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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” DA RESCISÃO INDIRETA AUTOR ANDRÉA DOS SANTOS COUTINHO ORIENTADOR PROF. CARLOS AFONSO LEITE LEOCADIO RIO DE JANEIRO 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

DA RESCISÃO INDIRETA

AUTOR

ANDRÉA DOS SANTOS COUTINHO

ORIENTADOR

PROF. CARLOS AFONSO LEITE LEOCADIO

RIO DE JANEIRO 2010

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

DA RESCISÃO INDIRETA Monografia apresentada à Universidade Candido Mendes – Instituto a Vez do Mestre, como requisito parcial para a conclusão do curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Direito do Trabalho. Por: Andréa dos Santos Coutinho.

3

Agradeço a minha família que sempre esteve do meu lado em todos os momentos importantes da minha vida.

4

Dedico a minha avó Zilma e meu avô Avelino (in memoriam).

5

RESUMO

A presente monografia visa apontar os pontos de vista quanto a provocação de um rompimento do contrato de trabalho por parte do empregado, razão esta que se funda tendo em vista o fato de o empregador provocar situações, violar obrigações legais e contratuais em relação ao empregado, fazer com que o mesmo venha a correr risco a saúde, provocar ato lesivo a honra e boa fama do empregado, ofende-lo fisicamente e reduzir seu trabalho a fim de afeta-lo de forma sensível, dá ao mesmo o direito de pleitear a rescisão indireta de seu contrato de trabalho, com justo motivo, uma vez que há ato ilegal praticado pelo empregador. O trabalho a ser elaborado tem por iniciativa verificar todos os pontos acima descritos que levam a essa ruptura contratual que é ocasionada pela iniciativa do empregador, provocando uma insatisfação do empregado no fato de descumprir o que foi acordado no contrato de trabalho, de forma extremamente significativa, prejudicando a continuidade da relação contratual, tornando impraticável e/ou intolerável a continuação do serviço prestado.

6

METODOLOGIA

O presente trabalho constitui-se em uma descrição detalhada da

rescisão indireta do contrato de trabalho promovida pelo empregado, tendo em

vista atitudes negativas por parte do empregador durante a constância do labor.

A partir desse ponto, é claro concluir que o estudo que ora se

apresenta através da presente foi elaborado a partir do método da pesquisa

bibliográfica em que se buscou o esclarecimento a respeito da matéria em

doutrinas, legislação e jurisprudência.

O estudo que resultou nesta monografia identifica-se por pretender

produzir conhecimento quanto a matéria da rescisão contratual para aplicação

prática face a questão do descumprimento do contrato de trabalho, tendo em vista

que procurou entender a questão a partir da interpretação dada pela lei e quanto

a interpretação dada pelos estudiosos do assunto, sem a pretensão de uma

análise crítica do tema.

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................... 10

CAPÍTULO I

DO DIREITO DO TRABALHO...............................................................................11

1.1 PRINCÍPIO DO DIREITO DO TRABALHO.....................................................11

1.1.1 PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO ...............................................................11

1.1.2 PRINCÍPIO DA IRRENUNCIABILIDADE DE DIREITOS ....................12

1.1.3 PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE DA RELAÇÃO DE EMPREGO......12

1.1.4 PRINCÍPIO DA PRIMAZIA DA REALIDADE ......................................13

CAPÍTULO II

CONTRATO DE TRABALHO .............................................................................. 14

2.1-TEORIA ANTICONTRATUALISTA ................................................................14

2.2-TEORIA CONTRATUALISTA ........................................................................15

CAPÍTULO III

DA RESCISÃO INDIRETA................................................................................... 17

3.1 – DAS FALTAS GRAVES...............................................................................18

3.1.1 PRINCÍPIOS DA FALTA GRAVE ................................................................18

.31.1.1 PRINCÍPIO DA TAXATIVIDADE .............................................................19

8

3.1.1.2 PRINCÍPIO DA IMEDIATIVIDADE ...........................................................19

3.1.1.3 PRINCÍPIO DO PERDÃO TÁCITO ...........................................................19

3.1.1.4 PRINCÍPIO DA CAUSALIDADE ..............................................................20

3.1.1.5 PRINCÍPIO DO PREQUESTIONAMENTO ...............................................20

3.1.1.6 PRINCÍPIO DA PUNIÇÃO Á FALTA ........................................................20

3.1.1.7 PRINCÍPIO DA ISONOMIA DE TRATAMENTO ......................................20

3.2 – DA DENÚNCIA ............................................................................................20

3.2.1- DO PRINCÍPIO DA IMEDIATIDADE APLICADA NA DENÚNCIA ............21

CAPÍTULO IV

DO ARTIGO 483, DA CLT ....................................................................................22

4.1- DA EXIGÊNCIA DE SERVIÇOS SUPERIORES Á FORÇA .........................24

4.2-DO TRATAMENTO COM RIGOR EXCESSIVO POR PARTE DO

EMPREGADOR OU SUPERIOR HIERÁRQUICO ...............................................27

4.3-DO PERIGO DE MAL CONSIDERÁVEL .......................................................28

4.4-DO NÃO CUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES

CONTRATUAIS.....................................................................................................30

4.5-DA PRATICADE ATO LESIVO A HONRA E BOA FAMA POR PARTE DO

EMPREGADOR E SEUS PREPOSTOS...............................................................36

4.6-DA OFENSA FÍSICA PRATICADA PELO EMPREGADOR OU SEUS

PREPOSTOS.........................................................................................................37

9

4.7-DA REDUÇÃO DO TRABALHO E CONSEQUENTE REDUÇÃO

SALARIAL.............................................................................................................39

4.8-DA SUSPENSÃO DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO FACE OBRIGAÇÕES

INCOMPATÍVEIS ..................................................................................................39

4.9-DO FALECIMENTO DO EMPREGADOR.......................................................40

4.10-DAS HIPÓTESES DAS LETRAS "D" E "G", QUANTO AS INDENIZAÇÕES

EM CASO DE PERMANÊNCIA OU NÃO ATÉ O FINAL DA DECISÃO DO

PROCESSO ..........................................................................................................41

CONCLUSÃO........................................................................................................43

BIBLIOGRAFIA.....................................................................................................45

ANEXOS................................................................................................................46

10

INTRODUÇÃO

A monografia ora apresentada é um estudo sobre a rescisão indireta do

contrato de trabalho por parte do empregado. Nesse contexto, a presente dedica-

se a deixar de forma clara e sucinta o que motiva o empregado a rescindir seu

contrato de trabalho, deixando também em evidência as origens e motivações de

uma despedida indireta; dedica-se, ainda, verificar a origem da falta grave

praticada pelo empregador na relação de trabalho, prevista como justo motivo

para o rompimento do vínculo empregatício por parte do empregado. O presente

estudo apresenta os motivos e previsões legais para tal.

O estudo do tema e das questões analisadas em torno do mesmo

justifica-se pelo fato de que tendo em vista o empregador provocar situações,

violar obrigações legais e contratuais em relação ao empregado, fazer com que o

mesmo venha a correr risco de saúde, provocar ato lesivo a honra e boa fama do

empregado, ofende-lo fisicamente e reduzir seu trabalho com o intuito de afeta-lo

de forma sensível, dá ao mesmo o direito de pleitear a rescisão indireta, com justo

motivo, uma vez que há ato ilegal praticado pelo empregador.

A pesquisa que precedeu esta monografia teve como ponto de partida

a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), permite ao empregado que está

sendo lesado em sua honra, no caso de ser exigido serviços ofensivos aos bons

costumes, entre outros, pedir a demissão, e, via de conseqüência receber todas

as verbas as quais tem direito.

Visando um trabalho objetivo, cujo objeto de estudo seja bem

delineado e especificado, a presente monografia dedica-se, especificamente, às

questões relativas ao direito do trabalho brasileiro e da Justiça do Trabalho

brasileira no sentido de que os empregados insatisfeitos em seu ambiente de

trabalho, devido à manifestação do empregador.

11

CAPÍTULO I

DO DIREITO DO TRABALHO

Para que se possa entender o que é rescisão indireta, cabe,

primeiramente entender o que é o direito do trabalho, não bastando somente

adentrar no contrato de trabalho, mas saber a fonte de tudo.

