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ESPAÇO SOCIALISTA Organização Marxista Revolucionária Ano XI - N° 56 15 de março a 14 de abril de 2013 Contribuição: R$ 1,00 10 anos de PT no governo Os trabalhadores têm algo a comemorar? A ditadura militar no Brasil e as lições da derrota O feminismo precisa ser classista e anticapitalista Lutar contra o projeto educacional do capital A crise social na Espanha Encarte de formação teórica e política: A Comuna de Paris

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Page 1: Ano XI - N° 56 15 de março a 14 de abril de 2013 ...espacosocialista.org/portal/wp-content/uploads/2013/03/jornal-56.pdf · No artigo sobre Educação trataremos da necessidade

ESPAÇOSOCIALISTA Organização Marxista RevolucionáriaAno XI - N° 56 15 de março a 14 de abril de 2013

Contribuição: R$ 1,00

10 anos de PT no governo

Os trabalhadores têm algo a comemorar?

A ditadura militarno Brasil e as lições

da derrota

O feminismoprecisa ser classista

e anticapitalista

Lutar contra oprojeto educacional

do capital

A crise social naEspanha

Encarte de formaçãoteórica e política:

A Comuna de Paris

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As comemorações dos 10 anosdo PT à frente do governo federalcontam com atos nas principaiscapitais. Obviamente toda essacomemoração também é uma peçade marketing, a serviço de preparar oterreno para a largada da disputaeleitoral de 2014, onde o PT esperanada menos que a reeleição de Dilma,a maioria no Congresso e quem sabealgumas vitórias nos governo estaduais.

Para isso foi editada pelo PT,Instituto Lula e Perseu Abramo umacartilha com milhões de cópias. Essacartilha pinta a imagem de um paísque teria deixado para trás os anosde neoliberalismo , representadopelo governo FHC-PSDB e teriaingressado no desenvolvimentismo”,representado pelos dois mandatos deLula e agora por Dilma – PT. Ogoverno do PT teria conseguidodriblar a crise econômica mais gravedas últimas décadas, levando o paísao posto de sexta economia mundiale a um padrão de desenvolvimentosustentável e com justiça social, e ainclusão de setores sociais antesexcluídos como as mulheres, negrose LGBT. Toda essa transformaçãoteria sido resultado da liderança doPT nas pessoas do de Lula e agorade Dilma.

No entanto, olhando para osfatos e dados de conjunto, vemos quea história desses 10 anos de governodo PT é bem diferente.

CHEGADA DO PT À PRESIDÊNCIA FOIEM CONJUNTO COM A BURGUESIA E

SOB SEU CONTROLEO governo do PT no Brasil pode

ser colocado entre os que surgiram

OS TRABALHADORES NÃOTÊM O QUE COMEMORAR

10 ANOS DE PT NO GOVERNO:

na América latina a partir do final dosanos 90 e início dos anos 2000. Masenquanto na Venezuela, na Argentina,na Bolívia e Equador ocorreramverdadeiras rebeliões sociais quederrubaram os governos “neoliberaispuros” e levaram ao poder governoscom diferentes graus denacionalismo-burguês, por aqui ascoisas foram muito mais mediadas.A saída burguesa para que houvessea mudança conservadora se deu deforma preventiva e pela via eleitoral.

Ao final do governo de FHC,havia um desgaste do neoliberalismopuro, um aumento do número degreves e mobilizações. Osmovimentos populares intensificavamas ocupações e havia dificuldadeseconômicas crescentes. A burguesiaprecisava de uma saída que seantecipasse ao problema antes que eleestourasse. Para o imperialismo eraimportante que o Brasil mantivesse seupapel como o grande fator deestabilidade na América Latina.

Nessa situação, a entrada do PTna presidência teve um caráter muitodiferente do que teria em 89.

Em 2002, seu programa e suaprática já partiam da defesa dosinteresses do capital. Sua máxima, de“crescimento econômico comdistribuição de renda” deixavaassentado que não propunhanenhuma ruptura com o capitalismo.O máximo a que seu projeto chegavaera uma maior intervenção do estadono sentido de disciplinar algunsaspectos mais problemáticos docapital e do mercado no sentido deinduzi-lo a realizar algumasnecessidades sociais mínimas.

Para chegar à presidência pela viaeleitoral burguesa, o PT teve quemerecer a confiança doempresariado brasileiro, doimperialismo e da grande mídia. Jáantes do 1º turno, em junho de 2002,Lula buscava tranquilizar a burguesiae o imperialismo com sua “Carta aos

Os 10 anos de PT no governo federaltrouxeram profundas modificações na lutade classes do país. Programas sociais,alianças com os setores mais reacionáriosda política brasileira, privatizações eincorporação da CUT ao estado são apenasalgumas mudanças produzidas a partir daeleição de Lula em 2002. Esse é o foco doartigo sobre a situação política nacional. 

Como o mês de março historicamenteé lembrado como o mês da mulhertrabalhadora (embora que todos os dias osejam) apresentamos uma reflexão sobre a(falta de uma) política específica dosgovernos petistas para as mulheres e danecessidade de construção de ummovimento de mulheres antigovernista.

A repressão aos movimentos sociaistem marcado a situação política nacionalcom perseguições e processos contra oslutadores. Esse método que também foiaplicado na ditadura militar demonstracomo é autoritária a democracia burguesa.Nesse artigo busca-se fazer um brevebalanço do golpe militar. 

No artigo sobre Educação trataremosda necessidade de construção de mais umagreve nacional dos professores, em abril,convocada pela CNTE, que para além dapauta específica precisamos direcioná-lacontra o projeto do capital para a Educação. 

No cenário internacional, procuramosanal isar a profunda crise social(desemprego, suicídios, despejos, etc) emque a Espanha está mergulhada, demonstrando como o capitalismo arrastaos trabalhadores para a barbárie. 

Esses são os temas que apresentamosaos ativistas e militantes para um debatefranco. 

Também apresentamos esse segundonúmero com periodicidade mensal dojornal Espaço Socialista,  visando melhorrefletir a luta de classes e potencializar a nossaintervenção. 

Segue também um importante esforçoem que a cada dois meses publicaremosum encarte destinado à  formação políticae teórica de ativistas e militantes domovimento social. Nessa edição segue aComuna de Paris e suas lições.  

Enfim... o jornal segue com  o mesmocaráter “novo” e em transformaçãosempre... como é de nosso costume!!

Leia, Critique, Sugira e divulgue!Saudações revolucionárias!

NESTA EDIÇÃO:

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Brasileiros” na qual se comprometia a“preservar o superávit primário oquanto for necessário” para pagar osjuros e a dívida pública, manter todasas “obrigações e os contratos”, nãorevendo nenhuma das privatizaçõesfeitas por FHC e ainda realizar as“reformas estruturais” e “apoiar oagronegócio”. Com uma carta assim,já estava claro de que lado esse governoestava e que não poderia resolvernenhum dos problemas estruturais queafetam os trabalhadores, pois para issoé necessário que se rompa com osinteresses da elite e, principalmente, como imperativo de lucratividade docapital.

ASSISTENCIALISMO PARA DIVIDIR ACLASSE E ATACAR SETORES MAIS

ORGANIZADOSUm dos principais aspectos que

explicam a permanência do PT nesses10 anos (e sua possível continuidade emum novo governo de Dilma) foi o deque ele buscou realizar um projetocapitalista que assegurasse a lucratividadeda burguesia ao mesmo tempo em quedistribuía algumas migalhas para ossetores mais pauperizados, de modo aprovocar uma divisão na classetrabalhadora e assim poder atacar ossetores com mais direitos. Para isso o PTampliou e criou novos programas sociais(Bolsa Família, Bolsa Escola, Luz paraTodos), implementou uma forma denegociação com a classe que efetiva suapolítica aos poucos, nunca enfrentandoa classe ou um setor de conjunto de frente(o que só fragmenta e enfraquece aindamais a luta) e deu início a uma ligeirarecomposição do salário mínimo, muitoaquém porém da reivindicação históricade salário mínimo do DIEESE (quehoje seria de R$ 2.743,69).

