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CENTRO UNIVERSITÁRIO FILADÉLFIA

ENTIDADE MANTENEDORA:INSTITUTO FILADÉLFIA DE LONDRINA

Diretoria:Sra. Ana Maria Moraes Gomes ................................. PresidenteSr. Claudinei João Pelisson ....................................... Vice-PresidenteSra. Edna Virginia Castilho Monteiro de Mello ....... SecretáriaSr. José Severino ....................................................... TesoureiroDr. Osni Ferreira (Rev.) ............................................ ChancelerDr. Eleazar Ferreira .................................................. Reitor

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R349 Revista Terra e Cultura: cadernos de ensino e pesquisa, v.1, n.1, jul./ dez., 1985. - Londrina: Unifil, 1985. Semestral Revista da Unifil – Centro Universitário Filadélfia. ISSN 0104-8112

1. Educação superior – periódicos. I. Unifil – Centro Universitário Filadélfia CDD 378.05

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CENTRO UNIVERSITÁRIO FILADÉLFIA

REITOR Dr. Eleazar Ferreira

PRÓ-REITOR DE ENSINO DE GRADUAÇÃO Prof.º Ms. Lupercio Fuganti Luppi

COORDENADORA DE CONTROLE ACADÊMICO Esp. Alexsandra Pires Lucinger

COORDENADOR DE AÇÃO ACADÊMICA Prof.º Ms. Lupercio Fuganti Luppi

PRÓ-REITORA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃOProfª. Dra. Damares Tomasin Biazin

PRÓ-REITOR DE EXTENSÃO E ASSUNTOS COMUNITÁRIOSProf.º Dr. Mario Antônio da Silva

COORDENADORA DE PROJETOS ESPECIAIS E ASSESSORA DO REITOR Josseane Mazzari Gabriel

COORDENADOR DE EXTENSÃO E ASSUNTOS COMUNITÁRIOS Prof.º Dr. Fernando Pereira dos Santos

COORDENADORA GERAL DA UNIFIL VIRTUAL Prof. Esp. Ilvili Andréa Werner

COORDENADOR DE PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS E COORDENADOR GERAL ACADÊMICO DA UNIFIL VIRTUALProf. Dr. Leandro Henrique Magalhães

Coordenadores de Cursos de Graduação

Administração Prof.ª Esp. Denise Dias SantanaAgronomia Prof.º Dr.Fabio Suano de Souza Arquitetura e Urbanismo Prof.º Ms. Ivan Prado Junior Biomedicina Prof.ª Ms.Karina de Almeida Gualtieri Ciências Biológicas Prof.º Dr. João Antônio Cyrino Zequi Ciência da Computação Prof.º Ms.Sergio Akio Tanaka Ciências Contábeis Prof.º Ms. Eduardo Nascimento da Costa Direito Prof.º Dr. Osmar Vieira Educação Física Prof.ª Ms. Joana Elisabete Guedes Enfermagem Prof.ª Ms. Rosângela Galindo de Campos Engenharia Civil Prof.º Ms. Paulo Adeildo Lopes Estética e Cosmética Prof.ª Esp. Mylena C. Dornellas da Costa Farmácia Prof.ª Dra.Gabriela Gonçalves de Oliveira Fisioterapia Prof.º Ms. Fernando Kenji Nampo Gastronomia Prof.ª Esp. Cláudia Diana de Oliveira Hintz Gestão Ambiental Prof.º Dr. Tiago PelliniLogística Prof.º Esp. Pedro Antonio SemprebomMedicina Veterinária Prof.ª Ms. Maira Salomão Fortes Nutrição Prof.ª Ms. Elis Carolina de Souza FatelPedagogia Prof.ª Ms. Ana Cláudia Cerini Trevisan Psicologia Prof.ª Dra. Denise Hernandes Tinoco Sistema de Informação Prof.º Dr. Rodrigo SeabraTeologia Prof.º Dr. Mário Antônio da Silva

Rua Alagoas, nº 2.050 - CEP 86.020-430Fone: (43) 3375-7401 - Londrina - Paraná

www.unifil.br

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ISSN 0104-8112

TERRA E CULTURAAno XXVII – nº. 53 - Julho a Dezembro de 2011

CONSELHO EDITORIAL

PRESIDENTEProf. Dr. Leandro Henrique Magalhães

CONSELHEIROS

Conselho Editorial InternoProf.ª Ms. Ana Claudia Cerini TrevisanProfª. Drª. Damares Tomasin BiazinProf.ª Drª. Denise Hernandes TinocoProfª. Ms. Elen Gongora MoreiraProf.º Dr. Fernando Pereira dos SantosProf.º Dr. João Antonio ZequiProf.º Dr. João JulianiProf.º Ms.José Antônio BaltazarProf. ª Ms. Karina de Toledo AraújoProf.º Ms. Marcelo Caetano de Cernev RosaProf.º Ms. Marcos Roberto GarciaProf.ª Ms. Maria Eduvirge MarandolaProf.ª Drª. Miriam Ribeiro Alves MaiolaProf.ª Drª. Mirian Cristina MarettiProf.º Ms. Patricia Martins C. BrancoProf.º Ms. Sérgio Akio TanakaProf.ª Drª. Selma Frossard CostaProf.ª Ms. Silvia do Carmo Pattarelli Fachinelli

Conselho Editorial ExternoProf.º Ms. Adalberto Brandalize

Prof.ª Ms. Angela Maria de Souza LimaProf.º Ms. Eduardo Meinberg de Albuquerque

Maranhão Fo.Prof.ª Drª. Gislayne Fernandes L. Trindade

Vilas BoasProf. Ms. José Augusto Alves Netto

Prof.º Dr. José Miguel Arias NetoProf.º Dr. Laurival Antonio Vilas Boas

Prof.º Ms. Maria Elisa PachecoProf.ª Ms. Patricia Queiroz

Prof.º Ms. Pedro Lanaro FilhoProf.º Dr. Rovilson José da Silva

Prof.ª Ms. Silvia Helena Carvalho

REVISORESThiago Tomasin Biazin

Profª. Esmera Fatel Aureliano Rossi

SECRETARIAMarinês Rodrigues Ferreira Matsumoto

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EDITORIAL

Estamos colocando a público a edição 53 da Revista Terra e Cultura: Cadernos de Ensino e Pesquisa. Com isto, mantemos a periodicidade da revista, já tradicional na instituição, que completou em 2011 vinte e sete anos. O objetivo do periódico é constituir-se como espaço de disseminação de conhecimento, publicando artigos de professores e pesquisadores da UniFil e de diversas instituições do país. Nesta, contamos com colaborações da UniFil, FAP, UNESP, FEA/USP, Faculdade Luis Meneghel, Faculdade Estácio de Sá e UEL. Mantemos ainda um corpo editorial ativo, tanto interno como externo, que visa garantir a qualidade do material publicado.

Além da edição impressa, a Revista Terra e Cultura está também disponível para download gratuito no site da UniFil (www.unifil.br), no ícone publicações. Além deste, estão disponíveis ainda a Revista Jurídica, a Revista Eletrônica de Educação e a Revista Eletrônica de Ciências Empresariais, além de anais de eventos e livros publicados pela Editora UniFil.

Publicamos, na edição 53, artigos vinculados a três núcleos do conhecimento: o Núcleo de Ciências Biológicas e da Saúde, o Núcleo de Ciências Humanas e Sociais e o Núcleo de Ciências Sociais Aplicadas, com discussões que vão da Gestão de Resíduos Sólidos a uma reflexão a respeito do adolescente infrator. Espero que aproveitem a leitura. Informo ainda que estamos recebendo artigos para as próximas edições. Caso tenham interesse, as normas para publicação estão ao final deste.

Boa Leitura

Prof. Dr. Leandro Henrique MagalhãesPresidente do Conselho Editorial

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SUMÁRIO

NÚCLEO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE - NCBS

GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS: UMA ABORDAGEM PRÁTICA NO ENSINO PÚBLICO .................................................................................................................... 11 Cynthia Aparecida Leal Boiça

CIRURGIA BARIÁTRICA PARA O PÓS-OPERATÓRIO: IMPORTÂNCIA DO ACOMPANHAMENTO NUTRICIONAL ................................................................................. 21 Thaysa Marques Sotti, Elis Carolina Fatel

AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL E DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR DE BAILARINAS DE UMA ESCOLA PARTICULAR DO CENTRO DE LONDRINA – PR. ............................................................................................................................... 35 Nayara Rampazzo Morelli, Graziela Maria Gorla Campiolo dos Santos

EFEITOS DA RESTRIÇÃO ALIMENTAR, PELO MÉTODO DE MEAL-FEEDING, E DA SUPLEMENTAÇÃO DE SEMENTE DE LINHAÇA (LINUM USITATISSIMUM) NO CÂNCER DE COLORRETAL DE CAMUNDONGOS Swiss. ................................................................... 51 Rita de Cássia Pereira da Silva, Mariana Garcia Perez, Paula Thaissa Zaninetti, Denise dos Santos Escobar, Juliana Ferreira Varjão, Carla Kobbi Pedroso, Sara Monalisa Alencar Limeiras, Stephanie Dynczuki Navarro, Mariana de Oliveira Mauro, Priscila Lumi Ishii, Rodrigo Juliano Oliveira

ANÁLISE FÍSICO-QUÍMICA DA ÁGUA DO CÓRREGO JAPIRA, LOCALIZADO NA CIDADE DE APUCARANA-PR ................................................................................................ 67 Nayara Sotti Galdino, Rosana Betazza Trombini

PRONTUÁRIO ELETRÔNICO NA SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM ......................................................................................................................... 77 Roberto Tavares, Prof.ª Regina Fukuda, Prof.ª Dra. Damares T. Biazin

NÚCLEO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS - NCHS E NÚCLEO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS - NCSA

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: UMA RELAÇÃO ENTRE PARADIGMAS, METANARRATIVAS, PONTOS DE INTERSEÇÃO E SEGMENTAÇÕES TEÓRICAS........................................................ 87Luciano Munck, Mariana Gomes Musetti Munck, Rafael Borim de Souza

GESTÃO DE CUSTOS: UM INSTRUMENTO DE ESTRATÉGIA COMPETITIVA PARA A EMPRESA................................................................................................................................. 103Eliane Silva Fortunato de Palma, Cristiane Ap. J. dos Reis da Silva, Lucineide Ap. da Silva Alves, Douglas Francisco da Silva, Luís Marcelo Martins

TOTALITARISMO E LITERATURA: A DISTOPIA DE GEORGE ORWELL EM 1984.................113Luana R. F. Alcântara

A POLÍTICA DE BEM-ESTAR SOCIAL NO BRASIL CONTEMPORÂNEO.......................129Agnaldo Kupper

ADOLESCÊNCIA: UMA RESPOSTA A DEMANDA SOCIAL...............................................135Silvia do Carmo Pattarelli, Fabrício Ramos de Oliveira

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NÚCLEO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE - NCBS

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Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos: Uma Abordagem Prática no Ensino Público

GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS: UMA ABORDAGEM PRÁTICA NO ENSINO PÚBLICO

URBAN SOLID WASTE MANAGEMENT: AN APPROACH TO PUBLIC EDUCATION

Cynthia Aparecida Leal Boiça 1*

RESUMO:A produção de resíduos é inevitável e inexorável. Nos últimos tempos, a sociedade capitalista tem contribuído para o aumento da poluição em função do consumo exagerado de produtos industrializados e alguns potencialmente tóxicos que ao serem descartados, acumulam-se no ambiente, causando danos ao planeta e à própria existência humana. O objetivo desta pesquisa é conscientizar os leitores deste trabalho, enquanto geradores de resíduos sólidos urbanos, sobre o compromisso individual quanto ao descarte final destes. A metodologia utilizada foi pesquisa quantitativa, transversal, com proposta de ações voltadas à educação ambiental no ensino fundamental e médio. Conclui-se que a transmissão da informação sobre RSU, processo de conscientização, apresenta resultados positivos que devem estar associados a ações práticas no cotidiano desses alunos. Quanto à gestão, processo amplo de ações individuais e públicas, ainda necessita de maiores discussões destacando o papel das instituições de ensino como formadoras de valores e condutas do cidadão.

PALAVRAS CHAVE: resíduos, gestão, educação.

ABSTRACT:The production of residues is inevitable and inexorable. In the last times, a capitalist society has contributed to increased pollution in reason of exaggerated consumption of manufactured goods and that some potentially toxic when discarded, accumulate in the environment, causing damage to the planet and human existence itself. The purpose of this research is to make readers of this work, as generators of urban solid residues on individual commitment on the final disposal of these. The methodology used was quantitative research, transverse, with proposed actions aimed at environmental education in elementary and high school. It follows that the transmission of information about urban solid residues, process awareness, presents positive results that should be associated with actions in the daily practices of these students. As for management, an ample process of individual and public actions still needs more discussion emphasizing the role of educational institutions and training in values and behavior of citizens.

KEYWORDS: residues, management, education.

INTRODUÇÃONos últimos tempos, a sociedade capitalista tem poluído o ambiente pelo consumo

exagerado de produtos industrializados e alguns potencialmente tóxicos que ao serem descartados, acumulam-se no ambiente, causando danos ao planeta e à própria existência humana.

A partir da Revolução Industrial, as fábricas começaram a produzir objetos de consumo em larga escala e a introduzir novas embalagens no mercado, aumentando consideravelmente o volume e a diversidade de resíduos gerados, principalmente nas áreas urbanas.

Souza (2005) realça que com o crescimento industrial e sua expansão, o homem passou a

*Licenciatura em Ciências Biológicas, Especialista em Gestão, Planejamento e Auditoria Ambiental, Universidade Filadélfia de Londrina, Avenida Juscelino Kubitschek, 1652, CEP 86020-000, Londrina – PR

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Cynthia Aparecida Leal Boiça

conviver nos grandes centros e com isso expandiu as atividades tecnológicas para abrigar essa demanda.Diante disso passou-se a consumir mais necessitando de infra-estrutura para abrigá-

lo nesta sociedade. Como conseqüência desse crescimento, aliado com o desenvolvimento proporcionado pelas máquinas e motores, o homem negligenciou os danos sociais e ambientais que estava causando chegando a situações críticas como as observadas em alguns segmentos da sociedade e em alguns locais da Terra.

A produção rural exagerada, o crescimento desordenado dos grandes centros urbanos, entre outros, afetaram e continuam afetando diretamente os ecossistemas em todos os níveis tróficos, revertendo-se para a humanidade como o desequilíbrio do clima, do ciclo das chuvas, do aumento de temperatura, da proliferação de patógenos para saúde humana e animal, da desertificação de alguns biomas como conseqüência desse desenvolvimento insustentável.

Associado a todos esses fatos está a geração de diversos tipos de resíduos como os domiciliares, os industriais e os de serviços de saúde.

A lei 9.605/98 da Constituição Federal sobre crimes ambientais em seu artigo 225 diz que, é preciso que “Todos têm o direito ao Meio Ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (BRASIL, 1998).

Quanto aos resíduos, cada cidadão também é responsável pelo volume e quantidade que gera, mas, normalmente demonstra pouco interesse sobre destino final desses. O compromisso com consciência e ações voltadas às questões de preservação do ambiente aliado ao plano de gerenciamento de resíduos requer organização e sistematização.

Os resíduos são resultados da sobra de atividades da comunidade em geral, sejam industriais, domésticos, hospitalares, comerciais ou agrícolas. Podem apresentar-se nos estados, sólido, semi-sólido e líquido. A população, de um modo geral, está acostumada a associar esta palavra à sujeira, imundice e restos, muitas vezes classificando-os como lixo, palavra derivada do latim (lix cinza).

Atualmente existem várias formas disposição de RSU. Dentre essas se destacam três (aterros sanitários, reciclagem/compostagem e incineração).

Para Júnior Armando (2006, p. 1) “Os resíduos sólidos apresentam grande diversidade e complexidade. As suas características, físicas, químicas e biológicas variam de acordo com a fonte geradora”.

Segundo Schneider et al (2004), o processo de transformação industrial pelo qual passam as matérias-primas extraídas da natureza torna-se cada dia mais complexo pelo avanço da tecnologia, tornando muitas dessas transformações irreversíveis e comenta ainda que devido a essa visão errônea de caracterizar o resíduo, visto como algo desagradável, marginal e sujo é um fator cultural que precisa ser trabalhado, buscando uma nova imagem, no qual o lixo antes de ser realmente ser considerado lixo deve passar por um processo de segregação antes da disposição, conferindo ao resíduo valores sociais, econômicos e ecológicos. Segundo Júnior Armando (2006, p.1)

As características físicas dos resíduos podem ser associadas a vários impactos negativos ao meio físico como alteração da paisagem pela poluição visual, a liberação de maus odores ou substancias químicas voláteis pela decomposição dos resíduos. Ainda, materiais particulados podem ser dispersos pela ação do vento ou serem liberados juntos com gases tóxicos quando os resíduos são queimados, por exemplo, para facilitar a catação de materiais.

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Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos: Uma Abordagem Prática no Ensino Público

A conscientização de um olhar diferenciado no assunto geração e descarte final de resíduos sólidos é indispensável para minimização de contaminações do ar dos solos, das águas superficiais e subterrâneas e da saúde pública.

Com a geração dos mais diversos tipos de resíduos, muitas vezes dispostos inapropriadamente, o Brasil ocupa patamares abaixo dos níveis adequados em países desenvolvidos.

Segundo Andrade (1992), no ano de 1992 o Brasil apresentava um atraso de no mínimo, duas décadas em relação à apresentação de soluções exigidas para este grave problema.

O reuso e reciclagem vem como parte da solução para o impasse gerado pela disposição final inadequada dos resíduos, sendo necessário incentivo fiscal e implantação de políticas voltadas a processos de reciclagem que propiciem mercado e renda.

A Associação Brasileira de Normas e Técnicas – ABNT (ABNT 1997) define

(...) resíduos nos estados sólido e semi-sólido que resultam de atividade da comunidade de origem: industrial, doméstica hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Ficam incluídos nesta definição os lodosa provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública, bem exijam para isso soluções, técnica e economicamente, inviáveis em face à melhor tecnologia disponível (JUNIOR ARMANDO, 2006, p.2).

Para Faria (2002) Os resíduos sólidos são definidos como resto das atividades humanas, tendo sua classificação proveniente das mais diversas fontes geradoras.

De acordo com Velasquez (2002), a educação pode ser um dos únicos caminhos capaz de despertar essa percepção e preocupação com o ambiente a sua volta, e que o desenvolvimento deste olhar diferenciado e o compromisso de que se pode fazer um desenvolvimento em compatibilidade com os processos ecológicos existentes num determinado espaço e que eles de forma direta ou indireta também estão dando sua contribuição para esse crescimento da sociedade. A Educação Ambiental vem com a ênfase de se fazer incorporar no ensino e que pode intermediar essa ação de preocupação e preservação do meio ambiente aliada com o desenvolvimento necessário de uma nação, com ações emancipatórias e potencializadora.

Para Sawara (1999, p111) “O papel positivo das emoções na educação e na construção da conscientização, que deixa de ser visto como fator construtivo do pensar e agir racional”.

Conforme Barbosa (1998), todos aqueles que atuam no campo da educação seja lecionando, orientando, supervisionando, coordenando, terão de se apresentar formados para realizarem o ato educativo em toda sua complexidade em qualquer situação (...) o papel do educador, nesse caso, será sempre ampliar ao máximo o aproveitamento das oportunidades múltiplas e de intensidade infindáveis para que os sujeitos se tornem autores-cidadãos cada vez mais.

Para Ortega y Gassel, apud Brandão (1981, p. 82-83), complementam dizendo que “se a educação é transformação de uma realidade, de acordo com a idéia melhor que possuímos, e se a educação só pode ser de caráter social, resultará que a pedagogia é a ciência de transformar a sociedade”.

Neste contexto, o presente trabalho salienta a intensificação de tecnologias cada vez mais limpas no desenvolvimento de seus produtos pelas as indústrias minimizando-se assim o volume de seus resíduos, o desenvolvimento de plano de gerenciamento dos RSU pelo Poder Público, e o

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compromisso da sociedade como fiscalizadora e co-responsável como fonte geradora do destino final dos resíduos.

As discussões sobre gerenciamento de Resíduos Sólidos Urbanos quanto ao seu destino final faz-se de suma importância num momento de preocupação mundial com a preservação do meio ambiente.

Diante do exposto, têm-se como objetivo geral conscientizar os leitores desta pesquisa, enquanto geradores de RSU, sobre o compromisso individual quanto ao descarte final de resíduos sólidos urbanos.

E como objetivos específicos classificar os resíduos sólidos urbanos, avaliar seus impactos no meio ambiente, orientar e conscientizar, através de palestras, alguns alunos de Ensino Médio e Fundamental sobre a responsabilidade individual sobre a gestão de resíduos, avaliar o aprendizado dos alunos após a participação de palestra envolvendo o tema resíduo.

METODOLOGIA

Pesquisa quantitativa, transversal, com proposta de implantação de aços voltadas à educação ambiental no ensino fundamental e médio.

O local a ser desenvolvida a pesquisa será quatro colégios de Londrina-Pr, através de palestra sobre o tema da pesquisa em colégios, dois em periferia e dois em região central. O perfil das escolas é a nível médio e fundamental do ensino básico e com uma população de médio porte. Como critério para seleção foi feita uma amostra com 85 alunos por colégio em diferentes etapas dos níveis de ensino, num período de dois meses.

O instrumento da coleta dos dados será um questionário que antes tem como objetivo a obtenção de informação sobre o assunto e posterior será aplicado palestra informativa sobre RSU com o objetivo de conscientização e mudança no paradigma daquela população. A obtenção dos dados será feita pela autora da pesquisa, no período de outubro a dezembro de 2008.

A análise dos dados coletados será por estatística descritiva e os resultados serão apresentados em gráficos e questões discursivas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Questão 1: Quais ações individuais podem ser praticadas para diminuir a geração de resíduos?

De um universo de 85 alunos ficou claro que a grande maioria tem conhecimento da importância de reciclar, de diminuir o consumo, de segregar os resíduos nas residências e da implantação da coleta seletiva em todos os bairros do município. Nas respostas também fica claro que os alunos entendem a necessidade de mais conscientização para diminuir a geração de resíduos. Outro ponto importante para salientar foi a quantidade de questões deixadas em branco, que antes da palestra correspondia a 18% das respostas e após a palestra 8% ainda deixaram a questão em branco.

Questão 2: Que ações podem ser sugeridas para as autoridades para que a quantidade de lixo, atualmente lançadas nos aterros ou lixões, possa ser diminuída?

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Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos: Uma Abordagem Prática no Ensino Público

Depois17%

72%

11%

multas /c ons c ientiz aç ão/c riar leis

rec ic lagem/c ooperativas /c ompos tagem/c oleta s eletiva/c entro detriagem/reduz ir c ons umo/reaproveitamentodeixaram a ques tão em branc o

GRÁFICO: 1

Antes e após a palestra um grupo de entrevistados enfatizou que deveriam ser aplicadas multas para o cidadão que não gerenciasse de modo correto os resíduos gerados. A destinação dos resíduos através dos processos envolvidos nas etapas de coleta seletiva, compostagem, centro de triagem reciclagem, implantação de cooperativas e ações para redução do consumo também ficaram evidentes antes e após a palestra. Também nesta etapa foi considerável o processo de esclarecimento que proporcionou a redução do porcentual de questões deixadas em branco.

Questão 3: Cite 4 produtos, de seu conhecimento, gerados a partir de resíduos?O grupo de entrevistados nesta questão respondeu que no seu cotidiano havia muitos

produtos reciclados, mas, somente após a palestra atentaram para o verdadeiro objetivo da questão. Houve uma grande variedade de itens listados nas respostas. Dentre esses se destacaram: artesanato, vassoura, garrafa plástica, vidro, papel, brinquedo, outros objetos de plástico, latas de alumínio, sandálias, roupas, cartões, enfeites, sapatos, chinelos, cadernos, móveis, biodiesel,

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utensílios domésticos, adubo orgânico, asfalto e sabão. Para esta questão também houve uma satisfatória redução no número de questões deixadas em branco, que inicialmente eram 27% para 11% posteriormente a discussão do tema.

Questão 4: Você está disposto a adquirir ou mudar de hábitos em relação à quantidade de resíduos produzidos em sua residência?

Quando se pergunta aos alunos sobre os hábitos em relação à disposição final dos resíduos, muitos estão dispostos a mudá-los, mas, no cotidiano de grande parte dos entrevistados falta atitude e muitas vezes condições de estrutura para tais mudanças.

Questão 5 :Cite 04 exemplos de resíduos perigosos geradas nas residências.Antes da palestra observou-se o desconhecimento parcial dos entrevistados sobre os

exemplos de resíduos perigosos gerados em sua residência bem como o que seria um resíduo perigoso, pois, os entrevistados fizeram confusão na identificação dos mesmos. Após a palestra observou-se um resultado positivo em relação ao esclarecimento no sentido de identificar e classificar os resíduos perigosos.

Questão 6: Quanto aos resíduos perigosos, em sua casa, como é feito o descarte?

Antes

29%

42%

29%

embrulho no jornal/lixoc omum/s egregaç ão

rec ic lagem/c oleta s eletiva

deixaram a ques tão embranc o

Depois

33%

52%

15%

embrulho no jornal/lixoc omum/s egregaç ão

rec ic lagem/c oleta s eletiva

deixaram a ques tão embranc o

GRÁFICO: 2

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Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos: Uma Abordagem Prática no Ensino Público

Como se observa pelo gráfi co, a maioria descarta em lixo comum ou encaminham para a reciclagem. Após a discussão de alternativas para este descarte, os alunos entendem que o assunto exige mais esclarecimentos principalmente quanto à possibilidade de segregação dos resíduos perigosos. Outros ainda continuam a entender que a reciclagem como destino fi nal é ideal para os resíduos perigosos. Houve também, como esperado, redução das questões deixadas em branco. Nesta questão fi ca evidente que a reciclagem é a destinação indicada, que de uma forma geral pode não ser indicada, porém mostra que mais esclarecimentos são necessários quanto à coleta seletiva, pois, os resíduos perigosos não podem estar sendo descartados junto com os outros resíduos passiveis de reciclagem.

Questão 7: Provavelmente você já teve um animal de estimação. Quando o animal morreu você:

Os animais domésticos constituem também um tipo de resíduos que pode ser perigoso em função de doenças associadas à sua morte. Quando se pergunta a estes alunos, a maioria moradores de residências térreas, cerca de 70% afi rmam que enterram seus animais em terrenos baldios. Provavelmente essa resposta seria diferente para os moradores de apartamentos que possivelmente jogariam no lixo comum ou deixariam que as clínicas ou no hospital veterinário providenciassem o descarte.

Questão 8: Qual é sua sugestão para descarte de animais mortos.

GRÁFICO 3

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Após a palestra, a ação de enterrar ainda se sobressai entre as outras possibilidades, sendo óbvia essa forma de destinação uma vez que o município não dispõe de um local apropriado como crematório ou cemitério para animais.

A questão final vem a salientar mais o que se discutiu na questão anterior, e de uma forma geral todos enfatizam a necessidade do Município em construir um cemitério de animais ou um crematório.

Diante do trabalho exposto nota-se que a gestão dos resíduos sólidos urbanos, consiste na integração de diversas ações e mudanças de postura de todos os envolvidos. Avaliando as respostas dos questionários antes e após a apresentação de palestras aos alunos de Ensino Fundamental e Médio de algumas escolas públicas, onde foi desenvolvido o trabalho, nota-se que a transmissão da informação conscientizando os mesmos traz, como esperado, resultados positivos que devem estar associados a ações práticas no seu cotidiano. Ações como esta devem ser promovidas pelas instituições de ensino, pois, estas contribuem para formação de cidadãos no amplo sentido. Quanto ao gerenciamento de resíduos fica claro que jogar um papel no chão ou colar um chiclete embaixo da carteira são ações que devem ser repugnadas, evitados e desprezadas como resultado da ação modificadora da educação em todos os níveis.

CONCLUSÃO

Com o crescimento acentuado dos resíduos em escala mundial, surge necessidade da busca de soluções para reduzir a sua geração e evitar, conseqüentemente, a degradação ambiental e seus efeitos adversos à população. A prevenção da poluição surge como uma mudança fundamental nas relações entre as atividades humanas e o meio ambiente. Diante desse aspecto, na presente pesquisa fez-se uma breve revisão da literatura, destacando temas essenciais para o esclarecimento sobre resíduos sólidos urbanos como, classificação, tipos de resíduos, perspectivas atuais da situação no âmbito nacional de sua disposição, destacou-se também os resíduos dos serviços de saúde que possui uma classificação e destinação especial. As formas de tratamento dos RSU foram salientadas e, por conseguinte ainda, a importância da conscientização como eixo norteador para o gerenciamento deste e de outros resíduos.

Dentro deste contexto foi realizado um trabalho prático na orientação e conscientização de um grupo de alunos do Ensino Fundamental e Médio, de escolas de ensino público, sobre a importância e o seu papel na gestão dos resíduos sólidos urbanos.

Pode-se concluir que a conscientização no aspecto do descarte de resíduos sólidos urbanos ainda necessita-se de maiores discussões e que também ações práticas sejam desenvolvidas nas instituições de ensino, uma vez que estas atuam na formação de valores e condutas do cidadão, para que o sucesso seja almejado e que esses alunos agora sejam disseminadores de atitudes e que possam introduzir e aplicar, instrumentos e medidas para a minimização e redução dos resíduos sólidos urbanos na sua residência e conseqüentemente na sua comunidade.

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Cirurgia Bariátrica para o Pós-operatório: Importância do Acompanhamento Nutricional

CIRURGIA BARIÁTRICA PARA O PÓS-OPERATÓRIO: IMPORTÂNCIA DO ACOMPANHAMENTO NUTRICIONAL

BARIATRIC SURGERY FOR THE POSTOPERATIVE PERIOD: NUTRITIONAL IMPORTANCE OF MONITORING

Thaysa Marques Sotti1* Elis Carolina de Souza Fatel2**

RESUMO:Nos dias de hoje a obesidade é apontada como grave problema de saúde pública, portanto constata-se maior prevalência na população mundial, sendo que este fato pode ser decorrente de maior sedentarismo e de estilos de vida da sociedade moderna. Indivíduos com obesidade mórbida apresentam uma maior dificuldade para a perda de peso. Observando esse fator a cirurgia bariátrica acaba sendo a melhor opção para o tratamento da obesidade, apresentando resultados mais rápidos e duradouros. O nutricionista tem a função de garantir a manutenção da perda de peso com saúde, por meio do acompanhamento pessoal e ininterrupto. Este trabalho tem como objetivo elaborar um manual com caráter educativo sobre cirurgia bariátrica, para nutricionistas, médicos e enfermeiros. O estudo tem como método a revisão bibliográfica, através do qual será desenvolvido o manual educativo abordando temas como: transição nutricional, doenças não transmissíveis, prevalência da obesidade na população, obesidade mórbida, cirurgia bariátrica, indicações e contra indicações no tratamento cirúrgico, intervenção nutricional no pré e pós-operatório e efeitos colaterais no pós-operatório da cirurgia bariátrica. Conclui-se que os pacientes submetidos á cirurgia bariátrica tem uma maior disponibilidade de desenvolver algumas alterações nutricionais. Desta forma o acompanhamento nutricional é indispesnsavel, pois o paciente poderá evitar alguns complicações desnecessária se houver a suplementação correta e a alimentação balanceada.

PALAVRAS CHAVE: obesidade, cirurgia bariátrica, nutrição.

ABSTRACT:In the days today the obesity is pointed as serious problem of public health, therefore larger prevalence is verified in the world population, and this fact can be due to larger sedentary and of lifestyles of the modern society. Individuals with morbid obesity present a larger difficulty for the weight loss. Observing that factor the surgery bariatric ends up being the best option for the treatment of the obesity, presenting faster and durable results. The nutritionist has the function of guaranteeing the maintenance of the weight loss with health, through the personal and uninterrupted accompaniment. This work has as objective elaborates a manual with educational character on surgery bariatric, for nutritionists, doctors and male nurses. The study has as method the bibliographical revision, through which the educational manual will be developed approaching themes as: transition nutritional, diseases non transmissible, prevalence of the obesity in the population, morbid obesity, surgery bariatric, indications and against indications in the surgical treatment, intervention nutritional in the pre and postoperative and collateral effects in the postoperative of the surgery bariatric. Conclude that the patients submitted á surgery bariatric have a larger readiness of developing some alterations nutrition. This way the accompaniment

*Acadêmica do curso de Nutrição da Faculdade de Apucarana – FAP – Apucarana, Pr.** Docente do curso de Nutrição da FAP. (Orientadora da revisão bibliográfica)

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Thaysa Marques Sotti, Elis Carolina de Souza Fatel

nutritional is indispensable, because the patient can avoid some unnecessary complications if there are the correct supplement and the balanced feeding.

KEY-WORDS: obesity, surgery bariatric, nutrition.

1. INTRODUÇÃO

Os padrões nutricionais sofrem alterações a cada século, sendo resultado das mudanças na dieta dos indivíduos. O Brasil, apesar de seu considerável desenvolvimento econômico, científico e tecnológico, encontra-se entre os países de maior ocorrência de casos de deficiência nutricional. Ao longo dos anos a prevalência de desnutrição está decrescente em todas as regiões do país, por outro lado a obesidade vem crescendo acentuadamente.

Atualmente a ocorrência de sobrepeso e obesidade é considerada grande problema de saúde pública. A obesidade assumiu enormes proporções em países desenvolvidos no século XX, atingindo todos os níveis sócio-econômicos.

Nos dias atuais, vários tratamentos para a obesidade mórbida estão disponíveis, os quais podemos citar: os tratamentos não-medicamentosos, medicamentosos, tratamentos cirúrgicos, dentre outros.

O tratamento cirúrgico é utilizado em pacientes que se encontram em grau de obesidade mórbida, sendo realizado quando o tratamento convencional não surte efeito, ou quando o paciente apresenta graves complicações médicas

O acompanhamento nutricional do paciente bariátrico deve se iniciar antes da cirurgia devido aos desequilíbrios nutricionais que o mesmo possa apresentar. Já no pós-operatório o paciente deve ser acompanhado para evitar possíveis efeitos colaterais, deficiências nutricionais e possíveis transtornos alimentares.

2. DESENVOLVIMENTO

2.1. Obesidade Mórbida

Ao longo dos últimos anos, a quantidade de obesos aumentou acentuadamente, tornando-se um problema de saúde mundial. (DELL’ AQUA, 2007)

A obesidade mórbida é uma doença crônica, multifatorial e geneticamente relacionada a um acúmulo excessivo de gordura corporal, sendo considerada desta forma em índices acima do IMC 40. (FERRAZ et al, 2003 apud AMERICAN SOCIETY OF BARIATRIC SURGERY) O excesso de peso corporal pode ser estimado por diferentes métodos ou técnicas, como pregas cutâneas, relação cintura-quadril, ultra-som, ressonância magnética, entre outras. (VELÁSQUEZ et al., 2007) Estudos relatam que existem dois diferentes tipos de obesidade: a ginecóide, na qual a gordura localiza-se primariamente nos quadris, nádegas e cintura, e a andróide na qual o tecido adiposo localiza-se predominantemente no tronco, sendo considerada com maiores riscos a saúde. (BRAGA et al, 1999 apud SHENKMAN,1993)

Há uma variação de pessoa a pessoa em relação aos fatores que levam um indivíduo ao balanço energético positivo, porém os fatores ambientais interagindo com os genéticos, podem levar a um ganho de peso em indivíduos suscetíveis (VILLARES, 2002). Sendo assim, os genes envolvidos no ganho de peso aumentam a suscetibilidade de um indivíduo desenvolver obesidade, quando exposto a um ambiente adverso. (OMS, 2004)

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Os fatores ambientais estão inteiramente relacionados com o aumento da ingestão alimentar e o estilo de vida sedentário (QUILICI & SOEIRO, 2005). Atualmente considera-se que o padrão de consumo alimentar consiste na excessiva ingestão de alimentos de alta densidade energética, ricos em açúcares simples, gordura saturada, sódio e conservantes, e pobres em fibras e micronutrientes. (VASCONCELLOS et al., 2006) Os problemas psicológicos também estão associados ao ganho de peso, como, por exemplo, estresse, depressão, ansiedade e acaba influenciando principalmente no comportamento alimentar. (FRANCISCHI et al., 2000 apud BARON, 1995; JEBB, 1997)

2.2. Tratamento Da Obesidade Mórbida

O tratamento da obesidade envolve necessariamente a reeducação alimentar, o aumento da atividade física e, eventualmente, o uso de algumas medicações auxiliares, e ainda dependendo do caso pode se optar por tratamento cirúrgico.

O objetivo ideal do tratamento da obesidade deve ser a obtenção da melhora na saúde e na qualidade de vida através de diminuição de peso significativa e duradoura, que promova redução nos fatores de risco e comorbidades e ainda melhore o desempenho nas atividades da rotina diária (SAFER,1991), portanto é de extrema importância um planejamento de reeducação alimentar, juntamente com a prática de atividades físicas e tratamento psicológico, pois pacientes que possuem obesidade mórbida geralmente são deprimidos, necessitando então de terapia. A mesma contribui de forma mais efetiva para a mudança dos hábitos de vida do paciente obeso (FRANCISCHI et al., 2000).

Durante muito tempo o tratamento farmacológico da obesidade foi muito criticado e também visto como uma opção terapêutica controversa. Isso se deve a vários fatores, entre eles, erros no uso racional dos agentes disponíveis, generalização da prescrição de medicamentos, abusos na comercialização de cápsulas manipuladas, desvalorização da orientação do tratamento clássico (orientação dietética hipocalórica, aumento de atividade física programada ou não programada e técnicas de modificação comportamental). Atualmente este tipo de tratamento está sofrendo uma reavaliação, principalmente no que diz respeito ao conceito emergente de uso prolongado de medicações anti-obesidade como adjunto a outras terapias para perda de peso. (MANCINI & HALPERN, 2002)

O tratamento cirúrgico é utilizado em pacientes que se encontra em um grau de obesidade mórbida, e o mesmo é realizado somente quando o tratamento convencional não surte efeito. Sendo indicado para pacientes com obesidade mórbida, associado com graves complicações médicas, tais como, apnéia do sono, dificuldade de locomoção, diabetes, hipertensão arterial e dislipidemia, que poderiam ser melhoradas com uma perda de peso rápida e eficaz. (GOLDMAN E AUSIELLO, 2005).

