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CONJUNTO UNIVERSITÁRIO CÂNDIDO MENDES
O LÚDICO E A CRIANÇA PORTADORA
DE
SÍNDROME DE DOWN
CONJUNTO UNIVERSITÁRIO CÂNDIDO MENDES
O LÚDICO E A CRIANÇA PORTADORA
DE
SÍNDROME DE DOWN
I
Trabalho entregue como requisitoparcial para a obtenção do título dePsicopedagoga.
AGRADEÇO A DEUS,À PROFESSORA FABIANE E A AMIGA DANIELA
II
DEDICO ESTE TRABALHO AO MEU FILHO VICTOR
NEIDE, GILBERTO E OLIVIA PESSOAS ESPECIAIS EM MINHA VIDA.
III
Resumo O brinquedo auxilia no processo de formação das funções psicológicas,
intelectuais e morais da criança. Brincar é uma atividade interna da criança baseada
no desenvolvimento da imaginação e na interpretação da realidade.
Estudando como o sujeito constrói seu conhecimento, Jean Piaget observou
crianças brincando e constatou que: quando novas situações são oferecidas pelo
ambiente, são percebidas como desafiadoras, e estimulam o organismo no sentido
de solucioná-las, utilizando estruturas mentais já existentes. Quando essas
estruturas se mostrarem insuficientes, o sujeito irá modificá-las com o objetivo de
chegar a uma forma mais adequada de trabalhar com a situação.
A família é o primeiro grupo social o qual a criança irá se relacionar. O adulto
ao brincar com a criança deve estar atento, pois cada gesto ou som explicitado
pode ser considerado uma conquista individual ou um desconforto.
O período sensório-motor é considerado a fase do comportamento inteligente,
antes do desenvolvimento da linguagem. Tomando como referencial o nascimento,
neste momento, o indivíduo é o centro do mundo, mas ele se desconhece como tal.
A criança é capaz de organizar as informações adquiridas através das sensações e
desenvolver respostas relacionadas com seus estímulos ambientais. Na infância é
possível perceber que os comportamentos sociais ampliam-se, gradativamente, de
acordo com as experiências vividas pela criança. E que qualquer forma de aprender
começa pela exploração direta dos objetos, para depois entender os elementos que
os compõem.
A visão pedagógica deste trabalho, compreende o desenvolvimento da
inteligência como um processo constante de contínua equilibração das estruturas
cognitivas ativada pela ação, interação e interelação do sujeito, que constrói o seu
conhecimento com o meio físico e cultural. Por meio de pequenos objetos, simples,
que aparentemente são apenas brinquedos, o educador pode estimular a
combinação e ampliação da ação da criança auxiliando-a para que através de novas
vivências e desafios, ela possa construir dentro do seu ritmo próprio a lógica formal.
Tudo se torna possível na brincadeira. Os jogos e brinquedos utilizados na
educação infantil devem estar voltados também para os tipos de pensamentos que
podem provocar, e não apenas serem utilizados como regras durante a
aprendizagem escolar.
IV
METODOLOGIA
Acreditando no indivíduo como agente ativo na construção de sua
inteligência. Este trabalho destaca entre as etapas Psicomotoras, Sociais e
Cognitivas do desenvolvimento infantil nos dois primeiros anos de vida, enfatizando
o período sensório motor de acordo com os estudos da Epistemologia Genética de
Jean Piaget.
No decorrer deste trabalho, encontramos observações, informações e
vivências que demonstram como unir a teoria e prática na estimulação da
construção do conhecimento no indivíduo. Mesmo não apresentando um capítulo
sobre a afetividade, ela destaca-se durante todo o trabalho, pois é através da
relação com o “outro” que se constrói o sujeito.
O estudo, valoriza os comportamentos da criança durante sua evolução.
Desde o nascimento a criança deve ser observada, acompanhada com atenção e
carinho, nesta fase, serão formadas diferentes estruturas que influenciarão na sua
construção enquanto sujeito autônomo, confiante e participativo na sociedade.
V
Índice
Capítulo I: O homem um ser inteligente. A importância da estimulação para a construção do conhecimento.
Conhecendo o portador da Síndrome de Down.
A vida de Jean Piaget.
Capítulo II: Evolução Cognitiva e a Brincadeira. Brincadeira e brinquedos: um breve histórico.
Bases teóricas do desenvolvimento cognitivo segundo Jean Piaget:
Estágios do desenvolvimento cognitivo.
Período sensório-motor.
A imitação enquanto brincadeira no período sensório-motor.
Capítulo III: Interação social. Estimulação em ambientes variados
A importância do brincar na relação da criança com o adulto.
A vez do responsável.
Capítulo IV: A Brincadeira e a prática educacional. Estimulação: O início da formação do cidadão.
O prazer de brincar.
Conclusão
Referência bibliográfica
VI
Introdução Este trabalho apresenta uma fundamentação teórica baseada na
Epistemologia Genética de Jean Piaget. Tem como objetivo, analisar a importância
do lúdico para o desenvolvimento cognitivo da criança portadora de Síndrome de
Down durante o período sensório-motor. Valoriza a formação das diferentes
estruturas cognitivas, que influenciarão no desenvolvimento infantil.
Para Jean Piaget (1977), o indivíduo é um agente ativo na construção de
seus conhecimentos. Suas estruturas mentais são construídas e reorganizadas
continuamente no processo de maturação biológica, vinculadas à ação e interação
da criança com os objetos. Partindo deste princípio é possível perceber que brincar
é uma atividade que possibilita o equilíbrio entre o mundo interno e externo. A
brincadeira permite que a criança estabeleça as primeiras relações com o mundo e
vivencie situações favoráveis ao seu desenvolvimento global.
Em relação a criança portadora da Síndrome de Down, a brincadeira é um
forte aliado na estimulação da sua evolução desde o nascimento. Ela deve ter a
oportunidade de brincar com diferentes objetos, outras crianças e,
espontaneamente, aprender a lidar com diferentes situações.
O tema escolhido é de suma complexidade e rico, devido `as diferenças
individuais observadas em grupos e que devem ser respeitadas, não nos cabendo,
como profissionais, qualquer tentativa de desvalorização dos fatores inerentes do
ser.
7
CAPÍTULO I: O HOMEM: UM SER INTELIGENTE A importância da estimulação para a construção do conhecimento:
A criança começa a vida como uma célula única. Os cromossomos duplicam
e a célula transformam-se em duas. As células multiplicando-se rapidamente,
juntam-se numa massa compacta de forma arredondada e se diferenciam em
órgãos, músculos, ossos, tecidos e outros elementos do corpo. O período intra-
uterino é geralmente dividido em três fases. A fase germinativa, que vai da
concepção ao décimo quarto dia mais ou menos; a fase embrionária, de
aproximadamente duas a oito semanas. Com oito semanas, o bebê torna-se
conhecido como feto. O feto é ativo. Vira-se, dá pontapés, cambalhotas, pisca, sorri,
soluça, cerra os punhos, chupa o polegar e responde a tons e vibrações. No útero o
feto recebe estimulação sensorial contínua. Os movimentos da mãe proporcionaram
diferentes experiências sensoriais. Após o nascimento, os sentidos do bebê são
inundados pelas visões, sons, gostos odores do novo mundo. E as pessoas como os
outros animais, necessitam de estimulação sensório-motora , mas devemos tomar
cuidado porque a estimulação sensório-motora inadequada pode causar alguns
problemas.
As observações sobre bebês criados em orfanatos escuros e inóspitos
segundo as pediatras Sally Provence e Rose Lipton, que na década de 60
publicaram um estudo do sobre esses casos, compararam setenta e cinco bebês
criados em família e o mesmo número criado em orfanatos, perceberam que
diferenças entre os bebês criados em orfanatos e os criados em família eram
visíveis quando eles fizeram quatro meses. Os bebês criados nos orfanatos
raramente balbuciavam ou murmuravam, quando apanhadas no berço davam a
sensação de serem de madeira. Ao se aproximarem dos oito meses, eles
demonstravam pouco interesse pelos brinquedos ou pelo ambiente que os cercava.
Quando frustrados choravam ou voltavam as costas passivamente, raramente
tentando superar sozinho seus problemas. Aos dez meses encontravam-se
atrasadas em habilidades motoras, linguagem, desenvolvimento intelectual,
expressão de emoções e capacidade de afeiçoar-se às pessoas de modo forte e
duradouro.
Atualmente, acredita-se que a estimulação sensório-motora na primeira
infância é essencial para o desenvolvimento intelectual. Jean Piaget confirma essa
8
hipótese. Ele denomina essa fase de sensório-motora do desenvolvimento mental
dos primeiros anos de vida, quando os bebês parecem aprender sobre tudo
utilizando os sentidos e o movimento. Nessa fase muitas capacidades de
processamento de informação e resolução de problemas estão se desenvolvendo.
Utilizando os órgãos dos sentidos, os bebês aprende por exemplo uma linguagem.
Se suas aptidões intelectuais fundamentais não se desenvolvem adequadamente, a
criança terá sua base abalada para seu futuro crescimento mental.
Conhecendo o Portador de Síndrome de Down:
A trissomia do cromossomo 21, foi a primeira anomalia cromossômica
detectada na espécie humana , sendo esta descoberta realizada pôr Lejeune,
Gautier e Turpin em 1959, dados a pacientes com a Síndrome caracterizada em
1866 pôr John Langdon Haydon Down, dai o nome Síndrome de Down.
Diferente do que muitas pessoas pensam, a Síndrome de Down não é uma
doença, mas sim um acidente genético que ocorre pôr ocasião da formação do
bebê, no início da gravidez. A incidência é de 1 a 3% da população do mundo, 1 em
cada 700 a 800 nascimentos, é portador da Síndrome de Down.
Não há associação entre incidência de Síndrome de Down e grupo étnico,
cultura, classe econômica ou região geográfica. A possibilidade de nascer uma
criança portadora de Síndrome de Down em pais com idade avançada é maior: Uma
em 350 para pais acima de 35 anos; acima de 45 é uma para 100. Pessoas com a
síndrome têm, teoricamente, 50% de chance de ter um filho com Síndrome de
Down.
A Síndrome de Down é uma pequena parte da estrutura genética, é bom
frisar que ao contrário do que se afirmava antigamente, não significa que um
indivíduo com Síndrome de Down, seja incapaz de fazer isto ou aquilo, de aprender.
