angola'in - edição nº 09

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Economia & Negócios · Sociedade · Turismo Arquitectura & Construção · Inovação & Desenvolvimento · Luxos · Desporto · Cultura & Lazer · Personalidades ano ii · revista nº09 · nov/dez 2009 350 kwanzas · 4,50 usd · 3,25 euros ISSN 1647-3574 JUSTIÇA À LUPA Direitos Humanos, Corrupção e a Nova Constituição são os temas do momento para a advocacia nacional. Em entrevista exclusiva, Inglês Pinto, Bastonário da Ordem dos Advogados, revela o que está a mudar num sector em evolução stop à fuga As fragilidades do sistema tributário. Contra a evasão, o Governo prepara-se para aplicar novas políticas de combate à fraude fiscal poder às províncias Dividir para ‘reinar’. A descentralização marca a agenda política. Do Estado central para um poder local democrático, conheça as grandes metas do país o preço justo Respeito pelo valor real dos bens e serviços. A ideia é antiga – criar uma cadeia comercial assente em princípios éticos. Veja o que pode fazer

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Nesta edição dedicada à Justiça, não pode perder a Grande Entrevista ao Bastonário da Ordem dos Advogados.Pelos corredores de um sector em mudança, descubra o que está a ser feito por um país mais justo.Não perca ainda os artigos sobre Evasão Fiscal e Poder Local, sem esquecer as habituais rubricas de Luxos e Lifestyle.

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Page 1: Angola'in - Edição nº 09

Economia & Negócios · Sociedade · Turismo Arquitectura & Construção · Inovação & Desenvolvimento · Luxos · Desporto · Cultura & Lazer · Personalidades

ano ii · revista nº09 · nov /dez 2009350 kwanzas · 4,50 usd · 3,25 euros

ISSN 1647-3574

REV

ISTA N

º09 · NO

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O 2009

JUSTIÇA À LUPADireitos Humanos, Corrupção e a Nova Constituição são os temas do momento para a advocacia nacional. Em entrevista exclusiva, Inglês Pinto, Bastonárioda Ordem dos Advogados, revela o que está a mudar num sector em evolução

stop à fugaAs fragilidades do sistema tributário. Contra a evasão, o Governo prepara-se para aplicar novas políticas de combateà fraude fiscal

poder às províncias Dividir para ‘reinar’. A descentralização marca a agenda política. Do Estado central para um poder local democrático, conheça as grandes metas do país

o preço justoRespeito pelo valor real dos bens e serviços. A ideia é antiga – criar uma cadeia comercial assente em princípios éticos. Veja o que pode fazer

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ONDE QUER QUE ESTEJA, ESTAMOS CONSIGO.

COMUNICARE - Comunicação e imagem | Rua do Senhor, 592 - 1º Frente | 4460-417 Sra. da Hora - Portugal | T: +351 229 544 259 | F: +351 229 520 369 | E: [email protected]

Page 3: Angola'in - Edição nº 09

3 IN LOCO · ANGOLA’IN |

COMUNICARE - PortugalJ&D - Consultores em Comunicação, Lda. NPC: 508 336 783 | Capital Social: 5.000€Rua do Senhor, 592 - 1º Frente4460-417 Sra. da Hora - PortugalTel. +351 229 544 259 | Fax +351 229 520 369Email: [email protected]

Delegação Angola’inRua Rainha Ginga, Porta 7Mutamba - Luanda - AngolaContacto: Ludmila PaixãoE-mail: [email protected]. +244 222 391 918 | Fax +244 222 392 216

revista bimestral nº09 - nov/dez 2009

http://angolain.blogspot.com · http://twitter.com/angolain

Direcção Executiva Daniel Mota Gomes · João Braga Tavares

Direcção Editorial Manuela Bártolo - [email protected]

Redacção Patrícia Alves Tavares - [email protected]ónica Mendes - [email protected]

Colaborador Especial João Paulo Jardim - [email protected]

Design GráficoBruno Tavares · Patrícia Ferreira [email protected]

FotografiaAna Rita Rodrigues · Shutterstock · Fotolia

Serviços Administrativos e AgendaMaria Sá - [email protected]

RevisãoMarta Gomes

Direcção de MarketingPedro Posser Brandão Tel. +351 229 544 259 | Fax.+351 229 520 369E-mail - [email protected]

PublicidadeTel. +351 229 544 259 | Fax.+351 229 520 369E-mail - [email protected]ão Tavares - [email protected] Gomes - [email protected]

ASSINATURAS - [email protected] o seu pedido para:

Rua Rainha Ginga, Porta 7

Mutamba - Luanda - Angola

Departamento FinanceiroSílvia Coelho

Departamento Jurídico Nicolau Vieira

Impressão Multitema

DistribuiçãoAfricana Distribuidora ExpressoLuanda - Angola

Tiragem10.000 exemplares—ISSN 1647-3574DEPÓSITO LEGAL Nº 297695/09

in loco

—Interdita a reprodução, mesmo que parcial, de textos, fotografias e ilustrações, sob quaisquer meios e para quaisquer fins, inclusive comerciais

Esta revista utiliza papel produzido e impresso por

empresa certificada segundo a norma ISO 9001:2000

(Certificação do Sistema de Gestão da Qualidade)

ASSINE ANGOLA´INContacto Angola - [email protected]

1 ANO 17,55 EUROS (10% DESCONTO)2 ANOS 31,20 EUROS (20% DESCONTO)

A sociedade está em destaque nesta edição. A Angola’in examina o elemento mais impor-tante e a razão da existência de um país, ana-lisando as suas múltiplas valências. A justiça social merece particular atenção, num perí-odo em que o Bastonário da Ordem dos Ad-vogados, recentemente eleito, assume o seu segundo mandato. Inglês Pinto abordou, em entrevista exclusiva, questões fulcrais como a luta pelos direitos humanos e a urgência (ou não) na aprovação da nova Constituição.

Por outro lado, revelou algumas das ideias para a gestão da Ordem dos Advogados para o trié-nio 2009/ 2011, tecendo críticas à ausência de condições para o exercício pleno da profissão e lançando alertas, no que respeita à corrupção, formação, exercício da advocacia e da magis-tratura e ao estado da Justiça em Angola.

Este mês, destacamos as fragilidades do sis-tema fiscal e tributário, nomeadamente os perigos da evasão fiscal, um dos problemas que preocupam não só Inglês Pinto, mas to-das as entidades governamentais. Apesar das reformas, a fraude e fuga ao fisco causam ain-da grande consternação, exigindo uma maior fiscalização, especialmente nas alfândegas, onde a situação é mais comum e carece de in-tervenção urgente.

Justiça não diz respeito unicamente à análise da conduta dos povos. O termo é mais abran-gente. Proveniente do latim iustitia, é sinóni-mo de igualdade entre todos os cidadãos. Ora, um dos princípios da equidade numa socieda- A Direcção

EQUILIBRAR A ‘BALANÇA’ SOCIAL de é o direito a um comércio justo, que deve basear-se na transparência. A Angola’in apre-senta-lhe as garantias de uma transacção assente no respeito do valor real dos bens e serviços, medidos pela quantidade e qualida-de. Levamos até si os desafios que se impõem ao sector, num momento em que se viven-ciam situações de especulação e a corrupção ainda persiste. Aliás, o seu fomento é uma das apostas governamentais para assegurar o efectivo combate à evasão fiscal.

Aproveitando o lançamento do primeiro mo-delo de Habitação de Custo Controlado, mos-tramos tudo o que precisa saber sobre o sistema, que pode ser uma mais-valia para a execução de um milhão de casas até 2012, garantindo que todos têm uma casa de qua-lidade e acessível a todas as carteiras. A ha-bitação de baixo preço tem uma componente social interessante, pois incentiva a interac-ção entre as comunidades.

A fechar, não esquecemos um dos temas mais debatidos por toda a sociedade: a importân-cia da governação local. Problemática ques-tionada por quase todas as figuras públicas, a Angola’in faz uma reflexão acerca da ne-cessidade de descentralizar a capital Luanda, sobrecarregada de habitantes e serviços e da urgência de promover o poder local e autárqui-co, determinantes no comando dos destinos dos munícipes.

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6 | ANGOLA’IN · SUMÁRIO

IN LOCO

EDITORIAL

INSIDE

MUNDO

evasão fiscalEsta edição tem como tema central a Justiça. Nesse âmbito, um dos problemas indissociáveis da socieda-de diz respeito à justiça social, em que a evasão fiscal é uma problemática que prevalece. Assim, as fragili-dades do sistema fiscal e tributário passam pelo ‘ra-dar’ da Angola’in, que deixa o alerta para os perigos da ausência de fiscalização, nomeadamente nas alfân-degas, cuja intervenção é urgente

reis das pistas A soberania africana no atletismo é evidente. Uns apontam os factores genéticos como a razão do ta-lento dos negros para as corridas. Outros destacam as condicionantes naturais e sociológicas para a su-premacia em relação aos brancos, que ficam aquém da destreza e capacidade física dos atletas, oriundos de África. Conheça os casos de sucesso e os ícones da modalidade

ANGOLA IN PRESENTE

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IN FOCO

GRANDE ENTREVISTA

ECONOMIA & NEGÓCIOS DESPORTO

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SOCIEDADE

comércio justoÉ um dos direitos fundamentais da população, que deve ter acesso aos produtos de subsistência básica, sem ter que pagar preços extrapolados por bens essenciais.O comércio justo baseia-se na transparência, pelo que convidamo-lo a compreender o funcionamento da máquina económica.A especulação cresce de forma preocupante, levando o Governo a tomar medidas. Descubra as bases do respeito pelo valor real dos bens e serviços, medidos pela quantidade e qualidade

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7 SUMÁRIO · ANGOLA’IN |

ECONOMIA & NEGÓCIOS

quénia - futura plataformafinanceira regionalO FMI prevê um abrandamento do crescimento do país, de-vido às condicionantes mundiais e à crise política. Porém, o Quénia parece passar incólume a estas previsões e prome-te ser a próxima plataforma financeira regional. As expec-tativas estão voltadas para a Bolsa de Valores de Nairobi, que é o maior mercado bolsista da África Central e Oriental. Descubra o porquê destas aspirações e conheça os motivos desta confiança inabalável

SOCIEDADE

diplomacia não governamental Responsáveis pelo apoio de retaguarda das sociedades, as ONG’s são essenciais no auxílio à sociedade. Em colaboração com o Governo ou com entidades privadas, estas associa-ções conseguem fazer muito com parcos recursos. Descu-bra as áreas de actuação e iniciativas destas entidades

TURISMO

tanzânia e suazilândiaNesta edição, sugerimos um passeio por terras africanas. Encante-se com as paisagens deslumbrantes da Tanzânia, onde subsistem mais de cem tribos com culturas e dialec-tos próprios. As praias são o principal atractivo. Se preferir, opte por um país único, conhecido pela sua singularidade: a Suazilândia. É o local ideal para quem procura os melhores safaris do mundo e savanas extraordinárias

ARQUITECTURA & CONSTRUÇÃO

especial - habitação de baixo custo‘quando menos é mais’Numa altura em que se aborda a meta governamental de criar um milhão de casas em apenas quatro anos, as ha-bitações de preços reduzidos são uma hipótese viável. A primeira foi apresentada recentemente na Constrói. Des-cubra as vantagens do novo modelo de construção, em que a simplificação do processo significa ganhos consideráveis

DESPORTO

sangue novo em campoSão jovens, saudáveis, talentosos e...vencedores. Os atletas nacionais com menos de 20 anos compõem um grupo de talentos promissores, distribuídos por diversas áreas. Este mês evidenciamos os benefícios da prática do desporto e revelamos algumas das modalidades mais medalhadas, em júniores e juvenis. Fique a conhecer os atletas mais galardo-ados, que prometem dar muitos títulos ao país

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INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO

médicos do bairroPara muitos, uma ida à farmácia local é o que mais se aproxima de uma visita ao médico. A Angola’in traça o perfil do sector farmacêutico nacional, revelando as acções em curso e os projectos que permitem revolucionar o sector, esperando-se que assim seja possível reduzir as importações. O arranque de uma fábrica de produção interna e a aposta na investigação são as novidades que lhe apresentamos

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VINHOS & COMPANHIA

gourmet Wilson Aguiar junta-se à equipa Angola’in e traz muitas no-vidades, prometendo receitas deliciosas, sempre com o to-que dos sabores africanos. O reconhecido chef brinda-o com a sua experiência e qualidade.Inauguramos ainda uma nova rubrica, a pensar no seu bem-estar. Não perca os melhores locais para jantar ou passar um momento agradável

CULTURA & LAZER

versejar estórias de um povoA poesia acompanha os primórdios da humanidade. No caso angolano, os poemas fazem parte da cultura na-cional e relatam o desenvolvimento da sociedade, espe-cialmente os momentos mais importantes, que fizeram história. Conheça os ‘pais’ da poesia enquanto literatura, os grandes nomes do século XX e as gerações do novo milénio

FOTO REPORTAGEM

LUXOS

ESTILOS

LIVING

52 94 130

84 110

PERSONALIDADES

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10 | ANGOLA’IN · EDITORIAL

[email protected]

editorial

moda do low costPrimeiro foram os aviões, depois os hotéis e agora são

vários os segmentos de mercado que oferecem pro-

dutos ou serviços a baixo custo. O conceito chegou e

parece que está para durar porque, pelos vistos, fun-

ciona: dá lucro às empresas que o exploram e agradam

(todos) os utilizadores. Admito que me tenho deixado

seduzir por este fenómeno que nos últimos anos tem

tido uma expansão galopante. A tendência de produ-

tos low cost, que se instalou nos mercados mundiais

baseia-se na oferta de menos serviços, mas não ne-

cessariamente piores serviços a um preço muito infe-

rior ao do mercado. Estes preços fazem com que mais

e mais pessoas comprem esses produtos e serviços e

assim se construa uma economia de escala que sus-

tenta esses preços muito baixos. Paradoxalmente, é

neste formato low cost, quando bem gerido e com

uma dimensão de mercado suficiente, que as empre-

sas que trabalham os mercados de massas estão a

ganhar dinheiro. Suportado pelo internet e por uma

geração de jovens cada vez mais atenta e exigente,

as empresas têm reduzido ao mínimo os preços. Um

bom exemplo disso é a companhia EASY do multimi-

lionário grego Stelios Haji-Ioannou, que hoje em dia

oferece soluções económicas em áreas tão diferentes

que vão desde as telecomunicações, ao cinema e ao

aluguer de automóveis.

Importa agora explicar o que quer dizer este termo tão

ouvido em todo o lado. O que é low cost? Para explicar

posso dizer que longe vão os tempos em que se paga-

va pela qualidade. Baixo custo não significa falta de

qualidade, significa reduzir ao mínimo os preços e as-

sim cativar o maior número possível de clientes. Lem-

brem-se que a internet não tem fronteiras. Postos de

atendimento em cada cidade tornam-se inúteis quan-

do se pode ter um site em casa de cada interessado,

24 horas disponível por dia e na sua língua-mãe. Mas o

sector mais transformado com esta nova vaga foi sem

dúvida o das viagens e consequentemente o da hote-

laria. Temos também low cost nos sectores das comu-

nicações, moda, restauração, supermercados e outros

que basta pensarmos. Há também outra tendência

que passa pela dissimulação de uma marca noutra.

Temos como exemplo mais conhecido a Mercedes e

a Smart ou então a Samsung que lançou no merca-

do uma nova marca low cost, a Samtronic. Mais uma

vez no sector das viagens, algumas companhias co-

mo a Air Europa renderam-se e tornaram-se low cost.

Outras criaram as suas próprias, como a Iberia com a

Click Air (nome sugestivo, que revela a inegável im-

portância da internet no desenrolar deste processo.)

Para entender melhor este fenómeno temos de recuar

até aos anos 80/90 em que o chique passou a não ser

necessariamente o caro. Bom exemplo é a Swatch que

a meu ver teve um grande papel, era um produto ab-

solutamente na moda e ao mesmo tempo oferecia os

relógios mais baratos do mercado. Isto veio transfor-

mar todos os cânones do consumismo que existiam

até à altura. A ameaça passa para o mercado tradicio-

nal, pois por exemplo no IKEA as pessoas sujeitam-se

a ser ao mesmo tempo clientes, embaladores, em-

pregados, armazenistas e transportadores. Aí está o

(único?) perigo destes fenómenos low cost: as taxas

subentendidas ao primeiro olhar e reguladoras. A ver-

dade é que facilitou a vida de todos e tornou possível

para os clientes (e todos sabem quem são os clien-

tes-alvo destes grupos) jovens permitirem-se a luxos

nunca antes imaginados. Uma viagem? Um fim de se-

mana fora? Deixou de ser exclusivo para as elites…

O no cost será um novo standard de mercado, que veio

para ficar e marcará as próximas gerações de forma

decisiva. Enquanto este modelo conquista os merca-

dos, um outro, mais ousado, ganha forma: preços ne-

gativos. Ninguém se deve admirar se em breve algum

canal de televisão pagar aos consumidores para verem

os seus conteúdos ou um site a pagar a cada unique

IP adicional – ou ainda algum grupo de música pagar

uns cêntimos por cada download, sabendo que algum

sponsor de bebidas, portáteis ou leitores de mp3 lhe

paga em posicionamento tanto mais, quanto maior

for a sua largura de banda de ouvintes.

Os preços negativos surgirão em mercados onde o

grátis se tornar standard, como forma de diferencia-

ção. Neste posicionamento, como no modelo low cost,

é necessário saber comunicar de forma muito cautelo-

sa e eficaz, de forma a manter a credibilidade e atrair

os clientes-alvo e não demais.

Ao low cost juntou-se mais tarde o no cost, que se baseia na comercialização a preços nulos.

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11 EDITORIAL · ANGOLA’IN |

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TAAG qUER MAIS vOOS PARA A ChINAA companhia aérea angolana pretende incrementar a sua oferta de viagens para a Chi-na. O objectivo consiste em aumentar a frequência de dois para três voos semanais, para fazer face à procura actual. A informação foi avançada por António Inácio, representante da companhia em Beijing, que revelou que a TAAG tem registado uma maior afluência de angolanos, o que torna insuficiente o número actual de deslocações. Questionado acerca dos motivos da procura crescente, o responsável apontou o nivelamento das tarifas (em relação ao mercado) e a melhoria dos serviços como causas prováveis. “O tráfego tem ten-dências de aumentar em função dos contratos que foram assinados entre os governos de Angola e da China, e o despertar dos comerciantes e empresários angolanos que estrei-tam parcerias com outros deste país asiático”, constatou. A entrada da TAAG no referido país asiático, em Dezembro de 2008, permitiu a cobertura dos mercados da Coreia, Japão, Hong Kong e Macau.

CTT ExPANDE-SE PARA ANGOLA E MOçAMbIqUE Os correios de Portugal vão investir um milhão de euros em Angola e outro milhão em Mo-çambique, com o intuito de dar seguimento à política de expansão da empresa. “Os CTT ele-geram os países da África lusófona para a sua internacionalização, além de Espanha”, anun-ciou recentemente Estanislau Costa, presi-dente da instituição. A entrada no mercado nacional está a ser preparada “há um ano e deverá estar concluída antes de 2009”, estan-do agendado o lançamento de operações ex-presso de encomendas. Os CTT vão participar em parceria com os correios locais, sendo de-tentores de uma posição de 50 por cento.

| patrícia alves tavares

12 | ANGOLA’IN · INSIDE

vOLUME DE NEGóCIOS DO bRASIL ATINGE 900 MILhõES DE DóLARESO Brasil investiu em Angola um total de 900 milhões de dólares americanos. Os dados são relativos ao período de Janeiro a Junho de 2009 e, de acordo com o embaixador brasileiro, Afonso Cardoso, a actual recessão económi-ca mundial não afectou o relacionamento co-mercial entre os dois países, que mantiveram os mesmos níveis de importações e exporta-ções. O diplomata confirmou que o petróleo continua a ser o produto dominante nas tro-cas comerciais, defendendo, no entanto, que o saldo deste relacionamento é positivo e es-tável, assistindo-se a um aumento do número de angolanos a investir no Brasil e vice-versa. “Tem havido uma forte reciprocidade a nível comercial, pelo que julgamos haver uma boa relação”, garantiu Afonso Cardoso, avançando que quer do ponto de vista político, quer social e económico, os dois países estudam a cria-ção de mais planos comuns e a integração dos seus cidadãos.

O Conselho de Ministros angolano aprovou a liberalização do sector da refinação de pe-tróleo, abrindo as portas a um mercado que actualmente é exclusivo da petrolífera So-nangol, que gere a única refinaria do país, a norte de Luanda. O Conselho de Ministros, segundo um comunicado divulgado pela im-prensa estatal angolana, definiu ainda a libe-ralização, também no sector dos petróleos, do armazenamento, transporte e distribui-ção, áreas igualmente controladas pela So-nangol, embora na distribuição a operadora angolana tenha como sócia a portuguesa Galp, na Sonangalp. Esta decisão surge quan-do o Estado angolano se prepara para arran-car, em 2012, com uma segunda refinaria no país, situada na província de Benguela, Lobi-to, com um investimento estimado em cerca

de oito mil milhões de dólares. Para o Zaire, na região do Soyo, está prevista uma tercei-ra refinaria, embora sem calendário para a sua construção. A actual refinaria de Luanda tem capacidade para refinar 35 mil barris de petróleo por dia, muito abaixo das necessi-dades do mercado, levando a que o país im-porte cerca de 90 por cento dos combustíveis refinados que consome. Cada uma das duas unidades que estão previstas para Benguela e Zaire deverá ter capacidade para cerca de 200 mil barris/dia. Angola é actualmente o maior produtor de petróleo africano a sul do Sahara, com potencial de produção de dois milhões de barris/dia, embora as quotas im-postas pela Organização dos Países Exporta-dores de Petróleo (OPEP) levem a que esta produção se confine a cerca de 1,7 milhões.

GOvERNO LIbERALIzA SECTOR DA REfINAçãO DE PETRóLEO

INSIDE

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13 INSIDE · ANGOLA’IN |

O banco Caixa Totta foi recentemente criado em Angola, mas já anunciou que vai investir mais de 100 milhões de dólares (cerca de 67,7 milhões de euros) na expansão da rede de balcões para todas as províncias angolanas. Criado a partir do banco Totta Angola, o Caixa Totta é participado pela Caixa Geral de Depó-sitos, pelo Santander e por dois empresários angolanos anónimos. Francisco Bandeira, vi-ce-presidente do grupo CGD, confirmou, em entrevista à agência de notícias portuguesa Lusa, que a pouca expressão do Totta Angola, quer em quota de mercado quer em número de balcões, vai sofrer uma profunda alteração no próximo ano. “O banco Totta Angola tem pouca expressão quer em quota de merca-do quer em número de balcões, mas o banco Caixa Totta Angola vai querer mais expressão e mais unidades pelo país”, esclareceu, defi-nindo como objectivo prioritário o desenvol-vimento de acções que permitam ao Caixa Totta assumir-se como um “continuador do crescimento em segurança do Totta” e “um

bANCO DE INvESTIMENTO TEM “LUz vERDE”O Banco Nacional de Angola (BNA) autorizou a criação de um banco de investimento, que foi proposto pela Sonangol e pela Caixa Geral de Depósitos. A parceria CGD/Sonangol foi estabe-lecida em Março deste ano. A nova estrutura terá como finalidade estreitar as relações entre os dois países. O banco central angolano foi autorizado no mês de Agosto, permitindo assim a antecipação do arranque da operação destinada a apoiar projectos de investimento em Ango-la. Recorde-se que a data prevista para a abertura do espaço estava agendada para o final de 2009. Em declarações ao jornal português Diário Económico, Francisco Bandeira, vice-presiden-te da CGD e futuro «chairman» da instituição angolana, afirmou que está confiante de que «ain-da durante o último trimestre” o grupo terá “condições para olhar para as primeiras operações». A parceria CGD/Sonangol visa potenciar a cooperação entre Portugal e Angola, através do apoio e financiando dos projectos de maior dimensão na economia angolana, especialmente no que respeita à área das grandes infra-estruturas.

PROGRAMA DE COMéRCIO RURALJosé Eduardo dos Santos criou a Comis-são Multi-sectorial para a implemen-tação do Programa do Comércio Rural, que é coordenado pela ministra do Co-mércio, Idalina Valente. A comissão responsável pelo projecto está ao cargo de Pedro Canga, ministro da Agricultu-ra e é composta pelos ministros da In-dústria, das Finanças, dos Transportes e da Família e Promoção da Mulher. O grupo terá como missão articular a re-lação dos diversos parceiros públicos e privados intervenientes no comércio ru-ral. Por outro lado, a comissão deverá definir os requisitos para a selecção dos operadores e das instituições bancárias ou financiadoras, bem como implemen-tar as politicas definidas pelo Ministério do Comércio para a comercialização ru-ral e para o abastecimento às comuni-dades rurais.

banco seguro e sólido”, para incentivar o in-vestimento português. Francisco Bandeira quer que os empresários “sintam neste banco uma continuidade da Caixa Geral de Depósi-tos (CGD)”. “Queremos crescer em todo o país, queremos estar nos principais investimentos das empresas portuguesas em Angola, que-remos estar também nos importantes in-vestimentos que se anunciam para Angola”, definiu, manifestando o interesse em fazer da instituição “essencialmente um banco de empresas”, daí “partir para um banco de particulares, mas reforçando a componente de banco de empresas”. Pela frente, o Caixa Totta tem ainda um trabalho de redimensio-namento, de refrescamento da imagem, da dignificação dos balcões, desde logo da sede, onde está em negociações para adquirir no-vas instalações. “Dentro de um ano e meio estaremos em todas as capitais de província, em seis meses duplicaremos o número actual de balcões e no próximo ano atingiremos 35 unidades de negócio no país”, finalizou.

bANCO CAIxA TOTTA ExPANDE REDE

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14 | ANGOLA’IN · INSIDE

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INSIDE

16 | ANGOLA’IN · INSIDE

SONANGOL DESEjA ENTRAR NA EDPA Sonangol confirmou o seu interesse em adquirir uma participação minoritária no capital da EDP - Energias de Portugal. A empresa encontra-se à espera de uma opor-tunidade, tendo Manuel Vicente, presidente do conselho de administração, manifes-tado a vontade de entrar no capital da entidade portuguesa. “Se houver oportunidade lá estaremos”, admitiu, lembrando que qualquer um “gostaria de estar numa empresa saudável”. O responsável pela Sonangol afirmou que desejam uma participação ao ní-vel dos dois por cento. A intenção foi divulgada à margem da apresentação do Banco Privado Atlântico Europa, em Lisboa. O BPA, que detém uma participação da Sonan-gol e do Millenium BCP, instalou a sua sede na capital portuguesa, que se encontra a funcionar desde Agosto. Quanto às oportunidades de cooperação em Angola, Manuel Vicente justificou que “estão a ser identificadas”, salvaguardando que o interesse co-mum surge no sentido da fase de produção até à distribuição de electricidade.

bESA PROMOvE AMOSTRAO Banco Espírito Santo Angola vai participar na Cimeira Mundial do Planeta Terra, com a exposição BESA Banco do Planeta. O certame, que decorre este mês em Lisboa (Portugal), exibe os projectos de cinco fotógrafos africanos, cujos trabalhos foram recolhidos durante uma viagem por várias províncias angolanas. Esta é uma iniciativa do BESA e contou com a colaboração do World Press Photo, a prestigiada agência internacional de fotografia. Os fotógrafos são naturais de Angola, Zimbabué, Gana, Tanzânia e Quénia e efectuaram um workshop para aprofundar conhecimentos acerca do projecto e dos temas que cada profis-sional retratou (águas; terra e saúde; recursos energéticos; megacities; solos). Os melhores trabalhos retratam um local específico de Angola. O evento tem como finalidade abordar temas relacionados com a protecção do planeta terra e conta com a presença do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, do rei Gustavo da Suécia e de vários chefes de Estado e de Go-verno. O BESA recebeu a distinção Banco do Planeta, atribuída pelo Comité Internacional de Desenvolvimento do Planeta Terra e participa no certame nessa qualidade. A escolha da instituição deveu-se ao seu empenho e apoio na divulgação de mensagens sobre protecção do ambiente e sustentabilidade.

TOTAL INvESTE qUATRO MILhõESA companhia petrolífera Total vai aplicar qua-tro mil milhões de dólares norte-americanos em vários projectos nacionais. A empresa e respectivos parceiros pretendem participar no desenvolvimento sustentável da nação. As afirmações são do director-geral de pesquisa e produção, Yves-Louis Darricare, que confir-mou que os valores a investir serão aplicados em áreas de pesquisa e produção, nos domí-nios operados pela entidade na região. Du-rante a cerimónia de apresentação do novo director-geral da Total Angola, Philippe Cha-lon, Yves-Louis Darricare explicou que “ em relação ao investimento do ano 2008 houve um aumento de quase quatro por cento, daí o actual (investimento) de quatro mil milhões de dólares norte-americanos”. A Total lançou a nível mundial um programa de redução de custos que vai permitir manter os seus projec-tos de investimento em curso, particularmen-te em Angola. Quanto ao facto do preço do petróleo continuar em baixo, o representante mostra-se confiante e reitera que “é preciso investir para o futuro”. “Se não investirmos agora não vamos ter capacidade para aten-der a procura depois”, sustentou. O director-geral contou que o potencial de produção da Total em Angola neste momento é superior a 500 mil barris/dia, significando que a compa-nhia opera pouco mais que em um quarto da produção petrolífera angolano. O novo direc-tor-geral da Total Angola, Philippe Chalon pre-tende prosseguir na mesma linha de actuação dos eixos programados pela companhia, que consistem na produção petrolífera, na angola-nização e no desenvolvimento sustentável.

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| patrícia alves tavares MUNDO

banca

Reino Unido pede limites aos prémios dos banqueirosA Inglaterra junta-se aos dois principais países da UE, Ale-manha e França, no apelo conjunto para que sejam adop-tadas “regras obrigatórias” para controlar os sistemas de atribuição de generosos prémios aos banqueiros. A medida surgiu mediante a crise financeira que eclodiu no ano passa-do e atingiu todas as economias, em que a gestão da banca é apontada pelos especialistas como causa. O primeiro-mi-nistro britânico, Gordon Brown, a chancelar alemã, Ângela Merkel e o presidente da França, Nicholas Sarkozy elabo-raram uma carta conjunta, onde defendem a adopção de sistemas de contenção dos bónus, de forma a evitar com-portamentos de risco na banca internacional. Os responsá-veis querem que esta medida seja analisada na cimeira do G20, que decorrerá em Pittsburgh, nos EUA. O objectivo consiste em ligar a dimensão dos prémios às remunerações fixas e ao desempenho dos bancos a longo prazo. Aliás, a França e o Reino Unido já criaram novos regulamentos, que não especificam regras acerca dos limites e critérios de atri-buição de prémios aos gestores de topo.

A República Democrática do Congo e Angola chegaram a acordo quanto à recente vaga de expulsões de cida-dãos entre os dois países. De acordo com o diário congolês “Le Potentiel”, o entendimento foi firmado após um encontro entre uma delegação ango-lana, chefiada pelo vice-ministro das Relações Exteriores, George Chicoty e o presidente da República Demo-crática do Congo, Joseph Kabila. Re-corde-se que recentemente mais de 20 mil angolanos foram expulsos da região Congo-Kinshasa, em retalia-

petróleoReceitas de petróleo “nacionalizadas”O novo modelo de exploração de petróleo e gás natural no Brasil inclui um mo-delo de partilha de produção existente na Noruega, Venezuela e Rússia. O sis-tema tem como finalidade controlar as gigantescas reservas, situadas a sete mil metros de profundidade na bacia de Santos e sob a chamada camada de pré-sal. Actualmente a funcionar em regime de concessões, o Estado brasilei-ro torna-se proprietário de todo o crude e quer ficar com 80 por cento da re-ceita da exploração do mesmo. Assim, a Petrobras passa a operar em todos os blocos, no mínimo com 30 por cento do capital, existindo a possibilidade de ter parceiros privados, que serão remunerados em petróleo. Por outro lado, caberá à nova empresa pública, a Petro-Sal, administrar os contratos. Com as recei-tas, provenientes do crude, o país vai lançar o Fundo Social do Pré-Sal, que se destina ao combate da pobreza e financiamento de projectos na área da saú-de, educação, ciência e tecnologia, meio ambiente e cultura, modelo comum em países como a Noruega.

ção contra o repatriamento de con-goleses, que Angola tem efectuado nos últimos anos, em virtude de se encontrarem em situação ilegal (cer-ca de 100 mil), nomeadamente a tra-balhar nas zonas diamantíferas. Dias antes da celebração do acordo entre as duas nações (cujo conteúdo ainda não foi divulgado), Kabila suspendeu a expulsão de cidadãos angolanos em resposta a uma mensagem en-viada pelo Presidente da República, José Eduardo dos Santos.

rd congoAngola e Kinshasa suspendem expulsões

fortunaBill Gates lidera rankingO fundador da Microsoft encabeça a lista dos magnatas generosos. O ranking foi elaborado pela revista Forbes de filantropos que doaram mais de mil milhões de dólares ao longo da sua vida. A conhecida publicação encontrou apenas 14 “super generosos” em todo o mundo. Dos 793 poderosos que possuem um património superior a mil milhões de dóla-res, apenas 11 integram a nova categoria da famosa revista, que classifica ainda estes milionários como “possivelmente o subgrupo de ricos mais exclusivo do mundo”.

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ambiente

Fosfatos derramados ao largo de MadagáscarUm cargueiro de bandeira turca naufragou em frente à costa de Madagáscar, derramando 39 mil toneladas de fosfatos, que ameaçam pro-vocar uma catástrofe ecológica, que deverá afectar a zona protegida. O barco, com 186 me-tros de comprimento, perdeu toda a carga. O naufrágio deu-se a três quilómetros da costa, em frente ao Cabo Faux, a sul da ilha. De acordo com os dados divulgados pela imprensa turca, os 23 tripulantes foram resgatados pelas au-toridades.

MUNDO

brasilRio de Janeiro, palco dos Olímpicos de 2016O Comité Olímpico Internacional (COI) anunciou em Copenhaga que a organização dos Jo-gos Olímpicos de 2016 ficará a cargo da cidade brasileira Rio de Janeiro, situação que até há poucos meses parecia improvável. O discurso de Lula da Silva, presidente da República do Brasil e o seu poder económico foram decisivos na escolha do país sul-americano para o maior evento multi-desportivo mundial. A cidade concorreu à organização das compe-tições de 2004 e 2012, mas acabou por ser excluída da corrida. Agora, com as previsões do Banco Mundial a preverem que o Brasil se torne na quinta maior economia do planeta, em 2016, os membros do COI deram o tão esperado voto de confiança. “Para os outros países candidatos, será mais uma decisão. Para nós, será a oportunidade de construir um novo Brasil”, argumentou Lula da Silva, recordando que entre as dez maiores economias mun-diais, o seu país era o único que ainda não tinha acolhido o certame. Em tom de desafio, o presidente esclareceu que “os que pensam que o Brasil não tem condições de receber os Jogos vão surpreender-se”.

afeganistãoONU admite fraudes nas eleiçõesKai Eide, representante especial da ONU no Afeganistão, explicou que as presidenciais do Afeganistão, que decorreram a 20 de Agos-to, foram alvo de “fraudes consideráveis”. Os resultados das eleições ainda não são co-nhecidos, mas os primeiros dados apontam Karzai como vencedor, com 55 por cento dos votos. As acusações de fraude partiram de observadores afegãos e internacionais, que argumentam que os actos ilícitos foram co-metidos a favor do actual presidente Karzai, que procura novo mandato. Eide, em confe-rencia de imprensa, admitiu que “é verdade que num determinado número de mesas de voto no Sul e Sudeste houve fraudes consi-deráveis”. Os resultados definitivos serão anunciados brevemente.

Um estudo do Centro Mundial de Monitoriza-ção de Glaciares revelou que no ano hidrológi-co de 2005/ 2006 os glaciares perderam uma espessura de 1,3 metros de água equivalente e 0,7 metros no ano 2006/ 2007. No primei-ro período, os especialistas estudaram cem glaciares e 80 no ano seguinte. “Estes dados mostram que se mantém a tendência global do degelo acelerado nas últimas décadas”, anunciam os autores da pesquisa. Desde a dé-cada de 80, os glaciares perderam em média

11,3 metros de água equivalente. Em Espanha, “se em 1820 o glaciar de Maladeta ocupava 152 hectares, hoje são 54, ou seja, perdeu 35 por cento da sua superfície”, informou Cuellar, da associação Globalizate, no jornal espanhol “El

Mundo”. O responsável garante que a situação implica “uma grande perda da riqueza bioló-gica dos Pirinéus”, pelo que poderá ter graves repercussões no abastecimento de água a zo-nas densamente povoadas.

ambiente

Glaciares perdem espessura em dois anos

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parceriaAproximação à África do SulO presidente da Agência para o Investimen-to e Comércio de Portugal (AICEP – Portugal Global), Basílio Horta, explicou que a presen-ça económica portuguesa em África deve ter uma visão regional, na qual a África do Sul te-rá necessariamente de estar presente. O res-ponsável participou recentemente na Feira Internacional de Maputo e manteve encontros privados com agentes económicos públicos e privados em Joanesburgo e Pretoria, com o in-tuito de abrir novas oportunidades de negó-cio para a economia portuguesa na mais forte economia africana. Basílio Horta, em declara-ções à agência Lusa, mostrou-se optimista e perspectiva a consolidação dos laços econó-micos entre Portugal e África do Sul, desta-cando os sectores das energias tradicionais e renováveis, das componentes automóveis, da agro-indústria e moldes enquanto áreas mais vulneráveis para a penetração a curto-prazo das empresas portuguesas. “Os empresários portugueses têm de partilhar esta convic-ção de que, através da África do Sul, podem ir mais longe, e, quando vemos a África do Sul ter uma relação com Angola agora em fase de dinamização, é óbvio que as empresas portu-guesas não se podem alhear dessa aproxima-ção”, enunciou o presidente da AICEP. A última visita ao país africano, segundo Basílio Horta, marca uma “nova era” no relacionamento eco-nómico de Portugal com a África do Sul.

climaJapão quer reduzir CO2A nação asiática pretende cortar em 25 por cento as emissões de gás com efeito de estu-fa, a partir dos níveis de 1990. A medida será aplicada até 2020 e foi definida pelo primeiro-ministro eleito Yukio Hatoyama, que preten-de implantar o ambicioso propósito com uma condição: as principais economias mundiais devem participar no esforço de redução dos níveis de poluição. “Como objectivo a médio-prazo, pretendemos até 2020 reduzir 25 por cento a partir dos níveis de 1990, com base nos padrões exigidos cientificamente para deter o aquecimento global”, anunciou Hatoyama, numa conferência em Tóquio sobre alterações climáticas. O seu antecessor, Taro Aso, tinha estabelecido a meta em oito por cento. O Ja-pão é o quinto maior emissor de gases com efeito de estufa e tem sofrido pressões para combater as alterações climáticas, após estas terem subido 2,3 por cento, colocando o país 16 pontos acima dos patamares estabelecidos pelo protocolo de Quioto. Entretanto, a indús-tria japonesa já começou a levantar objecções a esta medida, proposta por Hatoyama, que tomou posse a 16 de Setembro.

segurançaPijamas em papel nas prisões francesas O mais recente método optado pelos esta-belecimentos prisionais franceses visa evi-tar enforcamentos e consiste na adopção de pijamas em papel. Por outro lado, está pre-visto o acompanhamento de prisioneiros em “stress” psicológico. As medidas constam do plano do governo francófono para diminuir as taxas de suicídio nas prisões, que é uma das mais altas da Europa. O anúncio, proferido pela ministra da Justiça, Michèle Alliot-Ma-rie, foi entretanto criticado por uma associa-ção de defesa dos reclusos. A distribuição de “kits” de protecção e de colchões anti-fogo são outras das novidades. A ministra sal-vaguardou que o apoio psicológico a presos com tendências suicidas será efectuado por voluntários (também prisioneiros).

