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ANAIS

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ANAIS DO 2º SEMINARIO DE GRADUAÇÃO E PÓS-

GRADUAÇÃO EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Os BRICS e as Transformações em Ordem Global

28 e 29 de Julho de 2014

Acadepol | João Pessoa-PB

ISBN: 978-85-66399-05-9

ANNALS OF THE 2nd INTERNATIONAL RELATIONS

GRADUATION AND POST-GRADUATION SEMINAR

BRICS and Global Order Transformations

July 28th - 29th, 2014

Acadepol | João Pessoa-PB

ISBN: 978-85-66399-05-9

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Expediente | Staff Conselho Diretor da Associação Brasileira de Relações Internacionais | ABRI Board of Directors Presidente: Paulo Luiz Moreaux Lavigne Esteves / PUC – Rio Secretário Executivo: Antônio Carlos Lessa / UnB Secretário Executivo Adjunto: Cristiano Garcia Mendes / PUC Minas Tesoureiro: Carlos Enrique Ruiz Ferreira / UEPB Diretores: Hector Luis Saint-Pierre / UNESP; Deisy Ventura / USP; Paulo José dos Reis Pereira / PUC SP; Carlos Arturi / UFRGS Conselho Fiscal: Alexandre Ratsuo Uehara, FRB; Elsa Sousa Kraychete / UFBA Comissão Organizadora do 2º Seminário de Relações Internacionais: Graduação e Pós-graduação | Organizing Committee Comissão Organizadora Nacional | National Organizing Committee Paulo Esteves, PUC-Rio Antonio Carlos Lessa, UnB Carlos Enrique Ruiz Ferreira, UEPB Cristiano Mendes Garcia, PUC Minas Comissão Organizadora Local | Local Organizing Committee Filipe Reis Melo, UEPB Ana Paula Maielo Silva, UEPB Alexandre Cesar Cunha Leite, UEPB Comissão Científica Graduação | Undergraduation Scientific Committee Tulio Sérgio Henriques Ferreira, UFPB Tânia Maria Pechir Gomes Manzur, UnB Danny Zahreddine, PUC Minas Henrique Zeferino de Menezes, UFPB Comissão Científica Pós-graduação | Post-graduation Scientific Committee Matilde de Souza, PUC Minas Henrique Altemani de Oliveira, UEPB Hector Saint Pierre, UNESP (SI) Daniel Maurício Cavalcanti de Aragão, UFBA (GI) André Luiz Reis da Silva, UFRGS (PE) Marta Regina Fernández y Garcia Moreno, PUC-Rio (TR) Organização | Organization Airá Eventos Técnico-Científicos

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ÍNDICE | INDEX

EXPEDIENTE | STAFF 03

APRESENTAÇÃO | PRESENTATION 05

RESUMO DA PROGRAMAÇÃO | PROGRAM SUMMARY 06

GOVERNANÇA E INSTITUIÇÕES INTERNACIONAIS 07

POLÍTICA EXTERNA 29

SEGURANÇA INTERNACIONAL 45

TEORIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS 55

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APRESENTAÇÃO | PRESENTATION

Prezada leitora e Prezado leitor,

Este volume dos anais do 2º Seminário de Relações Internacionais: Graduação e Pós-graduação realizado em João

Pessoa, nos dias 28 e 29 de agosto de 2014, foi preparado para reunir todos os trabalhos que foram submetidos para

o evento em um único arquivo e que também estão disponíveis na página do evento na internet. Agora você poderá

baixar os anais em PDF com todos os resumos dos trabalhos e acessar individualmente os trabalhos completos.

Aqui os anais estão organizados por área temática e dentro de cada área pelo nome do autor ou da autora. Para lo-

calizar algum trabalho específico, localize a área do trabalho e depois busque pelo autor ou autora que está em or-

dem alfabética. Para os trabalhos em que o autor ou a autora enviou à organização do evento a versão completa re-

ferente ao resumo, colocamos um link abaixo do título do trabalho para que você possa acessá-lo também.

Desejamos a todos uma boa leitura!

Equipe do 2º Seminário de Relações Internacionais: Graduação e Pós-graduação

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Resumo da Programação | Program Summary

QUINTA-FEIRA | 28/08/2014

09:00 às 18:00 | Credenciamento

09:30 às 12:30 | Minicurso

09:00 às 11:00 | Mesa Redonda: Desafios e abordagem possíveis da adaptação dos Cursos de Graduação em Rela-

ções Internacionais às Diretrizes Curriculares Nacionais

11:00 às 13:00 | Painéis

13:00 às 14:30 | Intervalo

13:30 às 16:30 | Workshop Doutoral

14:30 às 16:30 | Mesa Redonda: Desafios da elaboração e implementação do ENADE à luz das novas Diretrizes Curri-

culares Nacionais

16:30 às 16:45 | Coffee Break

16:45 às 18:45 | Fórum de Graduação

16:45 às 18:45 | Fórum de Editores

16:45 às 18:45 |Painéis

19:00 | Mesa Redonda: Os BRICS e as Transformações na Ordem Global

SEXTA-FEIRA | 29/08/2014

09:00 às 16:30 | Credenciamento

09:30 às 12:30 | Minicurso Graduação

09:30 às 12:30 | Workshop Doutoral

09:30 às 11:30 | Mesa Redonda: Desafios da Internacionalização da Pós-graduação Brasileira

11:30 às 13:00 | Intervalo

13:00 às 15:00 |Painéis

13:00 às 15:00 | Fórum de Pós-graduação

15:00 às 15:15 | Coffee Break

15:15 às 17:15 |Painéis

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Ana Paula Lage de Oliveira

O BRICS no Conselho de Segurança da ONU e o desafio da res-

ponsabilidade ao proteger – uma agenda em transformação?

Coautor(es): Rafael Assumpção Rocha

Trabalho completo

Resumo: No ano de 2011, o Conselho de Segurança das Na-

ções Unidas (CSNU) contou com a participação de África do

Sul, Brasil e Índia na posição de membros rotativos do órgão, o

que, com a adição de Rússia e China, membros permanentes,

significou a presença completa do BRICS naquele órgão. Além

disso, foi um ano em que a agenda do CSNU foi marcada por

temas não tradicionais, como meio ambiente e HIV/AIDS, que

constaram nas resoluções do órgão e se adicionaram à discus-

são de outros temas de segurança tradicional tratados por

uma nova perspectiva. No caso da Líbia, um dos temas princi-

pais tratados no período, a questão da responsabilidade de

proteger (RdP ) pode ser debatida com novos olhos, já que foi

a primeira vez que o CSNU autorizou o uso da força sob os

auspícios da doutrina emergente. Em setembro do mesmo

ano, o Brasil propôs o conceito de responsabilidade ao prote-

ger (RwP). O interesse dos autores, portanto, é compreender

as alterações do conceito de RtPRdP, seus efeitos no trabalho

do CSNU e as posições dos países membros do BRICS em rela-

ção ao RwP. O grupo possui uma identidade que persiste ape-

sar de dificuldades e discordâncias e que pode ser um podero-

so instrumento de persuasão uma vez que tais países estejam

articulados para tratar dos temas de segurança. Nesse sentido,

o ano de 2011 se tornou emblemático para analisar a posição

de cada um dos países referidos em seu comportamento parti-

cular e em conjunto, e essa análise pode desvendar importan-

tes oportunidades aos estudos da segurança, do órgão, do

multilateralismo, da recepção ou resistência a novas ideias e

da própria noção de responsabilidade de proteger, com rele-

vantes desdobramentos para a política internacional e às Na-

ções Unidas em seu esforço de desempenhar um papel positi-

vo no século XXI.

Andréa Freire de Lucena

Tráfico internacional de pessoas: direitos humanos e evidências

empíricas

Coautor(es): Luciana de Oliveira Dias e Sandro Eduardo Mon-

sueto

Trabalho completo

Resumo: Os governos, desde início do século XX, têm procura-

do criar regimes internacionais para enfrentar o tráfico de pes-

soas, dentre eles a Convenção de Palermo. Neste ínterim, o

principal avanço, dentre outros, foi o reconhecimento, por

parte dos governos, de que o tráfico exige, para seu enfreta-

mento, uma abordagem global e internacional. Assim sendo,

políticas públicas domésticas devem ser construídas de manei-

ra interdependente, unindo especialmente países de origens e

de destinos do tráfico. Daí, a necessidade de intensificar a coo-

peração internacional entre países. Existem, todavia, uma

questão fundamental que pede por respostas urgentes: Quem

são os traficados? Nesses aspectos, nos deparamos com a es-

cassez de dados. O artigo 10 do Protocolo de Palermo destaca

a importância do intercâmbio de informações, mas o dado

gerado pelo país de origem não necessariamente é compatível

com o dado gerado pelo país de destino. Por isso, não raro o

número informado por um país é diferente do número infor-

mado por outro e a não exatidão impede que se tenha dimen-

são real do que fazer e de como fazer. Para tentar amenizar

esse problema, a Organização Internacional para as Migrações

(OIM) lançou, em 2000, uma base de dados transnacional,

chamada de Módulo Contra o Tráfico (CTM), contendo dados

primários sobre as Vítimas de Tráfico, conhecidos como

VoT.Esse artigo objetiva analisar alguns dados que foram dis-

ponibilizados pela OIM, procurando mostrar algumas evidên-

cias empíricas das vítimas que recebem assistência. Este texto

encontra-se dividido em três partes. Na primeira, faremos uma

discussão sobre a assistência e proteção às vítimas do tráfico

como uma questão de direitos humanos. Na segunda, volta-

mos a destacar a dificuldade de identificar a vítima do tráfico e

a relevância de conhecê-la. Na terceira, destacamos o perfil

dos traficados e fazemos um exercício estatístico com a finali-

dade de levantar possíveis determinantes do tráfico de pesso-

as.

Anelise Freitas Pereira Gondar

A reinvenção da cidade? - Clusters tecnológicos, seus limites e

possibilidades para países emergentes

Trabalho completo

Resumo: Na última década, inúmeras análises no meio acadê-

mico têm constatado o surgimento de clusters tecnológicos

em cidades do Sul Global, que chamam a atenção pela concen-

tração em rede de mão-de-obra especializada, fornecedores e

consumidores de tecnologia. Esse sucesso tem como critérios

a possibilidade de desenvolvimento regional, a otimização da

utilização de mão-de-obra e recursos locais bem como de inte-

gração a mercados transnacionais. Cidades nesse sentido cada

vez mais internacionalizadas cidades enfrentam desafios

emergentes de uma pretensa nova condição, já que, o sucesso

na administração de recursos e mão-de-obra está estreita-

mente relacionado às condições materiais de vida da popula-

ção local bem como questões de habitação, saúde, mobilidade

e questões ligadas à permanência do cluster no local. A pre-

GOVERNANÇA E INSTITUIÇÃO

INTERNACIONAIS

Anais do 2º Seminário de Relações Internacionais: Graduação e Pós-graduação João Pessoa | 28 e 29 de agosto de 2014

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sente pesquisa busca observar dois casos em países emergen-

tes. Um deles, tido como caso referencial de sucesso é o dos

pólos tecnológicos de Bangalore, na Índia, cuja constituição

deu-se amplamente baseada em esforços da iniciativa privada

durante os anos Noventa. O segundo caso é o projeto de im-

plantação de um pólo de economia criativa intitulado “Porto

Digital”, criado no ano de 2000 através de maciço investimen-

to governamental. Considera-se que (a) a criação de pólos

tecnológicos em regiões do Sul Global obedecem não apenas a

uma racionalidade distinta do mesmo fenômeno no Norte,

como inserem-se de forma diferente no capitalismo globaliza-

do e (b) as redes de cooperação entre países emergentes têm

crescido nas últimas décadas, em especial desde o advento do

chamado grupo dos “BRICS”, e esse enredamento contribui

não apenas para a transferência de conhecimento entre as

potências, mas também para o compartilhamento de best

practices. Portanto, quais processos econômicos, sociais e polí-

ticos levaram cidades como Recife (Brasil) e Bangalore (Índia) a

se tornarem hubs transnacionais de produção de tecnologia?

Beatriz Juana Isabel Bissio S. N. Moreira

São os BRICS herdeiros do espirito de Bandung? Continuidade e

ruptura de 1955 a 2014 na diplomacia do Sul

Trabalho completo

Resumo: Num mundo marcado pela globalização, neste início

do século XXI alguns países que décadas antes faziam parte do

chamado Terceiro Mundo passaram a ser identificados como

líderes das suas respectivas regiões. Batizados de

“emergentes”, eles começaram a suscitar o interesse de ana-

listas internacionais, entre eles Jim O´Neil, da Goldman Sachs,

que em 2001 publicou um artigo intitulado Building Better

Global Economic - BRICs, lançando a expressão que designaria,

mais tarde, a aliança entre Brasil, China, Índia e Rússia, concre-

tizada em setembro de 2006, no marco da 61ª Assembleia

Geral da ONU, à qual somou-se, em 2011, a África do Sul. Os

objetivos do grupo - delineados aos poucos, em cada reunião

conjunta - estão pautados pelo anseio de ampliar os espaços

de cooperação, com ênfase na economia, e de traçar estraté-

gias conjuntas de atuação internacional. O presente trabalho

se propõe a analisar as perspectivas e os desafios dos BRICS

comparando esta aliança com a experiência de concertação

protagonizada pelo Movimento dos Países Não Alinhados na

segunda metade do século XX. Procura-se identificar pontos de

convergência, se existem, e estudar as especificidades de cada

caso, com o objetivo de responder a pergunta de se é possível

falar em algum tipo de continuidade e identidade entre as du-

as experiências. Lembre-se que a emergência dos Não Alinha-

dos e do conceito de Terceiro Mundo esteve ancorada na con-

ferência realizada em Bandung, em 1955, um marco nas rela-

ções internacionais na Guerra Fria. A reunião representou,

simbolicamente, o momento em que uma significativa parcela

da Humanidade tomava consciência de seu papel e fazia ouvir

a sua voz. E nela, dois dos atuais membros dos BRICS - a Índia,

representada pelo primeiro ministro Jawaharlal Nehru, e a

China, representada primeiro ministro Chou En Lai - desempe-

nharam um papel preponderante.

Beatriz Rodrigues Bessa Mattos

A Cooperação Internacional na área da saúde pública e a cria-

ção do Fórum de Diálogo IBAS

Trabalho completo

Resumo: Os constrangimentos sistêmicos, verificados no cená-

rio internacional pós- Guerra Fria, demandaram a exploração

de novos meios de inserção política e econômica, abrindo ca-

minho para a cooperação entre os Estados do Sul. As nações

em desenvolvimento optaram, portanto, por estabelecer par-

cerias com Estados cujos objetivos e desafios constituíssem-se

como similares aos seus, na tentativa de outorgar mais voz às

suas demandas nos foros multilaterais, bem como capacita-

rem-se para melhor responder aos desafios, advindos da nova

ordem global, por meio da cooperação. O presente artigo em-

penha-se na análise dos antecedentes da criação do Fórum de

Diálogo Índia, Brasil e África do Sul (IBAS). Buscou-se, desse

modo, analisar a atuação dessas três nações em meio às nego-

ciações de Doha, no âmbito da Organização Mundial do Co-

mércio (OMC), acerca dos direitos de propriedade intelectu-

al. A primeira parte deste artigo dedicou-se, portanto, a análi-

se do marco regulatório internacional sobre propriedade inte-

lectual: o Acordo TRIPS. O Acordo constitui-se como motivador

de diversos contenciosos, sucedidos em virtude de divergên-

cias a respeito da aplicabilidade de seu conteúdo.Durante as

negociações da IV Conferência de Doha, Índia, Brasil e África

do Sul lutaram pelo estabelecimento de um marco regulatório

de propriedade intelectual que priorizasse o bem público em

detrimento dos lucros econômicos dos setores privados.O

embate, que opunha os Estados centrais e as multinacionais

farmacêuticas aos Estados do Sul e as organizações não gover-

namentais, culminou na criação da Declaração Ministerial so-

bre TRIPS e Saúde Pública, interpretada como uma grande

vitória da coalizão dos países em desenvolvimento. A pesquisa

dedicou-se, ainda, a investigar de que forma a vitória em Doha

conferiu impulso renovado à criação de um mecanismo de

cooperação inter-regional, que associa três Estados longín-

quos, dotados de considerável influência em suas respectivas

extensões geográficas.

Bruno Theodoro Luciano

Ainda eleições de segunda ordem? Análise da participação e dos

resultados das eleições europeias de 2014

Trabalho completo

Resumo: Os países-membros da União Europeia (UE) realizam

Os BRICS e as Transformações da Ordem Global

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eleições para escolha dos membros do Parlamento Europeu

entre os dias 22 e 25 de maio de 2014. Esta é a oitava vez que

os eurodeputados são escolhidos diretamente pelos cidadãos

dos países europeus. Constituída nos primeiros anos do pro-

cesso de integração da Europa, essa instituição parlamentar

teve, em seus primeiros anos, a função de aproximar os legis-

lativos nacionais das decisões e políticas tomadas no âmbito

regional, além de exercer um controle político sobre as estru-

turas executivas comunitárias. Desde o primeiro pleito de na-

tureza europeia, o Parlamento Europeu ganhou sucessivos

poderes institucionais dentro da integração europeia, ocupan-

do na atualidade um papel de colegislador em quase todas as

matérias comunitárias, excetuando-se temas de política exter-

na, segurança e defesa. O aumento de relevância dessa insti-

tuição parlamentar ocorre simultaneamente à forte queda no

nível de participação dos cidadãos nas eleições, passando de

61,99% em 1979 para 43% nas últimas eleições de 2009. A

antecipação da data eleitoral de junho para maio, o contexto

conjuntural de crise nos países da zona do euro e o novo papel

dos grupos políticos europeus na definição do candidato à

Presidente da Comissão Europeia, órgão executivo e tecnocrá-

tico da UE, trazem possibilidades de reversão desse quadro de

baixa participação popular e politização das eleições europei-

as. Discute-se, no presente artigo, se esses novos elementos

podem tornar essas eleições verdadeiramente europeias, haja

vista a histórica predominância dos assuntos políticos nacio-

nais e domésticos nas campanhas eleitorais.

Clarice Frazão Alexandre

Países Emergentes Frente à Governança Global: Power Shift?

Trabalho completo

Resumo: A configuração sistêmica internacional contemporâ-

nea, marcada pela ampliação dos processos de globalização e

reordenações engendradas por atores emergentes que visam

a deslocar os eixos de poder mundial tradicionais, vem sendo

crescentemente redesenhada pela atuação ampliada desses

atores visando à elaboração e à execução das propostas cons-

titutivas de uma nova agenda global. Destacam-se, nesse con-

texto, as articulações entre países emergentes, com destaque

para China, Brasil, Índia e Rússia nesse novo cenário em âmbi-

tos comercial, financeiro e políticos, principalmente como for-

ma de enfrentar os efeitos da recente crise financeira mundial.

Argumenta-se, no entanto, que é questionável a defesa de

uma mudança inevitável de eixo de poder em direção aos paí-

ses asiáticos, ou, ainda, a percepção de “rise of the rest” como

decorrência do declínio irreversível da hegemonia norte-

americana, com base numa visão neo-gramsciana. Busca-se

levantar críticas à visão que argumenta em favor da percepção

de um “power shift” tendo por base análise de vantagens es-

truturais do sistema que estabelece as possibilidades de ga-

nhos e custos para os países emergentes no exercício da go-

vernança global, com destaque para os países dos BRICS.

Elia Elisa Cia Alves

A difusão de políticas de energia renovável: aprendizado, emula-

ção, competição ou coerção?

Trabalho completo

Resumo: Os recursos energéticos tornaram-se, para a socieda-

de contemporânea, imprescindíveis para o desenvolvimento

econômico e social. Paralelamente, inúmeras questões nos

estudos de política internacional começam a emergir a fim de

melhor compreender os rumos das decisões em torno das

questões energéticas. Afinal, por que alguns países têm opta-

do pela empreitada em direção à adoção de políticas de incen-

tivo à energia alternativa? De modo mais abrangente, o que

determina as escolhas energéticas de um Estado? Será sua

geografia? Disponibilidade de recursos? Pressão ou aprendiza-

do internacional? Desenvolvimento tecnológico? Demanda?

Quais atores definem os objetivos energéticos de um país?

Serão forças eminentemente políticas? Ou prevalecem as for-

ças do mercado? E, quais são os fatores que podem impactar

em significativas mudanças nas definições desses objetivos?A

afirmação de um dos maiores expoentes do pensamento da

organização social no século XXI ressalta a importância do tra-

tamento da questão energética sob uma ótica analítica políti-

ca, para Rifkin (2011) “regimes de energia moldam a natureza

das civilizações – como são organizadas, como os benefícios

do comércio são distribuídos, como o poder político é exercido

e como as relações sociais são conduzidas” (p. 107, tradução

livre). Mesmo assim, a bibliografia em Relações Internacionais

(RI) que envolve o tema da energia é relativamente escassa e

foca, primordialmente, nas questões de segurança energéti-

ca. Hughes e Lipcy (2013), entretanto, apontam tendências de

que a política de energia é uma área de investigação reemer-

gente, após a primeira onda de publicações, das décadas de

1970 e 1980, que focava nas respostas dos governos às crises

de petróleo. Uma das razões desse novo movimento seria o

crescimento da demanda por economias emergentes, seguido

por sua relevância cada vez maior sobre as questões relaciona-

das com a energia. Outro fator por trás disso é o foco crescen-

te dos governos sobre as mudanças climáticas, uma vez que as

emissões de gases de efeito estufa estariam intimamente rela-

cionadas com a geração e distribuição de energia. Essa segun-

da geração de publicações emerge, porém, em um contexto

político-econômico e social completamente distinto daquele

dos anos 1970. As novas abordagens teóricas começam a en-

globar a ação de novos atores e de estruturas normativas e

institucionais, as quais passaram por mudanças drásticas ao

longo dos últimos 30 anos. Com isso, a complexidade do tema

aumentou, tornando difícil o tratamento específico e localiza-

do. Isso porque, por um lado, a energia consagrou-se como o

motor que impulsiona e respalda todas as atividades contem-

Anais do 2º Seminário de Relações Internacionais: Graduação e Pós-graduação João Pessoa | 28 e 29 de agosto de 2014

Page 10: ANAIS - abri.org.br

10

porâneas, seja na esfera econômica, na política ou na social.

Além disso, desde o primeiro choque do petróleo, a dimensão

energética legitimou-se como parte fundamental de um plano

estratégico para o desenvolvimento econômico, pois é o mo-

tor responsável pela produção industrial que, consequente-

mente, engendra o crescimento dos demais setores de uma

economia. Por outro lado, sua gestão implica em externalida-

des ambientais e de segurança, uma vez que o número de ato-

res envolvidos nessas relações e os meios disponíveis para

promoção de interesses e preferências aumen-

tou.Consequentemente, questões relacionadas à alocação

energética tornaram-se não apenas um objeto ou uma ques-

tão de interesse no cenário internacional (issue), mas também

um instrumento, um meio de inserção estratégica dos atores

soberanos, os quais, no contexto hodierno, tornam-se ainda

mais vulneráveis à ação de forças e interesses externos aos do

Estado. Assim, novas abordagens teóricas superam a predomi-

nância dos enfoques realista e neorrealista sobre os Estados,

pautados por questões relacionadas ao poder militar, o confli-

to e a anarquia. Destarte, ampliou-se o reconhecimento da

importância dos atores não-estatais, das formas não-militares

do poder, da interdependência, das instituições internacionais

e da cooperação, voltando-se à investigação na política de

energia focada no papel da economia política internacional

como uma ferramenta dos governos soberanos.Nesse sentido,

crescem as tentativas para identificar e explicar os diferentes

posicionamentos dos Estados em relação à política energética

desde obras seminais no início de economia política internaci-

onal (EPI) (Krasner 1978; Keohane, 1984). A partir de desenvol-

vimentos de insights teóricos do institucionalismo neoliberal,

da economia política internacional e da literatura sobre difu-

são de políticas busca-se, neste trabalho, apontar os elemen-

tos determinantes e fatores intervenientes que explicam as

escolhas pela adoção de políticas para a promoção de energia

renovável. A questão norteadora da pesquisa é se aumento da

participação de fontes renováveis na geração de energia em

um número crescente de países é decorrente, simplesmente,

do aumento da demanda e da necessidade de exploração de

novas fontes energéticas, diante da possibilidade de esgota-

mento das fontes tradicionais (fósseis) ou se é fruto de um

processo sistemático de difusão de políticas que amparam a

adoção dessas fontes diante das ameaças de mudanças climá-

ticas e tecnológicas?Esse processo pode ser compreendido

pelo estudo da “difusão de políticas” que é resultante, princi-

palmente, de novas configurações de custos e benefícios na

adoção de políticas para a promoção de geração de energia

renovável, a partir de sua implementação em outro(s) país

(es).De acordo com a literatura, há quatro grandes mecanis-

mos pelos quais políticas difundem-se: aprendizado, emula-

ção, competição e coerção. Nesse sentido, a hipótese é que a

difusão de políticas que promovem a geração de energia por

fontes renováveis é fruto dessas quatro forças em conjunto.

Em primeiro lugar, a aprendizagem consiste no processo pelo

qual as políticas em uma unidade são influenciadas pelo

“sucesso” em outras unidades. Já a emulação, promovida atra-

vés da esfera internacional no âmbito da coordenação, pode

ser exemplificada através da Convenção-Quadro das Nações

Unidas sobre a Mudança Climática, promovendo o desenvolvi-

mento de normas através da interação de seus membros. A

competição representa o fenômeno de reação às ações de

outras unidades na tentativa de atrair ou conservar recursos

disponíveis. Neste sentido, muitos países em desenvolvimento

adotaram voluntariamente metas de redução de emissões em

automóveis para manterem-se competitivos e, aparentemen-

te, a adoção de fontes renováveis de energia vai na mesma

linha. Por último, a coerção representa a influência de atores

com poder para condicionar determinadas ações, como por

exemplo, a concessão de empréstimos ou a concretização de

investimentos, à adoção de certas políticas.A fim de captar as

informações de um maior número de países, buscar-se-á ela-

borar um modelo quantitativo, ainda a ser definido (técnica

espacial defasada, modelo gravitacional, ou outro), em uma

tentativa de identificar fatores endógenos e exógenos que

explicam a adoção de políticas de incentivo à geração de ener-

gia por fontes renováveis nos países. Um trabalho que inspirou

a tese é o de SIMMONS, Beth A.; DOBBIN, F., GARRETT, G.

(Eds.) (2008). The global diffusion of markets and democracy.

Cambridge: Cambridge University Press, 2008, onde os autores

buscam compreender quais as principais forças que movem os

países a adotarem políticas de abertura de mercados e de ins-

tituições democráticas. Neste sentido, um grande esforço da

tese é o de elaborar um diálogo das abordagens neoinstitucio-

nalistas de Relações Internacionais e de Economia Política In-

ternacional com perspectivas metodológicas mainstream da

ciência política. O desafio é grande e acredito que o workshop

doutoral contribuirá muito na evolução do trabalho, visto que

o evento será próximo da Banca de Qualificação.

Eth Ludmilla de Gois Vieira Nunes Rodrigues

Entre o multilateralismo efetivo e as parcerias estratégicas: a

reação da União Europeia ao mundo dos BRICS

Trabalho completo

Resumo: Desde o fim da Guerra Fria, novos polos passaram a

despontar na arena internacional, caracterizando um cenário

de crescente multipolaridade. A progressiva importância ad-

quirida por potências emergentes, como os países do BRICS –

que demandam maior representatividade em organismos in-

ternacionais, buscam alcançar seus interesses individuais e

promover suas próprias visões de mundo - lança à União Euro-

peia (UE) o desafio de descobrir como proceder para ter voz

ativa na formação da nova ordem global. O estudo das rela-

ções entre os BRICS e a UE se revela uma temática que envol-

Os BRICS e as Transformações da Ordem Global

Page 11: ANAIS - abri.org.br

11

ve grandes atores, por incluir aqueles que possuem os maiores

PIBs mundiais e grande parte da população e do território glo-

bal, além de suas ações poderem ter consequências em nível

internacional. A UE necessita operar em um mundo regrado e

normatizado, pois um mundo governado por jogos de poder

instáveis a tornaria apenas mais um jogador entre vários, le-

vando à diminuição da sua relevância internacional. Nesse

sentido, esse trabalho procura identificar e problematizar

quais medidas a União Europeia tem tomado como reação ao

cenário mencionado, a saber, a promoção do “multilateralismo

efetivo” e das “parcerias estratégicas”. O “multilateralismo

efetivo” tem como objetivo é o bom funcionamento das insti-

tuições internacionais e uma ordem mundial baseada em re-

gras. Quanto às “parcerias estratégicas”, a UE afirma que pre-

cisa buscar os seus objetivos tanto através da cooperação mul-

tilateral em organizações internacionais quanto através de

parcerias com atores-chave, resultando nas dez parcerias es-

tratégicas atuais que englobam Brasil, Canadá, China, Índia,

Japão, México, Rússia, África do Sul, Coréia do Sul e EUA. Con-

clui-se que elevar países emergentes ao posto de “parceiros

estratégicos” demonstra reconhecimento da crescente impor-

tância dos mesmos no cenário internacional, mas, caso tal me-

dida não gere mudanças efetivas no ordenamento internacio-

nal, a UE continuará a enfrentar os mesmos desafios.

Feliciano de Sá Guimarães

The Bretton Woods Institutions Reforms and the BRICS Deve-

lopment Bank formation

Trabalho completo

Resumo: Is the slow reform process of the IMF and the World

Bank quota system positively affecting the construction of a

new international financial institution - the BRICS Bank? In this

paper we aim to discuss how the slow quota system reform of

the IMF and the World Bank has created strong incentives for

unsatisfied developing countries such as BRICS countries to

bypass these institutions and design a new financial institution.

This new institution mimics the responsibilities of both the IMF

and the World Bank, but with a more equal power distribution

(quota system and staff selection). According to institutionalist

theory, we argue thatthe initial power distribution during the

formation of an international institution usually creates super-

majority rules that solidifies the uneven power in a way that

makes almost impossible for developing countries to foster

deep reforms despite the new power distribution inthe inter-

national system. Consequently, as new rising powers start per-

ceiving the old institutions as controlled by the traditional po-

werful countries they seek for institutional alternatives. Theo-

retically, we design a model showing how the initial power

distribution that created the super-majority rules impedes the

quota system and staff selection overhauling according to the

interests of BRICS countries. We argue that this is the main

reason behind the BRICS Bank formation.Methodologically, we

use qualitative comparative analyses and process tracing to

analyze the circumstances behind the creation of a new inter-

national financial institution.

Frederico de Almeida Castro Marinho

A cooperação entre os BRICS na área de Ciência e Tecnologia.

Coautor(es): Leonardo Pace Alves

Trabalho completo

Resumo: O adensamento das relações entre os países do Sul

pode ser constatado por meio da ampliação de coalizações

política de geometria variável, entre as quais se destaca o

agrupamento formado entre Brasil, Rússia, China e África do

Sul (BRICS). Essa aproximação expressa-se, sobretudo, em du-

as vertentes. A primeira engloba a concertação diplomática de

posições acerca de temas de interesse comum, ao passo que a

segunda abarca as ações de cooperação técnica entre os refe-

ridos países. O trabalho tem o objetivo de analisar a relação

dessas duas vertentes da cooperação Sul-Sul entre os inte-

grantes dos BRICS, a fim de verificar em que medida a coorde-

nação política traduz-se, efetivamente, em iniciativas concre-

tas no âmbito da cooperação técnica entre esses paí-

ses. Propõe-se a hipótese de que, embora favoreça o incre-

mento de iniciativas de cooperação técnica, o agrupamento

pode vir a aprofundar a dependência tecnológica e, nesse sen-

tido, acentuar assimetrias em área estratégica. Com efeito,

busca-se traçar breve histórico da formação dos BRICS, desde

sua elaboração conceitual até sua formalização política, ressal-

tando-se as atividades no âmbito científico e tecnológica. Em

seguida, é analisado o grau de correlação dessas duas verten-

tes, identificando, com base na literatura que versa sobre o

tema e no levantamento das fontes primárias governamentais,

as características das áreas selecionadas para a condução de

cooperação técnica. Na conclusão, discutem-se as particulari-

dades e as implicações dessas escolhas para o desenvolvimen-

to e para a autonomia tecnológica dos países do bloco.

George Bronzeado de Andrade

Banco dos BRICS: a institucionalização de um novo organismo

internacional para o desenvolvimento sustentável das nações

emergentes. Uma tentativa

Trabalho completo

Resumo: Com 26% da superfície terrestre do mundo, 42% da

população do planeta, 20% do PIB mundial, 15% das trocas

comerciais de todo mundo e 50% do crescimento econômico

mundial, os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul)

têm perspectivas promissoras com o desenvolvimento de inici-

ativas rumo à criação institucional do Banco dos BRICS. Os

países emergentes do “bloco” tentam formatar uma estrutura

Anais do 2º Seminário de Relações Internacionais: Graduação e Pós-graduação João Pessoa | 28 e 29 de agosto de 2014

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de financiamento para o desenvolvimento sustentável dos

países fora do eixo do “mundo desenvolvido” (entre eles os

próprios BRICS), ao mesmo tempo em que buscam erigir uma

instituição que atue em áreas estratégicas específicas, como o

setor energético, agricultura, tecnologia, águas, entre outras

áreas, em uma concorrência “benigna” com o FMI e outros

bancos de desenvolvimento ocidentais. O Banco dos BRICS

atuaria no financiamento dos projetos de desenvolvimento das

nações emergentes através de empréstimos a juros módicos,

contribuindo ainda para a cooperação e multilateralização

cada vez maior dos países do Terceiro Mundo, puxado pela

força da economia chinesa, indicando que a criação da institui-

ção pode fazer parte de uma estratégia maior dos emergentes

para uma inserção internacional definitiva, arregimentada pelo

próprio gigante chinês em revisar ou reescrever as regras im-

postas pela hegemonia norte-americana, transformando o

relacionamento Norte-Sul. O trabalho aborda ainda a proble-

mática das assimetrias econômicas, da divergência de interes-

ses específicos e da dificuldade de se institucionalizar um orga-

nismo que conglobe os interesses das cinco nações sem que

sejam frustrados os objetivos pelos quais a criação do Banco

foi proposta.

Geovana Zoccal Gomes

Novas dinâmicas da CSS: Uma análise acerca das presenças

brasileira e chinesa no desenvolvimento agrícola da África sub-

saariana

Trabalho completo

Resumo: Nas últimas décadas a dinâmica das RIs passou por

alterações. Potências emergentes, como membros do BRICS,

têm aumentado sua presença na cena internacional. A articu-

lação entre países do Sul na busca pela maximização de seus

interesses tem implicações em diversos campos das RIs. No

campo da Cooperação Internacional para o Desenvolvimento

tal estratégia fomentou novas modalidades de cooperação

entre os próprios países em desenvolvimento. A Cooperação

Sul-Sul (CSS), como passou a ser chamada, trouxe quatro di-

mensões para à CID: i. orientação por demanda; ii. ausência de

condicionalidades; iii. horizontalidade e iv. não ingerência. O

Brasil tem mantido forte vínculo com o continente africano

fundamentado nos laços históricos. Nas últimas décadas as

relações se intensificaram, aumentando volumes comerciais e

diálogo político. Ao analisar os dados disponibilizados pelos

relatórios elaborados pelo IPEA (COBRADI 2005-2009 e 2010),

percebe-se um incremento no volume e também no número

de projetos levados a cabo pelo Brasil. Em 2010 somaram-se

mais de R$1,6 bilhão com cooperação para o desenvolvimen-

to, sendo que 22,58% do total, quase R$ 65 milhões, foram

direcionados à África. A China também apresenta históricas

relações com o continente. Em 2006, na terceira cúpula do

FOCAC (Fórum de Cooperação entre China e África) em Beijin,

a potência emergente se comprometeu em construir nova

parceria estratégica com a África, que traria igualdade política

e cooperação de ganhos mútuos. A política externa chinesa

estabelece a agricultura, saúde, infraestrutura e educação

como áreas prioritárias na cooperação com países africa-

nos. Tradicionais receptores de assistência, como países da

África subsaariana, têm com o envolvimento de Brasil, China e

Índia na CID a possibilidade de aumentar seu poder de barga-

nha no campo. Assim, este artigo analisará as novas dinâmicas

impressas pela CSS, com base na cooperação brasileira e chi-

nesa para o desenvolvimento agrícola no continente africano.

