dois problemas e uma sÓ saÍda: unidade para...

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NO MUNDO: OBAMA NÃO É SOLUÇÃO A CRISE SEGUE SE APROFUNDANDO pag. 2 UNIDADE COM A CUT E FORÇA SINDICAL? pag.7 CHAMADO À ESQUERDA: CONSTRUIR UM ENCONTRO NACIONAL DE BASE pag.8 FUSÕES EM BANCOS E PRIVATIZAÇÃO DOS CORREIOS: MAIS AMEAÇAS DE DESEMPREGO pag. 6 NA CRISE, CUT E FORÇA SINDICAL DEFENDEM O CAPITAL pag.4 EUROPA: O PROLETARAIDO EUROPEU MOSTRA O CAMINHO pag.9 ESPAÇO SOCIALISTA Publicação Revolucionária Marxista de Debates DOIS PR DOIS PR DOIS PR DOIS PR DOIS PROBLEMAS E OBLEMAS E OBLEMAS E OBLEMAS E OBLEMAS E UMA SÓ SAÍD UMA SÓ SAÍD UMA SÓ SAÍD UMA SÓ SAÍD UMA SÓ SAÍDA: A: A: A: A: UNID UNID UNID UNID UNIDADE P ADE P ADE P ADE P ADE PARA L ARA L ARA L ARA L ARA LUT UT UT UT UTAR! AR! AR! AR! AR! Ano IX - N° 29 Janeiro-Fevereiro de 2009 Contribuição: R$ 1,50 NO BRASIL: REDUÇÃO DE SALÁRIOS E BANCO DE HORAS NÃO IMPEDEM O DESEMPREGO ESTADOS UNIDOS: MUDAR PARA MANTER A DOMINAÇÃO pag. 11 PALESTINA: A HERÓICA RESISTÊNCIA DE UM POVO pag.13

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NO MUNDO: OBAMA NÃO ÉSOLUÇÃO

A CRISE SEGUE SEAPROFUNDANDO pag. 2

UNIDADE COM A CUT EFORÇA SINDICAL? pag.7

CHAMADO À ESQUERDA:CONSTRUIR UM ENCONTRONACIONAL DE BASE pag.8

FUSÕES EM BANCOS EPRIVATIZAÇÃO DOS

CORREIOS: MAIS AMEAÇASDE DESEMPREGO pag. 6

NA CRISE, CUT E FORÇASINDICAL DEFENDEM O

CAPITAL pag.4

EUROPA: O PROLETARAIDOEUROPEU MOSTRA O

CAMINHO pag.9

ESPAÇO SOCIALISTA Publicação Revolucionária Marxista de Debates

DOIS PRDOIS PRDOIS PRDOIS PRDOIS PROBLEMAS EOBLEMAS EOBLEMAS EOBLEMAS EOBLEMAS EUMA SÓ SAÍDUMA SÓ SAÍDUMA SÓ SAÍDUMA SÓ SAÍDUMA SÓ SAÍDA:A:A:A:A:

UNIDUNIDUNIDUNIDUNIDADE PADE PADE PADE PADE PARA LARA LARA LARA LARA LUTUTUTUTUTAR!AR!AR!AR!AR!

Ano IX - N° 29 Janeiro-Fevereiro de 2009Contribuição: R$ 1,50

NNNNNO BRASIL: REDUÇÃO DESALÁRIOS E BANCO DEHORAS NÃO IMPEDEM O

DESEMPREGO

ESTADOS UNIDOS: MUDARPARA MANTER A

DOMINAÇÃO pag. 11

PALESTINA: A HERÓICARESISTÊNCIA DE UM POVO

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A CRISE ECONÔMICA SEGUE SE APROFUNDANDO

O ESTÁGIO ATUAL DA CRISEAo final do ano de 2008, o mundo

estava entrando numa forte criseeconômica. A imprensa burguesa em pesopassou a falar em crise. O mito dainvulnerabilidade do capitalismo caiu porterra com impressionante velocidade.Governantes do mundo inteiro fizeramreuniões, emitiram declarações com arpreocupado, anunciaram medidas deemergência, e lançaram “pacotes deajuda” de centenas de bilhões de dólarespara salvar os bancos e o sistemafinanceiro da bancarrota. Subitamente,descobriu-se que o “livre mercado” nãoé capaz de regular a si mesmo e o Estadoprecisa intervir. Analistas passaram a falarna pior crise desde 1929 – quando teveinício a Grande Depressão. Surgiu aladainha da “falta de confiança”, da “faltade regulação”, da “ganância excessiva”,etc. A crise chegou também ao sensocomum. De agora em diante, na boca dopovo, tudo “é culpa da crise”.

Na realidade, a crise é um produtoinevitável do próprio funcionamento daeconomia capitalista. Não se trata de “faltade confiança”, “falta de regulação”,“ganância excessiva”, etc. O problema nãoestá no “modelo de desenvolvimento”,que pode ser neoliberal oudesenvolvimentista-keynesiano; está naprópria essência do modo de produçãocapitalista. A crise é uma expressão doslimites internos do sistema, de suaincapacidade de realizar a mais-valiagerada na produção e de sua necessidadede destruir forças produtivas (fecharfábricas, demitir trabalhadores, ou mesmodestruir populações inteiras e recursosmateriais por meio da guerra) para reiniciaro ciclo de acumulação. Ao contrário doque diz o pensamento vulgar da imprensaburguesa, a crise é parte essencial domecanismo interno da economiacapitalista e, portanto, a sua aparição detempos em tempos é um fenômenoinevitável.

Por enquanto, ainda não se produziuo deslizamento para a depressão, nemmuito menos qualquer sinal darecuperação sonhada pelos capitalistas,

que na verdade pode estar bastantedistante, de modo que a crise pode seestender sob a forma de uma recessãoprolongada. Nesse meio tempo aburguesia procura manter suas taxas delucro promovendo demissões,rebaixamento de salários, retirada dedireitos e benefícios, corte de serviçospúblicos. A luta de classes ainda não semanifestou com toDa sua agudeza. Areação da classe trabalhadora mundial temsido desigual. Na sua maior parte, osprincipais instrumentos de luta da classe,partidos e sindicatos, permanecemcontrolados por direções abertamentedispostas a colaborar com a burguesia ejogar o custo da crise nas costas doproletariado.

Na Europa, já acontecem fortesgreves e mobilizações contra os ataquesdo capital. No Brasil, a crise chegou aosenso comum e já está na boca do povo,mas a classe trabalhadora nãocompreende a crise. Para ostrabalhadores, ela se parece com umapeste, uma epidemia, cujo contágioameaçador é totalmente aleatório e só sepode combater rezando para quepermaneça distante. A burguesia tentaganhar ideologicamente os trabalhadorescom seu discurso de que “não háalternativa” e tudo que se pode fazer éapertar os cintos e esperar a crise passar.Naturalmente, são os trabalhadores quevão apertar os cintos. E não vão podercontar com o apoio do Estado, que vaiprecisar tirar cada vez mais dinheiro daeducação, da saúde e dos serviços públicospara financiar os “pacotes de ajuda”.

AS SAÍDAS DA BURGUESIAA crise atual está no estágio de uma

recessão mundial em aprofundamento. Aburguesia procura neste momento evitarque a recessão se transforme emdepressão. Para isso, a classe dominanterecorre ao socorro do Estado que, tantonos centros imperialistas como naperiferia, está injetando “pacotes de ajuda”que totalizam trilhões de dólares naeconomia capitalista.

A política do Estado burguês de injetardinheiro na economia está longe de podertrazer uma solução definitiva para oproblema. Assemelha-se a uma tentativade apagar um incêndio jogando maisgasolina no fogo. Não é preciso ser expertem economia para perceber que há algomuito errado com os tais pacotes deajuda, como o plano recentementeanunciado por Obama de injetar mais US$819 bilhões na economia estadunidense.A simples intuição basta para demonstrarque a solução não pode ser assim tão fácil.Se está ao alcance do Estado produzir tãofacilmente dinheiro à vontade, e emquantias tão mastodônticas, por que issonão é feito de modo corriqueiro?

A resposta é que na verdade não étão fácil assim produzir dinheiro, pois issotem conseqüências. O poder conferido aoEstado para emitir moeda não pode serusado indiscriminadamente, pois issoameaça a própria função da moeda comomedida de valor. A burguesia não o ignora,por isso só recorre a tal medida emsituações de emergência extrema. O fatode que todos os Bancos Centrais domundo estejam fazendo a mesma coisaneste momento é mais um indício daseriedade da crise em andamento.

A moeda precisa estar lastreada emalguma riqueza real, sem o quê seconverte em simples papel sem valor. OsBCs do mundo inteiro estão emitindotrilhões de dólares que correspondem apapel sem valor, na expectativa de quealguma riqueza real possa vir a sergerada, ou na linguagem da economiaburguesa, de que haja uma “retomadado crescimento”. Nesse meio tempo, odinheiro que sai dos BCs é contabilizadocomo dívida pública, ou seja, dívida que

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o Estado terá que cobrir de algumamaneira, seja cobrando impostos, sejacortando dos serviços públicos; emambos os casos, tomando dostrabalhadores. Em última instância, comotoda riqueza real em qualquer sociedadeé produzida pelo trabalho humano, aclasse capitalista e seu Estado terão queintensificar brutalmente a exploraçãopara recuperar o valor nominal emitidosob a forma de moeda sem valor. Casoisso não seja feito num intervalo de temposuficientemente curto, a crise pode sedesdobrar numa desvalorização drásticada moeda, ou seja, numa inflaçãodesenfreada.

Paradoxalmente, os detentores decapital no mundo inteiro estão nestemomento buscando “refúgio” na“segurança” dos títulos do tesouroestadunidense. O dinheiro que sai dasbolsas de valores do mundo inteiro,provocando sua queda, está sendoinvestido em dólares, o que produz avalorização artificial dessa moeda. O dólarestá sendo mantido artificialmentevalorizado, justamente no momento emque o endividamento suicida dos EstadosUnidos – com os trilionários pacotes deajuda do governo –, amplia o risco decorrosão estrutural do valor da principalmoeda mundial. Em outras palavras, ocapitalismo está se tornando refém dacapacidade do imperialismo estadunidensede cobrir sua dívida por meio do saquesobre a classe trabalhadora mundial.

OS LIMITES DO CAPITALA crise atual não é produto apenas do

esgotamento de mais um ciclo periódico(como o ciclo anterior que se encerrou em2000 com a quebra da NASDAQ), masda crise estrutural do sistema que emperraa acumulação capitalista pelo menos desdeo início da década de 1970. A criseestrutural tem sido contornada pelodeslocamento da produção material parapaíses periféricos de mão-de-obra barata(tigres asiáticos, e mais recentemente, China

e Índia), combinado com movimentos deexpansão do crédito, endividamento doEstado, das empresas e dos consumidores,e desregulamentação dos instrumentosfinanceiros.

