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ANEXO I Programa de Iniciação Científica da UNILA Formulário para declaração de produtividade intelectual do pesquisador: (ANEXO I DA RESOLUÇÃO COSUP nº 06/2015) Identificação do pesquisador: Clovis Antonio Brighenti Grande área de conhecimento – CAPES (marcar apenas UMA grande área de conhecimento com X) Ciências Agrárias Engenharias Ciências Biológicas Ciências Sociais Aplicadas Ciências da Saúde X. Ciências Humanas Multidisciplinar Linguística, Letras e Artes Ciências Exatas e da Terra A Maior titulação Peso Quant. Subtotal 1 Doutorado 10 1 10 2 Mestrado 8 0 B Bolsista de produtividade (Pq ou DT) 15 0 C Coordenação e participação em projetos Peso Quant. Subtotal 1 Coordenação de projeto de pesquisa ou inovação com financiamento 8 0 2 Coordenação de projeto de pesquisa ou inovação sem financiamento 5 1 5 3 Participação em projetos de pesquisa e inovação 3 0 4 Líder ou vice líder de grupo de pesquisa 1 0 D Periódicos e/ou revistas Peso Quant. Subtotal 1 Membro de corpo editorial de periódicos ou revistas científicas e culturais ou organizador de dossiês temáticos (pontos por ano por revista ou periódico) 6 0 2 Revisor de periódicos ou revistas científicas e culturais (pontos por parecer) 1 3 3 E Artigos, trabalhos completos e resumos publicados Peso Quant. Subtotal 1 Artigo técnico-científico publicado em periódico indexado – Qualis A1 10 0 2 Artigo técnico-científico publicado em periódico indexado – Qualis A2 8 0 3 Artigo técnico-científico publicado em periódico indexado – Qualis B1 e B2 6 1 6 4 Artigo técnico-científico publicado em periódico indexado – Qualis B3 4 0 5 Artigo técnico-científico publicado em periódico indexado – Qualis B4, B5 e C e sem Qualis. 2 1 2 6 Trabalho completo publicado em anais de evento internacional 1,5 1 1,5 7 Trabalho completo publicado em anais de evento nacional, regional ou local 1 1 1 8 Artigo de divulgação publicado em revistas ou jornais ou resenha crítica em periódicos indexados 1,5 0 9 Resumo expandido ou resumo publicado em evento científico ou artístico-cultural internacional, nacional, regional ou local 0,2 0

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ANEXO IPrograma de Iniciação Científica da UNILA

Formulário para declaração de produtividade intelectual do pesquisador: (ANEXO I DA RESOLUÇÃOCOSUP nº 06/2015)

Identificação do pesquisador: Clovis Antonio Brighenti

Grande área de conhecimento – CAPES (marcar apenas UMA grande área de conhecimento com X)

Ciências Agrárias EngenhariasCiências Biológicas Ciências Sociais AplicadasCiências da Saúde X. Ciências HumanasMultidisciplinar Linguística, Letras e ArtesCiências Exatas e da Terra

A Maior titulação Peso Quant. Subtotal1 Doutorado 10 1 102 Mestrado 8 0B Bolsista de produtividade (Pq ou DT) 15 0C Coordenação e participação em projetos Peso Quant. Subtotal

1Coordenação de projeto de pesquisa ou inovação comfinanciamento 8 0

2Coordenação de projeto de pesquisa ou inovação semfinanciamento 5 1 5

3 Participação em projetos de pesquisa e inovação 3 04 Líder ou vice líder de grupo de pesquisa 1 0D Periódicos e/ou revistas Peso Quant. Subtotal

1

Membro de corpo editorial de periódicos ou revistas científicas eculturais ou organizador de dossiês temáticos (pontos por ano porrevista ou periódico) 6 0

2Revisor de periódicos ou revistas científicas e culturais (pontos porparecer) 1 3 3

E Artigos, trabalhos completos e resumos publicados Peso Quant. Subtotal

1Artigo técnico-científico publicado em periódico indexado – QualisA1 10 0

2Artigo técnico-científico publicado em periódico indexado – QualisA2 8 0

3Artigo técnico-científico publicado em periódico indexado – QualisB1 e B2 6 1 6

4Artigo técnico-científico publicado em periódico indexado – QualisB3 4 0

5Artigo técnico-científico publicado em periódico indexado – QualisB4, B5 e C e sem Qualis. 2 1 2

6 Trabalho completo publicado em anais de evento internacional 1,5 1 1,5

7Trabalho completo publicado em anais de evento nacional, regionalou local 1 1 1

8Artigo de divulgação publicado em revistas ou jornais ou resenhacrítica em periódicos indexados 1,5 0

9Resumo expandido ou resumo publicado em evento científico ouartístico-cultural internacional, nacional, regional ou local 0,2 0

F Produção Artísticas (Conforme Qualis artístico Capes) Peso Quant. Subtotal1 Obra artística – Qualis A1 10 02 Obra artística – Qualis A2 8 03 Obra artística – Qualis B1 e B2 6 04 Obra artística – Qualis B3 4 05 Obra artística – Qualis B4, B5 e C e sem Qualis 2 0

6 Demais produções artísticas e culturais apresentadas ao público 0,5 0G Livros Peso Quant. Subtotal

1 Autoria de livro didático, cultural, técnico ou científico com ISBN 10 2 20

2Edição, tradução, ou organização de livro didático, cultural, técnicoou científico com ISBN 8 0

3 Capítulo de livro didático, cultural, técnico ou científico com ISBN 6 9 54H Produção técnica Peso Quant. Subtotal

1

Patente ou produto registrado (aparelho ou instrumento, aplicativocomputacional, equipamento, fármaco, outros) - acrescentar 5pontos quando o projeto concorrer a editais de IniciaçãoTecnológica 10 0

