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INFORMATIVOS ESTRATÉGICOS – INFORMATIVO Nº 652
PUBLICADO PELO STJ EM 16/08/2019
Prof. Lucas Evangelinos - Sumário -
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- Sumário –
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Sumário
Sumário ....................................................................................................... 1
DIREITO ADMINISTRATIVO ............................................................................. 5
1. Indenização de anistiado político ........................................................... 5
1.1. Situação fática. ............................................................................. 5
1.2. Análise Estratégica. ....................................................................... 5
1.2.1. Questão em debate.................................................................... 6
1.2.2. Incidem correção monetária e juros moratórios na indenização
destinada a anistiado político? ............................................................... 6
1.3. Questões objetivas. ....................................................................... 6
1.4. Gabarito. ..................................................................................... 7
DIREITO EMPRESARIAL .................................................................................. 8
2. CDB e efeitos da falência da instituição financeira. ................................... 8
2.1. Situação fática. ............................................................................. 8
2.2. Análise Estratégica. ....................................................................... 9
2.2.1. Questão em debate.................................................................... 9
2.2.2. CDB, o que é isso? ..................................................................... 9
2.2.3. E como fica o art. 85 da Lei nº 11.101/05 a partir desse
entendimento? ................................................................................... 10
2.2.4. Mas o pedido de resgate antes da falência, com anuência do banco,
não altera esse cenário? ...................................................................... 11
2.2.5. Mas e a Súmula nº 417/STF? ..................................................... 12
2.3. Questões objetivas. ...................................................................... 12
2.4. Gabarito. .................................................................................... 12
2.5. Bibliografia. ................................................................................. 12
3. Litisconsórcio ativo na recuperação judicial e cumprimento do requisito
temporal. ................................................................................................. 12
3.1. Situação fática. ............................................................................ 13
3.2. Análise Estratégica. ...................................................................... 14
3.2.1. Questão em debate................................................................... 14
3.2.2. O que é grupo societário? .......................................................... 14
3.2.3. A Lei nº 11.101/05 admite litisconsórcio ativo? ............................ 15
3.2.4. O exercício regular das atividades há mais de 2 (dois) anos deve
ocorrer na mesma atividade? ............................................................... 15
3.2.5. Em se tratando de grupo econômico, cada sociedade empresária
deve demonstrar o cumprimento do requisito temporal de 2 (dois) anos? .. 16
3.2.6. Ao período de exercício regular das atividades pode ser somado o
tempo anteriormente exercido pela sociedade empresária sucedida? ......... 16
3.3. Questões objetivas. ...................................................................... 16
3.4. Gabarito. .................................................................................... 17
3.5. Bibliografia. ................................................................................. 17
DIREITO PENAL ............................................................................................ 18
4. A redução do prazo prescricional prevista no art. 115 do CP não se relaciona
com as causas interruptivas da prescrição previstas no art. 117 do mesmo
diploma legal. ........................................................................................... 18
4.1. Situação fática. ............................................................................ 18
4.2. Análise Estratégica. ...................................................................... 19
INFORMATIVOS ESTRATÉGICOS – INFORMATIVO Nº 652
PUBLICADO PELO STJ EM 16/08/2019
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4.2.1. Questão em debate................................................................... 19
4.2.2. Mas o art. 115 do CP jamais se aplica diante de acórdão
condenatório? .................................................................................... 21
4.3. Tá, mas e se o acórdão apenas modificar o montante da pena,
mantendo a condenação?........................................................................ 21
4.4. Questões objetivas. ...................................................................... 23
4.5. Gabarito. .................................................................................... 23
DIREITO PREVIDENCIÁRIO ............................................................................ 24
5. Auxílio doença e segurado que exerce atividades em condições especiais. . 24
5.1. Situação fática. ............................................................................ 24
5.2. Análise Estratégica. ...................................................................... 25
5.2.1. Questão em debate................................................................... 25
5.2.2. Histórico da legislação. .............................................................. 25
5.2.3. Justificativa da possibilidade de cômputo. .................................... 26
5.3. Questões objetivas. ...................................................................... 28
5.4. Gabarito. .................................................................................... 28
6. Trabalhador da lavoura da cana-de-açúcar não pode ser enquadrado na
categoria profissional de trabalhador da agropecuária. ................................... 29
6.1. Situação fática. ............................................................................ 29
6.2. Análise Estratégica. ...................................................................... 29
6.2.1. Questão em debate................................................................... 29
6.2.2. Qual lei rege o cálculo do tempo de serviço? ................................ 32
6.2.3. E, então, o trabalhador da lavoura da cana-de-açúcar, empregado
rural, pode ter seu tempo de labor equiparado ao desempenhado na
agropecuária? .................................................................................... 33
6.3. Questões objetivas. ...................................................................... 34
6.4. Gabarito. .................................................................................... 34
6.5. Bibliografia. ................................................................................. 34
7. Termo a quo do prazo decadencial para a revisão da pensão por morte
quando há benefício originário. ................................................................... 34
7.1. Situação fática. ............................................................................ 35
7.2. Análise Estratégica. ...................................................................... 35
7.2.1. Questão em debate................................................................... 35
7.2.2. Qual o prazo decadencial para requerer revisão de benefício
previdenciário? ................................................................................... 36
7.2.3. Se a revisão da pensão por morte (benefício derivado) decorre da
própria revisão do benefício recebido pelo segurado quando em vida
(benefício originário), deve-se contar o prazo decadencial da data da
concessão do primeiro benefício originário, certo? .................................. 36
7.2.4. Caso prático. ............................................................................ 38
7.2.5. Placar final. .............................................................................. 38
7.2.6. Trechos relevantes dos votos divergentes publicados. ................... 39
7.3. Questões objetivas. ...................................................................... 39
7.4. Gabarito. .................................................................................... 40
DIREITO PROCESSUAL CIVIL ......................................................................... 41
8. Inexistência de aceitação tácita da decisão por oposição de embargos do
devedor. .................................................................................................. 41
8.1. Situação fática. ............................................................................ 41
8.2. Análise Estratégica. ...................................................................... 42
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8.2.1. Questão em debate................................................................... 42
8.2.2. O que se entende por aceitação tática? ....................................... 42
8.2.3. A oposição de embargos do devedor representa aceitação tácita da
decisão agravada que incluiu o embargante no polo passivo da execução? . 43
8.3. Questões objetivas. ...................................................................... 44
8.4. Gabarito. .................................................................................... 44
8.5. Bibliografia. ................................................................................. 44
9. Forma de contagem dos 15 dias para pagamento (art. 523 do NCPC). ...... 44
9.1. Situação fática. ............................................................................ 45
9.2. Análise Estratégica. ...................................................................... 46
9.2.1. Questão em debate................................................................... 46
9.2.2. Tabela: processual ou material. .................................................. 46
9.3. Questões objetivas. ...................................................................... 48
9.4. Gabarito. .................................................................................... 48
10. Multa cominatória para compelir provedor de acesso a internet. ............ 48
10.1. Situação fática. ............................................................................ 48
10.2. Análise Estratégica. ...................................................................... 49
10.2.1. Questão em debate. .............................................................. 49
10.2.2. O provedor de acesso à internet é obrigado a fornecer, com base
no endereço IP fornecido pelo requerente, os dados cadastrais de usuário
autor de ato ilícito? ............................................................................. 50
10.2.3. O que são astreintes? ............................................................ 50
10.2.4. A Súmula nº 372/STJ impede a fixação de astreintes contra
provedor de acesso à internet? ............................................................. 51
10.3. Questões objetivas. ...................................................................... 52
10.4. Gabarito. .................................................................................... 53
10.5. Bibliografia. ................................................................................. 53
DIREITO PROCESSUAL PENAL ........................................................................ 54
11. É possível a deflagração de investigação criminal com base em matéria
jornalística. .............................................................................................. 54
11.1. Situação fática. ............................................................................ 54
11.2. Análise Estratégica. ...................................................................... 54
11.2.1. Questão em debate. .............................................................. 54
11.2.2. A Autoridade Policial pode iniciar investigação criminal a partir de
matéria jornalística? ........................................................................... 54
11.3. Questões objetivas. ...................................................................... 55
11.4. Gabarito. .................................................................................... 55
DIREITO TRIBUTÁRIO ................................................................................... 56
12. Crédito presumido de IPI e base de cálculo do IRPJ e CSLL. .................. 56
12.1. Situação fática. ............................................................................ 56
12.2. Análise Estratégica. ...................................................................... 57
12.2.1. Questão em debate. .............................................................. 57
12.2.2. Que crédito presumido é esse? ............................................... 57
12.2.3. E aí, o crédito presumido de IPI previsto no art. 1º da Lei n.
9.363/96 integra a base de cálculo do IRPJ e da CSLL? ........................... 58
12.2.4. Por que não foi aplicado o mesmo entendimento que prevaleceu no
caso do crédito presumido do IPI e a base de cálculo do PIS e COFINS? .... 59
12.2.5. Placar final. .......................................................................... 60
12.2.6. Trechos relevantes dos votos divergentes publicados. ................ 61
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12.3. Questões objetivas. ...................................................................... 62
12.4. Gabarito. .................................................................................... 62
13. Suspensão da exigibilidade do crédito NÃO tributário com fiança bancária
e seguro garantia judicial. .......................................................................... 62
13.1. Situação fática. ............................................................................ 63
13.2. Análise Estratégica. ...................................................................... 64
13.2.1. Questão em debate. .............................................................. 64
13.2.2. O que são créditos não tributários? A multa administrativa é
crédito não tributário? ......................................................................... 64
13.2.3. Quais são as hipóteses de suspensão da exigibilidade do crédito
tributário? ......................................................................................... 65
13.2.4. O que fazer então? ................................................................ 66
13.3. Questões objetivas. ...................................................................... 68
13.4. Gabarito. .................................................................................... 68
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DIREITO ADMINISTRATIVO
1. Indenização de anistiado político
AGRAVO INTERNO NO MANDADO DE SEGURANÇA (AgInt no MS)
É devida a incidência de correção monetária e juros moratórios em ação
mandamental para pagamento de retroativos devidos àqueles declarados anistiados
políticos, independentemente de decisão expressa nesse sentido (STJ, AgInt no
MS 24212/DF, Rel. Min. Og Fernandes, Primeira Seção, por unanimidade,
julgado em 26/06/2019, DJe 01/08/2019)
Resultado: Recurso especial desprovido.
1.1. Situação fática.
AFRÂNIO, anistia político, impetrou mandado de segurança, no
STJ, em face do MINISTRO DO ESTADO DA DEFESA, buscando reparação econômica com base na Lei nº 10.559/02 (regulamenta o
art. 8º do ADCT).
Instância Desfecho
Superior
Tribunal
de Justiça
Em decisão monocrática, foi concedida a segurança para
determinar o pagamento da indenização, inclusive com incidência
de correção monetária e juros moratórios.
Em agravo interno, a UNIÃO defendeu a impossibilidade de se
aplicar correção monetária e os juros moratórios.
Instância Desfecho
Superior
Tribunal
de Justiça
Negou provimento ao recurso.
1.2. Análise Estratégica.
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1.2.1. Questão em debate.
Incidência ou não de correção monetária e juros moratórios na
indenização destinada a anistiado político.
1.2.2. Incidem correção monetária e juros moratórios na indenização destinada a anistiado
político?
R: Sim, nos termos do já decidido pelo STF no RE nº 553.710/DF, em que foi fixado o entendimento de que são devidos correção monetária
e juros de mora, mesmo em sede mandamental, pois configuram
consectários legais.
Aliás, desde esse julgamento no STF, o próprio STJ passou a
adotar tal posicionamento:
“[Trecho do corpo do acórdão:] Seguindo a orientação dada pelo
Supremo Tribunal Federal, a Primeira Seção desta Corte de Justiça, nos
autos dos Mandados de Segurança n. 21.975/DF, 21.999/DF e 22.221/DF,
de relatoria do Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgados em 10/4/2019,
firmou compreensão de que os juros moratórios e correção monetária
devem incidir sobre os valores a serem pagos retroativamente em virtude da
condição de anistiado político. (...) Logo, de acordo com o recente
posicionamento adotado pela Primeira Seção desta Corte de Justiça, nos
termos delineados pelo Supremo Tribunal Federal, mostra-se devida a
incidência de correção monetária e juros moratórios nas hipóteses de
pagamento de retroativos devidos àqueles declarados anistiados políticos.”
(STJ, AgInt no MS 24212/DF, Rel. Min. Og Fernandes, Primeira
Seção, por unanimidade, julgado em 26/06/2019, DJe 01/08/2019)
1.3. Questões objetivas.
Q1º. Estratégia Carreiras Jurídicas. É devida a incidência de correção monetária
em ação mandamental para pagamento de retroativos devidos àqueles declarados
anistiados políticos, independentemente de decisão expressa nesse sentido, salvo
quanto aos juros moratórios, que exigem decisão expressa.
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1.4. Gabarito.
Q1º. FALSA.
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DIREITO EMPRESARIAL
2. CDB e efeitos da falência da instituição financeira.
RECURSO ESPECIAL (REsp)
Os Certificados de Depósito Bancário (CDBs) se submetem aos efeitos da falência
da instituição financeira (STJ, REsp 1801031/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi,
Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 04/06/2019, DJe
07/06/2019)
Resultado: Recurso especial desprovido.
Tribunal de Origem: TJSP.
2.1. Situação fática.
Pouco tempo antes da decretação da falência do BANCO BVA S/A, a sociedade AUTOMETAL S/A requereu o resgate de suas
aplicações em CDBs que estavam com a instituição financeira, o que
foi consentido pelo banco.
Ocorre que, em razão da falência, o banco acabou permanecendo com o valor das aplicações, os quais, aliás, foram
classificados como créditos quirografários no procedimento
falimentar.
A AUTOMETAL S/A então apresentou impugnação ao crédito, solicitando sua imediata restituição, nos termos do art. 85 da Lei nº
11.101/05. Em síntese, afirmou que a solicitação do resgate, acompanhada da anuência da instituição depositária, implicou
extinção das aplicações, de maneira que o montante das CDBs estaria
indevidamente em posse do banco:
“Art. 85, caput, da Lei nº 11.101/05. O proprietário de bem arrecadado
no processo de falência ou que se encontre em poder do devedor na data da
decretação da falência poderá pedir sua restituição.”
Instância Desfecho
1º Grau Rejeitou a impugnação ao crédito, mantendo o valor das CDBs
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como crédito quirografário.
Em agravo de instrumento, a AUTOMETAL S/A manteve o
pedido.
Instância Desfecho
2º Grau Negou provimento ao recurso.
Em recurso especial, a AUTOMETAL S/A pugnou pela reforma
do Acórdão.
Instância Desfecho
Superior
Tribunal
de Justiça
Negou provimento ao recurso.
2.2. Análise Estratégica.
2.2.1. Questão em debate.
O propósito recursal é definir se os créditos representativos de
valores investidos em CDBs se submetem ou não aos efeitos da
falência da instituição financeira.
