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331 CAPÍTULO 4 - SEGURANÇA PÚBLICA O CRIME DE EMBRIAGUEZ AO VOLANTE Adair Aparecido Zem - PMPR Edmauro de Oliveira Assunção - PMPR Cleise M.A.Tupich Hilgemberg - UEPG INTRODUÇÃO A história do automóvel no Brasil teve seu início nos idos de 1893, e durante o transcorrer de um século de inserção automobilística, os acidentes de trânsito representam a segunda maior causa das mortes entre os brasileiros ficando atrás apenas das doenças do aparelho circulatório, sendo milhares as vidas ceifadas de forma prematura, além dos prejuízos estratosféricos decorrentes de tais acontecimentos. Envoltos por um trânsito desordenado, em que o número de veículos e os índices altíssimos de mortalidade crescem dia a dia, surgiu, em 23 de setembro de 1997 o Código de Trânsito Brasileiro, Lei 9.503, trazendo uma série de novidades em seu conteúdo, com novas regras a serem seguidas e infrações para coibir os atos dos que resolverem não cumprir as determinações exaradas. Inovou nos aspectos penais, tipificando determinadas condutas como crimes de trânsito, ensejando uma mudança no comportamento da população como um todo, sejam pedestres ou condutores, dispostos tanto no trânsito urbano como também no rodoviário. Dentre as inovações apresentadas no Código de Trânsito Brasileiro, o crime de embriaguez foi o que mais trouxe influências na sociedade, pelo simples motivo de estar vinculado como uma das maiores causas dos milhares de acidentes de trânsito e consequentemente de vítimas que ocorrem neste país. Desta feita, a razão deste trabalho é primeiramente pormenorizar as questões afetas à embriaguez ao volante, tecendo considerações a respeito da legislação que norteia tal temática, principalmente com referência à edição do novo texto legal, a Lei 11.705, de 19 de junho de 2008, conhecida popularmente como Lei Seca, ou melhor: Lei que Salva-Vidas, a qual cominou na alteração do Código de Trânsito Brasileiro em vários pontos, trazendo a imposição de um novo regramento, tanto no âmbito administrativo quanto na esfera penal, para o condutor que dirigir veículo automotor sob a influência de álcool ou qualquer outra substância psicoativa que determine dependência. Ainda nesta seara, também será comentado sobre as atividades preventivas desenvolvidas pelo BPRv. (Batalhão de Polícia Rodoviária) o qual diuturnamente com seu efetivo de 900 homens e mulheres, distribuídos em 64 (sessenta e quatro) postos de policiamento rodoviário procura coibir o cometimento de tal conduta na direção veicular, realizando ações fiscalizatórias de condutores com suspeita de ingestão de bebida alcoólica e o seu competente encaminhamento para a autoridade policial, bem como realiza o atendimento de acidentes que envolvam motoristas embriagados. Por fim, serão propostas sugestões de políticas públicas que após devidamente operacionalizadas, contribuirão sobremaneira para reduzir o número de condutores embriagados na direção veicular e paralelamente a isso diminuir os acidentes que têm como pano de fundo, a embriaguez ao volante. Além disso, tais medidas irão proporcionar uma economia direta nos cofres públicos do Estado e de todos os Municípios paranaenses, que

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331Capítulo 4 - sEGuRaNÇa pÚBlICa

GEstão dE polítICas pÚBlICas No paRaNá

O CRIME DE EMBRIAGUEZ AO VOLANTE

Adair Aparecido Zem - PMPR Edmauro de Oliveira Assunção - PMPR Cleise M.A.Tupich Hilgemberg - UEPG

INTRODUÇÃO

a história do automóvel no Brasil teve seu início nos idos de 1893, e durante o transcorrer de um século de inserção automobilística, os acidentes de trânsito representam a segunda maior causa das mortes entre os brasileiros ficando atrás apenas das doenças do aparelho circulatório, sendo milhares as vidas ceifadas de forma prematura, além dos prejuízos estratosféricos decorrentes de tais acontecimentos.

Envoltos por um trânsito desordenado, em que o número de veículos e os índices altíssimos de mortalidade crescem dia a dia, surgiu, em 23 de setembro de 1997 o Código de trânsito Brasileiro, lei 9.503, trazendo uma série de novidades em seu conteúdo, com novas regras a serem seguidas e infrações para coibir os atos dos que resolverem não cumprir as determinações exaradas.

Inovou nos aspectos penais, tipificando determinadas condutas como crimes de trânsito, ensejando uma mudança no comportamento da população como um todo, sejam pedestres ou condutores, dispostos tanto no trânsito urbano como também no rodoviário.

dentre as inovações apresentadas no Código de trânsito Brasileiro, o crime de embriaguez foi o que mais trouxe influências na sociedade, pelo simples motivo de estar vinculado como uma das maiores causas dos milhares de acidentes de trânsito e consequentemente de vítimas que ocorrem neste país.

desta feita, a razão deste trabalho é primeiramente pormenorizar as questões afetas à embriaguez ao volante, tecendo considerações a respeito da legislação que norteia tal temática, principalmente com referência à edição do novo texto legal, a lei 11.705, de 19 de junho de 2008, conhecida popularmente como lei seca, ou melhor: lei que salva-Vidas, a qual cominou na alteração do Código de trânsito Brasileiro em vários pontos, trazendo a imposição de um novo regramento, tanto no âmbito administrativo quanto na esfera penal, para o condutor que dirigir veículo automotor sob a influência de álcool ou qualquer outra substância psicoativa que determine dependência.

ainda nesta seara, também será comentado sobre as atividades preventivas desenvolvidas pelo BpRv. (Batalhão de polícia Rodoviária) o qual diuturnamente com seu efetivo de 900 homens e mulheres, distribuídos em 64 (sessenta e quatro) postos de policiamento rodoviário procura coibir o cometimento de tal conduta na direção veicular, realizando ações fiscalizatórias de condutores com suspeita de ingestão de bebida alcoólica e o seu competente encaminhamento para a autoridade policial, bem como realiza o atendimento de acidentes que envolvam motoristas embriagados.

por fim, serão propostas sugestões de políticas públicas que após devidamente operacionalizadas, contribuirão sobremaneira para reduzir o número de condutores embriagados na direção veicular e paralelamente a isso diminuir os acidentes que têm como pano de fundo, a embriaguez ao volante. além disso, tais medidas irão proporcionar uma economia direta nos cofres públicos do Estado e de todos os Municípios paranaenses, que

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anualmente desembolsam cifras astronômicas para conter prejuízos de ordem material, perda da força de trabalho dos envolvidos, indenizações, custas hospitalares diversas, transtornos ocasionados na via como também sequelas para o meio ambiente. Essas são algumas das inúmeras consequências decorrentes de acidentes envolvendo condutores em estado de ebriedade.

1 ASPECTOS HISTÓRICOS

a sociedade em geral sempre teve como objeto de ostentação de sua riqueza o automóvel, e no Brasil sua chegada não trouxe sentimento diferente, conforme araújo (apud Faria lemos, 1980), Verguniaud Calazans Gonçalves em depoimento sobre a história do automóvel por ocasião do décimo aniversário da implantação da indústria automobilística no Brasil, afirmou que no ano de 1893, Henrique santos dumont pilotou pela primeira vez, em são paulo, um daimler impulsionado a vapor, de fabricação alemã, e em 1897 circulou no Rio de Janeiro, o primeiro automóvel de propriedade de José do patrocínio.

Com a chegada do automóvel no Brasil e a consequente inserção da indústria automobilística, logo começaram os problemas envolvendo o tráfego destes veículos, ocorrendo no Brasil o primeiro acidente com veículo automotor que se tem registro, tal acidente foi provocado por olavo Bilac que conduzia o veículo emprestado de José do patrocínio. (aRaÚJo apud FaRIa lEMos, 1980)

Nesta época sobre os veículos já havia uma taxação, em 1901 santos dumont exara aos cuidados do prefeito antônio prado um pedido de isenção da taxa sobre veículos, sendo que baseou seu arrazoado na má adaptação do calçamento, e, nessa época, já existia em são paulo um outro veículo, cuja propriedade era de tobias aguiar. Neste ínterim surgem outros veículos automotores no eixo compreendido entre o Rio de Janeiro e são paulo, sendo que em 1905, são paulo possuía o número de dezesseis veículos licenciados e no Rio de Janeiro trafegavam, em 1906, 35 carros, surgindo os primeiros táxis, e já em 1910, a imprensa e a população demonstravam preocupação com o número de acidentes fatais. (aRaÚJo apud FaRIa lEMos, 1980)

1.1 A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOBRE CIRCULAÇÃO DOS VEÍCULOS.

Com a implantação da indústria automobilística no Brasil, e após a ocorrência de inúmeros sinistros, o ente estatal percebe a obrigação de regulamentar a circulação dos veículos em seu território, buscando com tal medida proporcionar maior segurança aos pedestres e condutores que circulam no trânsito.

o decreto 18.323, de 1928, foi o primeiro estatuto sistematizado no Brasil em matéria de trânsito, possuindo 93 artigos, aprovando um regulamento para a sinalização, dispôs sobre segurança de trânsito e polícia das estradas de rodagem, permanecendo até a edição do primeiro Código Nacional de trânsito – decreto-lei 2.994, de 28 de janeiro de 1941, que, em seguida, foi revogado pelo decreto-lei 3.651, de 25 de setembro de 1941. Este foi substituído pela lei 5.108, de 21/9/66, o Código Nacional de trânsito, regulamentado por meio do decreto 62.127, de 16 de janeiro de 1968.

Nesse período não existiam preceitos de ordem penal para as condutas ditas infrações de trânsito, sendo que tal matéria era regulada pela legislação penal comum indiretamente. Conforme nos ensina pires, (1998) o Código penal de 1969 previa no título VIII, (Crimes contra a Incolumidade pública) capítulo I, (Crimes de perigo) alguns crimes de trânsito, entre eles os principais eram: “a embriaguez ao volante” (art. 287) e “o perigo resultante de regra de trânsito”, (art. 288) porém o Código foi revogado antes mesmo da sua entrada em vigor.