O direito do trabalho é um conjunto de princípios e regras jurídicas,

aplicáveis as relações individuais e coletivas de trabalho subordinado, ou

equiparado, de caráter eminentemente social, destinados a melhoria das

condições do empregado, sua relação jurídica, oriunda da prestação de serviço,

como conseqüência da situação econômica das pessoas que o exercem.

1.1- PRINCÍPIO DO DIREITO DO TRABALHO

Podemos, em virtude dos princípios do direito do trabalho, esclarecer

que o direito do trabalho é um ramo autônomo do direito, pois a aplicação

subsidiária, muitas vezes usada, trazendo normas processuais e também de

direito material civil, não torna o direito especializado dependente do direito

comum, assim como seus ramos processuais, pois as normas a serem aplicadas

devem ser amoldadas aos princípios que norteiam o direito do trabalho sob pena

de graves escoriações.

Um ramo é autônomo, não em virtude de uma ou outra aplicação, mas

sim por ter princípios peculiares, o que claramente vemos no direito laboral, como

a seguir se demonstrará.

1.1.1- PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO

Com esse princípio, busca-se dar ao obreiro uma superioridade

jurídica, para, com isso, compensar a superioridade econômica do empregador,

deve se proporcionar uma forma de compensar a superioridade econômica do

empregador em relação ao empregado, dando superioridade jurídica.

12

A Justiça do Trabalho, não pende para o lado do empregado, mas sim

as leis que o tutelam, pois sempre denotamos para o sentido de ser pendente

para o lado do obreiro, mas tal fato não é verdade.

Este princípio cristaliza-se com o princípio da norma mais favorável ao

empregado. Assim, quando temos duas normas aplicáveis ao empregado,

optamos por aquela mais benéfica a este.

Tal princípio configura-se claro pela simples leitura do art. 620, da CLT:

Art. 620. As condições estabelecidas em Convenção, quando mais

favoráveis, prevalecerão sobre as estipuladas em Acordo.1

Nota-se, portanto, que, quando está em vigor, simultaneamente, um

acordo e uma convenção coletiva aplicáveis á mesma categoria, deve ser fixada a

norma que for mais favorável ao obreiro.

1.1.2- PRINCÍPIO DA IRRENUNCIABILIDADE DE DIREITOS.

Com o claro intuito de proteger o empregado quanto á sua condição

submissa na empresa, bem como muitas vezes quanto a sua ignorância, os

direitos trabalhistas, em regra, são irrenunciáveis.

Desta forma, mesmo que um empregado declare expressamente, que

não pretende receber décimo terceiro salário, e depois proponha uma reclamação

trabalhista pleiteando o direito renunciado, deverá consegui-lo, pois, como

mencionado, a regra é de que o empregado não poderá jamais renunciar aos

seus direitos.

1.1.3- PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE DA RELAÇÃO DE EMPREGO

Os contratos de trabalho são, em regra, estabelecidos por prazo

indeterminado. No entanto, temos a possilibidade de pactuação de contratos por

prazo determinado.

1 Consolidação das Leis do Trabalho / [ compilação de] Armando Casimiro Costa, Irany Ferrari, Melchíades Rodrigues Martins. – 37. ed. São Paulo : LTr, 2010. página 99

13

O que ocorre é que não pode ser admitida uma sucessão de contratos

por prazo certo na mesma empresa, caracterizando, assim vínculo único, em face

deste princípio apontado.

1.1.4-PRINCÍPIO DA PRIMAZIA DA REALIDADE

Princípio bastante utilizado na prática trabalhista em razão de ser a

Justiça do Trabalho uma justiça eminentemente de fato.

Deixa claro, desta forma, que os fatos, ou seja, os acontecimentos

reais, as provas feitas através de testemunha, são muito mais importantes que os

documentos.

14

CAPÍTULO II

CONTRATO DE TRABALHO

Cabe frisar, primeiramente, quem são as pessoas que fazem parte

deste contrato de trabalho, ou seja, o empregado e o empregador.

O art. 3º, caput, da CLT, define quem é o empregado:

Art. 3º Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços

de natureza não eventual a empregador sob a dependência deste e

mediante salário.2

O art. 2º, caput, da CLT, diz quem é o empregador:

Art. 2º Considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que,

assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a

prestação pessoal de serviços.3

Com base nestes artigos, temos que destacar duas teorias acerca dos

contratos de trabalho, quais sejam:

2.1-TEORIA ANTICONTRATUALISTA

Baseia-se no fato de que não há uma relação bilateral entre

empregador e empregado. Destaca que o empregador determina as condições de

trabalho e o empregado a elas fica subordinado.

Toma por base de sua assertiva o pressuposto de que não existe, no

contrato de trabalho, vontades efetivamente livres. Pelas condições econômicas e

sociais dos grupos humanos organizados em moldes capitalistas, o empregador

2 Consolidação das Leis do Trabalho / [ compilação de] Armando Casimiro Costa, Irany Ferrari, Melchíades Rodrigues Martins. – 37. ed. São Paulo : LTr, 2010. página 43 3 Consolidação das Leis do Trabalho / [ compilação de] Armando Casimiro Costa, Irany Ferrari, Melchíades Rodrigues Martins. – 37. ed. São Paulo : LTr, 2010. página 43

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que detém nas mãos o destino do trabalhador, por ser quem concede ou não

concede o emprego, surge desta forma, perante o empregado com superioridade

brutal.

A este economicamente fraco e desvalido, compete apenas aceitar as

condições que lhe são ditas pelo empregador.

Os anticontratualistas não compreendem, por isso, como se pode falar

em vontade livre atuando na formação da relação de emprego.

2.2-TEORIA CONTRATUALISTA

Sem sombra de dúvida a mais correta e a mantida pela corrente

doutrinária majoritária na atualidade.

Atém-se ao fato de que o contrato de trabalho presume direitos e

obrigações recíprocas, fato este que se nos configura como sendo mais correto,

pois o empregado não é obrigado a aceitar as condições impostas pelos

empregadores.

O artigo 442, da CLT, diz que o contrato de trabalho é um acordo

expresso e tácito, que corresponde a uma relação de emprego, cria assim uma

relação jurídica, impondo a subordinação do prestador de serviços ao empregador

detentor do poder diretivo, se estabelecendo entre os sujeitos de direito, e não

entre o sujeito e o objeto.

No Brasil, vigora, em regra, o princípio da livre celebração do contrato,

mas no direito do trabalho esse princípio não prevalece, pois o contrato de

trabalho é do tipo adesão, é um ajuste de direto privado, além de ser um contrato

sinalagmático, consensual, intuito personae (quanto ao empregado), de trato

sucessivo, de atividade, oneroso, dotado de alteridade, e podendo ser

acompanhado de outros contratos acessórios.

O contrato de trabalho cria uma relação obrigacional que foge da

autonomia da vontade dos envolvidos, devido a existência de leis e acordo e

16

convenções coletivas que impõem determinadas regras as partes, serve para

criar a relação jurídica entre as partes, e, não estando presentes os elementos da

relação de emprego (caracterizados pela prestação de trabalho por pessoa física

a outrem, com pessoalidade, não-eventualidade, onerosidade e subordinação),

não será válida a relação de trabalho, além de não produzir os efeitos jurídicos

empregatícios.

Os elementos essenciais da relação de emprego estão elencados no

art. 443, da CLT, que trata da formação do contrato de trabalho, para demonstrar

aos operadores do direito, e também aos que não são mas se interessam pela

matéria, quando devem considerar comprovada a existência do vínculo

trabalhista.

Formada esta relação, além das várias peculiaridades que podem

ocorrer durante o transcorrer do contrato de trabalho, existem aquelas

decorrentes do inadimplemento das obrigações contratuais que podem gerar seu

término.

As rupturas do contrato de trabalho por exercício lícito da vontade das

partes denomina-se pela doutrina como resilição, e são: dispensa sem justa

causa e dispensa motivada mas sem culpa do empregador, e pedido de

demissão.

Há também o término por culpa recíproca das partes, ocorrendo

quando ambos (empregador e empregado) praticam simultaneamente uma das

infrações previstas nos artigos 482 e 483, da CLT.

Outras modalidades de extinção do contrato de trabalho são: a ruptura

por ato culposo do empregado, mais conhecida como dispensa por justa causa,

que tem infrações cometidas pelo empregado elencadas no rol do art. 482, da

CLT, e a ruptura por ato culposo do empregador, também denominada despedida

indireta, prevista no art. 483, da CLT, a qual veremos a seguir.

