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Universidade Estadual de Santa Cruz Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DO CORREDOR CENTRAL DA MATA ATLÂNTICA NA BAHIA SORAYA CARVALHEDO HONORATO ILHÉUS - BAHIA 2008

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Universidade Estadual de Santa CruzPrograma Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente

Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente

ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NAS

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DO CORREDOR CENTRAL DA

MATA ATLÂNTICA NA BAHIA

SORAYA CARVALHEDO HONORATO

ILHÉUS - BAHIA 2008

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SORAYA CARVALHEDO HONORATO

ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NAS

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DO CORREDOR CENTRAL DA

MATA ATLÂNTICA NA BAHIA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente da Universidade Estadual de Santa Cruz, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente, Sub-área de concentração: Comunidades sustentáveis.

Orientador: Prof. Dr. Gil Marcelo Reuss Strenzel

ILHÉUS - BAHIA

2008

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SORAYA CARVALHEDO HONORATO

ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NAS

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DO CORREDOR CENTRAL DA

MATA ATLÂNTICA NA BAHIA

Ilhéus - BA, 20/05/2008

_____________________________________________________

Dr. Gil Marcelo Reuss Strenzel (Orientador)

____________________________________________

Dr. Alexandre Schiavetti (PRODEMA - UESC)

____________________________________________

Dra. Isabel Maria Sampaio de Oliveira Lima (Dep. de Direito - UCSAL)

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AGRADECIMENTOS

Dedico essa obra ao Deus supremo que conduziu-me nesse processo quando eu

deveria percorrer um caminho obscuro da ciência, sem luz própria. Dele transcendeu a soma

das muitas luzes que iluminaram essa jornada: Isabel Sampaio, Gil Reuss, Rui Rocha, Sérgio

Mendes, Lívia Matos, Joel Berbert, Alexandre Schiavetti, Gustavo Franco, Yuri Melo e Fábio

Franco.

Jaime Honorato Jr., sem você eu sou um barco sem vela! Obrigada pelo incentivo e

pelo apoio financeiro, pessoal e espiritual na construção dessa pesquisa!

À professora Deborah Faria que me confiou o próprio nome, muito respeitado na

academia científica, para que eu captasse recursos, a fim de cumprir a agenda desse projeto

audacioso. Foi grande colaboradora e orientadora na fase inicial dessa pesquisa.

Para mim sempre foi um privilégio trabalhar com Isabel Sampaio por muitas razões.

Sendo sua ascendente pedagógica por meio da Fundação Antônio Carlos Gomes da Costa, eu

absorvo dela cada gota da sua fé, da sua infinita experiência como professora acadêmica e

magistrada, e da sua eterna vontade de ajudar a transformar o mundo. Exalam como perfume

para o meu crescimento pessoal. Juntas construímos pontes e desatamos nós; vou estar ligada

à ela pra sempre. E isso é muito bom porque eu a amo demais!

Se alguém pode ilustrar a palavra orientador, na sua verdadeira essência, este alguém

é Gil Reuss. Para alcançar os resultados dessa pesquisa, ele transpirou comigo discutindo cada

detalhe no assento dos tijolos (dificuldades) e no reboco (o tratamento dos dados) dessa

construção. Foi um Oceanógrafo de paciência e ternura nesse processo que lhe exigiu uma

dedicação maior para pensar as florestas, e não o mar que ele tanto ama. Com este amigo,

aprendi muitas coisas bacanas!

Sou muita grata ao Rui Rocha que sempre acredita no meu trabalho, que alimenta a

minha fé, e que sabe puxar a minha orelha de forma tão amorosa! Me confiou

responsabilidades que nem eu mesma achei que daria conta de realizar! Como é bom estar ao

lado dele e tê-lo como líder no Instituto Floresta Viva, 100% florestas e vidas!

Não poderia deixar de registrar a minha gratidão as pessoas que sempre farão parte da

minha vida e das minhas melhores lembranças. Líderes que me deixaram lições de vida e que

me serviram muito neste mestrado: Selma do Prado (mãe), avô e professor Cristino

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Carvalhedo (in memorian), Neide Borba (tia), Alcyr Osório (tio), Isabel Geovannini, Lourdes

Ferreira, Isabel Sampaio, Shirley (irmã), Adonias de Castro e Sidrônio Bastos.

Entre as várias mãos que preparam a argamassa desse estudo estão as de Sérgio

Mendes, Promotor de Justiça devoto à conservação, líder do NuMA e dessa pesquisa. É dele o

mérito da construção dessa ponte imaginária entre a academia científica e o Ministério

Público da Bahia.

Dedico essa dissertação as instituições que me apoiaram, possibilitaram e acreditaram

nessa pesquisa: Universidade Estadual Santa Cruz - UESC, Fundação O Boticário de Proteção

À Natureza - FBPN, Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado da Bahia - FAPESB,

Instituto Floresta Viva, Núcleo da Mata Atlântica do Ministério Público - NuMA,

Organização para Conservação de Terras – OCT, Universidade Católica de Salvador –

UCSAL e Fazenda Sucupira.

Agradeço aos bolsistas de iniciação científica que concederam muitas de suas noites

para a construção desse saber: Lívia Matos, Marco Spada, Ilze Matos e Everton Pinto.

Ao governo brasileiro por me dar a oportunidade de estudar e pesquisar nas melhores

universidades públicas do meu país, sou eternamente grata.

Seria displicência da minha parte se eu não considerasse aqui às Plantações Michelin

da Bahia, em nome do Lionel Robert Barré e Gérard Anne - Marie René Joseph Bockiau: sem

a compreensão e apoio deles eu não teria a combinação necessária para produzir o

conhecimento com paz de espírito.

Em nome do Procurador Geral de Justiça da Bahia, Lidivaldo Reaiche Raimundo

Britto eu agradeço aos Promotores de Justiça que aderiram ao projeto, cedendo tempo escasso

das suas agendas para contribuir com seus depoimentos e com o livre acesso aos

procedimentos judiciais e extrajudiciais.

Agradeço aos colegas da COOPERVERDE que me acolhem e me ensinam a viver

todos os dias: Joselito, Adalberto Peres e Ivo Cairo Jr.

A influência do Leonardo Gonçalves me deu muito equilíbrio e compreensão do que

Deus reservou para mim. Diversas vezes emprestou a sua voz para eu orar em noites de

completa exaustão. Mediante a sua voz, toquei nas vestes de Jesus e senti na minha presença

muitos anjos!

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Muito obrigada às famílias que me renovam a cada manhã: Comunidade Adventista do

Sétimo Dia, Floresta Viva e Pequeno Grupo Entre Amigos (em especial à Pretinha e ao Luís).

Também ofereço a minha gratidão aos meus funcionários Mirandir e Rosiel e às

gerações que me transcedem: Natália, Júlia e João Pedro (sobrinhos).

Pelo capricho e carinho na formatação de cada capítulo, de cada figura, de cada tabela

é que eu registro um agradecimento muito especial a Adriana Guerrieri.

Aos colegas, professores e funcionários do PRODEMA, em especial a Maria Schaun e

Neylor Clasans pelo esforço em evoluir sempre o PRODEMA.

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RESUMO GERAL

No Sul da Bahia as unidades de conservação e o Corredor Central da Mata Atlântica - CCMA são importantes estratégias para a conservação da Mata Atlântica. Este bioma configura-se como um dos maiores centros de diversidade e endemismos dentre as florestas tropicais do mundo e um dos últimos remanescentes de Floresta Atlântica no nordeste brasileiro. Contudo, constantes danos e ameaças de dano ambiental exigem da sociedade civil, tanto quanto do poder público, uma nova postura frente aos desafios para a manutenção da integridade física desse bioma.

O Ministério Público - MP aparece neste cenário como um agente importante, cuja missão constitucional é defender tal bioma e também legitimar a sociedade civil a fazê-lo mediante instrumentos judiciais e extrajudiciais.

Sabe-se que o Ministério Público tem contribuído para a defesa das unidades de conservação ao longo de todo o CCMA, especialmente o Núcleo da Mata Atlântica do Ministério Público – NuMA. Entretanto, até a realização dessa pesquisa ainda não havia nenhum instrumento que mensurasse a efetividade da atuação desse órgão, nem tampouco dos efeitos da aplicação das leis ambientais na manutenção dos recursos naturais dessas áreas protegidas.

Neste contexto, o presente trabalho teve por objetivo analisar a atuação do Ministério Público nas Unidades de Conservação do CCMA na Bahia.

A análise da atuação do órgão ministerial foi realizada, mediante o Discurso do Sujeito Coletivo de Promotores de Justiça e de representantes da sociedade civil. Por outro lado, utilizou-se entrevista aberta com informante-chave e análise descritiva de relatórios e outras publicações do órgão para avaliar os componentes do planejamento estratégico do MP.

Outrossim, este trabalho, também, analisou a atuação do MP a partir: (i) de um instrumento concebido no âmbito da própria pesquisa intitulado de Índice de Atuação do MP; e (ii) dos dados do Sistema de Informações Geográficas – SIG gerado por esta pesquisa, que contribuirá com o GEONuMA: sistema do NuMA.

Como contribuição ao MP, sugere-se: (i) a implantação do GEONUMA em cada uma das comarcas e com interface ao SIG aqui proposto; (ii) melhorias em infra-estrutura e ampliação do quadro de técnicos para análise pericial; (iii) nomeação de Promotores de Justiça exclusivos para atuarem na defesa ambiental; e iv) implantação de um instrumento de análise da atuação do MP na defesa ambiental pela Procuradoria Geral do MP.

Palavras-chave: Corredor Central da Mata Atlântica; Unidades de Conservação; Ministério

Público; Sociedade Civil.

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GENERAL SUMMARY

Conservation Units and the Central Corridor of Atlantic Forest (CCMA, in Portuguese) in the South of Bahia are important strategies in the conservation of Atlantic Forest. This biome is one of the biggest centers of diversity and endemisms amongst the tropical forests of the world and one of the last tracts of Atlantic Forest in the Brazilian Northeast. However, constant damage and threats of environmental damage demand of the civil society, as well as of public authority, a new position in face of the challenges to the maintenance of the physical integrity of this biome.

The Ombudsman (Ministério Público - MP) appears in this scenario as an important agent, whose constitutional mission is to defend the biome and to legitimize the civil society to also involve itself in this defense by means of judicial and extrajudicial methods.

It is known that the ombudsman has contributed to the defense of the conservation units all throughout the CCMA, especially in relation to the Nucleus of the Atlantic Forest of the Ombudsman (NuMA). However, until the realization of the present research project, there were no instruments to measure the effectiveness of the performance of this agency, nor to measure the effect that the application of environmental laws had in the maintenance of the natural resources of these protected areas.In this context, the objective of the present work was to analyze the performance of the ombudsman in the Conservation Units of the CCMA in Bahia.

The analysis of the performance of that ministerial agency was carried out through the Discourse of the Collective Subject -- Prosecutors and representatives of the civil society. On the other hand, an open interview with a key-informer and descriptive analysis of reports and other publications of the agency were used to evaluate the components of the MP's strategic planning.

Moreover, the present work also analyzed the performance of the MP from: i) an instrument conceived in the scope of the research itself named "Index of Performance of the MP"; e II) the data of the System of Geographic Information (SIG) generated for this research, that will contribute to the GEONuMA: the NuMA system.

As a contribution to the MP, the following suggestions are made: i) the GEONUMA should be implemented in each one of the judicial districts, and should interface with the SIG here considered; II) infrastructure should be improved and the number of technicians employed in expert analysis increased; III) prosecutors should be appointed to act exclusively in the defense of the environment; e IV) the MP's Prosecutor General's Office should implement a mechanism to measure the performance of the MP itself in the defense of the environment.

Key-words: Central Corridor of the Atlantic Forest; Conservation Units; Ombudsman; Civil Society.

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LISTA DE FIGURAS

1.1 Mapa com os limites territoriais do corredor central da Mata Atlântica ................ 20

1.2 Mapa com o limite das Áreas Focais prioritárias estabelecidas pelo MMA........... 22

1.3 Organograma do NuMA.......................................................................................... 30

1.4 Mapa com as Unidades de Conservação no CCMAB............................................. 32

2.1 Mapa com os limites das Coordenadorias Regionais do NuMA ............................ 43

3.1 Mapa com os limites das 30 comarcas nas quais se inserem as UCs e coordenações regionais do NuMA................................................................................................. 60

4.1 Mapa com os limites das 30 comarcas observadas na pesquisa.............................. 76

4.2 Gráfico sobre o conhecimento do MP quanto a existência de conselho de meio ambiente .................................................................................................................. 82

4.3 Gráfico sobre o acompanhamento da SC pela atuação do Ministério Público para defesa ambiental ...................................................................................................... 84

4.4 Gráfico sobre o conhecimento do Promotor de Justiça de ao menos um representante da sociedade civil .................................................................................................... 85

4.5 Gráfico sobre os agentes autores da produção de provas de dano ou ameaça de dano ambiental ................................................................................................................. 87

4.6 Gráfico sobre a notícia do dano ou ameaça do dano ambiental pela sociedade civil para o MP ................................................................................................................ 88

4.7 Gráfico sobre os tipos de danos noticiados pela sociedade civil ............................ 90

5.1 Mapa sobre a delimitação do Corredor Central da Mata Atlântica......................... 101

5.2 Mapa sobre a delimitação das 30 comarcas observadas ......................................... 103

5.3 Mapa do Complexo Una-Lontras-Baixão ............................................................... 108

5.4 Mapa do Complexo Camamú-Cabruca-Condorú.................................................... 109

5.5 Georreferenciamento dos procedimentos de Itacaré ............................................... 111

5.6 Gráfico sobre a quantidade de procedimentos (2004 a 2006) analisados em 24 comarcas do Corredor Central da Mata Atlântica na Bahia................................. . 113

6.1 Mapa das Comarcas observadas dentro do Corredor Central da Mata Atlântica, contendo Unidades de Conservação..................................................................... . 138

6.2 Gráfico do comportamento das variáveis ambientais nas comarcas do CCMAB. 140

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6.3 Mapa com porcentagem de área do bioma Mata Atlântica e ecossistemas associados nas comarcas observadas do Corredor Central da Mata Atlântica ....................... . 142

6.4 Mapa da Atuação do Promotor de Justiça nas comarcas do Corredor Central da Mata Atlântica................................................................................................................. . 144

6.5 Mapa do Desempenho das Promotorias de Justiça nas comarcas do Corredor Central da Mata Atlântica ................................................................................................... . 146

6.6 Mapa da Avaliação das Promotorias de Justiça nas comarcas do Corredor Central da Mata Atlântica ......................................................................................................... . 148

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LISTA DE TABELAS

1.1 Unidades de Conservação no Corredor Central da Mata Atlântica ...................... 23

3.1 Perguntas norteadoras para avaliação do Ministério Público a partir do Sujeito Coletivo – DSC ....................................................................................................... 63

4.1 Modelo de tabulação utilizado para construção do Discurso do Sujeito Coletivo – DSC dos promotores.............................................................................. 86

6.1 Escala de satisfação quanto à exclusividade da atuação do Promotor de Justiça na área ambiental ......................................................................................................... 126

6.2 Escala de satisfação para averiguação do cumprimento do Inquérito Civil ........... 127

6.3 Escala de satisfação para averiguação do cumprimento do Inquérito Civil com desdobramento de Termo de Ajustamento de Conduta ......................................... 127

6.4 Escala de satisfação para averiguação do cumprimento da Ação Civil Pública ..... 129

6.5 Escala de satisfação para averiguação do cumprimento da Transação Penal ......... 130

6.6 Escala de satisfação para averiguação da Denúncia Criminal ................................ 131

6.7 Variáveis que compõem o índice de avaliação do Ministério Público ................... 135

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LISTA DE QUADROS

2.1 Conceitos dos componentes do Planejamento Estratégico......................................... 45

2.2 Análise de cada componente do Planejamento Estratégico do NuMA ..................... 47

3.1 Roteiro básico das entrevistas semi-estruturadas aplicadas para os Promotores de Justiça lotados nas comarcas ..................................................................................... 62

4.1 Roteiro básico das entrevistas semi-estruturadas aplicadas para os Promotores de Justiça lotados nas comarcas ..................................................................................... 78

4.2 Perguntas norteadoras para avaliação do Ministério Público a partir do Discurso do Sujeito Coletivo – DSC ............................................................................................. 78

4.3 Roteiro básico das entrevistas semi-estruturadas aplicadas para os conselheiros de meio ambiente............................................................................................................ 79

4.4 Perguntas norteadoras para avaliação dos conselheiros de meio ambiente a partir do Discurso do Sujeito Coletivo .................................................................................... 79

4.5 Roteiro básico das entrevistas semi-estruturadas aplicadas para os outros representantes da sociedade civil............................................................................... 81

4.6 Perguntas norteadoras para avaliação dos representantes da sociedade civil e organizações governamentais a partir do Discurso do Sujeito Coletivo .................. 81

6.1 Escala de comparação de critérios............................................................................. 132

6.2 Matriz de avaliação pareada dos procedimentos judiciais e extrajudiciais ............... 133

6.3 Pesos dos procedimentos com base na análise multicriterial pareada....................... 135

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SUMÁRIO

RESUMO GERAL ............................................................................................................... vii

ABSTRACT .......................................................................................................................... viii

LISTA DE FIGURAS .......................................................................................................... ix

LISTA DE TABELAS.......................................................................................................... xi

LISTA DE QUADROS ........................................................................................................ xii

PROLOGO ........................................................................................................................... 01

CAPÍTULO I: O NÚCLEO DA MATA ATLÂNTICA DO MINISTÉRIO PÚBLICO E O PROJETO DE MESTRADO.......................................................................................... 17

CAPÍTULO II: A FASE ESTRUTURANTE DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA ATUAR NA MATA ATLANTICA: UM OLHAR SOBRE A SUA GENESE E TRAJETÓRIA..................................................................................................................... 39

CAPÍTULO III: O MINISTÉRIO PÚBLICO NAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DO CORREDOR CENTRAL DA MATA ATLANTICA: UMA AVALIAÇÃO A PARTIR DO DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO DOS PROMOTORES DE JUSTIÇA .............................................................................................................................. 56

CAPÍTULO IV: UMA ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO A PARTIR DA SUA RELAÇÃO COM A SOCIEDADE CIVIL NO CORREDOR CENTRAL DA MATA ATLÂNTICA NA BAHIA.......................................................... 71

CAPÍTULO V: SISTEMAS DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS: UMA FERRAMENTA PARA O MINISTÉRIO PÚBLICO NA DEFESA DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO................................................................................................................ 95

CAPÍTULO VI: UM INSTRUMENTO PARA ANALISAR A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DO CORREDOR CENTRAL DA MATA ATLÂNTICA NA BAHIA.......................................................... 121

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PRÓLOGO

AS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO E O CORREDOR ECOLÓGICO COMO

ESTRATÉGIAS DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE

Diversas estratégias desenhadas para a conservação da biodiversidade têm sido propostas com

o objetivo de gerar políticas públicas eficientes para mitigar os efeitos deletérios da fragmentação dos

ecossistemas sobre a biodiversidade. Atualmente reconhece-se que estas estratégias devem comportar

medidas em diferentes escalas, incluindo ações locais e em escalas maiores de paisagem, regional,

nacional e até mundial. (PINTO et al., 2006; FONSECA et al., 1997; FONSECA, 2004).

O estabelecimento de espaços protegidos, as chamadas Unidades de Conservação (UC), tem

sido uma das principais estratégias de conservação adotadas em todo o mundo para preservar a

diversidade biológica (PRIMACK et al., 2001a). Contudo, tem-se que grande parte das espécies

ameaçadas pela perda de habitat e outros tipos de pressão antrópica não está representada de forma

efetiva no sistema de unidades de conservação (OLIFIERS; CERQUEIRA, 2006; FARIA, 2002),

sendo que a maior parte da representatividade destas espécies ocorre em territórios de intenso uso

agrícola e de maior concentração urbana (PRIMARK et al., 2001b). Segundo dados oficiais do

Ministério do Meio Ambiente - MMA, o Sistema de Nacional de Unidades de Conservação cobre

apenas 8% do território nacional, e desta forma, é evidente que o paradigma de conservação de

espécies exclusivamente nestas áreas protegidas é insuficiente para garantir a manutenção deste

patrimônio biológico a longo prazo (PÁDUA, 2002). Estas UC ainda são ameaçadas pela fragilidade

administrativa do sistema de gestão (PINTO et al., 2006; TABARELLI, 2005) além de representarem

habitats normalmente reduzidos e isolados, muitas vezes insuficientes para manter populações viáveis

das espécies lá abrigadas. Muitas áreas protegidas no mundo sofrem constante reformulação dos seus

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limites geográficos com vistas à subjulgar os objetivos de conservação aos interesses políticos e

econômicos sobre seus recursos naturais (SUAREZ; ARAYA, 2001). Freqüentemente as UC têm

sido estabelecidas em áreas de escassa produtividade, maior stress ambiental, ou em áreas de beleza

cênica em territórios remotos ou inacessíveis (PRESSEY et al., 1993). Como resultado deste

oportunismo, as UC existentes no Brasil estão mal distribuídas pelo país (FERREIRA et. al., 1999).

Todas as UC brasileiras apresentam problemas, incluindo a existência de terras não

regularizadas e não demarcadas, a falta de funcionários e equipamentos para fiscalizar e gerir estas

áreas protegidas (DOUROJEANNI; PÁDUA, 2001). Não há fundos suficientes para implementar os

planos de manejo, pois nestes é que constam os objetivos gerais de uma unidade de conservação, o

estabelecimento das normas, diretrizes e instrumentos que possibilitam a compreensão de como a

referida área deve ser administrada para atingir seu fim, manter a biodiversidade contida neste espaço

delimitado. A impressão geral deste quadro, portanto, é que o Brasil não preserva efetivamente nem

o pouco território que os números oficiais expressam. Faltam políticas nacionais coerentes que

priorizem a conservação da diversidade biológica frente a outros objetivos ou projetos de interesses

estratégicos federais, tais como a geração de energia, mediante construção de usinas hidrelétricas,

dutos de gás e petróleo e plataformas marinhas. Ainda que um dispositivo legal de criação, ampliação

e regulação de atividades impactantes fortaleça a proteção das UC, a “intangibilidade” depende de

vontade política dos governantes (PRIMACK et al., 2001b).

As áreas protegidas se configuram, no âmbito político-partidário, como poderosas moedas de

troca para favorecer políticos e interesses econômicos. O efeito de borda e a fragmentação interna das

reservas é parte das conseqüências da execução desses interesses, visto que as áreas de influência das

UC são freqüentemente escolhidas para abrigar empreendimentos infra-estruturais. Este cenário se

desenha, provavelmente, porque os planejadores governamentais tendem evitar oposição política e

gastos com regularização fundiária (DOUROJEANNI; PÁDUA, 2001). Este é o argumento que

prevalece, deixando em segundo plano a manutenção da integridade dos ecossistemas.

A maioria das espécies vive em paisagens fragmentadas, ou seja, seu hábitat original foi

reduzido de tamanho e o que restou ainda encontra-se representado por pequenas manchas separadas

entre si por outros tipos de uso da terra. Em uma analogia com ilhas oceânicas, freqüentemente os

ecólogos enxergam as manchas de habitat como um conjunto de “ilhas” (fragmentos de hábitat

nativo) imersas em um “oceano” de ambientes modificados e inóspitos (matriz) para a biota nativa. É

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nesse mosaico de habitats fragmentados que muitas espécies vivem como metapopulações1 (ROCHA

et al., 2006). Os efeitos deletérios do sinergismo entre a redução de hábitat e sua fragmentação sob a

biota são bem conhecidos, e de forma geral implicam que as populações pequenas e isoladas

aumentam a sua probabilidade de extinção estocástica pela diminuição do hábitat disponível,

aomesmo tempo que a recolonização dos fragmentos é reduzida devido ao isolamento populacional

destas manchas (HANSKI, 1998). Daí depreende-se a importância de estratégias tais quais os

corredores ecológicos, que incluem na sua concepção a necessidade de manejar não apenas os

espaços protegidos (fragmentos de hábitat), mas também os habitats de interstício (matriz), que

podem ser adequadamente manejados para favorecer o fluxo de indivíduos na paisagem como um

todo.

A idéia de Corredores Ecológicos parte da noção da importância da manutenção de fluxo

gênico entre as subpopulações, e visa, desta forma, manter ou reestabelecer a conectividade entre os

hábitats remanescentes, facilitando o movimento das metapopulações entre as manchas de habitat,

aumentando a diversidade de espécies e genes em áreas que, de outra forma, seriam isoladas

(RAMBALDI; OLIVEIRA, 2003). Os corredores também são importantes porque a integração e as

interconexões de habitats estabelecidos por estes fomentam a cooperação entre as representações de

diversos interesses. Considerando que o manejo de ecossistemas fora de UC será cada vez mais

crítico para a sobrevivência de espécies ameaçadas, faz-se necessário impulsionar a conservação de

terras em propriedades privadas e estimular o manejo sustentável. O termo “corredores ecológicos”

foi amplamente discutido e sob diversas concepções no Brasil (PRADO et al., 2003; RAMBALDI;

OLIVEIRA, 2003; GANEM, 2005) e no mundo (MYERS et al., 1988; BEIER; NOSS, 1998). O

conceito que vigorou na política de conservação do Brasil, contudo, foi aquele proposto por Ayres et

al2 (1997), que é adotado pelo Ministério do Meio Ambiente - MMA no Plano Piloto para Florestas

Tropicais (PP-G7); embora estes corredores do PP - G7 distingüam-se do conceito de corredores

ecológicos do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (BRASIL, 2006), que os tem tão 1 Áreas de habitats inadequados frequentemente separam manchas de habitats adequados; os indivíduos podem se mover através dessas áreas eventualmente, mas não podem persistir nelas. Um conjunto de subpopulações conectadas por movimentos ocasionais de indivíduos entre elas é denominado de metapopulação. Este conceito tornou-se recentemente uma das ferramentas mais importantes da ecologia para a compreensão da dinâmica das espécies que vivem em ambientes fragmentados (ROCHA et al., 2006). 2 Para Ayres et al. (1997) um corredor corresponde a uma área extensa e de grande importância biológica, composta por uma rede de unidades de conservação mescladas com áreas de variados graus de ocupação humana e diferentes formas de uso da terra, em que manejo é integrado para garantir a sobrevivência de todas as espécies, a manutenção de processos ecológicos e evolutivos e o desenvolvimento de uma economia regional consolidada, baseada no uso sustentável dos recursos naturais.

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somente para conectar as Unidades de Conservação. Não obstante, o PP – G7 se alicerça na ausência

de aparato legal para implantação de corredores em larga escala (GANEM, 2005).

Outro ponto a ser considerado aqui são as controvérsias existentes entre os pesquisadores

sobre a real utilidade dos corredores como forma de mitigar o efeito do isolamento entre as manchas

de habitat. Isto porque estudos apontam que a eficiência dessa estratégia para a conservação é

limitada e de pouca sustentação científica (HOBBS, 1992).

Apesar dessas diferentes percepções quanto à eficiência dos corredores (MARTINELLI,

2006) ou da fragilidade do seu aparato legal, a pesquisa em tela considerou-os como importantes

ferramentas para a conservação, visto que o poder público, as instituições de pesquisa e as

organizações não-governamentais atuantes na Mata Atlântica, por hora, as têm como estratégias

satisfatórias.

O MINISTÉRIO PÚBLICO E A SOCIEDADE CIVIL NO CONTEXTO DAS UNIDADES DE

CONSERVAÇÃO

A legitimação atribuída ao Ministério Público - MP nas denominadas ações civis públicas,

para proteção dos interesses da tutela coletiva, foi uma grande inovação no Texto Constitucional de

1988. Mediante a Lei da Ação Civil Pública tal avanço diminuiu a distância entre a justiça e a

sociedade civil, visto que o MP passou a ser uma instituição participativa, característica que Bobbio

(1986) positiva como alargamento da ampliação dos direitos políticos da sociedade e dos

mecanismos de participação social nos regimes democráticos.

Ao que parece o Ministério Público, no âmbito do Corredor Central da Mata Atlântica na

Bahia - CCMAB,3 tem se apresentado como uma instituição de enorme capacidade de atuação em

prol da seguridade ambiental, não somente por suas garantias e prerrogativas previstas a partir da Lei

Maior, mas, sobretudo pela sua autonomia administrativa, independência funcional e ampliação das

atribuições.

3 O Corredor Central da Mata Atlântica é uma estratégia de conservação do Projeto Corredores Ecológicos-CE. Este está sob responsabilidade do Ministério do Meio Ambiente – MMA, no âmbito do PP - G7 cujo objetivo é planejar a paisagem, integrando as unidades de conservação, terras indígenas, a comunidade científica e a população local, para conectar as unidades de conservação e assim, promover o surgimento de Corredores Ecológicos (BRASIL, 2005).

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Também, o Ministério Público se sobressai neste cenário por causa da fragilidade das

organizações governamentais responsáveis pelas garantias dos interesses coletivos e difusos. Foi

constatado que a deficiência de quadros e de recursos disponíveis nos órgãos ambientais e de

fiscalização do Poder Executivo tem inviabilizado o sistema de controle e fiscalização do Corredor

Central da Mata Atlântica (FONSECA et al, 2004).

Apesar dos esforços governamentais em ampliar o quadro de agentes ambientais e investir na

infra-estrutura, a impunidade relativa aos crimes ambientais parece ser um precedente sem limites

para infrações contínuas nas UC. O IBAMA e as agências ambientais estaduais são incapazes de

apenar os infratores com eficiência, fato é que uma porção insignificante das multas chega a ser

quitada (LAURANCE, 1999).

Outra gravidade é que os Conselhos Municipais de Defesa Ambiental - CODEMA, em sua

maioria, tem pouca representatividade. Há também um despreparo técnico generalizado nas

instâncias governamentais relativas ao meio ambiente, acompanhada da freqüente omissão do poder

púbico, através dos secretários municipais de meio ambiente, face às agressões ambientais

(HONORATO, 2003).

Em entrevista com dirigentes de algumas ONG constatou-se que esses segmentos sociais são

os que mais denunciam publicamente as agressões ao meio ambiente e cobram a atuação dos órgãos

ambientais em atividades de fiscalização. Apesar das suas limitações, também elaboram e executam

políticas públicas para tornar eficiente a gestão das unidades de conservação (PÁDUA, 1997), tanto

quanto para implementar a conservação em escala – o Corredor Central da Mata Atlântica (MATOS,

2003).

Tem-se como exemplo o engajamento das instituições da sociedade civil no sul e extremo sul

da Bahia, que administra programas de reconexão de áreas de floresta natural, de incentivo a criação

de RPPN para conservação de espécies endêmicas e ameaçadas e de restauração de conexões entre

blocos florestais e fixação de carbono para compensar as emissões na atmosfera (CAVALCANTI,

2006).