MUNDO

medicina

Encontrados três genes da Alzheimer Dois grupos de cientistas do Reino Unido e da França conseguiram dar um “grande passo em frente” na investigação da doença de Alzheimer. A identificação dos três novos genes pode-rá, no futuro, reduzir até 20 por cento as taxas de incidência da doença. Após a publicação da investigação na revista científica “Nature Genetics”, a professora da Universidade de Cardiff (Gales), Julie Williams, que esteve à frente da equipa do Reino Unido, referiu que se trata “do maior avanço conseguido na investigação do Alzheimer nos últimos 15 anos”. Os investigado-res garantem que, neutralizando a actividade dos genes em causa, será possível evitar num país como o Reino Unido (população estimada de 61 milhões) cem mil novos casos por ano da variante mais comum do Alzheimer, que afecta sobretudo os mais idosos. Recorde-se que ain-da não existe um tratamento eficaz para esta doença neurodegenerativa, que se manifesta através de alterações cognitivas e comportamentais, devido à morte de neurónios e à atrofia do cérebro. Ainda segundo dados da Organização Mundial de Saúde, 0,379 por cento da popula-ção mundial sofria da doença em 2005, número que subirá para 0,441 em 2015. Esta descober-ta é a primeira a ser divulgada desde 1993. Dois dos genes (CLU e PICALM) foram descobertos pela equipa britânica, enquanto o terceiro (denominado por receptor complementar 1 ou CR1) foi identificado pelo grupo francês. Possuir determinadas versões destes genes aumenta entre 10 e 15 por cento a probabilidade de sofrer de Alzheimer.

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| manuela bártolo

Quando o país decidiu aplicar à economia a receita neoliberal, pura e dura, teve como resultados o controlo da inflação, o crescimento económico, o investimento estrangeiro e a confiança da comunidade internacional

Barack Obama escolheu o Gana como des-tino da sua primeira viagem, na presidência dos Estados Unidos, à África, por uma razão nobre: é um dos poucos países subsaarianos com alguma tradição democrática. Duran-te o seu discurso, em Accra, capital do país, Obama destacou: “para construir um futuro próspero, o continente precisa de se lançar contra a corrupção e a tirania e assim livrar-se da pobreza e das doenças”. Esta tem sido a luta de um povo que, ao contrário de ou-tros, sempre se bateu pela democracia, ten-do sido o primeiro país da África Ocidental a proclamar a independência, depois de ter ul-trapassado uma longa fase de indefinição, instabilidade e golpes militares. Apesar dos

perigos de retrocesso, dos problemas sociais próprios de uma economia que teve de se sub-meter à receita amarga do FMI, vive hoje um período marcado pelo optimismo. O típico or-gulho dos Ashanti, cuja cultura é “a alma da identidade” nacional do Gana, serve indirecta-mente para explicar porque é que, no contexto africano, é um exemplo. Desde que em 1992, o ex-presidente Jerry Rawlings, subiu ao po-der pela costumeira via do golpe de Estado e optou por se legitimar através da via eleitoral que este acto teve o dom de empurrar o país para a democracia. Cerca de uma década de-pois este responsável tornou a ter uma nova importância no seu desenvolvimento, quando decidiu aplicar à economia a receita neoliberal, pura e dura, preconizada pelo FMI e pelo Ban-co Mundial. Resultado: controlo da inflação, crescimento económico, investimento estran-geiro, confiança da comunidade internacional. No entanto, o preço foi o habitual, e revelou-se particularmente pesado a nível ambiental – desertificação, desflorestação, preocupante escassez de água potável, mas também se re-flectiu no aumento do desemprego, na dimi-nuição do poder de compra, no crescimento do analfabetismo e da mortalidade infantil.

O papel que continua a desempenhar tem feito gradualmente do país um centro comercial da África Ocidental

PAPEL PRIMORDIAL NA REGIãOO Gana pode não ser um agente económico tão grande quanto o seu vizinho, mas tem uma dinâmica eficaz superior ao seu peso nos fó-runs regionais. O país tem desempenhado um papel de liderança na África Ocidental, muito embora não seja um grande agente económi-co. Os ganenses orgulham-se de ser pacíficos e isso tem-se reflectido no facto do país ter escapado a todos os traumas de guerras civis que afectaram os seus vizinhos. O segredo do seu progresso tem-se baseado na estabilida-de e crescimento económico no interior de um sistema democrático sustentável. O país tem conseguido desenvolver no continente africa-no e na sub-região um papel central no sector do investimento comercial precisamente por causa destes factores de elevada importân-cia para a comunidade internacional. Em to-da a sua história, o Gana tem sido um porto

“No Gana, por exemplo, o petróleo traz grandes oportunidades e o povo do Gana tem sido muito responsável na sua preparação para as novas receitas. Mas como muitos ganenses bem sabem, o petróleo não pode simplesmente transformar-se no novo cacau. Da Coreia do Sul a Singapura, a história mostra que os países se desenvolvem quando investem no seu povo e na sua infra-estrutura; quando promovem múltiplas indústrias de exportação e desenvolvem uma mão-de-obra especializada e quando criam espaço para pequenas e médias empresas criadoras de emprego. À medida que os africanos tentam realizar este potencial, a América estenderá a mão de uma forma mais responsável. Reduzindo os custos que acabam nas mãos de consultores e administradores, queremos colocar mais recursos nas mãos daqueles que precisam deles, formando-os simultaneamente para serem mais auto-suficientes”

Barack Obama

TRADIÇÃO DEMOCRÁTICA

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de abrigo seguro para a maior parte dos seus vizinhos. Durante as guerras civis da Nigéria, foi em Aburi, uma pequena cidade fora de Ac-cra, que as facções antagónicas encontraram a paz. O país concedeu refúgio a togoleses, cos-ta-marfinenses, serra-leonenses e liberianos em fuga durante as guerras civis nos seus pa-íses. Episódios históricos que lhe proporciona-ram um efeito de alavanca sobre os restantes países nos negócios do agrupamento regio-nal – a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (ECOWAS). O seu exem-plo sucede-se em outras áreas, pois tem de-monstrado ter capacidade para fazer avançar a sua sociedade, como o demonstra no aprovi-sionamento de água sem interrupção na maior parte das cidades do país, podendo dizer-se o mesmo da electricidade. Factores que fazem com que este se torne um destino privilegia-do para o estabelecimento de empresas e que estiveram na génese da implantação do Ban-co Central, organismo do ECOWAS no país. O Instituto Monetário da África Ocidental está também sedeado no Gana, o que veio revelar que este desempenha um papel primordial na agenda da Comunidade.

GOvERNAçãO ExEMPLAR Uma concentração persistente no apoio or-çamental e à governação, assim como o es-tabelecimento do Gana como terminal de transportes ocupam um lugar proeminen-te no pacote de despesas de 367 milhões de euros em seis anos do 10º Fundo Europeu de Desenvolvimento estabelecido entre a União Europeia e o Governo do Gana (2008-2013). Um montante de 175 milhões de euros desti-na-se ao apoio orçamental geral. A UE é um dos vários doadores que estão a canalizar os fundos de desenvolvimento directamente pa-ra o orçamento do Estado a fim de ajudar, por exemplo, a realizar reformas económicas e a desenvolver o sector privado. Os 95 milhões de euros atribuídos à governação têm como objectivo fomentar a descentralização. Os fundos para esta área consistem, em parte, num apoio ao orçamento e, noutra, numa aju-da a projectos. De acordo com os funcionários da Comissão Europeia, estes fundos desti-nam-se a projectos como vias de penetração e instalações de água e de saneamento. O FED é aplicado principalmente no domínio da edu-cação, da saúde e da água. As verbas reser-vadas à governação são para ser utilizadas no reforço da sociedade civil (8 milhões de euros) e instituições de governação não executivas (4 milhões de euros), para que ambas possam encetar o diálogo com o governo local e agir como “guardiãs”. O financiamento no âmbito

do 10.º FED destina-se especialmente às or-ganizações básicas e rurais.

TRANSPORTESDo FED actualmente em vigor foram reserva-dos 76 milhões de euros para os transportes. Este sector é visto como essencial para a re-dução da pobreza. A UE tem apoiado a elabo-ração de um Plano Nacional de Integração dos Transportes que abrange portos, instalações portuárias, caminhos-de-ferro e estradas. Com a nova tónica na integração regional, o 10.° FED toma em consideração a beneficiação e a construção de estradas nacionais, de modo a fazer do Gana um centro de transportes regio-nal. Está orçamentada a reabilitação de estra-das nacionais no Oeste do país, mas uma nova construção só será efectuada após uma avalia-ção social e ambiental. Se os benefícios forem considerados insuficientes, as atenções po-dem ser desviadas para outras estradas nacio-nais, como a continuação do corredor Leste.

A diáspora é uma fonte de divisas substancial, tanto através das remessas para o Gana, como do turismo

COMéRCIODos 21 milhões de euros remanescentes, es-pera-se a afectação de 9 milhões de incentivo ao comércio, tendo o Gana assinado um acor-do de parceria com a UE. Espera-se que os fundos ajudem o país a ser mais competitivo em matéria de exportações não tradicionais e possam igualmente ser canalizados pa-ra melhorar a documentação aduaneira. São afectados 8 milhões de euros da quantia re-manescente à gestão dos recursos naturais, incluindo o reforço dos organismos básicos de regulação envolvidos na gestão dos recursos naturais, e também ao apoio da Aplicação da Legislação, Governação e Comércio no Sector Florestal (FLEGT) da UE para limitar a explo-ração florestal ilegal.

DIáSPORARestam 2 milhões de euros do orçamento total à migração, à diáspora e à segurança. Está igualmente prevista assistência téc-nica para melhorar a capacidade das agên-cias de polícia e de migração na aplicação da legislação. Cinco por cento da população do Gana faz parte da diáspora, calculando-se que, só em África, reside um milhão de ganeses (citado em Twum Baah 2005) e 189.461 inscritos na base de dados da mi-gração da Organização de Cooperação e De-senvolvimento Económicos, não incluindo a Alemanha. Outros estudos apontam para a existência de 600.000 ganeses só no Reino Unido e na UE. A diáspora é igualmente uma fonte de divisas substancial, tanto através das remessas para o Gana, como do turismo. Muitos ganeses são altamente qualificados e trabalham no sector da saúde no estran-geiro. A construção é o seu principal sector de crescimento e é parcialmente financiado pelas remessas. A lei foi recentemente al-terada para permitir a dupla nacionalidade aos ganeses e alargar o voto aos que vivem no estrangeiro. Em 2006, também foi cria-do um Ministério do Turismo e das Relações da Diáspora. Há também mais dois milhões de euros para um mecanismo de cooperação técnica. Além do pacote conhecido como o pacote ‘A’, estão orçamentados mais 6,6 mi-lhões de euros para os dois primeiros anos do 10.° FED no pacote ‘B’, que cobre neces-sidades imprevistas, como assistência de emergência, iniciativas de redução da dívida internacionalmente aceite e apoio para miti-gar os efeitos secundários da instabilidade nas receitas da exportação. Como membro da Organização Regional da África Ociden-tal, a ECOWAS, o Gana também beneficiará do 10.° programa indicativo regional da UE para a região da África Ocidental e é elegí-vel para posterior financiamento, tanto ao abrigo das facilidades de Energia e Água da UE como da parceria UE-África no campo das infra-estruturas.

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Tema Port, fora de Acra, tornou-se na base de trânsito para os Estados interiores, como o Burquina Faso, o Mali e o Níger, isto porque o país abriu as suas portas à circulação de mercadorias e de serviços

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ECONOMIA & NEGóCIOS | manuela bártolo

Criada em 1954, a Bolsa de Valores de Nairobi é o maior mercado bolsista da África Central e Oriental e o quinto maior do continente africano

Tendo atraído 860 mil accionistas, a venda das acções, que teve início em 9 de Junho de 2008, após o lançamento da Oferta Pública Inicial (OPI) em Março, adicionou 200 mil mi-lhões de xelins quenianos à Bolsa de Valores e aumentou a capitalização da empresa para mais de um bilião de xelins quenianos. Actu-almente, cerca de um milhão, ou um em cada 18 quenianos, detém uma acção na NSE, in-cluindo em antigas empresas públicas como Kengen, Kenya Airways, Mumias Sugar Corpo-ration, Kenya Commercial Bank e Kenya Rein-surance Corporation Ltd. O Fundo Monetário Internacional (FMI) previu um abrandamento no crescimento do país, com 2,5% em 2008 contra 7% em 2007, após a crise política e a redução da oferta de crédito a nível mundial que se receava viesse afectar negativamente a indústria do turismo do Quénia. Todavia, o

país parece estar a passar incólume sobre es-ses acontecimentos e aspira a tornar-se uma plataforma financeira regional.

bOLSA DE vALORESCriada em 1954, a Bolsa de Valores de Nairobi é o maior mercado bolsista da África Central e Oriental e o quinto maior do continente afri-cano. Neste momento, possui um sistema de transacções totalmente automatizado e uma gama crescente de produtos. Desde 2007, o estabelecimento de uma rede local permitiu a todos os corretores, bancos de investimento e operadores económicos participarem no mer-cado de capitais a partir dos seus próprios ga-binetes. Numa intervenção na NSE, em Junho, na venda da Safaricom, o presidente Mwai Kibaki afirmou: “Os mercados de capitais se-

rão essenciais para mobilizar fundos de longo prazo e fundos de infra-estruturas.” Instou ao financiamento de projectos de infra-estrutu-ras através de obrigações a longo prazo, pa-ra mobilizar recursos financeiros públicos. As obrigações constituem uma forma rápida de instituições como governos e empresas mo-bilizarem capitais através da Bolsa de Valores para iniciativas como construção de estradas ou sistemas de abastecimento de água. O in-vestidor, também conhecido por mutuante, obtém lucros através dos juros associados à obrigação.

ObRIGAçõES DO TESOUROO Professor Chege Waruingi, presidente do Conselho de Administração da Autoridade do Mercado de Capitais do Quénia, explicou, na altura da venda da Safaricom, que os princi-pais projectos de infra-estruturas para 2008-2012, que fazem parte da estratégia “Visão 2030” do governo para transformar o Qué-nia num país de rendimento médio, deverão custar 500 mil milhões de xelins quenianos. Frisou ainda a necessidade de eliminar os obstáculos jurídicos e administrativos ao fi-nanciamento por parte de investidores locais e estrangeiros.As inovações actualmente em desenvolvi-mento para “consolidar” a Bolsa de Valores de Nairobi incluem um sistema de mercado de balcão organizado para os títulos não transac-cionados em sessões de bolsa e a introdução de um sistema primário de transacção em que o governo selecciona operadores económicos para promoverem o investimento em obriga-ções do Tesouro. O Professor Chege Waruingi informou igualmente que não seriam tole-

Quénia futura plataforma financeira

Quando o Governo queniano pôs à venda na Bolsa de Valores de Nairobi (NSE) 25% da sua participação financeira na empresa Safaricom, o seu principal operador de telecomunicações, o registo de investidores multiplicou seis a oito vezes o número de inscrições. Para o presidente do país, Mwai Kibaki, a agitação “mostra a grande dimensão dos recursos locais disponíveis para investimentos rentáveis a longo prazo”

Edward Njoroge - Chairman da NSE

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ECONOMIA & NEGóCIOS

rados “corretores irregulares”. O desenvolvi-mento do projecto de sistema marítimo da África Oriental que pretende instalar um cabo de fibra óptica subaquático reduzirá os custos de comunicação no Quénia e países vizinhos e contribuirá para a negociação mais eficien-te de acções na NSE, promovendo a imagem do país enquanto destino de investimento re-gional. Estão já a ser adoptadas medidas para criar uma bolsa de valores da África Oriental (East African Stock Exchange Limited) com o Uganda, a Tanzânia e o Ruanda, entre outros. O Professor Chege Waruingi acrescentou ain-da serem necessárias iniciativas que tornem os quenianos mais versados em operações fi-nanceiras. Propôs a realização de um troféu universitário anual sobre mercados de capi-tais, a fim de “aumentar o interesse dos jo-vens quenianos nas oportunidades de aplicar poupanças em produtos financeiros”. PERSPECTIvAS ECONóMICAS O crescimento económico do país irá dimi-nuir, em 2009, para 4% em relação aos 7,7% de 2008. Isto verifica-se também numa con-juntura de abrandamento económico global, causada pelos preços voláteis e elevados do petróleo. Especialistas afirmam que se os estrangulamentos mais notórios a um cres-cimento económico mais rápido no Quénia e na região (infra-estrutura arruinada: estradas, portos, caminhos-de-ferro, telecomunicações e imperativos energéticos) fossem determi-nados, o crescimento económico para toda a Comunidade da África Oriental (Burundi, Qué-nia, Ruanda, Tanzânia e Uganda) seria refor-çado para 10-15% por ano.

REDEfINIçãO DO INvESTIMENTO LOCAL A PRAzOA NSE assumiu um aspecto mais regional quando o Ministro das Finanças propos que, para investir no mercado de capitais, os mem-bros da Comunidade da África Oriental (Bu-rundi, Quénia, Ruanda, Tanzânia e Uganda) deviam beneficiar do mesmo tratamento que os investidores locais. Os membros da Comu-nidade da África Oriental podem, desde 2008, adquirir uma quota de 40% da Oferta Públi-ca Inicial (IPO), que é reservada aos investido-res locais. Além disso, os africanos da região pagam uma taxa de retenção de 5% sobre os dividendos, ao passo que os investidores es-trangeiros pagam 10% de taxas de retenção. Os investidores pagam todos uma taxa de 15% de retenção na fonte sobre os juros.

bOLSA DE vALORES DA áfRICA ORIENTAL Os investidores desejam dispor de um ponto

de acesso único aos diferentes valores lista-dos nas várias bolsas de África e beneficiar de um sistema comercial seguro, rápido e sólido que lhes permita exercer a sua actividade co-mercial e minimizar os riscos. Querem igual-mente ter acesso a uma informação precisa e atempada que lhes permita tomar decisões de investimento bem informados. As bolsas que forneçam uma proposta desteipo aos in-vestidores continuarão a atrair o investimen-to em carteiras de título. A Bolsa de Valores de Nairobi é membro da Associação de Bolsas de Valores da África Oriental, cujos membros são a Bolsa de Valores do Uganda, a Bolsa de Valores de Dar-es-Salaam e o membro mais recente – o Conselho Consultivo do Mercado de Capitais – Capital Markets Advisory Coun-cil (CMAC) do Ruanda, que aderiu em 26 de Abril de 2008. O CMAC funciona como um or-ganismo regulador, orienta e regula o merca-do tendo o objectivo final separar estas duas funções no futuro. A visão dos mercados de capitais da África Oriental é “um mercado de capitais totalmente integrado com uma bolsa de valores regional (a partir de Dezembro de

sabia que

O ÊXITO DA SAFARICOMCriada em 1997, a empresa Safaricom é o principal operador de telemó-

veis do Quénia e uma das empresas mais lucrativas da África Oriental.

Antiga filial a 100% da Telkom Kenya, após a OPI, os seus accionistas

públicos detêm agora uma participação de 25%, a Vodafone 40% e o Go-

verno queniano 35%. A Safaricom possui actualmente 80% da quota de

mercado de comunicações móveis do Quénia, com 10,2 milhões de subs-

critores e mais de 100.000 pontos de distribuição. Com 36,6%, a rentabi-

lidade dos capitais próprios da Safaricom foi uma das mais elevadas em

comparação com outros operadores de telecomunicações de África

2009)”. Os reguladores e as bolsas chegaram a um acordo sobre as acções a empreender para concretizar esta visão:› Uma plataforma comercial comum a partir de Dezembro de 2008: ponto de acesso único; › Pontos de acesso para emissores e investi-dores; › Legislação do Mercado de Capitais da Comu-nidade da África Oriental apresentada a partir de Dezembro de 2008; › Reguladores de cada Estado sujeitos a um quadro regulamentar comum;› Desmutualização de cada bolsa de valores a partir de Dezembro de 2008; – Fusão das três bolsas de valores a partir de Junho de 2009.A bolsa já está em discussões avançadas com a Bolsa de Valores do Uganda sobre uma pers-pectiva de fusão após a desmutualização das duas bolsas e tem tido discussões com a Bol-sa de Valores de Dar-es-Salaam. No intuito de criar uma bolsa de valores única para a Áfri-ca Oriental, com bases comerciais no Quénia, Uganda, Ruanda e Tanzânia, lançou-se recen-temente uma ronda de discussões com a Bol-sa de Valores do Ruanda.

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ECONOMIA & NEGóCIOS | manuela bártolo

Nova reforma fiscal

stop à fuga

“É importante que as pessoas entendam que quando se faz uma reforma não é para agravar impostos, nem muitas vezes será para obter mais receitas, embora as receitas sejam, efectivamente, a principal questão a perseguir”Francisco Brandão, presidente do Comité Nacional para a Reforma Fiscal

Angola tem, como aliás todos os países, a necessidade de gerar saldos positivos não só através da exportação do petróleo, mas sobre-tudo da criação de novas fontes de angariação de impostos directos e indirectos. Os mesmos podem ser obtidos pela circulação de mer-cadoria, sobre propriedade, sobre produção industrial, sobre o território, produtos impor-tados ou sobre os industrializados. O objectivo é, no entanto, sempre o mesmo - aumentar e diversificar as fontes de rendimento do Gover-no (Tesouro Nacional), podendo estes se es-tender sobre a produção/exportação de barris de petróleo ou a entrada de produtos estran-geiros de forma amplificada. Considerando os impostos sobre a produção e exportação de petróleo já existentes “fiéis serventes” das despesas do Estado e o principal apoio na continuidade da expansão das actividades em curso, a redução na angariação destes po-de tornar-se um entrave no desenvolvimento da economia, dada a necessária demanda ao processo de diversificação e independência do sector do petróleo na pauta exportadora. Cer-tos estamos, por isso, da urgência da aplicação do plano para a diversificação e do programa de substituição das importações que faz parte do Programa de Desenvolvimento Industrial.

Desafios que exigem ajustes fiscais (reformas tributárias e administrativas) e a procura de alternativas de financiamento que não os ex-ternos, exercendo pressões sobre uma gestão eficiente das receitas provenientes do sector extrativo, associadas à necessidade de ma-nutenção de reservas em moeda forte. O país não pode permanecer dependente de uma só receita (petróleo), embora haja já receitas pro-venientes das exportações. Importa aumentar o número de contribuintes e não aumentar a carga tributária sobre os poucos que existem, até porque, segundo os especialistas, quanto maior for a carga maior será a fuga.

Assente na reestruturação de três pilares - legislativo, administrativo e recursos humanos - a reforma fiscal promete ter um impacto forte na vida dos cidadãos

REfORMAR é PRECISOModernizar o sistema fiscal é uma das gran-des prioridades do Ministro da Finanças, Seve-rim de Morais, para este mandato. A reforma

de um sector que data de há mais de meio século é urgente por estar “desactualizado e díspar”, tornando-se, por isso, necessário fa-zer uma “grande reforma fiscal, principalmen-te na área não petrolífera”. Para o efeito, “é preciso criar novos códigos, isto é um código geral tributário, que permita actualizar uma legislação que, por vezes, tem 60 ou 70 anos”. O Governo está a criar um sistema fiscal mo-derno, capaz de dar resposta aos objectivos da política tributária e aos desafios do desenvol-vimento socioeconómico através de políticas de atracção do investimento, de promoção do emprego e de integração regional. Até ao momento foi dado um passo importante - a aprovação, em Conselho de Ministros, das Li-nhas Gerais da Reforma Fiscal. Um documen-to base que propõe acções a curto prazo, tais como a revisão e actualização do Código Ge-ral Tributário (CGT), a adopção de um Código de Processo Tributário, a racionalização e con-solidação legislativa do imposto industrial e a simplificação do imposto de selo. A revisão do imposto sobre o rendimento do trabalho, do regime de consignação de receitas fiscais que devem ser atribuídas ao poder local, a prosse-cução e implementação de políticas de alarga-mento da base tributária a nível aduaneiro e a

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adopção de taxas modelares que promovam a reactivação da produção nacional são outras das medidas previstas pelo Governo. Mudan-ças difíceis, mas extremamente necessárias, com soluções que incidem sobretudo na re-forma da administração, na correcção das de-sigualdades, na melhoria da despesa pública e no estímulo ao sector produtivo. O país vi-ve diariamente problemas com a tributação fiscal, havendo pessoas e empresas que pa-gam excessivamente impostos e outras que ficam à margem desta obrigação. Uma in-justiça que está intrinsecamente associada a uma outra questão relacionada com os di-versos problemas ocasionados pela carga dos impostos. Todos os cidadãos têm o dever de cumprir e pagar os impostos ao Estado, so-bretudo aqueles que manifestam sinais exte-riores de riqueza, como casas, automóveis ou outros bens visíveis. É do conhecimento geral que o imposto é um pagamento decorrente de uma lei e é através da colecta do mesmo que o Estado consegue prover Justiça, Segurança, Ordem Pública, Educação e Saúde à sua popu-lação, além de exercer todas as outras funções que lhe competem. É uma espécie de preço da sociedade moderna, referem muitos juristas. Ora, se este não é devidamente angariado e gerido quem sofre as consequências finais é sempre a sociedade civil, que fica assim impe-dida de ter melhores tribunais, melhor polícia, melhor exército e por aí adiante. Sabe-se que a aplicação da reforma fiscal é geralmente um

problema de difícil administração, razão pela qual é impossível regermo-nos apenas pela experiência de outros países, até porque a re-alidade económica de cada Estado e a maneira como está desenvolvido diferem. Nesse senti-do, é importante ter em consideração o que se pretende fazer com a própria economia do pa-ís. Angola precisa, antes de mais, de melhorar as receitas das empresas e dos trabalhado-res, de forma também a evitar o crescimento desajustado das receitas alfandegárias. Criar impostos não é por isso um poder da respon-sabilidade do Governo, mas sim uma prerro-gativa e um poder exclusivo do Parlamento.

É de salientar, nos últimos anos, a consagração de um regime ambicioso de incentivos fiscais e aduaneiros ao investimento privado

INCENTIvOS fISCAIS CAPTAM INvESTIMENTOSão hoje reconhecidas as potencialidades de Angola enquanto destino de investimento privado. A estabilidade política e a criação de um ambiente institucional apelativo, sobretu-do para o investimento externo, tem vindo a contribuir para um forte apelo sobre os em-presários. Um assédio que se reflecte a nível fiscal com a criação de mais condições apela-tivas ao investimento, para além das criadas

em 2003 através do amplo “pacote legislati-vo”, que incluiu a aprovação da Lei de Bases do Investimento Privado, da Lei do Fomento do Empresariado Privado e da Lei dos Incen-tivos Fiscais e Aduaneiros ao Investimento Privado. Entre as medidas referidas nos di-plomas legais é de salientar a consagração de um regime ambicioso de incentivos fiscais e aduaneiros ao investimento privado. Um pro-gresso travado, por vezes, pela própria com-plexidade do sistema fiscal do país, de tipo ainda parcelar. No que respeita à tributação dos rendimentos das empresas, Angola as-senta na existência de um imposto de carác-ter geral – o Imposto Industrial – que surge complementado por impostos e regimes par-celares, dirigidos à tributação de actividades específicas, como os impostos sobre a activi-dade petrolífera. O Imposto Industrial tributa os lucros imputáveis ao exercício de qualquer actividade comercial ou industrial por residen-tes ou não residentes. A tributação dos ren-

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dimentos das pessoas singulares encontra-se repartida por três impostos: o Imposto sobre os Rendimentos do Trabalho, que incide sobre as remunerações recebidas pelos trabalhado-res por conta de outrem e sobre os rendimen-tos resultantes do exercício de actividades por conta própria, obtidos por serviços prestados em Angola, quer o seu titular seja ou não resi-dente, o Imposto Industrial e o Imposto sobre a Aplicação de Capitais. Quanto à tributação do património imobiliário, assenta na coexis-tência de impostos distintos: o Imposto Pre-dial Urbano, que tributa o património numa perspectiva estática e incide sobre o valor lo-cativo anual, efectivo ou potencial dos prédios urbanos – a Sisa -, devida pelas transmissões onerosas de propriedade imobiliária, rústica ou urbana, e o Imposto sobre as Sucessões e Doações que incide sobre todas as transmis-sões a título gratuito de propriedade imobili-ária ou mobiliária. As transmissões sujeitas a Sisa estão igualmente sujeitas a Imposto de Selo. O Imposto sobre o Consumo, monofási-co e cumulativo, recai sobre a produção e im-portação de mercadorias, o consumo de água e energia, os serviços de telecomunicações, os serviços de hotelaria e outras actividades conexas ou similares. É de salientar, ainda, o Imposto sobre as Transacções Internacionais,

incidentes sobre a importação e exportação de mercadorias e o referido Imposto do Selo, que tributa vários actos, contratos e operações de natureza distinta. Apesar das dificuldades que subsistem, cada vez mais se reconhece internacionalmente que investir em Angola é hoje muito mais fácil. E mesmo conhecendo a concorrência de empresas provenientes de grandes potências mundiais (como a China), a crescente presença de investidores revela o desenvolvimento do país.

POLíTICA fISCAL ELOGIADAO Fundo Monetário Internacional (FMI) tem vindo a enaltecer as medidas de política fiscal e monetárias adoptadas pelo Governo para es-tabilizar as reservas líquidas internacionais do país face à crise financeira internacional. O re-conhecimento, expresso num relatório da ins-tituição, diagnosticou a situação económica e financeira do país, com principal incidência sobre os efeitos da crise economia e financei-ra internacional, e concluiu que as “medidas de política fiscal e monetária tomadas foram acertadas”. O diagnóstico do FMI permite sa-ber que, apesar dos esforços das autoridades para minimizar os efeitos da crise, o país es-tá numa situação que precisa de ajuda espe-cial do fundo, principalmente para estabilizar

a balança de pagamentos, mecanismo que re-flecte o que o país vende e compra do exterior. Nesse âmbito, foi assinado um acordo especial de financiamento com o Governo para minimi-zar os efeitos da crise na balança de pagamen-tos. O acordo especial deverá entrar em vigor a partir de Janeiro de 2010. Nos últimos meses, o Estado adoptou restrições de moeda estran-geira no mercado financeiro para estabilizar as reservas líquidas internacionais, que passaram de 19,5 mil milhões de dólares, em meados do ano passado, para 12,4 mil milhões de dólares, em função, principalmente, da queda do preço do petróleo, principal fonte de recursos. Durante seis anos, Angola teve uma taxa de câmbio regular. O Banco Nacional teve de in-jectar, nos bancos comerciais, quantidades de dólares suficientes para que a procura do dólar não fosse exponencial. Ao mesmo tempo que agradeceu a coopera-ção das autoridades angolanas pela sua aber-tura ao longo das discussões, os especialistas do FMI afirmaram que se o Governo angolano não tivesse tomado medidas de restrição da moeda externa em tempo útil, as reservas lí-quidas internacionais do país teriam sido “gra-vemente afectadas”, com reflexos negativos para um país em reconstrução e desenvolvi-mento.

sabia que A nova reforma irá rever duas das mais importantes lacunas de toda a política fiscal nacional: a dupla tribu-tação e a excessiva burocracia de todo o sistema que, segundo os especialis-tas, é a principal causa da incorrecta racionalização de recursos. Segundo Manuel Alves da Rocha, professor as-sociado da Universidade Católica, “a burocracia em excesso é uma forma de intervenção perversa do Estado na economia. Influencia a estrutura dos custos empresariais, desvia recur-sos de finalidades mais apropriadas, promove a corrupção, diminui a pro-dutividade e desvia a actividade das instituições públicas das suas verda-deiras finalidades, centradas na pres-tação de serviços de qualidade e na regulação de serviços de qualidade e dos processos de mercado”

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PODER LOCAL

dividirpara ‘reinar’

Descentralizar é um verbo que entrou definitivamente na agenda política angolana. Actualmente, não existe no país um poder local que traduza a verdadeira dimensão da sociedade civil. Na futura Constituição está consagrado o princípio da descentralização, que “inclui políticas de promoção da boa governança e de desconcentração da administração pública a níveis mais próximos da população”. Nesse sentido, “a criação de condições para a constituição de autarquias” surge como uma das áreas de intervenção prioritária para a consolidação do Estado de Direito. Uma efectivação que carece de todo o empenho do Estado na procura de respostas a temas tão sensíveis e urgentes quanto a definição do futuro da administração e poder local autárquico ao nível das suas competências, funções, dotações, poderes e articulação entre estes e o poder central. Importa criar estratégias

para a promoção de uma cultura de cidadania participativa que permita a construção de um poder local democrático forte. De acordo com a base legal proposta, é evidente que o poder central delegado não será eliminado, sendo no entanto reformulado no sentido de contemplar os governos provinciais. Os seus agentes serão responsabilizados, havendo maior transparência nos procedimentos, deixando estes de serem apenas receptáculos e canalizadores dos recursos do Estado aos diferentes níveis territoriais para passarem a deter maior autonomia e autoridade. A transferência de recursos do poder central para o poder provincial carece, contudo, de uma gestão exigente segundo critérios objectivos como seja a população, os índices de desenvolvimento ou a performance na criação de receitas próprias. Outra das questões a ser discutida é a disponibilização de meios por parte do poder central para que haja

uma desburocratização eficiente e fiável dos processos. A descentralização não pode ser sinónimo de desresponsabilização, até porque a sua principal missão é gerar bem-estar e coesão social entre as populações ao nível local. Deve haver, por isso, um compromisso do Estado com as reais capacidade de auto-financiamento das autarquias, sempre com a consciência que recai sobre si a responsabilidade quer na atribuição de recursos, quer na distribuição dos mesmos segundo princípios claros de equidade, justiça e transparência.

Um poder local forte deve ser gerador de coesão social, desenvolvimento económico, preservação da pluralidade cultural e de boas experiências democráticas

| manuela bártolo

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Não obstante Angola ter nascido sob o princípio da centralização do poder, a verdade é que, num território tão vasto, de geografia humana e natural tão diversificadas – nunca como hoje o Poder Central conheceu um contacto tão extenso e estreito com o nível local, facto para o qual sem dúvida contribuíram o fim da guerra civil, a conquista da paz e a construção gradual da ordem democrática. (Tvedten 2003)

Torna-se por isso, cada vez mais, inviável que um Estado territorialmente tão vasto, de complexas e múltiplas realidades sociais e culturais, possa por si só assegurar a longo prazo a gestão do país. A aposta no poder local, como consagra o novo projecto constitucional, tem-se revelado um imperativo de ordem prática a bem do sucesso da própria relação que, em contexto democrático, será admissível que exista entre a sociedade civil e o Estado. Um dos principais desafios já identificados tem desde logo como palavra-chave ‘educar’ – educar para a cidadania participativa, para a cultura de exigência democrática. Educar para um objectivo que, como se vê, é de longo prazo e de profundas implicações estruturais. Implica um compromisso que, perante as vicissitudes das conjunturas políticas, se revele estável e contínuo entre a estrutura de poder político e a sociedade civil - em particular daqueles que nela se encontram desde já mais habilitados para fazer uso da sua cidadania e que por isso têm responsabilidades acrescidas na emancipação efectiva dos menos favorecidos. Dos vários actores, destacam-se as elites e o seu papel ao nível local na promoção de uma cultura de partilha e de discussão democrática do poder. Promover essa cultura significa aderir a essa cultura, isto é, a uma lógica de partilha de conhecimento, de informação e de recursos, logo de poder. Num Estado de Direito, é importante que este não só crie, mas também saiba reconhecer e incentivar

SAbIA qUE...

Descentralizar traduz a existência de

um poder local democraticamente

legitimado pelo povo, autónomo

e detentor de identidade, funções,

responsabilidades e objectivos

próprios, o que não impede que

seja simultaneamente um poder

em perfeita articulação com o

Estado central e em sintonia com as

grandes metas de toda a sociedade

os comportamentos de agentes (nacionais e internacionais) que na sociedade local promovem a integração económica efectiva dos mais carenciados, da coesão social, do diálogo intercultural e inter-étnico, da igualdade de oportunidades e da participação democrática nas decisões colectivas. Por outro lado, este deve, em simultâneo, actuar como agente exemplar do sancionamento legal e da reprovação ética dos comportamentos que visem preservar feudos de acesso restrito a recursos materiais, e imateriais, como sejam o conhecimento, a informação e o poder. Desde sempre, o poder local assenta na ideia de legitimação popular, no entanto para se assegurar o cumprimento desse significado, é importante ter-se uma população alfabetizada, esclarecida, informada, logo, educada para a cidadania, pois só assim estará em condições de ser continuamente vigilante e exigente quanto ao respeito pela ordem democrática e pelos princípios de circulação do poder. O sucesso do futuro poder local radica não em si mesmo, mas na educação – do Estado e da sociedade civil, para uma cultura de partilha democrática do poder político e de aproximação do mesmo ao cidadão. A descentralização sobretudo no contexto de um poder central com capacidade de gerar riqueza pela exploração de importantes recursos naturais, não pode funcionar como um pretexto de desresponsabilização do Estado na geração de bem-estar da sua população ao nível local.

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ECONOMIA & NEGóCIOS | manuela bártolo e patrícia alves tavares

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investir nas províncias

“Os investidores começam a acreditar em An-gola como um todo e como uma alternativa segura para os seus investimentos”, conside-rou o responsável da ANIP, enquanto discursa-va acerca do tema “Angola não é só Luanda: o mercado das províncias angolanas”. A questão foi igualmente abordada pelo Presidente da Associação Industrial de Angola, José Severi-no, e pelo Embaixador de Angola em Portugal, Marcos Barrica. Recorde-se que até Setembro deste ano, o investimento privado em territó-rio nacional foi superior ao de igual período de 2008. No total, foram aprovadas pela Agên-cia de Investimento Privado 443 propostas, o que equivale a um valor global superior a 1,377 mil milhões de dólares (Janeiro a Setembro de 2009), enquanto em igual período do ano transacto, o investimento rondou pouco mais de mil milhões de dólares. Da referida injecção

de capital, 40 por cento corresponde a progra-mas financiados pelos portugueses, isto é, o equivalente a 179 projectos com uma intenção de investimento de cerca de 209,45 milhões de dólares.