Se ele vivenciar diferentes situações irá andar, correr, brincar, falar e até ser
inserido no mercado de trabalho. A criança portadora de Síndrome de Down,
responde aos estímulos que a vida oferece com as mesmas alegrias e decepções,
que criança "dita normal".
O diagnóstico pré-natal de qualquer anomalia fetal é útil pois, preveni
problemas de saúde que possam vir a ser graves. Tal procedimento também pode
servir como forma de preparar os pais em relação ao novo ser que virá, no sentido
9
de não se surpreenderem ao depararem com uma criança diferente daquela que
estavam idealizando. A pessoa não pode mudar a condição genética do bebê. Mas
pode dar as chances de que precisa, o amor e o ambiente enriquecedor, para o
desenvolvimento de todo seu potencial.
A vida de Jean Piaget.
Jean Piaget nasceu em 9 de agosto de 1896, em Neuchâtel – Suíça, vindo a
falecer em setembro de 1980, neste mesmo país, quando se realizava, na cidade do
Rio de janeiro, Estado do Rio de Janeiro – Brasil, O Primeiro Congresso
Internacional da Teoria Piagetiana, organizado pelo professor Lauro de Oliveira
Lima.
Ao longo de toda a sua vida, este grande pensador construiu uma obra tão
vasta e importante que a mesma só pode ser comparada às de Sigmund Freud no
domínio da afetividade e de Albert Eisnten, na Física. Para confeccioná-la, Piaget
fez contato direto e ativo com quase todos as áreas de conhecimento. Licenciou-se
em Biologia e estudava os trabalhos dos fundadores da Escola de Psicologia da
Gestalt )Max Wertheimer e Wolfgand Kohler); realizava estudos de Psiquiatria na
Suíça Alemã, além de igualmente se envolver com a Psicanálise, com a Psicologia
Geral, com a lógica e com outras ciências. Trabalhou em Paris na escola em que
Alfred Binet tinha elaborado o teste de inteligência e lá descobriu ou inventou sua
disciplina científica. Descobriu que, ministrando testes mentais paras as crianças,
poderia fazer experiências que pouco exigiam no tocante à perícia. A criança é o
organismo em desenvolvimento, onde se aplica os princípios biológicos. Ela é o
organismo pensante, que toma conhecimento, de uma forma ou de outra, da
realidade social e física na qual convive. Testando a compreensão infantil dos
mundos físico, biológico e social, nos variados níveis, Piaget esperou encontrar uma
resposta para a questão de como obtemos conhecimento. Respostas filosóficas
para colocá-las em prática sob um ângulo de testes empíricos. Ele chamou essa
disciplina de “Epistemologia Genética”. Piaget estudou o desenvolvimento do
pensamento em crianças porque queria descobrir o que é “conhecimento” e como os
adquirimos. Ele é um interacionista relativista, que acredita na construção do
conhecimento pela interação da experiência sensorial e da razão, indissociáveis
uma da outra. Seu ponto de vista conduz a que se enfoque o que é interior à criança
10
encorajando a mesma a desenvolver por si próprio seu raciocínio ou sua atividade
mental. Para Piaget a criança é o agente dinâmico de seu próprio desenvolvimento,
que dependerá de quatro determinantes básicos, quais sejam, a maturação, a
estimulação do ambiente físico, a interação com o ambiente social e a tendência ao
equilíbrio.
É interessante observar que Piaget, ao aproximar-se do final de sua carreira,
fechou por completo os tópicos de seus estudos, desde a biologia, a psicologias do
desenvolvimento e a formulação de suas teorias sobre os estágios de
desenvolvimento cognitivo.
11
CAPÍTULO II : EVOLUÇÃO COGNITIVA E A
BRINCADEIRA. Bases teóricas do desenvolvimento cognitivo segundo Jean Piaget:
As crianças desde pequena estão diante de questões como: O que é isto?,
Onde está? Como? Por que? E elas tentam responder de forma sensório-motora.
Conhecer a natureza do conhecimento é fundamental para a compreensão da
construção da inteligência na criança. É importante destacar que a criança não é um
adulto em miniatura, seu pensamento não é igual ao dele e que para alcançar a
lógica formal é necessário passar pelas etapas de desenvolvimento infantil.
Com o interesse direcionado para a origem do conhecimento e como ele é
adquirido, Jean Piaget estudou a construção da inteligência na criança. Anos atrás
vários filósofos estudaram como o conhecimento é adquirido. Alguns conhecidos
como empiristas, defendiam a hipótese de que o conhecimento é adquirido através
da informação sensorial e que o mesmo é transmitido do exterior para o interior do
indivíduo. Comparam o indivíduo a uma folha em branco na qual as experiências
vão sendo impressas durante a vida.
Outros, conhecidos como racionalistas, entre eles: Kant e Descartes, sem
negar o valor da experiência sensorial para a construção do conhecimento,
acreditavam que a razão era o melhor caminho para alcançar a verdade. A
experiência sensorial somente, poderia confundir-nos e sendo assim, ela não é
segura para chegar ao verdadeiro conhecimento.
Diferente dessas idéias, Jean Piaget, acredita que para alcançar o
conhecimento, não basta a experiência sensorial pura e que ele não é adquirido
apenas pela internalização de um dado externo. Piaget coloca-se numa postura
relativista, onde defende a insuficiência do racionalismo, negando que o raciocínio
seja uma capacidade inata. Piaget apresenta uma visão construtivista do
conhecimento, desenvolvendo a teoria psicogenética. Enxerga o indivíduo como um
agente ativo na elaboração e diferenciação de estruturas da consciência. Para ele,
não herdamos estruturas inteligentes (racionalistas), nem somos uma “folha em
branco”, onde o conhecimento será impresso (empirista) Herdamos um organismo
constituído por várias estruturas lógicas e neurológicas que propiciam o surgimento
de estruturas mentais.
As estruturas mentais são construídas e reorganizadas continuamente no processo
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de maturação biológica, em ligação com a ação e interação da criança com objetos
e o meio, alcançando níveis mais elevados de organização que se concretizam sob
a forma de desempenhos específicos.
Piaget é considerado um interacionista relativista, que acredita na construção
do conhecimento pela interação da experiência sensorial e da razão, intimamente
ligadas uma a outra.. O termo relativismo significa o conhecimento de um indivíduo
sobre um assunto específico (objeto), refere-se ao conhecimento que uma pessoa
traz em relação a situação. A maneira de perceber um objeto, modifica-se de acordo
com as diferentes fases do desenvolvimento. O ponto de vista de Piaget numa visão
pedagógica, conduz ao enfoque do que é interior à criança. Por tanto é fundamental
encorajar a criança a desenvolver por si próprio o seu raciocínio.
Brincadeiras e brinquedos: um breve histórico.
De acordo com o dicionário de Aurélio Buarque de Holanda o termo brincar é
definido em primeiro lugar como divertir-se infantilmente, entreter-se com jogos de
crianças. Brincar é utilizado também na língua portuguesa para significar o ato de
divertir-se de modo geral, gracejar, zombar, ou ainda tomar parte dos folguedos
carnavalescos.
O termo jogar é extensivo às definições do brincar, segundo mais utilizado
para definir os passatempos e divertimentos sujeitos a regras.
O termo ludus que deriva o lúdico, remete às brincadeiras, jogos de regras,
competições, recreação e representações teatrais
Johan Huizinga, em seu livro Homo Ludens - 1980 descreve o brincar como
uma atividade universal. E o jogo está presente em todas as formas de organização
social, das mais primitivas às mais sofisticadas. Como características do jogo
Huizinga descreve, o caráter de liberdade inerente a qualquer atividade lúdica: o
jogo é livre, trata-se de uma evasão temporária de realidade, com uma finalidade
autônoma e que se realiza em função de uma satisfação que consiste
exclusivamente na sua realização, Situa-se como um intervalo na vida quotidiana.
Possui paradoxalmente uma seriedade intrínseca. O jogo possui um começo e um
fim, e se processa no âmbito de um campo previamente definido - material ou imagi-
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imaginário, deliberada ou espontaneamente. E diz respeito a regras a menor
desobediência estraga-o, privando-o de seu caráter próprio e de seu valor. Ele
defende a tese de que o jogo puro e simples constitui as bases da civilização.
Descrevendo costumes de culturas arcaicas, rituais primitivos e cultos ao sagrado,
ele procura demonstrar o caráter lúdico intrínseco aos mesmos e disso se utiliza
para levantar a hipótese de que o jogo seja um fato mais antigo do que a cultura,
irredutível a qualquer outro fenômeno, acompanhando-a e marcando-a desde suas
origens até os dias atuais. Em nossa sociedade as características do jogo podem
ser encontradas no direito, na poesia, na filosofia, na ciência e na guerra.
Roger Callois em: Le jeux et les hommes, 1967 e Alain Cotta em: La societé
ludique, 1980, ao descreverem brincadeiras infantis de tribos africanas, crianças
hindus, esquimós e índios mexicanos, considerando o jogo como um fenômeno
universal e apresentando uma série de diferentes atividades lúdicas presentes em
nosso século.
Em escavações arqueológicas foram encontrados brinquedos nos túmulos de
crianças romanas. Este fato levanta a hipótese de que os brinquedos faziam parte
da vida das pessoas em várias civilizações. (Kishimoto - 1998)
No fim do século XIX, surgiram pequenas fábricas de artesãos e a
comercialização dos brinquedos avançou, culminando com sua industrialização. No
início do século XX, brinquedos de madeira e de pano foram substituídos pela
borracha, celulóide e metal, numa perspectiva de diminuição do custo de produção.
A evolução social pode ser compreendida pela análise dos brinquedos
utilizados em cada época da história, eles refletem os costumes e o envolvimento de
disputas políticas, econômicas e sociais.
Na década de 40, marcada pela Segunda Grande Guerra, brincar e sonhar
faziam parte de um sonho ainda tímido de quem viu, mesmo que indiretamente, o
mundo passar por tanto sofrimento. Alguns brinquedos refletiam o espírito de
"recomeço econômico", depois dos estragos da Guerra. A madeira era muito usada
para fazer brinquedos, principalmente os carrinhos e os jogos de tabuleiro. Nesses
tempos, as bonecas ainda nem eram feitas de plástico no Brasil. O material usado
era um tipo de massa inquebrável, que deixava a boneca até mais pesada.
