56 - embriaguez

26
Cornelius a Lapide, sj (1597-1637) + EMBRIAGUEZ Tradução por Uyrajá Lucas Mota Diniz A embriaguez é um pecado Cuidai, disse Jesus Cristo, de que não se ofusquem vossos corações na libertinagem e na embriaguez: Attendite vobis, ne gaventur corda vestra in crápula et ebrietate (Luc XXI, 34). Quando a embriaguez chega a alcançar a perda voluntária da razão, comete-se pecado mortal. Segundo Santo Agostinho, aquele que se esforça para embriagar a alguém, fazendo-o beber em demasia, dar-lhe- ia menos prejuízo matando-o a punhaladas do que matando sua alma com a embriaguez 1 . 1 Qui alterum cogit ut se pius quam opus est bebendo inebriet; minus malum ei erat, si carnem ejus vulnararet gladio, quam animam ejus per ebrietatem necaret (Serm. CCXXXI).

Upload: u-lucas-mota-diniz

Post on 31-Jan-2016

88 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Texto de Cornélio à Lápide traduzido da Obra "TESOROS DE CORNELIO Á LÁPIDE" - Tomo II, por Uyrajá Lucas Mota Diniz.

TRANSCRIPT

Page 1: 56 - EMBRIAGUEZ

Cornelius a Lapide, sj (1597-1637)+

EMBRIAGUEZ

Tradução por Uyrajá Lucas Mota Diniz

A embriaguez é um pecado

Cuidai, disse Jesus Cristo, de que não se ofusquem vossos corações na

libertinagem e na embriaguez: Attendite vobis, ne gaventur corda vestra in crápula

et ebrietate (Luc XXI, 34). Quando a embriaguez chega a alcançar a perda

voluntária da razão, comete-se pecado mortal.

Segundo Santo Agostinho, aquele que se esforça para embriagar a alguém,

fazendo-o beber em demasia, dar-lhe-ia menos prejuízo matando-o a punhaladas do

que matando sua alma com a embriaguez1.

Não aceites os convites dos bêbados, dizem os Provérbios: Noli esse in

conviviis potatorum (Prov. XXIII, 20). Porque aqueles que se entregam ao vinho

serão afastados da herança de seus pais, acrescentam os Provérbios (Prov. XXIII,

24). O vinho introduz-se suavemente; porém, ao final, morde como a serpente, e

derrama seu veneno como o basilisco: Vinum ingreditur blande; sed in novíssimo

mordebit ut coluber (Prov. XXIII, 31-32).1 Qui alterum cogit ut se pius quam opus est bebendo inebriet; minus malum ei erat, si carnem ejus vulnararet gladio, quam animam ejus per ebrietatem necaret (Serm. CCXXXI).

Page 2: 56 - EMBRIAGUEZ

O vinho e as mulheres fazem os sábios apostatarem, diz o Eclesiástico:

Vinum et mulieres apostatare faciunt sapientes (Eccli. XIX, 2).

Ai de vós, diz Isaías, aqueles que vos levantais pela manhã para vos empapar

e beber em excesso até a noite, até que vos abrase o vinho! Vae qui consurgitis estis

ad bibendum vinum, et viri fortes ad miscendam ebrietatem (Isai. V, 22).

Por esta razão, assim como a língua do fogo devora a estopa, e a queima o

ardor da chama, do mesmo modo a raiz deles será como cinza e pó, e desvanecer-

se-á seu renovo: Propter hoc, sicut devorat stipulam língua ignis, et calor flammae

exurit, sic radix eorum quase favilla erit, et germen eorum ut pulvis ascendet (Isai.

V, 24).

Uma taça cheia de vinho é um poço prateado no qual cai o ébrio, perde sua

alma, sua razão, e afoga-se com tudo o que possui.

Poço do inferno, chama Santo Agostinho, à embriaguez (Serm. CCXXXI).

A embriaguez é, pois, um crime, um crime abominável. Os ébrios são muito

culpáveis por se entregarem a tão degradante e monstruosa paixão. A embriaguez é

um pecado especial, posto que coloca o pecador em um perigo certo e inevitável de

condenação eterna.

Se a morte ameaça aos demais pecadores, estes arrependem-se estando na

posse gozosa de sua razão, e podem, então, ser perdoados; porém, quem está ébrio é

incapaz de arrependimento e penitência; e, se vem a morrer em sua embriaguez, a

qual matou nele a razão, haverá de ser um réprobo.

Prejuízos e funestos efeitos da embriaguez

Page 3: 56 - EMBRIAGUEZ

A embriaguez, diz São Bernardo, debilita o corpo e lança a alma em cadeias.

Ela produz a perturbação do espírito, e enche o coração de furor.

A embriaguez reduz de tal modo a razão que o homem chega a não mais

reconhecer a si mesmo. A embriaguez não é outra coisa que um demônio visível

que a todos se manifesta2.