A ANIP recebeu 443 propostas, o que equivale a um valor global superior a 1,377 mil milhões de dólares (Janeiro a Setembro de 2009)

Aguinaldo Jaime congratulou-se com os dados apresentados, uma vez que as estatísticas correspondem apenas às iniciativas regista-das pela ANIP. Os investimentos em sectores como o petróleo e financeiro não foram cal-

culados, pelo que o responsável garantiu que a política de incentivos do Governo para a di-versificação dos projectos começa a obter os resultados esperados. O dirigente revelou que áreas como a indústria transformadora (36 por cento do número de projectos), a constru-ção (22 por cento) e a agricultura (27 por cento) “atraem muito do investimento privado em Angola”. Quanto ao tema central da palestra - a descentralização de Luanda -, o presiden-te da ANIP referiu que, entre os 443 projectos aprovados, uma boa parte se destina a outras províncias, como Malange (com 26 projectos contra os 14 da capital), Benguela, Cabinda e Lubango, entre outras. Os valores reflectem a dinâmica do crescimento e desenvolvimen-to de Angola, susceptível de gerar empregos direccionados para fora da capital. Aguinaldo Jaime alertou os presentes sobre a vigência de um quadro legal, que os investidores “devem respeitar”. “Não há razões para a informalida-de”, esclareceu, em alusão às actividades eco-nómicas informais. Quanto ao investimento privado, o presidente da ANIP refutou as acu-sações de “optimismo exagerado”, justifican-do-se com a afluência das propostas, que têm crescido “vertiginosamente”.

O mercado nacional esteve em análise num seminário, promovido pela Associação Industrial Portuguesa – Confederação Empresarial (AIP – CE), BES e AICEP Portugal. A edição 2009 do “Portugal Exportador” decorreu em Lisboa e contou com a presença de Aguinaldo Jaime, presidente da Agência de Investimento Privado de Angola (ANIP)

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ECONOMIA & NEGóCIOS

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Dos 443 projectos aprovados, boa parte destina-se a outras províncias, como Malange (com 26 projectos contra os 14 da capital), Benguela, Cabinda e Lubango, entre outras

DIRIGENTES DEfENDEM DESCENTRALIzAçãOA 4ª edição do “Portugal Exportador” deu es-pecial atenção ao mercado angolano, uma vez que os organizadores do certame consideram que as províncias podem constituir uma opor-tunidade de internacionalização para as em-presas portuguesas, que se debatem com a crise económica, podendo assim apostar em sectores da agro-indústria, dos serviços, da construção e das indústrias tecnológica, quí-mica e metalomecânica. Aliás, o presidente da AIP, Jorge Rocha de Matos, defende que Ango-la deve ser encarada “num quadro global, com possibilidades de parcerias locais nas provín-cias e não apenas na capital”. A ocasião foi o mote para o responsável adiantar que a AIP – CE pretende organizar, já no próximo ano, múltiplas missões empresariais às províncias de Luanda, Benguela, Huambo, Huíla e Cabin-da. Marcos Barrica, Embaixador de Angola em Portugal, alertou os empresários para a im-portância de apostar nas províncias do inte-rior, pois para além de representar um desejo da sociedade angolana na necessidade de di-versificação da sua economia, é também uma estratégia ganhadora, uma vez que o Governo criou uma política de incentivos, sobretudo fis-cais, de apoio que favorece o investimento em sectores que não o petrolífero. Importa alar-gar a outras áreas, mas tal “só será possível se houver agentes privados fortes em parce-rias com os organismos estatais”, referiu. “Há um país aberto para os receber, até porque há reciprocidade no interesse de ambos os paí-ses”, concluiu. Por seu turno, Álvaro Sobrinho, presidente do banco BES, esclareceu que, sen-do a internacionalização um tema actual, não é possível fazê-lo sem instituições financeiras fortes. Destacando o crescimento do banco no país, salientou a evolução positiva do PIB desde 2002, que tem permitido assistir-se a uma “experiência gratificante do desenvolvi-mento bancário, com valorização para a so-fisticação do sector”. “Para que haja sucesso é importante estabelecer parcerias e relações com empresas locais, consolidando conheci-mentos comuns. O BES vive a economia real e aconselha: para que haja progresso é impor-

tante compreender o activo humano do país como um complemento e nunca com a ideia de substituição”. Durante o seminário, autorida-des e especialistas angolanos e portugueses abordaram ainda outras questões que devem ser consideradas na abordagem do mercado nacional e nas oportunidades que existem fo-ra de Luanda. O evento contou com a presen-ça dos responsáveis de algumas das empresas que actuam no país, como o CASBI Group, o Banco Espírito Santo Angola, a seguradora de crédito COSEC e o escritório de advogados PL-MJ, que debateram os aspectos a considerar na abordagem ao mercado nacional. O público, constituído maioritariamente por empresários com negócios (ou que pretendem iniciar) em Angola, ficou a conhecer os instrumentos de apoio à internacionalização e as novas solu-ções para iniciar o referido processo.

Sectores como a Indústria Transformadora (36% do número de projectos), a Construção (22%) e a Agricultura (27%) atraem a maior parte do investimento privado no país

Marcos Barrica, Embaixador de Angola em Portugal

Aguinaldo Jaime, presidente da ANIP

Álvaro Sobrinho, presidente do banco BES

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na mente do consumidor

ECONOMIA & NEGóCIOS IN(TO) BUSINESS | manuela bártolo

O empresário Henry Ford, conhecido entre ou-tras coisas por desprezar pesquisas de mer-cado, afirmou há mais de um século que, se tivesse perguntado aos consumidores o que queriam antes de criar o pioneiro Ford T, o resultado teria sido um cavalo mais rápido e não um automóvel. Talvez essa seja a primei-ra constatação sobre a discrepância entre o que os clientes dizem e o que eles realmente querem ou precisam. Nos últimos tempos, por desconfiar de que as pesquisas tradicionais não eram suficientes para saber o que de fac-to os consumidores queriam, muitas empre-sas passaram a observá-los em vez de apenas lhes fazerem perguntas.

Enquanto os clientes observam o produto, um equipamento chamado eye-tracking rastreia o caminho da íris de cada um deles

vIAGEM AO INTERIOR DO CéREbRODesde os anos 80 que o mais conhecido gu-ru desta corrente, o consultor Paco Underhill, colecciona cerca de 20 mil horas de vídeos em que grava o comportamento dos clientes no interior dos supermercados. Mais recente-mente, investigadores de grandes indústrias foram além e começaram, em incursões etno-gráficas, a frequentar a casa dos clientes para ver o quê, porque e como eles consomem os mais diversos produtos. Agora, a pesquisa de mercado ultrapassa outra fronteira, a de en-trar, em alguns casos literalmente, na cabe-ça dos novos consumidores. Foi o que fez a americana Kimberly-Clark com a embalagem de um novo modelo de fralda. Antes de che-gar ao mercado, o pacote passou pelo crivo de 300 mulheres. Os investigadores não per-deram tempo com perguntas. Enquanto elas observavam o produto no laboratório da em-presa, no Estado americano de Wisconsin, um equipamento chamado eye-tracking rastrea-va o caminho da íris de cada uma delas. A em-balagem escolhida atraiu mais olhares para a informação de que o produto era feito de al-godão orgânico e vitamina E, dado observado por 69% das entrevistadas. Esta nova forma de chegar aos clientes, tem reduzido drastica-mente as pesquisas com questionários, isto porque segundo vários especialistas da área

as pessoas, em geral, falam uma coisa e fa-zem outra, enquanto que com o eye-tracking é forte a possibilidade de existir um veredic-to inequívoco. A mudança de comportamen-to representa a busca de resposta para uma questão que vale centenas de biliões de dó-lares gastos em marketing, a cada ano, por empresas em todo o mundo. Para decifrar o que se passa dentro da mente dos consumi-dores e acertar o destino desses biliões, vale o rastreamento da íris através de câmaras de vídeo capazes de acompanhar clientes numa loja e estabelecer padrões de comportamento, até ao novíssimo neuromarketing, que se de-nomina pela aplicação da neurociência ao ma-rketing. Por meio de eléctrodos que captam variações na actividade cerebral, acredita-se que hoje seja possível medir a reacção das pessoas a marcas ou produtos. É, por isso, es-tranho perceber quanto tempo demorou para a ciência e o marketing se unirem. De acordo com o consultor de marcas dinamarquês Mar-tin Lindstrom, especialista em neuromarke-ting, no seu livro “A Lógica do Consumo”, “a ciência existe desde que começamos a ques-tionar-nos sobre o nosso comportamento. E o marketing, uma invenção do século XX, faz perguntas do mesmo tipo há mais de 100 anos”. Algumas das tecnologias hoje aplica-das ao marketing já estavam disponíveis há

Uma série de novas tecnologias está a ajudar as grandes empre-sas a identificar desejos e prefe-rências dos clientes sem que eles precisem dizer uma única palavra

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35 ECONOMIA & NEGÓCIOS · ANGOLA’IN |

ECONOMIA & NEGóCIOS

algum tempo, mas ficaram por décadas restri-tas ao campo científico. Os estudos que base-aram a análise do eye-tracking, por exemplo, remontam aos anos 60. O psicólogo russo Alfred Yarbus publicou, em 1967, o primeiro trabalho científico em inglês que relaciona o movimento dos olhos à atenção. A teoria saiu do mundo académico para ter uma aplicação comercial massiva apenas neste século. Pa-ra empresas como a Kimberly-Clark, o uso do rastreamento da íris só se tornou sistemático com a criação da sua loja virtual, inaugurada há quase dois anos. Algo semelhante acon-teceu com a Procter&Gamble, que inaugurou um moderno laboratório para pesquisas, ape-lidado de The Cave (ou “A caverna”), em Julho de 2006, na sua sede, em Cincinatti. Nos dois casos, trata-se de um espaço com ecrãs capa-zes de reproduzir virtualmente o ambiente de uma loja. Os consumidores sob investigação podem simular que empurram um carrinho de compras entre as prateleiras de um supermer-cado. Enquanto passeiam, o eye-tracking faz o resto do trabalho - detecta o que mais cha-ma a atenção das pessoas, seja numa emba-lagem, seja numa peça publicitária.

Segundo especialistas, as pessoas, em geral, falam uma coisa e fazem outra. Com o eye-tracking é forte a possibilidade de existir um veredicto inequívoco

NEUROMARkETINGNada representa de maneira mais literal, po-rém, a intenção de entrar na mente do consu-midor do que o neuromarketing. Nos últimos cinco anos proliferaram consultorias especia-lizadas em pesquisas de mercado por meio do monitoramento das ondas cerebrais. Boa parte delas usa equipamentos semelhantes a capacetes e dezenas de sensores conectados à cabeça, num eletroencefalograma, que me-de o fluxo dos impulsos eléctricos. É comum que algumas dessas empresas especializadas combinem ao mesmo tempo a avaliação do batimento cardíaco, temperatura corporal e dilatação da pupila para ajudar a avaliação du-rante a pesquisa. De acordo com A.K. Prade-ep, fundador da NeuroFocus à revista EXAME brasileira, este processo permite interpretar reacções em três aspectos: o envolvimento emocional, o nível de atenção e a retenção na memória”. A NeuroFocus é uma das maiores consultorias de neuromarketing do mundo, comprada pelo grupo Nielsen, em Fevereiro de

2008. Ora como é de imaginar, tanta tecnolo-gia não custa barato. Estima-se que a avalia-ção de um produto ou uma campanha através da monitorização da actividade cerebral pos-sa custar até 10 mil dólares para um grupo de 20 pessoas -- em média, dez vezes mais do que uma pesquisa tradicional. Uma reporta-gem publicada pelo jornal The New York Times mostra que o uso da neurociência associado a outras técnicas tem ajudado as marcas a defi-nir a cor da embalagem e a ressaltar informa-ções que interessam aos clientes. Nem todas as novas tecnologias são tão, digamos, inva-sivas. É o caso das câmaras de vídeo. Trata-se de uma espécie de versão 2.0 do princípio criado pelo consultor Underhill. A diferença é que, em vez de simplesmente colocar alguém para assistir às cenas detectadas no momen-to da compra, programas de computador processam automaticamente informações e

O valor de uma marca pode ser uma coisa inconstante. É impossível medir com precisão e esta pode ser afectada por inúmeros factores voláteis, mas no final do dia, se um consumi-dor está disposto a pagar mais por uma marca em detrimento de outra, em seguida torna-se um valor essencial de um indicador global do valor da empresa. Em nenhum lugar isto é mais importante do que na indústria automóvel, em que a percepção de um consumidor de uma marca pode muitas vezes ser o factor decisivo quando se trata de comprar um carro novo. Um dos melhores indicadores de como é valiosa cada marca em comparação com os seus rivais é o Best Global Brands, levantamento anual realizado pela empresa de consul-toria Interbrand e BusinessWeek. No valor de marcas de automóveis, como é habitual, a Toyota domina a lista global. A concorrente mais directa é a Mercedes-Benz com um valor de $ 25.6 bilhões, seguida pela BMW.

DADOS CORPORATIVOS› Origem: Alemanha› Fundação: 1871› Fundador: Karl Benz, Gottlieb Daimler e Wilhelm Maybach› Sede mundial: Stuttgart, Alemanha› Proprietário da marca: Daimler AG› Capital aberto: Sim› Chairman: Dieter Zetsche› Facturação: €99.39 biliões (2008)› Lucro: €3.97 biliões (2008)› Valor de mercado: €40.1 biliões (Setembro/2009)› Valor da marca: US$ 23.867 biliões (2009)› Produção: 1 milhão unidades/ano› Presença global: 180 países› Ícones: A estrela de três pontas de seu logotipo› Slogan: The Future of the Automobile.

DEZ PRINCIPAIS MARCAS AUTOMÓVEL EM ORDEM E VALOR: 1 ) Toyota - $ 34 b 2 ) Mercedes-Benz - $ 25.6 b 3 ) BMW - $ 23.3 b 4 ) Honda - $ 19.1 b 5 ) Ford - $ 7.9 b 6 ) Volkswagen - $ 7 b 7 ) Audi - $ 5.4 b 8 ) Hyundai - $ 4.8 b 9 ) Porsche - $ 4.6 b 10 ) Lexus - $ 3.6 bFonte: Motor Authority

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ECONOMIA & NEGóCIOS IN(TO) BUSINESS

INOvAçãO, COMPETIçãO E RIqUEzAApós dois anos de pesquisas e um investi-mento de 6,9 milhões de dólares, o Massachu

produzem estatísticas. É possível, por exem-plo, identificar corredores mais e menos fre-quentados apenas num clique de computador. O sistema também consegue calcular quanto tempo em média os consumidores ficam em frente a cada uma das prateleiras antes de escolher um produto. Já existem softwares tão sofisticados que conseguem até mesmo identificar se quem está ali é um homem ou uma mulher. A indiana Pryia Baboo, vice-pre-sidente da consultoria Videomining, que diz ter mais de 1 000 câmaras espalhadas por lo-jas dos Estados Unidos a serviço de clientes como Hershey’s e Nestlé, conta que uma das

suas principais descobertas aconteceu num lojista americano. Com o auxílio dos softwa-res da consultoria, o comerciante percebeu que 15% dos consumidores que entravam na loja ficavam parados em frente às pratelei-ras de sumo até 90 segundos e saíam sem levar nada. A solução para melhorar as ven-das, segundo Pryia, apareceu após a análise detalhada do porquê da demora em frente à prateleira. “A empresa decidiu diminuir as opções de sabor e marca porque notou que aquela multiplicação deixava o cliente con-fuso”, explica. Recentemente, a fabricante de produtos desportivos Adidas instalou câ-

rostos da marcaPara contar a gloriosa história da Mercedes-Benz é preciso primeiro entender quem foram os homens responsáveis pela sua criação.KARL BENZ - Nascido em 1844, é considerado o criador do primeiro veículo movido a com-bustão interna na cidade de Mannhein, na Alemanha, em 1886, onde mantinha uma pequena oficina. O veículo era um triciclo com tracção nas rodas traseiras, monocilíndrico e com 984cc. Desenvolvia uma velocidade máxima de 16km/h. O veículo incorporava à época muitas solu-ções ainda utilizadas nos veículos modernos, como refrigeração à água, ignição eléctrica e dife-rencial. O primeiro automóvel de quatro rodas de Benz, o Victoria de 1892, foi também a base para a criação do primeiro autocarro construídos em 1895. O primeiro automóvel com produ-ção em série foi o Benz Velo. Em 1898, foram usados pneus de borracha no Benz Confortable e em 1899 no primeiro carro de corrida. A Benz & Cia., não só se tornou a primeira linha de mon-tagem, como também a maior do mundo no início do século XX. Em 1903, surge o Benz Parsifal inspirado nos conceitos de design dos automóveis Mercedes de Daimler.GOTTLIEB DAIMLER - Nascido em 1834, formou-se engenheiro aos 25 anos na Escola Politéc-nica de Stuttgart. Associou-se ao Sr. Wilhelm Maybach (grande projectista, criador dos clássi-cos e legendários automóveis Maybach) e produziram juntos, em 1885, a primeira motocicleta do mundo. Em 1886, alguns meses após o triciclo de Benz, construíram a primeira carruagem movida a um motor refrigerado a ar. Em 1890, fundou a Daimler Motoren-Gesellschaft (conhe-cida como DMG). Em 1893, por motivos de rivalidades entre os sócios Daimler e Maybach sa-em da empresa. De volta, em 1895, produziram o Phoenix em 1897, o primeiro automóvel com motor frontal. Dois anos depois veio o primeiro motor 4 cilindros de 28hp.O pioneirismo destes homens fez com que coleccionassem outras conquistas como a constru-ção do primeiro camião com motor a gasolina e a diesel do mundo.

maras capazes de contar automaticamente o movimento dos clientesnas suas 27 unida-des (até então a empresa usava um método menos preciso, sem o recurso às câmaras.) “Estamos a estudar como usar a informação para medir a eficiência de promoções e de mudanças de montra nas lojas”, afirma Fábio Mendes, gerente de retalho da Adidas. Esta onda das novas tecnologias mostra que o re-lacionamento que as empresas mantêm com os consumidores hoje é muito mais sofisti-cado que nos tempos de Henry Ford. Mais de um século depois, o antigo empresário ame-ricano parece continuar certo num ponto: é preciso ir além das pesquisas de mercado tradicionais para entender o que se passa na cabeça do consumidor.

MERCEDES, UMA MARCA DE SONhOOs seus automóveis são o sonho de consu-mo da maioria dos mortais. Um Mercedes é destinado a quem tem paixão por carros e por todos os valores que a marca agrega, como forte personalidade, imagem mundial, requinte, qualidade, tecnologia e vanguarda. Pioneira no lançamento de tendências tec-nológicas, oferece onze série de automóveis, compreendendo 109 versões de modelos que englobam praticamente todos os segmen-tos. A abrangência da gama de produtos é uma das principais razões pela qual vende anualmente cerca de 1 milhão de automóveis. A marca tem hoje cerca de 6.4 milhões de clientes, proprietários de aproximadamente 9.5 milhões de automóveis. Além de produzir carros, fabrica também motores para aviões e camiões. Actualmente, cria também protóti-pos de motores para a equipa de Fórmula 1 da McLaren.

‘fLEChAS DE PRATA’O mito começou na década de 30, quando a Mercedes-Benz e Auto-Union (actual AUDI) criaram carros imbatíveis que disputavam en-tre si o domínio das pistas. Com carroçaria de alumínio sem pintura, entraram para a histó-ria como as ‘Flechas de Prata’. O primeiro deste

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ECONOMIA & NEGóCIOS

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ECONOMIA & NEGóCIOS IN(TO) BUSINESS

mitos, chamado W125, tinha chassis de liga de aço com cromo, níquel e molibdênio e carroçaria de alumínio, que pesava menos graças ao tru-que descoberto, em 1934, no modelo W25. Até àquele ano os Mercedes de corrida eram pinta-dos de branco, a cor da Alemanha para as com-petições. Como o carro estava com peso acima do permitido pelo regulamento, os engenhei-ros não tiveram dúvida - rasparam toda a tinta, deixando os carros com o alumínio da carroçaria reluzindo. As “flechas de prata” ganharam sete das onze provas disputadas, com a primeira vi-tória em Tripoli, na Itália. Depois, veio a II Guer-ra Mundial e as Flechas de Prata só voltaram a correr em 1954, graças ao esforço da Merce-des-Benz, que retornou às pistas com o modelo W196. Construídos com a mais alta tecnologia da época, os W196 deixaram todos os outros carros obsoletos. A marca não economizou di-nheiro na construção dos seus novos modelos. Havia duas carroçarias, uma tradicional e outra usada somente em circuitos de alta velocidade, que cobria as rodas. Os modelos W196 domi-naram as temporadas de 1954 e 1955 dirigidos pelos pilotos Juan Manuel Fangio, Stirling Moss e Karl Kling. Com oito cilindros, 2982 cm3 de ci-lindrada, potência até 310 cv e uma velocidade máxima acima dos 300 Km/h, este “Flecha de Prata” conquistou em 1955 os primeiros luga-res nas mais consagradas provas automobilís-ticas: Mille Miglia, Targa Florio, Tourist Trophy, Eifelrennen, bem como no Grande Prémio da Suécia. Teriam feito ainda mais, mas a Merce-des-Benz resolveu abandonar as competições depois do acidente nas 24 Horas de Le Mans de 1955, em que morreram o piloto Pierre Levegh e 81 espectadores.

o segredoPara vender carros que chegam a custar 3 mi-lhões de dólares, a empresa submete os seus vendedores a um rígido programa de ven-das. Todos recebem orientações básicas sobre mecânica, comportamento do consumidor, etiqueta e cultura geral. São três fases de ins-trução, com intervalo de seis meses entre elas. As aulas são ministradas por professores formados na matriz

SAbIA qUE...

O mundialmente famoso símbolo da Mercedes teve um início profético. Representando a tri-plicidade das actividades da Daimler, fabricante de motores para uso em terra, mar e ar, a estre-la de três pontas foi adoptada como logótipo em 1909, após a morte de Gottlieb Daimler, apesar de ter aparecido pela primeira vez no ano de 1901 num automóvel da marca. Foi inspirada numa figura que ele tinha desenhado num postal, que endereçou à sua esposa com o seguinte comentário: ‘um dia essa estrela brilhará sobre a minha obra’. Ao longo dos anos, o símbolo passou por várias alterações. Em 1923, foi acrescentado o círculo. E três anos depois, com a fusão das empresas Daimler e Benz, foi incluída a coroa de louros, pertencente ao logótipo da Benz. A forma definitiva foi adoptada em 1933 e desde então mantém-se inalterada. As peças (principalmente chaves, motores, suspensões, etc.) produzidas pela marca são únicas e difíceis

de serem ilegalmente copiadas

w196

w125

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ECONOMIA & NEGóCIOS

O MUSEUA marca que inventou o automóvel também reinventou o museu do automóvel. Em Abril de 2006, foi inaugurado em Stuttgart, na Ale-manha, o Novo Museu Mercedes-Benz. Cons-truído em tempo recorde (apenas dois anos e meio), o novo museu possui um design arro-jado e é o único no mundo que apresenta 120 anos da história da indústria automóvel, des-de o seu princípio. São 160 veículos e mais de 1.500 outros produtos expostos ao visitante em duas passagens conectadas, que ocupam 16.500 metros quadrados distribuídos por no-ve andares. Além de apresentar a história da marca, o museu também oferece um olhar re-velador sobre o futuro. A dualidade passado e futuro também está presente na arquitec-tura do edifício. O interior foi modelado com a estrutura da espiral do DNA, que carrega os genes humanos, para ilustrar a filosofia ori-ginal da Mercedes-Benz, ou seja a invenção contínua de coisas completamente novas pa-ra manter a mobilidade, desde a invenção do automóvel, até à visão, orientada para o fu-turo, sobre a condução livre de acidentes. Em pelo menos duas horas de passeio pelo mu-seu, os visitantes podem acompanhar os 120 anos da história do automóvel como uma jor-nada pelo tempo. Um elevador leva-os até ao andar mais alto, de onde saem duas rotas em espiral, metaforicamente representando a ge-

nética da marca, para que os visitantes pos-sam descer por nove andares. Pela primeira rota, há sete “Salas Lendárias” que contam a história da marca em ordem cronológica. A se-gunda rota agrupa veículos em cinco “Salas de Colecção” que apresentam o variado portefó-lio da marca através do tempo. Uma novidade é que o museu também documenta os mais de 100 anos de história de veículos comerciais da empresa. Os visitantes podem trocar de ro-ta a qualquer momento. Ambas terminam na curva “Flechas de Prata - Corridas e Recordes”, onde estão expostas as lendárias Mercedes. Nesta área, também são exibidos trechos de filmes de corridas históricas. Pertences de fa-mosos pilotos de corrida, dois simuladores e um workshop de corrida oferecem aos visitan-tes uma oportunidade de entrarem no fasci-nante mundo das competições. A exposição “A Fascinação da Tecnologia” oferece a opor-tunidade de espreitar o dia-a-dia de trabalho dos engenheiros e proporciona uma visão do futuro do automóvel. As “Salas de Colecção” mostram a variedade de veículos de acordo com tópicos. Estes tópicos vão desde o trans-porte por táxi e automóveis, até ao transporte de mercadorias e distribuição, passando pe-la “Galeria de Ajudantes” no combate ao in-cêndio, serviços de emergência e operações municipais, até veículos VIP’s e, finalmente a “Galeria de Heróis” - um número incontável

de veículos altamente eficientes que continu-am a realizar as suas actividades pelo mundo. Nestas salas o visitante pode ver exposições como o “Papamóvel” usado pelo Papa João Paulo II. Veículos com uma história própria, que, em alguns casos, ajudaram a escrever a história. A exposição “A Fascinação da Tecno-logia”, com acesso individual, ocupa uma posi-ção especial. Exibida num contexto altamente sofisticado, proporciona uma visão do traba-lho dos engenheiros de desenvolvimento da marca e, portanto, do futuro do automóvel. O museu também disponibiliza um restaurante, um café e várias lojas. Uma ligação directa ao Centro Mercedes possibilita ainda uma transi-ção da lendária marca desde os modelos clás-sicos, até à actual linha de produtos.

CuriosidadeSegundo a consultoria britânica Inter-

brand, somente a marca Mercedes-Benz

está avaliada em US$ 23.867 biliões, ocu-

pando a 12ª posição no ranking das marcas

mais valiosas do mundo

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SOCIEDADE

O PREÇO JUSTO

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Ao comprar produtos de comércio justo, o consumidor tem a garantia de que está a fomentar uma cadeia comercial alicerceada em princípios éticos

Certamente já ouviu alguém dizer que “o preço justo é aquele que o cliente se dispõe a pagar”. Uma frase habitual em situações comerciais, tida como um instrumento de venda, que su-gere que os produtos devem ser comerciali-zados pelo preço mais alto possível, no limite da disponibilidade e interesse dos seus con-sumidores.

Quando há margem para negociar com os clientes até poderá fazer sentido. Não é, no entanto, o que ocorre no âmbito do comércio internacional, marcado pela oferta de produ-tos superior à procura e pela alta volatilidade de preços. Num mercado como o actual, do-minado por grandes corporações, quais são as hipóteses de sucesso de pequenas comu-nidades produtoras da zona rural da América Latina, África ou Ásia? Algo próximo a zero, obviamente.

Como não têm volume no sistema de capital,

estes agricultores têm restrições de acesso a crédito, o que os torna frágeis frente à varia-ção dos preços. São pequenas propriedades e, portanto, não há como se defender com uma produção em larga escala. A escassez de re-cursos financeiros, por outro lado, impede a aquisição de novas tecnologias. O acesso à in-formação destes grupos é baixo, dificultando o desenvolvimento da organização de coope-rativas que, na maioria das vezes, só ocorre mediante a assessoria de agentes externos, como as ONG’s, por exemplo. Os pequenos produtores são presa fácil para as grandes em-presas, que compram os seus produtos a pre-ços “injustos”, muitas vezes pagando menos do que o próprio custo de produzi-los. O resul-tado desta equação é o aumento da pobreza, miséria, violência e a degradação ambiental. Ora é neste contexto que se insere o Comércio Justo (Fair Trade), podendo ser encarado co-mo uma ferramenta contra os malefícios de um sistema comercial injusto e socialmente excludente. Ao comprar produtos de comér-cio justo, o consumidor tem a garantia de que está a fomentar um cadeia comercial alicer-ceada em princípios éticos. Este é tido como uma forma de comercialização alternativa ao modelo proposto pelo capitalismo, que pres-supõe exclusivamente a maximização de lu-cros, a despeito de outros valores e critérios. Tal interpretação, no entanto, perdeu sentido

com a decadência das economias socialistas. Actualmente, o esquema de comercialização fair trade é visto como uma evolução natu-ral do sistema capitalista, que, na esteira do desenvolvimento sustentável, pauta as suas relações pela ética, assimilando lucro e res-ponsabilidade social. O comércio justo é, por isso, definido como “uma parceria de comércio baseada no diálogo, transparência e respeito, que procura um maior grau de igualdade no comércio internacional. Contribui para o de-senvolvimento sustentável oferecendo me-lhores condições comerciais e protegendo os direitos de produtores e trabalhadores margi-nalizados, especialmente no hemisfério Sul”. Na prática, o fair trade funciona da mesma maneira que o comércio “normal”, uma rela-ção de compra e venda como outra qualquer. A diferença é que as partes se comprometem a seguir determinados princípios, garantindo que os produtores não sejam “espremidos” em negociações comerciais.

O avanço do comércio justo parece depender fortemente de uma maior consciencialização dos consumidores para os custos sociais e ambientais da produção

| manuela bártolo

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SOCIEDADE

PODER AO CONSUMIDOR O consumidor exerce um papel fundamental no comércio justo, pois é ele que garante a demanda destes produtos. Ao optar pelo fair trade, o consumidor tem a certeza de que co-munidades socialmente excluídas não estão a ser injustiçadas nas transacções comerciais.

Mas como ter certeza que os pequenos produ-tores estão a ser efectivamente beneficiados pelas garantias do comércio justo? A respos-ta a esta pergunta revela um dos grandes di-ferenciais do sistema. Para que o fair trade realmente funcione, é necessário o envolvi-mento de todos os actores da cadeia de co-mercialização - desde o pequeno produtor, até ao consumidor final, passando pelos importa-dores e exportadores, distribuidores e comer-ciantes. As organizações de comércio justo garantem as “boas práticas” de diversas for-mas distintas. Por exemplo, adoptam o pro-cesso de certificação em cadeia, com auditoria realizada por organismo externo. É preciso que produtores, distribuidores e comercian-tes sejam fiscalizados para que um produto chegue até às prateleiras dos supermercados com o selo oferecido pela organização. E para comercializar os produtos certificados, as or-ganizações estabelecem o preço mínimo que o distribuidor tem de pagar aos produtores, independentemente das oscilações do mer-cado internacional. Esta imposição de pre-ços deriva de estudos económicos realizados por técnicos da própria instituição e varia de região para região. Outra exigência é o paga-mento de um “prémio social” aos produtores, ou seja, um valor adicional pago por unidade de produto comercializado, que é destinado a projectos sociais nas suas comunidades. Vá-rios organismos têm vindo a desenvolver os

seus processos de certificação, porém sem verificação externa. Embora sejam organiza-ções sérias e comprometidas com os objecti-vos do comércio justo, com rígidos controlos de certificação, nem todas os mercados reco-nhecem isto como uma garantia efectiva. Há, ainda, organizações que se valem do seu his-tórico de conduta e na credibilidade das suas marcas para garantir o comércio justo. Um dos ícones desta prática é a cadeia de lojas ingle-sa The Body Shop, que ao contrário de outras organizações, não comercializa alimentos, e sim produtos manufacturados (cosméticos, perfumes, etc...). É possível também comprar produtos fair trade na Europa, com a garantia das “boas prácticas”, nos mais de 2.000 world shops espalhados pelo velho mundo.

hORA DA MUDANçAAdoptar critérios meramente financeiros na es-colha de produtos, simplesmente ignorando o caminho percorrido entre os campos e as pra-teleiras dos supermercados, nem sempre é a melhor alternativa, pois é vergonhoso tapar os olhos a eventuais abusos comerciais ou a práti-cas nocivas ao meio ambiente.Se é possível comprar café com a garantia de que quem o plantou e colheu foi remunerado dignamente, porquê escolher outro produto que não oferece as mesmas garantias? É uma quali-dade a mais no produto, tão importante quanto o preço ou a higiene. Não é à tôa que o comércio justo é um movimento que cresce ano após ano, em níveis superiores ao Produto Interno Bruto (PIB) e que alcança dezenas de países em todo o mundo. Embora os produtos de comércio jus-to ainda não sejam tão conhecidos, já é possível encontrá-los e consumi-los. E para quem pro-duz, há cada vez mais uma enorme procura de consumo no âmbito do comércio internacional.

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CONHEÇA OS PRINCÍPIOSQUE REGEM O MOVIMENTODE COMÉRCIO JUSTO:

1. Criação de oportunidades para os pro-dutores economicamente desfavorecidosO comércio justo é uma estratégia de combate à pobreza e desenvolvimento sustentável. O seu objectivo é o de criar oportunidades para os produtores economi-camente desfavorecidos ou marginalizados pelo sistema de comércio convencional

2. Transparência e ResponsabilidadeO fair trade envolve uma gestão transpa-rente das relações comerciais para tratar de forma justa e respeitosamente com os par-ceiros comerciais.

3. Construção de CapacidadesEste é um meio para o desenvolvimento dos produtores e da sua independência.

4. Pagamento de um preço justoUm preço justo, no contexto regional ou lo-cal é aquele que tenha sido acordado atra-vés do diálogo e da participação. Além de cobrir os custos de produção, também per-mite uma produção socialmente justa e ambientalmente racional. Ele oferece um salário justo para os produtores e leva em conta o princípio da igualdade de remune-ração por trabalho igual entre mulheres e homens.

5. Equidade de géneroComércio Justo significa que o trabalho das mulheres é devidamente valorizado e re-compensado. Estas são sempre pagas pela sua contribuição para o processo de produ-ção e estão habilitadas no seio das suas or-ganizações.

6. Condições de trabalhoO fair trade proporciona um ambiente de trabalho seguro e saudável para os produto-res. A participação dos filhos (se for o caso) não afecta negativamente o seu bem-estar, segurança e requisitos educacionais, estan-do em conformidade com a Convenção das Nações Unidas para os Direitos da Criança, bem como a legislação e normas no contex-to local.

7. O ambienteO Comércio Justo incentiva activamente melhores práticas ambientais e a aplicação de métodos de produção responsável.

um por todos e todos por umO comércio justo é um movimento que guarda semelhanças com diversas outras

iniciativas de desenvolvimento sustentável, pois mantém laços com o consumo

consciente, introduzindo a responsabilidade sócio-ambiental no acto da compra. Um

produto de comércio justo é certamente um alvo para consumidores conscientes

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SOCIEDADE

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ONDE ESTá O COMéRCIO jUSTO?O sector produtivo do comércio justo, ou seja onde os produtos são cultivados ou produzidos, localiza-se no Hemisfério Sul da terra, particu-larmente no continente africano, sul da Ásia e em regiões pobres da América do Sul. O mer-cado consumidor de produtos oriundos deste comércio, por sua vez, encontra-se do outro la-do do globo, no hemisfério Norte. Alemanha, Holanda, Inglaterra, Estados Unidos e Canadá são os principais compradores. Tal eixo de co-mercialização, do Sul para o Norte, obedece a razões históricas. Na década de 1960, época do aparecimento do fair trade, o mundo era dividi-do entre os países ricos do hemisfério Norte e os pobres do Sul. O avanço do capitalismo globali-zado, no entanto, fez esta configuração perder nitidez, com o surgimento de bolsas de pobre-za no Norte e a proliferação de elites abastadas em países do Sul. O comércio justo foi natural-mente criando novas rotas de comercialização, que atendessem com mais eficiência à nova geografia da pobreza mundial. O Brasil é um dos destaques, por ter se tornado, em 2007, o primeiro país que é simultaneamente produtor e consumidor de produtos de comércio justo. O fair trade sempre foi mais intenso na área dos produtos alimentares (café, cacau, mel, chá, frutas etc). Porém, há perspectivas de amplia-ção deste sistema para o sector dos serviços. Um exemplo seria o “turismo responsável ou solidário”, baseado em sinergias entre o comér-cio justo de produtos artesanais ou alimenta-res, solicitados pelos turistas, e um turismo que seja exercido sem agressões ao meio am-biente e em benefício das populações locais. Da mesma forma, o comércio justo mantém vín-culos com estratégias de desenvolvimento ba-seadas em APLs - Arranjos Produtivos Locais (formas de partilhar conhecimentos e tecnolo-gias entre empresas da mesma cadeia produti-va ou entre empresas que actuam no mesmo mercado, que podem fortalecer as próprias em-presas e promover o desenvolvimento econó-mico local). Tanto o comércio justo, quanto os APL’s supõem a existência de relações de cola-boração e confiança entre os agentes económi-cos, bem como a aceitação do pressuposto de que o equilíbrio da sociedade deve estabelecer parâmetros para a procura de lucro. Até ao mo-mento, as marcas registradas internacionais de comércio justo baseiam-se num controlo verti-cal da cadeia de produção e comercialização dos produtos. A atribuição de marcas registra-das por produto aplica-se a mercadorias cujas cadeias produtivas e comerciais podem ser ob-jecto de acompanhamento e controlo. A IFAT (International Federation of Alternative Trade)

é a rede mundial direccionada para o desen-volvimentodo fair trade e conta com mais de 220 organizações em 59 países. Cerca de 65% dos membros estão localizados na Ásia, África e América Latina, e os demais estão espalha-dos na América do Norte e Europa. Embora em crescimento, o futuro das práticas de comércio justo dependerá não apenas da adesão das pe-quenas empresas interessadas no tema, mas também do envolvimento de corporações so-cialmente responsáveis, que estejam dispostas a conectar tais práticas às suas cadeias produ-tivas, do compromisso dos governos democrá-ticos com políticas de desenvolvimento local sustentável e da participação de organizações da sociedade civil e consumidores interessados em promover formas mais equilibradas e soli-dárias de produção e consumo.

