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Comunicação e Expressão Curso: Letras Ano/sem: 2011/01 Disciplina: Comunicação e Expressão h/a: 68 Código: 990101 Professora: Turma: “Descobri que a pessoa só faz bem aquilo de que gosta. Todo mundo que faz alguma coisa bem é porque gosta do que faz. O ato de gostar está ligado ao ato do conhecer e o ato de conhecer está ligado à curiosidade” (Gilberto Dimenstein) PLANO DE ENSINO EMENTA: Linguagem, língua e fala. Funções da linguagem. Oralidade, escrita e variação linguística. Leitura e estratégias de leitura. Escrita e estratégias de escrita. Paragrafação. Coesão e coerência textuais. Paráfrase e retextualização. Argumentação e persuasão. Particularidades léxicas e gramaticais. Competências: Esta disciplina contribui para o desenvolvimento das seguintes competências: 1. usar a língua em suas manifestações orais e escritas, em suas dimensões receptivas e produtivas, em diferentes situações ou contextos, com diversos interlocutores ou públicos, como meio de organização cognitiva da realidade, constituição de significados e realização de práticas sociais; 2. ser ético, pontual, interessado e comprometido com a prática e a vivência acadêmicas. Habilidades: 1. conceituar linguagem, língua e fala; 2. reconhecer as variedades linguísticas e os níveis de linguagem a partir de textos e de situações concretas da cultura local; 3. identificar a estrutura de diferentes tipos e gêneros de textos; 4. empregar adequadamente elementos anafóricos, articuladores e conectivos para promover a coesão e a coerência em textos produzidos; 5. compreender e interpretar adequadamente diferentes textos; 1

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Page 1: APOSTILA COMUNICAÇÃO E EXPRESSAO 2011-1

Comunicação e Expressão

Curso: Letras Ano/sem: 2011/01

Disciplina: Comunicação e Expressão h/a: 68 Código: 990101

Professora: Turma:

“Descobri que a pessoa só faz bem aquilo de que gosta. Todo mundo que faz alguma coisa bem é porque gosta do que faz. O ato de gostar está ligado ao ato do conhecer e o ato de conhecer está ligado à curiosidade” (Gilberto Dimenstein)

PLANO DE ENSINO

EMENTA:

Linguagem, língua e fala. Funções da linguagem. Oralidade, escrita e variação linguística. Leitura e estratégias de leitura. Escrita e estratégias de escrita. Paragrafação. Coesão e coerência textuais. Paráfrase e retextualização. Argumentação e persuasão. Particularidades léxicas e gramaticais.

Competências:

Esta disciplina contribui para o desenvolvimento das seguintes competências:

1. usar a língua em suas manifestações orais e escritas, em suas dimensões receptivas e produtivas, em diferentes situações ou contextos, com diversos interlocutores ou públicos, como meio de organização cognitiva da realidade, constituição de significados e realização de práticas sociais;

2. ser ético, pontual, interessado e comprometido com a prática e a vivência acadêmicas.

Habilidades:

1. conceituar linguagem, língua e fala;2. reconhecer as variedades linguísticas e os níveis de linguagem a partir de textos e de situações

concretas da cultura local;3. identificar a estrutura de diferentes tipos e gêneros de textos;4. empregar adequadamente elementos anafóricos, articuladores e conectivos para promover a coesão

e a coerência em textos produzidos;5. compreender e interpretar adequadamente diferentes textos;6. distinguir fala e escrita, destacando aspectos estilísticos e discursivos da escrita;7. identificar, distinguir e empregar corretamente os conceitos: argumentar, convencer e persuadir;8. transpor textos da oralidade para a escrita e de um gênero textual para outro (retextualização);9. produzir e corrigir parágrafo e paráfrase de acordo com a teoria, com a variante padrão e com os

critérios definidos nesta disciplina.

CONTEÚDOS:

1. conceito, níveis e funções de linguagem;1. oralidade, escrita e variação lingüística;2. estratégias de leitura e de escrita;3. paragrafação;4. coesão e coerência textuais;

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5. compreensão e interpretação de textos;argumentação e persuasão;2. paráfrase e retextualização;3. revisão gramatical.

METODOLOGIA:

A disciplina propõe espaço para o processo de reflexão e aperfeiçoamento da língua materna por meio de aulas teóricas e atividades práticas de leitura e escrita. Para tanto, nos encontros haverá discussões que desafiem o aluno a ler, elaborar hipóteses e compreender os entrelaces das palavras na constituição do discurso coerente e, sobretudo, na capacidade de utilizá-lo de maneira consciente no dia a dia. O acadêmico será provocado a produzir, autocorrigir e refazer textos significativos. Os conteúdos dos encontros presenciais serão desenvolvidos a partir de dinâmicas diversas tais como GV-GO, discussão circular, Phillips 66, seminários e mesa redonda para que o grupo possa socializar tanto as experiências quanto os conhecimentos prévios e os novos. Serão utilizados recursos como: quadro, retroprojetor, cartazes, datashow, músicas, revista, dvd, aparelho de televisão e de som. Para as aulas semipresenciais será utilizado sistema web, via plataforma da Instituição (www.ulbra-to.br), onde estarão disponíveis atividades da disciplina que envolvam leitura e escrita como também os critérios a serem observados pelo acadêmico ao publicar as respostas solicitadas.

AVALIAÇÃO:

O processo de avaliação será contínuo, por meio de observação, no que diz respeito à participação, ao interesse, à responsabilidade e pontualidade em que os alunos deverão apresentar trabalhos individuais e em grupos; orais e/ou por escrito, demonstrando conhecimento do conteúdo, coerência e consciência crítica sobre o que dizem. Os textos e as referências bibliográficas serão disponibilizados no portal e na reprografia. A produção escrita que não for inédita e pessoal será desconsiderada.

Os acadêmicos que apresentarem dificuldades na escrita deverão frequentar o Laboratório de Produção Textual.

Compõe G1:- leitura e discussão da obra O que é leitura. (v.1,0)- leitura e apresentação oral do livro Preconceito Linguístico: o que é, como se faz: (v.1,0). - produção textual, atividade e participação em sala de aula (v.1,5), de acordo com os critérios estabelecidos;- participação em sala de aula: (v.0,5) - *prova (v.6,0), de acordo com o calendário acadêmico.

Compõe G2:- leitura e apresentação oral do livro A arte de Argumentar e o filme Obrigado por fumar. O aluno deverá apresentar de maneira clara e coerente a relação que há entre a obra e o filme. (v.2,0).- produção textual, atividade e participação em sala de aula (v.1,5) de acordo com os critérios estabelecidos;- participação em sala de aula: (v.0,5)- *prova (v.6,0), de acordo com o calendário acadêmico.

*Obs: o aluno que faltar à prova deverá substituí-la no fim do semestre, de acordo com a resolução institucional.

Substitutiva de grau:Avaliação- Assunto cumulativo do semestreProva (v.10,0), conforme resolução institucional.

NB: - As atividades serão realizadas a partir de roteiro disponibilizado no Portal e na reprografia. Todos devem ficar atentos ao cronograma.

BIBLIOGRAFIA BÁSICA:

BASTOS, Lucia Kopschitz. A Produção escrita e a gramática. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1992.

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FARACO, Carlos Roberto e TEZZA, Cristóvão. Prática de Texto: para estudantes Universitários. 17. ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2008. SAVIOLI, Francisco Platão. Gramática em 44 lições. 15. Ed. São Paulo: Ática, 1998.

LEITURAS OBRIGATÓRIAS:

ABREU, Antônio Suárez. A arte de argumentar: gerenciando razão e emoção. 6. ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003.BAGNO, Marcos. Preconceito Linguístico: o que é, como se faz. 29. ed. São Paulo: Loyola, 2004. MARTINS, Maria Helena. O que é leitura.19. Ed. São Paulo: Brasiliense, 2005.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR:

BAGNO, Marcos. A Língua de Eulália: novela sociolingüística. 14. ed. São Paulo: Conteto, 2005.FAULSTICH, Enilde L. de J. Como ler, entender e redigir um texto. Petrópolis: Vozes, 2001.FIORIN, J. L.; SAVIOLI, F. P. Para entender o texto. 6. ed. São Paulo: Ática, 1998.FULGÊNCIO, Lúcia; LIBERATO, Yara G. Como facilitar a leitura. 3. ed. São Paulo: Contexto, 1998.POSSENTI, Sírio.Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas: Mercado das letras/ALB, 1996.RAMOS, Jânia M. O espaço da oralidade na sala de aula. São Paulo: Martins Fontes, 1997.SERAFINI, Maria T. Como escrever textos. 11. ed. São Paulo: Globo, 2001.

1. Critérios de avaliação oral

Aspectos que serão avaliados desde o primeiro ao último dia: a) demonstração, por meio de informações precisas, de que fez a leitura do texto;b) exposição de ideias claras, coerentes e com senso crítico, tanto nos debates em grupos pequenos

quanto no grupão;c) boa entonação, adequado volume de voz e entusiasmo ao fazer exposição oral;d) apresentação de informações novas e relevantes a partir, quando possível, de conhecimentos

prévios;e) atenção e respeito às ideias dos colegas;f) inscrever-se (sinalizar com a mão) e esperar pelo turno de exposição;g) criatividade e colaboração na preparação de material e nas apresentações orais; h) postura adequada quando fizer exposição; i) uso da norma culta da língua nas modalidades oral e escrita, exceto em situações específicas que

exijam outras variantes.

2. Critérios de avaliação escrita

Os textos escritos serão avaliados a partir dos critérios:

1. Quanto à estrutura, o texto: (valor: 30%) apresenta características do gênero textual solicitado, de forma que é possível identificá-lo? apresenta as ideias centrais (tese e argumentos) quando o texto é argumentativo?

2. Quanto aos aspectos de coesão, coerência, clareza e criticidade, o texto: (valor: 30%) apresenta o uso adequado de anafóricos, de elementos coesivos e de articuladores? apresenta o assunto de maneira original, crítica e criativa?

3. Quanto a aspectos gramaticais, o texto: (valor: 25%) está escrito de acordo com a variante lingüística adequada? está adequado quanto à ortografia? está adequado quanto ä concordância? está adequado quanto à pontuação? está adequado quanto à sintaxe? está adequado quanto ao uso de letras minúsculas e maiúsculas?

4. Quanto a aspectos estéticos, o texto: (valor: 15%)0. apresenta paragrafação correta (distribuída de forma adequada)?

apresenta letra legível, organização estética adequada e título criativo?

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LINGUAGEM, LÍNGUA E FALA

O termo linguagem deve ser entendido como a faculdade mental que distingue os humanos de outras espécies animais e possibilitam nossos modos específicos de pensamento, conhecimento e interação com os semelhantes. É a capacidade da espécie humana de se comunicar por meio de um sistema de signos (ou língua).

Para o linguista Saussure, a linguagem é composta de duas partes: a Língua, essencialmente social porque é convencionada por determinada comunidade linguística; e a Fala, que é secundária e individual, ou seja, é veículo de transmissão da Língua, usada pelos falantes por meio da fonação e da articulação vocal.

A língua é, então, entendida como forma de realização da linguagem; como sistema linguístico necessário ao exercício da linguagem na interlocução ou como instrumento do qual a linguagem se utiliza na comunicação. Apesar de a língua ser um sistema de signos específicos aos membros de uma mesma comunidade (por exemplo: língua portuguesa, língua inglesa), no interior de uma mesma língua são importantes as variações. Dentro de uma mesma língua temos, então, diversas modalidades: língua familiar; língua técnica, língua erudita, língua popular, língua própria a certas classes sociais, a certos subgrupos, em que se enquadram os diferentes tipos de Gíria. Entre as variações geográficas temos os dialetos (como as variações específicas das regiões do Brasil). Alguns linguistas preferem usar o termo dialeto para designar as variantes ou variações, de uma forma geral.

Como se vê, a língua é um sistema de símbolos pela qual a linguagem se realiza. Mas a linguagem se encontra relacionada a outros sistemas simbólicos (sinais marítimos, Morse1) e torna-se, assim, objeto da semiologia ou semiótica, que deve estudar “a vida dos signos no seio da vida social”. Nota-se, portanto, que o termo linguagem tem uma conotação bem mais abrangente do que língua.

A fala, por sua vez, é um fenômeno físico e concreto que pode ser analisado seja diretamente, com ajuda dos órgãos sensoriais, sejam graças a métodos e instrumentos análogos aos utilizados pelas ciências físicas. Para os receptores (ouvintes) a fala é, com efeito, um fenômeno fonético; a articulação da voz dá origem a um segmento fonético audível imediatamente a titulo de pura sensação. Esse fenômeno implica o aparelho fonador e a produção dos sons da fala.

Assim, fica evidente que o desenvolvimento humano e o avanço das civilizações dependem do progresso alcançado em suas atividades, a descoberta do fogo, a divisão do trabalho, as máquinas, as tecnologias. Mas, acima de tudo, da evolução dos meios de receber comunicação e de se comunicar, de registrar o conhecimento e o desenvolvimento da escrita e fonética. O homem necessita comunicar para progredir; quanto mais avançada for a capacidade de comunicação de um conjunto de indivíduos, mais rápida será sua progressão. E sua linguagem é uma ferramenta capaz de traduzir, fotografar o estágio de desenvolvimento da humanidade.

Atividade

1. Leia o texto:

No estádio de futebol, a comunicação aparece nos gritos da torcida, nas cores das bandeiras, nos números das camisetas dos jogadores, nos gestos, apitadas e cartões do juiz e dos bandeirinhas, no placar eletrônico, nos alto-falantes e radinhos de pilha, nas conversas e insultos dos torcedores, em seus gritos de estímulo, no trabalho dos repórteres, radialistas, fotógrafos e operadores de TV. O próprio jogo é um ato de comunicação. Dias antes já havia provocado dúzias de mensagens e durante dias a fio ele continuará sendo objeto de comunicação nos botequins, nos escritórios, nas fábricas, nos rádios e nos jornais.(BORDENAVE, Juan. E. Dias. O que é comunicação. 2 ed. São Paulo: Brasiliense, 1982. p.15)

1 O Alfabeto Morse foi inventado pelo norte-americano Samuel Finley B. Morse (1791-1872), para as comunicações telegráficas. Ele transmitiu o primeiro telegrama do mundo, entre as cidades de Washington e Baltimore, nos Estados Unidos, numa extensão de 64 quilômetros. Samuel também inventou o telégrafo sem fio. Disponível em:<http://www.girafamania.com.br/girafas/lingua_morse.html.> Acesso em 31 de jul. 2009.

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Questão 1:Dentre as manifestações comunicativas citadas a seguir, reconheça o que se constitui em linguagem verbal (V) e em linguagem não-verbal (NV).

1. gritos da torcida 2. cores das bandeiras 3. números das camisetas 4. gestos, apitadas, e cartões do juiz e dos bandeirinhas 5. conversas de torcedores

Assinale a alternativa correta.a.( ) 1.V, 2.V, 3.NV, 4.NV, 5.Vb.( ) 1.NV, 2.V, 3.V, 4.NV, 5.NVc.( ) 1.V, 2.NV, 3.NV, 4.NV, 5.Vd.( ) 1.V, 2.V, 3.NV, 4.NV, 5.Ve.( ) 1.V, 2.NV, 3.V, 4.NV, 5.V

Disponível em: <ttp://novosolhos.com.br/site/arq_material/12042_13033.pdf>. Acesso em 31 de jul. 2009.

O APRENDIZADO DA LEITURA - COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS

Interessa a todos saber que procedimento se adotar para tirar  o maior rendimento possível da leitura de um texto. Mas não se pode responder a essa pergunta sem antes  destacar  que não  existe para ela uma solução mágica, o que não quer dizer que não exista solução alguma.  Genericamente, pode-se afirmar que uma leitura proveitosa pressupõe, além do conhecimento lingüístico propriamente dito, um repertório de informações exteriores ao texto, o que se costuma chamar de conhecimento de mundo. A título de ilustração, observe a questão seguinte, extraída de um vestibular da UNICAMP:

Às vezes, quando um texto é ambíguo, é o conhecimento de mundo que o leitor tem dos fatos que lhe permite fazer uma interpretação adequada do que se lê. Um bom exemplo é o texto que segue:"As videolocadoras de São Carlos estão escondendo suas fitas de sexo explícito. A decisão atende a uma portaria de dezembro de 1991, do Juizado de Menores, que proíbe que as casas de vídeo aluguem, exponham e vendam fitas pornográficas a menores de 18 anos. A portaria proíbe ainda os menores de 18 anos de irem a motéis e rodeios sem a companhia ou autorização dos pais" (Folha Sudeste, 6/6/92).

É o conhecimento lingüístico que nos permite reconhecer a ambigüidade do texto em questão (pela posição em que se situa, a expressão sem a companhia ou autorização dos pais permite a interpretação de que com a companhia ou autorização dos pais os menores podem ir a rodeios ou motéis). Mas o nosso conhecimento de mundo nos adverte de que essa interpretação é estranha e só pode ter sido produzida por engano do redator. É muito provável que ele tenha tido a intenção de dizer que os menores estão proibidos de ir a rodeios sem a companhia ou autorização dos pais e de frequentarem motéis.

Como se vê, a compreensão do texto depende também do conhecimento de mundo, o que nos leva à conclusão de que o aprendizado da leitura depende muito das aulas de Português, mas também de todas as outras disciplinas sem exceção.

Três questões básicas:

Uma boa medida para avaliar se o texto foi bem compreendido é a resposta a três questões básicas:I - Qual é a questão de que o texto está tratando? Ao tentar responder a essa pergunta, o leitor será obrigado a distinguir as questões secundárias da principal, isto é, aquela em torno da qual gira o texto inteiro. Quando o leitor não sabe dizer do que o texto está tratando, ou sabe apenas de maneira genérica e confusa, é sinal de que ele precisa ser lido com mais atenção ou de que o leitor não tem repertório suficiente para compreender o que está diante de seus olhos.

II - Qual é a opinião do autor sobre a questão posta em discussão? Disseminados pelo texto, aparecem vários indicadores da opinião de quem escreve. Por isso, uma leitura competente não terá dificuldade em identificá-la. Não saber dar resposta a essa questão é um sintoma de leitura desatenta e dispersiva.

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III - Quais são os argumentos utilizados pelo autor para fundamentar a opinião dada? Deve-se entender por argumento todo tipo de recurso usado pelo autor para convencer o leitor de que ele está falando a verdade. Saber reconhecer os argumentos do autor é também um sintoma de leitura bem feita, um sinal claro de que o leitor acompanhou o desenvolvimento das idéias. Na verdade, compreender um texto significa acompanhar com atenção o seu percurso argumentatório.

Texto de Francisco Platão Savioli.Disponível em: <http://www.mundovestibular.com.br/articles/411/1/O-APRENDIZADO-DA-LEITURA---COMPREENSAO-E-INTERPRETACAO-DE-TEXTOS/Paacutegina1.html>. Acesso em 30 jul. 2009.

Também para Geraldi (1984), um bom roteiro para estudar um texto é o de a. especificar a tese defendida (tema do texto);b. os argumentos apresentados em favor da tese;c. os contra-argumentos levantados em teses contrárias;d. a coerência entre tese e argumentos.

O autor sugere ainda que cada um desses tópicos pode ser posto em questão quanto à veracidade e à validade dos argumentos apresentados. Para tanto, é importante observar a “costura” do texto, isto é, como se dá a passagem de um parágrafo para outro, e como, no interior do parágrafo, se passa de uma afirmação para outra. Pode-se ainda analisar os objetivos do autor, que contra-argumentos invalidam seus argumentos ou que contra-argumentos confirmam sua posição.

Os novos códigos Lya Luft

Linguagens são códigos e com eles nos comunicamos. Vivemos segundo alguns, também, na vida diária. Segundo códigos de ética que no momento são objeto de verdadeira guerra entre nós. Se de um lado andamos de cabeça mais erguida nestes dias, porque ao menos um passo foi dado e temos quatro dezenas de réus em falcatruas variadas e graves, paira ainda certo receio de que tudo seja turvado por interesses políticos e artimanhas de compadres. Mas estamos mais esperançosos de que a verdade e a Justiça culpem os culpados e absolvam os inocentes.

Isso dito, vamos ao código que aqui me interessa, o da linguagem. O da comunicação, que na verdade é múltiplo, são muitos. Linguagem de cegos, linguagem de surdos, linguagem de namorados, as linguagens das famílias – em que determinadas palavras evocam cenas hilariantes ou tristes. Linguagens técnicas, linguagens profissionais, o jargão dos médicos, dos advogados, que precisa eventualmente ser traduzido para o comum mortal. Sem falar na linguagem das siglas que dominam o mundo, para as quais até dicionários já existem. E a linguagem técnica ligada às mais variadas ciências e meandros do universo tecnológico, no vasto e interessantíssimo leque das nossas capacidades e curiosidades.

Agora, surge uma preocupação com a linguagem abreviada e de caráter fonético usada em mensagens de computador, como nos chats. Os catastrofistas, de cabelo em pé, empunham a vassoura da faxina crítica. O receio é que os jovens, usando desse recurso que tem a ver com velocidade e economia, haveriam de desaprender, ou nunca aprender direito, o código do próprio idioma escrito. Receio infundado: somos capazes de dominar, na fala e na escrita, várias linguagens ao mesmo tempo e transitar entre elas com habilidade e até elegância em certos casos. Na escrita, lembrem-se, não há perigo de sotaque. Se pudéssemos dominar apenas um sistema de sinais escritos, aquele que aprendesse taquigrafia haveria de cometer mais erros de ortografia. Longe disso. Ao contrário, acredito – e os linguistas talvez confirmem – que, de quanto mais recursos dispomos, melhor os usamos em cada ocasião.

Linguagem é a roupa da mente: não falamos em casa como falamos num discurso em ocasião solene nem falamos numa entrevista para conseguir emprego como falamos brincando com nossa turma na escola. E não falamos com um bebê de dois anos como falamos com o médico ao qual estamos expondo nossos males. Somos melhores do que se pensa, mais hábeis e mais capazes, embora em geral a gente não tenha nem dê essa impressão de nós mesmos. Escrever com abreviaturas, siglas, formas enigmáticas aos desavisados é apenas uma maneira divertida, rápida, inteligente, econômica, criativa e, sim, um pouco secreta de estabelecer e cultivar laços cibernéticos, que podem confirmar amizades já existentes (falo com amigos distantes mais frequentemente do que com o que mora no mesmo edifício) ou abrir a porta para novas relações. Que nem sempre são o lobo mau, embora crianças devam ser controladas e alertadas para doenças como pedofilia e outros males nesta nossa

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enferma sociedade. Conheço casais felizes que se encontraram num chat, e casais extraordinariamente infelizes que conviveram desde a adolescência.

É preciso dar uma chance às novidades e inovações, em lugar de criticar de saída ou prevenir-se contra, como se tudo o que é novo fosse primariamente mau. É como se fora da língua culta, a língua-padrão que é e deve ser usada em momentos mais sérios, todas as demais formas de comunicação fossem espúrias. Não sejamos chatíssimos senhores com odor de naftalina, ou damas enfiadas no espartilho do preconceito: sem ginga, sem alegria, sem abertura para o novo e o bom, por isso mesmo sem discernimento para o verdadeiramente mau.

Além de tudo, a língua, como os costumes, a vida, a sociedade e as culturas, no bom e no negativo, segue uma evolução que independe de nós, dos moralistas, dos puristas, dos gramáticos, dos donos da verdade, dos que seguram o facho da razão numa das mãos e na outra o chicote da censura. Nem tudo o que é novo é positivo, nem tudo o que é tradicional é melhor. Ou ainda acenderíamos fogo esfregando pedrinhas, no fundo obscuro de alguma caverna.

Disponível em: http://www.digestivocultural.com/colunistas/coluna. Acesso em 17 de junho. 2010.

Questão 1:

Vamos identificar a tese defendida por Lya Luft no texto Os novos códigos como também os argumentos e os contra-argumentos utilizados na construção da opinião da autora.

ESTRATÉGIAS – LEITURA DE ESTUDO

Para Brito (2001), o estudo e a reflexão de um texto supõem o uso de recursos como sublinha, anotações de margem de texto, marcas diversas que orientam a leitura, fichamento, resumo, esquema. Vamos estudar alguns desses recursos mais detalhadamente.

A TÉCNICA DE SUBLINHAR

Sublinhar um texto é destacar as ideias principais. Para tanto é importante ter a percepção do conteúdo do texto. “Sua finalidade é destacar elementos que servirão de orientação para consulta futura; por isso, tem de ser objetivo e restringir a palavras ou frases”. Como é necessário encontrar as ideias que nortearam o desenvolvimento do texto, é uma estratégia que monitora a compreensão. Permite que se faça um mapeamento do texto, destacando partes ou subdivisões, tese, principais argumentos, contraposições, definições, etc. É importante perceber como o autor desenvolveu o texto. Essa marcação, além de ajudar na compreensão do texto, auxilia na concentração na hora da leitura, pois com um objetivo, uma tarefa a realizar, uma ação concreta, se tem mais facilidade de fixar a atenção na leitura e na compreensão das ideias. Além disso, possibilita voltar ao texto lido, num outro momento, quando for necessário buscar uma ideia para fundamentar uma posição ou relembrar o lido ou, por qualquer outro motivo, fazer uma retomada do texto. A técnica de sublinhar pode ser desenvolvida a partir dos seguintes procedimentos: a) leitura integral do texto para contato panorâmico; b) esclarecimento de dúvidas de vocabulário e termos técnicos; c) releitura do texto para identificar as ideias principais; d) sublinhar, em cada parágrafo, as palavras que contêm a ideia-núcleo e os detalhes importantes; e) assinalar com uma linha vertical, à margem do texto, os tópicos mais importantes. f) assinalar, à margem do texto, com um ponto de interrogação, os casos de discordâncias, as passagens obscuras, os argumentos discutíveis;g) ler o que foi sublinhado para verificar se há sentido;h) reconstruir o texto, tomando as palavras sublinhadas como base. Para se obter maior funcionalidade das anotações, essas sugestões, evidentemente, podem sofrer variações e adaptações pessoais, tais como: • Sublinhar com lápis preto macio, para não danificar o texto. • Outra prática optativa é sublinhar com dois traços a ideia principal e com um traço as ideias secundárias. • Dependendo do gosto, usa-se caneta hidrocor, em várias cores, estabelecendo-se um código particular, como: vermelho = idéia principal; azul = detalhes importantes.

