anais anisus

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anais de congresso contendo resumos expandidos sobre sustentabilidade

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  • Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria Embrapa Sunos e Aves

    Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento Centro de Educao Superior do Oeste da Universidade do

    Estado de Santa Catarina

    Anais do II Congresso Brasileiro de Produo Animal Sustentvel

    Embrapa Braslia, DF

    2012

  • Exemplares desta publicao podem ser adquiridos na:

    Centro de Educao Superior do Oeste da Universidade do Estado de Santa Catarina CEO/UDESC Rua Benjamin Constant, 84 E Centro - Chapec - SC CEP: 89.802-200 Fone/Fax: (49) 3311 9300 www.ceo.udesc.br

    Embrapa Sunos e Aves BR 153, Km 110 Caixa Postal 21 CEP 89.700-000, Concrdia SC Fone: (49) 3441 0400 Fax: (49) 3441 0497 [email protected] www.cnpsa.embrapa.br

    Unidade responsvel pelo contedo CEO/UDESC

    Unidade responsvel pela edio Embrapa Sunos e Aves

    Comit de Publicaes da Embrapa Sunos e Aves Presidente: Luizinho Caron Secretria: Tnia M.B. Celant Membros: Gerson N. Scheuermann

    Jean C.P.V.B. Souza Helenice Mazzuco Nelson Mors Rejane Schaefer

    Suplentes: Mnica C. Ledur Rodrigo S. Nicoloso

    Coordenao editorial*: Tnia M. B. Celant Editorao eletrnica: Vivian Fracasso Normalizao bibliogrfica: Cladia A. Arrieche Ilustrao da capa: Gustavo Krahl Arte da capa: Vivian Fracasso

    1 edio Verso eletrnica: (2012)

    Todos os direitos reservados.

    A reproduo no-autorizada desta publicao, no todo ou em parte, constitui violao dos direitos autorais (Lei n 9.610).

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    Embrapa Sunos e Aves

    Embrapa 2012

    *As palestras e artigos foram formatadas diretamente dos originais enviados eletronicamente pelos

    autores.

    Congresso Brasileiro de Produo Animal Sustentvel (2.: 2012, Chapec).

    Anais do II Congresso Brasileiro de Produo Animal Sustentvel, 29 a 31de maio de 2012. - Concrdia: Embrapa Sunos e Aves, 2012. 250 p.; 29 cm. ISBN 978-85-7035-045-9 1. Produo Animal. 2. Congresso. 3. Sustentabilidade. 4.

    Meio Ambiente. I. Anisus.

    CDD 636.50063

  • COMISSO ORGANIZADORA

    Presidncia

    Marcel M. Boiago UDESC/CEO (presidente)

    Teresinha Marisa Bertol Embrapa Sunos e Aves (Vice-presidente)

    Comisso Cientfica

    Rogrio Ferreira UDESC/CEO (Coordenador)

    Lenita de Cssia Moura Stefani UDESC/CEO

    Leandro Smia Lopes UDESC/CEO

    Carolina Riviera Duarte Maluche Baretta UDESC/CEO

    Vagner Portes EPAGRI

    Marcelo Bortoli - Sbera

    Finanas

    Rgis Canton UDESC/CEO (Coordenador)

    Luiz Alberto Nottar UDESC/CEO

    Secretaria

    Diego Crdova Cucco UDESC/CEO

    Fbio Pedron UDESC/CEO

    Glucia Amorim Faria UDESC/CEO

    Cssio Andr Wilbert Embrapa Sunos e Aves

    Mrcio Gilberto Saatkamp Embrapa Sunos e Aves

    Levino Jos Bassi Embrapa Sunos e Aves

  • Infra-estrutura / Logstica

    Maria Lusa Appendino Nunes UDESC/CEO

    Denise Nunes Arajo UDESC/CEO

    Lourdes Romo Apolnio UDESC/CEO

    Diovani Paiano UDESC/CEO

    Comisso de Cultura

    Paulo Ricardo Ficagna UDESC/CEO

    Divulgao

    Jean Carlos Hennrichs UDESC/CEO

    Gustavo Krahl UDESC/CEO

  • APRESENTAO

    O II ANISUS - Congresso Brasileiro de Produo Animal Sustentvel um

    evento promovido pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), Centro

    de Educao Superior do Oeste - CEO em parceria com a Empresa Brasileira de

    Pesquisa Agropecuria (Embrapa Sunos e Aves), Empresa de Pesquisa

    Agropecuria e Extenso Rural de Santa Catarina (EPAGRI) e Sociedade Brasileira

    dos Especialistas em Resduos das Produes Agropecuria e Agroindustrial

    (Sbera). O congresso tem como objetivos contribuir com a disseminao e

    discusso de tcnicas alternativas e sustentveis de produo animal, despertando

    nos meios tcnico, produtivo e cientfico a preocupao com a necessidade de

    mudanas nos paradigmas de desenvolvimento e produo do setor agropecurio,

    assim como promover a interao entre os diversos atores da cadeia produtiva.

    Sero realizadas palestras e apresentao de trabalhos cientficos por profissionais

    da rea da produo animal, no perodo de 29/05/2012 a 31/05/2012, no Centro de

    Cultura e Eventos Plnio Arlindo De Nes, municpio de Chapec, SC. Esto previstas

    em torno de 12 palestras com profissionais renomados na rea da produo animal.

    O congresso envolver as seguintes temticas: Sustentabilidade e equidade social

    no meio rural; Gerenciamento ambiental e trabalhista e Sistemas de produo

    sustentveis. Tem como pblico alvo pesquisadores das diversas reas, produtores,

    professores universitrios, estudantes dos cursos de Agronomia, Biologia,

    Engenharia Ambiental, Medicina Veterinria e Zootecnia, tcnicos e afins dentro da

    rea animal, de diversas regies do pas e at mesmo no exterior. O evento ser

    divulgado nacionalmente nas Universidades e Instituies de Pesquisa e Extenso.

    Estima-se um pblico mnimo de 600 pessoas.

  • PROGRAMAO

    1 Dia - 29/05/2012

    13h30: Metodologias de avaliao de impactos ambientais nas produes animais

    Dr. Julio Cesar Pascale Palhares Embrapa Pecuria Sudeste

    14h30: Avicultura alternativa

    MSc. Luiz Carlos Dematt Filho

    Associao de Avicultura Alternativa (AVAL)

    15h30: Coffee break

    16h: Eficincia da produo de bovinos e o impacto ambiental da atividade pecuria

    Prof. Dr. Mrio Luiz Chizzotti

    Universidade Federal de Lavras (UFLA)

    17h: Abertura oficial do evento

    18h: Integrao lavoura pecuria e sua relao com impacto ambiental

    Prof. Dr. Carlos Clemente Cerri

    Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA/USP)

    19h: Coktail de abertura

  • 2 Dia - 30/05/2012

    13h30: Fontes alternativas de energia na avicultura

    Dr. Paulo Giovanni de Abreu

    Embrapa Sunos e Aves

    14h30: Produo de sunos em sistemas sustentveis

    Dr. Paulo Armando Victria de Oliveira

    Embrapa Sunos e Aves

    15h30: Coffee break

    16h: Biofertilizantes na produo de forrageiras

    Dr. Juliano Corulli Corra

    Embrapa Sunos e Aves

    17h: Minerais orgnicos na produo sustentvel de aves e sunos

    Msc. Alexandre da Silva Sechinato

    Tortuga

  • 3 Dia - 31/05/2012

    13h30: Desenvolvimento regional - temas estratgicos: oportunidades e desafios

    Dr. Vilson Marcos Testa

    Epagri

    14h30: Agricultura de baixa emisso de carbono

    Eng. Agr. Elvison Nunes Ramos

    Coordenador de Manejo Sustentvel do MAPA

    15h30: Coffee break

    16h: Aquicultura e servios ecossistmicos

    Dr. Jorge de Matos Casaca

    Epagri

    17h: Novo Cdigo Florestal: suas relaes com a produo agropecuria e a

    sustentabilidade

    Moiss Savian

    Gerente de sustentabilidade do agronegcio - MMA

    Convidados: Pedro Uczai - Deputado Federal

    Valdir Colatto - Deputado Federal

    18h: Encerramento do evento

  • SUMRIO

    PALESTRAS

    Impacto ambiental das produes pecurias................................................................................... Julio Cesar Pascale Palhares

    17

    Dinmicas envolvendo a produo alternativa de frango e ovos - o caso da Korin Agropecuria... Luiz Carlos Dematt Filho

    22

    Estratgias para reduo do impacto ambiental da atividade pecuria............................................. Mrio Luiz Chizzotti, Mrcio Machado Ladeira, Otvio Rodrigues Machado Neto e Leandro Smia Lopes

    32

    Emisses de GEE na pecuria de corte e estratgias de mitigao................................................. Carlos Clemente Cerri e Joo Lus Nunes Carvalho

    43

    Fontes alternativas de energia na avicultura..................................................................................... Paulo Giovanni de Abreu e Valria Maria Nascimento de Abreu

    54

    Produo de sunos em sistemas sustentveis.............................................................................. Paulo Armando Victria de Oliveira

    57

    O uso correto de fertilizantes orgnicos para produo de forragens.............................................. Juliano Corulli Corra

    71

    Minerais orgnicos na produo sustentvel de aves e sunos..................................................... Alexandre da Silva Sechinato

    74

    Desenvolvimento regional: temas estratgicos, oportunidades e desafios...................................... Vilson Marcos Testa

    77

    Plano setorial de mitigao e de adaptao s mudanas climticas para a consolidao de

    uma economia de baixa emisso de carbono na agricultura Plano ABC........................................ Elvison Nunes Ramos

    83

    Aquicultura e servios ecossistmicos........................................................................................... Jorge de Matos Casaca, Osmar Tomazelli Junior e Michele Cavalheiro Nunes

    86

    Cdigo Florestal Brasileiro: os interesses e suas implicaes........................................................ Pedro Uczai

    88

    A urgente necessidade de um novo modelo ambiental.................................................................. Valdir Colatto

    91

    A sustentabilidade econmica e social da produo de frangos e sunos em Santa Catarina e no Brasil................................................................................................................................................ Jonas Irineu dos Santos Filho

    94

  • ARTIGOS

    Teor de protena bruta de pastagens de capim elefante manejadas de forma convencional e

    agroecolgica................................................................................................................................. Priscila Flres Aguirre, Clair Jorge Olivo, Carlos Alberto Agnolin, Tiago Lus da Ros de Arajo, Cludia Marques de Bem

    e Michelle Schalemberg Diehl

    109

    Taxa de desaparecimento de forragem em pastagens de capim elefante manejadas sob distintos

    sistemas produtivos........................................................................................................................ Priscila Flres Aguirre, Maurcio Pase Quatrin, Gabrielle Serafim, Marcos da Rosa Correa, Daiane Cristine Seibt e

