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Apresentação do texto “A Volta por Cima” Prof. Marcelo Cernev UNESPAR Campus Paranavaí [email protected] Antropologia Antropologia – Prof. Marcelo Cernev Desde o início das nossas aulas, temos discutido a questão do Etnocentrismo. Ele tem servido como uma espécie de "fio condutor" para compreendermos o próprio desenvolvimento da Antropologia. Segundo Rocha, nos passos dados pela "ciência da diferença" é possível perceber uma "tentativa", quase um "compromisso" - o de "escapar" do etnocentrismo. Em outras palavras, escapar de uma percepção do "outro" centrada no próprio "eu". "A Volta por cima" Antropologia – Prof. Marcelo Cernev "A Volta por cima" Existem duas maneiras de lidar com a diferença: - "Conhecer" a diferença como uma ameaça a ser destruída. - "Conhecer" a diferença como alternativa a ser preservada. São duas "opções" ou possibilidades. A segunda opção traz uma grande contribuição ao "patrimônio de esperanças " da humanidade. Mas, por que as aspas ("")? Antropologia – Prof. Marcelo Cernev O etnocentrismo está estabelecido em sentimentos fortes como o reforço da identidade do "eu". Na sociedade ocidental o etnocentrismo se conjuga a elementos poderosos: - a lógica do progresso; - a ideologia da conquista; - o desejo da riqueza; - a crença num estilo de vida que exclui a diferença. Mas o que é a "diferença"? - É algo "generoso"; - É o contraste e a possibilidade de escolha; - É alternativa, chance, abertura, escolhas de existência. Antropologia – Prof. Marcelo Cernev O Paradoxo da Antropologia É um tipo de ciência, de reflexão, nascida e criada na sociedade do "eu". Porém, com vistas ao estudo das formas diversas com que os seres humanos assumiram sua existência na terra. Resultado ou consequência: Dificuldade de superar o etnocentrismo. Antropologia – Prof. Marcelo Cernev A importância do “Trabalho de Campo” Como vimos anteriormente, existem muitos preconceitos sobre as diferenças culturais. Estes estiveram presentes na própria Antropologia. Com o trabalho de campo o mundo do "outro" começou a ter presença na vida concreta dos antropólogos, como uma experiência da diversidade. Os dados obtidos pelo trabalho de campo podem transformar a teoria antropológica.

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Apresentação do texto “A Volta por

Cima”

Prof. Marcelo CernevUNESPAR Campus Paranavaí

[email protected]

Antropologia

Antropologia – Prof. Marcelo Cernev

Desde o início das nossas aulas, temos discutido a questão do Etnocentrismo.

Ele tem servido como uma espécie de "fio condutor" para compreendermos o próprio desenvolvimento da Antropologia.

Segundo Rocha, nos passos dados pela "ciência da diferença" é possível perceber uma "tentativa", quase um "compromisso" - o de "escapar" do etnocentrismo.

Em outras palavras, escapar de uma percepção do "outro" centrada no próprio "eu".

"A Volta por cima"

Antropologia – Prof. Marcelo Cernev

"A Volta por cima"

Existem duas maneiras de lidar com a diferença:

- "Conhecer" a diferença como uma ameaça a ser destruída.

- "Conhecer" a diferença como alternativa a ser preservada.

São duas "opções" ou possibilidades.

A segunda opção traz uma grande contribuição ao "patrimônio de esperanças" da humanidade.

Mas, por que as aspas ("")?

Antropologia – Prof. Marcelo Cernev

O etnocentrismo está estabelecido em sentimentos fortes como o reforço da identidade do "eu".

Na sociedade ocidental o etnocentrismo se conjuga a elementos poderosos:

- a lógica do progresso;- a ideologia da conquista;- o desejo da riqueza;- a crença num estilo de vida que exclui a diferença.

Mas o que é a "diferença"?

- É algo "generoso";

- É o contraste e a possibilidade de escolha;

- É alternativa, chance, abertura, escolhas de existência.

Antropologia – Prof. Marcelo Cernev

O Paradoxo da Antropologia

É um tipo de ciência, de reflexão, nascida e criada na sociedade do "eu".

Porém, com vistas ao estudo das formas diversas com que os seres humanos assumiram sua existência na terra.

Resultado ou consequência:

Dificuldade de superar o etnocentrismo.

Antropologia – Prof. Marcelo Cernev

A importância do “Trabalho de Campo”

Como vimos anteriormente, existem muitos preconceitos sobre as diferenças culturais.

Estes estiveram presentes na própria Antropologia.

Com o trabalho de campo o mundo do "outro" começou a ter presença na vida concreta dos antropólogos, como uma experiência da diversidade.

Os dados obtidos pelo trabalho de campo podem transformar a teoria antropológica.

Antropologia – Prof. Marcelo Cernev

Exemplo: "A Economia Tribal"

As sociedades tribais eram consideradas como tendo uma economia de "subsistência".

Eram consideradas como se estivessem lutando frente ao meio ecológico, utilizando seus poucos recursos técnicos para não morrer miseravelmente de fome.

Um antropólogo americano, Marshall Sahlins foi estudar a "economia tribal".

Em seu trabalho de campo ele observou que:

- nestas sociedades muito pouco tempo é dedicado às atividades econômicas (de 3 a 4 horas/dia), com muitas interrupções;

- apenas uma parte da população se empregava nestas tarefas;

- apesar das características acima, a produção era suficiente para satisfazer materialmente as necessidades do grupo.

