minicurso: racismos, relações de gênero e ideologias políticas nas histórias em quadrinhos:...

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GÊNERO NAS HQS

Perpetuando

desigualdades,

questionando valores,

construindo práticas.

Valéria Fernandes e Natania Nogueira

Meninas, HQs e Gênero

Meninas lêem quadrinhos,

mesmo os que não foram

feitos para elas.

Algumas abandonam os

quadrinhos quando crescem

ou porque não encontram

material de seu interesse.

As HQs ao representarem

as mulheres e meninas, e

ajudam a construir e

perpetuar papéis de gênero.

Mas o que é Gênero?

Gênero é uma categoria feminista que serefere aos papéis femininos/masculinos emuma determinada sociedade.

Segundo Joan W. Scott, trata-se de um “(...)saber a respeito das diferenças sexuais. (...)com o significado de compreensãoproduzida pelas culturas e sociedades sobreas relações humanas, no caso, relaçõesentre homens e mulheres. (...) saber é ummodo de ordenar o mundo e, como tal,não antecede a organização social, mas éinseparável dela”.

Rosa é para Meninas e Azul para

Meninos. Sempre foi assim?

A naturalização dos

papéis de gênero e das

suas “marcas”, faz com

que não questionemos

por quais motivos certas

coisas “são como são”.

A repetição e a

recitação naturalizam e

criam novas práticas e

deslocam antigas.

Rosa é para Meninas e Azul para

Meninos. Sempre foi assim?

Um artigo do Ladies’ Home

Journal de 1918 disse:

"A regra geralmente aceita

é cor de rosa para os

meninos, e azul para as

meninas. A razão é

que rosa, sendo uma

cor mais decidida e forte, é

mais adequado para o

menino, enquanto o azul,

que é mais delicado

e gracioso, é mais

bonito para a menina.”

Rosa é para Meninas e Azul para

Meninos

Mas tais representações já estão firmes no

imaginário social.

“O imaginário opera (...) em dois registros: o da

paráfrase, a repetição do mesmo sob outro

invólucro; e o da polissemia, na criação de

novos sentidos, de um deslocamento de

perspectivas que permite a implantação de

novas práticas. Assim, o imaginário (...) reforça

os sistemas vigentes/instituídos e ao mesmo

tempo atua como poderosa corrente

transformadora.” Tânia Navarro Swain

Feminizar é Preciso

Tutorial de desenho ensinando a desenhar uma

“abelha rainha”. O animal é carregado de marcas de

gênero como corações no abdômen e a cor lilás.

Feminizar é Preciso

Entender gênero como uma categoria histórica,

entretanto, é aceitar que gênero, compreendido como

uma forma de culturalmente configurar um corpo, está

aberto a contínua reconfiguração, e que “anatomia” e

“sexo” não estão dissociados de um enquadramento

cultural (...) A própria atribuição de feminilidade aos

corpos femininos como se fosse natural ou uma

propriedade necessária se dá dentro de um quadro

normativo no qual a atribuição de feminilidade aquilo

que é desprovido dela é um mecanismo de produção de

gênero nele mesmo. Termos tais como “masculino”e

“feminino” são notoriamente mutáveis; existe uma

história social atrelada a cada termo; seus significados

mudam radicalmente a depender das fronteiras

geopolíticas e das restrições culturais de quem está

Feminizar é Preciso

Outras marcas de gênero muito comuns são longos

cílios, sapato alto, vestido.

Questões de Gênero na Ordem do

Dia

O SECAD (Secretaria de Educação Continuada,

Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação)

tem produzido uma série de materiais que tem como

objetivo discutir questões relacionadas com gênero,

identidade de gênero, sexualidade e orientação sexual,

que requerem a adoção de políticas públicas

educacionais que promovam a igualdade, pois: “A

escola e, em particular, a sala de aula, é um lugar

privilegiado para se promover a cultura de

reconhecimento da pluralidade das identidades e dos

comportamentos relativos a diferenças. Daí, a

importância de se discutir a educação escolar a partir

de uma perspectiva crítica e problematizadora, (...)”.

