anÁlise morfolÓgica de membranas reabsorvÍveis em...

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Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Departamento de Odontologia ANÁLISE MORFOLÓGICA DE MEMBRANAS REABSORVÍVEIS EM MICROSCÓPIO ELETRÔNICO DE VARREDURA ALESSANDRO GOMIDES VEIGA MARTINS Belo Horizonte 2010

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Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Departamento de Odontologia

ANÁLISE MORFOLÓGICA DE MEMBRANAS REABSORVÍVEIS EM

MICROSCÓPIO ELETRÔNICO DE VARREDURA

ALESSANDRO GOMIDES VEIGA MARTINS

Belo Horizonte 2010

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Alessandro Gomides Veiga Martins

ANÁLISE MORFOLÓGICA DE MEMBRANAS REABSORVÍVEIS EM

MICROSCÓPIO ELETRÔNICO DE VARREDURA

Dissertação apresentada ao Programa de em Odontologia da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Odontologia, área de concentração em Implantodontia. Orientador: Prof. Dr. Paulo Eduardo Alencar de Souza Co-orientador: Prof. Dr. Elton Gonçalves Zenóbio

Belo Horizonte 2010

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FICHA CATALOGRÁFICA Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Martins, Alessandro Gomides Veiga M379a Análise morfológica de membranas reabsorvíveis em microscópio eletrônico de

varredura. / Alessandro Gomides Veiga Martins. Belo Horizonte, 2010. 47f.: il. Orientador: Paulo Eduardo Alencar de Souza Co-Orientador: Elton Gonçalves Zenóbio Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

Programa de Pós-Graduação em Odontologia. 1. Ossos - Regeneração. 2. Regeneração tecidual guiada. I. Souza,

PauloEduardo Alencar de. II. Zenóbio, Elton Gonçalves. III. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Odontologia. IV.Título.

CDU: 616.314-089

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FOLHA DE APROVAÇÃO

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DEDICATÓRIA

Aos meus pais, pela contribuição e compreensão e

À Jaqueline, Dudu, João, Luís e Davi

Pelo futuro da nossa família.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço ao meu orientador Prof. Paulo Eduardo Alencar de Souza pela sua extrema

competência e capacidade de orientar seus alunos e grande conhecimento demonstrado durante

todo o curso; e ao meu co-orientador Élton Gonçalves Zenóbio por sua disponibilidade.

Aos meus professores, que exigiram estudo, além de transmitir conhecimentos fazendo

com que o resultado do aprendizado seja maior.

Aos meus pacientes do consultório e do curso pela confiança depositada em meu

trabalho.

Aos meus colegas de curso, com quem aprendi muito com a soma das diferentes

experiências.

Aos Profs. Martinho Campolina e José Eustáquio pela grande colaboração

Ao Sammy pela sua competência e ajuda na análise das membranas.

Às atendentes da PUC Minas pela competência e compreensão com os alunos.

À funcionária Reni, do Laboratório de Patologia Bucal da PUC Minas.

Às secretárias Ana Paula, Angélica e Silvania pela ajuda durante todo o curso.

Aos alunos de iniciação científica Guilherme Campos, Marco Antônio Xambre e

Polyana Cardoso pela grande dedicação e capacidade.

Ao Rotary Club Ponte Nova.

À Nayra e Solange que ajudaram muito na minha ausência.

Ao Dr. Gustavo Gomes pelo incentivo e ao Dr. José Carlos Mucci pela confiança.

Ao Alexandre pela amizade e pelos sobrinhos.

Ao Rodrigo Gomides pela organização e companheirismo.

Aos meus avós e tios que sempre contribuíram de alguma forma.

Á Irlaine pela paciência e ajuda que o curso exige de uma namorada e pela qualidade do

seu profissionalismo.

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RESUMO

Materiais compostos por colágeno têm sido utilizados em medicina e odontologia devido a

suas características de biocompatibilidade e capacidade de promover reparo tecidual. Para

procedimentos de regeneração tecidual ou óssea guiada, membranas de colágeno têm se

mostrado comparáveis às membranas não reabsorvíveis quanto a redução da profundidade de

sondagem, ganho de inserção clínica e preenchimento ósseo. Além disso, membranas de

colágeno são reabsorvíveis, o que elimina a necessidade de um segundo procedimento

cirúrgico, o que é necessário quando se usa membranas não-reabsorvíveis. Segundo alguns

autores, a composição e a morfologia das superfícies interna e externa são importantes para

prevenir a migração de tecido epitelial e conjuntivo e permitir a instalação de células

osteogênicas para o crescimento ósseo. O objetivo desse estudo foi analisar morfologicamente

as superfícies de três tipos de membranas de colágeno reabsorvíveis disponíveis

comercialmente. Para isso, amostras das membranas Bio-Gide®, OsseoGuard™ e Surgidry

Dental F foram metalizadas e analisadas em microscópio eletrônico de varredura. Nossos

resultados mostraram que as membranas apresentam arquitetura superficial e composição

química distintas. Em conclusão, este estudo mostrou que os diferentes tipos de membranas

de colágeno reabsorvíveis apresentam distintas morfologias e composições químicas, o que

pode significar diferenças em suas capacidades osteopromotoras e de manutenção de barreira

física em procedimentos de regeneração tecidual guiada.

Palavras-chave: Membranas reabsorvíveis. MEV. Regeneração óssea.

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ABSTRACT

Collagen materials have been utilized in medicine and dentistry because of their proven

biocompatibility and capability of promoting wound healing. For guided tissue or bone

regeneration procedures, collagen membranes have been shown to be comparable to non-

absorbable membranes with regard to probing depth reduction, clinical attachment gain, and

percent of bone fill. In addition, collagen membranes are resorbable which eliminates the need

for a second surgical procedure that is normally required to remove a non-resorbable

membrane. According to studies, the composition and surface morphology are important to

prevent epithelial and connective cells migration into the wound site and allow the ingrowth

of the bone forming cells. The aim of this study was evaluate the surface morphology of three

available resorbable collagen membranes (Bio-Gide®, OsseoGuard™ e Surgidry Dental F) by

scanning electron microscopy. Our results showed considerable difference between

membrane architecture and chemical composition. In conclusion, this study showed that

distinct collagen resorbable membranes exhibit different surface morphologies which could

affect their osteopromotive capacity and stability during guided tissue regeneration

procedures.

Key-words: Biodegradable membrane. SEM. Bone regeneration.

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LISTA DE ARTIGOS

Esta dissertação gerou a seguinte proposta de artigo:

1- Análise morfológica de membranas reabsorvíveis de colágeno em microscópio eletrônico

de varredura .......................................................................................................................... 22

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO GERAL............................................................................... 09

2 OBJETIVO GERAL...................................................................................... 17

REFERÊNCIAS GERAIS..................................................................................... 18

APÊNDICE – ARTIGO........................................................................................ 22

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INTRODUÇÃO GERAL

No final da década de 70, Kivirikko & Myllylä (1979) relataram a existência de mais

de 20 tipos de colágeno no organismo, sendo a proteína mais abundante do nosso corpo e

formadora das fibras colágenas. A molécula de colágeno possui uma composição de

aminoácidos não muito comum, formada por um grande número de glicinas e prolinas, assim

como por mais dois aminoácidos que são modificados após serem colocados pelos

ribossomos: a hidroxiprolina e a hidroxilisina. Esses dois últimos são derivados

respectivamente da prolina e da lisina através de processos enzimáticos dependentes de

vitamina C. Considerado o mais importante componente protéico estrutural do corpo humano

(CHVAPIL, 1977), o colágeno é um essencial constituinte do periodonto, na manutenção da

união orgânica entre tecido ósseo alveolar e o dente, também apresentando um importante

papel no processo regenerativo, pois sua interação com os fibroblastos e com os componentes

da matriz extracelular faz orientar o sistema de fibras na formação do ligamento periodontal

(LP) (AUKHIL; FERNYHOUGH, 1986).

