assistência sistematizada de enfermagem à grávida portadora de

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Introdução A Doença Hipertensiva Específica da Gestação, de acordo com Ministério da Saúde 3 , trata-se de uma patologia obstétrica que surge após a vigésima semana de gestação, sendo mais freqüente no terceiro trimestre e se estende até o puerpério. Caracteriza-se por apresentar hipertensão arterial, edema e/ou proteinúria, podendo culminar com convulsões e coma. Para o Ministério da Saúde 3 , a Pré- Eclâmpsia pode ocorrer anteriormente à vigésima semana de gravidez, na moléstia trofoblástica gestacional, sendo, predominantemente, uma patologia de primigesta. É uma das complicações mais comuns e de maior morbimortalidade materna e perinatal ocupando o primeiro lugar dentre as afecções próprias do ciclo grávido-puerperal 7 . A DHEG, também denominada pré-eclâmpsia, é caracterizada pela tríade: edema, proteinúria e hipertensão arterial. É uma síndrome que acontece no final do 2º trimestre da gestação e persiste durante todo o período gestacional, impondo, desta forma, assistência pré-natal de qualidade, já que este quadro clínico apresenta gravidade de intensidade variável. Os autores enfatizam a atenção especial que se deve ter ao ganho de peso da gestante, quando este se apresentar maior do que o esperado. É importante salientar que a hipertensão arterial pode ser uma entidade pré-existente, ou seja, ao invés de ser induzida pela gravidez pode ser: hipertensão arterial que antecede a gravidez e persiste após o parto; agravada pela gravidez: hipertensão prévia e/ou sub-clínica que se agrava

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Page 1: assistência sistematizada de enfermagem à grávida portadora de

Introdução

A Doença Hipertensiva Específica da Gestação, de acordo com Ministério da

Saúde3, trata-se de uma patologia obstétrica que surge após a vigésima semana de

gestação, sendo mais freqüente no terceiro trimestre e se estende até o puerpério.

Caracteriza-se por apresentar hipertensão arterial, edema e/ou proteinúria, podendo

culminar com convulsões e coma. Para o Ministério da Saúde3, a Pré-Eclâmpsia pode

ocorrer anteriormente à vigésima semana de gravidez, na moléstia trofoblástica

gestacional, sendo, predominantemente, uma patologia de primigesta. É uma das

complicações mais comuns e de maior morbimortalidade materna e perinatal ocupando

o primeiro lugar dentre as afecções próprias do ciclo grávido-puerperal7.

A DHEG, também denominada pré-eclâmpsia, é caracterizada pela tríade:

edema, proteinúria e hipertensão arterial. É uma síndrome que acontece no final do 2º

trimestre da gestação e persiste durante todo o período gestacional, impondo, desta

forma, assistência pré-natal de qualidade, já que este quadro clínico apresenta gravidade

de intensidade variável. Os autores enfatizam a atenção especial que se deve ter ao

ganho de peso da gestante, quando este se apresentar maior do que o esperado.

É importante salientar que a hipertensão arterial pode ser uma entidade pré-

existente, ou seja, ao invés de ser induzida pela gravidez pode ser: hipertensão arterial

que antecede a gravidez e persiste após o parto; agravada pela gravidez: hipertensão

prévia e/ou sub-clínica que se agrava com a gravidez; ou ainda, transitória: hipertensão

que se desenvolve após a primeira metade da gestação e caracteriza-se por elevação leve

da pressão arterial, sem prejuízo para a gravidez. Essa forma de hipertensão arterial

regride após o parto, mas retorna em gestações subseqüentes. Outro quadro de maior

gravidade denomina-se eclâmpsia e caracteriza-se pela ocorrência de convulsões e/ou

coma, não relacionados a outros distúrbios cerebrais, podendo ocorrer durante o ciclo

gestacional, parto e puerpério.

Objetivo

Conhecer e descrever a fisiopatologia e o processo assistencial de enfermagem

na Doença Hipertensiva Especifica da Gravidez (DHEG).

Aporte teórico – DHEG

Page 2: assistência sistematizada de enfermagem à grávida portadora de

Existem duas classificações relacionadas a síndromes hipertensivas na gestação.

Uma adotada pelo Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas e apoiada pelo

National High Blood Pressure Education Working (1990), recomenda a classificação

definida por Hughes (1972). Outra, definida por Davey & MacGillivray (1986), foi

apoiada no 8º Congresso da Sociedade Internacional para Estudo da Hipertensão na

Gravidez, Buenos Aires (1992), e pelo Grupo de Estudo da Organização Mundial de

Saúde, WHO (1987)5.

A1. Hipertensão gestacional – o termo gestacional refere-se ao aparecimento da

hipertensão em conseqüência da gravidez, e que acontece após 20 semanas de gestação:

presença de pressão arterial diastólica ≥ 90mmHg; ausência de proteinúria; mulheres

previamente normotensas sem proteinúria; normalização no puerpério remoto após 6

semanas.

Possibilidades de evolução clínica:

1. Pré-eclâmpsia quando a hipertensão se associa à proteinúria.

2. Hipertensão arterial latente ou transitória (principalmente em multíparas).

A2. Proteinúria gestacional: proteinúria sem hipertensão; mulheres previamente

normotensas e sem proteinúria, com diagnóstico após a 20ª semana de gestação;

normalização no puerpério remoto.

Possibilidades de evolução clínica: proteinúria postural (ortoestática); infecção urinária;

pré-eclâmpsia (proteinúria que precede a hipertensão); doença renal crônica não

diagnosticada previamente; doença renal aguda.

A3. Pré-eclâmpsia (hipertensão e proteinúria), nas formas leve ou grave: aumento da

pressão arterial diastólica a 90mmHg ou mais; presença de 300mg ou mais de proteínas

em urina de 24horas ou labistix + ou mais; mulheres previamente normotensas e sem

proteinúria, antes da 20ª semana de gestação; normalização no puerpério remoto.