1º A embriaguez mata a razão natural;

2º o homem embriagado nem a seus amigos reconhece;

3º tem uma alegria semelhante à dos loucos;

4º encoleriza-se sem motivo;

5º blasfema frequentemente;

6º exala e esparge um odor que provoca náuseas; e

7º o ébrio torna-se insensato; porque, como disse o filósofo Anacársis, na

primeira taça de vinho há utilidade; na segunda, alegria; na terceira, o

deleite; e na quarta, a loucura (Anton. in Meliss.).

A enfermidade da embriaguez, disse Orígenes, corrompe o corpo e a alma; o

espírito e a carne viciam-se; todos os membros debilitam-se; os pés, as mãos e a

língua ficam atados, e os olhos obscurecidos; tudo se esquece, de modo que o

bêbado não sabe nem sente mais que é homem3.

Se não existisse a embriaguez, cessaria a escravidão, diz Santo Ambrósio:

Non esset servitius, si ebrietas non fuisset (De Elia et jejunio, c. XVI).

O que é a embriaguez? A embriaguez, diz São Basílio, é um demônio

voluntário: esta paixão é mãe da malícia, inimiga da virtude; converte um homem

forte e enérgico e um preguiçoso e covarde; de um sóbrio faz um dissoluto. Este

2 Ebrietas corpus debilitat, mentem illaqueat. Ebrietas generat perturbationem mentis. Ebrietas auget furorem cordis. Ebrietas ita alieuat mentem, ut homo nescait semetipsum; nec est aliud ebrietas quam manifestissimus daemon (Lib. de modo bene vivendi, c. XXV).3 In ebrietatis aegritudine corpus simul et anima corrumpitur; spiritus pariter cum carne vitiatur; omnia membra debilitat; pedem, manum, linguam resolvit; óculos tenebrat; mentem velat oblívio, ita ut hominem se esse nesciat, nec sentiat (Homil. III, in Levit.).

Page 4: 56 - EMBRIAGUEZ

vício ignora a justiça, e mata a prudência; O que são os bêbados senão estátuas que

tem olhos e não veem, tem ouvidos e não ouvem, tem pés e não andam?4

O que é a embriaguez, pergunta Santo Ambrósio. É o fogo da luxúria, o

caminho da loucura e o veneno da sabedoria: Est fomentum libidinis, incentivum

insaniae, venenum sapientiae (Lib. I de Elia et jejunio, c. XVI).

O que é a embriaguez? É, diz São João Crisóstomo, um demônio, um morto

animado, uma enfermidade que não merece compaixão, uma ruína sem desculpa

razoável, e o opróbrio universal da raça humana: Est daemon, mortuus animatus,

morbus veniam non habens, ruina excusatione carens, commune generis nostri

opprobium (Homil. I ad pop.).

1º A embriaguez provoca a ira de Deus;

2º faz ao homem inferior aos animais;

3º inflama a luxúria;

4º arruína a saúde e a fortuna;

5º faz perder o pudor e a prudência; e leva o homem a palavras desonestas, às

disputas, ao furor, aos golpes etc.; e

6º mata a alma, o corpo, o espírito, o coração, a inteligência, a memória, a

vontade, a paz, a conduta e a honra.

Com a embriaguez, diz Santo Ambrósio, perde-se o espírito, a alma abrasa-

se: Animus ignoscit, anima exuritur (Lib. I de Caïno, c. V).

4 Quid est ebrietas? Est daemon voluntatius, malitiae mater, virtutis inimica, fortem virum reddit ignavum; ex temperante facit lascivum; justitiam ignorat, prudentiam extruinguit. Quid, quaeso, sunt ebrii, aliud quam gentium idola? Óculos habent, et non vidente; aures habent, et non audiunt; pedes habent, et non ambulant (Homil. XIV de Ebriet.).

Page 5: 56 - EMBRIAGUEZ

A embriaguez sofre os mesmos tumultos e agitações que uma cidade sitiada,

diz São João Crisóstomo (Homil. LIV ad pop.).

O vinho, diz São Cirilo, é mel para a boca, porém fel envenenado para a

cabeça; agrada ao paladar, porém queima as entranhas; faz fumegar a cabeça,

obscurece os sentidos, confunde o vigor, destrói a imaginação, apaga o espírito,

encobre a visão, debilita os nervos, faz gaguejar, ata a língua e desonra-a, agita as

mãos, inflama o peito, subleva a luxúria, altera a pureza do sangue, perturba o modo

de andar, e descompõe de tal maneira todo o corpo, que da cabeça aos pés não fica

uma parte sã5.

Semelhante a uma fera, pode se dizer que o bêbado tem as más

circunstâncias do macaco, do leão, do porco e do bode. O vinho torna-o ridículo e

tontamente zombeteiro como o macaco, impetuoso como o leão, asqueroso como o

porco, e impuro como o bode.