2.2.2. CDB, o que é isso?
R: No contrato de depósito bancário, o banco recebe, em regra, certa soma em dinheiro, obrigando-se a restituí-la em determinado
prazo:
“Depósito bancário consiste no contrato cuja prestação principal envolve a
custódia e guarda de dinheiro pelo banco. Deposita-se, normalmente, em
conta-corrente. Porém, é correto que a aplicação de recursos financeiros em
dados produtos do banco, mediante celebração de contratos específicos para
este fim, também geralmente envolve depósitos de valores.” (Bruno
Miragem)
E o CDB trata-se de uma modalidade de depósito bancário:
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“Dentro da categoria dos depósitos (iii) a prazo fixo, geralmente
encontramos contratos que estipulam regras sobre uma remuneração dos
valores depositados. É o caso da poupança. Também, nessa categoria,
encontramos os instrumentos de captação conhecidos como Certificados
de Depósito Bancário (CDBs) e Recibos de Depósitos Bancários (RDBs),
(...).” (Gilberto Gornati e Ivo Waisberg)
Contudo, não deixe o nome “depósito” te enganar! De acordo com a doutrina e com o STJ, no contrato de depósito bancário ocorre
a efetiva transferência da propriedade do valor para a instituição
financeira:
“[Trecho do corpo do acórdão:] O STJ, ao enfrentar questões análogas à
presente, tem refletido a posição doutrinária precitada, manifestando
entendimento no sentido de que, quando se trata de contratos de
depósito bancário, ocorre a transferência da propriedade do bem
para a instituição financeira, assumindo o depositante, via de
consequência, a posição de credor daqueles valores (REsp
212.886/MA, 3ª Turma, DJ 28/8/2000; REsp 98.623/MG, 4ª Turma, DJ
06/10/1997).” (STJ, REsp 1801031/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi,
Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 04/06/2019, DJe
07/06/2019)
No mesmo sentido:
“Quando um banco recebe certa soma em dinheiro, obrigando-se a restituí-
la em determinado prazo, ou ad nutum de quem a entrega, realiza contrato
de depósito bancário. Adquire, nesse caso, pleno gozo da quantia
depositada. Não a recebe para guardá-la. Aceitando-a, não está a prestar
serviço ao depositante, como ocorre no depósito regular. Depositando, o
cliente empresta ao banco, em última análise, a soma depositada. O
depósito bancário não se confunde com a custódia, que é depósito regular.
Nesta, o depositante não perde a propriedade da coisa depositada. Naquela,
torna-se simples credor do banco.” (Orlando Gomes)
2.2.3. E como fica o art. 85 da Lei nº 11.101/05 a
partir desse entendimento?
R: Vejamos o dispositivo novamente:
“Art. 85, caput, da Lei nº 11.101/05. O proprietário de bem arrecadado
no processo de falência ou que se encontre em poder do devedor na data da
decretação da falência poderá pedir sua restituição.”
Se o contrato de depósito bancário implica transferência da propriedade do numerário para instituição financeira, é possível falar
que o bem, na verdade, é de propriedade da AUTOMETAL S/A e se
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encontra em poder da falida? Não! O banco falido não é simples
detentor ou custodiante, ele é proprietário, como apontou a Min.
NANCY ANDRIGHI:
“[Trecho do corpo do acórdão:] Assim, como a instituição financeira tem
em sua disponibilidade os valores depositados, não se poderia equiparar a
situação dos autos às hipóteses em que o devedor ostenta a condição de
mero detentor ou custodiante do bem arrecado, hipóteses fáticas que
atrairiam a incidência do art. 85 da LFRE.” (STJ, REsp 1801031/SP, Rel.
Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, por unanimidade, julgado em
04/06/2019, DJe 07/06/2019)
Vejam! A AUTOMETAL S/A tem crédito contra a falida, mas
não direito à restituição:
“[Trecho do corpo do acórdão:] Ademais, este Superior Tribunal, quando
da apreciação do REsp 492.956, decidiu que, ‘ocorrendo a liquidação
extrajudicial da Instituição Financeira os depósitos denominados
irregulares passam a integrar a massa falida gerando direito de
crédito e não à restituição dos valores depositados, concorrendo o
correntista com os demais credores quirografários’ (sem destaque no
original. 1ª Turma, DJ 26/05/2003, entendimento que veio a ser sufragado
quando do julgamento do agravo regimental acerca da mesma questão pela
4ª Turma em 5/8/2004).
(...) Segundo entendimento pacífico desta Corte, portanto, e de acordo com
a doutrina sobre o tema, a natureza da relação existente entre a recorrente
e a instituição financeira falida é creditícia e, como corolário, deve o
montante impugnado sujeitar-se aos efeitos da execução concursal, em
respetio ao par conditio creditorum.” (STJ, REsp 1801031/SP, Rel. Min.
Nancy Andrighi, Terceira Turma, por unanimidade, julgado em
04/06/2019, DJe 07/06/2019)
Em outras palavras, perdeu...
2.2.4. Mas o pedido de resgate antes da falência,
com anuência do banco, não altera esse cenário?
R: Claro, sqn... A Min. NANCY ANDRIGHI terminou dizendo que:
“[Trecho do corpo do acórdão:] De se consignar, por fim, que, ao
contrário da tese defendida pela recorrente, a solicitação de resgate dos
certificados de depósito objeto da presente irresignação não tem como efeito
a alteração da natureza jurídica da relação existente entre as partes.” (STJ,
REsp 1801031/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, por
unanimidade, julgado em 04/06/2019, DJe 07/06/2019)
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2.2.5. Mas e a Súmula nº 417/STF?
“Pode ser objeto de restituição, na falência, dinheiro em poder do falido,
recebido em nome de outrem, ou do qual, por lei ou contrato, não tivesse
ele a disponibilidade.” (Súmula nº 417/STF)
R: Bom, primeiro, se você lembrou dessa súmula, meus sinceros parabéns! Você dá importância para matéria mais relevante do
universo jurídico, possivelmente de todos as outras disciplinas do
Mundo, o magnânimo DIREITO EMPRESARIAL!
Em segundo, ela não se aplica ao caso, pois, como vimos, ao banco é transferida a propriedade do numerário; logo, ele tem sim
disponibilidade sobre o mesmo.
2.3. Questões objetivas.
Q1º. Estratégia Carreiras Jurídicas. Os Certificados de Depósito Bancário
(CDBs) se submetem aos efeitos da falência da instituição financeira.
2.4. Gabarito.
Q1º. VERDADEIRA.
2.5. Bibliografia.
WAISBERG, Ivo, GORNATI, Gilberto. Direito bancário: contratos e operações
bancárias. São Paulo: Quartier Latin do Brasil, 2012.
3. Litisconsórcio ativo na recuperação judicial e cumprimento
do requisito temporal.
RECURSO ESPECIAL (REsp)
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As sociedades empresárias integrantes de grupo econômico devem demonstrar
individualmente o cumprimento do requisito temporal de 2 (dois) anos (art. 48 da
Lei n. 11.101/2005) de exercício regular de suas atividades para postular a
recuperação judicial em litisconsórcio ativo (STJ, REsp 1665042/RS, Rel. Min.
Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Turma, por unanimidade, julgado em
25/06/2019, DJe 01/07/2019)
Resultado: Recurso especial provido.
Tribunal de Origem: TJRS.
3.1. Situação fática.
O grupo societário KOLPATO ADMINISTRAÇÃO E PARTICIPAÇÕES S/A, LOJAS KOLPATO LTDA e REDE VAREJO
DO BRASIL ELETRODOMÉSTICO KOLPATO LTDA apresentou, em
litisconsórcio ativo, pedido de recuperação judicial.
Deferido o processamento do pedido de recuperação judicial, o BANCO BRADESCO S/A, um dos credores, destacou que a
sociedade REDE VAREJO DO BRASIL ELETRODOMÉSTICO KOLPATO LTDA não possuía 2 (dois) anos de atividade, como exige
o art. 48, caput, da Lei nº 11.101/05:
“Art. 48, caput, da Lei nº 11.101/05. Poderá requerer recuperação
judicial o devedor que, no momento do pedido, exerça regularmente suas
atividades há mais de 2 (dois) anos e que atenda aos seguintes
requisitos, cumulativamente: (...).”
Instância Desfecho
1º Grau
Manteve o processamento da recuperação judicial de todo o grupo,
pois as outras duas sociedades empresárias exerciam regularmente
suas atividades faz mais de 2 (dois) anos.
Em agravo de instrumento, o BANCO BRADESCO S/A
defendeu que o requisito temporal deve ser demonstrado por todos
os litisconsortes:
Instância Desfecho
2º Grau Deu provimento ao recurso por entender que, havendo
litisconsórcio ativo de empresários do mesmo grupo societário,
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cada um, individualmente, deve comprovar o requisito temporal.
Em recurso especial, REDE VAREJO DO BRASIL
ELETRODOMÉSTICO KOLPATO LTDA defendeu: (a) que o requisito temporal não precisa ser comprovado por cada litisconsorte
e; (b) que possui, sim, o período temporal já que decorre da cisão total da sociedade Kolpato Compras Ltda, a qual já atuava no
mercado faz mais de 20 (vinte) anos.
Instância Desfecho
Superior
Tribunal
de Justiça
Deu provimento ao recurso.
3.2. Análise Estratégica.
3.2.1. Questão em debate.
Cinge-se a controvérsia a definir se, em caso de recuperação
judicial de grupo societário (grupo econômico), todas as sociedades empresárias devem cumprir individualmente o requisito temporal de
2 (dois) anos previsto no caput do art. 48 da Lei nº 11.101/05.
3.2.2. O que é grupo societário?
R: De acordo com ARNALDO RIZZARDO:
“(...) o grupo de sociedades compreende a coligação ou união de duas ou
mais sociedades, abrangendo as sociedades coligadas, as controladoras e as
controladas, ou formas diferentes de reunião. Mais apropriadamente,
organizam-se as sociedades de modo a formar um inter-relacionamento,
para a realização de atividades comuns. Constitui-se uma ‘sociedade de
sociedades’, o que se dá através da aprovação pela assembleias gerais de
cada sociedade. Oportuna a explicação de Alfredo Lamy Filho e José Luiz
Bulhões Pedreira: ‘A vinculação de duas ou mais sociedades mediante
relações de participação societária dá origem a uma estrutura de
sociedades, e quando essa estrutura é hierarquizada (ou seja, uma
sociedade detém o poder de controlar outra ou outras), é usualmente
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designada como grupo de sociedades, que pode ser de fato (baseado apenas
nas relações de participação societária e de controle) ou de direito (se, além
disso, é regulado por convenção de grupo registrada nos termos do Capítulo
XXI da Lei nº 6.404/1976)’.” (Arnaldo Rizzardo)
3.2.3. A Lei nº 11.101/05 admite litisconsórcio ativo?
R: Como destacado pela Min. RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA,
embora a Lei nº 11.101/05 não preveja a situação de litisconsórcio ativo, seu art. 189 estabelece a aplicação subsidiária do Código de
Processo Civil, de modo que a jurisprudência passou a admitir tal
possibilidade:
“[Trecho do corpo do acórdão:] A Lei nº 11.101/2005, ao reputar o
devedor como sendo o empresário ou a sociedade empresária (expressões
usadas no singular pela LRF), deixou de disciplinar a possibilidade de
apresentação conjunta do pedido de recuperação judicial por sociedades
empresárias que componham determinado grupo econômico. Portanto, não
dispôs acerca da formação do litisconsórcio ativo. Todavia, conforme o art.
189 da LRF, o Código de Processo Civil (CPC) é aplicável subsidiariamente
aos processos de recuperação judicial e de falência. Desse modo, as normas
da legislação adjetiva brasileira visam suprir, no que for compatível,
eventuais lacunas contidas no referido estatuto concursal.” (STJ, REsp
1665042/RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Turma,
por unanimidade, julgado em 25/06/2019, DJe 01/07/2019)
3.2.4. O exercício regular das atividades há mais de 2
(dois) anos deve ocorrer na mesma atividade?
R: De acordo com o STJ, o requisito temporal deve ocorrer em
atividade idêntica ou correlata:
“(...) Porém, para o processamento da recuperação judicial, a Lei, em seu
art. 48, não exige somente a regularidade no exercício da atividade, mas
também o exercício por mais de dois anos, devendo-se entender tratar-se
da prática, no lapso temporal, da mesma atividade (ou de correlata) que se
pretende recuperar. (...)" (STJ, REsp 1.478.001/ES, Rel. Ministro RAUL
ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 10/11/2015, DJe
19/11/2015)
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3.2.5. Em se tratando de grupo econômico, cada
sociedade empresária deve demonstrar o
cumprimento do requisito temporal de 2 (dois) anos?
R: Sim!
“[Trecho do corpo do acórdão:] Em se tratando de grupo econômico,
cada sociedade empresária deve demonstrar o cumprimento do requisito
temporal de 2 (dois) anos, pois elas conservam a sua individualidade e, por
conseguinte, apresentam a personalidade jurídica distinta das demais
integrantes da referida coletividade.” (STJ, REsp 1665042/RS, Rel. Min.
Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Turma, por unanimidade, julgado
em 25/06/2019, DJe 01/07/2019)
“Tá, mas por qual razão o recurso especial foi provido?”
3.2.6. Ao período de exercício regular das atividades
pode ser somado o tempo anteriormente exercido
pela sociedade empresária sucedida?
R: No julgado, o Min. RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA vislumbrou, pelo menos, duas operações societárias que autorizam essa soma de
tempo: transformação e cisão.
Logo, desde que mantido o mesmo objeto social (ou, ao menos,
correlato) a sucessora pode somar seu tempo de exercício regular de atividade ao do empresário (pessoa física ou pessoa jurídica)
sucedido:
“[Trecho do corpo do acórdão:] É válido ressaltar que a cisão não
ocasionou alteração do objeto social, tampouco a interrupção das atividades
empresariais tanto da sociedade cedente e quanto da cindida. Sérgio
Campinho ensina que, em caso de transformação societária, poderá
haver o cômputo do exercício anterior para atingir o prazo de 2 (dois) anos,
desde que não haja a descontinuidade da empresa: (...).
Assim, conforme o referido ensinamento doutrinário, se a sociedade anterior
tinha mais de 2 (anos) de atividade empresarial, a nova - objeto da cisão -
não precisa cumprir novamente o biênio.” (STJ, REsp 1665042/RS, Rel.
Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Turma, por unanimidade,
julgado em 25/06/2019, DJe 01/07/2019)
3.3. Questões objetivas.
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Q1º. Estratégia Carreiras Jurídicas. As sociedades empresárias integrantes de
grupo econômico devem demonstrar individualmente o cumprimento do requisito
temporal de 2 (dois) anos de exercício regular de suas atividades para postular a
recuperação judicial em litisconsórcio ativo.
Q2º. Estratégia Carreiras Jurídicas. A Lei nº 11.101/05 expressamente prevê
hipóteses de litisconsórcio ativo.
Q3º. Estratégia Carreiras Jurídicas. Em caso de cisão, o período de exercício
regular da sociedade empresária sucessora pode ser somado ao da cindida para fins
de comprovação do período de 2 (dois) anos de atividade.
3.4. Gabarito.
Q1º. VERDADEIRA.
Q2º. FALSA.
Q3º. VERDADEIRA.
3.5. Bibliografia.
RIZZARDO, Arnaldo. Direito de empresa. Rio de Janeiro: Forense, 2018.