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• As anotações à margem do texto podem ser feitas com um traço vertical para trechos importantes e dois traços verticais para os importantíssimos. O indispensável é sublinhar apenas o estritamente necessário, evitando-se o acúmulo de anotações que, além de causar mau aspecto, em vez de facilitar o trabalho do leitor, dificulta e gera confusão. É muito útil, no final do trabalho, fazer uma leitura comparando-se o texto original com o texto sublinhado. No texto abaixo, as ideias principais estão sublinhadas. Elabore um resumo:

Quatro funções básicas têm sido convencionalmente atribuídas aos meios de comunicação de massa: informar, divertir, persuadir e ensinar. A primeira diz respeito à difusão de notícias, relatos, comentários etc. sobre a realidade, acompanhada, ou não de interpretações ou explicações. A segunda função atende à procura da distração, de evasão, de divertimento, por parte do público. Uma terceira função é persuadir o indivíduo — convencê-lo a adquirir certo produto, a votar em certo candidato, a se comportar de acordo com os desejos do anunciante. A quarta função — ensinar — é realizada de modo direto ou indireto, intencional ou não, por meio de material que contribui para a formação do indivíduo ou para ampliar seu acervo de conhecimentos, planos, destrezas, etc. (Samuel Pfromm Neto apud Soares & Campos, 1978, p. 111).

ELABORAÇÃO DE ESQUEMAS

O esquema “é uma forma de reorganizar um texto em tópicos seqüenciais ou arranjo de um modo espacial específico para permitir a visualização global e rápida”. É uma atividade que pode ajudar na seleção e na organização das informações mais importantes. “O esquema é um texto que corresponde, grosso modo, a uma radiografia do texto, pois nele aparece apenas o ‘esqueleto’, ou seja, as ‘palavras-chave’, sem necessidade de apresentar frases redigidas”. Utilizam-se normalmente de colchetes, chaves, setas e outros símbolos (Andrade, 1997) que possam ajudar na organização e visualização das ideias. É um texto que auxilia na leitura, fundamental para desenvolver a capacidade de usar a escrita para intervenção social, estudo e trabalho.

Exemplo:

Outra forma de apresentar um esquema é por meio de uma listagem hierarquizada por diferenciação de espaço e/ou subdivisão numérica, como o seguinte:

FENÔMENO EL NIÑO1. Ocorrência periódica (época do Natal).

Águas do Oceano Pacífico.

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Inflete para oeste antes de atingir o equador(costas da Austrália e das Ilhas Salomão)

Ocorrência periódica(época do Natal)

FENÔMENO EL NIÑO

Corrente marítima de Humboldt

Microrganismos animais e vegetais de vida aquática (plâncton)

Desvio da corrente deáguas frias

Ventos provindosdo oeste

Diminuição daquantidade de plâncton

Águas do OceanoPacífico

Águas frias das regiõespolares para as regiõessul-equatorianas

Alimentos paraos peixes

Ar quente

Queda do rendimentopesqueiro

Atividade de pesca do Peru

Inflete para oeste, antes de atingir ascostas do Peru

Aquecimento das águascosteiras do Peru

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1.1.1. Atividades de pesca do Peru.2. Corrente marítima de Humboldt.

Águas frias das regiões polares para as regiões sul-equatorianas.2.1.1. Inflete para oeste antes de atingir o equador (costas da Austrália e das Ilhas Salomão).

3. Microrganismos animais e vegetais da vida aquática (plâncton).Alimentos para os peixes.

4. Desvio da corrente de águas frias.Inflete para oeste, antes de atingir as costas do Peru.

5. Ventos provindos do oesteAr quente. 5.1.1. Aquecimento das águas costeiras do Peru.

6. Diminuição da quantidade de plâncton.Queda do rendimento pesqueiro.

CASTELLO-PEREIRA, Leda Tessari. Leitura de estudo. Campinas: Alínea, 2003FULGÊNCIO, Lúcia & LIBERATO, Yara. Como facilitar a leitura. São Paulo: Contexto, 2000.

Questão 1:A partir dos conhecimentos específicos que já temos do nosso curso, vamos definir um assunto, esquematizá-lo e apresentá-los aos colegas por meio do esquema elaborado.

A LÍNGUA E OS FALANTES

1. AS VARIEDADES LINGUÍSTICAS E A ESTRUTURA SOCIAL

Como já foi dito, em qualquer comunidade de fala, podemos observar a coexistência de um conjunto de variedades linguísticas. Essa coexistência, entretanto, não se dá no vácuo, mas no contexto das relações sociais estabelecidas pela estrutura sociopolítica de cada comunidade. Na realidade objetiva da vida social, há sempre uma ordenação valorativa das variedades linguísticas em uso, que reflete a hierarquia dos grupos sociais. Isto é, em todas as comunidades existem variedades que são consideradas superiores e outras inferiores. “Uma variedade linguística ‘vale’ o que ‘valem’ na sociedade os seus falantes, isto é, vale como reflexo do poder e da autoridade que eles têm nas relações econômicas e sociais” (Gnerre). Constata-se, de modo evidente, a existência de variedades prestigiadas e de variedades não prestigiadas nas sociedades em geral. As sociedades de tradição ocidental oferecem um caso particular de variedade prestigiada: a variedade padrão. A variedade padrão é a variedade linguística socialmente mais valorizada de reconhecido prestígio dentro de uma comunidade, cujo uso é normalmente requerido em situações de interação determinadas, definidas pela comunidade como próprias em função da formalidade da situação, do assunto tratado, da relação entre os interlocutores etc. A língua padrão tem uma enorme importância em sociedades como nossa. O que chamamos de variedade padrão é o resultado de uma atitude social ante a língua, que se traduz, de um lado, pela seleção de um dos modos de falar entre variedades existentes na comunidade, de outro, pelo estabelecimento de um conjunto de normas que definem o modo “correto” de falar. Tradicionalmente, o melhor modo de falar e as regras do bom uso correspondem aos hábitos linguísticos dos grupos socialmente dominantes. Em nossas sociedades de tradição ocidental, a variedade padrão, historicamente coincide com a variedade falada pelas classes sociais altas, de determinadas regiões geográficas. A avaliação social das variedades linguísticas é um fato observável em qualquer comunidade da fala. Frequentemente, ouvimos falar em línguas “simples”, “inferiores”, “primitivas”. Para a Linguística – ciência da linguagem – esse tipo de afirmação carece de qualquer fundamento científico. Toda língua é adequada à comunidade que utiliza, é um sistema completo que permite a um povo exprimir o mundo físico e simbólico em que vive. Assim como não existem línguas “inferiores”, não existem variedades linguísticas “inferiores”. As línguas não são homogêneas e a variação observável em todas elas é produto de sua história e do seu presente. Em que se baseiam, então, as avaliações sociais? Podemos afirmar que os julgamentos sociais ante a língua – ou melhor, as atitudes sociais – se baseiam em critérios não linguísticos: são julgamentos de natureza política e social. Não casual, portanto, que se julgue “feia” a variedade dos falantes de origem rural, de classe social baixa, com pouca escolaridade,

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de regiões culturalmente desvalorizadas. Consideramos, por exemplo, o r caipira “desagradável”, mas usamos esse mesmo som para falar “car” (carro) em inglês sem achar “feio”. Em resumo, julgamos não a fala, mas o falante, e o fazemos em função de sua inserção na estrutura social.

2. Variedades linguísticasIvan Cupertino Dutra

Sibele Letícia Rodrigues de Oliveira Biazotto

Língua Culta ou Língua-padrão – variedade praticada pela classe social de prestígio, é usada na elaboração de documentos oficiais, na imprensa e, principalmente, na forma escrita. Segue as regras da gramática normativa. Exemplo:“Na Antigüidade, a aplicação da pena ao criminoso ficava a critério do juiz que, assim, aplicava a pena que lhe parecia mais adequada. No Iluminismo, foi questionado esse modelo especialmente com o argumento de que o castigo ficava sujeito aos humores do juiz. Em razão disso, passou-se a adotar um sistema de aplicação de penas com critérios matemáticos, ou seja, para o crime de mesma natureza, aplicar-se-ia sempre pena idêntica, o que também não se revelou um bom critério em razão de que tirava do julgador a possibilidade de fazer a aplicação da lei de acordo com as circunstâncias de cada caso concreto.” (Texto adaptado de MIRABETE, 2003, vol. 1, p. 291). Na língua culta ou padrão, podemos perceber a obediência às regras gramaticais, como a posição dos pronomes em relação aos verbos (... que lhe parecia mais adequada.../ ..., aplicar-se-ia.../..., passou-se.../); há obediência também à regência verbal e nominal (... ficava sujeito aos humores do juiz.../ ... um sistema de aplicação de penas.../... passou-se a adotar...), entre outros. Observamos também que o léxico (vocabulário) é mais bem trabalhado, com palavras escolhidas que realmente representam o que se quer dizer, sem ambigüidades.

Língua Coloquial – utilizada sem muita preocupação em seguir as regras da gramática normativa, é mais espontânea e natural. Exemplo:“Na Antigüidade, a aplicação da pena ao criminoso ficava a critério do juiz que, assim, aplicava a pena que parecia a ele mais justa. No Iluminismo, foi questionado esse modelo especialmente com o argumento de que o castigo ficava sujeito aos humores do juiz. Em razão disso, se passou a adotar um sistema de aplicação de penas com critérios matemáticos, ou seja, para o crime de mesma natureza, se aplicaria sempre pena parecida, o que também não se revelou um bom critério em razão que tirava do julgador a possibilidade de fazer a aplicação da lei de acordo com as circunstâncias de cada caso acontecido.” (Texto adaptado de MIRABETE, 2003, vol. 1, p. 291) A linguagem coloquial já ‘burla’ algumas regras gramaticais. Por exemplo, as regras que regem o uso de pronomes não são seguidas (... se passou.../... se aplicaria...), entre outras. Quanto à escolha do léxico, notamos que foram utilizadas palavras mais frequentes entre os falantes, como idêntica/parecida, caso concreto/caso acontecido.

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Língua Familiar – linguagem de caráter afetivo, menos formal e de relativa obediência às regras gramaticais, com uso recorrente de diminutivos. Exemplo:“Papai, como é que o bandido vai pra cadeia?- Filhinho, no tempo antigo, quando alguém fazia um crime, o juiz castigava, que era para ele mais certo. Depois, os outros começaram a achar que desse jeito não era bom porque ficava na vontade do juiz o tamanho do castigo. Podia acontecer que quem fez alguma coisa muito, muito errada, mais que outra, tivesse castigo parecido ou até que o outro acabasse tendo um castigo muito pior. - E depois?- Então, querido, começaram a fazer assim: o que a pessoa fez e como era castigada já estava escrito, tudinho. Aí, não era bom, porque como nunca tem crime igual, era preciso deixar que o juiz olhasse o erro de cada um para aplicar o castigo merecido.” (Texto adaptado de MIRABETE, 2003, vol. 1, p. 291) Quanto à linguagem familiar, qualquer falante de uma língua a utiliza. A questão é a escolha do momento em que podemos utilizá-la, porque contém expressões emotivas, particulares e diminutivos. Vejamos: ...filhinho..., ...querido..., ...tudinho..., ...aí..., ...muito, muito,... etc. Língua Popular – utilizada pelas pessoas de baixa escolaridade, sem preocupação com regras gramaticais, carregada de gírias e regionalismos. Exemplo:“Antigamente o castigo do bandido ficava por conta do juiz que dava o castigo que ele achava melhor. Depois acharam que não tava certo, porque só o dotô decidia. Aí, usaram uma tal de matemática: todo bandido que matava, era castigado igual. Mais também num gostaro porque cada um é cada um.” (Texto adaptado de MIRABETE, 2003, vol. 1, p. 291) Já a linguagem popular, do ponto de vista das regras gramaticais normativas, contém erros por se afastar da norma culta estabelecida. Podemos notar exemplos no texto como: ...tava..., ...dotô..., ...mais também..., ...gostaro..., etc.

Língua Grupal – é dividida em subníveis, conforme o grupo que a utiliza. Por exemplo:

1. regionalismos: é diferenciada principalmente pela pronúncia, mas também pelo vocabulário e pela sintaxe. Exemplo:“Antigamente o juiz é que tomava de conta do corretivo do cabra que matava um vivente. Depois acharam que não tava certo, porque só o dotô decidia. Aí, usaram uma tal de matemática: todo cabra que matava, era corrigido igual. Mas também num foi do agrado de todos, porque cada um é cada um.” (Texto adaptado de MIRABETE, 2003, vol. 1, p. 291) Regionalismos: podemos citar as expressões: cabra, vivente, corretivo, tomava de conta, utilizadas na região do Tocantins. Talvez em outros estados os falantes considerem diferente ou atribuam outros sentidos a tais expressões.

2. gírias: são consideradas efêmeras, ou seja, de pouca duração, conhecidas, principalmente, pelos meios de comunicação de massa. Mas há também as gírias de grupos como: de marinheiros, surfistas, caminhoneiros etc. Exemplo:“Antigamente o castigo do meliante ficava por conta do cana dura que dava o castigo que ele achava melhor. Depois acharam que não colava, porque só o doutor decidia. Aí, usaram a aritmética: todo malandro que fazia um presunto, ia pro pau de arara. Mais também num deu, amizade, porque cada um é cada um, tá ligado?” (Texto adaptado de MIRABETE, 2003, vol. 1, p. 291) Gírias: vamos nos concentrar mais nas gírias profissionais, que são menos volúveis. No texto encontramos a expressão meliante, que é considerada gíria do grupo lingüístico de que fazem parte os policiais, por exemplo.

3. línguas técnicas: são utilizadas pelas várias profissões, com presença de vocabulário específico. Exemplo:“Na Antigüidade, a fixação da pena ficava inteiramente ao arbítrio judicial. Esse injusto sistema foi substituído, em decorrência do Iluminismo, por um sistema de penas rígido, em que pouca ou nenhuma flexibilidade se dava ao juiz para aplicar a sanção. Mostrou-se esse critério também inadequado por não poder o julgador sopesar devidamente as circunstâncias do delito para uma melhor correspondência da sanção penal ao agente do fato criminoso” (Texto adaptado de MIRABETE, 2003, vol. 1, p. 291)

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Para classificação, dividimos a linguagem grupal em: Línguas técnicas: no exemplo dado, podemos identificar claramente que se trata de uma linguagem do campo jurídico, pois contém expressões como: arbítrio judicial, sanção, delito.

Linguagem na InternetAtualmente, as correspondências entre pessoas físicas, empresas e serviço público têm sido

feitas, predominantemente, pelo correio eletrônico (e-mail). Isso acontece, porque esse tipo de correspondência apresenta uma característica muito presente na contemporaneidade: a rapidez.

Além da rapidez, a eficiência dessa forma de comunicação permite que as empresas, localizadas em qualquer parte do mundo, possam economizar precioso tempo com a troca de informações, de comércio e de serviços.

Apesar de sua elaboração aparentemente fácil, ao escrever uma mensagem eletrônica devemos ficar atentos a alguns procedimentos que ajudam a compreensão da mensagem escrita.

ATIVIDADEQuestão 1: Assinale  a  opção  que  identifica  a  variação  linguística presente nos textos abaixo.

Assaltante Nordestino  –Ei, bichin…  Isso é um assalto… Arriba os braços e num se bula nem faça muganga… Arrebola o dinheiro no mato e não faça pantim  se não  enfio  a  peixeira  no  teu  bucho  e  boto  teu  fato pra fora! Perdão, meu Padim Ciço, mas é que eu tô com uma fome da moléstia…    Assaltante Baiano  – Ô meu rei… (longa pausa) Isso é um assalto… (longa pausa). Levanta os braços, mas não se avexe não… (longa pausa). Se num quiser nem precisa levantar, pra num ficar cansado… Vai passando a grana, bem devagarinho… (longa pausa). Num repara se o berro está sem bala, mas é pra não ficar muito pesado… Não esquenta, meu irmãozinho (longa pausa). Vou deixar teus documentos na encruzilhada…  Assaltante Paulista  –  Orra, meu…  Isso  é  um  assalto, meu…  Alevanta  os  braços, meu… Passa a grana logo, meu… Mais rápido, meu, que eu ainda  preciso  pegar  a  bilheteria  aberta  pra  comprar  o ingresso  do  jogo  do  Corinthians,  meu…  Pó,  se  manda, meu… (A)  variação social (B)  variação regional (C)  variação cultural (D)  variação histórica (E)  variação padrãoDisponível em: <Artigos>. Acesso em 06 de fev. 2011.

3. A Língua Padrão muda no tempo

Este é um fato elementar para quem quer entender as línguas: todas as línguas mudam ao longo do tempo. As formas lingüísticas consideradas padrões, principalmente na escrita, são mais resistentes à mudança - porque vivem sob controle severo! - mas também mudam. Vejamos algumas conseqüências que decorrem da mudança.

Uma delas é a relativa imprecisão de suas características. Um exemplo bastante visível é o caso da regência de alguns verbos. Há uma tendência muito forte na linguagem oral do português brasileiro de tornar transitivos diretos alguns verbos que tradicionalmente eram transitivos indiretos (Assisti um filme, por exemplo, em vez de Assisti a um filme). Nesses casos, a tendência já está passando à escrita, e talvez seja muito mais frequente o emprego "errado" que o emprego "certo", mesmo em textos de boa qualidade, escritos por bons escritores ou jornalistas. Uma evidência dessa mudança na língua padrão é o fato de que esses verbos tornados transitivos diretos passaram a ocorrer com freqüência na escrita padrão na forma passiva, impossível sintaticamente com verbos transitivos indiretos (O jogo Brasil x Argentina foi assistido por milhões de telespectadores dos dois países; ou A Constituição nem sempre tem sido obedecida pelas autoridades federais).

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Quando o uso chega a esse ponto, pode-se dizer que a mudança de padrão começa a se consolidar. Outro caso visível é a colocação dos pronomes no português brasileiro, que insiste sistematicamente em recusar algumas normas das gramáticas escolares. Na fala, o padrão de Portugal (que determinou na origem o do Brasil) desapareceu quase que por completo. Na escrita mantém-se mais visivelmente apenas a regra de não se começar período com pronome átono, mas mesmo esta é rompida em textos mais informais e nos textos literários, como o exemplifica o texto do poeta Oswald de Andrade que, na década de vinte do século passado, criticou veementemente a norma culta muito parecida com o português praticado em Portugal:

Pronominais Dê-me um cigarroDiz a gramáticaDo professor e do alunoE do mulato sabidoMas o bom negro e o bom brancoDa nação brasileiraDizem todos os diasDeixa disso camaradaMe dá um cigarro (Oswald de Andrade )

Em outros casos, a resistência é muito mais forte. Veja-se, por exemplo, o fenômeno da concordância nos casos em que o sujeito aparece depois do verbo, do tipo foram inauguradas as usinas. Na língua oral - e isso mesmo nas faixas mais escolarizadas da população - há uma tendência sis-temática a não fazer a concordância (Foi inaugurado as usinas). Mas aqui a transformação não chegou ao padrão escrito de prestígio, embora seja frequentíssima em textos escolares, o que costuma ser sintoma de que a mudança está avançando significativamente.

Outro aspecto que decorre da transformação da língua ao longo do tempo é a convivência (nem sempre pacífica!) entre formas arcaicas e formas contemporâneas, isto é, as mudanças nunca acontecem subitamente. Pouco a pouco, as "novidades" (ou os "erros", dependendo do ponto de vista...) vão se popularizando e disseminando até o momento em que ninguém mais consegue perceber a nova forma como erro - exceto, é claro, os gramáticos, que por mais que reclamem e vociferem não conseguem “segurar” a mudança. Faça um teste: tente convencer pessoas comuns que o certo é dizer Se eu vir fulano, eu o aviso, e não Se eu ver fulano, eu aviso ele. Falar nisso: o padrão é Convencer pessoas que o certo é... ou Convencer pessoas de que o certo é...?

ATIVIDADES

Texto 1: MAS, AFINAL, O QUE É LÍNGUA PADRÃO?

Já sabemos que as línguas são um conjunto bastante variado de formas linguísticas, cada uma delas com a sua gramática, a sua organização estrutural. Do ponto de vista científico, não há como dizer que uma forma linguística é melhor que outra, a não ser que a gente se esqueça da ciência e adote o preconceito ou o gosto pessoal como critério.(não exist var.linguist.melhor q a outra a n ser por gosto pessoal).

Entretanto, é fato que há uma diferenciação valorativa, que nasce não da diferença desta ou daquela forma em si, mas do significado social que certas formas linguísticas adquirem nas sociedades. Mesmo que tenhamos pensado objetivamente a respeito nós sabemos (ou procuramos saber o tempo todo) o que é e o que não é permitido... Nós costumamos “medir nossas palavras”, entre outras razões, porque o nosso ouvinte vai julgar não somente o que se diz, mas também quem diz. E a linguagem é altamente reveladora: ela não transmite só informações neutras; revela também nossa classe social, a região de onde viemos, o nosso ponto de vista, a nossa escolaridade, a nossa intenção... Nesse sentido, a linguagem também é um índice de poder.( n existe inform neutra,ou seja,a partir do que falamos podem identificar de onde vimos, kemsomos... pelo sotaque, pela forma usada.Medir palavras é n fugir daquilo que é prestabelec pela socied, n falar algopra n agredir alguém,p/ exemp,é quest de adequabilidade)

Assim, na rede das linguagens de uma dada sociedade, a língua padrão ocupa um espaço privilegiado: ela é o conjunto de formas consideradas como o modo correto, socialmente aceitável, de falar ou escrever.

Atividade:Questão 1: Sobre o texto acima, é correto afirmar:

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01. O trecho “a não ser que a gente se esqueça da ciência e adote o preconceito ou o gosto pessoal como critério (linhas 3 e 4) pode ser parafraseado: “a não ser que nos esqueçamos da ciência e seja adotado o preconceito linguístico ou o gosto pessoal como critério”.

02. Os pronomes “a gente” (linha 3) e “nós” (linha 7) foram usados com o mesmo significado referencial. Esse recurso se caracteriza como variação linguística e pode ser observado, atualmente, tanto na linguagem padrão como na coloquial.

04. O articulador “assim” (linha 13) foi usado com o valor exemplificativo e complementar. O parágrafo introduzido por ele serviu para confirmar o que foi dito antes.

08. No trecho “ela não transmite só informações neutras” (linha 10), a afirmação indica que existem informações neutras, além de outras informações.

16. A expressão “não somente.. mas também” em: “nosso ouvinte vai julgar não somente o que diz, mas também quem diz” (linha 9) estabelece uma relação de retificação do argumento da primeira afirmação com o argumento da segunda e acrescenta uma nova informação.

A soma das alternativas corretas:a) 12b) 24c) 15d) 28e) 31

Texto 2: O beijo

O beijo é uma coisa que todo mundo dá em todo mundo. Tem uns que gostam muito, outros que ficam aborrecidos e limpam o rosto dizendo já vem você de novo e tem ainda umas pessoas que quanto mais beijam, mais beijam, como a minha irmãzinha que quando começa com o namorado dá até aflição. O beijo pode ser no escuro e no claro. O beijo no claro é o que o papai dá na mamãe quando chega, o que eu dou na vovó quando vou lá e mamãe obriga, e que o papai deu de raspão na empregada noutro dia, mas esse foi tão rápido que eu acho que foi sem querer... (Millôr Fernandes) (cron. Humoristica)

Questão 2:Em que variante linguística está escrita a pequena crônica de Millôr Fernandes? Por quê? Que marcas textuais autorizam tal resposta? R:var.colokial e familiar. Ver marcas e termos usados!

Texto 3:Observar a imagem para responder às questões e elaborar texto.

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Questão 3: A respeito da placa de papelão na parede em construção:- Que atitude do interlocutor o aviso espera ser colocada em prática? - Que idade tem, aproximadamente, - a que classe social pertence, - que profissão exerce, - de que sexo é e- em que local mora a pessoa que o escreveu? Como também, que motivo a obrigou a escrever tal texto?

- Após ter todas as respostas às perguntas feitas, elaboremos um texto contínuo, ou seja, sem tópicos, o perfil da hipotética pessoa que escreveu o aviso na parede, no qual apareçam todas as informações, com coesão e coerência.

Texto 3:Vamos observar atentamente a tirinha para responder à questão 3.

Disponível em: <http://noisnatira.com/quadrinhos/31-03-2009_diversas.png>. Acesso em 15 de mar.2010.

Questão 3:A partir dos elementos verbais (palavras) e não verbais (imagens) do texto 1 (charge), por que um dos personagens da tirinha passou mal? Nos argumentos apresentados devemos apresentar informações fundamentadas na teoria, como por exemplo, tipo de variantes as quais estão em questão, a circunstância em que elas ocorrem, a adequabilidade ou inadequabilidade do uso das variantes.

LÍNGUA E ESCRITA

FALAR E ESCREVER

A cultura letrada, em geral, tem uma forte tendência a confundir língua com representação gráfica da língua (escrita). Por força da tradição escolar e da própria ideia de autoridade que emana da escrita, parece-nos mesmo que a “verdadeira língua” é escrita, sendo a fala uma espécie de subproduto dela, de menor importância e sem nenhum prestígio.

