cânon e inspiração bíblica - gerhard hasel (ocr)

16
A INSPIRAÇAO DIVINA E O CANON DA BÍBLIA Gerhard F. Hasel* E xiste um relacionamento inegável entre a inspiração divina da Bíblia e a formação do cânon. A inspiração é historicamente afirmada entre judeus e cristãos como a qualidade essencial, intrínseca da Escritura da qual sua autoridade deriva. Enquanto jtlgiimas vozes-insistentes-iiegnm...qualquer_cojiexão entre inspiração e canonização, 1 o ponto-de-vista-oposto. é ainda._mais-_amplamente sustentado. 2 Neste século, tem surgido novamente uma acalorada discussão sobre a questão do cânon bíblico, particularmente desde os nnos sfiSsanta. 3 Q de.hale-tem sido estimulado,_em-parte,_pela-descoberta dos rolos do Mar Morto, 4 e porque_jD_vas investigações de questões do cânon..têm indicado-que-o-antigo-consenso crítico têm ' Este artigo foi publicado no Journal of lhe Adventist Theological Saciei)' Volume 5 Número 1 Spring 1994, 68-105, entitulado "Divine Inspiration and the Cânon of the Bible," nossos agradecimentos a ATS, que concedeu-nos a permissão de publicar este artigo. "Gerhard F. Hasel, erudito adventista, falecido em 1994, foi diretor e professor do Seminário Teológico da Andrews University, EUA. 'Albert C. Sundberg Jr. "The Bible and the Christian Doctrine of Inspiration," Interpretation 29 (1975), 352; James Barr, Holy Scripture. Canan, Authority, Criticism (Philadelphia: Westiminster Press, 1983), 74. 2 Exemplos típicos são R. L. Harris, Inspiration and Canonicity of the Bible (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1957); N. L. Geisler e W. E. Nix, <4 General Introduction to the Bible (Chicago: Moody Press, 1968), 136-147; Milton C. Fisher, "The Canon of the Old Testament," em: F. Gaebelein. The Espositor's Bible Conunentary. ed. (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1979), 1:385-392; e muitos outros. 3 Os ensaios mais importantes foram coletados no livro editado por Ernest Kaseman, Das neue Testament ais Kanon (Gõetingen: Vandenhoeck & Ruprechet, 1970). Note também as seguintes publicações principais: H. von Campenhausen, The Formation of the Christian Bible (Philadelphia: Fortress Press, 1972); Kurt Aland, The Problem of the New Testament Canon (Oxford: A. R. Mowbray & Co., 1962); David L. Dungan, "The New Testament Canon en Recent Study," Interpretation 29 (1975), 339-351; David Noel Freedman, "The Canon of The Old Testament," Interpreteis Bible Dictionary, Supplementary Volume (Nashville: Abingdon, 1976), 130-136; Jack N. Lighthouse, "The Formation of the Biblical Canon Assessment." Studies in Religion 8/2 (1978), 135-142; Leander E. Keck, "Scripture and Canon," Quarterly Review 3 á (1983), 8-26; William Farmer and Denis Farkasfalvy, The Formation of the New Testament Canon (New York: Paulist Press, 1983); Jean Daniel Kaestli and Otto Wermelinger, Le Canon de VAncien Testament. As formation et as histoire. (Geneva: Labor et Fides, 1984); H. P. Riiger, "Der Umfang des Alltestamentlichen Kanons in den Verschiedenen Kirchlichen Traditionen," Die Apocryphenfrage im Õkumenischen Horizont (Stuttgart: W. Kohlhammer, 1989), 137- 145; Odil H. Steck, Der Abscliluss der Prophetie im Alten Testament. Ein Versuch zur Frage der Vorgescliichte des Kanons (Neukirchen-Vluyn: Neukirchener Verlag, 1991); C. Dohmen and M. Oeming, Biblisclier Kanon - waritm und wo7.u? Eine Kanontlieologie (Freiburg: Herder, 1992); outras publicações são mencionadas mais adiante neste ensaio. 4 Ver Hartmut Stegemann, "Die 'Mitte der Schrift' aus der Sicht der Gemend von Qumran," Die Mitte der Schrift? Ein jiidisch-christtliches Gespüch, eds. M. Klopfenstein et al. (Bern: Peter Lang, 1987), 149- 184.' 47

Upload: jonathas-santana

Post on 11-Nov-2015

36 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

Arquivo sobre Cânon e Inspiração Bíblica para Revista do SALT-IAENE

TRANSCRIPT

  • A I N S P I R A A O DIVINA E O C A N O N DA BBLIA Gerhard F. Hasel*

    Existe um relacionamento inegvel entre a inspirao divina da Bblia e a formao do cnon. A inspirao historicamente afirmada entre judeus e cristos como a qualidade essencial, intrnseca da Escritura da qual sua autoridade deriva. Enquanto jtlgiimas vozes-insistentes-iiegnm...qualquer_cojiexo entre inspirao e canonizao,1 o ponto-de-vista-oposto. ainda._mais-_amplamente sustentado.2

    Neste sculo, tem surgido novamente uma acalorada discusso sobre a questo do cnon bblico, particularmente desde os n n o s sfiSsanta.3 Q de.hale-tem sido estimulado,_em-parte,_pela-descoberta dos rolos do Mar Morto,4 e porque_jD_vas investigaes de questes do cnon..tm indicado-que-o-antigo-consenso crtico tm

    ' Es te artigo foi publ icado no Journal of lhe Adventist Theological Saciei)' V o l u m e 5 N m e r o 1 Spring 1994, 6 8 - 1 0 5 , entitulado "Div ine Inspiration and the Cnon of the Bible ," n o s s o s agradecimentos a A T S , q u e c o n c e d e u - n o s a permisso de publicar este artigo. "Gerhard F. Hasel, erudito adventista, fa lec ido em 1994, foi diretor e professor do Seminrio T e o l g i c o da Andrews University, E U A . 'Albert C. Sundberg Jr. "The Bible and the Christian Doctrine of Inspiration," Interpretation 29 (1975) , 3 5 2 ; James Barr, Holy Scripture. Canan, Authority, Criticism (Philadelphia: West iminster Press, 1983) , 74 . 2 E x e m p l o s t picos so R. L. Harris, Inspiration and Canonicity of the Bible (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1957); N. L. Geis ler e W. E. Nix ,

  • Uma das maiores questes gira em torno da idia do conceito de Cnon", a canonizao da Bfblia, deve ser radicalmente separada.do conceito, de "Escr.itura"^e" no apenas dn p r 9 p ^ n rfrr incpimnnn A respeito do AT dito por alguns eruditos que o cnon no se fixou por um longo perodo aps o comeo da era crist, mas em algum ponto entre 90 d.C. e o quarto sculo d.C.7

    48 Revista Teolgica do SALT-IAENE 4:2 (Jul-Dez 2000)

    .significativas fragilidades. Discusses continuam sem cessar at o presente.5 Um novo consenso sobre o cnon est em formao.

    Critrios externos para canonizao do NT, tais como apostolicidade, ortodoxia, antigidade, catolicidade, valor espiritual e aceitao pela igreja so cada vez mais predominantes.8 Estes critrios tm a tendncia de colocar o processo de canonizao e sua autoridade nas mos da igreja.

    Origem do Cnon: Sobre Que Base?

    Agentes Humanos ou Agente Divino? O assunto das foras e/ou fontes que autorizam os escritos bblicos a serem cannicos de crucial importncia- questo se (1) a Bblia o produto de decises humanas baseadas em normas scio-culturais e eventos na histria do passado que podem ser reatualizados no presente, ou se (2) os seres humanos vieram a reconhecer a autoridade da Escritura por causa de uma natureza inerente e qualidade dos escritos da Bblia como a auto-autenticadora, a auto-validante Palavra de Deus.

    Agentes humanos, isto , rabis, bispos, conclios, e/ou comunidades

    'Tais publ icaes c o m o Y. Gamble , The New Testament Canon: Its Making and Meaning (Philadelphia: Forlress Press, 1985); Roger Bechwi th , The Old Testament Churcli (Grand Rapids, MI: Wil l iam B. Eerdmans, 1985); L e e M. M a c D o n a l d , The Formation of the Christian Biblical Canon (Nashvi l le : A b i n g d o n Press, 1988); F. F. Bruce, The Canon of Scripture ( D o w n e r s Grove, IL: Inter Varsity Press, 1988); Ingo Baldermann et al. eds., Problem des biblischen Kanons (Neukirchen-Vluyn: Neukirchener Verlag, 1988); e Gerhard Maier, ed., der Kanon der Bibel (Wuppertal: Bochaus Verlag, i 990 ) do ev idnc ia deste cont inuo interesse. ''Um e x e m p l o t pico desta pos io expresso por A. C. Sundberg, "Canon of the N e w Testament ," Interpreteis Bible Dictionary. Supplementary Volume (Nashvi l le , TN: Abingdon , 1976), 137: "No ma i s satisfatrio usar os termos 'escritura' e 'cnon' c o m o s innimos . A igreja recebeu 'escrituras', isto , escri tos rel igiosos que eram de certo m o d o cons iderados c o m o autoritativos do judasmo; mas a igreja no recebeu um cnon, i.e., uma c o l e o fechada de escritura a qual nada poderia ser acrescentado, nada subtrado." Sundberg de fende a pos io agora rejeitada de que o cnon do AT foi "fechado" em Jmnia por volta de 90 d.C. (ibid.). Por e x e m p l o A. Jepsen, "Zur Kaongesch ichte des Alten Testaments ," Zeistsclirift fr die

    Alttestamentliche Wissenschaft 71 (1959) , 114-136; idem, "Kanon und Text des Alten Testaments ," Theologische Zeitschrift 21 (1965) , 3 5 8 - 3 7 0 ; Domin ique Barthlemy, "L'tat de la Bible ju ive depuis le d'but de notre re j u s q u ' Ia d e u x u m e rvolte contre R o m e ( 1 3 1 - 1 3 5 ) , "Le cnon de VAncian Testament. A Formation et son liistoire, eds. J. - D . Kaestli et O. Wermel inger (Geneve: Labor et Fides, 1984), 9-45; Hartmut Gese , "Die dreifache Gesta l twerdung des Alten Testament ," Mitte der Schrift? Einjdisch-cliristlisches Gespracli, ed. Marin A. Klopenste in et al. (Bern: Peter Lang, 1987), 2 9 9 - 3 2 8 ; Shemaryahu Talmon, "Hei l iges Schrif t tum un Kanonische Biicher aus Jdischer S i c h t - be l egungen zur Ausbi ldung der Grsse "Die Schri f t ' im Judentum," Mitte der Scrift?, -45-79. s C a d a livro recente sobre a formao do cnon do AT discute estes critrios.

    A Inspirao Divina e o Cnon da Bblia 49

    "determinam" quais livros bblicos pertencem ao cnon e, por este modo, os fazem Escritura Sagrada? O verbo "determinar" usado no sentido de decises formais feitas na base de normas imanentes, no sobrenaturais e scio culturais. Alternativamente, os indivduos, entidades e/ou comunidades "reconhecem" na base da natureza e qualidade intrnseca quais escritos eram cannicos?

    Os Protestantes Histricos sustentavam que a canonizao da Bblia, de ambos o Antigo e o Novo Testamentos, o produto no de seres humanos, mas da obra do iEsprito Santo o qual produziu os livros bblicos. Por virtude de sua inspirao, e sua resultante auto-autenticao e auto-validao, os livros bblicos foram ; "reconhecidos" como cannicos.

    O verbo "reconhecer" distintamente diferente do verbo "determinar". O primeiro verbo afirma a inerente origem sobrenatural, natureza, e autoridade do livros bblicos como a causa para seu status cannico. Enquanto que o ltimo termo "determinar" significa comunicar o poder de autorizao puramente humana do cnon por quaisquer foras religiosas, sociolgicas e histricas que estiveram a operar individualmente e/ou coletivamente. Similarmente, foi a canonizao da Bblia um processo de desenvolvimento no transcurso de muitos anos, ou mesmo sculos? O cnon do AT foi formado em trs diferentes estgios como amplamente suposto desde que um cnon de trs partes foi proposto pelo judasmo anterior poca do NT?

    a Bblia o produto da Igreja?9 O conclio catlico romano de padres em 8 de Abril de 1546, no Conclio de Trento, fechou o cnon bblico? No ltimo caso, a Igreja poderia ter um "cnon" aberto bem como um cnon "fechado". O corpo que "fechou" o cnon poderia alterar o cnon pela incluso ou excluso de livros adicionais atravs de decises subseqentes.

    Viso Encarnacional da Escritura e do Cnon. O reformador Mart inho Lutero (1483-1546) fala da "Palavra de Deus [Escritura]" que "preserva a Igreja de Deus,"1 0 dando assim prioridade Bblia sobre a Igreja. Na viso da Reforma, qualquer autoridade_deveria ser testadapQLSua-fideIidad,e, Escritura. V

    De fato, a Bblia manifesta a encarnao da Palavra de Deus em forma escrita, "a Santa Escritura a Palavra de Deus, escrita, por assim dizer ' inscr i turada . ' "" Uma forma mais recente de expressar esta idia falar da Bblia como palavra de Deus "inscriturada".

