neurociÊncia vai À escola: emoÇÕes negativas e a …

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¹ Professora no curso de Medicina Veterinária CESCAGE Ponta Grossa PR. E-mail: [email protected]. ² Discente de Direito - CESCAGE- Ponta Grossa PR. E-mail: [email protected]. ³ Pedagoga no Colégio Militar CESCAGE Ponta Grossa PR. E-mail: [email protected]. 4 Professora no curso de Enfermagem CESCAGE Ponta Grossa PR. E-mail: [email protected]. 5 Professora no curso de Psicologia CESCAGE- Ponta Grossa PR. E-mail: [email protected]. CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DOS CAMPOS GERAIS CESCAGE 25ª Edição Volume I / Jan - Jul / 2021 ISSN 2178 3594 NEUROCIÊNCIA VAI À ESCOLA: EMOÇÕES NEGATIVAS E A RELAÇÃO COM DOENÇAS FÍSICAS E DIFICULDADES NA APRENDIZAGEM Erika Zanoni Fagundes Cunha ¹ Bianca Jaqueline Prestes ² Stephany Collares ³ Elaine Portes 4 Maria Inês Gonzalez 5 RESUMO: Foi realizado no Colégio Vila Militar Cescage, em Ponta Grossa-PR, um projeto voltado para a saúde mental e o bem-estar das crianças. Para coleta de dados foram utilizados a Escala de Ansiedade de Spence (SCAS), o protocolo de dados pessoais, o prontuário da enfermagem e as notas do primeiro bimestre dos alunos. Foram analisados como os sintomas de ansiedade refletem na saúde física, no comportamento e na cognição de crianças e adolescentes de 11 a 17 anos. Houve correlação significativa entre as notas e a escala (r = - 0,376 e p=0,04), ou seja, quanto maior a escala, menores as notas dos alunos. A média da escala dos alunos do sexo feminino foi significativamente maior do que do sexo masculino (p=0,015) e a média da escala dos alunos com queixa de cefaleia foi significativamente maior do que a média dos alunos sem queixa (p=0,027). Esses resultados podem ajudar no desenvolvimento de ferramentas de avaliação da qualidade de vida de estudantes para se identificar sinais de estresse e desenvolver estratégias para minimizar os efeitos deletérios deste. PALAVRAS-CHAVE: EXPRESSÃO DE EMOÇÕES. APRENDIZAGEM. ESTRESSE. NEUROSCIENCE GOES TO SCHOOL: NEGATIVE EMOTIONS AND THE RELATIONSHIP WITH PHYSICAL DISEASES AND LEARNING DIFFICULTIES ABSTRACT: The mental health and well-being of children from Vila Militar Cescage School of Ponta Grossa, Paraná state, Brazil was assessed. The results were collected applying the Spence's Anxiety Scale (SCAS) on data from a personal data protocol, the nursing record, and the scholar transcripts of the first two months of students' scholar year. We analyzed how anxiety symptoms manifest in 11 to 17 years old student's physical health, behavior, and cognition. The analysis on the correlation between a detected higher scale value and students' lower degrees was significant (r = - 0.376 and p = 0.04). The mean value of the scale score for female students was higher than for male students (p = 0.015). The mean value of the scale scores of students with complains of headache was higher than the mean of students without headache (p = 0.027). These results can help develop tools to assess students' quality

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¹ Professora no curso de Medicina Veterinária – CESCAGE – Ponta Grossa – PR. E-mail: [email protected]. ² Discente de Direito - CESCAGE- Ponta Grossa – PR. E-mail: [email protected]. ³ Pedagoga no Colégio Militar – CESCAGE – Ponta Grossa – PR. E-mail: [email protected]. 4 Professora no curso de Enfermagem – CESCAGE – Ponta Grossa – PR. E-mail: [email protected]. 5 Professora no curso de Psicologia – CESCAGE- Ponta Grossa – PR. E-mail: [email protected].

