apostila polÍticas pÚblicas em educaÇÃo e ed fÍsica f

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UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARA CAMPUS AVANADO DE QUIXERAMOBIMCURSO DE EDUCAO FSICAProf.: Antonio Martins de Almeida Filho

POLTICAS PBLICAS EM EDUCAO E EDUCAO FSICA

QUIXERAMOBIM CEAR SETEMBRO E OUTUBRO 2011

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UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARA CAMPUS AVANADO DE QUIXERAMOBIMCURSO DE EDUCAO FSICAProf.: Antonio Martins de Almeida Filho

POLTICAS PBLICAS EM EDUCAO E EDUCAO FSICA

QUIXERAMOBIM CEAR SETEMBRO E OUTUBRO 2011

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ALMEIDA FILHO, Antnio Martins de.

Polticas

Pblicas

em

Educao

e

Educao

Fsica.

Quixeramobim - Cear, 19/09/2011. 62 f. Apostila elaborada para o Curso de Educao Fsica da Universidade Estadual Vale do Acara UVA, Campus Avanado de Quixeramobim Cear.

1.Polticas Pblicas. 2.Educao. 3.Educao Fsica.

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O Analfabeto Poltico O pior analfabeto o analfabeto poltico, Ele no ouve, no fala, Nem participa dos acontecimentos polticos. Ele no sabe o custo da vida, O preo do feijo, do peixe, da farinha, Do aluguel, do sapato e do remdio Dependem das decises polticas. O analfabeto poltico to burro que se orgulha E estufa o peito dizendo Que odeia a poltica. No sabe o imbecil que, da sua ignorncia poltica Nasce a prostituta, o menor abandonado, E o pior de todos os bandidos, Que o poltico vigarista, Pilantra, corrupto e lacaio Das empresas nacionais e multinacionais.

Bertold Brecht (1898-1956)

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FUNDAO UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARA Reconhecida pela Portaria n. 821/MEC D.O.U. de 01.06.94 CAMPUS AVANADO DE QUIXERAMOBIM CURSO DE EDUCAO FSICA Prof.: Antonio Martins de Almeida Filho

EMENTA DA DISCIPLINA Professor: Antnio Martins de Almeida Filho Disciplina: Polticas Pblicas em Educao e Educao Fsica Campus Avanado de Quixeramobim Perodo de oferta: 19 de setembro de 2011 a 07 de outubro de 2011. Turma - 260129DISCIPLINA POLTICAS PBLICAS EM EDUCAO E EDUCAO FSICA CARGA HORRIA 60 CRDITOS 04 PR-REQUISITO -

Professor: Antnio Martins de Almeida Filho Ementa Contextualizar a Educao Brasileira nos aspectos Histricos, Filosficos, Sociolgicos, Legais e Pedaggicos. Sntese analtica da Lei 9.394/96. Poltica Nacional da Educao. A educao como sistemas. Princpios, objetivos e estrutura do ensino fundamental e mdio. Organizao curricular. Financiamento da educao. Recursos humanos para o ensino fundamental e mdio. Anlise dos aspectos quantitativos e qualitativos do ensino. Levantamento e exames de problemas de funcionamento da rea de Educao Fsica no ensino fundamental e mdio, levando em considerao: rendimento escolar, evaso, repetncia, formao continuada de professores. A reforma universitria.

Objetivos Desenvolver reflexes crticas acerca das polticas referentes educao e especificamente Educao Fsica, enfatizando os aspectos legais, ticos e educativos. Proporcionar aos graduandos em Educao Fsica, condies de analisar e discutir as questes pertinentes construo de polticas pblicas e rgos dirigentes da Educao Fsica. Desenvolver uma reflexo crtica sistemtica sobre problemas organizacionais do sistema escolar brasileiro no mbito da Educao Fsica Estimular a pesquisa dos dispositivos legais que fundamentam o sistema escolar brasileiro, especialmente queles relacionados ao campo da Educao Fsica Escolar. Contedo Programtico As demandas para o mundo da educao e o papel do estado; A poltica educacional brasileira numa perspectiva histrica; Polticas pblicas e organizao da educao bsica;

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Sistema escolar brasileiro o estudo da estrutura administrativa do sistema escolar, os rgos competentes e seu relacionamento a nvel federal, estadual e municipal; Legislao educacional brasileira: A Educao e o Desporto na Constituio Federal; estudo contextual da LDB (lei 9394/96); Legislao Especfica da Educao Fsica Escolar. Metodologia

Aulas expositivas Discusso de textos a partir de leituras individuais e/ou coletivas Elaborao de esquemas, fichamentos, resumos e resenhas sobre textos trabalhados. Apresentao de seminrios Produo de trabalhos individuais e/ou coletivos

Avaliao Pontualidade e assiduidade Participao nas discusses e nos trabalhos coletivos Seminrios Trabalhos individuais e/ou coletivos Avaliao individual de conhecimentos

Bibliografia AZANHA, J. M. P. Planos e Polticas de Educao no Brasil. Alguns pontos de reflexo. In: Estrutura e Funcionamento da Educao Bsica. So Paulo: Ed. Pioneira, 2001. BRASIL. Constituio: Repblica Federativa do Brasil. Captulo III e Atos das Disposies Transitrias com a Incorporao da Emenda 14. Braslia: Senado Federal, Centro Grfico, 1988. ___________. Ministrio da Educao. Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional. Lei N 9.394/96. So Paulo: Ed. Saraiva, 1998. CASTELANI, F. L. Poltica Educacional e Educao Fsica. Campinas, SP: Ed. Autores Associados, 1998. GADOTI & Colaboradores. Perspectivas Atuais da Educao. Porto Alegre: Ed. Artmed, 2000. Lei N 9.304/96. Poltica Nacional de Educao. LUCENA, R. Quando a Lei Regra: Um estudo da legislao da Educao Fsica Escolar Brasileira. Vitria: Ufes. Centro de Educao Fsica e desporto, 1994. POLTICAS pblicas: Educao Fsica, esporte e lazer. Revista Brasileira de Cincias do Esporte. Campinas, 2003. TEIXEIRA, O. Caminhos para uma poltica esportiva no Brasil. In. Manoel Jos Tobino. Repensando o Esporte Brasileiro. So Paulo: Ed. Ibrasa, 1988.

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UNIDADE I

1. AS POLTICAS PBLICAS EM EDUCAO: ASPECTOS INTRODUTRIOS NUMA ABORDAGEM SCIO-FILOSFICA

1.1 Educao? Educaes? Seja bem-vindo(a) disciplina Polticas Pblicas em Educao e Educao Fsica. Esta disciplina integra a base curricular e terica do Curso de Habilitao em Educao Fsica da universidade Estadual Vale do Acara UVA, atravs do Instituto Dom Jos de Educao e Cultura, Campus Avanado da Cidade de Quixeramobim Cear. Esta apostila elaborada pelo professor Antnio Martins de Almeida Filho compreender uma srie de reflexes em torno de questionamentos acerca da educao universal e principalmente da educao brasileira. Abordar contedos relevantes pra a formao profissional e, ao mesmo tempo, ser ponte para o estudo de outras disciplinas contidas no currculo acadmico, em especial para a formao dos novos educadores fsicos e reas afins, propiciando uma ampla compreenso, preparao humana e acadmica dos futuros profissionais integrantes desta Universidade. Identificaremos e analisaremos os fundamentos tericos, histricos, sociais, filosficos e as polticas publicas voltada para a educao, com foco na educao fsica escolar. Alguns de vocs j so professores, educadores fsicos e outros esto se preparando para isso. Todos juntos vo construir e reconstruir conceitos, atitudes, habilidades e valores imprescindveis atuao como profissionais de educao, conscientes de seu papel pedaggico, poltico e social. Diante das consideraes anteriores vamos iniciar o aprofundamento dos contedos programticos propostos para esta disciplina.Aprender e ensinar - Ningum ignora tudo. Ningum sabe tudo. Todos ns sabemos alguma coisa. Todos ns ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre. (PAULO FREIRE. Pedagogia da Autonomia. P. 34. 1998).

Segundo Ghiraldelli Jr. (2003, p. 1), a palavra educao foi derivada, de duas palavras do latim: educere, que significa conduzir de fora, dirigir exteriormente, e educare que significa sustentar, alimentar, criar. Ningum escapa da educao. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, todos ns envolvemos pedaos da vida com ela: para aprender, para ensinar, para aprender e ensinar. Para saber, para fazer ou para conviver com uma ou com vrias: Educao? Educaes? Presente em todos os espaos, de diferentes formas, nos diferentes contextos, a educao invade nossas vidas. Nessa perspectiva, sempre achamos que temos alguma coisa a dizer sobre educao. Assim, iniciamos nossa reflexo com o que alguns ndios, certa vez, escreveram:

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H muitos anos, nos Estados Unidos, os estados da Virgnia e Maryland assinaram um tratado de paz com os ndios das Seis Naes. Sabendo que as promessas e os smbolos da educao sempre foram muito adequados em momentos solenes como aquele, logo depois dos termos do tratado serem assinados, os governantes americanos mandaram cartas aos ndios convidando-os para que enviassem alguns dos seus jovens s escolas dos brancos. Os chefes indgenas responderam agradecendo e recusando. Veja, abaixo, alguns trechos da justificativa.... Ns estamos convencidos, portanto, que os senhores desejam o bem para ns e agradecemos de todo o corao. Mas daqueles que so sbios reconhecem que diferentes naes tm concepes diferentes das coisas e, sendo assim, os senhores no ficaro ofendidos ao saber que a vossa idia de educao no a mesma que a nossa. ... Muitos dos nossos bravos guerreiros foram formandos nas escolas do Norte e aprenderam toda a vossa cincia. Mas, quando eles voltaram para ns, eles eram maus corredores, ignorantes da vida da floresta e incapazes de suportarem o frio e a fome. No sabiam como caar o veado, matar o inimigo e construir uma cabana, e falavam a nossa lngua muito mal. Eles eram, portanto, totalmente inteis. No serviam como guerreiros, como caadores ou como conselheiros. Ficamos extremamente agradecidos pela vossa oferta e, embora no possamos aceit-la, para mostrar a nossa gratido, oferecemos aos nobres senhores que nos enviem alguns dos seus jovens, que lhes ensinaremos tudo o que sabemos e faremos, deles, homens.(BRANDO, 1998, p.18-19)

Essa carta acabou conhecida porque, alguns anos mais tarde, Benjamim Franklin adotou o costume de divulg-la. A carta dos ndios que vocs acabaram de ler apresenta algumas das questes importantes que vm sendo objeto de estudo, reflexo e discusso de pesquisadores/as e educadores/as. Benjamin Franklin (1706-1790) Franklin tornou-se o primeiro Postmaster General (ministro dos correios) dos Estados Unidos da Amrica. Foi um jornalista, editor, autor, filantropo, abolicionista, funcionrio pblico, cientista, diplomata e inventor estadunidense, que foi tambm um dos lderes da Revoluo Americana, e muito conhecido pelas suas muitas citaes e pelas experincias com a eletricidade. Um homem religioso, calvinista, ao mesmo tempo uma figura representativa do Iluminismo.

1.2 Ser que h uma forma nica, um nico modelo de educao? Acreditamos que no. Aprende-se e ensina-se em todos os lugares. Nesse sentido, a escola no o nico espao educacional; o ensino escolar no a sua nica prtica e o professor no o nico praticante. Parafraseando (MCLUHAN, 1964), estamos vendo que chegar o dia e talvez este j seja uma realidade em que nossas crianas aprendero muito mais e com maior rapidez em contato com o mundo exterior do que no recinto da escola. Isso ns j podemos observar no cotidiano. Uma vez que j assistimos a jovens e adultos que nos perguntam: Por que retornar escola e deter minha educao? Este questionamento feito por jovens que interrompem prematuramente seus estudos. Parece uma pergunta arrogante, mas como nos diz o autor acerta no alvo: o meio urbano poderoso explode de energia e de uma massa de informaes diversas, insistentes, irreversveis.