Giuliana Dias Vieira

Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América – Tratado

de Comércio dos Povos (ALBA-TCP) : perspectivas e desafios do

ciclo do regionalismo pós-liberal na América Latina

Coautor(es): Mariana Davi Ferreira

Trabalho completo

Resumo: No limiar do século XXI, o cenário político latino-

americano passa por mudanças pujantes, diante da emergên-

cia de governos de esquerda, que configuram uma reorienta-

ção no perfil da política externa dos países da região e, conse-

quentemente, uma releitura dos modelos integrativos. Estabe-

lece-se, assim, um processo de esgotamento do ciclo do regio-

nalismo aberto (SANAHUJA, 2010), caracterizado pelo cunho

eminentemente econômico, o qual fora hegemônico na Amé-

rica Latina na década de 1990. O esgotamento deste ciclo dá-

se a partir do questionamento da sua viabilidade para fomen-

tar uma integração que corrobore com os reais interesses dos

Estados da região. Emerge, nesse cenário, o paradigma do

regionalismo pós-liberal (SANAHUJA, 2010; SERBIN, 2012), no

qual a integração é posta como instrumento viabilizador do

desenvolvimento da América Latina, a partir do retorno da

centralidade do Estado interventor e distanciamento das polí-

ticas neoliberais. O regionalismo pós-liberal prevê a busca pela

redução das assimetrias entre os Estados, tendo maior foco na

agenda política. Tal paradigma se expressa na Aliança Bolivari-

ana para os Povos de Nossa América – Tratado de Comércio

dos Povos (ALBA – TCP), processo integrativo protagonizado

pela Venezuela. O presente trabalho apresenta os resultados

da investigação científica realizada a partir do Projeto de Pes-

quisa “Cooperação internacional e integração latino-

americana: novos paradigmas?” desenvolvido no Curso de

Relações Internacionais, da Universidade Estadual da Paraíba,

no ano de 2013. Apresenta-se como objetivo central a análise

das possibilidades e desafios para esse novo paradigma inte-

grativo na região, a partir do estudo do caso da ALBA-TCP,

enquanto expressão do regionalismo pós-liberal. No intento

de apreender os determinantes do processo analisado, fora

realizada análise documental à luz de referência bibliográfica

Os BRICS e as Transformações da Ordem Global

Page 13: ANAIS - abri.org.br

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que versa sobre o fenômeno do regionalismo e as relações

internacionais latino-americanas.

Helena Margarido Moreira

A atuação da China em blocos nas negociações climáticas: G77,

BASIC ou BRICS?

Trabalho completo

Resumo: A China é um importante ator global de dimensões

gigantescas, em termos territoriais e populacionais, com gran-

de parte de sua população vivendo em situação de pobreza,

mas com uma alta taxa de crescimento econômico e taxas de

emissão de gases de efeito estufa cada vez maiores. Sendo o

maior emissor de GEE do mundo em termos absolutos desde

2007, as mudanças climáticas tornaram-se um dos grandes

desafios ao desenvolvimento chinês. A China faz parte do es-

forço internacional para lidar com as causas e consequências

do aquecimento global desde a assinatura da Convenção do

Clima, em 1992, e do Protocolo de Kyoto, em 1997, e continua

a participar ativamente desse processo com a realização anual

das COPs. Desde o início do processo negociador, a China se

uniu ao grupo dos países em desenvolvimento, o G77, para

pautar as discussões garantindo o direito ao desenvolvimento

e a defesa do princípio das “responsabilidades comuns, porém

diferenciadas”. Este trabalho parte do argumento de que, com

a participação da China em outros fóruns como o BRICS e o

BASIC, a atuação chinesa nas negociações climáticas tem se

diversificado, ainda que atendo-se à defesa do seu interesse

nacional. O objetivo deste trabalho é avaliar a participação

chinesa nas negociações climáticas a partir dessas três coali-

zões, G77, BRICS e BASIC, no período de negociações do pós-

Kyoto (2005-2012) e identificar por meio de qual(is) dela(s) o

país consegue afirmar os seus interesses com maior liderança.

A metodologia é a análise empírica da participação chinesa nas

negociações com base na leitura de documentos oficiais e de-

cisões resultantes das Conferências, e de documentos oficiais

da delegação do país com seu posicionamento em cada roda-

da de negociação. Por meio dessas coalizões, a China age co-

mo liderança dos países em desenvolvimento de modo a ga-

rantir as responsabilidades diferenciadas e seu desenvolvimen-

to econômico.

Hermes Moreira Jr.

O Banco dos BRICS e os cenários de recomposição da ordem

internacional

Trabalho completo

Resumo: As transformações do cenário internacional nos últi-

mos anos têm gerado amplo debate sobre a possibilidade de

constituição de uma nova ordem global, com argumentos afir-

mando ser este um momento de rearranjo das forças políticas

dentro da ordem estabelecida e outros expondo a possibilida-

de de renovação integral das relações de poder globais. Esse

movimento se confirma após a crise financeira de 2008, quan-

do convidados a participar da reunião do G-8 para discutir as

medidas pós-crise, os chefes de Estado e de Governo dos BRIC

se reúnem no intuito de converter seu crescente poder econô-

mico em maior influência geopolítica. Desde então, anualmen-

te os líderes dos BRIC têm se reunido em Conferências de Cú-

pula e conferências ministeriais temáticas, buscando afinar os

discursos e trabalhar no sentido de viabilizar interesses co-

muns de reconfiguração da arquitetura institucional que con-

forma o atual sistema econômico internacional. Grande parte

dos críticos e dos céticos ganhava força devido à falta de ma-

terialidade nas ações oriundas desses Encontros de Cúpula.

Em meio a declarações otimistas e discursos inflamados por

parte dos líderes dos BRICS, se encontrava pouca substância e

medidas concretas. No entanto, em 2013, a Cúpula dos em

Durban, África do Sul, foi concluída com uma das intenções

mais ambiciosas do agrupamento até aqui: a de institucionali-

zar um fundo comum de reservas monetárias e um banco con-

junto de financiamento produtivo. Faz-se necessário um exer-

cício prospectivo de modo a constituir um conjunto de análi-

ses capazes de extrair interpretações no sentido de identificar:

i) qual o alcance e impacto concreto do Banco de Desenvolvi-

mento dos BRICS nas economias emergentes; ii) como se dará

a correlação de forças no interior do Banco para sua formata-

ção; iii) quais as influências que a constituição do Banco e, por

conseguinte, a institucionalização do grupo, exercerá sobre

seus membros e sobre a ordem mundial em geral.

Isadora Loreto da Silveira

O Brasil nas organizações internacionais entre FHC e Dilma Ro-

usseff: uma análise das mudanças na política externa brasileira

a partir da atuação na ONU e na OMC

Coautor(es): Laura de Castro Quaglia

Trabalho completo

Resumo: A transição da presidência da república de Fernando

Henrique Cardoso para Luiz Inácio da Silva deu início ao que

Paulo Roberto de Almeida (2004) chamou de uma política ex-

terna engajada. Ainda que alguns autores julguem que não

houve necessariamente uma ruptura com a política externa do

governo anterior, uma parcela significativa da literatura desta-

ca que o Brasil assumiu uma posição de maior assertividade

nas organizações internacionais, com metas distintas e um

modus operandi próprio, num modelo que Maria Regina Soa-

res de Lima (2004) caracteriza como modelo de autonomia.

Busca-se, portanto, determinar qual o grau de mudança ocor-

rido na última década em relação à administração Cardoso –

sob a perspectiva da atuação das delegações brasileiras na

Organização das Nações Unidas (ONU) e na Organização Mun-

dial do Comércio (OMC) – e como ele se refletiu na atuação

Anais do 2º Seminário de Relações Internacionais: Graduação e Pós-graduação João Pessoa | 28 e 29 de agosto de 2014

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brasileira nas organizações internacionais. O trabalho conclui

que o protagonismo adotado pelo Brasil nos foros internacio-

nais, como a OMC e a ONU, deixa evidentes as mudanças na

política externa brasileira do período estudado. É possível no-

tar Mudanças de Problema/Objetivo, de acordo com a tipolo-

gia estabelecida por Hermann (1990), na atuação brasileira em

organizações internacionais. Assim, não apenas os instrumen-

tos ou meios para tratar dos problemas (formação de coalizões

de geometria variável, protagonismo em foros multilaterais,

diversificação das parcerias, contribuição à paz e à segurança

via maior participação em missões de paz), mas os próprios

propósitos ou fins da política externa se alteraram. Essa mu-

dança já gerou frutos positivos para o Brasil. Toda a sua articu-

lação junto à OMC através do G20 culminou na escolha do

embaixador brasileiro Roberto Azevêdo como diretor-geral da

organização. Na ONU, a percepção que os outros membros

têm do Brasil melhorou com a sua participação mais efetiva,

dando maior legitimidade e credibilidade à sua candidatura a

um assento permanente no Conselho de Segurança.

Jan Marcel de Almeida Freitas Lacerda

Governança global ambiental e os BRICS: perspectivas e desafios

para uma futura agenda sustentável

Coautor(es): Mariana de Oliveira Nóbrega

Trabalho completo

Resumo: As problemáticas ambientais estão em evidência nas

Relações Internacionais, visto que essas questões são, em ge-

ral, transfronteiriça e requerem a conjugação da atuação dos

diversos atores do sistema internacional. A Governança Global

Ambiental é a inserção do conceito de governança global na

área ambiental, o que demonstra a necessidade de responder

aos problemas ambientais mundiais de forma conjunta e coor-

denada pelos atores internacionais. Além dos Estados, há a

ampliação da participação dos regimes internacionais, das or-

ganizações internacionais, dos organismos financeiros, das

ONGS, da Sociedade Civil e, aqui se destaca, dos BRICS – agru-

pamento político entre Brasil, Rússia, Índia, China e África do

Sul. Com isso, este estudo objetiva analisar os BRICS, como

ator em potencial para o fortalecimento da governança global

ambiental e, consequentemente, o surgimento de uma futura

agenda sustentável. Desse modo, o estudo sobre os BRICS, no

contexto discutido, justifica-se por sua configuração de países

economicamente em crescimento, detentores de uma imensa

diversidade global e abundantes em recursos ambientais, po-

dendo proporcionar soluções inovadores para a proteção do

meio ambiente, conjugadas à necessidade de renovação dos

desenvolvimentos econômico e social. Em contraponto, caso

haja continuação do modelo atual de desenvolvimento, futura-

mente os BRICS terão dificuldades de manter seus padrões de

sustentabilidade, por isso uma ação conjunta faz-se necessá-

ria, mesmo que haja uma série de coalisões entre os seus

membros. Por meio de uma metodologia dedutiva, o artigo

parte de uma compreensão sobre a governança global na te-

mática ambiental, para uma análise dos BRICS, projetado co-

mo ator potencial da ecopolítica, e cujo estudo fundamenta-se

pela vertente teórica institucionalista liberal. Por fim, reflete-

se acerca das congruências, coalisões e desafios dos BRICS no

desenvolvimento de uma possível agenda sustentável co-

mum.

João Nackle Urt

Povos indígenas e Estados nacionais em perspectiva compara-

da: um estudo exploratório sobre a situação social, econômica e

política no Canadá, no México, no Peru e na Austrália.

Trabalho completo

Resumo: Na esteira de trabalhos como o de José Martínez Co-

bo (1986), James Anaya (2009), Robyn Eversole et alli (2013) e

outros, propõe-se uma investigação exploratória sobre a histó-

ria da colonização confrontada com a situação contemporânea

dos povos indígenas em países escolhidos.A partir dos anos

1980, com o aumento do número de organizações internacio-

nais que fizeram do “indígena” sua preocupação específica, os

povos indígenas formaram uma coletividade global que inclui

grupos de todos as partes do mundo, anteriormente definidos

como nativos, aborígines, autóctones, índios e outras denomi-

nações. Tais grupos promoveram um processo transnacional

de etnogênese que constituiu uma identidade em torno da

opressão comum sofrida (MERLAN, 2007, p. 125-126; NIEZEN,

2000). Com efeito, esses povos vivem padrões semelhantes de

exclusão social.Desejavelmente, a futura tese – da qual o pre-

sente paper fará parte – vai explorar em mais detalhes a corre-

lação entre a dominação colonial – histórica e contemporânea

– e a exclusão social atual – política, econômica e cultu-

ral.Devido aos limites de tempo e bibliografia, somente alguns

dos 5000 povos indígenas do mundo – um grupo ultradiverso,

que inclui os Yanomami na floresta amazônica, os Inuit no cír-

culo ártico, os Incas nos Andes, os Adivasi na Índia, os Ainu no

Japão, os Maori em Aotearoa/Nova Zelândia e os Aka na África

Central – poderão ser abordados em detalhes. O objetivo é,

por meio da observação de algumas amostras, coletar evidên-

cias sobre processos de dominação colonial, indigeneização e

exclusão social em diversas partes do mundo. Pretende-se

buscar elementos empíricos para discutir a ideia de que os

povos indígenas em todo o mundo enfrentam situações de

desvantagem material e imaterial em relação às sociedades

não-indígenas com as quais convivem. "Existe um padrão glo-

bal relacionando os povos indígenas à pobreza", ainda que a

pobreza "claramente não seja uma característica inata dos

povos indígenas" (EVERSOLE et alli, 2013, p. 757, 761). O que

há de comum na história desses povos, que provavelmente

explica essa situação geral de desvantagem, é que todos têm

Os BRICS e as Transformações da Ordem Global

Page 15: ANAIS - abri.org.br

15

sofrido alguma forma de colonização até os dias de hoje.A

colonização é um fenômeno complexo e multiforme. Em suas

muitas manifestações históricas, envolveu comumente guerra,

conquista territorial, genocídio e exploração econômica. Na

Era Moderna capitalista, a colonização realizou plenamente

seu potencial destrutivo. Modernidade e colonialidade torna-

ram-se os dois lados da mesma moeda, numa dinâmica que

Enrique Dussel descreveu:"1. A civilização moderna autodes-

creve-se como mais desenvolvida e superior (o que significa

sustentar inconscientemente uma posição eurocêntrica). 2. A

superioridade obriga a desenvolver os mais primitivos, bárba-

ros, rudes, como exigência moral. 3. O caminho de tal proces-

so educativo de desenvolvimento deve ser aquele seguido pela

Europa (é, de fato, um desenvolvimento unilinear e à europeia

o que determina, novamente de modo inconsciente, a 'falácia

desenvolvimentista'). 4. Como o bárbaro se opõe ao processo

civilizador, a práxis moderna deve exercer em último caso a

violência, se necessário for, para destruir os obstáculos dessa

modernização (a guerra justa colonial). 5. Esta dominação pro-

duz vítimas (de muitas e variadas maneiras), violência que é

interpretada como um ato inevitável, e com o sentido quase-

ritual de sacrifício; o herói civilizador reveste a suas próprias

vítimas da condição de serem holocaustos de um sacrifício

salvador (o índio colonizado, o escravo africano, a mulher, a

destruição ecológica, etecetera). 6. Para o moderno, o bárbaro

tem uma 'culpa' (por opor-se ao processo civilizador) que per-

mite à 'Modernidade' apresentar-se não apenas como inocen-

te mas como 'emancipadora' dessa 'culpa' de suas próprias

vítimas. 7. Por último, e pelo caráter 'civilizatório' da

'Modernidade', interpretam-se como inevitáveis os sofrimen-

tos ou sacrifícios (os custos) da 'modernização' dos outros po-

vos 'atrasados' (imaturos), das outras raças escravizáveis, do

outro sexo por ser frágil, etecetera" (DUSSEL, 2000, p.

49).Observam-se, nessa definição da colonização, elementos

econômicos (a necessidade de desenvolver o colonizado), polí-

ticos (supressão dos processos de tomada de decisão vigentes

entre os povos colonizados, em razão de sua substituição pela

rationale europeia e que, na prática, implica a total dominação

política) e culturais (eurocentrismo, crença na ideia do fardo

do homem branco ou mission civilisatrice). De forma seme-

lhante, o antropólogo Georges Balandier (1993, p. 109-110),

ao formular o conceito de situação colonial, definiu-a como o

controle político imposto sobre uma sociedade colonizada por

uma sociedade colonizadora, visando à exploração econômica,

e justificado por uma “série de racionalizações” que lhes provê

suporte ideológico: ideias como a superioridade da raça bran-

ca, a falta de capacidade dos nativos para se autogovernarem,

o despotismo dos chefes tradicionais, etc.Por meio desses pro-

cessos políticos, econômicos e culturais, a colonização promo-

veu simultaneamente a exclusão social e a indigeneização dos

povos conquistados. Segundo Marie-Louise Pratt (2007, p. 398

-399), a indigeneização é a imposição de uma identidade

exogâmica (definida por sujeitos externos ao grupo identifica-

do, isto é, os colonizadores) e genérica (constitui um grupo

guarda-chuva, sob o qual são abrigados povos que não se

identificavam como iguais). Tal imposição identitária foi parte

das classificações sociais binárias úteis à empresa colonial.

Com efeito, a colonialidade se funda “na imposição de uma

classificação racial/étnica da população do mundo como pedra

angular do dito padrão [colonial] de poder” (QUIJANO, 2000,

p. 342).O presente paper vai abordar mais detalhadamente a

situação dos povos indígenas no Canadá, no México, no Peru e

na Austrália, a fim de trazer (a) um resumo da história das rela-

ções entre as sociedades colonizadoras e os povos conquista-

dos, do início da colonização até os dias de hoje, destacando

os aspectos políticos, econômicos e culturais da dominação; e

(b) dados sobre a situação sócio-econômica atual dos povos

indígenas, resultante da ruptura social, da pobreza e da opres-

são sofridas.Em todos os países estudados, observa-se que os

povos indígenas sofreram (a) uma primeira fase de conquista

violenta (guerra e genocídio), que prosseguiu ou se intensifi-

cou após as independências nacionais e que continua em me-

nor grau nos dias de hoje, notadamente nas regiões geografi-

camente mais isoladas ou afastadas dos centros da coloniza-

ção mais antiga; e (b) uma segunda fase, de continuação da

guerra de conquista por outros meios: quando as sociedades

colonas se aperceberam que, ao contrário do que alegava o

darwinismo social, os povos nativos não estavam em vias de

desaparecer, composta por (b.1) processos de etnocídio, que

incluem assimilação forçada, tendo como fim o abandono dos

modos de vida e das identidades étnicas indígenas e a dissolu-

ção no corpo da nação; e (b.2) processos de dominação políti-

ca e jurídica, por meio da sua constituição enquanto sujeitos

políticos subalternos dentro das ordens nacionais, eliminação

das instituições políticas indígenas ou sua redução a institui-

ções subalternas, e a consolidação da desterritorialização das

comunidades indígenas.

Jonathan Raphael Vieira da Rosa

Cooperação Sul-Sul e Reforma da Governança de Cooperação

para o Desenvolvimento

Trabalho completo

Resumo: O objeto de estudo desta pesquisa é o tema das

transformações no regime de Cooperação Internacional para o

Desenvolvimento (CID). A inserção desse tema na comunidade

acadêmica brasileira é relativamente recente, mas reflete o

destaque da posição que o Brasil ocupa nas discussões sobre o

assunto. A proposta é abordar as transformações no regime

de CID como uma manifestação de modificações mais profun-

das na ordem política e econômica internacional e na redefini-

ção das estruturas de governança global. Assim, discute-se a

posição de potências emergentes, como a África do Sul, o Bra-

Anais do 2º Seminário de Relações Internacionais: Graduação e Pós-graduação João Pessoa | 28 e 29 de agosto de 2014

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16

sil, a China e a Índia, nos principais debates acerca do regime

de CID. Primeiramente, analisa-se a inserção desses países, em

especial o Brasil, nas discussões sobre os ‘doadores emergen-

tes’ e sobre os impactos da participação desses atores no regi-

me estabelecido de CID, orientado, em grande medida, por

regras e procedimentos definidos pelos ‘doadores tradicio-

nais’, organizados no âmbito do Comitê de Assistência ao De-

senvolvimento da Organização para Cooperação e Desenvolvi-

mento Econômico (CAD/OCDE). Em seguida, discute-se a parti-

cipação desses países no regime de CID sob o marco do aden-

samento das relações entre os países em desenvolvimento e o

aprofundamento da Cooperação Sul-Sul (CSS), trazendo em

relevo o questionamento sobre quais seriam as principais dife-

renças da CID promovida por esses países por meio do discur-

so cooperativo da CSS e, assim, em que medida elas represen-

tariam um desafio às estruturas de governança global estabe-

lecidas.

Jorge Juan Robles Aponte

Soberania petroleiro no contexto das contradições da economia

do petróleo: Diferentes atores, processos e instituições do Novo

Regionalismo da Aliança Bolivariana - Tratado Comercial dos

Povos

Coautor(es): Mariana Davi Ferreira e Rafael Alexandre Moreira

Mello

Trabalho completo

Resumo: No século XXI, dirigir a relação entre a soberania do

petróleo e a autonomia indígena no novo regionalismo na

América Latina é crucial. Estados que compõem a ALBA-TCP,

ricos em hidrocarbonetos (Bolívia, Equador e Venezuela), en-

frentam pressões de vários atores, processos e instituições em

torno da questão energética. Algumas dessas pressões ocor-

rem sobre os povos indígenas, a partir de governos nacionais e

subnacionais, de agências de financiamento e de empresas

nacionais (públicas e privadas) e internacionais. No entanto,

apesar da centralidade da questão energética no século XXI,

não existe um acordo vinculativo de considerações ambientais

na ALBA-TCP, sob a qual se possa abrigar uma abordagem para

a soberania petroleira e a resistência/autonomia indígena des-

de as relações internacionais do novo regionalismo. Neste ce-

nário, o presente trabalho apresenta duas questões: (1) Como

a soberania petroleiro é implantada na ALBA-TCP e como está

ação geopolítica regional pode ajudar a redefinir a economia

do petróleo internacional?; (2) Como a soberania petroleira

colide com a autonomia indígena nos países da ALBA-TCP?

Para desenvolver o trabalho, delineou-se inicialmente, as prin-

cipais contradições da Economia Política do petróleo. Em se-

guida, elaborou-se duas concepções contrapostas que surgem

dos problemas expostos. Por um lado, o conceito de soberania

petroleira da companhia estatal; por outro, as práticas de re-

sistência indígena contra a soberania petroleira estatal e a

exploração por companhias de petróleo. Em um terceiro mo-

mento, nos debruçaremos sobre os conceitos de dependência,

subdesenvolvimento, e a distinção entre segurança e sobera-

nia petroleira, dentro do marco da Teoria Marxista da Depen-

dência. Por fim, utilizaremos as ferramentas conceituais para

analisar as problemáticas colocadas numa tentativa de esclare-

cer as relações que existem entre recursos estratégicos e as

comunidades latino-americanas dentro do marco da depen-

dência.

Laerte Apolinário Júnior

Formação de coalizões dentro das instituições financeiras inter-

nacionais: o caso do Brasil no FMI e Banco Mundial

Trabalho completo

Resumo: Esta pesquisa tem por objetivo analisar o processo de

formação de coalizões dentro do Fundo Monetário Internacio-

nal e do Banco Mundial, evidenciando os motivos que levam

os países a formarem blocos dentro dessas instituições. Como

no FMI e no Banco Mundial as principais decisões são tomadas

no âmbito do Diretório Executivo, este estudo se centrará na

análise dos processos que levam à formação de alianças para a

escolha de representantes nessa instância decisória. Por ra-

zões substantivas e metodológicas, este trabalho terá como

escopo o caso brasileiro, buscando identificar os motivos que

levariam os países a somarem seus votos na escolha de um

brasileiro para representar seus interesses nessas instituições.

Partindo da literatura que analisa como os países utilizam aju-

da externa para perseguir seus objetivos, essa pesquisa testará

a hipótese de que os países mais pobres trocariam apoio polí-

tico nas instituições financeiras internacionais por benefícios

econômicos. Para tanto, será analisado quantitativamente o

papel da ajuda externa brasileira na formação da coalizão lide-

rada pelo Brasil dentro dos Diretórios Executivos do FMI do

Banco Mundial. O trabalho é dividido em cinco partes. Primei-

ramente, foi realizada uma análise descritiva da estrutura or-

ganizacional do FMI com o intuito de elucidar o funcionamen-

to interno dessa instituição. A segunda parte traz uma análise

das origens e da estrutura institucional do Banco Mundial. Na

terceira parte foi realizada uma revisão da literatura de organi-

zações internacionais e de ajuda externa para situar este tra-

balho no campo das Relações Internacionais. A quarta parte

apresenta os dados e fontes que foram utilizados para a reali-

zação da parte empírica, assim como o desenho da pesquisa

de modo geral. Na quinta parte são apresentados os resulta-

dos da análise empírica. Por fim, a última parte trata da discus-

são dos resultados alcançados, que confirmam a hipótese da

pesquisa.

Larissa Basso

O G-20 como comitê de direcionamento das negociações inter-

Os BRICS e as Transformações da Ordem Global

Page 17: ANAIS - abri.org.br

17

nacionais do clima: alternativa para construção de consensos e

superação do impasse multilateral

Trabalho completo

Resumo: Alcançar um desenvolvimento de baixo carbono –

que respeite as fronteiras planetárias, limites para a segurança

da vida humana no planeta – é o objetivo das negociações

multilaterais do clima. Obtê-lo significa tocar em temas cen-

trais do modo de vida contemporâneo, que envolve temas

como energia, consumo e padrões de vida; materializa-se um

cenário de profunda fragmentação de interesses e de posições

dissonantes. Desde 1992, os países reúnem-se periodicamente

para negociar o tema, mas, apesar dos avanços obtidos, a con-

certação multilateral vem demonstrando incapacidade de che-

gar aos resultados relevantes e rápidos que a mitigação das

mudanças climáticas exige.Pesquisas recentes têm focado a

importância de fóruns intergovernamentais como comitês de

direção (steering committees) em temas de profundo dissen-

so. Esses fóruns são privilegiados em razão da possibilidade de

a interação mais direta entre países; consensos obtidos nessas

instâncias e implementados por seus membros poderiam ace-

lerar as negociações multilaterais. Em arenas complexas como

a das mudanças climáticas, essa interação tornaria mais plausí-

veis expectativas de avanço nas próximas Conferências das

Partes (COPs).O artigo proposto vai explorar a importância do

G-20 como comitê de direção das negociações internacionais

na transição para o baixo carbono. Serão exploradas as possi-

bilidades de consenso de acordo com o perfil dos países mem-

bros, a divisão das perdas e ganhos, as barganhas que podem

ser feitas entre eles em um fórum que permite interação mais

direta e os benefícios que os resultados positivos trariam para

as negociações multilaterais do clima.

Larissa Basso

Governança global energética e a transição para o baixo carbo-

no: inserção de Brasil, Índia e China

Trabalho completo

Resumo: Introdução a preocupação com a implementação de

um modelo de desenvolvimento de baixo carbono está ligada

à necessidade de mitigação dos impactos do atual modelo –

intensivo no uso de recursos naturais e nas emissões de carbo-

no – sobre o ambiente global. O modelo atual é insustentável

porque resulta na ultrapassagem das fronteiras planetárias, os

limites para a segurança da vida humana no planeta. Dentre as

fronteiras está a estabilidade do clima, seriamente ameaçada

pelo acúmulo de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera. De

acordo com o IPCC, 78% das emissões de GEE produzidas en-

tre 1970 e 2010 foram resultado da queima de combustíveis

fósseis para geração de energia e em processos industriais. Se

o controle das emissões de GEE está diretamente relacionado

à produção e ao uso da energia, a análise da governança ener-

gética global passa a ser central para o modelo de desenvolvi-

mento de baixo carbono. A principal característica da atual

governança energética global é sua fragmentação. São 04 as

grandes arenas nas RI contemporâneas em que a energia é

central, por ordem de prioridade: impacto do uso da energia

sobre o ciclo global do carbono, segurança energética, acesso

à energia e combate a outras externalidades da produção e do

uso de energia. Nas 04 arenas, muitos são os atores – impor-

tante salientar que estamos no marco da governança global

multidimensional multiestrato –, com interesses específicos e

cujas ações não são coordenadas entre si. Além disso, falta

coordenação entre energia e outros temas que interagem

(direta ou institucionalmente, ou na mesa de negociações)

com ela. Como resultado dessa complexidade, as negociações

multilaterais para o desenvolvimento de baixo carbono têm

resultados insatisfatórios: a cooperação é difícil porque o tema

é de profundo dissenso, envolvendo a produção de bens públi-

cos globais e graves conflitos sobre a distribuição das perdas e

ganhos. Nesse sentido, pesquisas recentes têm focado a im-

portância de fóruns intergovernamentais como comitês de

direção (steering committees) da governança energética glo-

bal. Entre os fóruns intergovernamentais que exercem funções

de comitês de direção da governança energética global, o G-8

foi o mais relevante até 2008, substituído então pelo o G-20,

que conta com maior representatividade global e reúne a mai-

oria dos grandes produtores e consumidores de energia: da-

dos de 2011 mostram que os 19 países-membros respondem

por 73,2% do fornecimento mundial de energia, 78,6% do con-

sumo de eletricidade e 75,9% das emissões de GEE. Os efeitos

do alto carbono já estão sendo sentidos, em muitos casos de

forma dramática. Há tecnologia suficiente para a transição ao

desenvolvimento de baixo carbono; porém a governança ener-

gética global está apenas incipientemente no rumo da descar-

bonização, porque a mudança de patamar toca modelos

econômicos e estilos de vida carbono-intensivos que permane-

cem centrais. Se resultados relevantes na direção da descarbo-

nização dependem do comprometimento dos países do G-20,

investigá-los em suas diferenças e iniciativas é essencial para

propor medidas que possibilitem o avanço da concertação

internacional. Dentre os emergentes do G-20, Brasil, Índia e

China são atores chave na transição ao baixo carbono. Os três

estão entre os 08 maiores emissores de GEE em números ab-

solutos, entre os 12 maiores produtores e entre os 10 maiores

consumidores de energia. Também estão entre os 10 maiores

produtores mundiais de tecnologia de energia de baixo carbo-

no. Como são altamente vulneráveis às mudanças climáticas,

têm interesse objetivo na descarbonização; porém mantêm

perfil conservador nas negociações multilaterais, ainda que

com algum avanço rumo à reforma no caso de Brasil e China.

Os 03 formam, com a África do Sul, a coalizão BASIC para atuar

nas negociações climáticas multilaterais. Objetivos da pesqui-

Anais do 2º Seminário de Relações Internacionais: Graduação e Pós-graduação João Pessoa | 28 e 29 de agosto de 2014

Page 18: ANAIS - abri.org.br

18

sa: A pesquisa tem como objetivo analisar como os países

emergentes do G-20 estão avançando na direção do desenvol-

vimento de baixo carbono e, dentre eles, os 03 (Brasil, Índia e

China) com maior impacto na governança energética global. A

estratégia de análise é dividida em 03 partes. A primeira parte

quer estabelecer parâmetros capazes de indicar progresso na

direção do baixo carbono. O atualmente predominante – bai-

xar emissões de CO2 por unidade do PIB – é incapaz de tradu-

zir o conceito, que é bastante complexo. A partir de pesquisa

preliminar, será desenvolvido um índice que inclua variáveis

(de matriz energética, culturais, econômicas e políticas) cen-

trais para medir avanço na direção do baixo carbono. A segun-

da parte utilizará o índice desenvolvido para classificar o de-

sempenho, nos últimos anos, dos países emergentes do G-20

na direção do baixo carbono. É previsto que os desempenhos

vão variar substancialmente, em razão do diferente peso das

variáveis para cada país. Na terceira parte, as performances de

Brasil, Índia e China serão analisadas em detalhe, em razão

tanto (i) do valor intrínseco desses 03 casos para a governança

energética global na transição para o baixo carbono, como (ii)

da previsão de que o peso das diferentes variáveis no progres-

so para o baixo carbono será diverso para os 03 países, indi-

cando a necessidade de estudo detalhado para descobrir as

principais causas dos resultados em cada um deles. A pesquisa

quer construir um esboço de explicação teórica sobre a transi-

ção de países emergentes para o baixo carbono por meio da

compreensão de causas políticas e sociais profundas. A partir

dela, será mais fácil identificar alguns dos porquês das coali-

zões e as possibilidades de novos arranjos cooperativos, mais

bem sucedidos em obter resultados relevantes nessa arena de

negociações.

Laura de Castro Quaglia

O Brasil nas organizações internacionais entre FHC e Dilma Ro-

usseff: uma análise das mudanças na política externa brasileira

a partir da atuação na ONU e na OMC

Coautor(es): Isadora Loreto da Silveira

Trabalho completo

Resumo: A transição da presidência da república de Fernando

Henrique Cardoso para Luiz Inácio da Silva deu início ao que

Paulo Roberto de Almeida (2004) chamou de uma política ex-

terna engajada. Ainda que alguns autores julguem que não

houve necessariamente uma ruptura com a política externa do

governo anterior, uma parcela significativa da literatura desta-

ca que o Brasil assumiu uma posição de maior assertividade

nas organizações internacionais, com metas distintas e um

modus operandi próprio, num modelo que Maria Regina Soa-

res de Lima (2004) caracteriza como modelo de autonomia.

Busca-se, portanto, determinar qual o grau de mudança ocor-

rido na última década em relação à administração Cardoso –

sob a perspectiva da atuação das delegações brasileiras na

Organização das Nações Unidas (ONU) e na Organização Mun-

dial do Comércio (OMC) – e como ele se refletiu na atuação

brasileira nas organizações internacionais. O trabalho conclui

que o protagonismo adotado pelo Brasil nos foros internacio-

nais, como a OMC e a ONU, deixa evidentes as mudanças na

política externa brasileira do período estudado. É possível no-

tar Mudanças de Problema/Objetivo, de acordo com a tipolo-

gia estabelecida por Hermann (1990), na atuação brasileira em

organizações internacionais. Assim, não apenas os instrumen-

tos ou meios para tratar dos problemas (formação de coali-

zões de geometria variável, protagonismo em foros multilate-

rais, diversificação das parcerias, contribuição à paz e à segu-

rança via maior participação em missões de paz), mas os pró-

prios propósitos ou fins da política externa se alteraram. Essa

mudança já gerou frutos positivos para o Brasil. Toda a sua

articulação junto à OMC através do G20 culminou na escolha

do embaixador brasileiro Roberto Azevêdo como diretor-geral

da organização. Na ONU, a percepção que os outros membros

têm do Brasil melhorou com a sua participação mais efetiva,

dando maior legitimidade e credibilidade à sua candidatura a

um assento permanente no Conselho de Segurança.

