analogos viii p.73-80

8
73 O CASO DA PERDA DE CONTROLE: UMA FALHA DA RACIONALIDADE INSTRUMENTAL OU UMA FALHA DE ORTONOMIA? Caroline Izidoro Marim Doutoranda pela UFRJ [email protected] Resumo O objetivo do artigo é mostrar como e se é possível que os nossos desejos estejam alinhados com nossas crenças, e, se a exigência de que nossos desejos se alinhem com nossas crenças, é apenas uma exigência de coerência racional ou se é realmente uma demanda de nossa racionalidade. Como distinguir os casos de negligência, fraqueza da vontade e compulsão? *** I. Racionalidade instrumental e ortonomia Se toda ação é motivada por um desejo, como é possível que os nossos desejos estejam alinhados com nossas crenças? Podemos ou não exercer o autocontrole? De acordo com a perspectiva cognitivista de Michael Smith 1 , a perda de controle pode estar relacionada a falta de racionalidade instrumental, i.e., falta da capacidade de satisfazer nossos desejos dadas as nossas crenças; ou falta de ortonomia 2 , i. e., falta da capacidade de agir de acordo com nossas razões normativas. Assim, imagine uma situação na qual um agente, chamado João, que gosta de chocolate, ganha da namorada, Maria, uma caixa de bis. Eles começam a comer, mas não conseguem parar. Contudo, João em um determinado momento diz que eles precisam parar de comer senão eles podem ficar doentes. E Maria diz que então ela vai comer o último bis e assim eles podem parar de comer. Mas eles não param e comem mais um e mais um. Quando João grita que eles precisam de força de vontade. Maria pergunta: o que é força de vontade? E João responde que é tentar fortemente não fazer algo que você realmente quer fazer. O exemplo dado pode ser analisado de dois modos. Primeiro como um caso de irracionalidade instrumental e segundo como uma falta de ortonomia 3 . Há dois desejos intrínsecos: a) ser saudável; b) ter prazer imediato e dois desejos extrínsecos que os acompanham: a) comer mais bis; b) não comer mais bis. Se eles são instrumentalmente plenamente racionais e o desejo

Upload: padrede

Post on 07-Dec-2015

213 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

m

TRANSCRIPT

Page 1: Analogos VIII p.73-80

73

O CASO DA PERDA DE CONTROLE: UMA FALHA DARACIONALIDADE INSTRUMENTAL OU UMA FALHA

DE ORTONOMIA?

Caroline Izidoro MarimDoutoranda pela UFRJ

[email protected]

ResumoO objetivo do artigo é mostrar como e se é possível que os nossos

desejos estejam alinhados com nossas crenças, e, se a exigência de quenossos desejos se alinhem com nossas crenças, é apenas uma exigência decoerência racional ou se é realmente uma demanda de nossa racionalidade.Como distinguir os casos de negligência, fraqueza da vontade e compulsão?

***

I. Racionalidade instrumental e ortonomia

Se toda ação é motivada por um desejo, como é possível que os nossosdesejos estejam alinhados com nossas crenças? Podemos ou não exercer oautocontrole?

De acordo com a perspectiva cognitivista de Michael Smith1, a perda decontrole pode estar relacionada a falta de racionalidade instrumental, i.e.,falta da capacidade de satisfazer nossos desejos dadas as nossas crenças;ou falta de ortonomia2, i. e., falta da capacidade de agir de acordo com nossasrazões normativas. Assim, imagine uma situação na qual um agente, chamadoJoão, que gosta de chocolate, ganha da namorada, Maria, uma caixa de bis.Eles começam a comer, mas não conseguem parar. Contudo, João em umdeterminado momento diz que eles precisam parar de comer senão eles podemficar doentes. E Maria diz que então ela vai comer o último bis e assim elespodem parar de comer. Mas eles não param e comem mais um e mais um.Quando João grita que eles precisam de força de vontade. Maria pergunta: oque é força de vontade? E João responde que é tentar fortemente não fazeralgo que você realmente quer fazer.