Esse duplo movimento desuperexploração/financeirização expressauma dificuldade crescente de o capitalcontinuar se reproduzindo. Há umestreitamento crescente das margensinternas intransponíveis do própriosistema capitalista. O impulso daconcorrência obriga as empresas aincorporarem tecnologia e aumentarem aprodutividade, produzindo mais emmenos tempo de trabalho. Ao produzirmais em menos tempo, as empresaspodem dispensar a força de trabalhohumana. O desemprego tecnológicoestrutural de massa se tornou rotina emtodos os países. Ao demitir trabalhadores,as empresas diminuem a quantidade deconsumidores aptos a comprar aquilo queproduziram. Sem compradores para asmercadorias, não se fecha o ciclo derealização do valor gerado na produção.

Quando não há meios de realizar ocapital, a solução é simplesmente destruí-lo, ou seja, fechar as empresas, imobilizaras máquinas, demitir mais trabalhadores,obrigá-los a trabalhar por salários maisbaixos. Isso só faz aumentar o problemada falta de consumidores, agravando a crisee precipitando um círculo vicioso. Essacontradição está na raiz de todas as criseseconômicas. Para cada ciclo que se encerra,o capitalismo tenta encontrar uma saída.A “civilização do automóvel”, oconsumismo do estilo de vidaestadunidense, a indústria da informática,foram saídas desse tipo, bem comorecentemente a especulação com empresasde internet ou com imóveis.

Ainda não despontou no horizonte apróxima aposta do capital para tentarcontornar a crise. As alternativas estãocada vez mais escassas. Sem a novidadede um novo ramo da produção, a saídapode estar na pura e simples destruição.No limite, uma das formas de encontrarum consumidor capaz de realizar o capitalé obrigar os Estados capitalistas aentrarem em guerra, mobilizando os meiosde produção para a destruição e gerandoa necessidade da reconstrução. É destelimite que estamos nos aproximando.

AS AMEAÇAS NO HORIZONTEO sistema capitalista carece de

coordenação racional e centralização. Não

há um “Estado mundial” do sistema docapital capaz de planejar seus passos. Pormais que a superpotência estadunidensese candidate a exercer esse papel,prevalece a existência de uma articulaçãohierárquico-conflitiva entre as diversasseções nacionais do capital global. Asdiversas burguesias nacionais (ouburocracias como as da China) perseguemseus próprios interesses particulares emaberta rivalidade entre si e com os EstadosUnidos. O imperialismo europeu penetrana América Latina; a Rússia se volta parauma política nacionalista de grandepotência; a China desponta com força nocenário geopolítico: tudo isso expressa acontradição entre um único sistema sócio-econômico mundial e a existência dediversos Estados nacionais enquantoestruturas de controle político.

Na última oportunidade em que osistema se defrontou com dificuldades tãodramáticas, por ocasião da GrandeDepressão da década de 1930, não houvepolítica do Estado capaz de produzir umarecuperação por meios puramenteeconômicos. Ao contrário do que dizemos apologistas burgueses e repetem osdesinformados – e os mal-intencionadospapagaios da esquerda reformista –, nãoforam o “New Deal” rooseveltiano ou ossortilégios keynesianos que salvaram aeconomia capitalista naquela conjuntura.Depois do crash da bolsa de 1929, aeconomia dos Estados Unidos haviadesabado novamente em 1938. O sistemasó pôde sobreviver graças à destruiçãoprovocada pela II Guerra Mundial.

A destruição é essencial para aeconomia capitalista. A tendência irrefreávelde centralização em direção à formaçãode grandes monopólios e grandes impérioseconômicos, necessariamente aponta paraa destruição dos concorrentes menores emais fracos. É preciso destruirperiodicamente grandes quantidades devidas humanas, de recursos materiais, defábricas, edifícios, infra-estrutura, forçasprodutivas, enfim, para que a acumulaçãode capital possa se reiniciar. As barbáriesde Auschwitz e Hiroshima constituem umexemplo indelével da loucura destrutiva aque o capitalismo pode precipitar ahumanidade em nome da reproduçãoampliada do valor.

Dentro da atual correlação de forçasentre as potências imperialistas, a resoluçãodos conflitos em curso por meio de umaIII Guerra Mundial é improvável devidoà ameaça concreta de destruição mútua

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assegurada por arsenais nucleares e outrasarmas de destruição em massa,largamente disseminadas. Entretanto,mesmo conflitos localizados, como umainvasão estadunidense ao Irã, trazemconsigo o espectro de uma barbárieintolerável.

Ao invés de uma Guerra Mundialclássica entre grandes Estadosimperialistas, está em gestação uma guerramundial do capital contra os trabalhadores,por meio de diversas formas como a

“guerra ao terror”, a “guerra às drogas”,a satanização dos países do “eixo do mal”e de todo e qualquer movimento deresistência (doravante alcunhado de“terrorista”); e no plano interno, orenascimento da xenofobia e doneonazismo, a fascistização social, arepressão policial, a criminalização dosprotestos e da luta social, as restrições àsliberdades democráticas, a destruição dosinstrumentos sindicais e políticos da classetrabalhadora, a perseguição aos ativistas,

a censura à informação e o bloqueioideológico contra o pensamentodivergente.

A guerra é a alternativa para salvar oimperialismo estadunidense e ocapitalismo como um todo. Cabe por suavez aos trabalhadores, lutar para construiruma outra forma de sociedade, livre dascrises, das guerras, da miséria, dascatástrofes ambientais, da degradaçãocultural e humana, que só pode ser umasociedade socialista.

DESEMPREGO AMEAÇA TRABALHADORES.FORÇA SINDICAL E CUT SE ALIAM AOS PATRÕES PARA

DEFENDER O CAPITAL!Depois de negar que a crise fosse

atingir o Brasil, os empresários, osgovernos federal (PT) e estaduais (PSDB,PT, PMDB, etc), e a mídia, passaramrapidamente ao discurso oposto. Agora,sobre o que mais falam é da crise.

Mas não fazem isso para elucidar asverdadeiras causas, pois não podemadmitir que se trata de uma crise docapitalismo – sistema no qual eles são aclasse dominante e, portanto, os maioresculpados. O objetivo dessa campanhaideológica é justificar as ajudas bilionáriasdo Estado aos empresários, e o enormedesemprego como conseqüênciasautomáticas da crise.

O governo Lula já concedeu mais deR$ 350 bilhões aos bancos e empresáriosatravés da diminuição dos depósitoscompulsórios. Também ordenouaquisições – via Caixa Econômica eBanco do Brasil – das fatias podres demédios bancos e deu isenções de impostosa setores como montadoras, agro-negócioe outros. Além disso, criou o maiorprograma de empréstimos às empresas dahistória do Brasil. Através do BNDES, asempresas e bancos poderão pegar dinheirocom a metade da taxa de juros cobradapelo mercado, bem como usufruir deprazos prorrogáveis por quantas vezesquiserem. São mais R$ 130 bilhõesdisponíveis para as empresas.

É uma ironia que seja justamente oPT a fazer de tudo para tentar salvar o

capitalismo no Brasil, partido este quecriticava duramente (e com razão) ogoverno FHC por ter doado, anos atrás,R$ 10 bilhões para os bancos através doPROER.

No mesmo sentido segue o Pacoteda Habitação no qual, além de concederisenções de impostos para as construtoras,o governo pretende comprar casas queas construtoras não conseguem vender efinanciá-las aos trabalhadores, fazendocom que se crie uma nova bolhaimobiliária – desta vez bancada peloEstado –, o que pode ter conseqüênciasgraves em um curto espaço de tempo,como nos EUA.

Todo esse montante – e com certezao governo disponibilizará ainda mais – estásendo retirado do Estado, e certamenteserá cortado do orçamento das áreassociais como saúde, educação,funcionalismo público, além do aumentodas Dívidas Interna e Externa.

Mas, que ninguém se engane, todasessas medidas, apesar de custarem muitoao Estado, são apenas paliativos muitofrágeis que podem diminuir a intensidadeda hemorragia momentaneamente, masnão por muito tempo.

Não se pode prever quanto tempo acrise ainda vai durar, nem suaprofundidade, mesmo porque está apenasem seu início. Mas os dados apontampara uma recessão, com possibilidade atémesmo de uma depressão, dependendo

do que aconteça nos países centrais.Por isso, a outra ponta da tesoura que

atinge duramente os trabalhadores é odesemprego em massa. Os dados dedezembro espantaram bastante – próximode 1 milhão de demissões –, mas os desteprimeiro trimestre tendem as ser iguaisou piores.

Podemos afirmar que o centro daconjuntura são as ações dos empresáriose do governo para jogar as conseqüênciasda crise para os trabalhadores.

Ao mesmo tempo, assistimos a umagrande onda de fusões e aquisições, bemcomo a diversificação de investimentosfeitos pelas empresas, buscando áreasmenos afetadas ou mais promissoras parao futuro. Assim, a Vale do Rio Doce, aomesmo tempo que demite, aumenta suaparticipação na exploração de petróleo, deolho na reserva do pré-sal. Esse é um sinalde que estas empresas não estão tão “maldas pernas”, mas sim querem manter ouaumentar seus lucros exorbitantes.

AS SAÍDAS DO CAPITAL E SUA LÓGICAOs argumentos da patronal para jogar

os custos da crise sobre os trabalhadores– com demissões, redução de direitos ecortes no orçamento social do Estado –são os de que a queda da produção é umadecorrência natural da queda da demanda,e o desemprego é uma conseqüência daqueda da produção. Portanto, odesemprego é inevitável, a não ser que o

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mercado se reaqueça. Tudo muito simples.Quem em sã consciência questionaria tãorealista argumento?

No entanto, escondem que overdadeiro problema para umreaquecimento da economia é que osrendimentos dos trabalhadores e da classemédia vêm decaindo ao longo do tempo,fruto da concorrência agora globalizadae do avanço tecnológico. O consumo demassas só se sustentou nos últimos anosdevido à hipertrofia do crédito. Mas esserecurso revelou seu esgotamento pelosimples fato de que ninguém pode seendividar pela vida inteira, sem ter a realcapacidade de pagar.

Uma vez que desmoronou a pirâmidede crédito fácil e irreal, as empresas estãofazendo de tudo para manter seus lucros,adequando sua produção ao consumo realobservado.

Os economistas burguesesapresentam as coisas como se os interessesde lucro do capital fossem algo natural,existentes desde sempre, e não pudessemser questionados.

Mas esse mesmo raciocínio tambémpode ser interpretado de outra maneira.E se as empresas baixassem os preços dasmercadorias mais necessárias? E seaumentassem os salários e os direitos ?Ou uma saída ainda mais “criativa”: e sefizessem as duas coisas ao mesmo tempo?Dessa forma, haveria automaticamenteum aumento da procura, principalmentedos bens de primeira necessidade. E nãoseria necessário demitir mingúem.