O colágeno apresenta alta resistência elástica, pouca extensibilidade, fibroorientação,

controle da adição e liberação de outras substâncias, baixa antigenicidade, e capacidade de

estimular a coagulação sanguínea (DOILLON et al.,1986; HYDER et al., 1992).

O LP apresenta o colágeno tipo I como componente predominante, o que permite que

o colágeno exógeno seja biocompatível com os tecidos periodontais (LP e gengiva), sendo

incorporado à estrutura dos mesmos. As membranas de colágeno possuem a capacidade de

inibir o crescimento e a migração dos tecidos epitelial e conjuntivo, permitindo a formação de

uma nova inserção na superfície radicular previamente exposta. Essas membranas mantêm a

estabilidade do coágulo durante o processo de reparo, promovem a migração celular seletiva

(PITARU et al., 1988; BUNYARATAVEJ e WANG, 2001; WANG e SHAMMARI, 2002), a

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quimiotaxia dos fibroblastos gengivais e das células do LP e a hemostasia da ferida (IAFFE,

EHRLICH e SHOSHAN, 1984). Sendo o colágeno um agente hemostático natural, essas

membranas possuem a habilidade de promover agregação plaquetária, facilitando o início do

processo de reparo e a maturação da ferida (ZAHEDI, BOZON e BRUNEL, 1998).

Apresentam também baixa imunogenicidade, capacidade para aumentar a espessura dos

tecidos (PITARU, 1988; WANG et al., 1994), fácil manipulação, além de não levarem à

formação de quelóide nos procedimentos regenerativos com membrana de colágeno (WANG

e SHAMMARI, 2002).

A maioria das membranas de colágeno disponíveis comercialmente é proveniente do

colágeno tipo I, mas existem membranas formadas por colágeno tipo I e tipo III

(BUNYARATAVEJ e WANG, 2001). A origem do colágeno pode ser proveniente de

diferentes espécies (bovina, suína e ratos) e sítios anatômicos (pericárdio, dura mater, fáscia

do temporal, derme, tendão, dentre outros) (PITARU et al., 1988; BUNYARATAVEJ e

WANG, 2001).

Atualmente, a utilização de membranas de colágeno bilaminadas diminuiu a exposição

dessas ao meio bucal, resultando em uma melhora na condição dos tecidos neoformados.

Notou-se também que essa propriedade proporcionou maior espessura e resistência a elas,

possibilitando a formação de um espaço para proteção do coágulo (ROMAGNA-GENON,

2001). Os poros internos da membrana permitem a proliferação celular, devendo, portanto,

ficar voltados para a superfície radicular. A camada externa densa age como barreira ao

permanecer em contato com a face interna do retalho periodontal (O’BRIEN et al., 1995).

O grau de reabsorção rápida do colágeno tem sido uma preocupação constante para os

pesquisadores. Iglhaut et al. (1988) reportaram que, durante os procedimentos de regeneração

periodontal guiada (RPG), as migrações das células ósseas e das células do ligamento

periodontal alcançam seus picos entre 2 a 7 dias após a cirurgia e que um decréscimo dos

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níveis normais da atividade mitótica acontece ao término da terceira semana. As células

envolvidas com o processo de regeneração atingem os sítios da ferida periodontal entre 3 a 4

semanas, período em que a membrana de colágeno deve manter sua integridade para permitir

o repovoamento celular seletivo.

Com o objetivo de prolongar o tempo de absorção das membranas, várias técnicas de

ligação cruzada foram desenvolvidas. Entre essas, a utilização da luz ultravioleta, do

hexametilenodisocianato (HMDIC), do glutaraldeído e do ácido difenilfosforilizado (DDPA)

(BUNYARATAVEJ e WANG, 2001).

Em Odontologia, os profissionais encontram dificuldades na execução do tratamento

de seus pacientes em razão da qualidade e quantidade insuficientes de tecido ósseo. Cada vez

mais pacientes procuram os implantes osseointegrados como forma de reabilitar ausências

dentárias. Contudo, um número considerável destes pacientes necessita de reconstruções

ósseas para viabilizar o sucesso estético-funcional dos implantes. Nestes casos, podem-se

utilizar técnicas de regeneração óssea guiada (ROG) (SEIBERT e NYMAN, 1994;

BARCELOS et al. 2008). A ROG também está indicada para regeneração óssea em alvéolos

frescos, para formar osso ao redor dos implantes imediatos e para correção de perdas ósseas

que ocorreram durante ou depois da osseointegração dos implantes (SEIBERT e NYMAN,

1994; DAHLIN et al., 1989; MOSES et al., 2005).

A ROG obedece ao mesmo princípio biológico da técnica de regeneração tecidual

guiada (RTG), que consiste na utilização de barreiras físicas para evitar que os tecidos

periodontais, incapazes de promover regeneração, entrem em contato com a superfície

radicular durante o processo de cura (GOTTLOW et al., 1984). O objetivo principal da

regeneração óssea guiada é direcionar a neoformação óssea, evitando que células do tecido

conjuntivo proliferem rapidamente, ocupando o espaço destinado ao preenchimento ósseo

(BUSER et al., 1990; NEVINS, 1992; ASLAN, SIMSEK e DAYI, 2004) .

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Os materiais utilizados como barreira (membrana) devem ser biocompatíveis, a fim de

não produzir respostas imunogênicas. Devem também permitir a passagem de nutrientes e

gases e ter adequada integração tecidual. As características estruturais devem fazer com que

impeçam a proliferação apical de células indesejáveis (células epiteliais e do tecido

conjuntivo gengival) para a área a ser regenerada, além de permitir a criação e manutenção de

um espaço destinado ao coágulo, que posteriormente será ocupado por células do ligamento

periodontal e do osso alveolar. É importante também que as membranas sejam fáceis de

manipular e adaptar sobre o defeito a ser regenerado (CAFFESSE et al., 1997).

Membranas reabsorvíveis e não-reabsorvíveis podem ser utilizadas nos procedimentos

de ROG (NOVAES e SOUZA, 2001; GRIFFIN, CHEUNG e HIRAYAMA, 2004). No

entanto, o emprego de membranas não-reabsorvíveis requer a realização de um segundo

procedimento cirúrgico a fim de removê-la, o que gera desconforto ao paciente e risco de

perturbar os tecidos neoformados sob a barreira (LINDHE, BERGLUNDH e ARAUJO, 1995;

BARROS et al., 2005). Matchei (2001) relatou que as membranas reabsorvíveis apresentam a

vantagem de eliminar a fase cirúrgica de remoção; entretanto, uma vez expostas e infectadas,

são difíceis de serem removidas. Segundo alguns autores, o uso de membranas reabsorvíveis

deve estar associado à utilização de substitutos ósseos ou materiais de preenchimento para

garantir a manutenção do espaço destinado à regeneração (JANOVIC et al., 2007;

TROMBELLI et al., 2008). Membranas reabsorvíveis podem ser constituídas de colágeno ou

de diferentes tipos de poliésteres, como o ácido polilático ou poliglicólico, ou ainda pela

combinação de ambos. A literatura revela não haver diferenças clínicas e histológicas

significantes entre tratamentos utilizando membranas reabsorvíveis e não-reabsorvíveis de

politetrafluoretileno expandido (e-PTFE), mesmo em longo prazo de acompanhamento

(CAFFESSE et al., 1994; CAFFESSE et al., 1997; PONTORIERO et al., 1999).