    Gabriela Descovi Simonetti

    112

    Comparao da qualidade do leite produzido em pequenas propriedades rurais do municpio de

    Dionsio Cerqueira com a Instruo Normativa 51......................................................................... Andr Carlos Auler, Regina Bellan Verona e Marins Ftima Sobczak

    115

    Panorama de prticas de manejo produo de leite de qualidade no municpio de Dionsio

    Cerqueira-SC.................................................................................................................................. Andr Carlos Auler, Regina Bellan Verona e Marins Ftima Sobczak

    118

    Massa de forragem em pastagens consorciadas com diferentes leguminosas............................. Ricardo Lima de Azevedo Junior, Clair Jorge Olivo, Maurcio Pase Quatrin, Tiago Horst, Dreisse Gabbi Fantineli e

    Fabiene Tomazetti dos Santos

    121

    Importncia do autoconsumo para as famlias do meio rural........................................................ Rafael Alan Baggio, Joo Pedro Pereira Winckler, Joziane Battiston, Teisonara Celine Ziliotto, Alessandra Mller Gruhn

    e Flvio Jos Simioni

    125

    Fonte de informaes e formas de aprendizado adotadas por agricultores familiares no oeste de

    Santa Catarina................................................................................................................................ Joziane Battiston, Joo Pedro Pereira Winckler, Teisonara Celine Ziliotto, Alessandra Mller Gruhn, Rafael Alan Baggio

    e

    Flvio Jos Simioni

    129

    Desempenho de duas linhagens alternativas em sistema "free-range" de criao........................ Douglas Bevilacqua, Juliane Taiz Calgaro, Marcel Manente Boiago, Hirasilva Borba Alves de Souza, rika Politi Salgado

    Braga Saldanha e Carla Cachoni Pizolante

    135

    Sistema alternativo de criao sobre desempenho de frangos de corte tipo caipira................... Juliane Taiz Calgaro, Douglas Bevilacqua, Marcel Manente Boiago, Hirasilva Borba Alves de Souza, rika Politi Salgado

    Braga Saldanha e Carla Cachoni Pizolante

    136

    Ambiente trmico em um avirio com ventilao por presso positiva em dias quentes................ Ktia Maria Cardinal, Airton dos Santos Alono, Mariana Weber Rodriguez e Hanna Graziela Soares Lima

    139

    Efeito da aplicao de dejetos de sunos sobre a atividade microbiana em solos da regio Oeste

    Catarinense..................................................................................................................................... Ana Paula Maccari, Katiane Casarotto, Talita Zortea, Carolina Riviera Duarte Maluche Baretta, Diovani Paiano

    e Dilmar

    Baretta

    142

    Comportamento ingestivo de ovelhas alimentadas com diferentes formas de fornecimento de

    feno de Capim Tifton-85.................................................................................................................. Cristiani Cavilho, Patricia Barcellos Costa, Jaqueline Rocha Wobeto, Nivaldo Karvatte Jr., Carolina Aletia Mecab e

    Tatiane Fernandes

    145

    Efeito da aplicao de diferentes fontes de nitrognio na produo de forragem de aveia crioula

    (Avena spp.) consorciada com pastagens tropicais....................................................................... Katia Tortelli, Ana Paula Maccari, Gislaine Coser e Lus Henrique Ebling Farinatti

    149

  • Massa de forragem e taxa de lotao de sistemas forrageiros consorciados com amendoim

    forrageiro ou trevo vermelho.......................................................................................................... Michelle Schalemberg Diehl, Priscila Flres Aguirre, Vincius Felipe Bratz, Gabrielle Serafim, Marcos da Rosa Correa e

    Ricardo Franzen

    152

    Valor nutritivo de pastagens consorciadas com distintas leguminosas......................................... Michelle Schalemberg Diehl, Clair Jorge Olivo, Vincius Felipe Bratz, Cludia Marques de Bem, Patrcia Fernandes

    Rodrigues e Jssica Soares Nunes

    155

    Efeito da ordem de parto sobre o peso mdio ao nascer dos leites e das leitegadas em Seara-

    SC................................................................................................................................................... Everardo Ayres Correia Ellery, Rennan Herculano Rufino Moreira, Kassia Moreira Santos, Gilberto Silva Vieira e Vitor

    Verniz

    158

    Utilizao de resduos de indstria em sistemas de bovinocultura: resduo mido de

    cervejaria........................................................................................................................................ Victor Ionatan Fioreze, Larissa da Silva Pereira Domingues, Patrcia Pinto da Rosa, Ana Carolina Fluck, Maria Cristina

    Lascombe e Hero Alfaya Junior

    161

    Mapeamento da distribuio da temperatura em sistema de aquecimento para aves.................. Izaura Franz, Vanessa da Conceio, Anglica Amorim, Paulo Giovanni de Abreu e Valria Maria Nascimento Abreu

    165

    Anlise econmica da incluso de glicerina bruta na dieta de cordeiros em terminao............. Paula Regina Hermes, Patrcia Barcellos Costa, Christiane Garcia Vilela, Cristiani Cavilho, Nivaldo Karvatte Jnior e

    Lidiane Casarotto

    169

    Avaliao subjetiva da carcaa de cordeiros Santa Ins alimentados com glicerina bruta na

    dieta............................................................................................................................................... Paula Regina Hermes, Christiane Garcia Vilela, Patrcia Barcellos Costa, Nivaldo Karvatte Jr, Cristiani Cavilho e

    Dieisson Gregory Grunevald

    173

    Caractersticas do msculo Longssimus dorsi de cordeiros Santa Ins alimentados com

    glicerina bruta na dieta................................................................................................................... Nivaldo Karvatte Junior, Patrcia Barcellos Costa, Christiane Garcia Vilela, Paula Regina Hermes, Cristiani Cavilho e

    Lidiane Casarotto

    177

    Meta-anlise das interaes produtivas das fumonisinas na alimentao de sunos.................... Inajara Kosztrzepa, Ines Andretta, Marcos Kipper, Cheila Roberta Lehnen, Aline Remus e Cristieli Carolina Klein

    180

    Controle anti-helmntico e ocorrncia de nematdeos gastrintestinais em bovinos leiteiros no

    Oeste Catarinense.......................................................................................................................... Horcio Luis de Lima, Lenita Moura Stefani, Flvio Jos Simioni, Maximiliano Pasetti, Joziane Battiston e Aleksandro

    Schafer da Silva

    184

    Criao de pacus em tanques rede alimentados com rao orgnica e convencional................. Tatiane Andressa Lui, Dacley Hertes Neu, Wilson Rogrio Boscolo, Douglas Jardelino de Camargo, Sidnei Klein e Aldi

    Feiden

    188

    Efeito da aplicao de doses de dejetos de sunos na reproduo de Eisenia andrei em solos do

    Oeste Catarinense.......................................................................................................................... Ana Paula Maccari, Talyta Zorta, Katiane Casarotto, Diovani Paiano, Marie Luise Carolina Bartz e Dilmar Baretta

    191

    Anlise fractal do padro espacial de plantas em pastagem natural submetida a diferentes

    manejos............................................................................................................................................. Carlos Eduardo Nogueira Martins e Fernando Luiz Ferreira de Quadros

    195

  • Utilizao do cruzamento de bovinos das raas Caracu e Nelore sobre a rentabilidade

    econmica na terminao em confinamento................................................................................... Ivan Csar Furmann Moura, Daniel Perotto, Jos Luis Moletta, Antnio Altino Cherubin, Maryon Guilherme Strack

    e

    Fernando Kuss

    199

    Estimativas para o declnio da produo de leite no municpio de Palotina-PR frente s

    mudanas climticas globais......................................................................................................... Taciana Maria Moraes de Oliveira, Elcio Silvrio Klosowski, Adriano Busnello, Cludio Yuji Tsutsumi, Paulo Henrique

    Caramori, Jorim Sousa das Virgens Filho, Rodrigo Yoiti Tsukahara e Cleiton Pagliari Sangali

    203

    Caracterizao do rebanho leiteiro do programa de inseminao artificial de Dois Vizinhos

    Paran............................................................................................................................................ Edison Antonio Pin, Andr Brugnara Soares, Jean Carlo Possenti, Dbora Cazella, Camila Czechowski e Sidney Ortiz

    207

    Resduos slidos de produtos veterinrios em propriedades leiteiras........................................... Edison Antonio Pin, Vanessa Stepanhack, Kelin Barcellos, Marciele Maccari, Angela Ruoso e Jean Carlo Possenti

    211

    Estudo meta-analtico do desempenho de leites no ps-desmame alimentados com dietas

    contendo plasma sanguneo Spray-dried........................................................................................ Aline Remus, Cheila Roberta Lehnen, Ines Andretta, Marcos Kipper, Inajara Kosztrzepa e Cristieli Carolina Klein

    214

    Meta-anlise da relao entre contaminao de dietas por aflatoxinas e variveis de bioqumica

    srica em frangos de corte................................................................................................................ Aline Remus, Ines Andretta, Marcos Kipper, Cheila Roberta Lehnen, Inajara Kosztrzepa e Cristieli Carolina Klein

    218

    Efeito da durao da lactao de matrizes sunas sobre o peso mdio do leito e da leitegada ao

    nascer............................................................................................................................................. Kassia Moreira Santos, Everardo Ayres Correia Ellery, Rennan Herculano Rufino Moreira e Gilberto Silva Vieira

    222

    Caracterizao da produo leiteira na regio Oeste de Santa Catarina......................................... Sonia Santos, Flvio Jos Simioni e Thomas Newton Matin

    225

    Avaliao da qualidade do leite produzido em propriedades do oeste de Santa Catarina............ Sonia Santos, Flvio Jos Simioni e Thomas Newton Matin

    229

    Prevalncia de Salmonella spp em carcaas e produtos crneos de aves e sunos provenientes

    do Oeste Catarinense..................................................................................................................... Helen Krystine da Silva, Juliana Almeida, Rodrigo Backes, Patrcia Lopes, Cludia Pies e Lenita Stefani

    232

    Ganho de peso de vacas descarte em pastejo com aplicao de modificador orgnico.............. Lenita Moura Stefani, Rodrigo Guilherme Backes, Patrcia Lopes Garcia, Adriano Garcia, Juliana Maria de Almeida e

    Cludia Pies Biffi

    236

    Avaliao das caractersticas da carcaa de bovinos superprecoce de raas puras, bimestios e

    quadrimestios, terminados em confinamento...............................................................................