17

CAPÍTULO III

DA RESCISÃO INDIRETA

A expressão rescisão é utilizada sempre que o contrato de trabalho

termina pela prática de uma ou várias faltas provocadas por uma das partes (justa

causa – art. 482, da CLT, ou rescisão indireta – art. 483, da CLT), ou por ambas

(culpa recíproca – art. 484, da CLT).

A rescisão indireta tem como origem a falta grave praticada pelo

empregador face o empregado dentro da relação contratual, caracterizando, desta

forma, um motivo justificável para a interrupção do vínculo empregatício por parte

do empregado que está sendo lesionado.

Cabe essa iniciativa no fato do descumprimento no contrato de trabalho

de forma extremamente significativa a prejudicar a continuidade da relação

contratual, e, o art. 483, da CLT, elenca todos os motivos, prevendo, então, a

possibilidade de rescisão em razão do empregador não cumprir com suas

obrigações que estão previstas no contrato de trabalho e pelas partes

determinadas.

Podendo, face o que dispõe o artigo acima referido, optar por reclamar

na Justiça do Trabalho os direitos, como verbas rescisórias, e dar por rescindido o

contrato de trabalho com o seu empregador.

O empregado que pleitear a despedida indireta, necessariamente

deverá provar o ato grave e faltoso provocado pelo empregador, seja por meio de

provas documentais ou testemunhais. Uma vez comprovado, terá direito a todas

as verbas rescisórias como se fosse demitido sem justa causa, bem como

indenização pelos danos causados.

A despedida indireta é assim denominada porque a empresa ou o

empregador não demite o empregado, mas age de modo a tornar impossível,

18

insustentável ou intolerável a continuação da prestação de serviços, que ficou

determinada no contrato de trabalho.

3.1-DAS FALTAS GRAVES

O empregador, ou seu preposto, comete falta grave quando exige

serviços superiores as forças do empregado, intelectuais ou físicas, que o mesmo

não possui, manda o empregado realizar atividades não pactuadas entre as

partes, inerentes a função.

Embora o empregador tenha o poder de mando sobre o seu

funcionário, não pode prevalecer esta autoridade no que tange a excessivo rigor,

falta de educação ou com discriminação, muito menos penalizá-lo de forma

desproporcional a uma falta leve cometida pelo empregado, aplicar suspensão

por atraso no dia de trabalho, como por exemplo.

As faltas graves acontecem quando no exercício da gestão de sua

atividade econômica, o empregador manda que o empregado execute atividade

ou serviço que pode vir a acarretar sérios e graves riscos à integridade física, tem

por exceção quando o risco advem diretamente da atividade profissional a vir

desenvolvida e estritamente prevista no contrato de trabalho e previamente

acordada pelas partes.

Caracteriza também o fato do empregador não cumprir o acordo

pactuado na efetivação da contratação, que foi definido por ambas partes,

deixando de cumprir as obrigações contratuais, bem como se o empregador ou

seu preposto praticar ato lesivo á honra, boa fama do empregado ou de qualquer

pessoa de sua família, tais como calúnia, injúria, difamação e etc.

Neste caso, gera ao empregado o direito de pleitear a despedida

indireta, com justo motivo, com fundamento no ato praticado de forma ilegal em

sua totalidade pelo empregador.

3.1.1-PRINCÍPIOS DA FALTA GRAVE

19

3.1.1.1- PRINCÍPIO DA TAXATIVIDADE

O direito positivo brasileiro não admite faltas exemplificativas, e sim

normas, que são taxativas, previstas na lei. Só será admitida como falta grave

aquela que estiver taxativamente contida em lei.

3.1.1.2 -PRINCÍPIO DA IMEDIATIVIDADE

A ação do empregado quanto à punição do empregador tem que ser

imediata. Seu início deve ser entendido da ciência do empregado com relação à

falta, e não propriamente da falta grave.

Desse modo, decidiu recentemente o Tribunal Regional do Trabalho da

3ª Região:

Processo 00612-2006-017-03-00-1 RO Data de Publicação 29/06/2007 Órgão Julgador Primeira Turma Relator Maurício José Godinho Delgado Revisor Convocada Taísa Maria Macena de Lima RECORRENTE: JULIANA ROCHA NEVES RECORRIDOS: NEW"S HOTEL LTDA - EPP e OUTROS RESCISÃO INDIRETA DO CONTRATO DE TRABALHO - CRITÉRIO DA IMEDIATIDADE. No caso de ser o empregado a parte lesada, em virtude de infrações cometidas pelo empregador, o requisito da imediatidade deve ser analisado considerando-se a hipossuficiência do trabalhador que, não raras vezes, tem de se submeter a irregularidades perpetradas por não possuir outros meios de subsistência. Assim, é comum que apenas o transcurso do tempo imprima à falta patronal uma dimensão insuportável, inviabilizando a manutenção do vínculo empregatício pelo obreiro. Não se há falar, portanto, na imprescindibilidade do referido critério para o reconhecimento da justa causa patronal quando o ato resolutório do empregado é perpetrado nessas condições. 4

A imediatidade tem de ser verificada em seguida a falta grave e

analisando também o fato do empregado ser hipossuficiente face seu

empregador.

3.1.1.3- PRINCÍPIO DO PERDÃO TÁCITO

4 www.trt3.jus.com.br/consultaunificada/consultraprocessual.do processo nº00612-2006-017-03-00-1

20

É o inverso da imediatidade. O comportamento das partes em função

da falta de imediatidade induz o intérprete a crer que o ato foi perdoado, ou não

sendo tão grave o suficiente para romper o vínculo.

3.1.1.4- PRINCÍPIO DA CAUSALIDADE

Tem que haver nexo causal ente a autoria e a falta cometida.

3.1.1.5- PRINCÍPIO DO PREQUESTIONAMENTO

As faltas comportamentais e as que requerem habitualidade

necessitam de prequestionamento.

3.1.1.6- PRINCÍPIO DA PUNIÇÃO Á FALTA

Não pode a punição ser excessiva, há de ser moderada.

3.1.1.7- PRINCÍPIO DA ISONOMIA DE TRATAMENTO

Se há vários envolvidos na falta, requer-se tratamento isonômico as

partes que tenham relação com a falta.

3.2 – DA DENÚNCIA

Normalmente o empregado que tem seu direito violado pelo

empregador deve fazer denúncia imediatamente, caso não se pronuncie ou se

fizer somente depois de algum tempo, entender-se-a que houve perdão tácito por

parte do empregado, não podendo pleitear a despedida indireta.

A denúncia é feita a Justiça do Trabalho mediante processo de

reclamação trabalhista, a qual irá analisar e julgar a justa causa para o

empregador.

Feita esta denúncia, somente em duas hipóteses o empregado poderá,

se preferir, aguardar o julgamento em serviço, conforme dispõe o §3º do artigo

483, da CLT:

21

I. Hipótese da letra “d”: quando o empregador deixa de

cumprir as obrigações do contrato de trabalho;

II. Hipótese da letra “g”: quando o empregador reduzir

unilateralmente o trabalho do empregado, sendo este por

peça ou tarefa, de forma a afetar sensivelmente a sua

remuneração.

Ainda que a legislação preveja tais hipóteses, o empregado poderá

optar por aguardar o julgamento sem manter o vínculo empregatício, correndo,

desta forma, o risco de perder a procedência da reclamação e perder também o

emprego por abandono.

3.2.1- DO PRINCÍPIO DA IMEDIATIDADE APLICADA NA DENÚNCIA

A denúncia é regida pelo princípio da imediatidade que caracteriza-se

pela inércia do empregado ao tomar ciência da falta praticada pelo empregador, o

que deverá ocorrer logo em seguida a referida falta, ou seja, o empregado deverá

tomar as providencias judiciais cabíveis no momento do ato grave ou faltoso

praticado pelo empregador.

A lei não define qualquer prazo para que o empregado possa vir a fazer

a denúncia os atos praticados, devendo ser logo que tomar ciência do fato, tendo

em vista que está vinculada a rápida punição, não o fazendo ficará caracterizado

ao perdão tácito.

22

CAPÍTULO IV

DO ARTIGO 483, DA CLT

O art. 483, da CLT, estabelece um rol taxativo de motivos que

possibilitam ao empregado pleitear a rescisão indireta do contrato de trabalho e a

devida indenização.