B1. Hipertensão Crônica

Causas: essencial (primária); vascular: vasculite, coartação de aorta; endócrina: supra-

renal (feocromocitoma); induzida por droga.

Diagnóstico clínico:

1. Hipertensão antes de 20 semanas de gravidez.

2. Hipertensão crônica comprovada em qualquer idade gestacional.

3. Hipertensão que persiste após 6 semanas de puerpério.

B2. Doença renal crônica: Glomerulonefrite (secundária ou idiopática); Túbulo

intersticial (infecciosa, tóxica ou metabólica).

Page 3: assistência sistematizada de enfermagem à grávida portadora de

Achados clínicos: proteinúria prévia à 20ª semana gestacional; proteinúria na presença

de doença renal previamente conhecida em qualquer idade gestacional; proteinúria

persistente no puerpério remoto.

B3. Hipertensão crônica com pré-eclâmpsia superajuntada

Diagnóstico clínico: piora a hipertensão arterial, com aumento de pelo menos 15mmHg

sobre os níveis prévios de pressão diastólica; desenvolvimento de proteinúria; fundo de

olho com exsudato, edema e hemorragia retiniana.

Diagnóstico específico: biópsia renal com simultaneidade de lesões renais e de

endoteliose capilar glomerular.

C. Hipertensão e/ou proteinúria não classificadas – essa categoria é muito útil na prática

clínica, por permitir que o diagnóstico clínico do quadro hipertensivo gestacional seja

previsto no puerpério: primeira conduta de pré-natal após 20 semanas; idade gestacional

duvidosa ou ignorada, mais clinicamente superior a 20 semanas; história clinica com

informações inclusivas para o diagnóstico de hipertensão arterial crônica;

Classificação evolutiva no puerpério após 20 semanas:

1. Hipertensão e/ou proteinúria gestacional: desaparece hipertensão ou a

proteinúria, ou ambas.

2. Hipertensão crônica ou doença renal crônica: persiste a hipertensão ou a

proteinúria, ou ambas.

3. Hipertensão arterial crônica com pré-eclâmpsia superajuntada: persiste a

hipertensão e desaparece a proteinúria.

D. Eclâmpsia – é a presença de convulsões tônico-clônicas generalizada em mulher com

qualquer um doas quadros hipertensivos descritos, não causados por epilepsia ou outra

patologia convulsiva, e que pode ocorrer na gravidez, parto ou até 3 dias de puerpério.

A incidência real das síndromes na gravidez não é conhecida uma vez que não

há na literatura consenso sobre os critérios diagnósticos e as definições. Por outro lado,

as alterações da pressão arterial no curso da gestação, com queda de 10 a 15mmHg,

principalmente no início do segundo trimestre, podem levar a falso diagnóstico de pré-

eclâmpsia em mulher com hipertensão arterial crônica.

Estudos afirmam que o fator racial deixou de ser importante porque, ao mesmo

tempo em que há relatos de que a DHEG é mais incidente na raça não-branca, em outros

a afirmação é a de que isto ocorre nos indivíduos de cor branca22.

Há maior incidência de pré-eclâmpsia nas gestantes que fizeram pouco ou

nenhum tratamento pré-natal21. Portanto, o acesso ao tratamento pré-natal favorece a

Page 4: assistência sistematizada de enfermagem à grávida portadora de

detecção precoce dessa patologia, reduzindo suas taxas de morbidade e mortalidade

maternas e fetais15.

Para o entendimento do processo da doença e da relevância dos sinais clínicos, é

importante o conhecimento da etiologia e da fisiopatogênia. Apesar de muito já se ter

escrito sobre a possível causa de pré-eclâmpsia, e muitas teorias ainda estarem a sendo

propostas, a sua etiologia permanece, ainda, essencialmente desconhecida. Dessa forma,

buscam-se os fatores predisponentes ou a identificação de mulheres de risco para o

desenvolvimento da doença. Entre tais fatores citam-se os que se seguem:

Paridade – a primigesta tem seis a oito vezes mais suscetibilidade de apresentar pré

eclâmpsia e eclâmpsia do que a multípara.

Gestação múltipla – apresenta risco para pré-eclâmpsia cinco vezes maior do que a

gestação simples.

Mola hidatiforme – apresenta risco 10 vezes maior, tanto em primíparas como em

multíparas, provavelmente também pelo grande volume do vilo corial. Nesta patologia a

manifestação de pré-eclâmpsia é precoce (antes de 24 semanas)

Poliidrâmnio – a freqüente associação dessa condição com gemelaridade, diabetes,

hidropisia fetal e triploidia sugere sua relação causal com a incidência de pré-eclâmpsia.

O poliidrâmnio devido somente a malformações fetais não aumentam o risco para pré-

eclâmpsia.

Hipertensão, edema, proteinúria, convulsões e coma – esses são sinais clínicos

evidenciados para o diagnóstico e evolução da doença.

Maior incidência em gestantes com hipertensão arterial preexistente – a presença de

lesão renal ou vascular de base predispõe ao aparecimento da pré-eclâmpsia. Alguns

autores chegam a considerar que a recorrência de pré-eclâmpsia superajuntada nesse

grupo de mulheres seja superior a 70%.

Tendência familiar ou hereditária – a observação da incidência de pré-eclâmpsia, cerca

de quatro vezes maior em filhos de mães que tiveram a doença comparada à população

geral.

Fatores sócio-econômicos e comportamentais – os aspectos sócio-econômicos são

referenciados como risco, a partir da diferença da incidência observada, principalmente

para os casos de eclâmpsia, nos países desenvolvidos e em desenvolvimento.

