revista angola'in - edição 03

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Não perca a edição número 3 da revista Angola'in, onde se destacam os casos de sucesso no feminino

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Page 1: Revista Angola'in - Edição 03

ANO IV - SÉRIE IIREVISTA Nº03MARÇO 2012—3,50 EUR450 KWZ5,00 USD—ISSN 1647-3574

ECONOMIA & NEGÓCIOS · MARCAS ID · SOCIEDADE · FOTOREPORTAGEM · ARQUITETURA & CONSTRUÇÃO · INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO · DESPORTO · LIFE & STYLE · CULTURA & LAZER · PERSONALIDADES

· Nº0

3 ·MAR

ÇO

2012

Grupo Mota-EnGilCom uma carteira na ordem dos 1,6 biliões em África, Angola assume 45% do negócio

lidErançano fEMininoMulheres em cargos de topo. Uma realidade em ascensão

indústria transforMadoraLinhas de crédito de apoio às empresas. Conheça as novidades

A verdade e a justiça como ‘pedra de toque’ das sociedades modernas

francisca van dunem “Grandes países fazem-se de gente generosa”

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MARÇO 2012 03

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04 MARÇO 2012

Espaço LEitor—Escritor não é apenas um “colecionador de memórias”, é o “ eternizador” de todas elas, é quem concede-lhes o direito de transitarem livremente pelo “presente”. Parabéns por tamanho reconhecimento.

VitAlinA de Assis

—Quero deixar os meus parabéns à equipa.Kádu tem qualidades para dar o salto nos séniores. Mais um para singrar com toda a força.

sebAstiãO RAngel

—Consegui adquirir a revista ANGOLA’IN no Quiosque do Aeroporto Sá Carneiro. Era meu objetivo ler a entrevista com José Eduardo Agualusa. A destacar, quando questionado sobre o futuro de Angola (dado que 2012 é um ano importante por causa das eleições), o seu optimismo: “Acredito sempre que a situação pode melhorar e que as correntes democráticas, em conjunto com a sociedade, podem vir a crescer, sobretudo no seio do partido e do poder. Espero que o processo democrático seja efectivamente retomado”.

PORfíRiO silVA

—Parabéns à equipa. Acompanho a revista desde a primeira edição e é com agrado que vejo o interesse crescente pelos assuntos do nosso país. Intemporal e com conteúdos diversos, é sem dúvida uma boa escolha para a leitura dos tempos livres.

luísA sAntOs

envie as suas para o seguinte endereç[email protected]

40

18

SUMÁRIO

Esta revista é escrita ao abrigo do novo Acordo Ortográfico

uM diA COM...

M... dE Mudança—O poder feminino começa, cada vez mais, a ser uma realidade social. exemplo disso é o facto da Assembleia nacional estar próxima de atingir um equilíbrio representativo entre ambos os sexos. As três entrevistadas desta edição comentam as mudanças que a sociedade angolana está a viver e o papel da mulher no país

in fOCOMota-EngiL angoLa—estivemos com Jorge Coelho, CeO da Mota-engil, que falou dos planos da empresa para o país e das grandes obras em curso. uma conversa alargada, onde as relações Portugal-Angola não foram esquecidas e a partilha de interesses mereceu elogios

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MARÇO 2012 05

68

58

122

inside

MundO

MARCAs id

uM diA COM…

fOtORePORtAgeM

inOVAÇãO & desenVOlViMentO

life&stYle

22

101 43040546286

desPORtOnovo Jogador africanoConheça a história de Papa bouba diop, o guia espiritual dos novos protótipos africanos que a europa procura na África negra

ARQuitetuRA & COnstRuÇãOarrEndaMEnto urbano EM crEsciMEntoO mercado imobiliário está a mudar e a opção de arrendar casa é crescentemente a escolha das famílias. descubra porquê!

CultuRA & lAZeRo Escritor ativistaPepetela, prémio Camões em 1997, é muito mais que um homem das letras. O seu passado de antigo guerrilheiro do MPlA faz do escritor um acérrimo defensor das suas raízes

eCOnOMiA & negÓCiOs

novas LinhasdE crédito—Kiala gabriel, secretário de estado da indústria, esteve em lisboa para afirmar a aposta na indústria de base florestal. Após reunir com profissionais da fileira da madeira e mobiliário, o responsável anunciou as recentes medidas do programa de industrialização que criará linhas de crédito para as PMes

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www.comunicare.pt

AngolARua Rainha Ginga, nº 228 – 2º andarMutamba – LuandaTEL 923 416 175 / 923 602 924

PortugAlParque Tecnológico Inova.GaiaAvenida Manuel Violas, nº 476 – Sala 214410-136 São Félix da MarinhaVila Nova de GaiaTEL 00 351 222 431 902

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Diretor geralDaniel [email protected]

Direção EditorialManuela Bá[email protected]

Direção de researchANGOLA - Lisete [email protected] - Jorge [email protected]

Direção ComercialIsabel Azevedo [email protected]

Coordenação EditorialPatrícia Alves [email protected]

gestão de Conteúdos life & StyleCarla [email protected]

gestão de Conteúdos DesportoLuís Freitas [email protected]

redaçãoFrancisco Moraes Sarmento · Isabel SantosMaria Sá · Marina Cabral · Paulo Laureano

ArteBruno Tavares · Patrícia [email protected]

FotografiaPaulo Costa Dias · Rui Tavares · Shutterstock

Serviços Administrativos e AgendaPatrícia [email protected]

PubliCiDADEInterpublishingRua Sanches Coelho, nº 03 – 10º andar1600-201 LisboaTlf:. 00 351 217 937 205

impressãoPeres-Soctip Indústrias Gráficas S.A

Distribuição Green Line

tiragem10.000 exemplares

—ISSN 1647-3574DEPÓSITO LEGAL Nº 297695/09—Interdita a reprodução, mesmo que parcial, de textos, fotografias e ilustrações, sob quaisquer meios e para quaisquer fins, inclusive comerciais

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EDITORIAL

Esta revista utiliza papel produzido e impresso por empresa certificada segundo a norma ISO 9001:2000 (Certificação do Sistema de Gestão da Qualidade)06 MARÇO 2012

Alpha Power

Por necessidade constante de cum-prir vários papéis – mãe, esposa, profissional – a mulher desenvolveu ao longo de séculos uma estrondosa capacidade de adaptação às mais va-riadas situações. Agir com objetivo e saber desenvolver ações em diversos âmbitos, são algumas características das mais modernas, que conquis-tam cada vez mais o seu espaço na sociedade, sobretudo no mercado de trabalho.

Mas o que está para além desta cons-tatação? Sem dúvida, o orgulho pro-tagonizado por várias gerações que têm vindo a conquistar o seu lugar. As mulheres que elegemos para esta edição são o exemplo mais perfeito desse alcance. Acreditam no seu pró-prio valor profissional, facto que faz toda a diferença nos dias de hoje, e que lhes permite ter um perfil de atu-ação e gestão de topo. Extremamen-te competentes no desempenho das suas atividades, demonstram avidez por desafios intelectuais, curiosida-de, vontade de participar e deixar a sua marca, com um conhecimento profundo e espírito de colaboração.

Mulheres desta estirpe são de louvar! Hoje, muitas delas são chefes de famí-lia. Há pouco tempo, o mais comum era apenas o homem trabalhar e con-seguir manter bem a família. Com o novo cenário social, para somar ren-da e ter maior qualidade de vida, o pa-pel feminino é importantíssimo. E as organizações reconhecem-no.

Elas preparam-se para as suas carreiras e procuram todo o tipo de informação que permita uma maior evolução. No entanto, em média, continuam a rece-ber um salário mais baixo do que o do homem no exercício da mesma ativida-de. Porquê? Consegue justificar? Afir-ma-se que a tendência natural é que os valores se equiparem, à medida que o sexo feminino galga posições estratégi-cas nas empresas. A mudança está, portanto, aí e não se trata de um valor só das mulheres, mas da mentalidade social positiva em transição. As organizações, hoje, já começam a preocupar-se com questões como o apoio aos filhos e à gravidez. A capacidade da mulher de gerar e criar filhos, administrar a casa e a família, planear atividades e organizar o orça-mento (mesmo que apenas o domésti-co) são alguns dos fatores que fazem com que a mesma tenha uma aptidão e treino natural para o mundo cor-porativo. Essa flexibilidade de ações, sensibilidade aguçada e firmeza nas atitudes influenciam de forma benéfica a sociedade.

Que todos saibamos então honrar a luta e dedicação destas mulheres, copiando-lhe o bom exemplo em prol de uma sociedade mais justa e feliz!

A Direção

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08 MARÇO 2012

—O povo é quem mais ordena—Este é um mês atípico num ano atípico para a vida política das nações da Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa (PALOP). Timor-Leste foi a votos dia 17 e José Ramos-Horta, atual presidente de uma das mais jovens nações do mundo, é a primeira baixa. O ex-ativista Francisco Guterres Lu Olo e o ex-chefe das Forças Armadas, o general Taur Matan Ruak, vão disputar a segunda volta, agendada para meados de abril. A morte do presidente da Guiné-Bissau obrigou igualmente à antecipação do sufrágio, que decorreu um dia depois, a 18 de março. Os resultados ainda não são conhecidos, mas sabe-se que o próximo chefe de Estado será Kumba Ialá, Serifo Nhamadjo ou Carlos Gomes Júnior.

MoSAiCo Patrícia Alves Tavares

FOTO D.R. · FONTE AGÊNCIA LUSA

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MARÇO 2012 09

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10 MARÇO 2012

inSiDE Patrícia Alves Tavares

6 MILHÕES—São dados do Ministério da Educação. O novo ano letivo, que começou no início de fevereiro, conta este ano com mais de seis milhões de alunos inscritos. O valor representa um crescimento de cerca 1,5%, pelo que são boas notícias para os professores. O ministério terá que contratar mais docentes para responder às necessidades das instituições. “Estimamos que neste ano sejam inscritos 6.842.416 alunos, quer em escolas públicas, quer em privadas, ao contrário do ano letivo transato em que foram somente 6.741.297 alunos”, anunciou o ministro Pinda Simão, na abertura de mais um período.

RúSSIa dá foRMação—A Rússia está a formar técnicos angolanos no âmbito da gestão do projeto AngoSat. De acordo com o embaixador daquele país, Seguey Nenáchev, atualmente dez técnicos nacionais, ligados ao setor das Telecomunicações e Tecnologias de Informação, estão em aprendizagem na Europa, desde 2011. Para os quadros que estão a frequentar a pós-graduação, a formação durará entre dois a três anos, enquanto os cursos superiores têm um prazo de seis anos. Recorde-se que o processo de entrada em órbita do AngoSat arranca este ano. A Rússia presta apoio técnico e financeiro, viabilizado por um consórcio de bancos.

RankIng da fIfa—O país subiu dois lugares no ranking da FIFA, ocupando atualmente a 83ª posição, com 424 pontos. A tabela continua a ser liderada por Espanha. Em África, Cote d’Ivoire é a nação que consegue a melhor posição, o 15º lugar, com 967 pontos.

CaSabLanCa E Luanda unIdaS —A companhia aérea Royal Air Maroc deu início às ligações regulares entre as cidades de Casablanca (Marrocos) e Luanda, via Libreville (Gabão). É o único serviço a operar entre o norte de África e a capital angolana. Os voos decorrem duas vezes por semana.

bPC ajuda PRIvadoS—O Banco de Poupança e Crédito (BPC) vai aplicar 40% dos quatro biliões de dólares que dispõe em carteira para auxiliar as atividades dos empresários nacionais. Os visados serão todos os que pretendem investir no ramo da construção de unidades hoteleiras, de infraestruturas comerciais e projetos que contribuam para o combate à fome e pobreza no país. Quem quiser criar postos de trabalho poderá contactar a instituição que está empenhada em promover a expansão do setor privado em todas as localidades, especialmente no âmbito do comércio rural e formal.

angoLa E ZâMbIadE aCoRdo—O memorando de entendimento foi assinado em fevereiro. Angola e Zâmbia firmaram um documento que permite a criação da área de conservação fronteiriça da região do Liuwa/ Mussuma. O acordo será rubricado pelos ministérios do Ambiente dos dois países, durante o primeiro semestre do ano. A medida vai permitir proteger as populações migratórias de animais selvagens em toda a extensão das suas rotas, que abrangem o Parque Nacional da Planície de Liuwa (Zâmbia) e os setores Norte e Ocidente da Área de Gestão de Caça (AGC) do Alto Zambeze ocidental. Com este documento em vigor será possível proteger categorias relevantes da biodiversidade dos dois países e estimar a conservação das espécies.

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MARÇO 2012 11

18 MEtRoS dE CoMPRIMEnto—É a medida da nova ponte sobre o rio Cuando, no Huambo. A estrutura metálica tem cinco metros de largura e vai facilitar a circulação no interior do município do Longonjo. A construção da nova ponte custou 14 milhões de Kwanzas e levou dois meses a ser erguida. É a segunda estrutura do género a ser inaugurada nos últimos dois meses no Longonjo.

CEnSoS EM 2013—Camilo Ceitas, diretor-geral do Instituto Nacional de Estatística (INE), revelou que o Governo reúne todas as condições necessárias para proceder ao recenseamento demográfico já no próximo ano. “Com a estabilidade política que o país vive, o governo angolano tem disponíveis os meios necessários, como financeiros, logísticos e humanos, para que este ato seja realizado até ao ano de 2014”, asseverou. A base do censo terá como ponto de partida informações a nível provincial, municipal e comunal.

700 MILHÕES EM obRaS SoCIaIS—A administração municipal de Quipungo, na Huíla, gastou cerca de 78 milhões de Kwanzas nos últimos três anos em infraestruturas sociais. Entre 2009 e 2011, o programa municipal integrado promoveu a reabilitação do edifício da administração municipal, bem como a construção de uma escola do segundo ciclo com seis salas de aula, uma posto médico na comuna do Chicungo, a construção de um centro de saúde na localidade da Kainda, do cemitério municipal, entre outras. Para este ano, está ainda prevista a criação de mais duas escolas, farmácias na sede do município e em cada comuna e mais centros de saúde.

água PotávEL—Luanda será dotada com dois sistemas de captação e tratamento de água potável. Os equipamentos serão construídos este ano pela Empresa Pública de Águas de Luanda (EPAL) e ficam localizados no Bita e no Quilonga Grande. Na primeira fase, cada estação terá capacidade para três metros cúbicos por segundo, o equivalente a três mil litros. Serão construídas nas margens do rio Kwanza para atender a área de Luanda Sul, nomeadamente Benfica II, Camama e Cabolombo. O Quilonga Grande vai permitir abastecer o novo aeroporto, Catete e o Quilómetro 44. Os sete centros de distribuição da estação vão atender as áreas do Bom Jesus, Quilómetro 44, Kapalanga, Sequele e o novo aeroporto.

InauguRada EMbaIxada no vIEtnaME—O Vietname tem uma embaixada de Angola. A infraestrutura foi construída na capital do país asiático, em Hanói, e vem reforçar um relacionamento diplomático que tem mais de 30 anos. Até então apenas existia um embaixador plenipotenciário, radicado em Benjing, que trabalhava esporadicamente no Vietname. João Manuel Bernardo será o embaixador, que prometeu trabalhar arduamente para reforçar as relações entre os dois países. O edifício é arrendado, mas há o projeto de criar um equipamento de raiz.

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12 MARÇO 2012

PRIMEIRa vaCInação ContRa a PoLIoMIELItE—O país está a preparar a primeira de três campanhas a decorrer ao longo deste ano de vacinação contra a poliomielite. Este ano, a secção nacional de imunização da Direção Nacional de Saúde ainda não registou casos da doença, indicando uma progressão na luta contra um problema que tem vindo a diminuir nos últimos dois anos. “Em 2010, foram registados 33 casos de poliomielite e foi possível reduzir este número em 2011 para cinco casos, em função das ações levadas a cabo pelo Governo”, esclareceu fonte do organismo. Atualmente, 89% do orçamento vai para a erradicação da pólio. O Governo contribuiu com cinco milhões de dólares, que foram concedidos à Organização Mundial de Saúde (OMS) para apoio à aplicação do programa de emergência contra esta epidemia.

RoaMIng da unItEL aLaRgado—Gabão, Austrália, Malásia, Líbano, Ilhas Faroé e Qatar vão passar a contar com os serviços de roaming da operadora telefónica Unitel. No Libano e nas Ilhas Faroé, a empresa expandiu o serviço de roaming de dados, através de parcerias estabelecidas com as operadoras locais MTC Touch/ MIC 2 e Faroese Telecom. Os acordos com as operdoras DiGi, da Malásia, Azur, do Gabão e Vodafone, do Qatar e Austrália permitiram o reforço da cobertura do serviço de voz. A Unitel tem atualmente 7,5 milhões de clientes.

MáRMoRE dE quaLIdadE—A província do Namibe conseguiu atingir uma qualidade estável na produção de mármore. O vice-governador para a área económica, Alcides Cabral, informou que há um forte interesse por parte do empresariado em promover a produção mineira da região. Por outro lado, lamentou que ainda não existam empresas de transformação da matéria, pelo que apelou à criação de indústrias transformadoras que tragam desenvolvimento económico para a província. Atualmente, a maioria dos produtores de mármore envia o produto para Portugal para ser transformado e que depois regressa ao país para ser comercializado. Na opinião dos empresários, o mercado nacional poderá absorver, até 2014, 40% da produção de mármore, graças aos investimentos na construção civil.

198 EMPRESaS PRIvatIZadaS—Na última década foram privatizadas 198 empresas no âmbito do processo que o Executivo está a efetuar desde o início dos anos 90, através do Gabinete de Redimensionamento Empresarial (GARE), com o intuito de dar maior competitividade à economia nacional. De acordo com o ministro da Economia, Abrahão Gourgel, tiveram “no ano passado (2011) a apresentação de um balanço das privatizações e permitiu apurar que existe um total de 198 empresas privatizadas no decurso dos últimos dez anos”. “A nível dos objetivos traçados, verificámos que só muito parcialmente foram alcançados”, acrescentou. Tal deveu-se a razões de ordem económica, social e política. A inexistência de um mercado de capitais ou de mecanismos que pudessem auxiliar o processo de privatização são algumas das causas apontadas. Para este ano está prevista a aplicação de um novo programa de privatizações.

inSiDE

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14 MARÇO 2012

União AfricAnA com novA sede—A União Africana inaugurou a sua nova sede em janeiro, um edifício que foi construído graças a uma doação de 200 milhões de dólares do governo chinês. A estrutura, localizada em Addis Abeba, Etiópia, representa um marco importante na vida da organização continental, criando uma maior estabilidade no funcionamento da união. Recorde-se que a eleição para o cargo de presidente da Comissão da União Africana está marcada para julho deste ano.

cApriles defrontA HUgo cHávez—Henrique Capriles, 39 anos, governador do Estado de Miranda, na Venezuela, venceu as primeiras eleições primárias da oposição. O candidato, que vai defrontar o atual presidente Hugo Chávez a 7 de outubro, quer dar um novo rumo à economia do país sul-americano. O escolhido da oposição elege o modelo económico de “esquerda moderna” que o Brasil adotou. O atual presidente, que governa o país desde 1999, já esclareceu que está confiante na sua reeleição. Após ter sido sujeito a uma cirurgia para tratar um cancro, Chávez revelou que está preparado para lutar por mais seis anos no poder.

sUpercontinente cHAmAdo AmásiA—Os geólogos da Universidade de Yale, nos EUA, publicaram um artigo onde revelam que a Terra terá, dentro de 50 a 200 milhões de anos, um novo supercontinente. Amásia resultará da junção dos continentes americano e asiático junto ao oceano Árctico. De acordo com os investigadores, as duas regiões deverão ser empurradas por uma massa de terra única à volta do Pólo Norte. “Primeiro deverão fundir-se as Américas e depois irão migrar para Norte, colidindo com a Europa e a Ásia, mais ou menos onde hoje existe o Pólo Norte”, disse Ross N. Mitchell, um dos geólogos da Universidade de Yale. O principal autor do estudo, publicado na revista Nature, acrescenta ainda que “a Austrália deverá continuar a mover-se para Norte e fixar-se perto da Índia” e o oceano Árctico e o Mar das Caraíbas desaparecerão, dentro de 50 a 200 milhões de anos.

pUtin promete AUmentode sAlários—As eleições na Rússia para o cargo de primeiro-ministro estão marcadas para 4 de março. Vladimir Putin é o candidato favorito e veio prometer o aumento dos salários, reformas e subsídios sociais caso seja reeleito para mais um mandato de seis anos. Com estas medidas, o responsável defende que será possível estancar o declínio demográfico do país. Recorde-se que a Rússia perdeu cinco milhões de pessoas em duas décadas. O candidato acrescenta ainda que com as suas políticas de desenvolvimento económico e social será possível “salvar 50 milhões de vidas”. Para tal, há que aumentar os subsídios familiares que incentivem o crescimento dos agregados, criar uma política migratória que convença os 30 mil russos que emigram anualmente a regressar e a criação de programas desportivos gratuitos nas empresas.

AUmentAm empregAdos nA AlemAnHA —A população ativa na Alemanha cresceu 1,4% em finais de 2011, o que equivale a 41,6 milhões de trabalhadores. O número representa um acréscimo de mais 560 mil do que no ano anterior. É o maior valor desde a reunificação do país, em 1990. O número de vagas para empregos também subiu, atingindo 1,3 milhões no último trimestre do ano anterior, apesar do Produto Interno Bruto (PIB) ter caído 0,2% no mesmo período. Situação que não se verificava há três anos. A maioria das vagas laborais surgiram no setor dos serviços, seguindo-se o comércio, transportes, hotelaria e construção civil.

MunDo Patrícia Alves Tavares

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mAndelAnAs notAssUl-AfricAnAs—Nelson Mandela será o rosto das novas notas de 50 rands. Estas vão entrar em circulação até ao final do ano com a efígie do primeiro chefe de Estado eleito em democracia no país, em 1994. O anúncio foi proferido pelo atual presidente Jacob Zuma, no dia em que se assinalavam os 22 anos da libertação de Mandela. As notas estão ainda em fase de conceção e produção e o Governo quer com este “gesto modesto” prestar “gratidão” ao ícone da África do Sul. A figura de Mandela vai substituir uma série de notas que têm como tema os cinco grandes do reino animal africano – o elefante, o búfalo, o leopardo, o leão e o rinoceronte.

empresários dA cplp em lisboA—Vários empresários da Comunidade de Países de Língua Portuguesa estiveram reunidos em Lisboa, Portugal, entre 29 de fevereiro e 1 de março numa iniciativa do “Portugal País de Excelência”, promovida pelo Grupo Mundo Português. O encontro destinou-se a juntar em terras lusas, e de forma regular, os portugueses que ao longo dos anos foram tendo sucesso e os lusófonos responsáveis por negócios realizados “em português”, que invistam ou tenham preferência por produtos e marcas lusas. A ação quer incentivar a criação do conceito de “embaixadores de Portugal” no estrangeiro, desenvolvendo o conceito de “onda de negócios da língua portuguesa”. O evento visou consciencializar o mundo de que existem 230 milhões de falantes da língua portuguesa.

centro desegUrAnçA fAmiliAronline—A Google lançou em Portugal o Centro de Segurança Familiar. A ferramenta já existe em vários países e destina-se às famílias e ao incentivo da criação de uma relação adequada entre as crianças e a Internet. Em terras lusas, o projeto tem como parceiros investigadores e a Comissão Nacional de Proteção das Crianças e Jovens (CNPCJ). O centro tem como finalidade apresentar aos pais sugestões sobre como podem auxiliar os filhos a usar corretamente a Internet.

concoUrs mondiAl brUxelles em gUimArães 2012—A Capital Europeia da Cultura 2012, Guimarães (Portugal), foi eleita para receber a 19ª edição do Concurso Mundial de Bruxelas, que decorre de 4 a 6 de maio. A Cidade irá receber centenas de produtores, críticos e apreciadores de vinho de todos os cantos do mundo. Em destaque estará o vinho verde, um produto da região que demonstra a sua diversidade gastronómica e enológica. A concurso estarão mais de 7400 vinhos a lutarem por uma medalha e pelo título de melhor da sua categoria.

fim às seringAs—Três especialistas em química da Universidade de Coimbra, em Portugal, criaram um aparelho de laser que ajuda a pele a absorver os cremes. O equipamento não faz barulho, não emite luz e não causa efeitos secundários. Promete uma revolução na cosmética e dermatologia, já que limita-se a transformar a luz em pressão através de um material que ajuda a abrir os poros. A ideia surgiu há cerca de quatro anos e, neste momento, decorrem testes em laboratório com animais. Está em fase de aprovação pelas entidades competentes nos EUA e permitirá acabar com as agulhas que causam fobia a muitos.

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16 MARÇO 2012

clinton em cAbo verde—Hillary Clinton, secretária de Estado norte-americana, esteve em Cabo Verde, Togo, Libéria e Costa do Marfim, numa visita oficial de demonstração do empenho dos EUA no regresso à paz naqueles países. A responsável quis deixar claro que a América apoia a boa governação, o desenvolvimento económico e a democracia em regiões que vivem situações de pós-conflito. Em Cabo Verde, a secretária de Estado reuniu com o primeiro-ministro José Maria Neves para discutir assuntos relacionados com a cooperação regional, onde se inclui o combate ao narcotráfico, a boa governação, a implementação de políticas económicas sólidas e a recente atribuição ao país do segundo compacto do Millennium Challenge Account.

sAmUel ArAndA vence World press pHoto—A imagem lembra a célebre Pietá pintada por Miguel Ângelo. O retrato emotivo de uma mulher coberta pelo véu integral, que abraça o seu familiar ferido, no Iémen, arrecadou o primeiro prémio do World Press Photo. O fotógrafo espanhol Samuel Aranda foi o vencedor da 55ª edição do concurso internacional que elege as melhores fotos jornalísticas. A fotografia foi tirada dentro de uma mesquita que tinha sido ‘convertida’ em hospital improvisado para receber os feridos dos confrontos entre polícia e manifestantes avessos ao regime de Abdullah Saleh. A imagem é um retrato simbólico da Primavera Árabe.

vendido ApArtAmento mAis cArode nY—O apartamento mais caro de Nova Iorque foi vendido à família de um bilionário russo por 88 milhões de dólares. A casa pertencia a um banqueiro americano reformado e a compra foi realizada em nome de uma jovem de 22 anos, filha de Dmitry Rybolovlev, um russo que vive no Mónaco. Ekatarina Rybolovleva é estudante universitária e pagou mais de 66% do valor da venda anterior da casa e que tinha sido recorde na ocasião. A compra gerou 2,5 milhões de dólares em impostos e 3,5 milhões em comissão.

moçAmbiqUe reAgede formA positivA—O Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou que Moçambique está a enfrentar bem a crise económica. A terceira revisão sobre o desempenho económico indicou que o país está a reagir corretamente face à recessão global, através do programa do fundo de apoio que visa a política monetária, a gestão das finanças públicas e a política tributária. As reformas estruturais estão a refletir-se no crescimento do PIB e na redução da inflação.

9,19 mil milHões—Maior lucro de sempre da General Motors (GM). A empresa norte-americana fechou o ano de 2011 com o melhor resultado de sempre. Os proveitos obtidos foram os mais elevados em 103 anos de história. A unidade europeia contribuiu para travar a evolução dos resultados da companhia.

MunDo

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MARÇO 2012 17

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InvestImento angolano

“SE dEcIdIrEm ENtrAr No NoSSo cApItAl São bEm-vINdoS”JORGE COELHO, PRESIDENTE DE UMA DAS CONSTRUTORAS DE MAIOR PESO EM ANGOLA E PORTUGAL, RECONHECE qUE ATUALMENTE A MOTA-ENGIL É UMA EMPRESA DE CAPITAIS ANGOLANOS DE REFERêNCIA. ALGO qUE O ORGULHA. NUMA CONVERSA FRANCA, FALOU à ANGOLA’IN DO RELACIONAMENTO ENTRE OS DOIS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA, DA ENTRADA DA CHINA NA EUROPA E ÁFRICA E DO PODEROSO TRIÂNGULO BRASIL – ÁFRICA – EUROPA.

in FoCo Patrícia Alves Tavares

18 MARÇO 2012

D.R

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MARÇO 2012 19

quando a mota-engil Angola nasceu anun-ciaram que queriam ser a “maior e a me-lhor construtora”. A meta foi alcançada?A criação da Mota-Engil Angola correspondeu a uma estratégia do grupo. Percebemos que fa-zia sentido abrir o capital a capitais angolanos. Dada a natureza dos parceiros que encontra-mos, a Sonangol, a Globalpactum e a Finicapi-tal, assumimos a meta de sermos uma grande empresa em Angola. O objetivo está a ser con-seguido passo a passo. Hoje somos uma empre-sa de referência, como construtora e não só. O grupo Mota-Engil está a trabalhar noutras áre-as de atividade do país: nos resíduos, nas águas e na logística.

Atualmente quais os outros setores priori-tários?A Mota-Engil Angola tem essencialmente a sua área de atuação na construção. O grupo tem atividades, nomeadamente através de par-cerias, e constituiu a Vista Waste, a Vista Ener-gy, a Vista Water. São empresas nas áreas dos resíduos, das águas e da energia. São projetos importantes, tal como a área da indústria, em que construímos por exemplo uma fábrica de cerâmica.

qual o volume de negócios?A construção é a principal atividade e aí o país representa cerca de 20% no âmbito do grupo. Mas estas áreas já têm algum significado, no-meadamente a dos resíduos, que tem um peso relativamente importante na nossa atividade, apesar de ter sido criada há pouco mais de dois anos, em Angola.

A breve prazo, pretendem apostar em mais algum setor?Neste momento, queremos aprofundar e de-senvolver estas áreas.

ganharam a construção de uma barragem, são responsáveis pela construção de pos-tos de combustível da sonangol e de vários empreendimentos. quais os projetos de re-levo que têm em carteira?Estamos a fazer muitas obras, desde o projeto da Baía de Luanda, que é dos mais importantes, ao da Avenida Murtala Mohamed, que é do outro lado da Baía. Na zona económica e social, esta-mos a ter vários trabalhos, como a barragem do Calueque. É com orgulho que voltamos nova-mente a uma barragem que ficou parada duran-te a guerra e que 30 anos depois a Mota-Engil vai terminá-la. Temos o projeto de expansão de pos-tos de combustíveis, estamos a construir uma cidade financeira em Luanda, o centro de for-mação marítima de Angola e a Luanda Tower. Há um conjunto vasto de obras que estamos a desenvolver na área da construção.

o estado participa nestas obras?A generalidade destas obras são privadas, ou-tras são do Estado.