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A Educao, entendida como construo coletiva de produo do conhecimento, da ao social, busca intencional de sentidos e significados, dilogo e interao, perpassa todas as prticas sociais. Em casa, na rua, na igreja, no sindicato, no clube, de um modo ou de muitos, todos ns envolvemos pedaos da vida com ela: para fazer, para saber, para ensinar, para ser ou conviver. Mas a educao (o processo educativo) carece de definies quanto s suas finalidades e caminhos usados na sua concretizao, conforme as opes que se faam quanto ao tipo de homem/mulher ser que se quer formar, que tipo de sociedade se deseja e se quer construir. Nesse sentido, a educao, conceitualmente e na prtica, passa a sofrer as diversas influncias das diferentes foras sociais e polticas que a percebem como objeto de poder e das Ideologias. Passa ento a ser um instrumento fundamental no campo das disputas polticas e das intenes ideolgicas. Ideologia - De acordo com os escritos de Karl Marx, aquele sistema ordenado de normas e de regras (com base no qual as leis jurdicas so feitas) que obriga os homens a comportarem-se segundo as vontades do sistema, mas como se estivessem se comportando segundo a sua prpria vontade. Ou seja, o homem est sendo manobrado e explorado e na se percebe como tal, aceita passivamente sem nenhum questionamento.

1.3 E por que essa disputa ideolgica e scio-poltica acontece? Porque, quando homens e mulheres tm acesso educao, a um tipo de educao e ao conhecimento podem desvendar os motivos das desigualdades. Bem informados, podemos reivindicar e exigir nossos direitos em todos os espaos sociais: na famlia, na escola, no mercado, no nibus, nos servios de sade. Enfim, em todos os espaos sociais nos quais estamos inseridos. Podemos ainda mais, quando qualificarmos melhor nossa participao nos espaos sociais de deciso: conselhos escolares, associao de moradores, sindicatos, partidos polticos, igreja etc. A socializao deste conhecimento e deste saber no interessa classe dirigente que ns tenhamos acesso. Isso pode se tornar perigoso, libertar o homem de sua prpria conscincia d-lo ferramentas para que ele venha a ser ativo e participativo. Esse conhecimento no interessa a todos, afinal, quando no sabemos, podemos ser manipulados. O saber liberta o homem da ignorncia e uma vez liberto desta ignorncia o homem levado a questionar, a participar, a reivindicar. esse entendimento que vamos aprofundar ao longo da leitura dos diferentes conceitos e do contexto histrico em que foram elaborados. As diferentes concepes e teorias, ao longo da histria, tm focado a Educao com nfase, ora no conhecimento, ora nos mtodos de ensino, ora no aluno, ora no educador, ora em ambos. Essas diferentes formas de pensar trouxeram e trazem conseqncias diversas em cada momento histrico, para os grupos hegemnicos de cada sociedade e todas se revestem de uma intencionalidade, de objetivos, que exercem forte influncia sobre nosso jeito de fazer Educao e no modo como nos organizamos socialmente. Voc perceber que o Conceito de Educao no consenso, ao contrrio, abrange uma diversidade significativa de concepes e correntes de pensamento, que esto relacionadas

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diretamente ao perodo histrico, ao movimento social, econmico, cultural, poltico nacional e internacional. Quer conhecer o que alguns pensadores e educadores dizem sobre o que educao e qual o seu papel social, poltico e cultural? Ento preste ateno s idias, que lhe apresentaremos logo a seguir, que foram ou so fundamentos para as prticas pedaggicas, que veremos mais profundamente em outros trechos do nosso percurso. Vamos iniciar conhecendo o pensamento de mile Durkheim, para quem a Educao essencialmente o processo pelo qual aprendemos a ser membros da sociedade. Educao socializao! uma iluso acreditar que podemos educar nossos filhos como queremos. E, afirma que existem certos costumes, regras que precisam e devem ser obrigatoriamente transmitido no processo educacional, gostemos ou no deles. mile Durkheim (1858 - 1917), socilogo francs, positivista, viveu em um rico e conturbado momento histrico: de um lado, a Revoluo Francesa, e de outro, a Revoluo Industrial. Bebeu na fonte do pensamento de Auguste Comte (1798 - 1857), pai do Positivismo e filho do Iluminismo que enfatizava a razo e a cincia como formas de explicar o universo. Para Durkheim, a tarefa da educao era buscar solues para a crise da burguesia do final de sculo XIX, que lutava para continuar como detentora do poder poltico e econmico.

Seu pensamento refletia diferentes educaes. Cada casta, classes ou grupo social deveria ter sua prpria educao para adequar cada um a seus meios especficos de vida, ou seja, aqueles que nascessem pobres deveriam adaptar-se sua realidade, e aqueles que nascessem ricos deveriam adaptar-se sua condio e, assim, cada um desempenharia o seu papel social de forma harmoniosa. Suas idias influenciaram grandemente as correntes pedaggicas at os dias atuais. Outro importante pensador, Karl Marx, dizia que a educao diretamente relacionada aos interesses de classe. Conforme o contedo de classe ao qual estiver exposta, ela pode ser uma educao para a alienao ou para a emancipao. Karl Marx (1818 - 1883), intelectual alemo, considerado um dos fundadores da Sociologia, mas, que contribuiu com vrias outras reas: filosofia, economia, histria. Elaborou, em parceria com Friedrich Engels (1820-1895) tambm filsofo alemo, a Doutrina dos tericos do Socialismo Cientfico ou Marxismo e escrevem juntos o Manifesto Comunista, historicamente um dos tratados polticos de maior influncia mundial, publicado pela primeira vez em 21/02/1848, em que os autores partem de uma anlise histrica, distinguindo as vrias formas de opresso social durante os sculos e situa na burguesia moderna como nova classe opressora, que super-valoriza a liberdade econmica em detrimento das relaes pessoais e sociais, assim tratando o operrio como uma simples pea de trabalho que o deixa completamente desmotivado e contribuindo para a sua miserabilidade e coisificao.

O professor Tosi Rodrigues (2002) coloca que Marx, a partir de seus estudos sobre as conseqncias da Revoluo Industrial, na vida dos trabalhadores ingleses, concluiu que o tipo de educao dado s crianas operrias era to precrio que s poderia servir para perpetuar as relaes de opresso s quais as crianas e seus pais estavam sujeitos. Segundo relato citado por Marx, em seu livro sobre a realidade de uma das escolas que visitou, a sala de aula tinha 15 ps de comprimento por 10 ps de largura e continha 75 crianas que grunhiam algo ininteligvel (...) Alm disso, o mobilirio escolar era pobre, faltavam livros e material de ensino e uma atmosfera viciada e ftida exercia efeito deprimente sobre as infelizes crianas. Estive

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em muitas dessas escolas e nelas vi filas inteiras de crianas que no faziam absolutamente nada, e a isso se d o atestado de freqncia escolar; e a esses meninos figuram na categoria de instrudos de nossas estatsticas oficiais (O Capital, 1968, Vol. 1, Livro 1). Os estudos de Marx tiveram e tm uma forte influncia nas idias pedaggicas no mundo e aqui no Brasil. Dessa corrente de pensamento sociolgico, decorre as chamadas pedagogias crticas, que estudaremos mais adiante. Seguindo a coerncia em nossa linha de raciocnio encontramos na Frana o pensamento de Durkheim, depois, na Alemanha onde encontramos Marx. Agora, seguindo a coerncia cronolgica da histria, vamos conhecer outro importante pensador na Sua e, logo em seguida, voltaremos ao Brasil. Jean-Jaques Rousseau afirmava que nascemos fracos, precisamos de fora; nascemos desprovidos de tudo, temos necessidade de assistncia; nascemos estpidos, precisamos de juzo. Tudo que no temos ao nascer e de que precisamos, quando adultos, nos transmitido pela educao. Seria, para ele, a educao responsvel pela formao do cidado em todos os sentidos. Pois acreditava que o homem nasce bom, mas a sociedade o perverte.

Jean-Jaques Rousseau (1712 - 1978), filsofo e escritor suo, foi uma das principais inspiraes ideolgicas da segunda fase da Revoluo Francesa: inspirou fortemente os revolucionrios, que defendiam o princpio da soberania popular e da igualdade de direitos. Apontava a desigualdade e a injustia como frutos da competio e da hierarquia mal constituda. Segundo suas idias, o grande objetivo do governo deveria ser assegurar liberdade, igualdade e justia para todos, independentemente da vontade da maioria. Estudioso da filosofia da educao enalteceu a educao natural, defendendo um acordo livre entre o mestre e o aluno. Seu trabalho se tornou a diretriz das correntes pedaggicas nos sculos seguintes. Lanou sua filosofia, no somente atravs de escritos filosficos formais, mas tambm de romances, cartas e de sua autobiografia. Aps conhecer os principais acontecimentos scio-filosficos que nortearam as correntes e concepes de pensamentos do mundo vamos conhecer as influncias destes pensamentos no Brasil.

1.4 Influncias destes pensamentos filosficos no Brasil Vamos conhecer os liberais e suas idias sobre a educao, que eram defendidas com um grande otimismo pedaggico: eles queriam reconstruir a sociedade por meio da educao (GADOTTI, 1993). Vocs j ouviram falar dos liberais? Se no, prestem ateno. Era um grupo de intelectuais profundamente enraizados na classe burguesa, que defendiam e justificavam o modelo econmico da poca, que privilegiavam alguns, em detrimento da maioria. Defendiam, apenas, alteraes no como ensinar, e no, no modelo de educao excludente. Para os Liberais, o homem produto do meio; ele e sua conscincia se formam em suas relaes acidentais, que podem e devem ser controladas pela educao, a qual deve trabalhar para a manuteno da ordem vigente, atuando diretamente com o sistema produtivo. O objetivo primeiro da educao produzir indivduos competentes para o mercado de trabalho, transmitindo eficientemente informaes precisas, objetivas e rpidas. (LBANEO, 1989).

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Parafraseando Paulo Freire, a educao o fator mais importante para se alcanar a felicidade. O autor destacava ainda em seus escritos a educao como ao de conhecimento, como ato poltico, como direito de cidadania e, nesse sentido, o conhecimento, como construo social. Ainda segundo o autor, ningum educa ningum, ningum educa a si mesmo, as pessoas se educam entre si, mediatizadas pelo mundo. (2002 p.68). Paulo Freire: Biografia resumida - O caminho de um Educador. Nasceu em Recife em 1921 e faleceu em 1997. considerado um dos grandes educadores da atualidade e respeitado mundialmente. Publicou vrias obras que foram traduzidas e comentadas em vrios pases. Suas primeiras experincias educacionais foram realizadas em 1962 em Angicos, no Rio Grande do Norte, onde 300 trabalhadores rurais se alfabetizaram em 45 dias. Participou ativamente do MCP (Movimento de Cultura Popular) do Recife.