Leandro Terra Adriano

Pressões liberalizantes e o protecionismo agrícola indiano: me-

canismos de difusão de políticas públicas no âmbito da OMC

Trabalho completo

Resumo: As teorias de difusão de políticas públicas formam

uma área de recente e curto desenvolvimento nas Ciências

Políticas, especialmente quando aplicadas às Relações Interna-

cionais e à tentativa de compreender como determinadas mu-

danças domésticas ou de política externa são difundidas glo-

balmente. Segundo Dobbin, Simmons e Garret (2007), os Esta-

dos adotam mudanças em suas políticas públicas em resposta

a incentivos externos (através de persuasão, empréstimos,

condicionantes de ajuda internacional de organismos financei-

ros, escolhas unilaterais de grandes potências, entre outras

formas) ou como consequência de mudanças no campo das

ideias (adoção da elite governamental e intelectual de certas

teorias, imitação de políticas bem sucedidas, entre outras). Em

ambos os casos, a mudança institucional doméstica é vista

como reflexo de externalidades. O objetivo desse ensaio é

testar esse modelo teórico em um contexto empiricamente

desafiador: o protecionismo agrícola da Índia e a sua resistên-

cia à abertura comercial pressionada tanto pelos países desen-

volvidos (E.U.A. e U.E.), quanto pelos países em desenvolvi-

mento (entre eles Brasil e África do Sul, interlocutores no am-

biente BRICS e IBSA), ambos no contexto da Rodada de Doha

da OMC.A política agrícola da Índia é extremamente sensível

ao comércio exterior. A previsível queda nos preços devido à

entrada de concorrentes põe em risco a renda dos pequenos

Os BRICS e as Transformações da Ordem Global

Page 19: ANAIS - abri.org.br

19

agricultores – preços com piso subsidiado pelas compras go-

vernamental da produção excedente – e famílias em aguda

pobreza, que recebem o excedente agrícola distribuído pelo

governo visando segurança alimentar. A coalização democráti-

ca que governa a Índia não demonstra que abrirá mão desse

protecionismo no curto e médio prazo, mesmo com as pres-

sões externas e internas (Ministério da Indústria e Comércio e

grandes agricultores), e isso é uma lição sobre como fatores

domésticos podem apresentar-se refratários a uma forte mu-

dança global de políticas públicas.

Leonardo Pace Alves

A cooperação entre os BRICS na área de Ciência e Tecnologia.

Coautor(es): Frederico de Almeida Castro Marinho

Trabalho completo

Resumo: O adensamento das relações entre os países do Sul

pode ser constatado por meio da ampliação de coalizações

política de geometria variável, entre as quais se destaca o

agrupamento formado entre Brasil, Rússia, China e África do

Sul (BRICS). Essa aproximação expressa-se, sobretudo, em du-

as vertentes. A primeira engloba a concertação diplomática de

posições acerca de temas de interesse comum, ao passo que a

segunda abarca as ações de cooperação técnica entre os refe-

ridos países. O trabalho tem o objetivo de analisar a relação

dessas duas vertentes da cooperação Sul-Sul entre os integran-

tes dos BRICS, a fim de verificar em que medida a coordenação

política traduz-se, efetivamente, em iniciativas concretas no

âmbito da cooperação técnica entre esses países.

Propõe-se a hipótese de que, embora favoreça o incremento

de iniciativas de cooperação técnica, o agrupamento pode vir a

aprofundar a dependência tecnológica e, nesse sentido, acen-

tuar assimetrias em área estratégica. Com efeito, busca-se

traçar breve histórico da formação dos BRICS, desde sua elabo-

ração conceitual até sua formalização política, ressaltando-se

as atividades no âmbito científico e tecnológica. Em seguida, é

analisado o grau de correlação dessas duas vertentes, identifi-

cando, com base na literatura que versa sobre o tema e no

levantamento das fontes primárias governamentais, as carac-

terísticas das áreas selecionadas para a condução de coopera-

ção técnica. Na conclusão, discutem-se as particularidades e as

implicações dessas escolhas para o desenvolvimento e para a

autonomia tecnológica dos países do bloco.

Letícia Britto dos Santos

Os BRICS no Regime Internacional de Mudanças Climáticas

Trabalho completo

Resumo: O presente trabalho busca analisar o posicionamento

do Brasil, Rússia, Índia e China (BRICS) quanto à adoção de

metas voluntárias de redução de emissões de gases de efeito

estufa para os países em desenvolvimento no Regime Interna-

cional de Mudanças Climáticas (RIMC). O trabalho tem como

objetivo analisar o tratamento diferenciado dado aos países

pertencentes ao Não-Anexo I do Protocolo de Kyoto, seus me-

canismos de Flexibilização e os desafios para adoção de um

novo tratado internacional. Dessa forma, baseia-se em refe-

rências teóricas para explicar a formação do regime internaci-

onal, passando pelo conceito de bens públicos, analisando o

dilema de cooperação presente nesta arena de negociação,

assim como os atores domésticos que pressionam o posiciona-

mento desses países no ambiente internacional. Serão tam-

bém analisados os dados quantitativos das economias desses

países, o perfil de emissões e as fontes de energias. A metodo-

logia utilizada neste trabalho é a análise documental, do Pro-

tocolo de Kyoto, da Convenção Quadro das Nações Unidas

sobre Mudanças Climáticas e dos documentos oficiais apre-

sentados pelos BRICS nas Conferências das Partes (COP´s) no

RIMC. Por fim, com o intuito de contribuir para a análise e

discussão dos problemas ambientais globais, o trabalho abor-

da os interesses e as estratégias, semelhantes e divergentes,

adotadas pelos BRICS nas últimas conferências internacionais.

Luara Mayer da Silveira

A Questão da Energia na Agenda de Cooperação ao Desenvolvi-

mento Internacional

Trabalho completo

Resumo: O setor energético é um fator crítico ao desenvolvi-

mento das sociedades nos campos econômico, ambiental e

social. A sociedade internacional tem deparado desafios signi-

ficativos no campo energético, demandando respostas de go-

vernança, tais como: riscos macroeconômicos ligados às pres-

sões dos preços internacionais de energia; ameaças ambien-

tais agravadas pela queima excessiva de combustíveis fósseis,

catalisador do efeito de mudanças climáticas; e os problemas

humanitários ligados à pobreza energética internacional. A

cooperação ao Desenvolvimento pode ser um canal potencial

de ação da sociedade internacional para superar os desafios

globais da área de energia, ao ajudar os países menos industri-

alizados a diversificarem suas matrizes energéticas de forma

mais sustentável. O objetivo deste estudo é sondar como se

caracterizou a cooperação internacional ao desenvolvimento

para o setor energético na última década, contrastando com

os principais problemas internacionais atuais no setor. O tra-

balho é dividido em quatro partes: i. Discussão teórica sobre

sobre a cooperação internacional ao desenvolvimento; ii.

Apresentação da relação entre energia e desenvolvimento

destacando a importância da energia nos três níveis de desen-

volvimento (econômico, ambiental e humano); iii. Apresenta-

ção de dados da OCDE sobre os fluxos de Assistência Oficial ao

Desenvolvimento (2002 a 2012) sobre a realidade da coopera-

ção internacional ao desenvolvimento no setor energético na

Anais do 2º Seminário de Relações Internacionais: Graduação e Pós-graduação João Pessoa | 28 e 29 de agosto de 2014

Page 20: ANAIS - abri.org.br

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última década: evolução dos fluxos de desembolsos, principais

doadores, alocação dos recursos por subáreas de investimento

e distribuição geográfica; iv. Discussão e análise de dados e

últimas considerações. Dentre as conclusões, observamos que

embora o setor de energia tem ganhado ênfase entre as insti-

tuições internacionais para o desenvolvimento, a realidade

ainda está distante de cobrir a necessidade de investimentos

em fontes limas e renováveis nos países em desenvolvimento.

Luiz Felipe Brandão Osório

A construção da União Europeia pela ótica da Economia Política

Internacional

Trabalho completo

Resumo: A integração regional via União Europeia atinge o

segundo decênio do século XXI questionada. Diferentemente

de outros momentos críticos1, este interregno desencadeado

após 2008 revela-se ímpar. Em primeiro lugar, por ocorrer

com uma estrutura institucional consolidada, após o Tratado

de Maastricht, diferentemente dos momentos de críticos das

décadas de 1960 e 1970. Em segundo lugar, por expor as con-

tradições e as características que contribuíram para o fortale-

cimento do projeto comunitário2. Por fim, a peculiaridade da

debacle corrente é que ela é resultado do êxito integracionis-

ta, ou seja, do aprofundamento do processo, e não de sua

estagnação ou retrocesso.Em outras palavras, por meio das

formas jurídicas da arquitetura comunitária pode-se atingir

uma explicação substancial para suas contradições e incompa-

tibilidades. Devido à complexidade, a análise dos contornos

atuais do processo de integração, que é por essência interdis-

ciplinar, requer a compreensão de seu contexto histórico e

teórico de sua gênese por meio de uma abordagem sistêmica,

capaz de apontar seus pilares fundamentais. Uma visão mera-

mente purista, enfocada apenas em Relações Internacionais

ou mesmo na Economia Internacional, não seria capaz de

apreender todas as nuances que tocam este fenômeno social.

Logo, caberá ao campo da Economia Política Internacional,

responsável pela interface amalgamada em componentes his-

tóricos entre Economia Política e Relações Internacionais, a

extração do substrato teórico para a compreensão do objeto

de estudo.

Luiz Fernando Castelo Branco Rebello Horta

A Atuação do Conselho de Segurança das Nações Unidas face

aos Desafios Sistêmicos do pós-Guerra Fria e à Concertação

Política dos BRICS

Trabalho completo

Resumo: A criação das instituições internacionais após a Se-

gunda Guerra Mundial foi um produto sobretudo da atuação

dos Estados Unidos a fim de construir uma certa “ordem” in-

ternacional. O período imediatamente posterior ao fim da

Guerra Fria foi marcado pelo otimismo com relação à atuação

do Conselho de Segurança da Nações Unidas, otimismo que

não perdurou e que se seguiu a grandes questionamentos

sobre a eficiência do órgão. Um dos diagnósticos dados ao

pessimismo crescente com relação às limitações do Conselho

de Segurança tem a ver com o próprio comportamento norte-

americano, que teria engendrado um profundo questionamen-

to sobre a legitimidade do Conselho. O presente Painel objeti-

va refletir sobre essas questões, assim como averiguar a even-

tual contribuição trazida pelos países que compõem o BRICS.

Ou seja, buscará também averiguar o impacto da presença dos

BRICS nos temas mais controversos da agenda do Conselho de

Segurança.

Mariana Davi Ferreira

Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América – Tratado

de Comércio dos Povos (ALBA-TCP) : perspectivas e desafios do

ciclo do regionalismo pós-liberal na América Latina

Coautor(es): Giuliana Dias Vieira (UEPB)

Trabalho completo

Resumo: No limiar do século XXI, o cenário político latino-

americano passa por mudanças pujantes, diante da emergên-

cia de governos de esquerda, que configuram uma reorienta-

ção no perfil da política externa dos países da região e, conse-

quentemente, uma releitura dos modelos integrativos. Estabe-

lece-se, assim, um processo de esgotamento do ciclo do regio-

nalismo aberto (SANAHUJA, 2010), caracterizado pelo cunho

eminentemente econômico, o qual fora hegemônico na Amé-

rica Latina na década de 1990. O esgotamento deste ciclo dá-

se a partir do questionamento da sua viabilidade para fomen-

tar uma integração que corrobore com os reais interesses dos

Estados da região. Emerge, nesse cenário, o paradigma do

regionalismo pós-liberal (SANAHUJA, 2010; SERBIN, 2012), no

qual a integração é posta como instrumento viabilizador do

desenvolvimento da América Latina, a partir do retorno da

centralidade do Estado interventor e distanciamento das polí-

ticas neoliberais. O regionalismo pós-liberal prevê a busca pela

redução das assimetrias entre os Estados, tendo maior foco na

agenda política. Tal paradigma se expressa na Aliança Bolivari-

ana para os Povos de Nossa América – Tratado de Comércio

dos Povos (ALBA – TCP), processo integrativo protagonizado

pela Venezuela. O presente trabalho apresenta os resultados

da investigação científica realizada a partir do Projeto de Pes-

quisa “Cooperação internacional e integração latino-

americana: novos paradigmas?” desenvolvido no Curso de

Relações Internacionais, da Universidade Estadual da Paraíba,

no ano de 2013. Apresenta-se como objetivo central a análise

das possibilidades e desafios para esse novo paradigma inte-

grativo na região, a partir do estudo do caso da ALBA-TCP,

enquanto expressão do regionalismo pós-liberal. No intento

Os BRICS e as Transformações da Ordem Global

Page 21: ANAIS - abri.org.br

21

de apreender os determinantes do processo analisado, fora

realizada análise documental à luz de referência bibliográfica

que versa sobre o fenômeno do regionalismo e as relações

internacionais latino-americanas.

Mariana de Oliveira Nóbrega

Governança global ambiental e os BRICS: perspectivas e desafios

para uma futura agenda sustentável

Coautor(es): Jan Marcel de Almeida Freitas Lacerda

Trabalho completo

Resumo: As problemáticas ambientais estão em evidência nas

Relações Internacionais, visto que essas questões são, em ge-

ral, transfronteiriça e requerem a conjugação da atuação dos

diversos atores do sistema internacional. A Governança Global

Ambiental é a inserção do conceito de governança global na

área ambiental, o que demonstra a necessidade de responder

aos problemas ambientais mundiais de forma conjunta e coor-

denada pelos atores internacionais. Além dos Estados, há a

ampliação da participação dos regimes internacionais, das or-

ganizações internacionais, dos organismos financeiros, das

ONGS, da Sociedade Civil e, aqui se destaca, dos BRICS – agru-

pamento político entre Brasil, Rússia, Índia, China e África do

Sul. Com isso, este estudo objetiva analisar os BRICS, como

ator em potencial para o fortalecimento da governança global

ambiental e, consequentemente, o surgimento de uma futura

agenda sustentável. Desse modo, o estudo sobre os BRICS, no

contexto discutido, justifica-se por sua configuração de países

economicamente em crescimento, detentores de uma imensa

diversidade global e abundantes em recursos ambientais, po-

dendo proporcionar soluções inovadores para a proteção do

meio ambiente, conjugadas à necessidade de renovação dos

desenvolvimentos econômico e social. Em contraponto, caso

haja continuação do modelo atual de desenvolvimento, futura-

mente os BRICS terão dificuldades de manter seus padrões de

sustentabilidade, por isso uma ação conjunta faz-se necessá-

ria, mesmo que haja uma série de coalisões entre os seus

membros. Por meio de uma metodologia dedutiva, o artigo

parte de uma compreensão sobre a governança global na te-

mática ambiental, para uma análise dos BRICS, projetado como

ator potencial da ecopolítica, e cujo estudo fundamenta-se

pela vertente teórica institucionalista liberal. Por fim, reflete-

se acerca das congruências, coalisões e desafios dos BRICS no

desenvolvimento de uma possível agenda sustentável comum.

Mariana Preta Oliveira de Lyra

EM BUSCA DE AFIRMAÇÃO: A elevação dos assuntos de segu-

rança e a maior participação dos BRICS na governança interna-

cional

Coautor(es): Mikelli Marzzini Lucas Alves Ribeiro

Trabalho completo

Resumo: As relações internacionais são, em grande parte, geri-

das por regras desenvolvidas a partir da práxis dos atores in-

ternacionais. Tais normas são criadas por um grupo restrito de

países, que buscam manter uma determinada ordem interna-

cional. Com o fim da Guerra Fria, as potências ocidentais sedi-

mentaram-se como as gestoras do sistema internacional. En-

tretanto, a ascensão de potências emergentes tem indicado

um possível rearranjo da distribuição do poder internacional,

implicando na busca por participação em temas de soft e hard

power. Dentre as potências emergentes, os BRICS (Brasil, Rús-

sia, Índia, China e África do Sul) são considerados os Estados

com maiores capacidades. Diante de um relativo consenso da

opinião pública e da academia em reconhecer a crescente

importância desses países, sobretudo na esfera econômica, o

bloco passou a lograr maior participação no gerenciamento

das regras internacionais. Nesse sentido, este artigo busca

investigar se os BRICS se consideram atores fundamentais na

gestão da ordem internacional, a partir da análise de sua atua-

ção em temas “duros”, em particular as questões de seguran-

ça. Para tanto, analisa-se o posicionamento dos BRICS nos as-

suntos securitários, sobretudo por meio do estudo de suas

declarações conjuntas, na tentativa de verificar se houve um

aumento significativo da presença desses temas nos discursos

do bloco. Define-se como horizonte temporal o período de

2009, ano da primeira reunião, até a cúpula mais recente, rea-

lizada em 2013. Como norte teórico, utilizam-se os pressupos-

tos estabelecidos pela Escola Inglesa, principalmente a premis-

sa de que apenas as grandes potências podem gerir assuntos

importantes, como os de segurança. Desenvolve-se, portanto,

uma análise dedutiva, em que a confirmação do aumento da

atuação do BRICS em assuntos securitários implica no seu auto

-reconhecimento como um relevante player internacional, de

modo a contribuir com reflexões sobre a atual distribuição de

poder internacional.

Mikelli Marzzini Lucas Alves Ribeiro

EM BUSCA DE AFIRMAÇÃO: A elevação dos assuntos de segu-

rança e a maior participação dos BRICS na governança interna-

cional

Coautor(es): Mariana Preta Oliveira de Lyra

Trabalho completo

Resumo: As relações internacionais são, em grande parte, geri-

das por regras desenvolvidas a partir da práxis dos atores in-

ternacionais. Tais normas são criadas por um grupo restrito de

países, que buscam manter uma determinada ordem interna-

cional. Com o fim da Guerra Fria, as potências ocidentais sedi-

mentaram-se como as gestoras do sistema internacional. En-

tretanto, a ascensão de potências emergentes tem indicado

um possível rearranjo da distribuição do poder internacional,

Anais do 2º Seminário de Relações Internacionais: Graduação e Pós-graduação João Pessoa | 28 e 29 de agosto de 2014

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implicando na busca por participação em temas de soft e hard

power. Dentre as potências emergentes, os BRICS (Brasil, Rús-

sia, Índia, China e África do Sul) são considerados os Estados

com maiores capacidades. Diante de um relativo consenso da

opinião pública e da academia em reconhecer a crescente im-

portância desses países, sobretudo na esfera econômica, o

bloco passou a lograr maior participação no gerenciamento

das regras internacionais. Nesse sentido, este artigo busca

investigar se os BRICS se consideram atores fundamentais na

gestão da ordem internacional, a partir da análise de sua atua-

ção em temas “duros”, em particular as questões de seguran-

ça. Para tanto, analisa-se o posicionamento dos BRICS nos as-

suntos securitários, sobretudo por meio do estudo de suas

declarções conjuntas, na tentativa de verificar se houve um

aumento significativo da presença desses temas nos discursos

do bloco. Define-se como horizonte temporal o período de

2009, ano da primeira reunião, até a cúpula mais recente, rea-

lizada em 2013. Como norte teórico, utilizam-se os pressupos-

tos estabelecidos pela Escola Inglesa, principalmente a premis-

sa de que apenas as grandes potências podem gerir assuntos

importantes, como os de segurança. Desenvolve-se, portanto,

uma análise dedutiva, em que a confirmação do aumento da

atuação do BRICS em assuntos securitários implica no seu auto

-reconhecimento como um relevante player internacional, de

modo a contribuir com reflexões sobre a atual distribuição de

poder internacional.

Moisés Moreira Vieira

BRICS e as restrições de viagem aos migrantes soropositivos:

desafios à cooperação internacional em saúde

Trabalho completo

Resumo: A cooperação internacional em saúde enfatiza a natu-

reza transnacional e globalizada das ameaças à saúde global

em um mundo interdependente e destaca o equívoco da terri-

torialização e nacionalização das doenças. Tendo em vista que

o HIV/AIDS não respeita as fronteiras geopolíticas dos Estados

e a soberania é um elemento estranho à expansão da epide-

mia, a cooperação internacional encontra-se justificada, visto

que os países estão diante de um problema transnacional, que

demanda uma resposta articulada globalmente. Diante do

exposto, o paper analisa a cooperação internacional na respos-

ta ao HIV/AIDS, enfocando as restrições à entrada, permanên-

cia e residência de migrantes soropositivos em países com leis

discriminatórias, a partir do estudo do caso dos Estados-

membros dos BRICS. Com o estudo realizado, visa-se destacar

contradições entre o discurso de cooperação na resposta à

epidemia em oposição ao isolacionismo consubstanciado nas

barreiras de viagem. Fundamentando a crítica às restrições da

mobilidade internacional dos migrantes soropositivos a partir

da noção cosmopolita de hospitalidade, busca-se evidenciar a

incoerência do modelo de cooperação internacional imple-

mentado pelos países dos BRICS para responder à epidemia da

AIDS em face das restrições de viagem impostas às pessoas

que vivem com HIV.

Norma Breda dos Santos

Os Amorin Panels (1999) no Contexto das Relações do Brasil

com o Oriente Médio

Trabalho completo

Resumo: A partir de 2003, com a presidência Luis Inácio Lula

da Silva, grande ênfase foi dada às relações com o Oriente

Médio. Foram muitas as iniciativas da diplomacia brasileira

com relação à região, notadamente no que diz respeito ao

conflito Israel-Palestina. Produto desse esforço, o Brasil, por

exemplo, foi convidado para participar da Conferência de Aná-

polis (2007) e de Sharm-al-Sheikh (2009), assim como seus

parceiros da coalizão IBAS (Índia, Brasil e África do Sul). Há que

se notar, entretanto, que sinais da maior assertividade da di-

plomacia brasileira para a região médio-oriental antecede

2003. É o que se pode observar com a atuação do Brasil no

Conselho de Segurança da ONU no biênio 1998-1999, particu-

larmente quando se torna notório o não cumprimento por

parte do governo iraquiano de suas obrigações de desarmar-

se. No Conselho, prevalecem posições que defendem o endu-

recimento com o Iraque, mas vários membros entendem que

posições mais transigentes resultariam em relações mais coo-

perativas do país com a ONU. É nesse contexto que Celso

Amorim exerce a presidência do Conselho de Segurança

(1999). Sob a sua presidência, o Conselho cria três painéis, que

passaram a ser conhecidos como Amorin Panels, que objeti-

vam encontrar soluções técnicas para dar prosseguimento ao

trabalho com o governo iraquiano. Este estudo objetiva estu-

dar as análises e interpretações dadas pela literatura especiali-

zada à atuação brasileira na presidência do Conselho de Segu-

rança em 1999, sobretudo com relação aos eventuais avanços

que resultaram dos referidos Painéis, assim como buscar com-

preender a atuação da diplomacia brasileira no Conselho ao

contextualizá-la em uma dimensão mais ampla das relações

do Brasil com o Oriente Médio.

Pedro Casas Vilela Magalhães Arantes

BRICS: Há uma agenda de Segurança em comum?

Trabalho completo

Resumo: Mesmo que a origem do agrupamento dos BRICS

tenha se dado por questões e preocupações econômicas, deve

-se compreender que há um crescente interesse na agenda de

segurança, que é evidenciado com as demandas apresentadas

nas declarações conjuntas nas cúpulas do BRICS, por exemplo.

Além disso, é notável a insatisfação dos países do BRICS com o

status quo vigente, uma vez que a atual ordem e suas institui-

ções não refletem as mudanças ocorridas nos últimos anos.

Os BRICS e as Transformações da Ordem Global

Page 23: ANAIS - abri.org.br

23

Nesse contexto, é importante salientar que os BRICS não con-

testam a ordem, apenas buscam uma maior representativida-

de ou mesmo reformas que deem mais poder aos emergentes.

Portanto, o intuito do presente artigo é apresentar que, apesar

do latente interesse nas questões de Segurança, o que se vê,

na verdade, é que os países pouco fazem/fizeram para superar

essas diferenças e, com isso, não se vê avanços em uma agen-

da em comum. Levando em consideração a grande heteroge-

neidade destes países e os diferentes temas na agenda deles,

principalmente no que diz respeito à segurança, surgem enor-

mes desafios na tentativa de harmonizar posicionamentos,

que fica evidente, por exemplo, quando se trata da Reforma

do CSONU ou até mesmo de temas relativos às questões nu-

cleares e que, buscando equacionar esse problema, as potên-

cias emergentes/médias tentam avançar na cooperação atra-

vés de coalizões de geometria variável, envolvendo ou deixan-

do de envolver países de acordo com a conveniência em cada

agenda.

Rafael Henrique Dias Manzi

A transição G7 - G20 e os BRICS na ordem econômica internacio-

nal

Trabalho completo

Resumo: Com a crise no Sistema de Bretton Woods no início da

década de 1970, os países centrais criaram G7 – Estados Uni-

dos, Inglaterra, França Alemanha, Canadá, Japão e Itália– para

aprofundar a coordenação das políticas econômicas entre as

economias mais desenvolvidas do mundo capitalista. Entretan-

to, a capacidade de gestão e prevenção de crises financeiras

pelo G7 diminuiu em decorrência do crescimento da importân-

cia das economias em desenvolvimento a partir do fim da

guerra fria. O início da crise econômica e financeira nos Esta-

dos Unidos em 2008 demonstrou a necessidade de aprofundar

a coordenação das políticas econômicas entre as principais

economias mundiais com o objetivo de evitar o derretimento

do sistema financeiro internacional e dirimir os efeitos da re-

cessão econômica global. Nesse contexto, era necessário am-

pliar o G7 com a inclusão de importantes economias em de-

senvolvimento que cada vez mais eram importantes no cená-

rio internacional. O G20 financeiro, que foi criado em 1999

para aprofundar a cooperação internacional entre os bancos

centrais e ministérios da fazenda de economias avançadas e

emergentes, se transformou em G20 por meio da realização

de encontros anuais entre os chefes de governo das principais

economias mundiais. O principal objetivo do trabalho é anali-

sar como a inserção dos BRICS – Brasil, Rússia, China, Índia e

África do sul - afeta a governabilidade da ordem econômica

internacional após a transformação do G20 no principal fórum

econômico internacional para a promoção da cooperação en-

tre países desenvolvidos e emergentes. Nesse sentido, o traba-

lho propõe a discutir algumas questões como: as posições dos

BRICS no G20 são convergentes? As mudanças propostas do

grupo são reformistas ou revisionistas? A metodologia utiliza-

da será comparar as posições dos BRICS no G20 e nos fóruns

próprios do grupo.

Regiane Nitsch Bressan

Integração Regional na América do Sul: qual é o interesse de

suas lideranças?

Trabalho completo

Resumo: O objetivo deste trabalho é retratar a percepção das

lideranças regionais sobre os processos de integração regional

na América do Sul, por meio de dados coletados pela aplica-

ção de entrevistas às elites da região. Primeiro, foi contextuali-

zado o atual cenário de integração sul-americana, marcado

por aspectos políticos e ideológicos, em detrimento da faceta

econômica. Em seguida, foi apresentado e discutido um con-

junto de dados sobre a percepção das elites sobre a integra-

ção regional, focando a investigação no aspecto do regionalis-

mo. As conclusões deste estudo mostraram as diferentes per-

cepções entre os grupos de elites devido aos seus interesses e

crenças políticas. Além disso, a análise discerniu os países das

elites, comprovou que a configuração política e a inserção

internacional dos seus respectivos países, são importantes na

definição de seus valores e formação de suas percepções. Por-

tanto, a conclusão do estudo atribui aos fatores políticos e

desejos econômicos, as divergências de percepção destes ato-

res, cujos países são marcados pelas suas configurações políti-

cas específicas e inserção internacional diferentes. As percep-

ções distintas denotam visões e intenções diversas que tais

atores apresentam dos mesmos projetos regionais, dificultan-

do a obtenção de consensos e avanço dos blocos de integra-

ção. Este trabalho compreende o capítulo 3 da tese de douto-

rado defendida na Universidade de São Paulo, intitulada “A

integração sul-americana e a superação da pobreza. Uma

abordagem pela percepção das elites”, ainda não publicada.

Rhaíssa Pagot

Os BRICS frente aos Estados Unidos após a crise financeira de

2008: alternativa a uma hegemonia declinante?

Trabalho Completo

Coautor(es): Emmanuel Brandolff Jardim Trabalho completo

Resumo: A crise financeira de 2008, cujo epicentro foram os

Estados Unidos, trouxe implicações para a ordem econômica,

política e social no sistema internacional. Uma delas decorren-

te, sobretudo da desaceleração produtiva a nível mundial,

gerou um novo questionamento sobre a posição hegemônica

dos Estados Unidos, tendo em vista o fracasso aparente do

modelo econômico liberal propalado no processo globalizante

do pós-Guerra Fria. A análise do presente trabalho centrar-se-

Anais do 2º Seminário de Relações Internacionais: Graduação e Pós-graduação João Pessoa | 28 e 29 de agosto de 2014

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á nessa questão tendo como foco o papel dos BRICS no atual

contexto internacional, considerando seu papel como opositor

e como reformador do sistema interestatal ainda liderado pe-

los Estados Unidos. Na primeira parte do artigo, desenvolver-

se-ão as ideias de Giovanni Arrighi no concernente ao termo

“hegemonia”, além de serem apontadas as principais críticas a

essa abordagem. Nesse mesmo sentido, os teóricos da Teoria

Crítica, em especial Robert Cox, auxiliam na compreensão da

possibilidade de mudança de hegemonia na ordem internacio-

nal. As ideias sobre “interdependência complexa” de Robert

Keohane e Joseph Nye também serão usadas como arcabouço

teórico. Ademais, as críticas de Tim Dunne à Escola Inglesa e

suas reflexões sobre os Estados Unidos e ordem mundial con-

tribuíram para o referencial teórico. Na segunda parte do arti-

go, será feito um breve retrato das causas e consequências da

crise financeira de 2008, considerando a posição de hegemo-

nia mundial dos Estados Unidos. Por fim, será analisado o sur-

gimento dos BRICS enquanto conceito e posterior instituição,

com a proposta de buscar explicações sobre as capacidades

desse conjunto de Estados na conjuntura internacional pós-

crise de 2008, que se apresenta cada vez mais incerta e rica

em possibilidades quando se trata de reordenamento no siste-

ma interestatal.

Ricardo Bruno Boff

A integração da infraestrutura física na América do Sul e sua

influência na concentração econômica espacial

Trabalho completo

Resumo: A América do Sul possui grandes desigualdades na

distribuição da produção econômica, sendo caracterizada pela

concentração da produção em algumas regiões, enquanto

outras permanecem com baixo desenvolvimento econômico.

Tais características, conforme teorização de David Harvey, são

típicas da expansão do modo de produção capitalista, o que

ajuda a explicar como tal concentração produtiva se desenvol-

veu na região. Historicamente, isso ocorre a partir da coloniza-

ção, quando esse espaço foi inserido nos circuitos do capitalis-

mo global. O objetivo deste estudo é verificar se os processos

de institucionalização na América do Sul, que promovem a

integração da infraestrutura física e o desenvolvimento de

áreas mais atrasadas, afetam a concentração econômica. O

ponto de partida para definir o que constitui esses processos

de institucionalização é o lançamento da IIRSA - Iniciativa para

a Integração da Infraestrutura Regional Sulamericana, em

2000, pois a IIRSA é a primeira iniciativa que define a América

do Sul como espaço de atuação para a integração da infraes-

trutura física. Tal escolha relaciona-se com a própria definição,

por parte da diplomacia brasileira, da América do Sul como sua

área de projeção imediata, ainda sob o contexto de negocia-

ções da ALCA. Adicionalmente, serão observadas outras inicia-

tivas que atuam no desenvolvimento de regiões mais atrasa-

das, como o Banco do Sul e FOCEM, as quais compõem, junto

com a IIRSA, os processos de institucionalização a ser investi-

gados. A hipótese, no entanto, é que tais processos mantêm a

concentração produtiva em algumas regiões, tanto devido às

características da integração de infraestrutura física quanto à

debilidade das iniciativas que se propõe a combater a distribui-

ção desigual da produção econômica.

Roberto Brandão Araújo

O Papel do HSBC nas análises em Segurança Energética China-

Brasil.

Trabalho completo

Resumo: Desde que o acrônimo “BRIC’s” foi anunciado pelo

Economista Chefe do Goldman and Sachs em 2001, os países

que o compõe vem demonstrando um crescimento econômico

impressionante, especialmente, diante da crise de 2008, onde

eles mantiveram sua capacidade produtiva. O crescimento

econômico demanda, essencialmente, dentro da compreensão

ocidental, a capacidade de produzir, e para isso, a capacidade

de ser suprido por energia. A produção de minerais, gás natu-

ral e especialmente petróleo, e principalmente sua aquisição

pelos países emergentes tem sido um fator de correlação de

interdependência entre eles. A prospecção comercial do pe-

tróleo e outras energias, e a segurança energética, são temas

que voltaram à tona com muita importância dentro do cenário

Global. Sendo assim, nos últimos anos vemos uma busca pela

China de petróleo e um crescimento da relação com a América

do Sul e em especial o Brasil como parceiro bilateral no comér-

cio de petróleo, e nesse contexto, os Bancos estrangeiros tem

sido fundamentais com suas análises dessas relações comerci-

ais. O HSBC, através do HSBC Global Research tem cada vez

mais tecido analises e prospectos sobre a relação entre a Chi-

na e a América Latina, nos seus cadernos chamados “South-

South Special” e “LatAm Especial”, mostrando que os investi-

dores e os Governos são analisados por um Banco Privado e a

importância desses Bancos e dessas analises na Governança

Global.Sendo assim, no que tange as relações da China com a

América Latina, o HSBC tem se mostrado um Banco com anali-

ses seguras e bem respaldadas em estatísticas da relação de

segurança energética entre China e Brasil, mais especificada-

mente.

Rodrigo de Jesus Santos

A criação de um banco de desenvolvimento do BRICS e seu papel

frente a um cenário internacional em transformação

Coautor(es): Giorgio Romano Schutte

Trabalho completo

Resumo: As mudanças no cenário internacional nos últimos

anos, propiciadas pelo advento de uma nova geografia econô-

Os BRICS e as Transformações da Ordem Global

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25

mica, alterou significativamente as posições assumidas pelos

países em desenvolvimento. A retração das maiores economi-

as do mundo, sofridas sobretudo a partir da crise de 2008, deu

uma nova dinâmica nas relações internacionais. Nessa pers-

pectiva, os países que conformam o BRICS, assumiram outro

patamar de atuação nas questões globais. Ao considerar suas

potencialidades como território e população, potencial econô-

mico e poder de influência, podemos caracterizar o BRICS co-

mo um eixo com alto potencial de reordenar as relações inter-

nacionais. Com economias relativamente estáveis e expressi-

vos índices de crescimento, Brasil, Rússia, Índia, China e África

do Sul assumiram papel relevante no período pós-crise, legiti-

mando suas reivindicações de reformas nos organismos inter-

nacionais como Banco Mundial e FMI, tendo em vista uma

maior participação não só de seus membros, mas também de

outros países em desenvolvimento. A criação de um banco de

desenvolvimento do BRICS é uma estratégia chave para seus

países. Uma vez que, institucionalizado, o bloco ganharia um

novo status no mundo e ao mesmo tempo, se apresentaria

como uma alternativa aos países em desenvolvimento. Esse

fator por sí só, já alteraria a visão de instituições como o Banco

Mundial e o FMI em relação a esse cenário de concorrência,

que se assumirá após a criação desse banco, podendo levá-los

a repensar suas reformas de modo a uma maior representati-

vidade. O presente trabalho tem por objetivo discorrer, a par-

tir do papel assumido pelo BRICS no atual cenário internacio-

nal, sobre a criação desse banco de desenvolvimento, alteran-

do a dinâmica predominante até então, no sentido de que, o

grupo passa a ter um papel ainda mais relevante na configura-

ção de uma multipolaridade em construção no mundo.