2.3. Cirurgia Bariátrica

A cirurgia bariátrica é aceita atualmente como a ferramenta mais eficaz no controle e tratamento da obesidade mórbida. A mesma trás vários benefícios, sendo considerados os principais: a perda e a manutenção do peso a longo prazo, melhora das doenças associadas, melhora e percepção do comportamento alimentar com conseqüente melhora na qualidade de vida, (MÔNACO et al., 2006 apud SUTER E GIUSTI, 2005; OGDEN et al., 2005; SZEGO et al., 2002) porém do ponto de vista nutricional há também uma serie de complicações como:

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Thaysa Marques Sotti, Elis Carolina de Souza Fatel

desnutrição protéico-calórica, má absorção de nutrientes, deficiência de vitaminas, deficiência aguda de tiamina, anemia severa, deficiência de cálcio, desidratação. (LAFIT e SURGERMAN, 2003)

Os tratamentos cirúrgicos realizados e disponíveis visam promover a redução do volume de ingesta total do paciente (com restrição mecânica gástrica provocando sensação de saciedade precoce) e ou/ da absorção total ou seletiva do conteúdo alimentar ingerido. (NEGRÃO, 2006)

2.4.1. Bypass gástrica “y de roux”

A técnica bypass gástrica constitui atualmente a mais utilizada em todo o mundo. (RASSERA, 2006) Esta técnica está associada à restrição gástrica com um grau leve de má absorção, não afetando a absorção de macronutrientes como proteínas e carboidratos, porém a longo prazo a mesma apresenta uma alta incidência de complicações metabólicas e nutricionais. (GARRIDO, 2000)

A técnica consiste na secção do estômago de forma a delimitar um pequeno reservatório junto à cárdia, com capacidade de aproximadamente 20 ml. Todo o restante do estômago, assim como o duodeno e os primeiros 30 cm de jejuno, ficam permanentemente excluídos do trânsito alimentar. O pequeno reservatório gástrico é anastomosado a uma alça jejunal isolada em «Y de Roux» e seu esvaziamento é limitado por um orifício de 1,3 cm de diâmetro. Isto dificulta a absorção dos nutrientes do alimento. (GARRIDO, 2000)

2.4.2. Banda gástrica A banda gástrica é uma prótese de silicone que, colocada em torno do estômago proximal,

o faz ter a forma de uma ampulheta ou câmara acima da banda. O diâmetro interno da banda pode ser regulado no pós-operatório por injeção de líquido no reservatório situado no subcutâneo, de fácil acesso. (CFM, 2005) Sendo considerado um método reversível, pouco agressivo, permitindo ajustes individualizados no diâmetro da prótese. A mesma possui uma baixa morbimortalidade operatório e retorno precoce as atividades habituais. Após a retirada é possível a realização de outros procedimentos bariátricos com mínimas repercussões nutricionais. (ZILBERSTEIN & CARREIRO, 2004)

2.4.3. Técnica de Scopinaro

A técnica de scopinaro é um procedimento que envolve menor restrição da capacidade gástrica, o que permite maior ingestão alimentar, com predomínio do componente disabsortivo. (CFM, 2005)

A operação é similar à derivação (bypass) gástrica em “Y de Roux”, porém inclui uma gastrectomia subtotal. No intra-operatório, observa-se uma taxa de úlcera de estômago de mais de 3%. A complicação tardia pode ser a má nutrição protéica, causada por um incremento na perda de nitrogênio endógeno, que ocorre em 2,7 dos casos, sendo está à única indicação para revisão cirúrgica. (PATIÑO, 2003)

A perda de peso e a manutenção a longo prazo são muito eficazes neste procedimento, também não há restrição de alimentos ingeridos, porém, os indivíduos que realizam esta cirurgia ficam mais sujeitos a complicações nutricionais metabólicas de difícil controle, obtendo também maiores chances de desenvolver deficiência de vitamina B12, vitamina A, vitamina C, acido fólico, ferro e cálcio. (GODOY, 2008; SOARES & FLACÃO, 2007)

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Cirurgia Bariátrica para o Pós-operatório: Importância do Acompanhamento Nutricional

2.4.4. Derivação bilipancreático com intercâmbio (Switch) duodenal

A derivação bilipancreático com intercambio (switch) duodenal, consiste em uma modificação do procedimento Scopinaro, realiza-se uma ressecção gástrica no manguito com desvio da anastomose (switch) duodenal ao invés da gastrectomia distal. (PATIÑO, 2003)

Nesta técnica o estômago é grampeado e seu tamanho é reduzido em 60% a 70%. O duodeno e o jejuno são isolados e o alimento só entra em contato com o suco pancreático no final do íleo, já bem próximo do intestino grosso. Este desvio provoca uma má absorção, maior do que na técnica de bypass. (PATIÑO, 2003)

Na falha de outros procedimentos bariátricos o switch duodenal é uma alternativa, quando por complicações cirúrgicas, há perda ponderal insatisfatória ou mesmo de peso pós-operatório. (FILHO, 2007)

2.4.5. Técnica de adaptação digestiva

A técnica de adaptação digestiva está associada a três técnicas: gastrectomia vertical, enterectomia e omentectomia. (SANTORO et al, 2003)

Segundo SANTORO et al., 2003 esta técnica baseia-se em tornar o tubo digestivo mais adaptado à evolução da alimentação atual amplificando os sinais neuroendócrinos de saciedade e tornando suas emissões mais precoces diante de dietas hipercalóricas de fácil absorção, evitando prejudicar as funções digestivas, e não causar má absorção.

2.4.6. Balão intragástrico

O balão intragástrico foi criado em 1986, sendo considerado um método endoscópico, (PINTO, 2007 apud MASON, 1982) em que um balão de silicone com cerca de 500ml, é introduzido no estômago e preenchido com uma mistura de soro e azul de metileno. Tendo como principal objetivo a diminuição da capacidade gástrica do paciente provocando a saciedade e diminuindo o volume residual disponível para os alimentos. (NEGÃO, 2006 apud GRALING, ELARINY, 2003)

O procedimento de balão gástrico é temporário, sendo considerado o período de 6 meses. (CFM,2005) Após a sua retirada o paciente volta à tendência de ganhar peso. Esta técnica tem sido utilizada para substituir o tratamento conservador, sobretudo como preparo para a cirurgia bariátrica. (BONAZZI et al., 2007)

2.5. Indicações e Contra Indicações ao Tratamento Cirúrgico

Para o paciente obeso ter indicação do tratamento cirúrgico é necessário uma análise abrangente dos múltiplos aspectos clínicos que o mesmo possa vir a ter. A avaliação desses pacientes no pré e pós-operatório deve ser realizada por endocrinologistas, nutricionistas, cardiologistas, pneumologistas, psiquiatras, psicólogos e cirurgiões. (COUTINHO, 1999)

Segundo COUTINHO, 1999 o Consenso Latino-Americano de Obesidade recomenda que a indicação cirúrgica seja feita em pacientes com no mínimo 05 anos de evolução de obesidade com fracasso dos métodos convencionais de tratamento realizados por profissionais qualificados.

A cirurgia bariátrica é indicada a pacientes com IMC maior que 40 kg/m2 ou com IMC

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superior a 35 kg/m2 associado à comorbidades como diabetes mellitus tipo 2, hipertensão arterial, apnéia do sono e dislipidemias. (SEGAL & FANDIÑO, 2002)

A cirurgia bariátrica é contra indicada em casos extremos como cirrose hepática avançada, também se deve levar em consideração aspectos como idade do paciente, e presença de distúrbios psiquiátricos ou dependência de álcool e drogas. (OLIVEIRA, 2007)

2.6. Intervenção Nutricional no Pré-Operatório

Na terapêutica nutricional do pré-operatório é de extrema importância o desenvolvimento de um programa educativo multidisciplinar, o mesmo irá proporcionar o sucesso da perda de peso a logo prazo. Neste programa é necessário a abordagem do procedimento cirúrgico, hábitos de atividades físicas e à necessidade de aderir às rígidas recomendações dietéticas. (INGE, et al., 2010)

O nutricionista tem a função de esclarecer todas às dúvidas do paciente no pré-operatório e também explicar a evolução dietética que o mesmo irá passar no pós-operatório. (CRUZ e MORIMOTO, 2004; CAMBI e MARCHESINI, 2002) A avaliação nutricional deve consistir na história do peso da paciente (devendo ser abordadas as características individuais, como apetite, nível de saciedade, sintomas gastrintestinais, uso de álcool, drogas, incidência de doença que afeta a absorção de nutrientes, uso de medicamentos, suplementos nutricionais, restrições alimentares por intolerância ou alergia, padrão de atividades físicas) (CAMBI e MARCHESINI, 2002) e também na história dietética (cálculo das calorias, dos carboidratos, das proteínas, lipídeos e das calorias provindas dos doces).

2.7. Intervenção Nutricional no Pós-Operatório

A finalização da cirurgia não conclui o tratamento da obesidade, pelo contrário, é o início de um período de um a dois anos de mudanças comportamentais, alimentares e de exercícios, com monitoração regular de uma equipe multidisciplinar de profissionais da saúde (CRUZ e MORIMOTO, 2004).

O acompanhamento nutricional no pós-operatório é de extrema importância, devida ás inúmeras alterações de hábitos alimentares que o paciente irá desenvolver, sendo este a garantia para o sucesso da cirurgia (CRUZ e MORIMOTO, 2004).

O plano de introdução gradual de alimentos deve ser proposto com recursos que garantam a compreensão do paciente sobre a capacidade gástrica no pós-operatório, informando os desconfortos fisiológicos potenciais e conseqüências que podem ser experimentadas se o protocolo não for seguido (SHIKORA, 2000). Os objetivos que a dieta padronizada apresentam são: repouso gástrico, adaptação a pequenos volumes, hidratação, favorecimento do processo digestivo, do esvaziamento gástrico e impedir que resíduos possam aderir à região grampeada (CAMBI e MARCHESINI, 2002).

Após a realização da cirurgia a recomendação é para a prescrição de alimentação de consistência líquida restrita, evoluindo para líquida completa até a alta hospitalar. A dieta deve ser oferecida em horários regulares, respeitando o volume, não ultrapassando 50ml por refeição sendo os mesmos coados durante a primeira semana, durante a segunda semana 100ml de alimentos pastosos e 150ml ou 3 colheres de sopa de alimentos sólidos durante a terceira semana, evitando assim náuseas e vômitos. (CRUZ & MORIMOTO, 2004)

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Cirurgia Bariátrica para o Pós-operatório: Importância do Acompanhamento Nutricional

Na próxima etapa começa a inclusão de alimentos pastosos evitando desta forma a distensão gástrica, posteriormente ocorre à evolução para alimentação sólida, porém somente após 12 semanas da realização da cirurgia, enfatizando-se a mastigação suficiente para os alimentos até que esses atinjam a consistência pastosa, para só então degluti-los. (CRUZ & MORIMOTO, 2004 apud NELSON et al., 1994; CRONIN e MAC DONOUGH, 1987)

O paciente que se encontra no pós-operatório tem a necessidade de manter uma boa hidratação, o consumo de líquidos deve ser em pequenas quantidades, nos intervalos entre as refeições e nunca durante, evitando assim a dilatação do estômago e interferência no processo digestivo, dando preferência à água de coco e às bebidas isotônicas, devido ao aporte de vitaminas e minerais. Recomenda-se também que, quando consumir alimentos ou bebidas muito quentes ou muito geladas, estes sejam mantidos por um tempo suficiente na boca, para que haja adequação da temperatura antes da deglutição. (CRUZ & MORIMOTO, 2004)

Durante o primeiro mês de dieta líquida, é necessário que o paciente siga algumas recomendações como evitar o consumo de alimentos sólidos e líquidos ao mesmo tempo, alimentar-se pelo menos três vezes ao dia, evitar líquidos muito calóricos, alimentar-se devagar, não ingerir líquidos no período de duas horas após comer alimentos sólidos, pois este é o tempo de esvaziamento da bolsa gástrica. (BUSSETO et al., 1996)

Apartir da terceira semana deve ser iniciada a alimentação de consistência normal, ressalta a necessária atenção quanto à introdução de carnes e vegetais crus, isto porque à uma grande freqüente de intolerância a esses alimentos. Inicialmente bebidas gaseificadas, doces e gorduras são evitados pois os mesmo são causadores de flatulência. O paciente é orientado quanto à possibilidade de apresentar intolerância à carne vermelha, ao leite (principalmente integral) e, com menos freqüência, arroz ou pão. (CRUZ & MORIMOTO, 2004)

O acompanhamento nutricional é de extrema importância no mês da sua cirurgia e nos próximos seis meses até completar doze de operado, realizando um controle clínico nos anos posteriores. Este acompanhamento inclui visitas a clínica para medir o peso e controlar as concentrações séricas e bioquímicas (CSENDES et al., 1999).

2.8. Acompanhamento Nutricional

O nutricionista é o profissional que tem melhor embasamento para fazer o acompanhamento nutricional que deve iniciar-se antes da cirurgia, pois o individuo que se submete à uma cirurgia bariátrica, seja ela qual for, já vem de uma serie de tentativas frustradas para emagrecer, submetendo-se a todos os tipos de desequilíbrios nutricionais, e na maior parte das vezes, enxerga na cirurgia o “milagre” procurando a vida inteira, achando que depois de operado não precisará mais se preocupar em “fazer dieta”, sendo determinante o acompanhamento nutricional antes e depois da cirurgia para detectar erros alimentares existentes, carências nutricionais, inter-relacionar os mesmos com os sintomas apresentados pelo paciente e esclarecer o papel do habito alimentar adequado e dos nutrientes na saúde física , mental e emocional e também na prevenção das doenças. (OLIVEIRA, 2009)

2.9. Efeitos Colaterais Pós-Cirurgia Bariátrica

2.9.1. Síndrome de dumping

A síndrome de dumping, é considerada a mais comum das síndromes pós gastrectomia,

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isto se deve pois, pode alcançar uma prevalência de 50% após gastrectomias parciais (LOSS et al., 2009 apud AMDRUP, 1966). Foi inicialmente descrita em 1913 por Hertz, que correlacionou os sintomas com o esvaziamento gástrico acelerado. O termo “dumping” foi introduzido por Mix, em 1922, quando reconheceu o rápido esvaziamento do conteúdo gástrico em seriografias de pacientes com estas condições. A perda da função de reservatório e o rápido esvaziamento do conteúdo hiperosmolar no intestino delgado são considerados fatores etiológicos importantes na fisiopatologia da síndrome, embora esta ainda não esteja bem determinada. (LOSS et al., 2009 apud METZEGER, 2002)

KUSHNER (2000) define síndrome de dumping como uma resposta fisiológica aos açúcares simples que se caracteriza por tremor, sudorese, sensação de mal estar, taquicardia e, muitas vezes, intensa diarréia. Isso decorre do poder osmótico dos açúcares simples além da liberação de insulina.

A alteração no esvaziamento gástrico após a cirurgia constitui causa central dos sintomas apresentados. A incidência e gravidade dos sintomas parece ser proporcional à velocidade do esvaziamento gástrico. Em indivíduos normais, o esvaziamento gástrico é regulado pelo tônus fúndico, mecanismo antropilórico de “feedback” duodenal. No paciente com gastrectomia esses mecanismos estão totalmente alterados. (CARVAJAL e MULVIHILL, 1994)

2.9.2. Deficiências nutricionais

As deficiências nutricionais podem ocorrer precocemente, sendo resultante das alterações dos hábitos alimentares, ou tardiamente, resultante da fisiologia alterada no pós-operatório de cirurgia bariátrica (GRACE, 1989).

Existem alguns tipos de deficiências nutricionais, entre eles o de vitaminas e minerais que são o grupo dos micronutrientes. Embora sejam necessários em pequenas quantidades no corpo humano, suas carências podem gerar conseqüências importantes como anemias, queda de cabelo, dermatites, que são comuns nos obesos que se submetem à cirurgia bariátrica. (CARLINE, 2001)

2.9.2.1. Vitamina B12

A deficiência de vitamina B12 ocorre com mais freqüência em procedimentos restritivos, sendo considerada a deficiência mais comum em pacientes com um a nove anos de pós-operatório, podendo causar danos neurológicos se mantida por um longo período de tempo (ALVAREZ-LEITE, 2004).

Segundo FLANCBAUM (2006), citado por FERREIRA (2009) a vitamina B12 é normalmente absorvida no íleo terminal, porém para que ocorra a absorção, a mesma deve estar vinculada ao fator intrínseco, uma glicoproteína produzida por células parietais no estômago e quebrada na presença de ácido hidroclorídrico e pepsina. Isto usualmente ocorre no estômago distal e duodeno, ambos sendo desviados após uma Bypass Gástrico em Y de Roux (RYGB).

A ocorrência de deficiência de B12 no pós-operatório é estimada entre 12 e 33%, já sendo encontrada em muitos pacientes no primeiro ano de operado (ALVAREZ-LEITE, 2004). Existem várias causas para que isto aconteça dentre elas são citadas ingestão inadequada, alterações na absorção por diminuição na produção de fator intrínseco pelas células parietais gástricas, aumento da necessidade e/ou aumento da excreção. (MAHAN e ESCOTT-STUMP, 2003)

Os sinais e sintomas da deficiência pode ocorrer anos após a cirurgia, contudo quando apresentam os mesmos são: parestesias, má coordenação muscular, memória precária e

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alucinações, apresentando também sintomas neurológicos como, diminuição da sensibilidade cutânea e dos reflexos, ataxia, icontinência, diminuição da visão, demência, psicose e alterações motoras. (BERGER, 2004)

2.9.2.2. Deficiência de folato

A deficiência de folato é menos comum no pós-operatório, podendo ocorrer 0,38% após o RYGB, devendo ser considerada quando o paciente desenvolve anemia. (DALCANALE, 2008 apud RHODE et al., 1995; HALVERSON, 1986) A absorção ocorre na porção proximal do intestino, podendo também acontecer ao longo de todo o intestino delgado (ALVAREZ-LEITE, 2004).

Segundo HEBERT(1994), citado por DALCANALE (2008) os sintomas do folato estão relacionados a danos neurológicos são menos comuns comparados a da vitamina B12, pois o mesmo não afeta a bainha de mielina dos nervos, porém pacientes com baixos níveis plasmáticos de ácido fólico freqüentemente apresentam sintomas como irritabilidade e esquecimento. Com a suplementação os sintomas melhoram rapidamente.

2.9.2.3. Deficiência de tiamina

A incidência de deficiência de tiamina no pós-operatório da cirurgia tem sido considerada baixa, a mesma é absorvida no intestino delgado proximal. O resultado da combinação de alimentos restritos e vômitos intratáveis persistentes acarretam a uma deficiência aguda de tiamina associada com sintomas clínicos progredindo rapidamente. Estes sintomas comumente ocorrem de 1 a 3 meses após a cirurgia, embora eles possam ocorrer mais tarde (KUSHNER, 2006).

Os sinais e sintomas da deficiência de tiamina incluem ataxia, diplopia, marcha atáxica, oftalmoplegia, confusão mental com rebaixamento de nível de consciência e, posteriormente, coma vigil. (BERGER, 2004; SINISGALLI et al., 2004)

A deficiência de tiamina pode desenvolver uma patologia, conhecida como encefalopatia de Wernicke ou beribéri cerebral, é uma complicação a longo prazo rara, porém potencialmente letal das cirurgias bariátricas. (MASON et al., 2005).

2.9.2.4. Deficiência de cálcio e vitamina D

Segundo GOLDNER et al., 2002, citado por COSTA, 2007 os pacientes que são submetidos à cirurgia bariátrica restritiva ou disabsortiva estão propícios à anormalidade da massa óssea, sendo a causa provável a restrição da ingestão de cálcio combinada com a má-absorção da mesma e também da vitamina D. Essas deficiências manifestam clinicamente como osteomalácia, hiperparatireoidismo secundária, ou osteoporose (PARKES, 2006).

A absorção do cálcio ocorre no duodeno e jejuno proximal (para que isso ocorra à necessidade que o meio seja ácido) enquanto que a vitamina D é absorvida preferencialmente no jejuno e no íleo. (BLOOMBERG et al.,2005) A deficiência de vitamina D é considerada a segunda complicação metabólica mais importante na cirurgia de redução de peso. (MASON et al., 2005)

2.9.2.5. Deficiência de vitaminas lipossolúveis

A deficiência de vitaminas lipossolúveis como A, D e K, é visível no pós-operatório

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da cirurgia do desvio bilipancreático (ERDMANN, 2006). Isto ocorre, pois, a mesma limita a exposição do alimento às secreções bíliopancreática, necessária a decomposição da gordura. Contudo sabe-se que a obesidade já afeta essas vitaminas, sugerindo então que essa deficiência já vem desde antes da cirurgia. (FERREIRA, 2009)

A vitamina A, mostra-se deficiente somente na técnica de desvio bilipancreático (MASON et al., 2005), ocorrendo provavelmente devido à má absorção de gorduras sendo conseqüência do tipo de procedimento (PARKERS, 2006). Segundo DOLAN et al (2004) citado por FERREIRA (2009) a vitamina K apresenta-se deficiente na metade dos pacientes que realizaram o procedimento de switch duodenal.

2.9.2.6. Deficiência de minerais

Estudos demonstram que a deficiência de zinco após a cirurgia bariátrica apresentaram 50% em 4 anos de acompanhamento, a mesma não evoluiu ao longo dos tempos. (SLATER et al., 2004) Em relação ao magnésio, selênio os estudos não encontraram resultados significativos de deficiência após a cirurgia (FERREIRA, 2009 apud MARCEAU et al. 2002; BLOOMBERG et al., 2005).

Segundo FLANCBAUM et al., 2006 citado por FERREIRA (2009) o ferro é normalmente absorvido no duodeno que é excluído do fluxo do alimento após Bypass Gástrico em Y de Roux (RYGB), levando a sua deficiência. A deficiência de ferro pode ocasionar uma anemia ferropriva, sendo a ocorrência após a cirurgia de 35%. Seu desenvolvimento pode ser imediato ou anos após a cirurgia, sendo que em mulheres com ciclo menstrual ativo esta pode desenvolver ainda mais rapidamente. (QUADROS, 2006)

2.9.2.7. Deficiência de proteínas

Segundo SCOPINARO et al., 2000 a desnutrição protéica é a combinação de hipoalbuminemia, anemia, edema, astenia e alopecia. Desta forma, o profissional da saúde deve estar atento à presença destes sintomas.

A deficiência de proteína (Albumina menor que 3,5g / dl) pode ocorrer após Bypass Gástrico em Y de Roux (RYGB), porém é mais comumente vista em procedimentos mal absortivos como BPD (BLOOMBERG et al., 2005).

Os sintomas para os pacientes que apresentam desnutrição são: edema, ascite, hipoalbuminemia, diarréia, esteatose hepática, alterações da pele e dos cabelos, alterações psíquicas, além de helatomegalia. (NÓBREGA, 1998)

3. CONCLUSÃO

Através da revisão da bibliografia conclui-se que os pacientes submetidos á cirurgia bariátrica tem uma maior disponibilidade de desenvolver alterações nutricionais, sendo mais decorrentes em cirurgias restritivas mal absortivas.

Desta forma o acompanhamento nutricional no pós-operatório é de extrema importância, pois desta forma o paciente poderá evitar alguns complicações desnecessária com a suplementação correta e a alimentação balanceada.

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Avaliação do Estado Nutricional e do Comportamento Alimentar de Bailarinas de uma Escola Particular do Centro de Londrina – Pr

AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL E DO COMPORTAMENTO ALIMENTAR DE BAILARINAS DE UMA

ESCOLA PARTICULAR DO CENTRO DE LONDRINA – PRASSESSMENT OF NUTRITIONAL STATUS AND FEEDING BEHAVIOR OF A PRIVATE

SCHOOL DANCERS OF THE CENTRE OF LONDRINA - PR

Nayara Rampazzo Morelli1*

Graziela Maria Gorla Campiolo dos Santos2**

RESUMO:O ballet clássico pode ser considerado atualmente como uma modalidade esportiva bastante difundida na sociedade, comum entre crianças e adolescentes do gênero feminino e que exige um bom nível de preparo físico, além de ser uma atividade que preconiza baixo peso corporal e, principalmente, supervaloriza a estética. Portanto, sendo o corpo do bailarino o principal meio de expressão da dança, a exposição da forma física leva a procura de se obter um corpo magro e delineado. O objetivo desse trabalho foi avaliar o estado nutricional e o comportamento alimentar de praticantes de ballet clássico de uma escola particular no centro da cidade de Londrina – PR. Este estudo caracterizou-se como uma pesquisa de caráter descritivo, com a participação de 27 praticantes de ballet clássico, do gênero feminino, com idade entre 10 e 19 anos. O estado nutricional das bailarinas foi avaliado a partir dos dados obtidos na avaliação antropométrica. Foram aferidas as medidas de peso e estatura para o cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC) e foi calculado o percentual de gordura corporal (%GC), a partir das dobras cutâneas PCT e PCSE. Para avaliar o nível de preocupação e insatisfação com o próprio corpo e o possível risco de desenvolver transtornos alimentares foram aplicados o Teste de Atitudes Alimentares (EAT-26) e o Questionário sobre Imagem Corporal (BSQ-34), e para avaliar o consumo alimentar, foi aplicado um Questionário de Freqüência de Alimentar. Foi observado que 78% das bailarinas encontram-se na faixa de eutrofia, enquanto 15% e 7% apresentam, respectivamente, sobrepeso e obesidade. O percentual de gordura corporal encontrado foi de 41% moderadamente alta, 30% alta, 22% excessivamente alta e 7% adequada. De acordo com EAT-26 foi encontrado 15% das bailarinas com score positivo (EAT+) para o desenvolvimento de transtornos alimentares e 85% apresentaram score negativo (EAT). Segundo o BSQ-34, foi observado que 67% das bailarinas não apresentam distorção da imagem corporal, entretanto, foi observada distorção leve em 19% e moderada ou grave em 7% da amostra. Com relação ao hábito alimentar foi observado o consumo freqüente de arroz, feijão e carne vermelha, e baixa ingestão de frutas, verduras e laticínios. Além disso, observou-se um elevado consumo de doces, refrigerantes e gordura pelas bailarinas. Com isso, pode-se concluir que os praticantes de ballet clássico representam um grupo de risco, e por esse motivo, é necessário realizar um acompanhamento nutricional e criar estratégias de prevenção para o desenvolvimento de distúrbios relacionados ao comportamento alimentar.

PALAVRAS-CHAVE: Bailarinas. Estado Nutricional. Hábito Alimentar. Imagem Corporal.

ABSTRACT:The ballet can be considered as a sport now widespread in society, common in young females and requires a good level of fitness, besides being an activity that encourages low body weight

*Discente do Curso de Nutrição da Unifil. Orientanda do Trabalho de Conclusão de Curso (e-mail: [email protected]).**Docente do Departamento de Nutrição da UNIFIL (Centro Universitário Filadélfia) (e-mail: [email protected]).

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and especially overvalues aesthetics. Therefore, since the main body of the dancer from the dance means of expression, the exhibition takes the physical form of seeking to achieve a lean and defined. The aim of this study was to evaluate the nutritional status and feeding behavior of practitioners of classical ballet in a private school in downtown Londrina - PR. This study characterized as a descriptive study, involving 27 practitioners of classical ballet, female, aged between 10 and 19 years. The nutritional status of the dancers was assessed from data obtained from anthropometric measurements. Were measured in weight and height to calculate body mass index (BMI) was calculated and the percentage of body fat (% BF) from triceps skinfold and subscapular skinfold. To assess the level of concern and dissatisfaction with their bodies and the possible risk of developing eating disorders were administered the Eating Attitudes Test (EAT-26) and Body Image Questionnaire (BSQ-34), and to assess the food intake wasimplemented a Food Frequency Questionnaire. It was observed that 78% of dancers are in the range of normal weight, while 15% and 7% had, respectively, overweight and obesity. The percentage of body fat was found to be moderately high 41%, 30% high, 22% and 7% too high appropriate. According to EAT-26 was found 15% of dancers with positive score (EAT +) for the development of eating disorders and 85% had negative scores (EAT-). According to the BSQ-34, it was observed that 67% of dancers do not have body image distortion, however, slight distortion was observed in 19% and moderate or severe in 7% of the sample. With respect to the feeding habit was observed frequent consumption of rice, beans and red meat, and low intake of fruits, vegetables and dairy products. Moreover, there was a high consumption of sweets, soft drinks and fat by dancers. Thus, one can conclude that the practitioners of classical ballet pose a risk group, and for this reason it is necessary to conduct a nutritional monitoring and creating prevention strategies for the development of disorders related to eating behavior.

KEY WORDS: Dancers. Nutritional Status. Food Habits. Body Image.

INTRODUÇÃO

O ballet clássico pode ser considerado atualmente como uma modalidade esportiva bastante difundida na sociedade, embora não seja comum caracterizar os seus praticantes como atletas (AMARAL; PACHECO; NAVARRO, 2008).

“Caracteriza-se por exercícios de saltos, giros, flexões e extensões, piques curtos em velocidade e equilíbrio de posturas realizadas em coreografias, nos mais variados tempos de duração” (SILVA et al., 1998, p. 149).O ballet clássico exige um bom nível de preparo físico, além de ser uma atividade que preconiza baixo peso corporal e, principalmente, supervaloriza a estética. A prática desta atividade é comum entre crianças e adolescentes do gênero feminino (AMARAL; PACHECO; NAVARRO, 2008).

Segundo Silva; Mura (2007, p. 363), a adolescência “é a transição entre a infância e a vida adulta, em que muitas das características ou dos hábitos referentes ao estilo de vida do adulto são adquiridos e/ou consolidados”.

Assim, a adolescência é um período da vida marcado por modificações físicas, psíquicas, comportamentais e sociais, além de ser caracterizado por intenso crescimento e desenvolvimento. Por esse motivo, é importante que os adolescentes praticantes de atividade física consumam

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energia e nutrientes suficientes, para que seja possível alcançar suas necessidades de crescimento, manutenção de tecidos e para o desempenho de suas atividades intelectuais e físicas (AMARAL; PACHECO; NAVARRO, 2008; DUARTE, 2007; SILVA; MURA, 2007).

Durante o período da adolescência, o indivíduo está mudando o seu corpo e buscando uma imagem corporal idealizada, portanto, o estilo de vida, ao sofrer diversas influências, acaba muitas vezes não proporcionando meios para o suprimento adequado das necessidades nutricionais (SANTOS et al., 2005; TORAL et al., 2006).

Portanto, sendo o corpo do bailarino o principal meio de expressão da dança, a exposição da forma física leva a procura de se obter um corpo magro e delineado. No caso do ballet clássico, essa exigência se torna ainda maior, pois, nessa prática, a beleza dos movimentos é caracterizada pela leveza do corpo e seus gestos. Dessa forma, a imagem corporal e a preocupação com um corpo magro, são constantes na vida do bailarino (KUWAE; SILVA, 2007; SIMAS; GUIMARÃES, 2002).

O objetivo geral deste trabalho, portanto, é avaliar o estado nutricional e o comportamento alimentar de um grupo de meninas, adolescentes, praticantes de ballet clássico de uma escola particular no centro da cidade de Londrina – PR.

METODOLOGIA

Este estudo caracterizou-se como uma pesquisa de caráter descritivo, com a participação de 27 praticantes de ballet clássico, do gênero feminino, com idade entre 10 e 19 anos, de uma Escola de Dança do centro da cidade de Londrina – PR.

O estado nutricional das bailarinas foi avaliado a partir dos dados obtidos na avaliação antropométrica. Foram aferidas as medidas de peso e estatura para o cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC), porém, como o IMC não distingue a massa de gordura da massa magra, também foi calculado o percentual de gordura corporal (%GC), a partir das dobras cutâneas.

Para a aferição do peso foi utilizada uma balança tipo plataforma da marca Filizola, com capacidade para 150 kg, e para aferir a estatura, foi utilizado o estadiômetro da própria balança.

As dobras cutâneas que foram utilizadas para calcular o percentual de gordura corporal são a PCT (prega triciptal) e PCSE (prega subescapular). Para aferir as dobras cutâneas foi utilizado um adipômetro da marca Lange.

O IMC foi classificado segundo NCHS (2000) e a porcentagem de gordura corporal segundo a classificação feita por DEURENBERG; PIETERS; HAUTUAST (1990), pois são específicas para crianças e adolescentes.

Para avaliar o consumo alimentar, foi aplicado um Questionário de Freqüência de Alimentar, que permite avaliar o hábito alimentar de acordo com o consumo usual dos alimentos. E também foram aplicados questionários contendo questões específicas sobre imagem corporal e comportamento alimentar, com o objetivo de avaliar o nível de preocupação e insatisfação com o próprio corpo e o possível risco de desenvolver transtornos alimentares. Os questionários aplicados foram o Teste de Atitudes Alimentares (EAT-26) e o Questionário sobre Imagem Corporal (BSQ-34).

Os dados da antropometria e os questionários foram transcritos e analisados, e os resultados finais foram demonstrados em forma de gráfico para comparação e entendimento melhor do trabalho.

Todos os pais/responsáveis pelas bailarinas que fizeram parte deste estudo, após serem informados sobre o propósito desta investigação e os procedimentos adotados, assinaram um

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termo de consentimento livre e esclarecido. Este estudo foi desenvolvido em conformidade com as instruções contidas na Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde que normatizou a pesquisa com seres humanos, sendo submetido à aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário Filadélfia – UNIFIL.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na tabela 1, foi possível verificar o estado nutricional da amostra, sendo que 78% das bailarinas encontram-se na faixa de eutrofia, enquanto 15% e 7% apresentam, respectivamente, sobrepeso e obesidade, segundo a classificação feita por NCHS (2000).

Apesar da dança ter relação com a imagem de pessoas muito magras, considerando que ser magro pode beneficiar o desempenho no ballet, nesta pesquisa não foi encontrada nenhuma bailarina com baixo peso, entretanto, não se deve considerar somente o peso das bailarinas, pois a composição corporal, ou seja, a proporção de massa magra e massa gorda, também tem influência na performance.

TABELA 1 - Estado Nutricional das bailarinas segundo a classificação por IMC

Classificação N %

Baixo peso < p 5 0 0%

Eutrofia ≥ p 5 e < p 85 21 78%

Sobrepeso ≥ p 85 4 15%

Obesidade ≥ p 95 2 7%

TOTAL 27 100%

O percentual de gordura corporal encontrado nas bailarinas foi de 41% moderadamente alta, 30% alta, 22% excessivamente alta e, apenas, 7% da amostra está adequada, segundo a classificação de Deurenberg; Pieters; Hautuast (1990).

TABELA 2 - Estado Nutricional das bailarinas segundo a classificação por percentual de gordura corporal

Classificação N %

Excessivamente baixa Até 12% 0 0%

Baixa 12,01 a 15% 0 0%

Adequada 15,01 a 25% 2 7%

Moderadamente alta 25,01 a 30% 11 41%

Alta 30,01 a 36% 8 30%

Excessivamente alta > 36,01% 6 22%

TOTAL 27 100%

A partir dos resultados encontrados, é possível observar que, embora a maioria das

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bailarinas encontra-se na faixa de eutrofia, segundo o cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC) e também apresenta o percentual de gordura corporal acima do ideal. Segundo Amaral; Pacheco; Navarro (2008), ao descrever vários estudos, citam um estudo que comparou a composição corporal de bailarinas profissionais e estudantes de ballet, onde foi observado que os profissionais mantinham um menor peso e menor percentual de gordura em relação aos estudantes. Sendo assim, de acordo com Fração et al. (1999), a necessidade de manter o peso adequado e o percentual de gordura corporal baixo, aumenta na medida em que as bailarinas se tornam profissionais.

Além disso, é importante salientar que durante a adolescência, as meninas costumam ter o percentual de gordura corporal elevado. De acordo com Dunker; Philippi (2003) na adolescência o ganho de gordura corporal pode cessar ou até reverter nos homens, mas continua aumentando nas mulheres, podendo chegar ao índice de gordura corporal de 27%, em torno dos 16 anos.

Haas; Plaza; De Rose (2000), que realizaram um estudo antropométrico comparativo entre bailarinas brasileiras e espanholas, citam que existem poucos dados na literatura a respeito da influência da dança no desenvolvimento morfológico e antropométrico de adolescentes que praticam essa atividade. Assim, segundo os autores, é necessário controlar o desenvolvimento morfológico das meninas que dançam, pois dessa forma é possível quantificar, qualificar e, como conseqüência, obter melhores resultados.

De acordo com Prati; Prati (2006), a importância do controle de níveis de composição corporal está relacionada com a necessidade da bailarina em ser magra, não somente por estética, mas, principalmente, para privilegiar componentes de massa magra que vão auxiliar na execução dos movimentos, demonstrando vigor físico, graça e leveza. Além disso, as bailarinas necessitam de um nível adequado de gordura corporal, pois a leveza e a delicadeza dos movimentos é um fator que deve ser considerado para se obter um bom desempenho nas coreografias e para o desempenho físico.

Para Silva; Bonorino (2008), o ballet busca a figura de uma bailarina longilínea, enfatizando a magreza e a linearidade da figura, pois, além da sua importância estética, tem relação com a qualidade dos movimentos técnicos e artísticos.

Em um estudo realizado por Haas; Garcia; Bertoletti (2010), que avaliou o nível de satisfação com a imagem corporal de praticantes de ballet clássico e jazz, observou-se que a dança em si, independente do estilo, traz a preocupação com a estética corporal, o que leva o bailarino a buscar sempre um corpo magro. As bailarinas representam um grupo em que a atividade envolve um treinamento físico constante, portanto, a demanda por um padrão estético adequado pode levar à insatisfação e distorções da imagem corporal.

Conforme descrito por Silva; Bonorino (2008), a estética do bailarino é definida por um perfil físico específico, portanto, segundo Haas; Garcia; Bertoletti (2010), a busca de uma imagem corporal idealizada pelas bailarinas costuma ir além dos parâmetros da população em geral, fazendo com que as bailarinas façam parte da população de risco para o desenvolvimento de padrões alimentares inadequados.

Segundo Guimarães et al. (2007), a distorção da imagem corporal e a preocupação excessiva com o peso são características próprias de distúrbios de comportamento alimentar.

Considerando, portanto, que as bailarinas estão quase sempre insatisfeitas com o seu corpo e buscam constantemente o baixo peso, foi aplicado um questionário de atitudes alimentares (EAT-26) e sobre imagem corporal (BSQ-34).

De acordo com o EAT-26 (Tabela 3) foi encontrado score positivo (EAT+), ou seja, a presença de sintomas para o desenvolvimento de transtornos alimentares, em apenas 15% das bailarinas avaliadas, enquanto 85% apresentaram score negativo (EAT-).

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TABELA 3 - Teste de atitudes alimentares (EAT-26)

Classificação N %

EAT+ 4 15%

EAT- 23 85%

TOTAL 27 100%

Na tabela 4, foi possível verificar o questionário sobre imagem corporal (BSQ-34), e foi encontrado que 67% das bailarinas não apresentam distorção da imagem corporal, entretanto, foi observada distorção leve em 19% e moderada ou grave em 7% das bailarinas avaliadas.

TABELA 4 - Questionário sobre imagem corporal (BSQ-34)

Classificação N %

Ausência 18 67%

Leve 5 19%

Moderada 2 7%

Grave 2 7%

TOTAL 27 100%

Diante dos resultados obtidos nos questionários aplicados na pesquisa, observou-se que o problema mais comum entre as bailarinas é a presença de distorção da imagem corporal, quando comparado aos transtornos alimentares. Além disso, entre as bailarinas avaliadas, a maioria apresenta apenas um dos problemas, foram poucos os casos em que uma mesma bailarina apresentava distorção da imagem corporal e sintomas relacionados aos transtornos alimentares.

Os resultados obtidos com o EAT-26 e o BSQ-34 pode-se afirmar que têm relação com o fato das bailarinas serem adolescentes, pois, durante essa fase, as meninas começam a se preocupar mais com a aparência.

De acordo com Branco; Hilário; Cintra (2006) a imagem corporal pode ser considerada uma marca feminina, principalmente na adolescência, pois é nessa fase que o corpo estabelece o seu formato.

Para Dunker; Philippi (2003), as adolescentes começam a se preocupar com o aumento do peso e com a forma física, decorrente das modificações corporais que ocorrem durante esse período. Além disso, verifica-se que o ato de restringir os alimentos geralmente se inicia na adolescência como conseqüência da má aceitação das mudanças corporais, principalmente relacionadas ao peso.

