ao civil zeca final

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MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL Promotoria de Justiça de Defesa da Cidadania Curadoria do Patrimônio Público e do Consumidor Exmo. Senhor Doutor Juiz de Direito da ª Vara Cível da Comarca de Paulista-PE. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE PERNAMBUCO, por intermédio de sua Promotora de Justiça infra-assinada, com endereço à Av. Senador Salgado Filho, s/n, Centro, nesta cidade, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fundamento nos arts. 5º, inciso XXXII; 127 e 129, todos da Constituição Federal, bem como, nas Leis nºs 7.347/85 (Lei de Ação Civil Pública), 8.078/90 (Código do Consumidor), e, visando à defesa de direitos difusos e individuais homogêneos dos consumidores, e com base nos 1

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Page 1: Ao Civil Zeca Final

MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL2ª Promotoria de Justiça de Defesa da Cidadania

Curadoria do Patrimônio Público e do ConsumidorExmo. Senhor Doutor Juiz de Direito da ª Vara Cível da Comarca de

Paulista-PE.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE

PERNAMBUCO, por intermédio de sua Promotora de Justiça infra-assinada,

com endereço à Av. Senador Salgado Filho, s/n, Centro, nesta cidade, vem,

respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fundamento nos arts.

5º, inciso XXXII; 127 e 129, todos da Constituição Federal, bem como, nas Leis

nºs 7.347/85 (Lei de Ação Civil Pública), 8.078/90 (Código do Consumidor), e,

visando à defesa de direitos difusos e individuais homogêneos dos

consumidores, e com base nos fatos apurados no anexo Inquérito Civil nº

001/2006 ajuizar a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA

com pedido de TUTELA ANTECIPADA E MEDIDA CAUTELAR

em face dos seguintes entes:

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Page 2: Ao Civil Zeca Final

a) INSTITUTO CULTURAL VICENTE PINZÓN – I.C.V.P., pessoa jurídica

de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº 05.258.419/0001-61, com

sede na Rua José Francisco Lisboa, nº 15, Vila Roca, Cabo de Santo

Agostinho, PE, neste ato devidamente representado por seu Presidente,

Sr. Antonio Gomes de Medeiros;

b) DULUILI PRODUÇÕES E EVENTOS ARTÍSTICOS LTDA, pessoa

jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº 08.658.715/0001-

47, com sede à Av. Dedo de Deus, nº 1.365, Loja A – Parte, Centro,

Guapimirim/RJ, CEP nº 25.940-000, neste ato representada por seus

sócios administradores, Srs. Jessé Gomes da Silva Filho e Mônica

Piquet Chaves da Silva;

c) LADO B PRODUÇÕES ARTÍSTICAS E PROJETOS CULTURAIS

LTDA, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº

07.469.184/0001-82, estabelecida à Av. General Venâncio Flores, nº

305, sls. 505/507, Leblon, Rio de Janeiro/RJ, neste ato representada

pela sócia Maria Helena Brandão Dias;

d) ANTONIO GOMES DE MEDEIROS, brasileiro, casado, professor,

Presidente I.C.V.P., CI nº 834650, SSP/PE, CPF nº 040.562.994-04,

residente a Rua Edwirges Gomes de Melo, 02, Vila Social Contra o

Mocambo, Cabo de Santo Agostinho, PE.

e) JOSÉ AMBRÓSIO DOS SANTOS, brasileiro, casado, Vice-Presidente

I.C.V.P., CI nº 1328879, SSP/PE, CPF nº 124.729.804-34, residente a

Rua Antonio Marinho Wanderley, nº 17, Loteamento Bom Conselho,

Ponte dos Carvalhos, Cabo/PE;

f) RONILDO BARBOSA ALBERTIM, brasileiro, divorciado, 1º Secretário-

Executivo I.C.V.P., CI nº 4.039.753, SSP/PE, CPF nº 610.693.964-00,

residente a Rua Prof. Augusto Lins, 497, apt. 303, Edf. Costa do Marfin,

Setúbal, Boa Viagem, Recife-PE;

g) NATANAEL JOSÉ DE LIMA JÚNIOR, brasileiro, solteiro, 2º Secretário-

Executivo I.C.V.P., CPF nº 195.362.404-91, residente a Rua Aníbal

Ribeiro Varejão, nº 765, apt. 303, Candeias, Jaboatão dos

Guararapes/PE;

h) JAIRO BARBOSA DE LIMA, brasileiro, separado, Secretário Finanças

I.C.V.P., CI nº 338.6858, SSP/PE, CPF nº 610.654.804-82, residente

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Page 3: Ao Civil Zeca Final

Rua Antonio Augusto dos Santos, 334-A, Vila Santo Inácio, Cabo de

Santo Agostinho/PE;

i) WILSON RIBEIRO FIRMO, brasileiro, casado, jornalista, Secretário de

Imprensa I.C.V.P., CI nº 3456584, SSP/PE, CPF nº 735.707.964-34,

residente na Rua Prof. Lúcia B. Soares, 17, Vila Roca, Cabo de Santo

Agostinho/PE;