    Maryon Guilherme Strack, Daniel Perotto, Jos Luis Moletta, Ivan C. Furmann Moura, Fernando Kuss

    240

    Ensilagem de aveia submetida adubao nitrogenada e estdios fenolgicos..........................

    Gustavo Zamarchi, Paulo Sergio Pavinato, Larcio Ricardo Sartor, Fernanda Paula Baldicera e Suelen Ftima Einsfeld

    243

    Influncia das principais inovaes tecnolgicas aplicadas na agricultura da regio oeste de

    Santa Catarina.................................................................................................................................. Teisonara Celine Ziliotto, Alessandra Mller Gruhn, Joziane Battiston, Joo Pedro Pereira Winckler, Rafael Alan Baggio

    e Flvio Jos Simioni

    247

  • PALESTRAS

  • II ANISUS

    Congresso Brasileiro de Produo Animal Sustentvel Chapec, SC 29 a 31 de maio

    PALESTRAS

    17

    IMPACTO AMBIENTAL DAS PRODUES PECURIAS

    Julio Cesar Pascale Palhares Zootecnista, Pesquisador da Embrapa Pecuria Sudeste

    [email protected]

    O Brasil e sua realidade pecuria

    As projees da Assessoria de Gesto Estratgica do MAPA (1) mostram que o setor de carnes deve apresentar intenso dinamismo nos prximos anos. Entre as carnes, as que se projetam com maiores taxas de crescimento no perodo 2009/2010 a 2019/2020 so a carne de frango, que deve crescer anualmente a 3,64%, a bovina, com crescimento projetado de 2,15% ao ano e a suna com crescimento projetado de 2,0% ao ano.

    Esses dados mostram a importncia que o setor pecurio tem para o Brasil como gerador de renda, empregos e divisas. Portanto, o pas, cada vez mais, ir necessitar de profissionais capacitados para atuar nessas produes.

    Atualmente, o exerccio das cincias zootcnicas no se limita mais a produzir pautando-se por produo e produtividade. Outro fator faz parte do cotidiano pecurio que sua relao com o ambiente. ndices zootcnicos, como ganho de peso, converso alimentar, peso ao abate e taxa de desfrute, continuam a ser importantes, mas novos ndices adquirem cada vez mais importncia como: quantidade de resduos gerados, concentrao dos gases emitidos, eficincia hdrica, entre outros.

    O pas dever manter a liderana de principal exportador de carnes, bovina e de frango, bem como manter sua posio nas exportaes de carne suna. Em 2019/2020 as relaes exportao do Brasil/comrcio mundial, devem representar: carne bovina, 42,7% do comrcio mundial; carne suna, 16,0% do comrcio mundial; carne de frango, 70,0% do mercado mundial (1). Os pases importadores da carne brasileira tm poucas exigncias ambientais aos nossos produtos. Atualmente, a maior exigncia est relacionada carne bovina produzida na regio amaznica.

    No futuro, alm das barreiras sanitrias, poderemos ter que se adequar as barreiras ambientais.

    AGE/MAPA destaca que apesar do Brasil apresentar nos prximos anos forte aumento das exportaes, o mercado interno ser um forte fator de crescimento. Do aumento previsto na produo de carne de frango, 65,3% da produo sero destinados ao mercado interno; da carne bovina, 77,0% e da carne suna, 80,0% sero destinados ao mercado interno.

    A grande capacidade de consumo de nosso mercado interno est nas Classes C e D, calcula-se que essas duas Classes representam 100 milhes de brasileiros. As pessoas que compem essas Classes tiveram ganhos de renda significativos ao longo dos ltimos anos, isso conduz a uma mudana nos hbitos alimentares, principalmente no maior consumo de protena animal. O consumo desses consumidores se baseia no preo, ou seja, valores como ambiente, trabalho escravo e infantil e segurana dos alimentos no so decisivos no momento da compra.

    Considerando a realidade pecuria e social e as projees para os prximos anos a pergunta que deve ser feita : estamos socialmente e tecnicamente aptos para produzir com conservao ambiental?

  • II ANISUS

    Congresso Brasileiro de Produo Animal Sustentvel Chapec, SC 29 a 31 de maio

    PALESTRAS

    18

    A resposta est nos fatos: o histrico conflito ambiental nas regies suincolas do Sul do pas; termos de ajustamento de conduta para a bovinocultura de corte na regio amaznica; aqicultura no Nordeste; etc. Conflitos entre as atividades pecurias e o meio ambiente no so comuns ao Brasil, eles tambm acontecem nos pases europeus e norte-americanos.

    Certamente, esses pases possuem uma condio ambiental da pecuria melhor que a brasileira, no por disporem de mais recursos financeiros, mas por terem legislaes ambientais mais restritivas, fiscalizao melhor estruturada e aparelhada, aes da extenso rural com foco no manejo ambiental e aes intensas e constantes que promovem a capacitao ambiental dos atores.

    No Brasil, grande parte de nossos pecuaristas no possuem ensino mdio completo. No caso das cadeias produtivas de sunos, frangos e bovinos de leite, que grande parte da produo tem origem na agricultura familiar, o nvel de escolaridade desses produtores muito baixo. Muitos no tm a habilidade de ler e escrever de forma plena.

    Paralelo a essa realidade do meio rural, as graduaes nas cincias agropecurias ainda formam profissionais com uma viso produtivista e reducionista, sem a capacidade de compreender os sistemas produtivos e todas suas nuances. Disciplinas como: avaliao de impacto ambiental das atividades pecurias, sistemas de tratamento de resduos animais, manejo dos recursos naturais e de unidades hidrogrficas, legislao ambiental, economia ambiental; esto ausentes das grades curriculares.

    Por fim, os lderes dos setores pecurios e rural tambm no tm conhecimento sobre o manejo ambiental de suas atividades o que muitas vezes conduz para posies ideolgicas e pouco tcnicas.

    A avaliao de impacto ambiental insere um elevado grau de conhecimento da atividade a ser avaliada e de suas relaes com o meio ambiente.

    Os conhecimentos necessrios so:

    Conhecimento dos recursos naturais e como estes se relacionam com a produo animal;

    Conhecimento dos conceitos fundamentais das Cincias Ambientais, destacando os de Bacias Hidrogrficas e Planejamento Territorial;

    Conhecimento quantitativo e qualitativo dos resduos gerados pelas criaes;

    Conhecimento da Legislao Ambiental relacionada as atividades zootcnicas;

    Conhecimento de outras atividades agropecurias que podem interagir, facilitando o manejo ambiental;

    Conhecimento das vrias tecnologias de aproveitamento e tratamento de resduos;

    Conhecimento da economia de produo e ambiental;

    Conhecimento das aspiraes ambientais e de consumo da sociedade beneficiria de seu trabalho.

    O pas, as agroindstrias, empresas de insumos, cooperativas e associaes de produtores precisam investir, intensamente, na capacitao ambiental de tcnicos e produtores. Somente dessa forma poderemos realizar avaliaes de impacto baseadas no conhecimento. Isso ir melhorar a condio ambiental de nossa pecuria e diminuir os conflitos existentes.

  • II ANISUS

    Congresso Brasileiro de Produo Animal Sustentvel Chapec, SC 29 a 31 de maio

    PALESTRAS

    19

    Impacto ambiental das produes animais

    Os atores das cadeias pecurias tm a percepo que os impactos ambientais so sempre negativos, mas esses tambm podem ser positivos. Uma rea de pastagem que foi degradada pelo intenso uso sem reposio de nutrientes ao solo pode ser recuperada. Essa recuperao caracteriza um impacto ambiental positivo. Portanto, os profissionais agropecurios tm a funo de promover impactos positivos e no somente de corrigir os impactos negativos. A correo sempre significar maiores custos.

    A percepo de negatividade se d ao fato de a avaliao de impacto ambiental (AIA) sempre ocorrer no momento do licenciamento da atividade. A pecuria nacional ainda no internalizou a avaliao de impacto como uma rotina da produo, s realizando essa por uma obrigao legal.

    A principal funo de uma avaliao de impacto propiciar a tomada de deciso a partir da anlise de cenrios, ou seja, comparar a situao presente com a que ocorrer a partir da implantao do empreendimento, analisar se os benefcios e potenciais prejuzos ambientais, sociais e econmicos justificam a atividade.

    A avaliao de impacto tem um carter preventivo e no corretivo.

    Outro erro de interpretao diz respeito ao que avaliar. senso comum que a AIA deve avaliar o impacto da atividade na quantidade e qualidade dos recursos naturais renovveis e no-renovveis. Mas a AIA no se limita somente as questes ambientais, devendo compreender tambm as sociais e econmicas.

    Na Figura 1 observam-se os potenciais impactos que as produes pecurias podem causar.

    Figura 1. Potenciais impactos que as produes animais podem causar nas dimenses ambientais, sociais e

    econmicas.

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    A legislao brasileira, por meio da Resoluo CONAMA 01 de 23 de janeiro de 1986, define impacto ambiental como qualquer alterao das propriedades fsicas, qumicas e biolgicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam:

    I. a sade, a segurana e o bem-estar da populao; II. as atividades sociais e econmicas; III. a biota; IV. as condies estticas e sanitrias do meio ambiente; V. a qualidade dos recursos ambientais.

    De acordo com a Resoluo, percebe-se que realizar a AIA no um processo simples e essa no pode ser realizada somente por um profissional, mas sim por um grupo de profissionais que possuam conhecimentos em cincias agrrias, econmicas, sociais e exatas.

    As AIA e os processos de licenciamento ambiental das atividades esto sendo feitos por somente um profissional que se limita a demonstrar para a agncia ambiental que o empreendimento no ir causar impacto ambiental, pois os resduos iro ser aproveitados e tratados de forma correta.

    Mesmo com essa abordagem, a atividade poder adquirir a licena, mas ser fonte de poluio. Tomando-se como exemplo a suinocultura, as leis estaduais de licenciamento da atividade permitem que os dejetos sejam utilizados como fertilizante, assim se o produtor atestar que ele dispe de rea agrcola suficiente para receber a quantidade de dejetos gerados, ele obter a licena. Ressalta-se que todas as legislaes estaduais exigem o uso do conceito de balano de nutrientes para que a relao rea/quantidade de dejetos seja calculada.