Outro exemplo, na Área de Proteção Ambiental do Pratigi, localizada em porção de Mata

Atlântica no Baixo Sul da Bahia, é o da Organização para Conservação para Terras – OCT que

anunciam e executam atividades de cunho conservacionista, político, social e econômico, previstos

no plano de manejo. No âmbito da política, consolidam processos envolvendo articulação

institucional para discutir, criar e implementar políticas públicas que visem fomentar a organização

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social e o desenvolvimento comunitário: regularização fundiária, fomento à criação de associações,

cooperativas, cadeias produtivas fundamentadas no desenvolvimento sustentável e implantação de

casas familiares, tendo como princípio a pedagogia da alternância (OCT, 2007).

Hoje se discute muito a relação entre MP e Meio Ambiente (ARANTES, 1999; FREITAS,

2002; KERCHE, 2002; ROCHA & SOARES Jr., 2003; MIRRA, 2004). Em algumas destas se faz

entender que o MP é mais atuante quando acionado pela sociedade civil organizada, ou seja, o saldo

das demandas para o MP, em face da preservação ambiental, parece ser mais favorável quando da

presença da mobilização social na relação MP e Meio Ambiente. Entretanto, parece haver poucos

estudos que tratem desta relação com a sociedade civil organizada, fator estimulante para o projeto

ora proposto.

A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO E AS VIAS JUDICIAIS E EXTRAJUDICIAIS

EM FACE DA DEFESA AMBIENTAL

Ao Ministério Público é atribuída, por meio do artigo 129 da Constituição Federal de 1988, a

função de defender o meio ambiente. Assim, deve não somente responsabilizar os causadores de

danos ambientais, como também adotar medidas judiciais e extrajudiciais para evitar possíveis danos

ambientais. Um procedimento judicial é a Ação Penal Pública que objetiva promover a punição de

um crime. Essa ação se inicia com uma denúncia para a polícia, mediante simples requisição do MP,

que poderá oferecer a denúncia oralmente. Ou seja, o inquérito policial é a peça inicial para a Ação

Penal Pública. Assim, o Ministério Público requer o Inquérito Policial e controla o andamento da

investigação para penalizar o infrator. Quando a infração é de menor potencial ofensivo a Promotoria

de Justiça pode propor a Transação Penal que, nada mais é do que uma negociação com o réu em que

a pena é a restrição do direito, com base na composição civil do dano ambiental. A exposição do

Promotor de Justiça para fundamentar a Ação Penal, tanto escrita quanto oral, deverá ser precisa

quanto ao fato criminoso e todas as suas circunstâncias (art. 41, Código de Processo Penal), vez que a

informação deficiente dificulta ou impede o exercício da defesa.

Segundo o artigo o art. 89 da Lei dos Juizados Especiais, ao oferecer a denúncia, o Ministério

Público deverá propor a suspensão do processo nos crimes em que a pena mínima cominada for igual

ou inferior a um ano, desde que o acusado seja primário e não esteja sendo processado por outro

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crime. Com exceção do crime do art. 41 (incêndio doloso em mata ou floresta), os crimes da Lei n°

9605/98, na hipótese de não ser realizada a transação por motivos quaisquer, sendo oferecida

denúncia, podem ter seus processos suspensos, recorrendo-se às penas alternativas (MATOS, 2007).

A Ação Civil Pública - ACP é outro procedimento judicial utilizado pelo Ministério Público

para responsabilizar o infrator pelos danos causados ao meio ambiente. Tal ação judicial foi

elaborada pela Lei 7.347/85 sendo denominada de civil porque tramita perante o juízo civil e não

criminal e pública, pois defende bens que compõem o patrimônio social e público, além de interesses

difusos e coletivos (MIRRA, 2004). As finalidades da ACP apresentadas por Machado (2006) são: (i)

cumprimento da obrigação de fazer; (ii) cumprimento da obrigação de não fazer; (iii) cumprimento

da obrigação de não fazer e condenação em dinheiro; e (iv) condenação em dinheiro. O inquérito

civil é um procedimento administrativo, ou extrajudicial, exclusivo do Ministério Público e só ele

pode coletar provas, mediante esta atividade investigatória. O Inquérito Civil equivale ao Inquérito

Policial, sendo que este é presidido, geralmente, pelo delegado de polícia (MAZZILI, 2001). Dessa

forma o Inquérito Civil permite ao Promotor de Justiça investigar a ocorrência de potenciais atos

lesivos ao meio ambiente, colhendo depoimentos ou esclarecimentos, requisitando informações,

exames periciais e documentos nas três esferas do poder executivo. Ainda, pode promover inspeções

e diligências investigatórias (MACHADO, 2006).

Releva notar que as provas colhidas no inquérito civil, além de municiar ao MP na

fundamentação da Ação Civil Pública e do Termo de Ajustamento de Conduta poderão subsidiar,

também, a propositura de Ação Penal (BRASIL, 2006).

O Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) se constitui em outro instrumento extrajudicial

para ajustar a conduta do poluidor efetivo ou do poluidor potencial, fazendo com que este assuma o

compromisso de obedecer às exigências legais, para evitar que incida sobre si as penalidades civis. O

compromisso de ajustamento de conduta tem natureza jurídica de transação e ao Ministério Público

foi atribuída a responsabilidade de ajustar a conduta do compromissário às Leis (LACP, art. 5º, II, §

6°) (MACHADO, 2006). Desta forma, no contexto da proteção ambiental, esse título tem por objeto

induzir que o compromissário assuma obrigações de recuperar o ecossistema alterado. Outrossim, no

TAC apenas poderá ser objeto de negociação o tempo, o modo e o lugar da reparação. Uma vantagem

da utilização do TAC pelo MP para a proteção ambiental é que este instrumento permite negociação

das obrigações, eliminando a necessidade de recorrer às vias judiciais, agilizando o processo e, como

conseqüência, a recuperação do dano ambiental causado pelo infrator.

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Outra forma de atuação extrajudicial do MP é a audiência pública, um instrumento cujo

objetivo é a efetivação dos princípios da informação e da participação, vez que permite a livre

expressão da comunidade e obriga o reconhecimento de suas considerações no bojo das decisões

relativas ao meio ambiente. Matos (2007) denota que a Lei Orgânica Nacional do Ministério Público

(LONMP – Lei n° 8625/93) prevê a realização de audiências públicas promovidas pelo MP; contudo,

segundo a Resolução nº 9 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), o MP poderá

solicitar ao órgão licenciador a realização de audiência pública para que esse exponha o Relatório de

Impacto Ambiental (RIMA) de determinada atividade.

O mesmo ditame infra-constitucional prevê como instrumento extrajudicial para o MP a

recomendação que poderá ser expedida aos órgãos da Administração Pública Estadual ou Municipal

e aos concessionários e permissionários de serviço público estadual ou municipal (MACHADO,

2001). A recomendação, quando remetida ao destinatário, deve ser formulada em um tom de

exortação e não de coerção, devendo a resposta de este ser apresentada por escrito, obrigatoriamente.

Também deve constar em suas justificativas os motivos políticos ou jurídicos quanto à determinada

ação ou omissão em face dos danos ambientais, oferecendo ao MP, “fundamentação para acionar o

controle jurisdicional caso comprovada a improcedência técnica, a falsidade ou a ilegalidade do que

for invocado” (GOMES apud BUGALHO, 2005). O MP se utiliza dessa ferramenta quando, por

exemplo, formula uma política pública ambiental, ou reclama direitos legítimos da comunidade

diante do Poder Público.

Segundo Capelli (2003) é importantíssima a participação do Ministério Público na

composição do CONAMA e dos Conselhos Estaduais de Meio Ambiente para opinar (sem direito ao

voto) a respeito dos assuntos ali deliberados. Ainda conforme a autora, outra forma de atuação do MP

é a sua participação na formulação de acompanhamento de projetos legislativos e políticas públicas,

por meio de recomendações e também mediante os termos de ajustamento de conduta efetuados com

o Poder Público.

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O SISTEMA DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS E O MINISTÉRIO PÚBLICO

Na Bahia as Promotorias de Justiça, principalmente, de 1ª entrância, não dispõem de analistas

periciais, técnicos para assessorar os operadores de justiça nas atividades de campo. Ainda, em

algumas comarcas faltam equipamentos básicos como veículos, computadores, aparelhos de GPS e

até impressoras. Tal como é no Poder Executivo também há limitações ministeriais atinentes a infra-

estrutura e aos procedimentos de trabalho. O exercício da proteção do meio ambiente pelas

promotorias de justiça é subjugado à ação, não raras vezes, meramente administrativa, sem que seu

“tutor” tenha, muitas vezes, noção do contexto em que o bem jurídico tutelado está inserto

(MOREIRA, 2006).

O Sistema de Informações Geográficas (SIG), portanto, constitui-se em ferramenta estratégica

de apoio a ação do MP, visto que tem grande potencial de integração com modelos ecossistêmicos

podendo: armazenar, manipular e visualizar quantidade expressiva de dados em um contexto

espacializado (PINA, CRUZ, MOREIRA, 2000). A indisponibilidade de equipamentos dificulta ao

promotor localizar, conhecer e monitorar, no campo, tanto as agressões ambientais, quanto a

observância das leis, resultantes das decisões judiciais. O SIG constitui-se em uma ferramenta

importante capaz de espacializar, de uma forma sistematizada e simples, estas diferentes variáveis as

quais o MP tem que lidar.

O Núcleo da Mata Atlântica do Ministério Público da Bahia– NuMA é um grupo especial de

Promotores de Justiça que atuam nesse bioma. Sua coordenação desenvolveu o GEONuMA

(BRASIL, 2007) que é um SIG para atender suas bases regionais que são seis Promotorias de Justiça

que atuam, também, na defesa ambiental. Contudo, tal ferramenta ainda não foi implantada, vez que

apenas uma base ambiental regional foi estruturada. Há necessidade de uma força convergente que

consorcie as informações já disponíveis do CCMA e das UC no GEONuMA e também auxilie este

grupo especial na consolidação desse SIG, a fim de servir também aos propósitos de conservação das

comarcas atuantes no CCMAB.

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OBJETIVOS

A pesquisa em tela analisou a atuação do Ministério Público nas Unidades de Conservação

dentro da área de abrangência do Corredor Central da Mata Atlântica na Bahia, no corte de

cronológico entre 2004 a 2006, por meio da construção de um instrumento para avaliação do

Ministério Público das 29 comarcas.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

A avaliação da atuação do MP no CCMA se deu por meio dos seguintes objetivos específicos:

1. construção de um Sistema de Informações Geográficas para compor o GEONuMA que é o

SIG do Núcleo da Mata Atlântica do Ministério Público;

2. identificação da relação entre a sociedade civil e o ministério público na defesa do meio

ambiente, sobretudo nas unidades de conservação que se inserem no Corredor Central da Mata

Atlântica.

ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO

A dissertação foi estruturada em seis capítulos, sendo que o capítulo I é composto de uma

descrição da região de atuação do Núcleo da Mata Atlântica do Ministério Público (NuMA), a

descrição da área de estudo que é a porção do Corredor Central da Mata Atlântica na Bahia e uma

síntese do desenho experimental usado na presente proposta. Os cinco capítulos seguintes oferecem:

informações da estrutura vigente do Ministério Público para atuar na Mata Atlântica; dados

qualitativos coletados a partir de procedimentos jurídicos e de entrevistas com os Promotores de

Justiça, os representantes da sociedade civil e o poder executivo; e dados obtidos para compor o

Sistema de Informações Geográficas do NuMA. Esses cinco capítulos foram apresentados como

trabalhos científicos independentes, já redigidos no formato exigido por periódicos nacionais, a fim

de que sejam passíveis de publicação.

O Capítulo II faz uma análise descritiva de cada componente do planejamento do Ministério

Público baiano, estruturado para atuar na Mata Atlântica. Para tanto, observa o NuMA na perspectiva

do planejamento estratégico. Daí denota-se a falta de um instrumento eficaz de análise de atuação dos

membros do Ministério Público na defesa ambiental. Ainda, demonstra que as comarcas,

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principalmente de 1ª entrância, têm pouco ou nenhum domínio das informações do cenário analítico

(interno e externo) organizacional.

O Capítulo III fez uma análise do Ministério Público utilizando dos depoimentos de 23

Promotores de Justiça lotados nas comarcas do Corredor Central da Mata Atlântica com UC inseridas

em seus limites de jurisdição. A análise também foi efetuada a partir dos procedimentos extra-

judiciais (TAC) levantados nessas comarcas e dos relatórios das oficinas ambientais de capacitação

dos Promotores de Justiça.

O Capítulo IV investigou a relação entre o Ministério Público e as diversas representações da

sociedade civil para a defesa ambiental, mediante os procedimentos levantados nas comarcas, o

discurso do sujeito coletivo dos promotores de justiça e dos representantes da sociedade civil de duas

comarcas (mais e menos atuantes).

O Capítulo V fez uma análise do Ministério Público a partir de um SIG, propondo a

implantação desse tipo de ferramenta nas comarcas para monitorar a eficiência destas instâncias e ao

mesmo tempo auxiliar na tomada de decisão dos operadores de direito, com vistas à reversão do dano

ambiental e incentivo a conservação da biodiversidade.

O Capítulo VI constrói um instrumento de análise qualiquantitativo e analisa a atuação do MP

nas Unidades de Conservação do Corredor Central da Mata Atlântica na Bahia. O epílogo apresenta

uma discussão relacionando os objetos de estudo dos últimos 05 capítulos e as conclusões mais

relevantes. Por fim, conclui listando os ganhos da pesquisa e sugerindo a adoção dos seus produtos na

prática da atuação ministerial.

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CAPÍTULO I

O NÚCLEO DA MATA ATLÂNTICA DO MINISTÉRIO PÚBLICO E O PROJETO DE

MESTRADO

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UM BREVE HISTÓRICO DOS CORREDORES ECOLÓGICOS NO BRASIL

A elaboração do primeiro Projeto Federal para implantação dos Corredores Ecológicos

aconteceu em 1993, sucedâneo do Projeto Parques e Reservas da Diretoria de Ecossistemas do

IBAMA. O passo inicial foi estruturar um Programa que permitisse fortalecer as Unidades de

Conservação (UC) de responsabilidade daquela instituição, mediante planejamento, gestão

participativa e integração com a zona de amortecimento (ARRUDA, 2005).

O desafio era avançar além das estratégias convencionais de conservação, que até então se

limitavam basicamente a gestão da biodiversidade nas áreas protegidas, por meio do estabelecimento

destes espaços, do financiamento da elaboração de planos de manejo, do investimento em infra-

estrutura e da capacitação pessoal em unidades de conservação. O Programa Piloto de Proteção das

Florestas Tropicais do Brasil (PP - G7) desenhou uma proposta para tornar viável a conservação da

biodiversidade, a partir do manejo de grandes extensões territoriais, por meio da implantação de

corredores ecológicos, tanto na Amazônia quanto na Mata Atlântica, concepção inovadora para o

Brasil (BRASIL, 2005). Em dezembro de 2000, a Diretoria de Articulação Institucional da Secretaria

Executiva do MMA, por meio de discussões com a coordenação do PP - G7, o Banco Mundial e

doadores, produziram um documento que possibilitou a avaliação final do Projeto Corredores e sua

efetivação em março de 2002.

Os Corredores Ecológicos (unidades estratégicas de gestão) consubstanciam-se em sete

grandes áreas que perfazem cerca de 25% das florestas tropicais úmidas do Brasil (BRASIL, 2005):

cinco deles localizados na Amazônia (Corredor Central da Amazônia, Corredor Norte da Amazônia,

Corredor Oeste da Amazônia, e dos ecótones sul-amazônicos) e dois da Mata Atlântica (Corredor

Central e Sul ou da Serra do Mar); contudo os Corredores Centrais da Amazônia (CCAM) e da Mata

Atlântica (CCMA) foram eleitos prioritários para implementação. O propósito é testar este modelo de

gestão nas diferentes condições nestes biomas e a partir das lições aprendidas, preparar e apoiar a

implantação dos demais corredores (MMA, 2002).

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O CORREDOR CENTRAL DA MATA ATLÂNTICA E AS UNIDADES DE

CONSERVAÇÃO

A Mata Atlântica possui uma grande riqueza de espécies de vários grupos biológicos, como

répteis (RODRIGUES, 2005), aves (MARINI, GARCIA, 2005), anfíbios (SILVANO, SEGALLA,

2005), mamíferos (COSTA et. al, 2005) e plantas (GIULIETTI et al., 2005). Em particular, a porção

do bioma da Mata Atlântica existente na região sul da Bahia é considerada um dos bolsões de

endemismos dentre as florestas tropicais do mundo (AGUIAR et al., 2005). É esse motivo que a torna

centro das atenções nas políticas de conservação, razão pela qual foi priorizada também no Projeto

Corredores Ecológicos.

Abrangendo todo sul da Bahia e o Estado do Espírito Santo, o CCMA perfaz uma área de 8,5

milhões de hectares, entremeado de florestas ombrófilas, restingas, e manguezais nos estuários

(Figura 1.1). Destaca-se pela presença de diversos taxa tipicamente amazônicos associados à costa

atlântica (AGUIAR et al, 2005), e também por possuir mais de 50% das espécies de aves endêmicas

do bioma (CORDEIRO, 2003). Considerando-se apenas as aves, há confirmação da descoberta

recente de cinco novas espécies e um novo gênero Acrobatornis no sul da Bahia (AGUIAR et al.,

2005).

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Figura 1.1: Limites Territoriais do Corredor Central da Mata Atlântica. Fonte: Instituto Floresta Viva, 2008.

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O Projeto Corredores elegeu, na Bahia, cinco áreas prioritárias e estratégicas para a

conservação do Bioma Mata Atlântica (BRASIL, 2005). Denominou-as de áreas focais: Complexo

Camamú – Cabruca - Conduru, Complexo Una – Lontras - Baixões, Complexo do Descobrimento,

Complexo de Abrolhos e Complexo Boa Nova – Conquista (Figura 1.2).

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Figura 1.2: Identificação das Áreas Focais prioritárias estabelecidas pelo MMA Fonte: Instituto Floresta Viva, 2008.

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A escolha dessas áreas teve como subsídio o subprojeto Avaliação e Ações Prioritárias para a

Conservação da Biodiversidade nos Biomas Floresta Atlântica e Campos Sulinos, no âmbito do

Projeto de Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica Brasileira –

PROBIO/MMA (BRASIL, 2000).

O extremo sul da Bahia abriga os últimos grandes remanescentes florestais do Nordeste, parte

deles protegidos por quatro unidades de conservação de gestão federal. Os parques nacionais

(PARNA) do Descobrimento, Monte Pascoal, Pau Brasil e Abrolhos abrigam quase 500 Km² de

florestas. As pequenas bacias hidrográficas contidas nessas áreas protegidas são extremamente

importantes, tanto para a biodiversidade da Mata Atlântica, quanto para recifes de coral e outros

ecossistemas marinhos, a exemplo do parcel de Abrolhos. No Atlântico Sul, esta região abriga o

maior conjunto de recifes de coral da fauna marinha (BRASIL, 2005).

Embora o último levantamento oficial tenha registrado apenas 83 UC (BRASIL, 2005),

Mesquita et al. (2007) identificaram, recentemente, 112 unidades de conservação (Tabela 1.1) dentro

dos limites do CCMA, perfazendo uma área de 1.214.180,72 hectares. Esta pesquisa aponta que as

UC na Bahia somam uma área de 1.094.501,34 hectares, sendo 11 unidades de proteção integral, 22

unidades de uso sustentável e 28 Reservas Particulares de Patrimônio Natural – RPPN (MESQUITA

et al., 2007). Há consenso em ambas as fontes de que, no âmbito do CCMA, a Bahia possui cerca de

90% da superfície destas unidades de conservação, estando os demais 10% dentro do território do

Estado do Espírito Santo. Sabe-se que essa concentração de área, no entanto, deve-se a grande

representatividade de uma única categoria específica de UC, a das Áreas de Proteção Ambiental

(APA), criadas pelo governo da Bahia, como mostra a tabela de unidades de conservação constituída

a partir dos levantamentos realizados pela recente pesquisa:

Tabela 1.1: Unidades de conservação no Corredor Central da Mata Atlântica:

(Continua) Nome

Grupo deManejo

Área (ha.) Estado

Reserva Biológica de Una PI 11.400,00 BA Parque Nacional Monte Pascoal PI 21.118,00 BA Parque Nacional Marinho de Abrolhos PI 91.235,00 BA Parque Nacional do Descobrimento PI 21.118,00 BA Parque Nacional Pau Brasil PI 12.112,00 BA Reserva Extrativista Marinha Federal do Corumbau US 89.500,00 BA Reserva Extrativista Marinha Federal de Canavieiras US 100.000,00 BA Estação Ecológica Estadual de Nova Esperança PI 1.939,00 BA

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(Continua) Nome

Grupo deManejo

Área (ha.) Estado

Parque Estadual Serra do Conduru PI 7.000,00 BA APA Estadual do Guaibim US 2.000,00 BA APA Estadual de Tinharé/Boipeba US 43.300,00 BA APA Estadual do Pratigi US 85.686,00 BA APA Estadual da Costa de Itacaré/ Serra Grande US 62.000,00 BA APA Estadual da Lagoa Encantada e Rio Almada US 11.800,00 BA APA Estadual Santo Antônio US 23.000,00 BA APA Estadual da Coroa Vermelha US 31.900,00 BA APA Estadual de Caraíva/Trancoso US 31.900,00 BA APA Estadual da Ponta da Baleia - Abrolhos US 34.600,00 BA APA Estadual da Baía de Camamu US 118.000,00 BA APA Estadual Caminhos Ecológicos da Boa Esperança US 230.296,00 BA Parque Natural Municipal Marinho do Recife de Fora PI 1.750,00 BA Parque Natural Municipal da Boa Esperança PI 437,00 BA Reserva Ecológica Municipal do Juliana PI Indeterminada BA Reserva Ecológica Municipal da Cachoeira do Pau PI Indeterminada BA APA Municipal Cachoeira de Pancada Grande US 50,00 BA APA Municipal Vale das Cascatas US 5.880,00 BA APA Municipal Serra das Candeias US 3.051,00 BA APA Municipal da Península de Maraú US 21.200,00 BA APA Municipal de Itapebi US Indeterminada BA APA Municipal da Costa Dourada US 3.435,00 BA APA Municipal Candengo US 7.000,00 BA APA Municipal da Serra do Jequitibá US 6.800,00 BA APA Municipal do Lapão US 4.300,00 BA RPPN Fazenda Avaí Particular 469,10 BA RPPN Fazenda Itacira Particular 100,00 BA RPPN Fazenda Kaybi Particular 5,00 BA RPPN Reserva Salto Apepique Particular 118,00 BA RPPN Fazenda São João Particular 25,00 BA RPPN Reserva Natural da Serra do Teimoso Particular 200,00 BA RPPN Arte Verde Particular 10,00 BA RPPN Fazenda Pindorama Particular 47,00 BA RPPN Araçari Particular 110,00 BA RPPN Estação Veracel Particular 6.069,00 BA RPPN Ecoparque de uma Particular 83,28 BA RPPN Fazenda Bom Sossego Particular 4,70 BA RPPN Água Branca Particular 97,00 BA RPPN Lagoa do Peixe Particular 31,00 BA RPPN Estância Manacá Particular 95,00 BA RPPN Reserva Fugidos Particular 450,02 BA RPPN Fazenda Paraíso Particular 26,00 BA

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(Continua) Nome

Grupo de Manejo

Área (ha.) Estado

RPPN Reserva Pedra do Sabiá Particular 22,00 BA RPPN da Mata Atlântica da Manona Particular 7,00 BA RPPN Portal do Corupira Particular 50,00 BA RPPN Carroula Particular 15,00 BA RPPN Juerana Particular 27,00 BA RPPN Sapucaia Particular 18,50 BA RPPN Ararauna Particular 39,00 BA RPPN Mãe da Mata Particular 13,00 BA RPPN Reserva Ecológica Rio Capitão Particular 385,49 BA RPPN Capitão Particular 660,08 BA RPPN Nova Angélica Particular 135,17 BA Reserva Biológica Federal Augusto Ruschi PI 4.733,75 ES Reserva Biológica Federal de Comboios PI 833,00 ES Reserva Biológica Federal de Sooretama PI 24.250,00 ES Reserva Biológica Federal do Córrego do Veado PI 2.392,00 ES Reserva Biológica Federal do Córrego Grande PI 1.504,40 ES Parque Nacional do Caparaó PI 31.800,00 ES Floresta Nacional de Pacotuba US 450,59 ES Floresta Nacional do Rio Preto US 2.839,00 ES Floresta Nacional Goytacazes US 1.350,00 ES Reserva Biológica Estadual Duas Bocas PI 2.910,00 ES Estação Ecológica Estadual da Concha D'ostra PI 1.036,53 ES Reserva Ecológica Estadual de Jacarenema PI 346,27 ES Parque Estadual da Cachoeira da Fumaça PI 24,20 ES Parque Estadual da Fonte Grande PI 216,00 ES Parque Estadual da Ilha das Flores PI 3,00 ES Parque Estadual de Itaúnas PI 3.481,00 ES Parque Estadual Forno Grande PI 730,00 ES Parque Estadual Mata das Flores PI 800,00 ES Parque Estadual Paulo César Vinha PI 1.500,00 ES Parque Estadual Pedra Azul PI 1.240,00 ES APA Estadual da Lagoa de Guanandy US 5.242,00 ES APA Estadual da Pedra do Elefante US 2.562,31 ES APA Estadual da Praia Mole US 400,00 ES APA Estadual de Conceição da Barra US 7.728,00 ES APA Estadual de Setiba (Paulo César Vinha) US 12.960,00 ES APA Estadual de Goiapaba-Açú US 3.740,00 ES APA Estadual Mestre Álvaro US 2.461,00 ES APA Estadual Marinha Três Ilhas US Indeterminada ES Parque Natural Municipal de Ibitirama "Vale das Bromélias"

PI 39,96 ES

Parque Natural Municipal de Jacarenema PI 346,27 ES

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(Conclusão) Nome

Grupo de Manejo

Área (ha.) Estado

Parque Natural Municipal do Itabira PI 125,00 ES Parque Natural Municipal do Vale do Mulembá Conquista

PI 114,64 ES

Parque Natural Municipal da Pedra dos Dois Olhos PI Indeterminada ES Parque Natural Municipal Morro da Manteigueira PI 164,86 ES Parque Natural Municipal Sombra da Tarde PI 15,80 ES APA Municipal da Bacia Hidrográfica do Rio Jacaraípe

US Indeterminada ES

APA Municipal da Lagoa de Jacuném US Indeterminada ES APA Municipal do Morro do Vilante US Indeterminada ES APA Municipal da Serra do Rêgo US 300,00 ES RPPN Cafundó Particular 517,00 ES RPPN Fazenda Santa Cristina Particular 23,00 ES RPPN Sayonara Particular 28,00 ES RPPN Três Pontões Particular 12,00 ES RPPN Oiutrem Particular 58,10 ES Parque Ecológico Municipal de Jabaeté Indefinido* 244,00 ES Parque Ecológico Municipal Morro do Penedo Indefinido* 19,00 ES Parque Municipal da Fazendinha Indefinido* 2,30 ES Parque Municipal Mata da Praia Indefinido* 4,50 ES Parque Municipal Recanto do Jacaré Indefinido* 16,00 ES Reserva Biológica Municipal de Itapina Indefinido* 105,90 ES Reserva Natural Municipal de Dores do Rio Preto Indefinido* 10,00 ES PI = Proteção integral; US = Uso Sustentável * Unidades contabilizadas entre as de Uso Sustentável. Fonte: Mesquita et al., 2007.

SUB-REGIÃO BIOGEOGRÁFICA BAHIA

Silva e Casteleti (2005), à luz de Vanzolini (1998), Holt (1928) e Buzzetti (2000), defendem

que a biota endêmica da Mata Atlântica não se distribui homogeneamente, não podendo, portanto, ser

tratada como uma unidade. Assim, para fins de conservação da biodiversidade, estes autores

observam a necessidade de considerar o Bioma Mata Atlântica como um conjunto de distintas sub-

regiões biogeográficas. Para esses autores, uma classificação biogeográfica sintética preliminar deve

considerar a distribuição das espécies endêmicas de aves, primatas e borboletas, que são os grupos de

animais mais bem conhecidos da Mata Atlântica. As sub-regiões biogeográficas resultantes devem

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enquadrar-se em dois tipos: áreas de endemismo e áreas de transição. Áreas de endemismo são sub-

regiões caracterizadas pela presença de no mínimo duas espécies endêmicas com distribuições

sobrepostas. Embora a extensão e atual localização dessas sub-regiões sejam ainda controversas, pelo

menos cinco áreas de endemismos podem ser reconhecidas no Brasil: as florestas úmidas do Nordeste

(Brejos Nordestinos, Pernambuco, Diamantina ou Bahia Central e Bahia ou Costa da Bahia) e a

cadeia de montanhas costeira ou Serra do Mar (SILVA, CASTELETI, 2005).

Utilizando indicadores para monitoramento do estado da biodiversidade na sub-região

biogeográfica Bahia (onde se encontra o CCMA), Silva e Casteleti (2005) concluem que esta sub-

região possui baixo Índice de Capital Natural - ICN 4 e Baixo Índice de Proteção da Biodiversidade -

IPB5, características que revelam a fragilidade com a qual o referido patrimônio natural está sendo

gerenciado, bem como a premente necessidade de ações no sentido de assegurar sua conservação.

O MINISTÉRIO PÚBLICO

O funcionamento corrente da administração pública pressupõe comandos e sanções que são

típicos da supremacia do Estado sobre seus agentes. Assim, deriva um controle hierárquico e

disciplinar exercido sobre os atos administrativos e sobre as pessoas que compõem o organismo

estatal (CAZETTA Jr., 2001).

O Ministério Público - MP tem uma dinâmica distinta do restante do funcionalismo público,

conforme prevê a matriz da Constituição Federal, acumulando as mesmas prerrogativas dos membros

do Judiciário que são a vitaliciedade, a inamovibilidade e a irredutibilidade de vencimentos (salário)

(BRASIL, 2006). A missão do MP é a defesa, a fiscalização da aplicação das leis e o zelo pelo

respeito aos direitos constitucionais por parte dos poderes públicos e pela garantia dos serviços de

relevância pública previstos na Constituição. Destaca-se o fato de que o Ministério Público não está

subordinado ao Poder Judiciário, agindo independente deste e dos outros dois Poderes da República.

4 O Índice de Capital Natural (ICN) é o produto da quantidade e da qualidade de um ecossistema: A quantidade é medida como a extensão de um determinado ecossistema, e a qualidade é medida como o estado atual do ecossistema em relação a um ponto de referência. 5 O Índice de Proteção da Biodiversidade (IPB) se baseia na área de uma região atualmente ocupada por um determinado tipo de ecossistema e na área das unidades de conservação de proteção integral (categorias I e II da UICN) que protegem o ecossistema sob análise.

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Seus integrantes são graduados em Direito, selecionados por concurso público, sendo proibida a

atuação como advogados de interesses particulares (CAZETTA Jr., 2001; KERCHE, 2002;

TEIXEIRA, 2004; FONTES, 2006). É mister dessa instituição o cumprimento da função institucional

estatuída no artigo 129, inciso III da Carta Maior: promover o inquérito civil e a ação civil pública,

para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e

coletivos.

A mesma função é atribuída ao Ministério Público da União no artigo 5º, inciso III, alíneas

“a” e “d” da Lei Complementar Nº 75 de 1993: a defesa do patrimônio natural e do meio ambiente.