j) DEOCLÉCIO BINO BARBOSA, brasileiro, casado, Secretário Relações

Institucionais I.C.V.P., CI nº 1.084.069, SSP/PE, CPF nº 093.174.264-

00, residente à Rua Conde da Boa Vista, nº 762, Pontezinha, Cabo de

Santo Agostinho/PE;

k) JESSÉ GOMES DA SILVA FILHO, mais conhecido por ZECA

PAGODINHO, brasileiro, casado, músico profissional, sócio

administrador da Duluili Produções e Eventos Artísticos Ltda, CI nº

04759962-6, IFP/RJ, CPF nº 551.781.977-04, residente a Rua Lua de

Prata, casa 18, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro/RJ, CEP.: 22.793-420;

l) MÕNICA PIQUET CHAVES DA SILVA, brasileira, casada, empresária,

CI nº 08446701-8, IFP/RJ, CPF nº 003.566.147-00, sócia administradora

da Duluili Produções e Eventos Artísticos Ltda, residente a Rua Lua da

Prata, casa 18, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro/RJ, CEP.: 22.793-420;

m) MARIA HELENA BRANDÃO DIAS, portuguesa, solteira, empresária,

sócia administradora da LADO B Produções Artísticas e Projetos

Culturais Ltda, Carteira de Identidade RNE nº W642526-0 do

SE/DPMAF/DPF e CPF nº 430.312.427-34, residente na Av. Epitácio

Pessoa, 3540, apt. 1202, Lagoa, Rio de Janeiro/RJ, CEP: 22.471-001, e

n) CRISTÓVÃO BORGES DOS SANTOS, brasileiro, solteiro, empresário,

sócio administrador da LADO B Produções Artísticas e Projetos

Culturais Ltda, CI nº 1051758661, SJS/RS e CPF nº 697.576.587-15,

residente a Av. Epitácio Pessoa, 3540, apt. 1202, Lagoa, Rio de

Janeiro/RJ, CEP: 22.471-001.

I – DOS FATOS

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Page 4: Ao Civil Zeca Final

O INSTITUTO CULTURAL VICENTE PINZÓN e as produtoras

DULUILI PRODUÇÕES E EVENTOS ARTÍSTICOS LTDA e LADO B

PRODUÇÕES ARTÍSTICAS E PROJETOS CULTURAIS LTDA, qualificados

preambularmente, foram partes signatárias de um contrato, cuja finalidade

residiu na realização de um show musical com o cantor “ZECA PAGODINHO”,

a ser realizado na cidade de Paulista PE, especificamente no Veneza Water

Park, no dia 07.09.2007, conforme se depreende da cópia do referido

instrumento às fls MPPE 096/104 ( em anexo).

Deflui ainda do instrumento pactual, bem como dos ingressos

acostados, que dito show seria regado por uma feijoada ( fls. MPPE 005).

Ocorre que depois de tanta propagação do evento, impulsionando

nos consumidores imensurável expectativa pelo show e as vendas do ingresso

terem se aproximado de 4.925 adquirentes, fora este cancelado às vésperas do

dia 07.09.2007 ( fls. MPPE 185 c/c 226).

O cancelamento do evento gerou dissabores para os milhares de

fãs, sobrando-lhes, como bem enfatizou o jornalista do Jornal do

COMMÉRCIO, José Teles, fazendo alusão a um verso do Sambista em

referência, “apenas o bagaço da laranja” (fls. MPPE .020).

Avulta ressaltar que esta promotoria, atendendo a diversos clamores

de consumidores, instaurou o inquérito civil, ora parte integrante desta ação, no

desiderato de buscar as justificativas da morosidade quanto à indenização dos

daqueles que adquiriram o ingresso.

Prima facie, necessário se faz reportar ao instrumento contratual,

dele advindo diversas obrigações ao Instituto Cultural Vicente Pinzón – I.C.V.P,

cabendo apenas às produtoras Duluili Produções e Eventos Artísticos Ltda e

LADO B Produções Artísticas e Projetos Culturais Ltda a apresentação do

artista ZECA PAGODINHO.

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Page 5: Ao Civil Zeca Final

Assim, as obrigações majoritárias estabelecidas para o Instituto

Cultural Vicente Pinzón foram:

Pagamento do cachê no valor de R$ 150.000,00 (cento e

cinqüenta mil reais), em espécie, às contratadas;

Passagens aéreas TAM/GOL do cantor e de equipe dele,

composta de 37(trinta e sete) integrantes;

Hospedagens em hotel de categoria máxima existente na

cidade do show;

Despesas com alimentação do artista e da equipe

referenciada nos dias 06 e 07.09.2007;

Despesas concernentes à montagem, estrutura física e

elétrica do palco.

Nessa esteira, procurou esta promotoria de defesa do consumidor

ouvir os possíveis responsáveis pelo dano, de forma que cada um apresentou

suas defesas. Dentre elas, as produtoras inicialmente explicaram que a conditio

sine qua non para a realização do show residiria em o Instituto Vicente

Pinzón pagar-lhes até o dia 04.09.2007, em espécie, o valor integral do

cachê, o que não ocorreu, no entender destas (fls. MPPE 162/193).

