angola'in série ii, revista nº01, janeiro de 2012

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A cultura angolana tem rosto e nome próprio. Descubra a mulher por detrás da diva que encanta o país. PÉROLA, Embaixadora da música Fórmulas de Investimento Quais as apostas portuguesas? Conheça os planos para o nosso país Verão Africano São jovens e apartidários. O movimento juvenil em análise nesta edição Life & Style 12 meses, dezenas de sugestões. Viagens, moda, arte, gourmet, o lado bom da vida. Tentações difíceis de resistir ANO IV - SÉRIE II REVISTA Nº01 JANEIRO 2012 3,50 EUR 450 KWZ 5,00 USD ISSN 1647-3574 ECONOMIA & NEGÓCIOS · MARCAS ID · SOCIEDADE · FOTOREPORTAGEM · ARQUITETURA & CONSTRUÇÃO · INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO · DESPORTO · LIFE & STYLE · CULTURA & LAZER · PERSONALIDADES

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Pérola, Embaixadora da música A cultura angolana tem rosto e nome próprio. Descubra a mulher por detrás da diva que encanta o país.

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A cultura angolana tem rosto e nome próprio. Descubra a mulher por detrás da diva que encanta o país.

PÉROLA, Embaixadora da música

Fórmulas de Investimento

Quais as apostas portuguesas?

Conheça os planos para o nosso país

Verão Africano

São jovense apartidários.O movimento

juvenil em análise nesta edição

Life & Style12 meses, dezenas

de sugestões.Viagens, moda, arte, gourmet,

o lado bom da vida. Tentações difíceis

de resistir

ANO IV - SÉRIE IIREVISTA Nº01JANEIRO 2012—3,50 EUR450 KWZ5,00 USD—ISSN 1647-3574

ECONOMIA & NEGÓCIOS · MARCAS ID · SOCIEDADE · FOTOREPORTAGEM · ARQUITETURA & CONSTRUÇÃO · INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO · DESPORTO · LIFE & STYLE · CULTURA & LAZER · PERSONALIDADES

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O 20

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JANEIRO 2012 03

04 JANEIRO 2012

SOCIEDADE

“Verão AfricAno”—Os ecos da “Primavera Árabe” começam a sentir-se nas nações africanas. Num ano marcado pela queda de regimes históricos, nesta edição faz-se o balanço dos últimos acontecimentos e do papel do associativismo na criação de uma cidadania ativa

espAço Leitor—A Angola’in tem um novo espaço inteiramente dedicado ao seu ativo mais valioso - os leitores. Com o objetivo de proporcionar um debate ativo e pedagógico, onde é importante a participação de todos, decidiu criar uma rubrica que dá liberdade às pessoas de exprimirem as suas opiniões e contribuírem para uma dinâmica e incisiva troca de ideias.

Assim, convida as pessoas a participar no fórum da revista enviando comentários, sugestões e opiniões ou respondendo aos desafios que vão ser lançados ao longo das próximas edições. Esteja também atento às novidades que a cada número irá apresentar, pois poderá ganhar prémios e desfrutar de fantásticas ofertas! Participe ainda nos passatempos que vai lançar nas redes sociais e mostre todo o seu valor nos concursos que serão anunciados.

Se tem interesse por Fotografia ou Escrita inscreva-se já e habilite-se a ganhar fabulosas ofertas. Solte a sua criatividade e imaginação no novo Clube Angola’in.

—Envie as suas mensagens parao seguinte endereço:

[email protected]

INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTOpAís em rede—Até 2015 todas as províncias vão dispor de uma mediateca. O conceito baseia-se na criação de bibliotecas multimédia, em que o utilizador pode aceder à informação a partir de diversos suportes. As primeiras cinco abrem ao público em Agosto

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54

SUMÁRIO

Esta revista é escrita ao abrigo do novo Acordo Ortográfico

JANEIRO 2012 05

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DESPORTOmissão cAn 2012A seleção de futebol está qualificada para mais uma edição do CAN. Enquanto o vencedor não é conhecido, descubra o perfil da equipa liderada por Lito Vidigal

CULTURA & LAZERnoVA poLíticA cuLturALA diminuição das taxas alfandegárias é a maior novidade da Política do Livro e da Cultura. Conheça o que muda com a nova lei

PERSONALIDADESo ArtistAdA diásporA“Hora Kota” é o 40º CD de Bonga, que se inspira na cidade de Luanda para dar voz às raízes africanas

INSIDE

MUNDO

ECONOMIA& NEGÓCIOS

MARCAS ID

UM DIA COM

FOTOREPORTAGEM

ARQUITETURA& CONSTRUÇÃO

LIFE&STYLE

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121 6263240465058

IN FOCO

noVA fórmuLA de inVestimento—Portugal é o principal parceiro na diversificação da economia nacional. Porém, as perspetivas indicam uma inversão da tendência. Numa análise profunda do investimento na “terra vermelha”, a Angola’in revela o novo paradigma da aposta lusa

06 JANEIRO 2012

JANEIRO 2012 07

www.comunicare.pt

AngolARua Rainha Ginga, nº 228 – 2º andarMutamba – LuandaTEL 923 416 175 / 923 602 924

PortugAlParque Tecnológico Inova.GaiaAvenida Manuel Violas, nº 476 – Sala 214410-136 São Félix da MarinhaVila Nova de GaiaTEL 00 351 222 431 902

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Direção ExecutivaDaniel [email protected]

Direção EditorialManuela Bá[email protected]

Direção de researchANGOLA - Lisete [email protected] - Jorge [email protected]

Direção ComercialIsabel Azevedo [email protected]

Coordenação EditorialPatrícia Alves [email protected]

gestão de Conteúdos Life & StyleManuel Gomes da [email protected]

Produção Life & StyleNuno Lago

redaçãoAna Soromenho | Francisco Moraes SarmentoIsabel Santos | João OliveiraMarina Cabral | Maria Sá | Rita Lúcio MartinsRaquel Pedrosa Marques

ArteBruno Tavares | Patrícia [email protected]

FotografiaManuel Gomes da Costa | Jordi BurchShutterstock | Corbis

Serviços Administrativos e AgendaPatrícia [email protected]

PubliCiDADEInterpublishingRua Sanches Coelho, nº 03 – 10º andar1600-201 LisboaTlf:. 00 351 217 937 205

impressãoPeres-Soctip Indústrias Gráficas S.A

Distribuição Angola – AfricanaPortugal – LogistaEspanha – Expedição

tiragem10.000 exemplares

—ISSN 1647-3574DEPÓSITO LEGAL Nº 297695/09—Interdita a reprodução, mesmo que parcial, de textos, fotografias e ilustrações, sob quaisquer meios e para quaisquer fins, inclusive comerciais

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1 Ano 12 números - 42€ 30€

2 Anos 24 números - 84€ 60€

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lançamento30%

EDITORIAL

Esta revista utiliza papel produzido e impresso por empresa certificada segundo a norma ISO 9001:2000 (Certificação do Sistema de Gestão da Qualidade)

Sem fronteirasNo final o que importa são as pessoas, o ativo humano que é vida!

Os instantes que antecedem o ato de entrega têm sempre uma necessidade urgente que convence, mas as gran-des decisões da vida são ilegíveis. Acontecem quando agir é imperativo de estar próximo e arriscar tem a ver com confiança. Ensinam-nos a adiar. Mas porquê? Questionamos, quando para nós ser diferente, com todo o valor, todo o vigor, é tomar as atitu-des que ninguém toma, com afago e convicção. Angola’in é esse instante, aquele milésimo de segundo em que ler se torna união para além do tem-po e do espaço.

Nesta II série, somos vida! Experi-mentamos, vivemos, crescemos. A maturidade é tentativa, dizem. Nós acreditamos. Ao chegarmos aqui, te-mos hoje uma segurança mais forte e uma maior capacidade de expressão. Talvez estejamos mais ‘velhos’, mas numa idade em que a inteligência possui já a sua plena força, conserva-mos a impetuosidade das impressões própria da juventude. À medida que conquistamos maturidade tornamo-nos mais jovens e é isso que sucede nesta nova fase.

A revista torna-se mundo. Tem alma esférica. Muda para estar mais pró-xima, mas sobretudo para ‘ganhar’ esse mesmo mundo através de uma internacionalização que parte de An-gola para chegar a mais leitores. Pre-

sente também em Portugal e Espanha, fruto de uma aposta estratégica - numa primeira fase – no eixo Luanda-Lisboa-Madrid, surge agora com uma periodi-cidade mensal e a mesma abordagem positiva de sempre. Democrática, inova-dora e arrojada assume-se o país do pre-sente, indo ao encontro das suas gentes; nas províncias ou na Diáspora elogia o bem, dando voz à Sociedade.

Tem novas apostas: aumentar a difusão de conteúdos a nível online, com tradu-ção da revista para inglês e espanhol na sua plataforma digital, e alcançar outros países lusófonos. Trata de informação e análise, mas também de estórias e suces-so, de coragem e determinação. Cresce em colaboradores porque acredita que no final o que importa são as pessoas, o ativo humano que é vida!

Assim, nesta primeira edição da II série dá as boas vindas a 2012 com uma en-trevista especial à diva Pérola e um ca-derno de Life & Style, onde a evasão e o glamour marcam o ritmo da esperança e do progresso.

A todos, a equipa Angola’in deseja 12 meses de profunda entrega. Num ano especial para o país, marcado pelas elei-ções, estaremos a seu lado para que jun-tos possamos partilhar o mundo!

A Direção

08 JANEIRO 2012

AssinAturAs

TEL: 00 351 222 431 902

[email protected]

1 Ano 12 números - 42€ 30€

2 Anos 24 números - 84€ 60€

10 JANEIRO 2012

—Que a vossa voz seja a da liberdade!—Há espíritos que nasceram para serem livres e que a liberdade lhes constitui imperativo suficiente para que arrisquem a paz e bordejem o próprio medo.

Na verdade, confundem-se com a razão e a justiça; a existência é para eles o meio que um Deus maior colocou ao seu dispor para serem a força motriz que reconhece o caminho a seguir e que deliberadamente por ele marcham sem que esmoreçam perante obstáculos ou ameaças.

Na luta não interessa nem dificuldade, nem extensão.

Esta é a estória destas três mulheres, que para a história ficam como as primeiras três a serem laureadas com o Nobel da Paz.

Um marco assinalável no progresso da humanidade. Uma homenagem à esperança e à doação de amor ao próximo.

MoSAiCo

Tawakkol Karman, 32 anos, jornalista iemenita, ativista na ‘Primavera Arabe’, Ellen Johnson Sirleaf, 73 anos, primeira mulher eleita democraticamente para chefe de Estado de uma nação africana, a Libéria, e Leymah Gbowee, 39 anos, assistente social liberiana, “guerreira da paz”, contribuiu para colocar um ponto final na segunda guerra civil naquele país.

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12 JANEIRO 2012

Mais desafios—Bento Bento, o novo governador de Luanda, já “fez o diagnóstico dos pro-blemas que assolam a província e particularmente a cidade de Luanda”. O recém-empossado dirigente espera contar com a colaboração dos muníci-pes e explicou que os principais pro-blemas da cidade estão relacionados com a energia elétrica, com o abaste-cimento da água potável e com o sa-neamento. Por outro lado, logo após ter tomado posse, anunciou que a reorga-nização do Governo Provincial e das Administrações Municipais é a tare-fa prioritária, pois pretende “afiná-las à altura de Luanda” para melhorarem a qualidade dos serviços. O seu obje-tivo passa por implementar uma polí-tica de proximidade com os cidadãos. Em relação às construções anárqui-cas, Bento Bento referiu que é contra as demolições, exceto quando são ne-cessárias para retirar as populações de zonas de perigo como as linhas de água. Apelou igualmente para que to-dos respeitem as regras estabelecidas para a construção de casas e garantiu que vai continuar com o processo de loteamento de terrenos. Estes devem ser distribuídos por quem precisa e tem capacidade para construir.

Galp investe até 2020—A empresa portuguesa Galp Energia vai investir mil milhões de euros em Angola até 2020. O investimento tem como objectivo alcançar os 35 mil barris de petróleo por dia, duplicando desta forma a produção que atualmente se situa nos 17 mil barris diários. A maior fatia do capital será aplicada nos blocos 14 e 14K. A petrolífera portuguesa está ainda a fazer prospeção em dois campos onde já foram encontradas reservas de crude.

Quatro novas aerogares—Soyo (Zaire), Dundo (Lunda Norte), Saurino (Lunda Sul) e Luena (Moxico) vão passar a dispor de uma aerogare ainda este ano. O anúncio da obra foi proferido pelo ministro dos Transportes, Augusto da Silva Tomás, durante a aprovação da Proposta de Lei do Orçamento Geral do Estado (OGE) para 2012. A construção dos quatro edifícios de apoio aos aeroportos faz parte de um programa mais abrangente, que visa criar infraestruturas idênticas em cada uma das 18 províncias. O Governo pretende implementar o plano de forma faseada, de acordo com a capacidade financeira, material e humana disponível.

Apoio balnear—Vinte sete praias vão ganhar zonas de apoio balnear até Agosto. O projeto, que está a ser desenvolvido por um português, tem como parceiro o Ministério do Interior de Angola e conta com o apoio de uma corporação de bombeiros lusa (das Caldas da Rainha). O programa será gradualmente implementado nos próximos oito meses e abrange oito praias na região de Luanda, cinco em Benguela, três em Cabinda, três no Zaire, três no Kwanza Sul, três no Namibe e duas no Bengo. De acordo com o autor do plano, António Marques, o objetivo consiste em criar “uma estratégia integrada de prevenção e segurança nas praias, quer sejam de mar, de rio ou de águas internas”. As zonas costeiras escolhidas serão dotadas de “estruturas balneares modernas e eficazes, enquadradas por recursos humanos especializados e recursos materiais eficazes”.

Patrícia Alves TavaresinsiDE

JANEIRO 2012 13

Algodão com maior produção de sempre—A produção de algodão no Kwanza Sul alcançou as mil toneladas em 2011, a primeira em grande escala desde o período de paz. Os valores resultam do trabalho da empresa África Semente, que par-ticipa no programa de relançamento da produção. O plano faz parte das medidas apresentadas pelo Ministério da Agricultura e De-senvolvimento Rural para reativar a indústria têxtil. O secretário de Estado, Amaro Tati, apelou à aposta na produção em grande es-cala, uma vez que o país possui áreas propícias para o cultivo do algodão.

Produção petrolíferaem recuperação—As previsões para a produção petrolífera para este ano indicam uma recuperação em relação a 2010 e 2011. Em 2012, o país deverá produzir 662,7 milhões de barris (1,842 milhões de barris diariamente), valor que ultrapassa a média de 2009, que se situou nos 1,809 milhões de barris por dia. A recuperação deve-se aos investimentos efetuados nos atuais campos e à entrada em funcionamento de novos. Já em relação aos preços, as estimativas são mais cautelosas, tendo por base uma projeção de receita baseada num preço médio conservador que não comprometa a concretização da despesa pública fixada. O valor deverá rondar os 77 dólares por barril.

Banco Angolanode Investimentos—O Banco Africano de Investimentos mudou de nome. Desde Novembro do ano passado que se designa de Banco Angolano de Investimentos. A alteração visa evidenciar o papel de Luanda e evitar possíveis conflitos de denominações. Em comunicado, a instituição explicou que com a mudança pretende “elevar o nome do país, ser uma marca representativa dos valores de Angola e criar uma identidade de branding que identifique o banco como tendo o centro de decisão em Angola”. Esta entidade bancária tem 895 agências no país e uma “outra instituição financeira estrangeira com a mesma denominação detida pelos governos dos países africanos”. A alteração da designação não vai afetar a atuação da instituição.

Indústriamineira—O incremento de projetos de extração de metais e de fosfatos está a contribuir para a diversificação da indústria mineira e para a redução da dependência relativamente aos diamantes. O último relatório Angola Mining Report, publicado pela Business Monitor International, revela que “para minimizar o impacto de futuras flutuações de preços, o país está a avançar com medidas de diversificação da sua base mineira”. A aposta tem recaído em projetos relacionados com o cobre (caso da mina desativada do Mavoio), o ferro e o manganésio. O documento prevê um crescimento médio da produção entre 2011 e 2015 na ordem dos 6,8 por cento por ano. Nesse período, o setor deverá valer 7,5 mil milhões de dólares. Os diamantes vão manter-se como o principal produto deste ramo. No entanto, existe um grande potencial para a produção de metais de base e ouro.

14 JANEIRO 2012

Importações da China aumentaram—Entre Janeiro e Setembro do ano passado, as exportações chinesas para Angola aumentaram 34% (o equivalente a 1,95 mil milhões de dólares). Já em relação às vendas dos produtos nacionais para Pequim sofreram uma diminuição de 0,29% (o que corresponde a 18,3 mil milhões de dólares), em relação ao período homólogo de 2010. O país é um dos maiores fornecedores da China, no setor petrolífero, e o seu maior parceiro comercial em África.

Cinco novos centros comerciais—Cinco centros comerciais serão inaugurados no decorrer deste ano, em Luanda. A procura de diversos serviços e o galopante crescimento económico da metrópole conduziram à criação de novos shoppings: Luanda Park, Luanda Shopping, Ginga Shopping, Centro Comercial Kinaxixi, SHopping Fortaleza, Muxima Plaza e Viana Park. A construção dos equipamentos resulta da reestruturação viária e da expansão do mercado imobiliário. De acordo com as perspectivas do setor para 2011/14, da autoria da multinacional americana Jones Lang LaSalle, o aparecimento dos empreendimentos deve-se à implementação de novas políticas para a estabilidade sócio-económica e à existência de recursos naturais que favorecem os planos de reconstrução.

Eduardo dos Santos disponível parase recandidatar—O nome do candidato do MPLA às eleições gerais só será conhecido em Janeiro. Porém, José Eduardo dos Santos, atual presidente da República, admitiu que estará “sempre disponível para cumprir qualquer missão”. Durante a última visita do primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho, o responsável esclareceu que “é um assunto que está a ser tratado internamente ao nível das instâncias partidárias”.

Novo aeroporto de Luanda—Augusto Tomás, ministro dos Transportes, divulgou que o novo aeroporto de Luanda ficará concluído dentro de 26 meses. A primeira fase poderá ser inaugurada já em finais de agosto. Nessa altura, a torre de controlo, o edifício da administração aeronáutica, o terminal VIP, a área dos bombeiros, a zona de voos norte e o edifício do terminal principal estarão totalmente operacionais. O aeroporto terá capacidade para receber o maior avião comercial do mundo, o Airbus A380, sendo dotado de duas pistas duplas.

Patrícia Alves TavaresinsiDE

JANEIRO 2012 15

16 JANEIRO 2012

Cabo Verde apostaem energia renovável—O Governo de Cabo Verde cumpriu a meta prevista de produção de 25% de energias renováveis no país até 2012. O primeiro-minis-tro cabo-verdiano, José Maria Neves, afirmou mesmo que poderão atingir os 30%. Até 2020, o país terá que estar preparado para pro-duzir metade do seu consumo de energia a partir do sol e do vento. O objetivo consiste em que a ilha mais pequena, a Brava, seja abas-tecida unicamente com energias limpas. José Maria Neves referiu acreditar que a meta será alcançada através dos investimentos que foram efetuados nos parques solares da ilha do Sal e Praia, com os parques eólicos da Praia, São Vicente, Boavista e Santo Antão (investimento privado).

Portugueses criam carro inteligente—A Universidade de Aveiro (UA), em Portugal, apresentou o protótipo do ATLASCAR, um Ford Escort que foi adaptado e “anda sozinho”. Inteligente, o carro tem ainda capacidade para “detetar obstáculos”, mesmo quando as condições não são as melhores. O modelo é único em Portugal e está a ser desenvolvido há pouco mais de um ano, pelo departamento de Engenharia Mecânica da UA, no âmbito do projeto “Atlas”. De acordo com Vítor Santos, da UA, “o que distingue o nosso veículo de outros projetos como o da Google, além do orçamento, é ser um automóvel normal adaptado com um conjunto de tecnologias, que permitem que se conduza sozinho, em dadas circunstâncias, ou com intervenientes”. As marcas contactadas têm tido “boa recetividade à colaboração” com o projeto. O ATLASCAR está a ser estudado em condições de visibilidade reduzida, como a noite ou com nevoeiro cerrado, para que possa ajudar os utilizadores a evitar situações perigosas. O veículo já foi até à capital do país, mas com condutor para recolher dados de “condução em ambiente urbano”.

Agricultores cubanossem intermediários—Os agricultores cubanos vão poder vender diretamente os seus produtos a entidades turísticas. Até agora o modelo obrigava todas as transações de produtos agrícolas a passarem pelas empresas estatais. A medida foi aprovada pelo Governo de Raúl Castro e visa a atualização do modelo socialista. A lei entrou em vigor em dezembro do ano passado e irá “simplificar a ligação entre o setor primário e o consumidor final”. É mais um passo na autonomização do pequeno comércio, já que nos últimos meses os cubanos passaram a poder abrir pequenos negócios como um restaurante ou um cabeleireiro.

3 Ministrasna Líbia—O novo governo de transição na Líbia terá 24 ministros, três dos quais são mulheres. O ministério da Defesa será chefiado por Oussama Jouili, um antigo comandante das forças rebeldes em Zintan e o ministério do Interior ficará a cargo de Faouzi Abdelal, da cidade de Misrata. O país vai a sufrágio ainda este ano.

Patrícia Alves TavaresMunDo

JANEIRO 2012 17

Brasileiros apostamno ouro—No Brasil, as empresas privadas pretendem investir 1,8 mil milhões de euros na extração de ouro. A quantia será aplicada nos próximos quatro anos e triplica os cálculos anteriormente previstos, o que poderá contribuir para a duplicação de produção deste minério. Atualmente, o Brasil produz 62 toneladas por ano, sendo o décimo país produtor de ouro a nível mundial. O Departamento Nacional de Produção Mineral concedeu 1270 autorizações a empresas mineiras e está a analisar 1173 pedidos. O Brasil só utiliza 12% da sua capacidade de produção, que poderia chegar às 503 toneladas de ouro por ano.

Tailândia20 anos de prisão por SMS—Um tailandês foi condenado a 20 anos de cadeia, por um tribunal de Banguecoque, por ter enviado ao secretário do primeiro-ministro vários SMS considerados insultuosos para a monarquia. Ampon Tangnoppakul foi detido em Agosto de 2010. A família real tailandesa está protegida por uma das leis mais severas do mundo neste âmbito.

Gases do efeito estufa em novo máximo—Um relatório publicado pela Organização Meteorológica Mundial, agência da ONU, indica que a quantidade de gases do efeito estufa atingiu um novo recorde em 2010. O aumento foi tão rápido que superou a média das últimas décadas. O dióxido de carbono aumentou 39%, o metano 158% e o óxido nitroso 20%.

Queda da Europairá contagiar os EUA—Christine Lagarde, diretora-geral do FMI (Fundo Monetário Internacional), avisou que deixar cair a Europa terá “consequências enormes” nos Estados Unidos da América (EUA). Em causa estão as fortes ligações entre as instituições bancárias dos dois blocos. A responsável recordou que 20% das exportações americanas têm como destino a Europa e referiu que há uma forte ligação entre os bancos norte-americanos e europeus. Em entrevista à televisão CBS, Lagarde comparou o trabalho do FMI ao dos bombeiros: “chegamos e tentamos apagar o fogo”, num trabalho que é realizado com “regras e fundos que são sempre devolvidos”.

18 JANEIRO 2012

Londres prepara-separa Jogos Olímpicos—A banca britânica tem apostado na proteção dos seus sistemas contra possíveis ciber-ataques que poderão ocorrer durante os Jogos Olímpicos Londres – 2012. O sistema financeiro tem realizado simulações para colocar à prova a sua capacidade em defender-se de possíveis ameaças. “Trata-se de avaliar e melhorar a resistência do setor de serviços financeiros durante uma grande perturbação operacional”, referiu à imprensa um porta-voz da Autoridade dos Serviços Financeiros (FSA) ingleses. Os resultados do primeiro grande teste, que simulou as consequências de um ataque informático contra os bancos britânicos, serão conhecidos no início do ano.

Primeira cerveja à base de mandioca—Impala é a primeira cerveja comercial do mundo feita à base de mandioca. O produto foi lançado em Nampula, no norte de Moçambique, local onde será testada a sua comercialização, que no futuro deverá estender-se ao resto do continente. A nova cerveja foi produzida pelas Cervejas de Moçambique, detida pela SAB Miller e é composta por 70% de mandioca, em vez de malte. Este produto é produzido em excesso na nação moçambicana e é agora utilizado neste produto que é mais barato que as cervejas mais acessíveis de malte.

15%Menos infetadoscom SIDA—O relatório da ONU sobre a evolução da SIDA aponta 2010 como o “ano da viragem”. No referido período, menos pessoas morreram da doença, graças ao maior acesso a tratamentos, e núme-ro de novas infeções também sofreu um decréscimo. Em 2010, a doença matou 1,8 milhões de pessoas – nos inícios de 2000 morriam 2,2 milhões por ano – e infetou 2,7 milhões em todo o mundo. Isto repre-senta que houve uma diminuição de 15% face há dez anos e de 21% quan-do comparado com o pico do cresci-mento da SIDA, em 2007. No ano passado existiam cerca de 34 mi-lhões de seropositivos no mundo.

