apostila agrotoxicos 1

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SEES UNIDADES AGROTXICOS E TICAI -INTRODUO Pode-se dizer que a tica se relaciona com os agrotxicos na medida que o uso deste gera uma srie de implicaes nos seres humanos e natureza. Os agrotxicos liberados no ambiente podem causar uma larga escala de efeitos ecolgicos e na sade humana. Vrios so carcingenos comprovados ou suspeitos e podem ter efeitos txicos em seres humanos e em espcies aquticas. Os efeitos na sade provocados pela exposio crnica, em longo prazo ou a nvel baixo de concentraes trao dos agrotxicos so desconhecidos. Outros interesses incluem efeitos sinergsticos de agrotxicos mltiplos e tambm os processos de bioacumulao, bioconcentrao e biomagnificao que envolvem a acumulao de substncias qumicas por organismos atravs da cadeia alimentar. Praticamente todos agrotxicos so capazes de contaminarem rios e lagos com graves impactos ambientais; alguns efluentes, entretanto, so fortes contaminantes do lenol subterrneo dgua, ampliando o espectro de contaminao, via ingesto de gua contaminada (U.S. ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY, 1992). Quando uma cincia examina uma questo, ela se baseia nos pressupostos do seu paradigma, ou seja, uma estrutura mental, consciente ou no, que serve para classificar o mundo e poder abord-lo (KUHN,1970). O problema dos agrotxicos examinado ento pela cincia, com os paradigmas das suas disciplinas especficas: a entomologia (estudo dos insetos), a fitopatologia (estudo das doenas das plantas), a fisiologia vegetal que desenvolveu nas ltimas trs dcadas uma srie de produtos qumicos tais como herbicidas, hormnios de crescimento e tambm produtos para tratamento das cutculas de frutas, j que o desenvolvimento da cor, importante caracterstica do mercado de frutas, controlado por tratamentos dos frutos com reguladores de crescimento na forma de solues aquosas. Tais reguladores so MH30 e 2,4 D que podem, como ilustrao, influenciar o tempo de estocagem de mangas temperatura ambiente. A Fitopatologia, por exemplo, tem os seguintes pressupostos: 1- estudo das entidades vivas e as condies ambientais que causam ou interferem nas doenas de plantas; 2Os mecanismos pelos quais esses fatores causam doenas nas plantas; 3- As interaes entre os agentes causais e plantas doentes; 4- Os mtodos de controle das doenas(AGRIOS,1969). Na realidade tudo converge para o controle no qual pode-se usar todo o arsenal disponvel pela cincia, incluindo-se os fungicidas. No consta nos paradigmas da fitopatologia um que se disponha a eliminar os agrotxicos perigosos ao homem e ao ambiente. Um exemplo esclarecedor refere-se ao fungicida hidroxitrifenil-estanho (vendido com o nome comercial de Brestan), usado em diversas culturas agrcolas, base de estanho que um metal pesado, persistindo por muito tempo no ambiente; as medidas de restrio de um produto como esse no ocorre dentro dos pressupostos da disciplina especfica; isso importante para separarmos os discursos ideolgicos que tentam legitimar a prtica indiscriminada do uso dos agrotxicos. As principais justificativas do seu uso e que ser examinada nesse trabalho, so: 1-O uso dos agrotxicos necessrio para aumentar a produo de alimentos e combater a fome no mundo;

2-Os acidentes s ocorrem quando estes produtos so manipulados por agricultores ignorantes e analfabetos. Usados com as precaues necessrias no oferecem perigo; 3-O alarido contra os agrotxicos vem principalmente de ecologistas, na maioria das vezes sem conhecimento tcnico especfico sobre o assunto. Eles no poderiam alimentar a populao com suas hortas orgnicas; 4-No existem informaes conclusivas de que a maioria dos agrotxicos provoque cncer e outras doenas quando usados nas dosagens recomendadas. 5- Os benefcios econmicos do uso dos agrotxicos trazem muito mais vantagens do que riscos causados ao meio ambiente, sendo, portanto, ilgico o questionamento pela sociedade. Estes argumentos so repetidos, com variaes, ad nauseum, em congressos cientficos por representantes no s da indstria fabricante, mas tambm por muitos profissionais da agronomia. No argumento dois o ignorantes e analfabetos no deve ser tomado como pejorativo, mas como uma justificativa tcnica e neutra para a ocorrncia de acidentes. Com o argumento quatro h um reconhecimento implcito de muitos profissionais dessas disciplinas de que muitos agrotxicos, embora comprovadamente cancergenos quando testados em cobaias de laboratrios, no repetem os mesmos resultados em seres humanos, quando aplicados corretamente nos cultivos agrcolas, nas dosagens recomendadas.Esses argumentos devem ser encarados com seriedade tal a fora argumentativa adquirida e repassada para a sociedade, embora no constem nos paradigmas das disciplinas cientficas no qual so tratados sendo, portanto, argumentos legitimizadores de discursos. O tratamento tico do tema ser feito sem perder de vista o carter original e semntico que coloca o ethos(com eta inicial) como morada do homem e abrigo protetor ou como na observao de Herclito de que o ethos o gnio protetor do homem e tambm como na segunda concepo, o ethos(com psilon inicial) baseado no costume e no agir e que se relaciona ao comportamento que resulta de um constante repetir-se do mesmo ato moldada pela prxis. A ao tica procede do ethos como do seu princpio objetivo e a ele retorna como a seu fim realizado na forma do existir virtuoso (VAZ,1988). Algumas dessas propostas de uma nova tica para tratar as disciplinas cientficas e especificamente as que tratam dos agrotxicos sero discutidas. O plano geral do trabalho a grade analtica sugerida por Fourez para o debate tico que constam dos seguintes passos: 1- Exame espontneo da situao (o que j foi feito na introduo); 2- As causas, incluindo-se os fatores econmicos(todos aqueles ligados s questes do dinheiro ou organizao social que se constitui tendo em vista a produo), tecnolgicos(as exigncias das tecnologias adotadas sobre a sociedade e os indivduos), polticos(todas as relaes de poder), os fatores culturais e ideolgicos( todas as idias e tradies que motivam e mobilizam as pessoas e legitimam as suas maneiras de agir), culturais e emocionais ( ligados s relaes interpessoais ou histria psicolgica dos indivduos). 3- A induo de indivduos e grupos atravs desses fatores; 4- Possveis cenrios do futuro como fruto de uma deciso eventual (no caso o modelo tecnolgico de uso dos agrotxicos inseridos nos paradigmas das disciplinas que o constituem); 5-debate tico propriamente dito sobre

os agrotxicos. Esse debate tem o objetivo no de estabelecer obrigatoriamente juzos de valor, mas compreender as possveis dimenses ticas envolvidas. II-Causas A mais antiga referncia do uso de produtos qumicos remonta ao antigo Egito e ao uso da fumigao para reduzir infestaes em gros armazenados.Em 1000 a.C Homero, na Odissia, recomenda o uso de enxofre para o que ele denominava pestes, na forma de fumigao, usado at hoje.Mais ou menos na mesma poca h relatos do uso de arsnico pelos chineses em tratamento de sementes!O romano Cato( 200 a.C) descreve o uso do betume(asfalto) para produzir inseticidas que controlariam pestes em videira; era conhecido no mundo romano o uso de extratos de vrias ervas para controlar pulgas. As referncias mais especficas da antiguidade remete-nos a Teofrastos(370-286 a.C), filsofo e um dos primeiros botnicos gregos (aps Aristteles), que teceu consideraes tericas sobre doenas dos cereais e mtodos de controle das mesmas. Do sculo cinco d.C at a Renascena, no h referncias ao uso de qumicos que no o enxofre e o arsnico. Poder-se-ia especular que no mundo antigo havia uma demanda reprimida pela descoberta de frmulas qumicas; esta deduo deve-se ao principal problema agrcola enfrentado historicamente por hebreus, caldeus, babilnios, gregos e romanos: uma doena fngica chamada ferrugem do trigo, uma importante e severa doena da principal cultura alimentar do mundo antigo. Uma das principais caractersticas dessa doena a disseminao pelo vento, provavelmente induzindo muitos desses povos a praticarem uma agricultura nmade, pois uma vez a rea infectada era preciso procurar novas e distantes reas de cultivo. Muitas referncias a essa doena so encontradas no antigo testamento, passagens como: eu vos feri com um vento abrasador e com ferrugem a multido de vossas hortas e das vossas vinhas. Aos vossos olivais e aos vossos figueirais, comeu a lagarta; e vs no voltastes para mim (Ams 4:9). Outras referncias so encontradas em Deuteronmio, 28:22; Gnesis, 41:22-23; Ageu, 2:17-18; Crnicas II, 6:28. Os romanos celebravam um festival anual, chamado Robigalia, especfico para a ferrugem do trigo e iniciado pelo rei Numa Pompilius em 700 a.C e continuado com modificaes na era crist. Em 1637 apareceu em Leyden o Discurso sobre o mtodo, de Descartes, criando as condies propcias para o desenvolvimento das disciplinas cientficas tais como as conhecemos hoje. Para realizar seu propsito, Descartes estrutura fundamentalmente seu mtodo em quatro regras: (1) nunca aceitar como verdade seno aquilo que se v clara e distintamente como tal; (2) decompor cada problema em suas partes mnimas; (3) ir do mais compreensvel ao mais complexo; (4) revisar completamente o processo para assegurar-se de que no ocorreu nenhuma omisso. Em 1798, Malthus escreve o seu famoso Princpio de Populao, no qual expe a tese de que os alimentos crescem em progresso aritmtica e a populao em progresso geomtrica; resultado? Fome inevitvel! Esses dois fatos foram importantes para cristalizar nas sociedades europias da poca o papel fundamental da cincia no combate fome, expressa por novas descobertas. Dos alquimistas, a nova era cientfica fundada no racionalismo cartesiano trouxe o desenvolvimento da qumica e j em 1755 os alemes passaram a usar o arsnico (j empregados pelos antigos chineses) e o cloreto de mercrio no tratamento das sementes de trigo para controlar a crie e o carvo, duas significativas doenas do trigo, veiculadas por