Sugestão de leituraComo podem os países menos desenvolvidos ser ajudados a se desenvolverem a

si mesmos num contexto de comércio livre e mais justo? No provocador e con-

troverso livro ‘Comércio Justo para Todos’ de Joseph E. Stiglitz, Prémio Nobel

da Economia, e de Andrew Charlton, pode descobrir mais sobre um dos prin-

cipais desafios enfrentados pelos actuais líderes mundiais. Os mesmos pro-

põem um novo e radical modelo de gestão para as relações comerciais entre os

países mais ricos e os mais pobres. Com uma escrita acessível e repleto de da-

dos empíricos e análises rigorosas, este livro é essencial para as pessoas interessa-

das no comércio mundial e no tema do desenvolvimento

Sabia que...O comércio justo mundial cresceu a taxas médias

anuais de 20% entre 1997 e 2007. O fair trade cer-

tificado foi responsável, em 2006, por uma factura-

ção superior a 1,6 biliões de euros, um crescimento

de 42% em relação ao ano anterior. Estima-se que

1,5 milhões de pequenos produtores tenham sido

beneficiados com as garantias fair trade na África,

Ásia e América Latina

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São elementos decisivos e estratégicos no processo de implementação da paz. O país não seria certamente o mesmo sem a pre-sença das ONG’s. O facto de estarem imple-mentadas no seio das comunidades é uma mais-valia, pois conhecem de perto a realida-de e têm a possibilidade de analisar os pro-blemas caso a caso. As ONG’s desenvolvem um dos trabalhos mais louváveis. Apoiam áreas estruturais como a educação, saúde, ambiente, alimentação, reconstrução e apoio social. Recentemente as associações huma-nitárias tiveram um papel importante no au-xílio aos refugiados da RD Congo, através da doação de medicamentos. Assumem-se co-mo o principal parceiro do Estado e da Orga-nização Mundial de Saúde (OMS) no combate ao flagelo da SIDA. Sem o seu contributo, o nível de crescimento nacional e o grau de de-senvolvimento humano e social registariam valores bastante preocupantes. A diplomacia

ong’s Diplomacia nãogovernamentalActuam em todos os pilares da sociedade e são, de certo modo, os parceiros mais rentáveis do Estado. As Organizações Não Governamentais (ONG’s) trabalham com escassos recursos financeiros e contam quase em exclusivo com o apoio de voluntários e empresas, que abnegadamente contribuem para a valorização da sua componente social, através da cedência de bens ou doações monetárias. Nesta edição, a Angola’in traça o perfil das associações, cujos rostos a maioria desconhece, mas que detêm um papel fundamental junto das comunidades

não governamental é um dos agentes na pre-venção e resolução de conflitos, sendo res-ponsável pelo acesso das populações à água e saneamento, pela angariação de financia-mento para o desenvolvimento, pela sensibi-lização para questões como a desigualdade/ exclusão social e as mudanças climáticas. A Angola’in faz o balanço do trabalho desen-volvido nos últimos anos, revelando alguns projectos e apresentando os seus principais ‘actores’.

fORçA DO vOLUNTARIADOEm Angola, a maioria das ONG’s labora sem capacidade financeira, pelo que grande par-te dos seus colaboradores são voluntários a tempo inteiro. Uns são oriundos de outros pa-íses, outros são cidadãos locais, que desejam ajudar no desenvolvimento do próprio país, auxiliando os grupos e as áreas mais margi-nalizadas. A Angola’in teve acesso a um es-

tudo desenvolvido por Alessandra Fayet, que entrevistou os principais intervenientes nas ONG’s, como João Castro, da FONGA (Fórum das Organizações Não Governamentais de Angola); Peter Matz, da Unicef e João Kiala, da Cruz Vermelha (CV). A investigação refere que a CV Angolana, a Caritas Angola e a ADRA (associação local ligada à agricultura) são as entidades que reúnem mais voluntários (ul-trapassam a centena). A maioria são técnicos profissionais que colaboram nas campanhas de conhecimento, de segurança alimentar e na construção de infra-estruturas comunitá-rias. Segue-se o pessoal médico, os jovens, os chefes das comunidades e os professores.

“A maioria das ONG’s trabalha sem capacidade financeira, pelo que grande parte dos seus colaboradores são voluntários a tempo inteiro”

PRIvADOS ‘SOLIDáRIOS’As empresas, cada vez mais preocupadas com a componente social do seu negócio, são importantes financiadoras das associações. O referido estudo indica que existem múltiplos doadores internacionais a investir no país, em que se destacam as companhias petrolíferas e de cooperação bilateral. A Chevron/ Texaco

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SOCIEDADE | patrícia alves tavares

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apoia a formação e programas na província de Cabinda. As companhias petrolíferas Es-so, Total e BP possuem alguns projectos para a Responsabilidade Social Colectiva. A União Europeia é um dos principais elementos dina-mizadores. Em Setembro, os seus represen-tantes anunciaram que vão disponibilizar 4.5 milhões de euros, para projectos de impactos sociais e económicos a favor das comunida-des. Na primeira fase, o plano abrange ONG’s nas províncias da Huíla, Benguela, Huambo, Bié, Kuando Kubango, Kwanza Norte e Kwan-za Sul e abarca iniciativas na saúde, sanea-mento básico e agricultura, entre outros. A UE, que na Huíla patrocina mais de quatro or-ganizações, afiança que vai continuar a ajudar o Governo na construção de infra-estruturas escolares, postos médicos e nos programas agro-pecuários e económicos. Já a Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento divulgou que possui uma carteira avaliada em 72 milhões de euros a ser aplicada em projectos sociais. O director, Jo-sep Puig confirmou que estão em execução programas sociais em sete províncias, num total de 77 intervenções em áreas de serviços sociais básicos, como educação, saúde e sa-neamento.

“As plataformas nacionais de ONG’s acompanham as negociações regionais e internacionais intergovernamentais, fomentando o diálogo e pressionando os governos e instituições relevantes”

hUMANITáRIOSA Inspecção Nacional dos Voluntários das Na-ções Unidas revela que existem quase 300 ONG’s locais registadas e mais de 120 detêm projectos em implementação. A Comissão de Organizações Não Governamentais em An-gola tem como missão a coordenação das actividades e desenvolve o trabalho de ad-vocacia com o Governo. A Rede Humanitária Angolana é a responsável pelo intercâmbio de informações entre organizações, que ac-tuam a todos os níveis, desde os assuntos relacionados com a cidadania, justiça e paz, redução da pobreza e habitação ao apoio a crianças e jovens, às acções humanitárias, ao programa de desminagem, ao desenvolvi-mento sustentável e ao combate e prevenção da SIDA. As plataformas nacionais de ONG’s agregam a maioria das associações (de de-

senvolvimento, de emergência e ambientais) e acompanham as negociações regionais e internacionais intergovernamentais, fomen-tando o diálogo e pressionando os governos e instituições relevantes.

AGENTE SOCIALEstas organizações constituem um dos prin-cipais agentes do apoio social e humanitário, elaborando projectos vitais para o desenvol-vimento das comunidades mais recônditas e carentes, promovendo acções de formação/alfabetização, criando lares, creches, etc. As internacionais investem largamente no sec-tor, pois têm maior facilidade em adquirir apoios para esta causa junto dos países de origem. É o caso da ONG americana “Fundo de Cristãos para as Crianças”, que desde 2008 alfabetizou mais de mil jovens entre os 15 e os 18 anos, moradores em dez aldeias da co-muna do Monte Belo (Bocoio, Benguela). O programa conta com o auxílio da OMA, JM-PLA, administração e autoridades locais, en-

tre outros. No Lubango, a “Jango Juvenil” quer investir este ano cerca de 65 mil USD num projecto de formação socioprofissional, que deverá abranger 1.076 jovens da província da Huíla. A acção enquadra-se no Programa de Serviços Internacionais e é financiada pela organização americana USAID, destinando-se a formar jovens em especialidades como culinária, electricidade, informática e secre-tariado. A organização realiza ainda acções de formação sanitária sobre prevenção de doenças de transmissão sexual e VIH/ SIDA, em colaboração com a Direcção Provincial de Saúde. São inúmeras as ONG’s locais, nacio-nais e internacionais que se dedicam à ela-boração de estratégias, projectos e acções de combate à doença. As ONG’s detêm um inte-ressante contributo no apoio aos deficientes, nomeadamente na formação e integração dos visados na vida profissional, tendo, em cola-boração com a Associação Nacional de Defi-cientes Angolanos, beneficiado quase 50 mil pessoas, através do projecto “Vem Comigo”.

PARCEIROS INTERNACIONAISAs ONG’s estão presentes na maioria das províncias desde o período da guerra. Durante os 35 anos de conflito, a população não dis-punha de um bom apoio governamental. A principal ajuda chegava da solidariedade da sociedade civil. Assim, nos anos 90, surgiram as primeiras associações locais, que inicia-ram projectos com escassos recursos. Actual-mente, muitas contam com a colaboração de agências da ONU e das ONG’s internacionais, existindo a nível nacional uma representação de quase todas as entidades da agência eu-ropeia, responsáveis por amparar a sociedade civil e governamental nos mais diversos cam-pos, desde os direitos humanos, até projectos de desenvolvimento. As mais activas, segun-do o que a Angola’in apurou são a Unicef, a FAO (Organização da Agricultura e Alimenta-ção) e a ACNUR (Alto Comissariado das Na-ções Unidas para os Refugiados).

“A “Jango Juvenil” quer investir este ano cerca de 65 mil USD num projecto de formação socioprofissional, que deverá abranger 1.076 jovens da província da Huíla”

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INGLÊS PINTO

“ADVOCACIA PREVENTIVA E CIDADÔ

Recentemente reeleito Bastonário da Ordem dos Advogados, Inglês Pinto possui um longo currículo na área do Direito, tendo desempenhado funções em alguns ministérios. Defensor incansável dos Direitos Humanos, o alto representante dos profissionais de Justiça falou à Angola’in, numa entrevista que toca questões fundamentais como a situação da advocacia e os desafios que se colocam à consolidação do Estado de Direito Democrático.

ORDEM DOS ADvOGADOSQuais são os principais desafios que se colocam à organização?A OAA é uma instituição recente (13 anos), com bastantes limitações no plano material (falta de instalações próprias e condignas) e financeiro, facto que tem condicionado a re-alização dos seus objectivos. Não obstante, a OAA tem-se afirmado como uma organização sócio-profissional de referência em Angola, o que é difícil num país de múltiplos condi-cionalismos. A consolidação da instituição, a continuidade do incremento das acções de formação e o zelo pelo lado ético e deontoló-gico, no exercício da advocacia, são os grandes desafios da Ordem, no plano interno. No que toca ao lado “externo”, a sua função social, a defesa do Estado de direito democrático e dos

direitos fundamentais dos cidadãos e a sua protecção jurisdicional assumem-se como ou-tro dos grandes desideratos. Uma advocacia cidadã é difícil, mas jamais impossível.

Quais as linhas de acção para o triénio 2009/ 2011?Pretendemos continuar o processo de conso-lidação da Instituição, o que implica a criação de condições técnico-materiais; a construção da sede Nacional, de sedes para os Conselhos Provinciais de Luanda, Benguela e Cabinda, para os Conselhos Interprovinciais e núcleos com instalações próprias nas restantes sedes de províncias. Queremos desenvolver acções de aprendizagem no Centro de Estudos e For-mação, incluindo um curso de inglês jurídico, contabilidade, auditoria e fiscalidade para ju-

ristas e cursos de refrescamento na área dos processos, bem como reactivar a produção da revista da Ordem dos Advogados e consolidar o processo de informatização da legislação “Lexangola” e da jurisprudência. Por outro la-do, desejamos dar maior atenção às questões de ética e deontologia, no plano pedagógico e disciplinar. Cooperar com outras institui-ções da Administração da Justiça para que ha-ja uma Justiça que corresponda às legítimas expectativas dos cidadãos, que passa pela igualdade de oportunidades e a não exclusão de qualquer natureza é uma das nossas me-tas, tal como a promoção de acções que visem o apoio aos jovens advogados no plano social e de meios para motivação de juristas para o exercício da profissão, em especial em provín-cias onde não se faz sentir esta tão importan-

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te actividade. “Promover” a aprovação da Lei das Sociedades de Advogados, do seguro pro-fissional e da segurança social dos advogados faz parte da nossa linha de actuação, que in-clui o aperfeiçoamento dos mecanismos de combate à procuradoria ilícita e a promoção da educação jurídica básica da comunidade, enquanto contributos para uma advocacia preventiva.

Qual a importância da OAA para a sociedade e para o sector da Justiça?Entendo que a OAA tem a obrigação de as-sumir-se como um órgão auxiliar da admi-nistração da justiça e, caso os seus membros exerçam o seu ministério com maior profis-sionalismo, olhando para além dos seus in-teresses financeiros legítimos, para a função social desta profissão, estarão a contribuir para uma verdadeira justiça, podendo mes-mo estar na vanguarda da luta por uma so-ciedade mais justa.

Como avalia o desempenho da ins-tituição ao longo dos últimos anos?Tem sido positivo. Não fizemos mais e melhor por condicionalismos objectivos. Existe von-tade e determinação de um núcleo “duro” da direcção e de outros associados, quer da ve-lha guarda, quer das jovens gerações de ad-vogados.

ESTADO DA jUSTIçA Dirige a Ordem dos Advogados des-de 2006. Qual o balanço do desen-volvimento do sector?Podemos constatar melhorias a nível de al-gumas estruturas e da formação. Mas, muito mais temos que fazer. É preciso que o poder político dê mais atenção ao sector no seu to-do, que tenha uma nova atitude perante a jus-tiça, enquanto base para a paz social.

Na sua opinião, esta área, vital pa-ra uma sociedade justa, funciona de forma eficaz e eficiente?Não como quase todos pretendemos. Cabe a todos sem excepção, desde os que têm res-

ponsabilidades políticas acrescidas ao cidadão que deve cooperar em seu próprio benefício, fazer muito mais. Não podemos ver a justiça de forma isolada.

Verifica-se uma maior celeridade na execução dos processos?É a questão da histórica e universal lentidão da justiça. Angola não é excepção, por razões objectivas e subjectivas. E o lado subjectivo preocupa-me e de que maneira! Vai-se fa-zendo algo, mas temos que fazer muito mais para reverter este quadro constrangedor. É di-fícil avaliar o tempo médio que leva cada um dos processos, atendendo a sua natureza. Ca-sos céleres existem, reduzidos. Em situações quase anedóticas, um processo cautelar pode levar mais de dois anos. Felizmente as coi-sas vão melhorando. Há que louvar o leque de magistrados que, não obstante as limitações, vão dando o seu melhor. Como é sabido, a fal-ta de celeridade processual leva ao descrédi-to em relação à justiça, à insegurança jurídica e à frustração das legítimas expectativas dos cidadãos. Mudanças qualitativas globais le-vam tempo e dependem da determinação dos homens. Temos que estar conscientes de que esta acção colectiva é a melhor forma de pro-tegermos os nossos interesses imediatos ou mediatos, desde que estes tenham um míni-mo de legitimidade.

Qual o nível de acesso da população à Justiça?O acesso ao direito e à justiça em Angola ain-da está muito aquém das metas que podere-mos considerar razoáveis. Há muitas franjas sociais e regiões para quem a justiça formal,

institucionalizada, ainda é uma quimera. No entanto, são notórios os esforços de supe-ração deste quadro, que já foi dantesco. A questão da justiça tradicional, do direito con-suetudinário deve ser objecto de profunda re-flexão, estudo e investigação. O acesso a um advogado está também aquém do aceitável, não obstante a existência do Instituto da As-sistência Judiciária.

Quais os principais desafios que se colocam ao actual sistema de jus-tiça?São de diversa ordem, desde a criação de con-dições técnico–materiais ao recrutamento de pessoal em quantidade e qualidade, não es-quecendo a questão da ética e a promoção do mérito, impedindo por todos os meios a mediocridade. Há que defender uma maior responsabilização, reforçar a efectiva inde-pendência judicial, criar Tribunais de 2ª ins-tância – “Relação” e acelerar o processo da reforma legal, criando uma ordem jurídica desburocratizada. Deve-se promover os meios alternativos de resolução de litígios, passando por uma mediação semi-profissionalizada. A melhoria dos serviços de investigação criminal e dos serviços policiais no seu todo, a maior divulgação da legislação vigente e uma efec-tiva reforma do Estado são alguns desses de-safios. No plano exógeno, o fim da cultura da “impunidade natural” por parte de alguns sec-tores, a efectivação do sagro princípio consti-tucional da igualdade perante a lei, o respeito pelas decisões judiciais e pelas prerrogativas dos advogados e a prevenção das tentativas de influências externas de determinados po-deres sobre a Justiça são o caminho a seguir.

“Pretendemos continuaro processo de consolidaçãoda Instituição, o que implicaa criação de condiçõestécnico-materiais”

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GRANDE ENTREVISTA

éTICA E DEONTOLOGIAO Código Deontológico adapta-se às necessidades do actual sistema ju-dicial?Estou certo de que este instrumento se adap-ta perfeitamente. A questão é que o seu cum-primento depende da vontade, de princípios morais e éticos fora do quadro profissional. Isto acontece em todas as profissões. Há que criar mecanismos para a sua efectiva aplica-ção. De que servem os códigos se o sujeito não está a fim de pautar a sua conduta nos ter-mos neles previstos, já que outros interesses se levantam?

Os advogados cumprem o código profissional?De uma maneira geral, apesar das dificulda-des objectivas e do individualismo exacerbado que se vai promovendo, a maioria dos colegas vão pautando a sua conduta profissional e so-cial de forma exemplar, cumprindo a lei e os princípios éticos e deontológicos da profissão.

Há um combate efectivo à corrupção entre a classe?Na medida do possível, no plano pedagógico e mesmo disciplinar. Num país em que a corrup-ção faz morada a quase todos os níveis, com menor ou maior grau, é uma missão difícil, mas não impossível. Não só como dirigentes da OAA, mas como cidadãos, assiste-nos o dever de desencadear este combate.

fORMAçãO Existem as condições necessárias para exercer a profissão?Ainda não são as melhores. Muito temos que fazer, no plano da formação, do profissiona-lismo, da dedicação e da vocação. As condi-ções de trabalho não são as melhores, devido à inexistência de salas de advogados na maio-ria dos tribunais, às dificuldades de acesso à informação em muitas instituições públicas, à

morosidade ou tratamento indevido das peti-ções dos cidadãos, ao extravio de documentos e à excessiva burocracia. A estes condiciona-lismos há que acrescentar os casos de des-respeito pelas prerrogativas dos advogados e abusos de poder. No entanto, temos alguns bons profissionais, sérios e determinados.

O actual número de profissionais é suficiente? Não. Há províncias que, em termos práticos, não têm advogados. São pelos menos meia dúzia delas, com centenas de milhares de ci-dadãos a necessitarem destes serviços. Mais de 90% dos advogados estão concentrados em Luanda. Benguela, Cabinda, Huambo e Huíla têm 10 a 20 advogados, outras detêm dois ou três. Um quadro desolador. É eviden-te que existem regiões e áreas mais motiva-doras para os advogados. Estamos a falar da capital, do eixo Benguela - Lobito, da Huíla, Cabinda e Huambo. Falamos das actividades petrolíferas, do imobiliário, da banca, dos se-guros, das energias e das minas, sendo o cri-me, a família e outras áreas do cível pouco apetecíveis. A advocacia de negócios prevale-ce, o que é legítimo, mas como proteger áreas menos “rentáveis”, contudo, indispensáveis? Temos o mecanismo da Assistência, que deve ser aperfeiçoado, em especial no que se refere à remuneração dos seus advogados.

Há cada vez mais jovens motivados para a advocacia?Verifica-se um aumento de jovens interessa-dos em seguir esta carreira. Mas o número es-tá muito aquém das necessidades. A maioria opta pela magistratura. Uma questão de “se-gurança”, já que a advocacia, nos termos em que está consagrada em Angola, envolve al-guns “riscos”. Atrair novos membros tem sido a luta da OAA. A maioria não o faz em regime integral, com todos os inconvenientes ineren-tes da “advocacia de fim de tarde”. Os “advo-

gados de corpo e alma” não são mais de 20% dos inscritos na OAA.

Os actuais cursos superiores são suficientes?No que se refere à licenciatura em direito ain-da não são suficientes. É de aplaudir a mais recente criação de universidades públicas e o surgimento de outras privadas, algumas de boa qualidade, quer a nível de infra-estrutu-ras, quer a nível do corpo docente. Contudo, no cômputo geral, há que primar pela qualidade.

O nível de formação adapta-se às exigências da profissão?Não obstante a OAA e o INEJ ministrarem cur-sos essencialmente práticos num período de 6 a 12 meses, creio que devemos ser mais exi-gentes ao nível das várias faculdades. Há que reformular as metodologias de ensino, rever as disciplinas e promover cursos de prós-gra-duação, em especial nas áreas económico-fi-nanceiras, bem como um maior investimento na capacitação do corpo docente e na organi-zação técnico-administrativa das instituições. Quanto ao ensino privado, é preciso compati-bilizar a legitimidade em se obter rentabilida-de económico-finaceira e a sua função social, a formação de qualidade em benefício do de-senvolvimento harmonioso, para responder aos desafios da competitividade inerente à dita globalização.

INfRA-ESTRUTURASQuando se fala em infra-estruturas, há que abordar a questão dos tribu-nais e do seu funcionamento...Apesar do reconhecido esforço do Governo na construção de novos edifícios para instalar tribunais e seus equipamentos, como é o ca-so do tribunal provincial de Cabinda, Namibe, Lobito, Ana Joaquina em Luanda e do futuro palácio da Justiça, ainda estamos num estado lastimável na maioria das províncias. Há que investir muito mais. Quais os edifícios que carecem de intervenção urgente e qual a inter-venção da OAA?Quase todos. À Ordem apenas compete su-gerir, “pressionar” para que haja condições de trabalho dignas para todos, pois contribui pa-ra o melhor desempenho profissional dos ad-vogados, em benefício dos seus constituintes e da sociedade em geral. Está ainda prevista a criação de tribunais municipais.

“Há que criar Tribunais de 2ª instância – “Relação” e acelerar o processo da reforma legal, criando uma ordem jurídica desburocratizada”

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GRANDE ENTREVISTA

E em relação aos meios técnicos?Há carência de meios básicos de trabalho pa-ra o pessoal dos cartórios e de informatização dos serviços dos tribunais em geral, processo que está a dar os primeiros passos.

Como está a decorrer esse processo de informatização do sistema judicial? Creio que estamos no bom caminho e a OAA tem colaborado com o Ministério da Justiça neste processo. A breve trecho teremos alcan-çado os objectivos preconizados.

PARCERIASQual o nível de relacionamento com o Ministério da Justiça?Até à data tem sido satisfatório. Iremos envi-dar esforços para a consolidação e desenvol-vimento desta cooperação em benefício da justiça em geral.

Quais as principais áreas de coope-ração com esta entidade?Fundamentalmente referem-se à assistência judiciária e informatização da legislação, à re-forma legislativa do sector e à promoção dos meios alternativos de resolução de litígios. Um dos projectos em comum é o da criação de condições físicas e a instalação de centros de assistência judiciária (caso da cidade do Dun-do, na província da Lunda Norte).

A Ordem tem parcerias com entida-des estrangeiras? Há alguns anos, com base no financiamento da União Europeia desenvolvemos um pro-jecto, tendo como finalidade a protecção dos direitos humanos. A OAA trabalhou de forma activa e com resultados bastante positivos com o Escritório das Nações Unidas em Ango-la para os Direitos Humanos.

LEGISLAçãOQuais as áreas que carecem de in-tervenção urgente, em termos de re-gulação legislativa?A legislação de base terá que ser actualizada, a exemplo do processo em curso relativo aos no-vos códigos do processo penal e laboral. A legis-lação relativa ao notariado e conservatórias, bem como a do código comercial datado de 1888, não obstante a oportuna aprovação da lei das socie-dades comerciais são essenciais. A questão da lei sobre a prisão preventiva, as buscas e apreen-sões deverão, em meu entender, ter um melhor tratamento em sede do processo penal.

Existem leis que necessitam de ser adaptadas ao panorama actual?Sim. No entanto, resta saber que panorama. Há que regulamentar de imediato a legislação base do exercício de direitos fundamentais, em especial os de natureza política e cívica, como a lei de imprensa, das associações, sem-pre na perspectiva do efectivo exercício dos di-reitos fundamentais dos cidadãos.

CONSTITUIçãOConcorda com a necessidade de se criar uma Constituição antes das eleições presidenciais?É conveniente, mas não determinante.

É urgente a sua aprovação?Em meu entender, a urgência ou não depen-de das agendas e vontades dos políticos. O mais importante é a efectivação das leis. Mesmo com a actual constituição, desde que haja determinação geral de cumpri-la, com base no estrito cumprimento da lei e no res-peito pelos direitos fundamentais dos cida-dãos, digo que ela pode vigorar por muitos anos, sem que se ponha em causa a estabi-lidade política e as bases para o desenvolvi-mento e bem-estar social. O que deixei dito não afasta a importância que tenho dado a

este processo. É apenas a minha opinião que, felizmente, ainda a posso ter e divulgar, uma conquista que luto, diariamente, pela sua preservação.

Quais as entidades envolvidas na sua concepção?Este envolvimento foi alargado, por decisão legal, a toda sociedade, com destaque para as organizações da sociedade civil e cidadãos, o que é positivo, numa perspectiva democráti-ca. É de louvar.

Quais as principais matérias a in-cluir no documento?Em primeiro plano, os direitos fundamentais dos cidadãos, com inspiração na Declaração Universal dos Direitos Humanos e Tratados Internacionais subsequentes e os mecanis-mos que contribuem para a sua efectiva pro-tecção e realização. A separação efectiva dos poderes e os princípios do artigo 159º da Lei Constitucional vigente também são essen-ciais. Um texto constitucional mais claro, com um desenho da organização política adequa-da aos princípios de um Estado democrático que, em princípio, todos nós defendemos, é uma boa base para alcançarmos os mais no-bres propósitos políticos, sociais, económicos e culturais.

pontos quentes i

“O acesso ao direito e à justiça em Angola ainda está muito aquém das metas que po-deremos considerar razoáveis. No entanto, já são notórios os esforços de mudança”

“Num país em que a corrupção faz morada a quase todos os níveis, o seu combate é uma missão difícil, mas não impossível”

“Há províncias que, em termos práticos, não têm advogados. Mais de 90% dos advo-gados estão concentrados na capital”

“A maioria dos jovens opta pela magistratura. A advocacia enquanto profissão liberal por excelência envolve alguns “riscos”. Atrair novos membros tem sido a luta da OAA”

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GRANDE ENTREVISTA

PROGRESSO Como encara o processo de recons-trução nacional e o desenvolvimen-to económico?Há que ser realista e honesto. Os progressos são visíveis, fundamentalmente no plano das infra-estruturas básicas, em termos quanti-tativos. Podemos afirmar que a economia de Angola é já uma das maiores economias afri-canas. Mas, muito tem que ser feito no plano da justiça social, para que seja uma sociedade em que os indicadores económicos reflictam o desenvolvimento harmonioso e não mero crescimento. Esta posição não afasta o re-conhecimento dos grupos empreendedores, criadores de postos de trabalho e de riqueza honesta.

Esteve ligado ao Ministério da Energia e Petróleos e da Energia e das Águas. O país depende dema-siado do petróleo?É um facto reconhecido por todos. Os poderes públicos estão a fazer esforços para reverter es-te quadro, em nada favorável a um desenvolvi-mento sustentável. A aposta em outras fontes de energia é uma opção inquestionável.

Foi vice-presidente e coordenador da Comissão dos Direitos Humanos e Acesso à Justiça. Que tipo de tra-balho foi desenvolvido? Realizamos um conjunto de acções no âmbi-to da promoção dos Direitos Humanos, com destaque para a monitorização de unidades penitenciárias, a avaliação do grau de respeito pelos direitos dos detidos e a intervenção em casos pontuais em processos judiciais. A mo-tivação dos advogados para este tipo de ad-vocacia é que é difícil. Neste mandato iremos dar continuidade, mas numa perspectiva mais jurisdicional.

O respeito pelos Direitos Humanos é uma realidade? É evidente que o quadro vai melhorando. Ainda estamos muito aquém daquilo que poderá ser tido como normal, mormente no que se refere aos direitos económicos e so-ciais. Existe em Angola um aspecto subjec-tivo que condiciona a militância séria neste domínio – o de intencionalmente ou involun-tariamente, alguns extractos sociais consi-derarem estas acções como algo directa ou

indirectamente ligada à estratégia política da dita oposição, e isto tem o seu preço. Isto vai passar. Leva tempo, mas há que ser op-timista e lutar.

Como avalia o panorama da segu-rança? Não avalio as questões de segurança e da criminalidade fora do contexto social. Com o actual quadro, os índices poderiam ser mais elevados. Mas, isto não afasta a ocorrência de alguns crimes hediondos. Há que avaliar as causas da criminalidade e prevenir, sem prejuízo das acções de investigação e jul-gamento, nos termos da lei, defendendo os princípios da presunção da inocência e da defesa condigna. A OAA e os seus associa-dos não estão indiferentes a esta situação e têm feito o melhor. Sem pôr em causa a independência da profissão e da instituição, vão cooperando com outros órgãos da ad-ministração da justiça, instituições públicas e da sociedade civil, em especial no que se refere à educação jurídica da sociedade e ao desencadeamento das acções preventivas. Estamos no bom caminho.

pontos quentes ii

“Não obstante o reconhecido esforço do Governo na construção de novos edifícios para instalar tribunais e seus equipamentos, ainda estamos num estado lastimável. Há que investir muito mais”

“Há falta de meios básicos de trabalho para o pessoal dos cartórios e a informatização dos serviços dos tribunais em geral”

“Há que regulamentar de imediato a legislação base do exercício de direitos fundamentais, em especial os de natureza política e cívica”

“Com a actual constituição, desde que haja determinação geral de cumpri-la, ela pode vigorar por muitos anos, sem que se ponha em causa a estabilidade política e as bases para o desenvolvimento”

“A economia de Angola é já uma das maiores economias africanas. Muito tem que ser feito para que os indicadores económicos reflictam o desenvolvimento harmonioso e não mero crescimento”

“É evidente que o quadro [respeito pelos Direitos Humanos] vai melhorando. Mas ainda estamos muito aquém daquilo que poderá ser tido como normal”

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FOTO REPORTAGEM

Envolta por montanhas no horizonte longínquo, passeio-me por cenários de planícies douradas e deixo-me seduzir por gazelas e manadas de oryx desfilando ao longe na paisagem. Assim é o Parque Nacional do Iona e Foz do Rio Cunene. Natural. Nas profundezas do Parque, as tribos Muimbas surpreendem-me pela sua genuinidade. Cobertas de barro e peles de animais contemplam o horizonte e fazem-me repensar a essência humana...

Em Angola e para Angola, o maior abraço do mundo desde a Welwitschia... a maior do mundo!

texto + fotografias - Ana Rita Rodrigues

MÃE NATURA

| ana rita rodrigues

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TURISMO

“CASA DA PAz”Dar es Salaam, que em árabe significa “Casa da Paz”, é a cidade mais importante da Tanzâ-nia, a mais vibrante de África e a verdadeira ca-pital do país (actualmente Dodoma é a oficial). Esta localidade alberga uma mistura eclética da arquitectura germânica, asiática, britânica e swahili, reflectindo as influências do passado colonial e da história recente. Próximo do Equa-dor e do quente Oceano Índico, este centro ur-bano é a área mais importante da Tanzânia, albergando os principais núcleos económicos e governamentais. A sua importância enquanto pólo de negócios e ponto turístico obrigatório fez florescer o número de restaurantes inter-nacionais, que se instalaram na cidade nos úl-timos anos e captam o interesse dos viajantes pela diversidade gastronómica e pelos moder-nos hotéis de cinco estrelas, muito procura-dos pelos turistas que desejam umas férias de luxo. As praias a norte de Dar es Salaam são outro motivo sedutor. Muitos turistas não dis-pensam uma passagem pela Península e pela Ilha de Kigamboni, em que a praia mais próxi-ma da capital é Oyster Bay.

| patrícia alves tavares

Tanganhica e Zanzibar, em 1964, após a inde-pendência do primeiro (em 1961). O seu pas-sado histórico é uma das principais marcas culturais, que revelam influências das dife-rentes nações que por aqui passaram. O chefe de estado do país é o presidente Jakaya Ki-kwete (desde 2005), enquanto Amani Abeid Karume comanda os destinos de Zanzibar (desde o mesmo ano). A capital é Dodoma, onde se concentram parte das instituições. Dar es Salaam, antiga capital, alberga ainda os edifícios públicos, embaixadas e o maior aeroporto internacional do país.

PERfIL

País: República Unida da Tanzânia (desde 1964) | Área: 945.087 km2 População: 40.213.162 hab. (em 2008) | Fronteira: Uganda, Quénia, Moçambique, Malawi, Zâmbia, República Democrática do Congo, Burundi e Ruanda | Capital: Dodoma | Cidade mais populosa: Dar es SalaamMoeda: Shilling tanzaniano e dólar norte-americano | Idiomas: Inglês e Swahili | Vacinas: Febre-amarela e profilaxia da malária | Documentos: Passaporte, visto válido por seis meses, carta de condução internacional, boletim de vacinas e seguro de viagem

Lar de alguns dos mais antigos antepassados do Homem, com fósseis dos primeiros seres humanos encontrados nas proximidades da Garganta de Olduvai, o norte da Tanzânia é frequentemente apelidado de “berço da hu-manidade”. Este facto constitui apenas uma das muitas razões para descobrir este pa-ís, limitado a norte pelo Uganda e Quénia, a leste pelo Oceano Índico, a sul por Moçambi-que, Malawi e Zâmbia e a oeste pela Repúbli-ca Democrática do Congo, Burundi e Ruanda. Antiga colónia alemã (1880 – 1919) e britânica (1919 – 1961), a Tanzânia resulta da fusão do

Tanzânia

viagem ao centro da terraA Tanzânia atrai os seus visitantes pela sua

riqueza. Os últimos anos, marcados pela evolução

da sociedade e de todos os sectores económicos

e financeiros, revelam o sucesso da forte aposta

no turismo. Composto por mais de cem tribos,

o país conta com pequenos grupos, que têm a

sua própria cultura. Os árabes, a tribo Bantu, os

europeus e asiáticos conferem uma peculiaridade

especial a esta nação, onde o inglês, o swahili, o

alemão e o árabe convivem diariamente

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TURISMO

zANzIbARA ilha acolhe uma das cidades mais turísticas da Tanzânia, Stone Town ou “Cidade de Pedra”. Aqui concentra-se grande parte do país, onde impera o turismo de praia, o sol e a aventu-ra. Terra natal do famoso cantor e compositor Freddie Mercury, a parte antiga da região, que alberga a capital, está classificada como Patri-mónio Mundial. As zonas costeiras guardam parte da história nacional, alternando entre passado e futuro. Zanzibar é o contraste da Tanzânia verde, das savanas e dos safaris. A região é o destino perfeito para quem procu-ra férias repletas de luxo, tranquilidade, sol e conforto. As praias isoladas são sem dúvida as mais atraentes de África. Os hotéis garantem uma estadia despreocupada, onde pode prati-car windsurf, kitesurf e mergulho nos corais, numa experiência inesquecível. As paradisía-cas praias de Zanzibar, decoradas pelos reci-fes de corais (ricos em diversidade marinha), são recortadas pelas vilas de pescadores, que mantêm o seu tradicional estilo de vida. Não existe grande variedade de animais selvagens na ilha e as áreas florestais são habitadas por pequenos antílopes e macacos. As palmeiras são abundantes e óptimas para uma pausa à sombra. Além do mais, são extremamente úteis para a população, que retira delas uma infinidade de produtos.

OPORTUNIDADES TURíSTICASA Tanzânia oferece-lhe a possibilidade de desfrutar umas férias recheadas de sol, bom tempo e inseridas nos maiores tesouros na-turais do país. As formas de entretenimento são diversas. Pode alugar um barco e percor-rer a distância entre Dar es Salaam e a ilha de Zanzibar ou fazer o percurso pela costa ou pe-los lagos do interior, como é o caso do Lago Tanganica ou Lago Victoria. As grandes cida-des de Dodoma, Dar es Salaam ou Arusha e a capital de Zanzibar (Stone Town) são pontos de excelência para uma tarde de compras. A estas características juntam-se os inúmeros cantos arqueológicos, em que o vale do Rift alberga parte da história e cultura nacional, não esquecendo a Garganta Olduvai e a zona de Laetoli. Nestas regiões de beleza natural, o turista tem a possibilidade de praticar despor-tos ao ar livre, como caminhadas, mountain bike, escalar o ponto mais alto de África - o Ki-limanjaro, ou passear pela Serengeti National Park. Os apreciadores de praias paradisíacas encontram no Oceano Índico uma infinidade de possibilidades, em que o mergulho é a ac-tividade mais procurada. Os safaris são muito

requisitados, pois os visitantes não dispen-sam a oportunidade de conhecer ao vivo as paisagens e espécies, que habitualmente en-contram apenas na televisão, nos programas de vida selvagem.

ÚLTIMO PARAíSO ANIMALNgorongoro é o local ideal para observar num único dia um microcosmos da África Orien-tal. Localizado a norte, junto à fronteira com o Quénia (a cerca de três horas da cidade de Arusha), é muitas vezes apelidado de “a cra-tera da Arca de Noé”. Este local é refúgio para presas e predadores, que vivem num perfei-to equilíbrio e que se mantêm a salvo da in-tervenção humana. A velha caldeira tem dois milhões e meio de anos e possui uma área de 326 quilómetros quadrados e cerca de 20 de diâmetro. Aí, está reunido um ecossistema ímpar, que recebe as migrações sazonais e favorece a reprodução das mais diversas es-pécies. A melhor imagem que descreve este achado natural é o lago do Ngorongoro, po-voado por centenas de milhares de flamingos rosa, que encobrem a presença de aves como a íbis e os gansos do Egipto, a marabous, as garças e as cegonhas europeias. O acesso à cratera segue as regras do parque natural e

está limitado aos veículos de tracção às qua-tro rodas. É proibido sair das viaturas, fazer pi-queniques, deitar lixo e alimentar os animais. Na savana, passeiam-se manadas de zebras, gnus, gazelas e búfalos, que coabitam com os leões, que controlam a zona das águas. Hie-nas e abutres pairam sob a cratera, conside-rada reserva de caça para os leopardos, chetas e chacais. É esta sobreposição territorial entre os animais que mais surpreende os turistas. O Ngorongoro é o refúgio do rinoceronte preto, uma das espécies africanas mais ameaçadas de extinção. A melhor época para se deslocar a esta zona é a estação seca (Maio a Novem-bro), período em que o clima é mais ameno, com temperaturas a oscilar entre os 14/ 18ºC (mínimas) e 30/ 34ºC (máximas). Contudo, há a necessidade de se preparar convenien-temente para este tipo de safaris. Sacos de viagem maleáveis, roupas desportivas e de cores claras, botas de “trekkink” ou “randon-née” e chapéu são indispensáveis, bem como óculos de sol, cantil, canivete suíço, bolsa de primeiros socorros, repelente para insectos, protector solar e binóculos. Se desejar registar o momento pode levar máquina fotográfica e câmara de vídeo, embora não possa captar imagem em todas as zonas.

razões para visitar a tanzâniaPraias selvagens e não urbanizadas, águas quentes e tropicais, turismo de natureza e safaris, ambiente e cenários exóticos são excelentes motivos para incluir este país na lista de viagens a concretizar. Os hotéis das cidades, as pou-sadas, casas e villas proporcionam o conforto aos turistas ávidos de aventura e/ou descanso. Apenas o clima pode constituir uma desvantagem, pois é árido e pode por vezes tornar-se insuportável

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guia de dar es salaam

O QUE FAZER E VISITAR:› Museu Nacional da Tanzânia: onde encontrará os fósseis encontrados em Olduvai Gorge

› Mercado de Arte Mwenge: descubra os trabalhos e desenhos dos artistas locais

› Mercado Kariakoo, pelas suas cores, produtos exóticos e têxteis, confeccio-nados localmente

› Entre as ruas Índia e Indira Gandhi Street encontra os melhores restauran-tes da África Oriental, nomeadamente nas ruas Jamhuri, Zanaki, Kisutu e Mkunguni

› Jardins botânicos

› Ruínas Kaole, em Bagamoyo, a uma hora de viagem, a norte de Dar es Salaam

TURISMO

fLORA ÚNICAA maioria dos espaços naturais da Tanzânia oscila entre as savanas e as florestas no sul, centro e oeste. Na fronteira com o Uganda e Quénia, ergue-se uma das florestas mais co-nhecidas e que circunda o Lago Victoria. A savana arbustiva do norte, a zona de Seren-geti, a área arborizada do sul e os arbustos do centro do país são muito procurados, pela sua beleza e imponência. Nas áreas que fazem fronteira com o Quénia e nos picos das zonas montanhosas, os visitantes deparam-se com vegetação abundante, pastagens e florestas, derivados de um clima mais húmido. Quanto à fauna, o Parque Nacional Serengeti, em Se-rengeti, alberga a maior parte da diversidade animal da região, onde encontrará girafas, le-ões, leopardos, aves de rapina, elefantes, ri-nocerontes, muitas espécies de macacos, zebras e uma grande variedade de espécies selvagens. Este espaço protegido é partilhado pelo Quénia, que tem uma pequena parte do país vizinho. As principais áreas protegidas da Tanzânia são o Parque Nacional de Serenge-ti, o Parque Nacional de Tarangire e o Parque Nacional Ruaha. Por outro lado, os visitantes têm ao seu dispor as reservas naturais Ngoro-goro, Selous ou a Reserva Natural ou Nacional de Katavi. O Parque Nacional de Kilimanjaro destaca-se pela sua altitude, que alcança qua-se os seis mil metros. Ao passar pela Tanzânia não pode perder outras áreas naturais, deten-toras de beleza única, como são o caso do La-go Vitória, do Lago Tanganica e de algumas zonas partilhadas com outros países.