Brinquedos com movimento e som surgem no início da década de 50. As bo –
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bonecas já começam a ser feitas de plástico e imitavam a moda com seus trajes
femininos dos anos dourados. Em seguida, vieram os bichinhos e as bonecas de
vinil, que é o material usado até hoje.
Nos anos 60, as bonecas fabricadas apresentavam um jeito de menina moça
e muitas meninas, que já não brincavam mais de boneca, imitavam este estilo, por
exemplo, a boneca Susi faz sucesso e passou por muitas gerações.
Nos anos 70, surgem os brinquedos elétricos e começa a maior febre entre
garotos de todas as idades com o Ferrorama, um trem completo num circuito com
desvios e tudo; e o Autorama, uma pista com carrinhos de corrida. Começava, a
grande paixão dos brasileiros pelo esporte de velocidade. Aumenta o prestígio de
corredores como: Émerson Fitttipaldi e Nelson Piquet.
Anos 80, aparecem os jogos eletrônicos e carros radiocontrolados. As
bonecas cantavam e batiam palminha de verdade. Foi fabricado o super carro com
controle remoto que fazia manobras em alta velocidade. Todos queriam os jogos de
memória, de luz e sons que eram chamados de "os computadores que falam". Os
bonecos eram parecidos com os personagens dos filmes de ação da época, eles
vinham com acessórios para aventuras radicais.
Brincar é muito importante. É ter dentro da gente uma vontade de inventar
coisas novas, de transformar idéias em brinquedos e sonhos em realidade. Quando
você imagina uma brincadeira, você já está dentro dela, porque toda brincadeira
começa na imaginação. Você inventa um novo mundo, seu quarto pode virar um
castelo, sua cama pode virar o navio mais poderoso que luta contra os inimigos.
O tempo passa, e brincando, a pessoa vive mais uma história diferente,
porque dentro de cada um há muitas histórias que vão virar brincadeira.
De 50 anos pra cá, os brinquedos foram reelaborados: o que era de madeira
e de alumínio virou plástico e papelão, as bonecas passaram a falar e os jogos a ser
eletrônicos. Mas a emoção de brincar é uma coisa inexplicável.
Brincar é uma atividade essencial para a criança. É brincando que ela cria
suas representações, evidencia a compreensão que tem do mundo que a rodeia.
Brinca independentemente de ter brinquedos. Os objetos transformam-se em suas
mãos como num passe de mágica.
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Bases teóricas do desenvolvimento cognitivo segundo Jean Piaget:
As crianças desde pequena estão diante de questões como: O que é isto?,
Onde está? Como? Por que? E elas tentam responder de forma sensório-motora.
Conhecer a natureza do conhecimento é fundamental para a compreensão da
construção da inteligência na criança. É importante destacar que a criança não é um
adulto em miniatura, seu pensamento não é igual ao dele e que para alcançar a
lógica formal é necessário passar pelas etapas de desenvolvimento infantil.
Com o interesse direcionado para a origem do conhecimento e como ele é
adquirido, Jean Piaget estudou a construção da inteligência na criança. Anos atrás
vários filósofos estudaram como o conhecimento é adquirido. Alguns conhecidos
como empiristas, defendiam a hipótese de que o conhecimento é adquirido através
da informação sensorial e que o mesmo é transmitido do exterior para o interior do
indivíduo. Comparam o indivíduo a uma folha em branco na qual as experiências
vão sendo imprimidas durante a vida.
Outros, conhecidos como racionalistas, entre eles: Kant e Descartes, sem
negar o valor da experiência sensorial para a construção do conhecimento,
acreditavam que a razão era o melhor caminho para alcançar a verdade. A
experiência sensorial somente, poderia confundir-nos e sendo assim, ela não é
segura para chegar ao verdadeiro conhecimento.
Diferente dessas idéias, Jean Piaget, acredita que para alcançar o
conhecimento, não basta a experiência sensorial pura e que ele não é adquirido
apenas pela internalização de um dado externo. Piaget coloca-se numa postura
relativista, onde defende a insuficiência do racionalismo, negando que o raciocínio
seja uma capacidade inata. Piaget apresenta uma visão construtivista do
conhecimento, desenvolvendo a teoria psicogenética. Enxerga o indivíduo como um
agente ativo na elaboração e diferenciação de estruturas da consciência. Para ele,
não herdamos estruturas inteligentes (racionalistas), nem somos uma “folha em
branco”, onde o conhecimento será imprimido (empirista) Herdamos um organismo
constituído por várias estruturas lógicas e neurológicas que propiciam o surgimento
de estruturas mentais.
As estruturas mentais são construídas e reorganizadas continuamente no processo
de maturação biológica, em ligação com a ação e interação da criança com objetos
e o meio, alcançando níveis mais elevados de organização que se concretizam sob
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a forma de desempenhos específicos.
Piaget é considerado um interacionista relativista, que acredita na construção
do conhecimento pela interação da experiência sensorial e da razão, intimamente
ligadas uma a outra.. O termo relativismo significa o conhecimento de um indivíduo
sobre um assunto específico (objeto), refere-se ao conhecimento que uma pessoa
traz em relação a situação. A maneira de perceber um objeto, modifica-se de acordo
com as diferentes fases do desenvolvimento. O ponto de vista de Piaget numa visão
pedagógica, conduz ao enfoque do que é interior à criança. Por tanto é fundamental
encorajar a criança a desenvolver por si próprio o seu raciocínio.
Os estágios de desenvolvimento cognitivo.
Ao classificar o desenvolvimento das estruturas da inteligência, surge um
conjunto de etapas e características, chamadas de estágios. Segundo Jean Piaget
o termo estágio é utilizado para designar as principais épocas do desenvolvimento e
o termo estágio designa subdivisões dos estágios.
Os estágios são definidos de acordo com as condutas mais adiantadas que
abrange, podendo as mesma oscilarem de acordo com o ritmo de desenvolvimento
de cada indivíduo. E a idade cronológica é um marco referencial. E são três os
estágios de desenvolvimento cognitivo:
I - Estágio Sensório-Motor (Do nascimento até mais ou menos os dois anos).
Neste estágio, a criança se desenvolve de um nível neonatal, reflexo de
completa indiferenciação entre o “eu” e o mundo para uma organização
relativamente coerente de ações sensório-motoras diante do ambiente imediato.
Esta organização, é inteiramente “prática”, pois abrange ajustamentos perceptivos e
motores simples às coisas e não manipulações simbólicas delas. Este período está
subdividido em seis estágios.
II - Estágio de Preparação e Organização das Operações Concretas.
Neste estágio começa as primeiras simbolizações rudimentares que aparecem no
final do período sensório-motor e termina com o pensamento formal, durante os
primeiros anos da adolescência.
a) Sub-estágio Pré-Operacional (Em média de dois a sete anos). Nele a
criança realiza suas primeiras tentativas relativamente desorganizadas e hesitantes
de enfrentar um mundo novo e estranho de símbolos.
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b) Sub-estágio Operacional Concreto (Em média de sete aos onze/doze
anos). A organização conceitual do ambiente circundante torna-se lentamente
estável e coerente, dada a formação de uma série de estruturas cognitivas de nome
agrupamentos. A criança começa a parecer racional e bem organizada em suas
adaptações; parece possuir um quadro de referências conceitual razoavelmente
estável e regular que aplica sistematicamente ao mundo de objetos que a rodeia.
1III – Estágio Operacional Formal (Em média de onze/doze anos em diante).
Durante este período ocorre o adolescente é capaz de lidar eficientemente
não só com a realidade que o cerca, mas com um mundo de pura possibilidade, o
mundo das afirmações abstratas e proposicionais, o mundo do “como se. Este tipo
de cognição, caracteriza o pensamento adulto no sentido de que é através destas
estruturas que o adulto pensa de modo lógico e abstrato.
O Estágio Sensório-motor.
O estágio sensório-motor corresponde aos dois primeiros anos
de vida, é a fase do comportamento inteligente antes do desenvolvimento da
linguagem. É composto por seis sub-estágios, onde a criança organiza a informação
obtida através dos sentidos e desenvolve respostas as seus estímulos ambientais.
Ela apresenta comportamento adaptativo, porque está constantemente mudando os
esquemas de ação em respostas ao ambiente.2
1º. Sub estágio: Exercício dos reflexos ( Do nascimento até mais ou menos l
mês).
O bebê ao nascer possui um comportamento reflexo que a grosso modo,
neste sub-estágio entendemos como um tipo de excitação vinda do exterior, sem
intervenção da vontade. Os reflexos estão ligados a: sucção, preensão, visão
(acomodação visual e dos movimentos do olhos), e os que levam a audição e à
fonação. Os reflexos se consolidam e se firmam pelo seu exercício, através da
acomodação mundo exterior. Por exemplo o reflexo de sucção se generaliza a
partir do exercício, no sentido de que assimila todo e qualquer objeto que
desempenhe a função de estimulação, como o polegar do bebê, lençol, chupeta.
1 A espécie humana é capaz de atingir o Período operacional Formal atualmente. Mas a ficção pode imaginar uma nova estrutura, como fez K Voggener Jr. em seu livro Pastelão ou solitário nunca mais. Editora Artenova, Rio de Janeiro, (RJ),(1977). 2 Para Piaget os esquemas “representam as ações susceptíveis de exercer sobre os objetos”. N.I.187. 18
Através dessa repetição o bebê discrimina de maneira prática as coisas a serem
sugadas em função de suas necessidades. Assim eles se transformam em
esquemas de ação, possibilitando ao bebê resolver cada vez melhor os problemas e
se adaptar. Percebe-se que um bebê com deficiência auditiva balbucia como o
ouvinte, mas como não tem o feedback auditivo, ele pode desenvolver sua
linguagem verbal bem mais tarde com o uso da prótese auditiva. O bebê ainda não
tem consciência do “eu”, nem distinção entre o “eu” e o mundo exterior. Existe um
completo desconsiderar do seu meio ambiente como um todo e de seu próprio
corpo. Quando uma criança neste sub-estágio se excita, atuando sobre um objeto, o
mesmo for retirado e, diante de seus olhos escondido sobre um anteparo qualquer,
não haverá nenhum tipo de busca, pois perder o contato para ela significa deixar de
existir. Como não há domínio e/ou coordenação do corpo ou sistematização de
vários espaços perceptivos, a criança facilmente pode ser enganada. Como
exemplo no Norte e Nordeste do Brasil é comum as mães darem aos recém
nascidos uma banana verde para ser sugada e enganar a fome, pois na hora do
choro motivado pela fome ela serve como um paliativo. Um belo exemplo referente
ao choro inarticulado, característico desta fase e que serve para suprir suas
necessidades fisiológicas é o caso de Luiza com seu choro inarticulado: Na primeira
semana de vida Luiza chorava muito. Sua mãe tentou várias formas de fazer seu
choro parar ofereceu o leite materno, chupeta, olhava constantemente para ver se
precisava trocar a fralda, fazia carinho na barriga do bebê para ver se era gazes, até
que resolveu levar ao pediatra e foi descoberto que Luiza estava com dor de ouvido.