sementes. Um outro evento importante na descoberta de novos produtos qumicos foi a grande fome da Irlanda, de 1845. Os irlandeses da poca adquiriram o perigoso hbito de se alimentar com inmeras variaes de um mesmo ingrediente: a batata. Para aumentar a produtividade importaram batatas do Peru, contaminadas por um fungo chamado Phytophthora infestans. Nos anos particularmente chuvosos e frios de 1845-47, o fungo atacou os batatais dos irlandeses destruindo-os completamente e impossibilitando novos plantios. Como conseqncia um milho de pessoas morreram de fome e outro milho teve de emigrar s pressas, principalmente para os Estados Unidos. Dentre os imigrantes estava o av do presidente John Kennedy. Essa fome na Irlanda deu a comunidade cientfica uma espcie de carta branca das diversas sociedades europias para a pesquisa e uso de agrotxicos. Em 1883 foi descoberto pelo mdico Pierre Alexis Millardet, o fungicida de nome Calda Bordaleza ( base de cobre), durante a sua estadia na Alemanha.Em 1915 surge o primeiro produto qumico organomercurial produzido pela Bayer Company of Germany, com o nome comercial de Uspulum. Na dcada de 30 h o desenvolvimento de uma srie de fungicidas de um grupo qumico chamado ditiocarbamato e tambm quando se verifica o primeiro controle parcial da doena histrica que devastara os batatais dos irlandeses no sculo anterior. Em 1 de setembro de 1939 inicia-se a segunda guerra mundial e os produtos qumicos mercuriais usados na agricultura passam logo a ter uma destinao nas frentes de batalhas para uso mdico, forando dessa forma a pesquisa de novos produtos. O DDT (sintetizado em 1874) descoberto em 1942 a mais espetacular dessas descobertas por eliminar praticamente todos os insetos conhecidos(em 1970, porm, j tinham sido detectadas 450 espcies de insetos resistentes ao DDT); em 1942 ocorre em plena guerra a maior tragdia registrada na humanidade provocada por uma doena de plantas: no distrito de Bengal, ndia, o fungo Helminthosporium oryzae, destri todas as plantaes de arroz existentes levando dois milhes de pessoas morte pela fome. Em 1943 comea-se a Revoluo Verde: a Fundao Rockfeller envia uma equipe de fitopatologistas e geneticistas para o Mxico, dentre eles Norman Borlang que recebeu o Nobel da Paz em 1966. O trabalho dessa equipe redundou nas chamadas Variedades de Alta Produtividade (VAP). Como conseqncia, o Mxico que era antes importador de cereais, passou a exportar seus excedentes de milho e trigo. Depois desse sucesso a Fundao Rockfeller associou-se a Ford e repetiram a mesma atuao na sia - com o arroz-, onde fundaram nas Filipinas, em 1962, o Instituto Internacional de Pesquisa Sobre o Arroz. Para o consultor da Fundao Rockfeller, Lester Brown, chegara o perodo de prosperidade, o homem j no passaria fome(GEORGE,1978). Pode-se afirmar sobre a Revoluo Verde sem sombra de dvidas o seguinte: a) ela incrementou o uso mundial de agrotxicos na medida em que as VAPs s conseguiam manter a sua extraordinria produtividade em relao s variedades tradicionais a custa da utilizao macia de fungicidas, inseticidas e herbicidas, do uso cinco vezes maior em mdia de fertilizantes em comparao com as variedades tradicionais; a irrigao tinha que ser precisa para fornecer a quantidade de gua exigida pelas plantas na quantidade certa e no momento adequado. A produtividade das mesmas, na ausncia de qualquer um desses fatores decaa para nveis inferiores s tradicionais ( bem conhecida a enorme intolerncia das VAPs na competio com ervas daninhas); b)houve uma notvel incorporao alimentar

oriundo dos excedentes de gros para populaes miserveis:em 1988, a ndia produziu mais arroz por habitante do que em 1966, a despeito da populao nesse intervalo ter crescido cem milhes, basicamente devido ao hbrido IR36(SORMAN, 1989); c)foi a primeira grande resposta do ser humano s sombrias previses de Malthus; d)a partir da Revoluo Verde acelerou-se os impactos ambientais e a natureza, afinal, revelou-se frgil. No Cd-Rom sobre os agrotxicos usados no Brasil, distribudo pelo Ministrio da Agricultura para o ano de 1999, constam aproximadamente mil e quinhentos agrotxicos registrados(AGROFIT,1998). O desenvolvimento de um novo fungicida, por exemplo, custa U$80 milhes (WILMAR, 1993).A venda desses produtos, no Brasil, entre os anos de 1966 e 1981, de acordo com dados do Ministrio da Sade, cresceu 250% e a produtividade agrcola aumentou 8%.III-Induo de indivduos e grupos atravs da discusso dos tpicos anteriores Quando se fala de induo de indivduos e grupos, est se falando tambm nos discursos ideolgicos que se do a conhecer como uma representao adequada do mundo, mas que possuem mais um carter de legitimao do que um carter descritivo. Uma representao ideolgica se ela veicula uma representao do mundo que tem por resultado motivar as pessoas, legitimar certas prticas e mascarar uma parte dos pontos de vista e critrios utilizados. Dito de outro modo, quando tiver como efeito mais o reforo da coeso de um grupo do que uma descrio do mundo ( FOUREZ, 1995). Na histria dos agrotxicos muitos eventos tiveram um poder indutor nas populaes e cientistas. Descartes, por exemplo, deu os fundamentos da cincia moderna e pavimentouo caminho a ser seguido pela comunidade cientfica: os seus procedimentos, a idia implcita de que a natureza pode ser montada e desmontada como uma mquina. Dessa forma, na Fitopatologia, Entomologia e Fisiologia Vegetal, as disciplinas nas quais esto includas a questo dos agrotxicos, tambm como quase todas as outras disciplinas cientficas, tiveram as suas origens primeiras no pensamento cartesiano e pode-se dizer que a neutralidade cientfica, na realidade, simplesmente impossvel, funcionando mais numa tica ideolgica na qual se quer legitimar discursos, pois a aparente neutralidade dos cientistas se d porque as decises importantes foram tomadas na fundao dos paradigmas da disciplina. O livro de Malthus Princpio de Populaes, de 1798, talvez, tenha predisposto as populaes, pelo terror da profecia, a aceitar o uso indiscriminado dos agrotxicos sob o pretexto de estar combatendo a fome no mundo. At 1961 a primeira resposta efetiva contra o uso indiscriminado dos agrotxicos foi feita pelo livro de Rachel Carson, Primavera Silenciosa, no qual a autora descrevia primaveras absolutamente silenciosas, sem vida porque essa tinha sido eliminada pelos agrotxicos. A idia bem sucedida vendida ento pela indstria, atrs do sucesso estrondoso da Revoluo Verde, era a de que os benefcios decorrentes do uso dos agrotxicos eram maior do que supostos malefcios, no devendo ser questionado pela sociedade. So as seguintes as formas de contaminao pelos agrotxicos:

1- Contaminao do lenol subterrneo de gua por compostos base de nitrognio; 2- Contaminao dos rios e lagos por lavagem de tanques pulverizadores ou atravs de lixiviao do produto pulverizado nas lavouras, pela gua da chuva, ou ainda a contaminao de reservatrios de gua potvel e subterrnea; 3- Introduo de metais pesados no ambiente, como chumbo, mercrio, estanho e outros via importao de lixo qumico, geralmente de pases do sul, para fabricao de fertilizantes, principalmente os chamados micronutrientes; 4- Homem- a) contaminao direta na pulverizao de lavouras; b) contaminao por consumo de peixes, mariscos e crustceos. Exemplo: intoxicao de mercrio via consumo de esturios contaminados; c) contaminao pelo uso da gua, tanto das populaes rurais como urbanas; d)contaminao por aditivos, conservantes, anabolizantes e outros produtos de uso veterinrio, pelo consumo da carne desses animais; e)contaminao de frutas, verduras e gros nos quais foram utilizados os agrotxicos; e) contaminao pelo uso de aerossis caseiros. Dessas, a contaminao direta do homem a base de um dos principais argumentos da indstria dos agrotxicos: os acidentes s ocorrem quando estes produtos so manipulados por agricultores ignorantes e analfabetos. Usados com as precaues necessrias no oferecem perigo; na definio de agrotxicos no novo dicionrio Aurlio consta o exemplo: preciso esclarecer agricultores de todo o pas sobre o uso correto dos defensivos agrcolas. Nesse tipo de argumento a essncia ltima da ignorncia costuma ser esquecida em detrimento de legitimaes. Essa essncia retratada num magnfico conto do escritor russo Tchecov chamado Crime Premeditado. Nesse conto o mujique Dienis Grigriev comparece diante de um juiz acusado de desatarraxar porcas de uma estrada de ferro para fazer pesos para pescaria. O dilogo entre juiz e acusado um dilogo de surdos e no final Dienis condenado sem saber as causas da sua condenao. Os trechos seguintes so bem sugestivos: - Mas, compreenda uma coisa: as porcas servem para ligar o trilho aos dormentes! Isso a gente compreende...Mas, ns no desatarraxamos todas as porcas... Deixamos algumas... A gente no faz as coisas sem pensar... Compreende-se... Dienis boceja e faz um sinal da cruz sobre a boca. No ano passado, um trem descarrilou no mesmo lugar - diz o juiz. - Agora se compreende por que foi... Que est dizendo? Eu disse que se compreende agora o motivo por que no ano passado, descarrilou um trem no mesmo lugar... Agora compreendo! Para isso os senhores so instrudos, para compreender as coisas, nossos benfeitores... No final Dienis condenado: Posso ir? Pergunta Dienis, depois de algum silncio.

No. Tenho que deixar voc sob vigilncia e mandar para a priso.

Dienis deixa de piscar os olhos e, erguendo as sobrancelhas espessas, olha para o funcionrio com ar interrogativo. Como assim, para a priso? Vossa Nobreza!

No tenho tempo agora, preciso ir feira. Tenho a receber de Iegor trs rublos pelo toucinho... Fique quieto, no me atrapalhe.

Para a priso... Se fosse por alguma razo, eu ia sem reclamar, mas foi assim... Sem mais nem menos... Por qu? Parece que no roubei, no bati em ningum... Mas se o senhor tm dvidas sobre o meu lanamento de imposto, Vossa Nobreza, no acredite no estaroste... Pergunte melhor ao coletor... Aquele estaroste no tem alma de cristo...- Fique Quieto!- Estou Quieto... - balbucia Dienis. - Mas que o estaroste mentiu quanto quele lanamento, posso at prestar juramento... Somos trs irmos: Kuzm Grigriev, Iegor Grigriev e eu, Dienis Grigriev..._ Voc est me atrapalhando... Eh, Siemon! - grita o juiz. - Leva-o embora!- Somos trs irmos balbucia Dienis, enquanto dois soldados reforados levam-no para fora da sala. - Um irmo no deve responder por outro... Kuzm no paga imposto e voc Dienis, que deve responder... E so juzes! Morreu o falecido patro general, que descanse em paz, seno ele ia mostrar uma coisa a vocs juzes... preciso saber julgar e no assim, sem mais nem menos... Que se mande bater, v l, mas que seja por algum motivo, de acordo com a conscincia...(1885).Algum tempo depois um jornalista perguntou ao autor se ele condenaria Dienis e ele respondeu que como juiz no o condenaria, mas obrigaria o Estado a educ-lo para que ele tivesse conscincia mais tarde de que o seu ato colocava vidas humanas em risco. As demais justificativas podem ter evidenciadas as motivaes e indues dos diferentes grupos que gravitam em torno da questo dos agrotxicos atravs de um exemplo: foi noticiada h alguns anos na imprensa o elevado ndice de suicdios na regio produtora de fumo de Venncio Aires, RS, atribudo ao inseticida organofosforado Tamaron e a sua ao depressiva do sistema nervoso central(o gs sarin usado na primeira guerra mundial tambm era um organofosforado). Os diversos segmentos da sociedade expressaram as suas opinies: os parentes das vtimas, os rgos de sade do municpio, o presidente da Abifumo (o ex-ministro da agricultura Nestor Jost), associaes ambientalistas nacionais, ecologistas, moradores da cidade. A figura 1 mostra o grfico dos suicdios em Venncio Aires (Fonte: PINHEIRO,1998):

Fonte: PINHEIRO,1998. O grfico mostra que Venncio Aires (VA) apresenta coeficientes de mortalidade por suicdio bem maiores do que o Rio Grande do Sul(RS) como um todo em pelo menos 15 dos 17 anos estudados. Que o coeficiente de VA em 1995 quase duplicou em relao aos dois anos anteriores. Estes dados colocaria Venncio Aires atrs somente da Hungria (37,22 contra 39,65). Alm do mais os bitos por suicdios dentre profisses, Tabela 1

Fonte: PINHEIRO, 1998. em VA, era mais elevado na classe dos agricultores (56,82), conforme mostra tabela 1. O presidente da Abifumo respondeu a pesquisa num jornal da regio fumageira. Tabela 1

Fonte: PINHEIRO, 1998.