O exemplo dado pode ser analisado de dois modos. Primeiro como umcaso de irracionalidade instrumental e segundo como uma falta de ortonomia3.Há dois desejos intrínsecos: a) ser saudável; b) ter prazer imediato e doisdesejos extrínsecos que os acompanham: a) comer mais bis; b) não comermais bis. Se eles são instrumentalmente plenamente racionais e o desejo

Page 2: Analogos VIII p.73-80

ANALÓGOS74

intrínseco de ter saúde for mais forte do que o prazer imediato, eles parariamde comer mais bis, pois o desejo intrínseco seria seguido do respectivodesejo extrínseco de não comer mais bis. Mas, caso lhes faltasse a racionalidadeinstrumental, eles não conseguiriam parar de comer, pois falta a capacidadede autocontrole. Segundo, se eles são instrumentalmente plenamenteracionais e tem apenas o desejo intrínseco de ter prazer imediato, eles têm acapacidade, mas estão fora de controle e quando João diz que eles deveriamparar de comer porque eles ficarão doentes, ele está apresentando umajustificativa para parar de comer, ele está tentando exercer o autocontrole,mas não consegue. Se eles são instrumentalmente plenamente racionais toutcourt4, eles têm uma razão normativa compelindo-os a agir de certo modo emcertas circunstâncias, mas eles não conseguem exercer essa capacidade epor isso é um caso de falta de ortonomia.

O agente ortônomo é aquele cujos desejos estão alinhados com as razõesnormativas que ele teria se fosse plenamente racional, isto é, quando seusdesejos igualam em conteúdo e força aos desejos que ele teria se fosseplenamente racional. A ortonomia pode ser dividida em duas partes: 1) oagente tem crenças verdadeiras sobre suas razões normativas; 2) o agentedeseja fazer o que ele acredita (verdadeiramente) ter razões normativas parafazer. Por isso, no exemplo dado, João e Maria manifestam uma falta deortonomia porque seus desejos intrínsecos fortes deveriam ser um desejo deser saudável, não um desejo de prazer imediato e seu desejo extrínsecodeveria ser um desejo de não comer mais bis. Essa interpretação é chamadade "natural", pois normalmente nos vemos diante dessa situação, na qualnão temos o desejo para agir do modo que julgamos ter uma razão normativanos compelindo para agir.

Mas, como não falhar em exercer a capacidade de autocontrole, i.e., comoexercer a capacidade de ortonomia? João e Maria devem tentar exercitar oautocontrole de dois modos: autocontrole diacrônico e o sincrônico.Considerando dois tempos diferentes T1 e T2. No exercício de autocontrolediacrônico, no tempo T1, o agente estaria na condição de se perguntar o queele mais quer fazer e a resposta pode ser que ele quer assegurar que nomomento T2 ele não perca o controle. Nesse caso, se ele não está fora decontrole no tempo T1, ele pode exercer o autocontrole diacronicamente,prevendo as circunstâncias da ação no tempo T2, de modo a remover apossibilidade de perder o controle. Assim, João coloca como desejo maisforte, não perder o controle, i.e., não comer mais bis e para isso cria algumaspossibilidades para que o desejo de comer bis não seja forte, como, porexemplo, pedir à namorada para não comprar bis, ou colocar a caixa em um

Page 3: Analogos VIII p.73-80

75

lugar longe do alcance. Contudo, não há contradição porque os desejosestão em momentos diferentes, sendo possível que o desejo do tempo T1 sesobreponha ao T2. Nos casos de autocontrole diacrônico os agentes estãotentando não fazer o que eles realmente querem fazer, eles querem que odesejo forte não seja agir de acordo com o seu desejo forte de comer bis, quepode surgir em T2.5

Considerando T1 e T2 como um mesmo tempo, fica difícil exercer oautocontrole, pois há uma contradição em desejar comer mais bis e nãodesejar comer mais. Contudo, se mesmo diante da forte tentação de comerbis em oposição ao fraco pensamento de ter saúde, eles estiverem dispostosao mesmo tempo de ter certos pensamentos como o de que o bis é umamontoado de gordura que ficará revirando seus estômagos e não uma causade prazer, talvez eles possam exercer o autocontrole. E supondo que o efeitode ter tais pensamentos é que João e Maria se encontram desejando,extrinsecamente não comer mais nenhum bis. Assim se seus desejosintrínsecos de ter saúde combinarem com suas crenças de que se eles comeremmais bis eles ficarão doentes, isso produziria um desejo intrínseco de nãocomer mais bis, mesmo que antes eles o desejassem.6 Portanto, nesse caso,João e Maria seriam capazes de exercer autocontrole sincrônico, pois mesmoestando vulneráveis a perder o controle eles o exercem por ter taispensamentos.