Mas os empresários logo rebatem quese as empresas baixassem os preços, ouaumentassem os salários, seu lucro cairia,o que as tornaria inviável. Mas inviávelpara quem? Para os capitalistas, é claro,pois partindo das necessidades dos

trabalhadores – que são ao mesmo tempoos que de fato produzem –, é claro queelas não se tornariam inviáveis.

O problema então que não deve serquestionado é o direito das empresas aomaior lucro possível! Nesta lógica tudo, atémesmo a produção dos bens de consumomais necessários, os empregos e a própriasociedade, só podem existir se derem lucro!

Ora, o nível de profundidade da crisee o avanço da tecnologia exigem que serompa justamente com a lógica limitada eegoísta do funcionamento da sociedadebaseada no lucro, para podermos discutirsaídas de outro tipo, que interessem aostrabalhadores. Esse debate é central, porquesignifica que não há saída de fato para acrise, se os trabalhadores aceitarem que olucro do capital é sagrado e intocável.

CUT E FORÇA SINDICAL: PORDENTRO E A SERVIÇO DA LÓGICA DO

CAPITALÉ justamente isso que estão fazendo

as centrais sindicais como a Força Sindical,a CUT e a CTB. Todas elas partem doprincípio de que a lucratividade dasempresas é condição sine-qua-non para queas mesmas mantenham os postos detrabalho e os salários. A partir daí, a buscapor “soluções criativas” está condenada aresultar sempre em decisões prejudiciais aostrabalhadores.

É assim que a Força Sindical temdefendido de forma pública um acordogeral com a FIESP, pautado na suspensãodos contratos de trabalho, redução desalários e direitos, com o argumento deque é o único meio de diminuir os gastosdas empresas e assim, “evitar demissõesem grande escala”. Na verdade, essesacordos nem sequer garantem o mínimo

de estabilidade no emprego. A CUT e aCTB, por sua vez, fazem um discurso umpouco diferente, mas na práticaimplementam os mesmos acordos – nãoainda pela central–, mas por meio dossindicatos a elas filiados.

No entanto, apesar de toda a “boavontade” das centrais oficiais em defendera lucratividade das empresas, estas nãotêm demonstrado disposição em negociar– nem sob essas condições rebaixadas.

A conseqüência maior dessas“negociações” entre as centrais pelegas eos empresários tem sido a criação de umacortina de fumaça atrás da qual os patrõesestão demitindo aos milhares todos os dias.

Em vez de se colocar junto aostrabalhadores e chamar à luta – o que aCUT teria feito em outros tempos –, essascentrais cumprem o papel mesquinho decriar ilusões nos trabalhadores dapossibilidade de uma saída consensualpara a crise. E enquanto tentam manteras aparências, fazem de tudo para impedirqualquer mobilização que possa de fatoapontar uma saída dos trabalhadores paraa crise, como greves e ocupações dasempresas que demitirem.

Apesar de tudo isso, o desemprego ea precarização dos direitos vão fazer comque se desperte o proletariado brasileiro.Após alguns anos de crescimentoeconômico e ilusões de que o país pudessecrescer ininterruptamente, o impacto dacrise já começa a desfazer na consciênciados trabalhadores aquela visão de que oBrasil é diferente do resto do mundo. Adepender dos ritmos do agravamento dasituação internacional, os novos capítulosda crise poderão ser mais quentes na lutade classes brasileira, assim como já estásendo na Europa.

• Não às demissões! Lutar para imporuma lei que proíba as demissões ereadmita os demitidos!

• Redução da jornada de trabalhosem redução dos salários!

• Estatização sob controle dostrabalhadores e sem indenização dasempresas que demitirem, ameaçaremfechar ou se transferirem!

• Reestatização da Vale e demaisempresas privatizadas sob controledos trabalhadores, sem indenização

e com readmissão dos demitidos!

• Não pagamento das dívidaspúblicas, interna e externa, einvestimento desse dinheiro numprograma de obras e serviçospúblicos sob controle dostrabalhadores, para gerar empregose melhorar as condições imediatas desaúde, educação, moradia,transporte, cultura e lazer.

• Fim da remessa de lucros para oexterior!

PPPPPropostas para um programa dos trabalhadores contra a criseropostas para um programa dos trabalhadores contra a criseropostas para um programa dos trabalhadores contra a criseropostas para um programa dos trabalhadores contra a criseropostas para um programa dos trabalhadores contra a crise• Estatização do Sistema Financeirosob controle dos trabalhadores!

• Reforma agrária sob controle dostrabalhadores. Fim do latifúndio e doagro-negócio. Por uma agriculturacoletiva, orgânica e ecológica voltadapara as necessidades da classetrabalhadora!

•Por um governo socialista dostrabalhadores baseado em suasorganizações de luta!

•Por uma sociedade socialista!

Ao longo do ano de 2008, quando acrise econômica começou a despontar nosnoticiários com o nome de “crisefinanceira”, foram anunciados váriosprocessos de fusão entre grandes bancosbrasileiros. Uma dessas fusões, a comprado ABN/Real pelo Santander, resulta deum processo que reúne dois bancosinternacionais que operam no mercadobrasileiro, afetando cerca de 50 milfuncionários brasileiros que trabalhamnessas instituições. O evento maisbombástico foi a fusão entre Itaú eUnibanco, 2º e 5º maiores bancos doBrasil, respectivamente, que formariamo maior conglomerado bancário brasileiro,com mais de 4.100 agências e 100 milfuncionários.

Para responder a esse novo gigante,ocorreu a estranha compra da NossaCaixa pelo Banco do Brasil, um processoem que uma empresa controlada pelogoverno federal compra uma empresa dogoverno do Estado. O BB passaria a termais de 100 mil funcionários no seuquadro e ficaria perto de voltar a ser o

maior em ativos. A estranheza só se dissipaquando se observa mais de perto ofuncionamento do Banco do Brasil, quedeixou de ser um banco público paradisputar mercado com os bancos privados,adotando as mesmas práticas desuperexploração dos funcionários,péssimos serviços e altas tarifas.

Com as fusões, passaria a haversobreposição de funções entrefuncionários de uma mesma empresa, emespecial nos departamentosadministrativos e de suporte. Em outras

palavras, passaria a haver um excesso defuncionários, os quais seriam demitidos.Essa é a ameaça concreta representadapelas fusões. Num primeiro momento, osbanqueiros negam as demissões, para ficarde bem com a opinião pública. Mas nomédio e longo prazo, a história deconcentração no mercado bancáriobrasileiro mostra que o destino do“excesso” de funcionários é de fato ademissão, ao invés de ser, por exemplo, oaproveitamento nas agências paramelhorar o atendimento ao público.

O movimento sindical nacional dacategoria bancária, hegemonizado pelaContraf/CUT (PT), não está organizandoa luta dos trabalhadores contra as fusões.Para não se chocar com o governo doPT, a Contraf/CUT não contesta a lógicade banco privado com que funciona o BBe muito menos a concentraçãomonopolista do setor bancário brasileiro.A única solução, tanto para os bancárioscomo para a sociedade, é a luta pelaestatização do sistema financeiro sobcontrole dos trabalhadores.

FUSÕES DE BANCOS PROVOCARÃO MAIS DESEMPREGO

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O governo Lula preparou umpresente nada agradável para ostrabalhadores dos Correios, instaurandoo Grupo de Trabalho Interministerial(GTI) sob a desculpa de “modernizar”a empresa, mas com objetivo de darcontinuidade a privatização dosCorreios.

Não é o primeiro projeto que apontano sentido de privatização dos Correios.Isso vem ocorrendo desde o fim dos anos80, quando a direção dos Correioscontratou uma empresa de terceirizaçãodos carteiros. Depois foi a concessão dasfranquias, e por último a terceirização dafrota de veículos. Em todos os casos, asmedidas consistiram em passar para ainiciativa privada serviços prestados pelosCorreios, quebrando, com isso, oMonopólio Postal.

Heróicas lutas da categoriaconseguiram impedir a continuidade datransferência de serviços para o setorprivado. A terceirização do setor de

transportes ainda não foi revertida,porque a empresa iniciou o processo emum momento de refluxo da categoria ehoje a maior parte da frota é terceirizada.

O grave de tudo isso é que esseprocesso conta com a conivência dagovernista FENTECT (FederaçãoNacional dos Trabalhadores emCorreios) e dos sindicatos dirigidos pelaCUT ou pela CTB. As últimas lutas dacategoria já tinham se deparado com anecessidade de, além de enfrentar adireção da empresa e o governo,também lutar contra a direção dosindicato e da Federação, que vivempara sabotar a luta dos ecetistas.

Para o próximo período, estácolocado o desafio de sairmos à lutacontra a privatização dos Correios, e issosignifica que nossa luta vai ter que terquantidade e também qualidade.

É preciso, desde já, organizar umaampla campanha de defesa do caráter

público e estatal dos correios. Para nós,é fundamental que essa luta coloque nohorizonte a necessidade de que osCorreios fiquem sob controle dostrabalhadores, única forma de garantiro caráter público da empresa e estar àserviço dos trabalhadores.

A CONLUTAS realizou umseminário dia 17 e 18 de Janeiro último,onde reuniu lutadores de vários setoresda grande São Paulo, do estado etambém de outros estados. Para nãodecidir de cima pra baixo, por propostado Espaço Socialista, ficou acertado queserão feitas reuniões com a base nossetores para discutirmos formas de lutaspara barrarmos esse processo.Paraavançar nessa campanha propomos asseguintes medidas: Promover reuniõescom a base nos setores, convocarencontros regionais e estaduais de basepreparando para um grande encontronacional de base para que possamosreorganizar a categoria em nível nacional.

GOVERNO LULA QUER PRIVATIZAR OS CORREIOS

Há alguns dias, a Conlutas enviouuma Carta às centrais sindicais que diz:“Construamos a unidade na luta em defesa doemprego, contra a redução de salários e dos direitosdos trabalhadores”...

“Acreditamos ser necessário, e possível, aunidade concreta na luta contra as demissões e àresistência dos trabalhadores que estão em curso...E que realizemos um Dia Nacional de Protesto,com paralisações e manifestações em todo o país, eque possa apontar para a preparação de formasde luta mais radicalizadas, como a Greve Geral.”

Ora, em princípio, ninguém seriacontra a unidade, mesmo que limitada aapenas um ponto – a luta contra asdemissões – desde que essas centraisestivessem demonstrando umadisposição mínima de lutar contra asdemissões.

O problema é que elas estão fazendoo oposto: não apenas barram asmobilizações, como defendem umprograma de apoio às reivindicações dospatrões de pedir dinheiro ao Estado,redução de jornada com redução desalários, PDV’s (Plano de DemissõesVoluntárias), suspensão temporária decontratos de trabalho, antecipação doseguro desemprego, flexibilização dedireitos em troca de alguns meses a maisde emprego e depois ...demissão domesmo jeito.