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NEUROCIÊNCIA VAI À ESCOLA: EMOÇÕES NEGATIVAS E A RELAÇÃO COM DOENÇAS FÍSICAS E DIFICULDADES NA APRENDIZAGEM

Erika Zanoni Fagundes Cunha ¹ Bianca Jaqueline Prestes ²

Stephany Collares ³ Elaine Portes 4

Maria Inês Gonzalez 5 RESUMO: Foi realizado no Colégio Vila Militar Cescage, em Ponta Grossa-PR, um projeto voltado para a saúde mental e o bem-estar das crianças. Para coleta de dados foram utilizados a Escala de Ansiedade de Spence (SCAS), o protocolo de dados pessoais, o prontuário da enfermagem e as notas do primeiro bimestre dos alunos. Foram analisados como os sintomas de ansiedade refletem na saúde física, no comportamento e na cognição de crianças e adolescentes de 11 a 17 anos. Houve correlação significativa entre as notas e a escala (r = - 0,376 e p=0,04), ou seja, quanto maior a escala, menores as notas dos alunos. A média da escala dos alunos do sexo feminino foi significativamente maior do que do sexo masculino (p=0,015) e a média da escala dos alunos com queixa de cefaleia foi significativamente maior do que a média dos alunos sem queixa (p=0,027). Esses resultados podem ajudar no desenvolvimento de ferramentas de avaliação da qualidade de vida de estudantes para se identificar sinais de estresse e desenvolver estratégias para minimizar os efeitos deletérios deste. PALAVRAS-CHAVE: EXPRESSÃO DE EMOÇÕES. APRENDIZAGEM. ESTRESSE.

NEUROSCIENCE GOES TO SCHOOL: NEGATIVE EMOTIONS AND THE RELATIONSHIP WITH PHYSICAL DISEASES AND LEARNING DIFFICULTIES

ABSTRACT: The mental health and well-being of children from Vila Militar Cescage School of Ponta Grossa, Paraná state, Brazil was assessed. The results were collected applying the Spence's Anxiety Scale (SCAS) on data from a personal data protocol, the nursing record, and the scholar transcripts of the first two months of students' scholar year. We analyzed how anxiety symptoms manifest in 11 to 17 years old student's physical health, behavior, and cognition. The analysis on the correlation between a detected higher scale value and students' lower degrees was significant (r = - 0.376 and p = 0.04). The mean value of the scale score for female students was higher than for male students (p = 0.015). The mean value of the scale scores of students with complains of headache was higher than the mean of students without headache (p = 0.027). These results can help develop tools to assess students' quality

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of life by identifying signs of stress and design strategies to minimize its negatives effects.

KEYWORDS: EMOTIONAL EXPRESSION. LEARNING. STRESS. 1 INTRODUÇÃO

RELVAS (2017) descreve a neurociência na escolarização como uma abordagem a respeito do funcionamento cerebral levando em consideração aspectos biológicos, psicológicos, neurobiológicos, físicos e filosóficos voltados para a aquisição de informações, resolução de problemas- contextualizados e alicerçados- do âmbito escolar. É uma abordagem educativa que valoriza a qualidade de vida, o foco, autoconhecimento e a expressão de emoções. Estudos em neurociência afirmam que os processos cognitivos e emocionais estão entrelaçados (ARNSTEN et al., 2015); (VELASQUES; RIBEIRO, 2014). Bloqueios emocionais podem prejudicar a aprendizagem (SAPOLSKY, 2007); (RYGULA; PAPCIAK; POPIK, 2013). Crianças e adolescentes com sinais de medo, ansiedade e depressão podem apresentar pouca concentração e atenção deficitária. Sentir-se feliz amplia o raciocínio e facilita a criatividade (VELASQUES; RIBEIRO, 2014).

A estrutura cerebral pode ser moldada a partir de uma combinação genética e do ambiente, de modo que os fatores emocionais, fisiológicos, sociais e culturais são de extrema importância para a plasticidade cerebral (VELASQUES; RIBEIRO, 2014). A capacidade de focar, concentrar e lembrar tem muito a ver o estresse emocional que o indivíduo suporta (MITRA; SAPOLSKY, 2008).

As crianças também podem somatizar emoções e isso reflete sobre as funções cognitivas imediatas a longo prazo. Sinais como falta de concentração e atenção, lentidão no raciocínio, falta de interesse e déficit de memória impedem a atenção focalizada e execução de tarefa até o final (KROENKE et al., 2007).