A associação a capitais angolanos tem sido uma mais-valia para a atuação da empresa no país?Tomámos a decisão certa no momento certo e foi possível encontrar os parceiros certos. Quer a Sonangol, a Finicapital e a Globalpac-tum, ligados ao grupo Atlântico, são parceiros de reconhecido prestígio no país, com grande credibilidade noutros mercados. A parceria tem corrido muito bem.

estes parceiros estão presentes em inves-timentos feitos em portugal?Esses parceiros têm investimentos em várias áreas da economia lusa. Somos uma empre-sa cotada em bolsa e se um dia decidirem entrar no nosso capital, posso dizer que são bem-vindos.

“Um fUtUro brIlhANtE”como analisa o crescimento registado no país ao longo dos últimos anos?Tem tido uma evolução notável a todos os ní-veis. Tem uma estratégia de desenvolvimento que encontrou os meios financeiros necessá-rios para dar o salto qualitativo que precisava para que os cidadãos possam ter uma vida com maior dignidade. Isto é uma coisa que não se pode fazer de um dia para o outro, mas o país está a seguir uma estratégia de desenvolvimen-to económico e social de grande importância. Angola tem já um presente sólido e tem todas as condições para ter um futuro brilhante.

É um desenvolvimento notório na globali-dade do continente?Angola é um país que tem uma dimensão, uma estratégia e uma organização que faz dele refe-

de peso na construção20%

“ É com orgulho que voltamos novamente a uma barragem [do Calueque] que ficou parada durante a guerra e que 30 anos depois a Mota-Engil vai terminá-la ”

rência da África Austral. Mas há um conjunto de países à volta que são importantes. O Gru-po Mota-Engil tem hoje delineada uma estra-tégia para a África Austral. Está em Angola, em Moçambique, no Malawi, no Zimbabué e na África do Sul, porque encara a região como um todo. Neste momento (e esperemos que con-tinue), para nós Angola é o país com o maior peso no âmbito daquilo que são as nossas ati-vidades.

qual é o peso de Angola no contexto afri-cano?A nossa carteira está na ordem dos 1,6 biliões de euros em África. O peso de Angola é de cerca de 45%, isto é, à volta de 700 milhões.

As relações entre portugal e Angola estão mais equilibradas?Tem havido nos últimos anos um maior inter-câmbio entre aquilo que são as exportações de Portugal e o envolvimento de empresas ango-lanas em atividades em terras lusas. Considero que a comunidade dos países de língua portu-guesa deve ter cada vez mais uma política eco-nómica com grande interação. E entre Angola e Portugal há claramente essa interação, que é boa para os interesses dos dois países.

trata-se de um relacionamento que susci-tou algum celeuma, com o presidente do parlamento europeu a tecer críticas. qual a sua análise sobre essas afirmações?São inaceitáveis. São questões de relaciona-mento entre países. As relações políticas, em-presariais e económicas são muito positivas e isso é importante para os dois povos. Nenhu-ma entidade, seja europeia ou de outra nature-za, deve imiscuir-se nos assuntos internos de Portugal ou de Angola.

refere que uma empresa em má situação financeira em portugal “não deve ir para Angola”. porquê?Uma empresa quando se internacionaliza, se-ja portuguesa, angolana ou de qualquer outro país, tem que pensar bem na decisão antes de a implementar. Um empresário que queira ir para Angola deve saber o seguinte: tem que ter estabilidade financeira em Portugal, pois até a produção no exterior começar a surtir efeitos vai demorar; escolher os parceiros convenientemente; estudar o mercado e a si-tuação financeira deste e conhecer a legisla-ção. Portanto, se já tem problemas financeiros em Portugal, comete um erro profundo se de-cide ir para Angola pensando que é um paraí-so onde tudo corre pelo melhor. É preciso ter uma estratégia, credibilidade junto das insti-tuições financeiras e políticas para poder de-senvolver o seu próprio país.

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20 MARÇO 2012

in FoCo

são as melhores estratégias? A nossa opinião resulta da experiência. Esta-mos em Angola há mais de 60 anos e temos um grande respeito pela soberania, pela indepen-dência, pelas leis e pelos governantes nacio-nais.

são conselhos que se aplicam à entrada em países emergentes?Estamos em cerca de 20 países e em cada um temos que analisar as suas características. As leis e as estratégias de desenvolvimento são di-ferentes. Temos uma estratégia específica para cada um. Não há dois países iguais.

existem cada vez mais investidores ango-lanos a apostar em portugal. quais as van-tagens deste cruzamento?O facto de haver interesses angolanos em Por-tugal é a maior segurança que pode haver para os interesses lusos que estão sedeados em An-gola. Este intercâmbio e esta partilha são muito importantes para os dois países.

É inegável a crescente importância da chi-na na economia global. como vê as rela-ções entre asiáticos, europeus e africanos?Portugal tem uma posição importante no âm-bito europeu. Tem uma estratégia económica integrada por fazer parte da União Monetária e tem a possibilidade de ser um vértice num triângulo fulcral que é o Brasil – África – Euro-pa. O único indicador positivo que existe neste momento na economia portuguesa são as ex-portações. E aí há países europeus importantes como a Alemanha ou a Espanha, mas também África e em especial Angola. Esta particulari-dade permite-nos resistir à crise que afeta o mundo.

concorda com a entrada da china em se-tores-chave da economia portuguesa e angolana?Conheço bem a República Popular da China. É um país que concentra grande parte da rique-za mundial. A dependência em termos de dívi-da que os EUA têm relativamente à China e a sua estratégia de universalizar o seu desenvol-vimento são notas da nova atratividade que a China tem para a Europa. É importante a ope-ração que foi feita na EDP e nas redes elétricas lusas. O facto de abrir empresas em Angola

permite que existam relações políticas com os dois países. Vejo com satisfação o novo olhar da China para Portugal, pois sei que nunca en-caram um país por causa de um pequeno negó-cio. Olham na lógica de uma estratégia geral e de longo prazo.

poderá a mota-engil procurar a china co-mo parceiro para a internacionalização?Somos um grupo multinacional e multisser-viços. Estamos sempre abertos a partilhar os nossos interesses com empresas de todo o mundo e, como é óbvio, também com em-presários chineses.

qual o papel do governo português no apoio à internacionalização?Sei rigorosamente aquilo que devia ser feito, mas não me compete imiscuir-me em áreas que não são da minha responsabilidade.

tomaria medidas diferentes?É com satisfação que vejo o aicep tomar medi-das concretas e positivas. Os senhores minis-tros dos Negócios Estrangeiros português e angolano conseguiram dar um salto positivo em relação à questão dos vistos, que vai ajudar várias empresas portuguesas. O pacto foi resul-tado do esforço entre os países. Por outro lado, é frequente uma assessora do ministério dar-me indicações daquilo que são os objetivos estratégicos do Governo, o que é importante para o desenvolvimento da estratégia das em-presas lusas.

outra das preocupações dos empresários é o atraso nos pagamentos…Somos uma empresa multinacional e estamos em muitos países. Praticamente não existe ne-

nhum país onde isso não aconteça de vez em quando. Em Portugal há questões muito gra-ves. Em Angola habituamo-nos a tratar desses casos de forma bilateral e as coisas vão-se re-solvendo.

o estado português pode intervir, através de linhas de crédito?A nível político e diplomático são questões que os países tratam entre si. Portugal está a atra-vessar uma crise profunda. Não podemos es-perar que hoje existam linhas de crédito como no passado.

qual a melhor solução para os empresá-rios? Não se pode ir para um país a contar exclusi-vamente com os apoios que cada Estado dá. O Governo é que tem que definir se há projetos que são pagos pelo Orçamento de Estado e se há outros que são financiados. Nós temos que nos adaptar.

como é que o grupo se tem adaptado à nova realidade lusa?Temos uma estratégia de internacionalização mais forte, de diversificação a todos os níveis e fazemos ajustamentos que permitam adaptar os nossos custos de procura àquilo que é o nos-so núcleo de negócio em Portugal.

qual o balanço da atividade em Angola?Muito positivo. Somos uma empresa de refe-rência do ponto de vista técnico, da susten-tabilidade da nossa ação e daquilo que são os nossos projetos. É a melhor fotografia que se pode ter. Neste caso, prestigiamos Portugal e Angola pelo facto de sermos uma empresa de direito angolano.

“ A nossa carteira está na ordem dos 1,6 biliões de euros em África. O peso de Angola é de cerca de 45% ”

“ O único indicador

positivo que existe neste momento na

economia portuguesa são as exportações.

E aí há países muito importantes

como Angola

D.R

.

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EConoMiA&nEgÓCioS Texto Manuela Bártolo | Fotografia Paulo Costa Dias

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MARÇO 2012 23

‘Não queremos coNtiNuar a ser forNecedoresde commodities’No dia em que o Executivo angolano anunciou, na província da Lunda-Norte, a atribuição de um bilião e meio de dólares para as micro, pequenas e médias empresas, o secretário de estado da indústria, Kiala Ngone Gbriel, aceitou falar à Angola’in sobre a importância das novas linhas de crédito no crescimento industrial do país. De visita a Portugal, para apresentação do Programa de Desenvolvimento das Indústrias de Base Florestal junto da classe empresarial do setor, o responsável adiantou pormenores sobre o Programa da fileira da Madeira, Mobiliário e Afins, sem esquecer os últimos avanços em matéria de industrialização. Num discurso direto esclarece a estratégia do Governo para declarar independência em áreas com um potencial económico emergente.

objetivo: redução das importações

em que fase está o denominado pro-grama de industrialização?O ministério é flexível quanto à ope-racionalização do Programa da Indús-tria Transformadora - estipulado para o período de 2009-2012 -, uma vez que a aplicação efetiva do mesmo deverá ultrapassar essa linha de tempo. Atu-almente, estamos na fase de identifica-ção e análise dos projetos e só depois avançaremos para a sua implementa-ção. Este prolongamento prende-se com a vontade do ministério de efe-tuar um acompanhamento direto a todos os projetos até que estes atinjam o ciclo de retorno do capital por parte dos investidores, uma vez que há uma

grande intervenção estatal no seu pro-cesso de financiamento. O programa foi aprovado ao abrigo de uma resolu-ção 21/09 de 13 de Março e consiste no resultado de um trabalho apurado en-tre o ministério, as províncias, através dos seus governos provinciais, e os di-versos operadores económicos.

quais são as bases que tutelam o plano?O programa rege-se fundamental-mente por quatro pilares principais. O primeiro está relacionado não só com a necessidade de construção de mais infra-estruturas para o exercício da atividade económica, mas também com a viabilização de novas iniciativas empresariais no domínio da indústria. O segundo refere-se ao desenvolvi-mento de atividades que se insiram no

contexto da criação de clusters, com o objetivo de promover setores que con-corram para a redução competitiva das importações e o fomento das ex-portações. O terceiro está vocacionado para a formação de profissionais atra-vés de um enfoque maior no indivíduo e, por conseguinte, na sua instrução. Temos perfeita noção que é primor-dial termos pessoas preparadas para enfrentar os grandes desafios que se avizinham em matéria de industriali-zação, até porque a este nível os pro-cessos são, cada vez mais, complexos e não é qualquer profissional que con-segue fazer uso das novas tecnologias se não tiver boa formação académica e tecnológica. Por último, e não me-nos importante, destaco o reforço das nossas instituições, no sentido destas acompanharem também o progresso

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24 MARÇO 2012

e o esforço em curso ou a implementar em prol do desenvolvimento de toda a economia e da indústria transforma-dora, em concreto.

com que objetivo foi criado?Este plano executivo visa essencial-mente reduzir as importações atra-vés do aproveitamento dos recursos naturais. O objetivo é proceder à cria-ção de atividades capazes de gerar em-prego e riqueza, mas que sejam acima de tudo um valor acrescentado para o desenvolvimento do país. Não quere-mos continuar a ser fornecedores de commodities, nem exportadores de mão-de-obra barata. Queremos par-ticipar ativamente na global village (aldeia global), sendo competitivos e introduzindo tecnologias que sirvam para transformar os nossos recursos em produtos acabados e industriali-zados, de forma a fomentar o tal va-lor exigido pela globalização. Esta é a estratégia geral, isto é, criar emprego e valor, poupar divisas e competir em pé de igualdade tanto a nível regional, como internacional. Quanto à diver-sificação da economia, o ministério é norteado pelas grandes metas do Exe-cutivo angolano, que integram uma estratégia global a longo prazo de de-senvolvimento sustentável do país a

atingir em 2025. Aqui se centra a im-portância dos denominados quatro pi-lares ao nível do crescimento. Quando me refiro à construção de infra-estru-turas no setor industrial aponto para o conceito de pólos de desenvolvimento industrial, que são áreas geográficas delimitadas. O intuito é que as mes-mas sejam, a médio prazo, servidas de condições físicas de todo o tipo para prestar apoio ao empresariado. Falo de vias de esgoto, tratamento de águas residuais, arruamentos, electrificação, entre outros fatores diretos ou indire-tos de produção que viabilizam e faci-litam a vida ao setor empresarial.

como está a decorrer o processo de criação das zonas económicas es-peciais e porque critérios se rege a lei das parcerias púbico-privadas?Por enquanto, não estamos ainda a di-rigir toda a nossa atenção para as Zo-nas Económicas Especiais, pois esta estratégia carece de uma legislação mais efetiva. No momento, a que te-mos a operar em Luanda-Bengo está sob a coordenação do ministério da Economia e já tem algumas indústrias em funcionamento. Contudo, no que se refere ao segundo pilar, que cons-ta do programa já aprovado, quero re-ferir que o nosso principal objetivo é

A estratégia global do Executivo é criar

emprego e valor, poupar divisas e

competir em pé de igualdade tanto a

nível regional, como internacional

fomentar o maior número de ativida-des por parte dos empresários e opera-dores no país. A este nível o Executivo angolano tem vindo a diferir projetos, sendo que o privado é chamado a par-ticipar e a ocupar naturalmente o seu espaço. Ao Estado não cabe fazer tudo, mas importa criar um quadro parti-cipativo com uma definição clara de regras e planos que possibilitem a dis-cussão de projetos estratégicos com o privado, reconhecendo que o mesmo é o nosso garante em termos de ma-terialização e transformação dessa estratégia. Nesse sentido, surgiu a ne-cessidade de criação da lei das Parce-rias Público-Privadas, aprovadas no fim do ano passado e atualmente em fase de implementação. Defendemos que o Estado deve ser um agente eco-nómico atuante e ativo e não passivo. Contrariamos com esta decisão a ten-dência internacional anterior que con-duziu à falência de muitas economias mundiais. Uma atitude que funciona como uma espécie de contracorrente, pois acreditamos que de facto o Esta-do deve ter um papel decisivo e regu-lador. Embora não querendo impor regras, nem subtrair o papel reserva-do ao setor privado, quando o mesmo sabe intervir deve regular a economia, sobretudo com o sentido de evitar o

EConoMiA&nEgÓCioS

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comércio e a atividade desleal. Apoia-mos uma economia de mercado, com regras, um objetivo que nos propomos alcançar.

qual a estratégia reservada para os clusters?Em relação aos clusters, a estratégia é fazer um mix, pois não queremos ser muito restritivos em relação à função deles. Estamos a analisar as fileiras de diferentes setores e as suas cadeias de valor, como é o caso do plano da Ma-deira, Mobiliário e Afins, que integra o Programa de Desenvolvimento das Indústrias de Base Florestal. O mesmo sucede com a indústria têxtil, área em que o ministério está em fase de imple-mentação, e com o programa da moa-gem, já aprovado, em que procedemos à (re)construção de unidades indus-triais. O da fileira florestal, por exem-plo, consiste em promover de forma sustentável atividades que venham a aproveitar a madeira em toda a sua extensão, isto é, desde o corte, à ser-ração e transformação até às paletes, aglomerados, contraplacados e mobi-liário final. A este nível obviamente que não existe uma única entidade, mas um conjunto de intervenientes

A nova linha de crédito para as Micro e PME’s está estimada no valor de mil e quinhentos milhões de dólares, sendo igualmente suportada por um fundo de garantia no valor de duzentos milhões de dólares. O objetivo é financiar projetos até mil milhões de dólares. Segundo declarações do ministro da economia, Abrão Gorgel, à RNA, ‘as condições de crédito do programa são: o beneficiário paga uma taxa de juro de cinco por cento ao ano e a diferença entre essa taxa de juro e a taxa de juro efetiva é absorvida pelo fundo de bonificação do juro’.

ao longo de toda a fileira a operar tan-to a montante, como a jusante. Este é um programa que defendemos com muita seriedade e que assenta em três componentes principais, alvo de um forte investimento. O primeiro, refe-rente às áreas de corte e transporta-ção, vai ter um orçamento de cerca de 38 milhões e 500 mil dólares, para o segundo, respeitante à fase de trans-formação da madeira, que vai desde a serração até ao mobiliário, está pre-visto um investimento na ordem dos 187,2 milhões de dólares. Por último, e não menos importante, destinamos cerca de 92,5 milhões de dólares, pa-ra a componente de reflorestação, de forma a podermos sustentar o próprio projeto. Temos noção de que não bas-ta cortar hoje e abandonar amanhã, é preciso desenvolver ações de preven-ção para que haja sempre madeira, por um lado, e se desenvolva o setor de forma sustentável, sem prejudicar o meio ambiente, por outro. No total refiro-me a um programa que hoje as-cende os 310 milhões de dólares e que vai permitir criar mais de 2 mil postos de trabalho direto, sendo que a previ-são atinge os 6 mil indiretos.

Ao Estado não cabe fazer tudo, mas sim criar um

quadro participativo com uma definição clara de

regras que possibilitem a discussão de projetos

estratégicos com o privado

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Mini-entrevistaao diretor-geral da Sociedade de Gestão Empresarial Undianuno - Panga-Panga SGEÓscar silva

dólares. Esta lei rege-se por dois indicadores fundamentais: a faturação e o número de pos-tos de trabalho que gera. Por exemplo, uma micro empresa deve empregar até dez traba-lhadores, uma pequena até 100 e uma média pode oscilar entre os 100 e os 200 postos de trabalho. Este processo é cumulativo a outros fatores como a faturação. Uma micro terá de atingir até 200 mil dólares/ano, uma peque-na deverá declarar entre os 250 mil e os 3 mi-lhões de dólares/ano e uma média empresa deverá assegurar a partir dos 3 até aos 10 mi-lhões de dólares de faturação anual. Estas são as três categorias previstas na lei. Quem reu-nir essas condições através de um projeto que apresente uma destas dimensões poderá can-didatar-se a um financiamento ao abrigo des-te programa específico, atualmente calculado na ordem dos 400 milhões de dólares, 100 dos quais são para contragarantias. Acreditamos que neste cenário há espaço para todo o tipo de investidores, desde os mais pequenos, aos milionários. Em resumo, queremos atrair em-preendedores e competidores que mobilizem a economia e o tecido empresarial nacional. O objetivo máximo é estimular a produção e o empreendedorismo.

O programa apresentado é o que setor precisa?Penso que sim. Este plano vai ajudar todas as empresas liga-das ao setor. Trata-se de uma área de grande crescimento, em que o país é rico porque tem uma fonte de matéria-pri-ma interessante assente numa floresta vastíssima. Agora, isto é só o início porque é preciso desenvolver o setor com toda a força no sentido de criar mais emprego. Esta faixa industrial pode ser uma das principais a gerar maior número de em-pregadores no país. Mas para acrescentar riqueza, é impor-tante desenvolver indústrias que criem mobiliário, carpinta-rias, etc, e que acompanhem o desenvolvimento da construção civil, por exemplo. Todas estas áreas dependem do desenvolvi-mento da indústria da madeira.

EConoMiA&nEgÓCioS

O anúncio das novas linhas de crédito às Micro e PME’s é um bom apoio a esse desenvolvimento? A classe empresarial esperava por esta boa notícia há muito tempo. Evidentemente que este é um plano que vai impulsionar muitos projetos, que - pelo seu volume financeiro - estariam quase impossibilitados de serem realizados recorrendo a um crédito comercial normal.

Projetos para o futuro?Somos promotores de três grandes projetos na área da madeira: aglo-merado e MDF, fábrica de pavimen-tos e fábrica de mobiliário maciço. Desenvolvemos uma forte cultura empresarial, cuja maior vantagem está na sua extensão e distribuição pelo país, com um desenvolvimento da área racional, que procura criar mais emprego nas províncias. A nossa filosofia é aproximar a indús-tria da fonte de matéria-prima.

existem áreas prioritárias de investimen-to?O setor prioritário de aposta é o setor produti-vo no seu todo, desde a agricultura às pescas, passando pela construção civil e obras públi-cas, até à energia e aos transportes. No entan-to, saliento um aspeto: não podemos esquecer a indústria transformadora, na qual incluo o setor da geologia e minas. O país não quer, por exemplo, continuar a exportar os seus dia-mantes em estado bruto, mas sim trabalhar as suas pedras de forma a fazer uma exportação com maior valor acrescentado, que lhe permi-ta exigir um preço de mercado diferente do atual. Sempre que exportamos sem esse valor superior dado ao produto trabalhado, esta-mos a perder a oportunidade de desenvolver e fazer crescer outros setores, impedindo com isso também a criação de mais emprego, uma vez que a área da transformação gera muitos postos de trabalho a nível interno. Assim sen-do, estamos a favorecer outros países que não têm sequer o produto, mas que, ao contrário de nós, criam valor com ele. Esta posição é as-sumida pelo Executivo angolano, tratando-se de uma regra geral que se aplica mesmo no do-mínio do petróleo, setor em que felizmente já

LiNhas de créditopara micro e pme’s

quais as vantagens que a nova lei das mi-cro, pequenas e médias empresas promo-ve?A Lei das Micro, Pequenas e Médias Empresas foi aprovada no início deste ano e diferencia-se da Lei do Investimento Privado através de um fator muito importante: o volume inicial de investimento exigido. Esta lei está mais di-recionada para os investidores estrangeiros, que têm de fazer prova de um capital próprio a aplicar em Angola igual ou superior a um milhão de dólares. Só depois de investir este valor mínimo é que o investidor pode repa-triar dividendos do volume de investimento aplicado no país. A que entrou recentemen-te em vigor dirige-se fundamentalmente a promotores e investidores nacionais, embora não esteja obviamente vedada a possibilidade a um cidadão estrangeiro que se quer fixar de investir numa PME angolana. Neste âmbito, a regra principal é diferente, ou seja, o inves-tidor não tem direito de repatriar dividen-dos, uma vez que não declarou um milhão de

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sempre que exportamos os nossos recursos

naturais sem qualquer valor acrescentado,

estamos a perder a oportunidade de

desenvolver outros setores, impedindo

também a criação de mais emprego no país

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Mini-entrevistaao presidentedas OrganizaçõesJosé veríssimo, lda.

Que comentário lhe merece a criação de um programa de apoio específico para o seu se-tor de atividade? De que forma é útil para o seu crescimento?Como empresário quero felicitar o Executivo angolano por ter concebido um programa inte-gral de relançamento da fileira da madeira, mobiliário e afins. Como se sabe a madeira é uma das grandes riquezas de Angola, a par do petróleo ou dos dia-mantes, pelo que deve ser bem explorada, isto é, de forma ra-cional e sustentável. Nesse sen-tido, esta iniciativa surge num ótimo momento, uma vez que vai capacitar e potenciar melhor os empresários do país, assim como trazer valor acrescido ao produto de base que vendemos até hoje. Este setor tem atraves-sado muita dificuldade porque requer grandes investimentos, que nem sempre foram possíveis de efetuar por parte do empre-sariado nacional, uma vez que este esteve durante muito tem-po descapitalizado por diferen-tes motivos, entre eles a guerra. Assim, este programa específico torna-se um grande desafio, que exige muita responsabilidade. Para nos prepararmos viajamos, por exemplo, até Portugal de forma a integrar junto de empre-sas congéneres mais concei-tos baseados, num processo de maior aprendizagem e profissio-nalização.

Como se tem desenvolvido a sua empresa?A Organizações José Veríssimo, Lda foi criada em 1991, atuan-

do desde a sua génese neste setor de atividade. Com mais de 15 anos de experiência, opera sobretudo ao nível da explora-ção florestal, embora continue a crescer através da aquisição de diversos equipamentos, o que lhe permite integrar outras áreas de atividade. Fruto da sua expe-riência e dedicação, a empresa foi recentemente comtemplada como promotora do projeto de implantação da futura Fábrica de Mobiliário de Luanda. Razão pela qual, apostamos cada vez mais na industrialização da ma-deira.

Qual a vossa perspetiva no âm-bito da internacionalização?Atualmente, já exportamos ma-deira em bruto para a Turquia, China e Portugal, entre outros países. Com esta nova possibili-dade que surgiu, abre-se um ho-rizonte maior, que nos obriga a duplicar as nossas atividades.

De que forma planeiam atingir esses objetivos?Estamos a delinear uma filosofia

de trabalho que passará certa-mente pelo estabelecimento de uma equipa técnica de gestão de projetos e pela capacitação da mão-de-obra, ou seja, dos operários que têm como missão desencadear todo o processo produtivo. Um grande desafio que esperamos vencer. Eviden-temente que a cadeia - a médio prazo - não se limitará apenas à produção, evoluindo de forma natural para a capacitação de competências. Aliás está em curso a criação de um centro de competências em Angola, tutelado pelo departamento mi-nisterial da indústria, geologia e minas, que criará todas as con-dições para a abertura de uma escola técnica.

Para além deste projeto, quais os outros que têm em carteira?Temos projetos de grande vulto na ordem dos 70 ou 80 milhões de euros, outros de média di-mensão a rondar os 12 milhões e outros de menor ordem de grandeza que rondam os 5 ou 6 milhões de euros.

estamos a implementar refinarias para criar maior valor acrescenta-do e riqueza para a sociedade. Hoje importamos gasolina, gasóleo, que-rosene, mas no futuro queremos competir de forma sustentada com o mercado internacional. Seremos nós a ditar os preços e não os atuais compradores, daí a importância de atribuir e impor valor às commodi-ties, ou seja, aos produtos básicos. Este setor obviamente que nos traz mais vantagens porque é um produ-to sem prazo de validade. Quando se é exportador está-se sujeito às re-gras de mercado e a obedecer àqui-lo que o comprador impuser e é esse aspeto que nos propomos contrariar enquanto país com fortes recursos naturais.

‘veNder diNheiro barato’Acredita que estas ações são sufi-cientes para captar mais investi-dores?Estamos esperançados de que este programa oferece condições van-tajosas a todos os investidores por via do apoio do governo angolano. O Presidente, José Eduardo dos San-tos, informou recentemente que vão existir mais recursos para financiar os operadores nacionais. Uma notí-cia muito bem recebida por todos, que transmite uma mensagem posi-tiva e clara - ‘vamos vender dinhei-ro barato’! Este importante anúncio permite perceber que a estratégia do Executivo passa por fazer crescer a economia, sendo este um objetivo ao alcance de todos os angolanos, antes mesmo da chegada de novos parceiros estrangeiros. Isto porque um investidor internacional quando chega ao país precisa de encontrar uma classe empresarial forte e ativa, para também acreditar na seriedade das entidades que o governam. Nes-se sentido, é primordial que acredi-temos de facto no nosso valor, para depois afirmarmos a todos os em-presários, nacionais ou estrangeiros, que devem começar a cruzar inte-resses e parcerias com o objetivo de fomentar um tecido empresarial sus-tentável. Contamos com o trabalho dos investidores, que têm um papel fundamental de motor de cresci-mento da economia angolana.

EConoMiA&nEgÓCioS

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Blue faz a “festa”Marca de refrigerantes surpreende Lisboa coM uMa caMpanha originaL, que eLegeu o aeroporto da capitaL portuguesa para a sua operação de charMe. aberta a todos, a brand zone bLue é iMpossíveL de resistir. descubra porquê…

MArCAS iD Patrícia Alves Tavares

30 MARÇO 2012

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“Boa viagem para Bluanda”. É desta forma que a Blue se apresenta ao público portu-guês (e não só), numa clara estratégia de internacionalização da marca.A empresa de refrigerantes, pertencente ao grupo Refriango, escolheu como cená-rio a principal porta de entrada em Portu-gal, onde todos os aviões aterram e muitos procuram um espaço de repouso enquanto embarcam. Durante um ano, os passagei-ros que se deslocarem à zona de partidas “Não Schengen” do aeroporto de Lisboa, serão convidados a conhecer o espírito da festa “Blue”. A criatividade da campanha tem a assina-tura da agência BAR, que idealizou a brand zone e a colocou junto às portas de embar-que para envolver os passageiros no espí-rito da marca. Latas gigantes nas principais áreas do ae-roporto e cartazes em pontos estratégicos prometem “despertar” a sede dos viajan-tes. O objetivo da campanha é simples: de Lisboa a Angola, a Blue quer afirmar-se como a companhia de eleição em cada viagem. Esta é a grande aposta fora de portas de empresa que foi criada em 2005 e que não para de somar sucessos, devido à originali-dade presente em toda a linha de atuação. Criatividade é o termo que define a Blue, que em poucos anos conseguiu posicionar-se através da comercialização de sabores únicos e inéditos no mercado de refrige-rantes e de uma estratégia de comunica-ção assente em iniciativas originais.

bLuE. a vIda é uMa fEStaA intenção é associar o nome a festa e o sa-bor refrescante à sensação das coisas boas da vida. É assim que a Blue se apresenta aos seus consumidores. A marca tem lan-çado sucessivas campanhas publicitárias que estão constantemente associadas à diversão e ao lado bom da vida. Factos que fazem da Blue uma marca com mais de 80% de notoriedade en-tre os consumidores angolanos. A inter-

nacionalização para Portugal teve início no ano passado quando foi gravado o segundo spot com Yu-ri da Cunha. Lisboa foi o palco escolhido para re-forçar a venda do Guaraná, um dos se-te produtos da empresa. A escolha dos lusos como alvos preferenciais para a primeira ação de internacionalização partiu do conheci-mento da ligação profunda entre Portugal e os países africanos e do interesse destes consumidores por sabores inéditos. Hoje em dia, tem já um lugar nos patrocínios dos jogos da liga portuguesa e de um progra-ma da MTV Portugal.A sua presença no imaginário dos lusos valeu-lhe a distinção de sabor do ano nes-se país.

a EStRELa da REfRIangoA marca foi pioneira ao envolver os consu-midores a escolherem novos sabores, algo

inédito no seu país, com a promoção “Ganha com Blue”. O desafio trouxe

novas responsabilidades. Os con-sumidores esperam campanhas inovadoras e sempre melhores que a anterior. A escolha dos parceiros certos tem permitido manter as expectativas.Atualmente, e de acordo com os

últimos valores, a Blue representa 40% do volume total de vendas da

Refriango. A sua comunicação inspi-racional trouxe um novo ritmo ao merca-

do de publicidade nacional e fez com que ganhasse autonomia ao promover valores positivos, de um futuro glamoroso e que está ao alcance de todos.Em 2010, venceram o prémio “Sabor do Ano”, galardão de qualidade português atribuído por uma entidade especializada que anualmente testa mais de 170 produ-tos. No mesmo ano e em 2011 foi distingui-da enquanto Suprbrand Angola e há dois anos obteve medalha de prata no Monde Selection.