Suas atividades so interrompidas com o golpe militar de 1964, que determinou sua priso. Exila-se por 14 anos no Chile e posteriormente vive como cidado do mundo. Com sua participao, o Chile, recebe uma distino da UNESCO, por ser um dos pases que mais contriburam poca, para a superao do analfabetismo. Em 1970, junto a outros brasileiros exilados, em Genebra, Sua, cria o IDAC (Instituto de Ao Cultural), que assessora diversos movimentos populares, em vrios locais do mundo. Retornando do exlio, Paulo Freire continua com suas atividades de escritor e debatedor, assume cargos em universidades e ocupa, ainda, o cargo de Secretrio Municipal de Educao da Prefeitura de So Paulo, na gesto da Prefeita Luisa Erundina. Algumas de suas principais obras: Educao como Prtica de Liberdade, Pedagogia do Oprimido, Cartas Guin Bissau, Vivendo e Aprendendo, A importncia do ato de ler, Pedagogia da Autonomia.

Freire (1997), tambm nos ensina que a educao no neutra, ao contrrio, um dos instrumentos capazes de: garantir aos cidados o atendimento s necessidades que permitem o seu desenvolvimento integral, que possibilita a integrao entre o pensar e o agir, porque quando o pensar privado de realidade e o agir, de sentido, ambos ficam sem significado. Caso contrrio, podemos reproduzir uma educao que se coloca como mera transmissora de informaes descontextualizadas historicamente, sem autor, sem intencionalidade clara e privada de sentido, a que o autor denominou de educao bancria. Minha presena no mundo no a de quem nele se adapta, mas de quem nele se insere. a posio de quem luta para no ser apenas objeto, mas sujeito tambm da histria. (FREIRE, 1983, p. 57). Sendo assim, educar construir, libertar o homem do determinismo, passando a reconhecer o seu papel na Histria e onde a questo da identidade cultural, tanto em sua dimenso individual, como em relao classe dos educandos essencial prtica pedaggica libertadora. Sem respeitar essa identidade, sem autonomia, sem levar em conta as experincias vividas pelos educandos antes de chegarem escola, o processo ser inoperante, somente meras palavras despidas de significao real. Temos que lutar por uma educao dialgica, pois s assim se pode estabelecer a verdadeira comunicao da aprendizagem entre seres constitudos de alma, prazer, sentimentos. Em seus escritos, Freire destaca o ser humano como um ser autnomo, livre, criativo, ativo, capaz de significar e ressignificar suas aes. Essa autonomia est presente na definio de vocao ontolgica de ser mais que est associada capacidade de transformar o mundo. exatamente a que o homem se diferencia do animal. Afinal, animal no tem histria.

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1.5 Educao? Educaes? Educar?

Vamos conhecer uma pequena parte do relatrio da UNESCO de 1996, sobre educao, e seguir, conhecendo Educao/Educaes. Segundo Moran, (2000, p. 3), educar: colaborar para que professores e alunos nas escolas e organizaes transformem suas vidas em processos permanentes de aprendizagem. ajudar os alunos na construo de sua identidade, do seu caminho pessoal e profissional do seu projeto de vida, no desenvolvimento das habilidades de compreenso, emoo, comunicao que lhes permitam encontrar seus espaos pessoais, sociais e profissionais e tornarem-se cidado realizados e produtivos.

No relatrio da UNESCO, organizado e escrito pelo francs Jacques Delors, intitulado: Educao um tesouro a descobrir, de 1996, a Educao precisa de uma concepo mais ampla, ou seja:Uma concepo ampliada de educao deveria fazer com que todos pudessem descobrir, reanimar e fortalecer o seu potencial criativo revelar o tesouro escondido em cada um de ns. Isso supe que se ultrapasse a viso puramente instrumental da educao considerada a via obrigatria para obter certos resultados (saber-fazer, aquisio de capacidades diversas, fins de ordem econmica), e se passe a consider-la em toda a sua plenitude: realizao da pessoa que, na sua totalidade, aprende a ser (DELORS, 2003, p. 90).

As diferentes concepes de educao tm reflexos profundos em nosso cotidiano. Como voc deve ter percebido, todos ns temos memria, uns mais, outros menos, da infinidade de informaes que recebemos ao longo de nossas vidas como estudantes. Muitos de ns estudamos em escolas que reproduziam informaes e conhecimentos, e ns no sabamos para que serviriam, nem imaginvamos quem produziu esse conhecimento, nem em que contexto histrico. No vamos sentido para os contedos, que eram apenas para ser decorados e para que respondssemos questes dos questionrios, das provas, que depois esquecamos a educao bancria. No queremos dizer com isso que informao/ conhecimento no importante, ao contrrio, tm importncia e significam poder. A esse respeito, o cientista poltico, americano Emir Sader, indagou em sua palestra proferida no Frum Mundial da Educao (2003): se o conhecimento no serve para inserir os homens de forma consciente na sociedade, para que serve ento? (...) o excesso de informao existente hoje disseminada, porm descontextualizada e sem histria, sem o conhecimento de quem a produziu, vem banalizando o processo educacional e fragmentando o saber, colaborando para a produo de um novo tipo de analfabetismo.

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UNIDADE II

HISTRIA DA EDUCAO NO BRASIL - Jos Luiz de Paiva Bello. Rio de Janeiro, 1998

PERIODO COLONIAL (1500 1549) . A Histria da Educao Brasileira no uma Histria difcil de ser estudada e compreendida. Ela evolui em rupturas marcantes e fceis de serem observadas. A primeira grande ruptura travou-se com a chegada mesmo dos portugueses ao territrio do Novo Mundo. No podemos deixar de reconhecer que os portugueses trouxeram um padro de educao prprio da Europa, o que no quer dizer que as populaes que por aqui viviam j no possuam caractersticas prprias de se fazer educao. E convm ressaltar que a educao que se praticava entre as populaes indgenas no tinha as marcas repressivas do modelo educacional europeu. Num programa de entrevista na televiso o indigenista Orlando Villas Boas contou um fato observado por ele numa aldeia Xavante que retrata bem a caracterstica educacional entre os ndios: Orlando observava uma mulher que fazia alguns potes de barro. Assim que a mulher terminava um pote seu filho, que estava ao lado dela, pegava o pote pronto e o jogava ao cho quebrando. Imediatamente ela iniciava outro e, novamente, assim que estava pronto, seu filho repetia o mesmo ato e o jogava no cho. Esta cena se repetiu por sete potes at que Orlando no se conteve e se aproximou da mulher Xavante e perguntou por que ela deixava o menino quebrar o trabalho que ela havia acabado de terminar. No que a mulher ndia respondeu: "- Porque ele quer." Podemos tambm obter algumas noes de como era feita a educao entre os ndios na srie Xingu, produzida pela extinta Rede Manchete de Televiso. Neste seriado podemos ver crianas indgenas subindo nas estruturas de madeira das construes das ocas, numa altura inconcebivelmente alta. Quando os jesutas chegaram por aqui eles no trouxeram somente a moral, os costumes e a religiosidade europia; trouxeram tambm os mtodos pedaggicos. Este mtodo funcionou absoluto durante 210 anos, de 1549 a 1759, quando uma nova ruptura marca a Histria da Educao no Brasil: a expulso dos jesutas por Marqus de Pombal. Se existia alguma coisa muito bem estruturada em termos de educao o que se viu a seguir foi o mais absoluto caos. Tentou-se as aulas rgias, o subsdio literrio, mas o caos continuou at que a Famlia Real, fugindo de Napoleo na Europa, resolve transferir o Reino para o Novo Mundo. Na verdade no se conseguiu implantar um sistema educacional nas terras brasileiras, mas a vinda da Famlia Real permitiu uma nova ruptura com a situao anterior. Para preparar terreno para sua estadia no Brasil D. Joo VI abriu Academias Militares, Escolas de Direito e Medicina, a Biblioteca Real, o Jardim Botnico e, sua iniciativa mais marcante em termos de mudana, a Imprensa Rgia. Segundo alguns autores o Brasil foi finalmente "descoberto" e a nossa Histria passou a ter uma complexidade maior.

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A educao, no entanto, continuou a ter uma importncia secundria. Basta ver que enquanto nas colnias espanholas j existiam muitas universidades, sendo que em 1538 j existia a Universidade de So Domingos e em 1551 a do Mxico e a de Lima, a nossa primeira Universidade s surgiu em 1934, em So Paulo. Por todo o Imprio, incluindo D. Joo VI, D. Pedro I e D. Pedro II, pouco se fez pela educao brasileira e muitos reclamavam de sua qualidade ruim. Com a Proclamao da Repblica tentou-se vrias reformas que pudessem dar uma nova guinada, mas se observarmos bem, a educao brasileira no sofreu uma processo de evoluo que pudesse ser considerado marcante ou significativo em termos de modelo. At os dias de hoje muito tem se mexido no planejamento educacional, mas a educao continua a ter as mesmas caractersticas impostas em todos os pases do mundo, que a de manter o "status quo" para aqueles que freqentam os bancos escolares. Concluindo podemos dizer que a Educao Brasileira tem um princpio, meio e fim bem demarcado e facilmente observvel. E isso que tentamos passar nesta Home Page. Cada pgina representa um perodo da educao brasileira cuja diviso foi baseada nos perodos que podem ser considerados como os mais marcantes e os que sofreram as rupturas mais concretas na nossa educao. Est dividida em texto e cronologia, sendo que o texto refere-se ao mesmo perodo da Cronologia. A cronologia baseada na Linha da Vida ou Faixa do Tempo montessoriana. Neste mtodo feita uma relao de fatos histricos em diferentes vises. No nosso caso realamos fatos da Histria da Educao no Brasil, fatos da prpria Histria do Brasil, que no dizem respeito direto educao, fatos ocorridos na educao mundial e fatos ocorridos na Histria do Mundo como um todo. Estes perodos foram divididos a partir das concepes do autor em termos de importncia histrica. Se considerarmos a Histria como um processo em eterna evoluo no podemos considerar este trabalho como terminado.

PERODO JESUTICO (1549 - 1759) A Companhia de Jesus foi fundada por Incio de Loiola e um pequeno grupo de discpulos, na Capela de Montmartre, em Paris, em 1534, com objetivos catequticos, em funo da Reforma Protestante e a expanso do luteranismo na Europa. Os primeiros jesutas chegaram ao territrio brasileiro em maro de 1549 juntamente com o primeiro governadorgeral, Tome de Souza. Comandados pelo Padre Manoel de Nbrega, quinze dias aps a chegada edificaram a primeira escola elementar brasileira, em Salvador, tendo como mestre o Irmo Vicente Rodrigues, contando apenas 21 anos. Irmo Vicente tornouse o primeiro professor nos moldes europeus e durante mais de 50 anos dedicouse ao ensino e a propagao da f religiosa. O mais conhecido e talvez o mais atuante foi o novio Jos de Anchieta, nascido na Ilha de Tenerife e falecido na cidade de Reritiba, atual Anchieta, no litoral sul do Estado do Esprito Santo, em 1597. Anchieta tornouse mestreescola do Colgio de Piratininga; foi missionrio em So Vicente,