Esse trabalho reflete a preocupação dos autores com as emoções infantis. Muitas vezes não existe uma conscientização e manejo dessas, refletindo na aprendizagem e relacionamentos com professores, tutores e colegas de sala. O projeto Neurociência vai à Escola tem como objetivo geral identificar transtornos de humor de alunos de 10 a 17 anos e ensinar estratégias para lidar com desafios pessoais através de um ambiente terapêutico e de um programa estruturado de intervenção comportamental positiva.

2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 NEUROANATOMIA DA APRENDIZAGEM O cérebro é o órgão mais complexo do nosso organismo, responsável por ações voluntárias e involuntárias PEDRO et al (2008). A construção do cérebro começa já na fase inicial da gestação. Durante o primeiro mês, sinais químicos fazem com que o grupo de células do embrião em desenvolvimento transformem-se no sistema nervoso. Três semanas

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depois da concepção já ocorre a formação da placa neural, formando posteriormente o tubo neural, que mais tarde se transformará em cérebro e medula espinhal. O cérebro infantil possui uma grande quantidade de sinapses provocadas por estímulos, permanecendo assim até o início da adolescência, quando começa são reduzidas (RELVAS, 2017). Pesquisa revela que o aprendizado pode ocorrer durante toda a vida. Apesar da morte de algumas células, outras são repostas. Há um constante fluxo de vida e morte no nosso cérebro (SPALDING et al., 2013).

O lobo pré-frontal é responsável pela razão (cognição), aprendizagem e o lobo insular/límbico pela emoção (prazer e recompensa) (BRANDÃO, 2004; DAMÁSIO, 2009). O lobo pré-frontal tem seu desenvolvimento completo por volta dos 30 anos de idade em seres humanos. Este é responsável pelas escolhas acertadas, pelo controle de impulsos, pela flexibilidade, pela linguagem e raciocínio. A maioria dos mamíferos opera principalmente por instinto, porém as ações de hierarquia, uso de ferramentas e a modificação do ambiente estão relacionadas a maior utilização do lobo frontal (AMTHOR, 2017). A segunda área, a amigdala, é responsável pela gerência das emoções e é bem ativa na infância e adolescência. Daí as reações emocionais exageradas (RELVAS, 2017).

2.2 AMBIENTE, ESTRESSE E DÉFICIT DE APRENDIZAGEM A aprendizagem é um processo de mudança de conhecimento, de comportamento que se obtém por meio das vivências construídas por fatores

emocionais, neurológicos, relacionais e emocionais (PEDRO et al, 2018).

O estresse psicossocial em humanos tem sido relacionado à ocorrência ou progressão de certos transtornos de aprendizagem, incluindo déficit de atenção. (CRUVINEL; BORUCHOVITCH, 2014; KROENKE et al., 2007; MCEWEN, 1999; MITRA; SAPOLSKY, 2008; OLIVEIRA, 2005)

A genética contribui para programação individual do cérebro, mas é o ambiente que proporciona oportunidades, vivências e experiências que são capazes de influenciar no neurodesenvolvimento. O cérebro infantil em desenvolvimento é plástico e possui uma quantidade excessiva de sinapses provocadas por estímulos ambientais. Essa capacidade sináptica continua até o início da adolescência (BOWLBY, 2006; RELVAS, 2017). Comorbidades como depressão e ansiedade estão fortemente associadas ao comprometimento da saúde, bem como às funções cognitivas e emocionais (KROENKE et al., 2007). A ansiedade pode ser definida como um estado subjetivo de apreensão ou tensão, difuso ou vago, frequentemente acompanhado por uma ou mais sensações físicas, como aumento na pressão arterial, frequência cardíaca, e respiração, urgência de micção ou defecação, induzido pela expectativa de perigo, dor ou necessidade de um esforço especial. A inquietação e o desejo de movimentar-se são também comuns. (BRANDÃO; GRAEFF, 2014; BRANDÃO, 2001). A depressão causa desequilíbrios neuroquímicos em regiões do cérebro que são conhecidas pelo controle do humor, ansiedade e cognição. Essas regiões incluem o hipocampo, o córtex pré-frontal, o córtex cingulado, núcleo accubens e amígdala (DUMAN, 2009).