    A viso encarnacional elevada da Escritura sustenta que "assim como a divindade e poder de Deus esto contidos no vaso do corpo encarnado de Cristo, assim a mesma divindade e poder de Deus esto contidos na Escritura, um vaso feito

    ''Stuhlmacher, Biblische Theologie des Nenen Testaments, 1:2-3 fala do "cnon ec les is t ico [kirchlicher Kanon]" e a f irma q u e "o N o v o Tes tamento o cnon ec les is t ico dos livros cristos primitivos q u e so fundamentais para a f crist e em cuja origem e determinao a igreja participou essencialmente" [itlicos meus ] (3). Esta opinio comparti lhada por muitos te logos protestantes liberais na S e g u n d a metade deste scu lo . '"Martin Luther, Weimar Ausgabe, 3 :542 . "Ibid., 4 8 : 3 1 .

  • 50 Revista Teolgica do SALT-IENE 4:2 (Jul-Dez 2000)

    cie letras,... Para captar a revelao em sua plenitude necessrio conceber a Escritura em termos da natureza divino-humana de Cristo."12 To elevada viso da Escritura baseada e fundamentada em uma elevada viso da encarnao onde o Jesus Cristo terrestre a manifestao da indivisvel unio do divino e do humano.

    /"Em analogia com Jesus Cristo, o Filho de Deus encarnado, a Bblia consiste igualmente de uma indivisvel unio do divino e do humano justamente como

    J. manifestada no Filho de Deus. Eilen G. White tambm sustenta uma elevada viso encarnacional da Bblia.

    Ele fala da perfeita "unio do divino com o humano" a respeito da Bblia em analogia com aquela no Filho de Deus. Ela escreveu, "a Escritura Sagrada, com suas divinas verdades, expressas em linguagem de homens, apresenta uma unio do divino com o humano. Unio semelhante existiu na natureza de Cristo, que era o Filho de Deus e Filho do Homem. Assim, verdade com relao Escritura, como o foi em relao a Cristo, que "o verbo se fez carne e habitou entre ns" (Jo 1:14)."13

    A "unio do divino e do humano" da qual a Bblia foi formada tambm causa impacto na compreenso da natureza e desenvolvimento do cnon. Segue-se que o cnon/f io pode ser percebido como simples resultado de aes ou interesse humanos /O processo de canonizao est interligado com a "unio do divino com o humano" da qual a Bblia par t ic ipjT?

    A Natureza do Cnon

    O Termo "Cnon" definido. A palavra portuguesa "cnon" deriva do grego ho kanon via o Latim. Tem uma origem hebraica e dito que remonta ao antigo sumeriano.14

    O termo tem uma rica histria de uso tanto em crculos no cristos como cristos.15 Um significado bsico providenciado com tais designaes como "vara de medir"16 ou "basto de medir".17 "A palavra [kanon] veio a significar entre os gregos aquilo que um padro ou norma pela qual todas as coisas so julgadas e avaliadas, tanto a perfeita forma a seguir em arquitetura ou o critrio infalvel (kritrion) pelo qual todas as coisas devem ser medidas."18

    No uso cristo posterior veio a significar a lista autoritativa (cannica) de livros

    12Ibid., 3 :515; 4 0 3 - 4 0 4 .i : iEllen G. White , The Great Controversy, 8 M notado usualmente que a palavra grega kann emprestada do hebraico qaneh, "reed, rod.

    A Inspirao Divina e o Cnon da Bblia 51

    que pertencem Bblia.19 importante entender que o posterior uso de "cnon" como um "lista" de livros no seno uma definio de uma perodo tardio para este termo. O uso anterior e mais proeminente do termo "cnon" como a "regra," "padro" ou "norma" para crena ou prtica o mais significante. Como tal o "cnon" o padro da Escritura santa e inspirada pelo qual o ensino e a ao crist devem ser regulamentados.

    Uso Neotestamentrio. O termo "cnon" usado no NT quatro vezes (G1 6:16; 2Co 10:13-16; alguns manuscritos contm a palavra tambm em Fp 3:16), Glatas 6:16 l-se, "E a todos quantos andarem de conformidade com esta regra, [kanon] paz e misericrdia sejam sobre eles e sobre o Israel de Deus" (ARA). Aqui o significado de "cnon" a "regra de medir"20 pela qual todas as coisas da novacriao so medidas. E a "norma" e "padro" ou "medida de avaliao"21 pela qual nossas aes e dos outros so medidas. Em Filipenses 3:16 a palavra empregada com o mesmo sentido.

    A passagem de 2 Corntios 10:13-16 linguisticamente difcil de traduzir; existe alguma ambigidade. Contudo, Paulo parece defender sua autoridade apostlica ao notar que ele tem um "cnon" "ou padro para seu trabalho para a reivindicao de validade apostlica que ele no se conferiu a si mesmo mas recebeu de D e u s . " " O "cnon" ou "padro" no fabricao sua mas lhe foi conferido por Deus.

    Uso Posterior poca do NT. A designao "cnon" usada nos escritos posteriores poca do NT desde a metade do segundo sculo no sentido de uma "medida de julgamento" que determinante para a igreja em termos do que verdadeiro e do que falso.23

    Pelo quarto sculo d.C. o termo "cnon" passou a ser aplicado a lista de escritos que pertenciam e formavam o conjunto de Escrituras autoritativas.24 Assim, a palavra "cnon" veio a ser definida dentro da comunidade crist como "a lista dos escritos reconhecidos pela Igreja como documentos de revelao divina."23

    Historicamente o termo "cnon" refere-se tanto forma (normens normata) das Escrituras quanto funo autoritativa (norma normens) da Escritura.26 "Cnon" tambm significa a autoridade com a qual a Escritura usada. A amplamente citada e aceita Confisso de Westminster, escrita em 1647 e um dos mais influentes credos do calvinismo, afirma em seu artigo sobre a Escritura, "Todos [os sessenta e seis livros] que so dados por inspirao de Deus, para ser a regra de f e vida."27 Que

    '''Bruce, The Cimon of Scripture, 18. 2 0 Sand, 9. 2 l Beyer , 111:598. "Ibid., 111:599. 2 3Sand, 9. 2 4Bruce, The Canon of Scripture, 17; Sand, 9. 2 5R. P. C. Hanson, Origin's Doctrine ofTradition (London: S C M Press, 1954) , 93. 2 6 Bruce Metzger , The Canon of the New Testament (Oxford: Oxford University Press, 1987) , 2 8 2 - 8 8 . 2 7Citado por Bruce, The Canon of Scripture, 18.

  • 52 Revista Teolgica do SALT-IAENE 4:2 (Jul-Dez 2000)

    papel a inspirao desempenha em conferir ao "cnon" como normens normata, sua essencial qualidade, e como norma normens, sua funo normatizante que diferente de outros documentos que foram canonizados?

    O Escopo do Cnon Bblico

    O escopo da Bblia - que livros so includos nela - de crucial interesse. H uma radical diferena entre os catlicos romanos (e certas comunidades ortodoxas) e

    ' o s protestantes a respeito dos livros que pertencem ao AT. Por outro lado, h uma plena concordncia entre todos os cristos a respeito dos livros que pertencem ao NT.

    Desenvolvimento do Cnon do AT. A diviso tripartita posterior poca do NT do AT tem sido usada como fundamentos para a opinio amplamente aceita de que o cnon do AT se desenvolveu em trs estgios no curso de um longo perodo de tempo. alegado que a "lei" (Tor) foi canonizada primeiro. Posteriormente os "Profetas" (Nebiim), e numa final e terceira etapa os Escritos (Ketubim) foram canonizados.

    Um desenvolvimento do cnon do AT'^em trs estgio " completamente 90

    hipottico: no h evidncia para isto, quer no AT quer em outro lugar."" Isto significa que a hiptese ou recontruo amplamente aceita do suposto desenvolvimento do cnon do AT simplesmente esta. No h base histrica para isto. Contudo, pode no assumir muito a medida em que pensamos acerca do desenvolvimento do cnon.

    Uma opinio alternativa sugere que o cnon se desenvolveu exatamente__np momento em que os livros bblicos foram escritos sob inspirao.: A origem dos livros bblicos sob inspirao divina a fonte para o reconhecimento pelos contemporneos e comunidades posteriores que estes livros eram em si mesmos portadores de autoridade divina. Conseqentemente, os escritos divinamente inspirados so cannicos desde o comeo devido a sua natureza inerente como documentos inspirados. Assim, a autoridade dos escritos bblicos manifestada em sua inspirao divina causa radical para a origem do cnon.

    O Cnon Catlico Romano do AT. A Igreja Catlica Romana tem um cnon maior para o AT do que o cnon da Bblia Hebraica com 39 livros assumido por Jesus e os apstolos e seguido pelo Protestantismo em geral.

    Em 8 de AbriL.de- 1546, no Conclio de Trento, o Conclio dos Padresdeterminou que o,s assim chamados livros dutero-cannicos tais como Tobias, Judite, 1 e 2 Macabeus, Eclesistico (Siraque), Baruque, Sabedoria e acrscimos a Daniel e Ester eram to cannicos como os outros livros do cnon do Antigo Testamento. Desde aquele tempo a designao "proto-cannicos" tem sido usada para os 39 livros do cnon do AT que Protestantes e Catlicos tm em comumj? a designao "dutero-cannicos" tem sido usada para os livros que apenas os

    \

    2*Ibid., 3 6 .

    A Inspirao Divina e o Cnon da Bblia 53

    catlicos reconhecem como cannicos.-.

    ..De acordo com o Conclio de Trento tanto escritos proto-cannicos como os dutero-cannicos no tm distino em qualidade, valor e importncia.;Todos os escritos cannicos reconhecidos esto no mesmo nvel . Assim A Igreja Catlica Romana criou uma regra permanente a respeito da extenso e do valor qualitativo da Bblia para os catlicos.29

    A deciso do Conclio de Trento coloca duas questes fundamentais que continuam a dividir o verdadeiro Protestantismo do Catolicismo. (1) Sobre que base ' deveriam os assim chamados livros Dutero-Cannicos, adies ao cnon na Bblia Catlico Romana, serem honrados como Escritura? (2) Sobre que base conferida a autoridade cannica? E a Escritura, com sua autoridade intrnseca, baseada na inspirao divina? Ou, uma autoridade comunitria chamada Igreja? Desde que o Conclio dos Padres decidiu o que Escritura, torna-se bvio que eles, e com eles a tradio anterior da igreja, permanecem acima da Escritura. Ao conceder aos livros escritursticos seu status cannico, a autoridade da Igreja se coloca acima da autoridade da Escritura.

    Se a Escritura, por outro lado, manifestar uma autoridade inerente, divina, baseada em sua inspirao divina, que qualquer comunidade posterior reconhea, ento a Escritura est acima da comunidade religiosa quer Judaica quer crist, j Colocando em palavras ditas por muitos outros: A igreja cria na Escritura? Ou, a Escritura cria e mantm a Igreja? Em oposio ao Protestantismo Reformado histrico, o Conclio de Trento manteve, e no de surpreender, que "o cnon no pode ser derivado da prpria Escritura."30 Esta posio inegocivel e de essencial importncia para a autoridade superior que alegadamente reveste a Igreja, seu magistrio e sua tradio, quando comparada com a posio sustentada entre a linha principal dos Protestantes de que as Escrituras so auto-autenticadoras.

    Voltemos questo dos livros dutero-cannicos que fazem parte da Bblia Catlico-Romana. O volume de material contidos em Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesistico (Siraque), Baruque, 1 e 2 Macabeus, e suplementos a Ester e Daniel, cerca de dois teros do tamanho do NT. O debate no gira em torno da utilidade destes livros. O debate enfoca a questo destes livros pertencerem Bblia e de possurem plena autoridade escriturstica. Merecem estes escritos um lugar no "cnon" da Bblia?

    Ao abordarmos esta questo temos que nos informar sobre uma quantidade de itens. Primeiro, estes escritos no derivam de "profetas" bblicos. Isto dizer que f .X. eles no foram inspirados. Segundo, existem contradies histricas entre 1 Macabeus e 2 Macabeus. geralmente reconhecido que h um diferente nvel de exatido entre 1 Macabeus e Judite, ou mesmo 2 Macabeus. Assim, a exatido

    2"A. M a i c h l e , Der Kcuum der Biblischen Biicher itnd das K0n7.il von Trient (Freiburg: Herder, 1929) , 7 4 -9 9 ; Z i e g e n a u s , 2 1 8 - 2 2 0 .

    "'Anton Z i e g e n a u s , Kanon von der Viiteneit bis sur Gegenwart (Fre iburg /Base l /Wien: Herder, 1991) , 220.