A resposta principal do ex-ministro (apenas destacando o que pareceu importante para o trabalho em questo e sem fazer nenhum juzo de valor) que no existe embasamento cientfico para se concluir que o inseticida Tamaron est induzindo suicdios; no artigo consta uma referncia a certa categoria de ecologistas,principalmente de esquerda e que desconhecem a importncia do que eles apelidam de agrotxicos; h tambm uma referncia produo de alimentos que para o ex-ministro imprescindvel coexistncia da humanidade e a agricultura natural recebe o qualificativo de falcia.

IV-Possveis cenrios do futuro como fruto da deciso do modelo tecnolgico de uso dos agrotxicos inseridos nos paradigmas das disciplinas que o constituem. Um dos possveis cenrios futuros decorrentes do uso de agrotxicos o agravamento da poluio de fontes de gua potvel disponvel para as populaes, alm de efeitos (na maioria das vezes desconhecidos)da eutrofizao(processo atravs do qual as guas de um rio ou de um lago se enriquecem de nutrientes minerais e orgnicos, provocando excesso de vida vegetal e, por falta de oxignio, dificultando a vida animal) devido a adio de diversos elementos contidos nos agrotxicos,como o zinco, estanho, cobre e outros.

Figura I Barragem que fornece gua populao de Vitria da Conquista Bahia. Foto Area. Como se pode ver na foto, a barragem est ladeada pela cultura do caf e com o agravante de ter sido retirada a mata ciliar. certo que os agrotxicos aplicados na lavoura so lixiviados e atingem a barragem. Dos agrotxicos usados na lavoura do caf, na regio, tm-se: O inseticida-nematicida Aldicarb, o nematicida Counter, o acetato trifenil-estanho (Brestan), compostos de cobre, dentre muitos outros. O aldicarb, por exemplo, tem uma Dl-50 de 0,5 mg/kg de peso vivo e um forte inibidor da enzima colinesterase; esta inibio mais severa em fetos do que na me(CHAMBOM,1979). Esse mesmo produto um forte contaminante do lenol subterrneo de gua, efeito agravado quando aplicados em solos arenosos. A nica restrio existente no Brasil contra o Aldicarb a faixa vermelha que indica que um

produto extremamente txico. O efeito potencial nas populaes no de forma nenhuma desprezvel; nos EUA onde esse agrotxico recebe a etiqueta de uso restringido (RUP), encontrou-se amostras no lenol subterrneo de gua em doze estados, acima do Nvel Mximo Contaminante de Ingesto de gua- Drinking Water Maximum Contaminant Level ( EPA, 1991). H diversos rumores em Vitria da Conquista, sem, no entanto estar embasado em nenhum indcio cientfico, que morrem muitas pessoas de cncer no estmago. O estudo do impacto dos agrotxicos na sade das pessoas, na cidade, deveria concentrar-se tambm na relao com as doenas mentais, paralisia dos sistemas respiratrios, dentre uma gama de causas; o Aldicarb, citado acima, no tem, por exemplo, nenhum efeito cancergeno e teratognico. Esses cenrios de contaminao da gua tm-se agravado no mundo com efeitos diretos na sade da populao e tambm efeitos estratgicos na poluio das guas que um recurso finito cada vez mais escasso. Esse efeito crescente do impacto dos agrotxicos na poluio e na eutrofizao de rios, lagos e oceanos juntase a uma srie de outros fatores ligados gua e que coloca esse problema na agenda urgentssima da humanidade para o sculo XXI: a) Cada vez mais se consome gua em nvel de atividade humana; b) Uma conseqncia da pobreza o aumento do consumo de gua; c) H menor quantidade de gua potvel do que no passado; d) As reservas dgua esto cada vez mais no interior despovoado dos pases;e) H uma concentrao de consumo nas zonas costeiras; f) A excessiva construo de barragens tem contribudo para a deteriorao dos recursos dgua; o rio Colorado, por exemplo, tem 250 barragens; o Mississipi 245; a China construiu em 1999, 1500 barragens acima de 15 m; as conseqncias so vrias: o Colorado seca de 2 a 3 meses por ano; o rio Ganges est virtualmente seco 3 a 4 meses por ano; o Ganges tem construdo 120 barragens; no vero o rio desviado para fornecer gua a Calcut, ao invs de seguir o curso normal para Bangladesh(COELHO, 2000). O uso dos agrotxicos, portanto, funciona como fator a ser considerado na temtica da gua. Um outro cenrio o aumento dos acidentes com agrotxicos nos pases do sul, onde a legislao mais dbil e o lobby da indstria fabricante mais efetiva. No Brasil o Ministrio da Sade estima em 6000 os casos de acidentes com agrotxicos/ ano; a OMS 300 mil. O aumento dos casos, no Brasil, seria decorrente do surgimento no s de novos produtos, mas da expanso agrcola decorrente da ocupao crescente de terras. A ausncia, na prtica, de restries na legislao s compras e aplicao de agrotxicos por parte dos agricultores funcionaria como um fator adicional. Em relao aos acidentes necessrio lembrar, de acordo com manuais de instruo das indstrias fabricantes, que o tempo de exposio ao produto o principal fator envolvido. De outra forma, pode-se dizer que um agrotxico de classe IV, classificado como pouco txico, pode ter um efeito maior nas causas de acidentes do que um outro de classe I(extremamente txico), se o tempo de exposio for bem maior no primeiro caso. Um terceiro cenrio seria a bioacumulao de agrotxicos na cadeia biolgica em Parques Nacionais, Reservas Florestais e Biolgicas, RPPN (Reserva Particular do Patrimnio Natural), devido a agricultura tipo exportao. O Parque Nacional das Emas, por exemplo, cercado pelo plantio de 120.000 hectares (1 ha = 10.000 m2) de soja(uma cultura que demanda grandes quantidades de agrotxicos durante o seu ciclo), sendo plenamente possvel a possibilidade de contaminao da cadeia biolgica com conseqncias ainda pouco conhecidas. Em muitas dessas reas existem

espcies endmicas (que ocorrem s no local). Um ltimo tipo de cenrio, mais geral, no qual os agrotxicos agiriam como um apndice o perigo de catstrofe que comporta o ideal baconiano de domnio sobre a natureza atravs da cincia e da tcnica radical. Esse xito fundamentalmente de dois tipos: econmico e biolgico; o xito econmico durante longo tempo o nico percebido - consistiu no incremento, na quantidade e variedade, da produo de bens, junto a uma diminuio do trabalho humano empregado para produzi-los; portanto, um maior bem estar para muitos, porm a custa de um perigo de esgotamento dos recursos naturais. Acrescente-se a esse cenrio a exploso demogrfica, vista como um problema de metabolismo da Terra e obrigando uma humanidade empobrecida a um saque cada vez mais cruel do planeta, pela sua sobrevivncia. A morte e o genocdio que acompanhariam a tal situao de salve-se quem puder escapam a toda imaginao. Suspendidas artificialmente durante tanto tempo, as leis homeostticas da ecologia, que em estado natural evitam o excessivo aumento de qualquer espcie, acabaro reclamando seu direito de forma tanto mais terrvel quanto mais se h forado a sua tolerncia. Como se poder comear de novo numa Terra devastada e alijada da humanidade algo que foge a qualquer fico(JONAS,1995). Nesse cenrio os agrotxicos agiriam como agente poluidor dos solos e guas, intensificando o desgaste da natureza.V-DISCUSSO TICA Existem dois tipos bsicos de discursos legitimizadores sobre os agrotxicos: a) o da indstria fabricante e profissionais das reas de agronomia, silvicultura, ligados ideologicamente de alguma forma s premissas das empresas de agrotxicos; b)os de movimentos ecolgicos, alternativos, contestadores de todos os matizes que assumem uma postura radicalmente contra todo o tipo de uso dos agrotxicos. Os argumentos dos primeiros como foi mostrado anteriormente podem ser esquematizados da seguinte forma: 1-O uso dos agrotxicos necessrio para aumentar a produo de alimentos e combater a fome no mundo; 2-Os acidentes s ocorrem quando estes produtos so manipulados por agricultores ignorantes e analfabetos. Usados com as precaues necessrias no oferecem perigo; 3- O alarido contra os agrotxicos vem, principalmente, de ecologistas, na maioria das vezes, sem conhecimento tcnico especfico sobre o assunto. Eles no poderiam alimentar a populao com suas hortas orgnicas; 4- No existem informaes conclusivas de que a maioria dos agrotxicos provoque cncer e outras doenas quando usados nas dosagens recomendadas. 5-Os benefcios econmicos do uso dos agrotxicos trazem muito mais vantagens do que riscos causados ao meio ambiente, sendo, portanto, ilgico o questionamento pela sociedade. Os argumentos dos segundos referem-se tanto ao impacto sobre o homem quanto natureza; eles partem dessas motivaes supostamente negativas para se posicionarem de forma extremada contra os agrotxicos. Existem, ainda, aqueles que poderiam ser ditos como ponderados que mesclam os dois tipos de argumentos para

elaborar um discurso parecido com: os agrotxicos so necessrios em alguns casos e em outros so claramente prejudiciais. Para a nossa anlise descartaremos esse terceiro tipo por no agregar tanto elementos necessrios, para a anlise tica, quanto os dois primeiros. Dessa forma podemos dizer que tanto o primeiro grupo quanto o segundo tm pontos de vista convergentes para o debate tico, na medida que os seus argumentos incluem os efeitos dos agrotxicos sobre o homem e natureza. No caso dos fabricantes, os quatro primeiros argumentos a favor do uso dos agrotxicos remetem ao homem e por conseqncia, a uma tica antropocntrica, j existente; o sexto argumento refere-se a natureza; em relao ao segundo grupo pode-se dizer que a diviso homem e natureza mais ou menos equivalente. Defendo, portanto (e essa forma de apresentar o debate tico no neutro, pois reflete as minhas escolhas ticas e ideolgicas), que a tica antropocntrica necessria para discutir os efeitos dos agrotxicos sobre o homem, mas no tem fundamentos para abordar os problemas suscitados pela cincia moderna, no qual inclui-se os agrotxicos, em relao ao seu indito impacto na natureza. O debate tico, da forma definida como antropocntrica, comea no momento em que alguns esto impressionados com o sofrimento e gritos de dor, ou em outros termos, quando nos encontramos diante do rosto de um outro(FOUREZ,1995). Para que se instaurasse o debate tico em relao aos agrotxicos foi preciso que houvesse a percepo de que pessoas estavam morrendo e adoecendo nos campo e nas cidades devido a acidentes com esses produtos e pela ingesto de alimentos no qual foram usados de forma abusiva, agrotxicos. Quando o agricultor em Vitria da ConquistaBa, na regio produtora de hortalias conhecida como Lagoa das Flores, usa na cultura do coentro o fungicida mancozeb (um produto no qual o metablito Etilenotiouria tem causado cncer em experimentos com cobaias, sendo um provvel carcingeno humano(EPA,1992), como enverdecedor da folhagem, aplicando na forma de pulverizao nas quintas-feiras e colhendo nas sextas para vender no mercado nos sbados, instaura-se a questo do valor; dizer que a reflexo tica se inicia diante do sofrimento no implica que este seja considerado como um valor(como quando se diz que preciso evitar fazer outra pessoa sofrer) mas como uma alteridade - no exemplo do coentro, os consumidores que podem desenvolver doenas pelo consumo desse condimento- que desencadeia a reflexo(FOUREZ, 1995). O sofrimento ,portanto, um encontro com uma alteridade; as nossas aes tm e tero algo a ver com esses sofrimentos e esses gritos; o debate tico colocar ao sujeito a seguinte questo: que universo queremos construir diante dessas situaes? Desse modo, a tica parte sempre de uma conscincia do que simbolicamente denominamos de mal, percebido de incio como situao que provoca sofrimento, e a respeito da qual alguma coisa nos diz, a ns e a nossa volta, necessria? Nesse sentido, a moral objetiva, no por que ela teria princpios eternos ou valores isentos de ideologia, mas porque as nossas aes tm resultados e efeitos objetivos, no sentido mais habitual da palavra. a realidade dos resultados de nossas aes sobre os homens e as mulheres que indica que as morais da inteno so demasiado estreitas. Se adotarmos um ponto de vista histrico, dir-se- que uma deciso tica quando, diante do debate tico (e, sem dvida, no final das contas, diante do sofrimento), assume-se o risco de agir em uma direo ou outra e desse modo