2

Demais tipos de produção técnica (Cartilhas, Manual Técnico,laudos e material institucional para EAD, Materiais Cartográficos ousimilares) 6 1 6

3

Parecer como Consultor "ad hoc" de projetos ou relatórios técnicosou científicos de agência de fomento, comissão nacional de reformae avaliação de cursos de pós-graduação stricto sensu (pontos porparecer) 4 2 8

4Parecer de trabalhos em eventos internacionais, nacionais,regionais ou locais (pontos por parecer) 0,5 0

I Eventos e cursos Peso Quant. Subtotal

1Coordenador geral de eventos científicos, desportivos ou artístico-culturais internacionais e nacionais 8 0

2Coordenador geral de eventos científicos, desportivos ou artístico-culturais regionais ou locais 6 0

3

Participações nas comissões organizadoras de eventos científicos,desportivos ou artístico-culturais internacionais, nacionais, regionaisou locais 4 0

4

Organizador de conferências, palestras, minicursos, mesasredondas, eventos desportivos ou artístico-culturais internacionais,nacionais, regionais ou locais (por ação) 2 6 12

5Organizador de cursos de extensão, aperfeiçoamento ou formaçãode professores da educação básica cadastrados na IES 1 0

6

Apresentação de trabalhos (comunicação oral, palestras, etc.) emeventos científicos ou artístico-cultural internacional, nacional,regional ou local 0,5 19 9,5

7Apresentação de trabalhos: minicurso (ponto por hora de minicursoministrada), porter (ponto por pôster) 0,1 0

J Orientações Peso Quant. Subtotal

1Orientações ou coorientações concluídas de doutorado ou pós-doutorado na UNILA ou outra IES* 8 0

2Orientações ou coorientações concluídas de mestrado na UNILA ououtra IES* 6 0

3Orientações ou coorientações em andamento mestrado, doutoradoou pós-doutorado na UNILA ou outra IES* 4 0

4

Orientações ou coorientações concluídas de trabalho de conclusãode curso de graduação, pós-graduação lato sensu, iniciaçãocientífica ou tecnológica, iniciação docente (PIBID), PET, extensão,monitoria, tutoria, residência médica ou estágio supervisionado naUNILA ou outra IES* 2 6 12

5

Orientações ou coorientações em andamento de trabalho deconclusão de curso de graduação, pós-graduação lato sensu,iniciação científica ou tecnológica, iniciação docente (PIBID), PET,extensão, monitoria, tutoria, residência médica ou estágiosupervisionado na UNILA ou outra IES* 0,5 4 2

L Participação em bancas Peso Quant. Subtotal

1Participação em banca examinadora de dissertação ou tese dedoutorado 4 5 20

2Participação em banca examinadora qualificação de mestrado oudoutorado 2 5 10

3Participação em banca de seleção de mestrado, doutorado ou pós-doutorado 1 0

4 Participação em banca examinadora de TCC ou monografia 0,5 11 5,55 Participação em banca examinadora de concurso público 0,2 1 0,2M Premiações Peso Quant. Subtotal

1

Premiações recebidas (prêmio de teses e dissertações concedidopor agencia de fomento ou sociedades científicas, prêmios artísticosde abrangência nacional e/ou internacional) 6 0

2Premiação concedida por organismo de governança nacional ouinternacional ou sociedade civil organizada e instituições privadas 2 0

3Artigos e obras premiadas em eventos científicos e culturais deabrangência nacional e/ou internacional 1,5 0

4Demais premiações (menção honrosa, segundo e terceiro lugar,pôsteres, premiações locais) 0,2 0TOTAL 187,7

Total (conforme o Edital) 187,7

PLANO DE TRABALHO DE BOLSISTA

Título

Construções historiográficas das fronteiras nacionais e as práticas guarani

Introdução

Os Guarani contemporâneos ocupam um território que extrapola as fronteiras dos

Estados Nacionais de países do Cone Sul da América, estão presentes na Argentina,

Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai. São conhecidos como Kaiowa (Brasil) ou Pãi-

Tavyterã (Paraguai); Mbya (Brasil, Paraguai e Argentina - até recentemente havia

também algumas famílias vivendo no Uruguai); Avá Guarani ou Xiripa (Brasil,

Argentina e Paraguai); Guarani Ñandeva (Paraguai); Aché, e Nhandeva (Paraguai).

Na Bolívia, os Guarani são denominados Chiriguano, nome genérico dado a

partir de fora. Ocupam partes do que é hoje a Argentina (especialmente os Tapui, no

noroeste) o Paraguai (Guarayo/Gwarayu e Tapieté, no departamento de Boquerón) e a

grande maioria na própria Bolívia (Gwarayu, Ava Guarani, Tapieté, Isoseño, Mbia e

Yuki, nos departamentos de Santa Cruz, Tarija e Chuquisaca) perfazendo mais de 350

comunidades apenas na Bolívia. Organizam-se politicamente em torno da Assemblea

del Pueblo Guarani - APG. A APG representa os Guarani nos três países citados, e tem

como meta a “Autonomía Territorial Guaraní”. Segundo essa organização, a população

Guarani ultrapassa 200 mil pessoas.

Esse território, com registros históricos e arqueólogos, foi recortados pela

geopolítica do prata desde antes da invasão português na América através do Tratado de

Tordesilhas, e reafirmado por diversos outros tratados entras as monarquias Ibéricas. O

Guarani, nunca ouvido e respeitado no processo continuam sua mobilidade, agora

enfrentando inúmeros desafios por terem que relacionar-se com quatro diferentes

Estados (Nacionais).

As organizações sociopolíticas contemporâneas são um desafio a essa população

bem como um instrumento de resistência. Buscam contemplar em seu universo

organizativo aspectos relacionados às práticas e conhecimentos tradicionais com as

dinâmicas da organização política moderna. É no diálogo que buscam manejar os

diferentes pensamentos e fazer valer seus direitos.