    Aps a obteno da licena no existe uma fiscalizao a fim de avaliar se o produtor est cumprindo com o acordado. Essa realidade ainda agravada, pois grande parte dos produtores desconhece o conceito de balano de nutrientes. Como resultado, aplica-se dejeto em excesso, isso faz com que a atividade se torne uma fonte de poluio difusa, comprometendo a qualidade das guas, solo e ar.

    Zootecnia de conservao

    As cincias zootcnicas esto numa encruzilhada ou se continua produzindo protena animal da forma atual com a certeza que o passivo ambiental ser grande, o que poder inviabilizar as produes em determinadas regies devido escassez de recursos naturais, ou inserimos o manejo ambiental no cotidiano das produes.

    A deciso est em nossas mos. Estamos frente a uma oportunidade. Podemos mostrar que a pecuria nacional pode ser grande, no s pelos seus ndices produtivos, mas tambm pelo seu padro ambiental.

    A Zootecnia esteve baseada em trs pilares: melhoramento, nutrio e manejo de animais. Uma Zootecnia de futuro no pode se limitar a essas trs dimenses. Devemos implementar a dimenso ambiental, alm da social e econmica, somente deste modo que iremos na direo da sustentabilidade pecuria.

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    Assim, pode-se pensar em uma Zootecnia de conservao.

    Tecnicamente, existe uma diferena entre preservar e conservar o ambiente.

    A busca pelo significado destas palavras em qualquer dicionrio da lngua portuguesa nos faz concluir que realmente as palavras so sinnimas. Segundo o Novo Dicionrio Aurlio, preservao significa: livrar de algum mal,...,conservar.... E conservao significa: ato ou efeito de conservar (-se). Mas o significado destas, considerando os conceitos das cincias ambientais, nos conduz a outra concluso.

    De acordo com o Dicionrio Brasileiro de Cincias Ambientais, o significado de preservao : ao de proteger, contra a modificao e qualquer forma de dano ou modificao, um ecossistema, rea geogrfica, etc. O significado de conservao : utilizao racional de um recurso natural qualquer, garantindo-se, entretanto, sua renovao ou sua auto-sustentao, difere da preservao por permitir o uso e o manejo da rea.

    A partir destas definies fica a pergunta. A Zootecnia deve preservar ou conservar o meio ambiente?

    A resposta correta seria: ela deve fazer ambas, preservao e conservao.

    Ser preservacionista, por exemplo, quando mantiver a rea de mata ciliar nas propriedades atravessadas por cursos de gua, isto possibilita a preservao da gua dos rios em quantidade e qualidade. Ser conservacionista quando utilizar a gua de poos para a dessedentao dos animais de forma racional, ou seja, respeitando o tempo que a natureza leva para repor esta gua, assim, a gua estar disponvel no longo prazo e os animais no sofrero com a escassez deste recurso, assim como os seres humanos.

    Conclui-se que a Zootecnia deve desempenhar dois papis fundamentais, o da preservao e o da conservao, o primeiro possibilitar a perpetuao desta como cincia no longo prazo, bem como da convivncia pacfica com a sociedade. O segundo contribuir para, que no futuro, no discutamos mais os problemas ambientais, pois os recursos naturais por ela utilizado, hoje, estaro sendo conservados, ou seja, se mantero em um padro de quantidade e qualidade que os tornaro disponveis para toda a sociedade.

    Devemos educar os alunos, capacitar os profissionais e tomadores de deciso e assistir os produtores em Zootecnia de Conservao.

    O Brasil pode deixar sua marca no sculo XXI como o maior produtor mundial de protena animal, mas tambm podemos ser lembrados como o pas que iniciou uma nova forma de relao entre a pecuria e o ambiente. A deciso nossa e deve ser tomada neste momento.

    Referncias

    1. MINISTRIO DA AGRICULTURA, PECURIA E ABASTECIMENTO. Projees do Agronegcio: Brasil 2009/2010 a 2019/2020. Disponvel em: http//www.agricultura.gov.br. Acesso em: 15 mar. 2010.

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    DINMICAS ENVOLVENDO A PRODUO ALTERNATIVA DE FRANGO E OVOS - O CASO DA KORIN AGROPECURIA

    Luiz Carlos Dematt Filho

    Aluno de doutorado do Programa de Ps Graduao Interunidades em Ecologia Aplicada (ESALQ-CENA) USP Piracicaba/SP

    Resumo

    O objetivo principal deste trabalho apresentar perspectivas analticas para o estudo da influncia que uma agroindstria alimentar produzindo e comercializando produtos, principalmente frangos e ovos pelo mtodo da Agricultura Natural, exerce sobre seu territrio rural. A Agricultura Natural um modelo produtivo preconizado por Mokiti Okada (Japo, 1882-1955), o qual enfatiza a necessidade de um perfeito equilbrio entre as atividades humanas e as foras da natureza, para se alcanar bons resultados na produo, privilegiando a segurana dos alimentos, prticas conservacionistas da natureza, a sade, e o bem estar socioeconmico de produtores e consumidores. A partir da dcada de 1990, podemos perceber um incremento das discusses sobre a multifuncionalidade da agricultura devido aos inmeros problemas sociais e ambientais advindos do modelo agrcola produtivista. Neste mesmo perodo intensificaram-se os problemas concernentes segurana alimentar, com os casos da Encefalopatia Espongiforme Bovina (doena da vaca louca), alimentos contaminados com dioxinas e com resduos de agrotxicos, emergncia de doena zoonticas como a Influenza Aviria, etc. A idia ento de discutir em que medida a Agricultura Natural, e sua influncia na produo de frangos e ovos sem o uso de antibiticos, promotores de crescimento, quimioterpicos e anticoccidianos representando uma inovao tecnolgica na produo de alimentos no Brasil e no mundo (provendo uma arejada discusso sobre as fronteiras do conhecimento na produo agrcola), oferece bases pertinentes na busca de um modelo agrcola sustentvel, em respeito ao homem e sua diversidade scio-cultural e ao meio ambiente.

    Palavras-chaves: Avicultura alternativa, avicultura orgnica, multifuncionalidade da agricultura, desenvolvimento territorial, sustentabilidade.

    Abstract

    The purpose of this work is to present analytical perspectives to the study of an agro-industrial company developing Natural Farming methods and its influence on the rural environment, especially on the multifunctionality of agriculture. The Natural Farming is an agricultural method advocated by Mokichi Okada (Japan, 1882-1955), which emphasizes the need of a perfect balance between human activities and nature forces, to achieve good results in the production, focusing on food safety, environmental sustainability, health and socioeconomic welfare of farmers and consumers. Since the 1990s, we have noticed an increase in the discussions of agricultural multifunctionality due to the numerous social and environmental problems arising from the conventional agricultural model. In the same period, problems concerning food safety have increased, as Bovine Spongiform Encephalopathy (mad cow disease), dioxin-contaminated food and pesticide residues, and the emergence of animal and human diseases like Avian Influenza. Natural Farming as a method may represent an important technological innovation in food production in Brazil and around the world, and offer a solid contribution in the quest for a sustainable agricultural model,

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    respecting mankind, their socio-cultural diversity and the environment, providing a rich discussion on the frontiers of knowledge in food production.

    Key words: Sustainability, natural farming, organic broilers, rural development, multifunctionality of agriculture.

    Introduo

    Os avanos na avicultura industrial vm ocorrendo atravs de processos produtivos intensivos. No perodo de 1999 a 2008, a produo mundial de frango aumentou 40,3%, enquanto a de leite aumentou 19,3%. De 1998 a 2006, a produo de ovos elevou-se em 26,7% [1]. A recente e rpida expanso da produo de alimentos de origem animal contribuiu para o aumento da concentrao de animais, nos estabelecimentos agropecurios, e pessoas, nas maiores cidades dos pases em desenvolvimento, conduzindo ao aumento na incidncia de doenas zoonticas, como salmonelose e influenza aviria, alm da presena de microrganismos patognicos nos produtos, como E. coli. A intensificao da produo animal vem motivando em muitas partes do mundo o aumento da ocorrncia de pesticidas e antibiticos na cadeia alimentar [6].

    Outra consequncia decorrente da intensificao da produo foi o aumento do uso dos aditivos antimicrobianos na alimentao animal, cujos riscos potenciais incluem desde reaes de hipersensibilidade at propriedades cancergenas. Esses produtos passaram a ser vistos como fatores de risco para a sade humana e sua aplicao passou a ser contestada, principalmente quanto presena de resduos na carne, ovos ou leite, que podem ser os prprios aditivos ou seus metablitos acumulados nos produtos comestveis e tambm quanto induo de resistncia cruzada de bactrias patognicas para humanos [14].

    Uma parte significativa da populao brasileira j valoriza alimentos produzidos por processos fundados em valores sociais e ambientais sustentveis. Embora exista uma enorme demanda por produtos de baixo custo, cresce tambm a demanda por qualidade. Neste caso, preciso garantir atributos especficos como ausncia de resduos txicos ou antibiticos. Alm disso, o bem-estar dos animais de produo tambm passou a ser um ponto de ateno dos consumidores. Assim, as exigncias destes ltimos motivaram o estabelecimento de legislaes regulamentadoras e normas tcnicas com o objetivo de garantir a oferta de produtos seguros.

    Nestas circunstncias, este artigo discute caractersticas de sistemas de produo alternativos e aponta para perspectivas de anlise pertinentes para o estudo de seus impactos territoriais.

    As atuais tendncias na produo agrcola mundial

    A atualidade marcada pela ltima e mais severa crise econmica. Neste quadro, intensifica-se a busca por uma nova ordem mundial fundada em valores que se relacionem com a felicidade dos seres humanos [16]. O debate sobre um Estado de Bem Estar volta para a agenda poltica, em meio a muitas tenses. Com efeito, vimos que muito do que at ento se considerava como correto ou perfeitamente adequado aos propsitos do desenvolvimento humano, passaram a ser enfaticamente questionados. Um dos setores mais severamente afetados pelas crticas e pelas demandas de mudana o de produo de alimentos, visto que esta mesma crise exps muitas fragilidades na cadeia de suprimentos de alimentos em todo o mundo: em dois momentos (2008 e 2010/2011), os

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    preos de alimentos atingiram picos histricos ampliando a pobreza e a fome. O modelo intensivo dos sistemas agroalimentares de nvel global de produo e distribuio de alimentos passa a ser, portanto questionado quanto sua capacidade de suprir as necessidades presentes e futuras, principalmente num momento em que o trade off entre a produo de alimentos e a produo de energia renovvel torna-se um assunto constante na agenda mundial.