Rogério Santos da Costa

Dinâmica Institucional nas Relações Internacionais: instituciona-

lismo histórico, Retornos Crescentes e Path Dependency em

analise comparada da reforma do Cosenlho de Segurança da

ONU e Liga das Nações

Trabalho completo

Resumo: Dentre as correntes que enfatizam o estudo das insti-

tuições na Ciência Política está a escola neoinstitucionalista,

que pode ser dividida em institucionalismo histórico, sociológi-

co e da escolha racional. Por sua vez, o institucionalismo histó-

rico tem remetido especial atenção para a evolução institucio-

nal condicionada à sua trajetória. Conhecida como Path De-

pendency, esta abordagem define elementos explicativos para

a estabilidade institucional e dificuldades de mudança, princi-

palmente agregada à perspectiva de Retornos Crescentes. Por

outro lado, ainda são relativamente escassos os estudos den-

tro da Ciência Política e Relações Internacionais que contem-

plem uma abordagem sobre a evolução das instituições nas

Relações Internacionais, seus ciclos, continuidades, a baixa

incidência de mudança ou término. Se nos detivermos às insti-

tuições formais conhecidas como Organizações Internacionais,

temos um campo fértil e pouco explorado no que diz respeito

à dinâmica institucional. Isto porque, são poucas as Organiza-

ções Internacionais que nasceram e deixaram de existir desde

a criação da Liga das Nações. Mais que isto, as dificuldades de

mudança institucional são muito verificáveis justamente na-

quelas Organizações Internacionais com maior peso nas Rela-

ções Internacionais, como o Conselho de Segurança da Orga-

nização das Nações Unidas. Assim, este trabalho tem como

objetivo geral interpretar a realidade das Relações Internacio-

nais e Organizações Internacionais utilizando conceitos do

neoinstitucioinalismo. Principalmente, pretende-se tratar da

estabilidade institucional e dificuldade de mudança do Conse-

lho de Segurança da ONU à luz dos conceitos de Retornos

Crescentes e Path Dependency do institucionalismo histórico.

O trabalho conta com uma primeira parte de revisão da litera-

tura, delimitação das correntes neoinstitucionais e definição

de conceitos-chave, e uma outra de análise do caso da refor-

ma do Conselho de Segurança da ONU, com comparações ao

caso da Liga das Nações.

Thais Silva Menezes

Dos efeitos das mudanças climáticas: migração internacional e

soberania estatal

Trabalho completo

Resumo: Ao longo da última década, tem sido visível a forma-

ção de um consenso concernente aos efeitos do fenômeno

das mudanças climáticas, observada tanto na área acadêmico-

científica quanto na esfera política dos tomadores de decisão.

Tal reconhecimento envolve não apenas as consequências

imediatas de tais alterações, como a maior incidência de even-

tos climáticos extremos e o aumento da temperatura do glo-

bo, mas também seus resultados indiretos, entre os quais tem

sido objeto crescente de atenção a questão da migração. Nes-

se contexto, a migração, a qual pode acontecer no âmbito

interno dos países, assim como envolvendo o cruzamento de

fronteiras, traz importantes efeitos para as relações internaci-

onais, sobretudo no último caso – quando há movimento

transfronteiriço. Este artigo objetiva discutir a relação entre

um importante elemento caracterizador das relações interna-

cionais, a ideia de soberania estatal – enquanto uma institui-

ção consolidada há vários séculos, porém cujo entendimento

sofreu modificações ao longo desse período, e que engloba

aspectos referentes à relação entre os Estados dentro de um

sistema internacional reconhecido como constrangedor a suas

ações – e a migração decorrente das mudanças climáticas –

aspecto ainda pouco explorado no âmbito da disciplina de

Relações Internacionais, mas cuja relevância tem se revelado e

sido cada vez mais admitida em referência às consequências

de tais alterações. Nesse sentido, analisam-se as consequên-

cias, visíveis e prováveis, para o sistema internacional desse

Anais do 2º Seminário de Relações Internacionais: Graduação e Pós-graduação João Pessoa | 28 e 29 de agosto de 2014

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movimento internacional de indivíduos, discutem-se seus des-

dobramentos para as Relações Internacionais, ressaltando a

necessidade de arcabouço teórico e conceitual para se estudar

tal questão, e aponta-se a necessidade da governança global

como meio para compreensão de tal consequência e para pro-

posição de respostas às demandas dela decorrentes.

Veronica Korber Gonçalves

A inclusão da aviação no Esquema Europeu de Comércio de

Emissões (EU ETS) e o princípio das responsabilidades comuns

mas diferenciadas

Trabalho completo

Resumo: No ano de 2009, a União Europeia aprovou a inclusão

do setor da aviação no seu Esquema de Comércio de Emissões

de Carbono (EU ETS). Entre as razões para a medida, destaca-

se o fato de que o referido setor está entre os mais poluentes,

sendo uma fonte importantíssima de emissão de gases do efei-

to estufa. Assim, entendeu a UE que os objetivos da sua políti-

ca climática exigiam a regulamentação do setor. No entanto,

ao contrário do controle de emissões geradas em bases fixas

(cujo controle se faz no local de produção, e não de consumo

do produto final), as emissões decorrentes do transporte

(incluindo-se, aí, por exemplo, o transporte marítimo) apresen-

tam-se como um desafio: devem ser contabilizadas no país de

origem, de destino ou onde é abastecido? Quem deve pa-

gar? Considerando tais desafios, a via prevista na Convenção

Quadro das Nações Unidas sobre mudança do clima para tra-

tar da matéria seria a negociação multilateral no fórum da

aviação e não do clima. Assim, o Protocolo de Quioto da Con-

venção-Quadro define, no art. 2.2, que a Organização da Avia-

ção Civil Internacional(OACI), ou International Civil Aviation

Association (ICAO), é o espaço adequado para se negociar nor-

mas para a emissão da aviação. O tema vinha sendo tratado

desde 1997 nos fóruns da OACI, porém não se chegou a ne-

nhum resultado concreto. A UE, descrente dos avanços no

processo de negociação multilateral, adotou unilateralmente

uma medida que gera efeitos para terceiros países, na medida

em que previa que toda aeronave que pousasse ou decolasse

do solo da UE deveria participar do EU ETS.

A medida gerou fortes reações internacionais, tanto no campo

politico quanto questionamentos de ordem jurídica. A UE, em-

bora desejasse impulsionar, com a medida, a adoção de um

acordo na OACI, teve de recuar de seus objetivos iniciais (por

meio da medida conhecida como Stop the clock), tendo as

negociações acarretado numa adequação (bem mais modesta)

de seus objetivos iniciais. Assim, agentes menos interessados

no avanço dessa agenda garantiram maior influência e obriga-

ram a UE a recuar. Atualmente, a Diretiva da Aviação aplica-se

a voos domésticos e internacionais dentro da área do Espaço

Econômico Europeu (Estados Membro do EEE e Territórios

além-mar do EEE), independente do país de origem da aerona-

ve. A exceção prevista na norma refere-se a voos proveniente

ou com destino aos países menos desenvolvidos, ou seja,

aqueles que se beneficiam, em 2014, do Sistema Geral de Pre-

ferências europeu. Um dos argumentos mais recorrentes utili-

zados por países em desenvolvimento contrários às obrigações

impostas pela Diretiva da Aviação é o da violação ao princípio

das responsabilidades comuns mas diferenciadas. O objetivo

do artigo é o de refletir acerca do papel do referido princípio

no caso do conflito da aviação, de forma a se compreender se

a Diretiva da UE o viola ou o ressignifica. A Convenção-Quadro

prevê, no art. 3º, os princípios que a norteiam, entre os quais

se destaca o referido princípio, previsto nos artigos 3.1 e 3.2,

de acordo com o qual se reconhece que a proteção do sistema

climático cabe a todos, devendo, porém, ser levado em conta

as capacidades de cada Parte, bem como a sua contribuição

histórica para o aquecimento global. Cabe às Partes países

desenvolvidos "tomar a iniciativa no combate à mudança do

clima e a seus efeitos adversos" (BRASIL, 1998). O princípio das

responsabilidades comuns mas diferenciadas norteia-se pela

noção de proporcionalidade de capacidades e condições para

agir em relação à mudança do clima, e envolve valores como a

justiça climática. Esse princípio, estabelecido em 1992, parte

do reconhecimento de que grande parte das emissões de ga-

ses do efeito era, à época, proveniente, historicamente, dos

países desenvolvidos, e que países em desenvolvimento con-

tribuíram pouco (o argumento implícito é de que tem, portan-

to, direito ao desenvolvimento, ainda que para isso aumentem

suas emissões de gases do efeito estufa). Porém, a distribuição

geográfica das emissões, em 2014, é bastante diferente da-

quela de 1992, em razão da extraordinária acumulação de

emissões nas últimas duas décadas de alguns países em desen-

volvimento: China, Índia, Indonésia, Brasil, México, Turquia,

África do Sul, Nigéria, Arábia Saudita, Irã, Coreia do Norte, Vi-

etnã, Paquistão, Venezuela e Argentina. Essa situação deman-

daria uma ressignificação do princípio. O impasse envolvendo

a compreensão do princípio das responsabilidades comuns

mas diferenciadas relaciona-se com o caso da aviação na me-

dida em que diversos países (e companhias aéreas) utilizaram-

no para afirmar que a Diretiva viola os acordos do clima, visto

que não mantém a diferenciação proposta nos Anexos da Con-

venção e do Protocolo de Quioto. A manifestação de violação

do princípio foi feita pela Índia, China, grupo de países africa-

nos, entre outros (ainda que a situação da China, país de renda

média e grande emissor per capita, seja muito diferente da-

quela de países de baixa renda como Índia e quase todos os

países da África subsaariana, exceto África do Sul). As altera-

ções propostas na Diretiva, tais como a revogação de parte de

seus efeitos para terceiros e a manutenção da obrigação de

participar do EU ETS em relação aos trechos correspondentes

ao EEE, desobrigam os países mais pobres, responsáveis por

um percentual bastante reduzido de voos e de emissões. A UE

Os BRICS e as Transformações da Ordem Global

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27

cria, portanto, outra diferenciação entre países, que não a

acordada nas Conferências do Clima, mas que é pode ser com-

preendida como correspondente com a realidade na segunda

década do século 21. Considerando que o princípio das res-

ponsabilidades comuns mas diferenciadas está fortemente

vinculado a uma compreensão de justiça climática, ou seja, de

distribuição desigual dos prejuízos causados pelas mudanças

climáticas e pelas diferentes capacidades de se defender de

seus efeitos negativos, cabe perguntar se o caso da aviação

não exigiria, realmente, outra divisão que não por países de-

senvolvidos e em desenvolvimento, na medida em que o públi-

co que viaja de avião está mais vinculado a uma divisão de

classe social do que necessariamente de nacionalidade.

Assim, um mecanismo efetivo de justiça climática implicaria

distribuir os ônus e custos de se combater a poluição causada

pelas aeronaves entre aqueles 2 % da população que viajam de

avião, em aeronaves advindas de nações desenvolvidas e em

desenvolvimento. Dessa forma, no caso da Diretiva da aviação,

a diferenciação estanque originária dos acordos do clima pare-

ce inadequada, em especial se consideradas as alterações da

norma. Ou seja, de acordo com a norma, companhias aéreas

de qualquer lugar do mundo (exceções já referidas) devem

contabilizar as emissões decorrentes de voos apenas no trecho

do espaço aéreo da UE, independentemente da origem. No

caso concreto, tal medida não parece violar a noção de justiça

climática, que inspira o referido princípio, e pode colaborar na

construção de novo consenso nas Conferências das Partes

para a previsão de obrigações concretas para países antes

isentos de percentual específico de redução. Resta, porém,

questionar se estaria a UE legitimada a criar uma nova classifi-

cação, que não a (anacrônica) divisão entre países desenvolvi-

dos e em desenvolvimento consensuada nos acordos do clima.

O critério proposto pela UE toma como referência para isen-

ção de participação no esquema não mais o nível de desenvol-

vimento, mas a existência de políticas climáticas equivalentes

às suas. Essa previsão normativa reflete e reforça a intenção

da UE de liderar os esforços de redução das emissões proveni-

entes da aviação civil internacional, e indicar o caminho para

tal. Reflete, também, os limites da sua capacidade de influenci-

ar (em especial EUA e China) a implementação de alguma for-

ma de precificação de carbono – o que contribuiria para dimi-

nuir às resistências internas ao EU ETS de produtores com re-

ceio do carbon leakage.

Waldeir Eustáquio dos Santos

A cooperação - um debate sobre comunidade e sociedade inter-

nacional

Trabalho completo

Resumo: Este trabalho tem como objetivo principal debater a

questão comunidade e sociedade em Relações Internacionais.

A questão que objetiva-se responder no desenvolvimento des-

sa atividade é: quais são as hipóteses centrais apresentadas

como solução teórica do problema da cooperação? Com essa

pergunta deve-se analisar se existe de fato uma Sociedade

Internacional, Comunidade Internacional, ou até que pontos

os dois termos são apenas parte de um aparato ideológico.

Para isso, Busca-se analisar o pensamento de autores clássicos

das ciências sociais e as produções de pensadores das Rela-

ções Internacionais (RI). Já é um costume nas RI transferir os

aspectos relativos ao homem para a relação entre os Estados,

ou seja, como as atitudes humanas interferem no comporta-

mento dos Estados. Com base nesse argumento deve-se de-

senvolver esse trabalho e justificar por que a cooperação ainda

permanece em estágio de construção. É certo que a procura

por uma convivência digna, justa e/ou respeitosa entre os ho-

mens (gênero humano) tem se adaptado e melhorado a cada

época histórica, mas ainda permanecem alguns tabus. Essa

busca por uma situação ideal surgiu no princípio dos tempos e

ainda causa debates intensos. Em tempos de crise ouve-se o

debate em torno da ação da comunidade internacional. De

acordo com Weber (2004), pode-se classificar o fato acima

mencionado como uma ação social de modo tradicional, ou

seja, costume. Ainda seguindo o raciocínio do autor, uma rela-

ção social comunitária ocorre quando a atitude repousa na

ação subjetiva dos participantes ao pertencerem afetiva ou

tradicionalmente ao mesmo grupo. Com esse pano de fundo

se estabelecerá a discussão entre autores clássicos que repre-

sentados por Rousseau, Weber, Tonnies e Marx, além de teóri-

cos da Escola Inglesa em RI, como Buzan, ancoram o debate

desse trabalho.

Xaman Korai Pinheiro Minillo

Desenvolvendo capacidades em Cooperação Internacional para

o Desenvolvimento: o Treinamento no Manejo de Cooperação

Sul-Sul e Cooperação Técnica Triangular

Trabalho completo

Resumo: O discurso predominante nos estudos de Cooperação

Internacional para o Desenvolvimento (CID) enfatiza a necessi-

dade de domínio (ownership) dos projetos de cooperação pe-

los Estados em desenvolvimento que recebem a cooperação

para que esta tenha sucesso. São impedimentos comuns nes-

tes Estados a ausênciade pessoal qualificado e dificuldades de

estruturação e alinhamento de marcos legais, organização de

prioridades, orçamentos, procedimentos, avaliação e monito-

ramento de projetos. Propõe-se o estudo de caso do Curso de

Treinamento no Manejo de Cooperação Sul-Sul e Cooperação

Técnica Triangular como uma iniciativa CID que tem procurado

desenvolver a capacidade de países em desenvolvimento se-

rem agentes da CID. Este projeto foi desenvolvido em parceria

triangular entre a Agência Brasileira de Cooperação (ABC), a

Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA) e a Uni-

dade Especial de Cooperação Sul-Sul do Programa das Nações

Anais do 2º Seminário de Relações Internacionais: Graduação e Pós-graduação João Pessoa | 28 e 29 de agosto de 2014

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Unidas para o Desenvolvimento (UNDP-SSCU) com o fim de

fortalecer a capacidade de cooperação nos países em desen-

volvimento para melhorar sua agência em parcerias de CID.

Avalia-se a potencial contribuição deste projeto para a mani-

festação das pluralidades políticas e culturais no projeto de

desenvolvimento global. Isto é feito enfocando na horizontali-

dade enfatizada nos processos de planejamento e execução do

projeto, promovendo a troca de conhecimento e experiências

entre operadores de cooperação de países em desenvolvimen-

to como forma de reduzir as dificuldades recorrentes neste

âmbito. Levando em conta que as relações de CID são politiza-

das, são discutidas as potencialidades e os desafios de iniciati-

vas de Cooperação Triangular como esta no contexto do SICD

e, finalmente, é analisada a relação entre a promoção da hori-

zontalidade no âmbito da CID e a necessidade de ownership

dos projetos de cooperação pelos Estados receptores.

Anais do 2º Seminário de Relações Internacionais: Graduação e Pós-graduação João Pessoa | 28 e 29 de agosto de 2014

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29

Alexandre Piffero Spohr

As políticas externas brasileira e turca no século XXI: uma análi-

se comparada

Trabalho completo

Resumo: O sistema internacional contemporâneo é marcado

pela crescente atuação de novos atores, oriundos de regiões

marginalizadas pelo centro do processo decisório internacio-

nal. Esses países são comumente denominados emergentes e

vêm desenvolvendo uma política externa voltada a alterar as

estruturas assimétricas e desiguais da ordem internacional.

Brasil e Turquia são exemplos desse grupo de atores emergen-

tes. No ano de 2003, assumiram presidentes nos dois países

que propunham uma política externa contestadora das assi-

metrias globais. Brasília e Ancara desempenham políticas regi-

onais ativas para garantir ou promover estabilidade, respon-

dendo aos desafios e às oportunidades específicas, são promo-

tores da cooperação Sul-Sul e contestam as estruturas e os

mecanismos desiguais de organismos internacionais, como as

Nações Unidas e o sistema financeiro internacional. Assim, a

comparação entre as políticas externas dos dois países se tor-

na um interessante e importante estudo, que permite a con-

textualização da emergência brasileira e a proposição de con-

vergências entre as atuações de Brasília e Ancara. O presente

trabalho irá analisar as recentes mudanças nas políticas exter-

nas de Brasil e Turquia a partir de seus posicionamentos em

instâncias multilaterais, dos discursos de seus presidentes e

chanceleres e da pauta de seus ministérios de relações exteri-

ores.

Aline Chianca Dantas

Breves comparações entre a cooperação técnica Brasil-Japão e

Brasil-China

Trabalho completo

Resumo: Este estudo visa realizar uma comparação geral entre

as diretrizes da cooperação técnica Brasil-Japão e Brasil-China,

refletindo sobre os cenários de atuação, as formas de estabe-

lecimento dessa parceria, as semelhanças e as diferenças en-

tre essas interações. Busca-se, por meio dessa análise, refletir

sobre as aproximações e distanciamentos entre as coopera-

ções de caráter norte-sul e sul-sul e os interesses do Brasil

dentro desses dois ambientes cooperativos. Assim, inicialmen-

te, define-se o que se entende por cooperação técnica e a

relevância para a política externa brasileira e, em seguida,

abordam-se as nuances da cooperação Brasil-Japão e Brasil-

China, realizando um breve olhar histórico e focando nos deli-

neamentos atuais. Portanto, esse trabalho se pauta num estu-

do bibliográfico sobre o tema explanado, fazendo uso do mé-

todo comparativo e de dados qualitativos e quantitativos so-

bre o assunto.

Aline Duarte da Graça Rizzo

A Política Externa Brasileira e a Cooperação Sul-Sul: a inserção

do Brasil na Líbia entre 1970 e 2014.

Trabalho completo

Resumo: A literatura até então produzida sobre a Cooperação

Sul-Sul estabelecida entre o Brasil e o continente africano têm

se concentrado nas relações do país com estados da região da

África Subsaariana, especialmente com estados de língua por-

tuguesa. Os estudos acerca das relações entre o Brasil e os

países do Norte da África são escassos, no entanto, desde a

década de 1970 são observados movimentos de cooperação

entre o Brasil e a Líbia. Este trabalho, portanto, é um esforço

de contribuição para o debate complementando a literatura já

existente sobre a inserção brasileira na região subsaariana. O

caso da cooperação Brasil-Líbia é especialmente importante,

pois revela questões pertinentes ao papel almejado pelos paí-

ses em desenvolvimento no cenário da política mundial. É

igualmente pertinente destacar sua relevância mediante aos

recentes conflitos políticos na Líbia, que deixa de ser um esta-

do páreo para ser objeto de intervenção. Nesse sentido, será

dado destaque à observação da política externa brasileira e os

esforços do Brasil de inserção no cenário internacional en-

quanto potência regional e poder global emergente com um

papel normativo. Como a política externa brasileira em relação

à Líbia tem se transformado ao longo de tal marco temporal?

Enquanto potência emergente, como o Brasil busca um papel

normativo no cenário internacional e como a cooperação com

a Líbia contribui nesse sentido? Essas são as principais ques-

tões abordadas neste trabalho. Para respondê-las será adota-

do o método qualitativo a partir da triangulação de dados tais

como fontes governamentais; informações de agências de

notícias em mídia eletrônica; e dados de organizações e insti-

tuições de pesquisa. Embora não sejam explicitadas pela Agên-

cia Brasileira de Cooperação (ABC), observamos a inserção

brasileira na Líbia em diversas frentes, militar, econômica, polí-

tica e técnica na área de saúde, através de agentes e órgãos

estatais bem como empresas públicas e privadas.

Analúcia Danilevicz Pereira

A África do Sul e os BRICs: uma nova balança de poder mundial?

Trabalho completo

Resumo: Em abril de 2011, foi formalizada a entrada da África

do Sul no chamado BRIC, por ocasião da III Cúpula que, então,

adotou a sigla BRICS. Esse evento constituiu um esforço diplo-

mático da presidência Zuma em afirmar sua disposição no au-

xílio para a construção de uma agenda comum entre os países

POLÍTICA EXTERNA

Os BRICS e as Transformações da Ordem Global

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30

chamados “emergentes”. Os sul-africanos possuem boas rela-

ções bilaterais com todos os outros membros e podem influ-

enciar nas iniciativas diplomáticas do BRICS, promovendo a

coesão do Grupo. Argumentam os críticos que a economia, a

população e o crescimento do PIB do país são inferiores aos

demais. Entretanto, se economicamente a África do Sul está

atrás dos outros membros do BRICS, em termos geopolíticos e

geoeconômicos possui enormes vantagens. Único país africa-

no no G-20, a África do Sul busca reforçar os laços políticos e

econômicos que possam impulsionar o seu desenvolvimento e

o desenvolvimento regional (principalmente no que diz respei-

to ao desenvolvimento de infraestruturas na África e sua in-

dustrialização no quadro da NEPAD). As relações sul-africanas

com os demais membros do Grupo são históricas, com origem

nos movimentos anti-apartheid. Todavia, a África do Sul deve-

rá desenvolver uma estratégia de longo prazo para consolidar

sua imagem de força crescente na arena internacional. O in-

gresso sul-africano no BRICS reforça uma visão compartilhada

entre os principais Estados do Sul de que o mundo está pas-

sando por amplas, complexas e profundas mudanças, marca-

das pelo fortalecimento da multipolaridade e pela crescente

interdependência. Esse ambiente global em transição e os

diferentes desafios que se impõem aos países em desenvolvi-

mento não podem ser analisados sob uma única via. Assim

sendo, este trabalho busca analisar a trajetória sul-africana

com vistas ao ingresso no Grupo e os desafios que se impõem

ao país no cenário africano e internacional.

André Luiz Reis da Silva

Convergências entre os BRICS e os interesses estratégicos brasi-

leiros no sistema internacional

Trabalho completo

Resumo: Pesquisas e análises sobre os BRICS costumam apon-

tar para uma possível falta de convergência destes países com

os interesses estratégicos da política externa brasileira, que

podem afetar a coesão e articulação do grupo em diversas

questões internacionais. Este trabalho tem como objetivo rea-

lizar um estudo comparativo dos interesses estratégicos do

Brasil com os demais países dos BRICS, identificando conver-

gências e divergências em temas específicos da agenda inter-

nacional, bem como o reflexo nas declarações oficiais dos

BRICS. Para construção do quadro comparativo dos interesses

estratégicos do Brasil e as posições dos demais países BRICS,

foram trabalhados os seguintes temas da agenda internacio-

nal: a) modelo de desenvolvimento; b) relações com Estados

Unidos; c) ampliação do Conselho de Segurança da ONU; d)

mudanças climáticas e desenvolvimento; e) terrorismo e Direi-

tos Humanos; f) desenvolvimento de pesquisa nuclear; g) de-

fesa da Multipolaridade; h) OMC – abertura comercial e Roda-

da Doha; i) governança econômica global (G-20); j) cooperação

Sul-Sul; k) integração regional. Os resultados verificados de-

monstram que, apesar das diferenças estruturais entre os

membros (PIB, capacidade militar, bases internas), existe uma

grande convergência de interesses e posicionamentos entre os

cinco países em temas centrais da agenda internacional brasi-

leira, que também se refletiu no posicionamento oficial dos

BRICS nos encontros de cúpula.

Bárbara Ferreira Lopes

A evolução das relações sino-angolanas e a formação de uma

aliança estratégica no século XXI

Coautor(es): Alfredo Juan Guevara Martinez

Trabalho completo

Resumo: O interesse da República Popular da China (RPC) em

Angola se constitui a partir de três conjunturas específicas. Em

um primeiro momento, as relações sino-angolanas se desen-

volveram durante o período de luta de libertação do país afri-

cano pautado em mútuo apoio político. Com o reconhecimen-

to oficial da RPC ao governo angolano e, posteriormente, com

o fim da guerra civil em Angola é possível observar um estrei-

tamento dos laços econômicos e complementaridade comerci-

al entre os países. Na terceira e atual conjuntura, as questões

referentes à segurança energética chinesa passam a ser a prin-

cipal pauta na agenda das relações político-comerciais sino-

angolanos. O processo de evolução de tais conjunturas permi-

tiu, no século XXI, que Angola se constituísse como principal

fornecedor petrolífero mundial para a China e seu maior par-

ceiro comercial no continente africano. Assim, o presente arti-

go tem como objetivo realizar uma breve descrição sobre as

características relevantes durante o desenvolvimento da rela-

ção sino-angolana nestes três contextos. Sob o referencial da

abordagem sistema-mundo, pretende-se elucidar o caráter

periférico do país africano e a ascensão da China como potên-

cia no Moderno Sistema Mundial.

Bruno Hendler

Segurança energética e cooperação entre os BRICS no final do

“Longo Século XX”: convergências e divergências

Trabalho completo

Resumo: O presente artigo tem como objetivo verificar a exis-

tência de uma política de energias renováveis convergente

entre os países membros do BRICS. Utilizando-se do marco

teórico dos ciclos sistêmicos de acumulação, desenvolvido por

Giovanni Arrighi, pretende-se demonstrar que a atual crise do

“longo século XX” implica uma mudança paradigmática acerca

das matrizes energéticas dos países emergentes. Nos termos

do autor, a atual reorganização sistêmica entre países ricos e

em desenvolvimento coloca em evidência a “internalização

dos custos de renovação” dos fatores energéticos, ao contrá-

rio dos ciclos anteriores, em que os insumos, ainda que distri-

Anais do 2º Seminário de Relações Internacionais: Graduação e Pós-graduação João Pessoa | 28 e 29 de agosto de 2014

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buídos de forma desigual pelo globo, não apresentavam o ris-

co de escassez em larga escala e sua utilização não trazia im-

pactos imediatos na biosfera. Uma vez que o grupo do BRICS

inclui países deveras heterogêneos em termos de demanda e

matrizes energéticas, é possível identificar uma política co-

mum de cooperação no âmbito de energias renováveis? Ou

cada país atua de forma a obter apenas ganhos individuais de

acordo com seus interesses? A partir da análise empírica dos

projetos de energia renovável e seus resultados entre os mem-

bros do grupo, pretende-se verificar a hipótese de formação

de um processo de cooperação de longo prazo que nos permi-

ta verificar a transição para um possível “longo século XXI”, em

que a “internalização dos custos de renovação” energética,

por parte dos países emergentes, lhes trará mais condições de

moldar o sistema internacional.

Christiane Maria Souza Alves

As relações comerciais entre os BRICS a partir da implementa-

ção das moedas correntes desses países.

Trabalho completo

Resumo: A politica comercial é um sub-campo da politica ex-

terna, de formas diferentes analistas de política externa, consi-

deram que essa política é caracterizada por uma "ação do Es-

tado". Propondo-se estudar essa ação do estado na política

externa comercial entre os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e

África do Sul), tendo como foco as relações comerciais entre

esses países não mais utilizando o dólar como a moeda de

troca, que seria substituído pelas moedas locais. O que se pre-

tende responder são os efeitos dessas relações comerciais

entre os BRICS, a partir dessa implementação de um sistema

de trocas com a utilização de moedas locais?A implementação

de uma AMO (área monetária ótima) na Europa por exemplo,

foi um processo que ocorreu em etapas, sendo possível a par-

tir da adoção de políticas econômicas que primeiramente re-

duzissem as diferenças entre esses países, que deveriam ter

políticas econômicas homogêneas por exemplo em relação a

taxas de inflação, orçamento fiscal entre outros. A crise da

Europa recente colocou inclusive em questão se foi uma esco-

lha correta a implementação do Euro. Considerando que os

BRICS sejam economias emergentes mas que existem grandes

assimetrias entre esses países, principalmente em relação a

taxa de câmbio, o que foi verificado a partir da utilização de

um sistema de taxas de câmbio cruzadas (Cross Rates), o que

se pretende responder nesse trabalho é como seriam essas

relações comerciais estabelecidas em moedas correntes dos

BRICS? Essa troca comercial utilizando moeda local seria positi-

va ou negativa para as relações comerciais desses países? Seria

benéfico para os países com superavit comercial a substituição

desse saldo em dólar por outra moeda corrente?

Corival Alves do Carmo

Chile, Aliança do Pacífico e a questão da integração regional na

América Latina

Coautor(es): Rafael Lima Santos

Trabalho completo

Resumo: A Aliança do Pacífico é o mais recente movimento a

respeito da Integração Regional na América Latina. O projeto é

descrito como um instrumento de integração profunda, que

transcende os níveis econômicos e comerciais e objetiva am-

pliar as possíveis áreas de cooperação entre os países que o

compõe. A Aliança do Pacífico, criada em 2011 pelo Chile, Co-

lômbia, Peru e México, possui atualmente trinta Estados ob-

servadores e teve especial atenção na política externa chilena

durante o último mandato de Sebatián Piñera (2010-2013).

Entretanto, esse projeto está inserido em meio a diversos ou-

tros movimentos que tratam da mesma temática, não somen-

te na América Latina, como também na América do Sul. O pre-

sente artigo tem por objetivo analisar o papel da Ásia-Pacífico

na formulação da política externa chilena e como está relação

influencia no relacionamento com os países da América Latina,

ou seja, questiona-se em que medida o projeto da Aliança do

Pacífico se articula com o objetivo de se aproveitar das vanta-

gens do crescimento asiático, e particularmente chinês, e com

o objetivo de aprofundar a integração sul-americana. E avalia-

se em que medida a política externa chilena seguirá na mesma

linha a partir do novo governo Michele Bachelet iniciado em

março de 2014.investigar se a recente aproximação chilena

dos países asiáticos tem alterado o relacionamento deste país

com os demais países da América Latina; ou seja, num plano

geral, nosso objetivo é investigar se o projeto da Aliança do

Pacífico vai de encontro às propostas de integração regional

em curso no continente. Nesse contexto, é necessário investi-

gar se a recente reeleição da presidente Michelle Bachellet

(2014) gera consequências para a questão.

Daniel Sebastián Granda Henao

Segurança na Política Externa Colombiana no Alvor do Século

XXI: de estado falido a potência média regional

Trabalho completo

Resumo: As políticas de segurança colombianas possuem um

caráter interméstico intrínseco, devido às dinâmicas do confli-

to armado, os problemas do narcotráfico e a intervenção esta-

dunidense, nesse sentido é possível afirmar que a política ex-

terna do país depende em grande medida dos assuntos de

segurança e defesa. Além disso, as visões sobre a política naci-

onal e internacional do ex-presidente Álvaro Uribe, referente

aos seus vizinhos, foi fonte de conflitividade entre os governos

e instituições na região durante a primeira década do século

XXI, durante a qual, o foco do governo foi "acabar com a ame-

aça narcoterrorista", que até recentemente levava a qualificar

Os BRICS e as Transformações da Ordem Global

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32

o país de quase-estado falido. No entanto, alguns autores afir-

mam que a partir da troca de governo em 2010 houve um

ponto de inflexão na política externa colombiana, apelando

pelo dinamismo e protagonismo regional e redefinindo o papel

do país no cenário internacional, cujo protagonismo é maior

nos assuntos latino-americanos e internacionais, e assumindo

a posição de ser um “país ponte”, ou uma potência média do

sistema internacional, e sub-regional.O presente trabalho re-

sume a pesquisa efetuada no marco do programa de mestrado

em Relações Internacionais na Universidade de Brasília e pro-

põe como marco uma análise, especificamente nos temas de

segurança, abordando as determinantes internas e externas, e

as condições antecedentes da inflexão na política exterior co-

lombiana a partir das relações bilaterais com o Brasil, os Esta-

dos Unidos, o Equador e a Venezuela. Trabalhar-se-á então

com o conceito de securitização, a Análise de Política Externa

em conjunção com os Estudos de Segurança Internacional e a

metodologia do process tracing.

Deborah Silva do Monte

Similaridades e assimetrias no BRICS: uma análise dos regimes

políticos e dos direitos sociais.

Coautor(es): Jéssica Silva Fernandes

Trabalho completo

Resumo: A coalizão conhecida como BRICS – constituída por

Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – surgiu inicialmente

como uma categoria de investimentos e hoje é uma importan-

te ferramenta que favorece a cooperação entre seus mem-

bros. Apesar de similaridades em certas áreas, como a comer-

cial, por exemplo, o grupo é composto por países com caracte-

rísticas heterogêneas no que tange ao regime político e à ga-

rantia de direitos civis, políticos e sociais. Essas assimetrias têm

se tornado mais evidentes em função do estreitamento de

laços que esses têm estabelecidos. Desse modo, ainda que

pesem os grandes fluxos econômicos - financeiros entre os

BRICS, as questões domésticas como uma estrutura democrá-

tica, e as políticas sociais desses países não tem avançado na

mesma direção. Chega-se, portanto, ao objetivo que move

esse trabalho, que é definido pela convergência de interesses

econômicos que os aproximam, contraposto das característi-

cas políticas e sociais internas que os tornam tão distintos.

Propõe-se a análise dos diferentes regimes políticos e a cone-

xão destes com o provimento dos direitos sociais nos países

membros da coalizão. Desta maneira, a despeito das especifici-

dades de cada país, pretende-se investigar as razões pelas

quais os BRICS têm sustentado tal parceria.

Elga Lessa de Almeida

Entre o discurso solidário e a ação pragmática: a cooperação

técnica brasileira em Moçambique no governo de Lula da Silva.

Trabalho completo

Resumo: A chegada de Lula da Silva à Presidência da República,

em 2003, marcou uma significativa mudança nas relações do

Brasil com os países do continente africano. Se no período pós

-ditadura militar a relação com os países africanos experimen-

tou certo arrefecimento, no governo Lula há uma intensifica-

ção da atuação brasileira como prestador de ajuda junto à

países sul-americanos e africanos, favorecida, em grande par-

te, por sua estabilidade política e êxito econômico. Os países

africanos passaram a ser os principais destinatários da coope-

ração técnica sob o discurso da solidariedade internacional e

da necessidade de compensação da dívida histórica com esses

países. Se o discurso inicial do governo Lula é da aproximação

por meio da cooperação, registre-se que, após a sua primeira

viagem ao continente africano, em 2003, o chanceler brasileiro

Celso Amorim ressalta as perspectivas promissoras para o redi-

mensionamento das relações políticas e econômico-

comerciais, com a participação de grandes empresas brasilei-

ras em importantes investimentos. A conexão entre Brasil e

Moçambique é exemplar para perceber como a cooperação

tem sido utilizada como instrumento da política externa brasi-

leira, cujo direcionamento é dado pelo modelo de desenvolvi-

mento definido internamente e tem resultado na intensifica-

ção das trocas comerciais e, principalmente, a participação de

empresas brasileiras nos chamados mega-projetos. Diante do

concomitante aumento da cooperação e das relações econô-

micas, a ideia de presença brasileira no continente reforça-se.