Fatores nutricionais – a incidência de DHEG foi relacionada com a dieta hipersódica e

hipoprotéica. Já é fato cientificamente comprovado que dietas ricas em sódio, aliadas ao

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baixo consumo de potássio, desencadeiam a hipertensão arterial em indivíduos

geneticamente predispostos27.

A pré-eclâmpsia ou DHEG, possui uma gama de teorias etiopatogênicas que

Zweifel, há mais de um século, designou a enfermidade de “moléstia das teorias”.

Não tendo sido possível provocar em animais DHEG similar à que incide em

humanos; clínicos, fisiologistas e bioquímicos interessados na questão têm, de muito

tempo sugerido numerosas teorias etiológicas, que persistiram como corretas até que

novos conhecimentos fisiopatológicos revelaram ser improcedentes5.

Dentre as teorias abordaremos as seguintes:

Teoria da Isquemia Renal: sugeriu-se que a resistência do miométrio à distensão

desencadeia um reflexo útero-renal, o qual provoca isquemia cortical renal, a qual, por

sua vez, tem como fundamentais manifestações clínicas a vasoconstrição generalizada,

com hipertensão, proteinúria e edema15.

Teoria da isquemia placentária: várias pesquisas demonstraram ocorrer redução no

fluxo sanguíneo uteroplacentário no decurso da DHEG e coincidente declínio de 30% a

59% no consumo de oxigênio5. Bussâmara afirma que a teoria da isquemia

uteroplacentária é aquela que melhor preenche as diversas condições exigidas para

explicar a DHEG.

Teoria prostaciclínica: essa teoria tem sua importância valorizada pelos diversos autores

que consideraram a questão etiopatogênica da DHEG. Alguns autores em suas

numerosas publicações evidenciaram que, enquanto nas gestantes com DHEG as

prostaglandinas vasodilatadoras e os antiagregadores placentários (PGI2) estão

reduzidos, o tromboxano vasoconstritor e agregador plaquetário (TXA2) está

aumentado.

Vasoespasmos: é a característica fisiopatológica primaz da pré-eclâmpsia11. A

manifestação mais freqüente e característica da pré-eclâmpsia é a hipertensão arterial, e

sua ocorrência tem sido relacionada ao espasmo arteriolar5.

Na identificação das formas de manifestação da hipertensão arterial na gravidez

é fundamental diferenciar a hipertensão que antecede a gravidez daquela que é condição

específica da mesma. Na primeira, a elevação da pressão arterial é o aspecto

fisiopatológico básico da doença, a segunda é resultado da má adaptação do organismo

materno à gravidez, sendo a hipertensão apenas um de seus achados. O impacto dessas

duas condições, sobre mãe e feto, é bem diferente, assim como seu controle19. O

diagnóstico se faz por volta da 24ª (vigésima quarta) semana de gestação25.

Page 6: assistência sistematizada de enfermagem à grávida portadora de

A doença hipertensiva específica da gravidez é classificada em pré-eclâmpsia e

eclampsia, e é a percussora da Síndrome de HEELP, uma complicação grave da

gestação6.

Exames laboratoriais são essenciais para confirmar caso de DHEG, dentre a

propedêutica laboratorial está o hemograma completo com contagem de plaquetas,

pesquisa de esquizócitos em sangue periférico, ácido úrico sérico, bilirrubinas séricas,

enzimas hepáticas, uréia e creatinina séricas, coagulograma, urina tipo I, proteinúria em

24 horas4.

Identificar as necessidades da paciente constitui a primeira categoria da do

instrumento de coleta de dados, sendo este o momento onde através dos dados coletados

no histórico de enfermagem torna-se possível identificar estas necessidades humanas

básicas afetadas do paciente na tentativa de promover ações que possam beneficiá-los14.

Para uma paciente com doença hipertensiva específica da gravidez o diagnóstico

de enfermagem seria de acordo com NANDA9: deambulação prejudicada, risco de

vínculo pais/filhos afetado, volume excessivo de líquidos, disposição para o aumento do

auto-cuidado, risco de sentimento de impotência e pesar.

Enquanto um instrumento de trabalho, o diagnóstico de enfermagem

proporciona ao enfermeiro um plano de ação, que o aproxima de seu objeto de trabalho

através de ações anteriormente refletidas, embasado nos problemas detectados no

paciente e, portanto, a produtividade espelha a sensível melhora no processo de trabalho

através da qualidade das ações21.

O profissional de enfermagem deve está atento às necessidades reais da paciente

de acordo com seu estado clínico, implantando, posteriormente, a conduta de

enfermagem forma sistemática, rentável, humanizada e individualizada.

No caso de DHEG o enfermeiro (a) deve observar, estimular, orientar, solicitar,

controlar, situações que melhorem o desconforto normal da condição clínica.

Gemelaridade

A gravidez multifetal figura no contexto da prenhez de alto risco. É a gestação

na qual estão presentes dois ou mais produtos da concepção8. A mortalidade perinatal é

maior que a habitual e aumenta em proporção direta ao número de fetos. É devida,

principalmente, à prematuridade e ao retardo de crescimento fetal e, secundariamente, à

presença de malformações fetais, alterações placentárias e de cordão, aumento de

incidência de doenças como pré-eclâmpsia, etc. Está também aumentado o risco

Page 7: assistência sistematizada de enfermagem à grávida portadora de

materno pelo aparecimento mais freqüente das síndromes hipertensivas, de anemia, de

quadros hemorrágicos no parto, poliidrâmnio, apresentações anômalas, etc3.

A gravidez multifetal relaciona-se com faixas etárias maternas maiores, com a

raça negra, com o aumento da paridade, com história familiar (pelo lado materno), com

freqüência maior de relações sexuais, e, em dias atuais, com as técnicas de indução da

ovulação ou de fertilização assistida3.