‘Blue é uma marca com

mais de 80% de notoriedade entre os consumidores

angolanos’

a liderança da refriangoA blue foi criada em 2005 pela Refriango. A empresa nacional de bebidas tem no seu portfolio bebidas de diferentes categorias, como refrigerantes, health drinks, águas e bebidas alcoólicas. no total, o gigante deste setor conta com 17 marcas. em 2011, a Refriango produziu mais de dois milhões de litros de bebidas e as vendas cresceram 20% em relação ao ano anterior. Após a internacionalização para Portugal, namíbia e benin, o grupo pretende avançar este ano para Moçambique, Cabo Verde e África do sul.

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32 MARÇO 2012

Os galardões demonstram que a Blue soube posicionar-se no mercado desde o início, adaptando-se ao gos-to e aspirações do con-sumidor, mediante intensos estudos de mercado que permitiram co-nhecer crite-riosamente o seu mercado potencial.Razões que indicam que a estratégia da marca es-tá no bom ca-minho. A Blue é das marcas mais reconhecidas no pa-ís e para comprová-lo está mais uma campanha. Enquanto que decorre a “opera-ção de charme” em Portugal, foi lançado no início de março um vídeo, que de forma humorada e descontraída, pretende afir-mar que Blue é o melhor dos refrigerantes. Com o tema “Seleção Natural”, os dois mi-ni-filmes de 45 e 30 segundos já estão em exibição nos principais canais de televisão. A segmentação da campanha e escolha

universo blue

Sabia que...O mais recente produto da Refriango chama-se tutti Múcua, que aproveita o sabor do fruto do embondeiro e que tem seis vezes mais vitamina C que uma laranja. A empresa já produziu cerca de 40 mil caixas desta bebida.

criteriosa do público-alvo, bem como da mensagem subliminar, voltam a estar em

destaque. Nesta publicidade, a empresa quer valori-

zar o uso das garra-fas PET, indicando

que são as mais adequadas pa-

ra quem faz da vida uma festa.Apesar de integrada na Refriango, cada marca

tem um po-sicionamento

específico. O seu marketing é com-

pletamente orienta-do para o consumidor

nacional e o esforço do marketing (desde promoções a

eventos e patrocínios) é direcionado para o seu target.O sucesso da Blue e dos restantes pro-dutos da Refriango está intrinsecamente relacionado com o investimento feito em tecnologia, inovação, qualidade, comuni-cação e formação constante dos colabo-radores.

LIGADOS AO MUNDO VIRTUALa aposta nas redes sociais é uMa tendência generaLizada do Mercado. a bLue não é exceção. atuaLizações diárias do facebook, onde o contacto direto coM o consuMidor é constante (inquéritos, concursos, fotos, etc), dicas no twitter e os vídeos coLocados no Youtube ou no fLickr, não deixaM ninguéM indiferente. seja quaL for a rede sociaL que utiLiza, a bLue está presente.

‘A Blue representa 40% do volume total de vendas da Refriango. A

sua comunicação inspiracional

trouxe um novo ritmo ao mercado

de publicidade nacional’

MArCAS iD Patrícia Alves Tavares

blue Maracujáblue lima-limãoblue Ananásblue laranjablue Coco-Ananásblue guaranáblue tamarindo

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‘Os grandes países fazem-se de gente generOsa’—DIRETA, ASSERTIVA E HUMANISTA. É COM ESTES ADJETIVOS qUE DISTINGUIMOS FRANCISCA VAN DUNEM, PROCURADORA GERAL DISTRITAL DE LISBOA. UMA INSPIRAçãO PARA MUITAS MULHERES qUE AINDA HOJE LUTAM POR TER UMA VOZ NA SOCIEDADE. UMA ENTREVISTA MARCANTE NUM MêS DEDICADO AO PODER FEMININO.

SoCiEDADE Texto Manuela Bártolo | Fotografia Paulo Costa Dias

34 MARÇO 2012

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MARÇO 2012 35

o filósofo friedrich Hegel diz que ‘a Justiça não é um dom gratuito da natureza Humana, ela precisa ser conquistada sempre porque é uma eterna procura’. concorda com este pensamento? qual é para si a evolução mais importante pa-ra que se atinjam patamares, cada vez mais, elevados de Justiça nos diferentes domínios da sociedade?A justiça é de facto uma eterna pro-cura. A busca da perfeição, do equi-líbrio, a demanda da felicidade. O reconhecimento da dignidade da pessoa humana, independentemente da sua condição, de sexo, de origem social, racial, económica ou outra, constituiu o mais importante marco histórico e é ainda a pedra de toque entre as sociedades justas e injustas.

à soberania do Homem sobre si mesmo chama-se liberdade. ela é o cume e a igualdade é a base. em que alicerces devem assentar as noções do novo ‘contrato social’ moderno face à relação entre a so-ciedade e o estado de direito?O contrato social moderno parte ain-da necessariamente do pressuposto da liberdade e implica o reconheci-mento da igualdade de todos perante o Estado e os seus sistemas de prote-ção (nos quais se integra o sistema de justiça) e no acesso a condições de vi-da dignas e de progresso social.

descrevem-na como uma mulher resiliente e reservada, que parti-cipou na luta pela dependência do seu país, mas que nunca se exalta e é contra a exposição. É dessa for-ma que se vê? Não. Não é assim que me vejo. Consi-dero-me uma pessoa bem-educada, formada com elevados padrões éticos e de exigência pessoal - e a aparência de reserva tem apenas a ver com is-so – que, por essa razão, convive mal com a sobre-exposição instrumental da promoção pessoal. Julgo ter uma relação equilibrada com os media.

qual é a influência que esta memó-ria coletiva e pessoal teve no seu percurso e como a mudou enquan-to mulher e profissional?Dizer que participei na luta pela inde-pendência seria uma injúria a quan-tos nela efetivamente participaram, sacrificando projetos pessoais e, em muitos casos, dando a sua vida pelo ideal de restauração da dignidade da Nação Angolana. Tenho um enorme respeito por essas pessoas. Ainda ho-

je olho com estupefação para muitas outras que no período colonial assu-miram a comodidade de uma vida sem sobressaltos ou até mesmo de compromisso expresso com o poder colonial e que, após a independência, ou no período que imediatamente a precedeu, apareceram como arautos da liberdade. É preciso sermos rigo-rosos. Não podemos ceder à tentação de reescrever a história. Observei de muito perto a vivência dos militantes do MPLA no interior, a partir da casa dos meus pais, por onde quase toda a gente passava. A minha casa era um

observatório privilegiado. Lá terão nascido e acontecido muitos factos re-levantes da moderna história de An-gola. O que se falava, naquele tempo, era de injustiça e foi claramente o re-conhecimento das injustiças sociais que me revelou a imprescindibilida-de do direito.

Afirmou a seguinte frase: ‘cum-pra-se, a vitória é certa!’ o que simboliza esta expressão e que sen-timentos lhe desperta? fazendo uma espécie de viagem ao passado recente, como analisa a evolução do país, sobretudo na última déca-da pós Acordo de paz?A frase não é minha. É de um instru-

‘ A crise favorece a marginalidade pelo desespero ’

tor militar que tive, em 1975, quan-do a guerra às portas de Luanda nos mobilizou a todos para defender a ci-dade. Correspondia a uma lógica de obediência cega, obediência castren-se, que é explicável num contexto mi-litar e que obviamente rejeitava.Entretanto, o país cresceu muito e cresce todos os dias. Sentem-se ob-viamente muitas diferenças, mas será preciso atualmente um olhar so-bre o vetor desenvolvimento, já que os dois conceitos (crescimento e de-senvolvimento) não são sinónimos. Justifica-se um esforço no sentido da

recuperação dos indicadores de 1974 em domínios como o saneamento bá-sico, a educação ou a saúde.

em 2007, é nomeada procurado-ra-geral distrital de lisboa. con-sidera esta ascensão profissional natural ou resultado de muito es-forço e trabalho? desde então co-mo tem evoluído o seu trabalho? Penso que a minha nomeação para o cargo de Procuradora-Geral Distrital de Lisboa correspondeu ao reconhe-cimento de um trabalho coerente e consistente que vinha desenvolvendo como magistrada. Sem falsa modéstia, penso que continuo, na Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa, a fazer um

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36 MARÇO 2012

de vontades dos decisores políticos de ambos os países. Numa lógica de pura racionalidade, julgo que as com-ponentes conhecimento do território e linguística tenderiam a favorecer a preponderância da cooperação em se-tores como o ensino, a saúde, o sane-amento básico ou a reconstrução das estruturas viárias. Ao nível da jus-tiça e no que se refere ao Ministério Público, as relações entre as Procura-dorias-Gerais da República dos dois países são muito boas e, nesse âmbito, tem sido desenvolvida uma intensa atividade de melhoria da capacitação dos novos quadros e de especializa-ção dos já existentes, em segmentos que a Procuradoria-Geral da Repú-blica de Angola identifica como críti-cos, nomeadamente a criminalidade económico-financeira.

Anunciou recentemente as linhas de orientação para a atividade do ministério público em 2012. quais as principais bases que sustentam este guia? As linhas de orientação para a ativi-dade do Ministério Público no ano de 2012 foram definidas com base na análise da estrutura e evolução da criminalidade nos anos precedentes e nas tendências que se vão forman-do. A criminalidade violenta, grave e organizada e a cibercriminalidade constituem as ameaças mais perigo-sas com as quais as instâncias formais de controlo têm de se preocupar. No plano organizativo, a concentração de esforços para responder adequa-damente nesse segmento implica es-truturas ágeis que respondam com mecanismos céleres e simplificados à chamada criminalidade de massa.

disse em entrevista que a crise económica em portugal vai provo-car um aumento da criminalidade violenta e da corrupção. no seu entender, é uma situação indisso-ciável uma da outra, ou seja, que se ‘contagiam mutuamente’? como pode o aparelho judiciário preve-nir e combater este problema? es-tá preparado?O que disse foi que os contextos de crise favorecem a marginalidade pe-lo desespero, criando um campo fér-til ao recrutamento de gente para a prática de crimes, designadamente o crime violento, cujo crescimento nos deve preocupar muito. E a preocupa-ção com o crime violento deve ser constante porque se não combatido tende a tornar-se endémico. O caso

trabalho de grande diferenciação, com resultados visíveis. Mas é preci-so trabalhar, trabalhar sempre. Com disciplina, com constância, com rigor.

Há, cada vez mais, um domínio das mulheres na Justiça. Acredita que este fenómeno tem influência a nível sociológico e no desenvolvi-mento das decisões judiciárias, ou seja, uma justiça no feminino é di-ferente?O facto de haver cada vez mais mulhe-res no mundo judiciário, mais mulhe-res na justiça, permite, pelo menos, incorporar melhor a visão de mais de metade da humanidade. Afinal, as mulheres são a metade do céu!

A aliança Angola-portugal ganha, cada vez mais, destaque. na sua opinião, em que domínios a coo-peração é hoje mais urgente? Acha que tem havido consenso estraté-gico entre os dois países? Ao nível da Justiça, o que se pode fazer pa-ra melhorar e desenvolver as rela-ções bilaterais? Não serei, seguramente, a pessoa mais indicada para apontar as prioridades em matéria de cooperação. Parece-me, todavia, evidente que a coopera-ção deve privilegiar as áreas em que exista complementaridade ou valor acrescentado. Percebo que as trocas económicas evoluem a um ritmo cres-cente, com investimentos, recíprocos, ao que creio. O que está a ser feito cor-responderá, obviamente ao encontro

FRASES QUE MARCAM

O reconhecimento da dignidade da pessoa humana é a ‘pedra de toque’ entre as sociedades justas e injustas

Convivo mal com a sobre-exposição instrumental da promoção pessoal

A minha casa era um observatório privilegiado. Lá terão nascido e acontecido muitos factos relevantes da moderna história de Angola

Foi a noção das injustiças sociais que me revelou a imprescindibilidade do direito

A capacitação técnica é indispensável, assim como é indispensável a participação cívica. É preciso educar para a cidadania, educar para a paz, educar para a justiça

Ser rico não significa ser bruto e a ostentação de riqueza é uma forma de brutalidade social nefasta e de consequências imprevisíveis

SoCiEDADE

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do Brasil é exemplificativo. As pes-soas fecham-se em condomínios e sentem-se aí protegidas, mas estão re-féns porque não têm liberdade para ir à rua como querem. A rua é dominada pelas lógicas e pela ditadura do crime. Disse também que os mesmos contex-tos, os de crise – e isso está estudado, não se trata de nenhuma singularida-de da crise portuguesa – potenciam os fenómenos corruptivos, pela fra-gilização do estatuto remuneratório dos servidores do Estado que, em resultado de um empobrecimento inesperado, podem tornar-se mais vulneráveis a propostas de compor-tamentos de improibidade. O apare-lho judiciário tem de estar preparado para responder a isto. Mas este não é só um problema do aparelho judiciá-rio. Existe aqui uma dimensão social a reclamar intervenção concertada de diversas instâncias. O Ministério Público não tem por função comba-ter a pobreza e a exclusão na rua, mas não pode fechar os olhos à situação de pessoas que a exclusão social incapa-citou. Dos idosos abandonados, dos dementes marginalizados... É nosso dever sinalizar essas situações às es-truturas competentes em matéria so-cial e de saúde.

É uma acérrima defensora das sen-tenças por acordo. quais são para si as principais vantagens e o seu grau de aplicabilidade adaptado à realidade portuguesa actual? Não sou defensora acérrima das sen-tenças por acordo. Considero-as, no entanto, uma abordagem sugestiva e aliciante na composição dos conflitos penais. As suas principais vantagens residem em não acrescentar antago-nismo ao já existente. Na pacificação que representa a assunção da culpa e a disponibilidade para a expiar. Na

simplificação dos procedimentos que essa atitude permite propiciar. Na ba-se de uma sugestão que fiz aos magis-trados que comigo trabalham e que foi também feita pelo meu homólogo no Distrito de Coimbra, abriu-se uma discussão muito interessante em tor-no da questão e foram já celebrados alguns acordos, um deles até num processo complexo, envolvendo uma fraude relacionada com o percebi-mento indevido de fundos públicos, cujo julgamento seria muito longo e complexo!

Apoia também uma base de perfis de Adn mais alargada. em que con-siste esta ideia e de que forma es-ta ferramenta pode ajudar no dia a dia dos profissionais da Justiça?A questão dos perfis de ADN prende-se com a possibilidade de se poten-ciar o uso da base de dados, já criada, para o esclarecimento da autoria de crimes, através da comparação de vestígios recolhidos no local do crime com perfis existentes na base. A base existe, mas se os tribunais não inscre-verem os perfis de condenados, não serão ativadas todas as suas potencia-lidades.

2012 é um ano complicado para a europa, mas muito importante pa-ra Angola. quais são os seus votos pessoais no que concerne às elei-ções que vão decorrer no país? em que ponto este ato vai ser determi-nante para uma projeção interna-cional mais forte e de que forma influencia uma atividade tão im-portante como a Justiça?Relativamente às eleições previstas para 2012, espero que decorram pa-cificamente – que não se gerem fato-res de retrocesso no processo de paz - e que haja condições para o pleno

RAIO XangoLa para MiM é a Mãe. portugaL é o Lugar do exíLio. Mas uM espaço aMigo,de acoLhiMentoO MEU LEMA DE VIDA... é viver e Morrer coM dignidade. sonho seMpre coM o dia eM que a vida voLtará ao norMaLUMA PAIxãO… tenho várias, sobretudo peLa Literatura e peLo cineMa. gosto taMbéM de caMinhar, caMinhar tranquiLa, coMo queM regressa a casa perscrutando o Mundo UM FILME FAVORITO… “quando o rio se enfurece”, uM fiLMe dos anos 50, do reaLizador aMericano eLia kazanUM LIVRO… “crónica de uMa Morte anunciada” de gabrieL garcia Marquez, uMa das obras Literárias de que Mais gostoUM ESCRITOR DE ELEIçãO... j. M. cotzee, suL africano e phiLip roth, norte-aMericano.UM CANTOR… Músicos, angoLanos, seMpre, Muitos, dos anos 70. eLias diá kiMuezo, carLos LaMartine, teta Lando.UM DESPORTO FAVORITO… basqueteboL.o desporto dos Meus irMãosUM PRATO PREFERIDO… vieiras,de quaLquer ManeiraUMA BEBIDA… LiMonada.é seMpre refrescanteUM RESTAURANTE… “assinatura”.teM o MeLhor chef de LisboaUM DESTINO DE ELEIçãO… Luanda, seMpree para seMpre.

‘ Devemos estar à altura do país que somos ’

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38 MARÇO 2012

exercício dos direitos políticos con-sagrados na Constituição: eleger e ser eleito, com tudo o que isso pressupõe em matéria de garantias do proces-so eleitoral. O modo como as elei-ções decorrerem será mais um teste à consolidação dos valores e das insti-tuições democráticas em Angola e se-guramente influenciará a imagem do país no contexto internacional. A jus-

tiça eleitoral é um segmento crítico, muito posto à prova nestes contextos e pode constituir o ponto nevrálgico das democracias em contextos de mu-dança.

tenciona um dia regressar defini-tivamente à sua terra natal? que mensagem gostaria de deixar aos seus compatriotas?

Todos os filhos tencionam regressar à imagem de amor das mães. A princi-pal riqueza dos países é humana. São as suas mulheres e os seus homens. Os países podem ter toda a riqueza do mundo. Se não tiverem homens e mu-lheres à altura de a administrar com justiça e equidade ficarão diminuídos para sempre. Angola é um grande pa-ís. Precisamos todos de estar à altu-ra do país que somos. Do legado dos nossos antepassados. A capacitação técnica é indispensável, assim como é indispensável a participação cívi-ca. É preciso educar para a cidadania, educar para a paz, educar para a justi-ça. A educação é, para mim, a chave de tudo. Ela gerará a competência, a autosuficiência e a harmonia.

qual é para si o principal papel a desempenhar pelo cidadão comum na edificação da nova Angola e quais os domínios mais importan-tes para que esse plano de desen-volvimento tenha sucesso?Infelizmente, parece estar a gerar-se em alguns setores da sociedade ango-lana uma espécie de novo riquismo ostensivo e disparatado que exacer-ba tensões e engendra mau estar. Em muitos casos é fruto de níveis educa-cionais e culturais muito baixos e de referências modelares associadas ao individualismo, à ganância e à indife-rença social. É preciso fazer atenção a este fenómeno pelo que ele tem de potencial desestruturação da coesão social e de fomentador da divisão e do ódio. Se a isto for associada a di-ficuldade de resolução de problemas sociais, pode estar a criar-se aqui uma mistura explosiva. Precisamos de dar mais de nós próprios. Do que somos e não do que temos. O ter pode ser epi-sódico. Só o ser perdura. Não adianta termos muito e não termos condições para realizar a felicidade no nosso lu-gar. Termos de morar fora, de buscar a saúde fora, de ter os filhos a estudar fo-ra, de ter a família dividida, de nos re-fugiarmos do olhar cobiçoso dos que não entendem porquê que a fortuna lhes não chegou... E precisamos de dar mais atenção ao lado. Ao vizinho. Ao que não é amigo, mas existe. Como eu, como ser portador de tanta esperança e de tanto desejo de felicidade como eu. Os grandes países fazem-se de gen-te generosa. Gente capaz de dádiva e ávida de realização de promessas. E a nossa promessa coletiva é tornarmo-nos um grande país. Um grande país para todos. Não foi esse o grande pro-jeto da independência?

SoCiEDADE

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MARÇO 2012 39

lUANdAFundada em 15763.000.000 HabitantesÁrea: 2.257km213 Distritos urbanosGovernador: bento bentoCidade mais cara do mundo em 2011Geminada com: brasil (Belo Horizonte, São Paulo, Salvador e Rio de Janeiro), EuA (Houston), México (Oaxaca), níger (Tahoua), Portugal (Lisboa e Porto), Moçambique (Maputo), África do Sul (Joanesburgo)

Foi em 1988 que Lisboa e Luanda assina-ram um protocolo que viria a dar origem à integração do país na União das Cidades Capitais Luso-Afro-Américo-Asiáticas. A participação em ações desenvolvidas no âmbito deste organismo é ainda hoje uma realidade, bem como as trocas entre as ca-pitais de dois dos principais países da CPLP.O acordo de geminação deu origem a pro-jetos de desenvolvimento das cidades e a uma troca de experiências que acabou por ser aproveitada pelo setor privado, como se pode comprovar analisando o número de empresas lusas a operar em Luanda e os re-centes investimentos angolanos na econo-mia portuguesa.

Na prática, a geminação é visível através da criação de um programa de intercâmbio de âmbito cultural, social, educativo, eco-nómico, informativo e turístico, mediante a organização de eventos, protocolos entre instituições ou cruzamento de informações.

A aproximação entre as cidades tem-se intensificado nos últimos anos e as suas parcerias há muito que ultrapassaram os parâmetros definidos pelo acordo de gemi-nação. É um relacionamento político e eco-nómico, que é consequência das estratégias que os Governos dos dois países delinearam.

Além das parcerias firmadas em domínios como a formação profissional, a troca de quadros superiores, a organização de tor-neios desportivos ou ações culturais, é fre-quente Luanda e Lisboa aparecerem unidas na organização de feiras de diversos setores, como é o caso da atuação conjunta da FIL (Feira Internacional de Luanda) e da AIP-CE/ Feira Internacional de Lisboa (FIL). “Portu-gal é o principal parceiro de Angola e Ango-la é o principal parceiro de Portugal fora da EU”, referiu há tempos Matos Cardoso, presi-dente do Conselho de Administração da FIL, para explicar os laços que unem os países e que ultrapassam a história em comum.

A história e a cultura em comum ditaram a ligação entre as capitais de Angola e Portugal. um dos mais antigos acordos de geminação que ainda hoje perdura e implementa a cada ano que passa novas formas de fortalecer e aprofundar as relações de amizade entre os povos.

CidAdEs irmãs

Atualmente são as empresas que procuram estreitar estes laços de afinidade. O aumen-to do número de portugueses em Angola e da comunidade palanca no distrito de Lis-boa têm contribuído para o estreitamento de laços e para um intercâmbio cada vez mais estreito entre os governantes de Lis-boa e Luanda, tal como ao nível do empre-sariado. Segundo dados de 2011, cerca de 30 mil an-golanos vivem e trabalham em Portugal e há mais de 120 mil lusos a residir na ter-ra vermelha. A maioria está localizada nas capitais das nações. É uma realidade que tem contribuído para a intensificação das parcerias instituídas pelo acordo de gemi-nação, bem como para o contacto entre os agentes económicos e humanos. A popula-ção é a principal dinamizadora desta core-lação económica e social, através de ações nos planos académicos, desportivos, cul-turais, científicos, tecnológicos, da saúde e dos afetos.

‘Cerca de 30 mil angolanos vivem e trabalham em Portugal e há mais de 120 mil lusos a residir na terra vermelha’

lISboAFundada em 1179547.631 Habitantes (2011)Área Metropolitana: 2.870 km2 (2,9 milhões de habitantes)53 FreguesiasPresidente: António Costa86ª Cidade mais cara do mundoGeminada com: França (Paris), brasil (São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro e Salvador), Argentina (Buenos Aires), tunísia (Tunes), Hungria (Budapeste), China (Macau e Pequim), Espanha (Madrid), Croácia (Zagrebe), guiné-bissau (Bissau e Cacheu), Angola (Luanda), Malásia (Malaca), Moçambique (Maputo), Cabo Verde (Praia), Marrocos (Rabat), São tomé e Príncipe (S. Tomé)

CArA E CoroA

SoCiEDADE Patrícia Alves Tavares

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40 MARÇO 2012

Texto Marina Cabral | Fotografia Rui Tavares

Liderança no feminino

entReVistAdAseLsa barber, eufrazina Maiato e sueLi afonso

uM DiA CoM…

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MARÇO 2012 41

Liderança no feminino

O crescimento social angolano, nas suas mais distintas vertentes, é já uma constatação que desperta fortemente as atenções do mundo em geral, particularmente pelo facto de este ser acompanhado por uma alta taxa de representatividade feminina nos cargos de topo e influência social, com particular destaque para a esfera económica e a política. Neste último segmento, Angola conseguiu conquistar a invejável proeza de garantir uma representatividade feminina na Assembleia Nacional, por exemplo, onde o número de deputados está muito próximo de atingir um equilíbrio na ordem dos 50%.

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África e mundo reverenciam Angola (direta ou indiretamente) como um exemplo a seguir. Um marco de referência rumo à tão almejada e, por vezes, ilusiva igualdade de direitos. Mas se existe atualmente no país uma representatividade mais equilibrada de mulheres a ocuparem importan-tes cargos de topo e representação no poder administrativo, isso deve-se à incansável persis-tência e tenacidade de várias delas, que quebra-ram o ciclo vicioso de várias gerações que insistia em classificar as mulheres como meras “atrizes secundárias”, de quem se esperava apenas o cum-primento das diversas atividades domésticas e a tarefa de dar à luz a próxima geração.

No mês que se celebra a emancipação e integra-ção total e absoluta da mulher em todos os pa-râmetros que formam a sociedade que conhece-mos e amamos, a revista Angola’in travou con-tacto com três mulheres angolanas que tipificam os critérios e requisitos que colocaram a mulher em pé de igualdade com as suas congéneres mas-culinas. Elsa Bárber, Eu-frazina Maiato e Sueli Afonso reuniram-se na Esplanada Lookal, situada na Ilha de Luanda, para um evento que teve como foco principal a interação e intercâmbio entre várias mulheres bem sucedidas da nossa Angola.

Para Eufrazina Maiato, a militância por uma maior representatividade das mulheres na po-lítica e no mercado de trabalho em geral, é uma batalha que remonta desde há bastante tempo. Deputada da Assembleia Geral, é também do-cente na faculdade. Enérgica e sempre de muito bom humor partilhou neste jantar alguns segre-dos que contribuem para a sua boa aparência, pois orgulhosamente confidenciou-nos para

surpresa geral o facto de ter 64 anos de idade.

À semelhança de Eufrazina Maiato, Elsa Barber é outro exemplo de persistência por excelência, tendo desde muito cedo prosperado em áreas que na altura eram mais tradicionalmente asso-ciadas ao sexo masculino. Representou o ponto de partida para uma excelente e invejável car-reira profissional, que ao longo dos anos incluiu o desempenho de funções como Diretora do Ins-tituto de Defesa do Consumidor (INADEC), Pre-sidente da Comissão de Jurisdição da Federação de Voleibol de Angola, membro da Associação de Mulheres Juristas e recentemente terminou

uma Pós-Graduação em Direito e Gestão de Em-presas.

Por entre estas duas per-sonalidades experien-tes, uma mulher que olha para estes exem-plos de sucesso com bastante admiração e respeito. Sueli Afonso, de 22 anos, foi eleita a mulher mais bonita da Província de Luanda, uma vitória que a dei-xou bastante extasiada. Na esplanada Lookal, Sueli Afonso mostrou-

se avidamente contente com a oportunidade de trocar experiências em primeira mão com Eufrazina Maiato e Elsa Bárber, duas mulheres que caracteriza como “dois fortes exemplos de profissionalismo, caráter e liderança”. Durante o encontro, um aspeto que não escapou impu-ne à atenção das diplomatas foi o facto de Sueli Afonso demonstrar uma vontade fervorosa em apostar intrinsecamente na sua formação aca-démica, não se deixando iludir pela beleza fí-sica. A recém-eleita, representante máxima da beleza da mulher da “Kianda”, está atualmen-te no 2ºano do curso de Gestão de Empresas na Universidade Lusíada de Angola.

Há muito que o contributo destas duas

distintas senhoras no crescimento da

sociedade angolana tem sido de uma

grande valia

uM DiA CoM…

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MARÇO 2012 43

O cargo que exerço não é um fator determinante para que as pessoas me respeitem, a pessoa que sou sim. Devemos tratar todas as pessoas com o devido respeito, independentementeda posição social,Eufrazina Maiato

eufrazina maiato é deputada na Assembleia Nacional e docente na faculdade. Com uns distintos 64 anos, desde muito nova que defende a militância de uma maior representatividade feminina na política e na sociedade em geral.