Há mesmo quem diga, invertendo o curso da história, que devemos “falar como escrevemos”. Não se trata simplesmente de uma confusão de ignorantes: basta acompanhar as discussões que, de tempos em tempos aparecem em torno de reforma ortográfica da língua portuguesa que encontraremos escritores, jornalistas e intelectuais em geral se manifestando sobre “mudança da língua”, quando, na verdade, o máximo que uma reforma ortográfica consegue é mudar o modo como se grafam as palavras. Nenhuma reforma ortográfica no mundo muda a língua, isto é, o sistema altamente complexo que os falantes usam no seu dia a dia.

A identificação de língua com escrita leva a confusão grosseira na própria noção de gramática, que, como vimos, é qualidade intrínseca de qualquer língua. Veja este trecho de uma revista semanal sobre a situação em Timor Leste:

Timor Leste é uma ilha do tamanho do município de Manaus, com população equivalente à de Campinas e dividida em 36 etnias. A língua dominante é o teto, que não tem gramática nem dicionário. A religião praticada pela maioria, o catolicismo, é um dos poucos traços fortes que une o país a seu

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passado português. Frágil infraestrutura existente foi destruída nas duas semanas entre o plebiscito e a chegada das tropas de paz da ONU.

O redator quis dizer, naturalmente, que a língua não dispõe de uma gramática normativa, isto é, de um livro que descreva as regras da língua. Mas é claro que a língua tem gramática. Já a palavra “dicionário” foi bem usada – um erro equivalente, nesse caso, seria dizer que a língua não tem “vocabulário”, o que é um absurdo.(FARACO, Carlos Alberto. Práticas de texto para estudantes universitários. 17 ed. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2008).

FALA E ESCRITA

Condições de produção

Fala EscritaInteração face a face. Interação à distância. Planejamento simultâneo ou quase simultâneo à produção.

Planejamento anterior à produção.

Criação coletiva: administrada passo a passo. Criação individual.Impossibilidade de apagamento. Possibilidade de revisão.Sem condições de consulta a outros textos. Livre consulta.A reformulação pode ser promovida tanto pelo falante como pelo interlocutor.

A reformulação é promovida apenas pelo escritor.

Acesso imediato às reações do interlocutor. Sem possibilidade de acesso imediato.O falante pode processar o texto, redirecionando-o a partir das reações do interlocutor.

O escritor pode processar o texto a partir das possíveis reações do leitor.

O texto mostra todo o seu processo de criação. O texto tende a esconder o seu processo de criação, mostrando o resultado.

Distinções específicas entre fala e escrita

- Ampla variedade x modalidade única (“língua padrão”)- Elementos extralingüísticos x sinais gráficos- Prosódia e entonação x sinais gráficos- Frases mais curtas x frases mais longas- Redundâncias x concisão- Unidade temática: flutuação x rigidez- Interlocutor: presença x ausência- Aprendizagem “natural” x aprendizagem “artificial”

O estudo da Retextualização, ao transpor da conversa espontânea para o texto escrito, deixa-nos a ideia nítida de que a fala é um modo de expressão e a escrita constitui-se em outra forma de comunicação, a qual deve ser clara, direta, coesa, coerente e elegante. Assim, as idéias organizadas mentalmente ajudam-nos a escrever com clareza.

Conversação espontânea

Em reportagem do dia 19.06.05, o jornal Zero Hora publica uma entrevista que Márcio Pinheiro fez ao jornalista Zuenir Ventura.

MP – Qual a sua lembrança de infância mais remota?ZV – Era... uma:: pirigosa brincadeira que fazíamos em Ponte Nova, Minas, onde fui criado::atravessar uma ponte:: ... poco antes de o trem passá.MP – Qual a palavra mais bonita da Língua Portuguesa?ZV – Saudade::... não só pela o-ri-gi-na-lida-de... existe:: apenas na nossa língua:: como pela sonoridade, sem falar no sentido.MP – Defina-se.ZV – Eu::... sou...sou... ah ah... um humilde operário das letras.

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Exemplo de retextualização – transposição da conversa espontânea em texto escrito:

Zuenir Ventura, jornalista, em entrevista, afirma que costumava brincar, quando criança, de atravessar uma ponte antes da passagem do trem, na cidade de Ponte Nova, Minas Gerais, sua cidade natal, sendo sua lembrança mais antiga da infância. Quanto à palavra mais bonita da LínguaPortuguesa, ele destaca saudade, não só por existir apenas na nossa língua, mas também pelo significado e sonoridade. O autor do livro 1968 termina a entrevista definindo-se como um humilde operário das letras. (Ead Conectado: Vanessa Loureiro Correa)

Como você, aluno, pode perceber, a passagem do texto oral para o escrito constitui-se na organização da escrita,

respeitando aspectos de clareza, objetividade, elegância, coesão e coerência.

ATIVIDADES Vamos ler o segmento abaixo e responder à questão 1?

Qual é a sua opinião sobre os transportes em Porto Alegre?Bom u qui eu achu du:: du transporrte u qui eu achu dus ônnibus é qui:: us motorista sãu muitu dus ignorantis i maltratu muitu us velhinhus (( suspirou )) i as pessoa deficienti mintal i tem agora aquelis negóciu di carrterinha quandu elis pedi a carrterinha qui a genti nãu::... tem ... elis omilha bastanti na frenti di TODU mundu dentru dus ônhibus

E sobre o centro da cidade?sobri ah Porrtalegri u centru di Porrtalegri eu achu assim qui u centru de Porrtalegri as pessoas éh::: sei lá ... tem muitus crianças ah... pedindu errmola muit::us vélhu::s ah pedindu errmola i:: muitas coisas assim extragada né? cumidas ex- tra-ga-da pelu centru comu verrdura otras coisa mais inveiz deli ajudá aquelas pissoas pobris elis nãu ajudu pefiru botá no lixu...

Questão 1:

A partir do texto acima, vamos: a) identificar as características típicas da fala (oralidade);b) elaborar o perfil do/a falante (classe social, gênero, idade, onde vive, nível de

escolaridade, profissão)c) transpor o texto oral para a modalidade escrita.

Texto 2:

HISTÓRIA DE VAQUEIROS

(Elomar Figueira Mello, um dos maiores músicos e violeiros do nosso país. Ele é de Vitória da Conquista-BA)

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Mais foi tanto dos vaqueroqui rênô no meu sertãoqui cantano um dia intêronum menajo todos não.João Silva do Ri-das-ContaAntenoro do GaviãoBragadá lá das Treis PontaTiquiano do Rumãoranca tôco ribadêromatadô de lubiãoturuna qui laça frechêronos iscuro pelas mãomermo cantano um dia intêronum menajo todos nãocerta feita vô contásó um feito desse vaquêrofoi chamado pra pegáum levantado marruêroMorada Velha do OlivêraLagoa do PancadãoTiquiano foi só cum a pitêraa Ri-de-Conta e sem gibãomêa noite e luae um quilarãopontô o bicho na bibidavino do fundo da matana lagoa de purezafeito u'a bacia de prataqui buniteza nessa horasó lamento nun tá láe sem mais demora Tiquianogritô: vem bichão vem cá!riscô um tufão feito um raiájá cum bicho bem pegadoma ponta do pau-de-ferropelos mistero da horain qui num pode havê êrroo incapetado lubisomi'stremeceu soltô truvãojá tava intregano ao bicho homeas alma nas palma das

mãofaca na venta e sangue no chãoe a lua oumenta o quilarãofaca na venta e boi no chãomais foi tanto dos vaguêroqui rênô no meu sertãoqui cantano um dia intêronun manejo todos nãoJuão Silva do Ri-das-ContasAntenoro do GaviãoBragadá lá das Treis PontaTiquiano do Rumãoranca tôco ribadêromatadô de lubiãoturuna qui laça frechêronos iscuros pelas mãomermo cantano um dia interônum manajo todos nãoas Guariba é um cruzamentoin toda tarde de dumingohai um grande ajuntamentode muita gente e malungomoça bunita perdedêraBragadá sua perdiçãoboi das arma branca cara pretacatravo de pé e mãofera sturranocavava o chãosurucucúde dois ferrãomalvado e brabopegô Juãoderna o tempo de mininofazia pur brincadêrapegá bicho remetenode mão pilunga ô pitêradentra da venda in descursãoentrô os vaquêro de lá

pruns olhos bunito cum ferrãopulô a cerca bragadáa noite intêra bebeu dançôna brincadêra no Tomba virômoça bunita laço de amôpelo triz de um momentoda peleja in certa alturaviu nos olhos da morenaispelhada u'a mancha iscurafaca na venta o boi morrenoBragadá caiu no chãocum o vazí rasgado'stremecenoparava o saingue c'as mãoamô nun sei pru modi quêfacilitei olhei vocefoi pur teus olhos pur a fulôpegava o boi boi me pegôédura a sorte do pegadômorrê da morte chifrada amômais foi tanto dos vaguêroqui renô no meu sertãoqui cantano o dia intêronun manejo todos nãoJuão Silva do Ri-das-ContaAntenoro do GaviãoBragadá lá das Treis PontaTiquiano do Rumãoranca tôco ribadêromatadô de lubiãoturuna qui laça frechêronos iscuro pelas mãomermo cantano um dia intêronun menajo todos nãomermo cantano um dia intêronun menajo meus irmão

Vocabulário:

Reno= reinou num menajo = não homenageio ranca toco= peritoribadêro = vem de ´ribada´, também em dialeto. Na viagem do gado, quando uma rês desvia-se do rebanho, e se interna no mato ou nos capoeirões, diz-se que o animal ficou na ribada.Ranca-tôco ribadêro = perito em matéria de mato e capoeirões Lubião = qualquer produtor de vaca, cabra, ou ovelha, contanto que seja de pelagem preta e meio desaforado.Turuna = sinônimo de ranca-tôcoFrechêro = cabrito ou bodete de cabra na faixa dos seis ou sete meses de idade.

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Certa feita = em certa ocasiãoPegá um levantado marruêro = matar um touro que se alevantou, que abandonou o rebanho e passou a uma vida solitária nos ermos.Pitêra = ferrão, pau-de-ferro, guiada, vara trabalhada em cuja base, com a proteção de forte charrua, está encravado um bico de ferro. Ri-de-conta = faca, tipo de arma branca artisticamente trabalhada.Gibão = casaco de couro de veado ou de bodão. Ponto o bicho na bibida = surgiu o touro na aguada.Risco um tufão feito um raiá = ante o chamado do vaqueiro, o boi investiu contra o moço com muita velocidade e grande fúria, como o estampido do clarão de um raio. Lubisoni = lobisomem.E a lua omenta o quilarão = e a lua aumenta o clarão.Guariba = localidade na zona da Mata (estado da Bahia) abaixo da cidade de Itapetinga, região do Palmeira, ponto onde se cruzam corredores e estradas reais, pouso de tropas e de encontro de vaqueiros. Arma branca = cornos, chifres brancos.Catravo de pé e mão = diz-se catravo qualquer espécie de animal que tenha os pés e as mãos (até uma pequena altura) de cor diferente da do resto do corpo, sendo mais comum a cor branca.Sururú = jararaca grande.Derna = desde.Pegá bicho remeteno = enfrentar boi enraivecido e furioso.Pilunga = porrete, pedaço de pau feito um cabo de machado.Pruns = por uns.Na brincadeira do Tomba-virô = na festa do lugar chamado Tomba-virô.Triz de um momento = fração infinitesimal de tempo, infinitamente pequena – que, por tal, nem sempre deve ser desprezada. Viu nos olhos da morena/ ispelhada u´a mancha iscura = no ferver do sangue, na fúria da peleja, o já idoso vaqueiro Bragadá descobriu que estava ferido ao ver sua imagem refletida no cristal dos olhos da moça e, na sua imagem, a mancha vermelha na camisa. Vazí = ventre.Pur a fulo = pela flor.Questão 1Vamos entender as seguintes afirmações sobre o texto de Elomar Figueira Mello:

a) o texto de Elomar apresenta caráter épico, pelo fato de tratar da luta do homem diante das forças naturais, representada, no caso, de um lado, pelo viril e bravo vaqueiro e, de outro, pelo “levantado marruêro”. É uma luta simbólica e ancestral do homem contra a dominação da besta. O vaqueiro, vindo do mundo dos homens; o bicho, do fundo da mata.

b) recheada por elementos do mundo rural, a letra da música não apresenta poeticidade ou lirismo; pelo contrário, trata da brutalidade de pessoas incultas do interior do Brasil;

c) a expressão “pelo triz de um momento” expressa que as atitudes, durante o combate, puderam ser pensadas antes de serem executadas.

d) embora trate de assunto comum como a bravura dos vaqueiros brasileiros e do amor que é tema universal, o texto de Elomar é de difícil decodificação. Ele é escrito em português arcaico ou na variante inculta, falado especificamente por pessoas idosas as quais vivem no interior do país, sem contato com as mudanças pelas quais passa a língua materna.

e) no canto de homenagem e celebração da bravura, a intensidade e a transferência de planos da vida para o mundo mágico, em dialeto catingueiro, o conteúdo fica para além da estória que capta os tios regionais que lhes dá o nome de heróis, como o vaqueiro tipo Bragadá, a moça bonita perdera, o ajuntamento das pessoas no vazio daquelas tardes imensas.

Estão corretas as alternativas: (assinalar apenas uma)1) a, b, d, e2) c, d, e3) a, c, d, e4) a, d, e5) todas6) nenhuma

Questão 2:Transpor o texto “Histórias de vaqueiros” para a modalidade escrita (retextualização)

RETEXTUALIZAÇÃO

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Entende-se por retextualização o processo de transformação de uma modalidade textual para outra, ou seja, trata-se de uma refacção e reescrita de um texto para o outro, processo que envolve operações que evidenciam o funcionamento social da linguagem.

Todo texto tem sempre uma finalidade, portanto as produções – orais ou escritas – partem de um objetivo que certamente, vai interferir no modo como vamos falar ou escrever. Partimos de escolhas, tendo em vista a variedade de gêneros possíveis para as muitas situações comunicativas. As escolhas envolvem tanto o melhor modo de construção do texto, as formas gramaticais mais adequadas e tudo que está diretamente vinculado à função de cada texto, ao objetivo almejado, às situações de uso. Assim, a cada situação, em cada lugar, para cada interlocutor, as pessoas se expressam de maneira diferente, produzem gêneros textuais. O ensino de português não pode acontecer sem que todos esses aspectos sejam levados em consideração.

As atividades de retextualização englobam várias operações que favorecem o trabalho com a produção de texto. Dentre elas, ressalta-se um aspecto de imensa importância que é a compreensão do que foi dito ou escrito para que se produza outro texto. Para retextualizar, ou seja, para transpor de uma modalidade para outra ou de um gênero para outro, é preciso, inevitavelmente, que seja entendido o que se disse ou se quis dizer, o que se escreveu e os feitos de sentido gerados pelo texto escrito. A intenção de trabalhar a retextualização em sala de aula é promover uma certa adversidade de textos, de relativa estabilidade, sujeita a mudanças ocorridas na sociedade, sendo que alguns podem desaparecer e outros podem surgir, dependendo das necessidades dos falantes que os utilizam.

(DELL’ISOLA, Regina Lúcia Péret. Retextualização de Gêneros Escritos – Rio de Janeiro: Lucerna, 2007)

Texto 3: crônica

Choro, veia e cachaça Enterro de pobre sempre tem cachaça. É para ajudar a velar pelo falecido. Sabem como é;

pobre só tem amigo pobre e, portanto, é preciso haver um incentivo qualquer para a turma subnutrida poder aguentar a noite inteira com o ar compungido que o extinto merece. Enfim, a cachacinha é inevitável, seja numa favela carioca, seja num bairro pobre da cidade do interior. Foi o que aconteceu agora em Ubá (MG), terra do grande Ari Barroso. Morreu lá um tal de Nicolino, numa indigência que eu vou te contar. Segundo telegrama vindo de Ubá, alguns amigos de Nicolino compraram um caixão e algumas garrafas de cangibrina, levando tudo para o velório. Passaram a noite velando o morto e entornando a cachaça. De manhã, na hora do enterro, fecharam o caixão e foram para o cemitério, num cortejo meio ziguezagueando e num compasso mais de rancho que de féretro. Mas — bem ou mal — lá chegaram, lá abriram a cova e lá enterraram o caixão. Depois voltaram até a casa do mono, na esperança de ter sobrado alguma cachacinha no fundo da garrafa. Levaram, então, a maior espinafração da vizinha do pranteado Nicolino. É que os bêbados fecharam o caixão, foram lá enterrar, mas esqueceram o falecido em cima da mesa. (Stanislaw Ponte Preta = Sérgio Porto)Disponível em: <http://www.coladaweb.com/redacao/cronica>. Acesso em 05 de fev. 2011

Questão 1:Vamos transpor a crônica de Stanislaw Ponte Preta em criativo texto noticioso para rádio. Para tanto, antes de realizar a tarefa, vamos ouvir algumas notícias divulgadas em rádio para não faltar no nosso texto, por exemplo, a chamada aos ouvintes e o tom rápido e detalhado. Também não podemos nos esquecer de que a atividade primária do Jornalismo é a observação e descrição de eventos que deve informar ao público:

"O quê" - o fato ocorrido "Quem" - o personagem envolvido "Onde" - o local do fato "Quando" - o momento do fato "Por quê" - a causa do fato "Como" - o modo como o fato ocorreu

QUALIDADES TEXTUAIS

O SIGNIFICADO DE TEXTO

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Por inúmeras vezes na vida, já nos solicitaram a produção de um texto. Um professor em sala de aula, ou um chefe no local de trabalho, ou ainda, um colega de reunião de associação de moradores de bairro.

E qual é, frequentemente, nossa primeira reação?Nossa primeira reação vem com um sentido de rejeição: “Ah, eu não sei fazer um texto!”Em seguida, vendo que não há outra saída, colocamo-nos a refletir: “Como eu vou fazer um

texto?”Este questionamento traz à mente uma série de requisitos necessários para a composição de

um texto, tais como: sobre o que escrever? como organizar as ideias? que sequência utilizar? como escolher as palavras adequadas e estabelecer a conexão entre elas?

Assim como para confeccionar uma roupa, a modista escolhe o modelo, o tecido, toma medidas, traça o molde, escolhe os aviamentos; a produção de um texto requer também que se observem elementos para uma boa tessitura.

Podemos comparar essa tessitura com o “bom caimento” de uma roupa. Se houver qualquer falhar, o resultado final não atinge seu objetivo.

Como uma roupa em que todos os detalhes devem se harmonizar; o texto, sendo uma unidade semântica, precisa coerência, coesão, concisão, clareza, criatividade e correção gramatical.

(BELLUCI, Adriane. Os Degraus da Produção Textual. – Bauru, São Paulo: EDUSC, 2003).

Fatores que contribuem para a produção de um texto de qualidade

Na obra Texto técnico – guia de pesquisa e de redação, Oliveira (2003) coloca seis cês que contribuem para a construção de um texto de qualidade. São eles: criatividade, clareza, concisão, coesão, coerência e correção gramatical.

Criatividade – A originalidade de um texto acrescenta-lhe uma importância muito grande. Desperta a curiosidade, a admiração, além de mostrar ao leitor algo diferente, novo, criativo. Segundo pesquisa na Flórida (VEJA, p.94, 30 abr. 2003), “um profissional criativo estimula seu cérebro também nas horas de lazer. Ler bastante, frequentar cinema e teatro, viajar para conhecer outras culturas, ter um hobby que exige atenção constante – como jogos de computador ou esportes radicais constitui um padrão entre os que são bem-sucedidos”.

Clareza – A clareza é uma qualidade essencial de qualquer texto. O texto é claro quando é facilmente entendido, sem provocar dúvidas ao seu leitor. A ambiguidade impede a clareza do texto, exceto quando ela é utilizada como recurso de retórica. Exemplo de texto ambíguo: A cobra matou a penosa no seu ninho. Nesse caso, não se sabe se o ninho é da cobra ou da galinha. Além disso, se a pessoa que ler a frase não souber que penosa é gíria de galinha, ficará sem entendê-la ainda mais.

Concisão – é a qualidade do texto em ser preciso, sem circunlóquios, ou seja, sem rodeios de palavras.

Coesão – Segundo Koch (2001), por coesão se entende a ligação, a relação, os nexos que se estabelecem entre os elementos que constituem a superfície textual. Para Oliveira (2003), é o uso dos conectivos adequados à correta ligação entre palavras e frases no texto. É muito importante memorizar as conjunções e seus significados para que haja coesão e coerência na elaboração das diversas frases. Um erro muito comum é o uso de um conectivo não correspondente à relação lógica presente entre dois trechos do texto. Ex: Juca não está indo bem na escola; entretanto, no exercício de matemática tirou zero. Nesse caso, foi usado um conectivo que indica contraste no lugar do de exemplificação (por exemplo) ou de reafirmação (de fato). Outro defeito é o uso constante de conectivos aditivos (e, depois, também, além disso) para ligar entre si frases escritas ao acaso, uma após a outra, sem planejamento real. Também é comum a expressão “por exemplo, que não exemplifica o que veio antes”.

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Coerência – Para Koch (2001), a coerência está ligada à possibilidade de se estabelecer um sentido ao texto, ou seja, é o que faz o texto fazer sentido para os usuários, devendo, portanto ser entendida como um princípio de interpretabilidade, ligada à inteligibilidade do texto numa situação de comunicação e é a capacidade que o receptor tem para calcular o sentido desse texto.

Correção gramatical – é o uso da língua de acordo com os padrões da norma culta, sem incorreções ou desvios gramaticais.

Leiamos o artigo “Jeitinho”, de Andréia Neiva, da revista Discutindo a Língua Portuguesa para respondermos às questões:

“Jeitinho”

O uso exagerado das aspas – que muitas vezes reflete a falta de vocabulário na redação – está impregnando também a linguagem falada. Na edição passada, a coluna gramática moderna tratou sobre o jeito muito criativo de o brasileiro reconstruir a gramática, com o exemplo dos usos equivocados do “onde”. Mas essa capacidade de reinventar a língua de acordo com a necessidade e com as ferramentas linguísticas disponíveis não para aí.

O uso das aspas é, sem dúvida, outra grande reinvenção do famoso “jeitinho brasileiro”. Na gramática tradicional, o elemento tem a função de delimitar citações, realçar palavras e apresentar palavras em sentido figurado e/ ou gírias. Além, é claro, de ter grande função estilística no texto, como, por exemplo, a formação de ironia; no entanto é importante ressaltar que o sinal gráfico sozinho, isto é, sem a construção adequada no interior da argumentação, não tem o poder de formar uma ironia.

Valendo-se da função de apresentar termos e expressões em sentido figurado, muitos brasileiros têm utilizado esse artifício para disfarçar outro problema: o conhecimento cada vez menor do léxico.

É possível constatar que o vocabulário do brasileiro está gradativamente mais escasso. Para solucionar esse problema, o povo conhecido pelo seu jeito especial de lidar com as situações adversas do dia a dia desenvolveu o remédio de usar, entre aspas, outra palavra que lembre a ideia que se pretende transmitir.

Por causa desse artifício, o uso das aspas nunca foi tão prestigiado. E pensará o leitor: que problema há em esquecer e/ou não conhecer a palavra mais adequada para representar uma ideia e substituí-la por um vocábulo, entre aspas, que remeta a essa ideia?

Não haveria obstáculo se a artimanha fosse ocasional. Não o é. O que se vê, principalmente nos textos cujos autores são jovens, é uma sequência de palavras e expressões próprias da língua falada, transferidas de forma indiscriminada à modalidade escrita, que deveria ter certo aspecto formal, ou, na pior das hipóteses, manter suas especificidades (já que ninguém escreve como fala). Assim, é muito comum, num vestibular, numa entrevista de emprego e em outras situações semelhantes, as redações “naum” virem exatamente escritas como se esperaria.

“A ‘mulher perdida’ não pode ser exemplo para a sociedade” ou ainda, no mesmo tema, “A ‘mulher de vida quase fácil’ se tornou celebridade” são exemplos de frases retiradas de textos de pré-vestibulandos em que é possível inferir que as tais mulheres às quais os alunos se referem – a “perdida” e a de “vida quase fácil” – são prostitutas, profissionais do sexo, garotas de programa, meretrizes, entre outros tantos substantivos que poderiam ter sido escolhidos. Vale lembrar que não faltam palavras no vocabulário brasileiro quando o assunto é sexo. Fica claro é que o pequeno vocabulário do discente o levou a escrever como pôde, não como quis nem como gostaria, porque faltou repertório. Assim, recorreu-se ao uso das aspas.

Que mal há em criar em cima da língua que falamos? O que, à primeira vista, parece rabugice de professor, esconde na verdade um problema grave no português moderno: a dificuldade do falante em se expressar em sua língua materna.

O fenômeno do uso excessivo das aspas, que já é sentido há algum tempo na escrita, vem gradativamente também afetando a língua falada. Isso é verificado no cotidiano e até mesmo na mídia, pelo uso das aspas na comunicação oral com o já famoso gesto feito com os dedos. Se fosse simples ironia, a própria entonação já daria conta de expressar. Mas muitas das vezes é falta de vocabulário mesmo. E em todas as outras já virou piada sem graça.

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Questão 01: Qual é a tese defendida pela autora do texto “Jeitinho” e que argumentos que ela usa para defender tal tese.

Questão 02: Vamos identificar pelo menos dois fragmentos em que a autora usou aspas e dizer por que ela as usou.

Questão 03: Quem já usou aspas pelo fato de o repertório do léxico ser restrito? Em que situação, por exemplo?