A toxemia gravídica triplica a sua incidência, o poliidrâmnio é freqüente, o

ventre se agiganta, intensificam-se os edemas dos membros inferiores e suprapúbicos,

exacerbam-se as varicosidades das pernas, e as estrias gravídicas assumem maiores

proporções. O peso no baixo-ventre, o desconforto, a respiração difícil e a deambulação

penosa são achados assíduos na gravidez que se aproxima do termo.

As complicações mais freqüentes da gravidez gemelar são muitas, no entanto as

de maior importância para a pesquisa são:

Prematuridade: sua presença é assinalada em dois terços das gestações, reconhecendo a

sobredistensão da miofibrila como sua causa maior. As taxas de trabalho de parto pré-

termo variam entre 20 a 75%11.

Baixo peso e Crescimento Intra-Uterino Retardado: o baixo peso associa-se à

prematuridade em 85% dos casos. Encontram uma gama de eventos para justificá-los na

gravidez de gêmeos: insuficiência placentária, malformações, anemia e toxemia

gravídica, entre outros8.

Toxemia: na prenhez de gêmeos, a sua incidência é multiplicada por três e é um dos

motivos que contribui para o ensombrecimento do seu prognóstico8.

Poliidrâmnio: sua freqüência é cinco vezes maior do que na gestação de um só feto.

Favorece a amniorrexe prematura, a prematuridade, o prolapso de cordão e o

deslocamento prematuro da placenta normalmente inserida8.

Poliidrâmnio

É o aumento excessivo do volume do líquido amniótico, classicamente

considerado quando superior a 2.000 ml. Sua freqüência é ao redor de 1% e sua

importância se deve ao aumento da morbidade e mortalidade perinatal3. O aumento

semanal médio de LA é de 20 ml entre a 10ª e a 14ª semanas e de 50 ml da 15ª a 28ª

semanas. O LA atinge seu volume máximo na 38ª semana (1.000 ml), decrescendo até o

parto. É raríssimo no primeiro trimestre gestacional e pouco freqüente no segundo5.

Page 8: assistência sistematizada de enfermagem à grávida portadora de

Mais freqüentemente, associa-se a alterações fetais como malformações,

infecções, hidropisia imune e não imune, tumores, etc3. Relaciona-se ainda a alterações

placentárias (tumores, placenta circunvalada) e maternas, cujos mais importantes fatores

são representados por diabetes, DHEG, aloimunização Rh e gemelaridade. Existem

ainda causas idiopáticas8.

O desenvolvimento do poliidrâmnio pode ser agudo (em poucos dias), ou

crônico (semanas). A forma aguda é mais freqüente no segundo trimestre entes da 24ª

semana de gestação. Constitui um quadro grave, evoluindo geralmente em trabalho de

parto prematuro, com elevados índices de mortalidade perinatal. A forma crônica é

diagnosticada com maior freqüência no terceiro trimestre da gestação, tendo uma

evolução mais favorável para o feto28.

De certeza, o diagnóstico é ultra-sonográfico, dado pelo achado do ILA. Pode

ser medido por: diâmetro do maior bolsão de LA, utilizando a classificação de acordo

com a medida do diâmetro vertical do maior bolsão de LA, ou o Índice de Líquido

Amniótico (ILA) que tem como grau de normalidade de 8 a 18 cm8.

As principais complicações do poliidrâmnio estão relacionadas ao trabalho de

parto prematuro, à rotura prematura das membranas, ao descolamento prematuro da

placenta e a dispnéia materna. O tratamento deve sempre levar em consideração a

etiologia do poliidrâmnio. A correção das causas maternas ou das causas fetais

proporcionará uma melhora no volume do LA28.

7. Crescimento Intra Uterino Restrito (CIUR)

Até a década de 40, consideravam-se prematuros todos os recém-nascidos de

baixo peso. Em 1947, Mc Burney observou que alguns deles eram pequenos em

decorrência de um crescimento intra-uterino inadequado e não por nascerem

precocemente.

Cerca de quinze anos após, a Organização Mundial de Saúde desvinculou os

conceitos de baixo peso ao nascer e prematuridade, passando a relacioná-los à idade

gestacional. Consagrou-se, então, a existência de uma nova entidade nosológica,

denominada CIUR. Battaglia & Lubchenco2, na Universidade de Colorado (EUA),

elaboraram curva relacionando o peso ao nascimento com a idade da gravidez. Para

esses autores, neonatos que se encontravam abaixo do percentil 10 eram considerados

pequenos para a idade gestacional. Este constitui o clássico e amplamente conhecido

conceito de CIUR.

Page 9: assistência sistematizada de enfermagem à grávida portadora de

No crescimento fetal são considerados, além dos genéticos, outros fatores fetais

ditos restritivos e facilitadores. Entre os primeiros, destacam-se a desnutrição materna,

nível sócio-econômico-cultural, uso de drogas lícitas e ilícitas, doenças maternas

obstétricas e intercorrentes, medicamentos, radiações, gemelaridade. Listam-se também

como atuantes os fatores placentários (placenta circunvalada, tumores, artéria umbilical

única e anomalias de implantação)3.

No entanto, em cerca de 40% dos casos não se consegue detectar o determinante

causal. Nesse contingente incluem-se os emocionais, embora sejam raramente cogitados

e pobremente investigados. A longo prazo, o retardo de crescimento fetal pode associar-

se a doenças futuras (cardiovasculares, diabete melito, etc.)3.

Quanto à etiologia, das causas conhecidas, sem dúvida, a hipertensão arterial

materna destaca-se como a principal, embora ainda existam grandes dificuldades em se

determinar os diferentes tipos de hipertensão durante o ciclo gravídico-puerperal. Neste

sentido, Lin e cols17. destacaram que é a hipertensão arterial persistente, independente

de sua etiologia, a responsável pelo prejuízo ao crescimento fetal.