Objetivos

Compreender as dinâmicas atuais de relações sócio culturais, mobilidade,

territorialidade e espacialidade Guarani no contexto da fronteira Argentina, Brasil,

Bolívia e Paraguai;

Estabelecer análise historiográfica entre práticas dos Estados Nacionais e práticas

Guarani de rompimento das fronteiras por suas ações políticas e socioculturais.

Metodologia

Pesquisar de acervo historiográfico e arqueológico sobre a ocupação Guarani

antes da ocupação colonial, as dinâmicas e mobilidade, comprando com os discursos e

práticas contemporâneas dessa população, buscando compreender as rupturas e

continuidades do pensamento mítico e sociocultural a fim de perceber os desafios

contemporâneos. Para esse análise serão utilizados acervos documentais da

historiografia do Prata comparando com os discursos contemporâneos coletados pela

metodologia da história oral e da etnologia, bem como discursos políticos transcritos em

documentos das organziações Guarani da região.

O acadêmico usará as fontes já coletadas em diferentes acervos e disponíveis

online e quando possível fará diálogo com o Conselho Continental da Nação Guarani

(CCNAGUA), organização criada em 2010 com o propósito de aglutinar forças e dar

vazão juntos aos Estados Nacionais das demandas dessa população. Também será

fundamental contar com acervos de organizações Guarani locais e regionais, também

disponíveis em meios eletrônicos.

Como fontes teóricas são usados elementos da história indígena produzidos por

diferentes autores bem como os conceitos modernos de colonialidade, buscando

compreender que as diferentes relações estabelecidas foram mediadas por um

pensamento colonial que se apresentava em diversas modalidade (Encomenderos,

Bandeirantes, Igreja etc), porém com um único pensamento de converter o outro,

transformá-lo em um não indígena.

Os Guarani disseram não ao processo, souberam dialogar e resistir. Seguem

afirmando que nunca abandonaram seus costumes e que desejam ter de volta seu

território, não de maneira exclusiva, mas através de espaços demarcados e autônomos.

A pesquisa será desenvolvida a partir da UNILA não demandando recursos para

deslocamentos e pesquisas.

Referências

AGAMBEN, Giorgio. O que é contemporâneo? e outros ensaios. Trad. ViniciusNicastroHonesko. Chapecó: Argos, 2009.

ARRIGHI, Giovanni. O longo século XX: dinheiro, poder e as origens de nossotempo. Rio de Janeiro/São Paulo. Contraponto/Ed. Unesp. 1996.

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. São Paulo: Jorge Zahar Editor, 2001.

BRIGHENTI, Clovis A. Estrangeiros na Própria Terra: Presença Guarani e EstadosNacionais. Chapecó-Florianópolis: Argos/EdUFSC, 2010.

CHAMORRO, Graciela. A espiritualidade Guarani: Uma teologia ameríndia dapalavra. São Leopoldo: SINODAL, (Série teses e dissertações, v. 10), 1998

CLASTRES, Hélène. Terra sem mal. O profetismo tupi-guarani. São Paulo:Brasiliense, 1978.

Documento Final. I Assembléia Continental do Povos Guarani. Guarani. SãoGabriel – RS: 07 de fevereiro de 2006.

Documento Final. II Assembléia Continental do Povo Guarani. Porto Alegre – RS:14 de Abril de 2007.

Documento Final. III Encontro Continental do Povo Guarani. Assunção – PY: 19de novembro de 2010.

Documento Guarani. Aldeia Massiambu, Palhoça-SC, novembro de 1989.

HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Centauro, 2006. p.86.

KUPER, Adam. Cultura: a visão dos antropólogos. Bauru. Edusc, 2002.

LITAIFF , Aldo - O “kesuita” guarani: mitologia e territorialidade. EspaçoAmeríndio, Porto Alegre, v. 3, n. 2, p. 142-160, jul./dez. 2009.

MELIÀ, Bertomeu ett all. O Guarani: Uma bibliografia etnológica. Santo Ângelo:Fundames, 1987.

POUTIGNAT, Philippe; STREIFF-FENART, Jocelyne. Teorias da Etnicidade.Tradução de Elcio Fernandes. São Paulo: UNESP, 1998.

SILVA, Helenice R. “Rememoração”/comemoração: as utilizações da memória.Revista Brasileira de História, São Paulo, vol.22, n. 44, p. 425-438, 2002.

SILVA, Tomaz Tadeu da. A produção social da identidade e da diferença. In: SILVA,Tomaz Tadeu da. (Org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais.Petrópolis: vozes, 2000.

MELIÀ, Bartomeu. A experiência religiosa Guarani. In: MARZAL, Manuel M. ORosto Índio de Deus. Petrópolis: Vozes, 1988. p. 293-357. (Col. Teologia daLibertação, série VII, v. 1).

NOELLI, Francisco S. Silva. Curt Nimuendajú e Alfred Métraux: a invenção da buscada “terra sem mal”. Suplemento Antropológico, Asunción, 34 (2): 123-166,dez.1999.

SUSNIK, Branislava. Los Aborígenes del Paraguay. Etnohistória de los Guaranies.Época colonial. II. Asunción: Museo Etnografico Andres Barbero, 1979-1980.

Cronograma de atividades

2016 2016Atividade Ago set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun julEstudos sistematizados da historiografia e etnografiahistórica e contemporânea da população guarani na regiãode fronteira;

Estudo da dinâmica da população Guarani a partir daarticulação política atual, articulada em trono do ConselhoContinental da Nação Guarani.Participação em eventos científicos e acadêmicos

Produção de artigos a partir da sistematização dadocumentação historiográfica

Foz do IguaçuAbril de 2016

UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LATINO AMERICANA

INSTITUTO LATINO-AMERICANO DE ARTE, CULTURA E HISTÓRIA(ILAACH)

CURSO DE HISTÓRIA – AMÉRICA LATINA

Clovis Antonio Brighenti

Memórias e práticas transfronteiriças do povo Guarani

Projeto de Pesquisa apresentado aoEdital PRPPG 05/2014.