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assim as infrações cometidas na condução do automóvel e que eram relevantes para o âmbito penal, recebiam tratamento através da adequação do regramento contido na parte especial do Código penal e da lei de Contravenções, ambas de 1940, sendo que nas contravenções penais, os fatos tipificados são mais específicos para a matéria, dentre eles a “falta de habilitação para dirigir veículo, (art. 32) direção perigosa de veículo em via pública (art. 34) e sinais de perigo (art. 36)”.

Havia, sem dúvida, um grande abismo no direito penal brasileiro, quando o assunto a ser acolhido era o trânsito. a ausência de um tratamento adequado das questões específicas afetas a esta matéria, criava um sentimento de impunidade geral, que era comprovado através das vítimas fatais, feridos, inválidos, além dos vultosos prejuízos de ordem material, resultados do campo de tragédias que se tornou o trânsito brasileiro. Era necessário incriminar de forma particular os delitos cometidos na condução de veículos automotores.

1.2 DA EMBRIAGUEZ AO VOLANTE

os países escandinavos foram os primeiros a sentirem a necessidade de reprimir esta grave causa de insegurança no trânsito, que é a embriaguez ao volante. desde fevereiro de 1926, a Noruega decidiu erigir em ilícito penal a ação de conduzir veículo automotor, sob a influência de bebida alcoólica, punindo-a com multa ou prisão até um ano, apreensão de carteira no mínimo por um ano e cassação caso ocorra reincidência na conduta. desde então o exemplo foi seguido pela Finlândia, ainda no mesmo ano, depois pela suécia, dinamarca e daí por inúmeros países.

outras legislações estrangeiras, ainda mais cautelosas, não restringiram a repressão aos veículos motorizados, indo além em sua proposta. a lei francesa de 1965 diz apenas – dirigir veículo. sua amplitude alcança assim todos os outros veículos, movidos por tração humana ou animal. a lei rodoviária holandesa declara expressamente – veículo automotor, ou bicicleta. a lei belga ainda vai mais longe, referindo-se a veículos e cavalgaduras. amplia o conteúdo da definição legal para alcançar quem “conduz menos de duas horas após ter sido convidado por funcionário ou agente qualificado a abster-se (de dirigir) em razão de sinais de intoxicação alcoólica apresentada”, como também “aquele que incita ou provoca a conduzir pessoa que está manifestamente embriagada, ou que confia seu veículo ou animal de sela a pessoa neste estado”.1

Então, como em qualquer país, no Brasil também havia a necessidade da imposição de medidas mais severas para conter os motoristas irresponsáveis e insensíveis, que, embriagados e sob a égide da impunidade, ceifam a vida de muitas pessoas, quando não as deixam com graves sequelas.

assim o legislador brasileiro, sensível à evolução dos fatos sociais, aprova em 23 de setembro de 1997 o Código de trânsito Brasileiro (CtB), o qual finalmente em seu conteúdo destinou um Capítulo específico para tratar da seara penal, passando então a descrever como crime a conduta de dirigir veículo sob a influência de álcool ou de substância de efeitos análogos. Era a solução encontrada para o momento para tentar conter o crescimento da violência no trânsito que se perpetuava em virtude da carência de mecanismos ágeis para reprimir os condutores que, alcoolizados, acabavam cometendo grandes atrocidades.2

1 texto adaptado de aspectos penais do direito Rodoviário. 2. ed.; Rio de Janeiro; p. 51 e 52.2 texto adaptado de Comentários ao Código de trânsito Brasileiro. 4. ed.; são paulo; p. 607

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2 A SOCIEDADE, O ÁLCOOL E SUAS CONSEQÜÊNCIAS

ao analisar as inúmeras tragédias diárias que ocorrem no trânsito brasileiro seja no perímetro urbano como no rodoviário, nota-se que um grande montante de pessoas que integram esse sistema de trânsito, não possui consciência sobre as suas condutas enquanto condutores e pedestres. usufruem das vias de circulação diariamente sem atentar para o devido cumprimento das normas existentes e, o pior, não percebem que sua inadimplência os deixa suscetíveis a uma série de riscos.

É uma grande banalização dos sentimentos. Inúmeras vidas são ceifadas prematuramente, e a nossa sociedade assiste, de forma atônita, a verdadeiras cenas de terror nas ruas, avenidas e rodovias brasileiras.

Vasconcelos (1985, p. 41) traz uma definição muito interessante sobre a temática:

(...) o trânsito é uma disputa pelo espaço físico, que reflete uma disputa pelo tempo e pelo acesso aos equipamentos urbanos, é uma negociação permanente do espaço, coletiva e conflituosa. E essa negociação, dadas as características de nossa sociedade, não se dá entre pessoas iguais: a disputa pelo espaço tem uma base ideológica e política; depende de como as pessoas se vêem na sociedade e de seu acesso real ao poder.

Interessante perceber que as condutas, os comportamentos errados são constatados no momento em que o homem encontra-se envolto por uma máquina. o automóvel faz com que o ser humano demonstre para a sociedade que frequenta o status que possui, ou seja: o automóvel deixa apenas de ser um instrumento utilitário que pode conduzi-lo para um passeio, um momento de lazer, ao trabalho e passa a ser um objeto de poder, de ostentação, para demonstrar raiva e ódio, tornando uma arma em potencial contra os outros e uma armadura para quem o possui. É uma clara demonstração de um individualismo exacerbado, provocado por uma sociedade baseada no consumo e no egoísmo.

analise o seguinte: não se pode pensar que o trânsito dentro de um contexto de sociedade é uma entidade independente. pelo contrário; ele faz parte de todo um complexo organismo social, que possui uma série de problemas. ora, quem integra este organismo senão a sociedade e todas as suas mazelas. Homens e mulheres com desejos e frustrações. É a violência, o individualismo, a falta de ética, a economia com vistas apenas ao lucro desenfreado. Esse é o pano de fundo que norteia este universo de sobrevivência, que remete para uma sociedade com inúmeras desigualdades que são postas em evidência no nosso trânsito diário.

sendo assim, o Estado deve sempre ter como meta para seus investimentos, um valor destinado ao desenvolvimento de políticas públicas com ênfase na área de educação para o trânsito. É o despertar de uma sociedade para um assunto que interessa sobremaneira a todos, visto atingir indistintamente qualquer classe social.

É preciso com isso retomar a consciência da realidade, do coletivo, do dever ético, dos fatos sociais que o rodeiam, e entre eles o trânsito. Ensinar que os problemas que hoje fazem com que o nosso trânsito tenha comparação a uma guerra como a do Vietnã, não são perenes, ou sem solução, e podem ser transpostos com uma mudança comportamental atrelada ao crescimento cultural de toda a população brasileira, a qual gradativamente aprenderá a exercer sua cidadania e terá pleno entendimento e consciência de seus direitos, deveres e principalmente responsabilidades. É um processo que exige iniciativa e força de vontade para mudar e fazer o certo para todos.

2.1 A DEFINIÇÃO DE EMBRIAGUEZ

as consequências advindas da embriaguez para o organismo humano são inúmeras. Mas o que significa embriaguez? Vários são os conceitos existentes: No dicionário aurélio

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da língua portuguesa (1988, p. 239), significa “estado de indivíduo embriagado; bebedeira; ebriedade”. Já o dicionário técnico Jurídico, organizado por Guimarães, (2004, p. 283) esclarece que embriaguez “intoxicação, aguda ou crônica, provocada pela ingestão imoderada de bebida alcoólica, que perturba a razão do indivíduo e altera seu equilíbrio emocional, podendo levá-lo a praticar atos ilícitos.” Na Medicina legal consoante os ensinamentos de damásio, (2000, p. 165) embriaguez é o “conjunto das perturbações psíquicas e somáticas, de caráter transitório, resultantes da intoxicação aguda pela ingestão de bebida alcoólica ou pelo uso de outro inebriante”. Já em direito penal, pires (1998, p. 221) considera a embriaguez como “uma intoxicação, aguda e transitória, causada pelo álcool ou substância análoga, que elimina ou diminui no agente sua capacidade de entendimento ou de autodeterminação”. Costa (1999, p. 17) define que “a embriaguez é considerada uma intoxicação aguda e transitória, causada pela ingestão de álcool ou outra substância de efeitos análogos, que causa distúrbios comportamentais e fisiológicos.” Em definição Mirabete (1999, p. 232) relata que “a embriaguez é intoxicação aguda e transitória causada pelo álcool e, nos termos legais, por substância de efeitos análogos, que podem diminuir ou privar o sujeito da capacidade normal de entendimento.”

a organização Mundial de saúde (oMs) da organização das Nações unidas (oNu) (apud Ballone, 2002)3 define embriaguez como sendo “toda forma de ingestão de álcool que excede ao consumo tradicional, aos hábitos sociais da comunidade considerada, quaisquer que sejam os fatores etiológicos responsáveis e qualquer que seja a origem desses fatores”, como, por exemplo, a hereditariedade, a constituição física ou as alterações fisiopatológicas adquiridas.

ainda, Gomes (1993, p. 128) menciona que, “de acordo com o entendimento médico quando um indivíduo se encontra no estado de embriaguez constata-se alucinações da vista, geralmente de caráter terrorista, delírio persecutório da cenestesia, tremor da língua e das extremidades digitais.”

por fim, a embriaguez não deve ser confundida com alcoolemia, sendo que esta trata do teor de álcool etílico presente no sangue.