Atividades

Texto: A FALIBILIDADE DA CIÊNCIA

20/06/2010

Umberto Eco

Como uma totalidade de conteúdo, não filtrado nem organizado, a internet oferece a qualquer um a capacidade de criar sua própria enciclopédia ou sistema de crenças. Um artigo recente no jornal italiano “Corriere della Sera” discutia a natureza da investigação científica. O escritor Angelo Panebianco argumentou que a ciência é por definição antidogmática porque ela atua por tentativa e erro e está baseada no princípio da falibilidade, o qual sustenta que o conhecimento humano nunca é absoluto e está num fluxo constante. A ciência só se torna dogmática, diz Panebianco, no contexto de certas simplificações jornalísticas que transformam o que era meramente uma hipótese prudente em “verdades” estabelecidas.

Mas a ciência também se arrisca a ser dogmática quando não consegue questionar o paradigma aceito por uma determinada cultura ou época. Quer as ideias estejam baseadas nas de Darwin, de Einstein ou Copérnico, todos os cientistas seguem um paradigma para eliminar teorias que saem de sua órbita – como a crença de que o Sol gira em torno da Terra.Como podemos conciliar a necessidade de paradigmas da comunidade científica com o fato de que a verdadeira inovação só acontece quando alguém consegue lançar dúvidas sobre as ideias dominantes do momento? Será que a ciência não se comporta de forma dogmática quando se entrincheira atrás dos muros de um determinado paradigma para defender seu poder e rotula como heréticos todos aqueles que desafiam sua autoridade?

A questão é importante. Será que os paradigmas sempre devem ser defendidos ou desafiados? Uma cultura (entendida como sistema de costumes e crenças herdados e compartilhados por um determinado grupo) não é meramente uma acumulação de dados; é também o resultado da filtragem desses dados. Qualquer cultura é capaz de descartar o que não considera útil ou necessário – a história da civilização é construída sobre informações que foram enterradas e esquecidas.

Em seu conto “Funes el Memorioso”, de 1942, Jorge Luis Borges conta a história de um homem que se lembra de tudo: cada folha de uma árvore, cada rajada de vento, cada sabor, cada sentença, cada palavra. Mas por esse mesmo motivo Funes é um completo idiota, um homem imobilizado por sua incapacidade de selecionar e descartar. Nós dependemos de nosso subconsciente para esquecer. Se temos um problema, sempre podemos ir a um psicanalista para recuperar quais memórias nós descartamos por engano. Felizmente, todo o resto foi eliminado. Nossa alma é o produto da continuidade dessa memória seletiva. Se todos nós tivéssemos almas como a de Funes, seríamos desalmados.

Uma cultura opera de forma semelhante. Seus paradigmas, que são constituídos pelas coisas que nós preservamos e por nossos tabus em relação ao que descartamos, resultam de compartilhar essas enciclopédias pessoais. É sobre o pano de fundo dessa enciclopédia coletiva que travamos nossos debates. Para que uma discussão seja compreendida por todos, precisamos começar a partir dos paradigmas existentes, mesmo que apenas para mostrar que eles não são mais válidos. Sem a rejeição do paradigma ptolomaico então dominante, o argumento de Copérnico de que a Terra girava em torno do Sol teria sido incompreensível.

Hoje a internet é como Funes. Como uma totalidade de conteúdo, não filtrado nem organizado, ela oferece a qualquer um a capacidade de criar sua própria enciclopédia ou sistema de

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crenças. Num contexto como este, uma pessoa pode simultaneamente acreditar que a água é composta de hidrogênio e oxigênio e que o Sol gira em torno da Terra. Teoricamente, é concebível que um dia possamos viver num mundo no qual existam 7 bilhões de paradigmas diferentes, e a sociedade seria então reduzida ao diálogo fraturado de 7 bilhões de pessoas todas falando uma língua diferente.

Felizmente, essa noção é meramente hipotética, mas o argumento em si só é possível precisamente porque a comunidade científica se baseia nas ideias comuns compartilhadas, sabendo que para derrubar um paradigma é preciso primeiro que exista um paradigma a ser derrubado. A defesa desses paradigmas pode levar ao dogmatismo, mas o desenvolvimento do novo conhecimento é baseado exatamente nessa contradição. Para evitar conclusões apressadas, eu concordo com o cientista citado no artigo de Panebianco: “Eu não sei. É um fenômeno complexo; terei que estudá-lo.”

Tradução: Eloise De VylderUmberto Eco é professor de semiótica, crítico literário e romancista. Entre seus principais livros estão "O Nome da Rosa" e o "Pêndulo de Foucault".Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/blogs-colunas/colunas-do-new-york-times/umberto-eco/2010/06/20/a-falibilidade-da-ciencia.jhtm>. Acesso em 20 de jun. 2010.

Notas:- PTOLOMEU: Astrônomo e geógrafo grego (90?-168?). Um dos últimos grandes cientistas da Grécia antiga, é autor dos estudos de astronomia mais importantes produzidos antes de Copérnico e Galileu. Nasce em Ptolemaida, com o nome de Cláudio Ptolomeu, e vive em Alexandria entre os anos de 120 e 145. Durante esse período, registra várias de suas observações astronômicas. Entre outras coisas afirma que a Terra é o centro do universo. O sistema ptolomaico, em que a Terra aparece como o centro, é adotado pela Igreja Católica durante toda a Idade Média, até ser derrubada pelas teorias de Nicolau Copérnico e Galileu Galilei. Disponível em: <http://www.algosobre.com.br/biografias/ptolomeu.html>. Acesso em 07 de fev. 2011.- NICOLAU COPÉRNICO: Nascido na Polônia, no ano de 1473, Nicolau Copérnico é considerado o fundador da Astronomia moderna.  Antes de sua teoria, os homens consideravam como verdadeira a tese de um cientista grego chamado Ptolomeu, que defendia a idéia de que a Terra era o centro do universo. Contrário a esta idéia, Copérnico não se convenceu da idéia de que o Sol e todos os demais planetas giravam em torno da Terra. Por esta razão, defendeu a tese de todos os planetas, inclusive a Terra, giravam em torno do Sol Disponível em: <(Heliocentrismo)>. Acesso em 07 de fev. 2011.

Questão 1:Que tese é defendida por Umberto Eco no texto “Falibilidade da ciência”? Que argumentos ele utiliza para construir tal ponto de vista?

Questão 2:Vamos pensar a respeito e responder às seguintes perguntas:a) que desafio e/ou necessidade o semioticista italiano sugere às pessoas dos tempos atuais? Justificativa:b) que sentido/s estabelece o conectivo MAS no início do segundo parágrafo do texto? Comentário: c) como entendemos as afirmações de que a ciência é antidogmática, porém ela, em algumas situações, pode ser dogmática? Você lembra algum exemplo semelhante ao de Copérnico em relação a Ptolomeu? Explicitação: d) “Será que os paradigmas sempre devem ser defendidos ou desafiados?”. Por quê?

Questão 3:Quanto à construção do texto:- há coerência? Por quê? Que elementos de coesão identificamos nele?- conseguimos identificar os seis CÊS nesse texto de Umberto Eco? Que marcas textuais nos autorizam a responder a essa pergunta?- o que mais me chama a atenção nesse texto? por quê?

COERÊNCIA TEXTUAL

As metarregras da coerência

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Um francês chamado Michel Charolles descobriu quatro princípios fundamentais responsáveis pela coerência. Chamou-os de metarregras da coerência. São elas:

1. Metarregra da repetição — um texto coerente deve ter elementos recorrentes; nada mais é do que aquilo que chamamos de coesão textual. O fato de, em uma frase, recuperarmos termos de frases anteriores, por meio de pronomes, apagamentos ou elementos lexicais constitui um processo de repetição ou recorrência. A coesão textual é, portanto, a primeira condição para que um texto seja coerente. Vejamos o exemplo:

A imprensa internacional cobre a violência no Brasil de uma maneira tão sensacionalista que os estrangeiros ficam com a impressão de que nossas ruas são mais perigosas do que elas realmente são. Essa cobertura não apenas afugenta os turistas como também pinta uma imagem falsa, do país e do mundo em geral.

No trecho acima, há metarregra da repetição, porque há termos recuperando informações anteriores, por exemplo, elas, essa cobertura.

2. Metarregra de progressão — um texto coerente deve apresentar renovação do suporte semântico; nos diz que um texto deve sempre apresentar informações novas à medida que vai sendo escrito. Vejamos o texto a seguir:

Essa criança não come nada. Fica apenas brincando com os talheres, ou seja: pega a colher, o garfo e não olha para o prato de comida. Ela não se alimenta. Brinca apenas. Diverte-se com uma colher e um garfo e o prato fica na mesa. O ato de brincar substitui o ato de alimentar-se.

Não há no exemplo dado informações significativas novas, há sim repetição do que já foi dito. Poderíamos reduzir esta informação a: “Essa criança não come nada. Fica apenas brincando com os talheres”.

3. Metarregra da não-contradição — Em um texto coerente, o que se diz depois não pode contradizer o que se disse antes ou o que ficou pressuposto; nos diz que cada pedaço do texto deve "fazer sentido" com o que se disse antes. Vejamos o texto abaixo:

Lá dentro havia uma fumaça espessa que não deixava que víssemos ninguém.Meu colega foi à cozinha, deixando-me sozinho. Fiquei encostado na parede da sala, observando as pessoas que lá estavam. Na festa, havia pessoas de todos os tipos: ruivas, brancas, pretas, amarelas, altas, baixas etc.

Sabemos que um das qualidades de um bom texto é não haver contradição, e no texto do exemplo acima há contradição. Inicialmente, o narrador afirma que havia fumaça espessa que não permitia ver ninguém e, depois, cita os tipos de pessoas que estavam na festa. É um texto sem credibilidade argumentativa.

4. Metarregra de relação — Em um texto coerente, seu conteúdo deve estar adequado a um estado de coisas no mundo real ou em mundos possíveis. Vejamos o seguinte texto:

Em nosso pequeno vilarejo aconteceu, certa vez, um caso bastante curioso. Havia ali um coronel muito matuto que vivia assombrando os moradores da cidade com suas bravatas. Numa manhã de domingo, no dia da festa da padroeira, ele acordou morto e todo pronto para conduzir o turíbulo que, de véspera, havia dormido em sua casa. Depois do café matinal, fez-se uma grande aglomeração de pessoas diante da casa do coronel: foi a primeira vez que tivemos um engarrafamento de 15 km: carros, motocicletas, triciclos, bicicletas e mesmo pedestres aguardavam atentos pelas palavras do coronel nas primeiras horas do dia de seu enterro.

O que mais chama a atenção nesse texto é o fato de o coronel estar morto e, mesmo assim, estar pronto para carregar o turíbulo. Além disso, é estranho o fato de os moradores aguardarem seu pronunciamento matinal. Ao ler o texto, a primeira coisa que nos vem à cabeça é a de que se trata de um “causo”, não de um fato verídico. Isso porque no “mundo real” não existe a possibilidade de se

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acordar morto, de um morto carregar um turíbulo e, menos ainda, de um morto fazer pronunciamento em festa de padroeira.

Atividade

Questão 1:

Leia o excerto de texto abaixo e identifique a (s) metarregra (s) de coerência que foram infringidas. Reconstrua-os para torná-los coerentes, atendendo às metarregras da coerência textual.

a) São Paulo tem uma extensão territorial superior à de muitos países do continente europeu e podendo comparar perfeitamente em seu seio uma população de mais de quarenta milhões de habitantes, ninguém poderá dizer que São Paulo não possui os elementos necessários para tornar efetiva a sua autonomia política. Em São Paulo, a hipótese separatista foi abortada. O discurso do presidente da República caminha para o separatismo famélico entre o Norte e o Sul. Uma das perversidades da política brasileira é a demagogia.

b) Um dos cuidados que devemos ter quando redigimos um texto é com a repetição de palavras no texto. A repetição de palavras é muitas vezes inoportuna, torna o texto cansativo e deselegante. Sendo assim, seria interessante que editores de texto pudessem oferecer uma funcionalidade que ajudasse o escritor a controlar a repetição de palavras no texto indicando quantas vezes uma palavra já foi usada no texto e em que situação.

c) Minha amiga foi para Porto seguro, recomendou a viagem para todos e afirmou que jamais retornaria ao local.

AMBIGUIDADE“Ambiguidade – Latim ambiguu(m), ambíguo, que apresenta duas faces, dois sentidos”. “O vocábulo ambiguidade emprega-se em Gramática para designar os equívocos de sentido provenientes de construção defeituosa da frase ou do uso de termos impróprios”. “Em crítica literária, a palavra foi introduzida por William Empson (...). A seu ver, a ambiguidade consiste em toda nuança verbal, posto ligeira, que dê lugar a diferentes reações ao mesmo fragmento de linguagem”. (MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. São Paulo: Cultrix, 1974).

Texto 1: Placa

Disponível em: <www.Placasridículas.com.br.>.Acesso em 07 de fev. 2011.

Texto 2: charge

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Disponível em: <osnigomes.blogspot.com/>. Acesso em 02 de fev. 2011

- A partir do primeiro e do terceiro conceitos sobre ambiguidade, vamos identificar possíveis leituras que as imagens anteriores (placa e charge) sugerem. Em seguida, sistematizemos por escrito o que conversamos, sem nos esquecermos dos seis cês.

A REDAÇÃO DO PARÁGRAFO

O texto é uma máquina preguiçosa, que exige do leitor um renhido trabalho cooperativo para preencher espaços não-ditos que ficaram, por assim dizer, em branco. (ECO, Umberto. Lector in fabula. São Paulo, Perspectiva, 1979 p. 11).

1. O parágrafo

Você sabe que, para elaborar um texto coerente, não basta reunir qualquer conjunto de frases ordenadas de forma aleatória. É preciso que elas sejam logicamente ordenadas a fim de que o receptor siga o fio do discurso e seja capaz de entender aquilo que desejamos comunicar. O parágrafo – como um microtexto – deve obviamente apresentar essa organização.

1.1. A conceituação

“0 parágrafo é uma unidade de composição, constituída por um ou mais de um período, em que se desenvolve ou se explana determinada idéia central, a que geralmente se agregam outras, secundárias, mas intimamente relacionadas pelo sentido”. (0thon Garcia).

0 conceito acima aplica-se ao chamado parágrafo-padrão. No entanto, assim como há diversos processos de desenvolvimento e ordenação de idéias, há, também, diferentes formas de construção do parágrafo, dependendo da natureza do assunto, do gênero da composição, do objetivo do autor e do tipo de leitor a quem se destina o texto escrito.

1.2. A redaçãoEtapas prévias

a) A delimitação do assunto: a restrição ou delimitação do assunto é necessária para que possamos organizar o parágrafo com mais facilidade.

b) A fixação do objetivo: delimitado o assunto, é mais fácil fixar o objetivo que deverá orientar a redação do parágrafo. Você deve estabelecer para que vai escrever sobre determinado assunto, e com que finalidade. A fixação clara do objetivo facilita a seleção e a ordenação das ideias.

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A estruturação

O chamado parágrafo-padrão é constituído de três partes essenciais: o tópico frasal, o desenvolvimento e a conclusão. Na sequência da nossa exposição, explicitaremos cada uma dessas partes.

TÓPICO FRASAL (introdução)DESENVOLVIMENTOCONCLUSÃO OU TRANSIÇÃO

a) A formulação do tópico frasalDelimitado o assunto, fixado o objetivo que deverá orientar o parágrafo, você poderá começar

a escrever. É importante redigir, em primeiro lugar, uma ou mais frases que expressem o objetivo escolhido. Essa ou essas frases iniciais do parágrafo que traduzem, de maneira geral e sucinta, a ideia-tópico, a ideia-núcleo do parágrafo constituem o que se chama tópico frasal. Assim, o tópico frasal garante que você não se afaste do objetivo estabelecido, mantendo a coerência do texto.

b) O desenvolvimento do parágrafoNessa etapa de redação do parágrafo, o redator passa a expandir as ideias indicadas no

tópico frasal. Para isso, ele, em primeiro lugar, seleciona aspectos ou detalhes particulares que desenvolvam a frase-núcleo e, em seguida, os ordena. A fim de ordená-los, constrói um plano de desenvolvimento, que servirá como forma de controle. Isso evitará a inclusão de aspectos ou detalhes desnecessários ou incoerentes com o objetivo fixado.

Há várias formas de ordenação do desenvolvimento, as quais variam conforme o objetivo fixado para a redação, entre elas: exemplificação, comparação, enumeração de detalhes, causa-consequência, tempo-espaço, definição. Porém, seja qual for a forma de ordenação empregada, a preocupação maior do autor deve ser a de fundamentar de maneira clara e convincente as ideias que defende ou expõe.

Exemplo:Os descobridores, de Daniel J. Boorstin; Civilização Brasileira; 646 páginas – O caminho que o

historiador americano Daniel Boorstin escolheu para escrever essa história compacta da ciência é duplamente inovador. Em primeiro lugar, ele deixou de lado os habituais catálogos de nomes e descrições de experimentos que costumam rechear as obras de referência, entediando o leitor não especializado. Preferiu fazer a crônica da luta surda que sempre se travou entre as fantasias que os séculos transformariam em ciência e a “intocável realidade” que os instrumentos científicos de uma época podiam detectar. A segunda novidade foi a opção por uma narrativa romanceada – e não burocraticamente cronológica – para descrever a trajetória da evolução de alguns instrumentos, como o relógio, a bússola e o microscópio. Com isso, algumas passagens da obra ganham sabor inesperado. É o caso da história dos despertadores digitais, que o leitor aprenderá, deliciosamente, ter sua origem numa engenhoca inventada nos mosteiros medievais com a finalidade de acordar os monges para as orações noturnas. Longe da sisudez dos textos técnicos, Boorstin consegue a proeza de unir precisão científica e leitura acessível. (Veja).

ASSUNTO: A obra Os descobridores, de Daniel J. Boorstin, Civilização Brasileira. DELIMITAÇÃO DO ASSUNTO: Resenha crítica da obra.OBJETIVO FIXADO: Mostrar a dupla inovação estabelecida pelo escritor Daniel Boorstin ao escrever a história da ciência.TÓPICO FRASAL: Daniel Boorstin, ao escrever uma história compacta da ciência, procede a duas inovações.PLANO DE DESENVOLVIMENTO DAS IDÉIAS:1 . Apresentação das duas novidades:1 .1 Abandono dos catálogos de nomes e descrições de experimentos e preferência pela crônica.1 .2 Opção por urna narrativa romanceada.CONCLUSÃO: o autor une precisão científica e leitura acessível.

c) A elaboração da conclusão

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Na formulação da conclusão, podemos retomar o objetivo expresso na frase núcleo, recapitulando o conjunto de detalhes ou aspectos particulares que fazem parte do desenvolvimento. Em outras palavras, reorganizamos resumidamente os diversos aspectos do desenvolvimento em uma frase final, que feche o parágrafo. É possível também encerrá-lo apresentando de modo conciso consequências, implicações daquilo que foi expresso no tópico frasal e no desenvolvimento.

A transição entre o desenvolvimento e a conclusão do parágrafo é feita, geralmente, por meio de articuladores que indiquem a relação que desejamos estabelecer, tais como:* Assim ... , * Logo, ... * Dessa forma, . . . * Então, ...

Algumas vezes, no entanto, o nexo não vem explicitado, pois ela se caracteriza por uma apreciação do autor, e não por uma implicação direta a partir das ideias desenvolvidas.

Exemplificando:

Veja o parágrafo abaixo:

Por que se lê uma biografia? Antes de mais nada, para se conhecer segredos de uma personagem que eventualmente ainda não tenham sido divulgados. Depois, para se verificar como ela conseguiu alcançar projeção a despeito das dificuldades que enfrentou. Ou, então, para se constatar que pessoas absolutamente normais têm a chance de adquirir notoriedade. Num caso e no outro, dependendo da situação do leitor, a biografia dá ilusão de que, talvez um dia, o mundo terá a chance de reconhecer o nosso talento ou de algum parente. (Istoé/Senhor, 1185, 17.06.96, p.63)

A pergunta inicial Por que se lê uma biografia? Constitui a introdução (tópico frasal).O início do desenvolvimento do parágrafo é explicitado por meio do operador argumentativo

antes de mais nada, seguido pelo articulador para, que estabelece uma relação de finalidade, ou seja, indica com que objetivo alguém lê uma biografia. O elemento continuativo depois acrescenta mais uma causa à já citada no período anterior. O nexo ou introduz uma nova possível causa da leitura de uma biografia.

A expressão Num caso e no outro retoma as causas mencionadas no desenvolvimento e resume-as, para a conclusão do parágrafo. Assim, como você vê, o parágrafo possui as três partes essenciais à sua redação, ou seja: tópico frasal, desenvolvimento e conclusão.

ATIVIDADESPor exemplo: a generalização de um tema como violência obriga o autor a delimitar alguns enfoques que lhe são pertinentes. Há vários passíveis de discussão:a) causas e consequências da marginalidadeb) causas e consequências da impunidade c) formas de puniçãod) divulgação da violência pelos meios de comunicaçãoe) causas do aumento de criminalidadef) crimes afiançáveis e crimes hediondos (sequestro e estupro)g) a violência contra a mulher e contra a criançah) a violência no trânsitoi) a violência decorrente dos vícios (drogas e álcool).

Questão 1:Proponha 4 delimitações para os seguintes assuntos:- cultura- moradia

Formas de ordenar o Parágrafo

Depois de compreendermos a estrutura do parágrafo-padrão, passaremos agora ao estudo das formas de construir o desenvolvimento desse parágrafo.

1. Ordenação por enumeração

Consiste em enumerar diferentes situações ou características de um fato expresso de modo genérico no tópico frasal e que, depois, poderá ser desenvolvido e detalhado nos parágrafos

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seguintes. Organiza-se, frequentemente, por meio de certos articuladores que têm a função de marcar a ordem, segundo a qual os detalhes do fato são apresentados.

Alguns destes articuladores: primeiro, segundo, em primeiro lugar, em segundo lugar, inicialmente, após, a seguir, depois, em seguida, mais adiante, por fim, ainda, além, também, etc.

Exemplo:Temos, na atmosfera, quatro tipos principais de poluição. A de origem natural, causada por agentes como poeira, nevoeiros, gases vulcânicos, odores de fermentação natural, etc. Outra forma liga-se à ação de veículos automotores, que eliminam gases como monóxido de carbono, óxido de enxofre, cloro, bromo. Existe ainda a poluição registrada em consequência de fenômenos de combustão como aquecimento doméstico e outras incinerações, que explodem bióxido de carbono, composto de enxofre, hidrocarbonetos não queimados. Por último, a degradação ambiental deve-se à atividade industrial. (Revista Interior, ano II, número 18)

2. Ordenação por causa-conseqüência

Consiste em indicar a(s) causa(s) do fato apresentado e o(s) resultado(s) ou efeito(s) produzido(s). A relação causa-consequência, estabelecida entre períodos de um mesmo parágrafo, ou é evidenciada por expressões (articuladores) que a introduzem ou é percebida semanticamente, ou seja, por meio da interpretação das ideias relacionadas.

São expressões indicadoras de CAUSA: porque, já que, visto que, uma vez que, pois, a razão disso, a causa disso, devido a, por motivo de, em virtude de, graças a, etc.; de CONSEQÜÊNCIA: tão que, tal que, tanto que, tamanho que, de forma que, de maneira que, de modo que, em conseqüência, como resultado, por isso, em vista disso, etc.

Exemplos:

Parágrafo ordenado por causa: A cada dia que passa, a violência cresce de maneira assustadora. A razão principal desse

fenômeno é o distanciamento cada vez maior entre uma minoria que possui muito e a grande massa popular que se afunda, cada vez mais, na miséria. Portanto, no mundo atual, falar de amor e de promoção humana, sem falar de justiça social e lutar por ela, é um romantismo que cai no vazio. (GUEDES, Ana Maria. Palavra e ação)

3. parágrafo ordenado por causa-consequência:

Por que o sexo se tornou um problema? Ou deveríamos antes perguntar por que ele é, segundo parece, a única coisa que resta em que o homem se sente livre? Só aí se perde totalmente a si mesmo: nesse momento, deixa de ser todas as misérias, todas as memórias, as torturas, a competição, a agressão, a violência e a luta constante. Simplesmente deixa de estar aí. E assim, por causa dessa ausência, o sexo torna-se importante; nesse momento não existe mais a divisão entre "eu" e "tu", "nós" e "eles". Tal divisão acaba, e então talvez se encontre uma grande liberdade. Em tudo o mais não somos livres. Intelectual, emocional e fisicamente somos pessoas constrangidas e cheias de limitações, pessoas de segunda mão, inteiramente moldadas pela nossa sociedade tecnológica. Em suma, não havendo liberdade a não ser no sexo, este passa a ser muito importante e, por esse motivo, um problema. (KRISHNAMURTI, J. O mundo somos nós. Lisboa, Livros Horizonte)

4. Ordenação por comparação: semelhança ou contraste

Consiste em estabelecer um confronto de idéias, seres, coisas, fatos ou fenômenos, mostrando seus pontos comuns (semelhanças) ou seus contrastes (diferenças). Evidenciam-se expressões articulatórias como: assim como... também, tanto como..., tanto quanto, além de..., também, não só... (como) também, de igual modo, em ambos os casos, de um lado... de outro lado, por um lado... por outro lado, se por um lado... por outro lado, (para) uns... (para) outros, este... aquele, ao contrário..., em oposição..., enquanto..., já..., ao passo que..., mas..., porém etc.