Art. 483 - O empregado poderá considerar rescindido o contrato de

trabalho e pleitear indenização quando:

a) forem exigidos serviços superiores ás suas forças, defesos por lei,

contrários aos bons costumes, ou alheios ao contrato;

b) for tratado pelo empregador ou por seus superiores hierárquicos com

rigor excessivo;

c) correr perigo manifesto de mal considerável;

d) não cumprir o empregador as obrigações do contrato;

e) praticar o empregador ou seus prepostos, contra ele ou pessoas de

sua família , ato lesivo a honra e boa fama;

f) o empregador ou seus prepostos ofenderem-no fisicamente , salvo em

caso de legítima defesa, própria ou de outrem ;

g) o empregador reduzir o seu trabalho, sendo este por peça ou tarefa ,

de forma a afetar sensivelmente a importância dos salários;

§ 1º - O empregado poderá suspender a prestação de serviço ou

rescindir o contrato, quando tiver de desempenhar obrigações ilegais ,

incompatíveis com a continuação do serviço;

§ 2º - No caso de morte do empregador constituído em empresa

individual, é facultado ao empregado rescindir o contrato de trabalho;

23

§ 3º - Nas hipóteses das letras “d” e “g”, poderá o empregado pleitear a

rescisão de seu contrato de trabalho e o pagamento das respectivas

indenizações, permanecendo ou não no serviço até final decisão do

processo. 5

É importante lembrar que o empregador, na maioria das vezes, é

representado por seus prepostos e que o ato praticado por estes frente aos

empregados na relação de trabalho, uma vez enquadrado em um dos motivos

previstos no artigo acima referido, poderá acarretar a despedida indireta.

Cabe destacar que o entendimento dos TRTs é pacífico quanto ao

assunto, senão vejamos:

RESCISÃO INDIRETA - POSSIBILIDADE - MANIFESTO

PREJUÍZO AO EMPREGADO

PROCESSO TRT/RO Nº 01128-2006-040-03-00-7

Relatora : Des. Maria Perpétua Capanema F. de Melo

Revisora : Juíza Convocada Maristela Iris S. Malheiros

Recorrentes: Elson Alves Costa e outra

Recorrido : Wilson Silva da Rocha

E M E N T A

RESCISÃO INDIRETA - POSSIBILIDADE. Restando

evidenciado que o descumprimento pelo empregador de

obrigação trabalhista acarretou para o empregado manifesto

prejuízo, tornando-se para esse insuportável a manutenção do

vínculo empregatício, é de se manter a r. decisão de Primeiro

Grau que acatou o pedido de decretação da rescisão indireta do

contrato de trabalho.6

É de suma importância destacar que o Egrégio Tribunal Regional do

Trabalho da 3a. Região, pelo voto unânime dos Desembargadores da sua Sétima

Turma, conheceu do recurso; mas no mérito, sem divergência, negou-lhe

provimento, haja vista que o reclamante em sua exordial pretendeu ver

declarada a rescisão indireta argumentando de que o empregador não havia

assinado sua CTPS, causando-lhe diversos prejuízos ao recebimento de

5 Consolidação das Leis do Trabalho / [ compilação de] Armando Casimiro Costa, Irany Ferrari, Melchíades Rodrigues Martins. – 37. ed. São Paulo : LTr, 2010. página 82 6 www.trt3.jus.com.br/consultaunificada/consultaprocessual.do processo nº 01128-2006-040-03-00-7

24

benefícios previdenciários junto ao INSS em razão de acidente de trabalho, além

de não terem sido efetuados os depósitos do FGTS e de estar sem fonte de

renda.

Para se entender melhor a esta matéria, cabe então definir cada inciso

e parágrafos do art. 483, da CLT, o que será apresentado a seguir.

4.1- DA EXIGÊNCIA DE SERVIÇOS SUPERIORES Á FORÇA

Considera-se motivo ensejador do rompimento do vínculo empregatício

por parte do empregado quando lhe forem exigidos serviços além das suas

forças, mas é claro que o termo “forças” haverá que ser entendido de forma bem

amplificada, pois engloba as acepções tanto de força muscular como também a

aptidão para a tarefa e capacidade profissional.

São situações em que o empregador vem a exigir do empregado,

esforço físico totalmente inapropriado e de forma anormal a sua idade ou saúde

ou também violando a qualificação profissional reconhecida pelo empregador.

Apesar de ainda existir certa discussão a respeito do significado e

alcance do vocábulo “forças”, a regra tem recebido uma interpretação amplificada,

não se restringindo tão somente as forças físicas, mas também as intelectuais e,

até mesmo emocionais, pois tendo em vista a condição do trabalhador há ser

tomada em conta quanto à exigência de serviço ao longo do contrato, até porque

a norma não distingue quais os tipos de força, não fazendo menção á energia

muscular, o que impede o intérprete de assim fazê-lo.

Então, é razoável afirmar a possibilidade de se incluir as forças

intelectuais ou mentais, na medida em que o legislador objetivou limitar o poder

de comando empresarial e coibir abusos capazes de acarretar danos ao

empregado, como por exemplo, exigências totalmente desproporcionais á

condição humana colocando em sério risco a saúde física, mental e intelectual

deste, máxime quando se verifica pelos termos das Convenções 161 e 155 da

OIT (integram o ordenamento jurídico nacional com dignidade de norma

constitucional, como se emenda constitucional fosse), qual seja, o direito a saúde

do trabalhador.

25

Compete ao empregador adotar ações e medidas necessárias para

manter um ambiente de trabalho tranqüilo, seguro e salubre, de molde a favorecer

uma saúde física e mental ótima em relação ao trabalho, e proceder à adaptação

do trabalho a capacidade dos trabalhadores, levando em conta, também, o seu

estado de sanidade física e mental.

O ambiente de trabalho não se restringe ao empregado, não se

restringe ao espaço interno da fábrica ou da empresa, mas se prolonga ao próprio

local de moradia e ambiente urbano.

Sob o aspecto da força física, a ordem jurídica laboral contém claras

balizas: força muscular de até 20 kg para mulheres e menores, em todo trabalho

que for de forma contínua, e até 25 kg em trabalho que por ventura seja ocasional

(arts. 390 e 405, § 3º, da CLT), e 60 kg para o trabalhador maior do sexo

masculino (art. 198, da CLT).

O não cumprimento de tais limitações pelo empregador poderá causar

danos à saúde (física e mental) do trabalhador, violando um dos direitos

fundamentais tutelados pela Constituição (arts. 6º e 196, da CRFB/88), e pelas

Convenções 161 e 155 da OIT, qual seja, a saúde do trabalhador.

É claro que o comportamento do empregador descumprindo as normas

protetoras da saúde do trabalhador sendo levado a efeito no ambiente de trabalho

e praticado de forma sistemática ao longo de determinado período, constituindo-

se inadmissível agressão ao Ordenamento Jurídico violando normas de proteção

ao trabalho, caracteriza abuso de poderes, atingindo também, de forma nociva a

saúde do trabalhador, colocando em risco não apenas sua saúde física e mental,

mas afetando de forma direta o próprio trabalho e emprego.

Então, não existe qualquer tipo de dúvida de que esta conduta por

parte do empregador caracteriza assédio moral, na medida em que atenta contra

a dignidade do empregado, colocando em risco a saúde do empregado.

Esta conduta pode perfeitamente caracterizar a figura ilícita do assédio

moral, podendo não só caracterizar à rescisão indireta por culpa do empregador,

26

mas também o obrigando a efetuar o pagamento da indenização a vítima pelos

danos materiais e morais causados a saúde física e mental, constituindo

verdadeiro atentado a dignidade da pessoa humana, tendo em vista que afeta de

forma nociva ao seu constitucional e fundamental direito a saúde e trabalho,

garantidos de forma clara no art. 6º da CRFB/88.

Mesmo sendo subordinado ao empregador em razão do contrato de

trabalho, o empregado continua sendo titular de direitos humanos fundamentais,

pois não deixa de ser pessoa humana, não podendo de forma alguma ter violados

estes direitos que enquanto ser humano lhe correspondem.

Pela mera condição de haver celebrado um contrato de trabalho e nem

por ter sido incorporado a uma organização privada (a empresa), continua sendo

titular de tais direitos, cujo exercício faz surgir o conceito de exercício de

cidadania na empresa.