Marcas de Gênero nas HQs

Toda mídia (HQs, Cinema,

novelas, etc.) cria e/ou

reforça representações e

práticas.

No Brasil, as telenovelas

são o veículo de maior

amplitude nesse aspecto,

junto com o cinema norte

americano.

Vide a foto ao lado, do

filme A Mulher Gato.

Marcas de Gênero nas HQs

Através do que Teresa de Lauretis chama de

tecnologias de gênero, isto é, “(...) o conjunto

de efeitos produzidos em corpos,

comportamentos e relações sociais” são

criados homens e mulheres, com contornos

próprios e hierarquizados.

Isso não é natural, daí, a necessidade da

repetição.

Para Judith Butler, o gênero é performativo,

isto é, um efeito produzido pela atuação

contínua.

Por isso, a necessidade de repetir, reiterar,

reforçar através de discursos (textos e

Marcas de Gênero nas HQs

Características que podem

aparecer associadas ao

feminino:

1. Sexualização,

2. Futilidade,

3. Debilidade física,

4. Infantilização,

5. Narcisismo,

6. Instabilidade emocional,

7. Irracionalidade,

8. etc.

Fonte:

http://eschergirls.tumblr.com

Marcas de Gênero nas HQs

Tais características podem aparecer em HQs

de qualquer origem.

São bem comuns em material que tem o

público masculino como principal alvo.

O que no Ocidente significa em boa parte dos

quadrinhos comerciais.

Parecer sexy e atraente (*ao olhar

masculino*) é a função das personagens

femininas.

Por conta disso temos poses impossíveis

(*por questões de anatomia*) e roupas

“inadequadas”.

Poses e Uniformes “Impossíveis”

Psyloch em uma típica pose “butt-boobs”.

Poses e Uniformes “Impossíveis”

Mais uniformes e poses impossíveis.

Exemplos de capas de revista.

Poses e Uniformes “Impossíveis”

Gunbuster é um dos

casos japoneses de

uniformes absurdos.

A série de ficção

científica produzida na

época do auge da

aeróbica, as meninas-

piloto usavam roupas

de aeróbica.

Os pilotos usavam

macacões tradicionais.

Poses e Uniformes “Impossíveis”

Poses e Uniformes “Impossíveis”

• O site Escher Girls faz

um excelente trabalho

discutindo a misoginia na

representação das

mulheres no quadrinho.

• Um dos objetivos do site

é apontar os problemas

de anatomia resultante da

sexualização compulsória

das persoangens.

Poses e Uniformes “Impossíveis”

• Um dos pôsteres do filme Os Vingadores foi

muito criticado por reforçar estereótipos.

Poses e Uniformes “Impossíveis”

• A crítica feita pelo artista Kevin Bolk.

Corpo: Metáfora da Cultura

• Sobre o corpo, Susan Bordo escreveu:

• “O corpo — o que comemos, como nos vestimos,

os rituais diários através dos quais cuidamos dele

— é um agente da cultura. (...) é uma poderosa

forma simbólica, uma superfície na qual as normas

centrais, as hierarquias e até os comprometimentos

metafísicos de uma cultura são inscritos e assim

reforçados através da linguagem corporal concreta.

O corpo também pode funcionar como uma

metáfora da cultura (...) uma imagem mental da

morfologia corporal tem fornecido um esquema

para o diagnóstico e/ou visão da vida social e

política.” Além disso, o corpo é “(...) um lugar

prático direto de controle social”.

Corpo: Metáfora da Cultura

• Independente da editora, da heroína, desde

pelo menos a segunda metade dos anos 1980,

há um padrão de representação das mulheres.

Corpo: Metáfora da Cultura

• A sexualização também ocorre nos mangás.

A maior diferença é que as heroínas tendem a

ser adolescentes, como em Evangelion.

Corpo: Metáfora da Cultura

• Christopher Hart ensina a desenhar corpos

femininos e masculinos.