  • 54 Revista Teolgica do SALT-IAENE 4:2 (Jul-Dez 2000)

    histrica est comprometida nestes livros. Terceiro, as adies a Ester so encontradas apenas em manuscritos gregos. Nenhum manuscrito hebraico original ou fragmento do mesmo conhecido e conclui-se usualmente que ele foi composto depois dos tempos do AT, em grego. Os livros de Tobias e Judite existiram somente em lngua grega tambm. O AT cannico reconhecido foi escrito em hebraico/aramaico e no em grego. Quarto, todos os assim chamados livros dutero-cannicos foram produzidos em poca posterior ao "perodo proftico" que fechou-se ao redor de 400 a.C.31 Quinto, o NT no cita estes livros assim como cita os livros do AT.32 O NT reconhece como "profticos" e inspirados apenas os livros que pertencem "lei e os profetas", mas no os apcrifos aos quais pertencem os assim chamados escritos dutero-cannicos.33 Sexto, os antigos pais da Igreja, muitos dos quais citam a Escritura como Escritura, no citam estes livros a par com o que eles mantinham como Escritura.^Stimo, os assim chamados livros dutero-cannicos foram preservados na metrpole norte africana de Alexandria, mas no na Palestina. Estes escritos respiram um esprito diferente como qualquer leitor pode detectar.34 Oitavo, o cnon hebraico contm 22 (respectivamente 24) livros, isto , nossos 39 livros, e estes escritos no esto entre eles desde os mais antigos tempos em que tais nmeros so mencionados3"'' nas listas posteriores poca do NT.36 Em concluso, os escritos adicionais da Bblia Catlico Romana no merecem estar a par com a Escritura se o cnon do AT for limitado queles livros que Jesus, os apstolos, os judeus, e a Igreja Primitiva reconheceram como Escritura. - j 0 . . . - ;0.0

    "Inspirao Bblica" e a Formao do Cnon

    Uma metodologia slida exige que ouamos o que os prprios escritos bblicos tem a dizer a respeito de sua origem por inspirao divina.:Isto essencial porque a

    ,autoridade.-bblica-'~baseada na inspirao tambm o cnon. Uma vez que limitaes de espao no permitem um estudo exaustivo, tentaremos apresentar a posio representativa da Escritura.

    Inspirao: O Testemunho do AT. O AT no usa a palavra "inspirado" ou ^soprado, por Deus" (theopneustos). Esta linguagem empregada apenas por Paulo. Contudo o AT mantm, firmemente sua origem divina.

    O AT tem sua prpria maneira acerca de sua inspirao divina, e, assim, de sua resultante canonicidade. Vamos nos referir a alguns pontos altos expressos por seu prprio auto-testemunho.

    w "Ver Josefo , Contra Apionem, I, 3 8 - 4 2 . " J u d a s 14-15 uma alegada citao do livro apcrifo de 1 Enoque. Contudo Judas no cita no livro, ele. cita um h o m e m , o patriarca Enoque. " B r u c e Metzger, An Introduction to the Apocrypha ( N e w York, 1957), 177. 34 Ibid., 172 ,262 . 1 5 Josefo , Ani., 1.13; 10.63; Introd. to Eccles iast icus; Philo, Vil Cont., 25, 28; 2 M a c . 2 : 1 3 - 1 4 ; Baba bathra 14 a-b.

    3 6 Ver a l ista de Orgenes dos 22 livros do AT em Eusb io , Ecc. Hist. 1:25.

    A Inspirao Divina e o Cnon da Bblia 55

    1. "Profeta(s)." A lngua hebraica usou o termo beycid, "atravs de,"literalmente, "pela mo de," para comunicar que Deus falou "atravs" de seus "profetas" (nebi'im). Isaas 20:2 diz que "naquele tempo o Senhor falou atravs de {beyad) Isaas filho de Amoz." Jeremias 37:2 relata que o povo no ouviu "as palavras do Senhor que Ele falou atravs de {beyad) Jeremias o profeta (nabi0" (cf. Jr 50:1). A "palavra do Senhor" veio "atravs de {beyad)" Ageu (1:1, 3; 2:1) e Malaquias (1:1). "A palavra do SENHOR, o Deus de Israel, a qual Ele falou atravs de {beyad) seu servo Jonas, filho de Amitai, o profeta {nabi),..." (2Rs 14:25). Coletivamente afirmado que Yahweh advertiu Israel e Jud atravs de {beyad) todos os seus profetas (nebi'im) (2Rs 17:13, cf.23).

    Na poca de Ezequiel o Senhor pde falar dos "dias antigos" durante os quais Ele falou "atravs dos {beyad) meus servos os profetas de Israel, os quais profetizaram naqueles dias por muitos anos"(Ez 38:17). No livro de Daniel expressa uma lamentao segundo a qual Israel recusou-se a obedecer "a voz do Senhor nosso Deus" e os "ensinos {torot) que ele ps diante de ns atravs de {beyad) Seus servos os profetas" (Dn 9:10). Esta ltima passagem informativa acerca do que Deus tem concedido "atravs de Seus profetas," ou seja, a "voz" do Senhor e Seus "ensinos." Profetas "profetizam" (Ez 38:17) e eles fornecem "ensinos" divinos (Dn 9:10).

    Yahweh falou "atravs de {beyad) Seus servos os profetas"(2Rs 21:10; Cf. 2Rs 24:2; 2Cr 29:25). O autor dos livros de 1-2 Samuel includo entre os "profetas" ( ISm 3:20) assim como o bem conhecido profeta Isaas (Is 37:2). Em um abrangente sumrio Esdras fala dos "mandamentos" de Deus os quais Israel tinha esquecido mas que Deus "ordenara atravs de {beyac) teus servos os profetas" (Ed 9:10-11).

    E digno de nota que "Teu Esprito" admoesta o povo "atravs dos {beyad) teus profetas" (Ne 9:30). O que os "profetas" dizem o que o "Espirito" diz.

    A mesma designao beyad, "atravs de" no sentido de "pela mo de" usada por Deus ao dar Sua "lei" "atravs de" {beyad) Moiss" (Ne 8:14; 9:14; 10:29[30]). H numerosas passagens que simplesmente afirmam que Deus/Yahweh ordenou ou falou "atravs de {beyad) Moiss" (Js 14:2; 20:2; 21:8; 22:9; Jz 3:4; lRs 8:53, 56; 2Cr 33:8; 35:6) ou o "livro da lei do SENHOR dado atravs de {beyad) Moiss" (2Cr 34:14). Tanto o prprio Moiss, "sendo ele mesmo um profeta," como os "profetas" so agentes "atravs dos (beyad) quais Deus revelou a lei e os profetas," do AT.

    2. "A Palavra do SENHOR." A frase "a palavra do SENHOR" {debar Yahweh) usada 269 vezes em vinte e oito diferentes livros do AT.37 As expresses paralelas, "palavras do SENHOR"(//bre;y Yahweh), usada dezessete vezes em oito livros38 e

    "Gi l l i s Gerleman, "dabar Wort," Theo log i sche Handwrterbuch z u m Alten Testament , eds . E. Jenni e Claus Westermann (Munich: Kaiser, 1971), 1:439, alista apenas 2 4 2 usos. N o s s o uso v e m de um es tudo de computador da Bblia Hebraica. 3SEX 4:28; 24:3 ,4; Nm 11:24; l S m 8 : 1 0 ; 15:1; Jr 34:4 , 6 , 8 , 12; 37:2; 43:1; Ez 11:25; Am 8:11; 2 C r 11:4; 29:15 .

  • 56 Revista Teolgica do SALT-IAENE 4:2 (Jul-Dez 2000)

    "palavras de Deus" (dibrey Elohim),39 aparece trs vezes. A frase "palavras do Senhor Deus"(debar Adonay Yahweh), aparece umas poucas vezes.40 Assim tambm a frase, "palavra de Deus" (debar (ha)Elohim).41 Mais do que 300 usos destas respectivas frases testificam do fato de que -o AT percebia-se a si mesmo como derivado de Deus. Ele a "Palavra de Deus." / Uma investigao destas frases revela que as mesmas muito freqentemente se referem vises e revelaes profticas. Cerca de 75% dos usos se referem a palavras divinas que vieram aos profetas incluindo Abrao, Moiss, e todas as pessoas conhecidas como "profetas" no AT. Nestes casos a expresso significa muito freqentemente que a "palavra de Yahweh" a "palavra de Deus" que o profeta proclama a seus contemporneos e escreveu em seu livro.

    Estas expresses indicam que o que o profeta anuncia no simplesmente "uma palavra" de Deus. Ao contrrio, ela " sempre chamada a Palavra de Deus."42

    Ludwig Koehler, o famoso lexicgrafo da lngua hebraica, notou que neste uso "deve ser encontrado o real fundamento da doutrina bblica da inspirao da Santa Escritura."43

    Em aproximadamente 20% dos usos, a frase "palavra[s] do SENHOR/Deus," se refere s leis divinas que Deus deu a Israel incluindo o Declogo. Os Dez Mandamentos so designados como "a palavra de Yahweh" (Dt 5:5; lCr 15:15; etc.)44 ou "as palavras de Yahweh" (x 24:3-4; etc.).45

    3.) "Sentena do Senhor." Uma frase dominante traduzida "sentena do SENHOR/Yahweh" ou "(assim) diz o SENHOR" ne'um Yahweh. Aparece no menos do que 364 vezes no AT.46 Esta frase extensamente usada nos livros profticos do AT. Mas ela tambm aparece em Gnesis 22:16; Nmeros 14:28; 1 Samuel 2:30; Salmos 110:1; 2 Reis 9:26; 19:33; 22:19 e 2 Crnicas 34:27.

    O uso revela que ela empregada mais freqentemente no comeo, no meio, ou no fim de um dito de Yahweh dado por um profeta para apoiar um relato na primeira pessoa ou "Eu" de Yahweh. O propsito desta expresso enfatizar "a origem da mensagem dos profetas como derivando de revelao divina e testificar de seu comissionamento divino."47 Encontramos aqui uma grande expresso vtero-testamentria que testifica da inspirao do AT.

    4. "(Assim) diz Yahweh." A frase, "assim diz Yahweh (SENHOR)" (koh 'amar

    w J r 2 3 : 3 6 ; Ed 9:4; ICr 2 5 f 5 [ver texto hebraico] . 4 i ,EZ 6:3; 25:3; 36:4 . 4 1 J z 3 : 2 0 ; l S m 9 : 2 7 ; 2 S m 16:23; l R s 12:22; ICr 17:3. 4 2 L u d w i g Koehler , OlcfiTestament Thealogy (Phi ladelphia: Wes tmins ter Press, 1957) , 106. "Ibid., 1 0 6 - 1 0 7 . ""O. Grether, Nanie und Wirt Gottes im Alten Testament (Berl in: W. De Gruyter, 1934) , 7 1 - 7 7 , para textos adic ionais . 4 3 N o t e t a m b m a expres so "as d e z palavras" para o d e c l o g o (Ex 34:28; Dt 4 :13; 10:4). 4 f tIncludas nesta c o n t a g e m esto variantes c o m inseres c o m o Adonai em 92 casos e outras variantes. V e r D. Werrer, " n e ' u m Aussprach ," Tlieologisclies Handwiirterbuch zuni Alten Testament, 2:1 . 4 7 H. E i s i n g "ne'um" Theologisclies Wrterbuch zum Alten Testament, 2:1 .

    A Inspirao Divina e o Cnon da Bblia 57

    Yahweh), usada 291 vezes no AT.48 A mesma frase sem o "assim" (koh) usada outras 76 vezes. uma expresso que afirma em linguagem direta que Yahweh/Deus fala no AT.49 tambm um expresso que declara que o que dito no AT de origem divina, a revelao sendo originada no prprio Deus. Ademais, comunica que uma proclamao divina est sendo apresentada pelo profeta que est falando ao povo.

    Estas trs expresses em suas variantes so usadas mais de mil vezes no AT. Este uso abundante esmagador porque mui extensamente distribudo. a maneira que o AT tm te dizer que derivado de Deus e "soprado por Deus." Ele usa esta linguagem para dizer aos leitores que inspirado e autoritativo.

    Inspirao e Canonicidade. A canonicidade est enraizada na inspirao. Apenas os livros inspirados so "Palavra de Deus" e "Escritura," e apenas livrosl inspirados so cannicos. Inspirao traz consigo o cnon e a canonicidade.

    [vganonicidade.1 no uma autoridade atribuda a Bblia a partir do exterior. Ao " contrrio,c_derivada_da Bblia e inerente na prpria natureza dos documentos que pertencem Bblia. |A inspirao torna o escrito inspirado "Palavra de Deus" uma vez que a inspirao vem de Deus e a "Palavra de Deus" deriva dEle. Portanto, a Palavra inspirada de Deus por sua prpria natureza "Escritura",e cannica desde o momento em que registrada- em forma escrita pelas mos de escritoresinspirados.

    Inspirao: O Testemunho do NT acerca do AT. Volvemo-nos agora para o testemunho do NT acerca do AT. O NT faz reivindicaes explcitas a respeito do AT que so normativas na Escritura. Tambm faz explcitas reivindicaes acerca de si mesmo. Ambas as reas necessitam ser investigadas.