Em outra observação: Quando o dedo da mãe de Luiza encostou em sua mão, ela
imediatamente segurou, mostrando que o reflexo de preensão palmar estava
presente.
2º. Sub estágio: As primeiras adaptações adquiridas e a reação circular
primária. (De 1 à 4 meses).
Neste sub-estágio o bebê repete os movimentos que prolonguem as
atividades reflexas que são, desprovidos de intencionalidade, mas conduzem a
resultados interessantes, cuja descoberta é fortuita e, tendem a se conservar por um
mecanismo de assimilação e acomodação correlativas.
Por exemplo: o bebê sugava o dedo quando este chegava por acaso a sua boca, e
funcionava como estimulador do reflexo de sucção; exercitando, este reflexo inato
19
de sugar, ele sugou o dedo gostou, iniciando assim esforços para levar o dedo à
boca e mantê-lo para continuar sugando, nutrindo assim o reflexo de sugar. Para o
bebê poder reproduzir um resultado interessante, torna-se necessário coordenar os
esquemas diferentes. A conservação dos resultados interessantes, obtidos por
acaso, pela repetição, Baldwin chamou de “reação circular”.3 Ela tem por objetivo
alimentar e fortificar pela repetição, um junto sensório motor de novos resultados
obtidos inicialmente ao acaso no próprio corpo do bebê. A sucção por exemplo, é
um reflexo inato, mas sucção sistemática do dedo , é uma reação circular primária.
A criança só é capaz de reencontrar os objetos se eles estiverem dentro do
seu campo visual. Gabriel ao iniciar o sustento de cabeça sentado com apoio,
tentava acompanhar os objetos que passavam próximo ao seu campo visual.
No que se refere a afetividade, ela esboça uma espécie de sorriso sem
contudo identificar os rostos costumeiros. Ela possui uma noção do rosto humano
(Gestalt) como algo destacado, embora ainda não muito organizado em termos
intencionais.4
Em comparação ao primeiro sub-estágio, podemos dizer que a criança muito
rudimentarmente, passa a considerar as características, as limitações, as
peculiaridades dos objetos. Iniciando um mapeamento do seu meio ambiente e
ampliando os seus esquemas de ação.
3º. Sub estágio: A “reação circular secundária” e os processos destinados a
fazer durar os espetáculos interessantes: (4 à 8 meses aproximadamente).
Nesta fase ocorre a transição exata entre as operações pré-inteligentes e atos
intencionais. O interesse do bebê se localiza mais no mundo dos objetos ao seu
redor que no próprio corpo. Ele procura alcançar objetos que vê, mas logo desiste
se o objeto desaparece do seu campo visual, pois ao desaparecer da vista
desaparece de sua mente.
A característica deste sub-estágio é a coordenação entre a mão e a visão e o
surgimento da reação circular secundária que consiste em reencontrar os gestos
que, por acaso, exerceram uma ação interessante sobre os objetos. A criança ainda
não coloca um fim de antemão, mas repete o ato, e descobre o efeito por acaso.
3 Balddwin denomina reação circular a reação global, onde a criança tenta repetir um comportamento assimilado a um esquema anterior e é preciso acomodar este esquema ao novo resultado. É portanto 4 O sorriso para configuração gestáltica do rosto humano é o primeiro organizador da afetividade de acordo com a obra
do psicanalista René A . Spitz. 20
Em uma das observações, João segurava um chocalho, sem querer deixou cair no
chão e fazendo barulho. Ele achou aquele espetáculo interessante, quando sua
mãe lhe devolveu o objeto, ele repetiu o movimento rindo sem parar.
Gustavo estava no chão da cozinha sentado próximo a geladeira ao perceber
a sua imagem na mesma começou a se movimentar e sorrir, repetindo esses
movimentos que achou interessante e lhe deu prazer.
4º Sub estágio: Coordenação dos esquemas secundários e sua aplicação às
novas situações: (8 à 12 meses ).
Surgem as adaptações sensório-motoras intencionais e a diferenciação entre
meios e fins. Percebemos que o bebê utiliza vários esquemas conhecidos, bater,
jogar sacudir, para alcançar um brinquedo, e usou o esquema que obteve sucesso,
na hora que conseguiu alcançar o brinquedo pela segunda vez. Os esquemas
deixarão de ser usados em apenas nos conteúdos habituais para se aplicarem a
novas situações.
Priscila brincava com um chocalho, foi lhe oferecido uma lata. Ela segurou os
dois objetos, bateu com o chocalho na lata, sacudiu a lata vazia, sacudiu apenas o
chocalho, enquanto brincava o chocalho caiu dentro da lata, ao perceber o fato
começou a tirar e colocar o brinquedo na lata e a combinar seus esquemas de ação
conhecidos. Ao tentar pegar o chocalho, sua mãe pôs a mão para tampá-lo,
Priscila bateu na mão da mãe para afastá-la e pegar o objeto. Quando viu o
carrinho de corda para de se mover, pegou, sacudiu, jogou no chão para ver se ele
tornava a funcionar, não obtendo sucesso, pegou a mão de sua mãe para conseguir
seu objetivo. A medida que a criança aprende a coordenar dois esquemas distintos,
ela é capaz de dar aos objetos um começo de consistência independente do “eu”, ou
seja: o objeto é pensado nas suas relações com as coisas percebidas e não apenas
em suas relações com a ação do sujeito. A criança procura escondidos, afastando
os obstáculos que os ocultem.
A elaboração do campo espacial é um processo paralelo ao da construção do
objeto permanente. Ou seja: com a coordenação dos esquemas, inicia-se a
construção das relações espaciais e de um espaço objetivo. A criança começa a se
situar num universo independente do dela. Começa descobrir que existe um espaço
entre a causa e o efeito e que, sendo assim, qualquer objeto pode ser fonte de
atividade e não somente o seu corpo.
21
As séries temporais começam a ser ordenadas em função da sucessão de
eventos e não apenas das ações. Nas brincadeiras de esconder os objetos,
Fabiana conseguia encontrá-los desde que acompanhasse o desaparecimento do
mesmo visualmente e estivem próximos a ela, retirando os obstáculos e pegando-os
ou solicitando ajuda da mãe segurando sua mão e direcionando para seu objetivo.
Felipe reencontrava o objeto escondido debaixo de um pano após ter acompanhado
seu visualmente seu desaparecimento, se fosse escondido em outro lugar mesmo
que acompanhasse a movimentação do objeto ele antes de ir buscar no segundo
lugar procurava primeiro embaixo do pano.
5º. Sub estágio: A “reação circular terciária” e a descoberta de novos meios
por experimentação ativa.
Neste sub estágio aparece a “reação circular terciária”. Nesta conduta, a
criança gradua os movimentos, variando, experimentando novos padrões de
comportamento para analisar e compreender o que acontece, observando os
diferentes afeitos da sua exploração.
Surge um tipo superior de coordenação de e esquemas, dirigida pela busca
de novos “meios”. A descoberta de novos meios por experimentação ativa culmina
com a coordenação dos esquemas conhecidos. A criança consegue resolver novos
problemas graças a sua busca experimental e a coordenação de seus movimentos.
Na observação de em sala de aula, Thiago (um ano e quatro meses) em sala de
aula ele realizou a conduta do suporte quando percebeu um caminhãozinho
encostado na parede. Ele foi até o objeto sentou no chão e ficou empurrando para
frente e para trás, até que chegou outra criança e quis tirar o brinquedo de sua mão.
Quando ele deu conta que havia um barbante amarrado no caminhão, começou a
gritar e puxar com força pelo barbante resistindo a solicitação do colega. Eles
ficaram disputando o brinquedo até que o barbante escorregou de sua mão. Thiago
desistiu e chorou até cansar.
São típicas dessa fase condutas como do suporte, do barbante e do bastão.
Esses objetos são utilizados como forma de complemento dos braços da criança.
Por exemplo: A criança utilizou a cadeira para subir e alcançar um brinquedo que
estava em cima da estante e que no em pé no chão não conseguiu pegar. Na hora
do descanso a professora solicitou que cada criança pegasse sua esteirinha e fosse
deitar. Bruna ( dois anos) queria deitar mas pedia a chupeta. A professora explicou
22
que a chupeta iria ficar na estante tomando conta de Bruna enquanto ela dormia.
Quando a professora virou as costas para arrumar os cantinhos das outras crianças,
Bruna se levantou e tentou subir na estante para pegar a sua chupeta, como não
conseguiu começou a chorar.
A criança também age por “ensaio e erro” (tentativas), sendo o resultado
descoberto por acaso , pois ela descobre antecipadamente, o efeito da sua ação.
Faz o tateamento orientado. Nesta fase o bebê já tem constituído o esquema de
objeto permanente e pode seguir uma seqüência de deslocamentos do objeto.
Porém ele ainda não pode imaginar movimento que não veja.
O objeto já existe permanentemente, mesmo quando desaparece, a criança o
procura porque já construiu um espaço objetivo e homogêneo. Ela compreende os
deslocamentos de objeto no espaço. Ela vê um objeto desaparecer atrás de uma
pessoa por um lado e procurá-lo pelo outro lado, pois organizou todas as
experiências tanto no espaço distante como no espaço próximo.
Pela primeira vez a criança reconhece a existência de causas inteiramente
exteriores à sua atividade e estabelece entre os fatos percebidos relações da
causalidades independentes da ação própria. Na procura de novos meios para
alcançar seus objetivos a criança age através do processo de “ensaio e erro”
(tentativas), sendo o resultado descoberto por acaso.