A fisiopatogenia no CIUR relaciona-se com as alterações de disponibilidade,

transporte e utilização do substrato, podendo ocorrer três situações distintas:

fornecimento materno-placentário diminuído; potencial fetal prejudicado; ambos

comprometidos. Outro mecanismo fisiopatogênico evocado é o desequilíbrio no balanço

das prostaglandinas, com aumento relativo do tromboxano A2 (potente vasoconstritor e

promotor da agregabilidade plaquetária), em detrimento das prostaciclinas, resultando

em múltiplas tromboses placentárias26.

O diagnóstico dessa patologia é realizado pela congregação de dados clínicos e

de propedêutica subsidiária. Dentre os primeiros, destaca-se a avaliação da altura

uterina em relação à idade gestacional. Uma desaceleração ou queda em seu

crescimento levam a suspeita de CIUR, sendo este elemento de aparecimento tardio26.

Outro dado clínico é o ganho ponderal da gestante, que, se prolongadamente reduzido

ou insuficiente durante o terceiro trimestre, pode conduzir à hipótese de inadequado

suprimento fetal. A ultra-sonografia é um dos exames mais importantes no CIUR, pois,

além de permitir sua identificação, possibilita acompanhar a velocidade de crescimento

daquele feto e avaliar a vitalidade1.

Page 10: assistência sistematizada de enfermagem à grávida portadora de

Metodologia

Foi realizada uma abordagem qualitativa descritiva do tipo estudo de caso

clínico. Para Glazier12 ela não é um conjunto de procedimentos que depende fortemente

de análise estatística para suas inferências ou de métodos quantitativos para a coleta de

dados. Os métodos qualitativos são apropriados quando o fenômeno em estudo é

complexo, de natureza social e não tende à quantificação. Normalmente, são usados

quando o entendimento do contexto social e cultural é um elemento importante para a

pesquisa. Para aprender métodos qualitativos é preciso aprender a observar, registrar e

analisar interações reais entre pessoas, e entre pessoas e sistemas16. Como um dos tipos

de pesquisa que normalmente adota uma abordagem qualitativa podemos citar o estudo

de caso18. Os dados foram coletados 06/05/2009 a 19/05/2009 na Enfermaria de alto

risco (Santa Terezinha) da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará (FSCMPa).

Biblioteca Leontina Gomes, UEPA Campus IV, Av. José Bonifácio nº1489, bairro do

Guamá. Via de pesquisa: internet e livros. Tivemos como informante uma paciente

portadora de Doença Hipertensiva Específica da Gravidez (DHEG), grávida de

gemelares, acometida por enfermidades secundárias decorrente da DHEG.

Foi usado como método entrevista de coleta de informações e análise de

prontuário. A entrevista se deu com a paciente, onde a mesma respondia a um

questionário de admissão hospitalar e no decorrer dos dias recebia visitas diárias dos

acadêmicos para avaliar o avanço da patologia, além de uso do prontuário para verificar

a avaliação médica e dados obstétricos específicos, não competentes a equipe de

enfermagem. Os dados foram divididos por dia e avaliados separadamente, para

posteriormente interligar os fatores que poderiam estar associados à patologia e a

medicação utilizada pela paciente.

Nosso estudo e pesquisa foram amparados pelo código de ética que remete a

competência do estudante em fazer pesquisas e estudos com pacientes e em campo de

prática.

Relato de experiência

ADMISSÃO (07/05/09)

J.P.S., 27 anos, G1P0A0, consciente e orientada auto e alo psiquicamente, prenhez

gemelar, casada, cor branca, prendas do lar, procedente de Benevides – PA, internada na

noite de 06/05/09 com diagnóstico clínico de hipertensão arterial (DHEG – PA: 160 x

80 mmHg no momento da internação) + TPP.

Page 11: assistência sistematizada de enfermagem à grávida portadora de

Não soube informar o tipo sanguíneo. Nega alergia medicamentosa e/ou

alimentar. Mãe hipertensa em tratamento. Avô paterno diabético e ICC. Nega doenças

infecciosas e/ou parasitárias. Nega doenças da quadra infantil.

Menarca aos 16 anos, com ciclo regular de duração de 8 dias, em média, e fluxo

intenso nos dois primeiros dias e diminuído no restante. Coitarca aos 25 anos. Não fazia

uso de nenhum método contraceptivo. Realizou cinco consultas pré-natal. Esquema

vacinal completo (SIC). Nunca fez PCCU, porém no último exame de secreção vaginal

detectou-se presença de fungos com diagnóstico sugestivo de Gardnerella vaginalis

(SIC).

DUM = 06/10/08; DPP = 13/07/09; IG = 30s 2d.

Refere cefaléia, “peso nas pernas”, turvação visual e dor epigástrica. Mãos e

MMII edemaciados. Punção em veia periférica. Pico hipertensivo com melhora

gradativa após administração de hidralazina.

Couro cabeludo íntegro e limpo. Pele e mucosas hipocoradas. Mamas simétricas,

íntegras, túrgicas e não secretantes, 1° e 2° aréolas presentes, mamilos protusos.

AC: BCNF 2T ; AP: MV + bilateralmente sem ruídos adventícios.

Abdome globoso, tipo gravídico, doloroso à palpação em hipocôndrio direito, com

erupções cutâneas pruriginosas, presença de linha nigra. Corpo uterino contendo dois

fetos.

Cardiotoco: Feto 1: hipoativo, em situação longitudinal, dorso à direita, apresentação

cefálica, placenta anterior, grau II, ILA: 23 cm; peso 1,365 g; BCF 132 bpm® rítmico

em QID.

Feto 2: em situação longitudinal, dorso à esquerda, apresentação pélvica, placenta

anterior, grau II, ILA: 23 m; peso: 1,379 g; BCF 135 bpm® rítmico em QIE.