Dessa forma, conseguiu arrefecer atendência de radica lização dosmovimentos populares que vinha sedesenvolvendo com ocupações eacampamentos nas beiras de rodovias,liderados pelo MTST e MST. Minoupouco a pouco o solo debaixo dos pésda classe trabalhadora mais organizada,criando a ideia de que eramprivilegiados perante os setores maispobres e que, portanto, podiam edeviam fazer os maiores sacrifícios. Osverdadeiros privilegiados – a bancafinanceira, a burguesia industrial e o

agronegócio não eram mencionadoscomo privilegiados. Os usineiroschegaram a ser elogiados por Lula.

Essa política de cooptação social edivisão da classe criou uma anestesiasocial de modo que o PT pôde avançarna implementação das reformasestruturais em prol da lucratividadeprivada.

Podemos dizer que essa propostado PT também amarrou parteimportante da burguesia ao contemplarpelo menos durante um tempo suasnecessidades mais gerais (toda suapolítica internacional, inclusive, vai essesentido, o que se deduz das intervençõesbrasileiras no Haiti, por exemplo). Abanca financeira continuou lucrandocomo nunca, com o pagamento dosjuros e amortizações da Dívida Públicasangrando o orçamento do país (nesteúltimo ano de 2012, os númerosindicam que quase metade doorçamento do governo federal foiconsumido com o pagamento de jurose amortizações da Dívida). A burguesiado agronegócio teve sua parcela emfinanciamentos e isenções de impostos,faci l itando suas exportações efortalecendo-a (a ofensiva doagronegócio contra os Guarani-Kaiowás, em parte, é resultado dessefortalecimento por meio das políticasfederais). A burguesia industrial, por suavez, embora acossada pela concorrênciaexterna, teve isenções de impostos e acerteza de que não haveria grandesperturbações dos movimentos sindicais,pois as centrais passavam a fazer parteda estrutura do governo. Acrescente-sea isso a cooptação completa da UniãoNacional dos Estudantes (UNE), o quegarantiu a implementação de umaReforma Universitária que precarizoue privatizou a Universidade brasileira,beneficiando assim boa parte doscapitais presentes na bancada doCongresso Nacional.

Sobre esse solo, e beneficiado porum cenário externo favorável, o PT secolocou como o gerente eficaz emediador dos vários setores em nomedos interesses do capital de conjunto,impedindo que os trabalhadorespudessem se organizar e lutar pelastransformações necessárias no país.

O PT montou uma ampla rede decooptação política e social ao seu redor,que vai desde setores miais

pauperizados, passando pelas entidadesdos movimentos sociais organizados,ONG’s e chegando a partidos daprópria burguesia que vivem à sombrado Estado, fazendo, assim, com quetodos se tornem cogestores do seuprojeto. Ao invés de se apoiar nosmovimentos dos trabalhadores parauma ruptura com o capital, o PT foibuscar sua base de apoio políticoprimeiro junto ao PTB e logo após noPMDB, que se tornou seu aliadopreferencial, além de uma ampla gamade legendas de aluguel.

No mandato de Lula, incorporouas centrais sindica is de formasubordinada, através de uma série demecanismos. O governo do PT é aexpressão do abandono por parte daCUT e do partido dos referenciaissocialistas, assumindo o capitalismocomo o único horizonte possível.

Daí que a incorporação das centraisao governo foi um processo muito fácil.Os mecanismos foram o acesso aodinheiro do Imposto Sindical, do Fundode amparo ao Trabalhador, voltado paracursos de capacitação de mão de obra,participação e colaboração nos fórunsdos vários ramos econômicos, pactos eacordos setoriais.

A criação e incorporação de milharesde ONG’s ao governo fez com que parteda classe média também pudesse sebeneficiar do banquete do dinheiropúblico. Boa parte desse dinheiro foidesviado para o caixa 2 do PT. Oesquema do Valerioduto foi apenas aponta do iceberg, mas que que, mesmonão tendo sido desvendado por inteiro,já revelou uma prática comum à deoutros partidos direitistas como o PSDB.

Para o MST o governo liberouverbas para as cooperativas e algumasterras que já haviam sido ganhas, masainda não entregues ao movimento.Ofereceu cargos em ministérios esecretarias para várias lideranças. Dessaforma, conseguiu que esse movimentoarrefecesse sua luta e desse um prazopara o governo.

O PT PAGOU COM TRAIÇÃO A QUEM

SEMPRE LHE DEU A MÃO...Durante todo esse tempo o maior

alvo dos ataques foram os trabalhadores,particularmente o funcionalismo público.Tivemos a Reforma da Previdência de2003, congelamento salarial, ataques à

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carreira, e agora mais recentemente, apolítica de meritocracia que apenas mudao foco e joga sobre os trabalhadores aculpa da precarização.

No que toca a sua relação com asgreves, o PT não poderia ser maisexemplar para a burguesia: Quandohouve manifestações como aquelacontra a Reforma de 2003 ou na Grevedo Funcionalismo Federal o governonão hesitou em reprimir, mandar cortaro ponto, pedir a ilegalidade das greves epunir os ativistas.

Da mesma forma que FHC, Lulachamou os funcionários públicos defolgados e ao final de seu mandato, jácomeçava a preparar uma legislaçãoantigreve que ia no sentido de retrocederesse direito aos tempos da ditaduramilitar, praticamente proibindo as greves.Os trabalhadores terão direito à grevedesde que não a façam “para valer”. Arepressão à pobreza e aos que lutam temse tornado marca também no governopetista de Dilma.

A Educação e a Saúde seguiram emníveis extremamente precários. Adesvinculação das receitas da saúde eeducação (artifício criado por FHC a fimde cortar gastos dessas áreas) foiprorrogada pelo PT matando apossibilidade de que essas áreaspudessem apresentar qualquer melhoria.Ao contrário, ao criar o PDE (Plano deDesenvolvimento da Educação) ogoverno aumentava os mecanismos decontrole e avaliação externa eindividualizada das escolas e dosprofessores, mas não para melhorar oatendimento e as verbas para essasescolas e sim para atribuir a culpa dacrise da educação aos professores. Emcomplemento a tal situação, o PDEtambém deu rédea solta para aintromissão de empresas no interior darede pública através das chamadas“parcerias”.

A discussão sobre os 10 % do PIBpara a Educação foi adiada para 2022 e

a depender dos recursos do pré-Sal, umaforma de jogar o cumprimento para umfuturo distante, exatamente comooutros governos fizeram no passado.

Não podemos esquecer domensalão, que acabou de vez com oúltimo suposto diferencial entre o PT eo demais partidos – a ética na política.A partir daí, o governo modifica sua basede apoio atraindo para ela o PMDBpassando a ter uma maioria mais folgadano Congresso que lhe permite aprovartodos os projetos e cooptar quase todasas principais forças de oposição. Temosentão um período de crescimento até oestouro da crise mundial e seus efeitossobre o Brasil que se fazem sentir já noinício de 2009.

A CRISE E INTERVENÇÃO DO ESTADOPARA SALVAR O CAPITAL E ATACAR OS

TRABALHADORESA partir da crise de 2009 temos a

intervenção massiva do estado comtrilhões de reais para salvar alucratividade do empresariado nãoapenas brasileiro, mas também cooperarnos esforços de vários paísesconvocados a ajudar o capital atravésdo G-20, grupo dos vinte países maisricos formado, por política doimperialismo, no sentido de socializarcom países mais periféricos os esforçosde contornar a crise mundial.