comprometer-se para o futuro. O carter tico de uma ao consiste ento no fato de que ela determina o futuro de maneira irreversvel: o mundo ser aquilo que os nossos atos fizerem (FOUREZ, 1995).Do ponto de vista tico, portanto, soa vazio o argumento da indstria fabricante de que os acidentes com agrotxicos s ocorrem porque esses produtos so manuseados por agricultores ignorantes e analfabetos. O debate tico reside no fato de que agricultores se envenenam, adoecem e mesmo, de acordo com fortes indcios, cometem suicdios. A alteridade est colocada e a ao ou inao diante dos sofrimentos desses agricultores se impe; se a indstria (os dirigentes) no age ou no se sente obrigada a fazer algo que supostamente seja funo do Estado, se compromete eticamente para um futuro no qual a morte, doenas e suicdios no funcionam como impeditivos de comercializao dos seus produtos. Ser esse o mundo desejado pelas demais pessoas? Igual comprometimento para o futuro d-se tambm com o argumento de que no existem provas conclusivas de que o fato de vrios agrotxicos causarem cncer em cobaias possa repetir o mesmo efeito em aplicadores humanos, nas dosagens recomendadas e com os cuidados necessrios. Para essa discusso tica, a cincia pode apresentar elementos de interpretao especializada que podem testar a coerncia de uma certa viso, embora no caiba cincia fornecer uma resposta questo tica. Os experimentos cientficos com medicamentos ou agrotxicos baseiam-se em cobaias e esses resultados so aceitos pela comunidade cientifica como um indicativo de que o uso desses produtos em certas dosagens e em certas condies pode repetir os mesmos efeitos dos testes em laboratrios. A questo que se coloca, portanto, : a falta de comprovao dos efeitos negativos desses produtos em seres humanos serviria de justificativa para o seu uso generalizado? Exceto nos perodos do regime nazista e dos campos de concentrao japoneses, em nenhum outro lugar se aceitou que produtos txicos fossem usados diretamente em seres humanos. O que as empresas fabricantes ou os profissionais ligados a elas proporiam para resolver esse impasse? Por um outro lado caberia analisar as motivaes do segundo grupo na radicalizao contra qualquer uso dos agrotxicos. Muitos desses argumentos se concentram no suposto fato de que a maioria dos agrotxicos causa cncer e outras doenas em seres humanos, alm do efeito sobre a natureza. A cincia, contudo, mostra que muitos agrotxicos podem realmente no repetir os efeitos causados em cobaias e mostra tambm que para muitos tipos de agrotxicos a possibilidade de causar cncer no a nica conseqncia. A tabela abaixo mostra, por exemplo, os efeitos em seres humanos dos agrotxicos organofosforados. VARIVEIS COMPORTAMENTAIS QUE PODEM SER AFETADAS EXPOSIO AOS ORGANOFOSFORADOS Varivel Prejuzos comportamental Cognio Processamento de informaes,velocidade Fala Psicomotora e memria Estado Emocional Depresso, ansiedade, instabilidade PELA

Fonte: OMS,1988.

Alm dessas questes, outras igualmente relevantes para o debate tico precisariam ser esclarecidas pelo grupo dos ecologistas radicais: na prtica os agrotxicos por impedirem a queda de produtividade oriunda dos insetos, microorganismos e ervas daninhas, poderiam contribuir para o aumento de alimentos e conseqentemente minorar a fome no mundo? Repete-se que o problema da fome um problema de distribuio e no de produo, o que verdade; mas tambm esse argumento pode estar encobrindo um outro discurso: o posicionamento radical contra os agrotxicos, e nesse caso poderamos realmente prescindir deles? De acordo com a ONU existem alimentos no mundo capazes de alimentar oito bilhes de pessoas, num mundo que tem seis bilhes. Existiria um impacto maior sobre a fome, caso esse excedente diminusse? E sem os agrotxicos esse excedente diminuiria obrigatoriamente? fato que uma grande parte dos agrotxicos so aplicados em culturas no alimentares, tipo algodo, mamona, caf, etc. Outro fato tambm que no existe controle alternativo para muitas doenas em culturas alimentares; um exemplo o da ferrugem do feijoeiro (Uromyces apendicullatus) que por possuir mais de 256 raas diferentes da mesma espcie dificultaria a mdio e curto prazo qualquer programa de melhoramento gentico visando a resistncia. O efeito do uso dos agrotxicos natureza, assim como o da tecnologia em geral, comporta um outro tipo de tica que no a antropocntrica para a sua abordagem; os motivos de tal diviso so os seguintes: a) a atuao da tica clssica sobre os objetos no humanos no constitui um mbito de relevncia tica; b)toda tica tradicional antropocntrica; c) a tica clssica tem a ver com o aqui e agora, com as repetidas e tpicas situaes da vida pblica e privada; nessa tica, o homem bom era o que enfrentava a esses episdios com virtude e sabedoria; d) todos os mandamentos e mximas da tica herdada, por diversos que sejam o seu contedo, mostram uma limitao ao entorno imediato da ao: ama a teu prximo como a ti mesmo, educa o teu filho no caminho da verdade, busca a excelncia mediante o desenvolvimento e a realizao das melhores possibilidades do teu ser como homem; antepe o bem comum a teu bem particular; No trate nunca o homem como meio, mas tambm como fim em si;e) no existe na tica anterior uma orientao ao futuro e natureza; f) a tecnologia atual gerou uma srie de novas perguntas na qual a tica anterior no est capacitada a responder; um exemplo decorre das perguntas surgidas diante da possibilidade concreta plantada pela cincia, do prolongamento da vida humana; um outro exemplo a ser invocado diz respeito ao sonho do homem faber de tomar em suas mos a prpria evoluo, no s com vistas mera conservao da espcie em sua integridade, como tambm com vistas a sua melhora e trocas segundo o seu prprio desenho; temos direitos a isso? Estamos qualificados para tal papel criador? Quem seriam os escultores dessa imagem, segundo que modelos e sobre que bases de que conhecimentos? Temos direitos a fazer experimentos com os seres humanos futuros? Estas e outras perguntas mostram de forma mais enrgica em que medida nosso poder de ao desvincula-se dos conceitos de toda a tica anterior(JONAS, 1995).

O impacto dos agrotxicos na natureza, especificamente deteriorando solos, poluindo e eutrofizando fontes de gua potvel, rios, lagos e oceanos tem de sobremaneira, junto com outros fatores, evidenciado a tremenda vulnerabilidade da natureza submetida interveno humana. No coro de Antgona, de Sfocles consta: Muitas so as maravilhas, /porm o homem a maior./Pelo mar canoso corre/sem medo do sopro invernal/de observar e ao seu destino/ chega entre ondas encrespadas; / atormenta a deusa/ soberana entre todas, a Terra incansvel/ e eterna, e cultiva a cada ano os sulcos/ com a prole do cavalo./ Lana a rede e persegue/ a raa dos pssaros/ de mentes atolondradas/ e as feras do bosque/ e as criaturas marinhas/ o homem cheio de engenho; / e com suas artimanhas/ domina a fera que ao monte recorre/pe fogo no corcel na sua crina ondeante/e ao forte touro silvestre./ E linguagem adquiriu e pensamento/ veloz como o vento e costumes/ de civil convivncia e a fluir aprendeu/ da pesada chuva./ Infinitos so os recursos com que afronta/ o futuro, mas da Morte/ no escapar, por mais/ que logre a doenas graves/ subtrair-se./ Porm assim como mal pode usar/ de sua arte sutil e incrvel, / lhe possvel aplic-la ao bem. Se/ cumpre a lei de seu pas/ de acordo com os deuses/ por que jura, patriota ser, mas no, em toca, / quem a pecar se atreva./ No conviva comigo/ nem compartilhe minhas idias/ quem assim faz! Esta esplndida homenagem ao poder do homem fala de sua violenta e violadora invaso da ordem csmica. O homem criador de sua vida; submete as circunstncias a sua vontade e necessidades e, exceto diante da morte, nunca se encontra vencido. Na poca dos gregos, porm, por mais que o homem explorasse a natureza, esta mantinha a sua capacidade produtiva intacta. Existia, ento, uma matriz logocntrica. Figura 2

. Fonte: VAZ, 1988. Uma profunda rearticulao da matriz logocntrica comea a desenhar-se com a revoluo cientfica moderna a partir dos fins da Idade Mdia e entre as suas caractersticas fundamentais, encontra-se justamente o deslocamento da tchne do seu lugar perifrico para o eixo central traado pela linha que une a theoria ao kosmos pela mediao do discurso cientfico (logos). Com esse deslocamento, o logos teortico torna-se estruturalmente tambm um logos tcnico e nessa transformao residir, talvez, a originalidade mais profunda da cincia moderna, bem como nela se manifestar o seu carter revolucionrio com relao aos quadros tradicionais da existncia humana(VAZ,1988).