A embriaguez tudo devora, faz tudo se perder e a tudo consome; não há

abismo mais seguro para dar sepultura à saúde do homem, à fortuna, à paz e à

salvação. Quanto mais se lançam coisas neste abismo, mais ele recebe e menos se

preenche. É a imagem do Inferno.

Santo Agostinho compara os bêbados a um pântano no qual somente se

podem ver rãs e cobras (Serm. CCXXXI).

A embriaguez, diz o venerável Beda, é um estado de imbecilidade; faz perder

a memória e a razão, perturba o espírito, mata a inteligência, suscita a luxúria, trava

a língua, destrói a palavra, corrompe o sangue, decompõe o rosto, agita as veias,

fecha os ouvidos, debilita os nervos, faz perder o sentido, devora as entranhas,

sobrecarrega o cérebro, suprime o valor, atrai o delírio, detém a circulação do

5 Vinum mel ori est, sed fel capiti venenosum; sapit in ore, ardet in ventre, fumat in capite, contendit sensos, vigorem confundit, imaginationem destruit, tollit mentem, visum obnubilat, nervos laxat, linguam balbuficat et inhonestat, manus mobilitat, pectus inflammat, spumat luxuriam, vim gignitivam enervat, gressus inordinate; totumque corpus vastat, ita quod a planta usque ad verticem non est in sanitas (Lib. IV de Prov., c. V).

Page 6: 56 - EMBRIAGUEZ

sangue, endurece a alma, mancha e desfigura o corpo, a embriaguez profana tudo no

homem, convertendo-o em um ser abjeto e desprezível6.

Possuído pela paixão da embriaguez, o encarregado de dirigir algo perde

tudo, quer seja um navio, um carro, quer seja um exército ou outra coisa que dirija.

É o que diz Platão: Ebrius gubernatot omnia evertit, sive navem, sive currum, sive

exercitum, quodcumque tandem sit, quod ab illo gubernatur (Apud Stobaeum, Serm.

XVIII).

E em outra obra, acrescenta o mesmo Platão: Não devem provar jamais o

vinho nem os criados nem as criadas, nem os magistrados, tampouco enquanto

atuem; nem governador algum, nem juiz, enquanto se achem no exercício de suas

funções7.

O bêbado, diz os Provérbios, é como um homem dormindo em meio do

borrascoso mar, como um timoneiro sonolento que perdeu o timão: Et eris sicut

dormiens in médio mari, et quase sopitus guvernator, amisso clavo (Prov. XXIII,

34).

O bêbado bebe para vomitar, e vomita para beber de novo; que asquerosa

monstruosidade!

Ó vinho, diz São Cirilo, conheço-te: doçura atrativa e plena de veneno!

Aborreces aos que te amam, e amas aos que te aborrecem; matas aos que gozam de

ti, afogas aos teus amantes, e feres aqueles que abusam de ti; mas és um remédio

para aqueles que de ti se servem com sobriedade. Conheço-te, melosa peçonha8.

6 Ebrietas est imbecillitas, obvolvit linguam, impedit sermorem, corrumpit ert sanguinem, obtundit visum, perturbat venas, obturat auditum, infirmat nervos, subvertit sensum, resolvit viscera, onerat cerebrum, debilitat memoriam, aufert fortitudinem, flagitat somnum, impedit menstrua, obturat animum, maculat corpus, et hominem suo vitio coinquinat, et sine honore facit (In Collectanes).7 Nec servus, sec serva, umquam vinum gustat: nec ipsi quidem magistratus illo, quo magistratus gerunt, anno; neque gubernatores, neque judices, dum ônus suum exercent, ullo modo vinum gustent (Lib. II de Legib.).8 O amabile, Dulce, et omne venenum!Odis amantes te, diligis abhorrentes te, occidis te perfruentes, submergis te sectantes, laedis abutentes, mederis te atentes, novi te, mellitum venenum! (Apolog. in Judith).

Page 7: 56 - EMBRIAGUEZ

Não há segredo seguro onde reine a embriaguez, dizem os Provérbios:

Nullum secretum est ubi regnat ebrietas (Prov. XXXI, 4).

Assim como a fumaça afugenta as abelhas, a embriaguez faz desaparecer os

dons do Espírito Santo, diz São Basílio: Ut fumus fuga tapes, sic crapula fugat dona

Spiritus Sancti (Homil. XVI de Ingluv.).

Para aqueles que vivem na embriaguez e na luxúria, diz São João

Crisóstomo, o dia converte-se em noite obscura; não desaparece o sol; porém, sim,

desaparece o espírito. A embriaguez é a privação da sã razão, é um delírio, é a perda

da saúde da alma9.

A embriaguez destrói a prudência, a dignidade, o dever, a fé, a virtude e a

religião, e até afugenta do coração a Deus.