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Problemas associados ao período de cura, como exposição prematura da membrana na

cavidade oral e possível contaminação desta, poderão ocorrer com o emprego das membranas

reabsorvíveis e não-reabsorvíveis. A infecção da barreira poderá gerar complicações pós-

cirúrgicas graves como abscessos e dor, sendo necessária sua remoção (NEWMAN, 1993;

MATCHEI, 2001). Entretanto, alguns autores relataram que o uso adequado de antibióticos e

de agentes químicos locais para controle de placa até a remoção da barreira poderá ser

eficiente no controle da infecção, mesmo nos casos de barreiras não-reabsorvíveis

(TONETTI, PINI-PRATO e CORTELLINI, 1993; SIMONPIETRI et al., 2000).

Burns et al. (2000) relatam que as técnicas tradicionais de cirurgia plástica periodontal

para o tratamento de recessão gengival tem tipicamente usado enxertos de tecido mole para

obter a cobertura do defeito com grande sucesso clínico. Os clínicos que usam técnicas de

regeneração tecidual guiada (RTG), também estão desfrutando do sucesso significativo em

procedimentos de cirurgia plástica periodontal. Entretanto, a terapia de RTG utilizando

membranas bioabsorvíveis oferece as vantagens de evitar uma cirurgia de local dador e um

segundo procedimento cirúrgico para a remoção da barreira. Um novo tipo de membrana de

bicamada bioabsorvível de colágeno, que se adapta rapidamente às superfícies do osso e do

dente por formação de gel de fibras de colágeno e de sangue, pode ser estabilizada sem

necessidade de suturas antes do fechamento dos tecidos moles. Esta membrana bioabsorvível

tem demonstrado ser eficaz em procedimentos de regeneração óssea guiada e no tratamento

de defeitos periodontais (Burns et al., 2000).

Segundo o seu fabricante (Geistlich Pharma), Bio-Gide® é uma membrana de

colágeno puro obtido por processos padronizados e produção controlada. O colágeno é

extraído de suínos certificados e é cuidadosamente purificado para evitar reações antigênicas.

Bio-Gide® é esterilizada em dupla camada por radiação gama. A superfície porosa voltada

para o osso vai impedir o ingresso de tecido fibroso no defeito ósseo. A membrana é feita de

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colágeno tipo I e III, sem tratamento químico. Ainda segundo o fabricante, a baixa

antigenicidade e excelente biocompatibilidade favorecem o uso de Bio-Gide® em cirurgias

odontológicas. Estudos em ratos mostraram que o colágeno é reabsorvido em cavidades

ósseas em 24 semanas (ROTHAMEL et al., 2005). A membrana retém a sua integridade

estrutural, mesmo quando molhada e pode ser fixada por suturas ou pinos. As fibras de

colágeno incham e formam uma estrutura de tecido básico unificado. Como resultado, a

adaptação à parede óssea e o completo fechamento do defeito ósso é facilmente conseguido.

Reações inflamatórias são raras. As indicações são: aumento ósseo ao redor de implantes

imediatos e tardios; aumento de rebordo ósseo para posterior colocação de implantes;

reconstrução do rebordo alveolar para tratamento protético; preenchimento de defeitos ósseos

por ressecção radicular, retirada de cistos e dentes retidos; regeneração óssea guiada em

deiscências e regeneração tecidual guiada em defeitos periodontais. Devido à aderência ao

tecido ósseo e à elasticidade da Bio-Gide®, um material ósseo de preenchimento é necessário

para criar e manter o espaço para formação óssea (ZITZMANN et al., 1997). Em caso de

exposição da membrana durante a fase de cicatrização, o tempo de reabsorção pode ser

acelerado. Estabilidade absoluta da membrana é importante para regeneração óssea guiada e

uma condição vital para o sucesso terapêutico, e o menor movimento embaixo dos tecidos

deve ser evitado.

A OsseoGuard™, segundo o seu fabricante (Biomet 3i), é um material de colágeno

bioabsorvível para implante, desenvolvido para uso em defeitos periodontais e ósseos,

implantes dentários ou reconstrução da crista óssea alveolar, a fim de auxiliar na cicatrização

pós-cirúrgica. OsseoGuard™ é uma matriz membranosa branca, não-friável, construída a

partir de fibras de colágeno do tipo I altamente purificadas, derivadas de tendões de Aquiles

bovinos. O OsseoGuard™ possui uma morfologia de fibras compactas para obter maior

resistência mecânica. Estudos de permeação macromolecular mostraram que a membrana é

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permeável às macromoléculas. Ainda segundo o fabricante, sua porosidade retarda

eficazmente o crescimento epitelial descendente e evita a migração de células do tecido

conjuntivo gengival para o local da intervenção cirúrgica. As propriedades semipermeáveis da

membrana permitem a troca de nutrientes essenciais para a cicatrização do ferimento.

OsseoGuard™ é esterilizado com radiação gama e deve sobrepor ao menos 2 mm das laterais

do defeito, para permitir total contato ósseo e evitar invasão do tecido conjuntivo gengival por

baixo do material. A fixação da membrana pode ser indicada para evitar o deslocamento

devido à carga ou mobilização. A membrana pode ser suturada no local usando fios de sutura

reabsorvíveis e uma agulha de ponta romba. É possível também usar tachas reabsorvíveis para

fixar a membrana. O retalho mucoperióstico é suturado sobre a membrana de colágeno e o

ferimento deve ser fechado completamente para evitar reabsorção acelerada devido à

exposição da membrana.

Já a Surgidry Dental F, segundo seu fabricante (Technodry), é uma matriz orgânica de

colágeno tipo I polimerizado e purificado. O colágeno é uma proteína fibrosa relativamente

solúvel em água e constituída por cadeias de polipeptídios. A unidade essencial de colágeno

está constituída por três cadeias de polipeptídios entrelaçadas formando uma hélice tripla

constituindo uma unidade macro-molecular chamada tropocolágeno, que se agrupam entre si

formando fibrilas que se unem para formar fibras colágenas que, por sua vez se agrupam, em

conjuntos, para formar feixes. A tríplice hélice consiste em duas cadeias α-1 e uma cadeia α-2

cada uma com aproximadamente 1050 aminoácidos de comprimento. A estrutura helicoidal é

estritamente dependente do aminoácido glicina, presente em cada terceira posição e é

mantida, em parte, pelas ligações de hidrogênio entre as cadeias. Na parte terminal de cada

cadeia, seja nos radicais amino ou carboxílico, existem 15 a 20 aminoácidos, que não

participam da conformação da hélice central. Estes segmentos telopeptídeos não helicoidais

contem as maiores determinantes de diferenciação entre as espécies (porção antigênica). O

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processo utilizado pela TechnoDry é capaz de retirar as proteínas não colagênicas dos tecidos,

bem como extrair a porção antigênica das fibras colágenas, sem desconfigurar a estrutura

helicoidal tríplice, mantendo as características materiais das fibras colagênicas. As fibras

colagênicas resultantes do processo, uma vez mantendo suas características estruturais,

apresentam atividades inerentes às do colágeno natural, tanto do ponto de vista físico ou

mecânico. O filme de colágeno resultante do processo de manufatura é um produto altamente

purificado de comprovada biocompatibilidade, estéril e apirogênico. A Surgidry Dental pode

ser usada como barreira ou cobertura nos procedimentos cirúrgicos que necessitem do uso da

técnica de RTG. Em implantodontia, são vários os procedimentos, incluindo levantamento de

seio e cobrimento dos implantes dentários. Assim como outros produtos derivados de

colágeno, o Surgidry Dental não deve ser utilizado para fechamento de incisões cirúrgicas,

pois pode interferir na cicatrização por ação mecânica. Surgidry Dental deve ser hidratado em

solução fisiológica estéril por 5 a 10 minutos antes da sua aplicação, este procedimento

reconstituirá a membrana para seu estado natural e, segundo o fabricante, facilitará a

modelagem e aplicação da mesma.