De acordo com Haas; Garcia; Bertoletti (2010), pelo fato da dança trabalhar diretamente com o corpo, a imagem corporal está sempre em evidência e acaba fazendo parte da rotina da bailarina. Assim, as profissões que exigem uma estética corporal adequada, como no caso do ballet clássico, apresentam maior incidência de insatisfação corporal, podendo levar ao desenvolvimento de transtornos alimentares.

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De acordo com Vilardi; Ribeiro; Soares (2001), que descreveram sobre os distúrbios alimentares em atletas femininas, os transtornos alimentares são caracterizados por alterações no comportamento alimentar, que incluem a anorexia e a bulimia nervosa. Entretanto, há uma diferença entre os transtornos alimentares que foram diagnosticados, como é o caso da anorexia e da bulimia, e o comportamento patológico relacionado ao controle do peso.

Ainda segundo Vilardi; Ribeiro; Soares (2001) existem casos onde são apresentados sinais de comportamento alimentar alterado, entretanto, não se encaixam no diagnóstico de transtornos alimentares.

Sendo assim, a partir da avaliação do estado nutricional e do comportamento alimentar das bailarinas que participaram da pesquisa, e, considerando também, a faixa etária em que se encontram, foi aplicado um questionário para avaliar o consumo alimentar das adolescentes para possibilitar o conhecimento do hábito alimentar.

A Figura 1 demonstra o consumo de arroz das bailarinas, e nota-se que 78% consome diariamente este alimento, porém na figura 2 é possível analisar o consumo de feijão todos os dias, e apenas 44% afirmaram possuir este hábito alimentar.

Em um estudo realizado por Santos et al. (2005), que avaliou o consumo alimentar de adolescentes em uma cidade da Bahia, foi observado que o arroz e o feijão são alimentos consumidos habitualmente pelos adolescentes. Os autores destacam a importância do consumo da mistura arroz e feijão, pois fornece aminoácidos como lisina, treonina, metionina e triptofano, que caracterizam um importante aporte protéico na dieta.

0% 7%11%

78%

0%0% 4%

1x sem.

2x sem.

4x sem.

todos os dias

cada 15 dias

1x mês

outros

FIGURA 1 - Consumo de arroz das bailarinas

0%19%

30%44%

0%0% 7%

1x sem.

2x sem.

4x sem.

todos os dias

cada 15 dias

1x mês

outros

FIGURA 2 - Consumo de feijão das bailarinas

Na Figura 3, verifica-se que o consumo de carne vermelha e branca compõe o hábito alimentar das bailarinas, quando comparado ao consumo de ovos que foi de apenas a cada 15 dias. Entretanto, a ingestão de carne vermelha é mais freqüente, em relação à carne branca, sendo que 41% consomem a carne vermelha 4x/semana e 37% consomem a carne branca 2x/semana.

Segundo Eisenstein et al. (2000), as carnes, aves e peixes são as principais fontes de

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proteínas animais. Gambardella; Frutuoso; Franch (1999) descrevem que as proteínas são necessárias para a construção e manutenção dos tecidos corpóreos, além de participar do transporte de substâncias e da homeostase corpórea.

Eisenstein et al. (2000) também citam que as proteínas atuam no crescimento e desenvolvimento essenciais do organismo. Sendo assim, segundo Meyer; O’Connor; Shirreffs (2007), os adolescentes necessitam de uma quantidade maior de proteínas em relação aos adultos para suportar o crescimento, entretanto, os dados disponíveis quanto às necessidades protéicas para jovens que praticam atividade física são limitados.

15%

4%

19%

11%

30%

37%

7%

41%

22%

0%

15%

7%

37%

7%7%

15%

0%0%

15%

4%7%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

45%

1x sem. 2x sem. 4x sem. todos osdias

cada 15dias

1x mês outros

OvosCarne vermelhaCarne branca

FIGURA 3 - Consumo de carne e ovos das bailarinas

A frequência encontrada para o consumo de verduras (Figura 4) variou bastante, entretanto, a maioria das bailarinas afirmou consumir verduras 2x/semana (34%) e todos os dias (34%).

Os resultados encontrados indicam que o consumo de verduras constitui um hábito alimentar das bailarinas, pois são consumidos com freqüência durante a semana, entretanto, não é possível avaliar se as porções ingeridas estão dentro das recomendações diárias.

Toral et al. (2006), em um estudo que avaliou o comportamento alimentar dos adolescentes em relação ao consumo habitual de frutas e verduras e comparou os resultados com as recomendações sugeridas pela Pirâmide Alimentar, observou-se um consumo inferior ao proposto. Portanto, é possível observar que, embora os adolescentes tenham o hábito de consumir esses alimentos com freqüência, nem sempre a quantidade ingerida é suficiente para suprir as suas necessidades.

Segundo a Figura 5, nota-se que apenas 11% das bailarinas consomem frutas diariamente, sendo que há uma maior prevalência da amostra (26%) afirmaram consumir este alimento somente 2x/semana. Além disso, quando comparado ao consumo de verduras, nota-se que as frutas são consumidas com menos freqüência pelas bailarinas.

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De acordo com Gambardella; Frutuoso; Franch (1999) o consumo de hortaliças é maior em relação às frutas, embora o esperado fosse encontrar maior ingestão de frutas, devido à facilidade de consumo.

Segundo Eisenstein et al. (2000), as frutas e verduras são uma das principais fontes de vitaminas e minerais, cuja as necessidades estão aumentadas durante a adolescência.

Mahan; Scott-Stump (2002) afirmam que as vitaminas e minerais desempenham um papel importante para o crescimento e para a saúde dos adolescentes. Portanto, segundo Guimarães et al. (2007), a ingestão insuficiente de alimentos fonte de vitaminas e minerais, além de comprometer o crescimento, favorece o desenvolvimento de carências nutricionais, pois as necessidades de vitaminas e minerais devem ser atingidas por meio de uma dieta variada em qualidade e adequada em quantidade.

7%

34%

7%34%

7%4%

7%

1x sem.

2x sem.

4x sem.

todos os dias

cada 15 dias

1x mês

outros

FIGURA 4 - Consumo de verduras das bailarinas

11%

26%

15%11%

11%

11%

15%

1x sem.

2x sem.

4x sem.

todos os dias

cada 15 dias

1x mês

outros

FIGURA 5 - Consumo de frutas das bailarinas

Gambardella; Frutuoso; Franch (1999) descreveram um estudo realizado com adolescentes, que indicou carência na ingestão de produtos lácteos, frutas e hortaliças, além do excesso de açúcar e gordura. Os resultados encontrados neste estudo são parecidos com os resultados obtidos na pesquisa realizada com as bailarinas.

Com relação ao consumo de leite e derivados (Figura 6), é possível observar que mais da metade das bailarinas (52%) possuem o hábito de consumir leite todos os dias, entretanto, o consumo de queijo e iogurte é menos comum, além de ter uma freqüência mais variada, como 1x/semana (22%), 2x/semana (26%) e 4x/semana (19%).

De acordo com Eisenstein et al. (2000) o leite e seus derivados são uma fonte importante de cálcio, proteínas e vitaminas para esta fase de crescimento.

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Guimarães et al. (2007), destacam a importância do cálcio para os adolescentes, principalmente praticantes de atividade física, devido ao incremento do conteúdo mineral ósseo. Segundo Vilardi; Ribeiro; Soares (2001), a ingestão adequada de cálcio, durante a infância e a adolescência, está relacionada com a prevenção primária da osteoporose.

0%

22%

7%

26%

11%

19%

52%

11%

0%

11%

0% 0%

30%

11%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

1x sem. 2x sem. 4x sem. todos osdias

cada 15dias

1x mês outros

LeiteQueijo e Iogurte

FIGURA 6 - Consumo de leite e derivados das bailarinas

Na Figura 7, foi observado o hábito de consumir doces (30%) e refrigerantes (33%) todos os dias e a ingestão de frituras e óleos (Figura 8) também é normal entre as bailarinas. As frituras apareceram, principalmente, com consumo em torno de 4x/semana (30%) e o consumo de óleos foi mais freqüente, pois está presente em várias outras preparações, prevalecendo como 2x/semana (30%) e todos os dias (30%).

De acordo com Farias Júnior; Lopes (2004) tem sido observado nos hábitos alimentares adotados pelos adolescentes, um consumo excessivo de alimentos industrializados, ricos em carboidratos simples e gordura saturada, sendo que os hábitos alimentares inadequados caracterizam um comportamento de risco á saúde.

Portanto, a partir dessa afirmativa, segundo Gambardella; Frutuoso; Franch (1999), os hábitos alimentares inadequados dos adolescentes, podem ser considerados como um fator de risco para o desenvolvimento de doenças crônicas e da obesidade.

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19% 19%

15%

19%

15%

4%

30%

33%

7%

4%

0%

4%

15%

19%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

1x sem. 2x sem. 4x sem. todos osdias

cada 15dias

1x mês outros

Doces e guloseimasRefrigerante

FIGURA 7 - Consumo de doces e refrigerantes das bailarinas

22%

11%

22%

30% 30%

22%

0%

30%

15%

0%

4%

0%

7% 7%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

1x sem. 2x sem. 4x sem. todos osdias

cada 15dias

1x mês outros

FriturasÓleo

FIGURA 8 - Consumo de frituras e óleo das bailarinas

De acordo com Juzwiak; Paschoal; Lopez (2000) deve-se considerar que a escolha dos alimentos é uma forma que os adolescentes têm de expressar suas preferências.

Segundo Costa; Souza (2002), o comportamento alimentar dos adolescentes envolve um conjunto de atitudes, que estão relacionadas à seleção e à ingestão de alimentos, podendo garantir ou não a satisfação de suas necessidades nutricionais, sensoriais e psicossociais.

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CONCLUSÃO

Diante dos resultados encontrados no presente estudo, embora a maioria das bailarinas encontra-se com o peso na faixa de normalidade, porém nota-se uma prevalência da amostra com percentual de gordura corporal elevada. Assim, além da relação com a fase da adolescência, ou seja, de crescimento e desenvolvimento em que as bailarinas se encontram, onde as meninas costumam ter um ganho maior de gordura corporal, também se pode afirmar que os resultados encontrados têm relação com a alimentação, pois foi observado um consumo elevado de alimentos ricos em açúcar e gordura pelas bailarinas.

Diante deste contexto, nota-se que o baixo peso é uma exigência para a prática do ballet clássico, entretanto, para se obter um melhor desempenho não se deve dar importância somente a exigência de ser magra, pois a proporção de massa magra e gordura corporal também tem relação com a performance da bailarina.

Os resultados encontrados com o EAT-26 e com BSQ-34 indicaram, respectivamente, ausência de risco para o desenvolvimento de transtornos alimentares e distorção da imagem corporal na maior parte da amostra. Portanto, diante do presente estudo, pode-se concluir que não foram observadas alterações no comportamento alimentar, bem como na imagem corporal no grupo estudado.

No hábito alimentar destas bailarinas nota-se que são consumidos freqüentemente alimentos como doces, refrigerantes e gorduras. Em contrapartida, alimentos como arroz, feijão, carnes, leites e derivados, frutas e verduras, que são fontes de vários nutrientes necessários ao organismo, não são consumidos com a freqüência preconizada, ou seja, diariamente pelas bailarinas conforme o recomendando para a manutenção de uma dieta saudável.

Portanto, diante desta problemática a promoção e a adoção de hábitos alimentares saudáveis ainda representam um grande desafio, deve-se considerar que os praticantes de ballet clássico representam um grupo de risco, e por esse motivo, é necessário realizar um acompanhamento nutricional e criar estratégias de prevenção para o desenvolvimento de distúrbios relacionados ao comportamento alimentar e patologias futuras.

REFERÊNCIAS

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Efeitos da restrição alimentar, pelo método de Meal-Feeding, e da suplementação de semente de linhaça (Linum Usitatissimum) no câncer de colorretal de camundongos Swiss

EFEITOS DA RESTRIÇÃO ALIMENTAR, PELO MÉTODO DE MEAL-FEEDING, E DA SUPLEMENTAÇÃO DE SEMENTE DE LINHAÇA (LINUM USITATISSIMUM) NO CÂNCER DE

COLORRETAL DE CAMUNDONGOS SWISSEFFECTS OF FOOD RESTRICTION BY MEAL-FEEDING METHOD AND

SUPPLEMENTATION OF SEED LINSEED (Linum usitatissimum) IN COLORECTAL CANCER IN MICE Swiss

Rita de Cássia Pereira da Silva1*

Mariana Garcia PerezPaula Thaissa Zaninetti

Denise dos Santos Escobar Juliana Ferreira Varjão

Carla Kobbi PedrosoPriscila Lumi Ishii

Sara Monalisa Alencar Limeiras2**

Stephanie Dynczuki Navarro Mariana de Oliveira Mauro3***

Rodrigo Juliano Oliveira4****

RESUMO:No Brasil, principalmente nos estados do Nordeste, há um grande número de pessoas que estão em quadro de desnutrição protéico-calórica. Este fato se deve em especial à ingestão de alimentos em quantidade e qualidade inadequadas. Não há registros conclusivos do que este quadro carencial pode causar em pacientes com câncer ou predispostos a tal doença. Outro fato que chama a atenção é que existe uma tendência destas populações ingerirem grãos em sua dieta devido ao baixo custo e fácil armazenamento e este pode ser um fator favorável à prevenção de neoplasias. A presente pesquisa teve por objetivo avaliar o processo de desnutrição causado pela técnica de Meal- Feeding (MF), que consiste na oferta da ração por somente 2 horas ao dia, e a suplementação de sementes de linhaça na carcinogênese química. Os machos Swiss foram divididos em 4 grupos experimentais (n = 9). Todos os grupos foram submetidos ao processo de MF por um período de 28 dias. Dois grupos (Grupo 1 e 2) foram suplementados com ração comercial (RC) sendo um deles tratado com ácido etilenodiaminotetracético (EDTA) e o outro com 1,2-dimetilhidrazina (DMH). Os outros dois grupos (Grupo 3 e 4) foram suplementados com ração linhaça (RL = RC + 10% de semente de linhaça) sendo um deles tratado com EDTA e o outro com DMH. A *Graduada em Nutrição pelo Centro Universitário Filadélfia - UniFil, Londrina, Paraná, Brasil.

**Graduada em Biomedicina pelo Centro Universitário Filadélfia - UniFil, Londrina, Paraná, Brasil.

***Mestre e Doutoranda em Biologia Celular e Molecular, Instituto de Biociências de Rio Claro, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, IBRC/UNESP, Rio Claro, São Paulo, Brasil.

****Graduado em Ciências Biológicas (Bacharelado/Licenciatura), Instituto de Biociências de Botucatu, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – IBB/UNESP, Botucatu, São Paulo, Brasil. Especialista em Análises Clínicas Aplicada à Reprodução Humana, Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – FMB/UNESP, Botucatu, São Paulo, Brasil. Mestre em Genética e Biologia Molecular, Centro de Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Londrina – CCB/UEL, Londrina, Paraná, Brasil. Doutor em Biologia Celular e Molecular, Instituto de Biociências de Rio Claro, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, IBRC/UNESP, Rio Claro, São Paulo, Brasil. Professor Adjunto I da Faculdade de Medicina “Dr. Hélio Mandetta”, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS, Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Brasil – [email protected]

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análise dos pesos indicou que no início do experimento o grupo 2 possuía uma menor média de peso se comparado aos demais e este fato se manteve até o final do período de repleção. No entanto, a perda de peso durante o período de repleção foi similar para todos os grupos. Ao final do experimento e no ganho de peso após o período de repleção todos os grupos possuíam médias semelhantes entre si. O processo de desnutrição não se correlaciona ao desenvolvimento de focos de criptas aberrantes assim como a suplementação de linhaça. No entanto, a associação de linhaça e DMH indica que esta vibra tem atividade anticarcinogênica. Frente a estes resultados sugere-se o uso da linhaça no processo de quimioprevenção e anticarcinogênese.

PALAVRAS-CHAVE: anticarcinogênese, câncer de colorretal, desnutrição, linhaça, meal- feeding.

ABSTRACT:In Brazil, mainly in the states of the Northeast, there are a large number of people who are part of protein-calorie malnutrition. This fact is due in particular to the ingestion of food in quantity and quality inadequate. There is no conclusive records of carencial that it may cause in patients with cancer or predisposed to such disease. Another fact that draws attention is that there is a tendency these people eat grains in their diet because of its low cost and easy storage and this may be a factor conducive to the prevention of cancer. This study aimed to evaluate the process of malnutrition caused by the technique of Meal-Feeding (MF), which is the supply of rations for only 2 hours a day, and supplementation of flaxseed in chemical carcinogenesis. The Swiss males were divided into 4 experimental groups (n = 9). All groups were submitted to the MF for a period of 28 days. Two groups (Group 1 and 2) were fed with rations (RC) one being treated with ethylenediaminetetraacetic acid and the other with 1.2-dimethylhydrazine. The other two groups (Group 3 and 4) were fed diets with flaxseed (RL = CR + 10% of flaxseed) one being treated with ethylenediaminetetraacetic acid and the other with 1.2-dimethylhydrazine. Analysis of weights indicated at the beginning of the experiment group 2 had a lower average weight than the others and this fact was kept until the end of repletion. However, the weight loss during the repletion was similar for all groups. At the end of the experiment and in weight gain after the repletion all groups had similar average among themselves. The process of malnutrition is not correlated to the development of aberrant crypt foci of as well as flaxseed supplementation. However, the combination of flaxseed and HMD indicates that vibrates has anticarcinogenic activity. In view of these results it is suggested the use of flaxseed in the process of quimioprevenção and anticarcinogênese.

KEY WORDS: anticarcinogênese, of colorectal cancer, malnutrition, flaxseed, meal-feeding.

INTRODUÇÃO

A desnutrição é caracterizada por um desequilíbrio e/ou uma deficiência de nutrientes no organismo. Tais desequilíbrios são frequentemente produzidos pela deficiência relativa de proteínas, carboidratos e gorduras como fontes de energia e micronutrientes. Essas deficiências são seguidas de alterações fisiopatológicas que primeiro traduzem-se em prejuízo funcional e, posteriormente, em danos bioquímicos e físicos (GURMINI et al., 2005).

O estudo deste quadro carencial em seres humanos nem sempre responde as perguntas de pesquisadores. Assim, modelos experimentais foram criados para estudos de desnutrição

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desencadeada por restrição protéico-calórica. Uma forma de se proceder esta desnutrição pode ser por meio de restrição alimentar.

O esquema de restrição alimentar usualmente denominado de Meal- Feeding (MF), consiste na oferta de uma única refeição diária de 2 horas, sem restringir a disponibilidade de ração durante esse período desenvolvendo muitas adaptações morfo-metabólicas (SUMIDA et al.,2000). Desta forma, consegue simular situações que representem populações que encontram-se em situações precárias onde fazem apenas uma refeição diária.

A literatura consultada demonstra trabalhos realizados com MF. No entanto, não demonstra qual a influência da desnutrição, causada por MF, na carcinogênese química.

Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA, 2010) o número de casos novos de câncer de cólon e reto estimados para o Brasil no ano de 2008 é de 12.490 casos em homens e de 14.500 em mulheres. Estes valores correspondem a um risco estimado de 13 casos novos a cada 100 mil homens e 15 para cada 100 mil mulheres.

O fator de risco mais importante para este tipo de neoplasia é a história familiar de câncer de cólon e reto e predisposição genética ao desenvolvimento de doenças crônicas do intestino, além de uma dieta rica em gorduras animais, baixa ingesta de frutas, vegetais e cereais; assim como, consumo excessivo de álcool e tabagismo (INCA, 2010).

Para Hass et al. (2007) o desenvolvimento das formas mais comuns de câncer resulta de uma interação entre fatores endógenos e ambientais, sendo o mais notável desses fatores a dieta. De todos os casos de câncer 80 a 90% estão associados a fatores ambientais.

Como o câncer no ser humano leva desde seu início até a manifestação algumas décadas, é provável que medidas de intervenção sejam mais eficazes que medidas terapêuticas para o controle da morbimortalidade causada por essa doença (CAMARGO et al., 1994).

Uma tentativa de se promover esta prevenção pode ser por meio do uso de alimentos funcionais.

O termo alimentos funcionais foi inicialmente introduzido pelo governo do Japão em meados dos anos 80 como o resultado de esforços para desenvolver alimentos que possibilitassem a redução dos gastos com saúde pública, considerando a elevada expectativa de vida naquele país. O Japão foi pioneiro na formulação do processo de regulamentação específica para os alimentos funcionais. O termo em questão refere-se aos alimentos processados, similares em aparência aos alimentos convencionais, usados como parte de uma dieta normal e que demonstraram benefícios fisiológicos e/ou reduzem o risco de doenças crônicas além de suas funções básicas nutricionais (STRINGHETA et al., 2007).

Nas últimas décadas, os estudos têm comprovado que as dietas com quantidades adequadas de ácidos graxos poliinsaturados ômega 3 desempenham papel importante na prevenção e tratamento de várias doenças. Desta forma, a suplementação dietética de ácidos graxos poliinsaturados ômega 3 pode associar-se à redução de doenças cardiovasculares, neoplasias e colite ulcerativa, podendo também proteger pacientes com lesões pré-neoplásicas de cólon (PITA et al., 2006).

As sementes de linhaça (Linum usitatissimum) recebem grande atenção da população em decorrência de suas alegações nutricionais e funcionais à saúde, uma vez que estes grãos apresentam significativos teores de fibras alimentares (MATIAS, 2007) e ômega 3.

Nenhum relato de prevenção de carcinogênese colorretal em seres humanos por linhaça foi encontrada na literatura pesquisada e tão logo a correlação desta suplementação em pacientes desnutridos. Assim, a experimentação animal pode auxiliar na compreensão do trinômio carcinogênese-desnutrição-linhaça. Desta forma, percebe-se que a utilização de animais

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nos trabalhos experimentais de pesquisa científica é de fundamental importância, não só pelos avanços que permite no conhecimento dos mecanismos dos processos vitais, mas também no aperfeiçoamento dos métodos de prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças tanto na medicina humana como na própria medicina veterinária (COBEA, 2004).

Frente a estes relatos a presente pesquisa teve por objetivo avaliar a correlação do processo de Meal-Feeding e a suplementação de sementes de linhaça na carcinogênese colorretal de camundongos Swiss.

MATERIAIS E MÉTODOSAgentes químicos1,2-Dimetilhidrazina (DMH)

Para a indução de danos no DNA utilizou-se a 1,2-Dimetilhidrazina (DMH; Sigma®, CAS No. 306-37-6) na concentração de 2 e 20mg/Kg peso corpóreo (p.c) diluída em solução de EDTA, na concentração de 0,37mg/ml, e administrada aos animais por via intraperitonial (i.p) na proporção de 0,1mL/10g de peso corpóreo (c.p.). Utilizou-se, para a indução dos focos de criptas aberrantes, o protocolo sugerido por Silva (1999) modificado, em que quatro doses de DMH foram administradas, sendo duas doses por semana durante duas semanas na concentração de 2mg/Kg (p.c.; i.p.) e o procedimento se estendeu por outras duas semanas usando a dose de 20mg/Kg (p.c.; i.p.)..

A administração de EDTA ou DMH aos animais aconteceu após 4 semanas de restrição alimentar (período de depleção).

Animais

Foram utilizados camundongos da variedade Swiss (Mus musculus) machos (n=36), adultos, com o peso médio de 30g, provenientes do Centro de Estudos em Nutrição e Genética Toxicológica – CENUGEN do Centro Universitário Filadélfia – UniFil. Os animais foram mantidos e tratados no mesmo centro.

Os animais foram mantidos em caixas de propileno, forradas com maravalha branca de pinho, e trocadas semanalmente. Receberam ração comercial (marca Nuvital®) e água filtrada ad libitum durante o período de adaptação e depois tiverem restrição alimentar com explicado a seguir. A iluminação e temperatura foram controlados, utilizando-se 12/12h de claro/escuro (período claro iniciado às 7h e escuro às 19h),temperatura constante de 22±2oC e umidade de 55%±10.

O experimento foi conduzido segundo as normas do Colégio Brasileiro de Experimentação Animal (COBEA, 2004).

Dietas

Utilizou-se dois tipos de dieta: ração comercial Nuvital® e esta mesma ração suplementada com 10% de linhaça. Para a preparação desta última foi utilizada semente de linhaça triturada e misturadas com a ração comercial previamente moída. Em seguida adicionou-se água filtrada para dar liga à massa. Em seguida a ração foi então peletizada e seca em estufa à 40oC por aproximadamente 12h.

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Delineamento experimentalOs animais foram subdivididos em 4 grupos experimentais (n=9): Grupo 1 e 3 os animais

receberam 8 aplicações de EDTA (0,37mg/mL, 0,1mL/10g (p.c.; i.p.) na 5ª, 6ª, 9ª e 10ª semanas de experimentação; Grupo 2 e 4 - os animais foram submetidos à 4 semanas em restrição alimentar por MF, na 5ª e 6ª semanas os animais receberam 4 doses de DMH, 2 doses por semana, (2mg/Kg c.p.; i.p.) e nas 9ª e 10ª semanas outras quatro doses (20mg/Kg, p.c.; i.p.).

Todos os animais passaram por um período de restrição alimentar de 4 semanas anteriormente à aplicação de EDTA ou DMH. Durante a administração das drogas e por 15 dias após, a restrição alimentar foi mantida. A este período deu-se o nome de período de depleção. Em seguida os animais foram mantidos se alimentando das mesmas rações. No entanto, estas foram administradas ad libitum e caracterizou o período de repleção.

Os grupos 1 e 2 foram suplementados sempre com ração comercial e os grupos 3 e 4 com ração comercial + 10% de semente de linhaça.

Os animais foram mantidos por 8 semanas e então foram coletados os intestinos para a avaliação da presença de focos de criptas aberrantes.

Ensaio Biológico - Teste de Focos de Criptas Aberrantes

Os animais foram sacrificados por deslocamento cervical no final da 24a semana para retirada da porção final do intestino. Logo após o cólon ser retirado este ficou em uma solução tamponada de formalina 10% por um período mínimo de 24 horas.

No momento da análise, cada segmento do cólon foi corado com solução de azul de metileno 10% por 10 minutos e depositado em uma lâmina com a mucosa voltada para cima. A análise foi realizada em microscópio óptico (Microscope DBG) em aumento de 10 vezes. Toda a mucosa foi avaliada para a identificação e quantificação dos focos de criptas aberrantes. A identificação dos FCA foi baseada nos critérios utilizados por Bird (1987): (I) foco constituído de uma única cripta - a cripta aberrante apresenta revestimento por camada epitelial espessa, com abertura lumial elíptica e de tamanho superior (ao menos 2 vezes) aos das criptas normais circunvizinhas; (II) foco com duas ou mais criptas - as criptas aberrantes formam blocos distintos e ocupam uma área maior que a ocupada por um número equivalente de criptas de morfologia normal. Não há presença de criptas normais separando as criptas aberrantes dentro desses focos.

Para análise estatística dos dados provenientes do teste de focos de criptas aberrantes o número total de focos de criptas aberrantes, de criptas aberrantes por focos e a relação cripta/foco, nos diferentes grupos foram comparados, utilizando-se ANOVA/Tukey (p<0,05).

Porcentagem de redução de danos

A porcentagem de redução de danos do agente DMH pela linhaça foi calculada pelo número de focos de criptas aberrantes observados no tratamento com DMH menos o número de focos de criptas aberrantes observadas no grupo associado (DMH + linhaça) x 100, dividido pelo número de focos de criptas aberrantes observados no tratamento com DMH menos o número de focos de criptas aberrantes no controle.

RESULTADOS

A Tabela 1 apresenta a média do peso inicial, peso ao final do período de depleção,

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perda de peso no período de depleção, peso ao final do período de repleção e ganho de peso no período de repleção dos diferentes grupos experimentais. No início do experimento e ao final de depleção os animais do grupo 2 apresentavam a menor média de pesos e esta diferença mostrou-se estatisticamente significativa. No início do experimento a média de peso variou de 37,33 ± 3,00 a 42,00 ± 3,61. Ao final do período de depleção as médias variaram de 32,00 ± 5,66 a 26,85 ± 3,02. Apesar das diferenças encontradas a perda de peso durante o período de depleção foi semelhante para todos os grupos e variou de -7,67 ± 7,53 a -10,57 ± 3,21. Quando da avaliação do peso final do período de repleção e ganho de peso neste mesmo período verificou-se que não houve diferenças estatisticamente significativas para os mesmos parâmetros.

A análise da freqüência de focos de criptas aberrantes permite verificar que a DMH é eficiente em causar o aparecimento deste marcador biológico e a freqüência foi de 5,83 ± 2,50. Já para os animais que somente passaram por restrição alimentar e que foram suplementados com ração comercial ou ração suplementada com 10% de linhaça não houve ocorrência de focos de criptas aberrantes. Já para o grupo que recebeu a DMH associada à linhaça pode-se verificar uma incidência de 2,00 ± 1,12 indicando uma porcentagem de redução de danos para a linhaça de 65,69%.

DISCUSSÃO

São pobres as pessoas que não suprem permanentemente necessidades humanas elementares como comida, abrigo, vestuário, educação, cuidados de saúde dentre outros. Tem fome aqueles cuja alimentação diária não aporta a energia requerida para a manutenção do organismo e para o exercício das atividades ordinárias do ser humano. Sofrem de desnutrição os indivíduos cujos organismos manifestam sinais clínicos provenientes da inadequação quantitativa (energia) ou qualitativa (nutrientes) da dieta ou decorrentes de doenças que determinem o mau aproveitamento biológico dos alimentos ingeridos (MONTEIRO, 2003).

Fome e desnutrição não são conceitos equivalentes. No entanto, uma vez que, se toda fome leva obrigatoriamente à desnutrição, nem toda desnutrição se origina da deficiência energética das dietas. A deficiência específica de macro e micronutrientes, o desmame precoce, a higiene alimentar precária e a ocorrência excessiva de infecções são causas bastante comuns na desnutrição (MONTEIRO, 2003).

Segundo Burlandy & Anjos (1997) as áreas que concentram os maiores percentuais de desnutrição no Brasil é a Região Nordeste e as áreas rurais em geral.

A desnutrição nestas áreas pode associar-se a duas questões importantes: (I) esta população está em estado de fome ou (II) ingere alimentos não balanceados que são capazes de saciar a fome, mas não de promover nutrição adequada.

Um estudo realizado por Teodósio et al. (1990) estabeleceu uma dieta básica regional. Esta dieta foi estabelecida a partir de inquéritos dietéticos, conduzidos na Zona da Mata de Pernambuco e determinou-se que para cada 100g de dieta estava presente 18,3g de feijão mulatinho, 64,8g de farinha de mandioca, 4,1g de charque e 12,8g de batata doce. Esta preparação apresenta a seguinte composição centesimal: proteína (7,8%), carboidrato (73,2%), gordura (1,5%), fibras (7,2%), cinzas (1,3%) e umidade (9,0%).

Atualmente, esta dieta é usada como modelo experimental para estudo da desnutrição, por induzir, no rato, quadro carencial semelhante ao marasmo verificado em populações humanas (TEODÓSIO et al., 1990; FERREIRA et al., 2005). No entanto, outra forma de se estudar o estado de desnutrição em animais experimentais, e que refleti a condição humana, é por meio da técnica

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de Meal Feeding. Nestes protocolos os animais possuem dietas adequadamente balanceadas disponíveis apenas por duas horas diariamente (SUMIDA et al., 2000).

Apesar de bem estabelecidos algumas formas de causar desnutrição em animais experimentais, a literatura pesquisada não possui nenhum trabalho que desnutrição e carcinogênese química em camundongos. Assim, este trabalho mostra-se pioneiro. Outra questão importante a ser levantada é que também não foi encontrado nenhum trabalho que versasse sobre o trinômio carcinogênese-desnutrição-linhaça. Assim, este trabalho mostra-se mais uma vez pioneiro por demonstrar a influência na linhaça na carcinogênese colorretal causada por DMH em camundongos Swiss.

Frente a destas considerações e analisando o resultados obtidos por esta pesquisa pode-se inferir que o processo de Meal Feeding, realizado durante 4 semanas anteriores à indução das lesões pré-neoplásicas, mais duas semanas de indução das lesões pré-neoplásicas e outras duas semanas posteriores à indução, aqui chamado de período de depleção, foi eficiente em causar a desnutrição nos camundongos. Este relato está de acordo com os resultados encontrados por Teodósio et al. (1990) e Ferreira et al. (2005).

O período de depleção causou perda de peso em todos os grupos visto que todos estavam sobre regime de Meal Feeding. Os grupos que receberam EDTA+ RC, DMH+RC, EDTA+RL e DMH+RL apresentaram perda de peso de 25,17%, 20,18%, 23,27% e 25,23%, respectivamente. Segundo Ferreira et al. (2005) esta perda em animais experimentais é um importante indicativo do quadro carencial semelhante ao marasmo verificado em populações humanas. Apesar destas importantes reduções de peso verifica-se que elas foram semelhantes entre os diferentes grupos.

Após este período os animais entraram em processo de repleção onde as dietas foram mantidas ad libitum. Esta alteração no processo alimentar dos animais deveu-se à perda de peso e marasmo ser tão significativo que em experimentos pilotos estava diretamente relacionado à morte dos animais caso o período de depleção fosse estendido por mais tempo.

Após 8 semanas em processo de repleção verificou-se incremento do peso da ordem de 45,80%, 47,91%, 43,67% e 48,42% para os grupos EDTA+ RC, DMH+RC, EDTA+RL e DMH+RL, respectivamente. Este fato pode sugerir que o animal mesmo após estado debilitado, pelo processo de desnutrição e indução das lesões pré-neoplásicas, apresenta grande plasticidade e capacidade de recuperação da composição corporal desde que seja suplementado com uma dieta balanceada e em quantidade adequada para a manutenção de suas condições vitais.

A análise da freqüência de focos de criptas aberrantes na mucosa intestinal indica que o processo de desnutrição por si só bem como a suplementação com linhaça não se correlaciona ao aparecimento de lesões pré-neoplásicas.

Quando avaliado o grupo submetido à suplementação com ração comercial e tratado com DMH verificou-se a ocorrência média de focos de criptas aberrantes na ordem de 5,83 ± 2,50. Já para o grupo suplementado com 10% de linhaça e tratado com DMH verificou-se uma média de 2,00 ± 1,12 focos de criptas aberrantes. Desta forma, verifica-se uma porcentagem de redução de danos de 65,69% para aquele grupo que consumiu a linhaça. Assim, supõe-se que a suplementação desta fibra foi capaz de prevenir o aparecimento de lesões pré-neoplásicas que são determinadas pela administração sucessiva de DMH.

Vários estudos comprovam que a ingestão de fibras e grãos inteiros tende a reduzir a incidência de câncer de cólon (JENAB et al., 2004; SCHATZKIN et al., 2007; SLATTERY et al., 2004).

Atualmente há grande interesse em promover a ingestão de linhaça na dieta, devido aos seus potenciais benefícios à saúde, especificamente anticarcinogênico. Esta atividade está

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ligada à presença de lignanos e aos ácidos graxos ômega-3 contidos nesta semente. A semente de linhaça é uma excelente fonte de fibras alimentares, ácido α-linolênico, precursores de lignanas dos mamíferos e secoisolariciresinol-diglucósido. As lignanas de mamíferos como enterodiol e enterolactona são produzidas pela ação da microflora presente no intestino a partir de precursores da lignana vegetal. Após a produção estes são subseqüentemente absorvidos e submetidos à circulação enterohepática (YUAN et al., 1999) desencadeando assim ações benéficas ao organismo que diminuiria a incidência de câncer.

Devido a sua constituição, a linhaça tem um grande potencial antioxidante e é usada com amplo sucesso na redução de doenças cardiovasculares. Os ácidos graxos (ômega-3) ajudam a reduzir a inflamação e pode ser útil no tratamento de uma variedade de doenças auto-imunes e cardiovasculares (KINNIRY et al., 2006).

Após os estudos apresentados pode-se inferir que a linhaça possa agir na prevenção da carcinogenicidade pelas seguintes frentes: atividade antioxidante, propriedade antinflamatória, capacidade adsortiva, aumento de trânsito intestinal e por fim pela indução de fermentação por bactérias específicas.

O principal grupo de agentes inibidores da carcinogênese é representado por antioxidantes, bloqueadores de radicais livres (KLEINER, 1997; KELLOFF et al., 1999). Os antioxidantes são substâncias que, mesmo presentes em baixas concentrações, são capazes de atrasar ou inibir as taxas de oxidação (MAXWELL, 1995; SIES, 1999). A classificação mais utilizada para estas substâncias é a que as divide em dois sistemas: enzimático, composto pelas enzimas produzidas no organismo e não enzimático, composto pelas vitaminas e outros compostos naturais tais como flavonóides, licopenos e bilirrubinas (SIES, 1999).

Os antioxidantes agem em três linhas de defesa orgânica contra as espécies de oxigênio reativas que podem desencadear o câncer: (I) prevenção, que se caracteriza pela proteção contra formação das substâncias agresssoras; (II) interceptação de radicais livres, os quais uma vez formados iniciam suas atividades de danificação do DNA (KONG & LILLEHEI, 1998; SANTOS & CRUZ, 2001); (III) quando a prevenção e interceptação não foram efetivas e os subprodutos da atividade dos radicais livres estão sendo continuamente formados em baixas quantidades, podendo se acumular no organismo, há a necessidade dos mesmos serem encaminhados à excreção pelas enzimas de detoxicificação ao mesmo tempo que os mesmos antioxidantes modulem o sistema de reparo de DNA das células que estão sendo atacadas. Assim, supõe-se que a linhaça também possa promover estas atividades.

Outro modo de ação para a atividade anticarcinogênica da linhaça pode ser pela sua capacidade de diminuir os processos inflamatórios e percebe-se neste contexto uma importante informação para indicar como a suplementação desta fibra poderia influenciar na formação de lesões pré-neoplásicas.

Em roedores a administração da DMH desencadeia uma reação inflamatória leve e um aumento da proliferação celular na mucosa do cólon (KRUTOVSKIKH & TUROSOV, 1994). Sua aplicação sucessiva resulta na proliferação contínua, havendo um aumento do número de células em fase de síntese de DNA (DESCHNER, 1978; WARGOVICH et al., 1983) e, dessa forma há uma hiperplasia progressiva das criptas e hipertrofia da mucosa (WIEBECKE et al., 1973; RICHADS, 1977) que podem culminar na formação de lesões pré-neoplásicas que evoluiriam para tumores de cólon e reto. No entanto, como a linhaça tem a propriedade de reduzir esta atividade inflamatória indiretamente ela adquire a capacidade anticarcinogênica que está diretamente relacionada à inflamação na mucosa intestinal.

Outro fato a ser considerado a respeito da capacidade anticarcinogênica de fibras, assim

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como da linhaça, é que estas quando presentes na dieta podem atuar como antimutágenos, ou seja, as fibras dietéticas preparadas a partir do parênquima celular de frutas e vegetais, em geral, apresentam capacidade adsortiva. Desta forma, quanto mais hidrofóbica esta preparação (menor hidrólise da fibra), melhor a capacidade em adsorver a substância indutora de mutações (FERGUSON, 1994) facilitando a sua excreção do organismo juntamente às fezes e as fibras que as compõem visto que estas também aumentam o trânsito intestinal. Este fato impede a absorção de carcinógenos ou pró-carcinógenos que poderia levar a alterações no DNA que se correlacionam ao desenvolvimento de câncer.