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DIREITO PENAL
4. A redução do prazo prescricional prevista no art. 115 do CP
não se relaciona com as causas interruptivas da prescrição
previstas no art. 117 do mesmo diploma legal.
HABEAS CORPUS (HC)
A redução do prazo prescricional prevista no art. 115 do CP não se relaciona com as
causas interruptivas da prescrição previstas no art. 117 do mesmo diploma legal,
tratando-se de fenômenos distintos e que repercutem de maneira diversa (STJ, HC
316110/SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, por
unanimidade, julgado em 25/06/2019, DJe 01/07/2019)
Resultado: Ordem denegada.
Tribunal de Origem: TRF 3ª Região.
4.1. Situação fática.
O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL denunciou KIWI pela
prática do crime previsto no art. 4º da Lei nº 7.492/86:
“Art. 4º da Lei nº 7.492/86. Gerir fraudulentamente instituição financeira:
Pena - Reclusão, de 3 (três) a 12 (doze) anos, e multa.
Parágrafo único. Se a gestão é temerária:
Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa.”
Instância Desfecho
1º Grau
Julgou procedente a ação penal, condenando KIWI à pena
privativa de liberdade de 4 (quatro) anos e 8 (oito) meses de
reclusão mais pagamento de multa de 11 (onze) dias-multa.
Em recurso de apelação, a defesa de KIWI pugnou pela
absolvição ou, subsidiariamente, pela redução da pena.
Instância Desfecho
2º Grau Manteve a condenação, mas reduziu a pena privativa de liberdade
a 4 (quatro) anos de reclusão mais pagamento de multa de 10
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(dez) dias-multa.
Transitada em julgado a condenação, a defesa de KIWI
impetrou habeas corpus, requerendo o reconhecimento da prescrição da pretensão executória, com base nos arts. 107,
inciso IV, c/c 110, § 1º, conjuntamente aos arts. 115 e 117, todos do CP, já que, quando do acórdão confirmatório da sentença, o paciente
tinha mais de 70 (setenta) anos:
“Art. 107 CP. Extingue-se a punibilidade: IV - pela prescrição, decadência
ou perempção;”
“Art. 110, § 1º, CP. A prescrição, depois da sentença condenatória com
trânsito em julgado para a acusação ou depois de improvido seu recurso,
regula-se pela pena aplicada, não podendo, em nenhuma hipótese, ter por
termo inicial data anterior à da denúncia ou queixa.”
“Art. 115 CP. São reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o
criminoso era, ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na
data da sentença, maior de 70 (setenta) anos.”
“Art. 117 CP. O curso da prescrição interrompe-se: IV - pela publicação da
sentença ou acórdão condenatórios recorríveis;”
Instância Desfecho
Superior
Tribunal
de Justiça
Ordem denegada.
4.2. Análise Estratégica.
4.2.1. Questão em debate.
O cerne do julgado diz respeito à possibilidade (ou não) de
aplicação do marco interruptivo da prescrição do inciso IV do art. 117 do CP (publicação do acórdão condenatório recorrível) como marco
para redução do prazo prescricional do criminoso maior de 70
(setenta) anos (art. 115 CP).
Alguns podem ter lido a ementa e pensado: “Isso é óbvio! Uma
coisa é uma coisa, outa coisa é outa coisa!” Sim, mas vamos
entender a tese da defesa.
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Como a maioria da jurisprudência faz interpretação literal do
art. 115 do CP, ou seja, exige, para redução do prazo prescricional, a idade de mais de 70 (setenta) anos na 1ª DECISÃO
CONDENATÓRIA, a defesa “propôs” estender a marca interruptiva do prazo prescricional (PUBLICAÇÃO DO ACÓRDÃO
CONDENATÓRIO RECORRÍVEL – art. 117, IV, CP) ao caput do art.
115 do CP, que passaria a ser interpretado da seguinte forma:
São reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o criminoso era,
ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data da sentença
[OU DA PUBLICAÇÃO DO ACÓRDÃO CONDENATÓRIO RECORRÍVEL], maior
de 70 (setenta) anos.
A partir daí, KIWI seria beneficiado com a redução do prazo
prescricional, já que sua condenação de 1º Grau (1ª DECISÃO
CONDENATÓRIA) foi mantida em acórdão condenatório recorrível (PUBLICAÇÃO DO ACÓRDÃO CONDENATÓRIO RECORRÍVEL –
art. 117, IV, CP).
Em outras palavras, a defesa tentou dar um “somebody love”
ao misturar os institutos.
REDUÇÃO DO PRAZO
PRESCRICIONAL
CAUSAS INTERRUPTIVAS DO PRAZO
PRESCRICIONAL
“Art. 115 CP. São reduzidos de metade
os prazos de prescrição quando o
criminoso era, ao tempo do crime,
menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na
data da sentença, maior de 70 (setenta)
anos.”
“Art. 117 CP. O curso da prescrição
interrompe-se: IV - pela publicação da
sentença ou acórdão condenatórios
recorríveis;”
Nessa linha, destacou o Min. ROGÉRIO SHIETTI:
“[Trecho do corpo do acórdão:] Entretanto, uma coisa é a redução do
prazo prescricional e outra são os marcos interruptivos da prescrição. Em
minha compreensão não relaciono a redução dos prazos, conforme art. 115
do CP, com as causas interruptivas da prescrição, previstas no art. 117 do
mesmo Diploma Legal, porquanto se trata de fenômenos distintos e que
repercutem de maneira diversa. Além disso, há ainda a própria disposição
legal (art. 115 do CP), que apenas alude a necessidade de sentença como
marco temporal para a redução, por razão etária, do prazo prescricional.”
(STJ, HC 316110/SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma,
por unanimidade, julgado em 25/06/2019, DJe 01/07/2019)
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4.2.2. Mas o art. 115 do CP jamais se aplica diante de
acórdão condenatório?
R: Pela interpretação literal do dispositivo, nunca. Contudo, o STF
entende que o termo “sentença” deve ser compreendido como a 1ª DECISÃO CONDENATÓRIA, ou seja, a redução deve operar quando
o agente completar 70 (setenta) anos antes da 1ª DECISÃO
CONDENATÓRIA:
“(...) 5. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal em sede de
habeas corpus é no sentido da ‘inviabilidade de redução do prazo
prescricional quando a idade limite é completada na época do
acórdão ratificador da condenação fixada pelo juízo de origem’ (HC
117.386, Rel.ª Min.ª Rosa Weber). Precedentes. 6. Agravo regimental a que
se nega provimento.” (STF, ARE 915543 AgR, Relator(a): Min.
ROBERTO BARROSO, Primeira Turma, julgado em 24/11/2015)
“Boa, então se a 1ª decisão condenatória for o acórdão em razão de recurso do Ministério Público, podemos aplicar o art. 115 do
CP.” Exatamente, se o réu tiver mais de 70 (setenta) anos quando proferido o acórdão condenatório que reforma sentença absolutória,
aplica-se a redução do prazo prescricional do art. 115 do CP:
“(...) Consoante entendimento desta Corte, a redução do prazo prescricional,
prevista no art. 115, segunda parte, do Código Penal, é aplicada até a
sentença ou o acórdão condenatório. Na hipótese de sentença absolutória,
ainda é possível a incidência do redutor até que haja acórdão condenatório.
(...).” (STJ, EDcl no AgRg no REsp 1134047/PR, Rel. Ministro
ROGERIO SCHIETTI CRUZ, SEXTA TURMA, julgado em 20/02/2018,
DJe 26/02/2018)
4.3. Tá, mas e se o acórdão apenas modificar o
montante da pena, mantendo a condenação?
R: Apesar de não ser pacífico no STJ, há julgados, segundo os quais
a redução do prazo prescricional pode acontecer quando o réu, embora complete 70 (setenta) anos após a 1ª DECISÃO
CONDENATÓRIA, obtenha, da Corte ad quem em apelação,
modificação substancial da 1ª DECISÃO CONDENATÓRIA:
“(...) Havendo substancial modificação da sentença pelo acórdão, que não
apenas aumentou o quantum de pena, mas também o próprio lapso
prescricional, além de modificar a tipificação conferida ao fato, deve o
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acórdão ser considerado como novo marco interruptivo da prescrição,
inclusive para fins de aplicação do benefício do art. 115 do Código Penal.
(...).” (STJ, AgRg no REsp 1481022/RS, Rel. Ministra MARIA
THEREZA DE ASSIS MOURA, Rel. p/ Acórdão Ministro SEBASTIÃO
REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 18/09/2018, DJe
22/10/2018)
E o que se entende por “modificação substancial”? Segundo o
Min. ROGÉRIO SHIETTI:
“[Trecho do corpo do acórdão:] (...) a concepção de modificação
substancial da condenação, conforme diretrizes estabelecidas pelos próprios
precedentes, pressupõe que ocorra uma nova capitulação jurídica do crime e
o redimensionamento substancial da pena, suficiente para alterar os prazos
prescricionais.” (STJ, HC 316110/SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz,
Sexta Turma, por unanimidade, julgado em 25/06/2019, DJe
01/07/2019)
Ou seja:
E não dava para beneficiar o KIWI com essa interpretação?
Não! KIWI teve apenas reduzido o montante da pena, não houve
modificação substancial:
“[Trecho do corpo do acórdão:] Ainda que considerássemos essa
compreensão como acertada – o que faço apenas para argumentar, visto
que a redução do prazo pela idade não se confunde com marco interruptivo,
como visto linhas atrás –, observo que não atingiria a hipótese sub examine.
Deveras, o paciente, que somente completou 70 anos de idade após o édito
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de primeiro grau, teve somente reduzida a pena imposta em primeiro grau,
sem que houvesse a modificação da capitulação jurídica do crime.” (STJ, HC
316110/SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, Sexta Turma, por
unanimidade, julgado em 25/06/2019, DJe 01/07/2019)
4.4. Questões objetivas.
Q1º. Estratégia Carreiras Jurídicas. A redução do prazo prescricional prevista no
art. 115 do CP não se relaciona com as causas interruptivas da prescrição previstas
no art. 117 do mesmo diploma legal, tratando-se de fenômenos distintos e que
repercutem de maneira diversa.
Q2º. Estratégia Carreiras Jurídicas. A modificação substancial da condenação de
1º grau para considerar o acórdão condenatório causa interruptiva da prescrição
exige nova capitulação jurídica do crime e o redimensionamento substancial da
pena.
4.5. Gabarito.
Q1º. VERDADEIRA.
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5. Auxílio doença e segurado que exerce atividades em
condições especiais.
RECURSO ESPECIAL (REsp)
O segurado que exerce atividades em condições especiais, quando em gozo de
auxílio-doença, seja acidentário ou previdenciário, faz jus ao cômputo desse mesmo
período como tempo de serviço especial (STJ, REsp 1759098/RS, Rel. Min.
Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
26/06/2019, DJe 01/08/2019 - Tema 998)
Resultado: Recurso especial desprovido.
Tribunal de Origem: TRF 3ª Região.
5.1. Situação fática.
ARNALDO ajuizou ação em face do INSS em razão de a
autarquia não ter computado, como período especial, o intervalo em que o autor esteve afastado do trabalho em gozo de auxílio doença
NÃO acidentário (auxílio doença previdenciário).
O INSS, por sua vez, defendeu a impossibilidade de contagem
especial de tempo de serviço no período em que o segurado estava em gozo de auxílio-doença, uma vez que, nesse período, não havia
exposição a agentes nocivos.
Instância Desfecho
1º Grau Julgou procedente a demanda.
2º Grau Negou provimento ao recurso do INSS.
Em recurso especial, o INSS continuou defendendo a
impossibilidade de contagem especial de tempo de serviço no período
em que o segurado estava em gozo de auxílio-doença.
Instância Desfecho
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Superior
Tribunal
de Justiça
Negou provimento ao recurso.
5.2. Análise Estratégica.
5.2.1. Questão em debate.
Cinge-se a controvérsia em estabelecer a possibilidade (ou não) de cômputo como tempo de serviço especial, para fins de inativação,
do período em que o segurado está em gozo de auxílio-doença de
natureza NÃO acidentária.
5.2.2. Histórico da legislação.
“Hora da história”. Como o assunto é um pouco maçante,
vamos esquematizar.
O Decreto nº 3.048/99 permitia o cômputo como tempo especial dosperíodos correspondentes ao exercício de atividade permanente e habitualsujeita a condições especiais que prejudicassem a saúde ou a integridadefísica do contribuinte, INCLUSIVE quanto aos períodos de férias, licençamédica e auxílio-doença (seja acidentário ou previdenciário/não-acidentário).
Ocorre que, com a publicação do Decreto 4.882/03, passou-se areconhecer como cômputo especial SOMENTE o período em que osegurado especial ficasse afastado em gozo de benefício por incapacidadede natureza acidentária, excluindo-se, assim, a contagem especial peloafastamento na modalidade não acidentária (previdenciária).
Assim, nas hipóteses em que o segurado fosse afastado de suasatividades habituais especiais por motivos de auxílio-doença nãoacidentário (previdenciário), o período de afastamento seria computadoapenas como tempo de atividade comum.
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“Mas qual a justificativa da exclusão do cômputo do período de
auxílio não acidentário?” A justificativa para tal distinção estaria no fato de que, nos períodos de afastamento em razão do gozo de
benefício não acidentário (previdenciário), não estaria o segurado exposto a nenhum agente nocivo, o que impossibilitaria a contagem
de tal período como especial.
“Mas a lei permite esse cômputo como especial no período de
férias?!?!?! Ora!” Grande ministro(a), exatamente! Totalmente
ilógico:
“[Trecho do corpo do acórdão:] A legislação permite o cômputo, como
atividade especial, por períodos em que o Segurado esteve em gozo de
salário-maternidade e férias, afastamentos esses que também suspendem o
seu contrato de trabalho, do mesmo modo que o auxílio-doença, e retiram o
Trabalhador da exposição aos agentes nocivos. Ora, se nesses casos o
legislador prevê o cômputo normal desses afastamentos como atividade
especial, não há, sob nenhum aspecto, motivo para que o período em
afastamento de auxílio-doença não acidentário também não seja
computado, desde que, à data do afastamento, o Segurado estivesse
exercendo atividade considerada especial.” (STJ, REsp 1759098/RS, Rel.
Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Seção, por unanimidade,
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5.2.3. Justificativa da possibilidade de cômputo.