Discussões em torno de projetos como o ProSavana, em Mo-

çambique, trazem a necessidade de analisar a qualidade dessa

presença. Interessa, portanto, perceber as nuances do discur-

so da cooperação brasileira, considerando a lógica capitalista

que permeia o mundo contemporâneo e que reforça a ideia

de que nenhuma relação, mesmo a solidária, é desprovida de

interesses.

Fabiola Faro Eloy Dunda

BRICS e Saúde: Perspectiva da Cooperação em Saúde no contex-

to dos Países Emergentes

Trabalho completo

Resumo: Questões como o combate à epidemia de AIDS, o

tratamento de doenças negligenciadas tais como a Malária e a

tuberculose, e a prevenção e controle de doenças não trans-

missíveis, tais como as doenças cardiovasculares são temáticas

que algumas das questões que estão presentes no contexto da

Cooperação em Saúde entre os países BRICS. Mecanismos de

aprofundamento do interesse e necessidade de cooperação

nesses campos específicos podem ser observados por meio de

Declarações assinadas nas Cúpulas dos países BRICS, assim

como na maior articulação dos mesmos em Fóruns Internacio-

nais para a discussão dessas questões. O presente artigo se

Anais do 2º Seminário de Relações Internacionais: Graduação e Pós-graduação João Pessoa | 28 e 29 de agosto de 2014

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propõe a discutir as questões relacionadas à saúde dentro do

BRICS, o que há de concreto e as perspectivas relacionadas a

esse tipo específico de cooperação. Para esse fim, serão utili-

zados os documentos relativos à cooperação em saúde entre

esses países, tanto no âmbito das Cúpulas dos BRICS, quanto

relacionados à articulação dos mesmos em Fóruns Internacio-

nais tais como a ONU e OMS. Que propostas existem? Que

avanços foram feitos? Que perspectivas dessa cooperação

podem ser vislumbradas no cenário internacional?

Fernando Mandinga da Fonseca

COOPERAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO: Projetos de Coope-

ração Educacional realizados na Guiné-Bissau pelo Brasil no

âmbito da Cooperação Sul-Sul.

Trabalho completo

Resumo: O Brasil no âmbito da Cooperação para o Desenvolvi-

mento, a partir do viés Sul Sul têm realizado vários projetos na

Guiné-Bissau no interior dos desafios da Cooperação Sul-Sul.

Alguns destes projetos existem a mais de três décadas, pro-

vendo a assistência técnica, Bolsas de Estudos, construção de

escola profissionalizante, formação e qualificação de recursos

humanos. Pretende-se através destes dados, verificar se estes

projetos têm contribuído para o desenvolvimento Educacional

da Guiné Bissau? Como? Quais os seus resultados e seus limi-

tes? Não obstante algumas controvérsias em torno da defini-

ção do conceito Cooperação Sul-Sul, o que vem estimulando a

sua dilatação excessiva, como aponta Leite(2012), impossibili-

tando a geração de um conhecimento teórico sobre a suas

dinâmicas, acredita-se de certo modo que, os projetos realiza-

dos por Brasil na Guiné-Bissau se enquadram na perspectiva

Sul-Sul, e sobretudo se levarmos em consideração o compo-

nentes imprescindível ligado a sua trajetória, que é a Coopera-

ção Técnica. Conforme Xalma (2008) a Cooperação Técnica

para o Desenvolvimento é um processo pelo qual dois ou mais

países em desenvolvimento adquirem capacidades individuais

ou coletivas através de intercâmbios cooperativos em conheci-

mento, qualificação, recursos e know-know tecnológico. Seu

resultado mais imediato é a potencialização mútua de deter-

minadas capacidades setoriais (por exemplo, em educação,

saúde, infraestrutura e turismo), com impactos sobre algum

aspecto do desenvolvimento econômico e social dos países

implicados. Para isso este trabalho irá identificará os projetos

de cooperação especificamente voltados para a educação for-

mal, considerando a modalidade de assistência existente, os

tipos de transferência de recursos envolvidos e o volume des-

ses recursos; Apresentar o histórico dos projetos de coopera-

ção educacional Brasileira na Guiné-Bissau ao longo dos anos;

Identificar o perfil dos beneficiados e suas trajetórias.

Guilherme Ziebell de Oliveira

Política Africana do Brasil: mudança entre Lula e Dilma?

Trabalho completo

Resumo: A política externa brasileira para a África sofreu uma

importante inflexão a partir de 2003. Depois de um longo perí-

odo de distanciamento, a ascensão ao poder de Luiz Inácio

(Lula) da Silva marcou uma reorientação clara da política exter-

na brasileira, e uma retomada de importância do continente

africano, deixado de lado por mais de uma década. Ao longo

dos dois mandatos de Lula, o Brasil se reaproximou da África,

ampliando sua participação no continente e transformando-o

em um importante parceiro do país, não só em termos políti-

cos, mas também econômicos. Em 2011, Dilma Rousseff assu-

miu a presidência do país, e o ministro das Relações Exterio-

res, Celso Amorim, foi substituído por Antônio Patriota, levan-

tando muitos questionamentos acerca dos rumos que seriam

adotados na condução da política externa do novo governo.

Este trabalho busca analisar se houve, ou não, uma mudança

na política externa brasileira para a África no governo Dilma

Rousseff em relação ao governo Lula da Silva e, em caso positi-

vo, qual a sua profundidade. Para tanto, apoia-se nos traba-

lhos de Charles Hermann (1990), para analisar os diferentes

níveis de mudança de política externa; Ricardo Sennes (2003),

para demonstrar que há uma continuidade na matriz de políti-

ca externa dos governos Lula e Dilma; e de Robert Putnam

(2010), para demonstrar que as mudanças ocorridas, em gran-

de medida, são reflexos das mudanças ocorridas tanto no ce-

nário internacional quanto no cenário interno do país. Fica

claro, a partir da análise, que em relação ao continente africa-

no houve apenas uma mudança de ajuste, a partir da perspec-

tiva estabelecida por Hermann (1990), entre as políticas exter-

nas dos governos Lula e Rousseff, que teria determinado ape-

nas a diminuição da intensidade das relações com o continen-

te, sem entretanto alterar o seu objetivo e espaço na política

externa brasileira.

Haroldo Ramanzini Júnior

As relações bilaterais Brasil – China: uma relação em processo

de afirmação

Coautor(es): Pedro Feliú

Trabalho completo

Resumo: O presente artigo analisa a evolução recente nas rela-

ções entre o Brasil e a China no período de 2000 a 2012. Mais

especificamente, verificamos em que medida a ascensão da

China se relaciona com dois objetivos considerados estratégi-

cos para a política externa brasileira contemporânea: o fortale-

cimento da cooperação e da integração com os países da Amé-

rica do Sul e o estreitamento das relações com os países afri-

canos. Para tanto, analisamos componentes econômicos e

diplomáticos da relação bilateral entre os dois países, argu-

mentando uma situação de proximidade entre ambos, ainda

pautada por situações objetivas de divergências e dificuldade

Os BRICS e as Transformações da Ordem Global

Page 34: ANAIS - abri.org.br

34

de compatibilização de objetivos e estratégias, caracterizando

a relação bilateral enquanto um processo ainda em afirmação.

Hugo Gabriel Lima Nascimeto

Um símbolo nas relações internacionais: a construção da ponte

sobre o rio Oiapoque nas relações entre Brasil e França.

Trabalho completo

Resumo: As relações entre Brasil e França, nas últimas déca-

das, foram marcadas pela redefinição dos atores no cenário

pós-guerra fria, capazes de impulsionar nova dinâmica nas

relações internacionais. Este painel identifica afinidades histó-

rica-politicas Franco-Brasileira, situadas no início dos anos 90.

Nesse sentido, destaca-se a complexidade das questões colo-

cadas para Brasil e França em gerenciar esse período de rear-

ranjos geopolíticos, capazes de favorecer maior protagonismo

de ambos nessa nova ordem mundial. Para tanto, situamos os

relacionamentos nas políticas externas de França e Brasil no

período dos governos de Jacques Chirac (1995-2007) e Fernan-

do Henrique Cardoso (1995-2002), seguidas por Luís Inácio

Lula da Silva (2003-2010) e Nicolas Sarkozy (2007-2012). Evi-

denciamos então, a maximização dessas forças na esfera glo-

bal, sustentada pela assinatura do acordo-quadro de 1996,

que incluiu pela primeira vez uma proposta de ligação física

entre um membro do MERCOSUL e da União Europeia, via

construção da ponte sobre o rio Oiapoque, na Amazônia, posi-

cionada na fronteira entre Guiana Francesa e o Amapá, ao

Norte da América do Sul, concluída em 2011. Destacamos a

ponte, enquanto concretização do protagonismo de ambos, o

aspecto simbólico da edificação nas relações dos dois países e

concluímos desvelando avanços, limites e possibilidades.

Ivy Soares de Barros

“NAS PÁGINAS”: A DIPLOMACIA PRESIDENCIAL DE LULA - A in-

fluência da imprensa como ator na política externa brasileira

durante o governo Lula

Coautor(es): Fernanda Cristina Nanci Izidro Gonçalves

Trabalho completo

Resumo: A diplomacia presidencial ganha muita intensidade

com a posse de Lula em 2003, auxiliando a busca por um mo-

delo de inserção internacional mais assertivo. Lula aponta des-

de o início do seu mandato a necessidade de diversificação de

parceiros econômicos e políticos, no contexto da autonomia

pela diversificação. Também deixa muito explícito seu envolvi-

mento nos temas internacionais, posicionando-se perante di-

ferentes assuntos. Neste cenário, a diplomacia presidencial de

Lula fez com que a imprensa nacional direcionasse sua atenção

à atuação do presidente no plano internacional, uma vez que

as ações e compromissos do presidente da República são de

claro interesse da imprensa. Essa pesquisa concentra-se na

análise da participação da imprensa na formulação da política

externa durante os oito anos de governo Lula, através da ex-

posição da agenda e ações do presidente no cenário internaci-

onal. Parte-se da ideia de que a imprensa é um ator que tem

capacidade de influenciar a política externa, não através das

barganhas tradicionais, mas através da formação da opinião

pública, por meio da via indireta, e através do estabelecimento

de um diálogo aberto com o Executivo, por meio da via direta.

Analisa-se o posicionamento da imprensa frente à política ex-

terna de Lula utilizando como metodologia recortes de notí-

cias dos dois principais veículos impressos de circulação nacio-

nal, os jornais “O Globo” e “Folha de S. Paulo”. Através dos

conteúdos opinativos de colunas e editorias, avaliam-se os

enquadramentos realizados por estes jornais frente aos temas

que tiveram maior prioridade na política externa do governo

Lula, a fim de compreender como a imprensa atua na formula-

ção da política externa.

Jan Marcel de Almeida Freitas Lacerda

A política externa brasileira e o paradigma institucionalista

pragmático: o âmbito político-institucional dos BRICS

Coautor(es): Mariana de Oliveira Nóbrega

Trabalho completo

Resumo: No século XXI, a Política Externa Brasileira (PEB) vem

demonstrando uma configuração altiva de sua diplomacia,

marcada por um ativismo expressivo desde a atuação diplomá-

tica do governo do ex-presidente Lula (2003-2010). Em meio à

ordem mundial em transformação, a PEB busca situar-se em

uma vertente de negociações comerciais e na coordenação

política com atores relevantes da política internacional, princi-

palmente com os países em desenvolvimento, como a Índia,

África do Sul, China e os países da América do Sul. Há uma

opção preferencial pelo MERCOSUL e pelos acordos em nível

regional, adicionada ao diálogo com os países emergentes.

Esta última relação formou uma série de alianças estratégicas,

como foi o caso do surgimento, em 2003, da coordenação

esteira entre Índia, Brasil e África do Sul, no então denomina-

do IBAS, bem como, em 2006, da emergência do agrupamento

das políticas externas do Brasil, Rússia, Índia, China e, em

2001, a adesão da África do Sul, configurando-se assim os

BRICS. Com isso, observa-se que a estratégia utilizada pela PEB

é multilateral e que quanto mais inserida em institucionaliza-

ções, tanto formais quanto informais, maior o grau de legitimi-

dade das posições defendidas pelo Brasil. A partir do paradig-

ma institucionalista pragmático estudado por Letícia Pinheiro,

o qual conjuga premissas das concepções grotiana e hobbesia-

na da diplomacia brasileira, o presente estudo objetiva analisar

a percepção da PEB no âmbito político-institucional dos BRICS.

Para tanto, aplica-se uma metodologia dedutiva partindo da

análise mais geral da PEB nos últimos governos brasileiros para

Anais do 2º Seminário de Relações Internacionais: Graduação e Pós-graduação João Pessoa | 28 e 29 de agosto de 2014

Page 35: ANAIS - abri.org.br

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poder focar mais especificamente na política do institucionalis-

mo pragmático da PEB nos BRICS. Sendo assim, o artigo divide-

se na análise da PEB e do paradigma institucionalista pragmáti-

co; na exposição e reflexão sobre os BRICS; e na visualização

das premissas teóricas na configuração da PEB nos BRICS.

Jessica Espíndola de Sá

O que move o Brasil: uma análise da participação brasileira nas

Operações de Paz da ONU

Trabalho completo

Resumo: A participação brasileira em operações de paz da

ONU acontece desde a criação da Organização. A tradição pa-

cífica, a defesa do multilateralismo e do Direito Internacional

são características da Política Externa Brasileira (PEB), no en-

tanto, alguns dos seus princípios basilares podem ser sacrifica-

dos em defesa dos interesses nacionais estratégicos do país.

Com perfil de potência emergente o Brasil busca constante-

mente a efetivação de reformas das estruturas globais de po-

der, para que sua projeção internacional possa ser ampliada e

mais reconhecida. Porém, o país trabalha na tentativa de en-

contrar uma maneira de transformar essa projeção em influên-

cia estratégica, já que a ferramenta militar não é característica

predominante, e seria esta, a rota mais rápida para alcançar

este objetivo. Apesar das limitações, a participação brasileira

em operações de paz vem sendo a resposta para essa projeção

estratégica e embora tenha apresentado algumas restrições

para o envolvimento, principalmente no que se refere ao tipo

de operação, o crescente número de contribuições pode se

tornar um elemento-chave na busca por ampliar o perfil brasi-

leiro na área de defesa e de segurança. Todavia, essa participa-

ção vem sendo marcada por posições contraditórias, como o

posicionamento brasileiro no estabelecimento na missão do

Haiti, na qual se podem reconhecer estratégias bastante dife-

rentes e até mesmo opostas; e a inconsistência entre o objeti-

vo de alcançar um assento permanente no Conselho de Segu-

rança e a atual contribuição do país para assuntos da paz e

segurança internacionais. Desta forma, o presente trabalho

busca: a) estabelecer uma relação entre os princípios ideologi-

camente concebidos pelo Brasil e os interesses que de fato

motivam a participação brasileira nas operações de paz; b)

argumentar que, na prática, a PEB não tem a consistência física

e estrutural que o discurso prega, demonstrando inconsistên-

cias e contradições quando os interesses em questão se sobre-

põem aos princípios.

João Antônio dos Santos Lima

A difusão de políticas na cooperação sul-sul brasileira: uma aná-

lise exploratória de dados

Trabalho completo

Resumo: O objetivo desse trabalho consiste em identificar

quais são as características domésticas dos países em desen-

volvimento que influenciam as demandas por projetos na coo-

peração sul-sul brasileira. Compreende-se a cooperação sul-sul

(CSS) como um processo que envolve o intercâmbio de ideias,

projetos, experiências e políticas entre os Estados. Por esta

razão, emprega-se a ideia de difusão de políticas, pois se ca-

racteriza como um processo de decision-making interdepen-

dente, porém descoordenado. Esta noção reflete a capacidade

que um Estado tem em influenciar as ações de outro ao adotar

uma determinada política, o que caracteriza a interdependên-

cia entre os atores. Entretanto, a difusão é representada pela

existência desse efeito cascata sem que exista coordenação

formal entre os atores. A ideia de difusão de políticas é eviden-

ciada através da análise quantitativa dos projetos demandados

na CSS brasileira, ressaltando-se o setor da cooperação e os

países e/ou regiões demandantes. Para tanto, esse estudo faz

uso dos dados disponibilizados pela Agência Brasileira de Coo-

peração, agrupados em um banco de dados confeccionado

pelo pesquisador, de forma a explorar quantitativamente o

universo da CSS brasileira. Entre as características domésticas,

ressaltam-se três: a língua portuguesa falada; a proximidade

geográfica e; os níveis de governança. Nota-se que países lusó-

fonos, países residentes na América do Sul e países com boas

taxas de governança são as três vertentes que explicam a mai-

or difusão de políticas na CSS brasileira. Para chegar a essas

conclusões, o estudo faz uso de porcentagens, intervalos de

confiança, correlações e mapas temáticos.

José Alejandro Sebastian Barrios Díaz

Relações Brasil - Moçambique:de 1975 aos dias atuais

Trabalho completo

Resumo: Um dos maiores legados da política externa brasileira

é a constituição de um acumulado de relações bilaterais em

nível global, e o estudo das relações bilaterais entre a Repúbli-

ca Federativa do Brasil e a República de Moçambique se insere

nesse contexto. A constituição desses vínculos acontece por

diversos motivos, dentre os quais políticos, econômicos, cultu-

rais e sociais. O presente projeto de tese pretende utilizar a

história como ferramenta para analisar as conexões entre es-

sas dimensões, tanto no campo empírico como no conceitual.

Este projeto de tese toma como objeto de estudo as relações

Brasil-Moçambique, em perspectiva histórica, na totalidade de

suas dimensões. O recorte temporal estabelecido para a pes-

quisa é 1975-2015, quando da independência de Moçambi-

que. Ainda que seja possível (e desejável para os fins da pes-

quisa) retroceder no tempo, o objeto de estudo é definido

nesses termos temporais e espaciais. Assim, o trabalho preten-

de desenvolver uma narrativa das relações Brasil-

Moçambique, que procure responder a seguinte pergunta:

“como se constituíram as relações entre Brasil e Moçambique

e quais as possibilidades e desafios que se apresentam no ho-

Os BRICS e as Transformações da Ordem Global

Page 36: ANAIS - abri.org.br

36

rizonte”? Dois eixos analíticos procuram incorporar assuntos

das relações internacionais contemporâneas ao trabalho, que

é a busca do entendimento da relação entre política externa e

desenvolvimento (em se tratando das políticas exteriores en-

volvidas), e da relação entre política externa e cooperação

internacional do Brasil (em se tratando das instituições nacio-

nais que trabalham com Moçambique, considerando a coope-

ração como um instrumento de política externa). A ideia cen-

tral do trabalho é conectar os distintos processos históricos de

inserção internacional de ambos os países e reconstruir essa

história à luz de evidências empíricas e teóricas, enfocando as

semelhanças e diferenças, os pontos de contato e atrito e as

perspectivas para o porvir, e fornecer os fios condutores dessa

relação. É examinar os diferentes padrões das relações Brasil-

Moçambique em sua própria individualidade. Em poucas pala-

vras, penso que Moçambique pode ser entendido como um

parceiro em formação, e o presente reivindica que essa histó-

ria seja reconstruída e trabalhada, de maneira a explicar como

os elementos (políticos, econômicos, sociais, históricos, cultu-

rais) se relacionam uns com os outros, como se processou a

transformação de uma postura anticolonial para a incorpora-

ção de Moçambique e de outros países africanos na agenda da

política externa brasileira. O trabalho vai contribuir com o for-

talecimento da compreensão do tempo presente, ao explicar

com propriedade aspectos da relação do Brasil com este país

da África Austral. Por isso se atribui relevância ao resgate da

formação histórica do Estado de Moçambique e sua intersec-

ção com a história das relações internacionais do Brasil.

Juliana Ramos Luiz

Política externa comparada para Agricultura Familiar: Análise

de Brasil e Índia

Trabalho completo

Resumo: A proposta do workshop será apresentar as diferen-

tes características da política externa para a agricultura famili-

ar de Brasil e Índia. A escolha do tema – agricultura familiar –

se dá por diversas razões. A primeira delas é pelo peso con-

quistado pelo tema nos últimos anos, inclusive, sendo o ano

de 2014 o Ano Internacional da Agricultura Familiar instituído

pela ONU/FAO. A segunda se dá pelo forte aporte discursivo

que o tema gera na agenda do desenvolvimento rural. Debates

envolvendo segurança alimentar, desenvolvimento sustentá-

vel, redução da fome e da pobreza mundial inexoravelmente

se cruzam com o tema, em razão das alternativas de produção

agrícola existentes internacionalmente. A terceira razão do

estudo da agricultura familiar se dá pelo surgimento e cresci-

mento de organizações não governamentais e suas redes

transnacionais que compartilham os valores da agricultura

familiar e buscam pressionar as políticas domésticas de dife-

rentes países a fim de fazer instituir as práticas desse tipo de

desenvolvimento rural. Já no que tange à escolha dos países,

outras diversas importantes razões podem ser elencadas para

justificar a análise comparada de Brasil e Índia, sobre o tema, a

partir de suas políticas externas. O peso da agricultura familiar

enquanto política pública nacional em ambos os países é fun-

damental. Apesar das especificidades de cada um, Brasil e Ín-

dia possuem a maioria do seu capital humano voltado para

esse tipo de modelo de produção. O papel do abastecimento

interno alimentar tem forte ligação com tal modelo, diferente

do agribusiness, por exemplo, que produz com objetivos de

exportação de commodities. Logo, o debate entre balança

comercial e desenvolvimento rural penetram profundamente

na pauta política, social e econômica de cada país. Outro dado

importante que permite o uso comparativo de Brasil e Índia é

a partir da condição de emerging powers. Mais do que o cres-

cente peso político-econômico de ambos no cenário internaci-

onal, ambos estão embebidos (no mínimo, discursivamente)

do intuito de transformar seus lugares no mundo e buscar

maior ativismo internacional, ao agir, cada vez mais, enquanto

global players. A disputa por um assento permanente no Con-

selho de Segurança na ONU promovida (dentre outros países)

também por Índia e Brasil denota o esforço diplomático para

se destacarem no cenário internacional. Esse destaque, por

fim, traz uma outra razão importante que bem articula a com-

paração entre Brasil e Índia: ambos compartilham as propostas

de Cooperação Sul-Sul para o desenvolvimento. Em oposição à

cooperação tradicionalmente concebida pelos países desen-

volvidos, a Cooperação Sul-Sul encarca um outro tipo de par-

ceira internacional, pretendendo reformular as práticas para o

desenvolvimento global. Além do próprio léxico distinto (como

parceria ao invés de ajuda internacional, horizontalização da

cooperação ao invés da verticalização), o apoio a outras práti-

cas (good pratices) que verdadeiramente fomentariam o de-

senvolvimento dos países mais pobres é algo fortemente res-

saltado na Cooperação Sul-Sul. Logo, é possível associar a pro-

posta da agricultura familiar, enquanto modelo alternativo ao

desenvolvimento rural tradicional, dentro do universo discursi-

vo e propositivo da CSS. Os objetivos deste trabalho serão: 1)

construir um sucinto levantamento histórico da formação agrí-

cola de cada país, com o intuito específico de compreender as

policy networks internamente existentes para a agricultura; 2)

analisar essas rural’s policy networks enquanto ator importan-

te para formulação da política externa sobre a agricultura fa-

miliar; 3) localizar Brasil e Índia nos debates internacionais

sobre o tema, bem como as práticas de cooperação que por-

ventura venham a desempenhar sobre a égide do modelo em

questão. Logo, a análise comparada da política externa de Ín-

dia e Brasil para a agricultura familiar buscará associar o plano

doméstico e internacional, valendo-se tanto da lógica dos dois

níveis de análise da política externa, como da abordagem de

redes – tanto de políticas públicas quanto transnacionais –

para formulação do agenda setting sobre o assunto.

Anais do 2º Seminário de Relações Internacionais: Graduação e Pós-graduação João Pessoa | 28 e 29 de agosto de 2014

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Laura de Castro Quaglia

MINUSTAH: o papel da missão no Haiti no avanço das preten-

sões internacionais brasileiras

Coautor(es): Isadora Loreto da Silveira

Trabalho completo

Resumo: No presente trabalho argumenta-se que o Brasil viu

na liderança da Missão das Nações Unidas para a Estabilização

do Haiti (MINUSTAH) uma importante oportunidade para pro-

mover sua agenda de política externa. O governo brasileiro,

através do uso de forças militares e capacidade de projeção

(hard power) e do desenvolvimento de ações não militares

(soft power), estaria, portanto, utilizando uma estratégia de

smart power com o objetivo de aumentar sua credibilidade e

inserção internacional, e alcançar seus objetivos na ONU. Para

tanto, primeiramente, buscamos explicar o conceito de Opera-

ções de Manutenção de Paz, com definições oferecidas princi-

palmente pela própria ONU. Em seguida, busca-se explicar a

situação haitiana que levou à criação da MINUSTAH. Depois,

analisam-se as motivações do Brasil para não apenas participar

da intervenção, mas liderar a missão. Por fim, define-se o con-

ceito de smart power cunhado por Nye e busca-se enquadrar a

teoria na prática brasileira no Haiti.

Leonardo Pace Alves

A Inserção Dual do Brasil no Sistema Internacional como Potên-

cia Regional e Potência Emergente: congruências e tensões en-

volvendo a liderança do Brasil na América do Sul e a participa-

ção nos BRICS

Trabalho completo

Resumo: O Brasil figura, a um só tempo, como potência regio-

nal no seu entorno estratégico e potência emergente no siste-

ma internacional. Essa dualidade leva o país a situar-se na in-

terseção entre as ordens regional sul-americana e global, en-

sejando oportunidades e desafios. Por um lado, na condição

de potência regional, a partir da segunda metade da década de

1980, o Brasil principiou uma estratégia bem-sucedida de acer-

camento dos seus vizinhos que resultou, gradualmente, na

superação da rivalidade militar com Argentina, na constituição

do Mercosul, no advento da UNASUL e na criação da CELAC.

Por outro lado, como potência emergente, durante o governo

Lula (2003-2010), o Brasil elevou sua estatura internacional

por meio da articulação de coalizões de geometria variável,

notadamente os BRICS, propugnando mudanças nas institui-

ções multilaterais e nas regras da governança global, a fim de

alterar a distribuição do poder mundial. O objetivo deste artigo

é analisar a inserção dual do Brasil como potência regional e

potência emergente no sistema mundial contemporâneo du-

rante os governos Lula (2003-2010) e Dilma (2011-2014). Parte

-se do pressuposto de que a condição de potência regional

impõe-se como pré-requisito para a atuação como potência

emergente. Nesse sentido, a dinâmica regional sul-americana

tanto pode facilitar como restringir a projeção internacional da

influência brasileira em escala global. Ademais, propõe-se a

hipótese de que existe uma tensão entre o anseio de o Brasil

exercer a liderança regional e, simultaneamente, ascender à

condição de grande potência, que se acentuou durante o atual

governo Dilma. Assim, com base na escola realista e na litera-

tura sobre os complexos regionais de segurança, o artigo pro-

blematiza a maior ênfase atribuída ao papel do Brasil como

potência emergente no agrupamento BRICS em detrimento da

sua condição de potência regional, concluindo que essa opção

de política externa pode, paradoxalmente, prejudicar a ascen-

são internacional do país.

Luiza Rodrigues Mateo

Ajuda externa dos Estados Unidos: a agenda pós 11 de setem-

bro

Trabalho completo

Resumo: A ajuda externa é uma importante ferramenta para a

política internacional dos Estados Unidos e, recentemente,

tem sido encarada como base para a construção de governan-

ça global e segurança nacional estadunidense. Após os eventos

de 11 de setembro em 2001, documentos e discursos oficiais

revelam uma leitura estratégica que conecta a ameaça do ter-

rorismo a elementos de fraqueza estatal, subdesenvolvimento

ou mesmo ausência de acesso a bens sociais como saúde e

educação. O propósito deste paper é entender os objetivos e

eixos de atuação dos Estados Unidos que, através do Departa-

mento de Estado, da Agência para o Desenvolvimento Interna-

cional (USAID) e do Departamento de Defesa, implementam

projetos de ajuda humanitária e socorro a desastres, assistên-

cia para o desenvolvimento e segurança em 149 países ao re-

dor do globo. A complexidade da agenda de ajuda externa

norte-americana engloba desde a formulação de diretrizes e

luta por recursos junto ao Congresso até a execução dos proje-

tos, que passa por diversos atores governamentais e da socie-

dade civil, nos Estados Unidos e países receptores. O presente

paper tem como objetivo, assim, entender quais são os pro-

gramas de ajuda externa implementados recentemente pelo

governo de Washington, bem como os principais de países

receptores, a fim de situar esta ferramenta de política externa

na grande estratégia internacional do país, dando especial

atenção às administrações Bush e Obama.

Márcia Batista da Fonseca

BRICS - Ganhos de Comércio a partir da Integração

Coautor(es): Elen Everllien Soares de Lima Pinto

Trabalho completo

Os BRICS e as Transformações da Ordem Global

Page 38: ANAIS - abri.org.br

38

Resumo: Resumo: Brasil, Rússia, Índia, China, formam o que

ficou conhecido como BRIC desde 2001. Os quatros países em

conjunto, representam mais de um quarto da área terrestre

do planeta e mais de 42,5% da população mundial. A contri-

buição destes países para a economia mundial é aproximada-

mente 15% e, para o comércio mundial, é de 12%, sendo res-

ponsáveis por volta de mais de 50% do crescimento econômi-

co mundial em 2012 (FMI, 2012). Em 2011 a África do Sul pas-

sa a fazer parte do conjunto dos BRICS que constitui um acor-

do de cooperação econômica. Este estudo, portanto, se pro-

põe apresentar os acordos bilaterais e preferenciais de comér-

cio negociados pelos membros do BRICS para a realização de

um exercício empírico a fim de analisar os efeitos de uma hi-

potética formação de uma Área de Livre Comércio entre estes

países com o objetivo de verificar se existiriam ganhos de co-

mércio para o Brasil no período de 2008-2012.

Márcio Roberto Voigt

A Política Externa Brasileira e o Setor Petrolífero. Do Contra-

Choque ao Fim do Monopólio da Petrobrás (1985-1997).

Trabalho completo

Resumo: Partindo de uma avaliação do sistema internacional

alicerçada na Análise dos Sistemas Mundo de Immanuel Wal-

lerstein e de Giovanni Arrighi e de uma proposta de compre-

ensão do setor petrolífero com base nas percepções de Micha-

el T. Klare, acerca dos conflitos por recursos, essa proposta

pretende apontar e avaliar alguns dos principais vetores da

condução da Política Externa no setor petrolífero brasileiro

entre 1985 e 1997. O recorte inicial se justifica pelo momento

inicial do contra-choque em meados dos anos 80, em que in-

ternacionalmente e no Brasil, os impactos dos dois choques

foram contidos. O recorte final diz respeito a um momento

emblemático da indústria petrolífera brasileira como a ruptura

do monopólio estatal que reconfigurou o setor no país. Funda-

mentalmente, pretende-se traçar uma avaliação comparativa

das principais mudanças do cenário petrolífero global (em es-

pecial dos principais indicadores do setor) com as ações mais

significativas da Política Externa. A percepção central é de que

após as duas crises dos anos 70 que influíram de forma signifi-

cativa na PEB, houve um recuo na ação externa do setor em

virtude da transformação dos indicadores globais e, em espe-

cial nos anos 90, de que o modelo estatizante havia se esgota-

do.

Mariana Duque Carvalho Dias

Apontamentos sobre a integração regional para infraestrutura

sul-americana: considerações sobre a posição da Politica Exter-

na brasileira

Trabalho completo

Resumo: O presente trabalho tem por objetivo sistematizar e

refeltir sobre a dinâmica de construção da integração regional

sul-americana para a infraestrutura e a posição da politica ex-

terna brasileira para a mesma, durante o Governo Lula da Silva

e Dilma Roussef. Sua reflexão parte do processo histórico dos

projetos de integração regional para a América Latina, com

ênfase na integração regional para infraestrutura, através do

projeto IIRSA – a Iniciativa para a Integração da Infraestrutura

Regional Sul-Americana. A partir de breve análise histórica

deste projeto, contextualiza seus elementos constitutivos,

estrutura técnica e política, principais eixos de investimento e

carteira de projetos, arquitetura financeira e imbricação com

os projetos políticos e econômicos de integração regional,

como o Mercosul, Plano Mesoamérica e, especialmente, a

UNASUL, através de sua inserção ao Cosiplan – Conselho Sul-

Americano de Infraestrutura e Planejamento. Ao final, traz

apontamentos e reflexões sobre os avanços e problemas da

IIRSA, seu papel de fomento da economia sul-americana para a

inserção no mercado global e o posicionamento da politica

externa brasileira para a integração regional. A metodologia

deste trabalho tem aporte teórico na análise histórica, em

reflexões sobre sua dinâmica geopolítica, econômica e das

Relações Internacionais. O aporte empírico trabalha a sistema-

tização bibliográfica, utilizando-se de documentos oficiais dos

órgãos diretamente ligados à execução da integração regional

na América Latina, tais como BID, CAF. Mercosul, Ministério do

Planejamento do Brasil, Ministério das Relações Exteriores do

Brasil, CEPAL, IPEA, IIRSA, UNASUL, dentre outros. Também

utiliza documentos e artigos de outros órgãos não diretamente

ligados à execução da Integração Regional, mas essenciais na

reflexão sobre sua dinâmica e direcionamento. Ao final, este

trabalho propõe elementos para a construção de uma agenda

de pesquisa para o tema proposto.

Marília Cordeiro Serra

O Brasil no Conselho de Segurança da ONU: Uma análise do

posicionamento do país nas discussões sobre operações de paz.

Trabalho completo

Resumo: O Brasil é membro fundador da ONU, e embora não

seja membro permanente do Conselho de Segurança (CS), já

ocupou por dez vezes o assento de membro eletivo do órgão.

Dentre as discussões e resoluções originadas no Conselho,

destacam-se as relativas as operações de paz, mecanismo utili-

zado pela organização visando alcançar seu propósito primor-

dial de manutenção da paz e segurança internacionais. Inicia-

das em 1948, propondo apenas o monitoramento de acordos

de cessar fogo, ao longo dos anos tais operações passaram a

abranger objetivos mais complexos, como a estabilização das

regiões assoladas por conflitos, em missões que contam com

componentes militares e civis. Em 2005 o conceito de Respon-

sabilidade de Proteger ( Responsibility to Protect – R2P), que

em situações muito específicas prevê a possibilidade de uso da

Anais do 2º Seminário de Relações Internacionais: Graduação e Pós-graduação João Pessoa | 28 e 29 de agosto de 2014

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39

força sem o consentimento das partes, foi incorporado pelas

Nações Unidas, não sem controvérsias. Nessa esteira, em 2011

o Brasil propôs o conceito de Responsabilidade ao Proteger

(Responsibility while protecting – RwP), contendo sugestões

para melhor operacionalizar a R2P. Recebida com entusiasmo

por alguns e desconfiança por outros, a RwP tem perdido o

fôlego nas discussões internacionais, mas não perde o mérito

de representar uma inovação proposta pelo Brasil. Este artigo

tem como objetivo primário identificar o posicionamento do

Brasil nas discussões do Conselho sobre as operações de paz, e

verificar a compatibilidade de suas declarações com a propos-

ta da RwP, destacando pontos de continuidade e divergência

na conduta brasileira. Para tanto, serão analisados os registros

das reuniões do CS nos biênios em que o Brasil fez parte de

sua composição, a partir de 1994 – primeiro ano em que a

ONU disponibiliza publicamente tais documentos.