No artigo 6º, inciso VII, alínea b da mesma Lei, o legislador desdobra essa competência dada ao

Ministério Público da União: promover o inquérito civil e ação civil pública, com vistas a proteção

do patrimônio público e social, do meio ambiente, dos bens e direitos de valor artístico, estético,

histórico, turístico e paisagístico.

Assim, tem-se que o atual arcabouço jurídico, derivação dos avanços constitucionais do

Ministério Público (Parquet), só vem confirmar que o direito ao equilíbrio ecológico e à sanidade do

ambiente não se apresenta mais estanque. Ele está entre os direitos fundamentais e nasce do Estado

Democrático de Direito. Defendê-lo, portanto, é responsabilidade civil do Ministério Público via

Ação Civil Pública - ACP, ao lado da regulamentação administrativa.

Então, contando que há ao menos um representante do Ministério Público na esfera de cada UC do

CCMAB, e que este goza de todas aquelas prerrogativas já citadas, é factível afirmar o seu grande

potencial em tornar-se parceiro (dentro das suas atribuições legais) das agências ambientais do poder

executivo, e da sociedade civil em questões atinentes a defesa do meio ambiente dentro dessas áreas

protegidas.

A REGIÃO DE ATUAÇÃO DO NuMA NO CORREDOR CENTRAL DA MATA ATLÂNTICA

O Corredor Central da Mata Atlântica abrange, na Bahia, 76 municípios perfazendo uma área

total de 1.094.501,34 km². Neste cenário também atua o Núcleo da Mata Atlântica do Ministério

Público da Bahia - NuMA, que abrange, ainda, as regiões que estes denominam de: Recôncavo Sul,

Baía de Todos os Santos e Costa dos Coqueiros (Figura 1.3).

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Criado por determinação oficial do Procurador - Geral de Justiça da Bahia, o NuMA é um

grupo especial (de Promotores de Justiça e outros técnicos ambientais do MP) que acumula a função

de ampliar as atividades institucionais para auxiliar a preservação do bioma Mata Atlântica,

desenvolvendo, para tanto, estratégias de ação a partir de dados e informações técnicas obtidas por

seus membros e por seus parceiros, a exemplo do IBAMA (MATOS, 2007).

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Figura 1.3. Organograma do NuMA Fonte: Ministério Público da Bahia, 2006.

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DESENHO EXPERIMENTAL

Para a delimitação da área desta pesquisa dentro do Corredor Central da Mata Atlântica na

Bahia - CCMAB, e a partir de um diagnóstico de áreas protegidas nesta região (MESQUITA et. al,

2004, 2007), foram identificados todos os municípios que abrangiam em suas áreas UC legalmente

instituídas. O segundo momento foi a comparação destes aos municípios pertencentes ao NuMA,

com vistas a identificar as 30 comarcas que possuíam UC em seu limite de jurisdição. Importa dizer

que, a partir de informação de um Promotor de Justiça de que o município de Itamarajú teria em seus

limites uma UC, a pesquisadora acrescentou este ao diagnóstico de Mesquita et al. (2004) e, por

conseguinte, ao levantamento de campo. Desta forma, os dados coletados nesta comarca foram

considerados nas análises apresentadas nos capítulos que se seguem. Contudo, a partir da construção

do Sistema de Informações Geográficas – SIG, constatou-se que em 2004 eram 29 e não 30 comarcas

que inseriam UC em seus limites, confirmando o diagnóstico de Mesquita et al. (2004). Outra

consideração importante a fazer é que o número de comarcas estudadas variou ao longo dos

capítulos, sendo esta estratégia utilizada para não atrasar a pesquisa e, por conseguinte, comprometer

o cronograma de atividades. Assim, à medida que eram levantadas as informações nas comarcas os

capítulos eram confeccionados.

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Figura 1.4: Unidades de conservação no CCMAB Fonte: Instituto Floresta Viva, 2008.

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METODOLOGIA

A avaliação qualitativa da atuação do Ministério Público (MP) estadual nas comarcas

inseridas no contexto das UC (Figura 1.4) do CCMAB foi realizada mediante a elaboração de um

formulário para obtenção de dados, a partir dos instrumentos jurídicos: (i) inquéritos civis propostos

pelo MP, (ii) termos de ajustamento de conduta (TAC), (iii) ações civis públicas (ACP), (iv)

denúncias criminais, (v) transações penais, e (vi) requisições de inquéritos policiais.

Inicialmente, na experiência de testes dos instrumentos em uma comarca piloto (Ituberá) que

não entrou na contabilidade dos resultados, a pesquisadora iniciou o exame das Ações Penais

Públicas. No entanto, configurou-se um desafio de natureza administrativa, temporal e operacional.

Isto é, o acesso do pesquisador a cada Ação Penal Pública relativa à denúncia promovida pelo MP na

área ambiental implicava a concreta localização dos autos no cartório de feitos criminais, a liberação,

ainda que por pouco tempo, para o exame do pesquisador dentro do espaço do cartório e a

disponibilização dos servidores em colaborar com este fluxo de disponibilizar os autos processuais,

buscar o livro de protocolo para liberar o caderno processual por alguns minutos e receber o

pesquisador, diante da complexidade documental de cada cartório. Assim, caracterizada a limitação

de tempo do pesquisador, em face da ausência de servidores e da sua efetiva disponibilidade decidiu-

se focar nos elementos documentais disponibilizados no gabinete de cada Promotor que aderisse a

pesquisa.

Outro fator crítico e que levou a equipe ao redimensionamento do espaço cronológico do

projeto (ou do intervalo 2000-2005, que era a intenção original, para o intervalo 2004-2006) foi a

dificuldade em obter acesso aos processos arquivados. O desafio não se deu por barreiras políticas,

nem tampouco por descaso da magistratura por julgar irrelevante o projeto. Ao contrário, houve

pleno interesse da parte, mas não havia estrutura capaz de dar suporte ao projeto no tempo necessário.

Realizada a aplicação e aperfeiçoada a ferramenta, o formulário foi aplicado nas outras comarcas.

Também foi aplicada em cada comarca uma entrevista semi-estruturada com o Promotor de

Justiça, tendo como metodologias adotadas a História Oral (ALBERTI, 2004) e o Discurso do Sujeito

Coletivo (LEFREVE, 2004); a primeira para tratar as respostas dadas durante as entrevistas, e a

segunda para executar a entrevista. Com vistas a perceber a relação entre a sociedade civil e o

Ministério Público, bem como o envolvimento deste com a comunidade local para tratar dos assuntos

de relevância ambiental, além da análise dos procedimentos e das entrevistas semi-estruturada com os

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promotores foi aplicada entrevista semi-estruturada com informantes - chave da sociedade civil

atuantes nas comarcas de maior e menor níveis de atuação. Todos foram escolhidos aleatoriamente.

Paralelamente, foi desenvolvido um banco de dados cadastral com vistas a armazenar todas as

informações provenientes da aplicação dos formulários nas comarcas. Concluído o armazenamento

das informações, este banco de dados foi importado para o SIG.

O passo seguinte foi a análise histórica e documental do MP Estadual, a partir das

informações colhidas ou geradas para compor o SIG: (i) o mesmo banco de dados relacional,

construído a partir da aplicação dos formulários; (ii) os limites das 29 comarcas; (iii) diagnóstico das

unidades de conservação do CCMAB; (iv) limites das unidades de conservação; (v) dados de gestão

dos municípios que compõem as comarcas; (vi) dados de cada comarca; (vii) cartas imagens

contendo a delimitação e identificação de cada área focal do CCMAB desse projeto: Complexo

Camamú – Cabruca - Conduru, Complexo Una – Lontras - Baixões, Complexo Abrolhos e Complexo

do Descobrimento; (vii) mapa do NuMA com a identificação das 29 comarcas que inserem em seus

limites territoriais unidades de conservação; (viii) dados (endereços e contatos) sobre as organizações

do terceiro setor, das unidades descentralizadas do IBAMA e da Polícia Civil.

Para a análise qualiquantitativa da atuação do Ministério Público foi construído um

instrumento constituído de variáveis: (i) área de cobertura de vegetação do bioma Mata Atlântica e

ecossistemas associados (MMA, 2007) em porcentagem (%); e (ii) o somatório das áreas das

Unidades de Conservação de cada comarca em porcentagem (%); (iii) a atribuição do promotor por

comarca ou exclusividade em porcentagem (%) para atuar na área ambiental; (iv) os procedimentos

vias judicial e extra-judicial levantados em cada uma das comarcas; bem como (v) o Peso de cada

um dos procedimentos judiciais e extra-judiciais.

Foram construídas e normalizadas escalas para a atribuição do promotor por comarca ou

exclusividade para atuar na área ambiental, quanto para os procedimentos vias judicial e extra-

judicial.

Quanto à definição do peso de cada um dos tipos de procedimento foi utilizada a análise

multicritério (SAATY, 1977), considerando a importância de cada procedimento ou combinação

destes para a conservação da natureza. Para calcular o índice de desempenho de cada comarca, os

precedimentos foram multiplicados por seus pesos e posteriormente somados entre si. Em um passo

seguinte foram somadas as áreas ocupadas pelas UC e vegetação de cada comarca ao índice de

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desempenho. O somatório destes foi divido pela atribuição de cada promotor, obtendo-se, dessa

forma, a atuação de cada comarca.

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CAPÍTULO 2

A FASE ESTRUTURANTE DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA ATUAR NA MATA ATLÂNTICA: UM OLHAR SOBRE A SUA GÊNESE E TRAJETÓRIA

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RESUMO

Este artigo analisa a estruturação do Ministério Público - MP da Bahia, no período de 2004-2006, para cumprir os objetivos constitucionais em face da conservação do Corredor Central da Mata Atlântica. Para tanto, procedeu-se a sistematização dos passos que precederam a criação deste grupo especial, desde a sua gênese até o registro das suas ações para a defesa desse bioma, nos termos da Carta Magna de 1988 e da Lei Orgânica do Ministério Público. O desenho metodológico definido para atingir o objetivo da investigação foi de natureza qualitativa, aprofundando-se o objeto do estudo de caso com as técnicas de análise documental, de revisão de literatura, revisão legislativa e entrevista semi-estruturada com o Coordenador do Núcleo da Mata Atlântica do Ministério Público – NuMA. Adotou-se, para a observação da trajetória ministerial, a perspectiva do Planejamento Estratégico. Para a realização das entrevistas foi utilizada a metodologia da História Oral e para o tratamento destas, o Discurso do Sujeito Coletivo – DSC. Constatou-se que apesar da incipiência da atuação ministerial na área de estudo em questão, o NuMA tem contribuído significativamente para tornar essa atuação mais eficiente. Conclui-se que a adoção de um instrumento de análise qualitativo e quantitativo da atuação do MP, a contratação de analistas periciais para cada coordenadoria regional do NuMA e a organização de arquivos gerados pelo MP (para acompanhamento das ações judiciais) contribuirão para o melhor desempenho deste órgão de defesa ambiental.

Palavras-chave: Mata atlântica, Ministério Público, Planejamento Estratégico

ABSTRACT

This article analyses the organizational structure of Bahia's Ombudsman between 2004 and 2006 and its ability to fulfill the constitutional objective the preservation of the Central Atlantic Forest. Thus the steps leading up to the creation of this special group were documented, from its inception through the recording of its actions in the defense of that biome, following the Constitution's text and the Ombudsman's Organic Law. The defined methodological design to achieve the investigation's objective was of a qualitative nature, and the following techniques were used to enhance the case study: document analysis, review of the literature and of the legislation, and a semi-structured interview with the NuMA Coordinator. In order to observe the Ombudsman's actions, a Strategic Planning perspective was adopted. The Oral History methodology was used in the interviews, which were examined with the Discourse of the Collective Subject (DCS). In spite of the incipient nature of the Ombudsman's undertaking in the area being studied, NuMA has contributed significantly to make the Ombusdman's efforts more efficient. The conclusion is that the adoption of a qualitative and quantitative instrument of analysis of the Ombudsman's performance, the hiring of specialists for each regional coordinator of NuMA and the organization of the archives generated by the Ombudsman's monitoring of judicial action suits will contribute to improve the performance of this organization in the defense of the environment. Key Words: Atlantic Forest, Ombudsman, Strategic Planning

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INTRODUÇÃO

Aproximadamente 70% da população brasileira vivem na área de distribuição original do

bioma Mata Atlântica, região que gera 80% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Esta ocupação

histórica e intensiva resultou em uma drástica redução da extensão original deste bioma, situação que

atualmente coloca em risco a sobrevivência de inúmeras espécies de plantas e animais (FONSECA,

MITTERMEIER, SELIGMANN, 2005). Em estudo realizado para medir o estado da Biodiversidade

nas cinco sub-regiões da Mata Atlântica, a Bahia foi notificada como área prioritária para as ações de

conservação, vez que é uma das três sub-regiões mais ameaçadas e pouco conhecidas (SILVA;

CASTELETI, 2005). Os desafios para conservar este patrimônio são enormes, e passam pela atuação

tanto da sociedade como governo. Dentro da esfera do poder público, merece importante destaque a

atuação do Ministério Público - MP, cujos poderes previstos na constituição são fundamentais para a

defesa dos interesses coletivos, tal qual o meio ambiente equilibrado. Ciente da necessidade de

intensificar atividades de defesa ambiental para resguardar o pouco que resta desse Bioma, o

Ministério Público da Bahia criou o Núcleo Mata Atlântica do Ministério Público – NuMA, ou um

grupo especial de atuação que se constitui por 110 Promotorias de Justiça, distribuídas ao longo todo

o litoral sul da Bahia. Este cenário torna a existência do Núcleo da Mata Atlântica do Ministério

Público da Bahia - NuMA de extrema relevância pois este visa cumprir a função institucional de

promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção do meio ambiente, bem como a

prevenção e a reparação dos danos causados ao bioma em questão. Contudo, Benjamim(1998) citado

por Pasccagnella (1999) defende que tão ou mais relevante que a utilização de ação civil pública é a

formulação e o acompanhamento de projetos legislativos, o controle do exercício de poder de polícia

pelos órgãos ambientais e a própria atividade de prevenção como todo (BENJAMIM, 1998 apud

PASCCAGNELLA, 1999, p.189). Tanto o poder de polícia quanto esta prevenção se articulam com o

fortalecimento do Estado Democrático de Direito (CAPELLI, 2003; DIAS, 2001; FERREIRA, 2006).

Neste contexto, o objetivo desta investigação é analisar a atuação do Ministério Público em

face do seu papel na observância dos objetivos constitucionais para conservação da Mata Atlântica.

Para tanto, focou-se no MP do Estado da Bahia, procedendo-se a prévia revisão de literatura sobre o

histórico da instituição ministerial e sua configuração no Estado Democrático de Direito, com

especial ênfase na literatura sobre o planejamento estratégico - PE como procedimento norteador para

a definição do papel do NuMA no cumprimento da conservação da Mata Atlântica.

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MÉTODOS

A área de abrangência do presente estudo compreende toda a porção sudeste da Bahia,

considerada um dos maiores centros de diversidade e endemismos dentre as florestas tropicais do

mundo e um dos últimos remanescentes de floresta atlântica no Nordeste do Brasil (AGUIAR et al.,

2005). O NuMA está sistematizado em 06 Coordenações Regionais, porém este estudo terá foco nas

Coordenações que coincidem com os limites do Corredor Central da Mata Atlântica na Bahia –

CCMAB: Costa do Cacau, Costa do Descobrimento, Costa das Baleias e Costa do Dendê (Figura 2.1)

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Figura 2.1: Coordenadorias Regionais do NuMA. Fonte: Instituto Floresta Viva, 2008.

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A pesquisa fez uma análise descritiva da estrutura conceitual dos itens que deveriam constar

no PE (OLIVEIRA, 2006; ALMEIDA, 2007) do NuMA para garantir a defesa ambiental. Para tanto,

analisou os organogramas do Ministério Público da Bahia e investigou-se: o Plano Geral de Atuação

2004-2009 (BAHIA, 2007c), o Caderno de Metas de 2006 (BAHIA, 2007a) e de 2007 (BAHIA,

2007b), o relatório das oficinas ambientais I, II, II, e IV desse grupo especial (NuMA, 2007) e o

relatório do exercício 2006 (BAHIA, 2007d).

A imersão no planejamento institucional do Ministério Público da Bahia foi a estratégia

escolhida, compondo a perspectiva a análise qualitativa, uma vez que remete esta investigação a uma

análise estrutural mais consubstanciada para entender a atuação do NuMA, na perspectiva dos

objetivos constitucionais atribuídos ao Ministério Público.

Procedeu-se a análise descritiva adotando a base conceitual que trata do planejamento

estratégico - PE em instituições de naturezas distintas: poder público (PEREIRA, 2007; MOREIRA,

2006; PROENÇA, 2001; GUIMARÃES Jr., 2001), cooperativas (OLIVEIRA, 2006) e empresas

privadas (ALMEIDA, 2007; ODEBRECHT, 2007). Esses autores conceituam o PE como uma

metodologia administrativa que permite fixar um direcionamento otimizado a ser observado pela

instituição. Constitui, portanto, o planejamento desta natureza um esforço disciplinado para produzir

decisões e ações fundamentais sobre o que é uma organização, aonde esta quer chegar e por quais

meios, apoiando os direcionadores estratégicos: Missão, Visão de Futuro e Valores (OLIVEIRA,

2006; BAHIA, 2007a; ODEBRECHT, 2007; PEREIRA, 2007). O PE deve resultar de uma análise

criteriosa dos elementos e das variáveis necessárias para traçar os objetivos e a missão de uma

organização. Um PE necessita, igualmente, ser dinâmico e flexível para acompanhar as mudanças

institucionais e deve se configurar como um eixo norteador de políticas públicas e orientação

organizacional (MOREIRA, 2006; PEREIRA, 2007). Dada a importância do PE nos termos da

revisão de literatura, consolidou-se um quadro conceitual dos Componentes do PE para visualização

sistemática desta base conceitual conforme o Quadro 2.1.

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Quadro 2.1 - Conceitos dos componentes do Planejamento Estratégico

(Continua) Componentes do Planejamento Estratégico

Missão

Razão da existência da organização e os objetivos gerais, as estratégias e os

recursos (humanos, materiais orçamentários, financeiros) só se justificam para

cumprir a missão institucional (MOREIRA, 2006; BAHIA, 2007d; ODEBRECHT,

2007).

Visão de

futuro

O planejamento estratégico tem ênfase no aspecto de longo prazo dos objetivos e na

análise global do cenário (externo e interno) (PEREIRA, 2007).

Resultados

Benefícios diretos ou indiretos que a instituição pretende atingir mediante a

realização de sua missão, de seus objetivos e metas (MOREIRA, 2006).

Objetivos

fins

É por meio dela que a organização realiza a sua missão (PEREIRA, 2007).

Análise de

ambiente

Nesta etapa do planejamento são identificados todos os aspectos inerentes a sua

realidade externa (não controláveis), e interna (controlável pela organização)

(ALMEIDA, 2007). Na análise externa são verificadas as ameaças e as

oportunidades, assim como as melhores maneiras de evitar ou usufruir dessas

situações. Ao passo que na análise interna devem ser identificados seus pontos

fortes (vantagens estruturais controláveis) e fracos (OLIVEIRA, 2006).

Objetivos

Estratégicos

São orientados para os grandes objetivos da instituição, por isso são de longo prazo

(PEREIRA, 2007). Devem descrever os resultados gerais pretendidos pela

organização e garantir o impacto direto no atendimento das demandas internas da

organização, tanto no tocante à questão ambiental, quanto nas demandas

socioeconômicas da comunidade externa ao Parquet (MOREIRA, 2006).

Ações

São as atividades mais concretas, imprescindíveis para atingir os objetivos

estratégicos e se constituem em matéria-prima para avaliação do desempenho

institucional e são elas que definirão a natureza dos indicadores de desempenho

(MOREIRA, 2006).

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46

(Conclusão)

Componentes do Planejamento Estratégico

Indicadores

de

Desempenho

Têm a função de medir o grau de sucesso de uma ação, devem, assim, ser expressos

em unidades de medidas, tanto para fins de avaliação quanto para contribuir com a

tomada de decisão a partir da informação por eles gerados. (MOREIRA, 2006).

Coleta de

Dados

Necessário para medir o desempenho da organização e só é válida quando os dados

se prestem á mensuração pretendida. Serão analisados a partir dos indicadores de

desempenho estabelecidos (MOREIRA, 2006).

Avaliação

Desempenho

Institucional

É a definição de um plano de trabalho que propicie acompanhamento e posterior

avaliação, tornando possível a atualização periódica (PROENÇA, 2001). É o

confronto entre os resultados pactuados no plano de trabalho e os resultados

esperados (MOREIRA, 2006).

Liderança

Capacidade de motivar, criar e alimentar a confiança entre seres humanos em direção

aos objetivos e prioridades. O líder é quem compartilha as mesmas concepções

filosóficas e oferece o melhor de sua contribuição, a fim de realizar os mesmos

propósitos (ODEBRECHT, 2007). A questão ambiental deve estar posta em termos

de instituição e não em termos de gestão institucional (MOREIRA, 2006).

Doutrina

Especificação de valores objetivos e métodos operacionais que tornam a missão da

organização sólida e que levem em consideração os objetivos constitucionais e os

requeridos pela sociedade (MOREIRA, 2006).

Programa

Conjunto de projetos homogêneos quanto ao seu objetivo maior, com a finalidade de

integrar as estratégias em torno dos focos de atuação da organização (OLIVEIRA,

2007). É a expressão física ou documental que resulta do processo de planejamento

(PEREIRA, 2007).

Recursos

São os componentes humanos, financeiros, físicos tecnológicos e informacionais, a

disposição da organização para a consecução dos seus objetivos e da sua missão

(MOREIRA, 2007).

Estrutura

interna

Refere-se a estrutura e os processos convencionados para a operação e manutenção

da instituição (MOREIRA, 2007).

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

Analisando a cronologia dos acontecimentos no Ministério Público da Bahia verificou-se que

a implantação do planejamento estratégico se deu em 2002, assim previsto na Lei Complementar nº

11/96, em seus artigos 16 e 70. Contudo, somente em 31 de maio de 2004, com o apoio do então

Procurador Geral, Mendes (2007)6 idealiza, planeja e cria o Núcleo da Mata Atlântica do Ministério

Público – NuMA, à luz do planejamento estratégico. Também conforme os registros documentados

(BAHIA, 2007d) o acompanhamento da execução das metas e da efetividade das ações ministeriais

foi descentralizada, deixando der ser atribuição do Comitê de Planejamento Estratégico, e ficando

sob a responsabilidade dos Coordenadores das Promotorias de Justiça Regionais, mediante

determinação do Procurador Geral da Justiça, por meio do Ato nº 05/2005.

Os resultados da análise do conteúdo do planejamento institucional do NuMA são

apresentados no Quadro 2.2:

Quadro 2.2: Análise de cada componente do Planejamento Estratégico do NuMA

(Continua)

Componentes do Planejamento Estratégico do NuMA

Missão

Apresenta-se conforme a prescrição constitucional e conforme a Lei Orgânica do

Ministério Público da Bahia. Direciona os esforços para definir o que fazer e como

fazer no bioma Mata Atlântica. No Plano de Ação 2007, a variável ambiental está

contemplada em todas as metas, sendo todas de competência deste Parquet.

As condições de trabalho ou o perfil do promotor de justiça, em parte das comarcas

integrantes das Coordenadorias Regionais, ainda dificultam a integração do MP

com as necessidades das entidades sociais (conselhos municipais de meio ambiente,

quando existem) e a defesa dos interesses da conservação da biodiversidade.

6 Comunicação pessoal da autora (03 de abril de 2007)

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48

(Continua)

Componentes do Planejamento Estratégico do NuMA

Visão de

futuro

Construção e funcionamento de seis bases ambientais (até 2010), mediante: i)

criação e funcionamento de seis bases ambientais com promotor de justiça,

técnicos, equipamentos e sistema de informações geográficas, exclusivos para

atuação na área ambiental; ii) transformação do NuMA em órgão de pesquisa

(projeto aprovado pelo Procurador Geral da Justiça em 2005), vez que já financiam

esta atividade bem como publicações e eventos científicos, além de cursos de

capacitação; iii) realização de concursos público para contratação de três assistentes

de nível médio e um biólogo; iv) instalação do Sistema de Informações Geográficas

ou GEONuMA nas comarcas, para tornar a gestão eficiente, por meio da

espacialização geográfica de toda a demanda ambiental na Mata Atlântica.

Resultados

Não se sabe o quanto dos esforços dos promotores de justiça favorece a

conservação da biodiversidade e quantas destas ações efetivamente resultam em

reversão do dano ambiental.

Objetivos

fins

O objetivo fim do NuMA é defender e zelar pela conservação da Mata Atlântica, e

portanto está plenamente alinhado com a missão prevista na Carta Magna.

Análise de

ambiente

Interno: foi realizado um diagnóstico participativo com os promotores de justiça.

Também houve visitas de campo, por parte da coordenação do NuMA, para

levantar a necessidade de equipamentos, infra-estrutura, recursos humanos e

capacidade técnica. O próprio NuMA foi estruturado para atender as demandas das

Coordenadorias Regionais.

Externo: O NuMA realizou levantamentos de campo e pesquisa bibliográfica,

incluindo a consulta a relatórios técnicos e publicações científicas do meio

acadêmico, de organizações governamentais e não-governamentais. O núcleo

também interagiu com outras instituições atuantes na área ambiental, inclusive

oficializando convênios.

Objetivos

Estratégicos

Os objetivos estratégicos do NuMA, apresentados no Sistema de Proteção Legal da

Mata Atlântica, são claros, factíveis e perfeitamente alinhados com a missão

institucional do Ministério Público.

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49

(Continua)

Componentes do Planejamento Estratégico do NuMA

Ações

Estão voltadas para solucionar os problemas ambientais específicos de cada

Coordenadoria. Também há delegação de responsabilidade e prazos estabelecidos

para o cumprimento das ações passíveis de serem quantificadas.

Indicadores

Desempenho

Ao contrário dos indicadores das ações estruturantes, os indicadores das ações

finalísticas não são mensuráveis, sob o ponto de vista da conservação, vez que não

há informações suficientes para constatar a reversão do dano ou ameaça do dano

ambiental.

Avaliação

Desempenho

Institucional

Ainda não há como avaliar o desempenho institucional quanto à defesa ambiental.

A avaliação da Corregedoria Geral do Ministério Público da Bahia (controle

administrativo) observa apenas a produtividade ou quantidade de procedimentos

judiciais e extra-judiciais nas comarcas e não a eficácia resultante desses

procedimentos para a conservação da Mata Atlântica.

Liderança

A variável ambiental tem recebido um tratamento distintivo em todas as ações da

instituição. A liderança do NuMA é democrática, portanto, participativa. Esta

fortaleceu as Coordenações Regionais com a realização freqüente de reuniões de

alinhamento e oficinas de trabalho, tanto na capital, quanto nas comarcas. Nos

encontros foram debatidas estratégias, avaliadas as ações empreendidas, definidos

os rumos de trabalho para 2007 e discutidos os temas jurídicos pertinentes à área

ambiental.

Doutrina

A doutrina programática do NuMA foi reconhecida formalmente em termos de

gestão institucional, pela Procuradoria Geral do MP da Bahia, em todas as

comarcas da mata atlântica.

Programa

O plano de ação de 2007 foi sistêmico, e não mais pontual (MENDES, 2007), tendo

como unidade de planejamento uma dimensão biorregional: a paisagem integrada

da Mata Atlântica. Para a execução das ações de cada Coordenação foi estabelecido

o Sistema de Proteção Legal composto de ações finalísticas e estruturantes, cada

qual com: metas, objetivos, estratégias e indicadores (BAHIA, 2007a). Também

atrelou ao organograma uma ampla rede de parceiros com os poderes executivo,

judiciário e organizações não-governamentais.

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(Conclusão)

Componentes do Planejamento Estratégico do NuMA

Recursos Ainda faltam recursos que viabilizem a investigação e condenação dos que

praticam crimes ambientais. Faltam equipamentos e analistas periciais.

Estrutura

interna

O NuMA criou promotorias regionais com atuação prioritária na área ambiental.

A liderança do NuMA promoveu a construção do Plano de Ação 2007, mediante ambiente

democrático, cuidando para que cada ação estabelecida fosse executada com entes federados do

poder executivo, com a iniciativa privada e com organizações da sociedade civil. Tem-se como

exemplo de parcerias instituídas as ações conjuntas entre as Promotorias de Justiça das

Coordenadorias da Costa do Cacau, do Descobrimento e das Baleias com o Centro de Recursos

Ambientais - CRA, e a organização não – governamental Flora Brasil e o Projeto Corredores

Ecológicos; e as ações conjuntas entre as Promotorias de Justiça da Costa do Dendê com o Instituto

de Defesa, Estudo e Integração Ambiental - IDEIA, a Organização para Conservação de Terras -

OCT e a Polícia Militar.

No tocante ao componente avaliação dos resultados do ministério público há promotores de

justiça, tal qual Moreira (2006), que recomendam, por exemplo, a criação de modelos previamente

estruturados de procedimentos como o Termo de Ajustamento de Conduta - TAC. A adoção dessa

prática permitiria a criação de parâmetros de mensuração da eficácia destes, tais como indicadores

ambientais e sistemática de aferição de seu cumprimento.

No que diz respeito a análise do cenário interno, em 2008 foi publicado por um dos

coordenadores regionais do NuMA, o manual ambiental penal, iniciativa do NuMA, que pretende

facilitar a aplicação da legislação ambiental na prática do promotor de justiça. Outro resultado de

grande monta, também iniciativa do NuMA, é a série Cadernos Ambientais, uma publicação

Periódica criada para aproximar os promotores de justiça aos temas ambientais recorrentes e de

fundamental importância para a conservação da Mata Atlântica.

Observando os relatórios que tratam da análise externa do ambiente do MP, realizada pelo

NuMA, avalia-se a ação como satisfatória, uma vez que esta análise do ambiente foi pautada em

relatórios ambientais construídos por organizações não-governamentais e governamentais: Instituto

de Estudos Sócio-ambientais do Sul da Bahia- IESB, Centro de Recursos Ambientais - CRA,

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Instituto Floresta Viva, Organização para Conservação de Terras - OCT, Flora Brasil, Instituto

Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais e Renováveis - IBAMA, Ministério do Meio

Ambiente - MMA, Núcleo de Inteligência do MP. Ainda, as organizações da sociedade civil tiveram

papel importante na definição dos objetivos estratégicos, apresentados no Sistema de Proteção Legal

da Mata Atlântica. A Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres - RENCTAS

subsidiou a definição da estratégia concernente ao tráfico de animais silvestres que foi acolhida por

todas as Coordenadorias. Na Costa do Descobrimento e na Costa das Baleias foi a Flora Brasil, uma

ONG local, que auxiliou na definição da estratégia que trata do combate a produção ilegal do

artesanato. O IESB deu suporte técnico para definir a estratégia de implementar o projeto piloto de

averbação de Reserva Legal no entorno do Parque Estadual Condurú, Costa do Cacau. Já na Costa do

Dendê o IDEA atuou, em consenso, com o NuMA para apoiar o "Projeto preservando nossos

manguezais”. Há também as estratégias traçadas com base em informações cedidas pelo IBAMA,

SEMARH e Polícia Militar.