Vejamos as justificativas apresentadas pelo Min. NAPOLEÃO
NUNES MAIA FILHO e pela Min. ASSUSETE MAGALHÃES para
nocautear o Decreto nº 4.882/03:
(i) há evidente incongruência em não permitir o cômputo do
período de gozo do auxílio doença previdenciário (não acidentário) por não estar o segurado, nesse intervalo, exposto a agentes nocivos,
mas permitir o cômputo do período de afastamento de férias, licença,
auxílio acidentário:
“[Trecho do corpo do acórdão:] Registre-se que a circunstância de não
haver, no período do afastamento, efetiva exposição aos agentes nocivos,
não pode, por si só, impedir a pretendida inclusão, porquanto nas hipóteses
de afastamento decorrente de férias, licença maternidade e de auxílio-
doença acidentário, permite-se a inclusão do tempo como especial, na forma
do Decreto 4.882/2003, embora, nesses casos, o segurado também não
esteja sujeito ao agente agressivo.” (STJ, REsp 1759098/RS, Voto-Vista,
Rel. Min. Assusete Magalhães, Primeira Seção, por unanimidade,
julgado em 26/06/2019, DJe 01/08/2019 - Tema 998)
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(ii) não é porque se trata de auxílio não acidentário
(previdenciário), que o segurado não sofre as sequelas da exposição
prologada a agentes nocivos durante o período de recuperação:
“[Trecho do corpo do acórdão:] (...) o Trabalhador exposto a agentes
nocivos por longos períodos tem a suas condições clínicas afetadas de modo
geral – e, na verdade, para todo o tempo de sua vida –, de modo que não se
pode esperar que um Trabalhador de minas de carvão, por exemplo,
acometido por uma gripe viral, doença sem qualquer relação com a sua
atividade laboral, tenha a mesma possibilidade de recuperação clínica de um
Trabalhador que trabalha em um escritório de advocacia.” (STJ, REsp
1759098/RS, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Seção,
por unanimidade, julgado em 26/06/2019, DJe 01/08/2019 - Tema
998)
(iii) dificilmente se consegue excluir, por completo, nexo causal
entre a doença que permitiu o gozo de auxílio doença não acidentário
(previdenciário) e as atividades especiais exercidas pelo segurado;
“[Trecho do corpo do acórdão:] Ademais, há inúmeros agentes que
somente são relacionados a determinadas doenças anos após o afastamento
do empregado, o que dificulta, muitas vezes, estabelecer, de pronto, no
momento do afastamento, o nexo causal entre o agente nocivo e a
concessão do auxílio-doença.” (STJ, REsp 1759098/RS, Voto-Vista, Rel.
Min. Assusete Magalhães, Primeira Seção, por unanimidade, julgado
em 26/06/2019, DJe 01/08/2019 - Tema 998)
(iv) a Lei nº 8.213/91 (art. 57) não traz nenhuma distinção entre os benefícios auxílio-doença acidentário e previdenciário (não
acidentário) que autorize tratamento diferenciado quanto ao cômputo
do período de afastamento e;
“[Trecho do corpo do acórdão:] A Lei 8.213/91, porém, não impede, ao
menos expressamente, a inclusão do auxílio-doença previdenciário na
contagem do tempo de serviço especial (...).” (STJ, REsp 1759098/RS,
Voto-Vista, Rel. Min. Assusete Magalhães, Primeira Seção, por
unanimidade, julgado em 26/06/2019, DJe 01/08/2019 - Tema
998)
(v) estando ou não afastado por benefício motivado por acidente do trabalho, o segurado exposto a condições nocivas à sua
saúde promove a ocorrência do fato gerador da contribuição previdenciária destinada ao custeio do benefício de aposentadoria
especial.
“[Trecho do corpo do acórdão:] (...) Se a atividade do segurado está
sujeita à cobrança de contribuição em percentual diferenciado, mais
oneroso, e se, no exercício dessa atividade, há o afastamento, ainda que
não esteja, diretamente, relacionado à atividade especial, há de se incluir o
tempo de afastamento como sendo especial, sob pena de o segurado pagar
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mais e ter o mesmo tratamento daquele que paga menos, qual seja, o
segurado sujeito à atividade comum. Ou seja, exigir-se-ia contribuição
maior, mas, uma vez doente, contar-se-ia o tempo como dos demais
segurados.” (STJ, REsp 1759098/RS, Voto-Vista, Rel. Min. Assusete
Magalhães, Primeira Seção, por unanimidade, julgado em
26/06/2019, DJe 01/08/2019 - Tema 998)
Dessa forma, impõe-se reconhecer que o segurado que exerce atividades em condições especiais, quando em gozo de auxílio-
doença, seja acidentário ou previdenciário (não acidentário), faz jus
ao cômputo desse período como especial.
“Tá, mas e o Decreto nº 4.882/03?” Perdeu! “Certo, mas juridicamente?” Extrapolou seu poder regulamentar ao criar exceção
não prevista na lei:
“[Trecho do corpo do acórdão:] Diante desse quadro, ao criar exceção
não prevista em lei, o Decreto 4.882/2003, no confronto com o art. 57 da
Lei 8.213/91, extrapolou o alcance da citada Lei, não podendo, nessa
medida, impedir o reconhecimeto do direito à inclusão do auxílio-doença
previdenciário, como tempo de serviço especial, para o segurado que, antes
do afastamento, estava sujeito aos agentes nocivos, os quais justificam a
concessão da aposentadoria especial.” (STJ, REsp 1759098/RS, Voto-
Vista, Rel. Min. Assusete Magalhães, Primeira Seção, por
unanimidade, julgado em 26/06/2019, DJe 01/08/2019 - Tema
998)
5.3. Questões objetivas.
Q1º. Estratégia Carreiras Jurídicas. O segurado que exerce atividades em
condições especiais, apenas quando em gozo de auxílio-doença acidentário faz jus
ao cômputo desse mesmo período como tempo de serviço especial.
Q2º. Estratégia Carreiras Jurídicas. O segurado que exerce atividades em
condições especiais, apenas quando em gozo de auxílio-doença previdenciário faz
jus ao cômputo desse mesmo período como tempo de serviço especial.
5.4. Gabarito.
Q1º. FALSA.
Q2º. FALSA.
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6. Trabalhador da lavoura da cana-de-açúcar não pode ser
enquadrado na categoria profissional de trabalhador da
agropecuária.
PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO DE INTERPRETAÇÃO DE LEI (PUIL)
O trabalhador da lavoura da cana-de-açúcar NÃO pode ser enquadrado na
categoria profissional de trabalhador da agropecuária constante do item 2.2.1 do
Decreto nº 53.831/64, vigente à época da prestação dos serviços. (STJ, PUIL
452/PE, Rel. Min. Herman Benjamin, Primeira Seção, por maioria, julgado
em 08/05/2019, DJe 14/06/2019)
Resultado: Pedido de uniformização de interpretação de lei procedente.
Tribunal de Origem: TNU.
6.1. Situação fática.
Trata-se de Pedido de Uniformização de Interpretação de Lei
(PUIL) formulado pelo INSS em razão de Acórdão da Turma Nacional
de Uniformização de Jurisprudência dos Juizados Especiais Federais – TNU, que reconheceu que o trabalhador da lavoura da cana-de-
açúcar pode ser enquadrado na categoria profissional de trabalhador da agropecuária constante no item 2.2.1 do Decreto nº 53.831/64
vigente à época da prestação dos serviços.
Instância Desfecho
Superior
Tribunal
de Justiça
Pedido de uniformização de interpretação de lei procedente.
6.2. Análise Estratégica.
6.2.1. Questão em debate.
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O ponto controvertido é se o trabalhador rural da lavoura da
cana-de-açúcar poderia (ou não) ser enquadrado na categoria profissional de trabalhador da agropecuária, constante no item
2.2.1 do Decreto nº 53.831/64, vigente à época da prestação dos serviços, garantindo-lhe conversão ou contagem como tempo
especial para fins de aposentadoria por tempo de
serviço/contribuição ou aposentadoria especial, respectivamente.
“Mas o trabalhador rural já não é segurado especial?” Cuidado para não confundir SEGURADO ESPECIAL com ATIVIDADE
ESPECIAL:
SEGURADO ESPECIAL ATIVIDADE ESPECIAL
“A última categoria de segurados
obrigatórios enumerada pela legislação
é a dos segurados especiais. Esta se
estabelece a partir da redação do art.
195, § 8º, da Constituição, que
determina ao legislador que observe
tratamento diferenciado àqueles que,
trabalhando por conta própria em
regime de economia familiar, realizem
pequena produção, com a qual retiram
sua subsistência. O dispositivo
constitucional determina que a base de
cálculo das contribuições à Seguridade
Social destes seja o produto da
comercialização de sua produção,
criando assim regra diferenciada para a
participação no custeio. É que, sendo a
atividade destes instável durante o ano
(em função dos períodos de safra, no
caso dos agricultores, temporadas de
pesca, para os pescadores, criação e
engorda do gado, no caso dos
pecuaristas, etc.), não se pode exigir
dos mesmos, em boa parte dos casos,
contribuições mensais, em valores fixos
estipulados.” (Carlos Alberto Pereira
de Castro e João Batista Lazzari)
“A aposentadoria especial é uma
espécie de aposentadoria por tempo de
contribuição, com redução do tempo
necessário à inativação, concedida em
razão do exercício de atividades
consideradas prejudiciais à saúde ou à
integridade física. Ou seja, é um
benefício de natureza previdenciária que
se presta a reparar financeiramente o
trabalhador sujeito a condições de
trabalho inadequadas.” (Carlos Alberto
Pereira de Castro e João Batista
Lazzari)
“Art. 195, § 8º, CF. O produtor, o
parceiro, o meeiro e o arrendatário
rurais e o pescador artesanal, bem
como os respectivos cônjuges, que
exerçam suas atividades em regime de
“Art. 57, caput, da Lei nº 8.213/91.
A aposentadoria especial será devida,
uma vez cumprida a carência exigida
nesta Lei, ao segurado que tiver
trabalhado sujeito a condições especiais
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economia familiar, sem empregados
permanentes, contribuirão para a
seguridade social mediante a aplicação
de uma alíquota sobre o resultado da
comercialização da produção e farão jus
aos benefícios nos termos da lei.”
“Art. 11 da Lei nº 8.213/91. São
segurados obrigatórios da Previdência
Social as seguintes pessoas físicas: (...)
VII – como segurado especial: a pessoa
física residente no imóvel rural ou em
aglomerado urbano ou rural próximo a
ele que, individualmente ou em regime
de economia familiar, ainda que com o
auxílio eventual de terceiros, na
condição de: a) produtor, seja
proprietário, usufrutuário, possuidor,
assentado, parceiro ou meeiro
outorgados, comodatário ou
arrendatário rurais, que explore
atividade: 1. agropecuária em área de
até 4 (quatro) módulos fiscais; 2. de
seringueiro ou extrativista vegetal que
exerça suas atividades nos termos do
inciso XII do caput do art. 2º da Lei no
9.985, de 18 de julho de 2000, e faça
dessas atividades o principal meio de
vida; b) pescador artesanal ou a este
assemelhado que faça da pesca
profissão habitual ou principal meio de
vida; e c) cônjuge ou companheiro,
bem como filho maior de 16 (dezesseis)
anos de idade ou a este equiparado, do
segurado de que tratam as alíneas a e b
deste inciso, que, comprovadamente,
trabalhem com o grupo familiar
respectivo. § 1º Entende-se como
regime de economia familiar a atividade
em que o trabalho dos membros da
família é indispensável à própria
subsistência e ao desenvolvimento
socioeconômico do núcleo familiar e é
exercido em condições de mútua
dependência e colaboração, sem a
utilização de empregados permanentes.
(...).”
que prejudiquem a saúde ou a
integridade física, durante 15 (quinze),
20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos,
conforme dispuser a lei.”
Exs.: pescador artesanal, seringueiro, Exs.: trabalhador da agropecuária,
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trabalhador rural enquadrado como
segurado especial.
profissional da radiologia.
6.2.2. Qual lei rege o cálculo do tempo de serviço?
R: Está pacificado no STJ o entendimento de que a lei que rege o tempo de serviço (comum ou especial) é aquela vigente no
momento da prestação do labor, mas cuidado para não confundir:
O tempo do labor é especial ou
comum?
Qual o fator de conversão entre as
espécies de tempo de serviço
(comum e especial)?
Depende da classificação atribuída pela
lei vigente no momento do
desempenho do trabalho
(STJ, REsp 1398260/PR, Rel. Ministro
HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO,
julgado em 14/05/2014, DJe
05/12/2014)
Depende da lei em vigor quando
preenchidas as exigências da
aposentadoria
(STJ, REsp 1310034/PR, Rel. Ministro
HERMAN BENJAMIN, PRIMEIRA SEÇÃO,
julgado em 24/10/2012, DJe
19/12/2012)
Nessa linha, em período anterior ao da edição da Lei nº 9.032/95, a aposentadoria especial e a conversão do tempo
trabalhado em atividades especiais eram concedidas em virtude da categoria profissional, conforme a classificação inserta no Anexo
do Decreto nº 53.831/64, e nos Anexos I e II do Decreto nº 83.080/79, ratificados pelo art. 292 do Decreto nº 611/92, o qual
regulamentou, inicialmente, a Lei nº 8.213/91, preconizando a desnecessidade de laudo técnico da efetiva exposição aos agentes
agressivos, exceto para ruído e calor.
A Lei nº 9.032, de 29 de abril de 1995, por sua vez, deu nova
redação ao art. 57 da Lei nº 8.213/91, alterando substancialmente o
seu §4º, passando a exigir a demonstração da efetiva exposição do segurado aos agentes nocivos, químicos, físicos e biológicos, de
forma habitual e permanente, sendo suficiente a apresentação de formulário-padrão fornecido pela empresa (como o PPP - Perfil
Profissiográfico Previdenciário). A partir de então, retirou-se do ordenamento jurídico a possibilidade do mero enquadramento da
atividade do segurado em categoria profissional considerada especial,
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mantendo, contudo, a possibilidade de conversão do tempo de
trabalho comum em especial:
“A Lei n. 9.032, de 29.4.1995, acabou com o enquadramento por categoria
profissional e impôs a necessidade de comprovação, pelo segurado, da
efetiva exposição aos agentes agressivos, exigindo ainda que essa exposição
fosse habitual e permanente. A exigência de exposição aos agentes nocivos
é salutar, pois existiam categorias inteiras que eram beneficiadas com
aposentadorias precoces sem que os trabalhadores tivessem sido
efetivamente expostos aos agentes nocivos à saúde e aos riscos do
trabalho.” (Carlos Alberto Pereira de Castro e João Batista Lazzari)
6.2.3. E, então, o trabalhador da lavoura da cana-de-açúcar, empregado rural, pode ter seu tempo de
labor equiparado ao desempenhado na agropecuária?
R: Não, pois o Decreto nº 53.831/64, no seu item 2.2.1, considera
como insalubre somente os serviços e atividades profissionais
desempenhados na agropecuária, NÃO se enquadrando como tal
a atividade laboral exercida apenas na lavoura.
“(...) O Decreto nº 53.831/64, no seu item 2.2.1, considera como insalubre
somente os serviços e atividades profissionais desempenhados na
agropecuária, não se enquadrando como tal a atividade laboral exercida
apenas na lavoura (...).” (STJ, AgRg no REsp 1084268/SP, Rel. Ministro
SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 05/03/2013,
DJe 13/03/2013)
“(...) O Decreto nº 53.831/1964, que traz o conceito de atividade
agropecuária, não contemplou o exercício de serviço rural na lavoura como
insalubre. (...).” (STJ, AgRg no REsp 1208587/RS, Rel. Ministro JORGE
MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 27/09/2011, DJe 13/10/2011)
Ou seja, o labor rurícola exercido em regime de economia
familiar não está contido no conceito de atividade agropecuária, previsto no Decreto nº 53.831/64, inclusive no que tange ao
reconhecimento de insalubridade.
