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Trimestral Genebra Suíça Ano vI Dezembro 2006 n°24 Bilingue encontros culturais Distribuição gratuita ACNUR António Guterres Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados Análises Comentários Contos Crónicas Entrevistas Eventos Galeria Opiniões Poesia Roteiros Luiz-Manuel - Escritor e poeta

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TrimestralGenebra SuíçaAno vIDezembro2006

n°24

Bilingue encontros culturaisDistribuição gratuita

ACNUR António GuterresAlto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados

Análises

Comentários

Contos

Crónicas

Entrevistas

Eventos

Galeria

Opiniões

Poesia

Roteiros

Luiz-Manuel - Escritor e poeta

Av. de Montchoisi, 15 – 1006 Lausanne

Tél. + 41 21 614 00 14 • Fax: +41 21 614 00 15

Câmbio + 41 21 614 00 16 • WWW.BES.PT

E-mail: [email protected]

BESDIRECTO: 00 8000 247 36 50

ficha técnica sumário

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PropriedadeL.C.

DirectorAntónio Pinheiro

EdiçãoA.P.I.C.

Chefe de RedacçãoLuz Neto

Redactores permanentesAntónio LouçãBenjamin FerreiraCatarina ReisPaulo MorgadoP. BártoloRosa Adanjo

Colaboraram neste númeroÁlvaro FernandesCasimiro OliveiraGabriela SilvaGiuseppe PatanèJoão AbraçosLuís FlorêncioLuísa CostaLurdes TrindadeManuel BernardoMiguel Neves PassarinhoRose-Mary Magnin

Grafismo e PaginaçãoEduardo Pinho

FotografiaAntónio PinheiroMário PereiraOctávio Xisto

PublicidadeGabriel Bettencourt

Pessoas magazineCP 18771211 Genève 1

Bd. James Fazy 181201 Genève SuisseTel +41 22 738 85 25Fax +41 22 738 88 [email protected]

Periodicidade trimestralAssinatura20 frs / ano – Suíça40 frs / ano – EuropaTiragem deste número5.000 exemplares

Distribuição gratuita

Editorial

Guerra e Paz em 2007

Banha da cobra

Bolsas de Estudo

Exaurida

Lopes Graça

Le Palais Eynard

O Filho Pródigo

Os Maias, espelho de um tempo

Observatório de Genebra

Entrevista, Luiz-Manuel - Escritor e poeta

ACNUR - A. Guterres, Alto Comissário

O Pescador

Pedras da vida

Mário Cesariny - in memoriam

Roteiros – Bex, Minas de Sal

Brigada Ligeira

Endereços úteis

Leia a na internet

www.espacoportugues.chwww.livraria-camoes.ch

L E D O S ARue des Gares • 1201 Genève • Tel: 022 740 42 20 • 022 740 20 73 • Fax: 022 740 42 22

J O S É A N T Ó N I O L E D O

Distribuidor, em toda a Suíça, da imprensa portuguesa e espanhola

Distribuida na Suíça por

Rues, maisons, places et vitrines sont remplies d’arbres colorés. Les gigantesquesdécorations exaltent l’ego de beaucoup de Portugais. “Nous avons eu le plus grand arbre”,

disent-ils, orgueilleux. Les brillances superficielles passées, restent les plaies exposées: nousavons des travaux les plus compliqués, inachevés; nous avons le plus grand chaos dans le trafic,avec les plus grands trous dans les routes; pour nous aider, nous avons une pesante bureaucratiequi continue à ne pas vouloir s’alléger; nous avons des milliers de chômeurs et d’employés ensituations précaires; nous avons un service de santé toujours à la traîne, nous avons descentaines de jeunes “en bande”, inadaptés dit-on, qui cassent et volent sur leur passage… et,malgré tout, nous nous entêtons à être les plus “illuminés” de tous. Nous continuons à cacherle soleil avec un crible.Mais 2007 a débuté, tout neuf, nous avons envie de le colorer!

Comme toujours se tissent des projets et se nourrissent des réalisations et nous balayonstoutes les énergies négatives pour remplir ces cinquante-deux semaines de paix, de travail,

de solidarité, de justice et d’amour. Nous paraissons utopiques? Nous croyons la source de l’es-pérance inépuisable.Le souhait croissant des nouveaux pays qui veulent entrer dans la Communauté européenne estinépuisé. La Bulgarie et la Roumanie sont entrées depuis peu, dans le groupe au drapeau azurétoilé, ce qui prouve aux détracteurs qu’il n’est pas si mauvais que cela d’appartenir à l’EU quifêtera le 25 mars prochain, le cinquantième anniversaire de sa formation lors du Traité de Rome.

Une autre date est à retenir, celle à un niveau plus national du 11 février. Une fois de plus,nous allons à un référendum pour les IVG (interruption volontaire de la grossesse). Pourvu

que les résultats obtenus il y a huit ans (50,9 %) ne se répètent pas, afin d’en finir une fois pourtoutes avec l’hypocrisie, le jeu des sales affaires clandestines, véreuses et lucratives qui grossit deplus en plus le nombre de morts provoquées par des avortements clandestins. Contraception,planning familial, avortement, doivent être traités avec le même respect et la même dignité.Pourquoi pénaliser la femme? Pourquoi lui dérober le droit à l’assistance médicale, dans unacte qu’elle a choisi, consciente et fragilisée? Il y a le droit à la vie, bien sûr, mais préoccupons-nous de le considérer en toute liberté et dignité.

PESSOAS remercie ses lecteurs et ses collaborateurs pour le partage et la stimulation offertspendant 2006 et souhaite que 2007 soit spécial pour tous.

Bem-hajam

édito

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Ler a é saber mais!

editorial

Enchemos as ruas, casas, praças, montras com árvores coloridas. As gigantescas decoraçõesexaltaram o ego de muitos portugueses. Tivemos a maior árvore – dizem, ufanos. Passados

os brilhos superficiais ficam as mazelas expostas: temos as mais complicadas obras inacabadas;temos o maior caos no trânsito, com os maiores buracos, nas estradas, a ajudar; temos a pesadaburocracia que teima em não aligeirar; temos milhares de desempregados e empregados emsituações precárias; temos um serviço de saúde pelas ruas da amargura; temos largas centenasde “bandos” juvenis que, inadaptados - dizem – desbaratam e saqueiam tudo à sua passagem...e, contudo, teimamos em ser os mais “iluminados” de todos. Continuamos a tapar o Sol com apeneira.Mas o 2007 entrou, aqui o temos, novinho em folha. Apetece colori-lo!

Como habitualmente se tecem projectos e se alimentam concretizações, nós vamos varrertodas as energias negativas e encher estas 52 semanas com paz, trabalho, solidariedade,

justiça e amor.Parecemos utópicos? Não cremos, a fonte da esperança é inesgotável.Inesgotável como o desejo crescente dos novos países que querem ingressar na ComunidadeEuropeia. Bulgária e Roménia entraram para o grupo da bandeira azul estrelada e provando,aos detractores, que não é tão mau assim pertencer à Europa Unida que vai festejar a 25 deMarço o quinquagésimo aniversário da sua formação no Tratado de Roma.

Outra data a ter em conta, esta mais caseira, é o dia 11 de Fevereiro. Mais uma vez vamosreferendar a IVG (interrupção voluntária da gravidez). Oxalá que os resultados obtidos há

oito anos (50,9%) não se repitam para acabar de vez com a hipocrisia, com os jogos sujos denegociatas lucrativas clandestinas que engrossam, cada vez mais, o número de mortes por aborto clandestino.Contracepção, planeamento, aborto, devem ser temas tratados com o mesmo respeito e amesma dignidade. Porquê penalizar a mulher? Sonegar-lhe o direito de assistência médica num acto que ela, fragilizada, tomou? Há o direito à vida, sim, mas preocupemo-nos, então por proporcioná-la em liberdade e dignidade

APESSOAS agradece aos leitores, aos colaboradores a partilha, o incentivo que lhe deramdurante 2006 e faz votos para que o 2007 seja especial para todos.

Bem-hajam.

António Pinheiro

Pessoa Café Littéraire • Rue Jean Dassier 5 • 1201 Genève Tel. + 41 22 340 22 85 • [email protected]

simplesmente diferenteCafé LittérairePESSOA

Guerra e Paz em 2007

Benjamim Ferreira

e o conde Léon Tolstoï me lesse – supre-ma ironia – ficaria irritado com o preten-siosismo do título e dir-me-ia, solícito e

hirsuto, que mudasse de cabeçalho ou de pro-fissão. Não o fará, seguramente, dado que a sualonga barba branca de Pai Natal das letras,repousa num mar de anjos, sentados na neve,admirando a marcha lenta dos comboios. Queassim seja. Amén!Por estranho que pareça, o mundo de hoje muito se assemelha ao miserabilismo de anta-nho. O jogo da ambição, as traições sórdidas e aspequenas fraquezas dos homens, em nada dife-rem das relatadas pelo conde Tolstoï, leitor assí-duo de textos sagrados e do Novo Testamento.Tudo isto vem a propósito de época que vive-mos, a de um Natal repetido e oportuno: repeti-mos os sentimentos e as prendas e aproveitamosa ocasião para desfilar votos de sucesso, de feli-cidade, de bem-estar e de paz entre os homensde boa vontade. Votos de paz, repito. Sem ver-gonha e sem corar de hipocrisia. Nós e os se-nhores que nos governam, no desgoverno dosdiscursos e no fingimento das boas intenções.A paz faz-se ausente dos encontros natalíciosnum planeta de guerras e de tormentos, nestenosso planeta de fomes provocadas, de violações

consentidas, de atentados pensados e de mortestelevisivas! Guerra sem Paz, evocando o escri-tor, “fruto da miséria e da ambição do mais ani-mal dos animais do planeta”. Guerra de quemreza palavras de paz e envia bombas pela caladada noite. Guerras, senhores!Elas estão aí, andam por aí, anunciam-se por aí,as guerras que temos e que quase esquecemos –Afeganistão, Chechénia, Colômbia, Congo,Filipinas, Costa do Marfim – e as guerras a“sério”, aquelas que se filmam e das quais se fala:Iraque e Palestina. Elas pretenderam, sempre,resolver qualquer coisa e acabaram com novosproblemas nas mãos. Mesmo assim, diante daviolência e da morte, é curta a memória e com-plexos são os sentimentos dos homens: novaguerra se prepara em terras da Somália, Etiópiae Eritreia!Se o Natal ainda tiver um sentido qualquer, queseja o da reflexão interior e o da partilha da soli-dariedade. Que a reflexão interior consigatransformar o conhecimento em sabedoria eque a solidariedade consiga transformar as pala-vras em movimentos de verdadeira compaixão ecomunhão de sentimentos. Boas-Festas, porisso e para isso.

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comentário

António Louçã

entro de cinco anos, o salário mínimoserá de 500 euros. A assinatura doacordo que prevê pagar essa fortuna a

milhares de trabalhadores portugueses foinoticiada com toda a solenidade. Não faltouquem lhe chamasse, ao acordo, “histórico”.Como não faltará, certamente, quem vejanele mais um passo para o tratamento euro-peu dos trabalhadores portugueses.Entretanto, outro aumento que vem sendoprometido para um futuro próximo é o dossubsídios de desemprego (não era a segu-rança social que estava à beira da insolvên-cia, com graves dificuldades para cumprir osseus compromissos?)Também o aumento do subsídio de desem-prego deve ser um passo para a Europa.Afinal faz parte daquilo a que o governoSócrates chama “modelo dinamarquês”: cartabranca para despedir ou para pagar apenas umaparte do salário nas semanas ou meses em que acarteira de encomendas não dê para ocupar ostrabalhadores durante um horário completo. Oaumento do subsídio de desemprego é apenaspara dourar muito ligeiramente a pílula amargaque nos querem fazer ingerir.“Europa” e “democracia” são as palavras maisgastas que os nossos governantes lá têm no seuvocabulário. Se querem um “modelo dinamar-quês”, porque não começaram por fazer referen-dar, como na Dinamarca, o Tratado de Maas-tricht? Talvez porque tenham visto que oexemplo dinamarquês foi o de recusar a Europado capital. E esse exemplo corre, hoje, o risco deser seguido em muitos outros países, quando oseurocratas têm o descaramento de aprovar aDirectiva Bolkestein, ao arrepio de um senti-mento unânime dos povos.Quem na Dinamarca pode desejar um saláriopolaco, quem em Portugal pode desejar umsalário romeno? E, no entanto, é isso que a

directiva determina, ao permitir às filiais deuma qualquer empresa que imponham noestrangeiro as condições vigentes no país daempresa-mãe. Com a esperteza saloia queanima tantos patrões portugueses, não nosadmiremos amanhã de encontrá-los a domici-liarem as suas empresas na Albânia, em sedesfictícias, que lhes permitam criar filiais emPortugal com salários albaneses.Note-se que, no momento em que o tratadoconstitucional europeu foi chumbado pelaesmagadora maioria do eleitorado francês, mui-tos dos nossos eurocratas despeitados disseramque tinha havido uma confusão entre o tratadoconstitucional e a Directiva Bolkestein. O ódioà directiva era tanto que o tratado tambémapanhou por tabela, diziam-nos. Agora, são osmesmos eurocratas conscientes da impopulari-dade da directiva que a fazem passar pela portado cavalo e a aprovam à revelia de qualquerconsulta popular. De igual modo, o candidatopresidencial da direita francesa NicholasSarkozy, já afirmou que o tratado constitucionaltem de ser aprovado, mesmo contra a vontadeda maioria, e que ele, Sarkozy, quando for

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Banha da cobra

opinião

eleito, o fará aprovar no parlamento,para que o povo não venha novamen-te complicar-lhe os planos com algu-ma genuína expressão democrática.Nada disto significa que Sarkozy sejao mau da fita e que Segolène Royalseja a indómita defensora de umademocracia ameaçada. É verdade quea candidata do Partido Socialistaainda não fez nenhuma comparávelafirmação de desprezo pela vontadepopular francesa, até porque o seupróprio partido se dividiu na altura do referen-do constitucional europeu e agora não lhe davajeito nenhum voltar a dividi-lo em plena cam-panha eleitoral. Mas o apreço de Royal pelademocracia também ficou bem estampado nasua atitude ao visitar a Palestina, sem se entre-vistar com o governo democraticamente eleitodo Hamas.Não nos atirem portanto areia para os olhosnem tentem vender-nos banha da cobra. Sequerem trazer para Portugal um “modelo francês”

ou um “modelo dinamarquês”, comecem pororganizar consultas democráticas, no caminhoda que em Fevereiro se faz sobre o aborto masmuito para além dela. Se quisermos, nós,cidadãos e cidadãs, um “modelo francês” ou um“modelo dinamarquês”, comecemos por ganharessas batalhas democráticas e por fazer respei-tar os seus resultados. E, fazendo respeitá-los,imponhamos, com a luta, condições sociais esalários “dinamarqueses”.