Como conseqncia desse deslocamento da matriz logocntrica acentuou-se a deteriorao dos recursos naturais, de forma tal que atuao humana tornou-se completamente nova abrangendo a completa biosfera do planeta. Isso obriga hoje a teoria tica no s a reflexionar, mas a se distanciar da tica anterior; as novas perguntas que se impe so:tem a natureza um direito moral prprio? Trata-se de algo mais do que um interesse utilitrio? H, portanto, uma necessidade de substituir os velhos imperativos pelos novos; o antigo de Kant dizia: Age de al modo que possas querer tambm que a tua mxima converta em lei universal; o novo diz: Age de tal modo que os efeitos da tua ao sejam compatveis com a permanncia de uma vida humana autntica na Terra; ou expressados negativamente: Age de tal modo que os efeitos da tua ao no sejam destrutivos para a futura possibilidade dessa vida; ou simplesmente: No ponhas em perigo as condies da continuidade indefinida da humanidade na Terra; ou formulado, uma vez mais positivamente: Inclui no teu querer, a futura integridade do homem. Os novos imperativos categricos nos dizem explicitamente que nos lcito arriscar nossas vidas, mas que no nos lcito arriscar a vida da humanidade; ns no temos o direito a eleger e nem sequer arriscar o no ser das geraes futuras por causa da forma de ser da atual. Esses imperativos remetem-nos a um futuro real previsvel como dimenso aberta de nossa responsabilidade (JONAS,1995). O uso dos agrotxicos e o seu impacto na natureza podem ser confrontado com esses novos imperativos categricos. Ao se contaminar um lenol subterrneo de gua ou eliminar espcimes endmicas (a exemplo do que ocorre no Parque Nacional das Emas, ladeado por plantaes de soja), a pergunta relevante para o debate tico, seria: tal ao compatvel com a permanncia de uma vida humana autntica sobre a Terra? A resposta fcil de que no poderemos saber respondida pela incorporao tica da prevalncia dos prognsticos maus sobre os bons; isso se deve as seguintes observaes: a) As probabilidades nos grandes riscos nas coisas pequenas pode se permitir muitos erros com vistas a uma oportunidade mais rara de xito; nos grandes assuntos s se pode permitir-se poucos erros, e nos muitos grandes, irreversveis, que chegam at as razes da inteira empresa humana, propriamente no se pode permitir erro algum; b) o dinamismo acumulativo dos desenvolvimentos tcnicos a experincia tem nos mostrado que os desenvolvimentos posto em marcha pela ao tecnolgica com vistas a metas longnquas tendem a fazer-se autnomos; isto , a adquirir seu prprio dinamismo inevitvel; c)o carter sacrossanto do sujeito da evoluo tem-se que conservar a herana de uma evoluo precedente que no poder perder-se (JONAS, 1995). O argumento de que a ao negativa no meio ambiente localizada deve ser colocada na perspectiva da soma das aes negativas que ocorrem em todo o planeta; possvel que no existam aes negativas isoladas que no se complementem a outras em diversos lugares; para isso dever-se-ia considerar a natureza como um produto esttico e no como ela na realidade: uma entidade sistmica. A grande questo, no entanto, que dever fundamentar o Princpio de Responsabilidade diante da natureza o real valor que ela tem para a humanidade. Nesse caso preciso relacionar fins e valor. A natureza tem um fim? Um fim aquilo com vistas a qual existe uma coisa e para cuja produo ou conservao se realiza um processo, se empreende uma ao; assim um professor tem a meta de ensinar, um microscpio para observar microorganismos, um martelo para martelar; ao adotarmos o ponto de vista dos objetos pode-se passar do conhecimento dos fins que lhes so inerentes a um juzo sobre a sua maior ou menor adequao a eles, isto , sobre a sua idoneidade para conseguir esses fins; estes so ento juzos de valor.

Desta maneira e na medida que podemos realmente perceber fins nas coisas em si como prprias da sua natureza, podemos forjar, para diferentes coisas e as conexes entre elas, o conceito de um bem especfico, do seu contrrio e de diversos graus entre eles. Trata-se do bem como medida da idoneidade para um fim (cuja bondade no se julga), dizer, se trata do valor relativo para algo( JONAS,1995). Na medida em que a natureza possui fins ou tem metas, pode-se dizer que tem valores; outros objetos, no entanto tm valores e nem por isso trabalhamos por eles ou nos vinculamos a eles de forma indelvel; em relao natureza no o imperativo kantiano que diz que a razo mesmo se converte na fonte de um afeto e objeto absoluto deste, mas sim o sentimento de responsabilidade, que vincula este sujeito a este objeto e nos far atuar por sua causa. Este sentimento, mais que nenhum outro, o que pode produzir nos homens uma disposio a apoiar com o trabalho a exigncia do objeto da existncia, no caso a natureza. Cada ser vivo na natureza o seu prprio fim e no est sujeito a ulterior justificao e nisto o homem no tem nenhuma vantagem sobre os demais seres, exceto que s ele pode ter tambm responsabilidade por aqueles, pela salvaguarda do seu fim intrnseco. S o vivo, portanto, em sua misteriosidade e inseguridade - e por princpio todo o vivo - pode ser em geral objeto de responsabilidade; a natureza a prpria fonte da vida e s atravs da sua perpetuidade podemos garantir o primeiro mandamento desse nova tica da natureza chamada de Princpio da Responsabilidade: a existncia da humanidade. Dessa forma quando o uso de um agrotxico contamina uma fonte de gua ou persiste por longo tempo no ambiente ( como no caso dos agrotxicos base de estanho), ou ainda quando a justificativa econmica argida em detrimento da periculosidade ou uso abusivo do mesmo natureza, estamos por essa nova tica agindo irresponsavelmente; comprometendo com a nossa ao, de alguma forma, a existncia sagrada da possibilidade futura de uma humanidade. VI-CONCLUSO

O debate tico dos agrotxicos permeado por um maior que a desintegrao da tica clssica no choque com a tecnologia e a cincia. Assim como na poca de Scrates, a tica se desagregava devido ao impacto da crtica sofstica, na nossa poca os grandes sistemas ticos so questionados nos seus fundamentos e rejeitados nas suas concluses pela crtica que a postura cientfica opera sobre o prprio sujeito tico, absorvido pelo imperialismo do fazer. Existe nos nossos dias um vazio tico que trespassa todo o corpo social. Esse vazio tem como conseqncia fundamental a abertura de um vasto campo para as legitimaes ideolgicas que assumem cada vez mais as cores da normalidade. Essas legitimaes, de acordo com a tima classificao de Fourez, podem ser divididas em:ideologias de primeiro grau e ideologias de segundo grau. A primeira ocorre quando algo da histria do evento no ocultada; por exemplo: o mercrio, embora proibido por seus efeitos mutagnicos, teratognicos e de induo da demncia em seres humanos, quando usado em tratamento de tubrculos de batata, aumenta em at 60% a sua produtividade. A segunda ocorre quando se diz, por exemplo: o nematicida Aldicarb tem um efeito excelente quando aplicado contra Meloidogyne incognita e Radophilus similis, respectivamente os destrutivos nematides das cultura do caf e da banana. O que ocorreu no primeiro e no segundo exemplo? No primeiro no foi ocultado inteiramente o efeito do mercrio sobre a sade humana; no segundo os efeitos do Aldicarb como

forte contaminante do lenol fretico, alm de ter o seu uso proibido nos Estados Unidos, em solos arenosos (por percolar facilmente at o lenol fretico), e tambm na cultura da banana(EPA,1992), encoberto completamente. A indstria dos agrotxicos opera basicamente com ideologias do segundo grau. A nova tica do Princpio de Responsabilidade, de Hans Jonas, no qual me baseei na discusso final provavelmente o melhor fundamento tico existente sobre a natureza, em que pese ao autor passar ao largo, na sua discusso, sobre o previsvel conflito dessa nova tica com o dinamismo autnomo do capitalismo e sua tendncia a funcionar na contemporaneidade como um mecanismo suicida, na expanso contnua do capital s expensas da depredao irresponsvel dos recursos naturais. Essa tica da responsabilidade o caminho mais natural para que passemos a encarar com mais solidez os conceitos de Desenvolvimento Sustentvel expostos no Relatrio Brundtland. O passo, porm, para a nova tica da natureza liga-se pela necessidade de definio de um novo ethos para a cincia e recuperao do ethos como morada do homem(outro aspecto que faltou ser abordado no livro de Jonas), resumida nas notveis palavras do padre Henrique Vaz: Poder o homem sobreviver fora da morada do ethos? ( um dos significados do ethos , com eta inicial, a morada do homem). A questo merece ser posta porque, de fato, a tecnocincia estconstruindo para o homem um novo espao bem diverso do antigo espao natural, e ai que o dilema se coloca entre um ethos aberto s dimenses desse novo espao ou o niilismo tico que nele abandona o homem ao annimo destino dos objetos. Entregarse, pois, tarefa de edificar no espao do mundo aberto pela cincia uma morada ou um ethos capaz de abrigar o homem da civilizao cientficotecnolgica obedecer a um imperativo de sobrevivncia do prprio homem como sujeito responsvel e livre. Definir um ethos inerente atividade cientfica como tal , sem dvida, o primeiro passo dessa tarefa. O segundo consistir em formalizar esse ethos emcdigos de normas ticas que venham a reger o ensinamento, a pesquisa, a produo tcnica. A tecnocincia indiscutivelmente, a mais poderosa fora cultural que arranca o homem do contorno fechado da repetio e do instinto onde o prendem as necessidades naturais e o atira no espao sem fronteiras de um logos que se dilata ao infinito (na observao de Herclito, filsofo pr-socrtico, caminhando no encontrars os limites da alma, mesmo se andares todos os caminhos; to profundo logos ela possui). A, no entanto, um novo e muito mais grave risco de perda no mundo dos objetos o ameaa dos objetos sem vida e sem alma do sistema tcnico se ele no restabelecer as referncias da sua interioridade humana, ou seja, as dimenses de um ethos no interior qual possa habitar como homem . Pensamento de Abertura: "A iniciativa o combustvel dos objetivos do homem". Desconhecido. Os Fungicidas I 1- Conceito - A palavra fungicida originada de duas palavras latinas "caedo"que significa matar e "fungus", fungo. Apesar da especificidade, a definio, com o tempo, se tornou mais abrangente. Desse modo podemos definir a palavra fungicida, atualmente, como compostos qumicos empregados no controle de doena s de plantas, causadas por fungos, bactrias e algas.

Os fungicidas podem no matar os fungos, mas inibirem temporariamente a germinao dos esporos, so ento chamados, de acordo com esta propriedade, de fungistticos. Em outros casos inibem ou previnem a produo de esporos, so classificados, ento, como, antiesporulantes.

2- Breve Histrico - 1000 a.c - O enxofre relatado pelo poeta grego, autor da Ilada e Odissia, como utilizado para o controle do que denominavam pestes; 1705 Homberg recomendou o cloreto de mercrio para preveno do carvo do trigo; 1821 Robertson, na Inglaterra, faz a primeira referncia do enxofre como fungicida, confirmando relato de Homero, 2800 anos antes; 1833 - Kendrick, nos E.U.A., props mistura de cal e enxofre para controlar o mldio da videira; 1882 - Pierre Alexis Milardet, na Frana, acidentalmente descobriu a calda bordaleza controlando o mldio da videira; 1908 - Scott, E.U.A., tentando tornar a mistura enxofre-cal menos fitotxica, adicionou gua e ferveu-a at obter uma pasta que deveria ser diluda em volume maior de gua, antes de ser usada. Esta mistura foi denominada como calda sulfoclcica. Foi muito usada nos Estados Unidos por plantadores de pssego; 1913 Reihm, na Alemanha, introduziu os compostos mercuriais orgnicos para tratamento de sementes, visando controlar os carves dos cereais; 1914 - Burns usou o cloreto de mercrio pela primeira vez no tratamento de tubrculos de batata, contra a Rhizoctoniose; 1923 - Os grandes produtores de frutferas dos E.U.A. , pressionaram as indstrias por fungicidas menos txicos e de fcil preparao, mais efetivos e de fcil aplicao, do que as formulaes at ento disponveis; 1925 -Primeira formulao comercial de enxofre molhvel, surgiu nos EUA; 1934- Primeiro relato da fungitoxicidade dos ditiocarbamatos; 1940 - Burhingham e Reddish propuseram a tcnica da zona de inibio em bioensaios com fungicidas, acelerando, ento, os novos testes com fungicidas; 1943 - surgimento do fungicida dichlone; 1947 aparecimento do fungicida Glyodin; 1953 - O sulfato de estreptomicina usado contra Erwinia amylovora, em pereira; 1957 - O congresso norte-americano, aprovou lei que determina os limites de resduos de pesticidas em produtos agrcolas; 1966 - Primeiro relato da atividade sistmica dos fungicidas derivados do oxathiins marcando a poca dos fungicidas sistmicos; 1968 - Desenvolvimento do Benomyl; 1970 a 1995 numerosos fungicidas sistmicos, surgiram, tais como o triadimefon, metalaxyl, triadimenol, fosetyl-Al, Birtetanol e muitos outros.