Para Smith, o autocontrole não é uma ação, mas uma atividade, que temcomo matéria certos tipos de pensamentos. Ele considera que certospensamentos podem não ser uma ação. Assim, o exercício de autocontrolesincrônico é exigido porque a racionalidade demanda que nossos desejos sealinhem com nossas crenças sobre o que nós temos como razões normativaspara fazermos, ou seja, temos o dever da coerência racional. Mas pensar quenossos desejos devem estar alinhados com nossas crenças pode falhar,porque nem sempre pensamentos de que bis é um amontoado de gordurapodem se conectar aos desejos intrínsecos para saúde. Isso é contingente;os mesmos pensamentos podem funcionar de maneira diferente para osmesmos agentes em circunstâncias diferentes e também podem funcionar demodo diferente para outros agentes.

João e Maria podem exercer o autocontrole sincrônico a favor daortonomia, principalmente se eles estão dispostos a ter pensamentos vividossobre o que constitui boa saúde no momento em que eles estão dispostos asatisfazer seus desejos de comer bis. O fato deles, hipoteticamente, ter taispensamentos seria suficiente para reabilitar um desejo intrínseco prioritáriopara ser saudável. Essa disposição de ter tais pensamentos na hora certa, de

Page 4: Analogos VIII p.73-80

ANALÓGOS76

ter pensamentos que podem nos causar a ter desejos que se comparam aoconteúdo e força dos desejos que nós teríamos se fossemos completamenteracionais, funciona como um mecanismo de ajuda para os agentes seremortônomos, mesmo no momento de uma possível falha. Ter essa capacidadede aprender constitui a capacidade de autocontrole sincrônico a serviço daracionalidade instrumental. Se João e Maria possuem essa capacidade, elesde fato podem tentar fortemente não fazer o que eles mais querem fazernaquele momento. E nesse caso, não há contradição, pois a ação não precisaser explicada por um desejo, mas pode ser uma matéria de certos pensamentossobre bis. Isso, então constitui parcialmente nossa capacidade deautocontrole sincrônico a serviço da ortonomia. Eles podem ter pensamentossobre boa saúde ao mesmo tempo em que eles estavam dispostos a atacar osbis, e assim parar de comê-los.

Contudo, mesmo que João exerça o autocontrole sincrônico, ele podeduvidar de sua capacidade de permanecer do mesmo modo no futuro, poisele pode se sentir infeliz com a idéia de simplesmente colocar os bis nageladeira, ou colocá-los mais alto, longe de seu alcance. Mesmo exercitandoo autocontrole sincrônico, ele exercita o diacrônico e essa estratégia pareceboa, mas mesmo que ele crie pensamentos e modos de não comer mais bis,ele pode permanecer fora de controle, quando Maria, incapaz de autocontrole,mina sua tentativa de autocontrole diacrônico, ao ir para casa fazer um bolo.

II. Capacidades racionais e desejo

Como o autocontrole se relaciona aos casos de negligência, fraqueza davontade e compulsão? Suponha que uma mulher intencionalmente bebeuma cerveja e que em um contexto avaliativo, ela não deve beber outracerveja porque ela será incapaz de cumprir algumas de suas obrigações.Essa situação pode ser descrita de três modos: 1) casos de negligência; 2)fraqueza da vontade; e 3) casos de compulsão.7

No caso de negligência, a mulher sabe que o que ela está fazendo, masaceita as conseqüências. Sua escolha é beber ou arriscar a beber. Ela age deacordo com seu julgamento. No caso da fraqueza da vontade, a mulher sabeque beber mais uma cerveja é contrário a seu melhor julgamento e nessecaso, a explicação para essa falta de autocontrole é que ela tem uma vontadefraca. No caso de compulsão, ela sabe que beber é contrário ao seu melhorjulgamento, mas ela é vítima de um desejo compulsivo (irresistível) de beber.8

Nos casos de negligência, os agentes são movidos por crenças avaliativas"erradas", i.e., crenças que negam ou contradizem outras crenças avaliativas

Page 5: Analogos VIII p.73-80

77

endossadas, noutras ocasiões, pelos mesmos agentes. Assim, uma mulherque vê na abstenção de beber um valor, "esquece" momentaneamente estevalor e é guiada pela crença avaliativa que beber, nas circunstâncias em queela se encontra, é bom. A suposição, feita por Smith, é que ela poderia terformado a crença correta (não beber). Ela tem a capacidade racional de formarcrenças. Ocorre que ela não exerceu a capacidade em questão. Nos casos defraqueza da vontade, o agente de vontade fraca é concebido como alguémque não tem o desejo adequado aos seus juízos avaliativos. Ela poderia terformado seus desejos em harmonia com suas crenças avaliativas, pois tem acapacidade racional de alinhar seus desejos e suas crenças avaliativas, masela não exerce essa capacidade. Ao contrário disso, o agente compulsivotem o desejo errado, mas não por uma falha na capacidade racional de alinhardesejos a crença avaliativa, mas porque não tem essa capacidade.