O bêbado é um vazamento sempre aberto, e não há nada que o possa

estancar.

Como o fogo prova a dureza do ferro, diz o Eclesiástico, assim o vinho

bebido até a embriaguez descobre os corações dos soberbos: Ignis probat ferrum

durum; sic vinum corda arguet in ebietate potatum (Eccli. XXXI, 31). O vinho

bebido com excesso, acrescenta o Eclesiástico, conduz à cólera, aos arrebatamentos,

e à ruina; o vinho bebido com excesso é a amargura da alma. A embriaguez faz

ousado o néscio para ofender, põe nervosas as forças, e é ocasião de feridas (Eccli.

XXXI, 38-40).

A água é inimiga do fogo, diz São Basílio, apaga-o; e, assim, também o

vinho bebido com excesso, afoga a razão e é sua morte; é um veneno mortal que

apaga todo o vigor, e transforma o jovem em velho. A embriaguez é uma morte

momentânea10.

9 Illis qui in ebrietate et luxuria vivunt, dies in caliginem nocturnam vertitur; non quidem extincto sole, sed mente ipsorum per ebrietatem obfuscata. Ebrietas est rectae rationis alienatio, et delirium, et secundum animam sanitatis perditio (Homil. LIV ad pop.).10 Sicut aqua igni est adversa, sic vinum immodicum rationem supprimit. Ebrietas est rationis interitus, fortitudinis pernicies, senectus imatura, mors momentânea (Homil. XVI de Ingluv.).

Page 8: 56 - EMBRIAGUEZ

Tal vício, acrescenta São Basílio, produz o mesmo efeito que experimenta

uma carruagem arrastada por fogosos e indômitos cavalos (Homil. XVI de Ebriet.).

A vinha tem três ramas, diz Anacársis:

- a primeira é a da saúde e do prazer;

- a segunda é a da embriaguez; e

- a terceira, a da loucura, do furor e da violência (Anton. in Meliss., c. XLI).

A vigilância e a sobriedade são coisas de homens; e a embriaguez converte

ao homem em uma besta selvagem, diz São Basílio. A água submerge os navios, e o

vinho submerge aos homens. Daí brotam aquelas palavras de Isaías: Transportaram-

se desatentos por causa de sua embriaguez: (Isai. XXVIII, 7)11.

Os bêbados absorvem o vinho: porém o vinho, por sua vez, absorve a eles

(Homil. XVI. de Ingluv.).

A embriaguez é a perturbação das famílias. O bêbado faz derramar tantas

lágrimas a sua esposa e a seus filhos quantas gotas de vinho ele bebe.

A embriaguez é vergonhosa e degradante

Que vergonha e que horror se veem quando o homem, com a embriaguez,

põe-se no horrível estado de não saber se é homem, de não ter consciência se ainda

vive ou se já morreu!

Com a tua embriaguez, ó homem poderoso em beber, exclama São Basílio,

privas-te da luz da razão e mereces ser contado entre os animais irracionais: Mentis

lumine per ebrietatem te privas; inter bestias ratione carentes annumerari potes

(Homil. XIV).

11 Texto ao qual o autor faz referência: Verum hii quoque prae vino nescierunt et prae ebrietate erraverunt sacerdos et propheta nescierunt prae ebrietate absorti sunt a vino erraverunt in ebrietate nescierunt videntem ignoraverunt iudicium (Nota do tradutor).

Page 9: 56 - EMBRIAGUEZ

A embriaguez, diz São João Crisóstomo, converte aos homens em uns

porcos, e ainda por cima demoníacos. A boca, os olhos, o olfato, e todos os demais

sentidos destes homens transformam-se em asquerosos esgotos de corrupção12.

Com a embriaguez, diz Santo Ambrósio, os homens perdem a voz e a cor,

seus olhos se põem vítreos, sua respiração abrasa-se, as aberturas de seu nariz se

estremecem, e a cólera agita-lhes (De Elia et jejunio, c. XVI).

O homem ébrio não é um morto, tampouco um vivo, diz São Jerônimo: Quid

est ebrietas? Est homo nec moruus, nec vivus (In c. V. ad Galat.).

Observai onde reina a embriaguez, diz São João Crisóstomo, e ali achareis

Satanás; ali achareis as palavras obscenas, as blasfêmias e as imprecações; ali os

demônios formam coro. Ó, quão preferível é o jumento ao bêbado! Quanto mais

vale o cachorro! Todos os animais, quando bebem e comem, não tomam senão o

necessário, ainda que se lhes insista mil vezes a que tomem mais (Homil. LVII).