Observa-se que a construção do tempo obedece a uma lei de evolução
semelhante à construção do objeto permanente, do espaço e da causalidade. Mais
uma vez percebemos como o desenvolvimento ocorre de forma global.
6º. Sub estágio: a invenção de novos meios por combinações mentais. (18 à 24
meses).
Como característica deste sub-estágio encontramos o momento de transição
entre a inteligência prática e a representativa, quando começa a função simbólica ou
semiótica. É o início da representação. As novas combinações são feitas a nível
mental. A invenção é uma acomodação mental brusca dos esquemas à situação
nova. Pela representação a criança resolve problemas de maneira eficiente e ágil,
pois, no interesse em alcançar seu objetivo, ela será capaz de imaginar os
acontecimentos e segui-los mentalmente, prevendo as ações que obterão sucesso.
Sendo capaz de interiorizar suas ações, a criança consegue antecipá-las no tempo e
no espaço, pela representação mental.
23
Neste sub-estágio marca a finalização das condutas inteligentes sensório-motoras,
que é essencialmente prática e possibilita à inteligência entrar no mundo simbólico (
período pré-operatório).
Inicia-se o “jogo simbólico”5, a criança utiliza símbolos na linguagem e na
brincadeira do faz-de-conta, recorda-se de fatos passados e os imita depois de
algum tempo corrido. Na casinha de bonecas da escola estavam brincando três
meninas e dois meninos na faixa etária de dois para três anos. Elas estavam
disputando quem iria ficar com as panelinhas para fazer comida. Após alguns
minutos Patricia (com dois anos e meio) virou-se para uma das meninas e falou: -
Sai sabonete! Eu é que sou a mamãe! Ela colocou as meninas sentadas na mesa,
distribuiu os pratos e colheres, pegou a panelinha serviu os colegas, foi ao fogão
fingiu fazer o seu prato e voltou à mesa para comer. Minutos depois Paulo pediu
água. Rachel foi nos brinquedos e trouxe um copo para ele. Alexandre levantou-se
pegou outro copo e retornou à mesa chamando Paulo para fazer tim-tim (brindar). O
que Paulo fez foi representar uma situação num momento agradável, pois além da
imitação os gestos tiveram um significado que foi interiorizado. Na hora da saída foi
solicitado a professora que perguntasse a mãe se Patrícia usava a palavra em
casa, fora do seu significado social. A mãe respondeu que uma vez quando Patrícia
tinha feito malcriação e levado uma bronca, ela saiu chorando e chamando a mãe
de sabonete com raiva. (Sua sabonete!).
Na observação de cinco crianças em idades cronológicas de dois e três anos,
brincando na praia com o baldinho, peneira e pá. Uma das crianças estava fazendo
bolinho de areia, os demais não tinham interesse em construir nada e sim em
explorar os objetos oferecidos, com por exemplo: encher o balde e esvaziar, jogar a
areia que estava na pá do colega, pegar a areia e fazer cara de insatisfação, sentir a
areia dentro do sapato estava incomodando ou disputando os objetos com outro
colega. Próximo a elas estavam seus responsáveis querendo intervir na brincadeira,
uma das mães gritou: - Neném joga areia na cabeça dele também! - Deixa de ser
bobo, se defende! Momentos depois outra exclamou: - Não fique nervoso por que
areia entrou no seu sapato! -Vem aqui que a mamãe tira! A criança nem ligou para
o que ela falou. Notava-se perfeitamente que a areia incomodava a mãe e não ao
5 Jean Piaget descreve o jogo simbólico como “uma transposição simbólica que submete as coisas à atividade própria, sem regras nem limitações”. 24
filho, que quando tentou andar não gostou a sensação arrancou o sapato, deixou-os
de lado e foi atrás do coleguinha.
Podemos notar que as crianças estavam combinando e ampliando suas
formas de exploração, iniciando a representação, disputando os objetos de acordo
com seus interesses, compreendendo as ordens mesmo quando não queiram
cumprir.
A imitação enquanto brincadeira no período sensório-motor.
Fazer uma avaliação cognitiva durante a brincadeira da criança é um dos
caminhos que possibilita a verificação de como a criança começa o seu processo de
adaptação à realidade por meio de uma aquisição física, exercitada e funcional, de
seu corpo, estabelecendo-o e ordenando-o num contexto têmporo-espacial. A
medida que a realidade externa da criança se amplia, maior é a sua necessidade de
organização interna. Ela arquiva as experiências e depois as combina utilizando de
forma adequada numa situação diferente. Quando ela perceber que suas ações não
permitem alcançar seu objetivo e estiver interessada em continuar agindo tentará
modificar seus esquemas de ação. É como se as estruturas mentais tivessem
desejo; ao serem criadas elas passam a solicitar ação ao sujeito para se saciarem.
No período sensório-motor, é possível perceber várias modificações no
comportamento da criança durante as brincadeiras. Este período compreende uma
evolução significativa do desenvolvimento infantil. Desde os comportamentos
reflexos até a formação das bases do pensamento infantil. Nesta etapa, é difícil
marcar o nascimento da brincadeira. A primeira manifestação de consciência é
denominada corporal e a primeira forma de brincadeira aparece em forma de jogo
denominado "exercício", por que apresenta características rítmicas e repetitivas. O
bebê aprende a explorar o próprio corpo durante a troca com o meio e o prazer dos
seus movimentos.
Um fator marcante durante o desenvolvimento infantil é o surgimento da
imitação, pois ela por si própria é considerada um jogo ou uma brincadeira, quando
partimos do princípio que ela proporciona prazer ao bebê.
A brincadeira é um forte aliado do processo evolutivo da imitação durante o
desenvolvimento infantil. A imitação não é uma técnica instintiva ou hereditária, cri-
25
ança aprende a imitar.
Neste período a imitação é considerada pré-verbal e é uma forma de
manifestação de inteligência da criança.
A imitação evolui de acordo com as fases de desenvolvimento cognitivo de
cada criança. No recém nascido, não existe imitação, porque para que haja
reprodução de um modelo é necessário a aquisição de experiências externas. No
entanto, quando se faz a observação dos bebês de um berçário, percebe-se que
quando uma criança começa a chorar as outras também choram. Mas isso não
implica numa imitação, percebe-se que o choro das outras crianças pode
desagradar a um bebê e excitá-lo fazendo com ele chore. O bebê não estabelece a
relação entre os sons ouvidos e os seus próprios. Outra hipótese é a de que o choro
seja desencadeado como uma espécie de "exercício reflexo", como ocorre com a
sucção. O "exercício reflexo", mais tarde dará lugar a uma assimilação reprodutora
por incorporação de elementos exteriores ao próprio esquema de reflexos. Neste
casos pode-se dizer que há sinais das primeiras imitações.
Para que a imitação ocorra são necessárias duas condições: a primeira é que
os esquemas de ação sejam suscetíveis de diferenciação na presença dos dados da
experiência e que o modelo seja percebido pela criança como análogo aos
resultados a que ela própria chegou, logo que esse modelo seja assimilado a um
esquema circular adquirido. A partir das reações circulares descritas abaixo, inicía-
se a imitação, que apresenta como principal objeto de estímulo a brincadeira. No
início, imitação apresenta caráter conservador, não há tentativas de acomodação
aos modelos apresentados pelo meio externo. A criança aprende a imitar
primeiramente os movimentos análogos aos seus próprios movimentos conhecidos
e visíveis. A medida que a criança assimila as experiências oferecidas pelo meio, ela
amplia o campo perceptivo e consegue desenvolver gradualmente a imitação. Ela
imita movimentos visíveis já executados pelo seu corpo, depois movimentos
invisíveis, como caretas. Durante a exploração para conhecer as propriedades dos
objetos, a imitação de novos modelos se torna sistemática. Durante a interiorização
da coordenação dos esquemas de ação, a criança é capaz de realizar combinações
mentais, imitar novos modelos, substituindo a exploração tateante e exterior por uma
combinação externa de movimentos.
26
Para Jean Piaget, a brincadeira do período sensório-motor começa pela fase
é reação circular primária. Na brincadeira a criança exercita seus esquemas
sensório-motores e passa a coordená-los, cada vez melhor. A criança entra em
contato com o mundo a sua volta, através dos movimentos e sensações.
A reação circular primária tem por propósito nutrir e fortificar pela repetição,
um conjunto sensório-motor de novas respostas obtidas ao acaso no próprio corpo
do bebê. A sucção, por exemplo, é um reflexo, é inato, mas a sucção sistemática do
dedo, é uma reação circular primária. A reação circular primária se apresenta em
relação a todos os órgãos dos sentidos. Ela sustenta-se na descoberta e
conservação do novo e nisso diferencia-se do reflexo, mas não apresenta a
intencionalidade, antecedendo desta forma, a inteligência propriamente dita.
Com a conquista da coordenação viso-mototra, surgem reações circulares
denominadas secundárias. A criança repete uma ação que ocorreu por acaso,
iniciando a interação com um objeto fora do seu próprio corpo. Nesta fase é
destacada a passagem das operações pré-inteligentes e os atos intencionais. O
interesse do bebê começa a se enfocar mais no mundo dos objetos a sua volta. Ela
consiste em encontrar, outra vez, os gestos que, por acaso, desempenharam uma
função interessante sobre os objetos. Por exemplo se o pé do bebê bateu na grade
do móbile e balançou, se esse fato lhe causou uma sensação agradável, ele repetirá
este movimento sobre a grade para repetir o mesmo espetáculo.
Com 8 meses, o mundo do bebê se amplia em organização, pois percebeu
que os objetos existem fora do seu campo perceptivo. Ele consegue organizar seus
esquemas de ação, inclusive os que se referem às atividades lúdicas que são
determinadas nesta fase pelos meios que o bebê utiliza para alcançar os fins
almejados. Na brincadeira, a criança começa a fazer um teatrinho ritualístico nas
situações mais significativas na sua vida, por exemplo a hora de tomar banho ou se
alimentar.
Com a descentralização, coordenação e maleabilidade de seus esquemas
sensório-motores constituídos de intencionalidade, aumenta a sua interação com o
meio.