AFU: 38 cm; CA: 96 cm; MF: presentes e ativos.

Toque: colo grosso, posterior, pérvio para 1,5 cm, amnioscopia: LC sem grumos.

MMSS simétricos e íntegros. MMII simétricos, íntegros e edemaciados (++/4+).

Estatura: 1,55 m; Peso corpóreo: 68,5 Kg.

PA: 130 x 80 mmHg; P: 70 bpm; R: 16 rpm; Tax: 35,9° C.

Diurese e evacuação presentes e espontâneas, com fezes endurecidas (SIC). Aceitando

bem dieta oferecida. Sono e repouso alterados na noite anterior por internação. Higiene

diária satisfatória. Deambulando espontaneamente.

Orientada quanto a manter repouso no leito em DLE e ingesta hídrica.

Segue em repouso no leito sob cuidados da enfermagem.

Page 12: assistência sistematizada de enfermagem à grávida portadora de

EVOLUÇÃO (08/05/09)

IG = 30s 3d; Refere perda discreta de secreção vaginal esbranquiçada, dor em

globo ocular esquerdo e lacrimejamento. Discreta perda de secreção mucóide.

Dopplervelocimetria: normoxigenação fetal e placentária. ILA: 20,4. AFU: 38 cm; MF:

+; BCF1: 136 bpm®QID; BCF2: 140 bpm®QIE; PA: 140 x 90 mmHg.

EVOLUÇÃO (09/05/09)

IG = 30s 4d; Perda de muco; AUF: 38 cm; BCF1: 144 bpm®QID; BCF2: 130

bpm®QIE.. PA: 140 x 90 mmHg.

EVOLUÇÃO (10/05/09)

IG = 30s 5d; Refere dorsalgia, dor torácica anterior, tosse seca e dispnéia por

vômito. AFU: 38 cm; BCF1: 153 bpm®QID; BCF2: 145 bpm®QIE.

Apresenta CTB com fetos hipoativos há algum tempo.

EVOLUÇÃO (11/05/09)

IG (DUM) = 31s; IG (USG) = 30s 6d; Dispnéia em decúbito dorsal.

PA: 130 x 80 mmHg, AFU: 38 cm;

BCF1: 140 bpm®QID; feto hipoativo

BCF 2: 145 bpm®QIE; feto ativo

Não realizou Doppler devido ao pico hipertensivo (PA: 150 x 100 mmHG). ILA: 18 cm.

EVOLUÇÃO (12/05/09)

IG (DUM) = 31s 1d; IG (USG) = 31 s; Refere sensação de peso nas pernas, leve

cefaléia em região parietal esquerda, perda de tampão mucoso. AFU: 38 cm; BCF1: 135

bpm®QID; BCF2: 130 BPM®QIE. Feto 1 e 2 hipoativo. PA: 130 x 70 mmHg. MMII

edemaciados. Sono e repouso alterados.

EVOLUÇÃO (13/05/09)

IG: 31s 1d; Refere sensação de peso em MMII e dispnéia de leve intensidade

que piora com decúbito dorsal.

AFU: 38 cm: BCF1: 130 bpm® QID (ativo) apresentação cefálica; BCF2: 140 bpm®

QIE (hipoativo) apresentação pélvica. CA: 102 cm; Perda de LA com raios de sangue

esporadicamente após toque. PA 130 x 90 mmHg; Tax: 36,2°C; P: 83 bpm; R: 24 rpm.

ILA: 17 cm.

EVOLUÇÃO (14/05/09)

IG = 31s 2d; Refere perda do tampão mucoso. Feto 1 ativo; Feto 2 hipoativo. BCF1:

142 bpm®QID; BCF2: 150 bpm®QIE. Edema ++/+4, cansaço em MMII, visão turva,

perda de LA.

Page 13: assistência sistematizada de enfermagem à grávida portadora de

EVOLUÇÃO (15/05/09)

IG = 31s 3d; Refere peso MMII, dificuldade de deambular, dor em hipocôndrio

direito. Edema ++/4+

11:00 hs: Perda de LA e pequeno sangramento. Feto 1 e 2 ativo. BCF1: 143 bpm®QID;

BCF2: 146 bpm® QIE. PA: 140 x 100 mmHg. AFU: 43 cm; CA: 130 cm.

15:20 hs: Perda de tampão mucoso, dor em baixo ventre tipo cólica de leve intensidade.

PA: 130 x 90 mmHg; BCF1: 148 bpm®QID; BCF2: 136 bpm®QIE.

Toque: colo médio, amolecido, em centralização. Pérvio para 1,5 cm. Amnioscopia: LC

com finos grumos.

15: 40 hs: encaminhada USG, paciente evoluindo com perda de LA em grande

quantidade de cor clara.

17: 45 hs: perda de LA +/- 1 hora, com aumento da dor em baixo ventre. BCF1: 142

bpm®QID; BCF2: 142 bpm®QIE; PA: 140 x 90 mmHg. DU: 2 / 10’ / 30”.

Toque: colo fino, 1,5 cm; 1º cefálico: -1 de De Lee.

OBS.: Indicação cesárea (primigesta, gemelar, DHEG, roprema, pesos fetais abaixo 1,5

Kg).

18: 30 hs: TPP; PA: 140 x 80 mmHg.

21: 10 hs: Anestesia raquidural.

1° Gemelar: sexo masculino, pré-termo, sem má formação. Estatura: 40 cm;

peso:1,375 Kg.

2° Gemelar: sexo masculino, pré-termo, sem má formação. Estatura: 38 cm;

peso: 1,430 Kg.

21: 50: Término da cirurgia.

22:10 hs: Abdome doloroso á palpação, útero à altura da cicatriz umbilical, loquiação

rubro fisiológica, MMII edemaciados (++/+4), turvação visual esquerda. Refere gases.