Melissa Rejane Grangeiro de Sousa

A Política Externa Brasileira diante das perspectivas e desafios

dos BRICS

Trabalho completo

Resumo: Em um contexto de grandes transformações no cená-

rio internacional contemporâneo, a possibilidade de constitui-

ção de uma nova ordem global tem sido pauta de grandes dis-

cussões nos últimos anos. Em face das diferentes coalizões

políticas criadas, a governança global assume novos contornos

e um aspecto mais dinâmico e complexo, envolvendo uma

multiplicidade de atores que se unem para garantir a divisão

de responsabilidades e a criação de alternativas em momentos

de crise.O surgimento de coalizões de geometria variável

aponta que existe uma iniciativa de fortalecer o sistema multi-

lateral e ampliar os canais de participação dos países emergen-

tes em instâncias decisórias. Nessa conjuntura, países como

Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, nações que apresen-

tam ao mesmo tempo enormes disparidades e algumas seme-

lhanças, vislumbraram através da sua união, o BRICS, grosso

modo, um foro no qual esses países compartilham interesses

comuns e pleiteiam por uma maior coordenação na condução

da política econômica internacional. O Brasil ocupa cada vez

mais um lugar de destaque entre as maiores economias mun-

diais e, apesar da baixa capacidade de coordenação estratégi-

ca do Estado brasileiro, a formulação e a execução de sua polí-

tica externa tem sido direcionada para temas e formas de en-

gajamento que coadunam com a aspiração de um espaço e

uma atuação de destaque na arena internacional, especial-

mente no âmbito dos BRICS. Esse artigo tem como objetivo

discutir a atual configuração externa em transição na qual se

inserem os BRICS e a postura brasileira através da sua política

externa, isto é, apresenta como o Brasil tem se posicionado

diante desse grupo e em como sua política externa tem se

pautado para cada vez mais firmar o seu engajamento interna-

cional e a consolidação dessa institucionalização entre os cinco

países. Outrossim, aponta os principais desafios compartilha-

dos pelos países que o formam e as perspectivas otimistas que

os unem.

Mônica Heinzelmann Portella de Aguiar

A transformação do conceito de soberania na política externa

ambiental.

Coautor(es): Beatriz Rodrigues Bessa Mattos

Trabalho completo

Resumo: O fenômeno das mudanças climáticas, notado em

escala global com cada vez mais intensidade, vem promoven-

do alterações significativas no conceito de soberania estatal,

ao longo das últimas décadas. Tendo em vista o caráter global

das ameaças ambientais e o seu enorme potencial de destrui-

ção, é imprescindível que os Estados adotem políticas coorde-

nadas, na tentativa de reverter os efeitos nocivos da ação hu-

mana e de proteger o meio ambiente. Nos anos 70, quando o

impacto das mudanças climáticas era pouco conhecido, o con-

ceito de soberania representava o direito dos Estados de ad-

ministrar seus recursos naturais sem qualquer ingerência ex-

terna, guiando-se, apenas, pelo interesse nacional. Nos dias

atuais, contudo, a percepção de que a natureza não admite

fronteiras e que a ação de um Estado pode causar danos à

humanidade inteira propiciou a criação de um regime interna-

cional ambiental, com vistas a proteger os recursos naturais e

estabelecer responsabilidades para os Estados perante a socie-

dade internacional. Valendo-se de conceitos como interdepen-

dência, patrimônio comum da humanidade e desenvolvimento

sustentável, o presente artigo tem como principal objetivo

investigar a evolução do conceito de soberania perante a te-

mática ambiental, desde a Conferência de Estocolmo até os

dias atuais. A pesquisa empenha-se, ainda, em analisar se o

fortalecimento da governança global e a consequente limita-

ção da soberania estatal configuram-se como meios eficazes

para preservar os recursos naturais e garantir a segurança

ambiental. Com o objetivo de lançar luzes sobre o cenário polí-

tico ambiental contemporâneo, a pesquisa valer-se-á da análi-

se bibliográfica de fontes primárias e secundárias, enquanto a

Análise do Discurso, conforme perscrutada por Michel Fou-

cault, constitui-se como recurso metodológico de eleição para

a apreciação da temática abordada.

Patricia Capelini Borelli

Diplomacia pela Mídia: Reflexões sobre a Mídia Brasileira como

possível Global Player

Trabalho completo

Resumo: A mídia tradicional – compreendida aqui como im-

prensa, rádio e televisão – ainda é o principal canal pelo qual

Os BRICS e as Transformações da Ordem Global

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as pessoas se informam. São poucos os grandes grupos comer-

ciais que detêm o controle da maior parte dos veículos de co-

municação de massa que levam informação para parte consi-

derável da população mundial. Diversos setores da economia

sofreram processo de concentração nas últimas décadas e

com a indústria de mídia não foi diferente. Contudo, os

“produtos” disponibilizados nesse setor tem uma peculiarida-

de: são vetores de influência e formadores de opinião. No

campo das Relações Internacionais, os conglomerados de mí-

dia representam canais de influência entre os Estados, sendo

ampliadores de interesses nacionais no sistema internacional.

Autores da área sustentam, inclusive, que o desenvolvimento

da indústria de comunicação é condição necessária para um

Estado ser influente no cenário político global – tanto quanto a

indústria de defesa é essencial para fortalecer o poder militar

de um país.A predominância dos conglomerados de mídia em

escala global permitiu que esses grupos alcançassem maior

autonomia, no sentido de agirem não necessariamente moti-

vados por um Estado no que diz respeito às questões de políti-

ca externa. Suas ações tem capacidade de alterar a agenda

internacional, configurando a chamada Diplomacia pela Mídia

– que, embora não seja a via oficial, permite que os grupos

alcancem resultados significativos em relação à política entre

as nações. Partindo dessa discussão, o trabalho tem como

proposta refletir sobre a posição dos grupos brasileiros no

mercado de mídia global, de modo a serem considerados co-

mo atores do cenário internacional. Mais especificamente,

busca observar se esses conglomerados estão em condição

econômica de exercer a Diplomacia pela Mídia e se haveria

interesse político em atuar como verdadeiros players interna-

cionais.

Pedro Andrade Matos

Cooperação Técnica Internacional (CTI): o que trazer dos países

receptores?

Trabalho completo

Resumo: O intercâmbio de conhecimentos técnicos possui raiz

muito remota, de acordo com Carlos Lopes (1997), talvez des-

de o reinado de Alexandre o Grande que enviou missões à

China no intuito de aprender a técnica de tecelagem. Pode-se

enquadrar a CTI em dois momentos importantes: o primeiro

denominado de tradicional apresentou-se logo no inicio da

assistência técnica ao final da Segunda Guerra Mundial. Era

regida pelos interesses dos doadores orquestrados pela Segu-

rança Nacional e os eventos subsequentes da Guerra Fria

(1945-1989). Era uma relação vertical e explícita, de domina-

ção, dada a vertente de atuação onde somente o doador deci-

de onde e quem recebe a cooperação. O doador acreditava

que a cooperação técnica afetaria somente a parte que a soli-

cita. Esse modelo possuía grande nuance de percepção carita-

tiva, de cooperação e ajuda pela misericórdia, desconsideran-

do as injustiças e desigualdades. De fato, no final dos anos de

1940, a assistência técnica era utilizada como instrumento da

teoria do desenvolvimento para explicar o baixo nível de co-

nhecimento, domínio de técnicas e de capacidade de gestão

que impedia os países pobres de alcançar o desenvolvimento.

Contudo, como salienta Marcovitch (1994), a transferência de

conhecimento técnico continha interesses implícitos, uma vez

que o método de execução de assistência técnica regia-se de

acordo com os interesses dos países doadores. O pacote de

transferência de conhecimento obrigava os países receptores

a adquirirem bens e serviços dos países doadores, ficando pas-

sivos à imposição de critérios por parte dos doadores. O se-

gundo modelo intitulado de moderno abocanha uma boa par-

te do século XXI, inclusive os períodos Pós-Guerra-Fria. Nesse

modelo, as organizações civis começam a entrar na cena de

CTI como atores que pressionam os governos em torno dos

problemas da humanidade. Elas propuseram aos doadores e

receptores trabalhos em comuns para desenhar e executar a

cooperação em conjunto. Com isso quebra a relação vertical e

constrói-se uma de colaboração entre as partes e com um

enfoque endógeno, multilateral e global. Reconheceram que a

cooperação soluciona problemas que afeta o mundo por igual

e que os problemas locais se convertem em ameaças globais,

entre eles: migração e terrorismo, (LOPES, 1997). Acima de

tudo, cooperação poderia promover justiça e disso o mundo

estava sedento, contrario de caridade. A partir da década de

1990 a CTI deparou com um novo paradigma (BERG, 1993), já

que ela não mais diz respeito somente à transferência de co-

nhecimento, mas sim à construção e desenvolvimento de ca-

pacidades individuais e, sobretudo, institucionais. Esse para-

digma resultou em autoconfiança necessária aos países recep-

tores para enfrentar o cenário da globalização acelerada

(PUENTE, 2010, p. 70). Entretanto, o pacote neoliberal solicita-

do aos países em desenvolvimento não produzira o efeito de-

sejado. A partir dos anos 1990, tais países questionaram a for-

ma e concepção da CTI. A tentativa foi encontrar um ponto de

equilíbrio entre o novo papel do Estado e instrumentos de

promoção do desenvolvimento, mas sem relegar em segundo

plano os pressupostos neoliberais do Consenso de Washing-

ton. A partir de então, CTI foi cunhada em outros conceitos

que reforçariam o seu novo perfil contemporâneo, tais como:

“apropriação local”, “parceria” e “sustentabilidade”. Tais ter-

mos foram atrelados à “boa governança”, que na visão dos

doadores se mostrou como o norteador da nova dinâmica da

CTI. Contudo esses termos possuíam armadilhas, ainda indica-

vam a perpetuação do Norte sobre o Sul. Neste sentido, na

verdade, a partir da década de 1970, países do Sul, como Ín-

dia, China e em certo medida o Brasil, começam ao mesmo

tempo receber e prestar cooperação técnica, numa proposta

até então diferente do Norte. Visava acima de tudo, auxiliar o

desenvolvimento dos países mais atrasados do Sul na base de

Anais do 2º Seminário de Relações Internacionais: Graduação e Pós-graduação João Pessoa | 28 e 29 de agosto de 2014

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solidariedade. Por exemplo, na visão das agências de coopera-

ção brasileiras, “a assistência prestada por elas a outros países

respondem melhor às realidades desses países do que aquelas

impostas pelos doadores do Norte.” (CABRAL e WEINSTOCK,

2010, p. 10). Já que permite transferências de conhecimentos

e técnicas, de cunho não comercial para outros países e para

organismos internacionais. Da mesma maneira, fortalece as

relações políticas e econômicas que o Brasil possui com os

parceiros da cooperação. Para diferenciar ainda mais do Nor-

te, incorpora a cooperação técnica um papel estruturante. Os

projetos estruturantes conferem diversas vantagens a ambos

os países (doador e receptor): aumenta o impacto social e

econômico sobre o público-alvo da cooperação, assegura mai-

or sustentabilidade dos resultados dos programas/projetos,

permite mobilização de instituições brasileiras para cumpri-

mento de diversos componentes dos programas/projetos;

fomenta a criação de espaços para mobilização de parcerias

triangulares com outros atores internacionais. Isto é, permite

trabalhar junto às capacidades locais para que no término da

referida cooperação técnica haja condições favoráveis à conti-

nuidade do projeto sob autonomia do país receptor. Segundo

ABC (2012), os projetos estruturantes da CTI brasileira regem-

se neste viés, ao reforçar a capacidade local e capital humano,

dotando o público alvo de conhecimentos e capacidades na

determinada área, isso permite construção de autonomia dos

projetos. No entanto, a CTI, continuava sendo percebida como

o instrumento de política externa com incidência maior ao

desenvolvimento do país que a demanda. De fato, a coopera-

ção técnica logra aos países recipientes uma melhoria no seu

processo de desenvolvimento numa determinada área social.

E para o país prestador, reconhecia-se que a mesma coopera-

ção, essencialmente a praticada entre os países do Sul, pelas

suas características acaba proporcionando um efeito spillover

a outras áreas, como comércio. Entretanto, por ser uma coo-

peração de perfil técnico, e pela descrença de que o país re-

ceptor não teria condições de contribuir de forma substancio-

sa a tecnologia ou a metodologia levada, essa parte, não rece-

beu atenção adequada. Neste construto, surge a proposta

para o Workshop doutoral, que é analisar quais as contribui-

ções (técnicas e metodológicas ) que os países receptores pro-

porcionam a cooperação técnica. Ou seja, o que o país presta-

dor ganha no campo técnico ao realizar a cooperação. Neste

contexto, vale pensar, que a cooperação técnica visa o aprimo-

ramento das tecnologias, para que o país aumente o seu acer-

vo de conhecimento numa determinada área e com isso se

tornar uma referência internacional. E quanto mais a adaptabi-

lidade e testes, principalmente em outros países, maior a

construção da experiência do país receptor na referida

área. Para tal, será analisado como que o Programa Habitacio-

nal Minha Casa Minha Vida levado a Cabo Verde, permitiu que

o Brasil melhorasse a sua tecnologia e metodologia, principal-

mente no Sistema de Cadastro Único. Ao ponto da metodolo-

gia desenvolvida em Cabo Verde na área passa a partir de en-

tão a servir de referência nacional para políticas habitacionais

no próprio Brasil.

Pedro Henrique Verano Cordeiro da Silva

A intervenção francesa no Prata e seus (não)impactos nos círcu-

los formadores do pensamento de política externa no Brasil Im-

pério

Trabalho completo

Resumo: O presente trabalho tem como objetivo principal o

processo decisório da política externa brasileira ao longo da

década de 1840 até o momento da queda do Juan Manoel

Rosas do governo da Confederação Argentina. A escolha desse

período justifica-se, incialmente, em decorrência do tratamen-

to dado pela literatura ao analisá-lo como um momento de

transição de uma postura de neutralidade para uma interven-

tiva, no que se refere aos assuntos da sub-região platina. Pon-

to de partida e ferramenta analítica central para essa análise

estão algumas premissas realistas neoclássicas, principalmente

no que tange a relação entre a formação de percepćões dos

tomadores de decisão quanto a distribuição de capacidades no

sistema internacional e os limites da projecão de poder do

país. Nesse sentido, é proposta uma observacão de formacão

das elites políticas e da importância e papéis das principais

instituicões políticas do país, à época, tendo como referências

a obra de Amado Cervo e de José Murilo de Carvalho. Como

forma de promocão de um diálogo entre os ambientes teóri-

cos das relacões internacionais e sua sub-área de análise de

política externa com a História, será feito um estudo de caso

no período da intervencão francesa no estuário do Prata (1838

-1948). O foco desse recorte temporal tem como pretensão

verificar os sua repercussão e influência nos principais círculos

decisórios do Império, a fim de ser refletido como um país de

pouca expressividade no nível sistêmico (Brasil) relacionava-se

com potências (França) no caso de choques em uma zona de

grande e tradicional interesse de poder brasileiro.

Rafael Alexandre Moreira Mello

A inserção do Brasil enquanto país emergente: análise do Banco

de Desenvolvimento do BRICS á luz da Teoria da Dependência

Coautor(es): Jorge Juan Robles Aponte

Trabalho completo

Resumo: O surgimento do Banco de Desenvolvimento do

BRICS expressa uma reconfiguração da distribuição de poder

no sistema internacional. Esse cenário é marcado por uma

inserção protagonista das potências emergentes que com-

põem o bloco na dinâmica da nova fase de financeirização do

sistema capitalista mundial, a partir da cooperação Sul-Sul.

Os BRICS e as Transformações da Ordem Global

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42

Neste sentido, o presente trabalho tem como objetivo anali-

sar, à luz da Teoria Marxista da Dependência (TMD), a atuação

do Brasil na busca de melhorar as condições de sua inserção

subordinada no cenário internacional dentro dos marcos do

sistema capitalista, demarcado pelas relações desiguais entre

centro e periferia. Especificamente, questionaremos critica-

mente a importância do Banco de Desenvolvimento do BRICS

para a política externa brasileira na sua condição de país de-

pendente. Para tal, o presente trabalho está dividido em qua-

tro seções. A primeira seção discutirá as categorias fundamen-

tais da teoria a serem trabalhadas: dependência, subimperia-

lismo, cooperação antagônica, nova fase de financeirização,

transferência de valor e subdesenvolvimento. Em seguida,

apresentaremos os principais elementos da posição subordi-

nada do Brasil no sistema capitalista internacional, sob a ótica

da TMD. Na terceira seção, abordaremos a participação do

Brasil no BRICS. Por fim, nos debruçaremos sobre as implica-

ções da criação do Banco de Desenvolvimento do BRICS no

processo de maior inserção do Brasil enquanto potência emer-

gente no sistema internacional.

Ricardo Dias da Silva

O papel das coalizões de defesa nos rumos da Política Comercial

Externa Brasileira: das negociações da Alca ao Acordo de Associ-

ação Mercosul-União Europeia

Trabalho completo

Resumo: Num esforço de identificar alguns condicionantes

domésticos intervenientes no trade policy-making, o presente

artigo lança luz sobre o papel dos atores societais nas negocia-

ções comerciais internacionais. Para tanto, utiliza-se o referen-

cial teórico de advocacy coalition framework (coalizões de

defesa) que fornece um approach atinente à transversalidade

da problemática em tela, implicando múltiplos atores e confli-

tos em torno de objetivos, metas e mecanismos da ação públi-

ca. Já que as escolhas da política comercial externa geram efei-

tos distributivos domésticos, os atores mobilizam-se de modo

a influenciar os rumos das negociações em seu favor. Contudo,

essas alianças são precárias e, por vezes, contraproducentes: a

mobilização numa certa agenda pode forjar novas coalizões

com valores e preferências distintos que se independentizam

e, por vezes, rivalizam com a antiga plataforma de articulação.

Na esteira desse argumento, a Coalizão Empresarial Brasileira

(CEB) é paradigmática. No marco das negociações da Área de

Livre Comércio das Américas (Alca), diferentes segmentos do

empresariado nacional se coligaram por meio da CEB à guisa

de participar formalmente dos espaços de consulta abertos

pelo Itamaraty em face das negociações hemisféricas. Porém,

diferentes facções foram sendo formadas e as divergências

internas ensejaram novos arranjos de articulação de interesses

que extrapolaram tanto a CEB como o próprio mandato nego-

ciador da Alca.Não obstante, o embate entre interesses ofensi-

vos e defensivos foi impactado também pelo ambiente econô-

mico e político mais amplo que acabou por aumentar a capaci-

dade de influência da coalizão mais ofensiva, liderada pelo

agribusiness. Nesse sentido, o Acordo de Associação Mercosul-

União Europeia é tido como sintomático dessa dinâmica que

permitiu ao setor agrícola converter peso econômico em in-

fluência política e ser determinante tanto nas estratégias de

ação coletiva dos empresários como junto ao Estado e à agên-

cia diplomática.

Riva Sobrado de Freitas

Protagonismo econômico do Brasil: o dilema entre a participa-

ção econômica nos BRICS e suas dinâmicas nos blocos regionais

(Mercosul e Unasul).

Coautor(es): Ana Luiza Vedovato Rodrigues e Danielle Jacon

Ayres Pinto

Trabalho completo

Resumo: Este trabalho se propõe analisar a política externa

brasileira em relação à América do Sul. Sendo esta evidenciada

pelas significativas relações comerciais entre os países dessa

região, principalmente no âmbito no Mercosul, como também

através da criação da UNASUL e da integração regional para

além do viés econômico. Em paralelo, este estudo propõe en-

tender como a dinâmica regional do Brasil está relacionada

com sua participação nos BRICS, tentando perceber se tais

interações são possíveis de se coadunar, ou se na verdade, o

âmbito dos BRICS é um empecilho para o fortalecimento das

relações regionais do Brasil. Inicialmente, será analisada a con-

juntura de política externa brasileira no âmbito dos BRICS. Em

seguida, essa análise será reduzida ao foco da integração regi-

onal, através da participação no Mercosul e na UNASUL. Por

fim, pretende-se fazer um indicativo acerca do seu fluxo de

relações comerciais e analisar seus principais parceiros comer-

ciais, além de responder a seguinte pergunta problema: até

que ponto o pertencimento ao BRICS prejudica a atuação bra-

sileira na integração regional, no Mercosul e na UNASUL? No

trabalho, apresenta-se que o Brasil, devido ao seu protagonis-

mo econômico frente aos demais países sul-americanos, prin-

cipalmente em termos de representação em Produto Interno

Bruto (PIB) nesses blocos, arrisca ser acusado de assumir um

papel imperialista em âmbito regional. É nesse sentido que

observa-se que a política externa do Brasil, ainda que orienta-

da para o fortalecimento do Mercosul e para os projetos da

UNASUL, encontra-se divida entre cooperação e inserção in-

ternacional no contexto do BRICS; e cooperação e integração

regional frente ao Mercosul e à UNASUL.

Rodolfo Ilário da Silva

Continuidades e Mudanças na Política Externa Brasileira para o

Meio Ambiente: da Defesa do Direito ao Desenvolvimento à

Anais do 2º Seminário de Relações Internacionais: Graduação e Pós-graduação João Pessoa | 28 e 29 de agosto de 2014

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Retórica da Sustentabilidade

Trabalho completo

Resumo: Este trabalho analisa elementos do contexto nacio-

nal, regional e internacional que conformaram a política exter-

na brasileira para o meio ambiente em três períodos, os quais

se diferenciam pela incorporação processual de novos elemen-

tos, mas preservam alguns fundamentos centrais. Estas três

fases da política externa estão diretamente relacionadas aos

principais debates ambientais da comunidade internacional, e,

assim, não configuram uma escolha aleatória do autor. A Con-

ferência de Estocolmo em 1972 e as Conferências do Rio em

1992 e 2012 foram as reuniões internacionais nas quais surgi-

ram os principais conceitos, consensos e conflitos que nortei-

am os debates ambientais.O desenvolvimento desta temática

na comunidade internacional levou ao estabelecimento da

Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climáti-

ca, o mais importante regime ambiental em andamento e que

concentra muitos esforços dos negociadores por se tratar de

um tema transversal. Assim, a primeira fase identificada trans-

parece nos posicionamentos assumidos pelo Brasil no contex-

to da Conferência de Estocolmo, em 1972, fase caracterizada

pela defesa do direito ao desenvolvimento. A segunda fase é

constituída pela realização e atuação do Brasil na Conferência

Rio-92, fase na qual se iniciaram esforços de adoção da susten-

tabilidade como estratégia de atração de investimentos para a

promoção do desenvolvimento. Já a terceira fase é baseada na

atuação da política externa brasileira no decorrer das negocia-

ções da Convenção-Quadro sobre Mudança Climática e na

Conferência Rio+20, de 2012. Esta terceira fase foi aqui deno-

minada como retórica da sustentabilidade, tendo o Brasil apre-

sentado notável controvérsia entre os posicionamentos defen-

didos na arena internacional – a exemplo da adoção de metas

voluntárias de redução de emissões de carbono – e os desdo-

bramentos da política ambiental doméstica – como a reformu-

lação do Código Florestal e as inúmeras usinas hidrelétricas em

construção na Amazônia.

Thamirys Ferreira Cavalcante

As relações Brasil-Japão: uma parceria rumo o continente afri-

cano

Trabalho completo

Resumo: Historicamente, as relações nipo-brasileiras têm se

desenvolvido em bases definidas como interesses complemen-

tares. Estes interesses associados a mudanças na conjuntura

internacional fundamentaram a aproximação entre os dois

países ao longo dos anos, transformando a percepção mútua

entre eles e delineando os contornos das estruturas de intera-

ção de acordo com os momentos e opções mais favoráveis.

Com o passar dos anos, o relacionamento bilateral entre Brasil

e Japão apresentou desenvolvimentos, que ultrapassaram a

questão das migrações e a esfera econômica. No tema da aju-

da internacional, a realização iniciativas triangulares brasileiras

envolvendo países tiveram início em 1995, com o Japão, país

pioneiro nessa modalidade na Cooperação Sul-Sul (CSS) do

Brasil. As iniciativas de cooperação técnica triangular são en-

tendidas pelo Governo Brasileiro como uma modalidade da

CSS brasileira, ou seja, como um arranjo alternativo e comple-

mentar aos esforços bilaterais brasileiros. Lançou-se mão da

pesquisa bibliográfica sobre o tema, para refletir acerca de

como a cooperação pode ser utilizada como instrumento de

política externa. O presente trabalho busca analisar as rela-

ções cooperativas entre Brasil e Japão, de maneira histórica e

conjuntural, delineando os limites do trabalho nas iniciativas

triangulares implementadas no continente africano. A escolha

de Japão e África se deve, não só em função dos laços históri-

cos e culturais que o Brasil tem com eles, mas também devido

ao entendimento de que a manutenção das relações com es-

ses países são fatores estratégicos para a consecução dos ob-

jetivos que orientam a política externa brasileira. O texto cons-

trói-se no sentindo de demonstrar com a cooperação (no caso,

a prática da triangulação), na qualidade de instrumento de

política externa, é capaz de atuar na construção de identida-

des favoráveis entre os países e de estreitar relações através

da percepção de interesses comuns.

Verônica Moreira dos Santos Pires

A atualidade do debate em torno da hegemonia dos Estados

Unidos diante das transformações da ordem global e do peso de

novos atores no atual sistema internacional

Trabalho completo

Resumo: A discussão que envolve o status de potência número

um do sistema internacional conferido aos Estados Unidos, a

partir do final da Guerra Fria, responde por uma série de publi-

cações e reúne uma lista de referências nada desprezível. No-

mes de peso, vinculados à academia ou não, encontram-se

debruçados em fatores, índices, causas, consequências, entre

outros indicativos, capazes de definir o papel daquele país na

denominada nova ordem mundial. Chama a atenção, para

efeito desta proposta de comunicação, a historicidade contex-

tualizada e atualizada do debate em torno do declínio da pri-

mazia dos Estados Unidos, a partir da década de 1990, em

geral tratada a partir de variáveis que, isoladas ou em conjun-

to, determinariam o fim de uma condição solar. No conjunto

do que se pretende abordar, a ênfase recairá sobre os contex-

tos identificados com as transformações na ordem global e

com o lugar reservado aos BRICs neste processo.

William Daldegan de Freitas

O discurso ambiental do executivo estadunidense - Clinton, W.

Bush e Obama

Os BRICS e as Transformações da Ordem Global

Page 44: ANAIS - abri.org.br

44

Trabalho completo

Resumo: A temática ambiental sempre integrou os programas

de governo dos presidentes estadunidenses. Enquanto que no

decorrer do século XX a temática, muitas vezes, tenha sido

tomada como marginal aos interesses norte-americanos a

partir da década de 1990 passou a desempenhar papel impor-

tante na condução da política doméstica e internacional. Isso

deveu-se a mobilização mundial diante das várias conferências

mundiais ocorridas no final do século XX e, principalmente,

com as discussões na Conferência da Terra em 1992 na cidade

do Rio de Janeiro. Em 1997 o Protocolo de Kyoto era firmado e

isso só denotou a importância da temática ambiental. Bill Clin-

ton discursava a favor de esforços internacionais para a mitiga-

ção do efeito estufa. W. Bush, apesar de contrário ao Protoco-

lo de Kyoto, promoveu políticas domesticas para a proteção

ambiental. Quanto a Obama, a temática seguiu na mesma toa-

da do governo anterior com poucos avanços. Diante destas

movimentações da política estadunidense, é objetivo deste

texto explorar como os programas dos presidentes citados

trataram a temática ambiental no que tange as mudanças cli-

máticas, e quais os esforços implementados com vistas às de-

mandas internacionais.

Os BRICS e as Transformações da Ordem Global

Page 45: ANAIS - abri.org.br

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Alana Camoça Gonçalves de Oliveira

África no horizonte do Brasil: O estreitamento de laços Brasil-

África para a defesa do Atlântico Sul

Coautor(es): Gabriela Figueiredo Netto

Trabalho completo

Resumo: O Atlântico Sul vem ganhando grande importância no

cenário mundial com as recentes descobertas de reservas pe-

trolíferas e minerais tanto do lado latino americano como na

encosta africana. Para o Brasil, a região tem grande função

comercial, pois cerca de 95% do comércio exterior brasileiro

passam por essas águas, além do fato do Atlântico Sul corres-

ponder a cerca de 20% da produção mundial de petróleo. O

Brasil vem atuando e impondo medidas para o aumento do

território marítimo e um estreitamento de laços com a África

para o fortalecimento da região com uma cooperação voltada

para a defesa territorial. Pois, o Atlântico Sul é uma região

muito instável devido a ação de piratas e de constante instabi-

lidade na costa africana por conflitos de grupos regionais. Ou-

trossim, o Brasil está galgando uma posição maior no cenário

internacional, e a importância que o Atlântico Sul vem con-

quistando é de interesse estratégico brasileiro. O aumento da

defesa na região, partilhado pelos países do Sul promoveria

uma maior independência perante algumas potências que tem

forte atuação devido a heranças coloniais, como o caso da

Inglaterra com bases militares e cinturões estratégicos. Logo, o

objetivo desse trabalho é analisar as relações entre Brasil e a

África subsaariana a respeito da cooperação no campo da de-

fesa, perpassando pela forte atuação de grandes potências

que atuam na região. A hipótese desse artigo é que o Brasil

está cada vez mais galgando um espaço de notoriedade e deci-

são no cenário internacional, e com isso, tem projetado seu

poder para a África. Assim, uma forma de defender essa auto-

nomia e estender a projeção de poder é estabelecendo laços

de defesa com o continente africano para afastar a atuação de

potências estrangeiras.

Ana Clara Telles Cavalcante de Souza

A Violência Invisível em Processos de Negociação de Paz: o caso

da América Central

Coautor(es): Maria Isabel Alves de Souza Cantinho

Trabalho completo

Resumo: As décadas de 1960 a 1990 presenciaram a eclosão

de uma série de conflitos armados de cunho intraestatal em

países como El Salvador, Honduras, Nicarágua e Guatemala.

Em todos esses países, foram estabelecidos esforços nacionais

e, ou, internacionais para a mediação e (re)construção da paz

no cenário pós-conflito. O objetivo do presente trabalho é

analisar como os processos de negociação, estabelecimento e

manutenção da paz na América Central lidaram com a violên-

cia como fator constitutivo das sociedades envolvidas. Preten-

demos examinar a realocação da violência na aplicação de

modelos de mediação da paz e o modo como a mesma é

"escondida" e "omitida" no cenário pós-conflito, embora sem-

pre presente nos processos de interação social. Buscamos en-

tender, ainda, até que ponto a forma como esses distintos

processos lidaram com a violência impactou a transição entre

a "guerra" e a "paz" e a configuração de cenários pós-conflitos

marcados por altos níveis de criminalidade e violência. Utiliza-

mos, para tal, uma abordagem histórico-sociológica da violên-

cia, entendendo, com base em Norbert Elias, como o autocon-

trole e o não recurso à violência passam a ser fatores caracte-

rísticos do que se entende por indivíduo e sociedade

"civilizados" nos séculos XX e XXI. Ao mesmo tempo, buscamos

trazer a contribuição de autores como Vivienne Jabri, que sali-

entam o papel constitutivo da violência e questionam frontei-

ras construídas a partir das relações de poder vigentes entre

situações de "guerra" e de "paz". Nesse sentido, o trabalho se

posiciona de maneira crítica a abordagens que entendem a

violência apenas em termos de guerra, e busca entender como

a invisibilidade do papel constitutivo da violência em "tempos

de paz" impacta os processos de mediação aplicados e a busca

pela resolução de conflitos, assim como a formulação de estra-

tégias e procedimentos de desarmamento e reintegração soci-

al em cenários "pós-conflito".

Andréa Fernanda Rodrigues Britto

O BRICS e a responsabilidade de proteger: uma análise das posi-

ções dos membros do agrupamento de 2001 a 2013.

Trabalho completo

Resumo: No contexto do início do século XXI, em que o siste-

ma internacional se torna cada vez mais multipolar, é imperati-

vo conhecer o papel das potências emergentes no desenvolvi-

mento das normas internacionais. Neste sentido, este trabalho

tem como objetivo realizar uma breve análise do posiciona-

mento dos membros do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China,

África do Sul) com relação ao conceito de responsabilidade de

proteger (R2P) de 2001 a 2013. O artigo põe ênfase na atua-

ção dos países que compõem o agrupamento a respeito do

tema no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU) e

nas cúpulas do BRICS. Para tanto, adota-se como principais

marcos temporais o surgimento da R2P em 2001; sua incorpo-

ração plena pela ONU em 2005; em 2011, a invasão da Líbia, o

lançamento do conceito de responsabilidade ao proteger

(RWP) pelo governo brasileiro e a guerra civil síria. A metodo-

logia utilizada para a elaboração do trabalho é o método com-

parado, o qual permite o reconhecimento não somente das

SEGURANÇA INTERNACIONAL

Anais do 2º Seminário de Relações Internacionais: Graduação e Pós-graduação João Pessoa | 28 e 29 de agosto de 2014

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semelhanças, como também das diferenças entre os posicio-

namentos dos Estados que compõem o universo da pesquisa.

Faz-se extensa análise de documentos e discursos produzidos

pelos atores no âmbito da ONU e das cúpulas do BRICS, assim

como se examina a literatura de referência sobre o tema. A

conclusão principal é a de que, contrariamente à crença difun-

dida entre vários teóricos de que os países do BRICS são oposi-

tores veementes da responsabilidade de proteger, estes Esta-

dos manifestam claro apoio ao primeiro e ao segundo pilares

que compõem a R2P, respectivamente, responsabilidade do

Estado de proteger a sua população e responsabilidade da

comunidade internacional de auxiliar o Estado a proteger os

seus nacionais. O BRICS, todavia, discorda do Ocidente com

relação à aplicabilidade do terceiro pilar, que se refere à res-

posta oportuna e decisiva às violações cometidas por parte da

comunidade internacional.

Antonio Henrique Lucena Silva

Globalização Militar, Política de Defesa e Cooperação: um estu-

do de caso do Gripen

Trabalho completo

Resumo: Em 18 de dezembro de 2013 a Força Aérea Brasileira

anunciou que o país adquiriria da Suécia caças Gripen para

renovação da frota. Inicialmente, o caça fabricado pela Boeing

tinha se tornado preferido, mas a revelação de espionagem

pelo governo americano modificou o cenário. Politicamente, a

compra do caça F-18 da americana Boeing, preferido por al-

guns militares, ficou inviável após os escândalos de espiona-

gem da NSA. O fato da própria Presidente Dilma Rousseff e

companhias brasileiras como a Petrobras terem sido alvo da

espionagem prejudicaram a escolha do avião, cuja vitória esta-

va prevista para ser anunciada na visita de Estado da Presiden-

te a Washington, posteriormente cancelada devido aos escân-

dalos. Países de 2º tier, de acordo com a definição de Richard

Bitzinger (2009), que possuem indústrias de defesa sofistica-

das, como a Suécia, e outros com complexos militares-

industriais razoáveis, como o Brasil, estão estreitando os laços

de defesa. Potências regionais têm aumentado a cooperação

em matéria de defesa com potências médias. Dois membros

dos BRICS, Brasil e África do Sul, desenvolvem conjuntamente

o míssil A-Darter que será integrado nos Gripens sul-africanos,

facilitando a integração com o seu congênere brasileiro. Esse

artigo se propõe a analisar a formação de coalizões em parce-

rias de defesa, especialmente a do caso Gripen. O trabalho

será dividido da seguinte forma: na primeira parte abordamos

o conceito de potências regionais e médias e como elas se

aplicam ao Brasil. Na segunda parte, enfocamos a escolha do

Gripen pelo País e o seu processo de decision-making, além da

cooperação com outros membros dos BRICS em matéria de

defesa. Na terceira e última parte, as considerações finais,

tratamos dos resultados da pesquisa em que aponta para o

incremento das parcerias entre o 2º tier como forma de redu-

ção da dependência de países como os Estados Unidos.