Por fim acredita-se que o último modo de ação anticarcinogênico da linhaça possa se dar devido à capacidade dos prebióticos, tais como a linhaça, estimularem seletivamente o crescimento de bactérias intestinais benéficas, que atuam indiretamente no processo de prevenção de mutações e de tumores (ROBERFROID, 2000).

A linhaça, devido possuir pectina, um tipo de fibra solúvel em sua constituição, pode apresentar ação estimulatória de um determinado grupo de bactérias, as bifidobactérias. Tais bactérias apresentam capacidade moduladora da expressão da apoptose, evento este antitumorigênico (REDDY, 1999). Existem relatos de que a fermentação da inulina, um outro tipo de fibra solúvel, permite a formação de ácidos graxos de cadeia curta, mais especificamente o butirato (ácido butírico), que constitui fonte de energia para os enterócitos, estimula a proliferação celular do epitélio e aumenta o fluxo sanguíneo visceral (ROBERFROID, 2005). Logo devido à presença de pectina na linhaça acredita-se que as considerações feitas para inulina também sejam esperadas para a suplementação de sementes de linhaça.

Um fato importante que pode relacionar-se à ingestão de linhaça e/ou inulina é que estas fibras propiciam uma competição benéfica na microflora residente no intestino, devido à estimulação específica das bifidobactérias, que diferentemente das outras bactérias intestinais produzem pouca ou nenhuma enzima β-glicuronidase. Esta enzima atua ativando metabólitos gliconorídeos de contaminantes alimentares e aminas heterocíclicas (POOL-ZOBEL et al., 2002; HAULY & MOSCATTO, 2002). Desta forma, a diminuição desta enzima reduz a metabolização destes compostos cancerígenos como é o caso da DMH utilizada neste estudo.

No fígado o produto da hidrólise da DMH, o metilazoximetanol, que é conjugado com o ácido β-glicurônico, é levado até a luz intestinal, onde a β-glicuronidase bacteriana libera o metabólito ativo da DMH, o azoximetano (LAMONT & O’GORMAN, 1978).

Pool-Zobel et al. (2002) afirmam que a fibra inulina é metabolizada preferenciamente pelas bifidobactérias presentes no intestino humano e também de roedores. Esta relação relatada ocorre por competição sendo esta benéfica, visto que as bifidobactérias, ao contrário de outras espécies presentes no intestino humano, produzem em pouca ou em nenhuma quantidade a enzima β-glicuronidase, levando assim uma diminuição da metabolização da droga indutora de danos e conseqüentemente diminuindo a carcinogenicidade presente na mucosa colorretal. Outro mecanismo adjuvante é que esta competitividade da flora bacteriana faz com que bactérias produtoras de outras enzimas metabolizadoras de pró-carcinógenos tenham seu crescimento diminuído, reduzindo a presença destas enzimas na mucosa colorretal e, por conseguinte a carcinogenicidade (HAULY & MOSCATTO, 2002). Desta forma, devido à similaridade da inulina e da pectina presente na linhaça acredita-se que ambas possuam a mesma capacidade.

Ainda é lícito destacar que os estudo de LIN et al. (2002) afirmam que por meio de uma dieta suplementada com 5% linhaça pode ocorrer a inibição do crescimento e desenvolvimento do câncer de próstata em ratos. Destaca-se também que de acordo com Yuan et al. (1999) as lignanas da linhaça, um outro tipo de fibra e insolúvel, possuem atividade antioxidante, funcionariam não

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somente inativando os radicais livres dos ácidos graxos e espécies reativas de oxigênio, mas também, tendo um efeito indireto in vivo nos sistemas antioxidantes endógenos. De acordo com o estudo de Bhathena et al. (2002) o efeito protetor da linhaça contra o câncer de cólon é atribuído também às lignanas e em particular ao SDG (secoisolariciresinol-diglucósido). Outro fato que chama a atenção é que este tipo de fibra também possui a capacidade de adsorver compostos carcinogênicos e aumentar o trânsito intestinal diminuindo o contato da mucosa com substâncias prejudiciais.

Outro relato feito por Turatti (2001) diz que a parte oleaginosa da semente de linhaça é composta por 57% de ácidos graxos ômega-3, 16% de ômega-6, 18% de ácido graxo monoinsaturado e somente 9% de insaturados. A predominância do ômega-3 na mesma pode correlacionar-se com a prevenção das doenças coronarianas e câncer corroborando assim os resultados deste trabalho. Este acho também pode ser corroborando pelos comentários de Jenab & Thompson (1996) que afirmam que a linhaça é a fonte mais rica de precursores lignanas, tais como secoisolariciresinol diglycoside. O uso da linhaça, a curto prazo, pode diminuir alguns biomarcadores precoce de câncer de cólon; e, a longo prazo, a linhaça ainda exerce um efeito protetor contra o câncer de cólon devido ao seu alto teor de secoisolariciresinol diglycoside .

A atividade antioxidante e quimiopreventiva da linhaça também pode ser corroborada pelo estudo de Oomah et al. (1997) que relata que os tocoferóis possuem uma forte atividade antioxidante, portanto a sua presença na semente de linhaça, especialmente α-tocoferol estaria colaborando com a atividade antioxidante e quimiopreventiva da semente desta semente.

Todos estes achados anteriormente discutidos também foram verificados pelos trabalhos de Mauro (2008) e Takahachi (2008). Estes autores realizaram o ensaio biológico de focos de criptas aberrantes e prevenção por fibra solúvel, inulina. Takahachi também estudou a prevenção de carcinogênese colorretal em animais desnutrido e este estudo demonstrou que a inulina é um forte candidato a compor o grupo de alimentos funcionais utilizado para a prevenção do câncer tanto em pessoas com nutrição adequada quanto para pessoas em desnutrição. Outro fato que é necessário salientar quando os autores relatam que o quadro de restrição protéico-calórica pode alterar a resposta de indução de focos de criptas aberrantes pela DMH e a suplementação de inulina poderá auxiliar na prevenção de danos que causem a iniciação de células da mucosa intestinal que poderão relacionar-se ao desenvolvimento do câncer. No entanto, se comparada à freqüência de focos de criptas aberrantes em animais nutridos e tratados com DMH (5,10±2,69) com a freqüência de focos nos animais nutridos desta pesquisa (5,83±2,50) não se pode supor a mesma interferência sugerido por Takahachi (2008). Porém, vale ressaltar que a linhaça também é capaz de prevenir lesões pré-neoplásicas em animais desnutridos assim como citado por este autor. As porcentagens de redução de danos para animais nutritos e desnutridos foram de 47,05 e 59,25%, respectivamente. Enquanto que neste estudo a porcentagem de lesões pré-neoplásicas foi da ordem de 65,69%. Desta forma, e em uma análise geral verifica-se que a linhaça possui uma prevenção maior para os animais desnutridos.

Frente a estas considerações percebe-se que a linhaça poderá em futuro próximo ser um importante alimento funcional a ser utilizado na prevenção de câncer e em especial o de cólon e reto. Devido aos relatos dos diferentes modos de ação que podem ser inferidos, para a suplementação de linhaça, nota-se também que esta semente poderá ser utilizada como um adjuvante do tratamento quimioterápico e com possibilidades de bons resultados. Ainda é cedo o fechamento do assunto e novos trabalhos envolvendo a suplementação de linhaça a animais nutridos e desnutridos precisam ser realizados para que se possa melhor compreender a ação desta fibra na prevenção da carcinogênese e uma possível aplicação da mesma em seres humanos.

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Efeitos da restrição alimentar, pelo método de Meal-Feeding, e da suplementação de semente de linhaça (Linum Usitatissimum) no câncer de colorretal de camundongos Swiss

Apoio Financeiro: Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-graduação do Centro Universitário Filadélfia - UniFil.

Tabela 1 – Média do peso inicial, peso ao final do período de depleção, ganho de peso no período de depleção, peso ao final do período de repleção e ganho de peso no período de repleção dos diferentes grupos experimentais:

Grupos Peso inicialPeríodo de Depleção Período de Repleção

Peso Final Perda de Peso Peso Final Ganho de Peso

1 42,00 ± 3,61b 30,57 ± 2,22b -10,57 ± 3,21ª 46,86 ± 6,82b 14,00 ± 5,66ª

2 38,00 ± 5,74a 32,00 ± 5,66ª -7,67 ± 7,53ª 47,33 ± 4,13b 15,33 ± 4,50ª

3 38,67 ± 4,35b 30,75 ± 4,65b -9,00 ± 5,01ª 47,42 ± 2,22b 13,43 ± 2,51ª

4 37,33 ± 3,00b 26,85 ± 3,02b -9,42 ± 5,13ª 47,00 ± 3,74b 13,00 ± 3,29ªLegenda: Grupo 1: Ração comercial (RC) + EDTA; Grupo 2: RC + DMH; Grupo 3: Ração Comercial + Linhaça

10% (RL) + EDTA; Grupo 4: RL + DMH. Letras diferentes indicam diferenças estatisticamente significativas

(Estatística: ANOVA/Tukey; p < 0,05).

Tabela 2 – Média de freqüência de focos de criptas aberrantes e porcentagem de redução de danos:

Grupos Média da freqüência de FCA Porcentagem de Redução de Danos

1 0,00 ± 0,00a -

2 5,83 ± 2,50b -

3 0,00 ± 0,00a -

4 2,00 ± 1,12a 65,69

Legenda: Grupo 1: Ração comercial (RC) + EDTA; Grupo 2: RC + DMH; Grupo 3: Ração Comercial + Linhaça

10% (RL) + EDTA; Grupo 4: RL + DMH. Letras diferentes indicam diferenças estatisticamente significativas

(Estatística: ANOVA/Tukey; p < 0,05).

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Análise físico-química da água do córrego Japira, localizado na cidade de Apucarana-Pr

ANÁLISE FÍSICO-QUÍMICA DA ÁGUA DO CÓRREGO JAPIRA, LOCALIZADO NA CIDADE DE APUCARANA-PR

ANALYSIS PHYSICAL CHEMISTRY OF STREAM WATER JAPIRA, LOCATED IN THE CITY OF APUCARANA-PR.

Nayara Sotti Galdino1*

Rosana Betazza Trombini2**

RESUMO:As ações do homem estão relacionadas com a manutenção do meio ambiente e de todo o ecossistema. Analisar a qualidade da água é importante para os órgãos ambientais e toda a população de uma cidade. O objetivo do presente trabalho foi analisar a qualidade da água do Córrego Japira localizado na cidade de Apucarana – PR. Foram realizadas quatro coletas nos meses de maio e junho de 2010 e análises físico-químicas das águas de cinco pontos distintos do córrego. Os resultados das análises foram comparados com os limites permitidos pela Resolução CONAMA 357/05, para águas de classe 2 e mostraram que parâmetros como pH, Oxigênio Dissolvido, Cloreto e Nitrito encontraram dentro dos limites permitidos, considerados estáveis, já os valores da Demanda Química de Oxigênio, Nitrato, Fosfato e Oxigênio Dissolvido se encontraram alterados, causados provavelmente pelo tipo de uso e ocupação do solo. O presente trabalho demonstrou que o córrego Japira apresenta características de degradação em alguns pontos do canal e que a qualidade da água em alguns pontos não atende aos limites exigidos pela legislação. PALAVRAS – CHAVE: Água, Córrego Japira, Análise físico – química.

ABSTRACT:Human activities are related to sustaining the environment and the entire ecosystem. To analyze the water quality is important for environmental agencies and the entire population of a city. The purpose of this study was to analyze the water quality of the stream Japira located in the city of Apucarana - PR. Four samples were taken during May and June 2010 and physico-chemical conditions of five different points of the stream. The analysis results were compared with the limits allowed by CONAMA Resolution 357/05, to Class 2 waters and showed that parameters such as pH, Dissolved Oxygen, Chloride and nitrite were within the permissible limits, which are considered stable, since the values of Chemical Demand Oxygen, Nitrate, Phosphate and Dissolved Oxygen match changed, probably caused by land use and land cover. The present study showed that the stream has characteristics Japira degradation in some parts of the channel, and the water quality at some points does not meet the limits required by legislation.

KEY - WORDS: Water, Stream Japira, Physical - chemical analysis.

INTRODUÇÃO

A água é um recurso natural essencial à vida. De acordo com Pough (2003), as primeiras

* Acadêmica da Faculdade de Apucarana – FAP – Curso de Ciências Biológicas. e-mail: [email protected]; 30338900; Rua Osvaldo de Oliveira, 600 Jardim Flamingos; CEP: 86711-500 – Apucarana – ** Docente da Faculdade de Apucarana – FAP – Curso de Ciências Biológicas. e-mail: [email protected]; 30338900; Rua Osvaldo de Oliveira, 600 Jardim Flamingos; CEP: 86711-500 – Apucarana - Pr

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Nayara Sotti Galdino, Rosana Betazza Trombini

formas de vida surgiram nos oceanos há cerca de 4 mil milhões de anos. A água é um recurso natural finito de grande importância e apesar de todos os esforços

para seu armazenamento e diminuição do seu consumo, está se tornando cada vez mais um bem escasso, e sua qualidade se arruinando cada vez mais rápido (FREITAS, 2001). A sua conservação vem se deteriorando com o passar do tempo, devido ao aumento desordenado da população e a falta de políticas públicas (MERTEN e MINELLA, 2002).

A resolução CONAMA n° 357/05 (Conselho Nacional do Meio Ambiente), aponta que a água está entre as preocupações do desenvolvimento sustentável fundamentado nos princípios de ecologia em propriedades, da precaução, da prevenção, do poluidor – pagador, do usuário – pagador e da integração, assim como os valores ligados à natureza.

Um dos fatores preocupantes que tem se tornado foco de pesquisas científicas nos últimos tempos é o uso e a destinação correta das águas. Com o aumento da população associado ao desenvolvimento industrial nota-se a importância da qualidade da água. Sendo assim é fundamental que a água esteja em condições físico-químicas adequadas para a utilização dos seres vivos (CRUZ et al., 2007).

O uso de análises dos parâmetros físico-químicos para identificar a qualidade da água é uma tentativa de tentar monitorar águas de córregos como forma de acompanhar e levantar algumas informações prevenindo uma possível deterioração do corpo de água ao longo do tempo.

O Córrego Japira encontra-se em perímetro urbano, portanto torna-se relevante investigar os possíveis impactos ambientais que vem sofrendo. Neste contexto, o presente trabalho objetivou-se avaliar a qualidade da água do Córrego Japira na Cidade de Apucarana-PR, analisando parâmetros físico-químicos da água.

Mediante os problemas que a água poluída pode causar, justificamos a importância e necessidade em se fazer análises físico-químicas de corpos hídricos, levantando possíveis contaminações e alterações nas características dos ecossistemas aquáticos, a fim de eliminar ou minimizar tais problemas, melhorando a qualidade das águas naturais e consequentemente melhorando as condições de vida do nosso planeta.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de Estudo

A cidade de Apucarana encontra–se localizada na região norte do estado do Paraná (Figura 1). Situada no Terceiro Planalto Paranaense sobre um grande divisor de águas entre as bacias hidrográficas do rio Tibagi a Leste, Ivaí ao sul e Paranapanema ao Norte, apresenta altitudes compreendidas entre 750 e 860 ao longo deste interflúvio principal, até cotas inferiores a 500 metros nas extremidades Leste, Oeste e Sul do município (MANOSSO, 2007)

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Análise físico-química da água do córrego Japira, localizado na cidade de Apucarana-Pr

FIGURA 1. Localização da cidade de Apucarana-pr.Fonte: MANOSSO, 2007.

O presente trabalho foi realizado no Córrego Japira, pertencente à Bacia do Rio Tibagi no perímetro urbano da cidade de Apucarana, nas coordenadas 23º32’.87’’S e 51º26’18’’O, o qual atravessa o Núcleo Habitacional João Goulart e deságua na Represa do Schimidt, nas coordenadas 23º32’11.79’’S e 51º25’45.54’’O. A área analisada possui 780 metros de extensão. Em alguns trechos o córrego apresenta-se degradado, desprovido de mata ciliar adequada e vestígios de contaminação por descargas de esgoto doméstico e lixo.

FIGURA 2: Localização do córrego Japira na cidade de Apucarana – PR e os pontos analisados destacados.

Fonte: GOOGLE EARTH, atualizado em dezembro de 2007.

COLETA DE DADOS

Foram realizadas quatro coletas sendo duas no mês de maio e duas no mês de junho de 2010, sempre no período da manhã em dias de sol e 48 horas no mínimo de ausência de chuva, para que não ocorresse alteração nos resultados. A água foi coletada em cinco pontos estabelecidos conforme mostra a fi gura 2, de acordo com a sua extensão de 780 metros. Foram utilizadas garrafas

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Nayara Sotti Galdino, Rosana Betazza Trombini

pet de 2 litros como recipiente e após as coletas as amostras foram levadas até o laboratório de Química e Bioquímica do Bloco de Saúde da FAP – Faculdade de Apucarana para análises físico-químicas. Os parâmetros analisados foram: Oxigênio Dissolvido, pH, Nitrito, Nitrato, Demanda Química de Oxigênio (DQO), Fosfato e Cloreto, sendo todos os pontos analisados no mesmo dia da coleta por meio do STANDART METHODS.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

TABELA 2. Valores de ph, nos locais de amostragem do Córrego Japira.

Data da Coleta Ponto 1 Ponto 2 Ponto 3 Ponto 4 Ponto 5 Limites CONAMA

10.05.2010 6,11 6,08 5,85 5,94 6,54

6 a 924.05.2010 7,46 6,37 6,91 6,27 6,3714.06.2010 7,94 6,86 7,33 6,51 6,8221.06.2010 7,60 6,63 7,55 6,40 6,85

O pH de um corpo d’água pode variar, dependendo da área que este corpo recebe as águas da chuva, dos esgotos e a água do lençol freático. Brito (1997) encontrou pH de variação mínima de 4,47 e máxima de 5,4 nos poços de interiores do Maranhão, já Shneider et al (2009), encontrou valores de pH em dois córregos da cidade Maringá-PR entre 7 e 8,5 considerados dentro dos limites permitidos para águas de classe II, já os valores de pH do presente trabalho apresentados na tabela 2 com variação mínima de 5,85 e máxima de 7,94, padrão semelhante encontrado por Silva (2007) em análise de águas para irrigação de propriedades agrícolas no Maranhão, com variação mínima de 6,27 e máxima de 7,78.

No entanto os pontos 3 e 4 da primeira coleta (10/05/2010) apresentaram o pH abaixo do limite permitido (6 a 9), previsto na resolução CONAMA 357/05. Segundo Orssatto et al (2009), os ecossistemas sempre estão sujeitos aos impactos provocados pela variação dos valores de pH.

As variações do pH no meio aquático estão relacionadas ainda com a dissolução de rochas, absorção de gases da atmosfera, oxidação da matéria orgânica e fotossíntese.

TABELA 3. Concentração de oxigênio, nos locais de amostragem do córrego Japira.

Data da Coleta

Ponto1

Ponto2

Ponto3

Ponto4

Ponto5

Limites CONAMA

10.05.2010 3,8 3,9 5,4 3,6 4,2

mín. 5 (ppm)24.05.2010 5,2 4,9 4,7 4,5 4,5

14.06.2010 5,3 5,1 4,8 4,2 4,1

21.06.2010 3,1 4,2 4,3 4,2 4,2

Através dos resultados obtidos e dos valores referentes à classificação CONAMA 357/05, foi possível observar vários aspectos importantes sobre a qualidade da água do córrego Japira, relacionando-se também com a caracterização física do local e com a atividade antrópica.

O limite mínimo estabelecido para O.D é de 5,0 ppm , para águas de classe 2. De acordo com a tabela 3 o córrego do Japira apresentou variações entre 3,1 e 5,4 ppm atendendo aos

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Análise físico-química da água do córrego Japira, localizado na cidade de Apucarana-Pr

padrões apenas nos pontos 1 (5,2 e 5,3 ppm); 2 (5,1 ppm) e 3(5,4 ppm). Madruga (2008), verificou uma variação no O.D para o córrego dos Macacos de 3,45 e 4,27 ppm, verificado também por Romitelli e Paterniani (2007) no córrego Bonifácio na cidade Jundiaí-SP, Brites e Gastaldini (2007) e Silveira et al, (2007) verificaram concentrações de O.D inferiores aquele exigido pela resolução CONAMA 357/05 em micro bacias hidrográficas urbanizadas em Porto Alegre. Já Lima et al, (2008) encontraram teores de O.D superiores no rio Jaguari Mirim, os quais variaram de 5,0 a 7,9 ppm. A baixa concentração de OD pode estar relacionada a deposição de matéria orgânica proveniente do solo e fezes de animais. Segundo Von Sperling (1996). A oxidação da matéria orgânica corresponde ao principal fator de consumo de oxigênio. O consumo de OD se deve à respiração dos microrganismos decompositores, principalmente as bactérias heterotróficas aeróbias.

TABELA 4. Concentração de cloreto, nos locais de amostragem do córrego Japira.

Data da Coleta

Ponto1

Ponto2

Ponto3

Ponto4

Ponto5

LimitesCONAMA

10.05.2010 31,55 33,66 31,55 32,18 35,76

Max. 250 ppm

24.05.2010 41,23 40,60 37,86 31,55 31,55

14.06.2010 69,42 51,12 43,34 36,39 45,44

21.06.2010 48,38 52,59 51,12 47,54 46,28

De acordo com a tabela 4 os valores de cloreto variaram de 31,55 a 53,59 ppm, encontrando-se dentro da normalidade para águas dessa natureza. Macêdo (2002) afirma que cloretos são encontrados em águas naturais em níveis baixos (7,5 ppm) e Tucci (2001) confirma que concentrações elevadas de cloreto não são desejáveis em águas de classe 2.

TABELA 5. Concentração de DQO, nos locais de amostragem do córrego Japira.

Data da Coleta

Ponto1

Ponto 2

Ponto 3

Ponto 4

Ponto 5

Limites CONAMA

10.05.2010 447,08 406,64 390,92 476,29 510,0

Máx. 30 ppm24.05.2010 25,83 10,11 21,34 34,82 21,90

14.06.2010 262,86 288,69 213,43 199,95 226,91

21.06.2010 70,77 97,73 60,66 20,22 33,70

A DQO representa a quantidade de oxigênio necessária para a oxidação da matéria orgânica com o uso de agente químico (CETESB, 2001).

Os resultados das medidas de DQO apresentados na tabela 5 apontam valores relativamente altos comparados com níveis encontrados em águas naturais, com uma variação de 10,11 a 510,0 ppm. Ribeiro (2002), encontrou elevados valores de DQO no Ribeirão São Bartolomeu em Viçosa, MG, sendo a variação mínima de 250 e máxima de 274 ppm atribuindo tal fato à presença de substâncias oxidáveis nas águas coletadas nos pontos amostrados, decorrentes do intenso lançamento de descargas de esgotos, bem como a baixa vazão de água, com a contribuição

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Nayara Sotti Galdino, Rosana Betazza Trombini

de ferro como redutor do dicromato de potássio. Por outro lado, Veiga (2003), obteve valores que variaram de 0 a 8,4 ppm, no Ribeirão Aurora na cidade de Astorga, PR. Tais valores são próximos daqueles relatados por Medeiros et al (2008) para o rio Jaguari Mirim, após atravessar a área urbana de São João da Boa Vista, os quais variaram de 7 a 24 ppm e por Madruga (2008) no rio Mogi Guaçú, na montante e a jusante da foz do córrego dos Macacos atingiram variações de 11,4 a 17,0 ppm respectivamente.

TABELA 6. Concentração de fosfato, nos locais de amostragem do córrego Japira.

Data da Coleta

Ponto 1

Ponto 2

Ponto 3

Ponto 4

Ponto 5

LimitesCONAMA

10.05.2010 0,136 n.d. n.d. n.d. n.d.

Máx. 0,025 ppm

24.05.2010 0,050 0,085 0,099 0,106 0,050

14.06.2010 0,497 0,050 0,049 0,045 0,040

21.06.2010 0,780 0,020 0,040 0,030 0,030n.d (nada detectado).

O fósforo é um elemento muito importante no metabolismo biológico comparado com outros macronutrientes requeridos pela biota. Geralmente é o primeiro elemento limitante da produtividade biológica por ser o menos abundante. Por outro lado, este tem sido apontado como um dos elementos responsáveis pela eutrofização artificial de ecossistemas aquáticos (ROCHA, 2005).

Os resultados da concentração de fosfato são apresentados na tabela 6, na qual se pode observar uma piora na qualidade da água do córrego Japira, com variação de 0 a 0, 780 ppm sendo assim considerados superiores ao limite máximo estabelecido pela legislação (0,025 ppm) e pelo fato do elemento fósforo, que em diferentes frações caracterizam o elemento potencialmente crítico para os processos de eutrofização. No entanto, Madruga (2008) encontrou valores que atingiram variações de 0,146 e 0,256 ppm no córrego dos Macacos. Borges et al. (2003) observaram uma variação no teor de fósforo de 0,01 a 0,07 ppm em dois córregos no município de Jaboticabal - SP. Já Medeiros et al. (2008) registraram concentrações de fósforo variando de 0,1 a 1,0 ppm no rio Jaguari Mirim.

TABELA 7. Concentração de nitrito, nos locais de amostragem do córrego Japira.

Data da Coleta

Ponto 1

Ponto 2

Ponto 3

Ponto 4

Ponto 5

Limites CONAMA

10.05.2010 0,050 0,016 0,015 0,014 0,024

Máx. 1 ppm24.05.2010 0,060 0,017 0,019 0,012 0,014

14.06.2010 0,067 0,022 0,025 0,018 0,018

21.06.2010 0,390 0,040 0,030 0,020 0,020

O nitrito é um estado intermediário do ciclo do nitrogênio, é formado durante a decomposição da matéria orgânica podendo ser rapidamente oxidada a nitrato dependendo

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Análise físico-química da água do córrego Japira, localizado na cidade de Apucarana-Pr

das condições ambientais em que se encontra como disponibilidade de oxigênio, aeração e movimentação do corpo d’água (NETO, 2003). Em águas superficiais a presença de nitritos pode indicar a decomposição parcial de matéria orgânica, descarga excessiva oriunda de estação de tratamento de água ou poluição industrial. Em águas poluídas a presença de nitrito pode indicar a presença de bactérias redutoras de nitrato quando as condições presentes são anaeróbias. Os valores amostrados não superaram o limite do CONAMA 357/05 permitido para águas de classe 2, que é de 1,0 ppm.

TABELA 8. Concentração de nitrato, nos locais de amostragem do córrego Japira.

Data daColeta

Ponto 1

Ponto 2

Ponto 3

Ponto 4

Ponto 5

LimitesCONAMA

10.05.2010 8,90 7,31 8,76 6,85 8,28

Máx.10 ppm24.05.2010 11,38 14,16 16,77 16,64 13,67

14.06.2010 21,40 14,30 15,04 14,56 15,71

21.06.2010 10,59 7,78 10,82 8,44 6,68

Na tabela 8 são apresentados os resultados das análises de nitrato no córrego do Japira, com variação de 6,68 a 21,40 ppm. Nos dias 10 de maio e 21 de junho os valores se mantiveram dentro dos limites permitidos pela legislação (10 ppm). Tais valores verificados também por Madruga (2008) no córrego dos Macacos com variações de 1,89 a 4,21 ppm; Romitelli e Paterniani (2007) registraram uma concentração de nitrato mínima de 7,5 e máxima de 15 ppm no córrego Bonifácio. Já Oliveira et al. (2008) observaram uma variação de 0,1 a 1,0 ppm na concentração desse parâmetro de qualidade da água do rio Jaguari Mirim, afluente do rio Mogi Guaçu. Nos dias 24 de maio e 14 de junho os valores de concentração de nitrato superaram o limite permitido, de acordo com Derísio (1992), as altas concentrações de nitrato contribuem para a proliferação de organismos aquáticos e consequentemente leva a eutrofização, o que determina prejuízos para o sistema aquático, já que causam o aumento de organismos tóxicos, como algas além das plantas aquáticas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho demonstrou a importância de se analisar a qualidade da água do córrego Japira devido as suas condições físicas e químicas. Os valores das análises foram comparados com os limites permitidos pela Resolução CONAMA 357/05, para águas de classe 2.

O córrego Japira apresenta características de degradação em alguns pontos do canal. Em relação à qualidade da água, alguns parâmetros como a Demanda Química de Oxigênio, Fosfato e Nitrato encontraram-se alterados, causados provavelmente pelo tipo de uso e ocupação do solo, estes resultados ressaltam a necessidade de implantação de medidas mitigadoras (desocupação de áreas de preservação permanentes nos 30 metros próximos do córrego), pois o córrego Japira por se encontrar em área urbana está fortemente pressionado pelas atividades desenvolvidas em seu entorno devido à presença antrópica.

Este trabalho proporcionou ter uma visão mais ampla sobre as condições físicas de ambientes urbanos que sofrem com a ação antrópica e não havendo estudos na tentativa de investigar as possíveis causas de uma deterioração de um corpo hídrico, com o passar do tempo

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haverá prejuízos para a população. Com os resultados obtidos podemos estar promovendo um alerta à população que

reside nas proximidades do córrego sobre a importância em se preservar um recurso hídrico, estar divulgando estes resultados para os órgãos públicos para que sejam tomadas as devidas providências de acordo com a necessidade.

A qualidade da água é um evento dinâmico em tempo e espaço, no entanto não se pode esperar que a poluição atinja níveis alarmantes para combatê-los. Por isso é importante que se faça o monitoramento contínuo para o enquadramento do córrego nos padrões aceitáveis pela legislação.

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Prontuário eletrônico na sistematização da assistência de enfermagem

PRONTUÁRIO ELETRÔNICO NA SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM1*

ELECTRONIC MEDICAL RECORDS IN THE SYSTEMATIZATIN OF NURSING CARE

Roberto Tavares2**

Prof.ª Regina Fukuda3***

Prof.ª Dra. Damares T. Biazin4****

RESUMO: A maioria dos hospitais tem enfrentado sérios problemas com a interpretação, manuseio e arquivo dos prontuários dos clientes aos quais prestam serviços. O uso da Tecnologia no atendimento à saúde está mudando esta realidade, com o advento dos softwares de gestão hospitalar e prontuário eletrônico. Alguns hospitais estão se preparando para melhorar os processos de captura, armazenamento, manuseio e transmissão de informações. Para se prestar uma assistência de qualidade e eficaz se faz necessário a implantação da Assistência Sistematizada de Enfermagem, estando esta diretamente relacionada com a organização e troca de informações. O prontuário eletrônico vem como uma proposta de agilizar o atendimento tornando viável a sistematização e assim melhorar o trabalho da equipe que é o cuidar. O presente trabalho é uma revisão literária que visa conhecer toda a estrutura legal e funcional do prontuário eletrônico, os processos da sistematização da assistência de enfermagem, as tecnologias em andamento e as utilizadas pelos hospitais.

DESCRITORES: Prontuário Eletrônico, Sistematização da Assistência de Enfermagem, Informática na Saúde.

ABSTRACT:Most hospitals have faced serious problems with the interpretation, handling and archiving of medical records of clients which they serve.The use of technology in health care is changing this reality with the advent of software for hospital management and electronic medical records. Some hospitals are getting ready to improve the processes of capturing, storing, handling and transmitting information. To provide a quality care is necessary and effective the implementation of Systematized Care Nursing, and this being directly related to the organization and exchange of information. The electronic medical records comes as a proposal to streamline the service making it viable to systematize and thus improve the work of the team that which is to care. This paper is a literary review which aims to meet all the legal and functional electronic medical record, the processes of systematization of nursing care the technologies in progress and those used by hospitals.

KEYWORDS: Electronic medical records, the Nursing Care System, Health Informatics

* Trabalho de conclusão de curso (TCC) de Enfermagem, em 2005, nas Faculdades Luiz Meneghel (FALM), Campus Bandeirantes** Enfermeiro Supervisor do Hospital São Lucas de Bandeirantes. Especialista em Administração Hospitalar e Auditoria em Sistemas de Saúde.*** Professora Mestranda, Enfermeira, Docente do Curso de Enfermagem – UENP – Campus Luiz Meneghel, Especialista em Saúde Pública.**** Professora Doutora, Enfermeira, Docente do Curso de Especialização em Auditoria em Saúde. Orientadora da Monografia

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Roberto Tavares, Prof.ª Regina Fukuda, Prof.ª Dra. Damares T. Biazin

1 – INTRODUÇÃO

Os avanços tecnológicos abrem novos horizontes para a saúde e para a assistência em saúde, que está sufocada pelo excesso de documentos que necessita arquivar e ainda pela dificuldade de acesso às informações de seus clientes, prejudicando a assistência.

Na área médica o uso da informática tem ocorrido de forma muito irregular. Algumas especialidades tiveram maior interação com a informática, como a Radiologia, Ultra-sonografia, Oftalmologia, Patologia Clínica e Medicina Nuclear, entre outras, devido à incorporação da tecnologia computacional nos equipamentos utilizados, ficando a margem deste contexto a maioria dos médicos e todos os profissionais da enfermagem principalmente os auxiliares de enfermagem (WEN, 2000). A maioria dos softwares são destinados a administração, deixando o aspecto médico hospitalar e o prontuário para segundo plano.

O prontuário do paciente é um conjunto de documentos com informações que devem ser registradas para legalizar o atendimento e proporcionar a comunicação entre a equipe multidisciplinar, esse processo deve ser claro, preciso, livre de falhas, apresentando legibilidade.

A Sistematização da Assistência de Enfermagem tem como objetivo organizar o processo do cuidar através de planejamento, direção, e supervisão de toda a assistência individualizada ao cliente pela equipe de enfermagem, bem como de todos os recursos necessários, sendo essa sistematização composta por histórico de enfermagem, exame físico, diagnóstico de enfermagem, prescrição de enfermagem, evolução da assistência de enfermagem e relatório de enfermagem. Esta Sistematização foi oficializada por meio da Resolução COFEN 272/2002 (BRASIL, 2002).

Segundo Sperandio (2002) a evolução da tecnologia computacional nas atividades de enfermagem relacionadas à assistência, administração, ao ensino e a pesquisa devem trilhar uma trajetória ascendente. Mesmo sob o olhar suspeito dos que acreditam que o uso do computador desumaniza e despersonaliza a assistência de enfermagem e também dos que consideram que sua utilização tornaria programável e previsível a criatividade do profissional enfermeiro.

Diante do exposto, foi objetivo deste estudo realizar uma revisão bibliográfica para conhecer toda estrutura legal e funcional do prontuário eletrônico, os processos da sistematização da assistência de enfermagem, as tecnologias em andamento e as utilizadas pelos hospitais.

A INFORMÁTICA APLICADA À ASSISTÊNCIA EM SAÚDE

Os recursos computacionais auxiliam os enfermeiros e profissionais da área da saúde, fornecendo acesso à informação e conhecimentos atualizados, o que proporciona um atendimento mais personalizado ao cliente, colaborando para a melhoria da assistência de enfermagem (MASCARENHAS, 2004).

A utilização de um prontuário eletrônico disponível de forma integrada, através da Internet, garante a autonomia do paciente em relação às suas informações de saúde. De forma controlada, o paciente pode permitir o direito de acesso aos seus dados segundo sua conveniência. O prontuário do paciente apresenta então uma visão única de seus dados independente de onde eles estejam localizados.

Segundo Fouyer (2004) os hospitais de todo o país têm enfrentado inúmeros problemas com os métodos tradicionais de registros das informações de seus clientes, o prontuário, quanto a volume para arquivo, interpretação, disponibilização rápida, comunicação entre as equipes e setores.

Sistemas de registros em papel demandam um elevado custo e grande

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Prontuário eletrônico na sistematização da assistência de enfermagem

trabalho de manutenção por parte das Instituições de Saúde: deficiências como ilegibilidade, multiplicidades de pastas e critérios de arquivamentos, dificuldades de acesso, fragilidade do papel, perdas freqüentes de informações, falta de padronização e dificuldades de efetuar buscas e pesquisas, fizeram viabilizar a adoção dos prontuários eletrônicos (FOUYER, 2004, p74).

O Prontuário Eletrônico facilitará a interpretação das prescrições médicas pelos profissionais na assistência de saúde, e os gestores poderão analisar as realidades de cada cliente ou setor do hospital através de relatórios precisos, bem como dispor destes dados de forma consolidada, ou seja, contemplando, verificando e cruzando informações de todo o complexo hospitalar, buscando conhecer o que ocorre nos setores de medicamentos e faturamento, onde uma única unidade pode processar as contas, gerenciar e controlar o estoque de forma conjunta.

Além da evidente redução de custos e racionalização dos processos de gestão hospitalar, o prontuário eletrônico propicia, dentre outras vantagens, aumento da legibilidade, redução do volume de dados digitado, melhor acesso e velocidade de localização das informações, uso simultâneo, eliminação de dados redundantes e de pedidos de exames em duplicidade, permite visão múltipla dos dados (sumarização), a verificação automática dos dados (correção ortográfica), o apoio automático a decisão (alertas do tipo paciente alérgico), propicia grande economia de tempo, achando-se os dados rapidamente, minimiza a falta de atenção aos detalhes, e finalmente, permite a busca coletiva, análises estatísticas, e pesquisas (FOUYER, 2004, p.74).

A INTERNET E SEUS BENEFÍCIOS À ASSISTÊNCIA EM SAÚDE

A Internet é uma revolução e uma nova forma da humanidade de se relacionar com a informação, a grande parte do tráfego de dados é feita hoje pela Internet ou por Intranets.

A telemedicina vem despontando como uma das soluções para prover educação e suporte tecnológico a áreas mais distantes e menos povoadas, e serviços de atendimento primário que não disponham da presença de especialistas. Utilizando a Internet podem ser transmitidos dados de pacientes, imagens, compartilhando experiências em grupos de discussão, participar de programas de educação continuada e realizar intercâmbio com hospitais virtuais.

A LEGISLAÇÃO

O Grupo de Trabalho Sobre Arquivos Médicos criado pelo Conselho Nacional de Arquivos (CONARQ) através da Portaria nº 50 em 09 de abril de 2001, é um grupo de caráter interdisciplinar, formado por profissionais do Ministério da Saúde, da Fundação Oswaldo Cruz, de instituições universitárias e hospitalares, e conta com a participação do Conselho Federal de Medicina este grupo sugere a seguinte definição para prontuário (Processo Conselho Federal de Medicina nº 1.401/2002):

O prontuário do paciente é o documento único constituído de um conjunto de informações registradas, geradas a partir de fatos, acontecimentos e situações sobre a saúde do paciente e a assistência prestada a ele, de caráter legal, sigiloso e científico, que possibilita a comunicação entre membros da equipe

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multiprofissional e a continuidade da assistência prestada ao indivíduo.

É dever do médico elaborar o prontuário de cada cliente que assiste, devendo este prontuário ficar disponível sempre que solicitado por via judicial ou pelo próprio cliente, onde deverá ser fornecida uma cópia autentica, permanecendo a original no hospital que é o guardião oficial destes documentos (Resolução CFM nº 1.639/2002).

O artigo 1º da Resolução CFM nº 1.639/2002 aprova as “Normas Técnicas para o uso de Sistemas Informatizados para guarda e manuseio do Prontuário”, recomendando a Implantação de Comissão Permanente de Avaliação de Prontuários.

