da graduação em Educação Física de Barreirinhas – MA., brincando de roda, “ciranda cirandinha”. Foto da autora.

“Ciranda-cirandinha”

Uma criança fora da roda e as demais de mãos dadas giram cantando:

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70 UNIDADE 02

Ciranda, Cirandinha,Vamos todos cirandar;Vamos dar a meia-volta,Volta e meia vamos dar.

O anel que tu me deste,Era vidro e se quebrou,O amor que tu me tinhas,Era pouco e se acabou.

Por isso... (fulano),Entre dentro nesta roda;Faça um verso bem bonito,Diga adeus e vá embora.

A criança chamada entra no centro da roda e diz um verso ou canta e, escolhe a sua substituta. E assim continua a brincadeira.

Viva a diferença!

Foi-se o tempo em que a Educação Física era vista como uma disciplina formadora de atletas olímpicos e futuros campeões. Essa visão, nascida de um decreto governamental de 1971, pretendia descobrir talentos nas escolas para representar a pátria no exterior. Mas o modelo entrou em crise nos anos 80, pois o Brasil não se tornou uma potência olímpica. Hoje a Educação Física é mais do que moldar a estrutura física do aluno. Ela deve contribuir para a atividade intelectual e para a formação do cidadão.

Três eixos temáticos

Os PCN elaboraram três eixos temáticos para ser desenvolvidos ao longo do Ensino Fundamental. Veja quais são e o que se pretende com eles.

Conhecimentos sobre o corpo - Esse bloco dá ao aluno informações sobre o próprio corpo, sua estrutura física e interação com o meio social em que vive. Estudam-se noções básicas da anatomia, da fisiologia, dos aspectos biomecânicos e bioquímicos do corpo humano;

Esportes, jogos, lutas e variações de ginásticas - Nesse eixo,

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71Conteúdo e Metodologia de Educação Física

o professor transmite informações históricas sobre as origens e características de cada uma dessas práticas e a importância de valorizá-las.

Atividades rítmicas e expressivas - São as manifestações que combinam expressões e sons, como danças, mímica e brincadeiras cantadas. Por meio delas, o aluno caracteriza diferentes movimentos expressivos, sua intensidade e duração.

Como incluir os temas transversais

Os temas transversais estão bem presentes nas aulas de Educação Física. Eles devem ser explorados para estimular a reflexão e, dessa maneira, contribuir para a construção de uma visão crítica em relação à prática e aos valores inseridos na disciplina e no meio social.

Ética

Respeito, justiça e solidariedade fazem parte das práticas físicas. O respeito deve ser exercido na interação com adversários. A solidariedade é vivenciada quando se trabalha em equipe. A presença de um juiz, as regras e os acordos firmados entre os participantes são formas de aprender a valorizar o sentido de justiça.

Saúde

Estresse, má alimentação e sedentarismo são subprodutos da crescente urbanização. Daí a necessidade de vincular a Educação Física ao cultivo da saúde e do bem-estar das pessoas, superando, em muitos casos, a falta de infra-estrutura pública voltada para esporte e lazer.

Meio Ambiente

O contato da escola com áreas próximas, como parques e praças, abre oportunidade para a Educação Física abordar o tema do meio ambiente.

Orientação Sexual

Idéias como a de que futebol é esporte para homem e ginástica

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72 UNIDADE 02

rítmica é "coisa de menina" ainda se manifestam na sociedade e no cotidiano escolar. Combater preconceitos como esses é uma das missões da Orientação Sexual.

Pluralidade Cultural

Adotar uma postura não preconceituosa e não discriminatória é a chave para atingir os objetivos da pluralidade cultural em Educação Física. Para isso, é preciso valorizar danças, esportes, lutas e jogos que compõem o patrimônio cultural brasileiro, originários das diversas origens étnicas, sociais e regionais.

Trabalho e Consumo

O adolescente é alvo da publicidade de produtos esportivos. O professor pode ajudar seu aluno a analisar criticamente a necessidade de possuir determinado produto e, assim, criar a noção de consumo consciente.

Regras claras na hora da avaliação

Os alunos devem saber como e quando serão avaliados. Essa é a primeira dica para o professor na hora de atribuir notas à turma. É necessário que fique claro desde o inicio como será feita a avaliação, para que os estudantes possam ampliar o processo de ensino e de aprendizagem. Veja as recomendações dos PCNs quanto aos instrumentos de avaliação:

• fichas de acompanhamento do desenvolvimento individual;• relatório de atividades em grupo com critérios definidos sobre participação e contribuição no desenvolvimento da atividade;• relatório de apreciação de alguma atividade, como evento esportivo ou espetáculo de dança;• ficha de avaliação do professor em relação à capacidade do grupo de aplicar regras;• fichas de observação e auto-avaliação sobre a participação em um evento escolar ou da comunidade.

Verifique se os alunos realizam as atividades de maneira cooperativa, adotando atitudes de respeito, dignidade e solidariedade; se reconhecem suas características físicas e motoras e as de seus colegas, sem discriminar particularidades físicas, pessoais, sexuais ou sociais.

DICA

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73Conteúdo e Metodologia de Educação Física

Estrutura da aula

O momento de aprendizagem de jogos e esportes deve ser antes de tudo, um momento lúdico, de educação integrada, no qual não basta fazer, é preciso compreender. Nas aulas de jogos, fazer e compreender significa integrar as ações dos domínios cognitivo, afetivo com as da prática motora. Dessa forma, o conhecimento do que é vivido corporalmente vem à consciência e pode ser imaginado e refletido, transformando e reconstruindo a partir dos interesses e motivações das crianças e jovens.

Nesta perspectiva, as aulas/sessões para o ensino de jogos podem ser organizadas em três momentos, relacionadas entre si, a saber:

Primeiro momento: roda de conversa sobre o jogo do dia

No inicio da aula, o professor forma uma roda com as crianças para conversar sobre o que será realizado. Esse momento inicial de explicação, no qual a prática corporal dá-se apenas no plano da representação mental dos alunos visualizam as práticas futuras, é fundamental para garantir o bom desenvolvimento do jogo. Com os alunos sentados o professor conjuntamente com os colegas:

• fazem avaliação sobre o que as crianças já sabem sobre o jogo

• apresentam as regras, o espaço do jogo e o material.• conversa sobre as dúvidas e registram as regras acordadas

com os alunos.• combinam as variações do jogo.

Segundo momento: vivências e práticas

Conforme Rossetto (2005, p. 29), trata-se do momento mais visível de uma aula para o aprendizado do jogo. É o momento em que o jogo planejado é realizado. Muitas vezes, alguns ajustes precisam ser feitos, pois, no “calor” da disputa, nem tudo o que foi combinado, as crianças conseguem cumprir. Surgem conflitos, transgressões, desacordos e discussões.

Numa perspectiva construtiva, esses momentos podem ser muito ricos para a aprendizagem. O professor deve fazer uma leitura adequada dos diferentes papéis assumidos pelos jogadores, encaminhar os conflitos e:

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74 UNIDADE 02

• realizar, junto com os alunos, alterações e/ou adaptações nas regras.