    A avicultura de corte e de postura um dos setores produtivos mais intensivos onde escala de produo e ganhos de produtividade so fatores de sucesso. No Brasil, o gigantismo da indstria avcola tambm a expe junto aos seus prprios consumidores a crticas e dvidas cada vez mais frequentes sobre a qualidade dos produtos. O uso intensivo de antibiticos e o pouco cuidado com as questes de bem estar animal em razo notadamente pelo confinamento so objeto de contestaes crescentes. Adicionalmente em campos tcnicos, acadmicos e governamentais, discute-se o impacto ambiental provocado pela crescente necessidade da produo intensiva de gros destinados alimentao das aves. Por outro lado, as dvidas sobre os benefcios em termos de qualidade de vida e de melhora socioeconmica de produtores e trabalhadores do setor se ampliam em razo da escala dos investimentos necessrios para que as famlias rurais possam permanecer na atividade. Pelo lado da sade pblica, em todo o mundo discute-se a emergncia de bactrias resistentes a antibiticos, a contaminao por dioxinas na cadeia de suprimentos, afetando os produtos finais, como no recente caso que acometeu produtores na Alemanha, e o crescente risco associado s epidemias por agentes zoonticas.

    A prpria dinmica da avicultura industrial brasileira e sua insero no comrcio mundial, resultado da ampliao de sua competitividade, passou a estimular uma reflexo e um debate sobre modelos diferenciados que pudessem representar alternativas produtivas. Tais modelos, fundados em especificidades de seus produtos, podem promover o desenvolvimento local com externalidades positivas no que diz respeito em particular na mobilizao e valorizao de tipicidades territoriais. A abordagem do Sistema Agroalimentar Localizado, SIAL, oferece meios consistentes para uma anlise deste tipo [18].

    Sistemas alternativos de produo

    Aspectos sobre a segurana do alimento despertam a ateno da populao, principalmente porque h uma grande assimetria de informao entre o consumidor e o produtor de alimentos. Geralmente, o consumidor tem informaes incompletas sobre os procedimentos efetuados durante o processo de produo e no tem como saber, a um baixo custo, sobre caractersticas intrnsecas como a existncia de resduos de antibiticos e promotores de crescimento [19]. Porm, a emergncia de novas referncias de qualidade alimentar vem favorecendo o desenvolvimento de solues inovadoras, tais como as certificaes de conformidade: selo orgnico, selo de comrcio justo Fair Trade e selo GlobalGAP. Trata-se de permitir o reconhecimento de prticas mais zelosas com o meio-ambiente, com a sade do consumidor ou com a populao rural.

    A partir da dcada de 1990, algumas empresas passaram a pesquisar alternativas para alimentar as aves com ingredientes mais naturais e saudveis. Surgiram no Brasil, iniciativas de produo de frangos criados sem antibiticos teraputicos, sem antibiticos como melhoradores de desempenho e sem ingredientes de origem animal na rao. A criao alternativa de frangos surgiu como opo ao consumidor [7].

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    Isto parece ter emergido como uma consequncia por demandas mais sustentveis na produo de alimentos, ao mesmo tempo em que se intensificaram os debates sobre o papel da agricultura devido aos problemas fundirios, aos impactos ambientais e crnica escassez de recursos financeiros, notadamente no que se refere aos agricultores, sobretudo os pequenos e mdios.

    No Brasil, a primeira referncia a esse respeito aconteceu durante a Conferncia Rio-92, onde se adotou a discusso do desenvolvimento sustentvel no mbito da agricultura e do meio rural, fundamentando as crticas s conseqncias econmicas, sociais e ambientais da chamada Revoluo Verde [5].

    Regras internacionais na produo e no transporte de animais foram discutidas na OMC, Organizao Mundial do Comrcio [23]. Essas regras, associadas s exigncias do mercado consumidor, estimulam o desenvolvimento de processos produtivos voltados tambm para o equilbrio sanitrio e reduo da dependncia de medicamentos.

    No Brasil, leis e regulamentaes vm sendo estabelecidas nesse sentido. Na Lei no

    10.831, de 23/12/2003, a proteo do meio ambiente e a responsabilidade social so componentes do sistema orgnico de produo [4]. Os produtos orgnicos atraem a ateno dos consumidores, pois alm das qualidades intrnsecas, decorrentes do sistema de produo, possuem qualidades extrnsecas, como: a) proteo do meio ambiente, possibilitada pelo desenvolvimento de um sistema produtivo sustentvel; e b) coeso social, pois esse sistema exige uma utilizao maior de mo-de-obra, sendo uma boa alternativa para o pequeno estabelecimento familiar. Neste ponto, convm lembrar que o alimento orgnico favorece o reconhecimento dos cuidados com o produto e com o territrio de produo, o que repercute sobre a auto-estima dos agricultores. Tais aspectos tm motivado o consumo crescente dos alimentos orgnicos, principalmente na Europa [21].

    No Brasil tambm existe a tendncia do consumidor valorizar o alimento orgnico. Essa constatao tem sido detectada em vrias pesquisas de mercado. Nos ltimos anos, grandes varejistas como Po de Acar e Carrefour vm ampliando a oferta de produtos orgnicos, com apelos vida saudvel (destinando estes alimentos consumidores de alto poder aquisitivo). Convm lembrar que esta tendncia tem base em uma percepo subjetiva do consumidor a respeito de tais produtos.

    Mais recentemente amplia-se a discusso sobre mtodos diferenciados de produo de frangos e ovos. H grandes brechas na legislao brasileira a respeito destes mtodos. Um exemplo claro consiste na ausncia de normas especficas para a produo dos frangos e ovos caipiras, mesmo sendo algo inerente cultura rural brasileira e perfeitamente reconhecida pela imensa maioria da populao do pas.

    Neste ponto inevitvel a comparao com a Frana, visto que l mtodos diferenciados de produo de aves foram estudados com nfase e normatizados pelo setor pblico, constituindo-se em importantes fontes de trabalho para a populao rural. A propsito, esta produo representa volumes significativos da oferta de carne de frangos e ovos em todo o pas. A carne de frangos com certificao Label Rouge representa 25% de todo o frango produzido e consumido no pas. [3]. O selo Label Rouge um selo oficial do Ministrio da Agricultura Francs concedido aos produtores que atendam os requisitos de conformidade qualidade diferenciada destes produtos, os quais so descritos em protocolos especficos e, portanto, passveis de auditorias regulares, conferindo credibilidade aos processos e produtos dele advindos. Os produtos, por si s, transformam-se em excelentes meios de comunicao junto aos seus consumidores, eminentemente urbanos, ampliando o conhecimento e a conscientizao dos mesmos acerca da necessidade de prover a sustentao da produo agrcola integrada a um desenvolvimento rural sustentvel.

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    A agricultura natural e a produo avcola

    O modelo da Agricultura Natural se baseia nos escritos e orientaes deixados por Mokiti Okada (1882-1955), filsofo e espiritualista japons que elaborou um extenso trabalho abordando assuntos ligados poltica, economia, educao, moral, arte, medicina, religio e agricultura. Esta ltima considerada como um dos pilares de sustentao da criao de uma nova civilizao. Mokiti Okada denominou este modelo de produo agrcola como Agricultura Natural, destacando que sua finalidade reside na responsabilidade total pelo abastecimento de alimentos, que so os alicerces para se construir um mundo ideal, isento da doena, da pobreza e do conflito. E ainda, reside na observncia das leis fundamentais da sobrevivncia, aliceradas na correta viso sobre a natureza, estabelecendo-se um modelo de produo sustentvel [11].

    Convm desde j destacar que, apesar do modelo da Agricultura Natural ter sido escrito e inicialmente realizado no Japo, foi no Brasil que encontrou um campo frtil para seu desenvolvimento. Seu crescimento em territrio brasileiro maior do que em qualquer outro pas.

    Realando esta importncia brasileira neste campo, convm assinalar que o princpio fundamental da Agricultura Natural o absoluto respeito natureza, concebida como grande mestra [17]. O modelo possui uma base terica que privilegia a sade humana, responsabilidade social, preservao do meio ambiente e prticas de produo mais naturais, respondendo s expectativas de um nmero crescente de pessoas em todo mundo. De tal modo possvel destacar idias como: quando se observa o desenvolvimento e o crescimento de tudo que existe, compreende-se que no h nada que no dependa da fora da Grande Natureza [8]. Portanto, esta perspectiva prope que se devam observar os processos naturais e introduzi-los naqueles de produo de alimentos. Pelos escritos deixados por Mokiti Okada [17] podemos observar uma acentuada preocupao com o bem estar do produtor, com a preservao do meio ambiente, notadamente com a fertilidade do solo, alcanada exclusivamente por prticas naturais.

    Mokiti Okada enfatiza ainda em seus trabalhos a necessidade de que os agricultores despertem para sua elevada misso que a de produzir alimentos nobres e puros voltados ao desenvolvimento fsico, mental e emocional de homens e mulheres, capacitando-os a construir um mundo onde predomina a sade, a paz e a prosperidade. A disseminao desta compreenso entre consumidores torn-los-ia atores num processo de construo de condies ideais no ambiente rural. A simples compra de gneros alimentcios desta natureza transforma-se assim num processo consciente de consumo, onde o valor agregado nos produtos transfere-se a montante, beneficiando seus produtores primrios.

    Aqui, convm mencionar que Paulo Moruzzi Marques e Miguel Silveira [15] analisam um fenmeno pertinente de adoo de uma postura favorvel gesto sustentvel das propriedades rurais que consiste, em grandes linhas, em reforar a agricultura familiar, respeitar a natureza, assegurar a qualidade alimentar e permitir uma dinamizao territorial. De fato, trabalhos recentes de pesquisadores brasileiros revelam o interesse acadmico crescente por princpios existentes no mbito da Agricultura Natural.

    Na medida em que o mtodo da Agricultura Natural foi ganhando adeptos no ambiente agrcola, meios comerciais tiveram que ser executados para permitir o escoamento de produtos. Desta forma, uma escala comercial se desenvolveu permitindo o desenvolvimento e a produo de frangos e ovos diferenciados. Concorrentemente, aconteceu um amplo desenvolvimento tecnolgico, o qual permitiu a produo em bases sanitrias e econmicas sustentveis, verificadas na melhoria do rendimento e qualidade dos produtos do abatedouro, nas granjas avcolas integradas de frango e ovos, na fbrica de

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    rao e, sobretudo na fidelizao dos produtores a este mtodo em detrimento do mtodo convencional oferecido por um grande numero de empresas integradoras de frangos.