A partir deste momento, surge a reação circular terciária que é caracterizada
pela graduação dos movimentos da criança experimentando novos estratégias de
ação para tentar entender o efeito dos objetos. Ela busca entender a natureza do
27
objeto exercendo seus esquemas sobre eles. Quando a criança explora um objeto,
joga, bate, sacode e tenta compreendê-lo melhor. Em outras palavras a criança
tenta resolver um determinado problema, através da busca experimental. A criança
consegue imitar modelos ausentes e exercer a criatividade num contexto espaço-
temporal e histórico. Com a ampliação dos comportamentos acima, surge a
fase caracterizada pelo momento de transição entre a inteligência sensório-motora e
a inteligência representativa. A criança cria estratégias de ação a nível mental sem
precisar executá-las na prática. Ela pode imaginar acontecimentos, segui-los e,
mentalmente, antecipar as ações no tempo e no espaço. Na brincadeira, ocorre uma
crescente organização na utilização das estruturas mentais, durante o processo de
utilização de símbolos. Cresce a representação acompanhando as organizações
mentais. As simples brincadeiras de faz de conta poderá constituir uma peça de
teatro, com seqüências temporais, organização espacial, distribuição de papéis e
funções.
A brincadeira proporciona o contato social e a reorganização das relações
emocionais. Favorece a integração com as outras crianças e possibilita que as
mesmas superem seus medos e inseguranças. A diferenciação de papéis se faz
presente no "faz-de-conta", nesta atividade a criança pode dominar o adulto que a
reprime ou conversar com um ente querido que está distante. Todos os seus sonhos
e desejos, podem ser realizados. Ao brincar de faz-de-conta, a criança busca imitar,
imaginar representar e comunicar, de uma forma específica, que um objeto pode se
transformar em outro completamente diferente.
Quando a criança utiliza a linguagem do faz-de-conta, ela enriquece sua
identidade, porque pode experimentar formas de ser e de pensar, ampliando suas
concepções sobre as coisas e pessoas ao desempenhar vários papéis sociais ou
personagens.
Não existem brinquedos especiais para as crianças excepcionais; elas
brincam com os mesmo brinquedos que as crianças ditas normais, porém a escolha
de seus brinquedos precisa ser mais criteriosa para que não se corra o risco de
oferecer-lhe um jogo, com o qual não tenha condições de brincar. Por ter
dificuldades em abstrair, a criança necessita de experiências concretas para
aprender.
28
CAPÍTULO III: INTERAÇÃO SOCIAL Estimulação em ambientes variados
A criança começa a vida como uma célula única. Os cromossomos duplicam
e a célula transformam-se em duas. As células multiplicando-se rapidamente,
juntam-se numa massa compacta de forma arredondada e se diferenciam em
órgãos, músculos, ossos, tecidos e outros elementos do corpo. O período intra-
uterino é geralmente dividido em três fases. A fase germinativa, que vai da
concepção ao décimo quarto dia mais ou menos; a fase embrionária, de
aproximadamente duas a oito semanas. Com oito semanas, o bebê torna-se
conhecido como feto. O feto é ativo. Vira-se, dá pontapés, cambalhotas, pisca, sorri,
soluça, cerra os punhos, chupa o polegar e responde a tons e vibrações. No útero o
feto recebe estimulação sensorial contínua. Os movimentos da mãe proporcionaram
diferentes experiências sensoriais. Após o nascimento, os sentidos do bebê são
inundados pelas visões, sons, gostos odores do novo mundo. E as pessoas como os
outros animais, necessitam de estimulação sensório-motora , mas devemos tomar
cuidado porque a estimulação sensório-motora inadequada pode causar alguns
problemas.
Durante uma conversa com alguns responsáveis por crianças pequenas,
pude obter relatos interessantes. Entre eles três me chamaram atenção:
O primeiro foi sobre uma que não freqüentava escola. Sua idade cronológica
era de 8 meses. De acordo com o conhecimento da mãe, poderia-se deduzir que a
criança apresentava condutas referentes ao terceiro estágio do período sensório
motor. Ela morava com a mãe, mas era criada pela empregada. A empregada
relatou que a criança ficava a maior parte do tempo no berço, às vezes ela ia até o
quarto ver se estava tudo bem. A criança passava o dia dormindo, quando chorava
recebia comida ou a fralda era trocada. Tinha alguns brinquedos ao seu lado para
quando tivesse vontade pegar e brincar. Havia dias em que a empregada colocava
brinquedos diferentes no berço, porque os anteriores a criança jogava no chão.
Após este relato surgiu a seguinte questão: Será que a criança apresenta estas
condutas porque seu desenvolvimento cognitivo apresenta algum bloqueio, ou suas
oportunidades em explorar o mundo a sua volta está limitado? Num final de semana
a mãe resolveu investir na nossa experiência.
Tirou a criança do berço, sentou no chão, colocou um dos brinquedos que fi -
29
cavam no berço e começou a brincar. Num terminado momento percebeu que a
criança jogava fora o brinquedo, sem interesse em resgatá-lo.E conseqüentemente
a mãe o trazia de volta. Este brinquedo era um urso de plástico que fazia barulho.
Investindo na brincadeira, apertando o urso, explorando o contato, a linguagem
verbal e mostrando diferentes formas de explorar o brinquedo. A criança brincou
melhor com o urso, ampliou sua exploração, apertou, sorriu, permitiu que o urso
estivesse em contato com seu rosto, sorriu quando a mãe imitava o barulho do urso
e tentou fazer. A mãe, envolvida na brincadeira, estava alegre e satisfeita,
consequentemente a crianças também se envolveu na brincadeira, não desistiu do
urso rapidamente, ampliou seu espaço perceptivo e seu vínculo com a mãe. Esta
observação foi trazida pela mãe em uma das nossas conversas. E reforça a questão
da construção do conhecimento como um processo gradual e contínuo, no qual não
devemos nos preocupar em classificar períodos de desenvolvimentos, e sim Ter
esses períodos como base de uma visão teórica.
O dois relatos abaixo podem ser estudados juntos. Duas crianças na faixa
etária de 1ano e meio e um ano e oito meses, freqüentam a mesma creche eram
atendidas pela mesma professora que chamou os responsáveis para dizer que as
crianças estavam agitadas e não conseguiam acabar as atividades junto com as
outras crianças.
A criança de 1 ano e meio, segundo a professora, passava a maior parte do
tempo andando pela sala e mexendo nos brinquedos na hora errada. A criança de
dois anos quando estava brincando pegava um brinquedo e custava a guardá-lo, se
deixasse ficava até aproximadamente meia hora com o mesmo brinquedo.
Como orientação para a professora sugeriu que os responsáveis
procurassem atendimento psicológico, pois as crianças poderiam estar com algum
bloqueio a nível mental, dificultando assim o acompanhamento da turma. Ambos
responsáveis procuraram o posto médico e realizaram a consulta com o psicólogo.
Seguindo o processo de avaliação, o psicólogo enviou um laudo para a professora
dizendo que não havia detectado nenhum problema com as crianças.
Esses casos nos levam a refletir sobre vários aspectos, desde a formação
profissional até mudança de comportamento que poderá ocorrer na relação das
crianças e o meio a sua volta. Mas neste momento a prioridade é o desenvolvimento
infantil. De acordo com os relatos é possível dizer que essas crianças estavam em
30
processo de transição do 5o estágio do período sensório motor para o período
simbólico. E que suas condutas poderiam estimuladas em busca da ampliação
significativa destas fases de desenvolvimento. Pode ser citado como exemplo, para
a criança que andava pela sala e mexia nos brinquedos, ser motivada a mostrá-los
para turma, oferecê-los, tentar expressar-se gestualmente ou oralmente, ampliando
não só suas estratégias de ação mas, sua socialização. Em relação a Segunda
criança, o professor poderia estar aproveitando este momento para demonstrar as
propriedades dos objetos para turma, fazer o jogo do faz de conta com o objeto
escolhido pela criança e com outros, solicitar que as outras crianças escolhessem
um brinquedo e tentassem explorá-lo o máximo.
Até o momento as crianças estavam mostrando que a sala de aula não era
um lugar desagradável, havia objetos que lhe chamavam atenção e que estavam
sendo percebidos, o significado deles para as crianças é que deveria ser trabalhado.
Trabalhar não só a sua relação com estes objetos, mas com tudo que havia na sala,
principalmente com outras pessoas.
A importância do brincar na relação da criança com o adulto.
Para o adulto, brincar pode significar relaxamento, diversão ou lazer. Ou uma
forma que encontra de deixar de lado os problemas que fazem parte do seu
cotidiano. O significado de brincar para criança é diferente do adulto. E constitui-se
num aspecto autêntico do comportamento infantil.
A família é o primeiro grupo social que a criança conhece e do qual recebe
influência. Cabe a família inserir a criança em diferentes grupos sociais. Na
interação da criança com os adultos, surgem questões relacionadas aos direitos e
deveres de cada um. Essas situações irão fazer com que a ela se defronte com
questões de ordem emocional, afetiva e intelectual com maior freqüência. Fato este
que contribui para a construção da sua identidade e autonomia. Na relação com os
outros, que a criança organiza suas emoções e sentimentos.
As rápidas mudanças sociais obrigam a criança se organizar internamente de
forma mais ágil. Em relação a esse aspecto, o adulto torna-se um elemento
fundamental para auxiliar e oferecer a criança experiências que as façam se sentir
segura e auto-confiante. A elaboração de vínculos que a criança estabelece com a
família, abrange gradativamente novas relações. Outras pessoas passam a ser parte,
31
do seu mundo; forma-se o grupo onde seus componentes interagem através das
regras, limites e respeito. Durante a brincadeira da criança com os membros da família,
e na exploração dos objetos variados, a criança experimenta diferentes situações,
movimenta-se, amplia seus conhecimentos de forma espontânea e significativa.
A brincadeira permite que a família assuma um papel de grande valor durante
a formação da criança. Este grupo social, deve estar presente, sempre compartilhando
os momentos de alegres ou tristes. As atividades de vida prática, são ótimos meios
para a proliferação da brincadeira. Além de propiciarem a linguagem descontraída e
espontânea, o adulto ensina a criança tornar-se independente no momento de realizar
uma atividade de rotina. Ele espontaneamente estará estimulando a criança em
relação a compreensão de limites e regras, enriquecimento do vocabulário e ampliação
da percepção do seu corpo no espaço e no tempo. O adulto pode aproveitar este
momento também para trabalhar o exercício da negociação, ela possibilitará a
formação de um sistema de representação dos diversos sentimentos e emoções. A
relação de conquista e confiança sempre que o adulto mostrar-se disponível e
espontâneo durante as brincadeiras.