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Banha da cobra

oi em Berna que os nossos jovens estu-dantes receberam os prémios.O senhor Embaixador de Portugal, na

Suíça Dr. Eurico Jorge Henriques Paes pôs a suacasa à disposição para a singular, mas significativa,cerimónia de entrega das bolsas de estudo aosjovens estudantes.A entrega simbólica dos prémios foi feita pelo Sr.Administrador da CGD, Dr. Francisco Bandeira.que exortou os contemplados a prosseguiremempenhadamente as suas carreiras académicas.O Embaixador de Portugal fez uma breve alocu-ção sobre o evento, felicitando os que conseguiramganhar as bolsas de estudo. Seguidamente, diri-gindo-se ao Administrador da Caixa Geral deDepósitos disse (citamos): da importância “doBanco que V.Ex. representa ( e que) decidiu em boahora lançar estes prémios. É uma iniciativa pioneira eque eu até desejaria que fosse alargada a outras insti-tuições portuguesas que aqui estão instaladas. Tenhoesperança que este tipo de apoio possa animar e incen-tivar os jovens portugueses na sua busca de cultura eformação mais evoluída . A nossa comunidade aqui naSuíça é uma comunidade grande, à volta de 200 milpessoas... Felizmente a comunidade portuguesa não éconhecida por problemas que levanta nem por maudesempenho no meio laboral, mas é necessário, nos diasque correm, que possam progredir na área do ensino,da formação, na obtenção de diplomas que mais facil-mente contribuam para se inserir na sociedade.Portanto, estas iniciativas, mais concretamenta estainiciativa que a Caixa Geral de Depósitos lançou, tempara nós um valor e uma importância extraordinária.O anúncio de haver novas bolsas de estudo para o ano,

mais me anima e me dá a certeza de que este é o bomcaminho .Exorto todos os jovens a perseguirem os seusobjectivos; a terem uma vida mais digna e profundaneste país que é um dos mais desenvolvidos do mundo.Agradeço a todos pelo esforço que estão a fazer e a pre-sença, entre nós do senhor Administrador da CaixaGeral de Depósitos, marca a importância que está adar a esta iniciativa e, por isso, o nosso bem haja. Aoscinco universitários que receberam este prémio, os nos-sos parabéns e o desejo que continuem a progredir e apôr o nome do nosso país o mais alto possível.”Trocando algumas impressões com os jovenscontemplados com as bolsas de estudo - Rui daSilva, Neuchâtel; Diana Pereira, Thun; VanessaMota, Lausanne; Alexandrina Arantes, Lausanne;Patrícia Silvério, Genéve - fizeram-nos saber dodesejo de acabarem os cursos e de se especializa-rem nas áreas que escolheram Estas bolsas de estudo abrem-lhes mais perspecti-vas? - Sim, sim e dão-nos mais força de vontade paracontinuar.Quais os projectos mais imediatos? - Acabar aFaculdade e continuar a minha investigação emCiências – outra jovem acrescenta - Acabar medici-na e continuar no ramo da investigação”.Solicitámos um comentário do Senhor José Rito,Gerente e Representante da Caixa Geral deDepósitos, na Suíça sobre o significado e os objec-tivos que este Banco se propôs, ao instituir estesprémios.- Essencialmente tem como objectivo motivar osjovens na sua formação, apoiá-los financeiramente nosseus projectos de estudo, ou seja dando-lhe um pequeno“empurrão” – entre aspas – na área financeira,

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Bolsas de Estudo

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evento

apoiando assim, cada vez mais, a sociedade portugue-sa, na Suíça, a todos os níveis. Neste caso, o apoio, diri-ge-se prioritariamente a nível dos quadros empresa-riais e quadros superiores.A comunidade portuguesa, aqui, estando ainda muitodeficitária nesta matéria tem obrigatoriamente de sepreocupar com esta vertente. Se ocupa já um lugarcimeiro, mas comum, nas comunidades estrangeiras,esse lugar não tem correspondência na área dos quadrosmédios e superiores. Ora esta é uma boa oportunidadepara publicitarmos estas ideias e estes objectivos quepenso serem que também os quereres da própria comu-nidade.P - Então esta incentiva vai ganhar raízes? Vaicontinuar?R - Sim, esta e outras, são para continuar, obvia-mente. Como sabe, esta iniciámo-la este ano. Nãoconseguimos entretanto atingir ou levar a mensa-gem a todos os estudantes universitários – oxalásejam muitos mais do que aqueles que concorre-ram será um bom sinal e um bom sintoma... –embora tenhamos feito um esforço importante,que foi de a dar a conhecer a todas as associaçõese centros portugueses. Talvez o período não tenhasido o mais propício visto que muitos dos nossosjovens não souberam, mas o facto de os pais osterem alertado é sintomático de que a mensagem“frutificou” nas áreas onde a tínhamos “semeado”.P - E para o ano?R - Para o ano esperamos que esta primeira men-sagem das bolsas de estudo passe e que tenhamosum crescendo de candidaturas; como o senhorAdministrador da Caixa já deu azo e se comprome-teu com o dobro de bolsas, significa que este cres-cendo vai ter, no mínimo, o dobro de candidaturas.Presentes, estavam, também, os membros do júrique avaliou as propostas dos jovens estudantes.A Coordenadora do Ensino Português na Suíça,

Dra. Madalena Silva, acedeu trocar algumas pala-vras com a PESSOAS:P – Sra. Dra. Madalena, como membro do júri deselecção, houve muitas candidaturas?R - Houve 50 candidaturas o que para uma pri-meira vez foi óptimo. Acho que isto agora é umincentivo a que outros jovens se candidatem, nofuturo. Foi fantástico como primeira iniciativa quepor acaso não foi tão divulgada quanto isso.P - Acha então que a comunidade portuguesa,mais jovem, não descura tanto assim o seu futuroprofissional...R – Acho, com certeza, e temos aqui uma provado seu empenhamento. Penso até que estes candi-datos serão os motivadores dos próximos que hão-de vir.P - Em que se basearam para fazer esta selecção?R - Sabe. Isto foi difícil. E foi difícil porque nósgostaríamos de dar um prémio a todos. Todas ascandidaturas eram boas candidaturas. Mas baseá-mo-nos essencialmente no rendimento socioe-conómico das famílias. Essa foi a base principalpara esta selecção.P - Acha que, para o ano, vai continuar esta entre-ga de bolsas de estudo?R - Acabamos de ouvir o senhor Administradorda CGD dizer que iriam continuar, e que para oano haveria o dobro das bolsas. Eu espero que hajao triplo o quádruplo...isto ajuda-nos a ver a forçada nossa comunidade. Dizem que os nossos alu-nos não têm vontade, não têm bons resultados...Mas nós temos bons alunos e bons resultados eestes motivarão outros, e outros...P - A revista PESSOAS vai formular-lhe, aqui,um voto: oxalá para o ano tenha tanto, tanto tra-balho na selecção de candidaturas que o númeroultrapasse largas centenas.R - (risos) Esperemos que se concretize...!

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Bolsas de Estudo

Luisa Costa

ropecei hoje neste palavra e fiquei pensati-va. Não há dúvida que as palavras são oque são, mais o que a gente lhes acrescen-

ta. Exaurida? Palavra bonita – pela grafia, pelodesenho das letras, aquele x lembra-me arabescos,pela imagem que em mim recria: a profundeza deum vale seguida de um pico, paisagem de fim detarde, tons suaves, um rio a correr no meio dapalavra, um silêncio prolongado. Não tem ar depalavra comum, antes de nome próprio – nome demulher com olhos magoados e tão forte isto é que,cá para mim, seria natural dizer-se Sou Exaurida,a escrava do Senhor; e não, como convém, estouexaurida, assim banalmente escrita em letraminúscula, e sujeita ao estado físico ou psíquico deum mortal estourado. É o que se chama despro-moção.Também há quem dê cores às palavras, mas essedom nunca o senti. Rimbaud dava, como é sabido,cor às vogais, mas também há quem dê cor àspalavras: para alguns, domingo é vermelho, osábado amarelo, e, por este andar, a segunda deveser cinzenta e férias deve ser rosa fúcsia. Mas, vol-tando à exaurida, tudo isto é fruto da associação deideias, diz-me o meu lado compreensivo, que é omais desgastante dos meus lados. Para ser sincera,

penso que todos os meus lados são desgastantes –por isso, às vezes me é tão difícil conviver comigo.Coisas de gente muito metida consigo própria, aoponto de, se tornar desagradável – ouve lá, ó tu demim, e se fosses dar uma volta e me deixasses empaz? Mas eu falava de associação de ideias. Então,exaurida é-me apercebida como nome próprio,por associação com Adosinda, Isolinda, Ermelinda,embora estas tenham um toque nasalado que astorna bem mais pesadas. Também me soa maisnatural entendê-la apenas como palavra feminina.O masculino não lhe calha tão bem. Tem algumacoisa de feminino e assim a quero – femininacontra a gramática; delicada quanto baste, subtilcomo um gesto, nimbada de fragilidade. E depouco uso, resguardada. Sem pertencer ao rol daspalavras quotidianas. Imaginem uma mulher quechega a casa, descalça os sapatos, estende-se nosofá e languidamente suspira: - estou exaurida! Oque vai pensar a família? Uma mãe, uma esposaexauridas!Guardem-se as palavras certas para as ocasiõescertas e, sobretudo, não abandalhemos! Uma mãede família é uma mãe de família e essa, nunca estáexaurida.

ExauridaT

Escritório de Representação em Genebra: Rue de Lausanne, 36 – 1201 GENEVE • Tel. 022 906 17 90 • Fax: 022 906 17 93

crónica

1 – Herança do Nacionalismo Musical O centenário do nascimento de Fernando LopesGraça, além de justa homenagem nas páginasdesta revista, é excelente ocasião para abordar doistemas apaixonantes: a herança do nacionalismomusical e a história social da música.A expressão do orgulho e do carácter pátriotornou-se um elemento marcante no períodoromântico, e foi na Rússia que o movimentonacionalista desenvolveu os ideais, patrióticos apartir do século XIX. Os compositores come-çaram a usar as energias da música tradicional doPaís e incorporaram esses ritmos e melodias nosconcertos e na composição sinfónica.É inegável o talento de Borodini, Rimsky-Korsakov entre os mais famosos do chamado“Grupo dos cinco”. O talento e a influênciaateados a toda a Europa de Leste, desencadeouum movimento de música programática baseadanas lendas e nos acontecimentos históricos dessespaíses.O sucesso fez escola com Dvorak e sobretudocom Bela Bartok, empenhados num esforço de

vanguardismo universalista de mudanças revo-lucionárias.O nacionalismo atravessa todas as artes no finaldo século XIX. É uma reacção anti-académica e avivacidade da cultura popular trouxe à músicaerudita uma golfada refrescante e inédita.A herança do nacionalismo musical que sedesenvolveu apartir de convicções e de empe-nhamentos, via muito além dum recenciamentode melodias e costumes populares. Investiga,usando ritmos e escalas para alargar a linguagemmusical numa estrutura e solidez académicas.Em Portugal o estilo musical do século XIX eprincipio do século XX nada tem dumaconsciência nacionalista à modo dos outros paíseseuropeus. O compositor mais empenhado nacanção popular é Fernando Lopes Graça. A suaoriginalidade e, por isso, o seu contributo culturalà arte dos sons em época de nacionalismos, é aforma como o Mestre Lopes Graça enfrenta amanipulação cultural do folclore pelo EstadoNovo que governou o País com ingredientesfacistas de 1928 a 1974.O Mestre não se prende ao bucolismo românticonas muitas versões corais que compôs. É rude efrontal e serve-se da música para contribuir parao conhecimento da sociedade em que essa músicaé produzida.

2 – A História Social da MúsicaOs acontecimentos artísticos também eles sãoacontecimentos humanos (Bettencourt Câmara).Desde a primeira década do século XX queaconteceram transformações radicais no universodas artes. Na música a rebelião atinge o sistematonal, intacto desde a época de Seiscentos. Aharmonia convencional deixa de comandar odiscurso sonoro. A liberdade é a lei e o compositortem o direito de criar o seu próprio sistema.

“Pessoas” para as pessoas

Lopes Graça

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P. Bártolo

Agora, o ideal de ser livre reactiva o interesse portudo, desde o sagrado ao político. Nasce aqui aquestão duma antropologia ou duma sociologiada arte musical enquanto fenómeno humano esocial. É dentro da história humana, do seucontexto social e político que se processa eorganiza a história de todas as manifestaçõesartísticas. Não há conflitualidade entre o valorestético da arte e a mensagem sociológica que elarespira. Aceitemos, sem acidez conservadora, asteses do Neo-Realismo no seu empenhamentopolítico e social ao serviço da música: “Osrevolucionários sempre perceberam que àsrevoluções servem bem as canções revolucio-nárias” (Bettencourt Câmara).Nos anos cinquenta há um salto decisivo.Acentua-se a dicotomia entre a dita músicaclássica e outro espaço a dita música ligeira. Nasceo “Rock”, o “Pop”, a canção com outros códigossociais e revindicativos, o “Twist”, o Shnake”, etc.Não pretendo esgotar-me na análise das novastendências que invadiram o mundo do post-guerra, aburguesado e cansado duma sociedade deconsumo e numa tendência cadenciada para aviolência que nem o “Maio de 68” conseguiu parar.

Muitos foram os profetas da nova linguagemmusical. De fora, faço justiça ao êxito espectaculardos Beatles. O desafogo económico da Europa eda América deu origem a uma cultura juvenilendinheirada e febril. Os jovens, açucarados poressa cultura, tomaram de assalto o mundo,representando um ideal de liberdade radical.Feitas as contas e ressalvando omérito do movimento Hippie,a ilusão foi o saldo de umacultura dominada pela emoçãoe a catarse fácil, excitante emassificadora dos sentimentosdos próprios jovens.Cá dentro, entre nós, a músicasofreu o mesmo registo mastambém foi expressão donativacom muita gente a reclamarmudanças – era a época daguerra colonial – ao mesmotempo que atacava impiado-samente as bases tradicionais da sociedadeportuguesa “dominada pelo trono e pelo altar”(A. José Barreiros)

1906-1994

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é à Lyon, le 28 décembre 1775, Jean-Gabriel Eynard, après avoir pris part àl’insurrection de la Cité des Soyeux contre

la Convention, se réfugie d’abord à Genève, puisdés 1795, comme négociant, il s’établità Gênes, en Ligurie, où, en peu d'an-nées, il fait fortune.En 1803, il se fixe à Florence et il s’at-tache à réformer les finances des prin-cipautés de Lucca et de Piombino, puiscelles de l’Etat toscan sous le règne dela grande-duchesse Elisa Baciocchi,sœur de Napoleone Buonaparte; parson œuvre, il est comblé d’honneurs etde privilèges.Le 2 octobre 1810, il épouse, à Crans,Anne-Charlotte-Adelaïde (dite Anna)Lullin de Châteauvieux, née à Lancyprès de Genève, en 1793. Il vit désor-mais dans sa propriété de Beaulieuprès de Rolle en pays vaudois, et àGenève, où, quelques années plus tard,il fera construire son palais dans unclair esprit méditerranéen.