2.2 AS CONSEQUÊNCIAS SOCIAIS DA UTILIZAÇÃO DO ÁLCOOL

É comum, ao abrir o jornal matutino ou ainda assistir em noticiários televisivos, motoristas embriagados que ocasionam trágicos acidentes no trânsito, deixando várias famílias órfãs de seus entes queridos em virtude da prática de um ato irresponsável, que é a ingestão de bebida alcoólica antes de dirigir veículo automotor. pinski (1998)4 comenta que, entre a metade e um quarto dos acidentes com vítimas fatais estão associados ao uso do álcool por algum dos responsáveis pela ocorrência. Mas qual o custo de um acidente rodoviário? o instituto de pesquisa Econômica aplicada (IpEa) esclarece que o custo anual dos acidentes de trânsito nas rodovias brasileiras alcançou a cifra de R$ 22 bilhões, a preços de dezembro de 2005, o que compreende 1,2% do pIB brasileiro. a maior parte refere-se à perda de produção, associada à morte das pessoas ou interrupção de suas atividades, seguida dos custos de cuidados em saúde e os associados aos veículos.

o referendado instituto elaborou um estudo denominado “Impactos sociais e econômicos dos acidentes de trânsito nas rodovias brasileiras”, apresentando alguns dados conforme tabela a seguir.

3 texto disponível em www.psiqweb.med.br/forense/imput.htm (acesso em 27/02/06). 4 texto disponível em www.uniad.org.br/docs/alcool/dirigiralcoolizado_Revisao.pdf (acesso em

19/02/06).

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taBEla 1 – Custo individual das ocorrências rodoviárias

(valores atualizados em 31 de julho de 2008)

FoNtE: Instituto de pesquisa Econômica aplicada (Núcleo de assuntos Estratégicos da presidência da República).

Neste mesmo estudo ocorre o descritivo de um rol estabelecendo quais são os componentes de custos dos acidentes, que compreendem as pessoas envolvidas com os cuidados em saúde (pré-hospitalar, hospitalar e pós-hospitalar) mais os cuidados em perda de produção e remoção/translado. os custos dos veículos, com os danos materiais ocasionados, somados à perda de carga, da remoção (guincho ou pátio) e da reposição. também os custos referentes a via e ao meio ambiente, que compreendem os danos à propriedade pública somados à propriedade privada. Finalmente os custos institucionais que dizem respeito aos custos judiciais mais os custos de atendimento. outros impactos podem ocorrer como custos da perda da vida ou de lesões permanentes que impossibilitam uma vida normal ao envolvidos não sendo quantificáveis, sem tradução monetária. (IpEa, 2006)

Então qual o sentimento que leva grande parte da população, mesmo já tendo presenciado tantos fatos trágicos envolvendo condutores embriagados, continuar a ingerir bebida alcoólica e cometer desvarios na direção veicular? Qual a magia que esta bebida possui? Qual a sua história?

Zawadski5, em seu trabalho no Curso de Especialização em trânsito, explica sobre a História e Estória do álcool:

o álcool é a droga mais antiga utilizada pelo homem. o vinho e a cerveja desenvolveram--se praticamente junto com a agricultura. No antigo Egito, a embriaguez fazia parte dos ritos e cerimônias religiosas em louvor a osiris, deus protetor da agricultura. Na tumba de um faraó que morreu aproximadamente há 5.000 anos constava o seguinte epitáfio: “sua estada terrestre foi devastada pelo vinho e pela cerveja, e o espírito lhe escapou antes que fosse chamado”. as referências bíblicas sobre bebidas alcoólicas são inúmeras. Filósofos da antiguidade como Hipócrates, sócrates e platão já alertavam para os malefícios do álcool.

ora é sabido que o álcool promove no ser humano alterações em seu sistema nervoso, deixando-o mais audaz, confiante, arriscando em suas atitudes. E quando ocorre a combinação entre álcool e direção de veículo automotor? Quais as consequências que podem advir de tal mistura? as respostas são verificadas nos números de mortos e feridos contabilizados anualmente nas ruas, avenidas e estradas brasileiras.

Veja o que araújo (1997, p. 97) diz a respeito ainda sob a influência do álcool no comportamento humano:

a intoxicação alcoólica produz no indivíduo transtornos primeiramente psíquicos, depois físicos. a primeira manifestação do álcool, de regra, é a loquacidade. o indivíduo sente uma extrema necessidade falar, supervalorizando a própria capacidade e desejando manifestá-la. por outro lado a autocrítica diminui, gerando atitudes inconvenientes. os

5 texto disponível em www.pr.gov.br/detran/educa/especializacao/curso09.html (acesso em 23/02/06).

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motoristas sob pequena influência alcoólica são mais velozes e descuidados e, por isso, perigosos. Com o aumento da quantidade de álcool no organismo outros fenômenos se manifestam, como desaceleração da voz e defeitos na articulação das sílabas e palavras. Há de regra, uma maior demora na resposta a estímulos complexos.

Esta matéria vem tirando a tranquilidade do nosso legislador ordinário que, após analisar as estatísticas que possui, concluiu que se faz necessário o investimento em campanhas de conscientização para os motoristas juntamente com a aplicação pelas polícias de uma legislação rígida que coíba tais posturas na direção veicular.

Rizzardo (2004, p. 491) refere-se da seguinte maneira ao tema: “o efeito catastrófico do álcool vem forçando os países a reduzir continuamente os limites de alcoolemia na condução de veículos, como na Inglaterra e Estados unidos, onde é zero o nível máximo tolerado.”

sobre este mesmo prisma, pires (1998, p. 29) salienta que,

Em especial no que se refere à predisposição para violar normas de trânsito, segundo os estudiosos, pode fundar-se em motivações psicossociológicas e físicas, dentre as quais apresenta-se a relevância dos efeitos do álcool e do uso de anfetaminas, mesmo se variáveis segundo as características individuais do agente.

a influência do álcool no comportamento dos condutores de veículo automotor é um fenômeno sociológico que se pode observar em países de todo mundo. Cada nação procura desenvolver políticas públicas para combater tal epidemia, que influencia a sociedade de forma geral e também a economia destes países6, onerando de sobremaneira os cofres públicos em decorrência do alto índice de vítimas fatais, danos patrimoniais ocasionados, custas pré e pós-hospitalares, lesões permanentes ocasionadas em virtude dos acidentes de trânsito envolvendo condutores em estado de ebriedade.

abreu, (1998, p. 8) estudando os acidentes de trânsito, relata que

Estatísticas americanas comprovam, há pouco mais de um decênio em mais da metade dos acidentes fatais, o álcool foi um fator presente. Converte-se em aproximadamente 25 mil mortos, 600 mil feridos e mais de 20 bilhões de dólares em danos econômicos. (traffic safety,Illinois, p. 17; set./out. 1985.). dez anos depois estas cifras caíram para 41 %. segundo a afirmação autorizada do especialista daniel t. Gilbert, (traffic safety,Illinois, p. 24; jan./fev. 1996.), como consequência de uma legislação mais rigorosa e bem aplicada.

sobre os acidentes, relata ainda sznick (1998, p. 111) que

Recentes dados sobre acidentes de trânsito, do aBdEtRaB, associação brasileira, anota que nos últimos anos o número anual de mortos é de 32.500 pessoas, sendo a causa

6 além de representar um grande problema de saúde pública, os at implicam um custo anual de 1% a 2% do produto interno bruto para os países menos desenvolvidos (soderlund & Zwi, 1995). Numa estimativa conservadora, o Governo do Estado de são paulo (1993) calcula que o custo social e material dos at chega acerca de 1% do pIB nacional. Nos Eua, uma análise da administração da segurança no tráfego nas Estradas Nacionais concluiu que os principais custos em decorrência de at correspondem a dano de propriedade (33%), perda de produtividade no trabalho (29%), despesas médicas (10%) e perdas de produtividade no lar (8%) (CdC, 1993). as deficiências físicas resultantes de at trazem graves prejuízos ao indivíduo (financeiros, familiares, de locomoção, profissionais etc.) e para a sociedade (gastos hospitalares, diminuição de produção, custos previdenciários etc). as estimativas da organização pan-americana de saúde (ops) apontam que 6% das deficiências físicas são causadas por at no mundo. No Brasil, do total de portadores de deficiências atendidos pelo Hospital das Clínicas de são paulo, 5,5% são casos de vítimas de at (Governo do Estado de são paulo, 1993). No Brasil, cerca de dois terços dos leitos hospitalares dos setores de ortopedia e traumatologia são ocupados por vítimas de at, com média de internação de vinte dias, gerando um custo médio de vinte mil dólares por ferido grave.

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principal o álcool. Comprovou-se que 75% de motoristas feridos ou mortos haviam ingerido bebidas alcoólicas: 61% das vítimas (motoristas, passageiros ou pedestres) estavam alcoolizados, 30% deles apresentavam índice de álcool, acima do permitido pela lei (0,6); 10%, além de álcool, apresentavam a presença de outra droga.

Conforme o departamento Nacional de trânsito a cada ano, o Brasil contabiliza 750 mil acidentes, 27 mil brasileiros mortos e mais de 400 mil com lesões permanentes nas estradas e vias urbanas do país. o trânsito brasileiro corresponde a uma guerra do Vietnã a cada dois anos (50 mil mortos), ou à queda de um Boeing a cada dois dias. É como se aquela tragédia do Folker que caiu em são paulo acontecesse de três a quatro vezes por semana. Estes são dados oficiais apresentados pelo departamento que de forma atualizada reflete a situação apresentada no país. (dENatRaN, 2006)

Junto com o crescente número de acidentes automobilísticos verifica-se um crescimento significativo da frota de veículos circulantes. através da tabela, é possível acompanhar a evolução da frota de veículos devidamente registrados bem como a porcentagem de aumento que ocorreu, e ainda o crescimento populacional no Estado do paraná nos últimos dez anos.

TABELA 2 – Evolução da frota de veículos no Estado do Paraná

FoNtE: adaptado de dEtRaN/pR – Coordenadoria de veículos (*Redução da frota no mês de dezembro de 2000, com a retirada dos veículos de placas amarelas do cadastro do dEtRaN.)

o crescimento da frota de veículos se dá em virtude de uma série de circunstâncias econômicas e sociais. a economia mais equilibrada propiciou aos brasileiros a possibilidade de adquirir um veículo, ou seja, ficou mais acessível realizar um financiamento e pagar parcelas que se enquadram perfeitamente na sua realidade salarial. Com isso, diariamente a frota nacional de veículos incha e o trânsito urbano e rodoviário fica ainda mais caótico e violento.

outro ponto que também não pode ser esquecido, é que se houve um aumento na frota veicular. É lógico que este crescimento será acompanhado do aumento do número

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339Capítulo 4 - sEGuRaNÇa pÚBlICa

GEstão dE polítICas pÚBlICas No paRaNá

de expedições de CNH. acompanhe a tabela abaixo com os índices de condutores do sexo masculino e feminino.