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Bloqueios emocionais podem prejudicar a aprendizagem. Indivíduos com sinais de medo, ansiedade e depressão podem apresentar pouca concentração e atenção deficitária. Sentir-se feliz amplia o raciocínio e facilita a criatividade (VELASQUES; RIBEIRO, 2014). A família e a escola possuem responsabilidade no desenvolvimento cognitivo, emocional e social das crianças e adolescentes para minimizar conflitos, promovendo uma escuta eficaz, o apoio, a interligação e o limite, sem prejudicar a individualidade (RELVAS, 2017). Ter consciência das emoções favorece flexibilidade de resposta em interações com o meio ambiente (DAMÁSIO, 2009). 3 METODOLOGIA 3.1 DESCRIÇÃO DO LOCAL DE ESTUDO O projeto foi realizado no Colégio da Vila Militar Cescage, localizado na cidade de Ponta Grossa- PR. É uma escola particular que oferece ensino integral para Ensino Fundamental II (de sexto ao nono ano) e Ensino Médio, dos 10 anos até 17. Com uma sólida proposta de resgate dos valores civis e patrióticos, o projeto pedagógico oferece uma educação pautada na filosofia, hierarquia e disciplina militar. É um resgate dos valores familiares, do respeito e da ordem. Além dos ensinamentos militares as crianças podem contar com atividades que permitem o desenvolvimento de competências relacionadas à solidariedade, amor e empatia através de disciplinas ofertadas em dois dias na semana.

3.2 SELEÇÃO DE PARTICIPANTES A proposta foi realizada para todos os alunos através de um bilhete enviado aos pais (n = 173) e uma amostra de crianças e adolescentes participaram do projeto. O grupo foi composto por estudantes com idades entre 11 a 17 anos (n=31), de ambos os sexos, de forma aleatória e espontânea sem o conhecimento prévio de diagnósticos de transtornos de humor ou de aprendizagem se apresentou para participar do projeto. Dos alunos que participaram voluntariamente do projeto 58% pertenciam ao sexo feminino e 42% do sexo masculino. 3.3 ANÁLISE COMPORTAMENTAL Foram aplicados questionários comportamentais contendo questões descritivas e objetivas, desenvolvidos através da aferição psicométrica das versões self-self e parent-scale da Escala de Ansiedade de Spence (SCAS).

O questionário utilizado, que contém 44 perguntas, é um instrumento para a avaliação da ansiedade em crianças e adolescentes. Todos os protocolos foram explicados verbalmente e as respostas foram anotadas pelo entrevistado. A escala é completada pedindo ao aluno que classifique e circule as opções: nunca (0 pontos), às vezes (1 ponto), muitas vezes (2 pontos) ou sempre (3 pontos), que indicam a frequência de ocorrência de cada um deles. Apenas os 38 itens de ansiedade são pontuados. Os outros sete são perguntas com respostas positivas (itens 11, 17, 26, 31, 38 e 43). Alternativamente, a pontuação total pode ser calculada adicionado as pontuações de uma sub escala que

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avalia possibilidade de ansiedade da separação, fobia social, transtorno obsessivo compulsivo, pânico, medo de ferimento, ansiedade generalizada (Anexo 1).

As avaliações foram realizadas na sala da direção do colégio e em sala de aula. Isso significa que os alunos passaram em média 60 minutos no projeto por semana, durante 90 dias (março-maio de 2019).

3.4 AVALIAÇÃO DA SAÚDE FÍSICA No colégio existe um ambulatório de enfermagem que os alunos frequentam espontaneamente quando não estão se sentindo bem ou encaminhados por tutores. A partir da anamnese e do exame físico, os enfermeiros obtinham inúmeras informações, que lhe serviram de pistas para identificar os problemas e estabelecer os Diagnósticos de Enfermagem, por meio da Taxonomia II da North American Nursing Diagnosis Association (NANDA-Internacional).

Toda criança que procura o serviço passa pela anamnese e exame físico. Informações de relatos espontâneos, sinais vitais e outas observações eram monitorados e anotados em planilha de programa de computador. 3.5 AVALIAÇÃO PEDAGÓGICA As notas dos alunos foram solicitadas à coordenação pedagógica. Foi utilizada a média das notas do primeiro bimestre de todas as matérias ofertadas dentro dos cursos de Ensino Fundamental II e Ensino Médio.