    1. "Profecia e Profetas. " O apstolo Pedro insiste que "nunca jamais qualquerprofecia foi dada por vontade humana, entretanto homens [santos] falaram da parte de Deus movidos pelo Esprito Santo." (2Pe 1:21 ARA). "Profecia" o resultado do movimento do Esprito Santo sobre as pessoas chamadas "profetas."

    "Profecia neste sentido originada no Esprito Santo. O Esprito Santo moveu seres humanos , "profetas," que falaram da parte de Deus. O que eles falam "da parte de Deus." Sendo que suas mensagens se originam de Deus, o que estes "falaram da parte de Deus" a "palavra de Deus."

    "Profecia" no o fruto do "impulso" humano. No o resultado da imaginao, pensamento ou gnio humano. Nunca "foi dada por vontade humana," escreve Pedro, mas tem sua origem em Deus que por meio do Esprito Santo inspirou os profetas com sua mensagem.

    A frase "vontade humana" necessita ateno mais detida. O contraste neste texto entre a "vontade humana" e a atividade do Esprito Santo sobre o "ser

    41i usada 11 v e z e s em x o d o (x 4 :22; etc . ) , duas v e z e s em Josu 7 :13; 24 :2 ) , u m a v e z em Juzes (6:8) , o i to vezes em 1-2 S a m u e l , 33 v e z e s em 1-2 Reis , 10 vezes em 1-2 Crnicas , 27 vezes em Isaas, mais de 150 vezes em Jeremias e o restante das vezes em outros livros proft icos .

    W. H. Schmidt , "amar, sagen," Theologisches Handworterbuch zum Alten Testament, 1:214.

  • 58 Revista Teolgica do SALT-IAENE 4:2 (Jul-Dez 2000)

    humano." A diferena entre vontade humana e atividade divina. A diferena entre a dimenso horizontal do pensamento e experincia humana baseada na ambientao scio-cultural do agente humano e a dimenso vertical manifestada na entrada de Deus no processo histrico por meio do Esprito Santo. Esta ltima toca os seres humanos e lhes concede a revelao divina de maneira cognitiva.

    A dimenso horizontal, a "vontade humana," inerente em qualquer ser humano. E parte da experincia humana geral dentro da esfera do contexto scio cultural de qualquer pessoa e os anteriores contextos humanos dos quais testifica a histria. Todos os seres humanos compartilham esta dimenso horizontal; uma parte e parcela de ser um ser humano.

    A dimenso vertical expressa na frase, "homens falaram da parte de Deus movidos pelo Esprito Santo." Esta a dimenso do sobrenatural. a concesso do Esprito Santo a homens escolhidos, isto , a "profetas." Isto no parte e parcela da experincia universal de todos os seres humanos. Estes seres humanos especialmente escolhidos, os "profetas," so tocados pelo Esprito Santo de uma maneira especial, revelacional.

    Pessoas que falam profeticamente so "movidas" pelo Esprito Santo porque o Esprito divino d-lhes informao real e cognitiva a qual eles no tinham acesso anteriormente, e a qual eles precisam comunicar. O que estas pessoas dotadas do Esprito Santo comunicam, eles "falaram da parte de Deus." No falam de si mesmas. A separao radical entre o "falaram da parte de Deus" e o que "vontade humana" no pode ser super-enfatizada.

    "Profecia," como a palavra usada em 2Pedro 1:21, est conectada com a frase "profecia da Escritura" no verso 20. No est restrita partes ou livros profticos da Escritura somente. Isto , no est restrita segunda parte do cnon hebraico, os Nebi'im dos tempos posteriores poca do NT que incluem os Profetas Anteriores e Posteriores. No est restrita tambm segunda parte do cnon do AT dos tempos anteriores poca do NT que inclui todos os 34 livros exceo do Pentatuco.

    O termo "profecia" refere-se quilo que foi escrito pelos inspirados "profetas que profetizaram" ( IPe 1:10), que dizer, "por homens movidos pelo Esprito Santo [que] falaram da parte de Deus" (2Pe 1:21). Que pode ser includo sob o termo "profetas"? O NT usa tais expresses como "lei/Moiss e os profetas '0 0 com os "profetas" aparentemente se referindo a todo o AT fora do Pentatuco.

    Os "profetas" falam de si mesmos como em Lucas 1:70, "Como Ele [Deus] falou pela boca de Seus santos profetas desde a antigidade" (NASB) com uma citao dos Salmos uma referncia a Abrao. Fica a impresso de que neste caso "profetas" um termo inclusivo que ultrapassa a segunda parte do cnon do AT, na realidade incluindo a "Lei" e os "Escritos."

    O uso inclusivo da designao "profetas" para toda a Escritura do AT pode estar contida no dito de Jesus, "O nscios, e tardos de corao para crer tudo o que

    5 , lMt 5:17; 7:12; 11:13 ( e m ordem inversa); Lc 16:16, 29 ; '24 :27; Jo 1:45; At 13:15; 24:14; 26:22; 28:23; R m 3:21.

    A Inspirao Divina e o Cnon da Bblia 59

    os profetas disseram" (Lc 24:25, ARA). Isto parece provvel pois que Jesus explica aos discpulos no caminho de Emas "todas as Escrituras," ou seja, "Moiss e os Profetas" (v. 27). A frase "discorrendo por todos os profetas" parece ser idntica frase "todas as Escrituras,'01 expressando a totalidade da Bblia dos dias de Jesus, o AT.

    A frase "as Escrituras dos Profetas" que Jesus emprega em Mateus 26:56, e que deveriam ser cumpridas nEle, mais uma vez parece incluir todo o AT.'"1" Se este o caso, ento o termo "profetas" na frase "as Escrituras dos profetas" so as pessoas que produziram as Escrituras do AT sob inspirao. Mais uma vez h um uso inclusivo do termo "profetas" como aqueles que produziram todo o AT sob inspirao.

    O apstolo Paulo tambm fala em Romanos 16:26 das "Escrituras profticas." Esta expresso se refere a todo o AT no simplesmente partes do mesmo."13 Ela testifica do fato de que os escritores de todas as Escrituras, todo o AT, so percebidos como "profetas."

    A abertura da carta aos Hebreus confirma este uso inclusivo do termo "profetas" como os escritores que produziram todo o AT. O autor afirma que Deus havia falado ao antigos antepassados dos hebreus, isto , os "pais" que no so meramente os patriarcas mas os hebreus dos tempos do AT, "muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais pelos profetas, nestes ltimos dias nos falou pelo Filho" (Hb 1:1 -2pp, ARA)".rO termo "profetas" uma designao abrangente inclusiva de cada escritor do AT. "Profetas" nesta passagem refere-se a pessoas nas quais "Deus habita... e atravs das quais ele fala,..."54 uma designao expressando a funo da inspirao divina pois "Deus" que "falou" atravs deles.

    yA revelao inspirada do AT dada pelos "profetas," os quais so escritores humanos divinamente nomeados, tem a Deus como seu autoif assim como Deus "nos falou" atravs de Seu prprio Filho o qual pode ser visto como sendo O "Profeta." O uso inclusivo de "profetas" apoiado pelo uso inclusivo de "Filho."

    Esta introduo a Hebreus, com a revelao atravs dos "profetas" (todo o AT) e agora atravs do "Filho," similar no fraseado a 2 Pedro 3:2: "para que vos recordeis das palavras que anteriormente foram ditas pelos santos profetas, bem como do mandamento do Senhor e Salvador ensinado pelos vossos apstolos." Aqui tambm as "palavras que anteriormente foram ditas pelos santos profetas" parecem referir-se ao AT como um todo assim como o "mandamento do Senhor e Salvador ensinado pelos vossos apstolos" refere-se ao que foi preservado no NT como um todo.

    Deus falou no AT atravs dos "profetas," e Deus manifesta-se a Si mesmo

    " A s s i m W. W i e f e l , Das Evangelium nach Lukas "Theolog isches Handkommentar zum N T " (Berlin: Evange l i s che Verlagasntalt , 1988) , 4 1 1 . 5 2E. Schwe izer , Das Evangelium nach Matthhiius "Das N e u s Testament Deutsch" (Get ingen: V a n d e n h o e c k & Ruprecht, 1973), 324 . " O t t o Miche l , Der Brief an die Rnier (Gett ingen: Vandenhoeck & Ruprechet, 1963), 3 9 0 - 9 1 n.4. 54 W. Friedrich, " p r o p h e t s T h e o l o g i c a l Dictionary of the New Testament ( 1 9 6 8 ) 6 :832 .

  • 60 Revista Teolgica do SALT-IAENE 4:2 (Jul-Dez 2000)

    unicamente atravs do Filho no NT o qual "[falou] pelos vossos apstolos." Assim, a Escritura vem a ns atravs dos "profetas" (todo o AT) e dos "apstolos" (todo o NT). Ambas as categorias de pessoas inspiradas, "profetas" e "apstolos" (todo o NT). So agentes humanos divinamente apontados para falar e escrever por Deus.

    + Esta relao de passagens-chave usando o termo "profetas" em um sentido inclusivo leva a concluso de que o termo "profetas" usado de modo abrangente para pessoas inspiradas que escreveram o AT.53 A correlao de "santos profetas" e "vossos apstolos" em 2 Pedro 3:2 significativa. Correspondendo aos "profetas" como a designao para os escritores inspirados do AT est a designao paralela "apstolos" como os escritores inspirados do NT. Eles so os porta-vozes autoritativos de Jesus Cristo de Quem so apstolos.56

    Moiss foi designado um "profeta" (Dt 34:10; 18:15,18) e assim qualifica-se como estando entre os profetas que escreveram a Escritura. A Moiss creditada a autoria do Pentatuco, os primeiros cinco livros da Bblia (Js 1:7-9; 24:25, 26; lRs 2:2-4; Ed 7:6,7, 23-26; etc.) que so considerados como Escritura autoritativa ao longo dos tempos do AT.37

    Quando dois homens estavam profetizando e Moiss foi solicitado a proibir-lhes, ele disse, "Oxal todo o povo do SENHOR fosse profeta, que o SENHOR lhes desse o seu Esprito!" (Nm 11:29, ARA). Esta declarao expressa um desejo de que todo o povo do Senhor pudesse ser profeta. Contudo, este no o caso, "Profetas" so pessoas especialmente dotadas. Moiss destaca o fato de que a comunidade inteira de Israel no funciona no papel de profeta. No h profecia ou inspirao comunitria de Israel.

    diferente na igreja do NT, a comunidade crist primitiva? Na base da promessa divina (Jo 14-16), o Esprito Santo chegou no Pentecostes (At 2). Aqueles sobre os quais desceu o Esprito Santo no se tornaram "profetas." Ao invs,, eles. foram capacitados para miraculosamente falar lnguas para proclamar as boas-novas com poder o mais rapidamente possvel (At 2:2-13). : ,s Cada verdadeiro seguidor de Cristo na comunidade da f tem o dom do Esprito Santo como Paulo insiste quando ele escreve aos Romanos, "de fato. o Esprito de Deus habita em vs. E se algum no tem o Esprito de Cristo esse tal no dele." (Rm 8:9). "Isto no significa que todos eles receberam o dom especfico de profecia: o dom da profecia... era apenas um de vrios dons do Esprito distribudo entre os membros da igreja."39

    5 5Isto pode encontrar apo io adicional na combinao de duas categorias de pessoas q u e so o fundamento da igreja crist tal como^so menc ionadas na expresso "o fundamento dos apsto los -e dos profetas" (Ef 2:20; cf . 3:5) . 5 f , No NT os d i sc pulos de Jesus so os "apstolos" ( M c 3:16-19; Mt 10:2-4; Lc 6 : 1 3 - 1 6 ; At 1:13, 23 , 26; etc.). Paulo tambm chamado um "apstolo" ( I C o 1:1; 2 C o 1:1; Rm 1:1; Cl 1:1; Ef 1:1; l T m 1:1-2; 2 T m 1:1, 11; Tt 1:1). " i s t o ev idente a partir do uso de "(livros da) lei de Moiss" (Js 8:31, 32 ; 23:6; 1 Rs 2:3; 2 R s 14:6; 23:25; 2 C r 2 3 : 1 8 ; 30:16; Ed 3:2; 7:6; Ne 8:1; Dn 9: 13; Ml 4:4) .

    Ver Gerhard Hasel , Speaking in Tangues. Bblica! Speaking in Tangues and Modem Glossolalia, 2 ed. (Berrien Springs, MI: Advent is t Theo log ica l Soc ie ty Publications, 1994). w B r u c e , Tlie Canon of Scripture, 2 6 4 .

    A Inspirao Divina e o Cnon da Bblia 61

    A recepo do Esprito Santo pelos crentes deve ser distinguida do papel de um "profeta." O papel de "profeta" envolve um chamado e capacitao especiais pelo Esprito Santo (ver ICo 12:29).

    Os escritores bblicos estavam plenamente cnscios de que o que eles escreveram no era produto de seus impulsos prprios. Davi expressou a convico de que suas palavras se originaram do Esprito Santo: "O Esprito do SENHOR fala por meu intermdio, e a sua palavra est na minha lngua" (2Sm 23:2 ARA).