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44 MARÇO 2012

em entrevista à Angola ’in, conhecemos ao pormenor os objetivos, parâmetros e as fontes de inspiração destes três exemplos concretos de como a mulher angolana con-tinua a registar passos gigantescos rumo à criação de uma sociedade mais ampla, justa e abrangente.

março é considerado o mês da mulher. qual a importância da mesma na sociedade?ELSA BARBER: A mulher tem um papel funda-mental na sociedade, na família e no geral. Du-rante muito tempo, estas não tinham o direito de opinar, aos poucos têm conquistado o seu es-paço, mas este processo tem acontecido devido ao esforço e dedicação por parte de todas as que têm trabalhado afincadamente para demons-trar o seu valor. Ainda é um caminho que está a ser percorrido, mas hoje já conseguimos no-tar grandes avanços na valorização da mulher na sociedade.EUFRAZINA MAIATO: A força de vontade das mulheres tem sido de grande valia neste proces-so, mas é necessário que se invista cada vez mais em campanhas para elucidar e explicar porque é que as mulheres merecem o respeito e porque também são merecedoras de uma oportunida-de de poder demonstrar as suas qualidades e potencial. Uma vez dadas estas oportunidades, poderão surpreender o mundo.

em Angola, existe igualdade entre homens e mulheres?EUFRAZINA MAIATO: Infelizmente ainda não atingimos esse patamar. Ainda existe desigual-dade, mas o processo de mudança está em anda-mento. Graças a Deus, em Angola muito se está a fazer para que tudo melhore.

dê-nos alguns exemplos práticos dessa mu-dança… EUFRAZINA MAIATO: Acredito que as inú-meras campanhas que se estão a fazer têm contribuído veemente para esta mudança. As campanhas de luta contra a violência domésti-ca, por exemplo, têm surtido efeito. Obviamen-te que as mesmas não acontecem do dia para a noite, mas contribuem para a mudança de men-talidade e se ajudar para que menos mulheres sofram de abusos então decididamente estamos no bom caminho.

Ultimamente a dra eufrazina tem também falado bastante sobre a violência psicológi-ca por parte dos adultos para com as crian-ças. Até que ponto isso afeta a vida de um ser humano? EUFRAZINA MAIATO: A violência psicológi-ca é a mais grave, já que o indivíduo conser-va na memória toda a informação negativa, esquecendo-se do essencial para o seu desen-volvimento. Se a criança estiver física e psi-

As misses devem ter sensibilidade e inteligência suficientes para de forma sábia conseguir defender as inúmeras causas que lhes são apresentadas,Suely Afonso

uM DiA CoM…

Sueli afonso, foi eleita a mulher mais bonita da Província de Luanda. Frequenta atualmente o 2ºano do curso de Gestão de Empresas na Universidade Lusíada de Angola.

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cologicamente bem, todas a informações que doravante receber na escola ou em casa irão fa-cilitar a sua aprendizagem.

qual o papel da mulher na irradicação da violência psicológica? EUFRAZINA MAIATO: Este é um trabalho que tem de ser feito por todos. É preciso proteger as nossas crianças deste e qualquer outro tipo de abuso.

Acha que é mais respeitada devido ao cargo que exerce? EUFRAZINA MAIATO: O cargo que exerço não é um fator determinante para que as pessoas me respeitem, a pessoa que sou sim. Respeito o próximo, pois também quero ser respeitada. Antes de qualquer cargo que possamos exercer, somos seres humanos e para que se viva em harmonia é preciso amar-nos em primeiro lu-gar e tratarmos todas as pessoas com o devido respeito, independentemente da posição social de cada um.

o que significa para si estar na política e quais os fatores que mais a influenciaram na escolha deste exercício? EUFRAZINA MAIATO: Sou membro de uma fa-mília de políticos. Desde tenra idade que con-vivi com situações de prisão de presos político, inclusive a da pessoa que me trouxe com 10 anos do Golungo Alto, minha terra natal, para Luanda, depois de fazer a 4ªclasse, para conti-nuar os estudos. Assisti à retenção dos meus fa-miliares a partir da minha casa, bem de outros meus vizinhos, pai de amigos. Frequentei as ca-deias da Pide, visitando-os. Penso que qualquer ser humano é político, só que não se enquadra. A minha filiação na política é uma oportuni-dade de participar com mais responsabilidade nos desígnios do meu país.

Até que ponto uma miss pode contribuir pa-ra ajudar em campanhas que promovam a imagem da mulher? SUELy AFONSO: Uma miss tem por obrigação contribuir na promoção da imagem da mulher de forma positiva. Por sermos alvo de atenção,

obviamente temos a responsabilidade e a obri-gação de ter uma conduta exemplar. Nesse sen-tido, é importante participarmos ativamente em campanhas que visam ajudar a promoção da mulher. Sinto-me particularmente na obri-gação de o fazer. Acredito no valor da mulher angolana e sinto um profundo orgulho por poder modestamente contribuir para todas as causas que, de alguma forma, enalteçam a mu-lher angolana ou que possam ajudar para que as mulheres possam ser melhor e mais reconheci-das na nossa sociedade.Ultimamente, nos concursos de beleza tem-se frisado bastante a importância do fator inteli-gência das candidatas.

Até que ponto considera esta qualidade im-portante em concursos cuja beleza física é um dado importantíssimo?SUELy AFONSO: É de louvar que hoje em dia se dê importância à inteligência das candidatas. Na minha opinião, uma miss que seja apenas bonita de nada vale à sociedade. Para além de inteligente, esta tem de ser também solidária, inteligente e disposta a entregar-se na totali-dade às diversas causas humanitárias na qual esteja envolvida. Tendo em conta que represen-to a minha província, é importante que saiba entender e desenvolver os variados temas que são expostos e para isso é preciso empenho e dedicação, por isso acho fundamental que além de bonitas exteriormente, as misses possuam sensibilidade e inteligência suficientes para de forma sábia conseguir defender as inúmeras causas que lhes são apresentadas.

o que pretende fazer de diferente durante o seu mandato?SUELy AFONSO: Cuidar do bem-estar da nossa Luanda, sobretudo das nossas crianças por se-rem o futuro do país, mostrando à população a importância do aleitamento materno e os ris-cos do uso de bebidas alcoólicas durante a gra-videz e o período de amamentação.

Acreditam que a transmissão das raízes e tradições matriarcas angolanas serão bem sucedidas?

Ser ou estar bonita depende das nossas ações e do autocontrole de como nos auto policiamos. Passamos a vida a arranjar culpados, mas na realidade somente nós

temos o poder de cuidar de nós próprias,Eufrazina Maiato

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Penso que qualquer ser humano é político. A minha filiação é uma oportunidade para participar com mais responsabilidade nos desígnios do país, Eufrazina Maiato

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Acredito que a transmissão de raízes e tradições matriarcais angolanas serão bem-sucedidas, mas é preciso fazer atenção à evolução dos tempos,Elsa Barber

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Elsa barber é senhora de uma excelente e invejável carreira profissional, que ao longo dos anos incluiu o desempenho de funções como Diretora do Instituto de Defesa do Consumidor (INADEC), Presidente da Comissão de Jurisdição da Federação de Voleibol de Angola, membro da Associação de Mulheres Juristas e recentemente terminou uma Pós-Graduação em Direito e Gestão de Empresas.

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ELSA BARBER: Isto só depende da importância que cada uma de nós dá aos valores que nos fo-ram transmitidos. Acredito que, de uma forma geral, a transmissão de raízes e tradições ma-triarcais serão bem-sucedidas, mas é preciso fazer atenção à evolução dos tempos, nem tudo é como era antigamente e é necessário saber-mos adequar e enquadrar aquilo que transmi-timos de acordo com os tempos modernos, obviamente sem ferir ou passar por cima das nossas raízes.

qual é a mulher que mais admira e porquê? ELSA BARBER: Admiro a minha mãe. Ela foi o meu sustento e o meu pilar. Agradeço profun-damente a educação que tive.

como analisa a evolução do conceito de fa-mília nas novas gerações? Admitindo-se que o ambiente familiar marca o cresci-mento dos jovens, que tipo de estrutura fa-miliar considera mais importante para esse desenvolvimento até à idade adulta? EUFRAZINA MAIATO: Em relação às novas ge-rações, sinto que os progenitores não exercem

o seu verdadeiro papel, já que existem muitos jovens criados por famílias monoparentais, em consequência de situações naturais, como a viuvez ou outras crises mais comuns, é o ca-so dos divórcios, separações ou fuga à paterni-dade. Mesmo a viver em comunhão, ocorrem situações de brigas constantes assistidas pelos filhos, bem como se assiste à proliferação de fa-mílias desestruturas, onde sobretudo a figura paterna está ausente. Os filhos nem sempre têm respeito pelos pais ou pelas autoridades legal-mente constituídas. A partir do momento que não existe diálogo em casa e os modelos exterio-res são as principais referências significativas, o jovem se rebela-se, o vínculo afetivo perde-se e este não aceita os limites da sã convivência. Os pais devem acompanhar o desenvolvimen-to dos filhos desde o embrião até ao período de gestão, para que ele nasça num ambiente de saúde física e emocional. Devem amar a crian-

ça, dar-lhe atenção e carinho, sendo amiga e companheira dela à medida que vai crescendo. Para uma criança, sentir-se amada e querida é muito importante. Os pais devem ser amigos, companheiro e cúmplices. Deve haver diálogo permanente, desde tenra idade, para que ela possa sentir confiança neles; reservar-lhes tem-po e atenção, preocupar-se e acompanhá-la em todas as etapas do seu desenvolvimento. Dando abertura ao diálogo permanente como amigos, os pais podem intervir e participar de forma saudável na vida dos filhos.

As mulheres no geral preocupam-se mui-to com a aparência física. A dra. eufrazi-na maiato é uma mulher bonita e muito elegante aos 64 anos de idade. poderia partilhar connosco o segredo da sua jo-vialidade?EUFRAZINA MAIATO: Ser ou estar bonita de-pende das nossas ações e do autocontrole de como nos auto policiamos. Passamos a vida a arranjar culpados, mas na realidade somente nós temos o poder de cuidar de nós próprias. O cuidado com os alimentos que ingerimos,

devemos consumir apenas aquilo que nos faz bem, não perder noites em vão, entre outros fa-tores, conta muito para atingir resultados. Du-as características que a meu ver contribuem para a saúde e jovialidade são os pensamentos positivos. Raiva, rancor e ressentimento dei-xam-nos velhas. Os pensamentos negativos, quer seja em relação a nós próprios ou a ter-ceiros, contribuem para um desgaste físico e mental e a fatura a pagar é muito alta. Por isso, o segredo da boa disposição, jovialidade e saú-de é o amor a nós próprios, englobando tudo o que já mencionei.para si qual é o verdadeiro poder feminino?EUFRAZINA MAIATO: O poder feminino está no equilíbrio. As mulheres não têm que se im-por na sociedade como mais ou menos impor-tantes do que os homens. O valor de cada um consiste nas suas ações e nós somos os gerentes da nossa vida.

A violência psicológica é a mais grave,já que o indivíduo conserva na memória

toda a informação negativa,Eufrazina Maiato

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enfrentou algum tipo de dificuldade no seu percurso profissional por ser mu-lher?ELSA BARBER: As dificuldades aparecem e é preciso ser-se firme e decidida nos nossos objetivos para podermos enfrentar os obs-táculos que surgem, não só na vida profis-sional, mas ao longo da nossa vida no geral. Graças a Deus, sempre fui muito persistente e tenho como arma principal: a entrega e de-dicação total que aplico em tudo o que me envolvo.

mulheres com uma vida profissional in-vejável, obviamente, têm a maior parte do dia preenchido com atividades labo-rais. como fica o tempo para a família?EUFRAZINA MAIATO: Quando há organi-zação há tempo para tudo. Sou muito meti-culosa em relação aos meus compromissos. Tenho uma agenda bem organizada, na qual planeio o meu dia e obviamente dentro das 24 horas disponíveis tem de constar o pre-cioso tempo para estar com a família.

sueli é uma mulher linda e jovem e hoje teve a oportunidade de conviver com du-as mulheres bem mais experientes na vi-da, que lição aprendeu?SUELI AFONSO: Em primeiro lugar quero agradecer por este importante e significati-vo convite. Absorvi tudo. Dou os meus para-béns às Dras. Eufrazina Maiato e Elsa Barber por estes momentos agradáveis, pois sem-pre as admirei e agora mais ainda por serem mulheres batalhadoras, determinadas, inte-ligentes e uma referência na sociedade ango-lana. A mulher angolana ainda tem um longo caminho a percorrer em vários campos, mas graças a exemplos como os destas duas gran-des senhoras o caminho já não parece tão longo, pois já iniciaram grandes batalhas para que hoje possamos ser respeitadas na sociedade e possamos estar em cargos de destaque. Fizeram história contribuindo pa-ra a mudança de mentalidade. A mulher não tem que ser necessariamente apenas dona de casa, a mulher tem valor e qualidades para além das atividades domésticas. consideraria um dia entrar para o mun-do da política? SUELI AFONSO: Nesta fase da minha vida ainda não me passou pela cabeça, logo não faz parte dos meus projetos, mas não sei o que o futuro me reserva. Tudo é possível.

uM DiA CoM…

agradecimento especial:restaurante lookal, são jorge, luanda

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Estórias da caLçada — “Angola no Século XX - Território, Cidades e Arquitecturas, 1925-1975” apresenta uma contextualização histórica do crescimento urbano e territorial de Angola, na fase colonial tardia de 1925 a 1975, com especial atenção à organização dos espaços urbanos, às suas arquiteturas modernistas (anos 1920-30), tradicionalistas (anos 1940-50) e modernas (anos 1950-70), bem como às infraestruturas (barragens, pontes, fábricas) e monumentos implantados. Apresenta plantas evolutivas das principais cidades angolanas e várias cartas territoriais. A obra é da autoria de José Manuel Fernandes, Maria de Lurdes Janeiro e Maria Manuela Fonte, com ampla iconografia de João Loureiro. Foi editado em 2010 e poderá (re)descobri-lo nas principais livrarias…

lobito - praça salazaredição da livraria magalhães, lobito, coleção jmf arq

FotorEPortAgEM Patrícia Alves Tavares

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palácio do governo de henrique de carvalho / saurimo durante a visita do governador rebocho vaz, em 1969fotografia, coleção de vítor ferreira

FotorEPortAgEM

luanda - palácio de vidro, largo diogo cão editor: elmar, luanda bilhete postal, arquivo jmf arq

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plano de urbanização da cidade de luanda in revista técnica, lisboa revista do instituto superior técnico, n. 151 de 12/1944, p. 121

pavilhão de arte indígena do bié in exposição-feira de angola 1938álbum comemorativo de exposição, luanda, 1938

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a anatoMiado iMobiLiário

Com as projeções a indicarem que o país deverá atingir os 42,3 milhões de habitantes em 2050, há uma pergunta que se impõe: comprar ou arrendar?Os estudos apontam que o preço mé-dio de venda de habitações é bastante elevado, difícil de suportar por todos os que não têm acesso ao crédito e que constituem a maioria da população. Por outro lado, o aumento de número de jovens casais à procura de casa e a diminuição do número médio de pes-soas por agregado familiar vão criar necessidades de mercado ao nível do T1, T2 e T3. O aparecimento de uma classe jovem com educação superior, que trabalha em multinacionais longe da área de re-sidência será um dos fatores que mais contribuem para dinamizar este mer-cado. A este ponto há que acrescentar a enor-me afluência de estrangeiros que tra-balham no país e carecem de habitação temporária. São aqueles que mais con-tribuem para tornar o mercado de ar-rendamento atrativo. Aliás, a procura por parte dos emigrantes e subsequen-temente das empresas internacionais (que querem soluções transitórias pa-ra alojarem os seus quadros) tem fo-mentado este mercado. A situação tem

Talvez seja porque Luanda é a cidade mais cara do mundo. Talvez se deva à emergência de uma classe média ou porque simplesmente se verifica uma alteração latente dos agregados familiares. A realidade habitacional está a mudar, especialmente na capital do país. O arrendamento é o negócio que domina atualmente o setor imobiliário.

pressionado os promotores a baixar os preços de alguns empreendimentos.Os custos de aquisição de terrenos e a excessiva burocracia fazem do arren-damento a opção mais viável para a maioria das famílias. Segundo infor-mações recentemente divulgadas pelo semanário SOL, mais de 54% dos ar-rendatários são estreantes. Contudo, a realidade é preocupante e nada anima-dora. Dos inquiridos, mais de 61% pa-ga renda por anexos erguidos em casas já existentes, sendo que mais de meta-de apenas tem um quarto e não dispõe de condições de saneamento básico ou energia. Os restantes 45% dos luandenses que ocupam habitações com instalação sa-nitária, apenas 39% têm ligação à re-de de esgotos. São casos que merecem o alerta de especialistas que apelam à criação de mais projetos habitacionais de baixo custo ou que o Governo opte por subsidiar as rendas.

sUbsidiAr As rendAs

A promessa de um milhão de casas até ao final deste ano obrigou à adequa-ção da legislação à nova realidade ha-bitacional. No último ano, o Governo

começou a preparar uma série de me-didas legislativas para estimular o se-tor e tentar travar a escalada de preços no imobiliário. O aumento do crédito malparado e a retração dos mercados financeiros internacionais tem colocado a banca nacional em alerta. Relutantes em en-trar na área do crédito à habitação, os bancos limitam ao máximo o financia-mento às famílias para a aquisição de casa própria. A solução passa por alterar a legislação que impede que a propriedade possa ser oferecida como garantia bancária e dinamizar o setor do arrendamento. Subsidiar as rendas para colmatar a im-possibilidade de compra de habitação e a lei da renda resolúvel parecem os caminhos mais acertados.No primeiro caso, cabe ao Estado pa-gar uma parte da renda, valor calcula-do de acordo com o rendimento anula bruto do agregado familiar. Nesta si-tuação, apenas as famílias com parcos recursos têm acesso a esta ajuda. Em relação à lei da renda resolúvel, o Go-verno adquire ou constrói a habitação e arrenda o apartamento (a custos con-trolados) diretamente à família, que após o período estipulado no contrato, pode comprar o imóvel.

lei de ArrendAmento UrbAno

A Lei de Arrendamento Urbano, recen-temente aprovada, vem criar uma di-versificação na oferta, satisfazendo as necessidades da população e criando

ArQuitEturA&ConStruÇÃo Patrícia Alves Tavares

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aMEricanos forçados a aLugarOs valores recentes sobre o mercado imobiliário americano indicam que 2011 foi o pior ano em matéria de venda de habitações. Não se registavam valores tão baixos desde a década de 60. Recorde-se que a bolha imobiliária rebentou precisamente neste país, em 2007. Com o desemprego em taxas recorde, as famílias têm cada vez mais dificuldades em pagar os seus empréstimos. Em 2008, estimava-se que 68% dos americanos eram proprietários de imóveis. O número tem decrescido desde então, sendo que atualmente muitos optam por alugar, já que têm tudo incluído e cabe ao senhorio resolver os problemas de manutenção do imóvel.

alternativas no acesso à habitação ur-bana.Fernando Fonseca, ministro do Urba-nismo e Construção, é da opinião que o regime jurídico do arrendamento ur-bano tem que incrementar a saudável conjugação do interesse dos senhorios e dos inquilinos. É essencial cumprir o direito fundamental da população – o direito à habitação.As novas leis visam equilibrar o merca-do e inverter a tendência especulativa dos preços. O crescimento económico tem levado alguns investidores a com-prar apartamentos para colocá-los no mercado de arrendamento. A falta de imóveis com qualidade é das princi-pais razões que animam os especu-ladores. No entanto, a crise mundial está a obrigar à redução dos valores das rendas. A classe média, mercado emergente, es-tá a animar o negócio que começa a dar sinais de ajustamento da oferta e das ti-pologias ao cliente final. A nova legislação vem igualmente con-ferir novos poderes ao Instituto Nacio-nal da Habitação (INH). O organismo ganhará autonomia para adquirir ter-renos para a cons-trução social e para gerir os processos de aquisição e arrenda-mento de imóveis de baixo custo. A entida-de será responsável por receber as candi-daturas e escolher os beneficiários.

dos arrendatários são estreantes

ocupa anexos de habitações54% 61%

arrEndaMEnto doMinana EuropaO arrendamento representa já 40% da atividade imobiliária em países como a Alemanha, França, Áustria, Suécia ou Holanda. Os dados são da União Europeia dos Construtores e Promotores. No caso francês, foi criada a Lei Scellier, com o intuito de estimular o investimento no mercado de arrendamento através de incentivos fiscais. A medida levou a um aumento exponencial neste setor num ano de crise como foi o de 2009. Portugal e Espanha são dos países que apresentam piores resultados, com 13% e 18% respetivamente.

FERNANDO FONSECAMinistro do Urbanismo e Construção Foi empossado ministro do Urbanismo e Construção em 2010. Fernando Fonseca, engenheiro civil, defende a celeridade na execução do programa para o setor, que tem grandes desafios, com especial destaque para o ordenamento do território e atenuação da especulação que se vive no mercado imobiliário.

Fonte: Proprime, Consultadoria e Avaliação Imobiliária, 2009 e Propricasa, 2008. Os valores apresentados são meramente exemplificativos

APARTAMENTOS _

VEnDAt1 - 385 Mil dÓlARest2 - 870 Mil dÓlARes

t3 - 1,2 Milhões de dÓlARes_

ArrEnDAMEntot2 - 1000 dÓlARes

(PReÇO esPeCulAtiVO:2500 dÓlARes)

t3 - 1500 dÓlARes(PReÇO esPeCulAtiVO:

3000 dÓlARes)

MORADIAS _VEnDAv3 (tAlAtOnA):2,2 Milhões de dÓlAResv3 (benfiCA):1,8 Milhões de dÓlAResv4 (tAlAtOnA):2,4 Milhões de dÓlAResv4 (benfiCA):2 Milhões de dÓlARes_ArrEnDAMEntov3 - 15 Mil dÓlAResv4 - 30 Mil dÓlARes

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ArQuitEturA&ConStruÇÃo

Ordenar regiões—O Conselho Consultivo do Ministério do Urbanismo e Construção reuniu especialistas que debateram alguns dos problemas do país. O diretor do Instituto Nacional de Ordenamento do Território, Celso Cunha, lembrou que uma boa programação e eficácia no ordenamento do território contribuem para o desenvolvimento socioeconómico das regiões, facilitando a gestão dos recursos humanos. Se as regiões crescem de forma ordenada e sustentável a população sai a ganhar. Já a criação do Programa Nacional do Urbanismo e Habitação (PNUH) implementou novas dinâmicas no planeamento territorial e urbanístico, mediante a criação de reservas fundiárias e de planos de urbanização. Atualmente, todo o território nacional possui planos diretores urbanos, de infraestruturas e de urbanização das reservas fundiárias das províncias.

400 milhões de dólares—A Enana (Empresa Nacional de Exploração de Aeroportos e Navegação Aérea) tem um curso um ambicioso programa de modernização e equipamento das infraestruturas aeroportuárias nacionais. O projeto, que está em curso desde 2008, está avaliado em 400 milhões de dólares, no âmbito do Programa de Investimentos Públicos. O plano abrange cerca de 30 aeroportos de pequena, média e grande dimensão e que na maioria dos casos deverá ficar concluído até ao final do ano.

Meio milhão de casas com luz verde—O Governo firmou um acordo com o Vietname com vista à construção de meio milhão de casas. O protocolo foi rubricado em fevereiro e representa um investimento de três milhões de dólares, cujo financiamento é concedido na totalidade pela parte vietnamita. Na primeira fase, serão erguidas 50 mil casas, sendo que 300 estão concluídas e destinam-se aos efetivos das Forças Armadas Angolanas (FAA).

Materiais de construção—O Programa de Desenvolvimento das Micro, Pequenas e Médias Empresas, que começa a ser implementado este ano, dá prioridade à indústria de materiais de construção. Agricultura, pecuária, pescas ou indústria transformadora são igualmente apostas do ministro da Economia, Abrahão Gourgel. No que concerne a área da construção o programa prevê a dinamização dos setores de fabrico de varão de aço, gesso, cimento e produtos cerâmicos, ferragens, carpintaria, tintas, vernizes, meios de canalização e de refrigeração, entre outros.

Primeiro Retail Park em setembro—O primeiro Retail Park do país será inaugurado em setembro, no Lobito, em Benguela. São 15 mil metros quadrados distribuídos por 22 frações destinadas ao comércio, serviços, restauração, armazéns e outras lojas. Metade do espaço está já vendida, sendo que o hipermercado Kero irá ocupar 40% da área. A estrutura integrará três formatos: hipermercado, supermercado e lojas de conveniência. A obra, a cargo da construtora lusa Casais Imobiliária, está orçada em 22 milhões de dólares.

225 milhões para barragem—A reabilitação da barragem do Calueque, no Cunene, vai custar aos cofres públicos 225 milhões de dólares. A obra arrancou no mês passado e será suportada pelo Orçamento Geral do Estado. A empreitada fica concluída em pouco mais de dois anos e vai garantir o armazenamento de água suficiente para gerar energia para o sul do país e regiões da SADC.

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oráCulo dA tECnologiA

já imaginou aceder à sua conta bancária pela internet de forma segura e sem ter que

recorrer a senhas? de acordo com o mais recente estudo da ibM, tal será possível dentro de cinco anos. Mas as novidades

não ficam por aí…

ruMo àS tECnologiAS rEnoVÁVEiSO executivo quer que Angola siga um caminho verde. O objetivo

consiste em posicionar-se no quadro internacional, no que toca ao uso de tecnologias ambientais e sustentabilidade dos diversos setores de atividade. O governo vai apostar em tecnologias limpas e conta para isso com a participação de todos, desde fornecedores de soluções a

utilizadores de tecnologias, investidores, instituições académicas, etc.

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INOVAÇÃO&DESENVOLVIMENTO Patrícia Alves Tavares

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“IBM Next 5 in 5” é o mais recente estudo publicado pela empresa norte-americana IBM. Partindo da análise das tendências de mercado e da sociedade mundial, os in-vestigadores basearam-se nas tecnologias emergentes que os laboratórios da com-panhia têm desenvolvido e lançam as su-as previsões para os próximos cinco anos.Gerar a nossa própria energia, sem sair de casa, dispensar o uso de passwords e mesmo assim navegar em segurança na Internet ou adquirir equipamentos com capacidade para ler os pensamentos são algumas das profecias da IBM para o ano de 2017. Confuso? A Angola’in explica co-mo tal poderá tornar-se realidade e revela ainda qual o futuro das tecnologias de in-formação para a próxima década.

gERaR EnERgIa EM CaSaO futuro é da energia renovável. No entan-to, painéis solares ou mecanismos de reco-lha e transporte de fontes inesgotáveis até ao interior das casas é coisa do passado.A IBM acredita que com a evolução da tec-nologia será possível que cada pessoa co-lete a sua energia cinética no momento em que esta é perdida e a reutilize para abas-tecer casas, empresas e cidades. Na prática, os investigadores preveem que a conexão de pequenos dispositivos nos aros das rodas de uma bicicleta para es-ta recarregar baterias enquanto se pedala será uma realidade dentro de poucos anos. Na Irlanda, os cientistas já investigam me-canismos que minimizem o impacto am-biental da conversão da energia das ondas do oceano em eletricidade.A nível nacional, o aproveitamento da ener-gia solar tem sido uma das grandes preocu-pações do Estado. O ministério da Energia e Água criou um programa que prevê a criação de um centro de energias renová-

veis e a instalação de 142 sistemas solares fotovoltaicos (em 36 escolas, 29 centros de saúde, nove postos policiais, 10 jangos comunitários e 48 residências administra-tivas). O plano inclui igualmente a instalação de 230 postes de iluminação em 30 localida-des rurais. O ministério do Ambiente elaborou um plano estratégico sobre as tecnolo-gias ambientais para o perío-do 2012-2017, que tem como linha de orientação o uso de energias renováveis nos di-versos setores de atividade do país, com destaque para a energia solar.

adEuS SEnHaS!Para muitos é uma eterna an-gústia. Recordar a password para aceder ao e-mail, à con-ta bancária, à edição digital do jornal, ao site das finan-ças e ao crescente número de serviços que estão dispo-nível na Internet e que podem ser acedidos via computador, smartphone ou tablet. Dentro de cinco anos, o obje-tivo da evolução tecnológica passa pela criação de meca-nismos que permitam reco-nhecer o utilizador sem que este tenha que digitar uma senha. No ca-so do multicaixa, o usuário poderá ter que simplesmente dizer o seu nome ou olhar para um pequeno sensor que reconheça os padrões únicos da retina do olho. São soluções inteligentes que garantem que cada pessoa tenha um perfil biométri-co específico e autêntico para aceder aos seus dados em tempo real.

10 tEnDênCiAS DAS tECnologiASDE inForMAÇÃoEis as previsões da Cisco para a próxima década no âmbito da informação:

1 Número de objetos ligados à internet vai chegar a 50 biliões até 2020, o que equivale a seis dispositivos por pessoa;

2 O “zettaflood” vai permitir mover mais dados na Internet, especialmente vídeos de alta definição;

3 Em 2020, um terço dos dados estará ou passará para a nuvem, segundo a Cisco;

4 A velocidade da web vai aumentar três milhões de vezes, estando em criação novas formas de rede;

5 A crescente rápida circulação da informação, em “tempo real”, vai influenciar culturas;

6 Tecnologias para generalizar o uso da energia solar a caminho;

7 A impressão 3D de objetos físicos será possível;

8 Em 2025, a população de robôs vai superar o número de seres humanos;

9 Dispositivos que permitam o crescimento de órgãos para reposição dos tecidos humanos serão comuns;

10 Seres humanos poderão criar ferramentas para si.

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LER a MEntEA investigação está em curso. Os cientis-tas da IBM querem encontrar uma forma de interligar o cérebro humano a dispositivos como um computador ou um smartpone. A finalidade: controlar o cursor do compu-tador apenas com o pensamento ou fazer uma chamada telefónica sem ter que digi-tar um único número.Até 2017, a empresa está confiante de que vai conseguir apresentar as primeiras apli-cações recorrendo a essa tecnologia. A re-volução deverá incidir inicialmente na área dos jogos e entretenimento. A longo prazo acredita-se que o mecanismo será útil in-clusive na medicina.

ExCLuSão dIgItaL é PaSSadoNão será imediato. Mas o número de pessoas a usar um dispositivo móvel tem tendência para aumentar e se generalizar. Aliás, é nes-te nicho que se vai esbater a dificuldade no acesso à informação.Atualmente, o mundo tem cerca de sete bili-

ões de pessoas. A IBM adianta que em cinco anos serão ven-didos 5,6 biliões de telemó-veis, o que significa que 80% da população global terá um telefone móvel. Por outro lado, o número de utilizadores capazes de usar as novas tecnologias também tem tendência para aumen-tar, o que vai generalizar o seu acesso e potenciar a criação de novas ferramentas.