3.6 AVALIAÇÃO DISCIPLINAR A avaliação de ocorrências disciplinares foi realizada através da análise e contagem de passagens pela sala de supervisão por comportamentos inadequados.

Posteriormente foi criado um espaço seguro para os supervisores falarem sobre as frustrações de comportamento de maneiras construtivas. Os instrutores foram coadjuvantes na identificação de emoções negativas, de momentos difíceis e frustrantes que as crianças passaram e na compreensão de como isto reflete em comportamentos negativos. 3.7 ATIVIDADES PEDAGÓGICAS PARA O ENSINO DO FUNCIONAMENTO CEREBRAL Os alunos eram separados em grupos menores para que de forma lúdica obtivessem o ensino sobre a anatomia e fisiologia das emoções. 3.8 TERAPIAS ALTERNATIVAS PARA AMENIZAR ANSIEDADE Para amenizar os problemas relacionados a ansiedade foram realizadas sessões com a psicóloga na aula de Inteligência emocional, meditações durante 21 dias por 15 minutos, dinâmicas e leituras.

Crianças ou adolescentes do grupo também participaram espontaneamente de Terapia Assistida por Animais. Os animais utilizados foram: porquinho-da-índia, gato e cachorro. O trabalho foi realizado a cada sete dias, pelo período máximo de cinquenta minutos, tendo água à

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disposição, cama e brinquedos específicos aos animais.

3.9 ANÁSILE ESTATÍSTICA Inicialmente, procedeu-se a análise descritiva dos dados com estimativa de média, mediana e desvio padrão das variáveis quantitativas. Para as variáveis qualitativas procederam-se estimativas de frequências simples e relativas. Em seguida, testaram-se a distribuição dos dados com o teste Shapiro-Wilk e, dado que a variável e maior importância (resultado da escala) teve distribuição normal, optou-se pela abordagem paramétrica dos dados para todas as análises. Para a avaliação da diferença do resultado da escala entre grupos (presença e ausência de achados), foi utilizado o teste T de Student. Para avaliar a correlação do resultado da escala e a idade, notas e número de

ocorrências, foi utilizado o coeficiente de correlação de Pearson. Para melhor visualização dos resultados, produziu-se gráficos do tipo “Dispersão” e “Boxplot”, diferenciando-se entre os grupos. Os testes foram considerados significativos quando p<0,05 e as análises foram realizadas no SPSS 21.0 (IBM, 2012). 4 RESULTADOS Das crianças e adolescentes avaliados, o maior medo é da perda de pessoas que amam (n=12). Algumas relataram na parte aberta para escrita que sentem saudades de conhecidos que faleceram. No Gráfico 1 estão descritos os medos mais comuns registrados na escala genérica psicométrica das versões self-self e parent-scale da Escala de Ansiedade de Spence (SCAS).

Gráfico 1 - Medos mais comuns registrados na escala genérica psicométrica das versões self-self e parent-scale da Escala de Ansiedade de Spence (SCAS). Fonte: Pesquisa de campo (2018).

15

11

125

111111

7

0 2 4 6 8 10 12 14

DA MÃE

OFENDER OS OUTROS

PERDA

FILME DE TERROS/ESCURO

INSETOS

DA CAUSA QUE LUTA SER ILUSÃO

NÃO RESPONDEU

Medos

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A média do escore final da escala de qualidade de vida de crianças

e adolescentes foi maior para os alunos do sétimo ano (Gráfico 2).

Gráfico 2 - Escore final da escala genérica psicométrica das versões self-self e parent-scale da Escala de Ansiedade de Spence (SCAS). Fonte: Pesquisa de campo (2018).

Com relação às idades, o maior

resultado foi entre as crianças com 12 anos. Ou seja, a ansiedade e medo são

mais comuns entre as crianças de 12 anos, neste grupo avaliado (Gráfico 3).

Gráfico 3 - Escore final da escala genérica psicométrica das versões self-self e parent-scale da Escala de Ansiedade de Spence (SCAS) por idade. Fonte: Pesquisa de campo (2018).