    Nossos estudos sobre a atividade avcola diferenciada permitiro discutir suas contribuies para tais funes, tais como a melhor remunerao do produtor contribuindo para a fixao de sua famlia no campo, o fortalecimento do tecido social rural, o aumento da diversidade territorial, e por fim, a melhoria da qualidade alimentar e da sade de produtores e consumidores.

    Ainda cabe lembrar outro aspecto fundamental em torno da grande rede de suprimentos que os modelos produtivos necessitam para funcionar adequadamente. Na produo de aves imprescindvel a oferta constante e com qualidade de alimentao animal. Assim, a avicultura natural estimula a constituio de uma significativa rede de produo destes insumos, pautadas igualmente pelos princpios da Agricultura Natural, iniciando com a reduo do uso de adubos solveis e agroqumicos e com o uso de compostos naturais nas reas integradas de produo de gros para a obteno de colheitas igualmente produtivas.

    Os aspectos inovativos da produo

    Existem empresas brasileiras de produtos naturais e orgnicos, produzindo desde FLVC (frutas, legumes, verduras e cereais) exclusivamente orgnicos e certificados, at ovos e carne de frango em sistemas alternativo e tambm orgnico. Tais empresas exercem uma grande influncia regional no seu ambiente de produo rural e contribui com a elevao da conscincia de milhares de pessoas em todo o Brasil para as questes sociais, ambientais e de sade concernentes produo de alimentos.

    Para estas empresas, a certificao, por instituies independentes, pode ser um instrumento para a sustentao da sua marca. A certificao transmite para o consumidor informaes no perceptveis, como o processo de produo, ao mesmo tempo em que pode evitar a entrada de oportunistas. [10].

    Quanto comercializao, a pequena escala compensada pela estratgia de diferenciao de produto. Esta exige que o atributo diferenciador seja garantido pela empresa e que o mesmo seja percebido e valorizado pelo consumidor. Farina e Almeida [10], em estudo exploratrio da percepo dos consumidores de frango alternativo, verificaram que apesar das caractersticas dos produtos serem de difcil observao, o diferencial de preo sinaliza que os consumidores valorizam alguns atributos do frango natural que no esto presentes no convencional. Esses consumidores fazem parte das classes A e B, tanto em termos de renda quanto em termos de escolaridade.

    Esta crescente demanda permite apontar a importncia de estudos sobre a cadeia avcola diferenciada, como a avicultura natural, uma vez que, nos ltimos anos, poucos foram os trabalhos desenvolvidos relativos a modelos de produo avcola de corte e postura, sem a utilizao de medicamentos e insumos qumicos industriais. De fato, muitas das orientaes que sustentam sistemas orgnicos e alternativos de produo anteciparam tendncias que atualmente expressam-se no mercado global de alimentos. O mtodo da Agricultura Natural no foge a esta condio e parece trazer uma importante contribuio produo de alimentos desta qualidade. Ressalta-se portanto a escassez de trabalhos acadmicos mais estruturados, capazes de elucidar ou mesmo apresentar nos campos cientfico e profissional os diferenciais, a amplitude e os potenciais benefcios deste modelo.

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    Assim, entre as linhas de questionamentos pertinentes, seria conveniente saber em que medida a implantao de um sistema avcola da Agricultura Natural favorece um desenvolvimento territorial mais equilibrado, promovendo a produo familiar e o cuidado ambiental. Ento, uma empresa agropecuria que produz em modelos verticalizados, atravs da integrao dos produtores, e que busca adequar e harmonizar todas as prticas de produo, de forma a ter uma matria prima com a garantia de ter sido produzida com os diferenciais do mtodo da Agricultura Natural, poderia contribuir at que ponto para o desenvolvimento rural sustentvel?

    Podemos considerar aqui que crescente o reconhecimento de que diferentes formas de organizar a produo tm impactos significativos sobre a capacidade de reao a mudanas no ambiente competitivo, identificao de oportunidades de lucro e ao estratgica [9]. Deve-se considerar ainda o desconhecimento dos consumidores sobre os diferenciais dos produtos orgnicos e alternativos, a dificuldade de enquadrar a criao nas normas sanitrias da avicultura industrial, a ausncia de regulamentao quanto aos padres de qualidade dos produtos e as restries tcnicas impostas pelas normas orgnicas de produo, causando um impacto na eficincia e competitividade das empresas neste modelo produtivo.

    Por outro lado, numa ambiente de concorrncia industrial, as cadeias de produo de frangos e ovos podem ser consideradas como um dos setores mais eficientes do pas. Isto traz implicaes e dificuldades bvias para qualquer iniciativa que busque a diferenciao. Sabemos que os consumidores em geral, aceitam pagar um prmio de preo, entretanto, h limites claros nesta liberalidade [10]. A diferenciao dever ser cuidadosa, pois no haver sustentao do processo da avicultura alternativa se a produtividade e eficincia no forem muito bem consideradas como um dos requisitos necessrios (e de constante busca pelo produtor e pela agroindstria), no caso de processos integrados de produo. Caso contrrio, a diferena entre os preos de um produto alternativo e do convencional similar se tornar to elevada que limitar a expanso de um modelo diferenciado.

    Especificamente na produo orgnica de frangos, podemos j observar este fenmeno no Brasil. Os requisitos da legislao da produo orgnica so a tal ponto exigentes que, desfavorecendo a eficincia produtiva, tornam o produto final demasiado caro e, portanto, acessvel apenas a parcela muito limitada dos consumidores, aprisionando o processo num mercado de nicho. No modelo produtivo orgnico, podem ocorrer problemas significativos, como no suprimento e armazenagem de gros com certificao orgnica para produo das raes, com diminuio da eficincia produtiva, aumento de custo e prejuzo qualidade devido a reaes de oxidao de gorduras e infestao de pragas, por exemplo. Outro requisito diz respeito menor densidade de alojamento nos avirios, reduzindo a renda do produtor orgnico.

    Custos e produtividade so indicadores de eficincia que explicam em parte a competitividade. No entanto, inovao em produto e processo, para atender adequadamente demandas por atributos especficos de qualidade exigidos por consumidores ou clientes, tambm explica um desempenho favorvel que, se no prescinde de custos e produtividade, pode ser elemento determinante da preservao e melhoria das participaes de mercado [13]. Nesta linha, o desenvolvimento tecnolgico recente vem permitindo que o setor agrcola possa responder crescente diversidade da demanda, por meio da identificao e separabilidade de atributos valorizados pelo consumidor, tais como contedo controlado de gordura, protena, carboidratos ou ainda, alimentos sem resduos qumicos, etc. [12].

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    Deve-se destacar ainda a importncia que as economias de escala tm na avicultura em todo o mundo. O crescimento do formato de integrao na produo do frango permite a reduo dos custos de produo e de transao, resultando no aumento da competitividade, que geralmente se inicia na reduo dos preos dos fatores de produo, frango, rao, insumos, etc. [12]. Na avicultura alternativa, as empresas operam em escalas significativamente reduzidas. Assim, necessrio que desenvolvam inicialmente uma capacidade de encontrar e explorar nichos de mercado, reduzindo o impacto da escala na competitividade do negcio, caracterizando uma estratgia genrica com explorao de nicho [22].

    A cadeia de produo da avicultura alternativa

    A anlise e compreenso da cadeia produtiva da avicultura natural podero contribuir para a cooperao entre os agentes, o estabelecimento de polticas pblicas e o direcionamento de investimentos, com o aumento da competitividade e crescimento do mercado para produtos brasileiros. Neste sentido, muito pertinente estudar quais so os impactos sociais, territoriais, ambientais e econmicos da estruturao de um sistema integrado de produo avcola nos moldes da produo natural.

    Numa viso sistmica, comparando-se as vrias cadeias produtivas de alimentos no Brasil, talvez possamos perceber que aquelas de produo avcola sejam as mais fortemente orientadas para a produo e para a reduo de custos, gerando uma estrutura dominada pelas grandes agroindstrias do setor. Neste modelo, notria a dificuldade que se tem em distribuir os benefcios marcadamente em direo ao produtor. H uma acirrada disputa de preos, reduzindo margens, que na maioria das vezes esmaga o pequeno agricultor. Assim uma estratgia de escopo, como no caso da produo diferenciada com atributos especficos de qualidade, pode permitir que o prmio de preo pago pelo consumidor possa se transmitir montante, rentabilizando o produtor, favorecendo o desenvolvimento rural sustentvel.

    Uma cadeia de produo agroindustrial pode seguir um ciclo de vida anlogo ao ciclo de vida dos produtos, atingindo uma fase de declnio que assinalaria sua substituio por um sistema mais eficiente, tributrio de novas tecnologias, bem como de uma nova rede de relaes tcnicas, logsticas e comerciais [3]. Interessa-nos neste caso avaliar a construo de novas redes de relao, sobretudo as relacionadas s questes sociais, culturais e ambientais no meio rural.

    O modelo de estudo das cadeias agroindustriais e seu enfoque sistmico permite-nos utiliz-lo em relao s suas principais aplicaes para esta anlise. Como uma ferramenta de descrio tcnico-cientfica, anlise da estratgia das firmas, das inovaes tecnolgicas e da competitividade. Neste caso em particular, utiliz-la ainda como subsdio para formulao de polticas pblicas, relacionadas s normativas referentes segurana alimentar, pode ser de especial interesse [20].

    relevante o papel dos consumidores nestes desenvolvimentos. Qual o impacto das mudanas culturais da sociedade nos processos produtivos e nos modelos de gesto da cadeia? [2]. Nesta perspectiva, alm dos fatores inerentes cadeia agroindustrial, como mercado, tecnologia e logstica, importam-nos o conhecimento de fatores culturais, sociais e ambientais.

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    Concluso

    Torna-se fundamental nos dias de hoje adicionar em nossos processos de produo de alimentos os aspectos sociais, ambientais, relativos qualidade alimentar e sustentabilidade. No mais podemos abordar a questo da produo apenas olhando a produtividades dos sistemas, mas devemos incluir outras variveis. A questo primordial aprendermos a trabalhar num nvel de complexidade muito maior do que at ento. De nosso ponto de vista, destes ngulos que vale a pena examinar as proposies e impactos da Agricultura Natural.

    Referncias bibliogrficas 1. ANURIO DE PECURIA BRASILEIRA (ANUALPEC), So Paulo, p. 234, 261, 269,

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    pesquisas agroindustriais. So Paulo: Atlas 3Ed, 2008. 3. BASTIANELLI, D. A produo de Frangos Diferenciados na Frana. Mercado,

    aspectos organizacionais e regulamentares. CONFERNCIA APINCO DE CINCIA E TECNOLOGIA AVCOLAS, 2001.