• entender as transgressões às regras, muitas vezes, como um caminho para a construção dos limites e da autonomia.

• conversar em roda, com os alunos sentados, sempre que necessário.

• sugerir novos desafios.• utilizar outros sinais, além do apito, para chamar a atenção

dos alunos.• sugerir troca de papéis (ataque/defesa)• educar atitudes e comportamentos.

Terceiro momento: roda de conversa sobre o que foi feito na aula

Todas as aula/sessões devem terminar com uma roda de conversa entre o professor e as crianças. Nessa parte final, a exemplo do que acontece no primeiro momento, os alunos falam sobre o que vivenciarem durante a aula, suas dificuldades e facilidades, tomando consciência da sua prática. Falar e conversar sobre os jogos estudados constitui uma ocasião privilegiada para que os alunos compreendam as suas práticas. A roda inicial de conversa, como também a final, não deve tomar muito tempo, por exemplo, não mais que cinco minutos, cita Rossetto (2005 p. 30) podendo-se:

• conversar sobre as atitudes dos alunos• avaliar a aula e programar os jogos das aulas futuras.• observar e controlar o planejamento.• conversar o que aprendemos além do jogo• incentivar as crianças a admirarem, ainda mais, a prática de

atividades físicas e esportes.

Plano de aula

A aula de Educação Física, como qualquer outro tipo de aula, deve obedecer à clássica divisão da didática, em três partes: inicial, principal e final (primeiro, segundo e terceiro momentos respectivamente).

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75Conteúdo e Metodologia de Educação Física

Parte Inicial (primeiro momento)

Corresponde à preparação orgânica e psicológica do aluno, para melhor receber a aula, mediante participação ativa, de maneira progressiva, estimulante e alegre.

Alongamentos;Aquecimento através de marcha em diferentes ritmos;Corridas em diferentes ritmos;Saltitamentos;Jogos recreativos;Atividades rítmicas simples.

Considerando que o tempo destinado para a aula é de 50 minutos, reservaremos 5 a 10 minutos para esse início, de acordo com as necessidades do momento, para efetuarmos a preparação da aula propriamente dita.

Parte principal (segundo momento)

A essa parte deveremos dedicar 30 a 40 minutos do tempo disponível, procurando desenvolver o conteúdo a ser ensinado.

JogoEsporteDançaGinásticaLutaDentre outros

Parte final (terceiro momento)

À parte final da aula dedicamos 5 a 10 minutos, procurando incutir nos alunos a consciência do trabalho realizado dentro de um ambiente alegre e relaxante. Dessa maneira, estaremos também cooperando para que o aluno readquira o equilíbrio orgânico-emocional para prosseguir o período escolar, com um bom aproveitamento em outras atividades escolares.

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76 UNIDADE 02

Exercícios de relaxamento;Exercícios respiratórios;Jogos relaxantes;Canto;Comentários sobre a aula;

DicaÉ necessário no planejamento da aula ou seja na elaboração

do plano de aula incluir o conteúdo a ser desenvolvido,objetivos, metodologia, recursos didáticos, avaliação e referências.

A Cultura Corporal e a Educação Física estão intimamente entrelaçadas, pois ambas utilizam das atividades corporais em seu conteúdo, como: jogo, esporte, ginástica, dança e lutas.

A Educação Física tem seus fundamentos nas concepções de corpo e movimento, onde se relaciona com a compreensão desses dois conceitos, consideram-se as dimensões cultural, social, política e afetiva, presentes no corpo das pessoas, que se comunicam e se movimentam dentro de um conceito sociocultural.

A Educação Física área secularmente estudada possui uma tradição e um saber-fazer, contemplada com conhecimentos produzidos e utilizados ludicamente pela sociedade nas formas de jogo (motores, sensoriais e intelectuais), esporte ( voleibol, basquetebol, futebol, handebol atletismo), dança (clássica, contemporânea, regionais e outras), ginástica ( artística, desportiva, etc.), lutas ( capoeira, judô dentre outras), proporcionando a educação física escolar sistematizar situações de ensino e aprendizagem, garantindo aos alunos conhecimentos práticos e conceituais.

A Cultura corporal amplia a contribuição da Educação Física Escolar para o pleno exercício da cidadania, numa perspectiva metodologia de ensino aprendizagem, desenvolvendo no cidadão a autonomia, a cooperação, a participação social e a afirmação de valores e princípios democráticos, contribuindo para a aquisição de uma postura\não preconceituosa e discriminatória diante das manifestações e expressões dos diferentes grupos étnicos e sociais e às pessoas que dele fazem parte.

A Educação Física poderá favorecer a autonomia dos alunos

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77Conteúdo e Metodologia de Educação Física

Organize uma atividade para crianças das séries iniciais em que se trabalhe a noção do espaço e tempo (ritmo, duração, velocidade, lateralidade, deslocamento).

para reger as próprias atividades, monitorando o esforço, traçando metas, conhecendo as potencialidades e limitações e sabendo distinguir situações de trabalho corporal que podem ser prejudiciais, bem como formar o educando como cidadão.

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UNIDADE 0378

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UNIDADE 3

Recreação e Jogos na Educação Infantil e nas Séries iniciais do

Ensino Fundamental

OBJETIVOS:

• Subsidiar os pedagogos na utilização de jogo, brinquedos e brincadeiras como ferramenta pedagógica.

• Ampliar os conhecimentos teórico-prático na educação infantil e nas séries iniciais do ensino fundamental.

• Propiciar uma postura adequada durante a prática dos jogos e recreação nessa faixa etária.

• Apresentar alternativas de estudos utilizando dos Referenciais Curriculares Nacionais, que possam subsidiar os professores da educação infantil para o desenvolvimento profissional desses educadores.

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RECREAÇÃO E JOGOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

As aulas de Educação Física na educação infantil ocorrem de forma recreativa. Até mesmo os jogos devem basear-se nas necessidades biológica da criança, atendendo aos aspectos cognitivos, afetivo e motor, de forma lúdica, proporcionando liberdade de movimentos através de atividades espontâneas e criadoras utilizando atividades psicomotoras visando aperfeiçoar a coordenação, o desenvolvimento das habilidades e a flexibilidade.

Segundo Le Boulche, “A forma de atividades psicomotoras é a que mais interessa à criança nesta faixa etária”. A prática de correr, as atividades rítmicas expressivas como os brinquedos cantados, dramatizações, pequenos jogos, visando assim, o aperfeiçoamento das habilidades especificas do ser humano nos estágios: inicial e elementar.

Porém, essa estimulação do desenvolvimento ocorre a qualquer momento, não existindo a delimitação do espaço, de atividades previamente planejadas ou de um tempo especifico para isso.

Conforme Gallardo (1998 p.70) as crianças na faixa etária de 2 a 4 anos encontram-se na fase dos movimentos fundamentais. Essas crianças matriculadas na educação infantil vivenciam experiências no andar, marchar, correr, lançar e receber, subir e descer, saltar e cair. É importante estar atento, pois o tempo necessário para a aquisição do conhecimento e do desenvolvimento motor, ocorre de forma diversificada, variando de criança para criança.