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Exemplo:Se há opinião unânime sobre Sigmund Freud, é a de que mudou nossa maneira de compreender a cultura, o outro e a nós mesmos. Mas as divergências em torno de sua pessoa e de sua obra são imensas. Para alguns, Freud foi um gênio, um herói que desbravou as profundezas do inconsciente e expôs à posteridade sua vida pessoal em um grau desconhecido até então, por amor à ciência (...). Para outros, não foi mais do que um charlatão, um covarde que abandona a verdade por medo da opinião pública, um homem que enxergava o sexual em todas as coisas, alguém que perseguia os discípulos dissidentes, que não media os meios para impor suas ideias. (FREUD: A exploração do inconsciente. Hist. do Pensamento, Fasc. 54, p. 641)

5. Ordenação por tempo e/ou espaço

As indicações de espaço são necessárias sempre que for conveniente mostrar o lugar em que aconteceram os fatos referidos. Já a ordenação temporal exprime a ordem segundo a qual o redator teve a percepção ou o conhecimento de algo acontecido. Pode ocorrer o emprego simultâneo dos critérios de ordenação de ideias por tempo e espaço.

Expressões indicativas dessas formas de ordenação de TEMPO: agora, já, ainda, antes, depois, em seguida, breve, logo que, finalmente, frequentemente, após, antes de, à medida que, à proporção que, enquanto, sempre que, assim que, ultimamente, presentemente, no século tal, muitos anos atrás, naquele tempo, etc. ESPAÇO: longe de, perto de, em frente de, atrás de, diante de, detrás de, abaixo de, dentro de, fora de, aí, ali, cá, além, à direita, à esquerda, no país tal, no local tal, etc.

Exemplo: Ordenação por tempo e espaço simultaneamente

O Brasil está voltando ao tempo em que os telefones eram pretos e as geladeiras, brancas. Naqueles tempos de telefones exclusivamente pretos e pesados, conseguir linha era motivo de comemoração. Hoje, congestionados como uma avenida de metrópole na hora do rush, as 9 milhões de linhas telefônicas existentes no país estão cada vez mais enervando os brasileiros. Retirar o fone do gancho para conversar com a vizinha ou ligar para Portugal tornou-se missão complicada. A cada 100 telefonemas, atualmente mais de 29 não são completados devido aos problemas de fiação e à insuficiência de linhas. O padrão internacional é de seis tentativas fracassadas a cada centena de ligações - patamar que o Brasil abandonou em 1984. Enfim, há muita gente para falar e poucos aparelhos instalados para transportar as conversas. O país tem hoje 6,4 telefones para cada grupo de 100 pessoas, o que é uma taxa rala. Na Argentina, que está longe de ser o melhor exemplo de bom funcionamento da telefonia, há dez telefones para cada 100 habitantes. A Alemanha Ocidental tem 43, e a Suécia, 64. O embaralhamento de sistema telefônico brasileiro é produto da diminuição de investimentos em infraestrutura de comunicações e da defasagem do preço das tarifas pelo uso de telefones.

6. Ordenação por definição

De todas as formas de ordenação esta é a mais abstrata, pois revela os atributos essenciais de um objeto por meio de sua definição, muito utilizada em textos técnicos ou científicos. Nesta forma de ordenação é frequente o emprego do verbo SER ou de verbos como CHAMAR-SE, DENOMINAR-SE, CONSIDERAR-SE, TRATAR-SE DE.

Exemplo:Auscultação é o ato de ouvir sons produzidos por órgãos internos como o coração, os pulmões ou

os intestinos, através da parede abdominal ou do tórax. Em geral, o médico ausculta com o estetoscópio, embora os sons também possam ser ouvidos sem o auxílio do aparelho. A ausculta é uma prática de variadas finalidades, que incluem a detecção de anormalidades cardíacas e pulmonares e a verificação dos batimentos cardíacos do feto no útero, durante a gravidez e o parto. (Pequeno Dicionário de Medicina, Abril Cultural)

7. Ordenação por exemplificação

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Consiste em exemplificar um conceito ou justificar uma afirmação por meio de exemplos ilustrativos. O exemplo estabelece um elo, uma ponte entre o conceito ou a afirmativa e o leitor, principalmente, quando se trata de algo muito abstrato.

O parágrafo seguinte usa a exemplificação para justificar a afirmação feita no tópico frasal. Observe o emprego da expressão POR EXEMPLO.

Exemplo:O Brasil tem gritantes problemas no campo da Educação. Há, por exemplo, uma

preocupação crescente com a quantidade em prejuízo da qualidade do ensino. Abrem-se inúmeros estabelecimentos de ensino superior sem as mínimas condições de funcionamento. Daí as desistências, as repetências, a corrupção e outros males que denigrem a Educação em nossa Pátria. (MACEDO, Jorge Armando. A redação do vestibular. São Paulo, Ed. Moderna).

8. O parágrafo misto

Alguns parágrafos caracterizam-se, no seu desenvolvimento, por serem mistos. Os parágrafos mistos são aqueles em que há mais de uma forma.

Exemplo:Na luta contra a depressão fora do divã, os psiquiatras de todo o mundo decidiram investir em

outros tipos de acompanhamentos médicos, além dos remédios e da aplicação do ECT. Nas regiões onde o inverno é longo e intenso, como os países nórdicos, crescem dia a dia as experiências à base das chamadas clínicas de luz. Nelas, as pessoas com problemas depressivos ou maníaco-depressivos são expostas a raios artificiais que reproduzem a mesma frequência da luz solar infravermelha. Com isso, a glândula pineal é ativada, o que gera um aumento da metabolização dos neurotransmissores antidepressivos. Uma outra técnica é a chamada "deprivação do sono", que con-siste em manter o paciente acordado por até 36 horas, de forma que a produção de neurotransmissores seja regularizada. "Através de estímulos acústicos, luminosos, jogos e a presença de especialistas que se revezam, as pessoas em tratamento são mantidas acordadas", explica o psiquiatra carioca Jorge Alberto da Costa e Silva, presidente do Comitê Internacional de Tratamento e Prevenção da Depressão.

O autor cita as técnicas de cura para a depressão, exemplificando-as. Cada uma das técnicas aponta para a causa e também para a consequência da sua aplicação. Em função disso, a ordenação desse parágrafo é classificada: por exemplificação e por causa e consequência, o que indica o parágrafo misto.

Os parágrafos no contexto da dissertação

Para concluir, convidamos você a observar a estrutura de cada um dos parágrafos do texto a seguir, conforme a sua posição no contexto da dissertação. Não se esqueça de examinar os elementos de transição entre os diferentes parágrafos, ou seja, os sequencializadores textuais.

A MULHER, O CACHORRO E A VIDASelvino Heck28.01.2011

A imagem mais impressionante, entre tantas, da tragédia de início de ano no Rio de Janeiro foi a de uma mulher sendo resgatada com a corda puxada pelos vizinhos do alto de um prédio de vários andares. Dona Ilair estava dentro de um pedaço de casa que estava sendo arrastado pelas águas furiosas e implacáveis. Nos braços, um cachorro que não a largava, e ela não largava o cachorro. Para não morrer, ela larga o cachorro, enquanto os vizinhos a puxam para cima do prédio. Em cenas dramáticas, dona Ilair foi salva, sob aplauso geral.

No caso do Rio, ficou clara a necessidade de ações e prevenção para não deixar que populações fiquem submetidas à chuva e às suas consequências. Também é fundamental ter mais agilidade na ação coordenada dos agentes e órgãos públicos, para ao menos diminuir o sofrimento de quem é atingido. A presidenta Dilma, que visitou os locais e a população, determinou um conjunto

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de providências que, seguramente, ao longo do tempo, com o apoio do governo estadual e governos municipais, vão mostrar resultados.

Luís Fernando Veríssimo, em mais uma de suas magistrais crônicas (A Doutrina do Choque, O Globo, 23.01.11), escreveu: "Quanto à tragédia nas cidades serranas, o ‘novo começo’ pressupõe novo rigor nas licenças para construção e uma ocupação mais racional da terra. Quer dizer: nada que diga respeito ao pobre obrigado a erguer seu barraco num barranco deslizante por absoluta falta de alternativas”.

Por um lado, as tragédias se sucedem e quem normalmente mais sofre são os pobres e os trabalhadores. O poder público historicamente pouco ou nada tem se preocupado com políticas de habitação popular e de saneamento básico. Com as mudanças climáticas, vêm as tempestades, vêm os tornados, a chuva e a água incontroláveis. É a vingança da natureza, que é agredida, de quem não se respeita o curso natural: cortam-se árvores sem critérios, ocupam-se morros sem cuidado, endireitam-se as curvas de córregos e rios e tira-se sua beleza, envenenam-se águas. O homem aproveita-se da natureza, serve-se dela como se apenas fosse propriedade sua, como se apenas fonte de lucro, sem conviver com suas regras, seus fluxos.

Por outro lado, Dona Ilair agarrou-se à vida e sobreviveu graças à solidariedade. Os brasileiros sempre se agarram à vida, como talvez nenhum outro povo ou outra gente. São, sobretudo, teimosos, ou cheios de esperança. Sobrou-lhes, histórica e secularmente, ‘agarrar-se à vida’. Se não tinham emprego, a renda era péssima, as condições de vida precárias, pelo menos a vida era sua e dela não abria mão em nenhuma circunstância.

Há um novo tempo em perspectiva, quando há mais respeito pelas pessoas e seus direitos, quando se convive com o meio ambiente porque ele faz parte do bem viver, quando há uma unidade dos seres e do planeta terra. Caso contrário, as águas vão descer os morros, as árvores vão cair sobre casas e carros, seres humanos feitos para viver vão perder estupidamente a vida. Ainda é tempo de repensar relações, valores e modelos de sociedade.

O que mais me marcou no episódio do Rio foi o gesto de dona Ilair agarrar-se à vida. Nunca devemos desesperar e achar que as coisas são impossíveis. Ela deu esta lição. Quem se agarra à vida é mais que sobrevivente. É um ser humano que acredita em si e nos outros. Acreditou que tinha força nos braços para se segurar na corda oferecida (e ainda acreditou que podia carregar junto o cachorro, e o levou até onde pôde). Acreditou que os vizinhos não iam largá-la nas águas enfurecidas. Quem acredita, vence e vive. Vale a pena viver!

Disponível em: <http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&langref=PT&cod=53574>. Acesso em 07 de fev. 2011.

PARAFRASEAR TEXTOS

Paráfrase “é a representação de um texto ou fragmento de texto com outra forma e (hipoteticamente) o mesmo sentido básico”. Para tanto é necessária uma boa compreensão do texto. “Consiste no desenvolvimento explicativo (ou interpretativo) de um texto. Corresponde a uma espécie de tradução dentro da própria língua, em que se diz, de maneira mais clara, num texto B, o que contém um texto A” (Othon Garcia, 1988). Na paráfrase, ocorre uma transformação da parte formal do texto, vocabulário e estrutura da frase, sem, no entanto, haver modificações das idéias ou acréscimo de informações. Resumos e explicações são tomados como paráfrase. O autor da paráfrase deve demonstrar que entendeu claramente a ideia do texto. Além disso, são exigências de uma boa paráfrase:1. Utilizar a mesma ordem de ideias que aparece no texto original. 2. Não omitir nenhuma informação essencial. 3. Utilizar construções que não sejam uma simples repetição daquelas que estão no original e, sempre que possível, um vocabulário também diferente.

      Exemplo de paráfrase

A ÚLTIMA CRÔNICAFernando Sabino

A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever.

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A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do poeta se repete na lembrança: "assim eu quereria o meu último poema". Não sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde vivem os assuntos que merecem uma crônica.

Ao fundo do botequim um casal de pretos acaba de sentar-se, numa das últimas mesas de mármore ao longo da parede de espelhos. A compostura da humildade, na contenção de gestos e palavras, deixa-se acrescentar pela presença de uma negrinha de seus três anos, laço na cabeça, toda arrumadinha no vestido pobre, que se instalou também à mesa: mal ousa balançar as perninhas curtas ou correr os olhos grandes de curiosidade ao redor. Três seres esquivos que compõem em torno à mesa a instituição tradicional da família, célula da sociedade. Vejo, porém, que se preparam para algo mais que matar a fome.

Passo a observá-los. O pai, depois de contar o dinheiro que discretamente retirou do bolso, aborda o garçom, inclinando-se para trás na cadeira, e aponta no balcão um pedaço de bolo sob a redoma. A mãe limita-se a ficar olhando imóvel, vagamente ansiosa, como se aguardasse a aprovação do garçom. Este ouve, concentrado, o pedido do homem e depois se afasta para atendê-lo. A mulher suspira, olhando para os lados, a reassegurar-se da naturalidade de sua presença ali.  A meu lado o garçom encaminha a ordem do freguês. O homem atrás do balcão apanha a porção do bolo com a mão, larga-o no pratinho -- um bolo simples, amarelo-escuro, apenas uma pequena fatia triangular.

A negrinha, contida na sua expectativa, olha a garrafa de Coca-Cola e o pratinho que o garçom deixou à sua frente. Por que não começa a comer? Vejo que os três, pai, mãe e filha, obedecem em torno à mesa um discreto ritual. A mãe remexe na bolsa de plástico preto e brilhante, retira qualquer coisa. O pai se mune de uma caixa de fósforos, e espera. A filha aguarda também, atenta como um animalzinho. Ninguém mais os observa além de mim.

São três velinhas brancas, minúsculas, que a mãe espeta caprichosamente na fatia do bolo. E enquanto ela serve a Coca-Cola, o pai risca o fósforo e acende as velas. Como a um gesto ensaiado, a menininha repousa o queixo no mármore e sopra com força, apagando as chamas. Imediatamente põe-se a bater palmas, muito compenetrada, cantando num balbucio, a que os pais se juntam, discretos: "parabéns pra você, parabéns pra você..." Depois a mãe recolhe as velas, torna a guardá-las na bolsa. A negrinha agarra finalmente o bolo com as duas mãos sôfregas e põe-se a comê-lo. A mulher está olhando para ela com ternura — ajeita-lhe a fitinha no cabelo crespo, limpa o farelo de bolo que lhe cai ao colo. O pai corre os olhos pelo botequim, satisfeito, como a se convencer intimamente do sucesso da celebração. Dá comigo de súbito, a observá-lo, nossos olhos se encontram, ele se perturba, constrangido — vacila, ameaça abaixar a cabeça, mas acaba sustentando o olhar e enfim se abre num sorriso.Assim eu quereria minha última crônica: que fosse pura como esse sorriso.Disponível em: <http://www.releituras.com/i_samuel_fsabino.asp>. Acesso em 30 de jul. 2010.

Atividade

Texto: CARTA DO POVO KAIOWÁ E GUARANI À PRESIDENTA DILMA ROUSSEFF03.02.11 - Brasil

Que bom que a senhora assumiu a presidência do Brasil. É a primeira mãe que assume essa responsabilidade e poder. Mas nós Guarani Kaiowá queremos lembrar que para nós a primeira mãe é a mãe terra, da qual fazemos parte e que nos sustentou há milhares de anos. Presidenta Dilma, roubaram nossa mãe. A maltrataram, sangraram suas veias, rasgaram sua pele, quebraram seus ossos... rios, peixes, arvores, animais e aves... Tudo foi sacrificado em nome do que chamam de progresso. Para nós isso é destruição, é matança, é crueldade. Sem nossa mãe terra sagrada, nós também estamos morrendo aos poucos. Por isso estamos fazendo esse apelo no começo de seu governo. Devolvam nossas condições de vida que são nossos tekohá, nossas terras tradicionais. Não estamos pedindo nada demais, apenas os nossos direitos que estão nas leis do Brasil e internacionais.

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No final do ano passado, nossa organização Aty Guasu recebeu um prêmio. Um prêmio de reconhecimento de nossa luta. Agora, estamos repassando esse prêmio para as comunidades do nosso povo. Esperamos que não seja um prêmio de consolação, com o sabor amargo de uma cesta básica, sem a qual hoje não conseguimos sobreviver. O Prêmio de Direitos Humanos para nós significa uma força para continuarmos nossa luta, especialmente na reconquista de nossas terras. Vamos carregar a estatueta para todas as comunidades, para os acampamentos, para os confinamentos, para os refúgios, para as retomadas... Vamos fazer dela o símbolo de nossa luta e de nossos direitos.

Presidente Dilma, a questão das nossas terras já era para ter sido resolvida há décadas. Mas todos os governos lavaram as mãos e foram deixando a situação se agravar. Por último, o ex-presidente Lula prometeu, se comprometeu, mas não resolveu. Reconheceu que ficou com essa dívida para com nosso povo Guarani Kaiowá e passou a solução para suas mãos. E nós não podemos mais esperar. Não nos deixe sofrer e ficar chorando nossos mortos quase todos os dias. Não deixe que nossos filhos continuem enchendo as cadeias ou se suicidem por falta de esperança de futuro. Precisamos nossas terras para começar a resolver a situação que é tão grave que a procuradora Deborah Duprat considerou que Dourados talvez seja a situação mais grave de uma comunidade indígena no mundo.

Sem as nossas terras sagradas estamos condenados. Sem nossos tekohá, a violência vai aumentar, vamos ficar ainda mais dependentes e fracos. Será que a senhora como mãe e presidente quer que nosso povo vai morrendo à míngua?. Acreditamos que não. Por isso, lhe dirigimos esse apelo exigindo nosso direito.Conselho da Aty Guasu Kaiowá Guarani Dourados, 31 janeiro de 2011.

Questão 1:Vamos elaborar uma criativa paráfrase da CARTA DO POVO KAIOWÁ E GUARANI À PRESIDENTA DILMA ROUSSEFF, de acordo com o exposto sobre esse tipo de recriação textual.

ANAFÓRICOS E CATAFÓRICOS Pasquale

O gentil leitor sabe o que é um anafórico? E um catafórico? Não se trata de nomes de medicamentos, não. Mais ou menos recentes na nomenclatura empregada nas questões de alguns vestibulares e concursos públicos, esses "palavrões" ainda surpreendem muita gente, já que não costumam fazer parte do que se estuda ou discute nas aulas de português do segundo grau de boa parte de nossas escolas. Na verdade, muita gente sabe o que é um anafórico, por exemplo, mas não sabe que o nome do bicho é esse. Em "Atestado sem selo deixa de sê-lo", por exemplo, o pronome "lo" (que resulta da transformação de "o" em "lo") recupera o substantivo "atestado", citado antes na frase. Pronto! Você já sabe o que é um anafórico! Ou ainda não sabe? Sabe, sim: um anafórico nada mais é do que um elemento linguístico que se refere a um termo antecedente. Como sempre digo, muito mais importante do que o nome é o emprego. No caso dos anafóricos, isso corresponde a deixar claro quem é quem no texto. Em outras palavras, o bom uso dos anafóricos estabelece adequadamente a coesão textual (terminologia que também tem sido empregada em alguns vestibulares e concursos). Um caso comum de mau emprego dos anafóricos ocorre com o pronome "seu", potencialmente ambíguo. Em "O rapaz disse à irmã que seu futuro estava decidido", por exemplo, não se sabe a quem se refere o possessivo "seu" (ao rapaz, à irmã ou aos dois). Nesse caso, o problema pode ser resolvido com o emprego de "dele", "dela" ou "deles". Pois bem, em seu último vestibular, a Fundação Getúlio Vargas (de São Paulo) fez esta questão: "Selecione, da linha 16 do texto, duas palavras que tenham valor anafórico. Explique essas anáforas". O trecho de que fazia parte a "linha 16" (de um fragmento de "A Moreninha", de Joaquim M. de Macedo) era este: "...que Ahy, de cansada, procurou fugir do insensível moço e fazer por esquecê-lo; porém, como era de esperar, nem fugiu-lhe e nem o esqueceu" (a "linha 16" começa em "moço" e termina em "o"). E então, caro leitor? Quais são os anafóricos (que, na verdade, são três)? Vamos lá: "lo" (de "esquecê-lo"), "lhe" (de fugiu-lhe") e "o" (de "o esqueceu"). Os três elementos anafóricos se referem ao mesmo antecedente ("moço").

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Em "esquecê-lo", o pronome "o" se transforma em "lo" porque se prende a verbo terminado em "r" (esquecer + o = esquecê-lo). Em "fugiu-lhe", o "lhe" corresponde a "a ele" ou a "dele" ("fugiu ao moço" ou "fugiu do moço", ou seja, "fugiu a ele" ou "fugiu dele"). Em "o esqueceu", o "o" é posto antes da forma verbal por atração do termo negativo "nem". É bom lembrar que o termo "anáfora" também é usado para denominar a "repetição de uma ou mais palavras no princípio de duas ou mais frases" ("Aurélio"): "Quase tu mataste, / Quase te mataste, / Quase te mataram!" (citado no próprio "Aurélio", o exemplo é de "Estrela da Vida Inteira", de Manuel Bandeira). Bem, a esta altura o leitor talvez deseje saber o que é o bendito "catafórico". Se o anafórico se refere a um antecedente, o catafórico se refere ao que será enunciado adiante. Em "A verdade é esta, meus caros: estamos mal-arrumados!", por exemplo, o pronome demonstrativo "esta" se refere ao que é enunciado em seguida ("estamos mal-arrumados!"). É isso. (Coluna publicada no dia 22 de julho de 2004, no jornal Folha de S. Paulo)

Os processos de anáfora e catáfora ocorrem quando há:

- pronominalização (1); - elipse (2);- substituição vocabular, que ocorre com: sinônimo (3), hiperônimo (4), hipônimo (5), repetição do

mesmo termo ou repetição do nome próprio (ou parte dele) - termo-síntese (7)- advérbios (aqui, ali, lá, aí) (8)

(1) Ele chegou. El Ninho foi impiedoso: derrubou árvores, destruiu casas...(2) Há cães bons para proteção do lar. Enfrentam tudo para nos defender.(3) O professor era bom, mas indisciplina o mestre não tolerava.(4) Sempre mandava flores para a namorada, rosas de todas as cores.(5) Lia muitos policiais. Gostava de toda espécie de livro.(6) O presidente viajou para o exterior. O presidente levou consigo uma grande comitiva.(7) O país é cheio de entraves burocráticos. É preciso preencher um sem-número de papéis. Depois,

pagar uma infinidade de taxas. Todas essas limitações acabam prejudicando o importador.(8) Não podíamos deixar de ir ao Louvre. Lá está a obra-prima de Leonardo da Vinci: a Mona Lisa.

2º - o encadeamento de segmentos do texto, feito por conexão (9) ou justaposição (10):

(9) Os alunos não prestam atenção, mas devemos insistir que aprendam.(10) Preciso sair com urgência. Tenho um compromisso.

Estudo de texto

Em 1997, a então estudante de MBA Maria Luisa Rodenbeck chegou à sede da americana Starbucks, em Seattle, e disparou: "Quero falar com Howard Schultz". Seu plano era tentar convencer o fundador da maior rede de cafeterias do mundo, com faturamento anual de 6,4 bilhões de dólares, a entrar no mercado brasileiro. Educadamente, uma das secretárias tratou de dispensá-la. Ao entrar no elevador para deixar o edifício, porém, Maria Luisa deu de cara com o próprio Schultz. Apresentou-se ao empresário e lhe entregou uma cópia de seu plano de negócios. Em junho de 2005, o mesmo Schultz a recebeu em seu escritório com um abraço e o velho plano nas mãos. "Lembra-se disso?", perguntou ele a Maria Luisa, hoje sua sócia no Brasil.

Casada com o americano Peter Rodenbeck, responsável pelo desembarque do McDonald's no Brasil, na década de 80, Maria Luisa levou quase uma década para convencer Schultz de que investir por aqui seria um bom negócio. No final de maio, a sociedade entre a rede Starbucks e o casal Rodenbeck foi, finalmente, confirmada -- as participações são de 49% e 51%, respectivamente. Os sócios não revelam o valor do investimento, mas analistas estimam que gire em torno de 20 milhões de reais, o suficiente para a abertura de cinco lojas. A primeira delas deve ser inaugurada neste ano, em São Paulo. 

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Esse é o primeiro grande negócio de Maria Luisa Rodenbeck. Ex-executiva da United Airlines, da American Airlines e do Outback (rede australiana de restaurantes lançada no Brasil pelo casal Rodenbeck), Maria Luisa admite que o nome e o histórico do marido pesaram na decisão da Starbucks. "Peter é meu guru, aprendi tudo com ele. Mas desde o início ficou muito claro que o sonho de trazer a Starbucks ao país era meu", diz. Para concretizá-lo, Maria Luisa teve de ser persistente. Após a primeira visita, enviou cartas anuais a Seattle reiterando o interesse em ser sócia da rede. Em 2002, conseguiu trazer os primeiros executivos para sondar o mercado brasileiro. Aos poucos, as visitas foram ficando mais frequentes. Nesses encontros, os Rodenbeck esforçavam-se para mostrar conhecimento do mercado, já que a Starbucks só trabalha com lojas próprias e sócios locais. "Desde o início percebi que ela seria forte candidata. Havia uma química com nosso jeito de fazer negócios", diz Pablo Arizmendi, vice-presidente de marketing e negócios da Starbucks para a América Latina.

Iniciadas as discussões sobre o formato da operação brasileira, Maria Luisa tratou de persuadir os americanos a fazer pequenas adaptações. Aqui, as lojas vão oferecer cafés exclusivamente brasileiros, o que não ocorre no resto do mundo. Outra particularidade é que as cafeterias brasileiras devem também usar xícaras -- nos outros 36 países onde a Starbucks opera, o café é servido apenas em copos de isopor. Um dos pontos que ainda precisam ser definidos é o preço. Nos Estados Unidos, um expresso custa 2 dólares. No Brasil, especula-se que um café poderá custar até 10 reais. Maria Luisa tergiversa. "Isso é chute, ainda não definimos os valores".(Revista EXAME, 01.06.2006, por Malu Gaspar)

QUESTÃO 1:Apresente de modo resumido qual foi o objetivo alcançado (a tese principal) e o respectivo caminho (recursos de presença) que a ex-estudante de MBA trilhou para consegui-lo, a começar pela tese de adesão inicial empregada.