Ademais, imputam ainda ao instituto não ter quitado os valores das

diárias com alimentação do cantor/equipe, do aluguel da mesa de som, bem

como, não ter enviado a quantia relativa ao transporte do caminhão baú que

viaja com o equipamento, instrumentos e cenário do show.

Em defesa, o Instituto Vicente Pinzón, através de seu Secretário,

aduziu serem improcedentes as imputações argüidas, posto que teria

depositado nas contas das produtoras o valor de R$ 135.000,00(cento e trinta

e cinco mil reais) em espécie e R$ 15.000,00(quinze mil reais) em cheque.

Declarou ainda que o contrato não previa pagamento antecipado

para o transporte/caminhão baú. Quanto à alimentação do artista e sua equipe

seria utilizada em Recife e não no Rio de Janeiro, portanto, verbas a serem

liquidadas no local do evento (fls. MPPE 222/223).

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Page 6: Ao Civil Zeca Final

Do inquérito restou apurado a veracidade do pagamento argüido

pelo instituto, além de R$ 2.000,00(dois mil reais) da mesa de som,

depositados na conta do Sr. Marcelo Martins Ferreira, bem como, dos valores

referentes às diárias no Hotel Amoaras, das passagens aéreas, do aluguel do

espaço do Veneza Water Park, de seguranças, etc. (fls. MPPE 109/130).

Baldados ditos pagamentos e expirado o prazo contratualmente

acordado, 04.09.07, somente dois dias após, ou seja, em 06.09.07, véspera do

show, a produtora LADO B tomou duas atitudes paradoxalmente conflitantes:

ao tempo em que confirmou o show, cancelou-o horas seguintes, conforme se

pode depreender às fls. MPPE 224/225 c/c 185 e 226.

Os acordantes ainda fizeram circular uma nova informação,

ventilando mais uma expectativa de realização do show, desta feita, para o dia

22 de setembro de dois mil e sete. Do mesmo modo, somente neste dia,

fizeram comunicar através da imprensa o segundo e definitivo cancelamento do

show (fls. MPPE 356/357).

Esclareça-se, outrossim, que nove dias antes da data prevista para o

segundo show, ou seja, 13.09.07, os acordantes já tinham firmado distrato, no

qual ficou pactuado a obrigação do Instituto Vicente Pinzón na assunção das

dívidas, incluída nesta a devolução da quantia monetária dos ingressos, bem

como e principalmente, pactuou-se a repartição da quantia de R$

135.000,00(cento e trinta e cinco mil reais) enviada em espécie às produtoras,

fls. MPPE 167/169.

Assim, vislumbra-se patente a presença do enriquecimento sem

causa dos signatários, sobretudo porque, em sede de inquérito civil, ficou

demonstrado que dita quantia foi oriunda da venda dos ingressos, fls. MPPE

222/223 c/c 383/392.

Desse imbróglio, aos consumidores restou a peregrinação à busca

de reaverem seus dispêndios, tais como: transporte, valor do ingresso, etc.

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Page 7: Ao Civil Zeca Final

II – DO DIREITO

a) - DA LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO

O art. 5º, inciso XXXII da Constituição Federal dispõe que o

Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor.

Por sua vez, o art. 127, caput, da Carta Magna de 1988, dispõe

que incumbe ao Ministério Público a defesa dos interesses sociais e, no art.

129, incisos III e IX, inclui entre as funções institucionais do Ministério Público a

promoção de “inquérito civil e a ação civil pública para a proteção do patrimônio

público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos”,

bem como o exercício de “outras funções que lhe forem conferidas, desde que

compatíveis com sua finalidade”, o que evidencia a clara intenção do legislador

constituinte de ampliar a esfera de atuação do Ministério Público.

O Código de Defesa do Consumidor - CDC, por seu turno,

regulamentando e explicitando a norma constitucional, concedeu ao Ministério

Público legitimidade ativa ad causam para a defesa dos interesses e direitos

difusos, coletivos e individuais homogêneos dos consumidores. Em seu art. 81

e incisos estabelece que:

“Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e

das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a

título coletivo.

Parágrafo único – A defesa coletiva será exercida quando se tratar

de:

I – interesses ou direitos difusos assim entendidos, para efeito

deste Código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que

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Page 8: Ao Civil Zeca Final

sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por

circunstâncias de fato;

II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos

deste Código, os transindividuais de natureza indivisível de que

seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si

ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;

III – interesses ou direitos homogênos, assim entendidos os de

origem comum.”

Em consonância com as normas constitucionais, o CDC, no art.

82, inciso I, estabeleceu a legitimidade do Ministério Público para a propositura

de ações que versem sobre as três categorias de direitos e interesses, acima

elencados.

Dos fatos mencionados no presente petitório, conclui-se que a

demanda tem duas grandes vertentes: em relação aos direitos de segurança e

qualidade do serviço, os quais repercutem em um universo indeterminado de

pessoas, independente de quem quer que tenha se prontificado a comprar o

ingresso do show Feijoada do Zeca, ou seja, cuida-se da boa-fé como valor

não só a ser buscado como defendido por toda sociedade, e, portanto,

interesses indivisíveis, considerados como direito difuso; no tocante à

indenização dos prejuízos sofridos por todos aqueles que foram vítimas do

acidente de consumo decorrente da não realização do show, cuida-se dos

interesses individuais homogêneos.