A ORIGEM DA hUMANIDADENas terras em Olduvai Gorge são visíveis as marcas da passagem dos primeiros seres hu-manos. Aí foi encontrada a mais antiga pega-da humana. Os restos encontrados indicam que por esta região africana passaram ante-passados, como o homem Australopitecos, com mais de três milhões de anos e que mui-tos consideram tratar-se do primeiro Homem no planeta. A Tanzânia surge ainda associada ao movimento mercantil, tendo sido ponto de passagem para os comerciantes, que na-vegavam no Oceano Índico e desembarcavam nestas terras para comprar marfim e vender especiarias.

CRESCIMENTO GALOPANTEO desenvolvimento económico da Tanzânia é uma marca de confiança. Nos últimos cinco anos, o país conseguiu uma média de cresci-mento anual acima dos sete por cento, graças a uma profunda reforma política e económica, que tem vindo a ser aplicada. Devido ao com-promisso governamental e à reforma macroe-conómica, a nação encontra-se no caminho do desenvolvimento sustentável.

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animação nocturna constanteOs dois grandes destinos turísticos, Dar es Salaam e a Ilha Zanzibar são os principais centros da vida nocturna. As duas cidades têm estruturas hoteleiras, que têm discote-cas, onde poderá passar uma noite agradável, ao som de boa música e muita festa

Sabia que...A subida do Kilimanjaro atrai mais de 25 mil

pessoas por ano. Possui mais de 5.900 metros

de caminhadas ou escaladas. Os mais aptos

fisicamente podem optar pelo mountain bike,

que oferece uma experiência única

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Suazilândia

no coração da savana

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TURISMO | patrícia alves tavares

suficiente na produção de alimentos. Expor-tam cana-de-açúcar e albergam importantes reservas de carvão. A sociedade é patriarcal e formada por clãs.

CIDADE TRANqUILAA capital Mbabane é a maior cidade da Sua-zilândia, com perto de 50.000 habitantes. A localidade é o cenário perfeito para descansar, devido ao sossego preponderante. A Galeria Indingilizi vende artesanato tradicional, tendo aí a possibilidade de apreciar alguns excelen-tes trabalhos de artistas nacionais contempo-râneos. As principais atracções localizam-se no vale adjacente de Ezulwini. Lobamba é o abrigo do Palácio do Estado Embo e um dos pontos turísticos. É a capital real e legislati-va do país. Nesta cidade, descobrirá o Museu Nacional, com interessantes exposições e boa parte da cultura Swazi. Ali encontra uma vila tradicional beehive. Nas proximidades do museu, estão localizados o Parlamento e o Memorial ao Rei Sobhuza II. Nas redondezas, está erguida a Vila Cultural Swazi, composta pelas cabanas beehive e onde pode assistir às apresentações culturais.

OS MELhORES SAfARIS No vale de Ezulwini (paraíso, na língua suazi), situa-se a velha casa da família Reilly, o ponto de partida para conhecer parte da Suazilândia, especialmente as três reservas da vida selva-gem. A Mkhaya Game Reserve é uma das mais procuradas. Os seis mil hectares são compos-tos essencialmente pela savana e pela planura sulcada por rios secos. A fauna é composta por múltiplos exemplares do rinoceronte branco, várias espécies de antílopes, impalas, girafas, palancas e elefantes. Os safaris são realizados em jipe aberto, organizados pela administração do parque e que permitem aos turistas olhar de perto para crocodilos, pequenos mamíferos e aves de rapina. Os safaris e alojamentos neces-sitam de reserva antecipada. Existem ainda os safaris a pé, pensados para os adeptos das ca-minhadas e que são organizados pelo amanhe-cer ou anoitecer, para uma melhor apreciação das espécies junto das fontes de água. Além das visitas às reservas e à aldeia de Manten-ga, os aficionados de aventuras na montanha, encontram na reserva natural de Malolotja, no Highveld, cerca de 200 quilómetros de trilhos com diversos graus de dificuldade, repletos de florestas de altitude, espécies botânicas raras e fauna diversificada (águias, zebras, impalas e gnus). Aí desfrute das Malolotja Falls, as casca-tas mais altas do país, com quase uma centena de metros de altura.

A Suazilândia distingue-se de todos os destinos pela sua singularidade. É um dos países mais pequenos de África e a sua tranquilidade ilustra qualquer cartão-de-visita pelos locais relaxantes que proporciona. É a última monarquia absolutista africana e simultaneamente um dos rostos mais amáveis do continente

Pequeno e montanhoso, é o palco de férias com que qualquer aventureiro, apreciador de um safari inesquecível, sonha. Situada em pleno pulmão da África Austral, a Suazilân-dia é uma das poucas monarquias remanes-centes no continente. Os motivos para visitar esta região são mais que muitos. Limitado

por Moçambique e África do Sul, o país não tem saída para o mar, mas em contrapartida oferece uma panóplia de planaltos cobertos por savanas e pastagens. As suas capitais são Mbabane (administrativa) e Lobamba (legis-lativa) e a economia assenta na agropecuária, embora o reino da Suazilândia não seja auto-

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NÃO ESQUECERA moeda nacional é o Lijangeni (plural Emalangeni), que possui

paridade com o Rand sul-africano. Os pagamentos podem ser

efectuados com ambas as moedas, existindo a possibilidade de levantar

dinheiro em caixas automáticas

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TURISMO

ECOTURISMO DE ExCELêNCIA A diversidade paisagística é a imagem de marca do território suazi. Cada parque possui características e ecossistemas únicos, embora existam muitos habitats comuns para certas espécies. A ocidente, os visitantes encontram o Highveld, uma região marcadamente mon-tanhosa, onde coabitam o verde das densas matas e os cursos de água e algumas casca-tas. O Middleweld abrange os vales com maior densidade populacional (é o caso do vale de Ezulwini), uma vez que a área é menos aci-dentada. Na metade leste, o turista não pode deixar de passar pelo Lowveld, devido à sua paisagem que contrasta com o resto de ter-ritório e onde surgem os cenários da savana africana. Aliás, nestes dois últimos ecossiste-mas encontram-se as três reservas mais im-portantes da vida selvagem do país: Mlilwane Game Sanctuary, Mkhaya Game Reserve e Hlane Royal National Park (associados ao pro-jecto Big Game Parks, que engloba os três par-ques nacionais e duas reservas naturais). Mli-lwane apresenta-se como a mais antiga área protegida da Suazilândia. Poderá descobrir este território a pé ou a cavalo, visto que a sua fauna é composta principalmente por várias espécies de antílopes (incluindo alguns rarís-simos, como o frágil antílope azul), impalas, zebras, búfalos, girafas e pássaros de todas as espécies. O único aviso vai para as áreas junto aos lagos, em que os caminhantes não devem ultrapassar os limites de aproximação, pois aí encontram-se os habitats dos crocodilos e dos hipopótamos.

PASSEIOS ALTERNATIvOSPara os viajantes que não abdicam de uma ida às lojas e gostam de comprar objectos que simbolizem as regiões por onde passam, o vale de Ezulwini é o destino mais apreciado. A localidade oferece atractivos diversos, dos quais se destacam as velas decorativas das Swazi Candles (com motivos faunísticos afri-canos), os batuques da Baobab Batik (dispõe de explicações sobre as técnicas de fabrico ar-tesanal) e o artesanato da cooperativa Gone

Rural, que comercializa peças de excelente qualidade, confeccionadas pelas artesãs da região. Os trabalhos em cestaria merecem igualmente destaque, devido à sua capacida-de inventiva, perfeição e mistura de técnicas. O mercado de Manzini deve fazer parte da agenda de quinta-feira de qualquer turista. Ali encontram peças de artesanato, provenientes do reino da Suazilândia, das regiões da África Austral, bem como dos vizinhos Moçambique e África do Sul. A viagem vale pela descober-ta das vendedoras das terras de Maputo, que falam português e adoram partilhar histórias de vida com os visitantes. Em termos gastro-nómicos, distinguem-se as variedades de pra-tos, preparados com base em carnes com mi-lho e curries. Um dos produtos mais populares é o bunny chow (fogaça de pão com carne), as espigas assadas e os camarões. Nos principais hotéis e restaurantes, estão disponíveis refei-ções mais ocidentais.

guia do viajanteA Suazilândia partilha fronteiras com a África do Sul e Moçambique. Portan-to, a melhor forma de chegar ao país é através de Moçambique. Após o de-sembarque, a fronteira fica a cerca de uma hora de Maputo, pelo que as boas condições da estrada e a simplificação das formalidades na fronteira, permi-tem ao turista chegar ao centro da Su-azilândia em cerca de duas horas. Caso pretenda viajar entre Junho e Setem-bro, deverá estar preparado para en-frentar a estação seca, em que as bai-xas temperaturas podem descer abaixo dos 10 graus. Entre Novembro e Maio, os termómetros sobem (no Lowveld ul-trapassam os 40 graus) e os aguaceiros tropicais são frequentes. Os cidadãos da União Europeia não necessitam de visto para a Suazilândia. Porém, para chegar a Moçambique este é exigido aos turistas europeus

À LUPA

Capital: Mbabane

Idioma: inglês e siswati

Área: 17.364 km2

População: 1.123.605 (2002)

Governo: Monarquia Parlamentarista

Nacionalidade: Suazi

Moeda: Lilangeni

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ARqUITECTURA & CONSTRUçãO | patrícia alves tavares

preços das casas, devido aos elevados custos das terras, e para criação de espaços de quali-dade, com recurso a materiais nacionais (cus-to da obra diminui e preço final da habitação desce). Nesta edição, a Angola’in mostra-lhe ao pormenor tudo o que precisa saber sobre a chamada habitação de baixo preço.

INOvADORA habitação de custo controlado tem uma componente social interessante, já que incen-tiva à interacção entre os habitantes de cada comunidade, que são convidados a participar no processo. A qualidade dos espaços é sal-vaguardada e tem vindo a ganhar força. Em Inglaterra, em termos energéticos, estas ca-sas são as mais eficientes do país, com níveis

de reciclagem acima da média, uma vez que o investimento incentiva os moradores a cuidar do seu espaço. Responsável pela descida dos custos de construção, a tecnologia SEB (Sta-bilized Earth Brick) recorre ao aproveitamento dos materiais retirados do solo e é bastan-te usada internacionalmente, sobretudo pe-la empresa Low Cost Housing International. Os tijolos de terra estabilizada são duráveis, mais resistentes perante catástrofes natu-rais (não necessita de nenhum produto para solidificar) e muito procurados por países que precisam de fabricar anualmente milhões de casas a baixo custo, já que é possível produzir a matéria-prima no local onde decorre a obra. O sistema SEB é barato, torna o edifício mais eficiente energeticamente e está disponível em larga quantidade, permitindo que uma pessoa não especializada (com a ajuda de um único técnico) consiga erguer a sua casa. A tecnologia, frequente nos EUA, foi sugerida por dois especialistas portugueses, que con-sideram Angola o país indicado para a criação das chamadas ‘casas de terra’, tema aborda-do pela Angola’in numa das suas edições. O solo nacional é vasto e fértil, pelo que muitos técnicos acreditam que este sistema pode ser aplicado na construção civil nacional, baixan-do os custos de edificação e a importação de cimento e materiais de construção, um dos principais handicaps do sector.

ESPECIAL - HABITAÇÃO DE BAIXO CUSTO

Quando menos é mais

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Habitação de custo controlado significa estandardização. A redução do número de operações exigidas no processo simboliza menos des-perdícios e reconstruções. A simplificação do método, sem descurar a qualidade resulta em diminuição de custos. É isto que torna este método de construção tão atractivo para os Governos que desejam resolver o problema da habitação. A Angola’in apresenta-lhe os bene-fícios do novo sistema e a forma como o sucesso da implementação do primeiro projecto pode constituir uma mais-valia para a execução da meta governamental de criar um milhão de casas até 2012

O modelo apresentado pela Opway-Angola não é novidade. Enraizado em quase todas as partes do globo, é aplicado com frequência em certos países africanos, que têm a possi-bilidade de desenvolver habitação (para ven-da ou arrendamento) de qualidade e a baixo custo para o construtor e consumidor final. A Angola’in descobriu que o método é usual na Europa e EUA, sendo aplicado em econo-mias como a Índia, Filipinas ou Paquistão. No caso angolano, a criação de habitação de bai-xo custo pode ser a solução para duas ques-tões que preocupam o Executivo: a criação em tempo útil de um milhão de casas em quatro anos e a especulação imobiliária. A doação de terrenos estatais para este fim é um incenti-vo para os construtores - que inflacionam os

| patrícia alves tavares

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ARqUITECTURA & CONSTRUçãO

“Os tijolos de terra estabilizada são duráveis e muito procurados por países que precisam de fabricar anualmente milhões de casas a baixo custo”

REALIDADE MUNDIALO conceito constitui parte da responsabili-dade social dos governantes, desde a déca-da de 80. As mudanças sociais obrigaram a repensar os métodos de construção e surgi-ram as casas adaptadas às carências econó-micas dos habitantes. Organizações públicas e privadas desenvolveram as primeiras co-operativas e, mais tarde, as casas de cus-to controlado, que permitiam, através da doação de terrenos (mediante acordos go-vernamentais), a edificação de habitações estandardizadas e a custo menor. O modelo, que permite a integração dos diversos estra-tos da sociedade, é muito usual na Europa. Na Dinamarca, os principais beneficiários são os idosos e incapacitados. Na Finlândia, são abrangidos os pensionistas e estudantes, enquanto na Grécia e Suécia são os idosos. Em todas as situações, impera o regime de rendas comparticipado pelo Estado.

SUCESSO NO MALAwI Exemplo da melhoria da qualidade de vida das populações, sobretudo as rurais, a “Habi-tat for Humanity” trabalha em parceria com as comunidades locais e com o Governo. Ca-da área carenciada elege um comité, que têm uma palavra a dizer desde o planeamento à implementação do plano. A construção conta com o trabalho de voluntários da comunida-de. O sucesso está na participação dos bene-ficiários no processo de edificação, que vêem diminuído o preço a pagar pela casa. A média de construção é de dez residências por mês. Contudo, à medida que o trabalho se vai de-senvolvendo ao nível da comunidade, o nú-mero de beneficiários cresce, contribuindo para isso o intercâmbio de conhecimentos e as parcerias locais - todos colaboram em de-terminada fase do plano. A quantia que cada família paga pela sua habitação é canalizada para a criação de mais casas dentro da co-munidade e é a base da sustentabilidade. A “Habitat for Humanity” conta com o apoio de organizações internacionais, dos governos (oferecem infra-estruturas, terrenos, isen-

ções de taxas e impostos, aconselhamento, apoio público e técnico e vários serviços) e das agências de voluntariado e de financiamento. Até à data foram abrangidas mais de 400 co-munidades, que beneficiaram directamente mais de 18 mil pessoas.

“O maior banco da África do Sul comprometeu-se a disponibilizar 100.000 casas de baixo custo até 2010”

ADESãO AfRICANAÁfrica não foge à tendência. O crescimento tor-na urgente dispor de mecanismos de combate à pobreza e exclusão social, em que o repentino crescimento das cidades está a gerar assime-trias sociais abismais. O maior banco da África do Sul, o ABSA comprometeu-se a disponibili-zar 100.000 casas de baixo custo até 2010. Em colaboração com o Ministério da Habitação e com os organismos locais e provinciais, a en-tidade contribuiu com R2,6 biliões, com o ob-jectivo de desenvolver no mínimo um projecto para cada província, dando continuidade a um memorando de entendimento com o governo sul-africano, que se traduziu num investimen-to de R42 biliões para incremento das habita-ções de custo controlado. Em Moçambique, a fase piloto do projecto está em fase de teste e decorre no povoado de Chidevele, na província de Maputo, local onde foi erguida uma casa T2.

Orçada em 43 mil meticais, tem uma durabili-dade estimada de 50 anos.

O ESTRATEGAA primeira iniciativa do género foi apresenta-da recentemente. A sua implementação pode significar o início de uma nova modalidade de construção e a revolução do mercado habita-cional nacional. A massificação deste plano é útil para travar o alastramento dos musseques que promovem a exclusão social. O projecto foi apresentado na 7ª edição da feira Constrói-Angola 2009. Desenvolvido pela luso-angola-na Opway-Angola, depois de implementado, permitirá erguer uma casa em apenas um dia. As futuras habitações, segundo adiantou o ad-ministrador da empresa Vital Segurado, cus-tam entre os 40 e 100 mil dólares (consoante o tipo de material escolhido pelo cliente) e se-rão detentoras de tipologia T2, T3 e T4, confe-rindo a possibilidade de cumprir os objectivos governamentais, com um custo que rondará os 50 mil dólares por unidade, “respondendo a padrões de qualidade elevados com baixos custos”. As habitações propostas são de fácil montagem, lembrando a dinâmica lego, o que possibilita a sua “rápida execução” e não exige a importação de materiais. “Cada equipa terá capacidade para deixar uma casa acabada no espaço de um dia”, anunciou Vital Segurado, sustentando que a celeridade do processo es-tá relacionada com a aplicação de tecnologias simples, mas “mantendo padrões de confor-to e qualidade internacionais”. A execução do plano aguarda a decisão dos promotores, ou seja, das autoridades estatais.

“As casas da Opway-Angola serão detentoras de tipologia T2, T3 e T4, com um custo que rondará os 50 mil dólares por unidade, “respondendo a padrões de qualidade elevados com baixos custos”

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territórioOrdenamento recomendadoO governo da província de Huambo deve de-senvolver uma estratégia de ordenamento do território, preservando o antigo e inovando os usos e costumes da população local. A reco-mendação foi divulgada durante a primeira conferência provincial sobre urbanismo e habi-tação. A região tem a seu cargo a urbanização de 49.200 lotes de terreno para a construção de habitações durante o quadriénio 2009/ 2012. Os participantes acreditam que é urgen-te a adopção de políticas de ordenamento do território, que deverão passar pelos planos di-rectores municipais, urbanísticos e de lotea-mento, bem como projectos que envolvam a requalificação e realojamento das áreas afec-tadas. Durante a conferência foi proposta a aplicação dos princípios do governo provincial, de modo a que os futuros empreendimentos reservem uma cota mínima de 35% de super-fícies para áreas verdes e de lazer.

ARqUITECTURA & CONSTRUçãO

68 | ANGOLA’IN · ARQUITECTURA & CONSTRUÇÃO

| patrícia alves tavares BREVES

materiais

Governo combate especulaçãoHigino Carneiro, ministro das Obras Públicas, garante que o Governo está empenhado em desencorajar a especulação dos preços dos materiais de construção, com o intuito de faci-litar a aquisição de habitações de baixa renda. O responsável revelou que existem equipas específicas que estão a trabalhar na fiscali-zação e regularização da actividade e respec-tivos preços, para que os cidadãos consigam adquirir os produtos a preços acessíveis. O ministério planeia inserir o Programa de Re-estruturação do Sistema de Logística e Distri-buição dos Produtos Essenciais à População (Presild) no plano de comercialização dos ma-teriais de construção civil, prevendo-se que com esta iniciativa as famílias terão a possi-bilidade de erguer as suas casas em regime de auto-construção dirigida.

investimento

Fábrica de tintas no CentroO Ministro das Obras Públicas, Higino Carneiro, anunciou a construção de uma fábrica de tintas e vernizes, localizada no pólo industrial da Caála (Huambo). A empreitada arranca em 2010, ano em que a província do Kwanza Sul vê nascer uma unidade fabril de revestimentos (mosaicos). Os novos centros de produção vão, de acordo com o ministro, estimular a imple-mentação do programa habitacional e promover a criação de novos postos de trabalho. A unidade de Caála terá capacidade para produzir 50 mil tijolos por dia e será a primeira de 40 fá-bricas, que futuramente vão ser edificadas no pólo industrial.

construção civil

Inertes nacionais registadosO Ministério da Geologia e Minas pretende proceder ao registo da origem dos inertes nacionais, de modo a reduzir o preço do produto na área da construção civil. A acção está incluída no Programa Nacional de Inventariação dos Recursos Minerais e possibilitará a actualização dos dados relativos ao mercado nacional de construção e produção de matérias-primas de origem mineral. A execução do projecto contribuirá para a localização das áreas de exploração, bem como a avaliação dos referidos recursos, que se destinam à construção civil e indústria transformadora, assegurando desta forma o objectivo governamental de recons-truir as infra-estruturas nacionais. O projecto compreende a indicação de áreas de reservas para extracção de inertes nos planos directores de ordenamento do território a nível da província, município e comuna, de modo a evitar conflitos.

indústria

Novas empresas de exploração da madeiraA crescente procura de madeira no mercado nacional levou António Rui da Silva, director técnico da Panga Panga, a anunciar a criação de mais empresas de exploração e serração. A reconstrução nacional tem fomentado o recurso a estes produtos, cuja fraca produ-ção tem obrigado os empreiteiros a procurar a importação. A empresa, gerida pela Socie-dade de Gestão Empresarial, não consegue fazer face ao elevado número de pedidos, pe-lo que sugere a entrada de novas entidades no ramo. O responsável propõe a elaboração de novas parcerias entre empresários nacio-nais e estrangeiros para fomentar a produção interna. “Isto vai permitir à indústria trans-formadora reorganizar-se e revitalizar a sua produção, tornando o material mais barato para o consumidor”, sustentou.

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“O objectivo fundamental é o de servir os des-tinatários de saúde”, esclareceu José Pascoal, director da Angomédica, em declarações ao ‘O País’. O sector farmacêutico prepara-se para um novo desafio, após o período de solidificação e de controlo da qualidade dos estabelecimentos. A meta consiste em travar a circulação de medi-camentos adulterados e diminuir o número de importações, através da produção interna. Ana-lisando a capacidade dos meios técnicos e huma-nos, o dirigente insiste para que o país “tenha disponíveis os medicamentos que os angolanos precisam, não aqueles que às vezes nos chegam por razões meramente mercantilistas”

É uma das áreas mais estratégicas do sector da saúde. A indústria farmacêutica renas-ce num período em que é crucial controlar a qualidade dos medicamentos. Perante estes desafios, José Pascoal, médico e director ge-ral da Angomédica, está empenhado em re-erguer o gigante farmacêutico, que deverá abastecer o mercado nacional com os fárma-cos considerados essenciais. A empresa está a desenvolver um laboratório de controlo de qualidade, que possa travar a entrada de me-dicamentos suspeitos e testar fármacos, cujo desconhecimento fazem os utentes duvidar dos seus efeitos. O desafio está na criação de uma fábrica de produção interna.

RENASCER DO GIGANTEA Angomédica tem um papel decisivo no de-senvolvimento da indústria farmacêutica, que depende excessivamente das importa-ções de medicamentos e necessita urgen-temente de incrementar a produção interna, de forma a evitar a contrafacção de fárma-cos. A empresa, segundo José Pascoal, “foi totalmente reestruturada de acordo com os conceitos tecnológicos pelas boas práticas de produção e tendo em consideração as re-

comendações da OMS”. Em entrevista ao ‘O País’, o responsável alegou que se está a “de-senvolver uma lógica empresarial que assen-ta num elevado nível de profissionalização”, pelo que dispõe de “quadros profissionais treinados” e identificaram “um parceiro tec-nológico e científico externo que vai proceder à validação dos processos de fabrico e certifi-cação do controlo e da garantia da qualidade”. O objectivo “essencial” da entidade consiste em “satisfazer as necessidades básicas em medicamentos essenciais para a saúde dos angolanos”. O médico assegura que possui uma estrutura capaz de produzir em quan-tidade suficiente para atender as necessida-des internas, detendo na área da produção médicos, farmacêuticos, químicos e técnicos de laboratório.

ESPAçOS ADEqUADOSLuanda possui 31 farmácias oficiais. De acor-do com os registos, até Março do último ano existiam 560 espaços com autorização pa-ra laborar durante um ano. Em todo o país encontravam-se habilitados e autorizados a exercer a profissão 114 farmacêuticos. O no-vo pacote legislativo está em avaliação pelo

Conselho de Ministros, desde 2005 e permi-tirá reestruturar a actividade. A Companhia das Farmácias, uma das principais redes a operar na província de Benguela, é encara-da por muitos como exemplo de boa gestão e sucesso. Com duas farmácias abertas ao público, trabalha ainda na vertente de im-portação de material médico e hospitalar. Fornecedora de serviços públicos e privados em Angola, a entidade venceu o concurso público de abastecimento de medicamen-tos essenciais para o primeiro quadrimestre. A empresa, além da importação e comercia-lização de medicamentos, dedica-se ao seu fabrico, produzindo pomadas, xaropes e so-luções externas, possuindo para o efeito um laboratório farmacotécnico. Por outro lado, o correcto funcionamento dos espaços tem si-do assegurado pelas sucessivas inspecções. As equipas são multi-sectoriais, compostas por representantes da Saúde, Finanças e Em-prego. No caso de Luanda, a verificação dos espaços é regular. A organização e aprovisio-namento dos medicamentos são os pontos mais visados, pelo que os inspectores estão atentos à organização dos produtos, rotula-ção invisível e desordem nos armazéns.

INOvAçãO & DESENvOLvIMENTO | manuela bártolo

FARMÁCIAS

MÉDICOSDO BAIRRO

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O PARCEIRO Em Maio, assistiu-se à formalização de diver-sos acordos entre a empresa portuguesa In-farmed e uma plataforma de colaboração com organismos do Ministério da Saúde e com a Direcção Nacional de Inspecção e Investiga-ção das Actividades Económicas (DNIIAE). O compromisso foi firmado em 2008 e incluiu a formação integrada de quadros humanos e das autoridades angolanas. A parceria, em matéria de medicamentos, envolve o apoio regulamentar e científico, disponibilizado pe-lo Infarmed (enquanto entidade responsá-vel); o apoio académico, da responsabilidade das Faculdades de Farmácia e Medicina e o apoio operacional a cabo da Indústria Farma-cêutica.

A Central de Compras e Aprovisionamento de Medicamentos visa garantir o acesso das populações a produtos seguros e ao preço mais baixo possível

MEDICAMENTOS fIávEISRecorde-se que a entrada de medicamentos no país, seja para o sector público ou priva-do, é regulada pela Inspecção Geral de Saú-de em coordenação com a Direcção Geral das Alfândegas e de uma empresa privada que inspecciona todos os produtos que entram no território nacional pelos portos e aeropor-tos. A colaboração do Infarmed com o DNIIAE tem sido benéfica no âmbito da disponibili-zação de resultados científicos fiáveis e cre-díveis, permitindo uma actuação mais célere no terreno e junto dos tribunais. Foi o caso da “Operação Manvip 2008”, em que o auxílio do Infarmed permitiu apreender cerca de três toneladas de medicamentos contrafeitos. Já o Governo está a elaborar um plano nacional para a actividade farmacêutica, que inclui a fiscalização regular. Uma das medidas foi a criação de uma Central de Compras e Aprovisionamento de Medicamentos, que visa garantir o acesso das popula-ções a produtos seguros e ao pre-ço mais baixo possível. A entidade tem autonomia financeira e admi-nistrativa, sendo tutelada pelo Mi-nistério da Saúde, esperando-se que possa garantir aquisições transparen-tes e uma gestão eficaz, evitando a ruptura

de stocks. A Política Nacional Farmacêuti-ca permitirá complementar o vazio legal que existe em relação a esta matéria. A Direcção Nacional de Medicamentos e Equipamentos terá como funções regular a actividade, gerir a aplicação das disposições administrativas, técnicas e normativas do sector e autorizar a comercialização dos fármacos após avalia-ção e consentimento do ministério. Apesar de ainda não estar aprovado oficialmente, o do-cumento foi aprovado em 2001. Em fase de projecto, encontram-se ainda a Lista Nacio-nal de Medicamentos Essenciais e o Formulá-rio Nacional de Medicamentos.

Ainda este ano, a fábrica da Angomédica deverá arrancar com a produção de soros, pomadas e supositórios. Para 2010, está agendado o início da produção de outros medicamentos

INOvAçãO & DESENvOLvIMENTO

FARMÁCIAS

MÉDICOSDO BAIRRO

centro de investigação em saúde

O Projecto CISA promete revolucionar as entidades farmacêuticas internacionais. O novo centro destina-se a relançar a discussão em torno das chamadas “doenças negligenciadas”, como a úlcera de Buruli, doença de Chagas, cólera, dengue, dracunculíase, trepanomatose, entre outras. Estas afectam mais de um bilião de pessoas em todo o mundo, segundo a OMS. Para os países em situação precária, estas doenças são o principal entrave ao desenvolvimento. A pensar na situação nasceu o CISA, que deverá estar a funcionar em pleno em 2010. O projecto tem como finalidade captar a atenção e os investimentos das comunidades internacionais para a escassez de tratamento destas doenças. Baseia-se em três pilares: investigação científica, formação de recursos humanos e melhor prestação de serviços de saúde

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INOvAçãO & DESENvOLvIMENTO

SABIA QUE...

A Associação dos Profissionais

de Farmácia de Angola é a única

entidade reconhecida pelo Estado,

cuja inscrição é obrigatória

para todos os farmacêuticos,

técnicos médios e técnicos básicos

registados na Assofarma. A

Ordem dos Farmacêuticos ainda

está em formação, existindo uma

comissão instaladora

PANDEMIA ENCARADA COM CAUTELAA gripe H1N1, que começou no México e rapidamente se alastrou a praticamente todos os países, está a gerar uma onda de preocupações. A OMS acredita que o pior ainda está para chegar. O panorama angolano é por enquanto favorável. Existe até ao momento o registo de 13 infectados, em Luanda, Bengo e Benguela. A evolução dos pacientes é positiva e ainda não há registo de óbitos. O Ministério da Saúde já anunciou que o país irá receber 1,8 milhões de vacinas. A directora Nacional de Saúde Pública, Adelaide Carvalho, revelou que foram desenvolvidos desdobráveis com “informações sobre a existência da doença, assim como das medidas simples para evitar o contágio, como lavar as mãos com água e sabão”, que estão ao dispor de todos os angolanos. O vírus é transmitido pelo ar, de pessoa para pessoa, através de gotículas de saliva, e ainda por contacto das mãos com objectos e/ ou superfícies contaminadas. O período de incubação é de sete dias e os principais sintomas são febre, tosse, dores nos músculos, falta de ar e, nalguns casos, vómitos e diarreia.

NOvO IMPULSO Um dos projectos mais importantes do In-farmed é a criação de um laboratório de nível 1 para servir Angola e os países centro-afri-canos. Foi igualmente celebrado um acordo com a Inspecção Geral de Saúde, que visa a formação de futuros inspectores e aquisição de conhecimentos sobre os procedimentos de licenciamento das actividades. Vasco Maria, presidente do Infarmed, aproveitou a visita à unidade fabril da Angomédica e incenti-vou a direcção a avançar com a exploração dos meios existentes, uma vez que “as ins-talações são amplas” e “têm os equipamen-tos adequados”. “Penso que deve ser urgente a reactivação desta única fábrica de medica-mentos de Angola, para a produção de drogas de primeira linha, no quadro das necessida-des da população”, frisou o responsável. Por seu turno, Susana Pedro Maria, directora ad-junta da Angomédica, mostrou-se disponível para “colaborar com o Infarmed, sobretudo na área laboratorial, uma vez que o nosso objectivo é fornecer medicamentos de qua-lidade e seguros”. Para tal, as entidades de saúde contam com as equipas fiscalizadoras, que têm intensificado a actividade junto das farmácias. Ainda este ano, a fábrica da An-gomédica deverá arrancar com a produção de soros, pomadas e supositórios. Para 2010, es-tá agendado o início da produção de outros medicamentos.

LAbORATóRIOS TESTAM ORIGENSUma das principais actividades laboratoriais das entidades nacionais consiste na avaliação dos medicamentos que entram no território nacional, que permitem análises mais pro-fundas aos fármacos. É o caso do já referido acordo entre o Infarmed e a DNIIAE, que pre-vê uma estreita colaboração e apoio na criação do futuro laboratório de controlo de qualidade e serviço de registo de medicamentos, bem como dos centros fármaco-vigilância e de in-formação farmacêutica. José Pascoal, da An-gomédica, esclareceu que o laboratório presta serviços de apoio e análise da matéria-prima e está ao dispor de todos. O espaço conta com assistência técnica do “Laboratório Bial”, de Portugal, possuindo materiais de extrema fi-delidade capazes “de detectar impurezas co-mo a dioxina”. No caso da Gripe A (ver caixa), enquanto as principais farmacêuticas interna-cionais unem esforços no desenvolvimento de uma vacina eficaz, Angola prepara-se igual-mente para lidar com uma eventual pande-mia. O ministro da Saúde, José Van-Dúnem, anunciou recentemente que foi criado o la-

boratório de referência PCR, com a finalidade de fazer testes em tempo real. A medida, que coloca o país ao nível dos europeus e america-nos, foi divulgada após a reunião da Comissão Interministerial para a Prevenção da doença. “O envio de amostras para o exterior chegou ao fim, porque o nosso laboratório já tem so-luções para passar a confirmar no país”, con-firmou o responsável, em finais de Setembro. O ministro revelou que o espaço está dota-do dos equipamentos técnicos necessários e que se procedeu à formação de técnicos nesta matéria. A montagem do laboratório esteve ao cargo de um técnico da África do Sul (país onde se efectuaram as primeiras análises an-golanas) e o ministério conta ainda com a co-laboração de empresas de telecomunicações, que estão a informar os utentes sobre os cui-dados a ter, através de SMS.

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INOvAçãO & DESENvOLvIMENTO

O Ministério da Agricultura, no âmbito de uma profunda reorganização e modernização do sector, está, desde o início do ano, a rees-truturar os centros de investigação e política agrária. O Governo pretende implementar es-tratégias que definam modelos para a sua in-vestigação e para a formação de 30 técnicos por ano. As medidas, incluídas no Plano Na-cional, visam o relançamento do sector e a re-vitalização de uma área determinante para o desenvolvimento económico nacional. Assim, está prevista a reconversão e reestrutura-ção de 16 centros de investigação agrária (até 2012), que serão dotados de equipamentos eficazes e a reabilitação de quatro estações no Huambo, Waku Kungo, Malange e Uíge.

SUSTENTAbILIDADEO investimento na agricultura será deter-minante para o crescimento desta área da economia. Ana Lourenço, Ministra do Plane-amento, anunciou no final do último ano que o sector agrícola deverá crescer até ao final

deste ano mais de 20 por cento, contribuindo decisivamente para este ritmo os investimen-tos na reconstrução de perímetros irrigados e nos centros de investigação. “A meta que pre-vemos é de dois dígitos, portanto acima dos 20 por cento”, frisou, em declarações aos jor-nalistas. A modernização das infra-estrutu-ras de apoio tem, de facto, contribuído para o aumento do rendimento das culturas e para a melhoria da qualidade das sementes. A inclu-são destas medidas no Orçamento Geral do Estado e no Plano Nacional do Governo tem como finalidade garantir a segurança alimen-tar, questão que passa pela aposta nos secto-res agrícola, da pesca e da indústria.

MELhOR qUALIDADEA modernização do sector agrícola é o meio mais eficaz para alcançar uma produção inter-na suficiente para satisfazer as necessidades e, até, para exportar. É o caminho mais viável para alcançar a tão desejada qualidade e se-gurança dos produtos alimentares. Para o vi-

ce-ministro da Agricultura, Zacarias Sambeny, a organização da área de investigação agrária permitirá a médio e longo prazo gerar, adaptar e transferir tecnologias que propiciem a segu-rança dos alimentos e consequente nutrição e saúde das famílias. Durante a Conferência Nacional sobre o sector, que este ano abordou o tema da investigação agrária, o responsá-vel manifestou o seu optimismo em relação à aposta nos centros de investigação, que per-mitirão adaptar e transferir as novas tecnolo-gias para a optimização da produção, no que concerne à cultura de alimentos e criação de animais. Por outro lado, de acordo com os res-ponsáveis governamentais, o investimento em locais de estudo, que deverão estar a funcionar em pleno em 2012, vai tornar viável a utilização sustentável dos recursos naturais, sendo pos-sível coordenar, promover e estimular acções de investigação agrária, por parte das organi-zações públicas e privadas, bem como da so-ciedade civil, que vão contar com a colaboração de organizações internacionais congéneres, no âmbito da troca de experiências. O programa de fomento da investigação agrária inclui a instalação de 16 centros nacionais, que vão ser espalhados por diversos pontos do país. Para alcançar as metas estratégicas, o ministério tem em curso um conjunto prioritário de Pro-gramas Nacionais de Investigação, com vis-ta a adquirir a auto-suficiência em alimentos e matérias-primas e a criação de excedentes para os mercados internacionais, permitindo o desenvolvimento sustentável da agricultura.

AGRICULTURA SOBINVESTIGAÇÃO

As metas estabelecidas pelas Nações Unidas durante a Cimeira de 2000, relativamente ao respeito dos objectivos de desenvolvi-mento do milénio, exigem um combate eficaz e efectivo à fome e à pobreza. O sector agrário é determinante e, nesse sentido, os centros de investigação são fulcrais para cumprir as exigências internacionais e garantir a auto-suficiência alimentar dos ango-lanos, bem como o acesso equitativo a alimentos seguros e de qua-lidade. A recuperação e criação de 16 espaços são as apostas.