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onde escreveu na areia os "Poemas Virgem Maria" (De beata virgine Dei matre Maria), missionrio em Piratininga, Rio de Janeiro e Esprito Santo; Provincial da Companhia de Jesus de 1579 a 1586 e reitor do Colgio do Esprito Santo. Alm disso foi autor da Arte de gramtica da lngua mais usada na costa do Brasil. No Brasil os jesutas se dedicaram a pregao da f catlica e ao trabalho educativo. Perceberam que no seria possvel converter os ndios f catlica sem que soubessem ler e escrever. De Salvador a obra jesutica estendeuse para o sul e em 1570, vinte e um anos aps a chegada, j era composta por cinco escolas de instruo elementar (Porto Seguro, Ilhus, So Vicente, Esprito Santo e So Paulo de Piratininga) e trs colgios (Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia). Todas as escolas jesutas eram regulamentadas por um documento, escrito por Incio de Loiola, o Ratio atque Instituto Studiorum, chamado abreviadamente de Ratio Studiorum. Os jesutas no se limitaram ao ensino das primeiras letras; alm do curso elementar eles mantinham os cursos de Letras e Filosofia, considerados secundrios, e o curso de Teologia e Cincias Sagradas, de nvel superior, para formao de sacerdotes. No curso de Letras estudavase Gramtica Latina, Humanidades e Retrica; e no curso de Filosofia estudavase Lgica, Metafsica, Moral, Matemtica e Cincias Fsicas e Naturais. Os que pretendiam seguir as profisses liberais iam estudar na Europa, na Universidade de Coimbra, em Portugal, a mais famosa no campo das cincias jurdicas e teolgicas, e na Universidade de Montpellier, na Frana, a mais procurada na rea da medicina. Com a descoberta os ndios ficaram merc dos interesses aliengenas: as cidades desejavam integrlos ao processo colonizador; os jesutas desejavam convertlos ao cristianismo e aos valores europeus; os colonos estavam interessados em uslos como escravos. Os jesutas ento pensaram em afastar os ndios dos interesses dos colonizadores e criaram as redues ou misses, no interior do territrio. Nestas Misses, os ndios, alm de passarem pelo processo de catequizao, tambm so orientados ao trabalho agrcola, que garantiam aos jesutas uma de suas fontes de renda. As Misses acabaram por transformar os ndios nmades em sedentrios, o que contribuiu decisivamente para facilitar a captura deles pelos colonos, que conseguem, s vezes, capturar tribos inteiras nestas Misses. Os jesutas permaneceram como mentores da educao brasileira durante duzentos e dez anos, at 1759, quando foram expulsos de todas as colnias portuguesas por deciso de Sebastio Jos de Carvalho, o marqus de Pombal, primeiro-ministro de Portugal de 1750 a 1777. No momento da expulso os jesutas tinham 25 residncias, 36 misses e 17 colgios e seminrios, alm de seminrios menores e escolas de primeiras letras instaladas em todas as cidades onde havia casas da Companhia de Jesus. A educao brasileira, com isso, vivenciou uma grande ruptura histrica num processo j implantado e consolidado como modelo educacional.

POMBALINO (1760 1807) Com a expulso saram do Brasil 124 jesutas da Bahia, 53 de Pernambuco, 199 do Rio de Janeiro e 133 do Par. Com eles levaram tambm a organizao monoltica baseada no Ratio Studiorum. Pouca coisa restou de prtica educativa no Brasil. Continuaram a funcionar o Seminrio episcopal, no Par, e os Seminrios de So Jos e So Pedro, que no se encontravam sob a jurisdio jesutica; a Escola de Artes e Edificaes Militares, na Bahia; e a Escola de Artilharia, no Rio de Janeiro.

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Os jesutas foram expulsos das colnias por Sebastio Jos de Carvalho e Melo, o Marqus de Pombal, primeiro-ministro de Portugal de 1750 a 1777, em funo de radicais diferenas de objetivos. Enquanto os jesutas preocupavam-se com o proselitismo e o noviciado, Pombal pensava em reerguer Portugal da decadncia que se encontrava diante de outras potncias europias da poca. A educao jesutica no convinha aos interesses comerciais emanados por Pombal. Ou seja, se as escolas da Companhia de Jesus tinham por objetivo servir aos interesses da f, Pombal pensou em organizar a escola para servir aos interesses do Estado. Atravs do alvar de 28 de junho de 1759, ao mesmo tempo em que suprimia as escolas jesuticas de Portugal e de todas as colnias, Pombal criava as aulas rgias de Latim, Grego e Retrica. Criou tambm a Diretoria de Estudos que s passou a funcionar aps o afastamento de Pombal. Cada aula rgia era autnoma e isolada, com professor nico e uma no se articulava com as outras. Portugal logo percebeu que a educao no Brasil estava estagnada e era preciso oferecer uma soluo. Para isso instituiu o "subsdio literrio" para manuteno dos ensinos primrio e mdio. Criado em 1772 era uma taxao, ou um imposto, que incidia sobre a carne verde, o vinho, o vinagre e a aguardente. Alm de exguo, nunca foi cobrado com regularidade e os professores ficavam longos perodos sem receber vencimentos a espera de uma soluo vinda de Portugal. Os professores eram geralmente mal preparados para a funo, j que eram improvisados e mal pagos. Eram nomeados por indicao ou sob concordncia de bispos e se tornavam "proprietrios" vitalcios de suas aulas rgias. De todo esse perodo de "trevas" sobressaram-se a criao, no Rio de Janeiro, de um curso de estudos literrios e teolgicos, em julho de 1776, e do Seminrio de Olinda, em 1798, por Dom Azeredo Coutinho, governador interino e bispo de Pernambuco. O Seminrio de Olinda "tinha uma estrutura escolar propriamente dita, em que as matrias apresentavam uma sequncia lgica, os cursos tinham uma durao determinada e os estudantes eram reunidos em classe e trabalhavam de acordo com um plano de ensino previamente estabelecido" (Piletti, 1996: 37). O resultado da deciso de Pombal foi que, no princpio do sculo XIX (anos 1800...), a educao brasileira estava reduzida a praticamente nada. O sistema jesutico foi desmantelado e nada que pudesse chegar prximo deles foi organizado para dar continuidade a um trabalho de educao. Esta situao somente sofreu uma mudana com a chegada da famlia real ao Brasil em 1808.PRECE Senhor, a noite veio e a alma vil. Tanta foi a tormenta e a vontade! Restam-nos hoje, no silncio hostil, O mar universal e a saudade. Mas a chama, que a vida em ns criou, Se ainda h vida ainda no finda. O frio morto em cinzas a ocultou: A mo do vento pode ergu-la ainda. D o sopro, a aragem --ou desgraa ou nsia-Com que a chama do esforo se remoa, E outra vez conquistaremos a Distncia -Do mar ou outra, mas que seja nossa! - Fernando Pessoa

PombaI foi fortemente influenciado pelos ideais iluministas, no entanto o iluminismo portugus apresenta algumas peculiaridades que o diferenciam do modelo encontrado nas demais reaes

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europias (Frana, Inglaterra, Alemanha). Todavia, apesar de reconhecer as peculiaridades presentes em cada nao, foi sempre um programa pedaggico, uma atitude crtica preocupada com os problemas sociais e com as intenes de reformulao das instituies e da cultura social.Pombal, o Marqus que mandava e desmandava Poemas de Cordel - Walter Medeiros - Natal - Rio Grande do Norte A histria da humanidade Tem muito para se ver E agora eu vou dizer Com gosto e com verdade Para voc entender Os pru mode e os pru qu De uma vida de vaidade No campo e na Cidade Essa histria tem lugar Pra gente se situar Tem at a majestade Pois pode acreditar Tem coisa de arrepiar Por falta de caridade. Os fatos que vou narrar Tm muito tempo passado No fique impressionado Pode at se admirar Passaram-se num reinado De um pas abastado De cultura milenar. Eu falo de Portugal L no sculo dezoito Onde um homem bem afoito Que era Marqus de Pombal No gostava de biscoito Nem jogava de apoito O seu dinheiro real Ele era amigo do Rei Que se chamava Jos Maltratava at a f E tambm fazia lei Voc sabe como Ele s queria um p Para confrontar um frei Com aquela amizade Virou primeiro-ministro E num trabalho sinistro Mandava em toda a cidade Ali j tava bem visto Que ele mesmo sem ser Cristo Mandava mais que um abade No tempo em que ele viveu Era grande o despotismo Um tempo de terrorismo Sobre o povo se abateu

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Foram anos de sadismo Parecia um grande abismo Uma escurido de breu O marqus era sabido Tudo em volta dominava At na escolta mandava Pra cidado ou bandido Sua fama se espalhava E ele se credenciava Um dspota esclarecido. Mas no era s no reino Que o Pombal influa Ele tambm mandaria Sem precisar nem de treino Nas colnias portuguesas De olho em suas riquezas E nas especiarias. Ele mandou no Brasil Sua palavra era forte No sul e at no norte Seu mando repercutiu Ele era mesmo de morte Mudando at a sorte De quem chegou, pois partiu. Os jesutas, coitados, Que aos ndios ensinavam Seus idiomas usavam E foram escorraados Onde eles trabalhavam Ordens de Pombal chegavam E as portas se cerravam. Muitas escolas fechadas Fizeram um tempo infeliz No tinha mais aprendiz O marqus no aceitava Foi do jeito que ele quiz Aula nem mais na matriz O despotismo arrasava. Neste tempo os brasileiros Sofreram um grande atraso E no foi pequeno o prazo Pois passaram-se janeiros O marqus fez pouco caso Como quem esquece um vaso Que vale pouco dinheiro Mas foi aquele marqus Quem fez algo interessante Mesmo sendo arrogante Implantou o portugus Como idioma constante Pra o Brasil ser bem falante No contou nem at trs.

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Por outro lado Pombal S pensavam em ganhar E tratou de organizar Algo pro seu ideal Passou a negociar Para bem mais enricar s custas de Portugal. Mas os revezes da vida Pegam tambm quem ruim E com ele foi assim Acabou sua guarida Quando dom Jos morreu A rainha que sucedeu Era forte e destemida Dona Maria Primeira Ouviu a acusao E tomou satisfao Acabou a brincadeira Mesmo pedindo perdo Recebeu condenao Pro resto da vida inteira. Ele perdeu seu poder O patrimnio confiscado Deixou de ser aoitado Foi desterrado a valer Pra bem longe foi mandado E nunca mais o reinado Ele conseguiu rever Na distncia, abandonado Com um castigo muito mal Foi o marqus de Pombal Sofrer um tempo exilado Ficou ali e morreu Sem poder nem apogeu, Deu-se assim o seu final. Foi assim mesmo a histria Daquele rico marqus Eu agradeo a vocs Que hoje me do a glria De ter aqui minha vez Pr ler um cordel por ms Sobre derrota ou vitria.

PERODO JOANINO (1808 1821) Foi o perodo que marcou profundamente a vida poltica do Brasil, em decorrncia de razes polticas no outro lado do Atlntico. Portugal viu-se frente ao Bloqueio Continental imposto por Napoleo Bonaparte, no incio do sculo XIX. Esse evento forou a Famlia Real a fugir, com apoio da Inglaterra, para o Brasil. A administrao de D. Joo perdurou de 1808 a 1821, perodo conhecido como joanino.