    Daniel reconheceu que o livro de Jeremias era "a palavra do SENHOR"(Dn 9:2), e que o anjo refere-se a "escritura da verdade" (Dn 10:21).

    Jesus apelou para a Bblia de seus dias, o AT, como a palavra de suprema autoridade quando Ele encontrou o diabo ao afirmar "Est escrito," citando a Escritura (Mt 4:4,7,10). Satans respondeu torcendo a Escritura, ao que Jesus mais uma vez replica, "Est escrito."

    *- Jesus e os apstolos repetidamente apelaram "Escritura" como a Palavra de Deus que se cumpriu (Lc 4:21; 22:37; Mc 12:10; Mt 26:54; Jo 7:38; 10:35; 13:18; 17:12; 19:24, 28, 36-37; At 1:16; etc.). A Escritura vem pelos "profetas" (Mt 26:56; Rm 1:2; 16:26) que falam pelo Esprito Santo (2Pe 1:21).

    O prprio Jesus Cristo insiste que "todos os profetas e a lei profetizaram at Joo"(Mt 11:13). dito que todo o AT proftico por natureza. Ele "profetizou" ou "falou."60

    O autor da carta aos Hebreus v o Esprito Santo como o Autor primrio tanto da advertncia, "hoje se ouvirdes a sua voz..."(Hb 3:7-11) como tambm do significado e do ritual do Tabernculo mosaico, "querendo com isto dar a entender o Esprito Santo que ainda o caminho do Santo Lugar no se manifestou, enquanto o primeiro tabernculo continua erguido" (Hb 9:8).

    Quando, o "profeta" (At 2:16) falou, era "Deus" falando (v. 17). Igualmente "Deus falou pela boca de Seus santos profetas desde os tempos antigos" (At 3:21, ARA) e Moiss o primeiro citado (vs. 22). O que est escrito pelos "profetas," por Moiss e os subseqentes profetas inspirados do AT derivado de Deus. Deus "dantes anunciara por boca de todos os profetas que o seu Cristo havia de padecer,..." (At 3:18, ARA).

    O "Esprito Santo [falou] pela boca de nosso pai Davi, Teu servo"(At 4:25, NASB) citado do Salmo 2. A idia de Deus "falando atravs dos profetas repetida varias vezes no NT.

    Em um nvel abarcante, Yahweh tinha proclamado Suas palavras "pelo (beyad) ministrio dos profetas que nos precederam" (Zc 7:7, ARA). A designao "profetas que nos precederam" inclui "a lei e as palavras que o Senhor dos Exrcitos havia enviado por Seu Esprito" (vs. 12, NASB). Se por "lei [torah]" a "lei" de Moiss referida, ento a designao "profetas que nos precederam" refere-se a todos os profetas de Moiss a Zacarias.

    Deus no apenas usou os "profetas" como oradores e pregadores, Ele usou-os

    ''"Passagens adicionais so R m 4 : 3 ; 9 : 1 7 ; 10:11; 11:2; G1 3:8; 4:30; Tg 2:8; 4:6; l P e 2 : 6 ; 2 P e 1:20.

  • 62 Revista Teolgica do SALT-IAENE 4:2 (Jul-Dez 2000)

    tambm para registrar suas palavras.61 Em Marcos 1:2 o escrito vem de um "profeta." O NT emprega frases como "foi escrito pelo profeta" (Mt 2:5) ou "todas as coisas que foram escritas pelos profetas a respeito do Filho do Homem" (Lc 18:31, NASB). Paulo fala da promessa dada "mediante seus profetas nas Santas Escrituras" (Rm 1:2, NASB). O que os Profetas escreveram Escritura inspirada. Foi a operao do Esprito Santo que capacitou os "profetas" a proferir suas palavras.62

    Paulo afirma que "toda a Escritura divinamente inspirada" (2Tm 3:16). Assim, "toda a Escritura" "soprada por Deus" que a traduo literal do termo grego theopneustos.63 Embora "toda a Escritura" lenha sido escrita pelos profetas, seu contedo e mensagem derivam do prprio Deus.

    O prprio Jesus Cristo mantinha que "a Escritura no pode ser quebrada" (Jo 10:35, NASB). Assim, ele sustentou sua unidade e coerncia por que sua fonte e origem estava em Deus. A Bblia inteira de ambos os Testamentos concebida como derivando de "profetas"64 e assim por inspirao do Esprito Santo.

    2) "Escritura" e "Escrituras Sagradas." A opinio expressa no NT sobre anatureza da "Escritura" e o uso de "Escritura Sagrada" (2Tm 3:15) instrutivo para a origem da Escritura e sua autoridade.

    a. "Escritura" como usada por Jesus Cristo. Jesus Cristo referiu-se "Escritura" em sua declarao, "Examinai as Escrituras" (Jo 5:39).65 universalmente reconhecido que "Escritura" como usada aqui por Jesus refere-se ao AT como um todo.

    Jesus endossou atravs disso a compreenso de que Sua Bblia a Escritura inspirada e traz em si mesma a autoridade para descobrir (a) a vida eterna e (b) o prprio Jesus Cristo porque "elas mesmas que testificam de mim."

    Jesus Cristo se refere em muitas situaes totalidade da "Escritura" como a Bblia autoritativa de seus dias. Tais expresses e frases como "[discpulos] creram na Escritura" (Jo 2:22), "a Escritura no pode ser quebrada" (Jo 10:35), "para que a Escritura se cumprisse" (Jo 17:12), e "eles no compreenderam a Escritura" (Jo 20:9) do ampla evidncia a respeito de qual era Sua opinio sobre a Escritura.

    I- A designao "Escritura" no significa em cada caso lodo o AT. Em contextos especficos esta designao refere-se a uma passagem dentro da Bblia. Quando usada neste sentido restrito, ento qualificada de forma especial. Por exemplo, Jesus em seu discurso inaugural na sinagoga de Nazar referiu-se a "esta escritura" referindo-se a passagem de Isaas 61 (Lc 4:21). Em Joo 19:37 Jesus fala de "outra

    f t l Is 8:1; 30:8; Jr 30:2; 36:2 , 28 ; Hc 2:2; Cf . x 17:14; 24:4; 34:1 , 27 ; Dt 27:3; 31:19 , 2 4 - 2 6 ; 2Cr 26:22; N e 9 :38 . f '2Bruce, The Canon of Scripture, 264 . M V e r o insupervel es tudo de Benjamim B. Warfie ld, T h e Inspiration and Authority of the Bible (Philadelphia: Presbiterian and Reformed Publ ishing House , 1970), 2 4 5 - 2 9 6 . W E . G. S e l w y n , The First Epistle ofSt. Peter (London: Macmil lan , 1946), 134, 2 6 2 - 2 6 3 . H U m a traduo alternativa fornecida pela A R A , "examinais as Escrituras. Vi d i ferena de traduo no afeta o assunto de n o s s o estudo de "Escritura."

    A Inspirao Divina e o Cnon da Bblia 63

    Escritura" e quer dizer Zacarias 12:10. Em Marcos 12:10 Jesus se refere a "Esta Escritura" de Salmo 118:22-23. Estes exemplos dos Evangelhos restringem o significado de "Escritura" a passagens individuais dentro do AT com tais termos como "esta" e "outra." Este uso restrito de Escritura salvaguardado por seus contextos e pronomes especiais.

    b. "Escritura" nos Escritos de Pedro. A mesma unidade e totalidade dasEscrituras do AT intencionada pelo apstolo Pedro em sua referncia a "Escritura" em 1 Pedro 2:6 e sua famosa declarao de que "nenhuma profecia da Escritura provm de particular elucidao" (2Pe 1:20). Estas passagens enfatizam e afirmam a "totalidade unificada da Escritura."66

    c. "Escritura" nos Escritos de Paulo. O uso cristo primitivo do termo"Escritura" para referir-se a totalidade e unidade do AT, tambm apoiado por vrias passagens do apstolo Paulo.

    A designao "sagradas letras" (hiera grammata) em 2 Timteo 3:15 que Timteo havia conhecido desde a infncia "refere-se ao Antigo Testamento como um todo."67 Esta uma maneira na qual toda a Bblia daqueles que viveram antes dos tempos do NT [era referida] (ver tambm 2Tm 3:16).

    Paulo escreve em Glatas 3:8, "Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela f os gentios, preanunciou o evangelho..." (ARA). A "Escritura" aqui personificada para representar o prprio Deus. Esta assim chamada hipstase da Escritura mostra que a "Escritura" considerada em sua "unidade essencial como

    /o declarao da vontade divina."

    d. "Escritura" no Livro de Atos. "Escritura" em Atos 1:16 o "que o EspritoSanto proferiu anteriormente pela boca de Davi" (v.17 NASB). Em Atos 8 tambm encontramos o relato de que a "passagem da Escritura" (v. 32) que o eunuco etope estava lendo vinha de Isaas 53:7-8. A distino aqui que o termo "passagem" usado quando uma parte da totalidade da "Escritura" lida. A prpria "Escritura" a to tal idade da B bl ia.

    O quadro consistente apresentado no NT que o AT "Escritura," a "Palavra de Deus" produzida pelos "profetas" que falaram atravs do Esprito Santo. Os "profetas" a registraram (x 17:14; 24:4; Dt 31:9; Js 24:26; lRs 2:3; Ed 3:2; Jr 30:2; cf. Rm 15:15; ICo 4:14; 2Co 2:3; IPe 5:12; 2Pe 3:1; Uo 1:4, 2:12, 26; Jd 3; etc.). Jesus Cristo e os apstolos aceitaram-na como "Escritura" inspirada e autoritativa..-

    Inspirao: O Testemunho do NT sobre Si Mesmo. |0 que o NT diz a respeito de si mesmo? Aplica ele tais designaes como "Escritura" e "palavra de Deus" a si prprio?

    1. Escritura(s). Un^breve considerao de 1 Timteo 5:18 apropriada. "Poisa Escritura declara: 'No amordaces o boi quando pisa o gro' e ainda "O trabalhador digno do seu salrio" (ARA). A primeira citao deriva de

    w , W . Schrenk, "graplie os Holy Scripture," 1:755. " S c h r e n k , " g r i m n a in NT Usage," Theological Dictionury of the New Testament ( 1964) , 1:765. 6 l iSchrenk, " g r a p h e as Holy Escripture," 1:754.

  • 64 Revista Teolgica do SALT-IAENE 4:2 (Jul-Dez 2000)

    Deuteronmio 25:4 e considerada como "Escritura." A segunda citao consiste em um dito de Jesus registrado em Lucas 10:7: "O

    trabalhador digno de seu salrio" (cf. Mateus 10:10). O prprio dito de Jesus coberto pela frmula introdutria para a citao da Escritura, "a Escritura diz."

    Jr Tem sido sugerido que Paulo se refere ao Evangelho cannico de Lucas como Escritura. No podemos estar totalmente certos a respeito disso, mas o fraseado afirma que pelo menos um dito de Jesus (ou uma coleo de seus ditos como um Evangelho), tinha o status de "Escritura" quando Paulo escreveu 1 Timteo.69 " impressionante que Paulo ponha esta citao ao p da letra do Evangelho de Lucas no mesmo nvel que o AT e chama ambas as citaes de 'Escritura'."70

    ~~tr cO segundo exemplo vem do livro de Atos. A pregao das Boas-Novas por Filipe designada como sendo "a palavra de Deus" (Atos 8:12-14). A proclamao do evangelho repetidamente descrita como "a palavra de Deus." - V' O terceiro exemplo deriva de Pedro. A referncia s "demais Escrituras" em 2

    Pedro 3:16 - dentro do argumento concernente s cartas de Paulo "nas quais h certas coisas difceis de entender" (ARA) - indica que o uso petrino de "Escrituras" aqui "pe os escritos de Paulo no nvel das outras Escrituras inspiradas."71

    Evidentemente o Corpus Paulino de cartas so aqui considerados como pertencendo s "demais Escrituras."72 tEsta_maneira. de se referir s cartas de Paulo como "Escrituras" juntamente com o AT indica que elas haviam sido reconhecidas como estando no mesmo nvel. Ambos eram visto como sendo de origem divina e autoritativos. Uma vez que as "Escrituras" incluem as cartas de Paulo, pode ser sugerido querelas tm (assim como as demais "Escrituras") canonicidade intrnseca.

    -Elas so to cannicas como as Escrituras do AT. O quarto exemplo deriva de Paulo? O apstolo Paulo faz referncia ao

    "mistrio de Cristo," o qualfrardado a conhecer em pocas passadas, e que "agora foi revelado aos seus santos apstolos e profetas, no Esprito" (Efsios 3:5, ARA). Esta passagem d evidncia de que a pregao e escritura apostlicas so originados no Esprito no sentido de que revelao pelo Esprito Santo da mesma maneira que as mensagens dos "profetas" eram revelao na era do AT. Isto est em harmonia com a reivindicao de Paulo de que "o evangelho por mim anunciado... recebi... Mediante revelao de Jesus Cristo" (G1 1:11-12, ARA).