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INOvAçãO & DESENvOLvIMENTO

bic financia agriculturaO Banco Internacional de Crédito está a financiar pequenos e grandes projectos agrários. O presidente do Conselho de Administração, Fernando Teles, acredita que o investimento neste sector é útil para a diversificação da economia. Reconhecendo que a produção nacional deve ser fomentada, uma vez que se importa desnecessariamente muitos produtos alimentares, o dirigente explica que “é importante apoiar a população no geral que tem um rendimento mais baixo, através de uma aplicação denominada Crédito de Campanha, permitindo assim às pessoas semearem e posteriormente pagarem aos bancos em função das suas colheitas”

“O programa de fomento da investigação agrária inclui a instalação de 16 centros nacionais, que vão ser espalhados por diversos pontos do país, até 2012”

ExPERIêNCIA bRASILEIRADetentoras de larga experiência na investi-gação agrária, em Maio, a Empresa Brasilei-ra de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Universidade Federal de Viçosa (UFV) mani-festaram a sua disponibilidade para cooperar com o Ministério da Agricultura angolano e assumem-se como parceiros na reestrutura-ção do Instituto de Investigação Agronómica de Angola (IIA), fornecendo conhecimentos e recursos humanos. O IIA conta com um in-vestimento governamental de 32 milhões de dólares americanos e está a seguir o sis-tema Embrapa, que este ano deverá colocar em funcionamento quatro dos 16 centros de pesquisa. A quantia vai financiar as áreas da cooperação internacional, que incluem a for-mação de técnicos nacionais, a contratação de consultoria e a assistência técnica. Os primei-ros centros de investigação a iniciar activida-des estarão localizados no Huambo (Estação Experimental Agrícola de Chianga, apostando no milho e feijão), em Malange (Estação Ex-perimental de Malange estuda a mandioca, batata doce e amendoim), na Huíla (Estação Zootécnica do Lay, destinada a caprinos e ovi-nos) e no Kwanza (gado de leite). Para a mate-rialização do programa serão necessários 500 investigadores, contra os actuais cem. “Este ano já contratamos 20 pessoas, que deverão actuar nos centros de pesquisa a serem ins-talados”, esclareceu o vice-ministro Sambeny. Assim, a segunda etapa deste projecto visa a supressão do deficit de mão-de-obra para es-tas áreas de pesquisa, através da qualificação dos trabalhadores, graças à colaboração da UFV, que vai dispor de pós-graduações para os pesquisadores. O programa de cooperação visa igualmente acções de formação de curta duração para os técnicos angolanos nas uni-dades da Embrapa.

PORTUGAL é PARCEIROEmpenhado em manter um relacionamen-to de cooperação com Angola nos mais di-versos níveis, o Governo português mostrou total abertura para formar técnicos nacionais nos institutos de investigação de Portugal. A garantia foi dada pelo ministro português da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas, Jaime Silva que, durante a última visita ao pa-ís, afirmou haver disponibilidade para enviar investigadores para Angola. Os investimen-tos portugueses neste sector são escassos. “Há apenas duas empresas na área do leite, em parceria com os angolanos e outra na área das aves, em função daquilo que é a poten-cialidade de produção em Angola”, explicou, adiantando que pretende importar a partir de Angola açúcar, café e outras matérias-primas. O responsável lembra ainda que a possibilida-de de exportação para Portugal constitui uma excelente oportunidade para a economia an-

golana, que poderá entrar no mercado da União Europeia, composto por 450 milhões de consumidores.

CAMPANhA 2009/ 2010As associações e cooperativas de campone-ses vão receber 1,7 milhões de dólares em crédito, cujo financiamento está a cargo do Banco de Desenvolvimento Angolano (BDA). O apoio, inserido na preparação da campanha agrícola 2009/ 2010, destina-se à compra de fertilizantes, tractores e outros produtos agrícolas. O ministro da Agricultura, Afon-so Pedro Canga espera que, com a entre-ga dos novos meios, os agricultores possam “enriquecer e elevar os níveis de produção e melhorar a qualidade da dieta alimentar na região”. “Acreditamos que as acções serão executadas para podermos, no fim da cam-panha, termos os níveis de produção aumen-tados”, manifestou.

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INOvAçãO & DESENvOLvIMENTO | patrícia alves tavares BREVES

cooperação

UNESCO e Mincit reforçam parceriaA Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura vai apoiar o Ministério da Ciência e Tecnologia, uma vez que se trata de uma área importante para atingir os objectivos do milénio. A garan-tia foi dada pelo director regional da Unesco, Alaphia Wright. Os dois responsáveis abordaram a possi-bilidade de trabalharem em conjunto na área “O Homem e a biosfera”. “A Unesco tem uma experiência mundial muito vasta, o que o torna num colaborador importante para o país, porque essa experiência vai ajudar no progresso das ciências e tecnologia”, destacou Alaphia Wright. Já a ministra angolana Cândida Teixeira revelou que “na área de ciência e tecnologia está previsto para final de Novembro a calendariza-ção do plano de trabalhos de 2010/2011, daí que vamos cooperar para desenvolvermos projectos nesta área, onde a Unesco tem muita experiência”, disse.

telecomunicações

Ministério projecta rede privativaO ministro das Telecomunicações e Tecnolo-gias de Informação, José Carvalho da Rocha, acredita que o desenvolvimento de uma rede privativa de tecnologias de informação per-mite interligar a administração central e lo-cal, agregando uma panóplia de serviços. A ideia foi proferida durante um workshop, em Benguela, onde o governante anunciou que a província poderá ficar interligada administra-tivamente ainda este ano. Outra das vanta-gens do projecto, segundo Carvalho da Rocha, está no combate à info-exclusão, uma vez que a novidade contribuirá para o desenvolvi-mento da sociedade de informação. Por outro lado, o ministro assegurou que, até ao final de 2009, a rede de vigilância sísmica e mete-orológica será reforçada em todo o território, com uma estação meteorológica automática em cada capital provincial. Ainda na vertente das tecnologias, o Governo deverá aumentar o número de linhas telefónicas (fixa e móvel), investindo na qualidade das comunicações.

fibra óptica

Cabo interliga rede terrestre“Adones” é a denominação do sistema de cabo submarino de fibra óptica, que interliga a rede nacional terrestre de telecomunicações, de Cabinda ao Cunene, orçado em 80 mi-lhões de dólares. O mecanismo está finalizado, faltando apenas a sua exploração comer-cial. Actualmente, está em curso o estudo da inserção do trajecto do cabo de fibra óptica nas cartas marítimas, para que as companhias de navegação conheçam o local exacto por onde passa o cabo, para se evitar a sua destruição.

tecnologia

Coordenar a investiga-ção científicaUm novo mecanismo que facilita o intercâmbio entre as instituições de investigação científica foi apresentado recentemente pelo Ministério da Ciência e Tecnologia. O objectivo consiste em reforçar o processo de educação e formação profissional, dotando-o de capacidade científi-ca e tecnológica. Por outro lado, o novo sistema contribui para o desenvolvimento de um méto-do de pesquisa e inovação integrada, dinâmica e de elevada qualidade, facilitando a dissemi-nação e comunicação do conhecimento científi-co e tecnológico. “Neste âmbito, para dar maior valor à actividade científica, vai desenvolver-se a capacidade inovadora, traçando sinergias e elaborando um plano de coordenação para po-der aproveitar o processo de reconstrução na-cional”, explicou fonte do ministério.

concurso

Fábrica de vidro no KikoloA FVK (Fábrica de Vidros do Kikolo) foi re-centemente inaugurada pelo ministro da In-dústria, Joaquim David. A nova indústria tem como objectivo de colmatar as necessidades de materiais, pois o ‘boom’ na construção civil originou uma forte procura destes produtos. A fábrica recorre a tecnologia inovadora e o in-vestimento em Know How tem como finalida-de garantir a qualidade, inovação, flexibilidade e controlo de risco. Aliás, estes são os princí-pios que regem o funcionamento da empre-sa, que garante conseguir dar uma resposta eficaz aos clientes mais exigentes. O espaço está especializado na produção de vidro tem-perado, duplo, laminado e apresenta como va-lências os serviços de corte, furos, polimento de arestas, entalhes, moldes, entre outros. A aposta nestes serviços é uma mais-valia, pelo que a fábrica conseguiu captar clientes profis-sionais e particulares.

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DESPORTO

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Os Jogos Olímpicos de Pequim elucidam os mais cépticos e revelam a destreza física dos africanos e afro-caribenhos. A lista de países medalhados em 2008 retrata a superioridade dos atletas de raça negra: a Jamaica conquistou 11 medalhas (seis de ouro), seguem-se o Qué-nia, com 14 troféus (cinco de ouro), a Etiópia (sete medalhas), o Zimbabué (quatro meda-lhas), os Camarões e a Tunísia (uma medalha de ouro cada), a Nigéria (quatro medalhas), a África do Sul e o Sudão (uma medalha de prata cada), entre outros. Há que recordar ainda os atletas negros que participaram nas equipas das nações onde nasceram. Muitos america-nos representam as cores dos EUA, mas são descendentes de africanos e possuem o talen-to da sua raça. O mesmo acontece na Europa. Veja-se o caso de Portugal, que apresentava entre os 77 atletas da comitiva olímpica, nove nascidos em África ou com ascendência afri-cana: Afonso Domingos (vela; moçambicano), Edivaldo Monteiro (400 m barreiras; bissau-guineense), Francis Obikwelu (100 m e 200 m; nigeriano), Hélder Ornelas (maratona; ango-

ÁFRICA

Reis das pistas

A modalidade de atletismo não diz respeito apenas à resistência. Ela integra essa capacidade com a habilidade física, sendo por esse motivo considerada o desporto-base para testar todas as características básicas do Homem

lano), João Costa (tiro com pistola; angolano), Marco Fortes (lançamento de peso; ascendên-cia cabo-verdiana), Naíde Gomes (salto em comprimento; são-tomense), Sandra Tavares (salto com vara; ascendência cabo-verdiana) e Nelson Évora (ouro no triplo salto; ascendência cabo-verdiana e marfinense).

SUPREMACIA NEGRAA questão que muitos colocam consiste nas razões por detrás da preponderância dos ne-gros em relação aos brancos, em modalida-des como o atletismo. Os casos do Quénia e da Etiópia sustentam que o ambiente é deter-minante para o sucesso. Estes países ofere-cem as condições ideais para a formação dos atletas das corridas de fundo, isto é, as zonas rurais de elevada altitude, com temperaturas moderadas todo o ano e sem grandes estradas por perto incentivam as crianças a desenvolver as suas capacidades desportivas, já que adqui-rem o hábito de correr os muitos quilómetros que separam as aldeias das escolas. Porém, muitos defendem a biologia como explicações

mais plausíveis para justificar este fenómeno. Por razões genéticas, os africanos orientais possuem, predominantemente, fibras mus-culares lentas, mais adequadas para correr longos percursos e os afro-caribenhos apre-sentam uma maior incidência de fibras rápi-das, o que lhes permite serem bons velocistas. No caso da África Ocidental, o menor desen-volvimento do atletismo é associado ao factor emigratório, que levou as populações a fugir da guerra e da pobreza rumo a outros conti-nentes, onde as crianças acabam por desen-volver os seus talentos. A polémica é antiga e muitos não excluem a intervenção conjun-ta das componentes “ambiente” e “biologia”. Aliás, esta possibilidade foi admitida pelo re-cordista mundial da maratona, o etíope Haile Gebrselassie, que durante os Jogos de 2008 respondeu de forma taxativa aos jornalistas: “Os africanos têm um dom. Somos muito do-tados para correr. Especialmente no Quénia e na Etiópia (pelo menos no que às corridas de longa distância diz respeito). A área onde vi-vemos, a comida, a temperatura, a altitude...

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DESPORTO

tudo. Além disso, quando vamos para uma corrida nos grandes eventos não há indivíduos, o que interessa é o trabalho de equipa. E, se se tem tudo, porque não fazer algo com isso?”

áfRICA GLObALIzA ATLETISMOLamine Diack, presidente da Federação Inter-nacional de Atletismo (IAAF), acredita que o continente africano, que albergará o Mundial de Futebol de 2010, se assumirá como a plata-forma de lançamento, para tornar o atletismo num desporto verdadeiramente global. Numa entrevista concedida à ‘Reuters’, o dirigente afirmou que África seria o local ideal para aco-lher o campeonato mundial bienal. “Queremos distribuir eventos de um dia através do mun-do, um programa de encontros de um dia em África, na América, na Oceânia e na Ásia. Que-ro dar aos atletas europeus a possibilidade de ir e competir em estádios abertos em África, no início da temporada”, manifestou. Os ad-ministradores das modalidades temem que a principal modalidade dos Jogos Olímpicos seja demasiado eurocêntrica. Diack considera o ca-so do futebol como um exemplo positivo e o marcar de uma nova era no desporto, em ge-ral. “Vinte anos atrás ninguém diria que África teria um Mundial de Futebol”, comentou, mos-trando convicção de que no futuro o mesmo vai acontecer em modalidades como o atle-tismo. O presidente da IAAF admite que para impulsionar a exposição mundial do atletismo, há que simplificar e encurtar as competições, de modo a que se tornem mais atractivas para as transmissões televisivas.

LEGADO DE OwENSHá 73 anos, Jesse Owens fez história no Es-tádio Olímpico de Berlim. Em 1936, nos Jogos Olímpicos, o norte-americano tornou-se no primeiro atleta de raça negra a conquistar qua-tro medalhas de ouro (100 metros, 200 me-tros, 4X100 metros e comprimento) perante a incredulidade de Adolf Hitler, desafiando a propaganda da superioridade ariana. A sua fi-gura e o seu legado foram homenageados no

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último Campeonato do Mundo de Atletismo, no qual os atletas americanos competiram com as iniciais JO bordadas no equipamento, enquanto descendentes de Owens entrega-ram as medalhas no salto em comprimento.

CAN RELANçA MODALIDADEOs dirigentes angolanos encaram o CAN como uma mais-valia para a divulgação do atletismo, uma vez que a maioria dos estádios, que estão

ernestina paulino, a revelação

Atleta do 1º de Agosto, Ernestina Paulino é uma das corredoras mais temidas, na categoria de femininos. Ela detém o actual recorde

nacional, ao ter terminado os 10 mil metros de pista em 35 minutos e 58 segundos, nas provas organizadas pela Federação Angolana

de Atletismo (FAA), que decorreram em Agosto, no Estádio dos Coqueiros. A atleta federada conseguiu ultrapassar a anterior marca

de 37 minutos e 21 segundos, conquistada em 2001 por Alda Maurice (Interclube), no Namibe. O secretário-geral da FAA, Mota

Gomes considerou o feito como uma viragem na modalidade e o início de uma era de resultados positivos. Ernestina Paulino, de 24

anos, já se tinha evidenciado na sétima prova pedestre, organizada pelo clube que representa, ao classificar-se na primeira posição,

com 34 minutos e três segundos. A jovem ocupa o 35º lugar no ranking da Federação Internacional de Atletismo (IAAF World)

joão ntyamba, o símboloDetentor de um currículo invejável, o atleta João Ntyamba é o ícone do atletismo nacional, assumindo actualmente a vice-presidência da federação. O novo cargo é o concretizar de um sonho para o atleta, que deseja trabalhar para o crescimento da modalidade. O corredor participou em seis olimpíadas, bem como em cinco edições do IAAF World Championships Athletics, sendo sempre o melhor angolano classificado. Recentemente participou nas 10 km Tribuna FM, no Brasil, competição da qual se tornou tricampeão e alcançou sempre os primeiros lugares. Nascido numa tribo no interior de Angola (Nganguelas), João Ntyamba iniciou-se no desporto em Luanda, onde jogava futebol. Com 14 anos foi para Portugal à procura de um lugar no Benfica, mas o dom do atletismo falou mais alto e o ícone da modalidade enveredou por esta carreira, que lhe valeu alguns títulos. Em 2001, venceu duas competições importantes: Medellin Half Maraton e Rio Half Maraton

a ser edificados para albergar a competição de futebol, serão dotados de pistas para a prática da modalidade, que enfrenta como principais entraves para o crescimento as escassas ver-bas e infra-estruturas obsoletas e desadequa-das. É o caso da província da Huíla, em que a construção do novo estádio e a reabilitação de três espaços, no âmbito do CAN, suscitou a sa-tisfação do presidente da Associação Provin-cial de Atletismo, Pedro Ndala. O responsável

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hierarquização das modalidades permiti-rá criar indicadores dos desportos que mere-cem especial atenção e protecção, que sejam considerados capazes de atingir mais rapida-mente medalhas e que devido ao seu historial provam que podem competir com “bastante dignidade”, apresentando potenciais de cres-cimento dentro de um espaço temporal. De acordo com o líder olímpico, Gustavo da Con-ceição, além do futebol, do andebol e do bas-quetebol, existe um conjunto de modalidades individuais que podem atingir altas perfor-mances. Assim, citou como exemplo o atle-tismo que nesta fase não é prioridade pelos resultados desportivos, mas pela sua essên-cia. “O atletismo é a base de todas as outras modalidades, porque todos correm e saltam e o atletismo só leva isso a níveis técnicos e de performance de excelência”, frisou. O Di-rector Nacional de Desportos, Raimundo Ri-cardo, elogiou recentemente, em declarações à Angop, o trabalho que tem sido desenvol-vido pelo presidente da Federação Angolana de Atletismo, Carlos Rosa, especialmente no que concerne à procura de apoio dos governos provinciais para a massificação da modalida-de. Reconheceu ainda que os dirigentes deste desporto possuem “um rico programa” de tra-balho para o desenvolvimento, pelo que care-cem ainda de muitos apoios financeiros.

| patrícia alves tavares DESPORTO

80 | ANGOLA’IN · DESPORTO

na boca do mundo Ele é jamaicano e saltou para o

estrelato ao bater todos os recordes

no Mundial de Atletismo de Berlim.

Ela tornou-se campeã nos 800 metros

do último campeonato do mundo. Os

dois atletas são exemplos do talento

dos negros para o atletismo. Usain

Bolt é considerado pelos analistas

como o maior velocista de todos os

tempos. Actual campeão olímpico

e mundial, tem 23 anos e é detentor

dos recordes mundiais nos 100 e

200 metros rasos, sendo que no

primeiro estabeleceu os últimos três

recordes, conseguindo a proeza da

superar-se a cada competição que

passa. Caster Semenya, sul-africana,

medalha de ouro nos femininos,

surpreendeu todos ao bater todos

os máximos (da competição e

individuais). A conquista esteve

envolta na polémica. Os exames

podem revelar que a jovem de 18

anos é pseudo-hermafrodita, pelo

que se colocam importantes questões

quanto à participação da atleta em

próximas competições femininas

afirmou publicamente que as obras vão per-mitir o relançamento da modalidade na região. O estádio principal e as estruturas da Senhora do Monte, Benfica e Ferroviário serão dotados de pistas com piso de tartam. “A província já tem mostrado um bom trabalho, mesmo a la-borar nas condições actuais. Agora com as no-vas condições que estes estádios vão oferecer, sem dúvida, no próximo ano, vamos ter atletas com performances melhoradas, para o bem do atletismo nacional”, enunciou, revelando que com as novas infra-estruturas os atletas vão abandonar as pistas de cinza, o que se traduzi-rá numa melhoria das suas performances des-portivas.

INTERvENçãO PRIORITáRIAEncontra-se no ranking das modalidades que necessitam de intervenção prioritária. O ande-bol encabeça a lista, divulgada pelo Ministério da Juventude e Desportos, que define aque-les que merecem maior atenção no âmbito da olimpíada 2008/ 2012. O atletismo surge em quarto lugar, num estudo que tem como fina-lidade orientar as modalidades para a adopção da estratégia de desenvolvimento desportivo, com vista a participar nos Jogos Olímpicos de 2012. O ministério tenta ordenar os despor-tos, de acordo com a exiguidade de recursos e a necessidade de serem rentabilizados. A

evolução do atletismoO atletismo designa todas as actividades desportivas, realizadas individualmente

ou entre equipas, que incluem corridas, marcha atlética, lançamentos e saltos.

A modalidade assume-se como o evento chave dos Jogos Olímpicos desde a era

antiga. Em 776 a. C., Corobeus, de Atenas, tornou-se no primeiro e mais antigo

herói do atletismo, ao ganhar a prova de velocidade nos 192 metros de pista

improvisada. Após um interregno de 1400 anos, os Jogos Olímpicos regressaram a

Atenas (Grécia), repartidos em 26 provas masculinas e 23 femininas. O atletismo

é até hoje uma das principais modalidades e das mais disputadas. A pista oficial

tem um formato oval e é dividida em oito raias de 400 metros de extensão

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81 DESPORTO · ANGOLA’IN |

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82 | ANGOLA’IN · DESPORTO

BENEFÍCIOS

A prática de actividade física contribui

de forma determinante para a melhoria

da saúde. De acordo com a OMS, o des-

porto reduz o risco de morte prematura,

de morte por doença cardíaca, de desen-

volvimento de diabetes e hipertensão

arterial, contribuindo para a redução da

depressão e ansiedade. É uma ajuda no

controle do peso, no fortalecimento dos

ossos, músculos e articulações, promo-

vendo o bem-estar psicológico

Os africanos assumiram, ao longo dos últimos anos, o domínio de várias modalidades. O de-senvolvimento económico e social tem contri-buído para a criação de infra-estruturas e para a formação de profissionais capazes de prepa-rar novos talentos. Angola não escapa à mas-sificação do desporto e as camadas jovens são exemplo do bom e árduo trabalho, que tem sido desenvolvido por todas as entidades. Os atletas nacionais com menos de 20 anos têm dado provas de que são capazes de elevar o desporto angolano para os rankings mundiais. As acções governamentais, por outro lado, têm tido um peso fundamental. Em colaboração com as associações e federações desportivas, têm contribuído para a formação de campeões nos juniores e juvenis, fazendo augurar um fu-turo recheado de medalhas. A promoção do desporto, enquanto actividade profissional e federada, conduziu a Assembleia Nacional a votar recentemente a favor de uma resolução que aprovou a adesão de Angola à Convenção Internacional da Unesco contra a Dopagem no Desporto, possibilitando a reunião das condi-ções necessárias para combater este proble-ma, que atinge o território nacional.

Sanguenovoem campoA OMS destaca a relevância do desporto pelo seu contributo para a saúde física, mental e social, para a capacidade funcional e bem-estar de indivíduos e comunidades

vENCER fORA DE CASASão presença assídua das competições des-portivas da CPLP. Este ano, o desempenho dos atletas nacionais nos Jogos da Lusofonia, que decorreram em Portugal, revelaram que o trabalho desenvolvido junto da massificação do desporto e da criação de condições para a formação e crescimento das camadas jovens é bem sucedido. O certame tem como funda-mento a sensibilização para a prática desporti-va das crianças e jovens. Angola arrecadou 14 medalhas (quatro de ouro), distribuídas pelas modalidades de basquetebol, judo, atletismo, futebol, futsal e taekwondo, alcançando a ter-ceira classificação na tabela de países.

TALENTO CONfIRMADOProva das potencialidades dos mais novos é o andebol, nomeadamente no que concerne à formação feminina. A selecção nacional da modalidade em cadetes femininos sagrou-se campeã em Setembro, ao conquistar a primeira edição do Campeonato Africano da categoria. Com este resultado, as juniores apuraram-se directamente para o Campeonato do Mundo de 2010, a disputar-se na República Domini-

| patrícia alves tavares

cana, revelando que este desporto tem capa-cidade para liderar as provas internacionais. O basquetebol merece destaque, pois os angola-nos são soberanos desde muito pequenos. Aos recentes deca-campeões africanos juntam-se

| patrícia alves tavares DESPORTO DESPORTO

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83 DESPORTO · ANGOLA’IN |

os jovens das formações, que vão somando al-guns títulos. Com o apuramento para o mun-dial da modalidade (2010) garantido, os sub-18 sagraram-se no último ano vice-campeões africanos. Já em 2009, a participação nos Jogos da Lusofonia terminou com uma medalha de ouro para a equipa. O futebol é uma autênti-ca máquina de prodígios, cuja qualidade des-perta o interesse dos clubes internacionais. A selecção sub-20 sagrou-se pela primeira vez campeã da Taça das Nações Africanas, em 2001. O bom desempenho é constante e, ape-sar dos poucos títulos, estiveram presentes no Mundial de 2006 e venceram recentemente o torneio internacional de futebol, organizado pela Fundação Eduardo dos Santos. O mesmo ocorre em modalidades como o xadrez que, embora ainda esteja a afirmar-se no desporto, regista uma forte procura e tem apostado na formação de escalões, o que já lhe valeu uma medalha de bronze no Campeonato Africano de Juniores de Xadrez, de 2007.

NOvAS MODASÀ semelhança das artes marciais, a capoeira tem atraído os mais novos, cuja adesão tem superado as expectativas. A cidade de Ben-guela é um desses casos, situação que levou o membro graduado da Associação Brasileira de Apoio e Desenvolvimento da Arte Capoei-ra, Joaquim Tchivela, a elogiar o reconhecimen-to dos benefícios da modalidade por parte dos jovens. O representante garantiu que as exibi-ções, o empenho e o interesse dos jovens con-tribuíram para a massificação da capoeira, que contabiliza mais de 200 (quatro graduados) praticantes apenas naquela cidade. O moto-cross, por outro lado, é a modalidade mais im-provável para formar camadas jovens. Porém, Vítor Moreira contraria a tendência. Com ape-nas nove anos, o pequeno atleta, que pratica desde os quatro anos, é o orgulho do núcleo de

Viana. Actualmente, conduz uma motorizada de 65 centímetros cúbicos e relata que o seu objectivo passa por tornar-se campeão.

OS EqUIPAMENTOSUm dos objectivos do Ministério da Juven-tude e dos Desportos consiste na criação de estruturas adequadas ao ensino dos mais no-vos, desde espaços adaptados à formação de quadros desportivos. O Governo destaca que as seis novas universidades públicas que ar-rancam este ano terão um curso superior de educação física e desporto. Por outro lado, o programa Despertar prevê abranger 180 mil jo-vens em todo o país, por um período de qua-tro anos, tendo como missão o combate da delinquência através do fomento do desporto. Até 2012 serão erguidos mil campos de fute-bol. Para massificar modalidades como o bas-quetebol, o andebol, o atletismo, a ginástica e o xadrez, o ministério está a formar seis mil agentes desportivos. O CAN também constitui um bom agente da promoção do desporto en-tre os mais pequenos. Os novos estádios estão dotados das infra-estruturas necessárias para servir os escalões de formação de várias áreas desportivas.

DESPORTO NAS ESCOLASO desporto escolar é uma das apostas do mi-nistro Gonçalves Muandumba. Inserido no plano de massificação da actividade, o respon-sável anunciou que foi acordado com o Minis-tério da Educação que a partir deste ano todos “os estabelecimentos novos de ensino, públi-cos ou privados, têm de ter uma componen-te desportiva”. “Só neste ano lectivo, entraram em funcionamento 35 institutos politécnicos novos. Cada um tem um campo de futebol, um polidesportivo e um ginásio para os alunos praticarem desporto”, contou o ministro, em entrevista ao jornal ‘A Bola’.

(Pouco) amigo do coraçãoOs dados não são totalmente fiáveis. Porém, Mário Fernandes, presidente da Associação dos Amigos do Coração (AACOR), afirmou, em declarações a ‘O País’, que o problema da hipertensão afecta faixas etárias mais jovens que a população europeia, pelo facto de se encontrar associado a factores relacionados com a raça negra (estilo alimentar e aos as-pectos socioeconómicos). Isto é ainda mais preocupante quando se fala de atletas. Os casos de morte súbita em campo são uma re-alidade. O recente caso de Cabinda suscitou a necessidade da medicina desportiva e da cardiologia agirem de forma a reduzir estas situações. Mas, Mário Fernandes conside-ra que “nunca será possível atingir o zero”. “Temos sempre a ideia de um desportista é o mais saudável da sociedade, mas também temos que entender que ele faz eventual-mente uma das coisas mais arriscadas da sociedade”, lembrou referindo-se às provas de extremo esforço a que são submetidos. O médico evoca que por vezes os dirigentes se esquecem “do essencial que é ter um médico que se responsabilize pela saúde dos atletas”

DESPORTO

crianças recebem formação no inter

As crianças do projecto polidesportivo “Dom Bosco Inter

Campus” vão beneficiar de acções de formação no Inter de

Milão (Itália) e de um lote de material do clube. A iniciativa

insere-se no programa “Inter Campus África” e capacitará

monitores, treinadores e professores para trabalhar com

crianças necessitadas. O plano foi apresentado pelo responsável

italiano Massimo Seregni, durante a apresentação da equipa

infantil angolana, que representará o país na primeira edição

da Copa do Mundo Inter Campus em Futebol, em Itália

83 DESPORTO · ANGOLA’IN |

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motocross

Pista de Saurimorecebe aprovaçãoOs responsáveis e motoqueiros do núcleo de amigos do motocross de Viana consideram que a pista da cidade de Saurimo reúne todas as condições para receber provas internacionais. Os pilotos Pitoca e Bruno Moreira e o respon-sável Carlos Moreira argumentam que a pista apresenta as dimensões e o perímetro neces-sários para acolher os melhores atletas africa-nos. Por seu lado, o empresário José Faria apela ao apoio da classe empresarial da província da Lunda Sul, no sentido de dinamizarem a moda-lidade na localidade. O investidor conta com a colaboração de ex-motoqueiros de Saurimo e adeptos, que em conjunto estudam a compra de motorizadas de baixa cilindrada nos países vizi-nhos e pretendem reabilitar o perímetro circun-dante à pista, que engloba uma zona florestal e uma antiga piscina. As iniciativas prendem-se com o objectivo de divulgar a modalidade.

84 | ANGOLA’IN · DESPORTO

DESPORTO | patrícia alves tavares BREVES

basquetebol

Próximos da NBAVitorino Cunha, ex-técnico da selecção na-cional sénior masculina de basquetebol, está optimista em relação à presença efec-tiva de jogadores angolanos na prestigia-da liga norte-americana NBA. A previsão é de que tal seja viável nos próximos cinco a dez anos, bastando que um base nacio-nal tenha 1,85/ 1,90 metros e possua qua-lidades de excelente defensor e passador, com lançamentos acima dos 55 por cento. Estes são os requisitos exigidos para que seja aprovado nos testes de aptidão para representar um clube da liga NBA. Já o ex-tremo nacional terá de ser excelente de-fensor, contra-atacante e passador, bem como medir mais de 2,02 metros. Assim, para possibilitar o ingresso dos talentos nacionais na competição mais requisitada do mundo, há que “começar já a trabalhar nessa senda”, defendeu o técnico. A selec-ção nacional venceu recentemente a última edição do Afrobasket, somando dez títulos continentais.

natação

Modalidade carece de infra-estruturasA falta de equipamentos adequados para a prática da natação constitui um dos principais en-traves ao desenvolvimento da modalidade a nível nacional. A análise do actual estado desta prática desportiva foi proferida pelo presidente da Federação Angolana de Natação (FAN), An-tónio Monteiro, que revelou que apesar da piscina de Alvalade se encontrar funcional, os agen-tes preferem os espaços do Clube Náutico e do 1º de Agosto, devido à maior acessibilidade dos preços. O responsável alega que esta situação dificulta a tarefa de massificação da modalidade e respectivo aumento do número de equipas e atletas. O dirigente defende que o Governo deve aproveitar a organização das provas continentais (africanos de andebol, basquetebol e futebol) para construir piscinas nos mesmos recintos de jogo ou nas imediações, canalizando esses in-vestimentos para um aumento das modalidades. Entre 1989 e 1995, período em que a piscina de Alvalade esteve encerrada para obras, o país perdeu 10 mil alunos de natação e assistiu ao encerramento de 150 escolas, levando a uma descida de mil federados para os actuais 232.

boxe

Federação prepara OlímpicosA Federação Angolana de Boxe encontra-se a trabalhar no programa de preparação para os Jogos Olímpicos de Londres (Inglaterra), em 2012. O objectivo da antecipação do evento mundial con-siste em conferir maior rodagem competitiva aos pugilistas nacionais. Conforme as declarações do vice-presidente, Azevedo Neto, os atletas encontram-se a treinar nos clubes desde o início do ano e estão previstas convocatórias às selecções nacionais, para que, além da formação base, se-ja possível aprimorar as técnicas, tácticas e estratégias. A vertente psicológica e as capacidades competitivas também estão a ser trabalhadas. A participação no “zonal da modalidade” já rendeu “duas medalhas de ouro e três de bronze”. “Tivemos cinco participações e agora estamos a prepa-rar o campeonato africano e os jogos africanos de Maputo (Moçambique) ”, explicou. Por seu lado, o antigo técnico das selecções nacionais Franklin Gomes defendeu a aplicação de um regime de treinos especial, que vise os dez melhores atletas, preparando-os para a alta competição.

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85 DESPORTO · ANGOLA’IN |

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LUXOS | patrícia alves tavares

86 | ANGOLA’IN · LUXOS

FERRARI 458 ITALIA

O sucessor do F430 marca o início de um novo capítulo na tradição dos carros despor-tivos de elevadas ‘performances’, construídos em Maranello. O motor V8 de 4.499cc atinge as 9.000 rpm e debita uma potência máxima de 570 cv. A tecnologia é a mais recente, desde a transmissão de dupla embraiagem com sete velocidades à suspen-são revista, destacando-se ainda os poderosos travões Brembo.

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MAYBACH EXELERO

É um dos carros mais caros do mundo. Com 700 cv, supera facilmente os 350 km/h e é uma peça única, pois resulta da fusão de linhas retro e futuristas. Está equipado com tudo, como sistemas de navegação por satélite, airbags para todos os lados, comandos eléctricos individuais para cada banco, ABS, ESP, entre outros.

87 LUXOS · ANGOLA’IN |

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88 | ANGOLA’IN · LUXOS

LUXOS

CADILLAC PROVOQO mais recente protótipo Cadillac surge na sequência da nova moda dos SUV, com formas coupé. O Provoq utiliza a tecnologia E-Flex, que recorre ao hidrogénio e permite que este circule aproximadamente 32 quilómetros apenas com energia eléctrica e mais 450 km com gás natural. A velocidade máxima é de 160 km/h. O uso de combustíveis alternativos e tecnologias de luxo vai de encontro à satis-fação dos clientes de automóveis de luxo.

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90 | ANGOLA’IN · LUXOS

ARAI CHASER JUNGLEO seu design baseia-se numa linha confortável, disponível em cinco tamanhos. O interior é lavável e possui um sistema que reduz o ruído do vento.

ALPINESTARS DUAL GLOVEProduto da criação de Clarino, as luvas da Alpines-tars existem em vários tamanhos e possuem um fecho anatómico de pulso.

TRIGGER 1PC SUITA ergonomia deste fato confere-lhe excelente fle-xibilidade, apresentando um colarinho adaptável ao utilizador. A boa qualidade da pele torna-o re-sistente à abrasão.

BENELLI TNT 899 SExclusivas, as TNT da Benelli são muito desportivas e o novo modelo funciona de forma mais suave e regular, apresentan-do, em relação ao modelo 1130, apenas alguns retoques no farol, uma nova instrumentação e modificações nos freios e suspensões. Veloz, a 899 tem em consideração a protecção do condutor, passando uma sensação de estabilidade.

LUXOS | patrícia alves tavares

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91 LUXOS · ANGOLA’IN |

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92 | ANGOLA’IN · LUXOS

DELL Adamo XPS

Ultra-fino, o notebook de 13 polegadas da Dell tem um processador 1.4 GHz

Core 2 Duo, 4GB de memoria RAM e um disco de 128GB. A bateria dura 2 horas

(podendo estender-se para 5 com uma bateria suplementar).

SONY VAIO PTem o tamanho de uma carta comercial e cabe num bolso. O portátil da Sony tem ligação 3G embutida, teclado de dimensões idênticas a um portátil normal, ecrã de 8” e pesa cerca de 640 gramas.

SONY ERICSSON XPERIA X2

O sucessor do caro X1 possui mais funcionalidades. A câmara de 8.1 megapixels tem autofoco e filma em VGA a 30 fps (MP4 em alta qualidade). Apresenta

ainda uma tela OLED WVGA de 3,5”, 512 MB de memória RAM e Windows Mobile 6.5.

LG CHOCOLATE

O LG Chocolate BL40 tem um ecrã óptimo para filmes (21:9 em alta

definição de 4 polegadas). Dispõe ainda de interface Flash 3D UI, multitouch,

AGPS, Wi-Fi, câmara de 5MP e um vidro com superfície resistente a arranhões.

JABRA STONE Este auricular Bluetooth de gama alta possui um

estojo, que também serve de carregador e autonomia para 8 horas em conversação e 12 dias em repouso.

| patrícia alves tavares LUXOS

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93 LUXOS · ANGOLA’IN |

BOWERS&WILKINS Zeppelin ipod dockO principal fabricante mundial de caixas acústicas lançou uma dock-station de formato oval, desenhada especificamente para combinar com o design do iPod. O aparelho possui uma caixa acústica amplificada, pelo que pode ser usado como um sistema estéreo.

SAMSUNG LUXIA LED 8000

Os ecrãs LED possuem uma imagem melhor, são muito mais finos e consomem menos energia. Além dos 2,5 cm

de espessura, os aparelhos da série 8000 têm Auto Motion Plus, que actualiza o ecrã 240 vezes por segundo, eliminan-

do virtualmente os “saltos” das cenas de acção. Possuem ainda acesso à Internet com ou sem fios.

APPLE TVA novidade da Apple permite-lhe sincronizar sem fios o iTunes com o televisor, podendo ainda adquirir música no iTunes Store e enviá-la para o computador, iPod e iPhone. Veja também as suas fotografias, vídeos e podcasts em alta definição no televisor da Apple.

SAMSUNGBLUE RAY BD-P4600

O novo Blu-Ray da Samsung oferece-lhe imagens incrivelmente de-talhadas, com cores brilhantes em alta definição, a uma resolução de 1080 p. O leitor possui ainda Anynet, a tecnologia que permite

controlar todos os aparelhos da marca com um único comando.

Canondale ON É o novo estilo de urban bike. A mecânica da bicicleta parece-se com uma bike de estrada. A pensar nos ciclistas das grandes cidades, surge a novidade: o modelo é desdobrável.

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94 | ANGOLA’IN · LUXOS

Raymond Weil Nabuco cuore caldo

A edição é limitada a 500 peças, em que cada uma está numerada de 001/500 a 500/500 (na traseira do relógio). É resistente à água (200m) e constitui

uma oportunidade única para apreciadores de relojoaria. O design e acabamento imaculado vão de

encontro à qualidade da marca.

Rolex Daytona

A Rolex acaba de lançar uma linha exclusiva de cronógrafos. Este modelo de elevada

qualidade e resistente à água apela ao lado mais elegante de cada comprador, devido à

mistura exclusiva dos clássicos preto e branco. É definitivamente uma opção para acrescentar

à lista de desejos.