SPaM SERá útILA propaganda não solici-tada, mais conhecida por spam, é um incómodo para a maioria dos utilizadores de Internet. Todos procu-ram formas de evitar que a sua caixa de correio eletró-nico fique cheia de publici-dade inútil. O problema do spam está na falta de interesse que tem para a maioria das pesso-

as. Porém, em cinco anos esta irá tornar-se tão personalizado que vai acabar por chamar a atenção, pois será dirigida aos potenciais interessados. Por exemplo, se receber alertas diretos sobre o cantor pre-ferido, com a possibilidade de reservar e comprar imediatamente bilhetes para um espetáculo, o utilizador passará a encarar o correio não solicitado de outra forma.

3 mil dólaresÉ o valor cobrado por uma das empresas distribuidoras de energia renovável. três mil dólares é o mínimo requerido para a instalação desta fonte de energia numa habitação

*com IBM

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64 MARÇO 2012

Expansão da Internet em banda larga, serviços de acesso internacional, transmissão para operadores de telecomunicações e suporte para infraestruturas de rede de televisão e radiodifusão constituem as principais mudanças que o AngoSat vai trazer ao dia-a-dia das populações.É um momento histórico para o país, que há muito anseia pela imagem de lançamento do seu primeiro satélite no espaço. Mais precisamente desde 2009. A Rússia associou-se ao projeto e o contrato de financiamento foi rubricado há precisamente um ano. A construção do equipamento está quase concluída e a entrada em órbita acontecerá nos próximos meses.Um sindicato de bancos russos liderados pelo Banco Eximbank da Rússia vai financiar 85% do satélite. Além do mais, a referida nação, especialista nestas tecnologias, vai dar formação aos quadros nacionais. O objetivo é que, depois da entrada em funcionamento do satélite, Angola forme licenciados, doutores e mestres durante os próximos quatro anos. Tudo para que o país esteja apto a trabalhar

no primeiro, segundo e terceiro satélite, de forma autónoma.

cobertUrA de áfricAe eUropAA construção, colocação em órbita e operação do satélite estão à responsabilidade de um consórcio russo liderado pela Rosobon Export. O projeto está avaliado em mais de 327 milhões de dólares, tendo como tempo previsto de produção 39 meses. O crédito de 280 milhões de dólares disponibilizado pela Rússia permitirá a colocação em órbita do AngoSat ainda este ano e viabilizará a operação do mesmo.

O equipamento permitirá a cobertura da Europa e África na banda C e da África Austral na banda Ku. Terá uma capacidade de 16

milhões de dólares é o orçamento do AngoSat327,6

CONSóRCIO RUSSOA Rússia é parceira neste projeto. O consórcio integra as empresas RSC Energia, Telecom-Projeto 5 e Rosobon Export. Esta última lidera o grupo e é responsável pela construção do satélite. O contrato inclui o fornecimento de meios técnicos e a formação de quadros angolanos em tecnologia espacial (a decorrer).

15 ANoS é o tempo de vida útil

do satélite

11 quadros nacionais estão em formação na Rússia

4 ANoSé o período que o

país terá para formar especialistas para

trabalhar no primeiro, segundo e terceiro

satélite do país

85 % do financiamento provém

da Rússia

transponders na banda C, num total de 1152 mHz, seis transponders de 72 MHz na banda Ku, num conjunto de 432 MHz. O sistema vai possibilitar a substituição do sistema analógico, permitindo a cobertura de todo o território com serviços de telecomunicações e televisão digital via terrestre.Com um tempo de vida útil de 15 anos, o AngoSat conta com uma verba de 25,6 milhões de dólares, atribuída no âmbito do Programa de Investimento Público (PIP). Os russos entram com cerca de 295 milhões de dólares. De acordo com o ministro das Finanças, Severim de Morais, os estudos indicam que o equipamento poderá tornar-se rentável mesmo antes do período de reembolso do financiamento (oito anos).Apesar de entrar em órbita no decorrer dos próximos meses, o AngoSat só começará a operar em 2015. É um avanço assinalável, que vai resolver num futuro muito próximo, um dos principais problemas das empresas: a eficácia e eficiência dos meios de comunicação.

INOVAÇÃO&DESENVOLVIMENTO

Patrícia Alves Tavares

À coNqUIStAdo ESpAçoO PRIMEIRO SATÉLITE ANGOLANO, O ANGOSAT, ENTRA EM óRBITA ESTE ANO. A NOVA TECNOLOGIA REPRESENTA UMA MELHORIA SIGNIFICATIVA NA DISTRIBUIçãO DE INTERNET EM BANDA LARGA, BEM COMO DOS SERVIçOS DE REDE DE TELEVISãO E DE RADIODIFUSãO.—

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MARÇO 2012 65

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dEsPorto Luís Freitas Lobo GPS

66 MARÇO 2012

KICK-OFFGRANDE ÁREA ····························64

ÁfrICa-eUrOpaNo princípio, era drible. Depois, surgiu o músculo. Gervinho ou Yayá Touré. Qual o protótipo de jogador que a Europa procura hoje no futebol africano?

INSIGht ···········································66

gOLeadOresDemba Ba e Aubameyang, do Senegal ao Gabão, em Inglaterra e França, dois «caçadores de golos» nos grandes relvados europeus. Estilos diferentes, em busca do mesmo pacto com a baliza

ENtRE-LINhAS ····························70

«prOJeCtO-rIVaLdO»Depois das arábias ou dos EUA, pela primeira vez na história um país africano contratou uma grande estrela internacional em fim de carreira. Rivaldo está no Girabola. Mas o futuro não se compra, constrói-se!

FORA DE JOGO ·························· 74

«CafUndÓ, dJaLma!»As emoções do grande clássico, Benfica-FC Porto visto pelos olhares e emoções dos jogadores mesmo quando a bola está longe. Djalma, Cardozo, Lucho, Witsel… O «sexto sentido» do jogo

CRuzAmENtO ·····························84

KaLemba sKImVárias gerações habituaram-se a deslizar nas ondas das praias de Luanda em tábuas de madeira improvisada. Em 2011, Tchiyna Matos descobriu que a brincadeira de muitos jovens era um desporto reconhecido e praticado em inúmeros pontos do mundo. O Skimboard nasceu na Califórnia e começa a ganhar terreno em Angola, graças ao trabalho desenvolvido pelo Kalemba Skim.

BLOCO DE NOtAS ····················· 86

maIs despOrtOFique a par de tudo o que está a acontecer no mundo das modalidades e conheça em primeira mão qual será o palco da edição do próximo CAN, em 2014.

LUIS BOA MORTEJá passou mais de uma década (foi em 1997…) desde que chegou, ainda miúdo, 19 anos, à corte de promessas de Wenger no Arsenal. Então era visto como um clone de Ian Wright, nessa altura o mágico goleador da equipa principal. As semelhanças físicas eram, de facto, enormes. No relvado, porém, as diferenças eram muitas. E aumentaram com o tempo. Luís Boa Morte, viajante lutador do futebol com origens guineenses, ainda vestiu a camisola da selecção portuguesa, percorreu vários clubes (Fulham, West Ham. Larissa…) até que, por fim, aos 34 anos, no ocaso da carreira, os insondáveis desígnios do futebol, levaram-no de reencontro as origens africanas: assinou pelo Orlando Pirates da África do Sul. O futebol é uma história interminável. A de Luis Boa Morte, escrita com sprints e golos, busca as últimas páginas nas raízes africanas.

RYAN MENDES É uma das selecções com maior potencial de crescimento no futuro do futebol africano: Cabo Verde. Vários talentos ainda escondidos e intimidade com a bola. Alguns desses diamantes por lapidar do futebol cabo-verdiano já correm nos relvados europeus, muitos já produtos da chamada segunda geração. As raízes, porém, permanecem. Na pele, no coração e no futebol. Neste caso, Ryan Mendes da Graça ainda nasceu mesmo em Mindelo, paraíso de Cabo Verde. O seu futebol respira actualmente em França, no Le Havre, na II Divisão da Velha Gália, onde após nascer no Batuque FC, cresceu futebolisticamente a partir de 98. Rápido, com drible e domínio da bola em corrida, tem, depois, frieza a rematar. O golo também entra nas suas melhores histórias de futebol que, semana após semana, solta nos relvados franceses, à espera de saltar para um grande europeu.

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MARÇO 2012 67

ÁFRICA «QUEBRA-GELO»Poucos ainda repararam, mas o norte da Europa, as terras da Escandinávia, são hoje uma das maiores portas de entrada de futebolísticas africanos na Europa. Um bom exemplo deste sucesso está na Noruega, no campeão Molde, treinado por uma velha glória do Manchester Unitd, Solskajer, e que brilha com um onze onde as principais figuras saíram do continente negro. Entre elas, vindo do Senegal, Makhtar Thioune, sábio médio, enquanto, que no ataque explodiu o goleador Pape Pate Diouf, que entretanto partiu para a Dinamarca (para o FC Kopenhague). Fica o outro avançado da equipa, vindo da Costa do Marfim, o imparável Davy Angan. A dinastia africana no Molde continua viva. A melhor forma de quebrar o gelo nórdico num fascinante contraste de estilos.

HERVÉ RENARDMais do que um treinador, a pensar em tácticas, treinar em África nos países pequenos ainda longe da elite, é quase como ser um construtor de emoções. Dar personalidade a equipas, dar as pistas certas para cada jogador perceber como usar o seu talento, entrar na cultura de cada povo e ganhar a confiança de todos que o rodeiam. O francês Hervé Renard, sempre de pé no banco com a mesma camisa branca aberta três botões, cultivando a imagem do quarentão divorciado que saiu de um velho anúncio da Old Spice, conseguiu essa fantástica proeza na Zâmbia. Depois de falhar esse processo de sedução em Angola e após nunca ter logrado grandes feitos como treinador, levou, a Zâmbia sensacionalmente à conquista da Taça de áfrica 2012. Um feiticeiro branco futebolístico no centro do alucinante novo futebol zambiano.

CHRIS KATONGOEntre os novos heróis do futebol africano, um nome para a eternidade: Chris Katongo, o tsunami da Zâmbia. Perto dos 30 anos, trota-mundos do futebol, das profundezas de África (Kalulushi Stars, Jomo Cosmos…) às viagens europeias (Bondby, Bielefeld, Xanthi…) foi eleito o melhor jogador da CAN quando já passeava calmamente o seu futebol na China, no Henan Construction. A imagem que o vai eternizar é, porém, com a camisola do onze «Chipololo». Baixote, fazendo de cada passe uma mensagem de golo para o ponta-de-lança, já passou, a idade ideal para voltar a ser uma grande aposta de um clube europeu, mas, com o país enlouquecido pela vitória, foi, no final do Torneio, nomeado Subtenente

pelo Presidente da Zâmbia! É Chris Katongo, a nova estrela do exército zambiano, um soldado de calções e chuteiras.

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68 MARÇO 2012

dEsPorto Luís Freitas Lobo

O «PROTóTIPO-yAyÁ TOURÉ»

O qUe A eUROpA bUSCA hOje em ÁfRICA?

GRANDE ÁREA

—NO INÍCIO, ERA O DRIBLE. NO PRESENTE, É O MúSCULO. DAS FINTAS MALABARISTAS DE JAY JAY OkOCHA, àS PASSADAS ATERRORIZADORAS DE YAYÁ TOURÉ, AS RAÍZES CRIATIVAS, POR VEZES INGÉNUAS, MAS SEMPRE SEDUTORAS, DO JOGO AFRICANO ExPRESSAS AO MÁxIMO NA CHAMADA ÁFRICA NEGRA, CONFUNDIRAM-SE COM A CRESCENTE DIMENSãO FÍSICA DO JOGO NA EUROPA. HOJE, A FINTA AFRICANA É qUASE UMA CAUSA PERDIDA EM LUTA COM O MúSCULO DO CONTINENTE NEGRO. UM PONTO DE VIRAGEM ESTILÍSTICO MARCADO, NA ALVORADA DO SÉCULO xxI, POR UM ‘JOGADOR-ARMÁRIO’ DO SENEGAL - PAPA BOUBA DIOP - O GUIA ESPIRITUAL DOS NOVOS PROTóTIPOS AFRICANOS qUE A EUROPA BUSCA EM ÁFRICA.

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Um cenário que é uma encruzilhada no tem-po: as histórias cruzadas de Eto o e Kanu, a recordação luso-angolana de «Jota-Jota» e Dinis, os herdeiros de Abedi Pelé, as memó-rias de Roger Milla, o poder de Diop e Touré, até ao último rebelde Gervinho e os sonha-dores da Zâmbia. Mais do que fazer evoluir o futebol africano, tudo isto confunde os seus espíritos mais profundos. A razão para jo-gar futebol está nos pés, não nos músculos. Esta é uma viagem para pensar nas origens e no futuro do futebol africano. O tipo de jogador que o futebol europeu procura ho-je, prioritariamente, em África, mudou nos últimos anos.

Por qualquer ponto do território africano, do Sudão ao Chade, do Congo a Angola, de Mar-rocos à África do Sul, é impossível ficar longe do futebol. Pierra Kalala, velho goleador da seleção do Congo nos anos 60, grande co-nhecedor das profundezas do futebol africa-no, disse um dia que ‘o futebol é a razão pela qual temos pés’. Nascido no centro do conti-nente do futebol enigmático, Kalala cresceu e viveu sempre numa atmosfera perfeita pa-ra ter este sentimento sobre a essência do jogo. Um futebol maioritariamente gerado num embrião climático de calor, sol a pique, 35º-36º graus e uma bola num campo de ter-ra ou relva queimada, ideal para um duelo de ‘habilidade contra habilidade’, viveiro de

duendes da técnica que, durante décadas, foram a imagem de marca do grande fute-bolista africano.

Foi a este futebolista habilidoso e esquivo, por vezes fisicamente frágil e menos mus-culado, que a Europa deu prioridade na ori-gem e que sempre procurou nos diversos recantos do continente africano, sobretudo na chamada região da África negra. A histó-ria eternizou, através dos tempos, exempla-res desse tipo, tanto em território português, como em todos os relvados europeus. Desde o hipnotizante ‘drible-macumba’ do Jacinto João - o mítico ‘Jota-Jota’, mago do Setúbal nos anos 70 - ao estilo gingão do esguio Di-nis - o ‘brinca-na-areia’ que brilhou no Spor-ting Clube de Portugal e no Futebol Clube do Porto - ambos vindos do viveiro angolano, passando, noutras latitudes, pelos mágicos Abedi Pelé - o génio do Gana a quem todas as camisolas pareciam ficar grandes – ou ao Jay-Jay Okocha - fantasista nigeriano do dri-ble (as famosas okochianas) -, em tempos mais recentes, todos estes jogadores solta-ram, por diferentes paisagens, esse perfume malabarista do jogador africano. Atletas que jogam nos grandes estádios com botas últi-mos modelo, quase da mesma forma como, em meninos, jogavam descalços na rua, por entre terra e buracos atrás de uma bola de trapos. Mas os tempos mudam.

O jogo europeu está hoje mais devoto de monstros musculares como Yayá Touré, Muntari, Essien ou Drogba, do que de serpentes negras como Gervinho, do Arsenal

A dúvida é se foi o futebol africano que mudou mesmo (vendo os campeonatos internos, a essência criativa permanece) ou apenas a forma como a Europa olha para ele.

por EntrE‘artistas E Monstros’Hoje, essa imagem-protótipo do fu-tebolista africano admirado e procu-rado pelos europeus mudou. No lugar da habilidade, a componente atlética passou a dominar. Uma dimensão físi-ca que acompanha as evoluções do jo-go europeu, atualmente mais devoto de monstros musculares como Yayá Touré, Mun-tari, Essien ou até Drogba, do que de serpentes negras como Gervinho do Arsenal, visto quase como o último ‘rebelde com causa’ do velho estilo africano na Europa. Admirado quando finta, mas de quem todos desconfiam que po-de cair ao primeiro encosto com um desses novos monstros físicos que hoje mandam em campo.

São, porém, tempos intrigantes. Uma espécie de encruzilhada temporal, sobretudo porque os anos 90 tinham ficado marcados por du-as seleções africanas que, embora com esses monstros físicos pelo meio, tinham brilhado aos olhos europeus devido à sua arte e técnica fiel ao seu estilo natural. Foram os Camarões (quartos-final do Mundial 90) e a Nigéria (cam-peã olímpica em 96). Apesar de tudo, foi uma década algo indefinida em termos de ser pos-sível desenhar uma única imagem homogénea do conjunto do futebol africano, à data ainda a viver com a esperança de ser definitivamente consagrado o “futebol do futuro”, tal como lhe tinham chamado no início dos anos 80.

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Pode parecer quase romântico, mas a nova esperança mora mais nos pequenos países ainda por explodir futebolisticamente ao mais alto nível do que nas grandes potências. A última CAN, Taça das Nações Africanas, foi disso exemplo

Naquelas equipas inesquecíveis já existiam, como sempre existiram, os pontas-de-lança possantes (o monstro Yekini e a girafa Oman-Biyk) habituais des-de sempre em muitas equipas europeias (Yeboah, Weah, Outtara…), mas o resto do onze era condu-zido por artistas com músculo e, sobretudo, habi-lidade: Babangida, Okocha, Amunike ou Babayaro, nas Águias Verdes da Nigéria; Makanaky, Mbouh ou, claro, o lendário Roger Milla, nos Leões Indomáveis dos Camarões.

O fascínio em torno dele era tanto que John Fashanu, futebolista nigeriano que esteve em Inglaterra nos anos 80, conta que ‘nesses tempos falava com muita gente sobre os Camarões e todos pareciam pensar que o Roger Milla vivia lá sozinho. Pareciam julgar que só existia um país africano e que o Milla vivia lá sozinho, sem mais ninguém”. Mas não. Existiam mais algumas nações, com muitos outros fu-tebolistas, de estilo diferente, e seriam eles que iriam ditar as leis do futuro.

o ‘adn’ papa bouba diopO ponto de inflexão estilístico poderá ter um nome e duas pernas: Papa Bouba Diop. Na viragem do século XXI, ele marcou o nascer de novos tempos, brilhando no centro do meio-campo da seleção do Senegal, que chegou aos quartos-final do Mundial 2002. Era um médio-defensivo (pivot, trinco, box-to-box) gigante, 1,95m e 98kg, que por onde passava deixava marcas no relvado, como se por lá tivesse passado uma manada de elefantes. Em vez dos dri-bladores do passado, era esta girafa musculada que emergia como figura do belo onze senegalês onde também estava o tecnicista El-Hadji Diouf.

O estilo perfeito para as ideias físicas do futebol europeu era, no entanto, o de Diop. Ele ganharia qualquer lance dividido em que a bola apare-cesse a saltar à sua frente. Quando chegou a Inglaterra em pouco tempo ficou conhecido pelos adeptos do Fulham, onde ingressou em 2004 vindo do Lens francês, como o wardro-be, em tradução livre, o ‘armário’. Oito épo-cas depois, com 34 anos, ainda joga por lá, no West Ham. A partir daí, quase todos os clubes ingleses, sobretudo os da classe média competitiva, quiseram ter um jo-gador estilo-Diop. Hoje, o upgrade dessa

casta de jogador, com igual poder físico, mas maior qualidade técnica, está personi-

ficada em Yayá Touré, atualmente médio todo-terreno do faraónico Manchester City e da fabulosa seleção da Costa do Marfim. É impressionante a in-fluência de Touré em campo e como ele agarra e conduz o jogo sozinho pelo meio-campo de uma área à outra, defendendo e atacando. Todos os clu-bes olham para África em busca de algo semelhante. Ou seja, os velhos pontas-de-lança continuam a ter o seu lugar. A transformação deu-se, sobretudo, no perfil dos médios. Antes buscavam-se sobretudo jo-gadores imaginativos, tecnicistas, agora procuram-se prioritariamente jogadores robustos, musculados para agarrar o jogo pelos colarinhos. É uma tendên-cia que atravessa diferentes ligas europeias. Da ro-tação de Muntari, ganês, no Milan, em Itália, até ao poder de Pape Sow Habib, senegalês, em Portugal, na Académica. As fintas de Okocha são uma ‘causa perdida’. É o triunfo do protótipo-Yayá Touré.

dEsPorto

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Está o futEboL africano a EvoLuir?Não penso que o futebol africano tenha evoluído com esta nova perspetiva europeia sobre os seus tesouros e estilo. No fundo, tal leva África a confundir as suas raízes e corresponde a uma procura de resultados imediatos que trai os seus espíritos, levando a uma espécie de ‘descolonização conceptual’ do futebol africano à luz dos cânones tático-físicos europeus. Mesmo quando procuram jovens jogadores, saídos das ruas para os centros de formação europeus, a componente física tem um papel quase sempre su-perior ao técnico ou, em casos de dúvida, afasta um jogador que seja ‘apenas’ um prodígio a fintar.

Sem dimensão física do jogo, raramente os pragmá-ticos novos ‘caçadores de talentos’ apostam neles. Pode até existir uma subida do nível médio do fute-bolista africano negro, mas é cada vez mais raro um deles fazer a diferença pela técnica, a base do secu-lar fascínio europeu pelos talentos destas paragens.

O jogador que talvez tenha unido melhor estes dois estilos num cruzamento entre tempo e bola terá si-do Kanu, perna-longa da Nigéria, campeão olímpico em 96, que com o seu estilo meio desengonçado, alto mas com agilidade quase de borracha, hipno-tizava a bola e dominava-a, driblando, quase co-mo se caminhasse como um trapezista sobre uma corda suspensa no ar. O jogador em que sempre senti existir mais esse conflito in-terior é em Eto o, uma gazela dos Cama-rões que gosta de se divertir com bola e que o treinador José Mourinho, então no Inter de Milão, transformou num soldado tático. Ele foi, nos tempos conturbados da sua carreira, com êxito e discussões com treinadores, o exemplo perfeito de uma frase de Abedi Pelé, pai dos irmãos Ayew, Jordan e André (ambos jogadores do Marselha, onde Abedi foi campeão nos anos 90) que quando lhe pergun-taram o que ainda o tornava africano, respondeu:’a minha paixão por jogar fu-tebol. Mas na Europa tive de mudar. Em África jogava para me divertir. Na Europa pa-ra vencer, até para me vencer a mim próprio!’.

A evolução raramente está na transformação. Antes na capacidade de reinvenção da nossa essência aos tempos que passam. A apologia das academias não deve, no entanto, sufocar as condições naturais on-de o talento do jogador africano nasce. O nigeriano Hakeem Olajuwon não jogou futebol, foi uma estrela da NBA nos anos 80, mas na forma como analisou a sua carreira deixa pistas para pensar: “o meu passado de jogar na rua deu-me vantagem em relação aos jo-gadores que nasceram só nas academias”. O segredo está em conseguir ligar o “talento natural” ao “talento fabricado”, sem o matar no decorrer desse processo.

A única forma de apoiar o futebol africano é valorizando mais o que o instinto lhes dita: jogo criativo inato. Todo o imaginário que lhes está implícito atrai irresistivelmente os olhares europeus

as portas do futuroPode parecer quase romântico, mas a nova es-perança pode, neste momento, morar mais nos pequenos países ainda por explodir futebolisti-camente ao mais alto nível do que nessas maiores potências. A última CAN, Taça das Nações Africa-nas, foi mais um exemplo desta nova realidade no contraste entre o futebol das grandes potências e o das ditas nações emergentes, com a vitória da sensacional Zâmbia de Kalaba, Mayuka e Ka-tongo, os sensacionais novos conquistadores de ‘África com bola’. Serão eles a nova alvorada de técnica do futebol africano, os guias espirituais que o levem de regresso às raízes? É difícil.

Em 2010, o TP Mazembe do Congo, campeão afri-cano, num estilo de jogo que se destacava sobre-tudo pela velocidade com que atacava, chegou à final do mundial de clubes, após derrotar o In-ternacional brasileiro, campeão sul-americano, mas nenhuma das suas figuras, como Kaluyituka, Singuluma, Kabangu ou Mputu (então suspenso por agredir um árbitro) saltaram depois para os melhores relvados europeus. A Europa não é, no presente, o local ideal para sonhos românticos. O futuro é um lugar estranho. Porque, em concreto, não mora lá ninguém. A única forma de apoiar o

futebol africano seria valorizando mais o que o instinto lhes dita: jogo criativo inato. Todo o

imaginário que lhes está implícito atrai irre-sistivelmente os olhares europeus. Ainda

há pouco tempo, recordo ver uma re-portagem de televisão sobre a Somália em que, nas ruas de Mogadishu, de-pois de um conflito entre guerrilhei-ros, um grupo de miúdos retiravam, por entre as ruínas de casas desfeitas ou perfuradas por balas, duas bolas de plástico para voltarem a jogar.

Graham Greene, escritor inglês que descreveu África de forma sublime

nos seus livros, escreveu, em ‘The He-art of the Matter’: “Cuidado, este não é

um lugar para emoções!”. Não falava, claro, em futebol. Falava da vida, mas muitos dos

cenários que o futebol africano provoca tam-bém se transformam, pelos contrastes em que vive, numa realidade só possível de ser entendida por entre estas enigmáticas atmosferas. Como a frase de Greene. A dúvida é se foi o futebol afri-cano que mudou mesmo (vendo os campeona-tos internos, penso que não) ou apenas a forma como a Europa olha para ele. Entre uma finta de Abedi Pelé ou Okocha e uma arrancada demoli-dora de Diop ou Touré terá de existir um ponto de contacto, porque ‘nós acordamos de manhã e…respiramos futebol!’, diz Kalala, o congolês que descobriu a verdadeira razão pela qual o ser hu-mano tem pés: para jogar futebol!

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72 MARÇO 2012

DEmBA BA—

peRNA-LONGA DO SeNeGAL—UM PONTA-DE-LANçA ELÁSTICO qUE FAZ DE CADA REMATE qUASE ARTE ACROBÁTICA. DEPOIS DO HOFFENHEIM, NA ALEMANHA, É HOJE UMA DAS PRINCIPAIS «FÁBRICA DE GOLOS» DA LIGA INGLESA, EM NEWCASTLE, ONDE O FUTEBOL EMOCIONAL JOGA-SE COM AS BOTAS E O CORAçãO.

dEsPorto Luís Freitas Lobo

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MARÇO 2012 73

INSIGht

AuBAmEyANG—

mOICANO DO GAbãO—UM ESTILO DECALCADO DE NEYMAR, MOICANO E COM A BALIZA NOS OLHOS, UM JOGADOR qUE AMEAçA COLOCAR O GABãO NO MAPA DAS GRANDES ESTELAS DO FUTEBOL MUNDIAL. DESCOBERTO PELO MILAN, EMPRESTADO AO ST.ETIENNE, FAZ DE CADA JOGO EM FRANçA UMA AVENTURA DE BOM FUTEBOL

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dEsPorto Luís Freitas Lobo

anos, Bola de Ouro em 99. O clube é a nova grande invenção do futebol angolano, o Kabuscorp. A contratação de Rivaldo (ao mesmo tempo que também tentou Denilson), obra de um homem sonhador com dinheiro que deu o nome da sua empresa ao clube que fundou em 94, causou sensação no mundo inteiro.

Mas e agora? Em que ponto pode esta contratação ajudar o futuro do futebol angolano? Em termos técnicos internos, em nada. Em termos comerciais e mediáticos, muito. Ou seja, de início, a ida de Rivaldo para Angola tem o mesmo impacto internacional que teve a sua anterior ida para o Uzbequistão. A sua motivação é a mesma. Futebolisticamente, vai passear. Comercialmente, vai ganhar muito dinheiro. O clube, claro, passou a ser conhecido mundialmente, quando antes ninguém sabia que existia. Agora, cabe às entidades federativas tentar pegar neste nome para tornar visível a Liga e o futebol angolano internacionalmente, visto que para o responsável do clube em si, as intenções são, claro, apenas próprias e financeiras.

Não é no futuro do futebol angolano que se pensa em primeira instância. Este estaria na criação de infra-estruturas capazes de aproveitar (descobrir e formar potenciais jogadores) os inúmeros talentos que jogam, desde a rua, até terrenos irregulares, o mais puro futebol africano de

técnica e imaginação, mas que, sem

acompanhamento técnico, médico, físico e noções tático-técnicas, expressa-se apenas na sua natureza

e perde-se depois rapidamente com o

tempo. O «projeto-Rivaldo»

é, portanto, um projeto isolado de um homem e um clube

inventado por ele. Não existe um transfer idealizado para a realidade angolana, não está enquadrado num cenário mais global de atração de investidores, onde o jogador poderia servir quase de ponto de atração para uma realidade (cenário futebolístico) mais ampla e subaproveitada, até pelos clubes portugueses que continuam a ignorar as raízes que, junto com outros países da imensa lusofonia, os fizeram grandes nos anos 60. Em nenhum caso do mundo este tipo de «projetos de estrelas em fins de carreira» fez avançar estruturalmente o futebol desse país. É uma presença futebolisticamente «beduína». Isto é, monta a sua tenda, tira os seus dividendos e desaparece pouco depois. O progresso de todas as outras nações africanas foi feito com base em construção de condições para potencializar os inúmeros talentos naturais que vagueiam pelos campos de terra. Do Senegal à Costa do Marfim. Rivaldo é um símbolo do passado. Gera dinheiro no presente. Coloca o futebol angolano no mapa por breves instantes, mas será uma mera nuvem de fumo no futuro.