Na literatura indexada ao PubMed não há trabalhos avaliando as membranas

OsseoGuard e Surgydry Dental. A escassez de trabalhos na literatura, avaliando a comparação

morfológica entre membranas reabsorvíveis, inclusive sua constituição química, estimula a

realização de novos trabalhos para que tenhamos um melhor resultado em nossos tratamentos

odontológicos no que diz respeito às regenerações óssea e periodontal.

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OBJETIVO GERAL

O objetivo desse estudo foi analisar e comparar morfologicamente as superfícies de

três diferentes membranas reabsorvíveis de colágeno Bio-Gide®, OsseoGuardTM e Surgidry

Dental F, através de microscopia eletrônica de varredura.

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REFERÊNCIAS GERAIS

1. ASLAN, M.; SIMSEK, G.; DAYI, E. Guided bone regeneration (GBR) on healing

bone defects: a histological study in rabbits. The journal of contemporary dental practice, n.15, v.5, p.114-123, May 2004.

2. AUKHIL, I.; FERNYHOUGH, W.S. Orientation of gingival fibroblasts in simulated periodontal spaces in vitro. S.E.M. observations. Journal of Periodontology, v.57, p.405-412, 1986.

3. BARCELOS M.J. et al. Diagnosis and treatment of extraction sockets in preparation for implant placement: report of three cases. Brazilian dental journal , v.16, n.2 p.159-164, 2008.

4. BARROS R.R. et al. New surgical approach for root coverage of localized gingival recession with acellular dermal matrix: a 12-month comparative clinical study. Journal of esthetic and restorative dentistry, v.17, n.3, p.156-164, discussion 164, 2005.

5. BUNYARATAVEJ, P.; WANG, H.L. Collagen membranes: a review. Journal of Periodontology, v. 72, n.2, p. 215-219. Feb. 2001.

6. BUSER D. et al. Regeneration and enlargement of jaw bone using guided tissue regeneration. Clinical oral implants research, v.1, n.1, p.22-32, Dec. 1990.

7. BURNS W.T. et al. Gingival recession treatment using a bilayer collagen membrane. Journal of periodontology, v.71, n.8, p.1348-1352, Aug. 2000.

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ARTIGO

Análise morfológica de membranas reabsorvíveis de colágeno em microscópio

eletrônico de varredura

Alessandro Gomides Veiga Martins

Élton Gonçalves Zenóbio

Paulo Eduardo Alencar de Souza

Mestrado em Implantodontia do Departamento de Odontologia da Pontifícia Universidade Católica

de Minas Gerais

RESUMO

Materiais compostos por colágeno têm sido utilizados em medicina e odontologia devido a

suas características de biocompatibilidade e capacidade de promover reparo tecidual. Para

procedimentos de regeneração tecidual ou óssea guiada, membranas de colágeno têm se

mostrado comparáveis às membranas não reabsorvíveis quanto a redução da profundidade de

sondagem, ganho de inserção clínica e preenchimento ósseo. Além disso, membranas de

colágeno são reabsorvíveis, o que elimina a necessidade de um segundo procedimento

cirúrgico, o que é necessário quando se usa membranas não-reabsorvíveis. Segundo alguns

autores, a composição e a morfologia das superfícies interna e externa são importantes para

prevenir a migração de tecido epitelial e conjuntivo e permitir a instalação de células

osteogênicas para o crescimento ósseo. O objetivo desse estudo foi analisar morfologicamente

as superfícies de três tipos de membranas de colágeno reabsorvíveis disponíveis

comercialmente. Para isso, amostras das membranas Bio-Gide®, OsseoGuard™ e Surgidry

Dental F foram metalizadas e analisadas em microscópio eletrônico de varredura. Nossos

resultados mostraram que as membranas apresentam arquitetura superficial e composição

química distintas. Em conclusão, este estudo mostrou que os diferentes tipos de membranas

de colágeno reabsorvíveis apresentam distintas morfologias e composições químicas, o que

pode significar diferenças em suas capacidades osteopromotoras e de manutenção de barreira

física em procedimentos de regeneração tecidual guiada.

Palavras-chave: membranas reabsorvíveis, MEV, regeneração óssea.

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Morphometric analysis of absorbable membranes with scanning electron

microscopy

ABSTRACT

Collagen materials have been utilized in medicine and dentistry because of their proven

biocompatibility and capability of promoting wound healing. For guided tissue or bone

regeneration procedures, collagen membranes have been shown to be camparable to non-

absorbable membranes with regard to probing depth reduction, clinical attachment gain, and

percent of bone fill. In addition, collagen membranes are resorbable which eliminates the need

for a second surgical procedure that is normally required to remove a non-resorbable

membrane. According to studies, the composition and surface morphology are important to

prevent epithelial and connective cells migration into the wound site and allow the ingrowth

of the bone forming cells. The aim of this study was evaluate the surface morphology of three

available resorbable collagen membranes (Bio-Gide®, OsseoGuard™ e Surgidry Dental F) by

scanning electron microscopy. Our results showed considerable difference between

membrane architecture and chemical composition. In conclusion, this study showed that

distinct collagen resorbable membranes exhibit different surface morphologies which could

affect their osteopromotive capacity and stability during guided tissue regeneration

procedures.

Key-words: Biodegradable membrane, SEM, bone regeneration.

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INTRODUÇÃO

Nos últimos 25 anos, várias técnicas de aumento do volume ósseo têm sido

desenvolvidas e propostas. Uma dessas técnicas é baseada no princípio de regeneração

óssea guiada utilizando membranas como barreiras. Essas barreiras de membranas foram

testadas no final dos anos 1950 e 1960 para a cicatrização de defeitos ósseos em aplicações

ortopédicas utilizando filtros Millipore1-2. Mais tarde, foram também utilizadas em cirurgia

oral para a reconstrução de defeitos ósseos nos maxilares3.

Na década de 50, foi observado que a presença de um coágulo sanguíneo é

necessária para a formação de novo osso4. Assim, em regeneração óssea guiada, uma

barreira de membrana impede o crescimento de fibroblastos e fornece um espaço para a

osteogênese dentro do coágulo5.

Barreiras de membranas são utilizadas para proteger o coágulo sanguíneo e evitar a

migração de células dos tecidos moles (epitélio e tecido conjuntivo) para dentro do tecido

ósseo, permitindo que as células osteogênicas sejam estabelecidas. As membranas são

produzidas a partir de materiais biocompatíveis reabsorvíveis ou não-rabsorvíveis. As

propriedades ideais de uma barreira de membrana são: (I) biocompatibilidade, (II)

manutenção do espaço, (III) ser oclusiva para prevenir a migração de células, (IV) ter boas

propriedades de manipulação e (V) ser reabsorvível6.