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Em 1808, o governo imperial fez mudanas profundas na administrao e no sistema educacional vigentes. Foram criadas instituies para dar sustentao Corte. A criao da Imprensa Rgia (1808), da Biblioteca Pblica (1810), do Jardim Botnico do Rio (1810), do Museu Nacional (1818). No campo da imprensa, circulou o primeiro jornal (A Gazeta), a primeira revista (As Variaes ou Ensaios de Literatura, em 1812) e, em 1813, a primeira revista carioca, O Patriota (RIBEIRO, 1995: 40). Nesse contexto, surgiram os primeiros embries da educao superior formal no Brasil: foram criados os cursos de cirurgia e economia em Salvador, em 1810; a Academia Real Militar e o curso de agricultura, em 1812; o curso de qumica, em 1817; o curso de desenho tcnico, em 1818, a Escola de Serralheiros. Esses cursos no eram ministrados em universidades, at porque ainda no existiam; eram consideradas to-somente ctedras isoladas de ensino superior, que formavam profissionais para atender s necessidades do governo imperial. O ensino consistia em trs nveis distintos: primrio, secundrio e superior. Esse ltimo, sem dvida, foi o que teve maior ateno da Corte. importante ressaltar que a educao que se desenhou no Brasil durante o governo de D. Joo continha forte contedo ideolgico europeu e discriminativo no sentido de apenas formar quadros de profissionais importantes para as elites aristocrtica e da Corte, em detrimento das classes inferiores. Mas tudo isso se acomodava dentro de uma estrutura educacional que pressupunha liberdade e autonomia nas aes voltadas para as questes educacionais; pelo menos esse era o discurso da poca (ROMANELLI, 1998: 38-39). Em 1820, Portugal passava por mais uma experincia poltica; pretendia restabelecer a ordem, alterada quando a Famlia Real transferiu-se para o Brasil, em 1808. Segundo entendimento da sociedade portuguesa, foi um ato desfavorvel e prejudicial economia e soberania nacionais, uma vez que o Pas ficou nas mos dos ingleses. Dessa forma, os portugueses se organizaram e deram incio ao movimento denominado Revoluo do Porto ou Revoluo Liberal do Porto. Pretendiam, dentre outros aspectos, o imediato retorno da Corte para Portugal, como forma de restaurar o trono, a dignidade do povo portugus e a exclusividade de comrcio com o Brasil. Na verdade, esse movimento pretendia retomar o Brasil com o status de Colnia, praticamente perdido com a transferncia da Famlia Real, em 1808. Assim, em 24 de abril de 1821, D. Joo retorna a Portugal, deixando em seu lugar o filho, herdeiro natural do trono, D. Pedro (Prncipe Regente do Brasil), que deu continuidade ao processo de emancipao poltica do Brasil.

PERODO IMPERIAL (1822 - 1888) Para o professor Lauro de Oliveira Lima a vinda da Famlia Real representou a verdadeira "descoberta do Brasil" (Lima, [197_], 103). Ainda segundo o professor Lauro, "a 'abertura dos portos', alm do significado comercial da expresso, significou a permisso dada aos 'brasileiros' (madereiros de pau-brasil) de tomar conhecimento de que existia, no mundo, um fenmeno chamado civilizao e cultura" (Idem) Em 1820 o povo portugus mostra-se descontente com a demora do retorno da Famlia Real e inicia a Revoluo Constitucionalista, na cidade do Porto. Isto apressa a volta de D. Joo VI a Portugal em 1821. Em 1822, a 7 de setembro, seu filho D. Pedro I declara a Independncia do Brasil e, inspirada na Constituio francesa, de cunho liberal, em 1824 outorgada a primeira Constituio

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brasileira. O Art. 179 desta Lei Magna dizia que a "instruo primria e gratuita para todos os cidados". Em 1823, na tentativa de se suprir a falta de professores institui-se o Mtodo Lancaster, ou do "ensino mtuo", onde um aluno treinado (decurio) ensina um grupo de dez alunos (decria) sob a rgida vigilncia de um inspetor. Em 1826 um Decreto institui quatro graus de instruo: Pedagogias (escolas primrias), Liceus, Ginsios e Academias. E, em 1827 um projeto de lei prope a criao de pedagogias em todas as cidades e vilas, alm de prever o exame na seleo de professores, para nomeao. Propunha ainda a abertura de escolas para meninas. Em 1834 o Ato Adicional Constituio dispe que as provncias passariam a ser responsveis pela administrao do ensino primrio e secundrio. Graas a isso, em 1835, surge a primeira escola normal do pas em Niteri. Se houve inteno de bons resultados no foi o que aconteceu, j que, pelas dimenses do pas, a educao brasileira se perdeu mais uma vez, obtendo resultados pfios. Em 1880 o Ministro Paulino de Souza lamenta o abandono da educao no Brasil, em seu relatrio Cmara. Em 1882 Ruy Barbosa sugere a liberdade do ensino, o ensino laico e a obrigatoriedade de instruo, obedecendo as normas emanadas pela Maonaria Internacional. Em 1837, onde funcionava o Seminrio de So Joaquim, na cidade do Rio de Janeiro, criado o Colgio Pedro II, com o objetivo de se tornar um modelo pedaggico para o curso secundrio. Efetivamente o Colgio Pedro II no conseguiu se organizar at o fim do Imprio para atingir tal objetivo. At a Proclamao da Repblica, em 1889 praticamente nada se fez de concreto pela educao brasileira. O Imperador D. Pedro II quando perguntado que profisso escolheria no fosse Imperador, respondeu que gostaria de ser "mestre-escola". Apesar de sua afeio pessoal pela tarefa educativa, pouco foi feito, em sua gesto, para que se criasse, no Brasil, um sistema educacional.

PERODO DA PRIMEIRA REPBLICA (1889 - 1929) A Repblica proclamada adota o modelo poltico americano baseado no sistema presidencialista. Na organizao escolar percebe-se influncia da filosofia positivista. A Reforma de Benjamin Constant tinha como princpios orientadores a liberdade e laicidade do ensino, como tambm a gratuidade da escola primria. Estes princpios seguiam a orientao do que estava estipulado na Constituio brasileira. Uma das intenes desta Reforma era transformar o ensino em formador de alunos para os cursos superiores e no apenas preparador. Outra inteno era substituir a predominncia literria pela cientfica. Esta Reforma foi bastante criticada: pelos positivistas, j que no respeitava os princpios pedaggicos de Comte; pelos que defendiam a predominncia literria, j que o que ocorreu foi o acrscimo de matrias cientficas s tradicionais, tornando o ensino enciclopdico.

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importante saber que o percentual de analfabetos no ano de 1900, segundo o Anurio Estatstico do Brasil, do Instituto Nacional de Estatstica, era de 75%. O Cdigo Epitcio Pessoa, de 1901, inclui a lgica entre as matrias e retira a biologia, a sociologia e a moral, acentuando, assim, a parte literria em detrimento da cientfica. A Reforma Rivadvia Correa, de 1911, pretendeu que o curso secundrio se tornasse formador do cidado e no como simples promotor a um nvel seguinte. Retomando a orientao positivista, prega a liberdade de ensino, entendendo-se como a possibilidade de oferta de ensino que no seja por escolas oficiais, e de freqncia. Alm disso, prega ainda a abolio do diploma em troca de um certificado de assistncia e aproveitamento e transfere os exames de admisso ao ensino superior para as faculdades. Os resultados desta Reforma foram desastrosos para a educao brasileira. A Reforma de Carlos Maximiliano, em 1915, surge em funo de se concluir que a Reforma de Rivadvia Correa no poderia continuar. Esta reforma reoficializa o ensino no Brasil. Num perodo complexo da Histria do Brasil surge a Reforma Joo Luiz Alves que introduz a cadeira de Moral e Cvica com a inteno de tentar combater os protestos estudantis contra o governo do presidente Arthur Bernardes. A dcada de vinte foi marcada por diversos fatos relevantes no processo de mudana das caractersticas polticas brasileiras. Foi nesta dcada que ocorreu o Movimento dos 18 do Forte (1922), a Semana de Arte Moderna (1922), a fundao do Partido Comunista (1922), a Revolta Tenentista (1924) e a Coluna Prestes (1924 a 1927). Alm disso, no que se refere educao, forma realizadas diversas reformas de abrangncia estadual, como a de Loureno Filho, no Cear, em 1923, a de Ansio Teixeira, na Bahia, em 1925, a de Francisco Campos e Mario Casassanta, em Minas, em 1927, a de Fernando de Azevedo, no Distrito Federal (atual Rio de Janeiro), em 1928 e a de Carneiro Leo, em Pernambuco, em 1928. O clima desta dcada propiciou a tomada do poder por Getlio Vargas, candidato derrotado nas eleies por Julio Prestes, em 1930. A caracterstica tipicamente agrria do pas e as correlaes de foras polticas vo sofrer mudanas nos anos seguintes o que trar repercusses na organizao escolar brasileira. A nfase literria e clssica de nossa educao tem seus dias contados.

PERODO DA SEGUNDA REPBLICA (1930 - 1936) A dcada de 1920, marcada pelo confronto de idias entre correntes divergentes, influenciadas pelos movimentos europeus, culminou com a crise econmica mundial de 1929. Esta crise repercutiu diretamente sobre as foras produtoras rurais que perderam do governo os subsdios que garantiam a produo. A Revoluo de 30 foi o marco referencial para a entrada do Brasil no mundo capitalista de produo. A acumulao de capital, do perodo anterior, permitiu com que o Brasil pudesse investir no mercado interno e na produo industrial. A nova realidade brasileira passou a exigir uma mo-de-obra especializada e para tal era preciso investir na educao. Sendo assim, em 1930, foi criado o Ministrio da Educao e Sade

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Pblica e, em 1931, o governo provisrio sanciona decretos organizando o ensino secundrio e as universidades brasileiras ainda inexistentes. Estes Decretos ficaram conhecidos como "Reforma Francisco Campos": O Decreto 19.850, de 11 de abril, cria o Conselho Nacional de Educao e os Conselhos Estaduais de Educao (que s vo comear a funcionar em 1934). O Decreto 19.851, de 11 de abril, institui o Estatuto das Universidades Brasileiras que dispe sobre a organizao do ensino superior no Brasil e adota o regime universitrio. O Decreto 19.852, de 11 de abril, dispe sobre a organizao da Universidade do Rio de Janeiro. O Decreto 19.890, de 18 de abril, dispe sobre a organizao do ensino secundrio. O Decreto 20.158, de 30 de julho, organiza o ensino comercial, regulamenta a profisso de contador e d outras providncias. O Decreto 21.241, de 14 de abril, consolida as disposies sobre o ensino secundrio. Em 1932 um grupo de educadores lana nao o Manifesto dos Pioneiros da Educao Nova, redigido por Fernando de Azevedo e assinado por outros conceituados educadores da poca. O Governo Provisrio foi marcado por uma srie de instabilidades, principalmente para exigir uma nova Constituio para o pas. Em 1932 eclode a Revoluo Constitucionalista de So Paulo. Em 1934 a nova Constituio (a segunda da Repblica) dispe, pela primeira vez, que a educao direito de todos, devendo ser ministrada pela famlia e pelos Poderes Pblicos. Ainda em 1934, por iniciativa do governador Armando Salles Oliveira, foi criada a Universidade de So Paulo. A primeira a ser criada e organizada segundo as normas do Estatuto das Universidades Brasileiras de 1931. Em 1935 o Secretrio de Educao do Distrito Federal, Ansio Teixeira, cria a Universidade do Distrito Federal, com uma Faculdade de Educao na qual se situava o Instituto de Educao. Em funo da instabilidade poltica deste perodo, Getlio Vargas, num golpe de estado, instala o Estado Novo e proclama uma nova Constituio, tambm conhecida como "Polaca".

NOVOS VENTOS... MANIFESTO DOS PIONEIROS DA ESCOLA NOVA Vimos, nos perodos da Colnia e do Imprio, como se discutiu e se pensou pouco sobre a educao, uma vez que as reflexes sempre estiveram limitadas ao modelo econmico do pas, na poca agrrio-exportadora de monocultura, essencialmente de cana-de-acar e, mais tarde, de caf, o que dispensava mo de obra especializada. Dentro dessa tica, era desnecessrio dar educao aos ndios, aos negros, aos colonos, aos fazendeiros, s mulheres. A educao era dada apenas ao futuro de toda aquela sociedade, isto , aos filhos dos colonos, os quais, em geral, iam realizar ou complementar os seus estudos na Europa ou nas escolas jesutas.