Le philhellèneAvant de nos entretenir de ce palais, qu’il noussoit permis de parler brièvement de Jean-Gabriel Eynard, philhellène, qui à partir de1821 et jusqu’en 1830 va généreusement soute-nir la cause des Grecs insurgés contre les Turcs,avec toutes ses forces et une partie de sa fortune.Après trois siècles et demi d’occupation ottomane,alors que la Valachie et la Moldavie s’insurgentcontre l’oppresseur venu d’un Orient lointain, laGrèce continentale, à son tour, réclame sa liberté.Le sultan ne répond que par de multiples actionsaussi sanglantes que barbares. En mars 1825, parexemple, les troupes turques massées en Grèceoccidentale, bientôt aidées d’Egyptiens, s’enprennent à la place de Missolonghi. L’interm-

inable siège est très mal ressenti par toutel’Europe, les comités d’aide, et Jean-GabrielEynard en particulier, se préoccupent de faireporter des vivres et des munitions aux assiégés.

Le 22 avril 1826, la localité est conquise par lesTurco-Egyptiens. La plupart des défenseurssont morts en héros; quelques-uns ont réussi à seréfugier dans les montagnes. Les femmes et lesenfants survivants ont été vendus sur les mar-chés d’esclaves d’Arta et de Prévéza.Après dix mois de siège, Athènes est abandonnéeaux Turcs en juin 1827. Enfin les puissanceseuropéennes sous la pression de l’opinion publiqueprennent ouvertement parti pour la Grèce, pourle glorieux berceau de notre culture occidentale,et concluent, le 6 juillet 1827, le Traité deLondres. La flotte turco-égyptienne est couléeen rade de Navarin le 20 octobre 1827.Le philhellène Jean-Gabriel Eynard, qui adéfendu avec acharnement et constance l’indé-

Le Palais EynardDe la capitale des Gaules à la Rome protestante

N

crónica

Palais Eynard, Le Salon Rose

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Giuseppe Patanè

pendance de la Grèce s’éteindra à Genève le 5 février 1863, à un peu plus de 87 ans.Remontons dans le temps et considérons main-tenant la réalisation de son palais, l’une des plussuperbes demeures qui ne cesse jamais de noussurprendre et de nous faire rêver.

Dans la République de Genève à peine entréedans la Confédération helvétiqueJean-Gabriel Eynard entreprend de se faireconstruire un palais de style classique, italien.Genève en ces années n’a pas de terrain dispo-nible à l’intérieur de ses fortifications.L’audacieux financier porte alors son choix surl’angle sud-est des bastions, agrémentés par unebelle promenade et un jardin botanique.Le 26 février 1817, J.-G. Eynard écrit aux autori-tés afin d’obtenir une partie du Bastion bourgeois.Le 10 mars déjà, il reçoit un préavis favorable.Divers dessins et études sont élaborés par AnnaEynard, par J.P. Moll, Noblet, Samuel Vaucher.Chacun apporte des idées pour une réalisationvraiment originale; il faut enfin arriver à unesynthèse pour un étonnant chef-d’œuvre palla-dien, à une interprétation nouvelle de Vitruvepar un architecte de valeur, et c’est à GiovanniSalucci que l’on s’adressera.

Giovanni SalucciNé le 1er juillet 1769 à Florence, son activitéd’architecte se développe aussi à la Cour du roi

de Wurtemberg. Il construit de nouveaux édi-fices à Stuttgart: le palais royal, un superbethéâtre, le grand manége, la tombe de la reineCatherine sur la colline du Rothenberg, à laforme d’un petit temple circulaire, une bellemaison de campagne sur le Rosenstein.Ce n’est qu’en 1839 que Giovanni Salucciretourne dans sa ville natale. Le succès semblealors l’avoir abandonné; il meurt pauvre à l’hôpi-tal de Santa Maria Nuova le 18 juillet 1845. Desamis fidèles lui font élever une tombe dans lecloître du couvent de San Marco.

Revenons sur les bastionsLa construction du Palais Eynard à cheval sur lebastion débute en 1817; on l’inaugure le 7 avril1821, mais ce n’est qu’en 1830 que la décorationinterne du palais est complétement achevée.L’étage noble est placé dans le socle en bossage.L’entrée principale se trouvant côté rue, il fautun escalier monumental pour y descendre et yaccéder; c’est le lieu destiné aux fastueusesréceptions. En plus des trois salons et de la salleà manger, il possède à l’origine un petit théâtre.Ce rez-de-chaussée est décoré des belles pein-tures en trompe-l’œil des Toscans Soldaini etSpampani, alors que les plafonds des étages sontpeints par Trifoglio et Trolli.Le palais reste la propriété des descendants deJean-Gabriel Eynard jusqu’en 1891, année où ilest vendu à la Ville de Genève avec 5530 m2 deterrain, pour le prix de 500 000 francs.En 1921, le Palais Eynard est classé monumenthistorique. En 1985, on y installe les secrétariatsdu Conseil administratif et du Conseil munici-pal. Le conseil administratif y tient ses séances.

Jean Gabriel - Eynard (1775 – 1863)

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Palais Eynard

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ra um Manuel qualquer – Portugal é aterra dos Manuéis – filho de um casal deagricultores, trabalhava com os pais no

amanho das terras, que não eram muitas nemmuito extensas. Davam para remediar a casa e nãopassavam daí. Diga-se, em abona da verdade, queo Manuel era um guapo rapaz, forte e desempena-do, dado ao trabalho e sem nada que se lhe apon-tasse. Fizera a instrução primária mas o rendi-mento da casa não dava para continuar os estudose por ali ficara agarrado à rabiça do arado. Já pas-sava dos vinte, fizera o serviço militar, era“pimpão”, não lhe faltavam, portanto, raparigas dasua classe que o quisessem para marido. No entan-to, a sua afeição fixara-se na Maria – Portugal,além de ser terra de Manuéis é também terra deMarias. Gostava da moça, era bonita, muito jeito-sa, os pais tinham algo de seu e não desgostavamvê-la casada com o Manuel, assim como os paisdele gostavam da Maria para mulher do filho.Resumindo: namoraram-se e queriam-se.A vida ia correndo pacata e sossegada como nasoutras aldeias mas eis que surgem os anos da emi-gração, os anos do famoso “salto” para terras deFrança. O Manuel como tantos outros, não resis-tiu à tentação, principalmente quando viu apareceruns amigos com uns carros que eram um espanto!Não! Aquela vida na aldeia não levava a lado ne-nhum, tinha que fazer como os outros. Sem dizernada aos pais, nem avisar a Maria, porque sabiaque não gostavam, arranjou dinheiro como pôde eaí vai ele a “salto”. Só os que passaram por essaexperiência podem contar as peripécias dessasfamosas viagens que até deram para filmes.Depois de passar as passas do Algarve, conseguiu tra-balho e “papéis” num bairro da cidade de Paris,ganhando um salário regular. Porém, não pensavaem amealhar. Para quê? Que lhe importavam asterras? Era preciso suar as estopinhas para tirardelas uns alqueires de pão. O pai que as tratasse, se

quisesse. A grande cidade oferecia-lhe tantosatractivos que não precisava de mais nada. A vidaera para ser gozada! Ainda escrevera umas cartasaos pais e à Maria mas foram escasseando cada vezmais, até que já nem se lembrava de escrever.O namoro com a Maria eram águas passadas. Jánão sentia qualquer saudade, nem respondeu aalgumas cartas que ainda recebeu da rapariga.Atordoado pela vida da grande metrópole, já nempela ideia lhe passava o cantinho transmontanoonde tinha nascido. Nem quando teve “vacances”lhe apeteceu ir à terra! Assim lhe iam correndo osdias ...meses...uns anos...até que...Numa noite de Natal, o Manuel, depois de terpassado uma parte da noite bebendo e gozandopor bares e cabarés, recolheu ao seu quarto aluga-do.Deitou-se meio vestido e, sem saber como, veio-lhe à lembrança a Ceia da Consoada, em casa dospais.Sim, nessa noite, lá na aldeia, juntavam-se as famí-lias e era uma a alegria. Na sua imaginação, via amãe, muito corada do lume, com uma toalha delinho atada à cintura, a fazer as bolas doces. Atélhe pareceu sentir no nariz o cheirinho a canela. Eo polvo com batatas que ele adorava? Ainda emimaginação, via o pai, ao canto da lareira, a batercom a tenaz de ferro no cepo de carvalho paraespevitar o lume.O seu subconsciente fez-lhe então esta pergunta:O que estarão a fazer a esta hora os dois velhos?

O Filho Pródigo ou um conto de

E

conto

Talvez cada um a seu canto, de lágrima no olho,a pensar nele e no seu regresso?E o Manuel, que se tinha por muito forte, sentiuque duas grossas lágrimas lhe corriam pelas facesmorenas e uma saudade enorme inundou-lhe opeito; saudade que até aí nunca tinha sentido.Sentou-se na cama. O remorso acordou-lhe aconsciência. Não! Não podia continuar assim.Aquele seria o último Natal que passaria sozinho.Sentia-se quase um criminoso.E o Manuel voltou. Pediu “vacances” paraDezembro, para sentir de novo a doçura do Natal,no aconchego do lar, ao lado da mãe, que, talcomo ele sonhara, andava atarefada, de toalha delinho à cintura, a fazer as bolas e do pai que se

sentia rejuvenescer ao ver junto de si aquele filhopródigo, como o do Evangelho.E, numa linda manhã, os sinos da torre da igreja,tocaram alegres para o casamento do Manuel e daMaria, que, apesar de tudo, nunca o esquecera econfiava no seu regresso.

Natal

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d e p i n h oeduardo d e p i n h oBrotam vivências, reinventa

impressões. Impregna-as de beleza

e de vida e depois deixa-as soltas

e livres para serem apreendidas e

reapreendidas por todos nós

Em novelos de espuma corporiza

vultos históricos. Traça Camões

e Pessoa, imprime páginas do

Canto supremo de navegadores

Rasga luminosidades e brilhos,

gera identidade no universo da

sua pintura.

A harmonia espacial, conjuga-se

com a mestria

Mafalda Oleiro

ça de Queirós, cronista de costumes, deinstituições, de sociedade, exprime esta eoutras realidades em romance que é obra

prima das lusitanasletras e das lusitanaspaixões. Percurso porquatro gerações deuma rara qualidadeliterária, cantandoamor proibido.Romance de fôlegoque nos mergulha natorrente dos senti-mentos incendiários edevastadores expres-sa em dois destinosopostos que acabampor se cruzar na errân-cia de duas vidas adul-tas.Em Os Mais, Lisboaserá focalizada mos-trando-nos, com niti-

dez, as preocupações das famílias de brasões caí-dos, os divertimentos, as intrigas, as ambições,os desabafos, os escândalos, os locais públicos deencontros e troca de ideias, as feridas secretaspor onde pode passar o regresso de uma certa econhecida Pandora; mulher de múltiplos segre-dos sobre origem e percurso de vida de gente depergaminho caída na lama.À entrada do último quartel do século XIX, háum enorme desencanto pela vida política, tem-pos não diferentes dos de hoje. Sente-seaproximar, a passos largos, a agonia do regimemonárquico. Conspira-se, abrem-se debates, fo-mentam-se conferências para responsabilizar asforças culpadas pela crise. Socialmente, a nobre-

za e o rei tinham-se esgotado e, na opinião dosmais radicais, com voz sonora no romance, aPátria só se reencontraria com a sua grandeza sehouvesse coragem para meter os responsáveisnum barco e corrê-los pela barra do Tejo fora.Portugal era um país exangue e para que pudes-se regenerar-se, eventualmente, teria de serhumilhado num confronto bélico.As rivalidades entre Portugal e Espanha exis-tiam, mas era grande o número dos que tinhamvisto, na Restauração de 1640, um aconteci-mento funesto para a União Ibérica.O Café Central, o Café Martinho sob as arca-das da Praça do Comércio, o Grémio Literário,ou seja, o clube da telenovela Lusitana Paixão, oCafé Havaneza, espaços públicos como o Rossioe o Aterro, pululavam de indivíduos activos nofomentar de ideias subversivas.O romance Os Mais dá-nos um painel gigantes-co deste mundo tão sabiamente arquitectado.Quando um grande burguês ou aristocrata, composses, queria ser conhecido na capital, investianuma residência de luxo, mobilava-a com tape-çarias raras e de renome; equipava-a com biblio-teca onde predominassem autores franceses; salade jogos com bilhar e jogo de cartas; salão comuma ou várias pinturas de autores famosos; sofásconfortáveis parareceber os hós-pedes, como se dizhoje, do Jet Set;sala de armas;espaço do cultivodo físico e da mus-culatura; um jar-dim onde corres-sem águas vivas...O Ramalhete, pro-

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crónica

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Os Maias, espelho de um tempo

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Miguel Passarinho

priedade de Afonso da Maia, revelagostos e hábitos ao alcance de pou-cos. Devia ser mais um pólo deapego à cultura, numa cidade caren-te. Espaço aberto às almas insatisfei-tas, enamoradas de ideias republica-nas. O Ramalhete, sendo residênciaprivada, não deixa de ter o que podeencontrar-se no clube, o GrémioLiterário. No tecido urbano que deflui doromance, a Rua de S. Francisco e o Grémio ocu-pam um lugar de proa.Eça dá a conhecer o Grémio, como ninguém.Numa obra trazê-lo para a tessitura discursivaquatro dezenas de vezes é de facto muito.Os Mais foram escritos na década de oitenta doséculo XIX e publicados em 1888. E se o nossoconhecimento com o Clube fosse feito só pelavia do romance, a imagem estaria desfocada,por falta de informações sobre o espírito quepresidiu ao seu aparecimento. Contudo, reco-nhecemos que, em Os Mais, há uma série deíndices concordantes com o que encontrámosnos relatórios de contas – base essencial de umestudo de âmbito universitário: O Grémio, nasvésperas do Ultimatum Inglês, objecto de pales-tra na Livraria Camões, promovido pela Círculode Leitores, em Genebra. Grande número decitações diz respeito à atmosfera mal sã aí vivi-da. São os abutres que da vida alheia se alimen-tam que dominam o espaço urbano a partir deum centro de intoxicação e de novidades dealcova, não único. Em torno dos bilhares, duasvezes citados, ou sentados nos confortáveissofás, os frequentadores e amigos têm tempopara cortar em vida alheia. O afastamento demuitos sócios do Clube, na década de oitentado século XIX, não será estranho ao que Eça dá

a conhecer. Infringia-se os estatutos, quebrava-se o leme no rumo inicial que se traçara, qua-renta anos antes, aquando do seu nascimento.Se o subsolo histórico deste tipo de agremiaçãopassava pelo prestígio esclarecido do são conví-vio e paralelamente pela valorização da episto-lografia, o Grémio tinha espaços privados econfortáveis onde esta actividade era desenvol-vida. Numa só citação de Os Mais, o Grémio élocal donde partem mensagens de amor. Se acapa ou o invólucro literário e científico da ins-tituição não são perceptíveis, pelos menos opoeta deixa laivos indeléveis.Com o tempo, estes passatempos, não contem-plados ou excluídos estatutariamente, fazemperder-lhe a inocência inicial. Num só capítulo,o XV, Eça dedica-lhe cinco páginas. O Condede Gouvarinho, é na Rua de S. Francisco, sededo Grémio, que ultima a subida ao poder comoMinistro da Marinha e do Ultramar. No seiodele, na reserva ou no activo, encontra-se umalfobre de servidores do Poder e do Regime.Há duas citações onde o sócio é tocado de sos-laio, visto em grupo; nas corridas de cavalos emBelém e no Teatro da Trindade, quando dosarau, em benefício das vítimas das inundações.No Grémio, em primeira mão, o sócio tinhaacesso ao serviço noticioso que lhe era dadopelo telégrafo, antes que essas informações cor-