15 milhões “esquecidos”—O exército do México encontrou cerca de 15 milhões de dólares num carro, em Tijuana. A descoberta deu-se quando as autoridades efetuavam uma operação na baixa da cidade, junto da fronteira com os EUA. Os militares acreditam que o dinheiro pertencia ao cartel de droga de Sinaloa. É a terceira maior apreensão de dinheiro no México.

Patrícia Alves TavaresMunDo

JANEIRO 2012 19

20 JANEIRO 2012

Qual o destino do investimento português?

Um abrandamento do investimento português em Angola este ano é o que esperam diversas fontes ligados ao setor, contrariando a tendên-cia dos últimos anos. Portugal tem liderado o investimento privado no setor não petrolífero desde 2006, sendo um importante parceiro no apoio à diversificação da economia. Nos últi-mos anos, o investimento ultrapassou os 1,4 mil milhões de dólares, mais de 65% do investi-mento privado oriundo do Brasil, Estados Uni-dos e China, os outros parceiros estratégicos de Angola. Atualmente, existem mais de duas mil empresas lusas a operar na “terra vermelha”.

Embora ainda não estejam disponíveis dados sobre 2011, tanto a publicação da nova Lei de Bases do Investimento Privado (LBIP), como a situação da Agência Nacional para o Investimen-to Privado (ANIP), têm prejudicado a realização de projetos. Ao todo, cerca de duas centenas de intenções de investimento estão a aguardar de-cisões da ANIP desde junho. Entretanto, foram nomeados novos órgãos da ANIP, cuja presidên-cia do Conselho de Administração foi atribuída a Maria Luísa Abrantes, personalidade considera-da próxima do presidente da República.

A LBIP é tida como o principal obstáculo às ini-ciativas empresariais, pois só enquadra projetos superiores a um milhão de euros. Circunstância agravada quando há sócios: cada um terá que investir aquele montante. Em causa está ainda

o repatriamento de capitais, um dos aspetos de-cisivos para quem pretende investir em Angola.

A LBIP tem dois objetivos: dirigir os investimentos e encontrar parceiros para “projetos estruturan-tes e estatais” e proteger o mercado interno para os angolanos. Fontes contactadas pela Angola’in sublinham que a “verdadeira economia” fica fora do alcance dos investidores estrangeiros, nome-adamente as pequenas e as médias empresas, consideradas o motor da diversificação da eco-nomia, sendo este há anos um objetivo das au-toridades angolanas. Por outro lado, os níveis de investimento exigidos afastam as empresas que baseiam as suas vantagens competitivas na ges-tão de conhecimento, como por exemplo as do setor das novas tecnologias ou formação.

A questão ganha ainda mais pertinência quan-do a expansão do empresariado luso em setores como a agricultura e a agro-indústria foi tema de conversa entre José Eduardo dos Santos, presidente da república de Angola, e Passos Coelho, primeiro-ministro português. Fontes li-gadas aos meios empresariais de Luanda refe-rem que a situação não deverá sofrer alterações durante 2012, ano de eleições, durante o qual a “angolanização” é tema para consumo inter-no. Apesar de alguns responsáveis angolanos admitirem que se terá de tomar “medidas cor-retivas” caso se verifique que a lei não tem os efeitos desejados.

Outros observadores acreditam que a qualidade do investimento, que aparentemente é um dos objetivos da LBIP, é melhor evidenciada através do rácio entre capitais próprios e capitais alheios do que com o montante em causa. Este rácio, normalmente baixo em Angola, coloca em dúvi-da a sustentabilidade dos projetos.

Está a surgir uma nova geração de empresários que pretende ascender de forma rápida no do-mínio económico e social. Não obstante, os em-presários angolanos continuam a sentir muitas dificuldades em conceber e gerir projetos sus-tentáveis. Analistas do BPI afirmam que a capaci-dade financeira das empresas e dos industriais é “insuficiente para ações de investimento, aliada à falta de garantias para obtenção de crédito junto do sistema bancário”.

Os empresários lusos desenvolvem uma mudança de paradigma: o investimento começa a instalar-se em Angola com intenção de exportar para outros mercados

Francisco Moraes Sarmentoin FoCo

JANEIRO 2012 21

plataforma naturalAngola é encarada pelos investidores portu-gueses como uma “plataforma natural” no con-tinente africano, permitindo definir estratégias regionais. O mercado da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) tem cerca de 240 milhões de consumidores e a República Democrática do Congo tem cerca de 70 milhões, números que revelam o poten-cial de negócio e expansão para as empresas lusas. Por outro lado, existem diversas inicia-tivas visando a constituição de um mercado comum africano.

Neste contexto, os empresários lusos desenvol-vem uma mudança de paradigma: o investimen-to começa a instalar-se em Angola com intenção de exportar para outros mercados. O caso da Refriango e da Visabeira são exemplos dessas intenções de internacionalização a partir do ter-ritório angolano. A exportação oriunda de Portu-gal que hoje tem uma importância significativa, tende a diminuir.

Angola é a sexta maior economia de África e a segunda maior potência da África Austral, tendo vindo a registar, nos últimos anos, um crescimen-to económico acentuado, bem acima da média mundial e a um ritmo superior à generalidade das outras grandes economias africanas. De acordo com a Agência de Investimento e Comércio Ex-terno de Portugal (AICEP Portugal Global), “es-tima-se que esta tendência venha a acentuar-se em 2012, resultado do aumento dos preços e da produção de petróleo e da expansão dos setores não petrolíferos, bem como da dinamização do investimento estruturante em curso”. Também as Nações Unidas, num relatório sobre o inves-timento mundial, considera que Angola é o país africano com maior potencial e o que mais inves-timento direto estrangeiro recebeu na região em 2010 – cerca de 9,9 mil milhões de dólares, muito acima da África do Sul (1,5 mil milhões de dóla-res) e Congo (2,9 mil milhões de euros).

CaminhosA crise não abalou o investimento português em Angola. Mas os caminhos do dinheiro, agora, são outros. Os dados da ANIP mostram que a África do Sul, Holanda, Ilhas Virgens Britânicas e Maurí-cias têm, desde 2006, vindo a apostar consisten-temente em Angola. Segundo diversas fontes, o crescimento do investimento com origem na Holanda, assim como nos paraísos fiscais, tem uma explicação: algum investimento angolano e

muito do português está a ser canalizado através daqueles países. É o caso da participação da por-tuguesa ZON na angolana ZAP, realizada através de uma empresa sediada na Holanda.

radiografiaO investimento privado em Angola cresceu cerca de 67,5% em 2010, atingindo 2,4 mil milhões de dólares, um ‘salto’ face ao ano anterior, em que rondou 1,4 mil milhões. Quanto ao emprego, o investimento privado criou, entre 2008 e 2010, cerca de 86 mil postos de trabalho diretos, dos quais apenas 12.620 são estrangeiros.

Por geografias, a província de Luanda lidera o destino do investimento (36,24% do total em 2010). Benguela surge em segundo (17,75%), seguida da província do Kwanza Sul (8,06%) e do Bengo (1,27%). Em 2010, Kuando Kubango e Moxico não captaram qualquer investimento privado, mas a situação pode mudar este ano. Por setores, a indústria transformadora absor-veu 31,84% do investimento, enquanto o comér-cio por grosso e retalho e a reparação automóvel foram o destino de 20,71%. Seguem-se a cons-trução (10,8%), transportes e comunicações

(10,8%) e atividades imobiliárias (7,16%). O se-tor primário pouco interessou aos investidores: só 1,22% do investimento se dirigiu à agricultura, produção animal e silvicultura. O Estado ainda é o ‘motor’ do setor, situação que vai perdurar du-rante alguns anos. A pesca absorveu 3,09% do investimento privado em 2010.

apostana regionalizaçãoA expansão do investimento português nas pro-víncias e na diversificação da economia angola-na está na ordem do dia para os responsáveis da Agência de Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP Portugal global). Este ano, foi aberta uma delegação em Benguela, quese tornou um dos patrocinadores da Feira Interna-cional da província. No horizonte deste organis-mo estão outras províncias, que estão a ganhar dimensão em termos de mercado: Huíla, Huam-bo, Malange, Kwanza Sul e Cabinda. Para Miguel Fontoura, diretor da AICEP, a diversificação de setores e regiões é uma realidade muito cimen-tada pelo interesse das empresas lusas. Neste sentido, promoveu doze missões empresariais a diversas regiões de Angola.

Existem diversas iniciativas visandoa constituição de um mercado comum africano

Para além de Benguela, a AICEP prevê abrir delegações noutras províncias que estão a ganhar dimensão em termos de mercado: Huíla, Huambo, Malange, Kwanza Sul e Cabinda

22 JANEIRO 2012

Relações Bilaterais

o “CASSulA”AngolAno

“Nada usual” assim classificaram à aNgola’iN a receNte visita de 24 horas do primeiro-miNistro português, pedro passos coelho, a aNgola. a expressão vale para todos os Níveis de eNteNdimeNto eNtre o goverNaNte luso e José eduardo dos saNtos, presideNte da república de aNgola.

Francisco Moraes Sarmentoin FoCo

JANEIRO 2012 23

O cruzamento de capitais entre empresas dos doispaíses é uma estratégia

que vai ser aprofundadae indica presenças nos

dois sentidos de longo prazo

A agricultura e a agro-indústria está na primeira linha das prioridades, setores que terão linhas de crédito

Um momento representativo do atual estado das relações bilaterais foi a audiência privada entre os dois governantes que debelou as re-gras protocolares. O sinal mais evidente foi a demora do encontro, que ultrapassou em mais de uma hora o tempo previsto no programa para desespero dos assessores. A estas cir-

cunstâncias não é indiferente Passos Coelho ter vivido em Angola até à adolescência e, por essa via, compreender a afetividade que os an-golanos põem em tudo o que fazem. Ao contrá-rio do habitual, José Eduardo dos Santos, mais descontraído e simpático, deu umas palmadi-nhas nas costas do primeiro-ministro português

SAbiA quE…No dia 16 de Novembro, a TAAG, a companhia de bandeira ango-lana, teve um passageiro muito especial. Tratava-se do primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho, que optou por viajar numa aeronave daquela empresa. Uma mensagem com vários sentidos: confiança num futuro conjunto e numa companhia que Portugal ajudou a sair do vermelho quan-to a voos para o espaço europeu. A TAAG sofreu uma profunda re-modelação e os seus aviões de úl-tima geração (Boeing 777-200ER e 737-700) podem, desde Novem-bro último, rumar sem restrições para todo o espaço europeu. Pas-sou Coelho regresso a 17 de No-vembro num voo da companhia portuguesa, TAP.

no final do encontro. Afinal, tratava-se do “mais velho” e do “cassula”, como são designados fa-miliarmente os mais novos.

Para lá da empatia - “química” – que, segundo as nossas fontes, se registou entre os dois go-vernantes, José Eduardo dos Santos conside-rou que o que “acontecer a Portugal, acontece a Angola”, mostrando que o entrosamento entre os dois povos a nível institucional, económico e cultural é para durar e aprofundar.

A estratégia angolana para as terras lusas pas-sa pela aposta na economia e, principalmente, por participações em empresas. Fora de ques-tão está a compra de dívida portuguesa, pelos menos para já. Não foi por acaso que nos dias seguintes à visita de Passos Coelho, a Sonangol começou a comprar em bolsa acões do Mille-niumbcp. As mesmas fontes garantiram que a entrada direta de angolanos na GALP foi uma questão abordada. O cruzamento de capitais entre empresas dos dois países é uma estraté-gia que vai ser aprofundada e indica presenças nos dois sentidos de longo prazo.

Passos Coelho teve oportunidade para subli-nhar que o “interesse português em Angola não resulta da atual crise” e que as alterações polí-ticas em Portugal não prejudicarão o relaciona-mento com os angolanos. O primeiro-ministro português garantiu que Portugal não tem re-ceio da “angolanização” e aposta na “economia real” de Angola. Neste sentido, o governante considera que a presença portuguesa é diferen-te da de outros países e está de acordo com a visão das autoridades angolanas. A estratégia passa pelo desenvolvimento do investimento de PME s em diversos setores e províncias do país. A agricultura e a agro-indústria estão na primeira linha das prioridades, setores que te-rão linhas de crédito.

Relações Bilaterais

o “CASSulA”AngolAno

24 JANEIRO 2012

da parCeriaà aliançaO aprofundamento das relações bilaterais en-controu, entretanto, um outro termo para o designar: “aliança estratégica” em vez de “par-ceria estratégica”. Trata-se de uma mudança de paradigma: depois de “sócios” ou “compa-nheiros de viagem”, Angola e Portugal firmam a “mutua amizade e auxílio”.Desde 2010 que os dois países acentuaram o seu entendimento e a demonstração disso são as visitas de governantes entre os dois países: de José Eduardo dos Santos a Lisboa; de Cava-co Silva e Paulo Portas, ministro dos Negócios Estrangeiros a Luanda. Para além de outros de-senvolvimentos ao nível da defesa, segurança e administração, com deslocações frequentes de responsáveis lusos à terra vermelha. Com os Es-tados Unidos, China e Brasil, Portugal tem sido um dos “parceiros estratégicos” dos angolanos. Uma expressão que tem implicado um diálogo constante e permanente entre os dois países em matérias como a política externa, seguran-ça, defesa, economia, comércio externo e cultu-ra. Esta cumplicidade considera as fidelidades regionais de cada país e assenta na presença humana, empresarial, cultural e social que se regista em ambos os sentidos. Em junho pas-sado, Francisco Ribeiro Telles, embaixador luso em Luanda, considerava que este aspeto é único e sem paralelo no período pós-independência.

O “cunho político e institucional” das relações bilaterais foi acentuado com a visita de Passos Coelho, que passou a designar Angola como “aliado estratégico”. Uma aliança que terá co-mo ponto alto não só a visita que o primeiro-mi-nistro português fará à Angola após as eleições de 2012, como a realização da primeira “Cimeira Portugal-Angola”. Esta iniciativa que agora se programou é uma velha ideia portuguesa que não tem sido possível levar à prática: primeiro, dada a frequência de contactos entre as auto-ridades dos dois países, que de alguma forma retira necessidade ao referido encontro; depois, porque do ponto de vista institucional existia uma questão protocolar que agora terá desapa-recido: do lado angolano, o presidente é o che-

fe de governo, enquanto do lado português, as funções são exercidas por dignitários diferen-tes. De qualquer forma, a cimeira será um dos instrumentos da aliança estratégica.

Outra vertente, desenvolve-se ao nível da po-lítica externa e da integração internacional de Angola. Durante o ano passado, os entendimen-tos entre os dois países, por exemplo ao nível da intervenção angolana na Guiné, permitiram a Angola ser reconhecida nos fóruns interna-cionais como líder regional. Se a presidência da CPLP e da SADC não é estranha a esta situação, também é verdade que Portugal tem jogado o seu prestígio junto de diversas instâncias pa-ra apoiar os esforços angolanos. Passos Coelho confessou que “Portugal já está a ganhar com a internacionalização de Angola”.

Passos Coelho não deixará de se deslocar às regiões mais decisivas para as comunidades portuguesas, como não deixará de visitar os lu-gares e os homens que fazem parte da memó-

ria do governante português em Angola. Uma lembrança que mostrou um primeiro-ministro “bem disposto” nos contactos que manteve a diversos níveis em Luanda e que não o deixou partir, já noite, sem antes fazer passar a carava-na pelo antigo Sanatório de Luanda, onde viveu por algum tempo, quando o seu pai era diretor desta instituição.

Um dos pontos altos previstos para 2012 será a realização da primeira Cimeira Portugal-Angola

A segunda visita será mais demorada e passará por diversas províncias angolanas

“Portugal já está a ganhar com a

internacionalização de Angola”

Francisco Moraes Sarmentoin FoCo

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26 JANEIRO 2012

eleições 2012 ‘Momento decisivopara a consolidaçãoda democracia’

A sua missão em Angola está a terminar. Que balanço faz do atual momento das relações entre Portugal e Angola?Creio que é hoje justo afirmar que vivem um mo-mento excelente, possivelmente sem paralelo na sua história. Nunca como hoje foram os dois paí-ses tão próximos no plano político, institucional, económico e empresarial. A língua e a comuni-dade de afectos que partilhamos têm permitido uma aproximação e um conhecimento cada vez maiores entre os dois povos. Estou certo que as relações tenderão no futuro a intensificarem-se ainda mais.

As relações bilaterais têm conhecido um de-senvolvimento importante nos últimos tem-pos. Quais as evoluções mais importantes observadas durante o seu mandato?Para além de um incremento em todas as áreas do relacionamento bilateral, sobretudo na esfe-ra económica e cultural, destaco o fortalecimen-to das relações institucionais, consubstanciado na assinatura de importantes instrumentos, donde destaco o Acordo sobre Reconhecimen-to recíproco de Títulos de Condução, o acordo sobre Promoção e Proteção Recíproca de Inves-timentos e, mais recentemente, o Protocolo so-

bre Facilitação de Vistos. Tratam-se de matérias que têm a ver com o dia a dia das pessoas e das empresas. Por outro lado, a intensificação de deslocações oficiais, de que assinalo as visitas de Estado do Presidente Eduardo dos Santos a Lisboa e do Presidente Cavaco Silva a Angola, bem como as visitas oficiais dos Primeiros-Mi-nistros José Sócrates e Passos Coelho a Luanda conferem às relações uma consonância política muito forte que não existia no passado.

A questão dos vistos parece ter sido um dos momentos da sua missão. Pode comentar?O Protocolo sobre Facilitação de Vistos foi um momento bilateral importante porque corres-pondeu a uma necessidade há muito sentida pelas pessoas, empresas e governos dos dois países. A convergência das pessoas e das eco-nomias de Angola e Portugal é uma tendência espontânea que se encontrava dificultada. O

“O fORTALECimENTO dAs RELAçõEs iNsTiTUCiONAis” é Um dOs AsPETOs qUE fRANCisCO RiBEiRO TELLEs, EmBAixAdOR dE PORTUGAL Em ANGOLA, dEsTACA NA hORA dA dEsPEdidA dA sUA missãO NA TERRA vERmELhA. “UmA ExPERiêNCiA RiCA dO PONTO dE visTA PEssOAL E PROfissiONAL”, CONfEssA O diPLOmA dURANTE A ENTREvisTA qUE CONCEdEU à ANGOLA’iN.

o triângulo Portugal, Angola e Brasil é uma força motriz para as suas economias

Francisco Moraes SarmentoEConoMiA & nEgÓCioS

JANEIRO 2012 27

protocolo é, por isso, mais do que um instrumen-to jurídico, uma aposta na importância estraté-gica de facilitar as ligações entre os dois países, permitindo o seu desenvolvimento natural.

Com a vinda de Passos Coelho houve uma al-teração de terminologia: passou-se a falar de “aliança estratégica” em vez de “parceria es-tratégica”. Que significado atribui a esta al-teração?Creio que, no essencial, falamos da mesma rea-lidade: o de que Angola e Portugal assumiram, como prioridade estratégica e de longo prazo, o constante aprofundamento das suas rela-ções bilaterais. O primeiro-ministro qualificou ainda essa parceria como uma aliança que vai para além do seu enquadramento bilateral e se potencia no contexto das oportunidades geo-económicas que se abrem aos dois países no Atlântico Sul e que inclui, naturalmente, o Bra-sil. Por outro lado, com economias cada vez mais

interdependentes, o conceito de “aliança” pa-rece ser uma designação mais apropriada para definir a sua atual profundidade.

Outro dos aspetos que se notou foi o desen-volvimento da afirmação regional de Angola e o papel que Portugal teve nesse desenvolvi-mento. Gostaria que comentasse a liderança angolana da CPLP e da SADC.Creio que o papel crescente de Angola é, an-tes de tudo, consequência da sua pacificação, crescimento e afirmação regional. Portugal é um parceiro natural de Angola no seu desenvolvi-mento. O facto de Luanda presidir simultanea-mente à CPLP e SADC será um fator adicional de visibilidade para a diplomacia angolana.

O triângulo “Portugal, Angola, Brasil” é uma ideia sempre defendida. Qual a sua efetivida-de neste momento?Creio que nunca como hoje fez tanto sentido.

A cooperação económica, empresarial e polí-tica na placa continental atlântica oferece aos três países, inseridos em espaços regionais to-talmente diferentes, unidos pela língua, cultura e afetos, vantagens comparativas e um poten-cial de crescimento muito interessante. Num momento em que nos confrontamos com os desafios da globalização, o desenvolvimento de um quadro de diálogo com estas caracte-rísticas poderá ser uma mais-valia para os três países e uma força motriz para as respectivas economias.  

No próximo ano realizam-se eleições. Que co-mentário faz à consolidação da democracia e da estabilidade política em Angola?Creio que o país está a fazer o seu caminho en-quanto jovem democracia. E a democracia não se constrói num dia, em nenhum lugar. Para um país como Angola, que há cerca de 10 anos esta-va destruído pela guerra, existe inegavelmente um processo gradual de estabilização e fortale-cimento das suas instituições, em diálogo com os imperativos de reconstrução e desenvolvi-mento. Tal como sem democracia não há paz, tão-pouco haverá paz sem desenvolvimento. Neste contexto, as eleições de 2012 serão um momento decisivo para a consolidação da de-mocracia angolana.

nunca como hoje Portugal e Angolaforam tão próximos no plano político, institucional, económicoe empresarial

o papel crescente de Angola é, antes de tudo, consequência da sua pacificação, crescimento e afirmação regional

28 JANEIRO 2012

‘Em Angola, a política comanda tudo e para a perceber – para além de conhecer a história e cultura angolana – é útil e necessário um convívio constante com os seus decisores’

Simpático, cordato, discreto quanto baste e prudente, características que convém a um di-plomata, são atributos que servem a Francisco Ribeiro Telles, que deles fez um modo de vida. Ao fim de cinco anos ao serviço da diplomacia portuguesa em Angola, Ribeiro Telles pode or-gulhar-se de ter sido durante o seu mandato que as relações bilaterais asseguraram as condições necessárias para um entendimento fraterno e sem complexos entre os dois povos.

Nem tudo foi fácil e basta lembrar algumas ten-sões que surgiram há meses devido às dificul-dades colocadas pelas autoridades angolanas na atribuição de “vistos”, obstáculos comuns a diversos países parceiros de Angola. Não obs-tante alguns acidentes de percurso, o entendi-mento entre os dois povos é uma história feliz e na memória ficará o mandato de Ribeiro Telles.

Apesar de os contactos com as autoridades an-golanas fazerem parte do dia-a-dia do embai-xador, o diplomata prefere não particularizar qualquer momento: “foram inúmeros os acon-tecimentos marcantes nesta passagem de cinco anos por Angola”. Confessa que é difícil “desta-car algum em particular” e remata: “foi uma ex-periência muito rica do ponto de vista pessoal e profissional”. Não obstante, salienta que “em Angola a política comanda tudo e para a perce-ber – para além de conhecer a história e cultura angolana – é útil e necessário um convívio cons-tante com os seus decisores, sejam eles gover-nantes, deputados, empresários ou figuras da cultura”. Para além destes contactos de rotina, os dias discorrem sempre “iguais e diferentes” ao embaixador.

diPLOmACiA

“Charneira”entre a polítiCa

e a eConomia“Nenhum dia é típico” sublinha Ribeiro Telles. E justifica a sua posição com aspetos que mar-cam a atividade diplomática desde sempre: re-presentação, informação e negociação. Estas características não são vividas de forma igual e cinzenta: “devem naturalmente ser adaptadas em função dos tempos e novas exigências e são tão mais vastas e diversas quanto for a intensi-dade das relações dos povos e dos Estados em causa, como é o caso de Angola”, afirma Ribei-ro Telles.

A leitura da imprensa portuguesa e angolana é um momento diário “indispensável”. “Para se conhecer a realidade de ambos os países”, afirma. Outra obrigação, desta vez semanal, é a reunião com o pessoal diplomático e técnico da embaixada para “definir agendas e coordenar as respectivas ações”.

Outra vertente importante da atividade do em-baixador enquadra-se na chamada “diplomacia económica”. “É necessário também canalizar os ensinamentos do diálogo com as autoridades angolanas para o contacto permanente com os empresários portugueses”, refere. Trata-se de um “posicionamento de charneira”, como de-signa e que define como “o fulcro do trabalho económico de uma embaixada”.

Antecipar riscos e dificuldades, levar a cabo a prospeção de oportunidades para investimen-tos e exportações, fazer e facilitar o entendi-mento entre decisores angolanos e empresários portugueses são alguns dos objetivos desta for-ma de encarar a atividade diplomática. E como

se leva à prática esta diplomacia? “ Não é sentado a uma secretária que vamos saber o quê e quem move o mercado, quem é dono, quem decide, quem pode estar aberto a parcerias”, adverte Ri-

beiro Telles. “Todas estas informações tanto podem ser obtidas num jantar restrito na resi-dência, como num típico almoço à angolana ou, ainda, durante um passeio de barco”, sublinha.