Aliás, os rurícolas, que são segurados especiais, já são
contemplados com regras específicas que buscam protegê-los das vicissitudes próprias das estafantes atividades que desempenham,
assegurando-lhes, de forma compensatória:
(i) a aposentadoria por idade com redução de 5 (cinco) anos
em relação aos trabalhadores urbanos;
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(ii) a dispensa do recolhimento de contribuições até o advento
da Lei nº 8.213/91 e;
(iii) um menor rigor quanto ao conteúdo dos documentos
aceitos como início de prova material.
6.3. Questões objetivas.
Q1º. Estratégia Carreiras Jurídicas. O trabalhador da lavoura da cana-de-açúcar
não pode ser enquadrado na categoria profissional de trabalhador da agropecuária
constante do item 2.2.1 do Decreto nº 53.831/64, vigente à época da prestação
dos serviços.
6.4. Gabarito.
Q1º. VERDADEIRA.
6.5. Bibliografia.
CASTRO, Carlos Alberto Pereira de, LAZZARI, João Batista. Manual de direito
previdenciário. Rio de Janeiro: Forense, 2017.
7. Termo a quo do prazo decadencial para a revisão da pensão
por morte quando há benefício originário.
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL (EREsp)
O termo a quo do prazo decadencial para a revisão da pensão por morte (benefício
derivado), mediante revisão da renda mensal inicial (RMI) da aposentadoria que a
originou (benefício originário), corresponde à data da concessão do benefício
originário. (STJ, EREsp 1605554/PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Rel.
Acd. Min. Assusete Magalhães, Primeira Seção, por maioria, julgado em
27/02/2019, DJe 02/08/2019)
Resultado: Embargos de divergência desprovidos.
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7.1. Situação fática.
Tratando-se de embargos de divergência1, vejamos a
divergência existente entre a Primeira e Segunda Turmas do STJ.
PRIMEIRA TURMA SEGUNDA TURMA
O prazo decadencial do direito de
revisão de pensão por morte (benefício
derivado), que tem como escopo a
revisão de benefício originário recebido
pelo segurado em vida, TEM INÍCIO A
PARTIR DA CONCESSÃO DO
BENEFÍCIO ORIGINÁRIO, e não da
concessão da pensão por morte
(benefício derivado) (STJ, AgInt no
REsp 1567049/RS, Rel. Ministro
SÉRGIO KUKINA, PRIMEIRA TURMA,
julgado em 20/04/2017, DJe
05/05/2017)
O prazo decadencial do direito de
revisão da pensão por morte (benefício
derivado), que tem como escopo a
revisão de benefício originário recebido
pelo segurado em vida, TEM INÍCIO A
PARTIR DA CONCESSÃO DA
PENSÃO POR MORTE (benefício
derivado), momento em que nasce a
legitimidade para pleitear a revisão
pretendida, e não a partir da concessão
do benefício originário (STJ, AgInt no
REsp 1547074/RS, Rel. Ministro
FRANCISCO FALCÃO, SEGUNDA
TURMA, julgado em 07/03/2017, DJe
10/03/2017)
TESE VENCEDORA TESE PERDEDORA
7.2. Análise Estratégica.
7.2.1. Questão em debate.
1 “Art. 1.043 NCPC. É embargável o acórdão de órgão fracionário que: I - em
recurso extraordinário ou em recurso especial, divergir do julgamento de qualquer
outro órgão do mesmo tribunal, sendo os acórdãos, embargado e paradigma, de
mérito; II – Revogado; III - em recurso extraordinário ou em recurso especial,
divergir do julgamento de qualquer outro órgão do mesmo tribunal, sendo um
acórdão de mérito e outro que não tenha conhecido do recurso, embora tenha
apreciado a controvérsia; IV – Revogado. (...).”
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O ponto principal do recurso diz respeito à fixação do termo
inicial do prazo decadencial para a revisão da pensão por morte:
(a) se se conta da concessão do benefício originário recebido
pelo segurado em vida ou;
(b) se se conta da concessão do benefício da pensão por
morte.
7.2.2. Qual o prazo decadencial para requerer
revisão de benefício previdenciário?
R: De acordo com o art. 103 da Lei nº 8.213/91, o prazo decadencial
é de 10 (dez) anos:
“Art. 103 da Lei nº 8.213/91. O prazo de decadência do direito ou da
ação do segurado ou beneficiário para a revisão do ato de concessão,
indeferimento, cancelamento ou cessação de benefício e do ato de
deferimento, indeferimento ou não concessão de revisão de benefício é de
10 (dez) anos, contado:
I - do dia primeiro do mês subsequente ao do recebimento da primeira
prestação ou da data em que a prestação deveria ter sido paga com o valor
revisto; ou
II - do dia em que o segurado tomar conhecimento da decisão de
indeferimento, cancelamento ou cessação do seu pedido de benefício ou da
decisão de deferimento ou indeferimento de revisão de benefício, no âmbito
administrativo.
Parágrafo único. Prescreve em cinco anos, a contar da data em que
deveriam ter sido pagas, toda e qualquer ação para haver prestações
vencidas ou quaisquer restituições ou diferenças devidas pela Previdência
Social, salvo o direito dos menores, incapazes e ausentes, na forma do
Código Civil.”
7.2.3. Se a revisão da pensão por morte (benefício derivado) decorre da própria revisão do benefício
recebido pelo segurado quando em vida (benefício originário), deve-se contar o prazo decadencial da
data da concessão do primeiro benefício originário,
certo?
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R: Exato, apesar da divergência, foi esse entendimento que
prevaleceu, ou seja, o termo a quo do prazo decadencial para a revisão da pensão por morte, mediante revisão da renda mensal
inicial da aposentadoria que a originou, corresponde à data da
concessão do benefício originário (aposentadoria).
Isso porque:
“[Trecho do corpo do acórdão:] (...) o prazo decadencial é fixado em
relação ao direito em si, não em relação à pessoa, de modo que nem mesmo
os incapazes escapam dos seus efeitos. Não admite a decadência, por outro
lado, diferentemente do que ocorre com a prescrição, suspensão ou
interrupção.” (STJ, EREsp 1605554/PR, Rel. Min. Mauro Campbell
Marques, Rel. Acd. Min. Assusete Magalhães, Primeira Seção, por
maioria, julgado em 27/02/2019, DJe 02/08/2019)
“Tá, mas e o princípio da actio nata, pois o dependente titular
da pensão morte só tem legitimidade para ajuizar demanda revisional
depois do falecimento?”
Humm...De acordo com o Min. MAURO CAMPBELL MARQUES, voto vencido, a partir do princípio da actio nata, não há falar em
decadência do direito da parte de rever o valor da pensão por morte, por intermédio da revisão da aposentadoria, se proposta a ação antes
de decorridos 10 (dez) anos contados do ato de concessão do benefício derivado (pensão por morte), pois, antes disso, a parte
sequer teria legitimidade para ajuizamento da demanda revisional:
“[Trecho do corpo do acórdão:] Ademais, deve ser levado em
consideração, que a parte interessada só detém legitimidade para pleitear a
revisão do benefício originário, após o óbito do instituidor. Logo, em razão
da observância ao Principio da Actio Nata, o curso do prazo decadencial só
tem início com a concessão da pensão por morte, momento em que nasce a
legitimidade para o pleito da revisão pretendida.” (STJ, EREsp
1605554/PR, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Rel. Acd. Min.
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Contudo, segundo a Min. ASSUSETE MAGALHÃES, voto vencedor, o princípio da actio nata não se aplica ao prazo
decadencial, apenas ao prescricional:
“[Trecho do corpo do acórdão:] Com efeito, o princípio da actio nata diz
respeito ao direito de ação, e, nessa medida, está interligado ao prazo
prescricional. O prazo decadencial, por sua vez, refere-se ao direito material,
que, no caso, deveria ter sido exercido no prazo de dez anos, na forma do
art. 103, caput, da Lei 8.213/91, mas não o foi, na hipótese em
julgamento.” (STJ, EREsp 1605554/PR, Rel. Min. Mauro Campbell
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Marques, Rel. Acd. Min. Assusete Magalhães, Primeira Seção, por
maioria, julgado em 27/02/2019, DJe 02/08/2019)
7.2.4. Caso prático.
Em 12.09.2011, NAZIRA ajuizou em face do INSS demanda revisional do benefício de pensão morte de que é titular desde
09.11.2008, sustentando que o seu pai, aposentado em 02.07.1991 e falecido em 14.10.2008, tinha direito adquirido a
melhor benefício de aposentadoria (benefício originário), o que reflete no valor do seu atual benefício de pensão morte oriundo do
falecimento do seu genitor (benefício derivado).
Qual o desfecho? De acordo com o entendimento firmado nestes embargos de divergência, o termo inicial do prazo decadencial
para revisão do benefício seria 02.07.1991, e não 09.11.2008. Ou seja, a demanda deve ser extinta em razão da decadência do direito
da autora.
7.2.5. Placar final.
ASSUSETE MAGALHÃES, SÉRGIO
KUKINA, GURGEL DE FARIA e
HERMAN BENJAMIN
MAURO CAMPBELL MARQUES,
REGINA HELENA COSTA e
NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO
O prazo decadencial do direito de
revisão da pensão por morte (benefício
derivado), que tem como escopo a
revisão de benefício originário recebido
pelo segurado em vida, TEM INÍCIO A
PARTIR DA CONCESSÃO DO
BENEFÍCIO ORIGINÁRIO, e não da
concessão da pensão por morte
(benefício derivado).
O prazo decadencial do direito de
revisão da pensão por morte (benefício
derivado), que tem como escopo a
revisão de benefício originário recebido
pelo segurado em vida, TEM INÍCIO A
PARTIR DA CONCESSÃO DA
PENSÃO POR MORTE (benefício
derivado), momento em que nasce a
legitimidade para pleitear a revisão
pretendida, e não a partir da concessão
do benefício originário.
4 3
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7.2.6. Trechos relevantes dos votos divergentes
publicados.
Ministro(a) Posição
Min. MAURO CAMPBELL MARQUES
“Ademais, deve ser levado em
consideração, que a parte interessada
só detém legitimidade para pleitear a
revisão do benefício originário, após o
óbito do instituidor. Logo, em razão da
observância ao Principio da Actio Nata,
o curso do prazo decadencial só tem
início com a concessão da pensão por
morte, momento em que nasce a
legitimidade para o pleito da revisão
pretendida. Somente com a concessão
da pensão, recebida em nome próprio,
o dependente passa a deter
legitimidade para questionar o ato de
concessão da aposentadoria que era
recebida pelo segurado falecido, ainda
que para fins de reflexos monetários
em sua pensão. (...) Cumpre esclarecer
que a revisão do benefício originário
gera efeitos financeiros apenas em
relação ao benefício derivado, de sorte
que, o beneficiário só terá direito de
receber as diferenças advindas da
revisão da pensão por morte.”
7.3. Questões objetivas.
Q1º. Estratégia Carreiras Jurídicas. O termo a quo do prazo decadencial para a
revisão da pensão por morte (benefício derivado), mediante revisão da renda
mensal inicial (RMI) da aposentadoria que a originou (benefício originário),
corresponde à data da concessão do benefício originário.
Q2º. Estratégia Carreiras Jurídicas. O termo a quo do prazo decadencial para a
revisão da pensão por morte (benefício derivado), mediante revisão da renda
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mensal inicial (RMI) da aposentadoria que a originou (benefício originário),
corresponde à data da concessão do benefício derivado.
7.4. Gabarito.
Q1º. VERDADEIRA.
Q2º. FALSA.
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8. Inexistência de aceitação tácita da decisão por oposição de
embargos do devedor.
RECURSO ESPECIAL (REsp)
Não configura ato incompatível com a vontade de recorrer a oposição de embargos
do devedor pela parte que recorreu contra decisão que incluiu seu nome no polo
passivo da execução (STJ, REsp 1655655/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 25/06/2019, DJe
01/07/2019)
Resultado: Recurso especial provido.
Tribunal de Origem: TJSP.
8.1. Situação fática.
No curso de execução proposta pelo BANCO SAFRA S/A
contra WT COMÉRCIO DE ALIMENTOS LTDA, foi requerida a
inclusão de MIGUEL no polo passivo.
Instância Desfecho
1º Grau Deferiu a inclusão de MIGUEL no polo passivo.
Em agravo de instrumento, MIGUEL sustentou sua
ilegitimidade passiva, pugnado, liminarmente, pela suspensão da decisão de 1º Grau, o que foi deferido. Contudo, antes do julgamento
do mérito do recurso, MIGUEL opostos embargos à execução no 1º
Grau.
Instância Desfecho
2º Grau
Julgou prejudicado o agravo de instrumento por prática de ato
incompatível com a vontade de recorrer (art. 1.000, parágrafo
único, NCPC), qual seja: oposição de embargos à execução no 1º
Grau.
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“Art. 1.000, parágrafo único, NCPC. Considera-se aceitação tácita a
prática, sem nenhuma reserva, de ato incompatível com a vontade de
recorrer.”
Em recurso especial, MIGUEL pugnou pela reforma do Acórdão,
com o retorno dos autos ao tribunal para apreciação do seu mérito:
Instância Desfecho
Superior
Tribunal
de Justiça
Deu provimento ao recurso especial.
8.2. Análise Estratégica.
8.2.1. Questão em debate.
Cinge-se a controvérsia a definir se a oposição de embargos do
devedor (embargos à execução) por aqueles que recorreram contra a
decisão que incluiu seus nomes no polo passivo da execução
representa prática de ato incompatível com a vontade de recorrer.
8.2.2. O que se entende por aceitação tática?
R: E aí, como interpretar o parágrafo único do art. 1.000 do NCPC?
“Art. 1.000, parágrafo único, NCPC. Considera-se aceitação tácita a
prática, sem nenhuma reserva, de ato incompatível com a vontade de
recorrer.”
Segundo a doutrina, a aquiescência tácita há de se inferir de
fatos inequívocos, absolutamente inconciliáveis com a impugnação da
decisão:
“É tradicional a regra de que a aquiescência tácita se há de inferir de fato
inequívocos (facta concludentia), inconciliáveis com a impugnação da
decisão. O exemplo clássico, encontradiço em leis antigas, é o do condenado
a pagar que pede prazo para cumprir a condenação. Acrescenta-se em
doutrina, entre outros, o do cumprimento espontâneo de sentença ainda
insuscetível de execução forçada.” (Barbosa Moreira)
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8.2.3. A oposição de embargos do devedor
representa aceitação tácita da decisão agravada que
incluiu o embargante no polo passivo da execução?
R: Não! “Tá, mas não configura preclusão lógica?” Também não!
“[Trecho do corpo do acórdão:] Assim, não configura preclusão lógica a
prática de ato próprio do impulso oficial, como é a apresentação de defesa
em processo em curso, por exemplo.” (STJ, REsp 1655655/SP, Rel. Min.
Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Turma, por unanimidade, julgado
em 25/06/2019, DJe 01/07/2019)
Entendimento novo então? Negativo: STJ, REsp 1.000.314/GO, Rel.
Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA TURMA, julgado em 05/03/2009, DJe 30/03/2009;
STJ, REsp 174.080/BA, Rel. Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, QUARTA
TURMA, julgado em 26/10/1999, DJ 13/12/1999.