    J o o , o_Revelador, fornece um quinto exemplo. Ele mantm "Eu estava no Esprito" (Ap 1:10) quando lhe foi dado "a palavra de Deus, e o testemunho de

    f'yIsto admit ido por Rainer Riesner, "Anstze zur Kanonbi ldung im N e u e n Testament ," Der Kanon der Bibel, ed.Gerhard ivfaier (Giessen: Brunnen Verlag, 1990), 157, o qual sugere q u e c o m esta e x c e o a des ignao "Escritura" para os l ivros do NT encontrada de outra maneira apenas na metade do segundo scu lo d.C. ( 2 C l e m 2:4). '"Simon Kistemaker, "The Canon of the N e w Testament ," Journal of lhe Evanglica! Theological Sociely 20/1 ( 1 9 7 7 ) , 8 . 71F. D. Nichol , ed. , "2 Peter," Seventh-day Adventist Bible Commentary (Washington DC: R e v i e w and Herald, 1957) , 7:618", Karl Hermann Schelkle , Die Petrusbief. Der Judasbrief "Hthk 13/2" (Freiburg im Breisgau: Herder, 1980) , 2 3 6 - 2 3 8 . 7 2 Bruce, The Canon of Scripture, 125.

    A Inspirao Divina e o Cnon da Bblia 65

    Jesus, e todas as coisas que ele viu" (1:2). Na concluso do livro de Apocalipse h a repetida nfase nas "palavras da

    profecia deste livro" (Ap 22:10, 18, 19). "As palavras da profecia deste livro" so a prpria "palavra de Deus'* (Apocalipse 1:2).

    Nossa reviso das principais declaraes usando o termo "Escritura(s)" e "Palavra de Deus" no NT revela que estas designaes so extensivas a ponto de incluir os escritos do NT.-.F. F. Bruce:nota perceptivamente "Quando os escritos do Novo Testamento foram posteriormente includos com o Antigo Testamento como parte de 'toda a Escritura' [2Tm 3:15-15], foi natural concluir que eles tambm eram 'inspirados por Deus'."7 3 Esta concluso parece slida. A Palavra de Deus constituda tanto pelo Antigo como pelo Novo Testamentos "inspirada por Deus."

    -+ autoritativa no porque seres humanos lhe conferiram autoridade. Autoridade no lhe atribuda pela comunidade. autoritativa porque a Escritura se originou atravs do Esprito Santo por meio da inspirao e foi registrada por profetas e apstolos inspirados.

    2. "Toda a Escritura." Agora podemos retornar expresso "toda Escritura"na famosa passagem de 2 Timteo 3:16, "Toda a Escritura Inspirada por Deus til para o ensino, para a repreenso, para a correo, para a educao na justia" (ARA).

    A frase "toda Escritura" a traduo mais amplamente usada da palavra grega original pasa graphe que Paulo escreveu.74

    Uma verso inglesa traduz, "cada escritura" (ARV) e tradues dinmicas recentes trazem "cada escritura inspirada"(NEB, REB).

    A ltima traduo "cada Escritura inspirada," no parece refletir fielmente o que Paulo escreveu. Esta traduo duvidosa do ponto de vista sinttico.75 O gramtico grego C. F. D. Moule escreveu que a traduo "cada escritura inspirada" " muito improvvel... (e] muito mais provvel [a frase] significa o todo da escritura () inspirado."76

    Que diferena faria dizer "toda a Escritura" ou "cada Escritura"? James Barr nota que "se o significado 'cada escritura', ento a palavra 'escritura' no designa a totalidade da Bblia; antes, uma palavra para cada passagem individual ou sentena."77 Em outras palavras, a traduo "cada escritura" refere-se

    73Ibid., 2 6 5 . " A s s i m a KJV, N A S B , TEV, N1V, N R S V . 7 3 A questo sinttica se relaciona c o m a p o s i o do adjetivo theopneustos, "God-breathed." dito q u e a s entena tem o adjet ivo na pos io atributiva, "Escritura inspirada." Isto seria um paralelo de frases c o m o "sagradas letras" no vs. 15. A traduo mais amplamente usada, "toda a Escritura inspirada por Deus ," leva o adjet ivo na pos io predicativa. A pos io predicativa parece a mais natural. por esta razo q u e um erudito tal c o m o James Barr "recusa tomar uma dec i so def in ida entre estas duas poss ibi l idades" (Beyond Fundamentalism: Biblica! Foundations for Evangelical Christianity [Philadelphia: Westminster , 1984] , 1.

    1('C. F. D. M o u l e , An Idiom-Book of New Testament Greek, 2 ed. (Cambridge: Cambridge Univers i ty Press, 1960) , 95 . 77Barr, Beyond Fundamentalism, 1.

  • 66 Revista Teolgica do SALT-IAENE 4:2 (Jul-Dez 2000)

    distributivamente a cada passagem individual na Escritura. Significa "cada passagem da Escritura"78 em um sentido distributivo e no "Escritura" como uma unidade totalmente completa. O sentido distributivo significa que quando algum olha as vrias partes da Bblia em qualquer que seja a passagem considerada, ela inspirada por Deus.

    Ao contrrio, se Paulo quer dar a entender "toda Escritura," usando esta expresso em um sentido no distributivo, coletivo, ento "toda a Escritura" refere-se Bblia em sua totalidade.

    A probabilidade de que Paulo esteja usando pasa graphe em um sentido coletivo de "toda Escritura" alta, porque este o uso normal do termo no NT e nas cartas de Paulo. A idia de que haja uma passagem da Escritura que no seja inspirada por Deus no o ponto de vista de Paulo ou qualquer outro escritor bblico.79 A Escritura no o resultado do impulso, razo, pesquisa ou pesquisa do homem, mas de ser "soprada inspirada] por Deus" ( theopneustos).

    A evidncia considerada acima parece indicar que o NT, bem como o AT antes dele, claramente dado por meio do Esprito Santo. E a palavra do "Filho" (Hb 1:1,2) ou "o mandamento do Senhor" ( ICo 14:37, NASB). O NT se origina da mesma maneira que o AT. Segue-se que a inspirao dos escritos do NT d-lhe status cannico da mesma maneira que os escritos do AT tm inerente status cannico.

    O Fechamento do Cnon do AT: Um Novo Consenso

    Investigaes recentes sobre o fechamento do cnon do AT tm consistentemente apontado para um fechamento nos tempos pr-cristos.80 Este um significativo afastamento do pensamento crtico amplamente aceito que dominou durante aproximadamente 100 anos. Isto abre um novo captulo em nossa compreenso da origem e desenvolvimento do cnon do AT. Estes estudos indicam que o consenso crtico dos sculos dezenove e vinte a respeito da canonizao enfraquecido pelos estudos dentro e fora do campo da erudio crtica, e at necessita ser substitudo.

    Devido a restries de espao, mencionaremos seis grandes autoridades. Quatro pertencem a tradio crtica da erudio, como suas opinies sobre o livro de Daniel mostraro.

    Sid Z. Leman. Em 1976 Sid Z. Leiman publicou sua alentada dissertao que investiga o espettro completo da evidncia rabnica para a canonizao da Bblia

    7 l iSChrerik, "grapho" 1:754. 7 "0 argumento pelo qual Paulo util izou literatura no cannica tem sido um assunto de d i scusso por cerca de 2 5 0 anos. U m a reviso exce lente e equilibrada deste assunto fornecida por E. Early Ell is , PauTs Use of the Old Testament (Grand Rapids, Ml: Baker B o o k House , 1991), 3 4 - 3 7 ; 7 6 - 8 4 . X,,A data de f echamento de ca. 2 0 0 a.C. apoiada por 1. H. Eybers, " S o m e Remarks about the Canon of the Old Testament ," Theologica Evanglica (Univ . of South Africa) 8 (1975) , 111; P. Schafer, "Die S o g e n n a n t e S y n o d e von Jamnia," Judaica 31 (1975) , 116.

    A Inspirao Divina e o Cnon da Bblia 67

    Hebraica. Ele continua a sustentar um processo de trs partes para a canonizao. Ele mantm que o texto da Escritura inequvoco acerca da canonizao da "Lei." Leidman conclui, "A canonizao do Cdigo da Aliana, o Declogo, Deuteronmio, e talvez a Tor inteira assumida como tendo ocorrido durante o tempo de vida de Moiss."Sl Isto implica que a histria do processo de canonizao no comeou simplesmente no tempo de Josias por volta de 622/1 a.C. quando o livro de Deuternomio foi descoberto no Templo (2Rs 22:2; 2 Cr 34).

    Na viso dos rabis, os Profetas (Nebi'im), Leiman mostra, foram canonizados entre 500 e 450 a.C. Os Escritos (ou Hagigrafa), a terceira parte do Cnon Judaico, foram canonizados por volta de 200 a.C., ou antes. Mas desde que o livro de Daniel afirmado pelos eruditos liberais como no tendo sido completado at 164 a.C., de acordo com a hiptese de autoria macabia, Leiman afirma que a canonizao final do Escritos ocorreu durante a crise macabia. " uma suposio justa," ele escreve," que a forma atual de Daniel foi canonizada pelos Macabeus cerca de 164 a.C. luz desta probabilidade, e luz de 2 Macabeus 2:14-15, ns sugerimos de que os Hagigrafa foram canonizados e fechados sob a gide de Judas Macabeu um pouco antes da morte de Antoco Epifnio IV (164/163 a.C.)."82

    S. Talmon. Shemaryahu Talmon publicou em 1987 um importante ensaio, "Holy Writings and Canonical Books in Jewish Perspective - Considerations Concerning lhe Formation of the Entity 'Scripture' in Judaism."83 Ele defende um desenvolvimento do Cnon Hebraico em trs estgios.84 A Bblia foi escrita durante um perodo de aproximadamente 1000 anos, "entre cerca de 1200 e 200 a.C."8'1

    A "Tor," a qual entendida como derivada de Moiss, foi promulgada por tais reis como Josaf (2Cr 17:7-9), Ezequias (2Cr 31:12), Josias (2Rs 22:8ss; 2Cr 34:16ss.) e tais personalidades nacionais como Esdras e Neemias (Ne 8:2-8).86

    E evidente que a "santidade" da Tor deve ser igualada com sua "composio sob inspirao divina."87

    O conjunto dos Profetas e dos Salmos so igualmente atribudos "inspirao divina." s s Desta maneira a estes escritos foi conferida "santidade" que os inclui entre os "Escritos Sagrados."89 A literatura histrica e de sabedoria tambm manifesta

    s l S i d Z. Le iman, The Canonization of Hebrew Scripture. The Talmudic and Midrashic Evidence ( H a m d e n , CT: A l m o n d , 1976) , 20 . Este v o l u m e a verso publicada de sua dissertao referida na prxima nota. " L e i m a n , The Talmudic and Midraslic Evidence for the Canonization of the Hebrew Scripture ( P h D dissertation, University of Pennsylvania , 1970) , 48. " P u b l i c a d o em a l e m o em Mitte der Schrift?, eds. M Klopfenste in et al. ( B e m : Peter Lang, 1987), 4 5 -79 . "ibid., 4 5 - 4 9 . "Ibid., 5 0 - 5 2 . ""Ibid., 5 7 . "Ibid., 58 . mlbid. mlbid.

  • 68 Revista Teolgica do SALT-IAENE 4:2 (Jul-Dez 2000)

    inspirao.90

    Entidades familiares expandidas juntamente com comunidades religiosas e nacionais receberam estes tipos de literatura inspirada em leitura e uso, contribuindo para sua atribuio como literatura autoritativa e cannica.91

    Talmon conclui que o cnon das Escrituras Hebraicas foi completado na fase inicial do perodo helenstico na metade do segundo sculo a.C.92

    Evidentemente, Talmon concorda com Leiman sobre o fechamento do cnon e assinala que as discusses rabnicas posteriores em Jmnia tm fora hagdica e no halquica [legal]. A discusso em Jmnia tem apenas valor escolstico e no est relacionada com o fechamento do cnon. O cnon j estava fechado no tempo em que estas discusses ocorreram.93

    David N. Freedman. David Noel Freedman, um erudito de primeira linha de reputao internacional, que chamado "um dos ltimos dos grandes generalistas da Bblia,"94 argumentou em um provocativo ensaio publicado em 1976 (independente das concluses de Leiman) - que a Lei e os Profetas Anteriores (os livros histricos do AT) formavam uma unidade literria que havia recebido status cannico por volta de 550 a.C.

    Uma "segunda edio" do cnon, que incluiu os Profetas Posteriores, isto , os livros profticos do AT, apareceu aceca de 500 a.C. Os Hagigrafa (Escritos) foram acrescentados posteriormente. Uma vez que o livro de Daniel datado em sua suposta edio final de 165 a.C. o cnon aparentemente foi fechado neste tempo.

    Em 1993 Freedman explicou que Esdras e Neemias canonizaram "toda a Bblia"95 em sua forma final, "toda exceto Daniel."96 Ele vai elaborar isto em uma futura monografia.