    4. BRASIL. Presidncia da Repblica. Casa Civil. Lei No 10.831, 23/12/2003. Dispe sobre

    a agricultura orgnica e d outras providncias. Disponvel em http://www.presidencia.gov.br/cccivil_03/Leis/2003/L10.831.htm. Acesso em: 20 de agosto de 2009.

    5. CARNEIRO, M. J; MALUF, R. S. Para alm da produo: multifuncionalidade e

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    Policy Research Institute, 1999. 7. DEMATT FILHO, L. C. Aditivos em dietas para frangos de corte criados em sistema

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    8. DEMATT FILHO, L. C.; MENDES, C.M.I. Viabilidade tcnica e econmica na criao

    alternativa de frangos. In: CONFERNCIA APINCO DE CINCIA E TECNOLOGIA AVCOLAS, 2001, Campinas. Anais... Campinas: FACTA, p.255-266, 2001.

    9. FARINA, E. M. M. Q. Competitividade e coordenao dos sistemas agroindustriais: a

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    10. FARINA, T. M. Q.; ALMEIDA, S.F. A percepo dos consumidores de frangos

    alternativos. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA RURAL, 40, Passo Fundo, 2002. Anais... Passo Fundo: SOBER, 2002.

    11. FUNDAO MOKITI OKADA - MOA. Microrganismos eficazes EM na agricultura. 2.

    ed. Ipena: FUNDAO MOKITI OKADA, 2002a. 29p.

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    12. IPARDES. Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econmico e Social. Anlise da Competitividade da Cadeia Agroindustrial de Carne de Frango no Estado do Paran. Curitiba, 230p, 2002.

    13. KENNEDY, P. L.; HARRISON, R.W.; PIEDRA, M.A., Analyzing Agribusiness

    Competitiveness: Case of the United States Sugar Industry, International Food and Agribusiness Management Review, 1(2):245-257. JAI PRESS INC, 1998.

    14. MENTEN, J. F. M. Aditivos alternativos na nutrio de aves: probiticos e prebiticos.

    In: MATTOS, W.R.S. et al. A produo animal na viso dos brasileiros. Piracicaba: FEALQ, p141-157, 2001.

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    16. OECD: www.ocdebetterlifeindex.org. Acesso em 30 de Maio de 2011. 17. OKADA, M. A outra face da doena: a sade revelada por Deus. Atami, Japo:

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    19. PENSA, Programa de estudos dos negcios do sistema agroindustrial. ESTUDO

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    20. PORTER, M. The Competitive Advantage of Nations. Harvard Business Review, p.

    73-93, march-april, 1990. 21. REZENDE, C. L. A Coordenao do Sistema Agroindustrial do Tomate Orgnico

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    22. SILVA, C. A. B.; BATALHA, M. O. Competitividade em Sistemas Agroindustriais:

    Metodologia e Estudo de Caso. In: Competitividade em Sistemas Agroindustriais: Metodologia e Estudo de Caso. 1999, Ribeiro Preto. . Anais do II Workshop Brasileiro sobre Gesto de Sistemas Agroalimentares, 1999.

    23. Valor Econmico On Line (2008). Aceso em 28/09/2008. www.valoronline.com.br.

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    ESTRATGIAS PARA REDUO DO IMPACTO AMBIENTAL DA ATIVIDADE PECURIA

    Mrio Luiz Chizzotti1, Mrcio Machado Ladeira1, Otvio Rodrigues Machado Neto1 e Leandro Smia Lopes2

    1Universidade Federal de Lavras

    2Universidade do Estado de Santa Catarina

    Introduo

    Mudana climtica no mundo resultante do aumento das concentraes de gases na atmosfera tem levado alterao do balano de entrada e sada de radiao solar do planeta, provocando aquecimento da superfcie terrestre. Os principais gases responsveis pelo efeito estufa so: dixido de carbono (CO2), metano (CH4), xido nitroso (N2O), clorofluorcarbonos (CFC`s) e oznio (O3) (Cotton & Pielke, 2006).

    O Brasil tem um perfil de emisses de gases de efeito estufa diferente dos demais pases do mundo, com forte concentrao de emisses em atividades relacionadas ao Uso da Terra, Mudana no Uso da Terra e Florestas. Vale ressaltar que no Brasil as emisses resultantes das atividades relacionadas ao uso da terra e florestas so mais de trs vezes superior mdia mundial (Souza & Azevedo, 2006).

    As atividades agropecurias contribuem para o total de metano emitido, principalmente com a produo de arroz inundada, fermentao entrica dos animais e a degradao de dejetos e resduos, com respectivamente 11%, 16% e 17%, sendo que os animais contribuem com 5% deste ltimo item (UESPA, 2000).

    Um dos grandes problemas enfrentados pela pecuria nacional, alm do desmatamento de novas reas para a implantao de sistemas agropecurios, o metano liberado pelos bovinos na atmosfera. De acordo com Cotton & Pielke (1995), o metano caracteriza-se como um importante gs de efeito estufa que contribui com cerca de 15% do aquecimento global, alm de estar diretamente relacionado eficincia da fermentao ruminal e consequente perda de energia nos sistemas de produo. Pode ser considerado tambm responsvel por 6% a 18% da energia bruta que perdida durante o processo fermentativo (Pedreira & Primavesi, 2006).

    No Brasil, 68% da pecuria representada por bovinos (87% de corte e 13% de leite aproximadamente), sendo considerado o maior rebanho comercial bovino do mundo. Grande parte desses animais do tipo zebuno, criados em sistemas predominantemente extensivos, de baixa especializao e de baixo investimento de capital. Segundo dados da Comunicao Nacional Inicial do Brasil (MCT, 2004), no Brasil, a atividade agropecuria representa 2/3 das emisses de gases de efeito estufa, e se contabilizarmos os desmatamentos, o nosso pas passa a ser o 5 no ranking mundial dos pases que mais emitem gases de efeito estufa.

    No mundo, as emisses de metano pela fermentao entrica de ruminantes contribuem com 22% (70 a 100 milhes de toneladas/ano) de todo o gs produzido pela humanidade. J no Brasil, com um rebanho de aproximadamente 185 milhes de animais, h uma emisso de aproximadamente 9,5 milhes de toneladas de metano/ano, ou seja, 2,5% de todo o gs produzido mundialmente, porm estes dados equivalem a 69% do total das emisses brasileiras de metano.

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    Diante disso, verifica-se que o conhecimento sobre os fatores que possibilitam a reduo do ciclo de produo na pecuria de corte e da emisso de gases de efeito estufa por esta atividade, de suma importncia para tornar a pecuria brasileira mais sustentvel e produtiva.

    Reduo no ciclo de produo e seu impacto sobre a emisso de gases de efeito estufa

    A eficincia dos sistemas brasileiros ainda passvel de melhorias, assim, tem grande capacidade de aumentar a quantidade de produto final, mantendo ou reduzindo a emisso de GEE. Conforme estimativas realizadas por Barioni et al. (2007), o aumento da taxa de natalidade de 55 para 68%, a reduo na idade de abate de 36 para 28 meses e a reduo na mortalidade at um ano de sete para 4,5%, permitiria que em 2025 as emisses de metano em relao ao equivalente carcaa produzido fossem reduzidas em 18%. Isso seria possvel mesmo com o aumento estimado em 25,4% na produo de carne. Ou seja, toda ao que melhore a eficincia do sistema de produo reduz proporcionalmente a emisso de metano, uma vez que mais produto (carne, leite, l, etc.) ser produzido em relao aos recursos utilizados (Guimares et al., 2010).

    Diante do exposto e considerando a ampla variedade de sistemas de produo de gado de corte no Brasil, Chizzotti et al. (2011) realizaram uma simulao do efeito da reduo da idade de abate atravs da intensificao dos sistemas de produo de bovinos de corte e tambm do efeito da melhoria da eficincia alimentar sobre o impacto ambiental da atividade pecuria, principalmente no que diz excreo de metano entrico e a excreo urinria de nitrognio. As simulaes foram realizadas para vrios sistemas de produo, considerando diferentes cenrios para abate de animais aos 44, 30, 26, 20 ou 14 meses de idade (Figura 1 e Tabela 1). importante salientar que no foram considerados os custos energticos da produo de alimentos conservados (silagem) e tambm de alimentos concentrados, que so custos importantes quando da utilizao de sistemas altamente intensivos, como por exemplo, queles visando o abate de animais aos 14 meses de idade.

    O consumo de matria seca foi calculado ms a ms, considerando o nascimento no ms de outubro. Utilizou-se a equao preconizada pelo BR-CORTE (2010) para estimar o consumo dirio, com base no peso vivo metablico e no ganho mdio dirio. Considerou-se a desmama aos sete meses de idade e peso de 180 kg para todos os sistemas, exceto para o sistema com abate aos 44 meses, onde consideramos peso a desmama de 150 kg e para o sistema 14 meses, onde a desmama ocorreu aos oito meses aos 220 kg.

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    Figura 1. Peso corporal dos animais em funo do ms e do sistema de produo

    Para o sistema 44 meses, considerou-se ganho de peso de 600 g/dia como mdia do perodo das guas (outubro a abril) e perda de 100 g/dia para o perodo da seca (maio a setembro), considerando um sistema extensivo, sem suplementao. Para o sistema 30 meses, considerou-se ganho de peso de 650 g/dia como mdia do perodo das guas (outubro a abril) e ganho de 100 g/dia para o perodo da seca (maio a setembro), considerando suplementao com mistura proteinada no perodo da seca e mineral no perodo das guas e terminao a pasto com ganho de 1 kg/dia nos ltimos 90 dias. Para o sistema 26 meses, considerou-se ganho de peso de 650 g/dia como mdia do perodo das guas (outubro a abril) e ganho de 350 g/dia para o perodo da seca (maio a setembro), considerando suplementao com mistura mltipla no perodo da seca e mineral no perodo das guas e terminao a pasto com ganho de 1 kg/dia nos ltimos 90 dias. Para o sistema 22 meses, considerou-se ganho de peso de 850 g/dia como mdia do perodo das guas (outubro a abril) e ganho de 350 g/dia para o perodo da seca (maio a setembro), considerando suplementao com mistura mltipla no perodo da seca e no perodo das guas, e terminao em confinamento com ganho de 1,5 kg/dia nos ltimos 90 dias. J para o sistema de abate aos 14 meses, considerou-se um animal confinado por seis meses logo aps a desmama, com ganho mdio no confinamento de 1,4 kg/dia. A partir do ganho e do peso, calculou-se o consumo dirio e o mesmo foi convertido em consumo mensal de matria seca. Para estimar a produo fecal, estimou-se digestibilidades de 55, 45 e 65% para os perodos das guas, seca e terminao, respectivamente, e a partir desses valores estimou-se a produo de matria seca fecal.