Corpo: Metáfora da Cultura

• Representada sempre

como uma mulher

obesa, Waller foi foi

interpretada no cinema

pela magra Angela

Basset.

• Com o reboot do

Esquadrão Suicida da

DC Comics, Amanda

agora é magra e

voluptuosa.

• Trata-se de uma

adequação à norma.

Corpo: Metáfora da Cultura

• Os padrões de beleza, no entanto, não são “naturais”.

No entanto, em uma sociedade patriarcal, o corpo

feminino deve se pautar pelo olhar masculino..

“Onze coisas que as meninas amam”Turma da Mônica Jovem – Edição 5

Neste volume de

Turma da Mônica

Jovem é possível

perceber a HQ como

uma “tecnologia de

gênero” em ação.

Destaca-se que a

edição tem um

caráter

assumidamente

pedagógico.

“Onze coisas que as meninas amam”Turma da Mônica Jovem – Edição 5

A edição no5 foi aescolhida para serpublicada em inglêse espanhol.

Apesar do caráterdidático, a ediçãoreforça estereótipose ajuda a reforçarque as meninas (e sóelas)devem/precisam sepreocupar com suaaparência.

“Onze coisas que as meninas amam”Turma da Mônica Jovem – Edição 5

É a mãe quem toma apalavra, a mulheradulta ensinando àsjovens “o que é seruma menina”. Se elaestá dizendo, deveser verdade.

A edição inteira édedicada às meninas,os garotos não tem oque dizer sobre simesmos.

“Onze coisas que as meninas amam”Turma da Mônica Jovem – Edição 5

Segue então a história que serve para

apresentar a personagem Denise:

1. Garotas amam se maquiar – “Antes de sair

e arrasar tem que se produzir”.

2. Garotas amam ganhar presentes ou

comprar.

3. Não há nada melhor do que dividir bons

momentos com suas amigas – “amigas

renovam nossas energias”.

4. Qual garota não ama fazer compras?

“Onze coisas que as meninas amam”

Turma da Mônica Jovem – Edição 5

5. Que garota não ama ir ao cabeleireiro?

6. Jóias!! Garotas amam joias! – “Tudo o que

brilha atrai a atenção de uma mulher”.

7. Garotas amam perfumes.

8. Garotas amam ler tudo! – “moda, beleza e

comportamento, alimentação, fofocas”.

9. A Sobremesa

10. Que garota não gosta de receber flores?

11. E garotas amam garotos.

“Onze coisas que as meninas amam”

Turma da Mônica Jovem – Edição 5

• A apologia ao

consumismo marcam

os pontos 2, 4, 6 e7.

• As mulheres são

apresentadas como

economicamente

dependentes ou, pior,

como aquelas que não

gastam o seu próprio

dinheiro, mas o do pai

ou parceiro.

“Onze coisas que as meninas amam”

Turma da Mônica Jovem – Edição 5

Comprar é uma fonte

de prazer feminino.

Mulheres e meninas

tem prazer em estar

juntas com este

objetivo.

A fala de Denise

“Simples, é sua mente,

mulher” se remete a

naturalização de algo

que é aprendido.

“Onze coisas que as meninas amam”

Turma da Mônica Jovem – Edição 5

Há a percepção na

mudança nas práticas

de consumo.

A mãe de Mônica,

mulher adulta, fala em

jóias, mas meninas têm

múltiplos interesses.

Ainda assim, a noção

de “natureza” não é

questionada.

“Onze coisas que as meninas amam”

Turma da Mônica Jovem – Edição 5

Meninas amam ler,

mas aquilo que lêem

está dentro do círculo

de seus interesses

naturais.

Meninas não gostam

de estudar.

O humor reforça o

ridículo que é uma

menina se interessar

por física ou mesmo

história.

“Onze coisas que as meninas amam”

Turma da Mônica Jovem – Edição 5

“Tudo a seu tempo”, diz

a mãe. No entanto,

aos 15 anos, estudar

deveria ser algo

importante.

Se as meninas têm

uma natureza, os

meninos também têm.

