angola'in - edição nº12

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ANGOLA PRESIDE CPLP Aumentar a circulação de pessoas e bens é o objectivo do novo líder. Um contributo para o reforço de cooperação entre todos os membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Organismo composto por mais de 250 milhões de pessoas que têm o português como língua-mãe e que procura hoje ter uma relação mais forte entre as suas economias com a criação de uma Confederação Empresarial Economia & Negócios · Sociedade · Turismo Arquitectura & Construção · Inovação & Desenvolvimento · Luxos · Desporto · Cultura & Lazer · Personalidades ano iii · revista nº12 · 2010 700 kwanzas · 7,50 usd · 6 euros ISSN 1647-3574 gestão hospitalar A ser alvo de reestruturação, o sector da saúde é um dos alicerces da sociedade. Nesta edição, avaliamos o ‘estado’ dos hospitais públicos e sugerimos um dos modelos mais usados na Europa: as Parce- rias Público-Privadas classe média Descubra os dez factores que influenciam as tendências da procura no domínio da habitação. Oriente os seus negócios e redi- reccione as ofertas para áreas mais lucra- tivas, segundo as necessidades da ‘emer- gente e nova’ classe média governança corporativa Sabe do que se trata? Fique a saber de que forma influencia o investimento na sua empresa e como torná-la um diferencial competitivo para atrair financiamento de investidores nacionais e internacionais com o objectivo de expandir o seu negócio

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No mês em que Angola assume a presidência rotativa da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), compreenda os actuais desafios desta entidade multidisciplinar. Não pode perder a Grande Entrevista ao Secretário-Executivo da CPLP, Simões Pereira, que revela em exclusivo as suas expectativas em relação à nova liderança. A Angola'in faz o diagnóstico do sistema de gestão hospitalar público e dá-lhe a conhecer um novo conceito: o Corporate Governance. Bons motivos para adquirir a nova edição!

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VIS

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ANGOLA PRESIDE CPLP Aumentar a circulação de pessoas e bens é o objectivo do novo líder. Um contributo para o reforço de cooperação entre todos os membros da Comunidade dos Países de

Língua Portuguesa. Organismo composto por mais de 250 milhões de pessoas que têm o português como língua-mãe e que procura hoje ter uma relação mais forte entre as suas

economias com a criação de uma Confederação Empresarial

R

Economia & Negócios · Sociedade · Turismo Arquitectura & Construção · Inovação & Desenvolvimento · Luxos · Desporto · Cultura & Lazer · Personalidades

ano iii · revista nº12 · 2010

700 kwanzas · 7,50 usd · 6 euros

ISSN 1647-3574

gestão hospitalarA ser alvo de reestruturação, o sector da

saúde é um dos alicerces da sociedade.

Nesta edição, avaliamos o ‘estado’ dos

hospitais públicos e sugerimos um dos

modelos mais usados na Europa: as Parce-

rias Público-Privadas

classe médiaDescubra os dez factores que infl uenciam

as tendências da procura no domínio da

habitação. Oriente os seus negócios e redi-

reccione as ofertas para áreas mais lucra-

tivas, segundo as necessidades da ‘emer-

gente e nova’ classe média

governança corporativaSabe do que se trata? Fique a saber de que

forma infl uencia o investimento na sua

empresa e como torná-la um diferencial

competitivo para atrair fi nanciamento de

investidores nacionais e internacionais com

o objectivo de expandir o seu negócio

3 IN LOCO · ANGOLA’IN |

A Direcção

in loco

É um marco importante para Angola. O país assume a presidência rotativa da Comunida-de dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) em Julho e a Angola’in, como é habitual, faz a antecipação do momento em que a comu-nidade abre um novo capítulo e pode seguir o rumo aguardado por todos os que acreditam que a aposta na área económica (sem descu-rar a sua génese) é o caminho para a hegemo-nia da entidade.

“Solidariedade na Diversidade” será o tema da gestão angolana e os desafios são distin-tos. Nesta edição, fique a conhecer algumas das ideias defendidas pelos dirigentes nacio-nais, bem como as iniciativas que serão im-plementadas durante a próxima presidência. A entrada em funcionamento da Confedera-ção Empresarial promete revolucionar o re-lacionamento entre os Estados-membros e colocar a comunidade no centro das decisões internacionais. A promoção de uma circulação recíproca e efectiva e a promoção da Língua Portuguesa (onde se destacam as controvér-sias em torno do acordo ortográfico) serão al-gumas das ‘batalhas’ dos novos dirigentes.

Domingos Simões Pereira, Secretário-Exe-cutivo da CPLP, é a figura desta edição. Em entrevista exclusiva, o principal representan-te da comunidade faz o balanço dos últimos anos de actividade. Ao longo de cinco pági-nas, o responsável aborda a abertura a novos países e a importância do idioma no contex-to actual. A vertente económica adquire im-portância capital num período em que as exigências da globalização e das economias

Poder para Mudar!emergentes obrigam a organização a reposi-cionar-se no contexto internacional. Os mesmos desafios se colocam a outras áreas da sociedade, que devem aprimorar a capacida-de de gestão. É o caso do sector da saúde. Este mês, elaboramos um especial sobre o sistema hospitalar público, que enfrenta uma profunda reestruturação. A implementação de modelos de Parcerias Público-Privadas pode ser eficaz pa-ra colmatar determinadas carências. A Angola’in explica o seu funcionamento e enumera alguns casos de sucesso no continente africano.

A criação de um serviço de saúde pública con-sistente coincide com o aparecimento de uma classe média com poder de compra crescente e que procura serviços de qualidade. De acor-do com um estudo da empresa de consultoria Deloitte, a que a nossa publicação teve acesso e divulga neste número, este grupo surge num momento em que se verifica um acréscimo da procura de habitação própria. O “Re-search An-gola” foi desenvolvido a pedido da ESCOM Imo-biliária e Mota Engil Real-Estate e conclui que há que segmentar o mercado.

A par do aparecimento da classe média, a so-ciedade assiste ao emergir de verdadeiros fenó-menos. É o caso dos Tuneza, um grupo de cinco jovens promissores da stand-up comedy que está a tornar-se num caso de sucesso entre as massas e começa inclusive a ganhar notorieda-de internacional. São um autêntico exemplo da nova sociedade, cada vez mais eclética.

COMUNICARE - PortugalJ&D - Consultores em Comunicação, Lda. NPC: 508 336 783 | Capital Social: 5.000€Rua do Senhor, 592 - 1º Frente4460-417 Sra. da Hora - PortugalTel. +351 229 544 259 | Fax +351 229 520 369Email: [email protected]

Delegação Angola’inRepresentante: Lisete PoteRua Rainha Ginga, nº 228, 2º andarMutamba - Luanda - AngolaTel. +244 923 416 175 | +244 923 602 924E-mail: [email protected]

revista bimestral nº12 - 2010

http://angolain.blogspot.com · http://twitter.com/angolain

Direcção Executiva Daniel Mota Gomes - [email protected]ão Braga Tavares - [email protected]

Direcção Editorial Manuela Bártolo - [email protected]

Redacção Patrícia Alves Tavares - [email protected]é Sibi - [email protected] Vieira - [email protected]

Colaboradores António Gameiro · Boca do LoboInglês Pinto · João Carlos CostaMiguel Matos Torres · Wilson Aguiar

Design GráficoBruno Tavares · Patrícia Ferreira [email protected]

FotografiaAna Rita Rodrigues (freelancer)Luaty D’Almeida · Shutterstock

Serviços Administrativos e AgendaMaria Sá - [email protected]

RevisãoMarta Gomes

PublicidadeTel. +351 229 544 259 | Fax.+351 229 520 369E-mail - [email protected]

Departamento FinanceiroSílvia Coelho

Departamento Jurídico Nicolau Vieira

Impressão PERES-SOCTIP, Indústrias Gráficas, SA

DistribuiçãoANGOLA - MN DistribuidoraPORTUGAL - Logista

Tiragem7.500 exemplares—ISSN 1647-3574DEPÓSITO LEGAL Nº 297695/09—Interdita a reprodução, mesmo que parcial, de textos, fotografias e ilustrações, sob quaisquer meios e para quaisquer fins, inclusive comerciais

Esta revista utiliza papel produzido e impresso por

empresa certificada segundo a norma ISO 9001:2000

(Certificação do Sistema de Gestão da Qualidade)

ASSINE ANGOLA’IN1 ANO 4200 KWANZAS / 45 USD / 36 EUROS

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6 | ANGOLA’IN · SUMÁRIO

‘boom’ da classe médiaA empresa de consultoria Deloitte divulga um estu-do encomendado pela Escom Imobiliária e Mota-En-gil Real Estate. A pesquisa do mercado imobiliário indica uma série de conclusões que podem auxiliar as empresas a orientar os negócios e a redireccionar as ofertas para as áreas mais proveitosas. Os autores anunciam uma nova classe média e sugerem a seg-mentação dos clientes. Descubra os dez factores que influenciam as tendências da procura

marcas globais – made in angola Trata-se de um universo cada vez mais abrangen-te e competitivo. Criar uma marca que perdure e tenha sucesso é algo que exige dedicação, visão e estratégia. Num momento em que países como a Suécia se tornam gigantes mundiais neste contex-to, o país decide proteger a produção interna e a instituição do ‘Made in Angola’ é uma opção que tem sido considerada e crescentemente defendida pelos especialistas

ANGOLA IN PRESENTE

IN LOCO

EDITORIAL

03

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INSIDE

MUNDO

12

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ARQUITECTURA & CONSTRUÇÃO ECONOMIA & NEGÓCIOS - IN(TO) BUSINESS

60 38

GRANDE ENTREVISTA (SEC. EXEC. CPLP)

simões pereira confianteEm contagem decrescente para a tomada de posse de Angola enquanto presidente da CPLP, a sua revista falou em exclusivo com o secretário-geral da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Conheça o balanço que o responsável máximo faz das actividades da organização, dos desafios e projectos em estudo e das expectativas em relação à nova presidência. Descubra o rumo que o organismo vai seguir para se adaptar às novas exigências da globalização. Uma entrevista a não perder!

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20

48

IN FOCO

FOTOREPORTAGEM

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ESTILOS

LIVING

7 SUMÁRIO · ANGOLA’IN |

ECONOMIA & NEGÓCIOS

corporate governanceÉ uma questão que tem assumido grande relevância nas uni-dades empresariais com alguma dimensão. As empresas estão a ser alvo de um processo de reordenamento e consolidação, assistindo-se ao aparecimento dos primeiros grupos económi-cos. A designação ‘corporate governance’ é recente. Compreen-da o que muda com a nova estruturação das empresas e em que consiste este novo conceito, há muito enraizado nas economias ‘maduras’. O conhecimento do fenómeno pode ser decisivo para a expansão do seu negócio

TURISMO

aventura ou glamour Mónaco é o destino eleito pela Angola’in para umas férias inesquecíveis numa das últimas monarquias europeias. Luxo, festas requintadas e praias paradisíacas são ingredientes pa-ra uns dias de descanso entre as celebridades internacionais. Longe da ostentação, surge a Patagónia, um país que convida os turistas a explorar a natureza selvagem e exuberante. É o local ideal para quem deseja vislumbrar paisagens que se man-têm intactas

INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO

aquecimento globalAs alterações climáticas e as recentes catástrofes naturais, ocorridas um pouco por todo o mundo, são resultado do aque-cimento global. Os últimos acontecimentos levam os cientis-tas a alertar os Governos e populações para os perigos da falta de cuidado para com o ambiente. Nesta edição, mostramos em que medida estas situações vão alterar a nossa vida a curto prazo. Descubra como pode salvar o Planeta

DESPORTO

formação de ‘quadros’Nesta edição, dedicamos especial atenção aos profissionais que estão na retaguarda dos atletas. Os treinadores e árbitros são figuras centrais num jogo, mas quando se fala em forma-ção são provavelmente as mais esquecidas. A Angola’in acom-panha a evolução dos quadros técnicos. Perceba a forma como esta área tem progredido, as principais dificuldades e qual o grau de necessidade de apostar na aprendizagem da classe di-rigente e técnica

LUXOSA tecnologia é ‘rainha’ nesta edição. Descubra as ‘máquinas’ que estão a fazer furor nos salões internacionais e deslumbre-se com os gadgets que estão a ser lançados no mercado. Temos opções para todos os gostos e para todas as faixas etárias, on-de a inovação está constantemente presente. Consulte as no-vidades de relojoaria com os modelos mais ‘in’ e exclusivos

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SOCIEDADE

gestão hospitalarA Angola’in elaborou um dossier sobre o ‘estado’ dos hospitais públicos. Além da análise da evolução do sector, que está a ser alvo de profundas reestruturações, pode constatar as acções efectuadas no âmbito da formação profissional e da gestão de recursos humanos. Sem descuidar o lado empresarial, apresentamos um dos modelos mais usados nas unidades europeias e que tem sido testado com sucesso em África: as Parcerias Público-Privadas

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VINHOS & COMPANHIA

gourmet Noma é o melhor restaurante do Mundo. Recentemente eleito pela revista Restaurant, a Angola’in mostra as qualidades deste espaço dinamarquês e as razões que levaram à sua escolha. O Masa, em Nova Iorque e Le Normandie, na Tailândia são igual-mente imperdíveis e sugestões a anotar para um jantar requin-tado, preparado pelos melhores chefs do planeta

CULTURA & LAZER

5 ‘kambas’ felizesTuneza é o nome do mais recente fenómeno nacional, que co-meça a adquirir notoriedade além-fronteiras. Os cinco jovens têm percorrido o país, que está rendido à stand-up comedy. Es-tiveram recentemente em Portugal e a adesão do público foi imediata. Em entrevista à Angola’in, falam dos seus planos, do novo programa na televisão, da dimensão do projecto e da amizade que os une. A não perder!

PERSONALIDADES

embaixadores O Duo Ouro Negro marcou uma geração e foram os primeiros a catapultar o nome de Angola no panorama musical internacio-nal. No ano em que se assinalam os 50 anos da banda, recor-damos o legado de dois artistas que impressionaram o mundo com a qualidade dos seus temas. Fique a conhecer o novo CD de tributo a Raul Indipwo e Milo MacMahon

10 | ANGOLA’IN · EDITORIAL

[email protected]

editorial

pai rico, pai pobre

O que o autor explica desconstrói tudo o que nos en-

sinam sobre os modelos de trabalho. O livro mostra

que vários paradigmas precisam de ser mudados se

quisermos sobreviver num mundo, cada vez mais,

competitivo. Como uma espécie de profecia, termina

dando-nos a ideia de que se quer realmente ficar rico,

precisa primeiro de investir...em si. Mas pode-se per-

guntar, porque decidi escrever este artigo? Primeiro,

porque quando analiso o modo como o mercado tem

evoluído, mais percebo que Robert Kiyosaki está cer-

to. Apesar de o livro ter sido escrito numa época em

que as mudanças não eram tão presentes, hoje elas

estão mais actuais do que nunca. Segundo, porque

num número em que se fala de um organismo que

poderá alargar a sua influência para áreas como o

emprego (intra-comunidade) é importante perceber

se o caminho a seguir é o exigido à luz das necessi-

dades e expectativas dos cidadãos que compõem os

diferentes países.

Com frequência o “pai pobre” diz ao “filho” para não

dar importância ao dinheiro, pois é o menos impor-

tante, enquanto o “pai rico” afirma que dinheiro é

poder. Observação: o “pai pobre” não o era por causa

do dinheiro que ganhava, mas por influência dos seus

pensamentos e acções. Logo, mais do que aprender

sobre dinheiro é fundamental hoje em dia ter instru-

ção financeira e conhecimento de mercado. As vidas

são conduzidas por duas emoções: medo e ambição.

Razão pela qual, muitas vezes, a causa da pobreza

ou das dificuldades está no medo e ignorância, não

apenas na economia, no governo ou em última ins-

tância nos ricos.

O Estado apoia. Aliás, a economia angolana criou, só

no ano passado, mais de 320 mil novos empregos.

No entanto, nunca é suficiente, pois a instabilida-

de de trabalho é, mais cedo ou mais tarde, um facto

na sociedade moderna, visto que mesmo com cur-

sos superiores nada é garantido. Importa, por isso,

procurar alternativas para este quadro, mas todas

requerem uma mudança de pensamento e da ma-

neira como olhamos o mundo. As vantagens de se

pensar empreendedoramente em relação ao dinheiro

permitem, por isso, perceber as oportunidades reais

de se chegar à riqueza ou de pelo menos alcançar no-

vos e melhores padrões de vida. Motivos suficientes

para que os actuais e futuros empresários nacionais

desenvolvam ainda mais a sua inteligência financei-

ra, de modo a processarem as próprias informações

e encontrarem o tão desejado caminho para o nirva-

na financeiro.

Se já leu o best seller “Pai Rico, Pai Pobre”, de Robert Kiyosaki, sabe o que ele pensa a respeito dos empregos. Se ainda não leu este livro, faça um favor a você mesmo e trate de o ler o mais rápido possível. A primei-ra vez que o li foi há quase quatro anos. Lembro-me muito bem de que quando terminei a leitura, foi como se me tivessem tirado uma venda dos olhos.

11 EDITORIAL · ANGOLA’IN |

CRESCIMENTO ATé 7,5 POR CENTOAs previsões do Banco Mundial para 2010 apontam Angola como uma das economias que mais vai crescer. Os especialistas referem valores entre os 6,5 e os 7,5 por cento. Segundo Ricardo Gazel, o aumento do preço do petróleo será decisivo para esta evolução, visto que a produção de crude representa cerca de 90 por cento das exportações nacionais. O orça-mento para este ano indica uma produção de 1,9 milhões de barris de petróleo por dia. Por sua vez, o Governo avança com previsões de 8,6 por cento de crescimento.

AEP ORGANIzA fEIRASA Associação de Empresarial de Portugal pre-para-se para organizar três grandes iniciativas na capital angolana. Após o sucesso em 2009 com os dois primeiros certames (Export Ho-me – feira de mobiliário e decoração e EMAF – para produtores de máquinas, ferramentas e equipamentos para trabalhar madeira), que contaram com o apoio da Feira Internacional de Luanda, a organização lusa está a progra-mar as primeiras edições do Luanda Fashion Week (moda e calçado), da Expocosmética Angola (cosmética, estética e cabelo) e da PortoJóia Angola (joalharia, ourivesaria e re-lojoaria). Os eventos, que decorrem entre 26 e 30 de Maio, marcam o arranque de uma sé-rie de actividades, desenvolvidas em parce-ria com a FIL. De 24 a 27 de Junho, terá lugar a segunda edição do Export Home Angola. Entre 9 e 12 de Setembro, o país acolhe dois importantes eventos, que são simultanea-mente estreias nacionais: a Feira de Saúde da Normédica Angola e a Ajutec Angola – Feira de Ajudas Técnicas e Novas Tecnologias para Pessoas com Deficiência.

| patrícia alves tavares

12 | ANGOLA’IN · INSIDE

ENERGIA ELéCTRICA O município de Viana, em Luanda, vai ganhar ainda este ano três novas subestações de energia eléctrica. A sua construção insere-se no âmbito da quarta fase do projecto Angola-China. De acordo com Carlos Fer-reira, da Empresa de Distribuição de Energia de Luan-da (EDEL), está ainda projectada a inserção de postos de transformação de electricidade por toda a provín-cia. A execução do projecto, que teve início em Março, deverá ficar concluída em 2012. “A par das três subes-tações está prevista a instalação de cerca de 40 a 50 mil postos de transformação (PT) de energia eléctrica em Luanda, que iria beneficiar no município de Viana aproximadamente 20 mil habitantes”, anunciou o res-ponsável. O projecto é financiado pelo Governo central através da linha de crédito concedida pela China e está orçado em 203 milhões de dólares. Carlos Ferreira não descarta ainda a possibilidade de execução de outros planos de dimensão inferior, que poderão completar o projecto de electricidade Angola-China.

INSIDE

ACORDO ORTOGRáfICO EM 2013O país solicitou recentemente um período de três anos para aderir ao Acordo Ortográfico da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. O pedido está relacionado com a necessidade de incluir o vocabulário nacional no da comunidade. Angola e Moçambique são os Estados membros que ainda não ratificaram o acordo. Segundo o deputado Luís Reis Cuanga, em de-clarações à imprensa durante a II Assembleia Parlamentar da CPLP, o Governo entende que “deve haver reciprocidade na sua aplicação, defendendo que haja integração do vocabulário angolano no comum” com vista à uniformização na escrita, já que o novo acordo exclui as le-tras “k”, “Y” e “W” do alfabeto.

13 INSIDE · ANGOLA’IN |

PAíS GASTA MAIS NA áfRICA DO SULUm estudo da South Africa Tourism revela que a população angolana pre-fere a África do Sul para passar férias. Os turistas nacionais gastam em média 3,157 dólares naquele país. Entre Janeiro e Outubro de 2009, o nú-mero de visitantes cresceu 12 por cento, o que levou a presidente da SA Tourism, Thandiwe January-Mclean a garantir que estão empenhados em “dar ao mercado angolano a atenção que merece. Vamos designar um ad-ministrador para Angola, que vai trabalhar com agentes de viagens”.

INSIDE

MERCADO DE CARbONOO Ministério do Ambiente encontra-se a preparar 15 projectos de várias dimensões do Me-canismo de Desenvolvimento Limpo (MLD) para colocar no programa internacional “Mer-cado de Carbono”. Os planos foram autorizados pela agência governamental Autoridade Nacional Designada, responsável por verificar se as acções correspondem aos critérios do país para o desenvolvimento sustentável. Durante a primeira reunião da entidade, a minis-tra do Ambiente, Fátima Jardim, adiantou que os projectos estão ligados à possibilidade de redução de emissões de gases de efeito de estufa, estando relacionados nomeadamente com a melhoria da qualidade de água, distribuição da energia eléctrica, agricultura, minas e produção mineira, transportes, construção e indústria. A responsável esclareceu que “dessa forma Angola reforçará a capacidade de maximizar as vantagens do mecanismo de flexibi-lidade criados pelo protocolo do Kyoto, no âmbito da Convenção do Quadro das Nações Uni-das sobre Alterações Climáticas”. Fátima Jardim lembrou ainda que o Mercado de Carbono está cada vez mais competitivo, situação que poderá mudar a vida organizacional dos paí-ses e na qual o país quer participar. Este mercado está a movimentar este ano 30 milhões de dólares, montante aberto aos países em desenvolvimento pelo facto de emitirem pou-cas quantidades de gases de efeitos de estufa.

NOVO PARLAMENTOA construção do novo Parlamento ficará a cargo da Teixeira Duarte. A construtora lusa assinou o contrato em Março com a Presidência da Re-pública. O novo centro político e administrativo da capital está avaliado em 185 milhões de euros. Num comunicado enviado à CMVM, a empre-sa informa que o memorando foi “celebrado ao abrigo da Convenção Financeira Portugal-Angola”, tendo sido adiantado um pagamento de 15% do valor total, ou seja, de 27,75 milhões de euros.

TAAG VOLTA à EUROPAA Comissão Europeia autorizou novamente a companhia aé-rea TAAG a voar para todos os destinos da União Europeia, “sob determinadas condições estritas e com aeronaves espe-cíficas”. O documento apresentado por Bruxelas indica que a operadora angolana vê as restrições que lhe foram colocadas “parcialmente levantadas sob determinadas condições”. “A autoridade de aviação civil de Angola é convidada a intensi-ficar a fiscalização sobre todas as transportadoras e continu-ar o processo de voltar a certificar as outras transportadoras aéreas angolanas que continuam proibidas de operar na UE”, refere o documento. Recorde-se que em Julho do ano passa-do, a Comissão Europeia autorizou a TAAG a voar para Lisboa “com certos aparelhos e segundo condições muito restritas”, tendo permitido em Novembro o acréscimo de aviões com destino a Portugal. Bruxelas incluiu a companhia aérea na lista negra das empresas interditas a operar na Europa, em 2007, por motivos de falta de segurança.

NIGéRIA qUER PARCERIASO Ministro dos Negócios Estrangeiros nigeriano, Ojo Manduekwe, esteve em Angola onde, em audiência com o Presidente da República, Jo-sé Eduardo dos Santos, manifestou a intenção de estreitar as relações com Luanda nos vários domínios económicos. Recorde-se que as du-as nações disputam a hegemonia do petróleo de S. Tomé e Príncipe. Angola e Nigéria são os maiores produtores de crude da África subsa-riana e constituem os mais importantes países da Comissão do Golfo da Guiné, recentemente criada e que tem sede na capital angolana. O responsável nigeriano garantiu a José Eduardo dos Santos que o actual presidente interino, Goodluk Jonathan, pretende assegurar as bo-as relações, em função das potencialidades. Já o ministro das Relações Exteriores, Assunção dos Anjos, acredita que existem “condições do ponto de vista político, económico, infra-es-

truturais e estruturais para se passar à acção com projectos e progra-

mas concretos”.

INSIDE

INSIDE

14 | ANGOLA’IN · INSIDE

fMI IMPõE ObjECTIVOSOs inspectores do FMI estiveram em Angola para fazer o balanço do acordo Stand-by, que implica o financiamento de projectos de desenvolvimento social. Após alguns en-contros, a instituição financeira lançou ao país uma série de requisitos a serem cumpridos ao longo do ano. Assim, o Governo comprometeu-se a reformar o sistema fiscal (no sentido de torná-lo mais eficiente e simples), a criar uma agenda a médio-prazo para aprofundar as reformas estruturais, que tenham impacto no crescimento econó-mico e a melhorar a transparência fiscal das empresas públicas. O programa Stand-by implica ainda a não im-plementação de restrições cambiais durante os 27 meses de vigência do plano e o desenvolvimento de uma política de diálogo com o FMI, com vista a preparar medidas su-plementares, caso seja necessário. Além de manter a es-tabilidade do sector bancário, o Governo angolano deverá apresentar relatórios quadrimestrais acerca da execução do Orçamento Geral de Estado. O Acordo Stand-by foi as-sinado em Novembro de 2009 e está avaliado em mais de mil milhões de dólares.

Francisco Ribeiro Teles, embaixador português, aproveitou a participação no Congresso

Internacional dos Médicos de Angola para revelar que o seu país está em-penhado em aprofundar e diversificar

a cooperação com o sector da saúde nacional. O responsável salientou que

a nação lusa possui diversos projectos em curso neste âmbito e pretende potenciar es-

sa parceria por considerar que a referida área é um dos motores fundamentais para o desenvolvimento na-

cional. “Portugal, como parceiro incontornável de Angola, definiu a saúde, a par da educação, como uma das áreas prioritárias da parceria bilateral entre os dois países, por ser um ramo que contribui rápida e significativamente para o crescimento de qualquer nação”, sustentou, lem-brando que o idioma comum é uma mais-valia para a im-plementação de acordos.

ESTAGIáRIOS Narciso Benedito, vice-ministro da Educa-ção, defende a obrigatoriedade de recepção de finalistas por parte das empresas do ra-mo industrial. O responsável quer implantar a medida no quadro do ensino teórico-prá-tico, apesar de não existir uma lei-quadro que defina o estatuto de estudante esta-giário. O dirigente sustenta que o ensino funciona através do processo tecnológico e termina com a defesa de um projecto final, considerando ainda que existe um esforço conjunto entre o Ministério da Educação e a Sexta Comissão da Assembleia Nacional, no sentido de criar quadros de qualidade. A proposta foi analisada durante uma reu-nião da referida comissão, que se debruçou sobre as problemáticas relacionadas com os estágios e inserção efectiva dos finalis-tas no mercado de trabalho.

AMORIM DEIxA CIMANGOLAA empresária Isabel dos Santos e o grupo Américo Amorim terminaram a sua parceria com a em-presa de cimentos Cimangola. O empresário português apontou como causa a falta de posição estratégica. Porém, há muito que são conhecidos os sinais de mal-estar entre o grupo português e os parceiros angolanos na Galp Energia. Recorde-se que pouco depois de Amorim ter adquirido uma participação indirecta de 4,5% da Caixa Galicia na Galp, o presidente da Sonangol, Miguel Vicente, mostrou vontade em entrar directamente na Galp Energia. Manuel Vicente e Isabel dos Santos são ainda parceiros da Amorim Energia que, por sua vez, detém 33,34% da Galp. Os jogos de poder na Galp são evidentes. Murteira Nabo, ‘chairman’ da petrolífera lusa, defende o aumento de capital na empresa (situação aplaudida pelos angolanos), enquanto o presidente executivo, Ferreira de Oliveira (próximo de Amorim), tem opinião contrária. O término do acordo parassocial na Galp, no final do ano, poderá trazer novidades.

MILLENIUM REACTIVADEPÓSITO DIAMANTEO Banco Millenium Angola relançou o depó-sito Diamante, dirigido a clientes particulares e empresas. A conta pode ser constituída em euros, kwanzas ou dólares americanos. A ofer-ta, válida para depósitos máximos de 500 mil kwanzas, está limitada ao stock existente. O produto tem total liquidez e garantia do capi-tal investido. As taxas de juro atingem os 18 por cento nos depósitos em kwanzas (4,75% USD e 2,75% Eur).

PORTUGAL qUER APOSTAR NA SAúDE

16 | ANGOLA’IN · MUNDO

| patrícia alves tavares

união europeia

Energia: investimento inéditoMais de dois milhões de euros vão financiar 43 projectos nos sectores da electricidade e do gás. A União Europeia aprovou o co-financiamento de 31 programas no domínio do gás, destacando-se o plano Nabucco, um gasoduto que ligará a região do mar Cáspio à Áustria (através da Turquia) e o Galsi, um gasoduto que vai unir a Argélia à Itália (passando pela Sardenha). Os restantes referem-se à modernização das conexões entre redes eléctricas, que vão aproximar os países mais afasta-dos da rede energética da UE. No total, serão investidos 2.300 milhões, o valor mais alto de sempre. O pacote utiliza o resto dos 3.980 milhões de euros reservados pela UE durante o período de reces-são para redinamizar a economia, onde se prevê a criação de emprego e ajudas a pequenas empre-sas. A contribuição inicial da União Europeia pode conduzir à angariação de até 22 mil milhões de euros de investimentos privados. O objectivo da injecção de capital consiste em melhorar o fluxo de energia entre os países membros, diversificando as importações de gás.

inovação

iPad já disponívelA versão sem ligação 3G do iPad chegou aos EUA no dia 3 de Abril. A versão completa com 3G foi lançada no mercado americano no final do mês, com preços que oscilam entre os 367 e 609 euros. O tão aguardado modelo da Apple só deverá estar disponível nos restantes países a partir de Maio, pelo que ainda não foram di-vulgadas as datas de lançamento e os preços. Steve Jobs, o CEO da Apple, anunciou entretanto que o novo gadjet da empresa se apresenta como “mais íntimo do que um computador portátil e com muito mais capacidade do que um smartphone”.

tecnologia

CeBIT 2010A maior feira de tecnologia do mundo reuniu 4150 expositores de 68 pa-íses, que se concentraram em Hanover, Alemanha, para apresentar as mais recentes novidades. Dedicada ao tema “Connected Worlds”, a edi-ção deste ano foi inaugurada por Angela Merkel e pela primeira vez as expectativas dos participantes foram largamente superadas. De acordo com informações da organização, as previsões de crescimento na área das TIS “conduziram a contratos milionários”. Verificou-se um acrésci-mo no investimento das pequenas e médias empresas. Dos 6.262 expo-sitores, mais de três mil eram oriundos do exterior. O certame, que vai já na vigésima edição, registou um aumento de cerca de 20% nos con-tratos fechados. Entre as novidades apresentadas merecem destaque os tablets, netbooks e computadores com telas sensíveis ao toque, ca-pazes de projectar imagens em 3D. Os novos rumos da música também estiveram em evidência com o CeBIT Sounds.

moçambique

AEP e Consulgesti criam ExponorA empresa moçambicana Consulgesti e a Associação Empresarial de Portugal (AEP) assinaram em Maputo um acordo para o desenvolvimento de uma empresa mista, com competências na área das feiras de negócios e gestão de parques de exposições. O projecto deverá estar concluído em breve. A Exponor Moçambique visa a troca de experiências ente os dois países, bem como o fomento do sector empresarial. O memorando foi rubricado durante a visita do Primeiro-Ministro português, José Sócrates, a Moçambique. Subscreveram o acordo o presidente da AEP, António Barros, e o presidente da Consulgesti (empresa de referência da organização de feiras e eventos), Américo Magaia. Entre os projectos a desen-volver consta o pavilhão de Moçambique para a Expo 2010, em Xangai. “Temos grande experiência e um know-how consolidado no mercado das feiras e este é o nosso contributo para a dinamização da economia moçambicana e reforço das relações bilaterais”, defendeu o vice-presidente da AEP, Nunes de Almeida. Assim, a entidade portuguesa passa a ter duas participações no estrangeiro no negócio das feiras, após ter criado a Exponor Brasil, que opera a partir de São Paulo para todos os países da América do Sul. Recorde-se que a AEP está ainda ligada à gestão de fei-ras em países da Europa e possui um protocolo com a FIL Angola.

MUNDO

17 MUNDO · ANGOLA’IN |

economia

Forbes divulga milionáriosPela primeira vez na história do ranking da Forbes um latino-americano é o maior bilioná-rio. Sinal da mudança dos tempos e da escalada das economias emergentes, Carlos Slim é o homem mais rico do mundo, o primeiro latino-americano a conquistar o topo do ranking que a Forbes publica há 24 anos. Desde 1994, o título é atribuído anualmente a america-nos. Outra novidade é a descida do número de bilionários com nacionalidade norte-ame-ricana. Dos 97 novos membros deste clube restrito, apenas 19 por cento são dos EUA. Já dois terços dos estreantes são oriundos da Ásia, a nova Meca dos ricos. Na lista de 2010, os americanos ainda dominam o ranking dos 1.011 mais ricos do mundo, mas a predomi-nância está a baixar. O novo bilionário tem uma fortuna de 53,5 mil milhões de dólares, é oriundo do México e reúne empresas mineiras, de energia, logística e exploração de pe-tróleo e gás. Bill Gates, o homem forte da Microsoft foi destronado para segundo lugar. Apesar de ter aumentado a sua fortuna ao longo do último ano, não foi o suficiente para vencer o ‘rei Midas’ (alcunha de Carlos Slim no México).

economia

Europa frágilNo terceiro trimestre de 2009, os analistas di-taram o fim da mais profunda recessão que UE enfrentou ao logo da sua história. No entanto, apesar do PIB real estar a crescer, a Comissão Europeia prevê que este se aproxime progressi-vamente de níveis de pré-recessão. A economia europeia continuará com a vida complicada. De acordo com as previsões do final de 2009, es-ta deverá crescer apenas 0,7 por cento em 2010. Em termos de economia mundial, os dados são animadores. Espera-se um crescimento de 4,25 por cento para este ano (com exclusão da UE). A fragilidade do mercado imobiliário em alguns países e a descida da produção industrial, bem como do volume de vendas a retalho são facto-res que podem condicionar o crescimento da UE em 2010. Por outro lado, a tendência para a su-bida da taxa de desemprego faz comprometer o consumo. Já uma recuperação à escala mundial mais forte do que o previsto pode ter uma influ-ência positiva na economia europeia.

informática

“.com” faz 25 anosO domínio da Internet “.com” assinalou em Março um quarto de século de existência. Em 1985, existiam apenas seis sites registados. Actualmente são mais de 86 milhões. A criadora de com-putadores Symbolics foi a primeira empresa a adoptar o “.com”. Até à década de 90, o domínio era praticamente desconhecido. Nos dias de hoje, registam-se em média mais de cem mil sites dia-riamente. Recorde-se que apesar dos milhões de sites activos, nos últimos 25 anos apareceram e desapareceram quase imediatamente 113 milhões. Em entrevista à BBC, o presidente executi-vo da empresa responsável pela manutenção do domínio, a Verisign, mostrou-se surpreendido. “Quem iria adivinhar há 25 anos aquilo que a Internet se tornou hoje, o número de negócios que permitiu construir?”, questionou Mark McLaughlin.