TABELA 3 – Condutores cadastrados no Estado do Paraná

FoNtE: adaptado de dEtRaN/pR (2007) – Coordenadoria de habilitação.

Conforme as tabelas 2 e 3, constata-se que houve um aumento em cadeia em todos os índices da mostra aqui analisada, sendo que o aumento populacional do Estado foi acompanhado pela frota de veículos, que trouxe um aumento na quantidade de habilitações. outra constatação observada é que, a cada ano, aumenta o número de mulheres ao volante, uma prova da mudança na estruturação social do Estado, que vê nas mulheres um potencial para o exercício de qualquer atividade. por exemplo, em 2006 o número de mulheres com CNH na categoria ad era de 2.787, sendo que em 2007, este número passou para 3.240, um acréscimo de 16,25% do número de documentos expedidos nesta categoria. (dEtRaN, 2007)

Em tratando-se da conservação de nossas rodovias, a grande realidade é que nossa malha viária não foi preparada ao longo dos anos para suportar o tamanho fluxo de veículos que atualmente compõem a frota veicular, ou seja: temos o dobro de veículo circulando no mesmo número de vias e rodovias que possuíamos na década passada. além disso, nossos governantes ainda não investiram o suficiente para estruturar o atual sistema de transporte coletivo, tornando-o uma opção concreta a ser utilizada, oferecendo qualidade aos seus usuários e consequentemente atendendo às necessidades de transporte que a população almeja.

ainda nesta discussão, é prudente comentar sobre as atividades que realizam as concessionárias de rodovias. Em meados de 1997, o Estado do paraná resolveu após concluir que era impossível arcar com os custos de uma rodovia moderna e em constante manutenção, decidiu privatizar algumas. Em meio a discussões da sociedade sobre os valores de tarifa, liminares judiciais autorizando o seu aumento, é certo que as condições de trafegabilidade mudaram para melhor. após uma década de implantação, as rodovias apresentam condições mais modernas e seguras, com utilização de novas tecnologias para o pavimento asfáltico,

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340 O CRIME DE EMBRIAGUEZ AO VOLANTE

GEstão dE polítICas pÚBlICas No paRaNá

maior número de faixas adicionais, sinalização etc. Contudo, mesmo com tal aperfeiçoamento, continuam ocorrendo acidentes. Fica então o questionamento: Isso acontece é em virtude da rodovia em melhores condições ou do motorista que cada vez é mais ousado? Fico com a segunda hipótese, e ainda complemento dizendo que grande parcela dessa ousadia se dá pela ingestão de bebida alcoólica.

3 ASPECTOS ADMINISTRATIVOS DA EMBRIAGUEZ AO VOLANTE

Neste capítulo, serão enfatizadas as medidas administrativas decorrentes da aplicação da lei 11.705 (lei para salvar vidas). a aplicação dos art. 165, 276 e 277, pela autoridade de trânsito e seus agentes, estabelece um rol de providências a serem tomadas no âmbito da seara administrativa, que impulsionam os operadores do direito a inúmeras análises e pareceres jurídicos contrários até mesmo ao que o próprio legislador ordinário idealizou quando da elaboração do texto legal. desta feita passa-se a tecer considerações sobre os artigos do CtB outrora mencionados.

a. altERaÇÕEs EXECutadas Nos aRt. 165 E 276 do CtB

sobre a embriaguez preleciona Mello (1995, p.279) que “a embriaguez, ainda que incipiente ou larvada: a) priva o indivíduo do governo de seus músculos; b) altera as imagens produzidas pelos sensórios, produzindo, por exemplo, a diplopia ou visão dupla; c) priva o indivíduo do governo prudente de si mesmo, tornando-o ousado e impulsivo e fazendo-o arrostar o perigo exatamente para provar aos outros que está seguro e firme”.

observe o que o Código de trânsito Brasileiro (lei n. 9.503/97) dizia em sua redação original, referente ao art. 165: “dirigir sob influência de álcool, em nível superior a seis decigramas por litro de sangue, ou de qualquer substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica”.

Faz-se tranquilamente de entendimento, que a configuração da mencionada infração administrativa ocorre com a presença de seis decigramas de álcool por litro de sangue para o condutor do veículo. Contudo, no ano de 2006, houve através da lei 11.275, uma nova alteração no texto legal. ocorre que o art. 165 passou a dispor que “dirigir sob a influência de álcool ou de qualquer substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica”, pura e simplesmente, constituía-se em uma infração administrativa. paralelo a isso o art. 276 do CtB continuava a dispor que “a concentração de seis decigramas de álcool por litro de sangue comprova que o condutor se acha impedido de dirigir veículo automotor”. Isso gerava inúmeras discussões a respeito de qual era o valor da concentração alcoólica para então caracterizar a conduta da embriaguez.

Com a promulgação em junho de 2008 da lei seca, o legislador ordinário definiu que a conduta de dirigir um veículo automotor estando sob a influência de álcool, de per si, constitui uma infração administrativa.

adiante a nova redação dos artigos 165 e 276 do CtB:

art. 165 dirigir sob a influência de álcool ou de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência: (Redação dada pela lei 11.705, de 2008) Infração - gravíssima; (Redação dada pela lei 11.705, de 2008)

penalidade - multa (cinco vezes) e suspensão do direito de dirigir por 12 (doze) meses; (Redação dada pela lei 11.705, de 2008) Medida administrativa - retenção do veículo até a apresentação de condutor habilitado e recolhimento do documento de habilitação. (Redação dada pela lei 11.705, de 2008) parágrafo único. a embriaguez também poderá ser apurada na forma do art. 277. [...] art. 276 Qualquer concentração de álcool por litro de sangue sujeita o condutor às penalidades previstas no art. 165 deste Código. (Redação dada pela lei 11.705, de 2008) parágrafo único. Órgão do poder Executivo

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341Capítulo 4 - sEGuRaNÇa pÚBlICa

GEstão dE polítICas pÚBlICas No paRaNá

federal disciplinará as margens de tolerância para casos específicos. (Redação dada pela lei 11.705, de 2008)

a partir da leitura do ora disposto, é que se pode concluir que ambos os artigos aqui elencados não admitem discussão, ou seja: o único teor de álcool admitido ao condutor de veículo automotor é o correspondente a zero. Com isso qualquer condutor que realize a ingestão de bebida alcoólica e passe a dirigir um veículo automotor estará por cometer tal infração administrativa, que tem como punição as penalidades de multa, suspensão do direito de dirigir, e ainda recebe as medidas administrativas de recolhimento da carteira nacional de habilitação e retenção do veículo; esta última dá-se até a apresentação de condutor habilitado se o veículo não possuir outra infração que enseje em sua retenção.

outro ponto também a ser mensurado é que no atual texto, não mais se faz necessário o dirigir de forma anormal, perigosa, ziguezagueando, proferindo freadas bruscas ou arrancadas ríspidas, ou seja, submetendo alguém ao tão discutido perigo concreto, bastando que esteja sob a influência do álcool, qualquer que seja o teor da sua concentração, caracteriza o perigo abstrato.

Com referência à expressão “qualquer substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica”, a mesma foi substituída por “qualquer outra substância psicoativa que determine dependência”. o Mp de santa Catarina, em parecer 005/2008 CCR menciona: “Incluiu-se, portanto, qualquer substância que possua a capacidade de alterar o comportamento, o humor e a cognição do homem, desde que determine sua dependência, como a maconha, cocaína, lança perfume etc”.

Em continuidade, faz-se prudente tecer algumas ponderações sobre as penalidades administrativas de tal infração do CtB. Recebe enquadramento como infração de natureza gravíssima, sendo que a multa tem fator multiplicador cinco vezes, e a novidade apresentada pelo legislador aqui, foi a imposição da suspensão do direito de dirigir por um período compreendido de doze meses. o regramento antigo não dispunha de um prazo definido para esta medida, apenas a admitia. agora este prazo é definido, ficando claro ao condutor infrator a penalidade que vai receber se cometer tal conduta.

além disso, como medida administrativa, em caráter imediato, a lei autoriza o recolhimento da carteira e a retenção do veículo, que ocorre de forma provisória até que haja a apresentação de condutor habilitado e em plenas condições físicas para o exercício da direção. logicamente que a aplicação da multa e a suspensão do direito de dirigir dar-se-ão após o competente processo administrativo, o qual possibilitará a ampla defesa do condutor, conforme previsão assegurada na Constituição Federal.

b. a NoVa REdaÇão dos §2º e §3º do aRt. 277

Esta agora é a redação do art. 277 do CtB e seus parágrafos:

art. 277 todo condutor de veículo automotor, envolvido em acidente de trânsito ou que for alvo de fiscalização de trânsito, sob suspeita de dirigir sob a influência de álcool será submetido a testes de alcoolemia, exames clínicos, perícia ou outro exame que, por meios técnicos ou científicos, em aparelhos homologados pelo CoNtRaN, permitam certificar seu estado. (Redação dada pela lei 11.275, de 2006) § 1o Medida correspondente aplica-se no caso de suspeita de uso de substância entorpecente, tóxica ou de efeitos análogos. (Renumerado do parágrafo único pela lei 11.275, de 2006) § 2o a infração prevista no art. 165 deste Código poderá ser caracterizada pelo agente de trânsito mediante a obtenção de outras provas em direito admitidas, acerca dos notórios sinais de embriaguez, excitação ou torpor apresentados pelo condutor. (Redação dada pela lei 11.705, de 2008) § 3o serão aplicadas as penalidades e medidas administrativas estabelecidas no art. 165 deste Código ao condutor que se recusar a se submeter a qualquer dos procedimentos previstos no caput deste artigo. (Incluído pela lei 11.705, de 2008)

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342 O CRIME DE EMBRIAGUEZ AO VOLANTE

GEstão dE polítICas pÚBlICas No paRaNá

o caput deste artigo relata que todo condutor de veículo automotor, envolvido em acidente de trânsito ou que for alvo de fiscalização de trânsito diante da suspeita que o motorista está dirigindo sob a influência de álcool, este deve ser submetido à prova pericial para a constatação do seu estado (exame de sangue, bafômetro, exame clínico etc.). Esta mera suspeita será então concretizada após a devida realização do exame pelo condutor, e pelo resultado que dele advier.

o §1º permanece com a mesma redação descrita pela lei 11.275 de 2006, não havendo alterações.

o § 2º do mesmo artigo esclarece que, se não for da vontade do condutor a realização dos testes de alcoolemia, as disposições legais ora existentes permitem uma alternativa para suprir tal negativa, ou seja, obter a devida constatação da influência do álcool no motorista por meio de outras provas em direito admitidas entre elas, o exame clínico, a prova testemunhal acerca dos notórios sinais de embriaguez.