O Artigo 5º da Resolução CFM nº 1.639/2002 autoriza o emprego da microfilmagem dos prontuários em papel para eliminação, após revisão, ficando a Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (SBIS) autorizada a expedir Certificação dos Softwares, desde que estejam dentro das normas técnicas específicas.

Segundo a Resolução CFM nº 1639/2002 para que o software tenha a certificação deve ter um controle de vulnerabilidade, devendo forçar um back-up, no mínimo a cada vinte e quatro horas. Estas cópias (mínimo de três), devem ser mantidas fora do sistema para segurança, com proteção física impedindo o acesso não autorizado. O banco de dados deve permitir o compatilhamento, com linguagem Standart Querv Language (SQL).

Em 2002, buscando resguardar as informações contidas nos prontuários médicos, o CFM aprovou as resoluções nº 1.638 e 1.639 que normatizam o uso de sistemas informatizados para a guarda e o manuseio de prontuários, tornando obrigatória a criação de uma Comissão de revisão de Prontuários nos estabelecimentos de saúde do país (BRANDÃO, 2004).

A certificação dos prontuários eletrônicos será feita, pelo SBIS/CFM, com a emissão do Selo de Conformidade, se atender aos requisitos da resolução do CFM nº 1.639/2002.

Em fevereiro de 2004, o Conselho Federal de Medicina (CFM), por meio da Câmara Técnica de Informática em Saúde e Telemedicina, celebrou convênio com a Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (SBIS) para executar o projeto técnico de certificação dos prontuários médicos eletrônicos.

SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM

O decreto 94.406/87 regulamenta a Lei nº 7.498 de 1986, que dispõe sobre o exercício da Enfermagem, cabendo privativamente ao Enfermeiro a chefia dos serviços de Enfermagem, organizando e supervisionando as atividades desenvolvidas pelos técnicos e auxiliares. Cabe ao enfermeiro realizar consulta de Enfermagem, prescrição de Enfermagem, planejamento execução e avaliação da programação de saúde e dos planos assistenciais de saúde. Por isso deve participar da escolha da aquisição de software de saúde.

A sistematização da assistência pode ser classificada de várias formas, no entanto nada mais é do que aplicação de métodos científicos para o planejamento e desenvolvimento das ações de enfermagem.

Para Carraro (2001, p 19)

A metodologia da assistência de enfermagem é uma atividade unificadora da profissão. Demonstra a função da enfermagem, mediante o uso da ciência e da arte, unindo teoria, tecnologia e interação. Resgata para a enfermagem seu primeiro compromisso, que é cuidar das pessoas numa base personalizada,

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humana e técnica.

A sistematização se constitui em fases que envolvem o cuidar ao cliente deste o primeiro contato, levantamento de todas as necessidades e a resolução dos problemas apresentados.

O modelo proposto por Horta (1979) compreende seis etapas sistematizadas, auxiliando o enfermeiro no planejamento da assistência a ser prestada ao cliente, sendo elas Histórico de Enfermagem, Diagnóstico de Enfermagem, Plano Assistencial, Prescrição de Enfermagem, Evolução de Enfermagem e Prognóstico; centralizando o indivíduo inserido na família e comunidade.

LEVANTAMENTO DE PROBLEMAS

O levantamento de problemas é a primeira fase do processo de sistematização da assistência. Quando o paciente é admitido na unidade de internação é recebido pelo enfermeiro, cabendo a ele levantar seus problemas e as necessidades, seguindo um roteiro sistematizado.

DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM

Cianciarullo (2001, p 64) afirma que

identificar diagnósticos de enfermagem envolve a ativação de uma série de habilidades mentais que, por mecanismos ainda pouco compreendidos, permitem que façamos inferências sobre dados observáveis. Dados observáveis podem ser entendidos como peças de informação que obtemos por entrevista, exame físico, entre outros.

O diagnóstico de enfermagem será realizado somente pelo enfermeiro que após a anamnese, coleta dos dados e levantamento de problemas do cliente, fará o diagnóstico de enfermagem baseado em critérios, como exemplo North American Nursing Diagnosis Association (NANDA).

Diagnóstico de enfermagem segundo NANDA (2003 p 271):

um julgamento clínico sobre as respostas do indivíduo, da família ou da comunidade a problemas de saúde / processos vitais reais ou potenciais. Um diagnóstico de enfermagem proporciona a base para a seleção de intervenções de enfermagem para atingir resultados pelos quais a enfermeira é responsável.

PLANEJAMENTO OU PRESCRIÇÃO DE ENFERMAGEM, EXECUÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO

A prescrição de enfermagem é um roteiro diário de cada cliente, para as ações que a equipe de enfermagem irá desenvolver. Nesta fase associam-se ciência e arte, a arte oferece subsídios para o planejamento; a ciência oferece o embasamento teórico-científico. Programando assim a assistência, embasada nas informações da fase anterior (CARRARO, 2001).AVALIAÇÃO OU EVOLUÇÃO DE ENFERMAGEM

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A evolução de enfermagem é o registro realizado exclusivamente pelo enfermeiro, onde este relata o resultado alcançado pela execução das tarefas de enfermagem do planejamento anterior, explicitando os novos problemas apresentados pelo cliente, direcionando o novo planejamento.

Para Horta (1979, p 165) a evolução de enfermagem, é o relato diário das mudanças sucessivas que ocorrem no ser humano enquanto estiver sobre a assistência profissional. A evolução é, em síntese, uma avaliação global da prescrição de enfermagem implementada.

Como o objetivo de melhorar a agilidade de assistência prestada ao paciente, bem como o acesso às informações de saúde deste, o Próprio Ministério cria o Cartão Nacional de Saúde.

CARTÃO NACIONAL DE SAÚDE

O Cartão Nacional de Saúde é um cartão magnético, similar a um cartão bancário (cartão de crédito), baseado no número PIS/Pasep do cidadão sendo este confeccionado posteriormente a um cadastramento que identifique o usuário com todas as informações quanto a documentos e histórico familiar, bem como todos os registros médicos possíveis, sendo este último, objetivo do SUS registrar informações médicas do cidadão deste o momento do nascimento, até o momento presente, passando por todos as assistências prestadas a estes, incluindo despesas, tendo assim a capacidade de identificação individualizada dos usuários. Trata-se de uma forma de organizar a rede de serviços de saúde nos municípios, estados e no âmbito nacional, mediante a modernização dos instrumentos de gerenciamento da atenção à saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o presente verifica-se que já existem softwares certificados e em funcionamento apresentando bons resultados, porém a maioria dos hospitais não se renderam a toda essa tecnologia, devendo iniciar este processo com a implantação da sistematização da assistência capacitando os funcionários para tal, reestruturando-se para possibilitar a aplicação desta tecnologia e qualificar a assistência prestada.

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NÚCLEO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE - NCBS

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Estudos organizacionais: uma relação entre paradigmas, metanarrativas, pontos de interseção e segmentações teóricas

ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: UMA RELAÇÃO ENTRE PARADIGMAS, METANARRATIVAS, PONTOS DE INTERSEÇÃO

E SEGMENTAÇÕES TEÓRICASORGANIZATIONAL STUDIES: A RELATIONSHIP BETWEEN PARADGIMS,

METANARRATIVES, INTERSECTION POINTS AND THEORETICAL APPROACHES

Luciano Munck1*

Mariana Gomes Musetti Munck2**

Rafael Borim de Souza3***

RESUMO:

Este artigo foi realizado com o objetivo de identificar um quadro de análise que contemplasse o relacionamento entre paradigmas, metanarrativas, pontos de interseção e segmentações teóricas relacionados aos estudos organizacionais. Foi realizada uma pesquisa qualitativa, exploratória e bibliográfica. Para que a viabilidade de realização do estudo fosse garantida foram adotados como referências os paradigmas apresentados por Burrell e Morgan (1979), as metanarrativas e os pontos de interseção defendidos por Reed (2007) e a segmentação teórica proposta por Marsden e Townley (2001). Foi possível observar que os pontos de interseção propostos por Reed (2007) confluem de uma segmentação teórica defendida por Marsden e Townley (2001) entre teorias organizacionais normais e teorias organizacionais contranormais, as quais englobam todas as metanarrativas interpretativas de Reed (2007), que por sua vez são compreendidas pelos paradigmas de Burrell e Morgan (1979).

PALAVRAS-CHAVE: estudos organizacionais, paradigmas, metanarrativas, segmentação teórica e pontos de interseção.

ABSTRACT:This article intended to identify an analytical board that show how paradigms, metanarratives, intersection points and theoretical segmentations, all related to the organizational studies, can be interconnected. It was realized a qualitative, exploratory and bibliographical research. The contributions of Burrell and Morgan (1979), Reed (2007) and Marsden and Townley (2001) were adopted as the mainly references. It has been discovered that the intersection points proposed by Reed (2007) come from a theoretical segmentation defended by Marsden and Townley (2001), which encompass all the interpretative metanarratives showed by Reed (2007), and are understood by the paradigms presented by Burrell and Morgan (1979).

KEY-WORDS: organizational studies, paradigms, metanarratives, theoretical segmentation and intersection points.

INTRODUÇÃOOs estudos organizacionais possuem uma identidade múltipla, ou seja, são constituídos

*Doutor em Administração pela FEA/USP. Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Administração – Mestrado em Administração da Universidade Estadual de Londrina. [email protected]**Doutora em Engenharia da Produção pela POLI/USP. Coordenadora do Curso de Administração do Centro Universitário Filadélfia. mariana***Doutorando em Administração pela UFPR. Mestre em Administração pelo PPGA/UEL. Professor adjunto no curso de Administração do Centro Universitário Filadélfia. [email protected] (contatar este autor).

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por teorias e vertentes que contemplam diferentes fundamentações científicas para explicarem os fenômenos que pesquisam. No entanto tais estudos enraízam-se em seus propósitos paradigmáticos e em suas vertentes teóricas sempre com o intuito de privilegiar uma determinada ótica do conhecimento já legitimada por pesquisadores antigos. Observa-se, assim, um receio de implementar uma perspectiva científica integrativa que conceda operacionalização a esta pluralidade dos estudos organizacionais.

Como ressalta Heidegger (1927) a utilização do termo ‘integrativo’ não significa que a multidisciplinaridade dos estudos represente uma meta-perspectiva que traga consigo todas as demais, mas, ao invés disso, ela adota uma análise mais compreensiva sobre o que constitui e alicerça a expressão dos fenômenos organizacionais. Lakatos (1970) complementa as considerações de Heidegger (1927) ao entender que embora teorias e paradigmas, no caso, relacionados aos estudos organizacionais, possuam seus elementos de estruturação centrais, existe a necessidade de se vislumbrar tais elementos não como fenômenos finitos em si, mas como partes essenciais para a observância do que precisa ser alterado ou até mesmo excluído, a fim de que proposições teóricas em construção alcancem seus objetivos principais.

Por esta lógica de observação da realidade mais holística, acredita-se que os estudos organizacionais, mais especificamente em relação aos paradigmas que os regem, aos pontos de interseção que os estruturam e as segmentações teóricas que os qualificam, precisam ser interligados por meio de conexões que identifiquem como cada uma destas partes evidenciadas se relaciona com as demais, bem por isso adota-se este exercício de pesquisa como o objetivo principal deste estudo.

Frente ao anseio de responder ao objetivo proposto foram abordados os paradigmas de Burrell e Morgan (1979), os pontos de interseção propostos por Reed (2007) e a segmentação das teorias organizacionais oferecida por Marsden e Townley (2001). A seleção das contribuições destes autores, feita a partir dos critérios de abrangência da teoria e reconhecida coerência de suas idéias, se fez necessária para viabilizar a discussão proposta, uma vez que existem outras possibilidades de classificação dos paradigmas e inúmeras abordagens de interpretações da realidade. Estas três contribuições foram apresentadas separadamente e em seqüência unidas por meio de uma análise integrativa.

METODOLOGIA DE PESQUISA

Conforme teorização metodológica proposta por Martins e Theóphilo (2007), este artigo desenvolveu-se como uma pesquisa de natureza básica. A abordagem do problema aconteceu de maneira qualitativa. Os objetivos foram analisados do ponto de vista exploratório. Em relação aos procedimentos técnicos, classificou-se como bibliográfica. Foi elaborado um levantamento teórico-metodológico sobre os paradigmas de Burrell e Morgan (1979), os pontos de interseção propostos por Reed (2007) e a segmentação das teorias organizacionais oferecida por Marsden e Townley (2001). O contexto desta pesquisa confluiu na criação de uma análise que possibilitou co-relacionar os temas postos em perspectiva.

OS PARADIGMAS APRESENTADOS POR BURRELL E MORGAN

Um paradigma refere-se a um corpo de idéias, assunções maiores, conceitos, proposições, valores e metas de uma área substantiva que influencia a maneira pela qual as pessoas observam o mundo, conduzem pesquisas científicas e aceitam formulações teóricas. Estes paradigmas são a

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base das teorias normais. No entanto, as teorias normais produzem anomalias que não podem ser resolvidas por explicações oriundas de paradigmas já existentes. Quando da constatação destas discrepâncias, observam-se novas criações e aberturas confluentes na ascensão de um novo paradigma, o qual assume um espaço representativo em meio as discussões científicas e repõe o paradigma antigo, então admitido como inconsistente em suas proposições para com a realidade vivenciada (KUHN, 1970). Gibson Burrell (2007, p.445) complementa ao considerar que os:

paradigmas definem, em um senso acordado e profundamente assentado, uma forma de ver o mundo e como este deveria ser estudado, e que este ponto de vista é compartilhado por um grupo de cientistas que vivem em uma comunidade marcada por uma linguagem comum, que buscam fundar um edifício conceitual comum, e que são possuídos por uma postura política muito defensiva em relação aos de fora.

Burrell e Morgan (1979) na obra ‘Sociological Paradigms and Organizational Analysis’ ao analisarem diferentes vertentes da teoria social e da teoria organizacional, concluíram que estas discussões poderiam ser amparadas por quatro amplas visões de mundo, ou seja, quatro paradigmas. Estes são representados “em diferentes conjuntos de pressuposições metateóricas sobre a natureza da ciência, a dimensão subjetiva-objetiva, a natureza da sociedade e a dimensão da mudança por regulação ou por via radical” (MORGAN, 2007, p.15).

Dado que sociologia e teoria organizacional são partes não litigiosas da ciência social [...] qualquer afirmação feita nessas áreas de uma natureza especulativa tem que fazer suposições tanto sobre a natureza da sociedade, quanto sobre a natureza da ciência. Se isso não for feito, consciente ou inconscientemente, então não está sendo feita uma afirmação da ciência social. Burrell e Morgan tentaram identificar a natureza dessas afirmações em dois eixos que, ao serem colocados em ângulo reto, criam quatro paradigmas mutuamente excludentes (BURRELL, 2007, p.446).

Cada um desses paradigmas – funcionalista, interpretativista, humanista radical e estruturalista radical – segundo Morgan (2007, p.15), “representa uma rede de escolas de pensamento inter-relacionadas, diferenciadas em abordagem e perspectiva, mas que compartilham pressupostos fundamentais sobre a natureza da realidade que tratam”. Estes paradigmas são detalhados no quadro 02, logo após do qual realiza-se uma análise comparativa que obedece a seguinte seqüência: funcionalismo, estruturalismo radical, humanismo radical e intepretativismo. Trata-se de um exercício analítico propositivo, logo, não finito em suas possibilidades de abordagens. Não se intenta, então, esgotar a potencialidade dos debates capazes de serem elaborados por meio das contribuições de cada um destes quatro paradigmas.

QUADRO 02 – Os paradigmas propostos por Burrell e Morgan (1979)

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Para

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Este paradigma se baseia na pressuposição de que a sociedade tem existência concreta e real e um caráter sistêmico orientado para produzir um estado de coisas

ordenado e regulado. Ele estimula uma abordagem para a teoria social que focaliza o entendimento do papel dos seres humanos na sociedade. O comportamento é sempre visto como algo que está contextualmente atado a um mundo real de relacionamentos

sociais concretos e tangíveis. Os pressupostos ontológicos estimulam a crença na possibilidade de uma ciência social objetiva e isenta de conotações de valor, em que o cientista se distancia da cena que ele ou ela está analisando com o rigor e a técnica do método científico. A perspectiva funcionalista é fundamentalmente reguladora e prática, em sua orientação básica, e está interessada em compreender a sociedade de

maneira que produza conhecimento empírico útil.

Para

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Este paradigma se baseia na visão de que o mundo social possui uma situação ontológica duvidosa e de que o que passa por realidade social não existe em sentido

concreto, mas é produto da experiência subjetiva e intersubjetiva dos indivíduos. A sociedade é entendida a partir do ponto de vista do participante em ação, em vez do observador. O teórico social interpretativista tenta compreender o processo pelo qual as múltiplas realidades compartilhadas surgem, se sustentam e se modificam. Da mesma forma que a abordagem funcionalista, a interpretativista se baseia na

pressuposição e na crença de que há uma ordem e um padrão implícito no mundo social; no entanto, o teórico interpretativista vê a tentativa do funcionalista de estabelecer uma ciência social objetiva como um fim inatingível. A ciência é

considerada uma rede de jogos de linguagem, baseada em grupos de conceitos e regras subjetivamente determinados, que os praticantes da ciência inventam

e seguem. Vê-se que a situação do conhecimento científico é, portanto, tão problemática quanto o conhecimento do senso comum da vida diária.

Para

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Este como o paradigma interpretativista, enfatiza como a realidade é socialmente criada e socialmente sustentada, mas vincula sua análise ao interesse em alguma

coisa que pode ser descrita como uma patologia da consciência, pela qual os seres humanos se aprisionam dentro de fronteiras da realidade que eles mesmos criam e sustentam. Essa perspectiva se baseia na visão de que o processo de criação da realidade pode ser influenciado por processos psíquicos e sociais que canalizam, restringem e controlam as mentes dos seres humanos de maneira a aliená-los em

relação às potencialidades inerentes à sua verdadeira natureza de humanos. A crítica contemporânea do humanismo radical enfoca os aspectos alienadores dos vários modos de pensamento e ação que caracterizam a vida nas sociedades industriais.

Vê-se, por exemplo, o capitalismo como algo essencialmente totalitário, a idéia de acumulação de capital como algo que modela a natureza do trabalho, da tecnologia,

da racionalidade, da lógica da ciência, dos papéis, da linguagem, que mistifica conceitos ideológicos como escassez, lazer e assim por diante. Os conceitos que o teórico funcionalista pode considerar como blocos de construção da ordem social e

da liberdade humana são, para o humanista radical, modos de dominação ideológica. O humanista radical está interessado em descobrir como as pessoas podem associar

pensamento e ação (práxis) como um meio para transcender sua alienação.

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Para

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Rad

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A realidade definida pelo paradigma estruturalista radical, assim como a do humanista radical fundamenta-se na visão de que a sociedade é uma força

potencialmente dominadora. No entanto, ela está vinculada a uma concepção materialista do mundo social, definida por estruturas sólidas, concretas e

ontologicamente reais. Vê-se a realidade como uma coisa que existe por si própria, de uma forma independente de como é percebida e reafirmada pelas pessoas em suas atividades do dia-a-dia. Vê-se essa realidade como algo que se caracteriza por tensões

e contradições intrínsecas entre elementos antagônicos, o que, inevitavelmente, leva a uma mudança radical no sistema como um todo. O estruturalista radical está interessado em compreender essas tensões intrínsecas e a maneira como os

detentores do poder na sociedade procuram controlá-las por meio de vários modos de dominação. Põe-se a ênfase sobre a importância da práxis como meio de transcender

esta dominação.

FONTE: elaborado a partir das contribuições de MORGAN (2007, p.16-17).

A obra de Burrell e Morgan (1979) é muito criticada e de acordo com Burrell (2007, p.446) no que o livro

pode ter tido sucesso foi em ressaltar a falência do campo da teoria organizacional com seus grupos conflitantes, e em demonstrar que sua orientação funcionalista, enquanto popular, politicamente superior e comum, não era de forma alguma a única estrada possível aberta para a análise organizacional.

O paradigma funcionalista representa uma perspectiva firmemente enraizada na sociologia da regulação e por meio dele a realidade é observada por uma lente objetivista (BURRELL; MORGAN, 1979). Segundo Gil (2008) as origens do funcionalismo remetem aos positivistas Herbert Spencer e Émile Durkheim. Sua consolidação como método de investigação social, entretanto, ocorreu com Bronislaw Malinowki, para o qual o raciocínio básico do funcionalismo é: “se os homens têm necessidades contínuas como uma conseqüência de sua composição biológica e psíquica, então essas necessidades básicas irão requerer formações sociais que satisfaçam efetivamente tais necessidades” (GIL, 2008, p.19).

O funcionalismo se faz semelhante ao estruturalismo pelo fato do cientista engajar-se totalmente com a ciência, todavia, para um estruturalista a ciência tem um fim diferente. O estruturalismo radical concentra-se na mudança radical, emancipação e potencialidade, em uma análise que enfatiza conflito estrutural, modos de dominação, contradição e privação (BURRELL; MORGAN, 1979).

O estruturalismo radical advoga as teorias de mudança radical a partir de uma perspectiva objetivista. A dimensão desse paradigma centraliza-se na concepção materialista do mundo social, ligadas por estruturas concretas e reais. Este paradigma propõe uma crítica aos status quo e sugere ao homem uma práxis política. Esta perspectiva compreende que as patologias sociais são produtos da desigualdade do poder na sociedade. Desta situação emergem conflitos, tensões e desequilíbrios, os quais são solucionados por mudanças fundamentais nas formas como a sociedade está organizada e no modo como os seus recursos são distribuídos (GARCIA; MINUZZI, 2005).

O estruturalismo radical, por conceder pouca relevância ao papel e natureza do homem como ser individual, difere do humanismo radical que “compreende a ordem social como sendo

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produto de coerção e não de consentimento” (GARCIA; MINUZZI, 2005, p.2). O paradigma humanista radical é definido pela sua preocupação em desenvolver uma sociologia de mudança radical por uma abordagem subjetivista (BURRELL; MORGAN, 1979). A teoria crítica é o enfoque deste último paradigma. Para Lincoln e Guba (2006) esta teoria em si já é observada como um paradigma que em suas muitas formulações, articula uma ontologia baseada no realismo histórico, uma epistemologia transacional e uma metodologia que é tanto dialógica quanto dialética.

Uma teoria social crítica preocupa-se, particularmente, com as questões relacionadas ao poder e à justiça e com os modos pelos quais a economia, os assuntos que envolvem a raça, a classe e o gênero, as ideologias, os discursos, a educação, a religião e outras instituições sociais e dinâmicas culturais interagem para construir um sistema social (KINCHELOE; McLAREN, 2006, p.283).

Estes mesmos autores propõem uma teoria crítica para o novo milênio, a começar pela suposição de que as sociedades do Ocidente não estão isentas de apresentarem problemas em sua democracia e em sua liberdade. Sua versão da teoria crítica rejeita o determinismo econômico, concentrando-se na mídia, na cultura, na língua, no poder, no desejo, no iluminismo crítico e na emancipação crítica. De acordo com Schwandt (2006), este esquema adota uma hermenêutica crítica.

Vergara e Caldas (2005) afirmam que o paradigma humanista se relaciona ao paradigma interpretativista por meio de uma visão antipositivista do mundo social. O interpretativismo é formado por uma preocupação em entender o mundo e compreender a natureza fundamental do mundo social por um patamar subjetivista orientado por contribuições advindas da sociologia da regulação (BURRELL; MORGAN, 1979). Este paradigma opõe-se ao gerencialismo da teoria organizacional formal por seu alinhamento com a mudança social. Neste, as organizações são compreendidas como criações em vez de entidades naturais, logo, podem ser mudadas mediante a intervenção social. Este paradigma defende que as organizações devem ser explicadas pelo conhecimento das intenções que fazem as pessoas agirem, e isso requer um conjunto de técnicas completamente diferente das utilizadas pelos pesquisadores organizacionais positivistas (VERGARA; CALDAS, 2005).

Morgan (2007, p.17) admoesta que “cada um desses quatro paradigmas define os fundamentos dos modos antagônicos de análise social e tem implicações radicalmente diferentes para o estudo das organizações”. Entende-se, portanto que a complexidade dos estudos organizacionais atuais pode requerer a formulação de um corpo de conhecimento multi-paradigmático, uma vez que os problemas sociais contemporâneos já não conseguem ser tratados por uma ótica unilateral oriunda de corpos de conhecimentos isolados. Esta inter-relação entre os paradigmas pode resgatar a possibilidade de se qualificar mais a relação entre organizações e sociedade por meio de pesquisas que analisem seus respectivos problemas por diferentes lentes do conhecimento (LINCOLN; GUBA, 2006).

OS PONTOS DE INTERSEÇÃO DE REED E A SEGMENTAÇÃO TEÓRICA PROPOSTA POR MARSDEN E TOWNLEY

Reed (2007) apresenta uma breve história dos estudos sobre as organizações. O autor distingue seis fases, nomeadas de modelo de metanarrativa interpretativa, as quais estão expostas

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Estudos organizacionais: uma relação entre paradigmas, metanarrativas, pontos de interseção e segmentações teóricas

no quadro 03.

QUADRO 03 – Narrativas analíticas em análise organizacional

Modelo de metanarrativa interpretativa

Problemática principal

Perspectivasilustrativas/exemplos

TransiçõesContextuais

Racionalidade Ordem Teoria das organizações clássica, administração

científica, teoria da decisão, Taylor, Fayol, Simon

de Estado guarda-noturno

a Estado industrial

Integração Consenso Relações humanas, neo-RH, funcionalismo, teoria da contingência/sistêmica,

cultura corporativa, Durkheim, Barnard, Mayo,

Parsons

de capitalismo empresarial

a capitalismo do bem-estar

Mercado Liberdade Teoria da firma, economia institucional, custos

de transação, teoria da atuação, dependência de recursos, ecologia populacional, teoria

organizacional liberal

de capitalismo gerencial

a capitalismo neoliberal

Poder Dominação Weberianos neo-radicais, marxismo crítico-

estrutural, processo de trabalho, teoria

institucional, Weber, Marx

de coletivismo liberal

a corporativismo nefociado

Conhecimento Controle Etnométodo, símbolo/cultura organizacional, pós-estruturalista, pós-

industrialista, pós-fordista/moderno, Focault,

Garfinkel, teoria do ator-rede

Deindustrialismo/modernindade

a pósindustrialismo/pós-

modernidade

Justiça Participação Ética de negócios, moralidade e OB,

democracia industrial, teoria participativa, teoria

crítica, Habermas

de democracia repressiva

a demoracia participativa

FONTE: REED (2007, p.65).

Este histórico apresentado por Reed (2007) falha ao apresentar informações que melhor qualificariam as vertentes das teorias organizacionais. De acordo com Morgan (2007, p.13) “a natureza parcial e auto-sustentadora da ortodoxia somente se torna evidente na medida em que o teórico explicita as pressuposições básicas que desafiam os modos alternativos de visão, e começa a apreciar essas alternativas em seus próprios termos”. Por esta consideração tomam-se as

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proposições de Marsden e Townley (2001) que diferem de Reed (2007) ao proporem um histórico da teoria organizacional dividido em apenas dois momentos.

“O primeiro consistiu na construção de uma teoria chamada de normal e um segundo resultou de manifestações de diversos autores e insatisfações também diversas, mas que é referido tendo sido desencadeado pelo pós-modernismo, que seria a teoria ‘Teoria organizacional contranormal” (BERTERO, 2001, p.57).

Estas duas teorias são explicadas no quadro 04 (página seguinte). Bertero (2001, p.58) admite que “o mundo da teoria organizacional normal não foi sequer tocado ou abalado pelas críticas e propósitos da contrateoria”. A teoria organizacional contranormal é de acordo com Marsden e Townley (2001) rica em debates, diversa em contribuições e viva em expressar seu descontentamento à normalidade das proposições precursoras, todavia, distante da realidade organizacional e especialmente da prática e da gestão.

QUADRO 04 – Teorias organizacionais normal e contranormal

Teoria organizacional normal Teoria organizacional contranormal

Positivista, objetivista, realista e voltada para a eficácia e para a eficiência. Seu

modelo são as ciências de tipo duro, em que conhecimentos se provam empiricamente e há

um processo de acumulação

Surgiu em função de diversas insatisfações com a teoria organizacional normal. A

contrateoria organizacional não produziu até o momento alternativa à teoria organizacional

normal porque se perdeu nas chamadas incomensurabilidades paradigmáticas, caindo

num relativismo desesperador

FONTE: elaborado a partir das contribuições BERTERO (2001); MARSDEN e TOWNLEY (2001).

Esta consideração dos autores é rebatida por Bertero (2001) ao considerar que não é apenas a prática que conduz a aplicabilidade da teoria. O universo administrativista vai além da dicotomia teoria versus prática, uma vez que se preocupa em saber se a teoria, teoria organizacional normal ou contranormal, e, também se as ciências sociais podem explicar e, portanto, lastrear a prática, no sentido da ação humana. Marsden e Townley (2001) consideram que cabe aos pesquisadores pós-modernos a tarefa de extrair das discussões contranormais temas que possam ser explorados, em cotidianos organizacionais, por metodologias que avancem dos propósitos positivistas e objetivistas. A ciência organizacional se desenvolve a partir da observação das falhas da normalidade teórica anterior e do ajuste das mesmas em novas proposições contranormais.

Vários temas interconectados orientam as contribuições analíticas oriundas das metanarrativas de Reed (2007) e da segmentação teórica defendida por Marsden e Townley (2001). Estas análises podem ser interpretadas como tentativas contestadas de representação e controle do entendimento da realidade em relação a prática social estratégica institucionalizada que é a organização. Reed (2007) admoesta que assim como o discurso da teoria política, o discurso da teoria da organização deve ser considerado uma rede contestável e contestada de conceitos e teorias, que travam batalhas para impor certos significados em detrimentos de outros ao entendimento partilhado da vida organizacional na modernidade recente. Connolly (apud REED, 2007, p.82) concebeu

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Estudos organizacionais: uma relação entre paradigmas, metanarrativas, pontos de interseção e segmentações teóricas

a teoria política como um domínio ou espaço de conflitos, no qual interpretações rivais da vida política podem ser analiticamente identificadas e racionalmente debatidas por agentes responsáveis, sem que se apele ao provincialismo transcedental característico do universalismo epistemológico e do relativismo cultural.

Essa concepção pode ser usada para mapear temas subjacentes as teorias organizacionais, e podem ser resumidos das seguintes formas:

um debate teórico a respeito das explicações rivais sobre conceitos de ‘atuação’ e ‘estrutura’, à medida que estes são empregados como conceitos-chave de características organizacionais; um debate epistemológico entre ‘construtivismo’ e ‘positivismo’ e suas implicações para a natureza e caráter do conhecimento que os estudos organizacionais produzem; um debate analítico sobre a prioridade relativa a ser conferida, nos estudos organizacionais, ao nível ‘local’ em oposição ao nível ‘global’ de análise; um debate normativo entre o ‘individualismo’ e ‘coletivismo’ como concepções ideológicas rivais, que competem pela noção de ‘viver bem’ nas sociedades modernas (REED, 2007, p.82).

Estes debates compõem os pontos de interseção de Reed (2007). Os mesmos são apresentados no quadro 05.

QUADRO 05 – Os pontos de interseção de Reed (2007)

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O debateteórico

atuação/estrutura

O debateepistemológicoconstrutivista/

positivista

O debateanalítico

local/global

O debatenormativo

individualista/coletivista

Os que enfatizam a atuação concentram-

se na busca de um entendimento da ordem social e

organizacional que saliente as práticas

sociais por meio das quais seres humanos criam e reproduzem

instituições. Os que privilegiam a

estrutura ressaltam a importância

dos padrões e das relações externas que determinam e circunscrevem a interação social dentro de formas

institucionais específicas

O primeiro promove uma concepção da organização como sendo um

artefato socialmente construído e

dependente, que somente pode ser

entendido em termos de convenções metodológicas

altamente restritas e localizadas, sempre abertas a revisões e

mudanças. O segundo trata a organização como um objeto ou entidade existindo

como tal, e que pode ser explicada em

termos de princípios gerais de leis que

governam seu funcionamento

O debate micro/macro questiona se a ênfase deve ser dada aos aspectos

íntimos e detalhados da conduta individual

ou em fenômenos impessoais, de maior

escala.

O individualismo oferece uma visão

da organização como uma criação não intencional dos atores individuais

que seguem os desígnios de seus objetivos políticos e instrumentais. O coletivismo trata a organização como

uma entidade objetiva que se auto-impõe aos

atores com tal força que lhes deixa

pouca ou nenhuma alternativa, exceto

obedecer a seus comandos.

FONTE: elaborado de acordo com as contribuições de REED (2007).

A exposição das metanarrativas, paradigmas e pontos de inserção frente as teorias normais e contranormais permitem uma melhor compreensão de tudo o que tem sido discutido até o momento. Entretanto, sente-se a necessidade de uma discussão adjacente sobre o debate epistemológico construtivismo/positivismo, uma vez que por ele se alcança uma melhor compreensão da segmentação entre objetivismo e subjetivismo proposta por Burrell e Morgan (1979).

O construtivismo adota uma ontologia relativista (relativismo), uma epistemologia transacional e uma metodologia dialética, hermenêutica. Aqueles que empregam esse paradigma voltam-se para a produção de interpretações reconstruídas do mundo social. Os critérios positivistas tradicionais da validade interna e externa são substituídos por termos como fidedignidade e autenticidade. Os construtivistas valorizam o conhecimento transacional. [...] O construtivismo vincula a ação à práxis e baseia-se em argumentos anti-fundacionalistas ao mesmo tempo em que estimula textos de múltipas vozes e experimentais (LINCOLN; GUBA, 2006, p.164).

Reed (2007, p.84) considera que

a epistemologia positivista restringe severamente o limite do conhecimento que pode ser atingido pelos estudos organizacionais, limitando-o àqueles

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fatos que podem ser submetidos a um método de prova rigoroso, bem como a generalizações semelhantes a leis que ela sanciona.

Ele concorda com os autores anteriores ao observar que o construtivismo adota uma posição muito mais relativista ao recair em normas e práticas comunais restritas de comunidades de pesquisa específicas, desenvolvidas ao longo do tempo. O construtivismo, apesar de ser um dos tópicos do debate epistemológico, representa uma ontologia alinhada a epistemologia convencionalista deste ponto de interseção apresentado por Reed (2007).

As narrativas racional, integracionista e de mercado apóiam firmemente a concepção estrutural da organização, se desenvolveram com base na ontologia realística e na epistemologia positivista e priorizam uma concepção mais global da realidade da organização. Os pesquisadores que trabalham segundo as tradições de poder, conhecimento e justiça preferem o conceito de atuação organizacional, são mais favoráveis a uma ontologia construtivista e a uma epistemologia convencionalista e tendem a dar destaque a processos e práticas organizacionais em nível local/micro (REED, 2007). Em relação ao último debate, por meio das contribuições de Reed (2007), afirma-se que as narrativas racional e de mercado assumem uma perspectiva normativa individualista, enquanto que a narrativa integracionista apóia-se no coletivismo. As abordagens teóricas desenvolvidas com base nas estruturas de poder, conhecimento e justiça não assumem posição neste ponto de interseção, uma vez que tal opção limitaria as proposições tratadas por estas vertentes do conhecimento.

Através das considerações de Marsden e Townley (2001) e de Reed (2007) é possível esclarecer que as teorias organizacionais normais são compostas pelas metanarrativas racional, integrativa e de mercado, e que as teorias organizacionais contranormais são representadas pelas metanarrativas de poder, conhecimento e justiça.

PARADIGMAS, PONTOS DE INTERSEÇÃO E SEGMENTAÇÃO TEÓRICA

Para o presente estudo foram adotados os quatro paradigmas defendidos por Burrell e Morgan (1979) por meio de um exercício que adicionou às discussões os pontos de interseção propostos por Reed (2007) e a segmentação teórica oferecida por Marsden e Townley (2001). Pelas discussões anteriores, a teoria normal engloba as metanarrativas racionais, integracionistas e de mercado, que conseqüentemente, são explicadas pela sociologia funcionalista. Já a teoria contranormal é constituída pelas metanarrativas do poder, conhecimento e justiça. Estas em sua vez são explicadas por três diferentes paradigmas. A metanarrativa do poder, por grande influência da teoria marxista, enquadra-se no paradigma do estruturalismo radical; a metanarrativa do conhecimento, pela relevância concedida ao símbolo e cultura organizacional, e a teoria ator-rede, explica-se pelo paradigma interpretativista, e a metanarrativa da justiça, pelo domínio da teoria crítica é compreendida pelo paradigma do humanismo radical (BERTERO, 2001; BURRELL; MORGAN, 1979; MARSDEN; TOWNLEY, 2001; REED, 2007). A figura 01 ilustra toda esta inter-relação ao integrar tudo o que foi abordado até o momento com relação aos paradigmas (BURRELL; MORGAN, 1979), aos pontos de interseção (REED, 2007) e a divisão das teorias organizacionais (MARSDEN; TOWNLEY, 2001).

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Luciano Munck, Mariana Gomes Musetti Munck, Rafael Borim de Souza

FIGURA 01 – As inter-relações entre os paradigmas, os pontos de interseção e a segmentação da teoria organizacional

FONTE: BURRELL e MORGAN (1979); MARSDEN e TOWNLEY (2001); REED (2007).

Cada paradigma possui seu ponto de interseção inserido em uma metanarrativa do conhecimento organizacional, que, por conseqüência pode ser qualifi cado dentro de uma das opções teóricas apresentadas. Dentro desta coerência apresentada entre os estudos de Burrell e Morgan (1979), Reed (2007) e Marsden e Townley (2001) extrai-se a necessidade de verifi car o que une e o que separa suas diferentes vertentes. Assim, propõe-se a fi gura 01 (página seguinte) que assume uma responsabilidade sintetizar as principais informações disponibilizadas nas discussões anteriores, mas com uma perspectiva de relevância sob os paradigmas de Burrell e Morgan (1979).

FIGURA 01 – As inter-relações entre os paradigmas, os pontos de interseção e a segmentação da teoria organizacional dentro dos quadrantes de Burrell e Morgan (1979)

FONTE: BURRELL e MORGAN (1979); MARSDEN e TOWNLEY (2001); REED (2007).

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Nesta ilustração intentou-se estruturar um caminho de união entre os paradigmas, o qual é sustentado por proposições oriundas de diferentes metanarrativas amparadas em grande parte pela teoria contranormal e apenas no quadrante do paradigma funcionalista pela teoria normal. Esta trilha de interligação entre os paradigmas em alguns momentos se rompe pelo fato de algumas especificidades inerentes a cada abordagem não permitirem uma plena junção epistemológica e ontológica de suas respectivas proposições. As figuras 01 e 02 finalizam as discussões do presente artigo, uma vez que por eles se evidencia uma relação entre os paradigmas, os pontos de interseção, as metanarrativas e a segmentação teórica adotados como referências, ou seja, por meio delas demonstra-se ilustrativamente o conteúdo de tudo o que foi proposto para que o objetivo principal deste estudo fosse alcançado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo foi realizado com o objetivo de identificar como paradigmas, pontos de interseção, metanarrativas e segmentações teóricas vinculados aos estudos organizacionais se relacionam. Foram adotados como referências os paradigmas apresentados por Burrell e Morgan (1979), os pontos de interseção e as metanarrativas defendidas por Reed (2007) e a segmentação teórica ofertada por Marsden e Townley (2001). Por todas as discussões desenvolvidas chegou-se a lógica analítica apresentada no quadro 06.