Vejamos algumas atividades psicomotoras que podem ser vivenciadas pela criança , durante essa fase da escolarização (GALLARDO, 1998 p. 72-74).

• Ensinar as crianças a bater palmas em ritmo de uma música;• Utilizar uma música, bater as mãos em diferentes partes do

corpo;

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UNIDADE 0382

• Caminhar ao ritmo da música;• Ensinar brincadeiras ligadas à motricidade fina, como enfileirar,

encaixar, organizar cores, tamanhos e formas;• Ensinar cirandas e jogos rítmicos com ou sem música;• Ensinar algumas brincadeiras e jogos com regras simples;• Dentre outros.

Aluno da graduação de Educação Física na cidade de Coroatá – Ma. Participando do jogo adivinhe quem estou imitando (jogo imitativo). Foto da autora.

O planejamento e a execução devem ser organizados pelo professor objetivando ampliar o repertório das crianças no sentido cultural, lingüístico e motor, tornando-se cada vez mais complexas.

Aroeira (1996, p. 70-71) enfatiza que a partir de dois anos, as atividades lúdicas da criança se convertem numa transposição fantasiosa do mundo real que consiste no jogo simbólico, funciona como cartase durante a primeira infância e ajuda a criança estabelecer ou manter o equilíbrio afetivo, aproximadamente aos 4 anos, permitindo ao professor obter informações sobre a criança e sua relação com o mundo representando aquilo que internaliza.

Nos jogos funcionais, a criança transforma objetos em símbolos – caixa de sapatos é o carro, o carro é o avião – são utilizados para desempenhar papéis (mãe, médico, professor). Neste jogo a realidade pode ser transformada conforme o desejo da criança.

Enquanto que em alguns momentos nos jogos de aquisição, a criança se dedica a observar, escutar, tenta compreender objetos, pessoas, história e canção. A criança parece estar ausente, mas não, está concentrada em captar a totalidade do objeto observado.

Nos jogos de construção, a criança monta e desmonta várias vezes

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o objeto, tentando reunir, combinar, modificar, transformar esses objetos, afim de construir outros, conhecendo-os e modificando-os conforme seu interesse.

Já a regra surge quando a criança sente a necessidade de jogar com alguém, pois nos jogos de regras a criança de até 4 anos aproximadamente joga sozinha, embora já partilham as regras coletivas que exigem determinada ação. Não é necessário ganhar de ninguém, portanto não há espaço para competição.

A necessidade de impor regras surge quando é necessário um controle mútuo das ações, em geral a criança segue as regras estabelecidas. Algumas atividades praticadas pela criança nessa faixa etária como: amarelinhas, bolinhas de gude, pega-pega, queimada, as regras já existente e são incorporadas por elas.

Quanto a consciência que as crianças têm das regras Piaget caracteriza três estágios (AROEIRA. 1996, p.72).

• a regra não é coercitiva. É suportada como interessante não como obrigatório.

• a regra tem um caráter divino. É imutável, pois emana do mundo adulto das crianças mais velhas. Qualquer tentativa de mudança é considerada pelos menores como uma transgressão imperdoável.

• a regra pode ser alterada. Num exercício do conceito de legalidade, a criança agora admite a mudança das regras do jogo desde que haja consentimento de todos os participantes. A regra agora é concebida, portanto, como produto das relações sociais.

De acordo com a função, os jogos podem ser: funcionais simbólicos, de aquisição, de construção e de regras, permitindo que a criança trabalhe suas emoções, sentimentos, dúvidas e ansiedade e cabe ao professor estimular, orientar e acompanhar a aluno na exploração dos mesmos (jogos).

DICA

Alunos da graduação em Educação Física na Cidade de Barreirinhas – Ma. participando da brincadeira infantil “Cadê o grilo”. Foto da autora

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Alunos da 5º ano do ensino fundamental participando da aula de Educação Física Escolar, Jogo verde e amarelo, em Teresina-Pi. Foto da autora.

Recreação e jogos nas séries iniciais do ensino fundamental

A recreação e os jogos a serem trabalhados nas séries iniciais do Ensino Fundamental são estabelecidos em ciclo como indica os Parâmetros Curriculares Nacionais, onde o primeiro ciclo compreende a 1ª e 2ª séries (6/7anos) e o segundo ciclo a 3ª e 4 ª séries (8/9 anos).

Portanto, ao iniciar o trabalho recreativo e a utilização de jogos nessa escolaridade deve-se seguir a sequência lógica do desenvolvimento biológico da criança.

Nessa fase, a criança é fascinada pelos movimentos, pois já adquiriu certo domínio de suas habilidades. Sente prazer em competir, entregando-se desse modo as atividades que exigem maior concentração, reação rápida e habilidades diferentes no mesmo jogo.

OS PCNs (1997, p. 63-66) sugerem, no primeiro ciclo, brincadeiras e jogos de caráter simbólico e individual, brincadeiras sociais regradas e jogo com regras simples. Ex: jogos de esconde-esconde, pique bandeira entre outros.

É característica desse ciclo a diferenciação de experiências e competências de movimento de meninos e meninas. Os conteúdos devem contemplar atividades que evidenciem essas competências de forma a promover uma troca entre os dois grupos, mesclando atividades lúdicas competitivas com atividades lúdicas expressivas proporcionando participação dos meninos e das meninas de forma equilibrada.

Os jogos e atividades que desenvolvem a estruturação espacial permitem que se amplie as possibilidades de se posicionar melhor e

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compreender os próprios deslocamentos, ajuda a construir representações mentais mais apuradas do espaço, pois a referência é o próprio corpo.

Enfatizando o domínio motor, os conteúdos devem abordar: correr, saltar, arremessar, receber, equilibrar a si e aos objetos, desequilibrar-se e pendurar-se, arrastar, rolar, escalar, quicar bolas dentre outras atividades que deve ocorrer em grupo e individualmente, com utilização de materiais como: bolas, cordas, elásticos, bastões.

Ao longo do primeiro ciclo será abordada uma série de conteúdos, nas dimensões conceituais, procedimentais e atitudinais, os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997. P.65-66), explicita-se a seguir a lista daqueles a serem trabalhados nesse ciclo que poderão ser retomados e aprofundados e/ou tornarem-se mais complexos nos ciclos posteriores:

• participação em diversos jogos e lutas, respeitando as regras e não discriminando os colegas;

• explicação e demonstração de brincadeiras aprendidas em contextos extra-escolares;

• participação e apreciação de brincadeiras ensinadas pelos colegas;

• resolução de situações de conflitos por meio do diálogo, com a ajuda do professor;

• discussão das regras do jogo;• utilização de habilidades em situações de jogo e luta, tendo

como referência de avaliação o esforço pessoal;• resolução de problemas corporais individualmente; • avaliação do próprio desempenho e estabelecimento de metas

com o auxilio do professor;• participação em brincadeiras cantadas;• criação de brincadeiras cantadas• acompanhamento de uma dada estrutura rítmica com

diferentes partes do corpo;• apreciação e valorização de danças pertencentes à localidade;• participação em danças simples ou adaptadas pertencentes

a manifestações populares, folclóricas ou de outro tipo que estejam presentes no cotidiano;

• participação em atividades rítmica e expressivas;• utilização e recriação de circuitos;• utilização de habilidades (correr, saltar, arremessar, rolar,

bater, rebater, receber, amortecer, chutar, girar, etc.) durante os jogos, lutas, brincadeiras e danças;

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UNIDADE 0386

• desenvolvimentos da capacidades físicas durante os jogos, lutas, brincadeiras e danças;

• reconhecimentos de algumas das alterações provocadas pelo esforço físico, tais como excesso de excitação, cansaço, mediante a percepção do próprio corpo.