Outra atividade diplomática em Angola é o con-tacto com outras embaixadas, “nomeadamente dos países que têm interesses estratégicos no país”. Nesta perspetiva, existem reuniões sema-nais dos meios diplomáticos e, ao nível das mis-sões dos países da União Europeia, os encontros são mensais. “Um elemento útil”, como classifica Francisco Ribeiro Telles, esta partilha de comen-tários e informações.

Atualmente, a Embaixada de Portugal em Ango-la é uma das que regista mais eventos no âmbito da diplomacia portuguesa e uma das mais requi-sitadas em Luanda.

‘não é sentado a uma secretária que se sabe o quê e quem move o mercado’

Francisco Moraes SarmentoEConoMiA & nEgÓCioS

JANEIRO 2012 29

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30 JANEIRO 2012

Patrícia Alves TavaresEConoMiA & nEgÓCioS

40 MilhõES PArA A inDúStriA

Em dezembro foram inauguradas seis fábricas na Zona Económica Especial (ZEE), que se juntam às oito existentes. A medida faz parte do plano de industrialização, em curso desde 2009. As novas unidades vão criar mais de 529 postos de traba-lho e resultam de um investimento de cerca de 40 milhões de dólares.

Estas empresas vão, numa primeira fase, col-matar o défice de emprego, já que os produtos criados na ZEE ainda não estão em circulação. A contratação está a cargo dos centros de for-mação e do Ministério da Administração Pública, Emprego e Segurança Social. Em curso, encon-tra-se o desenvolvimento dos pólos industriais de Futila (Cabinda), Soyo (Zaire), Catumbela (Ben-guela), Matala e Cassinga (Huíla) e no perímetro agro-industrial de Pungo a Dongo (Malanje).

As ZEE’s são apontadas como o modelo apro-priado do ponto de vista institucional, adminis-trativo e económico para determinadas regiões, com vista ao relançamento da economia real e do empresariado nacional. Espera-se assim que se crie um eixo regional de desenvolvimento sus-tentável. Os empresários encaram as zonas económicas com otimismo e apenas lamentam que os mol-des da ZEE Luanda/ Bengo não sejam aplica-dos noutras regiões, que detêm igual potencial

económico. José Severino, presidente da Asso-ciação dos Industriais de Angola, disse recente-mente que era pertinente seguir este modelo no Dondo ou Lucala, pois são “zonas estratégicas” para combater as assimetrias regionais e gene-ralizar o acesso a infraestruturas básicas como a energia e a água.

O representante dos industriais defende a imple-mentação de uma ZEE nas duas localidades do Kwanza Norte devido à sua proximidade às maio-res barragens hidroelétricas do país (Cambambe e Kapanda) e de províncias fulcrais como Malanje, Uíge, Bié, Moxico ou Kwanza Sul. José Severino acha que assim seria possível inverter o cenário que hoje se verifica, em que as mercadorias in-dustrializadas são movimentadas dos centros ur-banos para o interior. Aliás, uma ‘ZEE no Lucala facilitaria o escoamento dos produtos da região para as fábricas’.

O presidente da Associação Agropecuária Co-mercial e Industrial da Huila, António Lemos, defende a criação de zonas económicas nas prin-cipais regiões comerciais, pelo que gostaria de ver o plano distribuído pelas “províncias de Ben-guela, Huíla e Huambo. Uma ZEE na Huíla pode-ria apostar na agropecuária. Citaria a Jamba e a Matala, que teriam as condições para receber um número de fábricas razoável”, acrescenta.

A única zona económica criada até ao momento abrange os municípios de Viana, Cacuaco, Icolo e Bengo, Dande, Ambriz e Namboangongo. Tem uma área total de oito mil hectares e é composta por dois pólos – um industrial e outro comercial -, um centro de tecnologia e outro de convenções. Até ao final de 2011, empregava 2540 pessoas.

73 fábricas numa só regiãoEste projeto foi desenhado para um horizonte temporal que se estende até 2025 e impõe que no período 2009-2013 sejam dinamizadas ativi-dades cruciais para relançar a indústria e atingir a meta de redução do valor das importações e da excessiva dependência de produtos externos. As Zonas Económicas Exclusivas são a face mais visível deste modelo, que definiu uma taxa de crescimento da indústria transformadora em 57,3% (em 2011) e que deverá ser impulsionada até 2013. O plano indica a recuperação das estru-turas produtivas e a criação de novas áreas onde o país tem vantagens competitivas. A ZEE Luanda/ Bengo, por exemplo, está preparada para receber 73 fábricas. Com a abertura de mais seis unidades, o espaço passa a integrar 14 empresas. Os dados do ministério da Indústria apontam para que em cinco anos seja possível acabar com a importação de cimento (um dos sectores mais promissores).

“a ecoNomia NacioNal aiNda está em fase de estruturação, mas Não há ecoNomia de mercado sem empresários e proprietários privados e deseJamos que seJam os empresários privados aNgolaNos, graNdes, médios e pequeNos, que comecem a coNtrolar desde Já a Nossa ecoNomia produtiva e de prestação de serviços, à medida que o estado for reduziNdo aí a sua preseNça.” JOSé EDUARDO DOS SAnTOS, ESTADO DA nAçãO 2011

JANEIRO 2012 31

sonangol adquire equipamentosA Sonangol Investimentos Industriais, subsidiá-ria da estatal de petróleos Sonangol EP, é res-ponsável pela aquisição dos equipamentos para montagem e funcionamento das indústrias. Bra-vo da Rosa, presidente do conselho executivo, referiu recentemente que a ZEE dará prioridade aos empresários que consigam implementar al-tos níveis de produção e criar postos de trabalho, recorrendo ao valor acrescentado das matérias-primas nacionais.

O objetivo da Sonangol passa por encontrar in-vestidores interessados em instalar-se nas fá-bricas e dar início à produção das componentes em que são especialistas. A empresa quer esta-belecer parcerias com empresários nacionais e estrangeiros que dominem a indústria da cons-trução, tintas, fibra ótica, entre outros. O em-presariado nacional tem prioridade, desde que tenha capacidade empreendedora e de gestão

comprovada, não tenha dívidas ao Estado, à se-gurança social ou moras no sistema financeiro. O programa implica que os privados participem na gestão das unidades já lançadas.

pólos industriais relançam economiaO projeto contempla a criação de pólos de de-senvolvimento industrial (PDI), zonas equipadas com infraestruturas básicas industriais: água, energia, telecomunicações, acessos rodoviários e/ou ferroviários, etc. Há que acrescentar que as empresas que aderem aos PDI usufruem de van-tagens, como vários benefícios fiscais, subven-ções a fundo perdido e preço bonificado do solo industrial. As indústrias ficam localizadas em áre-as geográficas equipadas com as estruturas ade-quadas ao seu bom funcionamento, promovendo parâmetros como a produtividade e competitivi-dade industrial, a gestão integrada dos recursos e a criação de sinergias. Por outro lado, saem bene-

ficiadas atividades que desempenham o papel de fornecedor da indústria, tais como a construção civil ou as empresas financeiras.

No âmbito do processo de reindustrialização, as PDI têm em conta a instalação de indústrias prio-ritárias associadas à agricultura, transformação de madeira, petroquímica e siderúrgicas, res-pondendo às necessidades de construção civil. Recorde-se que o Governo se comprometeu a construir um milhão de casas até ao final deste ano. Na primeira fase, está prevista a criação de PDIs junto ao litoral, nas províncias de Benguela, Cabinda, Luanda e Lubango. Angola dispõe ac-tualmente dos pólos industriais de Viana, Luanda (o mais antigo e que concentra à volta de 75% da capacidade industrial do país), e o de Catumbela, Benguela (entre 2010 e Abril de 2011 ganhou 19 novas fábricas, entre elas a TV Cabo).

governo financiaJoaquim David, ministro da Indústria, lembrou numa entrevista à RNA que o programa de in-dustrialização tem “ações em todas as províncias, que se encontram em fase de implementação”, considerando que este é o caminho para a in-tegração económica. Já o secretário de Esta-do da Indústria, Kiala Gabriel, acrescentou num seminário da especialidade que o programa em curso tem as parcerias público-privadas como aliadas para o seu desenvolvimento estratégico. Na conferência do Investimento Parcerias de In-fra-estruturas para o Desenvolvimento Africano, o responsável realçou que o Executivo preten-de criar um Pólo de Desenvolvimento Industrial em todas as províncias, contando para isso com a “participação do setor privado”.

Atualmente, estão identificados 11 pontos para a implementação dos pólos. Segundo o secretário de Estado, as referidas áreas têm a proteção do Governo para realizar o investimento e apontou o caso do Pólo de Desenvolvimento Industrial de Viana, que conta com uma ZEE. A indústria transformadora é uma prioridade. De acordo com o Programa do Setor da Indús-tria Transformadora para o período 2009-2013, o ministério vai investir mais de oito mil milhões de dólares que visam relançar diferentes áreas que compõem o “tecido” produtivo nacional. O investimento estatal tem como objetivo a criação de emprego e rendimento, o apoio à substituição das importações e o fomento das exportações. Nesse sentido, disponibiliza uma série de incenti-vos (como isenções fiscais e aduaneiras) e meca-nismos de apoio às atividades emergentes, bem como os pólos industriais e a ZEE.

o Executivo aspira a que o país seja reconhecido como a primeira opção na instalação de unidades de negócio até 2015

32 JANEIRO 2012

Patrícia Alves TavaresMArCAS iD

Produção “hollywoodesca”

parte do marketing que se vê. Contudo, a comunicação é a parte do marketing que é deliberadamente mostrada ao consumidor, seja através de um outdoor ou de um spot televisivo. Nesta edição, conheça parte da-quilo que lhe é escondido propositadamente.

Nos bastidoresA Angola’in foi para lá do que a audiência vê. Fomos ver o que está por detrás de uma cam-panha, quem são os rostos escondidos pelas câ-maras e tudo o que se passa depois do “corta”, numa apresentação exclusiva do making-of da campanha. Ciente dos desafios específicos de cada marca e conhecedora da importância do seu posiciona-mento junto de cada mercado, indo de encontro às suas especificidades, a Martini desenvolveu uma campanha para Angola com o claim “A be-bida mais bonita do mundo”.

Transmitir os valores subjacentes a um produ-to carece não só de sorte, mas de uma grande estrutura, que alia ingredientes como trabalho, investimento e muita criatividade.

“Luzes, Câmaras, Ação!”Um jovem tenta a sua sorte num casino. De bebida na mão e com apenas uma ficha mostra ao rival de jogo que a sorte não é uma inspiração momentânea e efémera. É uma atitude! Este é o ponto de partida para o primeiro spot da Martini, especificamente criado para o target angolano, numa produção que teve como palco um dos casinos mais sofisticados de Portugal, o de Tróia. O ator e modelo Fredy Costa volta a ser o eleito, dissipando qualquer dúvida de que é o “Martini Man” angolano.

Trinta segundos de película é o resultado de 14 horas de filmagens, que envolveram 72 pessoas, desde técnicos e assistentes a figu-rantes. “Lucky is na atittude” é o slogan da campanha publicitária.Costuma-se dizer que a comunicação é a

À LUPA

14 hORAs dE fiLmAGENs

72 PEssOAs ENvOLvidAs NA PROdUçãO dO sPOT

30 sEGUNdOs é A dURAçãO dO vidEOCLiP

A meta: posicionar a marca como a bebida eleita para as celebrações angolanas. O meio: Fredy Costa, que volta a ser escolhido para protago-nista em função da sua notoriedade no merca-do de destino e do potencial de “desejo” que transmite e provoca. Por outro lado, é a forma natural de dar continuidade à narrativa da pri-meira publicidade.

Na mais recente campanha, a Martini pegou no conceito umbrella de comunicação “Luck is na atittude”, que está a ser trabalhado internacio-nalmente em múltiplos interfaces, para lançar um filme concebido especificamente para An-gola. A marca espera reforçar os seus valores e assegurar uma linha de continuidade com a publicidade desenvolvida anteriormente e que obteve elevada notoriedade.

Glamour e iNtriGa Após o êxito da publicidade de 2010 que apre-sentou o produto Martini como “A bebida mais bonita do mundo”, a empresa associou-se no-vamente à Shift Thinkers para produzir o pri-meiro spot Martini para o mercado angolano. A produção ficou a cargo da empresa portuguesa Miss Dolores.Procurando estabelecer uma simbiose entre os universos da marca e o ambiente cosmo-polita da cidade mais cara do mundo, o filme tem como tónico a aposta no preto e branco.

Criado o ambiente glamouroso e sofisticado, a escolha recai numa pequena intriga reple-ta de humor, sorte, azar e a bebida da marca sempre em grande destaque. O casino e o nú-mero 13 são a escolha natural para a dicotomia sorte/azar.

a timidez do GalÃA azáfama é grande. O ‘storyboard’ está nas mãos de toda a produção e a gravação de cada cena exige máxima concentração. O corrupio das maquilhadoras é constante, a mesa de jogo é montada criteriosamente, cada dança e ges-to são ensaiados afincadamente e os melhores planos são estudados milimetricamente.Não é fácil contar uma história em 30 segundos. Em televisão, meio minuto de um spot de publi-cidade é sinónimo de várias horas de filmagem. A Angola’in falou com o protagonista da trama e com os criativos do filme.

Habituado a vestir a pele de “Martini Man”, Fre-dy Costa explica que na vida real é uma “pessoa bastante simples e humilde, um pouco reserva-do, amigo dos amigos e batalhador”. E não é apenas no spot que o 13 é um elemento de sorte. O ator revela que a sua relação com o número é “muito boa”. “A minha mulher é do dia 13 de Junho e o meu filho mais velho é do dia 13 de Maio. Não tenho como não ter uma boa relação com o número”, enfatiza.

Para Miguel Reis, diretor criativo e de arte, o maior desafio que teve foi o tempo. “Montar um

projeto destes, com um tempo de filmagem lou-co de apenas 14 horas sem deixar escapar nada, foi um exercício enorme às nossas capacidades e níveis de exigência”, disse. Já para o representante da empresa em Angola, o que recorda melhor é a experiência de encer-rar a sala de jogo de Tróia. “Fechamos o casino e filmamos non-stop durante toda a noite. O can-saço era imenso e foi giro ver algumas pessoas a lutarem contra o sono”, recordou Márcio Fer-reira, da Bacardi Martini Brand Builder Angola.

Sem divulgar valores da campanha, o responsá-vel adiantou que a marca cresce cerca de 40% em vol./ano e é líder no seu segmento em An-gola. Daí a escolha de “uma comunicação Taylor made”. “A nossa estratégia passa por adotar o conceito Martini Man ao mercado e daí criar um embaixador da marca”, finalizou.O spot é exibido nos canais de televisão TPA 1 e 2. Paralelamente, a campanha é divulgada na imprensa e em suportes de publicidade exterior.

Ficha técnicaanunciante › Bacardi Martini nome anúncio › A sorte é uma Atitudeagência › Shift Thinkers Direção criativa › Miguel ReisDireção De arte › Miguel Reis Direção estratégica › Sandra Pomboargumento › Daniela Valdez copywriter › Daniela Valdez Direção De projeto › Cristina Gonçalves

Produção “hollywoodesca”

Gestão Projeto › Margarida LacerdaProdutora › Miss Dolores Produtor executivo › Carlos Amaralrealizador › Victor Castro diretor de FotoGraFia › Manuel Muñoz sonoPlastia › Victor Castro Pós-Produção › Bikini

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2011 ficou marcado na história mundial como o ano da queda de ditaduras. A morte de Khadafi, dirigente líbio, faz o último capítulo da liberta-ção da população do regime ditatorial, num livro que está em aberto. O espírito da revolta popu-lar tem acendido o rastilho em países africanos.

Inspirados nos ecos da “primavera árabe”, que mudou regimes que pareciam inabaláveis, e nos ideais de Agostinho Neto, a juventude es-tá determinada e deseja ter uma voz ativa nas decisões políticas. O gosto pelo associativismo ganha adeptos, que adquirem nestes movimen-tos a consciência dos problemas sociais e desen-volvem espírito cívico. É esta, aliás, a opinião de Adalberto Cawaia, da Juventude Ecológica An-golana, que considera o associativismo indisso-ciável do crescimento da nação.

“A primeira razão tem a ver com a conjugação de esforços que se quer para a construção de uma sociedade democrática e de direito. Para contri-buir para este esforço todos são chamados e os jovens aprendem a democracia nas associações. Elas funcionam como laboratórios de ensaio pa-ra a pluralidade de opiniões, o trabalho comum, a organização, o respeito, a liberdade e a res-ponsabilidade. São a porta para a participação nos processos políticos e sociais através das ati-vidades cívicas”, diz, em entrevista à Angola’in.

Cristiano Vivaldino dos Santos, do Conselho Provincial da Juventude no Cunene, referiu re-centemente que o associativismo constitui uma “ferramenta que consolida os conhecimentos académicos, científicos e técnicoprofissionais. Tal permite sair da delinquência, das drogas, da prostituição, do consumo excessivo de álcool e do analfabetismo. Incentiva uma convivência sã com vista ao resgate dos valores morais, cívicos e patrióticos”.

Adalberto Cawaia aponta outra mais-valia destes movimentos: “criam oportunidades para um treino profissional através das várias funções que vão exercendo nesses grupos. Embora sejam voluntários, a dinâmica das as-sociações exige uma profissionalização cada vez maior para se poder ultrapassar os desa-fios”. Os adultos de amanhã defendem tal co-mo Agostinho Neto a melhoria das condições sociais da população. Sem medo de falar e de expressar a opinião, organizam manifestações e apelam à mudança de liderança. “32 anos é muito”, lê-se nas T-shirts dos grupos que cres-cem a cada encontro.

a novageração de

AgostinhoNetoSão apartidários, não estão centralizados, não têm um líder ou sequer uma designação. Apenas se sabe que são jovens atentos à política, à sociedade e ao mundo que os rodeia. Ninguém sabe contabilizar o número de vozes que discordam do regime de José Eduardo dos Santos, o líder africano que soma mais anos no poder. A nova geração sabe que não vai mudar o mundo, mas acredita que pode mudar o seu país.

Patrícia Alves TavaresSoCiEDADE

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Com o aproximar das eleições presidenciais, marcadas para o terceiro trimestre deste ano, os protestos podem intensificar-se. Aquilo que começou em março do ano passado com um pequeno movimento de 17 manifestantes deu origem a um protesto anti-regime que é organi-zado uma vez por mês. As novas tecnologias são aliadas dos jovens, que se organizam informal-mente através de emails, apelos na rede social Facebook e distribuindo folhetos.

Não é possível quantificar quantos são: há quem fale em poucas centenas, outros dizem um mi-lhar. Certo é que a inquietação dos governantes é visível. O Presidente da República acabou por se dirigir aos jovens no discurso do Estado da Nação 2011, considerando que “a juventude nunca agiu à margem do povo, é do povo e trabalhou sempre para o povo”. “Há hoje algumas incompreensões e mesmo equívocos que é preciso esclarecer”, alegou, em alusão às manifestações populares. “O setor competente do Executivo deve aprimo-rar as vias do diálogo social e ouvir, auscultar e discutir mais para que os assuntos sejam tratados em momentos e lugares certos e sejam encon-tradas e aplicadas soluções consensuais”, disse. O Chefe de Estado aproveitou o momento para lembrar que, em 2008, o processo eleitoral foi “aberto, transparente e livre”, frisando que o re-gime se baseia “na vontade popular”.

Já VãO SEIS!Liberdade de expressão, água, pão, casa para todos e o fim da corrupção. São os valores que movem os manifestantes. A “primavera árabe” desencadeou a esperança e a “coragem”. “Esta-mos a viver numa pobreza extrema. Não conse-guimos chamar democracia a Angola. Sentimos esses ventos dos que conseguiram e isso pode dar-nos um impulso”, explicou Castro, estudante, a um jornal português. Também Jon Schubert, um suíço que cresceu em Angola, sente que há algo a mudar, pois as pesso-as falam “com mais abertura” e há cartazes com “abaixo José Eduardo dos Santos”, algo impensá-vel há um ano. No ano passado, os manifestantes saíram às ruas por seis vezes. O presidente da Aliança Global para a Melhoria da Alimentação, o sul-africano Jay Naidoo, acredita mesmo que um “verão africano” poderá eclodir a qualquer momento, inspirado na “primave-

ra árabe”. Jay Naidoo afirmou no Brasil que os africanos estão “cansados” da corrupção e das condições em que vivem e que os líderes do con-tinente serão responsabilizados “cedo ou tarde”. O dirigente referiu que os impostos sonegados por empresas na África “superam toda a ajuda” que chega ao continente. As perdas chegam a 160 mil milhões de dólares anuais.

MAIOr COESãOA união e a participação social existem há muito tempo. No ano passado, o diretor da Juventude e Desportos no Bié, Carlos da Silva Ulombe, de-fendia a aproximação dos mais novos ao asso-ciativismo como forma de “contribuírem para o engrandecimento sociocultural” das províncias e consolidação da paz.

O Ministério da Juventude e dos Desportos tem tido um importante papel na dinamização e no apoio às atividades desenvolvidas. O Conselho Nacional de Juventude (CNJ) é a principal plata-forma das organizações. Criado no início da dé-cada de 90, alberga atualmente 35 associações dos mais diversos âmbitos e 18 conselhos pro-vinciais. Implementado com o objetivo de formar uma juventude alerta e prudente na defesa da unidade da nação, o CNJ destina-se a incentivar o espírito de concertação dos ideais da juventude.

Um “verão africano” poderá eclodir a qualquer momento, inspirado na “primavera árabe”’

‘Os jovens aprendem a democracia nas associações. Elas funcionam como laboratórios de ensaio para a pluralidade de opiniões”

O rastilhO da “primavera árabe”A expressão refere-se ao movimento pela democratização iniciado em 2011, no nor-te da África e que conduziu à queda dos regimes líbio, egípcio e tunisino. Ben Ali, há 23 anos no poder, viu-se obrigado a re-tirar, bem como Mubarak (há 30 anos no poder) e Khadafi, que foi morto após a fu-ga para Sirte.

A auto-imolação de Mohamed Bouazizi, a 18 de dezembro de 2010, na Tunísia, como sinal de protesto contra a corrupção po-licial, desencadeou a revolta. No Iémen, o Chefe de Estado Abdullah Saleh anun-ciou que não se recandidataria em 2013 (colocando um ponto final no mandato de 35 anos), o presidente do Sudão Omar al-Bashir garantiu que não concorre ao sufrá-gio de 2015 e o iraquiano Nouri al-Maliki afasta-se do cargo em 2014. José Eduardo dos Santos é o atualmente o Chefe de Esta-do há mais anos no poder em África.

institutO da Juventude ainda este anOO Conselho Nacional de Juventude há muito que defende a criação do Instituto Angolano da Juventude. Gonçalves Muan-dumba, ministro da Juventude e Despor-tos, anunciou que a formalização está para breve. O instituto será um organismo téc-nico, destinado a incentivar o associativis-mo. A aprovação da Lei da Juventude, para o cumprimento dos Direitos e Deveres previstos na Constituição, deverá aconte-cer este ano.

ativistas participativOsSegundo o Inquérito sobre o Bem-Estar da População, desenvolvido pelo Instituto Nacional de Estatística, a idade média da população é de 15 anos. Com um índice de envelhecimento de 0,05, assiste-se ao iní-cio de uma nova era de cidadãos. A emer-gência de uma classe média e o aumento da taxa de alfabetização têm sido decisi-vos na formação dos jovens. Hoje são mais participativos, dominam as novas tecno-logias, envolvem-se em associações, es-tudam fora do país e têm uma visão mais abrangente do mundo.

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ANGOLANOSDE OUrOSão jovens adultos ou adolescentes, mas decidiram ter uma palavra a dizer na construção da sua nação. Espalhados pelas múltiplas associações, os jovens mostram-se crescentemente interessados em participar em actividades extra-curriculares. Deixaram a vida de estudante a tempo inteiro para repartir parte do seu tempo em atividades em prol dos outros. Seja nos movimentos estudantis, religiosos, desportivos, ambientais, políticos ou económicos, o voluntariado ganha adeptos. Nesta edição, a Angola’in apresenta um caso de sucesso e convida os leitores a entrarem no universo dos ambientalistas de palmo e meio.

“Somos uma grande família”Foi fundada há precisamente duas décadas, em Luanda, com o intuito de sensibilizar a juventude para as causas ambientais. A Juventude Ecoló-gica Angolana entra na vida adulta e conta com mais de 2500 voluntários. A JEA conta no currí-culo com a distinção do PNUD com o Global 500 das Nações Unidas. Adalberto Cawaia dá a cara por esta organização não governamental e conta à Angola’in como se mantém vivo o associativis-mo, num país que ainda tem muito para evoluir nesta matéria.