Foz do Iguaçu

Abril de 2016

I. Título

Memórias e práticas transfronteiriças do povo Guarani

II. Autoria

Clovis Antonio Brighenti

III. Resumo

O presente Projeto de Pesquisa pretende ser um espaço de investigação a serrealizado com o povo Guarani presente no Brasil, Argentina, Paraguai e Bolívia.Terá como eixo central a memória Guarani no que tange as relações com osEstados Nacionais e as ações contemporâneas desse povo na conquistas dosdireitos. No caso específico do Brasil faremos uma ponte com nosso Projeto de

Extensão no que concerne as ações do Estado brasileiro como violador de direitosna segunda metade do século XX, quando a referida população perdeu suas terrasem três processos distintos: colonização; criação do Parque Nacional do Iguaçu; econstrução da Hidrelétrica Itaipu Binacional. Nossa atuação terá como referênciaas recomendações apresentadas em dezembro de 2014 no Relatório Finalpublicado pela Comissão Nacional da Verdade (CNV), no que concernem asrecomendações pedagógicas encaminhadas ao Estado brasileiro.

IV. Introdução

Os Guarani contemporâneos ocupam um território que extrapola as fronteiras

dos Estados Nacionais de países do Cone Sul da América, estão presentes na Argentina,

Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai. São conhecidos como Kaiowa (Brasil) ou Pãi-

Tavyterã (Paraguai); Mbya (Brasil, Paraguai e Argentina - até recentemente havia

também algumas famílias vivendo no Uruguai); Avá Guarani ou Xiripa (Brasil,

Argentina e Paraguai); Guarani Ñandeva (Paraguai); Aché, e Nhandeva

(Paraguai).

Na Bolívia, os Guarani são denominados Chiriguano, nome genérico dado a

partir de fora. Ocupam partes do que é hoje a Argentina (especialmente os Tapui, no

noroeste) o Paraguai (Guarayo/Gwarayu e Tapieté, no departamento de Boquerón) e a

grande maioria na própria Bolívia (Gwarayu, Ava Guarani, Tapieté, Isoseño, Mbia e

Yuki, nos departamentos de Santa Cruz, Tarija e Chuquisaca) perfazendo mais de 350

comunidades apenas na Bolívia. Organizam-se politicamente em torno da Assemblea

del Pueblo Guarani - APG. A APG representa os Guarani nos três países citados, e tem

como meta a “Autonomía Territorial Guaraní”. Segundo essa organização, a população

Guarani ultrapassa 200 mil pessoas.

Não é consenso entre pesquisadores que os Guarani formam um único povo ou

nação, apesar da proximidade sócio-linguística e cultural entre os diferentes grupos.

Também é possível perceber diferenças sociopolíticas representadas a partir das práticas

de mobilidade específica em cada grupo ou subgrupo linguistico. Raramente um

Kaiowá migra para a região leste do Brasil, da mesma forma que raramente um Mbya

migra para o nordeste paraguaio ou sul do Mato Grosso do Sul. Portanto, compreender a

mobilidade linguística e territorial de cada subgrupo Guarani é uma das chaves para

compreensão da articulação política continental e do sentimento de pertencimento a um

povo ou nação Guarani.

As pesquisas desenvolvidas com comunidades do povo Guarani necessitam

dimensionar o recorte espacial (Países, Unidades da Federação ou micro regiões) com a

espacialidade ou territorialidade indígena e a relação que as mesmas estabelecem, ante o

perigo de fracionar e inviabilizar o território construído historicamente por eles,

especialmente porque esse território ultrapassa as fronteiras nacionais (TOMMASINO,

2001), contexto que pode ser, e o é em algumas situações, utilizado pelos Estados para

negar direitos, apelando para a condição de estrangeirismo. Nesse sentido, torna-se

imperioso conhecer a espacialidade e territorialidade Guarani, sua relação com o meio e

a mobilidade.

Figura 1 – MAPA CONTINENTAL: GUARANI RETÂ GUAZÚ1

Localização atual da população guarani no cone sul

Fonte: ACUÑA, Jorge.

1. O mapa está em fase de elaboração, portanto trata-se de uma versão parcial construída a partir de dadosdisponibilizados por um conjunto de organizações científicas e ONGs da Argentina, Brasil, Bolívia eParaguai, projeto ao qual fazemos parte. A maior área em destaque (desde a Bolívia e Noroeste Argentinoao litoral atlântico) é hoje ocupada pelos Guarani. As aldeias indicadas no mapa são aquelas quecompõem o mapa Guarani Retã (2008).

Os Guarani habitam as terras baixas do cone sul da América, região de clima

subtropical há pelo menos dois milênios (BROCHADO, 1982), território que se estende

ao sul do trópico de Capricórnio, do litoral atlântico as planícies anteriores aos Andes,

atual território boliviano, ao sul incursionavam até a atual Buenos Aires. A época da

ocupação europeia estima-se que haviam mais de 2 milhões de habitantes

(P.CLASTRES, 1978; MELIÀ, 1988). O primeiro registro de contato com europeus

ocorreu na Bahia da Babitonga, atual São Francisco do Sul/SC em 1504, quando Binot

Paulmier de Gonneville, navegador a serviço da coroa francesa, levou para a França

dois Guarani, Iça-Mirim e Namoa (SANTOS, 2004, p. 25). O nome “Guarani” foi

registrado pela primeira vez na carta de Luis Ramires, tripulante da expedição do

veneziano Sebastião Caboto a serviço da coroa espanhola, quando navegavam pela

bacia do Prata em 1528 (MELIÀ, 1986). Porém, durante séculos foram empregados

inúmeros nomes para designar parcialidades ou mesmo a totalidade da população, sendo

nomeados a partir de critérios exógenos.