3- O manejo integrado e a aplicao de fungicidas Os fungicidas devem ser aplicados de forma racional, obedecendo a um manejo integrado de doenas, , aliados aos diversos princpios de controle , tais como, excluso, erradicao, imunizao, evaso, regulao e proteo; Assim o termo "manejo", se torna adequado e deve ser empregado no contexto de reduo de danos provocados pelas doenas a nveis economicamente aceitveis, sem prejuzos para o agroecossistema cujos objetivos so: a) Minimizar o desenvolvimento das doenas e conseqentemente, o desenvolvimento do patgeno; b) Limitar a resposta do patgeno de tal forma que as medidas de controle aplicadas sejam duradouras; c) Que o custo do controle seja o menor possvel; d) Que haja um mnimo de efeito indesejvel sobre o ambiente e o homem.

A diferena bsica dos termos "Controle"e "manejo" que, um evoca uma idia de finalismo, de um complemento, de um completo domnio da situao, e o outro expressa o conceito de equilbrio do ecossistema. Para que o "manejo de doenas"seja empregado corretamente torna-se necessrio o conhecimento de vrios fatores, tais como a relao intensidade de doena x perdas na produo, os fatores que predispem ao ataque de doenas e as formas de sobrevivncia e disseminao dos patgenos. O primeiro fator o mais importante e todos os outros fatores dependem deste. Ao contrrio de outros pases, pouca ateno tem sido dada a este assunto no Brasil. Tendo este ponto de vista, presente, a reduo dos fungicidas acontece acentuadamente, de acordo com a espcie de planta envolvida, podendo chegar a 60% de reduo de agroqumicos, como comprovam estudos feitos na Califrnia, com a videira, ou 50% nas culturas da macieira e do tomate, conforme estudos feitos no Brasil.

4-Quando decidir pela aplicao ou no de fungicidas. Vrios fatores determinam o no uso de fungicidas, a saber: a) o agente causal envolvido e seu potencial como patgeno - em caso dos patgenos serem de juros simples ( disseminao lenta), ou terem baixo potencial de ataque, a exemplo de Pseudomonas syrigae pv garae, em caf ou Pestalotia sp em seringueira, no se justifica o uso de fungicidas; b)espcie de planta envolvida - determinadas espcies demandam um uso maior de fungicidas, do que outras; o tomateiro, requer um uso de fungicidas maior do que o milho. Neste caso a depender das condies climticas especficas, possvel no usar nenhum fungicida no milho. c) severidade de ataque do patgeno - de acordo com os objetivos do manejo integrado, desde que o ataque do patgeno no seja intenso, pode se pensar em conviver com nveis aceitveis de perdas, haja vista que o uso dos princpios de controle pode sair mais caro do que as perdas; d) Importncia econmica da cultura - determinadas culturas podem ter sua importncia econmica diminuda, no se justificando qualquer aplicao de fungicidas, como o caso da mandioca, cujo cultivo feito, na maioria das vezes por pequenos agricultores com a finalidade de subsistncia. Neste exemplo dado, no significa minimizar a importncia da cultura, muito pelo contrrio, j que no planeta 317 milhes de pessoas, dependem da mandioca para sua sobrevivncia, o que justifica do governo, amplo apoio a pesquisa da cultura. e) nmero de aplicaes - um grande nmero de aplicaes do fungicida para se controlar uma doena, impede na prtica o uso do mesmo. f) mo-de-obra disponvel - um fator limitante natural no uso do fungicida. g) perda na produo devido a doena - muitas doenas toleram uma quota ,de perdas, aceitvel na produo, no comprometendo a colheita como um todo. h) Custos- Este item decisivo para se decidir pelo no uso do fungicida, e relaciona-se com vrios fatores anteriores; todavia um dos fatores mais difceis de se determinar, devido as dificuldades de visualizao de perdas aceitveis na cultura, ou seja o binmio intensidade da doena x perdas na produo, base do manejo integrado. 5- Quando se decidir pela aplicao do fungicida.

Depois de se decidir pela aplicao dos fungicidas, cabe fazer de maneira adequada e racional, observando diversos fatores na escolha do produto: a) Nmero e intervalos de aplicaes - fungicidas que requeiram grandes nmeros de aplicaes e aliados, ainda a intervalos curtos de aplicaes, devem ser evitados, pois os danos ao ambiente e ao operador podero ser maiores, assim como os custos da aplicao; b) DL 50 ( Definida como dose letal, suficiente para matar 50% de uma populao de cobaias por via oral e expressa em mg/kg de peso vivo) - Devem ser escolhidos fungicidas de DL 50 alta e nunca de DL 50 baixa, independente da eficincia do produto, assim como os fungicidas escolhidos devem ser da classe toxicolgica III e IV, de acordo com os objetivos do manejo integrado, devendo ser evitados a qualquer custo, fungicidas das classes toxicolgicas I e II, qualquer que seja a eficincia; c) Efeitos colaterais - Deve-se evitar fungicidas que possuem efeitos colaterais( no homem, ambiente, animal).Alguns deles embora de uso corrente no Brasil, so proibidos exatamente por estes efeitos indesejveis, como o caso dos ditiocarbamatos, em que o seu subproduto, o etileno tiouria, comprovadamente causador de cncer na tireide, outros como o PCNB, de classe toxicolgica III, produz uma fase gasosa, que aspirado pelos pulmes, pode ser letal ao aplicador; d) Persistncia - Em tempos de agricultura sustentada, o uso de produtos que persistem demasiado no ambiente, no se justifica sobre nenhum argumento, como o caso do acetato-trifenil-estanho, usado em diversas cultuas. e) perodo de carncia do produto - desejvel fungicidas com perodos de carncia menores do que o inverso. f)Compatibilidade com inseticidas e micronutrientes - Um detalhe importante a ser observado para evitar mobilizao desnecessria de mo-de-obra; g) Sensibilidade da cultura - determinados fungicidas so fitotxicos as culturas, como o caso dos cpricos, aplicados em cucurbitceas, ou o enxofre, aplicado em horas quente do dia; h)O modo de ao dos fungicidas - abordado em fungicidas II; O conhecimento, ainda, das propriedades de cada fungicida, dos fitopatgenos e da cultura, torna-se muito importante num programa de manejo de doenas. Cada produto qumico possui certa especificidade por determinadas espcies de fitopatgeno; alm disto, cada local de aplicao do produto pode exigir um tipo diferente de fungicida, dependendo se for aplicado no solo, sementes, parte area, ps-colheita. Uma vez obtidos, estes conhecimentos sero de grande importncia para o uso do manejo integrado de doenas de plantas.

Caractersticas Desejveis nos Fungicidas - Fungicidas II Introduo - O USO de fungicidas, dentro dos princpios de Proteo e Imunizao, deveriam apresentarem caractersticas de adequao ao meio ambiente, eficincia, economicidade, dentre outras. O que se verifica na prtica totalmente diferente. Alguns fungicidas so eficientes, contudo extremamente nocivos ao meio ambiente, outros so pouco txicos ao ambiente, mas provocam fitotoxidade. Desta forma praticamente impossvel usar um fungicida que atenda a todos os requisitos, cabendo ao tcnico a seleo de um nmero maior de caractersticas desejveis, na hora da escolha do produto. Caractersticas Desejveis

1) Ser letal ao patgeno em baixas concentraes. Fungitoxicidade e Especificidade, so as caractersticas mais importantes. Comparando um fungicida do grupo dos ditiocarbamatos, como o maneb, com o enxofre, veremos que este mais especfico e fungitxico contra odios, do que o maneb. De uma forma geral, os sistmicos apresentam esta caracterstica mais do que os protetores; e mesmo entre os sistmicos, se verificam diferenas significativas. O fungicida Diniconazole, indicado contra vrias ferrugens, apresenta uma dosagem quase 10 vezes menor do que o sistmico triadimefon.

2) Ser Incuo ao Homem, Plantas, Animais e Meio Ambiente. Nenhum fungicida incuo ao homem e animais, principalmente quando aplicados diretamente na proteo de rgos comestveis. Em vrios pases existe um controle rgido da tolerncia de resduos. Assim, no se tolera quaisquer resduos de fungicidas mercuriais. .Ditiocarbamatos no podem deixar resduos superiores a 7 ppm, com intervalo de 7 dias entre a ltima aplicao e a colheita. Como regra geral, o tcnico no deve aplicar fungicidas de faixas vermelhas e amarelas, qualquer que seja a sua eficincia. Alm disto, havendo opes entre as faixas azuis e verdes, deve-se dar preferncia a ltima, como o caso do fungicida o sistmico Thiabendazol( Tecto), usado contra uma gama de patgenos. Fungicidas como a calda bordaleza, em que pese as dificuldades de preparo, so muito pouco txicas a seres humanos. J fungicidas como o sistmico Propiconazole( Tilt) ou Hidroxi-trifenilestanho( Brestamid), so muito txicos, aliado, caracterstica do ltimo, a longa persistncia no ambiente, devido ao estanho. A fitotoxidez influenciada principalmente pela concentrao do fungicida e pela temperatura do ambiente. O enxofre, por exemplo, quando aplicado em temperaturas de 26C a 30C, provoca uma queima das folhas, desfolha e diminuio da produo. O conhecimento desta propriedade dos fungicidas possibilita-nos reduzir perdas na prtica cobre e o enxofre, quando aplicados em cucurbitceas, podem provocar os seguintes danos: reduo no crescimento, queda de flores e frutos, crestamento, produo reduzida e reduo da fotossntese. O triadimefon quando aplicado em gladolos, numa dosagem superior a 800g/ha, tambm provoca fitotoxicidade. No devemos perder de vista, contudo, que qualquer fungicida pode ser fitotxico, desde que seja aplicado em altas concentraes.

3- Solubilidade - Esta caracterstica varia conforme o tipo de fungicida empregado, seja protetor ou erradicante. No primeiro caso, o fungicida precisa ser relativamente insolvel em gua ou ter solubilidade lenta. Isto possibilita que o fungicida seja liberado lentamente, conferindo maior perodo de proteo planta. Os erradicantes, pelo contrrio, devem ser solveis em gua, para que o princpio ativo penetre e seja transportado para dentro dos tecidos da planta. 1- Tenacidade - Consiste na resistncia ao das intempries. Deve-se ter o cuidado de no confundir o termo com persistncia. A maior ou menor persistncia de um fungicida conseqncia da maior ou menor tenacidade do mesmo. Assim podemos dizer que se um fungicida adere-se fortemente folhagem ( tenacidade),

possvel que ele possa perdurar por longo tempo( persistncia).O fungicida no deve ser decomposto por hidrlise, por reaes fotoqumicas e principalmente no deve ser facilmente lavado pela gua da chuva. De todos os fungicidas conhecidos o que tem maior tenacidade a calda bordaleza. Fungicidas do grupo dos ditiocarbamatos, geralmente no tem boa tenacidade. Esta caracterstica se relaciona fortemente com a redistribuio.