Conceitos, procedimentos e atitudes conforme Gallardo (1998, p.45):

Os conteúdos conceituais trabalham com a construção dos conhecimentos por meio de sucessivas articulações das capacidades intelectuais. Operam com símbolos, informações, imagens, princípios, fatos, significados e representações que permitem organizar os dados da realidade.

Os procedimentos, por sua vez, exprimem um conjunto de ações ordenadas (pesquisa, resumi, maquete, construção de um instrumento),

uma tomada de decisão para atingir uma meta. É freqüente a utilização dos termos destreza, estratégia, método e técnica como sinônimos de procedimentos.

As atitudes têm a ver com o para quê e o como se ensina. Dizem respeito às normas e aos valores relativos ao conhecimento, ao professor, aos colegas, às atividades e à sociedade.

A recreação e jogos como conteúdos abordados no segundo ciclo, conforme os PCNs (l997, p.72-76), serão desdobramentos e aperfeiçoamentos dos conteúdos do ciclo anterior. As habilidades corporais devem contemplar desafios mais complexos. Por exemplo, correr-quicar uma bola, saltar-arremessar, saltar-rebater, girar-saltar, equilibrar objetos - correr.

No segundo ciclo a relação da percepção do corpo os alunos podem fazer análise simples, percebendo a própria postura e os movimentos em diferentes situações do cotidiano, percebendo as

características de movimento de sua coletividade, observando a história local, desenvolvendo esse trabalho junto com os conteúdos de História, Geografia e Pluralidade Cultural (interdisciplinaridade).

Nas atividades rítmicas e expressivas é possível combinar a marcação do ritmo com movimentos coordenados entre si. As manifestações culturais da coletividade podem ser analisadas a partir de conceitos de qualidade de movimento como ritmo, velocidade,

O domínio cognitivo corresponde aos conteúdos conceituais, o domínio motor corresponde aos conteúdos procedimentais e o domínio afetivo por sua vez corresponde aos conteúdos atitudinais.

DICA

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intensidade e fluidez; podem ser aprendidas e recriadas. As noções de simultaneidade, seqüência e alternância poderão também subsidiar a aprendizagem e a criação de pequenas coreografias.

Nesse ciclo as crianças têm muito interesse pelos esportes, pois conhecem através da mídia e pelo contato com crianças mais velhas e adultos. Os jogos pré-desportivos e os esportes coletivos e individuais podem predominar nesse momento.

A construção das noções de espaço e tempo se iguala ao do primeiro ciclo.

A análise e a compreensão das regras mais complexas e das estratégias de jogo tornam-se um conhecimento que ajuda a criança a jogar melhor e a ampliar suas possibilidades de movimento.

Alunos do 5º ano do ensino fundamental de Teresina – Pi, participando do jogo “Acerte o Alvo”. (iniciação ao basquetebol). Foto da autora;

Ao longo do segundo ciclo serão abordados conteúdos nas dimensões conceituais, procedimentais e atitudinais. Como no primeiro ciclo, os conteúdos estão integrados e não separados por blocos. A seguir a lista daqueles que continuam a ser abordados, dos que deverão começar a ser desenvolvidos e aprofundados nesse ciclo e/ou tornar-se mais complexos nos ciclos posteriores:

• participação em atividades competitivas, respeitando as regras e não discriminando os colegas, suportando pequenas frustrações, evitando atitudes violentas;

• observação e análise do desempenho dos colegas, de esportistas, de crianças mais velhas ou mais novas;

• expressão de opiniões pessoais quanto a atitudes e estratégias

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a serem utilizadas em situações de jogos, esportes e lutas;• apreciação de esportes e lutas considerando alguns aspectos

técnicos, táticos e estéticos;• reflexão e avaliação do seu próprio desempenho e dos demais,

tendo como referência o esforço em si, prescindindo, em alguns casos, do auxílio do professor;

• resolução de problemas corporais indivualmente e em grupo• participação na execução e criação de coreografias simples;• participação em danças pertencentes a manifestações

culturais da coletividade ou de outras localidades, que estejam presentes no cotidiano;

• valorização das danças como expressões da cultura, sem discriminações por razões culturais, sociais ou de gêneros;

• acompanhamento de uma dada estrutura rítmica com diferentes partes do corpo, em coordenação;

• participação em atividades rítmicas expressivas;• análise de alguns movimentos e posturas do cotidiano a partir

de elementos socioculturais e biomecânico;• percepção do próprio corpo e busca de posturas e movimentos

não-prejudiciais nas situações do cotidiano;• utilização de habilidades motoras nas lutas, jogos e danças;• desenvolvimento de capacidades físicas dentro de lutas, jogos

e danças, percebendo limites e possibilidades;• diferenciação de situações de esforço aeróbico, anaeróbico e

repouso;• reconhecimento de alterações corporais, mediante a percepção

do próprio corpo, provocadas pelo esforço físico, tais como excesso de excitação, cansaço, elevação de batimentos cardíacos, efetuando um controle dessas sensações de forma autônoma e com o auxílio do professor.

“Bombaquim”

Bombaquim, bombaquim,Deixa nós passar Carregado de filhinhos,Pra Jesus criar.

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Alunos da graduação em Educação Física de Barreirinhas – MA. Brincado da brincadeira tradicional infantil “Bombaquim”

Passarás, passarás,Algum deles há de ficar,Se não for o da frente. O de trás será.

Outra versão:

Três – três – passará

Três – três – passará,Derradeiro ficará,Bom vaqueiro, bom vaqueiro,Dá licença pr’eu passar,Com meus filhos pequeninos,Pra acabar de criar.

Alunos da graduação em Educação Física de Barreirinhas – MA. Participando da atividade “Ginástica Estóriada”.

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Ginástica estóriada

As estórias, que contadas, quer em forma de aulas estoriadas e dramatizadas, apresenta-se como uma fonte inesgotável, que podemos lançar mãos quando o objetivo é recrear, formar o caráter e educar.

As estórias aplicam-se às crianças de 4 a 7 anos, e os exercícios que dela fazem parte são todos os executados por imitação.