E essas centrais fazem sua propagandaaos quatro ventos. Não há confusãoquanto ao que elas defendem. A confusãona cabeça dos trabalhadores é sobre aexistência ou não de outra saída...

É nesse ponto que a CONLUTASdeveria estar intervindo com toda aforça, desmascarando a traição da CUTe da Força sindical e apresentando umoutro rumo aos trabalhadores.

É preciso disputar a consciênciados trabalhadores contra essas saídaspropostas pelas centrais pelegas, enão chamá-las para uma lutaconjunta que não tem a menorpossibilidade de se realizar, já que oprograma dessas entidades é patronal egovernista – a não ser que a CONLUTASceda ao programa dessas centrais, o quenão está colocado.

Polêmica com o PSTU

UNIDADE COM A CUT E A FORÇA SINDICAL?Ao fazer esse chamado insistente e

descolado da realidade, às centrais pelegas,o PSTU faz com que a CONLUTASperca uma grande oportunidade de sediferenciar e apresentar um perfil claro ecompletamente oposto ao dessas centrais.Isso em nada contribui para que a classetrabalhadora possa superar essas direçõesque são entraves à luta.

OUTRA DEFASAGEM: A AUSÊNCIA DEUMA DISCUSSÃO MAIS QUALIFICADA

JUNTO AOS TRABALHADORESA ausência de uma intervenção

ideológica mais qualificada junto aostrabalhadores, a fim de contribuir para aelevação do seu nível de consciência, é umproblema estrutural da atuação do PSTUe que este vem imprindo à CONLUTAS.

Para ficar apenas em uma defasagemelementar, até agora não tivemos nenhummaterial nacional em quantidade massivaque possa ser distribuído aos milhões entreos trabalhadores e estudantes, colocandoa posição de nossa entidade e fazendo ocontraponto com as centrais pelegas.Também não houve o chamado àsreuniões das instâncias de base como asestaduais e regionais da CONLUTAS.

Essa defasagem de trabalhoideológico prático junto aos trabalhadoresé muito grave, porque não combate afundo as falsas idéias apresentadas pelo

sistema.Um exemplo disso são as 802

demissões na GM de São José dosCampos, onde o sindicato é dirigido pelaCONLUTAS. Não puderam ser evitadas,pois os próprios trabalhadores da fábricae da região não se dispuseram a ir à greve.Pode-se apontar outros motivos, mas issotambém demonstra a falta de um trabalhoideológico mais qualificado, mesmo emum sindicato dirigido há muitos anos pelosetor majoritário na CONLUTAS. Olema “demitiu, parou” demonstrou-se imediatista perante a campanhaideológica dos patrões e da mídia,pois chamava a uma ação só depoisdo ataque.

A situação é ainda mais grave, poisna Schrader Bridgeport Brasil, outrafábrica de São José, a patronal estápressionando o sindicato a aceitar aredução de jornada com redução de saláriosem 20%, utilizando-se de um documentoassinado pelos empregados.

Pode-se alegar as dificuldades doisolamento, mas esses dois exemplosmostram claramente a dificuldade de ostrabalhadores enfrentarem a crisedesprovidos de uma saída mais de fundo,sem uma consciência anticapitalista esocialista. E, lamentavelmente, a esquerdaem geral e o PSTU em particular não temrespondido à altura essa necessidade.

Por isso, alertamos para aimportância de uma ampla campanha deagitação e propaganda junto à classetrabalhadora, não para chamar umaunidade artificial com as centrais pelegas,mas para chamar a unidade na luta poruma alternativa dos trabalhadores contraa crise e o capitalismo.

Juntamente ao chamado e asolidariedade às lutas em curso, é precisoapresentar um programa que parta dasreivindicações imediatas – a primeiradelas: o emprego – e vá em direção ànecessidade de que os trabalhadores esuas organizações de luta assumam ocontrole da riqueza social, pois são osúnicos que podem apresentar umasolução real para a crise econômica,social e ambiental.

CHAMADO À UNIDADE COM A CUT E FORÇA SINDICAL, AJUDA OU ATRAPALHA O DESENVOLVIMENTO DA CONSCIÊNCIA DOSTRABALHADORES?

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“Ao fazer esse chamado insistentee descolado da realidade, àscentrais pelegas, O PSTU faz comque a CONLUTAS perca umagrande oportunidade de sediferenciar e apresentar um perfilclaro e completamente oposto aodas centrais pelegas...”

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POR UM ENCONTRO NACIONAL ANTI-PATRONAL E ANTI-GOVERNISTA PARAORGANIZAR A RESISTÊNCIA EAPRESENTAR UMA SAÍDA DOSTRABALHADORES!

Para se colocar à altura dosacontecimentos, os pólos de aglutinaçãoda esquerda combativa – como aCONLUTAS e a INTERSINDICAL,que não capitularam aos empresários egovernos – devem somar força e fazerum amplo chamado a um EncontroNacional dos Trabalhadores, anti-governista e de luta em defesa doemprego, do salário e da moradia, contraas investidas empresariais egovernamentais. Esse Encontro pode seconstituir um grande fato político para aclasse trabalhadora e se tornar umareferência centralizada para as lutas destepróximo período.

Propomos que esse Encontro sejaprecedido de Encontros Regionais,como forma de preparação eaglutinação para dar respostas aosproblemas locais.

Não podemos nos esquecer que arealização do Encontro de março de 2007– que aprovou um calendário de luta, coma participação unitária da esquerda emvários momentos daquele ano –, foifundamental para que as demais centraisse sentissem pressionadas e exigissem dogoverno Lula o adiamento da Reformada Previdência, tal como estava prevista.

No entanto, e já naquele momento,foi somente a partir de uma grandepressão dos trabalhadores e ativistas debase que as direções da CONLUTAS eda INTERSINDICAL concordaram emconvocar esse Encontro Nacional, que sedemonstrou vitorioso.

Hoje, estamos numa situação em quese faz mais necessária ainda a unidade dostrabalhadores para enfrentar os ataquesque os governos e a patronal estãodeferindo sobre nós. É urgente aconstrução de um pólo unitário dereferência para os trabalhadores – nãoapenas nas lutas imediatas, mas tambémpara discutir e aprovar um Programa

UM CHAMADO À ESQUERDA: UNIDADE PARACONSTRUIR UMA SAÍDA DOS TRABALHADORES

Mínimo contra a crise –, que representeuma saída dos trabalhadores contra osrecursos tramados pela patronal,juntamente às centrais pelegas.

Nesse sentido, o Seminário de meioperíodo realizado em Belém por ocasiãodo Fórum Social Mundial, e que contoucom a participação de 800 pessoas, é umpasso adiante na retomada da unidade.

Porém, esse Seminário não substituia necessidade de um Encontro Nacionalmuito mais amplo, pois diante doagravamento da crise e dos ataques contraos trabalhadores é preciso organizar algomuito maior e construído pela base.

Esse Encontro deve ser realizado emSão Paulo ou outro estado do sudeste –principal foco das demissões e pólo deconcentração da classe trabalhadora –, eassim reunir um conjunto mais abrangentee representativo de entidades e ativistasque não puderam estar em Belém.

Somente um Encontro preparado apartir da base pode expressar a diversidadedos movimentos e entidades existentes,bem como o envolvimento real nasdiscussões e decisões, coisa que muitasvezes não acontece na esquerda e que éextremamente importante no momentoatual.

Há uma necessidade de ostrabalhadores e ativistas serem sujeitosdecisivos de suas lutas, e não apenascumpridores de decisões vindas de cima.Até porque, na maioria das vezes, essasdecisões não refletem as necessidadesreais do proletariado.

A realização de um EncontroNacional não se opõe à organizaçãoimediata de um Dia Nacional de Luta.Pelo contrário: é possível encaminharas lutas e simultaneamente preparar osEncontros Regionais e Nacional.

Da mesma forma, um EncontroNacional não se opõe aos passosnecessários para a unificação, jáamplamente defendida nestas páginas,entre CONLUTAS eINTERSINDICAL. No entanto, dadasas divergências entre as duas entidadese os debates de concepção colocados, aunificação será necessariamente mais

demorada, enquanto a luta contra osataques do capital é de máxima urgênciae deve ser travada agora e com aparticipação de todos. Além disso, hásetores de base de outras centrais quepodem estar insatisfeitos e queiram sesomar nesse processo de luta.

Assim, por todos os ângulos com quese reflita, a realização de um EncontroNacional aparece como necessidadeprática impostergável da luta dostrabalhadores.

Curiosamente porém, até agora nema direção da CONLUTAS – formadamajoritariamente pelo PSTU – nem a daINTERSINDICAL – hegemonizada porcorrentes do PSOL – apresentaram essaproposta. Isso é estranho, uma vez quetodos afirmam defender a unidade e ademocracia de base. Este é um grave errodas grandes correntes e devemos lutar detodas as formas para que seja revertido.

Para tanto, o Espaço Socialistachama todos os ativistas, tantoorganizados como independentes, a sesomarem a nós no esforço pela realizaçãodesse Encontro Nacional, precedido deEncontros Regionais.

No ABC, local duramente castigadopelas demissões e onde o EspaçoSocialista tem maior inserção, já estãosendo dados os passos para a realizaçãode um Encontro Regional de lutadores,a partir do envolvimento da subsede daAPEOESP - Santo André e outrasentidades e correntes da região.

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Os dados oficiais dos países europeusconfirmam o que os trabalhadores jádetectaram na prática há muito tempo:há uma grave crise econômica mundial.

Um recente documento da Comissãoda Comunidade Européia (composta por27 países) é enfático: “a crise financeira aindanão cessou e já está a degenerar numa gravedesaceleração da economia no seu conjunto,afectando as famílias, as empresas e o emprego”e ainda “A desaceleração da actividadeeconómica afectará as famílias e as camadas maisvulneráveis das nossas sociedades, fazendo jásentir os seus efeitos em termos de desemprego”.

Sob o ponto de vista dostrabalhadores, o texto é explicito: os efeitosda crise afetam diretamente a classetrabalhadora.

Outro aspecto importante dodocumento é o reconhecimento, já emoutubro de 2008, de que a crise não é sófinanceira e muito menos isolada, poisatinge a economia capitalista de conjunto:“A crise financeira suscitou questões de governaçãoa nível mundial, que ultrapassam o sectorfinanceiro”.

A novidade dessa nova crisecapitalista é o fato de estar no coração dosistema, com países centrais enfrentandograndes dificuldades e adotando medidasque, sob o pretexto de ajudar o povo,utilizam bilhões de dinheiro público parasalvar as empresas e bancos.

O sistema financeiro de vários paísesdo continente recebeu socorro dosgovernos com a injeção de bilhões deeuros. O endividamento do Estado temse tornado um grave problema nasprincipais economias.