Como analisa o atual panorama do associativismo?Ainda é fraco. Embora existam muitas asso-ciações juvenis, as mais expressivas são as das organizações político-partidárias e as religio-sas. Ambas têm agendas bem definidas, cuja atividade cívica propriamente dita é secundá-ria à sua ação. As restantes carecem ainda de reforço institucional, quer em termos objetivos em matéria de recursos financeiros e materiais para desenvolverem as suas atividades, quer a nível da gestão das próprias organizações, do planeamento e regularização na sua democracia interna. Quanto ao reforço subjetivo refere-se a qualidade dos seus ‘profissionais’ que precisam

de ter as ferramentas do know-how em termos de saber como as organizações devem funcionar e conhecerem de forma profunda as matérias so-bre as quais atuam. que atividades costumam organizar?A JEA é uma organização juvenil ambiental, cujo objetivo principal é a educação e a sensi-bilização ambiental. Através dos meios formais e informais de educação, promove palestras, seminários, workshops, encontros ao ar livre, programas de rádio e tv, conferências, partici-pa na elaboração de legislação, produz material bibliográfico, organiza tertúlias e concursos de conhecimentos. Desenvolvemos projetos liga-dos à conservação e preservação do ambiente, bem como participamos em cimeiras e outros eventos internacionais. quantos jovens fazem parte da associação?Estão em todo o país, mas com maior incidência nas províncias de Cabinda, Benguela, Kwanza-Sul, Huíla, Namibe, Huambo, Kuando-Kubango, Malange, Luanda e Lunda-Sul. Os dados que te-mos precisam de atualização, pois são de 2005. Devemos ter à volta de 2500 membros.

qual a média de idades dos jovens voluntários?Oscila entre os 14 e os 35 anos.

qual o perfil?São na maioria estudantes com interesse em de-senvolvimento sustentável. Isto abrange não só os jovens das áreas de ciências da natureza como também aqueles que estão em áreas económi-cas, sociais e técnicas. A maior parte frequenta o ensino médio e universitário. Porém, também trabalhamos com crianças e adolescentes, bem como profissionais e adultos que se interessam pela preservação e conservação ambiental. A juventude mostra-se interessada em aderir à JEA?Muito. Parece que a JEA é simpática e somos constantemente abordados por muitas pessoas interessadas em participar nas nossas atividades e em tornar-se membros. Constitui-se uma gran-de família com laços que se estendem para a vida. Como é vosso dia-a-dia?Nos últimos meses, estamos empenhados em definir uma agenda para a nossa Assembleia Geral, para renovação de mandatos, alteração de estatutos e novo plano estratégico para os próximos quatro anos.

Patrícia Alves TavaresSoCiEDADE

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descentralizarO pOder—A divisão político-administrativa das províncias começou em Julho do ano passado. A aplicação da medida representa o primeiro passo na descentralização do poder, que será implementada de forma gradual. O plano mais ambicioso está em curso em Luanda, que ficou reduzida a sete municípios, mas viu a sua dimensão territorial alargada. O objetivo é simples: poder aplicar investimentos em áreas que até então pertenciam ao vizinho Bengo. A Angola’in explica-lhe nesta edição o que muda com a nova distribuição e municípios e mostra-lhe a análise dos especialistas.

Foi há cerca de seis meses que a Assembleia Na-cional aprovou em definitivo a alteração à divisão político-administrativa das províncias de Luanda e Bengo. A organização das províncias está a ser estudada e discutida há quase dois anos, altura em que o ministro da Administração do Territó-rio, Bornito de Sousa, anunciou que estava para breve uma reformulação territorial da capital e a definição das fronteiras entre os municípios de Luanda e do Bengo. O responsável apontou co-mo maior benefício a melhor distribuição espa-cial e rapidez dos serviços, que passam a estar mais próximos do cidadão. A introdução de uma nova divisão com efeitos diretos na gestão político-administrativa tornou-

se premente pelo facto do Executivo considerar que era a melhor solução para resolver proble-mas, como o aumento do número de habitantes em Luanda, as dificuldades técnicas a nível ad-ministrativo, o valor do património público e das infraestruturas. Um ano depois a lei foi aprovada e, entre as múl-tiplas mudanças, a mais evidente respeita à re-dução do número de municípios nas regiões de Luanda e Bengo. Com o novo regime, Luanda passa a ter sete municípios (antigamente eram nove) e alarga a sua fronteira a parte da província do Bengo, absorvendo Icolo Bengo e Kissama. Em causa está a execução do plano de orde-namento do território, do planeamento da orla

marítima e do desenvolvimento do perímetro Luanda/ Bengo.

balançO prOvisóriOAinda é cedo para tirar ilações e fazer um ba-lanço dos resultados da nova divisão político-administrativa de Luanda e do Bengo. Contudo, este é o primeiro sinal da descentralização do poder e são vários os especialistas que arriscam avaliar o desempenho do plano que está a ser implementado. A Angola’in ouviu Fernando Pacheco, coordena-dor do Observatório Económico e Social (OPSA) e defensor da descentralização. O responsável

Patrícia Alves TavaresSoCiEDADE

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acredita que “uma mudança de divisão adminis-trativa pontual, em que alguns municípios são extintos e outros passam de uma província para outra, pode não mudar nada”. No seu entender, o mais urgente e que traria os resultados pretendi-dos seria a aposta na mudança das “lógicas e dos métodos e no reforço das capacidades locais”. “Sou a favor da descentralização”, frisa, reconhe-cendo que “deve ser feita de forma gradual”, tal como tem acontecido. Nesse aspeto, Fernando Pacheco elogia a atitude do Governo, mas alerta que “são necessários métodos diferentes e uma distribuição diferente dos recursos”.No rescaldo da reorganização da província mais populosa do país, o jurista Carlos Teixeira reco-nhece que a fórmula aplicada é a melhor para o desenvolvimento e assegura uma maior demo-cratização e democraticidade às decisões que são proferidas pelas autoridades do poder local. Em entrevista à agência noticiosa Angop, reco-nhece que o processo é o que “melhor satisfaz as comunidades”, embora esse fator não seja ga-rantia de sucesso. A forma como será aplicado é, na sua opinião, de-cisivo. Há um conjunto de valências que têm que ser criadas para acompanhar a implementação das políticas de descentralização. Desde logo, alerta, há que formar os agentes locais, que terão que estar aptos e cientes das suas novas atribui-ções. Caso não exista uma preparação adequada para as novas funções, poderá aumentar a dis-paridade ao nível do desenvolvimento entre as várias localidades. O jurista acredita que, com a recente aprova-ção de certos instrumentos jurídicos, as entida-des estão a ser gradualmente preparadas para o momento da descentralização. Este será o passo natural da atual desconcentração administrativa. Nessa altura, o responsável refere que as entida-des locais vão ter a seu cargo algumas respon-sabilidades que atualmente estão circunscritas ao poder central.

OrçamentOs abaixO

Carlos Teixeira mostrou-se preocupado com os resultados do processo. Os municípios reformu-lados podem não registar os níveis de desenvol-vimento desejáveis. Em declarações à Angop, disse que para arrecadar receitas para execu-tar os programas locais é fundamental recorrer a verbas que as comunidades sejam capazes de gerar, estando excluída a possibilidade de recor-rer ao Orçamento Geral do Estado (OGE). Na sua opinião, para criar riqueza o poder local terá que

ter atividade económica e impostos que alimen-tem o OGE e os orçamentos dos municípios.Fernando Pacheco põe o dedo na ferida e mostra preocupação semelhante. “É bom que os muni-cípios tenham sido transformados em unidades orçamentais, mas não posso concordar com uma distribuição de verbas que não tenha em conta pelo menos três aspectos: a quantidade da popu-lação, as necessidades concretas ou dificuldades e as distâncias”, refere, em entrevista à Angola’in. E exemplifica, dizendo que “entregar a um mu-nicípio do Moxico o mesmo valor que ao muni-cípio de Cambambe (Dondo) não faz qualquer sentido”. A única diferença está na verba atribuída, já que a maioria dos municípios receberá 214 milhões de Kwanzas e os restantes (na maioria, as sedes de

província) terão direito a 277 milhões. Enquan-to coordenador do OPSA, alerta para o facto do plano não considerar a “capacidade de execução, que é muito diferente, nem os meios de execu-ção, pois a gestão exige o acesso à Internet”, fer-ramenta à qual poucos municípios têm acesso.

nOvas fusõesA integração dos municípios do Icolo e Bengo e da Kissama na capital representa um grande passo para viabilizar o enquadramento e a coor-

denação de novos projetos de desenvolvimento urbano, nomeadamente a criação de uma ma-lha de infraestruturas entre Luanda e Bengo. O Governo pretende assegurar a eficiência da or-ganização e do funcionamento das instituições e serviços que estão instalados nestas regiões.No caso de Icolo e Bengo, procedeu-se inclusive à colocação de marcos no terreno para delimitar a província do Bengo daquela área e foi propos-to ao ministério da Administração do Território a entrega das infraestruturas administrativas do projeto da Quiminha, pois as áreas agricultáveis estão localizadas no território do Bengo.

benguela e huílaEm agosto, foi a vez das provinciais de Ben-guela e Huíla. A lei de alteração da estrutura da divisão político-administrativa aprovada pe-lo Parlamento prevê a elevação das comunas de Catumbela (Benguela) e de Cacula (Huíla) a municípios e a definição dos limites territoriais intra-municipais correspondentes. Assim, os municípios de Catumbela e Cacula ficam sedea-dos nas vilas que dão o nome às atuais comunas.“As razões de elevação das comunas da Catum-bela, na província de Benguela e da Cacula, na província da Huíla têm a ver, sobretudo, com a necessidade de levar para junto dos cidadãos a prestação dos serviços. Devemos ter em con-ta que, por exemplo, a Cacula é uma comuna atualmente do município do Lubango a mais de 100 quilómetros da cidade do Lubango. Na prá-tica, é difícil gerir a partir da cidade do Lubango uma comuna tão distante”, explicou o ministro da Administração do Território, Bornito de Sou-sa, durante a votação da proposta de lei. “Em relação à Catumbela tem a ver, fundamen-talmente, com o seu nível de desenvolvimento. É uma localidade que se vai situar entre a cida-de do Lobito e a cidade de Benguela, tem um conjunto de infraestruturas, equipamentos pú-blicos e sociais de grande relevo. Por proposta e consultadas as entidades representativas das populações dessas duas localidades, achou-se correto propor a elevação de ambas a municí-pio”, disse.A proposta foi iniciativa do Presidente da Re-pública, José Eduardo dos Santos, e tem co-mo objetivo a adequação das bases de gestão administrativa dos órgãos locais aos desafios do crescimento socioeconómico, populacional e infraestrutural das províncias em causa. Efi-ciência e maior rapidez no funcionamento dos serviços públicos são os benefícios que o Go-verno espera alcançar a curto prazo.

a ‘nOva’ luandaA capital do país passa a ser composta pelos seguintes municípios: Luanda, Cazenga, Cacuaco, icolo Bengo, viana, Belas e Kissama. O Bengo passa a integrar os municípios de Ambriz, dande, Bula-Atumba, dembos, Nambuangongo e Pango-Aluquém.

40 JANEIRO 2012

“Canto para tocar a alma das pessoas”—A menina que dançava e cantava no grupo do Colégio Concórdia, na Namíbia, cresceu e deu lugar a uma artista completa, que em 2010 foi eleita Diva de Ano. Jandira Sassingui, mais conhecida por Pérola, editou o primeiro álbum em 2004, mas tem um longo currículo. De revelação a intérprete da música que abriu o CAN Orange Angola 2010, a cantora recordou à Angola’in o seu percurso e falou abertamente dos novos desafios. Com um terceiro CD para breve, Pérola alerta para a necessidade de uma maior aposta na formação musical dos jovens e para uma cidadania mais participativa.—

paixãO de vidaQuando é que descobriu a sua veia ar-tística? de que forma sente que o dom para a música veio transformar radi-calmente o seu destino enquanto mu-lher e, particularmente, angolana?É algo que senti muito cedo. Comecei a cantar quando era bastante pequena, quando tinha cerca de sete anos de idade. Mas a minha mãe afirma que despertei para a música muito antes. Ela conta que tinha apenas dois aninhos e já cantava quando queria que me dessem alguma coisa. A música é algo que faço de coração, é uma grande paixão de vida. Logicamen-te que no momento em que me transfor-mei numa cantora profissional passei a ter

responsabilidades acrescidas, pois a músi-ca é uma arte que tem um forte poder de influência social. Certifico-me de que a minha música seja uma fonte de inspira-ção positiva, espelhando sempre valores positivos para as mulheres e para a socie-dade em geral.

como a classifica? É atualmente muito diferente da que fazia no início da sua carreira? Quais os fatores que mais marcaram esta evolução?Tenho um estilo bastante amplo. Gosto de explorar vários géneros e canto de tu-do um pouco. Acredito que isto está rela-cionado com a minha trajetória, desde a cidade do Huambo, onde nasci, até à mu-

dança para Luanda. Vivi ainda durante muito tempo entre a Namíbia e a África do Sul e fui absorvendo a musicalidade de todos estes lugares. Costumo dizer que não sou uma cantora que se circunscreve a um estilo só. Gosto de cantar tudo aquilo que me toque a alma.

O que é que mais a influencia em ter-mos musicais?Adoro espelhar a nossa sociedade nas minhas músicas. É uma tendência para a qual os meus produtores já estão sensibili-zados. A vida ao nosso redor e a realidade do quotidiano da nossa sociedade são sem margem para dúvidas a maior influência artística que eu tenho.

Marina CabraluM DiA CoM… PéROLA

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“a música é uma arte que tem um forte poder de influência social“

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Que género de música mais aprecia e onde vai ‘beber’ a sua fonte de inspiração?Considero-me uma artista versátil e muito aberta às diferentes vertentes musicais que existem. Se reparar nas faixas musicais que compõem a minha primeira obra discográ-fica, o “Meus Sentimentos”, irá encontrar várias e distintas tonalidades musicais. O mesmo acontece no álbum “Cara e Coroa”. Confesso que tenho uma apreciação particu-lar pelo estilo Soul Music, pois tem a capacida-de de deixar-me bastante relaxada. São bons exemplos disso as músicas cantadas pela nos-sa Sandra Cordeiro ou pela cantora brasileira Fátima Leão. Mas é impossível catalogar um estilo em particular que faça a minha prefe-rência. Sou muito universal no que concerne aos gostos musicais.

É hoje uma das embaixadoras da música angolana no mundo. agrada-lhe este títu-lo? O que representa para si?Fico feliz quando as pessoas se identificam com o meu trabalho. Afinal não canto só para mim própria, canto para tocar a alma das pes-soas que se identificam com as minhas letras. Se sou reconhecida como uma embaixadora da nossa cultura através da música, essa de-signação faz de mim uma mulher muito feliz.

Qual a sua maior aspiração neste momen-to em termos musicais? O que deseja fa-zer?Atualmente encontro-me numa fase de rees-truturação profissional, em que estou a fazer uma análise profunda do meu ser. Sinto que exijo mais de mim própria, da minha voz e de todos os mecanismos que compõem a canto-ra Pérola. De momento tenho que dizer que a minha maior fonte de inspiração é o meu “eu”. Estou a fazer uma análise profunda a tu-do aquilo que fiz no passado e a tentar melho-rar o meu desempenho ao serviço da música.

dOm para a músicapeço-lhe que faça uma viagem no tempo. Qual é a sua primeira memória a nível mu-sical? Que músicas e cantores influencia-ram o seu crescimento?É difícil recordar-me de algo concreto por-que a música sempre esteve presente, desde o início da minha existência. Lembro-me que quando era criança me deliciava com as mú-sicas de grandes vozes como a Celine Dion, Mariah Carey ou a Fátima Leão. Em relação às nossas artistas nacionais, naquela época ou-víamos cantoras infantis como a Clélia Sam-bo e a Nila Borja. Aliás, foi nessa altura que comecei a pensar seriamente na música e a so-nhar que um dia poderia ser eu a subir a um palco e a soltar a voz para o público.

Que papel tiveram os seus pais na cons-trução da sua carreira? Os meus pais tiveram um papel fundamental na construção da minha carreira. O meu pai era músico e a minha mãe cantava no coro da igreja. Pelo seu percurso foram uma for-te influência para mim. Foram eles que come-çaram a dizer-me que tinha um dom para a música e que sempre apoiaram a minha car-reira musical.

como explica esta paixão? no seu enten-der, para a música é preciso ter dom ou o resultado é sustentado por muito esforço e trabalho? Na verdade, considero que o dom sem esforço e sem trabalho não vale de nada. Existem pes-

“certifico-me de que a minha música espelhe valores positivos para as mulheres e para a sociedade em geral”

Marina CabraluM DiA CoM… PéROLA

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soas que realmente nascem com esse “dom”, que acaba por ser vantajoso. Porém, se não for acompanhado de esforço e dedicação, o dom acaba por não servir de nada. Temos que pe-gar na dádiva que Deus nos dá e cultivá-la. Há que trabalhá-la para que cresça e se transfor-me em algo lindo e útil à sociedade. Temos múltiplos exemplos no nosso seio de pessoas que nasceram com dom para a música ou pa-ra qualquer outra arte e que não fazem nada com ele. De igual modo, encontrámos várias pessoas que não nasceram com esta ou aque-la vantagem, mas que trabalham incansavel-mente para conquistar aquilo que desejam, tanto na música, como em outras áreas.

Onde costuma ouvir música? O que está a ouvir neste momento?Maioritariamente, ouço música no carro. Neste preciso momento estou a ouvir o dis-co de uma colega que se chama Irina. Ela é simplesmente uma cantora fenomenal e uma excelente pessoa. Gosto bastante do seu tra-balho.

Qual é o seu estado de espírito mais cria-tivo?Curiosamente, é durante o sono que tenho as melhores ideias. Por vezes sonho com certas letras e beats e, assim que acordo, corro à pro-cura de uma caneta para transcrever aquilo com que sonhei. Existem várias faixas musi-cais nos meus dois álbuns que, de uma maior ou menor forma, beneficiaram destas mi-nhas inspirações noturnas.

disciplina de músicaO que falta fazer para que não só angola, mas também o continente africano veja reconhecida a sua matriz cultural a nível internacional? É preciso trabalharmos muito no sentido de formarmos uma estrutura de marketing co-esa e obter novas influências a nível interna-cional. Acredito que, por exemplo, podíamos trabalhar de forma a proporcionar oportuni-dades para que se realizassem alguns duetos entre artistas angolanos e os grandes nomes

do music hall africano e mundial. Se calhar devíamos apostar igualmente na concretiza-ção de alguns trabalhos noutros estilos mais convencionais. Tudo para de algum modo conseguirmos “furar” um pouco a indústria musical a nível global.

no que respeita à formação, acredita que se estão a desenvolver boas bases para a criação de mais e melhores profissionais?Acho que ainda falta fazer muita coisa. Temos que ter mais escolas de música, que propor-cionem uma formação especializada para as crianças e jovens que queiram enveredar por esta veia artística. Gostaria muito de ter tido esta oportunidade durante a minha fase de crescimento. Sinto que a minha carreira te-ria beneficiado imenso se tivesse frequenta-do algo do género. Por outro lado, sou a favor de que as escolas convencionais deveriam ter uma disciplina de música, à semelhança do que acontece noutros países.

“Temos que ter mais escolas de música, que proporcionem uma formação especializada. Sou a favor de que as escolas convencionais deveriam ter uma disciplina de música”

a defesa dos direitos de autor é uma ques-tão que tem vindo frequentemente a ser debatida. na sua opinião, o que se pode fazer no imediato para proteger melhor os artistas?A União Nacional dos Artistas e Composi-tores (UNAC) tem trabalhado imenso no sentido de proteger o património artístico nacional. Como artista tenho acompanhado as ações daquela instituição e sinto-me con-tente com o nível de atenção que eles estão a dedicar a este problema. Infelizmente já es-tamos a constatar que circulam na internet muitos casos de plágios do trabalho dos mú-sicos angolanos. No meu entender, é um as-sunto grave que está a preocupar os artistas. Temos que proteger aquilo que é nosso e, nes-se âmbito, acho que a UNAC está no caminho certo no que concerne à proteção da nossa identidade musical e cultural.

“o dom sem esforço e sem trabalho não vale de nada. encontrámos pessoas que não nasceram com uma vantagem, mas que trabalham incansavelmente para conquistar o que desejam”

44 JANEIRO 2012

texto Marina Cabral | Fotografia ????uM DiA CoM… JAnDIRA SASSInGUI (PéROLA)

‘sinto que o futuro

do nosso país é

brilhante e promissor’

JANEIRO 2012 45

a responsabilidade social é, cada vez mais, um assunto que diz respeito a toda a sociedade. Quais as causas que defende? tem algum tipo de projeto que apoia?Sim, tento dar o meu contributo às causas so-ciais sempre que posso. Faço parte da campa-nha da luta contra o HIV Sida, nomeadamente na sensibilização do uso do preservativo nas relações sexuais. A campanha centra-se parti-cularmente no público feminino, apelando a um maior nível de atenção e responsabilida-de ética da mulher angolana. Um dos slogans da campanha é “Fazer amor sem camisinha, só se tu fores doida”. Precisamos de uma so-ciedade que esteja saudável e de bem com a vida. Outra campanha social da qual orgulho-samente fiz parte foi a luta contra a violência doméstica, que é outro problema social que tem que acabar.

terceirO álbum2012 vai ser um ano importante para an-gola, que terá uma projeção internacional ainda mais forte, sobretudo pelas elei-ções que se avizinham. Que mensagem gostaria de deixar aos seus compatriotas neste final de ano?Quero apelar para que todos os angolanos maiores de 18 anos exerçam o seu direito de voto, um direito pelo qual os nossos anteces-sores lutaram vigorosamente. 2012 será com certeza um ano particularmente especial pa-ra Angola e para os angolanos, um ano em que teremos a oportunidade de participar ativa-mente nas nossas escolhas futuras através do exercício do voto. Sinto que o futuro do nosso país é brilhante e promissor. É por isso que gostaria de apelar também aos estudantes an-golanos que estejam a fazer a sua formação no exterior para que tenham força e coragem para terminar os seus objetivos e que possam ter um papel ativo no futuro da nação.

raio-XJANDIrA SASSINGUI

Angola para si é….o país que me viu nascer e a minha grande fonte de inspiraçãoQual o seu lema de vida…nada acontece por acaso!Um sonho que deseja concretizar…Fazer um grande espetáculo para mais de 20 mil espectadoresUma paixão…a músicaUm hobby…o CinemaUm filme…o guarda-Costas (the Bodyguard)Um livro…a BíbliaUm músico…Celine dionUm desporto…voleibol Peça de roupa favorita…Calça JeansO que não dispensa na carteira…lip glossPerfume…Prada KendiJóia preferida…o meu anelPrato favorito…arroz de PatoUma bebida…ÁguaUm restaurante…golden (um restaurante Chines)Um destino de eleição…dubai

para si, como vai ser 2012? Quais os pla-nos que tem para este ano a nível profis-sional e pessoal?Acredito que o ano que se avizinha será muito positivo para mim. Para 2012 pretendo con-tinuar a fazer música e a surpreender-me a mim mesma, bem como àqueles que apre-ciam o meu trabalho. Estou muito ansiosa pelo lançamento do meu DVD, que está pre-visto para os primeiros meses de 2012. Posso igualmente acrescentar que já existem pla-nos concretos para a produção daquela que será a minha terceira obra discográfica. A ní-vel pessoal pretendo aproveitar bastante o meu casamento, sem qualquer tipo de pres-são. Muitas pessoas perguntam-nos quando é que pensamos aumentar a família. A minha resposta é sempre a mesma: o surgimento dos filhos é algo que terá que acontecer de forma natural. Estamos a desfrutar esta nova fase das nossas vidas e isto é o que importa.

46 JANEIRO 2012

—O mundo é feito de pessoas, de seres extraordinários que à sua dimensão deixam a sua marca na humanidade. O resgate dos valores humanos e tradições compõem as idiossincrasias de uma sociedade.

Nesta edição, o Homem é o foco da atenção. Ele congrega todos os sonhos, todas as ferramentas para mudar o mundo. A criatividade é imperiosa. As linhas são poucas para enumerar todos os ex-líbris da cultura nacional. São múltiplos os embaixadores da angolanidade, um sentimento único e inexplicável que faz parte da identidade do povo.

Ondjaki, Paulo Jazz e António Ole são símbolos dos valores africanos, exemplos de “senhores” da diáspora, que difundem e dinamizam o “ser angolano”. Três rostos, exemplos da alma de artista que ultrapassa fronteiras.

imagens com estória

patrícia alves tavares / Fotografia Jordi BurshFotorEPortAgEM

JANEIRO 2012 47

Ndalu de Almeida, pseudónimo de Ondjaki, nasceu em Luanda, mas cedo partiu para Portugal. Em Lisboa terminou a licenciatura em sociologia e partiu posteriormente para Nova Iorque para estudar. Prosador e poeta, Ondjaki escreveu e filmou com Kiluanje Liberdade o documentário “Oxalá cresçam pitangas – histórias da Luanda”.

Apaixonado pelo teatro e pela pintura, é na escrita que tem revelado o seu talento. Publicou o primeiro livro em 2000 e nunca mais parou.

As suas obras foram traduzidas para diversas línguas, nomeadamente inglês, francês, alemão, italiano, espanhol e até chinês.

Em 2007, recebeu o Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco, com o livro “Os da Minha Rua”. Um ano depois foi considerado o melhor escritor africano, na Etiópia. Atualmente mora no Rio de Janeiro, no Brasil, cidade que o galardoou com o Prémio Jabuti na categoria Juvenil. “A bicicleta que tinha bigodes” é o nome do seu mais recente trabalho, que foi lançado em 2011.