Augusto Wagner Menezes Teixeira Júnior

A América do Sul como conceito geopolítico: do “Hemiciclo Inte-

rior” ao Entorno Estratégico.

Trabalho completo

Resumo: Apesar de a Geopolítica ter sido uma das primeiras

áreas de produção intelectual independente no Brasil, muito

se questiona sobre o impacto de suas reflexões na formulação

da Política Externa brasileira. Se a leitura de Cervo (2008) de

que na década de 2000 registra um “retorno ao realismo” na

Política Externa brasileira procede, seria de se esperar o retor-

no do pensamento estratégico e geopolítico. Crê-se que con-

ceitos e ideias clássicas desse campo do conhecimento se fize-

ram presentes, explícita ou implicitamente na formulação de

conceitos orientadores da ação externa e da Defesa nos últi-

mos dez anos. Como resultado do retorno do pensamento

estratégico, destacamos como os mais célebres a releitura do

significado estratégico da América do Sul e a definição do En-

torno Estratégico. Baseado nesses aspectos, o presente artigo

analisa o retorno da Geopolítica como componente na formu-

lação de conceitos da Política Externa durante o governo Lula,

aqui representada pela ideia de Entorno Estratégico. Para tal,

analisamos a congruência deste termo com o clássico conceito

de “Hemiciclo Interior”, de Golbery do Couto e Silva. Além das

similaridades quanto às áreas prioritárias para projeção de

poder e influência e extensão do perímetro de segurança naci-

onal, ambos encerram em si visões sobre o papel do Brasil na

segurança e defesa regional e global.

Daniel Castanheira do Amaral Gonçalves

As missões integradas da ONU: desafios e perspectivas na busca

por coerência e cooperação.

Trabalho completo

Resumo: Com o fim da Guerra Fria, as operações de paz da

ONU tornaram-se uma de suas facetas mais visíveis e impor-

tantes para a preservação da paz e da segurança mundial,

crescendo em número e em complexidade. Este crescimento

atraiu o envolvimento de um número progressivo de atores,

dentre eles o Brasil. Entretanto, erros cometidos nas missões

realizadas na década de 1990, como em Srebrenica e Ruanda,

desencadearam uma profunda reflexão na ONU, a qual identi-

ficou a falta de coordenação e cooperação entre as várias enti-

dades que a compõe como uma das principais razões para os

problemas experimentados. Iniciou-se, desde então, um pro-

cesso de integração, ainda em curso, que visa à atuação coe-

rente, coordenada e solidária de todas as agências em campo

e dos vários componentes da missão, com o intuito de somar

esforços para a consolidação da paz e para a melhor execução

Os BRICS e as Transformações da Ordem Global

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de seus mandatos. Como toda política ambiciosa, a integração

da ONU trouxe consigo muitas oportunidades capazes de pro-

porcionar benefícios para os atores envolvidos e para as popu-

lações alvo de suas ações. Todavia, apesar de aparentar ser um

passo lógico e acertado, a nova política encontrou resistência

de atores importantes, por exemplo, das agências humanitá-

rias, pondo em risco a continuidade e eficácia do processo. Os

desafios se mostraram muitos, e capazes de afetar não apenas

o cumprimento dos mandatos dos envolvidos, mas também a

vida tanto de operadores de campo como dos beneficiários de

suas ações. Atento a atualidade do debate e suas implicações

para a atuação da ONU nas operações de paz, o presente arti-

go analisa, de forma holística, o processo de integração e al-

guns dos desafios encontrados no seu desenvolvimento e apli-

cação, fazendo um apanhado dos antecedentes e das perspec-

tivas futuras da política.

Danielle Jacon Ayres Pinto

O atual processo de construção identitária da Ucrânia: o conflito

entre a tradição Russa e o modelo econômico da EU.

Coautor(es): Daniela Sallet Lunkes

Trabalho completo

Resumo: O artigo em voga tem por objetivo tratar da crise en-

tre Ucrânia, Rússia e União Europeia, muito destacado pela

mídia nos últimos meses, porém com raízes muito mais pro-

fundas e complexas do que nos é apresentado. Desde o fim da

Guerra Fria e o consequente desmembramento da União Sovi-

ética a Ucrânia sofre de uma crise de identidade. Tal crise é

provocada por diferentes percepções internas sobre o passado

territorial da Ucrânia e estimulada pela Rússia, que ainda a

considera de seu domínio. De outra parte, a a União Europeia,

dá esperanças de uma possível aceitação da Ucrânia no bloco

caso ela siga seus preceitos. O país tem como único meio de

persuasão sua localização geográfica estratégica, sendo atra-

vés dela que passa o gás russo que vai para a Europa. Dessa

forma, acaba a Ucrânia numa posição extremamente vulnerá-

vel. A Revolução Laranja de 2004 foi um precedente da inten-

ção demonstrada por alguns de se aproximarem dos preceitos

ocidentais. A posição contrária a revolução, adotada pelo ex-

presidente Viktor Yanukovitch, provocou a manifestação de

pessoas pró-ocidentais e, com o apoio financeiro estaduniden-

se e europeu, essas represálias ganharam força e colocaram o

país numa “guerra interna”. No entanto, há muitos ucranianos,

especialmente nas regiões mais a Leste, que são contra essa

ocidentalização e que se sentem ainda pertencentes à Rússia.

Em vista disso, realizou-se um plebiscito na Crimeia para ver a

que lado a maioria da população preferia estar e o resultado

apontou uma preferência russa, o que mostra o forte enraiza-

mento cultural histórico do leste Ucraniano. Com base nesse

conflito de interesses europeus e russos e no complexo de

identidade que a Ucrânia sofre, serão desenvolvidos questio-

namentos e apontamentos sobre qual poderia ser a melhor

saída para essa crise e como o povo Ucraniano poderia assu-

mir uma identidade própria nacional.

Fabiana Martins Santos

A nova ordem global e seu impacto na segurança energética

Trabalho completo

Resumo: Energia sempre foi algo fundamental para os Estados,

pois sem energia não se pode ao menos proteger-se das ame-

aças externas e internas, entretanto, apenas ganhou espaço

nos debates internacionais a partir dos choques do petróleo,

na década de 70. A segurança energética ganhava espaço nas

discussões entre Estados. Atualmente, a segurança energética

está, cada vez mais, presente na agenda de segurança dos

países, sejam os desenvolvidos ou os em processo de desen-

volvimento, todos precisam de insumos energéticos para man-

ter sua sobrevivência, especialmente, econômica. O mundo

passou e ainda passa por várias transformações inclusive no

setor de energia. Países que antes tinham potencial para ex-

portar, hoje dependem da importação de insumos energéticos

para manter sua demanda interna aquecida. Um bom exemplo

disso é a Republica Popular da China que passou ilesa pelas

crises decorrentes do aumento no preço do barril de petróleo

na década de 70 e hoje é o segundo maior importador mundial

desse insumo. As grandes reservas de recursos naturais encon-

tram-se nos países “rotulados” de emergentes ou naqueles

considerados subdesenvolvidos, levando os países desenvolvi-

dos ao dilema de ter que depender de Estados, que antes,

eram suas colônias ou seus inimigos. Diante dos fatos, este

artigo pretende analisar como a nova ordem global influenciou

na dinâmica da segurança mundial. Para isso, o artigo será

dividido em 3 momentos: no primeiro instante será apresenta-

do o tema a partir da década de 70, mostrando as transforma-

ções que as crises, devido a alta no preço do petróleo, causa-

ram. No segundo momento será discutida a segurança energé-

tica do Pós-Guerra Fria e suas implicações para o setor. E no

terceiro momento pretende analisar o cenário atual a partir da

formação dos BRICS e como a nova ordem internacional influ-

encia nas políticas de segurança energética formuladas pelos

Estados. E por fim, trazer as considerações finais.

Fabio Rodrigo Ferreira Nobre

Índices de Geração de Segurança Humana: uma aplicação ao

caso peruano

Trabalho completo

Resumo: Os Estudos de Segurança Internacional, como um dos

mais tradicionais campos de estudo das Relações Internacio-

nais, já sofreram, ao longo da história, profundas modificações

e adaptações epistemológicas. As ampliações no referencial de

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segurança e nas possíveis fontes de ameaça fizeram a discipli-

na se afastar de uma totalidade estatocêntrica e essencialmen-

te positivista. Desse modo, os estudos de Segurança Humana,

se estabeleceram como um proeminente subcampo da área,

sendo utilizado com mais frequência entre os acadêmicos,

pelas organizações internacionais e, em certos momentos,

também pelos Estados como o caminho mais adequado da

segurança. Entretanto, a tradição metodológica dos Estudos

Estratégicos segue a questionar o conceito, por sua suposta

mínima operacionalidade e duvidosa possibilidade de mensu-

ração. De tal maneira, buscamos indagar, no proposto artigo, o

quão superficial é a lógica da Segurança Humana e se ela é, de

fato, inaplicável. O presente artigo se propõe a analisar a evo-

lução metodológica do campo de estudo em questão e as po-

tenciais técnicas de mensuração do mesmo. Com o objetivo de

apontar uma possível falácia na forma como a Segurança Hu-

mana vem sendo encarada, em grande medida, pelo meio

científico nos Estudos de segurança, o trabalho está estrutura-

do da seguinte maneira: num primeiro momento, contextuali-

zamos a criação do campo da Segurança Humana. As propos-

tas de métodos de mensuração existentes são apresentadas

no ponto seguinte. Numa terceira seção, é realizada uma análi-

se das variáveis levantadas pela teoria da Segurança Humana,

demonstrado quais delas são, de fato, operacionalizáveis e

epistemologicamente aceitáveis. Em seguida, nossa proposta é

submetida a teste em um caso de análise, a ver, as reações do

Estado peruano aos embates contra do grupo “Sendero Lumi-

noso” nos processos de paz recentes. Por fim as conclusões da

pesquisa são apresentadas.

Germano Ribeiro Fernandes da Silva

A preparação para a guerra como construção do Estado: o caso

do Paraguai antes da Guerra da Tríplice Aliança

Trabalho completo

Resumo: Considerando a noção de conjuntura crítica, a qual

pode estabelecer limites analíticos a fim de separar períodos

históricos, o estudo utiliza a divisão proposta por Fernando

López-Alves (2000) a respeito da construção do Estado no Pa-

raguai, que seria formada por dois momentos distintos: o pri-

meiro, que parte da independência, em 1811, e vai até 1864; e

o segundo, que começa com a experiência traumática da

Guerra do Paraguai. Sendo assim, o presente artigo, cujo obje-

tivo é observar o papel que a guerra – no sentido da prepara-

ção para a atividade militar – desempenhou no processo de

construção do Estado paraguaio, atém-se ao primeiro período.

A ideia é analisar as variáveis constitutivas da construção de

um Estado nacional tais como propostas Taylor e Botea (2008),

quais sejam: (a) capacidade de extrair recursos da sociedade;

(b) criação de estruturas de coerção; e (c) identidade nacional.

Após, será verificado o resultado da conjugação desses três

fatores, ilustrado pelas capacidades estatais paraguaias na

entrada do segundo período. Para tanto, proceder-se-á, de

maneira sistemática, a um exame da historiografia do país a

partir de categorias da literatura de sociologia histórica sobre

formação do Estado. A hipótese de trabalho é a de que a ex-

cepcionalidade paraguaia no contexto de construção do Esta-

do na América Latina, verificada por Miguel Centeno (2002),

pode ser explicada pela noção de rivalidade interestatal.

Letícia Britto dos Santos

Segurança ambiental internacional: as ameaças aos países ilhas

frente aos eventos de alterações climáticas extremos

Trabalho completo

Resumo: Este trabalho pretende analisar a ameaça à seguran-

ça ambiental internacional aos países ilhas frente aos eventos

climáticos extremos, tais como: enchentes, aumento de chu-

vas, derretimento de geleiras, aumento do nível do mar ou até

mesmo a desertificação e a escassez de água. Esses eventos

tornam vulneráveis, sobretudo, as populações mais pobres,

sendo cada vez mais vistos como ameaça à segurança de par-

celas significativas da população de algumas regiões do globo.

Tendo em vista que o fenômeno das mudanças climáticas gera

uma situação de incerteza e que pode ser entendida como

ameaça a segurança humana no ambiente global. Dessa for-

ma, o objetivo geral desse trabalho é discutir as medidas de

adaptação e mitigação adotadas pelos países ilhas como forma

de se protegerem das ameaças às mudanças climáticas glo-

bais. Tendo como objetivos específicos: identificar as políticas

internalizadas nos países ilhas frente as políticas de segurança

ambientais globais, analisar discursos relevantes em conferên-

cias internacionais ambientais que projetem como riscos e

vulnerabilidades a população dos países ilhas, analisar a pers-

pectiva da população frente às mudanças ambientais e as

ações preventivas adotadas por estes países em relação a de-

sertificação, a inundação e a escassez de água, que é um re-

curso indispensável à vida. A Justificativa da escolha dessa te-

mática é por ser uma questão relevante para a sociedade in-

ternacional, uma vez que a construção de ameaças geram mai-

ores incertezas e, neste caso, essas incertezas afetam a pers-

pectiva até mesmo de existência desses Estados (alguns estu-

diosos acreditam que com o aumento do nível do mar, estes

países poderão desaparecer). Dessa forma, contextualiza-se o

histórico da temática, a fim de compreender como a questão

passa a ser tratada como um problema de segurança, signifi-

cando uma possível ameaça que poderia comprometer a vida

humana. Como estado da arte serão analisadas as contribui-

ções deixadas pela Escola de Copenhague, formulado um cor-

po de pesquisa associado principalmente aos trabalhos de

Barry Buzan e Ole Waever, que tem desenvolvido um instru-

mento relevante, chamado de Teoria da Securitização. Essa

teoria destaca a natureza política do “fazer” segurança, desafi-

ando a abordagem tradicional de segurança e introduz uma

Os BRICS e as Transformações da Ordem Global

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49

perspectiva social construtivista que considera o modo como

os problemas são transformados em questões de segurança a

fim de compreender o processo de “securitização” de novos

temas na agenda internacional. O conceito de segurança se-

gundo o UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAMME

(1994) era visto há muito tempo como a segurança do territó-

rio contra agressões externas, a proteção dos interesses nacio-

nais na política externa ou como uma segurança internacional

que fosse ameaçada igualmente para todos os países em fun-

ção, por exemplo, de uma cominação nuclear. Este conceito

estava mais relacionado aos Estados- Nação do que as pesso-

as. Mas o conceito de Segurança Humana apresentado no Re-

latório de 1994 do PNUD afirma que o sistema internacional

deve proteger a soberania nacional e os direitos individuais e

que, portanto, o conceito de segurança deveria ser reformula-

do. Pois, a segurança humana é uma preocupação universal e

relevante para as pessoas de todas as partes do planeta, sejam

nos países ricos como nos países pobres e muitas ameaças são

comuns a todos, como as ameaças ambientais. Segundo ainda

o PNUD, a intensidade pode diferir de uma parte do mundo

para a outra, mas as ameaças à segurança humana são reais e

crescentes. Sendo assim, as mudanças climáticas podem ser

consideradas como uma ameaça construída de um problema

de segurança humana, tendo em vista que é uma crença cau-

sal, de ameaça ambiental, que afeta o valor de risco de sobre-

vivência e a qualidade de vida dos indivíduos e da humanida-

de. E pode ser considerado também, através da ameaça cons-

truída, como um problema de segurança ambiental e até mes-

mo de segurança nacional, como o caso do possível desapare-

cimento do território dos países - ilhas. A Escola de Copenha-

gue utiliza também o discurso para analisar o processo pelo

qual determinada questão passa a ser considerada como um

problema de segurança. Para BUZAN et al (1998) a securitiza-

ção é o "ato de fala" . A segurança não é objeto que se refere a

algo real; mas a fala, o discurso em si é o ato. (BUZAN et al.,

1998). Para se estudar a securitização, é necessário estudar os

discursos de securitização que o agente securitizador faz não

só à sobrevivência de uma unidade, como também à priorida-

de de ação para conter uma ameaça à existência da unidade,

sem necessariamente utilizar a palavra "segurança". O discurso

de securitização não acarreta a securitização de um tema de

forma automática; ele é apenas uma iniciativa de securitização

que pode ser aceita ou não. A securitização só é efetivada

quando o público considera legítima a demanda do agente

securitizador e a ameaça é estabelecida para que se justifique

a quebra das regras normais da política com vistas a contraba-

lançar essa ameaça. Quando um tema é securitizado, ele sai da

esfera da política normal e passa para a esfera da política

emergencial (BUZAN et al., 1998).O planejamento e estratégia

para lidar com os riscos e ameaças das mudanças climáticas ao

longo prazo, adotando medidas de prevenção e adaptação,

podem ser vistas como um aceite do discurso de segurança,

que se confirma na reprodução dos discursos dos países ilhas

às projeções futuras, onde a variação do aumento do nível do

mar, segundo dados do IPCC, desde 1900 até 2000 foi signifi-

cativa, podendo quintuplicar em apenas um século. Esses te-

mas são tratados nas conferências internacionais ambientais

como emergenciais para a proteção da vida e para a garantia

das condições da sobrevivência humana. Outro fato que relata

que o tema foi securitizado é a temática das mudanças climáti-

cas ter sido levada pela primeira vez ao Conselho de Seguran-

ça em 2007 para debater suas consequências para a paz e a

segurança internacional. Segundo a secretária de Relações

Exteriores do Reino Unido, Margareth Beckett “As mudanças

climáticas se referia não à questão de segurança nacional”,

mas à "segurança coletiva em um mundo frágil e crescente-

mente interdependente", transformando assim "o modo como

a comunidade internacional pensa a segurança”. Dessa forma,

busca-se compreender a “securitização” de novos temas na

agenda internacional, como a temática ambiental e especifica-

mente a questão das mudanças climáticas. Assim, cientistas,

principalmente aqueles ligado ao IPCC, têm construído uma

conexão causal entre as mudanças climáticas e as consequên-

cias que geram na intensificação de fenômenos naturais de

alterações climáticas extremas como: a elevação dos oceanos,

o derretimento das geleiras, as mudanças nos regimes de chu-

vas, de inundações em diversas regiões do planeta e aumento

do nível do mar. A essas consequências tem sido conferido um

sentido de ameaça às condições da vida dos indivíduos, que

poderão ser deslocados dos seus territórios, chamados deslo-

cados ambientais, migrando para outro país, caso as condições

de vida em seu país se tornem inabitáveis em função das mu-

danças ambientais.

Lucas Amaral Batista Leite

A América do Sul como comunidade de segurança: região autô-

noma e construção de identidade

Trabalho completo

Resumo: A recente constituição do Conselho de Defesa Sul-

Americano (CDS) proporcionou novos temas de estudo para

pesquisadores da área de Segurança e Defesa. Tornou-se mis-

ter apreender de que forma os países da região buscam cons-

tituir-se como região e quais as implicações de uma identidade

regional em Defesa, como propõem os documentos de funda-

ção do CDS.Dessa forma, buscaremos analisar os documentos

oficiais emitidos pelo CDS e, com o auxílio de instrumental

teórico construtivista das Relações Internacionais, compará-los

à narrativa proposta pelo ministro de Estado da Defesa brasi-

leiro, Celso Amorim. A narrativa a a ser compreendida leva em

conta os três principais documentos sobre Defesa no Brasil,

tais quais a Política Nacional de Defesa (2005), a Estratégia

Nacional de Defesa (2008) e o Livro Branco de Defesa Nacional

Anais do 2º Seminário de Relações Internacionais: Graduação e Pós-graduação João Pessoa | 28 e 29 de agosto de 2014

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(2012), além de discursos relcionados à temática e disponíveis

no sítio eletrônico do Ministério da Defesa brasilei-

ro.Inicialmente, faremos uma apreciação teórica acerca dos

estudos de Segurança e Defesa, apresentando conceitos e

definições – em especial no que diz respeito à construção de

ameaças no nível regional. Abordaremos, sinteticamente, idei-

as de autores como Karl Deutsch (1957), Adler e Barnett

(1998), e Alex Bellamy (2004). Além disso, será importante

resgatar o que propõe Robert Walker (1993) quanto às cons-

truções identitárias serem baseadas nos limites entre o inter-

no/externo, em alusão não apenas à noção de fronteira mas

ainda às separações identitárias construídas nesse ínterim.

Luiza Bulhões Olmedo

O Brasil e seus vizinhos sul-americanos: ameaça ou cooperação?

Trabalho completo

Resumo: Desde o fim da Guerra Fria, e mais notadamente a

partir de 11 de Setembro de 2001, verifica-se o menor engaja-

mento estadunidense no subcontinente sul-americano. Nesse

contexto, as dinâmicas regionais adquirem crescente relevân-

cia, uma vez que possibilitam o surgimento de novos padrões

de relacionamento entre os países, seja na esfera econômica

ou política, seja na esfera securitária. Dessa forma, as dinâmi-

cas de poder preponderantes na América do Sul são objeto de

trabalho de diferentes, e muitas vezes conflitantes, aborda-

gens acadêmicas. As interpretações da realidade regional fren-

te ao desenvolvimento de instituições de cooperação como a

Unasul, e, simultaneamente, ao buil-up militar em curso na

região permanecem, nesse sentido, relevantes para o estudo

das relações internacionais. Qual é, afinal, a tendência predo-

minante na região: cooperação (e integração) ou conflito? O

presente artigo foca na atuação brasileira diante deste cenário

em transformação, e no seu papel como líder regional em bus-

ca da cooperação. O texto considera a possível ameaça que o

Brasil representa aos seus vizinhos (assumindo-se a existência

de uma unipolaridade econômica e política, mas não clara-

mente militar), e, por outro lado, pondera o potencial de coo-

peração entre os países, principalmente no âmbito do Conse-

lho de Defesa da Unasul. Nesse sentido, o artigo analisa a posi-

ção brasileira tanto como polo de poder soberano no subsiste-

ma, quanto como fiador de um horizonte normativo de consti-

tuição de um Estado multinacional capaz de prover segurança

e bem-estar para toda a população da região.

Mariana Preta Oliveira de Lyra

O Processo de Desecuritização do Narcotráfico na Unasul

Trabalho completo

Resumo: O presente artigo estuda como a problemática do

narcotráfico é incorporada à agenda da União de Nações Sul-

Americanas (Unasul). A análise desenvolvida fundamenta-se

no arcabouço teórico apresentado pela Escola de Copenha-

gue, mais especificamente a Teoria da (de) Securitização

(BUZAN et al, 1998). Dessa forma, defende-se que a Unasul,

por meio de três conselhos temáticos (Conselho de Defesa Sul-

Americano, Conselho Sul-Americano Sobre o Problema Mundi-

al das Drogas e Conselho Sul-Americano em Matéria de Segu-

rança Cidadã, Justiça e Coordenação contra a Delinquência

Transnacional Organizada), iniciou o processo de desecuritiza-

ção da problemática do tráfico de drogas em nível regional. É

importante destacar que a análise recai no âmbito normativo

da Unasul, visto que se trata de uma organização jovem e ain-

da em construção. Entretanto, mesmo na ausência de material

empírico que harmonize diretrizes e práticas, reafirma-se o

valor do exame do nível normativo de qualquer organização

internacional. Com fins metodológicos, a pesquisa foi dividida

em quatro partes: a primeira conduz uma análise das ideias da

Escola de Copenhague, aproximando suas premissas à realida-

de sul-americana, no entanto, sem negligenciar suas limita-

ções analíticas. Depois, traça-se um panorama do processo de

securitização da problemática durante a Guerra Fria, enqua-

drando o problema ao âmbito sul-americano. Em seguida, ana-

lisa-se o arranjo normativo da União de Nações Sul-Americana

com relação à problemática. Por fim, realiza-se um paralelo

entre as intenções e normativas da Unasul com as ações e

diretrizes da política antidrogas norte-americana perpetrada

nos últimos quase 50 anos na região. A União de Nações Sul-

Americanas, portanto, tem avançado nas discussões sobre a

problemática do narcotráfico na região, buscando ampliar a

abordagem do tema ao mesmo tempo em que se apresenta

como uma alternativa ao modelo atual de combate ao narco-

tráfico.

Michelly S. Geraldo

A transferência de tecnologia nuclear no âmbito do TNP: uma

comparação entre signatários e não signatários

Trabalho completo

Resumo: Os estudos acerca do poder atômico ganham maior

expressividade no cenário internacional com o lançamento das

bombas atômicas sobre o Japão, provocando profundas trans-

formações, na qual a tecnologia e os minerais nucleares se

tornaram materiais de primeira grandeza. O conflito ideológico

entre os Estados Unidos e a União Soviética durante a Guerra-

Fria, associando os armamentos nucleares à questão da segu-

rança nacional, redirecionou a pesquisa científica e tecnológica

de muitos países. De fato a militarização do átomo era causa-

dora de preocupações no cenário internacional. Essa contenda

culminou, após conflitos ideológicos, na busca pela cessação

da corrida nuclear por meio do Tratado de Não Proliferação

Nuclear (TNP), subdivindo o globo em duas categorias, Estados

nucleares e não-nucleares. O fato é que o TNP surgiu a partir

de um processo de negociação no qual os Estados não possui-

Os BRICS e as Transformações da Ordem Global

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51

dores de armas ganhariam benefícios e tais concessões fariam

valer a pena tolerar a ordem nuclear de dois níveis. Tal aspecto

fica explícito no artigo IV do Tratado, em que aos Estados não

nuclearmente armados foi garantido o acesso irrestrito à tec-

nologia nuclear civil e também no artigo VI, referindo-se ao

desarmamento nuclear completo em data próxima. No que

concerne a não proliferação, a Agência Internacional de Ener-

gia Atômica também possui papel bastante relevante. A AIEA

teve um papel pouco expressivo no controle da corrida nucle-

ar durante Guerra Fria. Contudo, após a bipolaridade reviveu-

se a ideia de colocar em prática operações envolvendo o domí-

nio dos artefatos nucleares, incluindo o desmantelamento das

armas atômicas, sob vigilância da AIEA. Portanto, o trabalho

analisa os processos de transferência de tecnologia nuclear

tendo como marco o artigo IV do TNP em conjunto com as

salvaguardas da AIEA, fazendo uma comparação com países

signatários, usando como exemplo Brasil e Canadá e não sig-

natários do supracitado Tratado, tendo como exemplos Índia e

Israel.

Naiane Inez Cossul

O tráfico internacional de armas na fronteira amazônica Bolívia/

Brasil e o impacto no aumento da insegurança regional

Trabalho completo

Resumo: As chamadas novas ameaças, termo originado da

ampliação da vertente teórica de segurança internacional,

possuem caráter transfronteiriço e difuso, gerando novos de-

safios de segurança aos Estados, uma vez que a lógica de res-

posta às essas ameaças complexas não se limita à força militar.

Nesse contexto, insere-se o tráfico de armas como parte do

crime organizado transnacional e como uma atividade de alta

rentabilidade e expansão. Há uma linha tênue entre o merca-

do lícito e ilícito de armamentos, por isso cabe entender tam-

bém como a América do Sul se situa no comércio internacional

de armamentos. As externalidades negativas produzidas pelo

crime organizado se retroalimentam e formam um conjunto

de ameaças ao Estado que ultrapassam seu âmbito interno. O

objetivo desse trabalho, portanto, é entender como o tráfico

internacional de armas na fronteira amazônica Bolívia/Brasil

atua no aumento da insegurança regional. O Brasil é um dos

protagonistas do tráfico de armas na América do Sul e também

possui claras ligações entre os ilícitos e aumento da violência

interna. A fronteira com a Bolívia tem se tornado uma rota

bastante utilizada, uma vez que as armas e drogas tendem a

utilizar as mesmas formas de entrada pela fronteira amazôni-

ca. O crime organizado transnacional é uma questão que de-

monstra claramente a necessidade de cooperação em segu-

rança entre os países da região, pois delineia-se como uma

realidade compartilhada que se relaciona com questões no

âmbito interno de cada país. Por isso, pretende-se observar

também as iniciativas na região que tem como intuito coibir os

ilícitos transnacionais, principalmente o tráfico de armas.

Nathalia Rocha Carneiro Ferraz Braga

A Busca Pela Aceitação da Responsabilidade de Proteger: a crise

do pós Líbia e o papel da Responsabilidade ao Proteger

Trabalho completo

Resumo: Este trabalho expõe o desenvolvimento da proteção

internacional de civis, no contexto do desenvolvimento das

questões de Direitos Humanos e do Direito Humanitário Inter-

nacional. Analisa as ações da comunidade internacional no

âmbito da Organização das Nações Unidas para construir um

sistema de proteção de civis efetivo tanto para prevenção,

quanto para ações posteriores ao início de uma crise. Identifi-

ca na norma da Responsabilidade de Proteger o ápice na cons-

trução deste sistema aceito e funcional até os dias de hoje e

discorre sobre suas características e principais entraves. Anali-

sa as principais causas de dissidência da norma, em especial as

manifestas pelos países do Sul Global e dos BRICS. Identifica na

crise líbia de 2011 o momento de inflexão no histórico de acei-

tação da norma da R2P e início de uma crise da mesma. Anali-

sa a partir destas constatações o papel e as contribuições da

proposta brasileira da Responsabilidade ao Proteger para uma

possível superação da crise da R2P, devido ao papel crescente

do Brasil na esfera internacional e como ator que faz uma pon-

te de diálogo entre países refratários a norma, como tradicio-

nalmente são os BRICS, e os países que defendem a mesma.

Patrícia Nabuco Martuscelli

Crianças Soldado na América Latina: o invisível caso da Colôm-

bia

Trabalho completo

Resumo: A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que

existam cerca de 300.00 crianças soldado no mundo. Contudo,

esse tema é pouco estudado pelas Relações Internacionais,

apesar de impactar diretamente o desenvolvimento dos países

e as discussões pós-conflito armado. Apesar da existência de

um Protocolo sobre Crianças e Conflitos Armados essa prática

continua, inclusive na América Latina. Utilizando como refe-

rencial teórico a teoria das três vertentes de proteção da pes-

soa humana e a abordagem de Allison M. S. Watson sobre o

estudo de Crianças nas Relações Internacionais, esse trabalho

pretende mostrar as peculiaridades do uso de crianças soldado

na América Latina e porque essa prática continua a ser empre-

endida, apesar da existência de legislação contra isso. A hipó-

tese dessa pesquisa é que a invisibilização do fenômeno por

parte da mídia e a ausência de advocacy da sociedade civil,

assim como a perpetuação de fatores que estimulem o recru-

tamento forçado e o alistamento “voluntário” de menores

contribuem para a permanência do uso de crianças soldado na

América Latina. O estudo do caso da Colômbia, como caso

Anais do 2º Seminário de Relações Internacionais: Graduação e Pós-graduação João Pessoa | 28 e 29 de agosto de 2014

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emblemático da região segundo a caracterização de Robert

Yin, permite testar as hipóteses existentes sobre o tema com

base em estudos do fenômeno na África e na Ásia e desenvol-

ver novas hipóteses que considerem a realidade histórica, so-

cial, política e econômica da religião. Esse trabalho pretende

contribuir para a construção do conhecimento científico e para

a diversificação dos temas estudados nas Relações Internacio-

nais, especialmente no campo da segurança internacional.

Rafael Assumpção Rocha

A Comunidade Internacional e a “Responsabilidade de Prote-

ger”: novos atores na prevenção e gestão de conflitos internaci-

onais?

Trabalho completo

Resumo: A Responsabilidade de Proteger (RdP) tem como

“pedra fundamental” a noção que a soberania implica respon-

sabilidade estatal. Assim, o Estado possui a responsabilidade

primária de proteger a sua população. Quando a população

sofrer (ou estiver na iminência de sofrer) graves danos (sejam

por resultado de guerras, rebeliões, repressão por parte do

próprio governo ou pelo colapso de suas estruturas) e que o

Estado não possa ou se recuse a evitar tal sofrimento, a res-

ponsabilidade subsidiária da comunidade internacional. Ou,

seja, na base conceitual da RdP está a ideia de que quando o

Estado não é capaz de proteger sua própria população de atro-

cidades em massa, ou não deseja fazê-lo, essa responsabilida-

de recai sobre a comunidade internacional. Recorda-se que a

adoção da RdP pela Cúpula Mundial de 2005 transformou a

proposta da International Commission on Intervention and

State Sovergeignty (ICISS) (apoiada por um número relativa-

mente pequeno de Estados), em um norma internacional,

aprovada por todos os membros da ONU. Ao ponderar sobre a

transformação do conceito elaborado durante o ano de 2001 e

sobre a norma consensual de 2005, não se desconsideram as

influências que os eventos de setembro de 2001 e a invasão

do Iraque em 2003 refletiram na falta de um amplo consenso

sobre as propostas da ICSS. Esta tese busca confirmar ou refu-

tar a hipótese de que a “comunidade internacional” no contex-

to da “Responsabilidade de Proteger”, em ações que visam

prevenir ou reagir a situações de genocídios, crimes de guerra,

limpeza ética e crimes contra humanidade, é composta por

uma ampla gama de atores que ultrapassam a circunscrição do

Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU), envolven-

do não só Estados, mas também organizações internacionais,

organismos regionais e sub-regionais e a sociedade civil. As-

sim, indaga-se em que medida, atores não centrais na gestão

de conflitos internacionais, sejam da sociedade civil, sejam

Estados ou organizações internacionais que não estejam re-

presentados no Conselho de Segurança das Nações Unidas,

atuam na prevenção e na reação da comunidade internacional

frente a situações de genocídios, crimes de guerra, limpeza

ética e crimes contra humanidade? Quem compõe a

“Comunidade Internacional” em situações de prevenção e de

reação a crimes relacionados à Responsabilidade de Proteger?

Entende-se nesta pesquisa por atores não centrais na gestão

de conflitos internacionais: i) Estados-membros das Nações

Unidas que não tenham acento permanente no CSNU; ii) orga-

nizações internacionais governamentais que não tenham seus

interesses representados por Estados-membros com cadeira

permanente no CSNU; iii) organizações regionais e sub-

regionais; iv) coalizões de Estados arquitetadas para agir no

processo de gestão dos conflitos; v) as organizações internaci-

onais não governamentais; e vi) as organizações da sociedade

civil dos países analisados que participem do processo de ges-

tão do conflito. Desta maneira, excluem-se o P-5, assim como

a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), por

exemplo. Se por um lado, no processo de prevenção e identifi-

cação de situações de risco que possam levar a ocorrência dos

quatros crimes supracitados, é cada vez mais necessário o

envolvimento da sociedade civil, por outro, a gestão dos con-

flitos armados relacionados à doutrina da Responsabilidade de

Proteger é composta por uma participação relevante de atores

internacionais para além da circunscrição do Conselho de Se-

gurança das Nações Unidas. Portanto, em processos de pre-

venção e mesmo de reação frente a crimes relacionados à

doutrina haveria a possibilidade de uma participação relevante

de outros Estados que não compõe o CSNU, organismo regio-

nais e sub-regionais, e mesmo organizações da sociedade civil.