Os sinais físicos decorrentes do

estresse foram avaliados nesse grupo e os mais observados foram automutilação (n=10), crise de

116,66

122

113,85

87,33

0 20 40 60 80 100 120 140

MÉDIA ESCALA 9O ANO

MÉDIA ESCALA 7O ANO

MÉDIA ESCALA 8O ANO

MÉDIA 1A SÉRIE

124,75

97

88,37

86,72

106,33

0 20 40 60 80 100 120 140

MÉDIA 12 ANOS

MÉDIA 13 ANOS

MÉDIA 14 ANOS

MÉDIA 15 ANOS

MÉDIA 17 ANOS

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ansiedade (n=6) e cefaleia (n=5) (Gráfico 4).

Gráfico 4 - Queixas mais comuns atendidas no ambulatório de enfermagem. Fonte: Pesquisa de campo (2018).

No trabalho, as variáveis analisadas encontram-se descritas na Tabela 1.

Variável Tipo p=valor teste de normalidade

Simetria

Série Qualitativa NA NA

Resultado da escala Quantitativa 0,204 paramétrico

Idade Quantitativa 0,014 não paramétrico

Sexo Qualitativa NA NA

Medos Qualitativa NA NA

Passagem enfermagem Qualitativa NA NA

Notas (média geral) Quantitativa 0,347 paramétrico

Número de Ocorrências Quantitativa <0,001 não paramétrico

Tabela 1 - Variáveis analisadas. Fonte: Pesquisa de campo (2018). NA = não se aplica, não há teste de normalidade ou simetria para as variáveis qualitativas

Na Tabela 2 tem-se os

resultados das médias, mediana e desvio padrão das variáveis analisadas no trabalho.

Variável Média Mediana Desvio Padrão

Resultado de escala 99 101 36,1

Idade 14 14 1,4

Notas 7 7 0,9

Número de ocorrências 2 2 2,6

0

2

4

6

8

10

12

Cefaléia Congestão nasal Tonturas Automutilação Dor abdominal Crise deansiedade

Nauseas

Queixas mais comuns relatadas na enfermaria

Alunos acometidos

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Tabela 2 - Média, mediana e desvio padrão das variáveis analisadas. Fonte: Pesquisa de campo (2018).

Na Tabela 3 encontram-se as porcentagens de ocorrências de medos e sintomas físicos.

Variável N %

Série

1 18 58,1

7 3 9,7

8 7 22,6

9 3 9,7

Sexo Feminino 18 58,1

Masculino 13 41,9

Medo

Não ser boa o suficiente 6 19,3

Perda 12 38,7

Ficar só 5 16,1

Outros 10 32,3

Não escreveu 7 22,6

Enfermagem

Náusea 3 9,7

Tontura 4 12,9

Automutilação 10 32,3

Dor abdominal 5 16,1

Crise de ansiedade 6 19,3

Cafeléia 5 16,1

Outros 5 16,1

Tabela 3 - Porcentagens de ocorrências de medos e sintomas físicos. Fonte: Pesquisa de campo (2018).

A Tabela 4, abaixo, apresenta o coeficiente de correlação entre o resultado da escala e a idade, notas e número de ocorrências.

Como interpretar coeficiente de correlação: o R (coeficiente de correlação) é um coeficiente que varia de -1 a +1, sendo que quando mais próximo de 1 (independente de positivo ou negativo), mais forte a correlação entre as variáveis. Quando negativo, significa que as duas variáveis seguem direções opostas, à medida que uma

aumenta a outra diminui. Quando positivo, significa que as duas variáveis seguem a mesma direção. Em outras palavras, quando uma aumenta a outra também aumenta. Isso corroborado pelo valor de p, ou seja, o coeficiente só pode ser interpretado quando a força e a direção se o p<0,05.

Houve correlação significativa entre as notas e a escala (r = - 0,376 e p=0,04), indicando que quanto maior a escala, menores as notas dos alunos.

Escala

Coeficiente de correlação p-valor

Idade -0,164 0,379

Notas -0,376 0,040

Ocorrência 0,328 0,077

Tabela 4 - Coeficiente de correlação entre o resultado da escala e a idade, notas e número de ocorrências. Fonte: Pesquisa de campo (2018).