Antropologia – Prof. Marcelo Cernev

Exemplo: "A Economia Tribal"

Conclusões de Marshall Sahlins:

- Uma máquina produtiva que dedicando-se tão pouco a esta tarefa se desincumbe dela, de forma tal que não falta nada para ninguém, está muito longe da imagem de uma economia de subsistência, sobrevivência ou miséria.

- Pelo contrário, esta economia permite a existência de uma economia de abundância.

- Para uma sociedade – a nossa – que tem o objetivo da acumulação sistemática, uma outra – a deles – que não pratica esta acumulação, seria necessariamente "pobre" e "miserável".

Perceber que as sociedades tribais não acumulam, não porque não podem, mas porque não querem, porque fizeram uma opção diferente, é perceber o “outro” na sua autonomia.

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Cultura e História

Em vários momentos da teoria antropológica houve uma exigência de "compatibilidade" entre os conceitos de cultura e de história.

A partir de Boas a cultura ganha certa autonomia em relação à história. Mas, ainda permaneceu "presa" a aspectos particulares que são considerados como determinantes.

A cultura é pensada como "moldada" pelo "ambiente", pelos "indivíduos" ou pela "linguagem".

o reducionismo na análise antropológica.

Isto ficou muito claro no evolucionismo antropológico.

Como se a "nossa" maneira de conceber o tempo – a história – fosse um modelo eficaz para o estudo de todas as formas de experiência humana – a cultura.

Se por um lado, houve um avanço em relação à história, surgiu um novo problema:

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Através do processo de relativização a Antropologia possibilitou pensar a sociedade do "outro" sem utilizar as categorias, noções e concepções da sociedade do "eu".

Relativização

Nesta busca de superar o etnocentrismo a antropologia teve que relativizar a própria concepção de tempo da sociedade ocidental.

Muitas culturas e sociedades ao redor do mundo não "acharam" a perspectiva histórica (nossa maneira de pensar o tempo) suficientemente interessante para adotá-la.

Para estas sociedades, o "tempo", sua passagem não é a cadeia onde se entrelaçam os acontecimentos.

- Nossa concepção de tempo não é absoluta.

- Nossa concepção de tempo não é universal.

Antropologia – Prof. Marcelo Cernev

As mudanças durante o desenvolvimento da Antropologia levaram-na a municiar-se de teorias, de métodos e até mesmo a uma redefinição do seu papel como ciência.

A profundidade das mudanças na Antropologia

Em "A Interpretação da Culturas", Clifford Geertz afirma que:

- Sua vocação é ser uma ciência, um "saber", um conhecimento ou uma "literatura" que não é das verdades absolutas, mas das interpretações relativas.

- A Antropologia não é uma ciência que busca leis gerais e constantes;

- A Antropologia é uma ciência interpretativa que busca apenas conhecer os significados que os seres humanos, tanto na sociedade do "eu" quanto na sociedade dos "outros" dão às formas pelas quais escolheram viver suas vidas;

Antropologia – Prof. Marcelo Cernev

Nesta perspectiva contemporânea da antropologia houve a necessidade de uma nova conceituação de cultura.

O que é cultura?

Certos autores trabalham com o conceito de cultura relacionando-a à ideia de um código.

A cultura pode ser vista também como uma teia onde o homem tece seus significados, vive dentro deles e está preso a eles.

Um código é uma espécie de "linguagem compartilhada", pela qual "falamos" uns com os outros, trocamos mensagens, utilizando símbolos de diferentes tipos.

A cultura pode ser vista como um texto de teatro que aprendemos e representamos, e os outros atores nos entendem, e conosco contracenam porque também conhecem o texto.

Antropologia – Prof. Marcelo Cernev

Cada cultura atribui significados, sentidos, destinos próprios, seja ao seu "tempo", seu "corpo", sua "morte", sua "sexualidade" etc.

O que é cultura?

A cultura fala da existência. Ela simboliza esta existência segundo as regras de seu jogo.

Elas são "versões da vida", são "teias", "imposições", "escolhas" de uma "política" dos significados que orientam e constroem nossas alternativas de "ser" e de "estar" no mundo.

Trata-se de um sistema de comunicação que dá sentido à nossa vida.

As culturas humanas constituem-se de conjuntos de verdades relativas aos atores sociais que nela aprenderam por que e como existir.

Antropologia – Prof. Marcelo Cernev

"A Volta por cima"

Neste contexto, qual é o trabalho, o "ofício" do antropólogo?

O "ofício" do antropólogo

- Captar as lógicas e práticas através das quais todos nós atualizamos os códigos de nossas culturas;

Suas tarefas são:

- Interpretar este fluxo do discurso social;

- Conhecer as diferentes realidades confeccionadas pelo homem;

- Registrar as alternativas existenciais através das quais a humanidade se move.

Antropologia – Prof. Marcelo Cernev

"A Volta por cima"

O que é a Antropologia?

A Antropologia e o "mundo"

"A Antropologia é uma pequena ilha num oceano de pensamentos e práticas sociais marcadamente etnocêntricas."

"Nas relações internacionais, interétnicas, nos costumes políticos, na indústria cultural, sua exploração econômica e até mesmo na observação do comportamento do nosso vizinho muito pouco se relativiza."

Referências

ROCHA, E. G. O Que é etnocentrismo. 5. ed. São Paulo, Brasiliense, 1988. Coleção Primeiros Passos.