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A sociedade brasileira, at a dcada de 20, estava estruturada em um sistema econmico, poltico e scio-cultural que no fugia aos moldes europeus, aqui instalados desde o descobrimento do pas. Assim, esses fatores atuantes na organizao do ensino mostram que a educao seguia essa ordem estrutural, atendendo s exigncias mnimas da sociedade. No perodo de mudana de regime poltico (do Imprio para a Repblica), o predomnio de representao poltica e econmica foi dos cafeicultores, que pressionavam a todos e a tudo para conseguir que seus interesses fossem atendidos. A Repblica foi proclamada justamente com esse objetivo, por isso podemos dizer que a Repblica Velha se caracterizou pela ao dos cafeicultores no poder. A poltica retratava, dessa forma, as alianas da aristocracia que se mantinha, ento, no poder governamental do pas, atravs do jogo poltico conhecido na histria como poltica do caf com leite, em que ora assumia um representante de So Paulo (caf), ora um de Minas Gerais (leite). A poltica era dominada pela aliana entre o Partido Republicano Paulista e o Partido Republicano Mineiro. A cultura que aqui detnhamos era herana da Europa; importvamos modelos de pensamento e de comportamento para serem repetidos aqui, trazidos pelos filhos dos aristocratas que l estudavam e que, ao se formar, assumiam os cargos administrativos aqui, no Brasil. Com o crescimento social, alguns filhos de fazendeiros e bacharis, representantes do parlamento, comeam a discutir sobre a carncia de uma poltica para a educao clara e com objetivos definidos, mas, somente em 1823, alguns deles elaboram um projeto de educao, que chega a ser reconhecido em lei, que foi, no entanto, engavetado, uma vez que outro setor do mesmo parlamento no reconhecia a necessidade de se empenhar nesse projeto. Em 1923, o Congresso fechado, e a Lei esquecida at 1926, quando o Congresso reabre, e as discusses sobre educao voltam a acontecer. Eram os ventos da mudana chegando para a educao. Mas, atrapalhados pela crise do caf, marcada pela queda da bolsa de Nova Iorque em 1929, o pas comea a dar os primeiros passos em direo transformao histrica e social. Repblica Velha - A Primeira Repblica Brasileira, ou Repblica Velha, considerada o perodo da histria do Brasil, desde a Proclamao da Repblica, em 1889, at a Revoluo de 1930. Disponvel em: http://www.culturabrasilorg/republicavelha.htm. Acesso em 28 de julho de 2010. A Grande Depresso, tambm chamada por vezes de Crise de 1929, foi uma grande recesso econmica que teve incio em 1929 e que persistiu ao longo da dcada de 1930, terminando apenas com a Segunda Guerra Mundial. A Grande Depresso considerada o pior e o mais longo perodo de recesso econmica do sculo XX, que causou altas taxas de desemprego, quedas drsticas do produto interno bruto de diversos pases, bem como quedas drsticas na produo industrial, preos de aes, e em praticamente todo medidor de atividade econmica, em diversos pases no mundo. Disponvel em: . Acesso em: 28 de julho de 2010.

Esse contexto marcado pelas tentativas de insero do Brasil na diviso internacional do trabalho, porquanto ele era um produtor especializado em caf. Contudo, essa insero foi desigual, tendo em vista que a economia mundial estava fechada, e o Brasil passava pelo processo de abolio da escravatura e no possua mo de obra suficiente. Assim, mesmo que de forma desigual, o Brasil se insere no contexto do capitalismo mundial, com uma situao de dependncia externa em relao aos capitais mundiais. Com a crise do caf, a velha poltica do caf com leite se esfacela, pois economicamente o preo do caf caa, enquanto aumentava o emprstimo do capital estrangeiro, o que, alm de aumentar

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os prejuzos, desencadeava um processo de endividamento do pas, especialmente com os Estados Unidos EUA - uma potncia imperialista que se fez cada vez mais presente aps a vitria dos aliados da 2 Guerra Mundial. Imperialismo - a poltica de expanso e domnio territorial, cultural e econmico de uma nao sobre outra, ocorrido na poca da segunda revoluo industrial. O imperialismo contemporneo pode ser tambm denominado como neocolonialismo, por possuir muitas semelhanas com o regime vigorado durante os sculos XV e XVI, o colonialismo. Disponvel em: . Acesso em: 28 de julho de 2010. Oligarquias - So grupos sociais formados por aqueles que detm o domnio da cultura, da poltica e da economia de um pas, e que exercem esse domnio no atendimento de seus prprios interesses e em detrimento das necessidades das massas populares. Disponvel em: . Acesso em: 28 de julho de 20210.

Nesse mesmo perodo, que foi de forte efervescncia, o Brasil comeou a movimentar-se com a Semana de Arte Moderna, que exigia o fim da influncia europia. Dentro do pas, nascia a conscincia de que havia uma cultura nossa que deveria ser valorizada, e uma srie de movimentos comeou a ocorrer: no mbito social, os trabalhadores, que queriam ver os seus direitos reconhecidos; na poltica, os tenentes e militares de Copacabana buscavam desfrutar do poder governamental, que acabou caindo em suas mos com o Golpe de 30 (para saber mais informaes sobre o Golpe de 1930, visite o site HISTORIA DO BRASIL. NET, no endereo eletrnico: http://www.historiadobrasil.net/republica/. A Revoluo de 1930 foi o resultado de uma crise que vinha, de longe, destruindo o monoplio do poder das velhas oligarquias, favorecendo criao de algumas condies bsicas para a implantao definitiva do capitalismo brasileiro [...]. aqui que a demanda social da educao cresce e se consubstancia numa presso cada vez mais forte pela expanso do ensino (ROMANELLI, 1997, p.48).

At aqui, fizemos uma breve retrospectiva, na inteno de lhe transportar ao contexto histrico em que se desenvolveu a condio social e poltica para o surgimento do Movimento dos Pioneiros da Escola Nova, um marco em nossa histria da educao. Vamos conhecer um pouco mais e entender por que o Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, documento redigido por Fernando de Azevedo, em 1932, influenciado por diferentes correntes de pensamento, desde o filsofo John Dewey ao socilogo mile Durkheim, constitudo por uma clara concepo pedaggica, aes didticas e propostas de poltica educacional, marcou nossa histria. Vamos descobrir o que nos conta a histria. Vamos nessa? Como no temos tempo a perder, vamos direto ao ponto, porque significou o momento poltico em que os intelectuais de idias liberais da poca tomaram posio criticando fortemente o modelo em prtica, que ainda mantinha resqucios da formao jesutica, e propondo uma mudana radical na educao do Brasil, estabelecendo suas diretrizes gerais: universalizao (educao para todos), laicidade (sem vnculo religioso), gratuidade, obrigatoriedade (sem isso, o desenvolvimento do pas estaria comprometido), descentralizao (garantia de acesso em todo o pas), formao de professores em nvel superior, educao no pragmtica (no deveria atender aos interesses de classe, e sim, aos interesses dos educandos e da sociedade) e utilitria (habilidades para o trabalho, fundamento da sociedade humana), com nfase no conhecimento cientfico. Os 26 educadores, filsofos e socilogos que assinaram o documento indicaram a educao como o nico caminho para a modernizao, devendo, pois, ser uma responsabilidade do estado e priorizada como uma questo nacional.

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Fernando de Azevedo Afranio Peixoto A. de Sampaio Doria Anisio Spinola Teixeira M. Bergstrom Loureno Filho Roquette Pinto J. G. Frota Pessa Julio de Mesquita Filho Raul Briquet Mario Casassanta C. Delgado de Carvalho A. Ferreira de Almeida Jr. J. P. Fontenelle Roldo Lopes de Barros Noemy M. da Silveira Hermes Lima Attilio Vivacqua Francisco Venancio Filho Paulo Maranho Cecilia Meirelles Edgar Sussekind de Mendona Armanda Alvaro Alberto Garcia de Rezende Nobrega da Cunha Paschoal Lemme Raul Gomes.

Assim, uma proposta que viesse privilegiar a educao mais do que qualquer outra coisa traduzida pelos autores do documento como expresso de uma vontade ampla e geral, descoberta num pas que se quer guiado pelas necessidades modernas. Vocs j perceberam que, quando analisamos algo que diz respeito educao brasileira, devemos faz-lo tendo em vista a relao entre o particular o Brasil da poca e o geral a forma de vida internacionalizada pelo capital. O terreno da histria que marca, inclusive, o Movimento Republicano, no pas, expressa, no final do sculo XIX e incio do XX, um grande movimento expansionista da sociedade capitalista no mundo. A mundializao de uma forma de vida voltada para a troca e formatada pela conscincia que a acompanhava ganhava mundo e marcava o movimento que impunha, inclusive, na direo do Brasil, a necessidade de adequao economia de transformao do trabalho escravo para o trabalho livre e, na poltica, a substituio do Imprio pela Repblica um regime poltico marcado pelas idias liberais que j adentravam o pas desde o final do Imprio. Como voc percebeu o Brasil lutava para assumir, de forma mais acabada, o traado da ordenao social capitalista. Nesse quadro interno, a luta de classes a expandida apontava, fortemente, para a defesa da educao pblica. Ela se expressa nas obras dos historiadores do perodo e nas obras dos educadores. O Manifesto dos Pioneiros contribuiu para a compreenso do pensamento desses educadores, visto que, enquanto partcipes desse movimento de mudanas, no Brasil, centravam, na defesa da educao escolar, todo um esforo de mudanas, objetivando uma sociedade que se pretendia nova e progressista. No Brasil, a proposta de escola defendida no Manifesto foi fruto do movimento histrico que o pas vivia: abolio, incio da Repblica, desenvolvimento industrial, internacionalizao do mercado e ricas disputas ideolgicas.

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O Manifesto dos Pioneiros da Educao Nova abordava as diretrizes da educao na sociedade em transio, focalizando a escola como espao institucional, ou seja, uma escola que estivesse pensando na formao das habilidades necessrias para uma participao efetiva e influente na sociedade, que no apenas ensinasse a ler, a escrever e a contar, mas que fosse um espao, por excelncia, para desenvolver habilidades, formar pessoas crticas e capazes de refletir sobre os problemas e efetivar aes na sociedade. Para tanto, dizia o documento, seria necessrio que o espao fsico possibilitasse o funcionamento de escolas responsveis por mudanas na vida social dos indivduos, buscando construir uma sociedade democrtica. Os pioneiros desejavam que a Educao, o Direito e a Justia caminhassem de braos dados para a formao humana, em seu sentido mais amplo, iluminando os caminhos da democracia contempornea. Mas a expanso do Capitalismo e o crescimento industrial relegaram o desejo, a dimenso formativa, necessria realizao integral do homem, ao segundo plano, trazendo o tecnicismo ao primeiro, ao topo, com o objetivo de atender s demandas do mercado. Esse fato e as influncias de diferentes pensadores, a exemplo de Durkheim, distorceram as idias iniciais do Manifesto. O Tecnicismo, nessa perspectiva pedaggica, uma forma de educao em que o que valorizado no o professor, mas a tecnologia. O professor passa a ser um mero especialista na aplicao de manuais, e sua criatividade fica restrita aos limites possveis e estreitos da tcnica utilizada. A funo do aluno reduzida a ser um indivduo que reage aos estmulos de forma a corresponder s respostas esperadas pela escola, para ter xito e avanar. Disponvel em: . Acesso em: 15 maio 2007. Tal como o sculo XX representa uma poca de indiscutvel avano tecnolgico e econmico, o mesmo se pode concluir acerca da educao pensada pelos educadores que subscreveram o Manifesto. Isso porque no podemos nos esquecer de que, no contexto que se vivia, essa era uma educao que representava o processo dinmico de aprimoramento do ser humano. Na perspectiva tcnica e moral, no avanou muito, em termos mundiais, se comparado a dois ou trs sculos atrs. Mas era um grande avano para o que se vivia naquele momento histrico na educao brasileira. Era uma poca histrica, em que o Brasil lutava para se ajustar, de forma definitiva, ao mercado internacional. Esses educadores acreditavam que o progresso viria, sobretudo, pela aquisio de novos comportamentos e de novos conhecimentos adquiridos pelos homens que aqui moravam. A escola passou, ento, a ser vista como o local, o ponto de partida dessa mudana social, originando, no nosso pas, um sistema com duas vertentes: uma, voltada para a educao propedutica, para os filhos da burguesia, dona de terras e de riquezas, e outra, a educao, profissionalizante, dirigida aos filhos dos trabalhadores, que precisavam ser preparados para ocupar os postos de trabalho que estavam sendo criados. Ensino Propedutica - Em geral, refere-se a uma educao iniciadora para uma especializao posterior. Como caracterstica principal, temos uma preparao geral bsica capaz de permitir o desdobramento posterior de uma rea de conhecimento ou estudo. Profissionalizante: Ensino profissionalizante - no Brasil uma categoria de cursos escolares (chamados freqentemente de cursos tcnicos) destinados a formar profissionais de nvel tcnico.