Nenhum analista burguês e nem osgovernos negam mais: A Europa, queocupa papel fundamental na economiacapitalista, está em recessão. Dadosoficiais, divulgados no início desse ano,apontam para um aprofundamento dacrise,pois França, Itália, Inglaterra,Alemanha, Espanha,etc apresentaramretração na economia.

E a crise tem uma outra conseqüência:o aumento da competitividade no mercadomundial. Com isso o imperialismo europeuaprofunda os ataques sobre as conquistas

dos trabalhadores para reduzir custos coma produção, o que lhe permite melhorescondições na competição por novosmercados.

Destacamos também que esseprocesso ocorre no conjunto dos países daEuropa, sejam centrais ou periféricos comdesigualdades ou ritmos distintos, mas nãosignifica que estejam “descolados” desseprocesso mais geral. Essas desigualdadesnão anulam a caracterização fundamentalde que todos, em maior ou menor grau,são parte dessa crise.

TANTO LÁ QUANTO CÁ, OSTRABALHADORES SÃO AS VÍTIMASA solução capitalista para a crise passa

por adotar medidas que garantam amanutenção do lucro. Dois mecanismosprincipais têm sido adotados para apreservação das empresas: 1)aintervenção do Estado (desmascarando devez o neoliberalismo de que o Estado nãodeve intervir na economia) com liberaçãode verbas públicas para bancos eempresas, ou na forma de incentivo fiscalou mesmo de aplicação direta como acompra de ações e papéis podres. 2) Aaplicação direta, por parte de empresas egovernos, de ações que atinjam os direitostrabalhistas (como redução de jornadacom redução de salário, por exemplo) eaumente as demissões.

Destacamos duas questões emrelação ao desemprego nesse período:1)grande parte das demissões é promovidapor empresas/bancos que recebem ajudado Estado; 2) Essa eliminação de postosde trabalho é uma das característicascentrais e atuais do capital, pois o aumentodo desemprego estrutural está aliado aodesenvolvimento tecnológico e as novasformas de gerenciamento aplicados àprodução e fazem com que se reduzadrasticamente o trabalho humano.

Podemos observar melhor estadinâmica através dos númerosapresentados no relatório Tendênciasmundiais de emprego em 2009 da “suspeita”OIT que aponta para o fechamento de50 milhões de postos de trabalho nesseano, o que elevaria para 230 milhões de

pessoas desempregadas no mundo. Alémdos números que evidenciam a situaçãode miséria no planeta, pois de 3 bilhõesde pessoas empregadas: 1,3 bilhão ganhaaté 2 dólares diários e 489,7 milhõesganham menos de 1 dólar por dia.

O VELHO CONTINENTE PRESENCIA UMANOVA ONDA DE LUTAS

Na Europa o desemprego não párade crescer.Dados das agências oficiaisapresentam: Na Alemanha são mais de 3,2milhões de desempregados podendochegar a 4 milhões em menos de 1 ano; naEspanha os desempregados também jápassaram dos 3 milhões; Na Inglaterra aexpectativa é de que em 2010 serão maisde 3 milhões,50% maior que o número de2008. Na França existem mais de 2 milhõesde desempregados. Nos países do antigo“bloco soviético” o desemprego médio éde 10%. Apesar dos governos negarem, atendência geral é que o desempregocontinue aumentando, pois todos os diasos grandes monopólios/oligopóliosimperialistas continuam informandomilhares de cortes de postos de trabalho.

A crise, a ameaça de desemprego eos ataques que a burguesia estádesferindo contra os trabalhadores estãocolocando em cena atores importantes daluta de classes mundial: os trabalhadorese jovens do velho continente. As lutas quea juventude européia protagoniza e asrecentes manifestações do proletariadoeuropeu são apenas demonstrações dacriação de novas possibilidades para lutade nossa classe.

Essas lutas representam a continuidadede um processo anterior que vinha sedesenvolvendo já há algum tempo:

Bélgica: no mês de outubro ostrabalhadores – públicos e privados –desencadearam a mais importante luta dosúltimos tempos. A paralisação alcançoutrabalhadores metalúrgicos, dos Correios,do transporte público, da indústriaautomobilística Audi e dos supermercadosCarrefour. O destaque é que essa lutaocorreu mesmo com as direções sindicaisdefendendo apenas mobilizações para“pressionar” o governo.

O PROLETARIADO EUROPEUMOSTRA O CAMINHO

Europa

Espaço Socialista

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Na França, também no mês deoutubro, trabalhadores da Renault daregião de Sandouville realizaram umaimportante greve contra a demissão de1000 trabalhadores. Um fato interessantefoi essa greve obrigar Sarkozi a cancelaruma viagem programada para essa fábrica,sob a alegação de “que não é convenienteir a uma fábrica em luta”. O processo demobilização se estendeu para dezembrocom a luta de estudantes e professorescontra uma proposta francesa de reformano ensino secundário que, entre outrascoisas, geraria o saldo de mais de 13 mildemissões de professores.

Essas mobilizações, na mesma épocaem que ocorriam na Grécia, obrigaram ogoverno francês a recuar nessa reformae nas discussões sobre flexibilização deleis trabalhistas.

O ano de 2009 começa com váriasmobilizações de sem-teto, metalúrgicos efuncionários públicos. Nesse contexto desurgimento de movimentos sociaisdestacam-se grupos de desempregados etrabalhadores denominados de “RobinWood dos supermercados” que se reúnempara saquear supermercados em Paris eoutras cidades, como Rennes e Grenoblee depois distribuir para os pobres.

Esse processo de lutas culminou em29/02 em uma greve geral detrabalhadores do setor público e privadoe de estudantes. Paralisou diversasrepartições públicas e teve a adesão dosetor de transportes. A greve foi motivada,além do acúmulo das tensões anteriores,pela tentativa do Governo Francês deimpor aos trabalhadores uma reformaprevidenciária que tem em sua pauta,inclusive, a elevação do tempo decontribuição, e busca retirar dostrabalhadores vitórias há muitoconquistadas.

Com um milhão e meio detrabalhadores nas ruas esta manifestaçãofoi uma das maiores dos últimos anos. Aluta não é só contra a gestão da crise porSarkozy, mas também contra os própriosfundamentos da solução capitalista para ascrises, que reserva ao trabalhador amiséria.

O caráter massivo e unitário da greve– que contou com trabalhadores dasempresas automobilísticas, da construçãocivil, bancários, químicos, funcionáriospúblicos, trabalhadores dos Correios, dehospitais e estudantes - é umademonstração importante de que oproletariado está percebendo anecessidade de lutas unificadas pela defesa

da classe e serve de indicativo para osdemais trabalhadores do mundo de comodevemos enfrentar a crise.

No mês de dezembro a Espanhatambém foi sacudida por mobilizaçõesestudantis contra o “plano Bolonha”, umareforma universitária que abre apossibilidade de privatização da educação.Antes, em novembro, os trabalhadores daNissam já haviam realizado umaimportante mobilização contra a demissãode mais de 1600 trabalhadores e com ainvasão da sede da empresa.

Outro importante processo demobilização foi o protagonizado pelosestudantes, professores e pais de alunosna Itália contra a lei Gelmini (ministra daEducação) que corta quase 8 bilhões deeuros das verbas para a Educação, ameaçade desemprego 130 mil professores nospróximos anos com a redução para 1professor por sala (desde a década de 70são três professores por sala de aula noensino primário), separa em classesdistintas imigrantes e italianos e inicia umprocesso de privatização das universidades.Somente em Roma as mobilizaçõesreuniram mais de 1 milhão de pessoas,além de manifestações em cidadesimportantes como Milão, Sicília, Turin eoutras. Mas infelizmente o governo deBerlusconi conseguiu impor essa reformae o movimento retrocedeu.

Sem dúvida, a mais importantemobilização do velho continente ocorreuna Grécia no mês de dezembro. Iniciadacontra o assassinato pela polícia do jovemAlexis Grigoropoulos logo se espalhou porvárias cidades. Atenas era o centro e a“gota d’água” para os protestos foi açãocovarde da polícia. A situação política eeconômica – com milhares detrabalhadores vivendo abaixo da linha dapobreza e um alto nível de desempregoque, oficialmente, alcançou 23% - colocoua juventude como principal vítima. Amaioria dos jovens quando terminam seusestudos não conseguem emprego equando conseguem os salários não passamdos 600 euros, constituindo o que os

gregos chamam de “geração dos 600euros”.

Expressando um processo muito maisprofundo de descontentamento social asmobilizações logo se espalharam e váriascategorias se incorporaram à luta com arealização de greves e manifestações emconjunto com os estudantes, o queconstituiu uma importante aliança para aluta e permitiu caráter de classe maisdefinido. O ápice desse processo foi a grevegeral de 10 de dezembro, que paralisou osprincipais centros econômicos do país.

UMA VITÓRIA DOS TRABALHADORES DAEUROPA PODE SER DECISIVA

A vitória dos trabalhadores europeus,pela sua força política e social, é decisivapara a luta de classes em nível mundial.Uma burguesia poderosa, como a daEuropa, também gera um proletariadopoderoso que em movimento colocanovas perspectivas para a luta dostrabalhadores no mundo. Está nos paísesimperialistas a principal frente de batalhado proletariado mundial. Na luta declasses podemos dizer que os ventos donorte movem moinhos.

Não acreditamos que se tenhaapagado da memória dos trabalhadoreseuropeus os feitos heróicos e históricosque seus antepassados protagonizaram. Asrevoluções do início do século XX foramvitórias espetaculares sobre a burguesia eo imperialismo.

Assim, acreditamos que no próximoperíodo o proletariado europeucontinuará no caminho das lutas. Serãolutas de vida ou morte, pois ouavançaremos nas nossas lutas oudeixaremos o caminho para a burguesiajogar sobre as nossas costas os custos dacrise por ela provocada. Como em todasas crises a saída para o capitalismo temsido o aumento da barbárie e da misériade populações inteiras.

A crise, por ser global, envolve todosos países, tanto de economia imperialistaquanto os de economia dependente. Ocapital é único. A crise é única em todo omundo e nos possibilita afirmar que oresponsável por seus efeitos devastadoresé o sistema capitalista.

Assim, cada luta de trabalhadores queacontece no mundo é a nossa luta.Somemo-nos em cada uma delas comsolidariedade e apoio. Fortalecemos cadauma delas colocando-nos em movimento.Unimo-nos em cada luta para destruirmoso que não serve mais e para construirmosuma sociedade socialista.