Já o § 3º remete ao motorista a possibilidade de recusa aos testes para verificar a sua alcoolemia (sangue e aparelhos de ar). o entendimento jurisprudencial brasileiro é que o motorista não pode ser obrigado, compelido à realização do teste de alcoolemia. Neste caso fica amparado pelas normas e princípios constitucionais, sendo que “ninguém está obrigado a produzir provas contra si mesmo”. Contudo, ao elaborar o texto legal, o legislador ordinário não exara um comando imperativo simplesmente obrigando o motorista a submeter-se ao teste de alcoolemia. pelo contrário, claramente avilta a possibilidade de o mesmo recusar-se ao procedimento. No entanto, se essa for a sua escolha, sua conduta recairá em infração administrativa de embriaguez ao volante (art. 165 do CtB) e sofrerá as sanções que lá foram estabelecidas.

observe o arrazoado exarado pelo Mp de santa Catarina em parecer CCR n. 005/2008 o qual retrata a interpretação daquela casa sobre o assunto:

sinceramente, não se vislumbra óbice constitucional para o legislador determinar, por lei, que quem se recusar a submeter-se ao exame de alcoolemia deve sujeitar-se às mesmas sanções administrativas daquele que está dirigindo sob a influência de álcool. ora, diante da situação atual vivenciada nas estradas brasileiras (o que justifica a proporcionalidade), o legislador entendeu que quem se recusar a fazer o teste de bafômetro, por exemplo, está praticando uma infração administrativa. o motorista não tem a obrigação de submeter-se ao bafômetro e, consequentemente, fazer prova contra si. Isso é certo. todavia, se assim entender, está praticando uma infração administrativa punida com a mesma sanção prevista no art. 165 do CtB. Não há obrigatoriedade, porque o motorista pode optar entre fazer o teste ou arcar com a sanção administrativa. Qual a inconstitucionalidade desse novo comando legislativo? É imperioso observar que a ninguém é dado o direito de dirigir veículo automotor indistintamente. Esse direito é concedido administrativamente pelo Estado, lato sensu considerado. para poder dirigir o motorista tem que se submeter aos testes escritos (avaliação teórica), físicos (avaliação médica) e de direção (avaliação prática). só depois de ultrapassar todas essas etapas é que está apto a dirigir. o poder público, finalmente, pode conceder-lhe esse direito. posteriormente, diante do seu poder de polícia, compete à administração pública fiscalizar se o condutor continua apto a dirigir ou não. Não podemos esquecer que as habilitações têm prazo de validade, devendo ser renovadas periodicamente, submetendo-se o motorista a novas avaliações. de igual sorte, não há óbice ao Estado proceder à fiscalização contínua dos motoristas nas estradas, a fim de saber se estão dirigindo a contento ou não, se continuam aptos ou não, permanente ou transitoriamente. Esse é o típico poder de polícia da administração pública. pode, então, é claro, haver fiscalização no trânsito da embriaguez ao volante, quando o agente público suspeitar desta condição. E, se pode, é justo que os motoristas tenham o indiscriminado direito de recusar-se a essa fiscalização, sob a alegação de que não podem ser submetidos aos exames de alcoolemia, porque não estão obrigados a fazer prova contra si, num eventual futuro processo penal, invocando o seu direito constitucional ao silêncio num simples processo administrativo? Francamente!

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343Capítulo 4 - sEGuRaNÇa pÚBlICa

GEstão dE polítICas pÚBlICas No paRaNá

Então qual é o objetivo primordial da lei 11.705? Facilmente pode-se esclarecer que o poder público, ao elaborar o texto legal, objetivou primeiramente proteger vidas, impondo uma regra a toda a população, dizendo que ninguém pode, após fazer a ingestão de bebida alcoólica, dirigir veículo automotor. ora tal determinação do legislador ocorreu em virtude de uma série de tragédias que diariamente são noticiadas em diversos pontos do território brasileiro, de condutores que acabaram se envolvendo em acidentes em estado de embriaguez proveniente do uso do álcool.

o condutor, ao estar sob a influência alcoólica, em qualquer concentração, terá sua capacidade de concentração, discernimento e de domínio do veículo reduzidos. desta feita, é necessário fiscalizar os motoristas para verificar se estes estão cumprindo o regramento vigente, e para a consecução deste processo, utiliza-se o equipamento denominado bafômetro/etilômetro, para a aferição do grau do teor alcoólico que o condutor apresenta. afinal ele pode até se recusar a realizar o teste, dizendo que não é obrigado a fazer prova contra si, contudo, sua atitude lhe implicará uma sanção administrativa de igual teor, presumindo estar o condutor em estado de embriaguez.

ao passo que o condutor diz que não pode ter o seu direito individual violado, se referindo ao ponto de vista constitucional, o Estado como ente responsável pelo equilíbrio das relações sociais, possui a obrigação de exercer a atividade fiscalizatória no trânsito e assim, verificar se aquele condutor que inicialmente apresentava plenas condições de exercer a direção veicular continua a respeitar na integralidade os mandamentos exarados pela administração pública e se assim o fizer, continuar a exercer o seu direito de dirigir, porque, do contrário, sofrerá as sanções previstas (suspensão do direito de dirigir).

a propósito, a situação foi muito bem exposta pelo procurador da República Bruno Freire de Carvalho Calabrich:

É um princípio jurídico pacificamente aceito que “ninguém está obrigado a produzir prova contra si mesmo” (tradução do brocardo latino “nemo tenetur se detegere”). lido o princípio de outra forma, diz-se que ninguém pode ser constrangido a contribuir para a própria acusação. assim, o agente de trânsito ou qualquer outra autoridade não podem forçar ninguém a fazer o teste do bafômetro nem a se submeter a nenhum outro procedimento que possa resultar em uma prova contrária a seus interesses. Considerando esse princípio, a lei, como visto, tratou de prever sanções (precisamente as referidas penalidades e medidas administrativas) para aquele que se recuse a fazer o teste, de modo a tornar “interessante” para o motorista tal opção – para não ser punido administrativamente, o motorista pode “arriscar” o exame. o motorista, dessa forma, terá sempre a opção; jamais poderá ser “forçado” (coagido) a realizar o exame. a recusa a se submeter ao exame não é, a rigor, um “direito” do motorista, e sim, uma obrigação, para cujo descumprimento a lei prevê sanções no âmbito administrativo. Mas, estando o condutor ciente de que pode ser punido administrativamente, a não submissão ao exame é, afinal, uma opção exclusivamente sua. as alternativas à sua frente, assim, são: (a) submeter-se ao exame e arriscar conseqüências penais mais gravosas, caso seja detectada uma concentração superior a 6 decigramas por litro de sangue; ou (b) não se submeter ao exame e sofrer as sanções administrativas previstas no art. 165 do CtB, a serem aplicadas de imediato (apreensão da habilitação e retenção provisória do veículo) e ao final de um processo administrativo regular (multa e suspensão do direito de dirigir por 12 meses). Claro que todas essas considerações, na prática, não valem para o motorista que não tem dúvidas quanto a seu estado de embriaguez. aquele que não ingeriu nenhuma bebida alcoólica provavelmente não terá nenhuma objeção quanto a se submeter a qualquer exame.7

7 o teste do bafômetro e a nova lei de trânsito. aplicação e consequências. Jus Navigandi, teresina, ano 12, n. 1828, 3 jul. 2008. disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=11461>. acesso em: 10 jul. 2008.

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344 O CRIME DE EMBRIAGUEZ AO VOLANTE

GEstão dE polítICas pÚBlICas No paRaNá

E ainda neste contexto é importante referendar que a vida em sociedade requer alguns sacrifícios, e dentro de tal acolhida, cumprir as regras impostas pelo Estado é um deles, ou seja: não é possível admitir nesta seara que sejam postos em primazia o interesse individual, a vontade única e exclusiva de um indivíduo, em detrimento ou prejuízo do interesse coletivo, que, neste caso específico, é o bem mais precioso da humanidade, ou seja: a própria vida humana.

4 O CRIME DE EMBRIAGUEZ AO VOLANTE

Como no aspecto administrativo, a lei 11.705, de 19 de junho de 2008, também trouxe inovações no que tange aos aspectos penais e processuais penais da embriaguez ao volante. dentro desta ótica, foram alterados os artigos 291, 296, 302 e 306 do CtB. Neste capítulo será comentado como ficou o tratamento dispensado pelo legislador ordinário para tal conduta delituosa.

uma das novidades trazidas com a lei 11.705/2008 para o crime de trânsito de embriaguez ao volante, foi o fim da possibilidade de oferecimento de transação penal, sendo revogado o parágrafo único do art. 291 do CtB, criando mais dois parágrafos para tal dispositivo. No texto antigo do art. 291 existia a possibilidade da aplicação para os crimes de trânsito de lesão corporal culposa, de embriaguez ao volante e de participação em disputa não autorizada (popular racha) o contido nos artigos 74 (composição civil), 76 (transação penal) e 88 (representação) da lei 9.099/95. agora em virtude da absoluta falta de previsão legal, os processos de apuração do crime de embriaguez ao volante não são mais acobertados por tal normativa.