MUNDOchina

Economia, ambiente e política globalO Primeiro-Ministro chinês, Wen Jiabao, anunciou, após o encerramento da reunião anual da Assembleia Na-cional Popular, as medidas a adoptar para combater a crise que o país enfrenta. A recuperação global da eco-nomia continua incerta e espera-se um ano bastante difícil. O responsável rejeitou as pressões internacionais para valorizar a moeda, sustentando que defende o “comércio livre”, anunciando “a firme posição da China ao proteccionismo”. “O desemprego ainda é alto, as crises de débito de alguns países continuam a aprofundar-se e os preços das mercadorias e as taxas de câmbio não estão estáveis, o que poderá causar algum retroces-so na recuperação económica”, admitiu Wen Jiabao, afirmando ser necessário reformular o sistema nacional. Por outro lado, as relações entre Washinghton e Pequim sofreram um revés devido à visita de Dalai Lama à Casa Branca, uma vez que Pequim aponta o líder tibetano como indutor do “separatismo” e como uma “ame-aça à integridade e soberania territorial chinesa”. Wen Jiabao critica ainda a venda de armas por parte dos

EUA a Taiwan, admitindo a possibilidade de recorrer à força para reintegrar a província no domínio da China. Em relação ao ambiente, o país foi recentemente criticado pela Dinamarca, devido à inércia na resolução dos problemas de aquecimento global e redução das emissões de dióxido de carbono. Após algum período de reflexão, o negociador chinês Su Wei acabou por aceitar o Acordo de Copenhaga.

18 | ANGOLA’IN · MUNDO

MUNDO

estudo

Luz e ciclo do sonoUm estudo revela que o ciclo do sono dos adolescentes e a exposição à luz da manhã estão directamente ligados. Os jovens passam cada vez mais tempo no interior das casas, que na maioria dos casos não recebem luz matinal suficiente e que é essencial para o funcionamento adequa-do do ciclo biológico que regula o sono. As conclusões são de um estudo da autoria de Mariana Figueiro, do Instituto Politécnico Rensselaer, em Troy, Nova Iorque. A investigadora avançou que os “adolescentes priva-dos da luz da manhã vão dormir mais tarde, dormem menos e isso afecta o seu desempenho escolar”. O estudo foi publicado na revista Neuroen-docrinology Letters e teve por base 22 alunos do oitavo ano de uma es-cola da Carolina do Norte. O grupo foi dividido em duas partes, em que metade dos estudantes usou lentes especiais que impediam que lhes chegasse aos olhos a luz de onda curta (azul), característica da manhã, situação que permitiu chegar às conclusões agora publicadas.

eua

Indemnizações pós 11/09Nova Iorque vai indemnizar os mais de 10 mil trabalhadores que ficaram doentes após ajuda-rem na reconstrução da baixa da cidade, após o ataque terrorista de 11 de Setembro de 2001. No total, serão dispendidos 657,5 milhões de dólares. O acordo marca o fim de uma longa ba-talha judicial, aguardando-se a aprovação dos lesados e do juiz. Recorde-se que os referidos trabalhadores laboraram durante semanas entre destroços e poeira, pelo que começaram a surgir diversas queixas de casos de cancro e doenças respiratórias provocadas pela inalação de diversos componentes tóxicos. Como a maioria dos envolvidos não possuía seguros de saúde, o governo criou a World Trade Center Captive Insurance Company para lidar com os ca-sos de invalidez e doença. Em 2008, já existiam quase dez mil processos contra a companhia, que atribuíra apenas seis compensações. “É uma solução justa”, argumentou o presidente da Câmara da Nova Iorque, Michael Bloomberg, a respeito da decisão judicial.

tailândia

Marcha pela pazMilhares de mulheres cristãs saíram às ruas para protestarem contra a violência intra-comunitária. A marcha decorreu na localidade de Jos, na capital tailandesa, e serviu de apelo ao fim dos confrontos que já causaram centenas de mortos. A disputa envolve agricultores cris-tãos e pastores muçulmanos. Os camponeses deslocaram-se ainda à capital para exigir eleições antecipadas e o regresso ao país de Thak-sin Shinawatra, que vive exilado no Dubai e enfrenta uma pena de prisão por corrupção. Cem mil pessoas vieram das zonas rurais da Tai-lândia para pacificamente pedir o regresso do antigo líder, acusando o actual Primeiro-Ministro de esquecer os camponeses e favorecer as elites. Cinquenta mil militares, polícias e civis voluntários foram mo-bilizados para a capital.

comissão europeia

Nova estratégiaA Comissão Europeia apresentou a nova estratégia para assegurar a saída da crise e preparar a economia da UE para a próxima década. Pa-ra tal, foram identificados três vectores fundamentais do crescimento (inteligente, sustentável, inclusivo), que deverão orientar as futuras ac-ções do organismo. Assim, a Estratégia Europa 2020 deverá visar as re-feridas áreas, através do desenvolvimento de uma economia baseada no conhecimento e inovação, que promova o crescimento sustentável e competitivo dos recursos e que gere altas taxas de emprego. Todos os Estados deverão seguir estas indicações, de forma que seja possível assegurar na próxima década 75% do emprego na população em idade activa, a redução do abandono escolar e o cumprimento dos objectivos em matéria de clima/ energia, tirando 20 milhões da pobreza.

19 MUNDO · ANGOLA’IN |

IN FOCO | patrícia alves tavares

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Novo capítulo

Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Mo-çambique, Portugal, S. Tomé e Príncipe e Ti-mor-Leste compõem a CPLP, criada em 1996, com a finalidade de desenvolver protocolos de cooperação no âmbito da cultura, educação e preservação da língua portuguesa. Após um mês intenso em matéria de encontros entre os chefes de Estado, a Angola’in faz o balanço das actividades e dá a conhecer o tema que proposto por Angola para a sua presidência: “Solidariedade na Diversidade”.

fORTALECER PARCERIASA poucos meses da cimeira de Angola, Pau-lo Kassoma defendeu o reforço da cooperação efectiva entre os países da CPLP, alegando que a materialização deste objectivo pas-sa pela “circulação crescente e recíproca” de pessoas e bens dentro do espaço territorial da entidade. Durante a II reunião da Assem-bleia Parlamentar (AP-CPLP), o responsá-vel angolano reconheceu que o “fenómeno da imigração” tem contornos complexos. As trocas comerciais, a cooperação empresarial,

a formação académica, a assistência médica qualificada e o turismo são exemplos de áreas que carecem de “soluções pragmáticas e equi-libradas que satisfaçam as necessidades dos cidadãos e dos Estados”. Kassoma sugeriu o respeito mútuo pela soberania de cada nação e a identificação dos interesses e prioridades dos parceiros como elementos-chave para um relacionamento vantajoso. Após um encontro com o secretário-execu-tivo, no âmbito da preparação para a VIII Ci-meira de Chefes de Estado e de Governo da CPLP, Kassoma reiterou que há uma “enorme expectativa”, pelo que espera “contar com a liderança das instituições angolanas no de-senvolvimento dos programas e da agenda da CPLP”. Já Simões Pereira mostrou-se satisfei-to com a escolha do tema “Solidariedade na Diversidade” para a próxima presidência, con-siderando que o mote está “nos princípios ba-silares da organização”, especialmente num momento em que será abordada a possível integração da Guiné-Equatorial.O responsável defendeu que o Conselho Em-

presarial da CPLP deve continuar a desem-penhar um papel de destaque no auxílio ao empresariado público e privado, responsável pela consolidação do apoio entre as nações. Por outro lado, sugeriu que se dê uma “aten-ção especial” às entidades da sociedade civil. “Quando se fala em cooperação ou reforço de cooperação entre Estados-membros de uma organização, há que se ter em conta os ele-mentos aglutinadores dessa comunidade e os níveis de desenvolvimento entre si, para que se possa elaborar uma estratégia que atenda as reais necessidades das populações”, sus-tentou, admitindo que o objectivo poderá ser atingido com a nova Estratégia Geral de Coo-peração. A integração de cada membro em organiza-ções regionais, como as Nações Unidas, cria oportunidades de colaboração em múltiplos sectores. 2010 é decisivo com a entrada em vigor de novos acordos intra-regionais. Im-põem-se outros desafios à CPLP, enquanto comunidade. Ao assumir a presidência, Ango-la tem a possibilidade de mostrar o que vale

Em Julho, Angola assume a presidência rotativa da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Durante a II AP-CPLP, Paulo Kassoma, presidente da Assembleia Nacional (AN), fez antever no seu discurso os desafios e as medidas que o país poderá propor enquanto líder da comunidade. Nesta edição, a Angola’in analisa a importância da organização para o desenvolvimento regional de cada Estado membro.

21 IN FOCO · ANGOLA’IN |

enquanto nação emergente. Na última as-sembleia, Raimundo Pereira, presidente do parlamento da Guiné-Bissau, sugeriu que a AP-CPLP fosse dotada de estruturas que se dediquem à análise e estudo dos domínios de acção. Com os actuais poderes, o organis-mo pode executar todos os acordos entretan-to celebrados a nível dos Estados membros, definindo a livre circulação dos seus cidadãos, implementando o acordo ortográfico e incre-mentando a língua portuguesa no espaço comunitário. Na VIII Cimeira dos Chefes de Estado e de Governo, agendada para Julho, na capital angolana, será discutido um ponto que poderá alterar por completo a génese da CPLP. O alargamento da comunidade a outros Esta-dos será tema de destaque da próxima reu-nião, devido ao elevado número de pedidos de adesão. Os responsáveis defendem que esse interesse está relacionado com o espaço que a organização vai conquistando ao nível das re-lações internacionais, visto que tem trabalha-do para transformar as actuais sinergias em cooperação mutuamente vantajosa para os membros e organizações estrangeiros. “Ob-viamente queremos que a nossa organização continue a ser um espaço para a promoção e difusão da língua portuguesa, mas transcen-dendo efectivamente esse aspecto”, susten-tou Assunção dos Anjos, durante o último encontro com Simões Pereira.

Paulo Kassoma defendeu o reforço da cooperação efectiva entre os países da CPLP, através “circulação crescente e recíproca” de pessoas e bens

DINAMIzAR ECONOMIA O arranque da Confederação Empresarial é aguardado com expectativa, pois é considera-do “peça-chave” na inter-relação entre as di-ferentes economias. Os novos órgãos sociais tomam posse na segunda quinzena de Julho, coincidindo com a passagem de testemunho do Chefe de Estado Português para o homó-logo angolano. Murteira Nabo, impulsionador da iniciativa, defendeu, em entrevista à agên-cia portuguesa de notícias Lusa, que o orga-nismo assumirá uma importância estratégica

para a “promoção de negócios, para a relação e uma inter-relação muito mais forte entre as economias destes países”. O presidente da Galp refere que a língua, o “factor de união” e a cultura devem ser valorizadas pelos Gover-nos, enquanto estratégia de desenvolvimento económico conjunto da lusofonia. O ministro das Finanças português, Teixeira dos Santos, incentiva a cooperação no novo sistema mundial. “Os países da CPLP devem, como membros da comunidade global, partici-par activamente nesse processo, contribuindo para a implementação de políticas anti-cícli-cas e de reformas estruturais para fortalecer a economia real, os mercados financeiros e as instituições financeiras internacionais”, de-fendeu durante a I Reunião de Ministros das Finanças. Na ocasião, disse que cabe à comu-nidade dar um “contributo para a definição da arquitectura financeira internacional utilizan-do a voz dos mais de 250 milhões de pessoas que têm o português como língua mãe, para que essas soluções sejam ouvidas e imple-mentadas”. O líder apelou para a união, “no-

meadamente ao nível da reforma do sistema financeiro institucional, nunca esquecendo o papel dos países em vias de desenvolvimen-to”, sustentando que a actual crise surge como uma “oportunidade” para a CPLP assumir “um papel mais positivo a nível regional”.

MAIS E MELhOR CIRCULAÇÃOA agilização na circulação entre os cidadãos dos Estados membros da CPLP e o exercício dos seus direitos são as principais aspirações das populações. As organizações da sociedade civil têm dado voz a estas intenções. A ques-tão está incluída nas preocupações políticas, tendo sido debatida na II Assembleia Parla-mentar. Aristides Lima, representante de Ca-bo Verde, defendeu que o projecto deve ser aplicado paulatinamente, devendo privilegiar na primeira fase as categorias sociais e profis-sionais que têm maiores necessidades de des-locação. Alguns parâmetros do Estatuto do Cidadão Lusófono são aplicados parcialmente pelos países. O Projecto de Convenção Quadro está a ser discutido no seio da organização e os direitos standards mínimos respeitam os compromissos anteriormente assumidos pela CPLP no quadro das Nações Unidas e da ra-tificação do Pacto Internacional dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais. O projecto quer consagrar o princípio de igualdade de tra-tamento de todos os cidadãos de outros Es-tados membros em relação aos nacionais. O acordo mereceu ainda a consideração do se-cretário-geral da Câmara dos Deputados do Brasil, Rafael Guerra, que garantiu que o seu país reúne as condições para a implementa-ção da livre circulação dos cidadãos lusófonos e que não pode “simplesmente ser implemen-tado com a ideia de gerar emprego, migra-ções, sem avanço da cidadania”. Jaime Gama, presidente do Conselho de Ministros da CPLP, argumenta que “a institucionalização da livre circulação deve ser um objectivo dado com passos seguros”.Os líderes admitem em uníssono que existe vontade política em viabilizar o acordo de li-vre circulação na íntegra. Contudo, continuam a ter dificuldades em avançar com o projecto devido à necessidade de se adoptar legislação interna para a posterior assinatura dos acor-dos internacionais. Recorde-se que esta dis-cussão se prolonga há dez anos.

“Cabe à CPLP dar um contributo para a definição da arquitectura financeira internacional utilizando a voz dos mais de 250 milhões de pessoas que têm o português como língua mãe”

O organismo [Confederação Empresarial] assumirá uma importância estratégica para a “promoção de negócios”, uma relação mais forte entre as economias dos países”

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IN FOCO

A agilização na circulação entre os cidadãos dos Estados membros da CPLP e o exercício dos seus direitos são as principais aspirações das populações

LíNGUA MATERÉ considerada a base de uma cooperação efi-caz. Se todos os lusófonos usarem o portu-guês no dia-a-dia e nas reuniões da CPLP, as trocas de informação e as relações económicas e comerciais serão facilitadas. Uma das princi-pais funções da organização reside na promo-ção, divulgação e estudo da língua portuguesa. O novo Acordo Ortográfico tem gerado alguma controvérsia. Este pretende aproximar os PA-LOP, uniformizando a escrita e a linguagem dos membros da CPLP. A directora do Instituto Internacional de Língua Portuguesa, a ango-lana Amélia Mingas, criticou o organismo por não ter definido ainda uma política comum em relação à linguística. “A responsabilidade pela afirmação futura do português ou da sua crise resultará do empenho das formulações políti-cas dos Estados membros”, defendeu durante a II AP-CPLP.Em Março, Brasília (Brasil) foi palco da Confe-rência Internacional sobre os destinos da lín-gua portuguesa no Sistema Internacional da CPLP. No evento, foram discutidos temas li-gados ao futuro do idioma, nomeadamente a sua utilização em foros multilaterais, o grau de importância na diáspora e a difusão nos meios de comunicação. No final do encontro, Osvaldo Varela, director para a Europa do Ministério das Relações Exteriores, lembrou que a questão deve ser encarada em duas vertentes distin-tas: a intra-comunitária e a extra-comunitária. Sugeriu ainda o lançamento de uma edição de dicionários de literatura dos países da CPLP. Tal foi defendido em Banguecoque (Tailândia), em que os deputados das oito nações propuseram a inclusão do português como língua de traba-lho da União Inter-Parlamentar (UIP), juntan-do-se ao árabe, espanhol, inglês e francês. A decisão será divulgada no próximo encontro de concertação.

APOIO DA UEA CPLP possui protocolos de cooperação com diversas organizações internacionais e da so-ciedade civil no âmbito das principais áreas de intervenção: agricultura e segurança alimen-tar, ciência e tecnologia, desporto, educação e recursos humanos, juventude, meio ambiente

e energias renováveis, migrações, saúde, tele-comunicações e governo electrónico, trabalho e solidariedade social. Assim, a comunidade aderiu à declaração dos Objectivos de Desen-volvimento do Milénio. Tanto Luís Amado, como Paulo Kassoma defendem que a orga-nização deve abrir-se a outros organismos re-gionais e internacionais, nos quais cada país está inserido. O responsável português alega que a CPLP é “uma comunidade de dimensão universal, com vocação global num tempo da globalização”, lembrando que “10 anos é mui-to pouco para desenvolver o espírito comuni-tário alargado a todos os países”. A importância da CPLP foi reconhecida pela União Europeia em 2007 e a partir daí tem surgido como parceiro na criação de sinergias em matérias de política externa e desenvolvi-mento através de um Memorando de Enten-dimento, rubricado entre ambas as partes. O documento marca a cooperação no combate à pobreza, o fomento da democracia e dos direi-tos humanos, a promoção da diversidade cul-tural e o desenvolvimento económico e social. É o caso do acordo assinado no início do ano com a ONU, no âmbito do combate da SIDA.

a cplpA Comunidade dos Países de Língua Portuguesa tem como principal finalidade o apro-fundamento multilateral da amizade mútua e cooperação entre os oito países. Tem au-tonomia financeira e foi desenvolvida para reforçar a presença dos lusófonos no cenário internacional politico-diplomático. Promove a língua portuguesa e a cooperação nos do-mínios da educação, saúde, ciência e tecnologia, defesa, agricultura, administração pú-blica, comunicações, justiça, segurança pública, cultura, desporto e comunicação social. Possui personalidade jurídica e rege-se por vários princípios como o da igualdade sobera-na e o respeito pela integridade territorial dos Estados, pela reciprocidade de tratamento, pela promoção do desenvolvimento, da paz, do Estado de direito, da justiça social e dos direitos humanos, respeitando a sua identidade nacional e autonomia interna.

VISÃO INTERNAOs países membros procuram promover os objectivos de integração dos territórios lusó-fonos. Na Guiné-Bissau ajudaram a controlar os golpes de Estado e a implementar uma reforma política. Em S. Tomé e Príncipe pro-puseram a reestruturação económica.Para os sociólogos, a CPLP está longe de cumprir o propósito que esteve na base da sua criação. Nenhuma das nações está na lis-ta dos 20 países mais humanamente desen-volvidos e, de acordo com o sociólogo luso Boaventura de Sousa Santos, “está dema-siadamente focada em dois países”: Portu-gal e Brasil. José Sócrates, primeiro-ministro português, destacou no último encontro que a projecção internacional e externa da lu-sofonia tem saído “reforçada”, pois soube “concertar melhor as suas posições em or-ganizações internacionais: aproximou-se a organizações geográficas ou tematicamen-te afiliadas ao espaço da CPLP”. “A concerta-ção política e diplomática é sem dúvida um dos êxitos que muito tem contribuído para a afirmação dos países de expressão portu-guesa”, admitiu.

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| patrícia alves tavares GRANDE ENTREVISTA

o líderQue análise faz da sua governação, desde que tomou posse em Julho de 2008?Foram dois anos intensos de muita apren-dizagem, interacção, criatividade e dedi-cação. Terá coincidido com um período de maior disponibilidade e empenho dos Es-tados-membros, o que permite constatar actualmente um maior reconhecimento, vi-sibilidade e eficiência da organização. Hoje, a cooperação ocorre em todos os domínios da vida pública dos Estados, há uma adesão

maior da sociedade civil que desenvolve ac-ções por iniciativa própria e o empresaria-do comunitário assume maior dinamismo. Estamos certos de que a combinação de tu-do isso irá resultar em ganhos efectivos pa-ra os cidadãos da nossa Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.

O que mudou na organização desde esse período?A mudança não é um objectivo. É sobretudo um meio. Para alcançar os resultados acima descritos (e outros aqui não reproduzidos)

houve um esforço intenso de abertura à sociedade, que se mantém. Estamos a exe-cutar a “nova visão estratégica de Coopera-ção”, que pressupõe um envolvimento mais consequente dos beneficiários dos progra-mas. As estruturas decisórias são motivadas e não se quedam por declarações de inten-ção, mas por produzir mecanismos de im-plementação e de monitorização. Surgiu a Assembleia Parlamentar para, entre outras capacidades, facilitar a coordenação das nossas instâncias legislativas. Os “Momen-tos CPLP” realizados em São Tomé e Príncipe e na Guiné-Bissau, com a sua multiplicida-de de temas e manifestações, permitiram às populações descobrir, questionar e partici-par na formulação do conceito CPLP. Hoje, acreditamos com muitos fundamentos na existência de oportunidades soberanas de crescimento e consolidação da organiza-ção, com benefícios tangíveis para a nossa comunidade.

Domingos Simões Pereira, actual secretário-executivo da CPLP, está confiante nas capacidades de liderança de Angola e acredita que o país poderá trazer uma nova dinâmica à comunidade, auxiliando na integra-ção dos Estados africanos. Em entrevista exclusiva à Angola’in, o ex-ministro guineense faz o balanço dos dois anos de gestão do organismo e destaca os principais desafios da nova década.

“Contamoscom uma presidênciaangolana global”

25 ECONOMIA & NEGÓCIOS · ANGOLA’IN |

GRANDE ENTREVISTA

“Nos próximos tempos, devemos assistir a medidas concretas que harmonizem o conjunto mínimo de direitos a outorgar a todos os nossos cidadãos no espaço CPLP. A sociedade civil está envolvida e dinamizada”

Quando tomou posse referiu que ti-nha chegado a hora da CPLP dar “o salto qualitativo”. Esse intento foi alcançado?Esse é um processo que se vai materializando. Reconhecemos que ainda falta fazer muito, mas certamente a caminhada foi empreen-dida. O salto para nós significa integração, presença, visibilidade e resultados. Para qual-quer dos âmbitos da intervenção da Comuni-dade, perante essas referências, algo foi feito e no mínimo estão identificadas as medidas necessárias para alcançar os objectivos: para o estatuto de cidadão lusófono e a livre cir-culação, após reuniões de alto nível, um es-tudo específico e o contributo da Assembleia Parlamentar, alguns países já avançaram na melhoria das condições de atendimento dos visitantes ou emigrantes oriundos dos de-mais espaços da CPLP. Nos próximos tempos, devemos assistir a medidas concretas que harmonizem o conjunto mínimo de direi-tos a outorgar a todos os nossos cidadãos no espaço CPLP. Na cooperação, nem a compo-nente Segurança e Defesa representa algum tabu. Pela primeira vez, os Exercícios Felinos (a terem lugar em Angola) vão contar com a presença de observadores por parte de organi-zações internacionais de elevado peso nesses domínios. E, finalmente, a língua e a cultura da CPLP. O dia 5 de Maio ficou instituído co-mo o dia da Língua e da Cultura da CPLP - des-de o Conselho de Ministros da Praia, de 2009 - e, pelo terceiro ano consecutivo, foi reali-zada a semana da cultura da CPLP com uma variedade impressionante de manifestações. Entretanto, este ano, em Brasília, uma confe-rência internacional sobre o futuro da língua estabelece as estratégias para a sua promoção e divulgação. A sociedade civil está envolvida e dinamizada. Ainda falta concretizar muito, mas certamente que sem estes preliminares estávamos mais distantes de o alcançar.

Que áreas de cooperação podem ser incrementadas?

O ano de 2009 foi um ano que permitiu sis-tematizar um conjunto de procedimentos e metodologias, de que a aprovação do do-cumento “Cooperação na CPLP - Uma Visão Estratégica de Cooperação Pós Bissau” é o exemplo mais importante. Mas as linhas de actuação que ganharam maior visibilidade dizem respeito a um programa de colabora-ção sectorial para a área da saúde: o “Plano Estratégico de Cooperação em Saúde – PECS/CPLP”. Assistiu-se a uma importante inter-venção na área do ambiente, com especial destaque para a cooperação técnica no domí-nio do combate à desertificação, gestão sus-tentável das terras, segurança alimentar e educação ambiental. Destaco também o pro-grama na área do trabalho e protecção social e algumas acções de formação e capacitação de recursos humanos. Sublinho a prepara-ção e acompanhamento de um processo de credenciação junto da Comissão Europeia, a chamada “Auditoria dos 4 Pilares”; o Plano Es-tratégico da CPLP para Timor-Leste e o dese-nho de um Plano de Apoio à Estabilidade na Guiné-Bissau, baseado em desenvolvimentos nos sectores da segurança alimentar, saúde e educação. Não posso deixar de realçar ainda a coordenação e monitorização permanente com os Pontos Focais que se foram criando em diversos domínios já referidos e nas áreas do governo electrónico e telecomunicações. Por último, recordo a absoluta necessidade

de dinamização dos protocolos ou memoran-dos de entendimento assinados com vários organismos (Organizações internacionais e observadores consultivos). Pode-se sempre fazer mais, mas o que se tem feito é impor-tante e substantivo.

Acredita que o crescimento não deve depender exclusivamente do petró-leo. Que sectores podem ser explo-rados?Recursos económicos que possam impulsio-nar o crescimento e o desenvolvimento não são negligíveis e reconhecemos a sua impor-tância para a melhoria das condições de vida das populações. No entanto, a consolidação e sustentabilidade do progresso tem a ver fun-damentalmente com a expansão humana. O Homem tem de estar no centro das nossas atenções e estratégias. Por isso, a formação e capacitação dirigidas à criação de novas li-deranças que tenham como base o domínio das tecnologias, a competitividade económi-ca e a estruturação de uma sociedade plural, justa e democrática são os pergaminhos do desenvolvimento que temos que ambicio-nar. Todos os nossos Estados possuem uma grande diversidade de factores económicos, mas apraz-nos registar em todos a compo-nente agrícola e o mar. Fazemos votos para que sejamos capazes de desenvolver uma vi-são estratégica de sucesso para estes sectores,

‘O Homem tem de estar no centro das nossas atenções e estratégias’

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GRANDE ENTREVISTA

de forma a melhorar a nossa capacidade de prestar serviços e garantir emprego às nossas massas populacionais. Nos encontros dos mi-nistros da Agricultura e na recente reunião dos ministros que tutelam os Assuntos do Mar foram estabelecidos contactos impor-tantes para esses efeitos.

cplpQual o papel da CPLP no panorama internacional?A integração dos países nos seus espaços re-gionais – Angola e Moçambique na SADC, Brasil no Mercosul, Cabo Verde e Guiné-Bis-sau na CEDEAO, Portugal na União Europeia e, acreditamos que será para breve, Timor-Les-te na ASEAN – é essencialmente uma opor-tunidade para a preponderância dos nossos interesses multilaterais na agenda destes es-paços regionais e sub-regionais do panorama internacional. Paralelamente, estão formal-mente constituídos mais de três dezenas de grupos CPLP nos países onde existem mais de três representações diplomáticas dos nossos Estados-membros. Os embaixadores reúnem-se com regularidade e concertam posições alargando o nosso leque de influência junto a essas nações. Temos grupos CPLP em Adis Abe-ba, Berlim, Bruxelas, Buenos Aires, Budapeste, Cairo, Dacar, União Europeia (Bruxelas), Dili, FAO (Roma), Genebra, Haia, Harare, Havana, Jacarta, Londres, Madrid, Moscovo, Nairobi, Otava, Rabat, República Democrática do Con-go (RDC), Roma, Telavive, Tóquio, Varsóvia e Viena, entre outros. Este número tem vindo a crescer. Quero ainda referir o reconhecimen-to internacional das missões de observação eleitoral. A CPLP realizou missões no referen-do sobre a autodeterminação de Timor-Leste, nas eleições para a Assembleia Constituinte e eleições presidenciais em Timor-Leste (Agos-to de 1999, Agosto de 2001, Abril de 2002); às eleições autárquicas, presidenciais e legisla-tivas em Moçambique (Novembro de 2003 e Dezembro de 2004); às legislativas e presiden-ciais na Guiné-Bissau (Março de 2004 e Julho de 2005); às legislativas e presidenciais em S. Tomé e Príncipe (Março - Abril e Julho de 2006); 1ª e 2ª volta dos pleitos parlamentares em Timor-leste (Junho de 2007) e às presidên-cias em Timor-Leste (Abril de 2007 e Maio de 2007) e Guiné-Bissau, em Junho de 2009.

Como tem sido promovida a coopera-ção interna entre os oito membros?A actuação político-diplomática foi o motor fundamental da criação da própria CPLP. Ac-tualmente, os políticos dos Estados-membros encontram-se a nível ministerial mais de vin-te vezes por ano, abordando áreas de actua-ção tão diversas como a Saúde, o Ambiente, a Agricultura, as Finanças ou a Educação e Cultura. Nesta matéria, dou especial desta-que ao Plano Estratégico de Cooperação em Saúde (PECS-CPLP 2009/2012), aprovado no ano passado pelos ministros com esta tutela nos nossos países. Ao nível mais técnico, os encontros e projectos em conjunto são em número ainda maior. Por outro lado, a evo-lução do Conselho Empresarial aponta para o aprofundamento das relações económicas e empresariais com a proclamação de uma Confederação Empresarial da CPLP pelos nossos empresários, que deverá ser apresen-tada à próxima cimeira de Luanda, em Julho. Naturalmente, também a Cultura e a Comu-nicação são objectivos importantes no âm-bito do desenvolvimento da CPLP, pelo que temos intensificado a nossa actuação nes-tes domínios. Sublinho o projecto de docu-mentários DOCTV CPLP e outros como, por

exemplo, os efectuados no acompanhamento e dinamização de projectos e actividades con-juntas (aprovadas pelos ministros da Cultura e constantes do perfil de projectos culturais já delineado), como o “Momentos CPLP” e a “Semana Cultural da CPLP”, promovidos pe-lo Secretariado Executivo em conjunto com os Estados-membros.

Quais os principais constrangimen-tos com que o organismo se depara?Não estamos conformados. Não podemos estar inteiramente satisfeitos com o funcio-namento da CPLP, porque é sempre possível fazer mais. Estamos a caminhar a um ritmo permitido pelo próprio estado de desenvolvi-mento dos nossos países. Somos oito Estados, mas a maioria está classificada como países menos avançados. O crescimento interno acaba por condicionar o que podemos fazer, representando, todavia, o grande estímulo para aprimorarmos o nosso desempenho.

A vertente empresarial é menos im-pulsionada. A que se deve esse afasta-mento de um sector considerado pelos especialistas como ‘peça-chave’?Esta percepção não é completamente real.

‘Estamos a caminhar a um ritmo permitido pelo próprio estado de desenvolvimento dos nossos países’

‘A actuação político-diplomática foi o motor fundamental da criação da própria CPLP. A evolução do Conselho Empresarial aponta para o aprofundamento das relações económicas’

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GRANDE ENTREVISTA

Existe cooperação económica e empresarial entre os nossos Estados. Ela não tem a expres-são que corresponda ao potencial das nossas respectivas economias e, por isso, é preciso melhorar e incrementar. Penso que é o que está a acontecer. O Conselho Empresarial ganhou dinamismo e transformou-se numa confederação que está exactamente no pro-cesso de revisão do ordenamento jurídico (para poder formular propostas às instâncias de decisão) que instrui o sector. Estou ao cor-rente de iniciativas tendentes a desbloquear a componente dos transportes e comunicações entre os países e, por tudo isso, acredito que resultados mais visíveis irão surgir nos pró-ximos tempos. A abertura das fronteiras entre os Es-tados-membros pode facilitar a con-solidação interna da comunidade?Cada um dos Estados-membros da CPLP pertence a um espaço regional específico, regendo os fluxos comerciais transfrontei-riços por acordos e convenções nessa ma-téria. A tendência de uma maior abertura é um princípio subscrito por todos, seguros de ser um factor impulsionador das trocas, da integração e do crescimento. É obvio que ainda enfrenta dificuldades, inerentes à pró-pria complexidade do tema e que vão sendo reguladas com o tempo e com a crescente consolidação dos mecanismos internos dos próprios países. A CPLP não é necessaria-mente uma organização regional, porque não tem fronteiras físicas comuns entre os países. Por este motivo, a nossa vocação é assistir quanto possível, através do inter-câmbio de conhecimentos e experiências, os nossos Estados a ter uma presença mais efectiva e favorável nos seus espaços geográ-ficos e que possa servir de porta de entrada dos homens de negócios dos demais países da CPLP nesse espaço.

A possível entrada da Guiné Equa-torial promete dinamizar a organi-zação?A eventual adesão de um país a uma organi-zação como a CPLP não deve à partida provo-car uma alteração da sua agenda. Todavia, tal só faz sentido se for um contributo positivo e é o que esperamos.

Que factores têm pesado na avalia-ção do pedido?A CPLP enquanto organização multilateral rege-se por princípios e por um Estatuto que fixa a Língua Portuguesa como elemento de identidade fundamental. A Guiné Equato-

rial, sendo o único país africano de Língua Espanhola, entende ser esse o espaço mais adequado por um largo conjunto de afini-dades. Desde 2004, os Estados-membros têm promovido a avaliação das condições (ob-jectivas e não só) para a sua inclusão como membro de plenos direitos. Nas cimeiras an-teriores, a conclusão foi a de que precisavam de mais tempo, apesar de acarinhar a inten-ção. Vamos ter de aguardar a próxima reu-nião para saber a decisão que os Chefes de Estado irão tomar. Os elementos fundamen-tais são a observância dos Estatutos e a ade-são aos princípios da organização.

Como analisa as relações bilaterais intra CPLP?Os nossos Estados-membros têm uma rela-ção muito próxima, pelos laços históricos e pela partilha da língua. As relações bilaterais são profícuas e significativas, sobretudo na cooperação bilateral entre o Brasil e Portugal e os demais países da CPLP. Recordo que as mesmas são importantes para a construção de uma comunidade a oito, como exempli-fica o alargamento de condições especiais, já contempladas nas relações bilaterais, para os cidadãos brasileiros, portugueses e cabo-verdianos (particularmente, a possibilidade de se poderem candidatar aos órgãos de po-der local).