Para contar estória é necessário:1. ter facilidade de expressão;2. usar vocabulários adequados à compreensão da criança

esclarecendo o sentido de uma ou de outra palavra, que lhe possa ser desconhecida;

3. fazer predominar a ação sobre a descrição.4. dar-lhe, tanto quanto possível um cunho de veracidade,

mostrando objetivos, à medida do possível, fazendo gestos, imitando expressão dos animais, de maneira a conseguir que a criança viva as situações,

5. Emprestar ênfase às principais passagens a fim de mais destacá-las e melhor gravá-las.

Chapeuzinho vermelho

Era uma vez uma menina bonita, boazinha e educada. Tinha este nome porque usava um chapéu vermelho. Um dia disse à mãe que ia levar doces para a vovó que morava no bosque.

Andava bem depressa entre as árvores (marcha em serpentina), quando olhou para cima viu uns passarinhos voando e começou a imita-los (corrida com movimentação dos braços). Chapeuzinho vermelho estava tão cansada e respirou bem fundo (inspiração e expiração) sentiu um perfume agradável e viu muitas flores coloridas, começou apanhá-las (flexão e extensão do tronco). Andando novamente avistou um pequeno riacho, teve que saltar (pular) para prosseguir caminho, foi quando avistou o lobo saindo da floresta e pegou algumas pedrinhas e começou a atirá-las no lobo (arremesso). Ela já estava muito cansada, deitou no chão e adormeceu (deitar), sonhou que era o lobo mau e começou a cantar: “eu sou o lobo mau!” (marcha com canto).

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Alunos da graduação em Educação física de Barreirinhas – MA. Jogando queimada.

“Queimada”

Material: bolas.

Desenvolvimento: as crianças se dividem em duas equipes e espalham-se pelo campo de jogo a fim de dificultar a ação do adversário, que tentará “queimá-las”, arremessando a bola em seu corpo. Os atingidos pela bola de forma direta (sem receber com as mãos e sem que a bola toque antes o chão ou outro companheiro) serão considerados “queimados”, passando a ocupar o cemitério, onde poderão queimar os adversários da equipe oponente.

Facilitando o jogo: não permitir que as crianças se desloquem para fugir da bola, facilitando o arremesso, e diminuir o espaço da quadra para os deslocamentos.

O espaço de fuga, delimitar uma distância entre os campos e o cemitério para o arremesso. Solicitar o arremesso com a mão não dominante.

Dica:A “queimada” é um jogo motor, ativo, com grande aceitação pelo

alunado, considerado também um jogo pré-desportivo.

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Alunos do ensino fundamental (da equipe mirim de futsal), de Barreirinhas – Ma, disputando a posse de bola em um jogo de futebol. Foto da autora.

Referencial curricular nacional para eucação infantil

Reconhecido na Constituição Federal de 1988, Art. 208, inciso IV, a educação infantil em creches e pré-escolas, passou a ser, um dever do Estado e um direito da criança. O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA – de 1990, destaca também o direito da criança a este atendimento.

No capitulo III, Do Direito à Educação e do Dever de Educar, art. 4º, IV, se afirma, que: “O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a garantia de (...) atendimento gratuito em creches e pré-escolas, às crianças de Zero a três anos de idade”. Tanto as creches para crianças de Zero a três anos como as pré-escolas, para as de quatro a seis anos, são consideradas como instituições de educação infantil. A distinção entre ambas é feita apenas pelo critério de faixa etária.

No capítulo IV (da LDB vigente), trata da organização da Educação Nacional, art.11, V, considera-se que:

“Os Municípios incubir-se-ão de: (...) oferecer a educação infantil em creches e pré-escolas, e, com prioridades, o ensino fundamental, permitidas a atuação em outros níveis de ensino quando estiverem atendidas plenamente as necessidades de sua área de competência e com recursos acima dos percentuais mínimos vinculados pela Constituição Federal à manutenção e desenvolvimento do ensino.

Reafirma no art. 9º, IV, que:“A União incumbir-se-á (...) estabelecer, em colaboração com os

Estados, Distrito Federal e os Municípios, competências e diretrizes para a educação infantil (...) que nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação básica comum”.

Seguindo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, a elaboração de propostas educacionais, veicula necessariamente concepções sobre crianças, educar, cuidar e aprendizagem, cujos fundamentos devem ser considerados de maneira explicita.

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Compreender, conhecer e reconhecer o jeito particular de as crianças serem e estarem no mundo é o grande desafio da educação infantil e de seus profissionais (PCN, 1998, v. I). Embora os conhecimentos derivados da psicologia, antropologia, sociologia, medicina, etc., possam ser de grande valia para desvelar o universo infantil apontando algumas características comuns do ser das crianças, estas permanecem únicas e suas individualidades e diferenças.

Trataremos do Brincar (jogo e a apropriação da imagem corporal) por ser conteúdo da Educação Física.

Brincar

Os Parâmetros Curriculares Nacionais menciona que a brincadeira é uma linguagem infantil que mantém um vínculo essencial com aquilo que é o “não - brincar”. Se a brincadeira é uma ação que ocorre no plano da imaginação, isto implica que aquele que brinca tenha o domínio da língua simbólica. Isto que dizer que é preciso haver consciência da diferença existente entre a brincadeira e a realidade imediata que lhe forneceu conteúdo para realizar-se. Nesse sentido, para brincar é preciso apropriar-se de elementos da realidade imediata de tal forma a atribuir-lhes novos significados. Essa peculiaridade da brincadeira ocorre por meio da articulação entre a imaginação e a imitação da realidade. Toda brincadeira é uma imitação transformada, no plano das emoções, de uma realidade anteriormente vivenciada.

Os gestos, os sinais, os objetos e os espaços no ato de brincar significam coisas diferentes daquilo que apresenta ser. As crianças, durante o brincar recriam e repensam os fatos acontecidos que deram a origem à brincadeira, porém sabem que estão brincando.

As crianças precisam ter independência para brincar, escolher seus companheiros e papéis dentro de um contexto, cujos desenvolvimentos dependem apenas da vontade de quem brinca, favorecendo as vivências de brincadeiras imaginárias, criadas por elas, permitindo-lhes resolver problemas significativos. A brincadeira também oportuniza a criação de espaços no qual as crianças podem experimentar o mundo e internalizar uma compreensão particular sobre as pessoas, sentimentos e diferentes conhecimentos.

As brincadeiras e suas categorias de experiências são agrupadas em três modalidades básicas: brincar de faz-de-conta (atividade fundamental que dá origem a outras brincadeiras e jogos), brincar

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com materiais de construção e brincar com regras. As brincadeiras do faz-de-conta (movimento, mudanças de percepção, relação com os objetos, linguagem oral e gestual, o brincar com materiais de construção (conteúdos sociais: papéis, situações, valores e atitudes do universo que se constrói), por fim as brincadeiras que impõem limites e regras, constitui-se um recurso fundamental para brincar. Portanto as brincadeiras de faz-de-conta, os jogos de construção e os que possuem regras, propiciam a ampliação dos conhecimentos infantis por meio da atividade lúdica.