Aliás, a Min. NANCY ANDRIGHI fez questão de lembrar que,
havendo dúvida sobre a existência (ou não) da aceitação tácita,
deve-se prosseguir no julgamento do recurso:
“[Trecho do corpo do acórdão:] Acrescenta-se que, na linha da
jurisprudência desta Corte, havendo dúvida acerca da anuência da
recorrente à decisão agravada - que deve ser inequívoca -, a solução que
melhor se amolda à instrumentalidade inerente ao processo civil deve ser no
sentido do prosseguimento do julgamento do recurso.” (STJ, REsp
1655655/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Turma,
por unanimidade, julgado em 25/06/2019, DJe 01/07/2019)
E, para fechar, a Min. NANCY ANDRIGHI baixou esse “zap”
aqui:
“[Trecho do corpo do acórdão:] Não é outra a orientação doutrinária,
como se colhe da lição clássica de Chiovenda, segundo a qual, ‘(...) na
dúvida, deve-se em qualquer hipótese considerar excluída a aquiescência
tácita’, de modo que ‘dos fatos equívocos, ou seja, que se pode entender de
vários modos, não há deduzir uma renúncia (...)’. (CHIOVENDA, Giuseppe.
Instituições de direito processual civil. 4. ed. Campinas: Bookseller, 1998. v.
3, pág. 251)” (STJ, REsp 1655655/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas
Cueva, Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 25/06/2019,
DJe 01/07/2019)
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8.3. Questões objetivas.
Q1º. Estratégia Carreiras Jurídicas. Configura ato incompatível com a vontade
de recorrer a oposição de embargos do devedor pela parte que recorreu contra
decisão que incluiu seu nome no polo passivo da execução.
Q2º. Estratégia Carreiras Jurídicas. Na dúvida entre a existência ou não de ato
incompatível com a vontade de recorrer deve ser julgado o recurso.
8.4. Gabarito.
Q1º. FALSA.
Q2º. VERDADEIRA.
8.5. Bibliografia.
MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil: arts.
476 a 565. Rio de Janeiro: Forense, 2006..
9. Forma de contagem dos 15 dias para pagamento (art. 523
do NCPC).
RECURSO ESPECIAL (REsp)
O prazo previsto no art. 523, caput, do Código de Processo Civil, para o
cumprimento voluntário da obrigação, possui natureza processual, devendo ser
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contado em dias úteis (STJ, REsp 1708348/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio
Bellizze, Terceira Turma, por unanimidade, julgado em 25/06/2019, DJe
01/08/2019)
Resultado: Recurso especial provido.
Tribunal de Origem: TJRJ.
9.1. Situação fática.
Em petição, JULIANA requereu o início da fase de
cumprimento de sentença contra FÁBIO.
Instância Desfecho
1º Grau
Determinou, com base no art. 523 do NCPC, a intimação do
executado para pagamento do débito em 15 (quinze) dias
CORRIDOS.
“Art. 523, caput, NCPC. No caso de condenação em quantia certa, ou já
fixada em liquidação, e no caso de decisão sobre parcela incontroversa, o
cumprimento definitivo da sentença far-se-á a requerimento do exequente,
sendo o executado intimado para pagar o débito, no prazo de 15 (quinze)
dias, acrescido de custas, se houver.”
Inconformado a contagem de dias de forma corrida, FÁBIO
agravou, pleiteando a aplicação do art. 219 do NCPC:
“Art. 219 NCPC. Na contagem de prazo em dias, estabelecido por lei ou
pelo juiz, computar-se-ão somente os dias úteis.
Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se somente aos prazos
processuais.”
Instância Desfecho
2º Grau Negou provimento ao recurso.
Mais inconformado ainda em recurso especial, FÁBIO pugnou
pela reforma do Acórdão.
Instância Desfecho
Superior
Tribunal
de Justiça
Deu provimento ao recurso.
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9.2. Análise Estratégica.
9.2.1. Questão em debate.
A controvérsia debatida consiste em saber se o prazo para o
cumprimento voluntário da obrigação, previsto no art. 523, caput, do NCPC, possui natureza processual ou material, a fim de estabelecer
se a sua contagem se dará, respectivamente, em dias úteis ou corridos, nos termos do que dispõe o art. 219, caput e parágrafo
único, do NCPC.
9.2.2. Tabela: processual ou material.
O STJ decidiu que se trata de prazo processual, de modo que
deve ser contado em dias úteis, observando-se o art. 219, caput, do
NCPC.
Agora, vamos montar uma tabela para entender a conclusão do
STJ:
O prazo de 15 dias para pagamento voluntário do art. 523, caput, do
NCPC, é material ou processual?
PRAZO É PROCESSUAL PRAZO É MATERIAL
Em regra, a intimação para pagamento ocorre na
pessoa do advogado, e não da parte (art. 513, §
2º, NCPC)
O prazo tem como
destinatário a parte, que é
quem deve praticar o ato
para cumprimento da
sentença (pagamento), e
não seu advogado.
“[Trecho do corpo do acórdão:] Assim,
considerando que a intimação para o cumprimento
de sentença se dá na pessoa do advogado
constituído, e não da parte devedora, tal fato
acarretará, inevitavelmente, um ônus ao causídico,
que deverá comunicar ao seu cliente não só o
resultado desfavorável da demanda, como também
A contagem de prazos em
dias úteis, ínsita aos prazos
processuais, tem como
fundamento garantir certa
tranquilidade à organização
de trabalho dos advogados.
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as próprias consequências jurídicas da ausência de
cumprimento voluntário da sentença, tais como a
imposição de multa e fixação de honorários
advocatícios, dentre outras.” (STJ, REsp
1708348/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
Terceira Turma, por unanimidade, julgado em
25/06/2019, DJe 01/08/2019)
O descumprimento do pagamento voluntário gera
consequências processuais, e não apenas para
parte.
A prática do ato
(pagamento) não exige
nenhuma atividade técnica
ou postulatória, o que
demandaria participação do
advogado.
O prazo está previsto na legislação processual civil.
“[Trecho do corpo do acórdão:] Com efeito, não
se pode ignorar que a intimação para o
cumprimento de sentença tem como finalidade a
prática de um ato processual, pois, além da norma
correlata estar prevista na própria legislação
processual - CPC/2015 -, também trará
consequências para o processo, pois, caso não seja
adimplido o débito no prazo legal, haverá a
incidência de multa, fixação de honorários
advocatícios, possibilidade de penhora de bens e
valores, início do prazo para impugnação ao
cumprimento de sentença, dentre outras. E, sendo
um ato nitidamente processual, o respectivo prazo,
por decorrência lógica, terá a mesma natureza
jurídica, o que faz incidir a norma do art. 219 do
CPC/2015, que determina a contagem em dias
úteis.” (STJ, REsp 1708348/RJ, Rel. Min. Marco
Aurélio Bellizze, Terceira Turma, por
unanimidade, julgado em 25/06/2019, DJe
01/08/2019)
Não havendo pagamento, o prazo respectivo
(apresentação de impugnação ao cumprimento de
sentença) é, evidentemente, processual: “[Trecho
do corpo do acórdão:] Em resumo, após a
intimação do devedor para o cumprimento de
sentença, nos termos do art. 523 do CPC/2015,
abrem-se dois prazos sucessivos: i) 15 (quinze)
dias para pagamento voluntário do débito; e, na
sequência, ii) mais 15 (quinze) dias para a
apresentação de impugnação ao cumprimento de
sentença, independentemente de nova intimação ou
penhora.” (STJ, REsp 1708348/RJ, Rel. Min.
Marco Aurélio Bellizze, Terceira Turma, por
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unanimidade, julgado em 25/06/2019, DJe
01/08/2019)
No mesmo sentido: NELSON NERY JÚNIOR, ROSA
MARIA DE ANDRADE NERY, JOSÉ MIGUEL GARCIA
MEDINA, HUMBERTO THEODORO JÚNIOR e
JURISTAS DA II JORNADA DE DIREITO
PROCESSUAL CIVIL (Enunciado nº 89)
9.3. Questões objetivas.
Q1º. Estratégia Carreiras Jurídicas. O prazo previsto no art. 523, caput, do
Código de Processo Civil, para o cumprimento voluntário da obrigação, possui
natureza processual, devendo ser contado em dias corridos.
9.4. Gabarito.
Q1º. FALSA.
10. Multa cominatória para compelir provedor de acesso a
internet.
RECURSO ESPECIAL (REsp)
É cabível multa cominatória (astreintes/multa coercitiva) para compelir provedor de
acesso a internet ao fornecimento de dados para identificação de usuário (STJ,
REsp 1560976/RJ, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, por
unanimidade, julgado em 30/05/2019, DJe 01/07/2019)
Resultado: Recurso especial desprovido.
Tribunal de Origem: TJRJ.
10.1. Situação fática.
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PETROBRÁS S/A ajuizou ação cautelar inominada em face de
TELEMAR NORTE LESTE S/A, provedora de acesso à internet, postulando a apresentação de dados para a identificação do
responsável pelo blog www.*******.blogspot.com, o qual, escondido no anonimato, proferiu diversas ofensas não apenas à imagem da
empresa, como de seus colaboradores da alta administração.
Instância Desfecho
1º Grau Julgou procedente a demanda, determinando a apresentação dos
dados, sob pena de multa diária.
Em recurso de apelação, TELEMAR NORTE LESTE S/A alegou
violação à Súmula nº 372/STJ:
“Na ação de exibição de documentos, não cabe a aplicação de multa
cominatória.” (Súmula nº 372/STJ)
Instância Desfecho
2º Grau Negou provimento ao recurso.
Em recurso especial, TELEMAR NORTE LESTE S/A pugnou
pela reforma do Acórdão.
Instância Desfecho
Superior
Tribunal
de Justiça
Negou provimento ao recurso.
10.2. Análise Estratégica.
10.2.1. Questão em debate.
A controvérsia principal está em definir se é possível a imposição de multa cominatória, no âmbito de ação cautelar, quando
se pretende o fornecimento de dados para identificação de usuário de
provedor de acesso à internet.
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10.2.2. O provedor de acesso à internet é obrigado a
fornecer, com base no endereço IP fornecido pelo requerente, os dados cadastrais de usuário autor de
ato ilícito?
R: Sim, como já decidiu o STJ, inclusive em demanda ajuizada antes
da Lei nº 12.965/14 (Marco Civil da Internet).
“(...) 1. Controvérsia acerca da obrigação de empresa de acesso à internet
fornecer, a partir do endereço de IP (‘Internet Protocol’), os dados cadastrais
de usuário autor de ato ilícito, em data anterior à Lei nº 12.965/2014 (Marco
Civil da Internet). 2. Reconhecimento pela jurisprudência de um dever
jurídico dos provedores de acesso de armazenar dados cadastrais de seus
usuários durante o prazo de prescrição de eventual ação de reparação civil.
Julgados desta Corte Superior. 3. Descabimento da alegação de
impossibilidade fática ou jurídica do fornecimento de dados cadastrais a
partir da identificação do IP. Julgados desta Corte Superior. (...).” (STJ,
REsp 1622483/SP, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO,
TERCEIRA TURMA, julgado em 15/05/2018, DJe 18/05/2018)
A Lei nº 12.965/14, por sua vez, já prevê, expressamente, tal
obrigação (arts. 10 e 13):
“Art. 10 da Lei nº 12.965/14. A guarda e a disponibilização dos registros
de conexão e de acesso a aplicações de internet de que trata esta Lei, bem
como de dados pessoais e do conteúdo de comunicações privadas, devem
atender à preservação da intimidade, da vida privada, da honra e da
imagem das partes direta ou indiretamente envolvidas.
§ 1º O provedor responsável pela guarda somente será obrigado a
disponibilizar os registros mencionados no caput, de forma autônoma ou
associados a dados pessoais ou a outras informações que possam contribuir
para a identificação do usuário ou do terminal, mediante ordem judicial, na
forma do disposto na Seção IV deste Capítulo, respeitado o disposto no art.
7º.
§ 2º O conteúdo das comunicações privadas somente poderá ser
disponibilizado mediante ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei
estabelecer, respeitado o disposto nos incisos II e III do art. 7º. (...).”
“Art. 13, caput, da Lei nº 12.965/14. Na provisão de conexão à internet,
cabe ao administrador de sistema autônomo respectivo o dever de manter
os registros de conexão, sob sigilo, em ambiente controlado e de segurança,
pelo prazo de 1 (um) ano, nos termos do regulamento.”
10.2.3. O que são astreintes?
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R: As astreintes, também chamadas de multa cominatória, multa
coercitiva ou multa periódica, são uma medida atípica de apoio à decisão judicial, de caráter meramente persuasório e instrumental,
não caracterizando um fim em si mesmo:
“[Trecho do corpo do acórdão:] Para tal desiderato, destaca-se, na praxe
forense, a utilização da multa cominatória (também chamada de astreintes,
multa coercitiva ou multa diária), isto é, uma penalidade pecuniária que
caracteriza medida executiva de coerção indireta, pois seu único escopo é
compelir o devedor a realizar a obrigação de fazer ou a não realizar
determinado comportamento. Cuida-se de uma medida atípica de apoio à
decisão judicial, de caráter meramente persuasório e instrumental, não
caracterizando um fim em si mesmo. A multa cominatória apresenta,
portanto, feição meramente coercitiva/indutiva.” (STJ, REsp 1560976/RJ,
Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, por unanimidade,
julgado em 30/05/2019, DJe 01/07/2019)
No mesmo sentido:
“Na vigência do CPC de 1973, havia pacífico entendimento jurisprudencial
pela inaplicabilidade da multa para a coerção do dever de exibição de
documentos, entendimento esse consubstanciado na súmula 372 do STJ. Tal
súmula resta superada com o CPC de 2015, que prevê em seu art. 400,
parágrafo único, que poderá o juiz adotar medidas indutivas, coercitivas,
mandamentais ou sub-rogatória para a exibição do documento, incluindo-se
aí, portanto, a multa periódica. É claro que, podendo valer-se da presunção
de veracidade dos fatos decorrente da não apresentação do documento (art.
400, caput), deverá o juiz sempre por ela optar, deixando assim de aplicar a
multa, que somente se presta àquelas situações em que a coerção se mostre
estritamente necessária (como pode ocorrer, por exemplo, quando não se
tiver a exata dimensão dos fatos que se pretendem provar com o
documento).” (Guilherme Rizzo Amaral)
10.2.4. A Súmula nº 372/STJ impede a fixação de
astreintes contra provedor de acesso à internet?
“Na ação de exibição de documentos, não cabe a aplicação de multa
cominatória.” (Súmula nº 372/STJ)
R: O Min. LUIS FELIPE SALOMÃO adotou três linhas de raciocínio
para afastar o enunciado:
(a) a obrigação de prestar informações para identificação de ofensor usuário da internet não se confunde com o pedido da ação
cautelar de exibição de documento;
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(b) as sanções processuais da cautelar de exibição de
documento (busca e apreensão e presunção de veracidade) não tem nenhuma eficácia diante da obrigação de prestar informações para
identificação de ofensor usuário da internet;
(c) a súmula, aparentemente, está superada pelo poder geral
de efetivação das decisões judiciais, previsto nos arts. 139, inciso IV,
e 400, parágrafo único, do NCPC:
“[Trecho do corpo do acórdão:] A título meramente informativo – pois a
presente controvérsia se estabeleceu durante a vigência do CPC de 1973 –,
revela-se importante destacar que o verbete sumular parece ter sido
superado pelo poder geral de efetivação das decisões judiciais
conferido ao juiz pelos artigos 139, inciso IV, e 400, parágrafo único, do CPC
de 2015. (...) [A] obrigação, certificada mediante decisão judicial, de prestar
informações para identificação de ofensor usuário da internet, não se
confunde com a pretensão cautelar de exibição de documento (...). (...)