A embriaguez arrasta depois de si a desordem e mil misérias:

1º o homem submerso no vinho, desprovido de razão, descobre todo o seu

coração, faz traição de seus segredos, atrai para si o ódio, e prepara-se

ciladas;

2º quando se acha em tão vergonhoso estado, diz e faz coisas ridículas,

desprezíveis e insensatas. Confunde tudo, diz São Basílio, tumultua tudo com

suas risadas imoderadas e indecentes, com suas vozes atordoantes, com sua

ira pronta e sua desenfreada luxúria: Omnia confundit ac perturbat risu

indecoro, você horrenda, ira proecipiti, libidine effrenata (Orat. De Ebriet.);

3º gasta mal seu patrimônio, e vê-se reduzido à miséria com sua desgraçada

esposa e seus filhos; porque, como diz Santo Ambrósio, os bêbados bebem

12 Sues ex hominibus facit; nullo discrimine a demoniaco separatur; et os, oculos, nares et caetera sensuum instrumenta, amaríssimas voluptatis conflict cloacas (Homil. LVIII in Matth.).

Page 10: 56 - EMBRIAGUEZ

em um dia o valor do trabalho de muitos dias: Ebrii uno die bibunt multorum

dierum labores (De Elia, c. XII); e

4º transtorna tudo e tudo derruba em sua casa; todos evitam-no atemorizados.

No meio da noite fria e escura, todos na casa levantam-se pressurosamente e

escondem-se para livrarem-se dos maus tratos daquela criatura convertida em

besta feroz e furiosa.

A embriaguez, diz Santo Ambrósio, perturba os sentidos e até a forma

humana; o homem converte-se em bruto; porque os homens ébrios estão como

frenéticos; seus passos vacilam, avançam, retrocedem, vão da direita para a

esquerda, caem, levantam-se, e voltam a cair outra vez (De Elia, c. XII).

Cobrem-se de poeira, e suas vestes fazem-se retalhos, seus ouvidos zumbem

com ruídos semelhantes às ondas do mar. Como os loucos, veem os objetos de uma

maneira muito diferente de como os vê as outras pessoas. Alguns se abandonam a

uma alegria desmedida; outros à tristeza e às lágrimas, e alguns à ira. Dormem, e

seu sono é agitado; sua vida é um sonho; para eles, seu sono é uma morte; e é

impossível despertá-los! Que deplorável é semelhante vida! Que vã, inútil, pesada e

escandalosa sua vida!

O bêbado é a vergonha do gênero humano. O bêbado, diz São João

Crisóstomo, não somente é inútil à sociedade e aos interesses privados e públicos,

senão que basta o seu aspecto para prostrar a todos; ele esparge odores fétidos13.

Que vergonhoso é, diz Sêneca, tomar mais vinho do que é necessário, e não

conhecer a medida de seu estômago! Ó, vejam a que grandes excessos entregam-se

os bêbados que fazem roborizar aos homens sóbrios! A embriaguez é uma

verdadeira loucura voluntária. A embriaguez leva somente à entregar-se a todos os

vícios e a descobri-los; lança longe de si o pudor que a quer conter; e, desde o

momento em que se apodera de um homem, põe a luz do dia toda a maldade que

seu coração encerrava. Pensai nas desordens que já causou a embriaguez

13 Non enim in conventibus tantum intilis ebrius, aut in privatis et publicis negotiis, sed et solo aspecto est omnibus gravissimus, foetores exhalans teterrimos (Homil. LVII).

Page 11: 56 - EMBRIAGUEZ

generalizada; esta embriaguez entregou nações fortes e belicosas a seus inimigos;

entregou cidades que se defendiam com energia desde muitos anos; venceu e

reduziu à escravidão aos mais temíveis combatentes, até aqueles a quem nem o

ferro poderia domar (Ad Lucil.).

O bêbado é predigo, e a tudo ele perde e devora; quanto mais tem, mais quer

beber; e apenas interrompeu, volta a começar de novo. Que vida mais animal e

degradante! Cai na mesa e é preciso conduzi-lo para casa; cai no caminho, e é

preciso levantar-se e sustentar-se; e, finalmente, lançá-lo na cama.

Tão glutão é o lobo, que quando está totalmente saciado, sem embargo,

desgarra toda a presa que puder apreender; e vomita, a fim de poder devorá-la...

assim é o bêbado. Sua única ocupação é beber, digerir ou vomitar, a fim de seguir

bebendo, como diz São Bernardo; cifra toda a sua felicidade em seu paladar:

Quorum proinde non alia est occupatio quam ingerere, digerere, ingerere (Epist.).

Os bêbados não despertam senão para beber, e não bebem senão para dormir.

Em vez da glória, restarás coberto de ignomínia, diz o profeta Habacuc; segue

bebendo, e dorme; e um vergonhoso vômito de ignomínia virá sobre tua glória:

Repletus est ignominia pro glória; bibe, et consopire; et vomitus ignominiae super

gloriam tuam (Hab. II, 16).