Em que moldes se baseia a coopera-ção com a União Europeia?O Secretariado Executivo da CPLP já foi au-ditado pela Comissão Europeia. Denomina-da aos “quatro pilares”, a auditoria validou os procedimentos internos da nossa organi-zação, tornando-a elegível para gerir alguns fundos europeus destinados à cooperação.

As Nações Unidas são parceiras im-portantes?Naturalmente. A CPLP participa na Assem-bleia-geral da ONU todos os anos. Temos di-versos acordos com organismos do sistema das Nações Unidas. Vou referir apenas al-guns: assinámos, no corrente ano e no âm-bito do PECS-CPLP, um entendimento com a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a ONUSida no sentido de estabelecer o quadro de cooperação no domínio da Saúde. No âm-bito da formação, em 2009, promovemos um acordo com a Unitar e na cultura temos uma relação firmada de dez anos com a Unesco, que nos tem permitido adoptar instrumentos jurídicos nos nossos países. Dinamizamos e realizamos diversas iniciativas e projectos conjuntos no âmbito da capacitação temáti-ca dos jornalistas dos nossos países. Os pro-jectos com a FIDA e FAO têm-se revelado muito importantes e prometedores em maté-ria do desenvolvimento agrícola, segurança alimentar e gestão sustentável das terras.

“A CPLP participa na Assembleia-Geral da ONU todos os anos. Temos diversos acordos com organismos do sistema das Nações Unidas”

língua portuguesaQual a importância da Língua Por-tuguesa no mundo?A Língua Portuguesa é actualmente falada por cerca de 240 milhões de pessoas. As pre-visões apontam para um crescimento do nú-mero de falantes, enquanto língua materna e segunda língua.

“Contamos com a sua liderança, envolvimento e determinação em todos os domínios”

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GRANDE ENTREVISTA

Que acções têm sido promovidas pe-la CPLP para difundir o português?A assunção de políticas partilhadas para a projecção da Língua Portuguesa como idio-ma global. A acção conjunta deve guiar-se pelos pressupostos do realismo na fixação de objectivos, do pragmatismo na sua execução e da persistência na concertação política ne-cessária. Realço a importância da dimensão interna e externa da acção. Com satisfação, o Conselho de Ministros de Brasília registou a conclusão dos trabalhos de revisão dos Es-tatutos e do Regimento do Instituto Interna-cional da Língua Portuguesa (IILP), com vista a dotá-lo de meios para transformar-se num instrumento útil às políticas comuns e nacio-nais dos países da CPLP nas diversas vertentes da promoção, difusão e projecção da Língua Portuguesa. Recordo que este conselho, reu-nido no passado mês de Março, recomendou à VIII Conferência de Chefes de Estado e de Governo da CPLP, a realizar-se em Julho, em Luanda, a adopção do “Plano de Acção de Bra-sília para a Promoção, a Difusão e a Projecção da Língua Portuguesa”. Como o nome indica, é um plano estratégico de actividades de pro-moção global do nosso idioma comum.

‘É importante defendermos um idioma que se fala em todos os continentes, que nos dá identidade e abre as portas ao conhecimento e às actividades económicas. Acreditamos que a unificação das grafias nos vai permitir consolidar e garantir a expansão da língua’

Qual a mais-valia da língua para o dia-a-dia das populações?É importante defendermos um idioma que se fala em todos os continentes, que nos dá iden-tidade e abre as portas ao conhecimento e às actividades económicas. “A nossa língua é a nossa janela para o mundo”.

O acordo ortográfico pode aproxi-mar os cidadãos dos Estados-mem-bros da CPLP?Acreditamos que a unificação das grafias nos vai permitir consolidar e garantir a expansão da língua: no discurso científico que veicula, nas expressões culturais e artísticas criadas, nas relações económicas que estabelece e nas suas demais dimensões, como a promo-ção no panorama internacional.

angola na cplpAngola assume a liderança da CPLP em Julho. Quais os desafios que o país vai enfrentar?A presidência de Angola na CPLP chega num momento importante para esse país. Coinci-de com uma aceleração significativa do cres-cimento económico e num momento em que assume uma relevância especial no contexto regional. Para a CPLP, esses são elementos importantes. Contamos com uma presidên-cia angolana global, que permita uma maior mobilização de todos os Estados e, se possí-vel, ainda mais dos países africanos, que po-dem assim instituir um terceiro alicerce da Comunidade. Temos indicadores encoraja-dores da construção democrática nos nossos países, mas em alguns esse processo requer a contínua monitorização e assistência. Con-tamos com a experiência e a forte liderança de que Angola tem dado provas e, numa base multilateral, encontrar caminhos e áreas de intervenção que promovam e consolidem a construção de um Estado Democrático, em

que prevaleça a liberdade e a justiça.

Tendo em conta as previsões econó-micas, Angola tem condições para se assumir como potência dentro da CPLP?A conversão do poderio económico numa li-derança estratégica é ainda uma conquista a realizar pelos nossos Estados-membros e em que Angola tem algo de muito importante a dizer, tanto internamente como no domí-nio comunitário. Os indicadores dos investi-mentos que o país tem feito para a formação

e capacitação da sua juventude, assim co-mo a diversificação económica, levam-nos a acreditar numa resposta adequada e positiva a esse desiderato. Portanto, acreditamos no papel que Angola irá jogar e nos resultados

que daí irão advir.

A liderança angolana pode dar um importante contributo em algum sector específico?Em todos. Angola irá presidir e coordenar os diferentes fóruns de cooperação e, por isso, contamos com a sua liderança, envolvimen-to e determinação em todos os domínios. Es-tamos, entretanto, informados da intenção de dedicar a sua presidência à “Solidarieda-de na diversidade”. Apesar da abrangência do campo que esse enunciado pode cobrir, de-duzimos uma atenção especial à pluralidade cultural e a uma interacção dinâmica em to-dos os aspectos da cooperação Sul-Sul-Norte.

Ainda em Julho, inicia funções a Confederação Empresarial da CPLP. Em que medida Angola pode promo-ver a inter-relação entre as econo-mias da comunidade?Através da criação de condições que favore-çam essa inter-relação: leis favoráveis e que garantam o seu estímulo; meios económicos (infra-estruturas e linhas de crédito) que pro-movam a abertura dos mercados e a real im-plementação dos programas; mecanismos fiscais, financeiros e bancários capazes de re-gular e fortalecer as trocas. Angola tem o que é preciso para que isso resulte. Terá de o fazer em conjunto e de forma integrada.

“Contamos com uma presidência, que permita uma maior mobilização de todos os Estados e, se possível, ainda mais dos países africanos, que podem assim instituir um terceiro alicerce da Comunidade”

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DO IDEAL AO REAL

DESAFIOS DO PRESENTEE DO FUTURO

IN FOCO ARTIGO DE OPINIÃO

A este propósito, com o respeito que é devido à língua de Camões que sem preconceitos usamos não apenas como simples meios de comunica-ção mas também como expressão cultural, reafirmamos que o idioma é inquestionavelmente importante, mas não é determinante num mundo sem fronteiras. Há que concretizar projectos de cooperação efectiva, com resultados palpáveis no plano social, na vida dos milhões de cidadãos da Comunidade. Força-nos a verdade e a honestidade intelectual a afirmar que algumas das dezenas de projectos têm tido alguma eficácia social. Mas temos a percepção que se tem realizado mais no plano das ideias, conferências, reflexões, encontros, seminários, concertação e outras ter-túlias das letras às ciências e tecnologias, que são indubitavelmente im-portantes a um determinado nível, mas no que se refere ao quotidiano da maioria dos luso-comunitários são acções pouco expressivas.

Impõe-se no linear da VIII Conferência de Chefes de Estado da CPLP e nos anos subsequentes maior perspicácia, a definição de políticas mais realis-tas e orientações mais pragmáticas, em função da realidade dos Estados e dos seus povos. Há que incrementar a motivação política para que, sem titubeações, sem estranhas engenharias jurídico-políticas e de outra ín-dole, o princípio orientador do primado da Paz, da Democracia, do Estado

de Direito, dos Direitos Humanos e da Justiça Social (alínea c) do artº 5º dos Estatutos, seja efectivo em todo o espaço da Comunidade e a base para a realização dos mais legítimos interesses, expectativas e direitos dos cidadãos que a integram. Uma responsabilidade não só dos políticos que conduzem os Estados da Comunidade, mas também dos que legiti-mamente lutam pelo exercício do poder político – oposição e os cidadãos agindo como tal, propondo, participando, criticando, fiscalizando ao seu nível, o mais organizados possível –, pelo exercício da cidadania porque, salvo alguns casos, ainda existe uma grande debilidade neste domínio na maioria dos nossos países. Enquanto advogados, temos vindo a dar o nosso modesto contributo. Vejamos as conclusões do I Congresso Inter-nacional dos Advogados de Língua Portuguesa. Poderá ser dito que não passam de ideias. Estamos de acordo, mas não é justo que duvidem da eficácia, do nível, em função dos mais nobres interesses dos cidadãos. Recorde-se as intervenções práticas no foro, ou fora dele, de muitos dos advogados da comunidade ao longo destes anos, muitos dos quais pon-do em risco a sua estabilidade material, espiritual e mesmo a sua in-tegridade física, submetidos a pressões múltiplas, trabalhando melhor, batalhando em condições difíceis, mas sempre firmes na defesa dos di-reitos dos seus constituintes, resguardando a consolidação do Estado de Direito Democrático. Entenda-se que agem como tal na promoção e de-fesa dos Direitos Humanos, que passa necessariamente por um sistema de Administração da Justiça eficiente, o que, diga-se em abono da ver-dade, é um dos pontos fracos na nossa comunidade. A CPLP, com uma cooperação mais firme, poderá dar um valioso contributo neste domínio. Tal implica combatividade e, em muitos casos, uma boa dose de ponde-ração, o que não quer dizer, de modo algum, o pactuar com a arbitrarie-dade, com o não ético e o irracional, por mais subtil que se apresente, por vezes sob a capa diplomática, em especial para nós advogados que, em nosso entender, devemos estar na vanguarda, na luta pela dignidade humana. Enfim, uma responsabilidade colectiva, para que esta organi-zação seja, sem vacilações, merecedora da confiança dos milhões de ci-dadãos, que são a razão de ser da sua existência. Para nós, este é um dos grandes desafios do presente e do futuro da CPLP.

inglês pintobastonário da ordem dos advogados, angola

Desde 17 de Julho de 1996 até aos dias de ho-je já passaram 14 anos. Para alguns, tidos co-mo realistas impregnados de uma certa dose de cepticismo, lembram que com os meios dispo-níveis no mundo actual é considerado tempo suficiente para a consolidação e demonstração (entenda-se prática) da pertinência sociopolíti-ca de uma organização com os objectivos, prin-cípios e abrangência de uma entidade como a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Para outros, os mais optimistas, que recorrem a uma relação meios/resultados, atendendo às contingências de cada um dos Estados mem-bros, dizem que se está no bom caminho.

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EXPORTAÇÕES PORTUGUESAS PARA OS MEMBROS DA CPLP (2000-2009)

Fonte: INE - Instituto Nacional de Estatística | Unidade: Milhares de euros

‘As empresas angolanas procuram no estrangeiro investir particularmente nos sectores bancário e energético. Recebe, interessantemente, muito investimento por parte de Portugal precisamente nestes dois sectores’

IMPORTAÇÕES PORTUGUESAS DOS MEMBROS DA CPLP (2000-2009)

Fonte: INE - Instituto Nacional de Estatística | Unidade: Milhares de euros

No que diz respeito ao investimento directo no estrangeiro, ao analisarmos a diferença entre entrada e saída e a entrada de investimento, Saída Líquida de Investimento (SLI), por parte de Portugal face aos restantes membros da CPLP, verificamos que com todos os países Portugal tem uma situação em que este indicador é favorável à economia portuguesa, isto é, o país tem mais investimento no exterior do que recebe de empresas oriundas dos restantes membros da CPLP. Deste modo, devem ser criadas condições para fomentar maior entrada de empresas angolanas, moçambicanas, brasilei-ras, etc, na economia Portuguesa.

INVESTIMENTO DIRECTO DO EXTERIOR EM PORTUGAL

Fonte: Banco de Portugal | Unidade: Milhares de euros

Focando a nossa atenção em Angola, esta economia (juntamente com o Brasil) tem sido um dos prin-cipais destinos de localização escolhidos pelas empresas portuguesas. Este facto deve-se sobretudo à dimensão e ao potencial de crescimento apresentado pelo mercado angolano. No entanto, se o sistema financeiro angolano se encontrasse totalmente desenvolvido, o investimento a receber, quer de empre-sas portuguesas, como de outras nacionalidades, seria bem mais elevado. É sabido que as empresas em processo de investimento no exterior preferem arriscar dinheiro emprestado a aplicar fundos pró-prios. As empresas angolanas procuram no estrangeiro investir particularmente nos sectores bancário e energético. Recebe, interessantemente, muito investimento por parte de Portugal precisamente nes-tes dois sectores. De modo a aprofundar as relações comerciais e a internacionalização das empresas dos países da CPLP surge outro determinante de peso, a língua. Esta é um denominador comum dos membros da comunidade que não poderá ser perdido de vista porque será tão ou mais relevante no futuro como o foi até agora.

Fluxos comerciais e de investimento

IN FOCO ARTIGO DE OPINIÃO

Em Julho, Angola vai assumir a presidência rotativa da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Como estão as relações comerciais e qual a evolução recente das exportações/importações e dos fluxos de investimento desde 2000 entre Portugal e os países desta comunidade? Em termos de comércio de bens e de serviços este país tem, até à da-ta, mantido na generalidade uma balança comercial positiva, na medida em que exportou mais do que aquilo que importou. É sabido que Angola ocupa uma posição cimeira, no ranking de países fora da Europa, no que se refere à importação de bens e serviços de Portugal. No entanto, es-se volume não é assim tão elevado como poderia ser, já que a economia portuguesa ao nível das relações comerciais está ainda muito voltada para os seus parceiros europeus.

‘Importa reduzir muitos dos entravesque dificultam a circulação e/ou entrada de produtos nos diversos países membros da CPLP’

Não podemos esquecer também que os principais pólos de comércio e de investimento na CPLP são o Brasil, Portugal, Angola e Moçambique. Es-tes países têm relações comerciais e de investimento muito dinâmicos com países vizinhos. Porém, o factor distância geográfica, aqui aplicado aos diferentes parceiros comerciais da comunidade, é tendencialmente cada vez menos relevante numa aldeia global, onde futuramente se po-de formar um triângulo de negócios muito promissor com os vértices Eu-ropa – África - América do Sul. Esta trilogia leva a que outras economias possam ser arrastadas para uma espiral ascendente de contactos e de negócios, que poderão originar níveis mais elevados de riqueza. Contudo, e para que tal se verifique, deverão ser reduzidos muitos dos entraves que dificultam a circulação e/ou entrada de produtos nos diversos países membros da CPLP. Da mesma forma, devem ser fomentados os apoios para o estabelecimento de contactos com países vizinhos, no sentido de criar parcerias privilegiadas para a criação de economias de escala. Por outro lado, deverá existir uma forte aposta nas tecnologias, pois estas funcionam como um apoio por relação aos negócios.

‘Devem ser criadas condições para fomentar maior entrada de empresas angolanas, moçambicanas, brasileiras, etc, na economia portuguesa’

miguel matos torres ([email protected])professor da universidade de aveiro (degei), portugal

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O Mercado

IN FOCO ARTIGO DE OPINIÃO

A CPLP, criada em Julho de 1996, tem, desde a sua criação, o objectivo primordial de apro-ximar e valorizar os oito estados-membros, onde a língua portuguesa é o elo de ligação desta comunidade lusófona. Ao longo da sua história, a sua influência tem vindo a ser no-tória, pois passou de um mero obeservador a um interveniente sempre presente nas situações mais dificeis. As áreas de actuação da comunidade têm vindo a diversificar, desde as áreas da cultu-ra, às económicas e sociais, com uma preocupação centrada cada vez mais nos sectores sociais, como o emprego e a educação. Esta mudança de actua-ção, pode vir a significar, no futuro, um mercado comum de emprego e oportu-nidades para os jovens quadros lusófo-nos. Países membros com economias emergentes e pujantes como é o caso de An-gola, Brasil, Moçambique ou mesmo a Guíne Bisau (num futuro próximo), podem ser a al-ternativa para a velha Europa, já com econo-mias de pouco crescimento e altas taxas de desemprego. A crise económica que a Europa e a América estão a atravesar e que alastrou ao resto do mundo pode ser uma oportunida-de para os menbros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), principalmente os países membros ricos em recursos naturais

como o Brasil e Angola, em que as suas eco-nomias já voltaram a crescer. O Brasil, Angola e Moçambique têm vindo a ser um dos prin-cipais destinos de investimento das grandes multinacionais e das empresas portuguesas, como forma de compensar a falta de creci-mento do mercado caseiro.

DESAfIOS DA PRESIDêNCIA No próximo mês de Julho Angola assume pre-sidência da CPLP, o que pode representar um aprofundar de relações e a preparação de uma estratégia de futuro para a cooperação entre os estados-membros. Os próximos dois anos serão fundamentais para o futuro da comuni-dade. Existem dois caminhos, um deles o mais fácil será manter tudo como está e a CPLP continuar a ser um observador, o outro e mais ambicioso, passa por a comunidade ser um elo

de ligação e de apoio nos problemas políticos, económicos e sociais entre estados membros.

DEfICIT DE qUADROS qUALIfICADOSEstes países, principalmente os do continente africano, têm um deficit de quadros qualifica-dos. Nos últimos anos a falta de oportunidades

e a instabilidade política e económica le-vou muitos dos quadros nacionais a sa-írem do país. Muitas empresas têm que recorrer a mão-de-obra estrangeira para as suas necessidades de recrutamen-to, o que significa custos acrescidos e dificuldades de adaptação ao mercado. Muitos destes quadros encontram-se maioritariamente em Portugal e es-palhados pelo mundo, esperando uma oportunidade para o regresso. Muitos dos governos destes países, como An-

gola e Moçambique criaram condições para o regresso dos seus quadros e dos jovens estu-dantes que optaram por tirar os seus cursos no exterior. A CPLP pode ser um facilitador deste fluxo e intercâmbio de quadros lusófo-nos entre estados-membros num futuro pró-ximo e que tem uma significante diferença na estabilidade e no crescimento em relação aos países vizinhos.

joão carlos costa partner da jobfair global search & associates, portugal

A CPLP pode ser um facilitador do fluxo e intercâmbio de quadros lusófonos entre estados-membros

A comunidade tem demonstrado mais preocupação com as áreas sociais, como o emprego e a educação. Uma mudança de actuação que pode vir a significar, no futuro, um mercado comum de emprego e oportunidades para os jovens quadros lusófonos

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ECONOMIA & NEGÓCIOS | manuela bártolo

Accionistas nas ‘urnas’

“ONE ShARE, ONE VOTE”Compromisso de defesa das boas práti-cas societárias, que se reflecte no aumen-to dos direitos e influência dos accionistas nas sociedades. Este é um dos pontos base do princípio “one share, one vote”, assente no direito de voto, que a política de corpo-rate governance (governança corporativa) defende. Os accionistas devem ter o direito ao voto nas assembleias gerais de acordo com a proporção de capital social detido e não devem ser condicionados por nenhu-ma desproporção de direitos de voto, que visem influenciar o balanço de poder den-tro da Assembleia Geral. É porventura este, a par da transparência informativa, um dos pilares básicos sobre os quais assentam os direitos e decisões dos investidores, razão pela qual a defesa destes princípios passa necessariamente pela atribuição de verda-deiros deveres de governação societária e não apenas o hastear de uma bandeira.

A governança corporativa pode ajudar as empresas africanas a crescer. A sua impor-tância no mundo dos negócios não deve, por isso, ser ignorada, assim como o facto das

empresas que adoptam as melhores práti-cas serem as mais susceptíveis de conjugar factores como a rentabilidade, competitivi-dade e sustentabilidade. Ela está no topo da agenda das empresas em todo o mundo, pelo que em África não deve ser excepção. Como os empresários do continente preten-dem desempenhar um papel maior na eco-nomia global, estão-se a tornar conscientes de que precisam seguir as melhores práticas para poderem ser competitivos com as em-presas estrangeiras. A questão da governan-ça corporativa é, por isso, assegurar que a gestão e os accionistas maioritários das em-presas se comportem de forma a equilibrar o lucro com os interesses dos accionistas minoritários e outras partes interessadas, o que inclui aspectos como a transparên-cia financeira e divulgação, tratamento dos accionistas minoritários, estrutura organi-zacional e do conselho de administração. Defende-se a ideia de que as empresas fa-zer uma separação das funções de presiden-te e director-executivo e um conselho forte não-executivo, em consonância com as me-lhores práticas da área. Outros elementos de governança corporativa incluem auditorias

internas e externas, gestão de risco, plane-amento de sucessão, direitos dos accionis-tas minoritários, divulgação de informações a analistas e accionistas, bem como o cum-primento da legislação, regulamentos, bolsa de valores e estruturas da indústria de regu-lamentação. A sua política não se faz apenas com o cumprimento de uma obrigação legal ou quadro (voluntária ou involuntária) de re-gulamentação, mas (sobretudo) em fazer a coisa moralmente certa.

A governança corporativa começa a ser entendida como um excelente diferencial competitivo, uma vez que pode ajudar as empresas a atrair financiamento de investidores nacionais e internacionais

O VALOR DAS MELhORES PRáTICAS As empresas africanas, em particular as PME’s, nem sempre compreendem o valor da governança corporativa. A adopção das

formal entre presidente do conselho de ad-ministração e o director-geral/CEO) ou o re-gresso à fusão tradicional das duas funções de topo (com um único líder carismático ao leme). A ideia ingénua de que os riscos de conflito entre as duas funções se resolvem escolhendo adequadamente as pessoas ‘certas’ nem sempre é comprovada pela prá-tica – a oferta de pessoas ‘certas’ é infinita-mente menor do que a procura, explica, com algum humor, Charles M. Elson, especialista norte-americano em corporate governance e presidente do Centro para a Governação Em-presarial da Universidade de Delaware. Por isso, a solução realista é fazer com que o conselho de administração – todo ele – de-sempenhe efectivamente as funções para as quais foi escolhido pelos accionistas, subli-nha, afirmando que a questão crucial não é concentrar a autoridade num só ou dividi-la em dois. O foco do debate – e da atenção dos accionistas – deveria estar nos administra-dores independentes e na estrutura dos co-mités da administração.

SINAIS DE fOGOO bom desempenho de um Conselho de Ad-ministração (CA) só se conseguirá se uma maioria substancial dos seus membros for efectivamente independente, não sendo uma extensão da “rede” de relações políti-cas ou económicas do presidente. Charles Elson frisa, ainda, que estes membros do CA deverão ser pró-activos na supervisão da agenda da sua área de responsabilida-de e funcionar em regime de rotatividade, ao fim de algum tempo, nos comités que presidem, não aquecendo o lugar. O papel dessa maioria de administradores inde-pendentes deverá, também, mani-festar-se em casos de sinais de fogo: se há uma ‘guerrilha’ entre o presidente e o

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melhores práticas pode parecer caro e com-plicado para as pequenas empresas em fase de crescimento. No entanto, o quadro está lentamente a mudar, pois esta política co-meça a ser entendida como um excelente diferencial competitivo, uma vez que pode ajudar as empresas a atrair financiamento de investidores nacionais e internacionais. As que fazem negócios no mercado interna-cional estão, por isso, também sob pressão dos seus clientes para mostrar que têm uma boa governança corporativa e as credenciais éticas exigidas. Razão pela qual, os gover-nos, como os do Gana, Malawi, Moçambique e Zâmbia, e respectivas associações empre-sariais estão, cada vez mais, a criar estrutu-ras a este nível.

INfLUêNCIA NO INVESTIMENTOA adopção de boas práticas de governança corporativa, como forma de protecção so-bretudo dos accionistas minoritários, tem vindo, no entanto, a ser discutida há algum tempo na Europa e nos Estados Unidos. A sua influência sobre a decisão de investi-mento tem aumentado, uma vez que uma boa percentagem dos investidores demons-tra, cada vez mais, disponibilidade para pa-gar um preço maior por acções de empresas que adoptam tais práticas. Isto porque sim-boliza, por um lado, que a instituição dá a segurança necessária ao investidor ao criar um ambiente de negócios saudável e, por outro, que são empresas com um custo de captação menor, o que afecta a opinião do investidor no momento da aplicação do seu dinheiro em acções. No entanto, ainda há os que preferem analisar o risco e o retorno do investimento, sendo o factor governança pouco, ou quase nada, analisado, o que faz ressaltar a importância de um aumento na divulgação e promoção da adopção de boas práticas entre os investidores. Com especial relevância no mercado de ca-pitais. A opção de bom senso na ‘governação’ das empresas cotadas (designadas por pú-blicas nos países anglo-saxó-nicos, em virtude da abertura de capital ao público através das bolsas) não se encontra em nenhum dos dois extre-mos hoje militantemente de-fendidos pelos respectivos grupos de fãs: a moda da bi-cefalia no poder (separação

CEO, então compete-lhes actuar e reavaliar as pessoas escolhidas, ou um, ou outro, ou ambos, afirma, peremptório, o especialista. A dualidade de poder no topo das empresas cotadas tornou-se moda, nomeadamente nos Estados Unidos, desde 2001, e em 2008 já atingia 50,4% das companhias “públicas” norte-americanas, de acordo com Charles El-son. A repartição de poderes entre um presi-dente do CA (designado por “chairman”, uma expressão “vip” que se generalizou mesmo nos países sem língua oficial inglesa) e o director-geral (CEO, na expressão anglo-sa-xónica) tem conduzido, em muitos casos, a um duplo poder dentro das empresas cota-das, facilitando a “guerrilha” entre facções que se agrupam em torno das posições de um, ou de outro, paralisando as actividades de gestão e afectando a imagem e valoriza-ção das empresas, o que, por vezes, prejudi-ca seriamente os accionistas. Por essa razão, no calor inicial do debate, um reputado es-pecialista, William T. Allen, ex-presidente do organismo regulador criado pela SEC nor-te-americana e director do Centro de Direi-to Empresarial da Universidade de Nova Iorque, recomendou que se cortasse o “mal pela raíz”. A eficiência empre-sarial exige a liderança num só lugar – no CEO, argumen-ta, acrescentando que o papel de contro-lo da gestão deveria ser ex-

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cercido pelos administradores independen-tes. Charles Elson não é radical a esse ponto, mas admite que a figura da bicefalia é par-ticularmente adequada a situações de ex-cepção nas empresas familiares, onde, por vezes, o problema delicado da sucessão re-quer temporariamente um tratamento equi-librado.

REALIDADE NACIONALO crescimento de grupos empresariais em Angola ainda é insípido, até porque se vive essencialmente um processo de reordena-mento e consolidação dos diferentes sec-tores de negócio. Aliado a este facto, está a inexistência das SGPS, como explicou Lu-ís Todo Bom, professor convidado do ISCTE, ao Semanário Expresso, no ordenamento ju-rídico angolano, o que torna menos claro e menos estruturado o processo de consolida-ção empresarial, muitas vezes suportado em SA, que funcionam simultaneamente como holdings e empresas operacionais. De acordo com o mesmo, “o facto de a grande maioria dos grupos empresariais angolanos serem grupos familiares aumenta a complexida-de deste reordenamento de participações sociais e de negócios, uma vez que é rara a separação entre unidades patrimoniais da família e as unidades operacionais nas dife-rentes áreas de negócio dos grupos”. Razão pela qual, as questões de ‘corporate gover-nance’, que “têm uma importância clara em

todas as unidades empresariais com alguma dimensão e sofisticação, assumem no caso vertente um papel de uma grande relevân-cia”. De facto, “a separação entre os direitos e atribuições dos accionistas e o papel dos gestores, a actuação dos gestores profissio-nais e independentes, as comissões de au-ditoria independentes no seio dos conselhos de administração e a sua ligação aos audito-res externos e as funções do conselho fiscal assumem uma importância inquestionável para o bom governo das empresas”, refere o docente. “O facto de um grande número de grupos empresariais não apresentar contas consolidadas e a inexistência de um merca-do de capitais que estabeleça regras de fun-cionamento dos mercados a serem seguidas pelas diferentes unidades empresariais do país, constitui uma dificuldade adicional pa-ra o urgente e correcto movimento de cla-reza e eficiência empresarial”. Segundo o mesmo, em artigo de opinião ao Expresso, “é sempre possível utilizar as recomenda-ções de organismos internacionais, como a OCDE ou adoptar modelos de outros mer-cados mais desenvolvidos, mas raramente estas normas são directamente transponí-veis para a realidade angolana”. “A cultura angolana tem especificidades, por exemplo, ao nível da avaliação das performances e distribuição de lucros entre as ‘famílias’ de accionistas e de gestores. O conhecimento detalhado deste fenómeno é essencial para

a saberA governança corporativa pode ser definida como as regras, estruturas e processos para dirigir e controlar as relações da empresa com seus stakeholders, incluindo gestão, accionistas, consumidores, credores, empregados, público em geral e fornecedores

Existem vários tipos de estruturas de administração em diferentes países. Em geral, prevalecem duas estruturas: “one-tier system”, em que uma única administração incorpora função de gestão e de supervisão, e a “two-tier system”, em que estas duas funções estão divididas por dois corpos

as empresas não angolanas, nomeadamen-te as portuguesas, que desenvolvem alian-ças e parcerias com empresas angolanas, em especial as que têm modelos de gover-nance mais sofisticados nos seus países de origem. É, pois, essencial, um movimento de construção equilibrado e consensual das melhores práticas de ‘corporate governan-ce’ nos grupos empresariais angolanos para que os mesmos se possam afirmar nos mer-cados internacionais, onde terão que actuar cada vez mais, na sequência do desenvolvi-mento que Angola apresenta. Os modelos a adoptar deverão, em minha opinião, ter em conta os vários stakeholders que interagem com estes grupos empresariais, na óptica de um desenvolvimento económico-social sus-tentado”, explica a este jornal.

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fAOErradicação da fome

“Angola vai assumir nos próximos dois anos a presidência da Conferência Regional da FAO para África, actuando como porta-voz dos povos africanos no domínio da segurança ali-mentar e nutricional e através da participação no sistema de governação da FAO”, anunciou Mamadou Diallo, representante da delegação nacional da organização. Os novos dirigentes da Conferência Regional tomaram posse em Maio, substituindo o ministro da Agricultura guineense Gideon NDambuki. Da parte an-golana, Amaro Tati, secretário de Estado da Agricultura, agradeceu durante a última con-ferência a confiança depositada e assumiu o compromisso de cumprir as metas estabele-cidas na 26ª reunião, assegurando a partici-pação nos conselhos da FAO em Roma. Aliás, este será um dos principais desafios da nova equipa que, segundo Mamadou Diallo, deverá “acompanhar e assumir a voz de África e com-partilhar com o continente as conclusões e re-comendações saídas dos encontros” e fóruns internacionais. “Haverá uma nova dinâmica de diálogo depois da Conferência que será li-

derada por Angola”, concluiu. Jacques Diouf, director-geral da FAO, partilha da mesma opi-nião. “Antes o trabalho terminava com a con-ferência, agora ele terá de continuar até 2012 e participará em acções da organização ao ní-vel mundial e regional”, advertiu recentemen-te, à saída de uma reunião com o ministro das Relações Exteriores, Assunção dos Anjos. O dirigente realçou que a nomeação de Angola foi unânime, pelo que “a satisfação foi mani-festada não só pelos Estados africanos, mas também pelos elementos das Organizações Não Governamentais, sociedade civil e obser-vadores de outras regiões”.

‘O país terá como competências a definição das prioridades do continente a nível da segurança alimentar e a mobilização de recursos para combater a fome e a pobreza nas regiões africanas’

A MISSÃOO país terá como competências a participa-ção nos projectos e no orçamento da FAO, a eleição e definição das prioridades do conti-nente a nível da segurança alimentar e a mo-bilização de recursos para combater a fome e a pobreza nas regiões africanas. Mamadou Diallo adiantou que a temática “prioritária pa-ra Angola” diz respeito à forma como valorizar o potencial dos bio-combustíveis sem preju-ízo da capacidade de fabrico dos produtores. O responsável congratulou-se com a parceria estabelecida entre a nação e a FAO, definin-do a cooperação como excelente. “Estamos a trabalhar em conjunto na implementação de uma estratégia nacional de segurança alimen-tar e nutricional e as recomendações saídas da Conferência Regional da FAO vão ser integra-das no programa de desenvolvimento rural e de combate à pobreza no país”, sustentou. Da parte da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, o Governo nacio-nal poderá contar com a colaboração no âm-bito da efectivação dos objectivos delineados e no cumprimento das recomendações da úl-tima reunião. A conferência regional da FAO em África decorre de dois em dois anos, com o objectivo de nomear o país que vai presidir o organismo e de proceder ao balanço dos pro-blemas e prioridades específicas de cada re-gião. Durante o encontro são analisados os planos de trabalho, projectos executados e o grau de eficácia da entidade nos países. O evento reúne os ministros da Agricultura do continente, a União Africana, organizações regionais e sub-regionais, parceiros da enti-dade e elementos da sociedade civil. A FAO ocupa-se dos problemas alimentares e agrí-colas mundiais. Uma das suas prioridades é a redução da subnutrição, fomentando a produ-ção agrícola das nações menos desenvolvidas, através de apoios financeiros e técnicos.