Modelo de Paradigmas Debate Debate Debate Debate

Metanarrativa Burrel e Atuação Construtivista Local Individualista

Interpretativa Morgan Estrutura Positivista Global Coletivista

Nor

mal

RacionalidadeSociologia

Funcionalista Estrutura Positivista Global Individualista

IntegraçãoSociologia

Funcionalista Estrutura Positivista Global Coletivista

MercadoSociologia

Funcionalista Estrutura Positivista Global Individualista

Con

trano

rmal

PoderEstruturalismo

Radical Atuação Construtivista Local -

ConhecimentoSociologia

Interpretativa Atuação Construtivista Local -

JustiçaHumanismo

Radical Atuação Construtivista Local -

QUADRO 06 – Teorias organizacionais, metanarrativas, paradigmas e pontos de interseçãoFONTE: BERTERO (2001); BURRELL e MORGAN (1979); MARSDEN e TOWNLEY (2001); REED (2007).

Por meio do quadro verifica-se que os pontos de interseção propostos por Reed (2007) confluem de uma segmentação teórica defendida por Marsden e Townley (2001) entre teorias organizacionais normais e teorias organizacionais contranormais. Estas englobam todas as metanarrativas interpretativas de Reed (2007), que por sua vez são compreendidas pelos paradigmas de Burrell e Morgan (1979). Tais proposições não são finitas e estão abertas a novas sugestões científicas, as quais podem compor estudos futuros interessados em validar ou confrontar o quadro de relacionamento alcançado.

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Luciano Munck, Mariana Gomes Musetti Munck, Rafael Borim de Souza

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Estudos organizacionais: uma relação entre paradigmas, metanarrativas, pontos de interseção e segmentações teóricas

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Gestão de custos: um instrumento de estratégia competitiva para a empresa

GESTÃO DE CUSTOS: UM INSTRUMENTO DE ESTRATÉGIA COMPETITIVA PARA A EMPRESA

COST MANAGEMENT: A TOOL OF COMPETITIVE STRATEGY FOR THE COMPANY

Eliane Silva Fortunato de Palma ([email protected])Cristiane Ap. J. dos Reis da Silva ([email protected])Lucineide Ap. da Silva Alves ([email protected])

Douglas Francisco da Silva ([email protected]); 1*

Luís Marcelo Martins ([email protected]) 2**

RESUMO:É notório que, na atualidade, a econômia é muito instável, exigindo que as empresas busquem constantemente redução nos custos que são inerente a ela, diante disso, elas buscam incansavelmente elaborar meios para a efetivação da redução de seus custos, sejam eles fixos ou variáveis. Essa condição é denominada de gestão de custos. Uma gestão de custos tem por finalidade propiciar meios racionais e sistemáticos de redução de custos, permitindo ao empreendedor tornar a empresa mais dinâmica no mercado, ofereendo ao consumidor produtos e serviços de qualidade com preços que permitem a sua aquisição, permitido, outrossim, a tomada de decisão quanto a manutenção de um produto ou seviço no mercado, portanto, a a gestão de custos é uma ferramenta de grande relevância como estratégia competitiva no mercado para se sobressair à concorrência. Assim sendo, de início foi conceituado o que vem a ser custos para a empresa, bem como exposto o conceito de estratégia competitiva, para que posteriormente fosse destacado como a gestão de custos contriui como estratégia competitiva para a empresa no mercado. o objetivo deste artigo é o de destacar a relevância da gestão de custos para que empresa possa se manter dinâmica no segmento em que atua, utilizando-a como estratégia competitiva consequentemente obter sucesso no mercado. A metodologia utilizada foi a pesquisa descritiva por meio de investigação bibliográfica, onde se utilizou o método da dedução, em que por meio da concepção geral das teorias expostas, foi exposta uma posição subjetiva acerca do tema proposto.

PALAVRAS-CHAVE: Concorrência. Empresa. Gestão de Custos.

ABSTRACT:It is clear that in actuality, the economy is very unstable, requiring companies to constantly seek cost savings that are inherent in it, before that, they seek to tirelessly prepare for effective means of reducing their costs, whether fixed or variable . This condition is called cost management. A cost management aims to provide systematic and rational means of reducing costs, allowing the entrepreneur to make the company more dynamic market, offering consumers quality products and services at prices that allow the acquisition, allowed, instead, making decision regarding the maintenance of a product or service in the market, so a cost management is a tool of great importance as a competitive strategy to excel in the market to competition. Thus, initially it was thought that comes to costs for the company and explained the concept of competitive strategy, that was later seconded as cost management Contributed as a competitive strategy for the enterprise market. The aim of this paper is to highlight the importance of cost management for that company * Pós-graduandos do Curso em Gestão de Vendas - Faculdade Estácio de Sá – Ourinhos-SP** Mestre em Finanças e Mestre em Administração, docente do Curso em Gestão de Vendas da Faculdade Estácio de Sá – Ourinhos-SP e de Graduação da UniFil.

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Eliane Silva Fortunato de Palma, Cristiane Ap. J. dos Reis da Silva, Lucineide Ap. da Silva Alves, Douglas Francisco da Silva, Luís Marcelo Martins

can maintain momentum in the segment in which it operates, using it as a competitive strategy consequently achieve market success. The methodology used was descriptive research through literature search, which used the method of deduction in that through the general conception of the theories expounded, was shown a subjective position on the proposed topic.

KEYWORDS: Competition. Company. Cost Management

INTRODUÇÃO

A gestão de uma empresa é muito mais do que uma simples ação burocrática, envolve ações pensadas e racionais visando constantemente o seu aprimoramento no segmento em que atua, desta forma, todas os setores que a compõe merecem atenção minuciosa no sentido de que tenham uma administração eficiente.

Dentre os setores que compõem uma empresa, o contábil é de extrema relevância, uma vez que a sua dinâmica permite a geração de um sistema de informação, em que se reflete a realidade financeira da empresa; bem como um sistema de mensuração, por conseqüência, permite ao administrador tomar decisões a partir dos números disponíveis. Nesse sentido, entende-se que a contabilidade tem duas funções concomitantes a de informar e de medir, que vão expor a saúde da empresa por intermédio de um balanço contábil.

A finalidade da contabilidade é o de gerar informações para a empresa, visando manter a estabilidade financeira, agregar valor e gerar lucros. Estas informações é que vão evidenciar a dinâmica da empresa, refletindo possíveis impactos e variações em sua situação patrimonial.

Na prática, a aplicação da contabilidade na empresa tem finalidade fornecer aos usuários informações sobre aspectos de natureza econômica, financeira e física do patrimônio e suas mutações. Isso compreende registros, demonstrações, análises, diagnósticos e prognósticos expressos sob a forma de relatos, pareceres, tabelas, planilhas e outros meios. A contabilidade é o eixo da empresa, pois ela reúne todos os dados que permite avaliar a sua situação econômica e financeira e, conseqüentemente, tomar decisões.

Dentre os diversos instrumentos de gerenciamento contábil de uma empresa, destaca-se o gerenciamento de custos; de uma forma geral, entende-se por custos todas as despesas resultantes do processo produtivo e da manutenção da infra-estrutura da empresa de modo que a mesma possa se mantiver eficiente no mercado.

Levando em consideração essa perspectiva, o objetivo deste artigo é o de destacar a relevância da gestão de custos para que empresa possa se posicionar de forma dinâmica no segmento em que atua, utilizando-a como estratégia competitiva e, consequentemente, obter sucesso no mercado.

Este artigo se justifica no sentido de se proporcionar um material com informações significativas acerca da gestão de custos, vindo a suprir o cabedal da área de administração e de contabilidade.

MATÉRIAS E MÉTODOS

Para o cumprimento do objetivo proposto no trabalho, fundamental se faz a escolha da metodologia, pois de acordo com Dihel e Tatian (2004, apud,.GOMES, 2008, p. 6):

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Gestão de custos: um instrumento de estratégia competitiva para a empresa

A pesquisa constitui-se num procedimento racional e sistemático, cujo objetivo é proporcionar respostas aos problemas propostos. Ao seu desenvolvimento é necessário o uso de cuidadoso método, processo e técnicas. Segundo os autores citados, nesse contexto, a metodologia pode ser definida como o estudo e a avaliação dos diversos métodos, com o propósito de identificar possibilidades e limitações no âmbito de sua aplicação no processo de pesquisa científica. A metodologia permite, portanto, a escolha da melhor maneira de abordar determinado problema, integrando os conhecimentos a respeito dos métodos em vigor nas diferentes disciplinas científicas.

Assim sendo, o método é conseqüência da metodologia e refere-se aos meios utilizados que vão possibilitar conhecer uma determinada realidade. Dessa forma, a metodologia utilizada foi o de caráter interpretativo, descritivo por meio de referencial teórico com a utilização do método de dedução em que, a partir da concepção geral dos autores e descritores utilizados, será construída uma posição subjetiva acerca do tema e do objetivo proposto.

DESENVOLVIMENTO

Antes de se passar a tratar da gestão de custos como estratégia competitiva, fundamental se faz discorrer acerca do que vem a ser custos para as empresas, bem como conceituar estratégia competitiva. É relevante destacar que a gestão de custos em uma empresa é determinante para a sua sobrevivência no mercado, uma vez que a sua sustentabilidade financeira representa a sua potencialidade de superar crises, bem como manter-se equilibrada diante das alterações da economia.

Entende-se pelo termo ”custo” como sendo o montante que foi gasto para adquirir certo bem, objeto, propriedade ou serviço. A noção de custo está vinculada à consideração que se dá em troca de um bem recebido. Todo custo corresponde a uma vantagem, bem ou serviço adquirido. Em contabilidade, custo é o que se chama de “gasto”, compra de ativos, com cessão de outros, presente ou futura.

Em termos gerais custos são definidos como sendo os gastos que uma empresa tem devido a seu processo produtivo e é definido por Matarazzo (2000) como sendo necessários à produção de outros bens ou serviços, isto e que não sejam investimentos.Os bens e serviços produzidos, embora tenham em seu ciclo produção utilização de alguns custos, será ativada no final do processo da produção do estoque.

Oliveira (2003, p. 34) observa:

[...] custos são os montantes apropriados, registrados na conta da produção em andamento, antes que seja efetuada qualquer saída, compõem o valor do estoque e devem representar o somatório de todos os cartões de custos.

Os custos poderão ser classificados em custos fixos e custos variáveis.Os primeiros são aqueles cujo montante independe do volume de produção dentro de determinado período. É caracterizado por valores permanentes de volumes e produção, valor por unidade produzida, por uma quantidade maior ou menor de produção.

Ilustra Matarazzo (2003, p.217).

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Eliane Silva Fortunato de Palma, Cristiane Ap. J. dos Reis da Silva, Lucineide Ap. da Silva Alves, Douglas Francisco da Silva, Luís Marcelo Martins

[...] apesar da possibilidade de classificarmos uma série de gastos como custos fixos, é importante ressaltar que qualquer tipo de custo é sujeito a mudanças. Assim, os custos fixos dentro de um intervalo relevante de produção ou venda, e podem variar se os aumentos ou diminuições de volume forem significados.

Zdanowicz (1986, p. 45) advoga uma conceituação bem definida de custos fixos:

os custos fixos via de regra, não apresentarão grande flutuações, pois não estarão vinculados aos processos operacionais de vendas ou produção da organização. Esses custos fixos, concretizando-se na supervisão, no apoio e na prestação de serviços a todas as áreas.

Dificilmente varia na razão direta de produção ou comercialização, devendo-se considerar que os aumentos destes são beneficiados com rateios menores desses custos. Dessa maneira, entende-se que a quantidade produzida não vai interferir nestas despesas, pode-se mencionar nessas despesas, o aluguel, salários entre outros.

Os custos variáveis são aqueles cujo montante acompanha o volume de atividade produtiva dentro de certo período. São caracterizados por seu valor total varia na proporção direta do volume de produção, o valor é constante por unidade independendo da quantidade produzida. Estes são os que se alteram em função da quantidade produzida ou adquirida e estão diretamente vinculados com os custos diretos da empresa.

Podem ser configurados como diretos e indiretos. Os diretos são perfeitamente identificados e quantificados nos produtos ou serviços. Já os custos indiretos são assim denominados por ser muito difícil ou trabalhoso identificá-los de modo preciso, sendo necessário, quando de sua apropriação nos produtos, de métodos de rateios. De acordo com Ribeiro (2002, p.28):

[...] a classificação destes custos é dada tanto àqueles que impossibilitam uma segura e objetiva identificação com o produto como também àqueles que, mesmo integrando o produto, pelo pequeno valor que representam em relação ao custo total, não compensam a realização dos cálculos para considerá-los como Custo direto.

Orçar o custo variável demanda estudos e apontamentos para se apropriar de forma correta tais valores nos produtos ou serviços. Em se tratando de custos variáveis indiretos, há a necessidade de se adotar formas de rateio ou apropriação dos valores, pois estes não apontam valores específicos, mas probabilidades que podem alterar-se constantemente durante o exercício.

Conforme se observa então, não há como a empresa se abdicar dos custos, eles são inerentes à empresa, assistindo à sua gestão administrá-los de forma racional e criteriosa, de modo que ela possa utilizá-los para processos de tomada de decisão a nível gerencial e como uma estratégia junto a concorrência, de modo que a empresa possa produzir com qualidade, satisfazendo a demanda com custo reduzido. Levando em consideração essa perspectiva, fundamental se faz destacar o que vem a ser estratégica competitiva.

Antes de expor definições de estratégia competitiva, definir o termo competitividade é fundamental para que se possa compreender de forma clara o tema deste trabalho. O termo “competitividade” já explicita o seu significado, assim Rhoden (2008), a define como sendo, “[...] capacidade de a empresa formular e implementar estratégias concorrenciais, que lhe permitam

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Gestão de custos: um instrumento de estratégia competitiva para a empresa

ampliar ou conservar, de forma duradoura, uma posição sustentável no mercado.” Portanto, caracteriza-se como sendo uma “competição” ou “rivalidade”, segundo Barbosa apud. Bassinelo, (2006), inserindo estes significados dentro do contexto empresarial, pode-se compreender que para uma empresa ser competitiva ela deve oferecer seus produtos ou serviços de modo a superar ao do concorrente de forma quantitativa e qualitativa, consequentemente, satisfazendo os consumidores. Coloca Machado da Silva e Fonseca apud..(BASSINELLO, 2006, p.26): “[...] habilidade de organização em fabricar produtos melhores do que seus concorrentes, de acordo com os limites impostos por sua capacitação tecnológica, gerencial, financeira e comercial.”

Considerando esta colocação entende-se que a competitividade de uma empresa é dependente da formulação de estratégias, onde a empresa vai utilizar elementos para sobressair sobre as concorrentes. Assim, segundo Andrews apud. (BEPLER, 2008, p.15):

A estratégia competitiva é como o modelo de decisão da empresa, onde estão determinados os objetivos e metas, as normas e planos para alcance dos objetivos buscados. Este modelo também delimita as fronteiras do negócio e da atuação organizacional.

Compreende-se então que a estratégia competitiva tem como finalidade tornar a empresa mais incisiva ao que se refere à sua competitividade no mercado. Percebe-se que a definição do autor, a estratégia competitiva se resume em um planejamento para se cumprir metas traçadas dentro de objetivos. Em tese, entende-se que nesta definição, a estratégia não se tende a um diferencial, mas sim, a um aspecto macro da instituição, ou seja, ela como um todo.

Percebe-se, assim, que para a competitividade de uma empresa atinja um patamar de eficiência não basta que somente ela coloque seu produto ou serviço no mercado, mas que a empresa tenha uma capacidade ampla que envolva diversos setores da empresa de se superar as concorrentes. Para isso, não basta somente fazer produtos em quantidade e baratos, mas sim, desenvolver-se diferencialmente de modo a superar o que já está no mercado.

É sabido que as empresas, para se manterem no mercado, participam de uma disputa constante com os seus concorrentes, desta forma, manter-se na mesmice, sem buscar um diferencial que a destaque das concorrentes é fadarem-se à falência. Esses diferencias tomam a forma de estratégias a serem aplicadas, que no âmbito empresarial é denominado de estratégias competitivas.

Estratégia competitiva, no contexto empresarial, em princípio, pode ser considerada como um planejamento de ações a serem aplicados a fim de que uma empresa possa se destacar no mercado em relação às concorrentes. Porém, cientificamente, são muitos os teóricos que conceituam a dinâmica do termo. Mas é importante mencionar que não há uma conceituação unívoca acerca de estratégia competitiva, contudo, muitas delas se harmonizam como também se distinguem entre si. Assim sendo, a estratégia competitiva trata-se de uma combinação de diferentes abordagens e de distintas formas de pensamento. A construção desta é comum às empresas como meio de melhor se posicionar no mercado diante das concorrentes. São muitas as alternativas, porém, na maioria das vezes, a estratégia escolhida pela empresa refere-se ao conhecimento que possui em relação do setor em que atua, no entanto, muitas vezes isso não é o suficiente.

É relevante destacar que é por intermédio destas estratégias que as empresas vão se situar para que as tomadas de decisões sejam corretas e eficientes, otimizando seu processo produtivo, consequentemente, recrudescendo no mercado e respondendo as possíveis ameaças

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Eliane Silva Fortunato de Palma, Cristiane Ap. J. dos Reis da Silva, Lucineide Ap. da Silva Alves, Douglas Francisco da Silva, Luís Marcelo Martins

da concorrência.Assim para clarificar, Porter (2006) discorre que estratégia competitiva se trata do:

[...] desenvolvimento de uma fórmula ampla para o modo como uma empresa irá competir, bem como as políticas e metas necessárias para alcançar seus objetivos. A estratégia competitiva é “uma combinação dos fins (metas) que a empresa busca e dos meios (políticas) pelos quais está buscando chegar lá.” (PORTER, 2006 p. 78)

Pode-se compreender desta colocação do autor, que ele diferencia estratégia de mero planejamento, uma vez que a estratégia é uma ação racionalizada na qual são claros e definidos o que se pretende alcançar, baseando-se na realidade da concorrência e o que ela oferece dentro do mercado. Destaca ainda Porter (1986) que a estratégia competitiva trata-se de um diferencial, de uma vantagem competitiva das empresas em relação às concorrentes.

A elaboração da estratégia competitiva apóia-se em duas circunstâncias, conforme discorre Rhoden (2008), “uma externa, as forças competitivas, encontrando uma posição no setor onde ela possa se defender das forças ou influenciá-las a seu favor; outra interna, onde a empresa tem poder de intervenção, como, gestão, inovação, produção e recursos humanos.”

Compreende-se assim, que a dinâmica da empresa deve estar apoiada no conhecimento e estrutura das concorrentes e de sua própria estrutura, determinando, desta forma, a senda a ser seguida para se conseguir a vantagem competitiva. Um dos elementos que compõe a estrutura interna é a gestão de custos que se gerido de forma racional e eficiente trata-se de um eminente fator de estratégia competitiva.

O GERENCIAMENTO DE CUSTOS COMO ESTRATÉGIA COMPETITIVA DE UMA EMPRESA

Contemporaneamente, as empresas convivem com duas realidades: o ambiente altamente competitivo entre elas e a substancial carga tributária que recai sobre elas; essas circunstâncias relacionadas às alterações constantes do mercado, bem como a busca incansável dos consumidores por produtos de qualidade com preço reduzido propicia às empresas dificuldades substanciais para se manterem eficiente no mercado. Nesse sentido menciona Zanluca (apud.CERIOLLI, 2009, p. 8):

Com as margens sobre os preços cada vez mais comprimidas pela concorrência, torna-se cada vez mais importante o trabalho dos administradores na busca pela redução de custos, principalmente de desperdícios e excessos que se verificam na organização, obtendo assim, lucratividade para a mesma e garantindo sua sobrevivência no mercado.

Assim sendo, identificar o meio exato para se reduzir os custos, proporcionando produtos com qualidade e de baixo preço para o consumidor é um grande desafio para as empresas. Porém, quando efetuado de forma elaborada e planejada torna-se um meio eficiente para se sustentar no mercado e superar a concorrência, principalmente, se realizado anterior a um grande investimento em um negócio ou produto específico.

Comumente, as empresas quando pretende reduzir custos, principalmente em momentos de crises, a primeira atitude delas é reduzir o número de recursos humanos. Tal realidade se trata

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de uma medida drástica que muitas vezes não contribui substancialmente para a redução de custos, podendo ter um resultado contraproducente, como, por exemplo, a redução da produção, queda da qualidade dos produtos ou serviços, não contribuindo necessariamente para a dinamização da empresa no mercado.

Destaca Ceriolli (2009) que as empresas devem ter outra concepção acerca da redução de custos ou, mais necessariamente, ampliar o conceito sobre essa perspectiva no cotidiano das empresas. Os custos de uma empresa podem se caracterizar por diversas formas, como custos com pessoal, englobando treinamento, despesas com viagens, folha de pagamento, bem como com outros aspectos relacionados diretamente com o processo produtivo da empresa, tais como o sistema de compras, logística, investimentos em tecnologia, materiais de consumo, ações comerciais e de marketing e serviços contratados. Diante disso, racionalizar estes custos e gerenciá-lo de modo a não representar uma adversidade para a empresa é essencial, sendo fundamental a adoção de uma ação urgente, objetivando o não comprometimento do empreendimento. Para reforçar esse ponto de vista, Dalbó (2009, p. 5) faz a seguinte colocação, “[...] o mais relevante na redução de custos de uma empresa não é o “fazer”, mas sim, “o saber fazer”, a fim de que a empresa alcance os resultados objetivados.”

A gestão dos custos de uma empresa, no sentido de obter um controle rigoroso e sistemático, conforme relata Zanluca (2009), possibilita que a empresa possa formular preços de venda com mais precisão. Consequentemente, assegurando a lucratividade, além de auxiliar o empreendedor nas tomadas de decisões de sustentar ou não uma determinada linha de produção, evitando, com isso, a manutenção de um produto ou serviço que não resulta em lucro para a empresa, ou operar com prejuízo.

Para Zanluca (2009) uma gestão de custos implantada de forma adequada propicia a geração de informações que, se analisadas de forma sistemática, levando o aspecto interno e externo à empresa, como, por exemplo, as alterações de mercado, preço de venda, volume de vendas, o desempenho da concorrência além de outros fatores, resultarão em recursos elementares ao empreendedor.

Assim sendo, pode-se compreender que tal racionalização não se refere à burocratização da administração da empresa, mas sim, de um momento oportuno que o gestor tem a possibilidade de garantir informações significativas para controlar os custos inerentes à empresa, proporcionando ao empreendedor uma posição mais minuciosa dos setores específicos da empresa.

Nesse sentido, observa Moretão ( apud. CERIOLLI, 2009, p. 6):

Os administradores necessitam conhecer a realidade da empresa e dispor de informações rápidas e confiáveis, que lhes auxiliem na tomada de decisões com bases mais sólidas e eficazes, possibilitando assim, o alcance e até a superação das metas estabelecidas. A competitividade acentua ainda mais a necessidade de uma gestão de custos eficaz, visando obter a excelência empresarial, de modo que, custos mal calculados e mal incorporados aos produtos, afetam profundamente a empresa, independente de porte, ramo ou mercado atuante.

Acrescenta-se a isso a condição de que uma empresa que tem como prática uma gestão de custos proficiente tem a potencialidade de controlar suas atividades, visando melhor desempenho de custos de seus produtos ou serviços. Por consequencia, consegue ofertar estes aos consumidores com preços mais competitivos sem, necessariamente, reduzir o lucro. Ou seja, a

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Eliane Silva Fortunato de Palma, Cristiane Ap. J. dos Reis da Silva, Lucineide Ap. da Silva Alves, Douglas Francisco da Silva, Luís Marcelo Martins

empresa consegue obter vantagem competitiva junto a concorrência devido ao recrudescimento da demanda, diferenciando, com isso a sua participação e relevância no segmento em que atua. Assim sendo, infere-se que a adoção de uma gestão de custos racional, sistemática e eficiente aponta para uma estratégia competitiva de grande importância à que empresa destaque-se perante a concorrência.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Perante ao discorrido nesse artigo observa-se que as empresas mantêm em sua dinâmica no mercado custos que são inerentes a ela, como custos fixos, representados pelos custos necessários para a manutenção do seu processo produtivo, como água, energia elétrica, aluguel, entre outros; como também os variáveis, como matéria-prima, estoque entre outros, onde estes custos são, em muitos casos, imprecisos e difícil de mensurar, portanto, ambos necessitando de uma gestão eficiente visando a dinamização da empresa no mercado.

Não obstante as características destes custos eles representam uma parcela substancial das despesas da empresa e, que se racionalizados, podem ser utilizados como estratégia competitiva para que ela possa sobressair à concorrência, bem como para tomadas de decisões quanto a manutenção ou não de um produto ou serviço no mercado.

Uma gestão de custos eficiente deve ser efetivada de forma sistemática, considerando o seu contexto interno, a própria empresa; e externo, o mercado, a fim de que a empresa possa traçar os caminhos a serem seguidos no controle de seus custos. Portanto, quando racionalizados e considerados de forma sistêmica, a gestão de custos de uma empresa representa um eficiente instrumento de competitividade no segmento em que atua.

Não basta manter registros e processos de controles, os quais servem apenas como indicativos ou comparativos de desempenho, há de se construir uma fonte de informações precisas e confiáveis, as quais municiarão o processo decisório dentro das empresas. Ou seja, a gestão dos custos assume função estratégica e não mais apenas geradoras de dados.

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Totalitarismo e Literatura: a distopia de George Orwell em 1984. Londrina, 2010.

TOTALITARISMO E LITERATURA: A DISTOPIA DE GEORGE ORWELL EM 1984. LONDRINA, 2010.1*

TOTALITARIANISM AND LITERATURE: THE DYSTOPIA OF GEORGE ORWELL IN 1984. 2010.

Luana Rafaela de Alcantara2**

Prof°. Dr. Rogério Ivano3***

RESUMO:O presente trabalho pretende demonstrar discussões existentes entre totalitarismo e representação literária, neste caso o romance de George Orwell, 1984. Com base nos estudos de Hannah Arendt sobre o tema, a análise decorre chegando-se a conclusão de que o autor estava movido por preceitos ideológicos arraigados, por suas experiências pessoais no pós-Segunda Guerra Mundial, e no eminente estado de Guerra Fria que decorreria em seguida.

PALAVRAS-CHAVE: Totalitarismo, literatura, distopia, 1984.

ABSTRACT:This paper aims to show discussions between totalitarianism and literary representation, in this case the novel by George Orwell, 1984. Based on studies of Hannah Arendt on the topic, the analysis takes place coming to the conclusion that the author was motivated by ingrained ideological precepts, by his personal experiences in post-World War II and the Cold War eminent status that would ensue then.

KEY WORDS: totalitarianism, literature, dystopia, 1984.

INTRODUÇÃO

A construção do conceito de totalitarismo vem sendo moldada ao longo de todo o século XX. A obra de George Orwell, 1984, enquadra-se nesta construção, pois projeta o condicionamento do indivíduo e a aniquilação da sua singularidade em favor da manutenção de um sistema de poder autoritário, violento e onipresente, no caso, a antiga União Soviética.

Hannah Arendt (2000) define totalitarismo, como um “conjunto de experiências e condições que possibilitou o surgimento de uma forma de opressão política que, em sua essência, difere de todas as outras”. Dentro desta análise encontramos a atmosfera na qual o autor estava inserido quando da produção da obra, sua percepção acerca da forma de governo que será aqui discutida, e a imagem “construída” sobre o tema apresentado no romance.

O livro, 1984, ilustra a imagem de um mundo “frio”, marcado pela eliminação da diversidade, onde não existem mais indivíduos, e onde todos são membros do “Partido”. A obra retrata também um possível processo de “evolução” da sociedade soviética, caso esta se mantivesse sob o regime stalinista. George Orwell expõe, na ótica dos controlados, o efeito crescente de instrumentos e técnicas de controle social nas sociedades contemporâneas. É então neste ponto que ocorrerá o desenvolvimento da análise aqui proposta, tendo em vista a ótica do autor e a maneira como ele narra a realidade na qual não estava diretamente inserido, mas que * Trabalho de Conclusão do Curso (TCC) de História. Universidade Estadual de Londrina, 2010**Graduada em licenciatura plena em história pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) 2010***Prof°. Dr. Rogério Ivano graduado em História pela Universidade Estadual de Londrina (1993), mestrado (2000) e doutorado (2005) em História pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). Atualmente é professor adjunto da Universidade Estadual de Londrina. Tem experiência na área de História, com ênfase em Teoria da História, atuando principalmente nos seguintes temas: historiografia, teoria, literatura e cultura.

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Luana Rafaela de Alcantara, Prof°. Dr. Rogério Ivano

havia presenciado, e da qual era um crítico ferrenho.

As dimensões epistemológica e ideológica, correspondendo a primeira ao desejo do escritor de registrar e dar a conhecer eventos como eles são e a segunda necessidade de o autor assumir uma determinada atitude política que inevitavelmente implica um posicionamento ideológico perante o conteúdo do que escreve e a forma como escreve (MARTINS, 2004, p. 1-9).

Tendo como pressuposto a afirmação de Sidney Chalhoub e Leonardo Pereira (1998), de

que “para historiadores a literatura é, enfim, testemunho histórico”, ou seja, de que a literatura é uma fonte histórica, o livro 1984 será o principal objeto de análise utilizado como forma de representação de um governo totalitário, compreendido aqui pelo modelo discutido por Hannah Arendt.

Dentro destas perspectivas anteriormente citadas é que o trabalho se propõe então a compreender as relações teóricas entre literatura e história, realidade e ideologia. Essas relações serão aqui ilustradas pela obra em questão, que se caracteriza como romance distópico, termo este que é compreendido como sendo o inverso da utopia, sua negação, partindo do princípio de que estruturas sociais cientificamente moldadas estariam fadadas a sistemas opressores e de alienação (cf. PINTO, 2003, p. 15 – 16).

Uma vez que Orwell aborda em sua obra não somente o sistema totalitário, mas as classes sociais, os valores e desejos, medos e angustias, a falta de perspectiva com o presente, este trabalho se apropriará da metodolgia da história cultural, optando assim pela proposta de Roger Chartier, para quem:

As técnicas mudam e, com ela, os protagonistas da fabricação do livro, mas permanece o fato de que o texto do autor não pode chegar a seu leitor senão quando as muitas decisões e operações lhe deram forma de livro. Não dá pra esquecer isto ao lê-lo (CHARTIER, 2001, p. X).

Chartier leva em consideração as diversas maneiras de se praticar a leitura. Algumas diferenças se mostram pertinentes às discussões propostas neste trabalho, pois compreendem as três modalidades que regulamentam as variantes de utilização, compreensão e apropriação dos textos, e ajudam a compreender as leituras e leitores em suas diferenças.

Partindo da pergunta “o que há de histórico em 1984?”, este trabalho visa compreender como a obra em questão ajudou a consolidar uma idéia de totalitarismo e, consequentemente, uma imagem da URSS stalinista.

Na verdade, porém (ele filosofou, enquanto reajustava as cifras do Ministério da Fartura), não chegava à falsificação. Era apenas substituição de uma sandice por outra. A maior parte do material tratado não tinha relação alguma com coisas reais, nem mesmo o tipo de ligação que se contém numa mentira declarada (ORWELL, 1991, p. 42).

Com relação ao período de inconteste domínio de Stálin, de 1929 em diante, o arquivo de Smolensk tende a confirmar o que já sabíamos antes através de fontes menos irrefutáveis. Isso se aplica até, a algumas de suas

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Totalitarismo e Literatura: a distopia de George Orwell em 1984. Londrina, 2010.

estranhas lacunas, especialmente quanto a dados estatísticos. Pois essa falta de dados prova apenas, neste ponto como em outros, que o regime de Stálin era cruelmente coerente: eram tratados como mentiras todos os fatos que não concordassem, ou pudessem discordar, com a ficção oficial, fossem dados sobre as colheitas de trigo, a criminalidade ou as reais ocorrências de atividades “contra-revolucionárias” (ARENDT,2000, p. 345).

Mateus Yuri Ribeiro da Silva (2007) diz que a maior parte da literatura distópica está inserida no gênero da ficção científica – que, de acordo com o American Heritage Dictionary of the English Language, é a “ficção na qual, invenções ou descobertas científicas constituem um elemento do enredo ou do contexto; em especial, um trabalho de ficção baseado na previsão de possibilidades científicas futuras” (HUBBARD, 2001, p. 10 apud SILVA, 2007, p. 3).

1984 tem como pressuposto a idéia de que a espécie humana será arruinada, de modo irreversível. O grau de ruína, o enfoque e as verdades científicas envolvidas no processo que George Orwell observava de maneira subjetiva, fazendo previsões que apontavam para uma ameaça em potencial à organização social vigente: para Orwell, os governos totalitários.

O modo de lidar com os oponentes era a “retificação do pensamento”, um complicado processo de constante moldagem e remoldagem dos espíritos, ao qual aparentemente quase toda a população estava sujeita. Nunca soubemos muito bem como isso funcionava na vida de cada dia e quem era isento — isto é, quem procedia à “remoldagem” dos outros —, e não tínhamos a menor idéia dos resultados da “lavagem cerebral”, se era duradoura e se realmente produzia mudanças de personalidade (ARENDT, 2000, p. 341)

Adriana alves Paula Martins (2004) diz que a obsessão e a instabilidade estão, por sua vez, na estreita dependência da indiferença em relação à realidade. O poder que impede a diferença permite que as maiores atrocidades sejam cometidas em nome de causas nacionalistas, radicando tal sentimento na crença dos nacionalistas de que o passado pode e deve ser alterado quando necessário. A máquina de propaganda nacionalista é suportada, dessa forma, pela empresa da mentira organizada, referida por Orwell em vários trechos do livro 1984. A indiferença dos nacionalistas em relação à realidade denota a fragilidade da sua condição de artefato de representação do real e a sua manipulação em função da ignorância de muitos dos seus seguidores (MARTINS, 2004, p.1-9).

Winston debateu consigo mesmo se devia ou não conferir ao Camarada Ogilvy a Ordem do Mérito Evidente (...). O Camarada Ogilvy, inexistente uma hora atrás, era agora um fato. Pareceu-lhe curioso ter a faculdade de criar homens mortos, mas não vivos. O Camarada Ogilvy, que jamais existira no presente, agora existia no passado, e existia com a mesma autenticidade, e as mesmas provas, que Carlos Magno ou Júlio César (ORWELL, 1991, p. 48).

Anderson Soares Gomes (2008) lembra-nos de que uma série de críticos que considera 1984, escrito em 1949, uma previsão falha, já que muito do que foi narrado por Orwell não ocorreu e sua possibilidade de concretização, remota. Contudo, essa visão de 1984 como um advento do

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Luana Rafaela de Alcantara, Prof°. Dr. Rogério Ivano

que viria, um mero livro de predições, é bastante reducionista, porque nega ao romance tanto o seu caráter de narrativa distópica, quanto a crítica nele embutida. Está na natureza dos romances distópicos uma “crítica às condições sociais e aos sistemas políticos” e o caráter anti-utópico, ou seja, alertar para os riscos e as falhas na construção de sociedades perfeitamente planejadas e seus terríveis efeitos sobre o indivíduo. Para a consolidação de uma crítica aos modelos utópicos, as distopias utilizam o recurso da “desfamiliarização”. “Ao focar suas críticas sociais sobre distantes cenários, as ficções distópicas fornecem perspectivas acuradas sobre problemáticas sociais que, de outra forma, poderiam ser vistas como naturais e inevitáveis.” (BOOKER, 1994, p. 15 apud GOMES, 2004, p. 96-104).

Marco Scott Teixeira (2004) descreve George Orwell como um escritor de uma sinceridade incontestável, que testemunhou e viveu pessoalmente tudo que retratou em sua obra. Morreu em 1950, aos 47 anos. Crítico violento do totalitarismo de todos os tipos, da exploração das massas trabalhadoras, do imperialismo e do colonialismo, pretendeu manter sobretudo um espírito independente e profundamente ligado à realidade vivida, no que foi coerente até a morte.

Este trabalho então se predispõe a compreender a noção de totalitarismo no livro 1984, estabelecendo uma conexão entre as discussões de Hannah Arendt sobre as formas de governo totalitário, sobretudo o soviético, analisando a obra de George Orwell e sua percepção sobre o tema. Antonio Ozaí da Silva diz que:

George Orwell simboliza os dilemas vivenciados pelo intelectual que se engaja nas lutas sociais adotando uma perspectiva ideológica de esquerda: silenciar ou correr o risco de ser utilizado enquanto arma teórica contra as idéias igualitárias de esquerda. (SILVA, 2003, p. 2)

De acordo com Andréa Coutinho (2008), na literatura a ficção científica demonstra sua proximidade com todas as questões que desvelam um mundo ora real ora ficcional, assim como os paradoxos do tempo e do espaço e a explosão das imagens por meio das novas tecnologias. Apresenta o virtual que se transforma em real e a realidade em irrealidade, confundindo “fronteiras” antes tão perceptíveis. Embora ainda com uma posição “marginal, a ficção científica reunia, e reúne em si, essas duas vertentes opostas: a ficção associada ao não verdadeiro, e a ciência centrada na verdade” (COUTINHO, 2008, p. 2).

O fato do romance distópico se caracterizar como este “não lugar”, nos utilizaremos destas percepções citadas anteriormente para caracterizá-lo, pois ao tratar-se de uma “previsão” nefasta e mecanicista da realidade a qual o ser humano estaria fadado, teremos na ficção científica apoio retórico para a discussão deste tema. Encontramos esta discussão em livros como A Revolução dos Bichos, do próprio George Orwell e em Fahrenheit 451, de Ray Bradbury, que tem em sua temática a função inversa do papel do bombeiro, utilizada em seu romance para atear fogo (ao invés de apagá-lo), em prol principalmente de extinguir os livros que pudessem de algum modo influenciar as pessoas.

[...] Era um prazer muito especial ver as coisas arderem, vê-las calcinar-se e mudar.Punho de cobre na mão, armado desse imenso píton que cuspia o veneno da sua gasolina sobre o mundo, sentia o sangue bater-lhe nas têmporas e as suas mãos tornavam-se as mãos de uma espécie de maestro prodigioso dirigindo todas as sinfonias do fogo e do incêndio, ao ritmo das quais se desmoronavam aos farrapos as ruínas carbonizadas da história (BRADBURY, 2003, p. 7).

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José D’ Assunção Barros (2005), citando Chartier, diz que as representações inserem-se “em um campo de concorrências e de competições cujos desafios se enunciam em termos de poder e de dominação”; em outras palavras, são produzidas aqui verdadeiras “lutas de representações” (CHARTIER, 1990, p.17 apud BARROS, 2005, p.139). E estas lutas geram inúmeras “apropriações” possíveis das representações, de acordo com interesses sociais, com as imposições e resistências políticas, com as motivações e necessidades que se confrontam no mundo humano. O modelo cultural de Chartier é claramente atravessado pela noção de “poder”, o que, de certa forma, faz dele também um modelo de História Política (BARROS, 2005, p.139).

Essa abordagem metodológica tem por objetivo averiguar as impressões e as possíveis concepções criadas pela fonte literária em questão, o livro 1984.