Portanto, no caso do negligente, o agente tem pleno controle do que faze por algum engano repreensível no seu julgamento não faz o que seria ocerto na situação descrita. No caso da fraqueza da vontade, o agente cede aum desejo sabendo que repeti-lo seria mais desejável, deste modo, ele temcontrole, mas não o exerce. No caso do compulsivo, o agente é compelidoquando está literalmente fora de controle agindo movido por um desejoirresistível.

A motivação para Smith é composta de crenças avaliativas (o que umagente deveria fazer) + a tendência a coerência (capacidade racional) quegeram ( ) o desejo correspondente (de fazer A). Vale ressaltar que esse modeloé diferente do modelo humeano no qual a crença9 mais o desejo10 gerammotivação. O modelo de Smith inclui a capacidade racional, que é a tendênciaa coerência. Ele quer colocar as crenças e desejos como produto de umacapacidade racional, sendo assim o modelo proposto, no qual insere ascrenças avaliativas, torna claro como e porque desejos devem e podem ser oproduto da capacidade racional.11 O par de estados psicológicos mais coerenteé aquele no qual a crença avaliativa ("beber não é desejável") está conectadoao desejo de não beber12, pois há desequilíbrio ou falha de consistência aoacreditar em algo e não desejar agir deste modo. É incoerente agir de ummodo que o próprio agente repudia, isto não faz sentido, dados os restantesdos seus desejos. Desse modo, a coerência parece estar ao lado do par queinclui tanto a crença da mulher de que ela deseja se abster de beber, em certascircunstâncias de ação, e o desejo de se abster de beber. Se ela é racional, nosentido de ter a capacidade de ter estados mentais requeridos pela coerência,então, pelo menos quando essa capacidade é exercida, ela acabará tendo umdesejo que se alinha a sua crença avaliativa. Em outras palavras, ela acabará

Page 6: Analogos VIII p.73-80

ANALÓGOS78

perdendo seu desejo de beber e adquirindo o desejo de se abster de beber,se ela for racional.

A crença avaliativa parece assim capaz de causar nela a aquisição de umdesejo correspondente quando opera em conjunção com a capacidade de terestados psicológicos coerentes, como vimos nos casos de ortonomia. Ouseja, a crença avaliativa é capaz de causar um desejo correspondente, quandoopera em conjunção com a capacidade de ter estados psicológicos coerentes.Assim, no caso da mulher fraca, ela falhou em exercer o autocontrole; elafalha na sua capacidade de desejar de acordo com sua crença avaliativa, dealinhar os desejos coerentemente e esta é a explicação ao fato de que elabebe. No caso da mulher compulsiva, ela tem o desejo de beber, mas nãodesejou refrear, assim faltou a capacidade de ter esse desejo de refrear, apesarda coerência requerer esse desejo dela. Portanto, a mulher fraca poderia e amulher compulsiva não poderia ter resistido ao seu desejo de beber, isto é, aprimeira poderia exercer o autocontrole, enquanto a segunda não. A mulherfraca falha em exercer a capacidade de desejar de acordo com sua crençaavaliativa e essa falha explica o fato dela beber, mas nós temos que tercuidado em não nos acharmos capazes de explicar em todas as circunstânciasporque ela falhou. Porque ela pode se imaginar em circunstâncias nas quaisuma criança a vê beber e ao avaliar as conseqüências dessa situação issopode realmente alterar seu desejo.