A criança portadora da Síndrome de Down, demonstra lentidão durante o
processo ensino-aprendizagem. Por isso a estimulação precoce é fundamental. Muitas
vezes o adulto parece frustrado frente ao baixo interesse da criança por determinados
brinquedos que lhes são oferecidos, ou pela mesma não os explorar de maneira
esperada por ele, ou não manifestar prazer durante as brincadeiras, se prendendo
apenas a determinada exploração. Quando isso acontece, faz-se, para retomar o
interesse da criança é necessário demostrar a função do objeto e as diferentes
maneira de utilizá-lo. Caso contrário, ela não irá beneficiar-se das oportunidades que o
brinquedo ou a brincadeira oferece ao seu desenvolvimento. É importante que o adulto
mostre primeiro como fazer, deixar que a criança realize diversas tentativas de imitá-lo.
E não diante do primeiro fracasso da criança fazer por ela. Apresentar a brincadeira ou
o brinquedo, mostrar como funciona, estimular sua participação são formas de animá-
la. O medo de não conseguir resolver novas situações ou deparar-se com dificuldades
durante a exploração do objeto é também uma das razões de seu desinteresse e da
insistência num tipo de brincadeira que já assimilou.
Um fator importante para o bom desenvolvimento infantil é a oportunidade de
vivenciar novas situações constantemente. O adulto ao estimular a criança através da
32
brincadeira, deve estar atento a forma pela qual ela explora o brinquedo. Como vimos
durante o trabalho, a aquisição da aprendizagem irá depender da modificação dos
esquemas de ação da criança ao explorar determinado objeto. No caso do portador de
Síndrome de Down, alguns tendem manipular os brinquedos de forma repetitiva sem
modificar seus esquemas de ação, seja pela satisfação que a manipulação oferecer
ao seus corpo ou pela falta de experiências vividas. É comum as pessoas ensinarem a
criança a jogar bola sempre da mesma maneira, ou seja só com as mãos ou só com
os pés. No momento em que a brincadeira necessita de uma das formas não
aprendidas pela criança, ela irá se recusar a jogar e o interesse pelo meio externo
torna-se restrito. Falta de informação dos pais e o sentimento de que a mesma é
incapaz de conviver como as crianças ditas normais, contribui para a exclusão da
criança na sociedade. Cabe aos responsáveis buscar informações sobre a Síndrome
de Down, levar a criança para estimulação o mais cedo possível. Desta forma eles
estarão zelando por uma melhor qualidade de vida da criança. Entre os profissionais
que realizam atendimento direto à família e o intercâmbio com as demais áreas de
atuação destaca-se o Serviço Social. Segundo 6Bastos: "A atuação do Assistente
Social junto à família é de extrema importância, pois as crianças com necessidades
especiais, apesar de seus limites, possuem potenciais e para existir mais auto-
confiança, os familiares são fundamentais, já que esses são peças importantes para o
processo afetivo-emocional e conseqüentemente beneficiarão o desenvolvimento dos
seus filhos".
A vez do responsável:
Entre várias conversas com responsáveis das crianças portadoras da Síndrome
de Down que são atendidas pela área de pedagogia, o relato abaixo mostra o quanto é
importante a estimulação infantil desde os primeiros meses de vida.
Alguns responsáveis, baseados em programas de TV e livros, comentam
durante a entrevista ou orientação sobre a dificuldade em estimular suas crianças.
Sabemos. Os livros na maioria das vezes não estão errados e as atividade oferecida
estão enquadradas a num referencial teórico.
Entre os comentários mais freqüentes, encontram-se os descritos abaixo:
Rosana Tobias Bastos - Assistente Social APAE RJ. Em junho/1999. Depoimento
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- Ouvir falar que devemos oferecer brinquedos para as crianças, no quarto do
meu filho tenho vários brinquedos coloridos e uma caixa enorme, quando ele quer
brinca vai até a caixa, vira tudo no chão e fica lá brincando sozinho!
O que transforma algo em brincadeira não é o que você faz, mas sim como
você faz. Brincadeira é quando nos divertimos e temos vontade de participar. Na
brincadeira estamos trabalhando além da exploração, o início da concentração, a
socialização, a relação com o “outro”, a comunicação e a compreensão. Quando
oferecemos muitos objetos de uma vez para a criança estamos contribuindo para
que ela não procure explorar ao máximo as características do objeto e não inicie a
construção de sua concentração. Imagine que você está precisando ir a um
casamento, ao entrar na loja para comprar, um vestido, depara-se com diversos
vestidos que chamam sua atenção e ninguém te atende, algumas vezes vamos até
os vestidos, seguramos, damos uma olhada rápida e, quando o vendedor pergunta o
que desejas, você diz estou dando uma olhada, ou gostaria de um vestido você
poderia me mostrar alguns. Se os vestidos fossem oferecidos de um em um ou no
máximo de três em três, você teria a oportunidade de perceber melhor um de cada
vez, ver se estava com algum defeito ou compará-lo com os demais, até selecionar
o que iria comprar. É óbvio que esse é um pensamento mais elaborado do adulto.
O ato de brincar é mais importante que os brinquedos. Qualquer coisa, potes, flores,
frutas, chaves podem servir como brinquedos. Os brinquedos devem estar limpos e
não oferecerem perigo para a criança.
- Sempre que posso converso com meu filho! - Enquanto estou fazendo
comida, deixo-o na sala no carrinho ou no quarto e fico falando com ele da cozinha.
É fundamental a participação de outra pessoa nas brincadeiras, mas elas
devem estar com vontade de brincar e não fazerem isso por pura obrigação.
Quando a criança se relaciona com outra pessoa, ela consegue ampliar a
linguagem, compreensão, limites e socialização. Não é preciso estar o tempo todo
conversando ou brincando com a criança, muitas vezes os pais não tem tempo para
dar atenção aos filhos, mas se o pouco tempo que está com a criança lhe for
oferecido atenção, carinho, participação nas atividades, ela terá maior oportunidade
de se desenvolver de forma significativa.
- Estou perdendo a paciência! Sempre que falo com meu filho para ele não
fazer alguma coisa que acho errado, chega alguém perto e diz: - Não faz isso!
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- E quando faço tudo por ele, tenho maior cuidado com ele, as pessoas falam
que estou superprotegendo.
As pessoas que não convivem diretamente com as crianças, podem pensar
que os responsáveis não tem paciência para lidar com determinadas situações na
qual ela tenta fazer o que deseja, porque ela é pequena e a pirraça é engraçada,
dizem que o responsável é uma figura cruel, implicante, que a criança irá ficar
traumatizada, que não compreende o que está acontecendo e apontam várias
maneiras de convencer os responsáveis de que estão errados.
A criança tem o direito de demonstrar o que desejo, mesmo que não seja
possível colocar em prática. Mas é de fundamental importância esclarecer que
vivemos em sociedade e que na mesma existem direitos e deveres a serem
cumpridos. Por isso quando estamos negando algo a criança, devemos refletir sobre
os ônus e bônus que influenciarão no seu comportamento atual e futuro. Desde
pequena, quando a criança começa a administrar seus desejos, o “não” surge como
um forte elemento na construção de sua inteligência. Se repararmos numa certa
fase de sua vida, a criança diz não para tudo que é lhe solicitado, mesmo que diga
“não”, e imediatamente o faça, mas o poder desta palavra que ela ouviu em
diferentes situações se torna muito grande, pois quando ela diz “não”, está
descobrindo-se enquanto ser autônomo. Existem horas que é importante dizer “não”
para a criança, assim como dizer “sim”, elogiar e participar da situação.
Por que fazer tudo ao invés de solicitar que ele faça? Quando a criança
crescer, corre o risco de ser rotulada de preguiçosa, mimada ou a apresentar
dificuldades para interagir com o meio ambiente a sua volta.
Ainda em relação a esses questionamentos, é importante apontar que:
Os pais e a família são elementos-chave para o desenvolvimento e o
aprendizado de qualquer criança. Eles interferem podendo proporcionar a ampliação
das estratégias de ação da criança, ou fazerem tudo para ela e prejudicarem sua
evolução, mesmo de forma intencional.
Devido ao corre-corre do cotidiano ou, por falta de informações,
inconscientemente algumas pessoas dão atenção, participam dos momentos de
alimentação, de dormi, de brincar, mas, esquecem de tocar sua criança. A
comunicação por meio do toque é um dos mais poderosos meios de criar
relacionamentos humanos. Este é benefício para a criança: ao envolver o bebê nos
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braços, no peito, criando sensações de conforto e segurança se torna mais fácil sua
adaptação as novas condições de vidas. É importante que da sua maneira, a criança
possa se sentir amada, protegida e segura para explorar os objetos e ampliar seus
conhecimentos. Segundo Kathleen Keating, o toque físico não é apenas agradável.
Ele é necessário para o nosso bem estar, tanto físico como emocional. Ele pode:
fazer-nos sentir melhor com nós mesmos e com o ambiente à nossa volta; E tem um
efeito positivo sobre o desenvolvimento da linguagem e sobre a inteligência das
crianças; provocar mudanças fisiológicas mensuráveis naquele que toca e naquele
que é tocado, acaba com a solidão e transmite várias sensações agradáveis.
Antes da linguagem verbal, a comunicação ocorre por meio do corpo, que
inicia-se na relação com a figura materna, motivada pelo afeto. E aos dois anos a
imitação de modelos ausentes, enriquecendo sua bagagem gestual afinando e seu
controle tônico. Esse fenômeno afetivo de identificação, embora inconsciente, feche
o pensamento representativo. A evolução da linguagem, também modifica a
imagem. Primeiramente ela é corporal, passando a ser temporal. E seu
enriquecimento aumenta o conhecimento da realidade.
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CAPÍTULO IV: A BRINCADEIRA E A PRÁTICA
EDUCACIONAL Estimulação: O início da formação do cidadão:
O imaginário é parte inseparável da existência humana, em todas as épocas
e em todos os lugares. Está presente em todas as nossas atividades. É por isso que
se diz que o homem é um ser simbólico. Como um visitante recém chegado de um
universo desconhecido, a criança é introduzida de maneira forte e sem cerimônias à
sociedade. Aos poucos, ela vai percebendo o mundo a sua volta e tentando
compreendê-lo. A magia de sua existência ainda não conhece os limites necessários
a uma convivência partilhada, com seres tão diversos, cheios de regulamentos,
controles e limitações, tantas vezes muito importantes na busca pacífica de um
mundo ideal.