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MUDOU O CHEFE, MAS OINIMIGO É O MESMO

Estados Unidos

OBAMA E A CRISEA eleição de Obama responde a uma

necessidade do imperialismo estadunidensede recuperar sua legitimidade política ereconstruir a coesão ideológica em tornoda idéia da viabilidade do capitalismo, nomomento mesmo em que o sistema édesafiado por uma de suas mais sériascrises. A função da “Obamamania” quetomou conta do mundo é prover umsubstituto ideológico para o neoliberalismo,cuja hegemonia nas últimas décadasproduziu uma crise tão catastrófica, quenão há mistificação capaz de ocultar.

A eclosão inevitável das crisesperiódicas faz com que, nos momentos emque elas apareçam – como agora –, aburguesia seja obrigada a admitir a crise.Não só isso, a burguesia precisa fazê-lo comgrande estardalhaço, pois essa é a únicamaneira de fazer a classe trabalhadoraaceitar o encargo de pagar a conta da crise.A classe trabalhadora precisa ser obrigadaa aceitar passivamente as demissões, orebaixamento de salários, a perda dedireitos, o corte de serviços públicos, aproibição de todo protesto ou luta e atémesmo as guerras de extermínio. Todasessas medidas precisam ser apresentadascomo inevitáveis, pois “não há outraalternativa”.

Por outro lado, ao admitir abertamentea existência da crise, a burguesia corre umsério risco de ver questionada a próprialegitimidade do sistema capitalista. Odiscurso de que “não há outra alternativa”pode ser contestado. Nos momentos decrise, a classe trabalhadora tem apossibilidade de perceber que o sistemacapitalista não funciona, que tudo o queos patrões, políticos e intelectuaisburgueses dizem é mentira, que tudo nãopassa de uma armadilha para fazer ostrabalhadores aceitarem a exploração e amiséria. Em outras palavras, a crise abrea oportunidade para que os socialistasmostrem aos trabalhadores a necessidadede superar o capitalismo e construir um

modo de produção socialista e racional,voltado para o atendimento dasnecessidades humanas.

Abre-se então uma disputa ideológica,um confronto de alternativas para ahumanidade. Os socialistas tem a seu favora própria realidade dos fatos, que apontapara a necessidade de superar o capitalismoe evitar o aprofundamento da miséria, dabarbárie e a própria destruição dahumanidade. Por seu lado, a única armada burguesia é a mistificação. A classedominante precisa encontrar uma maneirade reciclar a crença na possibilidade docapitalismo continuar funcionando. Precisaencontrar uma maneira de dizer aostrabalhadores que não é preciso lutar, quenão é preciso revolucionar a sociedade, quetudo pode se resolver por si mesmo. Aprincipal maneira de dizer isso é atravésdas eleições para o Estado burguês. Pormeio da eleição de um novo governante,diz a burguesia, todos os problemas serãoresolvidos.

É nesse contexto que acontece aeleição de Barack Hussein Obama para apresidência dos Estados Unidos, principalpotência imperialista e epicentro da atualcrise econômica. Obama é a alternativainterna do sistema. É o conto de fadasque será impingido aos trabalhadores paraque todos acreditem que, se até mesmoum negro pode “chegar lá”, então aindahá esperança.

OBAMA E OS NEGROSA escolha de um negro não é nada

casual. Os negros sempre foram o setormais explorado e marginalizado doproletariado. Sempre foram alvo deviolência, preconceito e discriminação. Adivisão dos trabalhadores em fraçõesdiferenciadas a partir do elemento da corda pele sempre foi útil para que aburguesia impedisse a união da classe. Adisputa entre um setor “privilegiado” eum setor “excluído” pelas vagas cada vezmais escassas no mercado de trabalho faz

com que a burguesia possa reduzir o preçogeral que paga pela força de trabalho.

Ao mesmo tempo, essa duplacondição de exploração em função daclasse, e opressão em função da cor dapele, gera na população negra a demandada aceitação e da igualdade. Essa demandapode ser administrada pela burguesia semque os fundamentos da divisão de classesejam questionados. A burguesia podeconceder uma igualdade abstrata e formalaos negros para que estes se sintamrepresentados. Pode até mesmo admitirum negro como presidente do principalpaís imperialista.

O negro Obama se tornou a esperançade milhões de negros no seu país e nomundo inteiro. Entrou em ação a todovapor o mecanismo da mistificação peloqual a classe trabalhadora do mundo inteiro,negra ou não, pode ser levada a acreditarnas virtudes do capitalismo e de seu regimepolítico de democracia representativa. Aoinvés de lutar contra a divisão da sociedadeem classes, os trabalhadores passam afestejar a aceitação de “um dos seus” nolugar principal do palco.

OBAMA E O ESPETÁCULOA democracia burguesa consegue

assim fazer com que a política deixe deser uma disputa substantiva entrealternativas societárias e passe a ser umadisputa vazia de imagens. Em vez de lutarpor um outro projeto de sociedade, ostrabalhadores são induzidos a festejar umaoutra imagem de governante. Ao invés dese discutir o conteúdo de classe da política(os interesses de qual classe social elaatende), passa-se a discutir a identidadedo aplicador dessa política. O conteúdoda política permanece sempre o mesmo,mas a política não discute o conteúdo,apenas a aparência, reduzindo-se assim aum mero espetáculo, um jogo de cena.Obama virou um superstar, um “astro dorock”. Sua cerimônia de posse em 20/01/09 se transformou num circo para

Espaço Socialistacelebridades da indústria culturalglamourizarem o novo presidente com umverniz pop. Imagens da cerimôniacircularam pelo mundo numa espécie deapoteose, como se o próprio Messiastivesse descido à Terra.

Espetáculos semelhantes têm serepetido também na América do Sul. OChile elegeu uma mulher, a Bolívia elegeuum índio, o Paraguai elegeu um bispo e oBrasil elegeu um operário. Nada dissotrouxe mudanças positivas substanciaispara a vida da classe trabalhadora dessespaíses, pois o sistema sócio-econômicocapitalista, baseado na apropriação privadado trabalho coletivo, continuou em vigor.Nenhuma dessas figuras tinha o propósitode abolir o capitalismo; ao contrário,funcionaram como instrumentos parapreservar o sistema, manipulando asesperanças dos trabalhadores e impedindoa eclosão de lutas.

Obama terá o mesmo papel dessasfiguras da política do espetáculo. Não écoincidência o fato dele ter usado em seudiscurso de posse o mesmo bordão dacampanha de Lula em 2002: “a esperançavenceu o medo”. Obama será uma espéciede Lula global, o gestor do ataque aostrabalhadores revestido de imagemamigável. O Estado é o “comitê gestordos negócios da burguesia” (na definiçãode Marx), e Obama, na qualidade dedirigente do principal Estado burguês doplaneta, foi eleito para defender osinteresses do imperialismo estadunidense.

OBAMA E A BURGUESIAO desgaste da imagem dos Estados

Unidos ao longo da administração Bush eo crescimento de um sentimento “anti-Estados Unidos” no mundo inteiro,obrigaram a burguesia a modificar suatática. Um outro perfil de governante serianecessário para aplicar a mesma política.Para produzir essa ilusão de mudança semmudar nada de fato, a burguesia tirou dacartola um político do Partido Democrata.Desde o início da corrida eleitoral, tornou-se evidente que o próximo presidenteestadunidense sairia da disputa interna entreObama e Hillary Clinton pela indicação doPartido Democrata. Não por acaso, essadisputa foi uma das mais acirradas emtodos os tempos e foi acompanhada comgrande interesse no mundo inteiro.

Uma vez eleito, Obama buscouconstruir um governo de unidade daburguesia. Para o cargo de Secretária deEstado (equivalente ao de ministro dasrelações exteriores), ele convocou nada

menos do que sua rival na disputa épicade meses atrás, a própria Hillary Clinton.Convém lembrar que a política exterior daera Clinton foi marcada pela afirmação dasupremacia imperial dos Estados Unidos,pelo “consenso de Washington”, pelaimposição do neoliberalismo, pelos ataquesaos direitos dos trabalhadores no mundointeiro, pelas privatizações, pelos tratadosde “livre comércio” que violaram asoberania de vários países, pela escaladado poder das transnacionais, peladesregulamentação financeira internacional;e também pelas intervenções militarescontra a Sérvia (então Iugoslávia), aSomália e os bombardeios e sanções quesangraram o Iraque à exaustão – tornandoo país presa fácil poucos anos depois. Porúltimo, convém lembrar que foi a ogoverno Clinton que patrocinou os acordosde Oslo, pelos quais a OLP reconheceu oEstado de Israel e colocou o movimentode resistência nacional palestino no becosem saída em que se encontra hoje.

As primeiras declarações de Obamae Hillary sobre política externa sinalizama mudança do eixo da agressãoimperialista em direção ao Irã.Diferentemente do Afeganistão,devastado por três décadas de conflito, edo Iraque, sucateado por mais de umadécada de bombardeios e bloqueioeconômico, o Irã é uma potência de médioporte, um país populoso, coeso,fortemente centralizado por sua direçãopolítica, disposto a resistir e capaz demobilizar amplos contingentesinternacionais de combatentes para aguerra assimétrica contra o império. Naúltima oportunidade em que Bushameaçou mais diretamente o Irã, cercade 40 mil voluntários se alistaram paraser homens-bomba e explodir alvos deinteresse do imperialismo pelo mundo.Não contente com o atual atoleiro que seencontra no Iraque e no Afeganistão –dos quais aliás não vai haver tão cedo umaretirada, apesar dessa ter sido a principalpromessa de campanha de Obama –, o

imperialismo prepara uma catástrofeainda maior.

Para o cargo de Secretário doTesouro, Obama convocou TimothyGeithner, que foi dirigente da seccionalde Nova York do FED (Banco Central)na era Clinton, quando adesregulamentação financeira produziu abolha especulativa das empresas “ponto-com”. Um dos principais assessoreseconômicos de Obama será Paul Volcker,veterano presidente do FED na eraReagan e responsável por uma violentaalta dos juros no início da década de 1980,a qual precipitou a crise da dívida externana América Latina, arrastando váriospaíses para a recessão e trazendo a misériapara dezenas de milhões de trabalhadores.

Como Secretário de Defesa, Obamamanteve Robert Gates, comandante domaior aparato militar da história, nomeadopor Bush em 2006 e entusiasta dasinvasões do Iraque e do Afeganistão. Amanutenção de um Secretário de Defesaquando há mudança de partido na CasaBranca é um fato inédito na históriapolítica estadunidense.

Como se não bastasse, foi criado umcargo de “Chief Performance Officer”,para o qual foi indicada Nancy Killefer,ex-executiva da firma de consultoriaMcKinsey & Co. A função destarepresentante de Wall Street no governoserá realizar os cortes no orçamento comos quais a nova administração tentarácombater o déficit público total que jáchega a US$ 10,7 trilhões. Os cortes nãoserão feitos no orçamento do Pentágonode Robert Gates, naturalmente, mas nosprogramas de saúde pública e bem-estarsocial, já bastante precários, que atendemas famílias pobres nos Estados Unidos –a maioria negros e latinos, justamente ogrosso dos eleitores de Obama.