A embriaguez é manancial de impureza

Não vos entregueis com excesso ao fomento da luxúria, diz São Paulo: Nolite

innebriari vino, in quo est luxuria (Ephes. V, 18). Em quem houver excesso na

bebida ou comida, diz São Jerônimo, nele domina o vício impuro. Não acreditarei

nunca que o bêbado seja casto; e ainda que durma por causa do vinho, é luxurioso

por causa do vinho. Noé, na única hora de sua vida em que foi surpreendido ou

sobrecarregado pelo vinho, tomou uma postura indecente, o que jamais lhe havia

sucedido durante seiscentos anos. Ló se embriagou uma vez, e cometeu incesto, sem

o saber; e aquele a quem Sodoma não havia vencido, foi vencido pelo vinho14.

14 Ubicumque saturitas et ebietas, ibi libido dominatur. Numquam ego ebrium castum putabo, qui, etsi vino consopitus dormierit, tamen potuit peccare per vinum. Noe ad unius horae ebrietatem, nudat femora sua,

Page 12: 56 - EMBRIAGUEZ

Os costumes correspondem à temperança do corpo; o homem sóbrio é puro,

o glutão é impuro.

A embriaguez, diz São Bernardo, alimenta a chama da impureza: Ebrietas

nutrit flammam fornicationis (Epist.).

A paixão vergonhosa excita-se pela vista, porém inflama-se pela embriaguez,

diz Santo Ambrósio: Oculis excitatur libido, sed ebrietate succenditur (Apol.

David., c. III).

Os fogos do Etna e do Vesúvio, diz São Jerônimo, a terra do Vulcano e do

Olimpo, não tem tão abrasadoras chamas como os jovens plenos de vinho e de

alimentos15.

A embriaguez é o lugar da paixão impura, diz Santo Ambrósio; inflama-se o

espírito e arde a alma: Illa vini ebrietas, fomes libidinis; animus ignescit, anima

exuritur. Porque, como diz aquele grande Doutor, o homem ébrio, acendido por si

mesmo e pelos abrasadores vapores do vinho, já não se pode conter, e cai nas

paixões degradantes das feras16.

Luxuriosa coisa é o vinho, dizem os Provérbios, e plena está de desordens a

embriaguez; não será sábio quem a ela se entrega: Luxuriosa res vinum, et

tumultuosa ebrietas: quicumque his delectatur, non erit sapiens (Prov. XXI).

Ouçamos a São Basílio: A incontinência, diz, emana publicamente do vinho,

como a água de uma fonte; é tão forte, excitada pelo vinho, que deixa atrás de si

todas as loucuras e os furores dos brutos mais lascivos: Ipsa incontinentia aperte ex

vino, velut ex quodam fonte, manat; quae brutorum omnem insaniam longe superat

(Homil. de Ebriet.).

quae per sexcentos annos sobrietate contexerat. Lot per temulentiam, libidinem nesciens, miscet incestum; et quem Sodoma non vicit, vina viverunt (In c. I ad Tit., VII).15 Non Aethnaei ignes, non Vulcania tellus, non Vesubius et Olympus tantis ardoribus aestuant, ut juvenibus madullae vino plenae et dapibusinflammatae (Ad Furiam).16 Siquidem, naturali vapore corporis, et praeter naturam, vini flammati, cohibere se non queunt, et in bestiales libidines excitantur (Apol. II David, c. III).

Page 13: 56 - EMBRIAGUEZ

Que males não causa a embriaguez! – exclama São João Crisóstomo –

transforma os homens em animais imundos, e ainda os faz de pior condição; porque

o porco deleita-se em revolver-se na lama e alimentar-se de imundícies17; porém, a

embriaguez leva a ações pecaminosas até contra a natureza (Homil. de Ebriet.).

A embriaguez é o naufrágio da castidade, diz Santo Ambrósio: Ebrietas

naufragium castitatis (In lib. de Elia et jejuinio). É o lugar das paixões da carne,

acrescenta: Ebrietas fomentum libidinis (Eod. loco). Arrasta a uma luxúria

desenfreada, diz São Basílio (Homil. contra ebriet.). de um homem modesto faz um

libertino, acrescenta aquele Santo Padre. A embriaguez é a instigadora da luxúria, o

alimento dos deleites, a peste da juventude, o veneno da alma, e a ruína das

virtudes: Ebrietas facit ex modesto lascivum. Ebrietas est luxuriae fomes,

voluptatum duppeditatio, lues juventutis, animae venenum, virtutis alienatio (Eod.

loco).

A embriaguez, diz Santo Agostinho, é a torpeza dos costumes, a vergonha da

vida, o opróbrio da honradez, e a corruptora da alma: Ebrietas est turpitudo morum,

dedecus vitae, honestitais infâmia, animae corruptela (Tract. de Sobriet. et Virgin.).