São diversos os registro de contados amistosos entre Guarani e europeus nesses

primeiro anos de ocupação. Ocorre que sem os conhecimentos geográficos e

agronômicos dessa população e sem o aporte de alimentos, retardaria significativamente

o domínio europeu. Um dos registros mais significativos da dimensão espacial,

territorial e linguística do povo Guarani foi efetivado pelo governador do Paraguai

Álvar Nuñes Cabeza de Vaca. Ao partir da atual Florianópolis para tomar posse do

governo em Asunción, foi guiado pelos Guarani através dos caminhos pré-coloniais.

Nos registros do governador constam que essa população, que se convencionou chamar

de Guarani, “fala uma linguagem que é entendida por todas as outras costas da

província” (CABEZA DE VACA, 1999, p.177). Menciona também a fartura de

alimentos que os Guarani produziam: “Os espanhóis festejavam alegremente o Natal,

pois os índios lhes traziam toda espécie de comida que conheciam. Como todos estavam

sem se exercitar, a comida em excesso chegava a causar mal estar em alguns”

(CABEZA DE VACA, 1999, p. 163), permitindo afirmações de que a agronomia

Guarani era mais apurada que a europeia (MELIÀ, 1988). É comum encontrar na

bibliografia histórica a existência de diversos núcleos populacionais, denominados

Guára (SUSNIK, 1980), ou seja, conjunto de aldeias/tekoa/ ou Tataypy Rupa e que

dadas as singularidades levaram a diferentes viajantes a registrá-los como se fossem

povos distintos. A atual classificação aceita no Brasil como Mbya, Nhandeva e Kaiowá

a partir de aspectos linguísticos e da cultura material é atribuída a Schaden (1974).

Soma-se a dimensão sócia cultural a configuração territorial desse povo na qual

a arqueologia tem relevância significativa na confirmação da documentação história. Há

aceitação entre arqueólogos que as primeiras migrações Guarani ocorreram da

Amazônia, bacia do Madeira-Mamoré sua região de origem, em direção às terras baixas

e florestadas na bacia dos rios Paraná/Paraguai estabelecendo um território de domínio

exclusivo (SCHMITZ; FERRASSO, 2011) onde desenvolveram a agricultura há pelo

menos 2000 anos A.P. Posteriormente, expandiram o território a partir de novas

migrações. O apogeu da expansão territorial ocorreu no início do segundo milênio de

nossa era, quando atingiram as terras litorâneas e o vale do rio Uruguai (SCHMITZ;

FERRASSO, 2011), com registro de presença entre 900 a 1.000 anos A.P.

(BANDEIRA, 2004), período em que conquistaram regiões antes ocupadas pelos

grupos de tradição “Jê”, ancestrais dos atuais Xokleng e Kaingang (NOELLI, 1999-

2000). Há controvérsia se teria ocorrido sobreposição ou uso comum do território, o que

é possível afirmar, segundo Noelli é a plasticidade da organização social, política e do

parentesco e a grande capacidade de se adaptar ao meio, que permitiu aos Guarani a

expansão para um amplo território:

A partir de uma revisão exaustiva da bibliografia Guarani, de estudosarqueológicos e visitas a diversas coleções de museus e sítios arqueológicosdo Sul do Brasil, Paraguai, Uruguai e Argentina, feitos nos últimos 12 anos,foi possível concluir que os Guarani tinham a prescritividade como norma.As pessoas não-Guarani e as “coisas novas” eram incorporadas eenquadradas nos seus códigos e estruturas. As inúmeras fontes indicam queos Guarani eram “radicalmente” prescritivos, reproduzindo-se continuamentecom pouca variabilidade na cultura material. Caso contrário, a contínuaassimilação de pessoas de outras etnias e a adaptação aos ambientes do Suldo Brasil poderiam resultar em mudanças significativas e evidentes. Épreciso reconhecer que os Guarani representam diversas populações quetinham em comum língua, cultura material, tecnologia, subsistência, padrõesadaptativos, organização sociopolítica, religião, mitos, etc. Há,evidentemente, variações em nível dialetal, de adaptabilidade e de etnicidade(NOELLI, 1999-2000, p. 248).

Uma das principais características dos Guarani e talvez a mais abordada na

etnologia, diz respeito a mobilidade. Segundo Melià (1989, p. 294) “a migração, como

história e como projeto, constitui um traço característico dos guarani,” embora

reconheça que muitos grupos nunca tenham realizado uma migração efetiva. As

migrações receberam interpretações variadas desde a busca da Terra Sem Mal

(NIMUENDAJU, 1987; MÉTRAUX, 1927), a fuga das violências físicas, epidemias,

escravização e maus tratos (FAUSTO, 1992), como a busca de espaços ambientalmente

preservados, ou seja, Terra Sem Mal, como “suelo intacto, que no ha sido edificado”

(MELIÀ, 1991). As diferentes interpretação não representam exclusões, ao contrário,

evidenciam que a dimensão ambiental adquire relevância significativa nos estudos de

mobilidade e conflitos atuais.