Dessa forma ouve o incentivoirresponsável ao endividamento geral quecontinua se desenvolvendo, o aumentodos gastos do Estado no sentido deimpulsionar a economia em um padrãovoltado para a exportação decommodities (matérias primas ealimentos), com diminuição do pesorelativo da indústria. O Brasil, assim,volta-se cada vez mais para o papel deplataforma de montagem e exportaçõesde produtos cujas peças vêm do exterior.

O horizonte futuro aponta para umesgotamento dessas medidas com anecessidade de maiores ataques sobre a

classe trabalhadora, como oACE (acordo coletivo especial)que visa o fim dos direitostrabalhistas, como férias 13ºsalário, pagamento de horasextras, e multa rescisória dos40%, etc. Além disso, se avizinhauma nova reforma daprevidência que tende aaumentar a idade para poder se

aposentar. Dessa forma o governo doPT tende a ser cada vez mais duro comos trabalhadores. Até a Copa ou asOlimpíadas o partido parece ter fôlegopara continuar vendendo suas ilusões deprosperidade, mas cada vez mais setorna visível que o projeto geral éendurecer ainda mais para cima dostrabalhadores, impulsionando, inclusive,a repressão e criminalização dosmovimentos sociais em geral.

O PT NÃO É UM PARTIDO DOS

TRABALHADORES!O PT, por sua vez, desde antes de

sua chegada ao Planalto, já não era maisum partido que defendia as bandeirashistóricas dos explorados e oprimidosde um ponto de vista classista.

O processo de burocratização dessepartido e sua integração ao regimedemocrático burguês nos anos 90 fizeramcom que mudasse seu conteúdo de classe.Em sua base social, a burocracia deEstado (cargos em prefeituras e naestrutura de estado, mandatosparlamentares) tem muito mais influênciado que a burocracia sindical. Além disso,a integração dos seus sindicatos à gestãodo capital também tinha avançado coma participação dos sindicalistas emConselhos, Fóruns, etc junto com aburguesia e o governo. Mas o elementomais representativo da degeneração doPT e de seus quadros é, talvez, suaintegração na condição de gerente dosfundos de pensão. O PT está na direçãodos maiores fundos de pensão do país.Tudo isso o faz prisioneiro da lógica docapital financeiro e do capital em geral.

Sua transformação total em umpartido burguês composto deburocratas se completou com a chegadaao planalto e na medida em que passoua ocupar milhares de cargos diretos eindiretos na gestão da máquina pública.Não nos esqueçamos que esta funcionacom base nos pressupostos do capital,como defesa prioritária da lucratividade,rígida hierarquização, defesa da ordemburguesa, etc. Deste modo, não fariaqualquer sentido esperar de um governodo PT qualquer medida de ruptura, nemnaquele momento e muito menos agora.

GOVERNO DE FRENTE POPULAR OU

GOVERNO BURGUÊS?Desde as eleições de 2002,

polemizamos contra a posição de

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correntes de esquerda quedefendiam que o governo Lula seriaum governo de frente popular oumesmo que estaria em disputa umprojeto democrático-popular, talcomo caracterizou, por exemplo, oPSTU e a Consulta Popular,respectivamente.

Tal forma de caracterizar estegoverno, por um lado, ou leva,erroneamente, a uma política deexigências (a qual propôs que Lularompesse com o FMI, não realizasse aReforma da Previdência, etc ), ou mesmoa um apoio “crítico” ao governo.

A partir do estouro da crise em2009, essa política de exigênciasdescabida e a falta de um combate maisprofundo (político e ideológico) aoprojeto e às premissas do capitalassumidas pelo PT, começou a mostrarefeitos muito mais problemáticos. Issoporque desarmava os trabalhadores paraenfrentar os ataques muito maiorescomo as demissões e o corte de direitos.Ao centrar a política nas exigências aogoverno Lula, e, posteriormente, Dilma,dá-se menos ênfase na necessidade deos trabalhadores se prepararem econfiarem em suas próprias lutas. Alémdisso, deixa de realizar a disputa políticae ideológica com o projeto burguês deapoio ao capital defendido pelo PT.

A possibilidade de romper com alógica do lucro, que possibilitaria que ospróprios trabalhadores assumam ocontrole da produção e ofuncionamento da sociedade como umtodo, obviamente está fora de cogitaçãopelo PT e CUT. Mas cabe aos socialistasrevolucionários apresentar e batalhar poresse referencial socialista. Deve-se alertar,no entanto, que ao centrar o foco emapelos aos governos Lula/Dilma, abre-se mão da construção dessa consciência.Os resultados foram desastrosos tantonos casos das demissões na EMBRAER,na desocupação do Pinheirinho em SãoJosé (em que foram centrados esforçospara que Dilma interviesse), comorecentemente nas demissões na GM (emque também focou suas consignas emmais investimentos e em que Dilmaimpedisse as demissões ao invés delevantar as bandeiras da redução dajornada sem redução dos salários, daestatização da GM sob controle dostrabalhadores e uma campanha geralcontra as demissões, com a proposta de

greve, etc.). Não houve um trabalhonesse sentido que pudesse apontar parauma resistência à altura da dimensão dasdemissões e corte de direitos.

ABRE-SE UM ESPAÇO PARA A ESQUERDAMAS PARA OCUPÁ-LO É PRECISO TER

POLÍTICA INDEPENDENTEEm termos da atuação da CSP-

Conlutas e até da Intersindical, asconsequências são de que falta umacampanha sistemática e profunda juntoaos trabalhadores no sentido dedenunciar o governo Dilma e seuprojeto pró-capital e contra ostrabalhadores.

Tanto a caracterização de umgoverno de frente popular quanto a deum governo com um projetodemocrático-popular em disputaancora-se na avaliação de que asorganizações dos trabalhadoresdividem, no governo, o poder com aburguesia. De acordo com essa visão,um governo assim é mais suscetível apressões por parte dos movimentos e,por isso, devem focar sua política emexigências ao mesmo. Outra justificativapara a recusa em atacar o governo Dilmae realizar a crítica de seus fundamentosperante os trabalhadores é o alto índicede popularidade que tem acompanhadoo PT ao longo de seus mandatos. Sóque com essa concepção que rebaixa apolítica revolucionária em função donível de consciência atual das massas,tudo o que resta é conformismo, é sedobrar perante a realidade exploratória.Este modo de proceder não ajuda aeducar as massas e nem fazer avançarsua consciência. Além disso, abre-se mãode construir uma alternativa junto asetores importantes , ainda queminoritários, para posteriormente,quando com o agravamento dascondições econômicas se ampliarem osataques, alavancar setores mais amplos.

Por outro lado, a popularidade dos

governos do PT não pode ser oprincipal elemento a serconsiderado. Não se pode capitularà consciência atrasada dostrabalhadores nesse aspecto. Qual éo papel da organizaçãorevolucionária se não for provocara reflexão, ajudando as massas asuperarem seu atraso em relação àsnecessidades da situação?

Apostar na mobilização desetores mesmo que minoritários dasmassas e da vanguarda de forma aavançar em experiência, consciência,unidade e organização da esquerdaclassista e de luta é fundamental paraquando houver os processos de maiorataque aos trabalhadores.

Desde a entrada do PT no governo,é um fato que a esquerda temaproveitado muito pouco o espaço deindependência que tem se aberto comas lutas que agora enfrentam não apenasos patrões, mas também o próprioPartido dos Trabalhadores.

Para nós do Espaço Socialista, ogoverno do PT é um governo burguêsneoliberal (ainda que com característicasque o diferenciam de outros neoliberaisclássicos) no qual os trabalhadores e suasorganizações (mesmo as burocráticas)não possuem influência decisiva napolítica econômica e social geral. Podem,no máximo, forçar mediações emaspectos secundários do projeto, masnão a mudança de sua tônica.