Tendo como fim único demonstrar o viés entre as representações de um estado totalitário e sua real condição de existência, veremos a apresentação do tema pela perspectiva de Hannah Arendt e a construção de uma imagem do totalitarismo feita por George Orwell.

TOTALITARISMO - O CONCEITO ARENDTIANO A historiografia política que discute o totalitarismo tem como seu principal expoente

as obras de Hannah Arendt, particularmente “Origens do Totalitarismo”, escrito em 1951 e depois reeditado e lançado em 1958. À obra estabeleceu uma discussão mais sistemática sobre os governos considerados totalitários, nos quais Hannah Arendt identificou uma manipulação das massas e uma apropriação do Estado, de forma a manter o controle total sobre estas.

Hannah Arendt, nascida em Hanôver em 14 de outubro de 1906 e falecida em Nova Iorque em 4 de dezembro de 1975, dedicou-se a analisar o totalitarismo em suas diversas vertentes, estudando diferentes formas de governo que tinham como pressupostos políticos a dominação e o controle das massas por intermédio de suas máquinas de propaganda política e da opressão declarada.

Era, pelo menos, o primeiro momento em que se podia elaborar e articular as perguntas com as quais a minha geração havia sido obrigada a viver a maior parte da sua vida adulta: O que havia acontecido? Por que havia acontecido? É muito perturbador o fato de o regime totalitário, malgrado o seu caráter evidentemente criminoso, contar com o apoio das massas (ARENDT, 2000, p. 337).

O termo totalitarismo, ou Estado Totalitário, de acordo com dicionário político de Norberto Bobbio (1998), começou a ser utilizado por volta da metade da década de 1920 como expressão ligada ao “Fascismo” Italiano, para depois designar todas as ditaduras monopartidárias, abrangendo tanto fascistas quanto comunistas.

Segundo Hannah Arendt, o totalitarismo era uma forma de domínio radicalmente nova porque não se limitava a destruir as capacidades políticas do homem, isolando-o em relação à vida pública, como faziam as velhas tiranias e os velhos despotismos, mas tendia a destruir os próprios grupos e instituições que formam o tecido das relações privadas do homem, tornando-o estranho assim ao mundo e privando-o até de seu próprio eu (BOBBIO, 1998, p. 1248).

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Luana Rafaela de Alcantara, Prof°. Dr. Rogério Ivano

Paulo César Nascimento avalia a obra Origens do Totalitarismo como um dos estudos mais profundos e ricos sobre o tema, desafiando o tempo e mantendo toda a sua relevância. Hannah Arendt, de acordo com ele, não se limitou a buscar as origens do totalitarismo – pois as discussões remetem às implicações políticas e filosóficas, com apontamentos sobre o fenômeno totalitário, e também o surgimento de uma “nova” forma de governo, que seria então totalmente desconhecida da tradição da teoria política ocidental (NASCIMENTO, 1989, p. 118-120).

Lidiane Carneiro e Rosa Lydia Teixeira Corrêa dizem que quando falamos do totalitarismo, estamos nos referindo àqueles partidos que apresentam um traço característico comum, a saber, a autoridade suprema de um líder que apresenta poderes de “divindade”. Seu pensamento é tido como redentor; incorpora simbologias que vão desde signos e uniformes, palavras de guerra até rituais realizados pelos membros do partido e estendidos à população em concentrações coletivas, onde são realizados pomposos discursos em enaltecimento à nação e à moral dos indivíduos que a compõem. Sua imagem é também disseminada por meio de forte propaganda quando da utilização de meios de comunicação para a educação das massas (CARNEIRO e CORRÊA, 2008, p.153).

Nerione Nunes Cardoso Jr. descreve uma concepção arendtiana de totalitarismo como uma forma de governo que se distingue da tirania e da ditadura por almejar a politização completa de todas as dimensões da vida humana: num aparente paradoxo, a hipertrofia da esfera política destruiria as esferas públicas e privadas da sociedade, aniquilando a espontaneidade e a capacidade de iniciativa dos indivíduos por meio do terror imposto pelo domínio político-policial (CARDOSO JR., 2003, p. 291).

Esse entendimento sobre o tema desenvolve-se de maneira não só ligada aos governos totalitários, citados por Arendt, mas também sobre toda e qualquer forma de manipulação das massas, que poderiam ou não ocorrer em Estados em que esta forma de política não fosse necessariamente declarada.

Obviamente, o fim da guerra em 1945 não trouxe o fim do governo totalitário na Rússia. Pelo contrário, foi seguido pela bolchevização da Europa oriental, ou seja, pela expansão do regime totalitário, e a paz nada mais era que uma oportunidade de analisar as semelhanças e diferenças nos métodos e instituições dos dois regimes totalitários. Decisivo nesse sentido não foi o fim da guerra, mas a morte de Stálin, oito anos depois (ARENDT, 2000, p. 339).

Ao estudarmos as noções de política em Hannah Arendt, percebemos que a ideologia totalitarista se opõe à concepção de política a qual a autora defende, ou seja, as noções de liberdade, diálogo não-violento e isonomia. Um princípio básico de igualdade perante a lei.

Arendt apresenta o governo totalitário sistematizado dentro de uma máquina de manipulação política, através da qual este é capaz de criar uma idéia coerente do mundo, retirando generalizações, e substituindo a realidade pela ficção, com o único intuito de criar um mundo ordenado e organizado para a população. Neste caso, o propósito da propaganda totalitária não residiria na persuasão e sim na organização das massas, que de acordo com ela, criaria e manteria sobre a população uma sempre presente ameaça mundial (no caso do totalitarismo stalinista, a conspiração capitalista para derrotar a revolução socialista; no caso do totalitarismo nazista, a conspiração judaica, para dominar o mundo) (ARENDT, 2000, p. 409-411).

O que importa, naturalmente, não é que a China comunista seja diferente da Rússia comunista, como não importava que a Rússia de Stálin fosse diferente

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da Alemanha de Hitler. A embriaguez e a incompetência, tão comuns em qualquer descrição da Rússia dos anos 20 e 30 e tão comuns ainda hoje, não representaram qualquer papel importante na Alemanha nazista, enquanto a indescritível crueldade gratuita dos campos de concentração e de extermínio alemães parece ter estado geralmente ausente dos campos russos, onde os prisioneiros morriam de abandono e não de tortura. A corrupção, que foi desde o início a maldição da administração russa, esteve também presente nos últimos anos do regime nazista, mas parece estar completamente ausente da China após a revolução (ARENDT, 2000, p. 342).

A autora ainda reitera que uma das dificuldades da literatura sobre o totalitarismo é que algumas tentativas são consideras por ela prematuras por parte de contemporâneos de escrever a sua “história, e que, segundo as regras acadêmicas deveriam ter como pressuposto fontes impecáveis de documentação. A exemplo da biografia de Hitler por Konrad Heiden e a biografia de Stálin por Boris Souvarine, ambas escritas e publicadas nos anos 30, de acordo com ela, são em alguns aspectos mais precisas e em quase todos os aspectos mais relevantes que as biografias clássicas de Alan Bullock e Isaac Deutscher, respectivamente. Arendt acredita existirem diversas razões para isso, e neste caso ela avalia a postura adotada por diversos desertores e relatos de outras testemunhas que presenciaram tais eventos (ARENDT, 2000, p. 343).

Podemos dizer um tanto drasticamente: não foi preciso o discurso secreto de Nikita Khrushchev4 para que soubéssemos que Stálin havia cometido crimes, nem que esse homem, que se supunha “loucamente desconfiado”, havia decidido confiar em Hitler (ARENDT, 2000, p. 343).

Enfim, Arendt (2000) diz que nada caracteriza melhor os movimentos totalitários em geral — e principalmente a fama de que desfrutam os seus líderes — do que a surpreendente facilidade com que são substituídos. Stálin conseguiu legitimar-se como herdeiro político de Lênin à custa de amargas lutas intrapartidárias e de vastas concessões à memória do antecessor. Já os sucessores de Stálin procuraram substituí-lo sem tais condescendências, embora ele houvesse permanecido no poder por trinta anos e dispusesse de uma máquina de propaganda, desconhecida ao tempo de Lênin, para imortalizar o seu nome.

[...] movimentos totalitários, que precedem a instauração dos regimes totalitários e os acompanha, é invariavelmente tão franca quanto mentirosa, e os governantes totalitários em potencial geralmente iniciam suas carreiras vangloriando-se de crimes passados e planejando cuidadosamente os seus crimes futuros (ARENDT, 2000, p. 356).

Maria Gorete Araújo Melo diz que Arendt, ao restringir o totalitarismo à experiência nazista e stalinista, lançou os comunistas não para onde eles mais temiam ir, isto é, para o rol dos regimes fascistas, mas lançou-os para o seletíssimo rol dos regimes totalitários. Como os nazistas estavam liquidados, pareceu aos comunistas que o conceito de totalitarismo fora feito por encomenda para atingi-los. Foi sempre incômodo aos comunistas a comparação de Hitler a Stálin, ou a comparação do fascismo ao comunismo. Os comunistas nunca entenderam por que os conservadores liberais insistiam tanto em criticar o que eram apenas excessos do comunismo. 4Secretário-Geral do Partido Comunista da União Soviética (PCUS) entre 1953 e 1964, após a morte Stálin.

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Enfim, nenhum conceito de totalitarismo causou tanta aversão à esquerda quanto o conceito elaborado por Arendt na sua análise das formas totalitárias (MELO, 2003, p. 5).

Arendt acredita que o terror é a realização da lei do movimento, e que seu principal objetivo seria tornar possível, à força da natureza ou da história, propagar-se livremente. Neste caso, o movimento selecionaria os inimigos da humanidade contra os quais se desencadearia o terror, não podendo permitir que qualquer ação livre, de oposição ou de simpatia, interfira na eliminação do “inimigo objetivo” da História ou da Natureza, da classe ou da raça. Assim, vemos através de suas análises que a culpa e a inocência viraram conceitos vazios; “culpado” seria aquele que estorva o caminho do processo natural ou histórico que já emitiu julgamento quanto às “raças ditas inferiores”, aqueles que são “indignos de viver”, tanto quanto às “classes agonizantes e povos decadentes” (ARENDT, 2000, p. 576).

Nádia Souki, no entanto, interpreta a liberdade em Arendt como algo que não comportava tão somente a noção filosófica de ir e vir, ou de agir conforme a sua própria vontade. Esta liberdade interior é somente buscada no momento em que o indivíduo perde a liberdade dentro do espaço público, quando deixa de ter contato com seus pares. É um refúgio intocado e seguro do ser. A liberdade arendtiana também tinha uma dimensão muito maior, o campo político. Não há nenhuma possibilidade de se conceber política sem liberdade (SOUKI, 2001, p. 108).

Assim, percebemos a complexidade envolvida nas formas dos governos totalitários identificados por ela, algo que vai além da opressão declarada. A corrupção envolvida nos jogos políticos dentro desses Estados, além de subjugarem suas populações, mantinham sob controle uma máquina estatal capaz de promover sua auto-manutenção.

GEORGE ORWELL E O 1984

George Orwell (nascido Eric Blair em 1903), de acordo com Vieira e Silva (2009), é um autor bem contemporâneo. Embora seja perceptível em sua vastíssima obra a influência de contextos históricos definidos e datáveis, ainda sim, permanece atual o seu olhar crítico sobre o cinismo da cena política e a forma inteligente como lidou com a questão da liberdade, expondo a estupidez de todo o tipo de submissão. É esse olhar crítico e denunciador que informa a perspectiva que hoje apelidamos de “orwelliana”.

Era terrivelmente perigoso deixar os pensamentos vaguearem num lugar público, ou no campo de visão duma teletela. A menor coisa poderia denunciá-lo. Um tique nervoso, um olhar inconsciente de ansiedade, o hábito de falar sozinho – tudo que sugerisse anormalidade, ou algo de oculto (ORWELL, 1991, p. 61).

Os autores ainda lembram que, embora se tenha assumido como um escritor político apenas após a sua participação na Guerra Civil Espanhola, a simpatia pela causa dos oprimidos fez-se já sentir nos primeiros romances de Orwell, como em A Revolução dos Bichos (1945):

Nenhum animal, na Inglaterra, sabe o que é felicidade ou lazer, após completar um ano de vida. Nenhum animal, na Inglaterra, é livre. A vida de uma animal é feita de miséria e escravidão: essa é a verdade nua e crua (ORWELL, 2003, p. 10)

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Seguindo ainda as considerações de Vieira e Silva (2009), percebemos que a crítica a uma sociedade oprimida e fortemente vigiada pelo poder instituído como solução única para a implantação e a manutenção da ordem social é pertinente para a reflexão e a relevância do pensamento orwelliano.

O AUTOR

George Orwell, pseudônimo de Eric Arthur Blair, nasceu em Bengala na Índia inglesa, em 25 de junho de 1903. Poucas pessoas, mesmo entre aquelas que eram mais próximas, conheciam o seu verdadeiro nome. Era, conforme se definiu, de uma família de baixa alta classe média inglesa (ORWELL, 1986 apud VOGOT, 2007, p. 233). De acordo com Olgário Paulo Vogot, seu pai era funcionário da administração do Império Britânico. Ainda criança, sua família retornou à Inglaterra. Estudou na mais cara, esnobe e aristocrática das Public Schools da Inglaterra: a de Eton, no entanto não chegou a cursar Universidade.

Vogot (2007) nos lembra que, em 1922 Orwell regressou à Birmânia, trabalhando durante cinco anos para a Polícia Imperial Indiana. Pediu demissão de seu emprego de policial, conforme relatou em A caminho de Wigan, um de seus livros autobiográficos, por odiar o imperialismo ao qual estava servindo5. De regresso à Europa, decidiu tornar-se escritor.

No entanto, somente a partir de 1934 que Orwell, passou a viver com o dinheiro que ganhava dos seus escritos. Na Inglaterra, escreveu na imprensa socialista e trabalhou como livreiro, professor e jornalista. Foi então que publicou Dias na Birmânia, um romance antiimperialista em que tirou proveito de suas experiências vividas no Oriente. (VOGOT, 2007, p. 233).

De acordo com Marcos Scott Teixeira (2004), em 1936, já socialista confesso, participaria da Guerra Civil Espanhola (1936-1939), como já foi citado anteriormente, transferindo-se então para a Espanha, no intuito de defender o governo republicano de esquerda da Frente Popular. Na Guerra foi ferido sofrendo assim danos em suas cordas vocais, deixando sua voz ligeiramente alterada. Mais tarde escreveria Lutando na Espanha, em que relataria sua experiência frustrante na Guerra Civil Espanhola. A Guerra, ao mesmo tempo em que fortaleceu suas convicções de socialista revolucionário, também o consolidou como anti-stalinista convicto.

Durante a Segunda Guerra Mundial, Orwell trabalhou como correspondente de guerra para a BBC. Em 1945, publicou A Revolução dos Bichos, até hoje sua obra mais popular, e o romance 1984, publicado em 1949, no qual, de acordo com Vogot (2007), satiriza de maneira pessimista as ameaças da tirania política no futuro.

Morreu em Londres em 21 de janeiro de 1950, de tuberculose e de acordo com as fontes, na miséria (Teixeira, 2010).

1984

Este trabalho se utiliza da vigésima segunda edição (22ª ed.) de 1984, publicada em 1991, pela Companhia Editorial Nacional, São Paulo. Atualmente o livro se encontra a disposição pela Cia das Letras, que adquiriu os direitos do livro, e relançou-o como 1ª edição no ano de 2009 com nova tradução6.5 “Durante cinco anos, eu tinha feito parte de um sistema opressivo, que me fez ficar com a consciência pesada. (...) Eu tinha consciência da imensa carga de culpa que eu tinha de expiar. Isso pode parecer um exagero, admito; mas qualquer pessoa sentiria o mesmo se, durante cinco anos, fizesse um trabalho o qual desaprovasse totalmente. (...) Eu pensava ser preciso livrar-me, não apenas do imperialismo, mas também de qualquer forma de dominação do homem pelo homem.” (ORWELL, 1986 apud VOGOT, 2007, p. 247).6 Tradução de Heloisa Jahn e Alexandre Hubner.

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Tendo em vista o que já foi citado no início deste capítulo, lembremo-nos de que o livro 1984 foi escrito por George Orwell em meados de 1949, após várias experiências pessoais, nas quais esteve envolvido, neste caso, como policial na Birmânia, participante da Guerra Civil Espanhola e correspondente da BBC durante a Segunda Guerra Mundial, respectivamente. Acontecimentos que contribuíram para o desenvolvimento das críticas que seriam feitas posteriormente em seus romances, ressaltando neste caso o caráter ideológico e antiimperialista de seus posicionamentos.

Ao investigarmos os paralelos existentes entre a obra e suas inspirações percebemos inúmeras semelhanças, sobretudo com uma perspectiva crítica do regime stalinista. O autor concentra seu enredo em Londres, capital da Inglaterra, que por sua vez faz parte de um “novo” continente, denominado por ele de Oceania.

Com o intuito apenas de localizar o leitor, lembremos através das observações de Bobbio (1998) que, por definição histórica, o governo stalinista foi o período em que o poder se consolida na União Soviética, cuja à frente encontrava-se, como secretário, Josef Stálin. Esta fase da história soviética apresenta características particulares, tanto na política interna como na externa, características que podem ser resumidas na expressão “socialismo num só país”. Sob o ponto de vista da política interna, o aspecto saliente do stalinismo é a luta sem tréguas contra os reais ou supostos inimigos do socialismo, o anti-partido (BOBBIO, 1998, p. 1221).

Norberto Bobbio (1998) ainda ressalta que, com o exílio de seus principais líderes a partir de 1936 (estes, presentes na revolução de 1917, como Trotski, Kamenev, Zinoviev, Bucharin e outros), a velha guarda bolchevique7 foi sendo gradativamente eliminada. Assim, o partido comunista passou a enfraquecer e a perder sua função central na estrutura estatal da União Soviética, uma vez que os expurgos lhe minaram profundamente a sua estrutura. Conseqüentemente, como o autor ainda enfatiza, a obediência primária foi prestada de forma jamais vista a Stálin, cujas ações e escritos foram considerados novos fundamentos e continuação original da práxis marxista.

Eric Hobsbawn (2004) nos lembra novamente que o termo totalitarismo havia sido inicialmente inventado como uma descrição do fascismo italiano, e era aplicado quase só a esse regime. A partir de 1922, após a ascensão de Stálin, a URSS estava isolada, não podia e nem queria ampliar o comunismo. Os movimentos social-democratas (marxistas) tornaram-se mais forças mantenedoras do Estado que forças subversivas, e não se questionava seu compromisso com a democracia.

O perigo vinha exclusivamente da direita. E essa direita representava não apenas uma ameaça ao governo constitucional e representativo, mas uma ameaça ideológica à civilização liberal como tal, e um movimento potencialmente mundial, para o qual o rótulo “fascismo” é ao mesmo tempo insuficiente, mas não inteiramente irrelevante (HOBSBAWN, 2004, p. 116).

Carolina Dantas Figueiredo (2008), em sua análise sobre livros, indústria cultural e distopias, diz que as distopias nascem cada uma em seu tempo, como obras dotadas de aura, escritas por seus autores fora da lógica industrial, ou seja, fora do mercado principal, em outras palavras, a cultura de massa. Assim, as reflexões de seus autores são críticas sobre o mundo, reflexões de senso crítico que deveriam ser apreciadas. A autora ainda ressalta que as ações das obras obedecem a uma ambição maior: desvelar a própria humanidade por meio de personagens e dos sistemas políticos apresentados, buscando assim princípios universais, perenes no tempo.

7 Bolchevique: indica os seguidores da linha política e organizativa imposta por Lênin ao Partido Operário Social-Democrático da Rússia (P.O.S.D.R.) no congresso de 1903 (BOBBIO, 1998, p. 115).

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Carolina (2009) em um outro trabalho sobre o tema, também ressalta que as distopias aparecem como crítica à ordem vigente, com base nos medos e temores, das possíveis guerras atômicas, onde as tecnologias se faziam presentes no intuito de controlar o indivíduo. As distopias, segundo ela, revelam justamente o contrário das utopias, ou seja, estão longe de serem harmônicas, pois os sujeitos envolvidos estariam sempre submetidos a um poder central, totalitário, e com suas liberdades individuais continuamente cerceadas.

Ao analisarmos os governos totalitários sob a perspectiva de Hannah Arendt, encontramos as semelhanças que ligam o livro 1984 a este tema. De acordo com Norberto Bobbio (1998), o que caracteriza e distingue o governo sob a gestão de Stálin é, no que tange a política interna, o culto à personalidade do líder e o emprego do terror. O autor ressalta que o stalinismo foi considerado como encarnação do poder totalitário, tornado possível pela presença de uma ideologia dogmática e de uma força de propaganda que tornava a figura do líder em algo até “carismático”, permitindo o controle e a manipulação dos centros burocráticos do país, e que de forma quase onipresente utilizava-se de sua força policial para a manutenção do sistema.

Assim, havia momentos em que o ódio de Winston não se dirigia contra Goldstein, mas, ao invés, contra o Grande Irmão, o Partido e a Polícia do Pensamento; e nesses momentos o seu coração se aproximava do solitário e ridicularizado herege da tela, o único guardião da verdade e da sanidade num mundo de mentiras. (...) Nesses momentos, seu ódio secreto pelo Grande Irmão se transformava em adoração, e o grande Irmão parecia crescer, protetor destemido e invencível, firme com uma rocha contra as hordes da Ásia, e Goldestein, apesar do seu isolamento, sua fraqueza e da dúvida que cercava a sua própria existência, que lhe parecia um hipnotizador sinistro, capaz de destruir a estrutura da civilização pelo mero poder da voz (ORWELL, 1991, p. 18).

Ao retornarmos a análise do livro encontramos as várias formas, distribuídas ao longo do texto escrito por Orwell, no intuito de ligá-lo a estes governos totalitários.

Sofia Sampaio (2005), em sua análise sobre asobras de George Orwell, diz que a crítica tem sido unânime em considerar A Revolução do Bichos e 1984 expoentes máximos da obra do autor inglês. A versão fabulada da Revolução Russa, bem como a história do sofrimento atroz de Winston Smith sob o braço de ferro do Big Brother, cedo ultrapassam a língua do seu autor, e adquirem reconhecimento internacional. Na medida em que retratam sociedades projetadas, ambas as obras são centrais para a compreensão das idéias de Orwell sobre a utopia.

A autora analisa no livro 1984 a projeção feita por Orwell para um futuro próximo (uns meros 35 anos em relação ao seu tempo) aos tumultuosos acontecimentos que afetaram a primeira metade do século vinte – da Revolução Russa ao fascismo, passando pelo nazismo e a Segunda Guerra Mundial. O romance retrata, de acordo com ela, uma sociedade completamente dominada por um estado-polícia autocrático. É neste cenário de extrema falta de esperança que encontramos o protagonista de trinta e nove anos, Winston Smith, um membro inteligente e trabalhador dos escalões inferiores do Partido, que decide revoltar-se contra o sistema (SAMPAIO, 2005, p. 67).

Loucura, Loucura, loucura! Tornou a pensar. Era inconcebível que pudessem freqüentar aquele lugar por mais de algumas semanas SM serem descobertos. Mas a tentação de ter um esconderijo que fosse verdadeiramente deles (...) (ORWELL, 1991, p. 130).

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Evanir Pavloski (2005) em sua análise sobre a obra, diz que a construção da mesma, como já foi levantado por outros autores neste trabalho, dá-se a partir das experiências que Orwell vivenciou e dos conceitos derivados desses eventos, o que de certo modo transforma 1984 numa narrativa peculiar dentro das produções distópicas do século XX. Esse texto, de acordo com ele, poderia ter assumido um formato realista, e mesmo naturalista, pois catalisa o poder crítico da distopia justamente pelo vínculo que apresenta com a realidade empírica do autor. Ainda que estejam presentes elementos fantásticos e da ficção científica, o autor diz que Orwell constrói sua obra a partir de elementos do mundo experimental que de alguma forma o inquietaram ao longo de sua carreira. Essa proximidade entre vida e obra, realidade e ficção, ao invés de desmerecer a capacidade criativa do autor, potencializa o efeito da narrativa sobre o leitor, uma vez que reflete, por meio de um ponto de vista específico, as características do universo empírico.

Outro ponto levantado pelo autor é o efeito transformador proposto pelos distopistas que, neste caso, não constroem seus romances em bases fundadas no otimismo e no idílio social. Muitas das obras apresentam um espaço ficcional, caracterizado por ele, como a extrapolação dos aspectos negativos presentes nas sociedades. Dessa forma a distopia ou anti-utopia imprime suas críticas por meio do choque proporcionado pela criação de um verdadeiro pesadelo social.

O problema é o mesmo para os três super-estados. É absolutamente necessária, para sua estrutura, que não haja contato com estrangeiros, exceto, limitadamente, com prisioneiros de guerra e escravos de cor. Mesmo o aliado oficial de hoje é considerado com suspeita. Além dos prisioneiros de guerra, o cidadão médio da Oceania jamais pões os olhos num cidadão da Eurásia ou Letásia8, sendo-lhe proibido aprender línguas estrangeiras. Se lhe fosse permitido o contato com forasteiros, descobriria que são semelhantes e que é mentira a maior parte do que ouviu a respeito deles (ORWELL, 1991, p. 184)

Maria do Rosário Lupi Bello (2005) afirma que 1984 é uma narrativa política que se propõe a mostrar o mundo com uma nitidez violenta. Mais do que uma negra profecia, era como um alerta lúcido e generoso, na sua crueza perturbadora: porque aquilo de que Orwell falava era sobre um totalitarismo mais profundo do que qualquer sistema ideológico tenha conseguido implementar – embora alguns, por certo como o escritor bem sabia, bastante se tenham aproximado de uma tentativa de concretização social desse Poder enquanto tal... Mas o Poder que invade todos os cantos do terrível universo orwelliano não é estranho a nenhum de nós.

Remo Bodei (2004) nos lembra de outro fator interessante no que diz respeito ao lugar e ao universo de memória vivenciados pelo protagonista criado por Orwell, que se assemelham, como já foi dito neste trabalho, com situações reais dentro dos sistemas totalitários. A falsificação do passado foi aplicada, em grande escala, por esses regimes no nosso século. Segundo Bodei, a obra 1984 demonstra uma fórmula célebre: “quem controla o passado, controla também o presente e o futuro”. E entre as tarefas mais importantes do “Ministério da Verdade” encontra-se o cancelamento incessante e a reconstrução propagandística do passado, com base na vontade do Grande Irmão. Sob a ameaça de sanções terríveis, interiorizadas pela grande maioria, os cidadãos são levados a esquecer a “realidade” dos fatos e conformar-se com uma memória curta e direcionada, acabando assim por se auto-convencer de que a última “verdade” proclamada pelas autoridades é absolutamente idêntica à verdade oposta, declarada tacitamente nula.

8. Oceania, Eurásia e Letásia neste caso, remetem aos continentes criados pelo autor, em que as indicações de alianças e guerras mudam de acordo com as necessidades do Grande Irmão.

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Não era verdade, por exemplo, como afirmavam os livros de história do Partido, que o Partido tivesse inventado o aeroplano. Lembrava-se de aviões desde a mais tenra idade. Mas não podia provar nada. Nunca havia prova. Apenas uma vez, em toda sua vida, tinha tido em mãos prova documental inconfundível da falsificação de um fato histórico. E naquela ocasião...(ORWELL, 1991, p. 37).

Enfim, percebemos que tanto autor quanto protagonista sofrem da mesma derrota ideológica, vendo-se inclusos em um ambiente estranho, onde suas capacidades mentais fogem à regra de um todo quase que homogêneo. A submissão explicitada por Orwell, e vivenciada por seu protagonista, colocava à luz as angústias tanto pessoais quanto ao que o mundo viria a se tornar: o controle dos pensamentos, dos movimentos e até mesmo de suas paixões colocam autor e protagonista em uma linha tênue, restando apenas o total descrédito em uma mudança dos sistemas vigentes.

CONCLUSÃO Percebemos ao longo deste trabalho que tanto a história pessoal de Orwell, como a

do protagonista de 1984, Winston Smith, mantêm uma linha tênue entre realidade e ficção. O desenrolar do enredo é propositalmente desenvolvido pelo autor no intuito não somente de criticar os regimes totalitários já existentes, mas de também criar uma projeção nefasta para um futuro próximo, caso esses governos continuassem no poder. Para tanto, utilizamos Roger Chartier (1991) de forma deliberada para a devida apropriação literária necessária para analisar o livro de acordo com a leitura que cada leitor faz de uma determinada obra, levando-se em consideração o lugar atemporal da obra e os referencias de tempo e lugar de cada leitor. Chartier (1991) nos lembra que os “paradigmas dominantes” que formaram, durante certo tempo, o estruturalismo ou o marxismo, tinham na rejeição proclamada das ideologias a garantia de sucesso (ou seja, a adesão a um modelo de transformação radical, socialista, diferente das sociedades ocidentais capitalistas e liberais).

Assim, ao propor objetos de estudo mantidos até então inteiramente estranhos a uma história dedicada por completo à exploração do econômico e do social, ao propor normas de cientificidade e modos de trabalho imitados das ciências exatas, o autor anteriormente citado questiona o papel do historiador e o papel de seus objetos, tanto quanto sua forma de análise e o lado tendencioso de se estudar apenas modelos que se enquadrem nas “necessidades” da sociedade.

Assim, procuramos na análise do romance a constante luta de forças existente na distopia de Orwell, que sempre colocou em cheque o processo evolutivo das sociedades, ou seja, a necessidade de se questionar as formas de governo adotadas em determinados regimes, neste caso, os ditos totalitários. Para tanto utilizamos a perspectiva de análise de Chartier, que por sua vez propõe em suas obras a apropriação literária da obra feita (de que cada leitor faz uma interpretação da obra a sua disposição). O trabalho aqui desenvolvido procurou seguir estas orientações, embasando-se em leituras pessoais e análises contemporâneas da obra para justificar seu ponto de vista, as sociedades marcadas por rígido controle sobre os indivíduos, sistematizada por Hannah Arendt, e evidenciada por Orwell em seu romance distópico.

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Luana Rafaela de Alcantara, Prof°. Dr. Rogério Ivano

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A política de bem-estar social no Brasil contemporâneo

A POLÍTICA DE BEM-ESTAR SOCIAL NO BRASIL CONTEMPORÂNEO

LA POLÍTICA DE BIENESTAR SOCIAL EM EL BRASIL CONTEMPORÂNEO

Agnaldo Kupper1*

RESUMO:Na atualidade, críticas não faltam aos programas sociais vigentes no Brasil. Para muitos, programas como o ‘Bolsa Família’ têm fins “eleitoreiros” e apenas indicam a presença de um Estado assistencialista. É necessário esclarecer, no entanto, que estes tipos de serviços são de caráter público e reconhecidos como direitos sociais. Escondem, porém, a busca pela estabilidade e ordem capitalista, em especial a partir do momento em que países como o Brasil passaram a adotar o projeto econômico neoliberal.

PALAVRAS-CHAVE: Estado de Bem-Estar; programas sociais; neoliberalismo.

RESUMEN:Actualmente, críticos no faltan a los programas sociales vigentes em Brasil. Para muchos, programas como ‘Cesta Familiar’ tiene “finalidad electoral” y solo indican um Estado assistencial. Es necesario esclarecer, sin embargo, que estos tipos de servicios son de caráter público e reconocido como derechos sociales. Esconden, sin embargo, uma búsqueda por la estabilidad e orden capitalista, principalmente a partir del momento em que países como Brasil pasaron a adoptar el proyecto econômico neoliberal.

PALABRAS CLAVE: Estado de Bienestar; programas sociales; neoliberalismo.

INTRODUÇÃO

A pobreza possui características que carecem de análise.No contexto capitalista, os menos favorecidos sentem-se diminuídos perante a sociedade

em que estão inseridos pelo simples motivo de não poderem acompanhar o consumo sugerido e estimulado. Socialmente, os mais empobrecidos têm dificuldades de manter relações sociais permanentes e concretas. Politicamente, os desfavorecidos sentem-se menos importantes e, por vezes, incapazes de participar efetivamente das decisões da estrutura social a que pertencem, como se suas opiniões não devessem ser levadas em consideração pela posição em que se situam. A conseqüência natural é a perda da noção de cidadania.

O Brasil, embora estando entre as quinze maiores economias do planeta, apresenta um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) – que indica a distância que cada país deve percorrer para atingir certas metas como acesso generalizado à educação – menor do que países como Colômbia, Uruguai, Venezuela e Cuba (este último sofrendo, há anos, sanções econômicas pelo regime que adota).

Há grande responsabilidade do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) sobre a situação em que o país se encontra. Em seu período de governo, a dívida interna do Brasil saltou de cento e cinqüenta e quatro para oitocentos e oitenta e um bilhões de reais; o crescimento médio do PIB foi de 2,2% ao ano e da produção industrial de 1,9% (médias inferiores, inclusive, aos difíceis anos da década de 1980); a dívida externa brasileira cresceu de cento e quarenta e cinco * Mestre e Doutorando na área de História e Sociedade; professor de ensino superior e de pós-graduação; escritor.

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Agnaldo Kupper

para duzentos e quarenta bilhões de dólares; as transações do país com o exterior apresentaram um déficit de 200 bilhões de dólares (em 2002, o Brasil precisou obter com o Fundo Monetário Internacional cerca de vinte bilhões de dólares para cobrir um déficit originado das transações com o exterior).

Talvez o erro maior dos tecnocratas neoliberais dos ministérios econômicos e do Banco Central tenha sido o de acreditar que, havendo estabilidade monetária, rigor fiscal e a não-intervenção do Estado na economia, haveria desenvolvimento econômico do país (de certa forma houve e há, mas, em especial, dos estabelecimentos bancários).

O resultado do desempenho econômico, como não poderia deixar de ser, repercutiu em âmbito social: entre 1995 e 2002, a taxa de desemprego foi elevada em 45%, a população favelada cresceu duas vezes mais rápido que a população absoluta total, a violência urbana explodiu, o rendimento salarial médio da população das grandes cidades recuou 10% e 38% dos jovens entre dezoito e vinte e três anos mostraram-se envolvidos com algum tipo de contravenção somente no último ano de FHC.

Neste sentido, a introdução de programas sociais tornou-se premente.

O ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL

O Estado de Bem-estar social (Welfare State) indica para um Estado assistencial que garanta padrões mínimos na seguridade social a todos os cidadãos na saúde, na educação, na habitação, na renda e na previdência social. Tais serviços tornaram-se públicos ao serem reconhecidos como direitos sociais no Estado de Bem-estar social e em diferentes períodos históricos. Estados passaram a promover políticas assistenciais. Foi o que ocorreu durante o século XVIII na Espanha, Prússia, Rússia e Áustria, embora tais políticas tenham sido implantadas através de uma estrutura não-democrática, ou seja, tiveram a aparência de dádivas ofertadas pelos governantes. O mesmo ocorreu no Brasil por ocasião do primeiro governo Getúlio Vargas (1930-1945), quando foram oferecidas as leis trabalhistas.

Porém, foi após a II Grande Guerra Mundial (1939-1945) que a política de Bem-estar social proliferou devido aos claros problemas sociais gerados pelo conflito. Seguiram-se a tais políticas a forte presença do Estado na economia, com o fim de gerar recuperações no contexto econômico, paralelamente à diminuição das desigualdades sociais.

Mas foi a partir do final da década de 1980, com a expansão neoliberal, que a política de Bem-estar social ganhou características mais claras. Isto significa dizer que, ao ser valorizada a não-intervenção do Estado nas atividades produtivas, passou a ser necessário o controle sobre as desigualdades sociais geradas (liberdade para ganhos e busca de lucros, porém com a criação de programas sociais que não provocassem abismos geradores da desestabilização do processo capitalista e na democracia).

O Brasil nunca estruturou uma política de Bem-estar social semelhante à de países de ponta do capitalismo mundial. Porém, os efeitos nocivos à sociedade com as privatizações de estatais a partir, em especial, da década de 1990, somados às profundas desigualdades sociais históricas provocadas pela constante opção pelas defesas de interesses dos grandes empresários nacionais e estrangeiros durante a Era Vargas e o período militar (1964-1985), não deu outra saída ao Estado Brasileiro contemporâneo, a não ser a implantação de um Estado assistencial.

O NEOLIBERALISMO IMPÔS PROGRAMAS SOCIAIS NO BRASIL

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A política de bem-estar social no Brasil contemporâneo

O Brasil voltou a praticar a democracia, efetivamente, a partir de 1985.Após programas econômicos desastrosos (Planos “Cruzado”, “Verão” e “Brasil Novo”),

o Plano Real (1994), instituído no governo Itamar Franco (1992-1995), estabilizou a então complicada economia brasileira. Mas houve uma contrapartida: a adesão do Brasil às disposições do Consenso de Washington (1989), ou seja, ao programa neoliberal, defendido pela grande imprensa, por grandes empresários e por banqueiros.

Coube ao governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) o ônus da consolidação do plano econômico no país. O pequeno crescimento econômico, aliado ao projeto de privatizações de estatais, gerou uma substantiva diminuição dos postos de trabalho e o crescimento da violência urbana (calcula-se em doze milhões o número de desempregados em 2002). Neste cenário, programas de inclusão social e assistencial foram criados, como o Bolsa Escola (2001-2002), transferindo recursos financeiros às famílias menos favorecidas.

Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito presidente do Brasil em 2002, prometendo mudar o cenário social deixado pelo seu antecessor.

Uma das primeiras ações de seu governo foi criar a Secretaria Extraordinária de Segurança Alimentar e Combate à Fome, cujo objetivo principal seria administrar o programa Fome Zero. Tal programa, envolto em ações publicitárias e acusações de uso político, gerou, a partir de 2003, o programa Bolsa Escola, o que de certa forma contribuiu para a reeleição de Lula para novo mandato, a partir de 2007.

Os programas Bolsa Escola e Bolsa Família são gerenciados pelo Ministério do Bem-Estar Social e executados a partir de transferências de valores do governo federal a cinco mil quatrocentos e sessenta e três municípios de todo o país (2010).

Não se pode deixar de reconhecer que o Estado de bem-estar social brasileiro tem diminuído os abismos sociais por meio da transferência de renda, o que pode ser atestado a partir da diminuição do índice de Gini do país que era, em 2000, de 0,59 e que oscilou, entre 2003 e 2009, entre 0,53 e 0,52. Além do Bolsa Família, outros programas foram instituídos como o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (1996, ainda no governo FHC, com objetivo de impedir a proliferação do trabalho de crianças no país), o Programa Luz para Todos (criado no governo Lula com o objetivo de levar energia elétrica a mais de dez milhões de brasileiros que residem no meio rural, universalizando o sistema energético), o Programa Universidade para Todos (criado em 2004 e que visa permitir o acesso de jovens de baixa renda ao ensino superior por meio da concessão de bolsas de estudo integrais ou parciais) e o Brasil Alfabetizado e Educação de Jovens e Adultos (com o objetivo de combater o analfabetismo em pessoas com mais de quinze anos de idade, realizando parcerias com Estados, Municípios, universidades, empresas privadas e Organizações Não Governamentais ).

BOLSA FAMÍLIA: O CARRO-CHEFE DOS PROGRAMAS SOCIAIS

Mais de doze milhões de brasileiros estava na lista de pagamentos do programa Bolsa Família ao final de 2010.