    Roger Beckwith. Roger Beckwith, preletor na Universidade de Oxford, escreveu o mais alentado volume sobre o cnon do AT escrito neste sculo. Beckwith est em essencial harmonia com Leiman quanto ao fechamento do cnon. Beckwith sugere que Judas Macabeu finalmente agrupou as escrituras em 164 a.C., e nessa poca os livros de Ester e Daniel foram includos no cnon.97 Assim, o cnon do AT foi fechado por volta de 164 a.C.98 Beckwith sustenta, contudo, que as outras partes do cnon foram reconhecidas como cannicas em poca bem mais remota.

    Meredith G. Kline. Meredith G. Kline, seguindo as novas descobertas sobre tratados do antigo Oriente Prximo, argumenta que h uma inquebrantvel

    "Ibid., 5 9 . 91 Ibid., 6 0 - 6 9 . 92Ibid., 7 5 . 1)3Ibid., 79 ."wHershel Shanks em sua introduo a David Noe l Freedman em Bible Review 9 /6 ( D e c e m b e r 1993) , 28 . ''"'David Noe l Freedman, "Canon of the Old Testament ," Interpreteis Bible Dictionary. Siipplementary Volume (Nashvi l l e , Abingdon , 1976), 130-136 . '"'Freedman, " H o w the Hebrew B ib l e and the Christian Old Testament Differ ," Bible Review 9 /6 ( D e c e m b e r 1993) , 28 -39 , esp. 39 . '"Beckwith, The Old Testament Canon of the New Testament Church, 3 1 2 . nIbid., 4 0 6 .

    A Inspirao Divina e o Cnon da Bblia 69

    continuidade cannica da poca de Moiss at o fim da composio dos livros do AT. Ele argumenta em favor da origem divina dos livros bblicos fundamentado na inspirao divina que garante autoridade e uma fiel tramisso do texto como a Palavra de Deus.99 Ele afirma, "A origem do cnon do Antigo Testamento coincidiu com a fundao do reino de Israel pelo concerto do Sinai."100 O prprio concerto feito por Deus no Sinai o qual "formalmente estabeleceu a teocracia israelita foi em si mesmo o comeo do ncleo da total estrutura pactuai de escritos que constituem o cnon do Antigo Testamento."10 '

    Para Kline a reivindicao do Novo Testamento "quanto a sua primria autoria divina" significa que ele deve ser entendido como a palavra do ressurreto Senhor do novo concerto..."102 "E ento os autores humanos dos livros do Novo Testamento, autorizados por seu Senhor a falar sua palavra, sero vistos funcionando como seus 'ministros do novo concerto' (Cf. 2Co 3:6)."103 Ele conclui, "Porque a Bblia o velho e novo concertos e porque o cnon inerente em concertos do tipo bblico, canonicidade inerente na prpria forma e identidade da Escritura como o Antigo Testamento e o Novo Testamento."104

    Assim, para Kline, o cnon est enraizado e fundamentado na Escritura como a Palavra pactuai de Deus; no est fundamentado em qualquer agente(s) normativo externo que atribui canonicidade aos livros bblicos a partir de fora.

    Robert I. Vasholz103. Uma voz complementar de kline Robert I. Vasholz com seu volume, The Old Testament Cnon in the Old Testament Church (1990).106

    Ele aponta para a "coerncia interna para a canonicidade do Antigo Testamento." Vasholz desenvolve "a posio de que a racionalidade para aceitar escritos

    como autoritativos, i.e. cannicos, reside na observao de testemunhas oculares contemporneas de algum tipo de manifestao de aprovao divina aos autores da escritura."108 Assim, Vasholz faz uma distino entre a natureza inerente da canonicidade a qual dita residir no Antigo Testamento como "palavra do Senhor" e a aceitao desta canonicidade pela comunidade.

    O aspecto de aceitao do que inerentemente cannico reside na divina manifestao da "aprovao de Deus aos autores" dos quais as testemunhas so

    " M e r e d i t h G. Kline, The Structure of Biblical Authority, rev. ed. (Grand Rapids, M l : Eerdmans , 1972); idem, "The Correlation of the Concepts of Canon and Covenant ," New Perspectives on the Old Testament, ed. J. Barton Payne ( W a c o , TX: Word Books , 1970) , 2 6 5 - 2 7 9 . '""Kline, The Structure of Biblical Authority, 4 3 . mIbid. 102Ibid., 71 . mlbid. mIbid 75 . i n 5 Robert I. Vashholz , The Old Testament Canon in the Old Testament Church. The Internai Rationalefor Old Testament Canonicity. "Ancient near Eastern Texts and Studies, V o l . 7 " (Lewinston: Edwin Mel lon Press, 1990) . 10(1 Ibid., 2. 107Ibid., 9. mIbid 2 0 .

  • 70 Revista Teolgica do SALT-IAENE 4:2 (Jul-Dez 2000)

    contemporneas. Isto significa que canonicidade fundamentada no divino tanto com relao (1) origem dos livros como derivados de Deus como (2) no "reconhecimento" por parte da comunidade contempornea a qual Deus concede indicaes confirmatrias e sobrenaturais.

    No caso de Moiss, que produziu o Pentatuco, h ampla evidncia para a "aprovao" divina de Moiss como autor.109 Os israelitas foram testemunhas oculares do que Deus fez e realizou atravs de Moiss.

    Como o quadro com os profetas e escritores dos livros bblicos aps Moiss? Vasholz nota que "o Antigo Testamento endossa a predio cumprida como a marca principal de canonicidade,..."110 Deus cumpria predies de curto prazo para "reassegurar aos ouvintes que Deus realizaria o que Ele havia prometido [nas profecias de longo prazo e nas outras palavras dos escritores de livros bblicos]."111

    J O papel de predies cumpridas era funcionar "como prova de que o profeta era genuno, e a sociedade do Antigo Testamento os compreendesse desta maneira."112

    Estes cumprimentos faziam com que "a obra ou obras do profeta... fosse respeitada e conservada. Quando o profeta e seus contemporneos tivessem sado de cena no haveria maneira de ser confirmado o profeta. O profeta se autenticava por predies de curto prazo e milagres diante de sua audincia."113

    Os livros de 1-2 Samuel e 1-2 Reis contm numerosos relatos de predies de curto prazo com seus respectivos cumprimentos.114 Este esquema profecia/cumprimento revela a auto-autenticadora racionalidade "para determinar canonicidade."""^ 15 A situao com relao a 1-2 Crnicas similar quela de 1-2 Samuel e 1-2 Reis. Vasholz conclui que "h no Antigo Testamento um registro de profetas escritores cuja autoridade havia sido publicamente atestada cada um em sua prpria gerao para escrever a histria dos reis de Israel, e estes mesmos profetas foram contemporneos dos reis acerca dos quais escreveram."116

    As predies dos livros profticos tais como Isaas, Jeremias e assim por diante funcionavam na mesma base de auto-autenticao."7 "A predio era o ponto crucial da questo da canonicidade exatamente como devia ser e como uma avalanche de dados mostrados pelo Antigo Testamento."118 O ponto que Vasholz quer enfatizar que o AT no apenas prov o critrio interno para canonicidade em termos de sua origem como a "palavra do Senhor", mas tambm prov o critrio

    mIhid., 2 0 - 3 3 mIbid 47 . " W 112Ibid., 49. mlbid. " 4 l S m 2 :34 = 4 :11 ; 15:1-2 = 15:7-8; 30:7-8 = 30 :17 -20 ; 2 S m 3:18 = 5 :17 -21-8 :1 ; 7 : 1 2 - 1 3 = 2 R s 2:24; 2 S m 1 2 : 1 1 - 1 2 = 12:21-22; 1 2 : 1 4 = 12:18. Para 1-2 Reis ver IRs 11:31-39 c 1 4 : 2 = 12:15-17; l R s 13:3 = 13:5; 1 Rs 13:8, 17, 22 = 13:26; IRs 14:7-13 = 17:18; 16:2-4 = 16:11-12, e muitos outros e x e m p l o s . " ' V a s h o l z , 54 . U(,!bid., 57 . 118. Ibid., 67 . 111 Ibid., 5 8 - 6 8 . mIbid 67 .

    A Inspirao Divina e o Cnon da Bblia 71

    interno de aceitao e reconhecimento pela comunidade. Nessa base, o produto escrito dos profetas foi reconhecido tanto como autoritativo quanto cannico.

    Estes eruditos manifestam essencial concordncia em relao ao fechamento do cnon do AT muito antes de comear o perodo do NT. Leiman, Talmon, e de algumas outras perspectivas Kline e Vasholz, sustentam que a idia de cnon derivada da qualidade inerente da inspirao dos livros da Bblia. Beckwith no se ope a isto mas tem uma preocupao diferente. As varias comunidades nas quais os livros do AT funcionam como cannicos ou os reconhecem como sendo assim (Kline, Vasholz) ou atribuem em seu uso destes livros autoridade a eles (Leiman, Talmon). Pode ser apropriado concluir que as respectivas comunidades, primariamente contemporneas dos escritores inspirados da Bblia, vieram a reconhecer a inerente qualidade destes escritos com base em seu carter inspirado.

    Uma concluso adicional se apresenta: a inspirao dos escritos bblicos era a qualidade norteadora da canonicidade. O cnon que inclui todos os trinta e nove livros do AT estava em existncia por volta de 400_a.C.119quando os ltimos livros foram escritos pelos ltimos autores inspirados.120

    Esdras, um escriba profissional bem como sacerdote, ho quem canonizou os livros do AT embora tenha desempenhado importante papel juntamente com Neemias para afirmar e popularizar a Escritura canonizada entre os exilados. "Esdras tinha posto seu corao para estudar (darash) a lei do SENHOR, e para pratic-la e ensin-la" (Ed 7:10, NASB). Mais tarde Esdras trouxe "a Lei" ao povo e leu-a para eles (Ne 8:2-8).

    Aqueles que sustentam uma hiptese macabia para o livro de Daniel121

    sugerem uma data no final do segundo sculo a.C. para o fechamento do cnon do AT em cerca de 164 a.C. Contudo, se o livro de Daniel datado no sexto sculo com base interna, c no h razo para dat-lo em poca posterior a essa,122 ento o fechamento do cnon do AT pode ser datado por volta de 400 a.C. quando o ltimo dos livros foi escrito.

    O conceito de um "cnon crescente",123 isto , um cnon que ampliado, no significa que a comunidade israelita por si mesma simplesmente adicionou livros ao seu cnon das Escrituras. Antes a medida em que os autores inspirados dos livros bblicos terminaram seus produtos, estes escritos inspirados aumentaram o conjunto

    " , ;J. W. Wenham, Christ and tlie Bible (London: Tyndale, 1972) , 134, afirma, "No h razo para duvidar de q u e o cnon do Ant igo Tes tamento substancialmente o cnon de Esdras, ass im c o m o o cnon do Pentateuco substancialmente o cnon de Moiss ." l 2 n A af irmao, "Depois da morte dos lt imos profetas - Ageu , Zacarias e Malaquias - a inspirao (divina ou proftica) foi removida de Israel"(b. San 1 la; Tos Sot ed. Zuckerrnandel 3 1 8 , 2 1 - 2 3 ; b. So t 4 8 b ; Y o m 9a) c o m o citado por Ta lmon, "Heil iges Schriftum," 74 , pode ser revelador nesta conexo . l 2 l E s t e o caso em Leiman, Freedman, e Beckwith . O lt imo tambm inclui a aceitao de Ester naquele tempo. l 2 2 Ver Gerhard Hasel, "Establishing the Date for the Book of Daniel ," Symposium on Daniel, ed. Frank B. Holbrook. "Daniel and Revelat ion Commit t ee Series, Vol . 2." (Washington, DC: Biblical Research Institute, 1986), 84 -164 . l 2 3 Esla expresso usada por Warfie ld, The Inspiration and Authority of the Bible, 4 1 2 .

  • 72 Revista Teolgica do SALT-IAENE 4:2 (Jul-Dez 2000)

    de livros cannicos na base de sua canonicidade interna e inerente baseada na inspirao. 4- Finalmente, ento, a canonicidade no baseada em decises humanas

    tomadas por vrias comunidades, mas na inspirao divina. Para os livros bblicos,124 inspirao implica em canonicidade.1211 Por causa da inspirao o cnon bblico auto-autenticado, auto-validado, e auto-estabelecido. Isto significa que a origem do cnon do AT, e podemos respectivamente acrescentar o cnon do NT onde os mesmos princpios esto em operao, no a mesma coisa que o seu reconhecimento pelas respectivas comunidades de f.