Na instituição infantil é o professor que ajuda a estruturar as brincadeiras, por meio delas o professor pode observar o desenvolvimento das crianças em conjunto ou de cada uma separadamente. Assim o professor, observa que, na brincadeira, as crianças recriam e estabilizam aquilo que sabem sobre as mais diversas esfera do conhecimento.

A apropriação da imagem corporal proporciona a aquisição da consciência dos limites do próprio corpo e é um aspecto importante do processo de diferenciação do eu do outro e da construção da identidade.

Por meio das explorações, do contato físico com outras pessoas, da observação daqueles com quem convive, a criança aprende sobre o mundo, sobre si mesma e comunica-se pela linguagem corporal.

Organização pela idade

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, explica no art. 30, capitulo II, seção II que: A educação infantil será oferecida em:

I – creches ou entidades equivalentes para crianças de até três anos de idade;

II – pré - escolas, para as crianças de quatro a seis anos.

Movimento

Conforme o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998, vol. 3), o movimento é uma importante dimensão do desenvolvimento e da cultura humana. As crianças se movimentam desde que nascem adquirindo cada vez mais possibilidades de interação com o mundo. Ao brincar, jogar, imitar e criar ritmos e movimentos, as crianças também se apropriam do repertório da leitura corporal, na qual estão inseridas. Nesse sentido, as instituições de educação infantil devem favorecer um ambiente físico e social onde as crianças se sintam protegidas e acolhidas e ao mesmo tempo seguras para se arriscar e

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vencer desafios. Quanto mais arriscado e desafiador forem o ambiente, mais ele lhes possibilitará a ampliação de conhecimentos e o acesso de si mesma, dos outros e do meio em que vive.

O trabalho com movimento contempla a multiplicidade de funções e manifestações do ato motor, propiciando um amplo desenvolvimento de aspectos específicos da motricidade das crianças, abrangendo uma reflexão acerca das posturas corporais implicadas nas atividades cotidianas, bem como atividades voltadas para a ampliação da cultura corporal de cada criança.

A presença do movimento na educação infantil não deve ser omitida, "nem deve a omissão ser utilizada como disciplinadora". Pois o movimento para a criança significa expressar-se e se comunicar através de gestos e das mímicas faciais, pois a dimensão corporal integra-se ao conjunto da atividade da criança, vale ressaltar que a função expressiva não é exclusiva do bebê.

No inicio do desenvolvimento predomina a dimensão subjetiva da motricidade, que encontra sua eficácia e sentido principalmente na interação com o meio social, junto às pessoas com quem a criança interage diretamente. É somente aos poucos que se desenvolve a dimensão objetiva do movimento, que corresponde as competências instrumentais para agir sobre o espaço e o meio físico.

Os jogos, as brincadeiras, a dança e as práticas esportivas revelam a cultura de cada grupo social, constituindo-se em atividades privilegiadas nas quais o movimento é aprendido e significado.

Dado o alcance que a questão motora assume na atividade da criança, é muito importante que, ao lado das situações planejadas especificamente para trabalhar o movimento em sua várias dimensões, a instituição reflita sobre o espaço dado ao movimento em todos os momentos da rotina diária, incorporando os diferentes significados que lhe são atribuídos pelos familiares e pela comunidade (REFERÊNCIA CURRICULAR NACIONAL PARA EDUCAÇÃO INFANTIL, 1998 VOL. 3).

Nesse sentido, é importante o trabalho corporal, a expressividade e as modalidades próprias às crianças. Assim, um grupo disciplinado não é aquele em que todos se mantêm quietos e calados, mas sim um grupo em que vários elementos se encontram envolvidos e mobilizados pelas atividades propostas. Os deslocamentos, as conversas e as brincadeiras resultantes desse envolvimento não podem se entendidos como dispersão ou desordem, e sim como uma manifestação natural das crianças. Compreender o caráter lúdico e expressivo das manifestações

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da motricidade infantil poderá ajudar o professor a organizar melhor a sua prática, levando em conta as necessidades das crianças.

A criança e o movimento

O primeiro ano de vida

No primeiro ano de vida, quando as emoções são o elo de interação do bebê com os adultos e com outras crianças, predomina o movimento em forma de toque corporal, constitui-se em aprendizagem, pois através de atividades imitativas, a criança balança o corpo, bate palmas e pés, vira e levanta a cabeça e outros gestos.

Com as atividades expressivas bebes conquistam a sustentação do próprio corpo, vivenciadas através do virar-se, rolar, arrastar-se, sentar-se, e engatinhar, preparando-se para o aprendizado da locomoção, ampliando assim sua ação independente.

As ações exploratórias do próprio corpo permitem ao bebê descobrir seus limites e a consciência corporal, a relação dessas ações e dos seus gestos propiciam a coordenação sensório-motora.

Aquisições como a apreensão e a locomoção apresentam importantes conquistas no plano da motricidade objetiva. Consolidando-se em instrumentos de ação sobre o mundo, aprimorando-se conforme as oportunidades que se oferecem à criança de explorar o espaço, manipular os objetos, realizar atividades diversificadas e desafiadoras.

Crianças de um a três anos

A grande independência que o andar (capacidade de locomover-se adquirida nessa idade) propicia na exploração do espaço, somado ao progressivo amadurecimento do sistema nervoso é acompanhada também por uma maior disponibilidade das mãos. Ao mesmo tempo em que explora, aprende gradualmente a adequar seus gestos e movimentos às suas intenções e às demandas da realidade. Alguns gestos (pegar uma colher para comer, papéis para fazer desenhos), são exemplos dos progressos no plano da gestualidade instrumental. Tal manifestação manipulativa de uso cultural definido não significa que a manipulação se restrinja a esse uso, já que o caráter expressivo do movimento ainda predomina. Dessa forma, criança pode utilizar a colher tanto para comer como para brincar, explorando as várias possibilidades de seu gesto.

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Outro aspecto da dimensão expressiva do ato motor é o desenvolvimento dos gestos simbólicos tanto no faz-de-conta como nos braços em posição de ninar, quanto na função indicativa.

No plano da consciência corporal, nessa idade, a criança começa a reconhecer a imagem de seu corpo, o que ocorre principalmente por meio das interações sociais que estabelece e das brincadeiras que faz diante do espelho. Nessas situações, ela aprende a reconhece as características físicas que interagem a sua pessoa, o que é fundamental para a construção de sua identidade.

Crianças de quatro a seis anos

Nessa faixa etária constata-se uma ampliação de repertório de gestos instrumentais, os quais contam com progressiva precisão, atos que exigem coordenação de vários segmentos motores e o ajuste a objetos específicos, como recortar, colar, encaixar pequenas peças (coordenação motora fina) se sofisticam. Ao lado disso, permanece a tendência lúdica da motricidade, sendo muito comum que as crianças, durante a realização de uma atividade, desviem a direção de seu gesto, por exemplo, a criança está recortando, de repente põe-se a brincar com a tesoura, transformando-o em outro objeto (avião, animal, etc.). É grande o volume de jogos e brincadeiras encontradas nas diversas culturas que envolvem complexas sequências motoras para serem reproduzidas propiciando conquista no plano da coordenação e precisão do movimento.