Esses últimos dizem-se de natureza individual homogênea posto

que a relação jurídica de consumo se efetivou por meio da compra de

ingressos oferecidos pelos acordantes, o que coloca os fãs em situação

homogênea, no que se refere à eventual violação de seus direitos nessa

qualidade.

Daí então, na seqüência do CDC, os arts. 91 a 100 fazem

referência expressa à possibilidade de propositura, pelo Ministério Público,

como um dos órgãos legitimados por força do disposto no art. 82, de “ação civil

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Page 9: Ao Civil Zeca Final

coletiva de responsabilidade pelos danos individualmente sofridos” no interesse

das vítimas ou de seus sucessores.

Assim, fica evidenciada a legitimidade do Ministério Publico para a

defesa coletiva em Juízo dos chamados direitos individuais homogêneos.

No presente caso o interesse social da demanda é patente.

Busca-se a proteção do mais fraco pelo órgão do Ministério Público, além da

condenação, em caráter genérico, dos réus, pessoas físicas e jurídicas, que

deverão reparar os danos sofridos por uma pluralidade de vítimas.

Em sendo assim, a legitimidade do Ministério Público para a

promoção da presente ação tem fundamento na Constituição Federal e nos

arts. 81, parágrafo único, inciso III, 82, inciso I e 91 a 100 do CDC.

Ademais, a Lei nº 7.347/85, - LACP, sofreu alterações por força

dos arts. 110 e 117 do CDC que acrescentaram ao seu art. 1º o inciso IV, bem

como ao seu texto o art. 21, implicando uma ampliação dessa legitimidade.

Com efeito, por força do art. 1º, inciso IV, qualquer interesse

difuso ou coletivo pode ser defendido pelo Ministério Público por meio de ação

civil pública.

Já em decorrência do art. 21 acrescentado, aplicam-se os

princípios do CDC na defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos e

individuais.

b) - DA RESPONSABILIDADE DOS REQUERIDOS

A relação contratual de consumo, na presente questão, resta

evidenciada, eis que o show prometido, aprioristicamente, se enquadra na

definição do § 2º do art. 3º do CDC, a saber:

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Page 10: Ao Civil Zeca Final

Art. 3º omissis

§ 1º omissis

§ 2º Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de

consumo, mediante remuneração, inclusive de natureza

bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as

decorrentes das relações de caráter trabalhista.

Os fãs, adquirentes do ingresso, são consumidores na condição

de destinatários finais (art. 2º do CDC), enquanto que os réus se enquadram na

definição de fornecedores (art. 3º), pois são pessoas jurídicas que

desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, como bem

demonstram seus contratos sociais.

Conclui-se, facilmente, que há relação de consumo entre os

acordantes que organizam espetáculos artísticos e culturais e os espectadores

que a eles comparecem. Os organizadores são fornecedores nos termos do

Código de Defesa do Consumidor.

Por outro lado, dispõe o artigo 6º do CDC, o seguinte:

“Art. 6º. São direitos básicos do consumidor:

(...)

VI – a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e

morais individuais, coletivos e difusos;

(...)

Esse dispositivo guarda íntima relação com o art. 4º do CDC, que,

no seu caput, coloca o respeito à dignidade dos consumidores como viga

mestra da Política Nacional das Relações de Consumo. Política esta que tem

por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, visando à

defesa dos interesses econômicos, dentre outros, bem como a transparência e

harmonia das relações de consumo.

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Page 11: Ao Civil Zeca Final

Nesse propósito é que o CDC ao reconhecer a vulnerabilidade do

consumidor, o qual cada vez mais se torna um figurante passivo e

hipossuficiente diante do crescente fenômeno da oligopolização e globalização

da economia, se posiciona como uma resposta concreta e eficaz aos

desmandos que porventura o mercado ouse lhe causar.

Indiscutivelmente, o serviço para o qual se propuseram os

acordantes a realizar não ocorreu, não foi realizado, resultando em perdas e

danos aos consumidores. E o que é pior: O DINHEIRO ARRECADADO COM

AS VENDAS FOI REPARTIDO ENTRE OS ACORDANTES NUM CLARO E

EVIDENTE ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA.

Quando fato dessa natureza surge no mundo jurídico, faz emergir

a responsabilidade de seu(s) causador(es) como corolário natural e

insofismável do mais elementar sentimento de justiça: Neminem ladere, ou

seja, a ninguém é dado prejudicar outrem.

Reza o Código de Defesa do Consumidor:

“Art. 14. – O fornecedor de serviço responde, independentemente

da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos

consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços,

bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre

sua fruição e risco. Grifei

A responsabilidade do fornecedor nasce então, aos olhos do

CDC, pelo fato do produto e do serviço, e àquele só é considerado na medida

em que é o responsável pelo ressarcimento dos prejuízos.