Além do mais, as sanções processuais aplicáveis à recusa de exibição de
documento – presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor e busca
e apreensão (artigos 359 e 362 do CPC de 1973 [arts. 400 e 403 NCPC]) –,
revelam-se evidentemente inócuas em casos que tais. (...) Tais
peculiaridades, extraídas do caso concreto, constituem, a meu ver,
distinguishing apto a afastar a incidência do entendimento plasmado na
Súmula 372/STJ (‘na ação de exibição de documentos, não cabe a aplicação
de multa cominatória’) e reafirmado no Recurso Especial repetitivo
1.333.988/SP (‘descabimento de multa cominatória na exibição, incidental
ou autônoma, de documento relativo a direito disponível’). (...) No tocante à
Súmula 372/STJ – e ao repetitivo –, a ratio decidendi de ambos reside no
cabimento da busca e apreensão e da presunção de veracidade como meios
suficientes para garantir a efetivação da decisão judicial de exibição de
documento, motivo pelo qual considerada excessiva a utilização da multa
cominatória. O presente caso, entretanto, consoante ressaltado alhures, não
diz respeito à exibição de documento, revelando-se, ademais, inócuas as
sanções processuais referidas nos precedentes que serviram de base à
Súmula 372/STJ.” (STJ, REsp 1560976/RJ, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, Quarta Turma, por unanimidade, julgado em 30/05/2019,
DJe 01/07/2019)
10.3. Questões objetivas.
Q1º. Estratégia Carreiras Jurídicas. É cabível multa cominatória
(astreintes/multa coercitiva) para compelir provedor de acesso a internet ao
fornecimento de dados para identificação de usuário.
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10.4. Gabarito.
Q1º. VERDADEIRA.
10.5. Bibliografia.
AMARAL, Guilherme Rizzo. Comentários às alterações do novo CPC. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2015.
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11. É possível a deflagração de investigação criminal com
base em matéria jornalística.
RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS (RHC)
É possível a deflagração de investigação criminal com base em matéria jornalística
(STJ, RHC 98.056-CE, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, Sexta Turma,
por unanimidade, julgado em 04/06/2019, DJe 21/06/2019)
Resultado: Recurso ordinário desprovido.
Tribunal de Origem: TRF 5ª Região.
11.1. Situação fática.
A partir do vazamento ilegal de informações sigilosas, determinado periódico fez larga investigação a respeito da conduta de
ZACK, tendo publicado matéria sobre o fato.
Ciente da matéria jornalística, a AUTORIDADE POLICIAL
instaurou inquérito policial.
Sem alento nem no 1º nem no 2º Grau, a defesa recorreu ao
STJ.
11.2. Análise Estratégica.
11.2.1. Questão em debate.
Possibilidade ou não de deflagração de investigação criminal
com base em matéria jornalística.
11.2.2. A Autoridade Policial pode iniciar investigação
criminal a partir de matéria jornalística?
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R: Desde que exista justa causa, ou seja:
“(...) suporte probatório mínimo [que] se relaciona com os indícios da
autoria, existência material de uma conduta típica e alguma prova de que
sua antijuridicidade e culpabilidade. (...).” (Afrânio Silva Jardim)
A Autoridade Policial pode, sim, iniciar investigação criminal a partir de matéria jornalística, pois o conteúdo apresentado em veículo
midiático (matéria) representa notia criminis de cognição
imediata (ou espontânea):
“[Trecho do corpo do acórdão:] Consigne-se, inicialmente, que é possível
que a investigação criminal seja perscrutada pautando-se pelas atividades
diuturnas da autoridade policial, verbi gratia, o conhecimento da prática de
determinada conduta delitiva a partir de veículo midiático, no caso, a
imprensa, como de fato ocorreu na hipótese vertente. É o que se
convencionou a denominar, em doutrina, de notitia criminis de
cognição imediata (ou espontânea) (...) terminologia obtida a partir da
exegese do art. 5º, inciso I, do CPP, do qual se extrai que ‘nos crimes de
ação pública o inquérito policial será iniciado de ofício’.” (STJ, RHC 98.056-
CE, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, Sexta Turma, por
unanimidade, julgado em 04/06/2019, DJe 21/06/2019)
Vejamos o dispositivo para fechar:
“Art. 5º CPP. Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado:
I - de ofício;”
11.3. Questões objetivas.
Q1º. Estratégia Carreiras Jurídicas. É possível a deflagração de investigação
criminal com base em matéria jornalística.
11.4. Gabarito.
Q1º. VERDADEIRA.
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12. Crédito presumido de IPI e base de cálculo do IRPJ e
CSLL.
EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA (EREsp)
O crédito presumido de IPI previsto no art. 1º da Lei n. 9.363/96 integra a base de
cálculo do IRPJ e da CSLL (STJ, EREsp 1210941/RS, Rel. Min. Og Fernandes,
Primeira Seção, por maioria, julgado em 22/05/2019, DJe 01/08/2019)
Resultado: Embargos de divergência providos.
12.1. Situação fática.
Tratando-se de embargos de divergência2, vejamos a
divergência existente entre a PRIMEIRA e SEGUNDA Turmas do STJ:
PRIMEIRA TURMA SEGUNDA TURMA
O crédito presumido de IPI previsto no
art. 1º da Lei n. 9.363/96 NÃO integra
a base de cálculo do IRPJ e da CSLL
O crédito presumido de IPI previsto no
art. 1º da Lei n. 9.363/96 INTEGRA a
base de cálculo do IRPJ e da CSLL
I. O incentivo fiscal do crédito
presumido de IPI promove ganhos às
empresas que operam no setor
beneficiado na exata medida em que
A. Todo benefício fiscal, relativo a
qualquer tributo, ao diminuir a carga
tributária, acaba, indiretamente,
majorando o lucro da empresa e,
2 “Art. 1.043 NCPC. É embargável o acórdão de órgão fracionário que: I - em
recurso extraordinário ou em recurso especial, divergir do julgamento de qualquer
outro órgão do mesmo tribunal, sendo os acórdãos, embargado e paradigma, de
mérito; II – Revogado; III - em recurso extraordinário ou em recurso especial,
divergir do julgamento de qualquer outro órgão do mesmo tribunal, sendo um
acórdão de mérito e outro que não tenha conhecido do recurso, embora tenha
apreciado a controvérsia; IV – Revogado. (...).”
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reduz o volume da obrigação tributária.
II. Dessa forma, a inclusão de valores
relativos a créditos fictos (presumidos)
de IPI na base de cálculo do IRPJ e da
CSLL teria o condão de esvaziar a
utilidade do instituto, anulando o
objetivo da política fiscal desoneradora,
que é aliviar a carga tributária.
consequentemente, impacta na base de
cálculo do IR.
B. Qualquer diminuição de custos e
despesas implica aumento do lucro.
C. O IR incide sobre o lucro da
empresa, que é, direta ou
indiretamente, influenciado por todas
as receitas, créditos (inclusive o
presumido), benefícios, despesas etc.
D. Aliás, tanto é lucro que os valores
do crédito presumido de IPI podem, em
certas situações, serem compensados
com outros débitos e até ressarcidos
em moeda.
STJ, REsp 1210941/RS, Rel. Ministro
BENEDITO GONÇALVES, Rel. p/
Acórdão Ministro NAPOLEÃO NUNES
MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA,
julgado em 04/09/2014, DJe
14/11/2014
STJ, REsp 1310993/RS, Rel. Ministra
ELIANA CALMON, SEGUNDA TURMA,
julgado em 20/08/2013, REPDJe
17/09/2013, DJe 11/09/2013
TESE PERDEDORA TESE VENCEDORA
12.2. Análise Estratégica.
12.2.1. Questão em debate.
A divergência traçada envolve questão relacionada à inclusão do crédito presumido de IPI instituído pela Lei nº 9.363/96 na base
de cálculo do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) e da
Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).
12.2.2. Que crédito presumido é esse?
R: Esse benefício está previsto no art. 1º da Lei nº 9.636/96:
“Art. 1º da Lei nº 9.363/96. A empresa PRODUTORA E EXPORTADORA
de MERCADORIAS NACIONAIS fará jus a crédito presumido do Imposto
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sobre Produtos Industrializados [IPI], como ressarcimento das contribuições
de que tratam as Leis Complementares nos 7, de 7 de setembro de 1970, 8,
de 3 de dezembro de 1970, e 70, de 30 de dezembro de 1991, incidentes
sobre as respectivas aquisições, no mercado interno, de matérias-primas,
produtos intermediários e material de embalagem, para utilização no
processo produtivo.
Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se, inclusive, nos casos de
VENDA À EMPRESA COMERCIAL EXPORTADORA com o fim específico de
exportação para o exterior.”
Qual seu fundamento? De acordo com a Min. REGINA HELENA
COSTA e com o Min. MAURO CAMPBELL MARQUES:
“[Trecho do corpo do acórdão:] Trata-se de alívio fiscal, indutor do
desenvolvimento econômico, cujas leis de regência elegeram as empresas
produtoras e exportadoras de mercadorias nacionais para beneficiarem-se
do ressarcimento de créditos presumidos de IPI e, desse modo, propiciar o
incremento do volume de exportações, atenuando o indesejado fenômeno da
‘exportação de tributos’.” (STJ, EREsp 1210941/RS, Voto-Vencido, Rel.
Min. Regina Helena Costa, Primeira Seção, por maioria, julgado em
22/05/2019, DJe 01/08/2019)
“[Trecho do corpo do acórdão:] O crédito presumido do Imposto sobre
Produtos Industrializados - IPI, criado pelo art. 1º da Lei 9.363/96, o foi com
o intuito de desonerar as empresas produtoras/exportadoras do custo por
elas incorrido com a repercussão econômica do pagamento pelos seus
fornecedores (etapa anterior na cadeia) das contribuições de que tratam as
Leis Complementares n. 7/70 (PIS) e n. 70/91 (COFINS), incidentes sobre
as aquisições, no mercado interno, de matérias-primas, produtos
intermediários e material de embalagem (insumos em geral), para utilização
no processo produtivo dos bens a serem por elas exportados.
(...) A finalidade do incentivo fiscal em análise era reduzir, dos produtos
exportados, o chamado ‘Custo Brasil’, permitindo que as mercadorias
brasileiras que se sujeitam ou se sujeitavam à sistemática cumulativa de
recolhimento do PIS e da COFINS, gozassem de maior competitividade no
mercado internacional, adotando-se a máxima existente no comércio
internacional de que ‘não se exportam tributos’ junto com os produtos e
serviços vendidos ao exterior.” (STJ, EREsp 1210941/RS, Voto-Vencido,
Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Primeira Seção, por maioria,
julgado em 22/05/2019, DJe 01/08/2019)
12.2.3. E aí, o crédito presumido de IPI previsto no
art. 1º da Lei n. 9.363/96 integra a base de cálculo
do IRPJ e da CSLL?
R: Sim! Foi a tese que prevaleceu para o desespero das empresas... “Zoou o bagulho!” É, infelizmente, a maioria (esmagadora) dos
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ministros (7x2) entendeu que o crédito presumido, em última análise,
gera, sim, lucro e, portanto, deve ser incluído na base de cálculo o
IRPJ e CSLL.
Ademais, dando um nocaute na tese contrária, a Min.
ASSUSETE MAGALHÃES, em Voto-Vista, mandou essa aqui:
“[Trecho do corpo do acórdão:] Não obstante os ponderáveis
fundamentos em sentido diverso, o crédito presumido de IPI representa,
para a sociedade empresária, em sua contabilidade, em regra, um acréscimo
de natureza patrimonial, a ensejar a tributação em debate. Bem demonstra
essa compreensão a circunstância de que tais valores podem ser objeto de
compensação com outros débitos, e, inclusive, de pedido de ressarcimento,
se for o caso, na forma da disposição literal do art. 4º, caput, da Lei
9.363/96: (...).” (STJ, EREsp 1210941/RS, Voto-Vista, Rel. Min.
Assusete Magalhães, Primeira Seção, por maioria, julgado em
22/05/2019, DJe 01/08/2019)
Calma, pois o Relator fez questão de lembrar de uma exceção, ou seja, situação em que o crédito presumido de IPI não vai incidir
sobre a base de cálculo do IRPJ:
“[Trecho do corpo do acórdão:] Registre-se, no entanto, que o crédito
presumido pode ser excluído da base de cálculo do IRPJ apurado pelo regime
do lucro presumido quando o contribuinte comprovar que se refira a período
no qual tenha se submetido ao regime de tributação pelo lucro presumido ou
arbitrado ou, caso sujeito ao regime do lucro real, não tenha sido feita a
dedução (arts. 53 da Lei n. 9.430/1996 e 521, § 3º, do RIR/1999).” (STJ,
EREsp 1210941/RS, Rel. Min. Og Fernandes, Primeira Seção, por
maioria, julgado em 22/05/2019, DJe 01/08/2019)
No mesmo sentido: STJ, REsp 1611110/RS, Rel. Ministro
MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em
04/08/2016, DJe 12/08/2016.
12.2.4. Por que não foi aplicado o mesmo entendimento que prevaleceu no caso do crédito
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presumido do IPI e a base de cálculo do PIS e
COFINS?
R: Na mencionada situação, prevaleceu que:
“(...) O crédito presumido do IPI tem natureza jurídica de benefício fiscal,
não se constituindo receita, seja do ponto de vista econômico-financeiro,
seja do ponto de vista contábil, devendo ser contabilizado como
‘Recuperação de Custos’. Portanto, não pode integrar a base de cálculo do
PIS e da COFINS. (...).” (STJ, REsp 807.130/SC, Rel. Ministra ELIANA
CALMON, SEGUNDA TURMA, julgado em 17/06/2008, DJe
21/10/2008)
“Orra! Por que não aplicaram esse entendimento no caso da base de cálculo do IRPJ e do CSLL?” De acordo com a maioria (7x2),
seguindo precedente da Min. ELIANA CALMON (Aposentada), o PIS e o COFINS têm como base de cálculo o faturamento, que não é a
mesma coisa que a receita (base de cálculo do IRPJ) nem que lucro
(base de cálculo do CSLL):
“[Trecho do corpo do acórdão:] a) a base de cálculo do PIS e da COFINS
é o faturamento, que equivale à receita bruta, resultado da venda de bens e
serviços pela empresa; b) a Lei 9.718/98, ao ampliar a base de cálculo do
PIS e da COFINS e criar novo conceito para o termo "faturamento", para fins
de incidência da COFINS, com o objetivo de abranger todas as receitas
auferidas pela pessoa jurídica, invadiu a esfera da definição do direito
privado;” (STJ, EREsp 1210941/RS, Rel. Min. Og Fernandes, Primeira
Seção, por maioria, julgado em 22/05/2019, DJe 01/08/2019)
No mesmo sentido:
12.2.5. Placar final.
OG FERNANDES, BENEDITO
GONÇALVES, ASSUSETE
MAGALHÃES, SÉRGIO KUKINA,
GURGEL DE FARIA, FRANCISCO
FALCÃO e NAPOLEÃO NUNES MAIA
FILHO
MAURO CAMPBELL MARQUES e
REGINA HELENA COSTA
O crédito presumido de IPI previsto no
art. 1º da Lei n. 9.363/96 NÃO integra
O crédito presumido de IPI previsto no
art. 1º da Lei n. 9.363/96 INTEGRA a
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a base de cálculo do IRPJ e da CSLL base de cálculo do IRPJ e da CSLL
7 2
12.2.6. Trechos relevantes dos votos divergentes
publicados.