O governo federal propaga este programa social como o mais eficaz dos meios de distribuição de renda do país, já que o mesmo transfere renda diretamente para as famílias cadastradas como forma de garantir o direito à saúde, educação e alimentação básica. Para manter o benefício, é dever da família vinculada ao programa matricular suas crianças e adolescentes entre seis e dezessete anos e mantê-los nos bancos escolares com freqüência regular, vacinar e realizar pesagens e exames em menores de sete anos, além de cumprir o pré-natal de gestantes e

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Agnaldo Kupper

lactantes, mantendo acompanhamento após o parto.

VALORES REPASSADOS PELO PROGRAMA*

BÁSICO (valor mínimo recebido por famílias com renda mensal per capita de até R$70,00) – R$70,00;

VARIÁVEL |benefício vinculado ao número de crianças e jovens – condicionado à frequência escolar para crianças a partir de seis anos - de até quinze anos (máximo de três) recebido por famílias com renda per capita de até R$140,00| – R$32,00;

VARIÁVEL JOVEM (benefício vinculado ao número de jovens – condicionado à freqüência escolar para crianças a partir de seis anos – de dezesseis e dezessete anos – máximo de dois) recebido por famílias com renda mensal per capita de até R$140,00.

Exemplo do benefício máximo:

Família extremamente pobre + 3 filhos até 15 anos + 2 filhos de 16 ou 17 anos

R$70,00 + R$96,00 + R$76,00 (3X32,) (2X38,)

TOTAL: R$242,00*valores estabelecidos pelo Governo Federal a partir de abril de 2011.

Fonte: Jornal Folha de S. Paulo. Caderno Opinião, 02/03/2011.

O Bolsa Família possui falhas graves que permitem, por exemplo, a inclusão de pessoas falecidas, políticos eleitos e parentes dos mesmos, além de pessoas com renda per capita maior que o teto definido para inclusão no programa.

Números levantados pelo Tribunal de Contas da União em 2009, atestam tais problemas:- duplicidade de titular..............................................................10.194 casos;- renda per capita maior que estabelecida pelo programa.........933 casos;- falecimento do único membro................................................3.791 casos;- possuir veículo........................................................................106.420 casos;- omissão de renda.....................................................................195.330 casos;- possuir algum membro político eleito.....................................577 casos.

O próprio Ministério do Bem-estar Social, admite as distorções, argumentando pelos vários órgãos de imprensa que medidas estão sendo tomadas no sentido de atenuar (ou eliminar) os problemas.

BOLSA FAMÍLIA: ESTABILIDADE OU ACOMODAÇÃO SOCIAL?

Pesquisa encomendada pelo governo federal brasileiro e divulgada nos primeiros dias de 2011, atesta que será complicado e longo o caminho para que os beneficiários da transferência de renda do governo abandonem os pagamentos mensais de programas como o Bolsa Família.

Segundo a pesquisa, após sete anos de vigência do programa, a maioria dos empregos não têm registro em carteira de trabalho. Entre os beneficiários ocupados, 75,2% não têm cobertura da

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A política de bem-estar social no Brasil contemporâneo

Previdência Social. Como paralelo, pode-se apontar o índice geral da população economicamente ativa vinculada à previdência oficial: 49,8% no ano de 2010.

A maioria dos beneficiários ocupados não está registrada formalmente e é maior nesta fatia o desligamento do emprego. Ou seja, a passagem pelo vínculo, entre estes, é mais rápida, em especial entre os que se beneficiam e têm menor tempo de estudos.

Estes dados talvez bastem para que cheguemos à conclusão de que o maior desafio de programas sociais como o Bolsa Família continua sendo a inclusão produtiva, a geração de empregos e de renda.

Ao mesmo tempo, o governo brasileiro elevou, no segundo semestre de 2011, os benefícios do Bolsa Família, após anúncio da presidente Dilma Rousseff na cidade de Irecê, Bahia, em fevereiro de 2011, corrigindo a inflação acumulada desde o último reajuste (setembro de 2009). O índice de correção seguiu a variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). O Objetivo é o de erradicar a pobreza extrema no país que alcançou, ao final de 2010, cerca de cinco milhões de brasileiros, segundo fontes do próprio governo federal.

PARANÁ: EXEMPLO DA NECESSIDADE DE APERFEIÇOAMENTO

Apenas nos cinco primeiros meses do ano de 2010, quase dezenove milhões de reais foram destinados ao programa Bolsa Família que, como já afirmado, transfere renda diretamente às famílias cadastradas como forma de garantir o direito à saúde, alimentação e educação.

O Bolsa-Família está distante de atender apenas àqueles que dele necessitam. Segundo o Tribunal de Contas da União (TCU), 317 mil benefícios foram bloqueados em todo o país em 2009, sendo 18.700 no Estado do Paraná. Os motivos mais comuns: duplicidade de titular, renda que excede o valor estipulado, omissão de renda e apadrinhamento político. Observe o quadro abaixo, referente a números do Estado:

- duplicidade de titular.........................................134 casos;- renda per capita maior do que estipulado..........082 casos;- falecimento do único membro...........................185 casos;- possuir veículo.................................................5.599 casos;-omissão de renda...........................................12.568 casos;- possuir algum membro político eleito.................09 casos.

Fonte: Tribunal de Contas da União, 2009 (dados divulgados em 2010).

Os municípios mais beneficiados pelo programa foram, pela ordem: Altamira do Paraná (população de 3799 habitantes, com média de um benefício a cada sete habitantes), Laranjal (6339 habitantes, com um benefício a cada sete habitantes), Doutor Ulisses (6145 habitantes, média de um em cada 7,3 habitantes), Mato Rico (4205, um em cada 7,8 habitantes) e Nova Tebas (8283, com um benefício a cada 7,9 habitantes). Os menos beneficiados, também pela ordem, foram Maripá (com um a cada 77,7 habitantes), Quatro Pontes (um a cada 74,5 habitantes), Maringá (um a cada 63,5 habitantes), Colorado (um a cada 58,4 habitantes) e Paraíso do Norte (um a cada 56,8 habitantes). No geral, com uma população absoluta de 10.686.247 habitantes (2010), foram 443.951 os beneficiários, com média de um benefício a cada vinte e quatro habitantes.

Como se sabe, o Governo Federal, através de ministério competente, transfere os valores diretamente às cidades, a partir de levantamentos feitos pelo Executivo municipal, o que sugere que pode haver desvio de intenções.

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Agnaldo Kupper

CONCLUSÕES

Os direitos sociais surgiram para assegurar que as desigualdades não comprometam o exercício pleno dos direitos civis e políticos, procurando compatibilizar capitalismo e democracia. A extensão dos direitos políticos possibilitaram a canalização dos conflitos de classe para as instituições políticas, transformando necessidades sociais em direitos adquiridos.

Os governos democráticos que adotaram políticas neoliberais a partir do final da década de 1980 (em especial a partir dos anos 1990), privatizaram inúmeras empresas estatais, abdicaram das intermediações entre trabalhadores e empregadores e entregaram-se às perspectivas do mercado.

Parece claro que a introdução de programas sociais têm objetivos bem delineados como o de diminuir a marginalização de cidadãos distantes das perspectivas de acúmulo, acomodando-os para que não se voltem contra o sistema. Nebulosas tornam-se outras intenções como a de obtenção de apoio político para a manutenção de grupos no gerenciamento do Estado. Se assim, as maiores vítimas dos programas são, além dos beneficiários, os maiores pagadores de impostos (levando-se em consideração a proporcionalidade) que, no caso brasileiro, é a classe média.

Fica claro, também, que muito ainda está por se fazer, como corrigir distorções e criar condições para que os hoje beneficiários, progressivamente, deixem paulatinamente tais programas, inserindo-se em perspectivas menos marginalizadoras. É fato, porém, que programas como Bolsa Família têm diminuído abismos, embora causem déficits orçamentários ao recrutar trabalhadores para obras projetadas pelo Governo Federal, ao socorrer desempregados oferecendo-lhes seguro desemprego, ao manter aposentadorias e pensões - mesmo sem arrecadação previdenciária compatível -, e ao criar programas sociais diversos que distribuam rendas e acessos.

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Adolescência: uma resposta a demanda social

ADOLESCÊNCIA: UMA RESPOSTA A DEMANDA SOCIALADOLESCENCE: A RESPONSE TO SOCIAL DEMAND

Silvia do Carmo Pattarelli1*

Fabrício Ramos de Oliveira2**

RESUMO: Esse estudo busca elucidar a adolescência enquanto um momento construído pela relação indivíduo / mundo e pelas transformações sócio-culturais da sociedade. Em outras palavras, entendemos que a adolescência é uma resposta as demandas de determinado contexto – em particular da modernidade – que modificou a relação vida privada / vida pública e notabilizou o jovem como um ser ativo, histórico e social. Diante disso, esse trabalho, pautada na visão da Psicologia Sócio-Histórica, pretende desnaturalizar a adolescência como uma fase natural e conflituosa da vida e possibilitar que o jovem seja visto como agente transformador de seu meio. Para tanto, essa pesquisa busca promover condições para a expressão da subjetividade de adolescentes em Semi-Liberdade e em Internação no Cense Londrina I, com o objetivo de dar voz e essa população infanto-juvenil e aproximar o trabalho psicológico da realidade deles. Por meio de atividades com esses jovens, esse estudo acredita na força transformadora desses jovens bem como dos próprios profissionais que lidam com eles, possibilitando a expressão dos sentidos que eles tem do mundo, suas habilidades, como também, a ressignificação do contexto em que tanto eles como nós (estagiários) estamos inseridos.

PALAVRAS-CHAVE: adolescência, Psicologia Sócio-Histórica, transformações sócio-culturais, semi-liberdade, cense Londrina I.

ABSTRACT:This study seeks to elucidate the adolescence as a momentum built by the relationship between individual and world, and the socio-cultural transformations of society. In other words, we understand that adolescence is a response to the demands of a particular context - in particular of modernity - that changed the relationship private life / public life and the young man excelled as an active being, and social history. Therefore, this work, based on the vision of the Socio-Historical Psychology, aims denaturalize adolescence as a natural phase of life and conflict and to enable the young person is seen as a transforming agent in their midst. To that end, this research seeks to promote conditions for the expression of subjectivity of adolescents in Semi-Liberty and stay in Cense Londrina I, aiming to give voice and the juvenile population and approaching the psychological work of their reality. Through these activities with youth, this study believes in the transformative power of these young people themselves as well as professionals who deal with them, allowing the expression of the meanings they have in the world, their skills, but also the redefinition of the context in which both they and we (trainees) are inserted.

KEYWORDS: adolescence, Socio-Historical Psychology, socio-cultural transformations, Semi-Liberty, Cense Londrina I.

* Professora orientadora, docente do curso de Psicologia do Centro Universitário Filadélfia – UniFil. Email: [email protected].** Discente do 5º ano do curso de Psicologia do Centro Universitário Filadélfia – UniFil. [email protected].

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Silvia do Carmo Pattarelli, Fabrício Ramos de Oliveira

INTRODUÇÃO

O ser humano constitui-se por meio do processo de subjetivação-objetivação, ou seja, com isso ele torna-se histórico. Esse processo ocorre de modo dialético, ou seja, pela relação entre indivíduo e mundo. Diante disso, nota-se que o homem consolida-se enquanto um ser histórico, ativo e social, o qual se desenvolve ao transformar e ser transformado pelo mundo que o cerca.

Nesse contexto, a constituição subjetiva-objetiva do sujeito está intimamente relacionada com as transformações sócio-culturais que ocorrem na sociedade e que tais fatos interferem no desenvolvimento tanto estrutural quanto funcional do indivíduo em seu meio.

Em relação a isso, observa-se que as transformações ocorridas pelas demandas que a era Moderna provocou no mundo devido a Revolução Industrial, ao sistema Capitalista, a escola, as tecnologias e modos de produção as quais os indivíduos tiveram que responder. Frente a isso e também aos acontecimentos na América Latina século XX e, em especial, a expansão da noção dos direitos humanos, decorrente das trágicas experiências da Primeira e Segunda Guerras Mundiais como também devido ao contexto sócio-político da segunda metade do século XX na América Latina, onde se vivia golpes militares e a imposição da ditadura que coagia a população e delimitava seus direitos, surgiram movimentos populares de resistência, os quais possibilitaram “o alargamento da noção de direitos humanos” (GRANDINO, ano p.2).

Nesse contexto, mostra-se importante ressaltar o papel da Constituição Federal de 1988, pela qual provocou uma ressignificação dos conceitos de cidadania, da função do Estado e da concepção dos direitos civis. Tais mudanças, mais específicas ao âmbito político e cultural, suscitaram a organização de grupos em defesa da criança e do adolescente, culminando assim no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) – lei nº 8069/90 – a qual “elevou a criança e o adolescente à condição de sujeitos de direitos”. (MARTINS, 2004, p.63)

Até esse momento a criança e o adolescente eram tratados em pé de igualdade com os adultos, isto é, eram vistos como um “mini-adulto”, fato que pode ser elucidado pela legislação vigente na época – o Código de Menores ou Doutrina da Situação Irregular – que se caracterizava em um conjunto de leis repressivas e de caráter assistencialista que conduzia os menores3 à condição de presidiários, além de possuir objetivos paliativos e efêmeros a fim de apenas regular os distúrbios sociais. Logo, o objetivo maior era de afastar da sociedade aquilo que perturbava e incomodava a ordem social.

Entretanto, com o alargamento dos Direitos Humanos e o desenvolvimento do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a população infanto-juvenil assume um novo papel na sociedade, na qual passa a ser enxergada como sujeito ativo, integrante e participante, fato que confere novas zonas de sentidos referentes à infância e adolescência.

Desse modo, a juventude – segundo Groppo (2000) - caracteriza-se em uma categoria social, tornando-se representação sócio-cultural e uma situação social. Em outras palavras e de acordo com a Psicologia Sócio-Histórica, a adolescência é uma construção social e histórica, ou seja, diferente da concepção positivista arraigada tanto no senso comum como em outras abordagens que consideram a adolescência como uma fase, uma etapa natural, inerente e própria do desenvolvimento humano, marcada por conflitos e por patologias. Desse modo, por ser a adolescência constituída socialmente, ela é desenvolvida através de meios que satisfaçam as necessidades do jovem com os outros indivíduos.

3 Cabe ressaltar que no código de menores, era considerado menor pessoas com até 18 anos, contudo, tal distinção de faixa etária não garantia aos jovens uma condição específica.

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A juventude é uma concepção, representação ou criação simbólica, fabricada pelos grupos sociais ou pelos próprios indivíduos tidos como jovens, para significar uma série de comportamentos e atitudes a ela atribuídos. (GROPPO, 2000, p.8)

A partir disso, pode-se entender a adolescência como uma resposta do sujeito a seu meio, que se consolida pela atuação dele como um ser ativo e pela dialética com o contexto, ou seja, um ser que “se constrói ao construir a sua realidade”. (BOCK apud OZELLA, 2003, p.08)

Desse modo, percebe-se que o ser humano não escolhe viver uma etapa/fase, mas que o seu contexto e o significado que ele o atribuir, o caracterizará; a resposta e a produção do homem em sua realidade será instrumento de sua participação na mesma, o que a partir disso, podemos tentar entender os significados de ser adolescente. Essa característica simboliza o “papel” do jovem em seu meio, seu papel e sua função na sociedade.

Assim, tal contexto proporciona o entendimento de uma impossibilidade de padronização do desenvolvimento biopsicossocial e a partir disso, a melhor compreensão das diversas representações de “adolescentes” que se podem verificar e que estão mutuamente relacionadas com a realidade de cada um deles, como por exemplo, os jovens em conflito com a lei e que vivem em situação de vulnerabilidade social, frente a uma juventude burguesa que muitas vezes não arca com sua conseqüências e conseguem assim se isentar de algumas “sanções” devido sua situação sócio-econômica4.

Diante disso, na atualidade, as transformações que acontecem de modo exacerbado e dinâmico, parecem impossibilitar que o jovem possa ter tempo para desfrutar e perceber as experiências pelas quais está passando e principalmente para corresponder e/ou reagir à diversidade de informações transmitidas a ele, o que não o permite assimilar vivências e desenvolver sua identidade. Diante de tal situação podemos supor que tais características prejudicam o processo de constituição de identidade do adolescente, visto que ele está em contato com suas mudanças biológicas e também com as vicissitudes do social.

Logo, na atualidade, os modelos sociais estão em constante e acelerada modificações, o que dificulta que os jovens firmem suas realizações, afetando concomitantemente a constituição de suas subjetividades, o que exige desses indivíduos (crianças e adolescentes) uma procura incessante de formas de ser, que não os exclua do contexto em que estão inseridos, como – por exemplo – o ato infracional.

Além disso, vale lembrar que a modernidade apresenta falhas institucionais referentes às relações sociais, fato que dificulta o entendimento e a aceitação da população infanto-juvenil como situação social e a sua constituição como parceiro ativo e mobilizador de mudanças necessárias à sociedade.

Diante dessa dinâmica social e de suas conseqüências em seus membros – os adolescentes – mostra-se interessante mencionar o sociólogo polonês Zygmunt Bauman que define a sociedade atual como “líquido-moderna”.

’Líquido-moderna’ é uma sociedade em que as condições sob as quais agem seus membros mudam num tempo mais curto do que aquele necessário para a consolidação, em hábitos e rotinas, das formas de agir. (BAUMAN, 2007, p.07)

4 Aqui convem ressaltar que tanto o jovem em vulnerabilidade social como o adolescente burguês cometem os mesmo atos, entretanto, as conseqüências não são as mesmas.

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Com isso, pode-se notar que os adolescentes não conseguem solidificar suas realizações devido à rapidez com que as informações e as modificações sociais acontecem, provocando assim também uma relação dinâmica na construção de sua identidade, fato que faz com que o jovem procure resposta, responda e co-responda a seu meio.

Por meio disso e devido à sociedade contemporânea, na qual impera o consumo e as relações capitalistas, um modo do jovem objetivizar o contexto em que vive, pode ser pela posse de instrumentos como marcas e rótulos – representantes ideológicos do sistema – pelos quais o adolescente pode tornar-se, desse modo, dependente do consumo de símbolos comerciais para formar sua identidade e ser representativo em seu contexto.

Esse contexto, portanto, potencializa a alienação5 do adolescente, visto que suas potencialidades e possibilidades de ser ou de vir-a-ser tornam-se exteriores a ele, pois esse jovem torna-se particular e parcial, ou seja, ele perde a consciência de sua possibilidade de agir em seu meio e fica preso a um fragmento do real, neste caso o consumo6 e a necessidade de se incluir na sociedade por meio dele.

Cumpre assinalar que não são todos que têm acesso e condições ao que é sugerido (imposto) pelo sistema e que o jovem em questão é privado desse acesso devido a sua situação sócio-econômica, visto que a grande maioria se encontra em um estado de marginalização, o que marca sua vida e suas relações com o mundo com grande estigma de pobre, delinqüente, incapaz, etc. Não podemos deixar de mencionar também as questões étnico-raciais demarcadas no Brasil, onde a grande maioria do que se encontram na linha de pobreza, ou abaixo dela, são afro-descendentes. Como também, há a constituição de uma estrutura familiar desses jovens deficiente decorrente de vários fatores que variam da condição econômica a ausência de representantes familiares. Além disso, essa desigualdade social atinge não somente a condição econômica como também o acesso à educação, à saúde, ao mercado de trabalho. Desprovidos da proteção social a que tem direito, o adolescente das camadas mais pobres adentra o espaço da vulnerabilidade social.

Oportuno se torna dizer que devido a tais características e como resposta a elas, os adolescentes acabam infligindo algumas regras para poderem ter acesso àquilo que o sistema – de forma utópica – os oferece, o que pode provocar a infração às leis e normas que constituem o Estado, ou melhor, o sentido que ele possui de Estado. Em síntese, a vulnerabilidade social – consolidada pela privação do acesso a bens e serviços como educação, trabalho, lazer e cultura – e a “sedução” da mídia em torno do consumo como forma de inclusão social, tornam-se agentes para o cometimento do ato infracional pelos jovens.

O adolescente considerado autor de ato infracional busca sua inclusão na sociedade contemporânea, marcada pelo imperativo do consumo e por relações capitalistas, onde todos podem ser lançados na moda do consumo, porém nem todos podem efetivamente assumir o papel de consumidores. (BAUMAN apud CASTRO e GUARESCHI, 2008, p.2006)

Seguindo nesse pensamento desenvolvido por Bauman, todo adolescente precisa consumir

5 Entende-se alienação por meio do conceito de Agnes Heller em “O cotidiano e a História”, onde ela atribui a esse termo a cristalização do indivíduo como um ser que torna-se impossibilitado de movimento e de explicitação de suas motivações particulares, sentimentos e paixões, perdendo assim sua objetividade. Ou seja, para Heller a alienação consiste no abismo entre a produção humano-genérica e a participação consciente do homem nesta produção.6 O consumo, nesse contexto, é entendido como representante ideológico do sistema capitalista, que será um dos aspectos geradores de desigualdade e da característica do adolescente não sentir-se inserido no meio em que vive, o qual expressará – pelo ato infracional – forma de pertencer mundo.

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para se sentir incluso, mas nem todo adolescente pode consumir, o que de certa maneira o exclui do mundo do consumo e de outros contextos necessários para sua atuação na sociedade. Além disso, pode-se perceber que esse método persuasivo do sistema capitalista – que se pauta no consumo – gera uma ordem social desigual, a qual o sistema assinala como inclusão, porém mascara a exclusão, entendida como injustiças sociais, tornando esse processo dialético – exclusão/inclusão – um dos instrumentos que provocam a infração das normas vigentes na sociedade.

A sociedade exclui para incluir e esta transmutação é condição da ordem social desigual, o que implica o caráter ilusório da inclusão. Todos estamos inseridos de algum modo, nem sempre decente e digno, no circuito reprodutivo das atividades econômicas, sendo a grande maioria da humanidade inserida através da insuficiência e das privações, que se desdobram para fora do econômico. (SAWAIA, 1999, p.08)

Entretanto, não podemos afirmar que todo indivíduo em situação de vulnerabilidade social ou persuadido pelo sistema capitalista se tornará um infrator ou um criminoso. Logo, a percepção, a leitura e a interação que o adolescente faz com seu mundo – representados pela sociedade, família, trabalho, etc. – permitem escolhas e atuações, que tornam possível a relação do jovem com seu ambiente, que se afirma pela linguagem desse jovem com ele mesmo e com seu contexto, tornando-o representativo de um todo.

Podemos assim, buscar entender as expressões da subjetividade do jovem que comete ato infrator e tentar promover a ressignificação deles em relação ao mundo a seu redor através da formação de vínculos pelos quais esses adolescentes possam se expressar e tornar conscientes suas realidades e suas capacidades, isto é, possibilitar o desenvolvimento de novas zonas de sentido.

Para tanto se mostra importante conceituarmos o que é a subjetividade nesse estudo. A subjetividade constitui-se em uma construção histórica, social e cultural, na qual o homem a partir do seu trabalho pôde transformar a natureza e, ao fazer isso, percebeu que o trabalho possibilita a sua expressão no meio a que pertence. Contudo, há a necessidade desse indivíduo identificar, nomear e colocar significados àquilo que produz.

Vygotsky (1991) concebe o homem como um ser inserido em sua cultura e em suas relações sociais o qual está continuamente internalizando formas concretas de sua atividade interativa. É nesse movimento externo/interno, social/individual, outros/eu que vai se constituindo a subjetividade humana como intersubjetividade a partir do significado intercambiado. (Apud CIARLINI, 2008)

Tudo isso torna o trabalho e a sua dinâmica instrumentos para o surgimento da linguagem, a qual se caracteriza como a expressão do homem em seu meio, produz signos que irão constituir as palavras e, desse modo, possibilitar a comunicação desse indivíduo com os outros. Tal fato permite ao ser humano abstrair e entender o meio que o cerca, dando a ele sentido, o que possibilita a elaboração e a expressão de sua subjetividade. Por meio dessa inter-relação indivíduo/mundo externo, constitui-se a subjetividade social, que se consolida na dialética entre o mundo interno e o mundo externo envolvendo regras, valores, sentimentos e a atuação do sujeito em seu contexto.

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PROJETO

De acordo com o exposto, ou seja, as modificações sócio-culturais, as demandas que as transformações sociais exigem e ao entendimento naturalizado que a sociedade, como também algumas abordagens psicológicas possuem da adolescência como fase conflituosa e problemática, esse trabalho pretende estudar a adolescência no mundo moderno pautado na visão da Psicologia Sócio-Histórica como argumento para a desnaturalização da adolescência como etapa natural e patológica e em defesa do jovem como um fenômeno que surge de mudanças históricas e sociais relativas a uma nova constituição de família, vida privada/vida pública.

Além desse fator, em relação ao adolescente em vulnerabilidade social há o fenômeno da violência, periculosidade, da agressividade e de outros aspectos deterministas defendidas por algumas áreas da psicologia. Desse modo, fundamenta-se uma pesquisa – por meio dessa perspectiva – como maneira de possibilitar ao adolescente a expressão de sua subjetividade, por entender que a mesma se constitui nesse processo social, histórico e cultural, assim como pelo sentido conferido pela própria história de vida desse jovem. Com isso, o adolescente poderá encontrar uma forma de refletir sua existência e a relação da mesma com outros níveis da sociedade.

Com isso, a partir de atendimento grupal de adolescentes em regime de semi-liberdade e internação, a proposta desse trabalho é analisar o processo de constituição da subjetividade deles pautado na Psicologia Sócio-Histórica. Por considerar a linguagem como categoria principal para a análise da subjetividade, essa pesquisa tem como objetivo entender as construções de sentido dos jovens e através da pesquisa-ação e possibilitar a ressignificação do adolescente que se encontra em vulnerabilidade social. Esse trabalho, também, proporcionará ao aluno de Psicologia uma possibilidade de novas formas de pensar esse adolescente e de intrumentalizá-lo por meio da metodologia da pesquisa-ação.

Diante disso, busca-se informações que permitam o entendimento e análise da subjetividade do adolescente em regime de semi-liberdade, bem como, possibilite ao adolescente maneiras de expressão da sua subjetividade através de atividades desenvolvidas na Casa Semi-liberdade e no Cense Londrina I, a criação de um ambiente facilitador7 que permita ao adolescente manifestar seus pensamentos, sentimentos e emoções através de uma postura diferenciada do que eles costumam encontrar do profissional de Psicologia e entender de que maneira o adolescente em regime de semi-liberdade reconhece e subjetiva a própria condição de adolescência e sua relação com os critérios de justiça, ética, cidadania, relações familiares e demais relações com a sociedade.

METODOLOGIA

A pesquisa utilizará a pesquisa-ação, pela qual as informações serão buscadas por meio de encontros semanais com duração de 1h30min. desenvolvidos por estagiários de Psicologia do Centro Universitário Filadélfia (UniFil), da cidade de Londrina, PR. Essas atividades são programadas juntamente com os adolescentes. A pesquisa-ação por ser um método qualitativo não diretivo, preconiza a construção de uma pesquisa a cada encontro. Essa flexibilização é necessária por considerar que essas informações só poderão ser encontradas caso seja permitido uma expressão espontânea por parte do grupo.

[...] a pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com

7 Aqui “ambiente facilitar” apesar de permitir correspondência com o conceito winnicottiano, tal perspectiva não será referenciada.

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a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo e participativo. (THIOLLENT, 2000, p.14)

Assim, a pesquisa-ação pode ser entendida como um instrumento de “engajamento sócio-político a serviço das classes sociais populares” (Ibidem, p.14). Desse modo, essa metodologia permite que o pesquisador atue de forma ativa na relação entre ele e seu objeto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A adolescência – em algumas áreas da Psicologia – é vista como uma etapa natural, inerente e própria do desenvolvimento do homem. É marcada por conflitos e crises naturais da idade, marcadas por características negativas, sofridas, ocorridas por condição histórica e cultural.

A Psicologia Sócio-Histórica não nega que a adolescência seja importante para a Psicologia e nem que ela não aconteça, mas não a considera como uma fase natural do desenvolvimento, e sim uma criação histórica da sociedade, que faz parte da cultura. Devemos considerar o fato de que aquilo que a adolescência adquire historicamente está determinando as ações pessoais, políticas, sociais, profissionais em relação a ela.

Precisamos entender a adolescência como constituída socialmente através das necessidades sociais e econômicas dos grupos sociais. Ela constitui-se em uma fase de formação dos próprios valores, da formação da identidade, onde ocorrem as escolhas e transformações.

A figura do menor ainda existe no social, revelando-se nas interpretações, fantasias e idealizações, que produzem as diferentes imagens que formam as percepções coletivas sobre esse personagem real e concreto. Assim, crianças e adolescentes, por exemplo, que vivem pelas ruas, atribuem significados a si mesmos. Esta identidade social, acabou se transformando em um instrumento de identificação e controle deste segmento da infância, constituindo sua subjetividade.

A análise da constituição da subjetividade de um adolescente concreto, inserido numa realidade concreta, permeada de contradições e sentimentos, que podem parecer ambíguos, pretende resgatar a imagem do jovem como um ser que vai se construindo a partir de sua inserção no mundo e das relações estabelecidas neste mundo, modificando-o e sendo modificado por ele.

Compreender a realidade da infância e adolescência, em situação de vulnerabilidade social, colabora também com a superação da imagem presente no imaginário social e favorece a construção de políticas publicas, onde se compartilhe o verdadeiro espaço da cidadania.

Nesta sociedade desigual, a situação de pobreza, miséria e violência social acaba atingindo drasticamente as crianças e adolescentes, o que reflete na população, onde os jovens deixam ser protegidos e assegurados e faz com que muitos deles encontrem na infração das leis seu espaço. O momento que a juventude vive é muito marcado pela mudança que tentam efetivar em suas vidas e por todas as dimensões e implicações que a ela se referem.

Um breve olhar sobre a história da infância e adolescência empobrecida em nosso país nos leva a constatar que a imagem do “menor” foi sendo construída a partir de representações sociais, ancoradas nas marcas e no estigma da exclusão, e na própria realidade. (CALIL, 2003, p.138)

A subjetividade das crianças e dos adolescentes se constitui nas relações que eles estabelecem. Através dessas relações, eles se identificam e se constituem como sujeito. Pelo processo de mediação social, estas relações vão determinando a constituição de sua subjetividade,

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que é mutável, de acordo com as transformações do momento histórico e social que ele vive.Segundo as formulações da Psicologia Sócio-Histórica, o ser humano se apropria da

produção histórica da humanidade em sua atividade, nas relações com a realidade social e com os outros homens, a partir do que pode transformar sua história e sua realidade. Este processo de constituição do homem, não ocorre por uma absorção imediata do meio, mas por um movimento constante de subjetivação da realidade que o torna único. Neste processo, em que o mundo objetivo é convertido em subjetivo, configurando-se algo novo, a linguagem desempenha um papel fundamental, ela é o instrumento psicológico, que materializa as significações historicamente produzidas e por meio do qual o homem significa a sua atividade, permitindo o contato com o mundo exterior e ao mesmo tempo com a própria consciência. Assim, a subjetivação da realidade objetiva é mediada pelos significados.

[...] a constituição social do indivíduo é um processo diferenciado, em que as conseqüências para as instâncias sociais implicadas e para os indivíduos que as forma dependem dos diferentes modos que adquirem as relações entre o individuo e o social, dentro das quais ambos os momentos têm um caráter ativo, isto é, cada momento se configura de formas muito diversas ante a ação do outro, processo que acompanha tanto o desenvolvimento como o desenvolvimento social. (GONZÁLES REY, 2005, pp. 202-203)

De acordo com a perspectiva Sócio-Histórica, o homem é visto como ser histórico, que se constitui ao longo do tempo, pelas relações sociais e pelas condições sociais e culturais. O homem não é dotado de uma natureza humana, pois o desenvolvimento da humanidade já permitiu que o homem se libertasse e ultrapassasse as condições e limitações lógicas que possui.

A sócio-histórica entende este homem a partir da concepção de “condição humana”, isto é, alguém que constrói formas para satisfazer suas necessidades junto com outros homens. Um ser histórico com características forjadas de acordo com as relações sociais contextualizadas no tempo e no espaço histórico em que ele vive. [...] na sócio-histórica esta relação é concebida dialeticamente na medida em que este ser se constrói ao construir a sua realidade. (BOCK apud OZELLA, 2003, p. 08)

A adolescência foi constituída pelos homens, em suas relações sociais. As características da adolescência também são constituídas nessas relações sociais. A adolescência não é vista como uma fase natural do desenvolvimento, pois constituiu-se na história a partir das necessidades sociais e todas as suas características foram desenvolvidas a partir das relações sociais com o mundo adulto e com as condições históricas em que se deu seu desenvolvimento. Assim, a adolescência é um momento de desenvolvimento na sociedade moderna, não é natural dos seres humanos, é histórica, fato que nos permite encara-los como “parceiros ativos e propiciadores de mudanças necessárias à nossa sociedade”. (OZELLA, 2003, p. 09)

REFERÊNCIAS

ABRAMOVAY, Miriam e PINHEIRO, Leonardo Castro. “Violência e vulnerabilidade Social”. In: FRAERMAN, Alicia (Ed.). Inclusión Social y Desarrollo: Presente y futuro

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de La Comunidad Ibero Americana. Madri: Comunica, 2003.

BAUMAN, Zygmunt. Vida Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007.

BOCK, Ana M. Bahia; GONÇALVES, M. Graça M.; FURTADO, Odair. A psicologia como ciência do sujeito e subjetividade: a historicidade como noção básica. In: Psicologia Sócio-Histórica: uma perspectiva em psicologia. São Paulo: Cortez, 2001

BRASIL, Lei nº 8069, de 13 de julho de 1990. Estatuto da Criança e do Adolescente. Brasília, 13 de julho de 1990. CALIL, Maria Izabel. De Menino de rua a Adolescente: análise sócio-histórica de um processo de ressignificação do sujeito. In: Adolescências Construídas: uma visão da psicologia sócio-histórica. São Paulo: Cortez, 2003, pp. 138-166.

CARVALHO, Leonardo Mata. Comparativo entre o Código de Menores (Lei n.º 6.697/79) e o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n.º 8.069/90). Revista Eletrônica Mensal Do Centro De Pesquisas Jurídicas - Unifacs/Bahia, n. 11, abr. 2001. Disponível em: <http://www.facs.br/revistajuridica/edicao_abril2001/corpodiscente/graduacao/comparativo.htm>. Acesso em: 06 de julho de 2009.

CASTRO, A. L.; GUARESCHI, P. Da privação da dignidade social à privação da liberdade individual. Psicologia e Sociedade. Porto Alegre, v.20, n. 2, p. 200-2007, maio/ago 2008.

CIARLINI, Norma Veras Leite. Constituição do sujeito, subjetividade e identidade. Disponível em: <http://www.psicopedagogiabrasil.com.br/artigos_norma_constituicao_do_sujeito.htm>. Acesso em 13 de julho de 2009.

ESTADOS UNIDOS, Carta Das Nações Unidas, de 26 de Junho de 1945, São Francisco.

GONZALES REY, Fernando. Sujeito e Subjetividade. São Paulo: Thompson, 2005.

GRANDINO, Patrícia Junqueira. Estatuto da Criança e do Adolescente: O sentido da Lei para as relações intergeracionais. Programa Ética e Cidadania: construindo valores na escola e na sociedade.

GROPPO, Luís Antonio. Juventude: ensaios sobre sociologia e história das juventudes modernas. Rio de Janeiro: DIFEL, 2000.

HELLER, Agnes. O cotidiano e a história. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1985.

MARTINS, Daniele Comin. O Estatuto da Criança e do Adolescente e a Política de Atendimento a partir de uma perspectiva sócio-jurídica. Revista de Iniciação Científica da FFC, v.4, n.1, pp. 63-77, 2004.

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Silvia do Carmo Pattarelli, Fabrício Ramos de Oliveira

OZELLA, Sérgio. Adolescências Construídas. São Paulo: Cortez, 2003.

SAWAIA, B. (org.). Exclusão ou Inclusão perversa? In: SAWAIA, B. (org.); WANDERLEY, M. B; VÉRAS, M. (et. Al.) As artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética da desigualdade social. Petrópolis: Editora Vozes, 1999.

THIOLLENT, Michel. Metodologia da Pesquisa-ação. São Paulo: Cortez, 2000

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NORMAS PARA PUBLICAÇÃO

A Revista TERRA E CULTURA é uma publicação semestral da UniFil, que tem por finalidade a divulgação de artigos científicos e/ou culturais que possam contribuir para o conhecimento, o desenvolvimento e a discussão nos diversos ramos do saber. Um artigo encaminhado para publicação deve obedecer às seguintes normas:

1 – Estar consoante com as finalidades da Revista.

2 – Ser escrito em língua portuguesa e digitado em espaço 1 ½, papel A 4, mantendo margens superior e esquerda 3 cm, e inferior e direita, 2 ½. Recomenda-se que o número de páginas não ultrapasse a 15 (quinze).

3 – Tabelas e gráficos devem ser numerados consecutivamente e endereçados por seu título, sugerindo-se a não repetição dos mesmos dados em gráficos e tabelas conjuntamente. Fotografias poderão ser publicadas.

4 – Serão publicados trabalhos originais que se enquadrem em uma das seguintes categorias:

4.1 – Relato de Pesquisa: apresentação de investigação sobre questões direta ou indiretamente relevantes ao conhecimento científico, através de dados analisados com técnicas estatísticas pertinentes.

4.2 – Artigo de Revisão Bibliográfica: destinado a englobar os conhecimentos disponíveis sobre determinado tema, mediante análise e interpretação da bibliografia pertinente.

4.3 – Análise Crítica: será bem-vinda, sempre que um trabalho dessa natureza possa apresentar especial interesse.

4.4 – Atualização: destinada a relatar informações técnicas atuais sobre tema de interesse para determinada especialidade.

4.5 – Resenha: não poderá ser mero resumo, pois deverá incluir uma apreciação crítica. 4.6 – Atualidades e informações: texto destinado a destacar acontecimentos

contemporâneos sobre áreas de interesse científico.

5 – Redação - No caso de relato de pesquisa, embora permitindo liberdade de estilos aos autores, recomenda-se que, de um modo geral, sigam à clássica divisão:

Introdução - proposição do problema e das hipóteses em seu contexto mais amplo, incluindo uma análise da bibliografia pertinente;

Metodologia - descrição dos passos principais de seleção da amostra, escolha ou elaboração dos instrumentos, coleta de dados e procedimentos estatísticos de tratamento de dados;

Resultados e Discussão - apresentação dos resultados de maneira clara e concisa, seguidos de interpretação dos resultados e da análise de suas implicações e limitações.

Nos casos de Revisão Bibliográfica, Análises Críticas, Atualizações e Resenhas, recomenda-se que os autores observem às tradicionais etapas:

Introdução, Desenvolvimento e Conclusões.

6 – O artigo deverá apresentar título, resumo e palavras chave em português e inglês.6.1 – o resumo e o abstract não poderão ultrapassar a trinta linhas;

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6.2 – as palavras chave e keywords deverão ser de no mínimo três, e no máximo cinco.

7 – Caso haja necessidade de agradecimentos, o mesmo deve estar ao final do artigo, antes das referências.

8 – Não serão publicados artigos de caráter propagandisticos ou comerciais;

9 – Os artigos deverão ser encaminhados para o e-mail - [email protected].

10 – As Referências deverão ser listadas por ordem alfabética do último sobrenome do primeiro autor, respeitando a última edição das Normas da ABNT.

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