Barreiras de membranas podem ser usadas simultaneamente ou em fases. Utilizando

a abordagem simultânea, a membrana é aplicada na colocação de implantes para regenerar

um defeito ósseo peri-implantar. A abordagem em fases, por outro lado, usa primeiramente

a barreira de membrana para a regeneração de um defeito ósseo no processo alveolar, e o

implante é inserido em um segundo tempo de procedimento após a regeneração óssea ser

concluída5.

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O padrão de reparo foi demonstrado envolvendo todas as etapas de formação do

novo osso, incluindo o estabelecimento do coágulo sanguíneo, a invasão de células

osteoprogenitoras, sua diferenciação em osteoblastos e aposição de uma matriz extracelular,

constituída principalmente por fibras colágenas que finalmente mineraliza para formar

tecido ósseo e, posteriormente, é remodelado em osso lamelar7. Os defeitos ósseos

preenchidos apenas com sangue e efetivamente separados do tecido gengival por uma

barreira tem a capacidade de gerar um osso novo8. No entanto, em um modelo humano, foi

observado que o coágulo sanguíneo ao ser absorvido leva a uma redução no volume ósseo

formado9. Na tentativa de minimizar essa perda de volume ósseo, enxertos ósseos ou

substitutos ósseos vêm sendo utilizados, estabilizando o coágulo sanguíneo. Além disso,

estes materiais mantêm o espaço com o auxílio de membranas de apoio, evitando assim seu

colapso em grandes defeitos8,10,11.

Na literatura há escassez de trabalhos avaliando a morfologia das superfícies das

membranas de colágeno utilizadas em Odontologia. Assim, o objetivo desse estudo foi

analisar e comparar morfologicamente as superfícies de três diferentes membranas

reabsorvíveis de colágeno comercialmente disponíveis: Bio-Gide®, OsseoGuardTM e

Surgidry Dental F, através de microscopia eletrônica de varredura.

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REVISÃO DE LITERATURA

Na última década, o uso de implantes osseointegrados ancorados no osso da

mandíbula com contato direto osso-implante tornou-se uma modalidade de tratamento cada

vez mais importante para a substituição dos dentes ausentes em pacientes totalmente ou

parcialmente desedentados12-13. Para o sucesso de implantes osseointegrados, em longo prazo,

um volume suficiente de osso maxilar saudável deve estar presente no local de implantação.

Entretanto, a análise pré-operatória, muitas vezes demonstra defeitos ósseos localizados no

processo alvéolar devido a um trauma, extração de dentes com doença periodontal avançada,

fratura de raiz ou lesão periapical. Assim, a cirurgia reconstrutiva é necessária para regenerar

esses defeitos, e permitir que os implantes osseointegrados tenham um bom prognóstico a

longo prazo6.

Membranas, clinicamente usadas para melhorar a regeneração óssea de acordo com o

princípio de osteopromoção, têm sido essencialmente feitas de politetrafluoretileno expandido

(Gore-Tex). Recentemente, diferentes tipos de membranas biodegradáveis se tornaram

disponíveis. Um estudo avaliou o potencial osteopromotivo de 10 diferentes materiais de

membrana biodegradáveis e não biodegradáveis14. Microscopia eletrônica de varredura

revelou diferentes configurações das superfícies das membranas, apesar de algumas delas

estarem quimicamente relacionadas. Defeitos ósseos mandibulares padronizados foram feitos

bilateralmente em ratos adultos e foram aleatoriamente cobertos com os diferentes tipos de

membrana. Após 6 semanas de cura, vários graus de cicatrização óssea foram observados sob

as diferentes membranas, através de análise por microscopia óptica. Algumas das membranas,

como Gore-Tex, Millipore e Resolut LT, revelaram um bom efeito osteopromotivo, enquanto

outras tiveram pouco ou nenhum efeito benéfico sobre a cicatrização óssea. Certos materiais

de membrana causaram uma resposta inflamatória pronunciada no tecido mole ao redor,

enquanto outras apresentaram uma baixa reação inflamatória. O estudo mostra que diferentes

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membranas diferem fortemente na eficácia osteopromotora, mesmo que aparentemente

quimicamente semelhantes. Além disso, o estudo demonstrou que as membranas

desenvolvidas principalmente para fins de regeneração periodontal podem não ser adequadas

para promover a cicatrização óssea14.

Um aumento ósseo bem sucedido requer a manutenção do espaço previsível e a

exclusão adequada daquelas células que não possuem potencial osteogênico da área do

defeito15. O osso mineral natural é considerado osteocondutor e é utilizado como formador de

espaço em combinação com técnicas de barreira de membrana. Friedmann et al. (2002)

avaliaram 28 pacientes quanto às reações teciduais nos ossos maxilares em sítios preenchidos

com osso mineral desproteinizado bovino (DBBM) cobertos com a barreira de colágeno

Ossix ou com membrana e-PTFE (Gore-Tex)15. Sete meses após procedimentos cirúrgicos de

aumento ósseo, biópsias foram obtidas na reentrada e análises histomorfométricas mostraram

não haver diferenças entre as duas barreiras quanto à área total de osso mineralizado e à área

de remanescentes de DBBM. Ainda segundo os autores, a ocorrência de exposição da barreira

não interferiu no resultado histológico em ambos os grupos testados. A barreira de colágeno

combinado com o DBBM forneceu regeneração óssea qualitativa comparável ao material

padrão de e-PTFE combinada com o mesmo osso mineral15.

O uso de membranas de barreira em procedimentos de regeneração óssea guiada

(ROG) para o tratamento de defeitos ósseos alveolares é uma prática comum. Com o objetivo

de verificar se o uso de uma membrana de hidrogel polietileno glicol sintético bioreabsorvível

(PEG) poderia resultar em uma quantidade similar de preenchimento vertical de osso como

uma membrana de colágeno normal, Jung et al. (2009) realizaram enxertos em defeitos

ósseos. Pacientes que necessitavam de tratamento com implantes, com um defeito ósseo

maior que 3 mm na maxila ou mandibula posterior, foram submetidos a levantamento de

retalho mucoperiostal, seguido da colocação de implante dentário e de enxerto com osso

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mineral bovino. Em seguida, a área foi coberta com uma membrana de colágeno ou com uma

membrana de hidrogel PEG, a qual é aplicada como um líquido. Após um período de

cicatrização de seis meses, reentrada cirúrgica foi realizada e as mudanças na altura óssea

vertical da linha de base foram avaliadas. Tecido duro bem vascularizado estava presente em

todos os locais e o osso regenerado era semelhante ao osso circundante nativo. A média de

preenchimento do defeito ósseo foi semelhante entre os grupos, embora um maior número de

complicações em tecidos moles tenha sido observado com a membrana PEG (por exemplo,

retardo ou cicatrização incompleta)16.

Douthitt et al. (2001) avaliaram o efeito da cobertura de feridas perirradiculares por

membranas bio-reabsorvíveis de colágeno no reparo de deiscências vestibulares em animais.