Gradativamente, o movimento começa a submeter-se ao controle voluntário, refletindo na capacidade de planejar e antecipar ações (pensar antes de agir), e no desenvolvimento crescente de recursos de contenção motora.

As brincadeiras que compõem o repertório infantil e que variam conforme a cultura regional apresenta-se como oportunidades privilegiadas para desenvolver habilidades no plano motor, como: pular corda e amarelinha, empinar pipas, jogar bola de gude dentre outras.

Equilíbrio e coordenação

As ações que compõem as brincadeiras envolvem aspectos ligados à coordenação do movimento e ao equilíbrio. Para executar atividades que envolvem equilíbrio, as crianças precisam coordenar habilidades

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motoras com velocidade, flexibilidade e força, de maneira mais adequada de conseguir seu objetivo.

As instituições devem assegurar e valorizar, em seu cotidiano, jogos motores e brincadeiras que contemplem a progressiva coordenação dos movimentos e o equilíbrio das crianças.

Crianças de zero a três anos

Trabalha-se:• Exploração de diferentes posturas corporais, como sentar-se

em diferentes inclinações, deitar-se em diferentes posições, ficar ereto apoiado na planta dos pés com e sem ajuda.

• Ampliação progressiva da destreza para deslocar-se no espaço por meio da possibilidade constante de arrastar-se, engatinhar, rolar, andar, correr, saltar.

• Aperfeiçoamento dos gestos relacionados com a apreensão, o encaixe, o traçado do desenho, o lançamento, por meio da experimentação e utilização de suas habilidades manuais em diversas situações cotidianas.

Criança de quatro a seis anos

Trabalha-se:• Participação em brincadeiras e jogos que envolvam correr,

subir, descer, escorregar, pendurar-se, movimentar-se, dançar para ampliar gradualmente o conhecimento e controle sobre o corpo e o movimento.

• Utilização dos recursos de deslocamento e das habilidades de força, velocidade, resistência e flexibilidade nos jogos e brincadeiras dos quais participa.

• Valorização de suas conquistas corporais.• Manipulação de matérias, objetos e brinquedos diversos para

aperfeiçoamento de suas habilidades manuais.

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Conteúdo e Metodologia de Educação Física 99

Aspectos legais

Confederação Nacional dos Estabelecimentos De Ensino (CONFENEN)

O CONSELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO ao editar a Resolução CEB/C.N.E. nº 03, de 03/08/05, estruturando o fundamental com duração de 9 (nove) anos (...). Divide-o em cinco séries iniciais (6, 7, 8, 9 e 10 anos de idade para 1ª, 2ª, 3ª, 4ª e 5ª séries) e quatro séries finais (11, 12, 13 e 14 anos para 6ª, 7ª, 8ª e 9ª) porque a LDB já possibilita a divisão do fundamental em dois ciclos (...).

Acerto também ocorreu com a redefinição de educação infantil. Sem definir o que seja e a idade de cada um, a Constituição Federal apenas determina atendimento obrigatório “em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade".

A Lei nº 9394/96 definiu creche para criança de até três anos (36 meses) e pré-escolar de quatro a seis anos (72 meses), frisou bem, no art. 29, até seis anos de idade (72 meses) e não com 6 (seis) anos de idade mais de (72 meses) por isso:

Creche___________________ até 3 anos de idade (36 meses).Pré-escolar________________ 3 anos de idade (36 a 48 meses)Pré-escolar________________ 4 anos de idade (48 a 60 meses)Pré-escolar________________ 5 anos de idade (60 a 72 meses)Inicio de Fundamental_______ 6 anos de idade (72 meses).

Afinal, o que se pretende com a criança, aos seis anos, no fundamental, é uma série inicial, básica, preliminar, vestibular, propedêutica com a metodologia de fundamental e não de educação infantil.

Nova educação infantil

FAIXA ETÁRIA ETAPA DE ENSINOAté 3 anos de idade Creche (36 meses)3 anos de idade Pré-escolar: 1º período (36 meses)4 anos de idade Pré-escolar: 2º período (48 meses)5 anos de idade Pré-escolar: 3º período (60 meses)

Na educação infantil, não se cuida de alfabetização.

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Novo ensino fundamental

Duração – 9 anos: Classe Inicial de Alfabetização + 8 séries.

Característica Séries Para Crianças Destinação1ª de 9 anos 1ª A ou 1ª I De 6 anos ou não alfabetizadas Alfabetização2ª de 9 anos 1ª B ou 1ª II De 7 ou mais anos, Programação2ª à 8ª de 9 anos 2ª à 8ª série Em prosseguimento das anteriores Idem

GOVERNO DO ESTADO DO PIAUÍSECRETARIA DA EDUCAÇÃOCONSELHO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO

PLENÁRIO DO CEE RESOLUÇÃO nº 002/2000

Fixa normas para educação infantil no Sistema Estadual do Estado do Piauí.

O CONSELHO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DO PIAUÍ, no uso de suas atribuições legais e considerando o disposto nos artigos 89 da Lei nº 9.3994/96 e 74 da Lei 5.101/99,

CAPITULO I – EDUCAÇÃO INFANTIL

Art. 1º - A educação infantil, primeira etapa da educação básica, constitui direito da criança de zero a seis anos, a que o Estado e a família têm o dever de atender.

Art. 2º - A autorização de funcionamento e a supervisão/inspeção das instituições públicas e privadas, de educação infantil, que atuam na educação de crianças de zero a seis anos, serão reguladas pelas normas desta Resolução.

Art. 3º - A educação infantil será oferecida em:I – creches ou entidades equivalentes para crianças de até 3

(três) anos de idade;II – pré-escolas, para crianças de 4 a 6 anos;§ 2º - As instituições de educação infantil que mantêm

simultaneamente, o atendimento a crianças de zero a três anos em creches, quatro a seis anos em pré-escola, constituirão centros de

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educação infantil denominação própria.

CAPITULO II – DA FINALIDADE E DOS OBJETIVOS

Art. 4º - A educação infantil tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança em seus aspectos físico, psicológico, intelectual, social, complementando a ação da família e da comunidade.

Art. 5º - A educação infantil tem como objetivos proporcionar condições adequadas para promover o bem-estar da criança o desenvolvimento físico, motor, emocional, intelectual, moral e social, a ampliação de suas experiências e estimular o interesse da criança pelo processo do conhecimento do ser humano, da natureza e da sociedade.

Parágrafo único – Dadas as particularidades do desenvolvimento da criança de zero a seis anos, a educação infantil cumpre funções indispensáveis e indissociáveis: educar e cuidar.

CAPITULO III – DA PROPOSTA PEDAGÓGICA

Art. 6º - A educação infantil obedecerá proposta pedagógica que deve estar fundamentada numa concepção de criança como cidadã, como pessoa em processo de desenvolvimento, como sujeito ativo da construção do seu conhecimento, como sujeito social e histórico mediado pelo meio em que vive.