BreitlingAvenger Skyland BlacksteelEdição limitada a 2000 extraordinárias peças, o visor deste relógio é composto por cristal de safira, resistente a arranhões. Este cronógrafo, à prova de água até 300 m, possui uma série de funcionalidades, a pensar nos apreciadores exigentes.

LUXOS

ZENITH ACADEMY TOURBILLONBLACK TIE

Resistente à água (até 30 m), este relógio de

platina é composto por diamantes e por um

visor em cristal de safira. Este luxuoso produ-

to é de edição limitada e disponibiliza-lhe três

cores, conforme o seu gosto: preto, branco e

pérola. O bracelete é em pele genuína e apre-

senta as tradicionais funcionalidades, que o

acompanham no dia-a-dia.

| patrícia alves tavares

Page 95: Angola'in - Edição nº 09
Page 96: Angola'in - Edição nº 09

Anel

ESTILOS

96 | ANGOLA’IN · ESTILOS

A Markas é uma loja que fica situada na rua Engrácia Fragoso, número 8, Luanda. É a re-presentante de várias marcas que no decorrer das nossas edições serão apresentadas, sen-do a Dolce & Gabbana a primeira de muitas, por ser uma marca de renome internacional que se adequa aos homens da nossa socieda-de. Nesta colecção, destaque para o cinza e o azul nos tons azul noite e azul-marinho, bem como o branco e os tecidos jeans.

Lisete Pote - [email protected] - Hadjalmar El Vaim D

OLC

E&G

Ab

bA

NA

| lisete pote

Fato cinza escuro com gravata em seda natural,camisa em cambraia branca e sapatos pretos

Fato numa versão mais confortável e desportiva.Sugestão: opte por ténis em vez dos sapatos!

Page 97: Angola'in - Edição nº 09

Relógio em pele

97 ESTILOS · ANGOLA’IN |

Camisa de algodão denim, calções de algodão xadrez

em tons de cinza e verde seco com uns ténis super confortáveis.

A grande aposta da marca e que se apropriam ao clima quente de Angola

Pulseira em pele

Ténis/botas em preto

Corrente para o pulso

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98 | ANGOLA’IN · ESTILOS

ESTILOS

Bermudas que nos permitem fazer combinação com uma camisa em cambraia com a mesma estampa, criando um visual descontraído,

mas num estilo mais elegante

Cinto em pele castanho

Ténis azuis

Cinto azul marinho com riscas em azul escuro e laranja Relógio em pele castanhoRelógio prateado

Ténis brancos

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99 ESTILOS · ANGOLA’IN |

ESTILOS

A camisa em cambraia estampada permite-nos também criar um look que pode ser usado em ocasiões mais formais, como uma saída para uma festa ou para a noite, combinando-se com jeans

Anel

Pulseira com detalhes em pele castanha

T-shirt azul escura com bermudas em algodão sarja

estampada e ténis brancos

Page 100: Angola'in - Edição nº 09

d&g

Le Beteleuro novo perfume da d&g mistura

notas de citrinos, rosmaninho

e jasmim, apresentando aromas

amadeirados, envolvidos em

noz-moscada, manjericão,

sândalo e vetiver.

narciso rodriguez

Narciso Rodriguez for him a mais recente fragrância de narciso rodriguez

combina notas de couro e bergamota com

jasmim, almíscar e sândalo. o toque amadeirado

refrescante é perfeito para o uso formal.

ESTILOS

100 | ANGOLA’IN · ESTILOS

banana republic

Cordovan ideal para uso diário

e homens dinamicos,

a nova fragrância

possui notas de figo,

bergamota, noz-

moscada, lavanda, lírio

e vetiver. prada

Ambar men é a escolha certa para homens independentes.

o contraste olfactivo do couro e do sabão de

barbear é típico de um fougére. apresenta notas

de bergamota, mandarina, fava tonka, neroli,

madeira de sândalo e camurça.

bvlgari

BLV é uma óptima opção para

homens confiantes e seguros

de si. as suas notas de flores

de tabaco possuem um toque

de tabaco, cedro, gengibre,

cardamomo, almíscar e sândalo.

paco rabanne

1 Millioné a novidade da paco rabanne. amadeirado

ardente, o perfume apresenta notas de

hortelã-pimenta, lavanda, cedro, almíscar,

café e patchouli.

| patrícia alves tavares

Page 101: Angola'in - Edição nº 09

101 LUXOS · ANGOLA’IN |

Page 102: Angola'in - Edição nº 09

LIVING

102 | ANGOLA’IN · LIVING

Luz e CorPodemos considerar diversos factores como elementos-chave na realização de um projecto de interiores, mas nenhuns são transversais a todos os tipos de projecto como estes dois fac-tores interdependentes: a Luz e a Cor. São dois pontos básicos, (mesmo óbvios) no desenvol-vimento de qualquer trabalho e talvez por isso algumas vezes sejam menosprezados na sua importância e peso real no resultado final de um bom projecto.Na prática não é possível pensarmos num sem o outro. Em boa verdade, um deriva do outro. Ou não seja a Cor mais do que um efeito resul-tante da absorção e refacção da Luz. Falamos do ponto de vista físico da questão, mas existe outra vertente de igual importância: a influên-cia psicológica da cor.A psicologia da cor não é uma ciência exacta, mas a quantidade de estudos que são conti-nuadamente feitos nesta área permite-nos já uma base de informação sustentável que na maioria das vezes sublinha o que o senso co-mum e o conhecimento popular sempre nos disseram.Se o azul, que é a cor geralmente mais apre-ciada, nos transmite calma e harmonia, o cas-tanho, por seu lado, sendo a cor que reúne a menor preferência das pessoas em geral, torna um ambiente antiquado. Mas, um azul pode ser frio e distante e um castanho ser acolhe-dor. Tudo depende da tonalidade, da forma co-mo a cor está inserida no ambiente e da cultura e personalidade de quem a vê. Para o olhar de-satento tudo isto parece arbitrário, no entanto um bom profissional sabe que este é um fac-tor crucial para o sucesso de um projecto e que

merece uma boa dose de atenção e pesquisa da personalidade de quem irá usufruir do es-paço a ser trabalhado.Quanto mais monocromático for um ambien-te, menos estímulos provocará, tornando-se em breve um espaço monótono, desinteres-sante e cansativo. Por isso uma boa paleta de cor, mais complexa, tornará qualquer espaço mais vivo e atractivo. Mas isto que é teorica-mente simples e óbvio, para surtir efeito na prática exige um grande conhecimento e do-mínio da Cor. Um tom errado, numa proporção errada, pode comprometer todo o equilíbrio do ambiente a criar.O outro factor que aqui abordamos, a Luz, é quanto a mim, o elemento mais importante em qualquer projecto. Um bom projecto po-de ser completamente arruinado por uma ilu-minação desadequada, tal como um projecto mediano fica indubitavelmente valorizado por uma iluminação cuidada e eficaz. São os jo-gos de luz e sombra que nos permitem uma boa leitura das cores, determinam a percepção do espaço e condicionam a sua vivência. Mais uma vez um bom domínio técnico da Luz é o segredo para um resultado positivo.Esta é uma área extremamente complexa, e po-deríamos alongar-nos mais do que este espaço nos permite. Pretendemos aqui apenas chamar a importância para o tema e sensibilizar o lei-tor a analisar esta questão ao avaliar eventuais projectos que se lhe possam deparar.

João Paulo Jardim - [email protected]

| joão paulo jardim

Page 103: Angola'in - Edição nº 09

DAUMUma nova visão da arte africana. A Daum explora a

estética das mais diversas civilizações como fonte de

inspiração para as suas fantásticas colecções e esco-

lheu o seu 130º aniversário para celebrar África, este

fervilhante e excitante continente que ainda hoje sur-

preende e fascina o mundo da arte. Sendo esta talvez

a mais conceituada e reputada marca de cristais deco-

rativos do mundo, é uma honra ver a cultura africana

retratada e reinterpretada por grandes artistas con-

temporâneos em peças de grande nobreza e beleza

qxR

LIVING

103 LIVING · ANGOLA’IN |

Page 104: Angola'in - Edição nº 09

104 | ANGOLA’IN · LIVING

LIVING

Page 105: Angola'in - Edição nº 09

MOROSODesde o início dos anos 50 que esta marca com sede

em Itália nos oferece o que há no mundo de melhor

e mais inovador em cadeiras e sofás, sempre dese-

nhados por grandes nomes do design internacional

e fabricados com igual mestria. Sempre à frente das

principais tendências, apresenta-nos uma vasta ga-

ma de produtos adequados aos mais diversos pro-

jectos e ambientes, sejam eles destinados a espaços

interiores ou exteriores. Arrojados quer nas formas,

quer nos materiais, os produtos da Moroso são sem-

pre uma garantia de qualidade ao mais alto nível

qx

LIVING

105 LIVING · ANGOLA’IN |

Page 106: Angola'in - Edição nº 09

106 | ANGOLA’IN · LIVING

LIVING

P. SENRARadicado em Ontário, Canadá, este jovem

emergente é já uma promessa no mundo das

artes plásticas. Formado em Ciências Políti-

cas e actualmente a complementar os seus

estudos com um mestrado em Política Inter-

nacional, nada faria prever que com apenas

25 anos e uma carreira profissional ligada ao

governo, se entregasse com tamanha paixão

e empenho ao seu lado artístico. Envolvido por

diferentes técnicas de expressão plástica que

consegue acoplar em envolventes trabalhos

de técnicas mistas, cria sempre obras de gran-

de intensidade e expressividade, sendo o seu

sucesso internacional imediato reflexo disso

xR

Page 107: Angola'in - Edição nº 09
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108 | ANGOLA’IN · VINHOS & CA.

Exemplo de SucessoCom um longo historial no país, a Atlanfina (sub holding do Grupo Atlântica) é uma das maiores empresas em Angola especialista na representação e distribuição de bebidas, designadamente vinhos e espirituosas de qualidade, entre outros produtos alimentares e gourmet. O seu desenvolvimento está patente no crescimento contínuo do volume de negócios, tendo triplicado os mesmos de 2005 para 2007. Actualmente, possui uma forte logística sedeada no centro de Luanda, responsável pela gestão e distribuição de mais de cinco milhões de garrafas/ano, o que lhe permite assumir uma posição de liderança destacada no sector. A grande aposta para 2010 é continuar a somar valor acrescentado aos seus produtos, sem esquecer o apoio ao desenvolvimento dos recursos endógenos, nomeadamente ao nível da formação profissional especializada. Outras das garantias é a promessa de expansão para outras províncias, alargando o número de postos de trabalho locais, actualmente na casa dos 50. Uma acção assente na deslocalização de mais agentes para as principais cidades, continuando o processo de cobertura de todo o território nacional. O leque de representadas resulta sempre de uma rigorosa selecção, marcada por um conjunto de marcas de vinhos e espirituosas de excepcional qualidade, valor e prestígio de dimensão internacional. Em entrevista à Angola’in, António Lopes Alves, administrador da Atlanfina, revela-nos o segredo do sucesso e brinda-nos, com um exclusivo, sobre o lançamento de três novos produtos.

vINhOS & CA. À CONVERSA COM… António Lopes Alves | manuela bártolo

Como surgiu a oportunidade de operar em Angola?Cresci aqui, logo tenho a pretensão de conhe-cer bem o mercado, assim como o comporta-mento do consumidor e os seus padrões de consumo. Há dez anos, o país revelava ter to-do o potencial para aquilo que é hoje a Atlan-fina. O mercado evoluiu muito nos últimos anos, passou-se do comércio de vinho a granel para vinho de grande qualidade. Sem falsas modéstias penso que o nosso processo de de-senvolvimento acompanhou esse crescimen-to. Mudamos quando passamos a conhecer

melhor o mercado, uma aprendizagem muito própria que nos tem permitido transmitir no-vas mensagens ao cliente final. Percebemos a nobreza do vinho e deixamos de ser uma em-presa que vendia indiscriminadamente vários produtos para apostar num critério unificador assente nesta bebida de excelência. Fomos gradualmente afastando-nos dos produtos de cotação massiva e consumo indiscriminado.

Quais as razões que aponta para esse progresso?Por um lado, o mercado amadureceu, por ou-

tro, passou a existir um maior poder de com-pra, disseminado por pessoas que viajam habitualmente e com isso adquirem melhor conhecimento sobre o sector. Nota-se uma forte internacionalização. Há uma crescente apetência pelo vinho, fruto até de uma certa ligação a Portugal, pelo que procuramos es-merar essa aproximação promovendo não só os vinhos portugueses, mas também os de outros países, apesar de sentirmos uma voca-ção dirigida do consumo para este país. Nos últimos anos, têm aparecido mercados emer-gentes também com força de investimento.

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109 VINHOS & CA. · ANGOLA’IN |

vINhOS & CA.

Qual o papel da Atlanfina neste crescimento?Primeiro, quero salientar que não somos um mero importador. Vamos muito para além do desempenho desse papel. Temos a importa-ção na base, como se sabe bastante difícil, sobretudo dentro de Luanda, mas aposta-mos também onde a meu ver há mais valor acrescentado, ou seja, na representação, que passa muitas vezes pela formação, promoção e prestação de serviços de qualidade e acom-panhamento ao cliente. Dedicamos um gran-de esforço a essa área e é através dela que procuramos fazer a diferença. Numa primei-ra fase, apostamos na oferta de produtos de qualidade e em explicar o que distingue o vi-nho de outras bebidas. Hoje em dia, há já vá-rias empresas a fazer o mesmo, pelo que o nosso grande objectivo é avançar para todo o território nacional, sendo sempre inovadores. Progredimos de uma fase de diversificação as-sente na oferta de produtos indiscriminados, para uma de selecção criteriosa representada por um portefólio extremamente selecciona-do, em que temos duas a três casas vitiviní-colas de qualidade que se complementam por região e é essa linha que queremos continuar a seguir. Por duas razões: primeiro pela exce-lência de que é representativa e segundo por-que são bons parceiros. O lado comercial do negócio é importante, mas para mim não é o essencial. O mais relevante continua a ser a ética e a paixão associada a um forte espíri-to de parceria. Somos contactados por muitas empresas e dou-lhes normalmente a seguinte resposta: não estamos à procura de fornece-dores, mas de parceiros.

A subsistência no mercado depende disso?O mercado angolano pelas suas particularida-des, por algumas dificuldades próprias da sua evolução e pela distância não se compadece com uma colecção de fornecedores. Impor-ta criar novas acções. O facto de sermos uma empresa luso-angolana permite identificar-nos com o território, proporcionando um sen-timento de comunhão que queremos que seja perceptível do lado do consumidor. As pesso-as têm percebido que nós procuramos ter uma simbiose muito grande com o cliente, o mer-cado e os valores nacionais. Fomos ganhando consciência da nossa responsabilidade social e cultural, procurando sempre que possível promover os valores angolanos. O ser huma-no tem outros ideais de afirmação, de valori-zação e de realização e o lado material não é de certeza mais preponderante do que lado humano e afectivo. Procuramos, por isso, ofe-

recer produtos com maior valor acrescentado. Uma aposta meramente estratégica porque preferimos ter um menor volume de activida-de ou transacções, mas com um crescimento sustentado, do que trabalhar meramente a quantidade e para isso precisamos de parcei-ros fortes. No lado comercial, gostamos de quantificar a nossa evolução quer seja em ter-mos de liquidez, rentabilidade ou crescimento. Temos esse barómetro permanente, que nos ajudar a gerir a evolução e a estratégia. Depois, procuramos assumir uma certa dimensão e li-derança ao envolvermo-nos nas relações afec-tivas. Queremos, cada vez mais, apadrinhar projectos sociais e partilhar os nossos resulta-dos com a comunidade. Procuramos valorizar as pessoas e repartir a riqueza que ajudam a criar. A parte da formação é, por isso, uma área que temos intensificado mais para que as pes-soas beneficiem. Queremos que, no âmbito da nossa actividade, haja externalidades sociais e culturais e aceitamos parceiros para trabalhar connosco essas acções.

Haverá um reforço do vosso portefólio?Os vinhos representam 70% dos nossos pro-dutos e dentro destes 80% são portugueses e 20% provenientes do resto do Mundo. A re-presentar Portugal temos as quatro principais regiões, patrocinadas por algumas das melho-res casas. No Douro, a Real Companhia Velha e a Quinta do Portal, no Dão, a Borges, na Estre-madura, a Companhia das Quintas e no Alen-tejo, o Esporão. Claramente assumimos ser a bandeira dos vinhos portugueses e não temos nenhum complexo. Mas não podemos ser dog-máticos porque alicerçamos a nossa estraté-gia através do estudo que fazemos do próprio mercado, ou seja, procuramos não partir com ideias pré-concebidas e perceber o que o mer-cado nos revela pelos números e pelos inquéri-tos que fazemos. Temos, por isso, sentido que há também um nicho que aprecia vinhos de outras origens e achamos que é salutar com-parar. O vinho está relacionado com essa diver-sidade, complexidade e confronto de castas,

Queremos apadrinhar projectos sociais e

partilhar os resultados com a comunidade;

valorizar as pessoas e repartir a riqueza que

ajudam a criar

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vINhOS & CA. À CONVERSA COM… António Lopes Alves

de sabores e proveniências, sendo também uma questão cultural. Além disso, os produtos são diferentes, há nesse sentido que ter em conta questões comportamentais e de consu-mo. Assim, temos uma casa representante do Chile, França, Itália e África do Sul, mantendo uma oferta harmoniosa, com uma perspectiva mais alargada do mundo dos vinhos.

O maior mercado da Atlanfina continua a ser Angola?Ao nível da exportação e no sector dos vinhos Angola é sem dúvida um país importante. As exportações estão quase exclusivamente vo-cacionadas para cá, embora já tenha tido expe-riências crescentes para outros países. Agora iremos passar para uma nova fase, depois de consolidarmos o mercado angolano, avança-mos para outros destinos. Estamos a estudar mais dois ou três países para 2010. Um pela proximidade também a Angola, a Namíbia, seguindo-se Cabo Verde. Acredito que neste momento serão os mercados onde podemos crescer de forma sustentada, uma vez que se encontram ‘maduros’ do ponto de vista do tu-rismo e, embora mais pequenos e com menos potencial, estão devidamente desenvolvidos.

Prevê índices de crescimento elevados para o próximo ano?O consumo per capita sempre foi elevado. Actualmente, foi aumentando por força do crescimento demográfico e económico. Há também mais expatriados em Angola, o que pode induzir a uma maior diversificação, fa-zendo com que se sinta um alargamento do consumo e aparecimento de novos hábitos. Embora esse crescimento tenha sido mais vi-sível nos dois anos anteriores. Penso que este ano houve alguma contenção a vários níveis, que se prendeu, a meu ver, com o abranda-mento do crescimento. Penso que ainda ha-verá espaço dentro do sector dos vinhos para algum desenvolvimento, sobretudo nas pro-víncias, e no próximo ano, por força da realiza-ção do CAN, julgo que irá também aumentar, uma vez que este vai ser um grande evento, tendo um efeito acelerador. Contudo, acredito que a tendência será para a estabilização.

Para onde contam expandir?Procuramos seleccionar as províncias mais importantes e representativas. Temos neste momento parceiros e delegações muito fortes no Namibe, Lubango, Benguela, Huambo, Lo-

bito e Cabinda. O centro nevrálgico continua a ser Luanda, onde está instalada toda a lo-gística e área administrativa. Não vamos ter uma atitude estática, vamos procurar levar o know-how que temos em Luanda realmente aos locais, promovendo eventos e acções. Por exemplo, implementamos um roteiro dentro da restauração e hotelaria em que, para além de fornecermos os produtos e acessórios im-portantes, oferecemos formação. Esta tem sido um estandarte da Atlanfina porque real-mente acreditamos na valorização dos recur-sos e na criação de raízes.

Confirma a intenção de avançar com o projecto de produção vitivinícola em território nacional?A Atlanfina rege-se por três diapasões: pri-meiro, a ética, segundo, a qualidade e ex-celência no produto/serviço e terceiro, a valorização do potencial endógeno. Nesse sentido, tenho a ambição de poder produzir um vinho em pequena escala no Namibe, que tem marcadamente características típicas do clima mediterrânico. Assim, poderia conjugar esses três valores, criando ao mesmo tempo um vinho emblemático da região.

EXCLUSIVO

As iniciativas da Atlanfina enquadram-se sempre numa aposta grande na inovação, paixão pelo vinho, formação e tributo a Angola. A empresa tem criado ou apoiado algumas marcas a preencher algumas lacunas no mercado. No passado, apoiou um rótulo do Esporão da autoria do pintor António Ole e agora, para além do lançamen-to em parceria com a Quinta da Aveleda de um rótulo especial para Angola do Casal Garcia, tem três novos projectos. São eles:

FLAMINGO: um tributo ao Sul de Angola, que preserva ainda esta ave em extinção e que é característica do Lobito. Um vinho verde distinto, jovem e referescante, prepara-do em associação com a Real Companhia Velha e a Casa de Vilacetinho, uma empresa vitivinícola de excelência da região dos vinhos verdes em Portugal;

VIP: um projecto realizado em parceria com o Luís Duarte, um reputado enólogo lu-so-angolano nascido no Lobito e duas vezes eleito pela revista dos vinhos o melhor enólogo do ano em Portugal. Trata-se de um vinho tinto regional alentejano, sendo uma edição exclusiva para Angola. Distinto e requintado é adequado à gastronomia mediterrânica e tropical. Como diz o rótulo é um vinho seleccionado para partilhar os momentos especiais da vida com as pessoas mais importantes…aquelas de quem mais gostamos. Haverá também o VIP Reserva que, garante Luis Duarte, será um verdadei-ro “Néctar dos Deuses”;

FASHION: Um Sparkling (espumante) concebido em associação com a famosa casa sul africana Leopards Leap. Excepcionalmente doce, jovem e “glamouroso”, simboliza o espírito festivo angolano. É especialmente destinado para celebrar as vitórias dos “Palancas” no CAN e os grandes eventos de moda angolana

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| patrícia alves tavares

LEOPARD’S LEAP LOOKOUT RED

Este néctar possui um aroma a frutos

vermelhos, com um toque de notas de

baunilha. No paladar, sobressaem os

sabores das bagas e do chocolate, com um

final a revelar o paladar do café.

HERDADE DO ESPORÃOQuatro CastasLímpido, de cor viva e concentrada, este vinho revela toda a elegância e perfume da Touriga Nacional. Ideal para acompanhar desde pratos de bacalhau até uma perna de borrego assada, este néctar apresenta uma mistura de sabores muito equilibrada, revelando toda a sua textura aveludada, sustentada por taninos firmes, conferindo um final longo e persistente. Deve consumir-se entre os 16 e 18ºC.

HERDADE DO ESPORÃODuas CastasSingular, complexo e elegante, este néctar apresenta notas de

minerais, amêndoas, pimenta e chocolate, inseridas num fundo

elegante de frutos vermelhos e vegetais frescos. Caracterizado

pela enorme frescura, é recomendado para carnes assadas e

pratos de caça, servindo-se à temperatura de 18ºC.

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EVEL BrancoDourado, complexo e detentor de grande

intensidade aromática, este vinho possui aromas

florais e de frutos brancos, apresentando sabores

a pêssego e melão. É óptimo para acompanhar

pratos de peixe e carnes brancas.

113 VINHOS & CA. · ANGOLA’IN |

vINhOS & CA.

QUINTA DE PANCAS 2007

Recomendado para pratos de peixe, mariscos e vegetais,

este vinho, de cor amarelo citrino deve ser conservado a uma

temperatura constante de 15ºC. Elegante, com notas de

melão, citrinos e sugestões florais, este Quinta de Pancas

apresenta-se na boca com um bom volume, persistência

aromática e boa frescura. Serve-se a 10ºC.

QUINTA DE PANCAS2005

Na boca tem um toque suave, volumoso e encorpado, evidenciando-se as frutas e especiarias. Este néctar vermelho cereja possui um final longo e agradável

e um aroma finamente fumado, com notas de frutos vermelhos, menta e especiarias. É ideal para pratos de carne e massas, sendo servido a 18ºC.

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vINhOS & CA.

| ANGOLA’IN · VINHOS & CA.114

GATÃOÓptimo para pratos de peixe, marisco e aperitivos ligeiros. De

aroma jovem e frutado, este produto de cor citrina é macio e

delicado, apresentando-se como um vinho meio-seco, que deve

ser consumido ainda jovem.

GATÃO ROSÉTable WineLímpido e de cor rosada, este vinho apresenta um

aroma jovem e frutado, revelando na boca toda a sua

delicadeza, maciez e frescura. Acompanha pratos de

carne magra grelhada, massas, pizzas e entradas.

FUNDADOR Porto Tawny

Este néctar possui reflexos aloirados e um aroma muito fino. O travo harmonioso e

refinado resulta da lotação de vinhos com múltiplas idades e características, que

foram envelhecidos em cascos de carvalho.

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VINHOS & CA. · ANGOLA’IN |

BUTLERSMarula Cream

É um licor proveniente de uma fruta africana, a Marula, que confere um gosto particular e único

a esta bebida. Um néctar que se distingue pela sua cor e textura cremosa, tornando-se por isso uma

bebida espirituosa de eleição.

BUTLERSBlue Curacao

O método de fabrico é simples, as

cascas de laranja são embebidas em

água destilada, ficando mergulhadas

durante algum tempo, o que lhe

confere uma cor inconfundível, sendo

por isso muito usado em cocktails.

BUTLERSTriple Sec

Licor com sabor a laranja com um processo de fabrico

exclusivo, em que as cascas deste citrino são mergulhadas

em água destilada. Trata-se de uma bebida utilizada na

confecção do cocktail Cosmopolitan. Sem dúvida, uma boa

escolha para oferecer em festas.

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116 | ANGOLA’IN · VINHOS & CA.

vINhOS & CA.

2ª EDIÇÃO DO CONCURSO DE ESCANÇÕES

Diário de uma jornada em terras lusas

A Real Companhia Velha, em parceria com a Atlanfina, organizou mais uma edição do Concurso de Escanções. O certame é “uma aposta ganha” e a adesão “excedeu as expectativas”, garante Manuel da Silva Reis,

director da empresa portuguesa. Os candidatos a escanções frequentaram ao longo de uma semana um curso intensivo com um enólogo e os mais talentosos ganharam uma viagem a Portugal. Estes ano, os três

eleitos tiveram a oportunidade de, durante cinco dias, conhecer as emblemáticas quintas do Douro e Alentejo e compreender in loco todo o método de produção do vinho, desde a vindima ao engarrafamento do néctar de Baco. A Angola’in acompanhou os vencedores na descoberta dos tesouros de Portugal e revela-lhe, em exclusivo, os projectos daqueles que podem vir a constituir a primeira sociedade de escanções angolanos

| patrícia alves tavares

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perfil

Adriano CarvalhoIdade: 34 anos

Profissão: Sub-chefe de sala no Hotel Trópico

Percurso profissional: “Estou no Hotel Trópico há seis anos. Nesta área estou há nove anos. Trabalhei primeiro numa esplanada do grupo e depois fui para o hotel.”

Projectos: “Quero ajudar os outros trabalha-dores para termos profissionalismo nesta área, de forma a que as pessoas quando vão a qual-quer área ou zona turística se sintam à vontade, acolhidos do mesmo modo como em qualquer parte do mundo, porque hotelaria não é só em Portugal ou em Angola. Funciona da mesma maneira na China e em todo o lado.”

Marlene SantosIdade: 28 anos

Localidade: Kwanza Sul

Profissão: Assistente de Marketing

Percurso profissional: “Comecei em 2005, fui convidada para participar numa fei-ra da Atlanfina na FILDA e fiquei na empresa. Ao longo destes anos fui aperfeiçoando e fui-me interessando mais e surgiu a paixão de falar dos vinhos ao consumidor final.”

Projectos: “Apostar na formação para di-vulgar os nossos vinhos e dá-los a conhecer às pessoas. “

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vINhOS & CA.

DIA 1NA INvICTA CIDADE DO PORTO, PáTRIA DO EMbLEMáTICO vINhO DO PORTOOrgulho e curiosidade são os adjectivos que melhor descrevem o sentimento que se vivia entre os jovens escanções, vencedores da 2ª edição do concurso promovido pela Atlanfina, com o apoio da Real Companhia Velha, Quinta do Portal e Herdade do Esporão. Aliás, foi nas caves da primeira que arrancou a jornada dos visitantes, que estiveram em Portugal com a finalidade de conhecer o processo de fabrico dos vinhos que habitualmente aconselham aos clientes. A empresa portuense é a prin-cipal produtora de Vinho do Porto e detento-ra das melhores quintas da região do famoso néctar: Quinta das Carvalhas, Quinta de Cidrô, Quinta dos Acipestres, Quinta do Casal da Granja, Quinta do Síbio e Quinta do Corval.

Interessados e ávidos de conhecimento, Adria-no Carvalho, Marlene Santos e Bruno Guise, os escanções premiados, mostraram uma enor-me vontade de complementar os conheci-mentos adquiridos, tentando assimilar toda a informação, colocando dúvidas e revelando um grande desejo de aprendizagem. Esta foi uma das qualidades evidenciadas pelo director da Real Companhia Velha, Manuel da Silva Reis. “Uma das coisas que noto neles é o interesse, a vontade e o querer saber e aprender”, mani-festou. O responsável explica que a organiza-ção deste evento se deve ao facto de Angola ser “considerada um mercado indispensável e fundamental para a empresa”. “Fizemos uma análise aprofundada, conjuntamente com o nosso parceiro da Atlanfina, e chegámos à conclusão de que haveria umas marcas que pelo seu passado já teriam alguma influência em Angola e resolvemos apostar. A aposta foi ganha porque conforme podemos ver nos úl-timos quatro anos nós temos vindo a duplicar anualmente as vendas”, sustentou.

Em entrevista à Angola’in, Manuel da Silva Reis descreveu o consumidor angolano como sendo “exigente” e “muito rigoroso”, salien-tando que não entende “como num país tão quente só bebem tintos, pois deviam beber muito mais brancos”, lembrando que “Portugal produz vinhos maravilhosos” e que “existe um mercado perfeitamente virgem”, que deve ser explorado. “Quando eles descobrirem o vinho branco para os aperitivos, para as tapas, para as entradas, com aquele calor, aquele clima, será um exponencial boom de vendas”, profe-riu. Quanto ao futuro, a Real Companhia Ve-lha, que exporta para Angola essencialmente as marcas Porca de Murça e Evel e cujo merca-do representa cinco por cento das receitas da entidade, está “a desafiar a Atlanfina” para um novo projecto. “Encontramo-nos na fase de ver locais e terrenos e fizemos um primeiro contacto com a nossa equipa de enologia e de agronomia, para começarmos a fazer um vinho lá, um vinho local, porque entendemos que há uma componente de formação”, anunciou, confidenciando que, neste momento, se en-contram “na fase de procura de um local para podermos fazer uma produção de vinho local a ser comercializada pela Atlanfina, com tecno-logia da Real Companhia Velha”, finalizou.

Detentora de 250 anos de história e de acti-vidade ininterrupta ao serviço do Vinho do Porto, a Real Companhia Velha está ligada directamente à evolução do famoso produ-to portuense, tendo desempenhado um pa-pel relevante na sua produção e comércio. Os escanções vencedores da edição 2009 apro-veitaram a visita às caves da empresa para conhecerem de perto o processo de fabrico do vinho mais famoso de Portugal, que por ser generoso e encorpado e pelo carácter inimitá-vel faz do Vinho do Porto uma das bebidas de mais classe do mundo, muito apreciada pelos ingleses e americanos.

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desta casa portuguesa, que se dedica à produ-ção de vinhos DOC Douro e Vinhos do Porto de categorias especiais e Moscatel.

Foi no final do dia, já na Casa das Pipas, uma uni-dade de agro-turismo, explorada pela empresa do Douro, que Marlene Santos confidenciou à Angola’in que o prémio de escanção “é o reco-nhecer do trabalho de quatro anos” e que deseja “fazer a formação de enologia e seguir o curso” para poder aconselhar “o consumidor final”.

A Assistente de Marketing da Atlanfina é co-ordenadora das promotoras e embaixadora da caipiroyal. O balanço da mais recente apos-ta da empresa, em parceria com a Real Com-panhia Velha, é positivo. “As pessoas gostam muito do caipiroyal”, garante. Porém, como o produto está no mercado há apenas um ano,

é necessário “tentar convencer os donos dos restaurantes de que a caipirinha é mais forte e que o caipiroyal dá para consumir mais”, adian-ta, admitindo que na restauração “o que tem mais saída são os vinhos de mesa”.

Quanto à Quinta do Portal, a empresa dedi-ca-se à produção de uma panóplia de vinhos, em que os do Porto e de Moscatel se desta-cam pela fusão entre tradição e modernidade, dando origem a um produto fortificado, muito apreciado tanto pelos consumidores maduros como pelos mais jovens. Já os vinhos do Dou-ro (tintos e brancos) e Espumantes são frutos de castas autóctones, que devido às cuidadas macerações e fermentações e posterior estágio em barricas de carvalho dão origem a produtos de elevada qualidade, que inclusive arrecada-ram algumas distinções internacionais.

DIAS 2 E 3MAIS A NORTE, NO DOURO PROfUNDOApós a visita às caves do Porto, o grupo de es-canções rumou à Região Demarcada do Dou-ro, para dois dias de aventura e de descoberta das vinhas e do processo da recolha das uvas. A visita à Quinta do Portal coincidiu com um workshop, promovido por várias empresas e destinado a jornalistas da especialidade. As-sim, os mais recentes peritos em vinhos pu-deram aperfeiçoar a sua formação-base, adquirindo novas competências e conheci-mentos acerca dos vinhos portugueses, que são simultaneamente os mais vendidos e pro-curados no mercado angolano. Além dos en-sinamentos teóricos e práticos, os escanções depararam-se na Quinta do Portal com o con-ceito “Boutique Winery”, a imagem de marca

ORGANIZAÇÃO FAZ BALANÇO DO CERTAMEManuel da Silva Reis, director da Real Companhia Ve-lha, em entrevista à Angola’inQual o balanço da 2ª edição do concurso de escanções?O balanço é extremamente positivo porque o ano passado foi um período de teste. A acção foi muito boa e este ano a adesão excedeu as expectativas. Foi um sucesso. Angola hoje em dia tem um grande mercado de consumi-dores de vinhos portugueses, que cada vez mais vão interessar-se não só pela quantidade mas pela qualidade. As pessoas querem saber o porquê da qualidade, da diferença das regiões e cabe aos profissionais, aos escanções prestar essas informações. Ora nós como empresas que pretendem não só vender qualidade, mas quantidade para o mercado angolano, interessa-nos que hajam profissionais que saibam informar os consumidores das potencialidades e das diferenças das regiões portuguesas. É uma aposta ganha?É uma aposta ganha e será para continuar. Nós desafiamos os participantes para que seja criada uma associação de escanções. Porque achamos que só com uma alta profissionalização é que se poderá chegar aos níveis que nós pretendemos para o mercado angolano. São níveis muito ambiciosos.Qual o grau de adesão?Tivemos bastantes candidatos, incluindo um director de hotel. Pensamos

que este é o primeiro passo de um caminho muito longo a percorrer no sentido da profissionalização e da especialização dos profissionais. Hoje em dia, há uma demanda muito grande de hotelaria e de restaurantes no mercado angolano, que é emergente. Começa a haver muita procura e começam a existir hotéis, pelo que tem que começar a haver uma oferta compatível.Quais foram os critérios de selecção para o curso?São chefes de vinhos e gerentes de restaurantes, que foram submetidos a um concurso de escanções, dado por um enólogo da nossa praça e estes jovens foram os vencedores deste concurso. Houve critérios, uma avalia-ção e estes foram os que ganharam, os que no fundo mostraram mais ha-bilitações para este concurso e o prémio era uma viagem a Portugal, aos representantes da Atlanfina, que promoveu o concurso.Os escanções já têm um bom nível de aprendizagem?Não diria que estão ao nível dos sommeliers de um restaurante de Paris ou de um hotel de 3/ 4 estrelas. Mas estão num nível muito capaz e muito ra-zoável. Tem havido uma evolução muito positiva. Uma das coisas que noto neles é o interesse, a vontade e o querer saber e aprender, o que é funda-mental. São extremamente curiosos, extremamente interessados em tudo aquilo que nós falamos e justamente esse querer e essa vontade irá permitir chegar a um nível muito aceitável, a caminho do bom e do muito bom

vINhOS & CA.

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perfil

Bruno GuiseIdade: 34 anos

Localidade: Luanda

Profissão: Venda de eventos no restauran-te Che

Percurso profissional: “Comecei no ramo hoteleiro com 16 anos. Em Luanda, tra-balhei em dois restaurantes. Depois fui bar-man em duas ou três discotecas e mais tarde vim para Portugal, onde trabalhei em alguns sítios - restaurantes, estágios em hotéis - e pas-sado dois anos voltei para Angola. Entretanto, fui para a África do Sul, onde fiquei seis meses. Um amigo convidou-me para trabalhar numa pastelaria e pouco depois fui para um restau-rante italiano, o Mimos. Quando regressei da África do Sul, fui convidado para o Che, em 1999. Nos dois primeiros meses trabalhei como chefe de turno. Como evoluí muito rá-pido, pois já tinha experiência, fui para sub-chefe de sala, onde trabalhei com um chefe português, que me ensinou parte das coisas que eu hoje sei. Em 2000, ele foi embora e o meu superior apostou em mim e fiquei a che-fe de sala, cargo que no ano seguinte conciliei com o de chefe de banquetes. Isto durante nove anos. Neste momento, não estou ligado directamente à venda a clientes de restauran-te, mas às vendas de eventos, de serviços, aju-do a escolher as ementas e os vinhos.”

Projectos: “Um dos meus principais ob-jectivos é aprofundar conhecimentos e, posteriormente, transmitir o meu saber aos hoteleiros e aos mais novos para dar conti-nuidade naquilo que estamos a fazer. Ando há oito anos a formar-me em hotelaria. Ago-ra com estes conhecimentos em vinhos, claro que vou dar continuidade à formação nesta área.”

DIAS 4 E 5RUMO A SUL, À IDíLICA PAISAGEM ALENTEjANA

A marca Esporão SA agrega desde o início deste ano os projectos da Herdade do Espo-rão (Alentejo) e a Quinta de Murças (Douro). Foi precisamente em terras alentejanas que os vencedores do concurso de escanções pas-saram os últimos dias da breve passagem por Portugal. A data escolhida para a visita à Her-dade do Esporão não podia ser mais oportuna. Em época de vindimas, os escanções tiveram a possibilidade única de conhecer os métodos mais tradicionais de vinificação e participaram na tarefa de pisar as uvas no lagar. Durante a estadia, os visitantes contactaram de perto com a realidade de um outro produto: o azeite. A empresa dedica-se à confecção das duas es-pecialidades e tem como principal meta assu-mir-se como referência nos dois domínios.

Em pleno coração do Alentejo, em Reguengos de Monsaraz, a herdade produz o famoso vi-nho Esporão, considerado um dos melhores de Portugal, e os vinhos Monte Velho, entre outros. Da reserva desta empresa, chegam nomes conhecidos como o Alandra, Vinha da Defesa e os produtos das Monocastas, como o Aragonês 2005 ou o Touriga Nacional 2006.