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A Interpretação mais plausível é de que: cada variável abaixo foi testada para a diferença das médias do resultado da escala e a presença e ausência de cada fator. O teste utilizado foi o T de Student ou ANOVA com Tukey como post-hoc.

Houve diferença significativa entre o resultado da escala em relação

ao sexo e a queixa de cefaleia na enfermaria (Tabela 5). Ou seja, a média da escala dos alunos do sexo feminino foi significativamente maior do que do sexo masculino (p=0,015) e a média da escala dos alunos com queixa de cefaleia foi significativamente maior do que a média dos alunos sem queixa (p=0,027).

Escala p-valor

Média Desvio padrão

Sexo Feminino 112,56 27,06 0,015

Masculino 81,46 40,12

Série

1 87,33 37,16 0,171

7 122,00 30,05

8 113,86 25,82

9 116,67 40,43

Medo

Não ser boa o suficiente Sim 109,33 34,07 0,467

Não 97,16 36,82

Perda Sim 105,67 25,91 0,460

Não 95,63 41,45

Ficar só Sim 92,60 30,99 0,648

Não 100,85 37,38

Outros Sim 103,30 39,93 0,694

Não 97,71 35,00

Não escreveu Sim 92,57 48,86 0,572

Não 101,54 32,50

Enfermagem

Automutilação Sim 116,50 18,42 0,070

Não 91,43 39,84

Dor abdominal Sim 117,80 25,88 0,222

Não 96,00 37,09

Crise de ansiedade Sim 123,50 15,12 0,069

Não 93,76 37,43

Cafaléia Sim 131,60 18,68 0,027

Não 93,35 35,51

Tontura Sim 131,75 14,77 0,054

Não 94,74 35,96

Náusea Sim 109,67 17,10 0,616

Não 98,43 37,58

Outros Sim 115,60 33,99 0,284

Não 96,42 36,27

Tabela 5 - Variáveis com significância estatística. Fonte: Pesquisa de campo (2018).

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO O estudo teve por objetivo avaliar as respostas emocionais, físicas, comportamentais e cognitivas de crianças e adolescentes estudantes dos ensinos fundamental e médio em

Colégio Militar. A teoria psicológica apresenta uma forte correlação entre aprendizagem e condições ambientais favoráveis (BOWLBY, 2006). No presente estudo observa-se que a cognição é influenciada pelo estresse.

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Estudos em neurociência afirmam que os processos que envolvem aprendizagem e expressão de emoções estão entrelaçados (KROENKE et al., 2007; RELVAS, 2017; VELASQUES; RIBEIRO, 2014). O estresse psicossocial pode prejudicar a aprendizagem e a memória. Indivíduos com sinais de medo, ansiedade e depressão podem apresentar pouca concentração e atenção deficitária. Sentir-se feliz amplia o raciocínio e facilita a criatividade (VELASQUES; RIBEIRO, 2014)

Embora o estresse seja fundamental para a sobrevivência, também está fortemente relacionado a vários distúrbios cerebrais, incluindo depressão, ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático e distúrbios de aprendizagem (NEMEROFF, 2016; SAVEANU; NEMEROFF, 2012). Era preciso conhecer quais os efeitos do estresse na cognição infantil e correlacionar sinais, como distração, procrastinação e apatia, com o estresse crônico. Para isso realizou-se a correlação da escala de qualidade de vida com a disciplina, notas e ocorrências na Enfermaria. Como limitações, o trabalho apresentou um pequeno número de crianças. São necessários mais estudos para confirmar os efeitos psicológicos e físicos, com maior número de indivíduos, principalmente com o objetivo de avaliar de maneira mais precisa a duração do efeito do estresse.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A qualidade de vida avaliada através da escala de Ansiedade de Spence (SCAS) parece ser afetada

pelo estresse, que produz consequências negativas na saúde física e psíquica de crianças de 11 a 17 anos. Houve correlação significativa entre a escala e as notas dos alunos e sintomas físicos, em especial cefaleia, em alunas. Este trabalho contribui para o entendimento de como a evolução molda os comportamentos de crianças em relação ao estresse, disciplina, saúde e cognição. 7 REFERÊNCIAS AMTHOR, Frank. Neurociências para leigos. Rio de Janeiro: Alta Books, 2017.

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