O ventre pleno de vinho está abrasado de impudicícia, diz São Jerônimo;

aquele que se farta de vinho, alimenta a Vênus: Venter mero aestuans, despumat in

libidines; qui ventrem farcit nutrit (Ad Eustoch.).

O vinho e a juventude são dois mananciais de impureza, prossegue São

Jerônimo; e por que se lançaria o azeite sobre o fogo da juventude? Por que se

acrescentaria fogo a um corpo que se abrasa?18

Este fogo que se introduz na carne com o vinho, diz São Basílio, é o fogo dos

inflamados dardos do inimigo, aviva as paixões, como o combustível aviva o fogo:

17 São coisas próprias e normais de sua natureza animal (Nota do tradutor).18 Vinum et adolescentia, duples est voluptatis incendium. Quid oleum flamma adiicimus? Quid ardenti corpúsculo fomenta ignium ministramos? (Ad Eustoch.)

Page 14: 56 - EMBRIAGUEZ

Ignis ille qui carni, ex vino innascitur, fomes fit ignitorum jaculorum inimici;

voluptatis, ut oleum, flammam accendit (Homil. contra Ebriet.).

Uma taça de vinho é uma semente de impureza, diz São Jerônimo: Potum

vini seminarium libidinis est (Lib. contra Jovin.).

Aristófanes chama ao vinho de leite de Vênus: Lac Veneris (Apud. Athen.,

lib. X).

A embriaguez é o manancial de todos os vícios

A sobriedade, diz Orígenes, é a mãe de todas as virtudes; e, pelo contrário, a

embriaguez, a mãe de todos os vícios: Sobrietas omnium virtutum mater est; sicut, e

contrario, ebrietas omnium vitiorum (Homil. III, de Levit.).

Ninguém é mais amigo do Inferno, diz São João Crisóstomo, do que aquele

que se mancha com a embriaguez; porque esta paixão é o manancial, o principio e a

mãe de todos os vícios: Diabolo nemo magis amicus est, quam qui deliciis et

ebrietate maculatur. Haec enim fons est, haec mater est, et origo vitiorum omnium

(Homil. LVIII, in Matth.).

A embriaguez é o arsenal de todas as paixões, diz Santo Ambrósio (In Lib. de

Elia et jejunio). A embriaguez, diz em outra arte, é a mãe de todos os pecados,

tempestade da carne, e naufrágio da castidade: Ebrietas est flagitiorum omnium

mater, procela corporis, naufragium castitatis (Exhortat. ad Virgin.).

Onde estiver a embriaguez, diz São João Crisóstomo, ali está também o

demônio e todas as iniquidades (Homil. LVIII).

A embriaguez, diz Santo Agostinho, principia por atacar a alma; é mãe de

todas as malfeitorias, matéria das culpas, raiz de todos os crimes e origem de todos

os vícios19.

19 Ebrietas ab animae injuria incipit, et flagitiorum omnium mater est, culparum matéria, radix criminum, origo ominium vitiorum (Tract. de Sobriet. et Virgin, c. L.).

Page 15: 56 - EMBRIAGUEZ

A embriaguez, diz São Basílio, é um demônio admitido na alma

voluntariamente e por prazer. É mãe da malícia e inimiga declarada da virtude:

Ebrietas daemon est sponte admissus pervoluptatem in ânimos. Ebrietas mater est

malitiae, impugnatio virtutis (Apud Anton. in Meliss., lib. I, c. XLI).

O vinho eleva a libertinagem; a libertinagem, a fornicação; a fornicação à

perda da fé e da religião; a perda da fé e da religião conduz à apostasia, e a apostasia

à perda eterna de Deus e da salvação.

Ponciano chama à embriaguez de metrópole de todos os males: Malorum

omnium matropolis (De Ebriet.).

Castigos da embriaguez

1º Noé embriaga-se, e seu filho Cam insulta-o e castiga-o com uma zombaria

sangrenta;

2º Sansão, debilitado pelo vinho, é entregue a seus inimigos por Dalila; e os

filisteus arrancam-lhe os olhos, e fazem-no dar voltas a um moinho como se

fosse um quadrúpede;

3º A embriaguez de Holofernes dá margem a que Judite corte-lhe a cabeça;

4º O rei Baltazar vê, em meio do vinho, uma mão que escreve sua sentença

de morte; e morre, com efeito, naquela mesma noite;

5º Os filhos de Jó, enquanto entregam-se aos prazeres da mesa, são

esmagados pelas paredes da casa, a qual caiu sobre eles;

6º Herodes, em sua embriaguez, mandara cortar a cabeça de João Batista, e

ele mesmo foi ferido de morte cruel;

Page 16: 56 - EMBRIAGUEZ

7º O rico avarento do Evangelho, amigo do vinho, é precipitado aos

Infernos, e nem sequer pode alcançar uma gota de água na outra vida, diz

São João Crisóstomo: Dives epulo ob excessum in potu, ne guttulam quidem

aquae post hanc vitam habere meruit (Homil. in Luc. Evang.).