A criança conhece o seu mundo classificando e ordenando os objetos que
fazem parte dele, efetuando a leitura da realidade e colocando os objetos dentro de
um contexto. É a partir da leitura dos objetos no dia-a-dia, que ela irá descrever a
realidade. A relação entre a criança e o que ela vivencia irá estabelecer experiências
que lhe ajudarão a se conhecer enquanto ser social, capaz de transformar a
natureza para satisfazer suas necessidades. Ela se vislumbrará com a possibilidade
de ser agente ativo na busca de novas transformações.
Os primeiros anos de vida são de fundamental importância para a formação
do ser humano e partindo da concepção de que a criança é um indivíduo em sua
totalidade, aumenta-se a preocupação com a educação infantil. Uma educação para
a cidadania, através da qual todos possam reconstruir o conhecimento já elaborado
historicamente e a partir dele construir novos conhecimentos. A formação do
cidadão inicia-se desde o berço, e a Educação Infantil pode ser apresentada como
tempo e espaço para o desenvolvimento da criança na sua totalidade.
O Estado tem como dever incluir no processo educacional todas as crianças
independente de serem rotuladas como deficientes ou normais. A educação infantil,
tem como objetivo primordial atender às necessidades psicossociais da criança,
criar condições adequadas para o seu desenvolvimento global, estimular a
criatividade, a autonomia, a cooperação e a criticidade, considerando, para isto, a
história de vida de cada um, suas experiências e sua individualidade. O brinquedo
torna-se instrumento de exploração e desenvolvimento da capacidade motora e cogni-
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tiva da criança. Através da brincadeira a criança exercita suas funções, experimenta
desafios, investiga, conhece o mundo de maneira natural e espontânea. Na visão
pedagógica, o brinquedo é um instrumento que serve para avaliar a atividade da
criança e a sua compreensão sobre o que está fazendo. Os resultados da
brincadeira não são valorizados pelo que representam por si mesmos, mas pela
informação que fornecem a respeito do nível de pensamento infantil. Considerando
o brinquedo e a pesquisa como atividades naturais da criança, projeta-se uma ação
pedagógica que priorize estas atividades e auxilie o sujeito na construção do seu
próprio conhecimento de forma prazerosa, crítica e criativa. Professor e aluno serão
parceiros nesta caminhada, onde a afetividade, a confiança na capacidade de cada
um e o diálogo numa relação horizontal serão elementos sempre presentes.
A ação pedagógica deverá valorizar as oportunidades que surgirem para
levar a criança a refletir sobre a realidade, possibilitando-lhe a compreensão das
suas desigualdades e contradições e possibilidades de transformação. Nesta visão,
o brincar está relacionado a comunicação, expressão, associação do pensamento e
ação criadora. Um profissional competente aproveita a motivação lúdica para
impulsionar o questionamento reconstrutivo, enquanto processo produtivo,
provocativo, instigador e prazeroso. A educação infantil pode proporcionar à criança
desde os primeiros anos de vida, o tempo, espaço e recursos adequados para que
possa escolher e desenvolver interesses individuais e de grupo.
O prazer de brincar:
A estimulação do portador de Síndrome de Down durante o período sensório-
motor estará direcionada para o contato direto da criança com o seu próprio corpo e
os objetos a sua volta. Parte do princípio que a inteligência é construída frente a
uma constante interação entre o sujeito e o meio. A criança pode beneficiar-se
enormemente quando tem a possibilidade de viver em um ambiente educacional que
lhe ofereça a oportunidade de agir com liberdade e espontaneidade, bem como
manipular materiais variados e significativos para ela. Assim, poderá estabelecer
relações com os objetos, com o mundo.
O portador da Síndrome de Down, como qualquer criança, é um cidadão e
merece uma educação por igual às pessoas ditas normais. Por isso é preciso
considerar a criança na sua totalidade, como um ser que sente, pensa, expressa e
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age de múltiplas formas. O entre professor e aluno deve ser autêntico e Ter como
base o afeto e a confiança, principalmente na educação infantil, para que desta
forma seja estimulada a auto-estima e a independência.
Na prática educacional é possível perceber que as crianças aprendem cada
vez mais através das brincadeiras, das atividades concretas, dos jogos de exercícios
e de faz de conta. De uma brincadeira pode sair os objetivos didático-pedagógicos,
e visarão o desenvolvimento geral do educando.
Contribuições do Psicopedagogo no Processo Educativo.
Diante das variedades sociais e características individuais dos alunos, pode-
se dizer que a educação é um grande campo de pesquisa, não só em relação aos
comportamentos apresentados pelos alunos, mas principalmente em relação as
oportunidades oferecidas para que todos os alunos possam realmente aprender e
transmitir conhecimentos dentro e fora da sala de aula. Esses fatos apontam para o
papel do Psicopedagogo que durante a sua prática deve estar compromissado com
a realidade do país, com conhecimentos antropológicos, políticos, econômicos e
históricos. O psicopedagogo deve ter sua visão direcionada, para a realidade da sua
instituição, como ela instituição pode contribuir para o crescimento dos que se
beneficiam da mesma e qual a sua contribuição na sociedade. A escola é o
elemento de superestrutura ideológica da sociedade sociedade de classe e
manipulada pela classe dominante, com vistas à consolidação e à divulgação de sua
ideologia e, assim, à reprodução das condições sociais de produção, que é a própria
divisão de classe.
Qual a relação da citação acima com o tema deste trabalho? No início do
mesmo destaca-se que desde o nascimento: novas situações são oferecidas pelo
ambiente, ao indivíduo, elas são percebidas pelo próprio sujeito do conhecimento
como desafiadoras, e estimulam o organismo no sentido de solucioná-las, utilizando
estruturas mentais já existentes. Quando essas estruturas se mostrarem
insuficientes, o sujeito irá modificá-las com o objetivo de chegar a uma forma mais
adequada de trabalhar com a situação.
A escola deve dar a oportunidade para desde cedo o sujeito se colocar e
participar, mesmo que isso pareça besteira, desde a educação infantil: numa
brincadeira de faz de conta, num jogo cantado, na expressão corporal, no contato
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com diferentes formas de pensar e agir, o sujeito se descobre, se afirma, descobre
o outro e constrói seu pensamento e inicia a elaboração de hipóteses sobre o
mundo que lhe cerca. Essa atitude crítica e participativa pode ser o “fio para a
orientação educacional, buscar uma reflexão sobre, para quem, a serviço de quem e
por que a escola existe na sociedade”.7
O relato da professora que encaminhou as crianças para atendimento
psicológico é um fator marcante para a Orientação Educacional. Ela deve estar
atenta ao processo ensino-aprendizagem e a realidade da sala de aula.
Em função até de uma ideologia social já existente, é importante o cuidado no
momento da avaliação de um aluno. Hoje deve-se avaliar o aluno como um todo e
não apenas o conteúdo a ser aprendido, para isso é necessário um olhar cauteloso.
Essa é uma boa razão para a Orientação Educacional trabalhar com o currículo
dinamizador, direcionado para a formação do homem questionador, crítico e
responsável. Uma criança que desde pequena não tem a oportunidade de explorar
os objetos a sua volta, participar de atividades sociais e com um meio familiar
desestruturado, corre um grande risco de ser marginalizada socialmente. Na escola
encontramos a oportunidade de vivenciar uma maneira nova de elaborar a LEI pois
constituída com a participação coletiva dos envolvidos; que possa ser
experimentada e avaliada se é justa, se está funcionando adequadamente; que
possa ser re-elaborada tantas vezes quantas forem necessárias porque os seres
humanos estão em permanente evolução e nada, entre nós, é para sempre.
A relação entre a o orientador e o aluno, não é só de orientar, como o próprio
nome já diz, é também de caminhar junto com ele. Aprender com o aluno. Deixar
que ele se permita diante de determinadas situações, é de se permitir. É deixar que
o conhecimento seja questionado e redescoberto cada vez mais. O sujeito deve ser
preparado para o desconhecido; o desafio, a descoberta, a criação, a reflexão
crítica, o desenvolvimento e a autonomia. Esses e outros conteúdos que deparam
com a sua realidade e podem ser vividos no cotidiano escolar.
7 GRINSPUN, Mírian. Espaço Filosófico da Orientação Educacional na Realidade Brasileira, p.124. 40
CONCLUSÃO No decorrer deste trabalho foi possível perceber que a criança portadora de
Síndrome de Down, quando recebe estimulação precoce tem a oportunidade de
tornar-se um agente dinâmico na construção de sua inteligência. Nesta visão, a
inteligência, é considerada a capacidade do indivíduo reutilizar, adaptar-se e/ou
sofisticar uma estratégia previamente aprendida como capaz de resolver uma
determinada situação na resolução de um novo problema. Concordando com os
estudos de Jean Piaget sobre o período sensório-motor, o comportamento do bebê
é adaptativo, porque está constantemente modificando seus esquemas de ação em
respostas ao ambiente portanto, é inteligente.
Qualquer criança durante a brincadeira assimila imagens e situações. Registra-
as com o objetivo de torná-las alegres e divertidas. Inventam o brincar, na sua mais
rudimentar forma de demonstrar alegria e satisfazer a necessidade de despejar a
energia gerada pelo seu corpo. A animação proporcionada pela brincadeira, permite
que a criança ao explorar objetos e ambientes diferentes, faça descobertas variadas.
Oferecer diferentes situações simples até mais complexas de forma divertida,
tornam-se atividades desafiadoras e estimulam a ampliação de sua exploração.
As crianças portadoras da Síndrome de Down devem ser garantidas a
oportunidades educativas que visem satisfazer suas necessidades básicas de
aprendizagem, seja a nível de linguagem, expressão, e conteúdos de aprendizagem,
possibilitando a construção de sua independência, iniciativa e autonomia. Como
qualquer outra criança, para adquirir seus conhecimentos e construir sua visão do
mundo precisa brincar com tranqüilidade e liberdade. Todo o tipo de brincadeira
quando bem orientadas sem prejudicarem à saúde, favorecerão o desenvolvimento da
criança e propiciarão grandes oportunidades de aprendizado.
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