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PERODO DO ESTADO NOVO (1937 - 1945)

Refletindo tendncias fascistas outorgada uma nova Constituio em 10 de novembro de 1937. A orientao poltico-educacional para o mundo capitalista fica bem explcita em seu texto sugerindo a preparao de um maior contigente de mo-de-obra para as novas atividades abertas pelo mercado. Neste sentido a nova Constituio enfatiza o ensino pr-vocacional e profissional. Por outro lado prope que a arte, a cincia e o ensino sejam livres iniciativa individual e associao ou pessoas coletivas pblicas e particulares, tirando do Estado o dever da educao. Mantm ainda a gratuidade e a obrigatoriedade do ensino primrio Tambm dispe como obrigatrio o ensino de trabalhos manuais em todas as escolas normais, primrias e secundrias. No contexto poltico o estabelecimento do Estado Novo, segundo Otaza Romanelli, faz com que as discusses sobre as questes da educao, profundamente rica no perodo anterior, entre "numa espcie de hibernao"(1993: 153). As conquistas do movimento renovador, influenciando a Constituio de 1934, foram enfraquecidas nesta nova Constituio de 1937. Marca uma distino entre o trabalho intelectual, para as classes mais favorecidas, e o trabalho manual, enfatizando o ensino profissional para as classes mais desfavorecidas. Ainda assim criada a Unio Nacional dos Estudantes - UNE e o Instituto Nacional de Estudos Pedaggicos - INEP. Em 1942, por iniciativa do Ministro Gustavo Capanema, so reformados alguns ramos do ensino. Estas Reformas receberam o nome de Leis Orgnicas do Ensino, e so compostas pelas seguintes Decretos-lei, durante o Estado Novo: O Decreto-lei 4.048, de 22 de janeiro, cria o Servio Nacional de Aprendizagem Industrial SENAI. O Decreto-lei 4.073, de 30 de janeiro, regulamenta o ensino industrial. O Decreto-lei 4.244, de 9 de abril, regulamenta o ensino secundrio. O Decreto-lei 4.481, de 16 de julho, dispe sobre a obrigatoriedade dos estabelecimentos industriais empregarem um total de 8% correspondente ao nmero de operrios e matricul-los nas escolas do SENAI. O Decreto-lei 4.436, de 7 de novembro, amplia o mbito do SENAI, atingindo tambm o setor de transportes, das comunicaes e da pesca. O Decreto-lei 4.984, de 21 de novembro, compele que as empresas oficiais com mais de cem empregados a manter, por conta prpria, uma escola de aprendizagem destinada formao profissional de seus aprendizes. O ensino ficou composto, neste perodo, por cinco anos de curso primrio, quatro de curso ginasial e trs de colegial, podendo ser na modalidade clssico ou cientfico. O ensino colegial perdeu o seu carter propedutico, de preparatrio para o ensino superior, e passou a preocupar-se mais com a formao geral. Apesar desta diviso do ensino secundrio, entre clssico e cientfico, a predominncia recaiu sobre o cientfico, reunindo cerca de 90% dos alunos do colegial (Piletti, 1996: 90). Ainda no esprito da Reforma Capanema baixado o Decreto-lei 6.141, de 28 de dezembro de 1943, regulamentando o ensino comercial (observao: o Servio Nacional de Aprendizagem Comercial - SENAC s criado em 1946, aps, portanto o Perodo do Estado Novo).

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Em 1944 comea a ser publicada a Revista Brasileira de Estudos Pedaggicos, rgo de divulgao do Instituto Nacional de Estudos Pedaggicos - INEP.

PERODO DA NOVA REPBLICA (1946 - 1963) O fim do Estado Novo consubstanciou-se na adoo de uma nova Constituio de cunho liberal e democrtico. Esta nova Constituio, na rea da Educao, determina a obrigatoriedade de se cumprir o ensino primrio e d competncia Unio para legislar sobre diretrizes e bases da educao nacional. Alm disso, a nova Constituio fez voltar o preceito de que a educao direito de todos, inspirada nos princpios proclamados pelos Pioneiros, no Manifesto dos Pioneiros da Educao Nova, nos primeiros anos da dcada de 30. Ainda em 1946 o ento Ministro Raul Leito da Cunha regulamenta o Ensino Primrio e o Ensino Normal, alm de criar o Servio Nacional de Aprendizagem Comercial - SENAC, atendendo as mudanas exigidas pela sociedade aps a Revoluo de 1930. Baseado nas doutrinas emanadas pela Carta Magna de 1946, o Ministro Clemente Mariani, cria uma comisso com o objetivo de elaborar um anteprojeto de reforma geral da educao nacional. Esta comisso, presidida pelo eminente educador Loureno Filho, era organizada em trs subcomisses: uma para o Ensino Primrio, uma para o Ensino Mdio e outra para o Ensino Superior. Em novembro de 1948 este anteprojeto foi encaminhado a Cmara Federal, dando incio a uma luta ideolgica em torno das propostas apresentadas. Num primeiro momento as discusses estavam voltadas s interpretaes contraditrias das propostas constitucionais. Num momento posterior, aps a apresentao de um substitutivo do Deputado Carlos Lacerda, as discusses mais marcantes relacionaram-se questo da responsabilidade do Estado quanto educao, inspirados nos educadores da velha gerao de 30, e a participao das instituies privadas de ensino. Depois de 13 anos de acirradas discusses foi promulgada a Lei 4.024, em 20 de dezembro de 1961, sem a pujana do anteprojeto original, prevalecendo as reivindicaes da Igreja Catlica e dos donos de estabelecimentos particulares de ensino no confronto com os que defendiam o monoplio estatal para a oferta da educao aos brasileiros. Se as discusses sobre a Lei de Diretrizes e Bases para a Educao Nacional foi o fato marcante, por outro lado muitas iniciativas marcaram este perodo como, talvez, o mais frtil da Histria da Educao no Brasil: Em 1950, em Salvador, no Estado da Bahia, Ansio Teixeira inaugura o Centro Popular de Educao (Centro Educacional Carneiro Ribeiro), dando incio a sua idia de escola-classe e escola-parque. Em 1952, em Fortaleza, Estado do Cear, o educador Lauro de Oliveira Lima inicia uma didtica baseada nas teorias cientficas de Jean Piaget: o Mtodo Psicogentico. Em 1953 a educao passa a ser administrada por um Ministrio prprio: o Ministrio da Educao e Cultura. Em 1961 a Prefeitura Municipal de Natal, no Rio Grande do Norte, inicia uma campanha de alfabetizao ("De P no Cho Tambm se Aprende a Ler"). A tcnica didtica, criada pelo pernambucano Paulo Freire, propunha-se a alfabetizar em 40 horas adultos analfabetos. A experincia teve incio na cidade de Angicos, no Estado do Rio Grande do Norte, e, logo depois, na cidade de Tiriri, no Estado de Pernambuco.

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Em 1962 criado o Conselho Federal de Educao, cumprindo o artigo 9o da Lei de Diretrizes e Bases. Este substitui o Conselho Nacional de Educao. So criados tambm os Conselhos Estaduais de Educao. Ainda em 1962 criado o Plano Nacional de Educao e o Programa Nacional de Alfabetizao, pelo Ministrio da Educao e Cultura, inspirado no Mtodo Paulo Freire. Em 1964, um golpe militar aborta todas as iniciativas de se revolucionar a educao brasileira, sob o pretexto de que as propostas eram "comunizantes e subversivas".

PERODO DO REGIME MILITAR (1964 - 1985) Alguma coisa acontecia na educao brasileira. Pensava-se em erradicar definitivamente o analfabetismo atravs de um programa nacional, levando-se em conta as diferenas sociais, econmicas e culturais de cada regio. A criao da Universidade de Braslia, em 1961, permitiu vislumbrar uma nova proposta universitria, com o planejamento, inclusive, do fim do exame vestibular, valendo, para o ingresso na Universidade, o rendimento do aluno durante o curso de 2o grau.(ex-Colegial e atual Ensino Mdio) O perodo anterior, de 1946 ao princpio do ano de 1964, talvez tenha sido o mais frtil da histria da educao brasileira. Neste perodo atuaram educadores que deixaram seus nomes na histria da educao por suas realizaes. Neste perodo atuaram educadores do porte de Ansio Teixeira, Fernando de Azevedo, Loureno Filho, Carneiro Leo, Armando Hildebrand, Pachoal Leme, Paulo Freire, Lauro de Oliveira Lima, Durmeval Trigueiro, entre outros. Depois do golpe militar de 1964 muito educadores passaram a ser perseguidos em funo de posicionamentos ideolgicos. Muito foram calados para sempre, alguns outros se exilaram, outros se recolheram a vida privada e outros, demitidos, trocaram de funo. O Regime Militar espelhou na educao o carter anti-democrtico de sua proposta ideolgica de governo: professores foram presos e demitidos; universidades foram invadidas; estudantes foram presos, feridos, nos confronto com a polcia, e alguns foram mortos; os estudantes foram calados e a Unio Nacional dos Estudantes proibida de funcionar; o Decreto-Lei 477 calou a boca de alunos e professores; o Ministro da Justia declarou que "estudantes tem que estudar" e "no podem fazer baderna". Esta era a prtica do Regime. Neste perodo deu-se a grande expanso das universidades no Brasil. E, para acabar com os "excedentes" (aqueles que tiravam notas suficientes para serem aprovados, mas no conseguiam vaga para estudar), foi criado o vestibular classificatrio. Para erradicar o analfabetismo foi criado o Movimento Brasileiro de Alfabetizao - MOBRAL. Aproveitando-se, em sua didtica, no expurgado Mtodo Paulo Freire, o MOBRAL propunha erradicar o analfabetismo no Brasil... no conseguiu. E entre denncias de corrupo... foi extinto. no perodo mais cruel da ditadura militar, onde qualquer expresso popular contrria aos interesses do governo era abafada, muitas vezes pela violncia fsica, que instituda a Lei 5.692, a Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional, em 1971. A caracterstica mais marcante desta Lei era tentar dar a formao educacional um cunho profissionalizante. Dentro do esprito dos "slogans" propostos pelo governo, como "Brasil grande", "ame-o ou deixe-o", "milagre econmico", etc.,

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planejava-se fazer com que a educao contribusse, de forma decisiva, para o aumento da produo brasileira. A ditadura militar se desfez por si s. Tamanha era a presso popular, de vrios setores da sociedade, que o processo de abertura poltica tornou-se inevitvel. Mesmo assim, os militares deixaram o governo atravs de uma eleio indireta, mesmo que concorressem somente dois civis (Paulo Maluf e Tancredo Neves).