Ondjaki O sociólogo artista

48 JANEIRO 2012

Todos o conhecem como

artista plástico. António Ole,

descendente de uma família

portuguesa e angolana, captou

a atenção de todos quando tinha

apenas 19 anos. Foi no IV Salão

de Arte Moderna de Luanda,

em 1970, que a massa crítica

angolana ficou a conhecer as

suas qualidades como pintor

irreverente, ao expor um quadro

do Papa Paulo VI a tomar a pílula.

Enquanto artista plástico

criava esculturas inspiradas

nas pinturas dos murais dos

Tchokwe, a leste do país. Original

e moderno, Ole mostrou-se

apaixonado pelo recurso a

elementos tradicionais.

Realizou a sua primeira

exposição em 1967 e estreou-

se nos palcos internacionais

em 1984, no Museum of African

American Art, em Los Angeles.

Entretanto, já participou em

exposições, festivais e bienais,

como a Expo92, em Sevilha.

Eclético e multifacetado, Ole

estudou cultura afro-americana

e cinema na Universidade da

Califórnia (EUA) e realizou vários

documentários e programas na

TPA. Temas como a colonização,

os conflitos sociais ou a guerra

civil são os seus preferidos.

António Ole

Aclamado internacionalmente

JANEIRO 2012 49

A sua única formação é a aprendizagem

constante e o talento natural para ver a arte

nos objetos e situações mais simples.

Pode não ter frequentado as maiores escolas

artísticas, mas tal não impede que seja um dos

pintores mais acarinhados, cuja qualidade é

aclamada por qualquer especialista.

Nasceu em Luanda há 54 anos e tem

provas dadas no desenho e na pintura. A

arte contemporânea corre-lhe nas veias.

Apaixonado pelas potencialidades do

óleo, Paulo Jazz tem como trabalhos mais

emblemáticos “Ritmo e Dança” e “Terra,

Guerra, Corda, Povo”, uma obra de 1991,

que reúne várias técnicas.

O auto-didata

Paulo Jazz

50 JANEIRO 2012

Patrícia Alves TavaresArquitEturA & ConStruÇÃo

BAíA dE LUANdA iNAUGURAdA EsTE ANO —

revolução na marginal—Última fase da obra arranca em Janeiro. Previsões indicam que empreitada estará concluída em Agosto

“A criação de seis faixas de rodagem e infraestruturas de gestão e manutenção da rede rodoviária mobilizou investimento por parte do consórcio Mota-Engil/ Soares da Costa de 250 milhões de dólares”

São mais de 100 mil metros quadrados de zo-nas verdes e outros tantos de infraestruturas que vão facilitar o acesso aos principais eixos viários. A Baía de Luanda apresenta-se de ‘ca-ra lavada’ aos luandenses em agosto. A dias do arranque da terceira e última fase da requalifi-cação da envolvente da zona litoral da capital, a revista Angola’in falou com os responsáveis pela empreitada, a cargo dos consórcios Mota-Engil/ Soares da Costa e foi conhecer a empresa que es-tá a criar o mobiliário que vai equipar os espaços pedonais da baía, a Larus.

A obra que vai mudar o ex-líbris da capital estará concluída no decorrer deste ano. A renovação da Baía de Luanda, em curso desde 2009, vai revo-lucionar o visual da principal marginal do país. A componente ambiental está em destaque na

empreitada que promete dar uma nova vida às margens do Atlântico.

A requalificação do Largo da Amizade Angola e Cuba, Ilha do Cabo e Chicala é fruto da parceria entre as autoridades angolanas e o empresaria-do português. Na recente visita oficial do primei-ro-ministro português, Pedro Passos Coelho, ao país, a Baía de Luanda foi um dos pontos de pas-sagem da comitiva. A acompanhar, o ministro do Urbanismo e Construção, Fernando da Fonseca, reiterou que a empreitada transformará a cidade numa imagem agradável e moderna. “A requali-ficação da Baía de Luanda é um projeto sério e ambicioso que envolve toda sociedade e temos a honra de apresentá-lo ao senhor primeiro-minis-tro de Portugal”, anunciou na altura, manifestan-do o desejo de inaugurar a obra ainda em 2012.

JANEIRO 2012 51

nÚM3R05

2009 ARRANqUE dAs OBRAs

250 miLhõEs dE dóLAREs

é O vALOR dA EmPREiTAdA

90% dOs TRABALhAdOREs dO EmPREENdimENTO

sãO ANGOLANOs

12 NOvOs PARqUEs dE

EsTACiONAmENTO COm CAPACidAdE PARA 1600 CARROs

6 A 8 fAixAs dE ROdAGEm

é A médiA Em CAdA viA

“O plano para a zona litoral incorpora a construção de habitações, escritórios, hotéis e espaços de lazer, suprindo várias carências”

“Obras a bOm ritmO”O consórcio Mota-Engil/ Soares da Costa ga-nhou a empreitada em 2009. As construtoras portuguesas conseguiram vencer mais de uma dezena de concorrente, nomeadamente duas empresas chinesas que disputaram a obra até ao final. Com posições de 50% cada, conseguiram a adjudicação da vertente terrestre, um ponto crucial do plano de requalificação, uma vez que vai revolucionar a circulação rodoviária num dos principais eixos da capital. O alargamento da Avenida Marginal e do Largo 17 de Setembro, que inclui a criação de seis faixas de rodagem e infraestruturas de gestão e manutenção da rede rodoviária mobilizou investimento por parte do consórcio de 250 milhões de dólares.

Questionado pela revista Angola’in, o enge-nheiro Gilberto Rodrigues, da Mota-Engil Ango-la, adiantou que as obras estão a decorrer em “bom ritmo, conforme os objetivos acordados”. “A conclusão de rodovia da fase B, entre o Largo do Baleizão e o Largo de 17 de Setembro, tem perspetiva de basculamento do tráfego nas pri-meiras semanas de Janeiro. A orla marítima es-tá em progresso e dentro dos prazos previstos”, assegurou, reforçando a previsão de conclusão em agosto.

O engenheiro está confiante de que a ponte Kianda (inaugurada em maio do ano anterior) e as novas acessibilidades vão trazer “um grande melhoramento” na circulação automóvel ao lon-go da marginal. O responsável refere ainda que o projeto “estabelece e incorpora seis a oito faixas de rodagem, desde o Largo de 17 de Setembro, junto ao Porto de Luanda até à entrada da Ilha”.

nOvas fundaçõesA conclusão da empreitada chegou a ter data de conclusão para maio deste ano. No entanto, o trabalho das fundações obrigou a alargar os prazos. Para edificar a ponte Kianda foi neces-sário abrir fundações que atingiram os 22 me-tros de profundidade até encontrar terra firme, numa área banhada pelo mar. A conduta teve mesmo que ser desviada por causa da tubagem de água, cabos eléctricos e de televisão que passavam no terreno circundante.

A edificação da ponte ficou terminada em abril e foi inaugurada em maio. Os responsáveis pe-lo projeto estão convictos de que vai distribuir melhor o tráfego e evitar os congestionamen-tos que assumem alguma intensidade nos fins de semana.

Antes do início da requalificação, a via tinha apenas uma faixa. Atualmente, a estrada tem seis faixas, que se encontram abertas ao pú-blico, bem como um viaduto, que permite a melhor fluidez do tráfego em direção ao no-vo posto de abastecimento da Fortaleza. Este substituiu o da Marginal e é o único com posto para motorizadas e com 24 bombas.

52 JANEIRO 2012

mObiliáriO pOrtuguês A Avenida da Marginal será convertida em espa-ços verdes e pedonais. Além dos 3500 lugares de estacionamento previstos, o projeto inclui a criação de espaços comerciais, áreas para restau-ração, quiosques, polidesportivos, entre outras infraestruturas. Esses equipamentos serão futu-ramente explorados pelos privados interessados.

A Larus, empresa especializada em criação de mobiliário urbano, que já equipou as maiores cidades do mundo, conquistou a principal obra de Luanda. Sedeada em Albergaria-a-Velha, em Portugal, a Larus desenvolveu a linha Embon-deiro, um conjunto de peças que vão melhorar a qualidade de vida de quem passear pela mar-ginal. Reconhecida por trabalhar com os melho-res arquitetos, como Siza Vieira e Souto Moura (prémio Pritzker 2011), as produções da empresa podem ser desfrutadas durante os trajetos pe-donais. Bancos, papeleiras ou dissuasores são algumas das criações que já estão disponíveis em algumas zonas.Pedro Pereira, fundador da Larus, explicou à re-vista Angola’in que a linha Embondeiro nasceu duas semanas depois de ter patrocinado “uma conferência dedicada ao urbanismo na Faculda-de de Arquitectura e Urbanismo da Universida-de Metodista de Angola”. “A fisionomia lúdica, grotesca, surpreendente do Embondeiro, árvo-re secular, distingue-se na vastidão deste país”, explicou. A escolha dos materiais partiu de um princípio básico: “o ferro fundido, material nobre e resistente à corrosão e ao vandalismo, deu cor-po ao tronco e aos ramos das árvores que supor-tam as réguas dos bancos de jardim. A madeira utilizada, Kâmbala, é autóctone e produzida lo-calmente”. Já os dissuasores “sugerem uma fa-tia do tronco por questões de maior elegância” e serviram de suporte às papeleiras, que têm grandes dimensões, de acordo com a tradição local. O cesto é “executado em aço metalizado e pintado, aço galvanizado ou em inox”.

Sem indicar valores, Pedro Pereira indicou que os custos foram otimizados, mediante “a fácil solução construtiva e a utilização parcial de ma-térias-primas autóctones e transformadas local-mente”. “Acreditamos que o mobiliário urbano faz dos locais um prolongamento da sua pró-pria vivência, ajuda a fortalecer o tecido social dos bairros, fomenta a integração, influencia o desenvolvimento e estimula a economia local”, considerou, aludindo ao conceito da linha de-senvolvida.

ambiente a salvODespoluir e desassorear foram as principais pre-ocupações que constaram nas duas fases iniciais de requalificação da baía. A primeira e segunda fase decorreram em paralelo e incluíram a inter-venção em todo o sistema de efluentes ao lon-go da marginal entre o Largo Amizade Angola e Cuba, Ilha do Cabo e Chicala, bem como a cons-trução da nova via rodoviária no limite exterior da marginal, a ponte Kianda (liga a marginal à praia do bispo) e a construção de uma estação de serviço de combustíveis.

O projeto abrange a reabilitação do sistema de drenagem de águas pluviais, que inclui um no-vo mecanismo separador que evitará as inun-dações da baía durante a época das chuvas. A criação de uma rede de esgotos separativos contribuiu para impedir que as águas residuais sejam depositadas no mar. Avaliado em mais de dois biliões de dólares, mediante empréstimos privados, o plano para a zona litoral incorpora a construção de habita-ções, escritórios, hotéis e espaços de lazer, su-prindo várias carências. No total, a empreitada criou 3200 empregos directos, sendo que 1200 são permanentes.

Assim que a obra pública for finalizada (e que foi alvo de um investimento de 250 milhões de dólares), avançam as obras privadas. Recorde-se no domínio público estão em construção 12

parques de estacionamento, a recuperação das fachadas de alguns edifícios abrangidos pelo plano de requalificação e a criação de 127 mil metros quadrados de zonas verdes. A execução da empreitada tem decorrido den-tro dos prazos previstos. Assim, em agosto, a obra deverá estar oficialmente finalizada com a conclusão da última fase. Durante os próxi-mos seis meses, os cerca de 200 mil metros qua-drados de areias poluídas serão limpos. Nesse período, a intervenção na Avenida da Marginal prosseguirá com a conclusão dos espaços pedo-nais e parques de estacionamento.

Patrícia Alves TavaresArquitEturA & ConStruÇÃo

‘A fisionomia lúdica, grotesca, surpreendente do Embondeiro, árvore secular, distingue-se na vastidão deste país”, explicou Pedro Pereira, da Larus’

JANEIRO 2012 53

54 JANEIRO 2012

EM rEDE

As mediatecas mudaram o modo como a popula-ção acede ao conhecimento. Inspiradas nas fun-cionalidades das bibliotecas, as novas estruturas inovam ao facilitar a consulta de uma vasta gama de serviços e suportes de informação, recorren-do a equipamentos informáticos e multimédia. O sistema está enraizado há alguns anos na maio-ria dos países desenvolvidos e chega este ano a Angola.

Luanda, Soyo, Benguela, Huambo e Saurimo são as primeiras cidades a inaugurar estes espaços inovadores. A implementação da Rede de Media-tecas de Angola (REMA) está a cargo do Minis-tério das Telecomunicações para as Tecnologias de Informação, que se associou aos espanhóis do Centro das Tecnologias de Informação e Co-municação (CTIC), que são responsáveis pela elaboração do Plano Diretor das Mediatecas de Angola. O acesso aos serviços será gratuito e os equipamentos serão adaptados para portadores de deficiência, disponibilizando nomeadamente material em Braille.

ciNco Novas mediatecas

O vice-ministro angolano, Pedro Teta, acompa-nhou recentemente as obras do centro de Lu-anda, que tiveram início em novembro de 2010 e mostrou-se confiante quanto ao cumprimen-to dos prazos definidos. O responsável acredita que os primeiros centros serão inaugurados em

agosto. “Estamos na fase de construção, seleção e formação do pessoal que se vai ocupar das me-diatecas, que terá que ser qualificado e capaz de mantê-las a funcionar como um sistema de re-de integrada”, explicou. Os primeiros profissio-nais estarão aptos a partir de março, período em que termina o curso que arrancou em setembro de 2011. Neste âmbito, o ministério conta com a participação de formadores cubanos do Instituto de Informação Científica e Tecnológica (IDICT).

A contratação de uma fundação espanhola pa-ra elaborar o plano da REMA justifica-se pela in-tenção de acompanhar o desenvolvimento que outras nações têm registado neste âmbito. Pa-blo Priesca Balbin, diretor do centro espanhol, afirmou na última conferência de imprensa que o modelo a aplicar nas mediatecas nacionais é uma referência para os países emergentes, com pro-vas dadas ao nível da promoção de uma geração com criatividade mais apurada e um maior sen-tido de inovação social e empresarial. Com esta parceria, Pedro Teta pretende instituir um mode-lo organizacional eficiente, com um “quadro de técnicos de informática, sociólogos, psicólogos, animadores de leitura e profissionais que saibam lidar com pessoas”.

maior ceNtro

Com uma área de quase três mil metros quadra-dos, a mediateca de Luanda será a maior do país

e está a ser edificada próximo do atual aeroporto. “Proteção” e “sombra” são as ideias subjacentes à estrutura do edifício. Sendo detentor de uma arquitetura moderna, foi planeado para proteger os visitantes da intensidade da luz solar, recor-rendo à forma de um contentor como metáfo-ra para o “Grande contentor do conhecimento”. Dentro do edifício, nasce uma nova estrutura, a “Caixa do Conhecimento”, que é composta por vários pátios que fazem a ligação às diferentes alas da mediateca. O espaço terá duas entradas para facilitar a circulação dos diferentes utentes e o acesso mais rápido à área pretendida.

huambo e beNguela

As cidades do Huambo e Benguela terão me-diatecas com a mesma dimensão. Porém, se no Huambo, o edifício irá dispor de 23 salas, em Ben-guela serão apenas três. No primeiro caso, os es-tudantes serão o principal público-alvo de uma mediateca que generalizará o acesso à impren-sa escrita, à televisão, biblioteca tradicional, e-books, internet, jogos virtuais, música, cinema e terá ainda uma ludoteca, espaços de estudo e de trabalho, salas de reuniões, videoteca, audiote-ca, sala de conferências, espaços de exposições e de lazer. As novas valências visam o incremento da qualidade e requalificação do parque escolar.

Em Benguela, a mediateca está inserida numa zona escolar e desportiva, privilegiando a inte-

Angola está a poucos meses de inaugurar as primeiras mediatecas. O objetivo governamental passa por implementar uma rede que cubra todas as províncias até 2015. Para já, Luanda, Soyo, Benguela, Huambo e Saurimo são os eleitos para testar as capacidades destas bibliotecas alargadas, que vão facilitar o acesso à informação e ao conhecimento, recorrendo às diversas tecnologias multimédia. O projeto conta com a participação do Ministério das Telecomunicações e organizações espanholas e cubanas.

Patrícia Alves TavaresinovAÇÃo & DESEnvolviMEnto

JANEIRO 2012 55

ração entre os diferentes agentes. Esse objetivo está subjacente no design do edifício que con-templa a relação do prédio com o exterior. Esta mediateca está dividida em três zonas funcio-nais: a área do conhecimento (zona de acesso livre para os utentes), a área administrativa e su-porte (apoio aos técnicos, arquivo, entre outras) e a área de eventos (auditório e salas de formação).

lubaNgo com 30 salas

Inserido em plena Avenida Agostinho Neto, o equipamento do Lubango nascerá nas imedia-ções da área desportiva. A cafetaria destaca-se por permitir a ligação do edifício ao liceu e ao instituto. As zonas privadas e públicas encon-tram-se perfeitamente delimitadas facilitando a circulação entre as diferentes áreas: pública, pri-vada, espaço infantil, acontecimentos “fora de horas”, etc. No caso do Soyo, o espaço vem revolucionar as bibliotecas tradicionais que ali existem. A pri-meira mediateca da região terá 28 salas, entre as quais uma de informática, que visa facilitar a participação nas redes sociais, ferramenta pri-vilegiada pelos jovens. Aberta a todo o público, será uma mais-valia para os estudantes, pois as-sumir-se-á como um complemento académico com várias ofertas em áreas multidisciplinares.Em Saurimo, a nova estrutura vai ocupar 2100 metros quadrados e dispor de 22 salas. Os supor-tes informativos serão a principal novidade deste edifício, que promete assumir-se como espaço multifuncional, em que a simples entrada de um visitante pode originar uma atividade não plane-ada. Aliás, a mediateca é um espaço aberto à co-munidade, sendo passível de ser simplesmente visitada sem o intuito de se consultar informação.

seguNda fase em curso

Em maio do ano passado, Cândida Narciso, go-vernadora da província da Lunda Sul, lançou a primeira pedra para a construção da primeira

SAuriMoÁREA (m2) 2100 NúmERO dE sALAs 22 sALA dE iNfORmÁTiCA SIm LiGAçãO à iNTERNET SATéLITEhORÁRiO SEG. A SEx. dAS 8 H ÀS 20 H

—‘As mediatecas da Lunda sul, Zaire e Huíla representam o arranque da segunda fase da rEMA. As obras estão em curso’

MEDiAtECAS à luPA

luAnDAÁREA (m2): 2917 NúmERO dE sALAs: 31 sALA dE iNfORmÁTiCA: SIm LiGAçãO à iNTERNET: SATéLITE hORÁRiO SEG. A SEx. dAS 8 H ÀS 20 H

huAMboÁREA (m2) 2100 NúmERO dE sALAs 23 sALA dE iNfORmÁTiCA SIm LiGAçãO à iNTERNET SATéLITE hORÁRiO SEG. A SEx. dAS 8 H ÀS 20 H

bEnguElAÁREA (m2) 2100 NúmERO dE sALAs 3 sALA dE iNfORmÁTiCA SIm LiGAçãO à iNTERNET SATéLITE hORÁRiO SEG. A SEx. dAS 8 H ÀS 20 H

lubAngoÁREA (m2) 2309 NúmERO dE sALAs 30 sALA dE iNfORmÁTiCA SIm LiGAçãO à iNTERNET SATéLITEhORÁRiO SEG. A SEx. dAS 8 H ÀS 20 H

SoyoÁREA (m2) 2387 NúmERO dE sALAs 28 sALA dE iNfORmÁTiCA SIm LiGAçãO à iNTERNET SATéLITEhORÁRiO SEG. A SEx. dAS 8 H ÀS 20 H

mediateca na região. Este equipamento repre-senta o arranque da segunda fase da REMA, cuja data de inauguração ainda não é conhecida. As províncias do Zaire e da Huíla estão igualmente incluídas na segunda fase.

O empreendimento da Lunda Sul está orçado em mais de quatro milhões de dólares e deverá ficar

concluído em 13 meses. À semelhança do que es-tá a ocorrer nas primeiras cinco mediatecas, o recrutamento de futuros técnicos está a decor-rer em paralelo com a criação do centro, para que os 30 escolhidos recebam atempadamen-te a formação, que está a cargo de professores cubanos e que inclui um estágio em mediatecas internacionais.

três estreias Na primeira fase de preparação, o seleciona-dor nacional apenas poderá contar com os atle-tas que estão no campeonato nacional. Entre os pré-convocados, destaca-se a estreia absoluta de Aguinaldo (Recreativo do Libolo), Sawú (Ka-buscorp) e Viety (Académica do Lobito). Em rela-ção aos restantes não existem grandes surpresas face ao onze habitual que participou nos jogos de qualificação.Para os treinos em Cabinda, Lito Vidigal convo-

núM3r05

3 TíTULOs OfiCiAis

(TAçA COfAsA 1999, 2001 E 2004)

84 POsiçãO NO RANKiNG dA fifA

12 PONTOs fOi A CLAssifiCAçãO fiNAL

NA fAsE dE APURAmENTO PARA O CAN 2012

6 é O NúmERO dE PARTiCiPAçõEs

NA CAN

1996 fOi O ANO dA EsTREiA NEsTAs

COmPETiçõEs (A CORRidA iNiCiOU-sE Em 1980)

PrOVA DE FOGOAngola está apurada pela terceira vez consecu-tiva para o Campeonato Africano das Nações, que decorre de 21 de janeiro a 12 de fevereiro, no Gabão e na Guiné-Equatorial. Com um novo seleccionador, a conquista da liderança do gru-po na fase de apuramento e o campeão em títu-lo (Egipto) afastado da competição, os Palancas têm motivos para sorrir. Motivados e confiantes, treinam arduamente para saírem vivos do seu grupo, apelidado por muitos de “morte”. A his-tória começa a ser escrita a 22 deste mês, frente ao Burkina-Faso.

sonho alCançado A notícia que todos queriam ouvir tardou em che-gar. Na derradeira jornada da fase de apuramen-to para a Taça das Nações Africanas, os pupilos de Lito Vidigal conseguiram um lugar na 28ª edi-ção da competição. 8 de Outubro, dia consagra-do ao apuramento de Angola para o seu primeiro Mundial, em 2005, em Kigali (Ruanda), marcou o apuramento para a prova deste ano. É a terceira vez consecutiva que os Palancas Negras concre-tizam o sonho.A caminhada começou em 2010. A equipa entrou com o pé esquerdo ao perder por 0-3 frente ao Uganda, a 4 de Setembro. A 9 de Outubro e a jo-gar em casa, os Palancas Negras fizeram nascer a esperança ao vencer a Guiné-Bissau, por 1-0. Foi precisamente contra esta equipa que a selec-ção nacional carimbou o passaporte para o CAN 2012, ao vencê-la novamente por 2-0. Angola viria ainda a beneficiar do empate do Uganda frente ao Quénia, já que esta seleção ocupava o topo da tabela qualificativa. Os Pa-lancas Negras chegaram ao fim da última ronda em primeiro lugar, com 12 pontos, mais um que os rivais ugandeses.Foi já sob a alçada de Lito Vidigal que a equipa alcançou o segundo lugar no CHAN 2011 e con-seguiram derrotar o líder do seu grupo nas elimi-natórias para o CAN 2012, o Uganda.

cou 27 jogadores do Girabola. No entanto, des-te lote apenas metade participará no estágio no Brasil. Só os melhores serão selecionados para integrar o grupo que contará com algumas es-trelas nacionais a jogar em clubes estrangeiros e que só são libertados a 15 dias do início da com-petição.Aguinaldo tem agora a possibilidade de mostrar idiossincrasias que podem ser uma mais-valia na equipa. Contudo, o avançado não terá a tarefa facilitada, pois a concorrência é muito forte. Flá-vio, Manucho, Mateus ou Djalma são jogadores que terão praticamente o lugar assegurado. O mesmo desafio terá o jovem Sawú, cujo talento para marcar golos tem sido reconhecido pelas equipas por onde já passou.Viety, conhecido pela rapidez, pode surpreender. Em 2010, disputou com Love até perto do fim o título de melhor marcador do campeonato.