Em análise ao Sistema de Proteção Legal da Mata Atlântica do NuMA impende ressaltar três

pontos positivos: (i) que as ações estão voltadas para solucionar os problemas ambientais específicos

de cada Coordenadoria; (ii) que há delegação de responsabilidades para cada coordenadoria e (iii)

que há estabelecimento de prazos para o cumprimento das ações passíveis de serem quantificadas.

Por outro lado, no mesmo Sistema, denota-se fragilidade nos indicadores das ações

finalísticas. Dá-se como exemplo as metas: (i) combater a ocupação ilegal das áreas ambientalmente

relevantes; (ii) combater o desmatamento ilegal, e (iii) combater o comércio ilegal de animais

silvestres.

São seus indicadores respectivos: (i) ter instaurado 20 procedimentos e/ou processos acerca de

combate a ocupação de áreas ambientalmente relevantes; (ii) ter instaurado 60 procedimentos e/ou

processos acerca do combate ao desmatamento ilegal; (iii) ter instaurado 20 procedimentos e/ou

processos acerca do combate ao comércio ilegal de animais silvestres.

O ato de instaurar procedimentos ou processos não é um indicador eficiente para perceber

concretamente o impacto da estratégia para o cumprimento da missão do MP, conforme observa

Proença (2001). Em medidas voltadas para recuperação de florestas pode-se estimar o número de

ações públicas a ser ajuizado, ao final do qual poderá ser verificado o cumprimento das metas

estabelecidas. Porém mais relevante que isto é verificar, a posteriori, qual a área efetivamente

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plantada em razão daquela atuação e o seu significado para o incremento de floresta (PROENÇA,

2001).

No NuMA há dois setores: i) Administrativo-financeiro composto por uma administradora,

uma assistente concursada de nível médio e duas estagiárias, sendo uma de administração e outra de

comunicação (esta responsável pelo site); ii) GEONuMA (Sistema de Informações Geográficas do

NuMA) que conta com uma engenheira mecânica especialista em geoprocessamento e uma geógrafa

para desenvolvimento de todos os trabalhos técnicos, periciais e de desenvolvimento de sistemas.

Ainda que esteja em fase de estruturação, é importante ressaltar que o NuMA, desde o início de suas

atividades, busca estabelecer parcerias e captar recursos para equipar-se, tanto que dentro da estrutura

do MP, está entre os três maiores orçamentos. Tal equipe trabalha com dedicação exclusiva e em

tempo integral para a defesa da Mata Atlântica, sendo liderada por um Promotor de Justiça, em que

no histórico de vida esteve inteiramente engajado na construção de uma doutrina programática

institucional voltada para os interesses ambientais. Cita-se a parceria com o Projeto Corredores

Ecológicos, coordenado pelo MMA, que já proveu a incorporação de equipamentos como veículos,

estações de trabalho, equipamentos de informática, projetor, filmadoras, máquina digital, dentre

outros. A parceria também proveu recursos para desenvolver o banco de dados do NuMA, base

integrada ao Sistema de Informações do Ministério Público – SIMP e ao Sistema de Informações

Georreferenciadas do Centro de Recursos Ambientais – Geobahia (MENDES, 2007)7.

Por outro lado, a pesquisa também constatou que esse grupo especial não conta com a

participação de analistas periciais ambientais voltados para atender especificamente as necessidades

da Mata Atlântica, uma característica que limita capacidade de atuar de forma mais eficiente. De fato,

o núcleo conta apenas com a disponibilidade de poucos técnicos do Centro de Apoio às Promotorias

de Justiça do Meio Ambiente cuja atribuição é atender todas as comarcas da Bahia.

No dizer de Guimarães Jr. (2001), instruir a ação civil pública e estudar os seus aspectos

jurídicos despende muito tempo e exige condições de trabalho que muitas vezes faltam a esses

operadores do Direito, sobretudo em comarcas pequenas e sobrecarregadas. Muitas vezes deparam-se

com questões complexas que demandam pesquisas e estudos jurídicos aprofundados, ações cujo

sucesso é severamente limitado pela falta de estrutura completa física e humana. Resulta que o

trabalho do promotor de justiça pode ficar prejudicado pela falta de tempo, pelo acúmulo de funções

extras para sanar as deficiências gerais, pela falta de estrutura e de experiência profissional, que

7 Comunicação pessoal da autora (3 de abril de 2007)

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deveriam ser atendidas por pessoal qualificado para exercer estas funções técnicas mais específicas.

Outrossim, segundo o mesmo autor, não pode ser exigido que todos os promotores conheçam com

profundidade todas as matérias ambientais, muitas inéditas, com pouca ou nenhuma jurisprudência

(GUMARÃES Jr., 2001).

CONCLUSÃO PROPOSITIVA

Há um reconhecimento satisfatório da atuação do NuMA, seja dentro da estrutura do

ministério público baiano, seja entre as representações da sociedade atuantes no mesmo espaço

geopolítico, vez que o trabalho desenvolvido ao longo de três anos tem contribuído para uma nova

postura ministerial em prol da conservação da Mata Atlântica; contudo, nem todas as promotorias

que integram as coordenadorias regionais estão suficientemente equipadas e há excesso de trabalho

para os promotores.

Outrossim, é imprescindível construir um instrumento de análise da atuação do ministério

público que verifique se os registros dos processos que tratam das questões ambientais condizem com

a realidade do campo. Para avaliar o desempenho dos promotores de justiça do NuMA quanto às

ações finalísticas, há que se aperfeiçoar os indicadores e estabelecer padrões para cada indicador de

desempenho, considerando a especificidade de cada instrumento jurídico utilizado na rotina de

trabalho: (i) inquéritos civis propostos pelo MP, (ii) termos de ajustamento de conduta (TAC), (iii)

ações civis públicas (ACP), (iv) denúncias criminais, (v) transações penais, e (vi) requisições de

inquéritos policiais.

A pesquisa conclui que a adoção de outras iniciativas podem favorecer significativamente a

atuação do ministério público na Mata Atlântica: i) contratação de ao menos um analista pericial para

cada Coordenadoria Regional, a fim de conceder suporte ao promotor no exercício da defesa

ambiental; e ii) criação de arquivo dos documentos concernentes a área ambiental, gerados pelo MP

em todas as comarcas integrantes do NuMA, e desenvolvimento de mecanismos para acompanhar os

resultados dos procedimentos judiciais: Ação Penal Pública e Transação Penal.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CAPÍTULO 3

O MINISTÉRIO PÚBLICO NAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DO CORREDOR

CENTRAL DA MATA ATLÂNTICA: UMA AVALIAÇÃO A PARTIR DO DISCURSO DOS PROMOTORES DE JUSTIÇA.

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RESUMO

Esse artigo trata da análise da atuação ministerial na defesa das Unidades de Conservação localizadas no Corredor Central da Mata Atlântica na Bahia – CCMAB para buscar o cumprimento dos objetivos constitucionais em face da conservação ambiental. Para tanto, procedeu-se a análise utilizando os depoimentos de Promotores de Justiça lotados nas comarcas no CCMAB que apresentam unidades de conservação inseridas em seus limites de jurisdição. O desenho metodológico definido para atingir o objetivo da investigação foi de natureza qualitativa, aprofundando-se o objeto do estudo de caso por meio das técnicas de análise documental, de revisão de literatura, de revisão legislativa e entrevista semi-estruturada com todos os referidos Promotores. A análise documental considerou os procedimentos extra-judiciais (Termo de Ajustamento de Conduta – TAC), do período de 2004-2006, levantados nessas comarcas e os relatórios das oficinas ambientais de capacitação dos Promotores de Justiça. Para a realização das entrevistas foi utilizada a metodologia da História Oral e para o tratamento destas, o Discurso do Sujeito Coletivo – DSC. Foi constatado que os Promotores de Justiça ainda não têm domínio dos objetivos e dos propósitos das diferentes estratégias e categorias de unidades de conservação, concluindo-se que essa falta de clareza limita-os a exercitarem o direito ambiental em favor dessas áreas protegidas. Outra conclusão é de que há deficiências quanto à infra-estrutura e equipamentos que também limitam a atuação ministerial; tanto que os TAC pactuados nessas comarcas, no período de 2004-2006, não surtiram efeitos concretos para a conservação. Palavras-chave: Corredor Central da Mata Atlântica, Unidades de Conservação, Ministério Público

ABSTRACT

This article analyses the ministerial actions in the defense of the Conservation Units of the Central Corridor of the Atlantic Forest in Bahia in order to attempt to comply with the constitutional objectives of environmental conservation. To this end, it analyses the statements of prosecutors located in the judicial districts of the Central Corridor of the Atlantic Forest in which there were Conservation Units. The defined methodological design to achieve the investigation's goal was of a qualitative nature, and to enhance the case study the techniques of document analysis, review of the written material and of the current legislation, and a semi-structured interview with all the Prosecutors involved. The document analysis considered the extra-judicial procedures (Term of Conduct Adjustment – TCA) within the period between 2004-2006, found within these judicial districts and the reports of the environmental training workshops carried out by the Justice Prosecutors. The Oral History methodology was used in the interviews, which were examined with the Discourse of the Collective Subject (DCS). It was revealed that the Justice Prosecutors as of yet do not have a complete grasp of the objectives and purpose of the different strategies and conservation unit categories, and thus it can be concluded that this lack of clarity limits them in the application of environmental law to benefit these protected areas. Another conclusion is that there are deficiencies in infrastructure and equipments, which also limits the Ombudsman's actions; so much is this the case that the TCAs in these judicial districts were not able to produce concrete results in the preservation of the environment. Key Words: Central Corridor of the Atlantic Forest, Conservation Units, Ombudsman

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INTRODUÇÃO

A Mata Atlântica figura-se como o segundo Bioma mais extenso nas Américas (POR, 1992) e

relevante por abrigar um grande número de espécies, com alto nível de endemismo (GUEDES et al.,

2005). O litoral Sul da Bahia abriga um dos centros de endemismo do Bioma da Mata Atlântica

(MORI et al., 1983), fato que acarretou com que esta porção do estado da Bahia fosse apontada como

área prioritária para as ações de conservação, vez que é uma das três sub-regiões mais ameaçadas

dentro do bioma (SILVA; CASTELETI, 2005). Entre estas ameaças, destacam-se a gestão deficiente

dos recursos naturais bem como a insuficiência de unidades de conservação - UC representativas e

adequadamente dimensionadas para atender as necessidades de habitat de algumas espécies. Estas

variáveis são requisitos importantes para garantir que as UC garantam a representatividade de

espécies e/ou a manutenção de populações biologicamente viáveis de diversas espécies (PÁDUA,

2001). Outra ameaça é a ausência de planejamento quanto ao desenvolvimento e crescimento dos

municípios, tendo como lógica da atual condição de gestão territorial: crescimento populacional

desordenado, expansão desenfreada de infra-estrutura turística nos ambientes costeiros, pesca

inadequada, poluição industrial e doméstica, corte ilegal de madeira, mineração sem licença

ambiental e captura ilegal de plantas e animais silvestres (MACHADO, 2006).

Este cenário contextualiza a importância da atuação do Núcleo da Mata Atlântica - NuMA do

Ministério Público - MP da Bahia pelo fato desta estrutura do MP estar essencialmente vinculada a

conservação, buscando cumprir a sua função constitucional para a proteção do meio ambiente, a

prevenção e a reparação dos danos causados especialmente a Mata Atlântica. O NuMA é um grupo

especial de atuação formada por 110 Promotorias de Justiça, ao longo do litoral sul da Bahia. Este é

sistematizado em seis Coordenações Regionais: Costa do Cacau, Costa do Descobrimento, Costa das

Baleias, Costa do Dendê, Costa do Cacau, e Baía de Todos os Santos. O MP representa, em face da

sua missão constitucional e na perspectiva da proteção ambiental, uma instituição estratégica,

sobretudo quando exerce o papel de fiscal no controle da administração pública para efetivo

cumprimento das Leis de proteção ambiental, consoante a Norma Jurídica Complementar N°

11/1996, que institui a Lei Orgânica do Ministério Público do Estado da Bahia (BAHIA, 1996).

O objetivo dessa pesquisa é analisar a atuação ministerial na defesa das Unidades de

Conservação localizadas no Corredor Central da Mata Atlântica na Bahia – CCMAB para buscar o

cumprimento dos objetivos constitucionais em face da conservação ambiental.

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MÉTODOS

A área de estudo abrange a porção sudeste da Bahia, considerada um dos maiores centros de

diversidade e endemismos dentre as florestas tropicais do mundo e um dos maiores remanescentes de

floresta atlântica no nordeste do Brasil (AGUIAR ET al., 2005). Está localizada entre as coordenadas

13° 05’ e 18° 05’ de latitude Sul e 38° 50’ e 41° 33’ de longitude Oeste (LANDAU, RESENDE,

2003). O estudo focou as 25 comarcas do Corredor Central da Mata Atlântica, nas quais se inserem

unidades de conservação e que fazem parte do Núcleo Mata Atlântica do Ministério Público –

NuMA. As comarcas pesquisadas foram: Valença, Camamú, Gandu, Una, Itabuna, Coaraci, Santa

Cruz de Cabrália, Prado, Alcobaça, Caravelas, Belmonte, Itapebi, Porto Seguro, Camacan, Ilhéus,

Itacaré, Itajuípe, Pau-Brasil, Santa Luzia, Nilo Peçanha, Taperoá, Wenceslau Guimarães, Ubaíra,

Jequiriçá e Buerarema.

A pesquisa consistiu da análise descritiva das entrevistas e dos procedimentos levantados nas

comarcas. Para a realização das entrevistas e do levantamento dos procedimentos, foram percorridos

aproximados 3.000 km durante todo o período de junho de 2007 a março de 2008. Esta fase envolveu

três bolsistas de iniciação científica.

Para cumprir o objetivo supra aludido fez-se uma análise da visão e do nível de conhecimento

técnico do Ministério Público quanto à matéria ambiental. Para tanto, utilizou-se os depoimentos de

23 Promotores de Justiça lotados nas comarcas localizadas dentro dos limites do Corredor Central da

Mata Atlântica da Bahia - CCMMB, que por sua vez apresentaram unidades de conservação inseridas

em seus limites de jurisdição (MESQUITA et al., 2004; 2007). A análise contemplou os

procedimentos extra-judiciais (Termo de Ajustamento de Conduta – TAC) levantados nessas

comarcas e os relatórios das oficinas ambientais de capacitação dos Promotores de Justiça.

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Figura 3.1: Coordenações regionais do NuMA. Fonte: Instituto Floresta Viva, 2008

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As comarcas analisadas cumprem os dois critérios de eleição para desenvolvimento da

pesquisa: situar-se no Corredor Central MA da Bahia e possuir pelo menos uma UC nos limites da

sua circunscrição jurisdicional. Embora a pesquisa envolva 25 comarcas, apenas 23 Promotores de

Justiça foram entrevistados, vez que dois deles também atuavam em outras duas dessas comarcas

aqui citadas. Observa-se, ainda, que das 25 comarcas visitadas, em três delas os Promotores de

Justiça informaram que não havia nenhum procedimento de cunho ambiental do período de 2004 a

2006. Por conseguinte, foram analisados os procedimentos de 22 comarcas.

O escopo ao analisar os procedimentos dessas comarcas, foi o de verificar: (i) o andamento

dos Termos de Ajustamento de Conduta - TAC e a quantidade desses que já haviam firmado acordo,

tanto quanto cumprimento de cessação, reversão, mitigação ou reparação do dano ambiental8 e; (ii) a

citação de alguma unidade de conservação em tais procedimentos.

A História Oral foi o método utilizado para obter informações a partir de fontes primárias,

neste caso, os depoimentos dos Promotores de Justiça, porque permitem a compreensão de um

pretérito ainda não registrado em documentos. Esse método de pesquisa privilegia a aproximação do

pesquisador com seu objeto de estudo a partir da realização de entrevistas com pessoas que

participaram de, ou testemunharam, acontecimentos, conjunturas, visões de mundo (ALBERTI,

2004). Houve dois tipos de entrevista: a entrevista temática e semi-estruturada aplicada para os

Promotores lotados nas comarcas (conforme roteiro de entrevista apresentado no Quadro 3.1) e a

entrevista de história de vida aplicada para o coordenador do NuMA. A escolha desta última técnica

se deu em face da natureza singular identificada mediante os próprios Promotores quando se referem

à coordenação do NuMA.

8 Dano ambiental é a afetação ao bem jurídico meio ambiente, perturbadora de qualquer um dos seus elementos componentes. O dano implica na extrapolação de padrões de suportabilidade do sistema ecológico (CASTRO, NETO, 2003).

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Quadro 3.1. Roteiro básico das entrevistas semi-estruturadas aplicadas para os Promotores de Justiça

lotados nas comarcas.

Entrevista com Promotores de Justiça

1. Vossa Excelência sabe dizer se existem áreas protegidas que estão inseridas no distrito desta

comarca?

a. Quais?

b.Quantas?

2. O que Vossa Excelência entende por Unidade de Conservação?

3. O que Vossa Excelência entende por Mata Atlântica?

4. O que Vossa Excelência entende por corredor ecológico?

5. Qual a avaliação que Vossa Excelência faz da sua estrutura de trabalho, em geral?

6. Quais são as três áreas do Direito de sua preferência de atuação?

7. O que Vossa Excelência acha da utilização da via extra-judicial para sanar omissões do Poder

Público na área ambiental?

Fonte: Dados da Pesquisa.

O Discurso do Sujeito Coletivo - DSC foi a metodologia escolhida para tratar os dados

fornecidos pelos depoentes. Tal técnica propõe reconstruir, com fragmentos de discursos individuais,

o discurso síntese necessário para expressar a representação social de um fenômeno, configurado aqui

como a atuação do MP.

Segundo Lefreve e Lefreve (2005) o DSC é redigido na primeira pessoa do singular e

compõe-se de: (i) expressões-chave que são as transcrições literais do discurso; (ii) da idéia central

que é um nome ou expressão lingüística que revela de maneira mais fidedigna possível o sentido de

cada um dos discursos analisados; e (iii) da ancoragem, que é uma manifestação explícita de

ideologia ou teoria ou crença usada para enquadrar uma situação específica (LEFEVRE; LEFEVRE,

2005).

Destarte, na dimensão descritiva, analisando os discursos do conjunto de Promotores de

Justiça seria possível verificar o comportamento destes frente às questões ambientais, bem como suas

condições de trabalho, a partir das perguntas descritas na Tabela 3.2.

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Tabela 3.1: Perguntas norteadoras para avaliação do Ministério Público, a partir do Discurso do

Sujeito Coletivo - DSC.

PERGUNTA (S) PROPÓSITO DA (S) PERGUNTA (S)

1 o Ministério Público está atento quanto as estratégias

de conservação dos entes federados (federal e estadual)

nas comarcas e distritos em que atuam.

2 e 4 o Promotor de Justiça tem clareza e sabe discernir os

objetivos das principais estratégias de conservação

presentes em suas comarcas.

5 a estrutura de trabalho satisfaz as condições mínimas

necessárias para o cumprimento da missão funcional.

6 o direito ambiental é uma das três áreas de maior

preferência de atuação.

7 o promotor reconhece as vias extra-judiciais como

instrumentos eficazes de atuação para a mitigação,

reparação ou impedimento do dano ambiental. Fonte: Dados da Pesquisa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O trabalho em tela observou que dos 23 Promotores de Justiça, apenas 13 estavam atentos

quanto as diferentes estratégias de conservação vigentes em suas comarcas. Nota-se no discurso

coletivo dos Promotores que as UC são percebidas como instrumentos de proteção jurídica da

natureza, análogos as Áreas de Preservação Permanente – APP, as Reservas Legais – RL e os

corredores ecológicos (BENJAMIM, 2003), mas há dificuldade de distinção quanto aos objetivos

específicos destes e os das UC previstos na Norma Legal (Lei 9.985/2000) que institui o Sistema

Nacional de Unidades de Conservação - SNUC. Assim, na análise das entrevistas, tem-se que 15 dos

23 entrevistados revelam que ainda não se apropriaram das definições e dos objetivos dessas

principais estratégias de conservação, conforme conteúdo das próprias respostas.

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Embora as 23 comarcas tenham ao menos uma categoria de unidade de conservação estadual

ou federal reconhecida, apenas 11 dos entrevistados tinham na memória os nomes destas unidades,

lembrando-se, de imediato, dessas áreas protegidas e citando, com precisão os nomes. Esta acuidade

mnemônica também se reflete nos 307 procedimentos9 levantados nas 22 comarcas, vez que em

apenas 12 foram citadas as UC.

Diante da pergunta relativa ao entendimento do órgão ministerial sobre Corredor Ecológico –

(pergunta quatro) identifica-se que 15 Promotores responderam nos termos que se aproximam a visão

acadêmica da Biologia da Conservação (ROCHA et al., 2006), embora destacando apenas um dos

aspectos da função do Corredor Ecológico, fazendo menção a essa estratégia como solução para

sanar a extinção da fauna e não explicitando, na entrevista, o potencial específico do CE como uma

estratégia de gestão de paisagem (AYRES et al, 1997). O conjunto das respostas revela que não

houve, até então, o reconhecimento de que o projeto corredores ecológicos do MMA constitui uma

estratégia política, que também trata das relações institucionais, construindo e propondo interlocução

com a comunidade científica e aproximando às UC também às terras indígenas e às áreas com

diferentes formas de uso de terra, capaz de potencializar a conservação do bioma (BRASIL, 2005).

Assim, demonstra o DSC relativo a pergunta quatro:

É a ligação entre pedaços de vegetação para permitir o fluxo da fauna, a fim de preservar a

mata atlântica.

Em resposta a esta pergunta, três dos entrevistados desconheciam o significado de CE ou não

tinham nenhuma noção da importância dessa estratégia de conservação para o bioma Mata Atlântica,

embora trabalhem em comarcas contempladas pelo projeto corredores ecológicos, mediante o

NuMA, mediante capacitação dos Promotores de Justiça na Bahia (NUMA, 2007) .

É ainda muito incipiente o conhecimento que a maioria dos membros do MP entrevistados

nesta pesquisa apresenta quanto ao conceito biológico do bioma Mata Atlântica, bem como da sua

importância para o equilíbrio ecológico, conforme se lê no Discurso do Sujeito Coletivo – DSC, em

resposta a pergunta 3:

DSC

É uma floresta que ia do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul que hoje se encontra

reduzida de 7 a 8% e tem uma grande diversidade de fauna e flora.

9 Os autores adotaram este quantitativo, pois todos os 307 procedimentos foram acessados diretamente na pesquisa, embora, considerando os procedimentos referidos pelos promotores entrevistados, o quantitativo foi de 328.

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O processo histórico de devastação da Mata Atlântica e do seu contexto no processo do

desenvolvimento econômico do país (DEAN, 1997) é o conhecimento que os Promotores revelam

desse bioma. Apenas um Promotor respondeu conceituando biologicamente o bioma e observando as

suas particularidades, conforme descrevem as Resoluções do CONAMA nº 010, de 01 de outubro de

1993 e nº 005, de 04 de maio de 1994.

Os Promotores de Justiça do NuMA reconhecem melhorias significativas na estrutura interna

do trabalho ministerial, que lhes provê equipamentos e recursos materiais em um curto espaço de

tempo. Porém, 15 entrevistados declararam que as condições de trabalho os satisfazem para o

cumprimento da missão funcional e seis declararam que as condições não os satisfazem. Desses 23

Promotores, 17 identificam que as condições de trabalho já melhoraram significativamente. Contudo,

todos os 23 mencionam a falta de: (i) recursos que viabilizem a investigação e condenação dos que

praticam crimes ambientais; (ii) equipamentos essenciais; (iii) peritos ; (iv) estrutura do poder

executivo para exercer a função de fiscalização, apreensão, e prisão, o que reflete negativamente na

atuação do Promotor de Justiça.

Os entrevistados, na sua totalidade, reconhecem que há acúmulo de serviços e atribuições dos

promotores e que o judiciário pouco colabora para agilizar o andamento dos processos, tal qual ilustra

o conteúdo do DSC no depoimento relativo a pergunta número 5:

DSC

Ainda não é a ideal, mas já melhorou muito, quando comparado a três ou quatro anos atrás.

Houve uma mini-revolução. Contudo, há carência de corpo técnico, única Promotoria e jurisdição

plena. Há acúmulo de atribuições existentes em comarca de promotoria única, onde o promotor é

cível, é penal, é consumidor, é infância, é meio ambiente, é patrimônio público, é trabalho judicial, é

trabalho extrajudicial. Falta justamente a questão de banco de dados. Acho ainda muito lento o

levantamento de informações. O levantamento ágil de informações é muito importante, não só na

área ambiental. Sem falar da questão da atuação judicial, porque o promotor tem que fazer

audiências, atuar judicialmente nos processos, seja como fiscal da lei, seja como parte. E conciliar

tudo isso com a questão ainda extrajudicial, que a cada dia tem sido ampliada pela legislação com o

conhecimento da atuação do MP. Também falta estrutura para as entidades de apoio.

Quanto ao reconhecimento das vias extra-judiciais como instrumentos eficazes de atuação

ministerial, os Promotores declararam:

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DSC

Melhor via é a extra-judicial. A solução é mais rápida e nós fiscalizamos. É menos

burocrática e com estes temos mais autonomia de atuação. A Ação Civil Pública é o último recurso,

é a medida extrema. A via judicial é lenta e o meio ambiente não espera, porque a degradação

ambiental é mais veloz do que qualquer via judicial. Todos nós sabemos das dificuldades do poder

judiciário.

Tratando, ainda, desse assunto Capelli (2003) comenta da preferência, ainda que

silenciosamente compartilhada, dos Promotores de Justiça e Procuradores da República de todo o

Brasil, pela solução extrajudicial. Ao justificar a opção destes apresenta algumas das limitações das

vias judiciais: i) morosidade no julgamento das demandas e ii) visão privatista da propriedade e

opção pelos valores da livre iniciativa e do crescimento econômico por parte dos que apreciam a

matéria.

Por outro lado, a autora defende que a via extrajudicial tem como vantagens: (i) abrangência

do termo de ajustamento de conduta à decisão judicial, em face dos reflexos criminais e

administrativos; (ii) menor custo; (iii) maior reflexo social da solução extrajudicial, ao permitir o

trato do problema sob variados aspectos (ecossistemas, bacias hidrográficas e outros assuntos); (iv)

propicia diretamente, o conhecimento dos problemas, mediante investigação e seu desdobramento;

(v) a prova é coligida sem intermediários; (vi) a solução do problema somente é adotada após

diversas reuniões, negociações e decisão consensual envolvendo poder público, sociedade civil e

técnicos (CAPELLI, 2003).

Não obstante a importância referida pelos entrevistados do esforço para realização de pactos,

os dados disponíveis não revelam na sua totalidade esta atuação de caráter negocial da liede.

Analisando-se os procedimentos das 22 comarcas verificou-se que de 14 TAC, apenas quatro foram

concluídos dentro do prazo de um ano, dois ainda estavam em andamento, um não havia informação

suficiente para inferir e sete demonstravam encontrar-se estagnados em face do intervalo de mais de

um ano entre o penúltimo ato e último ato.

A afinidade com o tema do direito ambiental foi objeto das entrevistas e verificou-se que

somente cinco Promotores têm predileção expressa pelo direito ambiental, em relação às outras áreas

de atuação. Contudo, somente oito não citaram o direito ambiental dentre as áreas de predileção.

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CONCLUSÃO

Apesar da maioria dos Promotores de Justiça estar atento às estratégias de conservação, a falta

de clareza quanto aos objetivos destas limita-os exercitarem o direito ambiental em favor das

unidades de conservação, mesmo com a afeição que nutrem por essa área de atuação. Também, as

deficiências quanto à infra-estrutura e equipamentos limitam a defesa das unidades de conservação.

Apesar dos depoimentos dos Promotores quanto a eficácia na utilização das vias extra-

judiciais, conclui-se que os Termos de Ajustamento de Conduta acordados nessas comarcas, no

período entre 2004-2006, não surtiram efeitos concretos para impedimento, reparação, ou reversão do

dano ambiental.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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CAPÍTULO 04

UMA ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO A PARTIR DA SUA

RELAÇÃO COM A SOCIEDADE CIVIL NO CORREDOR CENTRAL DA MATA

ATLÂNTICA NA BAHIA.

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RESUMO

A proposta do presente trabalho foi pesquisar a relação entre a sociedade civil e o Ministério Público - MP em 26 comarcas, no âmbito do Corredor Central da Mata Atlântica na Bahia - CCMAB, que tenham Unidades de Conservação estabelecidas em seus limites jurisdicionais. O foco da análise foi, além da atuação dos Promotores de Justiça, a participação consultiva nas mais variadas instâncias que permitam a sociedade civil acionar o Ministério Público. Para tanto, foram visitadas 26 comarcas, ouvidos 23 Promotores de Justiça e analisados procedimentos (estabelecidos no período de 2004-2006) de 24 comarcas distribuídas por todo o CCMAB. Foram entrevistados sete informantes-chave escolhidos entre representantes da sociedade civil e do poder público, por serem atuantes em prol da defesa ambiental em duas comarcas distintas. Para a realização das entrevistas foi utilizada a metodologia da História Oral e para o tratamento destas, o Discurso do Sujeito Coletivo – DSC. Foi constatado que é insuficiente a interação entre o MP e os conselhos municipais de meio ambiente, apesar de haver um número considerável de Promotores que mantém contato com organizações não-governamentais ambientalistas para atuarem na defesa ambiental. Por outro lado, há pouco esforço por parte da sociedade civil organizada em demandar ações de interesse conservacionista para o MP. Conclui-se que é tímida a relação entre os representantes da sociedade civil e os membros do MP, e que estes ainda não interagem de forma construtiva com a sociedade civil na perspectiva na conservação ambiental. Palavras-chave: Corredor Central da Mata Atlântica, Unidades de Conservação, Ministério Público, Sociedade Civil.

ABSTRACT

The proposal of the present article was to research the relationship between civil society and the Ombudsman in 26 judicial districts within the Atlantic Forest's Central Corridor, in Bahia (CCMAB), specifically those which have Units of Conservation established within their jurisdiction. The analysis focused on, besides the efforts of the Justice Promoters, the consultative participation in the various instances which permit civil society to trigger the actions of the Ombudsman. To this end, 26 judicial districts were visited and 23 Justice Promoters were heard, and the procedures of 24 of the judicial districts distributed within the CCMAB. Seven key informants were interviewed, chosen from the representatives of civil society and public authorities, given their efforts in favor of environmental defense in two different judicial districts. The Oral History methodology was used in the interviews, which were examined with the Discourse of the Collective Subject (DCS). It was observed that the interaction between the Ombudsman and the municipal environmental councils was not sufficient, even though there was a considerable number of Promoters who maintain contact with environmental NGOs in order to act in favor of environmental protection. On the other hand, organized civil society shows little effort in demanding the Ombudsman to start environmental protection action suits. It can be concluded that the relationship between the representatives of civil society and members of the Ombudsman is timid, and that the Ombudsman does not interact in a constructive manner with civil society with a perspective of environmental protection. Key words: Central Corridor of the Atlantic Forest, Conservation Units, Ombudsman (Ministério Público), Civil Society

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INTRODUÇÃO

Falar em redemocratização nesse país é remeter o estudo a um trecho histórico marcado pelas

inovações jurídicas constitucionais na década de 80. Inovações que também abraçaram o Ministério

Público - MP, redesenhando sua relação com a sociedade civil e com a questão ambiental.