Do ponto de vista da políticarevolucionária, o foco tem que ser adenúncia do governo do PT e seuprojeto, como um projeto em prol dospatrões e do aumento da exploração dostrabalhadores. Deve existir umacampanha permanente no sentido dedenunciar os vários aspectos - não apenassindicais, mas também ligado à questãode gênero, racial e ambiental, dos ataquesque o governo do PT vem realizandosobre a classe e demonstrar a necessidadede que os trabalhadores vão às lutas paradefender seus direitos e para,principalmente, apontar um novo rumo,socialista, para o país e sociedade em geral.

A NECESSIDADE DA CONSTRUÇÃO DE UMNOVO PROJETO PARA O PAÍS

A incorporação completa do PT, daCUT e da UNE à ordem institucionalburguesa coloca o desafio de construirnovas ferramentas de transformação

“Do ponto de vista da políticarevolucionária, o foco tem queser a denúncia do governo doPT e seu projeto, como umprojeto em prol dos patrões edo aumento da exploração dostrabalhadores”

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O GOLPE MILITAR DE 1964 E AS LIÇÕESDA DERROTA DANIEL MENEZES

O CONTEXTO DO GOLPEEm 31 de março de 2013 se

completam 49 anos do golpe militar de1964. O golpe estabeleceu uma ditaduramilitar que durou até 1985 e deixousequelas que até hoje marcam a vida dopaís. No início da década de 1960, oBrasil vivia um momento de profundasmudanças. Milhões de pessoas semudavam para as cidades, as fábricasse multiplicavam, milhões de crianças ejovens entravam para a escola, o quenão havia acontecido com a geração deseus pais. A autoimagem do país eramuito positiva e difundia-se o mito do“país do futuro”. Eram os anos dainauguração da nova capital, Brasília(1960), do cinema novo, da bossa novae do bicampeonato mundial de futebol(1958 e 1962).

Era também um momento deintensificação da luta de classes, comgrandes mobi lizações operárias,camponesas e estudantis. Uma grevegeral em 1962 apresentou diversasreivindicações sociais e políticas econquistou o 13º salário, que se mantématé hoje. As ligas camponesas nonordeste organizavam os trabalhadoresrurais na luta pela reforma agrária econtra os abusos seculares doslatifundiários. Os Centros Populares deCultura (CPCs) da UNE levavamteatro e cinema engajado à população,

na tentativa de influenciar politicamenteos trabalhadores por meio da cultura.

AS FACÇÕES DA CLASSE DOMINANTE E OGOLPE

No campo da burguesia, estava emcurso uma disputa entre dois setores.De um lado, o setor liderado pelo entãopresidente João Goulart (apelidadoJango), herdeiro político de GetúlioVargas, praticava uma política nacional-desenvolvimentista, que procurava levaro Brasil a ser uma potência capitalista,com algum grau de independência emrelação ao imperialismo, impulsionandoa indústria nacional e algumasconcessões aos trabalhadores. De outrolado, havia o setor conservador eabertamente pró-imperialista daburguesia, composto por latifundiáriose empresários diretamente associadosao capital estrangeiro, hostis a qualquerconcessão aos trabalhadores.

As mobilizações populares levaramo governo João Goulart mais à esquerda.O presidente pronunciou um comíciosobre as reformas de base na Central doBrasil, no Rio de Janeiro, em 13 demarço de 1964, que foi tomado comoum claro sinal de radicalização. Diantedisso, aceleraram-se os preparativos parao golpe. Em 31 de março, a cúpula dasforças armadas mobilizou as tropas e asruas das capitais amanheceram tomadas

por tanques de guerra. Não houveresistência ao golpe. A ditadura cassoumandatos parlamentares, fechousindicatos, prendeu militantes, aposentouintelectuais, exilou artistas. Apenas a UNEcontinuou funcionando por algumtempo, até 1968.

A IMPORTÂNCIA DA ESTRATÉGIA E DAINDEPENDÊNCIA DOS TRABALHADORES

Parte da responsabilidade dessaderrota cabe à principal organizaçãopolítica dos trabalhadores, o PartidoComunista Brasileiro (PCB), que tinhagrande influência nos sindicatos e dirigiaa UNE. A estratégia do PCB era deapoiar a fração nacionalista da burguesianacional, contra o setor mais reacionárioe o imperialismo. O pressuposto dessaestratégia era de que o Brasil aindaprecisaria passar por uma revoluçãoburguesa, antes de se pensar em transiçãoao socialismo. Em função desse apoio,não havia a preocupação com aindependência política dos trabalhadores.Não foram desenvolvidos organismoscapazes de lutar pelo poder, pois asuposição é de que essa não era umatarefa dos trabalhadores.

Desde o início do século XX,Trotsky já havia demonstrado, na teoriada Revolução Permanente, que aburguesia dos países periféricos éincapaz de realizar as tarefas da

efetiva que não se percam no caminho.Para isso são necessárias algumasdefinições fundamentais:

A necessária ruptura com ocapitalismo e sua ordem institucional.Não é possível enfrentar nenhum dosproblemas profundos que afetam ostrabalhadores e a humanidade em geralsem romper com a lógica defuncionamento da sociedade baseadano lucro e na propriedade dos meiosde produção a lienados dostrabalhadores. É preciso uma novasociedade em que os trabalhadoresassumam o controle dos meios deprodução e distribuição da riquezasocial, os convertam para produção dasnecessidades coletivamente discutidas edecididas em equilíbrio com o meio

ambiente.Essa ruptura não ocorrerá pela via

das eleições burguesas. É precisoresgatar os ensinamentos históricos eatuais para dizer em alto e bom tomque as instituições do Estado burguêsnão servem para os trabalhadoresexercerem seu poder. Será necessáriauma revolução política e social quedestrua o Estado burguês e coloque emseu lugar os organismos de luta da classetrabalhadora, sejam eles os sindicatos,as associações, os sovietes (conselhos),comitês de fábrica, etc. Não se podepensar em uma transformação socialque ocorra por reformas ou de maneiragradual, pois está provado que aburguesia não tolerará alteraçõesgraduais na sociedade, recorrendo à

cooptação e, quando esta não forpossível, aos golpes.

Tampouco a saída estásimplesmente em que um partidoiluminado que assuma o poder. Ostrabalhadores precisam de um podercoletivo seu em que reorganizem aprodução de alto a baixo em base acritérios sociais e democráticos e nãoos imperativos de lucratividade docapital. Pra isso deve se apostar desdejá nas lutas e nos organismo de lutadireta dos trabalhadores. A construçãodos partidos e organizaçõesrevolucionárias deve se dardialeticamente ligada a esse processo ea serviço dele e não como um fim emsi mesmo como tem sido feito pelamaioria da esquerda.

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O FEMINISMO PRECISA SER CLASSISTA EANTIGOVERNISTA IRACI LACERDA

revolução burguesa (como a reformaagrária e outras) e essa tarefa caberia aoproletariado. Na luta para concretizaressas tarefas, o proletariado precisariaimpulsionar medidas de ruptura como capitalismo, como nacionalizações eexpropriações, sendo seguido pelasclasses populares, avançando para umarevolução socialista. Sendo assim, atarefa dos socialistas seria desenvolvera consciência dos trabalhadores para aluta pelo poder, com totalindependência em relação a líderesburgueses e pequeno burgueses.

As l ições da derrota dostrabalhadores no golpe de 1964 sãovita is para a construção de umaestratégia revolucionária no século XXI.Não se pode confiar em liderançasburguesas e burocráticas, cujosexemplos nos dias de hoje são figurascomo Hugo Chávez, pois essaslideranças, por mais radical que seja oseu discurso, nos momentos decisivos,abandonam a luta e deixam o poderlivre para a burguesia e o imperialismo.E as vítimas são os trabalhadores,massacrados pela repressão. Não háoutro atalho para a revolução quedispense os socialistas da tarefaindispensável de organizar ostrabalhadores de forma independentee desenvolver sua consciência num rumoanticapitalista e socialista.