‘Prata da Casa’Lito Vidigal chegou à seleção nacional em janeiro do ano passado. Após as saídas de Hervé Renard e Zeca Amaral, a Federação Angolana de Futebol decidiu apostar na ‘prata da casa’. O técnico é o segundo angolano a comandar a equipa numa competição do género. Nascido em Luanda há 41 anos, tem no currículo a passa-gem por várias equipas portuguesas, enquanto jogador. Esteve em clubes como o Belenenses e o Santa Clara, tendo também jogado pela se-lecção. Como treinador, iniciou-se em 2004 com o clube português Portimonense e mais recen-temente comandou o União de Leiria, também em Portugal.Atualmente, como líder dos Palancas Negras tem a missão de fazer melhor que o francês Hervé Renard e de igualar o treinador Oliveira Gonçal-ves que foi o primeiro angolano a levar a equi-pa ao certame de 2006, no Egipto, e de 2008, no Gana. Na última prova africana, a seleção foi até aos quartos-de-final. A fasquia subiu com a

Patrícia Alves TavaresDESPorto

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participação inédita no Mundial de 2006 e mais recentemente no CAN2010, em que o treinador português Manuel José conseguiu os quartos-de-final da prova organizada “em casa”. Assim, Lito Vidigal tem a pressão de manter ou melhorar estes resultados.

estÁgio BrasileiroA província de Cabinda foi o palco escolhido pa-ra a primeira fase de preparação da equipa, que partirá posteriormente para o Recife, no Brasil. As escolhas visaram locais com clima e condi-ções semelhantes à dos países organizadores da prova, a Guiné-Equatorial e o Gabão.Durante o mês de dezembro, os jogadores con-centraram-se na província de Cabinda, após a realização dos necessários testes médicos. Num estágio que durou três semanas, participaram em jogos amistosos contra a Zâmbia (qualifica-da para o CAN) e a Namíbia. A segunda fase do estágio, que decorre no Reci-fe, arranca a 6 de Janeiro, altura em que se jun-tam à equipa os atletas que jogam fora do país. Aí deverão permanecer até à véspera do CAN. Pa-ra a fase final, Lito Vidigal levará 23 futebolistas. A campanha está avaliada em nove milhões de dólares. De acordo com o presidente da FAF, Pe-dro de Morais Neto, caso o valor seja disponibili-zado servirá para pagar as dívidas aos jogadores

e técnicos e para preparar toda a competição. “Não queremos ir para esta competição com dí-vidas para com os nossos jogadores e treinado-res. Queremos sim motivá-los para uma presença condigna no CAN”, salientou o responsável, afas-tando polémicas.

‘gruPo da morte’O sorteio da 28ª edição da Taça das Nações Afri-canas ditou que Angola irá defrontar o Burkina Faso logo no jogo inaugural. As duas equipas in-tegram o grupo B juntamente com a Costa do Marfim e o Sudão. Para o selecionador dos Palancas Negras, Li-to Vidigal, este é o lote mais difícil da prova. As equipas destacam-se pela capacidade técnica e qualidades competitivas. Desafio que não inibe o grupo nacional. “Angola está habituada a superar obstáculos”, referiu na altura do sorteio. Costa do Marfim é o adversário mais temido. No entanto, para o treinador, o mais importante é trabalhar para melhorar os desempenhos anteriores. A seleção treinada por Lito Vidigal defronta a equipa comandada pelo português Paulo Duar-te a 22 de Janeiro, em Malabo. O Burkina-Faso tem evoluído gradualmente em África e tem um plantel forte, o que leva o técnico nacional a con-siderar a equipa como um rival à altura. O Sudão foi eliminado por Angola no CHAN 2011,

quando jogava em casa, pelo que “todo o cui-dado será pouco”. A qualidade do grupo levou inclusive o responsável a apelidá-lo de “morte”, pois “é mesmo difícil”. “Devemos pensar que so-mos capazes de vencer qualquer seleção pre-sente no CAN 2012. Temos de estar preparados para enfrentar as dificuldades que nos espe-ram”, constatou, lembrando que “todos podem passar”. “Angola tem os seus objetivos”, reiterou.Depois de Burkina-Faso, os Palancas Negras de-frontam o Sudão a 26 e a Costa do Marfim a 30. Os dois primeiros classificados apuram-se para a fase seguinte.

esColha FronteiriçaFoi em Setembro de 2006 que a Confederação Africana de Futebol (CAF) atribuiu a organização do CAN 2012 ao Gabão e à Guiné-Equatorial. Os dois países partilham fronteiras e cada um aco-lherá dois grupos. A escolha do período de Janeiro está relaciona-da com o facto de coincidir com a estação seca, que é a melhor época para jogar futebol naque-les países. Quanto à logística, o Gabão escolheu Franceville e Libreville para receber os jogos. Es-ta última cidade está a construir um estádio novo para o evento, com capacidade para 40 mil adep-tos. O outro equipamento será alargado para 35 mil espectadores. Já a Guiné-Equatorial optou pelas cidades de Malabo e Bata. A primeira será dotada de um estádio com capacidade para 20 mil pessoas. Bata vai alargar os 30 mil lugares disponíveis para 40 mil. A cerimónia de abertura do CAN terá lugar na Guiné-Equatorial e o jogo final está marcado pa-ra Libreville, no Gabão. Foi igualmente criado um visto comum para facilitar o acesso aos dois paí-ses. Quanto a valores, os organizadores têm ocul-tado os custos reais do evento.

FASE DE gruPoS

GRUPO A1 Guiné Equatorial2 Líbia3 Senegal4 Zâmbia

GRUPO C1 Marrocos2 Gabão3 Níger4 Tunísia

GRUPO B1 Angola2 Burquina Faso3 Costa do Marfim4 Sudão

GRUPO d1 Botsuana2 Gana3 Guiné-Conakri4 Mali

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ÍNDICEeLife&Stylee

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{ BOCA A BOCA }

{ TURISMO }

{ LUXOS }

{ ARTE }

{ ESTILOS }

Segredos sul-africanos Pequenas iguarias que as aldeias escondemPaladar Deixe-se levar pela gulaCrónica ‘Bubbles’ de puro prazer!

Agenda Do mundo para o leitor mais exigente, não perca os eventos que vão marcar em JaneiroEntrevista Com… José Dias, curador e programadorCrónica Hemisférios

Sinta-se fashion Siga as tendências e desfrute do melhor do VerãoNova Iorque Vista a pele de um nova-iorquino quando visitar a cosmopolita cidade americanaCrónica O poder dos saltos altos

12 MESES 12 DESTINOS—Comece a planear as suas próximas férias. Não adie mais a sua viagem de sonho. Em 2012 parta à aventura, seja na neve junto do jet set interna-cional em Courchevel 1850, seja na torre mais alta do mundo, no Dubai.

Carros Descubra as novidades que marcaram os grandes salões internacionaisH2O Os melhores “ brinquedos” para os apaixonados pela aviação ou náuticaGadgets Delicie-se com as melhores tecnologias que aliam trabalho e lazerRelógios O relógio perfeito é aquele que se adapta melhor ao estilo de cada um. Conheça o seu!

—Fique a par do que se passa de mais relevante no mundo das marcas de topo. Dicas que vão desde a tecnologia mais sofisticada aos lugares mais requintados. Tudo para que não perca nenhuma das novidades do novo ano!

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{ GOURMET }

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Opel Ampera Eletricidade total—Numa altura em que ecologia parece ser a palavra de ordem, aqui está um automóvel que não se apresenta apenas como mais um veículo elétrico, mas o primeiro que promete ir a qualquer lado não correndo o risco de ficar pelo caminho. A bateria dura entre os 40 e os 80 km, mas assim que atinge o mínimo de carga, o motor-gerador do extensor de autonomia, alimentado a gasolina, liga-se automaticamente de forma a produzir eletricidade a bordo. Nos 500 km seguintes não haverá assim qualquer tipo de problemas.—Jo

Hotel St Regis New YorkAlta costura e hotelaria—A mais recente novidade do luxuoso St Regis em Nova Iorque é a suite Dior. De vistas amplas para a 5º Avenida e para a 55th Street, ocupa 2300m2 e a decoração teve como inspiração o ateliê da famosa casa de alta costura parisiense. O serviço é St Regis, com mais de 100 anos de experiência. www.stregisnewyork.com—rPm

Alilla Soori Villas Tranquilidade com vista para o Índico—Desde que abriu tem vindo a acumular prémios e a atrair atenções, a última distinção: Ultimate Award for Villa 2012 da Island Destinations. Do que falamos? Alilla Soori Villas em Bali na Indonésia. Quando ir? De Julho a Setembro o tempo é perfeito!www.alilahotels.com—rPm

Ford E-Bike ConceptTecnologia da Fórmula 1—A prova de que os grandes construtores automóveis não se concentram exclusivamente nas quatro rodas é esta Ford E-Bike Concept. Um “computador de bordo” no guiador ou uma correia de carbono no lugar de uma corrente tradicional são apenas duas das suas características, mas a maior de todas é o facto de utilizar tecnologia da F1, nomeadamente materiais magnetoestritivos, utilizados para tornar energia magnética em energia cinética e vice-versa. A velocidade máxima é de 25km/h.—Jo

Life&Style

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PUBLIC Chicago“Great service, great value, great style”. Para todos—Ian Schrager pegou no que de melhor tinham o segmento de luxo e os boutique hotéis, retirando tudo o que era superfluo e criou, mais uma vez, um conceito inovador. Sofisticação, autenticidade, conforto e, acima de tudo, um serviço virado para o que é essencial, a um preço perfeitamente razoável. PUBLIC Chicago é a primeira unidade do que promete vir a ser a próxima cadeia hoteleira deste americano que desde os dias do Studio 54 nos vem a surpreender.www.publichotels.com—rPm

INTERNATIONAL GOURMET FESTIVAL 2012 Tribute to ClaudiaStars of Portugal já tem Chefs—A sexta edição do International Gourmet Festival, que decorre de 12 a 22 de Janeiro de 2012 no Vila Joya Boutique Resort, terá inicio, como manda a tradição, com os Chefs Stars of Portugal. Na edição de 2012 do International Gourmet Festival - Tribute to Claudia vão estar presentes 65 Estrelas Michelin, oriundas de países como Portugal, França, Alemanha, Itália ou Estados Unidos. A não perder!—rPm

Swatch TouchA irreverência do costume—É fácil, é barato, só não dá milhões. Os relógios da Swatch raramente passam indiferentes no mercado e este não será exceção. Muito pelo contrário, afinal trata-se do primeiro modelo com touch screen da marca. Os botões convencionais desapareceram e todas as operações são feitas com o dedo sobre o ecrã, como se de um telemóvel se tratasse. Inclui uma série de funções, entre elas dois fusos horários, cronómetro, data, alarme e temporizador, estando disponível em seis cores. Da discrição do preto à irreverência do azul ou do cor-de-rosa.—Jo

{ BOCA A BOCA }

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Pontes para o futuro—A Marni acaba de inaugurar uma loja em Nova Iorque. Instalada no Meatpacking District, a Marni Edition Store foi concebida como um espaço experimental que serve de montra ao trabalho de novos designers, mas também de palco privilegiado das novas parcerias da marca. A ideia é valorizar conceitos como ecologia e sustentabilidade que, aliás, se refletem num espaço que fundiu dois blocos arquitetónicos unidos através de um passeio pedestre. —rlm

Montras preciosas—O mote é natalício, mas o bom gosto é eterno. Podia ser essa a conclusão ao olhar Caveau du Temps, o tema que dá forma às montras que a Prada apresenta neste final de ano. Inspiradas em caixas de jóias de diferentes épocas e revestidas a veludo, as montras abrem caminho e aguçam a curiosidade para a Resort Collection 2012 da casa italiana, reforçando ainda o espírito de exclusividade que faz com que cada uma das suas criações depressa se transforme num objeto de desejo.—rlm

Museu virtual—Basta clicar em www.valentino-garavani-archives.org para assistir a uma experiência de moda digital sem precedentes. Nascido de uma parceria entre Valentino Garavani e Giancarlo Giammetti, o Museu Virtual de Valentino Garavani exibe cinco décadas de História da Moda. A colecção, com mais de cinco mil imagens, 300 vestidos, ilustrações, vídeos e campanhas publicitárias, está reunida numa base de dados on line, acessível através de uma aplicação para download. —rlm

Life&Style { BOCA A BOCA }

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Life&Style

MESES, destinOs

A Angola’in quer ajudá-lo a organizar o programa para este ano que começa. Siga-nos e descubra as viagens que não pode falhar em 2012. Uma ideia por mês!

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Férias de neve em CourChevel 1850 —Integrado na belíssima paisagem do domínio de Trois Valées, Courchevel é considerada por muitos a melhor estância de ski do mundo e Courchevel 1850 o ponto de encontro do jet set internacional, com residência habitual no Jardin Alpin - a zona dos chalets e hotéis mais exclusivos. O ambiente chique das encostas também se sente fora da pista. Com uma das maiores concentrações de estrelas Michelin (17 estrelas distribuídas por 10 restaurantes) e uma vida noturna seleta e sofisticada, este é também um destino que oferece as mais famosas boutiques do mundo. E onde ficar? Perfeito será alugar um dos chalets privados do hotel K2, a nossa sugestão é o Karakoram, alia gosto contemporâneo a pequenos toques de decoração alpina, em 500m2 que incluem 5 quartos, piscina interior e staff completo, incluindo mordomo e chef.

estadia na torre mais alta do mundo —Armani escolheu o Dubai para a abertura do seu primeiro hotel. A localização é única ou não fosse a Burj Khalifa a torre mais alta do mundo. Numa celebração de estilo e conforto, aliados aos mais altos padrões de hospitalidade, cada elemento foi desenhado até ao mínimo detalhe pelo conhecido criador que conseguiu trazer a esta cidade de excessos o minimalismo luxuoso de tons discretos que lhe é marca.

ilha riChard Branson —Uma ilha no meio de um mar azul, só nas Caraíbas! Necker Island é propriedade de Sir Richard Branson e já recebeu hóspedes tão ilustres quanto Steven Spielberg ou Oprah Winfrey. Areia branca e bancos de corais multicolores, que não nos cansamos de gabar.

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SASU Les Chalets d’HôtesTel. +33 479 40 08 80www.chaletsdhotes.com

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Necker Island Tel +44 208 600 0430enquiries@virginlimitededition.comwww.neckerisland.virgin.com

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Armani Hotel [email protected]

{ TURISMO }

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Clinique la prairie —O enquadramento é os alpes suíços com o lago Genebra a seus pés. O local de eleição - a Clínica La Prairie. Poucas apresentações são necessárias à conhecida marca de cosméticos topo de gama. Massagens, talassoterapia, área de fitness e personal training são apenas alguns pontos de um programa absolutamente completo. Deixamos-lhe os contactos para que o descubra!seyChelles

—Maia foi o primeiro nome dado por Vasco da Gama quando descobriu as idílicas Seychelles. Hoje é o nome de um dos resorts mais luxuosos de Mahé. Concebido pelo arquiteto e paisagista Bill Bensley de forma a tirar total partido da sua privilegiada localização, as villas têm terraços generosos e vistas panorâmicas sobre Anse Louis. Nos seus 250m2, cada uma tem piscina de água infinita que parece mergulhar no Índico e um mordomo disponível 24h por dia. O resort tem, entre outros atrativos, helipad – não perca a oportunidade de fazer um picnic numa praia só para si em Grand Barbe na ilha Silhouette - e um restaurante famoso pelo seu menu de fusão. Recebeu recentemente o prémio ‘Best in Africa’ e foi nomeado para a Gold List 2011 da prestigiada Condé Nast Traveller.

uma semana a Bordo de um iate para desCoBrir a polinésia—O Pacífico Sul com os seus mares azul turquesa e corais multicolores enche-nos os sonhos. Deixe-se ir ao sabor da brisa salgada e descubra as ilhas, atóis e ilhéus mergulhados neste mar sem fim e que constituem a Polinésia. São 118 ao todo, cada uma com as suas maravilhas e todas diferentes entre si. A nossa proposta, sem precisar de ter grande alma de marinheiro, é que alugue um dos luxuosos iates e parta à descoberta.

gAluguer de iates e veleiros com a Windward [email protected]

gMaia Luxury Resort & SpasTel +248 4 390 [email protected] www.maia.com.sc

gClinique La PrairieTel +41 21 989 33 [email protected]

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Xangai—Cosmopolita e algo futurista parecem-nos os adjetivos certos para descrever a Xangai que vemos recortada ao longo do porto, mas os áureos anos 30 deixaram as suas marcas. Basta passearmo-nos pelo famoso Bund, o bairro histórico aberto para o rio Huangpu, para nos deixarmos seduzir pelos vestígios de outra época ou não tivesse esta surpreendente cidade uma das maiores concentrações de arquitetura Art Deco do mundo! E onde ficar? Sugerimos o Peninsula pela sua perfeita localização: fica num edifício modernista em pleno Bund, paredes meias com o Shanghai Club e a Sassoon House. A decoração, da autoria de Pierre-Yves Rochon, é de um refinamento absoluto e alia interiores clássicos ao melhor da tecnologia. Sob marcação e preço a consultar, o hotel disponibiliza um Rolls Royce Phantom II de 1934, com chauffeur, para transferes para o aeroporto de Pudong em grande estilo!

a Fashion Week de milão —Em duas edições semestrais - outono/inverno e primavera/verão - a Fashion Week de Milão arranca com a apresentação das coleções para homem a 14 de janeiro – logo seguida da edição feminina, de 22 a 28 de fevereiro. Junte-se ao mundo glamoroso dos criadores, modelos, trendsetters, compradores e amantes de moda nesta cidade totalmente virada para o fashion shopping. Mais informações em www.cameramoda.it

Sugerimos que complemente a temática com a estadia no Hotel Bvlgari. Refinado, de gosto contemporâneo - ou não fosse o projeto de Antonio Citterio - e com uma das melhores localizações da cidade. Fica numa rua privada entre a Via Montenapoleone e a Via della Spiga, perto do teatro La Scala. Tem um jardim de 4 mil m2 e um spa com hamam em tons de esmeralda e ouro, como se de um tesouro se tratasse.Bvlgari Hotel Milan

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ePeninsula Shanghai Tel +86 232 72 888 [email protected] www.peninsula.com

gVia Privata Fratelli Gabba 7Bwww.bulgarihotels.com

{ TURISMO }

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Basel art Fair miami —Se, no início, a extensão da conceitada Basel Art Fair Miami causou alguma suspeição, hoje em dia todas as dúvidas foram já ultrapassadas e a feira é um dos pontos altos do mercado da arte mundial. A confirmação veio por ocasião da comemoração do seu 10º aniversário, no passado mês de Dezembro, com o alargamento do espaço de exposição ao Bass Museum of Art e ao New World Center (projeto do arq. Frank Ghery). Ao todo reune anualmente mais de 250 galerias escolhidas entre as mais influentes do panorama internacional, exibindo cerca de 2 mil artistas. Onde ficar: Elegemos o W South Beach porque é o hotel debruçado sobre o mar mais chique de toda a extensão de areia de South Beach.

eW South Beach

Tel. +1 305 938 3000www.wsouthbeach.com

Miami Beach Convention Center

www.artbaselmiamibeach.com

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Compras de natal em paris—Escolhemos Paris e poucas justificações nos parecem necessárias. Não deixe, por isso, de passear na majestosa Champs Elysées, na avenida Montaigne – onde se perfilam as lojas das griffes mais conhecidas -, ou na Place Vendôme, que são incomparáveis; aproveite os mercados de Natal, desde o maior e mais conhecido que enche todos os Champs Elysées até à Place de la Concorde, aos pequenos mercados de bairro, como o de St-Germain ou o do Trocadéro. Se tiver oportunidade assista à celebração da noite de consoada na imponente Catedral de Notre Dame - independentemente do credo religioso é um momento de memorável paz e beleza. Ao final da tarde sugerimos um lanche no Angelina, um dos salões de chá mais famosos da cidade. E o que pedir? Não resista ao chocolate quente l’African, nem ao famoso bolo merengado, o Mont Blanc! E onde ficar? Le Meurice. Irrepreensível na decoração de estilo Luís XVI, tem uma localização imbatível, junto ao Museu do Louvre e de frente para as Tuilleries. O lobby, os dois restaurantes, o Le Dali e Le Meurice – que recentemente ganhou 3 estrelas Michelin - e o Bar 228 foram redecorados por Philippe Starck.

saFari na tanzânia—A diversidade de vida selvagem faz da Tanzânia um dos destinos africanos de eleição. A qualidade dos seus parques e luxuosos campos de safari, aliada à possibilidade de uma estadia na praia tornam-na incomparável. E onde ir? Os vastos planaltos dos territórios a norte são famosos pela abundância de espécies e, particularmente, pelo espetáculo único das migrações anuais - onde a Cratera do Ngorongoro e o Parque Nacional do Serengeti são a eleger; a sul e a oeste, temos Selous, Ruaha e Mahale, extensões praticamente intocadas e muito distantes entre si, o que os tornam destinos mais aventurosos, mas ainda mais autênticos; na costa as praias de palmeiras alinhadas e a velha cidade de Zanzibar, carregada de história e cheiro de especiarias. Quando ir? Em qualquer altura entre Junho e Fevereiro. Onde ficar? No Singita Faru Faru Lodge, onde todos os quartos são especiais e de vista privilegiada, do lodge ao romântico tent camp.

areias do seiXo Charm hotel—A menos de uma hora de Lisboa arrecada prémios e fãs desde o dia em que foi inaugurado, tendo inclusivé integrado, no seu ainda não completo primeiro ano de vida, a Condé Nast Traveller Hot List 2011. É uma surpresa entre pinheiros e dunas de areia, que respira a natureza a pulmões cheios!

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gSingita Game ReservesSingita Faru Faru Lodgewww.singita.com

gHotel Le MeuriceRue de Rivoli, 228Tel +33 1 44 58 10 10www.lemeurice.comeAngelina (na Rue de Rivoli também fica a casa-mãe desta confeitaria, inaugurada em 1903)Aberto todos os diasRue de Rivoli, 22675 001 Pariswww.angelina-paris.fr

aAreias do Seixo Charm HotelTel: 351 261 936 [email protected]

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Ano noVo, cArro(s)

noVo(s)

Apesar dos tempos difíceis para o mercado automóvel, os grandes salões internacionais - Frankfurt,

Los Angeles e Tóquio -, continuam a marcar a agenda do que melhor se faz no universo das quatro rodas.

Aqui ficam algumas das (mais potentes) máquinas que marcarão o futuro próximo.

Life&Style João Oliveira

—A chegar é como quem diz: daqui a três anos. Ou quatro! A verdade é que depois de 63 anos de produção ininterrupta e quase sem sofrer alterações estéticas, uma espera de algumas dezenas de meses para receber o novo Defender nem deve ser contabilizada. Apresentado com as siglas DC100 e DC 100Sport, o design é surpreendentemente moderno, desportivo e haverá muita tecnologia de ponta. E muito arrojo. Por exemplo, a versão Sport não terá tejadilho. Muita coisa poderá alterar-se, mas as expectativas são elevadas.

LAND ROVER DEFENDER

PrEPArEM-sE quE ELE Está A cHEgAr

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PORSCHE 911

o Mito continuA

{ CARROS }

—Por esta altura já andará pelas estradas mundiais a mais recente geração do mítico 911 – a sétima em quase cinco décadas. Modelo que não faz um corte radical com o passado, nem tal seria esperado, mas que ganhou uma aparência mais dinâmica, graças à redução da altura e ao crescimento de 100 milímetros da distância entre eixos. Já o chassis em aço e alumínio retirou-lhe 45 kg em relação ao seu antecessor, por isso as performances prometem aumentar: o Carrera S, a versão mais potente (400cv) fará 4,1s dos 0 aos 100km/h.

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—Os norte-americanos adoram-no, o resto do

mundo deseja-o. É assim o Ford Mustang, automóvel que se transformou num ícone

e que por isso a marca continua a acarinhar e produzir. No Mustang 2013 todas as

versões sofreram pequenas mudanças, dos motores à carroçaria, mas a novidade maior

é a sua cor amarela e as listas negras, que homenageiam o modelo que competiu no

Trans-Am Championship, em 1970. O Shelby GT500, estrela da companhia, tem agora

um bloco V8 de 5.8 litros mais eficiente. O resultado é 650 cavalos de potência.

FORD MUSTANG 2013

rEgrEsso Ao PAssADo

CAMARO ZL1 CONVERTIBLE

o MAis PotEntE DE sEMPrE

—Não é demais repetir: este será o mais potente descapotável de sempre da Chevrolet, fruto de um motor 6.2 V8 de 580 cv e 754 Nm. Para que toda esta potência seja colocada na estrada em segurança, e visto tratar-se de um veículo sem capota, foram levados a cabo vários reforços estratégicos no chassis e também a nível estrutural. A suspensão recorre ao sistema Magnetic Ride de terceira geração, capaz de ajustar o amortecimento cerca de mil vezes por segundo. Estará à venda durante o primeiro semestre de 2012.

Life&Style João Oliveira

JANEIRO 2012 73

—Desengane-se quem pensa que a marca sul coreana tem o seu universo limitado a carros pouco potentes e design nem sempre sedutor. O Protótipo GT, de tração traseira, está aí para provar que, num futuro próximo, esta imagem pode mudar. Um coupé de quatro portas e portas de abertura antagónica, com design agressivo, equipado com um respeitável motor V6 com 3,3 litros, injeção direta e sobrealimentado por um turbocompressor, capaz de debitar 395 cavalos de potência. A caixa é de oito velocidades.

—Se tiver a módica quantia de

378 mil euros e quiser ser um dos felizes proprietários de um portentoso V12 Zagato, o melhor é uma tratar já da encomenda. É que a marca

britânica apenas fará uma série limitada de 150 exemplares, a

produzir a partir de meados do próximo ano. Construído para

celebrar os 50 anos do modelo DB4GT Zagato, apresenta

uma traseira musculada, uma carroçaria construída em

alumínio e carbono e um motor com 510 cavalos. O prazer só

pára nos 305 km/h.