A empresa deixou de ser apenas um lugar de prestação de serviços,

tornando-se um núcleo organizativo da atividade. Ao ter adquirido posição central

na sociedade, na política e na economia tornou-se também centro de

preocupações do direito do trabalho, tendo em vista que é organização

econômica e social sobre a qual o sistema democrático se apóia e que impõe ás

possíveis opções de desenvolvimento alternativas existentes.

Não pode ser o trabalhador visto como uma ferramenta ou peça de

trabalho, mas com pessoa que é dotada de direitos inatos, pré jurídicos inerentes

a sua condição como pessoa e por isso mesmo, portador de dignidade que jamais

pode ser agredida em nome e com base nos poderes empresariais que, apesar

de constitucionalmente garantidos, são limitados exatamente nos direitos

fundamentais do trabalhador, entre eles o direito a saúde e integridade física e

moral do trabalhador.

Os serviços proibidos pelo Ordenamento Jurídico Pátrio são vedados

administrativamente, por se tratar de atividade que cause injusta lesão ao

trabalhador ou ainda quanto tenha como objeto da prestação laboral uma

atividade ilícita.

27

4.2-DO TRATAMENTO COM RIGOR EXCESSIVO POR PARTE DO

EMPREGADOR OU SUPERIOR HIERÁRQUICO

Envolve a presença de repreensões ou medidas punitivas desprovidas

de motivação razoável que configure discriminação, perseguição ou intolerância

do empregador ou seus prepostos em relação ao empregado de forma ofensiva a

sua dignidade. São situações em que o empregador ou seus funcionários de nível

de supervisão (gerências, chefias, encarregados, etc.), repreende ou pune o

funcionário com rigor excessivo. São características típicas de perseguição ao

empregado, punição disciplinar além da gravidade, implicação ao dar ordens de

serviço, exigência anormal, etc.

Fica claro o comportamento diretivo, fiscalizatório ou disciplinar do

empregador que traduza no exercício irregular ou abusivo de tais poderes, sendo

de forma exacerbada as manifestações de poder sobre certo empregado, não

raro por razões de mera perseguição ou até mesmo discriminação por inúmeras

razões levando a se instalar no ambiente laboral um clima totalmente insuportável

que pode levar o trabalhador a se isolar dos colegas e até mesmo a se desligar

do próprio emprego não sem mágoas e seqüelas emocionais ou até mesmo

físicas.

Essa falta grave pode manifestar-se através de atos de intolerância

contínua, exagero de ordens, especialmente quando revelada através de

tratamento discriminatório (em razão de sexo ou orientação sexual, cor, etnia,

crença religiosa ou política...), quando houver receio de que o trabalhador

assediado possa de alguma forma competir com a chefia a promoções ou acesso

a cargo de maior importância, etc.

Parece claro que esse tipo de comportamento por parte do empregador

atenta contra o direito fundamental do trabalhador de ser tratado com devida

consideração e de não ser discriminado por qualquer motivo (CRFB/88, arts. 1º,

incisos III e IV; 3º, inciso IV e 5º; Lei 9.029/95, arts. 1º a 4º).

Se esses atos são praticados de forma abusiva e sem nenhuma razão

aparente, além de caracterizar abuso do poder empresarial e discriminação (art.

28

5º e Lei 9.029/95), também tipificam uma conduta assediante, pois constituem

inadmissível atentado contra a dignidade do trabalhador.

É facultada a rescisão indireta do contrato por culpa do empregador

que deve ser responsabilizado não apenas pelas indenizações laborais devidas,

como também pela reparação civil dos danos de ordem material e moral que o

empregado tenha experimentado em conseqüência do maltrato.

A indenização deve incluir os danos decorrentes da injusta perda do

emprego por culpa do empregador, bem como o tratamento médico a que por

ventura o empregado tenha que ser submetido.

O empregador é totalmente responsável pela reparação de todos os

danos sofridos pelo trabalhador e, eventualmente seus familiares que dele

dependam, especialmente em caso de seqüelas que o tornem incapaz para o

trabalho, ainda quando a falta grave tenha partido de outro empregado ou de

preposto (CLT, art. 2º e 483 e Código Civil, arts. 186 e 932, III).

4.3- DO PERIGO DE MAL CONSIDERÁVEL

Ocorre quando o empregado é obrigado a executar suas tarefas sem

que a empresa adote medidas necessárias para que o local de trabalho esteja

dentro das normas de higiene e segurança do trabalho de forma a prevenir contra

doenças ocupacionais ou acidentes de trabalho. Situações estas em que o

empregador não cumpre as normas de segurança e medicina do trabalhador ou

venha a deixar o empregado sob risco iminente de acidente do trabalho.

Exemplos típicos são o de não fornecer EPI’s, exigir do empregado um trabalho

determinado, quando não sendo ele habilitado para tal, correndo risco de

acidente.

Essa infração, que pode caracterizar assédio moral, se caracteriza

quando o empregador submeter o empregado, pelas condições do ambiente de

trabalho ou pelo exercício de certa atividade ou tarefa, a risco não previsto no

contrato, ou que poderia ser evitado.

29

É óbvio que tratando-se de riscos advindos à saúde do trabalhador em

face das condições do ambiente laborativo que poderiam ser eliminados ou pelo

menos prevenidos pelo empregador, que se omitiu, principalmente quando o risco

de dano for inerente à atividade, enquadra-se na hipótese prevista no art. 483,

letra c, da CLT, ensejando o rompimento do contrato de trabalho de forma indireta

com o pagamento das verbas trabalhistas decorrentes do ato faltoso.

Se a conduta for praticada de forma consciente colocando em risco a

integridade física ou moral do trabalhador, além de constituir falta grave

ensejando o rompimento do contrato, caracteriza o assédio moral, na medida em

que constitui ato atentatório à dignidade do trabalhador colocando em risco a

saúde, a integridade física ou mental se não a sua própria vida.

Além da indenização, o empregador deve ser responsabilizado pelos

danos morais e materiais que seu ato possa ter causado à vítima e/ou aos seus

familiares, conforme está previsto nos arts. 2º e 483 da CLT, 186 e 932, III, do

Código Civil.

Também podem ser tipificadas condutas assediantes, os atos

praticados pelo empregador ou seus prepostos lesivos à honra, ao bom nome, à

fama, ao respeito profissional e pessoal do empregado ou pessoas de sua família.

Tendo em vista esse tipo de comportamento atingir de forma direta a

dignidade do trabalhador e seus familiares e muitas vezes ser levado a efeito por

sentimentos de pura vingança, perseguição ou discriminação, com o objetivo de

destruir a imagem e a honra profissional e pessoal do trabalhador fazendo com

que ele venha a pedir demissão, ou também desmoralizando-o perante os demais

colegas e a comunidade, não resta dúvida deverão ser considerados como típico

assedio moral, especialmente quando forem praticados de forma contínua durante

longo tempo.

Face a isto, parece razoável entender através de uma interpretação

sistemática ampliativa dos preceitos constitucionais e das normas legais

ordinárias a caracterização do assédio moral em algumas das condutas previstas

no art. 483 da CLT, e naquelas elencadas nos diplomas internos e internacionais.

30

Faz-se necessária uma norma específica sobre o assédio moral que

vise estabeleça medidas preventivas e que institua mecanismos para coibir esse

tipo de conduta com a nulidade da dispensa, da transferência, da demissão ou da

punição disciplinar nele fundada, sendo facultando à vítima a rescisão indireta do

contrato com as devidas indenizações advindas com contrato de trabalho, sem

prejuízo da indenização de natureza civil pelos danos materiais e morais sofridos

pelo prejudicado e seus familiares com esse tipo reprovável de conduta.

Deveria ser inserido o assédio moral no rol taxativo das hipóteses do

artigo 483, da Consolidação das Leis do Trabalho, pois vem a revelar capacidade

de pleitear a rescisão indireta do contrato de trabalho, para que se possa dar

maior segurança aos trabalhadores na busca de seu bem-estar.

Apesar de inexistir uma norma específica dispondo e identificando o

assédio moral, as conseqüências e sanções, deverão ser aplicadas através de

outras normas como, por exemplo, analogia, impondo ao empregador o

cumprimento fiel à proteção jurídica de direitos dos trabalhadores, limitando sua

conduta, com ditames trabalhistas, como a implicância da rescisão indireta, e a

conseqüente indenização trabalhistas e por danos materiais e morais sofridos

pelo trabalhador em face dos maltratos praticados pelo empregador.