O terceiro e quarto pré-molares de nove cães foram seccionados e defeitos vestibulares

criados. Um dente em cada quadrante recebeu uma membrana cobrindo ambas as raízes. O

outro dente não sofreu nenhum tratamento e serviu como controle. Os animais foram

sacrificados e as amostras foram avaliadas em dois períodos: 9 e 27 semanas. Na análise

histológica, o grupo de membrana de 27 semanas apresentou significativamente maior altura

do tecido conjuntivo e maior quantidade de regeneração do osso alveolar que o grupo

controle. Já a extensão do epitélio juncional foi significativamente maior no grupo controle,

sugerindo que a utilização de uma membrana reabsorvível aumenta a regeneração óssea

quando um defeito vestibular existe no momento da cirurgia perirradicular17.

A terapia periodontal regenerativa visa previsivelmente restaurar os tecidos de suporte

periodontal, e deve resultar na formação de uma nova inserção de tecido conjuntivo (ou seja,

novo cemento com inserção de fibras do ligamento periodontal) e osso alveolar novo.

Evidências histológicas a partir de modelos pré-clínicos tem demonstrado a regeneração

periodontal após o tratamento com membranas de barreira, vários tipos de materiais de

enxerto ou uma combinação dos dois. No entanto, ainda não está claro até que ponto uma

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combinação de membranas de barreira e materiais de enxerto pode também melhorar o

processo de regeneração em comparação com membranas ou material para enxerto

isoladamente ou retalho de espessura total. Desse modo, Sculean et al. (2008) revisaram

sistematicamente todos os estudos pré-clínicos de regeneração periodontal em animais

utilizando a combinação de membranas de barreira e materiais de enxerto, os quais utilizaram

técnicas histológicas para mensuração e comparação. A maioria dos estudos demonstrou

histologicamente melhor cicatrização periodontal e óssea após a combinação de membranas e

material para enxerto, quando comparada a utilização isoladamente de ambas, apenas em

defeitos infra-ósseos quando não havia duas paredes ósseas. Entretanto, nenhum benefício

adicional de tratamentos combinados foi detectado em modelos infra-ósseos de três paredes,

de furca classe II ou em defeitos de fenestração18.

Para avaliar o efeito de uma membrana oclusiva reabsorvível de polihidroxibutirato,

Kostopuolos e Karring (1994) criaram defeitos ósseos na porção inferior de ramos

mandibulares de ratos. Após 3 ou 6 meses de cicatrização, foi observado que, nos defeitos

cobertos pela membrana, a formação óssea foi significativamente maior que nos defeitos não

cobertos. Neoformação de tecido muscular, glandular e conjuntivo foi consistentemente

ocorrendo nos defeitos do grupo controle durante a cicatrização, sugerindo que o

repovoamento seletivo de defeitos ósseos com células osteogênicas pode ser assegurado

através da exclusão dos tecidos moles em torno da área da ferida com uma membrana

oclusiva bioreabsorvível19.

Atualmente, diversos tipos de membranas têm sido empregados para regeneração

periodontal e óssea na Odontologia. A composição e a morfologia das superfícies interna e

externa das membranas parecem ser importantes para prevenir a migração de tecido epitelial e

conjuntivo e permitir a instalação de células osteogênicas para o crescimento ósseo. O

objetivo desse estudo foi analisar morfologicamente as superfícies de três tipos de membranas

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de colágeno reabsorvíveis disponíveis comercialmente, Bio-Gide®, OsseoGuard™ e Surgidry

Dental F, através de microscopia eletrônica de varredura.

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MATERIAS E MÉTODOS

Membranas examinadas

Três tipos de membrana de colágeno disponíveis comercialmente, com diferentes

composições e produzidas a partir de diferentes animais: 1- Surgidry Dental F (colágeno tipo I

bovino; Technodry Liofilizados Médicos Ltda, Belo Horizonte, Brasil), 2- Bio-Gide®

(colágeno tipo I e III suíno; Geistlich Pharma, Wolhusen, Switzerland), 3- OsseoGuard™

(colágeno tipo I bovino; Collagen Matrix, Inc, Franklin Lakes, USA).

Microscopia eletrônica de varredura

As membranas foram cortadas em pedaços com cerca de oito milímetros de largura e

montadas em um suporte de alumínio com o auxílio de fita adesiva. Em seguida, as

membranas foram submetidas ao processo de metalização em câmara à vácuo (Denton

Vacuum Desk V, Denton Vacuum, Moorestown, USA), sendo cobertas com micropartículas

de ouro. Um microscópio eletrônico de varredura (MEV) (Jeol JSM - 6510LV) foi utilizado

para avaliar a estrutura e a morfologia das superfícies superior, inferior e lateral das

membranas. Imagens digitais foram obtidas através da detecção de sinais secundários de

elétrons emitidos pelas amostras quando as mesmas foram expostas ao feixe de elétrons.

Para analisar a composição atômica das membranas, foi utilizado um espectrômetro de

dispersão de energia de raios-X integrado ao MEV. A interação entre um feixe de elétrons e

uma amostra produz uma variedade de emissões, dentre elas raios-X. O detector de energia

dispersiva do aparelho absorve e separa os raios-X característicos de cada elemento. Através

de software, obtêm-se análise semi-quantitativa da percentagem de cada átomo dentro do

material analisado, sendo os resultados expressos em histogramas. Uma limitação dessa

técnica é o fato do aparelho não conseguir distinguir e quantificar átomos com número

atômico igual ou inferior a 6 (carbono).

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RESULTADOS

Microscopia Eletrônica de Varredura

Através de microscopia eletrônica de varredura (MEV) foram analisadas as superfícies

externa (a qual deve ficar voltada para o tecido mole), interna (a qual deve ficar voltada para o

tecido ósseo ou raiz dentária) e lateral das membranas de colágeno. Os aumentos foram

escolhidos de acordo com a melhor imagem fornecida pelo microscópio. Nossos resultados

mostraram que a morfologia das superfícies variou consideravelmente entre as membranas de

colágeno analisadas.

A membrana Bio-Gide® apresenta uma superfície lateral irregular, com várias

depressões circulares dispostas de forma homogênea em toda sua extensão (Fig. 1A). A

espessura da membrana é uniforme e mede cerca de 0,73 mm. A superfície externa mostra-se

mais lisa (Fig. 1B), sem poros visíveis mesmo em grandes aumentos (650X), além de

ocasionais áreas focais exibindo fibras colágenas de espessura pequena (Fig. 1C). A superfície

interna mostra-se bastante heterogênea e irregular, com áreas lisas e áreas extremamente

fibrosas (Fig. 1D e E). As áreas lisas apresentam formações em escamas sem poros visíveis ao

MEV (Fig. 1F), enquanto as áreas fibrosas exibem uma ampla rede de fibras entrelaçadas de

espessuras variadas, formando regiões bastante retentivas (Fig. 1G).

A membrana OsseoGuard™ apresenta uma superfície lateral irregular, com duas

camadas bem distintas (Fig. 2A): a mais externa mostra-se mais espessa e compacta e a mais

interna, extremamente porosa formada por septos que se intercomunicam (Fig. 2B). Sua

espessura varia de 0,54 a 0,75 mm de acordo com o microscópio (Fig. 2A). A superfície

externa mostra-se bastante lisa e homogênea (Fig. 2C e D), sem poros visíveis mesmo em

grandes aumentos (650X) (Fig. 2E). Notam-se, ainda, estruturas poliédricas pequenas e

dispersas, adsorvidas à superfície (Fig. 2E). A superfície interna é composta basicamente por

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numerosas perfurações retangulares dispostas de forma simétrica (Fig. 2F), medindo cerca de

420x150µm. Enquanto os centros das perfurações têm superfície lisa, dos septos partem fibras

de espessura variada, formando redes, em direção ao fundo das perfurações (Fig. 2G).