Tradicionalmente, os atores envolvidos na gestão de conflitos

internacionais no pós II Guerra Mundial são os países que

compõe o Conselho de Segurança das Nações Unidas, e, so-

bretudo, os seus cinco membros permanentes. Contudo, as

questões de prevenção e reação frente a atrocidades humani-

tárias demonstram a necessidade de uma geometria variável

na gestão de tais situações, envolvendo não só atore estatais e

organismo intergovernamentais, mas também atores da socie-

dade civil. Este trabalho utilizará essencialmente dois referen-

ciais teóricos de base normativa: o liberalismo institucional (ou

internacionalismo liberal) e o cosmopolitanismo. O objetivo

desta dialética teórica é localizar o desenvolvimento e aplica-

ção da RdP ora mais próximos da abordagem teórica liberal

institucional, que privilegia a atuação de organizações multila-

terais na gestão de conflitos internacionais, ora do cosmopoli-

tanismo, que propõe uma análise que rompe com as delimita-

ções do sistema internacional de base westfaliana, propondo

um redimensionamento da atuação de novos atores estatais e

não estatais na governança internacional. Por fim, utiliza-se a

metodologia qualitativa e é basicamente descritivo. Possui

uma abordagem hipotético-dedutiva, e se divide em três par-

tes. Inicialmente, realizar-se um estudo sobre a evolução con-

ceitual da RdP, a fim de identificar os principais atores que

influenciaram este processo. Em seguida, serão analisados dois

Os BRICS e as Transformações da Ordem Global

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53

estudos de casos com o objetivo de identificar os atores da

comunidade internacional que participaram dos processos de

prevenção e reação nas recentes crises na Líbia e na Síria. Por

fim, buscar-se inferir conclusões sobre a participação de uma

gama ampla e plural de atores na gestão de situações que se

referem à RdP.

Rafael Assumpção Rocha

A Influência dos BRICS e da União Europeia no desenvolvimento

da Responsabilidade de Proteger

Coautor(es): Demetrius Cesario Pereira

Trabalho completo

Resumo: Este artigo busca comparar a postura dos BRICS e dos

países membros da União Europeia (UE) em relação à propos-

ta brasileira de adensamento doutrina onusiana da Responsa-

bilidade de Proteger (R2P), a saber: Responsabilidade ao Pro-

teger (RwP).Na base conceitual da R2P está a ideia de que

quando o Estado não é capaz de proteger sua própria popula-

ção de atrocidades em massa, ou não deseja fazê-lo, essa res-

ponsabilidade recai sobre a comunidade internacional. Contu-

do, em 2011, após a crise na Líbia, o Brasil propôs o conceito

de RwP que discute a noção de que a comunidade internacio-

nal, quando exerce sua responsabilidade de proteger, deve

demonstrar um alto nível de responsabilidade ao proteger. A

iniciativa brasileira teve um apoio inicial de diversos países

emergentes em contraposição às criticas iniciais de países

mais desenvolvidos. No que tange a União Europeia (UE), veri-

fica-se que sua política de segurança está fundada sobre os

princípios de respeito aos Direitos Humanos e proteção dos

indivíduos tanto na esfera interna quanto na internacional.

Assim, a lógica de segurança comum da UE se relaciona com a

R2P em três aspectos: a) a UE reconhece que Política Comum

de Segurança e Defesa o tem a responsabilidade de agir exter-

namente no campo da segurança; b) a lógica da ação externa

da UE é construída sobre o significado de "povo" como o prin-

cipal destinatário de suas ações; c) os discursos predominantes

sobre a responsabilidade de proteger no seio das Nações Uni-

das afetam diretamente os interesses europeus em relação a

sua responsabilidade internacional. Desta maneira o trabalho,

analisará comparativamente as diferentes posições dos dois

blocos, assim como de seus Estados-membros em relação à

evolução da emergente norma da R2P.

Rafael Cordovil de Souza Almeida

O BRICS e a [In]segurança Internacional

Trabalho completo

Resumo: Para que possamos compreender o BRICS sob o pris-

ma da temática da segurança internacional, faz-se necessário

distinguir duas narrativas sobre a origem do BRICS. Tais narra-

tivas são denominadas como a narrativa econômica financeira

BRICS e a narrativa política BRICS. A narrativa econômica finan-

ceira tem sua origem traçada ao trabalho de Jim O’Neill publi-

cado na Goldman Sachs em 2001. O´Neill cria o “BRICs” a fim

de categorizar um conjunto de mercados emergentes para

que os investidores internacionais pudessem ampliar seus

portfolios de investimentos logo após os atentados terroristas

de 11 de Setembro. Esta narrativa não é fundamentada na

teoria política e se constitui essencialmente em analisar os

mercados financeiros internacionais, utilizando primordial-

mente o método econométrico para estudar o BRICS. A narra-

tiva política BRICS é desenvolvida a partir da teoria política de

equilíbrio do poder e tem sua origem histórica traçada ao dia

23 de setembro de 2006, na 61ª Assembléia Geral das Nações

Unidas e a adição da África do Sul em 2011 somente veio a

concretizar o caráter político do BRICs que passou a chamar

BRICS.A distinção da narrativa política BRICS tem a finalidade

de apontar e defender a existência de certa autonomia entre

os campos da política e da economia, além de contestar o já

bem divulgado discurso político e a crença de que o BRICS de-

veria ter um maior papel no sistema de governança global, ou

mesmo, um direito natural na liderança e na resolução das

mais variadas questões mundiais, por serem países de grandes

proporções geográficas e com economias fortes, pois qualquer

papel de liderança ou mesmo o anseio de mudanças na ordem

mundial requerem um árduo e contínuo trabalho político, es-

tratégico e intelectual. Tendo distinguido as duas narrativas

BRICS este trabalho focará na narrativa política BRICS a fim de

descobrir se o grupo BRICS se tornou uma aliança política. Lo-

go, almeja-se saber se o clube conseguiu superar a narrativa

de cunho econômico financeiro iniciando uma coordenação

política na área da segurança internacional. Por fim, os objeti-

vos específicos do trabalho são: identificar os pontos propo-

nentes de conflitos entre o BRICS e o IBAS, identificar qual dos

países que compõem o BRICS tem o papel de liderança dentro

do clube no período entre 2006 e 2014 e por último, e mais

importante, saber se o IBAS está sendo incorporado pelo

BRICS. Para que esta pergunta possa ser respondida a seguinte

hipótese é levantada: Quanto mais a agenda BRICS avança,

maiores são as chances de que IBAS se desintegre dentro do

BRICS. A hipótese também pode ser interpretada da seguinte

forma: na medida em que o BRICS se torna mais proeminente

maior é a chance de que este grupo incorpore o IBAS.

Raquel de Bessa Gontijo de Oliveira

Duas visões sobre a não proliferação nuclear: As implicações da

oferta e da demanda nucleares sobre o TNP

Trabalho completo

Resumo: O tema da não proliferação nuclear é recorrente na

agenda internacional. Em anos recentes, o assunto tem tido

presença constante em debates sobre os programas nucleares

Anais do 2º Seminário de Relações Internacionais: Graduação e Pós-graduação João Pessoa | 28 e 29 de agosto de 2014

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do Irã e da Coreia do Norte. Paralelamente, no campo teórico,

houve a reativação do debate acerca das causas da prolifera-

ção nuclear. De um lado, alguns analistas buscam desenvolver

e aperfeiçoar modelos para a compreensão do que leva os

Estados a desejarem um arsenal nuclear, enfocando, assim, a

demanda por armamentos nucleares, baseada em contextos

de segurança e ameaças internacionais. De outro lado, multi-

plicam-se os estudos associando a difusão da tecnologia e do

know-how à proliferação nuclear, enfatizando o problema da

oferta na disseminação de armamentos nucleares, e dos im-

pactos negativos da transferência de tecnologia através de

parcerias internacionais. Sem dúvida, uma melhor compreen-

são do impacto de inúmeras variáveis sobre a proliferação

nuclear, e da forma como essas variáveis interagem entre si, é

fundamental para o desenvolvimento de políticas eficientes de

não proliferação. Este artigo tem o objetivo de analisar o deba-

te entre o lado da demanda e o lado da oferta como possíveis

caminhos para a compreensão da proliferação nuclear, e como

as conclusões desse debate impactam na interpretação sobre

os efeitos do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), suas

vantagens e desvantagens, sucessos e obstáculos.

Stephanie Queiroz Garcia

A Defesa das Fronteiras Brasileiras e o Combate ao Crime Trans-

nacional via Cooperação Interagência

Trabalho completo

Resumo: As fronteiras nacionais são compreendidas como es-

paço de alta dinamicidade e relevância para o projeto político

brasileiro, especificamente, no que concerne a defesa territori-

al do país. A despeito de sua importância estratégica atestada

e reafirmada ao longo dos anos, as fronteiras vêm se consoli-

dando como palco para a materialização de distintos crimes

transnacionais, bem como vem se tornando literalmente a

porta de entrada para práticas nefastas que afetam sobrema-

neira a qualidade de vida da sociedade brasileira, como o nar-

cotráfico, o tráfico de armas, o contrabando, entre outros.

Partindo do entendimento de que as fronteiras evidenciam a

necessidade de atuação do Estado em duas frentes, quais se-

jam a defesa da região e a contenção da criminalidade nestas

áreas, há de se evidenciar também a necessidade de uma atu-

ação diferenciada, congregando forças e atores a fim de supe-

rar tais questões problemáticas. Neste sentido, não cabe mais

utilizar soluções tradicionais baseadas na atuação de uma úni-

ca instituição ou força, mas sim buscar aproveitar de maneira

mais profícua o aparato burocrático nacional, articulando Mi-

nistérios e órgãos governamentais para tal fim. A cooperação

interagência emerge então como uma opção viável para o en-

fretamento desses problemas transfronteiriços, que passam

então a ser tratados com o status de crise, devido às conse-

qüências negativas diretamente relacionadas à disseminação

destas violações. Entretanto, é importante destacar que ape-

sar do objetivo final ser o mesmo, cada ator envolvido no pro-

cesso possui uma estrutura especifica, com hierarquias e ori-

entações próprias, podendo se constitui um enclave ao suces-

so da ação. O presente paper visa descrever e compreender a

formação do design institucional e a opção pela atuação via

cooperação interagência para a defesa das fronteiras e quais

os possíveis desafios a serem superados neste contexto.

Sylvio Henrique Neto

A Resposta Brasileira à Espionagem Americana – O conflito en-

tre Soberania, Segurança Nacional e Liberdades Civis.

Trabalho completo

Resumo: As revelações da espionagem massiva norte-

americana para a grande imprensa global geraram revoltas em

todas as nações conectadas a internet. No discurso de abertu-

ra do Debate Geral da 68ª Assembleia-Geral das Nações Uni-

das, o Brasil foi o primeiro país a se posicionar oficialmente

contra a vigilância massiva de dados que atingiu seu ápice na

gestão de Barack Obama. Em resposta ao crescente temor de

atentados digitais contra a infraestrutura dos Estados Unidos,

o governo Bush lançou a National Strategy to Secure Cyberspa-

ce (2003). Posteriormente, em 2009, Barack Obama aprofun-

dou e ampliou a estratégia da segurança nacional digital e pro-

mulgou aquela que pode ser considerada a primeira Política

Externa Cibernética: a Cyberspace Policy Review. Para o gover-

no brasileiro, a estratégia da Presidência de Obama- sumariza-

da na Cyberspace Policy Review, de fundamentar a Política

Externa Americana cibernética em processos contínuos de

vigilância e inteligência - ameaça não somente as liberdades

civis de seus cidadãos, como a soberania de todas as nações

cujas redes de telecomunicações dependam da infraestrutura

tecnológica estadunidense. Nesse sentido, a nova Política Ex-

terna Cibernética Norte Americana, marco do processo de

securitização digital que se desenvolve de 1993 a 2013, origina

uma crise de espionagem sem precedentes no sistema inter-

nacional ao ameaçar a soberania e a segurança nacional de

todas as nações e, de igual modo, suas liberdades civis - res-

guardadas as devidas exceções em suas adoções – em nome

de sua própria Segurança Nacional. Desta forma, este artigo

versará sobre a resposta brasileira à crise da vigilância massiva

de dados norte-americana, perpassando, em um primeiro mo-

mento, sobre sua origem histórica até, em segundo momento,

aos atuais conflitos de soberania de dados e pontos de confli-

to/intersecção entre Soberania, Segurança Nacional de Liber-

dades Civis entre Brasil e Estados Unidos na atual configuração

política internacional.

Os BRICS e as Transformações da Ordem Global

Page 55: ANAIS - abri.org.br

55

Aleksander Aguilar Antunes

A Análise do Discurso na perspectiva Pós-colonial: uma via para

a de-colonização

Coautor(es): Carolina Soccio Di Manno de Almeida

Trabalho completo

Resumo: Para ser uma disciplina efetivamente internacional, a

Teoria de Relações Internacionais (TRI) deve incorporar outros

modos de conhecimento que estão além de suas atuais meto-

dologias, que atualmente tem derivações, fundações e narrati-

vas paroquiais, de predominância norte-americana. As pers-

pectivas pós-coloniais, por exemplo, no ensino de Relações

Internacionais (RI) no Brasil, fazem parte do grupo “outros

paradigmas” usados por apenas 15% dos acadêmicos da regi-

ão (TICKNER et al., 2013). Longamente ignorado no âmbito da

disciplina de RI, o Pós-colonialismo apresenta-se como instru-

mento para teorizar sobre a ampla diversidade de atores e

dinâmicas que tem estado de fora das concepções hegemôni-

cas da área e para evidenciar o pensamento do chamado Sul

Global. A perspectiva do discurso é um fenômeno social e polí-

tico essencial para a construção e para a desconstrução das

relações de poder em qualquer sociedade (AMARAL, 2013). E

por isso a Análise do Discurso (AD) preocupa-se em entender e

interpretar sentidos que estão socialmente construídos, ao

invés de buscar determinantes causais. Assim, um potencial

interessante da AD é a possibilidade de seu uso com investiga-

ções de teor pós-colonialista, tendo em vista que essas abor-

dagens teóricas e metodológicas têm como um de seus focos

questões relativas à desigualdade, diferença e identidade nas

RI pelo prisma da construção do Outro (TOLEDO, 2011).

Portanto, o presente trabalho propõe-se a evidenciar a rele-

vância da abordagem pós-colonial para as RI, fundamentando-

se nas ideias do teórico argentino Walter Mignolo sobre de-

colonização, e na constatação de um presente ainda permea-

do por uma série de discursos e relações sociais que confluem

na perpetuação da assimetria da distribuição do poder. Com

base nesses pressupostos, e observando discursos específicos

no Sul Global, identifica-se o pensamento pós-colonial como

uma abordagem teórica em RI com alto poder explicativo da

produção e reprodução da ordem mundial.

Elze Camila Ferreira Rodrigues

Meio Ambiente e Relações Internacionais: desafios teóricos atu-

ais

Trabalho completo

Resumo: Desde o fim do século XX, a inclusão dos temas ambi-

entais na agenda internacional aumentou de maneira significa-

tiva. Isso ocorreu tanto porque novas temáticas ganharam

espaço após o esmorecimento da antes intensa preocupação

com a segurança após o fim da Guerra Fria, como também por

um crescente clamor de comunidades epistêmicas diante dos

problemas derivados da administração dos recursos naturais.

Uma vez que a gestão do meio ambiente é dinâmica e exige a

interação entre os atores do sistema internacional e que tam-

bém se relaciona com outras questões como a economia mun-

dial e a soberania estatal, é possível dizer que tanto a coopera-

ção quanto o conflito são inerentes ao seu debate. Este artigo

pretende tratar de maneira crítica de abordagens utilizadas

com frequência pela disciplina de Relações Internacionais na

análise das questões referentes ao meio ambiente: os regimes

internacionais e a governança global. O principal objetivo é,

através da contextualização histórica e do levantamento das

questões atuais concernentes ao meio ambiente, apresentar

os desafios teóricos frente aos crescentes fenômenos ambien-

tais que preocupam a comunidade internacional. Dessa forma,

o ponto de partida é o levantamento bibliográfico das princi-

pais representações – neoliberais, realistas e cognitivistas –

dos estudos de regimes e governança. Posteriormente, deve

haver um levantamento cronológico dos debates ambientais

referentes ao regime de mudanças climáticas junto com uma

breve contextualização teórica. Esses dois aspectos subsidia-

rão um terceiro, a análise crítica da teoria e de sua aplicabilida-

de às questões ambientais atuais. Assim, esta pesquisa busca

entender como as teorias de relações internacionais podem

ser instrumentos na análise do papel do meio ambiente no

sistema internacional. Como podem ser úteis? Quais são seus

desafios?

José Alejandro Sebastian Barrios Díaz

Os BRICS e o estudo das Teorias de Relações Internacionais:

Reflexões sobre a necessidade de pluralização do campo

Trabalho completo

Resumo: A capacidade dos BRICS mudarem características da

política internacional tem se fortalecido nos últimos anos, par-

ticularmente com os eventos de 2014. O artigo explora a epis-

temologia tradicional do campo de estudos das teorias de rela-

ções internacionais (principalmente o debate neo-neo, mas

também com insights da teoria crítica) à luz das possibilidades

e dos desafios colocados pelos BRICS, ou pelos Estados que

compõem o grupo, que apresentam ao sistema internacional

contemporâneo. Se discute a necessidade de pluralizar o cam-

po, para que relações internacionais dê conta do mundo como

ele é.O artigo está dividido em três partes e os comentários

finais. A primeira parte considera a narrativa dos grandes de-

bates e recupera o debate tradicional sobre teorias de rela-

ções internacionais, na sua forma neo-neo e positivismo X pós-

positivismo. A segunda parte explica quais desafios epistemo-

TEORIA DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Anais do 2º Seminário de Relações Internacionais: Graduação e Pós-graduação João Pessoa | 28 e 29 de agosto de 2014

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56

lógicos e empíricos os BRICS tem colocado à política internaci-

onal contemporânea, mas enfatiza que não há um projeto de

mudança de regime por parte do grupo, e sim o de participar

de maneira mais efetiva na formulação das “regras do jogo”. A

terceira parte argumenta que os BRICS são um importante

objeto para formulação de teorias de médio alcance, principal-

mente por acadêmicos dos países que compõem o grupo. Nos

comentários finais se destacam as possibilidades e desafios

para o grupo no campo de estudos das teorias.

Liliane Costa Aguirre

A Abrangência da Teoria Crítica no Estudo das Relações Interna-

cionais no Brasil: As Contribuições do Neohabermasiano Andrew

Linklater

Trabalho completo

Resumo: Partindo do pressuposto que o campo das Relações

Internacionais admite um grande número de possibilidades,

conceitos e contribuições de outras áreas, ainda que divergen-

tes, por sua característica multidisciplinaridade, Economia,

Direito, Política, Sociologia, entre outras disciplinas, tornam-se

indispensáveis para abranger a extensão e a densidade da pró-

pria disciplina aqui abordada, precisa-se pensar as Relações

Internacionais criticamente como um conjunto de inter-

relações entre indivíduos e grupos e não apenas entre Estados.

Cabe uma reflexão mais abrangente e menos tradicional que

contribua para o próprio engrandecimento do campo e que

principalmente acompanhe as variáveis contemporâneas e

que atenda a realidade dos estudos de Relações Internacionais

no Brasil, dizendo desta forma que as teorias que servem ao

chamado Primeiro Mundo, não se adequam necessariamente

aos países emergentes. (CERVO, 2008). Embora o Brasil seja

um país que mais consome do que produz teoria, é contrapro-

ducente, por exemplo, aplicar o realismo norte-americano na

realidade brasileira, a solução seria distinguir propriamente as

escolas teóricas e analisar quais podem fornecer instrumentos

teóricos para o fenômeno em questão. Com a preocupação

central nos critérios para a análise ética e moral, abre-se espa-

ço no chamado Grande Debate para um ressurgimento das

teorias normativas, da teoria crítica, do pós-modernismo e

consequentemente do feminismo. Esse debate traz para as

Relações Internacionais a busca por princípios compartilhados

que expandem a inclusão moral e a reconstrução das práticas

internacionais. Nesta reflexão sobre uma Teoria Crítica das

Relações Internacionais nos dias de hoje, o principal autor utili-

zado será o neohabermasiano Andrew Linklater destacando

como principais pontos os novos atores, os problemas causa-

dos pelo fim do unilateralismo e também as discussões morais

das relações internacionais e as possibilidades de emancipação

na ordem externa.

Lucas de Oliveira Paes

A Dialética do Conceito de "Emergente" no Estudo das Relações

Internacionais

Trabalho completo

Resumo: O presente trabalho tem por objetivo compreender o

predicado emergente enquanto conceito para a análise de

Relações Internacionais. O trabalho parte de perspectiva de

que a disseminação no emprego do léxico emergente é parte

de sua “viagem e alargamento conceitual”, na qual o conceito

de “mercado emergente” originado na literatura financeira

adquire uma roupagem política na denotação de fenômenos

das Relações Internacionais. A premissa teórica do trabalho é

de que a transformação semântica sofrida pelo termo, em sua

apropriação pelas Relações Internacionais, deve ser confronta-

da com o acúmulo teórico na disciplina de entendimento so-

bre fenômenos de mesma natureza para delimitar o espectro

de atributos que sintetizam o conceito, na dialética de sua

validação. Deste modo, o trabalho se desenvolverá através de

três etapas. A hipótese de apropriação do termo será estuda-

da por meio da análise de sua trajetória enquanto qualificativo

de países na contemporaneidade frente à sua disseminação na

disciplina, em meio às transformações históricas nos casos que

identificava. As transformações semânticas desse processo

serão compreendidas na busca de semelhanças de família en-

tre os atributos associados ao emprego referencial do adjetivo

emergente, substantivado como Mercado, País ou Potência

Emergente, para delimitação de um protótipo conceitual. Este

protótipo será confrontado com abordagens teóricas de en-

tendimento da emergência, enquanto a transição de um ator

intermediário na hierarquia entre seus pares, consagradas nas

categorias de Potência Média, Potência Regional e Semi-

Periferia. Estas categorias consagradas, ao negarem o empre-

go do predicado à mesma categoria de fenômenos, permitem

reinterpretar o conceito para o contexto teórico em que se

insere. Ao final do trabalho, pretende-se sintetizar a lógica

convencionalmente associada a um “emergente” enquanto

categoria fenomênica das Relações Internacionais.

Marcelo Pereira Fernandes

Sobre o Fim da Hegemonia dos Estados Unidos: Uma Análise

Conceitual

Trabalho completo

Resumo: Na esfera da Economia Política Internacional (EPI) o

conceito de hegemonia foi discutido por diversos autores ten-

do quase que sempre um único fio-condutor: os turbulentos

anos 1970 no qual se configurava o declínio dos Estados Uni-

dos como potência mundial. A crise do mercado imobiliário

subprime nos Estados Unidos e as suas consequências que

levaram a crise global de 2008-2009, e que ainda não foram

totalmente eliminadas, sobretudo na Europa, vem revivendo o

tema. Nos anos 1970, como agora, esse debate é atraído em

Os BRICS e as Transformações da Ordem Global

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57

grande medida por questões econômicas: o déficit externo

norte-americano, a suposta decadência do dólar como moeda

de reserva internacional e o baixo crescimento econômico.

O conceito de hegemonia de Gramsci destaca o consenso e a

legitimidade do Estado ao invés do mero exercício da violên-

cia. Esse conceito foi desenvolvido pioneiramente no âmbito

das relações internacionais por Robert Cox: a hegemonia é

uma forma de poder que se refere à capacidade do líder ex-

pressar sua liderança em termos de interesses gerais ou uni-

versais ao invés de servir unicamente aos seus interesses parti-

culares. O Estado hegemônico consegue convencer os demais

países centrais que seus interesses são coincidentes. Isto signi-

fica que o poder dos Estados vai muito mais além da mera

força militar. Ao invés da dominação exclusiva pela força, o

poder político baseado no consentimento cumpre papel fun-

damental. O objetivo deste artigo é analisar o conceito de he-

gemonia e questionar se os Estados Unidos ainda são hegemô-

nicos dentro do sistema mundial. Desta forma tentaremos

demonstrar que pelo conceito elaborado e difundido por

Gramsci e Cox é bastante duvidoso que o país ainda permane-

ça numa posição de hegemonia. Porém, isto não significa afir-

mar que os Estados Unidos estão sendo ultrapassados por

outras potências, mas sim que encontram dificuldades cres-

centes em convencer outras nações a seguir seus interesses.

Pedro Donizete da Costa Júnior

O Despertar do Urso: A Rússia e seu entorno regional sob a era

Putin

Trabalho completo

Resumo: Conforme a teoria realista de Hans Morgenthau, o

Estado que perdeu poder – território, população, influência –

se constitui em um eminente contestador do novo status quo,

buscando incessantemente, pelo menos, recuperar o poder de

outrora, ou, se possível, ainda mais do que perdeu. Como du-

rante o século XX a principal questionadora do status quo foi a

Alemanha, no início século XXI este papel é ocupado pela Rús-

sia, exatamente por ter sido a grande derrotada do final do

século passado. Trata-se do “espírito revanchista”. O colapso

soviético condicionou a Rússia à posição de potência derrota-

da, que perdeu metade de sua população e um quarto de seu

território. Com o desfecho da Guerra Fria, os Estados Unidos e

a União Europeia articularam a expansão da OTAN e assumi-

ram rapidamente as posições militares deixadas pelo exército

soviético na Europa Central. Entretanto, neste novo século

assistimos ao renascimento russo. A Rússia vem praticando

explicitamente uma política de acréscimo de poder. É notável

que a reação russa se iniciou com o governo de Vladimir Putin,

em 2000, e sua orientação por uma estratégia político-militar

agressiva. O presidente russo recentralizou o poder. Reconsti-

tuiu o Estado e a economia russa, reerguendo seu complexo

militar-industrial e nacionalizando seus vastos recursos ener-

géticos. Articulou a construção dos Brics. Detentor do segundo

maior arsenal nuclear do planeta, alertou os Estados Unidos

para a possibilidade de uma nova corrida nuclear, caso conti-

nuassem com seu projeto de desenvolvimento de um “escudo

antibalístico” na Europa Central – mais precisamente na Polô-

nia. Coloca-se como um entrave a qualquer intervenção oci-

dental na Síria. E, recentemente, anexou a Criméia, a despeito

da oposição dos Estados Unidos e da União Europeia.

Nosso artigo tem como escopo analisar o nominado

“renascimento russo” e suas implicações na ordem internacio-

nal, sobretudo em seu contexto geopolítico regional.

Pedro Rocha Fleury Curado

Os programas de "cooperação ao desenvolvimento" no contexto

da Guerra Fria

Trabalho completo

Resumo: Após a Conferência de Yalta, em 1945 e, principal-

mente, após a Doutrina Truman estadunidense (1947), a Guer-

ra Fria, isto é, o conflito pela supremacia global que opunha

Estados Unidos e União Soviética. Após o fim da Segunda

Grande Guerra, o processo de descolonização dos Estados da

África e Ásia, já em curso desde o entre-Guerras, adquire força

com a perda de poder relativo das antigas potências coloniais,

França e Grã-Bretanha. Tal fenômeno provoca uma nova corri-

da entre Estados Unidos e União Soviética para ocupar o vácuo

de poder deixado sobre as antigas zonas coloniais. Neste pon-

to, os programas de “ajuda” às novas nações independentes,

então em vias de se construírem e viabilizarem como Estados-

nações modernos dentro do sistema internacional, tornam-se

um instrumento efetivo de política externa, empregado por

ambas as superpotências, para recrutar aliados no dito

“Terceiro mundo”. Aos novos governos nacionalistas indepen-

dentes, esperava-se que, em troca do engajamento político

com programas de ajuda econômica e militar, estes respon-

dessem com fidelidade política ao bloco provedor. As formas

de “ajuda” variavam em termos políticos, econômicos, técni-

cos e financeiros. O país provedor orientava sua política de

assistência em função do peso geoestratégico que o Estado-

cliente pudesse representar no jogo da Guerra Fria. O objetivo

do presente trabalho é comparar as concepções teóricas que

encampavam os programas de "cooperação ao desenvolvi-

mento" ao Terceiro Mundo oferecidos por Estados Unidos e

União Soviética. Argumentaremos com isso que, embora cada

programa fosse concebido de maneira a explicitar a eficiência

do modelo de Estado de uma das superpotências em detri-

mento da outra, terminavam por refletir na prática o apoio à

políticas econômicas substancialmente equivalentes.

Rodolfo Ilário da Silva

Povos Indígenas e Relações Internacionais? Repensando concei-

tos e métodos para a construção de uma disciplina global

Anais do 2º Seminário de Relações Internacionais: Graduação e Pós-graduação João Pessoa | 28 e 29 de agosto de 2014

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Trabalho completo

Resumo: Almeja-se com esta pesquisa contribuir para o reco-

nhecimento de que determinados assuntos envolvendo povos

indígenas são relevantes e pertinentes à área de conhecimen-

to de Relações Internacionais, especialmente para a comuni-

dade acadêmica nacional desta disciplina e seus desafios na

formulação de um autêntico pensamento brasileiro de rela-

ções internacionais. Identifica-se que certos debates contem-

porâneos podem ter sua capacidade explicativa ampliada atra-

vés do estudo teórico, conceitual e empírico a respeito da par-

ticipação de assuntos e atores indígenas em variados âmbitos

da política global. Nosso enfoque estará nas perspectivas cons-

trutivista e pós-colonial de relações internacionais, a partir das

quais discutiremos as concepções de fronteiras nacionais,

fronteiras étnicas, transnacionalidade indígena, e autodeter-

minação dos povos.

Tchella Fernandes Maso

Práticas inter/indisciplinadas nas Relações Internacionais: Aces-

so e Mediação ao conhecimento subalternizado

Coautor(es): Lara Martim Rodrigues Sélis

Trabalho completo

Resumo: As viradas sociológica e linguística das Relações Inter-

nacionais estimularam reinvenções dos discursos da área. Par-

te dessas críticas à estrutura disciplinar do campo questionava

a univocidade da academia norte-americana e a centralidade

da Ciência Política e alguns ramos da História na fundamenta-

ção ontológica das RI. Além disso, destacou-se o aprisiona-

mento das narrativas hegemônicas ao método positivista, as-

sociado a um discurso científico naturalista, racionalista e em-

piricista. Soma-se a isso o caráter periférico das perspectivas

que destacam a arbitrariedade do discurso científico nas RI. A

representação do sujeito soberano em tal narrativa é fruto da

interseccionalidade das lógicas de poder disfarçadas por uma

aparente neutralidade científica. Dessa forma, embora com

importante peso intelectual, tal debate adentrou em menor

grau os centros de pesquisa na América Latina, que também

experimentam o esvaziamento de perspectivas próprias ou

ancoradas nas realidades locais. A proposta desse trabalho

responde ao convite sobre a necessidade de transcender as

fronteiras disciplinares impostas às RI e seu discurso científico

e, portanto, analisar “elementos de circulação e as múltiplas

traduções entre as diferentes disciplinas” (BIGO, 2013, p.174).

Em outras palavras, compartilhando as conceituações de Olga

Pombo, propomos o exercício de praticar a interdisciplinarida-

de estimulada por problemas indisciplinados. A partir do pro-

blema (indisciplinado) da representação do sujeito no discurso

científico espera-se traçar caminhos que se orientem etica-

mente pela atenuação da subalternização vivenciada em tal

processo. Para tal o trabalho divide-se em: 1) Apresentação do

discurso científico nas RI, realizada a partir da revisão biblio-

gráfica de autores como Tickner e Bigo; 2) Caracterização das

práticas inter/indisciplinadas, a partir de Pombo e Viveiros de

Castro; 3) Acesso e Mediação ao conhecimento subalterniza-

do, a partir de Spivak, Johannes Fabian e Fals Borda.

Vico Denis Sousa de Melo

Colonialidade do saber e o silenciamento teórico: descentrar e

mover o debate teórico em Relações Internacionais

Trabalho completo

Resumo: Apesar de sua variedade disciplinar, as Relações In-

ternacionais acabaram tendo como referências de análise pre-

dominantes os conceitos de grandes poderes, hegemonias e a

economia política ocidental. Esse predomínio na produção

teórica pode ser compreendido à luz da colonialidade do po-

der/saber no contexto global, estabelecida com a modernida-

de/colonialiadade, a partir da expansão europeia. A ascensão

do modelo político, econômico, social, ideológico e cultural

eurocêntrico deu-se pela estruturação das relações hierárqui-

cas de poder e pelo epistemicídio. Nesse sentido que os estu-

dos descoloniais aparecem com intuito de descentrar o debate

atual, calcado no pensamento moderno ocidental, visando

expor outras formas de saber para além dos paradigmas do

Norte global. Esta comunicação ensaiará uma análise sobre os

processos de silenciamento de conhecimentos periféricos ba-

seado na colonialidade do saber e procurará evidenciar a im-

portância dos estudos descoloniais para as Relações Internaci-

onais, tentando trazer questões tidas até então como

“estáticas” ou “dadas” – a exemplo da ideia de Estado – e ou-

tras até então tidas como irrelevantes – a exemplo de “tempo”

e colonialismo – no sentido de “mover o centro” (Thiong’o,

1993) para outros pólos de saberes.

Vico Denis Sousa de Melo

Colonialismo interno, Tempo e Estado Heterogêneo: quais as

suas importâncias para a cooperação Sul-Sul?

Trabalho completo

Resumo: A cooperação nas relações internacionais sempre foi

vista e analisada dentro de um contexto de “normalidade”,

entre os doadores (Norte global) e os recipiendários (Sul glo-

bal) da qual está baseada numa relação Norte-Sul. Este tipo de

cooperação se baseia, em sua maioria, por exigência dos doa-

dores de condicionalidades para com os países receptores,

dentre os quais reformas administrativas, econômicas, políti-

cas etc., formatadas nos conceitos de “good governance” e

“accountability”. Com a ascensão da cooperação Sul-Sul no

início deste século, ocorreu uma revisão de análises sobre a

cooperação e seus conceitos chaves, assim como quais as dife-

renças entre a cooperação convencional e a Sul-Sul. Dentre os

conceitos-chave no discurso da cooperação Sul-Sul está o da

Os BRICS e as Transformações da Ordem Global

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não exigência de condicionalidades, assim como uma possibili-

dade de troca de conhecimento e técnicas entre as partes

envolvidas – imputadas como horizontais. Todavia, há que se

analisar toda a complexidade do processo de cooperação, com

especial foco para a Sul-Sul, e dos atores envolvidos nela. Den-

tre esses, este trabalho se propôs a trazer três pontos que

podem ser relevantes para o debate: colonialismo interno; a

percepção de tempo; e do Estado. Essas três categorias estão

carregadas de sentidos e práticas nas relações internacionais:

a primeira tem como problemática a cooptação por grupos e

elites domésticas de programas e ações destinadas a socieda-

de como um todo nos acordos de cooperação; a segunda par-

te do pressuposto que a ideia de tempo é heterogêneo e den-

so (Chatterjee, 2004), ou seja, para além da ideia de tempo

linear ocidental; por último a concepção de Estado heterogê-

neo passa pela disputa interna entre o capital e movimentos

sociais e a possibilidade da exportação de modelos de explora-

ção por parte do capital, assim como de cunho mais horizon-

tais. Portanto, este trabalho intentará trazer questões tidas até

então como “estáticas” ou “dadas” nas relações internacionais

– a exemplo da ideia de Estado – e outras até então tidas co-

mo irrelevantes – a exemplo de “tempo” e colonialismo – no

sentido de mover o debate de uma dicotomia para outros pó-

los de saberes.

Anais do 2º Seminário de Relações Internacionais: Graduação e Pós-graduação João Pessoa | 28 e 29 de agosto de 2014