4.4- DO NÃO CUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS

Acontecem quando ocorrem situações em que o empregador deixa de

adimplir com suas obrigações diretas e indiretas descritas no contrato de trabalho

firmado com o empregado. São situações corriqueiras atrasar o pagamento de

salários, não corrigir os salários face a determinação legal, não recolher impostos

ou contribuições que se caracterizem em crime de apropriação indébita.

As obrigações advindas do contrato são aquelas que o empregado e o

empregador se co-obrigam seja por contrato escrito, seja por contrato verbal, ou

por virtude da norma, derivada da lei ou de acordo ou convenção coletiva de

trabalho.

31

A principal obrigação do contrato, por parte do empregado é o emprego

da mão de obra, o que se classifica de prestação, seguida dos demais

cumprimentos como à subordinação. O empregador tem como principal obrigação

do contrato o pagamento dos salários que seria a contra prestação, além da

observância dos benefícios existentes nas cláusulas contratuais ou em virtude de

lei (como jornada não excessiva, pagamento de adicionais e horas

suplementares, vales transportes e refeição, e outro qualquer benefício de que

tenha sido contratado ou por força de lei ou convenção coletiva de trabalho).

O descumprimento que mais atinge o empregado que vem a ser

praticado por parte do empregador e que dá ensejo a dispensa indireta é o não

pagamento do salário ao trabalhador. A lei não conceitua salário, apenas enuncia

que o salário é um dos elementos que compõe a remuneração. Pode-se então

classificar salário como a importância paga pelo empregador ao empregado em

virtude da contraprestação aos serviços prestados.

Sua natureza jurídica é a contraprestação, não se confundir salário

com remuneração. Remuneração vem a ser o conjunto de prestações recebidas

com habitualidade pelo empregado face a prestação de serviços, seja em

dinheiro, ou em utilidades provenientes do empregador, mas que decorra do

contrato de trabalho, de modo que venha a satisfazer as suas necessidades

básicas e de sua família.

A remuneração tem por elemento a habitualidade, que é o elemento

preponderante para se saber se a verba tem ou não natureza salarial; a

periodicidade que determina que o pagamento da contraprestação seja feito logo

após a prestação; a quantificação, que determina que o empregado deva saber

quanto vai receber pelo serviço prestado; essencialidade, pois tem a remuneração

como elemento essencial da relação de emprego tendo em vista a onerosidade e

reciprocidade o que vem a caracterizar o caráter sinalagmático da relação de

trabalho.

32

O salário é um dos componentes da remuneração, inexistindo aquele

sem este, mesmo que o trabalhador tenha contratado somente o pagamento da

contraprestação sem nenhum adicional ou benefício.

Vem a ser o salário é a principal obrigação por parte do empregador,

assim, se o mesmo se recusar a efetuar o pagamento, seja por qualquer motivo,

tendo em vista a sua natureza, além do princípio do risco do negócio, tem o

empregado direito a cessar indiretamente o contrato de trabalho.

Porém, a lei não prevê quantos salários podem ser atrasados, ou por

quanto tempo, mas a jurisprudência é pacífica no sentido de determinar que

somente é motivo para a cessação do contrato de trabalho por falta de

pagamento de salário, quando a mora salarial se tornar contumaz quando é

definida pela jurisprudência, como o atraso de três salários consecutivos, o que

pode ser chamado de aberração jurisprudencial.

A lei tem que atribuir um prazo razoável para que o empregador efetue

o pagamento dos salários, apesar de estipular que o mesmo seja pago até o

quinto dia útil do mês subseqüente, como preceitua o art. 459, parágrafo único, da

CLT, observando-se que podem ocorrer problemas de ordem econômica

inesperáveis, porém, não três meses.

Admitir esse prazo mais do que excessivo, seria afrontar os princípios

Constitucionais que atribuem ao salário natureza alimentar, como determina o art.

7º, X da CRFB/88. É impróprio o prazo de mora que é admitido pela

jurisprudência, e que é aplicado pela Justiça do Trabalho para dar ensejo à

despedida indireta.

Basta atrasar o pagamento do salário para estar em mora o

empregador, não necessitando que seja contumaz. Se o empregado agir com

desídia ou com indisciplina, não é necessário que a mesma seja contumaz,

podendo o empregador despedi-lo por justa causa, conforme determina o art.482,

“e, h”, da CLT.

33

Com relação aos abonos, consistem num adiantamento em dinheiro,

numa antecipação salarial, ou num valor a mais que é concedido ao empregado.

Existe controvérsia sobre a possibilidade ou não de ser caracterizado como uma

verba salarial, em que pese o art. 144 da CLT, que impera a não integração à

remuneração do empregado quando o abono de férias não exceder à vinte dias

de salário. Porém, pode ser considerado este tipo de abono como uma de

exceção à regra, sabendo-se que a toda regra existe uma exceção. O abono é um

valor a mais concedido ao empregado habitualmente, integra o salário e constitui-

se remuneração, como determina o art. 457 § 1º da CLT. Assim, a supressão ou o

não pagamento do que teria direito o empregado por força de lei, convenção ou

acordo coletivo ou contrato é motivo para a cessação do contrato por rescisão

indireta.

Quanto aos adicionais, estes dão a ideia de algo que vem a

acrescentar. São classificados como um acréscimo salarial decorrente da

prestação de serviços do empregado em condições mais gravosas, e podem ser

classificadas também como adicionais às horas suplementares, noturno,

insalubridade, periculosidade e transferência.

O adicional de horas extras tem natureza salarial, pois vem remunerar

o trabalho prestado após a jornada normal de trabalho, sendo devido no

percentual de acréscimo de no mínimo 50% sobre a hora normal trabalhada, e,

por ter natureza salarial, o seu não pagamento, ou até mesmo o pagamento a

menor, e ainda o pagamento sem o acréscimo devido, constitui-se mora salarial.

O adicional noturno é devido ao empregado quando este vem trabalhar

em horários noturnos, sendo este em regra de 22:00 h ás 5:00 h, existindo ainda

diferenciações entre urbanos e rurais, e de classes diferenciadas. Este adicional

será de 20% sobre a hora diurna para o empregado urbano, e de 25% para o

empregado rural. Integra o salário se pago com habitualidade, e a supressão ou o

não pagamento também constitui-se a mora salarial.

Os adicionais de insalubridade e periculosidade integram o salário. O

primeiro é devido ao empregado que presta serviços em condições insalubres

34

(prejudicial à saúde ou que dá causa à doença), sendo calculado em até 40%

sobre o salário mínimo, dependendo do grau. O segundo, é devido ao empregado

que presta serviços em contato permanentes com elementos inflamáveis ou

explosivos, e o percentual pago será de 30% sobre o salário do empregado, com

base no art. 193, § 1º, da CLT.

Possuem natureza salarial, e visam remunerar o trabalho em

circunstâncias especiais, objetivando compensar o trabalho em tais condições. Da

mesma forma acontece com o adicional de transferência, sendo devido quando o

empregado é transferido para outro local, provisoriamente, desde que importe na

mudança de sua residência, sendo o percentual de 25% sobre o salário do

empregado. Se for de forma habitual, integra o salário.

Qualquer um desses adicionais se não pagos ou suprimidos, assim

como se pagos, porém não se paga as suas consectárias, quando cabíveis, por

integrarem ao salário pela habitualidade, podem autorizar ao empregado a cessar

indiretamente o contrato de trabalho.

Diante a classificação da remuneração, podemos constituir como

sendo uma das obrigações do contrato a tradição do vale transporte e refeição,

pois impossibilitariam o empregado de locomover-se no primeiro caso, e

alimentar-se para subsistir-se, no segundo caso.

Assim o não pagamento dos vales transportes ao empregado pode

autorizar a rescisão do contrato de trabalho, assim como em certos casos, o vale

refeição. Diga-se em certos casos, pois pode ser que a empresa seja participante

do PAT (Programa de Alimentação do Trabalhador), onde somente neste caso,

pode-se suprimir o que, aliás, não seria uma supressão e sim uma substituição.

Assim têm-se como obrigações do contrato de trabalho, todas aquelas

obrigações que estão incutidos o empregador, assim como o empregado, no

curso do labor seja por força de lei, convenção ou acordo coletivo ou por cláusula

contratual. Descumprida qualquer cláusula que impossibilite a manutenção do

trabalho, pode o empregado fazer cessar indiretamente o seu contrato de

35

trabalho, em que pese como explicitado, o atraso nos salários ser configurada a

mora contumaz, o que a jurisprudência entende ser o período de três meses.