Por conseguinte, o estabelecimento da responsabilidade de

indenizar nasce do nexo de causalidade existente entre o consumidor (lesado),

o produto e/ou serviços e o dano efetivamente ocorrente. Repita-se, é o “fato”

do produto e do serviço causadores do dano o que importa. E esta

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Page 12: Ao Civil Zeca Final

responsabilidade é objetiva, eis que oriunda do risco integral da atividade

econômica do(s) fornecedor(es).

Formatando o quadro da responsabilidade preconizada pelo CDC,

a qual é a mais ampla possível quando se trata de defender o consumidor, tem-

se a aplicação incondicional e ilimitada da solidariedade de todos os agentes

envolvidos no ciclo de produção, de modo que não se poderia mesmo

interpretar de maneira diferente essa questão, até porque decorre

expressamente da redação do parágrafo único do art. 7º e dos §§ 1º e 2º do

art. 25 do Código Consumerista:

Art. 7. parágrafo único – Tendo mais de um autor a ofensa, todos

responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos

nas normas de consumo”.

Art. 25.- É vedada a estipulação contratual de cláusula que

impossibilite, exonere ou atenue a obrigação de indenizar prevista

nesta e nas Seções anteriores.

§ 1º - Havendo mais de um responsável pela causação do dano,

todos responderão solidariamente pela reparação prevista nesta e

nas Seções anteriores.

§ 2º - Sendo o dano causado por componente ou peça incorporada

ao produto ou serviço, são responsáveis solidários seu fabricante,

construtor ou importador e o que realizou a incorporação.”

Em atenção aos preceitos acima, é de bom alvitre que esse r.

juízo consumerista pondere ou até mesmo desconsidere as convenções

firmadas pelos signatários, eis que matéria concernente e/ou nulidades

contratuais diz respeito tão-somente às partes contratantes e há de ser tratada

no âmbito civil e comercial, eis que se cuida de relações interpessoais

privadas, sem reflexos na proteção constitucional e legal devida aos

destinatários dos serviços contratados.

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Page 13: Ao Civil Zeca Final

Em outros termos, segundo o artigo 25 e seus incisos suso

mencionados, as estipulações contratuais entre fornecedores de serviços não

podem ser traduzidas em prejuízos ao ressarcimento integral dos

consumidores vitimados pela ausência de prestação regular dos serviços

contratados.

Portanto, inquestionável que, havendo mais de um autor a ofensa,

todos responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos nas

normas de consumo.

Nesse sentido, manifesta-se o Desembargador Rizzato

Nunes1“(...) Todos os participantes do ciclo de produção do serviço são

responsáveis solidários. Se o consumidor sofrer dano por serviço que – como já

o dissemos – é composto por outros serviços ou produtos, pode acionar

qualquer deles. Ninguém pode ser excluído, muito menos dizendo-se terceiro,

porque não é”

Nesse diapasão pontifica a Doutora Claudia Lima Marques2:“a

responsabilidade solidária é, sem dúvida, decorrência do direito básico de

“efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais”, previsto no art.

6º, VI, do CDC. De fato, muitas vezes a “efetiva reparação” só é possível em

virtude da existência de pluralidade de responsáveis, pois não é incomum

fornecedores simplesmente desaparecerem da noite para o dia sem deixar

qualquer patrimônio para responder pelas suas dívidas.

Convém explicitar ainda que, com base nessa solidariedade, o

Ministério Público de Pernambuco, através desta promotoria, recomendou aos

demandados um plano de ressarcimento dos danos, através do termo Nº

001/008 (fls. MPPE 300/303), não havendo, contudo, nenhuma composição,

posto que, cada qual se mantendo aferrados aos próprios interesses, deixam,

dessa forma, à margem de proteção, os direitos dos consumidores. Estes,

aliás, a contrario sensu do tratamento dispensado pelos demandados, têm

1Nunes, Rizzato. Curso de Direito do Consumidor, Ed. Saraiva, ano 2005, pg. 303. 2 Herman, Antonio V.Benjamin; Marques, Claudia Lima; Bessa, Leonardo Roscoe. Manual de Direito do Consumidor, Ed. Revista dos Tribunais, ano 2007, pg. 151.

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Page 14: Ao Civil Zeca Final

seus interesses econômicos priorizados pelo ordenamento jurídico pátrio, ou

seja, vistos como questão de ordem pública.

Resta evidenciado, pois, que os réus pré-ditos, individualmente ou

em conjunto, não tiveram desvelo necessário quando da promoção do evento,

ferindo os direitos dos consumidores.

c) – DA DESCONSIDERAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA

Frise-se que a efetiva prevenção significa, claramente,

indenização integral de todos os danos que tenham ocorridos, inclusive os

morais, que são acolhidos explicitamente pelo Código, e para isto, se

necessário, socorrer-se-á da desconsideração da personalidade jurídica.

Normalmente a desconsideração da personalidade jurídica é um

instrumento utilizado pela jurisprudência para coibir abusos de modo que não

fiquem impunes atos sociais considerados fraudulentos. Consiste a mesma em

colocar de lado, episodicamente, a autonomia patrimonial da sociedade,

possibilitando a responsabilização direta e ilimitada do sócio por obrigação que,

em princípio, é da sociedade. Afasta-se a ficção para que aflore a realidade.