8º Alexandre Magno, em sua embriaguez, mata a Clito, seu melhor amigo;

e, mais tarde, mata-se a si mesmo (In Plutarchus.);

9º Aman, computando seu orgulho na suntuosidade de seus festins, é

condenado a ser enforcado; e, em meio aos vinhos, é quando paga a pena de

sua embriaguez, diz Santo Ambrósio: Aman, dum se regali jactat convívio,

inter ipsa vina poenam suae ebrietatis exsolvit (In lib. de Elia et jejunio).

Ouçamos o que diz a Sagrada Escritura: Para quem são os “ais”? De que

pais são as desditas? Contra quem serão as lutas? Para quem serão os

precipícios? Para quem serão as feridas sem motivo algum? Quem traz os olhos

acendidos? Não são estes os olhos daqueles que são dados ao vinho, e os que acham

suas delícias em consumir taças? Cui vae? Cujus patri vae? Cui rixae? Cui faveae?

Cui sine causa vulnera? Cui suffusio oculorum? Nonne his qui commorantur in

vino, et student calibus epotandis? (Prov. XXIII, 29-30).

Não incites os dependentes do vinho a beber, diz o Eclesiástico, porque do

vinho vem a perdição de muitos: Diligentes in vino noli provocare, multos enim

exterminavit vinum (Eccli. XXXI, 30).

O bêbado, diz São Basílio, fica ao mesmo tempo absorvido ao absorver.

Como o peixe que se lança com avidez sobre o anzol, que, em se apressando a

tragar, encontra seu inimigo mortal nesta isca; assim também o bêbado recebe o

vinho, que é seu inimigo, e que lhe impele a toda classe de excessos vis e

vergonhosos20.

20 Ebriosus, cum se putat bibere, bibitur. Sicut enim piscis, cum avidis faucibus properat ut glutiat escam, repente inter fauces reperit hostem; ita ebriosus intra se vinum suscipit ininicum, quod eum impellit ad omne opus foedissimum (Admonit. Ad filium spirit.).

Page 17: 56 - EMBRIAGUEZ

Observemos que é um decreto justo e também um justo castigo de Deus, que

os bens que nos havia dado para nosso uso e nossa santificação, convertem-se em

desgraça nossa e em nosso castigo se abusamos deles, de maneira que chegam a ser

nossos perseguidores e verdugos depois que nós os convertemos em ídolos. Assim

sucede com o vinho, assim sucede com os homens, as riquezas e o deleite; assim

sucede com as criaturas animadas, nas quais pomos nossa excessiva complacência.

Ai de vós, que vos levantais de manhã, para embriagar-vos!, exclama Isaías:

Vae qui consurgitis mane ad ebrietate sectandam! (Isai. V. 11).

Baltasar foi pesado na balança da justiça divina, e foi encontrado leve:

Appensus est in statera, et inventus est minus habens (Dan. V, 27).

Os possuídos, diz São Basílio, são atormentados pelo demônio, entretanto,

contra sua vontade; o bêbado, pelo contrário, é voluntariamente atormentado: A

daemone torquentur daemoniaci, sed inviti et coacti; at ebrius ebrietate torquetur

quia placet (Admonit. ad filium spirit.).

Debilitar intencionalmente a saúde e a vida, perder a honra e a razão; perder

a fortuna e a tranquilidade; perder a família; perder a alma, ao Céu e a Deus etc. não

são espantosos todos estes castigos que caem sobre o bêbado?

Assemelhar-se aos animais brutos, fazer-se ainda inferior a um animal

imundo, excitar todas as demais vergonhosas inclinações, sem poder, nem

tampouco querer dominá-las, não é tudo isso um terrível castigo?

Beber o cálice do furor de Deus, ficar embriagado com o vinho da angústia,

da perplexidade, da ignomínia e confusão até o cúmulo da justiça de Deus, não são

grandes castigos?

Colocar-se no estado de não poder arrepender-se, de não poder obter

misericórdia, nem receber os Sacramentos, não é o mais horrível dos estados para a

Page 18: 56 - EMBRIAGUEZ

eternidade? O bêbado expõe-se, pois, a todas as desgraças, a todos estes castigos;

atrai-os ordinariamente para si, e os merece sempre.

Beberá também, diz o Apocalipse, do vinho da ira de Deus, daquele vinho

puro preparado no cálice da cólera divina; será atormentado com fogo e enxofre; e a

fumaça de seus tormentos subirá pelos séculos dos séculos, sem que tenha descanso

nenhum, dia e noite: Bibet de vino irae Dei, quod mixtum est mero in cálice irae

ipsius; et cruciabitur igne et sulfure; et fumus tormentorum eorum ascendet in

secula seculorum, nec habent requiem die ad nocte (Apoc. XIV, 10-11).