    Estas observaes sobre a natureza inerente da canonicidade revela que uma distino necessita ser feita entre a origem do cnon e seu reconhecimento pela comunidade religiosa. A existncia do cnon fundamentada e dada atravs de inspirados agentes humanos que escreveram os livros bblicosT Quando um livro bblico completado sob inspirao, ele cannico e "aumenta" o cnon da Santa Escritura que comeou com os escritos de Moiss (Pentatuco) e finalizou com a produo sob inspirao do ltimo livro do NT. A subseqente atividade da comunidade religiosa aquela de reconhecer o que inerentemente cannico. A comunidade religiosa no confere canonicidade Escritura; ela reconhece a

    O Fechamento do Cnon do NT

    Inspirao e o Cnon. Como o caso para o AT, a origem da canonizao encontrada nos prprios escritos do NT. A inspirao divina mais uma vez a chave no processo.

    Hebreus 1:1 revela que no passado "Deus falou a nossos antepassados em muitas e vrias maneiras pelos profetas,... (NSRV). Os "profetas" inspirados produziram Escritura inspirada chamada AT (2 Pedro 3:15-16). Com Jesus Cristo uma nova era irrompe na histria. "Mas nestes ltimos dias Ele nos falou pelo seu Filho" (Hebreus 1:2, NIV). Este texto mantm que com o falar do Filho a Revelao divina atingiu sua plena exposio.

    Parece que com Jesus Cristo, e aqueles que so autorizados por Ele para falar em Seu nome, a revelao bblica alcanou seu clmax e objetivo. Em Lucas 10:16 Jesus diz aos setenta discpulos que Ele enviava, "Quem vos der ouvidos ouve-me a mim, e, que vos rejeitar a mim me rejeita, quem, porm, me rejeitar, rejeita aquele

    '^Edward Young , "The Canon of the Old Testament ," Revelalion and the Bible, ed. Carl F. Henry (Grand Rapids, M l : Baker, 1958) , 162, e screve q u e "pode ser assegurado conf iantemente que as passagens invocadas para apoiar a idia de que Esdras 'canonizou' qualquer poro das Escrituras do Ant igo Tes tamento no produzem o resultado desejado. N e m Esdras nem N e e m i a s nem os h o m e n s da Grande S i n a g o g a nem o conc l io de Jmnia 'canonizaram' o Ant igo Tes tamento ou parte dele ." ~ 5 Uma conc luso similar tirada por Y o u n g , 162: "Toda a ev idnc ia apoia a pos io de que os l ivros do

    Ant igo Testamento , sendo de inspirao divina, eram consequentemente autoritativos, e foram reconhec idos c o m o tais d e s d e o t empo em que apareceram pela primeira vez ."

    A Inspirao Divina e o Cnon da Bblia 73

    que me enviou." (ARA). Jesus Cristo identifica-se a Si prprio com Seus discpulos. Apostolicidade e o Cnon. Apostolicidade como um critrio de canonicidade,

    se compreendida corretamente, tem certo grau de importncia. Apostolicidade significa "apostlico," respectivamente, a inspirada origem dos livros do NT. " Apostolicidade no significa que cada livro isolado do NT seja necessariamente escrito por um apstolo. Mas significa_qiie_o NT _e_s.crito_p_or.um "apstolo" inspirado ou um discpulo direto e inspirado, de um apstolo, uma testemunha ocular. "Aqui podemos pensar em Marcos e Lucas, cuja apostolicidade era derivada por associao de Pedro e Paulo, respectivamente."127 Judas e Tiago, como irmos de Jesus, so considerados como tendo estatura apostlica. A carta aos Hebreus era

    128 considerada como tendo sido escrita pelo apstolo Paulo. "

    melhor-entender por apostolicidade que todos os autores dos escritos do NT eram apstolos, ou um de seus associados imediatos, que eram guiados pelo Esprito Santo e escreveram sob inspirao.129 Se apostolicidade significa escrito sob inspirao pelos apstolos de Jesus Cristo ou seus companheiros imediatos associados com eles, ento "apostolicidade implica ao mesmo tempo inspirao.''

    . 'Baseado nestas consideraes o cnon do NT estava fechado cerca de 100 d.C., onde quer que o ltimo escrito apostlico se tenha completado.

    Recepo/Reconhecimento do Cnon. As listas subseqentes de livros do NT tais como encontradas no assim chamado Fragmento do Cnon Muratrio131 e em outras listas de livros do NT132, no dizem nada a respeito da canonizao do NT, somente sobre recepo ou reconhecimento. O erudito catlico romano Hans von Campenhausen tem afirmado incisivamente "o cnon do ponto de vista de seu contedo - se afirmou sozinho."133 na entidade auto-estabelecida e auto-validada.

    O erudito luterano continental do Novo Testamento e historiador da Igreja, Kurt Al and, afirma que "a igreja estabelecida como tal no criou o cnon, mas

    l2 f tH. K. Ohl ig , Die Theologische Begriindung des Neuetestamentlichen Kanons in der alten Kirche (Darmstadt: Wissenschaf t l i che Buchgese l l schaf t , 1972), 5 7 - 1 5 6 . 1 2 7 Gamble , The New Testament Canon, 68 . I2XB. F. Westcott , The Epistle to the Hebrews (reprint; Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1974), l x i i i - l x v , para a ev idnc ia que era disputada em Roma. l 2 vGerhard Maier, Biblisclie Hermeneutik 2 ed. (Wupperlal: R. Brockhaus, 1991), 134. mIbid. m G e o f f r y Mark Hahneman, The Muratorian Fragment and the Development of the Canon (Oxford: Clarendon, 1992) argumenta, c o m o o faz Sundberg ("Canon Muratori: A Fourth Century List," Harvard Theological Review 66 [1973] , 1 -41) antes dele, que o Fragmento Muratrio datado do quarto s c u l o e no do segundo. Esta datao tardia ho s igni f icante uma vez que a idia de canonic idade no est estreitamente l igada c o m as listas de livros cannicos c o m o indicando o processo de canonic idade . Para uma op in io contrria sobre a datao tardia, ver E. Ferguson, "Canon Muratori: Date and Provenance," Studia Patrstica 18/2 (1982) . 6 7 7 - 6 8 3 . 1 3 2A primeira lista que "nomeia" os 27 livros do N o v o Testamento fornecida por Atansio em sua ass im chamada Carta de Pscoa, datada de 3 6 7 d.C. Para o texto, ver Bruce, The Canon of Scripture, 2 0 8 - 2 0 9 . '"Hans von Campenhausen, Die Entstehung der Christlichen Bibel (Tbingen, 1972), 3 8 2 n.12.

  • 74 Revista Teolgica do SALT-IAENE 4:2 (Jul-Dez 2000)

    reconheceu , o cnon criado."134 Bruce M. Metzger, um dos mais proeminentes eruditos do NT nos Estados Unidos, tambm concluiu que a Igreja "veio a reconhecer, aceitar, e confirmar a qualidade auto-autenticadora de certos documentos que se impuseram por si prprios como tais sobre a Igreja.133 A "qualidade auto-autenticadora" a revelao divina inscriturada na Palavra de Deus por inspirao. O cnon foi criado por Deus atravs da inspirao e sua autoridade e canonicidade divina inerente ao fenmeno da revelao-inspirao.

    Cnon e Inspirao Ps-cannica. A revelao Bblica se conclui com Cristo, a mais plena revelao que Deus j concedeu a humanidade (Hb 1:1,2). Os apstolos e seus associados imediatos tm atestado sua identidade e significncia sob inspirao em seus escritos. Assim, segue-se que o NT foi canonizado e fechado quando o ltimo escrito do NT foi completado, presumivelmente o livro de Apocalipse por Joo. Nenhum profeta posterior - mesmo sob inspirao - poderia dar uma revelao maior do que a que foi dada por Cristo. Da, o cnon da Escritura naturalmente se fecha com o testemunho apostlica a seu respeito.

    A Escritura inspirada cessou com o final do primeiro sculo d.C., o cnon est fechado, e nada pode ser acrescentado e nada pode ser subtrado.

    Vimos acima que os "profetas" do AT e os "apstolos" (e seus associados imediatos) no NT so os escritores que produziram a Escritura sob inspirao. Um dado dos "profetas/apstolos" como escritores inspirados que o que quer que seja escrito depois de seu tempo no pode se tornar Escritura. Como um corolrio disto, qualquer pessoa inspirada posteriormente que fala ou escreva dever ser julgada na base do cnon da Escritura inspirada, e estar em harmonia com a "lei e o testemunho"(Is 8:20), estar em harmonia com a Escritura, e ser reconhecida como inspirada, mas sempre sujeito Escritura. *

    Concluso

    A Inspirao divina prov o critrio interno de canonicidade auto-autenticador e auto-validador. Bruce Metzger notou incisivamente que "o cnon est completo quando os livros que por princpio lhe pertencem esto escritos." 13\No momento em que os livros inspirados so escritos, eles so cannicos. Canonicidade no algo atribudo Bblia quer falemos do AT ou do NT. Canonicidade inerente e intrnseca aos prprios livros da Bblia. O reconhecimento de que a Escritura inspirada tem status cannico no o que a faz cannica. A Bblia cannica antes que a canonicidade seja reconhecida por qualquer comunidade de f.

    A distino entre escritos cannicos e escritos eclesisticos posteriores no

    I VIK. Aland "Das Problem des neutestamentl ichen Kanons," Neiie Zeitsclirt fiir Systematische Theologie 4 ( 1 9 6 2 ) , 147. l 1 ; ,Bruce M. Metzger , The Canon of lhe New Testament: Its Origin Development, and Significance (Oxford: Clarendon Press, 1987), 2 8 7 . mlbid.

    A Inspirao Divina e o Cnon da Bblia 75

    baseada em decises arbitrrias. Tem razes teolgicas. Deus gue est operando na criao dos escritos bblicos pela inspirao proftica/apostlica e Sua providncia. iPortanto, Deus que os fez cannicos^ tambm Deus que fez com que estes escritos fossem reconhecidos pelo que eles so, baseados em sua inerente natureza inspirada.

    Pode-se concluir com segurana que "a Igreja no criou o cnon, mas veio a reconhecer, aceitar, e confirmar a auto-autenticadora qualidade de certos documentos que se impuseram por si mesmos como tais sobre a Igreja. Se este fato obscurecido, entra-se em conflito muito srio no com o dogma, mas com a histria."137

    Mesmo se uns poucos pais da igreja clamassem algum tipo de inspirao para seus escritos, o que seria melhor designado de iluminao pelo Esprito Santo, sua reivindicao reconhece a anterior, fundamental e definitiva inspirao proftica/apostlica das Escrituras e sua autoridade cannica.138 A autoridade divina, inerente da Bblia, enraizada em sua origem divina atravs da inspirao, faz dela a contnua norma cannica para a f e a vida da igreja.

    Os livros bblicos se tornaram "cannicos porque ningum pde impedi-los de assim se tornarem."139 Portanto, "o cnon - compreendido na base de seu contedo -se imps por si mesmo."140 Assim, a Bblia no o produto da igreja.141

    "Definitivamente, ento, a canonicidade se baseou no em decises humanas mas na inspirao divina: a autoridade intrnseca reconhecida precede a canonicidade."142

    Podemos dizer que a autoridade intrnseca, dada atravs de inspirao divina, tanto implica como produz canonicidade. Atravs do processo de inspirao Deus intencionou fazer os escritos da Bblia cannicos e autoritativos em si mesmos. O reconhecimento do cnon um ato secundrio, certamente supervisionado pelo Esprito Santo, mas no um ato determinativo para a natureza cannica dos escritos bblicos.vA prpria canonicidade primria. Em si mesma, antes de tudo e .singularmente fundamentada na inspirao proftica (para o AT) e apostlica (para o NT) da Escritura como a "Palavra de Deus" em forma humana para todos os tempos e lugares. A Canonizao um processo inerente, divinamente determinado e enraizado na inspirao. A variedade de tentativas para explicar a canonizao como um mero processo humano, atribuindo autoridade aos escritos bblicos, ao dar-lhes um status que eles no possuam anteriormente, ou atribuindo aos escritos bblicos uma qualidade superior na base de decises de comunidades religiosas, no se

    nilbid. l , s Tertul iano declara, "O que ns m e s m o s s o m o s , isto tambm as Escrituras so desde o princpio" (On Prescr. 38 ) . A prioridade das "Escrituras" o padro para o que posteriormente. '"'''William Barclay, The Making of the Bible (London, 1961), 7 8 , falando do N o v o Testamento . '""'Von Campenhausen , Die Entstehung der Christlichen Bibel, 3 8 2 n. 12. '""D. B. Knox, "Problems of the Canon," The Refonned Theological Review 36 (1977) , 11: "Nenhuma dec i so de igreja ou conc l io , nem crescente aceitao da comunidade , pode conferir canonic idade a um livro. O Que o Crist ianismo fez foi reconhecer a canonicidade." '"^Ronald Y o u n g b l o o d , "The Process: H o w We Got to Our Bible ," Chrisrtianity Today 3 2 / 2 (Feb.5 , 1988), 26.

    R i h h n t e a U n i v e r s i t r i a

  • 7 6 R e v i s t a T e o l g i c a d o SALT-IAENE 4 :2 ( J u l - D e z 2000)

    coaduna com a evidncia contida nos prprios escritos bblicos. A canonicidade est fundamentada nos prprios escritos bblicos com sua origem na inspirao divina.