A REPRESSÃO E OS SAUDOSISTAS DADITADURA

O Brasil é o único país da AméricaLatina que não julgou e condenou osautores dos crimes da ditadura, asmortes e torturas de opositores. O fimdo regime militar se deu por meio deum acordo, que manteve o Estado sobcontrole dos mesmos setores daburguesia que se beneficiaram da

ditadura. Além de não condenar acúpula do aparato militar, foi mantidauma cultura repressiva e conservadorano judiciário e na polícia. O Brasil é umdos poucos países do mundo que temuma polícia militar, a PM, uma políciaaquartelada, sob comando dosgovernos estaduais, criada na própriaditadura, como uma espécie de exércitopara combater um inimigo interno, opróprio povo.

Os métodos desenvolvidos naépoca da ditadura para perseguiropositores políticos, os esquadrões damorte e a tortura, são hoje aplicadosdiariamente pela polícia (militar e civil)para se apropriar de uma parte da rendados negócios criminosos. Sob opretexto de reprimir o crime, a políciaque atua nos bairros periféricos mata etortura impunemente, especialmentequando as vítimas são negros.

Essa polícia que se associa ao crimee age de forma criminosa também temoutra função, reprimir grevistas emanifestantes. Em todos os governospós-ditadura, e também nos do PT, aslutas sociais são tratadas como caso depolícia. Militantes são mortos, presos,torturados, no campo e na cidade, coma conivência do judiciário, que por suavez proíbe greves, aplica multasaos sindicatos, inocenta ospatrões e condena ostrabalhadores. Nos últimos anos,com a crise mundial docapitalismo rondando o Brasil,o governo do PT e os governoslocais dos demais partidos estãotodos determinados a empurraros efeitos da crise para debaixodo tapete. Não é permitidodiscordar do discurso que vemde todos os lados, do governo,da mídia, das burocracias

sindicais, etc., de que o país estáprogredindo. Quem ousa discordar, efazer alguma coisa a respeito, fazer greves,ocupações, manifestações, críticas,mostrando que apesar de todo o discursoo povo vai mal como no tempo daditadura, precisa ser tratado como umaameaça à segurança nacional.

Em outras palavras, os governos doPT aplicam os mesmos métodosrepressivos da ditadura, em plena“democracia”. Vivemos uma ditadurado capital, dos bancos, do agronegócio,das grandes indústrias, que contam como PT para silenciar as lutas. É precisodenunciar essa ditadura disfarçada etambém aqueles que, de maneira cadavez menos disfarçada, se atrevem adefender o golpe de 1964 (que foichamado de “revolução” pelos seusautores), defender os crimes dosmilitares, defender a volta da ditadura,defender os métodos autoritários darepressão. A volta de ideias fascistas ede u ltradireita é um sintoma dagravidade da crise e do perigo que seaproxima. Antes que essas ideias setornem uma força material, é precisourgentemente lutar por uma outra ideia:a emancipação dos trabalhadores, porobra dos próprios trabalhadores!

... “A proletária não tem nada em comum,naquilo que se refere a seus interesses econômicosdecisivos, com as mulheres das outras classes.Assim, a emancipação da proletária não seráobra das mulheres de todas as classes, seráunicamente obra do conjunto do proletariado,sem dist inção de sexo.” Clara Zetkin(Congresso de Gotha, 1896).

A união, ou seja, a organização dasmulheres trabalhadoras passa por umadura realidade no Brasil hoje e não negao passado de duras lutas entrereformistas e revolucionárias pelomundo afora.

Desde o Manifesto Comunista, 1848 –que apresenta o questionamento à

família burguesa e demonstra as basesda servidão doméstica passando pela IInternacional, 1864, que conclui que acausa da opressão da mulher éeconômica e que para aboli-la énecessário transformar a sociedade –até os dias de hoje observamos oquanto as organizações de esquerda

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ainda não respondem às necessidades deuma luta classista e, logo, antigovernista.

FEMINISMO PARA QUÊ E PRA QUEM?O desenvolvimento da luta por

conquista de direitos, entre osrevolucionários, é marcado pela IIInternacional, 1889 – em que, além deconquistas gerais da classe trabalhadora,a mulher trabalhadora também lutou porquestões democráticas como direito aovoto, igualdade político e direito à filiaçãopartidária. No entanto, observou-senitidamente que essas conquistas eraminsuficientes para a emancipação damulher que necessitava trabalhar.

A LUTA CONTRA A OPRESSÃO NÃO PODE

ESPERAR A REVOLUÇÃOUma das mais importantes tarefas

para os lutados revolucionários écaminhar ao lado de mulheres que lutampara que a classe trabalhadora de conjuntotome para si a tarefa de virar estasociedade de ponta cabeça, sem que seignore o massacre diário que sofrem asmulheres trabalhadoras. Isso foidemonstrado com a Revolução Russa, 1917.

Enquanto uma parcela(mencheviques) lutava por umademocracia burguesa e pela união detodas as mulheres por uma repúblicademocrática, outra parcela(bolcheviques) lutava contra a situaçãohumilhante em que a mulhertrabalhadora estava submetida.

Ainda hoje contamos comimportantes conquistas da Revolução,que foram espalhadas pelo mundo,como o direito ao divórcio e a pensãoalimentícia.

As resoluções da III Internacional, de

1919, expressam a polêmica sobre a lutada mulher trabalhadora divergir dasnecessidades da mulher burguesa.Concluiu-se que a relação da trabalhadoracom o feminismo burguês e as aliançasde classe debilitam a nossa organização eas forças da classe trabalhadora deconjunto. Entendeu-se que a união deveser de todas e todos os explorados e nãodas forças feministas de classes opostas,pois nos processo amplos ou radicais deluta o feminismo burguês soube semprede que lado ficar.

Entendemos que no Brasil, emnenhum momento, v iveu-se umprocesso revolucionário, sequer,parecido com o russo, mas podemosobservar esse brevíssimo recortehistórico para buscar compreender anecessidade da luta classista, ou seja, anecessidade de unidade e de organizaçãoda mulher trabalhadora para essa luta.

Das reivindicações conquistadascom a luta revolucionária e espalhadaspelo mundo muitas ainda nãoalcançamos por aqui, mesmo com umamulher na presidência: o direito aoaborto legal e gratuito, o ataque às causasda prostituição com a melhora dascondições de vida e de trabalho, oestabelecimento de salário igual paratrabalho igual, a criação de condiçõespara a libertação do trabalho domésticopor meio da socialização das tarefas, etc.

Essas conquistas básicas já poderiamfazer parte do nosso cotidiano se a “in-verdade” da 6ª economia mundial nãoprecisasse de 10 anos de PT no governo ede Dilma para impor sobre as mulherestrabalhadoras o fim de direitostrabalhistas (amamentação, pré-natal(ACE), etc.) e um pastor evangélico paraa Comissão de Direitos Humanos –para atender os interesses da burguesiaconservadora.

A ILUSÃO NO GOVERNO E O ATRASO NA

CONSCIÊNCIAEnquanto isso temos movimentos

organizados como as centrais sindicaisque defendem diretamente o governo(Força Sindical, CUT, CTB), bloqueiamas lutas, elaboram projetos para queDilma atenda com tranquilidade aburguesia e para a classe trabalhadoraapresentam campanhas, CPMIs,cartilhas, etc. para não saírem do papel.Esses movimentos buscam organizar asmulheres com uma visão policlassista

das lutas, ou seja, de que lutamos contraas mesmas injustiças e de que somostodas iguais nessa sociedadedemocrática.