Eles lêem menos, mas

o que as meninas lêem

é cultural e socialmente

menos importante.

“Onze coisas que as meninas amam”

Turma da Mônica Jovem – Edição 5

A ênfase consumitsa

permeia toda a história.

O culto à aparência

marca os pontos 1, 5, 6,

7, 9. Somados aos

pontos 10 e 11 temos o

objetivo: atrair e agradar

os homens.

Meninas poderiam se

juntar para outras

coisas, como praticar

esportes, por exemplo.

Discussão de Gênero nas HQs

Enquanto alguns materiais reforçam

estereótipos de gênero, Outros questionam e

refletem sobre eles.

É o caso de Aya de Yopougon, incluído no

Programa Nacional Biblioteca da

Escola (PNBE) 2012.

Discussão de Gênero nas HQs

Além de discutir papéis de gênero, Aya de

Yopougon, de Marguerite Abouet, tem um

recorte autobiográfico e mostra uma África para

além dos estereótipos raciais.

Discussão de Gênero nas HQs

• Aya tem amigas, se preocupa com sua aparência, mas

tem horizontes amplos.

• Ela deseja ser médica em uma sociedade na qual o

estudo para as mulheres não é uma prioridade.

Discussão de Gênero nas HQs

• Questões

abordadas em

Aya de

Yopougon não

são estranhas

ao contexto

brasileiro e

podem ser

utilizadas para

discussão em

sala de aula.

Discussão de Gênero nas HQs

• Outro material muito

rico para discussões

sobre papéis de gênero

utilizando HQs é

Persépolis de Marjane

Satrapi.

• Na falta da HQ, a

animação surge como

uma boa opção.

Discussão de Gênero nas HQs

• Engana-se quem pensa

que Persépolis fala

somente do Irã ou da

“opressão do Islã”.

• A HQ fala da falta da

apropriação dos corpos

das mulheres.

• A violência se

justificando, pela roupa

que estão vestindo, ou

simplesmente por

serem mulheres.

Discussão de Gênero nas HQs

• Usando Persépolis é

possível discutir com

adolescentes como as

mulheres podem

discriminar as próprias

mulheres, as pressões

do grupo sobre o

indivíduo, ou como a

prática sexual ou

orientação sexual não

deve ser usada como

fator de discriminação.

Considerações Finais

As HQs ajudar a perpetuar ou

transformar as relações de

gênero.

É possível refletir sobre essas

questões e divertir ao mesmo

tempo.

Meninas são leitoras de todo

o tipo de HQs e precisam ser

reconhecidas como tal.

É preciso questionar

estereótipos, HQs podem

servir para excluir ou incluir as

meninas e mulheres.

REFERÊNCIAS Bibliográficas

When Did Girls Start Wearing Pink? http://www.smithsonianmag.com/arts-culture/When-Did-Girls-Start-Wearing-Pink.html

BORDO, Susan. O corpo e a reprodução da feminidade: uma apropriação feminista de Foucault in Gênero, corpo e conhecimento. In: ___, JAGGAR, Alison M. Gênero, Corpo e Conhecimento. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1997.

SCOTT, Joan. Prefácio a Gender and Politics of History. Cadernos Pagu (3) 1994, p. 11-27.

BUTLER, Judith. Problemas de Gênero – Feminismo e Subversão da Identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

___. Undoing gender. New York: Routledge, 2004.

LAURETIS, Teresa. ___. A Tecnologia do Gênero. in: HOLLANDA, Heloísa Buarque de. Tendências e Impasses –O Feminismo como Crítica da Cultura. Rio de Janeiro: Rocco, 1994, p. 206-242.

ESCHER GIRLS: http://eschergirls.tumblr.com/

Contato

Natania Nogueira

nogueira.natania@gmail.com

www.gibitecacom.blogspot.com

www.historiadoensino.blogspot.com.br

Valéria Fernandes

shoujofan@gmail.com

http://www.shoujo-cafe.com

http://www.historiativa.blogspot.com.br

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