O futuro não se compra. O futuro constrói-se. É difícil entender esta diferença, entre comprar e construir, quando se tem ao dispor o argumento demolidor e transformador imediato da realidade como é o dinheiro. Neste caso, muito dinheiro mesmo. Antes falava-se nos EUA, Qatar, outras paragens na Arábia, até no México, como últimos destinos El-dorados para futebolistas em fim de carreira. Autênticos «cemitérios de elefantes» ultra-milionários. Pela primeira vez na história, um país africano, da mais profunda África negra, conhecida pelo seu atraso estrutural e dificuldades/assimetrias financeiras que o assolam, entra nesta rota - Angola. O craque em fim de carreira é Rivaldo, 39

— PELA PRIMEIRA VEZ NA HISTóRIA, UM PAÍS AFRICANO, EM VEZ DAS CLÁSSICAS NAçõES ÁRABES OU DOS EUA, CONTRATOU UMA GRANDE ESTRELA DO FUTEBOL MUNDIAL EM FIM DE CARREIRA. RIVALDO ATERROU EM ANGOLA E JOGA NO GIRABOLA. MAIS DO qUE NO FUTEBOL ANGOLANO, ENTRA, PORÉM, NUMA REALIDADE qUASE AUTóNOMA, O kABUSCORP DE BENTO kANGAMBA. MAIS DO qUE UM CLUBE, UM PROJETO ISOLADO DE UM HOMEM COM O PODER DO «TOqUE DE MIDAS». O DINHEIRO TRANSFORMA O PRESENTE, MAS RARAMENTE CONSTRóI O FUTURO. NO FUTEBOL, COMO NA VIDA. O «PROJECTO-RIVALDO» E O PERTURBANTE JOGO DE ESPELHOS COM O REAL CENÁRIO DO FUTEBOL ANGOLANO

ENtRE-LINhAS

o «ProjEto-riVAlDo» cabe às

entidades federativas pegar

neste noMe para tornar visíveL a Liga e o futeboL

angoLano interna-cionaLMente

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—kALEMBA, TERMO kIMBUNDU, qUE SIGNIFICA AGITAçãO VIOLENTA DO MAR. HÁ UM ANO TUDO ERA UM SONHO. HOJE, O SkIMBOARD É UMA REALIDADE. OS “CULPADOS” DESTE CASO DE SUCESSO ÍMPAR SãO OS MENTORES DO kALEMBA SkIM, UM PROJETO SOCIAL qUE USA A MAGIA DOS DESPORTOS RADICAIS PARA DESVIAR OS JOVENS DA CRIMINALIDADE E DO CONSUMO DE DROGAS.

paLavras-chave:TIMING| CORAGEM| AGILIDADE

dEsPorto Patrícia Alves Tavares

CRuzAmENtO

Com o mar aos pés

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Domingo à tarde, praia do Lookal, Luanda. No areal forma-se um grupo. São jovens, alguns ainda de tenra idade, mas destemidos quando se trata de enfrentar o oceano. Chegam de prancha na mão, cumprimentam-se, conversam e observam o mar. Aos poucos o grupo fica completo. Começa a ação: é hora de raspar o wax; fazer o aquecimento e lançar-se ao mar. Os curiosos acotovelam-se na praia para assistir às perícias destes surfistas e os turistas param para tirar uma fotografia. A Angola’in acompanhou os treinos dos novos skimmers e falou com a responsável do pro-jeto, Tchiyna Matos.A união é o maior elo que liga os praticantes de uma modalidade que até há pouco tempo era desconheci-da. Os menos experientes observam os mais velhos, que vão dando algumas dicas. E, claro, há os talentos naturais, crianças pequenas que deslizam nas ondas com tanta audácia que fazem corar muitos adultos. A prática em Luanda é antiga, mas só há um ano é que ganhou forma enquanto desporto reconhecido. Até en-tão, crianças e adolescentes divertiam-se com os seus taludes de madeira improvisadas, correndo em direção das ondas. Ninguém imaginava que o seu entreteni-mento era um desporto profissional, amplamente pra-ticado na Califórnia EUA, com reconhecimento mundial e com campeonatos, que se realizam nas principais praias do mundo.

os Kalembas“Andar de madeira”, como é apelidado o skimboard na ilha de Luanda, é praticado de “forma artesanal há mais de 20 anos”. Tchiyna Matos, mentora do projeto social Kalemba Skim, recorda à Angola’in que a ideia nasceu há um ano, quando percebeu que os jovens da região mostravam uma grande paixão por um despor-to que lhes era quase desconhecido. Motivada pelo desejo de diminuir a criminalidade, através da prática de desportos radicais, criou o Ka-lemba. A aposta prende-se com a vontade de “seguir as nossas raízes e daí o nosso nome e a constante pre-ocupação com o meio em que nos encontramos”. O programa tem como metas a criação de uma escola e a sustentabilidade da marca Kalemba.

dicionáriodefinição consiste em correr na direção de uma onda e pular para cima da prancha (drop) para surfar a onda (wrap) influências Mistura várias modalidades como o surf, skateboard ou o snowbord onde aprender Kalemba Skim (kalembaskim.blogspot.com) local sábados e domingos, praia do Lookal, Luanda

flAsH intervieWtcHiYnA mAtos, KAlembA sKim

que apoio dão aos praticantes de skimboard?No âmbito de projeto, eles irão fa-zer formação para poderem ser os formadores da escola de skimbo-ard. Ao mesmo tempo terão aulas de defesa pessoal. Com uma peda-goga e uma psiquiatra irão apren-der a lidar com delinquentes, para que consigam trazê-los para a es-cola. Como formadores irão repre-sentar Angola nos campeonatos internacionais. Gradualmente, os incentivos serão maiores, incluin-do talvez bolsas de estudo.

está restringido a luanda?Não. O Lobito também terá uma escola, pois existem cerca de 30 praticantes que estão a ensinar al-guns jovens. Mas, queremos mais. O skimboard tem muita “praia pa-ra andar”. o projeto tem 4 fases. estão em que ponto?Estamos a acertar com os patroci-nadores e os formadores as melho-res datas para a formação, uma vez que estão a decorrer vários campe-onatos de Skim em Portugal e de-pendemos muito disso. A escola já tem um patrocinador oficial e va-mos abri-la no Clube Naval.

o que é que faz mais falta à mo-dalidade?As pranchas! A intenção é tornar o projeto sustentável o mais breve possível. Os atletas irão aprender a fazer as pranchas e mais tarde vendê-las. Neste momento, penso que os formadores vão trazer cerca de 60 pranchas doadas por alguns skimmers de clubes e marcas em Portugal e Espanha.

o país tem condições para o skimboard?Temos praias onde o surf já reina. Vemos estrangeiros a virem An-gola só para praticarem surf e que vão embora sem passarem pela ci-dade. O nosso clima ajuda muito.

aposta soCialAlém da introdução do skimboard no país, o Ka-lemba quer apoiar o desenvolvimento de moda-lidades como o skateboard e o rollerskating. O projeto tem 15 jovens com idades entre os 17 e os 20 anos inscritos para formação. Praticantes supe-ram a centena e as idades variam entre os cinco e os 25 anos.

A aposta em desportos radicais não é obra do acaso. Para Tchiyna Matos o “desporto ensina qual-quer jovem a mudar a sua forma de estar e pensar”. Contudo, na sua opinião “os desportos radicais po-dem oferecer ainda mais: a tão conhecida adrenali-na que por vezes é usada de forma errada”. O projeto responde a um anseio antigo de dar uma ocupação saudável a crianças que passam parte do dia nas ruas, sem atividade. O resto é obra da persistência destes jovens. O papel dos Kalembas é acima de tudo moral: “o que temos para lhes dar é mostrar que apesar de ser “só um desporto de tempos livres” pode mudar as suas vidas”.

trabalho reConheCidoO mundo conheceu o talento dos Kalembas no ano passado. Trabalho esse que mereceu destaque no principal site internacional da modalidade. Porém, Tchiyna lembra que o desporto é praticado há mui-tos anos na ilha. “Os meninos que fazem hoje parte do projeto dizem que os tios e pais já praticavam na idade deles”, indica.

Inseridos no Clube Naval de Luanda, rapidamente conseguiram o apoio do “Surfing Clube de Portu-gal”, que aceitou dar formação e ensinar a fabricar as pranchas. Um ano depois, a escola de skimboard está legalizada, a formação destes atletas por pro-fissionais experientes e a organização do primeiro festival da modalidade decorrerão em 2012. As raízes continuam a ser a base do trabalho. Os kalembas são “donos” de várias manobras radicais com “nomes próprios da nossa terra”.

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dEsPorto Luís Freitas Lobo

“cafundó*, dJaLMa!”

—EM qUE PENSA UM JOGADOR qUANDO A BOLA ESTÁ LONGE? ESTA É UMA VIAGEM PELO ‘INTERIOR’ DO CLÁSSICO PORTUGUêS, BENFICA-FC PORTO. CADA JOGADOR É UM «MUNDO PARTICULAR», COMO SE FOSSE UM SExTO MOMENTO DO JOGO, PARA ALÉM DOS CINCO SENTIDOS HUMANOS E qUATRO FASES FUTEBOLÍSTICAS. O OLHAR DE WITSEL, A ESTÉTICA DE LUCHO, A ANSIEDADE DE CARDOZO, AS PULSAçõES DE MOUTINHO, AS MUDANçAS DE «CHIP» DO DJALMA. A CONDUçãO TÁTICO-MENTAL DOS TREINADORES, AS SUBSTITUIçõES E AS ALTERAçõES NA RELVA. O ‘SExTO SENTIDO’ qUE DECIDE O JOGO

FORA DE JOGO

*palavra angolana que significa lugar afastado e de difícil acesso

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Os jogos de futebol não têm nome próprio. Quando terminam, porém, há nomes que ficam mais presentes para emoldurar esses 90 minutos. Um golo, uma jogada, uma defesa. Um jogador como protagonista. Formar uma equipa é dar uma alma a um con-junto de onze jogadores. O jogo tem vários momentos. Em traços simples, quatro: a equipa a defender (organiza-ção defensiva), a equipa a atacar (orga-nização ofensiva), a equipa a reagir à perda da bola (transição defensiva) e a agir após a sua recuperação (transição ofensiva). Jesus, treinador do Benfica, fala de um quinto (as famosas ‘bolas paradas’). Gosto, no entanto, de pen-sar num sexto momento: o que pensa o jogador quando a bola está longe. Nos jogos ditos mais calmos, contra adversários que não compliquem muito, até poderá pensar na nova na-morada, no novo carro, na nova casa, numa outra nova namorada, por aí

fora. Nos jogos de intensidade emo-cional máxima isso é impossível. Os cinco sentidos têm de estar todos nos cinco momentos do jogo. E, claro, no sexto, também.

O Benfica-FC Porto foi um jogo que se tornou numa metralhadora de emoções na cabeça de todos a que assistiram, mas, sobretudo, em todos que, de calções e chuteiras, o jogaram. Cada jogador tem, nesse vulcão emo-cional, um ‘mundo particular’, algo que existe muito antes e para além das táticas mais elaboradas. Os treinado-res, por definição, são os que ‘pensam’ mais durante o jogo. A melhor forma de, então, transmitir esse pensamen-to ao jogador é quando, por breves segundos, o jogo pára e os gritos se conseguem ouvir ou podem mesmo agarrar pelo braço o jogador que pas-sa por perto e dizer-lhe ao ouvido as palavras que fazem a diferença.

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dEsPorto

“Tem nego aí que não passa nada. pois, na minha, passa um filme de longa-meTragem!”PELé

A meio da segunda-parte, quando, comentando o jogo da tribuna de imprensa, vi que o James, ‘arma-secreta’ que entra para virar jogos de pernas para o ar, se preparava para entrar, imaginei que o Vítor Pereira ia tirar o Djalma que estava a jogar a extremo-esquerdo, e, assim, dar novo impulso à mesma posição. Estava posto em sossego com essa ideia, quando, pouco depois, numa dessas paragens de jogo, vislumbrei Vítor Pereira a agarrar Djalma e, na berma do relvado, sussurrar-lhe indicações ao ouvido. Durou tempo demais para ser apenas circunstan-cial. Percebi então que não seria ele a sair. Não faria sentido tantas indicações a um jogador se fosse ele

segundos depois a deixar o campo. E não saiu, claro. Saiu Rolando, um defesa-central, James foi mesmo pa-ra extremo-esquerdo, mas, com isso, Djalma passou para lateral-direito (enquanto que Maicon passava para central). Grandes mudanças de po-sição e, sobretudo, intenção. Djalma passava a morar numa «casa tática» completamente diferente. Do setor atacante (extremo-esquerdo) para o setor defensivo (lateral-direito). Em nenhuma, porém, seria para pensar em defender. Sobretudo quando passou para a tal nova decoração de interiores táticos, e, desde posições recuadas, passou a fazer a auto-estrada do flanco direito, por onde também voava Hulk.

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‘Longa-MEtragEM’ dE iMagEnsNilton Santos que foi um jogador fa-moso do Brasil nos anos 60 conta que um dia, durante um treino, Pelé lhe perguntou: “Nilton, me diz uma coisa: o que passa pela cabeça da gente na hora de uma jogada?”. Nilton olhou-o e respondeu: “Tem nego ai que não passa nada”. Silêncio. “Pois, na minha, passa um filme de longa-metragem!”, respondeu Pelé!

O clássico da Luz fixou vários frames, retratos com alma, dessa longa-metra-gem que passa na cabeça dos jogado-res. O momento do golo é quase uma explosão dessas emoções perante o monstro de milhares de cabeças (o público puramente excessivo e selva-gem) que rodeia os jogadores. Antes, é o controlo dessas mesmas emoções. Nesse campo de ‘sensações contro-ladas’, Lucho parece feito de gelo, mesmo as gotas de suor parecem ter

nele uma estética própria. Moutinho é diferente. Nunca pára. Até ao ponto de mesmo quando está parado, parece que continua a correr. É a ilusão da caixa torácica que continua aos pulos. Do outro lado, Luisão expressa no gri-to esse momento em que a bola está longe. Witsel nunca se despenteia. Vê o jogo com olhos mais claros. Literal-mente pela transparência do seu olhar «verde claro água», metaforicamente pela forma como resolve sempre bem o que fazer à bola. Cardozo transmi-te ansiedade. Não aquela ‘ansiedade de tenerte en mis brazos, musitando palavras de amor’ que cantava Nat King Kole. Não, é antes a ansiedade de ter, por fim, a bola ao jeito do seu pé esquerdo e tentar furar a baliza. Aimar parece que joga de patins, desliza so-bre o campo. Mas quando sente a dor para sair, tal como Garay, o seu olhar perde-se, cai no vazio.

o jogo, em rigor, nunca se afasTa do jogador, mesmo quando a bola esTá longe. os que se manTiverem mais próximos, ganham.

Quando engatou o primeiro con-tra-ataque com espaço livre pelo lado direito, Djalma já não tinha lá o lateral-esquerdo do Benfica, Emerson, então expulso por dois amarelos. Consciente, Djalma sou-be esperar sem perder a posição de-fensiva. Está um jogador diferente de tempos atrás. No Marítimo, era o mero extremo imaginativo, fino e esquivo de fintar e ir embora. No Porto, está mais robusto fisicamen-te, parece com menos pescoço, até muito mais musculado. Acho que perdeu jogo de cintura no um-pa-ra-um. Mais choque, menos zig-zag. Se ficou a ganhar ou a perder com esta visível transformação física, uma pequena montanha muscular, só o tempo o dirá. Tenho dúvidas. Mas dá mais soluções ao treinador. Melhor ou pior, ficou diferente.

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dEsPorto

‘XEQuE-MatE’ coM boLa E cabEça Nem sempre é fácil controlar o pensamento. Há momentos em que os olhares dos jogadores parecem estar à espera de ajustar contas com o jogo. Ou melhor, com a sua in-tervenção no jogo. O que pensaria Maicon quando seguia aquela bola que, pelo ar, numa longa viagem, rasgava em curva a atmosfera da Luz até chegar à zona da sua ca-beça? Do outro lado, a aproxima-ção da mesma bola, suscitava um sentimento diferente em Artur, o guarda-redes. Esperança e temor, devorados depois pela discussão do fora-de-jogo e pela impulsão de Maicon e da sua careca a cabecear a bola. O grito de revolta seguin-te libertava-o de todas as dúvidas que tinham devorado a sua mente nos longos minutos anteriores. Pri-meiro, o receio de falhar num lugar que não é o seu, lateral; depois, a ânsia de acertar na posição que é a sua, central.

O jogo, em rigor, nunca se afasta do jogador, mesmo quando a bola está longe. Os que se mantiverem mais próximos, ganham. Os treinadores fazem recordar um conto de Jorge Luis Borges que falava de dois Reis que, uma tarde, disputavam, no cimo de um vale, uma partida de xadrez, enquanto que, lá em baixo, os soldados travavam uma dura batalha. Numa altura em que um deles fez um gesto que significava xeque-mate, surgia um soldado seu a anunciar a vitória no terreno. Qualquer treinador, em cada jogo, sonha com essa ligação perfeita e quase sobrenatural com os jogado-res. É muito difícil. A forma, a «por-ta-secreta», de o conseguir, está na transmissão/comunhão de pensa-mento. O sexto sentido humano que só existe dentro de um relvado futebol. De difícil acesso, como o cafundó tático de Djalma

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dEsPorto Patrícia Alves Tavares

VOLEIBOL

Duplas preparam-se para lonDres’2012—Morais/ Magé e Márcio/ Éden encontram-se na Ilha de Luanda em preparação para os Jogos Olímpicos de Londres’2012. As duplas estão confiantes de que vão conseguir qualificar-se para o torneio. Os sul-africanos são os grandes adversários. A hipótese de estagiar no exterior está igualmente nos planos da Federação.

AtLEtIsmO

FeDeração aposta no estrangeiro—Brasil, Senegal, Quénia e Etiópia são alguns dos países que vão receber corredores da Federação Angolana de Atletismo (FAA) para frequentarem ações formativas. A organização está empenhada na formação desportiva dos seus atletas e acredita que a aprendizagem em regiões com equipas mais experientes nesta área é uma mais-valia para o talento nacional. Este ano, dois corredores rumam ao Brasil. Já a Etiópia recebe nove atletas e o Quénia e Senegal acolhem dois cada. Cada formando vai ficar quatro anos nesse país e será acompanhado por técnicos da federação.

ANDEBOL

argélia organiza Can 2014—A 21ª edição do Campeonato Africano das Nações em Andebol irá ser disputada na Argélia. O país ocupa o segundo lugar do ranking de masculinos e é a quarta vez que organiza a prova. A mais recente foi em 2000. Na última edição, as representantes nacionais em femininos voltaram a sagrar-se campeãs. A equipa masculina não conseguiu alcançar as meias-finais da prova.

DEspOrtO fEmININO

sénior De anDebol Com 3 equipas—A época de andebol em Luanda arrancou a 3 de março, mas debate-se novamente com a falta de formações femininas na modalidade. Há apenas registo de três equipas na classe sénior: Petro, 1º de Agosto e ASA. O caso levou a Associação Provincial de Andebol de Luanda a optar por uma primeira fase mista de seniores/ juniores, isto é, as três primeiras formações de cada escalão jogam entre si.

futsAL

Disputa entre políCias—Trezentos polícias de várias unidades da corporação no Bengo promoveram uma maratona de futsal. A cidade de Caxito foi o palco escolhido e a atividade serviu para assinalar o 36º aniversário da Polícia Nacional. Durante um dia, as várias equipas competiram entre si para incentivar a prática do desporto.

EurO 2012

aDeptos russos Com viagens gratuitas—Vladimir Putin, primeiro-ministro da Rússia, chegou a acordo com as duas maiores companhias aéreas russas quanto à questão do transporte de adeptos do Euro 2012. O Campeonato da Europa de futebol terá lugar na Ucrânia e Polónia e os apoiantes da seleção da Rússia terão transporte gratuito para assistirem aos jogos da sua equipa. A Aeroflot e a Transaero concordaram, mas ainda não definiram o número de voos e destinos. A prova arranca a 8 de Junho.

BLOCO DE NOtAS

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eLife&Stylee

{ GOURMET }

ÍNDICE

Há sabores que perduram no tempo.Há momentos que se recordam pelos sabores que oferecem. Nesta edição propomos uma viagem pelos sabores portugueses acrescidos de um toque de elegância que a cozinha gourmet consegue proporcionar.Descobrir que é possível inovar tendo por base receitas da tradicional cozinha mediterrânica, é uma aposta feliz de muitos dos principais chefs portugueses. Descubra como nas páginas que se seguem.

VIAGEM

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DR

{ BOCA A BOCA }Há certas bebidas que são verdadeiro ouro líquido pela preciosidade que oferecem, mas o ouro também pode adornar a mesa de quem prima pelo bom gosto. Há ainda os que apostam na descoberta de novos metais para deslumbrar e criar beleza.

{ TURISMO }A família inspirou-nos para a proposta de evasão deste mês. Juntos, numa partilha perfeita, os dias ganham contornos mais coloridos e tornam os sonhos realidade. Como? Numa dádiva completa entre ser e estar, entre usufruir e partilhar. Divirtam-se nesta nova viagem!

{ LUXOS }CarrosO Salão de Genebra que decorreu durante o último mês foi o centro de todas as atenções no panorama automóvel. Viaje até às novidades aí apresentadasGadgetsHá quem sonhe, há quem concretize… e há quem goste de ter!RelógiosO tempo numa outra dimensão!

{ ESTILOS }Cores, formas e tecidos...uma trilogia perfeita para brilhar em todos os tempos e em qualquer lugar LondresBrilhar entre o NevoeiroCosméticaAromas que marcam

{ ARTE }A morte e a vida nas mais importantes criações artísticas

{ CULTURA & LAZER }Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos. O nome só por si pouco diz, mas se falarmos de Pepetela, certamente ficará com imensa vontade de ler esta entrevista.

{ AGENDA }Exposições e eventos que marcam a atualidade cultural no mundo

{ PERSONALIDADES }Lutadora pela paz, Eunice Inácio eleva a solidariedade e o humanismo a patamares elevados. Homenagem a uma senhora que marca pela sua resiliência e coragem em querer ‘mudar’ o mundo

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Life&StyleTiffany & CoA beleza de um metal novo—Para comemorar os seus 175 anos, a joalharia mais famosa do mundo, a Tiffany & Co preparou nada mais nada menos que o lançamento de um metal exclusivo. Nome: rubedo. Em latim significa avermelhado e na filosofia medieval da alquimia, o rubedo era um título dado a algo de beleza rara, resultante da fundição entre matéria e espírito. É a riqueza do ouro, o brilho da prata e o calor do cobre numa fórmula que resultou numa liga leve e forte ao mesmo tempo. Deixe-se encantar!

Bacardi - 150 anos de históriaA força de um nome

—A marca de rum de origem cubana mais famosa e vendida

do mundo, Bacardi, comemora 150 anos. O rótulo da bebida, no qual aparece um morcego, é hoje muito mais do que um

símbolo universal. Sintetiza o legado de uma família que continua, após oito gerações, à frente de uma das maiores empresas privadas de bebidas alcoólicas do mundo. Para

comemorar os padrões de produção de rum atingidos pela Bacardi há 150 anos, a empresa de propriedade familiar

Bacardi Limited anuncia uma novidade: a edição limitada do mais raro rum BACARDI.

Carla Marques

Zeltiq LipoDiga adeus às gorduras

—A Zeltiq Lipo é uma tecnologia médica avançada de lipoaspiração não-invasiva, desenvolvida por

cientistas e médicos da Harvard Medical School. É a primeira máquina cuja segurança e eficácia foram

aprovadas pela FDA e que garante a protecção da pele. Trata-se de um método que apresenta baixos riscos ao nível dos efeitos secundários

e é seguro para o corpo humano. A Zeltiq Lipo utiliza o CoolSculpting – baseado na

criolipólise- para destruir os adipócitos tem apresentado resultados muito

satisfatórios nas clínicas americanas, estando a ser introduzido na Europa.

Versace“Vanity La Dorée” Collection—A gama “Vanity” é inspirada no mais famoso ícone da Versace – o arabesco. Especial é a forma como os ornamentos parecem movimentar-se: aparentemente entrelaçados num ciclo sem fim. A nova extensão da “Vanity Collection” – denominada Vanity La Dorée – mantém o motivo arabesco, agora usado em dourado total sobre porcelana Rosenthal. A combinação mate e brilhante foi possível devido a um revestimento de titânio dourado. Às 10 peças do serviço de jantar Vanity La Dorée, são acrescentadas canecas e castiçais.

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LOUIS XIII Le JeroboamOuro líquido—Quem compra uma garrafa deste precioso conhaque compra um momento de sonho! A famosa casa francesa Rémy Martin lançou recentemente o seu mais novo e requintado conhaque, o Louis XIII Le Jeroboam. Trata-se de uma edição limitada a apenas 100 garrafas por encomenda, custando cerca de 23 mil dólares cada. De salientar que Le Jeroboam é feito a partir de uma mistura de mais de 1.200 conhaques finos e raros da famosa grande região de Champagne. Foi elaborada uma garrafa de três litros criada por Sèvres Cristallerie, praticamente uma obra-prima do artesanato feita de cristal que conta com um pescoço feito em ouro 24 quilates para guardar este conhaque.

{ BOCA A BOCA }

Diet Coke e GualtierUma garrafa que apetece tocar—É certo que está mais habituado a colaborar em projetos de embalagens mais high-end, como para conceituadas marcas de champanhe. Mas, desta vez o estilista Jean Paul Gaultier tornou-se o mais recente designer a colaborar com a Diet Coke. O criador francês foi nomeado diretor criativo da bebida na Europa e aparece numa série de curtas-metragens para a marca, no canal Diet Coke do youTube. Mostrar personalidade e o estilo divertido da marca na garrafa foi o desafio lançado. “As garrafas têm a forma do corpo de uma mulher, por isso seria uma grande diversão para mim vesti-las’”, disse o estilista francês.

DiorUma pequena revolução na joalharia—No decorrer da semana de moda parisiense a Dior apresentou uma preview do seu livro “Dior Joaillerie”, tendo sido lançado a 29 de Fevereiro. Já conquistou a atenção de todos os amantes da arte apresentando mais de 200 fotos referentes a desenhos, fotografias e materiais diversos propriedade da casa Dior. O texto é da historiadora de jóias Michèle Heuzè e foram apresentadas peças exclusivas, concebidas pela diretora criativa de jóias, Victoire de Castellane, que são verdadeiras obras de arte.

TAG Heuer“Full Diamonds”—Falar é uma arte. Falar com este telemóvel é elevar a arte ao seu exponencial máximo. A TAG Heuer lançou no mercado um novo telemóvel, modelo Link Exclusive Full Diamonds que fará as delícias de todos os que gostam de aliar as novas tecnologias à beleza. Com caixa em aço 316L, diamantes, pele branca de lagarto , dimensões reduzidas 118mm(altura) x 67mm(largura) x 16.6mm(espessura), um peso de 200 gramas (bateria incluída) e ecrã táctil este pequeno objecto de luxo chegou para conquistar!

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ViVER A ViDA

Life&Style

—No mês em que se celebra a Mulher e em que simultaneamente os pais são o centro de todas as atenções deixamos alguns trilhos para que descubra alguns dos paraísos na terra. Locais de eleição para destinos românticos, ou apenas para (re)descobrir espaços mágicos onde a beleza envolve todos os viajantes e garante momentos inesquecíveis. A família é o centro destas propostas que lhe fazemos. Juntos, numa partilha perfeita, os dias ganham contornos mais coloridos e tornam os sonhos realidade. Como? Numa dádiva completa entre ser e estar, entre usufruir e partilhar. Divirtam-se nesta viagem que agora oferecemos.

Carla Marques

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{ TURISMO }

localizado na envolvente do Parque natural de sintra-Cascais, o Penha longa hotel, spa & golf Resort é um luxuoso resort de referência a nível mundial. um esplêndido hotel de cinco estrelas, um sPA moderno, restaurantes de qualidade, trilhos pedestres, uma floresta natural única e um vasto e estimulante campo de golf fazem deste resort um espaço verdadeiramente inspirador. O encanto único da Penha longa foi seduzindo vários proprietários até que foi transformada, por um grupo hoteleiro japonês, num hotel e golf resort de luxo. hoje em dia, o Penha longa hotel spa & golf Resort pertence à cadeia internacional the Ritz-Carlton hotel Company.

*Prefaciado no livro Penha Longa (1999) pelo Dr. Jorge Sampaio, enquanto Presidente da República.

sintra

Penha Longa Hotel Spa & Golf ResortUmA RefeRÊNCIA mUNDIAL—“O conjunto da Penha Longa, integrado numa área da maior importância paisagística, é um património que merece ser conhecido. A beleza dos seus jardins, a situação geográfica de que desfruta e a especificidade ambiental fazem desta Quinta um lugar de eleição. Os seus edifícios conservam vestígios de história e de arte, memória do tempo e da evolução do gosto, do agir, do fazer e do viver. Desde o primitivo mosteiro até à actualidade, sucederam-se as épocas, as funções e os estilos, num cruzamento de marcas, tradições e influências”*

AlojAMEntoOs quartos estão elegantemente decorados e proporcionam um ambiente requintado e sereno. dirigido pelo prestigiado Chef catalão sergi Arola, o restaurante Arola, moderno e minimalista, oferece um novo conceito de cozinha – a “Cozinha Atlântica”. O il Mercato é a mais recente novidade na Penha longa. liderado pelo Chef Cláudio Cardoso, a cozinha do il Mercato combina um ambiente sofisticado com uma vista de tirar a respiração sobre a serra de sintra

Para os apreciadores de comida oriental requintada, o restaurante japonês Midori tem uma capacidade para 68 pessoas e encontra-se localizado no andar Mezzanine. Para desfrutar do tradicional afternoon tea, o tcha oferece uma variadíssima ementa de chás e seus complementos gastronómicos, num ambiente íntimo e acolhedor localizado junto do lobby. A Penha longa tem dois campos de golf – Atlântico e Mosteiro – que foram desenhados por Robert trent Jones Jr., totalizando 27 buracos dispersos por vales e com vistas intermináveis para a serra de sintra e para o Oceano Atlântico.

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92 MARÇO 2012

Life&Style João Oliveira

paris

Four Seasons George VUm AbRAçO De hIStóRIA —este hotel é um marco em termos de história da hotelaria a nível mundial. O four seasons hotel george V, em Paris, está distribuído por oito andares plenos de tradição e história. Construído em 1928, dispõe de 244 luxuosos quartos do hotel hóspedes, uma excelente colecção de arte e restaurantes elegantes e onde pode degustar refeições inesquecíveis.