A análise da membrana Surgidry Dental F mostrou superfície lateral composta por

várias camadas sobrepostas, exibindo depressões ovais e espessura variável com média de

cerca de 0,32 mm (Fig. 3A e B). A superfície externa mostra-se áspera, com fundo liso,

repleta de estruturas de formatos variados, adsorvidas ao fundo liso (Fig. 3C e D). Não são

visualizados poros em maiores aumentos (650X) (Fig. 3E). A superfície interna apresenta

numerosas fibras de espessuras variadas, dispostas em várias direções formando uma rede

bastante interligada (Fig. 3F e G).

Espectrometria de absorção de energia

Através da espectrometria de dispersão de energia (EDS) foi possível identificar parte

da composição química de cada uma das membranas. Os dados são expressos como

percentagem em relação ao peso, não sendo considerados os átomos de carbono e nitrogênio,

os quais devido ao baixo número atômico, não são quantificados de forma precisa (Quadro 1).

Para cada membrana foram marcadas duas áreas na superfície interna para análise da

composição química. Observamos diferenças na composição química entre as membranas,

com destaque para a presença de nióbio (Nb), um elemento raro, perfazendo percentagens

elevadas de peso nas membranas OsseoGuard e Surgidry, em relação aos demais elementos.

Já a membrana Bio-Gide® apresenta maior proporção dos elementos cálcio (Ca) e alumínio

(Al).

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Quadro 1 – Determinação da composição química das membranas Bio-Gide®,

OsseoGuard® e Surgidry Dental F através de espectrometria de dispersão de energia.

Al Ca Rb Tc Hg Bio-Gide (pt1) 34.900 65.100 0.000 Bio-Gide (pt2) 47.826 52.174 0.000 0.000 N O Al K Rb Nb Tc Hf Ta OsseoGuard (pt1) 0.000 52.960 1.357 6.543 31.559 5.979 0.118 1.484 OsseoGuard (pt2) 0.000 42.656 5.513 3.644 39.803 8.385 Na Al P Cl Ca Rb Nb Pd Surgidry (pt1) 13.205 10.586 3.179 6.916 66.114 0.000 Surgidry (pt2) 8.790 0.153 17.716 30.967 7.312 35.062 * Valores expressos em percentagem em relação ao peso total, excluindo-se os átomos de carbono e

nitrogênio.

Figura 1A – A membrana Bio-Gide® apresenta uma superfície lateral irregular, com várias depressões circulares dispostas de forma homogênea em toda sua extensão. A espessura da membrana é uniforme e mede cerca de 0,73 mm.

Figura 1B (Bio-Gide®) – A superfície externa mostra-se mais lisa.

Figura 1C (Bio-Gide®) – A superfície externa mostra-se sem poros visíveis mesmo em grandes aumentos (650X), além de ocasionais áreas focais exibindo fibras colágenas de espessura pequena.

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Figuras 1D e 1E (Bio-Gide®) – A superfície interna mostra-se bastante heterogênea e irregular, com áreas lisas e áreas extremamente fibrosas.

Figura 1F (Bio-Gide®) – As áreas lisas da superfície interna apresentam formações em escamas sem poros visíveis ao MEV.

Figura 1G (Bio-Gide®) – As áreas fibrosas da superfície interna exibem uma ampla rede de fibras entrelaçadas de espessuras variadas, formando regiões bastante retentivas.

Figura 2A – A membrana OsseoGuard™ apresenta uma superfície lateral irregular, com duas camadas bem distintas. Sua espessura varia de 0,54 a 0,75 mm de acordo com o microscópio

Figura 2B (OsseoGuard™) – A camada mais externa mostra-se mais espessa e compacta e a mais interna, extremamente porosa formada por septos que se intercomunicam.

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Figuras 2C e 2D (OsseoGuard™) – A superfície externa mostra-se bastante lisa e homogênea.

Figura 2E (OsseoGuard™) – Não são visualizados poros em maiores aumentos (650X) da superfície externa. Notam-se, ainda, estruturas poliédricas pequenas e dispersas, adsorvidas à superfície.

Figura 2F (OsseoGuard™) – A superfície interna é composta basicamente por numerosas perfurações retangulares dispostas de forma simétrica (Fig. 2F), medindo cerca de 420x150µm.

Figura 2G (OsseoGuard™) – Os centros das perfurações têm superfície lisa e dos septos partem fibras de espessura variada, formando redes, em direção ao fundo das perfurações.

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Figuras 3A e 3B – A análise da membrana Surgidry Dental F mostrou superfície lateral composta por várias camadas sobrepostas, exibindo depressões ovais e espessura variável com média de cerca de 0,32 mm.

Figuras 3C e 3D (Surgidry Dental F) – A superfície externa mostra-se áspera, com fundo liso, repleta de estruturas de formatos variados, adsorvidas ao fundo liso.

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Figura 3E (Surgidry Dental F) – Não são visualizados poros em maiores aumentos (650X) da superfície externa.

Figuras 3F e 3G (Surgidry Dental F) – A superfície interna apresenta numerosas fibras de espessuras variadas, dispostas em várias direções formando uma rede bastante interligada.

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DISCUSSÃO

Os princípios da regeneração tecidual guiada e da regeneração óssea guiada são

utilizados para impedir a migração de epitélio sobre a raiz dentária e a migração de tecido

epitelial e conjuntivo para o espaço de neoformação óssea, respectivamente. Através do uso

de membranas, espera-se que células mesenquimais indiferenciadas repovoem os sítios de

reparo dando origem ao ligamento periodontal e ao tecido ósseo20. O objetivo do presente

estudo foi avaliar a morfologia das superfícies de diferentes membranas de colágeno

reabsorvíveis na tentativa de correlacionar a arquitetura superficial das mesmas com seu

potencial enquanto barreira.

Inúmeros estudos suportam o conhecimento de que o colágeno favorece a adesão de

vários tipos celulares, permitindo sua permanência, in vitro, por longos períodos, e estimula a

proliferação celular21. A estrutura e composição da membrana determinam o tempo de

degradação, sua conformação espacial e as reações teciduais. Se a membrana tem tendência

ao colapso no defeito ósseo, isso limita o espaço para a regeneração óssea14,21. Na fase inicial,

a resistência ao colapso de uma membrana é determinada principalmente pela rigidez do

material. Do ponto de vista prático, também deve ser capaz de se adaptar aos contornos ósseos

adjacentes14. Outra característica importante dos materiais de membrana biodegradáveis é que

eles devem manter função de barreira por tempo suficiente. A nova formação óssea ocorre nas

bordas de um defeito e prossegue em direção ao seu centro. Esta taxa é dependente da taxa de

revascularização e recrutamento de osteoblastos. Portanto, a distância a ser percorrida

determina o tempo que a membrana deve funcionar corretamente14.

Nossos resultados mostraram diferenças consideráveis na arquitetura das membranas e

na composição química das mesmas, quando avaliadas ao microscópio eletrônico de

varredura. Com relação à superfície externa, as membranas Bio-Gide® (Fig. 1B) e

OsseoGuard™ (Fig. 2C) mostraram arquitetura mais plana e homogênea que a membrana

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Surgidry Dental F (Fig. 3E), a qual apresenta numerosas estruturas poliédricas de formas

diferentes adsorvidas à superfície, formando área relativamente áspera. A membrana

OsseoGuard™, embora tenha superfície externa lisa, também apresenta esparsas estruturas

poliédricas adsorvidas (Fig. 2E), mas em quantidade muito inferior à Surgidry Dental F, não

constituindo área retentiva para células. A função da superfície externa é de constituir barreira

física impermeável à migração de células epiteliais ou do tecido conjuntivo, mas permeável à

passagem de macromoléculas necessárias à nutrição do tecido em reparo subjacente à

membrana20,21,25. Nesse contexto, nenhuma das três membranas de colágeno avaliadas

mostrou presença de poros nessa superfície capaz de permitir a migração celular, uma vez que

as células teciduais possuem em média cerca de 15 a 20µm de diâmetro.