E isso se dá quando o interesse ameaçado é valorado pelo

ordenamento jurídico como mais desejável ou menos sacrificável do que o

interesse colimado através da personificação societária, abrindo-se, portanto,

oportunidade para a desconsideração, sob pena de alteração da escala de

valores.

Nesse diapasão, à luz do direito consumerista, pode-se afirmar,

categoricamente: a despersonalização da pessoa jurídica é objeto do caput

e do §5º do art. 28 do CDC:

“Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da

sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso

de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou

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Page 15: Ao Civil Zeca Final

violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração

também será efetivada quando houver falência, estado de

insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica

provocados por má administração.

§ 1 – (vetado)

§2 – omissis

§3 – omissis

§4 – omissis

§5º - Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre

que sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao

ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores.

Tendo ocorrido no caso concreto, como já sobejamente

demonstrado, infração a inúmeros artigos do CDC, em especial aos arts. 1º, 4º

e 14, o Juiz fica autorizado a desconsiderar a personalidade jurídica dos réus

Instituto Cultural Vicente Pinzón, Duluili Produções e Eventos Artísticos Ltda e

LADO B Produções Artísticas e Projetos Culturais Ltda, de modo que a

responsabilidade a eles atribuída recaia, respectivamente, sobre os diretores

associados e sócios-gerentes, os quais já foram inicialmente nomeados e cuja

citação ora se requer para, nessa qualidade, responderem aos termos da

presente ação.

Ademais, no que dispõe o § 5º supra mencionado, é possível na

defesa do consumidor diante da simples falta de bens sociais para indenizá-lo,

podendo o Juiz determinar a responsabilidade daqueles que são beneficiários

dos resultados econômicos auferidos pelo serviço oferecido – show -, com

muito mais razão esta desconsideração deve ser possível em casos como o

presente, em que a violação à lei está plenamente configurada.

Do exposto, de já, sendo julgada procedente a ação e caso os

réus, pessoas jurídicas, não possuam condições de indenizar os consumidores

lesados, requer o Ministério Público, desde já, a desconsideração das

respectivas personalidades jurídicas, para o fim de determinar a

responsabilidade pessoal dos diretores associados e sócios-gerentes

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Page 16: Ao Civil Zeca Final

preambularmente qualificados, como forma de garantir a efetiva reparação dos

danos sofridos pelos consumidores.

d) - DO DANO MORAL

Não se pode determinar, em pecúnia, o valor da fruição que os

réus frustraram com a inadimplência de seu dever principal. Entretanto, a

impossibilidade de conversão em moeda não significa que tais perdas sejam

desprezíveis. O princípio acolhido pelo direito positivo é o de que a

indenização deve abranger qualquer modalidade de dano, pouco

importando a dificuldade em sua estimativa, a índole dos interesses afetados

ou a qualidade material ou imaterial dos seus efeitos.

Rompendo o silêncio das Cartas anteriores, a atual Constituição

da República garantiu a indenização até mesmo do dano simplesmente moral

(art. 5º, inciso V).

Na realidade, se aos réus se impusesse, apenas, o cumprimento

da primitiva obrigação (restituir os valores dos ingressos), os consumidores não

seriam postos na situação em que estariam caso inexistisse defeito no

fornecimento do serviço. Só se pode restaurar, na plenitude, o direito vulnerado

(restitutio in integrum), promovendo-se a compensação em pecúnia dos danos

não materiais.

Ademais, a doutrina aponta como objetivo da indenização por

dano moral o caráter satisfativo-punitivo. Pois, a paga em pecúnia deverá

proporcionar ao ofendido uma satisfação, sensação de compensação pelo

desconforto e contrariedades que o dano causa. Em contrapartida, deverá

também a indenização servir como punição ao ofensor, causador do dano,

incutindo-lhe um impacto tal, suficiente para dissuadi-lo de um novo atentado.

*8e) – DA ANTECIPAÇÃO DA TUTELA

16

Page 17: Ao Civil Zeca Final

O sistema processual brasileira autoriza a antecipação dos efeitos

da tutela de mérito (art. 273 do CPC), com finalidade de assegurar o resultado

prático do processo, muitas vezes obstaculizado pelas intermináveis demandas

probatórias.

A antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional se destina a

atender situações em que não se pode esperar o término do processo, sob

pena de causar um dano irreparável ou de difícil reparação. Por ela, o julgador

“empresta” a eficácia do provimento jurisdicional final, exercendo força

executiva provisória a fim de evitar o dano porventura ocasionado pela demora

da medida.

No caso sob análise, deve ser deferida a tutela antecipada a fim

de evitar o perecimento de direito fundamental do consumidor de não ser

ludibriado em sua boa-fé, o qual foi frustrado, no primeiro momento, da não

realização do show; em seguida e até presente data, a atitude dos prestadores

do serviço, a qual se consubstancia num renitente menosprezo a supremacia

do direito do consumidor, os quais se mantêm negligentes no dever de sua

devolução.

De outro ângulo, muita discussão se travou na doutrina e na

jurisprudência acerca da natureza jurídica da antecipação da tutela

jurisdicional. Enquanto uns a entendiam como a antecipação dos próprios

efeitos da tutela jurisdicional, outros a confundiam, lamentavelmente, com a

medida de natureza cautelar, que visa garantir a eficácia do provimento final.