A presidência regional da Organização das Nações Unidas para a Agri-cultura e Alimentação (FAO) foi atribuída a Angola, após esta ter sido eleita pelos 53 Estados africanos que participaram na 26ª reunião do organismo, que decorreu em Luanda. O ministro da Agricultura e De-senvolvimento Rural, Afonso Pedro Canga, representará o país e vai di-rigir a entidade durante os próximos dois anos.

| patrícia alves tavares

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Made in Angola

IN(TO) BUSINESS | manuela bártolo ECONOMIA & NEGÓCIOS

Inegável! A globalização estimula a concor-rência. Entre países, regiões e cidades pela atracção de investimento, de mão-de-obra qualificada, de turistas e até de eventos, as-sim como promove a valorização dos seus pro-dutos (exportações) e das suas instituições. Razão pela qual, o desenvolvimento de estra-tégias de Place Branding se tem tornado uma ferramenta importante para o crescimen-to, sucesso e notoriedade de um país, cida-de ou região. Senão vejamos: nos últimos 10 a 15 anos, países como os EUA, a Espanha, a Alemanha, a Escócia e a Nova Zelândia, cida-des como Paris e Nova Iorque e regiões como o Arizona, os Pirinéus ou o Silicon Valley, têm implementado estratégias de gestão das su-as marcas local, tendo como objectivo primor-dial a atribuição de valor para si e para os seus cidadãos. Cientes desta necessidade, começa hoje a (re)nascer o projecto de (re)lançamen-to da Marca Angola. A promoção de uma mar-ca global exige a concertação de um conjunto de variáveis que vão desde a gestão de mar-cas até ao desenvolvimento político, criando um novo fenómeno que se focaliza tanto na definição de estratégias, como na sua imple-mentação. É importante, portanto, adicionar às ferramentas clássicas uma liderança forte, a diplomacia política e os negócios estrangei-ros. Os locais devem desenvolver campanhas

de promoção das suas marcas baseadas nos seus pontos fortes, criando uma imagem úni-ca e diferenciada num mercado, cada vez mais, global. Este é um processo bastante comple-xo e difícil, uma vez que implica controlar to-das as acções que influenciam a percepção que os consumidores têm dessas marcas. A competição entre países no intuito de facilitar a venda dos seus produtos e serviços, de atrair pessoas mais qualificadas, turistas ou investi-mentos é feroz e constante no mundo actual. Nesse sentido, cada país deve desenvolver a sua estratégia de promoção e posicionamen-to centralizando-se em atributos positivos, atractivos e únicos, sustentáveis e relevan-tes aos mais diferentes públicos, um pouco por todo o mundo. Contudo, esta tarefa só é possível se os governos e todas as institui-ções governamentais e não-governamentais transmitirem de forma consistente a mesma imagem ao longo do tempo.

Quando falamos na marca da nova Angola fa-lamos de uma ‘jovem’ de sete anos, que tem obrigatoriamente de crescer para se afirmar no mundo das marcas. Consolidar a sua ima-gem através do desenvolvimento e cresci-mento do país, com um trabalho consistente e sustentado em vários sectores é, por isso, imprescindível. Nada de impossível para uma nação que aparece na revista Economics como um dos países com maior taxa de crescimen-to nos próximos dez anos. “Made in Angola” tem, portanto, tudo para prosperar e se afir-mar, caso as marcas locais incorporem a cul-tura nacional e as raízes que identifiquem a angolanidade. Para isso, é igualmente fun-damental que o sector empresarial se torne mais competitivo e consiga captar mais inves-timentos. Um alerta para os executivos, que inclui o próprio Governo, pois este precisa de investir mais na divulgação das melhorias em várias áreas sociais, económicas e políticas.

Para a construção da marca angolana no mercado internacional, os gestores devem levar em consideração três factores importantes: a qualidade do investimento, o preço - como factor de compra - e a marca. Carlos Coelho, CEO da Ivity Brand Corp, Portugal

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Um trabalho que deve ser realizado em par-ceria com a Agência Nacional de Investimento Privado, para maior promoção das potenciali-dades do país, concentrando-se, por exemplo, numa primeira fase nos países amigos. Pa-ralelamente a isso, numa perspectiva global, importa fazer um esforço ao nível dos media, pois as marcas estão intimamente associadas a eles, uma vez que estes são dos seus mais fortes aliados, dando-lhes visibilidade para o mundo. Razão pela qual, convém nunca es-quecer que uma marca se constrói com bases fortes e manifesta-se num logotipo, símbolo, cor e imagem que fazem a sua denominação própria, aspectos a não descurar visto que no ‘futuro’ a publicidade à mesma agirá como di-vulgadora da estrutura edificada, utilizando todas estas ferramentas para comunicar. A este nível então é que a concorrência é feroz, embora muitas vezes as marcas internacionais estimulem as marcas nacionais a serem cada vez melhores. Isto sem esquecer que a exis-tência de marcas fortes é sempre um factor positivo para o país, ‘basta’ as parcerias não se limitarem a uma cooperação económica e política, de forma a existir uma relação equili-brada e saudável. Nesse sentido, do ponto de vista económico, é uma enorme vantagem no que concerne à oportunidade uma boa escolha de parceiros, enquanto que a nível politico se

deve aproveitar o momento presente e fazer opções estratégicas das políticas do Estado, atraindo investimento em áreas como a agro-industrial, para Angola produzir as suas mar-cas através das suas próprias riquezas. Sendo, por isso, que já se fale na criação de um fundo de apoio às marcas angolanas. A ideia é que o próprio Estado incentive os gestores nacionais a contribuírem para o desenvolvimento do pa-ís. Embora as verbas estipuladas possam não ser suficientes, é a base de uma agenda polí-tica preocupada em fazer germinar e crescer mais marcas com o cunho do país.

A cultura, as raízes e a identidade nacional são factores importantes na criação de uma marca-país

IMAGENS DE MARCAA Sonangol, a companhia de aviação TAAG, a operadora de telecomunicações Unitel, os ca-nais de televisão TPA 1 e 2, a cerveja Cuca, os diamantes da Endiama e as financeiras BFA, BAI, BESA, BPS e BIC são as principais marcas angolanas a usufruir de elevados índices de notoriedade em Angola, tendo algumas já for-te potencial para serem exportadas. Destas, a que se destaca é a Sonangol. “Em Angola, a

consciência empresarial para a importância das marcas, enquanto factores de desenvol-vimento de um mercado, tem despertado de uma forma bastante visível nos últimos cinco anos”, esclareceu Carlos Coelho, presidente da Ivity Brand Corp, no congresso “Marcas made in Angola, que se realizou recentemente na capital. Ao longo de três dias, o II Congresso Nacional de Marcas de Angola proporcionou debater a importância decisive da marca nas estratégias competitivas actuais. Profissio-nais nacionais e internacionais procurando contribuir com os seus conhecimentos e ex-periência para a criação de marcas angolanas e, sobretudo, para a criação da marca “Made in Angola”. Durante o encontro foram discuti-dos temas como as “Marcas e os Mercados”, “Fidelidade à Marca” (Brand Loyalty), “O Pa-pel do Marketing, da Publicidade e das Rela-ções Públicas”, “Marcas e a Media”, “Marcas Institucionais e Privadas”, “Marcas Singulares e Culturais”, e ainda realizado o workshop a “Anatomia de uma Marca”. Uma oportunida-de única para debater, reflectir sobre as dife-rentes vertentes e disciplinas que envolvem a criação, desenvolvimento e estratégia de mar-ca, bem como para tomar conhecimento de “case studies” sobre a experiência nacional e internacional na matéria. Segundo os especia-listas, ao Jornal de Angola, a marca constitui,

sabia que…Os clientes reconhecem em geral como principais atributos de uma marca a tecnologia, a sustentabilidade, a qualidade, a segurança, a credibilidade, a funcionalidade e o respeito pelo ambiente

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IN(TO) BUSINESS ECONOMIA & NEGÓCIOS

nos nossos dias, um argumento concorrencial decisivo, possuindo tanto um valor ofensivo (permite conquistar mercado), como um va-lor defensivo, salvaguardando as característi-cas mais peculiares e a origem dos produtos. Ainda a este jornal, a ministra do Comércio, Idalina Valente, referindo-se à legislação que o Governo pretende implementar com vista à protecção da marca nacional, frisou que a mesma constituirá uma mais-valia para a sal-vaguarda dos produtos originários de Angola, contribuindo para a projecção do país a nível internacional, bem como para a preservação da auto-confiança dentro das empresas. Es-ta acção do Estado é fundamental para que os cidadãos queiram, cada vez mais, preservar a marca do seu país e que é o reflexo da co-munidade angolana no mundo. A cultura, as raízes e a identidade nacional são factores im-portantes na criação de uma marca-país.

A marca constitui um argumento concorrencial decisivo, possuindo tanto um valor ofensivo (permite conquistar mercado), como um valor defensivo, salvaguardando as características mais peculiares e a origem dos produtos

STUDy-CASE SUéCIAA forte aposta em I&D, a partilha de modelos de gestão empresarial e o pragmatismo das soluções apresentadas são os três factores principais que têm tornado as marcas sue-cas verdadeiros fenómenos de êxito global, em vários sectores de actividade. Conhece a nacionalidade da IKEA (mobiliário) e da Volvo (automóveis)? Talvez. E a de empresas como a Tetra Pak (embalagens), Electrolux (elec-trodomésticos), Ericsson (telefonia móvel), H&M (vestuário), Oriflame (cosmética), SKF (rolamentos) ou Atlas Copco (equipamento industrial)? Ou ainda de marcas como a Abso-lut (vodka) ou Tena (higiene)? E a do Spotify (música online) e Unibet (jogos online)? Es-tas e outras marcas e empresas globais foram criadas na Suécia, um dos países da Organi-zação para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) que mais investee m I&D relativamente ao seu PIB e com um dos maio-res números de patentes registadas em todo o mundo. A título de exemplo é de referir que a sueca Ericsson tem um portefólio com mais de 25 mil patentes e que prevê investir cerca

de três mil milhões de euros em I&D em 2010. Com um território de apenas nove milhões de habitantes, o país é ‘detentor’ também de duas marcas no topo do ranking europeu da Interbrand de 2009: a H&M e a IKEA, no pri-meiro e terceiro lugares, com valores estima-dos em 11.125 milhões de euros e 7.373 milhões de euros, respectivamente. De acordo com declarações de Vera Norte, directora de comu-nicação da Tetra Pak, à revista Marketeer, na edição de Abril, “as mais-valias das invenções suecas é tornarem-se soluções universais”, o que também faz com que muitas vezes não se tenha “a noção de serem inovações de ori-gem sueca”. Segundo a mesma responsável a esta publicação, “as grandes marcas suecas assentam, na sua maioria, em conceitos ino-vadores que lançaram no mercado um concei-to de produto novo”. Razão pela qual, a Suécia é entendida, não raras as vezes, como um país de empreendedores, uma vez que poucos são os países, sobretudo com esta dimensão, que têm tantas marcas internacionais e empresas. Embora, numa primeira fase, tenha sido berço da criação de um grupo de empresas, adstrito sobretudo a sectores tradicionais como a in-dústria pesada e os transportes, actualmen-te produz marcas de referência em diversas

áreas: telecomunicações, embalagens, moda, internet, entre outras. Para além destas, um dos sectores a ganhar maior visibilidade tem sido o design. Catalogado por muitos como minimalista e discreto, ajudou, nos últimos anos, o país a ganhar uma posição de desta-que em segmentos novos, onde a tecnologia de ponta e a investigação são cruciais como vantagem competitiva. Bom exemplo disso é a Ericsson (já citada), mas há outras. A Spo-tify, uma empresa que surgiu em 2008 para permitir a transmissão de música online, em formato streaming. Ou a Unibet, casa de jo-gos online, criada em 1997, e que hoje opera em 100 mercados diferentes. Igualmente são os “autores”, juntamento com um dinamar-quês, do Skype, software criado em 2003 pa-ra permitir a realização de chamadas gratuitas através do computador, utilizando conexões de voz sobre IP. A empresa acabaria por ser vendida ao eBay, numa transacção que atingiu os 3,1 biliões de dólares. Já em 2009, o eBay venderia 65% do Skype a um grupo de inves-tidores privados por 1,9 biliões de dólares. Por confirmar está ainda a anunciada venda da Volvo à chinesa Geely por dois mil milhões de euros. Números que retratam o valor das mar-cas que a Suécia tem sabido gerar.

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ECONOMIA & NEGÓCIOS

O Ministério da Indústria quer produção nacional com rótulo “ Made in Angola”, para identificar o país de origem

Outra solução que o suecos têm ‘experimen-tado’ com êxito é a extensão da marca como estratégia de crescimento, o que lhes tem pos-sibilitado aumentar ainda mais a popularidade nas últimas décadas. O uso de extensões como uma estratégia de branding é considerado mais eficaz e permite reduzir os custos em compara-ção com o lançamento de uma marca nova. Com esta forma de actuar no mercado, as empresas do país têm aumentado os segmentos de clien-tes e conseguido atender às suas necessidades, atingindo assim maiores níveis de julgamento positivo, o que permitiu fazer crescer a consicên-cia e o valor da(s) marca(s), adquirir maior poder de negociação com parcerios de negócios e re-vitalizar a(s) imagem/imagens da(s) marca(s). Factores que os coloca em vantagem competiti-va e proporciona, cada vez mais, a transferência de conhecimento tecnológico. O processo de ex-tensão de marca é informal, embora a geração da ideia de triagem, as previsões, os critérios de

brand equity, financeiros e de lançamento, as-sim como o acompanhamento e a avaliação são passos que estão incluídos. Uma extensão de marca bem sucedida tem de cumprir os critérios de ajuste, o que significa que a extensão precisa de encaixar com a marca principal, (a imagem de marca) bem como com a categoria de pro-duto. A avaliação positiva da marca pelos con-sumidores levará à valorização da marca núcleo, enquanto que uma avaliação negativa levará à sua diluição. Nunca se esqueça!

PROjECÇÃOO Ministério da Indústria quer produção nacio-nal com rótulo “ Made in Angola”, para identifi-car o país de origem. A intenção foi expressada pelo secretário de Estado para Indústria, Kiala Gabriel recentemente. Em declarações à im-prensa, este responsável afirmou que tal ob-jectivo tem como intuito mostrar e dar valor à produção angolana. Kiala Gabriel elogiou a iniciativa privada por fazer investimentos em área que ajudarão sectores como o da cons-trução civil, obras públicas e agricultura, sem deixar de salientar que o executivo angolano tem projectos em carteira para diversos sec-tores entre os quais agro-indústria, cerâmica, indústria têxtil e metalo-mecânica.

quanto vale a marca de um país?

AS 10 MARCAS MAIS VALIOSAS DO MUNDO

01. EUA - US$ 19.735 triliões

02. Japão - US$ 9.590 triliões

03. Alemanha - US$ 5.396 triliões

04. Reino Unido - US$ 3.560 triliões

05. França - US$ 3.168 triliões

06. Itália - US$ 2.787 triliões

07. Espanha - US$ 1.604 triliões

08. Canadá - US$ 1.402 triliões

09. China - US$ 1.121 triliões

10. Austrália - US$ 930 bilião

FONTE: Estudo publicado pelo especialista britânico em Nation Branding, Simon Anholt

SOCIEDADE

Especial Hospitais Públicos

Diagnósticofavorável

42 | ANGOLA’IN · SOCIEDADE

| patrícia alves tavares

José Van-Dúnem, Ministro da Saúde, tem co-mo meta para os próximos quatro anos com-bater as grandes epidemias. Intrinsecamente associado a este objectivo surge a necessidade de implementar urgentemente o programa de reestruturação dos hospitais nacionais, meios essenciais para a prestação eficaz de cuida-dos de saúde às populações (especialmente as mais carentes). A aposta recai na colabora-ção dos responsáveis do sector e das entida-des internacionais, que têm desenvolvido com sucesso parcerias com as unidades públicas africanas. “O sistema de saúde em Angola vive um momento de transição”, afirmou recente-mente Van-Dúnem, em declarações à TPA. O ministro acredita que o país caminha para uma saúde mais eficiente, em que a reestruturação das infra-estruturas representa uma mais-va-lia para a prestação de cuidados primários efi-cazes. O ministério começa a dedicar especial atenção à saúde hospitalar, tendo desenvolvi-do um conjunto de políticas e programas que visam a reorganização do sector e a melhoria das condições de trabalho. Luanda, a capital, é onde se regista uma maior evolução. As pro-víncias tentam acompanhar o ritmo.

PLANO 2009/2013A OMS em Angola delimitou as estratégias para o triénio 2009/ 2013, tendo em conta as prioridades nacionais e as orientações es-tratégicas regionais do organismo. A entida-de internacional entende que o crescimento económico, conjugado com o aumento pro-gressivo do orçamento do sector da saúde, permitirá a reforma do sistema baseada nos cuidados primários. À Organização Mundial de Saúde caberá apoiar o Governo angolano no desenvolvimento e gestão dos recursos humanos, contribuindo para a concepção de um mecanismo de informação sanitária e fa-cilitando o acesso aos cuidados, tecnologias e produtos médicos, cuja qualidade e utiliza-ção devem ser melhoradas. O empenho em corresponder às expectativas e exigências da OMS tem conduzido o Ministério da Saúde a adoptar políticas de desenvolvimento dos cuidados médicos, começando pela requalifi-cação dos hospitais públicos.

POLíTICA DE SAúDEDiosdado Nsue-Milang, representante da OMS em Angola, confirma que a organização tem auxiliado o Governo na execução e cria-ção de políticas para o sector, apostando na gestão dos recursos humanos e das tecno-logias, de modo a garantir o financiamento sustentável e a sua administração eficiente. A instalação do Sistema de Informação Sa-nitária (SIS), promovida pela OMS, tem sido decisiva para elaborar o perfil dos doentes e poderá igualmente ser útil para avaliar a qualidade dos serviços hospitalares. O plano de acção para os próximos anos tem dois pi-lares fundamentais. O primeiro está relacio-nado com a atenção redobrada para a saúde primária. O outro respeita a toda a estrutura hospitalar - desde as urgências às áreas de consultas externas e enfermarias -, questão que tem sido acautelada na construção e re-abilitação dos novos hospitais.

“Os sistemas de saúde devem contribuirpara a equidadee justiça social”

Diosdado Nsue-milang OMS, ANGOLA

Desde o final da guerra o número de hospitais gerais cresceu de 79 para 163

SOCIEDADE

‘REqUALIfICAR’ Os últimos dados da OMS são de 2008 e in-dicam que desde o final da guerra o número de hospitais gerais cresceu de 79 para 163, de-vido a investimentos governamentais. No dia em que empossou Alberto Masseca para vice-ministro da Área Hospitalar e Evelize Festas para vice-ministra da Saúde Pública, Van-Dú-nem sublinhou que para atingir os objectivos de 2012 é necessário reorganizar os hospitais e preparar novas soluções para responder “às grandes enchentes”. A solução passa pe-la atribuição de equipamentos e alargamento das infra-estruturas. Em 2009, novos espa-ços foram criados ou restaurados e aderiram às tecnologias de ponta. A formação de novos especialistas foi incrementada e em 2010 es-pera-se que o país receba no mínimo 200 pro-fissionais estrangeiros. Aliás, a modernização dos hospitais prossegue. Apenas em Luanda estão em construção unidades em Viana, Ca-cuaco, Kilamba, Kiaxi e no sul da província. O Ministério da Saúde tem procurado sincronizar as actividades das redes primárias, secundá-rias e terciárias, para conferir maior eficiência aos serviços de urgência. Os postos de saúde estão a nascer nas comunidades, que come-çam a contar com médicos, serviços de labo-ratório, primeiros socorros e ambulâncias. O programa de Controlo da Qualidade Hospita-lar (CQH), lançado em 2008 e que resulta de uma parceria entre o CQH internacional, o Mi-nistério da Saúde e a Pracsis (empresa brasi-leira-angolana de consultoria em gestão de saúde), tem estimulado a qualidade dos hos-pitais públicos. À semelhança das principais capitais mundiais, as unidades nacionais rece-bem regularmente a visita de técnicos de CQH estrangeiros, que inspeccionam o trabalho e as carências de cada serviço.

SAúDE NA CAPITALOs principais hospitais públicos de Luanda têm sido alvo de profundas reformas, tendo sido construídas mais de 50 instalações de saúde nos bairros da periferia. É o caso do Hospital da Samba, um dos municípios que contará a partir de Julho com uma unidade de referên-cia. O administrador da comuna do Futungo de Belas, Lázaro Sebastião, referiu à impren-sa que o projecto faz parte do programa de investimentos públicos do governo provincial e albergará as especialidades de clínica geral, pediatria, ginecologia, obstetrícia e serviço permanente de urgência. O Hospital do Prenda também foi visado pelo programa de recupe-ração das unidades públicas de saúde. Total-mente modernizado, conta actualmente com

um serviço de urgência dividido em duas áre-as: urgência e emergência. Esta última está inserida no projecto do ministério, intitulado “Sistema Integrado de Emergência Médica”, o que contribuiu para que o espaço acolhesse um serviço de diagnóstico com um laborató-rio clínico e uma área de imagiologia, sendo capaz de suportar uma unidade de cuidados intensivos. O espaço dispõe de tecnologia de ponta e um sistema de intranet. Já o Hospital Américo Boavida ganhou o primeiro gabinete do utente. O objectivo deste serviço consiste em propiciar a interacção entre os pacientes e a administração da unidade, respondendo assim às reclamações dos utentes quanto ao atendimento. As mudanças das direcções do Hospital Josina Machel e da Maternidade Lu-crécia Paim prometem dinamizar o funciona-mento das instituições. Essa é a intenção do ministro, que quer garantir uma melhor pres-tação dos cuidados de saúde para alcançar os objectivos governamentais. Aliás, o Josina Ma-chel foi reabilitado e reequipado graças a uma doação do governo japonês (correspondente a mais de 37 mil dólares), no âmbito do proto-colo com o Estado, que comparticipou 5.656 dólares. As obras duraram três anos e permi-tiram que o espaço se adaptasse à filosofia do hospital moderno. Os principais benefícios di-zem respeito à melhoria das condições de tra-balho e atendimento.

APOSTA PROVINCIALO Gabinete de Gestão dos Projectos de Inves-timentos Públicos do Uíje reabilitou o hospi-tal provincial da região, que adquiriu novas funcionalidades que lhe permitiram agregar vários serviços como medicina geral, ortope-dia, pediatria, cirurgia, hemoterapia, entre outros. A ampliação dos dois blocos para ci-rurgia e ortopedia vai contribuir para um me-lhor atendimento e aumento da capacidade de internamento que vai passar de 315 para 750 camas. Na Huíla, o Hospital Central do Lubango foi reinaugurado em 2008 e, este ano, promete implementar uma nova dinâ-mica no atendimento ao público, mediante a introdução de consultas personalizadas. Actualmente com capacidade para internar 500 pessoas, a infra-estrutura ganhou mui-to com a requalificação, que equipou a uni-dade com os mecanismos necessários para corresponder à procura dos utentes da Huíla e das províncias vizinhas. O protocolo de coo-peração com as regiões italianas de Abruzzo e Pescara tem contribuído para o reforço dos profissionais no hospital angolano, nomea-damente na especialidade de ortopedia. Em Abril, a unidade vai receber três ortopedis-tas italianos, bem como equipamentos mé-dicos. As parcerias surgem como o caminho mais viável e imediato para a reestruturação dos serviços dos hospitais públicos.

Apenas em Luanda estão em construção unidades em Viana, Cacuaco, Kilamba, Kiaxi e no Sul da província

exemplo da guinéO protocolo de cooperação firmado entre o Governo da Guiné-Bissau e o Hospital de S. João, no Porto, Portugal, tem sido fundamental para a evolução dos cuidados de saúde no país africano. O acordo comporta, além da formação dos profissionais guineenses, a recepção e tratamento de crianças com patologias reumatismais no Hospital de S. João. A unidade portuense recebeu dez menores. Já os profissionais portugueses têm a oportunidade de trabalhar numa nação com “dificuldades especiais, em particular os cuidados intensivos e cardiologia”.

SOCIEDADE

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SOCIEDADE

Parcerias Público-Privadas

Hospitais SA

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| patrícia alves tavares

Surgiram no Reino Unido nos anos 90. As Parcerias Público-Privadas aliadas à gestão hospitalar são modelo comum nos países desenvolvidos e começam a ser implemen-tadas com êxito nas economias emergentes. Através desta fórmula, torna-se possí-vel captar o investimento privado para uma renovação mais rápida, eficaz e menos dispendiosa das unidades de saúde estatais. A Angola’in avaliou a implementação do sistema nas economias mais maduras e revela alguns casos de sucesso.

O recente método de gestão hospitalar en-volve uma parceria/ contrato entre Governos e entidades privadas, que se responsabilizam pelo serviço público e pela parte substancial do risco operacional, técnico e financeiro. O pro-jecto pretende extrair o melhor de cada agen-te envolvido. Actualmente, é bastante comum no sistema de saúde europeu. Alguns países da América do Sul, Ásia e África começam a aplicá-lo com bastante sucesso, visto que os maiores proveitos são visíveis em regiões on-de os serviços são desajustados e a maioria da população não tem acesso aos cuidados de saúde primários. Angola ainda não aderiu a es-te sistema. A reestruturação hospitalar está a dar os primeiros passos. Porém, as Parcerias Público-Privadas (PPP) podem ser agentes im-portantes neste processo, contribuindo para a melhoraria da qualidade dos serviços, através de equipamentos modernos, tecnologias de ponta e espaços adequados. As PPP implicam a criação de um contrato de longo prazo entre sector público (contratante) e sector privado (contratado). Os projectos têm várias fases: elaboração do plano, financiamento, constru-ção da infra-estrutura e gestão da actividade. A adesão dos hospitais é sempre voluntária e são escolhidos consoante um conjunto de cri-térios que variam de país para país.

‘Empresarialização não significa privatização. Os ministérios da Saúde e das Finanças mantêm a tutela da instituição’

A fÓRMULANo início da década de 90 surgiu um novo mo-delo de gestão hospitalar que agrupou os be-nefícios dos dois métodos existentes até essa data: o sistema público e o privado. Estas uni-dades Estatais obedecem a um esquema or-

ganizativo económico-financeiro centrado no utente e assenta na eficiência de gestão. A nível jurídico, trata-se de uma transformação dos hospitais em empresas. No entanto, em-presarialização não significa privatização. Nes-te caso, os ministérios da Saúde e das Finanças mantêm a tutela da instituição. Esta situação é recorrente quando é necessário construir um novo hospital, cuja “concessão” é atribuída a uma entidade privada por um determinado período de tempo. O sistema público de saúde sai beneficiado pois ganha mais uma unidade, sem investimento inicial, assumindo poste-riormente um contrato para prestação dos cui-dados à população. A gestão torna-se mais eficiente e eficaz e a entrada do sector priva-do permite a melhoria dos espaços que não dispõem de recursos suficientes e promove a qualidade da Saúde no sector público. O Esta-do pode financiar na totalidade ou em parte os serviços. Além de subsídios, nalguns casos o Governo cria atractivos para os investidores, como isenção de impostos. O modelo de Par-ceria Público-Privada é frequente em países como Inglaterra, México, Madrid e Perú.

‘O modelo de Parceria Público-Privada é frequente em países como Inglaterra, México, Madrid e Perú’

ExEMPLO EUROPEUO projecto nasceu no Reino Unido. O “Hospi-tal Fundação Estatal” é o protótipo aplicado no país europeu e o que detém a maior taxa de sucesso. A sua estrutura conceptual e ad-ministrativa tem garantido a sustentabilidade económica e financeira do sector empresarial do Estado. O modelo inglês tem vantagens que se traduzem num melhor desempenho económico e financeiro por parte dos hospitais.

Aqui as regras e princípios de gestão próprios da iniciativa privada podem ser aplicados e in-crementados com sucesso, conferindo ganhos de eficiência e neutralizando o desperdício. O Hospital Fundação Estatal contempla ainda a participação de elementos da sociedade, de grupos representativos dos doentes e de pro-fissionais da área. Estes tornam-se deciso-res na gestão e definição das grandes linhas estratégicas da unidade. O sistema britânico baseia-se em princípios de ‘Corporate Gover-nance’ e está obrigado a divulgar os indica-dores de desempenho (sobretudo financeiro), como forma de prestar contas aos seus princi-pais financiadores: a sociedade (contribuintes). Em Portugal, as Entidades Públicas Empresa-riais (EPE) foram lançadas em 2001. Todavia, a adopção deste modelo não é inédita no sector da saúde luso. Já nos anos 90 existiram alguns casos pontuais de gestão público-privada. Mas foi no início do século XXI que esta componen-te assumiu uma dimensão nacional, tornando-se uma inovação revolucionária, pois atingiu as infra-estruturas representativas de mais de metade da actividade hospitalar portuguesa (actualmente são 36 unidades). As EPE, tam-bém conhecidas como PPP, apresentam um modelo organizativo composto por múltiplas entidades públicas e privadas, que avaliam as políticas de saúde e o cumprimento das me-tas e compromissos financeiros. Este regime promove uma gestão por objectivos, centrada no utente e que proporciona vantagens ao ní-vel da qualidade clínica, da facilidade de acesso a profissionais especializados, da melhoria do serviço e do atendimento. Na prática, a efici-ência dos recursos é evidente devido à adop-ção de uma cultura de performance baseada na optimização da gestão. Quanto às receitas anuais dos EPE, a maior parcela (cerca de 80 por cento) cabe ao sistema nacional de saúde, enquanto o restante é asseverado pelos priva-

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‘A entidade privada gere a unidade, equipa os serviços e no final do contrato devolve o espaço totalmente recuperado e dotado de equipamentos‘

dos e seguradoras. O balanço é ainda incipien-te, visto que a análise dos resultados só é fiel a longo prazo. Os lucros não são imediatos, uma vez que o investimento inicial é dispendioso, apesar do factor risco não ser tão previsível como no sector privado, pois está assegura-do pelo Estado. Contudo, devido aos últimos dados que indicam derrapagem orçamental na gestão destes organismos, tem levado vários médicos lusos a sugerir a aplicação da génese do modelo, baseando-se nos pressupostos da gestão inglesa e da criação de fundações.

‘O sistema britânico baseia-se em princípios de ‘Corporate Governance’ e está obrigado a divulgar os indicadores de desempenho (sobretudo financeiro), como forma de prestar contas aos seus principais financiadores: a sociedade (contribuintes)’

PAíSES EMERGENTESBrasil, China e Índia representam actualmen-te as nações que mais cresceram em termos de desenvolvimento das infra-estruturas de saúde. Estão ao nível dos melhores do mun-do e são casos de sucesso da aplicação da fór-mula britânica. No que concerne ao sistema brasileiro está a proceder-se a um aprovei-tamento da estabilidade e qualidade do sec-tor privado, através da transferência dos seus conhecimentos e eficácia empresarial para o sistema nacional. A fraca coordenação dos or-ganismos estatais levou à adopção das PPP, que são complementadas por uma vasta ofer-ta de serviços ‘non-profit’ nos cuidados secun-dários. O Hospital do Subúrbio foi o primeiro a aderir a este modelo de gestão administrativa

e médica. Marco na administração da saúde no Brasil, este caso incentivou os restantes ope-radores, calculando-se que cerca de onze Esta-dos e municípios estão interessados em aderir ao sistema de PPP. Neste contexto, a entidade privada gere a unidade, equipa os serviços e no final do contrato devolve o espaço totalmente recuperado e dotado de equipamentos (tudo o que foi instalado passa a propriedade do Es-tado). A remuneração da empresa é paga pelo Estado. Na Índia, as Parcerias Público-Privadas na área da saúde começam a ser soberanas na gestão dos hospitais públicos. Os organis-mos estatais estão crescentemente a recorrer à contratação de operadores privados para im-plementar as suas mais-valias. Por outro lado, o Estado possui políticas que promovem a boa gestão e que penalizam os espaços com fraco desempenho. A China prevê construir até 2011 dois mil hospitais regionais e 29 mil áreas de saúde nas zonas rurais. Na maioria das situa-ções, será criado um sistema de parceria com os privados para ajudar no financiamento dos

novos organismos.

‘George Mkhari e os complexos académicos de Polokwane [África do Sul] poderão aderir em breve ao modelo de Parceiras Público-Privadas’

LIÇÃO SUL-AfRICANAO novo Hospital Port Alfred foi o primeiro pro-jecto-piloto na África do Sul. A parceria foi es-tabelecida entre o Departamento de Saúde de Eastern Cape e um consórcio privado compos-to pela Netcare e Nalithemba Hospitals. Este último será responsável por gerir as instala-ções e equipamentos durante os próximos 15 anos. O representante do governo, Majodina,

referiu na ocasião que o programa converteu-se “numa esperança e inspiração para melho-rar a indústria de saúde sul-africana”. A troca de experiências com o governo local e com os representantes das comunidades é a mais-va-lia deste sistema, que está a contribuir para o desenvolvimento económico da região (atra-vés da gestão eficiente dos recursos de saú-de) e para o verdadeiro aperfeiçoamento da prestação de cuidados e de bem-estar da po-pulação. Entretanto, o governo sul-africano anunciou recentemente que o plano de PPP no hospital Hani Baragwanath - que se tornou na ‘bandeira’ governamental - está completo e vai introduzir uma novidade no sistema. Com o intuito de alargar a parceria entre Estado e pri-vados, está a proceder-se à inclusão no projec-to de instalações para formação dos médicos e enfermeiros. O sucesso do sistema colocou novos organismos na calha, que deverão aderir à proposta governamental. George Mkhari e os complexos académicos de Polokwane poderão aderir em breve ao modelo de Parceiras Públi-co-Privadas. Aliás, esta é a principal aposta do ministério para o sector da saúde. O país tem trabalhado conjuntamente com a Corporação de Desenvolvimento Industrial (IDC) e conta com o apoio e aconselhamento do Banco de Desenvolvimento Sul-africano (DBSA) que, inclusive, está a financiar e a colaborar na in-clusão do sistema neste hospital e noutras clí-nicas do país. O Lesoto aderiu este ano à curta lista de países africanos que estão a recorrer às PPP para gerir os hospitais estatais. Em Abril, o DBSA cedeu um fundo de R740 milhões para a construção e gestão do novo hospital públi-co, que funcionará através de uma parceria pú-blico-privada. Será um contributo fulcral para a reestruturação do sistema de saúde do Lesoto, que está neste momento em curso. O futuro espaço vai substituir o actual hospital Queen Elizabeth II. Os promotores relembram que se trata de um projecto ambicioso, mas que será rentável para o país e para os pacientes, bem como para a qualidade do sector e para atrair investidores de topo. O continente africano começa a somar casos de PPP associadas ao desenvolvimento do sector hospitalar, através de parcerias lucrativas com empresas privadas que se comprometem a rentabilizar e melhorar a qualidade das unidades de saúde. As vanta-gens e êxitos consecutivos destes processos podem desencadear o interesse de outras na-ções nestes projectos e provocar profundas re-voluções na estrutura e no modo como a saúde é encarada nas regiões de África. Há que es-perar pela evolução a curto prazo e analisar os efeitos que estas decisões podem ter no bem-estar das populações.

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FORMAÇÃO

Massificaçãono topo dasprioridades

MULTIDISCIPLINAR O grau de aprendizagem dos profissionais na-cionais esteve em destaque no VI Congres-so Internacional dos Médicos, que decorreu em Luanda, em Março. Esta é uma das pre-ocupações governamentais para o quadriénio 2009/2012. Com a fragmentação da Universi-dade Agostinho Neto surgiram novas institui-ções que ganharam autonomia e permitiram a criação de cursos superiores nas províncias. É o caso da Universidade Katyavala Bwila, em Benguela, onde Medicina é dos mais procura-dos. O professor do referido curso, Fernando Brandão, é peremptório em relação ao ensino. Em recentes declarações à Angop, lembrou que o país precisa de pelo menos 20 mil mé-dicos para cobrir todo o território, admitindo que Angola tem actualmente um médico para cada dez mil habitantes. O docente explicou

que a criação da nova faculdade na província representa a visão da necessidade de massifi-car e expandir o sistema em todo o território. ‘País precisa de pelo menos 20 mil médicos para cobrir todo o território’“A formação de profissionais de saúde no ex-terior é outra alternativa”, sugeriu o Bastoná-rio durante as IV Jornadas Científicas da Clínica Multiperfil. No final do último ano, o respon-sável voltava a apelar para a criação de mais instituições. A aprendizagem no exterior é, na opinião de Carlos Pinto, a solução a curto e médio prazo para a aquisição de profissionais dotados para as várias especialidades. Porém, o país precisa de ser autónomo. O responsável sustentou que o desenvolvimento da forma-ção (em quantidade e qualidade) deve abran-ger todos os profissionais, incluindo técnicos de diagnósticos, enfermeiros e especialistas.