2- Redistribuio - Por mais perfeita que seja a pulverizao, no se consegue atingir todas as partes da planta, sobrando sempre espaos sem proteo. Da a necessidade de o fungicida se redistribuir na folha e na planta, pela ao dos respingos de chuva e orvalho. Nas pulverizaes em Alto volume( 400 - 600 l de calda/ha), no se consegue, em condies de campo, cobrir mais de 40% da superfcie visada. A redistribuio, portanto, aumentar significativamente a rea coberta, levando o fungicida para partes no atingidas pela pulverizao. Podemos dizer que em plantas com maior rea foliar, a redistribuio ocorre com maior eficincia do que em plantas com baixa densidade de rea foliar. Entretanto, preciso levar em conta a tenacidade e a natureza do fungicida. A redistribuio eficiente, por exemplo, no caso de compostos de cobre, cujas partculas so carregadas com cargas eletrocinticas positivas e tm grande tenacidade e ineficiente para os fungicidas do grupo dos ditiocarbamatos, cujas partculas eletrocinticas so carregadas negativamente, com uma tenacidade menor. O espalhante adesivo para este tipo de fungicida praticamente obrigatrio, devendo ser escolhido aqueles que do um maior efeito de aderncia, do que de espalhamento. Este aspecto tem implicaes, por exemplo, ao se controlar doenas da parte area, de culturas como o alho e cebola; considerando que estas culturas tem as folhas estreitas, em posio praticamente vertical e ainda que so irrigadas com constncia, fica difcil usar com eficincia produtos que no tenham boa redistribuio e tenacidade, muito embora sejam eficientes contra o patgeno que se quer controlar. evidente que a redistribuio uma caracterstica associada aos fungicidas protetores e no aos sistmicos.

3- Aderncia e Cobertura - Os fungicidas protetores, precisam aderir bem e cobrir o mximo possvel da superfcie tratada. A adeso e a cobertura dependem das propriedades dos fungicidas, da superfcie da planta, da formulao. Neste caso, por exemplo, a aplicao de uma formulao p-molhvel, em bananeiras completamente ineficiente, precisando-se usar uma formulao tipo emulso, para conseguir aderncia superfcie foliar. Presena ou ausncia de pelos e cera na superfcie do hospedeiro, bem como a morfologia dessa superfcie, pode concorrer para aumentar ou diminuir a aderncia e cobertura. Uma das maneira de aumentar a aderncia diminuir o dimetro das gotas, outra adicionar espalhantes, principalmente quando a superfcie de natureza tal que dificulta a cobertura, como o caso do alho, cebola e repolho. Entretanto a adio de espalhantes geralmente implica na diminuio da tenacidade, portanto essencial verificar se o efeito total benfico ao controle da doena. Isto , se o espalhante melhora a cobertura a ponto de compensar a perda em tenacidade.

4- Compatibilidade - Em muitas culturas desejvel que fungicidas sejam compatveis com inseticidas e micronutrientes. Em culturas como o tomateiro, que est sujeito a muitas doenas e pragas, inclusive vetores de vrus, imprescindvel que os fungicidas recomendados sejam compatveis com os inseticidas. Em cafeeiro, muito comum o uso de fungicidas para o controle da ferrugem, inseticidas para o controle da broca e de micronutrientes como o zinco e boro, simultaneamente, na mesma aplicao. Entendem-se como compatveis, duas substncias que, misturadas, no apresentam alterao em suas caractersticas. Um fungicida incompatvel com um inseticida, quando da associao, resulta perda de eficincia fungicida ou inseticida, ou de ambas. Em alguns casos, a incompatibilidade pode manifestar-se por fitotoxidez. caracterstica importante tanto para os protetores como para os sistmicos.

8-Ser incuo a microorganismos benficos- As associaes micorrzicas e as bactrias do gnero Rhizobium sp. so denominados organismos benficos do solo, devido a simbiose com seus hospedeiros. No primeiro caso as plantas recebem fsforo do simbionte e no segundo caso, nitrognio. Quando sementes ou solo so tratados com fungicidas, pode haver eliminao ou reduo desses microorganismos, afetando a absoro desses nutrientes pela planta. De maneira geral, quase todos os fungicidas atuam reduzindo a populao desses microorganismos. Na escolha do fungicida, a dosagem menor, indicada pelo fabricante, diminui, de forma geral, as possibilidades de ao do produto contra estes microorganismos. 9- Especificidade - Os fungicidas sistmicos e antibiticos apresentam modo de ao especfico, atuando num ponto definido do ciclo de vida do patgeno, na sntese de protenas, mitose e na cadeia de transporte de eltrons. Por esta razo aplicaes contnuas desses produtos qumicos podem, com o tempo, causar o aparecimento de raas novas, resistentes a esses pesticidas, na populao de patgenos. Num programa de controle, onde esses produtos so recomendados, deve-se us-los em rotao com protetores, para no causar o aparecimento de raas resistentes. Um exemplo seria o uso de antibiticos associados a fungicidas cpricos.

1- Economia - O emprego de um fungicida, por mais eficiente que seja do ponto de vista tcnico, est condicionado ao fator econmico. Para avaliar-se a economicidade da aplicao de um fungicida, deve-se levar em conta, alm do preo dos itens relacionados anteriormente, a dosagem e os intervalos de aplicao. Em certos casos, a baixa dosagem e/ou o intervalo de aplicao de um fungicida de preo elevado so to compensadores que recomendam sua utilizao em substituio a um produto que, a primeira vista, mais barato. Anexo Especial: Armazenamento e Manuseio dos Fungicidas - Os seguintes pontos devem ser obrigatoriamente observados, por quem usar ou recomendar o uso dos fungicidas: a) Ler cuidadosamente a etiqueta do produto, para se informar sobre uso, toxicidade, quantidade de ingrediente ativo, local de armazenamento e manuseio; b)Armazenar os fungicidas em compartimentos separados de outros compostos

qumicos, como herbicidas, inseticidas e nutrientes, para evitar uso equivocado e acidentes; c) Os agrotxicos devem ser manuseados em ambientes abertos. A inalao de vapores desses produtos, pode causar intoxicaes graves; d) Os respingos dos agrotxicos no corpo humano devem ser imediatamente lavados com gua e sabo. Deve-se lavar sempre as mos, aps o manuseio destes produtos. Nunca use as mos para mistur-los. Luvas, mscaras e botas devem ser usados durante o manuseio e aplicao. e) Os recipientes e embalagens devem ser queimados ou enterrados. Nunca us-los para outros fins, principalmente gua potvel; f) Ter sempre em mente as primeiras medidas de socorro e os antdotos, pelo menos dos fungicidas mais usados; g)O tratamento de sementes com fungicidas, principalmente a seco, deve ser conduzido em ambiente aberto e bem ventilado. recomendvel o uso de mscara durante a operao; h) Sementes tratadas com fungicidas, no devem ser utilizadas na alimentao humana e de animais; i) O maior compromisso do tcnico com a vida e sade do trabalhador. Ele poder controlar com eficincia as doenas, contudo, se por omisso, ou por presso do agricultor, ele negligenciar os cuidados com o aplicador, estar cometendo crime contra o ser humano, tornando-se ento tercirias quaisquer consideraes sobre o controle da doena. Se as condies de aplicao de agrotxicos na propriedade, forem inadequadas, o tcnico deve suspender a pulverizao, independente de qualquer considerao.

Mtodos de Aplicaes de Fungicidas - Fungicidas IV I - Introduo - Os mtodos de aplicaes de fungicidas variam de acordo com a finalidade do tratamento, do tipo de formulao e da parte da planta a ser tratada. Os diversos mtodos empregados, so descritos a seguir. 1) Pulverizao - o mtodo mais comum de aplicao de fungicidas em folhas, frutos e caule. A formulao denominada p-molhvel a mais usada neste mtodo de aplicao. O diluente ou veculo usado comumente a gua. O mtodo consiste em aplicar o fungicida por via lquida, seja em suspenso, soluo ou emulso, sob a forma de gotculas, produzidas por mquinas denominadas de pulverizadores e atomizadores. No processo da pulverizao obtm-se uma melhor cobertura da superfcie vegetal, devido a ao molhante do fungicida ou ao fenmeno da redistribuio. Basicamente, a pulverizao feita aplicando-se as tcnicas de Alto, Mdio, Baixo e Ultra baixo Volumes. Os principais parmetros que definem estes tipos de aplicaes so o volume do lquido gasto por hectare e o dimetro das gotas produzidas. Desta forma torna-se difcil definir termos precisos, de limites de cada tipo de pulverizao, existindo, contudo, uma idia geral e aplicvel em condies de campo, de acordo com a classificao de vrios autores. O estudante deve entender, entretanto, que o fundamental em um programa de pulverizaes, o teste em branco, feito previamente. As tabelas existentes, do uma idia aproximada, variando de regio para regio, com os tipos de culturas e com os prprios autores, alm dos outros fatores mencionados. Algumas dessas tabelas so mostradas a seguir.

Tabela 1 - Classificao, em categorias de volume, para aplicao de produtos qumicos, por via lquida, com equipamentos terrestres ( Mathews,). Volume de Aplicao para diferentes culturas ( litros / hectares) Cultura de Campo Culturas Arbreas Alto Volume - AV > 600 > 1000 Mdio Volume - MV 200 - 600 500 - 1000 Baixo Volume - BV 50 - 20 200 - 500 Muito Baixo Volume - MBL 5 - 50 50 - 200 Ultra Baixo Volume - UBV < 5 < 50 Tabela 2 - Classificao, em categorias de volume, para aplicaes de produtos qumicos, por via lquida, com equipamentos areos ( Jonhostone,). Volume de Aplicao em litros / hectare. Baixo Volume - BV 20 - 50 Muito Baixo Volume - MBV 10 - 15 Ultra Baixo Volume - UBV < 5 Tabela 3 - Classificao, em categorias de volume, para aplicaes de produtos qumicos, por via lquida, com equipamentos terrestres ( ASAE). Volume de Aplicao em litros / hectare Alto Volume - AV > 500 Mdio Volume - MV 50 - 500 Baixo Volume - BV 5 - 50 Ultra Baixo Volume - UBV 0,5 - 5 Ultra - Ultra Baixo Volume - U - UBV < 0,5 Como se v, vrios autores estabelecem classificaes diferentes, entretanto, para efeitos prticos, poderemos considerar uma pulverizao a Alto Volume, como em torno de 400 ou 500 l/ha, para cultura de campo. 2) Polvilhamento - Por este mtodo o fungicida aplicado na planta seco, e misturado a um veculo inerte ( gesso, slica), mediante a utilizao de aparelhos denominados de polvilhadeiras. Este mtodo traz como vantagens, a simplicidade de

uso, facilidade de preparo e transporte, que, contudo, no compensa o grande inconveniente de apresentar baixa aderncia superfcie foliar. O mtodo de polvilhamento caiu em desuso, na fitopatologia, devido a superioridade do mtodo de pulverizao. Nos poucos casos em que o polvilhamento pode ser recomendado, quando se quer combinar, por exemplo, o controle de odios com o de caros, simultaneamente, com a aplicao de enxofre em p, deve-se ter o cuidado de somente fazer a aplicao com as folhas cobertas de orvalho.