Enfim, a tutela antecipada trata de conceito que não se confunde com o da

tutela cautelar, apesar da enorme quantidade de pontos comuns entre ambas.

Para minimizar esse conflito o legislador acrescentou o parágrafo

7º ao art. 273 do CPC. Senão vejamos:

“Art. 273. O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total

ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial,

17

Page 18: Ao Civil Zeca Final

desde que, existindo prova inequívoca, se convença da

verossimilhança da alegação e:

I - haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação;

II- fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto

propósito protelatório do réu.

$ 7º Se o autor, a título de antecipação de tutela, requerer

providência de natureza cautelar, poderá o juiz, quando presentes

os respectivos pressupostos, deferir a medida cautelar em caráter

incidental do processo ajuizado (Parágrafo acrescentado pela Lei

nº 10.444, de 07.05.2002, DOU 08.05.2002).

Segundo a advogada mineira Patrícia Eleutério Campos, houve

uma “consagração da fungibilidade entre a antecipação da tutela e as medidas

cautelares”.

Extrai-se do artigo intitulado – ANTECIPAÇÃO DE TUTELA E

MEDIDA CAUTELAR: FUNGIBILIDADE ENTRE AS MEDIDAS – INOVAÇÃO

TRAZIDA PELA LEI Nº 10.444/2002 – publicado na Revista Síntese Trabalhista

nº 169 – JUL/2003, pág. 52, o seguinte:

“Sinteticamente, tem-se que a tutela antecipada visa ao

adiantamento dos efeitos que seriam obtidos com o futuro

provimento jurisdicional, enquanto que a tutela cautelar tem por

escopo assegurar a eficácia do provimento jurisdicional que se

pretende. Em sendo assim, nota-se que a cognição do juiz para

conceder a tutela antecipada há de ser mais profunda do que a

cognição necessária para deferir a tutela cautelar (em razão dos

respectivos efeitos de tais medidas).

(...)

Nota-se que houve a consagração da fungibilidade entre a

antecipação de tutela e as medidas cautelares. Evidencia-se, pois,

que tais medidas estão estritamente ligadas entre si, justamente

em razão de suas finalidades. Ora, se é admitida a fungibilidade,

resta claro que deve-se aplicar subsidiariamente às demais tutelas

de urgência, sempre que possível, as regras do Livro III, relativas à

tutela cautelar. Entende-se, portanto, que o referido $ 7º deve ser

18

Page 19: Ao Civil Zeca Final

interpretado extensivamente, com base na Teoria da

Substanciação, consagrada por nosso ordenamento jurídico (os

fatos narrados é que vão vincular a atuação do juiz).

Assim, também quando requerida uma medida cautelar, o juiz

deferirá a antecipação da tutela, desde que satisfeitos os

pressupostos legais exigidos. Por outro lado, também deve ser

aplicada a fungibilidade às medidas cautelares entre si. A título de

exemplo, se o autor requerer erroneamente o seqüestro, o juiz

estará autorizado a conceder o arresto, desde que presentes os

pressupostos para o deferimento desta última medida.

Por fim, infere-se que apesar de existirem, tecnicamente,

diferenças entre as tutelas cautelar e antecipada, pouca relevância

há em diferençar tais institutos, importa é a demonstração da

urgência (fumus boni iuris e o periculum in mora), de forma a garantir

que a prestação jurisdicional seja efetiva. Busca-se um processo

civil de resultados. Grifei.

Observe que há fundado receio de dano irreparável ou de difícil

reparação, até porque, repita-se, os réus se mantêm resistentes a acatarem os

princípios consumeristas. As produtoras Duluili e LADO B, considerando o

I.C.V.P. culpado pela não realização do evento, propõem ao MPPE o

arquivamento do inquérito civil; este, por sua vez, ao imputar a

responsabilidade ao cantor Zeca Pagodinho, pede que se aguarde a

procedência da ação de indenização de danos proposta na cidade do Rio de

Janeiro, quando então, obteria condições financeiras suficientes para acobertar

o prejuízo dos consumidores, fls. MPPE .328 c/c 373.

Assim, acaso Vossa Excelência não conceda as medidas

cautelares, esse dano de difícil reparação se acentuará, porquanto, os

princípios da boa-fé e da efetiva reparação do dano, preconizados pelas

normas consumeristas, continuarão sendo violados.

Outrossim, encontra-se nos autos do inquérito civil anexo, prova

inequívoca da alegação, consubstanciada nos documentos requisitados e

19

Page 20: Ao Civil Zeca Final

declarações prestadas pelos réus, que evidenciam a conduta ilícita dos

promovidos e que explicitam a existência de prática abusiva.

Visualizada, ainda, a verossimilhança das alegações, bem como

comprovado o receio de dano irreparável ou de difícil reparação, a tutela

antecipatória apresenta-se como medida necessária, consistindo no

reconhecimento do abuso de direito dos réus.

Essa providência constitui-se de fundamental importância, pois,

caso não concedida, poderá ser inócuo o efeito da sentença de mérito, ante a

irreversibilidade do dano causado aos consumidores.