Porém, muitos Magistrados somente entendem como sendo a

obrigação do contrato de trabalho o pagamento de salários, esquecendo-se das

parcelas que vem a compor a remuneração. Para muitos, não pagar horas extras

não é descumprir obrigação contratual, como se o empregador não estivesse

obrigado ao pagamento e este, como se fosse uma faculdade sua pagar ou não.

Pagar remuneração é obrigação do empregador, não constituindo uma mera

faculdade.

São inúmeras as hipóteses de descumprimento contratual do

empregador, mas na prática a mais reconhecida pela jurisprudência é a mora

salarial, como parece se inclinar a Súmula 13, do TST:

O só pagamento dos salários atrasados em audiência não ilide a mora

capaz de determinar a rescisão do contrato de trabalho.7

Quanto ao atraso de salário, o TST tem um entendimento muito claro

face a tal situação:

RECURSO DE REVISTA. RESCISÃO INDIRETA. ATRASO NO

PAGAMENTO DE SALÁRIOS POR DOIS MESES. CARACTERIZAÇÃO.

ARTIGO 483, D, DA CLT. O atraso no pagamento de salários por dois

meses autoriza a rescisão indireta do contrato de trabalho, em face não

apenas da natureza alimentar da contraprestação do trabalho, mas

também e principalmente, do princípio da proporcionalidade, tendo em

vista que, conforme o artigo 482, i, da CLT e a jurisprudência pacífica da

Justiça do Trabalho, o descumprimento da obrigação contratual

elementar do empregado de comparecer ao serviço por período de

apenas 30 dias metade daquele em que a Reclamada, no presente feito,

descumpriu seu dever elementar de pagar os salários do Reclamante já

7 Consolidação das Leis do Trabalho / [ compilação de] Armando Casimiro Costa, Irany Ferrari, Melchíades Rodrigues Martins. – 37. ed. São Paulo : LTr, 2010. página 740

36

é suficiente para caracterização da justa causa por abandono de

emprego. Recurso de revista provido.8

Cabe frisar que o entendimento dos Tribunais está no sentido de não

ser somente o não pagamento do salário ensejador da rescisão contratual, mas

também o não recolhimento do FGTS, cota previdenciária, etc.

Cumpre registrar que o Egrégio Tribunal Regional do Trabalho, 3ª

região, recentemente apreciou matéria entendendo ser cabível à rescisão face ao

não recolhimento do FGTS, senão vejamos:

Processo 00007-2007-027-03-00-9 RO

Data de Publicação 22/06/2007

Órgão Julgador Segunda Turma

Relator Márcio Flávio Salem Vidigal

Revisor Vicente de Paula Maciel

Júnior

RECORRENTE: GRACIA MARIA

VASCONCELOS CHAVES

RECORRIDA: CASA DE CULTURA

ANGLO AMERICANA DE MINAS

GERAIS LTDA.

EMENTA: RESCISÃO INDIRETA -

CONFIGURAÇÃO - Comprovado nos

autos que a reclamada não vem

cumprindo as obrigações

elementares do contrato de trabalho,

atrasando o pagamento dos salários,

além de deixar de recolher os valores

devidos a título de FGTS, resta

configurada a falta grave do

empregador, na forma do artigo 483,

alínea "d" da CLT, de molde a

8BRASÍLIA: Tribunal Superior do Trabalho. Recurso de Revista - 6/2000-067-02-00. Relator: Ministro Horácio Senna Pires. T6 - Sexta Turma. Data da Publicação: 20/10/2006. Disponível em: . Acesso em: 23 .02.2010.

37

justificar a rescisão oblíqua do pacto

laboral.9

4.5 DA PRATICA DE ATO LESIVO A HONRA E BOA FAMA POR PARTE DO

EMPREGADOR OU SEUS PREPOSTOS

Ato lesivo da honra ou da boa fama é aquele previsto no Código Penal,

como a injúria, a difamação e a calúnia, que vem descritos nos arts. 140, 139 e

138, respectivamente, do CP.

Tudo, mesmo que seja por gestos ou por palavras, importar em expor

outrem ao desprezo de terceiros será considerado lesivo da boa fama.

Tudo quanto, por qualquer meio venha a magoá-lo em sua dignidade pessoal

será ato contra a honra.

As ofensas físicas, quando praticadas no serviço contra qualquer

pessoa, constituem justa causa. Se forem praticadas contra o empregador ou

contra superiores hierárquicos, mesmo fora do ambiente de trabalho, poderão vir

a constituir a justa causa.

Desse modo, podemos constatar que na duração do contrato de

trabalho os benefícios existentes, explicitamente ou implicitamente, fazem parte

do contrato e dos direitos e deveres que possuem as partes contratantes, tendo-

se o rebaixamento funcional como ilegalidade praticada pelo empregador, e

sendo cabível a ação de danos morais oriundos desse ato ilícito, já que faz com

que o empregado se posicione em situação vexatória, ficando ridicularizado

perante os seus colegas de trabalho.

Não se deve considerar apenas como ofensas físicas àquelas que

resultaram em lesões corporais, mas as meras agressões e até as tentativas de

agressão, cujo efeito para a relação de emprego, é o mesmo das agressões

consumadas. Não configura a justa causa a prática do ato em legítima defesa,

própria ou de outrem.

9 www.trt3.jus.com.br/consultaunificada/consultaprocessual.do processo nº 00007-2007-027-03-00-9

38

Trata-se de prática de ato lesivo à honra e boa fama do empregado

ou sua família por parte do seu empregador ou seus prepostos em que o

empregado sentindo-se lesado requer a rescisão de seu contrato de trabalho de

forma indireta.

4.6- DA OFENSA FÍSICA PRATICADA PELO EMPREGADOR OU SEUS

PREPOSTOS

A ofensa física é a agressão física praticada no recinto da empresa

ou fora, efetuada pelo empregador ou seus prepostos, qualquer superior

hierárquico ou qualquer companheiro do empregado agindo na oportunidade sob

determinação do empregador ou chefe.

Em se tratando da ofensa física ensejadora do rompimento do

contrato de trabalho por parte do empregado, é importante ressaltar que esta

ocorre no momento da agressão do empregador.

Neste caso, não sendo necessário que a ofensa física importe em

lesão corporal ou ferimento da vítima, bastando que seja o ato de agredir.

Como se pode verificar em se tratando de legítima defesa, não há

motivo ensejador do rompimento do contrato de trabalho por parte do empregado.

Tem-se, desta forma, situações de ofensa direta à dignidade do

trabalhador por parte de seu empregador, seja no aspecto psíquico, seja no

aspecto físico a afetação da integridade moral e física do empregado por parte de

seu empregador é absolutamente repudiada pela lei, com sendo a única exceção

os casos de legitima defesa, onde a própria lei traz a permissão do uso de força

para defesa própria ou de outrem, desde que este uso seja na medida necessária

para afastar a ameaça ou lesão.

Se há abuso de direito de legítima defesa, ou seja, se os meios

empregados para esta são desproporcionalmente mais amplos e/ou contundentes

que os meios usados na ameaça ou lesão, a defesa não será legítima, sendo

passível de punição.

39

O empregado só poderá se defender ou defender a outrem, nunca

podendo exceder os meios que venha a usar para tal defesa. Assim será o caso

de possibilidade de fim do contrato por "falta" do empregador.

O Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região entende se o

empregador tentar reverter a rescisão indireta para justa causa face a lesão,

deverá provar:

JUSTA CAUSA E RESCISÃO INDIRETA - A caracterização da justa

causa exige prova robusta, máxime quando se acusa o empregado da

prática de ato de improbidade, com registro policial. Não comprovado o

delito, merece acolhida o pedido de rescisão indireta com fundamento na

alínea "e" do art. 483 Consolidado. (Acórdão do Processo nº

00506.221/95-4 (RO) - TRT 4ª R, data de publicação: 22.05.2000 - Juiz

Relator: José Cesário Figueiredo Teixeira)10

4.7- DA REDUÇÃO DO TRABALHO E CONSEQUENTE REDUÇÃO SALARIAL

Se o empregador vir a reduzir a carga de trabalho do empregado, por

conseqüência irá também reduzir seu salário, e, em face disto, o legislador deu

permissão ao empregado de considerar seu contrato findo por falta grave de seu

empregador quando ocorra esse tipo de situação.