No contexto das comunidades Guarani na região da tríplice fronteira, local

privilegiado de nossa pesquisa e extensão, a construção da Hidrelétrica de Itaipu

(década de 1970 e 1980) pode ser considerada um evento marcante na pressão exercida

sobre o território Guarani, tanto do ponto de vista do alagamento de inúmeras

aldeias/Tekoá Guarani em ambas as margens do rio Paraná2 como a chegada de novas

levas de migrantes não indígenas que se instalaram naquela região. Pressionados, os

Guarani que habitam a margem esquerda do rio Paraná foram buscar abrigo nas terras

paraguaias (CARVALHO, 1981) e outros se espalharam pelo interior dos estados

brasileiros. Apoiados por instituições de Direitos Humanos regressaram ao Brasil e

passaram a demandar terras. A figura 02 traduz em imagens a intensificação da

deflorestação na década de 1970.

Os estudos sobre as migrações atuais dessa população não podem desconsiderar

os fatores externos de pressão e que desde o período colonial a mobilidade Guarani é

uma constante, desfazendo a interpretação errônea e de cunho preconceituoso de que

nos últimos anos o Brasil estaria vivenciado uma “invasão” de “Guarani paraguaios”

(REVISTA VEJA, Veja ano 40 nº 11, de 14/03/07 e Veja ano 43 nº 18, de 05/05/2010).

Inicialmente acreditava-se que as migrações tinham um fluxo unilateral, de oeste

para leste. Essa interpretação estava calcada nos registros de Nimuendaju (1987), que

indicou a chegada ao litoral paulista dos Tañiguá (1820), dos Oguahuíva (1820) e dos

Apapokúva (1870 e 1912), e na etnografia produzida na década de 1970 por Egon

Schaden (1974, p. 4), observando que “ligam-se correntes migratórias, provenientes do

Oeste, que se vêm sucedendo desde o primeiro quartel do século passado”. Em outra

passagem, o autor indica que as migrações mais recentes foram dos Mbya do leste

paraguaio e nordeste argentino que, atravessando o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e

2 .Na margem esquerda do Rio Paraná foram indicadas 34 aldeias submersas pelo lago (GRÜMBERG,2008). Na margem direita não há estudos conclusivos, porém um estudo preliminar desenvolvido peloCimi Sul indicou a possibilidade de que diversas aldeias ficaram submersas (CIMI SUL,1982).

o Paraná, chegaram ao litoral de São Paulo. A etnografia de Schaden é produzida

exatamente no momento em que ocorriam intensas migrações, especialmente dos

subgrupos linguísticos Mbya e Nhandeva (Ava-Guarani) cujos territórios estavam sendo

desflorestados e ocupados intensivamente pela agropecuária. No entanto, estudos

recentes (DARELLA, 2004; BRIGHENTI, 2010) vêm demonstrando que a mobilidade

Guarani não obedece necessariamente a um sentido unidirecional – oeste-leste – ao

contrário, assemelham-se mais a sistemas circulares, e se alongarmos o período de

observação essa constatação fica mais evidenciada.

Figura 02 – Mapa da cobertura vegetal nativa na região da tríplice fronteira emquatro momentos no século XX

Fonte: Adaptados pelo autor de: WWF, 2003, p. 60.

Na interlocução com nosso Projeto de Extensão registrado na Unila

investigaremos temas relacionados às demandas apresentadas pela Comissão Nacional

da Verdade (CNV)3 apresentadas no dia 10 de dezembro de 2014 quando publicou seu

Relatório com diversas recomendações ao governo brasileiro, dentre elas 3 (três)

recomendações pedagógicas:

1. “Reconhecimento, pelos demais mecanismos e instâncias de justiça transicional

do Estado brasileiro, de que a perseguição aos povos indígenas visando a

colonização de suas terras durante o período investigado constituiu-se como crime

de motivação política, por incidir sobre o próprio modo de ser indígena.

2. Inclusão da temática das “graves violações de direitos humanos ocorridas contra

os povos indígenas entre 1946-1988” no currículo oficial da rede de ensino,

conforme o que determina a Lei nº 11.645/2008.

3. Criação de fundos específicos de fomento à pesquisa e difusão amplas das graves

violações de direitos humanos cometidas contra povos indígenas, por órgãos

públicos e privados de apoio à pesquisa ou difusão cultural e educativa, incluindo-

se investigações acadêmicas e obras de caráter cultural, como documentários,

livros etc.”

Trabalharemos com parcerias, pois compreendemos que elas serão

fundamentais para o objetivo central do projeto, que é o fortalecimento da inclusão

da temática indígena no processo de justiça de transição, proporcionando à sociedade

uma aproximação com os postulados da justiça de transição em seus múltiplos eixos,

a saber, verdade, acesso à memória, reparação, responsabilização e mudança de

conduta do Estado.

Desta forma, o projeto será uma ferramenta multidisciplinar e criador de uma

rede de trabalho interinstitucional que atuam na região oeste do estado do Paraná,

para contribuir para o fortalecimento da democracia e o respeito aos direitos

constitucionais, territoriais e culturais dos povos indígenas.

3 “A Comissão Nacional da Verdade foi criada pela Lei 12528/2011 e instituída em 16 de maio de 2012.A CNV tem por finalidade apurar graves violações de Direitos Humanos ocorridas entre 18 de setembrode 1946 e 5 de outubro de 1988. Conheça abaixo a lei que criou a Comissão da Verdade e outrosdocumentos-base sobre o colegiado. Em dezembro de 2013, o mandato da CNV foi prorrogado atédezembro de 2014 pela medida provisória nº 632”. Disponível em: http://www.cnv.gov.br/institucional-acesso-informacao/a-cnv.html. Acesso em: 30 de novembro de 2015.

V. Fundamentação teórica

Partiremos dos pressupostos básicos da teoria e metodologia da história

indígena, na perspectiva de iniciativas plurais entre diferentes áreas do

conhecimento, especialmente na relação entre antropologia e história, relação que

nos últimos anos tem fundamentado inúmeras pesquisas empíricas em diferentes

tempos e espaços na América Latina nos quais os indígenas são enfocados com

sujeitos do processo (ALMEIDA, 2012, p.151). O diálogo entre história e

antropologia implica ir além do domínio metodológico, “os etno-historiadores devem

dominar ainda a arte de usar essas duas abordagens de maneira integrada”

(TRIGGER, apud ALMEIDA, 2012, p.158). Cardoso e Vaifas (2012) também

concordam que a “nova história cultural” está com um pé em cada mundo e tem na

antropologia a “interlocutora privilegiada”.