ASTON MARTIN V12 ZAGATO

PotênciA ExcLusivA

PROTÓTIPO GT

A KiA MostrA A suA rAçA

{ CARROS }

74 JANEIRO 2012

audi trimaranEcologia, estilo e diversão—Este barco poderá nunca entrar em produção, mas é um bom exemplo para se perceber até onde poderá ir a tecnologia, o design e... a imaginação de uma estudante. Com 15 metros de comprimento, 6, 40 m de largura foi concebido pela alemã Stefanie Behringer para o estúdio de design conceito da Audi, e junta o melhor de vários mundos. A estrutura principal é alimentada por dois motores a diesel, mas tem dois jet skis acoplados, movidos a eletricidade, permitindo que em baixas velocidades o barco possa ser movido sem produzir emissões ou ruído - ideal para as águas rasas da baías ou dos portos. O futuro não andará muito longe daqui.

azimut 62s italiaPresente de luxo—A Itália celebra os 150 anos da sua unificação e a Azumit decidiu presentear os amantes de iates de luxo com uma versão comemorativa do modelo 62S. A qualidade dos materiais utilizados já era uma das características deste barco – que sofreram, ainda assim, uma significativa melhoria e que fica agora ainda mais exclusivo com um novo e sedutor teto solar retrátil e o sistema de navegação birds-eye view. Se este último é de extrema utilidade, graças a três câmaras que permitem visualizar tudo o que está à volta, o primeiro permite que as pessoas não deixem de olhar o céu mesmo estando no interior, fruto da superfície vidrada protegida com uma película anti-raios UV.

A cada ano que passa estamos mais próximos de voltar a voar à velocidade do som. Depois da má experiência com o Concorde tudo indica que, em 2014, já andará pelos ares o primeiro jato executivo da história, o Aerion SuperSonic Business Jet. Um avião

que conseguirá a proeza de ultrapassar o Atlântico em pouco mais de 120 minutos e que, por exemplo, ligará Nova Iorque e Paris em cerca de quarto horas! A vantagem é que, ao contrário do Concorde, poderá aterrar na maioria dos aeroportos internacionais. O preço de cada jato ronda os cerca de 50 milhões de euros, mas são várias as encomendas até ao momento, estando nessa lista alguns dos homens mais ricos de negócios do mundo.

aerion supersonic Business Jet

À velocidade do som

Conheça as novidades do are do mar que selecionamos em exclusivo para si este mês!

Life&Style João Oliveira { H2O }

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TAG Heuer. Telemóvel Meridiist Python

Gold Dust em Aço 316L com fundo em Python dourado e aplicação

de 208 diamantes

{ GADGETS }

Swarovski Flash Pen USB em Aço Swiel com

Diamond Crystals e porta-chaves

temPos modernos

—São cada vez mais os gadjets que fazem parte da nossa vida, mesmo que não nos

apercebamos. não é defeito, nem sequer feitio. é a realidade. E nunca,

como agora, a realidade juntou tão bem trabalho e lazer

em objectos tão pequenos e atraentes.

EnergySistem Rádio FM210

FujifilmMáquina

FotográfiaX10

Sony BinóculosdigitaisDEV-3 / DEV-5

nokia Smartphone Nokia N9

Yalos. LCD HDTV com aplicação de diamantes

Optoma HD33

Projetor doméstico 3D e FullHD

Bang Olufsen. Dock Station Beosound

76 JANEIRO 2012

Life&Style

tag heuer slr 300

Simplicidade e bom senso

Tudo pode passar de moda, mas a simplicidade é de uma elegância intemporal. O TAG Heuer Carrera

Chronograph SLR 300, um relógio sóbrio, com uma caixa em aço, vidro

e fundo em safira com tratamento anti-reflexos dos 2 lados e bracelete

de Calfe perfurado com fecho de báscula em aço, está aí para o provar. Mas sobriedade não quer dizer falta de firmeza. Bem pelo contrário, afinal este modelo foi lançado para comemorar o 60º

aniversário da vitória do 300 SLR na Panamericana de 1952, uma das

mais míticas corridas de automóveis de sempre.

A horas certasSaber as horas é uma necessidade inerente à condição humana.

Usar um bom relógio um desejo inerente a todos nós. Com ou sem diamantes, discretos ou arrojados, mais ou menos caros, o segredo do relógio perfeito está em ser capaz de encontrar

o estilo que melhor se adapta ao pulso de cada um.

emporio armaniar4900

Pulso firmeUma personalidade forte é condição indispensável para ter pulso firme, mas é também indesmentível que um homem com um bom relógio

aumenta os seus níveis de confiança. O AR4900, edição limitada do modelo Super Meccanico, criado pela Emporio

Armani para as comemorações do seu trigésimo aniversário, é disso o perfeito exemplo. Com função

cronógrafo, mostrador preto com dois mini mostradores, caixa de aço, cristal de safira e correia de cauchu

é, por todas estas características, um modelo exclusivo, de tal forma que

serão apenas produzidas 999 unidades a nível mundial.

Jaeger-leCoultre Q1782770O mergulho perfeitoFabricar relógios à prova de água é algo comum, nos dias que correm, mas fazê-lo em colaboração com a U.S. Navy Seals, a unidade de combate da marinha norte-americana está ao alcance de poucas marcas. Foi isso que fez a suíça Jaeger-LeCoultre com o Master Compressor Diving Chronograph GMT Navy Seals. Limitado a 500 unidades, alia uma imagem robusta à tecnologia de ponta, entre eles a possibilidade de manter todas as suas funções activas até aos 300 metros de profundidade! Só para os mais corajosos, de facto.

João Oliveira

JANEIRO 2012 77

hublot 2 million € BBUm hino ao luxo

Chama-se 2 Million € Big Bang e não é por acaso. É o preço a pagar por uma autêntica obra

de arte, uma quase loucura com 637 diamantes baguette - mais de 140 quilates no total. Mas para chegar aqui não foi

preciso só uma grande dose de loucura e ousadia, mas também

muito trabalho, de tal forma que, só para lapidar as pedras, a marca teve que recorrer a 45 lapidadores, que trabalharam a tempo inteiro durante um mês.

Apenas mais um pormenor: cada diamante utilizado era

suficiente para fazer uma aliança. Uma boa aliança.

Piaget g0a36166Mais do que um relógioAqui entramos na categoria das jóias. A Piaget quis evocar com este modelo ( parte integrante da colecção Limelight Garden Party) a luminosidade e boa disposição que emana um luxuriante jardim, e não poderia ter sido mais literal, graças à utilização de 10 esmeraldas com corte marquise. Mas a marca não se ficou por aqui e acrescentou também 34 diamantes cortados e ainda uma bracelete em cetim preto com fecho em ouro branco. Quem procura uma verdadeira peça de luxo tem aqui a companhia ideal.

omega ladymaticCharme intemporalSe um homem, por norma, procura um relógio que lhe conceda firmeza, a mulher tende a procurar os caminhos da elegância. Foi esta uma das razões que levou a Omega a criar o Ladymatic, modelo que combina elementos de design da idade de ouro da alta-costura com a melhor tecnologia actual. Uma peça lançada pela primeira vez em 1955, que está cada vez mais na moda e continua a acompanhar algumas das mais carismáticas mulheres do mundo, entre elas a actriz Nicole Kidman. Pode optar por duas versões: com caixa e bracelete em aço com diamantes ou com caixa em aço com diamantes e bracelete em pele de crocodilo.

{ RELÓGIOS }

78 JANEIRO 2012

1 b Pólo, Polo Ralph Lauren 2 b Calções de banho, Vilebrequin 3 b Fato em linho, Richard James 4 b Cinto em pele de crocodilo, Bottega Veneta 5 b Saco em pele, Mulberry 6 b Sapatos, Gucci7 b Cardigan, Canali 8 b Gravata, Polo Ralph Lauren 9 b Óculos de sol, Ray-Ban

Estilo natural À sobriedade dos tons, junta-se o bom corte dos tecidos, criando peças que, além de versáteis, são claramente intemporais.

Life&Style Rita Lúcio Martins / Produção Nuno Lago

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1 b Vestido assimétrico, Giambattista Valli 2 b Bracelete em ouro, YvesSaint Laurent 3 b Chapéu, Eugenia Kim4 b Blazer, Jason Wu 5 b Óculos de sol, Prada 6 b Brincos Girandoles em ouro de 22 karat gold, quartzo fumado, Marie-Hélène de Taillac 7 b Bolsa de protecção para telemóvel, Dolce& Gabbana 8 b Carteira Cabas Chyc em pele, YvesSaint Laurent 9 b Pumps em leopard print, Christian Louboutin10 b Fato de banho Lari Ocean, Babajaan 11 b Vestido, Oscar de la Renta

DEtalhEs marcantEsMais do que looks muito trabalhados ou construídos, são os pormenores singulares que fazem a diferença.

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{ ESTILOS }

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Próximo DEstino: nova iorquE A cidade onde apetece sempre regressar, pelos mais variados e renovados motivos, inspira-nos os dias e define-nos o estilo. Cosmopolita, despretensioso e sempre muito atual, o look nova-iorquino mistura as tendências do momento com a atitude arrojada dos locais, fazendo do pessoa mais anónima uma possível trendsetter.

1 b Cachecol, PaulSmith 2 b Casaco assertoado com gola em pele de coelho, Burberry Prorsum 3 b Lanvin Crystal Cufflinksjpg 4 b Luvas em pele, Dunhill 5 b Panamá, Dunhill 6 b Óculos de sol, Persol 7 b Camisola, Dolce& Gabbana 8 b Calças, Ralph Lauren Purple 9 b Smoking em veludo, Etro 10 b Saco de mão em pele, Mulberry 11 b Sapatos em pele envernizada, Lanvin

Life&Style Rita Lúcio Martins / Produção Nuno Lago

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Próximo DEstino: nova iorquE

1 b Anel em prata, Gucci 2 b Blazer de smoking, By Malene Birger 3 b Chapéu em pele de Coelho, Etro 4 b Botas em pêlo, MiuMiu 5 b Carteira com aplicação de tachas metálicas Christian Louboutin 6 b Leggings em algodão com aplicação de pele, DKNY 7 b Gola em alpaca, Gucci 8 b Botins em setim com aplicações de strass, Giuseppe Zanotti 9 b Vanessa Kamdiyoti Diamond and Shaphire Hamsa 10 b Blusa, Chloé 11 b Vestido de estrutura elastica em côr metalizada, Hervé Léger

{ ESTILOS }

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Life&Style

O poder dos saltos altos

A verdade é que cada solução funciona à sua maneira mas, no que toca aos sapatos, há que admitir que poucas experiências serão tão po-derosas ou até mesmo transformadoras. Basta entrar nuns sapatos de salto alto para experimen-tar aquilo que alguns poderão considerar um mo-mento Cinderela (e, nesta história, dispensa-se completamente a presen-ça ou até mesmo a ideia de um príncipe): em segun-dos, a silhueta alonga-se, a postura altera-se, a au-to-estima eleva-se. (E se quisermos ser muito, mas mesmo muito optimistas, até podemos falar de um trabalho extra de tonificação dos músculos das pernas). Posto isto, e avaliadas tantas vantagens e benefícios, quem é que tem coragem de lem-brar o ligeiro incómodo ou o pequeno desconfor-to que o uso prolongado de saltos pode causar?

Se tivermos de sofrer um bocadinho para pare-cer mais altas, mais magras e mais felizes... que seja. Faz parte. Vem com o pacote. Mas até esse suposto sofrimento tem tudo para se tornar um mito. O design cada vez mais sofisticado de cal-

çado consegue sublimar a estética sem abdicar do conforto e transformar um simples par de sa-patos numa verdadeira declaração de estilo. Bas-ta olhar com atenção as propostas para o Verão de casas como a Gucci ou a Prada para perceber que há ali toda uma síntese de inspirações e téc-nicas artesanais que transformam o verbo calçar

num instante de prazer.

Este Verão, as duas ca-sas italianas foram um bocadinho mais longe. Enquanto Miuccia Prada apostou num regresso da estética clássica dos anos 50 cruzada com a cor (e

alguma extravagância) típica do universo da ban-da desenhada, Frida Giannini, a criativa da Gucci, evocou a magia da arte deco e apostou em dou-rados que estimulam o olhar e veludos que ape-lam ao toque, transformando todo o acto numa experiência sensorial que convida à contempla-ção. Soa a exagero? Talvez. Comparar um sapato a uma obra de arte implica sempre alguma paixão. E nestas coisas da irracionalidade chega sempre o momento em que temos de deixar de explicar, para passar a adorar.

Foi o que fez Carrie Bra-dshaw, a mítica personagem a que Sarah Jessica Parker dá vida na série e no filme O Sexo e a Cidade. Em vez do anel de noivado, ela foi con-quistada com uns Manolo’s azuis. Quase do mesmo tom

eléctrico dos botins Luís Onofre que Paris Hilton usou recentemente num evento em Espanha.

Comparar um designer de calçado português ao mais do que consagrado rei dos sapatos (a par de Christian Louboutin) até podia parecer pre-tensão, mas só para quem não conhece a história recente da indústria do calçado made in Portu-gal. Além de Onofre, que calça figuras e celebri-dades internacionais como a Princesa Letícia de Espanha, Michelle Obama, a primeira-dama dos Estados Unidos, ou a atriz Naomi Watts, existem outras marcas e criadores a dar cartas nos mais exigentes mercados internacionais. Explica-se assim um crescimento de quase 20%, só no pri-meiro trimestre de 2011 (o melhor resultado do setor nos últimos 17 anos), traduzido no slogan “A indústria mais sexy da Europa”.

Se fosse necessário eleger uma só palavra para descrever uma mulher de saltos altos (com os saltos altos certos, leia-se), seria precisamente essa: sexy. É assim que parecemos, é assim que nos sentimos, e nem que seja só por instantes, é nisso que nos transformamos. E a felicidade, já se sabe, não dura para sempre. Mas também não tem preço.

Há certos gestos capazes de pe-quenos milagres pela auto-esti-ma feminina. Vestir os nossos

jeans favoritos e, apesar do passar dos anos, eles continuarem a assentar-nos como uma luva; fazer deslizar um batom colorido pelos lábios, frente ao espelho, num gesto preciso e apaixonado, que tem tudo de narcisista e nada de mecânico; ou subir para cima de uns saltos assustadoramente altos, mesmo pisando o risco da instabilidade permanente.

—“Comparar um sapato a uma obra de arte implica sempre paixão”

—“Casas como a Gucci ou a Prada transformam o verbo calçar num instante de prazer”

Rita Lúcio Martins { ESTILOS }

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Life&Style

sEgrEDos sul-africanosTão perto e tão longe da caótica Joanesburgo e da cosmopolita Cidade do Cabo, descobrimos as singulares Stellenbosch e Franschhoek. Duas cidades-postal que apetece admirar em cada detalhe e degustar a cada travo.

Rita Lúcio Martins / Fotografia Manuel Gomes da Costa

Hotel La Residence

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A primeira sensação a chegar a Stellenbosch é a de que invadimos o cenário de um filme. Tudo parece estar no sítio certo. As fachadas vitorianas dos edifícios encontram-se num estado de recuperação perfeita, as esplana-das dos cafés e dos restaurantes estão sempre bem compostas, com figurantes que quase pa-recem saídos de uma produção de moda, e os relvados à volta da cidade, bem cuidados, são frequentemente pontuados por grupos de es-tudantes em momentos de lazer. Famosa pe-la sua população universitária (tem cerca de 25 mil estudantes por ano), a cidade é ainda conhecida pelos vinhos que lhe dão mais sa-bor e pelas montanhas que funcionam como uma espécie de moldura ideal. A cerca de 30 quilómetros da Cidade do Cabo, Stellenbosch é, por tudo isto, o epíteto da cidade pequena, mas cosmopolita. Ou, ainda, a concretização daquele lugar nem sempre real onde sonha-mos passar férias, mas nos arriscamos a ficar uma vida inteira.

—“A paisagem montanhosa e o enquadramento verde das vinhas potenciam o romantismo de um espaço que parece ter sido desenhado para namorar de manhã à noite”

Fundada em 1679 e considerada uma das re-giões vinícolas mais antigas do mundo, tem as suas ruas recheadas de fábulas e de edi-fícios setencistas que reflectem a herança holandesa e a fazem funcionar como uma pa-ragem perdida no tempo. Inequivocamente bonita para ser admirada, mas ainda mais en-tusiasmante para ser vivida, de preferência a pé, num dos passeios temáticos promovidos pelo turismo local (www.stellenboschtou-rism.co.za).

Desbravados todos os percursos e revela-dos todos os segredos, as descobertas deste paraíso sul-africano só podem continuar à mesa, não fosse esta uma cidade-referên-cia para todos os amantes da gastronomia e dos vinhos (a Rota do Vinho de Stellenbos-ch inclui mais de 150 adegas que ajudam ainda a desenhar aquele que é o circuito de vinhos mais antigo do país). Os pratos de marisco merecem destaque na cozinha lo-

{ GOURMET }

Piscina do Hotel La Residence

Empregados do Hotel Franschhoek

WC de um dos quartos do Hotel La Residence

86 JANEIRO 2012

Life&Style

Quem preferir um quartel-general de estética mais contemporânea, mas com o mesmo nível de conforto, só tem de andar mais trinta qui-lómetros e fazer o check in no Le Franschhoek (www.lefranschhoek.co.za). A poucos minutos do centro da graciosa Franschhoek, prolonga a tranquilidade que é uma característica evi-dente desta cidade. A paisagem montanhosa e o enquadramento verde das vinhas potenciam

ainda mais o romantis-mo deste cinco estrelas, que parece ter sido dese-nhado para namorar de manhã à noite. É o que apetece fazer nos jardins, minuciosamente esculpi-dos e cuidados, nas salas e salões, decorados em tons claros e apetrecha-dos com sofás bem fofos, ou num dos 63 quartos pensados numa estética bem contemporânea, sem qualquer tipo de ruído es-tético ou sonoro (diárias a partir de €134 por pessoa

em quarto duplo). E nem sequer é preciso sair deste perímetro de felicidade para jantar. No Le Verger, o restaurante do hotel, servem-se as es-pecialidades da gastronomia local, sempre bem acompanhadas por uma lista de vinhos premia-dos. Mas o melhor de tudo é mesmo o cenário: se a noite estiver amena troque a sala pelo jar-dim e desfrute de uma das pequenas cápsulas que mais parecem um mini-jardim de Inverno. As árvores de fruto encarregam-se de imprimir a privacidade que faz sempre falta e até perfu-mam o ambiente. Se estiver frio, peça uma man-tinha... ou mais um copo de vinho. Impossível, mesmo, será não ficar com o coração quente.

cal, como de resto se pode comprovar na carta dos muitos bons restaurantes do cen-tro ou nas quintas encantadas das redon-dezas. Um desses lugares especiais fica já a caminho de Franschhoek e chama-se La Residence (www.laresidence.co.za), como se, depois de contemplada esta alternati-va, não houvesse mesmo outra alternati-va de residência... sobretudo para quem gosta de um bocadi-nho de luxo de vez em quando.

Instalado numa pro-priedade de 12 hecta-res, basta entrar neste hotel inaugurado em 2008 para comprovar que a simplicidade foi um conceito pro-positadamente bani-do por Ralph Krall, o decorador de serviço. Sucedem-se estilos, so-brepõem-se padrões, combinam-se cores, materiais, motivos. E, no final, tudo resulta. Resulta tanto que, apesar do excesso decora-tivo aparente, tudo fica em sintonia com a luxúria da natureza envolvente – um cená-rio para admirar a partir dos vários espaços exteriores, mas ainda mais poderoso se for contemplado a partir da privacidade de um dos 11 quartos disponíveis. Individualmen-te decorados, com antiguidades chinesas e outras relíquias coleccionadas por Elizabeth Bidin, a proprietária, já serviram de retiro a personalidades como Elton John ou Richard Gere... e outros menos famosos que podem pagar os €453 da estadia/noite por pessoa.

“É uma das regiões vinícolas mais antigas

do mundo, com as suas ruas recheadas

de fábulas e de edifícios setencistas que nos conduzem a

uma paragem perdida no tempo”

Rita Lúcio Martins / Fotografia Manuel Gomes da Costa

Região de vinhos de Stellenbosch

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“Decorados com antiguidades

chinesas e outras relíquias

já serviram de retiro a

personalidades como Elton John ou Richard Gere”

{ GOURMET }

Detalhes das regiões e vilas de Stellenbosch e Franschhoek

88 JANEIRO 2012

Life&Styleo Paladar não tem PreçoSaber comer e saber beber, é meio caminho andado para viver com sabedoria. Da água ao vinho, do champanhe ao café, dos biscoitos ao chá, nada pode ser descurado quando se trata do paladar. Se à qualidade juntarmos algum estilo está criado o pacote perfeito.

NESPRESSOMáquina de café Electric Indigo Pixie

BLINGÁgua H2O com garrafa em cristais

CHRISTOFLEFrapé para champagne

FAGORGarrafeiraBizon

FERREIRAPorto FerreiraDona AntóniaReserva Tawny

NESPRESSODispensadorde cápsulas

MOET ET CHANDON Champagne

edição especial

BOA BOCABiscoitos, Tisamas e Licores Gourmet

ABSOLUT Vodka Mode

{ GOURMET }

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Life&Style Paulo Laureano

tudo isto juntam-se ainda as tradi-ções e as gentes que produzem es-tes vinhos espumantes.Os champanhes e espumantes são frescos e acídulos porque provêm na sua maioria de zonas vitícolas mais frias, como é o caso da região de Champagne em França, da Ca-talunha em Espanha ou da Bairrada ou Bucelas em Portugal. Os vinhos base são por isso menos alcoólicos, o que lhes permite maior elegância e subtileza.

Podem ser mais ou menos doces, de acordo com a composição do “licor de expedição” que se lhes adiciona, o que ocorre quando se remove a levedura do interior da garrafa, no processo de dégorge-ment e se substitui a cápsula de alumínio ou metal pela caracterís-tica rolha fortemente presa pelos arames da muselet, de forma a que a pressão só se liberte quando o pretendermos. O gás que se en-contra dissolvido no vinho e que se liberta quando removemos a rolha é o resultado de uma se-gunda fermentação que ocorre na garrafa. Durante esse processo a partir de uma quantidade reduzi-da de açúcar produz-se álcool e dióxido de carbono que origina a bolha do espumante, que deve ser fina e elegante.

‘Os espumantes são vinhos que para se distinguirem têm de nos contar histórias de encantar, produzindo momentos de prazer inesquecíveis’

D. Pierre Pérignon, um monge be-neditino da Abadia de Saint-Pier-re d’Hautvillers e em Epernay, a quem é atribuído por muitos, o aperfeiçoamento do método de fabrico do champanhe, é, por isso, um dos grandes responsáveis pe-lo prazer dos espumantes que hoje bebemos. Este monge conseguiu, depois de muito batalhar, aprisio-nar nas garrafas de champanhe as preciosas bolhas responsáveis pe-lo prazer e frescura desta bebida. Produzidas durante a segunda fer-mentação em garrafa, a partir de um vinho base de grande qualida-de, produzem no seu conjunto mo-mentos de prazer inesquecíveis.

Os espumantes são momentos de festa, de diversão, mas são em pri-meiro lugar vinhos que, como todos os néctares de Baco, para se distin-guirem têm que contar-nos histó-rias que nos encantam quando os consumimos.

Para além do prazer da degusta-ção, devem revelar as regiões on-de são produzidos e os solos onde crescem as videiras que dão origem às uvas. Estas por seu turno têm uma maturação condicionada pe-lo clima envolvente e apresentam aromas e sabores distintos de acor-do com a sua proveniência. Mas a

“BuBBlEs” DE Puro PrazEr!

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Os vinhos espumantes produzem-se um pouco por todo o mundo, mas assumem nalgumas regiões desig-nações diferenciadas. Digamos que o rei dos espumantes é o Champa-nhe, que é unicamente produzido na região de Champagne em França, o Cava é o espumante produzido na Catalunha em Espanha, o Asti na re-gião com o mesmo nome em Itália, o Sekt na Alemanha e na Áustria e o Cap Classique na África do Sul. Nas outras regiões são simplesmente es-pumantes, como os produzidos nas regiões de Távora-Varosa, Bairrada ou Bucelas em Portugal.

Estes vinhos, subtis e elegantes, são uma excelente bebida para um início de refeição. Podem simplesmente ser motivo para uma boa conversa ou podem igualmente servir como complementos de algumas iguarias gastronómicas.Devem ser bebidos a uma tempera-tura entre os 6 e os 8ºC, em elegan-tes taças de fino vidro, desenhadas especialmente para o efeito. Pé lon-go e o corpo em forma de uma tuli-pa bastante alongada. Um corpo de copo com uma boa altura, impede uma agressão demasiado intensa do nosso olfato, pela libertação forte do gás. Podemos assim sentir o aroma sem sermos “agredidos” pelo des-prendimento das bolhas do espu-mante.