QUESTÃO 2:De acordo com Abreu (2001), na obra A arte de argumentar, a empresária Maria Luisa conseguiu fazer uma eficiente argumentação junto à empresa de Seattle? Por quê? Na sua resposta deverão aparecer os termos argumentar, persuadir, convencer.

QUESTÃO 3:O último parágrafo diz que Maria Luisa tratou de persuadir os americanos a fazer pequenas adaptações. Quais foram as conquistas da executiva e por que ela conseguiu persuadir os americanos? Justifique.

Anexos:

I. Exercícios - imagens sobre as olimpíadas- sobre a obra O que é leitura- sobre a obra Preconceito lingüístico

II. Textos1. Texto “Comemos o que as grandes empresas agroalimentícias querem”

2. Texto: “A pedagogia do grande irmão platinado”

3. Texto: “Não existem línguas uniformes

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III. Reforma OrtográficaIV. Roteiro de filme V. Particularidades léxicas e gramaticais

VI. Pontuação: o uso (ou não) da vírgula

Vamos observar esta imagem sobre as Olimpíadas:

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Disponível em: www.azneuras.wordpress.com.br. Acesso em 02 de fev. 2011.

Questão 1:Podemos afirmar que a ilustração, nesse caso, cumpre a mesma função de charge? Por quê? Apresentemos pelo menos um argumento no texto elaborado.

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Após a leitura da obra O QUE É LEITURA vamos responder às questões:

1) A partir do livro de Maria Helena, o que entendemos por leitura?2) Quando aprendemos a ler? Como foi nosso aprendizado de leitura? Quem nos ajudou? Como

foi nosso contato com a leitura na escola?3) A obra O que é Leitura, de Maria Helena Martins, apresenta alguns tipos de leitura que não

estão ligadas unicamente ao lermos apenas palavras, mas também situações. Para tanto, a autora apresenta três níveis de leituras: sensorial, emocional e racional. O que caracteriza cada um deles? Que importância têm esses três níveis para o leitor?

4) O capítulo “ampliando a noção de leitura” faz críticas severas ao sistema de ensino de alfabetização e letramento. De forma sucinta, vamos reescrever com nosso estilo o que falou Maria Helena a respeito do assunto.

5) É possível ler o mesmo texto várias vezes e construir novos sentidos após cada leitura? Por quê?

Após a leitura da obra PRECONCEITO LINGUÍSTICO vamos responder às questões:

Charge para a questão 3:

Disponível em:<http://www.liliansimoes.com.br/blog/wp-content/uploads/>. Acesso em 09 de jul. 2009.

Questão 3: (v. 2,0)A partir do tópico 3 – “o que é ensinar português” - no capítulo 3 do livro Preconceito linguístico, e da charge de Lilian Simões, marque a alternativa incorreta. Em seguida, elabore um parágrafo de correção da alternativa com, no mínimo, doze linhas.

a) De acordo com a fala do aluno da charge e do linguista Marcos Bagno, a preocupação da mestra está relacionada ao modo precário como o garoto se comunica na escrita, pois a função da escola não é restringir ao ensino das regras e da nomenclatura dos termos gramaticais.

b) Assim como determinada pessoa se matricula em autoescola para aprender a dirigir e não para saber detalhes do funcionamento do veículo, o aluno precisa da instituição escolar para ajudá-lo a usar a língua materna com competência. Isso significa que ele deve aprender a ter êxito nas situações de comunicação, sejam elas orais ou por escrito, independente da área na qual atua.

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c) O garoto tem razão: não há necessidade de a professora se preocupar-se em ensiná-lo a falar e redigir textos claros e coerentes para comunicar-se melhor. Por ela não ter preconceito linguístico, o aluno deve continuar se expressando pela única variante, a inculta, que ele adquiriu dos pais. E também é desnecessário, como aluno, esforçar-se em aprender a comunicar, também, por meio da variante culta, pois, como pobre que supostamente é, ele será amparado por alguma política assistencialista do governo.

d) O ensino da gramática normativa mais estrita, a obsessão pela terminologia e pela classificação de termos e o apego à nomenclatura, ou seja, o esforço, por exemplo, para que o aluno saiba identificar os termos da oração e os classifique não é garantia de que ele se tornará um usuário competente da língua culta.

Texto: ‘COMEMOS O QUE AS GRANDES EMPRESAS AGROALIMENTÍCIAS QUEREM'

04.02.11 - Mundo Enric Llopis - Adital

Entrevista a Esther Vivas, coautora do livro "Do Campo ao Prato” (Ed. Icaria, 2009)Comprar um quilo de açúcar, um litro de leite ou um pacote de bolachas pode parecer um ato bem cotidiano. Porém, sob essa aparência inócua subjaz a relevância política de nossas ações, inclusive as mais inocentes. Esther Vivas, ativista social pela soberania alimentar e militante do movimento antiglobalização, alerta sobre a primazia do capital privado na hora de impor gostos, marcas e produtos. Juntamente com Xavier Montagut publicou os livros "Do campo ao Prato”, "Para onde vai o comércio justo?” e "Supermercados? Não, obrigada!”.

Você é coautora do livro "Do Campo ao Prato”. Acreditas que nos estão envenenando?Esther: O modelo de produção de alimentos antepõe interesses privados e empresariais às necessidades alimentícias das pessoas, à sua saúde e ao respeito ao meio ambiente. Comemos o que as grandes empresas do setor querem. Hoje, há o mesmo número de pessoas no mundo que passam fome do que o de pessoas com problemas de sobrepeso, afetando, em ambos os casos, aos setores mais pobres da população, tanto nos países do Norte quanto nos do Sul. Os problemas agrícolas e alimentícios são globais e são o resultado de converter os alimentos em uma mercadoria.

925 milhões de pessoas no mundo passam fome. Isso é uma prova do fracasso do capitalismo agroindustrial?Sim. A agricultura industrial, quilométrica, intensiva e petrodependente tem se mostrado incapaz de alimentar à população, ao mesmo tempo em que teve um forte impacto ambiental, reduzindo a agrodiversidade, gerando mudança climática e destruindo terras férteis. Para acabar com a fome no mundo não é preciso produzir mais, como afirmam os governos e as instituições internacionais. Pelo contrário; faz falta democratizar os processos produtivos e fazer com que os alimentos estejam disponíveis para o conjunto da população.

As empresas multinacionais, a ONU e o FMI propõem uma nova "revolução verde”, alimentos transgênicos e livre comércio. Que alternativa pode ser proposta pelos movimentos sociais?Esther: É preciso recuperar o controle social da agricultura e da alimentação. Não pode acontecer que umas poucas multinacionais, que monopolizam cada uma das etapas da cadeia agroalimentar, acabem decidindo o que comemos. A terra, a água e as sementes devem estar nas mãos dos camponeses, daqueles que trabalham na terra. Esses bens naturais não devem servir para fazer negócio, para especular. Os consumidores temos que poder decidir o que comemos, se queremos consumir produtos livres de transgênicos. Definitivamente, temos que apostar na soberania alimentar.

Poderias definir o conceito de "soberania alimentar”?Esther: Consiste em ter a capacidade de decidir sobre tudo aquilo que faça referência à produção, distribuição e consumo de alimentos. Apostar no cultivo de variedades autóctones, de temporada, saudáveis. Promover os circuitos curtos de comercialização, os mercados locais. Combater a

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competição desleal, os mecanismos de dumping, as ajudas à exportação. Conseguir esse objetivo implica uma estratégia de ruptura com as políticas da Organização Mundial do Comércio (OMC).Porém, reivindicar a soberania alimentar não implica em um retorno romântico ao passado, mas, ao contrário, trata-se de recuperar o conhecimento das práticas tradicionais e combiná-las com as novas tecnologias e saberes. Da mesma forma, não consiste em uma proposta localista, mas de promover a produção e o comércio local, no qual o comércio internacional funcione como um complemento do anterior.

A Via Campesina afirma que comer, hoje, converteu-se em um "ato político”. Estás de acordo?Esther: Completamente. O que comemos é resultado da mercantilização do sistema alimentar e dos interesses do agronegócio. A mercantilização que está sendo realizada na produção agroalimentar é a mesma que atinge a muitos outros âmbitos de nossa vida: privatização dos serviços públicos, precarização dos direitos trabalhistas, especulação com a habitação e com o território. É necessário antepor outra lógica e organizar-se contra o modelo agroalimentar atual no marco do combate mais geral contra o capitalismo global.

Estamos em mãos das grandes cadeias de distribuição. O que isso implica e que efeitos nos traz esse modelo de consumo?Esther: Hoje, sete empresas no Estado Espanhol controlam 75% da distribuição dos alimentos. E essa tendência cresce cada vez mais. De tal maneira que o consumidor cada vez mais tem menos portas de acesso à comida e o mesmo passa ao produtor ao buscar acesso ao consumidor. Esse monopólio outorga um controle total aos supermercados na hora de decidir sobre nossa alimentação, o preço que pagamos pelo que comemos e como foi elaborado.

As soluções individualistas servem para romper com essas pautas de consumo?Esther: A ação individual tem um valor demonstrativo e aporta coerência; porém, não gera mudanças estruturais. Faz falta uma ação política coletiva; organizar-nos no âmbito do consumo, por exemplo, a partir de grupos e cooperativas de consumo agroecológico; criar alternativas e promover alianças amplas a partir da participação em campanhas contra a crise, em defesa do território, fóruns sociais etc. Também é necessário sair às ruas e atuar politicamente, como, por exemplo, por ocasião da campanha da Iniciativa Legislativa Popular contra os transgênicos, impulsionada por "Son lo que siembrem”, porque, como vimos em múltiplas ocasiões, os que estão nas instituições não representam nossos interesses, mas os interesses privados.

Kyoto, Copenhague, Cancún... Que balanço geral pode ser feito sobre as diferentes cúpulas sobre a mudança climática?Esther: O balanço é muito negativo. Em todas essas cúpulas os interesses privados e o curto prazo têm pesado mais do que a vontade política real para acabar com a mudança climática. Não foram feitos acordos vinculantes que permitam uma redução efetiva dos gases de efeito estufa. Pelo contrário, os critérios mercantis têm sido uma vez mais a moeda de troca e o mecanismo de comércio de emissões é, nesse sentido, o seu máximo expoente.

Em Cancun fez sucesso a ideia de "adaptação” à mudança climática. Por detrás disso escondem-se os interesses das companhias multinacionais e de um suposto "capitalismo verde”?Esther: Sim. Em vez de dar soluções reais, opta-se por falsas soluções, como a energia nuclear, a captação de carbono da atmosfera para seu armazenamento, ou os agrocombustíveis. Trata-se de medidas cujo único resultado é agravar ainda mais a crise atual social e ecológica e, isso sim, proporcionar grandes benefícios a umas poucas empresas.

O Movimento pela Justiça Climática tenta oferecer alternativas. Como nasceu e quais são seus princípios?Esther: O Movimento pela Justiça Climática faz uma crítica às causas de fundo da mudança climática, questionando o sistema capitalista e, como muito bem diz seu lema, tenta "mudar o sistema, não o clima”. Desse modo, expressa essa relação difusa que existe entre justiça social e climática, entre crise social e ecológica. O movimento tem tido um forte impacto internacional, sobretudo por ocasião dos protestos na cúpula do clima em Copenhague e, mais recentemente, nas mobilizações de Cancún. Isso tem contribuído para visualizar a urgência de atuar contra a mudança

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climática. O desafio é ampliar sua base social, vinculá-lo às lutas cotidianas e buscar alianças com o sindicalismo alternativo.

A solução é mudar o clima ou mudar o sistema capitalista?Esther: Faz falta uma mudança radical de modelo. O capitalismo não pode solucionar uma crise ecológica que esse próprio sistema criou. A crise atual apresenta a necessidade urgente de mudar o mundo pela base e fazer isso desde a perspectiva anticapitalista e ecologista radical. Anticapitalismo e justiça climática são dois combates que devem andar estreitamente unidos.

Disponível em: <http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&langref=PT&cod=53754>. Acesso em 05 de fev. 2011.

Questão 1:De acordo com a entrevista Comemos o que as grandes empresas agroalimentícias querem, é possível afirmar que:

a) O texto descarta as novas tecnologias e o comércio local, porque o primeiro não combina com os produtos saudáveis e o segundo tem dificuldade de manter-se sem agrotóxicos.

b) O consumidor cada vez mais tem menos portas de acesso à comida, como também os pequenos produtores. Esse monopólio outorga um controle total aos supermercados na hora de decidir sobre nossa alimentação, o preço que pagamos pelo que comemos e como foi elaborado. E diante disso, as pessoas nada podem fazer.

c) O Movimento pela Justiça Climática tem tido um forte impacto internacional, sobretudo por ocasião dos protestos na cúpula do clima em Copenhague e, mais recentemente, nas mobilizações de Cancún. É urgente mudar o sistema, não o clima.

d) A produção de combustíveis de origem vegetal é uma medida que pode colaborar na resolução do problema da falta de alimentos no mundo.

e) A agricultura de caráter industrial é enorme e intensiva. Ela tem sido incapaz de alimentar à população, ao mesmo tempo em que teve um forte impacto ambiental ao reduzir a diversidade de culturas agrícolas, ao influenciar a mudança climática e destruir terras férteis.

Estão corretas as alternativas: (assinalar apenas uma)

1. a, b, c2. a, c, d, e3. c, e4. todas elas5. nenhuma delas

Questão 2:

“Faz falta uma mudança radical de modelo. O capitalismo não pode solucionar uma crise ecológica que esse próprio sistema criou”.

- De que modo o capitalismo criou a crise ecológica a partir da qual pode faltar comida no mundo? - Como é que o supermercado impõe o que eu como? Citemos exemplos. No ato rotineiro de fazer compras, nós já pensamos sobre o fato de nos submeter às grandes redes de supermercado ou como elas interferem no nosso modo de viver?- Por que concordamos ou discordamos da ativista espanhola Esther Vivas?

Texto: A pedagogia do grande irmão platinadoTexto de 26.01.11 - Brasil Elaine Tavares

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Jornalista

Outro dia li um artigo de alguém criticando o que chamava de pseudoesquerda que fica falando mal do BBB, mas que também dá sua espiadinha. E também li outras coisas de pessoas falando sobre o quanto há de baixaria no "show de realidade” da Globo. Fiquei por aí a matutar. E fui observar um pouco desse zoológico humano que a platinada oferece nas suas noites. Agora é importante salientar que a gente nem precisa assistir para saber tudo o que se passa. É só estar vivo para saber. As notícias estão no jornal, no ônibus, no elevador, em todos os lugares. Então esse papo de que quem critica é hipócrita porque também vê não tem qualquer sentido. As coisas da indústria cultural nos são impostas de forma quase que totalitária. É praticamente impossível fugir desses saberes. Mesmo no terminal, esperando o ônibus, lá está o anúncio luminoso onde buscamos o horário do busão, dando as "notícias” dos broders. É invasivo e feroz.

Mas enfim, sou um bicho televisivo, e gosto de ficar feito uma couve em frente ao aparelho de TV analisando o que é que anda engravidando as gentes deste grande país que se alfabetiza por esta janelinha. Lá fiquei acompanhando alguns episódios do triste programa. Deveras, me causa espécie. Mas não falo pelo quê de promíscuo ou imoral possa ter o "show”, já que coisas do tipo que se veem ali também são possíveis de ver na novela, nos filmes, etc... O que me apavora é capacidade de ser tão perverso e desestruturador de consciências. Está bem, as pessoas estão ali porque querem, elas mandam vídeos, se oferecem, morrem até para estar naquela casa, em busca do que pensar ser seu lugar ao sol. Mas, ainda assim, é perverso demais o que os "inventores” fazem com aquelas tristes criaturas.

Sempre pensei que a coisa nunca poderia ficar pior. Mas fica. Cada ano a violência fica maior. E o que me espanta é que não há gente a gritar contra isso. Agora inventaram a figura de um sabotador. Pois já não bastava colocar a possibilidade concreta de alguém (o espectador) eliminar outro (o broder "????”), o que, obviamente inaugura uma possibilidade por demais perversa de se apertar um botão e destruir o sonho de alguém com requintes de crueldade. Uma coisa de uma maldade abissal. Então, o tal do sabotador é uma pessoa, do grupo, que precisa sabotar os seus companheiros para poder se safar. Inaugura-se assim mais uma instância da estúpida violência, a qual é parte intrínseca do "show”. Vi a cara do rapazinho. Estava em completo desespero. Precisava sabotar seus amigos. E o fez. Em nome do milhão.

Depois, um outro, ao atender ao telefone que sempre ordena uma sequência de maldades, obrigou-se a mandar sua colega para uma solitária, coisa que, nas cadeias, é motivo de grandes lutas dos grupos de direitos humanos. O garoto disse o nome da sentenciada e seu rosto se cobriu de desespero. No dia em que ela saiu do castigo, enquanto os demais a abraçavam, ele se deixava cair, escorregando pela parede, chorando. Sabia, é claro, que aquela ação o colocava na mira da outra e na condição de um desgraçado que entrega seus colegas.

E assim vai o "grande irmão” propondo maldades e violências aos pobres sujeitos que ali entram em busca de um espaço na grande vitrine da vida. Confesso que a mim pouco se me dá se são homossexuais, trans, bi, héteros tarados, loucas, putas ou santas. Cada uma daquelas criaturas que ali estão quebrando todas as regras da ética do bem viver são pobres seres humanos, perdidos num mundo que exige da juventude bunda, músculo, peito e cabeça vazia. Não são eles os "imorais”. São vítimas. Querem mais do que as migalhas do banquete. Querem pegar com as unhas a promessa que o sistema capitalista traz na sua pedagogia da sedução: "‘qualquer um pode neste mundo livre”.

Tampouco me surpreende que um jornalista como Pedro Bial, dono de um texto refinado, esteja cumprindo o triste papel de fomentar a perda de todo o sentido ético que um ser humano pode ter. Ele, também buscando vencer nesse mundo que o capitalismo aponta como o melhor possível, fez a sua escolha. Optou por ser um sacerdote destes tempos vis. Um sacerdote muito bem pago.O que me entristece é saber que essa pedagogia capitalista seguirá se fazendo todos os dias nas casas das gentes, que muitas vezes assistem ao programa porque simplesmente não têm outra opção. O melhor sinal é o da platinada. Pega em qualquer lugar deste grande país. Há os que vêem e nem gostam, mas ocorre que estas "lições” em que se eliminam pessoas, em que se traem os amigos, em que vale tudo, passam meio que por osmose. É a lavagem cerebral. É a violência extrema sendo praticada entre risos e apupos de "meus heróis”. Tudo pela "plata”.

Enquanto isso, como bem já levantaram alguns blogueiros, a Globo, junto com as companhias telefônicas, lucra rios de dinheiro com as ligações que as pessoas fazem para eliminar os "irmãos”. É galera, brother quer dizer irmão em inglês. E olha só o que se faz com um irmão? Essa é a "ética”. Os empresários globais lambem seus bigodes.

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Então, fazer a crítica a esse perverso programa não é coisa de pseudoesquerda. Deve ser obrigação de qualquer um que pensa o país. A questão do "grande irmão” não é moral. É ética. Trata-se da consolidação, via repetição, de uma pedagogia, típica do capitalismo, que pretender cristalizar como verdade que para que um seja feliz, outro tenha que ser "eliminado”. O show da Globo é uma violência explícita, cruel, nefanda, sinistra e miserável. É coisa ruim, malcheirosa. Penso que há outras formas de a gente se divertir, sem que para isso alguém tenha de se ferrar! Até mesmo os mais importantes cientistas mundiais já alardearam a verdade inconteste: vence quem coopera. Onde as pessoas, juntas, buscam o bem viver, ele vem...Disponível em:< http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&langref=PT&cod=53508>. Acesso em 28 de jan. 2011.

Questão 1:Que tese Elaine Tavares defende no texto A pedagogia do grande irmão platinado? Que argumentos a jornalista utiliza para tecer o ponto de vista dela?

Questão 2:Por que Elaine Tavares emprega aspas nas palavras no seguinte trecho: É a violência extrema sendo praticada entre risos e apupos de "meus heróis”. Tudo pela "plata”?

Questão 3:- Em que variante/s o texto é escrito? Por que é dessa forma? Vamos apresentar marcas textuais que justifiquem nossa resposta.

Questão 4:Diante do programa do BBB, da rede Globo, o que causa espanto na autora? Por quê? Esse programa nos causa espanto de alguma maneira? Por quê?

Questão 5:Que paradoxo Elaine Tavares discute no texto A pedagogia do grande irmão platinado?

Questão 6:Afinal, qual é a pedagogia do BBB, segundo Elaine Tavares?

Texto: A lei e a justiça Lya Luft

Ando cansada da loucura humana. Ando exausta de tanto cinismo, maldade, perseguição aos

homens de bem e impunidade aos pérfidos. Cansei do drama da juventude que, lúcida ou drogada, começa a roubar e matar, às vezes com requintes de crueldade, aos 12 anos – pouco mais, pouco menos: se apanhados, nem rodos poderão ser reintegrados na sociedade. Voltarão para novos crimes. Recentemente, aqui perto, um menino de 14 anos confessou na maior frieza o assassinato de dezessete pessoas. Quinze deles já foram confirmados. “Matei, sim”. Talvez tenha acreditado num dar de ombros: “E daí?”

Se não houver alguma grave interferência, ele sairá em breve para matar. Por ser menor de idade, como tantos assassinos iguais a ele, foi para uma dessas instituições de ressocialização nas quais não acredito. Logo estará livre para reiniciar com alegria sua atividade de assassino psicopata. E, se perguntarem a razão, talvez diga como outro criminoso, quase uma criança, que assaltou um amigo meu, e repetia “vou te matar”. Meu amigo perguntou por que, e o menino respondeu com simplicidade: “Nada. Hoje sai a fim de matar alguém”.

Acredito firmemente que se deve reduzir a idade na qual alguém pode ser legalmente responsável por seus atos. Quando em outros países a idade mínima é de 14 anos, 12, e até menos, aqui, aos 16 podemos mudar o país através do voto, mas se estupramos, matamos, roubamos, até os 18, pegamos uma leve – e breve – pena em uma instituição que (com raras exceções) reeduca os passíveis de melhoria e deixa os psicopatas mais loucos.

Como nós, sociedade moderna, produzimos esse e outros dramas morais? Acusa-se pela criminalidade juvenil a família, que às vezes é apenas outra vítima, ou “a sociedade”, conceito vago que isenta de uma ação enérgica, enquanto se multiplicam os dramas, aumentam as tragédias,

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vítimas e criminosos deixando famílias destroçadas dos dois lados, sem solução à vista, além de teorias, livros e seminários com discursos pomposos mas pouco eficazes. Pouca é a vontade de mudar isso, que deveria começar com a educação em suas bases, mas o dinheiro e o esforço dedicados a isso têm sido irrisórios dentro do orçamento do país.

Além do mais, nada adiantará se não cumprirmos o que deve estar em qualquer Constituição: que a todo ser humano seja garantido tratamento digno e decente. Isso inclui as possíveis vítimas, que mereceriam uma sociedade menos violenta e autoridades mais eficazes, e de outro lado os criminosos, que deveriam ser submetidos a leis mais firmes e colocados – se for o caso – em prisões decentes onde possam trabalhar, produzir para seu próprio sustento, e quem sabe, aqui e ali, realmente voltar à sociedade regenerados, com nova oportunidade de mostrar isso.

Sou mais crédula do que cética, o que nem sempre é bom. Quando menina, me disseram que, se a gente cavasse fundo no jardim, esse poço daria no Japão, onde as pessoas andavam de cabeça para baixo (para eles, de pernas para o ar estaríamos nós). Adulta, descobri que a vida tem outros poços, nem todos divertidos. Um deles parece não ter fim: o poço dos escândalos nossos de cada dia, da nossa desolação e dos nossos enganos. Do desinteresse e da má vontade. Do poder dos maus e da fragilidade dos bons. E aí nem leis nem tribunais supremos ou mínimos nos ajudarão, se ficarem apenas na letra escrita ou submetidos a jogos de poder.

O poço tem fundo: o diabinho no meu ombro espia seu reflexo nele, para ver se não haverá alguma luz que o afugente. Resta descobrir quanto tempo se leva para chegar a esse fundo, e se, em lá chegando, descobriremos que a senhora Justiça era apenas um mito, que talvez tenha suas razões para não tirar a venda e finalmente olhar para nós, sociedade doente, que não usamos um pano diante dos olhos, mas enrolamos a alma numa cortina escura. O diabinho rosna então uma das melhores frases sobre o assunto: “A lei nem sempre garante a justiça”. (Revista Veja, ano 44 – n. 03. 19 de janeiro de 2011, p. 18)

Questão 1: Lya Luft, no texto “A lei e a justiça” faz referência à questão da idade penal. A autora demonstra revolta e indignação diante da situação de violência do nosso país, onde jovens, na maioria das vezes, comentem crimes de forma fria e calculista. A partir de reflexão sobre a redução da idade penal, elabore um parágrafo padrão declarando o que você pensa a respeito do assunto.

Questão 2: Luft afirma que não acredita em instituições de ressocialização. E você, acredita que um jovem criminoso, depois de cumprir pena em uma dessas instituições, poderá integrar-se à sociedade como um cidadão de bem? Justifique sua resposta com argumentos claros e convincentes.

Questão 3:Charge é um estilo de ilustração que tem por finalidade satirizar, por meio de uma caricatura, algum acontecimento atual com uma ou mais personagens envolvidas. A palavra é de origem francesa e significa carga, ou seja, exagera traços do caráter de alguém ou de algo para torná-lo burlesco. As charges são muito utilizadas em críticas políticas no Brasil.Disponível em: <mariquinhamaricota.blogspot.com/2008/11/as-ch...>. Acesso em 25 de nov. 2010.