Lisboa Querosiana – Rossio

que se eterniza

ressem nos jornais diários; um botequim ondebeber um grogue dá um pouco mais de calor àexistência e, eventualmente, à conversa, umconhaque que permite afogar mágoas e passarem retrospectiva momentos de sonho e de gran-de paixão; presença do elemento feminino,sempre bem–vinda, como ramo enorme deflores em salão; o local de encontro com oamigo de quem se haviam perdido os traços, nosúltimos dias ou nas últimas semanas; o cantomais próximo de uma amada a viver nas proxi-midades, ou então, onde, em tranquilidade, seescrevem bilhetes pessoais a enviar para moradaconveniente. Um espaço urbano enorme, denoite, excepcionalmente iluminado.Ociosos, como Dâmaso, passam ali momentospreciosos, na coscuvilhice. Um outro aspecto,estranho à pena de Eça, ainda sem acuidade

quando da feitura do romance,é o que dissimula o Grémio –casa de jogo, eventualmente,com apostas clandestinas.Realidade, aliás, já bem pre-sente noutros locais doromance.A temática de Os Mais cola àvida mundana da actualidade:amor, paixão, extravagância,ociosidade, luto... Um pai quese suicida na sequência de umapaixão e viúva que desaparecelevando consigo os filhos. Nasolidão da vida um patriarcaviajado e generoso tocado infi-nitamente pela tristeza e pelador moral e com uma missãonobre: educar o neto, como

não educou o filho. À volta jovens estudantesque estroinam e bebem; casais em final de cor-rida, sem qualidade e sem redenção; persona-gens de passado obscuro e nebuloso; netos toca-dos por amor incendiário e proibido.A sombra do passado lançada na torrente de umséculo pleno de conflitos e transformações revi-ve, hoje, em telenovela que descortina o dia-a-dia de homens e mulheres superficiais, ociosose inertes, com alguns projectos mas sem forçaanímica para os concretizar. Homens e mulhe-res perdidos em conversas vãs, corridas, encon-tros amorosos, bailes, festas, manigâncias e emjogadas baixas de bastidores.Os Maias é um esplêndido romance que nosabre, em grande, as portas da História viva queo tempo teima em manter abertas.

Os Maias, espelho de um tempoque se eterniza

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Lisboa

Manuel Bernardo

s trágicos acontecimentos registados nasúltimas semanas, com o envenenamentopor radiação do antigo agente secreto

russo, Alexandre Litvinenko – que vivia exiladono Reino Unido – e sua posterior morte, reme-tem-nos para a casa de todos os medos: umlugar de trevas e ranger de dentes, onde os cabe-los só não ficam eriçados porque lhes faltatempo para isso – desaparecem, pura e simples-mente, como aconteceu àquele opositor deVladimir Putine! O assunto não é para brinca-deiras. Porque da manipulação de materiaisradioactivos podem surgir tragédias à escalamundial: basta lembrarmo-nos de Hiroxima,Nagasaki, Tchernobyl... para ficarmos com umanítida ideia do perigo nuclear. E mesmo que amão invisível de Moscovo não seja responsávelpela morte do ex-futuro cidadão britânico –Litvinenko preparava-se para receber, em breve,o passaporte com a cidadania conferida por SuaMagestade a Rainha Isabel II, – não podemosignorar a gravidade de uma hipotética prolifera-ção de substâncias radioactivas, sobretudo apóso desmembramento da antiga URSS. Exemplodisso é o estado de degradação, e todos os riscosdaí resultantes, da frota de submarinosnucleares que a Rússia herdou do seu ex-impé-rio. Um império de triste memória, repleto deGulags, onde a vida de um ser humano nãovalia um miserável rublo!Mas esta Terra que nos deram para viver éigualmente vítima de uma campanha de des-truição não menos violenta que a da prolifera-

ção nuclear. Estarão certos os ecologistas, aodizerem que a invasão da agricultura mundialpelos produtos transgenéticos americanos podesignificar o fim da espécie humana? Como leigoque sou em assuntos da Ciência, ou porquetenho um espírito santo d'orelha para captar osventos que sopram da América do Sr. Bush,prefiro escutar as verdes vozes da ecologia e seuamor por uma natureza saudável, limpa erenovável. Por isso, como e bebo bio. Se puder,porque o querer e o poder nem sempre andamde mãos dadas: a carteira divide-os. É, pois,com promessas de maioresrendimentos nas culturascerealíferas e afins, a elimi-nação de todo o tipo depragas nos pomares, vinhas,e prados, além das hormo-nas milagreiras para porcos,vacas, cabritos e respectivosfamiliares de quatro patasque os sobrinhos do TioSam nos acenam. Deus nosproteja de OGMs e Cristo,profeta do seu tempo, ilumineos pobres lavradores paranão caírem na tentação dodinheiro fácil!De moléstias anda omundo cheio, e quantomais se avança em tecnolo-gias, menos tempo sobeja para nos ocuparmosda sociedade. Nos vertiginosos tempos que

Observatório deGenebra

Um Mundo Contaminado

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empurram o ser humano para o desconhecido –vítima de uma desmesurada ânsia pelo domíniode todas as forças que o rodeiam – sem mesmoter tempo para reflectir sobre a felicidade a quetem direito, o homem dirige-se a passos largospara a sua própria destruição. E nesse incons-ciente caminhar, perdidos norte e sul, acaba porencontrar-se perante um abismo de dúvidas acortarem-lhe a viagem... Quer voltar para trás,mas não encontra forças suficientes. Então, sen-tado numa pedra adormecida à beira da Estradada Vida, espraia a vista e tenta adivinhar, perdi-da na distância que os separa, a terra donde par-tiu. E que vê? Milhões de outros seres seussemelhantes; alguns – como ele – numa frenéti-ca corrida rumo a uma meta que nunca encon-trarão. Outros, a maioria, a passo lento, porquejá partiram cansados.

E uns tantos, que nunca acreditaram em com-petições ou hierarquias sociais, teimosamente adesbravarem mato numa selva que impiedosa-mente lhes rouba o direito a sentirem-se em pazcom a Humanidade. Por fim, os ignorados:estendidos ao longo do caminho, mortos, feri-dos ou estropiados, todos aqueles cujo infortú-nio não comoveu a sociedade elitista que os viunascer, crescer e morrer sem nunca lhes ter dadoa mão.Apesar de desiludido com o actual rumo doMundo, ainda acredito no triunfo do bom-senso, por isso brindo ao Novo Ano de 2007que está à porta: Paz e amor para toda aHumanidade!

Um MundoContaminado

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HORA LUSITANA

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Veio para a Suíça há 40 anos. Houve uma razãoespecial para isso?A razão é que já tinha sido preso duas vezes, noanterior Regime. A primeira vez foi no trabalho,a segunda... já foi muito mais dura tanto do pontode vista físico como mental. No entanto tambémjá tinha vontade de sair de Portugal e, por coinci-dência, tinha uns amigos suíços que me propuse-ram vir: “vem para aqui que nós arranjamos-te tra-balho”!As reclusões, ou as prisões, deveram-se a ter feitouma vida de oposição política ao Regime?Não, não é verdade e isso até foi uma das razõesque me fizeram emigrar; é que já não havia esco-lha: ou me lançava na vida política, ou não. Tinhasim uma vida cultural activa, mas política não. Sónão podemos esquecer que, naquela época, aMarinha Grande era um meio muito vigiado doponto de vista político e nada se podia fazer alisem estar constantemente sob vigilância.

É claro que participei em programas culturais notempo da Ditadura mas só por razões culturais,no entanto, achavam que destabilizava a políticareinante por, casualmente, me encontrar emmeios onde a oposição ao Regime estar subjacen-te; mas, o facto, é que muitas vezes nem dava poressa coexistência.Chegado à Suíça, foi fácil entrar nos círculos cul-turais? O chamado “meio intelectual” abriu-lhe asportas?Isso levou muito tempo. Naquela altura haviaaqui poucos portugueses, mas existiam já uns grupos de suíços que desenvolviam actividadescontra a Ditadura portuguesa. Integrei essesgrupos sem que, por sua vez, eles, estivessemligados ao mundo literário. Como disse atrásisso viria mais tarde.Quantas obras tem publicadas?Assinadas tenho onze, sem contar com as tradu-ções.

“Cherchant une formule pour illustrer ce style, cettevoix, j’hésitais entre doux-amer et aigre-doux(l ’ironie mêlée à la douceur) mais aucun de cesvocables ne convient. Nulle amertume, nulle aigreurchez ce poète lucide.Et c’est là que sweet and sour m’est venu (pour untraducteur, pourquoi pas cette légère entorselangagière?).Le suave et l ’acide, juste quelques gouttes de citron,unzeste de piquant pour assaisonner la tendrehumanité de cette Théorie...” Claire Krähenbühl

Lucidez, Ironia, perspicácia, afabilidade e muita,muita humanidade são alguns dos traços quemarcam a personalidade deste homem que“revindique l’azur, rêve d’insoumission et tend sespièges à hirondelles”

Luiz–Manuel, nasceu na Marinha Grande, vive na Suíça desde 1962 na região de Lausanne.Escritor e poeta. A sua obra literária encontra-se escrita em português, grego, francês e russo.Paralelamente mantém a actividade de tradutor votada essencialmente a obras poéticas.

entrevista

Luiz-Manuel - escritor e poeta

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Escreve sempre ou a maior parte das vezes, emfrancês?Sim, dos onze livros, só há três em português eum bilingue.O público suíço lê e compra os seus livros? Recebecríticas indicadoras de tal?A maioria dos livros estão esgotados, o que signi-fica que foram adquiridos. Por outro lado hásempre “retours” do público.Também há amizades literárias; às vezes até falono “coup de foudre littéraire” que se vão concreti-zar em muitas interacções.Posso mostra-lhe vários testemunhos e é extraor-dinário, para mim, suscitar isso nos leitores. Olhepor exemplo esta leitora, Joëlle Sagolle, que é umaromancista, uma criadora, fez esta dedicatórianuma obra sua: “À Luiz-Manuel, toi, le poéte, quem’a inspirée ce livre – Merci”.

A Joëlle Sagolle começou a escrever recentemen-te e, de uma vez só, publicaram-lhe quatro obras.Creio que a minha obra, à qual se referia, é: Lapoussière et les fleuves, editado em 1986 e que, par-cialmente, já se encontra, traduzido em russo.Mas há outras interacções, nomeadamente comamigos gregos e nada fazia prever isso. Uma

amiga minha que me traduziu mas que simulta-neamente, só pela troca de impressões e análises,também traduziu e publicou em Atenas textos de30 poetas da Suíça Romanda.E a escolha desses poetas foi feita por quem?A escolha foi feita por mim e pela MousseBoulanger. Escolhemos os textos, os poetas... Eela não só traduziu como financiou a publicaçãocom os honorários da tradução.Aqui, na Suíça, não dá para se viver só da litera-tura, pois não?Que eu saiba ninguém vive só de literatura e olheque não é só aqui, em França também. O núme-ro de autores que podemos considerar de profis-sionais da escrita é muito limitado.O que quer dizer que o Luiz – Manuel teve outem uma ocupação profissional...Sim, tive várias profissões, tal como outros, unssão professores outros jornalistas...Este livro que vai, agora editar, Théorie du Pharecremos que é em prosa poética...É prosa poética, sim.Para escrevê-lo baseou-se em quê? Onde foi ins-pirar-se? Nos belos faróis da costa portuguesa?Bem, é uma invenção literária ligada à adolescên-cia. A fotografia da capa até é do farol de SãoPedro de Moel que está implantado no Penedo daSaudade. Tem uma introdução relacionada com ofarol. Isto porque durante a minha adolescência,quando terminava o trabalho às 5 horas, ia para abeira-mar que distava 7 ou 8 Km - São Pedro deMoel pertence à Marinha Grande – e ficava ali àbeira do farol, nos penedos, horas a ver o mar.Só na contemplação? Não escrevia?Naquela altura não escrevia; mas foi a partir des-sas recordações de adolescência que construi umaficção.É fácil transmitir as vivências, os sentimentos, asemoções de uma juventude em Portugal, “vividasem português”, digamos, a um público que as vailer e percepcioná-las em francês?

entrevista

Luiz-Manuel - escritor e poeta

De uma certa forma é engraçado, mas conve-nhamos que não é uma ficção realista. O contex-to, o tempo, espaço são-no; o desenvolvimento,digamos assim, é ficcionado; logo abre mais pos-sibilidades aos leitores da outra língua de intuí-rem melhor a mensagem.