‘CASAmENToS’ PErfEIToS!Sendo um motivo de convívio com os amigos podemos tornar este prazer em algo mais sério e desafiante se a preocupação for a de arranjar com-plementos gastronómicos. Vejamos alguns que farão uma “maridagem” (harmonização gastronómica ou food paring) bastante adequada: os-tras, de preferência ao natural, frutos do mar frescos e ligeiros, um excelen-te salmão fumado, espadarte fuma-do, alguns cogumelos, sushi, frutos secos, o incontornável caviar, lava-gante, uma fresca lagosta ou mesmo umas apetitosas quitetas comidas no Mussulo ou a olhar o Mussulo.

Mas os champanhes, espumantes, cavas, sekts, asti, …nunca deixam de ser motivos de prazer, festa e celebração, pelo que o convite é fazer isso mesmo e divertirmo-nos em grande neste final de ano.

Para ajudar aqui ficam algumas boas sugestões:

doN PErIGNoNo cuvée de prestígio da famosa casa Moët et Chandon

LA GrANdE dAmEo cuvée de prestígio da não menos famosa casa de espumantes francesa Veuve Clicquot.

SIr WINSToN CHUrCHILtambém um cuvée de prestigio de uma casa mais pequena mas nem por isso de grande qualidade, Pol Roger

CrISTALum cuvée de prestígio, um clássico da Louis Roederer

Três espumantes portugueses com longos meses de maturação em garrafa, o que os torna sérios concorrentes de outros néctares mais conhecidos:

KomPASSUSespumante bairradino de 2008, um blanc de Noir do médico oflatmologista João Alberto Povoas, fervoroso apaixonado pelos vinhos da sua terra.

VérTICE mILLéSImE 2007a provar que nas terras altas do Douro português também se desenham grandes espumantes.

PAULo LAUrEANo BUCELAS BrUTo 2006com mais de 48 meses de maturação, provém de uma pequena região emblemática junto a Lisboa, algo esquecida, mas onde se fazem grandes vinhos brancos e excelentes espumantes. O produtor é este humilde escriba.

{ GOURMET }

92 JANEIRO 2012

Preparada pelo Museu Frida Kahlo em 2010 e apresentada pela Ca-sa da América Latina (www.casa-mericalatina.pt), a exposição Frida Kahlo – As Suas Fotografias chega a Lisboa. O Pavilhão Preto do Mu-seu da Cidade apresenta, até 29 de Janeiro, mais de 200 imagens das 6500 que compõem o acervo da ar-tista, convidando assim a um pas-seio pelo seu universo mais privado.

Life&Style

O MASP – Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (www.masp.art.br) apresenta Sigmar Polke – Realismo Capitalista e Ou-tras Histórias Ilustradas, a primei-ra exposição internacional depois da morte do alemão, em Junho de 2010. Além da série completa das obras gráficas do artista, produzi-das entre 1963 e 2009, são apre-sentadas mais de 220 estampas e objectos cedidos pelo colecciona-dor Axel Ciesielski. Para ver até 29 de Janeiro.

Paris tem sempre os seus encantos e um roteiro cultural bem recheado. Dele destacamos duas exposições: Edoard Munch: The Modern View, uma apresentação dos 70 principais trabalhos do artista norueguês, para ver no Centre Pompidou (www.cen-trepompidou.fr) até dia 9 de Janeiro; e Beauty, Morals and Voluptuousness in The England of Oscar Wilde, mos-tra que traduz a estética da sensu-alidade que nasceu em resposta à moral vitoriana, na segunda meta-de do século XIX. Patente no Musée D’Orsay (www.musee-orsay.fr) até 15 de Janeiro.

A agenda cultural de Londres apre-senta-se bem recheada neste iní-cio de ano. Além de musicais Billy Elliot ou O Fantasma da Ópera e de bailados como O Quebra-Nozes, a cidade recebe espectáculos de es-trelas internacionais como George Michael (actua em Earls Court entre os dias 16 e 19) ou os Kasabian (na 02 Arena, dias 14 e 15).

Desenhada a partir da coleção permanente do Whitney Museum (www.whitney.org), em Nova Ior-que, Real/Surreal expõe a tensão existente entre dois dos mais im-portantes movimentos artísticos do século XX. Patente até 12 de Fevereiro, a mostra reune obras de artistas como Edward Hopper, Charles Sheeler, Yves Tanguy ou Helen Lundeberg.

As exposições e eventos que marcam o início de 2012 pelo mundo fora.Agenda Janeiro

15até

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29 até

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12até

Fevereiro

29 até

Janeiro

14de

19a

Janeiro

Ana Soromenho { AGEnDA }

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BI de uM CUrADOrCurador, organizador, programador. José António Fernandes Dias é professor na Faculdade de Belas Artes de Lisboa, antropólogo de formação e um dos mais atentos observadores da cultura africana. Foi consultor no serviço de Belas Artes da Fundação Gulbenkian, responsável pelo Arte África e organizou uma base de dados com informação exaustiva sobre todos os artistas africanos em atividade, que se encontra disponível on-line. Atualmente dirige o Africa.cont, projeto embrionário de uma “casa” em Lisboa para a cultura africana. Neste sentido, podemos afirma-lo: é um construtor de plataformas entre hemisférios Norte e Sul.

O que é o áfrica.cont?Trata-se de um programa que organiza eventos, onde convergem múltiplas expressões artísticas da cultura contemporânea africana. A proposta inicial foi pensada na primeira Cimeira UE-África, que decorreu em Lisboa, em 2007. Acordou-se a construção de um museu de arte contemporânea africana, um projeto do arquitecto de origem uganêsa David Adjaye, entretanto adiado.

Qual o sentido de um centro africano em lisboa?Existem muitas “áfricas”. O que me parece ligar todos estes países é uma modernidade transversal, que foi introduzida pelo ocidente por via da colonização e foi assimilada pelas elites intelectuais e políticas africanas. Quando na Europa, ou mesmo em Portugal, pensamos neste território, pensamos quase sempre numa África rural e tradicional. Esquecemos que é neste continente que estão algumas das maiores cidade do planeta como Lagos, Joanesburgo, Cairo ou Luanda, que fervilha de intensa produção cultural.

É antropólogo, trabalhou muitos anos com culturas primitivas. como fez a rotação para as zonas da arte contemporânea?Em 1997, o curador da Bienal da Arte de São Paulo convidou-me para ser o comissário para as artes indígenas. Fiz a cenografia de uma

grande exposição com o arquiteto Paulo Mendes da Rocha, reuni os espólios de acervos de todos os grandes museus da Europa e realizei uma exposição absolutamente espampanante. Pouco depois entrei para a Gulbenkian e foi convidado a realizar uma exposição de arte contemporânea de todos os países dos PALOP. Nessa altura, conhecia aqueles nomes que toda a gente conhece, Malangatana, António Ole...pouco mais. Fiz um levantamento e construí uma exaustiva base de dados, com todos os artistas africanos que existem, o que me permitiu desenvolver um trabalho com as galerias e os curadores. Daí surgiu o Arte África.

Os artistas contemporâneos africanos trabalham sem complexos todas estas questões sobre a identidade?Claro. E passa precisamente por desconstruir esse medo do olhar do outro sobre a nossa cultura e vice-versa. Nesta altura, no discurso da arte contemporânea, há um consenso: aquilo que marca a distinção da passagem do modernismo para a arte contemporânea tem a ver precisamente com uma diversidade sem limites. Pela primeira vez, podemos dizer que finalmente o mundo da arte está totalmente globalizado. Sem complexos e sem culpas. Neste sentido, o mundo da arte tornou-se verdadeiramente global.

{ ARTE }

94 JANEIRO 2012

Life&Style

hemisFérios

Palavras como países e economias emergentes estão na ordem do dia. O mundo contemporâ-neo está em ebulição e os mercados deslocam-se à velocidade de um megabite. Também o mundo da arte acom-panha este movimen-to. Nos últimos anos assistimos a um fenó-meno verdadeiramen-te global na produção artística contemporânea e só muito recentemente, e pela primeira vez na história das ci-vilizações, podemos verificar que todos partici-pam, todos têm lugar.

Ainda há bem pouco tempo, quando falávamos de uma exposição internacional, falávamos, sal-vo pequenas e pontuais exceções, da grande maioria da produção ser representada por artis-tas da Europa e dos Estados Unidos. O resto do globo, fazia parte de uma produção periférica e dispersa, fortemente ancorada no conceito de “local”. Tudo isto mudou. Radicalmente. Hoje a comunidade de artistas circula e contamina-se, misturando nas suas histórias individuais traços comuns que fazem parte de uma linguagem da arte universal.

Neste contexto, e no que diz respeito a África, podemos assinalar que no palco da cena inter-

nacional, o ano de 2002, ano em que de-correu a 11ª Documenta de Kassel, uma das maiores fei-ras de arte do mundo que nessa edição teve pela primeira vez um curador não europeu, o crí-tico nigeriano residente em Nova Iorque Okwui

—“É precisamente por transportarem essa permanente ligação, o que os faz distinguir dos

seus pares e funcionarem tão bem nos mercados internacionais”, diz-nos Fernandes Dias. Neste sentido a “africanidade” é, e continuará a ser, o alimento para a obra.

O mercado da arte segue este movimento e aposta no novo mundo.

Enwezor, como um dos passos que marcaram definitivamente a presença de artistas contem-porâneos de África no mundo global da arte.

Também neste contexto, se quisermos de-linear traços singulares no modo de pro-

dução de artistas originários deste continente, que devido ao seu en-

quadramento histórico e de au-tonomia recente o faz ter caracterís-

ticas de expressão muito próprias, po-

demos assinalar que o discurso da arte africana

contemporânea se revela na abordagem dos temas, que re-

fletem as contradições e as dife-rentes condições dos africanos no

mundo e se inspiram de um quoti-diano por onde passa subtilmente o ruído da movida urbana e o fluxo da cultura tradicional.

Segundo o curador José António Fernan-des Dias, “ a maioria dos artistas africanos

considerados valor de cotação internacional, vivem fora dos seus países, tem ateliês entre

Lisboa, Paris e Nova Iorque, mas mantêm sem-pre um pé em África”. Ou seja, produzem fora, viajam entre um lugar e outro, mas o país de origem é o sítio a onde regressam regularmen-te para ir buscar a matéria-prima intelectual e a aspiração para o seu trabalho.

Ana Soromenho { ARTE }

JANEIRO 2012 95

Lei do Mecenato aprovada—A proposta de Lei do Mecenato foi aprovada na generalidade pelos deputados à Assembleia Nacional. O documento destina-se a promover, fomentar e valorizar o desenvolvimento de diversas áreas da sociedade, nomeadamente ao nível cultural, desportivo, educacional, juvenil e informativo. Por outro lado, incumbe as empresas de assumirem com maior veemência uma responsabilidade social. Com a nova lei será possível desbloquear os incentivos fiscais e canalizar as receitas oriundas da iniciativa privada para setores considerados “pobres”.

áfrica do Sul é parceira—Angola assinou um protocolo com a África do Sul no âmbito do reforço da cooperação entre os dois países. O documento, que visa estreitar as relações entre os dois países ao nível do contexto cultural, foi viabilizado durante a estadia da ministra da Cultura na nação sul-africana. Rosa Cruz e Silva participou nas atividades de retificação da Carta do Renascimento Cultural Africano, solicitada pela União Africana.

Nguxi dos Santos expõeno Soyo—“Povos e Lugares” é o nome da mais recente exposição fotográfica de Nguxi dos Santos. Após uma passagem por Moçambique, Macau e pelas províncias de Benguela, Namibe, Malanje e Huíla, o fotógrafo apresentou o seu trabalho no Soyo, Zaire. Do conjunto de 32 quadros que puderam ser visionados durante uma semana, destacam-se os retratos dos locais turísticos, dos rostos e das vestes das várias regiões de Angola. Alguns são acompanhados por poemas de Agostinho Neto.

romance—“A Sul. O Sombreiro” é o título do mais recente romance de Pepetela. O livro tem a chancela da Texto Editores e já pode ser encontrado nas livrarias. Nesta obra, o escritor relata a história de Manuel Cerveira Pereira, governador de Angola de 1615 a 1617, dando a conhecer o país dos séculos XVI e XVII e a vida em Portugal sob o domínio filipino. Em declarações à imprensa, Pepetal explicou que o livro retrata um período pouco conhecido da história. Há que destacar ainda a fundação da cidade de Benguela, que era “uma tentativa de uma nova colónia a Sul do rio Kwanza até à África do Sul e Moçambique”.

—A cantora Yola Semedo lançou um CD e um DVD comemorativos dos 25 anos de carreira. Os trabalhos foram apresentados em dezembro e o CD conta com cinco temas inéditos. O DVD foi gravado no ano passado durante um espetáculo que ocorreu no cine Atlântico e que serviu de mote para assinalar o percurso da artista. Yola Semedo é a cantora nacional mais premiada, tendo sido considerada por três vezes a melhor voz feminina de Angola. Conquistou ainda o prémio de “Voz de Ouro de África”, em 1995, quando representou o seu país num festival da Unesco, na Bulgária.

25 anosde carreira

Patrícia Alves TavarescuLturA & LAZEr

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A diminuição das taxas alfandegárias de importação das matérias-primas que intervêm na cadeia de produção do livro é a principal medida do novo documento de promoção da leitura, aprovado pelo Ministério da Cultura. Sem referir quais as taxas em causa, a ministra Rosa da Cruz e Silva indicou que está em causa a redução de quotas que facilitem a circulação do livro a preços mais baixose que abrangem a indústria livreira.

Saber universal

A recente aprovação da Política Cultural de An-gola visou a criação de uma nova Política Na-cional de Promoção do Livro e da Leitura, que prevê a diminuição das taxas inerentes à cir-culação dos livros e um conjunto de incentivos para os agentes culturais, produtores discográ-ficos e livreiros. O Governo acredita que com esta legislação será possível reduzir o analfa-betismo, especialmente nas zonas rurais, me-diante a colocação de mais livros no mercado a valores mais acessíveis.

Em última instância, o ministério espera alcan-çar a democratização do saber, diminuindo as assimetrias sociais. Entre as metas definidas pela nova legislação constam a promoção de edições de grande tiragem a baixo custo a dis-tribuir em todos os pontos do país. A principal prioridade vai para as crianças e adolescentes, bem como para o desenvolvimento de ações que promovam a literatura nesta faixa etária, em colaboração com a família, escola, bibliote-cas e agentes da sociedade.

DImINuIr ASSImetrIAS SOCIAISA política cultural e nacional do livro e da pro-moção da leitura visa o respeito pela diversidade cultural, pela liberdade de circulação e comuni-

cação, bem como a simbiose entre as aprendi-zagens no seio familiar, escolar, social com as atividades das bibliotecas e do Governo. Para o Ministério da Cultura, a democratização do saber é um elemento de “diminuição das diferenças so-ciais”. Para o vice-ministro da Cultura, Cornélio Caley, o “livro continua a ser a melhor ferramenta de trabalho, de aproximação da cultura e o me-lhor amigo em todos os momentos”.

‘A redução dos preços é “uma necessidade”.

Em relação a Portugal, o livro custa

por vezes “o dobro”’

A estratégia está montada e visa não só a pro-moção do livro e da leitura, bem como a disco-grafia e a expansão da rede de bibliotecas. No novo projeto está implícito a criação de biblio-tecas públicas e espaços de lazer cultural, assim como a aposta numa maior atenção e promoção da defesa dos direitos de autor, editor, importa-dor, livreiro e distribuidor.

Irene Marques, chefe do Departamento de Lín-guas da Faculdade de Letras da Universidade Agostinho Neto, em Luanda, aplaude o esforço da Política do Livro, que se destina a “reduzir o custo” das publicações. Porém, em declarações à imprensa, alerta que o “livro é demasiado ca-ro” e que essa é a principal causa do fraco inte-resse dos jovens pela leitura.

A redução dos preços é “uma necessidade”. Em relação a Portugal, o livro custa por vezes “o dobro”. A assessora do Ministério da Cultura re-conhece alguns progressos, mas acredita que ainda não são suficientes. “Em Angola, não há possibilidade financeira de comprar livros tão caros”, salienta.

‘INSPIrAçãO’ CuBANAA ministra da Cultura, Rosa Cruz e Silva, divul-gou que o país se está a inspirar no exemplo cubano. A responsável constatou que o sucesso da Feira Internacional do Livro 2011 está relacio-nado com o programa de fomento à leitura em curso naquele país, baseado no modelo aplica-do em terras de Fidel Castro. “É uma prova do sucesso do trabalho de promoção da leitura e do conhecimento que Cuba tem. Para prosse-guirmos o trabalho de literatura precisamos ter

Patrícia Alves TavaresCulturA & lAZEr

JANEIRO 2012 97

Saber universal ‘Entre as metas

definidas constam a

promoção de edições de grande

tiragem a baixo custo para que

possam ser distribuídas em todos os pontos

do país’

público e para alcançar esse público temos que fazer muito mais em Angola”, realçou, afirman-do que a continuidade das políticas culturais na-cionais vai “seguir o exemplo de Cuba”, que é um dos principais parceiros do plano. Contudo, o país ainda não tem capacidade para imple-mentar uma reforma à mesma velocidade das mudanças cubanas.

O Programa Nacional de Leitura cubano foi cria-do em 1998. Resultou de uma ação conjunta dos ministérios da Educação e da Cultura e contou com a participação de todos os setores da so-ciedade. Para a nação sul-americana, a leitura é encarada como uma prioridade nas políticas educativas e culturais, como um elemento es-sencial para a participação democrática e exer-cício da cidadania.

No programa de fomento à leitura, as crianças e jovens foram sempre o público prioritário e o fo-co da atenção governamental. O projeto cubano destaca-se por ter atuado sobre os ministérios e instituições já existentes, tornando-as mais ati-vas e maximizando os seus pontos fortes, sem ter que recorrer à criação de novos organismos.

A ação foi coordenada pela Biblioteca Nacional “José Martí”, que articulou os dois sistemas de bibliotecas mais importantes do país, as públi-cas e as escolares, que representam mais de seis mil instituições. Os professores, pais e bibliote-cários participam igualmente no plano de coor-denação de esforços.

A criação de concursos nacionais e locais tam-bém têm dado resultados, permitindo a desco-berta de novos autores e aproximando os jovens da leitura. O conjunto de medidas lançado pro-piciou a revitalização da indústria do livro na-cional, que tem tido um papel fundamental na renovação dos acervos das bibliotecas públicas e na distribuição gratuita de livros aos mais des-favorecidos.

LIterAturA INfANtIL em ASCeNSãOA indústria livreira infantil está em plena expan-são. É pelo menos essa a conclusão do diretor do Instituto Nacional de Indústrias Culturais, An-tónio Fonseca. Os resultados da última feira do livro infantil são animadores. O evento percorre quase todos os pontos do país, o que, de acordo com o Ministério da Cultura, indica que os pais e dirigentes regionais compreendem que a “leitura, o livro (particularmente o infantil) e a criação de hábitos pelas letras têm um caráter estratégico e desafiador para todos”. Para António Fonseca, o acréscimo da literatura infantil está relaciona-da com a maior oferta editorial, verificando-se o aparecimento de novos autores e editoras. Por outro lado, deu o exemplo da União dos Escrito-res Angolanos que atualmente edita livros infan-tis, algo que não acontecia no passado.

O responsável tem ainda notado o empenho e a sensibilização dos educadores, da escola e da sociedade em geral para a componente educativa da literatura infantil. Para o renascer deste mercado tem contribuído o projeto Jar-dim do Livro Infantil, criado há cinco anos para dinamizar o hábito de leitura entre as crianças e adolescentes e que este ano percorreu 16 das

18 províncias. Em média, o país edita 50 títulos por ano, com tiragens a oscilar entre mil e cinco mil exemplares, o que revela um crescimento significativo desta área.

Para o diretor do Centro de Formação de Jor-nalistas (Cefojor), Albino Carlos, o livro repre-senta a melhor ferramenta de desenvolvimento do conhecimento e do registo da história de uma sociedade. Portanto, o responsável sus-tenta que a nova legislação permitirá o acesso mais generalizado aos livros, devido à sua di-minuição de custo. Acrescenta, por outro lado, que para a política ter efeitos práticos é urgente dinamizar a indústria gráfica para que os custos de produção sejam reduzidos. A tarefa cabe ao Governo que, na sua opinião, deverá implemen-tar outras medidas para reduzir as taxas da ge-neralidade dos produtos culturais.

‘o país edita 50 títulos infantis por ano, com

tiragens a oscilar entre mil e cinco mil

exemplares’

98 JANEIRO 2012

ção das tradições nacionais, iniciou-se no mundo da música através da participação nos ‘concur-sos’ dos bairros. Inspirado pelo “semba”, formou um grupo chamado Kissueia, uma expressão Kimbudu que designa a miséria nas áreas pobres.

Bonga é considerado por muitos como um pro-duto de uma geração marginalizada e inter-ventiva que resistiu sempre à aculturação da sociedade, na época dominada pelo colonialis-mo. Nos dias de hoje, o artista continua a mover massas e a ser procurado por uma nova geração que está a redescobrir os valores e tradições da sua identidade.

DIáSPOrA Após o exílio em Roterdão, Bonga mudou-se para Paris onde conviveu com outros músicos, novos sons da diáspora e aprendeu a tocar teclado. A mistura das melodias de Cabo Verde com os rit-mos de soukouss congoleses abriu-lhe a visão, que, no entanto, se manteve fiel às suas raízes, à história social e cultural do seu país.Atuou nos Estados Unidos pela primeira vez em 1973, aquando a celebração da independência da Guiné-Bissau e integrou um espetáculo de homenagem à cultura lusófona. Nos anos 80 foi o primeiro artista africano a cantar a solo no Coliseu dos Recreios, o maior palco da mú-sica portuguesa.Com mais de 30 anos de carreira, Bonga foi ainda o primeiro a interpretar “Sodade”, 18 anos antes de Cesária Évora. Quando regressou a Portugal alcançou o tão desejado sucesso. Em 2000, gra-vou um novo álbum, “Mulemba Xangola”, que foi um êxito ao conquistar a aclamação dos críticos.

‘Musa’ de inspiração

Barceló de Carvalho, mais conhecido por Bonga, tem um novo CD. “Hora Kota” é o 40º álbum do cantor, que apresenta 11 temas inéditos, da sua autoria, que apelam à preservação dos valores da sociedade. O disco é um chamamento à mais profunda identidade africana, inspirado em en-sinamentos ancestrais. De acordo com uma nota da editora, o tema que dá nome ao CD é um “hino à importância dessas raízes, fundamentado na postura de respeito pelas mesmas”.O álbum custa 1000 kwanzas e conta com a par-ticipação de Betinho Feijó (guitarras), Ciro Ber-tini e Jamio Barbosa (acordeão), Juvenal Cabral (baixo), Malauía (congas), Vitó (Drums), Cremilde e Estevão Djipson (coros). Luanda está em des-taque e o músico não poupa elogios à sua terra-natal, através da “paixão pelo ambiente, pelos locais e pelas pessoas”, sentimentos que trans-parecem nas suas letras.

DO BAIrrO PArA A rIBALtAO menino Zeca, como era tratado pela família, criança dos típicos bairros da década de 40 e 50, tornou-se conhecido como Barceló de Car-valho. Jovem talento do desporto, campeão em várias modalidades, tanto em Angola, como em Portugal, enveredou pelo mundo da música anos mais tarde. Nascido a 5 de Setembro de 1942, em Kipiri, na província do Bengo, José Adelino Barceló de Carvalho passou a infância nos bairros dos Coqueiros, Ingombotas, Bairro Operário, Ran-gel e Marçal. Foi pela mão do pai, que era acor-deonista num grupo que tocava a música dos pescadores da Ilha de Cabo, que Bonga entrou no mundo das cantigas.Foi nesse período que contactou com o folclore dos musseques, que desde cedo o cativou. In-fluenciado pelos temas que apelavam à preserva-

40 áLBUmS, sENdO O mAisRECENTE “hORA KOTA”

6 VIdEoCLIPS Em mAis dE 30 ANOsdE CARREiRA

300 ComPoSIçõES dA sUA AUTORiA

7 BANdAS SoNorAS PARA fiLmEs

Patrícia Alves TavaresPErSonAliDADES

Bonga acaba de lançar o seu mais recente trabalho discográfico. “Hora Kota” é o 40º CD do músico, que já compôs ao longo da sua carreira mais de 300 temas. O novo álbum dá voz às raízes africanas. Um hino de respeito por uma cultura ancestral. Com 11 temas da sua autoria, Luanda é a “musa” deste disco.

A cultura angolana tem rosto e nome próprio. Descubra a mulher por detrás da diva que encanta o país.

PÉROLA, Embaixadora da música

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juvenil em análise nesta edição

Life & Style12 meses, dezenas

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ANO IV - SÉRIE IIREVISTA Nº01JANEIRO 2012—3,50 EUR450 KWZ5,00 USD—ISSN 1647-3574

ECONOMIA & NEGÓCIOS · MARCAS ID · SOCIEDADE · FOTOREPORTAGEM · ARQUITETURA & CONSTRUÇÃO · INOVAÇÃO & DESENVOLVIMENTO · DESPORTO · LIFE & STYLE · CULTURA & LAZER · PERSONALIDADES

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