Actualmente existem duas universidades de Medicina em Angola. O Bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Alberto Pinto de Sousa, re-feriu numa entrevista que o país necessita de uma instituição de for-mação “para cada 2.000.000, ou seja, para o nosso caso precisaríamos de pelo menos sete faculdades”. O responsável apontou, na ocasião, a longa duração e os elevados custos como motivos para incrementar a formação técnico profissional. Em 2008, em declarações à Angop, de-fendeu a descentralização das pós-graduações, salientando que o alar-gamento dos cursos às províncias constava dos objectivos da Ordem. O responsável alegou que seria um incentivo para que os médicos se con-centrem nas regiões periféricas, destacando que o Governo tem investi-do na reabilitação e equipamento das unidades de Huambo, Benguela, Malanje, Cabinda e Huíla. Nos últimos dois anos, o sector cresceu e a massificação da formação e da especialização contínua fazem parte das preocupações do Ministério da Saúde. A Universidade Agostinho Neto tem cursos a decorrer em algumas instituições de ensino provinciais e o Estado tem estabelecido protocolos com outros países, no âmbito do intercâmbio de estudantes e de conhecimentos nesta matéria.

AS PARCERIAS O primeiro médico angolano especializado em cirurgia vascular e a primeira hematologista formaram-se este ano, no Brasil. Esta tem si-do a alternativa mais viável e requerida pelos responsáveis públicos e privados para corrigir rapidamente o défice de profissionais. Apesar de o Governo estar a alargar a rede de ensi-no, será necessário esperar alguns anos para que os futuros médicos concluam os estudos. Por outro lado, alguns cursos não existem por-que não há especialistas nacionais em certas áreas. O ministério e as organizações de saú-de têm recorrido a protocolos com outros pa-íses para contratação de docentes e médicos especializados ou para intercâmbio de alunos, que ganham a possibilidade de concluírem a sua aprendizagem em unidades estrangeiras, onde existem os cursos da sua área. Só a Clí-nica Multiperfil tem 25 médicos a especializa-rem-se no Hospital das Clínicas em São Paulo, em áreas como radiologia, cardiologia ou cui-dados intensivos, graças a um convénio com a Fundação da Faculdade de Medicina de São Paulo. A maioria dos profissionais angolanos é formada ou especializada em universidades do Brasil, Portugal, Cuba e Rússia. O convénio com Cuba inclui ainda o recrutamento de mé-dicos para exercer nas unidades angolanas. A Universidade Jean Piaget licenciou recente-mente 36 ‘doutores’ e tem um protocolo com o Hospital de Santo António, em Portugal, on-de os estudantes fazem estágios. A embaixa-da Venezuela em Angola anunciou em Maio que ofereceu 25 bolsas de estudo nos cursos de medicina e ciências desportivas a estudan-tes das 18 províncias. O primeiro grupo (com-posto por 12 alunos) já embarcou e vai concluir a formação até ao doutoramento. Os restan-tes viajam em Setembro.

| patrícia alves tavares

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Antiga Moçamedes, a cidade do Namibe, como tantas cidades angolanas, abriga no seu centro histórico casas, igrejas e outras edificações que representam um constante avivar da herança colonial portuguesa.

Para os que melhor conhecem Portugal, a plana Namibe à beira-mar plantada traz-nos à memória a cidade algarvia de Tavira. De ruas amplas desenhadas a régua e esquadro, entre o deserto e o Atlântico, vão-se destacando pontos de maior relevância arquitectónica.

O tribunal, ao lado do Forte, delimitando a avenida principal que dá acesso à Marginal, a Igreja de S. Pedro, de barra amarela virada para o mar ou o mercado municipal são alguns dos exemplos vivos de uma estética muito portuguesa e que os angolanos souberam conservar e, de certo modo, homenagear mantendo viva a sua presença por terras africanas.

A igreja de Santo Adrião também em excelente estado de conservação e no activo, vai um pouco mais além e é um dos símbolos de uma era portuguesa dourada, em que se apostava mais nas colónias do que no próprio Portugal Continental. De uma surpreendente modernidade e com linhas arquitectónicas rectas e minimalistas, sem contudo perder a entidade portuguesa, esta Igreja continua a ser palco de missas dominicais e inúmeras cerimónias de matrimónios e baptizados e comunhões.

No presente a cidade aposta em melhorar o seu aspecto e estado de conservação. Por outro lado, à volta do centro a cidade estende-se a grande ritmo com inúmeras construções maioritariamente de adobe. Um crescimento urbano orgânico que vem dar resposta ao crescimento da população e que no seu conjunto reflecte bem a comunhão entre o passado e o presente.

NAMIBE

Arquitecturae memória

| ana rita rodrigues

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TURISMO

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| patrícia alves tavares

É o segundo menor país da Europa, mas o mais procurado pelas celebridades interna-cionais. O Mónaco cativa ricos e famosos pela sofisticação e beleza que superam o ínfimo solo deste principado banhado pelo Mar Me-diterrâneo.

Possui o glamour de França, a beleza etérea de um conto de fadas e o clima fantástico do Mediterrâneo. O principado do Mónaco, loca-

lizado no litoral Sul de França, divide-se em quatro partes e define-se como um mundo ‘à parte’. Aqui não existe violência ou pobreza. É o refúgio para ricos e personalidades do pa-norama mundial, que procuram repouso num local paradisíaco em pleno coração europeu. A cidade velha, bastante conhecida por albergar o Palácio Real e o prédio do governo, é ape-lidada de Monaco Ville. La Condamine agre-ga o porto e as casas residenciais. Fontvieille

é a última parte do principado e é compos-ta pelo subúrbio industrial. A capital Monte Carlo, principal centro de atenções, é a região responsável por reunir diversos artistas que procuram o destino mais luxuoso para umas férias europeias.

NIChO DE ATRACÇõESMonte Carlo é a maior atracção para indivídu-os com elevado poder de compra e que pro-curam um país onde a vida não difere dos cenários principescos. Aliás, esta é a ‘casa’ de uma das principais famílias reais. Aqui ain-da impera uma das últimas monarquias eu-ropeias. Na capital, os visitantes encontram tudo aquilo com que sempre sonharam. O ca-sino de Monte Carlo surge no topo da lista de diversões. É o espaço mais procurado neste pequeno território. Afinal, trata-se de um dos casinos mais importantes do continente. O recinto co-habita com o principal teatro mo-negasco, conhecido pelas exibições de ópera e por ter sido desenhado por um arquitecto francês do século XIX. A lista de actividades é bastante extensa. O Mónaco oferece aos visi-tantes fantásticos locais para praticar golfe, ténis, desporto aquático e até voos de heli-cóptero para os mais excêntricos. O Grand Prix de Monte Carlo é responsável por atrair muitos turistas, em Maio, nomeadamente os apreciadores e adeptos do automobilismo. O palco é o sumptuoso circuito citadino. A ca-pital é uma cidade que nunca se cansa, nem mesmo quando o tema é vida nocturna. As discotecas, bares, pubs, cafés e centros de animação funcionam quase 24 horas por dia e a oferta é tão variada que vai de encontro a todos os gostos. É o local perfeito para uma noite excepcional.

MONACO VILLEConhecida como “le rocher” ou “a rocha”, a vi-la medieval no coração do principado é o ce-nário ideal para uma caminhada, através das ruas pitorescas e minúsculas, ladeadas por casas seculares que perduram ao longo da história. A sensação de entrar numa cidade da Idade Média é aguçada pela presença de lojas tradicionais e excelentes restaurantes, onde impera a cozinha monegasca. As igua-rias tradicionais são uma fusão da culinária

Sabia que...

O Palácio do Príncipe (cidade velha) e a

Catedral do Mónaco (onde estão os restos

mortais da actriz Grace Kelly, princesa

do Mónaco) são os monumentos mais

importantes da região e merecem uma visita

TURISMO

mónacoreduto de reis e princesas

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ocidental, sempre com um toque francês. O Stocafi é uma das especialidades. O peixe é preparado no vinho com azeitonas pretas, conhaque e cebola. No Palácio do Príncipe, às 11.50h assiste-se diariamente à cerimónia de troca da guarda. O espaço é um ex-libris da região, pois aloja uma galeria com fres-cos do século XVI, dividindo-se ainda no sa-lão Luís XV, no salão Azul, no salão Mazarin, na Sala do Trono, na Capela Palatine do sé-culo XVII e na Torre de Santa Maria. Refúgio para os apreciadores de arte, o Monaco Vil-le tem ao seu dispor o Museu Oceanográfico, inteiramente dedicado às belezas naturais, escondidas no Mar Mediterrâneo. Fundado em 1910, detém fama mundial, tendo sido dirigido por Jacques-Yves Cousteau. O Museu des Souvenirs Napoléoniens guarda objectos que pertenceram a Napoleão. Não pode es-quecer de visitar a Catedral do Mónaco, er-guida em homenagem a São Nicolas e que abriga as obras dos antigos príncipes do pa-ís. Foi erguida em 1875 no sítio onde existia uma antiga igreja do século XIII. O seu estilo bizantino atrai muitos apreciadores de arte. Nas redondezas, descobrirá os melhores res-taurantes do principado.

ExUbERâNCIA CULTURALA cidade do Mónaco é conhecida como des-tino para a evasão aos impostos. O comércio destina-se às elites, sendo unicamente com-posto por lojas de luxo que vendem exclusi-vamente as mais elegantes e prestigiadas marcas do mundo. Porém, ao invés do que muitos imaginam, os preços são idênticos ao que é praticado nos principais centros eu-ropeus, como Londres ou Milão. Pode optar ainda por uma visita ao Museu de Antropo-logia Pré-histórica, onde encontra peças ori-ginárias do principado e das regiões vizinhas, retratando uma parte importante da história da humanidade. Por toda a região encontra uma panóplia de monumentos dedicados à preservação do acervo cultural. Reserve um dia inteiro e descubra o que esconde o Novo Museu Nacional do Mónaco, o Museu dos Se-los e Moedas ou o Museu Naval, onde estão expostos mais de 250 objectos e modelos dos célebres barcos da marinha, incluindo exem-plares da colecção privada do príncipe Rainier

III do Mónaco. Os adeptos do desporto auto-móvel preferem uma visita a Fontvieille para contemplar a quase centena de carros clássi-cos de diversos modelos, criados pelas mais prestigiadas marcas europeias e americanas e os seis coches que pertencem ao príncipe Alberto do Mónaco. Aproveite a estadia e consulte os horários do pequeno e ecológico comboio da cidade e marque um passeio pe-los principais pontos de Monaco Ville.

ESTAÇõES íMPARESQualquer altura do ano é boa para descobrir a atmosfera única e fantástica de Riviera. O principado do Mónaco significa entreteni-mento e vida. O corrupio de artistas e eufo-ria são constantes e o país nunca pára. Seja no Verão ou no Inverno, os eventos são sem-pre fantásticos e atractivos. A vida cultural reserva-lhe opções para cada estação do ano. A Primavera no Mónaco é celebrada de uma

forma muito especial. O Spring Arts Festival é um programa eclético que festeja a chega-da desta época e baseia-se numa festa cul-tural inédita, cujo tema muda a cada edição. O programa inclui eventos musicais, recitais, concertos, teatro, cinema, artes e cujo ponto alto culmina com a escolha de novos talen-tos e a distinção dos melhores artistas na-cionais. O Concurso Internacional de Arranjos Florais decorre anualmente nesta época. Na Primavera, as flores brotam por toda a re-gião, que ganha uma nova cor com a colorida panóplia de plantas. O Verão atinge o ponto máximo com a organização do “Monaco Red Cross Ball”, uma gala de caridade que reúne a alta sociedade e doadores provenientes de todos os cantos do mundo. Na mesma altu-ra, decorre o Festival Internacional de Teatro Amador, que se realiza a cada quatro anos (desde 1957) e promove durante dez dias pe-ças de teatro diárias, espectáculos que re-

TURISMO

tradições milenaresO turismo é a actividade nuclear do Mónaco e o maior gerador de riqueza. A aposta nesta vertente e no comércio de luxo é reflexo da longa história que envolve o nas-cimento do principado mais famoso do mundo. O país foi povoado pelos Fenícios, Gregos e Cartagineses e fez parte do Império Romano. No século XII tornou-se numa colónia Genoveva e no século XIII a família Grimaldi conquistou a soberania plena do território. Até ao século XX, a gestão do país passou pelos espanhóis, fran-ceses, italianos e alemães. Só em 1945 foi libertado definitivamente e mantém-se sob a égide da dinastia Grimaldi. Em 1993, aderiram às Nações Unidas

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únem uma centena de actores estreantes que se apresentam à sociedade através de três representações na língua-mãe. O “Mon-te Carlo Magic Stars”, que decorre no Teatro Princesa Grace, é responsável por abrilhantar as noites de Outono. O campeonato reúne jovens mágicos que disputam as medalhas de Ouro e Prata e traz até ao Mónaco os má-gicos internacionalmente conhecidos para apresentações inesquecíveis. Este período é fértil em acontecimentos culturais, visto que se dá início à preparação das Festividades de Final de Ano. O arranque do novo calendário e do Inverno fica a cargo do Festival Internacional de Cir-co. A arte circense de Monte Carlo detém fa-ma além-fronteiras. O espectáculo foi criado pelo príncipe Rainier III, em 1974. Os mais exi-gentes podem procurar diversão de outra ín-dole em qualquer altura do ano, já que todos os meses existe algum espectáculo ou festi-vidade a decorrer.

bELEzA NATURALO clima propicia o florescer de vegetações exuberantes e praias paradisíacas. Situado no coração da Europa mediterrânica, o princi-pado é brindado pelo sol durante quase todo o ano (mais de 300 dias). O clima ameno faz com que as temperaturas variem entre os 8ºC e 14ºC, no Inverno e rondem os 27ºC no Verão. Uma das épocas recomendadas para passar férias no Mónaco é o Outono, período em que as temperaturas oscilam entre os 17 e 21ºC, convidando os turistas a explorar as belezas naturais do país, como os Jardins Exóticos, plantados na famosa gruta pré-histórica que se encontra a 60 metros abaixo do solo e con-serva milenares estalactites e estalagmites. O jardim está inserido na rochosa montanha e abriu ao público em 1933. Tem milhares de tipos de diferentes plantas, que merecem ser apreciadas e fotografadas. Já o Jardim Zooló-gico, fundado em 1954 pelo príncipe Rainier III, serve de refúgio para cerca de 250 ani-mais de 50 espécies diferentes, como pás-saros exóticos, hipopótamos, uma pantera negra, um tigre branco, répteis e outras espé-cies, que vivem que nem ‘reis’, em condições exemplares. A harmonia oriental está paten-te no Jardim Japonês. São 7000 m2 repletos de serenidade conjugada com a montanha, a praia, as quedas de água e a vegetação própria. É uma autêntica experiência Zen. A mesma tranquilidade pode ser encontrada no Jardim Princesa Grace Rose, um oásis de cerca de quatro mil rosas perfumadas que rodeiam

diversas esculturas contemporâneas. Em alusão à magistralidade das paisagens afri-canas, no casino do Mónaco foi recriado um jardim com espécies exóticas e exuberantes, que fazem recordar uma “pequena África” e que convive harmoniosamente com o alinha-mento e com as fontes características do es-tilo francês. Complete a sua viagem com uma estadia num dos 80 hotéis de luxo. São mais de 2,600 quartos e suites, em que o atendi-mento personalizado e a hospitalidade dos habitantes são mais-valias a ter em conta num país que encara o turismo e a capacidade de proporcionar uma estadia requintada co-mo uma arte. Opte pelo seu estilo preferido. Aqui encontra espaços hoteleiros clássicos (Belle Epoque), românticos, contemporâneos ou ao estilo mediterrânico. Todos oferecem restaurantes glamourosos, spas e espaços de relaxamento e diversas opções para um serão inesquecível.

DICAS:Passaporte e visto: Para quem deseja ficar no território durante um período não su-perior a três meses deverá dispor dos documentos requeridos para entrar no território francês (passaporte ou documento de identificação).Idioma: Francês é a língua oficial. O inglês e italiano são frequentemente falados.Fuso horário: 6 horas ESTCartão de crédito: A maioria é aceiteMoeda oficial: EuroCheques: Os cheques em USD devem ser cambiados nos bancos ou nas lojas próprias. A maioria do comércio não aceita dólares.Shopping: O principal centro comercial é o Place du Casino, onde estão as lojas mais so-fisticadas. O Boulevard des Moulins tem preços mais acessíveisDress Code: É proibido passear em fato-de-banho ou em chinelos, excepto nas praias e zonas balneares. Para entrar no casino deverá usar blazer e gravata. Para eventos de ga-la, é obrigatório o uso de fato pretoDeslocar-se na cidade: Os numerosos elevadores são a forma mais confortável e prática para se deslocar. A Companhia Monegasca de Autocarros tem disponíveis seis linhas, com partidas a cada 11 minutos, de segunda a sexta-feira, da 7.00AM às 9.00PM.

Não se esqueça do mapa da cidade!

TURISMO

TURISMO

patagónia

58 | ANGOLA’IN · TURISMO

| patrícia alves tavares

Escondida entre montanhas e lagos, num dos pontos mais altos dos Andes surge uma terra recôndita, surpreendentemente bela e pronta a ser explorada pelos turistas mais audazes. A Patagónia é limitada pelo rio Colorado (a norte), pelo Estreito de Magalhães (que sepa-ra o território da Terra do Fogo) e pelos ocea-nos Atlântico (a leste) e Pacífico (a oeste). São excelentes razões para explorar este país que tem a particularidade de se situar num dos pontos mais escondidos e simultaneamente numa das mais fantásticas reservas de vida selvagem do planeta. Na fronteira entre a Ar-gentina e o Chile pode encontrar um território marcado pela paisagem verde, onde se des-tacam os lagos e lagoas, os rios e quedas de água, as florestas e as fileiras montanhosas. É igualmente a porta de entrada para o Par-que Nacional Torres Del Paine, que se estende até ao extremo sul do continente americano e à Antárctida. Quer escolha a Patagónia Argen-tina ou a Patagónia Chilena, é garantido que terá umas férias inesquecíveis. É o destino re-comendado para aventureiros e apaixonados pelo estado ‘natural’ da natureza.

RIqUEzA OCULTATerra de sonhos, a sua geografia é um autên-tico tesouro por descobrir. Na zona costeira, os visitantes terão a oportunidade de encon-trar pinguins, lobos e elefantes marinhos,

enquanto nas baías descansam as baleias, golfinhos e orcas. As províncias possuem pai-sagens e culturas ímpares, pelo que são dig-nas de uma visita. Em La Pampa, as míticas terras associadas à produção agropecuária surgem indissociáveis da identidade local. As amplas planícies convidam ao descanso. Neu-quén destaca-se pelos cumes de neve, ba-nhados por rios e verdes vales. A vegetação é única e merece ser apreciada. Em Rio Negro, Bariloche é a localidade mais conhecida e pro-curada. Os turistas encontram nesta provín-cia actividades para todos os gostos. Além da cordilheira frequentemente coberta por man-tos de neve, a região possui uma zona litoral, que se destaca pelas praias de águas quen-tes, onde a aposta recai no turismo rural. É um bom local para experimentar os produtos da Patagónia e os pratos típicos. Para quem prefere cenários selvagens, onde imperam as leis da natureza, Chubut é o destino perfeito. Aproveite para mergulhar, praticar esqui ou windsurf. Aqui é frequente vislumbrar baleias, orcas e pinguins. A terra do Glacial Perito Mo-reno, Santa Cruz, é um convite à descoberta e exploração da imensa área selvagem, onde encontrará o célebre Fitz Roy. A Terra do Fogo é provavelmente a província mais conhecida dos viajantes. Famosa pelas florestas mile-nares, pelos lagos e montanhas cobertas de neve, é o autêntico paraíso para os amantes

de desportos de Inverno. As possibilidades de diversão são diversas. A gastronomia baseada em peixes e mariscos fazem desta região um local inesquecível.

IMPERDíVEL Bariloche, habitualmente eleito pelos alu-nos do ensino médio para festejar a con-clusão do curso, é o destino de esqui mais famoso do país. Entre montanhas e cerros, a região beneficia da localização junto do La-go Nahuel Huapi, pelo que as paisagens são deslumbrantes em qualquer altura do ano. A Angola’in destaca outras regiões da Patagó-nia que, apesar de menos famosas, são igual-mente belas e merecem ser visitadas. Para os apaixonados pelos animais, a Península Valdés é o destino perfeito. A província ser-ve de abrigo para as baleias francas austrais, que se instalam nas águas do Golfo San José e do Golfo Nuevo. O Caminho dos Sete Lagos oferece 110 quilómetros de lagos, mirantes naturais, rios e intermináveis atracções que unem duas das vilas mais espantosas da Pa-tagónia: San Martín de los Andes e Villa La Angostura. Setembro é a altura ideal para vi-sitar Punta Tombo. Nesse período, mais de 200 mil casais de diversas espécies chegam à costa desta localidade, na província de Chu-but, para se reproduzirem, formando a maior colónia do continente.

natureza selvagem

TURISMO

patagónia

59 TURISMO · ANGOLA’IN |

OS PARqUESA natureza rica em fauna e flora está ao dis-por dos visitantes nos múltiplos parques na-turais, que propiciam uma jornada em plena paisagem selvagem, simultaneamente atra-ente e convidativa à aventura. O parque das Torres del Paine, localizado na cordilheira dos Andes, é um desses exemplos. É o mais co-nhecido parque sul-americano, assumindo a designação de Património Mundial da Unesco desde 1978. Conhecida pelas montanhas ro-chosas, pelos lagos verde-azulados e pela flora verdejante, a região é habitat de espécies ani-mais únicas, como os pica-paus patagónicos. A área é bastante íngreme e selvagem, ape-lando à habilidade dos visitantes, que têm que percorrer caminhos junto aos rios e lagoas para visualizar as elegantes agulhas de granito das Torres del Paine e o Lago Grey, que se evidencia pelos inúmeros icebergs. Os cumes rochosos de Fitz Roy e Cerro Torre podem ser contem-plados no parque dos Glaciares. Este é o ponto de partida para descobrir o glaciar Perito Mo-reno, que consiste numa massa de gelo em movimento, onde é possível assistir à queda de enormes blocos de gelo, cujo impacto nas águas do lago é surpreendentemente estron-doso. Aliás, este é um dos grandes atractivos desta área remota da zona austral do planeta.

Com mais de 400 km de comprimento e 50 km de largura, é um dos 48 glaciares alimentados pelo campo de gelo do sul da Patagónia, que consiste na terceira maior extensão de gelo continental (depois da Antárctida e da Grone-lândia) e de reserva de água doce do mundo. Localizado na zona ampla e quase inacessível da cordilheira dos Andes, o Perito Moreno é um dos três únicos glaciares da Patagónia imunes ao aquecimento global. Esta é uma das razões que o torna tão especial e desejado pelos tu-ristas, especialmente os que se preocupam com as questões ambientais. Os nevões que caem na sua base (Andes) levam-no a avan-çar 700 metros por ano. Porém, há cerca de 90 anos que este ponto perde anualmente a mesma superfície. A cidade envolvente, El Ca-lafate, é uma espécie de zona operacional en-

Sabia que...A Patagónia Argentina é exportadora de excelentes vinhos, recebendo anualmente tu-

ristas para visitas de degustação. Durante a última década, um grupo de viticultores

apostou nas terras férteis de San Patricio del Chañar e o sucesso foi imediato. Um dos

pioneiros é a Bodega del Fin del Mundo e conta com o aconselhamento de um dos mais

influentes consultores de vinhos: Michel Rolland. A NQN destaca-se igualmente pela

qualidade dos tintos que, apesar da juventude, arrecadaram vários prémios internacio-

nais. A nova adega Valle Perdido dispõe de 18 quartos, num resort rodeado por vinhas

tre os sectores sul e norte do Parque Nacional Los Glaciares. O centro urbano foi baptizado com o nome de um arbusto patagónico espi-nhoso que dá bagas azuis, usadas na confec-ção da doçaria argentina. Os edifícios (quase todos pré-fabricados) caracterizam-se pela simplicidade que acompanha a beleza natural da planície onde está localizada. Em Ushuaia, a cidade mais meridional do Planeta, espera-o o parque da Terra do Fogo e um longo passeio pela sua floresta, descendo em direcção ao rio Lapataia, em Kayak, onde habitam curiosas aves. Tem ainda a oportunidade de navegar pelo canal Beagle, com a missão de observar as colónias de lobos e aves marinhas que nidi-ficam nos ilhéus. O vento será uma constante, num país que muitos definem pela luminosi-dade do crepúsculo.

INfORMAÇõES GERAIS

Clima: Outono (Março – Maio): 16ºC | Inverno (Junho – Agosto): 13ºCPrimavera (Setembro – Novembro): 19ºC | Verão (Dezembro – Fevereiro): 23ºCAcessos: Existem voos diários com partida de Santiago até Punta Arenas (qua-tro horas de viagem). Transporte de luxo desde Punta Arenas até Puerto Nata-les (254 km, 3 horas), que é a porta de entrada até ao Parque Nacional Torres del Paine. Ou transporte de luxo desde Punta Arenas até ao Parque Nacional (403 km, 6 horas) | Documentos: Passaporte válido no mínimo por seis mesesMoeda: Peso 1€ = 5,07 ARS. | Diferença horária: GMT/UTC - 4

ARqUITECTURA & CONSTRUÇÃO | patrícia alves tavares

Especial Sector Imobiliário

‘Boom’da classe média

60 | ANGOLA’IN · ARQUITECTURA & CONSTRUÇÃO

O estudo “Re-Search Angola” alerta os profis-sionais do sector imobiliário para o renascer de um novo grupo de potenciais investidores. As conclusões apontam para a necessidade e urgência de se apostar em novos segmentos e para o afastamento da produção exclusiva para as classes altas. O mesmo documen-to adianta que o país assiste ao emergir de uma classe média pró-activa, com poder de compra e interesse crescente em adquirir casa própria. A pesquisa encomendada pela ESCOM Imobiliária e pela Mota-Engil Real Es-tate traz uma nova visão do mercado, reve-lando a dinâmica e as tendências deste sector face à evolução constante. Para corresponder às novas carências e às necessidades do mo-mento de reconstrução nacional, a Deloitte (responsável pelo estudo) conclui que a com-petitividade e evolução da indústria imobili-ária estão intrinsecamente dependentes de dez factores: burocracia, concorrência, custos de construção, custos/ riscos financeiros, de-mografia, direitos de propriedade, produto, segmentação, terrenos e localização e ‘preço a pagar’. A Angola’in divulga, em exclusivo, os factores e as tendências que podem au-xiliar as empresas de construção no desen-volvimento de estratégias de negócio. Estas devem estar conscientes de que existem di-versos segmentos com diferentes necessi-dades, o que implica uma diversificação das ofertas. O “Re-Search Angola” enumera ou-tras questões pertinentes que têm ditado o rumo do sector. A análise dos resultados dos

inquéritos leva os investigadores a concluí-rem que o ramo imobiliário angolano revela pouca maturidade, situação frequente nos mercados emergentes, uma vez que ainda não existem produtos de financiamento imo-biliário estruturados por causa da ineficácia de registos prediais. Esta situação é o princi-pal motivo da inibição do desenvolvimento do crédito à habitação. De facto, a generalidade da população ainda não dispõe das garantias reais suficientes para aceder ao crédito. Po-rém, o emergir da classe média permite que uma parcela crescente de angolanos reúna as condições necessárias para adquirir casa e pa-ra revolucionar o mercado.

O país assiste ao emergir de uma classe média pró-activa, com poder de compra e interesse crescente em adquirir casa própria

A NOVA GERAÇÃOSão jovens e trabalham na função pública, em multinacionais, em instituições bancárias e em serviços que lhe permitem auferir um rendimento crescente e aceder a meios que até aqui eram exclusivos das elites. A classe média assume importância primordial nes-te estudo e, de acordo com a Deloitte, deve ser considerada como uma alternativa viável. A oferta é ainda muito reduzida face à cres-

cente procura. Portanto, uma das principais advertências da pesquisa diz respeito a esta matéria, apontado a necessidade de conside-rar outros segmentos e de deixar de se focar unicamente a produção nos segmentos upper upscale, concentrados em Luanda. A nova classe trabalhadora tem um nível de educa-ção superior, tem poder de compra e procu-ra habitação própria (fruto do aumento da taxa de emprego e da estabilização laboral). O crescimento económico, nomeadamente o proliferar da actividade empresarial, tem si-do decisivo no combate ao absentismo e na geração de riqueza. Este novo mercado tem uma particularidade interessante e que tem motivado a dinamização do sector. A classe média comporta uma alteração da estrutura demográfica, pois assiste-se a uma redução do número médio de elementos por agrega-do familiar. Esta situação conduz à procura de mais casas por parte de cada família e é determinante na escolha da tipologia do edi-fício, especialmente no que toca aos jovens casais que optam por espaços mais peque-nos. Assim, regista-se um aumento da pro-cura de tipologias entre o T1 e o T3.

Novo organismoO estudo da Deloitte inclui o desenvolvi-

mento de um Observatório semestral. Es-

te equipamento de recolha de informação e

conhecimento será responsável por moni-

torizar as futuras tendências do mercado e

deverá actuar como um barómetro do sec-

tor imobiliário

Apostar em novos segmentos de mercado e descentralizar as ofertas habitacionais, alargando as opções até às províncias são as principais conclusões do estudo “Re-Search: 10 Fac-tores de Competitividade do Sector Imobiliário Angolano”. A Angola’in teve acesso à pesquisa da agência de consultoria Deloitte e revela as principais premissas que podem influen-ciar a dinâmica do sector

ARqUITECTURA & CONSTRUÇÃO

61 ARQUITECTURA & CONSTRUÇÃO · ANGOLA’IN |

OS CUSTOSO interesse por casas mais pequenas conju-gado com os elevados preços praticados nas zonas nobres são razões fortes para levar os agentes imobiliários a orientar os seus pro-dutos para um leque alargado de potenciais clientes. Aliás, a questão financeira é um dos motivos para apostar em novos segmentos. O facto dos terrenos disponíveis em localida-des como Ingombotas, Maianga (Luanda) ou Restinga (Lobito) serem escassos conduz à inflação dos preços e é o principal indicador de que os construtores devem apostar noutras áreas de Luanda e, sobretudo, nas províncias mais dinâmicas. Orientar as ofertas para zo-nas menos premium permite chegar a seg-mentos com poder de compra inferior, o que reduzirá o preço de comercialização. Por outro lado, a Deloitte constatou que há um crescen-te número de expatriados que tendem a pro-curar espaços temporários, o que revela que existe um mercado de arrendamento ainda por explorar e que é bastante atractivo para a diversificação e crescimento do sector. A este grupo junta-se as empresas que procuram ha-bitações em segunda mão para alugar e que têm dificuldade em encontrar áreas com as condições mínimas de habitabilidade. O es-quecimento deste nicho tem provocado pre-juízos nos agentes imobiliários, que se vêem obrigados a baixar as rendas. O estudo refere ainda uma componente crucial, responsável pelo investimento total e que constitui um dos principais handicaps da competitivida-

de do imobiliário. A construção é a área base desta indústria e a que reúne maiores preocu-pações. A insuficiente capacidade produtiva de matérias-primas é o principal entrave que, associado aos constrangimentos de trans-porte, contribui para o aumento dos custos dos empreendimentos. Os autores do estu-do, apontam ainda a falta de legislação sobre a propriedade horizontal como condicionante do alargamento do sector imobiliário, que en-frenta barreiras como a excessiva carga buro-crática, os custos de compra dos terrenos, a dificuldade na aprovação dos projectos e no desbloquear das licenças.

DINhEIRO POR VALORAs conclusões do “Re-Search Angola” deixam algumas dicas importantes. Uma das fórmu-

à LUPA

O “Re-Search: 10 Factores de Competitividade do Sector Imo-biliário Angolano” foi desenvolvido pela Deloitte para a ES-COM Imobiliária e Mota-Engil Real Estate. O estudo teve como principal finalidade elaborar uma análise e traçar o pa-norama do sector imobiliário, bem como antecipar as tendên-cias e identificar as áreas onde é possível inovar. A pesquisa incidiu sobre a totalidade do território nacional, conferindo especial enfoque a algumas cidades, consideradas com maior potencial de desenvolvimento a curto/ médio prazo. Assim, a análise destacou Luanda, Benguela, Lobito, Huambo, Luban-go e Soyo. A Deloitte efectuou questionários aos residentes das referidas cidades e surveys aos segmentos que constituem a procura de imobiliário comercial, industrial e de escritórios

las mais viáveis para orientar as estratégias de negócio consiste em desenvolver projec-tos que contemplem melhorias nos espaços públicos, acção bastante valorizada pelas au-toridades nacionais e municipais. ‘Value for Money’ será certamente outro conceito a re-ter. É evidente que a maioria dos players deste mercado desconhecem o rumo e o modo co-mo será a evolução do sector, o que tem con-duzido à criação de produtos que consistem num mix de valências (residencial, comercial e escritórios), em parte devido à escassez da oferta. Tendo em conta que os clientes estão cada vez mais informados acerca do funcio-namento da actividade, o caminho do imobi-liário passa certamente pela comercialização de produtos baseados no conceito ‘Value for Money’.

ARqUITECTURA & CONSTRUÇÃO ARqUITECTURA & CONSTRUÇÃO

62 | ANGOLA’IN · ARQUITECTURA & CONSTRUÇÃO

A Angola’in conversou com o Managing Part-ner da Deloitte e aprofundou as ideias veicu-ladas pelo estudo “Re-Search Angola”. Ricardo Gonçalves apresentou as conclusões da sua pesquisa e lançou algumas considerações que os empresários do imobiliário poderão reter e aplicar na altura de direccionar as suas ofertas

“re-search”Como surgiu a ideia de desenvolver este estudo?A iniciativa foi da Escom Imobiliária e da Mota-Engil Real Estate, duas empresas com uma forte presença em Angola que procura-ram criar uma ferramenta de apoio à decisão para os intervenientes no mercado imobili-ário angolano e, assim, contribuir para um maior conhecimento do sector e para o seu desenvolvimento.