A abordagem que propomos dialoga com as ciências ambientais e sociais,

mais especificamente com a história ambiental e a geografia. O diálogo entre as

várias áreas do conhecimento não se resume a uma necessidade “legal”, mas

constitui-se como um dos pressupostos teóricos metodológicos da história indígena,

que em seu percurso está se consolidando como um método que congrega, além da

antropologia e geografia, áreas como arqueologia e linguística (EREMITES DE

OLIVEIRA, 2003).

A pesquisa em história indígena caminha para a construção de novos marcos

referenciais em suas abordagens. Apesar de incipiente, os pressupostos teóricos

devem partir de outras temporalidades, diferentemente da abordagem clássica da

história. Afinal os indígenas não ingressaram na história apenas no século XV

durante o período colonial, a arqueologia é um importante instrumento para

demonstrar a longevidade da presença dessas populações no continente (CARNEIRO

DA CUNHA, 1992), nesse sentido amplia-se os universos de fontes para além da

produção escrita, sejam de indígenas ou não indígena, deslocando-se para a cultura

material e imaterial, dos conhecimentos e saberes transmitidos na oralidade. As

relações estabelecidas com indígenas na atualidade não podem ser pautadas pelos

conceitos de transitórios ou mesclados sugerindo que esses seriam menos indígenas

que as gerações passadas, mas na relação de sujeitos históricos de seu tempo, agindo

a partir das condicionantes temporais e tradicionais.

Esses também serão desafios para o ensino da histórica indígena e a inserção

de indígenas no universo acadêmico como produtores de conhecimentos a partir de

suas cosmovisões na interculturalidade com os saberes científico.

Na perspectiva da ação indígena, nosso projeto compreende que a partir da

conquista dos direitos, os povos indígenas estão empenhados na sua concretização,

deixando os “bastidores” para assumir o “palco”. No entanto parte da sociedade

brasileira ainda resiste à possibilidade de ver os povos indígenas como sujeitos de

direitos e se mobilizam na redução dos mesmos e na inserção desses povos na

sociedade de consumo. Nesse sentido, Anibal Quijano demonstra que a sociedade

latina Americana precisa superar a perspectiva da colonialidade, definida por ele

como “um dos elementos constitutivos e específicos de um padrão mundial de poder

capitalista. Se funda na imposição de uma classificação racial/étnica da população do

mundo como pedra angular daquele padrão de poder, e opera em cada um dos

planos, âmbitos e dimensões, materiais e subjetivas, da existência cotidiana e da

escala social”. A nova abordagem sobre a temática quer se opor a perspectiva do

Epistemicídio, definida por Boaventura de Sousa Santos como uma forma de

expropriá-los os povos indígenas de suas formas próprias de pensar a vida, do seu

jeito de existir no mundo.

As novas teorias sobre essa temática são fundamentais para possibilitar a

pluriculturalidade da sociedade brasileira. A abertura para essa nova abordagem

passa necessariamente pelo conhecimento da história e cultura desses povos nos

espaços formais da educação escolar e na educação popular.

VI. Objetivo Geral

Estabelecer conexões entre as dinâmicas atuais de relações sócio culturais,

mobilidade, territorialidade e espacialidade Guarani no contexto da fronteira

Argentina, Brasil, Bolívia e Paraguai, possibilitando formar pesquisadores e difundir

conhecimentos científicos sobre os saberes, práticas e direitos da população Guarani

com vista a construção de indicadores historiográficos e proposições para

intervenções em políticas públicas no marco do Mercosul Social, Estados Nacionais,

Centros de Ensino e o fomento para inserção de indígenas na universidade na

dimensão da interculturalidade.

.

VII. Objetivos específicos

• Desenvolver pesquisas sobre a mobilidade e conexões internas e externas da

população Guarani na região de fronteiras (Argentina, Brasil, Bolívia e

Paraguai) identificando aspectos territoriais, espaciais, fundiários, de migrações

e relações transfronteiriças, dimensões do direito consuetudinário e percepções

dessa população sobre temas contemporâneos;

• Sistematizar os conhecimentos científicos, produzindo artigos para revistas

científicas, livros, participar e propor eventos sobre a temática;

• Elaborar produtos para atividades pedagogias para centos de ensino (escolas –indígenas e não indígenas – e universidades)

VIII. Justificativa

Pesquisas científicas com a população Guarani pressupõe um conhecimento

prévio sobre a dinâmica atual e histórica (tradicional) de mobilidade na região de

fronteira. Há uma dinâmica específica sobre as fronteiras que, ligadas a mobilidade

territorial, são singulares por estarem em contexto bastante específico. É no contexto

da fronteira que se evidencia com maior nitidez o significado das mesmas para esse

conjunto de comunidades que se articulam por redes linguísticas e territoriais

desafiando o universo colonial.

