apontamentos da aula de exame neurológico

3
Apontamentos da aula de exame neurológico PM I 2014/2015 1 Patrícia Lopes (com consulta simultânea de apontamentos de Raquel Santos) O exame neurológico deve ser feito para responder a duas principais questões: Se determinado sinal clínico tem uma origem neurológica ou não; Se chegarmos ao final do exame neurológico e concluirmos que determinado sinal que estamos a observar é de origem neurológica, a próxima pergunta a que temos que responder é a neurolocalização (de entre os vários componentes do sistema nervoso descobrir onde está a alteração). Clinicamente é incorrecto saltar o passo do exame neurológico, porque há diagnósticos que são só obtidos pelo exame neurológico e porque evitamos, por exemplo, sujeitar um dono a pagar um TAC e sujeitar o animal à radiação. Antes de começarmos a fazer o exame neurológico há um passo que deve ser efectuado antes: Anamnese obtenção de uma história clínica, história pregressa. Por exemplo, um animal com epilepsia pode nunca ter um ataque epilético no nosso consultório, por isso é importante a anamnese. Depois, podemos passar para o exame neurológico que pode ser dividido em duas princiais partes: 1. Observação directa do animal observar os vários compontentes do animal. a) Avaliação do estado mental e comportamento do animal: Animal alerta e responsivo a estímulos externos Alterações do estado mental: Animal em depressão ainda responde a estímulos mas tem tendência a fugir deles Animal em estupor só responde a estímulos dolorosos. Não responde a estímulos visuais e auditivos. Animal em coma não responde e reaje a nada b) Perguntar ao dono sobre essas alterações comportamentais c) Avaliar se há alteração da postura da cabeça em relação ao corpo inclinação da cabeça (orelhas não simétricas), curvatura da cabeça. d) Alterações da marcha as alterações mais frequentes são a parésia (perda de força), que não deve ser confundida com plégia (sem movimento nenhum). Outra alteração da marcha que pode ocorrer é a ataxia (alteração da coordenação de movimentos, movimentos descordenados. Ex: tal como um bêbado) e) Observação de movimentos involuntários anormais que o animal esteja a apresentar (ex: tremores) 2. Exame neurológico propriamente dito a) Exame dos Nervos cranianos Nervo I Olfactivo Não se avalia com muita frequência na prática clínica. Nervo II Óptico Reflexo pupilar à luz tapamos um olho e no outro apontamos uma luz. Quando destapamos o olho, a pupila tem que estar contraída como a pupila do olho onde incidiu a luz (testa oculomotor também que é responsável pela iridoconstrição).

Upload: patrpl

Post on 20-Feb-2016

215 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Apontamentos Da Aula de Exame Neurológico

TRANSCRIPT

Page 1: Apontamentos Da Aula de Exame Neurológico

Apontamentos da aula de exame neurológico – PM I 2014/2015

1 Patrícia Lopes (com consulta simultânea de apontamentos de Raquel Santos)

O exame neurológico deve ser feito para responder a duas principais questões:

Se determinado sinal clínico tem uma origem neurológica ou não;

Se chegarmos ao final do exame neurológico e concluirmos que determinado sinal que

estamos a observar é de origem neurológica, a próxima pergunta a que temos que responder

é a neurolocalização (de entre os vários componentes do sistema nervoso descobrir onde

está a alteração).

Clinicamente é incorrecto saltar o passo do exame neurológico, porque há diagnósticos que são só

obtidos pelo exame neurológico e porque evitamos, por exemplo, sujeitar um dono a pagar um TAC

e sujeitar o animal à radiação.

Antes de começarmos a fazer o exame neurológico há um passo que deve ser efectuado antes:

Anamnese – obtenção de uma história clínica, história pregressa. Por exemplo, um animal com

epilepsia pode nunca ter um ataque epilético no nosso consultório, por isso é importante a

anamnese.