Durante quanto tempo decorreu a avalia-ção do sector imobiliário?O projecto teve início em Setembro de 2009 e decorreu até Janeiro de 2010. As visitas às Províncias realizaram-se até Novembro. Apesar de analisarem todo o território, debruçaram-se maioritariamente sobre

a situação de Luanda, Benguela, Lobito, Huambo, Lubango e Soyo. Que factores motivaram a escolha destas cidades?A realidade geográfica de Angola é muito grande e muito heterogénea. Como os re-cursos são limitados é necessário delimitar o âmbito. Com base em aspectos demográ-ficos, investimento público e investimento privado, definimos um grupo de cidades que teriam um estudo mais aprofundado.

Quais as principais conclusões do estudo?O mercado imobiliário angolano, pelo seu estágio de desenvolvimento, apresenta al-guma imaturidade. No entanto, as variáveis sócio-económicas que temos indiciam um potencial de desenvolvimento significativo. Actualmente, a maioria da oferta imobiliária está concentrada na província de Luanda pa-ra um segmento de alta renda (escritórios e residencial). As necessidades de mercado da média/alta, média e média/baixa renda ainda estão por satisfazer. Nos 10 factores de com-petitividade apresentados, surgem alguns aspectos que têm de ser trabalhados, por en-tidades públicas e privadas, tal como a lei da terra, os registos de propriedade, os instru-mentos de financiamento, os processos de

aprovação e licenciamento de obras, a efici-ência dos custos de construção, entre outros.

A pesquisa foi desenvolvida para a Es-com Imobiliária e a Mota-Engil Real Es-tate. O que é que as empresas esperavam deste estudo?As empresas esperavam que este estudo in-dicasse quais as necessidades, as especificida-des e as tendências de futuro deste mercado, para que os seus intervenientes pudessem desbravar caminho, potenciar as imensas oportunidades existentes e contribuir para o crescimento de Angola.

mercado residencialO estudo indica que é necessário apostar em novos segmentos. Quais são os que podem ser explorados com sucesso?É importante melhorar a segmentação que se faz do mercado e a forma como se direcciona o produto para cada target. Observamos que há muita confusão no mercado com a oferta imobiliária, existindo muito produto em lo-calização não premium (periférica) com uma ambição de se posicionar no topo da pirâmi-de. No imobiliário, o factor mais importante no posicionamento é a localização.

entrevista ricardo gonçalves, managing partner da deloitte

“Imobiliária é combinaçãode demografia e economia”

“As necessidades

de mercado da média/

alta, média e média/baixa renda ainda

estão por satisfazer”

| manuela bártolo

ARqUITECTURA & CONSTRUÇÃO

O desenvolvimento de habitação para a classe média é o caminho a seguir pelas imobiliárias e construtoras?É importante separar as construtoras das promotoras imobiliárias. Estas últimas têm de desenvolver uma oferta e um conceito de imobiliário mais orientado para a nova clas-se média, jovens quadros que iniciam a sua actividade profissional em multinacionais ou quadros médios e superiores da função pública (médicos, professores, etc.). As cons-trutoras têm de ser mais eficientes e apresen-tarem técnicas construtivas que façam baixar os custos de construção.

“Observamos que há muita confusão no mercado com a oferta imobiliária, existindo muito produto em localização não premium (periférica) com uma ambição de se posicionar no topo da pirâmide”

Quais são as mais-valias deste grupo para o mercado imobiliário?Sectores da construção e da promoção mais eficientes contribuem para uma sociedade mais competitiva. Os custos relacionados com o imobiliário têm um impacto transver-sal em toda a economia, tal como a energia ou o trabalho.

É o caminho a seguir para contornar a es-peculação imobiliária?O mercado tem de funcionar. Como é um sector de capital intensivo é importante que se criem instrumentos que contribuam para atrair capital e para que o seu custo baixe. O mercado de oferta de soluções para a classe alta está saturado?A classe alta é reduzida. Mas ainda há espaço para o desenvolvimento de novos produtos para nichos de mercado específicos.

Que tipo de ofertas procuram os restan-tes segmentos de mercado?Existem vários segmentos. O das famílias de classe média que procuram comprar apar-tamentos de tipologia T2 ou T3 com preços razoáveis, o das empresas que necessitam de alojamento para colocar os seus colaborado-res com fácil acessibilidade ao local de traba-lho, entre outros. Cada segmento tem as suas especificidades.

“Em todos os países do mundo a capital polí-tica e financeira tem sempre um papel de des-taque e Luanda não vai ser excepção”

A procura centra-se maioritariamente em Luanda. Descentralizar é a alternati-va para organizar o sector?A procura centra-se em Luanda. Mas também é a província que tem a maior concentração populacional e a que mais contribui para o rendimento gerado na economia. Em todos os países do mundo a capital política e finan-ceira tem sempre um papel de destaque e Lu-anda não vai ser excepção.

Enumerou 10 factores condicionantes da competitividade da indústria imobiliá-ria angolana. Como chegou a estas vari-áveis? Com base no diagnóstico e nos bechmarks internacionais. Realizámos 300 entrevistas pessoais, 300 surveys a empresas e 1.500 in-quéritos à população. Estivemos em contacto com governo central, governos provinciais, construtores, promotores, investidores, fi-nanciadores e utilizadores. Recolhemos in-formação durante vários meses.

“O desenvolvimento do sector da construção obrigará os custos de construção a baixar de forma significativa e a aumentar a eficiência do sector da promoção imobiliária”

Em que medida cada uma delas pode comprometer a evolução do sector a mé-dio e longo prazo?Quando se fala em 10 factores de competiti-vidade estamos a considerar os aspectos crí-ticos. É importante termos sempre presente que um sector vive da interacção de diferen-tes agentes e que todos têm de contribuir pa-ra o seu desenvolvimento, quer sejam agentes públicos ou privados.

A ausência de uma indústria sólida de materiais de construção civil é ainda o principal ‘handicap’ do imobiliário? Alguma da ineficiência do sector resulta dos elevados custos de construção. Temos obser-vado que os promotores tentam passar todas

63 ARQUITECTURA & CONSTRUÇÃO · ANGOLA’IN |

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ARqUITECTURA & CONSTRUÇÃO

as ineficiências para o cliente final e depois não há procura para os preços que se preten-de praticar. O desenvolvimento do sector da construção obrigará os custos de construção a baixar de forma significativa e a aumentar a eficiência do sector da promoção imobiliária.

Quais as regiões privilegiadas para incre-mentar a construção de habitações?Imobiliária é a combinação de duas variá-veis: demografia e economia. As províncias com maior capacidade de atrair população e empresas são as que maior dinamismo apre-sentarão.

O estudo indica que se verifica uma maior procura das habitações para arren-dar. É um nicho de mercado que pode ser explorado?O mercado do arrendamento é e vai conti-nuar a ser muito importante. O segmento de mercado dos investidores que compram pa-ra garantir rendimento vai continuar a ser uma oportunidade. A economia angolana vai manter os registos de forte crescimento e a atrair investimento. Como tal o mercado do arrendamento vai atrás.

Há uma maior procura de casas para ar-rendamento ou de habitação própria?O mercado do arrendamento é maior do que o da habitação própria, uma vez que o sector financeiro ainda não disponibiliza um crédi-to hipotecário adequado. No caso da habitação temporária existem opções? As construtoras e os promotores devem ofe-recer o que o mercado lhes pede. O custo do capital e o custo de oportunidade que a eco-nomia apresenta devem ser muito bem pon-derados pelos agentes que estão a operar no sector. A escassez de capital obrigará a uma maior especialização.

Habitação e escritórios devem ser encara-dos e analisados separadamente?São dois segmentos distintos com caracte-rísticas distintas. Os promotores que preten-dam orientar a oferta para o segmento das empresas multinacionais poderão apresen-tar uma oferta integrada e ganhar alguma vantagem competitiva.

O Governo tem um papel fulcral na regu-lação deste sector?

O papel do Estado é muito importante. O en-quadramento legal (lei da terra, registo de propriedade, licenciamentos, etc.), a regula-ção, o ordenamento do território, a constru-ção de infra-estruturas e das acessibilidades serão da responsabilidade do sector público e determinantes para atrair capital e conse-quentemente baixar o seu custo.

mercado imobiliárioRefere que se verifica uma “incipiente matu-ridade no mercado imobiliário”. Como che-gou a esta conclusão?Pela forma como o mercado se organiza e funciona. A reduzida segmentação da oferta, a política de pricing, os instrumentos de fi-nanciamento e o perfil da procura são carac-terísticas de um mercado emergente.

O que pode ser feito para reverter o pro-blema?“Roma e Pavia não se fizeram num dia”. Pen-so que a ESCOM e a MOTAENGIL RealEstate pretenderam dar o pontapé de saída com es-te projecto. Os grandes desafios estão na ca-pacidade do sector aumentar a sua eficiência e atrair capital. Para isso, é importante uma melhor regulação (terrenos, licenciamentos) e uma garantia da propriedade mais objecti-va (registos prediais, etc.).

Cabe ao Estado criar mecanismos que incentivem a diversificação do sector e a aposta em novos segmentos?O Estado poderá contribuir essencialmen-te no mercado residencial de média, média/baixa e baixa renda, estruturando linhas de financiamento e de benefícios fiscais para as empresas e para as famílias.

“A requalificação do espaço público é um dos grandes desafios que os governos provinciais vão ter”

Em que medida as autoridades valori-zam projectos que contemplem inter-venções nos espaços envolventes?A requalificação do espaço público é um dos grandes desafios que os governos pro-vinciais vão ter. É natural que o esforço seja partilhado entre privados e públicos, uma vez que quanto melhor estiver a zona en-volvente de um imóvel ou de um complexo imobiliário maior será o seu valor.

Que aspectos do espaço público podem ser desenvolvidos pelas construtoras?Os arruamentos, os jardins e a iluminação são os mais transversais. Depois, cada caso é um caso.

observatórioO estudo Re-Search contempla o lança-mento de um Observatório Semestral. Existe uma data para o arranque do seu funcionamento?O primeiro será apresentado nos próximos meses.

Onde será implantado?Será um projecto centralizado em Luanda que recolherá informação de todo o territó-rio, com enfoque nas seis cidades mais es-tudadas.

Em que consiste essa ferramenta?É um instrumento de recolha de informa-ção sobre a situação actual e perspectiva de evolução futura da economia e do merca-do imobiliário, junto de um painel de res-ponsáveis de empresas relacionadas com o sector imobiliário angolano. Este deverá monitorizar e antecipar as tendências do mercado.

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É nosso!

ARTIGO DE OPINIÃO

Ultimamente fala-se e escreve-se sobre o pa-trimónio, em especial o cultural. Penso que chegou a minha vez de fazê-lo porque come-ço a sentir que está na hora de abrirmos um debate público em relação a esta matéria. Existem muitas pessoas que acham que um edifício não pode ser lugar de memória e, co-mo tal, não devia ser classificado como patri-mónio cultural, já que o Decreto nº 80/76 de 3 de Setembro não caracteriza este ou aquele edifício e, por esta razão, a Lei do Património Cultural diz que somente devemos conside-rar x, y ou z. Foi assim que vimos desaparecer em Luanda o Palácio de Dona Ana Joaquina, o Mercado do Kinaxixi e, mais recentemente, o edifício que albergou o Centro de Documen-tação e Informação da Universidade “A. Neto” (em Benguela), a Estação do Caminho-de-Ferro de Benguela e a Estação do Caminho-de-Ferro da Catumbela, para não citar outros, senão o artigo seria uma lista sobre a qual não interessa chorar. Partindo do princípio de que não existem leis (nem outras coisas) per-feitas, acredito que o Decreto 80/76 de 3 de Setembro, elaborado menos de um ano após a nossa independência, foi a primeira “bíblia” que tivemos em mão, para a partir desta data podermos determinar a forma de conservação e a protecção do Património Histórico-Cultu-ral do Povo Angolano. O património é a nossa herança do passado, com que vivemos hoje e que passamos às gerações vindouras. As en-tidades que procedem à identificação e classi-ficação de certos bens como relevantes para a cultura de um povo, de uma região ou mesmo de toda a humanidade, visam também a sal-vaguarda e a protecção desses bens. O objec-tivo é que cheguem devidamente preservados às gerações vindouras e que possam ser ob-jecto de estudo e fonte de experiências emo-cionais para todos aqueles que os visitem ou deles usufruam.

‘Vimos desaparecer em Luanda o Palácio de Dona Ana Joaquina, o Mercado do Kinaxixi e, mais recentemente, o edifício que albergou o Centro de Documentação e Informação da Universidade “A. Neto” (em Benguela), a Estação do Caminho-de-Ferro de Benguela e a Estação do Caminho-de-Ferro da Catumbela...’

Hoje em dia a maioria dos países adoptam nas suas constituições artigos que determinem a “incumbência ao Estado, em colaboração com todos os agentes culturais, a promoção, a sal-vaguarda e a valorização do património cultural, tornando-o elemento vivificador da identidade cultural comum”. Compete aos Institutos de Gestão do Património Arquitectónico e Arque-ológico conferir atribuições no âmbito das no-vas leis, bem como proceder à inventariação e classificação dos bens culturais. De acordo com as leis, os organismos competentes defi-nem os critérios de selecção dos locais, quer nu-ma óptica histórico-cultural, estético-social ou técnico-científica, quer ainda na perspectiva da integridade, autenticidade e exemplaridade do bem. A evolução destes critérios ao longo dos anos leva a que, por exemplo, se incluam hoje em dia no património cultural obras de arqui-tectura modernista ou de arquitectura indus-trial que antes não eram sequer consideradas. A inventariação e classificação dos bens culturais leva a que sejam desencadeados mecanismos de protecção, quer no que diz respeito à sua manutenção e conservação, quer à sua eventu-al alienação ou alteração. Os Estados, para além de signatários da Convenção sobre a protecção

do património mundial, cultural e natural e da Convenção sobre o património cultural imate-rial, devem proteger os bens culturais nacionais, através de Leis que definam as regras de “in-ventariação” dos bens pertencentes ao “Patri-mónio Histórico e Artístico Nacional”, bem como a protecção a que esses fiquem sujeitos no sen-tido da sua preservação e conservação. Parece-me ser essencial que tenhamos consciência de que não habitamos neste mundo sozinhos, que mesmo não sendo perfeitos em matéria de le-gislação, não estamos fora do que internacio-nalmente se produz em matéria de preservação do património histórico-cultural. As cidades lêem-se como se lêem os livros. Na geografia dos seus rostos, no traçado das suas avenidas, na arquitectura das suas construções. Luanda, quer se entenda a palavra no sentido de cida-de ou de província, é uma região que está a so-frer grandes mudanças. O que torna uma cidade singular é o seu património histórico e cultural, traduzido pelos hábitos das suas gentes, mas igualmente pelas pedras, construções, espaços e edifícios que foram sendo introduzidos ao lon-go dos séculos da sua génese.

‘O património é a nossa herança do passado, com que vivemos hoje e que passamos às gerações vindouras’

Termino dizendo que “tudo o que possa ser considerado como fazendo parte do Património Histórico-Cutural do Povo Angolano pertence inelutavelmente ao Povo Angolano e fica sob a jurisdição enunciada neste diploma (Decreto nº 80/76) por parte dos organismos do Estado competentes para o efeito.” (Artigo 1º)

Cumpra-se.

antónio gameiro bastonário da ordem dos arquitectos, angola

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Terramotos, maremotos, falta de chuvas, chu-vas em excesso, muito calor, pouco calor, in-vernos longos, invernos curtos, vulcões em erupção... A lista é comprida para justificar a ‘vingança’ da natureza contra o mau compor-tamento do Homem. Este é o principal culpa-do pelo aquecimento global e está apenas a ser punido pelos seus próprios erros. Mas afi-nal do que falamos quando nos referimos ao aquecimento global? A referência é simples e objectiva. Fenómeno climático que consis-te no aumento da temperatura na superfície do planeta, tendo como maiores consequên-cias o aumento do nível do mar e as mudan-ças repentinas no clima de diversas regiões mundiais. A sua causa principal é o aumento da emissão de gases poluentes na atmosfe-ra, principalmente os derivados da queima de combustíveis fósseis (gasolina, óleo diesel e outros). Os gases (dióxido e monóxido de car-bono, entre outros) acumulam-se na atmos-fera formando uma camada de poluentes que dificulta que o calor do sol seja reflectido para fora do planeta, tendo como consequência a elevação da temperatura – o famoso efeito de estufa. Já alguma vez se questionou porque será que são, cada vez mais, intensos e fre-quentes furacões e enchentes? Muito se tem falado acerca deste assunto, mas poucas são as medidas práticas para conter o avanço do aquecimento global. Inclusive um dos maiores

poluidores do planeta (EUA) se tem mostrado relutante em subscrever algumas mudanças necessárias para travar este problema. En-quanto isso o problema agrava-se. Há dez ou 15 anos, esta questão era quase uma ilustre desconhecida e pouca ou nenhuma emoção despertava no cidadão de rua. Para a comu-nidade científica, no entanto, com a acumu-lação de dados preocupantes - o aumento do dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, a ten-dência global para o aumento da temperatura ou o recuo do gelo nos glaciares -, tratava-se já de uma questão no topo da sua agenda de trabalho. Convencer os políticos da realidade que começava a emergir dos estudos era a ou-tra árdua tarefa que os cientistas teriam pela frente. A experiência frustrada de Al Gore, po-lítico norte-americano pioneiro nesta matéria, que iniciou ainda enquanto congressista cam-panhas de informação junto dos seus colegas no Congresso, ilustra bem essas dificuldades. A sua mensagem, conta ele, foi ignorada. De então para cá, porém, algo já mudou nes-te panorama. Desde logo no lado da ciência, que conseguiu estabelecer alguns factos fun-damentais, hoje incontestados: as alterações climáticas são uma realidade, já estão a acon-tecer e têm origem na actividade humana. Do lado da política, mesmo que insuficiente, há Quioto. E para o cidadão comum, alterações climáticas também já deixaram de ser ex-

pressão abstracta. As 37 mil vítimas mortais da onda de calor de Julho de 2003, na Euro-pa, ou a sucessão de superfuracões que nos últimos anos fustigaram as Caraíbas, Florida e golfo do México despertaram consciências. Mas será que o problema se arrisca a ser uma moda, para depois voltar tudo à mesma? Ou, pelo contrário, este é o momento certo para a consciencialização global do problema e pa-ra um salto crítico no ataque ao mesmo? Nos EUA, onde o debate político sobre as altera-ções climáticas é hoje uma realidade emer-gente e as acções locais e dos Estados para a redução de emissões de CO2 se multiplicam espera-se que haja um efeito maior nas ac-ções de políticos, cidadãos e empresas nesta matéria.

POSIÇÃO DE ANGOLA Angola mostra-se empenhada em colaborar com as restantes nações na definição de pro-gramas de combate às alterações climáticas. Em Março, aderiu ao Protocolo de Quioto contra o aquecimento global. “Estamos interessados em modelar o clima do futuro, contribuindo desta forma para uma visão comum, que re-quer compromissos acrescidos no quadro do desenvolvimento sustentável dos países em desenvolvimento”, sustentou recentemen-te a ministra do Ambiente, Fátima Jardim. O país participou na 15ª Conferência das Nações

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4 ESTAÇõES

| manuela bártolo

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Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 15) que, em Dezembro de 2009, sentou na mes-ma mesa representantes de 197 países. A reu-nião de Copenhaga (Dinamarca) gorou muitas expectativas, uma vez que não foi possível fir-mar um acordo transversal e que reunisse a unanimidade dos presentes. Angola fez ques-tão de participar no debate, pois apesar de o continente africano ser dos menos poluentes, é o mais susceptível de ser fustigado pelas al-terações climáticas. A questão é encarada co-mo um desafio e o Governo tem tido um papel activo no seio da organização internacional. Fátima Jardim anunciou que o ministério dese-ja reforçar “a capacidade de maximizar as van-tagens do mecanismo de flexibilidade criadas pelo Protocolo de Quioto, no âmbito da Con-venção Quadro das Nações Unidas sobre Alte-rações Climáticas”. A responsável comunicou a decisão durante a I Reunião da Autoridade Nacional Designada (AND), uma agência go-vernamental obrigatória, criada em Janeiro. O mecanismo autoriza a criação de projectos de MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo), desde que estes se enquadrem no desenvolvi-mento sustentável da nação. Os planos devem contemplar a redução de emissões de gases de efeito de estufa e, no caso nacional, estão relacionados com a melhoria da qualidade da água, distribuição da energia eléctrica, agricul-tura, minas, transportes e construção, entre

outros. No to-tal, estão em preparação 15 projectos de várias di-mensões de MLD. O ob-jectivo go-vernamental para este sector passa por propor e incluir estes programas no “Mercado de Carbono” (assim designado internacionalmente), que está cada vez mais competitivo, obrigando os países a adaptarem-se e a mudar a sua vida organizacional. Aliás, a entidade movimen-ta actualmente 30 milhões de dólares norte-americanos, um montante que está aberto à participação dos países em desenvolvimento (de preferência às regiões que libertam baixas quantidades de gases de efeito de estufa). No caso angolano, o ministério e os seus parcei-ros encontram-se à procura de oportunidades de coordenação para que a AND possa ter ca-pacidade em recursos humanos e logísticos. Para atingir os objectivos a que se propôs, a ministra lançou o desafio às economias indus-trializadas para que se associem aos desafios angolanos. O Governo tem mantido uma ac-ção transversal, estabelecendo ainda protoco-los de colaboração com os países vizinhos. No último mês, Fátima Jardim esteve em Cabinda

para observar o grau de execução do programa de criação da zona de biosfera de reserva transfronteiriça, que será desenvolvida no âmbito de um diploma esta-belecido entre Angola, República Democrática do Congo e Congo Brazaville, em 2009. O ob-jectivo consiste em preservar o ambiente em colaboração com as nações vizinhas. Técnicos nacionais estão a avaliar as possibilidades de arrancar com o projecto na floresta do Maiom-be. O país conta com o auxílio das autoridades da Convenção das Nações Unidas, o que tem permitido à nação receber propostas de finan-ciamento para a criação de centros de clima. O projecto vai possibilitar um melhor conhe-cimento do clima e a identificação dos agen-tes de poluição. Os activistas e ambientalistas têm colaborado igualmente na elaboração de projectos de sensibilização ambiental, promo-vendo acções de reflorestação, colóquios, cam-panhas de recolha e tratamento do lixo, entre outras iniciativas.

› diminuir o uso de combustíveis fósseis (gasolina, diesel, querosene) e aumentar o uso de biocombustíveis (exemplo: biodiesel) e etanol;› os automóveis devem ser regulados constantemente para evitar a queima de combustíveis de forma desregulada e ser obrigatório o uso de catalis dor nos escapes de automóveis, motos e camiões;

› instalação de sistemas de controlo de emissão de gases poluentes nas indústrias;

› ampliar a geração de energia através de fontes limpas e renováveis: hidroeléctrica, eólica, solar, nuclear e marés. evitar ao máximo a geração de energia através de termoeléctricas que usam combustíveis fósseis;› sempre que possível deixar o carro em casa e usar o sistema de transportes colectivos ou bicicleta;

› colaborar para o sistema de colecta selectiva de lixo e de reciclagem; › recuperação do gás metano nos aterros sanitários; › usar ao máximo a iluminação natural dentro dos ambientes domésticos;› não praticar queimadas em florestas. pelo contrário, deve-se efectuar o plantio de mais árvores como forma de diminuir o aquecimento global; › uso de técnicas limpas e avançadas na agricultura para evitar a emissão de carbono;

› construção de prédios com implantação de sistemas que visem economizar energia (uso da energia solar para aquecimento da água e refrigeração).

soluções para diminuir o aquecimento global

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SOLUÇÕES DE LONGO ALCANCE

INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO PUBLIREPORTAGEM

A EMPRESAIniciaram funções em 2007. Qual o balanço destes três anos de activi-dade?Positivo. Apesar destes três anos se caracte-rizarem e dividirem por momentos distintos e com a sua complexidade própria, podemos afirmar que cada uma das etapas previstas foram, com maior ou menor dificuldade, ultra-passadas e vencidas. A LifeDigital conseguiu pela sua capacidade entretanto instalada, bem como pelo reconhecimento técnico e humano dos seus activos, sedimentar a sua posição no mercado, oferecendo hoje resposta cabal para os projectos em que se tem envolvido. Cada uma destas etapas foram obviamente previs-tas e antecipadas no âmbito do plano de ne-gócios desenvolvido em 2007 e mesmo tendo em conta os factores externos, consequentes da conjuntura desfavorável e de todos sobe-jamente conhecida, conseguimos redefinir em tempo útil determinadas opções e estra-tégias. São as vantagens de termos enfren-tado o turbilhão da crise com uma estrutura pequena e flexível, dando-nos capacidade de adaptação a uma nova realidade que parece ter vindo para ficar. Podemos por isso afirmar que somos hoje um player reconhecido neste sector pelas diferenças na abordagem em se-de de projecto, pela metodologia na execução dos mesmos e obviamente pelo valor inegável das soluções que propomos.

Porquê a aposta em Sistemas de Se-gurança e Controlo?Ponto prévio. Antes do nascimento da LifeDi-gital parte da equipa fundadora tinha estado directa ou indirectamente ligada a este sector de actividade. Todos nós nos conhecíamos e percebemos que podíamos constituir diferen-ça e acrescentar valor num mercado maduro e tão competitivo. Tínhamos o know-how e os meios técnicos, pelo que o nascimento do projecto foi uma resposta natural à ambição de dar corpo a uma ideia autónoma e própria. O desejo natural de um grupo de profissionais jovens que aspirava e aspira a ser uma refe-rência. Contudo, é importante referir que essa aposta foi feita numa dupla perspectiva. Num primeiro plano, é consequência do reconheci-mento e avaliação de condições de mercado no subsector da videovigilância, feito em con-junto com o nosso maior parceiro, a Sony Por-tugal. Foi claro para ambas as organizações verificar que o mercado português pelas suas especificidades não revelava e de certa forma ainda não revela uma valorização efectiva das soluções e sistemas avançados propostos por nós, embora essa falta de valorização se pren-da sobretudo pela insuficiente informação técnica junto dos clientes face às caracterís-ticas do produto e das efectivas vantagens e benefícios que promovem. Parte substancial da nossa acção teve e ainda tem uma com-ponente comercial e pedagógica importante,

é fundamental projectar junto dos agentes do mercado as diferenças e valias operacio-nais que se podem obter com plataformas mais ágeis, robustas e tecnicamente mais avançadas. Foi e é uma aposta de risco fa-ce ao contexto cultural português, mas ainda a encaramos como um nicho de mercado de valor e com potencial de crescimento efectivo. Mas só esta vertente por si não chega, procu-rávamos dar uma resposta de maior profun-didade. Assim sendo, e num segundo plano, verificamos que as múltiplas componentes de um sistema de segurança nas suas várias apli-cações e valências, apesar de polarizado numa mesma vertente no âmbito das instalações técnicas especiais, é desenvolvido e instalado de forma desconexa, numa lógica segmentada e compartimentada, realidade essa, verifica-da logo em sede de projecto. A Lifedigital tem oferecido aos seus clientes uma perspectiva nova para esta realidade, traduzida no desen-volvimento de projectos onde são de salien-tar valências fundamentais como os Sistemas Detecção Incêndio e Monóxido, a Intrusão, o Controlo de Acessos, os Sistemas Anti-furto e a Videovigilância, que são geridas por pla-taformas integradas, associadas a softwares poderosos onde a gestão, controlo e monito-rização são cruzadas e ligadas em arquitectu-ras de design abertas e escaláveis, permitindo uma capacidade inédita na versatilidade e al-cance destes dispositivos. Verifica-se uma procura crescente destes equipamentos? O crescimen-to é mais visível a nível de particu-lares ou de empresas?Apesar de existir já alguma maturação, pe-lo enquadramento legal que obriga à insta-lação de algumas vertentes da segurança e pela natural apetência para a instalação de Sistemas de Videovigilância, consequência da necessidade em proteger bens materiais e humanos, verificamos que existe um gap entre a tecnologia instalada num passado recente, quase toda ela analógica e uma no-va geração em base tecnológica IP. Ela é in-comparavelmente mais versátil e tendo uma arquitectura descentralizada permite, entre outras vantagens, a divisão do processamen-to entre a câmara e o servidor, a câmara infor-ma o servidor de determinado evento, analisa a imagem, detecta movimentos e envia a pedido do servidor os eventos relevantes, o que resulta em menos «carga» para o siste-ma, mais velocidade e optimização de recur-sos. Este exemplo prático reposiciona a nossa oferta para este universo de mercado e pode-mos dizer que face a esta realidade verifica-se claramente uma procura crescente destes

Num mercado exigente e global, onde a procura permanente de re-sultados constitui um factor decisivo de competitividade, a aposta nas melhores soluções tecnológicas é uma decisão que se impõe. Ciente, da necessidade de assegurar plenamente a resposta a este desafio a Life-Digital projecta e desenvolve no terreno, em parceria com os seus par-ceiros, nomeadamente a Sony, projectos customizados absolutamente integrados com os objectivos comerciais dos seus clientes. Em entre-vista à Angola’in, Nuno Riço, administrador da empresa, fala do core business da empresa e os seus projectos para o nosso mercado.

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equipamentos. O nosso mercado é sobretudo o corporate, claramente o mais identificado e «consumidor» desta soluções.Que características enumeraria pa-ra justificar a rápida solidificação no mercado?Para além das indirectamente enumeradas anteriormente e que se prendem com dife-renças de base tecnológica, a LifeDigital de-senvolve políticas de aproximação ao cliente numa lógica de consultoria. Isso permite-nos entrosar com a realidade do cliente, com as suas necessidades e sobretudo criar mais va-lor à solução logo em sede de projecto. O clien-te confia-nos a nós o «desenho» plenamente convicto que o resultado é mais positivo. Esta política permitiu-nos rapidamente crescer e solidificar a nossa posição.É uma área bastante competitiva?Sim. No entanto, o nosso «combate» é sobretu-do feito na clarificação das diferenças entre solu-ções que têm base em lógicas distintas, a maioria provenientes sobretudo do mercado chinês. Aca-bamos por competir sobre o mesmo mercado e as mesmas necessidades, mas com objectivos e respostas completamente distintas.Trabalham com clientes bastante conceituados. Essas conquistas sig-nificam o reconhecimento do vosso esforço?Estou convicto que sim. É gratificante ob-servarmos a resposta dos clientes depois da concepção e execução dos projectos. Na sua maioria deu continuidade à relação comercial e técnica para novos desafios.Neste momento, encontram-se em fase de expansão. Quais são os pró-ximos passos?Estamos nesta fase em plena prospecção pa-ra encontrar um novo espaço, é fundamental dotar a empresa de mais capacidade e darmos resposta ao crescimento dos nossos recursos humanos e técnicos com uma nova sede e um espaço mais capaz. Fomos desafiados a desenvolver uma unidade de negócios com a Sony na área do Digital Signage. É um merca-do imaturo, ainda a dar os primeiros passos e onde a Sony pelas características dos seus equipamentos e a LifeDigital pela sua capaci-dade integradora poderão dar «cartas». Este sector também denominado por Corporate TV ou Public Display (em LCD) constituem uma poderoso e robusto instrumento de comuni-cação e marketing. Associado a um poderoso software de criação e gestão de conteúdos, permite de forma simples e eficaz captar a atenção e influenciar as decisões do clientes ou público-alvo. Em simultâneo podem tam-bém ser activadas apresentações de outras

informações (ex.: gestão de filas, tempo, ho-ra, notícias RSS, etc). O exemplo de promoção de produtos e/ou serviços, vídeos, imagens, spots publicitários ou uma simples informa-ção de preços interactiva, são algumas de muitas possibilidades que esta ferramenta permite oferecer. Projectos e perspectivas para este ano e para longo prazo?Comercialmente, é importante crescer e con-solidar a nossa presença no mercado com no-vos desafios, mas perspectivamos este e o próximo ano também como o momento para cimentar parcerias com os nossos clientes.

MERCADO ANGOLANOUma das apostas para a expansão internacional da LifeDigital passa pela conquista do mercado angola-no. O que motivou a escolha de An-gola para investir?Em primeiro lugar é fruto das raízes familia-res criadas em Angola, onde estivemos sem-pre presentes. Pelo conhecimento profundo do meio, pelos laços de amizade, pelas liga-ções empresariais, este foi um caminho natu-ral para a LifeDigital. Em segundo lugar pelo evidente potencial deste mercado. Quais as potencialidades deste mer-cado?É um mercado deficitário de uma oferta de qualidade e competitiva neste sector.Contam com parcerias estratégicas nesse país?Sim, embora tenhamos uma abordagem au-tónoma, possuímos e desenvolvemos parce-rias estratégicas com empresas portuguesas e angolanas que procuraram activar e incluir esta valência no âmbito dos seus portefóliosQual será o peso de Angola nos lu-cros da empresa?Sem adiantar valores concretos estamos, fa-ce à avaliação efectuada, convictos que ela representará uma fatia interessante na tota-lidade dos proveitos, embora queiramos criar estratégias de reinvestimento no espaço an-golano, principalmente na nossa capacidade logística e componente humana. Queremos decididamente autonomizar procedimentos e acções recorrendo e investindo na capacidade dos recursos humanos de origem angolana.Existe mercado para estes equipa-mentos? Há uma procura crescente?A construção e o sector imobiliário são es-paços de evidente crescimento no merca-do angolano, logo os naturais consumidores da nossa oferta. Logicamente para nós isso constitui um enorme terreno de trabalho e crescimento.

Que tipo de ofertas têm disponíveis neste país?Para além das referidas anteriormente, possuí-mos um valor estratégico evidente: base logís-tica em Angola (onde possuímos escritório e armazém). Em conjunto permitem-nos garan-tir capacidade instalada e consequentemente respostas eficazes a todas as solicitações.Há muita concorrência neste sec-tor? Em que difere o vosso serviço? Neste aspecto a realidade não difere muita daquela que encontramos em Portugal e que atrás explicitei. A concorrência é diversificada, nem sempre fácil de avaliar e definir, se acres-centarmos a realidade complexa de um país em crescimento acelerado, rapidamente per-cebemos que a definição transparente de um modelo de actuação, dos serviços e produtos a serem disponibilizados serão fundamentais para a credibilidade e competitividade da nos-sa empresa.Está prevista a expansão da LifeDi-gital para as províncias ou a abertu-ra de novos escritórios em Luanda? Os vossos clientes são maioritaria-mente empresas ou particulares?Curiosamente temos tido solicitações de am-bos os campos. Ainda assim procuramos uma envolvência empresarial, meio para qual esta-mos mais capacitados e adaptados.Como analisa o mercado em termos de equipamentos de segurança e de desenvolvimento das novas tecnolo-gias? Pretendem alargar a activi-dade para outros países africanos?É uma hipótese em aberto.

INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO BREVES

Mediatecasrevolucionam ensinoA Rede de Mediatecas de Angola (REMA) foi aprovada pelo Presidente da República, José Eduardo dos Santos, no âmbito do Programa de Construção e Organização de Mediatecas. O projecto possui uma comissão executiva para a sua execução, composta pelo vice-ministro das Telecomunicações e Tecnologias de Infor-mação, Sebastião Teta. O organismo vai emitir pareceres acerca da concepção e desenvolvi-mento da referida rede, que conta ainda com o apoio da FESA e da Nolomits Consulting. A comissão encontra-se a definir a micro-locali-zação da REMA, contando com o auxílio das entidades provinciais. A ferramenta está a ser implementada nos países de língua oficial portuguesa e visa facilitar o acesso dos alunos à literatura e investigação científica.

Aposta na meteorologiaEmpenhado na prevenção de fenómenos naturais, o Governo está a proceder à modernização dos serviços do Instituto Nacional de Meteo-rologia e Geofísica (INAMET). Sebastião Teta, vice-ministro das Teleco-municações e Tecnologias de Informação, anunciou numa conferência em Nairobi (Quénia) que o programa inclui a instalação de estações me-teorológicas automáticas, de estações sísmicas remotas e a criação de um centro regional de formação de recursos humanos, para que o país possa ter quadros especializados nesta área. O responsável garantiu que o ministério procura tornar as tecnologias inovadoras acessíveis às regi-ões e populações mais desfavorecidas. “O Governo reitera o seu interes-se e disposição em contribuir nos esforços que a Organização Mundial de Meteorologia (OMM) vem desenvolvendo para o fortalecimento dos mecanismos de cooperação entre países, permitindo a partilha de infor-mação e experiências”, frisou.

Cuba é parceira nas telecomunicaçõesAngola e Cuba firmaram dois protocolos de carácter técnico e científico nos domínios das telecomunicações. O memorando de entendi-mento formaliza a cooperação entre as duas nações, que se tornam parceiras nos sectores das Telecomunicações e Tecnologias de In-formação e da Indústria e Geologia e Minas, enquadrando-se no Plano Estratégico de Co-operação no domínio das telecomunicações. Desta forma, Cuba passa a participar no de-senvolvimento da informática, da informação, das telecomunicações e da indústria electró-nica angolana. O vice-ministro cubano, Arufe Rodriguéz, garantiu que o acordo oficializa e fortalece a cooperação entre os dois minis-térios. O homólogo angolano Alcides Safeca referiu que o protocolo resulta da transversa-lidade que as tecnologias têm nos múltiplos sectores. O objectivo principal consiste em ge-rar sinergias entre os dois Estados, através da troca de experiências.

Adesão ao IFAC viávelUma comissão vai criar as condições neces-sárias para a adesão do país à Federação In-ternacional de Automação e Controlo (IFAC). A decisão foi tomada durante o workshop “O Fomento da Sociedade Angolana de Automa-ção e Robótica” e será composta pelos par-ticipantes do referido evento. A organização internacional é responsável por apoiar os sec-tores das ciências de investigação em meca-trónica e é formada pelos representantes das sociedades científicas e de engenharia, que promovem a temática de controlo automáti-co na forma mais abrangente. Carlos Eduardo Pereira, presidente do comité técnico da IFAC, garantiu ainda que o Brasil vai poder formar angolanos nas áreas de automação e contro-lo. O professor da Universidade do Rio Grande do Sul (Brasil) manifestou-se interessado em avançar com a possível parceria, asseguran-do que a formação de mais técnicos é um dos desafios da instituição, que quer assegurar a sustentabilidade do país. O docente admitiu que o Brasil tem défice de quadros nessa área, pelo que deseja alargar a actuação para África. O coordenador do evento e director nacional para o desenvolvimento tecnológico do Minis-tério do Ensino Superior e da Ciência e Tecno-logia (MESCT), Gabriel Miguel, explicou que o encontro permitiu avaliar o nível de ensino dessas matérias, que ainda não está massifi-cado nas universidades nacionais.

| manuela bártolo

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DESPORTO | patrícia alves tavares

Quadros técnicosMinistério e Federaçõesunem esforços

‘ALICERCE’ DO CONhECIMENTO “De que adianta termos infra-estruturas mo-dernas, se não tivermos pessoas para fazer um trabalho tecnicamente competente?”, in-terroga-se Gonçalves Muandumba, Ministro da Juventude e Desportos, que destaca a ‘se-

de’ de conhecimento como mais-valia para o incremento da formação de técnicos e espe-cialistas na área do Desporto. Djalma Caval-canti, treinador brasileiro, defende a criação de escolas como meio para alcançar o desejado desenvolvimento do futebol angolano. Como

solução, o técnico sugere a aposta em espe-cialistas estrangeiros com experiência e for-mação adequada para colmatar as carências e auxiliar na capacitação dos treinadores na-cionais. O ministério não tem parado e procu-ra desenvolver a componente educativa para acompanhar o crescimento dos equipamentos (que sofreram um incremento com o CAN2010 e onde se prevê a criação de mil campos de fu-tebol até 2012). O ministro avançou recente-mente que está em curso uma “reformulação” da legislação para acompanhar as novas ne-cessidades, as “infra-estruturas e exigências”. Para tal, contou com a colaboração de espe-cialistas em direito desportivo e do instituto do Desporto de Portugal. Na agenda governa-mental, está enquadrada a formação de qua-

O italiano Pierluigi Collina, considerado o melhor árbitro de todos os tempos, dá um conselho sábio a todos os profissionais: “devem ser consistentes e ac-tualizarem-se constantemente para interpretar bem as leis”. Além da experi-ência, o saber é decisivo para formar bons quadros técnicos. A aprendizagem constante significa uma dose de “abertura a mudanças”. O ícone lembra que um profissional capaz “deve ser um bom líder, bom comunicador e bom deci-sor”. O sucesso do jogo depende de uma adequada preparação física e académi-ca, aliada à “motivação, intuição e coragem”. A ‘receita’ é válida para árbitros e treinadores. Enquanto líderes, a formação é imprescindível para o sucesso. Considerando que desporto ultrapassa os atletas, a Angola’in foi investigar o nível académico de quem dirige uma equipa, dentro e fora de campo.

“Precisamos de quadros, de pessoas competentes, capazes de potenciar todo o dinamismo que estamos a implementar”, Gonçalves Muandumba

DESPORTO

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dros qualificados, através da “criação de um Instituto Superior do Desporto e de três ins-titutos médios”. “Precisamos de quadros, de pessoas competentes, capazes de potenciar todo o dinamismo que estamos a implemen-tar”, alegou Muandumba. O responsável expli-cou que “há que dar a base técnica ao trabalho a fazer”, pelo que conta com o “contributo de seis mil agentes desportivos” que estão a ser formados em diferentes pontos do país. As acções de aprendizagem são dinamizadas maioritariamente pelas federações, respon-sáveis por admitir e dotar os futuros profis-sionais das competências necessárias para orientar ou arbitrar uma equipa. As carências de cada modalidade estão relacionadas com a iniciativa de cada organismo.

fIfA APOIA fUTEbOLO desporto-rei conta com um importante par-ceiro, a FIFA. Em Abril, 50 técnicos seleccio-nados pela Federação Angolana de Futebol (FAF) frequentaram um programa de nível I da Federação Internacional de Futebol Asso-ciado (FIFA). O curso, que se subdividiu em aulas teóricas e práticas, abrangeu os treina-dores do Campeonato Nacional da I Divisão, Girabola. Para 35 técnicos angolanos, a for-mação foi paga pela FIFA, enquanto a FAF fi-nanciou os restantes treinadores. Os técnicos receberam orientações da inspectora da FIFA, Florie Raynogodi, do Botswana e do instrutor técnico Marcos Falopa, do Brasil. Na ocasião, o presidente da FAF, Justino Fernandes lançou um alerta para incentivar a formação de trei-nadores, árbitros e professores de Educação Física como meio para melhorar a qualidade da modalidade.

“O secretário-geral da Federação Angolana de Boxe anunciou seminários para elementos da arbitragem, provenientes do Centro e Sul”

ESCOLA DE bASqUETEbOLA Federação Angolana de Basquetebol (FAB) é das mais activas. O crescimento da mo-dalidade e o sucesso das equipas, particu-larmente dos atletas ao serviço da selecção nacional, tem contribuído para a aposta na profissionalização dos árbitros e treinadores. A revitalização da Associação de Treinadores de Basquetebol tem contribuído largamente para o fomento das actividades. Apesar de ter surgido em 1998, acabou por desapare-cer e reapareceu em 2009, graças a um gru-

po de pessoas que reuniu uma nova direcção. O organismo marca uma viragem positiva na formação dos treinadores, que podem contar com seminários regulares e cursos de nível 1, 2 e 3. A entidade pretende criar parcerias com o Comité Olímpico Angolano, com a Federa-ção Angolana de Basquetebol e com outras entidades, de forma a pressionar a FAB a não descurar a vertente da formação permanente. Há ainda o projecto de editar uma revista para informar os treinadores sobre as acções que têm ao seu dispor e de propor a emissão de carteiras profissionais num futuro próximo. Raul Duarte, director da Associação, admitiu numa entrevista que “todas as modalidades desportivas” sofrem com a “falta de actuali-zações” dos ensinamentos adquiridos no iní-cio da carreira, visto que há dez anos que não existem acções de especialização contínua. O responsável sustenta que desenvolvimento do desporto e aprendizagem são indissociá-veis. “Se queremos ter jogadores das cama-das de formação com boa qualidade, temos de investir na formação de treinadores”, argu-menta, exemplificando que “a metodologia e psicologia de treino, a técnica desportiva e a fisiologia do desporto” devem “ser do domínio dos treinadores para que façam um bom tra-balho”. Raul Duarte vai mais longe e frisa que “não é digno que uma modalidade com dez tí-tulos em África tenha treinadores nas equipas seniores sem cursos” específicos. A Escola Nacional de Basquetebol, afecta à Federação, demonstra a visão abrangente da modalidade face às suas diversas componentes. Porém, a execução do projecto nas províncias tem sido difícil, devido à desconfiança das associações locais. A escola visa a implementação da for-mação de treinadores, dirigentes desportivos, estatísticos, juízes, árbitros e oficiais de mesa. O organismo tem em execução 12 programas, em colaboração com os agentes e os clubes regionais. A parceria entre as federações de Portugal e Angola tem sido decisiva no de-senvolvimento da componente formativa dos quadros das equipas e selecções de basque-tebol. Os organismos assinaram um protoco-lo de cooperação em 2009, com vista à troca de experiências entre os treinadores e árbitros das duas nações. Os países associaram-se recentemente na organização da Super Taça Compal, um torneio entre os primeiros classi-ficados nacionais. DESCENTRALIzARAs modalidades menos reconhecidas pelo pú-blico são as que se mostram empenhadas em diversificar a formação, procurando organizar acções fora da capital, onde está concentra-

da a maioria dos meios. É o caso da Federa-ção Angolana de Boxe (FABOXE) que esteve no Huambo, em Março, a promover um curso para árbitros, juízes e cronometristas e outro para técnicos e monitores do escalão provin-cial. As formações gratuitas destinaram-se a promover o plano de desenvolvimento do Bo-xe amador para o triénio 2009/ 2012, visando o acréscimo do nível técnico da modalidade. O secretário-geral da Federação anunciou ain-da seminários para elementos da arbitragem, provenientes do Centro e Sul de Angola. No caso do Kickboxing, o início oficial é embrio-nário. Contudo, a visão alargada da modalida-de tem contribuído para o desenvolvimento equilibrado da componente técnica em todas as vertentes. A par da formação dos atletas, a Comissão Instaladora da Federação Angolana de Kickboxing e Mauythai está empenhada na criação de profissionais especializados, nome-adamente treinadores e árbitros. Em Dezem-bro do último ano, decorreram os primeiros cursos de Treinadores e Árbitros, certificados pela federação internacional (WAKO) e que contaram com a colaboração dos técnicos es-pecialistas Manuel Teixeira e Irineu Fernandes. A formação é resultado do protocolo assina-do entre os presidentes da Federação Portu-guesa e Angolana de Kickboxing e Muaythai, Mário Fernandes e Camilo Ferreira, respecti-vamente. A iniciativa representa um salto gi-gante para a massificação da modalidade. Os 40 primeiros treinadores e árbitros nacionais oficialmente formados detêm diploma certifi-cado pelo coordenador técnico do curso, Carlos Ramjanali, vice-presidente da WAKO-pro.

“Os treinadores de basquetebol podem contar com seminários regulares e cursos de nível 1, 2 e 3”

74 | ANGOLA’IN · DESPORTO

DESPORTO BREVES

basquetebol

Jogos três contra trêsA Federação Angolana de Basquetebol (FAB) anunciou que pretende implantar o sistema de jogo três contra três. Nuno Teixeira, director técnico da FAB, não avançou datas para aplica-ção das alterações, mas adiantou que esta de-cisão é prioritária para o organismo, tendo em conta as próximas competições, onde Angola vai participar. A técnica já tinha sido aplicada no ano passado na categoria de masculinos. Porém, o responsável admitiu que não teve os resultados esperados, embora destaque que, após a Supertaça Compal, vários jovens rece-beram contribuições de técnicos portugueses, o que vai permitir a implantação da modalida-de em todo o território. Numa primeira fase, está prevista a formação de técnicos e a cria-ção das condições materiais (nomeadamente, ao nível de infra-estruturas) para que a moda-lidade três contra três arranque brevemente.

infra-estruturas

Estádios RentabilizadosO presidente da Federação Angolana de Xa-drez (FAX), Aguinaldo Jaime, afirmou recente-mente à imprensa que o CAN 2010 contribuiu para o desenvolvimento de uma cultura de construção, manutenção e rentabilização das infra-estruturas desportivas. “Creio que estão a ser criadas as estruturas que se vão ocupar da manutenção e gestão dos estádios que albergaram o CAN 2010”, prosseguiu. Agui-naldo Jaime sugeriu ainda que se estabele-cesse um processo de utilização, que auxilie na angariação de receitas capazes de garan-tir a manutenção dos espaços, que passam a ser rentabilizados. “Sei que noutros países os estádios não são apenas utilizados para a prática do futebol, albergam espectáculos ou eventos que permitem angariar receitas que depois irão facilitar no processo da sua ma-nutenção”, explicou. Recorde-se que actual-mente os estádios criados para a Competição Africana albergam os jogos do Girabola 2010, além das partidas das Afrotaças e de selec-ções nacionais de outras modalidades.

futebol

Hervé Renard é o novo ‘mister’A Federação Angolana de Futebol apresentou oficialmente o novo seleccionador, que vai subs-tituir Manuel José, que se demitiu pouco depois do final do CAN 2010. Hervé Renard é o técnico escolhido para os próximos compromissos e tem contrato válido por dois anos, renovável findo esse período. O técnico francês assume pela terceira vez a liderança de uma equipa africana. Aos 41 anos, o antigo jogador de futebol já tinha treinado as selecções do Gana e da Zâmbia. Justino Fernandes, presidente da FAF, revelou esperar que o novo seleccionador possa incutir uma nova filosofia de trabalho nas selecções nacionais, anunciando que esta contratação marca o encer-ramento dos projectos imediatistas da sua direcção. “Contratamos este treinador para reestru-turar todo o nosso futebol desde as selecções sub-15, 17, 20, 23 à de honra”, justificou. Renard sustentou que “quando se trabalha com selecções como as de Angola, o objectivo não pode ser outro senão a qualificação para o CHAN do Sudão, em 2011 e para o CAN de 2012”. Os Palancas Negras, que estavam sob o comando provisório de Zeca Amaral (antigo adjunto de Manuel José), serão dirigidos pela primeira vez por um treinador francês.

desporto adaptado

Projecto ‘Criança’ consolidadoO presidente do Comité Paralímpico Angolano (CPA), Leonel da Rocha Pinto, revelou que a im-plementação da paz contribuiu positivamente para o crescimento do maior projecto de massifi-cação do desporto adaptado. O projecto “Criança” está em curso e envolve cerca de 250 crianças. Implementado em 2008 em algumas províncias, o programa tem como finalidade o alargamen-to e desenvolvimento do desporto adaptado nas modalidades de atletismo, natação, basque-tebol em cadeira de rodas e futebol com muletas. Com o final da guerra em 2002, foi possível organizar competições em locais anteriormente inacessíveis e consolidar o processo de formação de técnicos e profissionais de saúde especializados. O responsável fez alusão à ascensão deste desporto a nível do continente e em competições mundiais quando, em 2004, conquistou três medalhas de ouro na classe de deficientes visuais nos Jogos Paralímpicos de Atenas.

| patrícia alves tavares

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LUXOS | patrícia alves tavares

76 | ANGOLA’IN · LUXOS

AUSTIN MARTIN ONE-77É o carro de sonho para os apaixonados pelos modelos desportivos. O One-77 é o Aston Martin mais rápido de sempre e existem apenas 77 unidades, que prometem uma performance de excepção. O imponente V12 de 7,3 litros consegue fazer mais de 350 Km/h e desenvolver 750 cavalos.

77 LUXOS · ANGOLA’IN |

BUGATTI GALIBIERInspirado num dos carros de corrida de maior sucesso da Bogatti, o Type 35, o Galibier apresenta-se com uma estrutura em alumínio e fibra de carbono, materiais leves e

resistentes que, conjugados com o motor de 8 litros, permitem que desenvolva 800 cavalos de potência. As formas imponentes contrastam com o interior minimalista e requintado.

78 | ANGOLA’IN · LUXOS

LUXOS

78 | ANGOLA’IN · LUXOS

JAGUAR XKRA edição especial deste desportivo vem acompanhada por dois pacotes personalizados: o

‘Black Pack’ e o ‘Speed Pack’. O primeiro aposta num visual agressivo, com jantes de liga

leve de 20 polegadas “Kalimnos” e entradas de ar com acabamento em negro brilhante. O

outro pack caracteriza-se pelo motor 5.0 de 510 cavalos, que atinge os 280 km/h.

79 LUXOS · ANGOLA’IN |

MERCEDES BENZCLS-SHOOTING BREAKÉ uma das novidades da Mercedes. Este CLS foi aperfeiçoado, possuindo um motor a gasolina V6 de 3,5 litros, com uma potência de 306 cavalos. Está igualmente equipado com o sistema Intelligent Light, em que a iluminação é adaptada e accionada automaticamente conforme o estado do tempo e da estrada.

79 LUXOS · ANGOLA’IN |

LUXOS | patrícia alves tavares

RANGE ROVERHOLLAND & HOLLANDA Range Rover e a fabricante de armas Holland&Holland uniram-se e criaram o todo-o-terreno mais

luxuoso que alguma vez foi vendido. O novo modelo tem uma produção limitada de 100 unidades, o que

torna esta versão ainda mais exclusiva e desejada. Está disponível nos modelos de 5 litros V8 e TDV 8

Range Rover Autobiography.

80 | ANGOLA’IN · LUXOS

BMWCONJUNTO DOUBLE-R

FATO Este fato em pele de canguru possui

elevada resistência à abrasão,

com uma espessura de cerca de

1,0 mm. Ventilado e confortável,

tem protecções NP nos ombros,

cotovelos, ancas, joelhos e costas.

CAPACETEA viseira tem duplo revestimento e

tratamento anti-risco. Foi concebido

especificamente para conduzir a

S1000RR. É bastante estável a

velocidades elevadas.

BOTASA sua parte lateral é amovível e tem

forro respirável. A sola é resistente

à abrasão, possui fecho de correr

e língua de Velcro e um sistema

de atacadores interiores para um

melhor ajuste.

LUVASResistentes e flexíveis, estas luvas

de pele de canguru têm espuma

Suprotect para absorver impactos

nas costas da mão e têm protecção

em plástico rígido na zona do pulso.

BMWS1000RRPesa 183 kg a seco e é o novo modelo da BMW. A recente versão está equipada com um novo sistema de ABS, com quatro modos de actu-ação possíveis e com um sistema de controlo de tracção. Está disponível em quatro conjuga-ções: verde lima, prateado, cinzento-escuro e a combinação branco e azul.

81 LUXOS · ANGOLA’IN |

82 | ANGOLA’IN · LUXOS

| patrícia alves tavares LUXOS

ASUS SeashellKarim RashidCo-concebido por um dos mais conhecidos designers do mundo, o Eee Pc da Asus é mais sensual, mais humano e mais moder-no. Atrevidos e originais, estes portáteis são pioneiros em termos de inovações de mate-riais (tinta de borracha, tecnologia in mold roller e resistência aos riscos).

POLAROID POGOA nova invenção da Polaroid consis-te numa máquina fotográfica que imprime fotografias em 60 segun-dos. A câmara tem 5 MP e um moni-tor LCD 3”. Com a bateria completa, pode imprimir até 20 fotos.

SAMSUNG C65500 LEDOs novos televisores da Série 6 conjugam qualidade de imagem com um design minimalista e ultra-fino. Recorrendo a tecnologia sem fios para um entretenimento ilimitado, a Samsung traz a Internet para os grandes ecrãs.

83 LUXOS · ANGOLA’IN |

SONYERICSSONVIVAZEcrã táctil de 3,2”, câmara de 8,1 MP com AF e estabilizador de imagem, Wi-Fi, captura de vídeo a 720p e saída VGA para TV são algumas das características do Vivaz. Disponível em preto, prateado, azul e rubi.

SENHEISERADIDAS OMXA Adidas aderiu à criação destes auriculares com o intuito de propor-cionar o som perfeito enquanto os atletas correm ou fazem exer-cício. Ajustam-se perfeita-mente aos ouvidos e reproduzem de forma segura e confortável as suas músicas preferidas.

LG ATSC MÓVIL DTV/DVD

A mais recente inovação da LG permite ao utilizador visualizar um filme ou televisão

durante mais de quatro horas num DVD portátil, que integra o padrão norte-americano de TV Digital.

SIM2 GRAND CINEMAC3XA linha de projectores topo de ga-ma de 3-chip destaca-se por ser compacta e bastante avançada. A sua alta performance resulta de tecnologias avançadas, como en-tradas de vídeo HDMI – HDCP e um Jack sensor por IV.

GRAND CARRERA

Calibre 17 RosegoldChronograph

A bracelete de pele e o mostrador em safira fazem deste modelo da Tag Heuer um exemplar único e excepcional. Possui um cronómetro original e é um dos elementos mais importantes da linha Grand Carrera. Ideal para desportis-tas, causa impacto pelo design sofisticado e elegante.

84 | ANGOLA’IN · LUXOS

LUXOS | patrícia alves tavares

TAG HEUERMonaco twenty-fourInspirada no filme ‘As 24 horas de Lemans’, a Tag Heuer lançou um modelo que fica na história para os amantes de carros e de relógios. A sua caixa é resistente ao choque (para proteger as componentes mecânicas) e protegida por um cristal de safira.

BREITLINGSuperoceanO ‘velhinho’ Superocean foi rejuvenescido e surge com um design mais moderno e conceptual. Inicialmente concebido para militares e profissionais da aviação, surge com uma bracelete em borracha ou aço, com cores mais apelativas e é à prova de água até 1.500 metros.

HUBLOTF1 King Power

É o relógio oficial do campeonato mundial de Fórmula 1. Desportivo e high-tech, o

novo modelo apresenta uma bracelete com o logótipo da F1 no interior e Nomex negro

no exterior e uma caixa ‘King Power’ com diâmetro de 48 mm. Esta edição é limitada.

ESTILOS

86 | ANGOLA’IN · ESTILOS

| lisete pote · luaty d’almeida (fotografia)

Numa busca por harmonia e inspiração, da magia da luz do nascer e pôr do sol em África, ao exotismo e be-leza dos nobres brilhos do Oriente, uma explosão de influências e sensações envolve-nos quase como uma fragrância com notas luminosas de mistério e exube-rância, fantasia e sedução, intemporalizada com pita-das de nuances dos mais preciosos metais e pedras preciosas.

É a essência da elegância e do clássico em submissão total ao esplendor…a mais recente colecção do estilista português Miguel Vieira, à venda na loja Xandala Spot, sita na rua Garcia Matos, nº 113, S. Paulo.

A silhueta masculina segue linhas justas e definidas que combinam casualidade com elementos clássicos de corte de alfaiataria.

Lisete Pote - [email protected]

REFLEXOS

Blazer branco com vivo emblema

bordado em cinzento

MATERIAISOrganzas, cetim, brocados, linhos e alinhados, tecidos de camisaria, te-cidos pintados, tecidos com brilho, sedas, acetatos, tecidos gravateiros, algodões marcerizados, denim.

CORESPreto - Pirate black | Branco – Snow whiteCinzentos – Silver grey e neutral grey | Castanhos – Licorice e dune.

ESTILOS

87 ESTILOS · ANGOLA’IN |

Camisa em popeline branco Miguel Vieira e gravata bege em seda

Fato clássico azul-noite, com reflexos cristais, casaco em algodão branco, com os punhos bordados com o seu distintivo

Fato em tom cinza com t-shit azul clara. Uma sugestão para os mais desportistas

ESTILOS

88 | ANGOLA’IN · ESTILOS

Calça de ganga Miguel Vieira com seu distintivo em pele na parte de trás, t-shirt de algodão e casaco com pé de gola branco em jeans de algodão

Calça de ganga, t-shirt em algodão, casaco sport com listas brancas e cinzentas com uma gravura na parte de trás

89 ESTILOS · ANGOLA’IN |

calvin klein

Calvin Klein Freea mais recente fragrância da calvin klein

acaba de chegar ao mercado. as notas de

citrinos, rosmaninho, jasmim, madeiras e

tonalidade de brisa marinha conferem a

este produto uma intensa frescura. ideal

para homens jovens e desportivos.

ESTILOS

90 | ANGOLA’IN · ESTILOS

| patrícia alves tavares

animal

Animal Black a escolha perfeita para uma saída à noite. o novo animale simboliza o mistério, a

sofisticação, a espontaneidade e rebelião masculina. as notas à base de gengibre, lavanda,

jasmim, canela, mogno, musk e patchouli conferem um toque único a este perfume poderoso.

hugo boss

Platinum a nova fragrância de lalique é indicada

para indivíduos modernos e sofisticados.

o seu aroma cítrico e ingredientes como

a pimenta branca, noz-moscada, violeta

branca e tamarindo transmitem toda a

sensualidade e energia de quem usa este

perfume.

racco

Compulsion Aphrodisiaca racco lança uma fórmula que estimula

as sensações, sendo adorada pelas

mulheres. o novo perfume é perfeito

para homens que querem causar impacto.

tem as notas insinuantes do jasmin e

ylang-ylang, a intensidade do cravo e o

afrodisíaco do óleo de pimenta, misturado

com o cedro, almíscar e baunilha.

lacoste

Lacoste Reda nova fragrância da lacoste personifica

o espírito auto-confiante e de liderança.

as notas de maça verde, folhas de cedro,

jasmim, pinheiro da sibéria, vetiver, musgo

e patchouli adequam-se a homens

que gostam de vencer.

hugo boss

Elementso design da embalagem em forma de tubo de

oxigénio é uma alusão ao homem cosmopo-

lita. a sua fragrância é a opção correcta

para indivíduos modernos e citadinos. o seu

aroma resulta de uma mistura de notas de

ameixa, bergamota, cedro, sândalo, almís-

car e musgo de carvalho.

91 LUXOS · ANGOLA’IN |

LIVING LIVING

92 | ANGOLA’IN · LIVING

| boca do lobo

Criada em 2005, à procura da excelência no

panorama do design de mobiliário portu-

guês e estrangeiro, a BOCA DO LOBO tem

vindo a trabalhar com o intuito de parti-

lhar o que Portugal tem de melhor: o co-

nhecimento do seu povo como criador de

mobiliário, a tradição de trabalhar mate-

riais nobres, a sabedoria, a experiência, o

amor e a dedicação com que os artesãos

e marceneiros se dedicam à sua arte. A

marca tem-se revelado uma experiência

emocional única, partilhando com os seus

clientes um sentimento de pertença e um

estado de espírito inovador. Esforça-se por

despertar sentimentos através das suas

peças, que são inspiradas na paixão pe-

la artesania portuguesa desenvolvida por

uma equipa que ama o que faz. Nenhum

detalhe é ignorado, oferecem o melhor da

fronteira entre o design e a arte. As colec-

ções COOLORS, SOHO e LIMITED EDITION,

são o reflexo daquela que é a maior pre-

missa da BOCA DO LOBO - oferecer emo-

ções através de peças intemporais, com

requinte e altos níveis de qualidade. O seu

público é exigente e por isso a excelência é

a palavra-chave da marca todos os dias. Os

cinco anos de existência são sinónimo de

empenho, dedicação e paixão, que culmi-

na nos sucessivos sucessos que tem con-

quistado e na sua presença um pouco por

todo o mundo. Sempre atentos às oportu-

nidades, o mercado angolano representa

para a marca um desafio atraente, iden-

tificado como um mercado exigente na

procura de exclusividade, altos níveis de

qualidade e luxo, sendo estas as premis-

sas para qualquer peça com assinatura BO-

CA DO LOBO. Tendo já marcado presença

em eventos como a EXPORT HOME, Ango-

la 2009 e a FILDA - Feira Internacional de

Luanda, 2009, a marca vai mantendo des-

de então relações comerciais activas com

parceiro local sediado em Luanda.

hino à arte

LIVING

93 LIVING · ANGOLA’IN |

COOLORSO poder da cor é o fenómeno “cool” que

inspirou a criação da colecção coolors. As

cores são utilizadas pela sua estética, bem

como pela capacidade de influenciar a

mente humana através da estimulação do

sentido visual de cada um. As cores indu-

zem muitas emoções e estados de espírito.

Assim, a intenção ao associar sensações

de cor à colecção, é estimular emoções de

modo a que quem entre em contacto com

o design da marca se possa identificar com

ele e se possa colorir por ele.

| boca do lobo

LIMITED EDITIONO desejo inato da BOCA DO LOBO de criar mó-

veis exclusivos, que diluam a fronteira entre o

design e a arte, é perfeitamente ilustrado na co-

lecção Limited Edition - Large Emotion. Pedro

Sousa, designer fundador desta colecção, possuí

um inegável talento para a concepção de peças

que agitam as emoções nos nossos admirado-

res. Limited Edition começou a trazer status e

singularidade a cada projecto de Pedro Sousa,

acrescentando valor à marca BOCA DO LOBO. Li-

mited Edition é constituída por doze peças com

personalidades distintas e únicas. A fusão entre

a arte e o design é apresentada numa série limi-

tada de 20, feita à mão por um único artesão.

LIVING

94 | ANGOLA’IN · LIVING

95 LIVING · ANGOLA’IN |

LIVING

96 | ANGOLA’IN · LUXOS

LIVING | boca do lobo

SOHOSempre na vanguarda da reinterpretação e no design de alto

nível, familiarizado com extraordinários estilos arquitectó-

nicos, o Soho está no lugar central na primeira colecção BO-

CA DO LOBO. Inspirado no lado cosmopolita que caracteriza

este bairro de Nova Iorque e com uma reinterpretação de

formas e materiais, a colecção Soho apresenta um equilíbrio

entre o design arquitectónico e um apelo ao clássico. Madei-

ras requintadas, técnicas tradicionais, e temas intemporais

são aplicados nos nossos projectos criando peças carismá-

ticas e sedutoras.

97 LUXOS · ANGOLA’IN |

VINhOS & CA.

| ANGOLA’IN · VINHOS & CA.98

Vinhada Tapada

Vinho de cor rubi intenso, com aroma a frutos

vermelhos maduros. Bem equilibrado e complexo, possui um final frutado e persistente, ideal para

acompanhar carnes assadas ou grelhadas e queijo.

Dão Special Selection 2005Possui um aroma intenso e

elegante, onde se evidenciam as notas de frutos vermelhos

bem maduros (amora e ameixa preta), com notas de baunilha e especiarias. Na boca, este vinho detém uma estrutura poderosa

e uma acidez viva.

PancasEste néctar de tom vermelho cereja é uma óptima sugestão para refeições de carne e massas. Possui um paladar suave, com a fruta e as especiarias em evidência, que revelam o aroma a notas de frutos vermelhos e menta.

1º Prémio Confraria dos Enófilos do Alentejo- 2007É óptimo para acompanhar desde os típicos pratos alentejanos até à nobreza de um Faisão recheado com frutos secos ou a suavidade de um Soufflé de Chocolate. Com sabor a compota fresca de amora, especiarias e taninos com muita garra, revela um aroma a frutos pretos maduros, com frescura mentolada e cacau de ligeira tosta.

| patrícia alves tavares

99

VINhOS & CA.

VINHOS & CA. · ANGOLA’IN |

Quinta dos AciprestesReservaEncorpado, este vinho combina com pratos ricos de carne, caça e queijos fortes. Possui aromas maduros de ameixa, cereja e floral, onde se evidenciam os sabores dos frutos vermelhos e pretos.

Viña MaipoSauvignon Blanc

/ChardonnayLímpido, de cor amarelo-

esverdeado, este produto possui um aroma frutado, com notas de

pêssegos, maçãs e citrinos. Suave e muito fresco, este néctar é uma boa

sugestão para refeições de peixe.

Gatão RoséLímpido e de cor rosada,

este néctar apresenta-se com um aroma jovem e

frutado. Delicado, macio e fresco, é excelente para servir

com pratos de carne magra grelhada, massas, pizzas e

todo o tipo de entradas.

Leopard’s Leap ChardonnayElegante, este néctar possui o aroma cremoso dos frutos vermelhos. Na boca, esta colheita de 2009 apresenta-se com notas de frutos tropicais e lima.

100 | ANGOLA’IN ·

101 · ANGOLA’IN |

102 | ANGOLA’IN · VINHOS & CA.

VINhOS & CA.

Hankey Bannister

Este Whisky escocês possui um tom de caramelo

cremoso e apresenta-se como um whisky leve. A sua

tonalidade dourada revela um aroma doce e picante,

com um toque de mel e um final longo e agradável.

Brandy 1920 O seu aroma de aguardente e madeira de carvalho faz deste Brandy de cor topázio uma boa opção para consumir depois das refeições, acompanhando o café.

Royal Oporto Extra Dry WhiteVinho jovem que acompanha frutos secos, salgados e é recomendado como aperitivo. É uma boa escolha para o Verão, podendo ser servido com gelo e limão. O aroma frutado e equilibrado lembra os frutos secos.

VIP ChampionsPerfeito para acompanhar pastas e pratos de carne, este néctar de cor rubi apresenta uma

excelente intensidade gustativa. Elegante e com uma boa estrutura de taninos macia, apresenta-se com um aroma complexo em

frutos vermelhos e especiarias, com destaque para a ameixa e cereja. Serve-se a uma

temperatura entre os 16ºC e 18ºC.