Esta é a nova redação do art. 291 do CtB:

art. 291 aos crimes cometidos na direção de veículos automotores, previstos neste Código, aplicam-se as normas gerais do Código penal e do Código de processo penal, se este Capítulo não dispuser de modo diverso, bem como a lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, no que couber. § 1o aplica-se aos crimes de trânsito de lesão corporal culposa o disposto nos arts. 74, 76 e 88 da lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995, exceto se o agente estiver: (Renumerado do parágrafo único pela lei nº 11.705, de 2008). I - sob a influência de álcool ou qualquer outra substância psicoativa que determine dependência; (Incluído pela lei nº 11.705, de 2008). II - participando, em via pública, de corrida, disputa ou competição automobilística, de exibição ou demonstração de perícia em manobra de veículo automotor, não autorizada pela autoridade competente; (Incluído pela lei nº 11.705, de 2008). III - transitando em velocidade superior à máxima permitida para a via em 50 km/h (cinquenta quilômetros por hora). (Incluído pela lei nº 11.705, de 2008). § 2o Nas hipóteses previstas no § 1o deste artigo, deverá ser instaurado inquérito policial para a investigação da infração penal. (Incluído pela lei nº 11.705, de 2008)

ao fazer a leitura do novo § 1º do art. 291 do CtB, verifica-se que o legislador asseverou o tratamento, deixando-o mais rígido em três situações, e, dentre essas, a embriaguez ao volante faz-se presente, impondo um maior rigor penal para tal conduta delituosa. assim, os institutos da lei 9.099 restringem-se, agora, apenas ao crime de trânsito de lesão corporal culposa excetuando as hipóteses em que o agente estiver dirigindo embriagado (inciso I), participando de racha (inciso II) ou transitando em velocidade superior à máxima permitida para a via em 50 Km/h (inciso III).

a redação do antigo art. 296 do CtB dispunha ao magistrado uma faculdade ao passo que no texto legal a normativa trazida dizia “se o réu for reincidente na prática de crime previsto neste Código, o juiz poderá aplicar a penalidade de suspensão da permissão ou habilitação para dirigir veículo automotor, sem prejuízo das demais sanções cabíveis” (grifos nossos). Com a nova redação que foi conferida ao mencionado artigo, o juiz vê-se na obrigatoriedade da aplicação da penalidade de suspensão da permissão ou habilitação para

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345Capítulo 4 - sEGuRaNÇa pÚBlICa

GEstão dE polítICas pÚBlICas No paRaNá

dirigir na hipótese de réu incidente. o teor do dispositivo agora é “art. 296 se o réu for reincidente na prática de crime previsto neste Código, o juiz aplicará a penalidade de suspensão da permissão ou habilitação para dirigir veículo automotor, sem prejuízo das demais sanções penais cabíveis.” (grifo nosso)

a lei 11.705 também trouxe novidades para o artigo que trata do crime de embriaguez ao volante. ao fazer a leitura do novo texto legal, inicialmente verifica-se que, em comparação com o dispositivo legal anterior, esta nova redação estabelece alguns critérios para a consecução do referido delito.

Contudo, antes desta discussão propriamente dita, alguns conceitos são necessários. a criação dos novos delitos de trânsito fez surgir uma nova dogmática penal, ou seja: surgem interesses jurídicos de difícil determinação como a segurança viária, segurança do trânsito, segurança do cidadão enquanto usuário do trânsito que por determinação constitucional recebe a tutela do Estado.

o art. 5º, caput, da Constituição Federal (CF)8 assegura que todos os cidadãos têm direito à segurança. o art. 1º, § 2º, do Código de trânsito Brasileiro estabelece que o trânsito, em condições seguras, é um direito de todos, e em seu art. 28 dispõe que o motorista deve conduzir o veículo com atenção e cuidados indispensáveis à segurança do trânsito.

ora, se os referidos dispositivos legais asseguram direitos e deveres a todos, fica claro que a intenção do legislador quando elabora uma nova normativa é sanar mazelas e problemas que advêm da realização da conduta. No caso da embriaguez ao volante, é a redução de ocorrências que tenham como pano de fundo, condutores embriagados ao volante; consequentemente com isso haverá uma redução de fatalidades no trânsito oriundas de tal conduta.

Em meio a este arcabouço de discussões realizadas pela sociedade, entre os operadores do direito também existe uma discussão que permeia a natureza jurídica do crime de embriaguez. alguns doutrinadores defendem que tal conduta delituosa é um crime de perigo abstrato; outros acreditam ser de perigo concreto. Há ainda os que se posicionam dizendo que é um crime de mera conduta e de lesão.

para o crime de perigo concreto, não bastava apenas comprovar que o sujeito dirigia o veículo embriagado, mas também, provar que a forma, a maneira como ele dirigia, em tese, poderia causar um dano a alguém. ainda nesta seara, Callegari (1999, p. 8), em seus estudos sobre a natureza dos delitos de trânsito conclui:

portanto, nos delitos previstos no Código de trânsito, só pode ser esta a interpretação, é dizer, são delitos de perigo concreto, necessitando sempre da prova da existência do perigo, tendo em vista a natureza material da antijuridicidade e também a moderna visão do direito penal, devendo-se sempre levar em conta não só o desvalor da ação, mas, também, o desvalor do resultado.

a antiga redação do art. 306 tratava da seguinte maneira o tema: “art. 306 Conduzir veículo automotor, na via pública, sob influência de álcool ou substância de efeitos análogos, expondo a dano potencial a incolumidade de outrem: (grifos nossos)

Veja que o texto legal anterior continha o seguinte elemento normativo do tipo, que era: “expondo a dano potencial a incolumidade de outrem”. ou seja: os tribunais acreditavam que para a consecução de tal delito, haveria a necessidade da demonstração da potencialidade lesiva da conduta, sendo que o crime era de perigo concreto. assim era a jurisprudência do superior tribunal de Justiça:

8 art. 5º CF - todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes (...).

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346 O CRIME DE EMBRIAGUEZ AO VOLANTE

GEstão dE polítICas pÚBlICas No paRaNá

RECuRso EspECIal. pENal. pRoCEssual pENal. ausÊNCIa dE dEMoNstRaÇão do dIssídIo JuRIspRudENCIal. EMBRIaGuEZ ao VolaNtE (aRt. 306 do CtB). pERIGo CoNCREto. NECEssIdadE dE dEMoNstRaÇão do daNo potENCIal. a simples transcrição de ementas dos acórdãos paradigmas, sem que se evidencie a similitude das situações, não se presta à demonstração do dissídio jurisprudencial, para fins de conhecimento do recurso. o crime de embriaguez ao volante, definido no art. 306 do CtB, é de perigo concreto, necessitando, para sua caracterização, da demonstração do dano potencial o que, in casu, segundo a r. sentença e o v.acórdão ora recorrido, não aconteceu. Recurso não conhecido.9

No que tange ao novo texto da lei, houve a supressão do comando normativo outrora mencionado, e com isso tal conduta passa a ser classificada como de perigo abstrato. ora, esta discussão acirra um dos grandes temas de confronto entre operadores do direito, sendo que existem várias interpretações dos doutrinadores a respeito, contudo tal temática aqui não será abordada detalhadamente.

Em continuidade, o novo texto legal estabelece o seguinte:

art. 306 Conduzir veículo automotor, na via pública, estando com concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas, ou sob a influência de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência: (Redação dada pela lei n. 11.705, de 2008). penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. parágrafo único. o poder Executivo Federal estipulará a equivalência entre distintos testes de alcoolemia, para efeito de caracterização do crime tipificado neste artigo. (Incluído pela lei n. 11.705, de 2008)

duas são as condutas incriminadas para a consecução do crime de embriaguez ao volante, sendo a primeira: “Conduzir veículo automotor, na via pública, estando com concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a 6 (seis) decigramas”, e a segunda: “Conduzir veículo automotor, na via pública, estando sob a influência de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência”: (Redação dada pela lei 11.705, de 2008).

É necessário primeiramente que o agente esteja conduzindo um veículo automotor em via pública, isso em ambas as situações, porque, se o fato se der em ambiente privado, a norma não alcança nenhuma das condutas incriminadas. prosseguindo, na primeira conduta, esse agente deve estar com uma concentração de álcool por litro de sangue igual ou superior a seis decigramas, sendo que esta quantidade é a mínima necessária para configurar a conduta delituosa. se, por ventura, o agente após ser submetido ao distinto teste para verificar a alcoolemia10 apontar como resultado uma quantidade inferior à contida no texto legal, segundo o regramento vigente, este condutor não poderá ser autuado em flagrante delito pelo cometimento do crime capitulado no art. 306 do CtB, sendo submetido às penalidades da infração administrativa descrita no art. 165 do mesmo diploma legal.

o estabelecimento de um valor matemático para a materialização da conduta delituosa especificou que o crime exige prova técnica. E se o condutor negar-se a realizar o teste do etilômetro, como fica esta questão? pelo contido na lei, o condutor que negar-se a realizar o teste de alcoolemia, será também submetido às penalidades administrativas descritas no art. 165. Contudo, como fica a esfera criminal? É possível valer-se de outros meios de prova em

9 stJ. REsp 566867 / Rs. 5ª t. Relator: Min. José arnaldo da Fonseca. Julgado em 28.04.2004.10 o disposto no parágrafo único do art. 306, incluído pela nova lei, menciona que “o poder Executivo

Federal estipulará a equivalência entre os distintos testes de alcoolemia, para efeito da caracterização do crime tipificado neste artigo”. E, com efeito, o decreto 6.488, de 19 de junho de 2008, já regulamentou essa questão, asseverando que os seis decigramas do exame de sangue equivalem a três décimos de miligrama por litro de ar expelido dos pulmões no exame alveolar (o popular bafômetro).