No dizer de Riciotti (2004): Até a fase anterior à Constituição de 1988, o que caracterizava o Ministério Público era o seu monopólio sobre a ação penal pública, e a atuação custos legis, ou fiscal da lei, o que lhe emprestava uma conformação singela, se comparada a sua atual estrutura legal, acompanhada das imensas e complexas atribuições, que hoje lhe são conferidas (RICIOTTI, 2004).

O mesmo autor afirma que a grande inovação do Texto Constitucional de 1988,

indubitavelmente, foi a legitimação atribuída ao Ministério Público nas denominadas ações civis

públicas, para proteção dos interesses da tutela coletiva, alterando a realidade vigorante que as previa

somente no Código de Processo Civil, e nos avanços da Lei n.º 7.347/85 (Ação Civil Pública -

LACP).

Para Lyra (2002) a fonte que gerou as práticas participativas, que hoje integram a

institucionalidade jurídico-política brasileira, foi a luta pela redemocratização, marcante nos anos

setenta, e que teve no “novo sindicalismo” e nos movimentos sociais emergentes os seus mais

notáveis protagonistas. Surge, então, a expressão “Ministério Público Social” citado por Riciotti

(2004) como “fruto do trabalho profícuo de líderes classistas do período pré-assembléia nacional

constituinte”, que no parecer de Silva (2001) acabou combinando elementos da democracia

representativa com a democracia participativa. Nessa direção Bobbio (1986) sustenta que a

ampliação dos direitos políticos da sociedade e os mecanismos de participação social nos regimes

democráticos estão pautados no alargamento participativo.

Nesse mesmo esteio, Dinamarco (2001) faz menção à importância da participação social no

processo de ampliação democrática, quando explana sobre os efeitos da participação judicial.

Contudo destaca que esse tipo de participação popular só é efetivo quando cumpre: (i) a sua função

jurídica, de realizar o direito; (ii) a sua função social de educar a sociedade para o exercício e o

respeito aos direitos; e ainda (iii) a sua função política de se configurar como um canal para a

participação comum nos destinos da sociedade.

É fato que o Ministério Público diminuiu a distância entre a justiça e a sociedade civil,

mediante a LACP, e passou a ser olhado como uma “Instituição participativa”, que na visão de

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Rousseau (1968), citado por Pateman (1992), tem a função central de ser educativa. Para Rousseau

esse é o sistema ideal e é concebido para desenvolver uma ação responsável, individual, social e

política como resultado do processo participativo.

A Cultura Cívica (The Civic Culture) de Almond e Verba (1965), por Pateman (1992),

observam: Que a participação política em nível local tem um papel fundamental no desenvolvimento de uma cidadania competente. Como sustentaram esses escritores, o governo local pode funcionar como um campo de treinamento para competência política. Onde o governo local permite a participação, ele pode estimular um senso de competência que então se proteja em nível nacional.

A escolha por esse tema dá-se porque, desde a Constituição de 1988, o debate em torno da

democracia participativa vem crescendo, ou seja, sendo encarado como a possibilidade do

aprimoramento de uma democracia social.

Neste esteio os chamados movimentos sociais (organizações não-governamentais – ONG,

conselhos, associações) vêm desde a década de 70 no Brasil, como um papel forte na conformação da

política ambiental. Mais recentemente, após a constituição de 1988, quando da promulgação da Mata

Atlântica como patrimônio natural, as ONG têm se apresentado como entes estratégicos no processo

de mobilização da população, com vistas a conscientizá-las da necessária proteção desse bioma

(CUNHA, 2004).

Em nível nacional sabe-se que as ONG têm proposto políticas públicas e participado da

elaboração de importantes instrumentos legislativos, tais quais: Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605

/ 1998), Lei do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Lei 9.985 / 2000) e decreto que

regulamentou o Código Florestal (Lei 4.771 / 1965). Também é fato conhecido que estas realizam

campanhas de mobilização, divulgam informações, noticiam danos ambientais, executam projetos e

participam de conselhos de defesa ambientais (ARAÚJO, 2004).

Pretende-se estudar o MP não só como guardião do patrimônio ambiental, mas como operador

que amplia a democracia participativa quando atua como peça jurídica importante para aproximar a

sociedade civil do sistema judicial.

A proposta do presente trabalho é pesquisar a relação entre a sociedade civil e o MP em 26

comarcas, no âmbito do Corredor Central da Mata Atlântica na Bahia, que tenham Unidades de

Conservação estabelecidas em seus limites jurisdicionais. Para tanto avaliou-se a participação

consultiva nas mais variadas instâncias que permitam a sociedade civil acionar o Ministério Público.

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O foco da pesquisa são as formas e os espaços de articulação do MP com os sujeitos sociais,

mediante instrumentos de socialização da justiça para a defesa ambiental.

MÉTODOS

A área de estudo compreendeu toda a porção sudeste da Bahia, considerada um dos maiores

centros de diversidade e endemismos dentre as florestas tropicais do mundo e um dos maiores

remanescentes de floresta atlântica no Nordeste do Brasil (AGUIAR et al., 2005). O estudo focou 26,

dentre as 29 comarcas do Corredor Central da Mata Atlântica, nas quais se inserem unidades de

conservação e que fazem parte do Núcleo Mata Atlântica do Ministério Público – NuMA10. As 26

comarcas observadas foram: Valença, Camamú, Gandu, Una, Itabuna, Coaraci, Santa Cruz de

Cabrália, Prado, Alcobaça, Caravelas, Belmonte, Itapebi, Porto Seguro, Camacan, Ilhéus, Itacaré,

Itajuípe, Pau-Brasil, Santa Luzia, Nilo Peçanha, Taperoá, Wenceslau Guimarães, Ubaíra, Jequiriçá,

Ituberá e Buerarema. O Corredor Central da Mata Atlântica está localizado entre as coordenadas 13°

05’ e 18° 05’ de latitude Sul e 38° 50’ e 41° 33’ de longitude Oeste (LANDAU, RESENDE, 2003),

conforme ilustra a Figura 4.1:

10 Grupo especial de atuação formada por 110 Promotorias de Justiça, ao longo do litoral sul da Bahia. O NuMA está sistematizado em 06 Coordenações Regionais: Costa do Cacau, Costa do Descobrimento, Costa das Baleias, Costa do Dendê, Costa do Cacau, e Baía de Todos os Santos.

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Figura 4.1: Limites do CCMA e Comarcas nas quais se inserem UC. Fonte: Instituto Floresta Viva, 2008

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A pesquisa fez uma análise descritiva da relação entre o Ministério Público e a Sociedade

Civil, a partir de dados coletados em quatro comarcas: Valença, Camamú, Nilo Peçanha e Ituberá.

Tais comarcas foram escolhidas porque acolhem em seus limites de jurisdição sete Unidades de

Conservação, a maioria Área de Proteção Ambiental - APA: APA Baía de Camamú, APA Municipal

da Cachoeira da Pancada Grande, APA das Ilhas Tinharé / Boipeba, APA de Guaibim, APA do

Pratigi, e Reserva Particular de Patrimônio Natural Água Branca. As quatro comarcas respondem por

outros municípios: Tancredo Neves, Piraí do Norte, Cairú e Igrapiúna, sendo que estes três últimos

também inserem em seus limites territoriais parte de unidades de conservação listadas acima.

Apesar de terem sido visitadas 26 comarcas, foram realizadas 23 entrevistas semi-estruturadas

com cada um dos Promotores de Justiça, vez que dois destes atuavam em duas comarcas

simultaneamente. Importante observar que das 24 comarcas em que foram realizadas as análise dos

procedimentos, em quatro delas os Promotores de Justiça informaram não haver nenhum

procedimento de defesa ambiental no intervalo de 2006 a 2007. Também foram realizadas sete

entrevistas semi-estruturadas com representantes da sociedade civil: (i) quatro conselheiros

municipais de meio ambiente, sendo um deles secretário municipal de meio ambiente, e outro

integrante do Subcomitê da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica; (ii) um gestor público municipal;

(iii) um funcionário do IBAMA; e (iv) um representante de uma organização não-governamental.

A análise dos procedimentos via judicial (Ação Civil Pública - ACP, Transação Penal, Ação

Penal Pública - APP, Denúncia Criminal – DC) e via extra-judicial (Termo de Ajustamento de

Conduta- TAC e Inquérito Civil – IC, Requisição de Inquérito Policial – RIP, Proposta de Transação

Penal – PTP, Audiências Públicas, formulação de políticas e legislação, recomendações, participação

em conselhos municipais de meio ambiente), visaram constatar se o MP age por iniciativa própria em

prol da seguridade ambiental ou age quando é acionado pela sociedade civil.

A História Oral foi o método utilizado para obter informações a partir de fontes primárias,

neste caso, porque permite a compreensão de um pretérito ainda não registrado em documentos e

privilegia a aproximação do pesquisador com seu objeto de estudo a partir de entrevistas (ALBERTI,

2004).

Foram construídos três roteiros de entrevistas semi-estruturadas: (i) para o Promotor de

Justiça, conforme demonstra o Quadro 4.1; (ii) para conselheiro de meio ambiente, conforme

demonstra o Quadro 4.3; (iii) para outras representações da sociedade civil e organizações

governamentais, conforme demonstra o Quadro 4.5.

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Quadro 4.1. Roteiro básico das entrevistas semi-estruturadas aplicadas para os Promotores de Justiça

lotados nas comarcas.

Entrevista com Promotores de Justiça

1. Os Conselhos Municipais daqui atuam?

2. Vossa Excelência conhece algum conselheiro de meio ambiente? Caso afirmativo (SIM):

Nome:

3. Algum Conselho Municipal de MA (município) já procurou o MP este ano?

Quantas vezes?

Quando?

Para que? (em que circunstâncias?)

4. A sociedade civil procura o MP?

5. A sociedade civil acompanha o MP na defesa do meio ambiente (audiência pública,

reunião)? Ou atende quando é solicitada pelo MP?Vossa Excelência conhece algum

representante da sociedade civil?

6. Caso afirmativo (SIM):

Nome: Fonte: Dados da Pesquisa.

Assim, na dimensão descritiva, analisando os discursos do conjunto de Promotores seria

possível verificar a interação entre o MP e a sociedade civil, conforme Quadro 4.2:

Quadro 4.2. Perguntas norteadoras para avaliação do Ministério Público, a partir do Discurso do

Sujeito Coletivo- DSC

PERGUNTA (S) PROPÓSITO DA PERGUNTA

2, 4 e 6 O ministério público tem a iniciativa de interagir e se

articular com a sociedade civil.

1, 3 e 5 A sociedade civil tem iniciativa de se interagir com o

Ministério Público. Fonte: Dados da Pesquisa.

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Quadro 4.3. Roteiro básico das entrevistas semi-estruturadas aplicadas para os conselheiros de meio

ambiente.

Entrevista com os conselheiros municipais de meio ambiente – CMMA

1. O Conselho Municipal de direitos da criança daqui atua? Os conselhos daqui atuam?

2. A comunidade sabe distinguir entre Conselho Municipal de direitos da criança e Conselho

tutelar?

3. O senhor conhece o Promotor de Justiça? Em caso afirmativo (SIM):

a. Nome:

b. Local onde trabalha:

4. Conselho Municipal de MA (município) já procurou o MP (Promotor de justiça: nome)

este ano? Quantas vezes? Para que? (em que circunstâncias?)

5. Como você fez para encontrar o Promotor? (o iter, ou seja o acesso)

6. O Conselho Municipal de MA sabe qual o trabalho do MP? Dê exemplo?

7. Tem mais algo a declarar?

Natureza Orgânica do CCMA

8. Lembra-se do que constou na última ata de reunião? Sim ( ) não ( ) não sabe dizer ( )

9. Lembra-se o que constou na última ata de reunião? Sim ( ) não ( ) não sabe dizer ( )

Lembra-se da data última reunião? Sim ( ) não ( ) não sabe dizer ( ) Fonte: Dados da Pesquisa.

Analisando, por sua vez, os discursos do conjunto de conselheiros de meio ambiente seria

possível verificar se há iniciativa de interação do conselho de meio ambiente com as demais

representações da sociedade civil e com o MP, conforme demonstra o Quadro 4.4:

Quadro 4.4. Perguntas norteadoras para avaliação dos conselheiros de meio ambiente, a partir do

Discurso do Sujeito Coletivo - DSC.

(Continua)

PERGUNTA (S) PROPÓSITO DA PERGUNTA

1 O conselheiro de meio ambiente se interage com

representações da sociedade civil de mesma

natureza.

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(Conclusão) PERGUNTA (S) PROPÓSITO DA PERGUNTA

2 O conselheiro de meio ambiente percebe as

limitações da sociedade quanto ao entendimento que

possuem sobre o papel do conselheiro municipal de

qualquer natureza.

3 e 4 O conselheiro se interage com o Ministério Público

5 O conselheiro tem acesso fácil ou não ao Promotor

de Justiça da comarca que atua.

6 O conselheiro entende e sabe sobre a função

constitucional do Promotor de Justiça, e se sabe

como recorrer a este.

1 e de 8 a 12 O conselho em que se integra é atuante e tem

estrutura mínima necessária para o exercício da

função. Fonte: Dados da Pesquisa

A inserção destas perguntas na entrevista está relacionada, também, à investigação em face

dos seguintes aspectos:

a) analisou-se, a partir do nível de informação dos conselheiros, o próprio trabalho do MP ali

refletido. Investigou-se o MP, a partir dos parceiros, posto que, se não reconhecido o MP enquanto

órgão de fiscalização para proteção ambiental está caracterizado uma inobservância.

b) analisou-se, a partir do nível de informação dos conselheiros, o próprio trabalho do MP ali

refletido. Investigou-se o MP a partir dos parceiros, posto que, se não reconhecido o MP enquanto

órgão de fiscalização, este MP não atua enquanto agente educador.

c) identificou-se a tendência do CMMA em relação às possíveis parceiras e elaboração de

plano de ação.

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Quadro 4.5. Roteiro básico das entrevistas semi-estruturadas aplicadas para os outros representantes

da sociedade civil e organizações governamentais.

Entrevista com os outros representantes da sociedade civil

1. A sua instituição já procurou o MP este ano? Quantas vezes? Em quais circunstâncias?

2. A sociedade civil acompanha o MP na defesa do meio ambiente (audiência pública,

reunião)? Ou atende quando é solicitada pelo MP?

3. Vossa Senhoria conhece o Promotor de Justiça? Caso afirmativo (sim):

a. Nome:

b. Local onde trabalha:

4. Vossa Senhoria se lembra de algum caso recente em que tenha agido em prol da defesa

ambiental?

5. Fale um pouco sobre a sua impressão quanto à atuação do Ministério Público na área

ambiental.

Você, como representante da sociedade civil, sabe qual o trabalho do MP? Dê exemplo?

Fonte: Dados da Pesquisa

Quanto à análise dos discursos do conjunto de representantes de outros segmentos da

sociedade civil seria possível verificar se ela conhece o papel do MP na defesa ambiental e como

percebe a atuação desse órgão, conforme descreve o Quadro 4.6:

Quadro 4.6. Perguntas norteadoras para avaliação dos representantes da sociedade civil e

organizações governamentais, a partir do Discurso do Sujeito Coletivo – DSC

PERGUNTA (S) PROPÓSITO DA PERGUNTA

1,2 e 3 A sociedade civil se interage com o MP para a defesa

ambiental

1, 2 e 4 O MP age por iniciativa em prol da seguridade

ambiental ou age quando é acionado pela sociedade

civil.

5 O MP é atuante na área ambiental

6 A sociedade civil sabe qual é a função do MP. Fonte: Dados da Pesquisa.

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A metodologia escolhida para tratar os dados, o Discurso do Sujeito Coletivo – DSC se

propõe a reconstruir, com fragmentos de discursos individuais, o discurso síntese necessário para

expressar a representação social de um fenômeno, configurado aqui como a atuação do MP na visão

da sociedade civil.

O Discurso do Sujeito Coletivo, segundo Lefreve e Lefreve (2005), é redigido na primeira

pessoa do singular e compõe-se de: (i) expressões-chave ou transcrições literais do discurso; (ii) idéia

central que é um nome ou expressão lingüística para revelar mais fidedignamente possível o sentido

de cada um dos discursos analisados; e (iii) da ancoragem, que é uma manifestação explícita de

ideologia ou teoria ou crença usada para enquadrar uma situação específica (LEFEVRE; LEFEVRE,

2005).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Em entrevista com os Promotores de Justiça tem-se que, apesar da maioria destes (seis) ter

afirmado que os conselhos municipais não atuavam ou quatro afirmarem que não existiam conselhos

de meio ambiente em suas comarcas, em resposta a pergunta 01, três expressaram em seus discursos

que mantinham contato direto com os conselhos de meio ambiente (conforme a Figura 4.2). Há um,

inclusive, que é membro ativo do conselho da comarca em que atua e outro que recebe com

freqüência informações de conselheiros para subsidiar a ação ministerial.

Sim31% Não

26%

Não respondeu17%Não soube

responder9%

Não existe conselho

17%

Figura 4.2: Conhecimento quanto à existência de Conselho de Meio Ambiente.

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Nestes termos, observa Capelli (2003) que o Ministério Público tem cada vez mais destacada

a sua função de tutela ambiental extra-judicial, citando a participação dos membros desse órgão

também em conselhos, conforme prevê a recente edição do Decreto Federal n.º 3942 do CONAMA.

Este dá assento ao Ministério Público Federal e Estadual no plenário, com voz ativa, mas sem direito

a voto.

No entanto, Furriela (2002), em estudo sobre a participação social na gestão ambiental do

Estado de São Paulo, pontua que há reservas por parte de alguns segmentos do governo ou da

sociedade civil quanto à participação dos Promotores de Justiça no Conselho de Meio Ambiente. Em

entrevistas, representantes desses segmentos apresentaram os seguintes argumentos: (i) o MP é um

órgão de fiscalização da aplicação das leis, sendo um contrasenso este participar de uma instância do

executivo; (ii) se o MP se abstém do voto, alegando necessidade de manter isenção, não há razão para

participar do conselho; (iii) por ser um órgão governamental, com dotação orçamentária, não poderia

estar representado como sociedade civil; e (iv) o discursos persuasivo, extremamente legalista e de

pouco conhecimento da maioria, influencia a decisão dos outros conselheiros na votação.

A despeito da pergunta sobre a atuação dos conselhos de meio ambiente, dos 23 Promotores

entrevistados, quatro não souberam responder e dois não tinham conhecimento da existência dos

conselhos de meio ambiente. Houve oito dentre os Promotores entrevistados que destacaram como

mais atuantes os conselhos de educação, saúde, assistência social, tutelar, e da criança e do

adolescente. Um dos entrevistados alertou que a existência destes se dava sob a pena do município

não receber recursos carimbados, a exemplo do Fundo de Participação da Educação Básica –

FUNDEB, ou de recursos de Programa de Saúde da Família – PSF, ou de Assistência Social.

Há que se registrar que entre os entrevistados alguns relataram envolvimento com conselhos

de outras naturezas, tal qual o da Criança e Adolescente, demonstrando preferência ou afinidade por

outras áreas de atuação. Denota-se aqui que menos da metade dos Promotores demonstraram

envolvimento com os conselhos de meio ambiente, tanto que desses sete conselhos que estes julgam

atuar, apenas três promotores conhecem algum conselheiro de meio ambiente. Contudo, seis destes

operadores de direito citam que o conselho de meio ambiente procura o MP com freqüência.

Ainda, com base nos depoimentos dos Promotores, também as demais representações da

sociedade civil - SC, que não os conselhos municipais, não procuram o MP. Este saldo aumenta

porque das 23 comarcas observadas, existem aquelas em que não há nenhuma expressão de

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manifestação da sociedade civil, nem de conselhos, tampouco de ONG. Todavia, apesar desse baixo

saldo da atuação da SC junto ao MP, constata-se que das representações que acionam o MP, a

maioria o faz espontaneamente conforme demonstra a figura 4.3.

Sim, provocado pelo MP

23%

Não23%

Não soube responder

9%

Sim, espontaneamen-

te45%

Figura 4.3: A SC acompanha a atuação ministerial segundo DSC dos Promotores de Justiça

Outra constatação da pesquisa, a partir do depoimento dos Promotores, é que há um número

significativo deles que mantém contato com organizações não - governamentais ambientalistas para

facilitar a atuação ministerial (Figura 4.4). Um Promotor, inclusive, denominou a sociedade civil

como parceira na comarca em que atua. Outro relata que, a fim de conter a demanda, convocou

representantes da sociedade civil para conhecer a estrutura da comarca e verificar as dificuldades

desta, fatores limitantes para o cumprimento da missão institucional. Importa constar que embora

57% dos Promotores entrevistados tenham citado as ONG ambientalistas quando questionados se

conheciam ao menos um representante da sociedade civil, 17% não souberam citar o nome da

instituição, nem tampouco o nome de algum representante.

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Sim. Citou ONG ambientalista

40%

Sim. Citou pessoa física sem vínculo

institucional13%

Sim. Citou nome de representantes

e instituições17%

Não soube responder

13%Sim. Não soube dizer o nome de

representantes ou instituições

17%

Figura 4.4: Conhecimento do Promotor de Justiça de ao menos um representante da sociedade civil.

É o que demonstra o discurso:

DSC

“Sim. Conheço membros da Universidade Livre do Meio Ambiente, representantes do SAAG,

Associação de Moradores de Boipeba, Associação de Moradores de Gamboa; o Presidente da

Anchova, representantes das associações dos povoados de Tachos e a outra no povoado de Paulista,

Grupo Ambiental Sapucaia, Flora Brasil, IESB, Floresta Viva, a PLB, Movimento Negro, o Pau -

Brasil, CMDCA, um centro de recuperação de pessoas viciadas em drogas, a Igreja, os três órgãos

de defesa, e o pessoal da área de saúde que realmente se importa com a defesa ambiental”.

Em análise ao discurso do sujeito coletivo dos conselheiros de meio ambiente, constata-se a

inexistência de interação destes com conselheiros de outras pastas, configurando assim, em

desarticulação institucional e negligência quanto ao papel de agentes educadores. Ainda, não sabem

ao certo se a sociedade reconhece o seu papel e sabe da sua importância, como também de

conselheiros de outras pastas, para a ação protetiva do meio ambiente. Embora o conselheiro de meio

ambiente saiba da função ministerial na defesa ambiental, não se interage com o Promotor. Um dos

fatores que parece contribuir para esse distanciamento entre sociedade civil e Ministério Público é a

dificuldade que estes representantes da sociedade possuem em acessar o Promotor de Justiça na

comarca menos atuante.

Em resposta a pergunta 07 tem-se como DSC:

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“Eu gostaria que o MP fosse um pouco mais próximo do IBAMA, do delegado de polícia, das

autoridades constituídas desse município. Gostaria que o MP fosse mais atuante dentro do nosso

município”.

Nesta comarca a mesma dificuldade de acesso ao MP se dá se dá na relação com a sociedade

civil, conforme o DSC denota:

“Temos muita dificuldade de acesso e o MP aqui não atua na área ambiental, não apóia as

iniciativas do governo e nem tampouco da sociedade civil”.

Contudo, ao contrário da sociedade civil, o Poder Executivo em 2007, conforme declaração

dos depoentes, procurou seis vezes o MP para: (i) auxiliar na contenção de construção civil em

manguezal, mediante ajustamento de conduta; e participar: (ii) da comissão municipal de contenção

de loteamento clandestino; (iii) da reunião de formação do conselho municipal de segurança pública;

(iv) das conferências: do direito da criança e adolescente, municipal da cidade, municipal de saúde;

(v) eventos da elaboração do Plano Diretor da cidade.

Segundo o discurso coletivo dos conselheiros de meio ambiente não há qualquer estrutura

para o bom funcionamento do CODEMA. A estrutura de apoio é do órgão ambiental municipal

destituído de orçamento próprio. Houve um único conselheiro que soube citar a Lei municipal que

criou o conselho e nenhum se recordou da data da última reunião e nem tampouco do assunto que

constou em Ata. Nenhum dos dois conselhos tem plano de ação estabelecido para o exercício das

atividades.

Na comarca que evidencia maior atuação o informante-chave observa que a atuação do

Promotor na área ambiental se torna mais expressiva quando sua promotoria é especializada e

específica para a defesa ambiental. Ao passo que os promotores de justiça que não atuam em

promotorias especializadas, mormente nas comarcas que existe apenas uma Promotoria de atuação

geral, dão prioridade a área criminal.

Esta pesquisa contabilizou em sua coleta de campo 337 processos ao todo, contudo não foi

possível inferir a respeito da participação da sociedade civil quanto à produção de provas ou

comunicação ao MP sobre os crimes ambientais em cinco termos circunstanciados, 17 denúncias

criminais e nove inquéritos policiais. Destes, os pesquisadores não tiveram acesso aos processos.

Somente obtiveram dois relatórios provenientes de duas comarcas distintas constando informações,

tais quais: (i) número do processo; (ii) indiciado; (iii) data de entrada; (iv) data da denúncia; (v)

tipificação do crime; e (vi) natureza da via judicial ou extra-judicial.

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Em análise aos 306 procedimentos verificou-se que daqueles em que eram necessárias à

produção de provas de danos ou ameaças de danos ambientais: três foram produzidas por ONG; três

por associações comunitárias; 15 por pessoas físicas; seis por comunidades não-organizadas; três por

conselhos de defesa de meio ambiente; um por ONG em conjunto com o poder executivo de defesa

ambiental; e três por ONG em conjunto com pessoa física.

Ainda que a legislação brasileira incorpore em seu bojo o conceito de participação por meio

das instituições da sociedade civil, denota-se incipiência nos conselhos e comitês, fraca organização

da população (ARAÚJO, 2004) e carência de técnicos e estrutura nas ONG (IESB, 2003).

PRODUÇÃO DE PROVAS

72%

3%

7%

7%4% 3%2%1%1%

IBAMA

Prefeitura e Câmara devereadores

Polícias civil e militar

Ministério Público ouCEAMA

Órgão federal de fiscalização

órgão estadual

MP e IBAMA

CEAMA e MP

IBAMA, Polícia Militar eMinistério Público

Figura 4.5: Agentes autores da produção de provas de dano ou ameaça de dano ambiental.

Comparando o saldo de atividades (produção de provas) da sociedade civil ao saldo gerado

pelo poder público nota-se uma tímida parceria daqueles com o Ministério Público. O poder

executivo ainda é quem mais gera provas para viabilizar o exercício ministerial. É o que consta nos

números (Figura 4.5), pois dos 273 procedimentos, em 178 houve produção de provas pelo poder

público, a saber: 129 do IBAMA; seis das prefeituras e câmaras de vereadores; 12 da polícia civil e

militar; 12 MP ou Centro de Apoio Operacional as Promotorias de Justiça do Meio Ambiente -

CEAMA; sete de órgãos federais de fiscalização (Departamento Nacional de Produção Mineral -

DNPM, Ministério da agricultura - MA, Gerência Regional de Patrimônio da União - GRPU,

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Comissão Executiva de Pesquisa da Lavoura Cacaueira - CEPLAC); seis de órgãos estaduais de

fiscalização (Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia - ADAB e Centro de Recursos

Ambientais - CRA); quatro do MP juntamente com o IBAMA; um do CEAMA e MP; e um do

IBAMA, MP e Polícia Militar, conjuntamente.

Tal constatação confirma a observação de Capelli (2003) de que o Ministério Público, no

âmbito do inquérito civil, vale-se de provas requisitadas a órgãos públicos que exercem o poder de

polícia administrativa ambiental (CAPELLI, 2003).

Também essa pesquisa constatou que na área de estudo em questão é o poder público que

mais comunica os delitos (Figura 4.6), visto que se tem registrado nos procedimentos apenas 39

notícias de crime advindas dos diferentes segmentos da sociedade civil: 11 de pessoa física, 15 de

comunidade, um da Câmara de Dirigentes Logistas - CDL, um do setor educacional, cinco de

associação de moradores em conjunto com outros, dois de ONG, três de pessoa física, conjuntamente

com ONG e moradores, e um de ONG em parceria com o IBAMA.

28%

37%

3%3%

13%

5%8% 3%

Pessoa física

Grupo de moradores

Câmara de Dirigentes Logistas

Colégio Municipal

Associação de moradores e outros

ONGS

Polícia Federal, ONGS emoradores

ONG e IBAMA

Figura 4.6: Notícia do dano ou ameaça do dano ambiental pela sociedade civil.

Considerando o universo da pesquisa destaca-se que a participação da sociedade civil

organizada por meio de ONG e/ou Igreja, Associações e/ou CMMA foi irrelevante. Embora 28% das

notícias e/ou queixas relativas às ameaças ou riscos ambientais cheguem ao MP mediante de pessoas

físicas, este volume de um quarto das comunicações revela a atuação individual do morador,

descolada do tecido de natureza associativa, assim como da vocação do capital social.

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É a mesma lógica de passividade da atuação da sociedade civil no enfrentamento dos

problemas ambientais descrita por Jacobi (1996). É o que autor observa mediante a pesquisa

intitulada “Meio Ambiente e Qualidade de Vida domiciliar na cidade de São Paulo”. Em entrevista

com os moradores da cidade para saber qual era o meio de ação mais efetivo para resolver os

problemas ambientais, o saldo da opção pela ação comunitária foi sete vezes menor que a opção

Estado. Constatou-se, dessa forma, um baixo nível de referência dos entrevistados ao exercício de

reivindicação e denúncias, que se traduzem em organização coletiva.

As comunicações formais geradas pela sociedade civil, nas diferentes comarcas, têm

características comuns, pois são em sua maioria danos relativos a saúde humana, ou danos “por

intermédio” do meio ambiente que Mirra (2004) bem define como:

Prejuízo causado às pessoas e aos seus bens que tem em alguns dos componentes da natureza (a água, o ar, o solo) o elemento condutor. O meio ambiente e os bens ambientais aparecem, assim, como os vetores responsáveis pela ligação do fato danoso e dos danos causados aos particulares ou às pessoas de direito público, no que concerne ao seu patrimônio próprio e individual, ou entre o fato danoso e os danos causados aos bens materiais integrantes do patrimônio público atrelado a uma pessoa jurídica de direito público.

Reforça o autor que o dano “por intermédio” do meio ambiente não é, de forma alguma, um

dano ecológico, mas puramente um prejuízo causado a pessoas físicas e jurídicas, nos seus

patrimônios individuais, nos bens patrimoniais sujeitos à sua tutela ou, ocasionalmente, em sua esfera

extrapatrimonial pessoal, seja por atividades poluidoras ou por atividades degradadoras da qualidade

ambiental.