Com um serviço inigualável o four seasons proporcionará uma experiência que não vai esquecer nunca. Com 244 quartos de luxo, muitos dos quais com terraços privados com vista para a cidade, este espaço oferece pormenores arquitectónicos únicos, detalhes de designers exclusivos, características de luxo e vistas únicas do cenário especial que Paris proporciona.num ambiente acolhedor e onde cada hóspede merece um atendimento personalizado, o four seasons george V é um espaço belo, luxuoso e acolhedor, onde as famílias conseguem encontrar a chave para momentos especiais e inesquecíveis.

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{ TURISMO }

nova iorque

Waldorf AstoriaNO CORAçãO De NOvA IORqUe—nova iorque é a cidade mais populosa dos estados unidos. A cidade exerce um impacto significativo sobre o comércio, finanças, arte, moda, pesquisa, tecnologia, educação e entretenimento de todo o planeta. nova iorque abriga a sede da Organização das nações unidas (Onu), sendo um importante centro para assuntos internacionais e amplamente considerada como a capital cultural do mundo. localizada em um dos maiores portos naturais do mundo, em nova iorque são falados cerca de 800 idiomas diferentes, sendo a cidade com a maior diversidade linguística do mundo. A população da Região Metropolitana de nova York está estimada em cerca de 18,9 milhões de pessoas distribuídas em cerca de 17.400 quilómetros quadrados.

desta vez, para a sua estadia na “Cidade que nunca dorme” sugerimos o WAldORf AstORiA, um hotel de cinco estrelas localizado no coração de nova York. trata-se de um hotel tradicional, com características que o distinguem entre os demais, quer pela excelente localização, quer pela qualidade dos serviços prestados quer ainda pela oferta diversificada que consegue proporcionar a todos os membros da família.

Para todos os que estiverem interessados em visitar esta cidade, os Voos de luanda para nova iorque, segundo informações da agência Wide travel & events poderão ser efectuados via lisboa ou outra qualquer cidade europeia.

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Life&Style feRRARi ff – tRAÇãO às 4 ROdAs

um CArro PodEroso E vErsátil Faz precisamente um ano que foi apresentado em Genebra o FF revolucionário, um carro com tração às quatro rodas, quatro lugares, tornando-se num dos mais poderosos e versáteis carros da Ferrari. No que concerne às emissões este carro representa uma redução de 15 por cento, sendo um feito notável, razão pela qual já recebeu mais de 20 prémios atribuídos por revistas especializadas.

—Trata-se não só do primeiro Ferrari com tração nas quatro rodas, como já foi referido mas, mais significativamente, um modelo que representa uma rutura com o passado, nomeadamente tendo um desempenho e um design assaz inovador.

Tão importante como o que já foi referido é o seu motor V12 GDI, que é acoplado à caixa de sete velocidades e dupla embraiagem. O V12 desencadeia 660 CV a 8.000 rpm. Isso garante um desempenho de um carro desportivo, com o 0-100 km / h corrida coberto em 3,7 segundos e uma velocidade máxima de 335 km / h. Trata-se de uma eficiência que foi significativamente impulsionada, assim como um consumo de combustível que se situa em apenas 15,4 litros por 100 km, com emissões de CO2 de 360 g / km, 25 por cento.

Excepcionalmente, o FF também garante este desempenho excepcional em terrenos com muito baixo coeficientes de aderência, graças ao sistema da Ferrari própria movimentação patenteado 4RM quatro rodas. 660 cv a 8.000 rpm

Carla Marques

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{ LUXOS }

De salientar ainda que foi dedicada uma atenção meticulosa ao motor (fundidos novos), carroçaria (novas ligas de alumínio e processos de produção) e uma série de outras componentes que fazem a diferença. Estilizado por Pininfarina, as linhas do FF reflectem a sua assinatura intransigente num equilíbrio super bem conseguido de desportivismo e versatilidade, tendo as condições necessárias para acomodar confortavelmente quatro pessoas no seu interior.

tudo a bordo do FF é feito especificamente para as necessidades e gostos de seu condutor, com uma escolha de seis cores exclusivas e os melhores couros anilina especialmente tratados para melhorar o conforto dos seus utentes. De referir ainda que dentro das características que apresenta incluem um sistema de banco traseiro novo com duas telas para assistir tV e DVD e uma aparelhagem com sistema com som Dolby Surround.

para mais informações contacte a ferrari em portugal, através de [email protected] (00 351 210 430 740)

o ff apresenta-se como um carro revolucionário e com um conceito inovador ao nível desportivo

CARROS

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Life&Style O nOVO MeRCedes-benZ ClAsse M

CAmPEão dE EfiCiênCiA máximA

tracção integral 4matic

—A terceira geração do mercedes-Benz Classe m

define um novo benchmark no segmento dos SuV. Impressiona pelos baixos valores de consu-

mo de combustível e de emissões, sendo a média do consumo da gama 25% inferior ao seu mode-

lo anterior. De referir em especial nesta matéria o mL 250 BluetEC 4mAtIC, que apresenta um consumo misto NEDC de apenas 6,0 l/100 km

(158 g CO2/km), o que lhe confere uma autono-mia de 1.500 km com um único depósito ates-tado. A par de toda esta eficiência, o Classe m combina agilidade e uma agradável sensação

de condução e o elevado conforto. Outros elementos de destaque no Classe m incluem a

tracção integral permanente 4mAtIC, novos desenvolvimentos no chassi e sistemas inova-dores de condução dinâmica, todos eles con-

tribuindo para melhorar a performance em estrada ou fora de estrada.

Possui ainda uma autonomia de longa dis-tância, assegurada pela elevada eficiência

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PORsChe bOxsteR s blACK editiOn

dAmA dE nEgro

potência nominal 7.200 rpm

CARROS{ LUXOS }

—A edição do Porsche Boxster S Black Edition 2011 com-bina o apelo intemporal do roadster aberto com teto so-lar clássico e com um motor potente e um estilo dramático. menos de mil veículos estarão disponíveis a nível mundial, cada um com acabamento em preto e com uma gama de ca-racterísticas especiais que acentuam a dinâmica de condução e aparência muscular do carro desportivo de dois lugares.

Como é típico de um carro desportivo Porsche, no coração da Black Edition do Boxster S Porsche 2011 bate um motor de seis cilindros ‘boxer’. montado na frente do eixo traseiro atrás dos bancos, o 3.4-litro motor de seis cilindros é semelhante ao que equipava o Boxster S, com injeção direta de combustível de maior potência e eficiência. No Black Edition sua saída é de 320 cv – 10 cv a mais que no Boxster S. O motor revisado atinge sua potência nominal em 7.200 rpm, embalar o Boxster S potência em 6.400 rpm. Pico de torque de 370 Nm – impulsionado por 10 metros de Newton – está disponível em 4.750 rpm.uma contribuição decisiva para a dinâmica de condução melhorada do Black Edition do Boxster S Porsche é o parti-cularmente leve ten-falou rodas de liga leve de design, pre-viamente instalado no Boxster Spyder.

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especial 82ª edição do salão de genebra

novidAdEs ConquistAm visitAntEs As expectativas que rodeavam este evento foram amplamente atingidas com os 180 lançamentos anunciados pelos 260 exposi-tores a preencherem em pleno todos os dias deste acontecimento no mundo automóvel.

Life&Style { LUXOS }CARROS

O evento que tradicionalmente destaca modelos luxuosos e, em es-pecial, super-desportivos, desta vez centrou-se na apresentação de um número maior de carros considerados “chave” na estratégia de crescimento das marcas para os próximos anos.

é o caso da avant-première do novo mercedes-Benz Classe A e das estreias do Audi A3, Citroën C4 Aircross, Renault zoé, Peugeot 208, Volvo V40, a versão cinco portas do VW up! e o VW Golf GtI Cabrio-let e das versões família do hyundai i30 e do Chevrolet Cruze, para além dos novos carros-conceito.

Outras estrelas, num “calibre” mais elevado que desfilaram por este salão foram o BmW Série 6 Grand Coupé, o futurista Bertone Nuccio e, como não podia deixar de ser, a nova Ferrari F12 Berlinetta, o carro mais rápido da escuderia italiana.

Foram dias intensos com todos os requisitos necessários para que o sector automóvel reencontrasse o caminho para chegar até aos po-tenciais compradores.

Finalizada mais uma edição deste importante certame foi possível concluir que as marcas estão com uma postura aguerrida e aposta-das em conquistar o mercado pela qualidade, beleza e inovação. Os 82 anos do Salão de Genebra estão mais fortes do que nunca!

pininfarina cambianoum conceito intrigante (45 gramas de co2/km)

dacia mostra lodgy na versão civil (veículo multifunções)

toyota yaris hybrid à conquista do mercado (100cv de potência/tecnologia led)

mini countryman jcw (220 cv potência)

aston martin leva o novo v12 zagato a genebra

bmw m6 2012- (2 turbos /560 cv)

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Life&Style H2O

AZiMut 45 

“Barco do Ano” 2011 —

O Azimut 45 foi eleito pela revista italiana

“Vela e Motore” como o “Boat of the Year 2011”.

Fruto de um grande trabalho de design, funcionalidade e técnica,

o novo Fly Bridge é já considerado o mais evoluído do mercado

entre os seus pares. Uma das novidades é a nova disposição dos espaços

que permite uma utilização diferente do deck inferior pelo inovador

posicionamento central da cozinha, assim como a possibilidade de optar

por duas ou três cabines. O design exterior e conceptual é criado por

Stefano Righini e o design interior fica a cargo de Carlo Galeazzi.

hARleY dAVidsOn 

Transforma a noite —

A gémea terrível da V-Rod® tem um estilo agressivo

para um visual sinistro que transforma o escuro em breu.

As motocicletas Harley-Davidson VRSC 2012 trazem

a concepção de autênticas obras de arte.

Quem compra uma Harley sabe que está a comprar

um objecto de culto. São veículos que valem

por si próprios e muito para além do aspecto utilitário.

CESSNA - CORVAllis ttx 

Sensível ao toque

{ LUXOS }

O novo modelo do monomotor

Corvallis TTX que começará a ser

comercializado este ano não tem

nenhum instrumento analógico.

Segundo a empresa, é o único da

categoria a ser comando por tela

touchscreen. O aparelho tem duas

telas de LED wide-screen de 14

polegadas. O controlo é feito por

toques sensíveis a uma gama de

infra-vermelho maior do que as

telas tradicionais. É quase como

se estivesse a operar um tablet

dentro de um carro desportivo

Carla Marques

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Life&Style { LUXOS }GADGETS

bose bluetooth Headset

soM à sua MEdidatrata-se de um auricular

pequeno, leve, não atrapalha, não pesa e não magoa. equipado com um adaptador de silicone flexível

ajusta-se de forma confortável dentro do ouvido, sem usar o

típico gancho exterior.

montblancBotões de punho

a ELEgância E a artE dE bEM vEstir

A elegância refinada de uns botões de punho de uma das marcas mais

conceituadas do Mundo

playtime black iPhone 4 Casea bELEza do viniLelegante e funcional, este acessório original em vinil preto brilhante é embelezado por uma malha cristalina, tendo sido projetado especialmente para o iPhone 4g.

nintendo Wii SUPREME a Mais cara consoLa do MundoA Nintendo Wii SUPREMO está considerada oficialmente a mais original e a mais cara consola de jogos do mundo. Foram precisos seis meses de obra para criar esta preciosidade que possui mais de dois quilos e meio de ouro sólido.

louis vuitton iPad-case

uMa Marca dE prEstígio

A nova louis Vuitton compatível com o Apple iPad consegue unir estilo

e eficiência. dando destaque ao monograma da marca alia a durabilidade

externa ao conforto do interior para protecção do equipamento.

porsche designBlackBerry ouro p9981A corrida ao ouro no domínio dos telemóveis está mesmo a ser vencida pela Blackberry. Este novo BlackBerry Ouro P9981 da Porsche Design, vem equipado com um processador poderoso e uma câmara de qualidade significativa. Um objeto de luxo que associa utilidade ao produto

brumaniNova colecção inspiração na árvorE baobábrincos da coleção baobab brumani em ouro amarelo de 18 quilates com diamantes marrons, turmalina, água-marinha, rubi e rosa.

Carla Marques

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{ LUXOS }Tempos que o tempo marcase há quem lute contra o tempo, há quem faça do tempo um ponteiro de prazer. génios que de mecanismos complexos criam autênticas obras de arte e fazem o delírio de todos os apaixonados pelos relógios.A arte de criar um relógio envolve um conjunto de actividades que têm no design e na tecnologia os seus expoentes máximos. Assim, comprar um relógio é sempre muito mais do que comprar um objecto onde o tempo conta segundos e horas. Comprar um relógio é sentir que a vida pode pulsar muito para além do nosso peito.um relógio é o tempo que nos oferecemos para termos tempo de ser felizes!

Franck Muller Casablanca Chronographwww.torresdistrib.com

PorscheP’6620 Dashboardwww.porsche-design.com

WEILJasmine

www.raymond-weil.com

Versace DV ONE CRUISE

www.versace.com

RELÓGIOS

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Life&Style JOALHARIA

Jóias que nos tornam especiais

{ LUXOS }

MontBlanc COlAR

MontBlanc COlAR

Dinh-Van PulseiRA

HermèsVicente PulseiRAs

HermèsVicente

PulseiRAs

há dias em que um luxo que nos adorna o pescoço, ou dá cor ao pulso, ou ainda nos desenha o formato dos dedos tem a forma de um sorriso e alegra as horas do dia.um jóia pode ter pedras preciosas que emolduram o metal (precioso) que lhes dá corpo ou pode ter um design que nos ilumina o olhar quando a observamos. Mas, acima de tudo, uma jóia tem de ter o condão de nos fazer sentir belas (qual varinha mágica das histórias das 1001 noites).

Uma jóia encanta-nos com o seu brilho!

MontBlanc

Anel

Carla Marques

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Life&Style

1 b Sapatos CAmPORt. 2 b Blusão CAmEL. 3 b BARBOuR. 4 b BARBOuR. 5 b Chapéu StEVEmCQuEEN. 6 b Camisa BARBOuR.7 b Saco hERmÈS. 8 b Calças G-StAR. 9 b Chapéu G-StAR.10 b Botões de punho mONtBLANC. 11 b Óculos de sol Italia Independent. 12 b Lenço Lapela Etro.

HÁ DIAS EM QUE O SOL NOS VESTE DE PRAZER Sol, cor, alegria…África oferece uma luz tão própria que qualquer fotógrafo que aí chegue pela primeira se sente ofuscar por todo o brilho que a natureza oferece.A roupa, sendo o reflexo de tudo o que nos rodeia não pode isolar-se dessa realidade tão intensa, por isso as cores são um bálsamo para os olhos e uma escolha certa para quem quer partilhar a alegria que existe neste continente.

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HÁ DIAS EM QUE O SOL NOS VESTE DE PRAZER Sol, cor, alegria…África oferece uma luz tão própria que qualquer fotógrafo que aí chegue pela primeira se sente ofuscar por todo o brilho que a natureza oferece.A roupa, sendo o reflexo de tudo o que nos rodeia não pode isolar-se dessa realidade tão intensa, por isso as cores são um bálsamo para os olhos e uma escolha certa para quem quer partilhar a alegria que existe neste continente.

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{ ESTILOS }TENDÊNCIAS

DESTINO: COR Elegante por excelência, a mulher africana tem um dom inato de conjugar cores e formas que a generalidade das mulheres nem sequer ousa pensar.Por isso conseguem irradiar um brilho único que justifica a aposta em cores fortes no seu armário. As tendências da moda para esta Primavera/Verão parecem ter sido feitas à sua medida e semelhança. Roupas coloridas, cortes assimétricos, tecidos de uma leveza excepcional são marcas que vão de encontro ao gosto de África.

1 b Calças - uLtRAJEAN ORIGINAL StRIPESORNG - CuStO. 2 b OuKA CORAzON - CuStO. 3 b DOVI CAShImERE – CuStO. 4 b FRIDA RED. 5 b Anel mONtBLANC.6 b Sapatilhas muNICh – OSAKA. 7 b Sandália hERmÈS. 8 b Bolsa hERmÈS.9 b Saco hERmÈS. 10 b Vestido GuCCI. 11 b Perfume mASAKI-mASAKI

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Life&StyleForade portas…E quando o calor aperta, a vontade de abandonar as quatro paredes aumenta consideravelmente. Campo, praia, jogos ao ar livre tudo se conjuga para que a vontade de sentir o sol a aquecer a pele se faça sentir plenamente.Os dias crescem e o convívio quer-se a cem por cento. A roupa reflecte essa realidade e ganha uma leveza até aí desconhecida, principalmente numa altura em que os nossos pais são motivo de festa. Dar-lhe um abraço e dizer “gosto muito de ti, vamos passear” e, porque não, aproveitando as nossas sugestões de roupa para um passeio em família.

1 b Casaco Jil Sander. 2 b Lenço EtRO. 3 b Calças Dolce & Gabbana. 4 b t-Shirt Paul Smith. 5 b Cinto DSQuARED. 6 b DSQuARED. 7 b Sapatilha DSQuARED. 8 b Chinelo PRADA.

9 b Óculos de sol Italia Independent. 10 b Calções CAmEL. 11 b toalha de praia LACOStE.

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{ ESTILOS }TENDÊNCIAS

…dentrodo prazerQuando pensamos em roupas há certos ícons que inevitavelmente nos preenchem o pensamento. Actrizes, cantoras, celebrities acabam por funcionar como espelho do que vestimos, ou pelo menos do que gostávamos de vestir. Numa altura em que se comemorou o dia da mulher achamos conveniente criar um estilo que nos fizesse acreditar que todos temos potencial para sermos uma “celebritie” basta querermos e esforçarmo-nos um pouco. Afinal não é assim tão difícil

1 b top ISABEL mARANt. 2 b Calças JBRAND. 3 b Sapatos JImmy ChOO. 4 b Carteira JImmy ChOO. 5 b Perfume ESCADA. 6 b Vestido michael Kors. 7 b Casaco miu miu. 8 b Acessório CuStO BARCELONA.

9 b Anel e colar. 10 b Relógio Versace.

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Life&Style

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LONDRES

BRILHAR ENTRE O NEVOEIROMística, majestosa, histórica, envolvente…podíamos continuar a descobrir adjetivos que nos fizessem descrever a sensação que temos quando chegamos a Londres.Um misto de beleza sóbria e de uma panóplia de culturas dão a Londres as características necessárias para ser considerada a mais cosmopolita de todas as cidades do mundo.A cor que esta cidade, coberta quase diariamente por um manto de nevoeiro, nos oferece é aquela que as suas gentes proporcionam em cada esquina.Londres é uma descoberta permanente. Aventure-se porque entre o cinzento do céu há muito verde para nos conquistar!

1 b troleis Vicente Sahuc hermès. 2 b Camisa amel Active. 3 b Blusão Camel Active. 4 b Sapatos Camport. 5 b Blusão G-StAR. 6 b Calças G-Star marc Newson. 7 b Bolsa hermès. 8 b Calções Camel.

9 b Luvas Vicente - Sahuc. 10 b Cinto ySL.

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{ ESTILOS }DESTINO

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1 b Bolsa hermés. 2 b Pulseira DINh-VAN. 3 b Vestido. 4 b Blusa Alexander mcqueen. 5 b Casaco G-StAR. 6 b Fato de banho hermès. 7 b Sapatilhas mINI ACROPOL. 8 b Vestido Proenza Schouler. 9 b Boné G-Star.

10 b Calças G-StAR Denims. 11 b Anel Brumani. 12 b Sandália missanga.

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Life&Style { ESTILOS }GUCCI

A finalizar a comemoração dos 90 anos da marca GUCCI AbRE ESPAçO DE LUXO EM LISbOAJaneiro de 2012 foi um marco no comércio da alta costura em Lisboa.

A GUCCI chegou e impôs o seu estilo, a sua marca e a qualidade a que já nos habituou presenteando os consumidores que passam por Lisboa com a primeira loja de acessórios Gucci em Portugal. Mármores generosos e fios de ouro fazem parte da decoração sóbria, elegante e que prima pelo bom-gosto. Portugal continua a ser um destino apetecido por muitas das marcas de luxo, embora todas esperem por aquele que consideram ser o espaço ideal. No caso de Lisboa, a falta de espaços comerciais disponíveis na Avenida da Liberdade ou no Chiado teem feito com que a que a maioria das casas de griffe acabe por adiar a sua abertura no nosso país.No entanto, a GUCCI encontrou o lugar ideal, em plena Avenida, para exibir as suas colecções de acessórios: carteiras, sapatos, jóias, bijuteria, lenços, cintos e outros adereços.A inauguração da loja de acessórios Gucci marca o fim das comemorações do

90º aniversário da casa italiana. Sob as orientações da sua directora criativa, Frida Giannini, o novo espaço dá continuidade ao conceito inovador a que a Gucci nos tem habituado.Em 1921, Guccio Gucci abre a sua loja de artigos de pele em Florença, depois de ter bebido da estética refinada da nobreza inglesa, quando da sua estada em Londres a trabalhar no Hotel Savoy. Em poucos anos, a marca gozou de tal sucesso que a sofisticada clientela de férias em Florença corria para a bottega de Gucci ao encontro de malas e baús, luvas, sapatos e cintos de inspiração equestre. Explorando o riquíssimo legado deixado pelo seu fundador e a inconfundível perícia e minúcia da marca, Frida Giannini criou uma visão única para a Gucci, numa fusão de passado e presente, história e modernidade. Os grandes ícones da marca são reinventados e apresentados com novo design, tais como o New Bamboo, La Pelle Guccissima, Flora ou New Jackie.

Carla Marques

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Life&Style { ESTILOS }COSMÉTICA

Mimar o corpo—Sentir a pele a brilhar e sedosa como seda! Quem não gosta?

Tirar alguns minutos do dia para mimarmos a pele é uma bênção para o corpo e alimento para a alma. Há pequenos gestos que podemos tornar banais e que são suficientes para fazermos o ponteiro do relógio andar para trás.Para as mulheres e para os pais deixamos algumas sugestões.

Jean Paul Gaultier novas versões Classique e le Malele-Male-tension-Viril-edition-Collector

YSLVernizes

Estée Lauderbronze goddess

Hermèsum aroma inesquecível

Chanel Nº19 Poudré reinventa-se

Lancôme Cremes para o corpo

Blue Chanel para homem

Vicente Sahuc Para o corpo sonhar

Carla Marques

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Casa da Calçada Relais & ChâteauxRestaurante Largo do PaçoInovar os sabores tradicionais

Life&Style qq

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{ GOURMET }VIAGEM

Amarante é, sem dúvida, um dos mais importantes exemplos da arquitectura romântica de Portugal, com uma zona

monumental bem preservada, Amarante convida a um lento vaguear pelas ruas e ruelas

do centro histórico e a um deliciar profundo da rica doçaria tradicional. Ao lado a deixar-nos respirar um ar que poucos locais ainda proporcionam as serras do Marão, Alvão e da Aboboreira permitem uma descoberta

diferente e um contacto íntimo com a natureza.

A Casa da Calçada – Relais & Châteaux está apenas a uma hora e meia do

Vale do Douro, espaço conhecido mundialmente pela qualidade dos seus vinhos de mesa e

principalmente do vinho do Porto.

A minutos do Porto e do Douro, o premiado restaurante com 1 Estrela Michelin,

conta com um ambiente requintado, mas acolhedor e uma equipa de profissionais

competente.Ao almoço a proposta passa pelo degustar dos

sabores da região, os produtos frescos da terra e do mar e a gastronomia portuguesa.

Os menus oferecidos pelo Restaurante Largo do Paço mudam sazonalmente,

de forma a incorporar os produtos mais frescos e orgânicos disponíveis no mercado. A procura é num equilíbrio entre o tradicional e o contemporâneo, o simples e o sofisticado nos

menus apresentados.

A premiada Cozinha na Casa da Calçada Relais & Châteaux, tem procurado evidenciar um trabalho de raiz portuguesa, complementar

entre o contemporâneo e o tradicional, tendo-se já tornado numa das “catedrais” gastronómicas

em Portugal.

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esPORãOa

Dois destes vinhos

Esporão são “Editors Choice”

para a revista Wine

Enthusiast

Life&Style { GOURMET }SHOPPING

ACushlAe

Azeite biológico produzido com

paixão

Chef & sOMMelieRe

Decanter

Sabre comer é uma arte. Como em todas as artes a qualidade do material utilizado para criar determina a qualidade do produto final. A gastronomia não é exceção. Compre bem, coma melhor…siga os nossos conselhos.

Sabores especiais

“PORtugAl geniAl” fCabazescom produtos gourmet

eRVitAlgInfusões Simples em Lata Gourmet - Chá Príncipe

ZOtteR-dRinKing-ChOCOlAtebNa Rojoo, chocolataria em Lisboa

Carla Marques

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da textura, condimentação e ingredientes do próprio enchido.

Mas quando de entradas se tratam, muitas vezes brilham os espumantes. Mas se não abdica de algumas entradas mais estrutu-radas, rosés mais ligeiros ou mesmo um fresco branco, podem também ser opções válidas.

Se entrarmos no mundo dos peixes, embo-ra o vinho branco mostre preponderância, em função da preparação do prato e da sua condimentação, podemos ter que optar por um vinho mais estruturado. Uma for-te sopa de peixe exige-o. Mas casos há em que mesmo um tinto, jovem, servido a uma temperatura mais baixa pode ser uma ex-celente escolha. Um peixe gordo no forno, fortemente condimentado pode ser o caso.

Os frutos do mar são mais consensuais, exi-gem vinhos brancos, normalmente jovens e acídulos.

Nas carnes a sua textura e modo de prepa-ração são determinantes. Carnes brancas podem ser consumidas com brancos en-corpados ou tintos mais jovens e ligeiros. Carnes vermelhas exigem tintos jovens e encorpados para que os seus taninos pos-sam balancear a elevada percentagem de proteína. Carnes mais delicadas ou pratos mais sofisticados exigem tintos mais char-mosos, muitas vezes já com algum envelhe-cimento.Já os doces são fruto de uma discussão gran-de e controversa. Na minha opinião, são os vinhos doces como o Porto ou o Madeira que aqui predominam.

Divirta-se com estas harmonizações, sem esquecer que estas indicações não são re-gras absolutas e que o seu gosto pessoal é preponderante e deve ser respeitado.

Life&Style { GOURMET }CRONICA

Ligar vinhos e comida é um desafio que quando encarado de forma profunda exi-ge um estudo apurado, muito trabalho e extremo rigor. Há quem apelide esta con-jugação entre vinhos e comida de “marida-gem”. Mas esta tem que ser uma união de harmonias e equilíbrios, sendo conhecida por harmonização ou “food paring”.

Os vinhos possuem cores, aromas e sabo-res. Mas também a comida, as iguarias, podem mostrar todas estas sensações. Por isso as harmonias, devem constituir-se em torno do equilíbrio entre o vinho e a comi-da. Todas as sensações que vamos desco-brir devem surgir como um prazer único, equilibrado e atrativo.

Estas são muitas vezes, combinações di-fíceis, sobretudo se o vinho ou a comida se comportam como uma “prima donna”. Aqui não há lugar a exibicionismos, aqui-lo que procuramos são os balanceamen-tos, o vinho não pode esconder a comida ou vice-versa. Os dogmatismos também não podem imperar (carne com tinto, pei-xe com branco), uma vez que aqui a influ-ência dos nossos sentidos é determinante. Aquilo que melhor se conjuga é o que nos dá mais prazer.

Existem, porém, uma série de regras, prin-cípios, que nos podem ajudar a tirar mais prazer do vinho e das comidas.

Comecemos por um pequeno desafio, as entradas e aperitivos. Quentes, frias, mui-tas delas com uma enorme complexidade de aromas e sabores a exigirem ligações a vinhos, muito diversificadas. Se umas ovas de peixe em “vinaigrette” pedem um bran-co estruturado, eventualmente com algum açúcar residual e madeira, já os enchidos, clamam por tintos jovens, menos jovens, estruturados, mais ligeiros, dependendo

Entradas champanhe paul roger nature pure (Portfolio – Porto)

VinHoS rECoMEnDADoS

Peixes soalheiro

vinho verde primeiras

vinhas (www.soalheiro.com)

Carnes brancas dolium branco 2010 (Portfolio – Porto)

Carnes vermelhas mouchão

tonel 3 - 4 2005

(Heritage – Porto)

Sobremesas barbeito madeira malvasia 20 anos lote 10292 (www.vinhosbarbeito.com)

Vinho e comida, um desafio constante

Paulo Laureano

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Life&Style { ARTE }Máscara azuL

de angoLa—

A morte

e a vida

na arte—

APESAR DA INFLUêNCIA qUE O OCIDENTE DEIxOU EM ANGOLA, A VERDADE É qUE ESTE POVO DIFERE DE FORMA CONSIDE-RÁVEL DE REGIãO PARA REGIãO, EM TERMOS SOCIAIS, LINGUÍSTICOS, CULTURAIS E MESMO IDEOLóGICOS, COM TRAçOS BEM VINCADOS A MOSTRAREM PRECISAMENTE ESSA DIFERENçA LATENTE EM TODOS OS ASPECTOS DO qUOTIDIANO.

A arte, como forma de expressão suprema da criatividade de um povo também tem patente essa diversidade, indo beber influ-ências significativas a um conjunto de he-ranças do passado. Precisamente por isso, enquanto produto da cultura de um povo ela constitui um campo ideal para observar esta realidade. Através de estudos realiza-dos no domínio da História da África é-nos possível reduzir a importância dos mitos e localizar a arte na perspectiva do africano, com toda a carga histórica e emocional que isso acarreta.

MáSCaRa aZuLA arte da máscara azul da Angola, como acontece na maioria da arte africana, as máscaras de madeira e as esculturas não são criações meramente estéticas. Elas têm um papel importante em rituais culturais, re-presentando a vida e a morte, a passagem da infância à vida adulta, a celebração de uma nova colheita e o começo da estação da caça. Os artesãos angolanos trabalham madeira, bronze e marfim, nas máscaras ou em esculturas. Cada grupo etno-linguístico em Angola tem seus próprios traços artís-ticos originais. Talvez a parte mais famosa da arte angolana seja o pensador de Cokwe, uma obra-prima da harmonia e simetria da linha. O Lunda-Cokwe na parte nordeste de Angola é conhecido também por suas artes plásticas superiores.