“Ange du bizarre, ce narrateur? Pourquoi pas! Unpoème de Fractales et replis n’a-t-il por titre l’ange duchaos? On trouvait déjá dans ce recueil des textes auxalliages peu communs, étrangement chaotiques, où lathermodynamique et les turbulences des particulescôtoyaient l’abeille vespérale et la poule au port. Dansce chaudron-ci mijote à nouveau un drôle de mélan-ge: une philisophie un peu noire, une pointe de sauda-de, beaucoup de matière prosaïque, des élans lyriques,le tout épicé d’humour, d’ironie même, saupoudré detendresse, sentiment qu’affectionne particulièrementle gardien (et le narrateur qui a les pieds sur la falai-se at la tête dans l’azur). Claire Krähenbühl

Onde vai ser apresentado o “Théorie du phare”?A biblioteca intercultural Globlivre vai servir deespaço para esta apresentação. É interessante essabiblioteca porque tem um Centro de Línguas,bem representativo em livros e muitas activi-dades culturais.Não esqueçamos que mais de 50% da populaçãode Renens é estrangeira e, a nível das escolas, apercentagem aumenta, creio que para 60%.Isso contribui para que o Luiz-Manuel estejasempre implicado em acontecimentos literários,dinamizações culturais... nas associações... Estacomunidade portuguesa está sempre activa.Sim, pelo menos do meu lado, isso verifica-se, masnão só.Também estou implicado no associativismosuíço, sempre estive, portanto, não é só de agora;mas, ao mesmo tempo temos sempre a tendênciade escolher projectos que sejam interculturais; Nãosó em relação à Suíça mas a outras nacionalidades.Aqui há tempos tivemos acesso a um prospecto

que publicitava actividades multiculturais, entrevários países, e cremos que se intitulava...Ah…! “Les Passeurs de la Culture”!Quem são os “Passeurs de la Culture”?Bem, não fui eu que traduzi, mas creio que que-rem dizer: Passadores, eu diria que são uma Ponteentre as várias culturas. A Globlivres e a FAPS –com as quais colaboro – colaboram, por sua vez,também nesse projecto.Eles começaram com a comunidade Tamul,dando conferências e apresentando várias activi-dades, depois passaram à comunidade Albanesa eagora têm projectos para a comunidade Lusó-fona. Isso acarreta encontros vários e temas quevão desde a literatura, às tradições, filmologia,expressão artística, culinária, lançamento delivros... São projectos interculturais e, como tal,beneficiam de subsídios da Comissão Cultural deEstrangeiros, mas não só, como parte das activi-dades se realizam em Lausanne, têm subsídiosdessa Comuna.Com todas essas actividades, o seu dia-a-dia,actualmente, não se preenche só com a escrita, éisso?Eu já estou reformado desde o 1° dia do séculoXXI, mas continuo muito implicado em activi-dades da vida associativa tanto da suíça como daportuguesa. Neste momento sou tesoureiro e façoa contabilidade do Fórum das AssociaçõesSocioculturais de Renens e a contabilidade daassociação “Les Amis de Marguerite Burnat –

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Provins” ( Marguerite era uma escritora e pintorade origem belga, (nasceu em Arras a 26 de Junhode 1872), casou na Suíça – na região do Valais –foi depois para França – Grasse, no Midi – ondeviveu até 1952, ano da sua morte). Estou a tradu-zir alguns poemas de amor dela porque a associa-ção vai festejar 20 anos em 2008 e vamos fazeralgumas leituras da sua obra em quatro línguas:francês, português, italiano e grego.Na Federação das Associações Portuguesas naSuíça (FAPS) tenho uma actividade importante,

bem como naGloblivre comofrisei atrás.Faço a contabili-dade desta em-presa, vizinhado meu prédioe além dissotenho a activi-dade de tradu-tor.Como sabem atradução jurídi-ca é muito caraem português.Em 2001 leva-vam 100 fran-cos por página.Então a FAPS,

vendo isso, criou um serviço de tradução a preçosmais baixos.Actualmente, temos os preços que eram pratica-dos em 1966, em Lausanne.Vive só ou com família?Eu fui casado com uma valaisanne (já faleceu) dequem tenho um filho que vive aqui em Renens.Actualmente, vivo com uma companheira, tam-bém suíça.O seu modo de ser, de agir socialmente é maisportuguês ou helvético?

Se bem que me entrego de alma e coração nasactividades de e para a comunidade portuguesa,ajo, mentalmente à suíça.Estive 12 anos sem ir a Portugal. Só voltei lá em74. Cheguei aqui em 62 e nos anos sessenta,princípios de setenta, não havia muita gente afalar português. É evidente que mergulhei nasociedade suíça deliberadamente porque, quandosaí de Portugal, estava convicto de que nunca maisvoltava. Em 62 o Regime, a Ditadura, parecia depedra e cal, inamovível, daí a resolução: “nuncamais cá venho” e, para ganhar as raízes que perdia,lá em baixo, cimentei-as aqui.E o que sentiu quando chegou a Portugal em 74?Foi uma fonte de perturbação, levou-me muitotempo a que as coisas me entrassem e ficassem cla-ras, porque já não sabia de que lado era. Isso levoudois anos a decantar, agora já não se põe o proble-ma. É claro que pertenço a duas sociedades, duasculturas, duas línguas e dois países Quando reben-tou a Revolução dos Cravos, eu tinha pedido anacionalidade suíça o que me fez questionar: parocom isso, ou não?. É claro que não, o que me podiaacontecer de pior era que houvesse uma guerraentre Portugal e a Suíça. Ora, historicamente, nãoé provável. Portugal também é garante da neutra-lidade Suíça, pelo Tratado de Paris de 1815...Voltando aos livros. Vai continuar a escrever? Aarranjar tempo para a literatura?Eu, neste momento, estou a trabalhar em trêsmanuscritos: dois em francês e um em português.Eu estou sempre a escrever e ponho de lado, nagaveta, que no meu caso é uma mala (risos).Quando tenho tempo e vejo uma linha, umaideia, que reúne certos elementos, vou buscar ostextos já escritos e construo o livro.Esse, que tem aí – Fugato – levou-me 8 ou 9 anosa acabar. Não passava, estava a bloquear-me...imagine que a editora já me tinha dito que opublicava em 1999, porque já tinha lido três ouquatro páginas. O ano passado reforçou a proposta:

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entrevista

Luiz-Manuel - escritor e poeta

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- Se não é agora em 2006, depois já não lho publico,porque tenho programa até 2009. Aí, é que fui obri-gado, de facto, a acabá-lo!O que está a escrever em português, também sereporta a vivências de Portugal?Sim e não. Ainda pode, porque tem algo a vercom a vida sentimental portuguesa em relação aopassado, mas não está totalmente estruturado.Dos outros dois: um é mais abstracto, o outro tal-vez nunca tenha um editor.Porquê?Porque é algo especial. O tema é robótica, commáquinas, robôs, e um enredo pelo meio. Umaposição entre o robô e o humano com uma queda,um “chuto”, que vai dar a explicação desse trama.E digo que provavelmente nunca terá editorporque sabe que há muita coisa que fica sempublicação.Por exemplo, desde os anos sessenta, tenho 300páginas traduzidas do José gomes Ferreira quenunca consegui editar, em francês, apesar de as terproposto várias vezes, em França.Não sei se aqui se passa o mesmo, mas emPortugal, deixam grandes obras na lista de esperadas editoras e avançam com banalidades, literatu-ra de consumo imediato. Pensam, talvez, que opúblico se cansa de ler, de analisar... e aposta-se no“fast food” literário.Em França também, se bem que os franceses te-nham, de certo modo, perdido a ocasião de editar

essa literatura cor-de-rosa, digamos, mas há oscanadianos e os americanos que editam imensodessa literatura.A literatura também é uma moda, não acha?Sim, de facto. E foi sempre assim. Olhe, há 20 ou30 anos atrás, Delly (pseudónimo de FrédericPetitjean de la Rosière, 1876/1949) tinha deixadoos direitos de autor a uma sociedade francesa e 30anos depois ainda rendia 300.000 francos anuais.Delly, agora, já não é editado porque tem um teoranti-semita e anti-alemão, às vezes. Mas essascolecções cor-de-rosa, do Arlequim por exemplo,são mais modernas. Lembrei-me do Delly porqueno final do livro, o herói, dava, no máximo, umbeijo no cabelo à amada e hoje... !!!A tradução continua a tomar-lhe grande parte doseu tempo?Sempre que possível traduzo em francês ou emportuguês. Apresentei 25 poetas da SuíçaRomanda, em português, num Semanário. Sabeque durante anos recusava ler poesia e há dez anosatrás comecei. Tenho lido e apresentado muitospoetas portugueses.Mas isso é um excelente achado para os autores.Terem a oportunidade de a sua obra ser apresen-tada por quem conhece e vivencía as duas cultu-ras, fala as duas línguas... os termos e as ideiasfluem espontaneamente...O que eu tenho pena é não ter tido encontrado,aqui, um suporte mediático, que permitisse fazer

o mesmo que eu fiz aos suíços. É raríssimo, sóduas ou três vezes tive ocasião de colocar umastraduções... uns textos... Era um projecto quetinha mas nunca consegui concretizá-lo.Como tradutor de poesia sempre trabalhei gratui-tamente. E da única vez que fui pago, reinvestiesse dinheiro na edição propriamente dita, dolivro.Como sabe, tanto os portugueses como os suíços,dão subsídios para a tradução, mas não para a edi-ção. E isso impede, muitas vezes, de ir mais longe.Casos como o da minha tradutora de grego, quejá traduziu uma centena de páginas de 30 autorese recebeu um subsídio, mas depois pôs a totalida-de desse dinheiro na edição.Mas, por que razão só subsidiam a tradução?Porque, dizem: se há uma proposta de tradução éporque há um mercado para a edição. Ora é umerro total do ponto de vista do marketing. Estácompletamente errada essa visão.Porque os tradutores são os tais “Passeurs” da cul-tura, mas a edição é uma outra coisa. Veja-se, numpaís como Portugal pouca coisa tem de autoressuíços e aqui, na Suíça, de autores portugueses eespanhóis não há quase nada publicado.O tradutor, neste caso o Luiz-Manuel, quandotraduz uma obra, o livro também faz parte de si,ou o tradutor é um fingidor e segue o que estáexpresso no texto original?(risos) Isso é o problema de sempre dos tradu-tores. Por mim, ao abordar um livro para traduzir,defino objectivos: chegar ao texto, na língua pre-tendida (de chegada), que apareça ao leitor des-prevenido, como texto escrito na língua que elefala, na que ele está a ler.Há outros objectivos, cada um com seus argu-mentos, mas eu baseio-me nesse. O que significaque quando se traduz poesia, há sempre uma“espécie de guerra” entre o autor e o tradutor.O tradutor não se pode substituir ao autor mas,

muitas vezes, é obrigado a “traí-lo” para o melhorservir na língua em que vai ser lido, naquele país.A pior coisa que pode acontecer a um tradutor éter um autor que sabe umas coisas da língua alvo.Aí vão-se criar conflitos.Isso acontece-me nos dois sentidos. Quando tra-duzo em francês ou quando o faço em português.E acontece-me também traduzir-me a mim pró-prio, com os meus livros bilingues.Aí eu direi que não foram traduzidos, foram rees-critos noutra língua.Esse livro, “La poussière et les fleuves”, por exemplo,tinha 90% de textos originais em francês e 10% deoriginais, em português; foi reescrito, mas aí, evi-dentemente, estou muito mais à vontade com oescritor (risos).Então traduzir não é um acto inóquo?Claro que traduzir não é um acto anódino, neminóquo ou neutro. O tradutor tem que se implicar– o que, em meu entender, não é consensual paratodos – no texto que vai apresentar naquela lín-gua. Há pessoas que apresentam a tradução dapoesia em prosa devido às dificuldades que sen-tem com as rimas, com as métricas específicas

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entrevista

Luiz-Manuel - escritor e poeta

Apresentação, na Globlivre, do livro Théorie du phare

O tradutor está sempre como: “entre Le clown etMargot”; muito atento a não tomar demasiadasliberdades com o texto original; não pode substi-tuir-se inteiramente ao autor.

Letra a letra / Sílaba a sílabaHei-de navegar contra a corrente / Das palavras /Até achar-lhes a nascente

in Fugato, Luiz-Manuel

Cronologia literária sumária1970 – Tradução do português, em colaboraçãocom Anne Perrier mais prefácio: Lusiade Exile,poemas de Manuel Alegre, Ed. P. Seghers,Paris.1979 – Poesia em francês: L’Oracle des Tenebres,seguido de Lycantrhopies.1981 – Tradução do português (Brasil): BrancaDias ou La Sainte Enquete.1984 – Poesia em francês: L’Eté Du Monde.1986 – Poesia em francês: La Pussiere et LesFleuves.1989 – Poesia em português: O Pérfido Martelo daMemória.1990/1997 – Traduções em português a partir do

francês e do italiano: fichas bibliográ-ficas sucintas sobre 25 poetas da SuíçaRomanda e do Ticino.1995 – Poesia bilingue (francês-por-tuguês): Fractales & Replis / Recuos& Fractais.1998 – Tradução do português:Silabário, livro bilingue.2001 – Poesia em português: Maquinais.2001 – Poesia traduzida em russo: Poemas esco-lhidos (publicação em Moscovo)2003 – Poesia em francês a três vozes e traduçãoem português: Fugato (versão trilingue: francês,italiano e português) em colaboração com ClaireKrähenbühl e Denise Mützenberg. Versão italia-na das poetisas do Ticino, Solvejg AlbeverioManzoni, Ketty Fusco e Carla Ragni. Livro tra-duzido em grego por Victoria Theodorou e IreneSpanoudakis.2003 – Poesia bilingue francês – português: Ici,L’Ailleurs, caderno n°44 do CTL (Centro de tra-dução Literária da Universidade de Lausanne).2004 – Poesia bilingue (français-italien): oitopoemas traduzidos do francês por Carla Ragni,na revista milanesa Il Monte Analogo, n°2,Novembro de 2004.2005 – Poesia traduzida em grego: Fugato, tradu-ção de Victoria Theodorou e Irene Spanoudaki.2006 – Prosa poética: Théorie du phare, Ed.Samizdat, Genève.

Luz Neto e António Pinheiro

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Alto Comissariado das Nações Unidas paraos Refugiados organizou um encontro, nasua sede, em Genebra, com representantes

da comunidade portuguesa a fim de dar a conhe-cer os objectivos e planos de acção desta Orga-nização Internacional.