1) Tratamento de Solo - Podemos dividir os mtodos de tratamento de solo em fsico e qumico. O primeiro envolve o uso do calor sob a forma de vapor, gua quente e eletricidade. O segundo mtodo abordado a seguir: a) Encharcamento de Solo - Por este mtodo os fungicidas so diludos em gua, em concentraes idnticas as empregadas em pulverizaes e aplicados superfcie do solo, antes ou aps a germinao das plantas. Em certos casos o fungicida pode ser veiculado atravs de aspersores destinados a irrigao. Ressalte-se, neste caso, o aumento de possibilidades de surgimento de resistncia de patgenos a fungicidas sistmicos, nestes permetros irrigados, devido a grande diluio do produto, veiculado em subdosagens. necessrio que o fungicida atinja a profundidade de at 15 cm. Este mtodo recomendado para o controle de doenas que causam tombamento das mudinhas, podrido de raiz ou infeco a nvel do solo. Este mtodo deve ser aplicado para pequenas reas, devido ao custo e principalmente a seu carter antiecolgico, eliminando patgenos e microorganismos benficos. b) Mtodo de Disperso - Este mtodo mais apropriado para os produtos no volteis, no qual os fungicidas so misturados ao solo ou aos fertilizantes e so espalhados o mais uniformemente possvel sobre a superfcie do solo. A incorporao do agrotxico ao solo pode ser feita com implementos agrcolas. Este mtodo implica em uma grande quantidade de fungicida e era muito usado na poca do PNDA, em 1975, quando o governo exigia do agricultor que tomasse emprstimo na rede bancria, o uso de 15% dos recursos para a compra de insumos. Acrescente-se, ainda, o forte desequilbrio do ecossistema, promovido por este mtodo. a) Aplicao no Sulco de Plantio - Por este mtodo os fungicidas so aplicados sob a forma de p ou diludos em gua, nos sulcos , antes do plantio. Este tipo de tratamento recomendado contra os agentes de damping-off ou de podrides de bulbos. b) Fumigao - Consiste na aplicao de um produto qumico ao solo que independente de seu estado fsico por ocasio do uso, ir expandir-se sob a forma gasosa. Trata-se de um mtodo de uso restrito a pequenas reas e culturas de alto valor econmico. Plantadores de morangos, nos EUA, por exemplo, conseguiram aumentar a produo da cultura, de 15 ton/ ha para 45 ton /ha, usando a fumigao dos canteiros de plantio. No Brasil, o mtodo revelou-se anti-econmico para a cultura. Alguns cuidados devem ser tomados, no uso da fumigao: 1 - O solo deve estar destorroado de modo que os gases produzidos pelos fungicidas possam penetrarem e difundirem-se facilmente. Os torres devem ser quebrados e homogeneizados. Os restos culturais devem ser removidos da rea. O solo deve estar suficientemente mido para permitir a germinao das sementes. Quando estiver seco, no deve ser

tratado; b) Todo composto como matria orgnica, hmus, composto orgnico, esterco, areia, devem ser adicionados antes do tratamento com o fumigante. importante que a matria orgnica esteja totalmente decomposta. Os fertilizantes contendo sais de amnio no devem ser adicionados ao solo prximo a data do tratamento. Aps a fumigao, as ferramentas que iro ser usadas no solo, devero ser desinfetadas; c) O intervalo de tempo entre o tratamento do solo e o plantio deve se situar entre 2 a 4 semanas, tempo necessrio para que os gases txicos se evolem. O revolvimento do solo, antes do plantio, igualmente necessrio para que gases remanescentes escapem.

Os fumigantes agem indiscriminadamente contra os diversos habitantes do solo, devendo desta forma ser usado com critrios rgidos, alm de um preparo especializado na operao. No se deve esquecer que embora estes produtos consigam eliminar 99,9% dos organismos contidos no solo, a pequena parcela restante tem o seu crescimento acelerado, podendo restabelecer-se no solo em nveis maiores que os verificados antes da fumigao, j que crescem na ausncia de inimigos naturais. Os benefcios que se quer alcanar com a fumigao, aliado a reas pequenas e cultuas de grande valor econmico, como algumas ornamentais, so fundamentais para se decidir pela escolha do mtodo. Exemplos de Fumigantes: a) Brometo de Metila - Fumigante altamente txico, usado como inseticida, fungicida, nematicida e herbicida. Para desinfestao do solo, o produto comumente usado uma mistura de 98% de brometo de metila e 2% de cloropicrina; este composto lacrimogneo, servindo para alertar contra possveis vazamentos e prevenir contra envenenamento pelo brometo, que um gs incolor. O produto vem comprimido em latas na forma de aerossol e aplicado sob uma cobertura plstica, a qual s retirada 24 a 48 horas aps a aplicao. Alho, cebola, cravo e Salvia so extremamente sensveis ao brometo de metila. b) Dazomet - aplicado com o adubo ou em suspenso aquosa, por meio de irrigao por asperso. Aps a aplicao, o solo deve ser muito bem irrigado para permitir sua penetrao at uma profundidade de 15 cm. Sendo muito fitotxico, o solo tratado deve ser mantido em repouso por, pelo menos, 14 - 21 dias, antes do plantio; O formol e o Metam sodium ( N metilditiocarbamato de sdio), so outros exemplos de fumigantes. 4- Pincelagem - Este mtodo empregado com preparaes fungicidas de consistncia pastosa, com as quais se pincelam os rgos lenhosos da planta, especialmente o tronco, com a finalidade de proteg-lo contra a penetrao e infeco de fitopatgenos. muito usado no controle preventivo da Gomose dos citrus e da Podrido de p do abacateiro, alm de doenas causadas por fungos do gnero Phytophthora, em geral.

1- Injeo - mtodo pouco utilizado devido ao alto custo e baixa eficincia. usado em casos especiais de doenas causadas por bactrias e micoplasmas em fruteiras ou ornamentais. No caso o antibitico diludo em gua e injetado sob presso, no tronco da planta por meio de bombas injetoras especiais.

II - Dosagem - Existem duas formas de indicar a dosagem do agrotxico a ser utilizado: a) quantidade do produto a ser aplicado por unidade de rea ( kg/ha e l/ha); b) Concentrao( %, g/100 l ou ml/100 l). Ambas as formas podem ser indicadas em termos de princpio ativo ou produto comercial. Quando o fungicida for indicado por unidade de rea(kg ou l/ha), o volume de calda deve ser determinado mediante um teste em branco, onde usando-se um volume de gua conhecido, em uma rea medida, faz-se 3 ou 5 pulverizaes, medindo-se em seguida o volume gasto em cada pulverizao, assim como o tempo gasto. Tira-se a mdia das medidas e procede-se ao teste do balde, usando-se as medidas de tempo das pulverizaes anteriores, com o mesmo nmero de medidas da pulverizao de campo, tirando-se igualmente a mdia. O teste do balde serve para corrigir-se algum erro ou desvio do teste em campo. Tiram-se as duas mdias e atravs de uma simples regra de trs, acha-se o volume para 1 hectare e da multiplica-se pela rea total a ser pulverizada. Suponhamos que se recomende para o controle da Phoma do cafeeiro, o fungicida Fosetyl-Al, na dosagem de 1 kg/ha do produto comercial Aliete. O teste em branco determinou um volume de calda por hectare, por exemplo, de 500l. Deve-se portanto adicionar a dosagem recomendada ( 1kg), nos 500l. Quando a dosagem for indicada em concentrao (%), para pulverizaes em viveiros, por exemplo, deve ser transformada em g/100 l de gua e aplicado at o ponto de escorrimento. A recomendao do fungicida Benlate a 0,05%, por exemplo, para o controle da cercosporiose, em viveiros de caf, corresponde a 50g do produto comercial por 100 l de gua, e devero utilizados tantos litros de calda quantas forem necessrios para proporcionar uma boa cobertura foliar das mudas. Dessa maneira, quanto maior for a superfcie a ser coberta maior ser a quantidade de calda a ser aplicada. Fitopatologia II - Prof. Armnio Santos

No objetivo da aplicao de defensivos agrcolas no controle econmico de pragas, doenas e ervas daninhas, tem-se que levar em considerao a distribuio exata da quantidade de defensivos, veiculado em gotas que possibilitem uma distribuio relativamente uniforme colocadas no alvo requerido. So vrias as tecnologias de aplicao: a) Via lquida Os aplicadores recebem denominaes diversas dependendo do tamanho das partculas produzidas. a.1 - Pulverizao - destina-se a aplicao de defensivos tanto em suspenso como em emulso ou soluo. O dimetro das particulas varivel, porm, nunca menor que 100 micra.

A pulverizao feita atravs de pulverizadores que so mquinas nas quais o lquido bombeado sob presso para o bico e "expelido" ao ser lanado ao ar por descompresso. Os pulverizadores so classificados em manuais, motorizados e tratorizador. Vantagem da pulverizao: menor gasto de agroqumicos, maior aderividade do defencivo na planta, menor influncia do vento, maior facilidade na aquisio. Desvantagens: aparelhos mais caros e mais complicados, menor rendimento, consumo de gua alto, mo de obra especializada, maior prejuizo de intoxicao. Pode-se destinguir vrios tipos de pulverizao: alto volume , mdio vulume, baixo volume, muito baixo volume e ultra baixo volume, os que os diferencia a quantidade de calda gasta por ha, sendo que a maior quantidade gasta est nas pulverizaes a alto volume, e a menor na pulverizao a ultra baixo volume. A modificao de um pulverizador de alto volume para baixo volume conseguida simplesmente com a mudana no tipo de bico do aparelho. Os bicos empregados para aplicao do lquido recebem as seguintes denominaes: cnico x2 e x3 (emulses ou solues) D2 e D3 (suspenses) Tujet 11.003 leque 8.004 6.506 cnico 2G e 3G (emulses ou solues) Sprojet leque 80,3 110,4

Alm disso, existem variaes, quanto ao jato de lquido que expelem: cheio Jato em forma de cone vazio

contnua Jato em forma de leque com faixa de depresso descontnua

Um bico de jato em forma de cone produzido pela Sprojet, tipo 2b significa uma vazo de 2 gales por hora e uma presso de 40lb/pol2, um bico Tujet de jato cnico X3 tem uma vazo de 3 gales/hora com a mesma presso. Os bicos D2 e D3 so empregados para pulverizaes de suspenses ao passo que as emulses, solues ou dispresses aquosas exigem bicos com dimetros de orifcios menores e consequentemente so mais econmicos no consumo de gua. As suspenses no podem ser pulverizadas com esses tipos de bico, porque provocam entupimentos. Os bicos de jato em leque so empregados para herbicidas e as designaes 8.003 ou 80,3 significam que o lquido pulverizado forma um jato angular de oitenta graus com uma vazo de 0,03 gales/minutos. Nas aplicaes com esses tipos de bico, devem ser observadas as distncias corretas entre o bico do pulverizador e a superfcie a ser pulverizada para uma cobertura eficiente e econmica. Os bicos de jato cnico, so dotados de dispositivos que permitem a sada do lquido em turbilhonamento, para a penetrao nas folhagens. Os bicos de jato em "leque" produzem fachas contnuas ou descontnuas, dependendo da uniformidade da deposio do lquido, da periferia ao centro da faixa. Os bicos de jato em leque "faixa contnua", deposita iqual quantidade de lquido desde os bordos at o centro da faixa. Os de "faixa descontnua" depositam maior quantidade de lquido na regio central, diminuindo nos bordos. Neste caso, as reas que margeiam a faixa devem receber aplicaes duplas para compens-las com a rea central. Os bicos de jato "cone cheio" so aplicados quanto se deseja uma maior quantidade em volume, por unidade de superfcie. a.2 - Atomizao - consiste na diviso das partculas do lquido ao redor de 100 micra. Essa diviso feita nos atomizadores e no necessitam de bico, cujas gotculas so arrastadas pelo ar produzido pela ventoinha. As partculas, em revoluo no ar, atingem uma superfcie folear maior do que a conseguida por outro aparelho, atingindo tambm, melhor, a face inferior das folhas. A atomizao permite vazes desde 01litro/ha. A aplicao por este processo, quanto em ultra baixo volume exige que o defensivo seja de caracterstica oleosa: outros sem esta caracterstica, devem ser misturados com "spray oil" para permitir uma vazo diminuta. a.3 - Nebulizao - obtida atravs de nebulizadores que subdividem o dimetro das gotas a aproximadamente 50 micra. Devido a seu diminuto tamanho, flutuam com grande facilidade, sendo arrastadas pelas correntes de convexo do ar, prximo do solo.

b) Polvilhamento Os defensivos so aplicados na forma de p seco, atravs de aparelhos denominados de polvilhadeiras.