III – DOS PEDIDOS

Desta forma, REQUER o Ministério Público:

a) o recebimento e processamento da presente ação coletiva, sob o rito

próprio estabelecido na legislação em vigor (art. 91 e seguintes da Lei nº

8.078/90);

b) o DEFERIMENTO das seguintes medidas de natureza cautelar,

inaudita altera pars, em sede de antecipação da tutela (intel. Do art. 273,

parágrafo 7º):

1. Bloqueio de quantia equivalente ao valor dos ingressos

vendidos e orçados, em sede de inquérito civil, em R$ 123.240,00

(cento e vinte e três mil duzentos e quarenta reais), através do

Sistema BACEN-JUD, nas contas correntes, poupança ou outro

qualquer investimento financeiro dos réus Instituto Cultural

Vicente Pinzón, Duluili Produções e Eventos Artísticos Ltda e

LADO B Produções Artísticas e Projetos Culturais Ltda;

2. Na impossibilidade de aplicação do sistema financeiro supra

mencionado, que V.Exa. intime o Banco Central do Brasil, sito

20

Page 21: Ao Civil Zeca Final

Rua da Aurora, nº 1259, Recife-PE, para informar a esse r. juízo

quais instituições financeiras bem como nºs de contas correntes,

poupança e investimento que os réus mantêm no país; de posse

dessas informações, de já requer o Ministério Público, que V.Exa.

determine a cada instituição financeira o bloqueio de quantias

suficientes a acobertar o valor ora pleiteado;

3. Inexistindo lastro financeiro suficiente à complementação do

valor, que V.Exa. desconsidere a personalidade jurídica dos

réus, fazendo incidir a medida cautelar, ora requerida, nos

diretores e sócios administradores, preambularmente

qualificados;

4. mantendo-se a não complementação total, que o bloqueio recaia

também sobre o apurado das vendas de CDs e DVDs do

cantor e sócio da Duluili Produções e Eventos Artísticos Ltda, Sr.

Jessé Gomes da Silva Filho, Zeca Pagodinho, instando o

representante legal da produtora Universal Music, CNPJ

00.952.789/0001-80, Rio de Janeiro/RJ, para cumprimento da

medida ou que declare a V.Exa. quem assim é de direito obrigado

ao cumprimento da presente medida;

5. a título de reforço e sendo necessário à efetiva reparação dos

danos dos consumidores, que V.Exa. faça recair, também, o

bloqueio ora solicitado, num percentual a ser determinado por

esse r. juízo e incidente no cachê cobrado pelo artista Zeca

Pagodinho, em shows previstos no site

www.zecapagodinho.com.br. Após, efetuadas as retenções,

sejam as mesmas depositadas em conta específica do Banco do

Brasil S.A, à disposição desse juízo.

c) o DEFERIMENTO de antecipação da tutela, para que seja reconhecido

e provido o direito ao ressarcimento dos danos materiais e morais de

todos os consumidores, aqui compreendidos os que adquiriram o

ingresso a título gracioso, art. 17, CDC, condenando os demandados a

ressarci-los, na integra, os prejuízos e danos causados aos

21

Page 22: Ao Civil Zeca Final

consumidores, a ser feito individualmente para cada lesado que se

habilite;

d) face a uniformidade de dissabores e constrangimentos, que V.Exa. fixe,

de pronto, o valor a ser ressarcido a título de dano moral, posto

desnecessária liquidação por arbitramento;

e) a fixação de multa diária a ser cobrada solidariamente de qualquer um

dos demandados, em caso de descumprimento da medida antecipatória,

cujo valor se sugere de R$ 1.000,00 (hum mil reais);

f) meritoriamente, que sejam confirmadas as medidas cautelares e

tutelas antecipadas requestadas, donde se espera provimento;

g) a produção de prova por todos os meios permitidos em direito,

especialmente perícias, depoimento de testemunhas posteriormente

arroladas, juntada de documentos, depoimento pessoal dos réus, etc...;

h) a aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor no caso em tela,

com inversão do ônus da prova em favor dos consumidores;

i) a publicação de edital no órgão oficial, a fim de que os interessados

possam intervir no processo como litisconsortes, conforme preceitua o

art. 94 do CDC;

j) a citação dos promovidos para contestarem o pleito, sob pena de

revelia, no endereço mencionado no preâmbulo e na pessoa de seus

representantes legais, bem como a intimação para o cumprimento das

ordens liminares que se espera deferimento, sob pena de incidir nas

sanções da lei;

k) finalmente, a condenação genérica dos demandados, na forma dos

arts. 6º , inciso VI, e 95 do CDC, à obrigação de indenizar, da forma

mais ampla e completa possível, os danos materiais e morais causados

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aos consumidores individualmente considerados. Pelo descumprimento

da obrigação sejam condenados ao pena de pagamento de multa diária

cominatória no valor a ser determinado por V.Exa., a ser revertida ao

Fundo Estadual de Defesa do Consumidor.

Termos em que, pede deferimento.

Paulista-PE, 15 de abril de 2008

Maria Aparecida Barreto da Silva

Promotora de Justiça

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