António Guterres, Alto Comissário da ACNURassim o referiu: “O ACNUR é uma Agência dasNações Unidas onde trabalham cerca de 6.000pessoas, em 120 países. e temos sob o nossomandato directo o apoio, a assistência, a umnúmero que se cifra em oito milhões e meio derefugiados; mas não apenas refugiados, tambémpessoas internamente deslocadas, cuja assistên-cia, cuja protecção, cujo regresso – quando esseregresso é possível –, procuramos dar todo nossoapoio.Deslocados internos são, neste momento, 25milhões no mundo. Estão também sob o nosso

mandato pessoas sem pátria, os apátridas.Quando os impérios se desagregam, comoaconteceu com a União Soviética, ficam sempreuns milhões de pessoas que não pertencem anenhuma das repúblicas que daí resultaram; eficam sem nacionalidade. É o caso dos etnica-mente russos na Letónia, na Estónia, é o casodas populações que ficaram fora das repúblicasde onde eram originárias e não reconhecidasnem por uma nem por outra – um pouco portoda a parte acontece isso, também na antigaJugoslávia. E essas situações, extremamentedifíceis, são de pessoas que não têm existêncialegal, e exigem uma protecção, antes de resolvero problema, para garantir que ele seja resolvido.E, finalmente, temos ainda uma acção directacom aqueles que, tendo sido refugiados, regres-sam aos países de origem e têm enormes dificul-dades de integração e precisam de ajuda paraque essa integração se possa realizar.Naturalmente não somos capazes de cobrirtodos aqueles que estão em qualquer destas qua-tro categorias; mas a nossa acção, neste momen-to, orienta-se em termos que nos permite darassistência a 20 milhões de pessoas em todo omundo. São pessoas a quem nós, directa ouindirectamente, prestamos apoio; e em termosdo aspecto central do nosso mandato, os refu-giados, ocupam a posição mais relevante (...).Neste momento, gostaria de vos indicar as qua-tro principais questões que se colocam à nossaOrganização: a primeira tem a ver com a difi-culdade em preservar o asilo no mundo em quea intolerância cresce – tiveram recentemente umreferendo na Suíça acerca dos problemas deimigração. Verificaram a maioria extremamenterelevante, que se manifestou nesse referendo;

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evento

O

ACNURAlto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados

António Guterres - Alto Comissário

quando olhamos um pouco para o que se passaem França, na Inglaterra, na Holanda, naDinamarca e em vários países europeus verifica-mos que cada vez é mais difícil o relacionamen-to das pessoas da comunidade nacional com osestrangeiros que entretanto vieram, para essesmesmos países. E é um problema que tem duasfacetas: tanto tem a ver com o acolhimento, arecepção, a solidariedade por parte da comuni-dade nacional de que estamos a falar, como tam-bém tem a ver com as atitudes daqueles que sedeslocaram para esses países.Temos dados que chegam de Lampedusa, dasCanárias... nós vemos muita gente que: ouporque são refugiados, ou porque são mulheresvítimas de tráfico, ou porque são crianças nãoacompanhadas, têm necessidade de protecção –para além de muitos outros emigrantes – que nãoestando cobertos pelas provisões de protecçãodefinidas pelas Leis de Protecção Internacional,têm, no entanto, os seus direitos, a sua vida e asua dignidade que devem ser respeitados.Ora bem. Este é um desafio muito grave paranós e que nos obriga a uma acção pedagógicamuito intensa, envolvendo os Governos, a socie-dade civil, os meios de comunicação social, emdefesa do princípio da tolerância.Todas as sociedades tendem a ser multiétnicas,multiculturais, multireligiosas e, ou as pessoasaprendem a viver umas com as outras, a respei-tarem-se umas às outras, ou as sociedades nãotêm outra hipótese de se desenvolverem nor-malmente. É a sua coesão social que é posta em

causa, é a paz no mundo que é posta em causa.Nas diversas situações, naturalmente, as primei-ras vítimas de tudo isso são aqueles que, comorefugiados, encontram as maiores dificuldadesem ter acesso à protecção a que têm direito.O segundo desafio muito importante que nóstemos é o das pessoas internamente deslocadas.Se alguém que é perseguido politicamente, sealguém que vive num país que está em guerracivil, atravessa a fronteira e pede asilo, essa pes-soa tem uma Lei Internacional que a protege –a Convenção de. 1951 que é ratificada pelaesmagadora maioria dos Estados –. Tem, alémdisso, uma Organização Internacional, oACNUR, que é suposto exercer a sua actividadeno sentido de garantir que essa protecção sejadada, que a assistência de que necessita possa serprovida e que uma solução para a sua vida possaser encontrada. Mas se a pessoa não atravessa afronteira, se a pessoa foge do Norte do país parao Sul, não tem Lei Internacional que a proteja.Está sujeita à protecção do próprio Estado emuitas vezes o Estado e o Governo desseEstado não é a parte da solução, é a parte doproblema (todos têm visto o que se passa noDarfur. Aquelas pessoas que ali estão, naquelescampos de deslocados internamente estão per-manentemente atacadas pelos rebeldes e, muitavezes, pelo próprio exército sudanês, em cir-cunstâncias que nem sempre são perfeitamenteclaras. Há uma certa dificuldade em saber, exac-tamente, o que se passa e tudo isso cria umenorme problema à Comunidade Internacional

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O Alto Comissário António Guterres com as crianças deslocadas no campo de Riyad-Darfur (Sudão)

e em particular às Agências Internacionais parapoderem exercer a sua acção e um grande desa-fio para nós: como acudir a essa gente? (...)Um exemplo recente – Timor Leste – em que,como viram, muita gente teve que fugir, muitagente teve que ficar abrigada de uma forma per-feitamente precária; mas não são refugiados, nãoatravessaram a fronteira, não têm direito a for-mas de protecção especiais e portanto têm queser – em bom diálogo com o Poder Local –apoiadas pela Comunidade Internacional.Um terceiro desafio, para nós muito importante– como país de emigração que somos, estacomunidade, na Suíça, compreenderá a impor-tância deste desafio, pelo facto de haver cada vezmais relação entre o asilo e a emigração – cadavez mais, ser necessário defender os DireitosHumanos: o direito à vida, o direito ao respeitopela sua dignidade... mas simultaneamente,dentro deste fluxo de população, garantir que aspessoas que têm necessidade de protecção averem, efectivamente, consagrada.Portugal teve, aliás, ocasião, recentemente, deprestar o seu apoio a movimentos da Comu-nidade Internacional aceitando a reinstalação deum grupo de cidadãos, quer da Costa doMarfim, quer de países africanos que, nasequência dos incidentes deSoutella e Melila ficaram emMarrocos, que eram refugia-dos, ou foram reconhecidoscom tal, quer um grupo deeritreus a quem foi possívelresolver o seu problema,encontrando-lhes lugar emvários países europeus entreos quais Portugal – o regressoà Eritreia seria para eles umrisco enorme.

E penso que nós, que estamos a transformar-nos num país de imigração, temos um conjuntode responsabilidades em garantir que essa imi-gração seja feita nas mesmas condições dedignidade que nós desejaríamos que pudessemter tido muitos dos nossos emigrantes, que tive-ram que sair clandestinamente, em circunstân-cias dramáticas, nos anos sessenta.Pois bem, hoje, temos obrigação de procurarevitar esse drama àqueles que procuramPortugal, dentro das possibilidades de acolhi-mento do país (…).E um dos desafios que se põe ao ACNUR é aju-dar os Estados a encontrar as ferramentas, osmecanismos que permitam garantir que essasacções se resolvam.Depois outro desafio. De Outubro a Outubroum milhão e cem mil pessoas regressou a casa,antigos refugiados regressaram (mais de 10% dapopulação mundial refugiada – isto é um êxodoextraordinário). O desafio e o problema é saberem que condições elas regressam. Nós procura-mos tudo fazer para que regressem em dignida-de, mas o pior ainda é saber o que vai acontecerno dia a seguir.Quando as pessoas regressam ao Sul do Sudão,onde havia 14 Km de estrada alcatroada numa

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evento

ACNURAlto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados

António Guterres e Dr. Hans Lunshof, delegado da UNHCR para a Suíça e Liechtenstein

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área que é maior que Portugal,a Espanha e a França juntos;quando as pessoas regressam àLibéria onde o orçamento anualé de 80 milhões de dólares, ondeum professor ganha 20 dólarespor mês, onde há menos de 40 médicos (nestemomento); quando as pessoas regressam aoAfeganistão onde até a própria segurança estágravemente posta em causa... Como é possívelapoiá-las? Como garantir que o seu futuro este-ja assegurado?E há uma coisa que a Comunidade Internacionalnão sabe fazer. A Comunidade Internacional sabeprestar ajuda de emergência em situações de catás-trofe, sabe, ou pensa que sabe, dar apoio ao desen-volvimento em condições de estabilidade, mas, natransição, entre uma coisa e outra, não sabe bem asacções necessárias a tomar, cujo impacto imediatoseria indispensável... chegam tarde de mais. Háinúmeras regras, inúmeras condições que têm queser preenchidas para que um Estado, finalmente,receba apoio e, por vezes, há problemas de corrup-ção, de mau Governo em relação aos Estados inci-pientes, onde as dificuldades se acentuam aindamais. E aqueles que regressam nestas condiçõestêm enormes dificuldades no seu futuro.E é em relação a todas estas áreas que nós pro-curamos, dar apoio.Neste momento temos várias em cima da mesa.Posso dar-lhes 3 ou 4 exemplos – assistiram pelatelevisão, seguramente a recentes ataques noTchad. O Tchad é o país ao lado de Darfur. Asituação no Darfur extravasou para o Tchad emais de 200 aldeias foram atacadas por rebeldesque causaram a deslocação, dentro do Tchad, demais de 50.000 pessoas.Essas pessoas precisam de ser protegidas, reque-rem a nossa assistência.

Hoje há cerca de 3.000 iraquianos que, por dia,saem do Iraque para os países à volta e muitosdeles, naturalmente, ao fim de algum tempo,não têm recursos. Têm que ser apoiados.Tivemos no Quénia no campo de Dadaab – ondecerca de 50.000 somalis estão refugiados – inun-dações que atingiram de forma trágica dezenasde milhares de pessoas (...) Mas além destas situações de emergência a queprocuramos acorrer, naturalmente que estasquestões de fundo: como atacar as questões dosdeslocados internos? Como garantir a protecçãoa estes fluxos mistos de emigração? Como asse-gurar que o retorno tenha futuro e não seja ape-nas uma etapa transitória para um novo deslo-camento? Para uma nova fuga por falta demínimos de condições de vida?, são desafiospermanentes, muito complexos, para nós.Nisto, nós temos a solidariedade dos Estados...um orçamento, cerca de cem milhões de dólarese contribuições importantes de muitos paísesque são inteiramente solidários, que fazem ogrosso do nosso apoio. Mas há também umacrescente solidariedade do sector privado e dasempresas .Em Portugal tivemos alguns actos muito inte-ressantes no último ano. Tivemos uma contri-buição relevante da Fundação Gulbenkian, paraTimor; tivemos do Rally Lisboa – Dakar umacontribuição significativa e tivemos recente-mente uma campanha do cartão de crédito doMillennium – BCP, que foi muito relevantepara apoio à nossa actividade.

Sede da ACNUR/UNHUCR em Genebra

Mas além das empresas, há cada vez maiscidadãos que, digamos, nos apoiam, nos ajudamnas mais diversas actividades.A título de exemplo, nós temos dois projectosque quisemos mostrar hoje.Um projecto que tem a ver com o ensino deportuguês aos que estão a regressar para Angola,depois de se terem refugiado na Zâmbia e naRepública Democrática do Congo. Criançasque não sabem falar português, porque estive-ram em países onde não se falava e agora regres-sam e é preciso integrá-las.O segundo tem a ver com a integração das famí-lias, na economia, através da agricultura e éessencial manter as condições para que possamdesenvolver os seus produtos semeando, desdelogo, e em primeiro lugar, e depois terem a pos-sibilidade, com esses mesmos produtos, da suaplena integração na sociedade (...).Outra área onde temos estado a actuar, como jádisse, é Timor Leste e porventura a maior opera-ção que fizemos em países de Língua Portuguesa.foi realizada, há alguns anos, no apoio ao regres-so dos retornados de Moçambique. Um milhãode refugiados regressou a Moçambique em pou-cos meses, logo que a guerra civil terminou e osAcordos de Paz foram assinados (...).Esta é uma panorâmica muito rápida da activi-dade do ACNUR.São funções extremamente entusiasmantes vistoque nós sentimos que tudo o que fazemos cada diapode ter alguma utilidade directa e pode traduzir-se num benefício concreto para pessoas que, comonós, têm direitos que devem ser respeitados (...).”O Alto Comisssário, António Guterres, respon-deu a estas questões da PESSOASP – Há quem ponha certas reticências, que sequestione mesmo, sobre os donativos para ascausas internacionais. Acham que se despende

demasiado com a pesada burocracia ao invés dacausa, propriamente dita. Há razão para se pen-sar assim? Se há, que medidas pensam tomarpara aligeirar essas burocracias?R – Há diferenças de Organizações paraOrganizações. As despesas administrativasassociadas ao nosso trabalho são sempre de 10%da nossa actividade, mesmo assim é de mais.Nós estamos, neste momento, a fazer um esfor-ço de reforma interna e, por exemplo, de 2006para 2007, vão ser cancelados cerca de 600 pos-tos de trabalho, em todo o mundo e particular-mente aqui em Genève, no sentido de garantirde que cada vez mais o volume dos recursospostos à nossa disposição se traduza, directa-mente, em apoio aos interessados.E, além disso, temos de prestar contas. No casode uma Organização como a nossa, há um aper-to muito grande, quer dos auditores do sistemadas Nações Unidas, quer dos países doadorescomo os Estados Unidos que nos dá 330milhões de dólares por ano, ou a Suécia que nosdá 30 milhões... isto para dar uma ideia. Comoé óbvio todos querem saber como o dinheiro éaplicado. Há uma vigilância muito cerrada em

evento

ACNURAlto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados

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Chegada de imigrantes a Lampedusa

relação às nossas actividades o que nos obrigatambém a garantir uma máxima eficácia.P – Como português, sente-se mais implicado erealizado no trabalho de coordenação e apoioaos PALOP?R – Estou satisfeito a fazer este trabalho. Eramesmo isto que eu queria fazer, não queria fazeroutra coisa.

P – Está confiante que os portugueses ePortugal apoiem estes projectos?R – Estou. E Portugal está a aumentar muito oseu apoio com a aceitação de refugiados e atéajudando outros países neste domínio.Ainda agora estivemos em Lisboa a inaugurarum Centro para refugiados, excelente.

Luz Neto e Antonio Pinheiro

Contacto:UNHCR – Serviço de Ligação da Suíça e doLiechtenstein94, rue de Montbrillant • CH – 1202 GenèveTel. + 41 (0) 22 739 76 65E-mail: [email protected]

Orçamento Ensino da Língua PortuguesaCusto total: 55.000 CHFCada donativo de 25 CHF permite a umacriança retornada aprender a Língua portuguesaCada donativo de 1.000 CHF permite a umaturma de crianças retornadas aprender a línguaportuguesa.

Orçamento de Projecto AgriculturaCusto total: 75.000 CHFCada donativo de 150 CHF permite a umafamília de retornados beneficiar deste projectoCada donativo de 15.000 CHF permite a 100famílias de retornados beneficiar deste projecto(10 ha de multiplicação de sementes).