Quem são os personagens da charge abaixo? Onde e em que momento eles estão? O que eles estão fazendo? Por quê? O que eles representam no nosso país? Que crítica a charge faz? Por quê? Em que aspectos a charge se assemelha ao texto de Lya Luft A lei e a justiça?- Vamos responder a essas perguntas em um único texto com coerência, coesão, criatividade, correção gramatical, concisão e clareza, ou seja, os seis cês que são fatores essenciais para a escrita de um texto de qualidade.

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Disponível em:<juicetech.zip.net/arch2010-04-01_2010-04-30.html>. Acesso em 25 de nov. 2010.

Texto: Não Existem Línguas Uniformes Sírio Possenti

Alguém que estivesse desanimado pelo fato de que parece que as coisas não dão certo no Brasil e que isso se deve ao “povinho” que habita esse país (conhecem a piada?), poderia talvez achar que tem um argumento definitivo, quando observa que “até mesmo para falar somos um povo desleixado”. Esse modo de encarar os fatos da linguagem é bastante comum, infelizmente. Faz parte da visão de mundo que as pessoas tem a respeito do campos nos quais não são especialista. Em outras palavras, é uma avaliação falsa. Mas como existe, e como também é um fato social associado à linguagem, deve ser levado em conta. Por isso, para quem pretende ter uma visão mais adequada do fenômeno da linguagem, especialmente para os profissionais, dois fatos são importante: a) todas as línguas variam, isto é, não existe nenhuma sociedade ou comunidade na qual todos falem da mesma forma; b) a variedade linguística é o reflexo da variedade social e, como em todas as sociedades existe alguma diferença de status ou de papel entre indivíduos ou grupos, essas diferenças se refletem na língua. Ou seja: a primeira verdade que devemos encarar de frente é relativa ao fato de que em todos os países (uma em todas as “comunidades de falantes”) existem variedade de língua. E não apenas no Brasil porque seriamos um povo descuidado, relapso, que não respeita nem mesmo sua rica língua. A segunda verdade é que as diferenças que existem em uma língua não são casuais. Ao contrário, os fatores que permitem ou influenciam na variação podem ser detectados por meio de uma análise mais cuidadosa e mesmo anedótica.

Um dos tipos de fatores que produzem diferenças na fala de pessoas são externas à língua. Os principais são os fatores geográficos, de classe, de idade, de sexo, de etnia, de profissão etc. Ou seja: pessoas que moram em lugares diferentes acabam caracterizado-se por falar de algum modo de maneira diferente em relação ao outro grupo. Pessoas que pertencem a classes sociais diferentes, do mesmo modo (e, de certa forma, pela mesma razão, a distância – só que esta é social) acabam caracterizando sua fala por traços diversos em relação aos de outra classe. O mesmo vale para diferentes sexos, idades, etnias, profissões. De uma forma um pouco simplificada: assim como certos grupos se caracterizam por meio de alguma marca (digamos, por utilizarem certos trazes, por terem determinados hábitos etc.), também podem caracterizar-se por traços linguísticos. Para exemplificar: podemos dizer que fulano é velho por quem tal hábito (fuma cigarro sem filtro, por exemplo, ou porque como em geral ocorrem com os mais jovens). Ou seja, as línguas fornecem meios também para a identificação social. Por isso, é frequentemente estranho, quando não ridículo um velho falar como uma criança, uma autoridade falar como uma pessoa simples etc. Por exemplo, muitos meninos não podem ou não querem usar a chamada linguagem correta na escola, sob pena de serem objeto de gozação por parte dos colegas porque em nossa sociedade a correção é considera uma marca feminina.

Também há fatores internos à língua que condicionam a variação. Ou seja, a variação é de alguma forma regrada por uma gramática interior da língua. Por isso, não é preciso estudar uma língua para não “errar” em certos casos. Em outras palavras, há “erros” que ninguém comente, porque a língua não permite. Por exemplo, ouvem-se pronúncias alternativas de palavras como caixa, peixe, outro: a pronúncia padrão incluiria a semivogal, a pronúncia não-padrão a eliminaria (caxa, pexe, otro). Mas nunca se ouve

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alguém dizer peto ou jeto ao invés de peito e jeito. Por que será que os mesmos falantes ora eliminam e ora mantêm a semivogal? Alguém pode explicar porque o i cai antes de certos consoantes e não diante de outras? Alguém pode explicar por que o u cai antes de t (otro) e o i não cai no mesmo contexto (peito, jeito)? Certamente, então, o tipo de semivogal (i ou u) e a consoante seguinte são partes dos fatores internos relevantes para explicar esse fato que, de alguma forma, todo falante conhece.

Outro exemplo: podem-se ouvir várias pronúncias, em vários lugares do país, do som que se escreve com a letra l em palavras como alguma: alguma, auguma, arguma. A variação tembém existirá em palavras como planta: planta ou pranta (mas nunca ouviremos puanta). Mas, o l setá sempre um l em palavras como lata. Ou seja: no fim da sílaba, ele varia; no meio, também (embora não com o mesmo número de variedade). Mas, no início, nunca. E isso vale para falantes cultos e incultos.

Mais exemplos: poderemos ouvir “os boi”, “dois cara”, “Comédia dos Erro” , mas nunca “o bois”, “um caras” ou “Comédia do Erros”. Ouviremos muitas vezes “nós vai”, mas nunca “ eu vamo(s)”. Assim, as variações linguísticas são condicionadas por fatores internos à língua ou por fatores sociais, ou por ambos ao mesmo tempo.

Alguns sonham com uma língua uniforme. Só podem ser por mania repressiva ou medo da variedade, que é uma das melhores coisas que a humanidade inventou. E a variedade linguística está entre as variedades mais funcionais que existem. Podemos pensar na variação como fonte de recursos alternativos: quanto mais numerosos forem, mais expressiva pode ser a linguagem humana. Em uma língua uniforme talvez fosse possível pensar, dar ordens e instruções. Mas, e a poesia? E o humor, e como os falantes fariam para demonstrar atitudes diferentes? Teriam que avisar (dizer, por exemplo, “estou irritado”, “estou à vontade”, “vou tratá-lo formalmente”)? (POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas: Mercado das letras/ALB, 1996, p. 33)

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ROTEIRO DO FILME OBRIGADO POR FUMAR1. O protagonista do filme, Nick Naylor, trabalha em uma empresa de estudos sobre Tabaco a qual é

financiada pelos empresários da indústria de cigarro e desenvolve com excelência a sua profissão de lobista. O que você sabe a respeito de tal profissão? Por que Nick é um lobista cobiçado pelos grandes empresários?

2. Lembra Beth Brait, na revista Língua Portuguesa no. 36 (2008, p. 33), que “ a atração pelas palavras, pelo poder que elas têm de significar, dando sentido ao homem, às suas glórias, fraquezas e ações, pode se revelar de muitas maneiras”. Abreu (2005, p.30) afirma que “na sociedade em que vivemos somos moldados por uma infinidade de discursos: discurso científico, discurso jurídico, discurso político, discurso religioso, discurso do senso comum, etc”. - Qual é o discurso comum e o discurso científico que aparece no filme sobre o cigarro? Como se constrói o primeiro e o segundo?

3. Abreu (2005) cita quatro condições da argumentação de sucesso. Nick Naylor, como lobista, possui todas elas ou não? Que trechos e/ou referências do filme autorizam e/ou justificam nossa resposta? Que relação há entre o trabalho desenvolvido pelo lobista e as entrelinhas do filme?

4. Em termos de argumentação, o falante ou locutor expressa seus argumentos (ponto de vista/ discurso) para outro falante, seu interlocutor, porque quer convencê-lo e/ou persuadi-lo sobre algo. Segundo a obra A arte de argumentar (ABREU, 2005), o falante pode ter o auditório particular ou ainda o auditório universal. No filme, Nick Naylor possui ambos os auditórios. - Além de identificar os dois auditórios do lobista, vamos verificar como é a relação entre o lobista, os tais auditórios e o título do filme.

5. Abreu (2005, p.45) afirma que “ao iniciar um processo argumentativo visando ao convencimento, não devemos propor de imediato nossa tese principal, a ideia que queremos “vender” ao nosso auditório”. O escritor, então, sugere que o falante deve apresentar, antes da principal, a tese de adesão inicial. - No primeiro programa de televisão apresentado no filme, o que pode ser considerado como tese de adesão inicial utilizada por Nick Naylor? Por quê?- E qual é a tese principal do lobista? Por que ele a defende?

6. A partir de uma das conversas entre Nick e o filho e outra entre a criança e a mãe, que diferença há entre negociação e argumentação? Qual das duas estratégias apresenta maior grau de credibilidade? Por quê? De acordo com o personagem, “se uma pessoa souber argumentar corretamente nunca estará errada”. De que ponto de vista o lobista a pronunciou? Você concorda com essa afirmação? Por quê?

7. Segundo Abreu, para que o falante tenha êxito na sua argumentação é ainda necessária a utilização das técnicas argumentativas como: compatibilidade e incompatibilidade; regra de justiça, retorsão, o argumento do ridículo, a técnica da definição, e ainda os argumentos: pragmáticos, do desperdício, pelo exemplo, pelo modelo e antimodelo e pela analogia.- Vamos identificar em que momento o filme apresenta a técnica da argumentação pelo modelo e antimodelo e justificar por quê.

8. Nas disputas entre Nick e o senador, podemos dizer que há argumentação e contra-argumentação? O que de fato está em jogo no discurso de um e de outro? Podemos afirmar que, nesse caso, o filme é irônico? Por quê?

9. “Os valores de uma pessoa não têm, obviamente, todos eles a mesma importância. Tanto isso é verdade, que a expressão hierarquia de valores é largamente utilizada. Num processo persuasivo, a maneira como o auditório hierarquiza os seus valores chega a ser, às vezes, até mais importante do que os próprios valores em si. (...) As hierarquias de valores variam de pessoa para pessoa, em

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função da cultura, das ideologias e da própria história pessoal”. (ABREU, 2005, p. 77). Assim, para que a argumentação atinja positivamente o auditório, o falante deve re-hierarquizar os valores com os lugares da argumentação: lugar de quantidade, qualidade, ordem, essência, pessoa e existente. - Afinal, qual é o lugar de argumentação que o filme mostra de forma mais evidente? Por quê?

10. No filme, a mídia está sempre em evidência. E os lobistas do tabaco, das armas de fogo e de bebidas são bem pagos. O que o filme sugere com isso? Por quê?

11. A arte de argumentar está relacionada com a capacidade de gerenciar emoções, compreender os valores e as necessidades do outro. Até que ponto Obrigado por fumar aborda a respeito disso? Que trechos autorizam minha resposta?

Nota: OBRIGADO POR FUMARtítulo original: (Thank You for Smoking)lançamento: 2006 (EUA)direção: Jason Reitman atores: Aaron Eckhart, Maria Bello, Cameron Bright, Adam Brody.duração: 92 mingênero: Comédiastatus: Arquivado

IV. Particularidades Léxicas e Gramaticais

USO DO PRONOME RELATIVO

Os pronomes relativos são os seguintes:

Variáveis Invariáveis

O qual, a qual Que (quando equivale a o qual e flexões)

Os quais, as quais Quem (quando equivale a o qual e flexões)

Cujo, cuja Onde (quando equivale a no qual e flexões)

Cujos, cujas  

Quanto, quanta  

Quantos, quantas  Ex: fale tudo quanto quiser. Traga todos quantos quiser

Regressando de São Paulo, visitei o sítio de minha tia. O sitio me deixou encantado. Regressando de São Paulo, visitei o sítio de minha tia o qual me deixou encantado.

Essas são as conclusões do processo. Sobre elas pairam muitas dúvidas. Essas são as conclusões do processo sobre as quais pairam muitas dúvidas.

Meu irmão comprou o restaurante. Eu falei a você sobre o restaurante.Meu irmão comprou o restaurante sobre o qual falei a você.

Eu fiz o trabalho. Esse trabalho que eu fiz refere-se à corrupção. O trabalho que eu fiz refere-se à corrupção.(= o qual)

As cantoras se apresentaram. As cantoras eram péssimas. As cantoras que se apresentaram eram péssimas. (= as quais)

Este é o pintor. Eu me refiro à obra dele. Este é o pintor a cuja obra me refiro.

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Este é o pintor. Eu gosto da obra desse pintor.Este é o pintor de cuja obra gosto.

A árvore foi derrubada. Os frutos da árvore são venenosos. A árvore cujos frutos são venenosos foi derrubada.

Você falou do político. Eu não o conheço. Não conheço o político de quem você falou.

Roubaram a peça. A peça era rara no Brasil.Roubaram a peça que era rara no Brasil. A peça que roubaram era rara no Brasil.

Aqui estão os ingredientes. Nós necessitamos desses ingredientes. Aqui estão os ingredientes de que necessitamos. Ele comprou os livros de que gostou.

Nós assistimos ao filme. Vocês perderam o filme. Nós assistimos ao filme que vocês perderam. Vocês perderam o filme a que nós assistimos.

O advogado está preso. Eu acreditei nas palavras do advogado.O advogado em cujas palavras acreditei está preso.

Aquela é a senhora Bovary. Eu trabalho para ela. Aquela é a senhora Bovary para a qual trabalho.

O pesquisador apresentou alguns livros. Os alunos gostaram dos livros apresentados. O pesquisador apresentou alguns livros dos quais os alunos gostaram.

Este é o artista. Eu me referi ao artista ontem. Este é o artista a quem me referi ontem.

Encontrei o garoto. Você estava procurando o garoto.Encontrei o garoto a quem você estava procurando.

Aquele é o homem. Eu lhe falei do homem.Aquele é o homem de quem lhe falei.

Onde/aonde:Sempre morei no país onde nasci. Voltei àquele lugar aonde minha mãe me levava quando criança. O sítio aonde fui é aprazível.

Disponível em: <http://www.gramaticaonline.com.br/gramaticaonline.asp?menu=1&cod=160>. acesso em 05 de jun. 2009 (com modificações)

Por que, por quê, porque, porquê

Certa vez alguém me perguntou sobre o acento circunflexo presente num título de uma revista ("Você tem cheiro de quê?"). O acento é correto, já que esse "quê", que encerra uma frase interrogativa direta, é emitido tonicamente. Releia a frase: "Você tem cheiro de quê?". Percebeu? Quando vem no meio da frase, o "que" normalmente é átono, ou seja, fraco, e é emitido por boa parte dos brasileiros como se fosse "qui": "Quero o que você quiser". Notou? Quando emitido tonicamente, o "que" é acentuado, por ser monossílabo tônico terminado em "e". Isso normalmente ocorre quando o "que" encerra a oração. Há outras situações em que se deve acentuar o "que", o que ocorre, por exemplo, quando a palavrinha tem valor de substantivo ("Ela tem um quê de magia") ou de interjeição ("Quê! Vocês por aqui?").

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A pergunta que me fizeram sobre o título da revista me fez lembrar que é imensa a pilha de cartas de leitores que querem saber quando usar "por que", "porque", "por quê" e "porquê". Já tratei do assunto há um bom tempo, mas sempre vale a pena voltar a ele. Aviso logo que o que vigora no Brasil não vigora em Portugal, quando o assunto é "por que", "porque" etc. Se você estiver lendo Saramago, por exemplo, esqueça o que verá neste texto. Não me parece que seja o caso de ver agora como se usa isso em Portugal. Esqueça também (e completamente) aquela velha história de que só se escreve "por que" ("separado", como se diz) quando há ponto de interrogação, e só se escreve "porque" ("junto", como se diz) quando não há ponto de interrogação.

Posto isso, vamos lá. Há basicamente dois casos em que se usa "por que". Num deles, pouco comum, temos a equivalência com as expressões "pelo/a qual", "pelos/as quais": "São indescritíveis os caminhos por que (= pelos quais) tivemos de passar"; "As teses por que (= pelas quais) luto nem sempre são compreendidas". No outro caso, o "por que" equivale a "por que razão", "por qual razão": "Por que (= por que razão, por qual razão) no Brasil não se consegue criar uma sociedade mais justa e equilibrada?"; "Faço questão de saber por que (= por que razão, por qual razão) você é tão áspero com ela". Já o "porque" ("junto") introduz explicação ou causa do que se afirma: "Não vou porque estou doente"; "Não voto nele porque seus projetos sociais são pífios".

Como já afirmei, não é a presença (ou a ausência) do ponto de interrogação o que decide se é "junto" ou "separado". Veja este caso: "Você não foi porque estava doente?". O que se pergunta não é por que a pessoa estava doente, mas, sim, se a doença foi o motivo, a causa da ausência dessa pessoa. É por isso que, mesmo com ponto de interrogação no fim da frase, esse "porque" é "junto". Note que às vezes é justamente a grafia ("junto" ou "separado") o que decide o sentido da frase: "Ninguém sabe por que ele não explicou"; "Ninguém sabe porque ele não explicou". No primeiro caso, ninguém sabe por qual razão ele não explicou, ou seja, desconhece-se o motivo de ele não ter explicado. No segundo, muda tudo. O fato de ele não ter explicado é o motivo de ninguém saber, isto é, as pessoas saberiam se ele tivesse explicado; como ele não explicou, continuaram sem saber. E quando se coloca acento em "por que" e "porque"? É simples. No primeiro caso, basta que a oração termine ali: "Por quê?"; "Ele não vai, e ninguém sabe por quê". É "separado" porque equivale a "por qual razão" ("Por qual razão?"; "Ele não vai, e ninguém sabe por qual razão/por que razão"); é acentuado pelas mesmas razões que você viu no início do texto, quando da explicação do título da revista ("Você tem cheiro de quê?").

Para acentuar "porque" ("junto"), é preciso que essa palavra seja substantivo. Nesse caso, normalmente "porquê" acaba sendo sinônimo de "motivo", "causa": "Não entendemos o porquê (= motivo, a causa) da demissão do ministro"; "Ele não revelou o porquê (= o motivo, a causa) da renúncia". Se você gosta de "curto e grosso", talvez seja possível resumir a história assim: quando equivale a "pelo/a qual", "pelos/as quais" ou a "por que razão", "por qual razão", grafa-se "por que" (com acento, se a oração terminar ali). Quando não, grafa-se "porque" (com acento, se for substantivo). Não custa lembrar que é preciso tomar cuidado com o que se vê por aí em cartazes, rótulos, faixas, avisos públicos, textos publicitários etc. Muitas vezes, o que tinha de ser junto vem separado, e o que tinha de ser separado vem junto.

Vejamos um trecho da canção "Pedacinhos", de Guilherme Arantes:

Pra que tornar as coisastão sombrias

na hora de partir?Por que não se abrir?

Se o que vale é o sentimentoe não palavras quase

sempre traiçoeirase é bobeira se enganar.

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Nessa canção, Arantes usa a frase "Por que não se abrir?". Esse "por que" é separadíssimo! Toda vez que for possível substituir o "por que" por "por qual razão" ou "por que razão", ele deve ser escrito separado:

por que não se abrirpor qual razão não se abrir

1. Dentre Significa “do meio de”. Sempre se emprega com verbos como sair, tirar, ressurgir. Nos demais casos, use entre.Dentre as moças da sala, ele tirou a mais bela para dançar.Entre os filmes em cartaz, o melhor é o do Palace.

2. DesdeNunca escreva “desde de”.Não o vejo desde 1980. (E não “desde de 1980”).

3. TodoO pronome todo, quando acompanhado de artigo, particulariza o objeto; sem o artigo, generaliza-o. Compare estas duas frases.

Todo o livro é perfeito. (Significa que o livro a que me refiro é perfeito do princípio ao fim.)Todo livro traz sempre algum benefício ao leitor. (Significa “qualquer livro”.)

4. Junto a“Junto a” significa “adido a”. Leia este exemplo:Ele é nosso representante junto à FIFA.

Já esta frase não está correta:Você tem de se explicar junto ao banco.O certo é abandonar a palavra “junto” e usar a preposição exigida pelo verbo:Você tem de se explicar ao banco.

5. À medida que/na medida em queNão confunda “à medida que” com “na medida em que”. A primeira locução dá idéia de proporção e a segunda de causa.

Você vai melhor à medida que (à proporção que) for tomando esse remédio.

Vamos seguir o regulamento na medida em que (uma vez que) ele foi aprovado.

Obs: Não existe a forma “à medida em que”.

6. Possuir/ter

Muito cuidado quando empregar o verbo possuir. Embora os dicionários o dêem como sinônimo de ter, nem sempre podemos trocar um pelo outro. Use possuir quando quiser dizer que alguém tem posse de, é proprietário de alguma coisa:

Ele possui uma bela casa de campo.

Não é errado dizer que “ele tem uma bela casa de campo”.Mas há casos em que só o verbo ter é aceitável:A praia tem agora quadras de esporte, bares limpos, boa iluminação.Nós temos direitos adquiridos.Ela tem cabelos castanhos e olhos azuis.

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7. Senão/ Se não

- Senão – significa “no caso contrário”, “de outro modo”, “a não ser”.Tome conta de seu cachorro, senão (caso contrário) ele foge.

- Se não – significa “quando não” ou “caso não”.Ele foi muito ríspido, se não (quando não) mal-educado.

8. Sequer/ Se quer- sequer – significa “pelo menos”, “ao menos”Não disse sequer uma palavra para agradecer.

- se quer – o “se” é conjunção condicional mais o verbo “querer”.Se quer viajar, viaje.

9. Mau/Mal- mau – contrário de “bom”.Ele estava de mau humor.

- mal – contrário de “bem”.Ele é muito mal-humorado.

10. Ao invés de / Em vez de

- ao invés de – significa “ao contrário de”Ao invés de chorar, ele sorria.- em vez de – significa “em lugar de”Em vez de estudar, preferiu ver televisão.

Em vez de pode ser usado também no primeiro caso: Em vez de chorar, ele sorria.

Ao invés de só é usado quando marca uma oposição. No segundo exemplo seu emprego não estaria correto, pois estudar não é o contrário de ver televisão.

11. Face a / Frente a

Nunca use. Substitua por “diante de”, “em face de”, “ante”, “em vista de”, “perante”, “em frente de”.Inauguraram uma padaria em frente de nossa casa.

12. Acerca de / A cerca de / Há cerca de

- acerca de – sobreNão disse nada acerca do plano econômico que elaborou.

- a cerca de - aproximadamenteMinha casa fica a cerca de cem metros da praia.

- há cerca de – faz aproximadamenteHá cerca de dez anos que eles estudam esse assunto.

13. Há/a

Não troque a por há e vice-versa.Use a para exprimir distância ou tempo futuro.Daqui a cinco anos estarei formado.Minha escola fica a duzentos metros de casa.

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Use há para tempo passado. Para saber se seu emprego está correto, substitua o verbo haver por fazer:Há (faz) oito anos que não o vejo.

Veja a diferença entre a tempo e há tempo:

Chegou a tempo de fazer as malas.Ele está na Austrália há (faz) tempo.

14. Haja vista

Prefira sempre essa forma.Haja vista os casos de dengue dos últimos meses...Haja vista o seu súbito interesse pelo caso...

Pronomes Demonstrativos

Para maior clareza no estudo dos pronomes demonstrativos, construiremos uma tabela e, depois, explicá-la-emos:

Pronomes Espaço (lugar) Tempo Citações

Este, esta, isto Aqui Presente Apresentam um elemento

Esse, essa, isso Aí Passado recente ou futuro Retomam um elemento

Aquele,aquela, aquilo Ali, lá, acolá Passado remoto -o-

Em relação ao espaço (lugar), usamos este, esta, isto para representar qualquer elemento que esteja próximo da pessoa que fala; esse, essa, isso, para elemento que esteja próximo da pessoa com quem se fala; aquele, aquela, aquilo, para elemento distante de ambos. Por exemplo:

"Comprei esta jaqueta que estou usando daquele camelô que vai lá adiante. Onde você comprou essa sua?"

"Dê-me essa caneta, que é minha, e não sua."

"Que cara é essa, Juvestônio?" Em relação ao tempo, usamos este, esta, isto para representar o tempo presente; esse, essa, isso, para o passado recente ou para o futuro; aquele, aquela, aquilo, para o passado remoto. O grande problema é distinguir o passado recente do remoto, pois duas pessoas podem ter interpretações diferentes para a mesma frase.

Quando o verbo estiver conjugado no pretérito imperfeito do indicativo (cantava, vendia, partia), usa-se aquele, aquela, aquilo; com o pretérito perfeito do indicativo (cantei, vendi, parti) é uma questão de estilo: o que julgar que é passado recente usará esse, essa, isso, e o que julgar que é passado distante usará aquele, aquela, aquilo. Por exemplo:

"Este ano é o ano das mudanças!"

"Nesse domingo, irei a Águas de Santa Bárbara."

"Essas olimpíadas foram horríveis para os atletas brasileiros.""Em 1922 aconteceu a Semana de Arte Moderna; naquela época, havia muitos poetas eminentes."("Naquela época", pois observe o verbo no pretérito imperfeito do indicativo – havia)

"Em 1984 casei-me; esse foi um dos melhores anos de minha vida."

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("esse", pois para mim, apesar de fazer 16 anos, é passado recente; para outra pessoa poderia ser distante)

Em relação a citações orais ou escritas, usamos esse, essa, isso para retomar um elemento ou uma frase anterior. Por exemplo:

"O fumo é prejudicial à saúde; isso já foi comprovado cientificamente."

"Astolfeno Barbosento é candidato a prefeito de Castanheira Verde do Sudoeste; esse homem é muito truculento."