É importante destacar que Obama nãoestá fazendo todas essas concessões porconta da força política do PartidoRepublicano. Ao contrário, além de ganhara Casa Branca, o Partido Democrata temfolgada maioria no Senado e na Câmarados Deputados, de modo que Obama teriacondições de aprovar facilmente quaisquermudanças que quisesse. Acontece queObama não foi eleito para trazer “amudança que precisamos”, como dizia seuslogan de campanha, mas para garantir acontinuidade que o imperialismo precisa.

Como diz a célebre frase dopersonagem de Lampedusa, a burguesiaoptou por “mudar algo para que tudopermaneça o mesmo”.

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A HERÓICA RESISTÊNCIA DE UM POVOPalestina

Daniel Delfino

O SIONISMO E AS ORIGENS DE ISRAELOs 22 dias de ataques aéreos e

terrestres de Israel contra Gaza entredezembro de 2008 e janeiro de 2009produziram 1.300 mortos, 5.300 feridos,5.000 casas destruídas, 41 Mesquitasexplodidas, 5 cemitérios bombardeados,16 prédios públicos, escolas da ONU ehospitais totalmente destruídos e 80 mildesabrigados (dados dos siteswww.vivapalestina.com.br ewww.palestinalivre.org).

Esse crime é mais um capítulo deuma longa história de invasão territorial,roubo de terras, violação de direitoshumanos, opressão, tortura, morte,limpeza étnica e genocídio de que ospalestinos têm sido vítimas. Antes mesmoda criação do Estado de Israel em 1948,havia um movimento de colonização daPalestina por judeus europeus organizadosem torno da ideologia sionista. Nasdécadas de 1920 e 30, invasores sionistasjá perpetravam ataques contra ospalestinos, destruindo aldeias inteiras,matando indiscriminadamente populaçõesindefesas, roubando suas terras e fontesde água, com a conivência daadministração colonial britânica.

O sionismo (que tira seu nome dafortaleza de Sião, cidadela dos judeus naJerusalém dos tempos bíblicos),arregimentava colonos na Europa com aproposta de um “lar nacional” para osjudeus. A linguagem do sionismo erasemelhante à dos movimentos donacionalismo burguês do século XIX. Suaprática era idêntica à do processo deformação das “colônias brancas” quecaracterizou a expansão do imperialismopara regiões como a África do Sul,Austrália e Nova Zelândia, baseada nomassacre dos povos originários. O

sionismo escolheu a Palestina para abrigaresse lar nacional e ignorou a existência deuma população nativa, a maioria de origemárabe e religião muçulmana, que jáhabitava a região por praticamente doismilênios. Criou-se o mito da “terra sempovo para um povo sem terra”,fundamentado no rebaixamento dospalestinos para a condição de algo abaixodo humano.

Realizou-se uma operação ideológicasemelhante àquela que narra a história daAmérica como um “descobrimento”,ignorando a existência nesse continente decerca de 70 milhões de nativos, quepuderam assim ser exterminados pelaconquista européia. A construçãoideológica que atribui a condição de sujeitoexclusivamente aos povos dos paísesimperialistas e nega aos povos dos paísesperiféricos o estatuto de seres humanosrepetiu-se na Palestina com a invasãosionista.

A política de limpeza étnicapermaneceu a mesma ao longo dosúltimos 60 anos que se passaram desde acriação de Israel. Para dar legitimidade atal política, os sionistas contaram com ofavor da opinião pública dos paísesimperialistas, chocados com a revelaçãodo extermínio de milhões de judeuseuropeus no curso da II Guerra. OHolocausto forneceu um álibi para asações do sionismo. Como se já não bastassea crueldade dos crimes cometidos contraos palestinos, o sionismo adicionou a taiscrimes uma pérfida mentira ao vincular aexpansão imperialista de Israel sobre aPalestina com a necessidade da “defesado povo judeu”, convertido em vítimaperpétua. O fato dos judeus terem sidovítimas da “solução final” nazista foiusurpado pelo sionismo como salvo-conduto para cometer seu próprio

extermínio sobre os palestinos.

A ONU É CÚMPLICE DE ISRAELLogo em seu início, o sionismo não

era majoritário entre os judeus europeuse estadunidenses. Muitos judeus (entre osquais nomes como Albert Einstein eHannah Arendt) protestaram contra osmétodos do recém-criado Estado deIsrael, que oficializavam as práticas deinvasão colonial das décadas anteriores.Inclusive no interior de Israel semprehouve oposição à política de limpeza étnicacontra os palestinos. Gradativamente,porém, a oposição ao sionismo se tornoucada vez mais minoritária entre os judeus,dentro e fora de Israel, a ponto de tornar-se politicamente impotente para impedira escalada expansionista. Criticar osionismo passou a ser sinônimo deconcordar com o nazismo, infâmia queninguém na Europa e Estados Unidos,judeu ou não judeu, queria atrair sobre si.Ao invés de contestar essa usurpaçãomoral, preferiu-se fazer vista grossa aoscrimes de Israel, afinal as vítimas eram“apenas palestinos”.

Tentando satisfazer esse estado deespírito da opinião pública, a ONU baixouuma salomônica resolução em 1947 queretirou a região do controle imperialbritânico e dividiu o território em doisnovos países independentes, Israel ePalestina. A resolução foi parcialmenteimplantada em 1948 com a criação apenasdo Estado de Israel. A divisão do territórioem 56% para Israel e 43% para a Palestina(o 1% restante seria a cidade internacionalde Jerusalém) já representava um avançomuito grande em relação ao território atéentão colonizado (invadido) pelo sionismo.Não contente com isso, Israel invadiu nessemesmo ano grande parte do territóriodestinado à Palestina, mantendo-se foraapenas da faixa de Gaza e da Cisjordânia.Nas décadas seguintes prosseguiram ainvasão e a ocupação sistemáticas doterritório palestino. O Estado palestinojamais foi criado e todas as resoluções daONU a respeito foram impunementedesobedecidas por Israel. Chegamos hojeà situação absurda em que 100% doterritório originalmente destinado a ser

área mais escura representa os territórios ocupados pelo Estado de Israel

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Espaço Socialistaparte do Estado palestino foi ocupado porIsrael.

O povo palestino se divide hoje em1,2 milhões que residem em Israel (nosterritórios tomados em 1948), 1,5 milhõesna faixa de Gaza e 2,5 milhões naCisjordânia (ocupados em 1967), além deoutros 6 milhões expulsos de suas terrasque constituíram uma diáspora espalhadapor campos de refugiados na Jordânia eno Líbano. Os palestinos dos territóriosocupados vivem sob constante cercopolicial do Estado israelense, separadospor muros e postos de controle do exércitonas estradas, impedidos de ir e vir, de secomunicar entre si, de buscar trabalho.Para completar, Israel ocupou as terrasférteis da Cisjordânia, assentou colonosnessas terras e tomou o controle das fontesde água, relegando os palestinos à misériaperpétua.

O caso Israel-Palestina foi desde oinício uma das mais eloqüentesdemonstrações de que a ONU não existepara servir como instrumento efetivo paraa paz no mundo, mas para dar guaridaaos ataques das nações imperialistas contraos povos do mundo.. A ONU funcionacomo um mero instrumento diplomáticodos países imperialistas, servil a seus

interesses, conivente com seus crimes, masdura com seus adversários.

OS PAÍSES ÁRABES E ISRAELA primeira reação dos países árabes,

já em 1948, foi de sair em guerra contraIsrael (Egito, Síria, Jordânia e Líbanoatacaram Israel e foram derrotados).Seguiram-se as guerras de 1956, 1967(quando foram ocupadas a faixa de Gazae a Cisjordânia), 1970, 1973 e 1982, coma vitória sempre pendendo para o ladodo sionismo. A resistência palestina seorganizou na Organização paraLibertação da Palestina (OLP), queinicialmente agrupava diversas correntespolíticas e se recusava a reconhecer Israel.

Em 1982 Israel invadiu o sul do Líbano,intervindo na guerra civil que sangrava opaís para expulsar de lá a OLP. Depassagem, o comandante da operação edepois primeiro-ministro israelense ArielSharon permitiu que milícias libanesascristãs de extrema-direita atacassem oscampos de refugiados palestinos deChabra e Shatila, matando mais de 3 milpessoas, a grande maioria não-combatente, inclusive mulheres e crianças.

O agravamento da opressão nosterritórios ocupados deu origem a duas“Intifadas”, a revolta dos palestinos nosterritórios ocupados, em 1987-1993 e em2000-2005, quando jovens palestinoscombateram com pedras os tanques deguerra israelenses. Em 2006 Israel invadiuo novamente o Líbano para destruir oHizbolá (organização enraizada entre osrefugiados palestinos naquele país), masdepois de provocar grande devastação, foiobrigado a se retirar sem conseguir seuobjetivo. Desmoralizado, o exércitoisraelense buscou vingança com o recenteataque a Gaza, castigando uma populaçãomuito mais pauperizada para puní-la porseu apoio ao Hamas.

Ao longo dessas 6 décadas,importantes mutações se produziram nomovimento de resistência palestino.Inicialmente, os palestinos chegaram acontar com o apoio de países árabes, quesaíram em guerra contra Israel. Nocontexto da Guerra Fria, nos anos 1950e 60, despontou o movimento dos “paísesnão-alinhados”, que tentavam de algumaforma se manter equidistantes dos blocosliderados pelo imperialismo estadunidensee pela burocracia soviética. Dentro domovimento dos não-alinhados selocalizava o chamado “nacionalismoárabe”, liderado por figuras como o líderegípcio Gamal Abdel Nasser. O Egito deNasser chegou a realizar uma reformaagrária, distribuindo terras aoscamponeses, algo inédito desde o tempodos faraós (a reforma está sendo revogadapelo atual governante do Egito, HosniMubarak).

As limitações do nacionalismo árabe(como do restante do movimento dos não-alinhados), sua direção burocrática epequeno-burguesa, a manutenção docapitalismo, impediram a auto-organização das massas árabes e suamobilização por seus próprios interessesde classe. Com isso, os líderes nacionalistasforam derrotados pela direita e peloimperialismo. O líder nacionalista do Irã,Mossadegh, foi derrubado por um golpe

de Estado organizado pela CIA em 1953.Nasser foi sucedido por Anuar Sadat, queassinou um tratado de paz com Israel, em1978, traindo a causa palestina. Acapitulação do Egito a Israel foi a primeirano mundo árabe. A maior parte dosgovernos árabes cedeu aos poucos àspressões dos Estados Unidos e deixou deapoiar a causa palestina.