Enquanto as máscaras e as estátuas de ma-deira da África cresceram na popularidade no oeste, a indústria do artesanato em An-gola procurou atender a demanda por arte africana. As máscaras e as bugigangas es-tilizadas, que são criadas para capturar o olho de um turista, são conhecidas geral-mente como “a arte aeroporto”. São partes produzidas em série, ao gosto do turista mé-dio, mas faltam todas as ligações reais com as tendências culturais mais profundas dos povos. Um dos maiores mercados de artesa-nato em Angola é o mercado de Futungo, ao sul de Luanda, que se encontra aberto ape-nas aos domingos. Este mercado tem ainda a vantagem acrescida de estar localizado per-to das praias bonitas ao sul de Luanda, on-de muitos dos residentes de Luanda passam os seus fins de semana apreciando o sol e a areia da baía de Mussulo.

De referir ainda que, mesmo que não queira comprar uma lembrança africana, um pas-seio ao mercado de Futungo pode ser uma verdadeira aventura. Os comerciantes fre-quentemente arranjam músicos com instru-mentos tradicionais, tais como os marimbas e os kissanges, xingufos (chifres grandes do antílope) e cilindros para dar a sensação de um festival da vila.

(consulta em: www.juventudedeangola.com)

A arte, como forma de expressão suprema da

criatividade de um povo vai

beber influências significativas a um

conjunto de heranças do passado

OUTRAS PARTES DA ASSINATURA DE ARTE ANGOLANA INCLUEM:

A máscara fêmea Mwnaa-Pwo desgastada pelos dançarinos masculinos em seus rituais de puberdade

Máscaras policromáticas de Kalelwa usadas durante cerimónias de circuncisão

Máscaras de Cikungu e de Cihongo que conjure acima das ima-gens da mitologia de Lunda-Cokwe. Duas figuras chaves neste

panteão são a princesa Lweji e o príncipe da civilização Tschibin-da-Ilunga. A arte em cerâmica preta de Moxico

do centro/leste de Angola.

Carla Marques

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MARÇO 2012 121

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Life&Style Patrícia Alves Tavares

ORGULhOSOS De SI

—ARTUR CARLOS MAURÍCIO

PESTANA DOS SANTOS POUCO OU NADA DIZ à

MAIORIA DAS PESSOAS. PORÉM, PEPETELA É UM NOME qUE POR SI Só DIZ

TUDO. ESCRITOR, PRÉMIO CAMõES EM 1997, ANTIGO GUERRILHEIRO DO MPLA,

PROFESSOR NA UAN, POLÍTICO, DIRIGENTE DE

MúLTIPLAS ASSOCIAçõES… O HOMEM DAS PALAVRAS É

UM MARCO NA LITERATURA LUSóFONA. DEFENSOR

DAS SUAS RAÍZES E DOS VALORES NACIONAIS,

CONSIDERA-SE PRIMEIRO ANGOLANO E Só DEPOIS

LUSO-ANGOLANO, NACIONALIDADE PARA A

qUAL LUTOU DIRETAMENTE.—

“ [Prémio Camões] Foi certamente o mais importante que recebi, por isso agradou-me. Não me vou armar em modesto ”

122 MARÇO 2012

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MARÇO 2012 123

{ CULTURA&LAZER }

lançou recentemente o romance “A sul. o sombreiro”. fale-nos um pouco deste novo livro…O facto-base é a fundação do que veio a ser a cidade de Benguela, na costa angolana, a sul de Luanda. A ideia que terá passado pelos responsáveis da fundação seria a de criar uma platafor-ma para explorar o sul do continente, formando uma colónia que se esten-deria até ao Cabo de Boa Esperança e Moçambique. O livro segue a carrei-ra do primeiro conquistador, Manuel Cerveira Pereira, com factos históri-cos, entrelaçando-se com uma estória totalmente fictícia de um africano fu-gindo de algo.

porquê a escolha da cidade de benguela para pano de fundo da sua história? sente que há necessidade de dar atenção a outras regiões além da capital?A escolha de Benguela é óbvia, dado o tema. Mas o livro percorre outras regi-ões. Sempre tive o cuidado de fugir de Luanda, quando o tema o permitia. A capital não é o país.

A história angolana é, por diversas vezes, o pano de fundo para as su-as ficções. porquê essa predilecção por temas como o colonialismo e a luta pela independência?Não só temas como o colonialismo e a luta pela independência me preocu-pam. Também a formação da Nação e as diferentes situações que o país tem vivido. Penso que a literatura tem um papel a complementar outros traba-lhos para dar a conhecer o sentido de um povo.

onde vai buscar a inspiração? às su-as memórias e experiências?A isso, sim. Mas também às coisas do dia a dia.

esse passado histórico ainda está muito vincado na memória da po-pulação?Claro, sobretudo o sofrimento e a me-norização do homem angolano infligi-do pelo colonialismo. Negar isso seria cegueira intelectual.

quando é que volta à série de ro-mances policiais do Jaime bunda?Quando me apetecer.

Há algum livro para o qual ainda não se sinta preparado?Há. Por isso nem falo sobre isso.

quando nasceu a paixão pela escri-ta?Quando era criança, na escola primá-ria. Fazia contos no lugar das chatas re-dações de tema obrigatório.

muana puó e mayombe foram es-critos durante o seu serviço de guerrilheiro. como foi essa experi-ência e qual o papel da escrita nesse período conturbado?

E houve outras coisas escritas nessa época. A experiência da luta, quan-do não é traumatizante, dependendo muito das motivações, pode ser enri-quecedora. Foi no meu caso. E deu-me assunto para escrever. Em situações-limite as pessoas revelam-se mais fa-cilmente, o que é matéria-prima para personagens. A escrita serviu-me para ir compreendendo os processos e as pessoas, sobretudo as diferenças entre partes do país.

É descendente de uma família co-lonial portuguesa, mas optou por participar na luta armada contra os portugueses. sente-se luso-an-golano ou angolano de corpo e alma?Sou angolano antes de ter essa nacio-nalidade. Lutei para que ela existisse.

conviveu de perto com Agostinho neto. que recordações guarda de uma das figuras mais acarinhadas da história nacional?Mantenho o mesmo respeito e carinho pelo poeta e pelo chefe. Hoje é um mito que se confunde com a constituição de Angola como nação. Esse deve ser mes-mo o seu lugar. Não é qualquer pessoa que se torna num mito de formação.

nunca abandonou o ensino, apesar de se manter escritor a tempo intei-ro. A vontade de ensinar é uma paixão com um peso idêntico à da escrita?Não, nunca tive paixão por ensinar. No princípio quase fui obrigado e sempre que podia fugia para outras tarefas. Mais tarde fi-lo porque sabia ser neces-sário para o país. Tínhamos tanta falta de gente formada que se devia contri-buir para criar uma geração que um dia pegasse nas rédeas do país.

como se define enquanto escritor e como descreveria a sua escrita?Felizmente, nunca tentei esclarecer es-sa charada.

em 1997 recebeu o prémio camões. que significado teve para si este ga-lardão, uma vez que foi o primeiro autor angolano e o segundo africano a ser distinguido com este prémio?

“ A experiência da luta, quando não é traumatizante, dependendo muito das motivações, pode ser enriquecedora. A escrita serviu-me para ir compreendendo as diferenças entre partes do país ”

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124 MARÇO 2012

Life&StyleFoi certamente o mais importante que recebi, por isso agradou-me. Não me vou armar em modesto. Embora tenha despertado algumas invejas, que de-viam ser dispensadas.

foi vice-ministro da educação no governo do presidente Agostinho neto. como é que o país evoluiu nes-sa área? Atualmente há um acesso generalizado à educação?Houve altos e baixos. Nos primeiros anos, conseguimos vitórias importan-tes e quase pusemos todas as crianças na escola. Uma taxa de escolarização de 95%. Mas, depois a guerra civil e as invasões sul-africanas fizeram com que muitas escolas fechassem. Houve uma regressão que só agora começa a

ser compensada. Mas ainda estamos apenas na escolarização média de Áfri-ca. E a qualidade deixa muito a dese-jar. Há esforços, muitos, mas mais em quantidade. Temos de ter um ensino de exigência e rigor.

os ministérios da cultura e edu-cação estão atentos à importância da leitura e da escrita e têm dado apoio ao desenvolvimento das ati-vidades relacionadas com o incre-mento da literatura?Pouco até agora. Mas, há perspectivas de reverter essa situação.

Há uma geração de escritores an-golanos que começa a despertar e alguns conseguem uma carreira in-ternacional. qual o segredo desse sucesso?Sucesso? Não vejo assim. Temos meia dúzia, se tanto, de escritores publica-dos fora de Angola. Se compararmos com Senegal, Nigéria, Quénia, sem falar já na África do Sul ou Egipto, ve-remos que ainda estamos na cauda de África.

recentemente foi aprovada a polí-tica da cultura e do livro. que aná-lise faz desse documento?

Sim, esse projeto dá origem às perspe-tivas de que falava anteriormente. Pela primeira vez aparece uma orientação séria para encorajar a leitura. Mas só será possível se se desviar mais verbas do orçamento para os setores da Educa-ção e da Cultura.

participou na luta pela indepen-dência de Angola. o que mudou no país desde esse período?Tudo mudou. A independência deu origem a uma verdadeira revolução. Hoje as classes sociais em presença e as suas aspirações são completamen-te diferentes das do tempo colonial. E, sobretudo, os angolanos hoje são orgu-lhosos de si próprios. Por vezes dize-mos que demais!

o que pensa do atual regresso de tantos portugueses a Angola?É ambivalente. Por um lado, terá o la-do útil de trazer gente preparada para ajudar no desenvolvimento do país. Por outro, desperta ressentimentos antigos, sobretudo quando os que vêm tomam atitudes de arrogância e só se preocupam em ganhar dinhei-ro. O problema é que muitas vezes não encontram autoridades nem políticas que os enquadrem corretamente. Em todo o caso, a culpa será sempre nos-sa, que ainda não fomos capazes de es-tabelecer uma verdadeira política de imigração, o que é urgente.

como analisa as relações entre por-tugal e Angola?Estão boas, na medida do possível. As relações eram péssimas na altura da independência e nos primeiros anos, com mais de noventa países a reco-nhecerem o governo angolano antes de Portugal o fazer, o que é sempre difícil de esquecer. Depois foram me-lhorando, com Ramalho Eanes como presidente. Cavaco Silva como primei-ro-ministro, mais tarde, aprofundou-as. A partir daí, passo a passo, com algumas desconfianças, tornaram-se mais estreitas. Hoje é tudo passado. E,

“ Há esforços, muitos, mas mais em quantidade. Temos de ter um ensino de exigência e rigor. Pela primeira vez aparece uma orientação séria para encorajar a leitura ”

raio xangoLa para MiM é a tranquiLidade de uM pôr do soL no soMbreiro. só a gente de bengueLa coMpreende.

qUAL O SEU LEMA DE VIDA… hoje é ir vivendo. aManhã será outra coisa.UM SONHO… já não resta Muito para sonhar.UMA PAIxãO… cineMaUM HOBBIE… cineMaUM FILME… shane.UM ESCRITOR… heMingwaYUM MúSICO… tchaikovskYUM DESPORTO… basqueteboL PRATO FAVORITO… saka-foLha de cabindaUMA BEBIDA… caipirinha de MúcuaUM DESTINO… escrever

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MARÇO 2012 125

{ CULTURA&LAZER }se houver sagacidade dos dois lados, poderão vir a ser mesmo excelentes. Quando falo de relações, estou a re-ferir-me ao que cada um pensa real-mente do outro e não só os discursos oficiais de circunstância.

encara a tendência crescente do investimento angolano em gran-des setores da economia portu-guesa como uma reinversão do passado?Espero que não, pois seria um re-flexo a que se poderia chamar de colonizado. Não sei nem tenho na-da a dizer sobre os investimentos que pessoas particulares possam fazer em Portugal. Já sobre os do Estado angolano… tenho muitas

dúvidas. É o nosso dinheiro que está a ser posto em risco, quando há muitas áreas do mundo em que seria muito mais seguro e também mais rentável investir. Sobretudo em Angola, que precisa muito de todos os investimentos! Além de outros aspetos, o facto de haver in-vestimentos angolanos em Portu-gal despertou alguns comentários desagradáveis quer em alguns media quer de comentaristas de Portugal, falando-se insistente-mente de dinheiro sujo. Se é sujo, então deve ser investido aqui, pa-ra ficar bem lavadinho. E também não deveria ser usado para com-prar vinho português, apenas por exemplo, quando temos ao lado o vinho sul-africano, muito bom, mais barato e sem problemas de ser comprado com “dinheiro su-jo”. Por isso, acho um erro o nosso Estado, direta ou indiretamente, insistir nessas operações de ma-rketing arrogante.

A presença da china em países africanos tem aumentado, espe-cialmente em Angola, retirando algum espaço a nações europeias e aos eUA. o que é que esses investi-mentos representam para o país?Representam menos dependência dos critérios absurdos dos países do Norte e de seus organismos, como o FMI. Deve haver cada vez maior dis-persão dos investimentos (quer os re-cebidos quer os investidos), pois isso representa de facto independência económica.

no ano passado, assistiram-se a muitas mudanças inspiradas nas revoltas da primavera árabe. co-mo é que Angola viu esses movi-

mentos?Angola é muito grande, variada e com graus diferenciados de informa-ção. Não tenho a pretensão de saber o que Angola vê ou pensa. Mas não me parece que aqui isso tenha tido grande influência. Pelo menos por enquanto. Já nos tempos antigos se dizia que as revoluções não podiam ser importadas.

2012 é ano de eleições. Acredita que estas manifestações podem ganhar intensidade? que mudan-ças o sufrágio poderá trazer?Espero que corra tudo bem, que haja eleições bem preparadas, honestas e transparentes. Vai haver muita baru-lheira e festa à mistura, o que é pró-prio das campanhas, mas rezo a um deus desconhecido para que sejam manifestações pacíficas. Já chega de violência. Só os mesmos senhores do mundo ganham com as guerras e con-fusões que eles promovem no quintal dos outros, nunca no seu próprio.

“ [Relação Portugal-Angola] É o nosso dinheiro que está a ser posto em risco, quando há muitas áreas do mundo em que seria mais rentável investir. Sobretudo em Angola, que precisa muito de todos os investimentos! Deve haver cada vez maior dispersão, pois isso representa de facto independência económica ”

UmA mão chEIA Não chEgArIA pArA coNtAbIlIzAr todAS AS obrAS dE pEpEtElA…muana puó – Romance, 1978

mayombe – Romance, 1980

as aventuras De ngunga – Romance,1973

a CorDa - Peça teatRal escRita em 1976

a revolta Da Casa Dos íDolos - Peça teatRal, 1979

o Cão e os Calus – Romance, 1985

yaka – Romance, 1984 (BRasil) e 1985 (PoRtugal e angola)

lueji, o nasCimento De um império – Romance, 1989

luanDanDo - cRônicas soBRe a cidade de luanda, 1990

a geração Da utopia – Romance, 1994

a gloriosa Família, o tempo Dos Flamingos – Romance, 1997

o Desejo De kianDa – Romance, 1995

a parábola Do CágaDo velho – Romance, 1997

a montanha Da água lilásFábula para toDas as iDaDes - 2000

jaime bunDa, o agente seCreto – Romance, 2001

jaime bunDa e a morte Do ameriCano – Romance, 2003

preDaDores – Romance, 2005

o terrorista De berkeley, CaliFórnia – Romance, 2007

o quase Fim Do munDo – Romance, 2008

o planalto e a estepe – Romance, 2009

CróniCos Com FunDo De guerra – 2011

a sul. o sombreiro – 2011

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126 MARÇO 2012

Life&Style { CULTURA&LAZER }COSTUMES &TRADIçõES

Manifestação coreográfico-musical, cujos primeiros ensaios foram registados na segunda metade do século XIX, o Carnaval foi sempre uma velha festa popular, tolerada pela administração colonial e hoje transformada numa tradição moderna, que os nacionalistas angolanos reivindicam, apelando abertamente à sua perpetuação. Facto que esteve na origem do desdobramento festivo que ocorre na Marginal de Luanda, estendido sobre todo o território nacional, e que tem sido, invariavelmente, organizado durante os três decénios do período pós-independência.

O Entrudo beneficia certamente desses anos de experiência, traduzindo-se durante este período de liberdade cultural pela programa-ção, todas as categorias confundidas de deze-nas de grupos e a organização, sobre vários dias, de diversas atividades nos municípios da capital. O Carnaval enriqueceu-se com pré-selecções, desfiles infantis, exposições foto-

gráficas retrospetivas, publicações, revistas, diversos suportes impressos, disco-compac-tos, documentários, etc. Uma das provas da experiência acumulada, ano após ano no plano do management é a in-serção, num investidor espírito de abertura, no desfile principal, de grupos a representar as comunidades estrangeiras, fes-tivaleiros e delegados de asso-ciações de intervenção social, cujas demonstrações alegó-ricas visam a sensibilização sobre as cruciais questões de higiene pública, como as que estão associadas ao aparente irreversível HIV SIDA e a implicação mecena de uma vintena de sponsors, dentro dos quais as inevitáveis empresas petrolífe-ras, operadoras de telefonia móvel e instituições bancárias. IDENTIFICAçõES EPONíMIASO Carnaval que se enraizou na região kim-bundu, realçou durante o tríptico decenal pós-independência - tanto do ponto de vista dos suportes organológicos, como da expres-são musical e coreográfica - a base bantu des-te festejo.Com efeito, para além do uso de fardos “em-prestados” maliciosamente, com uma evidente intenção de sátira social, foram as demonstra-ções europeias, protagonizadas por persona-gens saídas da Idade Média, da administração civil ou paramilitar colonial ou da fase de afir-

mação política da “Vitoria”, que ajudaram a aprofundar uma manifestação que carrega ain-da hoje, concomitantemente, vários aspetos tí-picos das culturas tradicionais bantu. Esses agregados, que constituem a alma do Car-naval, apoiam as suas marchas cadenciadas ao

som dos ngoma e dos muala, incontor-náveis membrafónos bantu e dos

mukindo, madeira a fricção.

São estes instrumentos, cujos radicais para a sua designação encontram-se no proto-bantu, que criam o ritmo (uendelu), apoiado pelo canto coleti-

vo (sambu) ou pela sínte-se organológica moderna e

que permitem a execução co-reográfica (dikinu), cujas prin-

cipais variantes são a dizanda, a semba, a kabetula e a kazukuta.

Trinta e cinco anos depois da organização al-forriada do Carnaval, este constitui, incontes-tavelmente, uma das vitrinas, por excelência, da história cultural de Angola, com a sua he-rança feita de perpetuação endógena e de fagocitose de elementos exógenos, mas sobre-tudo de afirmação politica, renovação expres-siva, impulsão e reapropriacão nacionais. Celebrado em todo o país, o Carnaval - este verdadeiro “makinu ma nkembo” bantu -, a maior festa de Angola, tornou-se uma das vias de consolidação da angolanidade.

continuuM bantu

—por Simão SouindoulaHistoriador e perito da UNESCO

Esta festividade

constitui uma das vitrinas da história cultural

de Angola

Page 127: Revista Angola'in - Edição 03

Dicionário português--umbundu—O reverendo Henrique Etaungo Daniel, natural do Bié, lançou o dicionário Português-Umbundu, após ter concluído a obra há alguns anos. O autor do dicionário “Umbundo-Português” acredita que o novo compêndio será uma mais-valia para a educação dos jovens, incrementando a sua preparação para o futuro e o interesse pela escrita. O escritor viajou pela Europa, América e África e dedicou mais de 40 anos a estudar a língua.

Life&Style { CULTURA&LAZER }

Teatro nas escolas—O Colectivo de Artes 17 de Setembro levou o teatro às escolas de Luanda, durante o último mês. Com o intuito de promover as artes cénicas entre os jovens, o grupo fez uma série de exibições em escolas do segundo ciclo dos distritos da Maianga e do Kilamba Kiaxi. A ação visou incentivar os mais novos a dar os primeiros passos nas artes cénicas e a sensibilizá-los para a importância do teatro nas comunidades. A iniciativa contou com o apoio da Direção Provincial da Cultura e o grupo pretende alargar a atividade a outros municípios.

História Afro-americana—A União dos Escritores Angolanos organizou uma conferência sobre o triângulo turístico e histórico-cultural Kanawa Mussulo, para assinalar o 86º aniversário da história afro-americana. Com o tema “Pieter van Congo ou a presença angolana em Nova Amesterdão (1620-1664)”, o encontro reuniu vários especialistas que debateram os traços deixados pela presença da mão de obra escrava “Congo/ Angola” na recém-formada Nova Amesterdão pelos holandeses. Mediante os arquivos é possível compreender o seu papel na marinha mercante, no comércio e na construção civil.

Feira do livro de

CubaAngola é a convidada

de honra da XXII Feira Internacional do Livro Cuba 2013.

O convite, de acordo com a presidente do

Instituto Cubano do Livro, Zuleica

Romay, trata-se de uma oportunidade para dar a conhecer

os autores angolanos. É a primeira vez que

um país africano é convidado de

honra deste evento, que promove

habitualmente os valores artísticos

e literários das diferentes nações.

Carlos Alberto

Moniz lança “Lusofonias”

Samba e semba—A escola Unidos de Vila Isabel, no Brasil, ganhou o Estandarte de Ouro para melhor escola de Samba do Carnaval de 2012 do Rio de Janeiro. O prémio, que existe há 40 anos, foi criado pelo jornal brasileiro Globo. A escola apresentou-se com o título “Você semba lá que eu sambo cá. O canto livre de Angola” e conquistou o júri, bem como todos os presentes no sambódromo e a crítica da especialidade. A homenagem ao país resultou de uma parceira com o ministério da Cultura nacional, que patrocinou o desfile. Martinho da Vila foi o embaixador da escola.

Patrícia Alves Tavares

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128 MARÇO 2012

ExPoSIção LEMbRa MaRILyn—Para marcar o 50º ano da morte de Ma-rilyn Monroe, a galeria Getty Images, em Londres, tem patente durante os próximos meses uma exposição com mais de 70 fo-tografias e uma coleção de doze vestidos da atriz. A mostra percorre em imagens a vida de Marilyn desde sua juventude até a consagração da artista como uma das es-trelas mais famosa de Hollywood e quer meio século depois da sua morte ainda continua a suscitar atenções. A atriz mor-reu em 5 de agosto de 1962, aos 36 anos.

As exposições e eventos que marcam Março de 2012

pelo mundo fora…Agenda Março{ AGENDA }Life&Style

juLES MaSSEnt —Até ao próximo dia 13 de Maio estará pa-tente na Biblioteca-Museu da Opera Pa-lais Garnier uma exposição subordinada ao tema “A Belle époque de Massenet”. Para marcar o centenário da morte de Jules Massenet, a nova produção de Ma-non na Ópera Bastille retoma a História de Manon, no Palais Garnier, da Biblioteca Nacional da França e da Ópera de Paris consagrando uma exposição nos espaços da Biblioteca-Museu da Ópera a este ilus-tre compositor da Belle Époque.

“o HERMItagE no PRado”—A exposição “O Hermitage no Prado” patente no Museu do Prado, em Madrid, constitui a maior mostra mundial da co-leção do museu de São Petersburgo no exterior. Dos retratos setecentistas de Pedro I e de Catarina a Grande ao mi-nimalismo modernista do “Quadro ne-gro” de Kazimir Malevich, sem esquecer a representação da pintura espanhola, a exposição constitui uma das mais repre-sentativas das coleções do Hermitage. Para o diretor do museu espanhol, Mi-guel Zugaza, a tentativa de levar a cada uma das cidades - Madrid e São Peter-sburgo - uma seleção representativa de cada um dos seus museus, tem paralelo em resumir em poucas linhas as roman-ces de Miguel de Cervantes (“As aven-turas de D. Quixote”) ou de Leão Tolstoi (“Guerra e paz”).

guILHERME MaMPuya ExPÕE EM Luanda—O artista plástico angolano Guilherme Mampuya inaugurou, no pas-sado dia 16, uma exposição com obras ligadas à temática “Terra“. A preocupação com o estado actual do planeta e a necessidade das pessoas se consciencializarem da urgência da sua preser-vação esteve na base da criação destas obras de arte. A exposição patente numas das unidades ho-teleiras da cidade de Luanda conta com um total de 11 obras. Para a sua realização o artista utilizou várias técnicas que tiveram como objectivo retra-tar de forma real certos aspectos étnicos do grupo Mucabal, a extinção do veado-vermelho, urso-panda e do tigre da Indonésia, já extinto. O pintor Guilherme Mampuya nasceu a 4 de Novembro de 1974, na província do Uíge.

08 23

até

até

Abril

Maio

até

Maio

16 a partir de

Março

Carla Marques

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feVeReiRO 2012 129

Page 130: Revista Angola'in - Edição 03

Life&Style Patrícia Alves Tavares { PERSONALIDADES }Eunice Inácio conquis-tou o seu lugar na histó-ria nacional e mundial ao ser escolhida para o Prémio Nobel da Paz, em 2005. Embora não tenha levado o troféu para casa, fica regista-do eternamente o mé-rito de fazer parte do grupo de mil mulheres do projeto do galardão. Evidenciou-se num universo de du-as mil figuras, oriundas de 150 países. Num mês em que entoam hinos às mu-lheres um pouco por todo o universo, a Angola’in recorda a vida de uma luta-dora.Há mais de seis décadas o mundo rece-beu aquela que é ainda hoje uma heroí-na, uma mulher de garra, que merece o respeito d os compatriotas. Eunice Iná-cio, natural do Huambo, tem um longo currículo em que se destaca o trabalho em prol dos outros. A sua história de vida é em si um livro.Exerceu funções no Ministério da Assis-tência e Reinserção Social e na Organi-zação Não Governamental Development Workshop (DW). Foi, aliás, na ONG que se tornou responsável pelo plano de pro-moção e incentivo da cultura de paz e tolerância entre a popu-lação, com o “Programa de Construção da Paz”.Licenciada pelo ISCED e com um mestrado em Ci-ências Políticas e Rela-ções Internacionais, da Universidade de kwan-zulu-Natal, na África do Sul, o ícone da solidarie-dade especializou-se na Resolução de Conflitos e Estudos para a Paz.

“Eu trago a experiência para a mesa - a minha própria experiência, pesquisas e descobertas, experiências de outras pessoas. O facto de ser imparcial e o facto de ser mulher faz com que as pessoas me ouçam”—Eunice Inácio

hEroína coM noME

“o Livro da paz da MuLher angoLana, as heroínas seM noMe”Dya Kassembe e Paulina ChizianeEditorial Nzila, Luanda 2009

O livro fala da guerra, do desespero e da desilusão das sobreviventes. É uma recolha de relatos impressionantes em que o amor pela vida e pelos outros vence tudo. As intervenientes são mulheres angolanas que formaram uma comunidade forte e nunca desistiram.

SUGESTÃO DE LEITURA

corageM e LiderançaHumilde, modesta e corajosa. São as palavras mais usadas para descrever Eunice. quando foi nomeada para o co-biçado galardão pelo Comité do Prémio Nobel, em Oslo, mostrou-se orgulhosa, referindo que nunca tinha imaginado o seu nome a integrar um elenco tão res-trito. A escolha resultou do empenho na DW. Auxiliou o movimento angolano em prol da paz, procurando unir fações se-paradas e incentivando ao trabalho con-junto entre as diversas igrejas (Católica, Protestante e Evangélica) e ONGs de vá-rios quadrantes.Eunice Inácio teve a capacidade de criar alianças entre estes elementos e fomentou o movimento associativo da sociedade civil, que no início de 2000 começava a emergir. Líder nata, su-

pervisionou pessoalmente a formação de mais de 600 promotores da paz. Percorreu 14 províncias, trabalhando simultaneamente em várias frentes, assistindo cerca de 120 comunidades e dezenas de milhar de famílias.“Ela usou os seus anos de experiência e a sua autori-dade pessoal para servir de mediadora e conseguir con-senso num ambiente difícil, dominado por patriarcas reli-giosos, políticos e militares”, referiu na ocasião Allan Cain, diretor da DW, para descrever este exemplo de vida. A sua história pessoal é tão ou mais impressionante que o trabalho em prol da paz. Eu-

nice Inácio nunca abandonou a sua ci-dade natal, nem durante e muito menos depois do cerco de 1993, que dizimou a região. Ela testemunhou os horrores da guerra na primeira pessoa. Perdeu o marido no conflito e foi acusada de ser espia. Porém, não desistiu. Continuou a luta, tentou a todo o custo proteger todas as crianças angolanas, enquanto cuida-va dos seus quatro filhos.

LIçõES DE vIDA

“Esse é o meu maior desafio - tentar envolver todas as organizações na promoção de actividades e persuadi-ias da necessidade de trabalhar num ambiente ecuménico”—Eunice Inácio, após nomeada para Nobel da Paz

“Precisamos de nos respeitar uns aos outros. Sozinho, nenhum homem pode mudar o mundo”—Eunice Inácio, DW 2005

“Eunice inácio é uma corajosa e inovadora líder e uma construtora da paz”—Allan Cain, diretor da DW

130 MARÇO 2012

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ANO IV - SÉRIE IIREVISTA Nº02FEVEREIRO 2012—3,50 EUR450 KWZ5,00 USD—ISSN 1647-3574

ECONOMIA & NEGÓCIOS · MARCAS ID · SOCIEDADE · FOTOREPORTAGEM · ARQUITETURA & CONSTRUÇÃO · INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO · DESPORTO · LIFE & STYLE · CULTURA & LAZER · PERSONALIDADES

· Nº0

2 · FEVEREIR

O 20

12

AliAnçA ibéricAInvestimento em Angola gera maior proximidade luso-espanhola

consumo eletrónicoMercado em expansão atrai gigantes mundiais das novas tecnologias

A todo o vAporBenguela, pólo de desenvolvimento económico. Um exemplo a seguir

Escritor conceituado, marca toda uma nova geração de autores.Orgulhoso das suas raízes, é ele próprio uma ‘viagem’. A descobrir!

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