Por outro lado, temos também ascentrais sindicais de esquerda (CSP-Conlutas e Intersindicas) que aplicam,mesmo sem lutas, a política de exigir dogoverno Dilma que a situação da classetrabalhadora mude de verdade. Comessa mesma política buscam organizarpara as lutas as mulheres que trabalham,no entanto, contribuem para que seestabeleça uma profunda confusão e ailusão de que os governos da burguesiapoderão conceder algo para a classetrabalhadora sem intensas lutas e semque essas lutas estejam totalmenteatreladas à transformação social.

Dessa forma, não consideram ahistória da luta da mulher trabalhadorae desprezam a realidade de avanço dosmovimentos de direita e da igreja nummomento em que se caminharapidamente para criminalização dosmovimentos sociais como instrumentode contenção das lutas que estão sendogestadas por uma situação de crisemundial.

SEM CONFUSÃO E SEM ILUSÃO! ANOSSA LUTA É OPOSTA À DA

BURGUESIA!A CSP-Conlutas, em seu último

Congresso, aprovou, por maioria, aconstrução de um ato unificado comessas várias centrais sindicais no DiaInternacional de Luta da Mulher. Ou seja,além de aplicar a política de exigênciaao governo Dilma adotou, na prática –embora o discurso não tenha sidoalterado – a unidade policlassista. Ouseja, além de representar um imensoretrocesso para as lutas das trabalhadorase da classe de conjunto perdeu aoportunidade, mais uma vez, de tornar-se a referência de luta anticapitalista paraas organizações de esquerda e para asmulheres trabalhadoras que estão na lutae já não acreditam mais nesse governo.Em São Paulo, no próprio ato o blocodo Movimento de Mulheres em Luta(MML) era apenas um figurante entrevários outros.

AINDA É POSSÍVEL FAZER ALGO PARARETOMAR O CAMINHO DA LUTA

CLASSISTADescontentes com os rumos

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GREVE NACIONAL DEPROFESSORES: LUTAR CONTRA O

PROJETO EDUCACIONAL DOCAPITAL

Nos dias 23 a 25 de abril, a CNTE –Confederação Nacional dosTrabalhadores em Educação – estáconvocando uma greve nacional, comoparte da Semana Nacional em Defesa daEscola Pública. Diversos sindicatos deprofessores do Brasil estão convocandogreves que vão além da convocatória daCNTE, que inclusive já secundarizou oPiso Nacional e sua Jornada.

É importante expressar a defesa daEscola Pública, mas devemos ir além dodiscurso, das práticas políticas viciadas ede interesses políticos particulares.

Este artigo expressa o nosso pontode vista em relação à greve nacional, apossível greve dos professores da redeestadual de São Paulo e nossa atuaçãopolítica durante esse processo demobilização.

UM PROJETO EDUCACIONAL DOCAPITAL APLICADO POR GOVERNOS DO

PT AO PSDBAs reformas ocorridas na Educação

Pública brasileira estão relacionadas coma reorganização e reestruturação doprocesso produtivo. No entanto, asmudanças educacionais praticadas nopaís nem sempre revelavam quaisinteresses representavam, pois os grandes

grupos econômicos – nacionais etransnacionais – defendiam seusinteresses a partir da atuação deorganismos internacionais – FMI, BancoMundial, UNESCO, CEPAL e ILPES–, encarregados de defender reformasno campo da Educação.

O atual projeto educacional emprática no país, diferentemente de outrosmomentos, desnuda e escancara aparticipação direta de redes deempresários e banqueiros – “Todos PelaEducação”, “Parceiros da Educação”– naformulação de políticas públicas para aEducação Pública e na aplicação práticadessas políticas.

A cooptação de profissionais daEducação pelos interesses privados pararespaldar suas ações, a criação desistemas de avaliação de resultados eaprendizagem – Enem, Saresp, Enade,Ideb, Idesp, dentre outros –, omonitoramento, responsabilização ecobrança cada vez mais individualizadapor resultados, os regimes precários decontratação de professores, aparticipação do setor privado, tanto pelaprestação de consultorias como pelaadministração direta de unidadesescolares, e a bonificação e promoçãopor desempenho, resultam doaprofundamento da atuação desses

grupos no campo educativo público.

O USO DA TRUCULÊNCIA E DO ASSÉDIOMORAL PARA QUEBRAR A RESISTÊNCIA

DOS PROFESSORES E DOS ALUNOSComo se trata de um projeto que

retira direitos e a autonomia, questionaa estabilidade e o direito de greve, eintensifica o trabalho, os professores quetêm estabilidade acabam resistindo mais.As greves e manifestações massivas dacategoria de professores têm sido oprincipal obstáculo à implementação deprojetos de precarização e pró-empresariais dos sucessivos governos naEducação, pois embora não consigamimpedi-los totalmente, têm levado aatrasos e mediações na implementaçãodo projeto geral. Além disso, há todoum conjunto de formas de resistênciapor escola ou individuais, que vão desdeparalisações de escolas, atuação emreuniões de Conselho de Escola até aresistência individual na aplicação de umprojeto que todos sentem que não vaino sentido de melhorar o ensino. Paraos governos é fundamental quebrar essaresistência geral dos professores, e issose dá em parte pelos mecanismos depremiação, mas cada vez mais pelos decoerção e castigo.

A truculência e o assédio moral,dentre inúmeras ações autoritárias, são

N

políticos que a direção majoritária daCSP-Conlutas tem aplicado algumasorganizações, inclusive de outros estados,têm insistido na luta classista eantigovernista junto aos trabalhadores.Aprovamos em nossas organizações eentidades atos e manifestações do DiaInternacional de Luta da Mulher quedesmascarassem o governo Dilma, osgovernos estaduais e suas políticas pró-burguesia.

No ABC paulista, o I Encontro doMovimento de Mulheres em Luta, em2012, que reuniu trabalhadoras dediversas categorias, foi contrário à

construção de um ato policlassista eunificado com o governismo comoindicado pela Central.

Sendo assim, nesse 9 de março, emSanto André com a organização doSindicato dos Professores da redeestadual (APEOESP) – reunimos osmovimentos de esquerda, oposiçõessindicais, movimento por moradia(MTST), movimentos contra o aumentodas passagens, maioria do MMLRegional, etc. na realização de um atounificado contra o machismo e aviolência contra a mulher, antigovernistae anticapitalista e pelas reivindicações

NÚCLEO PROFESSORES

imediatas da mulher trabalhadora. Masnão contamos com a participação doPSTU que é a direção majoritária daCSP-Conlutas e do MML nacional.

É possível e necessário retomar ohistórico caminho da luta classista.Somente a luta consciente, da classetrabalhadora unida, mulheres e homens,sem nenhuma crença na burguesia ou nosseus governos derrubará falsas liderançase terá a força necessária para impor ofim da sociedade de injustiças em que amulher trabalhadora precisa seroprimida e humilhada para sustentá-la.

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ESPANHA: CRISEECONÔMICA AVANÇA PARA

CRISE SOCIAL

a marca desse projeto, pois é necessárioquebrar qualquer empecilho à suaimplantação. É um projeto que nãoaceita questionamentos.

O achincalhamento e o ataque àautoestima visam fragilizar evulnerabilizar o professor, impedindocom isso a sua reação. Presenciamos nasescolas uma espécie de “intolerânciainstitucionalizada”.

A intolerância atinge também osalunos, sobretudo os de periferia querecebem tratamento diferenciado. Naperiferia das grandes cidades, as escolasassumem um papel importante decontenção social para permitir a liberdadede consumo de outros setores quepodem consumir. As escolas seassemelham a presídios e carecem dainfraestrutura mínima, que existe emescolas centrais, para dar visibilidade àpolítica educacional, sendo tratadas comoexemplos que dão certo quando se quertrabalhar.