Existe uma única situação onde a redução de trabalho é tolerada para

a Justiça do Trabalho, que é o caso da redução do número de aulas de um

professor, no caso dessa diminuição ocorrer em virtude de diminuição do numero

de alunos.

Neste caso e somente nele, não poderá haver a caracterização de falta

grave do empregador, a ponto de ser considerada finda a relação de emprego,

como define a OJ 244 da SDI-1 do Colendo TST.

OJ-SDI1-244 PROFESSOR. REDUÇÃO DA CARGA HORÁRIA.

POSSIBILIDADE. Inserida em 20.06.01 A redução da carga horária do

professor, em virtude da diminuição do número de alunos, não constitui

10 www.trt4.jus.com.br/consultaunificada/consultaprocessual.do processo nº. 00506.221/95-4

40

alteração contratual, uma vez que não implica redução do valor da hora-

aula.11

4.8- DA SUSPENSÃO DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO FACE OBRIGAÇÕES

INCOMPATIVEIS

Situação de fácil visualização desta previsão legal é o caso do

empregado que venha a ser eleito como vereador de sua cidade. Em caso de ser

incompatível o exercício de sua função eletiva (vereador) com a continuação do

exercício de seu emprego, esse empregado poderá deixar seu emprego, sem

haver caracterização e quebra de contrato por sua atitude.

4.9- DO FALECIMENTO DO EMPREGADOR

A relação de emprego não é caracterizada pelo traço da pessoalidade

em relação ao empregador, já que as alterações na estrutura das sociedades

empresárias não afetam os contratos de emprego, como determina os arts. 10 e

448 CLT.

No caso da sociedade empresária ser individual, a lei trouxe a

possibilidade aos empregados de considerarem seus contratos de emprego findos

diante do falecimento do titular dessa sociedade, o que se fez pela clara

peculiaridade que pode se instalar no sentido de haver na prática a vinculação

pessoal entre empregado e empregador.

Conclui-se com base no § 2º do art. 483 da CLT que o empregado terá

por faculdade a rescisão do contrato de trabalho no caso de falecer o empregador

constituído em empresa individual.

Em se tratando do empregado doméstico, o empregador não é aquele

que assinou a carteira e sim a entidade familiar, assim não seria causa de

extinção do contrato de trabalho se quem assinou a carteira morreu.

11 Consolidação das Leis do Trabalho / [ compilação de] Armando Casimiro Costa, Irany Ferrari, Melchíades Rodrigues Martins. – 37. ed. São Paulo : LTr, 2010. página 804

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Sendo o empregador pessoa física é sozinho e assim o contrato de

extingue, se é empresário individual a extinção é uma opção do empregado, como

define o art. 483, § 2.º, da CLT.

Assim, para se entender como funciona a rescisão contratual neste

caso, necessário se faz entender os tipos básicos de empresa que podem compor

uma relação de trabalho.

O empregador individual é aquele em que a contratação existe apenas

na pessoa do dono da empresa, não havendo outros sócios que possam dar

continuidade a relação de trabalho, e empregador pessoa jurídica pode er

composta de 2 ou mais pessoas, e, em que em caso de falecimento de um dos

sócios, o(s) outro(s) poderá(ão) assumir as responsabilidades.

Com isto, pode ser esclarecer e colocar claramente as situações de

que se o empregador for empresa individual o empregado tem direito a pedir o

encerramento das atividades empregatícias, recebendo pro isto todas as verbas

rescisórias de como se houvesse sido demitido. Mas não é uma obrigação, mas

sim um direito, nada impedindo que continue trabalhando.

Mas no caso de falecimento de um dos sócios de pessoa jurídica, a

relação trabalhista continua normalmente, uma vez a pessoa do outro sócio pode

assumir os encargos que o outro deixou.

A ressalva se faz no art. 485, da CLT que diz no caso de cessar a

atividade da empresa por morte do empregador, os empregados terão direito,

conforme o caso, à indenização a que se referem os artigos 477 e 497, da CLT,

podendo ser indiferente do tipo da empresa, em caso das atividades cessarem

por conta do falecimento, poderá o empregado rescindir o contrato.

Em caso de falecimento de empregador individual a orientação é

procurar o Ministério do Trabalho, munido dos documentos, e pedir auxílio para

uma solução, e querendo continuar com a atividade, basta então continuar

laborando, isso vale também para em caso de encerramento da atividade da

empresa pro falecimento do dono.

42

4.10-DAS HIPÓTESES DAS LETRAS "D" E "G", QUANTO AS INDENIZAÇÕES

EM CASO DE PERMANÊNCIA OU NÃO ATÉ FINAL DA DECISÃO DO

PROCESSO

O entendimento perante o conteúdo do parágrafo terceiro do artigo em

comento é que para que seja caracterizada a rescisão por falta do empregador, o

empregado deve deixar de trabalhar logo que exista o ato faltoso do seu

empregador que provoque o fim do contrato, em caso excepcional nos casos das

letras "d" e "g", esse empregado, caso queria, poderá permanecer laborando sem

que isso caracterize seu perdão face a atitude faltosa que seu empregador

cometera.

Em outros casos, o empregado deve deixar de laborar, caso contrário

caracterizará o que o Direito chama de "perdão tácito", já definido anteriormente.

O fato de permanecer na relação de trabalho implica em que o ofendido

(empregado) tenha perdoado o ofensor (empregador).

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CONCLUSÃO

Em virtude dos fatos observados, consubstancia uma necessidade

latente de proteger os direitos da personalidade do trabalhador, e não cogitar

apenas da proteção da jornada de trabalho, do salário e demais direitos materiais

trabalhistas.

É de extrema necessidade a compreensão por uma maior liberdade de

trabalho, pela satisfação do empregado no ambiente do trabalho, pela segurança

no cumprimento das normas estabelecidas no contrato firmado com o

empregador para evitar exageros e abusos.

Esses direitos não estão expressamente elencados na legislação

especializada (Consolidação das Leis do Trabalho), mas reconhecidos em outras

normas aplicáveis, e imprescindíveis à valorização do trabalho humano e que na

verdade, decorrem do valor maior da dignidade da pessoa humana e do trabalho

como um valor social, constitucionalmente garantidos.

Mister se faz afirmar que embora a ordem natural dos acontecimentos

configure ao empregador um poder de mando sobre o empregado, ele não pode

se valer de tal autoridade e aplicar rigor excessivo, atos discriminatórios,

ultrapassar os limites estabelecidos para o ramo de atividade proposto, faltar ao

respeito, fazer incidir penas de caráter desproporcionais, tratar o empregado com

falta de educação e violência física, expor o subordinado a determinadas

atividades que podem acarretar riscos a sua integridade física e ou moral.

O caminho que intentou esse trabalho monográfico foi evidenciar que o

descumprimento de um acordo bilateral que efetivou o contrato de trabalho por

parte do empregador por uma falta grave gera um justo motivo para que se rompa

a relação empregatícia pelo empregado. Apesar de se tratar de assunto

específico dentro do universo trabalhista, foi importante iniciar a pesquisa pelo

conceito desse ramo do Direito, autônomo e eminentemente social e pelo estudo

aprofundado dos vetores jurídicos.

44

O Direito do Trabalho preconiza matéria obrigatória para os operadores

do direito. Cumpre ressaltar que, a rescisão é utilizada para terminar uma

obrigação contratual por uma das partes em virtude de falta. O instituto da

rescisão indireta traz a possibilidade do empregado rescindir seu contrato e fazer

jus à indenização devida, pela falta de cumprimento ou por falta grave causada

pelo empregador. Esta pesquisa procurou aprofundar o assunto buscando

decisões recentes dos tribunais específicos assim como conceitos doutrinários,

em conjunto com as normas constitucionais, e as leis infraconstitucionais

existentes e atualizadas.

Essa foi toda a rota percorrida, deixando para os doutos juristas e

doutrinadores a elaboração de novos conceitos e decisões sobre esse assunto

visando equilibrar a relação contratual entre empregado e empregador, garantindo

através da legislação ou de reiteradas decisões dos tribunais a proteção as

cláusulas acordadas e o seu devido cumprimento.

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45

BIBLIOGRAFIA

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ANEXOS