PA: 110 x 70 mmHg.

EVOLUÇÃO (16/05/09)

1° POC; Refere desconforto devido constipação. Abdome doloroso à palpação,

útero contraído; FO sem agentes flogísticos, limpa, seca, com bordas bem delimitadas,

lóquios rubro fisiológico presentes. PA: 130 x 90 mmHg.

EVOLUÇÃO (17/05/09)

2° POC; Refere gases e dor no local da cirurgia. Hipocorada, abdome flácido,

útero contraído.

Page 14: assistência sistematizada de enfermagem à grávida portadora de

EVOLUÇÃO (18/05/09)

3° POC; Refere gases. Edemaciada, visão turva lado esquerdo e dor lombar. Boa

involução uterina. FO em bom aspecto, seca e limpa. PA: 140 x 90 mmHg.

EVOLUÇÃO (19/05/09)

4° POC; Alta hospitalar.

Análise dos Dados

A paciente J.P.S. foi admitida na Fundação de Santa Casa de Misericórdia do

Pará com diagnóstico de Doença Hipertensiva Específica da Gravidez (DHEG). De

acordo com Cunha8 defini-se pré-eclâmpsia como o desenvolvimento de hipertensão,

com proteinúria e/ou edema de mãos ou face. Sendo manifestada após a 20ª semana de

gestação11. Até a 28 ª semana de gestação, (23/04/2009) como demonstra no cartão do

pré-natal, a Pressão Arterial da paciente se encontrava dentro dos parâmetros de

normalidade, fator que implica classificação dessa paciente como predisponente a

DHEG.

Ao ser admitida, no dia 07/05/2009, a paciente apresentava PA: 160 x 80

mmHg, tendo 30 semanas de gestação. E como é perceptível, a PA da mesma

permaneceu alta no decorrer da internação e teve queda progressiva, com o uso de

medicamentos como Metildopa, Hidralazina e Nifedipina.

Nos dias 07, 12, 13, 14 e 15/05/2009 a paciente referia “cansaço nas pernas” e

MMII edemaciados. Freitas11 diz que ao contrário da gestante hígida, a grávida com pré-

eclâmpsia apresenta hemoconcentração progressiva relacionada diretamente com o grau

de extravasamento de plasma para o interstício (edema).

A gravidade da pré-eclâmpsia pode caracterizar-se com uma sintomatologia de

iminência de eclâmpsia, ou seja, dor epigástrica, transtornos visuais e dor em

hipocôndrio direito8. No dia de sua admissão (07/05/2009), a paciente referia dor

epigástrica, visão turva (dias 07,14 e 15/05/2009) e dor no globo ocular acompanhado

de lacrimejamento (08/05/2009). Nos dias 10 e 13/05/2009 a paciente queixava dor

torácica e dor em hipocôndrio direito.

Para Freitas11 a cefaléia e o aumento da creatinina sérica também são fatores de

gravidade na pré-eclâmpsia, a paciente queixava cefaléia no decorrer da internação (dias

07, 12 e 13/05/2009), porém 1/3 dos remédios prescritos e administrados na paciente,

tem como afeito adverso a cefaléia, são eles: Metildopa, Plasil e Nifedipina. Em seus

Page 15: assistência sistematizada de enfermagem à grávida portadora de

exames laboratoriais, 75% dos resultados da creatinina sérica apresentaram valores

acima dos parâmetros de normalidade (0,5 a 0,9 mg/dl).

Redman apud Freitas11 refere que a elevação dos níveis séricos de ácido úrico

está associada com o incremento da morbidade perinatal. Nos dias 07 e 16 os níveis de

ácido úrico estavam acima dos parâmetros de normalidade (2,4 a 5,7 mg/dl). Sendo a

Hipertensão Arterial, pré-eclâmpsia e Eclâmpsia as patologias maternas mais

encontradas na morbidade perinatal13, a observação desses dados torna-se de suma

importância, pois identificam o agravamento do quadro da paciente, alertando a equipe

de saúde para possíveis emergências.

A DHEG é predominantemente uma patologia da primigesta8, o que é o

compatível com o caso da paciente. Fatores como o ganho excessivo de peso e a

gemelaridade também são fatores de risco pra a pré-eclâmpsia. O ganho ponderal da

paciente aumentou consideravelmente durante o acompanhamento do pré-natal.

A gemelaridade é associada a um pior prognóstico perinatal tanto materno como

fetal11. Sendo a prematuridade a principal complicação das gestações gemelares. No dia

15/05/2009 a paciente de IG = 31semanas e 3 dias evoluiu para uma cesárea com início

de 21:10h e término de 21:50h, ambos os fetos prematuros com pesos fetais abaixo 1,5

Kg, do sexo masculino. Na gestação gemelar o parto via vaginal pode ser realizado se o

peso fetal estimado for superior a 1500g4. No entanto, os fetos da paciente foram

acometidos de CIUR, além de terem apresentações diferentes na hora do parto.

O poliidrâmnio, que é o excesso de Líquido Amniótico, é mais comum em

gestações gemelares7. O excesso de L.A. culmina no trabalho de parto prematuro. A

paciente apresentou níveis de ILA acima do normal. No caso da paciente, a mesma teve

uma diminuição dos valores de ILA atingindo a normalidade, porém evoluiu com uma

ruptura prematura das membranas amnióticas (roprema) e foi encaminhada para a

cesárea, já que um dos fetos estava entrando em sofrimento fetal. Desde o dia

10/05/2009 um dos fetos já se apresentava hipoativo.

Bulário

MEDICAÇÃO INDICAÇÃO DOSE VIA REAÇÕES ADVERSAS

Metildopa Hipertensão Arterial

1 compr. 500 mg

VO, 6/6 hsBoca seca; diarréia; dor de cabeça; inchaço nas extremidades (pés ou pernas); náusea; sonolência; vômito.