Art. 7º - § 2º O currículo da educação infantil deverá assegurar a formação básica comum, respeitando as diretrizes curriculares nacionais, nos termos do artigo 9º da Lei nº 9394/96.

Art. 9º - Os parâmetros para a organização de grupos das especificidades da proposta pedagógica recomenda a seguinte relação professor/criança:

- criança de zero a um ano - 06 a 08 crianças/01 professor;- crianças de um a três anos - 08 a 10 crianças/01 professor;- crianças de três a cinco anos - 12 a 15 crianças/01 professor;- crianças de cinco a seis anos - 20 a 25 crianças/01 professor.

CAPITULO IV – DOS RECURSOS HUMANOS

Art. 10 – A direção da instituição de educação infantil será exercida por profissional formado em curso de graduação em Pedagogia ou nível

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de pós-graduação em Educação.Art. 11 – O docente para atuar na educação infantil será formado

em curso de nível superior (Licenciatura Plena), admitida a ressalva do Art. 26 desta resolução.

CAPITULO V – DO ESPAÇO, DAS INSTALAÇÕES E DOS EQUIPAMENTOS

Art. 13 – Os espaços serão projetados de acordo com a proposta pedagógica da instituição infantil, a fim de favorecer o desenvolvimento das crianças de zero a seis anos, respeitando as suas necessidades e capacidades.

Parágrafo único – Em se tratando de turmas de educação infantil, em escolas de ensino fundamental e/ou médio, alguns destes espaços deverão ser de uso exclusivo das crianças de zero a seis anos, podendo outros ser compartilhados com os demais níveis de ensino, desde que a ocupação se dê em horário diferenciado, respeitada a proposta pedagógica da escola.

Na educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental, os conteúdos a serem trabalhados nas aulas de Educação Física são em forma de recreação e deve ser baseado nas necessidades biológicas das crianças e no desenvolvimento cognitivo afetivo e motor, de forma lúdica.

As atividades psicomotoras são as que mais interessam às crianças nesta faixa etária de escolarização, como andar, marchar, correr, lançar e receber dentre outras.

Como as crianças a partir dos dois anos convertem as brincadeiras em atividades fantasiosas do mundo real como jogos: simbólicos, funcionais, de aquisição e construção e com regras, obedecendo a seu estágio maturacional.

Já nas séries iniciais do ensino fundamental a recreação e jogos são estabelecidos em ciclos, quando também deve ser seguida a sequência do desenvolvimento biológico da criança e das atividades trabalhadas na educação infantil. No primeiro ciclo a criança sente prazer

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em competir, dedicando-se a atividades com maior concentração, reação rápida e habilidades diferentes, distinguindo também competências. Nesse ciclo serão abordados conteúdos nas dimensões conceituais, procedimentais e atitudinais. Enquanto no segundo ciclo, os conteúdos serão desdobramentos e aperfeiçoamentos dos conteúdos do ciclo anterior, contemplando desafios mais complexos.

1. Faça uma pesquisa sobre os jogos antigos e compare-os com os atuais.

2. Observe uma aula de educação física realizada por um professor com formação na área e uma outra ministrada por um professor das séries iniciais sem formação específica. Discuta as diferenças.

3. Quais deveriam ser os principais critérios de seleção e organização dos conteúdos de Educação Física para as séries iniciais?

4. Assista ao filme O menino Maluquinho, depois organize um debate em classe. Troque com os colegas opiniões e impressões sobre o filme e destaque aspectos, cenas, situações que possibilitem refletir sobre a brincadeira infantil, sua importância e seu desenvolvimento.

O menino Maluquinho de Ziraldo

Sinopse: Maluquinho é um garoto tão menino quanto qualquer outro de sua idade. Brincalhão, esperto e levado, ele teve a sorte de nascer numa família que lhe dá carinho e permite realizar todas as suas fantasias e diversões da infância. Isso não impede que ele também passe por alguns sustos, daqueles que tiram os pais do sério e às vezes fazem eles saírem correndo do trabalho para acudir um filho que "aprontou alguma daquelas".

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BARROS, Daisy Regina Pinto; BARROS, Darcymires do Rego. Educação Física na escola primária. 4 ed. Rio de Janeiro. Indústria de Artes Gráficas Atlan Ltda., 1972.

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Conteúdo e Metodologia de Educação Física 105

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CASTELLANI FILHO, Lino. Educação Física no Brasil: a história que não se conta. Campinas, Papirus, 1988.

COLETIVO DE AUTORES. Metodologia de ensino da educação física. São Paulo, Cortez, 1992.

DARIDO, Suraya Cristina. Educação Física na Escola. Rio de Janeiro. Guanabara Koogan, 2003.

FRIEDMAMN, Adriana. Crescer e aprender, o resgate do jogo infantil. São Paulo: Moderna, 1996.

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GRAÇA, A.; OLIVEIRA, J. O ensino dos jogos educativos. 2 ed. Porto: Cejd, 1997.

GUERRA, Marlene. Recreação e lazer. 5 ed. Porto Alegre: sagra, DC Luzzatto, 1996.

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MACHADO, Nilse. V. Educação Física e recreação para pré-escolar. 3 ed. Porto Alegre, Prodil, 1986.

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Conteúdo e Metodologia de Educação Física106

ROSSETTO JÚNIOR, Adriano J. Jogos Educativos: Estrutura e organização da prática. 2 ed. São Paulo: Phorte Editora, 2005.

Autonomia: faculdade de governar a si mesmo, liberdade ou independência moral e intelectual.

Cinesiologia: estudo do movimento.

Coercitiva: (coercivo), que pode exercer coerção,

Cartase: é uma palavra utilizada em diversos contextos, como a tragédia, a medicina ou a psicanálise, que significa “purificação”, “evacuação” ou “purgação”.

Habilidades: exercícios ginásticos de agilidades e destreza.

Individualidade: o que constitui o individuo, caráter especial, particularidade, originalidade, que distingue uma pessoa ou coisa.

Maturação: ato ou efeito de maturar, processo de transformação e desenvolvimento de um órgão ou organismo para o exercício pleno de suas funções e que se prende essencialmente à idade.

Motricidade: propriedades que têm certas células nervosas de determinar a contração muscular.

PCNs: parâmetros curriculares nacionais

Pedagogos: aquele que aplica a pedagogia, que ensina, professor.

Propedêutica: Que serve de introdução, preliminar, prévio.

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Marina Carvalho, licenciada e Especialista em Educação Física pela Universidade Federal do Piauí. Atualmente Professora do Instituto de Educação Superior do Brasil - IESB, em Teresina, onde leciona a disciplina Recreação e Lazer no curso de Graduação em Educação Física.

Sandra Tereza, graduada em Educação Física pela Universidade Federal do Piauí, também pedagoga. Especialista em Educação Infantil e Educação Física Especial. Professora aposentada da Secretaria de Educação – SEDUC. Piauí, e do Instituto de Educação Superior do Brasil – IESB em Teresina, atualmente professora substituta da UFPI.

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