Nessas escolas de centro, justamentepor servirem de exemplo, a cobrançasobre a elevação dos índices é aindamaior sobre os professores.

POR TRÁS DO DISCURSO DERESPONSABILIDADE SOCIAL, PRETENDE-SE ABRIR CAMINHO PARA PRIVATIZAÇÃO

Há uma campanha intencionada namídia que coloca os problemas dasescolas como se fossem problemas deincapacidade administrativa , deincompetência de funcionários públicosacomodados e que a Educação cumprecom a sua responsabilidade social.

Trata-se de uma pressão que se dátanto pelo convencimento via mídia –propaganda na tv e rádio, principalmente–, como pela pressão física de equipesgestoras cooptadas que objetiva abrircaminho para a privatização daEducação Pública. O Projeto de

Educação de Tempo Integral do governode São Paulo expressa esse interesse.

A GREVE NACIONAL PODE SER UMAOPORTUNIDADE PARA DEFENDERMOS A

NOSSA PROPOSTA DE EDUCAÇÃOPÚBLICA

Sabemos que com a marcação daGreve por cima, sem a devida discussãoe preparação democrática nas váriascategorias, a Articulação Sindical pretendeuma luta limitada, com o objetivo centralde desgastar a imagem dos governosligados ao Bloco PSDB, DEM, etc.

Sabemos também que a greve tendea ser travada na medida em que começara questionar a política educacional dogoverno federal, cujo projeto geral é omesmo aplicado pelos governos nosestados, diferindo apenas em aspectossecundários.

Entretanto, nós que somos dossetores de Oposição dentro da CNTEe da maioria dos sindicatos estaduais,inclusive na APEOESP, não devemosnos levar apenas por esses fatores. Hátoda uma situação complicada dentrodas escolas que é preciso expressar parao conjunto da sociedade, além demostrar que os problemas não sãolocalizados, mas fazem parte justamentedesse projeto maior.

A Greve Nacional da Educaçãopode se transformar em um momentoimportante para fazer a denúncia doprojeto de Educação Pública que está seimplantando no país, e que esse modelode Educação privilegia apenas interessesde empresas, bancos, ONG’s e institutos,e não o interesse geral dos trabalhadores.

Podemos esclarecer aostrabalhadores e seus filhos que essesinteresses privados pretendem sucatearainda mais a Educação.

Sob o argumento de que o calendáriofoi jogado de cima para baixo e que o

objetivo da greve é apenas desgastar oPSDB, visando às eleições de 2014, asmaiores correntes de oposição ao pólogovernista, o PSTU incluso, viram ascostas para as demandas reais dosprofessores, não dando ênfase àdiscussão e preparação dos professoresda vanguarda para a Greve. Isso é muitograve, pois pode fazer com que a ArtSindapareça como único setor de luta achamar a Greve, e seja quem atraia ossetores novos de vanguarda, mesmo quenão muito amplos, nas suas mãos.

Além disso, deixa a Oposição àdireita da ArtSind na questão da greve,não contribuindo para que osprofessores vejam na Oposição o pólode luta necessário para unir a categoria.

Mesmo não havendo as condiçõespara uma greve massiva, sabemos quealgum nível de para lisação e demobilização haverá, devido à tendênciaao caos nas escolas.

Assim, o PSTU, que dirige aOposição na CNTE em vários estados,perde mais uma vez a oportunidade deenfrentar e se diferenciar do governismona luta, que é onde se percebe melhoras diferenças, e não no discurso.

Nós do Espaço Socialista e dacorrente sindical Renovar Pela Luta,mesmo com todas as críticas à ArtSind,chamamos à discussão e preparação daGreve Nacional, para nela defendermoso nosso projeto de Educação Pública eavançarmos na organização de base nasescolas, junto aos alunos e pais.

Na greve, os setores de Oposiçãodevem lutar para assumir a direção domovimento e enfrentarmos juntos comos professores as direções burocráticasdos sindicatos.

As correntes de Oposição e ativistasdevem fazer essa discussão na greve, semnegligenciar e nem virar as costas a essedebate.

CRISE SOCIAL...Considerando que a crise social hoje

instaurada na Espanha já dura desde2008 e que não há perspectiva alguma

de sair dessa situação em curto prazo,podemos dizer que a sociedadeespanhola, juntamente com Grécia ePortugal, representa um dos maiores

símbolos do conjunto de ajustes que ocapital precisa impor nesse e nospróximos anos. Assim sendo, podemosdizer também que em uma,

THIAGO ARCANJO

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relativamente, “nova forma de viver”veio para ficar na Espanha.

Mas essa nova forma de viver pareceainda não ocasionar uma convulsão socialgeneralizada; aliás, em boa parte daEspanha, a sensação das pessoas é comose estivessem passando por uma merainstabilidade, algo passageiro e bembreve. Mais do que isso, o que se detectatambém é que a exacerbação doindividualismo e a falta de perspectiva deum outro projeto de sociedade, aliadostambém com uma grande indústria deentretenimento,  fazem com que ascontradições mais graves e catastróficasteimem em não irromper a naturalidadedo quotidiano tão frequentemente quantodeveriam. Em verdade, um certo climade entorpecimento tão típico de nossotempo aliado a alguma esperança nopróprio Estado de bem-estar socialfazem com que todos vivam uma“situação sabidamente catastrófica comose não fosse grave”!

Para se ter uma ideia do que se passahoje na Espanha, em fevereiro desse anoo desemprego bateu a marca dos 26%da população em condições de trabalho;entre os jovens, tal marca é ainda maistrágica: 50% dos jovens com idade deaté 25 anos estão desempregados; aperspectiva do FMI para a economia daEspanha em 2013 é de diminuição de1,5% do PIB (em 2014 a expectativa éde outra queda de 0,8%); para completaro cenário em que o dinheiro está bemmais escasso para a população comoum todo, hoje, em razão da crise, há maisde 600 casas de escambo (troca deobjetos sem a intermediação dodinheiro), frente às poucas dezenas quehaviam em 2007.

Em termos de dados sociais gerais,destaca-se a taxa de suicídio: em 2012,principalmente em razão do desempregoe dos despejos amplamente realizados emdecorrência do estouro da bolhaimobiliária, a taxa de suicídio cresceu25%. A Educação pública sofre umprocesso de privatização forte, fazendocom que haja uma hierarquização porrenda da população no que diz respeitoao acesso à universidade de qualidade; osfuncionários públicos foram tambémafetados no corte de seus direitos (em2012 já não receberam o pagamento extrade natal – o equivalente ao nosso 13º – ejá têm seus salários congelados peloterceiro ano consecutivo); até a siesta

(tradicional descanso de algumas horasapós o almoço) sofreu ataque do governoespanhol, vez que aprovou, no anopassado, um conjunto de medidas quevisam ampliar o horário defuncionamento dos estabelecimentoscomerciais.

 Em meio a tal cenário e dado oalto índice de desemprego e dasprecárias condições de vida em geral,aumenta o preconceito com estrangeirosrepresentantes de força de trabalhobarata, tal como os latino-americanos;além disso, o próprio contexto da criseacirra um quadro de tensionamentos denacionalismos de cunho fascista,principalmente em regiões de culturafortemente diferenciadas, como aGalícia, o país Basco e a Catalunha,apesar de também se colocaremalternativas à Esquerda.

Obviamente que toda essadecadência do capitalismo na Espanhatem explicação e motivações. Primeirodeve-se dizer que o próprio Estado eos bancos são mesmo os grandescatalisadores de tal processo. Mas assimsó o são não por acaso, mas por causasprecisas.