Ministro(a) Posição
REGINA HELENA COSTA
“[Trecho do corpo do acórdão:] Com
a devida vênia, ao considerar tal
crédito como lucro, o entendimento
manifestado pelo acórdão paradigma,
da 2ª Turma, sufraga, em última
análise, a possibilidade de a União
retirar, por via oblíqua, o incentivo
fiscal à exportação que, em obediência
à Constituição, concedeu. Com efeito,
tal entendimento leva ao esvaziamento
ou redução do incentivo fiscal
legitimamente outorgado, em especial
porque orientado nitidamente por atos
infralegais, consubstanciados na
Solução de Consulta da
Superintendência Regional da Receita
Federal da 9ª Região Fiscal -
SRRF/9ª/DISIT n. 240/2003, e no
Acórdão DRJ/POA n. 3.196/2003,
consoante declinado pela própria
autoridade coatora nas informações
prestadas (fls. 5.110/5.119e). (...) De
fato, seria rematado contrassenso
admitir-se que a União proceda à
desoneração com incentivo fiscal à
exportação e, por via transversa,
pretenda recuperar, total ou
parcialmente, tais valores mediante
alargamento da base de cálculo de
tributos exigíveis do mesmo universo
de contribuintes que visou desobrigar,
em clara ofensa à confiança legítima
nos atos estatais e ao consequente
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impedimento da prática de atos
estatais contraditórios, expressões do
sobreprincípio da segurança jurídica.”
MAURO CAMPBELL MARQUES
“Desse modo, a simples consideração
de que o benefício fiscal pode ensejar a
majoração do lucro, por si só, não
implica conclusão no sentido de que o
valor correspondente deva ser
tributado pelo imposto de renda. É
necessário observar a forma que o
benefício foi delineado na lei de
regência.
(...) Além disso, considerando a
finalidade que justificou a sua
instituição, o crédito presumido de IPI
não é um benefício destinado a
aumentar os ganhos (lucro ou renda)
do exportador, e sim desonerar o
produto exportado, fomentando a
expansão das vendas externas e
objetivando alcançar os benefícios dela
decorrentes (crescimento do emprego,
da renda e da capacidade de importar
do país).”
12.3. Questões objetivas.
Q1º. Estratégia Carreiras Jurídicas. O crédito presumido de IPI previsto no art.
1º da Lei n. 9.363/96 não integra a base de cálculo do IRPJ e da CSLL.
12.4. Gabarito.
Q1º. FALSA.
13. Suspensão da exigibilidade do crédito NÃO tributário com
fiança bancária e seguro garantia judicial.
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RECURSO ESPECIAL (REsp)
É cabível a suspensão da exigibilidade do crédito NÃO tributário a partir da
apresentação da fiança bancária ou do seguro garantia judicial, desde que em valor
não inferior ao do débito constante da inicial, acrescido de 30% (trinta por cento)
(STJ, REsp 1381254/PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira
Turma, por unanimidade, julgado em 25/06/2019, DJe 28/06/2019)
Resultado: Recurso especial desprovido.
Tribunal de Origem: TRF 4ª Região.
13.1. Situação fática.
BETO MALHA NORTE TRANSPORTES S/A ajuizou ação anulatória de multa administrativa (crédito NÃO tributário) imposta
pela AGÊNCIA NACIONAL DE TRANSPORTES TERRESTRES (ANTT). E, liminarmente, pugnou pela suspensão da exigibilidade do
crédito, ofertando seguro garantir judicial, com o fim de
levantamento de sua inscrição no CADIN.
Instância Desfecho
1º Grau
Concedeu a tutela de urgência para suspender a exigibilidade da
multa administrativa, determinando a retirada do nome do autor da
lista do CADIN.
Em agravo de instrumento, a AGÊNCIA NACIONAL DE TRANSPORTES TERRESTRES (ANTT) sustentou que a suspensão
da exigibilidade do crédito só pode ser autorizada com o depósito
integral e em dinheiro.
Instância Desfecho
2º Grau Negou provimento ao recurso
Em recurso especial, a AGÊNCIA NACIONAL DE TRANSPORTES TERRESTRES (ANTT) continuou sustentando que a
suspensão da exigibilidade do crédito só pode ser autorizada com o
depósito integral e em dinheiro.
Instância Desfecho
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Superior
Tribunal
de Justiça
Negou provimento ao recurso
13.2. Análise Estratégica.
13.2.1. Questão em debate.
Cinge-se a controvérsia acerca da possibilidade de ofertar seguro garantia com o objetivo de suspender antecipadamente a
exigibilidade do crédito NÃO tributário, equiparando-se ao depósito
integral do montante em dinheiro.
13.2.2. O que são créditos não tributários? A multa
administrativa é crédito não tributário?
R: O conceito de crédito não tributário é encontrado por exclusão. Créditos não tributários são todos aqueles não derivados da atividade
tributária do ente federativo. E a multa administrativa é um exemplo
de crédito não tributário:
“[Trecho do corpo do acórdão:] 3. Cabe assinalar, primeiramente, que
créditos não tributários, por definição, são todos aqueles não derivados da
atividade tributária do Ente Federativo, tal como as multas administrativas.
É fora de dúvida que os créditos originados das multas administrativas
nascem da inobservância das normas administrativas. 4. A distinção entre
tributo e multa administrativa abrange a relação jurídica subjacente quanto
à exigência da respectiva prestação pecuniária. No caso da multa
administrativa, a vinculação decorre da conduta praticada pelo sujeito
passivo, em infringência à norma administrativa, o que enseja a aplicação da
penalidade prevista legalmente. Já no tributo, o vínculo decorre da Lei, e a
cobrança se dá mediante atividade administrativa plenamente vinculada,
apurada em face da ocorrência do fato gerador, nos moldes do art. 3º do
CTN. 5. Dessa forma, a exata compreensão é que a multa administrativa
assume a condição de prestação pecuniária, exigida consoante previsão
legal, de natureza sancionadora, por conduta ilícita praticada, sendo
constituída mediante atividade administrativa vinculada. Assim, é fácil
constatar que a diferença existente entre multa administrativa e tributo
está, essencialmente, [está] na natureza jurídica de sanção daquela.” (STJ,
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REsp 1381254/PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira
Turma, por unanimidade, julgado em 25/06/2019, DJe 28/06/2019)
Cuidado! A multa tributária, oriunda do descumprimento da obrigação tributária acessória (art. 113 CTN), tem natureza de crédito
tributário, ao contrário da multa administrativa:
“Art. 113 CTN. A obrigação tributária é principal ou acessória.
§ 1º A obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador, tem por
objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e extingue-se
juntamente com o crédito dela decorrente.
§ 2º A obrigação acessória decorre da legislação tributária e tem por objeto
as prestações, positivas ou negativas, nela previstas no interesse da
arrecadação ou da fiscalização dos tributos.
§ 3º A obrigação acessória, pelo simples fato da sua inobservância,
converte-se em obrigação principal relativamente à penalidade pecuniária.”
13.2.3. Quais são as hipóteses de suspensão da
exigibilidade do crédito tributário?
R: As hipóteses de suspensão da exigibilidade do crédito tributário
estão previstas no art. 151 do CTN:
“Art. 151 CTN. Suspendem a exigibilidade do crédito tributário:
I - moratória;
II - o depósito do seu montante integral;
III - as reclamações e os recursos, nos termos das leis reguladoras do
processo tributário administrativo;
IV - a concessão de medida liminar em mandado de segurança.
V – a concessão de medida liminar ou de tutela antecipada, em outras
espécies de ação judicial;
VI – o parcelamento.
Parágrafo único. O disposto neste artigo não dispensa o cumprimento das
obrigações assessórios dependentes da obrigação principal cujo crédito seja
suspenso, ou dela consequentes.”
Aliás, de acordo com o STJ, esse rol do art. 151 do CTN é taxativo, de modo que não se admite a suspensão do crédito
tributário pelo oferecimento, por exemplo, de fiança bancária, devendo haver depósito integral e em dinheiro nos termos da Súmula
nº 112/STJ:
“(...) A fiança bancária não é equiparável ao depósito integral do débito
exequendo para fins de suspensão da exigibilidade do crédito tributário, ante
a taxatividade do art. 151 do CTN e o teor do Enunciado Sumular n. 112
desta Corte, cujos precedentes são de clareza hialina (...). Deveras, a
suspensão da exigibilidade do crédito tributário (que implica óbice à prática
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de quaisquer atos executivos) encontra-se taxativamente prevista no art.
151 do CTN, sendo certo que a prestação de caução, mediante o
oferecimento de fiança bancária, ainda que no montante integral do valor
devido, não ostenta o efeito de suspender a exigibilidade do crédito
tributário, mas apenas de garantir o débito exequendo, em equiparação ou
antecipação à penhora, com o escopo precípuo de viabilizar a expedição de
Certidão Positiva com Efeitos de Negativa e a oposição de embargos. (...).”
(STJ, REsp 1156668/DF, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA SEÇÃO,
julgado em 24/11/2010, DJe 10/12/2010)
“O depósito somente suspende a exigibilidade do crédito tributário se for
integral e em dinheiro.” (Súmula nº 112/STJ)
“Tá, mas estamos analisando a multa administrativa, que é um
crédito NÃO tributário...” Exato!
“[Trecho do corpo do acórdão:] Dentro dessa perspectiva, não podemos
ignorar que o CTN, ao prescrever as hipóteses da suspensão da
exigibilidade, o faz seguramente apenas aos créditos de natureza tributária,
consoante se depreende no caput do art. 151 do referido diploma legal.”
(STJ, REsp 1381254/PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho,
Primeira Turma, por unanimidade, julgado em 25/06/2019, DJe
28/06/2019)
“Aham...mas quais as hipóteses de suspensão de exigibilidade
de crédito não tributário?” Não há previsão no ordenamento jurídico:
“[Trecho do corpo do acórdão:] Sendo assim, vislumbra-se claro NÃO
subsistir previsão legal de suspensão de exigibilidade de crédito não
tributário no arcabouço jurídico brasileiro.” (STJ, REsp 1381254/PR, Rel.
Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, por unanimidade,
julgado em 25/06/2019, DJe 28/06/2019)
13.2.4. O que fazer então?
R: Temos que nos valer da analogia, costumes e princípios gerais do
direito, conforme art. 4º da LINDB:
“[Trecho do corpo do acórdão:] É importante registrar, diante dessa
constatação, que a norma jurídica não pode regular todas as situações
possíveis e imagináveis da convivência humana. Nesses casos, há ocorrência
de lacuna normativa e, não havendo lei prévia tratando do tema, a situação
se resolve mediante as técnicas de integração normativa de correção do
sistema previstas no art. 4º da LINDB, quais sejam: a analogia, os costumes
e os princípios gerais do direito; assim, colmatando o sistema jurídico e
tornando-o prático e abstratamente pleno (sem lacunas).
(...) Cabe mencionar, por fim, que o crédito não tributário, diversamente do
crédito tributário, o qual não pode ser alterado por Lei Ordinária em razão
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de ser matéria reservada à Lei Complementar (art. 146, III, alínea b da
CF/1988), permite, nos termos aqui delineados, a suspensão da sua
exigibilidade mediante utilização de diplomas legais de envergaduras
distintas por meio da técnica integrativa da analogia.” (STJ, REsp
1381254/PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma,
por unanimidade, julgado em 25/06/2019, DJe 28/06/2019)
Analogia a o quê? Neste caso, ao art. 9º, inciso II e § 3º, da Lei
nº 6.830/80 (LEF) e ao art. 835, § 2º, do NCPC:
LEF NCPC
“Art. 9º LEF. Em garantia da execução,
pelo valor da dívida, juros e multa de
mora e encargos indicados na Certidão
de Dívida Ativa, o executado poderá:
(...) II - oferecer fiança bancária ou
seguro garantia;
(...) § 3º A garantia da execução, por
meio de depósito em dinheiro, fiança
bancária ou seguro garantia, produz os
mesmos efeitos da penhora.”
“Art. 835 NCPC. A penhora observará,
preferencialmente, a seguinte ordem:
(...) § 2º Para fins de substituição da
penhora, equiparam-se a dinheiro a
fiança bancária e o seguro garantia
judicial, desde que em valor não
inferior ao do débito constante da
inicial, acrescido de trinta por
cento.”
A partir da análise desses dois dispositivos, torna-se claro que
dinheiro, fiança bancária e seguro garantia judicial são equiparados, devendo essa conclusão ser aplicada também à suspensão da
exigibilidade do crédito NÃO tributário:
“[Trecho do corpo do acórdão:] Com isso, tornou-se claro que o
dinheiro, a fiança bancária, bem como o seguro garantia são
equiparados para os fins de substituição da penhora ou mesmo para a
garantia do valor da dívida ativa, seja ela tributária ou não tributária, sob a
ótica absolutamente alinhada do § 2º do art. 835 do Código Fux c/c o inciso
II e § 3º do art. 9º da Lei 6.830/1980, alterado pela Lei 13.043/2014 (...).
(...) A partir dessa conclusão e, ainda, diante da natureza sancionadora da
multa administrativa, bem como verificada a possibilidade de o devedor, por
meio de caução na modalidade seguro garantia, assegurar a sua obrigação
mediante garantia idônea e suficiente, é cabível a suspensão da exigibilidade
do crédito não tributário a partir da apresentação da fiança bancária e do
seguro garantia judicial, desde que em valor não inferior ao do débito
constante da inicial, acrescido de trinta por cento, nos moldes previstos no
art. 151, inciso II do CTN c/c o art. 835, § 2º do Código Fux e o art. 9º, § 3º
da Lei 6.830/1980, uma vez que não há dúvida quanto à liquidez de tais
modalidades de garantia, permitindo, desse modo, a produção dos mesmos
efeitos jurídicos do dinheiro.” (STJ, REsp 1381254/PR, Rel. Min.
Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, por unanimidade,
julgado em 25/06/2019, DJe 28/06/2019)
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Cuidado para não esquecer do “chorinho”:
13.3. Questões objetivas.
Q1º. Estratégia Carreiras Jurídicas. É cabível a suspensão da exigibilidade do
crédito não tributário a partir da apresentação da fiança bancária, desde que em
valor não inferior ao do débito constante da inicial, acrescido de 30% (trinta por
cento).
Q2º. Estratégia Carreiras Jurídicas. Não é cabível a suspensão da exigibilidade
do crédito não tributário a partir da apresentação de seguro fiança judicial.
13.4. Gabarito.
Q1º. VERDADEIRA.
Q2º. FALSA.
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