Usamos este, esta, isto para apresentar um elemento ou uma frase que será escrita ou falada. Por exemplo:

"Preste atenção a estas palavras: O fumo é prejudicial à saúde.""Pode ser citado como exemplo comprobatório este fato: o policial não estava armado."

Se o pronome demonstrativo estiver retomando o substantivo imediatamente anterior, deveremos usar este, esta, isto. Por exemplo:

"O fumo é prejudicial à saúde; esta deve ser preservada."

Perceba que o pronome "esta" está retomando o substantivo "saúde", que está imediatamente anterior a ele. Outro exemplo:

"Meu filho, não se envolva com os funcionários da empresa em que trabalha o nosso vizinho; aliás, nem com este você deve envolver-se."Quando houver a enumeração de dois elementos e, à frente, quiser retomá-los, deve-se substituir o primeiro por aquele, aquela, aquilo e o último por este, esta, isto. Por exemplo:

"Ao me encontrar com Florisberto perguntei por Abiduílson, apesar de saber que este jamais conversa com aquele."(este = Abiduílson; aquele = Florisberto)

"Machado de Assis e Carlos Drummond de Andrade são dois dos maiores nomes da literatura brasileira. Este é conhecido por suas poesias; aquele, por seus brilhantes romances."(este = Carlos Drummond de Andrade; aquele = Machado de Assis)

COLOCAÇÃO PRONOMINAL

Os pronomes pessoais oblíquos átonos me, te, se, lhe, o, a, nos, vos, os, as, lhes, em relação aos verbos, denominam-se:

PRÓCLISE - Antes - “Deixou escapar um soluço estrangulado como se limpasse a garganta, ...” (Fernando Sabino, O grande mentecapto.)MESÓCLISE – Meio - “Obedecer-lhe-emos de todo o coração e faremos o que ele disser (...)” (Farid Ud-Din Attar, A conferência dos pássaros.)ÊNCLISE – Depois - “Dei-lhe mais uma chance de voltar atrás”. (José J. Veiga, Sombra de reis barbudos.)

PróclisePalavras “atrativas”• De sentido negativo (não, nunca, jamais, ninguém etc.):Ex.: “Não te surpreendas, respondeu-lhe uma voz interior (...)” (Farid Ud-Din Attar, A conferência dos pássaros).Obs.: O pronome pode aparecer antes do não.Ex.: Os problemas que se não discutem, continuam sem solução.• Pronomes relativos (que, quem, cujo, quanto etc.):

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Ex.: “Queremos que acreditem tanto na idéia de serviço que se transformem em defensores da qualidade do serviço na organização” (Karl Albrecht, Revolução nos serviços).• Certos pronomes indefinidos (tudo, todos, cada etc.):Ex.: “Foi nesse momento que, diante de mim, distingui uma fila de rostos. Todos me olhavam (...)” (Albert Camus, O estrangeiro).• Advérbios em geral (já, sempre, aqui, bem etc.):Ex.: “Quando voltamos, Masson já nos chamava” (Albert Camus, O estrangeiro).• Conjunções subordinativas (se, porque, quando, embora etc.):Ex.: “(...) mas, quando lhe pedi uma recomendação de um restaurante próximo (...)” (Karl Albrecht, Revolução nos serviços).• Preposição em + gerúndio.Ex.: “Em se tratando de discussões sobre serviços com executivos, descobri características que causam a diferença entre as empresas” (Karl Albrecht, Revolução nos serviços).

Orações que expressam desejo:Ex.: Que Nossa Senhora o proteja.

Orações exclamativas ou interrogativas:Ex.: Está me chamando?

Mesóclise• Quando o verbo estiver no futuro do indicativo.Ex.: “(...) sem outra ocupação além de olhar a flor do céu acima da minha cabeça, ter-me-ia habituado aos poucos” (Albert Camus, O estrangeiro).

Ênclise• Sempre que houver pausa:Ex.: “– Pode corrigi-los por boas maneiras, fazê-los unidos, ainda que discordem (...)” (Machado de Assis, Esaú e Jacó).Atenção: Se houver vírgula após o advérbio, haverá ênclise, e não próclise.Ex.: Hoje, defini-me quanto aos métodos de trabalho.• Períodos iniciados por verbos que não estejam no futuro:Ex.: “– Custa-me pedir-lhe” (Machado de Assis, Esaú e Jacó).• Verbo no imperativo:Ex.: “Tu deves de ir também co’os teus armadoEsperá-lo em cilada, oculto e quêdo” (Camões, Os Lusíadas).• Preposição a + infinitivo:Ex.: “A dignidade de governo começava a enrijar-lhe os quadris” (Machado de Assis, O Alienista).

Casos facultativosSe a palavra que antecede o verbo for:• Pronome pessoal do caso reto:Ex.: Eu me despertei assustada; Ela despertou-se suavemente; Ele despertar-te-á cedo.• Pronome demonstrativo:Ex.: Este me dá satisfação; Este dá-me satisfação; Este dar-me-á satisfação.• Substantivo (de qualquer tipo):Ex.: “(...) outras, meu espírito me empurra (empurra-me; empurrar-me-á) para a prece” (Farid Ud-Din Attar, A conferência dos pássaros).• Preposição para + infinitivo (mesmo com presença da palavra “atrativa”):Ex.: Rasguei a carta para não te aborrecer; Rasguei a carta para não aborrecer-te; Rasguei a carta para te não aborrecer.Obs.: Não utilize pronome átono depois de particípio:Errado: ... dito-te; Certo: Eu não te havia dito.Casos Especiais

• Colocação do pronome átono em locuções e combinações verbais.

Nas combinações de verbo pessoal (auxiliar ou não) + infinitivo, o pronome átono pode ser colocado antes ou depois do primeiro verbo, ou depois do infinitivo.

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Ex.: Devemos-lhe dizer a verdade. Ou: Nós lhe devemos dizer a verdade. Ou, ainda: Devemos dizer-lhe a verdade.

• No caso, a próclise com o infinitivo é própria da linguagem oral, ou escrita informal: Devemos lhe dizer... Evite-se esta colocação na redação oficial.

• Se, no caso mencionado, houver palavra que exige a próclise, só duas posições serão possíveis para o pronome átono: antes do auxiliar (próclise) ou depois do infinitivo (ênclise).

Ex.: Não lhe devemos dizer a verdade. Não devemos dizer-lhe a verdade.

Datas

Existem três possibilidades para abreviar a grafia de datas:com traço: 28-12-1945 com barra: 12/11/2002 com ponto: 21.10.2004

      Observações: Os números cardinais devem ser escritos sem ponto ou espaço entre o milhar e a centena: 1999 (e não 1.999); 2002 (e não 2.002). O ano pode ser registrado com os dois últimos dígitos: 12/11/02. O primeiro dia do mês deve ser escrito assim: 1º (e não 1). Exemplo: 1º/5/02 ou 1º/05/02. O emprego de zero antes do dia ou do mês formado de um só algarismo não é de rigor: 02/02/99 ou 2/2/99.  Atualmente, no entanto, a anteposição de um zero é prática corrente, pois atende a objetivos estéticos. E é sempre aconselhável, quando se quer evitar fraude.

Horas

Hora redonda: 8 horas; 9 horas etc. Ou 8h; 9h; etc. (sem "s" e sem ponto depois de "h"). Hora quebrada: 8h30min; 9h43min etc. (sem deixar espaços entre os elementos e sem usar ponto depois de "h" e "min").

Saiba Mais:

1. A grafia com dois pontos, como em       08:00     09:00     10:05     13:20

é usada em áreas específicas, como em anotações de programação com horários em seqüência, de passagens, competições, agendas, horários anunciados pela televisão etc.

2. Dias, horas, crase e paralelismo

Escreva assim:

     De segunda a sexta-feira De terça a quinta-feiraou Da segunda à sexta-feira Da terça à quinta-feira

Não escreva assim:

De segunda à sexta-feira

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     De terça à quinta-feira

 Escreva assim:

  De 9h a 11h De 8h30min a 11h30minou Das 9h às 11h Das 8h30min às 11h30min

     Não escreva assim: De 9h à 11h De 8h30min à 11h30min 9h às 11h 8h30min às 11h30min

OUTRAS DIFICULDADES MAIS FREQUENTES NO USO DA LÍNGUA

• Onde ou aonde – Onde indica lugar fixo; aonde expressa a idéia de movimento (para onde). Para indicar procedência, emprega-se de onde ou donde: De onde (ou donde) provinham os recursos financeiros?Errado = Aonde você deixou a minuta da carta?Certo = Onde você deixou a minuta da carta?• Afim ou a fim – A fim de equivale a para; afim significa parente por afinidade, semelhante, análogo:Estou aqui a fim de ajudá-lo a concluir o trabalho; Marketing e comunicação são assuntos afins.Errado = Afim de redigir a carta, ele precisa de outras informações.Certo = A fim de redigir a carta, ele precisa de outras informações.• A par ou ao par – A par equivale a ciente, ao lado, junto; ao par, de acordo com a convenção legal, sem ágio (câmbio), sem qualquer desconto ou abatimento (títulos, ações).Errado = O chefe da seção de pessoal não tomou as providências necessárias porque não estava ao par do ocorrido.Certo = O chefe da seção de pessoal não tomou as providências necessárias porque não estava a par do ocorrido.• Para eu encaminhar ou para mim encaminhar – Mim é pronome pessoal oblíquo, razão pela qual não pode ser usado como sujeito, função esta que cabe ao pronome pessoal do caso reto eu. Observe que após o pronome mim há um verbo no infinitivo (encaminhar).Errado = No início do expediente, deixaram sobre a minha mesa os prospectos para mim encaminhar aos clientes.Certo = No início do expediente, deixaram sobre a minha mesa os prospectos para eu encaminhar aos clientes.• Difícil para mim ou difícil para eu – Para mim é complemento de difícil. Nada tem a ver com o verbo.Ex.: Não foi fácil para mim conquistar essa vaga; Será impossível para mim realizar esse trabalho.Errado = É difícil para eu entender esse plano, pois ele contém muitas informações técnicas.Certo = É difícil para mim entender esse plano, pois ele contém muitas informações técnicas.• Havia ou haviam – Por ser impessoal, o verbo fica na 3ª pessoa do singular quando significar existir, acontecer, ocorrer, realizar-se ou indicar tempo transcorrido. Acompanhado do auxiliar (dever, poder), impessoaliza-se: Há muita gente no escritório; Haverá duas reuniões da equipe de apoio operacional neste mês; Deve haver muitos candidatos para o cargo de Datilógrafo; Pode haver muitos problemas com o novo gerente.Errado = Não haviam muitas pessoas na reunião do Departamento de Vendas.Certo = Não havia muitas pessoas na reunião do Departamento de Vendas.• De encontro a ou ao encontro de – Ao encontro de = para junto de, favorável; de encontro a = contra, em prejuízo de. Ex.: Se as medidas econômicas tivessem contrariado o desejo de quem formulou a frase, esta seria escrita assim: Não gostei das novas medidas econômicas, pois elas vieram de encontro aos meus desejos. Observe: Nos exemplos, as preposições de e a estão contraídas com artigos.

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Errado = Gostei das novas medidas econômicas, pois elas vieram de encontro ao meu desejo.Certo = Gostei das novas medidas econômicas, pois elas vieram ao encontro do meu desejo.• Há ou tem – Não se deve empregar o verbo ter em lugar de haver impessoal (significando existir). Ex.: Há secretárias que não se preocupam com o aperfeiçoamento profissional.Errado = Paralisamos a produção porque não tem matéria-prima.Certo = Paralisamos a produção porque não há matéria-prima.• De o ou do – Não se combina preposição (de, em) com sujeito ou termo que a ele se refira: Chegou o momento de ela mostrar a sua competência profissional; Apesar de o datilógrafo ter pouca experiência, o documento ficou bem datilografado.Errado = Está na hora do malote chegar.Certo = Está na hora de o malote chegar.• Menos ou menas – Menos é invariável, portanto, não existe a forma menas: Queremos menos conversa e mais ação.Errado = Havia menas pessoas na reunião desta semana.Certo = Havia menos pessoas na reunião desta semana.• Meio ou meia – Meio, quando modifica adjetivo = um tanto, fica invariável: Os candidatos estavam meio nervosos. Quando se refere a um substantivo (claro ou subentendido), concorda em gênero e número: Nosso Diretor não é homem de adotar meias medidas; Apresse-se, porque já é meio-dia e meia (meia hora).Errado = Quando o selecionador perguntou-lhe sobre o seu último emprego, a candidata ficou meia preocupada.Certo = Quando o selecionador perguntou-lhe sobre o seu último emprego, a candidata ficou meio preocupada.• Seção ou sessão – Sessão = tempo em que se realiza uma reunião; programa de teatro, cinema, etc.:Durou apenas trinta minutos a sessão do teatro. Seção ou secção = setor, subdivisão: Na Seção de Obras, há dois engenheiros. Cessão = ato de ceder (cedência): Nem todos concordam com a cessão do auditório.Errado = O chefe da sessão de compras encaminhou a proposta ao grupo de estudos.Certo = O chefe da seção (ou secção) de compras encaminhou a proposta ao grupo de estudos.• Decisões políticas-econômicas ou decisões político-econômicas – Nos adjetivos compostos ligados por hífen, só varia o último elemento: Nossa biblioteca recebeu muitas obras técnico-científicas.Errado = As novas decisões políticas-econômicas afetaram os negócios da companhia.Certo = As novas decisões político-econômicas afetaram os negócios da companhia.• Viagem ou viajem – viagem = substantivo; viajem = forma verbal (3ª pessoa do plural do presente do subjuntivo do verbo viajar): Se querem viajar, viajem.Errado = O presidente cancelou a viajem que faria às filiais.Certo = O presidente cancelou a viagem que faria às filiais.• Têm ou tem – Na 3ª pessoa do plural do presente do indicativo, o verbo ter recebe acento circunflexo:Eles têm alguns privilégios.Errado = Os funcionários tem contribuído muito para a racionalização dos serviços.Certo = Os funcionários têm contribuído muito para a racionalização dos serviços.• Comunicamos-lhe ou comunicamo-lhe – Com o pronome lhe(s) nenhuma modificação sofre o verbo: Informamos-lhes; fazemos-lhe.Errado = Comunicamo-lhe que estamos devolvendo as mercadorias defeituosas.Certo = Comunicamos-lhe que estamos devolvendo as mercadorias defeituosas.• Subscrevemo-nos ou subscrevemos-nos – Com o pronome reflexivo nos, elimina-se o “s” da forma verbal: Queixamo-nos; esquecemo-nos; comprometemo-nos; dignamo-nos.Errado = Esperando uma resposta favorável, subscrevemos-nos...Certo = Esperando uma resposta favorável, subscrevemo-nos...• Faz ou fazem – Tempo transcorrido ou fenômeno meteorológico = impessoal, terceira pessoa no singular. Acompanhado de auxiliar (estar, dever, poder), assume a forma impessoal: Faz vinte dias que encaminhei o relatório à Diretoria; Na próxima semana, estará fazendo dois anos que não recebo notícias de meu país.Errado = Fazem dez anos que desativamos a unidade industrial de Recife.Certo = Faz dez anos que desativamos a unidade industrial de Recife.

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• Situada na rua ou situada à rua – Por se tratar de verbo de quietação (lugar fixo), constrói-se com a preposição em: Resido na Rua Paraná, 327.Errado = A nova filial está situada à Rua Piraí nº 110.Certo = A nova filial está situada na Rua Piraí nº 110.• Procedeu a ou procedeu – No sentido de efetuar, realizar, esse verbo pede objeto indireto (proceder a):É necessário proceder a uma investigação.Errado = O auditor procedeu uma cuidadosa verificação nos livros contábeis.Certo = O auditor procedeu a uma cuidadosa verificação nos livros contábeis.• A essa ou essa – Com o verbo responder, pede objeto indireto (responder a): Não responderei a esse memorando.Errado = Responderei já essa carta, disse a secretária.Certo = Responderei já a essa carta, disse a secretária.• Vir ou ver – Trata-se do verbo ver no futuro do subjuntivo: vir, vires, vir, virmos, virdes, virem.Errado = Se você ver alguém sem o equipamento de proteção, avise a segurança.Certo = Se você vir alguém sem o equipamento de proteção, avise a segurança.• Somos ou somos em – A preposição em é desnecessária.Errado = Somos em sete na seção.Certo = Somos sete na seção.• Obedecer ou obedecer ao – O verbo obedecer pede objeto indireto (obedecer a): Quem não obedece às normas de trânsito deve ser punido.Errado = Todos devem obedecer o regulamento.Certo =Todos devem obedecer ao regulamento.• Preço alto ou preço caro – O preço da mercadoria pode ser alto ou baixo, nunca caro ou barato. A mercadoria é que pode ser cara ou barata: Essa mercadoria é muito barata.Errado = O preço da mercadoria é muito caro.Certo = O preço da mercadoria é muito alto.• Alugam-se telefones ou aluga-se telefones – Verbo apassivado pelo pronome se concorda em número e pessoa com o sujeito: Vendem-se casas. Se o sujeito estiver no singular, o verbo fica no singular.Observe: Fica no singular o verbo intransitivo indireto acompanhado do pronome se, porque não se trata de voz passiva.Dica: Aparecendo preposição (de, a), deixa-se o verbo no singular. Ex.: Precisa-se de empregados.Errado = Aluga-se telefones.Certo = Alugam-se telefones.• A Vossa Senhoria ou à Vossa Senhoria – Não se usa crase antes de expressões de tratamento:Encaminhamos a Vossa Senhoria a documentação.Observe: o pronome de tratamento senhora admite crase, uma vez que não se trata de expressão ou locução: Peço à senhora que compreenda as minhas dificuldades.Errado = Comunicamos à Vossa Senhoria que .....Certo = Comunicamos a Vossa Senhoria que .....• Consigo ou com você – Consigo pronome reflexivo da 3ª pessoa. Não deve ser usado em relação à segunda pessoa. Neste caso, em vez de consigo usa-se com você, com o senhor, com Vossa Senhoria:Presidente, há uma pessoa que deseja falar com o senhor. Só se emprega o pronome consigo na terceira pessoa: A balconista (ela) levou a caneta consigo.Errado = Júlio, esse cliente quer falar consigo.Certo = Júlio, este cliente quer falar com você (contigo).

VÍRGULANão deve ocorrer vírgula

1 - Entre o sujeito e o verbo:Ex.: Os policiais prenderam o infrator. O sargento é mestre em artes marciais. 2 - Entre verbo e complementos verbais:

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Ex.: Encontramos o suspeito. Obedecemos às ordens do comandante. 3 - Antes de orações subordinadas substantivas, exceto as apositivas.Ex.: Convém que deixemos o local. Espero que nenhum policial cometa erros durante a operação, mas como a operação é considerada de alto risco, pode vir a ocorrer algum equívoco. 4 - Antes de orações adjetivas restritivas:Ex.: Ele é o homem que mata passarinhos. Um vegetal é um animal que dorme. 5 - Em orações coordenadas ligadas por “e” que tenham o mesmo sujeito:Ex.: Chegou e prendeu o infrator.  

PONTUAÇÃO Casos de uso da vírgula

Usa-se a vírgula para:1 - Assinalar o vocativo (é o termo com que se interpela/chama o ouvinte/interlocutor):

Ex.: Sargento Mike, compareça ao local da ocorrência. 2 - Assinalar o aposto (é o termo da oração que serve par explicar um termo anterior, identificando-o, esclarecendo ou qualificando-o):Ex.: O comandante do batalhão, pessoa justa, não condenou o sindicado. 3 - Precedendo termos de mesmo valor sintático:Ex.: Foram apreendidas armas de fogo, substâncias entorpecentes e bicicletas furtadas. 4 - Precedendo orações coordenadas assindeticamente, isto é, sem uso de conjunções. Via de regra, são orações não introduzidas pela conjunção aditiva “e”.Ex.: Chegou a casa, sentou no sofá, ligou o televisor, buscou o canal certo, acomodou-se e assistiu ao filme. 5 - Entre as orações intercaladas:Ex.: A guerra, disse o general, é uma defesa prévia. 6 - Para marcar as orações subordinadas adjetivas explicativas:Ex.: O carnaval, que é tradicional, a cada ano está mais perigoso.7 - Entre expressões explicativas ou retificativas (isto é, a saber, por exemplo, a meu ver, na minha opinião, digo, ou melhor, quer dizer, etc.):Ex.: O criminoso, digo, o cidadão infrator, foi detido às nove horas.8 - Entre as conjunções coordenativas adversativas e conclusivas, quando pospostas/intercaladas (porém, contudo, entretanto, todavia, logo, portanto, etc.):Ex.: O tiroteio, porém, continuava.9 - Nas datas e endereços:Ex.: Belo Horizonte, 13 de novembro de 2008. Rua da Alegria, nº 30.10 - Para indicar zeugma (elipse/omissão de um ou mais termos anteriormente citados):Ex.: Uns diziam que se suicidou; outros, que foi assassinado. (elipse do verbo “diziam”)O dia estava quente; o sol, escaldante. (elipse do verbo “estava”)11 - Precedendo orações principais pospostas:Ex.: Quando menos se esperava, o cadete deixou de lado suas antigas aspirações.12 - Antes de “e”, quando as orações apresentarem sujeitos diferentes ou quando o “e” se repetir:Ex.: Fez-se o céu, e a terra, e o mar. João escreveu uma carta, e José arrumou a cama.13 - Nos elementos paralelos de um provérbio:Ex.: Mocidade ociosa, velhice vergonhosa.14 - Em construção com termos pleonásticos:Ex.: Bom policial, talvez não mais o seja.14 - Para separar predicativos situados antes do verbo (predicativo é o termo que exprime um atributo, um estado ou modo de ser do sujeito ou que se refere ao objeto de um verbo transitivo.):Ex.: Destemidos e intrépidos, os policiais avançavam pela área de risco.15 - Orações subordinadas substantivas apositivas:Ex.: Fez-nos um pedido, que mantivéssemos suas vírgulasDisponível em: <http://www.universopolicial.com/2008/11/uso-da-vrgula-tire-suas-dvidas-aqui.html>. 29.05.09

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PARA QUEM PENSA QUE UMA VÍRGULA É SÓ "UMA VÍRGULA"....

      Muito legal a campanha dos 100 anos da ABI

(Associação Brasileira de Imprensa).  Vírgula pode ser uma pausa... ou não.Não, espere.Não espere.

Ela pode sumir com seu dinheiro.23,4.2,34.

Pode criar heróis..Isso só, ele resolve.Isso só ele resolve.

Ela pode ser a solução.Vamos perder, nada foi resolvido.Vamos perder nada, foi resolvido.

A vírgula muda uma opinião.Não queremos saber.Não, queremos saber.

A vírgula pode condenar ou salvar. Não tenha clemência!Não, tenha clemência!

Prender não,mate!

Prender,não mate!

Uma vírgula muda tudo.ABI: 100 anos lutando para que ninguém mude uma vírgula da sua informação.

Detalhes Adicionais:

SE O HOMEM SOUBESSE O VALOR QUE TEM A MULHER ANDARIA DE QUATRO À SUA PROCURA.

* Se você for mulher, certamente colocou a vírgula depois de MULHER....* Se você for homem, colocou a vírgula depois de TEM...

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Paráfrase:

Fernando Sabino entrou em um botequim da Gávea, antes de escrever a crônica diária. Reflexivo, ele lamentou o fato de seus textos terem abordado situações muito comuns e circunstancias dos fatos cotidianos naqueles últimos tempos. Por isso enquanto tomava o cafezinho, ele pensava em concluir o ano de forma grandiosa. Na verdade, o escritor desejava falar sobre a essência humana, captada da convivência entre as pessoas, aspecto que ele julgava o mais digno da vida. Ou seja, Sabino queria ser capaz de expressar a respeito das relações humanas o que estava fora do alcance dos olhares comuns. Assim, compenetrado ao tomar o café e sem ter assunto, o cronista repetia na memória o verso de Drummond “assim eu quereria o meu último poema”. Ao terminar a pequena reflexão, ele ergueu os olhos e notou a presença de um pequeno grupo de pessoas negras ao fundo do estabelecimento: era um casal acompanhado de uma menina. O escritor havia encontrado sobre o que falar em sua crônica especial.

Então, ele passou a observar a pequena família. E, desmentindo o que havia afirmado antes, com o olhar e a capacidade de quem tem muita sensibilidade e habilidade para escrever, o cronista construiu uma detalhada e emocionada descrição dos atos e dos traços psicológicos daqueles três. Fernando Sabino chamou a atenção para a forma esquiva e insegura como o pai, a mãe e a menina de três anos chegaram e se estabeleceram em um canto, na última mesa. As palavras, os gestos comedidos, a humildade e insegurança dos dois adultos, como também as vestimentas simples e a curiosidade da criança revelaram que não era prática comum eles estarem naquele tipo de lugar. Talvez por se sentirem deslocados, o quadro composto em poucos minutos mais parecia uma espécie de ritual.

O cronista captou o momento quando o pai tímido fez o pedido ao garçom como algo distinto e raro, e ainda a insegurança da mãe e a concentração da criança no refrigerante, enquanto aguardava ansiosamente a fatia de bolo. O escritor foi capaz de enxergar pequenos atos como a procura das velinhas na bolsa, os fósforos na mão, os parabéns soados quase como sussurros, o sopro das velas e as mãos trêmulas da menininha ao agarrar o bolo para comer. Além disso, ele acompanhou, ávido, os gestos e olhares de ternura de pai e mãe ao observarem a filha comendo o único pedaço de bolo. Como também a satisfação deles pelo sucesso da comemoração do aniversário de três anos da pequena. Finalmente, o cronista acolheu o sorriso cheio de dignidade do moço o qual coroou aquele pequeno evento que o possibilitou captar a essência do ser humano em sua crônica.

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