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90

60%

6%

16%

3%3%

9% 3%

Poluição sonora

Poluição de corpos d´água

Desmatamento

Lixão

Invasão de manguezal

Atividades sem licençaambiental

Cortes de árvores em espaçopúblico

I

Figura 4.7: Tipos de danos noticiados pela sociedade civil.

Posto isto, tem-se que de 32 procedimentos, apenas dez noticiavam crimes que não diziam

respeito a saúde humana, diretamente (Figura 4.7). Os demais assim se distribuíram: 19 comunicados

de poluição sonora, um de poluição hídrica, um de depósito de lixão e um de irregularidade em

estação de tratamento de esgoto. Dos 39 procedimentos em que constavam os comunicados da

sociedade civil, em sete não estavam descritas a tipificação do dano ambiental.

Identifica-se, ainda, que a relação entre proteção ambiental e direito a saúde não é percebida na

perspectiva da cidadania pela sociedade civil. O conjunto da atuação da sociedade civil nesta região

analisada enquadra-se em um cenário de cidadania que sugere debilidade e baixa mobilização.

CONCLUSÃO

Da análise do acervo de entrevistas com os membros do MP e do conjunto de procedimentos

analisados, constata-se que, apesar do discurso coletivo dos Promotores de Justiça afirmar que há

contato entre o MP e as organizações não - governamentais ambientalistas, com vistas a facilitar a

atuação ministerial na defesa ambiental, a análise dos procedimentos constata que essa relação ainda

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é muito tímida. Esta timidez se caracteriza pela pouca aproximação da nova institucionalidade

democrática constituída pelo CMMA e também pela pálida referência do MP a qualquer organização

não-governamental relativa ao Meio Ambiente.

Apreciando o conjunto das entrevistas realizadas nos termos da metodologia supra

mencionada e na área identificada, constata-se que o MP, apesar da sua missão

institucional/constitucional em relação ao Estado Democrático de Direito, ainda não interage de

forma construtiva com a sociedade civil na perspectiva na conservação ambiental. Em que pese esta

articulação com a sociedade civil possa vir a ser implementada a partir do próprio ator social que

busca o MP com questões de risco ambiental concreto, constata-se que poucas vezes, no contexto

desta investigação, os entrevistados fizeram o movimento MP- sociedade civil na direção da

conservação dos bens ambientais.

Identificou-se, pois, uma frágil tendência do MP não ocupar o papel do Promotor como

agente educador. Tal qual é a iniciativa da sociedade civil em se interagir com o Ministério Público.

O conselheiro de meio ambiente não interage com os conselheiros de outras naturezas,

tampouco percebe que a sociedade tem entendimento limitado quanto à função dele como

conselheiro municipal. Ainda, o conselho não tem estrutura mínima necessária para o exercício da

função e não possui hábito em elaborar plano de ação.

Quanto a sua relação com MP, o conselheiro entende e sabe sobre a função constitucional do

promotor de justiça, contudo pouco interage e não tem acesso fácil a este.

Quanto ao discurso de outros representantes da sociedade civil e dos representantes

governamentais há consenso de que a sociedade tem consciência da função do MP. Na análise dos

procedimentos houve a constatação de que não é a sociedade civil que aciona o MP e nem tampouco

o MP age por iniciativa própria e sim reagindo a uma provocação do Poder Executivo.

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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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CAPÍTULO 5

SISTEMAS DE INFORMAÇÕES GEOGRÁFICAS: UMA FERRAMENTA PARA O

MINISTÉRIO PÚBLICO NA DEFESA DAS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

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RESUMO

Cuida esse artigo da análise da atuação ministerial na defesa das Unidades de Conservação - UC do Corredor Central da Mata Atlântica na Bahia, mediante um Sistema de Informações Geográficas, elaborado para armazenar e recuperar dados espaciais obtidos a partir de levantamentos realizados em 337 procedimentos do período de 2004-2006 em 24 comarcas, bem como informações de gestão ambiental dos municípios que as compõem. Outro objetivo foi efetuar um ensaio usando um registro da base de dados, georreferenciá-lo e sobrepô-lo à base cartográfica disponível para demonstrar e ilustrar as facilidades que o Promotor de Justiça poderá obter no emprego dessa ferramenta para a defesa ambiental. Constatou-se que os Promotores de Justiça têm dificuldade de acesso a informações concernentes às UC, à gestão municipal e aos órgãos de apoio a fiscalização e controle ambiental; que parte das UC tem seus perímetros estabelecidos em mais de uma comarca, necessitando da implantação de promotorias regionais de meio ambiente para estabelecer ações integradas. Identificou-se áreas focais em que o Estado ou não mantém estrutura de fiscalização ambiental ou mantém em condições precárias e comarcas que não dispõem de parceiros potenciais, principalmente do poder executivo para dar celeridade aos procedimentos estagnados referentes a infrações de cunho ambiental. Conclui-se que as informações ambientais necessárias para manusear as peças judiciais nas comarcas são insuficientes, prejudicando a composição civil e conseqüente reversão do dano ambiental; que 72% das denúncias criminais foram decorrentes de inquéritos policiais, a maioria requisitada pelo IBAMA; e que mais de 76% inquéritos civis demonstraram encontrarem-se estagnados. Palavras-chave: Mata atlântica, Ministério Público, Sistema de Informações Geográficas

ABSTRACT

This article analyses the ministerial actions in defense of the Conservation Units of the Central Corridor of the Atlantic Forest in Bahia, by means of the Geografical Information System (SIG), which was established in order to store and retrieve space data obtained from surveys of 337 procedures in the period between 2004 and 2006 in 24 judicial districts, as well as information of environmental management of the municipalities which, together, make up the judicial district. Another objective was to do an experiment utilizing records from the database, which were then georeferenced and overlayed on the map available to demonstrate and illustrate the conveniences that the Justice Promoter may obtain in the utilization of this tool for environmental protection. It was observed that the Justice promoters have difficulty in the access of information relating to the Units of Conservation, to the municipal management and to the organizations of environmental monitoring and control; that some of the Units of Conservation have their perimeters established in more than one judicial district, demanding the establishment of regional promoter environmental offices to perform coordinated actions. Focal areas were identified in which the State has no environmental monitoring structure or else has one, but in precarious conditions, as well as judicial districts which have no potential partners, especially in the executive branch of government, in order to speed up the stagnant procedures in relation to environmental infractions. It can be concluded that the environmental information necessary to handle the judicial action suits within the judicial districts are not sufficient, undermining the civil configuration and the possibility of reversing the environmental

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damage; that 72% of criminal accusations were derived from police investigations, most of them requested by IBAMA; and that more than 76% of civil inquiries are at a stand still. Key Words: Atlantic Forest, Ombudsman, Geografical Information Sistem

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INTRODUÇÃO

A Agenda 21 Brasileira elegeu como um dos temas prioritários a gestão dos recursos naturais,

delineada sob a égide de estratégias, tal qual o estabelecimento de normas e medidas de controle de

qualidade ambiental (MMA, 2002). Uma dessas medidas é o desenvolvimento de atividades com a

participação do Ministério Público (Federal e Estaduais) na fiscalização do uso dos recursos naturais,

a partir de instrumentos de gestão (inquérito civil - IC, ação civil pública - ACP, termos de

ajustamento de conduta - TAC) e na aplicabilidade da legislação vigente, com reparação dos danos.

Contudo, para que o Promotor de Justiça cumpra a função de fiscal da Lei prescinde que o órgão

disponha de uma base de dados permanente e atualizada com registros dos atores sociais, das

ameaças e dos impactos ambientais, bem como das áreas prioritárias para a conservação no cenário

ambiental em que exerce sua função ministerial. A visão dentre alguns pares do Ministério Público

tais quais Guimarães Jr. (2001) e Mendes (2007) 11 é que a ausência de uma ferramenta para

viabilizar um diagnóstico dos principais problemas sociais em cada área de atuação institucional

inviabiliza a consecução de estratégias prioritárias de atuação.

Moreira (2006) salienta que os Promotores de Justiça, especialmente de 1ª entrância, têm

muita dificuldade em desenvolver os trabalhos forenses devido às inúmeras atribuições

constitucionais. Como “clínicos gerais” não há condições de entender a matéria ambiental com maior

profundidade, conforme consta Honorato et al. (não publicado). Daí decorre a dificuldade da

especialização em uma área tão importante como o meio ambiente em que a atuação do promotor

exige conhecimentos mais profundos, dada a complexidade das inter-relações decorrentes de atitudes

tomadas (MOREIRA, 2006).

Tais limitações dificultam o exercício ministerial para conhecer e monitorar, no campo, tanto

as agressões ambientais, quanto a observância das leis, resultantes das decisões judiciais. Uma das

ferramentas existentes para viabilizar tais necessidades consiste na montagem dos chamados

Sistemas de Informações Geográficas – SIG. Desta forma, o SIG se constitui em ferramenta

estratégica na atuação do poder público, visto que tem grande potencial de integração com modelos

ecossistêmicos podendo armazenar, manipular e visualizar quantidade expressiva de dados em um

contexto espacializado (PINA, CRUZ, MOREIRA, 2000). As diversas informações contidas no SIG

podem ser congregadas para resolver problemas de conservação, auxiliando na tomada de decisões,

11 Comunicação pessoal da autora (3 de abril de 2007).

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no manejo das espécies e da paisagem, e ainda, de maneira mais ampla, no delineamento de políticas

públicas (UEZU, 2006).

São os bancos de dados geográficos que armazenam os dados alfanuméricos tanto quanto a

localização (pares de coordenadas geográficas) desses dados. Estes são estruturados na forma de

projetos, cuja composição se resume em um conjunto de Planos de Informação (PI), suporte para os

diferentes tipos de dados, e em um ambiente que permite importação, digitalização e edição

(MOREIRA, 2003). A constituição desse sistema geográfico concederia acesso rápido e atualizado de

informações estratégicas para punir os infratores das normas jurídicas, tanto quanto para tornar as

condenações precisas para a recuperação do dano ambiental. Manipulando o SIG o Ministério

Público poderá, por exemplo, a partir de mapas digitais (vegetação, hidrografia, unidades de

conservação), gerar dados sobre conectividade e fragmentação de paisagens da Mata Atlântica.

Dados que, obtidos a partir do SIG, aliados ao sensoriamento remoto, poderão simular e até mesmo

prever cenários futuros resultantes de tomadas de decisão e determinações judiciais. Essa ferramenta

computacional permitirá ao Promotor de Justiça interagir com seus pares no momento em que tratar

de fiscalizar e controlar a aplicação das normas jurídicas em escala de paisagem, tais quais bacias

hidrográficas, unidades de conservação intermunicipais ou corredores ecológicos que perpassam suas

fronteiras de atuação jurisdicional.

Um dos objetivos desse trabalho foi o de analisar a atuação do Ministério Público mediante

uma base de dados construída no ambiente de um Sistema de Informações Geográficas – SIG, que

permite obter fácil e rápido acesso aos atributos das 24 comarcas observadas neste trabalho,

principalmente dos procedimentos e processos. Tais atributos estão apresentados em um conjunto de

tabelas relacionadas que facilitam o acesso a informações para descrever entidades (24 comarcas) do

mundo real (JACINTHO, 2003). Importa ressaltar que foram levantados procedimentos do período

de 2004-2006.

Em entrevista semi-estruturada com 23 Promotores para diagnosticar a análise da atuação do

Ministério Público no Corredor Central da Mata Atlântica, conforme Honorato et al. (não publicado),

resultou que apenas 12 Promotores de Justiça lembraram da existência de ao menos uma unidade de

conservação, quando estimulados a dizer se existiam áreas protegidas inseridas em suas comarcas. O

trabalho de campo aqui citado também deflagrou que raros são os promotores que têm acesso fácil a

esse tipo de informação. Exceto aqueles que já têm a prática de integração com organizações não-

governamentais e agências ambientais em campanhas coletivas para atividades de cunho ambiental,

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especialmente as de fiscalização e incentivo a observância das reservas legais, previstas no Código

Florestal (Lei 4778/64). Justifica-se assim, construir uma tabela de atributos - UC do CCMAB. Outro

objetivo é efetuar um ensaio com um registro referente aos procedimentos da comarca de Itacaré, em

que se insere a Área de Proteção Ambiental Costa de Itacaré – APA Itacaré – Serra Grande e

sobrepô-lo à base cartográfica disponível (comarcas, vegetação e hidrografia), a fim de demonstrar e

ilustrar as facilidades que o Promotor de Justiça poderá obter no emprego dessa ferramenta, tanto

para fiscalizar à aplicação das leis ambientais vigentes pelos entes federados do executivo (federal,

estadual e municipal), quanto para a defesa das unidades de conservação no Corredor Central da

Mata Atlântica na Bahia - CCMAB.

MATERIAL E MÉTODOS

O Corredor Central da Mata Atlântica - CCMA se estende por todo o Estado do Espírito

Santo até a porção sul da Bahia (BRASIL, 2005). Está localizado entre as coordenadas 13° 05’ e 18°

05’ de latitude Sul e 38° 50’ e 41° 33’ de longitude Oeste (LANDAU, RESENDE, 2003).

A área de estudo dessa pesquisa, porém, abrange somente a porção baiana do Corredor Central da

Mata Atlântica - CCMBA, que é composta por 76 municípios perfazendo uma área total de 77.851

Km² (Figura 5.1).

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Figura 5.1: Delimitação do Corredor Central da Mata Atlântica - CCMA Fonte: Floresta Viva, 2008

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Para realizar as análises espaciais foi estabelecido como universo da pesquisa as comarcas do

CCMAB, contendo em seus limites territoriais as unidades de conservação apresentadas em Mesquita

et al. (2004; 2007), sendo uma comarca12 definida como território ou a circunscrição territorial,

compreendida pelos limites em que se encerra a jurisdição de um Juiz de Direito (DE PLÁCIDO;

SILVA, 2001).

A pesquisa considerou para análise qualitativa somente as comarcas inseridas no CCMAB

que tivessem ao menos uma unidade de conservação dentro dos seus limites. Foram identificadas 29

comarcas (Figura 5.2) a partir do confronto entre os dados do diagnóstico das Unidades de

Conservação - UC de Mesquita et al. (2004) e os dados dos municípios inseridos na jurisdição de

cada comarca (BAHIA, 2006a).

12 As comarcas são classificadas, segundo sua importância, em entrâncias, sendo as de primeira entrância as menos importantes ou menores. Têm-se ainda comarcas de segunda e de entrância especial (também chamada de terceira entrância em alguns casos), tal qual a comarca da capital do estado (DE PLÁCIDO; SILVA, 2001).

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Figura 5.2: Delimitação das 29 comarcas observadas. Fonte: FLORESTA VIVA, 2008

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No entanto, esse Banco de Dados Cadastral foi construído sem as informações de cinco

comarcas: Ituberá, Buerarema, Uruçuca, Maraú e Ibirapitanga. Importa ressaltar que embora a

pesquisa envolvesse 29 comarcas, em quatro delas a pesquisadora ainda estava em fase de

negociação para a análise dos procedimentos e entrevistas com os Promotores de Justiça e uma não

aderiu a pesquisa.

As informações obtidas foram: (i) levantamento de procedimentos nessas comarcas; (ii)

observação presencial em oficinas ambientais realizadas pelo NuMA com os Promotores de Justiça;

(iii) entrevistas informais via telefone e correspondências eletrônicas; e (iv) pesquisas: bibliográfica,

documental e em sítios eletrônicos nas organizações não-governamentais e governamentais (federal,

estadual, e municipal). As informações obtidas foram introduzidas nas tabelas de atributos de cinco

Planos de Informação (PI) que compõem o SIG: (i) Áreas focais do CCMAB; (ii) Comarcas inseridas

em áreas focais; (iii) cobertura vegetal ; (iv) gestão municipal e órgãos de apoio a fiscalização e

controle ambiental; e (v) unidades de conservação. Os dados relativos à gestão das UC foram

extraídos do relatório técnico “Diagnóstico das unidades de conservação do Corredor Central da

Mata Atlântica” (MESQUITA et al., 2004). Cada PI contém uma tabela que descreve os atributos de

cada uma das feições representadas, fator que possibilita a execução de análises espaciais. A partir da

sobreposição desses PI, foi possível construir cartas – imagens para visualizar os polígonos ou

somente as coordenadas geográficas das UC, tanto de proteção integral quanto de uso sustentável,

dentro das 24 comarcas observadas. Os procedimentos levantados em cada uma das 24 comarcas

foram: (i) Inquéritos Civis instaurados - IC; (ii) Termos de Ajustamento de Conduta - TAC

pactuados; (iii) Ações Civis Públicas - ACP ajuizadas; (iv) Denúncias Criminais – DC; (v)

Transações Penais - TP; (vi) Requisições de Inquérito Policial - RIP; (vii) Propostas de Transação

Penal - PTP; (viii) Outras Formas de Atuação - OFA: formulação de legislação ambiental e políticas

públicas, participação em conselhos municipais de meio ambiente, e organização e realização de

audiências públicas .

Para cada natureza de procedimento foi elaborado um formulário específico contendo todas as

etapas do desdobramento até o seu ciclo completo, com vistas à recuperação, ou reversão, ou

mitigação do dano ambiental e / ou a condenação e o arquivamento. Para a criação do Banco de

Dados Cadastral foram utilizados os mapas digitais cadastrais: unidades de conservação; áreas focais

do CCMAB e comarcas; e cobertura de vegetação. Posteriormente, foi selecionada uma UC piloto

(APA da Costa de Itacaré – Serra Grande) para cadastrar os procedimentos e efetuar o ensaio. Para

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esta pesquisa os três procedimentos da comarca de Itacaré, em que os danos ambientais aconteceram

dentre da APA de Itacaré – Serra Grande, foram georreferenciados com GPS e posteriormente

cadastrados no banco de dados de forma que a localização destes pudesse ser visualizada no SIG pelo

usuário (promotor). Ainda, foi georreferenciado um dos registros armazenados nesse SIG: Projeto

NUMA, com projeção UTM / Datum Horizontal, delimitado pelas coordenadas geográficas 13° 45’ e

18° 50’ de latitude Sul e 39° 27’ e 40° 51’ de longitude Oeste. Para compor o Plano de Informação -

PI das Comarcas do CCMAB foi utilizado uma base cartográfica no formato vetorial shapefile, em

escala 1: 2.000.000, disponível no site da BAHIA SEI (BAHIA 2006b). Nesta, os municípios são

representados por polígonos e suas características socioeconômicas formam parte de sua base de

atributos. A cartografia originalmente fornecida no datum WGS 84 e em coordenadas geodésicas, foi

transformada para o datum SIRGAS (COSTA, 2002) e em coordenadas UTM. Para calcular a

porcentagem de Mata Atlântica na paisagem em que a comarca se inseria, foram superpostas a carta

de vegetação (LANDAU, RESENDE, 2003) e a carta de limite territorial das comarcas (BAHIA,

2008). Os dados secundários de cobertura vegetal do bioma Mata Atlântica (MMA, 2008) foram

reprojetados do datum horizontal SAD69 para SIRGAS 2000 (IBGE, 1997). Os arquivos vetoriais

das comarcas foram corrigidos utilizando-se o arquivo vetorial contendo todos os municípios da

Bahia (BAHIA, 2008). Os municípios de interesse foram identificados a partir de consulta no sítio do

Ministério Público do Estado da Bahia, selecionados e desmembrados para comporem um novo

arquivo vetorial em SIRGAS 2000. Posteriormente os municípios que compunham uma só comarca

foram unidos mediante a seleção e edição dos vetores de interesse. O mapa de vegetação foi

recopilado com base no do MMA (BRASIL, 2008). A partir desses dados foi realizado o cálculo da

proporção de Mata atlântica para cada comarca. Este cálculo foi realizado empregando-se o Programa

ArcMap (ESRI, 2006).

Para construir, alimentar e atualizar uma base de atributos associada ao SIG, que descrevesse

algumas características das comarcas, foram concebidas seis tabelas: (i) comarcas; (ii) cobertura

vegetal; (iii) gestão municipal; (iv) órgãos de apoio a fiscalização e controle ambiental; (v)

organizações não-governamentais; e (vi) unidades de conservação.

A primeira foi editada de forma a conter: a) municípios pertencentes às comarcas; b)

população destas; área total em km²; c) área total (em km²) de unidades de conservação dentro da

comarca. A tabela gestão municipal foi editada para conter: a) identificação do município; b) região

geográfica; c) identificação do prefeito; d) identificação do secretário de meio ambiente ou de

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estrutura similar; e) conselho municipal de meio ambiente; f) fundo municipal; g) licenciamento

ambiental. A tabela de cobertura vegetal foi editada para conter: a) classes de vegetação do bioma

Mata Atlântica e ecossistemas associados; b) área da cobertura total em km²; e c) área da cobertura

total em hectare. As tabelas de ONG e órgãos de apoio de fiscalização e controle ambiental foram

editadas para receber informações sobre a identificação do órgão, endereço e responsável pela

instituição naquela comarca. A base de atributos - UC do CCMAB foi construída para agregar as

informações recopiladas a partir de Mesquita et. al. (2004): área focal a que pertence, nome e

categoria; contatos do informante; superfície (área da UC, perímetro); dispositivo legal de criação,

situação de plano de manejo/zoneamento; porcentagem de área regularizada; quantidade e função dos

funcionários fixos; equipamentos e infra-estrutura; equipamentos de pesquisa; existência e realidade

do conselho gestor; existência de mapas em meio digital ou papel; e principais ameaças.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Um resultado dessa pesquisa foi a constatação de que os Promotores de Justiça têm

dificuldade de acesso a informações concernentes às unidades de conservação e a gestão municipal e

órgãos de apoio a fiscalização e controle ambiental. Os Promotores de Justiça, sem a posse dessas

informações, têm chances limitadas de direcionar os termos de acordos extra-judiciais (TAC) para

fortalecer a gestão das UC. Com este sistema montado, portanto, torna-se possível a efetividade

dessas ações, quando da destinação de recursos financeiros para o suprimento de necessidades

específicas: regularização fundiária, compra de equipamentos, elaboração, revisão ou implementação

de planos de manejo, fortalecimento e criação de conselhos gestores, dentre outros. A mesma opção

pode ser adotada em condenações judiciais, quando o crime é eminentemente ambiental,

especialmente quando acontece dentro ou nas imediações de unidades de conservação. Na decisão da

sentença o réu deve reparar o dano ambiental, conforme prevê a Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605

/ 98). Entretanto nem sempre há observância dessa norma jurídica, conforme salienta Ramos (2006)

ao analisar o total de penas revertidas para ocorrer a recuperação ambiental, com base na Lei já

citada. Esta autora concluiu que das 70 transações penais apenas 35,71% dos casos reverteram para

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projetos ambientais, sendo que 64,28% destes reverteu-se em prol da sociedade, por meio da entrega

de cestas básicas, para hospitais ou entidades beneficentes sem atuação ambiental.

Outra informação aparente no PI que trata das UC inseridas nas comarcas do CCMAB é que

parte das áreas protegidas têm seus perímetros estabelecidos em mais de uma comarca, fato que

reforça a tese de que é necessária a implantação de promotorias regionais especiais de meio ambiente

para estabelecer planos de ação integrados. O SIG facilitará o litisconsórcio ativo ou congraçamento

dos Promotores de Justiça na condição de autores em um mesmo processo (DE PLÁCIDO e SILVA,

2001), para defender, por exemplo, unidades de conservação intermunicipais ou de grandes extensões

territoriais, como as áreas de proteção ambiental e as reservas extrativistas. Este novo paradigma de

atuação conjunta foi deflagrado pelos próprios Promotores de Justiça, em resposta a avaliação geral

de quatro oficinas ambientais realizadas pelo NuMA13 (BAHIA, 2006c, 2006d, 2006e). Também é

propósito do SIG ressignificar o exercício ministerial abrangente, não considerando apenas uma

unidade de conservação isolada, mas no contexto da paisagem em que ela se insere e toda a sua

dinâmica e interação com atividades econômicas, outras áreas legalmente protegidas, ameaçadas e

potenciais para a conservação.

Analisando as informações dadas pelo SIG, tal qual a localização de equipamentos e serviços

públicos ou privados, foi possível identificar áreas focais com maior fragilidade em que o Estado ou

não mantém estrutura de fiscalização ambiental ou mantém em condições precárias. Os resultados

demonstram que comarcas como Alcobaça, Belmonte, Itapebí, Pau Brasil e Santa Luzia não dispõem

de parceiros potenciais, principalmente do poder executivo, para intensificar as atividades, ou mesmo

dar celeridade aos procedimentos estagnados referentes a infrações de cunho ambiental.

Quanto à presença de potenciais parceiros para tornar mais eficiente à atuação do Ministério

Público, constatou-se que as áreas focais do Complexo Una - Lontras - Baixão (Figura 5.3) e do

Complexo Camamú - Cabruca - Condurú (Figura 5.4) apresentam maior número de entidades,

públicas, privadas e organizações da sociedade civil que podem oferecer apoio às ações de proteção e

conservação do meio ambiente. Destaca-se a comarca de Ilhéus que possui a melhor estrutura de

apoio às ações de preservação do meio ambiente, podendo ser, assim, considerada estratégica para

atuação do Ministério Público. 13 O Núcleo Mata Atlântica do Ministério Público do Estado da Bahia é um grupo especial criado, por ato do Procurador-Geral de Justiça, para defender a mata atlântica. É constituído por 110 Promotorias de Justiça distribuídas por seis Coordenações Regionais. O CCMAB abrange, na Bahia, 76 municípios que perfazem uma área de 1.094.501,34 km².

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108

Figura 5.3: Complexo Una - Lontras – Baixão Fonte: FLORESTA VIVA, 2008

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Figura 5.4: Complexo Camamú - Cabruca – Condurú Fonte: FLORESTA VIVA, 2008

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110

As tabelas de atributos intituladas comarcas do CCMAB, órgãos de fiscalização e controle e

ONG (conforme Figura 5.5) foram construídas para dispor informações básicas do Ministério

Público, do Magistrado e das instituições de investigação e fiscalização, com a pretensão de facilitar

o processo de entrosamento entre os Promotores de Justiça das 29 comarcas, os demais entes

federados (poder judiciário e executivo) e a sociedade civil. Também, porque em análise dos

relatórios referentes às quatro oficinas ambientais do NuMA (NUMA, 2008), esses operadores do

direito manifestaram interesse em estabelecer laços com os demais colegas, alguns ainda

desconhecidos, com vistas a compartilhar idéias e novos métodos de trabalho. Defendem a

importância do intercâmbio de experiências não só entre seus pares, mas com outros atores sociais

engajados nas questões ambientais e sugerem um planejamento de ações conjuntas, citando a título

de exemplo a parceria com a polícia militar, a fim de que esta execute a fiscalização e apreensão

(BAHIA, 2006c, 2007).

Essencialmente os Promotores nas comarcas de primeira entrância (observadas nessa

pesquisa) prejudicados pela falta de infra-estrutura e pela sobrecarga de trabalho não conhecem as

atividades que ameaçam a integridade física das UC, posto que não sabem da existência dessas áreas

protegidas em seus limites territoriais de atuação. Muitos desconhecem, também, o sistema municipal

de defesa ambiental e potenciais parceiros de organizações não-governamentais e da iniciativa

privada, tais quais as brigadas de incêndio. Com limitações diversas para gerir uma infinidade de

informações durante o exercício da função ministerial nas comarcas, terão no GEONuMA uma fonte

rápida de localização das organizações da sociedade civil, e até mesmo do poder executivo. Estes

deverão prestar auxílio por meio de analistas ambientais, aptos a redigirem relatórios periciais, com

vistas a compor os procedimentos jurídicos de forma mais eficiente: (i) qualificação das partes

investigadas; (ii) descrição da situação lesiva; (iii) definição nas condições de tempo, modo e lugar

para cumprimento das obrigações para reparação do dano ambiental (TAC); (iv) proposta de

composição civil; e (v) proposta de aplicação da pena.

Neste contexto, Sícoli (2001) tratando da atuação cível do Ministério Público no crime,

também recomenda essa interação junto aos órgãos ambientais, tanto para obter a especificação das

atividades que poderiam ser atribuídas aos infratores, quanto à relação de equipamentos e bens, com

vistas à melhoria na qualidade da gestão ambiental (SÍCOLI, 2001).

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111

Figura 5.5: Georreferenciamento dos procedimentos de Itacaré Fonte: FLORESTA VIVA, 2008

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Outro resultado dessa pesquisa foi o levantamento de procedimentos nas comarcas, conforme

a Figura 5.6. Todos os dados dos procedimentos judiciais e extra-judiciais foram lançados no Banco

de Dados Cadastral, com vistas a facilitar o monitoramento destes pelos Operadores do Direito em

questão. O operador de direito, mediante o SIG, tem acesso às informações armazenadas quanto a

localização do dano ou ameaça de dado ambiental, condição de degradação da área ou ao progresso

da recuperação. Também há informações quanto à qualificação do infrator, autor da denúncia e autor

da produção de provas do dano ou ameaça de dano. No caso dos TACs, esse banco de dados registrou

as condições acordadas com o MP pelo compromissário quanto ao tempo, modo e lugar do

cumprimento das obrigações, tanto quanto ao efetivo cumprimento destas.

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113

Procedimentos 2004-2006

0 10 20 30 40 50 60 70

Wenceslau Guimarães

Santa Luzia

Alcobaça

Ubaíra

Gandu

Camamú

Santa Cruz de Cabrália

Prado

Pau-Brasil

Itacaré

Nilo Peçanha

Itamarajú

Caravelas

Itapebi

Jequiriçá

Coaraci

Camacan

Itajuípe

Valença

Taperoá

Una

Belmonte

Porto Seguro

Ilhéus

Número de Procedimentos

Inquérito Civil

Termo de Ajustamento deConduta

Ação Civil Pública

Denúncia Criminal

Transação Penal

Requisição de InquéritoPolicial

Proposta de TransaçãoPenal

Outras Formas de Atuação

Inquérito Policial

Termo Circunstanciado

Figura 5.6: Quantidade de procedimentos (2004 a 2006) analisados nas comarcas do Corredor Central da Mata Atlântica na Bahia. Fonte: FLORESTA VIVA, 2007.

CAPELLI (2003) defende que no bojo do inquérito civil, o compromisso de ajustamento deve

conter: (i) qualificação das partes investigadas e correta representação (CPF ou CNPJ, endereço

profissional e domiciliar); (ii) descrição da situação lesiva; (iii) descrição perfeita das condições de

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tempo, modo e lugar do cumprimento das obrigações; e (iv) fixação de cominação pecuniária que

preserve o valor da moeda.

Assim, observando tais prerrogativas, do total de 89 inquéritos civis instaurados houve

qualificação satisfatória de 65 investigados (pessoa física ou pessoa jurídica de direito público ou

privado), além da descrição satisfatória da situação lesiva em 65 procedimentos. Em um

procedimento foi solicitado arquivamento pelo Promotor ao Conselho Superior do Ministério Público

por falta de provas e apenas 13 IC resultaram em TAC.