Produção de azeitona supera expectativasAs previsões agrícolas do Instituto Nacional de Estatística de Portugal (INE) indicam que a produção de azeitona para fabrico de azeite deverá atingir em 2010 o valor mais elevado dos últimos cinco anos. O organismo espera uma produtividade na ordem das 421 mil to-neladas, representando um crescimento de 25 por cento em relação ao ano anterior. As esti-mativas estão relacionadas com as condições climatéricas favoráveis e com o início do pleno funcionamento dos olivais intensivos, planta-dos nos últimos anos na região do Alentejo. O INE avança que a “qualidade dos frutos é boa ou muito boa, sendo de prever que os azeites produzidos sejam este ano de excelente qua-lidade e de muito baixa acidez”.

VINhOS & CA. BREVES | patrícia alves tavares

Porto Rosé em brailleA Porto Cálem vai lançar o primeiro vinho de Porto rosé e garrafas com rótulo escrito em Braille. A novidade foi criada a pensar nas “pessoas com deficiências e incapacidades vi-suais”. O novo néctar rosé foi concebido pelo enólogo Pedro Sá e é propriedade do grupo Sogevinus. Caracterizado como “rico, sedoso e envolvente em todos os sentidos”, o Cálem Rosé surge no mercado após “uma solicitação por parte dos clientes nacionais e estrangei-ros”. A empresa quer ser vanguardista e apos-ta pela primeira vez num rótulo em alfabeto Braille, de forma a tornar o produto acessível a todos, explorando um outro sentido: o tac-to. O objectivo consiste, segundo Cátia Mou-ra, responsável de comunicação, em chegar a “pessoas a quem o acesso a bens de consumo está muitas vezes dificultado”.

Encontrado genoma da uvaUm grupo de estudiosos do Serviço de Inves-tigação Agrária dos EUA encontrou um méto-do para acelerar o processo de identificação de marcadores genéticos presentes no geno-ma da uva. A descoberta vai permitir identifi-car a qualidade da fruta, a capacidade desta em se adaptar às condições ambientais e a sua resistência a doenças e pragas. Os cien-tistas utilizaram uma nova tecnologia para sequenciar as proporções representativas dos genomas de dez tipos de uva (seis silvestres e Pinot Noir clone). O processo já tinha sido estudado em 2007, mas só agora foi possível rectificar erros comuns da sequência e des-cobrir milhares de marcadores genéticos que servem como indicadores do relacionamento entre as plantas e a sua origem geográfica.

Energia eólica em vinhas

É a nova tecnologia associada à produção de vinhos. O recurso a energia eólica está a tornar-se fre-quente nos EUA. Desde o Alaska ao Texas ou de Oregon ao Michigan, verifica-se o uso da fonte natural de energia. A vinícola Anaba, So-noma, tornou-se recentemente no primeiro local do norte da Califórnia a recorrer à energia do vento. Uma turbina com 14 metros de altura foi instalada na região, estando orça-da em 21.000 US$. O investimen-to permitiu a redução das despesas anuais de electricidade em 1.000 US$ e, de acordo com o proprietário John Sweaze, o retorno desta apos-ta será visível dentro de 12 anos. Os produtores contam com os subsí-dios estatais para compensar os custos iniciais. Ainda para este ano, a companhia vinícola Honig, no Na-pa Valley, vai concluir a instalação das turbinas eólicas, que vão cap-tar energia solar, capaz de produzir 10.800 Kwh/ ano.

Vinho sem álcoolO WineZero foi lançado no mercado italiano e pretende combater o consumo abusivo de álcool. O novo vinho com baixo teor alcoólico é produzido em Valladolid, Espanha, a partir de uvas do Duero, Rueda e Cigales e está dis-ponível nas categorias de tinto, branco e rosé. Com a mesma fórmula, está a ser desenvolvi-do um tinto envelhecido em carvalho america-no. Com um teor de 0,5 por cento, é feito com fermentação total e destilado a vácuo, para permitir a redução do índice de alcoolemia. O inovador produto foi concebido pelos italia-nos Massimiliano Bertolini e Manuel Zanella. O empresário Bertolini referiu recentemente que o WineZero “não pretende competir com os vinhos tradicionais; é uma nova bebida, co-mo a cerveja sem álcool ou o café descafeina-do. Já estão na moda em Espanha, França e Alemanha e já estava na hora de lançá-lo no mercado italiano”.

Melhor rosé do mundoO vinho Casal da Coelheira Rosé 2009 foi o vencedor da edição deste ano do Concurso Mundial de Bruxelas, na Bélgica. O néctar, pro-duzido em Abrantes, Portugal, recebeu o ‘Best Wine Trophy’, sendo considerado o melhor vi-nho rosé do mundo, perante 275 provadores de 40 países. O produto obteve ainda uma das seis ‘Grande Médaille d’Or’, passando a fazer parte restrito lote de “melhor resultado abso-luto” registado em cada uma das categorias.

Alentejo faz acção de promoção em LuandaA Comissão Vitivinícola Regional Alentejana (CVRA) realizou uma acção de promoção dos vinhos do Alentejo em Luanda. A entidade escolheu o mês de Maio para divulgar os pro-dutos da região portuguesa em Angola, visto que o país é o seu principal importador. Se-gundo uma fonte da CVRA, em declarações à agência de notícias Lusa, o evento decorreu numa unidade hoteleira da capital e inseriu-se na estratégia da promoção de vinhos do Alen-tejo em mercados externos. O certame contou com a participação de uma dezena de produ-tores da região alentejana, pelo que foi direc-cionado para importadores, profissionais de hotelaria e restauração. Em prova, estiveram as mais recentes colheitas de uma dezena de profissionais do Alentejo. A organização apre-sentou ainda um jantar temático com pratos típicos acompanhados pelos néctares portu-gueses. De acordo com a CVRA, em 2009, foi registado um total de mais de 3,4 milhões de litros de vinho do Alentejo exportado para o território angolano. A exportação é a grande aposta dos produtores alentejanos e repre-senta já cerca de 17 por cento das vendas. An-gola é o principal ‘cliente’ desta produção.

Vinho do Porto em CannesA iniciativa é inédita. A edição deste ano do Festival de Cannes conta com a presença do Vinho do Porto, numa acção promovida pelo Instituto dos Vinhos do Douro e Porto e que se insere no plano de promoção deste néctar no mercado internacional, nomeadamente entre as categorias Premium. O organismo associou-se pela primeira vez ao evento. Em plena praia do Majestic, no coração do Merca-do do Filme e junto ao Palácio dos Festivais, os actores, cineastas e líderes de opinião que marcaram presença na 63ª edição do certa-me tiveram a oportunidade de degustar uma selecção dos melhores vinhos do Porto (puro ou em cocktails) e descobrir a sua diversida-de e qualidade. O mercado francês continua a ser o cliente mais importante deste néctar da Região Demarcada do Douro português.

VINhOS & CA. BREVES | patrícia alves tavares

104 | ANGOLA’IN · VINHOS & CA.

Portugal inaugura hotel vínicoO primeiro hotel vínico de luxo em Portugal, o The Yeatman Oporto abre ao público a 5 de Julho. Localizado na zona histórica de Gaia, no Porto, o espaço representa um investimento de 32,5 mi-lhões de euros e tem como principal finalidade a “promoção de todos os vinhos portugueses”. O presidente executivo da Fladgate Partnership e do The Yeatman realçou que o empreendimento pretende assumir-se como “uma plataforma para expandir o mercado de turismo da cidade no sector de luxo”, lembrando que o “Vinho do Porto é uma bandeira de Portugal”. O empresário já admitiu a possibilidade de novos investimentos no sector hoteleiro. Recorde-se que o grupo é detentor de 11 quintas no Douro. O novo hotel dispõe de 12 suites e 70 quartos com vista para o rio Douro e o Centro Histórico do Porto. Está distribuído por seis socalcos em alusão à distribui-ção das vinhas.

Café GourmetAngola está a participar num projecto sobre Produção de Café “Gourmet” ao lado de paí-ses como a Tanzânia e o Uganda. O país aderiu à iniciativa devido às enormes potencialida-des de produção e promoção da cafeicultura. Este passo tem sido decisivo na reabilitação dos centros de pesquisas, uma vez que a pro-dutividade do grão depende de uma boa in-vestigação. Por outro lado, confirma a aposta na revitalização da cafeicultura angolana e no enquadramento da juventude neste sec-tor de actividade. Entretanto, a nação acolheu recentemente um colóquio sobre a matéria. “Devemos encorajar o país a continuar a pro-duzir devido à experiência adquirida e à boa qualidade de café que Angola possui, pois assim iremos contribuir para a diversificação da economia e para a redução da pobreza no meio rural”, defendeu Josefa Sacko, secretária da Organização Inter-Africana do Café (OIAC).

VINhOS & CA.

105 VINHOS & CA. · ANGOLA’IN |

VINhOS & CA. | wilson aguiar

À mesa com o fiel amigo

Olá a todos!Nesta edição, sugiro uma receita inspirada no fiel amigo: o bacalhau. Para quem não dispensa produtos regionais na sua mesa, pode escolher o bacalhau de água doce, pro-veniente dos rios da Huíla. Existem mais de mil maneiras de preparar este peixe, que

abunda nos países do norte da Europa e é muito comum nas festas tradicionais (Natal e Páscoa). No entanto, optei por uma receita de fácil confecção. Rápida

e saborosa, a minha açorda de bacalhau é a escolha ideal para um jantar após um dia de trabalho, em que o cansaço e os horários apertados (por

vezes difíceis de conciliar com os restantes membros da família) não dão oportunidade para preparar refeições muito elaboradas.

Agora que o Outono está a chegar, delicie-se com um prato tradicio-nal, que recorre à base mais importante da dieta alimentar: o pão. É

a escolha ideal para dias mais frios. Acompanhe com sumo natural ou um copo de vinho e finalize a refeição com uma peça de fruta.

Para quem não gosta de bacalhau, recordo que podem sempre substituí-lo por outro ingrediente da vossa preferência, como por um exemplo um peixe característico da vossa província.bom Apetite!

Wilson Aguiar sugere:

INGREDIENTES

750 g de bacalhau

500 g de pão

2 ovos

0,5 dl de azeite

1 dente de alho

1 colher (sopa) de salsa picada

Sumo de 1 limão

Sal e pimenta q.b.

açorda de bacalhau

CONFECÇÃO

Leve ao lume o azeite e o alho e deixe

aquecer bem até que este fique bastante

alourado. Nesse momento retire o alho do

azeite. Entretanto, desfie bem o bacalhau,

lave-o, esprema-o e coloque-o no azeite

e deixe refogar. Quando este estiver

refogado, junte um pouco de água.

De seguida, parta os pães em pedaços

e junte-os ao preparado anterior. Deixe

ferver até que o pão se desfaça. Retire do

lume, adicione os ovos bem batidos, a salsa

picada e o sumo de limão. Misture tudo

muito bem.

Coloque o preparado num tabuleiro e leve

ao forno para tostar. Sirva bem quente e

decore com um pouco de salsa.

VINhOS & CA. GOURMET

106 | ANGOLA’IN · VINHOS & CA.

| patrícia alves tavares

Eleito pela revista Restaurant como o actu-al número um do mundo, o Noma conseguiu a proeza de destronar o experiente El Bulli da liderança do conceituado ranking. René Redzepi é proprietário e chef do espaço di-namarquês, que se evidencia pelos inconfun-díveis menus gourmet nórdicos. O talento de 32 anos ganhou notoriedade por recorrer ex-clusivamente a ingredientes que podem ser facilmente encontrados na região nórdica. Contudo, a expressão ‘comum’ está fora do seu vocabulário. Redzepi descobre e aplica na

noma [dinamarca]O melhor do Mundo

informaçõesMorada: Strandgade 93, 1401 Copenhaga K Telefone: +45 3296 3297

Site: www.noma.dk Email: [email protected]

Estacionamento: Sim, na Strandgade 100

Horário: Almoço: terça-feira - Sábado: 12.00 até 13.30h (hora local)

Jantar: terça-feira - sábado: 18h até 22h (hora local)

Reservas: Obrigatório (até 90 dias antes da data pretendida). Para reservas

até 5 pessoas pode ligar para o +45 3296 3297, de segunda a sexta-feira,

entre as 10.00 e as 15h.

Tem ainda a possibilidade de efectuar a sua marcação através do email:

[email protected] ou directamente no site.

sua culinária flores e ervas selvagens e cria-turas do mar pouco conhecidas. A sua habi-lidade traduz-se na interpretação pessoal da cozinha tradicional, onde os métodos típicos, os produtos nórdicos e as receitas locais são reinventados através de uma abordagem gas-tronómica completamente inovadora. Situa-do ao lado do porto de Copenhaga, o Noma é o único restaurante na Dinamarca com duas estrelas no Guia Michelin. O nome surge de duas expressões dinamarquesas: “Nordisk”

(nórdico) e “Mad” (alimento). Actualmente, oferece apenas menus de degustação, prepa-rados para clientes que querem uma experi-ência gastronómica única. O ambiente rústico e despretensioso convida-o a descobrir os sa-bores da região do Norte do Atlântico e a di-vulgar os produtos regionais. A decoração do interior é assinada por Signe Bindslev-Henrik-sen. Foi inaugurado em 2004 e é gerido pelos sócios René Redzepi, Claus Meyer e pelo som-melier sueco Pontus Eluffson.

VINhOS & CA.

107 VINHOS & CA. · ANGOLA’IN |

É simplesmente o restaurante mais caro de Nova Iorque. A especialidade é o sushi, con-siderado pelos especialistas como o melhor do mundo. Em pleno coração da Time War-ner, o espaço cotado com três estrelas do Guia Michelin é um ‘must go’ na requintada cida-de americana. As criações são da autoria do famoso chef japonês Masa Takayama, que aposta numa fusão entre o melhor da gastro-nomia tradicional japonesa e as mais moder-nas técnicas e ingredientes de vanguarda. O resultado são refeições repletas de personali-dade que conquistam gourmets e gourmands, que ficam apaixonados pelos sabores únicos e inconfundíveis de Masa. O ambiente intimis-ta, inspirado nas casas de sushi japonesas, convida a uma experiência que dura aproxi-madamente três horas. Não existe um menu. Os pratos são adaptados à disponibilidade e sazonabilidade dos ingredientes. As refeições são preparadas na hora e diante dos clientes, que degustam as criações na ordem sugerida por Masa. O vestuário é o mais informal possí-vel. Neste restaurante, a estrela é o sushi!

masa [nova iorque]Experiência divinal

informaçõesMorada: 10 Columbus Circle Time Warner Center, 4/F - Nova Iorque, NY 10019 (entre as ruas Broadway e 59th

Street) Telefone: 212-823-9800 Fax: 212-823-9809 Site: www.masanyc.com Email: [email protected]

Horário: Almoço – terça a sexta-feira das 12.00h às 13h, Jantar - segunda-feira a sábado das 18h às 21h Encerra aos

domingos Reservas: Recomendável. Existem apenas 26 lugares. Podem ser efectuadas à segunda-feira das 10h às

20h ou ao sábado entre as 12h as 20h. A reserva só é válida após a apresentação de um cartão de crédito válido. Para

grupos com mais de 5 pessoas é necessário pagar metade da reserva uma semana antes.

Cancelar reserva: Até 48 horas antes da data. Se ultrapassar o prazo pagará uma multa de 200US$

Dress code: Informal Sugestão: Escolha um lugar no bar, preferencialmente em frente ao chef Masa e encante-se ao

visualizar a preparação das refeições

108 | ANGOLA’IN · VINHOS & CA.

VINhOS & CA. GOURMET

Na Tailândia surge um dos restaurantes mais sofisticados da região, que apresenta as melhores especialidades da cozinha fran-cesa. Inserido no majestoso Hotel Mandarin Oriental, o Le Normandie é o único espaço a arrecadar simultaneamente 10 valores na qualidade do atendimento, na comida e nos vinhos. A pontuação é atribuída pela Luxe Di-ning, a conceituada lista que define os me-lhores restaurantes da Tailândia. O preço tem igualmente nota máxima. É um dos mais ca-ros de Banguecoque. O custo de cada prato oscila entre US$25 e US$40. A decoração imponente e elegante é o cartão-de-visita. Com vista privilegiada para o rio Chao Phraya, o espaço sobressai pelos candeeiros de cris-tal, os arranjos florais e as paredes e tectos

revestidos a sedas de ouro. O fato e gravata são peças obrigatórias para degustar as ten-tações gastronómicas, podendo optar pelos menus ou pelas propostas à la carte, sempre acompanhadas pelas melhores sugestões de vinhos. O atendimento é extraordinário, os

le normandie [tailândia]Charme francês em Banguecoque

informaçõesMorada: Mandarin Oriental Bangkok, 48 Oriental Ave, Bangkok 10500

Telefone: +66 0-2659-9000 Reservas: Obrigatório Dress code: Formal

Site: www.mandarinoriental.com Email: mobkk-businesscenter@ mohg.com

Estacionamento: Sim Horário: Aberto todos os dias das 12h às 14.30h (almoço)

e das 19h às 22.30h (jantar) Pagamento: Aceita AE, Visa, Mastercard, D

Curiosidade: Possui três a cinco pratos vegetarianos e música ambiente (piano)

funcionários demonstram conhecimentos e técnicas apuradas, tudo a pensar na máxima satisfação do cliente. É sem dúvida o melhor restaurante de cozinha francesa que pode en-contrar na Ásia e que lhe proporciona uma ex-periência única.

LUXOS · ANGOLA’IN | 109 VINHOS & CA. · ANGOLA’IN |

CULTURA & LAzER | manuela bártolo

110 | ANGOLA’IN · CULTURA & LAZER

5 ‘KAMBAS’ FELIZES

o grupoFizeram parte do extinto Colectivo Artes Tuneza Teatro. Como recordam essa ex-periência?É uma experiência recordada com muitas saudades, porque foi ali que tivemos as nos-sas primeiras inspirações e onde todos nós nos formámos como actores. Durante muito tempo o Colectivo de Artes Tuneza foi o nos-so bebé, era o projecto que nós queríamos que funcionasse. Para nós continuará a ser uma grande escola.

O nome do grupo foi inspirado nesse pe-ríodo?Exactamente. Tuneza é o nome do colectivo que juntou os cinco actores que hoje fazem parte deste grupo. É a nossa homenagem às nossas raízes.

Como surgiu a ideia de criar os Tuneza?Não houve uma ideia pensada para se criar os Tuneza. O objectivo era promover o próprio te-atro levando pequenos quadros performativos a um ambiente diferente e convencer as pes-soas a irem ao teatro. Achamos que o melhor seria levar quadros engraçados para poder-mos chegar a todos os ambientes e mostrar que o teatro pode ser divertido. No entanto,

por influência do músico “Maya Cool”, acaba-mos por tornar aquele projecto inicial numa coisa constante e rentável que mais tarde deu origem a um grupo humorístico profissional.

Aceitamos o nosso desígnio e crescemos muito, tanto a nível pessoal, como artístico

Surgiram em 2003. Qual o balanço destes sete anos de trabalho?O grupo Tuneza aprendeu a saber aquilo que quer e a caminhar para atingir objectivos. O ba-lanço que fazemos é bastante positivo, embo-ra tenhamos enveredado por esta profissão por um mero acaso. Aceitamos o nosso desígnio e crescemos muito, tanto a nível pessoal, como artístico. Graças ao esforço e dedicação dos cin-co, o grupo pode hoje dizer que tem alcançado todas as etapas a que se foi propondo.

A adesão do público tem sido favorável?Somos um grupo conhecido e acariciado por toda Angola, de Cabinda ao Cunene, de Norte a Sul e de Este a Oeste. Onde quer que va-mos somos sempre muito bem recebidos. Já fomos chamados de “Orgulho nacional” e is-

so enche-nos de alegria, mas também de res-ponsabilidade.

Como decorreram as vendas do disco que lançaram em 2007, “Humor ao domicí-lio” e do DVD “Fora de Série”?De ambos os projectos já não resta nada...Apenas nas prateleiras daqueles que os com-praram! Aliás, as pessoas já há muito que cla-mam por um novo cd ou dvd do grupo.

No último ano, assinaram um contrato de exclusividade com a TV Zimbo. Sentiram que foi o reconhecer do vosso trabalho?Sentimo-nos orgulhosos pela valorização do nosso trabalho. O contrato com a TV Zimbo foi o reafirmar de que estavamos no caminho certo e que se continuarmos a fazer bem o nosso trabalho e a respeitar os nossos clien-tes e fãs, conseguiremos ir ainda mais longe. Basta acreditar.

Entretanto, estrearam um novo progra-ma na TV Zimbo, o “Coisa Doida”. Como está a decorrer a experiência? É um programa que ainda está a crescer...Foi muito aguardado pelos nossos fãs, o que acarreta uma enorme responsabilidade, e es-peramos que venha a ser do agrado de todo o

De humor em riste, os Tuneza têm uma missão – fazer rir, de uma forma lúdica e pedagógica, os milhares de fãs que foram conquistando ao longo dos últimos anos. O objectivo primordial sempre foi dinamizar e valorizar a comédia no país, primeiro no teatro e agora também na ‘caixinha que mudou o mundo’, a televisão. Daniel Vilola (“Costa”), Cesalty Paulo (“Cesalty”), Guilmar Vemba (“Gilmario”), José Chieta (“Tigre”) e Orlando Kikuassa (“Orlando”), numa entrevista intimista, em que até Jesus compareceu.

CULTURA & LAzER

111 CULTURA & LAZER · ANGOLA’IN |

público. Queremos que seja um sucesso para o bem de todos os angolanos e para as panelas lá em casa (se não vão de férias...).

Tem superado as expectativas?As expectativas acompanham-nos sempre...

os elementosComo se conheceram?Conhecemo-nos todos na ilha de Luanda.

Quais as características de cada elemento do grupo? Ou seja, qual é o mais espontâ-neo, o mais tímido, o mais organizado ou o mais experiente?O Orlando é musculado, alto e fala pouco, está aqui mais para a segurança do grupo do que para membro do mesmo. O Costa é corcunda, muito atrapalhado e se fosse ele a responder sozinho a esta entrevista responderia duas vezes porque já se teria esquecido que res-pondeu a primeira. O Tigre é o Mr. No Way, se não lhe agradar não vai a lado nenhum. O Ce-salty era gordo, comia muito e andava muito devagar, não sabemos como está agora por-que não o vemos a andar desde o início da en-trevista. O Gilmario é simplesmente o ‘tudo de bom do grupo’, não tem defeito praticamente nenhum, é um Jesus humorista (foi o Gilmário que respondeu a esta pergunta).

Como são os Tuneza fora do palco? Existe uma forte união e amizade entre todos?A nossa amizade é super organizada, temos dias de luta e dias de amor fraterno. Somos todos amigos próximos porque vivemos todos na mesma zona e temos uma amizade avalia-da em dez anos.

Os angolanos estão preparados para o vosso humor, isto é, para um humor mais elaborado e satírico?Desde a nossa criação que caminhamos com este público. Os nossos seguidores têm acom-panhado todas as fases do grupo e aprende-ram a gostar da nossa maneira de fazer rir. Procuramos chegar a todos.

Onde se inspiram para criar as vossas sá-tiras?Em todos os dias, em todas as pessoas, em to-

dos os locais, em todos os problemas e alegrias, não só de Angola e África, mas de todo o mundo.

Têm alguma influência em particular?Infelizmente nós surgimos numa época em que o humor angolano estava adormecido, o que aconteceu depois da morte do Cisco que foi, e continua a ser, o ícone do humor em An-gola. Nessa altura éramos ainda putos e es-távamos todos ainda bem longe do desejo de fazer humor. Não tivemos por onde nos guiar e tivemos que criar o nosso próprio estilo, mas fomos sendo orientados por pessoas que tam-bém trabalhavam na área, como Salú Gonçal-ves, Adão Filipe e Afonso Quintas que fizeram parte do mesmo grupo que o falecido Cisco.

Quem escreve os textos?Os textos são o produto acabado de 5 cabeças, 5 almas e 5 corações a pensarem...Portanto, isto dá qualquer coisa como 15 escritores.

projectosEm Abril, assinaram um acordo de parce-ria com a empresa de gestão de carreira e eventos culturais ‘Speedlight’. Quais as mais-valias desse contrato?Com a Speedlight podemos crescer mais pro-fissionalmente. Estarmos inseridos numa es-trutura organizada ajuda-nos a gerir melhor o nosso tempo e tarefas. Ficamos com mais tempo para aquilo que gostamos e sabemos fazer - a criação artística. Sentimos que a ges-tão da nossa carreira está bem entregue.

Estiveram em Lisboa, onde participaram em alguns programas e fizeram uma for-mação mais alargada. Qual o balanço des-sa experiência?Ir a Portugal é sempre um óptima experiên-cia. Temos muitos amigos lá. Desta última vez a nossa visita à Tuga foi ainda mais pro-veitosa porque tivemos a oportunidade de frequentar uma acção de formação de ac-tores onde aprendemos com os melhores professores. Sentimo-nos agora mais pre-parados depois do nosso intercâmbio com o actor Guilherme Filipe (interpretação para palco), com a actriz Ana Rocha (interpreta-ção para audiovisual), com o Miguel Fonse-ca (potencial performativo do actor), com o

poeta José Fanha (escrita criativa) e com a actriz Inês Nogueira (oficina de voz).

Foram bem recebidos pelo público por-tuguês?Fomos a Portugal para a apresentação de uma empresa angolana lá - a Publivision. Não de-mos nenhum espectáculo de bilheteira, mas as pessoas que estiveram no evento deram-nos os parabéns e na rua somos reconhecidos e muito acarinhados.

Para este ano está agendada uma mini-tournée por Angola e o lançamento de um DVD. O que é que podem adiantar acerca desses projectos?Estão a ser estudadas as melhores datas pa-ra a nossa tournée . Assim que tivermos novi-dades o nosso público será o primeiro a saber. Nós vamos aí...prometemos!

Quais são os planos do grupo a longo prazo?Os nossos planos a longo prazo não são di-ferentes dos das outras pessoas. Queremos continuar com saúde, felizes, amigos, com vontade de fazer mais e melhor e com o de-sejo forte de que nos continuem a seguir e a apoiar. Com isto seremos seguramente 5 kambas felizes.

Já fomos chamados de “Orgulho nacional” e isso enche-nos de alegria, mas também de responsabilidade

Obras nacionais em CubaA ministra da Cultura, Rosa Cruz e Silva, assinou um protocolo de cooperação com o seu homólogo cubano, Abel Prieto. À luz desse acordo, os autores nacionais vão ter a possibilidade de publicar as obras em Cuba e vê-las traduzidas em espanhol, através de uma antologia que será publicada em Fevereiro de 2011, durante a Feira do Livro de Havana (Cuba). A compilação vai contribuir para a internacionalização dos escritores ango-lanos e para a divulgação da cultura nacional. Os responsáveis da União dos Escritores Angolanos (UEA) encontram-se já a recolher textos para a publicação. “Cuba já traduziu e publicou livros de alguns dos nossos autores consagrados, mas que se esgotaram devido ao número de anos passados desde a sua publicação. Agora estamos em condições de relançarmos este processo”, destacou Rosa Cruz e Silva.

Cuba e Angola mais próximosAbiel Prieto, ministro da Cultura de Cuba, es-teve em Angola, onde reuniu com a ministra Rosa Cruz e Silva e delinearam em conjunto projectos de intercâmbio cultural. No final, ru-bricaram um protocolo que abrange as áreas de Formação Artística e engloba o envio de professores cubanos para o país africano com a missão de leccionarem diversos cursos, co-mo artes plásticas, dança, música, teatro e cinema. As duas nações concordaram em lan-çar um projecto de produção de filmes e do-cumentários sobre a luta de libertação. Para o desenvolvimento deste sector, está ainda pre-vista uma acção conjunta de recuperação do acervo filmográfico, de formação de quadros em Cuba e uma amostra de cinema entre os dois países. O documento materializa igual-mente o plano “Rota dos Escravos”, que com-porta a publicação de uma síntese sobre as vivências linguísticas “Congo, Mayombe e An-gola” em Cuba. A cooperação facilita a troca de conferencistas, de exposições e documen-tos, que vão dar vida a uma produção sobre o tráfico de escravos. Nos sectores de arquivo e biblioteca está previsto o desenvolvimento de acções de formação para os técnicos de cada área e cursos de especialização.

UEA com nova direcçãoA União dos Escritores Angolanos (UEA) tem nova direcção, que será responsável pela gestão da entidade durante o triénio 2010-2013. Os novos responsáveis tomaram posse em finais de Abril e prometem um mandato inclusivo e participativo ao nível dos associados, de forma a cumprirem com sucesso as metas para os próximos anos. A actual direcção quer internacionalizar as obras nacionais, rentabilizar o património da UEA e melhorar as condições sociais dos autores. Carmo Neto é o actual director e contará com o auxílio de Adriano Botelho de Vasconcelos (presidente da Assembleia-geral), Roderick Nehone (vice-presidente) e Aguinaldo Cristóvão (secretário). Pa-ra secretário das actividades culturais foi nomeado Abreu Paxe e Albino Carlos para as relações exteriores. A entidade possui um estatuto reconhecido de associação prestigiada.

CULTURA & LAzER

112 | ANGOLA’IN · CULTURA & LAZER

BREVES

Mais salas de cinemaAlcida de Jesus Camatele, directora pro-vincial da Cultura no Bié, anunciou que vai proceder à construção e reabilitação de todas as salas de cinema da província. O governo local vai apostar nesta área ainda este ano, devido à forte afluência da população ao único cinema do Kuito. Apesar de estarem a funcionar algumas salas nas localidades da Kamacupa e do Andulo, estas não são suficientes e está em estudo a construção de novos espa-ços nos municípios do Kuemba, Chinguar, Chitembo, Kunhinga, Katabola e Nhârea.

Trienal de Luanda 2010A capital vai acolher de 12 de Setembro a 19 de Dezembro a segunda edição da Trienal de Luanda. As datas foram recentemente divulgadas, juntamente com a informação de que o certame vai promover e divulgar a cultura nacional, nomeadamente os aspectos históricos. O evento é orga-nizado pela Fundação Sindika Doloko e inspira-se em dois temas centrais: a história de Luanda e do país. Assim, durante 14 semanas serão apresentados 196 projectos de artes cénicas, 28 conferências e actividades de moda, teatro, cinema, dança e música. Com o intuito de valorizar a cultura nacional e africana, a segunda trienal terá lugar no espaço Chá de Caxinde.

113 CULTURA & LAZER · ANGOLA’IN |

“Os Duo Ouro Negro editaram “Blackground”, um álbum que abordava a escravatura, o nascimento do continente e de Iemanjá, a origem dos sons e do homem africano”

SOLORaul e Milo lançaram em 1971 o disco mais ambicioso da sua carreira. Decididos a criar um projecto dedicado às raízes do cidadão africano, editaram “Blackground”, um álbum que abordava a escravatura, o nascimento do continente e de Iemanjá, a origem dos sons e do homem africano. Após a morte de Mi-lo, Raul Indipwo deu início a uma carreira a solo, editando o álbum “Sô Santo”, dedicado ao seu amigo Milo MacMahon. Em 1991, Raul Ouro Negro lançou um disco sobre as crian-ças africanas. Entretanto, apostou na pintura e desenvolveu em 2000 a Fundação Ouro Ne-gro, com sede em Portugal e Angola. O espaço promovia acções de solidariedade e culturais. Em 1998, a EMI publicou o duplo CD “Kuriku-tela – 40 anos, 40 Êxitos”. Raul faleceu em 2006.

MUxIMAA ideia partiu do produtor e guitarrista luso Manuel d’Oliveira, que deseja-va assinalar o meio sé-culo da che-gada do Duo Ouro Negro a Portugal. O disco Muxima, lançado em Março, reúne dez canções da dupla angolana. Os te-mas, interpretados por quatro caras conheci-das, procuram respeitar a essência do grupo original. Manuel d’Oliveira confidenciou à im-prensa portuguesa que escolheu Janita Salo-mé por se tratar de “um grande cantor, com uma carreira incontornável e contemporâ-neo do Duo”, Yami porque se afirma como um “músico com conhecimento muito profundo das raízes africanas mas também da música europeia” e Filipa Pais, pois é “uma cantora de música tradicional com grande versatilida-de”. Rita Lobo foi a outra convidada do produ-tor, que procurava “uma cantora africana que quando abrisse a boca se percebesse que vem mesmo de lá”. Janita Salomé recordou recen-temente o grupo, lembrando que “deram sem dúvida um conhecimento da música africana, afirmando o orgulho do homem negro”.

embaixadores

114 | ANGOLA’IN · PERSONALIDADES

PERSONALIDADES | patrícia alves tavares

O Duo Ouro Negro deixou uma marca inegável na história da música angolana. Portugal abriu as portas do sucesso a esta dupla que conquistou o mundo com a sua qualidade artística. A banda revelação da década de 50 recebe este ano o merecido tributo com a edição do CD ‘Muxima’, que reúne quatro vozes conheci-das para interpretarem os seus sucessos Faz precisamente meio século que Raul In-dipwo e Milo MacMahon desembarcaram em Portugal vindos de Angola e se transfor-maram nos maiores artistas da música afri-cana. Nascidos em Benguela, inicialmente chamavam-se Ouro Negro, por sugestão de Maria Lucília Dias, locutora do Rádio Clube do Congo Português. O nome escolhido, uma expressão local, designava tudo o que era ex-cepcional. Após várias actuações em Luanda, a dupla viajou para Lisboa, onde cantou no Ci-nema Roma e no Casino Estoril. A partir daí, nunca mais pararam. Envergando trajes exó-

ticos e cores coloridas, o duo gravou os dois primeiros discos em 1959, onde contou com a colaboração do brasileiro Sivuca. No início de 1961 gravaram o terceiro álbum. No mesmo ano, regressaram à terra-natal e José Alves Monteiro passou a integrar o grupo, que du-rante esse período lançou cinco CDs, onde se destacam os sucessos “Garota” e “Mãe Pre-ta”. Em 1964, retomam o duo e dão início à internacionalização do projecto, actuando na Suíça, França, Finlândia, Suécia, Dinamarca e Espanha. No ano seguinte, participaram nas comemorações do IV Centenário do principa-do do Mónaco. O brilhante percurso na músi-ca valeu-lhes o Prémio da Casa da Imprensa (1965). Em 1969, alcançaram o segundo lu-gar no Festival RTP da Canção, em Portugal, com o êxito “Tenho tudo para Amar”. Concor-reram novamente em 1974 com “Bailia dos Trovadores”. Inspiradas no folclore angolano das várias etnias e línguas, as suas músicas percorreram os principais palcos mundiais, in-cluindo os japoneses que ficaram rendidos ao talento angolano. No caso da América Central, os fãs alegam que apenas três países ficaram de fora da passagem do Duo Ouro Negro, em parte devido à morte de Milo, em 1985 e que colocou um ponto final na carreira do grupo e na digressão à Broadway.

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