A construção de processos de pesquisas sobre populações indígenas deve passar

pelo “pensamento de fronteira” umbilicalmente ligado aos projetos decoloniais

(MIGNOLO, 2013). O método que Mignolo chama de pensamento de fronteira,

implica, romper com as formas de pensamento europeu ou eurocêntricas de

modernidade e desafiar-se a pensar desde diferentes espaços, especialmente daqueles

que foram desprestigiados ao longo da modernidade, como os saberes e práticas

indígenas. Conforme aponta Bragato (2013) “o pensamento decolonial propõe uma

forma de conhecimento que implica desprender-se e abrir-se as possibilidades

encobertas e desprestigiadas pela racionalidade como sendo tradicionais, bárbaras,

primitivas, místicas etc”. Trata-se de uma perspectiva desafiadora em criar esses novos

conceitos, novos métodos, e, principalmente novas práticas em torno da visão pós-

colonial, algo que seja próprio dos povos latino-americanos (BENVENUTO LIMA

JÚNIOR, 2013). A região de fronteiras geográficas possibilita que seja experenciada

com maior intensidade a dimensão continental de modo a construir novas visão e

práticas pós-colonial. A partir do lugar que pesquisamos irmos criando ondas para

além das do marco local, para além da fronteira geográfica.

Na perspectiva decolonial a Universidade é um espaço estratégico para abrir-se a

práticas que resistiram a modernidade, que continuam abrindo janelas de diálogos. A

perspectiva decolonial não é nova no contexto latino-americano, segundo Mingolo

(2013) elas sempre existiram, mas enquanto reflexões filosóficas ideológicas foram

referências na Conferência de Bandung, em 1955 e na The Civil Right Movement, no

final dos anos 1960 nos Estados Unidos. Um marco do pensamento decolonial no

Brasil, mesmo que embrionário, pode ser considerado o movimento modernista no

início do século XX, que ao lançar o Manifesto Antropofágico, de certa maneira

buscava referências na cultura brasileira para opor-se a imposição europeia, da

Revolução Francesa, e criar uma “Revolução Caraíba” (MINGOLO, 2013).

Essa perspectiva produz implicações de diversas ordens, dentre elas o

reconhecimento de novas territorialidades e novas formas de relacionar-se com o

meio. Os Guarani de maneira particular tem uma contribuição significa na construção

do pensamento pos-colonial. Segundo Melià (2001) “o povo Guarani é muito

moderno, quase pós-moderno. Por quê? Porque o povo Guarani, embora sua

especificidade, a singularidade, sabe entrar em diálogo conosco. O pensamento deles

não está tão distante do nosso pensamento utópico. Pela sua linguagem, pelo seu modo

de ser, pela sua palavra, pela sua paciência mais que pela agressividade, o povo

Guarani é um particular universalizável”.

IX. Metodologia

Nossa metodologia pressupõe diálogo permanente com as comunidades e

organizações Guarani, principais sujeitos e destinatários de nosso projeto. No contexto

continental o Guarani se organizam no Conselho Continental da Nação Guarani

(CCNAGUA), organização que contempla presença de líderes dos diferentes

subgrupos linguísticos presentes nos quatro países citados.

Teremos como marco de análise a documentação histórica e contemporânea bem

como a memória oral dessa população. A partir da memória oral e da documentação já

catalogada produziremos material de caráter educativo e pedagógico voltado para a

sociedade regional em seus espaços de produção de conhecimento.

Será uma pesquisa participativa na qual a população guarani contemporânea terá

lugar central.

X. Atividades previstas

Atividade 01: Estudos sistematizados da historiografia e etnografia histórica econtemporânea da população Guarani na região de fronteira;

Atividade 02: Estudo de campo da dinâmica da população Guarani a partir daarticulação política atual, articulada em trono do Conselho Continental da NaçãoGuarani.

Essa atividade corresponde em acompanhar sua dinâmica de articulação política eproduzir estudos sobre o mesmo;

Atividade 03: Simpósios temáticos em eventos científicos.

No momento já propomos um evento no II Congreso Internacional Los PueblosIndígenas de América Latina. Siglos XIX-XXI. Avances, perspectivas y retos SantaRosa (La Pampa) Argentina – 20 a 24 de septiembre de 2016.

Viabilizar a participação de indígenas em atividades em sala de aula e/ou em atividadesespecíficas.

Atividade 04: Fomentar novos pesquisadores.

Oferecer aos alunos da Unila (em áreas afins) a participação na pesquisa comovoluntários e/ou bolsistas a fim de inserir os alunos na iniciação científica e na pesquisasobre a temática indígena, relacionado a disciplina de História Indígena.

Atividade 05: Organizar seminários e oficinas com as comunidades Guarani paradevolução do produto do relatório da Comissão Nacional da Verdade (CNV) e daComissão Estadual da Verdade (CEV);

Atividade 06: Sistematização das pesquisas e produção de material para as escolas dascomunidades indígenas;

Atividade 07: Interlocução para promover a presença de estudantes indígena na Unilaem cursos regulares e cursos específicos

XI. Resultados esperados

1. Maior conhecimento sobre a mobilidade Guarani, suas demandas socioculturais,

educacionais, ambientais, sociais e territoriais; Participar na construção do mapa

continental;

2. Produção de dois artigos para revistas científicas, sobre o contexto histórico e

tradicionais bem como sobre as ações contemporâneas nas intervenções dos

Guarani nas políticas públicas e nas problematizações dos contextos

sociopolíticos;

3. Produção de um livro sobre as transfronteiras e as populações indígenas, a partir

da participação de pesquisadores da temática, de diversas regiões do país e de

outros países latino-americanos, abordando os contextos geográficos e as

experiências socioculturais resultantes do processo.

4. Construção de novos referenciais da decolonialidade a partir do povo Guarani,

formulando indicadores para a formação de acadêmicos indígenas;

5. Proposição para criação de um Núcleo de Pesquisa da História Indígena na

UNILA.

6. Comunidades Guarani apoderando-se de instrumentais de registros da memória;

7. Contribuições para revisão historiográfica sobre a presença contemporânea

Guarani na região oeste paranaense.

8. Discentes capacitados em torno de pesquisa e extensão.

9. Construção de novos referenciais da decolonialidade a partir do povo Guarani,

formulando indicadores para a formação de acadêmicos indígenas;

XII. Bibliografia

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