Vale dizer, sobretudo, que o própriodesenvolvimento espanhol se deu sobreuma base não tão sólida e um tanto“artificial”, dada a política do Euro, queinjetara grandes quantias de dinheiro queforam destinadas ao aumento do poderdo consumo dos cidadãos espanhóis etambém destinadas, em tese, para amodernização de sua infraestrutura (oque, no entanto, nunca foi feito demodo sólido).

Resultante de tal política do Euro, aEspanha tornou-se um país com grandepoder de consumo, mas de baixacompetitividade em relação a paísescomo a Alemanha, França e Inglaterra,o que só fez crescer em um ritmoavassalador a dívida pública, dado opermanente déficit comercial.

Mas, mesmo que assimseja, tal crise social espanholanão resultou de merasdecisões de governos ebancos. Em verdade, esta foia solução dada para umasituação histórica em que opróprio capital industrial setornara não tão lucrativoquanto o capital financeiro, oque fez com que o domínio

de uma mecanismo lucrativo para algunspoucos capitais, insustentável em longoprazo, se consolidasse, fazendo crer queum certo mecanismo de que dinheiropoderia simplesmente gerar maisdinheiro passasse a ser o regente daeconomia e de toda a sociedade.Estamos falando, pois, dafinanceirização da economia. Ou seja: se,por um lado, os bancos e o Estadoespanhol merecem toda a culpa possível;por outro, a crítica de fato mais radicale profunda deve pôr em xeque a própriaforma de viver que impõe o capitalismo,uma forma de viver que tem no dinheiroe na mercadoria, na produção econsumo irracionais, seu fundamento;assim sendo, sob este prisma, os bancose o próprio estado mais não são do quefantoches de uma sociabilidade que semove por objetivos cegos.

 

QUEM E COMO TÊM LUTADO...Assim, temos, pois, de um lado, os

bancos que são a todo o momentosalvos da falência (no ano de 2012 foiaprovado um plano de concessão de100 bilhões de euros) e que, ao mesmotempo, não dá trégua à população já emmaus lençóis; junto desse, temos aindao Estado, que aplica o plano deausteridade sobre a população, cortandoe precarizando os direitos sociais emgeral. De outro lado, entretanto, nasituação espanhola, ainda não temosnenhum antagonista mais ou menosconsolidado que possa dar respostas àaltura das que são necessárias. Mesmoassim, exemplos que romperamconsistentemente o silêncio doaparentemente natural cotidiano foramas manifestações do movimento PuertaDel Sol, mais intensamente em 2011, e amobilização de greve de mais de 8 miltrabalhadores da mineração das Astúrias,em 2012. Ambos os exemplos, paraalém das próprias vitórias ou derrotasimediatas, cumprem a função de ser o

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início de uma reorganização dapopulação para a luta. Nesse sentido,podemos dizer que temos um terrenocrescentemente férti l para fazergerminar em médio/longo prazo umaconstrução de um referencial alternativoao próprio capitalismo.

Diante de uma situação como essa,podemos afirmar que, enquanto apopulação espanhola não reunir,enquanto classe, forças materiais eideológicas para lutar por um projetosocialista, a burguesia seguirá aplicandoas políticas ao seu alcance, que não sãocapazes de resolver os problemaseconômico-sociais em geral, vez quesão estruturais e não é esse seupropósito. Para garantir, pelo menospor um curto prazo, a sobrevida doscapitais fictícios tão dominantes naEspanha (a grande ascensão do BancoSantander na década de 90 é só umexemplo disso), a burguesia precisaretirar as concessões que foram feitasaos trabalhadores. Esse é o sentido daspolíticas que estão em curso na Espanhae no mundo inteiro, o que também nosmostra a inviabilidade de um pedidopor um capitalismo mais humanizadoe com uma democracia “real”.

Nesse contexto, considerando quenão vivemos apenas uma crise periódica,mas uma crise estrutural do capitalismotemos uma situação que força a todasas classes sociais a reelaborar os seusprojetos de sociedade e, por isso, as lutascontra os efeitos nefastos docapitalismo têm também de se renovar.

Os sindicatos e os movimentossociais em geral que se limitam a lutarpor questões imediatas, melhoressalários e pequenas reformas não vãoconseguir sequer defender as atuaiscondições de vida (como, aliás, têmacontecido com as lutas dos

trabalhadores da mineração e de todoo movimento Puerta Del Sol) se nãoconseguirem construir mobilizações eprocessos de luta massivos, unitários ecom pauta totalizante.

Esses processos de luta, por sua vez,para serem vitoriosos, necessariamentevão se chocar frontalmente com osinteresses da própria continuidade daordem capitalista. É, portanto, esse odesafio que está colocado para ostrabalhadores e para o povo em geral,na Espanha e no mundo inteiro.

Desse modo, apontamos, comotendência geral da correlação de forças,o fato de que as lutas contra-hegemônicasseguirão acontecendo, ainda que demodo fragmentário. No entanto,também apontamos a partir da crise dealternativas socialistas e do papelreformista e corporativista das direçõespolítico-sindicais de muitos dessesprocessos, que é pouco provável que elasadquiram um caráter de ofensiva numcurto prazo; ou seja, as lutas continuarãose estabelecendo tão somente comodefesa em relação às medidas do projetode ajuste que o capital desfere. 

O QUE DEFENDER...Sabemos que os capitalistas não vão

acatar qualquer medida que seja e quepossa significar avanço significativo navida da população em geral. Entretanto,problemas estruturais pedem soluçõesestruturais. Por isso, cabe aosrevolucionários explicar a todos asdiferenças entre as medidas adotadas

pelos capitalistas e as propostas dossocialistas, a fim de estabelecermos umacorrelação de forças favorável, quepermita aos trabalhadores e àpopulação em geral impor medidas queproporcionem dignidade a quemrealmente produz a riqueza e delanecessita para viver.

 Trata-se, assim, de fazer despertara luta de todo um povo também emdefesa de todos, pondo fim aosacrifício da esmagadora maioria emfavor de uns poucos. A luta e a vitóriadessas propostas não são somentequestão de fazer predominar um grupoou uma classe sobre outra, mas umaquestão da própria sobrevivência eintegridade de todo um país.

Assim, como medidas urgentes eimediatas parecem-nos bastanterazoáveis as seguintes palavras deordem e propostas:

Em defesa dos empregos, salários,benefícios, direitos e condições de vidados trabalhadores, contra as políticas de“austeridade” e os cortes nos gastospúblicos, que favorecem a populaçãoem geral;

Contra as políticas de ajuste ditadaspelo capital financeiro, contra asprivatizações dos serviços públicos econtra a política de socorro aos bancos;

Pelo respeito das diferenças étnico-culturais dos povos espanhóis;

Repartição de todo o trabalhodisponível entre todos os trabalhadores,por meio da redução da jornada semredução dos salários.

16 DE MARÇO; INÍCIO ÀS 08:30HEncontro “Violência do Estado/Luta da Periferia”. Encontro deFormação e comemoração de 3anos de existência da RedeExtremo Sul . Participarão: TerraLivre, Mães de Maio, Rede 2 deOutubro e Assentamento MiltonSantos.Rua Adélia Silva Mendes, 706, Grajaú,São Paulo-SP.

19 DE MARÇO; 17H30 ÀS 21:30HAudiência Pública convocada peloComitê Contra o Genocídio daJuventude Negra, Pobre ePeriférica.Faculdade de Direito - Largo SãoFrancisco, 95, São Paulo-SP.

19 DE ABRIL; 14 HORASAssembleia Geral de Professorescom indicativo de greve. No Vão doMASP

23, 24 E 25 DE ABRILGreve nacional dos professoresconvocada pela CNTE -Confederação Nacional deTrabalhadores em Educação.

24 DE ABRILChega de ataque aos nossosdireitos! Marcha a Brasíliaconvocada pela CSP Conlutas,Fasubra, Anel e outras entidades.

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