    Considerando os parmetros estabelecidos pelo IPCC (2006), o consumo de energia bruta foi estimado considerando 18,45 MJ/kg de MS no alimento e o fator de emisso de metano de 6,5% da EB ingerida e de 2% da energia bruta fecal. A perda de energia na forma de metano foi convertida para kg de metano, considerando o valor calrico de 55,65 MJ/kg CH4.

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    Tabela 1. Simulao do efeito da idade de abate sobre a emisso de metano por bovinos de corte

    Idade ao abate (meses)

    44 30 26 20 14

    CMS nasc-abate (kg) 6258 4832 4349 2996 2077

    CMS nasc-abate (MJ) 115460 89159 80241 55271 38329

    GMD nasc-abate (kg/dia) 0,358 0,523 0,606 0,778 0,957

    Produo Fecal nasc-abate (kg) 2986 2166 1917 1225 799

    Peso de Nascimento (kg) 28 28 28 28 28

    Peso de Abate (kg) 501 499,5 501 495 472

    Fator de emisso, ferm. Entrica (% EB) 6,5 6,5 6,5 6,5 6,5

    CH4nasc-abate, MJ 7505 5795 5216 3593 2491

    CH4nasc-abate, kg 134,9 104,1 93,7 64,6 44,8

    Fator emisso, fezes (% EB) 2 2 2 2 2

    CH4nasc-abate, MJ 1102 799 707 452 295

    CH4nasc-abate, kg 19,8 14,4 12,7 8,1 5,3

    Emisso total de CH4, kg 154,7 118,5 106,4 72,7 50,1

    Reduo em relao ao abate aos 44m -23,4% -31,2% -53,0% -67,6%

    Reduo em relao ao abate aos 30m - -10,2% -38,7% -57,7%

    Reduo em relao ao abate aos 26m - - -31,7% -53,0%

    CMS =consumo de matria seca total;nasc-abate = do nascimento ao abate.

    Ao se reduzir a idade de abate de 44 para 30 meses pode ser observada uma marcante reduo no consumo de recursos naturais e tambm no impacto ambiental da atividade. Nesta situao, o consumo de matria seca total, do nascimento ao abate foi reduzido de 6258 kg para 4832 kg. Com isso, houve uma concomitante reduo na excreo fecal de 2986 kg para 2166 kg. Com relao produo de metano total, observamos uma reduo de 23%. Ressaltamos que a diferena de um sistema para o outro deve-se a utilizao de pequena quantidade de suplemento na seca e um pequena melhoria no sistema de manejo de pastagem, implicando em pequeno incremento nos GEE oriundos da produo de alimentos.

    Para animais que recebem suplementao mltipla nas secas e nas guas e o confinamento na terminao (sistema 20 meses) a emisso de metano reduzida em 53%, podendo chegar a 68% de reduo no caso de animais superprecoces (sistema 14 meses). Entretanto, a emisso de GEE oriundo dos alimentos e do transporte e fornecimento desses no foi considerada, o que certamente deve diminuir o potencial de mitigao dos sistemas mais intensivos. Vale ressaltar ainda, que embora o IPCC (2006) considere um fator de emisso fixo de 6,5% da energia bruta ingerida para dietas com menos de 90% de concentrado, esse fator tende a ser inferior em dietas com maior participao de concentrado o que tende a reduzir ainda mais a emisso por animal em sistemas mais intensivos. Em relao emisso de Gases de Efeito Estufa GEE, especialmente o metano (CH4), resultados de OHara et al. (2003) indicam que a emisso desse gs menor quanto mais produtivo for o animal.

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    Quando avaliamos a emisso de metano por unidade de produto, o impacto da reduo da idade de abate ainda mais intenso (Tabela 2). Mesmo considerando um rendimento de carcaa similar entre os sistemas, o que penaliza os sistemas que utilizam o confinamento, a reduo da emisso de metano da ordem de 60% ao compararmos o sistema com abate aos 44 meses com o de abate aos 20 meses de idade. medida que utilizamos tecnologias para melhorar o desempenho animal, estamos indiretamente agregando valor ao produto se exploramos o conceito ambientalista, o que certamente necessita de valorao e quantificao (Berndt, 2010).

    Tabela 2. Simulao do efeito da idade de abate sobre a emisso de metano por kg de carne bovina.

    Idade ao abate (meses)

    44 30 26 20 14

    Rendimento de Carcaa (kg/kg PV) 0,52 0,52 0,52 0,52 0,52

    Peso da Carcaa (kg) 261 260 261 257 269

    Total de Carne (kg) 113,7 126,2 129,9 136,2 140,7

    Kg de Metano/kg de carne 1,36 0,94 0,82 0,53 0,36

    Reduo em relao ao abate aos 44m -30,9% -39,7% -60,7% -73,8%

    Reduo em relao ao abate aos 30m -12,7% -43,2% -62,1%

    Reduo em relao ao abate aos 26m -34,9% -56,6%

    A reduo do impacto ambiental da atividade pecuria resultante do aumento na eficincia produtiva atingida atravs do efeito de diluio da mantena (Capperet al., 2009). Dentro da indstria da carne bovina, isso pode ser definido como uma reduo e diluio da mantena da populao de animais, de uma forma geral, a qual engloba os efeitos individuais e a interao entre produo de carne por animal, exigncia diria de mantena e o tempo gasto do nascimento ao abate e a eficincia reprodutiva. Outro exemplo pode ser demonstrado ao se comparar algumas caractersticas da pecuria de corte norte-americana em 1944 e 2007. Em 2007, a energia total requerida por animal era maior quando comparada requerida em 1944, no entanto, a reduo do tempo necessrio entre o nascimento e o abate alm do aumento do peso de abate dos animais teve como consequncia a reduo da exigncia total de energia por kg de carne produzida. Segundo Capper et al. (2009) a produo mdia de carcaa por animal aumentou de 274 kg em 1977 para 351 kg em 2007. Embora tenha ocorrido, segundo o autor, um aumento da produo total de carne entre 1944 e 2007 (houve um aumento de 10,6 bilhes de kg para 11,9 bilhes de kg) a populao de animais abatidos para estas produes foi reduzida em 825.000 animais por bilho de kg de carne produzida sobre o mesmo perodo de tempo, o que uma consequncia direta do aumento da produo de carne por animal.

    Com o emprego de tecnologias que permitam o aumento na taxa de crescimento de bovinos (ganho de peso corporal/dia), verifica-se que o tempo gasto entre o nascimento e abate reduzido. Entre estas tecnologias, a suplementao estratgica com alimentos concentrados para animais mantidos em pastagem e a utilizao do confinamento promovem alteraes nos padres de fermentao ruminal, o que pode ser considerado benfico em termos da emisso de metano.

    Diante do exposto, Chizzotti et al. (2012) realizaram nova simulao, onde foramutilizados 352 bovinos zebunos e cruzados de diferentes classes sexuais, cujos consumos de energia metabolizvel (CEM) individuais foram utilizados para predio de perda de energia na forma de metano. A produo de metano de cada animal foi estimada por:

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    CH4 (Mcal/dia) = [4,38 + 0,0586 CEM (MJ/dia)]/ 4,184

    adaptada de Elis et al., (2007).

    A partir da produo de metano diria, foi calculada a emisso de metano por quilo de massa corporal formada (ganho de peso de corpo vazio, ou seja, o ganho de peso corporal, excluindo-se o ganho em contedo digestivo) para avaliar a emisso de metano por kg de produto produzido.

    Na Figura 2 fica evidente que um aumento no desempenho animal reduz consideravelmente a emisso de metano por quilo de ganho, principalmente quando esse aumento ocorre em situaes de baixa produtividade (ganho de peso abaixo de 200 g/dia).

    Figura 2. Emisso de metano por kg de ganho corporal em funo do desempenho de bovinos de corte.

    Adaptado de Chizzotti et al. (2012).

    Sendo assim, estratgias que aumentem a produtividade por animal, mesmo que simples como um manejo adequado de pastagem, tem grande potencial de reduzir a pegada de carbono da carne bovina. Ressaltamos novamente que a emisso oriunda dos insumos utilizados no foi considerada na simulao, uma vez que para desempenhos elevados, a utilizao de insumos (volumosos conservados, concentrados, energia, diesel, etc...) tambm se intensifica.

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    A eficincia de utilizao da energia ingerida para animais em crescimento pode ser expressa como a porcentagem de energia metabolizvel ingerida que retida no corpo (Chizzotti et al., 2007).

    Quanto maior o consumo de energia por unidade de peso do animal, maior a quantidade de energia depositada, pois h uma reduo na porcentagem de energia perdida na forma de calor (Figura 3), pois novamente, a exigncia de energia para mantena diluda em animais mais produtivos.

    Figura 3. Porcentagem de energia retida ou perdida da forma de metano ou calor (% do consumo de energia

    metabolizvel) em funo do consumo de energia metabolizvel de bovinos. Adaptado de Chizzotti et al. (2012).

    O aumento no consumo de energia por unidade de peso do animal (Mcal/kg de peso metablico) conseguido com o aumento na participao de concentrado na dieta.

    Embora a produo absoluta de metano (L/dia, kg/dia ou Mcal/dia) aumente com o aumento do uso de concentrado, o maior teor energtico eleva o desempenho animal e dessa forma reduz a produo de metano por quilo de produto formado.

  • II ANISUS

    Congresso Brasileiro de Produo Animal Sustentvel Chapec, SC 29 a 31 de maio

    PALESTRAS

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    Em termos de eficincia, a porcentagem de energia ingerida perdida na forma de metano reduz gradualmente com o aumento no consumo de energia metabolizvel, e caso a emisso de GEE oriunda da produo e fornecimento de concentrado no seja superior reduo na produo de GEE relativa ao animal, o aumento no teor de concentrado e principalmente a suplementao estratgica podem constituir em importantes estratgias para reduo da pegada de carbono da carne bovina.

    Eficincia na utilizao do nitrognio

    Considerando que o xido nitroso um gs com grande potencial de aquecimento (uma molcula deste gs equivale ao potencial de efeito estufa de cerca de 250 molculas de dixido de carbono), a determinao das exigncias nutricionais de protena para mantena e crescimento de bovinos de corte, de extrema importncia pa