DITADURA MILITAR, SOCIEDADE E EDUCAO NO BRASIL Iniciamos a rota refletindo sobre o modelo econmico no Brasil o Capitalista. Este modelo, ao longo da histria, contou com o apoio da educao para se consolidar e garantir a manuteno dos seus princpios organizativos, no Brasil, especialmente. Por outro lado, no mundo, outros modelos de sociedade tambm disputavam espao: O Socialismo e o Comunismo. Essas idias vieram ao Brasil por meio, tambm, dos imigrantes, que aqui chegaram por conseqncia do forte desenvolvimento da indstria e da necessidade de mo-de-obra especializada para atender a essa demanda. Recebemos um grande contingente de espanhis, italianos, alemes, que trouxeram, alm da fora de trabalho, as idias que efervesciam na Europa e no mundo. Essas novas idias exerceram forte influncia nos trabalhadores, que buscavam fortalecer sua organizao procura de direitos sociais, culturais e reivindicando mais participao poltica. Socialismo - O Socialismo clssico , teoricamente, um sistema poltico em que todos os meios de produo pertencem coletividade, em que no existiria o direito propriedade privada e as desigualdades sociais seriam pequenas. Seria um sistema de transio para o comunismo, em que no existiria mais Estado nem desigualdade social - portanto o Estado socialista deveria diminuir gradualmente at desaparecer. Disponvel em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Socialismo. Acesso em: 28 de julho de 2010. Comunismo - O Comunismo um sistema econmico que nega a propriedade privada dos meios de produo. Num sistema comunista os meios de produo so de propriedade comum a todos os cidados e so controlados por seus trabalhadores. Sob tal sistema, o Estado no tem necessidade de existir e extinto. Disponvel em: . Acesso em: 28 de julho de 2010.

Vejamos o Desenrolar Desse Momento Histrico No decorrer do sculo XX, vivemos um forte desenvolvimento da indstria passvamos do modelo agrrio-exportador para o urbano industrial. medida que a sociedade brasileira foi de desenvolvendo, as duas classes sociais (burguesia/trabalhador) comeavam a tornar visveis suas opinies e deixavam claros os seus interesses, diametralmente antagnicos. J no incio dos anos 60, quando emergiam e ganhavam fora no Brasil movimentos sociais, que expressavam correntes scio-filosficas de pensamento no conservadoras, vivamos um processo de politizao dos trabalhadores que estavam participando ativamente do movimento estudantil, dos sindicatos, das comisses de fbrica, das associaes de bairros, dos partidos polticos etc... Todos reunidos em torno da construo de um projeto poltico para o pas, baseado em um modelo de desenvolvimento diferente do modelo Capitalista, inspirados nas idias: comunistas,

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socialistas, sociais-democrticas e anti-imperialistas, que se opunham ao Populismo de Getlio Vargas ao Fascismo de Mussolini (Ditador na Itlia de 1922-1943) e ao Nazismo de Hitler (ditador na Alemanha de 1933-1945). Populismo de Getlio Vargas - Para saber mais sobre este assunto, pesquise sobre: Revoluo de 1930, A Intentona Comunista, A Aliana Nacional Libertadora, O Populismo de Jnio Quadros e de Getlio Vargas. Ocorre que uma outra frente, defendendo seus interesses de classe - a burguesa -tambm se organizava para limitar e/ou suprimir essa efervescncia de idias e no queria perder o Poder Poltico. Para tanto, utilizava-se, especialmente, do Exrcito Brasileiro, gerando uma crise entre os interesses de classe. Para o professor Florestan Fernandes (1980), o que se procurava impedir era a transio de uma democracia restrita para uma democracia de participao ampliada que ameaava o incio da consolidao de um regime democrtico-burgus, no qual vrios setores das classes trabalhadoras (mesmo de massas populares mais ou menos marginalizadas, no campo e na cidade) contavam com crescente espao poltico.

Os Cenrios Nacional e Internacional que Antecedem o Golpe Militar No Cenrio Nacional - Em meio crise poltica que se arrastava, desde a renncia de Jnio Quadros, em 1961, assume o vice, Joo Goulart (1961-1964), que fez um governo marcado pela abertura s organizaes sociais, causando a preocupao das classes conservadoras, da Igreja Catlica, dos militares e da classe mdia. Esse estilo populista e de esquerda chegou a gerar preocupao, at mesmo, nos EUA que, junto com as classes conservadoras brasileiras, temiam a implantao do comunismo e uma guinada do Brasil, para o chamado Bloco Socialista. No Cenrio Internacional - Estvamos na efervescncia da Guerra Fria. A partir de 1945, os EUA recuperaram sua fora mundial, abalada pela crise de 1929. A economia do grande pas capitalista recompe-se, voltando a ditar as regras para o mercado mundial. Os pases europeus, que saam da 2 Guerra com profundas dificuldades econmicas, precisavam do apoio dos americanos e, para obt-lo, era fundamental ser contra a URSS que, segundo o governo americano, era a inimiga da democracia e do desenvolvimento capitalista. Nesse sentido, nasce uma forte aliana anti-comunista, comandada pelos norte-americanos. Guerra Fria - designao atribuda ao conflito poltico-ideolgico entre os Estados Unidos (EUA), defensores do capitalismo, e a Unio Sovitica (URSS), defensora do socialismo, compreendendo o perodo entre o final da Segunda Guerra Mundial e a extino da Unio Sovitica. chamada fria porque no houve qualquer combate fsico, embora o mundo todo temesse a vinda de um novo conflito mundial por se tratarem de duas superpotncias com grande arsenal de armas nucleares. Norte-americanos e soviticos travaram uma luta ideolgica, poltica e econmica durante esse perodo. Disponvel: http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_Fria, acesso em: 28 de julho de 2010.

Em 31 de Maro de 1964, Estoura o Golpe Militar E com ele, num perodo de duas dcadas, somos governados por uma forte represso e uma sucesso de cinco Generais Militares na Presidncia. So eles:

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De 1964-1967 - Castello Branco Durante esse perodo Castelo Branco estabeleceu eleies indiretas para presidente; dissolveu os partidos polticos; vrios parlamentares federais e estaduais tiveram seus mandatos cassados; cidados tiveram seus direitos polticos e constitucionais cancelados e os sindicatos receberam interveno do governo militar. Foi institudo o bipartidarismo: Movimento Democrtico Brasileiro (MDB) e a Aliana Renovadora Nacional (ARENA); O governo militar impe, em janeiro de 1967, uma nova Constituio para o pas. Aprovada nesse mesmo ano, a Constituio de 1967, que confirma e institucionaliza o regime militar e suas formas de atuao.

De 1967-1969 - Governo Costa e Silva Essa fase do governo militar tinha frente o General Costa e Silva que sucedeu a Castelo Branco. Eleito indiretamente pelo Congresso Nacional foi um governo marcado por protestos e manifestaes sociais. A oposio ao regime militar crescia no pas e uma das foras era a UNE que organizou, no Rio de Janeiro, a Passeata dos Cem Mil. Acontece, ao mesmo tempo, o movimento sindical organizado em Contagem (MG) e Osasco (SP), greves de operrios paralisam fbricas em protesto ao regime militar. A guerrilha urbana comea a se organizar, formada por jovens idealistas de esquerda, que assaltavam bancos e seqestravam embaixadores com a inteno de arrecadar fundos para custear o movimento de oposio armada. No dia 13 de dezembro de 1968, o governo decreta o Ato Institucional Nmero 5 (AI-5). Esse foi o mais duro dos governos militares, pois aposentou juzes, cassou mandatos, acabou com as garantias do habeas-corpus e aumentou a represso militar e policial, contra todos que pensavam diferente, indistintamente. UNE - Unio Nacional dos Estudantes, foi proibida de funcionar por um Decreto-Lei 477. O ministro da Ministro da Justia declarou: que estudantes tm que estudar e no podem fazer baderna. Disponvel em: www.pedagogiaemfoco.pro.br/heb10htm, acesso em: 28 de julho de 2010. O Ato Institucional N5 ou AI-5 foi o quinto de uma srie de decretos emitidos pelo regime militar brasileiro. O AI-5 sobrepondo-se Constituio de 1967, bem como s constituies estaduais, dava poderes extraordinrios ao Presidente da Repblica e suspendia vrias garantias constitucionais. O ato veio em represlia deciso da Cmara dos Deputados, que se negara a conceder licena para que o deputado Mrcio Moreira Alves fosse processado por um discurso onde questionava o Exrcito abrigando torturadores e pedindo ao povo brasileiro que boicotasse as festividades do dia 7 de setembro. O Ato Institucional Nmero Cinco, ou AI-5, foi o instrumento que deu ao regime poderes absolutos e cuja primeira conseqncia foi o fechamento do Congresso Nacional por quase um ano. Disponvel. De 1969-1969 - Governo da Junta Este governo foi formado devido doena que acomete o Gen. Costa e Silva. Aps grandes brigas entre os generais pelo poder, ocorre o que ficou conhecido como o golpe dentro do golpe e assumem as trs foras Militares: Aurlio de Lira Tavares (Exrcito), Augusto Rademaker (Marinha) e Mrcio de Sousa e Melo (Aeronutica); Com esse grupo se fortalece o SNI Sistema Nacional de Informao, que passa a determinar as aes no pas em nome da segurana Nacional. O SNI se imbui de um poder quase ilimitado para punir e ser truculento com qualquer um que se opunha s suas determinaes. Governo da Junta - Disponvel em: http://net/principal/2004-03-ditadura40presidentes.html, acesso em: 31 de julho de 2010.

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O Servio Nacional de Informaes (SNI) foi criado pela lei n 4.341 em 13 de junho de 1964 com o objetivo de supervisionar e coordenar as atividades de informaes e contra-informaes no Brasil e exterior. Em funo de sua criao, foram absorvidos o Servio Federal de Informaes e Contra-Informaes (SFICI-1958) e a Junta Coordenadora de Informaes (JCI-1959). Algumas das atividades do SNI eram os grampos telefnicos (sangrar linhas), censura postal e investigaes, contatos com a CIA, alm da Operao Condor. Muitos dos documentos coletados desapareceram depois do desmonte do servio. O SNI foi responsvel por investigar, torturar, matar, cometer crimes dentro das prprias instituies do governo, sumir com provas, alterar cenas de crimes, emitirem laudos periciais fraudulentos, omitirem, sonegarem informaes e documentos. Indiciou, perseguiu, exilou, torturou e mataram diversos presos polticos. A Operao Condor foi uma aliana poltico-militar entre os vrios regimes militares da Amrica do Sul Brasil, Argentina, Chile, Bolvia, Paraguai e Uruguai criada com o objetivo de coordenar a represso a opositores dessas ditaduras instalados nos seis pases do Cone Sul. Montada no incio dos anos 1970 durou at a onda de redemocratizao, na dcada seguinte. A operao, liderada por militares da Amrica Latina, foi batizada com o nome do condor, abutre tpico dos Andes que se alimenta de carnia, como os urubus. A Operao Condor foi responsvel por atos terroristas em diversos pases, inclusive no Brasil, exterminando os opositores do regime militar. Neste perodo, dois grupos guerrilheiros de esquerda, O MR-8 e a ALN seqestram o embaixador dos EUA, Charles Burke Elbrick, primeiro diplomata americano a ser vtima de um seqestro no mundo, e, em troca, exigem a libertao de 15 presos polticos, que foi atendida. Mas, em represlia, em 18 de setembro, o governo decreta a Lei de Segurana Nacional. Essa lei decretava o exlio e a pena de morte em casos de guerra psicolgica adversa, ou revolucionria, ou subversiva. Uma das vtimas deste perod