Estavam em andamento apenas 19 IC e 61 demonstravam encontrar-se estagnados em face do

intervalo de mais de um ano entre a penúltima e a última iniciativa do Promotor. No restante não

havia informações suficientes nos autos procedimentais para inferir. Outro empecilho é que parte

desses procedimentos foi noticiado a pesquisadora, via ofício, pela Polícia Civil atuante na comarca,

ou mediante relatório do Promotor, inviabilizando, assim, a verificação dos autos dos processos em

questão. Cabe ressaltar que o prazo limite para andamento de cada procedimento sugerido pelo

NuMA, mediante o sistema GEONUMA é de nove meses apenas (NuMA, 2008).

Dos 11 TAC que esta pesquisa teve acesso, na sua totalidade houve qualificação das partes

investigadas, tanto quanto da descrição da situação lesiva. Contudo, em apenas cinco destes

procedimentos houve conformidade quanto às condições de tempo, modo e lugar para o cumprimento

das obrigações da parte investigada. Ainda, em quatro dessas vias extra-judiciais houve critério de

constatação do cumprimento da obrigação de reversão do dano ou da ameaça do dano ambiental. Ao

todo, cinco TAC foram concluídos e receberam o consentimento do Conselho Superior do Ministério

Público para arquivamento.

Dos 11 IP levantados a pesquisa teve acesso a sete, sendo, o restante, noticiado mediante

ofício policial da comarca de Taperoá ou relatórios das Promotorias de Justiça. Em quatro houve

nova requisição do Promotor para outras diligências, a fim de materializar a denúncia. Dos sete

títulos verificados, em apenas três houve denúncia do Ministério Público para o Poder Judiciário.

Outrossim, a pesquisa constatou que das 100 denúncias criminais, duas foram provenientes de

demanda do Promotor de Justiça, 77 foram decorrentes de inquéritos policiais requisitados por outros

(a maioria pelo IBAMA), e em cinco denúncias não houve possibilidade de verificação desta

informação, visto que não havia registro desta informação nas peças processuais.

Das sete TP, somente quatro foram acessadas por esta pesquisa. Em duas houve requisição de

prova pericial pelo Ministério Público. Em nenhuma constou proposta de composição civil para

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reparação do dano ou da ameaça do dano ambiental, nem tampouco prova de impossibilidade de

fazê-lo. Contudo, em seis títulos foram propostas penas restritivas de direito: pecúnio a entidades

sociais e ambientalistas. Importa dizer que das 59 propostas de transação penal, em apenas 11 havia

proposta de composição civil, todavia foram registradas 38 propostas de pena restritiva de direito.

Ressalta-se que 33 transações penais de uma única comarca propuseram a doação de

aproximadamente R$ 140.740,00 para a Fundação José Silveira - Mata Atlântica do Ministério

Público (NuMA, 2007).

Contudo, Capelli (2003, p. 256) defende que:

[...] o que se busca, precipuamente, em Direito Ambiental é a aplicação dos princípios da prevenção e precaução, para evitar que o dano ocorra ou, tendo havido o prejuízo, a reparação in natura da obrigação será preferível à compensação pecuniária.

A autora observa, ainda, que não há garantias de que a indenização levará a reparação integral

do dano ambiental, mas ressalta que em um termo de compromisso seria uma possibilidade a

indenização do dano ambiental, acrescida à obrigação de fazer, no caso em que o meio ambiente não

pudesse ser recuperado. Também, denota que, apesar de ser admitida a sub-rogação da obrigação, não

são admitidos desvios de finalidade, tal qual doação a entidades que não tem nenhuma relação com a

tutela ambiental: conselhos tutelares, creches, asilos, dentre outros (CAPELLI, 2003).

Nestes termos, tem-se que as seis Ações Penais Públicas - APP, observadas no âmbito das DC

provocadas pelo IBAMA, em apenas um processo constou a sentença. O Magistrado apresentou a

sentença do crime (pesca de camarão no período do defeso), alegando impossibilidade de comprovar

reparação do dano e estabeleceu o fornecimento de 04 kg de filé de camarão por mês para a única

creche da cidade. No levantamento do procedimento não houve como saber se a pena foi estabelecida

para cumprir, também, na época do defeso.

Apesar da Lei nº 7.347 / 85, que institui a ACP, ter origem histórica enraizada na Lei da

Política Nacional do Meio Ambiente, vez que foi construída, inicialmente, para regulamentar nesta o

artigo que trata da ação de responsabilidade civil por danos causados ao meio ambiente (ABELHA,

2003), tal instrumento jurídico não foi muito utilizado para resolver os conflitos ambientais nas

comarcas inseridas no CCMAB. É o que demonstram os resultados, visto que houve a propositura de

nove ACP dentre os procedimentos levantados.

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A mesma tendência foi observada em um estudo para avaliar a resolução de conflitos

ambientais obtidos pela Promotoria de Justiça de Meio ambiente da Comarca de São Carlos – SP.

Mio et al. (2005) concluíram, por meio desse estudo, que de todos os Inquéritos Civis relativos a

conflitos ambientais instaurados no período de 2001 a 2004, a maioria foi resolvida mediante

assinatura de TAC (63%), em detrimento das Ações Civis Públicas (3%) ajuizadas perante o poder

judiciário. E destas, apenas 34% entraram em negociação. Outrossim, estes autores constataram que

as ACP pendentes representavam 60% daquelas iniciadas no ano de 1997, 80% das iniciadas em

1998, e a partir de 1999, nenhuma das ACP haviam sido solucionadas.

Outro resultado da pesquisa em tela foi a verificação de ausência de procedimentos de cunho

ambiental propostos por parte do Ministério Público ou pela sociedade civil, entre os anos de 2004-

2006, em três comarcas. Releva notar que dentre estas há uma unidade de proteção integral de

remanescente significativo de floresta ombrófila, com espécies faunísticas raras e alvo constante de

agressão ambiental (BAHIA, 1997).

Em todas as comarcas a natureza do dano ou ameaça ambiental foi dos mais variados:

armazenamento ilegal de madeira sem Anotação de Transporte de Produtos Florestais - ATPF;

construções irregulares em áreas de marinha; extração de areia e outras naturezas de mineração sem

licença ambiental; desmatamento de manguezal, loteamentos irregulares ou clandestinos;

funcionamento de madeireira, carpintarias e serrarias clandestinas; criação de animais silvestres em

cativeiro; destruição de florestas sem autorização dos órgãos competentes; lançamento de efluentes

em corpos d’água e depósito de lixo in natura sem tratamento e em local inapropriado. Contudo, a

maior parte da demanda para o MP foi a poluição sonora, conforme consta em 34 peças

procedimentais.

Constatou-se que em dois inquéritos civis os promotores solicitaram informações para os

órgãos do Poder Executivo (Prefeitura, IBAMA, CRA, Polícia Civil) e para o Poder Judiciário

(cartório de registro de imóveis), com vistas a subsidiar a investigação dos crimes: aterro e

loteamento em manguezal. Nos dois casos obtiveram respostas apenas da Polícia Civil e do Poder

Judiciário.

Em análise desse banco de dados, depara-se com 134 processos contendo informações

satisfatórias a respeito do local da infração ambiental. Na maioria dos procedimentos a localização do

dano é vaga e incipiente, e dos procedimentos em que há necessidade de localização mais precisa,

apenas oito possuem localização georreferenciada.

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Há constatação de que as informações ambientais necessárias para manusear as peças

judiciais em comarcas são insuficientes, levando os promotores e magistrados a apenarem os

criminosos com a doação de cestas básicas, por exemplo. Sem informações precisas não podem

determinar, por exemplo: a recuperação da área degradada; a freqüência do apenado em cursos de

educação ambiental; ou o apoio destes à organização e execução de atividades educativas promovidas

por organizações não-governamentais ou pelo órgão gestor de meio ambiente daquele município.

CONCLUSÃO

Na maioria dos procedimentos em que havia a necessidade de localização do dano, esta foi

vaga e raros foram os procedimentos que apresentaram a localização geográfica. Ainda outras

informações de extrema importância, tal qual a proposta de composição civil do dano não aparecem

em muitas DC ou nas poucas APP que esta pesquisa teve acesso, e, portanto se configura em uma

falha na organização dos procedimentos para a defesa ambiental das unidades de conservação do

CCMAB, colocando em questão o reflexo da função do Ministério Público na conservação. Diante

disso, faz-se necessário a implantação e funcionamento do GEONuMA nas comarcas pertencentes ao

Corredor Central da Mata Atlântica na Bahia. Este estudo permite concluir que a adoção de um SIG

em muito contribuirá para a rotina dos Promotores de Justiça quanto à defesa ambiental, vez que, de

posse dessa ferramenta, disporão de dados ágeis e precisos. Terão melhores condições de trabalho e

desempenho, porque que esse Sistema fornecerá suporte ao planejamento, à gestão e ao

monitoramento das comarcas. Para suprir limitações das Promotorias de Justiça quanto à logística e

infra-estrutura, analistas do IBAMA ou da SEMARH poderão disponibilizar veículos, máquinas

fotográficas e até receptores de GPS (Global Positioning System) equipamentos essenciais em

diligências com fins de perícia ambiental.

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CAPÍTULO 6

UM INSTRUMENTO PARA ANALISAR A ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO NAS

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DO CORREDOR CENTRAL DA MATA ATLÂNTICA

NA BAHIA

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RESUMO

Cuida esse artigo de construir um instrumento para analisar atuação do Ministério Público - MP em 29 comarcas inseridas no Corredor Central da Mata Atlântica na Bahia - CCMAB. O desenho metodológico foi de natureza quantitativa e qualitativa, utilizando-se um Sistema de Informações Geográficas, tanto para a construção de uma matriz de análise multicriterial (para calcular peso dos procedimentos e compará-los), quanto para calcular as áreas de cobertura vegetal de Mata Atlântica - MA e de Unidades de Conservação - UC de cada comarca observada. Ainda, procedeu-se a técnica de análise documental (período de 2004-2006) e de revisão legislativa. Os resultados demonstraram que a transação penal e o termo de ajustamento de conduta (com desdobramento de inquérito civil) são os procedimentos de maior impacto para conservação. Constatou-se que: as comarcas com as mais altas porcentagens de área de cobertura vegetal ou de UC possuem baixos índices de desempenho; que os maiores índices de avaliação ministerial são das Promotorias de Justiça de direitos difusos (inclui direito ambiental); que as comarcas nas quais seus promotores expressam preferência pelo direito ambiental obtiveram os maiores valores de índice de desempenho e são nelas que atuam os Coordenadores das regionais do NuMA. Conclui-se que o desempenho das comarcas quanto à atuação do MP ainda é tímido, apesar das Promotorias de Justiça estarem instaladas em áreas coma presença de UC e porcentagem significativa de cobertura vegetal de MA. Palavras-chave: Mata atlântica, Ministério Público, Análise Multicriterial Pareada

ABSTRACT

This article's objective is to construct an instrument to analyze the performance of Bahia's Ombudsman in 29 judicial districts within the Central Corridor of the Atlantic Forest in Bahia (CCMAB). The methodological design was of a quantitative and qualitative nature, utilizing a Geographical Information System for the constrution of a multicriterial analysis matrix (to calculate the weight of the procedures and to compare them) as well as for the calculation of the areas with vegetation growth in the Atlantic Forest and in the Units of Conservation in each of the judicial districts observed. Moreover, the technique of document analysis (period of 2004-2006) was used, as well as legislative review. The results show that penal transaction and behavior ajustment terms (with a civil investigation) are the procedures with greater impact in favor of conservation. It was observed that: the judicial districts with most vegetation cover or largest Unit of Conservation area have low levels of performance; that the greatest number of ministerial evaluations are those of the Justice Promoters of diffuse rights (includes environmental law); that the judicial districts in which the promoters expressed their preference for environmental law had the greatest levels of performance and that it within these districts that the coordinators of the NuMA regionals work. It can be concluded that the performance of the judicial districts as relates to the work of the Ombudsman is still very timid, despite the fact that the Justice Promoter's offices are established in areas which have Units of Conservation and a high percentage of vegetation cover of the Atlantic Forest.

Key Words: Atlantic Forest, Ombudsman, Pairwise comparation matrix

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INTRODUÇÃO

Mesmo sofrendo ameaças constantes de devastação, a Mata Atlântica - MA ainda contém

uma parcela significativa da diversidade biológica do Brasil, com altíssimos níveis de endemismo

(Pinto et al., 2005). O Corredor Central da Mata Atlântica é uma importante estratégia de

conservação constituída no âmbito do Programa - Piloto para Proteção de Florestas Tropicais no

Brasil - PP-G7 e é definido como extensa área contendo ecossistemas florestais biologicamente

prioritários e viáveis para a conservação da biodiversidade da Mata Atlântica. Tal corredor integra

conjuntos de unidades de conservação, terras indígenas e áreas com diferentes formas de usos da terra

(BRASIL, 2005).

É neste contexto que o Ministério Público atua para cumprir o que prediz a Constituição

Federal de 1988, face à defesa ambiental. E foi esta Carta Magna que, no dizer de Arantes (1999),

outorgou ao Ministério Público uma espécie de “certidão de (re) nascimento institucional”

habilitando-o a ultrapassar suas funções tradicionais e consolidar sua responsabilidade pela defesa

dos direitos coletivos e sociais. Para o autor as novas atribuições vincularam o órgão ministerial à

proteção de interesses difusos ambientais. Mas como analisar a efetividade da atuação do MP na

defesa do Corredor Central da Mata Atlântica? Qual é o impacto da atuação ministerial na

conservação desse bioma? Este trabalho propõe um ajuste na política de gestão ministerial,

fundamentado em um instrumento de análise construído para o MP, por isso, foram utilizadas

ferramentas do planejamento ambiental, tais quais indicadores e métodos de tomada de decisão.

Santos (2004) conceitua o planejamento ambiental como um processo contínuo envolvendo

desde a coleta até a análise sistematizadas das informações, com vistas a apoiar decisões acerca das

melhores alternativas para o aproveitamento dos recursos, tendo como meta a melhoria de uma

determinada situação para o desenvolvimento das sociedades. A autora pontua que um importante

papel do planejamento ambiental é, ainda, o de orientar instrumentos administrativos, legislativos e

de gestão para o desenvolvimento de atividades, incentivando a participação institucional e dos

cidadãos, induzindo as relações mais estreitas entre sociedades e autoridades locais e regionais.

Dentre os variados métodos dirigidos à tomada de decisão está a análise multicriterial,

instrumento que destina-se à investigação de um número de possibilidades frente a múltiplos

critérios e prioridades conflitantes auxiliando na agregação da preferência dos atores. Trata-se de um

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124

instrumento que auxilia os tomadores de decisão a reavaliar e maximizar seus pontos de vista e

permite incorporar, sistematicamente, aspectos sociais, econômicos, técnicos e ambientais (SANTOS,

2004).

O presente trabalho tem por objetivo apresentar um instrumento concebido para analisar a

atuação do Ministério Público nas Unidades de Conservação do Corredor Central da Mata Atlântica

na Bahia - CCMAB.

MÉTODOS

O Corredor Central da Mata Atlântica - CCMA se estende por todo o Estado do Espírito

Santo até a porção sul da Bahia (BRASIL, 2005). Está localizado entre as coordenadas 13° 05’ e 18°

05’ de latitude Sul e 38° 50’ e 41° 33’ de longitude Oeste (LANDAU e RESENDE, 2003). A área de

estudo dessa pesquisa, porém, abrange somente 29 comarcas que pertencem a porção baiana do

CCMA.

A construção de um modelo para análise do Ministério Público nas Unidades de Conservação

do CCMAB considerou algumas variáveis como componentes de um instrumento de avaliação da

atuação do MP, sendo este simbolizado nesta pesquisa como . MPI

Assim, tem-se:

ZYDI iMP /1).( ⋅= Equação 1

Z representa a exclusividade de atuação do Promotor de Justiça.

Y representa a prioridade de comarca com relação à conservação.

2/)( MAUCY ⋅= Equação 2

MA representa a porcentagem de área cobertura de vegetação do bioma Mata Atlântica e

ecossistemas associados.

UC representa a porcentagem de área do somatório das áreas das Unidades de Conservação de cada

comarca.

Duas variáveis ambientais foram destacadas para justificar a comarca como prioritária na

atuação do Ministério Público: (i) a porcentagem de área da cobertura de vegetação do bioma Mata

Atlântica e ecossistemas associados (MMA, 2007); e (ii) a porcentagem do somatório das áreas das

Unidades de Conservação de cada comarca. Outro componente desse instrumento de avaliação foi a

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125

atribuição do Promotor por comarca ou exclusividade para atuar na área ambiental. Com vistas

calcular a porcentagem de Mata Atlântica na paisagem em que a comarca se inseria, foram

superpostas a carta de vegetação (LANDAU e RESENDE, 2003) à carta de limite territorial das

comarcas sendo o mapa digital destas elaborado a partir da Bahia SEI (2003). Ainda, para calcular a

porcentagem de UC de cada comarca, foram superpostas a carta de UC e a carta de limite territorial

das comarcas. Ressalta-se que o cartograma de cobertura vegetal utilizado também incluiu os

ecossistemas associados: manguezais, brejos interioranos e restingas. A média entre porcentagem de

MA e UC foi aplicada ao índice (Y) para que continuasse variando entre 0 e 100% (Equação 2).

Os dados secundários de cobertura vegetal e uso do solo do bioma Mata Atlântica (MMA,

2008) foram reprojetados do datum horizontal SAD69 para SIRGAS 2000 (IBGE, 1997). O arquivo

vetorial de comarcas foi elaborado a partir do mapa digital de município fornecido pela Bahia SEI

(1997). Os municípios de interesse foram selecionados e combinados para compor um novo arquivo

mediante edição de vetores. O mapa de vegetação foi recopilado (BRASIL, 2008) e a partir desses

dados foi realizado o cálculo da proporção de Mata Atlântica para cada comarca. Estes

procedimentos foram efetuados empregando-se o Programa ArcMap14 (ESRI, 2006). Como resultado

obteve-se uma tabela contendo: (i) área de cobertura de Mata Atlântica na comarca; (ii) área de UC

de uso sustentável; e (iii) a área de UC de proteção integral (iv) área total de UC dentro de cada

comarca; e a (v) área total da comarca.

Os mapas digitais das UC foram cedidos por órgãos de defesa ambiental e organizações não-

governamentais (PRESERVA, s. n.; BRASIL, 2008). Importa dizer que todos os mapas digitais

referentes às Reservas Particulares de Patrimônio Natural – RPPN, cedidos pelo PRESERVA, são

inexatos, de maneira que os cálculos de áreas dessas UC são pouco confiáveis. Além disso, muitas

não estão disponíveis em mapas.

Para avaliar o grau de exclusividade dos Promotores de Justiça de cada comarca foram

consideradas as seguintes condições: (i) a Promotoria que destina um Promotor de Justiça somente

para tratar das questões ambientais; (ii) a Promotoria que destina um ou mais de um Promotor para

tratar dos direitos difusos; (iii) a Promotoria que destina um único Promotor para tratar de todos os

casos de sua competência.

Assim, obteve-se a Escala de Satisfação quanto à exclusividade do Promotor de Justiça para

atuar na área ambiental, conforme Tabela 6.1:

14 Programa disponível no Laboratório de Análise e Planejamento Ambiental da UESC.

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126

Tabela 6.1 - Escala de satisfação quanto a exclusividade da atuação do Promotor de Justiça na área

ambiental.

ATUAÇÃO DO PROMOTOR ESCALA

Não há exclusividade de atuação 100%

Atuação exclusiva em direitos difusos

Atuação exclusiva em meio ambiente

66,6%

33,3%

Neste caso a escala é inversamente proporcional visto que o Promotor de Justiça que tem mais

atribuições (é “clínico geral”) não tem dedicação tal qual um Promotor de Justiça que é exclusivo

para atuar na área ambiental. Desta forma fica impossibilitado de produzir com a mesma eficiência.

Para o cálculo do índice de desempenho da comarca ( ) foi utilizada a avaliação

multicritério ou único objetivo. O processo utilizado para esta avaliação foi a análise de concordância

– discordância, vez que é implementado em Sistema de Informações Geográficas – SIG, com

facilidade. Na construção do modelo de combinação linear ponderada, foram atribuídos pesos as

variáveis que, posteriormente, foram somadas, criando-se um índice de desempenho das comarcas de

acordo com a equação:

Di

∑= XiPiDi . Onde:

Di = índice de desempenho da comarca

Pi = peso atribuído a variável Xi

Xi = Xi é o escore (valores) normalizado (em uma escala de 1 a 10) do critério “i”.

Para estimar os escores das variáveis (os valores de ) foram elaboradas fichas com vistas

ao levantamento dos procedimentos judiciais e extrajudiciais em cada comarca, tais quais: i)

Inquérito Civil – IC; ii) Inquérito Civil que se desdobrou em Termo de Ajustamento de Conduta –

IC+TAC; iii) Ação Civil Pública – ACP; iv) Transação Penal e proposta de Transação Penal – TP; v)

Denúncia Criminal - DC; vi) Inquérito Policial - IP ou Requisição de Inquérito Policial - RIP; vii)

Audiência Pública - AP; viii) Outras Formas de Atuação – OFA.

Xi

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127

Para obter os escores (valores) dos Inquéritos Civis, como demonstra a Tabela 6.2, foram

consideradas: i) localização dos ilícitos investigados no inquérito civil; ii) constatação de existência

do dano ambiental; e iii) produção de provas.

Tabela 6.2 – Escore para averiguação do cumprimento do Inquérito Civil - IC

ESCALA CRITÉRIOS

SIM NÃO

1. Localização com informação genérica 1 0

2. Houve constatação da existência do

dano ambiental

1 0

3. Houve produção de provas 1 0

Valor Máximo e Valor Mínimo do IC 3 0

Para obter os escores (valores) dos Inquéritos Civis com desdobramento em Termos de

Ajustamento de Conduta – IC+TAC foi construída a Tabela 6.3 considerando: (i) localização dos

ilícitos investigados; (ii) constatação de existência do dano ambiental; (iii) produção de provas; (iv)

descrição do compromissário e do cumprimento e descumprimento das obrigações concernentes ao

dano ou ameaça de dano ambiental; (v) averiguação do cumprimento do TAC ou juizamento da ACP;

e (vii) encaminhamento para Conselho Superior do Ministério Público para arquivamento do TAC .

Tabela 6.3 – Escore para averiguação do cumprimento do Inquérito Civil com desdobramento de

Termo de Ajustamento de Conduta - IC+TAC

(Continua) ESCALA CRITÉRIOS

SIM NÃO

1. Localização com informação genérica. 1 0

2. Houve constatação da existência do

dano ambiental.

1 0

3. Houve produção de provas. 1 0

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128

(Conclusão)

ESCALA CRITÉRIOS

SIM NÃO

4. Houve qualificação da (s) parte (s)

investigada (s): menção ao RG ou CNPJ

do (s) compromissário (s).

1 0

5. Houve descrição das condições de

prazo para o cumprimento das

obrigações.

1 0

6. Houve descrição do modo de

cumprimento das obrigações.

1 0

7. Houve descrição do lugar de

cumprimento das obrigações.

1 0

8. Houve averiguação do cumprimento do

TAC e cominação para o caso de

descumprimento.

1 0

9. Houve formalização do TAC,

juizamento da ACP, ou procedimento em

andamento.

1 0

10. Havendo cumprimento do TAC houve

encaminhamento ao Conselho Superior

do Ministério Público para arquivamento.

1 0

Valor Máximo e Valor Mínimo do

(IC+TAC)

10 0

Para obter os escores (valores) das Ações Civis Públicas – ACP foi construída uma a Tabela

6.4 considerando: (i) localização dos ilícitos praticados; (ii) descrição das etapas a serem cumpridas,

a fim de cumprir todos os trâmites legais previstos na ACP.

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129

Tabela 6.4 – Escore para averiguação do cumprimento da Ação Civil Pública - ACP

ESCALA CRITÉRIOS

SIM NÃO

1. Houve qualificação da (s) parte (s) investigada (s). 1 0

2. Houve descrição da situação lesiva (local e objeto). 1 0

3. Foi requerida medida cautelar, liminar ou de antecipação

de tutela.

1 0

4. Houve citação das leis aplicáveis ao caso, na petição

inicial.

1 0

5. Houve requerimento de inversão do ônus da prova. 1 0

6. Havendo pedido de medida liminar, foram demonstrados

os requisitos desta.

1 0

7. Havendo obrigação de fazer ou não fazer, foi requerida

tutela específica.

1 0

8. Havendo prova pericial na fase pré-processual, foi

requerida utilização desta.

1 0

9. Em caso de improcedência da ação, houve recurso do

Ministério Público.

1 0

Valor Máximo e Valor Mínimo da ACP 9 0

Para obter os escores (valores) das Transações Penais - TP foi construída a Tabela 6.5

considerando: (i) localização dos ilícitos praticados; (ii) descrição das etapas a serem realizadas, a

fim de cumprir todos os trâmites legais previstos na TP.

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130

Tabela 6.5 – Escore para averiguação do cumprimento da Transação Penal - TP

ESCALA CRITÉRIOS

SIM NÃO

1. Houve qualificação da (s) parte (s) investigada

(s).

1 0

2. Houve descrição da situação lesiva (local e

objeto).

1 0

3. Houve prévia composição do dano na audiência

preliminar.

1 0

4. Houve comprovação da impossibilidade de

reparação do dano.

1 0

5. A reparação civil do dano proposta é exeqüível. 1 0

6. Composição proposta é compatível com o dano

causado.

1 0

7. Houve averiguação do cumprimento da

composição.

1 0

8. Houve averiguação de cumprimento da restritiva. 1 0

Valor Máximo e Valor Mínimo da TP 8 0

Para obter os escores (valores) das Denúncias Criminais - DC foi construída uma Tabela 6.6

considerando: (i) localização dos ilícitos praticados; e (ii) descrição das etapas a serem cumpridas, a

fim de cumprir todos os trâmites legais previstos na DC.

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131

Tabela 6.6 – Escore para averiguação da Denúncia Criminal - DC

ESCALA CRITÉRIOS

SIM NÃO

1. Houve localização com informação

genérica.

1 0

2. Houve qualificação do acusado 1 0

3. Houve exposição do fato criminoso 1 0

4. Houve classificação do Crime 1 0

5. Houve rol de testemunhas. 1 0

Valor Máximo e Valor Mínimo da DC 5 0

Para obter os escores (valores) dos Inquéritos Policiais - IP ou Requisições de Inquéritos

Policiais - RIP considerou-se apenas a localização dos ilícitos praticados, atribuindo o valor 1 para

localização com informação genérica e 0 para localização sem informação. Quanto às Audiências

Públicas ou outras formas de atuação (elaboração de legislação, participação em conselhos

municipais de meio ambiente, e participação em campanhas e palestras) a escala atribuiu o número 1

para realização e 0 para a não realização. Considerando que esses procedimentos ou variáveis

possuem diversas etapas de desdobramento para garantir a defesa ambiental, e que, portanto,

apresentam-se mensuradas em escores diferentes, foi necessário normalizá-las antes de serem

utilizadas. Para tanto, foi utilizada a seguinte equação:

( )max

100VVX i

i = Equação 3:

Onde é o valor (escore) do critério para a comarca “i” iV

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132

Xi = variável na comarca “i”

medidoV = o valor medido que cada procedimento ou combinação que os procedimentos alcançaram, a

partir da aplicação da escala específica (conforme Tabelas 6.2, 6.3, 6.4, 6.5 e 6.6).

máximoV = o valor máximo de cada procedimento na escala específica de satisfação (conforme Tabelas

6.2, 6.3, 6.4, 6.5 e 6.6).

k = constante de ajuste da escala (amplitude da nova escala), onde esta nova escala varia de 0 a 10.

Para atribuição dos pesos a cada uma das variáveis utilizou-se o método proposto por SAATY

(1977). Tal método possibilita a obtenção de pesos cuja soma equivale a 1, utilizando-se o auto-vetor

principal de uma matriz quadrada de comparação pareada das variáveis (procedimentos jurídicos),

considerando sua importância relativa para a conservação da natureza nas Unidades de Conservação

do Corredor Central da Mata Atlântica na Bahia. Assim, tais quais os métodos multicritério, os pesos

gerados são produzidos por meio do auto-vetor da matriz de comparação de pares. A matriz de

comparação é escrita de modo que cada coluna da matriz simboliza uma variável que foi comparada

com as mesmas variáveis apresentadas nas linhas e cada uma das colunas armazena em suas células a

escala de importância relativa da variável presente na linha, quando comparada com a variável

representada na coluna, segundo o grau de importância, conforme aparece no Quadro 6.1.

Quadro 6.1- Escala de comparação de critérios

1/9 1/7 1/5 1/3 1 3 5 7 9

extre

mam

ente

mui

to

inte

nsam

ente

inte

nsam

ente

mod

erad

amen

te

igua

lmen

te

mod

erad

amen

te

inte

nsam

ente

mui

to

inte

nsam

ente

Extre

mam

ente

Menos importante Mais importante

Fonte: SAATY, 1977

Por este método obteve-se uma matriz de comparação pareada das variáveis geradas por

consenso entre três operadores do direito, entrevistados (um Promotor de Justiça, uma Advogada e

uma Juíza). A matriz está apresentada no quadro seguinte na qual, por exemplo, o valor 4 representa

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133

que a variável Ação Civil Pública - ACP uma importância quatro vezes maior quando comparada

com a variável Inquérito Civil – IC, quanto a sua eficiência para a conservação da natureza.

Quadro 6.2 - Matriz de avaliação pareada dos procedimentos judiciais e extrajudiciais, sendo: i)

Inquérito Civil – IC; ii) Ação Civil Pública – ACP; iii) Inquérito Civil que se desdobrou em Termo

de Ajustamento de Conduta – IC+TAC; iv) Transação Penal e proposta de Transação Penal – TP; v)

Inquérito Policial - IP ou Requisição de Inquérito Policial - RIP; vi) Denúncia Criminal - DC; vii)

Audiência Pública - AP; viii) Outras Formas de Atuação – OFA

IC ACP IC_TAC TP IP RIP DC AP OFA

IC 1

ACP 4 1

IC_TAC 5 3 1

TP 7 3 2 1

IP 1 1/3 1/5 1/5 1

RIP 1/3 1/9 1/9 1/9 1/5 1

DC 1 1/3 1/3 1/3 3 7 1

AP 1/3 1/3 1/5 1/5 1 3 1/7 1

OFA 1/5 1/9 1/9 1/9 1/5 1/3 1/7 1/4 1

Para avaliar o grau de consistência dos pesos obtidos pelo algoritmo, Saaty propõe um índice

denominado Taxa de Consistência (TC). A TC indica a probabilidade com que a combinação de

pesos obtidos pela matriz de comparação pode ser gerada por números escolhidos ao azar.

Combinações de pesos com TC superiores a 0,1 devem ser reavaliadas (SAATY, 1977). Os pesos e a

TC foram calculados com o aplicativo Idrisi Andes (EASTMAN, 2006), conforme a Tabela 6.7.

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134

CÁLCULO DO ÍNDICE DE AVALIAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO

Para a melhor visualizar o comportamento dos componentes da equação que calcula o

dentro e no conjunto das comarcas observadas, foram elaborados mapas temáticos para representar

,

MPI

Di MA , UC , Z , . Estes mapas foram criados mediante um sistema de informações geográficas

- SIG que contém mapas digitais cadastrais: (i) das unidades de conservação; (ii) das comarcas; (iii)

do Corredor Central da Mata Atlântica; e da (iv) cobertura de vegetação de Mata Atlântica.