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direito admitidos para comprovar a alcoolemia, tais como exames clínicos ou depoimentos testemunhais, ou então qual é a prova adequada? Essas provas irão auxiliar na convicção do juiz? simplesmente dizer que caberão apenas sanções administrativas e o problema estará sanado é a solução? Em artigo publicado pelo procurador da República, Bruno Freire de Carvalho Calabrich, explica:

Considerando a opção que o motorista tem de se recusar ao teste do bafômetro ou a qualquer outro exame (aceitando, com isso, a aplicação das sanções do artigo 165 do CtB), a única hipótese para que seja forçosamente levado a uma delegacia é o caso de ser preso em flagrante pelo crime de embriaguez ao volante. Mas a prisão em flagrante por esse crime só pode ocorrer quando estiver claramente caracterizada a embriaguez do motorista, o que de regra resulta de um exame de alcoolemia positivo. Não sendo realizado esse exame, outra possibilidade é o caso de embriaguez patente, verificada no ato pelos agentes de trânsito ou por médicos em virtude de “notórios sinais de embriaguez, excitação ou torpor apresentados pelo condutor”, conforme previsão do art. 277, §2º do CtB. Embora a lei, neste artigo 277, refira-se apenas à comprovação da infração administrativa do art. 165 do CtB, não há por que não aplicá-la também ao crime do artigo 306. o problema, entretanto, será uma questão de prova, a ser ponderada tanto pela autoridade responsável pela lavratura de um (eventual) auto de prisão em flagrante quanto pelo Ministério público e pelo Judiciário, ao ensejo do processo penal a ser instaurado contra o motorista que for flagrado em (suposto) estado de embriaguez evidente. É de se admitir, entretanto, a dificuldade prática da substituição de uma prova técnica (como o bafômetro) por outra prova, considerando a exigência “matemática”, para a configuração do crime, de uma concentração igual ou superior a 6 decigramas de álcool por litro de sangue. assim, a prisão em flagrante em caso de recusa do agente ao teste do bafômetro deve ocorrer apenas em casos de embriaguez evidente, que há de ser documentada pelo delegado de polícia no auto de prisão em flagrante, inclusive com testemunhas e com qualquer outra prova apta a demonstrar o fato. se não se tratar de uma situação de notória embriaguez, comete abuso de autoridade o agente que “prende” ou “conduz coercitivamente” o motorista para fazer um exame ao qual ele se recusa. Na dúvida quanto a seu estado de embriaguez, o condutor não pode ser preso; caso assim se proceda, a prisão será ilegal e deve ser prontamente invalidada pelo Judiciário, submetendo-se os responsáveis a um processo criminal por abuso de autoridade, além de outras sanções administrativas e cíveis cabíveis.11

o segundo comando normativo punível no art. 306 é “conduzir veículo automotor, na via pública, estando sob a influência de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência”. Neste caso não existe qualquer exigência de concentração mínima da substância psicoativa no sangue do condutor. para tanto bastará, para a incidência nesse delito, que o agente dirija sob a influência de uma substância psicoativa (que deve ser distinta do álcool), não importando a quantidade que tal agente acabou por ingerir.

a constatação desse fato pode ser atestada de várias formas, igualmente. o importante, apenas, é ter-se a certeza de que o condutor guiou seu automóvel sob a influência de substância psicoativa capaz de causar dependência (maconha, cocaína, crack etc.), que não seja o álcool. (CCR-paRECER N. 005/2008 MINIstÉRIo pÚBlICo dE saNta CataRINa)

o art. 302 do CtB, antes do novo texto legal, previa em seu parágrafo único, inciso V, que, em se tratando de homicídio culposo cometido na direção de veículo automotor, a pena seria aumentada de um terço à metade, se o agente estivesse sob a influência de álcool ou substância tóxica ou entorpecente de efeitos análogos. a nova redação legal suprimiu tal hipótese, o que possibilitou a configuração do concurso material entre os crimes de

11 o teste do bafômetro e a nova lei de trânsito. aplicação e consequências. Jus Navigandi, teresina, ano 12, n.1828, 3 jul. 2008. disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=11461>. acesso em: 10 jul. 2008.

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embriaguez ao volante e homicídio culposo, (art. 306 e 302 do CtB respectivamente) o que anteriormente ficava impossibilitado, pois o delito de embriaguez previa expressamente uma causa especial de aumento de pena.

Veja o entendimento exarado pelo Mp de santa Catarina para tal supressão:

para o réu, tal reconhecimento não é um mau negócio, sendo que o quantum da causa especial de aumento de pena do homicídio culposo (art. 302) era maior do que a pena imputada ao crime de embriaguez ao volante, mesmo considerado o concurso material de crimes. a pena mínima do delito previsto no art. 302 é de dois anos de detenção e a causa especial aumentava essa pena em um terço (oito meses). E, hoje, a pena mínima do crime entalhado no art. 306 é de seis meses de detenção. assim, mesmo considerado o concurso material, nesse ponto específico, a alteração legislativa foi extremamente favorável ao réu, o que, acredita, está longe de ser o propósito do legislador em sede de crime de trânsito, em razão da realidade das estradas brasileiras.12

Então qual era a intenção do legislador ao suprimir o inc. V art. 302? pode-se entender que a retirada de tal possibilidade vise fortalecer o entendimento de que o homicídio praticado pelo condutor embriagado não é um crime culposo, mas, sim, uma conduta que se enquadraria em dolo eventual. o condutor no momento em que realiza a combinação álcool + direção, diretamente assume o risco da possibilidade de a qualquer momento com sua conduta provocar um resultado lesivo ao bem jurídico penalmente tutelado. talvez essa tenha sido a intenção de nosso legislador ordinário. Contudo, é necessária a análise em cada caso concreto para claramente poder individualizar a conduta praticada, verificando entre outras coisas o grau de embriaguez do condutor e de como o mesmo se comportava na direção veicular.

5 A POLÍCIA RODOVIÁRIA ESTADUAL E A FISCALIZAÇÃO DA EMBRIAGUEZ AO VOLANTE

o Batalhão de polícia Rodoviária da polícia Militar do paraná tem sua origem da antiga “políCIa dE EstRadas”, a qual foi criada no ano de 1946, junto ao dER, a qual em 1951 tomou a denominação de políCIa RodoVIáRIa, tendo como Comandante o Capitão pM Benedito Evangelista dos santos e 33 (trinta e três) guardas para a execução do policiamento ostensivo nas estradas.

Em 1960, policiais militares foram empregados para atuarem juntamente com os civis nos 04 postos de fiscalização de tráfego existentes: Rondinha, Rincão, Bateias (na estrada do Cerne) e são João (estrada da Graciosa).

Em 1962, por sugestão do Major pM Reinaldo José Machado, o Governo resolveu reunir, sob direção única, a polícia Rodoviária, com a denominação de “CoRpo dE polICIaMENto RodoVIáRIo”, cuja existência foi reconhecida pelo decreto 8.999, de 27 de julho de 1962, já previsto como unidade da polícia Militar do paraná na estrutura da secretaria de Estado da segurança pública.

Mas, efetivamente, em 27 de outubro de 1964, o referido corpo foi concebido como unidade orgânica da polícia Militar do paraná, em caráter definitivo, através do decreto 16.316.

Em maio de 1967, o Corpo de policiamento Rodoviário foi incluído no texto constitucional; desta forma em 04 de outubro de 1968 foi extinto o Grupo ocupacional do dER (departamento de Estradas e Rodagem), responsável até então juntamente com

12 CCR parecer n. 005/2008 do Mp de santa Catarina, jul 2008.

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a polícia Militar pelo policiamento nas rodovias paranaenses, sendo os componentes deste Grupo aproveitados no quadro do Corpo de policiamento Rodoviário e consequentemente, definiu-se a competência do novo Corpo através do decreto 12.471, ficando o policiamento preventivo, ostensivo e repressivo em todas as rodovias estaduais e federais dentro do território do Estado do paraná sob a responsabilidade da polícia Militar.

os componentes do Grupo ocupacional do dER que optaram pela permanência no Corpo de policiamento Rodoviário foram incluídos na Corporação como oficiais e sargentos especialistas, sendo submetidos a um curso de adaptação realizado na academia policial Militar do Guatupê, em são José dos pinhais, com duração de um ano.

Com o desenvolvimento do Estado, tornou-se imperioso dotar o Corpo de policiamento Rodoviário, de material aperfeiçoado e pessoal mais adestrado. Então, no ano de 1971, foram destinados ao Corpo, veículos Volkswagem modelo Variant, equipados com maca móvel, caixas de primeiros socorros e equipamentos diversos para atendimento aos usuários, com as novas cores padrão da unidade (amarelo e preto), destacando-se o símbolo da polícia Rodoviária (o delta).

Em 1974, o poder executivo autorizou o reaparelhamento do Corpo de policiamento Rodoviário, e no ano seguinte foi firmado o “termo de Cooperação” entre o dER e a pMpR.

Em 08 de janeiro de 1976, com a lei 6.774 (lei de organização Básica da pMpR), o Corpo de policiamento Rodoviário passou a denominar-se BatalHão dE políCIa RodoVIáRIa, como unidade especializada da polícia Militar do paraná, subordinada ao Comando do policiamento do Interior, com área de atuação nas rodovias estaduais e federais conveniadas do Estado do paraná.

desde sua efetiva criação como unidade da pMpR, o Batalhão de polícia Rodoviária, foi se consolidando através de relevantes serviços prestados à comunidade paranaense, preservando a ordem e garantindo a obediência ao poder constituído, às leis e normas de circulação no trânsito rodoviário.

Entre 1975 e 1978, o Quadro organizacional e de distribuição de pessoal (Qo/dp) passou por algumas alterações, porém o efetivo permaneceu inalterado, ou seja, 725 homens.

até 1975 o Corpo de policiamento Rodoviário possuía apenas 03 Companhias, respectivamente, 1ª Companhia de polícia Rodoviária, com sua sede em Curitiba, a 2ª, com sede em londrina, e a 3ª, com sede em Cascavel.