Caso pretenda apoiar este projecto doACNUR/UNHCR, poderá efectuar o seudonativo através de transferência bancária, indi-cando os seguintes dados:

Nome do Beneficiário: UNHCRFinalidade do Pagamento:Angola: ensino da língua portuguesa a criançasretornadas.Angola: projecto de agricultura para retornados

Banco e conta do Beneficiário: United Bank ofSwitzerland (UBS AG)P.O. Box, 8098 Zürich - Switzerland

Código Swift: UBSWCHZH80AMoeda: IBANCHF IBAN CH20 0024 0240 D710 0000 0USD IBAN CH20 0024 0240 D710 0000 5EUR IBAN CH20 0024 0240 FP10 2674 2

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Não se vive só de esperanças é preciso e urgente concretizá-las!

orge era natural do Algarve. Até aos 15anos de idade viveu na sua terra natal, aju-dando o pai, pescador, até este se convencer

de que Jorge não queria outra profissão. Na escolanão passou da 2ª classe, não conseguindo, emadulto, ler qualquer frase por mais simples. Porvolta daquela idade veio para Lisboa, para casa deum tio, igualmente pescador, que percorria o Tejonum pequeno barco a remos, pescando o que o riodava.Após ter cumprido o serviço militar na Calçada daAjuda casou e saiu de casa do tio, passando entãoa pescar, por conta própria, numa chata.Em dias de marés vivas, de água barrenta, apa-nhava camarão utilizando um pequeno arrastãoque puxava lentamente, contra a corrente; entre-tinha-se também a colocar galrichos, em zonas doTejo, onde sabia existiram grandes pedras e cascosde barcos afundados. O safio era o alvo. Não dis-

pensava igualmente o lançamento de aparelhos(linhas de pesca cheias de anzóis), onde e quandomuito bem entendia, conjugando estas artes demestria adquirida em muitos anos de experiência,que as suas mãos calejadas bem revelavam.Em terra, nos tempos livres, passava horas encos-tado à esquina que a rua dos eléctricos fazia com aavenida principal, observando quem passava econversando com os amigos.O mundo de Jorge repartia-se pela pouca pesca,seu ganha-pão, e pelo futebol.De um fanatismo doentio pela equipa de futebolda sua simpatia, era vê-lo, quinzenalmente, naJunqueira, em pleno peão do estádio de terra bati-da, deambulando para trás e para a frente, acom-panhando as ofensivas da sua equipa, insultando osjogadores adversários e suas famílias, os árbitros erespectivas mães.Jorge nunca admitia que os jogadores da equipa

conto

OO PescadorJ

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que apoiava pudessem cometer quaisquer faltasdurante os jogos; só os adversários o faziam! O seuexacerbado fanatismo causava-lhe um sem núme-ro de problemas e por vezes era mesmo conduzidoa uma esquadra de polícia.Os amigos gostavam de o provocar fingindo ler,nos jornais desportivos, críticas altamente desfa-voráveis aos jogos da equipa da sua simpatia, o queo irritava e o levava a elevar a voz com insultos detodo o tipo aos pretensos autores de tais crónicas.– Se você não acredita no que ouviu, leia! – eestendiam-lhe o jornal.– Não me interessa o que os jornais dizem –respondia – Ninguém pode desmentir o que osmeus olhos vêem! – e assim convencia-se de que aspessoas não se apercebiam de que era analfabeto.Um assunto do agrado de Jorge era falar de mu-lheres. A sua fisionomia , geralmente austera, alte-rava-se completamente. Um largo sorriso rasgava-lhe logo a face. Por vezes gostava de dizer: –Conheci mulheres que afirmavam ser a minhaboca muito bonita.– Que lhes respondia? – perguntavam os amigos jáconhecedores da resposta.– Aproveitem-ma! – e ria até mais não.

A partir de certa altura começou a acompanharigualmente os jogos da equipa de andebol do seuclube. Um rapaz seu amigo levava-o de carro.Certo dia, durante o jogo, um jogador da equipaadversária caiu, contorcendo-se com dores. Foimuito comentado, entre os seus amigos, o seugrito: – Ó malandro! Estás a fingir! Devia dar-teuma trombose! – para logo acrescentar, berrando:E se ainda mexesses devia dar-te outra!A ida os jogos, na companhia de Jorge, era muitodesagradável para quem o acompanhava, mas umdia a situação mudou radicalmente: Jorge sofreuuma trombose que só lhe afectou a voz. Nãoconseguia articular quaisquer palavras. Quando seirritava gesticulava e soltava uma espécie de gru-nhidos.– De agora em diante você vai assistir aos jogos,caladinho, e não chateia ninguém! – diziam-lhe osamigos.Um dia Jorge faleceu inesperadamente.Acordou aparentado boa disposição, contou amulher, pouco depois sofreu uma trombose muitoforte. Ainda pareceu reagir mas logo de seguidasofreu outra e ficou prostrado na cama.

Luís Florêncio

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sto podia e devia ser uma conferência.Mas não é.Podia ser um gesto, um grito, um pedi-

do de socorroo.Mas não é.Podia ser uma oração contrita e legalmenteaceite pelos cânones duma qualquer igreja ouuaté de todas elas, uma prece consensual,dogmática e intocável.Isto podia ser um verso sem rimaMass também não é.Isto podia ser o texto protocolar escrito depropósito para a visita do Governador doosLionsMas também não é.Isto podia ser uma grito de revolta por viveraqui.Mas também e ainda nãoo o é.Porque na ilha as mentes não foram formata-das pelo medoPorque esta é uma terra de baleeiross e emi-grantesIsto não pode ser senão a afirmação destaestranha força que faz dos ilhéus criaturaas plu-rais na arte de estar por detrás dos nevoeiros etempestades reinventando os deuses e reno-vando a esperança.

Isto podia ser muitas coisas da mesma formaque pode deixar de ser o que quer que seja quenão deixará de fazer sentido na visita doGovernador do Lion’s Clube de uma Distritoque é 115 mas podia ter outro número qual-quer, que não deixaria de ser o Governador quedeve ser recebido com pompa e circunstâncianos pequenos clubes que recebem uma visitaanual para formalizar abraços, encetar relaçõesou continuá-las mas que é sobretudo um pro-tocolo respeitado por quem é a individualidadeano a ano.

O Lionismo existe? Existe com certeza. Comose chama? Quase tudo. Diria mesmo que tudo.Lionismo deve ser a palavra mais dura de pro-nunciar neste processo.Estamos no limite da fronteira entre a Europae a América, num pequeno concelho onde, pormérito ou fatalidade acaba a Europa e começaa América. E aqui está uma parte do meu pro-blema: com lionismo ou sem ele, esta é a ilhamais ocidental da Europa e aqui sentimos,desde o principio do século passado, as presen-ças mais que fortes, do sonho, do El Dorado,da baleação arrojada, da partida e da chegadanum tempo em que partidas e chegadas faziam,e ainda hoje fazem parte do nosso quotidiano.O Lionismo nas Flores tem que passar pelasapertadíssimas fronteiras da coragem, doempenho e da luta pela mudança, da fuga aomedo, da superação da inércia numa pequenafamília de pouco mais de três mil pessoas. Há

crónica

I

Isto podia e devia ser uma

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Gabriela Silva

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muita gente que precisa de serajudada mas há muita gente queprefere ir de bengala ou deandarilho porque a mão dooutro o compromete inevitavel-mente com a sua impotência.Ninguém desta terra pode sergovernador dos Lion’s. Porquenão poderíamos visitar osClubes, porque materialmentetemos muitas, muitas prioridades e nenhumadelas é o lionismo a não ser na perspectivadeste grupo que assumiu fazer amor, caridadeou nada simplesmente com este nome e estabandeira o que sempre fez gratuitamente e semtitulo muito antes de conhecer o movimento.Não podemos deixar de esclarecer que uma ilhatem características que não são denominadorcomum dos continentes ou mesmo do interiorde Portugal mesmo que a interioridade seja umreflexo da necessidade de intervenção. Aquisente-se a perseguição da pequenez da ilha edos seus meios de fuga . É a guerra entre ohorizonte simultaneamente curto e longe, tãolonge que não se lhe adivinha o fim e é esta cer-teza de mar e mais mar á volta, deste verde semoutra expectativa que não seja verde e este céuazul sem outras certezas que não sejam as quese contam gota a gota como a chuva, onde ovento é que imprime ritmo às coisas, onde asolidão dá rosto ao desespero, onde o nevoeirocede espaço à esperança ou à angústia. E tudoisto acontece, e tem que acontecer sem revoltas,sem lágrimas e sem medo. Numa intimidadeque a pequenez devassa como devassam a nossaintimidade os nossos vizinhos que, ao verem aluz acesa depois da meia noite, se deitam eacalmam com a mórbida curiosidade de sabe-rem se é orgia, se é dor. Mas conjecturam sobreisso como se fosse deles o problema. Mas énesta ilha que companheiros nossos optaram

por viver e ser felizes com tanto mar à volta etanto constrangimento lado a lado.Aqui, é todos os dias acordar para o vazio dedias e dias sempre iguais em que os minutos seengolem, num gesto, que é quase um ritualenervante, numa agonia lenta de tranqüili-zantes sem nome para dores sem rosto, numaagonia lenta, nesta atmosfera informe de humi-dade bafienta e monótona, num clima deSebastiões por aparecer. A password destasolidão é calar, silenciar, morder, sufocar, respi-rar fundo. E fica assim mesmo, certo? E se apa-recer uma visita há café, o bolo de chocolate,muitos sorrisos. Porque faz parte do Carnavalda vida na ilha, trazer a máscara como quemtraz a lingerie adequada a uma ida ao doutornum dia de consultas do foro da intimidade.A autenticidade aqui, paga-se. Mas paga-sepor um preço muito alto. Mas quem não quiserusar esta escada natural de ida e volta podeoptar por viver no palco da vida, onde os cená-rios caem demasiadas vezes porque, no fundo,todos estamos fartos de palco mesmo o palcobem decorado, livre e bem acabado que ademocracia nos oferece hoje.Está na hora de jantar. As minhas mil e umaquestões, as minhas mil e uma dúvidas, as mi-nhas mil e uma observações vão ficar dentro demim a dançar rock and roll. Deve ser a únicaforma de estafar muito do que sinto e que aidade e a prudência aconselham a calar.

conferência

o Princípio, era um osso calcinado, mascalcinado em branco, de todas as voragensdos séculos das dunas, e das superfícies

extremadas, e impossíveis, do polimento dos sóisdesérticos, e de todo o espelho ardente do Astro,totalmente abismado de Luz. E era então a Idadedo Crómio, com um frágil deambulador lançadopelas encostas semicerradas de olhos, e afogadona impossibilidade das sensações do Reflexo,todo, e do Esplendor. E este foi o PrimeiroMomento.O segundo sortilégio era uma Falsidade: o seuNome escondia-se por detrás de uma Fachada-Legião, a ordenar os muitos volúveis rostos doMar, e nas ondas, e nas areias, e nas divindadescrónicas das pequenas coisas, e nos deusesminúsculos, e também nos que comandavam aMatéria inteira e o Sonho extenso. E um corponu, pela Aurora, a desafiar a roda inexorável doTempo. E este foi o Segundo Momento.Embriagado de pólen, o besouro metálico aindaignorava tal destino. E assim cumpriria, antecipa-do, o ingrato fado do seu próprio fado: meia esta-ção, no seio de um mel amargo, e o ano de trevasda Metamorfose, e os dois curtos êxtases do ins-tante da Procriação, e, logo após, o silêncio doFim, de novo, e indolor. Pouco tempo, o seu, e

sem sequer chegar a conhecer os pausadossabores do Outono. Pois ele jamais saberia que oAmor não passava de uma melancólica prepara-ção para a Morte.E este foi o Terceiro Momento, mas era ainda otempo do Mar, e da Luz e da Areia. Era a taran-tela mágica, no calor da palha, a emudecer a rodados receios. Cor contra cor, tarde demais, o esca-ravelho distinguiria as falsas preces do entorpe-cer. Sonolento e plácido, ele apenas sonhava comum vago equador de sensações, a brisa solar domeio-dia, e os infindáveis pólens, cálidos e afro-disíacos, da sua breve deriva estival. Asa de fogo,a tarde cobre-o então. E é então que, hipnótico, oEntardecer também tacteia, e o recomeça a enre-dar. Por um momento, a Atmosfera assim iráantecipar, nesse triângulo extremado de luz,todos os matizes do Poente, pois o seu corpo nãopassa agora de um lugar confuso de esplendores,e dos confusos rumores das sombras, e dosinfindáveis jogos irisados do Crepúsculo, fundi-dos nos clarões rasos de uma tarde devastada.A Aranha então avança, e já o pólen é negro e apenumbra das pétalas, e, quando o abraço neleesboça, é no conturbado instante, onde se fran-queia a linha turva, para lá da qual se semeiam sóSilêncio e Medo. Não a chegará a ver, pois é

N

opinião

Temos a certeza de que a passa a fazer parte do seu dia-a-dia.Não perca tempo. Este é o cupão de assinaturas.Preencha-o e devolva-o. Já!Pessoas magazine – Case Postale 1877 – 1211 Genève 1

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Luto Directo, nos Quatro Elementos:

2007

“Cadavre Exquis”, in memoriam Mário Cesariny de Vasconcellos

João Abraços / Luis Alves Costa

tarde, e já o estreita, num súbito convulsionar. Emvão se debaterá, enquanto, férrea, lhe procura asjuntas da couraça, para injectar um mortal vene-no.Como numa cama apressadamente revolta, tam-bém a corola se encontra agora desfeita. A luzdecai e a dança cessa. Mineral, a tarde inteiraavança. E também o besouro se torna ali de pedra,e a Aranha inicia o seu brutal repasto.Pelas frestas das portadas, eis que surge agora odoce encanto. E este é o Quarto Instante. E eureconheço a radiante face, que ora se ergue altiva,sobre um negro manto. É a soberana candeia noc-turna, a Deusa, que rompe o breu e o silêncio, no

seu cúmplice cumprimentar prateado. Ora anseiao fechar do Ciclo, em que desvelará todo o seuesplendor.Convida-me, Esbat, para a tua Grande Reunião.Sob o olhar atento da Venerável, as crias perscru-tam aqui, nas trevas, e correm ao encontro daProgenitora, anfitriã da celebração inteira, e eter-nizam o selvático êxtase, no momento da devotacomunhão.Eis o astro marginal, minha mãe e amante, sedu-tora confidente, conselheira indulgente, que meilumina a Escuridão. E a Lua, no oxímoro da suaesfera escura, recomeça então a erguer-se aofundo, como outra forma ardente dos astros.

a Terra e a Água e o Fogo e o Ar

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sal tem um papel importante, vital, paraa vida dos homens e animais. Mas quan-do em excesso... lá vêm os males que ele

acarreta!Através dos tempos mitos, religiões, ritos e cos-tumes teceram-lhe histórias que tanto o vene-

ram como o amaldiçoam. Para os Gregos eraum presente dos deuses, para Roma era a pagados salários (sal – salário). Judeus e católicos fri-sam-no nas Escrituras como símbolo de vida epureza mas também como símbolo de morte –a mulher de Loth transformada em estátua desal.Quando os grandes do mundo o dispunham noseu território, também dispunham do poder etransformavam os outros em tributários que lhetraziam grandes dividendos.Assim eram os suíços, que durante séculosforam tributários de Génova, Veneza, Áustria,Alemanha e da zona da Alsácia,

Porém, no séc. XV e segundo a lenda, um jovempastor observava que as suas cabras tinhamespecial predilecção pela água que jorrava emPenex – perto de Ollon e acima de Bex (PaysVaudois) –. Prova-a e, achando-a salgada, encheo caldeirão, com ela. Ferve-a obrigando-a a eva-porar-se e eis que surge, no fundo do recipien-te, uma fina camada de sal.Estava encontrada a solução para a Suíça selibertar de tão grandes tributos...Um trabalho hercúleo foi feito, posteriormente,durante séculos. São 40 Km de galerias nointerior da montanha fazendo um imbricadolabirinto aconselhado a explorar, mas sempreacompanhado de guias que fornecem todas asexplicações, com simpatia e disponibilidade.Quando da primeira exploração, a extracção darocha era feita só numa galeria – Bon Espoir –que conduzia a um amplo espaço (30 metros decomprimento, por 10 de largura e 3 de altura)num só piso.Mais tarde serão cavados mais dez pisos: trêsabaixo da dita galeria inicial e seis acima. De