MPI

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Analisando o conjunto de elementos relativos a atuação do MP na área ambiental, identifica-

se que os representantes do Parquet, titulares das comarcas, no exercício no determinado art. 129,

inciso 1 da CF, denunciaram os crimes ambientais no período do corte cronológico desta pesquisa

totalizando 100 denúncias. Este quantitativo, verificado dentro dos gabinetes dos promotores que

aderiram a pesquisa, não permitiu, de per si, a verificação quanto ao resultado final da Ação Penal

Pública. Para tal verificação teria sido necessário o exame dos autos no próprio cartório criminal,

etapa que fugiria ao escopo da pesquisa, exigindo, entre outras providências, a autorização

jurisdicional.

Outra observação importante é que não foi possível verificar quantos e quais procedimentos

se tratavam da ocorrência de agressões ou ameaças ambientais dentro das Unidades de Conservação.

É provável que muitos desses procedimentos levantados nas comarcas se tratassem de danos ou

ameaça de dano ambiental dentro dessas áreas protegidas, porém sem registro do perito, ou no auto

de infração, ou mesmo do Promotor de Justiça. Embora a amostragem dessa pesquisa tenha

envolvido as 29 comarcas, apenas 26 aderiram ao projeto, sendo que destas, uma comarca não aderiu

e três ainda estavam em fase de negociação, de forma que esta pesquisa não teve acesso aos

procedimentos de tais comarcas.

Os pesos calculados a partir da análise multicritério pareada demonstraram que a transação

penal ou proposta de transação penal e o termo de ajustamento de conduta, mediante desdobramento

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135

de inquérito civil são os procedimento de maior impacto para conservação, segundo os operadores do

direito, conforme o Quadro 6.3:

Quadro 6.3 - Pesos dos procedimentos, com base na análise multicriterial pareada

PROCESSOS E PROCEDIMENTOS PESOS

IC 0.0642

ACP 0.1585

IC - TAC 0.2383

TP ou PTP 0.2905

IP 0.0550

RIP 0.0210

DC 0.1147

AP 0.0426

OFA 0.0152

Fonte: Dados da Pesquisa

Também, segundo essa análise a taxa de consistência da matriz apresentada é de 0,07 ou

menor que 0,1, sendo, portanto, aceitável. Aplicando-se os valores dos pesos na equação para

calcular o , tem-se os resultados numéricos apresentados na Tabela 6.7: Di

Tabela 6.7 - Variáveis que compõem o índice de avaliação do Ministério Público. : Índice de

desempenho das Comarcas;

Di

MA : Cobertura de Mata Atlântica e de UC : Unidades de Conservação;

Z : Exclusividade de Atuação do Promotor de Justiça; : Índice da Avaliação do Ministério

Público

MPI

(Continua) Comarca MA UC Z Di MPI

1 Ituberá 38,04% 54,29% 100,0 0,00 0,009

2 Camamu 49,22% 53,90% 100,0 0,59 0,016

3 Nilo Peçanha 63,48% 99,11% 100,0 0,73 0,024

4 Valença 28,03% 49,53% 66,7 3,14 0,059

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136

Comarca MA UC Z Di MPI

5 Ibirapitanga 22,33% 21,86% 100,0 0,00 0,004

6 Taperoá 21,01% 99,39% 100,0 0,97 0,022

7 Ilhéus 48,38% 47,19% 66,7 2,11 0,046

8 Itabuna 41,79% 1,43% 66,7 0,87 0,020

9 Uruçuca 36,00% 88,81% 100,0 0,00 0,012

10 Itacaré 42,10% 100% 100,0 1,13 0,025

11 Camacan 34,76% 2,41% 66,7 0,60 0,015

12 Maraú 46,96% 77,26% 100,0 0,00 0,012

13 Ubaíra 17,14% 18,48% 100,0 0,21 0,006

14 Itajuípe 37,26% 78,09% 100,0 2,72 0,039

15 Coaraci 36,08% 67,18% 66,7 3,38 0,066

16 Belmonte 43,45% 14,61% 100,0 0,64 0,012

17 Santa Cruz de Cabrália 60,92% 21,50% 100,0 0,26 0,011

18 Porto Seguro 40,34% 24,56% 66,7 4,88 0,083

19 Prado 45,67% 8,52% 100,0 1,16 0,017

20 Alcobaça 60,48% 3,98% 100,0 0,00 0,006

21 Caravelas 42,83% 11,76% 100,0 0,53 0,011

22 Buerarema 24,72% 100,0 0,00 0,002

23 Una 57,14% 7,84% 100,0 1,61 0,023

24 Pau-Brasil 36,71% 6,28% 100,0 0,64 0,011

25 Santa Luzia 45,81% 1,20% 100,0 0,00 0,005

26 Itapebi 23,83% 60,85% 100,0 0,63 0,015

27 Jequiriçá 22,05% 45,52% 100,0 1,78 0,025

28 Wenceslau Guimarães 25,28% 99,10% 100,0 0,00 0,012

29 Gandu 37,63% 12,61% 66,7 0,40 0,014

Fonte: Dados da Pesquisa

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137

Analisando-se o mapa temático de áreas de unidades de conservação das comarcas (Figura

6.2), e conforme Tabela 6.1, constata-se que sete dentre 29 comarcas observadas têm mais de 70% de

seus territórios abrangidos por UC e são áreas prioritárias para a conservação (BRASIL, 2005), ainda

que grande parte destas seja de uso sustentável, a exemplo das Áreas de Proteção Ambiental – APA,

cuja efetividade de gestão seja consideradas baixas (MESQUITA, 2007).

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138

Figura 6.1: Comarcas observadas dentro do Corredor Central da Mata Atlântica, contendo unidades de conservação Fonte: Floresta Viva, 2008

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Ao observar o mapa temático de cobertura vegetal constata-se que 14 comarcas possuem mais

de 40% de cobertura vegetal de Mata Atlântica em diferentes estágios de regeneração natural e

ecossistemas associados (manguezais, restingas e brejos interioranos). Vê-se na relação espacial entre

UC e MA que nem sempre as comarcas de maior porcentagem de área de UC possuem as maiores

porcentagens de área de cobertura vegetal, exceto Nilo Peçanha que tem as maiores porcentagens

tanto de cobertura vegetal (63,48%) quanto de UC (99,11%), contudo possui um baixo índice de

desempenho (0,73%).

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140

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Ubaíra

Ibirapitanga

Buerarema

Camacan

Pau Brasil

Gandú

Porto Seguro

Itabuna

Caravelas

Belmonte

Jiquiriçá

Prado

Santa Luzia

Ilhéus

Valença

Camamu

Ituberá

Una

Alcobaça

Santa Cruz de Cabrália

Itamarajú

Itapebi

Coaraci

Maraú

Itajuípe

Uruçuca

Wenceslau Guimares

Nilo Peçanha

Taperoá

Itacaré

UCs (%)Cobertura de Mata Atlântica (%)

Figura 6.2: Comportamento das variáveis ambientais nas comarcas do CCMAB Fonte: Dados do Projeto

A análise da relação espacial entre as variáveis UC e MA (Figura 6.2) mostra que há uma

tendência da cobertura vegetal das comarcas observadas estarem contidas na faixa de 20 a 60 %,

enquanto que a variável UC tem uma amplitude maior (0 a 100 %). Tal amplitude da variável UC se

dá pelo fato de muitas destas comarcas estarem contidas em extensas Áreas de Proteção Ambiental –

APA, tais quais: Nilo Peçanha, Taperoá e Wenceslau Guimarães.

Ainda que o índice de análise de atuação do MP considere que a porcentagem de área de

cobertura vegetal de Mata Atlântica tenha o mesmo peso que a porcentagem de área de Unidades de

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141

Conservação, há que se fazer novas discussões a respeito desse índice e reconsiderar os pesos dessas

variáveis, porque uma implicação dessa pesquisa é que as comarcas com maior porcentagem de

cobertura vegetal nativa (biologicamente correlacionada com biodiversidade) parecem ser mais

prioritárias àquelas com maior porcentagem de área de UC, mesmo com vários níveis diferenciados

de perturbação. Isto porque floresta nativa é sinônimo de hábitat para espécies e as UC, nem sempre.

Há diversas UC que possuem vários trechos sem vegetação (hábitat) nativa e outras UC, como as

APA, não têm o objetivo de proteger hábitat nativo (e biodiversidade), e sim garantir o uso

sustentável dos recursos naturais (com base na definição legal). Neste contexto nota-se que a maioria

das comarcas analisadas estão inseridas em APA. Mesmo para as comarcas cujas áreas estão cobertas

por UC de proteção integral, tais como a Reserva Biológica de Una e o Parque Estadual do Conduru

(Uruçuca, Ilhéus e Itacaré) há uma estrutura governamental com responsabilidade direta

(administrativa) pelo gerenciamento deste patrimônio natural, centrando mais esforços na proteção

dessas áreas em detrimento das demais áreas nas quais a cobertura vegetal remanescente ainda é

significativa, mas não está protegida por nenhum órgão gerenciador diretamente. Deste modo, o MP

tem papel mais importante para zelar por este patrimônio. Adota o mesmo argumento Bruner, et al.

(2001) quando defende que são mais protegidas as áreas de UC, porque estas são privilegiadas com

mais suporte governamental (equipamentos, logística, infra-estrutura e recursos humanos) ao passo

que extensas áreas de cobertura vegetal, significativas para a conservação, são mais vulneráveis, vez

que o trabalho dos técnicos ambientais é mais difuso nessas grandes áreas.

Mesmo que essa pesquisa não tenha utilizado um mapeamento que não separa o hábitat nativo

de cultivos sombreados (cabrucas, seringais, piaçavais, dentre outros) (IESB, IGEO, 2007), a

literatura mostra que embora estes cultivos não sejam substitutos de floresta nativa, eles têm um

potencial na conservação, uma vez que servem de hábitat complementar para vários elementos da

biota, mitigando efeitos deletérios para espécies que certamente apareceriam caso esta porção de uso

da terra fosse coberta por áreas sem vegetação arbórea (FARIA et al., 2006).

Em análise espacial do desempenho das comarcas sob a perspectiva das variáveis UC e MA

(Figura 6.2) nota-se amplitude de valores distribuídos em uma faixa de 0 a 5% em que apenas a

comarca de Porto Seguro ultrapassa o valor de 4% que é muito reduzido. Também as comarcas com

as mais altas porcentagens de área de cobertura vegetal (Nilo Peçanha, Santa Cruz de Cabrália,

Itamarajú e Alcobaça) ou com área de UC (Nilo Peçanha, Taperoá e Wenceslau Guimarães) possuem

baixos índices de desempenho.

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142

Figura 6.3: Área do bioma Mata Atlântica e ecossistemas associados nas comarcas observadas dentro do Corredor Central da Mata Atlântica Fonte: FLORESTA VIVA, 2008

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143

Infere-se, assim, que o Ministério Público deveria manter promotorias especializadas em meio

ambiente justamente nestas comarcas de maior relevância. Contudo, a comparação entre as Figuras

6.1 e 6.3 mostra que nenhuma dessas comarcas possui promotoria especializada em direitos difusos e

coletivos, nem tampouco de meio ambiente (Figura 6.4). O Promotor de Justiça, nestes casos, tem

atribuição plena, sendo responsável por todas as responsabilidades que um operador de justiça dessa

natureza está sujeito. Outra constatação é de que o índice de desempenho (Figura 6.5) é maior nas

comarcas em que o MP mantém promotorias especializadas em meio ambiente: Porto Seguro,

Valença, Ilhéus e Coaraci, o que prova que há relação direta entre atribuição do Promotor de Justiça e

desempenho das Promotorias.

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Figura 6.4: Atuação do Promotor de Justiça nas comarcas do Corredor Central da Mata Atlântica Fonte: FLORESTA VIVA, 2008

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145

Observa-se que são maiores os valores do nas comarcas estabelecidas na Coordenadoria

Regional do Cacau

Di15, contudo as comarcas prioritárias para a conservação se encontram nas

Coordenadorias Regionais da Costa do Dendê (Nilo Peçanha), Costa do Descobrimento (Santa Cruz

de Cabrália) e Costa das Baleias (Alcobaça). Importa ressaltar que o Promotor de Justiça lotado em

Alcobaça, até o momento da pesquisa, era substituto, dividindo seu tempo escasso de Promotor pleno

com outra Promotoria de Justiça (Prado). Confrontando esta informação com dados espacializados no

Sistema de Informações Geográficas (HONORATO et al., 2008a) construído nesta pesquisa, nota-se

que a Coordenadoria do Cacau conta com um aparato do Poder Executivo (escritório do IBAMA e

sedes de UC em funcionamento) que faz-se ausente na Coordenadoria Regional da Costa do Dendê e

sobretudo na Coordenadoria Regional da Costa das Baleias. É o que se percebe em análise aos dados

apresentados por Honorato et al. (2008b), pois há dentre os procedimentos judiciais e extrajudiciais

da Coordenadoria Regional do Cacau um número significativo de oferecimento de provas e notícias

de danos ambientais oferecidas pelo IBAMA.

15 O Núcleo Mata Atlântica do Ministério Público – NuMA constitui-se este em um grupo especial de atuação formada por 110 Promotorias de Justiça, ao longo do litoral sul da Bahia. O NuMA está sistematizado em 06 Coordenações Regionais: Costa do Cacau, Costa do Descobrimento, Costa das Baleias, Costa do Dendê, Costa do Cacau, e Baía de Todos os Santos.

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Figura 6.5: Desempenho das Promotorias de Justiça nas comarcas do Corredor Central da Mata Atlântica Fonte: FLORESTA VIVA, 2008

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147

Constata-se também que os índices de avaliação ministerial ( ) com os valores mais altos

são justamente das Promotorias de Justiça especializadas em meio ambiente (Figura 6.6). Exceto uma

dentre as Promotorias de Justiça da Costa do Cacau, cujo índice é um dos mais elevados, mesmo na

condição de Promotoria de Justiça plena. Os operadores do Direito com menos atribuições podem

atuar com mais afinco na área ambiental, contribuindo para a coibição ou reversão do dano.

Outrossim, observando esses índices de avaliação ministerial, à luz do discurso do sujeito coletivo

dos promotores, apresentado por Honorato et al. (2008), apreende-se que aquelas comarcas nas quais

seus promotores expressaram preferência pelo direito ambiental em comparação às outras áreas

(crime, improbidade administrativa, direito da criança e adolescente e direito ao consumidor) ou o

direito ambiental estava entre as três áreas de atuação preferidas, obtiveram os maiores valores de

índice ministerial. Foi o que ocorreu com a comarca de Valença (3,14%), Porto Seguro (4,88%),

Itajuípe (2,72%) e Ilhéus (2,11%). Coincide, também, que são nessas comarcas que atuam os

Promotores de Justiça, Coordenadores das regionais do NuMA.

MPI

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148

Figura 6.6: Avaliação das Promotorias de Justiça nas comarcas do Corredor Central da Mata Atlântica Fonte: FLORESTA VIVA, 2008

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149

Nesta pesquisa, denotou-se que determinadas comarcas tidas como áreas prioritárias para a

conservação (significativa área de UC e cobertura de Mata Atlântica) receberam reduzidos valores do

índice de avaliação ministerial, reflexo dos baixos índices de desempenho dessas comarcas. Em

análise aos resultados numéricos apresentados por Honorato et al. (2008a) observa-se que tais índices

de desempenho estão relacionados a: (i) reduzida quantidade de instauração ou proposição de

procedimentos judiciais e extrajudiciais de maior impacto (maior ) para a conservação; (ii)

inexistência destes procedimentos de maior impacto na defesa ambiental; ou da (iii) existência de

quantidade considerável de procedimentos, porém de baixo impacto (menor ) para a conservação.

Ainda, constou-se que nenhuma das comarcas prioritárias para conservação foi incluída na maior

faixa de classificação de ou .

Pi

Pi

MPI Di

CONCLUSÃO

Conclui-se que de acordo com o índice proposto o desempenho das comarcas quanto a

atuação do Ministério Público ainda é tímido, apesar das Promotorias de Justiça estarem instaladas

em áreas prioritárias para a conservação devido a presença de UC e porcentagem significativa de

cobertura vegetal de Mata Atlântica. As Coordenadorias Regionais do MP onde estão localizadas as

comarcas prioritárias para a conservação possuem aparato deficiente dos órgãos governamentais

responsáveis pela gestão e defesa ambiental e não há promotorias especializadas em meio ambiente

em nenhuma dessas comarcas. Ainda, predominaram os maiores índices de desempenho em

comarcas que atuam coordenadores regionais do NuMA e que cultivam preferência pelo direito

ambiental.

É necessário que em estudo posterior se faça ajustes no índice de avaliação ministerial

atribuindo pesos, também mediante análise multicriterial, para as variáveis ambientais (porcentagens

de áreas de cobertura de Mata Atlântica e Unidades de Conservação) que compõem este índice.

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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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INSTITUTO FLORESTA VIVA (Ilhéus, Ba). Comarcas observadas dentro do Corredor Central da Mata Atlântica, contendo unidades de conservação. Ilhéus, 2008. 1 mapa. Escala 1: 2000 (não publicado). INSTITUTO FLORESTA VIVA (Ilhéus, Ba). Área do bioma Mata atlântica e ecossistemas associados nas comarcas observadas dentro do Corredor Central da Mata Atlântica. Ilhéus, 2008. 1 mapa. Escala 1: 2000 (não publicado). INSTITUTO FLORESTA VIVA (Ilhéus, Ba). Atuação do Promotor de Justiça nas comarcas do Corredor Central da Mata Atlântica. Ilhéus, 2008. 1 mapa. Escala 1: 2000 (não publicado). INSTITUTO FLORESTA VIVA (Ilhéus, Ba). Desempenho das Promotorias de Justiça nas comarcas do Corredor Central da Mata Atlântica. Ilhéus, 2008. 1 mapa. Escala 1: 2000 (não publicado). INSTITUTO FLORESTA VIVA (Ilhéus, Ba). Avaliação das Promotorias de Justiça nas comarcas do Corredor Central da Mata Atlântica. Ilhéus, 2008. 1 mapa. Escala 1: 2000 (não publicado). LANDAU, E. C.; RESENDE, N. A. T. 2003. Unidades de Conservação do Sudeste da Bahia, Brasil.(mapa em formato digital elaborado a partir de INCRA, 1998; CRA, 1998 e dados inéditos), escala 1:250.000. In: PRADO P. I., LANDAU E. C., MOURA R. T., PINTO L. P. S., FONSECA G. A. B., ALGER K. (orgs.) IESB/CI/CABS/UFMG/UNICAMP) Corredor de Biodiversidade da Mata Atlântica do Sul da Bahia. 2003. 1 CD-ROM. MESQUITA, C. A. B. et al. Diagnóstico das unidades de conservação do Corredor Central da Mata Atlântica. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO, 5, 2007, Foz do Iguaçu. Anais... Curitiba: Rede Nacional Pró-Unidades de Conservação: Fundação o Boticário de Proteção à Natureza, 2007. 1 CD-ROM. PRESERVA - Associação de Proprietários de Reservas Particulares da Bahia. Arquivos shapes. [S.I.: s.n., 200-]. Não publicado. SAATY, T. L. A scaling method for priorities in hierarchical structures. Journal of Mathematical Psychology. v 15, p. 234-281. 1977. SEI. Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia. Informações Geoambientais: Informações Cartográficas – base de dados 1997. Disponível em: <http://www.sei.ba.gov.br/geoambientais/index_geoamb_infogeo.htm>. Acesso em: 07 de maio de 2008.

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EPÍLOGO

Esta dissertação foi escrita com capítulos independentes que podem auxiliar em discussões

que tratem de ajustes no exercício ministerial para a defesa ambiental das unidades de conservação,

no Corredor Central da Mata Atlântica da Bahia- CCMAB. O epílogo tem o objetivo de correlacionar

os assuntos abordados ao longo dessa dissertação. Para tanto, conectou os resultados que foram

apresentados de forma independente em cada um dos capítulos, exceto o capítulo 06 que fez essa

correlação e resgatou elementos dos outros capítulos na discussão dos seus resultados.

Inicialmente, foi resgatado o histórico do avanço normativo do Ministério Público a partir da

Constituição de 1988. Fez-se considerações sobre a importância do NuMA como vetor de mudanças

na postura dos Promotores de Justiça frente as questões ambientais, no âmbito do Corredor Central da

Mata Atlântica. Também foi lançado um olhar sobre a trajetória da dinâmica da realização dessa

pesquisa, a partir de outros horizontes no meio científico. Outrossim, foram apresentados alguns

desafios da construção da matriz de análise multicriterial, uma das metodologias utilizadas para a

construção do instrumento de avaliação do MP.

ANÁLISE DO MINISTÉRIO PÚBLICO

A legitimação atribuída ao Ministério Público-MP para proteção dos interesses da tutela

coletiva foi uma grande inovação no Texto Constitucional de 1988. Esta deu novos rumos funcionais

ao MP e ampliou suas responsabilidades, posto que se antes era tutor da ação penal, depois da Carta

Maior de 1988, este órgão assumiu a função de defensor do ordenamento jurídico e guardião do

regime democrático. Mediante a Lei da Ação Civil Pública - ACP o avanço constitucional diminuiu a

distância entre a justiça e a sociedade civil, visto que o MP passou a ser uma instituição participativa.

Outrossim, com este dispositivo legal (ACP) a Constituição Federal de 1988 alargou a ampliação dos

direitos políticos da sociedade e dos mecanismos de participação social nos regimes democráticos.

Ator jurídico privilegiado e competente, nos termos da Lei, o MP foi escolhido como objeto

de análise em face das múltiplas possibilidades de abrir ao pesquisador e aos leitores futuros, novos

elementos reais que permitissem avançar na contextualização entre a Lei e a praxis, em relação a

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153

defesa ambiental. Mais de que um guardião do patrimônio ambiental, espera-se que este operador do

direito amplie a democracia participativa quando atua como peça jurídica importante para aproximar

a sociedade civil do sistema judicial na defesa das UC inseridas no CCMAB. Em dois anos de

pesquisa constatou-se que não há publicações que tratam da atuação do MP em UC da Mata Atlântica

no Corredor Central da Mata Atlântica na Bahia- CCMAB, nem tampouco, dos métodos que avaliem

a eficiência da aplicação da lei pelo MP em favor da conservação da natureza nessas áreas protegidas.

Um trabalho similar foi realizado por Moreira (2006) ao analisar a atuação do Ministério Público, a

partir dos Centros de Apoio Operacionais em todos os Estados Brasileiros. A pesquisadora de tal

iniciativa utilizou entrevistas e questionários, adotando como uma das bases conceituais o

planejamento estratégico. Assim, não havendo acervo bibliográfico que apresentasse proposta igual

de construção de instrumento de avaliação, foi complexa a adoção da análise multicriterial pareada

para atribuir os pesos dos procedimentos e processos judiciais e extra-judiciais, posto que o juízo de

valores que cada operador do direito (tomador de decisão) possui quanto àqueles é muito distinto.

Fator que não coloca em questão a eficiência da metodologia, tampouco as variáveis que compõem o

índice de avaliação ministerial. Posteriormente, há que se fazer novo ensaio, com diversos

Promotores de Justiça para ajustar a matriz de análise multicriterial e conseqüentemente, atribuição

de novos pesos aos processos e procedimentos.

Importa, neste epílogo, promover a interlocução dos resultados dessa pesquisa. Assim, com

base no arcabouço teórico-conceitual apresentado no prólogo e a partir do exame dos dados há que se

destacar os elementos apresentados no quadro síntese de consolidação de resultados dos artigos

constituintes dessa Dissertação:

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Capítulos Títulos Conclusões

II A Fase Estruturante do Ministério

Público para atuar na Mata Atlântica:

Um Olhar sobre sua a sua Gênese e

Trajetória

• Denota-se fragilidade nos indicadores

das ações finalísticas apresentadas no

Sistema de Proteção Legal da Mata

Atlântica do NuMA.

• A ausência de analistas periciais

ambientais lotados, nas comarcas do

interior, para atender especificamente

as necessidades da Mata Atlântica

dificultam a atuação ministerial.

• Não há um instrumento de avaliação

para medir a atuação ministerial de

forma qualitativa quanto à defesa

ambiental.

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155

(Continua)

Capítulos Títulos Conclusões

III O Ministério Público nas Unidades de

Conservação do Corredor Central da

Mata Atlântica: Uma Avaliação a

partir do Discurso do Sujeito Coletivo

dos Promotores de Justiça

• Os objetivos das estratégias de

conservação ainda não estão claros

para os Promotores de Justiça.

• A não apropriação técnica de

elementos conceituais fundantes do

próprio Direito Ambiental na área da

Mata Atlântica limita o efetivo

exercício do munus ministerial na

defesa das unidades de conservação

dentro desse bioma no Estado da

Bahia.

• As deficiências quanto à infra-estrutura

e equipamentos limitam a defesa das

unidades de conservação, pelos

Promotores de Justiça.

• A própria ausência de participação

cidadã da sociedade civil nas comarcas

enquanto sujeito de direito dos bens

ambientais limitam a defesa das

unidades de conservação, pelos

Promotores de Justiça.

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156

(Continua)

Capítulos Títulos Conclusões

IV Uma Análise da Atuação do Ministério

Público a partir da sua relação com a

Sociedade Civil no Corredor Central

da Mata Atlântica na Bahia

• Há pouca aproximação entre os

conselhos municipais de meio

ambiente e o Ministério Público.

• O MP, apesar da sua missão

institucional/constitucional em relação

ao Estado Democrático de Direito,

ainda não interage de forma construtiva

com a sociedade civil na perspectiva na

conservação ambiental.

• Há uma frágil tendência do MP não

ocupar o papel do Promotor como

agente educador. Tal qual é a iniciativa

da sociedade civil em se interagir com

o Ministério Público.

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(Conclusão)

Capítulos Títulos Conclusões

V Sistemas de Informações Geográficas:

Uma Ferramenta para o Ministério

Público na Defesa das Unidades de

Conservação

• Na maioria dos procedimentos a

localização do dano é vaga e

incipiente.

• 72% das denúncias criminais foram

decorrentes de inquéritos policiais

requisitados por outros (a maioria pelo

IBAMA).

• Mais de 76% inquéritos civis

demonstraram encontrarem-se

estagnados em face do intervalo de

mais de um ano entre o penúltimo ato e

último ato.

• As informações ambientais necessárias

para manusear as peças judiciais nas

comarcas são insuficientes,

prejudicando a composição civil e

conseqüente reversão do dano

ambiental.

VI Um Instrumento para Analisar a

Atuação do Ministério Público nas

Unidades de Conservação do Corredor

Central da Mata Atlântica na Bahia

• É tímido o índice de desempenho das

comarcas do CCMAB, quanto a

atuação do Ministério Público.

Observa-se aqui forte correlação entre os diversos fatores que influenciam diretamente na

atuação do Promotor de Justiça e que foram tratados ao longo desses capítulos. Elementos do

ambiente externo (limitações e oportunidades quanto às ONG, conselhos municipais e poderes

executivo e judiciário, políticas e estratégias de conservação) e interno (infra-estrutura, logística,

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158

capacidade humana, dentre outros) foram sistematicamente citados pelos informantes ou anunciados

mediante análise dos procedimentos. O Discurso do Sujeito Coletivo – DSC apresentado no capítulo

3 demonstrou claramente que há necessidade de reforçar a infra-estrutura, a logística e a capacidade

humana interna do MP para o pleno exercício da atividade de defesa ambiental. O DSC também

demonstrou que o MP muito espera uma reação da sociedade civil, ainda que a relação e a

provocação deste órgão para com a sociedade seja tímida. É o que constata o DSC de representantes

da sociedade civil revelada no capítulo 4 e que se confirma na análise dos procedimentos

apresentados no capítulo 5, pois segundo este, há pouca procura da sociedade civil pelo MP, seja para

noticiar crime ambiental ou fato potencialmente ofensivo, seja para apresentar provas de crimes

ambientais. O IBAMA é a instituição que mais colabora com o MP quando noticia crimes ou produz

provas de danos ou ameaça de danos ambientais, fator que potencializa a ação ministerial. A

implantação do SIG nas bases regionais do NuMA será muito relevante porque permitirá troca e

fluxo de informações entre o IBAMA e o MP para a defesa ambiental e conseqüentemente

contribuirá com maior articulação institucional entre estes órgãos. O SIG também facilitará a

aproximação do MP com conselhos e secretarias municipais de meio ambiente, ONG, polícia civil e

polícia militar, porque o Promotor terá como localizá-los, acessá-los e acompanhá-los em seus

trabalhos. Tal sinergia contribuirá para consolidação dos sistemas municipais de meio ambiente, onde

os esforços para a conservação serão concatenados e convergidos em objetivos comuns, evitando

ações isoladas, inócuas e duplicidade de ações.

O instrumento de avaliação foi capaz de detectar a eficiência da atuação ministerial quanto à

defesa ambiental. Primeiro porque a análise dos procedimentos é realizada mediante escalas

específicas que consideram todos os fatores (internos e externos) que influenciam a atuação

ministerial. Segundo, porque considera como critério para estabelecer os pesos de cada procedimento

a opinião de Promotores de Justiça que se configuraram como informantes-chave na metodologia da

análise multicriterial, aplicada nessa pesquisa. Outrossim, também os Promotores serão os tomadores

de decisão no planejamento ambiental do Ministério Público, fator que pode validar o instrumento

em questão. Terceiro porque o índice não é indiferente ao esforço do Promotor enquanto Promotor de

atuação plena, adotando assim medida e comparação justa entre esses operadores de Direito. O que é

interessante é que o índice, na sua concepção, leva em conta variáveis que já são consideradas

importantes para a conservação ou para priorização da conservação, tais quais a área de unidades de

conservação e a área de cobertura de vegetação de Mata Atlântica.

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RECOMENDAÇÕES

Os resultados obtidos a partir dessa pesquisa poderão auxiliar o MP na defesa ambiental.

Como contribuição ao MP, sugere-se: (i) a implantação do GEONUMA em cada uma das comarcas;

(ii) atualização do GEONuMA com os dados espaciais obtidos neste trabalho; (iii) melhorias em

infra-estrutura e ampliação do quadro de técnicos para análise pericial; (iv) nomeação de Promotores

de Justiça exclusivos para atuarem na defesa ambiental; e (v) implantação desse instrumento de

análise da atuação do MP na defesa ambiental pela Procuradoria Geral do MP.

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H774 Honorato, Soraya Carvalhedo.

Análise da atuação do Ministério Público nas unidades de conservação do corredor da Mata Atlântica na Bahia / Soraya Carvalhedo Honorato. – Ilhéus, BA: UESC, 2008.

xiii, 159f. : il Orientador: Gil Marcelo Reuss Strenzel. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual de Santa Cruz. Programa Regional de Pós-graduação em

Desenvolvimento e Meio Ambiente. Inclui bibliografia.

1. Conservação da natureza. 2. Mata Atlântica. 3. Pro- teção ambiental. 4. Ministério Público. 5. Sociedade civil. I. Título. CDD 333. 72