III. Considerações finais

O objetivo desse artigo foi mostrar como e se é possível que os nossosdesejos estejam alinhados com nossas crenças. E, se a exigência de quenossos desejos se alinhem com nossas crenças, sobre o que nós temoscomo razões normativas para fazer o que devemos, é apenas uma exigênciade coerência racional ou se é realmente uma demanda de nossa racionalidade.Mas, como podemos saber se o desejo intrínseco de João de ter saúde é maisforte ao exercer o autocontrole sincrônico? Ter uma razão normativa paraquerer ser saudável, não implica necessariamente uma razão motivacional.Ser saudável é contrário ao prazer? Para Smith certos desejos podem ser oproduto de desejos antecedentes, mas também de convicções e de certascapacidades, que podem estar entre os antecedentes causais da ação. Mas,para Hume os desejos têm um aspecto qualitativo diferente das convicções,eles não são sensíveis a quaisquer considerações racionais, assim pareceinconsistente uma defesa que se apresenta como neo-humeana, onde osdesejos estão atrelados às crenças avaliativas (crenças sobre desejos), mesmo

Page 7: Analogos VIII p.73-80

79

que eles não sejam gerados por uma cognição pura, como defende Smith. Edo mesmo modo, se consideramos uma posição humeana, não existem casosde fraqueza da vontade, já que o problema não é a ausência de autocontrole,mas a ausência do desejo de refrear, i.e., a ausência do desejo de não beber.

NOTAS1 Smith, M. Ethics and the A Priori: selects essays on moral psychologyand meta-ethics. Cambridge University Press, 2004.2 A ortonomia é um tipo de racionalidade distinta da mera racionalidadeinstrumental, pois é uma capacidade de formar desejos de acordo com asrazões normativas.3 No primeiro eles não têm controle e no segundo eles estão perdendo ocontrole.4 Tout court significa que os agentes são CRI + conhecem tudo dosfatos relevantes, i. e., o agente esta completamente informado. Oconjunto de desejos sem limitações cognitivas e racionais é o conjuntode desejos “maximamente informado, coerente e unificado” tal como foiproposto por Bernard Williams em Moral Luck. Cambridge: CambridgeUniversity Press, 1981.5 Ibid.; p. 79.6 Ibidem.7 Distinção feita por Watson, Gary. "Skepticism about Weakness of Will",in The Philosophical Review, 86 (1977): 316-39, apud Smith, p. 114.8 Negligência (Reckless) - problema com a crença:- age de acordo com o seu melhor julgamento, mas ele é problemático;- tem a capacidade, mas falha ou porque: a) perdeu a capacidade de avaliaras evidências; b) possui a capacidade, mas sua crença foi produto de auto-engano.Fraqueza (Weakness) - problema com a capacidade:- age contrário ao seu melhor julgamento;- o problema é que tem o desejo de refrear, mas não consegue e por issofalha em exercer sua capacidade, falhando assim em agir de acordo com acrença.Compulsão (Compulsion) - problema com o desejo:- age contrário ao seu melhor julgamento, mas ela é vítima de um desejocompulsivo (irresistível) de beber;- nesse caso não desejou refrear.9 Crença - estado psicológico, que entre outras coisas é sensível a evidência.

Page 8: Analogos VIII p.73-80

ANALÓGOS80

Agentes racionais têm, portanto, a capacidade de revisar suas crenças à luzda evidência e das relações semânticas com outras crenças.10 Desejos (Hume) - "existências originais", estados psicológicos nãosensíveis a considerações racionais de qualquer tipo. Para Smith essadescrição humeana de desejo é radicalmente equivocada.Desejos (Smith) - pode ser um produto de uma capacidade racional. Estárelacionado às crenças avaliativas (crença sobre desejos). Eles não sãogerados por uma cognição pura, mas isto não significa que não se relacionama uma cognição (eles podem ser racionalmente justificados). Há uma relaçãoentre desejo e crenças avaliativas.11 O conteúdo da crença avaliativa, de que uma ação é desejável, é dado apartir de um conselho que o agente dá a si mesmo em condições ideais, ouseja, são as razões normativas sob as quais em condições de plenaracionalidade o agente desejaria. O conteúdo de tal conselho é fixado pelosconteúdos dos desejos que o agente dá a si mesmo se seus estadospsicológicos tiverem sido purgados de todas as limitações cognitivas e falhasracionais. (Smith apresenta o modelo do conselho em substituição ao modelodo exemplo dado por Korsgaard. Essa discussão é tratada no cap. 1, p. 17-39.). Resumindo: a ação é desejável + crença de que ela é aconselhável + acrença de que eu quero agir assim tendo um conjunto de desejos que foipurgado de todas as limitações cognitivas e falhas racionais. Ou seja, a açãodesejável é aquela em que seu eu racional desejaria que você (não plenamenteracional) realizasse.12 E não o Par 2 de Estados psicológicos - crença avaliativa ("beber não édesejável") + desejo de beber.