Depois, podemos passar para o exame neurológico que pode ser dividido em duas princiais partes:

1. Observação directa do animal – observar os vários compontentes do animal.

a) Avaliação do estado mental e comportamento do animal:

Animal alerta e responsivo a estímulos externos

Alterações do estado mental:

Animal em depressão – ainda responde a estímulos mas tem

tendência a fugir deles

Animal em estupor – só responde a estímulos dolorosos. Não

responde a estímulos visuais e auditivos.

Animal em coma – não responde e reaje a nada

b) Perguntar ao dono sobre essas alterações comportamentais

c) Avaliar se há alteração da postura da cabeça em relação ao corpo – inclinação da

cabeça (orelhas não simétricas), curvatura da cabeça.

d) Alterações da marcha – as alterações mais frequentes são a parésia (perda de força),

que não deve ser confundida com plégia (sem movimento nenhum). Outra alteração

da marcha que pode ocorrer é a ataxia (alteração da coordenação de movimentos,

movimentos descordenados. Ex: tal como um bêbado)

e) Observação de movimentos involuntários anormais que o animal esteja a apresentar

(ex: tremores)

2. Exame neurológico propriamente dito

a) Exame dos Nervos cranianos

Nervo I – Olfactivo

Não se avalia com muita frequência na prática clínica.

Nervo II – Óptico

Reflexo pupilar à luz – tapamos um olho e no outro apontamos uma luz. Quando

destapamos o olho, a pupila tem que estar contraída como a pupila do olho onde

incidiu a luz (testa oculomotor também que é responsável pela iridoconstrição).

Page 2: Apontamentos Da Aula de Exame Neurológico

Apontamentos da aula de exame neurológico – PM I 2014/2015

2 Patrícia Lopes (com consulta simultânea de apontamentos de Raquel Santos)

Resposta de ameaça – aproximamos a mão e vemos se pisca os olhos.

Nervo III – Oculomotor

ver se existem movimentos ou posição anormal do globo ocular (estrabismo)

Nervo IV – Troclear

Os animais vêem a imagem “aos saltos”. O animal centra a imagem aos “saltos”, não

é contínua. Isso é normal! Fazer movimentos laterais com a cabeça e ver como

posiciona o globo ocular enquanto olha para o que está em redor.

Nervo V – Trigémio

Responsável pela informação sensitiva da face – tocar na face.

Tem 3 ramos:

Oftálmico

Maxilar

Mandibular (é o motor da mandíbula. Perguntar se animal está a comer,

mastigar)

Nervo VI - Abdutor

Nervo VII – Facial

Fechar a pálpebra

Nervo VIII – Vestibular (sentido do equilíbrio) e Coclear (auditivo – estímulo auditivo, por

exemplo, bater palma).

Nervo IX – Glossofaríngeo

Estimular o pós-boca, ver reflexo de deglutição carregando na faringe

Nervo X – Vago (parassimpático)

Nervo XI – Acessório (curvatura da cervical)

Nervo XII – Hipoglosso (língua flácida de um lado – os donos referem que o animal só come

de um lado)

b) Reacções posturais:

Avalia essencialmente a propriocepção (knuckling) Teste de knuckling (colocamos

os membros numa posição não fisiológica. Um animal em estado normal vai por os

membros na posição normal ou nem sequer deixa por os membros numa posição

não fisiológica).

c) Reflexos espinhas (avaliamos segmentos específicos da medula espinhal):

Lesão na intumescência (as intumescências correspondem à entrada ou saída dos

nervos para os membros) – se tivermos uma lesão no sítio da intumescência vamos

ter um reflexo diminuído

Lesão no neurónio motor superior – reflexo aumentado

Lesão no neurónio motor inferior – reflexo diminuído

Membros posteriores:

Martelo na patela e tibial cranial

Martelo no semimembranoso/tendinoso

Carregar nos interdigitais

Membros anteriores – testar reflexo no extensor radial do carpo com martelo

d) Palpar e ver se demonstra dor, movimentos de extensão e flexão

Sensitivo – tocar nos cantos medial e lateral da pálpebra e ver se o animal a

fecha

Page 3: Apontamentos Da Aula de Exame Neurológico

Apontamentos da aula de exame neurológico – PM I 2014/2015

3 Patrícia Lopes (com consulta simultânea de apontamentos de Raquel Santos)