Entusiasmado com a beleza da região, Bruno Guise explicou à Angola’in, durante uma pau-sa nas actividades, que a opção pelo curso sur-giu naturalmente, pois “como a hotelaria tem a ver com comida e vinhos”, acabou por surgir “o interesse pelos vinhos”. “Fui pesquisando e querendo saber mais. Neste momento, estou ligado às vendas de eventos. Vendo os servi-ços, ajudo a escolher as ementas e os vinhos. Os clientes estão mais exigentes, fazem per-guntas, querem saber qual é a região e, por is-so, percebi que precisava de investir mais nesta formação”, revelou. A trabalhar actualmente no restaurante Che, o escanção acredita que a distinção “vai melhorar a carreira” e afirma ter sido “muito gratificante a participação no concurso”. “Acredito que com este prémio vou tentar passar a informação aos hoteleiros, di-

vulgar aquilo que aprendi e até estou a pensar abrir uma associação de escanções em Ango-la”, reiterou. Já Adriano Carvalho, sub-chefe de sala no Hotel Trópico, encara o galardão como uma forma de “chegar mais além”. O escanção teve direito a uma estadia mais prolongada em Portugal, uma vez que a empresa onde tra-balha patrocinou “um estágio num hotel pelo período de dez dias”. Contudo, é em Angola que o hoteleiro pretende “crescer”, pois existe uma tendência para que “a área de escanção seja importante, porque se estão a vender vi-nhos bons e existe o cliente que não sabe que tipo de vinho quer beber”, havendo a “neces-sidade de aconselhar”. Bruno Guise salienta que na “hora da escolha, o cliente pede muito a opinião”, sendo que a preferência varia entre “os produtos do Douro e do Alentejo, especial-mente tintos”.

Quanto ao futuro dos vinhos em Angola, todos são unânimes: a tendência é para o mercado continuar a crescer. Por outro lado, ganha con-tornos a possibilidade de, a curto prazo, nas-cer no país a primeira associação de escanções. “Já existem quatro. Vamos trocar informações, debater e pensar no que fazer futuramente”, atalha Bruno Guise, o mentor do projecto. A ideia é igualmente partilhada pela Real Com-panhia Velha. Em entrevista à Angola’in, Ma-nuel da Silva Reis anunciou que a empresa desafiou “os participantes para que seja criada uma associação de escanções”. Isto porque a entidade acredita que “só com uma alta profis-sionalização é que se poderá chegar aos níveis que nós pretendemos para o mercado angola-no”. Adriano Carvalho sugere ainda a criação de mais escolas hoteleiras, pois há uma enorme carência de técnicos especializados. O escan-ção defende a aposta na formação em territó-rio nacional, uma vez que não é possível levar todos os alunos para Portugal.

De regresso a Luanda, garantem que o cami-nho para o sucesso está na aposta local e na criação de condições dentro do país, para que se verifique a tão necessária profissionalização dos trabalhadores deste ramo. O empreende-dorismo está nas mãos dos novos escanções.

vINhOS & CA.

119 VINHOS & CA. · ANGOLA’IN |

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vINhOS & CA.

120 | ANGOLA’IN · VINHOS & CA.

| manuela bártolo

A ViniPortugal escolheu a tradicional época das vindimas em Portugal para promover um workshop vínico, especificamente destinado a profissionais da comunicação social angolanos, que se mostraram interessados em alargar os seus conhecimentos acerca da matéria.

O evento contou com uma enorme afluência, nomeadamente por parte dos jornalistas da especialidade, que se deslocaram a Portugal para participar no certame e, desta forma, investir na sua formação vínica.

A Associação Interprofissional para a Promo-ção dos Vinhos Portugueses escolheu várias regiões portuguesas emblemáticas da produ-ção vinícola. O curso intensivo, que decorreu entre 24 de Setembro e 4 de Outubro, abran-geu a visita a vários produtores e respectivas adegas, em que cada participante dispôs de um acompanhamento mais próximo e infor-

mação detalhada do ciclo vitivinícola. O facto do período das vindimas se caracterizar co-mo um acontecimento único, contribuiu para o enriquecimento da vertente formativa do evento. A adesão excedeu as expectativas e o certame contou com a presença de profissio-nais representantes de algumas rádios, tele-visões e jornais nacionais.

A recepção aos jornalistas contou com uma visita ao Palácio e Adega da Bacalhôa e, pelo final do dia, ao centro de vinificação de José Maria da Fonseca, uma casa familiar com dois séculos de história, considerada a mais antiga produtora de vinho de mesa e de Moscatel de Setúbal. Os dias seguintes foram os mais in-tensos e produtivos, integralmente dedicados à aprendizagem.

À chegada a Lisboa, a comitiva frequentou um curso de iniciação à prova de vinhos, sub-dividido em duas partes. A formação intensi-va incidiu inicialmente sobre os tipos de vinhos portugueses, a sua importância e o estudo dos três perfis do produto e respectivas regiões vi-tícolas. O dia encerrou com uma degustação de sete variedades do néctar de Baco. Aliás, esta tarefa foi o mote para o arranque da segunda parte da formação, em que os visitantes ti-veram a possibilidade de, após uma visita às vinhas, elaborar o seu próprio vinho. O curso in-

viniportugal desenvolveformação para jornalistas

cluiu ainda a componente sensorial, em que os alunos foram convidados a fazer uma análise dos seus sentidos, bem como a participar nu-ma prova de vinhos, orientada pelas suas ca-racterísticas e regiões. Aníbal Coutinho e Mário Louro foram os formadores que iniciaram os jornalistas nacionais no mundo da vinicultura portuguesa.

Após a teoria e a introdução aos conceitos es-senciais da actividade, os participantes do workshop, organizado pela ViniPortugal, se-guiram viagem, passando pelas regiões vitivi-nícolas do Dão, da Bairrada, do Tejo, de Lisboa e do Alentejo. As actividades repartiram-se en-tre visitas a quintas, adegas e produtores, em que não faltaram palestras sobre a temática, provas dos vinhos típicos de cada herdade e participação nas respectivas actividades, de-senvolvidas no âmbito das vindimas. No térmi-no do workshop, os jornalistas mostraram-se satisfeitos, salientando o interesse e vontade em aprofundar conhecimentos acerca de um nicho de mercado que tem sofrido um expo-nencial crescimento nos últimos anos. De fac-to, a inclusão de artigos da especialidade nas publicações é uma mais-valia, uma vez que o consumidor de vinhos revela-se cada vez mais exigente e empenhado em adquirir informação sobre este sector.

Fila de cima - Adebayo Vunge, Romão Ferreira, Aníbal Coutinho (enólogo deu o primeiro módulo de formação), Joaquim Laureano (Professor Universitário), Jaime Fidalgo, André Sibi, José Kaliengue, Fila de baixo - Natacha Roberto, Jacqueline Saluvo, António Silva, Paula Sequeira (back- agência de comunicação da ViniPortugal em Angola), Ninelmo Ribeiro, Elizandra Royer (back), Sónia Fernandes (Viniportugal)

Page 121: Angola'in - Edição nº 09

LUXOS · ANGOLA’IN | 121 VINHOS & CA. · ANGOLA’IN |

vINhOS & CA.

aragawaRequinte europeuno coração do Japão

É simplesmente o restaurante mais caro do mundo. A distinção foi atribuída pela não me-nos importante revista americana Forbes, que anualmente publica a lista dos dez espaços mais dispendiosos.

O japonês Aragawa lidera o ranking pelo se-gundo ano consecutivo. Um dos motivos apon-tados para os preços exorbitantes está na especialidade da casa, o bife Wagyu ou Kobe-beef, uma das carnes de vaca mais caras do pla-neta, que no caso concreto, é oriunda de uma quinta local, propriedade do restaurante. A len-dária especialidade, conhecida pelo tratamen-to peculiar e requintado dos bovinos, é servida simplesmente com pimenta e mostarda, pelo que espere uma experiência única. A carne Ko-be será definitivamente a melhor que alguma vez provará.

Situado em Tóquio, no Japão, o restaurante Aragawa cobra pelo prato mais barato 370 dó-lares, pelo que o cliente deve estar preparado para gastar, no mínimo, mil dólares num sim-ples e único jantar. Uma fatia de steak kobe de

227 gramas custa 800 dólares. Pode sempre optar pelo invulgar bife ‘Wagyu au saqué’, que recebe uma massagem dos cozinheiros antes de ser servido. No entanto, quem conhece con-sidera que vale a pena gastar isso e muito mais para ter a oportunidade de provar a carne mais saborosa do planeta. Afinal, o seu custo ape-nas reflecte o preço dos ingredientes dispen-diosos, usados na sua confecção.

Inaugurada em 1967, a pequena churrascaria japonesa, à semelhança de muitos estabeleci-mentos do país, não dispõe de website e muito menos de uma decoração moderna. O tradicio-nal estilo requintado e clássico da sala, decora-da a vermelho e dourado, é uma mais-valia e faz deste restaurante, localizado no centro de Tóquio (num prédio bastante simples), um dos espaços mais procurados, onde não é fácil con-seguir uma reserva e há uma selecção criteriosa dos clientes. O ambiente tipicamente japonês, com um toque europeu (onde não existe músi-ca ambiente), e as melhores carnes que algum dia experimentou fazem do Aragawa ponto de passagem obrigatório.

informações úteisMorada: ankyu-Koutsukosha Bldg.,

fl. B1|3-3-9 Shinbashi Minato-ku

Telefone: (81-3) -3591-8765

Género: Steakhouse

Especialidade: Bife Kobe

Preço médio: 40000 JPY

Reserva: aconselhável

Horário: Seg. a Dom., das 12h

às 15h e das 17h às 22h (hora local)

Dresscode: Formal

Pagamento: Dinheiro,

cartões de crédito/ débito

Outras indicações:

fotografias proibidas

GOURMET | patrícia alves tavares

Page 122: Angola'in - Edição nº 09

vINhOS & CA.

Requintado, glamoroso e detentor de uma ementa eclética e diversa. O Cais de Quatro é provavelmente um dos restaurantes com a melhor vista para a Baía de Luanda. A sua be-leza é reconhecida por todos os visitantes, que ficam encantados com a paisagem, especial-mente à noite, em que a iluminação da baía dá um toque de charme ao espaço.

Á semelhança da maioria dos restaurantes de renome internacional, a ementa é variada, po-dendo usufruir das tradicionais especialidades à base de peixe ou carne, bem como de uma bela ‘pasta’ ou ‘sushi’. Assim, o Cais de Quatro procura dar resposta às diferentes exigências dos seus clientes que, segundo Luís Cartaxo, sócio do espaço, são essencialmente da “classe alta”. Em declarações à Angola’in, o responsá-vel garante que não detêm uma especialidade em particular, mas o “top” das escolhas recai na “pescada da nossa costa, no lombinho aos três queijos, na espetada baía azul, na pica-nha e nas nossas sobremesas top Crostatta de maca e a bomba calórica petit gateaux”.

informações úteisMorada: Rua Mortala Mohamed/

Casa do Desportista Ilha de Luanda

Email: [email protected]

Reservas: convém

reservar todos os dias

Contacto para reservas: 924570620

Horário: todos os dias das 11h/ 02h

(excepto segunda-feira, das 18h/ 02h)

Cartões: VISA

Indicações: Possui parque de

estacionamento e tem designação

de espaço para fumadores

A funcionar desde 2003, o Cais de Quatro con-quista de imediato quem o visita pela primei-ra vez. A decoração minimalista, num espaço clean, em tons brancos e azuis, perfeitamen-te ajustados ao cenário marítimo envolvente, torna o seu jantar num momento de deleite e degustação únicos. “Tratando-se de um res-taurante aberto à beira-mar, pode-se fumar onde quiser”, contando com cerca de 120 co-laboradores para o servir e ajudar na escolha dos menus.

O local define-se como cosmopolita, em que a última novidade é o Sushi, um produto que Luís Cartaxo descobriu nas suas viagens pelo estrangeiro, onde visitou os espaços mais co-nhecidos e as culturas mais peculiares.

Se ficou com vontade de conhecer um dos restaurantes mais emblemáticos de Luanda não se esqueça de fazer reserva. Habitual-mente, o espaço está lotado, pelo que deve marcar a sua mesa, independentemente do dia da semana.

GOURMET

cais de quatro Paraíso junto ao mar

122 | ANGOLA’IN · VINHOS & CA.

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vINhOS & CA.

123 VINHOS & CA. · ANGOLA’IN |

el bulliO melhordos melhoresEleito pelo quarto ano consecutivo como o me-lhor restaurante do mundo, pela revista “Res-taurant”, o espanhol El Bulli volta a ter nota máxima. A propriedade do aclamado chef espanhol Férran Adrià, localizada em Roses (Girona), evidencia-se pela criatividade da gas-tronomia. Recomendado para os apreciadores da máxima qualidade e de paladar exigente, neste restaurante encontra pratos apresen-tados de forma minimalista, cujas receitas recorrem a ingredientes revolucionários e inu-sitados. Afinal, o chef é célebre pelas pesquisas no âmbito da gastronomia molecular, sendo re-conhecido internacionalmente como “alquimis-ta da cozinha”.

O requintado espaço do Norte de Espanha rece-beu em 1997 a terceira estrela, concedida pelo prestigiado guia Michelin e a partir dessa altura nunca mais a perdeu. A fama atrai clientes de todo o mundo, que não parecem incomodados em despender avultadas quantias para usufruir de um jantar de luxo num dos locais mais in-

informações úteis

Morada: Cala Montjoi, Ap.

30, 17480 Roses, Girona

Email: [email protected]

Site: www.elbulli.com

Reservas: dez dias de antecedência

Contacto para reservas:

+34 972 15 04 57 (depois das 15 horas)

Horários: das 13h às 14.30h

e das 17.30h às 21.30h

(deverá consultar o site para saber

em que dias o espaço funciona)

Encerra: de Janeiro a Maio

Atenção: os horários de

funcionamento mudam

todos os anos!

Particularidades: refeições recorrem

à técnica da encapsulação –

comida em pequenas cápsulas.

Preços: o menu de degustação

custa 190 euros (280 USD).

A carta de vinhos é eclética

fluentes da arte gastronómica. Conseguir me-sa no El Bulli não é nada fácil (existem apenas 30). As reservas são efectuadas com meses de antecedência, pois o milhão de clientes inte-ressados neste restaurante supera largamente as oito mil vagas. A casa encerra no meio do ano, para que o seu fundador possa dedicar-se à pesquisa e desenvolvimento de novos sabo-res e texturas.

O número um do mundo pauta-se pela exclu-sividade. Está aberto ao público apenas du-rante sete meses e em várias ocasiões apenas organiza jantares ou almoços. Assim, antes de fazer a reserva, deverá consultar no site a dis-ponibilidade para a data pretendida.

Situado a 177 km de Barcelona e erguido numa encosta com vista privilegiada para o Mar Me-diterrâneo, o El Bulli está inserido numa ampla casa, cujas paredes brancas e estrutura de-talhada em madeira revelam uma decoração simples, tipicamente mediterrânea.

Page 124: Angola'in - Edição nº 09

vINhOS & CA. | wilson aguiar

Sabores angolanos temperados

Boa tarde meus amigos!Ao longo das próximas edições vou apre-sentar-lhes algumas das especialidades nacionais, deixando sugestões sobre o modo de confecção das mesmas. Espero levar até si os melhores sabores de Áfri-ca e os aromas de Angola. Para o arran-que da minha rubrica, escolhi um prato, que faz recordar os cheiros da terra mo-lhada, óptimo para ser apreciado ao final do dia, com o pôr-do-sol como pano de fundo. Assim, a minha sugestão vai para uma moamba de galinha rija de jinguba. Ela surge de uma fusão de sabores de di-versos pontos do país. Do sul do territó-rio surge o óleo de palma, que é muito consumido nessa zona. Como não existe mar dentro das várias periferias de An-gola, muitas culturas consomem quase em exclusivo carnes. A galinha deve ser

bem rija para que a moamba fique boa. A receita deste mês recorre ainda a um ingrediente com longa história: a Jingu-ba. Este é o nome que os antigos (e ain-da muitos) atribuem ao amendoim, que é oriundo do norte do país. Por isso, a mi-nha sugestão é uma mistura de sabores, uma vez que o prato e óleo de palma são típicos do outro ponto de Angola, o sul. Jindungo era a designação do piri-piri, também muito apreciado pelos africa-nos, que adoram refeições com sabores apurados e exóticos. Pode acompanhar com um bom vinho ou com a nossa cer-veja cuca. Espero que aprecie este prato, que é de muito fácil confecção. Os ingre-dientes indicados são para quatro pes-soas, pelo que pode acrescentar mais galinhas, consoante o número de pesso-as para a refeição.

bom Apetite!

124 | ANGOLA’IN · VINHOS & CA.

“la vie en rosato”

Page 125: Angola'in - Edição nº 09

vINhOS & CA.

Wilson Aguiar sugere:

INGREDIENTES:

1,5 kg de galinha rija

Sal qb

Óleo de palma qb

Moamba de dendem já pronta

1 cebola

3 tomates

1 kg de fuba de milho

10 unidades de quiabos para acompanhar

moamba de galinha rija de jinguba

CONFECÇÃO:

Para preparar a moamba de galinha rija, deve

em primeiro temperar bem a galinha com sal de

cozinha. De seguida leva-se ao lume para estufar,

com um pouco de óleo de palma. Depois de estufar 15

minutos, adiciona-se a cebola e o tomate, deixando

refugar muito bem. Entretanto, deverá moer a

jinguba, passar pelo moinho mais fino e diluir em

água quente, para facilitar o processo. Depois da

galinha estar bem refogada, há que rectificar os

temperos e adicionar a jinguba, deixando apurar

mais tempo. O tempo será o necessário para que a

moamba não fique muito pegada.

125 VINHOS & CA. · ANGOLA’IN |

Page 126: Angola'in - Edição nº 09

contemporâneos regressam às origens e evo-cam o tempo distante, anterior à opressão e às decepções.

OS POETAS DE hOjECármen Secco, professora, referiu recente-mente num encontro sobre o tema que “a transgressão, errância, desafio, eroticidade, metalinguagem e desconstrução são alguns dos vectores da produção poética angolana das últimas décadas. A nova poiesis é tecida

A poesia é muito mais que um género literário. Ela transporta sentimentos e sentidos ocultos e recorre ao dom da palavra para traduzir os acontecimentos que rodeiam o poeta e o ambiente social, de onde recebe diversos estímulos

CULTURA & LAzER | patrícia alves tavares

A literatura angolana tem um percurso idênti-co às manifestações literárias, que compõem a cultura de cada país, seja em África, na Eu-ropa ou noutro continente. A poesia nacional acompanha a evolução nacional e transmite nas subtilezas de cada poema a cultura, so-ciedade e história contemporânea de Ango-la. Foram muitos os autores que procuraram através das palavras dar sentido aos momen-tos que marcaram o percurso nacional até à actualidade. As suas origens remontam a me-ados do século XIX, período assinalado pe-la tradição intervencionista e panfletária de uma imprensa, improvisada por nativos. É em 1910 que autores como Silvério Ferreira, Pai-xão Franco ou Assis Júnior proclamam “as rei-vindicações das massas populares da época” e se assumem como “intérpretes duma consci-ência cultural em vias de renovação”, lançando “as bases de uma nova personalidade ango-lana”. Coube a estes homens de letras dar os primeiros passos no mundo literário e cumpri-rem uma das principais funções da poesia: a critica social.

PRIMEIRO “vERSADOR”O poema “Negra!”, de Cordeiro da Matta, re-tirado do seu livro Delírios (1889), foi publi-cado na revista Ensaios Literários, em 1902 e marcou a poesia angolana, uma vez que este assumiu-se como o primeiro negro a cantar a mulher africana (como “a deusa formosura”), numa obra marcada pela intenção nacionalis-ta. Entretanto, grandes nomes ligados à po-esia nacional, como António Jacinto, Viriato

126 | ANGOLA’IN · CULTURA & LAZER

da Cruz e Agostinho Neto, emergem no perí-odo pós-guerra, veiculando a sua “mensagem com um conteúdo social” e fazendo parte de um movimento político-cultural, denomina-do “Vamos descobrir Angola” (1948). Com o arranque do movimento pela libertação na-cional, em 1961, o panorama literário também sofre mudanças, voltando-se para a distribui-ção de panfletos, que assinalam o período cul-tural e politico que se vivia. A dimensão ética e a causa nacionalista sobrepõe-se aos impera-tivos estético-literários da época. São inúme-ros os escritores e poetas, que são presos, por se envolverem na luta pela liberdade. Agosti-nho Neto, António Cardoso e Luandino Vieira são alguns desses exemplos.

INDEPENDêNCIA vALORIzA RAízESO nascimento da República Popular de Angola assinala um novo momento literário, em que a poesia celebra a certeza da liberdade e bus-ca a recuperação da nacionalidade, assistindo-se ao aparecimento de um projecto poético de resgate da língua literária, aproveitando as suas virtudes intrínsecas e universais. A par-tir da década de 80, regista-se o afastamen-to do discurso emblemático do exaltar da luta de libertação e com o surgimento das Briga-das Jovens de Literatura, nomeadamente nos principais centros urbanos, desenvolvem-se novos estilos poéticos, liberdades linguísticas e aborda-se essencialmente a temática dos estados de alma, que reflectem a desilusão em relação à ausência de soluções para resol-ver os problemas mais urgentes. Estes poetas

perfilUANHENGA XITU

Agostinho André Mendes de Carvalho,

de pseudónimo Uanhenga Xitu,

nasceu em 1924, em Ícolo e Bengo.

Enfermeiro de profissão, a actividade

politica valeu-lhe a prisão. Mais

tarde, estudou Ciências Politicas, foi

Governador de Luanda, Ministro da

Saúde, Embaixador na Alemanha

e deputado à Assembleia Nacional,

cargo que ainda ocupa. Uanhenga Xitu

descobriu o talento da escrita durante

a prisão, onde criou os emblemáticos

personagens da literatura nacional,

como Kahitu e Mestre Tamoda. Publicou

“Meu Discurso”; “Mestre Tamoda”; ”Os

Sobreviventes da Máquina Colonial

Depõem”; “O Ministro”, entre outros

Versejarestóriasde um povo

Page 127: Angola'in - Edição nº 09

CULTURA & LAzER

127 CULTURA & LAZER · ANGOLA’IN |

perfilABREU PAXE

Nasceu em 1969 no vale do Loge, no Bembe e licenciou-se no Instituto Superior da

Educação (ISCED), em Luanda, especializando-se em Língua Portuguesa. O poeta é

docente de Literatura na instituição onde se formou e é membro da União de Escritores

Angolanos. Em 2003, venceu o Prémio Literário António Jacinto, com a obra “A chave

no repouso da porta”. É autor dos poemas “De Certo Modo os Destroços Palavras”,

“Muma Ulunga da Brevíssima Existência” e “O Material o Andor da Paredes”

perfilÓSCAR RIBAS, O ÍCONE

“Autor de uma vasta e profunda

obra, porque mergulha bem fundo

nas raízes da nossa terra, não há

dela, entretanto, o conhecimento

que merece e que o seu valor exige.

A obra de Óscar Ribas é funda e

potencialmente criadora, pelo que

pode e deve ser origem de novas

e outras obras, novos estudos e

novos caminhos de conhecimento

humano”, afirmou recentemente

a ministra da Cultura. Escritor,

jornalista e ensaísta, a prestigiada

figura angolana nasceu em 1909,

em Luanda e faleceu em 2004, em

Cascais (Portugal). Reconhecido

no meio literário nacional e

internacional, Óscar Ribas foi

membro da União de Escritores

Angolanos e foi agraciado com

diversas distinções, ressalvando-

se o Prémio Nacional de Cultura e

Artes, em 2000. A sua bibliografia

contempla as obras, entretanto

esgotadas no mercado, “Missosso”,

“Flores e Espinhos”, “Cultuando

as musas” (poesia), entre outros

por perplexidades e incertezas. Uma hetero-geneidade de tendências reflecte a dispersão dessa poesia que oscila entre a revitalização de formas orais da tradição e a ruptura e/ ou recriação em relação a alguns dos procedimen-tos literários adoptados por gerações anterio-res”. A Ministra da Cultura, Rosa Cruz e Silva, tem apostado no incremento da literatura, numa altura em que paralelamente o Ministé-rio da Educação tem incidido na alfabetização da população e na criação de estabelecimen-tos de ensino para as crianças. A ministra tem defendido a divulgação do legado literário an-golano, nomeadamente nas escolas. Por outro lado, sugere um investimento mais intenso na produção literária e na formação, de modo a incentivar o gosto pela leitura. A responsá-vel acredita que este fomento é fundamental para desenvolver pessoas mais cultas e co-nhecedoras da realidade do país. “Podemos fazer isso aumentando o número de escolas, de livros, edições, multiplicando-se em edito-ras por Luanda e todo o país. Penso que esta-mos nesse caminho e vamos conseguir chegar lá”, proferiu. O responsável da Brigada Jovem de Literatura de Angola, no Huambo, Alber-to Praia confirma, por sua vez, que a falta de apoios para a edição de livros tem desincenti-vado a maioria dos autores, que acabam por enveredar por outras actividades. O dirigente acredita que a poesia e a prosa têm vindo a perder espaço no panorama artístico. “Os nos-sos escritores, embora não tenham obras no mercado, demonstram qualidade suficiente para despontarem nestas lides. Estamos em

condições de lançar todos os anos entre dois a três livros. Mas é preciso que hajam apoios”, anunciou. Já o gerente da Livraria Lello, José Magalhães assume que as obras de romance, poesia, conto e ficção, de escritores nacionais têm muita procura, sobretudo no que concer-ne a autores como “Pepetela”, Manuel Rui Monteiro e “Uanhenga Xitu”. RESGATAR A CULTURA NACIONALAbreu Paxe defende que é necessário recupe-rar os elementos positivos da cultura nacional, de modo a orientar as práticas artísticas e cul-turais. O escritor destaca que a nova geração de criadores tem como missão aproveitar os elementos da tradição oral e incorporá-los nos seus trabalhos, de forma estética, asseguran-do o enriquecimento cultural e social do país. “Para este fim, as obras de Óscar Ribas repre-sentam um exemplo a seguir, já que nas refle-xões que tenho estado a fazer à volta desta figura notei como pode o elemento recolha da tradição oral funcionar para os novos suportes artísticos”, salientou.

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Encarnação da LutaNão creio em mim

Não existo

Não quero eu não quero ser

Quero destruí-me

Atirar de pontes elevadas

E deixar-me despedaçar

Sobre as pedras duras das calçadas

Pulverizar o meu ser

Desaparecer

Não deixar sequer traço de passagem

Pelo mundo

Quero que o não-eu

Se aposse de mim

Mais do que um simples suicídio

Quero que esta minha morte

Seja uma verdadeira novidade histórica

Um desaparecimento total

Até mesmo no tempo

E se processe a História

E o mundo continue

Como se eu nunca tivesse existido

Como se nenhuma obra tivesse produzido

Como se nada tivesse influenciado na vida

Se em vez de valor negativo

Eu fosse zero

In “Negação”

CULTURA & LAzER | patrícia alves tavares

vEIA REvOLUCIONáRIANascido a 17 de Setembro de 1922, em Íco-lo e Bengo, Agostinho Neto formou-se em Medicina, na Universidade de Lisboa (Por-tugal). No entanto, o jovem médico cedo se interessou pela política, assumindo-se co-mo opositor do domínio colonial português, tendo sido detido várias vezes na capital portuguesa e em Cabo Verde. Antes de se formar, foi obrigado a fugir para Marrocos, período em que se aliou ao movimento de libertação, sendo eleito, em 1962, presiden-te do Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA). Nessa qualidade, pro-clamou a 11 de Novembro de 1975, a inde-pendência do país e tornou-se no primeiro presidente de Angola, mandato que viria a terminar com o seu falecimento, a 10 de Setembro de 1979, em Moscovo (Rússia). Agostinho Neto fez parte da geração de es-tudantes africanos, que viriam a desempe-nhar um papel decisivo na independência dos respectivos países, que no início do sé-culo XX estava sob o domínio português e cuja ânsia pela libertação popular fez eclo-dir a Guerra do Ultramar. Preso pela PIDE e deportado para o Tarrafal, o médico viu a sua residência ser fixada em Portugal, aca-bando por conseguir fugir para o exílio, on-de deu início ao movimento do MPLA. Até assumir a presidência do seu país, após o fim da guerra e proclamação da indepen-dência, Agostinho Neto esteve sempre li-gado a esta batalha, envolvendo-se em várias causas académicas e políticas, mes-mo quando se encontrava em Lisboa, onde, em colaboração com outros jovens angola-nos e africanos (que estudavam em Portu-

128 | ANGOLA’IN · CULTURA & LAZER

gal), fundou o movimento associativo, que se dedicava a divulgar internacionalmente a situação das colónias. A sua dedicação às causas nacionais valeu-lhe o Prémio Lenin da Paz, atribuído em 1975.

qUALIDADES DE ARTISTAA vida académica, política e literária an-daram sempre de mãos dadas na vida do médico, que nunca esqueceu a sua vocação poética e procurou conciliar as duas áreas. Enquanto estudante, colaborou em várias revistas, jornais e publicações culturais. Findo o curso, exerceu medicina em Luan-da, onde abriu um consultório. Contudo, não abandonou a sua paixão pela literatura, tendo inclusive publicado diversos livros. Os mais conhecidos são a sua primeira obra, intitulada “Naúsea” (1952), seguindo-se li-vros como “Quatro Poemas de Agostinho Neto” (1957), “Com os Olhos Secos” (1963) e “Sagrada Esperança” (1974). O seu talento foi reconhecido através dos galardões Pré-mio Lótus (1970) e o Prémio Nacional de Li-teratura (1975). Actualmente, a Fundação Dr. Agostinho Neto tem como finalidade servir o interesse público, divulgando a vida e obra da figura, através de actividades no âmbito da educação, tecnologia e cultura, apostando na inovação científica e tecno-lógica e no fomento do desenvolvimento humano de Angola. Para assinalar o aniver-sário da sua morte, a instituição pretende reeditar alguns dos seus livros. Por outro la-do, estão em curso os projectos de inclusão da sua vida e obra no plano curricular das escolas, bem como a candidatura do seu le-gado a Património da Humanidade.

Político, médico e poeta, António Agos-tinho Neto foi o primeiro presidente da República de Angola e uma das prin-cipais personalidades nacionais, reco-nhecida por todos enquanto herói e lutador incansável pela independência do seu país. No ano em que se comemo-ram 30 anos passados da sua morte, são inúmeras as entidades que orga-nizam eventos para assinalar a vida e obra desta figura multifacetada.

Page 129: Angola'in - Edição nº 09

129 CULTURA & LAZER · ANGOLA’IN |

CULTURA & LAzER BREVES | patrícia alves tavares

música

Feira pode chegar à zona periurbanaJomo Fortunato, coordenador da feira da mú-sica e literatura, espera alargar o certame, que decorreu em Luanda, às áreas periurbanas, de modo a permitir o acesso das comunidades aos produtos culturais. Este é o principal desafio que se impõe à organização, que este ano con-tou com uma média diária de mil visitantes. “A editora Arte Viva vai repensar a forma de reeditar esta feira na perspectiva de que pos-sa acontecer nas zonas onde o livro não che-ga”, anunciou. O coordenador admitiu que na edição de 2009 surgiram múltiplas ideias, das quais destacou a criação de um Plano Nacional de Leitura, que compreenda a colaboração de todos os sectores associados aos livros, de for-ma a intervir no combate ao insucesso escolar e à falta de hábitos de leitura. O certame inclui a actuação de bandas de bairro menos conhe-cidas e que encontraram uma oportunidade para exporem os seus trabalhos, através da realização de palestras e da exibição de filmes

cultura

Visitas ao Museu de História Natural crescemA média de 60 visitantes por dia levou Cadete Neto, guia do Museu Nacional de História Natural, a considerar que os números correspondem às expectativas, revelando que a maioria do público é composta por jovens. “As figuras que de certa forma chamam mais atenção dos visitantes, prin-cipalmente se for pela primeira vez, são a Palanca Negra Gigante e o Mandatím, conhecido como peixe mulher”, explicou, confirmando que o espaço recebe muitos estudantes, visitas de institui-ções e de turistas, que procuram conhecer melhor a cultura nacional através do acervo do museu. O organismo, instalado em Luanda, foi inaugurado em 1938

direitos de autor

Jurista defende acesso a bens culturais Aguinaldo Cristóvão, director do gabinete jurídico do Ministério da Cultura, acredita que é funda-mental desenvolver políticas concretas, que incentivem o maior acesso dos cidadãos aos produtos culturais. Para o responsável, este é o método a seguir para reduzir o número de violações dos di-reitos de autor. O Estado tem a responsabilidade de criar mecanismos que assegurem que todos os cidadãos tenham oportunidade de aceder um determinado número de obras culturais e científi-cas. Aguinaldo Cristóvão defende que, ao definir estas regras, toda a população terá oportunidade de desenvolver a sua intelectualidade, independentemente das suas possibilidades financeiras. O jurista considera que “o criador tem o direito de gozar dos produtos resultantes da reprodução, da execução ou da representação das suas próprias criações”. A cópia ilícita das obras contribui para desincentivar o processo criativo dos artistas, causando perdas económicas para todos os envolvi-dos, que vivem desta actividade, conduzindo à baixa produção artística

literatura

Obra de Agostinho Neto reeditadaO Ministério da Cultura reeditou em Se-tembro quatro das principais obras pro-duzidas pelo poeta Agostinho Neto. A iniciativa surgiu no âmbito das comemo-rações da morte do ilustre representan-te para dar a conhecer às novas gerações o portfolio do poeta, médico e político. O público pode encontrar nas lojas as obras “Renúncia Impossível” e “Sobre a Liber-tação Nacional” e as compilações dos dis-cursos do primeiro presidente de Angola, “Náusea” e “Ainda o meu sonho”. O mi-nistério assume a sua estratégia de di-vulgar, preservar e valorizar os escritos do autor e dar continuidade a uma inicia-tiva que arrancou a 15 de Setembro, com a realização do Colóquio Internacional so-bre Agostinho Neto

Alunos elogiamseminários Os estudantes da Direcção Nacional de Formação Artística (DINFA) consideram que os seminários sobre artes cénicas são muito importantes para o desenvolvimento das artes no país, cujo mercado ainda é bastante fraco. Os futuros especialistas consideram que estes eventos facilitam a aprendi-zagem de novas matérias, bem como a aquisição de experiências, relacionadas com a dança, teatro e música. Os seminários contribuem para a concep-ção de novas ideias, pelo que os alunos apelam para que se organizem mais eventos do género

artes

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De ‘pontas’ voltadas para o sucesso

130 | ANGOLA’IN · PERSONALIDADES

PERSONALIDADES | patrícia alves tavares

Ana Marques personifica o próprio bailado, as-sumindo-se como a maior representante da dança nacional, em que fez tudo na expressão artística, sendo reconhecida dentro e fora dos palcos angolanos. Actualmente, e apesar dos obstáculos que tem enfrentado, persiste na batalha em prol da elevação e defesa da dan-ça, enquanto linguagem artística. Por outro lado, entre a preenchida agenda, consegue es-ticar o tempo para dar palestras, conferências e workshops. O seu papel de professora incen-tiva-a a defender a importância e necessidade do ensino institucional do bailado em Angola.

Defensora da crítica social, a bailarina encara a dança como poderoso instrumento de intervenção

SACRIfíCIO E DEDICAçãONasceu em 1962 e aos oito anos dava os pri-meiros passos na aprendizagem do ballet clássico na Academia de Dança de Luanda. Completou o curso de professores de dança em 1978 e a partir des-se momento assume a direcção da escola, conciliando o cargo com a docência. Em 1990, frequentou a Escola Superior de Dança, em Lis-boa (Portugal) e, de 1992 a 1999, foi directora da Companhia de Dan-ça Contemporânea, a primeira do género, em Luanda. Em 1995, foi galardoada com o prémio “Identi-dades” da União de Artistas e Com-

positores. Actuou em espectáculos como “A Propósito de Lueji”, “Imagem & Movimento”, “Mea Culpa” e “Uma Frase Qualquer”. O seu percurso ficou marcado pela introdução de novas ideias e conceitos na execução da dan-ça, criando originais formas de espectáculo, em que figuram obras como “Corpusnágua”, “Solidão”, “Um Morto & os Vivos” e “Cinco Estátuas para Masongi”, para as quais tra-balhou em conjunto com reconhecidos escri-tores, pintores e escultores nacionais, como Pepetela e Gumbe. No entanto, nunca des-curou as características tradicionais e popu-

Pioneira da dança contemporânea africana, Ana Clara Guerra Marques é uma das referências do panorama artístico angolano. Bailarina e coreógrafa, possui uma vasta obra ao nível do estudo da arte nacional, da crítica social, do ensino e da dança profissional.

as ambições da companhiaA maior referência da dança está a reactivar a Companhia de Dança Contemporânea de Angola, que fundou em 1991. O espaço estava “adormecido” e a bailarina decidiu procurar pessoas interessadas em colaborar neste projecto. “O grupo que estou a trabalhar resulta de rapazes que vieram de diversos lados. Não tinham formação em dança clássica, mas uma enorme vontade de aprender”, afirmou recentemente. O processo evolutivo foi extraordinário e a companhia está pronta para voltar novamente às ruas. Nove espectáculos estão já agendados e terão lugar no Nacional Cine Teatro

Sabia que...Ana Clara Guerra Marques também escreve. A coreógra-fa lançou três livros: “A Alquimia da Dança” (1999), “A Companhia de Dança Contemporânea de Angola” (2003) e “Para uma História da Dança em Angola” (2008). Porém, a veia da escrita não a motiva a lançar-se como escritora. “Gosto de escrever, sinto-me bem a produzir textos, nomea-damente para o meu blog. Existem alguns que acham que es-crevo bem, o que me faz ficar satisfeita”, expôs recentemente durante uma entrevista. Contudo, esclarece que não se “ima-gina a escrever um livro de ficção”, pois as obras que criou estão relacionadas com “os trabalhos” que desenvolveu “du-rante a formação”

lares das danças angolanas.

MULhER DE CAUSASDefensora da crítica social, a bailarina encara a dança como poderoso instrumento de in-tervenção. Em obras como “Mea Culpa” ou “Neste País...”, a professora assume a sua ir-reverência e comenta o sistema político. Em busca da diversificação das linguagens da dança, tem-se dedicado a estudar e pesqui-sar sobre as coreografias tradicionais e po-pulares, utilizando os elementos recolhidos para desenvolver uma linguagem própria e

contemporânea. Ana Clara Guerra Marques é mestre em Performance Artística – Dança e membro indivi-dual do CID (Centro Internacional da Dança) da UNESCO. É a única inves-tigadora a trabalhar sobre as danças de máscaras do povo Cokwe de An-gola e recebeu em 2006 o “Diploma de Honra do Ministério da Cultura” e o “Prémio Nacional de Artes” na ca-tegoria Dança.

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ano ii · revista nº09 · nov /dez 2009350 kwanzas · 4,50 usd · 3,25 euros

ISSN 1647-3574

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