Em 1975, foi criada a 4ª Companhia de polícia Rodoviária, sendo sediada na cidade de Maringá. Já em 1978, foi a vez da criação da 5ª Companhia, com sede em ponta Grossa, e em 1994 por derradeiro foi criada a 6ª Companhia de polícia Rodoviária, com sua sede localizada no Município de pato Branco.

atualmente o Batalhão de polícia Rodoviária possui 64 (sessenta e quatro) postos de policiamento rodoviário, distribuídos em pontos estratégicos por todo o Estado do paraná, abrangendo 12.476 quilômetros de rodovias estaduais e 3.690 quilômetros de rodovias federais delegadas. (BpRv, 2008)

5.1 O FUNCIONAMENTO DO BATALHÃO DE POLÍCIA RODOVIÁRIA

o Batalhão de polícia Rodoviária é o órgão encarregado do policiamento ostensivo visando ao cumprimento das regras e normas de tráfego rodoviário, estabelecidas pelo departamento de Estradas de Rodagem (dER) ou pelo departamento Nacional de Infra-

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estrutura de transportes (dNIt) e de acordo com o Código de trânsito Brasileiro. além disso, o CoNtRaN (Conselho Nacional de trânsito), quase que diariamente edita novas resoluções, portarias, deliberações, sendo que todo este esforço conjunto visa ajudar no controle do trânsito brasileiro.

Com sede administrativa em Curitiba, a unidade realiza diariamente atividades preventivas abrangendo aproximadamente 16.166 quilômetros de rodovias, e para o desenvolvimento destas ações conta com 64 bases operacionais de policiamento estrategicamente distribuídas pelo Estado.

trabalhando incessantemente em parceria direta com a comunidade, tem como objetivo proporcionar segurança, através da educação, orientação, fiscalização e também prestando apoio nos momentos mais difíceis.

para alcançar seus objetivos, possui seis Companhias, as quais foram dispostas da seguinte maneira:

a primeira Companhia de polícia Rodoviária está sediada em Curitiba, Capital paranaense, foi criada em 1964; possui 12 postos de policiamento rodoviário, estando responsável pelo policiamento em 1.373 quilômetros de rodovias estaduais e 443 quilômetros de rodovias federais delegadas.

a segunda Companhia de polícia Rodoviária possui como sua localização a cidade de londrina, Capital do Café; foi criada em 1947. possui 16 postos de policiamento rodoviário, estando responsável pelo policiamento em 2.167 quilômetros de rodovias estaduais e 661 quilômetros de rodovias federais delegadas.

a terceira Companhia de polícia Rodoviária está localizada na cidade de Cascavel, Capital do oeste; foi criada em 1972. possui 8 postos de policiamento rodoviário, estando responsável pelo policiamento em 1.546 quilômetros de rodovias estaduais e 324 quilômetros de rodovias federais delegadas da região oeste do Estado.

a Quarta Companhia de polícia Rodoviária situa-se na cidade de Maringá, Cidade Canção. Foi criada em 1975. possui 14 postos de policiamento rodoviário, estando responsável pelo policiamento em 3.328 quilômetros de rodovias estaduais e 703 quilômetros de rodovias federais delegadas.

a Quinta Companhia de polícia Rodoviária está localizada na cidade de ponta Grossa, região dos Campos Gerais; foi criada em 1978. possui 8 postos de policiamento rodoviário, estando responsável pelo policiamento em 2.084 quilômetros de rodovias estaduais e 1.038 quilômetros de rodovias federais delegadas.

E a sexta Companhia de polícia Rodoviária está localizada na cidade de pato Branco, Capital do sudoeste. Foi criada em 1994; possui 7 postos de policiamento rodoviário, estando responsável pelo policiamento em 1.978 quilômetros de rodovias estaduais e 520 quilômetros de rodovias federais delegadas.

através da realização de operações programadas busca-se prevenir e reprimir as infrações que ocorrem no trânsito rodoviário, bem como coibir o cometimento de crimes e de contravenções penais em toda sua área de atuação.

também são realizadas operações conjuntas e de apoio aos demais órgãos federais, estaduais e municipais que envolvem a segurança pública. além das atividades operacionais de policiamento rodoviário, são desencadeadas ações educativas em uma parceria estabelecida com a escola de trânsito do dER, tendo como finalidade conscientizar as crianças de 1.ª a 4.ª série do ensino básico, pois serão os motoristas do futuro.

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todos os postos de policiamento rodoviário estão informatizados e on-line proporcionando, desta forma, um atendimento melhor e mais rápido aos usuários das rodovias que compreendem a área de atuação da unidade.

o Batalhão de polícia Rodoviária está a sua disposição, trabalhando incessante e eficientemente pelas rodovias do Estado do paraná para sua segurança e de seus familiares, sendo que todos os esforços realizados têm por objetivo proteger a vida, o maior patrimônio que a humanidade possui. (BpRv, 2008)

5.2 COMO FLAGRAR CONDUTORES EMBRIAGADOS

três são as formas possíveis para flagrar condutores embriagados na direção veicular. a primeira, é através da realização de denúncia; a segunda dá-se pelo envolvimento em acidente de trânsito, e a terceira, é por meio da fiscalização da polícia.

a realização de denúncia ocorre diretamente ao policial que está de serviço, seja pessoalmente parando em posto da polícia, ou ainda, efetuando um telefonema através do número 198, que é o telefone de emergência do Batalhão de polícia Rodoviária.

Neste caso, a denúncia é possível em virtude de outro condutor de veículo observar durante seu deslocamento, a realização de condutas contrárias às normas de circulação vigente, e diante da situação apresentada, este motorista resolveu transmitir o que viu para o policial mais próximo. Inúmeros acidentes são evitados dessa forma e vários são os condutores que, após serem abordados pela polícia rodoviária e submetidos ao teste do etilômetro, apresentam alcoolemia positiva e são conduzidos para uma delegacia de polícia para a lavratura do flagrante delito.

a outra maneira de a polícia rodoviária tomar conhecimento de um condutor em estado de ebriedade é quando ocorre o envolvimento deste em um acidente de trânsito. Na maior parte das ocorrências dessa natureza, o policial militar rodoviário ao chegar ao local do sinistro, constata através das evidências dispostas no terreno, no interior do veículo e também das condições físicas apresentadas pelo motorista, que o envolvido fez a ingestão de bebida alcoólica. por vezes no interior do veículo são encontradas garrafas ou latas (abertas ou fechadas) de bebida alcoólica, denunciando assim a conduta realizada pelo condutor acidentado.

a terceira forma é quando ocorre o desencadeamento de operações de fiscalização. são as conhecidas e populares “blitzes de trânsito” que visam detectar condutores embriagados ao volante, ocasião em que os veículos são parados, e a partir de um diálogo inicial, o policial militar procede a uma triagem de condutores, para que aqueles que com a conduta demonstrada durante a abordagem despertaram uma suspeição sobre seu estado físico, logo em seguida serão convidados para realizar o teste de alcoolemia. Importante ressaltar que os bicos utilizados pelos condutores para soprar são descartáveis e não são reaproveitados para a realização de outros testes.

Em virtude da quantidade de equipamentos que estão disponibilizados para os postos rodoviários, atualmente trinta aparelhos, as operações de fiscalização ainda são em número restrito, e ocorrem em lugares mais centralizados, fazendo com que os motoristas daquelas localidades mais distantes não sejam submetidos a uma fiscalização constante, ou seja, flagrar um condutor em estado de embriaguez passa a ser muito difícil e evitar um acidente neste caso é apenas uma questão de sorte. daí decorre a importância de todos os postos rodoviários possuírem o seu etilômetro, que ficará à disposição da equipe de serviço, acompanhando todo o deslocamento que fora realizado pela viatura policial durante o respectivo período de atividade.

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6 CONCLUSÃO

o presente trabalho buscou pormenorizar as questões afetas à lei 11.705 em especial no tocante ao art. 306 que trata do crime de embriaguez ao volante e sua nova redação contida na legislação acima mencionada. Inúmeras são as discussões envoltas nesta temática, contudo, a que maior controvérsias apresenta é a respeito de quando os condutores em estado de ebriedade decidem não se submeter ao exame de alcoolemia, ou seja, o teste do popular bafômetro. Muitas vezes esses motoristas buscam alguma orientação jurídica sobre qual procedimento utilizar no caso de ser flagrado após ingerir bebida alcoólica dirigindo sem totais condições físicas para desempenhar tal atividade. temos então uma gama de espertalhões que procuram ludibriar as autoridades policiais para eximirem-se de responder criminalmente por suas condutas erradas na direção veicular.

Envoltos nesta temática, surge uma proposta para sanar o acontecimento de tais medidas. para tanto é necessário que o legislador ordinário análise o teor do art. 306 do Código de trânsito Brasileiro e promova uma alteração no que se refere à possibilidade de o agente de trânsito constatar a embriaguez ao volante do condutor podendo caracterizá-la como crime de trânsito tal comportamento. dessa forma o infrator que prefere não se submeter ao teste de alcoolemia para eximir-se de uma futura obrigação penal, responderá por sua conduta na seara criminal, sendo que as medidas de ordem administrativa continuarão a vigorar.

atuando com tal iniciativa, o poder público deixará claro para os infratores contumazes, que se houver a flagrância neste cometimento de crime, as sanções serão severas e o agente de trânsito poderá, se houver a negativa em realizar o teste para verificar o estado físico em que se encontra o condutor, mediante uma análise comportamental com o devido preenchimento de um formulário transcrever quais os sinais apresentados pelo motorista na ocasião da fiscalização e poderá realizar o encaminhamento deste para uma autoridade policial que lavrará o competente flagrante pelo cometimento do crime antes mencionado.

agindo com tal responsabilidade, o poder público preencherá uma lacuna outrora deixada no texto legal e certamente estará contribuindo de sobremaneira para a moralização da lei 11.705, bem como fortalecerá sua aplicação em todos os lugares por mais longínquos que sejam e por menos recursos de fiscalização que possuam, além, é claro, de proporcionar um maior sentimento de segurança a todos que diariamente integram o trânsito brasileiro, diminuindo a impunidade e principalmente preservando vidas humanas, o maior patrimônio que a humanidade possui.

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