A CAPITULAÇÃO DA OLPA OLP se viu gradativamente isolada

e enfraquecida. Para completar suaderrota, Israel estimulou secretamente aformação de grupos fundamentalistasislâmicos, como o Hamas, para polarizarcom as correntes laicas no interior da OLP,na década de 1980. Essas correntes laicasse tornaram progressivamente menosradicais e perderam apoio de massa. Paracontinuar liderando a OLP, organizaçõescomo o Fatah, de Yasser Arafat,terminaram por ceder à pressão de Israele dos Estados Unidos, assinando osacordos de Oslo, em 1993, reconhecendoa existência de Israel, ou seja, legalizandoas ocupações criminosas de 1948, emtroca da promessa vaga de retirada dosterritórios ocupados em 1967 e deestabelecimento de um Estado palestino.

Quando Israel esboçou a possibilidadede se retirar dos territórios ocupados econsolidar a paz com a OLP, o primeiro-ministro Ytzak Rabin foi assassinado pelaextrema direita fundamentalista israelense,em 1995. A criação do Estado palestino,promessa do acordo de Oslo, permaneceuno papel. Em seu lugar foi criada aAutoridade Nacional Palestina (ANP),com jurisdição sobre Gaza e Cisjordânia,uma caricatura de Estado, sem qualquerviabilidade econômica e sem autonomiapolítica e financeira. A ANP depende doenvio de verbas dos Estados Unidos e daEuropa, condicionada ao controle policialda população palestina, ou seja, àrepressão de seu próprio povo. O Fatah,cada vez mais corrupto, aceitou se prestara esse papel de manter a ordem nosterritórios ocupados. A incapacidade doFatah de melhorar a vida dos palestinos,o que é impossível sem combater ocontrole israelense dos territóriosocupados, fez com que o partido perdessepopularidade e fosse derrotado peloHamas nas eleições da ANP em 2006.

O imperialismo desconheceu aexpressão da vontade soberana do povopalestino nas eleições e negou-se a aceitarum governo do Hamas. O envio das verbasque mantém a ANP foi cortado e a miséria

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Espaço Socialista

Latuf

se aprofundou. O Fatah tentou um golpede Estado contra o Hamas em 2007 e foiexpulso da faixa de Gaza. Desde entãoIsrael recrudesceu a repressão sobre osterritórios ocupados, passando a executarincursões militares periódicas e chacinas,além de impor um bloqueio econômicosobre Gaza que reduziu o território a umcampo de concentração, culminando nosataques de 2008/09.

Traídos por suas liderançastradicionais, os palestinos passaram a lutarcontra um inimigo muito mais poderosopor meio de ataques de homens-bombacontra a população civil em Israel. Issocontribuiu para atrair a antipatia mundialcontra a causa palestina. Os israelensespassaram a ser apresentados como vítimase os palestinos como algozes impiedososde uma população indefesa, quando averdade está muito mais próxima dooposto. Israel é apresentado comorepresentante da democracia no Oriente,mas na verdade é um Estado militarizado,controlado por uma burocracia militarespalhada por todos os setores daadministração civil. O serviço militar éobrigatório para as mulheres por dois anose para os homens por três. Reservistaspodem ser convocados a qualquermomento para compor um dos exércitosmais fortes e bem equipados do mundo,uma aberração desproporcional num paísde 6,9 milhões de habitantes (dos quais24% não são judeus).

Movimentos internos contra a guerrae a ocupação são fortemente perseguidose encarados pela maioria da populaçãocomo traição à pátria e conivência com oterrorismo. Todos os partidos comrepresentação parlamentar (inclusive a“esquerda” trabalhista) apóiam a ocupação.Para os militares e religiosos de extrema-direita, a guerra é uma necessidadeconstante. Israel precisa ser mantido emestado de alerta, por meio da ameaçapermanente do terrorismo islâmico, real ouimaginária, para que se possa legitimar amanutenção do aparato militar.

O FUNDAMENTALISMONuma suprema ironia, o Hamas, que

foi secretamente financiado por Israel emsua origem (assim como a Al Qaeda foiorganizada pelos Estados Unidos), setornou décadas depois a única esperançade resistência dos palestinos, por herdara bandeira histórica do movimento e serecusar a reconhecer Israel. Apesar de suasorigens espúrias, o Hamas se credencioucomo representação da resistência

palestina devido ao seu trabalhoassistencial e à firmeza de sua forçamilitar na luta contra a ocupação.

O Hamas, assim como o Hizbolá, queorganiza a resistência dos refugiados noLíbano, são subprodutos do fenômenoglobal do crescimento do fundamentalismoislâmico, uma resposta dos povos árabes àdesarticulação do velho nacionalismo. Asdireções políticas árabes, burguesas eautoritárias, dobraram-se todas aos EstadosUnidos, gerando ódio de suas populações.Sadat, que assinou o acordo de paz comIsrael, foi assassinado por fundamentalistasegípcios em 1981, sendo sucedido porMubarak, no poder até hoje.

A revolta popular que derrubou ogoverno títere dos Estados Unidos no Irã,em 1979, terminou hegemonizada pelosetor fundamentalista, liderado pelo clerodos aiatolás, no que foi chamado de“revolução islâmica”. Desde então o Irãtem se tornado o modelo político e osustentáculo material de diversosmovimentos fundamentalistas espalhadospelo mundo árabe e além. A linguagemapocalíptica do fundamentalismo, seuchamamento à “guerra santa” contra o“grande satã” (Estados Unidos e suamarionete, Israel), sua promessa deparaíso para os mártires que se imolarempela causa; substituíram a linguagemracional das reivindicações historicamentefundamentadas da causa nacionalpalestina e árabe.

Para completar, a mídia burguesaocidental convenientemente transformao conflito árabe-israelense numa lutaentre o “povo escolhido” da Bíbliajudaico-cristã e os bárbaros malignos doislamismo satânico. A indústria culturalhollywoodiana colabora com a campanhaantiárabe por meio da construção doestereótipo do árabe como terrorista. Ocinema hollywoodiano periodicamentereaviva com brilhantismo a memória doHolocausto, o que está correto, mas seomite criminosamente quanto à tragédiapalestina em curso.

A GEOPOLÍTICA DO PETRÓLEOA origem do conflito não tem nada a

ver com a intolerância religiosa ou ofanatismo de judeus ou muçulmanos. Asreligiões são instrumento da manipulaçãopolítica das massas ao sabordos interesses dasclasses dominantesem cadamomento. Areligião nunca

impediu no passado que muçulmanos,judeus remanescentes da diáspora ecristãos das igrejas orientais convivessemna mesma Palestina durante séculos, naIdade Média. Esse convívio só foiinterrompido pela chegada dos cruzadoscristãos, que foram a Terra Santa não paralevar a “palavra de Deus”, mas a espada,em busca de riqueza e glória (matandonão apenas muçulmanos, mas tambémjudeus e cristãos orientais). Da mesmaforma, muçulmanos, judeus e cristãosconviveram harmoniosamente duranteséculos no reino árabe de Córdoba, naEspanha, o mais culto e civilizado Estadoda Europa medieval, repositório detesouros universais da arte, da filosofia,da arquitetura, da medicina, etc. Foi aReconquista espanhola, liderada pelos reiscatólicos, que trouxe sobre a barbárie daInquisição e o fim dessa brilhante cultura.

Assim como o objetivo das cruzadasnão era a defesa da fé, o que está por trásde um movimento como o sionismo nãoé a religião judaica, mas os interesses doimperialismo. De passagem, é importanteressaltar que o judaísmo é ele próprioheterogêneo. Não existe sequer umaidentidade judaica única capaz de por deacordo os rabinos das diversas correntes,dos moderados aos ortodoxos e ultra-ortodoxos. Etnicamente, os judeus sedividem em dois ramos principais, osasquenazi (ocidentais ou “europeizados”)e os sefarditas (orientais), sem contar ocaso peculiar dos judeus etíopes eiemenitas.

A população de judeus é inclusivemaior fora de Israel. Apenas nos EstadosUnidos são cerca de 10 milhões. Nemtodos os judeus necessariamente apóiamIsrael, mas apenas uma minoria dos quenão apóiam o sionismo se manifesta arespeito. Existe porém um setor bastantepeculiar da população judia estadunidensecujo apoio incondicional a Israel constituium dos pilares da política do imperialismopara o Oriente Médio. Existe umaburguesia judia e pró-sionista que controlaparte das finanças e da mídia dos EstadosUnidos. Não se trata aqui do mito nazistada “conspiração judaica para dominar omundo”, mas de um setor específico,muito organizado e influente, que atua

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Espaço Socialistaem unidade com outros dois setoresespecíficos da burguesia estadunidense, ocomplexo industrial-militar e a indústriapetrolífera, na determinação dos objetivosda política externa do imperialismo.

O apoio dos Estados Unidos a Israelao longo de todas essas décadas não tema ver com qualquer simpatia extremapelos judeus. Tem a ver com a necessidadede derrotar o antigo nacionalismo árabe,instalar em seu lugar governantes servise assegurar o controle das fontes depetróleo do Oriente Médio. É em funçãodessa tarefa prioritária para oimperialismo que Israel recebe verbas eequipamentos estadunidenses para seuformidável exército. A ajuda militarestadunidense a Israel chega a

aproximadamente US$ 3 bilhões por ano.A presença de um quartel-general doimperialismo em pleno Oriente Médiocolabora para manter os governosburgueses do mundo árabe prostrados.

Por outro lado, o descontentamentodas massas árabes só tem aumentado aolongo de todas essas décadas. Ostrabalhadores não se beneficiam dospetrodólares que sustentam a opulênciados xeques árabes, corruptos e tirânicos.Na falta de uma direção políticaconseqüente que organize ostrabalhadores contra o regime burguêsservil desses países, cresce a influência dascorrentes fundamentalistas islâmicas.Neste momento, correntesfundamentalistas como Hamas e Hizbolá

são as únicas que pegam em armas emdefesa do povo palestino. Em que pesemos problemas políticos das correntesfundamentalistas, é preciso defender sualuta e expor corretamente a história doenfrentamento do povo palestino contraIsrael.

A solução para o drama dospalestinos não está na eleição de um novogovernante estadunidense, ou nosfoguetes do Hamas, mas na auto-organização dos trabahadores, em tornode um programa socialista. Trata-se de umprograma que precisa ser levantado peloconjunto dos povos do Oriente Médio,contra seus dirigentes burgueses e pró-imperialistas e em defesa dos interessesda classe trabalhadora.

www.espacosocialista.org email: [email protected]

ESPAÇO SOCIALISTA é editado bimestralmente e está sob responsabilidade da coordenação do Espaço Socialista. Ostextos assinados não necessariamente expressam a opinião da organização.

Tempos de crise 

Um raio luziucéu azul

Tempestadeos deuses caíram

Ensurdecedoro silêncio

A vida continuaindiferente

E nada é como foiE nada como será

Aquele que derrubatambém constróiO que nasce e dói

será felicidadefeita de palavras, suor

e sangue

                                          Massaru