HidralazinaHipertensão Arterial ICC

1 amp. + 10 ml AD

EV, se PA > 160 x 110

Cefaléia, vertigens, distúrbios gastrintestinais, mialgia, inchaço das articulações, diarréia, náusea,

Page 16: assistência sistematizada de enfermagem à grávida portadora de

mmHg vômito.

Celestone Soluspan

Maturidade Pulmonar Fetal 12 mg/ml IM

Retenção de líquido, fraqueza muscular, miopatia, distenção abdominal, eritema facial, vertigens, cefaléia.

Ampicilina Antibiótico 1 compr. 500 mg

VO, 6/6 hs Diarréia, náuseas.

BuscopanAnti-

espasmótico1 amp. + 10 ml AD EV, 8/8/ hs

Secura da boca, transtornos da acomodação visual, taquicardia, retenção urinária.

PlasilAnti-emético

(náuseas / vômitos)

1 amp. + 10 ml AD EV, 8/8/ hs

Insônia, cefaléia, tontura, náuseas, erupções cutâneas.

Dipirona Analgésico1 amp. + 10 ml AD EV, 8/8/ hs

Erupções cutâneas, irritação da conjuntiva e da mucosa, irritação do trato respiratório.

NifedipinaHipertensão

arterialDoenças

coronárias

1 comp. 20 mg

VO, 12/12 hsCefaléia, náuseas, diarréia, tontura, cansaço, edema de MMII, em casos isolados, mialgia e alteração da percepção visual.

Sulfato ferroso Antianêmico 1 comp. 300 mg

VO, 30’ antes das refeições

Dor epigástrica, náuseas, vômito, diarréia, a administração continuada pode causar constipação.

Ácido fólicoNa gravidez e

previne anemia megaloblástica

1 compr. 5 mg VO, 1 x dia

Alteração do sono, irritabilidade, náuseas, distensão abdominal

Diagnóstico

O diagnóstico clínico da paciente foi concluído principalmente pelos sinais e

sintomas da DHEG:

Presença de Hipertensão após a 20ª semana de gestação;

Dor em hipocôndrio direito;

Edema de MMII;

Cefaléia;

Visão turva;

Confirmado pelo diagnóstico laboratorial:

Aumento o ácido úrico;

Aumento da creatinina sérica;

Aumento de TGO.

Como é possível observar na tabela abaixo:

EXAMES LABORATORIAIS

RESULTADO07/05/2009

RESULTADO13/05/2009

RESULTADO16/05/2009

RESULTADO17/05/2009

VALORES DE REFERÊNCIA

Creatinina 1,20 mg/dl 0,90 mg/dl 2,10 mg/dl 1 mg/dl Mulheres 0,5 a 0,9 mg/dl

Desidrogenase Lática

488 U/L 728 U/L 237 U/L 755 U/L 240 a 480 U/L

Proteínas totais 6,50 g/dl 5,90 g/dl 4,20 g/dl 5,20 g/dl 6,1 a 7,9 g/dl

Page 17: assistência sistematizada de enfermagem à grávida portadora de

Albumina 3,50 g/dl 3,10 g/dl 3,20 g/dl 2,60 g/dl 3,5 a 5,0 g/dl

TGO 27 U/L 21 U/L 39 U/L 31 U/L Mulheres10 a 31 U/L

TGP 17 U/L 15 U/L 19 U/L 17 U/L Mulheresaté 31 U/L

Ácido úrico 6,3 mg 5,29 mg 6,43 mg 4,5 mg Mulheres 2,4 a 5,7 mg/dl

Tabela: Resultados de exames laboratoriais e valores de referência.

Além da realização de exames de imagem, como a ultrassonografia com

Dopplervelocimetria. a desidrogenase láctica é uma enzima liberada na corrente

sangüínea quando determinados órgãos são lesados: hepáticos, cardíacos, cerebrais ou

pulmonar e destruição excessiva de eritrócitos. A hemólise é caracterizada pela elevação

de bilirrubinas e da desidrogenase lática, e facilmente detectada no esfregaço de sangue

periférico, servindo de diagnóstico diferencial para uma possível piora do quadro de

DHEG para síndrome HELLP.

Conclusão

A prática permitiu apreciar a assistência à saúde perinatal prestada às gestantes

da área de abrangência do trabalho e inferir que, dada a magnitude do problema que a

DHEG representa, muito há para ser feito na área da promoção da saúde materno-

infantil. A implementação dos programas de saúde, em particular os que tratam da

saúde do adolescente, devem ser priorizados tendo em vista a importância da doença em

mulheres desta faixa etária.

Neste contexto, destaca-se o importante papel da sistematização da assistência

de enfermagem uma vez que a documentação utilizada na consecução do processo de

enfermagem, garantiria a identificação da clientela possibilitando desta forma desenhar

o perfil epidemiológico da população assistida, ao mesmo tempo em que possibilitaria a

elaboração do plano assistencial para cada caso especificamente.

Por outro lado, cientes de que a assistência pré-natal de qualidade é

imprescindível para a melhora dos indicadores de saúde perinatal enfatiza-se a

necessidade da determinação precisa do perfil epidemiológico das gestantes, atendidas

nos diversos serviços de saúde.

Alguns resultados encontrados apontam para o preenchimento precário e

insuficiente de diversos dados do prontuário, o que dificulta a realização da avaliação da

Page 18: assistência sistematizada de enfermagem à grávida portadora de

qualidade da assistência prestada , a identificação dos indicadores de saúde, do perfil

epidemiológico e a realização de pesquisas, instrumentos valiosos na melhoria da

qualidade da assistência à saúde da população, em especial no que diz respeito à saúde

materno-infantil, com vistas à obtenção de melhores indicadores de saúde perinatal.

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