O

roteiros

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Bex – Fascinante mundo

notar que a espessura dos tectos que as separamnão ultrapassa os três metros, daí ver-mosautênticos alinhamentos de “pilares” em madei-ra suportando as coberturas rochosas.É a zona da Tranchée du Bouillet (acabada em1821) que oferece uma visita mais entusiasman-

te porque nas “salas”encontram-se originaise réplicas de todas asmáquinas, utensílios eobjectos empregues naextracção do sal, bemcomo a possibilidade decomparar cristais derocha e, porque não,pegar num martelo earrancar da rocha a suaprópria recordação desalgema.Desde meados do séc.VIII, Bex, tornou-se

célebre pelas suas águas minerais, sulfurosas etambém com cloro e sódio, captadas na zona deIles (planície do Rhône). A descoberta de nas-centes quentes atraiu o turismo, sendo, dessaaltura a fundação do Grand Hotel des Bains e em1871 o Hotel des Salines (hoje demolido). Noentanto outras termas abriram e, com a concor-rência agressiva que foi feita a esta zona, acaba-ram por restar apenas as termas de Lavey, que,entretanto tiveram que modernizar-se para fixara clientela. Mas o que permanece inalterável é aágua, água salgada de Bex, para tratamentos.O enquadramento paisagístico destas minas desal é atractivo e repousante. O visitante tem à suadisposição um local de merendas e, nas encostasque o rodeiam, um arvoredo sulcado de trilhospara praticar desporto e fazer uso das BTT.Depois de desfrutar o exterior, pegue numa peçade roupa mais quente (nas galerias a temperatu-ra é de 16°/17° graus centígrados), meta-se numdos vagões do comboiozinho castiço – pequeno

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subterrâneo das minas de sal

roteiros

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por causa da estreiteza dos túneis – ... O apitomarca o arranque para uma viagem ao interiorda terra e o guia recebê-lo-a: “Bem-vindos ao fas-cinante mundo subterrâneo das minas de Bex!”Outros visitantes, célebres, já fizeram esta via-gem de aventura. Nas paredes das galerias ounos reservatórios há-de encontrar, gravados,

nomes como: Jean-Jacques Rousseau, Madamede La Briche, Alexandre Dumas, L’ImpératriceMarie-Louise, Jean-Rodolphe de Sinner...E depois? Quer continuar a descobrir a zona doChablais?Parta das Minas de Sal com o mapa que lheindica as 7 maravilhas Du Chablais. São próxi-mas umas das outras e, neste caso só lhe faltamseis porque as Salines de Bex, acabou de explorá-las!!!.

Catarina Reis

Bex – Fascinante mundo subterrâneo das minas de sal

Objectos e produtos que exigem o sal na sua confecção

B r i g a d a L i g e i r a

Benjamim Ferreira

Repete-se tudo: o calendário, os presentes, osdiscursos, os votos, o Pai Natal, as emissões detelevisão, as lágrimas de alegria e os gritos deprotesto, a doçura da aletria e o ainda mais docedesejo de trocar de vida. Isso, pelo menos, é oque dizem os políticos e o que fazem os homensdo poder. Anunciam que tudo vai mudar, paramelhor. Pregam sermões de confiança e gritamprotestos de boa fé. Fazem-se de anjinhos einventam novos natais dos pequeninos – “oudos grandinhos” – , se o Senhor me permitirtamanha ofensa. E, ainda por cima, acham queo dito subsídio de natal deve servir para pagarcoisas mais profundas, católicas e praticantes:fazer presépios e pagar os impostos. Todo equalquer dinheiro que não se oriente nesse sen-tido – fazer presépios e pagar impostos – é malempregue e leva o crente por caminhos de per-dição e pecado.E tantos são os pecados da vida! Muitos sãoatrevidos e de tranças, mesmo se a SenhoraMão do Menino tolera bruxas e mulheresmenos virtuosas. Pudera. Ela, virgem santíssi-ma, vai dar à luz um menino, em sítio menosluxuoso, mas abençoado. E não foi por isso quea sua virgindade sofreu abalo e as suas trançasforam cortadas. Rezemos, pois, para que oMenino Jesus nos acuda em tamanha dificulda-de de descrença e para que possamos alcançarnovos níveis de bondade, sabedoria e muita fé.Tanta seja a fé que consigamos ver uma luz nofundo do túnel e um lampião a brilhar na casa

de cada um. Tanta seja a fé que consigamosacreditar que a vida vai melhorar, que o saláriovai crescer, que a honestidade será presente emtodos os sítios e que os homens bons deixarãode desejar a mulher do vizinho. Tanta seja a féque acreditemos que o Governo vai melhorar aspensões, vai dar mais conhecimento e compe-tências, vai acelerar as reformas ao gosto detodos e vai endividar-se mais para que eu meendivide menos. Tanta seja a fé que a terra sejacoberta pelo manto da paz e pelo silêncio dasarmas!Mas, sinceramente, nada muda: o primeiro deJaneiro vai continuar a ser o primeiro dia doano, o Mourinho vai continuar a ser o ex-trei-nador do Porto, o aumento das coisas vai acon-tecer mesmo, o referendo sobre o aborto vaiobter a maioria, o Natal vai trazer presentespara os mais pequenos e algumas lágrimas paraos maiores, o Sócrates vai continuar a ser oPrimeiro-Ministro e as geadas “cairão” nossítios mais frios e mais pobres. Mesmo se Deusdá o frio conforme a roupa, é preferível estarbem agasalhado do que ficar à espera que Ele selembre disso. Nós não esquecemos: emDezembro, o Natal bate à porta das saudades ea noite de 31 explode em milhentas bolinhas deesperança. Tanto na noite de consoada, já aseguir, como na noite de S. Silvestre, uma sema-na mais tarde, felicidades! Mesmo muitas em2006 e em 2007.

O Natal esta de volta e nós também.Para lhe contar coisas do Natal dos grandinhos e lhe dizer, ao ouvido,

“Boas Festas”. Acredite que são votos sinceros de gente sincera.Agarre neles e faça uma coroa de desejos para 2007:

Tem 365 dias para ser feliz.

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e n d e r e ç o s ú t e i s

Genève

Consulado Geral de PortugalCônsul Geral – Dr. Júlio José VilelaRte. de Ferney, 220 - 1218 Grand-SaconnexTel. 022 791 76 36 Fax 022 791 76 38Chancelaria: 022 791 76 33Serviços Sociais: 022 791 76 39Atendimento: 08h30 – [email protected]

Serviços de EnsinoResponsável Dra. Graciete CamejoRte. de Ferney, 220 - 1218 Grand-SaconnexTel. 022 798 87 66 / 67 Fax 022 798 87 [email protected]

Livraria CamõesBd. James Fazy, 18 - 1201 GenèveTel 022 738 85 88 Fax 022 738 88 [email protected]

Rádio Cité - 92.2 FM /cabo 98.6Emissão em PortuguêsHora Lusitana - GenèveA P I C - Association Portugaised’Information et CultureSábados e Domingos das 17.00h às 18.30hTel. 022 309 09 58 Fax 022 309 09 [email protected]

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Sion

Escritório Consular de PortugalChanceler - Rosa PaivaAtendimento: 08h30 – 13h30Av. du Midi, 7 - 1950 SionTel. 027 323 15 11/16 10 Fax 027 323 51 [email protected]

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Embaixada de Portugal em BerneDr. Eurico Henriques PaesWeltpoststr. 20 - 3015 BernTel 031 351 17 73/74 Fax 031 351 44 32Conselheiro Social - Dr. Manuel de MatosChancelaria: 031 352 73 49Serviços Sociais: 031 351 17 [email protected]

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Sabino - Ferreira de Castro - Florbela Espanca - Gastão Cruz - Germano de Almeida -AnitaGuilherme de Melo - Helder Costa - Helena Marques - Hélia Correia - João Aguiar -MeuDeus - João de Melo - João Guimarães Rosa - João Melo - João Ubaldo Ribeiro -BébéJosé Almada Negreiros - José Cardoso Pires - José Carlos Ary dos Santos - José Jorge -AmorAgualusa - José Freire Antunes - José Gomes Ferreira - José Jorge Letria - José Luís Borges - Da- José Mauro de Vasconcelos - José Régio - José Saramago - José Sarney - Júlia -MinhaJúlio Dinis - Lídia Jorge - Luísa Beltrão - Luis Filipe - Luísa Costa Gomes - Luísa Ducla - VidaLuiz Manuel - Manuel Alegre - Manuel Arouca - Manuel Bernardo - Manuel da Fonseca - NuncaManuel Peixoto - Manuel Teixeira Gomes - Manuel Tiago - Maria Alberta Menéres - HaveràRosário Pedreira - Maria Isabel Barreno - Maria João Avillez - Maria Judite de Carvalho -EmMaria Teresa Horta - Maria Teresa Maia Gonzalez - Maria Rosário Pedreira - Mário -MimCarvalho - Mário de Sá Carneiro - Mia Couto - Miguel Sousa Tavares - Miguel Torga - Nuno -AlguémJúdice - Paulo Coelho - Pedro Homem de Melo - Pedro Tamen - Pepetela - Rachel de Queiroz - QueRita Ferro - Rosa Alice Branco - Rubem Fonseca - Sarah Beirão - Sebastião Salgado - Soeiro -PossaPereira Gomes - Sophia de Mello Breyner Andresen - Teolinda Gersão - Teresa Rita Lopes - Dar-meTomáz de Figueiredo - Urbano Tavares Rodrigues - Vasco Graça Moura - Vasco Lourenço -TantoVergílio Ferreira - Vinicios de Morais - Vitorino Nemésio - Zélia Gattai -Alexandre - AmorAlexandre Pinheiro Torres - José Gil - Helder Costa - Alice Machado - Alice Vieira - Almeida - QuantoFaria - Almeida Garrett - Almeida Negreiros - Altino do Tojal - Álvaro Guerra - Alves - TuAna Eduarda Santos - Ana Maria Magalhães - Isabel Alçada - Ana maria Magina - TensMiranda - Ana Paula Tavares - António Alçada Baptista - António Gedeão - António -ParaSaraiva - António Lobo Antunes - António R. Damásio - António Ramos Rosa - António - MeAntunes da Silva - Aquilino Ribeiro - Augusto Abelaira - Bernardim Ribeiro - Bocage - DarBranco - Luís de Camões - Carlos Oliveira - Chico Buarque - Clara Pinto Correia - Daniel - QueSampaio - Darcy Ribeiro - David Mourão Ferreira - Dinis Machado - Eça de Queiroz - FrustradaLourenço - Eduardo Prado Coelho - Erico Veríssimo - Eugénio Andrade - Fernando - SeràFernando Echevarría - Fernando Namora - Fernando Pessoa - Fernando Sabino -nge - EstaCastro - Florbela Espanca - Gastão Cruz - Germano de Almeida - Guilherme de Melo Rita - VidaHelena Marques - Hélia Correia - João Aguiar - João de Deus - João de Melo - Jorge - SemGuimarães - João Melo - João Ubaldo Ribeiro - Jorge Amado - José Almada Negreiros Lopes - TiJosé Cardoso Pires - José Carlos Ary dos Santos - José Eduardo Agualusa - Minha

Antunes - José Gomes Ferreira - José Jorge Letria - José Luís Borges - José Mauro - TãoVasconcelos - José Régio - José Saramago - José Sarney - Júlia Nery - Júlio Dinis -DoceJorge - Luísa Beltrão - Luis Filipe - Luísa Costa Gomes - Luísa Ducla Soares - Luiz MeninaManuel Alegre - Manuel Arouca - Manuel Bernardo - Manuel da Fonseca - Manuel Peixoto -BinaManuel Teixeira Gomes - Manuel Tiago - Maria Alberta Menéres - Maria do Rosário Pedreira -EuMaria Isabel Barreno - Maria João Avillez - Maria Judite de Carvalho - Maria Teresa - Amo-teMaria Teresa Maia Gonzalez - Maria Rosário Pedreira - Mário de Carvalho - Mário de - ComCarneiro - Mia Couto - Miguel Sousa Tavares - Miguel Torga - Nuno Júdice - Paulo Coelho - TodoPedro Homem de Melo - Pedro Tamen - Pepetela - Rachel de Queiroz - Rita Ferro - Ros - Rita -OBranco - Rubem Fonseca - Sarah Beirão - Sebastião Salgado - Soeiro Pereira Gomes - Impetode Mello Breyner Andresen - Teolinda Gersão - Teresa Rta Lopes - Tomáz de Figueiredo - DoUrbano Tavares Rodrigues - Vasco Graça Moura - Vasco Lourenço - Vergílio Ferreira - MeuManuel Alegre - Manuel Arouca - Manuel Bernardo - Manuel da Fonseca - Manuel Peixoto -SerManuel Teixeira Gomes - Manuel Tiago - Maria Alberta Menéres - Maria do Rosário Pedreira - BébéMaria Isabel Barreno - Maria João Avillez - Maria Judite de Carvalho - Maria Teresa Hor - AndaMaria Teresa Maia Gonzalez - Maria Rosário Pedreira - Mário de Carvalho - Mário de - ViverCarneiro - Mia Couto - Miguel Sousa Tavares - Miguel Torga - Nuno Júdice - Paulo - OPedro Homem de Melo - Pedro Tamen - Pepetela - Rachel de Queiroz - Rita Ferro - Rosa - QueBranco - Rubem Fonseca - Sarah Beirão - Sebastião Salgado - Soeiro Pereira Gomes - Tede Mello Breyner Andresen - Teolinda Gersão - Teresa Rita Lopes - Tomáz de Figueiredo -DizAlexandre Herculano - Alexandre Pinheiro Torres - José Gil - Helder Costa - Alice - Rita - OAlice Vieira - Almeida Faria - Almeida Garrett - Almeida Negreiros - Altino do Tojal - CoraçãoGuerra - Alves Redol - Ana Eduarda Santos - Ana Maria Magalhães - Isabel Alçada - SeremosMagina - Ana Miranda - Ana Paula Tavares - António Alçada Baptista - António - FelizesAntónio José Saraiva tónio Lobo Antunes - António Damásio - António Ramos Rosa -OAntónio Tabucchi - Antunes da Silva - Aqilino Ribeiro - Augusto Abelaira - Bernardim - NossoBocage - Camilo Castelo Branco - Luís de Camões - Carlos Oliveira - Chico Buarque - Clara -AmorPinto Correia - Daniel Sampaio - Darcy Ribeiro - David Mourão Ferreira - Dinis Machado - Éde Queiroz - Eduardo Lourenço - Eduardo Prado Coelho - Erico Veríssimo - Eugénio Andrade - ÈternoFernando Campos - Fernando Echevarría - Fernando Namora - Fernando Urbano -Amo-te

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