Outra característica importante de uma membrana de barreira é ter espessura suficiente

para não deformar e ceder em direção à área de reparo, permitindo a manutenção do volume

do coágulo sanguíneo subjacente para formação óssea. Além disso, a espessura e composição

da membrana devem permitir sua manutenção durante semanas na área cirúrgica até que a

estrutura óssea possa ser implantada na área coberta, evitando invasão de tecidos moles, os

quais crescem mais rapidamente que o tecido ósseo mineralizado14,20,21,25. Nossos resultados

mostraram que, quanto à arquitetura da superfície lateral, a membrana Bio-Gide® apresenta

toda sua espessura maciça com depressões circulares e estreitas fissuras (Fig. 1A). Já a

membrana OsseoGuard™ mostra 2 camadas distintas: uma superficial e bastante compacta,

que ocupa a maior parte de sua espessura, e outra mais estreita no lado inferior com aspecto

bastante poroso (Fig.2 B). A membrana Surgidry Dental F exibe presença de camadas

delgadas sobrepostas com espaços entre elas, em uma estrutura menos maciça que as demais

membranas analisadas (Fig. 3B).

Nós observamos também que a espessura das membranas avaliadas varia de

aproximadamente 0,7mm a 0,3mm, tendo a Bio-Gide® maior espessura, seguida da

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OsseoGuard™ e da Surgidry Dental F, essa última com espessura de cerca da metade das

outras duas. Embora o fato da membrana Surgidry Dental F apresentar espessura bem menor

que as outras membranas estudadas, sugerindo menor tempo de estabilidade nos tecidos

vivos, a composição de colágeno (tipo de colágeno) e o processo de produção das membranas

pode influenciar na velocidade de reabsorção. Várias técnicas de ligação cruzada das fibras de

colágeno foram desenvolvidas com o objetivo de retardar a degradação das membranas nos

sítios de implantação tecidual, tais como utilização de luz ultravioleta, do

hexametilenodiisocianato (HMDIC), do glutaraldeído associado à radiação e da

difenilfosforilazida (DDPA)25. Com exceção do fabricante da Bio-Gide®22, o qual informou

que a fabricação desta membrana não utiliza tratamento químico nem indução de formação de

cross-link entre as fibras colágenas, os fabricantes das outras duas membranas não

informaram sobre os processos de produção23,24. Segundo informações do fabricante, a

membrana OsseoGuard™ passa por um processo industrial, não descrito, capaz de assegurar

reabsorção lenta e criar uma estrutura de matriz fibrilar capaz de suportar forças geradas pela

sutura e manter suas características de manipulação quando hidratada, sendo adaptável a

vários tipos de defeitos teciduais23.

Estudos afirmam que, para permitir formação de volume adequado de tecido ósseo sob

a membrana, sua superfície interna deve ser capaz de interagir com o coágulo sanguíneo e

permitir a neovascularização com consequente migração e proliferação de células

osteogênicas11,21. Nossos resultados mostraram haver grandes diferenças entre as superfícies

internas das três membranas avaliadas. Bio-Gide® apresenta superfície bastante heterogênea

(Fig. 1D e E), com extensas áreas planas (Fig. 1F) alternadas por áreas porosas, constituídas

por numerosas fibras de tamanho variado interligadas e dispostas em vários sentidos (Fig.

1G). Por outro lado, OsseoGuard™ apresenta superfície uniformemente porosa, formada por

estruturas retangulares retentivas (Fig. 2F) ao longo de toda sua extensão. Já Surgidry Dental

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F exibe superfície rica em fibras de espessuras variadas, formando uma extensa rede

tridimensional com espaços de tamanhos variados (Fig. 3F e G).

Kasaj et al. (2008) compararam as superfícies de membranas de colágeno

reabsorvíveis e observaram ao microscópio eletrônico de varredura que a membrana Bio-

Gide® apresentava superfície interna com menor área de fibras e que essas fibras eram mais

delgadas que as das membranas Tutodent® e Resodent®. Nossos resultados também

mostraram que Bio-Gide apresenta superfície interna com menor área de fibras (Fig. 1D) e

que essas delgadas fibras formam estrutura com poros de tamanhos bem menores (Fig. 1G)

que os das membranas OsseoGuard™ (Fig. 2G) e Surgidry Dental F (Fig. 3G).

Em nosso estudo, as membranas apresentaram diferenças na estrutura e na constituição

química. Zellin et al. (1995) encontraram diferenças na arquitetura de superfície de várias

membranas reabsorvíveis e não reabsorvíveis analisadas em MEV, as quais exibiam aparente

semelhança química. O estudo de Kasaj et al. (2008) avaliou também a capacidade das três

membranas de colágeno, Tutodent®, Resodont® e BioGide®, de sustentar proliferação de

células osteoblásticas e de fibroblastos gengivais e do ligamento periodontal, in vitro. Seus

resultados mostraram que, embora todas as membranas sejam constituídas por colágeno, a

proliferação celular foi significativamente diferente entre elas. A proliferação de fibroblastos

e células osteogênicas foi menor na membrana BioGide® quando comparada às outras duas.

Segundo esses autores, diferenças na topografia de superfície e nos tamanhos dos poros das

membranas observadas pela microscopia eletrônica de varredura podem contribuir para

diferenças nos efeitos sobre a proliferação celular21.

Além disso, as discrepâncias observadas entre as membranas de colágeno poderiam

ser explicadas pela diferença na dissolução dos materiais das membranas26. Esses autores,

através de análises histológicas de diferentes membranas reabsorvíveis implantadas no tecido

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subcutâneo de ratos, verificaram que a membrana BioGide® foi dissolvida nos períodos

iniciais de experimento, exibindo reação inflamatória com células gigantes26.

Os resultados da análise química por EDS realizada em nosso trabalho mostraram

presença de elementos químicos e proporções desses elementos diferentes entre as membranas

analisadas. Elementos como Tecnécio (Tc), Tântalo (Ta), Rubídio (Rb) e Nióbio (Nb) foram

detectados (Quadro 1). Esses achados devem ser interpretados com cautela, uma vez que

expressam percentagens de cada elemento químico dentro do peso total da amostra, e não

consideram átomos de carbono e nitrogênio. Sendo estes dois últimos os principais

componentes das moléculas de colágeno, a percentagem real dos demais elementos pode ser

bastante inferior. Mesmo assim, a presença de elementos raros e inesperados como o nióbio e

o alumínio (Quadro 1), em proporções maiores que a de outros elementos mais comuns como

cloro e potássio, é um achado interessante e pode constituir um contaminante derivado dos

processos de fabricação das membranas.

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CONCLUSÃO

Em conclusão, este estudo mostrou que os diferentes tipos de membranas de colágeno

reabsorvíveis apresentam distintas morfologias e composições químicas, o que pode significar

diferenças em suas capacidades osteopromotoras e de manutenção de barreira física em

procedimentos de regeneração tecidual guiada.

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